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Princípios Físicos em Radiologia

Denise Yanikian Nersissian1

1 Átomos, estrutura atômica e modelos atômicos

A palavra átomo significa “sem divisão”. Assim, ao longo da história acreditava-se que o
átomo era a menor partícula, indivisível e minúscula. No decorrer do tempo verificou-se que
isso não era verdade, pois áreas como a Física Atômica e Nuclear encontraram partículas
ainda menores no interior dos átomos como os elétrons na parte mais externa e os pósitrons
e outros na parte mais interna, por exemplo.
Os átomos constituem tudo na natureza, associando-se para formar moléculas que se
mantém unidas por meio de ligações químicas e interações físicas. Tais uniões obedecem a
um princípio de equilíbrio entre estas ligações de forma a manter os átomos ou moléculas
estáveis ou neutros (sem cargas). Porém, sob algumas situações pode-se transferir energia
para eles que, consequentemente, podem ficar instáveis e perderem sua neutralidade,
transformando-se em íons. Os íons podem ser positivos ou negativos, quando o átomo
perde ou ganha um elétron, respectivamente1.
Deste modo, encontram-se descritas na história várias descobertas sobre a divisibilidade
dos átomos. Abaixo, estão relacionadas algumas datas importantes que identificam as
descobertas que explicam a estrutura atômica hoje aceita pela comunidade científica, bem
como algumas características importantes, como a massa destes elementos, por exemplo.

1
Física Médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Doutora em Tecnologia Nuclear -
Aplicações (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - SP), Especialista em Radiologia Diagnóstica
(Associação Brasileira de Física Médica)

1
Tabela 1 Histórico das descobertas das estruturas atômicas

Quando? Quem? O quê?

1891 George Johnstone Stoney Identificou o elétron

Mediu a razão da carga do


1897 Joseph Jonh Thomson
elétron pela massa (e/m)

1909 Robert Andrew Milikan Carga do elétron (e)

1920 Ernest Rutherford Próton

1932 James Chadwick Nêutron

Murray Gell-Mann e George


1963 quarks
Zweig (independentemente)

Os modelos atômicos foram propostos, ao longo da história, baseando-se inicialmente em


intuições dos pesquisadores da época com resultados obtidos por meio de tentativa e erro.
Com o aprimoramento de métodos de medição em laboratório os primeiros modelos foram
substituídos por outros que puderam ser averiguados experimentalmente e repetidos
inúmeras vezes no estudo da estrutura da matéria.
Em 1903, Hantaro Nagaoka (1865-1950) apresentou para a comunidade científica no Japão
seu modelo atômico, fazendo uma analogia ao modelo planetário de Saturno1. Assim, o
modelo proposto por ele consistia em um núcleo com uma massa muito grande, e elétrons
ligados eletrostaticamente ao núcleo, orbitando ao seu redor (Figura 1).

Figura 1 Modelo atômico de Nagaoka

No ano seguinte, o famoso modelo atômico do “pudim de ameixas” (Figura 2) foi proposto
por J. J. Thomson. Os elétrons carregados negativamente (ameixas) estariam distribuídos
no interior de uma matéria carregada positivamente (pudim), assim garantia-se a condição
de neutralidade do átomo1.

2
Figura 2 Modelo atômico de J. J. Thomson

Ernest Rutherford, um ex-aluno de Thomson, realizou muitas experiências com a finalidade


de verificar se o modelo de seu antigo professor era verdadeiro. Isto foi importante, pois os
modelos atômicos anteriores foram elaborados a partir de intuições e até aquele momento,
não havia estudos que comprovassem cientificamente como seria o arranjo das estruturas
atômicas.
Assim, Rutherford, auxiliado por seus discípulos (Geiger e Marsden) elaboraram um
experimento onde lançaram partículas a (alpha: átomos de Hélio sem dois elétrons) sobre
uma fina folha de ouro e mediram os ângulos de espalhamento após a colisão entre os
átomos. Os resultados mostraram o que já esperavam, pois a maioria das partículas a
espalhou em ângulos pequenos (entre 1º e 3º); porém uma quantidade significativa delas
dispersou em ângulos maiores que 90º o que não podia ser explicado pelo modelo de
Thomson1,2.
O modelo de Rutherford resgata o conceito introduzido por Nagaoka e define o átomo como
sendo uma carga elétrica central concentrada num ponto, rodeada por uma distribuição
esférica e uniforme de carga elétrica em quantidade igual, mas de sinal contrário (Figura 3).
Por estar embasado na teoria eletromagnética clássica, este modelo apresentou
contradições, pois não explicava porque o elétron ficava girando em uma mesma órbita
constantemente, não perdendo sua energia e modificando sua trajetória.

Figura 3 Modelo atômico de Rutherford

3
Em 1911, Niels Bohr, foi trabalhar com J. J. Thomson e depois se mudou para
Manchester (Inglaterra) e para o grupo de Rutherford onde formulou seu modelo
atômico a partir do átomo de hidrogênio (constituído de um próton e um elétron), o
chamado modelo orbital (Figura 4). Uma das primeiras adequações do modelo de
Rutherford foi definir que os elétrons não giravam em qualquer órbita, mas existiam
posições permitidas para o elétron em vários níveis orbitais. Normalmente, o elétron
fica a órbita de menor raio, mais perto do núcleo atômico, chamado de estado
fundamental.
Bohr descreveu, também, que quando o átomo de hidrogênio recebia algum tipo de
energia (diz-se excitado), seu elétron migrava para outra órbita de raio maior (nível
mais energético); porém, ele não ficava muito tempo neste nível mais energético e
voltava para o estado fundamental, emitindo o excesso de energia na forma de um
fóton (quantum ou pacote de energia)1,2.

Figura 4 Modelo atômico de Bohr

O que a ciência utiliza hoje como modelo atômico, ainda é o proposto por Bohr.
Podemos simplificar a representação da estrutura atômica se fizermos uma
comparação com o sistema solar. Assim, o núcleo central seria o sol e os elétrons
seriam os vários planetas girando ao seu redor em órbitas bem definidas. Abaixo
estão algumas características das principais partículas que compõem um átomo:

Eletrosfera ! Elétrons!Massa: 9,1 x 10-31 kg ! carga negativa

Núcleo ! Prótons ! Massa: 1,673 x 10-27 kg ! carga positiva

Núcleo ! Nêutrons ! massa: 1,675 x 10-27 kg ! neutro (sem carga)


4
As órbitas onde estão os elétrons estão organizadas em camadas que, para fins de
identificação, estão classificadas como K, L, M, N, etc. Conforme a Figura 5, cada
camada comporta um número específico de elétrons e representam os níveis de
energia, também conhecidos por energia de ligação; quanto mais próximo um
elétron está do núcleo atômico, maior sua energia de ligação. Assim, dependendo
da configuração eletrônica, encontramos os diferentes elementos da Tabela
Periódica. Por exemplo, o átomo de Hidrogênio é o mais simples, ele é composto
pelo núcleo e por um elétron na camada K (1H). Quanto mais avançamos na Tabela
Periódica, mais complexa se torna a distribuição dos elétrons na eletrosfera do
átomo.

Figura 5 Estrutura das órbitas eletrônicas

Para representarmos um átomo utilizamos a simbologia que o associa a um


elemento químico: X, por exemplo, o átomo de hidrogênio descrito acima se
apresenta H. Assim, podemos descrever um elemento químico considerando seu
número atômico Z (número de prótons) e seu número de massa A (número de
prótons somados ao número de nêutrons).

2 Radiação eletromagnética

Considere um lago com água parada e uma folha de árvore, repousada sobre a
superfície da água. Quando uma pedra é lançada, observa-se que ondas circulares
se formam e começam a se propagar; chegando à folha, esta começará a se mover.
5
O que se vê neste cenário é a transmissão da “energia de movimento” por um meio
físico (água) que levou a folha a movimentar-se também. A onda não é um objeto
físico, isto é nenhuma gota de água viajou da pedra até a folha, mas a superfície da
água oscilou (sobe-desce) à medida que a onda passava. Desta maneira, radiação é
a palavra utilizada para esta “energia em movimento”, essa propagação, saindo do
local onde a pedra foi lançada e fazendo a folha se mover.
De forma semelhante, a onda eletromagnética também é responsável por
transportar informações e energia, porém este tipo de onda não precisa de um meio
físico para se mover, ela se move no vácuo. A luz visível é um exemplo deste tipo de
onda eletromagnética, que é constituída pelos campos elétricos e magnéticos,
oscilantes e perpendiculares entre si com uma velocidade de propagação de
300.000 km/s (Figura 6) 1.

Figura 6 Representação de onda eletromagnética

Dependendo de outras características, como comprimento de onda, frequência,


velocidade e amplitude3, classificam-se diversos tipos de ondas eletromagnéticas
apresentadas na Figura 7, que transportarão energias de diferentes origens; por
exemplo, o calor será detectado na emissão de radiação infravermelha, ou espectro
de cores (arco-íris) será identificado ao se decompor a luz visível; estes tipos de
radiação são detectáveis por sentidos humanos. Há outras formas de radiação,
como a radiação X ou a gama que só podem ser detectados por meio de
instrumentos de medição apropriados e calibrados para cada faixa de energia.

6
Figura 7 Espectro de energia das ondas eletromagnéticas

De acordo com esta classificação têm-se os dois grandes grupos1 radiação não
ionizante e radiação ionizante. O primeiro grupo envolve ondas de rádio,
microondas, infravermelho, luz visível e ultravioleta, e são radiações cujas energias
não são suficientemente altas para quebrar as ligações atômicas nos materiais. O
segundo grupo está dividido entre raios X, gama e radiação cósmica e são capazes
de ionizar o meio por onde passam, isto é, transferem parte ou toda a energia que
carregam. A diferença entre um fóton de raios X e outro de raios gama está na sua
origem: o primeiro é produzido fora do núcleo atômico e o segundo é gerado em seu
interior, como exemplifica a Figura 8.

Figura 8 Geração de um fóton de raios X na eletrosfera do átomo (a) e fóton de raios gama
gerado no núcleo atômico (b)

7
3 Descoberta dos raios X

Pesquisando na história, voltamos ao ano de 1895, quando Wilhelm Conrad


Roentgen realizou um experimento utilizando um tubo de Crookes (antecessor do
tubo de raios X moderno)1. Ele observou que uma tela fluorescente (antecessora dos
atuais écrans) brilhava fracamente enquanto o tubo permanecia ligado, este
fenômeno acontecia em distâncias de até 2 m entre o tubo e esta tela fluorescente.
Os experimentos seguintes foram verificar se estas emanações atravessavam
materiais e se eram susceptíveis a campo magnéticos. Aqueles raios eram muito
penetrantes, pois atravessavam livros, madeiras, placas metálicas, líquidos entre
outros que Roentgen, incansavelmente aplicava-se em estudar. Em um destes
experimentos ele observou que conseguia ver o contorno dos ossos de sua própria
mão, enquanto colocava um dos materiais na frente dos tais raios. Então convenceu
sua esposa Bertha a colocar a mão dela sob a influência destes raios por cerca de
15 minutos sem se mexer e assim obteve-se a primeira radiografia de extremidade
da história. Esta tão famosa radiografia está exposta no Deutsches Museum.
Quando Roentgen escreveu seu artigo relatando estas observações e descobertas,
ele se referiu aos raios emitidos pelo tubo de Crookes como “raios X”, que eram os
responsáveis por fazer a tela fluorescente brilhar; eles tinham a capacidade de
atravessar alguns materiais, incluindo o corpo humano, o que gerou um reboliço na
medicina, pois os médicos poderiam ver o interior do corpo sem abri-lo
cirurgicamente. Isto se tornou uma tremenda ferramenta de diagnóstico médico, que
hoje conhecemos por radiodiagnóstico e abrange várias modalidades como
radiologia convencional, fluoroscopia, mamografia e tomografia entre outras. Cada
uma delas tem aplicações específicas e equipamentos adequados às anatomias e
com princípios de funcionamento diferenciado. Ao longo de todo o conteúdo deste
material, você será convidado a conhecer cada um dos equipamentos com detalhes
que o ajudarão a compreender como utilizar os benefícios destas técnicas
radiográficas, minimizando os possíveis efeitos danosos provocados pela radiação.

8
Tubo de Crookes: consiste em um tubo de vidro selado a vácuo, contendo internamente,
dois eletrodos metálicos (catodo e anodo) entre os quais se aplicava uma diferença de
potencial. A partir do eletrodo negativo ocorria algum fenômeno que provocava a emanação
dos então chamados raios catódicos, que sofriam alterações em suas trajetórias quando
influenciados por campos magnéticos entre outras reações que foram estudadas por vários
pesquisadores naquele período da história.

4 Atenuação de raios X

Os fótons de raios X passaram a ser utilizados na obtenção de imagens da parte


interna do corpo, cujo princípio está baseado na absorção de alguns destes fótons
por estruturas mais densas e/ou mais espessas; em contrapartida, outros fótons
atravessam órgãos e tecidos atingindo o detector e formando a imagem. Outro nome
que se dá à absorção é atenuação, que segue a regra da equação (1) e está no
diagrama exemplificado da Figura 9. Esta regra é válida para um feixe de radiação
chamado de monoenergético, como é o caso das radiações gama, provenientes de
materiais radioativos, por exemplo. Algumas adaptações na equação (1) são
necessárias quando queremos representar a atenuação de fótons de raios X
provenientes de um feixe policromático (ou polienergético) 1.

I = I 0 ⋅ e − µx (1)

Onde: I0 : Intensidade do feixe antes de atravessar o material absorvedor


I : Intensidade do feixe após de atravessar o material absorvedor
µ : coeficiente de atenuação linear
x : espessura do material absorvedor

9
µ do material
absorvedor

Io I(x)
x
Figura 9 Diagrama da atenuação de fótons ao passarem por um material absorvedor.

5 Interação da radiação com a matéria

A interação da radiação com a matéria ocorre de forma probabilística por meio de


cinco processos diferentes, sendo que na faixa dos raios X nos interessa
principalmente dois deles: o efeito fotoelétrico e o espalhamento Compton, porém
apresentaremos também os outros três fenômenos (espalhamento coerente,
produção de pares e fotodesintegração) de forma bem simplificada3.

5.1 Espalhamento Coerente

Também conhecido por espalhamento Thompson (físico que primeiro observou tal
fenômeno) ou clássico, tem maior probabilidade de ocorrer quando os fótons de
raios X possuem energias menores que 10 keV. Nesta interação entre os fótons e
um átomo, não há transferência de energia e, portanto não causa sua ionização.
Este efeito está demonstrado na Figura 10 onde, um fóton incidente (comprimento
de onda I) interage com um átomo deixando-o excitado. Para voltar ao seu estado
original, o átomo todo vibra, reemitindo o mesmo fóton (ainda com o mesmo
comprimento de onda I = I’), mudando apenas a direção (ângulo) do fóton3.

10
Figura 10 Espalhamento Coerente

5.2 Efeito Fotoelétrico

Este é o fenômeno mais desejado no radiodiagnóstico, pois é o responsável pela formação


das imagens. Talvez você se pergunte: Como assim? Para explicar melhor precisamos
resgatar o conceito intuitivo de formação da imagem em filme radiográfico. Qual a aparência
do osso na imagem? Ele aparece mais claro que os outros tecidos em sua volta. E se
considerarmos a imagem do pulmão? Ele tem tonalidades mais escuras. Por que será que a
imagem do osso é “branca” e do pulmão é “preta”? O responsável por isso é o efeito
fotoelétrico! Vamos entender como isso acontece.
Um fóton de raios X com energia um pouco maior que a energia de ligação dos elétrons da
camada mais interna tem maior probabilidade de realizar o efeito fotoelétrico. Ao interagir, o
fóton é totalmente absorvido (desaparece) e transfere toda sua energia para o elétron mais
fortemente ligado, que é ejetado de sua órbita (Figura 11). Este elétron é chamado de
fotoelétron3.

Informação complementar: Parte da energia do fóton incidente é utilizada para


arrancar o elétron (energia de ligação) sendo o restante transformado em energia
cinética (velocidade) transmitida ao fotoelétron que foi ejetado de sua órbita.

11
O espaço deixado pelo fotoelétron pode ser ocupado por elétrons das camadas superiores,
gerando o que chamamos de radiação característica que aparece nos espectros. Falaremos
de espectros e da radiação características mais adiante no texto.
O efeito fotoelétrico é inversamente proporcional ao cubo da energia dos raios X (1/E3), por
isso a probabilidade de interação fotoelétrica cai rapidamente com o aumento da energia. A
energia mínima necessária para se iniciar uma interação fotoelétrica deve ser ligeiramente
maior que a energia de ligação do elétron na camada K.
Ele, também, é diretamente proporcional ao cubo do número atômico (Z3) do material
absorvedor, tendo maior probabilidade de interagir com materiais de Z alto em comparação
aos de Z mais baixo. Por causa disto, podemos utilizar os materiais de contraste para
melhorar a visualização em algumas estruturas, por exemplo, o tecido mole apresenta um
número atômico efetivo (Zef) de 7,4, enquanto que o Bário tem Zef = 56.
Agora que entendemos como este processo acontece, podemos retomar o que falamos no
início e compreender que o osso tem aparência “branca” e o pulmão, “preta”, pois o primeiro
tem Zef maior que o segundo (osso = 13,8 e pulmão = 7,4), além de maior densidade o que
favorece a maior absorção dos fótons incidentes que ficam retidos no osso; transmitindo
poucos fótons, o filme é pouco irradiado na região dos ossos, deixando-o com a aparência
“branca”; o oposto acontece com o pulmão, que, por ser preenchido com ar, é menos denso,
absorve poucos e transmitindo muitos fótons, que impressionam o filme ficando com a
aparência escura na região dos pulmões.

Figura 11 Efeito Fotoelétrico

12
5.3 Espalhamento Compton

Se o efeito fotoelétrico é tão desejado, por outro lado, gostaríamos o espalhamento


Compton não acontecesse, pois prejudica a qualidade da imagem radiográfica deixando-a
com a aparência borrada, reduzindo o contraste da imagem3.
Considere a Figura 12 para entendermos este processo, nela vemos a radiação incidente
interagindo com um elétron da camada mais externa, dizemos que este elétron está
fracamente ligado ao átomo. Ao absorver parte da energia incidente o elétron secundário
(ou elétron Compton) é ejetado desta órbita com certa energia cinética.
Mas não é apenas isso que acontece, o restante da radiação incidente defletido em outra
direção e com energia menor (o que está representado por outro comprimento de onda).
Este espalhamento pode ocorrer em todas as direções, sendo que quando acontece em
180o, transfere-se o máximo de energia ao elétron Compton, e o fóton secundário é
chamado retroespalhado.
Com relação à probabilidade de ocorrência do efeito Compton, podemos dizemos que ela é
inversamente proporcional à energia (1/E) e é independente do número atômico.

Figura 12 Espalhamento Compton

Resumimos na Tabela 2 uma comparação entre os dois fenômenos mais importantes na


faixa de energia do radiodiagnóstico: fotoelétrico e Compton.

13
Tabela 2 Comparação entre o efeito fotoelétrico e espalhamento Compton.
Descrição Efeito Fotoelétrico Espalhamento Compton
- mais internos - mais externos
- mais fortemente ligados - mais fracamente ligados
Probabilidade com elétrons:
- energia pouco maior que a
de ligação
3
Energia de raios X: - diminui (1/E ) - diminui com (1/E)
3
Número atômico do alvo: - aumenta com Z - não depende
Densidade do material do alvo: - aumentam com materiais mais densos

5.4 Produção de Pares

A Figura 13 apresenta o processo de interação conhecido por produção de pares que ocorre
somente se o fóton incidente de raios X possui energia maior que 1,02 MeV, assim, ele se
aproxima do núcleo atômico e fica sob influencia da força do campo nuclear. Nesta
condição, o fóton incidente desaparece, originando duas partículas carregadas: o pósitron
(positivo) e o elétron (negativo)3. O primeiro se combina com um elétron livre do meio,
gerando dois fótons de 0,512 MeV (radiação de aniquilação); este processo é o princípio de
funcionamento na tomografia por emissão de pósitrons. Já o elétron perde sua energia por
meio de excitação ou ionização.

Figura 13 Produção de pares

14
5.5 Fotodesintegração

Este é a interação entre um fóton altamente energético, acima de 10 MeV e o núcleo do


átomo. Nesta condição, o fóton é absorvido pelo núcleo que fica excitado e para voltar ao
seu estado normal de energia emite um fragmento nuclear3. A Figura 14 representa este
processo de fotodesintegração.

Figura 14 Fotodesintegração.

15
Tecnologia e funcionamento dos equipamentos

Camila Sousa Melo1


Denise Yanikian Nersissian2
Tânia Aparecida Correia Furquim3

6 Geradores

6.1 Definição

Como descrito, o átomo é composto por elétrons, prótons e nêutrons. Cada


uma destas partículas tem uma propriedade intrínseca que determina a
relação entre elas. O elétron (e) tem um caráter negativo, então é chamado
de carga elétrica negativa. O próton (p) tem caráter positivo, conhecido então
como carga elétrica positiva, já o nêutron possui caráter neutro (N), sem
carga elétrica. Qualquer carga elétrica gera um campo elétrico em sua volta,
ou seja, uma região que pode influenciar o comportamento de outras cargas,
como observado na Figura 15.

1
Física Médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
2
Física Médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Doutora em Tecnologia Nuclear -
Aplicações (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - SP), Especialista em Radiologia
Diagnóstica (Associação Brasileira de Física Médica)
3" Física Médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Doutora em Tecnologia Nuclear -

Aplicações (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - SP), Mestre em Biofísica (Instituto de


Física da USP), Especialista em Radiologia Diagnóstica (Associação Brasileira de Física Médica).
"

16
Carga elétrica Carga elétrica
negativa positiva

Linhas do campo Linhas do campo

elétrico apontam elétrico apontam

para dentro da para fora da

carga negativa carga positiva

Interações entre
as cargas
elétricas

Figura 15 Campos elétricos gerados por cargas negativas e positivas e as interações


entre elas.

Esta capacidade de atração e repulsão é chamada potencial elétrico, que é a


energia adquirida por um corpo, no caso a carga elétrica, que o permite realizar
trabalho, movimentação.
Quando uma diferença de potencial (tensão) entre dois pontos em um material cheio
de elétrons é aplicada, deixando um lado mais positivo e o outro negativo, esta
carga é atraída pelo lado positivo e se movimenta até ele, gerando assim uma
corrente elétrica.
Os cabos que alimentam a rede elétrica de um hospital ou clínica são de material
condutor. Este tipo de material possui elétrons da região externa da eletrosfera com
ligação muito fraca com o núcleo, então os elétrons circulam livremente de um
átomo para outro e se distribuem por toda a extensão do condutor. Quando é
aplicada uma tensão, estes elétrons se movimentam para o lado positivo gerando
um fluxo de elétrons chamado corrente elétrica que pode ser medida em
miliampères (mA), sendo 1 mA igual a 6,24 x 1015 elétrons por segundoiv, como
mostrado na Figura 16.

