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Conselho Editorial
Secretaria Nacional
Rua 19, no 35, 1° andar – Centro - 74030-090 Antônio Canuto
Cássia Regina da Silva Luz
Cristiane Passos Melo e Silva
Goiânia-GO Elvis Fagner Ferreira Marques
Flávio Marcos Gonçalves de Araújo
Ítalo Borges Rezende
Márcio Antônio Cruzeiro
Fone: (062) 4008-6466 Fax: (62) 4008-6405 Mário Braz Manzi Muniz
Múria Carrijo Viana
Paula Pereira
Endereço eletrônico: cpt@cptnacional.org.br Thays Pereira Oliveira Rodrigues
Regionais
Sítio: www.cptnacional.org.br Célio Lima da Silva – Acre
Sisto Magro – Amapá
Maria Agostinha de Souza/Tiago Maiká Muller Schwade – Amazonas
Edmundo Rodrigues Costa/Evandro Rodrigues dos Anjos/Antônia Laude-
Comissão Pastoral da Terra é um organismo ligado ci Oliveira Moraes – Araguaia/Tocantins
à Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça Roseilda Cruz da Conceição – Bahia
Francisco Silva de Sousa/Lucimar Dios Oliveira – Ceará
e da Paz, da CNBB. Priscila Viana Alves/Viviane Ramiro – Espírito Santo/Rio de Janeiro
Lucimone Maria de Oliveira – Goiás
Ronilson Costa – Maranhão
A CPT é membro da Pax Christi Internacional Elizabeth Fátima Flores/Welligton Douglas Rodrigues da Silva – Mato
Grosso
Roberto Carlos de Oliveira – Mato Grosso do Sul
Letícia Aparecida Rocha – Minas Gerais
Goiânia, abril de 2019 Marluce Melo/Renata Costa Cézar de Albuquerque/Renata Érica de Fi-
gueiredo Ataíde – Nordeste (AL, PB, PE e RN)
Andréia Aparecida Silvério dos Santos/José Batista Gonçalves Afonso –
Pará
Dirceu Fumagalli/Isabel Cristina Diniz – Paraná
Altamiran Lopes Ribeiro – Piauí
José Iborra Plans/Maria Petronila Neto – Rondônia
Wilson Dallagnol – Rio Grande do Sul
José Valmeci de Souza – Santa Catarina
Assessoria
Prof. Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves
Geógrafo – UFF
Prof. Dr. José Paulo Pietrafesa
Sociólogo – UFG
Assessoria Administrativa
Tânia Maria Rocha de Oliveira
Miquicelany Linhares Gomes de Souza
Revisão
Centro de Documentação Dom Tomás Balduino e Setor de Comunicação
da Secretaria Nacional
Diagramação:
Carmelo Fioraso
Seleção de fotos
Cristiane Passos Melo e Silva
Foto Capa
Ana Mendes / CIMI
Arte da capa
Thereza Nardelli
Carmelo Fioraso
Apoio
PPM Pão Para o Mundo
CCFD Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement
D&P Development and Peace
Misereor
Ao Padre Amaro Lopes,
perseguido, processado e preso por partilhar da vida e da luta dos assentados e sem
terra, em Anapu, na Prelazia do Xingu, onde atuava na CPT...
“Felizes os que são perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o Reino dos Céus”,
disse Jesus.
In Memoriam
agente da CPT; nos deixou no dia 30 de dezembro de 2018, aos 97 anos de fidelidade ao
“Deus dos pobres e aos pobres de Deus”.
De estatura frágil e pequena foi uma gigante na defesa dos direitos dos sem terra, do
povo da rua e das crianças.
engolidas e soterradas pela lama da ganância, por quem privilegia e prioriza o lucro dos
negócios à vida das pessoas e da natureza.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
7
Sumário
Apresentação...................................................................................................9
Metodologia.....................................................................................................13
Tabela 1 - Comparação dos Conflitos no Campo Brasil (2009 - 2018)...............23
Conflitos no Campo
Mais além da conjuntura: por outros horizontes de sentido............................26
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Bruno Cezar Malheiro, Fernando Michelotti
Tabela 2 - Conflitos no Campo.........................................................................38
O silenciamento das mulheres camponesas em situação de conflitos no
campo e as sementes que anunciam suas resistências.....................................81
Raquel Baster
Terra
Tabela 3 - Violência contra a Ocupação e a Posse ............................................90
Terra em Transe: geografia da expropriação e da r-existência no campo
brasileiro 2018................................................................................................91
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Danilo Pereira Cuin, Julia Nascimento Ladeira,
Marlon Nunes Silva, Pedro Catanzaro da Rocha Leão
Tabela 4 Conflitos por Terra.............................................................................120
Anapu, um barril de pólvora............................................................................121
Jeane Ann Bellinni, Mário Braz Manzi Muniz
Água
Trabalho
Agrotóxicos: o medo que cala...........................................................................154
Ana Aranha
Tabela 6 - Conflitos Trabalhistas.....................................................................159
Manifestações
Cristianismo da libertação - Breves notas sobre a CPT.....................................192
Michael Löwy
Tabela 11 - Manifestações................................................................................195
Na 33ª edição do relatório anual da CPT vive em transe, se não o mundo inteiro!
“Conflitos no Campo Brasil 2018”, o texto
de análise geral destes conflitos, de autoria Soberano no mundo, o capital financeiro
do professor Carlos Walter Porto-Gonçal- busca se territorializar como solução para
ves e seus colegas do LEMTO / UFF, re- a crise por ele mesmo engendrada, a fim de
corre à imagem da “terra em transe” para estender o processo atual de acumulação
simbolizar a conclusão de sua leitura dos ilimitada de riqueza fictícia. Países ricos
dados de conflitos deste ano. A imagem em recursos naturais como o nosso não
remete ao famoso filme de Glauber Rocha escapam a esta sanha devoradora de terra
e vem a calhar. O país da ruptura políti- e gente. A violência é sua tática eficiente,
ca, 2015/2018 – entre o impedimento da agora com outro tipo de respaldo do Esta-
presidenta Dilma e a eleição do capitão do que, sob Bolsonaro, criminalizadas são
Bolsonaro –, se parece muito com aquele as vítimas: “são todos terroristas”, disse
do polêmico filme vanguardista de 1967: ele sobre os militantes do MST (Movimen-
populistas, fundamentalistas religiosos no to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e
governo resultado de um golpe de estado; do MTST (Movimento dos Trabalhadores
corrupção sem limites nas relações das Sem Teto). Foi didático: no campo e na ci-
classes dirigentes entre si e com empre- dade, a terra está entregue à especulação
sários transnacionais, a despeito, no caso sem freios. O que se deve esperar de 2019
presente, da seletiva e instrumentalizada e anos seguintes, se órgãos e funções es-
operação “Lava Jato” de “combate à cor- tratégicas para evitar e dirimir conflitos no
rupção”; povo desmobilizado, enganado campo, como INCRA, FUNAI e Ouvidoria
pelas versões da mídia que distorcem os Agrária, estão sendo entregues a militares?
fatos, hoje potencializadas pelas chama-
das “redes sociais” e suas “fake news”; Quantidades e extensões do transe
oposição de esquerda sem rumo, afeita ao
Estado mais que às ruas... Os números justificam o transe da terra.
Os conflitos no campo (terra, água, traba-
Mas, o achado da recorrência está também lho, em tempos de seca, garimpo, sindicais
no transe que este estado de coisas provoca e violências contra a pessoa – assassinatos,
na terra, literalmente: aumento exacerba- ameaças, agressões, prisões etc.) aumenta-
do de todas as formas da violência no cam- ram em 4% em relação a 2017, passando
po (e, correlata, nas periferias urbanas), de 1.431 para 1.489. Destes, 1.124 foram
sobretudo contra povos e comunidades por terra. Perto de um milhão de pesso-
tradicionais, visando seus territórios ricos as foram envolvidas no total dos conflitos,
em bens naturais (almejadas commodities) 36% a mais que em 2017, 51,6% na região
sob controle deles, intencionalmente pre- Norte. Aí também a concentração de terras
cário do ponto de vista jurídico. Territórios em conflito: 92% do total em 2018. Outros
justo aqueles que significam e preservam índices alarmantes confirmarão a Amazô-
o “país do pau-brasil”, mas não escapam nia como foco principal.
da predação extrativista e da colonialidade
reinventadas, o patrimônio nacional ven- A extensão de terras em conflito vem au-
dido na bacia das almas, os danos de toda mentando exponencialmente desde 2015
ordem, irreversíveis... Ademais, o país todo (foram 8.1 milhões de hectares em 2014), pas-
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
sando de 21,3 milhões de hectares para 23,6 ções, responde em liberdade a processo judi-
milhões em 2016, 37,0 milhões em 2017 e 39,4 cial.
milhões em 2018, o que significa 4,6% do terri-
tório nacional em disputa. Entre os 28 assassinados não estão contabi-
lizados – porque dificilmente teríamos como
Os conflitos por água, que vêm crescendo des- fazê-lo – os mortos na cadeia do agronegócio,
de 2002, quando a CPT passou a registrá-los como escreve Antônio Canuto. É reveladora a
separadamente, teve um aumento exponencial intensa campanha midiática de que ele é “pop,
em 2018 em relação a 2017: de 197, envol- tech, tudo”, a qual mal disfarça o quanto ele é
vendo 35,4 mil pessoas, para 276, envolvendo “cídio”: homicídio, genocídio, ecocídio...
73,6 mil pessoas – um aumento de 40,1%. Ri-
beirinhos e pescadores foram as vítimas prefe- Pessoas reais sob os números
renciais: 80,5%. Metade destes conflitos foram
causados por mineradoras. A saga inglória do Mas, é preciso imaginar as pessoas reais por
rio Doce se estendeu por 2018 e seguirá para trás dos números... e o tamanho de seu so-
sempre. A Vale de lá originada voltará ain- frimento sob este “transe da terra”! Consegui-
da mais terrível em 2019 com Brumadinho e mos? É o primeiro passo para a solidariedade
deverá continuar, pelo tanto de barragens de efetiva. Que só assim será capaz de fazer frente
rejeitos tóxicos que deverá quebrar e valerá a ao tamanho da crueldade dos promotores reais
pena fazê-lo, impunemente... do caos e da dor do povo camponês no Brasil.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde em fichas. Neste referido ano, já com aces-
a sua criação em 1975, se defronta com so à informática, criou-se o primeiro banco
os conflitos no campo e o grave problema de dados dBase, onde foram registrados os
da violência contra o que se convencionou conflitos até 1999. Em 2000, houve uma
nomear como trabalhadores e trabalhado- reestruturação e criou-se o DataCPT; os
ras da terra, termo que engloba as mais dados foram migrados para SQL server.
diferentes e diversas categorias de campo-
neses, indígenas, assalariados rurais, co- A CPT tornou-se a única entidade a reali-
munidades tradicionais e pescadores arte- zar tão ampla pesquisa sobre os conflitos
sanais que vivem em espaços rurais e têm no campo em âmbito nacional. Com este
no uso da terra e da água seu sistema de trabalho formou um dos mais importantes
sobrevivência e dignidade humana1. Des- acervos documentais sobre as lutas pela
de o início também se faz o levantamento terra e formas de resistência dos campone-
de dados sobre as lutas de resistência pela ses, quilombolas e povos originários, bem
terra, pela defesa e conquista de direitos, como sobre a defesa e conquista de direi-
e denuncia a violência por eles sofrida, por tos, que serve como fonte de seu banco de
diversos meios, sobretudo através do seu dados.
Boletim.
Os documentos se referem a conflitos ocor-
Já no final dos anos 1970, promoveu uma ridos desde os anos de 1960. Ao iniciar
pesquisa em âmbito nacional sobre os a digitalização em 2008, a CPT priorizou
conflitos e a violência que afetavam os tra- aqueles referentes a conflitos já sistemati-
balhadores e suas comunidades. Os dados zados em seus bancos de dados, ocorridos
desta pesquisa incluíam até dezembro de de 1985 a 2007. Estes foram identificados,
1982, sendo sistematizados e publicados, organizados por temas e digitalizados. En-
em 1983, no livro CPT: Pastoral e Compro- quanto aqueles referentes conflitos ocorri-
misso, uma co-edição Editora Vozes/CPT. dos entre 1960 a 1985 (antes do banco de
A partir de então, a CPT continuou a regis- dados) foram digitalizados e organizados
trar sistematicamente os dados que eram por datas, sem sistematizar os dados. Os
publicados em seu Boletim. Em 1985 co- documentos referentes a conflitos a par-
meçou a publicar um relatório anual in- tir de 2008 já foram adquiridos em forma
titulado Conflitos no Campo Brasil, com digital e foram identificados, sistematiza-
os registros das ocorrências de conflito e dos e salvos no banco de dados Datacpt.
de violência sofridas pelos trabalhadores e Com este processo de digitalização, a CPT
trabalhadoras da terra. disponibiliza o acervo pelo site www.cpt-
nacional.org.br, ou via Google Drive < goo.
Até 1988, os registros eram feitos à mão gl/TJ10G>.
