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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000495322

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0010302-84.2017.8.26.0037, da Comarca de Araraquara, em que é apelante LUCAS
DIÓGENES STEFFEN, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO.

ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao apelo de LUCAS
DIÓGENES STEFFEN para reduzir suas penas para 45 anos e 06 meses de reclusão e 17
dias multa, no piso, em regime inicial fechado. V.U.", de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MÁRCIO


BARTOLI (Presidente sem voto), MÁRIO DEVIENNE FERRAZ E IVO DE ALMEIDA.

São Paulo, 17 de junho de 2019

DINIZ FERNANDO
RELATOR
Assinatura Eletrônica

1 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação Criminal nº 0010302-84.2017.8.26.0037


Apelante: Lucas Diógenes Steffen
Apelado: Ministério Público
Comarca: Araraquara
Juiz de 1ª Instância: Dr. José Roberto Bernardi
Liberal

VOTO Nº 8565

Apelação Criminal. JURÍ. HOMICÍDIOS QUALIFICADOS e


PORTE DE ARMA DE USO PERMITIDO. Flagrante
contrariedade entre as provas e a deliberação dos juízes
leigos jamais evidenciada. Acolhimento de uma das
interpretações razoáveis do acervo probatório. Conjunto das
provas firme para a incriminação do réu e manutenção das
qualificadoras. Inadmissibilidade de novo julgamento em
respeito à soberania dos vereditos. Penas exasperadas em
patamar muito elevado, suficiente o aumento da base de 1/2, e
1/6 pela reincidência, para cada um dos crimes. Regime
fechado mantido. Apelo provido em parte.

1) LUCAS DIÓGENES STEFFEN foi condenado às


penas de:
a) 30 anos de reclusão, por infração ao art. 121, § 2º, I
(motivo torpe), III (emprego de meio cruel) e IV (emprego de recurso que
dificultou a defesa do ofendido), combinado com o art. 29, caput, ambos do C.P.;
b) 27 anos de reclusão, por infração ao art. 121, § 2º, I
(motivo torpe), III (emprego de meio cruel) e IV (emprego de recurso que
dificultou a defesa da ofendida), combinado com o art. 29, caput, ambos do C.P.;
c) 03 anos e 06 meses de reclusão e 17 dias-multa, no
valor unitário mínimo legal, por infração ao art. 14, caput, da Lei n. 10.826/2003,
c.c. o art. 29, caput, do C.P.
Foi estabelecido o regime inicial fechado, sendo

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negado o apelo em liberdade (fls. 1127/1151).


Inconformada com a condenação alega a Defesa que
os jurados proferiram decisão manifestamente contrária à prova dos autos. Pede,
assim, novo julgamento. Subsidiariamente, pleiteia o abrandamento da pena (fls.
1158/1164).
Contrarrazões pela manutenção da sentença (fls.
1168/1182) e parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça pelo desprovimento do
apelo (fls. 1204/1208).
É o relatório.

2) Dou parcial provimento ao recurso.


Ao que narra a denúncia (fls. 396/399), na madrugada
do dia 20/03/2016, por volta de 01h20min, na cidade de Araraquara, LUCAS
DIÓGENES STEFFEN, seu padrasto José Ribamar Cruz Mendes e a amiga em
comum Sueli Santana Paulino, previamente ajustados e com unidade de
propósitos, agindo por motivo torpe, com emprego de meio cruel e de recurso
que dificultou a defesa dos ofendidos, efetuaram disparos de arma de fogo e
golpes de facão contra E.E.F., vulgo “Alemão” ou “Lemão”, e sua companheira
P.C.F.B., produzindo ferimentos que foram a causa de suas mortes. Ainda, após
os homicídios, os réus portaram e ocultaram uma arma de fogo de uso permitido,
sem autorização legal ou regulamentar.
Segundo o Parquet, os réus e as vítimas eram vizinhos
e entre eles havia desentendimento anterior decorrente de dívida de drogas.
Ambas as famílias se dedicavam ao comércio espúrio. Na noite dos fatos,
LUCAS, José e Sueli, reunidos em sua residência com colegas e outros
familiares para a comemoração do aniversário de LUCAS, decidiram, em razão
da referida dívida de drogas, dar fim à vida das vítimas. José Ribamar ainda
prometeu, na presença da testemunha Fernando, que causaria mal injusto e
grave se a dívida não fosse paga.
Ao final da confraternização, os réus se armaram de
um revólver e um facão e invadiram a residência das vítimas. Inicialmente,