17
Cabo rede elétrica

Figura 16 ensão (kV) e corrente (mA) aplicadas nos cabos de alimentação da rede
elétrica de um hospital ou clínica.

A rede elétrica de um hospital ou clínica fornece normalmente tensão de 110 V e


220 V, muito menor do que a faixa de energia escolhida pelos técnicos em radiologia
nos painéis de controle dos equipamentos de raios X, que são aproximadamente de
40 kV (40000 V) a 150 kV (150000 V) como observado na Figura 17.

Figura 17 As tensões (kV) fornecidas pela rede elétrica dos hospitais e clínicas não são
as selecionadas no painel de controle de um equipamento de raios X
convencional.

18
Então, como os equipamentos de raios X alcançam essas altas
tensões?

A energia proveniente da rede elétrica é fornecida inicialmente a um dispositivo


chamado autotransformador, que é um tipo de transformador. O transformador é um
dispositivo que altera o valor de tensão e corrente inicialmente fornecidas a ele de
acordo com a lei dos transformadores.

6.1.1 Lei dos transformadores e seu princípio de funcionamento

Os transformadores operam segundo a lei de Faraday ou primeira lei do


eletromagnetismo.

Primeira lei do eletromagnetismo


Uma corrente elétrica é induzida em um circuito se este estiver sob a
ação de um campo magnético variável.

Um campo magnético é uma região do espaço induzida por qualquer carga em


movimento, como a corrente elétrica (i) que corresponde a elétrons em movimento,
ou por algum material com propriedades específicas, como o ímã.
Como visto anteriormente, cada carga elétrica cria em torno de si um campo elétrico
com linhas de campo elétrico entrando (carga negativa) ou saindo (carga positiva).
De modo análogo o imã e uma carga em movimento criam um campo magnético (B),
porém sempre suas linhas de campo saem de um polo norte (positivo) e chegam em
um polo sul (negativo), mostrando assim dois polos simultaneamente, como
mostrado na Figura 18.
A terra também gera um campo magnético devido a seu núcleo formado por ferro e
níquel, possuindo assim polos norte e sul. E este é o princípio de funcionamento da
bússola, instrumento de localização, que nada mais é que um ímã com seu norte
apontando sempre para norte geográfico da terra (ou sul magnético), como
observado na Figura 19.

19
Linhas de campo magnético

B) Fio enrolado passando


A) Ímã
corrente elétrica (i)

Corrente elétrica (i) = Carga em movimento


Fio enrolado = Conjunto de espiras

Figura 18 Campo magnético gerado pelo ímã (A) e por carga em movimento
(B).

20
Achar os pólos norte e sul e a direção do campo magnético !!!!⃗
(! )!

Ímã Espira
Colocar sobre limalha de ferro e observar as
linhas de campo magnético formadas
Regra da mão direita

i
S N
!⃗
!

Bússola = ímã em forma de agulha que gira sobre Polegar = no sentido da corrente elétrica (i)

Fechamento mão = sentido campo magnético !!!!⃗


um referencial de posicionamento (norte, sul, leste,
(! )
oeste)
Pólo norte geográfico
Pólo norte geográfico
Pólo sul magnético
Pólo sul magnético

N S

Globo
O L
Terrestre
!⃗
!
S
Bússola N i
Pólo sul geográfico Pólo sul geográfico
Pólo norte magnético Pólo norte magnético

Seu norte aponta para o polo sul magnético da terra (chamado


polo norte geográfico para facilitar a orientação pela bússola,
norte da bússola indicando norte geográfico da terra da terra) linhas de campo saem de um pólo norte (N) e
chegam a um pólo sul (S)

O norte da bússola aponta para o sul magnético da terra pois:

Se atraem

N S N S S N S N i
S N
Se repelem

N S S N S N N S

Figura 19 Descobrindo as linhas de campo magnético e sua direção.

21
Uma carga em movimento está sempre associada a um campo magnético ao seu
redor – e essa carga pode sofrer a influência de um campo magnético associado à
outra carga também em movimento ou algum ímã. Por exemplo, uma espira
passando corrente elétrica gera campo magnético e se inserida perto de um ímã que
também tem seu próprio campo magnético, eles sofrerão uma interação denominada
força magnética (F), que gira esta espira. Esta força é vetorial, ou seja, é
caracterizada por uma direção e sentido.
Se a corrente elétrica que passa pelos fios variar (corrente alternada) produzirá um
campo magnético variável, de acordo com a primeira lei do eletromagnetismo. Por
isso, os transformadores são alimentados com correntes (i) alternadas senoidais de
frequência (f) de 60 Hz, que é o tipo de corrente fornecida pelas redes elétricas de
um hospital ou clínica, como observado nas Figuras 20 e 21.

Corrente alternada Corrente contínua


(onda senoidal) (reta)

Corrente alterna seu valor em positivo Corrente mantém mesmo valor


e negativo ao longo do tempo positivo ao longo do tempo

Figura 20 Diferenças entre corrente contínua e alternada.

22
f = Número de ciclos em um
Se for ciclos por segundo (s), a
intervalo de tempo específico
unidade utilizada é a Hertz (Hz)

Figura 21 Frequência de uma corrente alternada.

Um transformador são fios enrolados em torno de cada lado de um núcleo de


ferro, formando de um lado uma bobina primária e do outro uma
1
secundária. Este núcleo é curvado para que não tenha saída de linhas de
campo magnético devido às bordas e este campo se mantenha no centro do
núcleo, como mostrado na Figura 22.
Assim, uma corrente alternada na bobina primária produz um campo
magnético que passará através do centro da bobina secundária e induzirá
uma corrente alternada nesta. Os valores produzidos de corrente e tensão
pelo transformador seguem a lei dos transformadores, demonstrando que a
razão das tensões é proporcional à razão entre o número de voltas das
espiras, e inversamente proporcional à razão de correntes, como pode ser
observado na Figura 22.

23
Bobina primária Bobina secundária
Núcleo de ferro

=?
110 V =
= 0,5 A
=?
=4

=8

Vp = Tensão bobina primária VS = Tensão bobina secundária


Ip = Corrente bobina primária IS= Corrente bobina secundária
Np = Número de voltas bobina primária NS = Número de voltas bobina secundária

Figura 22 Exemplificação de um transformador e seu funcionamento de acordo com a


lei dos transformadores.

De acordo com a Figura 22 podemos concluir que, se o número de espiras da


bobina secundária for maior do que o da bobina primária, teremos valores maiores
para a tensão e menores de corrente da bobina secundária em relação à primária,
caracterizando assim um transformador elevador de tensão. Já, se o número de
espiras da bobina secundária, for menor do que o da primária, teremos valores
menores de tensão e maiores de corrente da bobina secundária em relação à
primária, caracterizando assim um transformador abaixador de tensão.

24
Autotransformadores

O autotransformador é um tipo de transformador e funciona com o mesmo princípio


do transformador apresentado na Figura 22, a única diferença é que consiste de
apenas um fio enrolado em um núcleo de ferro sem curvatura, com conexões de
entrada e saída que são as suas bobinas primária e secundária, como demonstrado
na Figura 23.

Ns = 9
(número de
Np = 25
Vp = 110 V voltas bobina
(número de
(tensão bobina secundária)
voltas bobina
primária)
primária)
Aplicar a lei dos
Vs = ?
transformadores
(tensão bobina
secundária)

Figura 23 Autotransformador e seu princípio de funcionamento.

Um autotransformador é um tipo de transformador utilizado para pequenas


alterações de tensão e corrente3. Deste modo, a corrente e tensão fornecida pela
rede elétrica é aplicada ao autotransformador que fará uma primeira alteração nesta
tensão que será aplicada a outro transformador, com capacidade de elevação da
tensão para a ordem dos kilovolts, e a corrente gerada será fornecida a um
transformador abaixador de tensão. Assim, os valores de tensão e corrente se
elevam, de acordo com a lei dos transformadores, e alcançam os valores
selecionados no painel de controle do equipamento de raios X.
O tubo de raios X consiste de uma cápsula a vácuo, que pode ser de vidro ou metal
e que possui duas partes, chamadas de catodo (fonte de elétrons) e anodo (alvo dos
elétrons), como mostrado na Figura 24.
Entre estas partes é aplicada uma tensão (VA) pelo transformador elevador de
tensão do gerador com o objetivo de acelerar os elétrons, produzidos no catodo, em

25
direção ao anodo, e os retificadores são dispositivos que garantem esta única
direção sempre. Para a produção dos elétrons no catodo é aplicada uma tensão (VB)
pelo transformador abaixador de tensão em um filamento localizado nesta região.

(tensão de aceleração dos elétrons


do catodo para o anodo)
VA

Anodo Catodo

Filamento

Raios X

Figura 24 Tubo de Raios X e seu funcionamento simplificado

Os transformadores de elevação e redução da tensão constituem um gerador de alta


tensão juntamente com os retificadores. Os retificadores são compostos por diodos
que são dispositivos que garantem o sentido único da direção da corrente no tubo de
raios X e podem ser representados como demonstrado na Figura 254.

26
Figura 25 Representação do diodo e sentido da corrente e elétrons no tubo de raios X.

Dependendo da quantidade e arranjo destes diodos, a retificação pode ser de meia


onda ou onda completa. Este nome se refere ao formato de onda produzido pela
corrente alternada fornecida pela rede elétrica, uma onda senoidal com parte
positiva e negativa, pois a direção de corrente é variada, como já demonstrado na
Figura 20.

6.1.2 Retificação de meia onda

A Retificação de meia onda permite a passagem da corrente elétrica pelo


circuito, que liga os transformadores ao tubo de raios X, somente durante a
parte positiva da onda. Consequentemente, a produção de raios X só é
realizada durante somente metade do ciclo da onda, implicando em aumento
do tempo de exposição no exame para compensar esse tempo sem produção
de raios X.
O direcionamento desta corrente do catodo ao anodo no tubo de raios X é
realizado por um ou dois diodos, como observado na Figura 26.

6.1.3 Retificação de onda completa

É possível, entretanto, utilizar todo o ciclo da onda da corrente alternada para


a produção de raios X, otimizando assim o tempo de exposição do exame.
Essa forma de retificação é denominada retificação de onda completa.

27
Equipamentos de raios X com retificador de onda completa direcionam a
corrente com pelo menos quatro diodos. Neste circuito retificador, durante o
ciclo negativo da onda os elétrons são redirecionados de forma que o anodo
esteja sempre com potencial positivo. Consequentemente, ocorre produção
de raios X durante todo o ciclo da onda como pode ser observado na
segunda metade do ciclo na Figura 27.
A principal vantagem da retificação de onda completa é que o tempo de
exposição para qualquer técnica de exame escolhida é reduzido à metade,
diminuindo a exposição do paciente à radiação3.

Figura 26 Retificação de meia onda.

28
Figura 27 Retificação de onda completa.

6.2 Tipos de geradores

Geradores

Potencial
Monofásic constante
Trifásico Alta
frequência

29
6.2.1 Monofásicos

A forma de onda de entrada e saída dos transformadores deste tipo de gerador é de


fase única, ou seja, é produzida uma única onda, com variações positiva e negativa
devido à corrente alternada fornecida pela rede elétrica.
Nesta configuração de gerador, a tensão selecionada no painel de controle é gerada
pelo autotransformador e aplicada a bobina primária do transformador de alta tensão
(elevador de tensão). Esta tensão primária é então intensificada, retificada (meia
onda ou onda completa) e aplicada ao tubo de raios X. A tensão produzida pelo
transformador de alta tensão varia de zero a um valor máximo, tendo 100% de
variação da sua ondulação, também chamada variação de ripple, como mostrado na
Figura 8.

Gerador Monofásico de 1 pulso

1 ciclo ; 1 pulso
Kmáx

100% variação
(ripple)

A) 0

Retificação de meia onda


(segunda metade do ciclo sem produção de raios X)

1 ciclo ; 2 pulsos
Kmáx

100% variação
(ripple)

B)
0

Retificação de onda completa


(segunda metade do ciclo com produção de raios X)

Figura 28 Formato de onda produzido em um gerador monofásico de meia onda (A) e


onda completa (B

30
6.2.2 Trifásicos

Uma forma de superar essa alta variação de tensão e perda de eficiência é gerar
três formas de onda simultâneas e fora de fase, ou seja, tem seu início em tempos
diferentes. Essa manipulação resulta em uma tensão trifásica e gera múltiplas
formas de onda superpostas, resultando em uma forma de onda que mantém um
valor de alta tensão aproximadamente constante, com uma variação de somente
13%, como observado na Figura 29.

Figura 29 Gerador trifásico de 6 pulsos

Com tamanha redução da variação ripple, os geradores trifásicos fornecem


uma tensão mais constante para o tubo de raios X e podem produzir tempos
muito curtos de exposição do paciente à radiação. No entanto, estes
sistemas são maiores, ocupando mais espaço e devido sua maior
complexidade, são mais caros4.

31
6.2.3 Alta frequência

Uma vantagem do gerador de alta frequência é o seu tamanho. Esses geradores


são muito menores que os geradores monofásico e trifásico, e produzem uma forma
de onda de tensão aproximadamente constante, possibilitando melhor eficiência do
tubo de raios X e consequentemente menor dose de radiação recebida pelo
paciente3. Este tipo de gerador utiliza um circuito monofásico ou trifásico retificado.
Posteriormente, converte o sinal gerado deste circuito (f = 60 Hz) em um sinal de
alta frequência (500 – 40000 Hz) através de um dispositivo chamado inversor de
potência3. O sinal resultante passa por um transformador elevador de tensão, com
retificação de onda completa que dobra o número de pulsos, como observado na
Figura 30.

Figura 30 Tensão gerada em um gerador de alta frequência

32
6.2.4 Potencial constante

Um gerador de potencial constante é um gerador trifásico com a adição de um


circuito que controla o tempo de exposição e magnitude da tensão fornecida ao tubo
de raios X. Este circuito controlador é colocado na saída do transformador elevador
de tensão, que fornece a diferença de potencial ao tubo de raios X4. O circuito
controla a duração da exposição ligando e desligando a tensão fornecida ao tubo
com aproximadamente 20 ms de precisão. E com a ajuda de um sistema que
monitora e mede a diferença entre a tensão desejada no painel de controle e a atual
tensão no circuito de alta-tensão, ele ajusta a magnitude da alta tensão de saída
gerada com 20 a 50 µs de precisão4.
Um gerador de potencial constante consegue uma tensão para o tubo de raios X
com variação menor que 2%, como observado na Figura 31.

< 2%
Variação
(ripple)

Figura 31 A forma de onda produzida por um gerador de potencial constante possui


uma variação de menor que 2%.

6.3 Localização

O gerador normalmente encontra-se dentro da sala de exames, próximo ao tubo de


raios X, enquanto que o painel de controle é instalado atrás de uma barreira de
proteção, como observado na Figura 32. E em equipamentos móveis, ele se
encontra acoplado às outras partes do equipamento, formando uma única estrutura,
como observado na Figura 33.

33
Figura 32 Posicionamento das partes de um equipamento de raios X em uma sala de
exames.

Figura 33 Partes de um equipamento móvel.

34
7 Tubos de raios X

7.1 Anatomia de um tubo para radiologia convencional e emissão


termoiônica

O tubo de raios X, como visto anteriormente, consiste de uma cápsula a vácuo, que
pode ser de vidro ou metal. A condição de vácuo é utilizada para evitar colisões dos
elétrons com moléculas de gás no percurso do catodo para o anodo, garantindo
assim um bom isolamento elétrico.
A cápsula de vidro ou metal é envolta por uma cúpula que exerce a função de
sustentá-la, isolá-la e protegê-la do meio externo. A cúpula é revestida inteiramente
com chumbo, exceto em uma janela radiotransparente designada para saída dos
raios X, bloqueando assim os outros raios X emitidos em outras direções, pois eles
são emitidos em todas as direções após sua formação no anodo, como pode ser
observado na Figura 19. Os fótons de raios X que passam por esta janela
constituem o chamado feixe útil. A produção deste feixe gera muito calor,
necessitando de um sistema de resfriamento dentro da cúpula. Este resfriamento
pode ser feito através de ar, óleo ou água. Muitos dos tubos resfriados por ar são
equipados com tipos de ventiladores ou circuladores de ar, já o óleo (ou água)
circula com o auxílio de uma bomba, que controla sua ida para o resfriamento e volta
para o tubo através de mangueiras especiais. Quando ocorre aquecimento
excessivo do óleo, há na cúpula uma parede com capacidade de expansão, como
observado na Figura 34.

Figura 34 Partes internas de uma cúpula de tubo de raios X.

35
7.1.1 Catodo

Uma vez o tubo resfriado e liberado para funcionamento, a produção de raios X se


inicia. O catodo exerce a função de fonte de elétrons do tubo de raios X. Para a
produção destes elétrons há um ou dois filamentos helicoidais de tungstênio, como
mostrado na Figura 35.

Figura 35 Filamentos do catodo e sua estrutura de focalização.

O filamento é conectado a um transformador abaixador de tensão, chamado


transformador do filamento, que fornece uma diferença de potencial para produção
de corrente (mA). Esta corrente produzida é de valor igual ao selecionado no painel
de controle do equipamento (aproximadamente de 20 a 500 mA, ou maior). A
corrente determina a temperatura do filamento, aquecendo-o suficientemente para
ocorrer a liberação de elétrons por emissão termoiônica.
A emissão termoiônica consiste da ejeção de elétrons por aquecimento de um
material condutor. Os elétrons num material condutor, à temperatura ambiente, se
agitam e passam de um átomo para outro facilmente devido a sua fraca ligação com
o núcleo. Este movimento no interior do material induz uma carga positiva
correspondente na superfície que tende a atraí-lo.
O aquecimento deste material a aproximadamente 2200ºC proporciona aos elétrons
energia mínima, chamada função-trabalho, necessária para superar a força de
atração do material devido às cargas positivas geradas, formando uma nuvem de
elétrons próxima à superfície do condutor.

36
Então, durante o aquecimento do filamento, esta nuvem de elétrons é formada ao
seu redor, como visto na Figura 36 e quando uma tensão é aplicada no tudo de raios
X esses elétrons são acelerados em direção ao anodo, gerando uma corrente
elétrica. Porém, se a tensão for muito baixa, alguns elétrons retornam pra o
filamento em vez de seguirem em direção ao anodo, reduzindo assim a corrente no
tubo. Este efeito é conhecido como efeito espacial de carga. Assim, tensões maiores
produzem correntes no tubo levemente maiores para a mesma corrente de filamento
até que todos os elétrons sejam acelerados e ocorra a saturação.

Figura 36 Filamento aquecido e sua nuvem de elétrons.

Materiais que são bons emissores termoiônicos possuem uma função de trabalho
baixa e um ponto de fusão alto. O tungstênio tem ponto de fusão a 3400ºC e uma
função trabalho de 4,5 eV, por isso é tão utilizado como material do filamento do
catodo3.
Apesar de o ponto de fusão dos materiais usados serem altos, o filamento pode
sofrer vaporização se mantido por muito tempo a essa alta temperatura. Então, a
corrente do tubo é mantida em um valor inferior, que mantém o filamento pré-
aquecido em uma temperatura menor do que a necessária durante a exposição. Por
isso, os equipamentos de diagnóstico por imagem normalmente possuem botões de
duas etapas, a 1º etapa chamada preparo, quando o filamento é pré-aquecido, e a
2º chamada exposição, quando a alta tensão entre o anodo e o catodo é acionada e
a exposição é realizada. Também, encontram-se equipamentos com dois botões, um
designado para o preparo e o outro para a exposição.
Os elétrons ejetados do filamento interagem com uma pequena área no anodo. Para
manter pequena esta área de interação no disco do anodo, o caminho entre o
catodo e o anodo é orientado pela estrutura de focalização que se encontra ao redor

37
do filamento, pois os elétrons tendem a se repelir por possuírem mesma carga
negativa. A focalização é feita por uma tensão aplicada a esta estrutura, de mesmo
valor da fornecida ao filamento ou mais negativa. No segundo caso, o circuito que
fornece a tensão para a estrutura de focalização é isolado do circuito que fornece a
tensão para o filamento, resultando em uma largura de feixe de elétrons menor.
A largura da área atingida no disco de anodo é definida pela tensão aplicada à
estrutura de focalização, e o comprimento pelo comprimento do filamento. Esta área
atingida no anodo é conhecida por ponto focal e o comprimento do filamento
determina se o foco é grosso (comprimento maior) ou fino (comprimento menor),
como observado na Figura 37.

Figura 37 A) Foco fino, área de comprimento menor no anodo; B) Foco grosso, área de
comprimento maior no anodo.

38
7.1.2 Anodo

Na área atingida no anodo ocorrem as interações para produção de raios X. Estas


interações acontecem especificamente no disco do anodo, que pode ser
estacionário ou giratório. Para rotacionar esta estrutura, o anodo possui um arranjo
elaborado de rotor e estator, já o anodo fixo consiste simplesmente de tungstênio
inserido em um bloco de cobre, como mostrado na Figura 38.
Os elétrons que colidem no anodo depositam a maior parte da sua energia na forma
de calor e somente uma parte é emitida em raios X (aproximadamente 1%), então é
necessário que o anodo tenha uma alta capacidade de dissipar este calor gerado
para evitar danos na sua estrutura e ser eficiente na produção de raios X. Estas
características são alcançadas através da escolha do material do alvo e da
instalação de um sistema rotacional acoplado a ele, que aumenta sua área de
dissipação de calor. Os materiais geralmente utilizados são o tungstênio, rênio ou
uma combinação destes, devido a seus altos pontos de fusão e alto número
atômico. O material mais utilizado é o tungstênio, escolhido devido a seu alto ponto
de fusão (3400ºC), suportando alto depósito de calor sem fissuras ou corrosão,
como observado na Figura 39. O acréscimo de outro material (ex: rênio) forma uma
liga (ex: 10% rênio e 90% tungstênio) que deixa o anodo ainda mais resistente4.

Catodo Anodo Fixo

Figura 38 Anodo fixo do tubo de raios X.