1 O Centro de Documentação Dom Tomás Balduino faz registros de conflitos, utilizando-se além dos termos citados
neste parágrafo, dos outros seguintes: assentados, sem terra, posseiros (principalmente na década de 1980), pequenos
proprietários, parceleiros, pequenos arrendatários, trabalhador rural, garimpeiros; comunidades tradicionais (caiçaras,
camponeses de fecho e fundo de pasto, faxinalenses, geraizeiro, marisqueiras, pescadores, quilombolas, retireiros, ribei-
rinhos, seringueiros, vazanteiros); extrativistas (castanheiros, palmiteiros, quebradeiras de coco babaçu, seringueiros) e
povos indígenas. A categoria atingidos por barragens inclui comunidades tradicionais em geral, assentados, sem terra,
camponeses e outros. E as lideranças, sindicalistas, missionários/as, pastores/as, religiosos/as, agente pastoral, alia-
dos e ambientalista.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
2 - Direitos humanos: A CPT, sendo sig- A pesquisa documental “[...] vale-se de ma-
natária do Comitê Plataforma de Direitos teriais que não receberam ainda um trata-
Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais mento analítico, ou que ainda podem ser
e Ambientais (DHESCA) assume compro- reelaborados de acordo com os objetivos
misso com a lógica de que a conquista ou da pesquisa” [...] (GIL, 2007, p. 66). Exis-
a agressão aos Direitos Humanos é situ- tem documentos de primeira mão, que não
ação integrante das várias condições de receberam qualquer tratamento analítico,
vida dos trabalhadores e trabalhadoras da tais como: documentos oficiais, reporta-
terra e de suas organizações nos espaços gens de jornal, cartas, contratos, diários,
em que atuam. A Plataforma DHESCA tem filmes, fotografias e gravações.
como objetivo contribuir para que o Brasil
adote um padrão de respeito aos direitos Após a obtenção destes materiais o ato de
humanos, tendo por fundamento a Cons- “Documentar não é sinônimo de acumular
tituição Federal do Brasil promulgada em textos e recortes [...]. Não é o caso tam-
1988, o Programa Nacional de Direitos Hu- bém de armazenar, sem critério [...]”. Do-
manos, os tratados e convenções interna- cumentar é organizar o material que tem
cionais de proteção aos direitos humanos importância significativa para a pesquisa
ratificados pelo Brasil e as recomendações que se realiza. E essa importância está re-
dos/as Relatores/as da ONU e do Comi- lacionada com o objetivo primeiro de seu
tê Plataforma de Direitos Humanos, Eco- estudo (ALMEIDA JÙNIOR, 2000, p. 111).
nômicos, Sociais, Culturais e Ambientais
(DHESCA)2. Para o centro de documentação da CPT,
portanto, se tem três objetivos ao fazer a
O Banco de Dados coleta de dados. 1. Buscar as fontes pri-
márias de informações para construir o
As informações e os dados são organiza- banco de dados (a partir de relatos e de in-
dos por meio de formulários temáticos do formações obtidas com os agentes de base
Datacpt – Banco de Dados dos Conflitos da CPT); 2. buscar fontes secundárias em
no Campo – Comissão Pastoral da Ter- jornais, documentos oficiais, denúncias
ra - e são digitados e sistematizados em de movimentos sociais relatadas em seus
2 Maiores informações sobre a Plataforma ver no site os conceitos fundamentais dos Direitos humanos: http://www.
dhescbrasil.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=330:quem-somos&catid=46:organizacao&Ite-
mid=134
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Como primeiros critérios de inclusão no No registro das manifestações que são pro-
banco de dados, tem-se que as informa- longadas (marchas, jornadas etc.), para a
ções são obtidas por meio de pesquisas contagem dos participantes, considera-se
primária e secundária. As primárias são o maior número de pessoas informadas,
feitas pelos agentes dos Regionais da CPT na última data e, registram-se os atos rea-
e enviados à Secretaria Nacional, em Goiâ- lizados em cada lugar, durante o trajeto ou
nia. Além dos agentes da CPT, declarações, o período da manifestação.
cartas assinadas, boletins de ocorrência,
relatos repassados pelos movimentos so- Registram-se os conflitos que ocorreram
ciais, igrejas, sindicatos e outras organi- durante o ano em destaque. Conflitos an-
zações e entidades diretamente ligadas à tigos e não resolvidos só figuram no rela-
luta dos trabalhadores e trabalhadoras da tório se tiverem algum desdobramento du-
terra. rante aquele período de pesquisa.
o uso e a preservação das águas; contra protestam contra atos de violência sofrida
a apropriação privada dos recursos hídri- ou de restrição de direitos, reivindicando
cos, contra a cobrança do uso da água no diferentes políticas públicas e ou repu-
campo, e de luta contra a construção de diam políticas governamentais ou exigem
barragens e açudes. Este último envolve o cumprimento de acordos e promessas.
os atingidos por barragem, que lutam pelo
seu território, do qual são expropriados. A composição das famílias: O Centro de
Documentação acolhe o conceito de famí-
Conflitos em Tempos de Seca são ações lia apresentado pelo IBGE em seu censo
coletivas que acontecem em áreas de estia- demográfico de 2010. “Família é conjunto
gem prolongada e reivindicam condições de pessoas ligadas por laços de parentes-
básicas de sobrevivência e ou políticas de co, dependência doméstica ou normas de
convivência com o semiárido. convivência, residente na mesma unidade
domiciliar, ou pessoa que mora só em uma
Conflitos em Áreas de Garimpo são ações unidade domiciliar”. [...]. “Consideram-se
de enfrentamento entre garimpeiros, em- como famílias conviventes as constituídas
presas e o Estado. de, no mínimo, duas pessoas cada uma,
que residam na mesma unidade domiciliar
Conflitos Sindicais são ações de enfren- (domicílio particular ou unidade de habi-
tamento que buscam garantir o acompa- tação em domicílio coletivo) (PNAD 1992,
nhamento e a solidariedade do sindicato 1993, 1995, 1996)”. (IBGE, 2010).
aos trabalhadores, contra as intervenções,
as pressões de grupos externos, ameaças e Estrutura do Banco de Dados – DATA
perseguições aos dirigentes e filiados. CPT
Estes três últimos, só são publicados quan- Do Banco de Dados retiram-se tabelas es-
do é expressiva sua ocorrência, ou quando pecíficas para a página eletrônica da CPT,
o contexto em que se desenrolaram indicar bem como para a publicação anual im-
a pertinência de uma análise a respeito. pressa.
ALMEIDA JÚNIOR, João Baptista de. O estu- GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de
do como forma de pesquisa. In.: Construindo pesquisa social. 5 ed. São Paulo. Editora Atlas.
o saber. CARVALHO, Maria Cecília de (org). 10. 2007.
ed. Campinas – SP, Papirus Editora. 2000.
NSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E
BELLEN, Hans Michael van. Desenvolvimento ESTATÍSTICA (PNAD). Senso Demográfico de
sustentável: diferentes abordagens conceituais 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/
e práticas. In: ______. Indicadores de sustenta- home/estatistica/populacao/condicaodevida/
bilidade: uma análise comparativa. 2. ed. Rio indicadoresminimos/conceitos.shtm
de Janeiro: Editora FGV. 2006. MONTIBELLER FILHO, G. O mito do desenvol-
vimento sustentável. Meio ambiente e custos
BRASIL. Código Penal Brasileiro, Lei nº 10.803,
sociais no moderno sistema produtor de mer-
de 11.12.2003. Altera o art. 149 do Decreto-
cadorias. Santa Catarina: Editora da UFSC.
-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
2004.
digo Penal, para estabelecer penas ao crime
nele tipificado e indicar as hipóteses em que PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. O desafio
se configura condição análoga à de escravo. ambiental. Coleção Os porquês da desordem
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ mundial. Organização, SADER, Emir. Rio de
ccivil_03/leis/2003/l10.803.htm Janeiro-São Paulo. Editora Record, 2004.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Conflitos por Terra
Nº de Ocorrências (1) 528 638 805 816 763 793 771 1.079 989 964
Ocupações/Retomadas 290 180 200 238 230 205 200 194 169 143
Acampamentos 36 35 30 13 14 20 27 22 10 17
Total (2) 854 853 1.035 1.067 1.007 1.018 998 1.295 1.168 1.124
Assassinatos 25 30 29 34 29 36 47 58 70 25
Pessoas Envolvidas 415.290 351.935 458.675 460.565 435.075 600.240 603.290 686.735 530.900 590.400
Hectares 15.116.590 13.312.343 14.410.626 13.181.570 6.228.667 8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494
Conflitos Trabalhistas
Trabalho Escravo 240 204 230 168 141 131 80 68 66 86
Assassinatos 1 1
Pessoas Envolvidas 6.231 4.163 3.929 2.952 1.716 2.493 1.760 751 530 1.465
Superexploração 45 38 30 14 13 10 4 1 3
Assassinatos 1 2 1 1 2
Pessoas Envolvidas 4.813 1.643 466 73 142 294 102 2 12
Total 285 242 260 182 154 141 84 69 66 1.477
Conflitos pela Água
Nº de Conflitos 45 87 68 79 93 127 135 172 197 276
Assassinatos 1 2 2 2 2 2 1 1
Pessoas Envolvidas 201.675 197.210 137.855 158.920 134.835 214.075 211.685 222.355 177.090 368.465
Outros (3)
Nº de Conflitos 4 36 12
Assassinatos
Pessoas Envolvidas 4.450 26.005 1.350
Total dos Conflitos no Campo Brasil
Nº de Conflitos 1.184 1.186 1.363 1.364 1.266 1.286 1.217 1.536 1.431 1.489
Assassinatos 26 34 29 36 34 36 50 61 71 28
Pessoas Envolvidas 628.009 559.401 600.925 648.515 573.118 817.102 816.837 909.843 708.520 960.342
Hectares 15.116.590 13.312.343 14.410.626 13.181.570 6.228.667 8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494
(1) Os dados do nº de ocorrências referem-se aos despejos e expulsões, ameaças de despejos e expulsões, bens
destruídos e pistolagem.
(2) Em 2018, foram registrados 1.124 no total de ocorrências de conflito por terra. Numa mesma área, um conflito pode ter
desdobramentos diversos. Cada um deles corresponde a uma ocorrência. Neste ano, as áreas ou localidades em conflito
somam 868. Para saber as Áreas em Conflito, ver no site www.cptnacional.org.br.
Conflitos no
Campo
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
1 Professor da Faculdade de Educação do Campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Mestre em Plane-
jamento do Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA e doutorando em Geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF).
2 Professor da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Mestre em Planeja-
mento do Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e
Regional do IPPUR/UFRJ.
3 Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federa Fluminense. Prêmio Chico Mendes em Ciência
Tecnologia do Ministério do Meio Ambiente, 2004. Autor de diversos artigos e livros entre eles “A Globalização da Natu-
reza e a Natureza da Globalização”, Editora Civilização Brasileira, 2008 e “Amazônia: Encruzilhada Civilizatória: tensões
territoriais em curso”, Editora Consequência-Fase, 2018.
4 Nota do editor
29
va) desencadeando um processo de indus- ratifica sua inserção subordinada à econo-
trialização para substituir as importações, mia mundial. As classes dominantes pre-
sofreu ataques violentos que o levaram ao feriam legitimar formas de dependência
suicídio em 1954. O governo Juscelino Ku- internacional a colocar seus privilégios em
bistchek, que veio em seguida, foi ampla- risco. Desta forma, o Brasil se converteu
mente favorável aos capitais estrangeiros em uma plataforma de valorização finan-
e consagrava os interesses das forças que ceira, que teve como consequência a de-
levaram Vargas ao suicídio. sindustrialização e reprimarização das ex-
portações.
Já na década seguinte, as classes domi-
nantes apostaram em Jânio Quadros como Essas políticas, porém, foram se deslegi-
alternativa para, com sua vassoura, limpar timando o que proporcionou as condições
a sujeira da política. Ao renunciar J. Qua- para Lula ser eleito com grande adesão
dros oito meses depois da posse, aquelas popular. Mas para chegar lá Lula buscou
mesmas forças políticas que haviam der- um atalho junto às classes dominantes, o
rubado Vargas tentaram impedir a posse que foi feito com a Carta aos Brasileiros,
do vice-presidente João Goulart, herdeiro também conhecida como Carta aos Ban-
político de Vargas. Mas a reação popular queiros. Desta forma o Brasil ratificou a
conseguiu que ele fosse empossado presi- condição dependente-colonial de supridor
dente, mesmo com poderes limitados. de matérias primas agrícolas e minerais
aos centros mais dinâmicos do capitalis-
Logo em seguida, quando ele anunciava mo mundial.
as reformas de base, urbana e agrária, as
classes dominantes contaram com os mi- Os governos do PT desenvolveram uma
litares e o respaldo dos EUA para organi- política de combate à pobreza, mas não
zarem o golpe que afastou o presidente. enfrentaram os problemas estruturais de
Instalou-se a ditadura empresarial-militar concentração da propriedade e da renda5.
que durou longos 21 anos. Na transição Estas foram superficialmente tocadas, re-
da ditadura (Tancredo-Sarney), os seus duzidas à expansão do consumo e não da
porões permaneceram intactos. ampliação da cidadania. Foram transfe-
rências supletivas de renda sem tocar na
Na primeira eleição direta, após a ditadu- riqueza propriamente dita, nem na con-
ra, as classes dominantes apostaram em centração fundiária. Promoveu-se assim à
uma nova aventura, Fernando Collor de despolitização da pobreza.