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acuaram E. no canto do quarto e o golpearam diversas vezes com o facão, até


derrubá-lo ao chão, inclusive decepando sua orelha esquerda. Em seguida,
desfecharam diversos tiros de revólver contra sua cabeça e costas, inclusive com
disparo a curta distância. No mesmo contexto, desferiram golpes de facão contra
a companheira P., além de outras lesões pelo corpo e, na sequência,
desfecharam um tiro contra sua nuca, no momento em que corria em fuga da
residência. P. foi encontrada ainda com vida em um terreno baldio próximo à sua
residência. Apesar do socorro prestado, não resistiu aos ferimentos.
Conforme o Ministério Público, os réus agiram por
motivo torpe, pois mataram os ofendidos em razão de vingança por
desentendimentos anteriores decorrentes de dívidas de drogas. Houve emprego
de meio cruel consistente em diversos golpes de facão e variadas agressões pelo
corpo de ambos os ofendidos, inclusive com o decepamento da orelha esquerda
de E., causando-lhes desnecessário sofrimento físico, a demonstrar
insensibilidade incomum. Por fim, houve emprego de recurso que dificultou a
defesa das vítimas, consistente na superioridade numérica e de armas portadas
pelos réus, no ataque surpresa, com invasão de sua residência em horário de
repouso, bem como por alvejarem E. depois de caído ao chão, com disparos de
curta distância contra sua cabeça, inclusive na região occipital (nuca), assim
como P., pelas costas, quando tentava fugir do local. Após o delito, os réus
ocultaram a arma de fogo utilizada.
Recebida a denúncia (fls. 401), após instrução criminal
sobreveio a r. decisão de fls. 986/991, que pronunciou LUCAS DIÓGENES
STEFFEN, Sueli Santana Paulino e José Ribamar Cruz Mendes como incursos
no como incursos no art. 121, § 2º, I, III e IV, do CP, por duas vezes, bem como
no art. 14, caput, da Lei nº 10.826/03, combinados com o art. 29, caput, do CP.
Em relação aos corréus José e Sueli foram interpostos
e posteriormente recebidos os recursos em sentido estrito, e no que se refere ao
apelante LUCAS o feito foi desmembrado, visto que não houve a interposição de
recurso da decisão de pronúncia (fls. 1051).
LUCAS DIÓGENES STEFFEN foi submetido a

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julgamento pelo Tribunal do Júri em 24/10/2017, ocasião em que o Egrégio