39
Disco do anodo
Catodo
giratório

Fissuras na área do anodo


devido ao excesso de calor

Figura 39 Disco do anodo giratório com fissuras devido ao excesso de calor

A rotação do anodo é realizada pelo aprisionamento de um disco de tungstênio a um


motor de indução através de uma haste de molibdênio. Este motor é constituído por
um rotor (barras de cobre arranjadas ao redor de um núcleo de ferro cilíndrico) e um
estator (conjunto de bobinas que ficam ao redor do rotor, fora da cápsula a vácuo),
como observado na Figura 39. Com a aplicação de uma corrente alternada entre os
pares de bobinas do estator, é produzido um campo magnético que induz uma
corrente no rotor, e esta corrente induz um campo magnético oposto. O rotor sofre
ação da força magnética, como explicado anteriormente, e assim rotaciona. A
produção de raios X no equipamento só é permitida quando a velocidade máxima do
anodo é alcançada, ocasionando um atraso entre o acionamento do botão no painel
de controle e a produção dos raios X. A haste de molibdênio diminui o calor
transferido do anodo para o rotor devido a este material ser um mal condutor de
calor, preservando assim a integridade do rotor.
Os tubos com anodos giratório exigem uma engenharia mais elaborada para sua
fabricação, tornando-os mais caros. Por isso, apesar de a maioria dos equipamentos
serem de anodo giratório, há muitos que utilizam anodo fixo. No anodo fixo, o bloco
de cobre onde é inserido o tungstênio tem a função de suporte deste alvo e de
dissipar o calor gerado. Como a interação neste anodo acontece sempre na mesma
área, a corrente do tubo é limitada pra não ocorrer danos na superfície deste alvo,

40
ao contrário do anodo giratório que consegue uma área de interação no anodo muito
maior do que o anodo fixo, tendo melhor capacidade de dissipação de calor.

7.1.2.1 Angulação do anodo e ponto focal

A área de interação dos elétrons no anodo influencia a qualidade da imagem


produzida. Os equipamentos de raios X tem a finalidade de produzir uma imagem
adequada para um bom diagnóstico do paciente e, para obter esta imagem os fótons
devem ser emitidos de uma fonte o mais pontual possível e ter uma exposição curta
para evitar borrões na imagem causados pelos movimentos do paciente (voluntários
e involuntários). Devido a área de uma fonte pontual ser muito pequena, ao utilizar
uma exposição curta é necessário ter uma quantidade de corrente maior. Os
elétrons que atingirão esta pequena área do alvo (ponto focal), produzirão grande
quantidade de calor que precisa ser dissipada ou danificará a estrutura. Com o
objetivo de resolver tais problemas, adquiriu capacidade giratória, como já visto
anteriormente, e o anodo foi angulado.
Esta angulação torna a área do campo de raios X que atinge o paciente menor do
que a área da produção deste no alvo, como observado na Figura 40.

Ângulo do alvo
θ

Comprimento do feixe
de elétrons

Comprimento real do

Comprimento efetivo ponto focal (CPFR)

do ponto focal (CPFE)

CPFE = C PFR x sen θ

CPFE < C PFR


(Princípio de linha do foco)

Figura 40 A inclinação do anodo permite que se alcance um ponto focal efetivo menor
do que o real.

41
A área no anodo que os elétrons colidem é chamada ponto focal real e a que atingi o
paciente é chamada de ponto focal efetivo e sua largura permanece a mesma da do
ponto focal real, porém seu comprimento (CPFE) é igual ao comprimento do ponto
focal real (CPFR) multiplicado pelo seno do ângulo do anodo, tornando-o menor. Este
encurtamento é chamado de princípio de linha do foco.
O comprimento do ponto focal efetivo varia com a posição no plano da imagem e na
direção anodo-catodo. Em direção ao lado do anodo o comprimento projetado do
ponto focal encurta, enquanto que alonga em direção ao lado do catodo, como
observado na Figura 41. Na dimensão da largura, o tamanho do ponto focal não
muda com a posição na imagem no plano.

Figura 41 O comprimento do ponto focal efetivo varia na direção anodo-catodo.

42
Figura 42 Variação ângulo do anodo.

Os ângulos dos anodos variam de 7 a 20 graus e o ângulo a ser escolhido depende


da estrutura que se deseja observar na imagem. Pois, se é necessário uma alta
definição de detalhes (alta resolução espacial), isto é alcançado com um ponto focal
efetivo menor, que é consequência de um ângulo menor do anodo. Porém, este
ângulo menor limita o tamanho do feixe de raios X, podendo-se perder informação
se a parte do corpo for grande demais, como observado na Figura 424.

7.1.2.2 Efeito Anódico ou efeito heel

Outra desvantagem desta pequena angulação é que os fótons de raios X irradiados


em direção ao lado do anodo atravessam uma espessura maior deste antes,
sofrendo maior atenuação do que os direcionados para o lado do catodo. Portanto, o
feixe de raios X sofre o que é chamado de efeito anódico ou efeito heel e tem
intensidade reduzida na direção do anodo, visualizado na Figura 43. Este efeito é

43
reduzido quando a distância da fonte-detector é grande, pois o detector recebe um
ângulo menor do feixe.
Para evitar que este efeito prejudique muito a qualidade da imagem, procura-se
posicionar o catodo sobre as partes mais espessas e densas do paciente, como
pode ser observado na Figura 44, conseguindo assim um balanceamento dos fótons
ao longo do eixo anodo-catodo, produzindo assim uma imagem mais uniforme.

7.1.2.3 Radiação extrafocal

Além do efeito anódico, a qualidade da imagem sofre também com uma pequena
fração dos elétrons acelerados em direção ao anodo que se espalham e são
reacelerados para fora da área do ponto focal, como observado na Figura 45. Estes
elétrons colidem com esta área e produzem raios X de baixa energia,
consequentemente o comprimento do ponto focal efetivo aumenta, a resolução
espacial diminui, prejudicando a qualidade da imagem e ocorre um aumento
desnecessário de exposição ao paciente. Para evitar isto, um pequeno colimador de
chumbo pode ser colocado perto da saída do tubo de raios X com a finalidade de
interceptar esses fótons indesejados. Tubos com cápsula de metal com mesma
diferença de potencial aplicada ao anodo podem atrair os elétrons perdidos tanto
quanto o anodo e interceptá-losiv.

Figura 43 Diferenças de intensidade no feixe de raios X devido a inclinação do anodo.

44
Parte superior do tórax
E posicionada do lado do anodo

S
T Tubo de
A raios X

TI
V
A
Parte inferior (mais espessa) do
tórax posicionada do lado do
catodo

Figura 44 Posicionamento exame de tórax

Figura 45 Elétrons podem ser retroespalhados no anodo, causando a produção de


raios X extrafocal.

45
7.2 Interações no anodo: Bremsstrahlung e radiação característica

Como visto anteriormente, os elétron emitidos do catodo interagem em uma


pequena área no anodo, o ponto focal. Essas interações são transferências de
energia cinética dos elétrons aos átomos do material do anodo. Essa energia
cinética, energia de movimento adquirida com a aceleração dos elétrons, pode ser
transferida para o anodo na forma de energia térmica (calor) ou energia
eletromagnética (radiação infravermelha ou raios X, podendo estes últimos serem
radiação característica ou de freamento), diminuindo a velocidade dos elétrons até
estes pararem3.
Essa conversão de energias depende em que parte do átomo do material o elétron
vai interagir. Como visto anteriormente, os átomos são compostos por um núcleo
(prótons e nêutrons) e camadas orbitais ocupadas por elétrons. Então, os elétrons
acelerados em direção ao anodo podem interagir tanto com o núcleo dos seus
átomos, como com os elétrons das suas diversas camadas orbitais.

7.2.1 Produção de calor

Quando a interação ocorre com os elétrons mais externos das camadas orbitais, a
energia cinética é convertida em radiação infravermelha. A energia transferida excita
os elétrons para um nível de energia mais elevado, porém imediatamente eles
retornam a seus níveis normais de energia (estado fundamental) com liberação de
radiação infravermelha, como mostrado na Figura 46.
A radiação infravermelha é uma radiação eletromagnética com comprimento de
onda até 700 nanômetros, recebe este nome por estar localizada logo depois da luz
vermelho no espectro de luz e não é visível ao olho humano. Apesar de não poder
ser vista, esta radiação pode ser notada no material em forma de calor.
Aproximadamente 99% da energia cinética dos elétrons projetados é convertida em
calor e apenas 1% é usada na produção de raios X3. Este calor intenso limita o
número de fótons de raios X que podem ser produzidos em um dado tempo sem
destruir o alvo.

46
Figura 46 Emissão radiação infravermelha

7.2.2 Raios X característicos

Os elétrons que colidem com o anodo podem ir mais fundo no átomo, interagindo
com camadas orbitais mais internas. Se a energia transferida é do valor da energia
que mantém os elétrons nestas camadas (energia de ligação), este será arrancado
da sua camada orbital e esta ficará com um buraco vazio, uma vacância.
Enquanto este elétron arrancado é ejetado podendo interagir com outros átomos, a
vacância deixada é preenchida por um elétron de uma camada mais externa,
liberando energia neste processo em forma de raios X característico como
observado na Figura 47.

Figura 47 Emissão de raios X característicos.

O elétron pode ser removido de qualquer uma das camadas orbitais. Cada elétron
no alvo tem uma energia de ligação que depende da camada em que reside, sendo
os raios X característicos produzidos com energias específicas, iguais às diferenças
das energias de ligação para as várias transições possíveis entre os elétrons das
diversas camadas orbitais (transições eletrônicas), como mostrado na Tabela 3 que
mostra Raios X característicos do tungstênio (geralmente o material utilizado no
anodo do tubo de raios X).

47
Tabela 3 Energias aproximadas de Raios X característicos produzidos no Tungstênio.
Energia Energias aproximadas emitidas das Transições eletrônicas
Número
Camadas aproximadas das camadas do tungstênio
de
orbitais de ligação Camada Camada Camada Camada Camada
elétrons
(keV) L M N O P
69 69 – 12 = 69 – 3 = 69 – 1= 69 – 0,1= 69
K 2
57 66 68 68,9
L 8 12 12 – 3= 12 - 1= 12 – 0,1= 12
9 11 11,9
M 18 3 3 – 1= 3 – 0,1= 3
2 2,9
N 32 1 1 – 0,1= 1
0,9
O 12 0,1 0,1
P 2 - - - - - -

A energia dos raios X


característicos emitidos é a As vacâncias só podem ser preenchidas por elétrons
diferença das energias de de camadas mais externas:
ligações envolvidas Camada K pode ser preenchida por L, M, N, O e P
Camada L pode ser preenchida por M, N, O e P

Na faixa de energia utilizada em diagnóstico por imagem, a radiação característica


prevalente é a gerada pelo preenchimento de vacâncias da camada K. As outras
energias produzidas por vacâncias em outras camadas são muito baixas, como
observado na Tabela 3, e são quase inteiramente atenuadas pela janela do tubo de
raios X ou filtros adicionais4.

7.2.3 Raios X de Freamento

Os elétrons podem penetrar ainda mais fundo nos átomos do alvo e interagirem com
seus núcleos. Nesse tipo de interação, a energia cinética do elétron incidente é
também convertida em energia eletromagnética, só que na forma de raios X de
freamento (ou bremsstrahlung).
A energia emitida por raios X de freamento acontece pois quando o elétron incidente
de carga negativa se aproxima do núcleo que contém prótons de carga positiva
ocorre uma força de atração entre eles que causa a perda de energia cinética do
elétron, desacelerando-o e mudando sua trajetória. Neste processo, a energia
cinética perdida é revertida em raios X de freamento e o elétron segue sua nova

48
trajetória com valor de energia igual a sua energia incidente no alvo menos a energia
cinética perdida em forma de raios X de freamento, podendo sofrer muitas outras
interações e produzir mais raios X de fretamento antes de perder toda essa energia.
Há também a possibilidade de interação do elétron com o núcleo e produção e
conversão total da energia incidente em energia de raios X de freamento, porém isto
é muito difícil de acontecer devido ao pequeno tamanho do núcleo em relação a todo
o átomo, como mostrado na Figura 48.
As energias de raios X de freamento produzidos podem variar de zero até a energia
de pico dos elétrons. A energia de pico é a energia máxima que pode ser produzida,
que é definida pela tensão selecionada no painel de controle e aplicada ao tubo de
raios X. Por exemplo, uma seleção de tensão de 80kV, vai proporcionar aos elétrons
uma energia cinética de no máximo 80 kV, e ele pode perder toda sua energia,
nenhuma ou qualquer energia entre esse intervalo.
A quantidade de energia cinética perdida depende da distância de interação do
elétron com o núcleo do átomo. A força de atração aumenta com o inverso do
quadrado da distância da interação, então para distâncias menores, a força de
atração do elétron aumenta, causando uma mudança de trajetória e perda de
energia maior, produzindo raios X de freamento com altas energias formando um
espectro de emissão contínuo, como mostrado na Figura 49.

Figura 48 Emissão raios X por freamento.

49
Figura 49 Um espectro de emissão de raios X típico contém raios X característicos e de
freamento.

7.3 Espectro do feixe de raios X e suas propriedades

Um espectro de raios X é um gráfico da quantidade de raios X por energia emitida,


usualmente medida em kilovolts, pois a faixa de energia utilizada em
radiodiagnóstico está nesta ordem, e engloba tanto raios X de freamento quanto
característicos, como observado na Figura 50.

Figura 50 Espectro de raios X.

50
7.3.1 Alteração de corrente (mA) e tempo (s) e seu efeito no espectro
de raios X e densidade da imagem.

A alteração de corrente (mA) e tempo de exposição (ms) em um exame afeta o


espectro de raios X. A quantidade de raios X emitidos em cada nível de energia
diminui ou aumenta proporcionalmente ao produto corrente-tempo (mAs), porém
sem afetar os valores de energia ao longo do espectro, como pode ser observado na
Figura 513.

Figura 51 Efeito da alteração de corrente (mA) e tempo (ms) no espectro de raios X.

Essas alterações no espectro ocorrem, pois ao aumentar a corrente (mA), mais


elétrons fluirão pelo filamento do catodo, que elevará mais sua temperatura e
produzirá mais elétrons por emissão termoiônica. Deste modo, mais elétrons
atingirão o anodo e serão utilizados para a produção de raios X. Mesma coisa ocorre
ao aumentarmos o tempo de exposição (ms) e deixarmos a corrente (mA) sem ser
alterada. Então, a quantidade total de raios X emitidos em determinada exposição ao

51
paciente é o produto da corrente (mA) pelo tempo de exposição (ms), que é
chamado de corrente-tempo (mAs).
Além de mudanças no espectro de raios X, a imagem radiográfica produzida
também será alterada. O produto corrente-tempo (mAs) influencia diretamente a
densidade da imagem radiográfica3.

Figura 52 Lei da reciprocidade, densidade no filme é proporcional à exposição total


recebida por ele.

Q
A lei da reciprocidade define que a densidade gerada em um filme radiográfico é
proporcional a exposição total, quantidade de raios X, recebida por este filme, por
exemplo, se um filme A for duas vezes mais exposto que um filme B, ele terá
densidade duas vezes maior, como demonstrado na Figura 523.

52
Esta lei apresenta falhas em exposições extremamente curtas (<0,05 segundos)
com alta corrente ou exposições extremamente longas e baixa corrente, porém ao
longo do tempo os filmes foram fabricados com características especiais para
compensar tal falha3.
Tendo o conhecimento desta lei e correção de sua falha, o técnico em radiologia
pode ajustar o produto corrente-tempo (mAs) de modo que obtenha uma imagem
com densidade adequada, evitando repetições de exames e consequentemente
expor o paciente um maior tempo à radiação. Por exemplo, um exame com um
tempo de exposição mais curto pode evitar borrões na imagem devido a movimentos
do paciente, sejam eles voluntários ou involuntários, e conseguir manter a mesma
quantidade de raios chegando no receptor de imagem e mantendo a mesma
densidade com o ajuste adequado da corrente (mA), como já observado na Figura
51, onde o tempo no painel de controle 1 foi diminuído pela metade e a corrente foi
duplicada, conseguindo assim manter o mesmo produto corrente-tempo (mAs) de 10
em ambos os painéis de controle.

7.3.2 Alteração de tensão e seu efeito no espectro de raios X, densidade e


contraste da imagem.

Quando a tensão é elevada no painel de controle de um equipamento de raios X, o


espectro gerado tem seus valores de energia aumentados e quantidade de raios X
produzidos também, como pode ser observado na Figura 53.
Essas alterações no espectro acontecem, pois os elétrons emitidos do filamento do
catodo não aumentam em quantidade, como acontece com a elevação do produto
corrente-tempo (mAs), e sim, adquirem maior aceleração, maior velocidade e
consequentemente chegam no anodo com maior energia cinética. Desta maneira, a
energia máxima que os raios X podem ser produzidos, devido a interações no
anodo, aumenta. Assim, raios X com níveis de energia maiores podem ser
produzidos, deslocando o espectro para a direta, como pode ser observado na
Figura 53.
Os raios X produzidos por freamento tem como consequência o desvio de trajetória
dos elétrons incidentes no anodo, como já observado anteriormente. Quanto maior
for a energia que o elétron incide no anodo, maior será a energia que restará para
ele na sua nova trajetória. Consequentemente, conseguirá continuar a interagir com
uma maior quantidade de outros átomos no anodo, perdendo sua energia ao se
aproximar do núcleo e desacelerar. Em cada interação, há a produção de raios X por

53
freamento e a quantidade total de raios X emitidos aumenta (elevação da altura da
curva do espectro, aumentando a área encontrada em baixo desta curva)3.

Figura 53 Alterações na tensão e seu efeito no espectro de raios X emitido.

As Modificações realizadas na tensão do equipamento não afetam somente o


espectro de raios X emitido, mas também a imagem radiográfica produzida por estes
fótons de raios X.
Diferentemente da relação de proporcionalidade que ocorre entre o produto
corrente-tempo (mAs) e a densidade da imagem, entre a tensão e densidade da
imagem não há tal proporção e nem uma regra precisa de relação entre elas3. O que
existe é uma regra que pode ser aplicada, pois se aproxima de uma possível relação
real entre tensão e densidade da imagem, esta relação é chamada de regra dos
15%. Esta regra nos mostra que um aumento de 15% na tensão aplicada ao tubo de
raios X, resulta em uma imagem com o dobro da densidade.

54
Porém, a imagem produzida não é a mesma que se obteria duplicando o produto
corrente-tempo (mAs) para obter o dobro de densidade. Elevando-se a tensão do
tubo, os raios X produzidos possuem mais energia e maior poder de atravessar
certas estruturas internas do paciente que raios X de menores energias não
conseguem. Deste modo, regiões que antes não tinham sua imagem gravada no
filme radiográfico, pois os fótons de raios X que passavam por elas não conseguiam
atingi-lo, são agora representadas na imagem por tons de cinza. O tom de cinza da
imagem produzida no filme representa o quanto de raios X conseguiu atravessar
aquela região. Quanto mais tecidos forem atravessados, mais tons de cinza a
imagem terá. A tonalidade deste cinza é definida pela quantidade de raios X que
consegue atravessar a respectiva estrutura. Quanto mais raios X atravessarem,
mais escuro o tom de cinza no filme radiográfico, quanto menor, mais claro, como
observado na Figura 54. E como cada estrutura do corpo é composta por tecidos
com características diferentes, eles absorvem ou deixam passar raios X
diferentemente, deixando a imagem com grande variedade de tonalidades de cinza.
Deste modo, podemos concluir que quanto maior essa variedade, maior a
quantidade de estruturas internas que conseguiram obter sua imagem no filme
radiográfico.
Em uma imagem com tantas tonalidades, a diferença entre os tons de cinzas é
baixa, não é tão contrastante ao ser visualizada como diferenças entre tons bem
escuros e tons bem claros.

55
Figura 54 Efeito da alteração da tensão na densidade da imagem.

7.3.3 Variação da filtração e seu efeito no espectro de raios X

O uso de filtro da radiologia diagnóstica tem dois objetivos específicos: a proteção


radiológica do paciente (filtração inerente e adicional) e a uniformização do feixe de
raios X que atingirá o filme ou detector produzindo imagens de boa qualidade (filtros
compensadores).
Nos equipamentos de diagnóstico por imagem, em qualquer uma das modalidades
que utilizam a radiação X, encontramos duas componentes da filtração:

• Filtração inerente: é devida aos materiais que ficam no interior da cúpula do


equipamento radiológico. Sendo composta pelo vidro ou metal que formam o

56
tubo de raios X, além do óleo isolante e da janela. Normalmente, o fabricante
do equipamento converte as espessuras de cada um destes materiais,
informando o valor da filtração inerente em um material equivalente, por
exemplo, o alumínio. Em radiologia convencional este valor é equivalente a
0,5 mmAl e em mamografia encontramos filtração inerente de 0,1 mmAl3.

Tubo de raios X: invólucro de vidro (ou metal) contendo em seu interior


componentes (anodo e catodo) para produção dos raios X.
Óleo isolante: óleo de origem mineral que possui propriedades que garantem
o isolamento elétrico no interior da cúpula do equipamento de raios X e
permitem a troca de calor gerado pela produção dos raios X.
Janela: fabricada de material plástico ou acrílico de espessura fina que é
colocado na saída da cúpula do equipamento de raios X

• Filtração adicional: é uma placa de um material absorvedor colocado entre


a cúpula e o colimador, geralmente utiliza-se alumínio e/ou cobre nos
equipamentos de radiologia convencional e fluoroscopia, já em equipamentos
de mamografia este filtro pode ser de molibdênio e/ou rênio. Podem ser do
tipo fixo com uma filtração de 2 mmAl ou ainda possuir filtração variável, por
meio de um sistema de roda de filtros (Figura 55).

Figura 55 Exemplo de filtro adicional fixo de alumínio (a) e roda de filtro (b) destacando-
se a combinação de filtro (1 mmAl + 0,2 mmCu)

57
Existem ainda outros tipos de filtros conhecidos como filtros compensadoresv, cuja
principal finalidade é melhorar a qualidade da imagem radiográfica, estes filtros não
são para proteção do paciente.

Por que estes filtros são necessários?

Dependendo da região anatômica a ser irradiada, existem muitas diferenças de


tecidos e espessuras por onde o feixe de radiação deve atravessar, isso resultará
em fótons muito diferentes após o paciente que, então, atingirão o filme ou detector
sem uniformidade adequada, gerando imagens de baixa qualidade3.
Os filtros compensadores possuem formatos e tamanhos diferenciados dependendo
de sua finalidade. Geralmente são fabricados em alumínio, mas podem ser de
material plástico. Entre os mais conhecidos podemos destacar (Figura 56):

• Filtro em cunha: utilizado em uma região do corpo onde se tenha uma


grande variação de espessura como, por exemplo, o pé em projeção AP.
Assim, posiciona-se a parte espessa da cunha na parte dos dedos, deixando
a região mais fina da cunha próxima ao calcanhar.
• Tipo em cunha bilateral: também conhecido como filtro cocho, é indicado
nas radiografias de tórax, posicionando-se a região central mais fina sobre o
mediastino e as bordas mais espessas sobre os pulmões, garantindo melhor
uniformização dos fótons de radiação após atravessarem o paciente.
• “gravata borboleta”: filtro especialmente utilizado em tomografia
computadorizada. A geometria deste filtro consiste em ser mais espesso nas
extremidades que na região central para poder compensar o formato elíptico
o corpo humano, uniformizando a saída dos fótons depois do paciente.

