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Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós-graduação em Letras


Mestrado em Letras
Disciplina: Saberes, Ser Social, Relações de Poder
Docente: Dr. Rennan Mafra
Discente: Marianna Ribeiro da Silva – 98.185

Ensaio: Uma direita que soube se remodelar, uma esquerda que segue
desbaratinada

Introdução

É parte da condição do ser humano, o homo sapiens sapiens modificar costumes,


culturas, tradições e opiniões. Desde os primórdios, quando a tecnologia se resumia ao
fogo e à roda, a necessidade de evolução estimulou mudanças pelos milhares de anos
passados até agora. Em todos os campos científicos, as transformações foram
ocorrendo. Por exemplo, os estudos da Biologia por meio da teoria da Evolução de
Charles Darwin foram importantes para chegarmos ao ponto de reproduzir genes
humanos através dos clones de células troncos. No campo político, mudanças
consequentes também aconteceram.

Friedrich Engels (1884) escreveu na renomada obra A origem da família, da


propriedade privada e do Estado que as sociedades primitivas possuíam algum grau de
organização política. Ele ressaltou o papel das mulheres matriarcas nas sociedades de
comunismo primitivo, como ele assim a denominou, quando ainda não se sabia como os
bebês entravam nas barrigas das mães. A pesquisa do filósofo alemão provava, portanto,
que algum grau de hierarquia social estava presente no cotidiano do homem primata e
que, gradativamente, as mudanças no comportamento das sociedades ocorriam, à
medida que dogmas foram apreendidos como a noção de propriedade e de família,
palavra que origina do latim “famulus”, quer dizer escravos domésticos (VIEIRA, 2016,
p. 221).
Atualmente, mudanças ocorrem a largos passos. Vivemos na era da 4ª
Revolução Industrial, cuja grande novidade que se consolidará será a da robotização em
larga escala com o uso da nanotecnologia, método avançado de controle da matéria em
escala atômica ou molecular. O mundo vive também mudanças significativas na
política, mudanças não tão inovadoras, pois aparentemente os velhos modelos estão
sendo requentados, numa tentativa de desestabilizar propostas do campo progressista,
não tão conservador e de viés democrático, fato que vem sendo refratado na América
Latina.

A América Latina viveu uma experiência salutar de empoderamento dos partidos


de esquerda, a partir dos anos 2000. Venezuela, Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia,
Equador e Nicarágua, dentre outros, protagonizaram um episódio histórico de tamanha
relevância, foi uma verdadeira guinada à esquerda, que possibilitou a ascensão de
líderes como Nestor e Cristina Kirschner, Luis Inácio Lula da Silva, Fernando Lugo,
Manuel Zelaya, Rafael Correia, Evo Moráles, personalidades da política que saíram das
lutas populares e que, por meio das pautas que vigoraram e se destacaram,
oportunizaram que as lutas identitárias estivessem na ordem do dia.
Há, portanto, algumas questões que diferenciam a esquerda da América Latina
com os movimentos revolucionários socialistas que eclodiram no século XX e que, por
meio da luta armada, elevou ao poder a esquerda comunista na Rússia, Cuba, China,
Vietnã, Laos e República Popular Democrática da Coreia. Se por um lado houve
entendimento da emergência das ideias de Marx, de luta de classes e ditadura do
proletariado consolidando o Partido Comunista como principal força de oposição aos
países capitalistas como os EUA, nos anos mais recentes, no outro lado, houve uma
fragmentação dos partidos de esquerda não mais concentrado apenas no Partido
Comunista, mas em outras correntes de esquerda e esquerdistas (LENIN, 1999, p. 37),
defendendo, inclusive a manutenção do capitalismo, porém promovendo um estado de
bem-estar social, justiça social com distribuição de renda, tal qual o Partido dos
Trabalhadores no Brasil.
Assim, com pautas espontaneístas, sem mudanças de efeito permanente na
sociedade, aproximação de teorias pós-modernas que refutam o marxismo, o campo da
cizânia se abriu e deu espaço para os ideais neoconservadores que atingiram em cheio a
América Latina que vem sofrendo com um ataque da direita, defensora do liberalismo
econômico, causando forte impacto nas relações com as potências de outros continentes,
além de trazer novas ordens também às relações econômicas interiores, promovendo
uma política de Estado mínimo, privatização em massa e derrubada de direitos
historicamente conquistados pelo veio da luta política, ancorada nos princípios
leninistas de luta no campo das ideias, no campo institucional e nos movimentos sociais
consequentes organizados.
Portanto, neste ensaio pretendo tratar das razões que envolvem a fratura da
esquerda no mundo, sua desidratação nos países latinos, em especial, o Brasil, a
ascensão de ideologias de direita e extrema direita e, como os movimentos de pós-
modernidade contribuíram para esfacelamento da luta política organizada do
proletariado.