Conselho de Sentença acolheu a tese sustentada pelo Ministério Público em
Plenário, com a responsabilização penal do réu por 02 homicídios qualificados
pela torpeza, pela crueldade e por emprego de recurso que dificultou a defesa
das vítimas. Proclamaram, ainda, que o réu praticou o delito previsto no art. 14,
caput, da Lei nº 10.826/2003 (sentença de fls. 1127/1151).
A Defesa de LUCAS reclamou por novo julgamento,
por entender que a decisão dos Senhores Jurados fora manifestamente contrária
à prova dos autos.
Destarte, a possibilidade de revisão das decisões do
Tribunal do Júri convive com a garantia constitucional da soberania de seus
vereditos (art. 5º, inciso XXXVIII, “c”). Dada a falibilidade dos jurados, pessoas do
povo e sujeitos a decidir com equívoco, necessária a previsão de um instrumento
capaz de desfazer a injustiça, devidamente calibrado para não subtrair do
Tribunal Popular a competência para julgar os crimes dolosos contra vida.
Sendo o apelo manejado sob inspiração do art. 593,
inciso III, alínea “d”, do CPP, seu objetivo, que é galgar um novo julgamento pelo
Tribunal do Júri, é assegurado ao recorrente que comprove que a decisão
originária, para não fugir da literalidade da lei, peca por ser “manifestamente
contrária à prova dos autos”.
Segundo jurisprudência tranquila nos Tribunais: “...os
veredictos do Tribunal do Júri são soberanos e JOSÉ FREDERICO MARQUES,
apreciando tal soberania, com muita propriedade, lembrou a “impossibilidade de os
juízes togados se substituírem aos jurados na decisão da causa“ (in JÚRI, Malheiros
Editores, 8ª ed., pág. 46). Só excepcionalmente, então, pode ocorrer a reforma destas
decisões, quando manifestamente contrárias à prova dos autos. DAMÁSIO E. DE JESUS,
em seu Código de Processo Penal Anotado, assenta ser “pacífico que o advérbio
manifestamente (III, “d”) dá bem a ideia de que só se admite seja o julgamento anulado
quando a decisão do Conselho de Sentença é arbitrária, porque se dissocia integralmente
da prova dos autos“ (in ob. cit., Saraiva, 7ª ed., pág. 373). Para a Corte Suprema, decisão
manifestamente contrária à prova dos autos é aquela destituída de qualquer

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fundamentação e apoio no processo, não a representando o acolhimento de uma das


opções probatórias existentes nos autos, mesmo que frágil, em detrimento de outra (in RT
667/361) (TJSP, Apelação nº 0003914-55.2010.8.26.0541, 5ª Câmara de Direito
Criminal, julgado em 30 de junho de 2011, rel. Des. Pinheiro Franco).
Deve-se entender como decisão manifestamente
contrária aquela que não tem apoio em qualquer prova e que é proferida de
maneira absolutamente diversa do que indicam os elementos colhidos no
processo. Vale dizer, não se considera decisão contrária à evidência dos autos a
que encontra respaldo em alguns elementos apontados pela prova.
Em outras palavras, não entra em pauta o grau de
acerto da decisão, mas sim se ela merece a adjetivação de manifestamente
contrária ao acervo probatório, distanciando-se de qualquer interpretação
razoável. Se amparada por interpretação legítima das provas, ainda que outra a
contraponha, o julgamento do Conselho de Sentença expressará a soberania e
justo exercício da atribuição de decidir a causa. Não anulável, portanto.
Postas essas premissas, não há falar em decisão
aberrante em relação às provas.
A existência dos crimes dolosos contra a vida,
pertinente à materialidade, está demonstrada pelos laudos de exame
necroscópico (fls. 87/89 e 93/95), atestando que as mortes se deram em razão de
traumatismo cranioencefálico, por agente perfurocontundente, bem como pelos
relatórios fotográficos de fls. 459/466 e 436/455; pelos laudos referentes aos
projéteis de arma de fogo (fls. 165/167 e 168/170), complementados pelo laudo
que atestou a concordância entre eles (fls. 552/557) e pelo laudo do local do
crime (fls. 789/807).
No caso em tela, a prova produzida também trouxe
elementos capazes de convencer da autoria dos delitos imputados ao réu.
Ouvidos na fase administrativa, José Ribamar e Sueli
se delataram mutuamente, um imputando ao outro a autoria em concurso
com LUCAS (fls. 28 e 29).
Na fase administrativa Claudia Regina Steffen, irmã de

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LUCAS e seu cunhado Genival José do Nascimento, confirmaram que houve