Mello, para impedir a vitória de um operá-
rio. A aventura durou um pouco mais de Essa despolitização permitiu que, em 2016
dois anos e terminou com a renúncia do os parlamentares brasileiros, expressan-
aventureiro em meio a um processo de im- do, em sua grande maioria, o patronato
peachment. mais tradicional, transformassem um ins-
trumento contábil amplamente utilizado
Partiu-se, então, para um novo pacto po- por vários governos anteriores em motivo
lítico com o Plano Real. Com ele, o Brasil para decretar o impedimento de uma pre-
5 Tomemos em conta que o combate à pobreza se tornou comum sendo, inclusive, discurso do FMI, do Banco Mundial
e, até mesmo, do megaespeculador George Soros. Pode-se, até mesmo dizer, que uma nova ciência estaria se construindo
com esse objeto de estudo, a pobretologia. Tudo indica que as esquerdas estariam sendo contaminadas por uma conde-
nação moral à pobreza, haja vista que a pobreza nunca fora sua referência teórico-conceitual ou ético-moral, mas sim
riqueza. Afinal, são os que trabalham que produzem a riqueza e, por isso, têm direito ético-moral a ela. Seu horizonte de
sentido é, portanto, enfrentar o modo de produção da riqueza e, consequentemente, sua distribuição que, como sabemos,
é um momento da produção.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
6 Revelações recentes circulando na grande imprensa dão conta de que a ligação das milícias com membros dos Bol-
sonaros não seria somente de apoiadores políticos eventuais, mas sim mais profundas como indicariam as relações
31
Do ponto de vista da inserção do Brasil na privatização total e a um aprofundamen-
condição de periferia do sistema mundo, to da neoliberalização em curso; por ou-
observa-se um giro ainda mais conserva- tro lado, a crise social que está instalada
dor, de servidão voluntária mesmo, à políti- e continuará a se aprofundar pelo norte
ca imperialista dos EEUU, como explicitou neoliberal/privatista do governo, insinua a
o Vice-Presidente eleito, General Mourão, continuidade da despolitização da pobre-
quando assume o princípio da “segurança za, mas de um modo distinto, agora, pela
hemisférica” como eixo da política exter- disputa da base social do lulismo através
na brasileira, princípio central da política do fortalecimento das igrejas evangélicas.
de segurança dos EEUU e, assim, o Bra- A perspectiva de eliminação das forças de
sil deixa de ter uma política de seguran- oposição via criminalização de lideranças,
ça externa própria, pois, na prática, aceita através da ampliação dos métodos da Lava
cumprir a função que os EEUU atribuem Jato para o conjunto do Judiciário, parece
às forças armadas dos seus aliados, qual ser a tônica da indicação de Sérgio Moro
seja, o combate ao narcotráfico e ao ter- ao Ministério da Justiça e da Segurança
rorismo em que passam a estar incluídos Pública, o que também se atrela à crimina-
os movimentos sociais, em suma, a cuidar lização em massa de movimentos sociais.
dos inimigos internos, como a Colômbia A continuação do projeto de acumulação
vem fazendo há décadas7. As forças jurí- rentista pela vias dos negócios do agro,
dicas e militares, nesses termos, tendem a das águas e da mineração, tende a ganhar
uma aproximação, especialmente a partir contornos ainda mais militarizados pela
de dois eixos comuns: criminalização dos indicação de militares para ministérios
opositores e forte realinhamento aos inte- estratégicos (como os da Defesa, Minas e
resses dos EEUU. Energia, Ciência e Tecnologia e Infraes-
trutura) numa tentativa cada vez maior
Pode-se até ganhar eleições com boutades de flexibilização das leis ambientais e de
do tipo “para fechar o STF basta um cabo reversão dos direitos territoriais de povos
e um soldado”, “vamos acabar com todos e comunidades tradicionais, o que cul-
os petralhas” ou com invenções como o kit mina na preocupante elevação da violên-
gay, mas não se governa com isso. O culto cia (que já é alarmante) contra indígenas,
do ódio e da violência, que se torna ainda quilombolas e camponeses, especialmente
mais ameaçador quando se propõe a libe- na Amazônia. Estaria em curso uma nova
ração do porte de armas, já se faz presente militarização da questão agrária? Essa ex-
nas ruas, e esse protofascismo deve nos pressão, cunhada por José de Souza Mar-
servir de alerta. Afinal, a Grande Mídia, o tins (1984), sinalizava que o problema não
Judiciário e o Legislativo, são um verda- está na terra em si, mas em impedir que a
deiro espelho da sociedade, se considera- luta pela terra coloque em questão o pacto
mos que o espelho é, sempre, a imagem político que a concentração fundiária sus-
invertida da realidade. tenta. No momento atual, sinaliza-se com
a necessidade de uma nova ofensiva do
Continuidades na descontinuidade his- pacto do agronegócio – rentismo sobre as-
tórica novamente se colocam. A contínua sentamentos de reforma agrária, terras in-
associação aos interesses do capital ban- dígenas, quilombolas e de demais povos e
cário-financeiro (com Paulo Guedes como comunidades tradicionais, sustentada por
superministério da economia) tende a uma forças militares. Como já afirmava Maria
de Flávio Bolsonaro e de seu assessor Fabrício Queiroz. Vejamos até onde vão as apurações policiais, inclusive, do as-
sassinato de Marielle Franco que, até aqui, teria sido praticado por milicianos.
7 Considere-se que, recentemente, a Colômbia passou a fazer parte da OTAN.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
homens, animais, floresta, solo e subsolo duas grandes marchas de 1990, na Bolívia
como unidade existencial, sem hierarquia, e no Equador, colocava outros horizontes
enfim, teria algo em seu pensamento que teórico-políticos que rompiam com o eu-
nos deslocaria dos centros de referência a rocentrismo do lema da “Liberdade, Igual-
partir dos quais historicamente foram pen- dade e Fraternidade”, de onde emanam as
sados projetos de desenvolvimento para o direitas e as esquerdas tradicionais, em
Brasil? crise desde então. Cada vez mais se fala
(1) em soberania dos povos e não simples-
Para ir além de uma leitura ainda prisio- mente do povo, (2) não mais somente de
neira do período da guerra fria, que costu- estado-nação, mas de plurinacionalida-
ma salientar a derrota das forças anticapi- de, de estado plurinacional, (3) de vida em
talistas, com a queda do muro de Berlin, plenitude (Sumaq Qamaña, em aimará, ou
como a principal marca da década de Sumak Kawsay, em quéchua) como alter-
1990, é bom que se diga que essa década nativas ao desenvolvimento e não de de-
também foi marcada por grandes mobili- senvolvimento, (4) de luta pelo território,
zações populares na América Latina, que mais que de luta pela terra, e (5) mais que
deslegitimaram as políticas de caráter neo- direitos humanos se fala de direito à vida
liberal rentista que imperaram no período. humana e não-humana, enfim, também de
De certa forma, a crise das esquerdas atin- direitos da natureza. Não há como não ver
gidas pela queda do muro proporcionou, aqui uma descolonização do pensamen-
ao mesmo tempo, a emergência de outros to-ação e uma luta teórico-política que se
grupos sociais, como os povos e naciona- enfrenta com as direitas e as esquerdas
lidades indígenas, até então não devida- tradicionais ao nos oferecer uma crítica,
mente considerados, inclusive, pela hege- ao mesmo tempo, ao capitalismo e à colo-
monia de certo tipo de marxismo no campo nialidade e, não somente, ao capitalismo.
das lutas populares. Enfim, os povos e co-
munidades indígenas, camponeses de vá- Essas mobilizações, colocando em ques-
rias formações (seringueiros, quebradeiras tão o Consenso de Washington e, depois, o
de coco babaçu, comunidades de fundo de Consenso das Commodities, expressão do
pasto, faxinalenses, entre outras), os sem- consenso das classes dominantes em tor-
-terra, quilombolas e os trabalhadores das no do rentismo e da inserção subordinada
periferias urbanas foram os que, desde o no sistema-mundo, expuseram o calca-
ano da queda do muro (1989), protagoni- nhar de Aquiles de um pacto de poder que
zaram grandes mobilizações populares que é, antes de tudo, um cerco aos territórios
marcaram as lutas sociais na América La- de povos e comunidades tradicionais e de
tina nos anos 1990. Relembremos o san- camponeses, mas também às comunida-
grento 27 de fevereiro de 1989, conhecido des das periferias urbanas. Esses territó-
como Caracazzo, a primeira grande mani- rios não devem ser vistos como entraves ao
festação das periferias urbanas contra as desenvolvimento capitalista, mas como es-
políticas neoliberais que se tem notícia no paços de r-existência, apontando as pos-
mundo. Enfim, enquanto o muro caía, as sibilidades de novos projetos societários
massas populares se levantavam na Amé- e de construção de outras forças políticas
rica Latina, tenhamos isso em conta pelas capazes de implementá-los. Por significa-
implicações que têm na luta de classes em rem mudança estão sob a mira do novo
nosso continente e que nos oferecem um governo.
novo horizonte teórico-político. A consigna
da luta “Pela Vida, Pela Dignidade e Pelo Por isso, insistimos que é preciso democra-
Território”, que se podia ler nas ruas nas tizar a democracia retomando seu sentido
35
profundo, tal e como a definiu Abraham represada por todo o tempo da colonial-
Lincoln (1809-1865), como “governo do -modernidade.
povo, pelo povo, para o povo” e, se assim o
é, já deve de cara, incorporar a contribui- E não o será separando classe e gênero.
ção que os próprios povos em r-existência Afinal, a classe não se resume ao lugar de
vêm assinalando, a começar com o povo produção, como se acreditou. O trabalho
no plural, enfim, como povos, superando não-pago da mulher cuidando da prole,
o colonialismo interno e a colonialidade cozinhando, atenta aos primeiros cuida-
que o constitui, que desqualifica a diver- dos da saúde, garantindo a reprodução da
sidade de povos, de territorialidades que família, sendo trabalho não pago é mais-
habitam os territórios dos Estados que se -valia. Mais que de produção haveremos
pensavam/pensam mono-nacionais. Nes- que considerar a reprodução não só do ca-
se sentido, a questão étnico-racial ganha pital, mas da família proletária, conside-
centralidade política, pelo lugar que tem rando quem cuida da prole, proletária que
na conformação da estrutura de poder do é, nesse mundo patriarcal. Enfim, consi-
sistema mundo capitalista, conforme des- derar além do trabalho, a vida; além da
tacou Aníbal Quijano (2009)8. produção, a reprodução. Gênero e classe
ao mesmo tempo sem diluição de um no
Ainda haveremos de saber colocar verda- outro.
deiramente em nosso horizonte estratégico
o bom combate ao patriarcalismo. Nesse E, mais, nesse complexo processo de re-
sentido, Rita Segato (2018, n/p) nos ad- configuração societário do capitalismo
verte que governos progressistas recentes: contemporâneo, no qual a demanda direta
do capital pelo trabalho ativa formas ar-
Acima de tudo, não se tocou a ordem caicas, mas também ultratecnológicas, de
patriarcal. Não olvidemos que essa or- super-exploração - ainda mais agravada
dem política é arcaica e fundacional para na periferia e, no Brasil pós-Plano Real
todas as formas de opressão na larga em particular, com a desindustrialização,
pré-história patriarcal da humanidade
chegando alguns autores a chamar de pre-
que chega até o presente. São os nos-
cariado, tamanha é a precariedade dos re-
sos antagonistas de projeto histórico que
nos estão dizendo com sua reação fun- gimes e processos de trabalho - crescem
damentalista. Essa base, esse cimento, as iniciativas de economias populares com
essa plataforma, não pode ser tocada, base na reciprocidade que, todavia, convi-
e até agora o ideário socialista posto em vem com formas de servidão e, até mesmo,
prática não o fez, pois não é meramente de escravidão, num processo de aceleração
empossando mulheres nos recintos esta- da extrema concentração de riqueza da so-
tais que se logra – o Estado, com seus ciedade brasileira.
protocolos, sempre acaba capturando-
-nos, institucionalizando-nos. Devemos
Se retomamos a premissa de que “a eman-
entender sob essa luz o significado da
irrupção do feminismo nas ruas como a cipação dos trabalhadores será obra dos
entrada em cena de uma nova forma da próprios trabalhadores”, como sugerira
política que parte da sociedade e recupe- Karl Marx, o primeiro passo é avaliar o
ra uma história de politicidade comunal, momento de auto-organização em que se
8 No processo de colonização da América Latina, por meio da colonialidade do poder, criaram-se identidades sociais
novas, como índios, negros e mestiços para, deliberadamente, e de forma violenta, unificar a diversidade cultural e epis-
têmica desta região e, a partir da ideia de raça, legitimar relações de dominação marcadas por critérios de superioridade/
inferioridade entre os dominantes e os dominados, definindo uma divisão racial do trabalho, mas fundamentalmente
estabelecendo o controle europeu de todas as formas de subjetividade, cultura e produção do conhecimento até então
estabelecidos (QUIJANO, 2009).
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
9 A declaração foi aprovada em 20 de novembro de 2018 em Nova York por uma ampla maioria do comité das Nações
Unidas sobre o tema e que foi remetida para sua aprovação pela Assembleia Geral da ONU em dezembro. Na mesma
reunião da ONU em Nova York também foi aprovado outro documento que amplia a definição e processo de “consenti-
mento prévio, livre e informado” dos povos indígenas, estabelecendo que para obter tal consentimento os estados devem
“consultar e cooperar de boa fé” com os povos indígenas, mediante as formas de representação próprias dos povos, em
um processo justo para decidir se outorgam ou não seu consentimento antes que projetos e leis que afetarão seus terri-
tórios e recursos comecem e antes de que se efetuem. Fonte: La Jornada: Derechos campesinos y consultas sin derechos.
http://www.jornada.com.mx/2018/11/24/opinion/023a1eco# 2/7.
10 Metaforicamente inspiramo-nos no conceito matemático de fractal. “Um fractal é um objeto geométrico que pode ser
dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são
geralmente autossimilares e de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente
um processo recorrente ou iterativo”. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Se realmente queremos superar o grave Que tal, enfim, mandar obedecendo e acei-
quadro que se nos apresenta é preciso que tando que o horizonte estratégico que se
saibamos aprender com nossos erros e, de anuncia, necessariamente, será de um
uma vez por todas, reconheçamos que a mundo onde caibam muitos mundos, tal
consciência não vem de fora, como certa e como sugerem os sentidos e cores das
esquerda até aqui repetiu ad nauseam. E bandeiras de Wiphala e da Via Campesina
embora reconheçamos que sem teoria re- e o arco-íris de outros movimentos, como o
volucionária não haverá nenhuma trans- LGBT e o neozapatismo?
formação digna desse nome, é preciso afir-
mar que é de outras práxis que carecemos, A liderança quilombola Rejane Oliveira já
e que práxis não é o contrário de teoria.
É teoria que emana com a prática e que, nos deu o recado: “Temos nas mãos gera-
como tal, não pode vir de fora. ções, somos guardiões dessa terra! Nosso
dever é gritar e não ficar calado”. O gri-
Que tal nos reconhecer em nossa tropi- to repõe no mapa os silêncios da história
calidade e mirar na enorme responsabili- anunciando onde nos perdemos no cami-
dade que possuímos, pelo significado que nho.