(a) (b) (c)

Figura 56 Filtro em cunha (a), filtro tipo cocho (b) e “gravata borboleta” (c).

58
Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre como tais filtros alteram as
características do espectro de radiação X, para isto precisamos entender o que é um
espectro.

O que é um espectro de radiação X?

Tomamos com exemplo um famoso jogo de parque de diversões – CANALETA


(mesa com pinos e bola)
Nesta mesa levemente inclinada estão dispostas 10 canaletas numeradas. No alto
da mesa temos um reservatório cheio de bolinhas de bilhar (pesadas). Retiramos a
trava que segura às bolinhas, que começam a cair em direção às caneletas,
distribuindo-se como em uma função do tipo sino (conhecida como gaussiana, maior
parte no centro e menos nas extremidades).
Quando todas as bolinhas já tiverem chegado a alguma das canaletas, podemos
contar quantas bolinhas temos em cada uma delas. Isso representa um diagrama do
número de bolinhas em função da canaleta ocupada. Chama-se este tipo de
distribuição de gráfico de barras, porque o número de bolinhas é finito em cada uma
das canaletas.

Figura 57 Exemplo de um espectro da distribuição de bolinhas em canaletas (a) por


meio de um gráfico de barras (vinho) ou por um contorno de linha suave (azul)
unido a parte superior das barras (b)

Se ligarmos a parte superior de cada barra com uma linha de contornos suaves,
criamos o que chamamos de espetro (linha azul). Com relação aos fótons de raios X
podemos fazer algo semelhante.

59
Mas o que é “fóton”?
! É a menor parte de qualquer energia eletromagnética, chamado de
“pacote” de energia que, dependendo de como é estudado ou
observado em experimentos, pode-se identificar tanto seu
comportamento ondulatório (como a luz se propagando) quanto de
partícula (estudados pela Física Nuclear).

O feixe de raios X é composto por fótons de várias energias, por isso é chamado de
policromático ou polienergético. Considere que ao invés de bolinhas, agora temos
fótons de várias energias. Vamos separá-los, colocando em cada canaleta fótons de
energias iguais. Assim, nas canaletas 1, 2 e 3 (Figura 57), por exemplo,
colocaremos os fótons de baixa energia, nas canaletas 4, 5 e 6 os de energia
intermediária, e nas restantes os de energia mais alta. Ao final, teríamos uma
distribuição análoga ao das bolinhas, com algumas diferenças que são intrínsecas
aos raios X, que descrevemos a seguir:

- O espectro depende do material do alvo do tubo de raios X, assim o


espectro de Tungstênio (radiologia convencional) é diferente de um espectro
de Molibdênio (mamografia)
- A energia final do espectro corresponde a tensão máxima selecionada no
equipamento
- A parte contínua do espectro é proveniente da radiação de freamento
(bremsstrahlung): ocorrem devido à desaceleração do elétron ao interagir
com o núcleo do átomo do alvo do tubo de raios X
- As linhas pontiagudas são chamadas de radiações características: ocorrem
devido a troca entre as camadas eletrônicas no interior do átomo.

A relação matemática que descreve o espectro de radiação X está apresentada na


Eq. (2), que considera a energia diferente dos fótons de raios X, pois temos um feixe
policromático (ou polienergético) deixando explícita a dependência da energia dos
fótons:

60
N ( E ) = N 0 ( E ) ⋅ e − µ ( E )⋅ x (2)

Onde: N(E)0 : Quantidade de fótons antes de atravessar o material


absorvedor
N(E) : Quantidade de fótons após de atravessar o material absorvedor
m(E) : coeficiente de atenuação linear
x : espessura do material absorvedor

Os filtros têm a função de atenuar os fótons de baixa energia3, que ficam no início do
espetro (Figura 58). Para o paciente a presença destes filtros é muito importante,
pois diminuiremos a dose absorvida na entrada da pele que seria causada por estes
“raios moles”, como são usualmente chamados. Podemos notar como os filtros
alteram o espectro de raios X observando a diferença entre as curvas de 2 mmAl e
de 4 mmAl da Figura 58. Percebemos que a região de baixas energias tem sua
altura (quantidade de raios X) diminuída, isso significa que boa parte destes fótons
foram absorvidos pelo filtro de 4 mmAl e reduzirão a dose na pele do paciente. O
nome filtro é muito apropriado, pois remove de a parte de menor energia de forma
seletiva. Outra característica que podemos observar na Figura 58 é que o pico do
espectro de 4 mmAl está um pouco deslocado para a direita, isso significa que a
energia média deste feixe de radiação tem valores maiores quando comparada com
a energia do feixe com 2 mmAl.

Figura 58 Exemplo de modificação de espectro de radiação X pela filtração adicional. O


espectro com 4 mmAl é menos intenso que o de 2 mmAl, porém é possui
maior energia média (pico deslocado para direita)

61
7.4 Caracterização de feixes de raios X

Assim como cada um de nós tem características físicas que descrevem nossa
aparência como estatura, cor dos olhos ou pele etc - podemos descrever os feixes
de raios X por meio de alguns parâmetros físicos que atribuem características
específicas ou uma qualidade para cada um deles.
Entre tais parâmetros está a camada semirredutora.

Determinação da 1a camada semirredutora

A camada semirredutora é descrita pela espessura necessária de um material


absorvedor que é capaz de atenuar a intensidade (ou quantidade) dos fótons de
raios X pela metade, conforme ilustrado pela Figura 59.

Figura 59 Determinação da 1º camada semirredutora.

62
Na primeira mediação não há nada interceptando o feixe de radiação e obtemos a
leitura N0 = 1,18 mGy. O passo seguinte é acrescentar um filtro absorvedor, uma fina
placa de 1,0 mm alumínio, por exemplo; e por meio de uma nova irradiação
conseguimos a leitura de N1 = 0,82 mGy. Outro filtro e adicionado e nova irradiação
é realizada obtendo-se N2 = 0,63 mGy. E assim, continuamos acrescentando filtros
de alumínio sucessivamente até que a intensidade da radiação seja 1/3 da leitura
inicial N0, por exemplo.
Podemos construir um gráfico com as leituras obtidas com a câmara de ionização
em relação a espessura do filtro de alumínio. Assim, temos representado esta curva
de atenuação da radiação na Figura 59. Nele podemos descobrir qual é a espessura
de alumínio que indica que metade da intensidade de radiação X foi atenuada.
Observe no gráfico a seta horizontal em vermelho que indica o valor de N0/2 = 0,59
mGy, que é metade da irradiação inicial de N0 = 1,18 mGy. Prolongamos esta seta
até a curva de atenuação e, dali, “desenhamos” outra seta vertical que desce até o
eixo onde estão indicados valores das espessuras dos filtros de alumínio. Fazendo
isto, descobrimos que 2,4 mmAl é a espessura de material absorvedor (alumínio)
necessário para fazer a intensidade de radiação inicial (N0 = 1,18 mGy) ser atenuada
pela metade (N0/2 = 0,59 mGy), esta é a camada semirredutora.
A avaliação deste parâmetro é um teste de controle de qualidade muito importante,
pois nos ajuda a identificar se a quantidade de filtração total do equipamento de
raios X está adequada; diminuindo a dose na superfície da pele do paciente.

! Controle de Qualidade: técnicas operacionais e atividades que são


utilizadas para atender a exigências de qualidade

7.4.1 Variação com a Tensão de pico (kVp)

! Tensão (kV): é “força” responsável pela movimentação dos


elétrons. No equipamento de raios X, é o potencial que atua sob
elétrons liberados no catodo, acelerando-os na direção do anodo,
onde se chocarão no material do alvo gerando a radiação X5.

Assim, o espectro de radiação X também depende da tensão de pico (kVp)


que foi selecionada no equipamento de raios X. Na Figura 60 temos dois

63
espectros, um obtido com 72 kVp e outro com 82 kVp, observe que a tensão
de pico equivale, numericamente a energia máxima apresentada em ambos
os espectros. Dependendo da tensão selecionada, o pico da radiação
característica não será visualizado.

! radiações características: ocorrem devido à troca entre as


camadas eletrônicas no interior do átomo

Vamos imaginar um experimento onde medimos o que acontece com a dose a


medida que aumentamos a tensão de pico de 40 kVp até 140 kVp. Ao final teremos
a Figura 61, onde vemos os pontos de medição da dose (pontos vermelhos) e uma
curva (linha verde) que é uma função de 2o grau que descreve a relação entre a
variação da tensão de pico e a dose. Assim, verificamos a que a radiação varia com
o quadrado da tensão de pico, aproximadamente. Em outras palavras, queremos
dizer que se duplicarmos a tensão de pico, aumentaremos 4 vezes o valor da dose.

Figura 60 Variação do espectro de radiação X com a alteração da tensão de pico (kVp)

64
14,0
y = 0,0003x2 + 0,062x - 1,8938
12,0 11,8
10,0
Dose (mGy)

9,3
8,0
6,9
6,0
4,7
4,0
2,7
2,0
1,0
0,0
20 40 60 80 100 120 140 160
Tensão de pico (kVp)

Figura 61 Variação da dose de radiação com o aumento da tensão de pico (kVp).

Como será que isto influencia a qualidade das imagens radiográficas?

Queremos destacar três pontos importantes:


! Ao modificarmos o valor de tensão de pico, estamos mexendo mais
diretamente no parâmetro de qualidade da imagem conhecido
como contraste, que é a diferença das densidades (no caso do
filme) ou das tonalidades (no caso das imagens digitais)
perceptíveis entre uma estrutura e a anatomia ao seu redor5.
! Outra característica importante da tensão de pico é o fato dela
estar relacionada com a penetração dos fótons nos tecidos. Altos
valores de kV garantem maior penetrabilidade, esta informação é
importante quando temos que modificar uma técnica radiográfica
para um paciente grande. Da mesma maneira, podemos pensar
em reduzir os valores da tensão para pacientes muito pequenos,
com é no caso da radiologia pediátrica.
! Com relação aos processos de interação da radiação com a
matéria (tecidos e órgãos), valores menores de tensão favorecem
a probabilidade de ocorrer a interação fotoelétrica e minimizar os
efeitos de espalhamento ocasionados pela interação Compton.

65
Efeito fotoelétrico: fóton de raios X com energia um pouco maior que a energia de
ligação dos elétrons da camada mais interna tem maior probabilidade de realizar o
efeito fotoelétrico. Ao interagir o fóton é totalmente absorvido (desaparece) e transfere
toda sua energia para o elétron mais fortemente ligado, que é ejetado de sua órbita. O
espaço deixado pelo fotoelétron pode ser ocupado por elétrons das camadas
superiores, gerando o que chamamos de radiação característica que aparece nos
espectros1.

Interação Compton: fóton de raios X interage com um elétron da camada mais externa,
dizemos que este elétron está fracamente ligado ao átomo. Ao absorver parte da
energia incidente, o elétron secundário (ou elétron Compton) é ejetado desta órbita com
certa energia cinética (energia de movimento). Mas não é apenas isso que acontece, o
restante da radiação incidente é defletido como outro fóton em outra direção e com
energia menor, este é o fóton espalhado.

7.4.2 Variação com a Corrente (mA)

! Corrente (mA): é a medição da quantidade de elétrons percorrendo um


circuito elétrico. No equipamento de raios X, esta corrente é a
responsável pelo controle de aquecimento do filamento do catodo, este
processo conhecido como efeito termoiônico, arranca elétrons do
filamento deixando-os “livres” para serem acelerados pela alta tensão e
assim produzirem a radiação X no impacto destes com o anodo5.

Considere um exemplo onde, mantendo-se todos os outros parâmetros da técnica


radiográfica fixo (tensão, tempo de exposição, distância entre o tubo e o paciente
etc), se medirmos os valores da dose em função de um aumento na corrente de 20
mA até 100 mA obtemos a Figura 62, onde vemos os pontos de medição da dose
(pontos vermelhos) e uma reta (linha verde) que é uma função de 1o grau que
descreve a relação entre a variação da corrente e a dose. Assim, verificamos a que
a radiação varia linearmente com a corrente, isto quer dizer que se duplicarmos a
corrente, duplicaremos o valor da dose.

66
1,8
y = 1,7x + 0,3 1,69
1,6
1,4 1,37
1,2
Dose (mGy)

1,0 1,04

0,8
0,71
0,6
0,4 0,36
0,2
0,0
10 30 50 70 90 110
Corrente (mA)
Figura 62 Exemplo da variação da dose de radiação com o aumento da corrente (mA)

Podemos perceber esta mesma relação se olharmos para o espectro de radiação,


na Figura 63, vemos que a distribuição de quantidade de radiação de 400 mA é duas
vezes maior do que a apresentada para 200 mA para cada energia indicada no eixo
x. É interessante notar que a radiação característica também será duplicada3.

Figura 63 Variação do espectro de radiação X com a alteração corrente de 200 mA


para 400 mA

Como será que isto influencia a qualidade das imagens radiográficas?

67
Destacamos o seguinte:
! A variação da corrente afeta diretamente a densidade óptica (no caso do
filme), assim, se um valor muito baixo de corrente for escolhido com
tempo de exposição também muito pequeno, produziremos imagens
subexpostas de baixíssima qualidade pois serão “muito claras” e com
muito ruído. O mesmo vale para o contrário, isto é, correntes altas e
tempos de exposição longos, causarão a superexposição gerando
imagens “muito enegrecidas”.

Na prática clínica temos algumas regras básica para seleção do valor de corrente3
! Utilizam-se valores baixos de corrente associados ao ponto focal
pequeno para visualização de estruturas detalhadas
! Em radiologia pediátrica e com pacientes não colaborativos, recomenda-
se a utilização de altos valores de correntes combinados com tempos de
exposição bem curtos, para evitar o borramento das imagens.
! Combinam-se também valores mais altos de corrente quando se deseja
abaixar a tensão (kV) com a finalidade de melhorar o contraste

7.5 Variação com a Distância ao Foco

Assim como a luz, que ao sair de um foco começa a divergir conforme se aumenta a
distância e se diminui sua intensidade, a radiação X também diminui com o aumento
da distância, conforme exemplificado na Figura 64. Vamos considerar um
equipamento de raios X emitindo de forma contínua e dois planos (A e B), o primeiro
a 50 cm do ponto focal e o segundo a 100 cm, ambos divididos em pequenos
quadrados de 1 cm2 cada um. Vamos supor que o feixe de radiação atinja uma área
de 4 cm2 no plano A (4 quadradinhos), ao chegar ao plano B o feixe de raios X
passará a cobrir 16 cm2 uma vez que a distância foi duplicada, porém a intensidade
do feixe cairá para ¼ em cada quadradinho de 1 cm2. Isto é conhecido com a lei do
inverso do quadrado da distância.
Ela pode ser descrita pela relação matemática (3):

68
I1 d 22
= 2
I 2 d1 (3)

Onde: I1 : Intensidade de radiação a distância d1 da fonte


I2 : Intensidade de radiação a distância d2 da fonte

Esta propriedade da radiação diminuir com o aumento da distância em relação a


fonte, é importante se pensarmos em proteção radiológica. Uma das maneiras de
nos protegermos contra a radiação X é ficando em distâncias seguras de operação
dos equipamentos e em procedimentos radiológicos.
Com relação aos pacientes, também podemos fazer um bom uso desta
característica, por exemplo em procedimentos intervencionistas, onde se coloca a
fonte o mais distante possível do paciente, diminuindo a dose na entrada da pele.

Ponto Focal

d1 = 1m

I1 = 4mGy

d2 = 2m

I2 = 1 mGy

Figura 64 - Lei do inverso do quadrado da distância

69
8 Tipos de radiações X:

Como visto anteriormente, os raios X são emitidos em todas as direções dentro do


tubo, Figura 34, e dependendo de qual a direção de que estes raios X são
originados, e qual a que tomam após sua saída pela janela radiotransparente do
tubo, isso determina outros tipos de classificação de radiação; são elas: radiação
primária, secundária, focal, extrafocal, parasita, espalhada, residual e fuga.

8.1.1 Radiação focal

No tubo de raios X, os elétrons são acelerados em direção ao anodo tendo sua


trajetória orientada pela estrutura de focalização. A região de interação destes
elétrons no alvo é chamada ponto focal real e a radiação emitida desta área é
chamada radiação focal, como observado no feixe de raios X da Figura 426.

8.1.2 Radiação extrafocal

Na interação com o ponto focal real no anodo, alguns elétrons podem se espalha ao
se chocarem e ser novamente acelerados em direção anodo, porém acabam
atingindo outras regiões que não pertencem a esta área, como já foi observado na
Figura 45. A radiação emitida por outras área que não seja o ponto focal real é
denominada radiação extrafocal6.

8.1.3 Radiação de fuga

A Radiação que atravessa o revestimento de chumbo utilizado na cúpula de raios X


para barrar os fótons emitidos em direções diferentes da direção da janela
radiotransparente é denominada radiação de fuga e pode ser observada na Figura
656.

70
Figura 65 Radiação de fuga.

8.1.4 Radiação Primária

A radiação primária é definida pelos fótons de raios X emitidos do anodo que


atravessam a janela radiotransparente do tubo e se direcionam para o paciente5,6.

8.1.5 Radiação secundária

A radiação primária atinge o paciente e ao interagir com ele pode emitir radiação
ionizante originada desta interação, e esta radiação é chamada radiação
secundária5.

71
8.1.6 Radiação espalhada

A radiação espalhada é a radiação ionizante emitida pela interação da


radiação primária com o paciente, sendo a interação acompanhada de uma
diminuição da energia de radiação e/ou de uma mudança de direção da
radiação6.

8.1.7 Radiação residual

Parte da radiação que chega ao paciente, consegue atravessá-lo e chegar ao


receptor de imagem para a formação da imagem. Porém, outra parte do feixe de
radiação persiste, após ter atravessado o plano de área receptora de imagem e
qualquer dispositivo colocado após este. Esta radiação é chamada radiação
residual5.

8.1.8 Radiação parasita

Radiação parasita é a radiação residual do feixe de raios X utilizado mais qualquer


radiação ionizante que não seja originada do feixe de raios X em uso, e sim de uma
fonte de radiação externa qualquer5.

9 Sistemas de Colimação

9.1 Função

Em todos os exames de raios X é necessário um correto posicionamento do


paciente e uma colimação do feixe de raios X, radiação primária, emitido pelo
equipamento. O tamanho do feixe é ajustado de acordo com a região designada
para o exame, evitando assim uma exposição à radiação desnecessária de outras
partes do corpo do paciente e uma redução da área de interação da radiação com o
paciente e consequentemente uma diminuição na quantidade de radiação espalhada
que atinge o receptor de imagem.

72
9.2 Tipos de colimadores

Para delimitar este feixe, três tipos de dispositivos são utilizados acoplados ao tubo
de raios X durante os exames, são eles: diafragma de abertura, cones e cilindros, e
colimador de abertura variável, como observado na Figura 663.

Figura 66 Os três tipos de dispositivos delimitadores.

9.2.1 Diafragma

O Diafragma consiste de uma lâmina de chumbo com uma abertura fixa acoplada ao
tubo de raios X. Esta abertura é projetada para delimitar uma área do receptor de
imagem a uma distância fonte-receptor de imagem constante, como demonstrado na
Figura 673. Esta abertura pode ter diversos tamanhos, como por exemplo, 20 cm x
25 cm, 24 cm x 30 cm e 35 cm x 43 cm.

73
Tubo de raios X

Diafragma (tamanho fixo)

Distância entre Fonte


e Receptor de imagem
é fixa

Paciente

Área delimita no
receptor de
Receptor de
imagem
imagem

Figura 67 Diafragma de forma retangular acoplado ao tubo de raios X a uma distância


fixa do receptor de imagem.

Cones radiográficos de extensão e cilindros consistem de uma estrutura metálica


estendida que restringe o feixe de raios X de acordo com o tamanho da sua
extremidade distal, como pode ser visualizado na Figura 68. O formato do feixe útil
produzido por um cone ou cilindro normalmente é circular3.

Extremidade
distal

A) B)
Cone Cilindro

Figura 68 A) Desenhos de um cone; B) Exemplo de um cilindro acoplado ao colimador


de um equipamento.

74
9.2.2 Colimador de abertura variável e campo luminoso

O colimador de abertura variável é uma estrutura montada em sequência da cúpula,


exatamente na posição da janela do tubo de raios X. Este possui duas lâminas de
chumbo paralelas e opostas, totalizando quatro lâminas de chumbo, localizadas na
base desta estrutura, que são ajustadas para dar o formato desejado do campo. No
interior da estrutura há uma lâmpada e um conjunto de espelhos que refletem o feixe
de luz emitido, coincidindo com o tamanho do campo de radiação do feixe de raios X
que incidirá no paciente, como observado na Figura 69. Este campo luminoso
gerado orienta a colimação a ser aplicada.

Lâmina de
chumbo

Lâmina de Lâmina de
chumbo chumbo

Lâmina de
chumbo
Espelho

Figura 69 Colimador variável.

Alguns equipamentos possuem colimação automática do feixe de raios X. Esta


colimação é realizada através de sensores mecânicos colocados no bucky que
detectam o tamanho do chassi utilizado e ajustam as lâminas de chumbo do
colimador para se igualarem com as dimensões do chassiiv. Mesmo com o uso da
colimação automática, o tecnólogo em radiologia pode manualmente colimar mais
restritivamente, para reduzir a dose ao paciente e melhorar a qualidade da imagem3.
Visando uma melhora ainda maior na qualidade na imagem, alguns colimadores
possuem diferentes filtros na sua estrutura, dando possibilidade de uma filtração
adicional durante a exposição. Os filtros encontrados são normalmente de 0,1 e 2
mmAl podendo ter algum acréscimo de cobre também, e podem ser selecionados
diretamente na estrutura do colimador como mostrado na Figura 55B. Quando a
filtração zero é selecionada, não indica que a filtração adicionada a filtração inerente
do tubo será realmente nula3. O conjunto das estruturas internas do colimador estão
no caminho do feixe de raios X produzido e por isso fornecem certa filtração a estes,
normalmente o equivalente a 1 mm de Al3.

75
10 Minimização da Radiação espalhada

O feixe de raios X originado do ponto focal no anodo e dimensionado pelo colimador


não é a única radiação que chega ao detector e contribui para a formação da
imagem. Após a incidência de radiação no paciente, este passa a emitir radiação
espalhada. Esta radiação parte de diferentes localizações da região radiografada em
direção ao detector, como observado na Figura 70. A radiação espalhada não
carrega informações úteis de nenhuma estrutura ou tecido para a formação da
imagem radiográfica, porém pode chegar ao detector e sensibilizá-lo da mesma
forma que os raios X que carregam informação útil. Deste modo, a radiação
espalhada prejudica a qualidade da imagem acrescentando densidade onde não
deveria ser acrescentada, dificultando assim a visualização das estruturas e um bom
diagnóstico3. Por isso, recursos foram criados ao longo dos anos para diminuir seu
efeito, como a criação de grades antiespalhamento e o uso de técnicas de
espaçamento de ar.