uma festa no sábado na casa da Dona Eva para comemorar o aniversário de
LUCAS (fls. 12 e 13).
Interrogada na primeira fase judicial, a corré Sueli
Santana Paulino disse que mora nos fundos da casa de Eva, mãe do réu LUCAS.
Negou ter matado as vítimas e não soube dizer quem as matou. Disse que no dia
dos fatos participou da festa de aniversários de LUCAS na casa da Dona Eva.
Por fim, relatou que não conhecia as vítimas e não ouviu nada durante a noite
dos fatos, indo dormir por volta das 21h30min. (fls. 875/892).
Interrogado o corréu José Ribamar Cruz Mendes,
amasiado da informante Eva, mãe do apelante, negou que tenha matado as
vítimas. Disse que os ofendidos eram vizinhos há 04 meses aproximadamente.
Negou ter ameaçado de morte a vítima E. Acrescentou que não ouviu nenhum
barulho na noite dos fatos (fls. 893/909).
Na primeira fase do procedimento do Júri, LUCAS
negou a prática delitiva asseverando que, no dia dos fatos, estava na cidade de
Jaboticabal. Relatou que logo após o seu aniversário foi para aquela cidade e
não soube informar nada sobre os crimes (fls. 910/922).
A informante Eva Aparecida da Silva, mãe do apelante
LUCAS, na etapa inquisitiva, relatou que ouviu comentários de terceiros no
sentido de que os 03 acusados foram os autores dos crimes. Disse que fez uma
festa de aniversário para seu filho LUCAS, no sábado dia 19 de março de 2016, e
na ocasião o corréu Ribamar, a corré Sueli e seu filho LUCAS ingeriram muita
bebida alcoólica e utilizaram cocaína. Relatou que foi dormir por volta das 23h30
e não ouviu nada durante a noite, alegando que toma remédio para dormir.
Narrou que somente no domingo às 07h soube que os vizinhos P. e E. haviam
sido assassinados com tiros e golpes de faca. Disse que LUCAS na manhã de
domingo, às 07h foi capinar o quintal da casa (fls. 26/27).
Na primeira fase judicial, mudou a versão dizendo que
fez um bolo para comemorar o aniversário de LUCAS e acordou na manhã de
domingo com policiais revistando a casa procurando por uma arma. Asseverou

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que não escutou nenhum barulho durante a noite e ficou sabendo que seus
vizinhos P. e E. foram mortos (fls. 860/869 e DVD que acompanha os autos).
A testemunha Fernando Arrighi da Silva, na primeira
fase judicial, afirmou que mora no bairro onde ocorreram os fatos. Confirmou ser
usuário de drogas e já ter comprado entorpecentes do corréu José Ribamar e
também das vítimas P. e E., vulgo “Alemão”. Disse que, no dia dos fatos, José
Ribamar lhe disse que iria conversar com a vítima “Alemão” e caso ele fosse
arrogante ele iria “estourar a cabeça dele” (fls. 870/874).
A testemunha Maria Vânia de Jesus, na primeira fase
do Júri, confirmou que mora ao lado da casa das vítimas. Relatou que ouviu
comentários das pessoas que estavam na rua, logo após os fatos, de que os
acusados foram os autores dos crimes (DVD que acompanha os autos digitais).
Rosângela Aparecida Ferraz, mãe da vítima E., tanto
na fase administrativa quanto na primeira fase do Júri, disse que ouviu da vítima
P. a respeito de ameaças de que a vítima E. vinha recebendo por conta de
dívida de drogas no valor de R$ 1.800,00. Por fim, relatou que as ameaças
foram feitas por Eva, mãe de LUCAS, a qual costumava frequentar a casa das
vítimas (fls. 31 e DVD que acompanha os autos digitais).
Os policiais civis Luciana e Alexandre, ouvidos em
Juízo relataram que receberam denúncias anônimas de que os 03 réus seriam
os autores dos crimes narrados na denúncia e ratificaram a delação mútua
dos acusados Sueli e José Ribamar, os quais apontaram LUCAS também
como coautor dos crimes. Afirmaram que as investigações indicaram que no
local dos fatos e na casa vizinha havia o tráfico de drogas, que a motivação dos
homicídios foi dívida de drogas e que a arma de fogo pertencia a LUCAS.
Relataram que a informante Eva, mãe de LUCAS confirmou que houve uma festa
em sua casa no sábado e que Sueli, José Ribamar e LUCAS ingeriam bebidas
alcoólicas e usaram cocaína. Disseram que Eva relatou que foi dormir as 23h30 e
não ouviu barulho, o que chama a atenção, pois foram disparados 05 tiros de
arma de fogo, e que somente no dia seguinte, domingo, é que ficou sabendo que
houve o assassinato e que os autores eram seu filho, José Ribamar e Sueli

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(DVD que acompanha os autos digitais).