Neste sentido, devo abordar, primeiramente, como as ideologias conservadoras


se reformataram para se apresentar à sociedade como a “nova política”, o relançamento
dos outsiders e como a esquerda propiciou seu renascimento; em seguida, tratarei das
teorias da pós-modernidade a saber: teoria da democracia e pluralismo em Chantal
Mouffe (2003), teoria da Terceira via de Antony Giddens (2001) e sobre as esferas
pública e privada da sociedade de Hannah Arendt (1997). Na terceira parte, trato dos
problemas presentes nas teorias da pós-modernidade, observando as involuções que, em
muitos casos, subjazem às teorias. Por último, reforço a atualidade do marxismo com os
estudos de Domenico Losurdo (2016) e Thomas Piketty (2014) como meio de combate
ao movimento de reação, destacando as questões da América Latina e Brasil.

Na parte conclusiva, devo apresentar o estado da arte com formulações que


reforçam a teoria que defendo, como também a crítica que elaboro à modernidade
líquida (BAUMAN, 2001).

Como entender a ascensão das ideologias neoconservadoras?

Michel Pêcheux, quando escreveu a Análise Automática do Discurso pretendia


estudar quais razões levaram os franceses a votar em Charles de Gaulle novamente,
depois de um governo marcado por medidas impopulares e que quase foi derrubado. Em
1966, de Gaulle foi candidato novamente sendo reeleito, porém renunciou ao perder um
referendo sobre a reforma no Senado. Por isso, estava na ordem do dia para os
estudiosos do discurso, dentre eles Michel Focault, compreender como ideologias
conservadoras, muitas flertando com regimes totalitários como o nazismo e o fascismo
ascendiam ao poder, mesmo com todo rastro de sangue e dor deixado ao longo da
História.
As ideologias conservadoras da atualidade vêm se reinventando, criando novos
artifícios, moldando os discursos, a fim de encontrar as brechas no campo progressista
para adentrar e tomar poder. Porém, essa reinvenção não tem elementos tão novos
assim, haja vista o fato de pertencerem a um establishment, ou seja, grupo político que
detém maior poder no Estado e na sociedade utilizando para benefícios e privilégios
próprios, pauta que já havia sido uma das causas do nascimento do Manifesto
Comunista de Marx e Engels.

A prática da Realpolitik criada por Bismarck, durante a Guerra de Uunificação


da Alemanha, no século XIX, cuja bandeira defendia que os objetivos deveriam ser
alcançados, sem se ater a questões morais e éticas, tornou-se bandeira dos políticos da
atualidade, principalmente na América Latina. Os governos alinhados ao campo
progressista que caíram, graças às táticas vis do movimento reacionário, que usara dos
dispositivos democráticos a fim de engendrar um grande pacto, no caso do Brasil ‘com
o Supremo, com tudo’ mostraram os efeitos da Realpolitik em funcionamento.

É neste bojo de acontecimentos, com várias denúncias envolvendo partidos


tradicionais na política por crimes de corrupção e com o auxílio de uma mídia que
soube trabalhar com a manipulação midiática, diariamente e que, por isso, contribuiu
para o descrédito da política e dos políticos, que surgem os candidatos ditos outsiders
(ELIAS e SCOTSON, 1994).

Os outsiders conquistaram espaço por se apresentarem como pessoas que não


tem envolvimento de longo prazo com a política, nunca tiveram cargo executivo no país
e boa parte se assume como empresário, militar ou outra função, não possuem,
propriamente, um histórico na política. Neste sentido, Elias e Scotson (1994)
esclarecem:

(...) outsiders são os não membros da “boa sociedade”, os que estão fora dela.
Trata-se de um conjunto heterogêneo e difuso de pessoas unidas por laços
sociais menos intensos do que aqueles que unem os established. A identidade
social destes últimos é a de um grupo. Eles possuem um substantivo abstrato
que os define como um coletivo: são o establishment. Os outsiders, ao
contrário, existem sempre no plural, não constituindo propriamente um grupo
social. (ELIAS; SCOTSON, 1994, p. 05)

Num quadro histórico de ‘um museu de grandes novidades’ surgindo a todo


vapor, ocupando espaços e descreditando discursos, o campo progressista que também
deveria se reinventar, reformular o discurso e conversas com a massa, exime-se de tal
tarefa. Primeiramente, há um grande problema em tal questão: nos treze anos de
governo de centro-esquerda no Brasil, não houve preocupação em estimular a
consciência de classe (MARX; ENGELS, [1845], 2001). Neste sentido, o lumpesinato
ou lumpem proletariado que adquiriu poder de compra, valeu-se das políticas públicas
como o acesso à universidade e a compra da casa própria, não compreendeu seu lugar
na pirâmide social. Passou a compreender que deveria agir tal qual aqueles que
ocupavam o cume da pirâmide: banqueiros, grandes empresários e latifundiários.
Foi a partir deste momento, com um lumpesinato já devidamente convencido de
que o grande problema da sociedade eram os partidos de esquerda, que os movimentos
de derrubada dos governos do campo progressista se consolidaram e, de tal forma que,
os discursos que perpassam os partidos de esquerda sequer conseguem dialogar com a
grande massa da sociedade, o povo.