Figura 70 Radiação espalhada sendo emitida do paciente em todas as direções e


chegando ao receptor de imagem.

76
10.1 Grades Antiespalhamento

10.1.1 História

Por muito tempo o controle da radiação espalhada era feito somente por formas
variadas de diafragmas e cones de chumbo inseridos na saída do tubo de raios X.
Em 1913, foi construída por Gustav Bucky a grade antiespalhamento. Esta grade era
fixada atrás do paciente e na frente do receptor de imagem com o objetivo de
impedir que raios X espalhados chegassem no último e prejudicassem a boa
qualidade da imagem formada. Porém, a grade aparecia na imagem formada,
atrapalhando a visualização das estruturas desejadas e um bom diagnóstico. Então,
Dr. Hollis Potter resolveu o problema dando movimentação a grade durante a
exposição e diminuindo a espessura de suas dimensões. A primeira grade comercial
com movimento foi anunciada em 1920 e ficou conhecida como diafragma de Potter-
Bucky. O movimento da grade possibilitou seu borramento na imagem, eliminando
seu aparecimento na imagem e melhorando o contraste5.

10.1.2 Composição e posicionamento

Uma grade antiespalhamento consiste de uma sequência de fatias de material com


alta atenuação (ex.: chumbo) separadas por um material radiotransparente, como
demonstrado na Figura 71. Este último deve ter capacidade de absorção baixa (ex.:
fibras de carbono, alumínio ou ar) para permitir que os fótons o atravessem sem
sofrerem atenuação.
A grade é posicionada entre o paciente e o receptor de imagem com os espaços
radiotransparentes alinhados com o feixe de raios X, que emerge do ponto focal.
Assim, esse feixe de raios X chamado de radiação primária passa por estes espaços
até alcançar o detector, pois está alinhado com a fonte. Já a radiação espalhada,
que é emitida em diversas direções e ângulos, acaba sendo atenuada pelas tiras de
chumbo. Porém, alguns fótons do feixe primário também são barrados pelas fatias
de chumbo, reduzindo a quantidade total de radiação que atingi o receptor de
imagem, como observado na Figura 71.

77
Radiação primária que
Radiação primária atenuada e Raios X paralelos a grade
conseguiu penetrar o paciente e
não contribui para formação da (alinhados com a grade)
formar imagem no filme
imagem
radiográfico

Radiação emitida em diversas


Radiação espalhada
Aumentar técnica devido a direções e ângulos
atenuada (desalinhados com a grade)
perda de raios X úteis para
formação da imagem

Filme Radiográfico

Figura 71 A radiação primária ao interagir com o paciente e grade antiespalhamento.

Consequentemente, o uso da grade nos exames deve ser acompanhado de um


aumento da técnica utilizada para compensar a perda de fótons úteis para a
formação da imagem.

10.1.3 Tipos de grade

As tiras de chumbo podem ser orientadas paralelas umas as outras, grade linear, ou
podem formar um padrão crosshatch ou rhombic, grades transversais, como
mostrado na Figura 72.

78
crosshatch rhombic

Padrão de Moiré

Figura 72 Padrões de grades transversais: crosshatch e rhombic e padrão de moiré

As grades transversais são duas grades lineares sobrepostas com suas linhas de
grade perpendiculares entre si. As fatias de chumbo não podem ser construídas no
mesmo plano, pois haveria uma perda de densidade em cada intersecção das fatias,
formando assim um artefato com padrão de moiré, como observado na Figura 72.
Independentemente da orientação das fatias de chumbo, as grades podem ser fixas
ou com movimento5. A grade fixa não se movimenta durante a exposição; assim, sua
estrutura, fatias espaçadas uniformemente, aparece na imagem da radiografia. Este

79
artefato é eliminado com a introdução de movimento nas grades. Este movimento
pode ser para frente e para trás ou um movimento circular4. De qualquer forma, as
linhas de grade são efetivamente borradas, reduzindo ruído e aumentando a
quantidade de informação visível na imagem5. Adicionalmente, o movimento da
grade possibilita uma maior atenuação da radiação espalhada.
Além de poderem ser fixas ou com movimento, as grades ainda podem ser
focalizadas ou paralelas. A focalização da grade se da pela inclinação das fatias de
chumbo partindo do centro para as laterais apontando em direção a fonte de raios X
como observado na Figura 735.
Devido a essa focalização introduzida na grade, ela deve ser posicionada em
relação ao alvo do tubo de raios a uma distância especificada pelo raio da grade em
uso. O raio da grade é a distância das linhas das fatias de chumbo, com seus vários
graus de inclinação, convergindo para um ponto focal ou ponto convergente que é o
alvo do tubo de raios X. Uma vez que existe uma margem de erro, raios da grade
real são dados como intervalos em vez de um número específico. Os dois intervalos
mais comuns são de 91 cm a 106 cm e de 167 cm a 188 cm, designado para duas
v.
distâncias fonte-receptor de imagem, normalmente usadas de 100 cm e 180 cm
Se a grade não for colocada a essas distâncias específicas, as fatias de chumbo
absorverão mais radiação primária do que o desejado e ocorrerão falhas, cortes na
imagem radiográfica. Isto ocorre, pois os raios X que chegam mais periféricos
colidem nas fatias da grade lateralmente. Colocando o tubo de raios X muito perto
ou muito longe da grade, resultarão os mesmo cortes de grade e perda de
informação5.
Grades paralelas não tem inclinação das fatias de chumbo. Cada fatia aponta uma
linha reta. Então, grades paralelas tem um raio infinito – quanto mais distante o tubo
de raios X da grade, mais paralelo os raios X primários serão das fatias de chumbo,
como observado na Figura 73. Por esta razão, problemas de cortes na imagem
nunca ocorrem tendo o tubo muito longe da grade paralela. No entanto, colocando o
tubo de raios X muito perto da grade paralela, uma grande quantidade de radiação
primária será absorvida em direção a periferia e ocorrerá perda de informação, pois
o feixe de raios X emitido é um feixe divergente, ou seja, nem todos os raios X
entram paralelamente à grade5.

80
Ponto de convergência
(ponto focal no tubo de raios X)

Raio da grade

Grade focalizada

Raio infinito
(sem ponto de convergência)

Fatia de chumbo
atenua raios X
B)

Imagem não formada


Grade paralela
nesta região
(corte na imagem
Filme radiográfico
causado pela grade)

Figura 73 A) Grade focalizada; B) Grade paralela e C) Corte - na imagem - causado


pela distância muita próxima da grade paralela ao tubo de raios X.

10.1.4 Cortes da grade

Corte de grade é causado quando uma quantidade significante de feixe de raios X


primários é atenuada pelas tiras de chumbo e ocorre perda de informação, como
observado na Figura 73. Impedindo parte do feixe primário, menos radiação alcança
o filme e, consequentemente, uma diminuição na densidade do filme pode ser
observada em toda (ou parte) da radiografia.
Há quatro tipos de corte de grade, e cada tipo produz um efeito na imagem final, são
eles:

1. Corte devido a grade estar fora de centro: O centro do feixe de raios X não
está alinhado com o centro da grade. Este tipo de corte produz uma
diminuição geral em densidade sobre o filme inteiro8, como observado na
Figura 74.

81
Alvo

Raios X

Grade

Primário Transmitido
Filme

Efeito
visualizado
no filme

Figura 74 A) Descentralização da grade em relação ao feixe de raios X proporcionando


uma diminuição na densidade sobre todo o filme.

2. Corte devido à grade estar fora de foco: é causado por ter o tubo de raios X
posicionado fora do intervalo focal especificado de uma grade focalizada.
Este tipo de corte produz densidades mais claras do lado da borda do filme
enquanto o centro permanece sem ser afetado8, como observado na
Figura 75.

82
Alvo

Raios X

Grade

Primário Transmitido
Filme

Efeito
visualizado
no filme

Figura 75 Tubo de raios X posicionado muito perto da grade, fora da distância focal
especificada por ela. Este erro de posicionamento gera diminuição da
densidade nas bordas do filme.

3. Corte devido à grade estar fora de nível: grade inclinada, tirando o


alinhamento do feixe de raios X com os espaços de baixa atenuação da
grade como observado na Figura 76, aumentando a probabilidade dos raios
X serem absorvidos, ocasionando uma diminuição geral em toda densidade
do filme8.

83
Alvo

Raios X

Grade desalinhada

Primário Transmitido
Filme

Efeito
visualizado
no filme

Figura 76 Devido à inclinação da grade, os raios X vão incidir com grandes ângulos,
aumento a sua absorção pela grade e diminuindo a densidade em todo o
filme.

4.
Corte devido ao posicionamento reverso da grade: grade posicionada de
cabeça para baixo. Este tipo de corte resulta em uma diminuição na
densidade ao redor de todas as bordas do filme, como observado na Figura
778.

84
Alvo

Raios X

Grade

Primário Transmitido
Filme

Efeito
visualizado
no filme

Figura 77 Grade posicionada de cabeça para baixo ocasionando perda de densidade


nas laterais do filme radiográfico.

10.1.5 Eficiência da grade

Grades são usadas para melhorar o contraste da imagem absorvendo radiação


secundária antes dela alcançar o filme. A “grade ideal” absorveria toda radiação
secundária e nenhuma radiação primária. Isso daria um máximo contraste de filme
sem um aumento desnecessário na exposição ao paciente. Porém, a grade ideal
não existe. Em cada situação clinica é necessário pesar estes dois fatores. Para
ajudar na seleção da melhor grade, muitos parâmetros foram criados para avaliar
seu desempenho5. Como visto anteriormente, existem diversos tipos de grades que
podem ser utilizadas na realização de um exame, então uma análise é necessária
para avaliar a melhor grade a ser empregada para cada situação. A análise do
desempenho das grades durante os exames em radiologia pode ser baseada na
observação de alguns parâmetros, como: razão de grade, frequência da grade,
comprimento focal, material interespacial e fator de Bucky4.

85
10.1.5.1 Razão de grade

A razão de grade é a razão entre a altura pela largura dos espaços de material de
baixa atenuação da grade, como observado na Figura 78. Este parâmetro
representa a capacidade da grade em remover a radiação espalhada antes que essa
atinja o receptor de imagem. Assim, quanto maior a razão da grade, melhor é a
eficiência na remoção da radiação espalhada.
Infelizmente, não somente fótons espalhados são removidos pela grade, mas
também alguns fótons úteis para a formação da imagem, como já observado na
Figura 71. Por isso, o valor da razão da grade não pode ser muito elevado, se não
maior quantidade de fótons úteis serão removidos e a exposição ao paciente terá
que ser aumentada para compensar.
Razões de grade são usualmente expressas como dois números, com o primeiro
número sendo a razão real e o segundo sempre um5. Os números 8:1, 10:1 e 12:1
são mais comuns em radiografia geral. Esta representação de razão de grade de 8:1
quer dizer que os espaços são altos e estreitos e que a profundidade é 8 vezes a
largura4. Com razões de grade menores, menos radiação espalhada é eliminada.
Porém, grades com razões menores são menos sensíveis em relação ao
posicionamento e distância entre tubo de raios X e grade, conseguindo manter uma
boa qualidade da imagem sem uma grande precisão nesses parâmetros. Isto ocorre,
pois esta grade não absorve muitos fótons úteis para a formação da imagem, não
afetando a densidade e o contraste desta e consequentemente não tendo que
aumentar a exposição ao paciente para compensar.

Fatia de material
radiotransparente
Largura
Fatia de chumbo

Altura

!"#$%&
!"#ã!!!"!!"#$% = !
!"#$%#"

Figura 78 Componentes de uma grade antiespalhamento e sua razão de grade.

86
10.1.5.2 Frequência da grade

A frequência da grade é definida pelo número de pares de linhas que cabem em


uma unidade de comprimento (cm ou polegadas). Cada par de linhas (pl)
corresponde à somatória da largura da fatia de chumbo e largura do material de
baixa atenuação Deste modo dizemos que a frequência da grade é representada por
pares de linha por centímetro ou linhas por polegada que pode ser calculada
dividindo a espessura de um par de linha por 1 cm. Este cálculo nos diz que se
tirarmos 1 cm da grade, quantos pares de linhas (uma fatia de chumbo e uma fatia
de material radiotransparente) serão encontrados neste comprimento3:

Fatia de material
radiotransparente

Fatia de chumbo 1 cm

Um par de linhas 4 pares de linhas por centímetro


(5 pl/cm)

Frequência da grade

Figura 79 Frequência da grade.

Quando aumenta a frequência da grade, a largura das tiras de chumbo e dose do


material radiotransparente diminuem para acomodar mais pares de linhas dentro de
um mesmo comprimento de 1 cm. Assim, os espaços se tornam mais estreitos
aumentando a razão de grade. A não ser que a altura das fatias de chumbo também
seja reduzida. Se a altura das fatias é reduzida proporcionalmente, nenhuma
diferença ocorrerá na razão de grade e por consequência na eficiência da grade.
Grades com espaço menores entre as tiras de chumbo, em relação a altura das
tiras, são mais seletivas, ou seja, as fendas que a radiação deve passar são mais
estreitas, e, então, somente aqueles fótons secundários que são emitidos do
paciente em uma direção muito perto da direção original do feixe primário serão

87
capazes de passar através dos espaços sem colidir com uma tira de chumbo. Para
minimizar o número de fótons primários atenuados, uma alta razão de grade deve
ser mais perfeitamente centralizada e alinhada com o raio central. Mesmo quando
isto é feito, a alta razão de grade absorverá mais radiação e o aumento da técnica é
necessário para manter uma densidade adequada na imagem. O técnico em
radiologia deve saber a razão de grade da grade antiespalhamento do equipamento
que esta utilizando para melhor ajustar a técnica que será usada no exame5.
Fatias, mais finas, de chumbo, encontradas em uma grade com uma alta frequência
não serão visíveis na radiografia. Uma grade com fatias grossas de chumbo (ou
baixa frequência de grade) reduzirão muito a radiação espalhada, mas a imagem
das fatias de chumbo aparecerão no filme como linhas de grade4. Este artefato
causado pelas linhas de grade pode ser eliminado pela movimentação desta.

10.1.5.3 Comprimento focal

O comprimento focal é a distância entre o ponto focal e a grade antiespalhamento.


Comprimentos focais típicos de grade são 100 cm pra radiografia geral ou 180 cm
para radiografia de tórax. Esta distância determina o grau de inclinação dos
espaços de baixa atenuação da grade, que variam do centro até a borda. Devido a
essa variação angular no eixo da grade, o posicionamento da grade em uma
geometria errada, fora da distância correta ou desalinhada, pode ocasionar a
atenuação da maioria dos feixes úteis pelas barras de chumbo em vez de
proporcionar sua passagem através dos espaços até o detector, como observado já
observado na Figura 75.

10.1.5.4 O material interespacial

Idealmente, o material interespacial deveria ser o ar para que todos os fótons o


atravessassem sem sofrer atenuação. No entanto, como o material deve suportar o
chumbo maleável das tiras, alumínio e fibra de carbono são geralmente utilizados na
fabricação das grades. O alumínio possui número atômico maior do que a fibra de
carbono, podendo atenuar radiação primária útil para a formação da imagem,
aumentando a exposição do paciente à radiação para compensar tal perda de fótons
de raios X. Porém, o alumínio não absorve umidade e possui estrutura mais fácil de
trabalhar e transformar no formato adequado para a grade antiespalhamento5.

88
10.1.5.5 O fator de Bucky

O fator de Bucky é a razão da radiação incidente sobre a grade e a radiação


transmitida, que consegue passar pela grade, como observado na Figura 80 e
equação 4.

Figura 80 Representação de radiação incidente e radiação transmitida pela grade.

!"#$"çã!!!"#!$%"&%
!"#$%!!"!!"#$% = ! !"#$"çã!!!"#$%&'!'(#!!!!!!!!! (4)

Este fator indica o quanto de aumento a exposição ao paciente é necessária quando


se utilizada a grade antiespalhamento, devido a esta absorver tanto radiação
espalhada quanto primária. E consequentemente, o quanto de exposição á radiação
ao paciente é aumentada pelo uso de uma gradev.
Altas razões de grade absorvem mais radiação espalhada, então menos
radiação é transmitida e o fator de Bucky é maior do que para baixas razões de
grade.

89
10.2 Técnicas de Espaçamento de ar

A grade antiespalhamento foi um ótimo recurso criado para diminuir a radiação


espalhada e aumentar a qualidade da imagem gerada, porém não foi o único. Um
método alternativo ao uso de grades é a técnica do espaçamento de ar.
A Técnica de espaçamento de ar é a aplicação de um espaço de ar entre paciente e
receptor de imagem, aumentando a distância entre eles. Essa distância permite que
muitos raios X espalhados não cheguem ao detector, como observado na Figura 81,
diminuindo o efeito destes no contraste da imagem. Porém, o uso desta técnica
causa a magnificação das estruturas na região radiografada e reduz o campo de
visão da imagem4.

Figura 81 Técnica de espaçamento de ar.

A magnificação consiste do aumento das dimensões reais da estrutura radiografada


no receptor de imagem, como pode ser demonstrado na Figura 82. E como o
receptor possui dimensões fixas, ele pode não conseguir retratar toda a região de
interesse do exame4.

90
Figura 82 Magnificação devido ao afastamento entre paciente e detector de imagem.

11 Sistema Receptor de Imagem

11.1 Chassis Radiográficos

O receptor de imagem recebe os raios X transmitidos pelo paciente e pela grade e


os utilizam para formar a imagem da estrutura radiografada. O sistema receptor de
imagem utilizado em radiologia convencional é composto por chassi, tela
intensificadora e filme radiográfico, como pode ser observado na Figura 83.

Janela de
Telas identificação
Janela de
identificação intensificadoras
es
Filme

A B

Figura 83 Sistema de detecção tela-filme. A) Chassi aberto demonstrando a localização


das telas intensificadoras e janela de identificação. B) Chassi aberto
demonstrando onde o filme é introduzido no chassi.

91
11.1.1 Função e composição

Os chassis radiográficos tem a função de proteger e sustentar o filme de raios X


dentro de sua estrutura física. As travas dos chassis são eficientes na vedação de
luz, impossibilitando a sua entrada, e possível sensibilização indesejada do filme.
Juntamente com o filme, telas intensificadoras (ou écrans) também são sustentadas
no interior do chassi - como pode ser obervado na Figura 83.
A introdução das telas intensificadoras no interior do chassi é devido a propriedade
das telas de transformar os fótons de raios X em fótons de luz, que sensibilizarão
mais eficientemente o filme, proporcionando uma redução no tempo de exposição do
paciente à radiação.
O chassi, o filme e as telas intensificadoras compõem o sistema de detecção tela-
filme. Em radiografia convencional, duas telas são montadas permanentemente nas
superfícies internas do chassi e o filme é posicionado entre elas como demonstrado
na Figura 83. Devido a este arranjo e a vedação do chassi, se garante que a única
luz que sensibilizará o filme será a emitida pelas telas intensificadoras.

11.1.2 Estrutura e qualidade da imagem

Para garantir o bom exercício de sua função e manter adequadamente seus


componentes internos, o chassi deve possuir algumas características: ser fino e leve
para seu fácil manuseio, possuir uma estrutura rígida e durável, e tampas inflexíveis
para que as superfícies achatadas do filme e telas intensificadoras estejam
protegidas e seja garantido um bom contato entre elas.
Um bom contato físico entre o filme e as telas é necessário para uma boa qualidade
da imagem. Para garantir este contato, além da preservação da estrutura do chassi,
evitando danos e deformações ao armazená-los e os locomover 5, as telas são
montadas em camadas de espuma compressível que durante o fechamento as
pressionam contra o filme4,5. Esta compressão aplicada mantém o contato desejado
entre tela e filme e força a saída de ar entre eles, evitando artefatos na imagem
formada causado por bolhas de ar.
A preocupação com a qualidade da imagem é refletida também no posicionamento
do chassi na realização do exame, já que este se encontra diretamente no caminho
entre feixe de raios X e filme, onde a imagem será formada. A incidência dos fótons
de raios X acontece em um lado específico do chassi, normalmente mostrado pela

92
escrita “tube side” (lado do tubo). Esta superfície frontal é feita de fibra de carbono
ou outro material de baixa atenuação, maximizando a transmissão dos raios X3.
Já a tampa traseira é feita geralmente de metal pesado, pois a radiotransparência
não é necessária nesta parte e materiais com esta característica ajudam a minimizar
a radiação retroespalhada3.
A radiação de retroespalhamento surge, pois alguns os raios X que não são
utilizados na formação da imagem são transmitidos pelo chassi, interagem com
estruturas colocadas atrás do chassi durante o exame, como o bucky onde o chassi
é inserido, um suporte que o sustenta ou até mesmo uma parede próxima e voltam
ao filme. Estes fótons retroespalhados resultam em velamento indesejado do filme e
perda na qualidade da imagem formada3. Devido ao efeito indesejado deste
retroespalhamento, na maioria dos chassis a cobertura de trás inclui uma fina folha
de cobre ou chumbo. O propósito desta folha é também minimizar e absorver à
radiação retroespalhada3.
A tampa traseira do chassi é também onde as travas estão localizadas e a troca de
filme acontece. A troca é realizada em um ambiente apropriado chamado de câmera
escura5.

11.1.3 Recursos do chassi

Cartão de identificação
do paciente

Chassi (janela de
identificação alinhada
com o cartão)

Figura 84 - Recurso do chassi. Câmara de identificação com chassi posicionado.

Após a realização do exame, é possível a identificação do paciente por uma janela


em formato retangular localizada em um dos cantos na parte de trás do chassi. As
informações do paciente normalmente estão em um cartão. Este cartão é
posicionado na parte superior de uma câmara ID (identificação) alinhado a janela do
chassi, que é colocado na parte inferior, como mostrado na Figura 84. A câmera ID

93
abre a pequena borda do chassi e opticamente grava a imagem do cartão no filme5.
Esta câmara é utilizada para todo tamanho disponível de chassi.
Os chassis são disponíveis para todo tamanho padrão de filme usado em radiografia
(ex.: 18 x 24 cm, 24 x 30 cm, 35 x 35 cm e 35 x 43 cm) e são compatíveis com todas
as marcas de equipamentos de raios X4.