Nota-se que o réu, ao ser ouvido no Tribunal do Júri,
manteve a negativa do crime. Narrou que no dia 16 de março de 2016, na quarta-
feira, após a sua festa de aniversário foi para a cidade de Jaboticabal. Afirmou
que no sábado para o domingo, quando ocorreram os fatos não estava na
cidade. Disse que a corré Sueli não participou da festa e que não houve uso de
drogas ou bebidas no evento. As vítimas P. e E. eram seus vizinhos. Por fim,
negou ter arma de fogo (DVD que acompanha os autos).
A testemunha Rosângela Aparecida Ferraz, mãe da
vítima E., ouvida no Tribunal do Júri, disse que a vítima P. relatou que a vítima
E. tinha uma divida de drogas no valor de R$ 1.800,00 com a Dona Eva, mãe
de LUCAS, e que se não fosse paga E. seria morto. Confirmou que o filho E.
foi internado várias vezes em clínicas de reabilitação para tratar o vício de
entorpecentes, mas não conseguia resultados.
Os policiais civis Luciana e Alexandre, ouvidos no
Tribunal do Júri, confirmaram os relatos apresentados desde a fase
administrativa. Afirmaram que os crimes ocorreram na madrugada do sábado
para o domingo e receberam várias denúncias anônimas no sentido que os
autores dos crimes eram os vizinhos das vítimas, inclusive citando o nome
do réu LUCAS e dos corréus José Ribamar e Sueli. Relataram que na
Delegacia de Polícia os corréus José Ribamar e Sueli se acusaram
mutuamente e apontaram LUCAS também como autor dos crimes.
Esclareceram que a testemunha Eva ouviu dizer que os autores do crime
foram José Ribamar, Sueli e seu filho LUCAS e que durante a festa de
aniversário todos eles ingeriam álcool e utilizaram drogas. Disseram que a
motivação dos crimes foi dívida de drogas. Salientaram que LUCAS participou
da sua festa de aniversário que aconteceu no sábado para domingo na casa da
mãe, contudo não foi encontrado nas diligências e o mandado de prisão
preventiva em seu desfavor foi cumprido somente em setembro do mesmo ano.
Disseram que foi apreendido um facão na casa dos réus e que, segundo as
investigações, quem efetuou os disparos de arma de fogo contra as vítimas

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foi LUCAS.
Desse modo, a alegação da Defesa de que o apelante
é inocente e que os Jurados proferiam decisão manifestamente contrária à prova
dos autos não se sustenta diante do conjunto probatório.
Ora, o álibi apresentado por LUCAS de que não estaria
no local dos fatos, mas sim na cidade de Jaboticabal, não se sustenta diante dos
depoimentos de Eva, Cláudia e Genival, respectivamente mãe, irmã e cunhado
do apelante, bem como pelos depoimentos dos policiais civis responsáveis pelas
investigações e pelo interrogatório da corré Sueli, visto que todos confirmaram
que a festa de aniversário aconteceu no sábado dia 19/03/2016 e só terminou na
madrugada do domingo dia 20/03/2016 e não na quarta-feira dia 16/03/2016
conforme alegado por LUCAS.
Ademais, a testemunha Rosângela afirmou que seu
filho (o ofendido E.) foi ameaçado de morte pela mãe de LUCAS, bem como as
investigações apuraram que a motivação dos crimes foi dívida de drogas da
família do apelante e corréus com a família das vítimas, e, por fim, a testemunha
Fernando disse que o corréu José Ribamar lhe falou que iria conversar com a
vítima “Alemão” e caso ele fosse arrogante ele iria “estourar a cabeça dele”.
Além disso, embora não localizada, apreendida e
periciada a arma de fogo utilizada nos crimes contra a vida, tem-se que o
conjunto probatório leva à conclusão de que LUCAS tinha consigo referido
instrumento antes da execução dos delitos e o ocultou em local não apurado
após a prática dos crimes e sua evasão.
Vê-se, portanto que os jurados, ao proferirem a
decisão, agiram exercendo a soberania que a Constituição lhes assegura e
aceitaram uma das versões apresentadas, reconhecendo, portanto, a existência
de provas e elementos suficientes para a condenação.
Assim, a versão do apelante não encontrou nenhum
respaldo nas provas colhidas nos autos. Bem por isso e diante do contexto
material e testemunhal, o que ficou estreme de dúvidas foi que a decisão dos
Jurados, sem qualquer arbitrariedade, acolheu uma das opções probatórias