39
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Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Acrelândia Seringal Triunfo/Ramal do Pelé 30/06/2018 129 Posseiros
Boca do Acre/Rio Branco Gl. Novo Axioma Redenção/Ramal do Km 104 31/01/2018 33 Posseiros
Boca do Acre/Rio Branco Ramal do Garrafa 30/01/2018 60 Posseiros
Boca do Acre/Rio Branco Seringal Porto Central 30/01/2018 300 Posseiros
Subtotal: 4 522
Alagoas
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Rio Largo Acamp. Rosaldo Augusto/Faz. Várzea Grande/Us. Utinga 31/01/2018 100 Sem Terra
São Miguel dos Campos Faz. Giritana/Usina Sinimbu 09/01/2018 10 Sem Terra
São Miguel dos Campos Faz. Santa Cruz/Usina Sinimbu 09/01/2018 Sem Terra
São Miguel dos Campos Faz. Santa Cruz/Usina Sinimbu 21/02/2018 20 Sem Terra
Traipu Fazenda Raio do Sol 30/03/2018 180 Sem Terra
Subtotal: 5 310
Amapá
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Amapá Base Aérea/Localidade Próxima ao Cruzeiro 09/10/2018 40 Posseiros
Amapá Com. ao Longo do Rio Laranjeiras/Amapá Grande/Piquiá 31/07/2018 20 Posseiros
Amapá Faz. Itapoã/Amcel/Piquiá 31/07/2018 15 Posseiros
Amapá Faz. Minerva/CAPAB 09/10/2018 1 Posseiros
Amapá São Roque/Redondo 24/09/2018 30 Posseiros
Calçoene Cunani e 7 Ilhas 31/07/2018 30 Extrativistas
Calçoene Juncal 09/10/2018 30 Posseiros
Calçoene Ramal Ilha Grande 27/09/2018 15 Posseiros
Cutias do Araguari Alta Floresta/Gurupora 30/06/2018 34 Posseiros
Ferreira Gomes Igarapé do Palha/Amcel 31/07/2018 15 Posseiros
Ferreira Gomes Ramal do Triunfo 03/07/2018 10 Posseiros
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Macapá Recanto das Araras/Km 32-BR-156 30/03/2018 20 Posseiros
Subtotal: 1 20
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Manaus Com. do Lago Aleixo/Parque do Mauás 27/08/2018 100 Uso e Destruição e ou
preservação poluição
Subtotal: 1 100
Bahia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Andorinha Comunidade Surará 25/10/2018 180 Camponeses de fundo de
pasto
Baianópolis/Santana/Serra Larga da Porteira Santa Cruz/Luiz 01/10/2018 92 Camponeses de fundo de
Dourada/Tabocas do Brejo Martins/Torrada/Cachoeira/Cercado pasto
Velho
Barra Comunidade Braço do Roçado 22/12/2018 37 Posseiros
Barra Comunidade Ribeirão 31/01/2018 15 Camponeses de fundo de
pasto
Barra Fazenda Encosta 22/12/2018 37 Sem Terra
Barra do Choça Estância Temaki/Acamp. Márcio Matos 07/06/2018 230 Sem Terra
Bom Jesus da Lapa Com. Quil. Araçá-Volta/Fiol 10/12/2018 152 Quilombolas
Bom Jesus da Lapa Com. Quilombola Bebedouro/Fiol 10/12/2018 55 Quilombolas
Bom Jesus da Lapa Quilombo Lagoa das Piranhas 10/12/2018 220 Quilombolas
Cachoeira Com. Quilombola São Francisco do Paraguaçu 25/11/2018 300 Quilombolas
Caetité Com. Curral Velho/Fiol 30/10/2018 80 Pequenos proprietários
Caetité Com. Quilombola Lagoa de Fora 30/07/2018 35 Quilombolas
Caetité Com. Serragem/Fiol 22/11/2018 120 Pequenos proprietários
Camacan Faz. Conjunto Estrela Dalva 26/03/2018 20 Sem Terra
Campo Alegre de Lourdes 8 Comunidades de Angico dos Dias 28/02/2018 1800 Camponeses de fundo de
pasto
Canavieiras/Itabuna/Itaju T. I. Caramuru Catarina Paraguassu 06/11/2018 700 Indígenas
do
Colônia/Itambé/Itapetinga/P
au Brasil
Candeias Fazenda Beira Mar/Beira Rio 14/05/2018 100 Sem Terra
Carinhanha/Serra do PAE São Francisco/Com. Capão Preto/Caldeirão/Boa 10/12/2018 200 Assentados
Ramalho Vista/Fiol
Casa Nova Faz. São Fancisco/Acamp. Eldorado dos Carajás 04/05/2018 60 Sem Terra
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 04/02/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 22/02/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 05/04/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 07/04/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 20/04/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 15/06/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 25/06/2018 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto Capão do Modesto 30/06/2018 50 Camponeses de fecho de
pasto
Correntina Fecho de Pasto da Vereda da Felicidade/Com. 23/02/2018 42 Camponeses de fecho de
Silvânia/São Francisco/Cobra Verde/Cerco/Faz. Sta. pasto
Tereza
Correntina Fecho de Pasto de Porcos Guará e Pombas/Com. 09/02/2018 Camponeses de fecho de
Matão/Garrotes/Brejo dos Aflitos/Cabeceira Grande pasto
Correntina Fecho de Pasto de Porcos Guará e Pombas/Com. 15/04/2018 53 Camponeses de fecho de
Matão/Garrotes/Brejo dos Aflitos/Cabeceira Grande pasto
45
Cotegipe Fazenda Macambira 17/12/2018 60 Posseiros
Eunápolis Fazenda Aliança 14/04/2018 150 Sem Terra
Eunápolis Fazenda Primavera 31/07/2018 Sem Terra
Eunápolis Fazenda Primavera 02/10/2018 90 Sem Terra
Feira de Santana Fazenda Havana 30/05/2018 Sem Terra
Feira de Santana Fazenda Havana 12/09/2018 280 Sem Terra
Formosa do Rio Preto Com. Aldeia/Condomínio Estrondo 17/12/2018 40 Camponeses de fundo de
pasto
Formosa do Rio Preto Com. Baixa Funda/Condomínio Estrondo 17/12/2018 10 Camponeses de fundo de
pasto
Formosa do Rio Preto Com. Brejo do Tatu/Condomínio Estrondo 17/12/2018 12 Camponeses de fundo de
pasto
Formosa do Rio Preto Com. Cachoeira/Condomínio Estrondo 17/12/2018 12 Camponeses de fundo de
pasto
Formosa do Rio Preto Com. Cacimbinha/Condomínio Estrondo 17/12/2018 27 Camponeses de fundo de
pasto
Formosa do Rio Preto Com. Gatos/Condomínio Estrondo 17/12/2018 4 Camponeses de fundo de
pasto
Iramaia Assentamento Boa Sorte 24/01/2018 416 Assentados
Itabela Fazenda São Francisco 26/02/2018 50 Sem Terra
Itaguaçu da Projeto de Irrigação Baixio do Irecê/18 Comunidades 30/01/2018 Camponeses de fundo de
Bahia/Xique-Xique Atingidas/PAC pasto
Itaguaçu da Projeto de Irrigação Baixio do Irecê/18 Comunidades 04/12/2018 760 Camponeses de fundo de
Bahia/Xique-Xique Atingidas/PAC pasto
Juazeiro Acamp. em Juazeiro/Área às Margens da BA-210 21/11/2018 200 Sem Terra
Juazeiro Comunidade Cachoeirinha 30/07/2018 20 Camponeses de fundo de
pasto
Lauro de Freitas Com. Quilombola Quingoma 13/09/2018 578 Quilombolas
Maiquinique Faz. Vale do Caraim/Baixa do Caraim/Acamp. Lula Livre 03/05/2018 Sem Terra
Maiquinique Faz. Vale do Caraim/Baixa do Caraim/Acamp. Lula Livre 10/05/2018 100 Sem Terra
Mansidão Assentamento Nova Esplanada 29/06/2018 150 Assentados
Mata de São João Com. Quilombolas Tapera e Pau Grande 30/01/2018 190 Quilombolas
Mirangaba Com. Mangabeira/Fundo de Pasto da COMTRAFP 30/09/2018 100 Camponeses de fundo de
pasto
Mirangaba Com. Paranazinho/Fundo de Pasto da COMTRAFP 30/09/2018 200 Camponeses de fundo de
pasto
Mirangaba Com. Riacho/Fundo de Pasto da COMTRAFP 30/09/2018 50 Camponeses de fundo de
pasto
Mirangaba Com. Umbiguda/Fundo de Pasto da COMTRAFP 30/09/2018 90 Camponeses de fundo de
pasto
Morro do Chapéu Comunidade Mulungu da Gruta 13/09/2018 Camponeses de fundo de
pasto
Morro do Chapéu Taquara 08/08/2018 Posseiros
Mucugê Monte Azul 30/10/2018 5 Pequenos proprietários
Nordestina Com. Quilombola Bom Sucesso/Lipari Mineração 14/12/2018 10 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Caldeirão do Sangue/Lipari Mineração 14/12/2018 45 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Caldeirão dos Padres/Lipari Mineração 14/12/2018 15 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Fumaça/Lipari Mineração 14/12/2018 44 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Grotas/Lipari Mineração 14/12/2018 25 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Lages das Cabras/Lipari Mineração 14/12/2018 35 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Lagoa da Cruz/Lipari Mineração 14/12/2018 45 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Lagoa das Salinas/Lipari Mineração 14/12/2018 56 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Lagoa dos Bois/Lipari Mineração 14/12/2018 54 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Palha/Lipari Mineração 14/12/2018 30 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Poças/Lipari Mineração 14/12/2018 30 Quilombolas
Nordestina Com. Quilombola Tanque Bonito/Lipari Mineração 14/12/2018 13 Quilombolas
Nova Viçosa Fazenda Reunidas Campo do Pó 28/05/2018 70 Sem Terra
Pau Brasil Fazenda Cascata 05/02/2018 40 Sem Terra
Paulo Afonso Cachoeira dos Veados/kariri Xocó 23/01/2018 67 Indígenas
Pilão Arcado Com. Quebra Cangaia 13/12/2018 Posseiros
Pindaí Com. Açoita Cavalo/Projeto Pedra de Ferro/Bamin 16/10/2018 25 Geraizeiro
Ponto Novo Área da Empresa Sítio Barreiras/Acamp. União 23/09/2018 Sem Terra
Ponto Novo Área da Empresa Sítio Barreiras/Acamp. União 19/10/2018 56 Sem Terra
Rodelas Área Indígena Tuxá/Aldeia Mãe 21/11/2018 220 Indígenas
Salinas da Margarida Conceição de Salinas 25/07/2018 40 Quilombolas
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Apuarema Fazenda Santo Antônio 30/04/2018 Sem Terra
Barra do Choça Estância Temaki/Acamp. Márcio Matos 18/04/2018 230 Sem Terra
Caatiba Fazenda Rancho Alegre 30/04/2018 Sem Terra
Candeias Fazenda Beira Mar/Beira Rio 28/04/2018 100 Sem Terra
Caravelas Fazenda Bambuzal 21/04/2018 200 Sem Terra
Casa Nova Faz. São Fancisco/Acamp. Eldorado dos Carajás 30/04/2018 60 Sem Terra
Chorrochó Fazenda Paus Pretos 30/04/2018 Sem Terra
Chorrochó Fazenda Pedra de Água 30/04/2018 Sem Terra
Eunápolis Fazenda Aliança 14/04/2018 150 Sem Terra
Eunápolis Fazenda Primavera 31/07/2018 90 Sem Terra
Feira de Santana Fazenda Havana 30/04/2018 280 Sem Terra
Itagibá Faz. Serra Azul/Mirabela Mineradora 23/04/2018 200 Sem Terra
Jaguaquara Fazenda Jiquitaia 30/04/2018 Sem Terra
Jeremoabo Fazenda Tupipa 30/04/2018 Sem Terra
Juazeiro Acamp. em Juazeiro/Área às Margens da BA-210 30/06/2018 200 Sem Terra
Maiquinique Faz. Vale do Caraim/Baixa do Caraim/Acamp. Lula Livre 29/04/2018 100 Sem Terra
Medeiros Neto Fazenda Copacabana 28/04/2018 350 Sem Terra
Nova Viçosa Fazenda Caravela 28/04/2018 190 Sem Terra
Nova Viçosa Fazenda Reunidas Campo do Pó 30/04/2018 Sem Terra
Nova Viçosa Fazenda Reunidas Campo do Pó 27/06/2018 70 Sem Terra
Ribeirão do Largo Faz. Conjunto São Francisco/Faz. do Deputado 13/02/2018 Sem Terra
Ribeirão do Largo Faz. Conjunto São Francisco/Faz. do Deputado 14/02/2018 60 Indígenas/MST
Santo Amaro Faz. Bela Vista/Boa Sorte/Acamp. Márcio Matos 15/05/2018 150 Sem Terra
Sento Sé Área da Fruticultura Frutimag/Acamp. Márcio Matos 08/03/2018 100 Sem Terra
Teixeira de Freitas Faz. Céu Azul/Suzano Papel Celulose 05/03/2018 250 Sem Terra
Subtotal: 25 2780
Ceará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
49
Alto Proj. de Irrig. Jaguaribe-Apodi/PAC/Acamp. Zé Maria do 20/11/2018 150 Sem Terra
Santo/Jaguaribe/Jaguaruan Tomé
a/Limoeiro do
Norte/Quixerê
Aquiraz T. I. Lagoa Encantada/Emp. Ypioca 20/02/2018 80 Indígenas
Lavras da Mangabeira Sítio São Domingos/Acamp. Zé Wilson 20/11/2018 Sem Terra
Lavras da Mangabeira Sítio São Domingos/Acamp. Zé Wilson 06/12/2018 30 Sem Terra
Limoeiro do Norte Com. Tomé/Proj. Irrigado Jaguaribe 19/06/2018 625 Trabalhador Rural
Maracanaú/Pacatuba T. I. Pitaguary/Emp. Britaboa 12/09/2018 1150 Indígenas
Mauriti Faz. Gravatá/Acamp. Vida Nova 20/11/2018 30 Sem Terra
Quixeramobim Fazenda Serrote/Acamp. Joel do Nascimento 11/05/2018 80 Sem Terra
Santana do Acaraú Faz. Canafístula/Acamp. 17 de Abril 20/11/2018 Sem Terra
Santana do Acaraú Faz. Canafístula/Acamp. 17 de Abril 28/11/2018 30 Sem Terra
Tamboril Cacimba dos Moços/Faz. Timbó/Acamp. Comuna Irmã 30/10/2018 150 Sem Terra
Dorothy