11.2 Telas intensificadoras (écrans)

11.2.1 Função

Os chassis possuem duas telas intensificadoras montadas nas suas superfícies


internas. A introdução destas telas em sua estrutura é devido a sua propriedade de
transformar os fótons de raios X em fótons de luz, que sensibilizarão mais
eficientemente o filme radiográfico.
As telas intensificadoras ou écrans são constituídos de um material luminescente, o
fósforo. Este material emite luz visível ou ultravioleta em resposta a sua estimulação
pelos fótons de raios X em um processo chamado luminescência.
A luminescência pode ser de dois tipos: fluorescência ou fosforescência. Na
fluorescência a luz é emitida somente durante a estimulação do fósforo, ao contrário
da fosforescência, onde a luz continua a ser emitida mesmo após o término do
estímulo. As telas de intensificação radiográfica apresentam fluorescência3.
A função dos écrans no sistema de detecção tela-filme é converter os raios X em luz
e sensibilizar o filme durante a exposição. Como 98 % da energia que expõem o
filme é energia dos fótons de luz e os fótons de raios X contribuem somente
aproximadamente 2% do total da exposição, o tempo de exame é reduzido. A
redução deste tempo não somente reduz a radiação ao paciente, mas também
prolonga a vida útil do tubo de raios X5.

94
11.2.2 Composição e construção

Parte de trás do chassi


Folha de chumbo Chassi
Camada compressível

Base

Tela Intensificadora
Camada refletora

Camada de fósforo

Camada protetora

Filme Radiográfico

Figura 85 Camadas do chassi e tela intensificadora (ou écran).

Para exercer sua função no sistema tela-filme de detecção, as telas intensificadoras


são montadas nas superfícies internas do chassi radiográfico e são divididas em
quatro partes, demonstradas na Figura 85. O fósforo é aquecido a uma alta
temperatura e misturado com uma quantidade pequena de ligante (um polímero que
mantém as partículas dos fósforos juntas), e enquanto esta quente e flexível a
mistura é uniformemente espalhada em uma camada fina de plástico, de espessura
da ordem de 10-20 µm. Esta camada é conhecida como camada protetora e tem a
função de proteger os fósforos do desgaste mecânico do chassi, que resulta da
constante troca de filme. Depois do endurecimento, uma camada de suporte de
plástico mais espessa é colada no topo da camada de fósforo, esta camada é
3,4
denominada de base e tem aproximadamente 1 mm de espessura . Em alguns
chassis uma camada de substância reflexiva é acrescentada entre a base e a
camada de fósforo.
Depois de completar seu processo de fabricação, as telas intensificadoras
geralmente são colocadas em pares dentro do chassi, uma tela em cada superfície
interna. Os filmes utilizados atualmente em radiografia são de emulsão dupla (uma
camada de emulsão em cada lado do filme como será visto posteriormente), por isso
duas telas são necessárias para otimizar a sensibilização de ambas as emulsões
e garantir uma boa qualidade da imagem formada.
Porém, quando duas telas são utilizadas, um efeito de crossover pode ocorrer com
os fótons de luz emitidos de uma delas, como ilustrado na Figura 86. Estes fótons
podem passar pela base do filme e chegarem à emulsão oposta, ou irem mais longe

95
e atingirem a camada refletora da tela oposta e então refletirem de volta para a
emulsão do filme. Este longo caminho percorrido aumenta o espalhamento dos
fótons de luz e reduz a percepção de detalhes na imagem. Por esta razão, alguns
chassis designados para exames específicos que exigem uma alta resolução
possuem somente uma tela intensificadora 5.

Fóton de luz 1 sofre efeito


crossover: O fóton de luz passa pela
Parte da frente do Chassi base do filme e chega até a emulsão
Base
Camada refletora oposta, sofrendo maior
Tela espalhamento que o fóton de luz 4,
Intensificadora Camada de fósforo emitido diretamente para a emulsão
do filme mais próxima.
Camada protetora
Emulsão 3 4
Filme
Base 1
Radiográfico Emulsão 2 Fóton de luz 2 sofre efeito
Camada protetora
crossover: Os fótons de luz passam
Tela Camada de fósforo pela base do filme e são refletidos na
Intensificadora camada refletora da tela
Camada refletora intensificadora oposta, sofrendo mais
Base
espalhamento ao retornar ao filme
Parte de trás do Chassi
do que os fóton de luz 3 que são
refletidos na camada refletora mais
próxima.

Figura 86: Efeito Crossover.

Nos chassis, o filme é posicionado entre as telas intensificadoras e se mantém firme


entre elas devido à camada de espuma compressível, sobre a qual as telas são
montadas. Durante o fechamento do chassi, estas camadas pressionam as telas
contra o filme garantindo um bom contato tela-filme.
Um bom contato entre as superfícies das telas e as superfícies do filme é essencial
para uma boa qualidade de imagem. Um mau contato ou irregularidades nas
superfícies permite o espalhamento dos fótons de luz que formarão borrões na
imagem.
As irregularidades podem surgir devido ao descuido com o chassi, que é a estrutura
responsável pela proteção das telas de intensificação e dos filmes. Qualquer dano
no chassi, causado por queda e outros abusos, pode curvar ou criar buracos na
estrutura do écran, causando bolhas de ar entre ele e o filme. Os fótons de luz que
passam por interfaces entre meios bem diferentes, como tela, ar e filme, irão
refratar. Esta refração é agravada pelo aumento da distância até o filme criada pela

96
bolha de ar. O resultado são bordas de penumbra ou borrão, e consequentemente
uma perda severa na resolução espacial da imagem5. A resolução é medida
geralmente pelo espaçamento mínimo entre linhas que pode ser detectado e
distinguido. Quanto menor for este espaçamento, menor será o objeto que pode ser
visualizado e melhor será a resolução espacial.

Figura 87 Diagrama ilustrando o efeito de um contato tela-filme ruim.

11.2.3 Base

A base é uma camada plástica de poliéster de aproximadamente 1 mm de


espessura que serve como suporte e proteção da camada de fósforo. Para exercer
esta função a base deve ser: áspera e resistente à umidade; flexível o suficiente
para permitir um bom contato de toda a superfície do filme; homogeneamente
radiotransparente para não criar artefatos na imagem, e deve também ser
quimicamente inerte para que não haja chance de descoloração da emulsão da
camada de fósforo em contato com ela5. A descoloração da emulsão interferiria na
emissão de luz pelo écran5.

97
11.2.4 Camada refletora

Figura 88 Produção dos fótons de luz na camada de fósforo e sua reflexão pela
camada refletora.

Figura 89 Perda de resolução devido ao uso de tela intensificadora com camada refletora.

98
A luz emitida pelo écran é produzida pelos cristais de fósforo da emulsão. Esta
emissão é isotrópica, em todas as direções. Os fótons de luz emitidos na direção do
filme contribuem para a formação da imagem, porém os fótons emitidos lateralmente
e atrás do filme são perdidos e inutilizados. Para resolver este problema, uma
camada fina de substância reflexiva, dióxido de titânio ou um branco similar, é
espalhada sobre a base 5. Esta camada age como espelho, refletindo os fótons de
luz que são emitidos em direções contrárias a do filme, de volta a direção do filme,
maximizando o número de fótons de luz úteis para a produção da imagem, como
observado na Figura 88.
Infelizmente, a luz refletida por esta camada tem uma maior distância a percorrer
antes de alcançar o filme, sofrendo um espalhamento levemente maior do que a luz
emitida diretamente a ele, como observado na Figura 89. Este espalhamento
contribui para penumbra ou borrão na imagem, causando perda de resolução
espacial nesta. Por esta razão, algumas marcas de écrans finos ou chassis
dedicados para exames de extremidades, desenhados para atingir alta resolução de
detalhe não empregam camada refletora 5.

11.2.5 Camada de fósforo

A luz refletida pela camada refletora é proveniente da camada de fósforo. Esta


camada consiste de cristais fluorescentes colocados uniformemente dentro de uma
solução de ligante de plástico e sustentado pela base. Os cristais de fósforo emitem
fótons de luz quando estimulados pelos raios X, e esta luz sensibiliza o filme
radiográfico.
Durante o século 20, tungstanato de cálcio (CaWO4) foi o cintilador mais comum
usado na fabricação de telas intensificadoras. As primeiras telas comerciais de
tungstanato de cálcio foram feitas na Inglaterra e Alemanha em 1896 e nos estados
unidos em 19125.
O tungstanato de cálcio emite luz na região do azul e ultravioleta em um espectro
contínuo e largo, com pico de comprimento de onda em aproximadamente 430 nm5.
Ele foi tão usado devido a seu tempo de resposta rápida e por ser um material muito
durável5.

99
No inicio de 1970s, fósforos de terras raras foram introduzidos e devido a sua maior
eficiência em converter raios X em luz eventualmente substituíram o CaWO4 em
telas intensificadoras pelo mundo3.
O grupo de terras raras consiste de elementos de número atômico de 57 (Lantânio,
La) a 71 (Lutécio, Lr), e incluem Túlio (Tm, Z = 69), Térbio (Tb, Z = 65), Gadolínio
(Gd, Z = 64) e Európio (Eu, Z = 63). Devido ao lantânio ser o primeiro elemento, o
grupo de terras raras é também conhecido como a série dos lantanídeos na tabela
periódica4. O fósforo mais comum de terras raras usado em telas intensificadoras
hoje é o oxissulfureto de gadolínio (Gd2O2S)5.
Ao contrário do CaWO4, os fósforos de terras raras não fluorescem apropriadamente
no estado puro, necessitando do acréscimo de outros compostos, chamados
ativadores5. Os fósforos de terras raras são produzidos como cristais de
oxissulfureto de gadolínio ativado com térbio (Gd2O2S:Tb) e oxibrometo de lantânio
ativado com túlio (LaOBr:Th) e emitem luz na região do verde.

Figura 90 Casamento espectral entre tela intensificadora e filme radiográfico.

Telas de tungstanato de cálcio emitem luz na região do ultravioleta e azul, e filme


utilizado com esta tela tem que ser designado para ser mais sensível nesta cor, isto
é chamado de casamento espectral. Muitas telas com terras raras emitem luz
centradas na porção verde do espectro. Filmes especiais são designados para
serem usados com estas telas que são mais sensíveis à luz verde. Qualquer
combinação errada entre filme e tela resultará em alguma perda de eficiência e a
radiografia resultante não será escurecida adequadamente5.
Como os filmes radiográficos são designados para serem mais sensíveis a cores
específicas de luz, possuem alta sensibilidade na maioria do intervalo de luz emitida
pelas telas intensificadora (ultravioleta, azul e verde). Por isso, luz de coloração
vermelha é utilizada nas câmaras escuras, pois não está no intervalo de luz em que
o filme radiográfico é mais sensível.

100
A espessura da camada de fósforo varia consideravelmente com a velocidade da
conversão de raios X em luz ou a necessidade de uso do écran, e pode variar de 80
a 250 micrometros4.

11.2.6 Camada protetora

Independentemente da espessura, a camada de fósforo é delicada e necessita de


proteção para exercer bem sua função. Então, uma camada protetora é aplicada
sobre o fósforo. Esta camada é feita de um plástico, constituído de um composto de
celulose misturado com outros polímeros5. Além da proteção física à camada de
fósforo, esta proteção ajuda a prevenir artefatos causados por descargas de
eletricidade estática que surgem devido ao atrito durante o carregamento do filme, e
provém uma superfície que pode ser limpa sem danificar a camada de fósforo.
A camada de proteção está localizada entre os fótons de luz produzidos pelos
cristais de fósforo e o filme, que é o receptor destes fótons para a formação da
imagem. Para os fótons alcançarem o filme sem serem absorvidos ou espalhados no
caminho, a camada de proteção deve ser clara e transparente à luz4.
Ao inserir a camada de proteção no écran, o caminho percorrido pelos fótons de luz
até o filme aumenta, por isto além das outras características citadas anteriormente, a
camada de proteção também deve ser muito fina (aproximada de 20 a 25
micrômetros), pois com uma grande espessura a luz sofrerá um maior espalhamento
antes de alcançar o filme, contribuindo para penumbra e falta de nitidez na imagem.
Devido a estes fatores, grande cuidado deve ser tomado em manusear as telas, pois
produtos de limpeza, unha, e as bordas do filme radiográfico podem facilmente
penetrar esta proteção e danificar a camada de fósforo, comprometendo a
sensibilização do filme5.

11.2.7 Eficiência da tela intensificadora

Para sensibilizar e produzir densidade no filme radiográfico, um écran deve absorver


os fótons de raios X, converte-los em fótons de luz e emiti-los em direção ao filme.
Em cada etapa deste processo, a eficiência deve ser a maior possível. As eficiências
envolvidas são a de absorção, conversão e emissão.

101
11.2.7.1 Eficiência de absorção

A eficiência de absorção descreve a capacidade da tela intensificadora de detectar


fótons de raios X que incidem sobre ela. Quando um fóton de raios X é absorvido
pela tela, a sua energia é depositada e alguma fração dessa energia é convertida
em fótons de luz. No entanto, o feixe de raios X que incide sobre o filme é
polienergético, ou seja, possui vários valores de energia em seu espectro. O número
de fótons de luz produzidos na tela intensificadora é determinado pela quantidade
total da energia de raios X absorvida pela tela, não pelo número de fótons de raios X
que incidem sobre ela. Por este fato, sistemas tela-filme são considerados
detectores de energia4.
No intervalo de energia de raios X diagnóstico, a absorção é quase inteiramente
causada pelo efeito fotoelétrico. Uma reação fotoelétrica é mais provável de ocorrer
em elementos com número atômico alto e quando a energia dos fótons de raios X
incidentes e a energia de ligação dos elétrons da camada K são muito próximas.

11.2.7.1.1 Número atômico do fósforo

Átomos com um alto número atômico têm muito mais elétrons nas suas camadas. O
diâmetro real do átomo, medido através da camada mais externa, somente aumenta,
levemente, quando comparado a átomos com números atômicos menores. Isto
acontece devido a força de atração entre prótons do núcleo e elétrons das camadas.
Quanto maior a quantidade de prótons e elétrons, maior a força de atração entre
eles, e mais perto do núcleo as camadas, onde os elétrons estão localizados,
estarão. Então, os átomos com um alto número atômico não são tão largos e sim
mais concentrados5. Este aumento de concentração dos elétrons dentro do espaço
em volta do núcleo se refere a densidade eletrônica do átomo. Átomos com alto
numero atômico tem uma nuvem de elétrons mais densa, aumentando a
probabilidade de absorção de um fóton de raios X pela colisão com um elétron, que
é o efeito fotoelétrico5.
Além do número atômico e energia de ligação, a absorção também é influenciada
pela espessura da camada de fósforo e sua densidade.

102
11.2.7.1.2 Espessura da camada de fósforo

Camada de fósforo mais espessa absorverá mais fótons de raios X, e mais fótons de
luz serão produzidos pela tela. Isto ocorre, pois mais átomos estão no caminho do
feixe de raios X, e então a probabilidade de absorver um fóton em particular
aumenta e a eficiência de absorção aumenta3. O tamanho do cristal de fósforo e a
espessura da camada de fósforo determina a sensibilidade da tela intensificadora. A
tela que contém cristais maiores ou que tem uma camada espessa de fósforo emite
significantemente mais luz para uma dada quantidade de radiação do que telas de
menores cristais, ou camada mais fina.
Com uma espessura maior da camada de fósforo, alguns dos fótons de luz
produzidos terão que percorrer um caminho mais longo para escapar da tela e
atingir o filme radiográfico. Durante tal percurso, podem colidir com outros cristais de
fósforo, dificultando sua chegada ao receptor de imagem e assim diminuindo a
eficiência de emissão da tela intensificadora. No entanto, este efeito é muito menor
quando comparado ao grande aumento da eficiência de absorção5.
Apesar do aumento de espessura da camada de fósforo e tamanho de seus cristais,
conseguir um aumento na eficiência de detecção, também causa uma perda de
resolução espacial, demonstrado na Figura 91. Quando a luz se propaga através da
tela, se espalha em todas as direções com igual probabilidade (difusão isotrópica).
Para telas mais espessas e com cristais maiores, consequentemente, os fótons de
luz propagam distâncias laterais maiores antes de alcançar a superfície da tela. Esta
difusão lateral da luz causa um leve borrão na imagem4.
Apesar de perda de resolução na imagem, a velocidade da tela intensificadora
aumenta , produzindo mais fótons de luz por raios X, conseguindo o enegrecimento
desejado do filme em menor tempo e consequentemente diminuindo à exposição ao
paciente.

103
Figura 91 Maior redução na resolução espacial em camadas mais espessas de fósforo
e com cristais de fósforos de tamanhos maiores.

11.2.7.1.3 Densidade do fósforo

A configuração (forma) de alguns tipos de moléculas de fósforo permitem que sejam


empacotadas mais fortemente juntas dentro de um cristal, proporcionando uma
maior concentração de moléculas em cada cristal. Isto é descrito como uma
densidade molecular maior ou densidade física (massa por volume de espaço).
Com uma maior densidade, há simplesmente mais átomos por milímetro cúbico para
os fótons de raios X colidirem, e a absorção aumenta proporcionalmente. A
densidade física das moléculas de fósforo é uma razão importante do porque das
telas de terras raras serem introduzidas no mercado5.
Fabricantes tem recentemente desenvolvido novas formas de cristais inteiros, tais
como cristais de forma achatada. Nesta forma, é possível empacotar os cristais mais
juntos dentro de uma substancia ligante, e ainda manter uma boa uniformidade de
distribuição. Com o aumento na densidade do fósforo, aumenta a eficiência de
absorção da tela intensificadora5.

104
11.3 Eficiência de conversão

Após absorver os fótons de raios X, é necessário que a tela intensificadora tenha a


capacidade de converter estes fótons em luz, ao invés de dispersá-los como outra
forma de energia que não seja útil para a sensibilização do filme. Esta é chamada de
eficiência de conversão e é influenciada pelos químicos que constituem a tela.

11.3.1.1.1 Componentes químicos utilizados na molécula de fósforo

O tungstanato de cálcio foi o componente padrão por muitas décadas. Com o


avanço da tecnologia descobriu-se que muitos elementos de terras raras, quando
tratados com térbio, túlio, európio ou nióbio como ativadores químicos
(catalisadores), são de 2 a 4 vezes mais eficientes do que tungstanato de cálcio em
conversão de raios X. A eficiência de conversão maior é devido inteiramente as
propriedades químicas das moléculas5.
Na literatura, a eficiência de conversão atual é citada como 5% para CaWO4, 18%
para LaOBr, 18% para Gd2O2S:Tb e 18% para Y2O2S:Tb5.

11.3.1.2 Eficiência de emissão

Os fótons de raios X depois de absorvidos e convertidos em fótons de luz


necessitam escapar da camada de fósforo para expor o filme radiográfico. Esta
capacidade de sair da tela intensificadora e alcançar o filme é chamada eficiência de
emissão e é influenciada por algumas características da tela intensificadora, como a
espessura da camada de fósforo e tamanhos de seus cristais, e acréscimo de tintura
nesta camada.

11.3.1.2.1 Espessura camada fósforo

Com uma camada mais espessa de fósforo, os fótons de luz produzidos terão
que percorrer um caminho mais longo para escapar da tela e durante este
percurso estes fótons podem colidir com outro cristal de fósforo e não
conseguir sair da tela. Devido a isto, a eficiência de emissão é levemente
reduzida. Porém, este efeito é mínimo quando comparado com o aumento da
eficiência de absorção.

105
11.3.1.2.2 Acréscimo de corante na camada de fósforo

Um corante pode ser adicionado ao ligante do fósforo com a finalidade de


reduzir a quantidade de fótons de luz emitidos em direções opostas a do filme
radiográfico, como observado na Figura 92, pois quando estes fótons de luz
atingem e sensibilizam o filme ocorre uma diminuição da resolução espacial.
Porém, com a introdução do corante a quantidade total de fótons de luz
incidentes no filme radiográfico para a formação da imagem diminui,
reduzindo assim a eficiência de emissão da tela, sua velocidade e
consequentemente aumentando o tempo de exposição ao paciente.
Chassis com estes tipos de telas costumavam ser chamados de chassi de
alta resolução e quando expostos a luz ambiente pode-se facilmente
reconhecer a aparência amarela ou cinza da tela com corante5.

Figura 92 Comparação de comportamento da luz em telas intensificadoras com


corantes e sem corantes.

11.3.1.2.3 Camada refletora

Quando a camada refletora é adicionada atrás da camada de fósforo em uma tela


intensificadora, os fótons de luz direcionados em direções contrárias a do filme são
redirecionados e mais fótons de luz alcançam o filme, aumentando a eficiência de
emissão da tela, como visto na Figura 88.

106
11.3.2 Velocidade das telas intensificadoras

A velocidade da tela é determinada pelo número relativo de raios X que interagem


com o fósforo e como a energia dos raios X é convertida eficientemente em luz
visível3.
A velocidade relativa expressa numericamente é o modo de identificação das telas
intensificadoras. A escala de velocidade de telas vai de 100 (lenta, detalhe) a 1200
(muito rápido)3. Telas de tungstanato de cálcio tem o valor de 100 atribuído, e serve
como base para a comparação de todas as telas restantes. As telas de terra-raras
de alta velocidade alcançam valor de 1200; as telas de detalhe tem velocidade
aproximadamente 50-803.
Os fatores que podem aumentar a velocidade de uma intensificadora é o aumento
de sua camada de fósforo e eficiência de conversão e absorção deste fósforo5.
Telas intensificadoras com velocidades elevadas necessitam de baixa exposição
para formarem uma imagem no filme radiográfico. Porém, por utilizar uma menor
quantidade de fótons de raios X na produção desta imagem, elas acabam
apresentando uma aparência granulada devido ao ruído.
O termo ruído se refere a variações locais na DO do filme que não representa
variações na atenuação do paciente. Ruído inclui ruído aleatório, causado por
fatores tais quais variações aleatórias no numero de fótons de raios X interagindo
com a tela, variações aleatórias na fração de luz emitida pela tela que é absorvida
na emulsão do filme, e variações aleatórias na distribuição de grãos de haleto de
prata da emulsão do filme. O ruído na imagem radiográfica é governado
principalmente pelo numero de fótons de raios X que são detectados no sistema
tela-filme. A percepção visual do ruído é reduzida (resultando em uma melhor
qualidade de imagem) quando o número de fótons de raios X detectados aumenta4.
Se a velocidade do sistema tela-filme é elevada pelo aumento na eficiência de
conversão (então cada fóton de raios X detectado se torna mais eficiente no
escurecimento do filme), menos fótons de raios X detectados são necessários para
alcançar o mesmo escurecimento de filme. Menos raios X detectados resultam em
maior ruído na imagem. Conclui-se que, aumentando a eficiência de conversão para
aumentar a velocidade do sistema tela-filme aumentará o ruído nas imagens4.