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existentes.
Como ressaltado pelo Ministério Público em suas
contrarrazões: “Os próprios corréus Sueli e José Ribamar, quando de suas oitivas na
fase policial, apesar de negarem a autoria, afirmaram que, juntamente com Lucas,
mantiveram contato com as vítimas na noite dos fatos e confirmaram a ocorrência dos
crimes, inclusive informando que a motivação seria a existência de dívida de drogas,
fato este corroborado pelas testemunhas ouvidas em juízo e em plenário. Além disso, os
próprios familiares de Lucas (mãe, irmã e cunhado) afastam o álibi apresentado, eis que
foram uníssonos em afirmar que o réu estava na residência da genitora no dia dos fatos
(sábado à noite), onde realizaram um churrasco para comemorar seu aniversário,
conforme se depreende dos depoimentos de Eva Aparecida da Silva, Cláudia Regina
Steffen e Genival José do Nascimento, respectivamente. Em síntese, os coautores e os
próprios familiares afastam o álibi invocado, enquanto os primeiros são taxativos e
uníssonos quanto à efetiva concorrência de Lucas na execução dos homicídios.” g.n. (fls.
1.173).
Da mesma forma o Conselho de Sentença reconheceu
cada uma das qualificadoras.
O crime foi planejado e cometido por motivo torpe, em
razão de vingança por desentendimentos anteriores decorrentes de dívidas de
drogas, conforme depoimentos das testemunhas Luciana, Alexandre e
Rosângela.
Além disso, houve emprego de meio cruel consistente
em diversos golpes de facão e variadas agressões pelo corpo de ambos os
ofendidos, inclusive decepando a orelha esquerda de E., causando-lhes
desnecessário sofrimento físico, a demonstrar insensibilidade, conforme se infere
do laudo do local e, principalmente, dos exames necroscópicos, que
demonstraram a utilização de mais de um instrumento vulnerante.
O apelante e os demais corréus empregaram recurso
que dificultou a defesa das vítimas, consistente na superioridade numérica e
de armas por eles portadas, bem como em razão do ataque surpresa, com
invasão de sua residência em horário de repouso, além de alvejarem E. depois

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de caído ao chão, com disparos a curta distância contra sua cabeça, inclusive na
região occipital (nuca), e P. pelas costas, quando tentava correr em fuga.
Vale repetir que não há que se falar em decisão
contrária à prova dos autos se os juízes leigos se convenceram de que foi
mesmo o apelante o autor das facadas e tiros contra as vítimas, que as levou a
óbito, sendo que LUCAS agiu assim, por motivo torpe, através de recurso que
dificultou a defesa dos ofendidos e por meio cruel, razão pela qual impossível a
renovação do julgado, em atenção ao princípio que assegura a soberania dos
vereditos.
Certa a condenação do apelante por duplo homicídio
triplamente qualificado em concurso de agentes e porte de arma de fogo de uso
permitido.
As penas foram justificadas pelo Douto Magistrado a
quo (fls. 1.128/1.151), conforme segue:
“Passo, então, à dosimetria das penas a serem impostas.
Crime de homicídio: ofendido Elizandro Eduardo. Considerando-se os elementos
norteadores previstos no artigo 59 do Código Penal, em especial: a) que resultaram
configuradas três qualificadoras, a revelar dolo intenso por parte do infrator, bem assim
porque cometido o delito em concurso de pessoas, de modo a proporcionar maior
probabilidade de êxito na empreitada homicida, conduta reveladora, portanto, de
acentuada insensibilidade moral, perversidade além do normal e absoluto descaso para
com a vida alheia, a exigir maior reprovabilidade; b) que o acusado ostenta conduta
social reprovável, porquanto não trabalhava, dedicando-se, reiteradamente, ao nefasto
tráfico de drogas ilícitas (nesse sentido, depoimento prestado em plenário pela
testemunha Alexandre do Carmo Lopes Ferraz); c) que o réu ostenta personalidade
criminosa e maus antecedentes criminais, pois insiste em trilhar o caminho do ilícito,
cometendo crimes, reiteradamente (registra, a respeito, três condenações definitivas: fls.
1.098/1.099, feitos ns. 206/99, 284/99 e 141/2007); d) as gravíssimas consequências do
delito, causando aos familiares do ofendido, especialmente à sua genitora, dor e abalo
psicológico insuperáveis (confira-se, a respeito, o depoimento prestado em plenário pela
testemunha Rosângela Aparecida Ferraz Alves; no particular, aliás, a sua declaração em