Subtotal: 11 2325
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Crateús Área do DNOCS 10/04/2018 200 Sem Terra
Lavras da Mangabeira Sítio São Domingos/Acamp. Zé Wilson 11/04/2018 100 Sem Terra
Quixeramobim Fazenda Serrote/Acamp. Joel do Nascimento 10/04/2018 80 Sem Terra
Subtotal: 3 380
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Santana do Acaraú Faz. Canafístula/Acamp. 17 de Abril 29/11/2018 30 Sem Terra
Subtotal: 1 30
Distrito Federal
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Brazlândia Núcleo Rural Alexandre Gusmão/Faz. Jatobazinho/Acamp. 13/01/2018 200 Sem Terra
Noelton Angélico
Subtotal: 1 200
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Sobradinho Faz. Sávia/Sálvia 01/05/2018 75 Sem Terra
Subtotal: 1 75
Espírito Santo
TERRA
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Conceição da Barra Faz. Itaúnas/Agrop. Aliança S/A 05/02/2018 200
Fundão Acamp. Marielle Franco/Fibria 20/08/2018 100 Sem Terra
Subtotal: 2 300
Goiás
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Cavalcante/Monte Alegre Com. Engenho II/Quilombo Kalunga 22/06/2018 250 Quilombolas
de Goiás
Cavalcante/Monte Alegre Com. Vão de Almas/Hidrelétrica Santa Mônica/Kalunga 22/06/2018 600 Quilombolas
de Goiás
Cidade Ocidental Com. Quilombola de Mesquita 06/03/2018 750 Quilombolas
Fazenda Nova/Jussara Fazenda Coqueiral 12/06/2018 48 Sem Terra
Formosa Acamp. Antônio Nascimento/Rio Paranã 23/11/2018 150 Sem Terra
Planaltina Faz. Itauna/Empresa Igarashi/Córrego Lapinha 30/03/2018 3 Assentados
Subtotal: 6 1801
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Formosa Acamp. Antônio Nascimento/Rio Paranã 01/07/2018 200 Sem Terra
Subtotal: 1 200
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Nova Veneza Condominio Itália/Acamp. GO-222 28/09/2018 Sem Terra
Subtotal: 1
Superexploração
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data denúncia Libertos Menores Tipo de Trabalho
Itaberaí Usina Anicuns S/A 06/09/2018 2 Cana-de-açúcar
Santa Helena de Goiás Usina Vale do Verdão 02/09/2018 2 Cana-de-açúcar
Subtotal: 2 4
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Iaciara Com. Levantado/Salina/Belo/Córrego 25/09/2018 16 Apropriação Diminuição do
Brejo do Fogo Particular acesso à Água
Minaçu T. I. Avá Canoeiro 15/05/2018 2 Barragens e Destruição e ou
Açudes poluição
Subtotal: 2 18
Maranhão
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Açailândia Assent. Novo Oriente/Vale 02/05/2018 40 Assentados
Açailândia Com. Francisco Romão/Vale 02/05/2018 102 Assentados
Açailândia Faz. Conquista/Assent. João do Vale/Vale 02/05/2018 39 Assentados
Alcântara Com. Quil. Mamuna/Mamona/Base Espacial 06/12/2018 71 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Baracatatiua/Base Espacial 06/12/2018 26 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Brito/Base Espacial 06/12/2018 22 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Caiava/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Canelatiua/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Engenho/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Irizal/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Itamatatiua/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Itapera/Base Espacial 06/12/2018 19 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Manuninha/Base Espacial 06/12/2018 56 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Mato Grosso/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Ponte do Murio/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Retiro/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Samucangaua/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Santa Maria/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola São Paulo/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Tapera/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Uru Grande/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Uru-Mirim/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Alcântara Com. Quilombola Vista Alegre/Base Espacial 06/12/2018 Quilombolas
Aldeias Altas Pov. Gostoso, Barro I e II, Pati, Bom Sucesso/TG 08/06/2018 37 Posseiros
Agroindústria
Alto Alegre do Maranhão Arame 30/04/2018 16 Assentados
Alto Alegre do Maranhão Boa Hora 30/01/2018 41 Assentados
Alto Alegre do Maranhão Com. Quilombola Mamorana/Boa Hora 3 30/12/2018 32 Quilombolas
Alto Alegre do Maranhão Gl. Campo do Bandeira/Cia. Caxuxa Pastoril 30/04/2018 45 Assentados
Alto Alegre do Pindaré Com. Vila Fufuca/Vale 02/05/2018 Posseiros
Alto Alegre do Pindaré Comunidade Auzilândia/Vale 02/05/2018 2000 Posseiros
Amapá do Maranhão/Boa Com. Vilela/Gleba Campina 30/07/2018 100 Posseiros
Vista do Gurupi/Junco do
Maranhão
Amapá do Gl. Campina/Faz. Santa Érica 30/06/2018 100 Posseiros
Maranhão/Maracaçumé
Amarante do T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias Guajajara, Gavião e Guajá 06/11/2018 1329 Indígenas
Maranhão/Arame/Bom
Jesus das
Selvas/Buriticupu/Buritirana
Amarante do Faz. Cipó Cortado/Rolete 14/05/2018 Sem Terra
Maranhão/João
Lisboa/Senador La Rocque
Amarante do Faz. Cipó Cortado/Rolete 30/09/2018 140 Sem Terra
Maranhão/João
Lisboa/Senador La Rocque
53
Amarante do T. I. Krikati 06/01/2018 206 Indígenas
Maranhão/Lajeado
Novo/Montes Altos/Sítio
Novo
Anajatuba Com. Capotal/Vale 02/05/2018 14 Extrativistas
Anajatuba Retiro São João da Mata/Vale 02/05/2018 80 Quilombolas
Arari Cedro/Búfalos 26/03/2018 5 Posseiros
Arari Com. Capim Açu/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Estiva/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Félix/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Flexeiras/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Igarapé do Arari/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Ilhota I/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Juncal II/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Mutum II/Vale 25/06/2018 Posseiros
Arari Com. Passa Bem/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Rabela/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari Com. Taboa/Búfalos 26/03/2018 Posseiros
Arari P. A. Pimental/Vale 02/05/2018 70 Assentados
Arari Pov. Barbados/Vale 02/05/2018 10 Posseiros
Arari Pov. Bubasa/Vale 02/05/2018 110 Posseiros
Bacabeira Vila Cearense/Duplicação BR-135 05/04/2018 Posseiros
Balsas P. A. Gado Bravinho 30/10/2018 65 Assentados
Balsas Vargem 30/10/2018 12 Posseiros
Belágua Estiva do Alfredo 28/02/2018 13 Posseiros
Belágua Pau Ferrado I 28/02/2018 32 Posseiros
Belágua Pau Ferrado II 30/03/2018 12 Posseiros
Belágua/São Benedito do Olho d'Água dos Diniz 31/01/2018 35 Assentados
Rio Preto
Belágua/Urbano Santos Estiva do Cangati 30/05/2018 30 Posseiros
Belágua/Urbano Santos Juçaral 05/02/2018 8 Posseiros
Benedito Leite Forquilha I, II e III/Região do Matopiba/Ilha Veneza 30/07/2018 105 Posseiros
Bom Jardim/Monção T. I. Rio Pindaré/Aldeia Januária/Tabocal 03/09/2018 45 Indígenas
Bom Jardim/São João do T. I. Caru 08/03/2018 100 Indígenas
Caru
Bom Jesus das Selvas Assentamento São Francisco 30/08/2018 70 Assentados
Bom Jesus das Selvas Com. Nova Vida/Vale 02/05/2018 175 Posseiros
Buriti Comunidade Brejão 28/02/2018 30 Posseiros
Buriti Povoado Carrancas 28/02/2018 12 Posseiros
Buriticupu Centro dos Farias/Vale 02/05/2018 43 Posseiros
Buriticupu Com. Vila Labote/Vale 02/05/2018 30 Posseiros
Buriticupu Com. Vila Pindaré/Pov. Presa de Porco/Vale 02/05/2018 800 Pequenos proprietários
Buriticupu P. A. Vila União Portugal/Com. Vila Concórdia/Vale 02/05/2018 54 Assentados
Cândido Mendes Carará-Mirim 30/10/2018 68 Posseiros
Cândido Com. Aurizona/Mineração Aurizona 04/11/2018 70 Posseiros
Mendes/Godofredo Viana
Caxias Com. Sabiá/Faz. Barra da Teresa 30/12/2018 58 Posseiros
Caxias Pov. Central dos Medeiros/Grupo Maratá 30/09/2018 60 Posseiros
Cedral Engole 18/02/2018 45 Quilombolas
Chapadinha Acampamento Baturité 30/12/2018 100 Sem Terra
Chapadinha Tiúba 28/02/2018 25 Posseiros
Chapadinha Vila Chapéu/P. A. Mangueira 30/01/2018 93 Posseiros
Codó Cocal/Empresa Costa Pinto/TG Agroindústria Ltda 08/06/2018 46 Quilombolas
Codó Com. Morada Nova e Marajá/T. Q. Santa Maria dos 22/06/2018 Quilombolas
Moreiras
Codó Com. Morada Nova e Marajá/T. Q. Santa Maria dos 28/06/2018 10 Quilombolas
Moreiras
Codó Com. Quilombola Cipoal dos Pretos 30/05/2018 22 Quilombolas
Codó Com. Quilombola Mata Virgem 30/05/2018 22 Quilombolas
Codó Com. Quilombola Queimadas/Empresa Costa Pinto 08/06/2018 26 Quilombolas
Codó Com. Três Irmãos/Empresa Costa Pinto 30/05/2018 55 Quilombolas
Codó Comunidade Puraquê 30/05/2018 24 Quilombolas
Codó Comunidade São Cristóvão 30/05/2018 25 Posseiros
Codó Faz. Manguinhos/Pov. Buriti Corrente/TG Agroindústria 08/06/2018 42 Quilombolas
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Codó Com. Morada Nova e Marajá/T. Q. Santa Maria dos 01/06/2018 10 Quilombola
Moreiras
Itinga do Maranhão Acamp. Marielle Franco 09/06/2018 152 Sem Terra
Tuntum Povo Krenyê 23/02/2018 Indígenas
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Subtotal: 3 162
Mato Grosso
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alto Boa Vista/São Félix do T. I. Marãiwatsedé/Xavante/Faz. Suiá-Missu 16/03/2018 225 Indígenas
Araguaia
Apiacás/Juara/Nova Canaã T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald. 18/04/2018 50 Indígenas
do Norte/Tabaporã Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
Barão de Melgaço T. I. Baía dos Guató/Guató 14/12/2018 50 Indígenas
Brasnorte T. I. Irantxe/Manoki 08/06/2018 50 Indígenas
Cáceres Faz. Rancho Verde/Acamp. Renascer 01/02/2018 100 Sem Terra
Campinápolis/Nova T. I. Parabubure/Xavante 02/02/2018 955 Indígenas
Xavantina
Campo Novo dos Parecis T. I. Utiariti/Aldeia Bacaval 08/06/2018 102 Indígenas
Campos de Júlio/Nova T.I. Uirapuru 08/06/2018 7 Indígenas
Lacerda
Chapada dos Guimarães Com.Tradicional/Ass. N. Sra. Aparecida 23/07/2018 51 Posseiros
Colniza Área da Cooper-Roosevelt/P. A Taquaruçu do Norte 30/01/2018 150 Posseiros
Colniza Faz. Bauru/Magali 31/10/2018 Posseiros
Colniza Faz. Bauru/Magali 29/11/2018 Posseiros
Colniza Faz. Bauru/Magali 07/12/2018 374 Posseiros
Colniza/Comodoro T. I. Kawahiva do Rio Pardo 10/10/2018 Indígenas
Colniza/Comodoro T. I. Kawahiva do Rio Pardo 16/10/2018 17 Indígenas
Confresa P.A. Independente I 15/11/2018 279 Assentados
Confresa/Santa Terezinha T. I. Urubu Branco/Tapirapé 28/02/2018 Indígenas
Confresa/Santa Terezinha T. I. Urubu Branco/Tapirapé 15/05/2018 146 Indígenas
Diamantino/Nova T.I. Estação Paresi/Ponte de Pedra/Faz. São Jorge 08/06/2018 89 Indígenas
Marilândia/Nova Maringá
Feliz Natal Assentamento Ena 10/04/2018 500 Assentados
Jaciara Área da Prefeitura/Acamp. Pe. José Ten Cate 02/07/2018 400 Sem Terra
Jaciara Gl. Mestre I/Usina Pantanal/Acamp. Renascer 31/03/2018 135 Sem Terra
Juína Gleba Rio Verde/Fazenda Esmeralda 02/02/2018 30 Sem Terra
Juruena Faz. Rosahmar/Rohden 10/01/2018 4 Sem Terra
Mirassol do Oeste Acamp. Terra Esperança 23/01/2018 89 Sem Terra
Novo Mundo Faz. Araúna/Acamp. Nova Esperança/Gl. Nhandu 17/08/2018 20 Sem Terra
Novo Mundo Faz. Nossa Sra. da Abadia/Pouso Alegre/Antiga Faz. 5 22/01/2018 Sem Terra
Estrelas
Novo Mundo Faz. Nossa Sra. da Abadia/Pouso Alegre/Antiga Faz. 5 05/06/2018 96 Sem Terra
Estrelas
Novo Mundo Gl. Nhandu/Faz. Belo Horizonte 20/07/2018 90 Sem Terra