107
11.3.3 Cuidados com as telas intensificadoras

A interação dos raios X com o fósforo não provoca desgaste. Não há nada
semelhante à fadiga causada pela radiação. A única maneira das telas deixarem de
ser úteis nos serviços de radiologia é por falta de cuidado no seu manuseio e
manutenção de sua estrutura3.
As telas intensificadoras devem ser mantidas limpas. Qualquer material estranho na
tela, como papel, sangue, fiapos e poeira bloqueará os fótons de luz e produzirá
uma área não exposta no filme correspondendo ao tamanho e forma da área suja5.
A limpeza pode ser realizada com água e sabão neutro, porém as telas são mais
bem limpas com uma solução contendo um composto antiestético e um detergente;
a solução deve ser aplicada gentilmente (nunca esfregar vigorosamente) com um
pano macio sem fiapos. As telas devem ser enxaguadas com cuidado e secas
completamente antes do fechamento do chassi. Se a tela estiver úmida, a camada
de emulsão do filme pode aderir nela, possivelmente causando dano permanente3. A
frequência de limpeza é determinada pela intensidade do uso e nível de poeira do
ambiente. Em um departamento de radiologia com grande volume de exames, pode
se necessário limpar as telas uma vez por mês ou mais frequentemente. Sob outras
circunstâncias, a frequência da limpeza pode ser estendida com segurança para
dois ou três meses3,5.
Exceto durante a limpeza, a superfície não deve ser tocada ou manuseada para
evitar arranhões e marcas de dedos4. Depois de limpos, os chassis devem ser
carregados, fechados e armazenados na câmera escura, mas a uma distancia
segura dos químicos, pois manchas de revelador não podem ser removidas da tela
intensificadora4.
Ao pegar o chassi na câmera escura pra carrega-lo com um filme alguns cuidados
devem ser tomados nesse procedimento. Ao carregar o chassi, não deslize o filme
dentro, o canto afiado ou a borda pode riscar a tela. Coloque o filme dentro do
chassi. Remova o filme do chassi deixando-o cair sobre os dedos. Não retire o filme
para fora do chassi com auxilio das unhas. Não deixe os chassis abertos porque as
telas podem ser danificadas por qualquer objeto que possa cair sobre elas, sejam
produtos químicos da câmara escura ou poeira3.

108
11.4 Filmes radiográficos

11.4.1 Função e composição

O grande cuidado com o chassi e suas telas intensificadoras é necessário para obter
uma boa qualidade de imagem. O chassi é a proteção do filme radiográfico e a tela
intensificadora a responsável em sensibilizá-lo de modo otimizado.
O filme radiográfico é o responsável pela formação e armazenamento da imagem
radiográfica. Ele é o receptor dos fótons de raios X que conseguem emergir da tela
intensificadora. Estes fótons sensibilizam o filme, formando a imagem. Esta imagem
ficará “impressa” no filme radiográfico e após passar por um processo de revelação,
será utilizada para o diagnóstico e posterior armazenamento.
O filme radiográfico utilizado em radiologia convencional é constituído por duas
camadas de emulsão. Cada camada de emulsão contém cristais de brometo de
prata suspensos em uma gelatina. Estas camadas são ligadas, por uma espessura
fina de material adesivo, a ambos os lados de um suporte transparente de poliéster
tingido de azul, a base, garantindo uma ligação firme entre suporte e emulsão, como
observado na Figura 93.
A emulsão é coberta por uma camada protetora de gelatina chamada de camada de
recobrimento. Essa camada de recobrimento protege a emulsão de arranhões e
contaminação durante o manuseio, processamento e armazenamento3.

Figura 93 Filme radiográfico com sua divisão de camadas.

109
11.4.1.1 Base

A principal função da base é ser o suporte para a emulsão. Para a base exercer sua
função de modo que não prejudique a formação ou a visualização da imagem, ela
deve possuir algumas características: não deve produzir um padrão visível ou
absorver muita luz quando a radiografia é visualizada; a flexibilidade e espessura
devem permitir fácil processamento, manuseio e possuir rigidez adequada para
colocá-la no negatoscópio. Além destas características, a base deve ter estabilidade
dimensional, ou seja, manter sua forma e tamanho durante o processo de revelação
e armazenamento5. Uma falha neste último requerimento pode ocasionar distorções
na imagem.
O primeiro material utilizado como base foi o vidro. Porém, durante a Primeira
Guerra Mundial, o vidro de alta qualidade ficou quase indisponível devido a sua alta
demanda e fragilidade. Em 1914, o nitrato de celulose, previamente usado como
base de filme fotográfico, foi adaptado para uso como filme de raios X. Entretanto,
por ser um material inflamável causou diversos incêndios hospitalares na década de
1920. Nesta mesma década, filmes com base de triacetato de celulose foram
introduzidos. Ele tem propriedades similares às do nitrato de celulose, mas não é
inflamável. No início da década de 1960, uma base de poliéster foi introduzida. O
poliéster é mais resistente a deformação com o tempo e mais forte que o triacetato
de celulose, permitindo um transporte mais rápido através das processadoras
automáticas, equipamentos utilizados na revelação dos filmes. As bases de poliéster
são mais finas que as bases de triacetato (aproximadamente 175 µm), mas
igualmente fortes3,5. Várias tentativas foram feitas para melhorar a qualidade do filme
ao longo dos anos, e a adição de tintura na base foi uma delas. Filmes com este tipo
de base reduzem o cansaço visual, permitindo uma melhor análise da imagem pelos
radiologistas3.
O primeiro método de uso de tintura comercializado a ser aplicado para o filme de
raios X na América foi descrito em 1933 por George A. Scanlan e Charles Holzwarth
de Parlin, Nova Jersey que introduziu a tintura na coloração azul no filme4.

11.4.1.2 Emulsão

A emulsão é o material com os quais os raios X ou fótons de luz das telas


intensificadoras interagem e transferem a informação para a formação da imagem. A

110
emulsão consiste em uma mistura homogênea de gelatina e cristais de haleto de
prata. Ela é colocada homogeneamente na base em uma camada de 3 a 5 µm de
espessura no máximo, devido a incapacidade da luz de penetrar mais
profundamente3,5.

11.4.1.2.1 Gelatina

A gelatina é o suporte para a distribuição uniforme dos haletos de prata - mantendo-


os bem dispersos - e prevenindo sua aglomeração5. Ela possui coloração clara para
melhor transmitir a luz e é porosa para que as substâncias químicas de
processamento (revelador e fixador) penetrem rapidamente até os cristais de haleto
de prata, sem ocasionar danos a estrutura da gelatina3,5.

11.4.1.2.2 Haleto de prata

Os cristais de haleto de prata são o material sensível a luz emitida da tela


intensificadora. Sua composição é de 98% de brometo de prata (AgBr) e o restante
é usualmente iodeto de prata (AgBI).
Os cristais de brometo e iodeto de prata são precipitados na gelatina acompanhada
de preciso controle de temperatura, pressão e velocidade na qual os componentes
são misturados3,5.
O método de precipitação envolve a dissolução da prata metálica (Ag) em acido
nítrico (HNO3) para formar nitrato de prata (AgNO3). A mistura de nitrato de prata
(AgNO3) com brometo de potássio (KBr) formam cristais de brometo de prata (AgBr),
sensíveis aos fótons de luz, e nitrato de potássio. Com o acréscimo de água, o
nitrato de potássio se dissolve sendo lavado para fora enquanto que o brometo de
prata se precipita3,5.

Formação do cristal de haleto de prata

AgNO3 + KBr AgBr + KNO 3


(nitrato de prata) + (brometo de potássio) (brometo de prata) + (nitrato de potássio)
precipitado lavado com água

111
O cristal formado de íons de prata (Ag+), íons de bromo (Br-), e íons de iodo (I-) são
arranjados em uma rede cúbica com alguns átomos de prata livres misturados, como
observado na Figura 94. Estes íons de prata livre, que saíram da sua posição normal
na rede cristalina podem migrar dentro do cristal. Isto é um tipo de defeito inerente
da estrutura do cristal, o defeito de Frankel, como pode ser visualizado na Figura
944,5,7 e dependendo da intenção da aplicação da imagem, os cristais de haleto de
prata podem ter formas tabulares, cúbica, octaedral, poliedral ou irregulares como
observado na Figura 953.

Figura 94 Parte da estrutura cúbica do cristal de haleto de prata

Figura 95 A) O cristal convencional com tamanhos irregulares. B) grãos planos, como


tabletes, tabulares. C) Grãos cúbicos.

112
Figura 96 Centros de sensibilização

Na fabricação, a emulsão é tratada com sulfito de prata, ou outros químicos que


constituem impurezas dentro dos cristais. Estas moléculas alteradas residem na
superfície do cristal em áreas chamadas de centros de sensibilização, como
observado na Figura 96.
Estes centros tem a habilidade de “armadilhar” elétrons, formando a imagem latente,
que com um tratamento químico adequado, processo de revelação, originará a
imagem visível5. A revelação só pode continuar em crescimento de tamanho destes
centros, e não pela formação de novos centros. Cristais que não possuem centros
de sensibilização, não podem revelar e consequentemente não formam imagem
latente5.

11.4.2 Formação da imagem latente

Quando os fótons de luz interagem com o filme, essa interação com a prata e os
átomos do haleto (Ag, Br, I) produz uma imagem, chamada de imagem latente. A
energia absorvida de um fóton de luz por um elétron o fornece energia suficiente
para escapar e viajar por grandes distâncias dentro do cristal. A maioria desses
elétrons é proveniente dos íons de bromo ou iodo por terem os íons negativos (um
elétron extra). Esses íons negativos são convertidos em átomos eletricamente
neutros, e a perda da carga iônica resulta no rompimento da rede cristalina3.
Os átomos de bromo e iodo estão agora livres para se mover, pois não estão mais
ligados na rede cristalina. Eles migram para fora do cristal até a gelatina. Durante a
travessia no cristal, o elétron pode ter energia suficiente para remover outros
elétrons da rede cristalina. Consequentemente, como resultado da interação dos
raios X, vários elétrons são liberados e viajam através da rede cristalina3.
Os elétrons migram até o centro de sensibilidade e são aprisionados. Quando um
centro de sensibilidade captura um elétron, ele se torna mais carregado

113
negativamente e atrai íons de prata intersticiais móveis, carregados positivamente. A
associação do íon de prata intersticial com o elétron aprisionado no centro de
sensibilidade neutraliza a prata e forma o átomo de prata3.

Liberação elétron do íon de bromo e iodo

-
Br + fóton de luz Br + elétron
-
I + fóton de luz I + elétron

Migram para gelatina Migram para os centros


.
da emulsão de sensibilização

Neutralização da prata

- +
e + Ag Ag

A quantidade de átomos de prata no centro de sensibilização aumenta


continuamente pelo repetido armazenamento dos elétrons, seguido pela atração dos
íons de prata livres e sua posterior neutralização. Os íons de brometo (Br-) que tem
seus elétrons perdidos são convertidos em átomos de bromo neutro, que deixam o
cristal e são tomados pela gelatina da emulsão8.
Um único cristal de haleto de prata pode ter um ou mais centros de sensibilidade em
quais os átomos de pratas são concentrados. A presença da prata atômica é
diretamente resultado da resposta do grão a luz, mas nenhuma mudança visível
pode ser notada antes do processamento. Processamento é o termo aplicado para
as reações químicas que transformam a imagem latente em imagem visível3.
Os pequenos aglomerados de prata são determinados centros de imagem latente, e
são as áreas que o processo de revelação causará quantidades visíveis de prata
metálica a ser depositada, como observado na Figura 978.

114
Fótons de luz

+ A energia absorvida de um fóton de luz por um elétron


(-) o fornece energia suficiente para escapar e viajar
+ por grandes distâncias dentro do cristal
+
(rompimento da rede cristalina)

Elétrons (-) migram para os centros de sensibilização

+ + + Os centros de sensibilização
+ + se tornam mais carregados negativamente e atraem íons de prata (+),
carregados positivamente

Associação dos íons de prata com os elétrons aprisionados no


centro de sensibilização formam os átomos de prata
Os pequenos aglomerados de prata são determinados
centros de imagem latente. Não visível

A quantidade de átomos de prata no centro de sensibilização


aumenta continuamente pelo repetido armazenamento de elétrons.

Figura 97 Mudanças que ocorrem no cristal de brometo de prata quando exposto e


revelado.

Qual a diferença na aparência do filme antes e após estas


reações químicas?

11.4.3 Características do filme

Um filme de raios X não exposto e processado aparece com coloração muito clara,
praticamente transparente. Já um filme exposto adequadamente apresenta várias
tonalidades de cinza, e um filme intensamente exposto possui coloração escura,
sem diferenças de tons de cinza3.

115
Como essas tonalidades de cinza são medidas?

11.4.3.1 D.O

A medição da escuridão do filme, o preto, é chamada de densidade óptica (DO). A


D.O é expressa como um número que é na verdade um logaritmo de base 10, como
mostrado na equação 58. O Logaritmo expressa convenientemente diferenças
maiores em números em uma escala menor, por isso seu uso na representação da
densidade óptica8.

!!
!. ! = ! !"#!! (5)
!

D.O = densidade óptica


I0 = luz incidente no filme
I = luz transmitida pelo filme

!!
A divisão mede a opacidade do filme, a habilidade do filme de parar a luz. Já o
!

inverso, I/I0, mede a fração da luz transmitida pelo filme, e é chamado de


transmitância (T) e corresponde à equação 6:

!
T =! (6)
!!

A relação entre transmitância e densidade óptica é representado na equação 7:

! !
!" = ! − log ! = log = log( ! ) (7)
! !

Densidades úteis em radiologia diagnóstica variam de aproximadamente 0,3 a 2,


como observado na tabela8.
Se um filme não exposto é tirado da caixa e processado, terá uma DO no intervalo
de aproximadamente 0,11 a 0,184. Esta DO corresponde à base + véu do filme. O
material da base e a tintura azul aplicada a ele adicionam densidade ao filme. Filme
que tem sido armazenado por um longo período de tempo ou exposto ao calor ou a

116
radiação de fundo podem revelar alguns grãos de haleto de prata e desenvolver um
velamento uniforme de fundo, o chamado véu. Níveis de base+véu que excedem
aproximadamente 0,2 são considerados inaceitáveis, e a substituição de tal filme
deve ser considerada4.
A quantificação da DO em um filme é realizada através de um densitômetro.
O densitômetro é um dispositivo que emite luz branca em um lado do filme e mede a
quantidade de luz que alcança o outro lado. O densitômetro tem uma pequena área
sensível (abertura), aproximadamente 3 mm de diâmetro, e mede a DO
correspondente para aquela área específica do filme, como mostrado na Figura 984.

Área de

Visor de leitura da medição

D.O de D.O

Figura 98 Densitômetro utilizado para medições de densidades ópticas de filmes


radiográficos.

O estudo da relação entre a intensidade da exposição do filme e o enegrecimento


após o processamento é denominado sensitometria3.

Como se faz este estudo de sensitometria?

11.4.3.2 Curva característica

As duas principais medidas envolvidas na sensitometria são a exposição do filme e a


porcentagem de luz transmitida através do filme processado. O relacionamento entre
exposição e densidade é plotado como uma curva, conhecida como curva
característica ou curva H e D (nomeada devido a F. Hunter e V.C. Driffield, quem

117
primeiramente publicou tal curva na Inglaterra em 1890). A densidade do
filme é colocada no eixo vertical e a exposição do filme no eixo horizontal3,8.
Note que o eixo X da curva H&D está em uma escala logaritimca, e este eixo
é frequentemente chamado de exposição relativa de log. A DO (o valor no
eixo y) é por si só o logaritimo da transmissãoo, e então a curva H&D é um
gráfico log10-log10 de transmissão optica versus exposição de raios X4.
Exposição do filme é referida como produto da intensidade da exposição
(miliamperes da corrente do tubo de raios X) e o tempo de exposição
(expresso em segundos). Exposição é expressão em miliampere por
segundo, mAs8.
A exposição também é gravada como o logaritimo da exposição, pois permite
um amplo intervalo de exposição serem expressos em um gráfico compacto,
facilitando a analise8.
O formato da curva característica a divide em três partes: pé, ombro e uma
parte que é quase uma linha reta e se localiza entre as outras duas partes. O
pé corresponde a densidade de base+véu, a linha reta densidade é
aproximadamente proporcional ao log da exposição relativa, e o ombro
demonstra a densidade de saturação da curva, nenhum aumento de
exposição a partir deste ponto ira elevar a Densidade do filme.
Análise da curva característica de um filme radiográfico provém informação
sobre o contraste (gradiente), velocidade (sensibilidade), e latitude do filme,
proporcionando uma melhor orientação sobre uso deste e consequentemente
evitando futuros erros de exposição8.

11.4.3.3 Contraste radiográfico

O contraste radiográfico é a diferença de densidade entre áreas da imagem. Tais


diferenças são causadas pela diferença de atenuação dos raios X no material
radiografado. Ele pode ser relacionado a inclinação da curva H&D: regiões de alta
inclinação tem um contraste maior, e regiões de inclinação reduzida (ex.:, o pé e o
ombro) tem menor contraste.

118
A representação numérica do contraste de um filme radiográfico é o é o gradiente
médio. O gradiente médio é uma inclinaçãoo de uma linha reta conectando dois
pontos bem definidos na curva H&D. O ponto mais baixo é usualmente definido em
OD1 = 0,25 + base + véu, e o ponto mais alto é tipicamente definido em OD2 = 2,0 +
base + véu. Para calcular o gradiente médio, estes dois valores de DO são
identificados no eixo y da curva H&D, e correspondem as exposições, E1 e E2, são
então identificados. O gradiente médio é a inclinação da curva4:

!"! !!"!
!"#$%&'(&!!é!"# = ! (8)
!"#!" !! !!"#!" !!

Gradientes médios para filme radiográfico variam entre 2,5 a 3,5. As exposições
ótimas, exposição adequada para geração de uma imagem de qualidade, ocorrem
na região perto do máximo da curva de contraste. Se os níveis de exposição são
muito altos ou muito baixos, o contraste sofrerá4.

11.4.3.4 Velocidade

A velocidade de um sistema tela-filme é definido como o inverso da exposição em


roetgens requerida para produzir uma densidade de 1 acima da base mais véu8.

!
!"#$%&'('" = ! (9)
!"#$%&#$'

O formato da curva é controlado pelo contraste do filme; a velocidade do filme


determina a localização da curva na escala do log da exposição8.
Quando a velocidade de um sistema tela-filme aumenta, a quantidade de
exposiçãoo de raios X para alcançar a mesma DO diminui. Sistemas tela-filmes
mais rápidos resultam em doses mais baixas aos pacientes, mas em geral exibem
mais ruído quântico do que sistemas mais lentos. Um sistema é mais rápido, pois
requer menos exposição par atingir a mesma DO que outro sistema.
Enquanto uma linha horizontal entre duas curvas H&D demonstra que os sistemas
diferem em velocidade4.
Filmes e telas devem sempre ser considerados juntos na seleção de um sistema
receptor de imagem que produzirá as características de imagem desejadas5.
Quando se considera receptor de imagem, especialmente em relação a exposição
ao paciente, a velocidade total do sistema deve ser considerada multiplicando a

119
velocidade do filme pela velocidade da tela e dividir por 100. Por exemplo, se uma
tela de velocidade 100 foi usada com um filme de velocidade 50, a velocidade total
do receptor de imagem será 100 x 50/100 = 50. Se uma tela de 200 foi usada com
um filme de velocidade também 200, a velocidade total do receptor será 200 x 200 =
4005.
O sistema comercial, para definir velocidade, faz uso de uma medida relativa.
Quando telas de CaWO4 eram de uso comum, sistemas tao chamados de
velocidade equivalente eram arbitrariamente classificados com velocidade de 100. A
velocidade de outros sistemas tela-filme em uma linha de produtos de venda era
relacionada ao sistema equivalente daquele vendedor – então, por exemplo, um
sistema de velocidade 200 é aproximadamente duas vezes mais rápido que um
sistema de velocidade 100. Hoje, com combinações de terra rara prevalecendo, a
maioria das instituições usa sistemas de velocidade 400 para radiografia geral. Filme
mais lentos são usados para trabalho de detalhe, tipicamente radiografia de ossos
de extremidades. Sistemas tela-filme na classe de velocidade de 600 são usados em
alguns departamentos de radiologia para aplicações especiais (ex.: angiografia)
onde temos de exposições curtos são muito importantes4.

11.4.3.5 Latitude

Ao contrário do gradiente médio e velocidade, latitude do filme não é


expressa em termos numéricos. Latitude se refere ao intervalo do log da
exposição relativa que produzirá densidade dentro do intervalo aceitável para
radiologia diagnóstica (usualmente considerada densidade de 0,25 a 2)8.
Filmes com grandes latitudes produzem baixo contraste e longa escala de cinza
para maximizar a quantidade de informação gravada. Eles então permitem uma
maior margem de erro na configuração das técnicas de exposição, ou seja, eles
possuem alta latitude de exposição, que reduz a taxa de repetição das radiografias5.
A DO é uma coisa que pode ser facilmente medida no filme depois da exposição e
do processamento do filme, um gráfico de contraste versus DO é útil em determinar
qual intervalo de DO deve ser alcançado para um dado sistema tela-filme. O
fabricante do filme fisicamente controla o contraste no filme variando o tamanho da
distribuição dos grãos de prata. Filmes de alto contraste fazem uso de uma
distribuição homogênea de tamanhos de grasos de haleto de prata, enquanto que

120
filmes de baixo contraste usam uma distribuição de tamanho de grãos mais
heterogênea4. Uma desvantagem de um contraste maior é reduzir a latitude.

11.4.3.6 Tipos de filme

Além de filme para tela intensificadora, são disponíveis filme para exposição direta e
filmes para aplicações especiais (como aqueles que são usados para mamografia,
de emulsão única como mostrado na Figura 99, videodocumentação, duplicação,
subtração, cinerradiologia e radiologia odontológica). Com ampla certeza, o filme
mais comum é o filme para tela intensificadora. O filme para tela intensificadora é o
tipo de filme usado juntamente com telas intensificadoras3.
Os tamanhos padrões de filme utilizados em radiologia são 18 x 18 cm, 20 x 25 cm,
24 x 30 cm, 35 x 35 cm e 35 x 43 cm3.

Base

Camada adesiva

Emulsão

Camada de recobrimento

Figura 99 Filme de emulsão única.

11.4.4 Cuidados de manipulação e armazenamento do filme

Manipulação e armazenamento impróprios resultam em radiografia pobre, com


artefatos que interferem no diagnostico. Cuidado para não dobrar, não criar vincos
nem tenha outra manipulação sem cuidado. Mãos limpas são uma obrigação, e as
loções de Mao deve ser evitadas. Em ambiente seco, a eletricidade estática pode
causar artefatos característicos. Durante o processamento automático, rolo de
transporte gasto ou sujo no sistema pode causar artefatos que são geralmente
identificáveis por sua repetição3
O calor aumenta o velamento de uma radiografia e reduz o contraste.
Consequentemente, o filme radiográfico deve ser armazenado a temperaturas mais

121
baixas do que 20ºC aproximadamente. A película nunca deve ser armazenada perto
de tubulações de vapor ou de outras fontes de calor3.
Armazenamento, sob circunstâncias de umidade elevada (por exemplo, acima de
60%) igualmente reduz contraste por causa da nevoa aumentada.
Consequentemente, antes de usar, o filme deve ser armazenado em lugar fresco,
seco, idealmente em ambiente com climatização controlada. O armazenamento em
área que esteja demasiado seca pode ser igualmente não recomendável. Os
artefatos de eletricidade estativa surgem quando a umidade relativa fica,
aproximadamente, abaixo de 40%3.
O filme deve ser armazenado e manuseado na escuridão. O controle da luz é
assegurado por uma câmera escura bem selada e por uma estrutura de
armazenamento para os filmes exposto e não expostos clinicamente, como
observado na Figura 100. O escaninho de armazenamento tem um sistema de
fechamento que impede que as partes reservadas para filme exposto e filme não
exposto sejam abertas simultaneamente, o que impede a entrada de luz na câmara
escura e possível danos ao filme3.