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plenário fala por si, expressando com maior intensidade, fidelidade e clareza o que se
tentou externar acima com palavras); fixo a pena-base em 28 (vinte e oito) anos de
reclusão. Tendo-se em conta que o acusado ostenta condenação hábil a gerar a
reincidência (fls. 1.099, feito n. 14050.71.2010, pois não decorrido o prazo depurador
previsto no artigo 64, I, do Código Penal), com fulcro no art. 61, I, do Estatuto
Repressivo, aumento a sanção imposta, resultando-a em 30 (trinta) anos de reclusão.
Torno definitiva a sanção acima estabelecida, por não ocorrer qualquer outra hipótese
que autorize a exasperação, ou o abrandamento. Delito de homicídio: vítima Priscila
Cristina. Considerando-se os elementos norteadores previstos no artigo 59 do Código
Penal, em especial que: a) resultaram configuradas três qualificadoras, a revelar dolo
intenso por parte do infrator, bem assim porque cometido o delito em concurso de
pessoas, de modo a proporcionar maior probabilidade de êxito na empreitada homicida,
conduta reveladora, portanto, de acentuada insensibilidade moral, perversidade além do
normal e absoluto descaso para com a vida alheia, a exigir maior reprovabilidade; b) o
acusado ostenta conduta social reprovável, porquanto não trabalhava, dedicando-se,
reiteradamente, ao nefasto tráfico de drogas ilícitas (nesse sentido, depoimento prestado
em plenário pela testemunha Alexandre do Carmo Lopes Ferraz); c) o réu ostenta
personalidade criminosa e maus antecedentes criminais, pois insiste em trilhar o
caminho do ilícito, cometendo crimes, reiteradamente (registra, a respeito, três
condenações definitivas: fls. 1.098/1.099, feitos ns. 206/99, 284/99 e 141/2007; fixo a
pena-base em 25 (vinte e cinco) anos de reclusão. Tendo-se em conta que o acusado
ostenta condenação hábil a gerar a reincidência (fls. 1.099, feito n. 14050.71.2010, pois
não decorrido o prazo depurador previsto no artigo 64, I, do Código Penal), com fulcro
no art. 61, I, do Estatuto Repressivo, aumento a sanção imposta, resultando-a em 27 (vinte
e sete) anos de reclusão. Torno definitiva a sanção acima estabelecida, por não ocorrer
qualquer outra hipótese que autorize a exasperação, ou o abrandamento. Infração penal
prevista no art. 14, caput, da Lei n. 10.826/2003. Considerando-se os elementos
norteadores previstos no artigo 59 do Código Penal, em especial que: a) o acusado
ostenta conduta social reprovável, porquanto não trabalhava, dedicando-se,
reiteradamente, ao nefasto tráfico de drogas ilícitas (nesse sentido, depoimento prestado
em plenário pela testemunha Alexandre do Carmo Lopes Ferraz); b) o réu ostenta

