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Rejane Andersen
PRESIDENTE E RELATORA
RELATÓRIO
VOTO
1 Danos morais
Aduz o recorrente a inexistência de comprovação de ato ilícito e do dano
alegado, razão pela qual pugna pelo afastamento da indenização arbitrada.
Sabe-se que a Constituição da República Federativa do Brasil veda
expressamente a violação a direitos de personalidade, nos termos do art. 5º, V e X.
Veja-se:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
O Código Civil, por sua vez, dispõe que "Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito" (Art. 186). E
complementa que "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo (Art. 927).
Sobre a questão, já decidiu esta Corte:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL C/C
PEDIDO LIMINAR DE CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO NA SERASA E SPC.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
REQUERIDA. RELAÇÃO DE CONSUMO EVIDENCIADA. APLICABILIDADE DA
LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. ANÁLISE DOS ELEMENTOS ENSEJADORES DA
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. DÍVIDA QUITADA DEZENOVE DIAS ANTES DO SEU
VENCIMENTO. ALEGAÇÃO DE FALHA OPERACIONAL NA IDENTIFICAÇÃO DO
PAGAMENTO. INSUBSISTÊNCIA. DEFEITO QUE NÃO DEVE ATINGIR O
CONSUMIDOR QUE QUITOU A DÍVIDA A TEMPO E MODO OPORTUNOS. FALHA
NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DO BANCO A ENSEJAR A APLICAÇÃO DA
RECENTE SÚMULA/479 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA,
ADEMAIS, DE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. EXEGESE DO DISPOSTO NO ARTIGO 43,
§ 2.º, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ATO ILÍCITO CONFIGURADO.
DANO MORAL PRESUMIDO..DEVER DE INDENIZAR MANTIDO. PEDIDO DE
MINORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO NO PRIMEIRO GRAU EM
R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS). INSUBSISTÊNCIA. QUANTUM FIXADO AQUÉM
DA EXTENSÃO DO DANO À DIGNIDADE E CIDADANIA DA AUTORA. CONTUDO,
INEXISTENTE PEDIDO DE MAJORAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (Apelação Cível n. 2012.040293-3, de Balneário
Piçarras, Primeira Câmara de Direito Civil, Rel. Desa. Subst. Denise Volpato, j. em
18/07/2012).
2 Quantum indenizatório
Pleiteia o requerido a minoração da verba indenizatória fixada na
sentença em R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).
É tema incontroverso que a inscrição indevida nos cadastros de
inadimplentes gera abalo de ordem moral suscetível à reparação.
No que se refere ao valor compensatório/punitivo a ser arbitrado àquele
que teve seu direito violado, deve-se adotar os mais rigorosos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade, na tentativa de se buscar o equilíbrio entre a
satisfação correspondente ao prejuízo moral sofrido e o caráter punitivo da medida, a
fim de se evitar um enriquecimento injusto do lesado, tampouco a continuidade da
prática ofensiva a direito alheio.
Contudo, no ordenamento jurídico inexiste a definição exata do valor
indenizatório a ser fixado, justamente porque o abalo moral apresenta-se de maneiras
e com consequências diferentes em cada caso.
Nesse viés, veja-se Regina Beatriz Tavares da Silva:
O critério na fixação do quantum indenizatório deve obedecer à
proporcionalidade entre o mal e aquilo que pode aplacá-lo, levando-se em conta o
efeito, que será a prevenção, ou desestímulo. Em suma, a reparação do dano moral
deve ter em vista possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória e, de outro
lado, exercer função de desestímulo a novas práticas lesivas, de modo a 'inibir
comportamentos anti-sociais do lesante, ou de qualquer outro membro da
sociedade', traduzindo-se em montante que represente advertência ao lesante e à
sociedade de que não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo (in
Novo Código Civil Comentado, Coord. Ricardo Fiuza. 6ª. ed. São Paulo: Saraiva,
2008. p. 913).
4 Multa cominatória
Da análise dos autos, infere-se o arbitramento de multa diária em R$
300,00 (trezentos reais) para o caso de descumprimento da determinação de retirada
do nome do autor dos órgãos de proteção ao crédito.
Verifico que referida decisão não foi observada desde a origem, pois a
demanda continua em trâmite e o banco mantém a inscrição indevida. Logo, o
arbitramento da multa diária pelo seu descumprimento é medida salutar.
Ademais, trata-se de obrigação de fazer que autoriza a imposição de
multa diária pelo não atendimento, a teor do artigo 461, § 4º, Código de Processo
Civil.
Diante da não comprovação da inadimplência do devedor, justa é a
manutenção da determinação de devolução do valor do veículo.
Alternativamente, o insurgente pugnou fosse reduzido o valor, pois seria
excessivo.
Sabe-se que o arbitramento de multa diária é perfeitamente possível nas
hipóteses de determinação judicial a obrigação de fazer ou não fazer, com fulcro no
art. 461, § 4º, do CPC.
Isso porque "o escopo da multa do artigo 461, § 4º do CPC é compelir a
parte ao cumprimento da ordem judicial emprestando, assim, efetividade ao processo
e à vontade do Estado. Constituindo meio coativo imposto ao devedor, deve ser
estipulada em valor que o 'estimule' psicologicamente, a evitar o prejuízo advindo da
desobediência ao comando judicial. A coação tem que ser efetiva" (STJ, AgRg no Ag