Paranatinga PDS Rio Jatobá 07/02/2018 190 Sem Terra
Peixoto de Azevedo Fazenda Serra Dourada II 24/01/2018 300 Sem Terra
Querência P.A. Coutinho União 22/09/2018 170 Assentados
Santo Antônio do Leverger T.I. Tereza Cristina 12/07/2018 127 Indígenas
Sapezal T.I. Tirecatinga 08/06/2018 44 Indígenas
Sorriso Fazenda Caçula 20/01/2018 60 Sem Terra
Tangará da Serra T.I. Rio Formoso 08/06/2018 42 Indígenas
Vila Rica Área Mutum 19/09/2018 100 Sem Terra
57
Vila Rica Fazenda Rancho da Mata Verde 31/01/2018 52 Posseiros
Vila Rica Pontal do Areia 10/06/2018 60 Sem Terra
Subtotal: 39 5154
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Jaciara Fazenda Entre Rios 08/03/2018 300 Sem Terra
Novo Mundo Gl. Nhandu/Faz. Belo Horizonte 17/07/2018 90 Sem Terra
Sorriso Fazenda Caçula 20/01/2018 60 Sem Terra
Vila Rica Área Mutum 14/09/2018 100 Sem Terra
Vila Rica Pontal do Areia 10/06/2018 60 Sem Terra
Subtotal: 5 610
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Cáceres Faz. Rancho Verde/Acamp. Renascer 01/02/2018 100 Sem Terra
Colniza Faz. Bauru/Magali 29/10/2018 Sem Terra
Colniza Faz. Bauru/Magali 08/12/2018 374 Sem Terra
Subtotal: 3 474
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Campo Grande Área da JBS 24/01/2018 200 Sem Terra
Dois Irmãos do Buriti Acamp. Sebastião Bilhar/Billar/BR-262 31/03/2018 150 Sem Terra
Dourados Sítios Retomados/Imediações das Aldeias Bororo e 20/07/2018 Indígenas
Jaguapiru
Dourados Sítios Retomados/Imediações das Aldeias Bororo e 01/10/2018 30 Indígenas
Jaguapiru
Japorã Área em Japorã 04/03/2018 80 Conafer/MAF/UNLC
Mundo Novo Área em Mundo Novo 04/03/2018 120 Conafer/MAF/UNLC
Rio Brilhante Faz. Sto. Antônio da Nova Esperança/Com. Laranjeira 31/10/2018 45 Indígenas
Nhanderu
Subtotal: 7 625
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Nioaque Acamp. às Margens da MS-419 26/07/2018 250 Sem Terra
Nova Andradina Fazenda Boarete 14/07/2018 100 Sem Terra
Sidrolândia Acamp. Perto da Rede Ferroviária do Brasil 29/07/2018 130 Sem Terra
Subtotal: 3 480
Minas Gerais
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Açucena Faz. Preservar/Acamp. Esperança 09/09/2018 50 Sem Terra
Antônio Carlos Faz. Capão da Onça/Acamp. Gabriel Pimenta 06/11/2018 Sem Terra
Antônio Carlos Faz. Capão da Onça/Acamp. Gabriel Pimenta 11/12/2018 30 Sem Terra
Antônio Carlos Faz. da Serra/Acamp. Gabriel Pimenta 19/05/2018 30 Sem Terra
Araçuaí Com. Quilombola Baú 02/04/2018 35 Quilombolas
Bocaiúva/Engenheiro Faz. Santo Eloy/Garrote 13/11/2018 54 Sem Terra
Navarro
59
Buritizeiro Com. Vazanteira do Córrego Canabrava/Faz. Canabrava 12/07/2018 75 Pescadores
Campo do Meio Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo Campo Grande 07/11/2018 450 Sem Terra
Capitão Enéas Faz. Norte América/Acamp. Alvimar Ribeiro 08/03/2018 140 Sem Terra
Conceição do Mato Dentro Com. Cabeceira do Turco/Projeto Minas-Rio/Anglo 27/03/2018 Pequenos proprietários
American
Conceição do Mato Dentro Com. do Turco/Projeto Minas-Rio/Anglo American 27/03/2018 70 Pequenos proprietários
Conceição do Mato Dentro Com. Sebastião do Bom Sucesso - Sapo/Proj. 26/01/2018 170 Pequenos proprietários
Minas-Rio/Anglo American
Conceição do Mato Dentro Família Pimenta/Proj. Minas-Rio/Anglo American 27/03/2018 9 Quilombolas
Congonhas Projeto da CSN 19/12/2018 130 Atingidos por barragens
Coronel Pacheco Faz. São José/Liberdade/Acamp. Gabriel 13/01/2018 315 Sem Terra
Pimenta/Reunidas HD
Francisco Sá Faz. Redenção/Acamp. Alvimar Ribeiro 13/03/2018 Sem Terra
Francisco Sá Faz. Redenção/Acamp. Alvimar Ribeiro 06/04/2018 120 Sem Terra
Grão Mogol Faz. Rio Rancho/Buriti Pequeno/Com. Geraizeiros do Vale 19/04/2018 230 Geraizeiro
das Cancelas
Ibiaí Com. Extrativista Barra do Pacuí e Pescadores Artesanais 12/07/2018 Pescadores
às margens do Rio São Francisco
Igarapé Faz. da Empresa MMX de Eike Batista 05/07/2018 400 Sem Terra
Itacarambi Com. Quil. Ilha da Maria Preta 27/01/2018 75 Quilombolas
Itacarambi Com. Vazanteira Barrinha/Rio São Francisco 12/07/2018 14 Vazanteiros
Januária Com. Quil. Croatá/Rio São Francisco 17/04/2018 Quilombolas
Januária Com. Quil. Croatá/Rio São Francisco 08/09/2018 64 Quilombolas
Jequitaí Com. Barrocão Pau de Fruta/Buritis de Baixo 12/08/2018 Vazanteiros
Jequitinhonha Comunidade Chapadinha 18/09/2018 Posseiros
Jequitinhonha Comunidade Chapadinha 25/09/2018 17 Posseiros
Manga/Matias Cardoso Com. da Ilha de Pau Preto/Rio São Francisco/Proj. Jaíba 09/05/2018 256 Vazanteiros
Montes Claros Fazenda Bom Jesus 18/04/2018 100 Sem Terra
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 26/04/2018 Sem Terra
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 27/04/2018 Sem Terra
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 28/04/2018 120 Sem Terra
Padre Carvalho Territ. Geraizeiro Curral de Varas II/Rio Rancho Agrop. S/A 21/06/2018 1 Geraizeiro
Pedras de Maria da Cruz Com. Quil. Caraíbas/Faz. Pedra de São João Agrop. 01/02/2018 Quilombolas
Pedras de Maria da Cruz Com. Quil. Caraíbas/Faz. Pedra de São João Agrop. 02/09/2018 Quilombolas
Pedras de Maria da Cruz Com. Quil. Caraíbas/Faz. Pedra de São João Agrop. 29/09/2018 35 Quilombolas
Pedras de Maria da Cruz Fazenda Arapuim 04/04/2018 37 Sem Terra
Riacho dos Machados Com. Riacho dos Machados/margens do São 12/07/2018 100 Geraizeiro
Francisco/Min. Carpathian Gold
Rubim Faz. Uberaba/Acamp. Nova Canaã 23/04/2018 40 Sem Terra
Salto da Divisa Com. Cabeceira do Piabanha 31/08/2018 Posseiros
Salto da Divisa Com. Cabeceira do Piabanha 12/09/2018 Posseiros
Salto da Divisa Com. Cabeceira do Piabanha 12/10/2018 Posseiros
Salto da Divisa Com. Cabeceira do Piabanha 16/10/2018 12 Posseiros
Salto da Divisa Fazenda Talismã/Farpão 28/06/2018 24 Quilombolas
São Francisco Com. Ilha da Porteira 12/07/2018 Vazanteiros
Uberaba Faz. Pão de Queijo/Acamp. 19 de Março 01/02/2018 45 Sem Terra
Vazante Faz. Veredinha/Acamp. José Beraldo 12/04/2018 64 Sem Terra
Subtotal: 47 3312
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Açucena/Belo T. I. Pataxó/Projeto Minas-Rio/Anglo American 01/04/2018 150 Indígenas
Horizonte/Carmésia
Antônio Carlos Faz. Capão da Onça/Acamp. Gabriel Pimenta 19/05/2018 30 Sem Terra
Antônio Carlos Faz. da Serra/Acamp. Gabriel Pimenta 13/01/2018 30 Sem Terra
Capitão Enéas Faz. Norte América/Acamp. Alvimar Ribeiro 18/02/2018 140 Sem Terra
Igarapé Faz. da Empresa MMX de Eike Batista 03/07/2018 400 Sem Terra
Montes Claros Fazenda Bom Jesus 18/04/2018 100 Sem Terra
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 24/05/2018 120 Sem Terra
Presidente Olegário Área no Distrito de Galena/Indígenas Xucuru Karir 20/10/2018 20 Indígenas
São Joaquim de Bicas Aldeia Naô Xohã/várias etnias 30/08/2018 4 Indígenas
São Joaquim de Bicas Complexo de Fazs. de Eike Batista 05/07/2018 400 Sem Terra
Subtotal: 10 1394
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 26/04/2018 Sem Terra
Nova Serrana Faz. Canta Galo/Acamp. Nova Jerusalém 27/04/2018 120 Sem Terra
Subtotal: 2 120
Pará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Acará/Tomé-Açu Com. Quil. Alto Acará/Biovale 14/04/2018 Quilombolas
Acará/Tomé-Açu Com. Quil. Alto Acará/Biovale 17/07/2018 650 Quilombolas
Afuá Cajueiro/PAE Ilha dos Carás** 07/06/2018 20 Assentados
Alenquer Ameaça de Morte contra o Pres. do STTR de Alenquer 16/07/2018 Sindicalista
Alenquer Fazenda Laguinho 29/06/2018 25 Sem Terra
Almeirim/Monte Dourado Projeto Jari Celulose/Jarcel 24/02/2018 100 Posseiros
Altamira/Itaituba/Novo Faz. Atalas/Tigre/Castelo dos Sonhos/PDS Brasília 11/10/2018 350 Sem Terra
Progresso
Altamira/Medicilândia/Ruró T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios Arara/UHE Belo 15/02/2018 Indígenas
polis/Uruará Monte/Belo Sun Mineradora/PAC
Altamira/Medicilândia/Ruró T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios Arara/UHE Belo 14/08/2018 Indígenas
polis/Uruará Monte/Belo Sun Mineradora/PAC
Altamira/Medicilândia/Ruró T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios Arara/UHE Belo 30/12/2018 26 Indígenas
polis/Uruará Monte/Belo Sun Mineradora/PAC
Altamira/São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 15/02/2018 Indígenas
Altamira/São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 07/11/2018 176 Indígenas
Altamira/Senador José T.I. Ituna/Itatá 30/06/2018 Indígenas
Porfírio
Ananindeua Com. Quilombola do Abacatal 24/01/2018 121 Quilombolas
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 09/01/2018 Sem Terra
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 01/05/2018 Sem Terra
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 03/06/2018 48 Sem Terra
Anapu Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/Dorothy 19/04/2018 Assentados
Anapu Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/Dorothy 23/09/2018 160 Assentados
Anapu Gleba Bacajá/PDS Esperança/Assassinato da Ir. Dorothy 27/03/2018 Agente pastoral
Anapu Gleba Bacajá/PDS Esperança/Assassinato da Ir. Dorothy 29/09/2018 Assentados
Anapu Gleba Bacajá/PDS Esperança/Assassinato da Ir. Dorothy 06/12/2018 178 Agente pastoral
Anapu/Senador José T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo Monte/PAC 30/11/2018 24 Indígenas
Porfírio/Vitória do Xingu
Baião Resex Ipaú/Anilzinho 19/02/2018 100 Extrativistas
Baião/Novo Repartimento Faz. Petrópolis/Gleba12 23/03/2018 50 Sem Terra
Bom Jesus do Tocantins Faz. Goiana/Aras Sta. Elias 22/01/2018 200 Sem Terra
Bom Jesus do Tocantins Fazenda Gaúcha 22/01/2018 300 Sem Terra
Bom Jesus do Tocantins Fazenda Mococa 16/02/2018 Sem Terra
Brejo Grande do Araguaia Com. de Quebradeiras de Coco de Brejo Grande do 24/01/2018 Quebradeiras de coco
Araguaia babaçu
Breu Branco Fazenda Chama/Acampamento Irmã Dorothy 31/01/2018 Sem Terra
Breu Branco Fazenda Chama/Acampamento Irmã Dorothy 26/06/2018 31 Sem Terra
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Itupiranga Fazenda Cristalina 11/07/2018 100 Sem Terra
Marabá Complexo da Faz. Três Poderes/Agrop. Sta. Bárbara 19/03/2018 300 Sem Terra
Marabá Faz. Santa Clara/Acamp. Boa Esperança 20/07/2018 10 Sem Terra
Marabá Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa Ernestina/Acamp. Hugo 27/07/2018 450 Sem Terra
Chávez
Santana do Araguaia Fazenda Ouro Verde 08/01/2018 120 Sem Terra
Subtotal: 5 980
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Marabá Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa Ernestina/Acamp. Hugo 29/07/2018 450 Sem Terra
Chávez
São João do Araguaia Faz. Esperantina/Sidenorte 01/02/2018 10 Sem Terra
Subtotal: 2 460
Superexploração
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data denúncia Libertos Menores Tipo de Trabalho
Marabá Região de 4 Bocas/Plano Dourado 24/08/2018 8 Madeira
Subtotal: 1 8
Paraíba
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alhandra Faz. Garapu/Acamp. D. José Maria Pires 08/12/2018 450 Sem Terra
Barra de São Miguel Faz. Sta. Rosa/Santana/Poço 08/06/2018 35 Posseiros
Mogeiro Fazenda Paraíso 04/12/2018 27 Posseiros
Mogeiro Fazenda Salgadinho 30/04/2018 24 Posseiros
Patos Área da EMBRAPA/Acamp. Cícero Gregório 07/06/2018 30 Sem Terra
Pedras de Fogo Mamoaba Agro Pastoril S/A/Acamp. Arcanjo Belarmino 28/08/2018 600 Sem Terra
Pilar Fazenda Paraíso 31/12/2018 40 Posseiros
São José dos Ramos Faz. São José/Pau-a-Pique 30/06/2018 Posseiros
São José dos Ramos Faz. São José/Pau-a-Pique 08/08/2018 60 Posseiros
Sousa Fazenda Santana Agroindustrial Ltda 18/12/2018 Sem Terra