Figura 100 Armário acoplado a câmara escura para armazenamentos de filmes expostos
e não expostos.

O uso de filme radiográfico requer certa precaução na câmara escura. A maioria das
luzes de segurança é de lâmpadas incandescentes com filtros coloridos; a lâmpada
de segurança fornece luz suficiente para iluminar a câmara escura e, ao mesmo
tempo, garante que o filme permaneça sem ser exposto3.

122
A iluminação apropriada da câmara escura não depende somente da cor do filtro,
mas também da potência da lâmpada e da distância entre a lâmpada e a superfície
de trabalho. Uma lâmpada de 15W não pode ficar mais próximo que 1,5 m da
superfície de trabalho3.
Com filme sensível a luz azul, um filtro âmbar é usado. O filtro âmbar transmite luz
com comprimento de onda maior que 550 nm, que esta acima da resposta espectral
do filme sensível a luz azul3.
O uso de filtro âmbar causa velamento em filmes sensíveis à luz verde, Assim, um
filtro vermelho é utilizado, o qual transmite somente luz com comprimento de onda
acima de 600 nm e deve ser usado nessa situação. O filtro vermelho é adequado
para os filmes sensíveis a luz azul e a luz verde3.
Alguns filmes são empacotados em forma intercalada, com papel protetor
quimicamente tratado entre cada folha de filme. Cada caixa contém a data de
validade, que indica a vida útil máxima do filme3.
O filme deve ser usado antes de sua data de validade, que é geralmente de um ano
ou dois após a compra. O envelhecimento conduz a perda de velocidade e de
contraste, e aumento no velamento3.
É sempre recomendado armazenar as caixas de filme inclinadas e não deitadas,
como mostrado na Figura 101. Quando armazenadas em PE e inclinadas, é menos
provável que se deformem e, no caso de empacotamento não intercalado com papel
protetor, é menos provável que haja aderência umas as outras ou artefatos de
pressão causados pelo peso de caixas na parte superior3.

Figura 101 Posicionamento incorreto e correto das caixas de filmes radiográficos.

123
11.5 Detectores digitais e computadorizados

12 Tipos de equipamentos

Vamos ver alguns tipos de equipamentos (Figuras 102 a 107) de radiologia


convencional, fluoroscopia e radiologia odontológica compará-los em termos das
partes que compõem cada equipamento. A Tabela 4 foi composta considerando os
tipos de geradores, tubos de raios X, colimadores, a presença ou não de grades
antiespalhamento e quais os sistemas receptores de imagens que podemos
encontrar nestes equipamentos.

Figura 102 Equipamento de raios X convencional

124
Figura 103 Dois modelos de equipamento de raios X móvel ou transportável

Figura 104 Equipamento de raios X com fluoroscopia

125
Figura 105 Equipamento tipo arco em C (geralmente com fluoroscopia)

126
(a)

(b)

Figura 106 Equipamento odontológico intraoral ou periapical (a) móvel e (b) de parede

127
Módulo
Cefalométrico
Módulo
Panorâmico

(a)

Cúpula Detector
com tubo digital
de Raios X

Seleção de
técnica

(b)

Figura 107 Equipamento odontológico panorâmico (a) vista geral (panorâmico e


cefalométrico) e (b) destaque do módulo panorâmico

128
Tabela 4: Lista comparativa entre os tipos de equipamentos de radiologia
Raios X Raios X Móvel Raios X Odontológico Odontológico
Partes do equipamento Arco em C
Convencional (Transportável) com Fluoroscopia Periapical Panorâmico
Monofásico Trifásico Trifásico
Monofásico Trifásico
Geradores Trifásico Alta frequência Alta frequencia
Alta Alta frequência Monofásico
Alta frequência Potencial Potencial
frequência Potencial constante
Potencial constante constante constante
Anodo
giratório ou fixo
Anodo giratório Catodo com
Tubos de Raios X Catodo com dois dois filamentos
Anodo giratório Anodo giratório Anodo fixo Anodo fixo
filamentos ou único
Foco fino e grosso Foco fino e
grosso ou Foco
único
Colimadores Abertura Fenda
Abertura variável Abertura variável Abertura variável Diafragma
variável Diafragma
Grades antiespalhamento Possui Não possui Possui Não possui Não possui Não possui
Filme radiográfico
Filme
Placa de Imagem Intensificador de Filme Filme
Sistema receptor de imagem Filme radiográfico radiográfico
(radiografia) Imagem radiográfico radiográfico
Placa de Imagem Placa de
Intensificador de Detector digital Detector digital Detector digital
Imagem
Imagem (fluoroscopia)
130
13 Formação de imagens

13.1 Filmes e processadoras manuais e automáticas

Como dito anteriormente, os pequenos aglomerados de prata em alguns grãos


no filme são determinados centros de imagem latente. Esta imagem não é visível,
pois cada grão enegrecido de prata contribui muito pouco para a densidade ótica do
filme. Para chegar a escala de cinza que visualizamos no filme radiográfico são
necessários a contribuição de milhares de grãos enegrecidos4.
O processo de transformação da imagem latente em imagem visível nada mais
é que uma ampliação da quantidade de grãos de prata metálicas ja existentes nos
cristais expostos pela radiação4. Essa ampliação é alcançada através de
processamento químico gerado da imersão do filme radiográfico em recipientes com
químicos adequados.
Esses recipientes nos quais os filmes eram mergulhados mudaram ao longo
do tempo e seu modo de imersão também. Antes de 1900, os filmes eram inseridos
manualmente em bandejas, posteriormente em 1906 surgiram tanques com
divisórias para filmes de diferentes tamanhos e em 1910 surgiram os suportes,
cabides, para segurar os filmes radiográficos e facilitar o transporte de um tanque
para outro com um químico diferente. Todos este processo de imersão e troca de
químicos não tinha um tempo padronizado, muito menos a temperatura dos
químicos. Em 1929, F.C.Martin, E.E. Smith e M.B. Hodgson recomendavam o
estabelecimento de um tempo constante de processamento para uma dada
temperatura baseada na taxa de esgotamento de um dos químicos6. A
transformação da imagem latente para visível segue uma sequencia de processos
químicos como pode ser observado na Figura 108.
O processamento de filmes continuou evoluindo ao longo do tempo e processadoras
automáticas foram criadas. Em 1942, o primeiro protótipo de processadora de filmes
automática foi introduzido. Ela processava 120 filmes por hora com duração de 40
minutos cada. Em 1956, o primeiro sistema de transporte de filmes através de rolos
foi criado, abandonando os suportes de cabide6. Em 1965, o tempo de
processamento conseguiu ser diminuído para de 90 segundos através de novos
químicos e novas emulsões, um aumento na temperatura de processamento (35
graus celsius), uso de filme com suporte de poliéster para melhorar o transporte em

131
rolos. Este tempo ainda abaixaria mais com a criação em 1987 de uma
processadora com processamento de 45 segundos.
O processamento dos filmes na processadora automática se inicia com a introdução
do filme na bandeja de entrada, como observado na Figura 109. Ele será preso e
transportado através de um sistema de rolos por tanques onde se encontram os
químicos de revelação, fixação, a água para lavagem e um sistema de ventilação
que o secará antes de devolvê-lo para o exterior da processadora. Todo esse
processo tem tempo de emersão nos tanques e velocidade de transporte controlado.
Assim como a temperatura e concentração dos químicos nos tanques de imersão. A
temperatura do revelador é a mais crítica, sendo do mantida geralmente em 35ºC
(95ºF) e bombas circulam o liquido em cada tanque para assegurar mistura
adequada4.

132
Transporte manual
Suporte para prender
o filme e auxiliar seu
transporte manual
pelos quatro tanques

Filme
Radiográfico

1 2 3 4

1) Químico de revelação Abundância de elétrons que se juntam aos íons de prata formando
prata metálica nos cristais expostos à radiação

Afetado por:
- Tempo de revelação;
- Temperatura e concentração do químico de revelação.

Quanto maior o tempo, temperatura e concentração, maior a formação de


prata metálica.
2) Banho de parada Remover resíduos do químico de revelação e parar a produção de
prata metálica

Remove os cristais de haleto de prata não expostos e fixa a imagem


3) Químico de fixação
no filme de modo que possa ser armazenada.

Se a remoção for falha, restos de cristais não expostos pela radiação


escurecerão ao sofrerem exposição à luz visível.

Remover através de lavagem com água qualquer substância residual


4) Lavagem
deixada pelos químicos de revelação e fixação.

Resíduos de químico de fixação ocasionam descoloração do filme ao


longo do tempo.

- Pendurar os filmes nos cabides com uma grande distância de


separação entre eles; - O ambiente deve ser livre de poeira para evitar
5) Secagem
artefatos na imagem.

Filmes úmidos dificultam seu armazenamento e seu posicionamento


no negatoscópio para análise da imagem

5
Figura 108 Processamento manual do filme radiográfico .

133
À medida que filmes passam pelo processamento, as reações que ocorrem entre os
químicos em cada tanque e a emulsão do filme age para diminuir a concentração de
alguns químicos. A processadora automática repõe revelador e fixador
impulsionando de tanques de armazenagem desses químicos Quando o filme é
colocado na bandeja de inicio, é acionado um sistema que ativa a reposição de
químicos4. Fabricantes de filmes radiográficos e de substancias químicas de
revelação tem muito cuidadosamente estabelecido as condições ótimas de tempo,
temperatura e concentração para a revelação apropriada. Podem ser esperadas
ótimas condições de contraste, velocidade e velamento se as recomendações do
fabricante para a revelação forem seguidas. O não cumprimento das
recomendações do fabricante pode resultar em perdas na qualidade da imagem5.
A introdução do processamento automático possibilitou alguns melhoramentos na
qualidade da imagem fornecida e na dinâmica do serviço de radiologia em questão.
A qualidade da imagem produzida melhorou devido a eliminação da variação no
modo de processamento ocasionado pelo manuseio manual do filme por diferentes
técnicos e consequentemente o numero de radiografias refeitas diminuiu, reduzindo
assim à exposição do paciente à radiação. Além da redução de tempo exposto a
radiação, o paciente reduziu também o tempo de espera pela sua radiografia
analisada pelo médico6.

134
O banho de parada não é usado, pois o
Sistema de rolos que transporta fixador agora também exerce tal função
o filme radiográfico durante o e os rolos ao pressionarem o filme
processamento ajudam na sua limpeza

Filme radiográfico
Bandeja

Saída do filme
em um Quando o filme é inserido na
compartimento bandeja, o sistema de
exterior à câmara reabastecimento de químicos
escura e água é ativado, mantendo a
quantidade de químicos
apropriada para o
processamento e renovando
Secagem Lavagem Fixação Revelação continuamente a água utilizada
na lavagem.

Sistema de circulação bombeia


continuamente o revelador e o
fixador, mantendo a mistura
adequada para o processamento.

Sistema de circulação do revelador necessita de


um filtro que retenha fragmentos da gelatina da
emulsão desprendidos nas reações químicas.

Podem se unir aos rolos, produzindo artefatos na


imagem. Por isso, limpar os tanques e os rolos
deve ser atividade rotineira do serviço

Figura 109 Compartimentos de uma processadora automática e seus sistemas


diferenciados.

13.1.1 Cuidados com o processamento

Como visto anteriormente, o processo de transformação da imagem latente em


visível no filme radiográfico é um processo químico. Tal processo é regido por
135
químicos que devem ser evitados pelos trabalhadores do serviço de radiologia pois
podem oferecer perigo. Então, quando uma pessoa estiver misturando soluções,
trocando os tanques de reposição de químicos, limpando o sistema de transporte de
rolos ou fazendo qualquer atividade que envolver o contato com os químicos do
processamento, devem seguir alguns procedimentos de segurança como usar
máscaras, luvas e óculos protetores. Atenção que as luvas devem ser mais
espessas do que as luvas cirúrgicas normalmente utilizadas no hospital, pois os
químicos possuem alta capacidade de penetração3.

13.2 Detectores computadorizados

13.3 Detectores digitais: diretos e indiretos

13.3.1 Conceitos básicos para utilização do Sistema de Comunicação e


Arquivamento de Imagens Médicas (PACS)

As imagens geradas por detectores computadorizados e digitais não são geradas


com a finalidade de serem fisicamente armazenadas em prateleiras ou fisicamente
manuseadas como o filme radiográfico, até então empregado. Com o advento
dessas novas tecnologias, foi necessária uma nova maneira de visualizar,
armazenar e compartilhar tais imagens digitais. Para suprir esta necessidade, surgiu
o sistema PACS (Picture archiving and communication systems). Tal sistema
consiste de um arranjo conectando computadores que recebem, armazenam,
transportam a imagem digital e ainda conseguem se comunicar com outros sistemas
eletrônicos de informações já existentes no serviço (ex: cadastro eletrônico de
pacientes) e transmitir os dados para outros hospitais ou clínicas. Deste modo, as
imagens ficam armazenadas em meio eletrônico, eliminando a necessidade de área
física e perda de qualidade da imagem devido ao longo tempo de armazenamento.
Também proporciona um melhor atendimento de doentes residentes em áreas longe
de grandes hospitais e troca de informações opiniões médicas sobre um mesmo
exame sem precisar de uma reunião que os doutores precisam estar fisicamente
presentes.
O armazenamento em meio eletrônico também é utilizado pelos hospitais em
relação a informações de histórico de pacientes, exames realizados, funcionários e
de seu próprio gerenciamento interno. Os sistemas de informações eletrônicas que

136
controla isso nos hospitais são o RIS (radiology information systems), usado para
ordenar e agendar procedimentos mantendo um histórico do paciente, e o HIS
(hospital information systems), que além de armazenar informações médicasmantém
dados de todo o gerenciamento hospitalar4,7.
Para o PACS se comunicar entre seus vários computadores e com os sistemas RIS
e HIS, ele tem que “falar” a mesma “língua” que eles. Por isto, protocolos padrão de
comunicação são usados, e tem o nome de DICOM, faz a comunicação entre os
equipamentos digitais e o PACS, e o HL-7, faz a comunicação entre o PACS e o
RIS/HIS, como observado na Figura 1107.

Modalidade de
aquisição de
PACS RIS/HIS
imagem
DICOM HL-7
(CR, DR...)

Figura 110 Comunicação entre equipamentos digitais e o PACS através da linguagem DICOM e
do PACS com HIS/RIS através da linguagem HL-7.

Os computadores dos sistemas PACS são conectados através de redes e cada


computador é conectado a uma rede por uma interface. Cada interface entre um
computador e a rede é identificada por um número único chamado endereço de
rede. As redes podem ser do tipo LAN, conecta computadores que são separados
por uma pequena distância, como computadores de um mesmo setor/prédio ou
WAN, para computadores conectados à uma longa distância, como computadores
em diferentes estados7. Os computadores nas redes não são geralmente conectados
diretamente um ao outro, possuem dispositivos chamados pontes, roteadores ou
dispositivos de seleção que recebem a informação e transmitem para o endereço de
destino correto. Esses dispositivos ajudam a evitar o congestionamento de
informação em uma rede de grande porte, para que todos os computadores não
recebam a informação transmitida, e sim somente o computador endereçado4. Como
nesta rede circula informações importantes e confidencias, é necessário ter uma

137
segurança, uma barreira que impeça alguém não autorizado de ter acesso a esses
dados, isto é chamado de firewall.

13.4 Armazenamento das imagens

Um dos destinos das informações transmitidas via rede é seu armazenamento


eletrônico. Este armazenamento pode ser de três formas: online, nearline e off-line.
Em um armazenamento online a informação é disponibilizada imediatamente, porém
fica presa à memória RAM do computador, que tem pouca capacidade de
armazenamento, e seu acesso ao conteúdo é perdido quando o computador é
desligado. O armazenamento nearline é feito através da junção de diversos discos
magnéticos ou ópticos para funcionarem como um único disco, isto é conhecido
como RAID (redundant array of independente disks), possuindo assim uma
capacidade de armazenamento maior através de dispositivos de armazenagem
baratos, e um acesso automático às informações, porém não tão rápido. O
armazenamento off-line é realizado por discos ópticos ou fitas magnéticas que
necessitam de uma área física (ex: prateleiras) para seu armazenamento.E, não
possuem acesso automático às suas informações, necessitando de uma pessoa
para localizar estes dispositivos e inseri-los em um sistema de leitura4,7.
A capacidade de armazenamento de um computador é representada em bits. Os bits
são a linguagem utilizada pelos computadores, representam todas as informações
que ele possui e que inserimos nele, e esta linguagem é convertida em letras e
outros caracteres para facilitar a nossa compreensão e lidarmos melhor com esta
tecnologia. O bit é um número binário, ou seja, ele é representado por dois números,
0 e 1. Porém, estes dois números podem ser representados em duas diferentes
combinações, como 01 e 10. Já dois bits podem ser representados em quatro
diferentes configurações, como 00, 01, 10 e 11. Então, podemos representar o
número de bits na base 2, 2N, sendo N o número de bits. O conjunto de 8 bits
correspondem a 1 byte, então, concluímos que 1 byte = 256 bits pois 28 = 256.
A unidade usualmente utilizada para descrever a capacidade de armazenamento
dos computadores é o kilobytes , que representa 10 bits, ou seja, 10254 bytes, a
terabytes (240 bytes = 1024 gigabytes)4.
A taxa de transferência de informações através das redes para seu armazenamento
e outras localidades é dada em megabits (106 bits por segundo) ou gigabits (109 bits
por segundo). E a máxima taxa de transferência necessária é chamada de
138
comprimento de banda (bandwith), e varia de acordo com a modalidade empregada
(radiologia digital, mamografia digital, entre outras) e a quantidade de imagens
geradas por ela.

13.5 Visualização e manipulação de imagens

Quando um exame é feito em uma modalidade digital, a imagem gerada necessita


de um monitor dedicado para sua visualização, chamado de estação de trabalho.
Esta estação possibilita a visualização imediata da imagem, de modo que o técnico
possa verificar se as estruturas desejadas apareceram no exame e este necessita
ser repetido antes da imagem ser enviada para outras estações de trabalho em que
o médico irá laudar.
As estações de trabalho também oferecem recursos para manipulação da imagem
digital gerada. O usuário então pode ajustar a imagem de modo que se adeque aos
seus padrões de qualidade. Algumas funções possíveis de manipulação na imagem
são o janelamento (alterar a escala de cinza da imagem), destaca e cortar regiões,
medir distâncias entre estruturas e anotar diretamente na imagem.
Como visto anteriormente, a “linguagem” entendida pelo computador é
representadas por bits, que são números. Então, as imagens digitais geradas
também são compostas por números e tem seu volume de informação representado
em bytes, que variam de modalidade para modalidade. Geralmente números
maiores são atribuídos a regiões que os raios X não tiveram grande poder de
penetração e são representadas por uma coloração mais clara.
O janelamento da imagem se da por meio do ajuste da largura da janela (o intervalo
dos números que compõe a imagem) normalmente representado na estação de
trabalho por WW (window width) e ajuste no nível da janela (o centro desse intervalo
de números) normalmente representado na estação de trabalho por WL (window
level).
Ao se elevar o centro de um intervalo fixo de número, a imagem terá mais números
abaixo do centro, ou seja, números menores, deixando-a mais escura. Já, se
diminuirmos o centro para um dado intervalo fixo, a imagem terá mais números
acima do centro, ou seja, números de valores maiores, deixando-a mais clara, como
observado na Figura 1117.

139
WW (window width)
A cada tom de cinza é
Intervalo de tons de cinza da imagem
atribuído um número. No
caso deste exemplo,
quanto maior o número,
mais claro o tom
-1500 0 +1500

WL (window level)
Tom de cinza central da imagem

Deslocar o centro para a esquerda


Deslocar o centro para a direita
(diminuir o valor atribuído a seu tom de cinza)
(aumentar o valor atribuído a seu tom de cinza)

A imagem terá mais números acima do A imagem terá mais números abaixo do
centro, ou seja, números de valores centro, ou seja, números menores,
maiores, deixando-a mais clara deixando-a mais escura

Figura 111 Manipulação imagem

13.6 Impressao de imagens

Apesar de a imagem gerada ser digital e o grande objetivo do sistema PACS é poder
armazená-la em meio eletrônico, há alguns serviços médicos que tem como
protocolo imprimir estas imagens digitais. Atualmente, impressoras a laser são
utilizadas para impressão das imagens em filmes.

140
O funcionamento destas impressoras consiste de um feixe laser focado por lentes
que o direcionam ao filme. A luz desse laser é geralmente vermelha e sua
intensidade ao longo das regiões do filme é modulada de acordo com o valor do
número atribuído a imagem digital naquela região4. Deste modo, a imagem
produzida tem seus tons de cinza de acordo com o reproduzido na estação de
trabalho pela imagem digital, como observado na Figura 112.

Figura 112 Funcionamento impressora a laser

141
Referências:

1
OKUNO, E., YOSHIMURA, E., Física das Radiações, São Paulo, Oficina dos
Textos, 2010

2
EISBERG, R., RESNICK, R., Física Quântica – átomos, moléculas. Sólidos,
núcleos e partículas. Rio de Janeiro: Campus,1994

3
BUSHONG, S. C., Ciência Radiológica para tecnólogos – Física, Biologia e
Proteção, tradução 9a ed, Rio de Janeiro, Mosby Elsevier, 2010

4
BUSHBERG, J. T. et al. The essencial physics of medical imaging. 2. ed.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2002

5
CARROL, Q. B. Fuchs's Radiographic Exposure Processing and Quality
Control. 6. ed. Springfield: Charles C Thomas, 1998. 558 p.
8
III CURRY, T. S.; DOWDEY, J. E.; MURRY, R. C. Cristensen's Introduction to
the Physics of Diagnostic Radiology. 3. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1984.
515 p.

9
HAUS, A.G.; JASKULSKI, S.M. The Basics of Filme Processing in Medical
Imaging. Madison: Medical Physics Publising, 1997.

10
SEERAM, E. Digital Radiography: An Introduction. Estados Unidos: Delmar
Cengage Learning, 2011.

142

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