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Tragédia de João e Maria da Cia Antropofágica.

Por Rogerio Guarapiran

O desconforto de acompanhar a trajetória de seres descontrolados, que agem no rigor físico


de portadores de distúrbios motores e psíquicos. A fala é telegráfica, adultos se diferem por
ações premeditas que fere as vidas das crianças. A angustia da fome é revertida ao público
pela experiência da contemplação da deformação. Parecem atores tomados, o que seria uma
alienação condenável para um grupo que presa o distanciamento. Pode-se ler na chave do
estranhamento a proposta corporal totalitária, porque inicialmente todos se igualam,
apresentam a mesma proposta de fisicalidade não se desenvolve e é executado pelos atores
como uma imposição. Porém existem quebras e liberdades nessa proposta, pela construção da
linguagem infantil fonética, morfológica e sintática imaturas e cômicas permite entrever o ator
na seleção desse idiomatismo através da empiria para gerar um idiotismo estético. Outro fator
que não passa incólume é o fluxo dramático desse estado de criação, desde o momento em
que os atores recebem a roupa da encenação o jogo é ininterrupto, matéria rara no grupo,
mas que deveria ser extraído mais consequências, mesmo com as quebras entre sequências
como o tempo de transições de cena e a irrupção de imagens como a boneca no foco de luz, o
fluxo da estilização permanece. A consequência disso é a tomada de aparência de verdade
unilateral, só existe aquela dimensão. Isso ao invés de ser lido como alienação do fluxo
dramático pode ser um recurso crítico da imponderabilidade da linguagem cênica, seu recurso
de alteridade estética incondicional, seu ponto de vista verticalizado, em contraposição aos
níveis de consciência do espectador que complementam aquilo que julgar necessário iluminar
e desconfiar do excesso de crença da cena. A fome e a miséria são deformadores plásticos
como vemos nas obras de Portinari e deformadores morais como nas obras de Brecht,
animalizam os homens, primitivizam as relações e violentam os mais fracos. Com o suposto de
que o controle da propriedade agrícola, da produção e distribuição de alimentos segue a
perversidade do lucro, a fome é um instrumento político por excelência das oligarquias do
terceiro mundo. A fábula conhecida do mundo ocidental é um alerta moral para as crianças
não confiarem no aparente idílio oferecido pelo estranho e que os laços de consanguinidade
dos pais deve falar mais alto do que o desespero. Na versão que se representa não aponta
salvaguarda moral, apesar de se constituir como moralismo o fatalismo da tragédia. A forma
nervosa com que se desenrola a fábula é o amargo que o doce vai conter. A perversão da
fábula toma rumos próprios com a captura e a servidão sexual das crianças estupradas por
figuras algozes. A bruxa é identificada com o símbolo da cadeira de rodas, tradicionalmente
ocupada pelos déspotas capitalistas e maneiristas da Cia Antropofágica. Um séquito de
sequazes acompanham a bruxa e intensificam o quadro de terror com as imagens de ursos de
pelúcia enforcados, esse recurso reitera a imagem da infância condenada e permuta os
bonecos de biscoito da fábula que são as crianças já abusadas. O uso da música também é um
lugar diferente daquele das canções-narrativas do teatro épico, ela ajuda a entalhar o
sentimento de perda, abandono e angústia gerado pela fome. Porém há de se atentar à
contradição da escolha de Schoemberg para naturalizar um estado emocional de perturbação
e perda de referência. Se a música dodecafônica foi um sistema formal e racional de criação
que resultou em obras desestabilizantes do sistema tonal, noto que a construção corporal não
encontram correspondência na eleição estética de Schoemberg e não avançam sobre novos
sentidos, porque os gestos tensionados não são estruturados com rigor, são aleatórios e
emocionalmente conduzidos, desperdiçando momentos de dialética volicional entre o
sentimento da cena e a inteligência social por trás dela. Cito a cena do pós estrupo de João, a
intuição do sentimento de ultraje e desencanto com o mundo não transformam em nova
qualidade os movimentos de João, apenas potencializam sua violência esdruxulamente
catapultando para a cena final, expondo uma pressa na resolução, um não ter saída e controle
na escolha das variações possíveis dentro da gestualidade escolhida. Um desperdício da expor
a técnica dramatúrgica do drama em explorar o ápice da transformação revelando as escolhas
ideológicas da raiva, da explosão e do apaixonado movimento inconsciente. No momento
radical da virada pode ser uma radicaleza (radical + beleza) a morte da exploradora bruxa é
uma cena rápida que elimina um personagem dos mais paradoxais e complexos da literatura
infantil com uma facilidade extrema. Compare-se o esforço de encenação para o aparecimento
da personagem, o quanto de simbolismo reforçado pela coalisão do mal e a participação
criminosa da figura de um velho do saco estrupador, uma verdadeira rede, um verdadeiro
inimigo tentacular. Comparece com a versão da fábula europeia onde há pelo menos um plano
racional que marca a superação dos infans João e Maria perante a perversidade irracional e
glutona da bruxa. Para finalizar quero arriscar uma visão geral sobre a peça, pensando que ela
surgiu entre 2002 e 2003 a tragédia nessa peça é a dose de pessimismo crítico da esquerda em
relação à eleição de Lula. A onda de euforia social e crescimento econômico reduziu
significamente as desigualdades e iniquidades entre a historia passada e a história futura, mas
o capitalismo globalizado fez da promessa de extinção da miséria entre nós um conto de fadas.
A postura que saio da peça é que não posso relaxar física e psiquicamente enquanto um ser
humano passe fome nesse país, é um problema que me envolve todas as células neurais.

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