Tacima Fazenda Volta 12/04/2018 350 Sem Terra
Subtotal: 11 1616
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Cruz do Espírito Santo Faz. Patrocínio/Usina São João 10/04/2018 250 Sem Terra
São José dos Ramos Faz. São José/Pau-a-Pique 31/08/2018 60 Posseiros
Tacima Fazenda Volta 10/04/2018 200 Sem Terra
Subtotal: 3 510
Paraná
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Antonina Agropec. São Rafael/Acamp. José Lutzenberger 11/09/2018 24 Sem Terra
Capanema/Capitão UHE Baixo Iguaçu/PAC 23/08/2018 Atingidos por barragens
Leônidas Marques/Nova
Prata do
Iguaçu/Planalto/Realeza
Capanema/Capitão UHE Baixo Iguaçu/PAC 22/10/2018 200 Atingidos por barragens
Leônidas Marques/Nova
Prata do
Iguaçu/Planalto/Realeza
Espigão Alto do Iguaçu Com. Rural Boa Vista do São Roque 07/11/2018 96 Assentados
Guaíra T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá Marangatu/Itaipu 07/11/2018 61 Indígenas
Binacional
Guaíra T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá Porã 25/09/2018 36 Indígenas
Guaíra T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá Tatury/Mineradora 07/09/2018 8 Indígenas
Andreis/UHE Binacional
Guaíra T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá Yhovy 06/11/2018 21 Indígenas
Quedas do Iguaçu Faz Rio das Cobras/Araupel/Acamp. Herdeiros da Terra 1º 14/08/2018 1500 Sem Terra
de Maio
Quedas do Iguaçu Faz. Dona Hilda e Sta. Rita/Araupel 19/04/2018 250 Sem Terra
Santa Helena Tekoha Curva Guarani /T.I. Avá Guarani/Itaipu Binacional 03/10/2018 14 Indígenas
Santa Helena Tekoha Mokoi Joegua-Ete Dois Irmãos-Pyau/Itaipu 14/03/2018 Indígenas
Binacional
Santa Helena Tekoha Mokoi Joegua-Ete Dois Irmãos-Pyau/Itaipu 11/07/2018 Indígenas
Binacional
Santa Helena Tekoha Mokoi Joegua-Ete Dois Irmãos-Pyau/Itaipu 28/09/2018 20 Indígenas
Binacional
São Miguel do Iguaçu T.I. Avá Guarani Mbya Ocoy/Res. Sta. Rosa do Ocuí/UHE 19/04/2018 250 Indígenas
Itaipu
Terra Roxa T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá Tajy Poty 07/11/2018 7 Indígenas
Subtotal: 16 2487
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Santa Helena Tekoha Curva Guarani /T.I. Avá Guarani/Itaipu Binacional 19/04/2018 14 Indígenas
Subtotal: 1 14
Pernambuco
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Aliança Engenho Belo Horizonte 03/09/2018 20 Assentados
Cabo de Santo Agostinho Eng. Boa Vista/Complexo Suape 11/05/2018 111 Posseiros
Cabo de Santo Agostinho Eng. Ilha/Complexo Suape 23/08/2018 250 Posseiros
Cabo de Santo Agostinho Eng. Jurissaca/Complexo Suape 07/05/2018 43 Posseiros
Cabo de Santo Agostinho Eng. Massangana/Complexo Suape 28/02/2018 Posseiros
Cabo de Santo Agostinho Eng. Serraria/Complexo Suape/PAC 14/09/2018 Posseiros
Cabo de Santo Agostinho Eng. Serraria/Complexo Suape/PAC 19/10/2018 9 Posseiros
Caetés Comunidades rurais de Cetés/Energia Eólica 31/05/2018 144 Pequenos proprietários
Canhotinho/Lagoa dos Faz. Riacho de Dentro/Riachão 09/02/2018 80 Sem Terra
Gatos
Caruaru Com. Lagoa de Pedra 20/03/2018 80 Sem Terra
Escada/Ipojuca Us. Salgado/Com. Sítio Zé Ipojuca 16/03/2018 Posseiros
Escada/Ipojuca Us. Salgado/Com. Sítio Zé Ipojuca 27/10/2018 300 Posseiros
Ipojuca Com. Quil. Ilha de Mercês/Complexo Suape 31/08/2018 479 Quilombolas
Ipojuca Engenho Salgado/Us. Salgado 16/03/2018 1 Posseiros
Jaboatão dos Guararapes Engenho Suassuna 30/04/2018 Posseiros
Jaboatão dos Guararapes Engenho Suassuna 16/08/2018 160 Posseiros
Jaqueira Com. do Eng. Colônia II/Laranjeira/Us. Frei Caneca 30/10/2018 48 Posseiros
Jaqueira Eng. Caixa d' Água/Várzea Velha/Us. Frei Caneca 01/10/2018 150 Posseiros
Jaqueira Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca 01/10/2018 Posseiros
Jaqueira Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca 06/11/2018 77 Posseiros
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 17/04/2018 Posseiros
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 13/09/2018 Posseiros
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 02/10/2018 Posseiros
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 20/10/2018 Posseiros
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 06/11/2018 71 Posseiros
Jatobá Com. Bem Querer de Baixo/T.I. Pankararu 09/03/2018 Posseiros
Jatobá Com. Bem Querer de Baixo/T.I. Pankararu 13/09/2018 75 Posseiros
Jatobá Com. Bem Querer de Cima/T.I. Pankararu 09/03/2018 Posseiros
Jatobá Com. Bem Querer de Cima/T.I. Pankararu 13/09/2018 75 Posseiros
Jatobá Com. Cacheado/T.I. Pankararu 09/03/2018 Posseiros
Jatobá Com. Cacheado/T.I. Pankararu 13/09/2018 75 Posseiros
Jatobá Com. Caldeirão/T.I. Pankararu 09/03/2018 Posseiros
Jatobá Com. Caldeirão/T.I. Pankararu 13/09/2018 75 Posseiros
Moreno Engenho Una/Us. Bulhões 01/10/2018 35 Posseiros
Orocó Com. Quil. Caatinguinha/Territ. Águas do Velho Chico 30/09/2018 75 Quilombolas
Orocó Com. Quil. Mata de São João/Territ. Águas do Velho Chico 30/09/2018 Quilombolas
Orocó Com. Quil. Remanso/Territ. Águas do Velho Chico 30/09/2018 Quilombolas
Orocó Com. Quil. Umburana/Territ. Águas do Velho Chico 30/09/2018 Quilombolas
Orocó Com. Quil. Vitorino/Territ. Águas do Velho Chico 30/09/2018 40 Quilombolas
Paudalho Eng. Planalto/Acamp. Lula Livre IV 26/04/2018 100 Sem Terra
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 19/06/2018 Indígenas
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 13/09/2018 Indígenas
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Indígenas
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 28/10/2018 Indígenas
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 08/11/2018 Indígenas
Petrolândia/Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 25/12/2018 917 Indígenas
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Condado Engenho Terra Preta 12/04/2018 65 Sem Terra
Floresta/Petrolândia Estação de Bombeamento 2 Eixo Leste/Açude 16/04/2018 300 Sem Terra
Areias/Transp. S. Francisco
Glória do Goitá Faz. Amieiros/Acamp. Lula Livre VII 16/04/2018 127 Sem Terra
Goiana Eng. Goiana Grande/Acamp. Lula Livre II 12/04/2018 147 Sem Terra
Goiana Eng. Mega/Acamp. Lula Livre V 16/04/2018 137 Sem Terra
Ibimirim Área do Dnocs 16/04/2018 164 Sem Terra
Itaquitinga Eng. Poços/Us. Santa Tereza 20/04/2018 100 Sem Terra
Lajedo Faz. Mario/Acamp. Lula Livre XI 16/04/2018 162 Sem Terra
Paudalho Eng. Planalto/Acamp. Lula Livre IV 14/04/2018 100 Sem Terra
Petrolina Área no Proj. Pontal Sul 26/05/2018 300 Sem Terra
São Joaquim do Monte Faz. Jabuticaba/4 Irmãos 31/01/2018 45 Sem Terra
Serra Talhada Faz. Jatobá/Acamp. Lula Livre IX 16/04/2018 157 Sem Terra
Sertânia Faz. Santa Luzia/Acamp. Fortaleza 25/11/2018 30 Sem Terra
Sertânia Fazenda Jaú 22/07/2018 85 Sem Terra
Timbaúba Eng. Nova Cinta/Acamp. Lula Livre III 16/04/2018 130 Sem Terra
Vitória de Santo Antão Eng. Jenipapo/Acamp. Lula Livre X 16/04/2018 152 Sem Terra
Subtotal: 16 2201
Piauí
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Baixa Grande do Ribeiro Com. Brejo Seco/Santa Fé/Riozinho 18/03/2018 82 Posseiros
Baixa Grande do Ribeiro Comunidade Morro d' Água 10/02/2018 Posseiros
Baixa Grande do Ribeiro Comunidade Morro d' Água 16/10/2018 8 Posseiros
Baixa Grande do Ribeiro Fazenda Canaã 16/10/2018 Posseiros
Bom Jesus Com. Salto do Santo Antônio 16/10/2018 17 Posseiros
Bom Jesus Comunidade Salto I 17/05/2018 Posseiros
Bom Jesus Comunidade Salto I 16/10/2018 10 Posseiros
Bom Jesus Comunidade Salto II 16/10/2018 16 Posseiros
71
Bom Jesus/Gilbués Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/Barra do 04/02/2018 Posseiros
Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo das Éguas/Serra
Partida/Assent. Rio Preto
Bom Jesus/Gilbués Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/Barra do 07/06/2018 Posseiros
Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo das Éguas/Serra
Partida/Assent. Rio Preto
Bom Jesus/Gilbués Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/Barra do 16/10/2018 41 Posseiros
Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo das Éguas/Serra
Partida/Assent. Rio Preto
Bom Jesus/Santa Filomena Áreas em Bom Jesus e Santa Filomena 16/10/2018 96 Posseiros
Nazária/Palmeirais Área Galiza 16/04/2018 80 Posseiros
Nazária/Palmeirais Área Veneza 16/04/2018 120 Posseiros
Paulistana Com. Quill. Contente/Transnordestina 24/05/2018 47 Quilombolas
Santa Filomena Área em Chupé/Grupo Pompeu/JAP 02/05/2018 Posseiros
Santa Filomena Área em Chupé/Grupo Pompeu/JAP 20/05/2018 8 Posseiros
Santa Filomena Comunidade Baixão Fechado 16/10/2018 24 Pequenos proprietários
Santa Filomena Comunidade Brejo das Meninas 16/10/2018 Posseiros
Santa Filomena Sete Lagoas/Lagoa do Junco/Vão do Vico 16/10/2018 10 Posseiros
Teresina Acampamento Santa Teresa 11/12/2018 80 Sem Terra
Subtotal: 21 639
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Altos/Teresina Fazenda São João 30/03/2018 57 Sem Terra
Curralinhos Fazenda Piquete 30/03/2018 140 Sem Terra
Nazária/Teresina Data São José do Junco/Chapadinha 28/02/2018 200 Sem Terra
Teresina Acampamento Santa Teresa 01/04/2018 80 Sem Terra
Subtotal: 4 477
São João do Arraial Com. dos Cocais/Açude Sta Rosa 03/03/2018 30 Uso e Diminuição do
preservação acesso à Água
Subtotal: 9 101
Rio de Janeiro
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Angra dos Reis Quilombo de Santa Rita do Bracuí 06/06/2018 200 Quilombolas
Campos dos Com. Água Preta/Complexo Portuário Açu/Minas-Rio/PAC 26/07/2018 15 Pequenos proprietários
Goytacazes/São João da
Barra
Mangaratiba Faz. Santa Justina/Acamp. Olga Benário 07/01/2018 Quilombolas
Mangaratiba Faz. Santa Justina/Acamp. Olga Benário 13/05/2018 57 Quilombolas
Parati APA de Cairuçu/Com. Caiçara Praia do Sono/Ponta Negra 18/12/2018 Caiçara
Parati Com. Tradicionais Caiçaras/Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da 24/02/2018 23 Caiçara
Serra de Bocaina
Rio das Ostras Faz. Montes Verdes/Rancho Sagitário/Reserva Biológica 21/04/2018 Sem Terra
União
Rio das Ostras Faz. Montes Verdes/Rancho Sagitário/Reserva Biológica 02/05/2018 200 Sem Terra
União
Rio de Janeiro Comunidade Quilombola da Vila Sacopã 11/05/2018 8 Quilombolas
Rio de Janeiro Quilombo Pedra do Sal 06/07/2018 25 Quilombolas
Subtotal: 10 528
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Rio das Ostras Faz. Montes Verdes/Rancho Sagitário/Reserva Biológica 21/04/2018 200 Sem Terra
União
Subtotal: 1 200
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Candiota Área do CEEE 19/01/2018 50 Sem Terra
Canela T. I. Kaingang/Floresta Nacional de Canela 16/07/2018 33 Indígenas
Encruzilhada do Sul Área da Fepagro 19/01/2018 63 Sem Terra
Marau Área do DNIT 15/02/2018 12 Indígenas
Subtotal: 4 158
Rondônia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alta Floresta do Oeste Povo Wajuru 12/06/2018 Indígenas
Alta Floresta do Oeste/São T. I Rio Branco/Aldeia Anderé 29/01/2018 300 Indígenas
Francisco do Guaporé
Alta Floresta do Oeste/São T. I. Massaco 02/02/2018 Indígenas
Francisco do Guaporé
Alto Paraíso/Porto Velho Acamp. Nova Esperança/Boa Esperança/Título Definitivo 10/11/2018 419 Posseiros
São Sebastião/Flona Bom Futuro
Alvorada do Oeste Faz. do Italiano/Verde Vale 07/07/2018 50 Sem Terra
Ariquemes Acampamento Renato Nathan 2 20/06/2018 40 Sem Terra
Ariquemes Faz. Arroba/Só Cacau/Acamp. Canaã 14/12/2018 120 Sem Terra
Ariquemes Projeto Burareiro/Acamp. São Francisco/Lote 131 05/11/2018 40 Sem Terra
