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MONTES CLAROS – MG
2019
RESERVAS
Conceito e formulações
O estudo dos tratados internacionais no âmbito do Direito Internacional Público é
feito pela Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados de 1969, que traz regras gerais
referentes aos tratados internacionais, abrangendo o modo como são elaborados, a entrada em
vigor, a aplicação e interpretação, bem como regras sobre nulidade, extinção e suspensão de
tratado internacional.
No art. 1º da Convenção os tratados são conceituados como,
Um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.
Objeção à reserva
A aceitação de uma reserva por outro Estado contratante torna o Estado autor da
reserva parte no tratado em relação àquele outro Estado, se o tratado está em vigor ou
quando entrar em vigor para esses Estados.
A objeção feita a uma reserva por outro Estado contratante não impede que o
tratado entre em vigor entre o Estado que formulou a objeção e o Estado autor da reserva, a
não ser que uma intenção contrária tenha sido expressamente manifestada pelo Estado que
formulou a objeção.
Um ato que manifestar o consentimento de um Estado em obrigar -se por um
tratado e que contiver uma reserva produzirá efeito logo que pelo menos outro Estado
contratante aceitar a reserva.
A não ser que o tratado disponha diversamente, uma reserva é tida como aceita
por um Estado se este não formulou objeção à reserva quer no decurso do prazo de doze
meses que se seguir à data em que recebeu a notificação, quer na data em que manifestou o
seu consentimento em obrigar-se pelo tratado, se esta for posterior ou seja: a não objeção no
prazo de 12 meses gera presunção de aceitação.
Efeitos das reservas nos tratados
A reserva não modifica as disposições do tratado quanto às demais partes no
compromisso em suas relações entre si.
Uma reserva estabelecida em relação a outra parte modifica para o autor da
reserva, em suas relações com a outra parte, as disposições do tratado sobre as quais incide a
reserva, na medida prevista por esta, e modifica essas disposições, n a mesma medida, quanto
a essa outra p arte, em suas relações com o Estado autor da reserva.
Quando um Estado que formulou objeção a uma reserva não se o pôs à entrada em
vigor do t ratado entre ele próprio e o Estado autor da reserva, as disposições a que se refere a
reserva não se aplicam entre os dois Estados, na medida prevista pela reserva. Obs.: a não ser
que o tratado disponha de outra forma, uma reserva ou uma objeção pode ser retirada a
qualquer momento, sem que o consentimento do Estado que a aceitou seja necessário para sua
retirada.
O principal efeito de uma reserva é o de fazer com que o Estado reservante se
desonere de cumprir a disposição reservada, sem que isso lhe traga maiores consequências em
termos de responsabilidade internacional. Assim, uma disposição Estados (pois, nesse caso,
não se trata de aceitação, como se refere o art. 20, § 1 °). Diz ainda a Convenção que quando
se infere do número limitado dos Estados negociadores, assim como do objeto e da finalidade
do tratado, que a sua aplicação na íntegra entre todas as partes é condição essencial para o
consentimento de cada uma delas em obrigar-se pela reservada passa a ser entendida como
não existente em relação ao Estado autor da reserva nas suas relações com as demais partes.
Uma vez efetuadas, as reservas passam a vigorar entre o Estado reservante e o
Estado aceitante, de acordo com o que dispõem as modificações previstas em seu texto. Isso
não significa que a relação dos outros Estados entre si, que não formularam reservas ao texto
do tratado, serão afetadas em decorrência desse fato. Uma reserva entre dois Estados não tem
o poder de modificar o texto do tratado no que tange às relações dos demais Estados entre si,
os quais não foram os autores da reserva. A reserva aceita vincula tão somente o Estado autor
e o aceitante no seu relacionamento recíproco.
Como se percebe, as reservas dividem os tratados em uma série de tratados
distintos, quantas forem as formulações efetuadas. Assim, como explica Reuter, tem-se que: o
tratado é obrigatório em sua totalidade entre os Estados que não formularam nenhuma
reserva; as porções do tratado não afetadas pela reserva A aplicam-se entre os Estados ou
organizações internacionais que a formularam e as demais partes; o mesmo se aplica às
porções do tratado não afetadas pela reserva B etc.
Também no caso de um Estado objetar uma reserva feita por outro, mas não se
opor à entrada em vigor do tratado entre ambos, a mesma solução se impõe: somente as
disposições a que se refere a reserva é que não se aplicarão entre os dois, devendo o restante
do tratado não afetado pela reserva ser integralmente observado.
Por fim, cabe destacar (como lembra Accioly) que da mesma forma que o Estado
autor da reserva, aceita pelas demais partes-contratantes, fica desobrigado da disposição
ressalvada, é natural que as outras partes, em reciprocidade, possam também invocar em seu
favor, nas relações com o referido Estado, o mesmo benefício (salvo na hipótese excepcional
de reserva extinta).
Reserva em tratados de direitos humanos
Os problemas surgidos em relação ao instituto da reserva relativa aos Tratados de
Direitos Humanos, por não apresentarem a possibilidade de uma viável solução negociada
encontram forte expressão no campo jurídico.
A permissibilidade do instituto das reservas por votação majoritária, davam aos
tratados uma característica geral de contrato, porém o posicionamento da Corte Internacional
de Justiça (CIJ) em 1951 trouxe uma quebra de paradigmas. O posicionamento da CIJ
influenciou diretamente a Convenção de Viena de 1969, fazendo com que fosse adotada o
critério de compatibilidade para a oposição de reservas. Ou seja, estipulou-se que uma reserva
não seria validada caso contrariasse a finalidade e o objeto do instrumento internacional.
Estas questões de compatibilidade são bastante relevantes quando o assunto é
reservas em tratados relativos a direitos humanos pois, possuem um regime diferenciado de
reservas. Nestes tratados a aceitação de reservas incompatíveis com o seu objeto e sua
finalidade ficam a cargo de órgãos criados pelo próprio tratado, diferentemente do ocorreria
nos tratados internacionais comuns.
Esta hipótese encontra-se descrita abaixo no artigo 19 da Convenção de Viena de
1969:
Artigo 19 Formulação de Reservas Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou
aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma reserva, a não ser que:
a) a reserva seja proibida pelo tratado;
b) o tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas, entre as
quais não figure a reserva em questão; ou
c) nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível com o objeto
e a finalidade do tratado (BRASIL, 2009)
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 9. ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 1263 p.