Apelação nº 0010302-84.2017.8.26.0037 - Araraquara - VOTO Nº 8565 FA 1 3/15


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

personalidade criminosa e maus antecedentes criminais, pois insiste em trilhar o


caminho do ilícito, cometendo crimes, reiteradamente (registra, a respeito, três
condenações definitivas: fls. 1.098/1.099, feitos ns. 206/99, 284/99 e 141/2007; fixo as
penas-base em 3 (três) anos de reclusão e 15 (quinze) dias-multa. Tendo-se em conta que
o acusado ostenta condenação hábil a gerar a reincidência (fls. 1.099, feito n.
14050.71.2010, pois não decorrido o prazo depurador previsto no artigo 64, I, do Código
Penal), com fulcro no art. 61, I, do Estatuto Repressivo, aumento as sanções impostas,
resultando-as em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão e 17 (dezessete) dias-multa.
Torno definitivas as sanções acima estabelecidas, por não ocorrer qualquer outra
hipótese que autorize a exasperação, ou o abrandamento.”g.n.
De fato, o réu possui maus antecedentes (cf.
processos nº: 7000319-35.200.8.26.0037, com trânsito em 29/09/2003,
7000589-25.2001.8.26.0037, com trânsito em julgado em 13/07/2000 e
7001159-30.2009.8.26.0037, com trânsito em 11/03/2008). Além disso, o réu é
reincidente (cf. processo nº 7000203-43.2011.8.26.0037, com trânsito em
09/09/2013, extinta a punibilidade pelo indulto - art. 107, II do CP), conforme
certidão de fls. 1.098/1.099.
Entretanto, o aumento da pena-base se mostrou
exagerado, ainda que os maus antecedentes, a gravidade do crime e as
peculiaridades do caso em apreço tenham sido graves, mostrando-se adequado
e suficiente o aumento de 1/2.
Assim, a pena-base para cada um dos crimes de
homicídio triplamente qualificado fica estabelecida em 18 anos de reclusão.
Na fase seguinte, mostra-se adequado o aumento de
1/6 pela comprovada reincidência, resultado a pena de 21 anos de reclusão
para cada um dos crimes de homicídio triplamente qualificado em concurso de
agentes.
A dosimetria penal em relação ao crime de porte de
arma de uso permitido fica mantida, visto que seguiu o aumento de 1/2 na pena-
base e mais 1/6 pela reincidência, o que resultou em 03 anos e 06 meses de
reclusão e 17 dias-multa, no piso.

Apelação nº 0010302-84.2017.8.26.0037 - Araraquara - VOTO Nº 8565 FA 1 4/15


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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Em suma, as penas ficaram no patamar que segue:


a) 21 anos de reclusão, por infração ao art. 121, § 2º, I
(motivo torpe), III (emprego de meio cruel) e IV (emprego de recurso que
dificultou a defesa do ofendido), combinado com o art. 29, caput, ambos do C.P.;
b) 21 anos de reclusão, por infração ao art. 121, § 2º, I
(motivo torpe), III (emprego de meio cruel) e IV (emprego de recurso que
dificultou a defesa da ofendida), combinado com o art. 29, caput, ambos do C.P.;
c) 03 anos e 06 meses de reclusão e 17 dias-multa, no
valor unitário mínimo legal, por infração ao art. 14, caput, da Lei n. 10.826/2003,
c.c. o art. 29, caput, do C.P.
No caso em apreço, o regime não poderia ser outro
que não o inicial fechado, quer pela hediondez dos delitos de homicídio, quer
pela quantidade de pena aplicada (superior a 08 anos de reclusão), quer pelas
circunstâncias concretas do caso, bem como diante dos maus antecedentes e da
reincidência do réu.

3) Pelo exposto, dou parcial provimento ao apelo de


LUCAS DIÓGENES STEFFEN para reduzir suas penas para 45 anos e 06
meses de reclusão e 17 dias multa, no piso, em regime inicial fechado.

DINIZ FERNANDO FERREIRA DA CRUZ


Relator

Apelação nº 0010302-84.2017.8.26.0037 - Araraquara - VOTO Nº 8565 FA 1 5/15

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