Mouffe, Giddens e Arendt: as concepções de Democracia e Pluralismo, a Terceira


Via numa construção multipolar e as esferas pública e privada

Chantall Mouffe (2003) propõe um modelo “agonístico” de democracia em que


não há mais a bipolaridade de ideias e pensamentos em disputa, ou seja, mas o consenso
que resultaria em acordos possíveis e temporários considerados por ela como parte da
política, esta, concebida como elemento dominador de antagonismos inerentes às
relações humanas.

Corroborando com Mouffe, Giddens propõe uma teoria da Terceira Via


ancorada em um tripé formado pela reconstrução da teoria social, a reinterpretação da
modernidade e a reformulação de uma teoria política (PAVESE, 2003, p. 240). Ele
defende que a esquerda deve se modernizar, surgindo, portanto, uma “social democracia
modernizadora” (GIDDENS, 2011, p. 21), não mais baseada no binário direita/esquerda
por esta disputa antagônica não mais atender ao mundo pós-moderno. É o que defende
Mouffe ao afirmar que é necessário caminharmos para uma organização multipolar,
numa organização social em que a democracia deve ser percebida a partir de um mundo
globalizado, quer dizer, sem barreiras.

Hannah Arendt (1997) propõe uma visão das esferas pública e privada da
sociedade, anteriormente sustentadas nas instituições política e família que devem,
agora, se asseverar de maneira fluída, não mais estrutural, fala-se de uma construção
que ultrapasse a barreira da necessidade/liberdade, é o algo mais, uma atividade das
esferas que depreende a bondade do ser humano, de viver num mundo sem barreiras.

A atualidade do marxismo como instrumento de combate ao movimento


reacionário: Marxismo é resistência!

Ao defenderem uma sociedade fluída, onde a luta de classes não mais é


suficiente, as teorias pertencentes ao movimento da pós-modernidade, promovem um
realinhamento nos movimentos de esquerda. Tal acontecimento, neste momento
histórico, pode ter contribuído para a ascensão das ideologias de extrema-direita, visto
que o mundo, este ainda é moderno e, por isso, as teorias da pós-modernidade caberiam
em sociedades de elevado grau de consciência e organização social.

Assim, a conjuntura da geopolítica apresenta traços de que a relação binária


direita/esquerda permanece forte, visto que é na luta de classes que ele se sustenta. A
crise de 2008 nos Estados Unidos da América é o sinal mais claro disso como reforça
Losurdo (2016):

A bem da verdade, com a crise, o restrito número de privilegiados desponta


com uma riqueza ainda maior, ou melhor com uma opulência mais descarada
do que nunca. Mesmo que com orientações diferente, os analistas parecem
concordar em um ponto: nos países capitalistas avançados as desigualdades
estão aumentando, e a polarização social se intensifica. (LOSURDO, 2016, p.
37)

Portanto, continua sendo o capitalismo o grande elemento propagador de


opressões e, sua manutenção, favorecerá os rentistas e detentores de posses, como
grande empresários e latifundiários.
Referências

BAUMAN, Z. A modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

ELIAS, N & SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar,


1994.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.


Virtual Books, 1884. Disponível em:
<dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_engels_origem_propriedade_privada_estado.
pdf> Acesso em 10 out 2018.

GIDDENS, Anthony. A Terceira Via e seus críticos. Rio de Janeiro: Record, 2011.

LENIN, V. Esquerdismo, doença infantil do comunismo. São Paulo: Anita Garibaldi,


1999.

LOSURDO, Domenico. A esquerda ausente. São Paulo: Anita Garibaldi, 2016.

MARX, K; ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Anita


Garibaldi, 2000.

PAVESE, C. B. A Terceira Via. 2003. Disponível em:


<http://cienciassociais.ufsc.br/files/2015/03/Artigo-181.pdf> Acesso em 13 dez 2018.

PIKETTY, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

VIEIRA, Jair Lot. Dicionário de Latim-Português. São Paulo: Edipro, 1ª ed. 2016.

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