Buritis Faz. do Lourinho/Rio Alto/Linha 42 08/06/2018 Posseiros
Buritis P. A. Santa Helena 09/04/2018 17 Assentados
Buritis/Nova Mamoré Fazenda Schumann 21/08/2018 300 Posseiros
Cabixi Acampamento Igarapé Preto 31/01/2018 120 Sem Terra
Cacoal T. I. Sete de Setembro 11/05/2018 345 Indígenas
Campo Novo de T. I. Uru-Eu-Wau-Wau 11/05/2018 115 Indígenas
Rondônia/Monte
Negro/Seringueiras
Campo Novo de Resex Jaci-Paraná 04/12/2018 Extrativistas
Rondônia/Nova
Mamoré/Porto Velho
Candeias do Jamari Linha Rio Preto 07/05/2018 100 Sem Terra
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alto Paraíso/Porto Velho Acamp. Nova Esperança/Boa Esperança/Título Definitivo 22/10/2018 419 Sem Terra
São Sebastião/Flona Bom Futuro
Alvorada do Oeste Faz. do Italiano/Verde Vale 07/07/2018 50 Sem Terra
Ariquemes Projeto Burareiro/Acamp. São Francisco/Lote 131 30/07/2018 40 Sem Terra
Cabixi Acampamento Igarapé Preto 01/01/2018 120 Sem Terra
Ji-Paraná Chácara em Ji-Paraná 27/08/2018 26 Sem Terra
75
Ouro Preto do Oeste/Vale Faz. Triângulo/Trianon/Acamp. Jaú/Terra Nossa/Lote 30/03/2018 400 Sem Terra
do Paraíso 204/Acamp. Monte Cristo
Seringueiras Faz. Bom Futuro/Acamp. Enilson Ribeiro 30/04/2018 400 Sem Terra
Theobroma Faz. Gavião/Linha 605/Km 12 18/07/2018 50 Sem Terra
Subtotal: 8 1505
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Nova Mamoré Acamp. Conquista/Faz. Primavera/Gleba Buriti/Distrito de 26/09/2018 35 Sem Terra
Jacinópolis
Subtotal: 1 35
Roraima
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alto Alegre T.I. Macuxi e Wapixana/ Reserva Boqueirão 21/11/2018 116 Indígenas
Alto T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 31/05/2018 Indígenas
Alegre/Caracaraí/Mucajaí
Alto T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 06/09/2018 Indígenas
Alegre/Caracaraí/Mucajaí
Alto T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 16/09/2018 Indígenas
Alegre/Caracaraí/Mucajaí
Alto T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 21/11/2018 1142 Indígenas
Alegre/Caracaraí/Mucajaí
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Santa Catarina
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Abelardo Luz Faz. Papuã/Itália II/Acamp. Kide 31/10/2018 62 Sem Terra
Abelardo Luz/Entre T. I. Xapecó/Kaingang 05/07/2018 1334 Indígenas
Rios/Ipuaçu/Xanxerê
Araquari Com. Quilombola Areais Pequenos 14/02/2018 Quilombolas
Araquari Com. Quilombola Itapocu 14/02/2018 Quilombolas
Balneário Camboriú Com. Quilombola Morro do Boi 14/02/2018 11 Quilombolas
Campos Novos/Monte Com. Quilombola Invernada dos Negros 07/09/2018 170 Quilombolas
Carlo
Capivari de Baixo Com. Quilombola Ilhotinha 14/02/2018 Quilombolas
Florianópolis Com. Quilombola Vidal Martins 14/02/2018 Quilombolas
Florianópolis Com. Quilombola Vidal Martins 18/08/2018 28 Quilombolas
Garopaba Com. Quilombola Aldeia 14/02/2018 34 Quilombolas
Garopaba Com. Quilombola Morro do Fortunato 14/02/2018 Quilombolas
Monte Carlo Com. Quilombola Campo dos Polí 14/02/2018 12 Quilombolas
Paulo Lopes Com. Quilombola Toca de Santa Cruz 14/02/2018 Quilombolas
Paulo Lopes Com. Quilombola Toca de Santa Cruz 20/11/2018 38 Quilombolas
Porto Belo Com. Quilombola Valongo 14/02/2018 Quilombolas
Santo Amaro da Imperatriz Com. Quilombola Caldas do Cubatão 14/02/2018 Quilombolas
Santo Amaro da Imperatriz Com. Quilombola Tabuleiro 14/02/2018 Quilombolas
São Francisco do Sul Com. Quilombola Tapera 14/02/2018 Quilombolas
Seara Com. Quilombola Mutirão e Costeira 14/02/2018 Quilombolas
Subtotal: 19 1689
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Calmon Faz. Pinhal/Pinhalão/Acamp. Maria Marta 03/03/2018 120 Sem Terra
77
Campos Novos/Monte Com. Quilombola Invernada dos Negros 07/09/2018 170 Quilombola
Carlo
Faxinal dos Faz. Chapecozinho II/Prezzotto Sementes/Acamp. 17/02/2018 400 Sem Terra
Guedes/Xanxerê Marcelino Chiarelo
Fraiburgo Fazenda Agroceres 08/01/2018 80 Sem Terra
Subtotal: 4 770
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Faxinal dos Faz. Chapecozinho II/Prezzotto Sementes/Acamp. 03/01/2018 180 Sem Terra
Guedes/Xanxerê Marcelino Chiarelo
Subtotal: 1 180
São Paulo
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 07/02/2018 Sem Terra
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 11/04/2018 Sem Terra
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 20/04/2018 Sem Terra
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 21/06/2018 789 Sem Terra
Araraquara Acamp. Encontro das Águas 28/06/2018 30 Sem Terra
Araraquara Acamp. Novo Horizonte 27/02/2018 Sem Terra
Araraquara Acamp. Novo Horizonte 19/06/2018 270 Sem Terra
Boa Esperança do Sul Fazenda Cachoeirnha 12/09/2018 40 Sem Terra
Duartina Fazenda Esmeralda 14/03/2018 Sem Terra
Duartina Fazenda Esmeralda 22/03/2018 350 Sem Terra
Gália Faz. Paraíso/Vitória/Assent. Luiz Beltrame 02/03/2018 77 Assentados
Gália Faz. Rio Vermelho 13/09/2018 Sem Terra
Gália Faz. Rio Vermelho 24/09/2018 150 Sem Terra
Iaras/Tietê Faz. Capivara/Faz. São Domingos do Tupã/Acamp. Anita 05/07/2018 86 Sem Terra
Garibaldi
Iporanga Com. Galvão/Vale do Ribeira 30/09/2018 33 Quilombolas
Itaporanga Faz. Lageado/Acamp. Izael Fagundes 02/04/2018 25 Sem Terra
Limeira Área do Horto Florestal de Limeira 10/09/2018 Sem Terra
Limeira Área do Horto Florestal de Limeira 28/09/2018 108 Sem Terra
Pindamonhangaba Área da Agência de Tecnologia do Agronegócio - APTA 27/02/2018 250 Sem Terra
Riversul Fazenda Can-Can 24/05/2018 Sem Terra
São Carlos Faz. Canchim/Embrapa 17/04/2018 50 Posseiros
Serrana Faz. Martinópolis/Usina Nova União 04/02/2018 200 Sem Terra
Taubaté Faz. Santa Rita/Acamp. Andrea Guaraciane 13/04/2018 70 Sem Terra
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Agudos Faz. Tangará/Marruá 21/05/2018 Sem Terra
Agudos Faz. Tangará/Marruá 10/09/2018 500 Sem Terra
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 03/04/2018 60 Sem Terra
Araçatuba Fazenda Santa Cecília 17/04/2018 75 Sem Terra
Bauru Fazenda Paiva 04/03/2018 250 Conafer/UNLC
Bauru/Pederneiras Horto Florestal Aymorés/Acamp.Terra Nossa/P. A. 15/05/2018 80 Sem Terra
Aymorés/Sítio Sta. Marina
Castilho Área em Castilho 28/12/2018 130 Sem Terra
Dracena Faz. Espinheiro Preto 24/01/2018 12 Sem Terra
Duartina Fazenda Esmeralda 07/03/2018 350 Sem Terra
Gália Faz. Rio Vermelho 07/09/2018 150 Sem Terra
Itaporanga Faz. Lageado/Acamp. Izael Fagundes 24/02/2018 Sem Terra
Itaporanga Faz. Lageado/Acamp. Izael Fagundes 07/09/2018 25 Sem Terra
Limeira Área do Horto Florestal de Limeira 07/09/2018 108 Sem Terra
Mirante do Paranapanema Fazenda Santa Cruz 13/04/2018 100 Sem Terra
Mogi-Guaçu Fazenda Campininha 29/07/2018 250 Sem Terra
Pindamonhangaba Área da Agência de Tecnologia do Agronegócio - APTA 17/02/2018 Sem Terra
Pindamonhangaba Área da Agência de Tecnologia do Agronegócio - APTA 24/03/2018 250 Sem Terra
Ribeirão Preto Faz. Sta. Lydia/Soc. Agrícola Santa Elydia 21/07/2018 50 Sem Terra
São Carlos Faz. Canchim/Embrapa 16/04/2018 50 Sem Terra
Serrana Faz. Martinópolis/Usina Nova União 04/02/2018 200 Sem Terra
Taubaté Área Pública no Km 119 da Via Dutra 04/11/2018 170 Sem Terra
Taubaté Faz. Santa Rita/Acamp. Andrea Guaraciane 24/03/2018 70 Sem Terra
Taubaté Fazenda Santana 21/05/2018 70 Sem Terra
Teodoro Sampaio Fazenda Santa Cecília 17/04/2018 Sem Terra
Teodoro Sampaio Fazenda Santa Cecília 10/08/2018 300 Sem Terra
Teodoro Sampaio Fazenda Timburi 21/07/2018 Sem Terra
Valinhos Faz. Eldorado/Acamp. Marielle Vive 14/04/2018 500 Sem Terra
Subtotal: 27 3750
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Americana/Limeira Usina Ester/Acamp. Roseli Nunes 07/02/2018 789 Sem Terra
Serrana Faz. Martinópolis/Usina Nova União 04/02/2018 200 Sem Terra
Subtotal: 2 989
Sergipe
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Arauá Fazenda São João Tuim 27/07/2018 Sem Terra
Barra dos Coqueiros Sítio Jatobá/Itaguassu Agro Industrial S.A 27/07/2018 Sem Terra
79
Indiaroba Fazenda São João 27/07/2018 Sem Terra
Itaporanga da Ajuda Fazenda Belém 27/07/2018 Sem Terra
Itaporanga da Ajuda Fazenda Monte Alegre 19/11/2018 Sem Terra
Subtotal: 5
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Arauá Fazenda São João Tuim 07/06/2018 Sem Terra
Barra dos Coqueiros Sítio Jatobá/Itaguassu Agro Industrial S.A 07/06/2018 Sem Terra
Indiaroba Fazenda São João 07/06/2018 Sem Terra
Itaporanga da Ajuda Fazenda Belém 07/06/2018 Sem Terra
Itaporanga da Ajuda Fazenda Monte Alegre 30/09/2018 Sem Terra
Subtotal: 5
Tocantins
TERRA
81
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Araguaína/Babaçulândia/Fil Faz. Boa Esperança/Itaparica/Água Viva/Acamp. na 07/03/2018 Sem Terra
adélfia TO-222
Araguaína/Babaçulândia/Fil Faz. Boa Esperança/Itaparica/Água Viva/Acamp. na 25/04/2018 50 Sem Terra
adélfia TO-222
Araguatins Comunidade Quilombola da Ilha de São Vicente 12/05/2018 34 Quilombolas
Araguatins Empresa Ouro Verde/Faz. Esmeralda 10/09/2018 Sem Terra
Araguatins Empresa Ouro Verde/Faz. Esmeralda 26/09/2018 80 Sem Terra
Arraias/Paranã Com. Quil. Kalunga do Mimoso 31/12/2018 250 Quilombolas
Babaçulândia Faz. Aruanã I, II, III e IV/Taboca 16/10/2018 50 Sem Terra
Barra do Ouro Gleba Garimpo/Faz. Serrinha/Comunidade Serrinha 15/02/2018 Sem Terra
Barra do Ouro Gleba Garimpo/Faz. Serrinha/Comunidade Serrinha 09/03/2018 38 Sem Terra
Barra do Ouro Gleba Tauá 17/07/2018 Posseiros
Barra do Ouro Gleba Tauá 10/09/2018 Posseiros
Barra do Ouro Gleba Tauá 18/10/2018 Posseiros
Barra do Ouro Gleba Tauá 20/10/2018 90 Posseiros
Bernardo Sayão Fazenda Santa Helena I e III/P.A. Santa Helena 25/10/2018 32 Sem Terra
Couto Fazenda Morrinhos e Jacu 20/11/2018 35 Sem Terra
Magalhães/Pequizeiro
Filadélfia Comunidade Barra do Grotão 04/12/2018 31 Ribeirinhos
Formoso do Araguaia T. I. Taego Ãwa/Avá-Canoeiros 20/10/2018 5 Indígenas
Fortaleza do Tabocão Faz. Sinuelo/Santa Bárbara/Acamp. Olga Benário 24/02/2018 45 Sem Terra
Ipueiras Faz. Pântano do Papagaio/Acamp. Clodomir Santos de 30/08/2018 50 Sem Terra
Morais
Mateiros Comunidade Quilombola Margens do Rio Novo 31/12/2018 15 Quilombolas
Mateiros Comunidade Quilombola Mumbuca 31/12/2018 80 Quilombolas
Mateiros Comunidade Quilombola Riachão 31/12/2018 15 Quilombolas
Mateiros Comunidade Quilombola Rio Preto 31/12/2018 15 Quilombolas
Maurilândia do T. I. Apinajé/Apinayés/UHE Serra Quebrada/PAC 14/02/2018 227 Indígenas
Tocantins/Tocantinópolis
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom Jesus/Gabriel Filho 20/02/2018 Sem Terra
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom Jesus/Gabriel Filho 17/04/2018 Sem Terra
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom Jesus/Gabriel Filho 07/06/2018 Sem Terra
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom Jesus/Gabriel Filho 01/11/2018 30 Agente pastoral
Palmeirante Fazenda Malú 21/05/2018 80 Sem Terra
Palmeirante P. A. Santo Antônio Bom Sossego 30/11/2018 10 Sem Terra
Porto Nacional Faz. Chianini/Acamp. Marielle Vive 31/07/2018 20 Sem Terra
Porto Nacional P. A. Retiro/Acamp. D. Celso Pereira de Almeida 21/09/2018 40 Sem Terra
Santa Tereza do Tocantins Comunidade Quilombola Barra do Aroeira 31/12/2018 174 Quilombolas
São Félix do Tocantins Comunidade Quilombola do Rio do Prata 31/12/2018 78 Quilombolas
Subtotal: 34 1574
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Fortaleza do Tabocão Faz. Sinuelo/Santa Bárbara/Acamp. Olga Benário 31/01/2018 45 Sem Terra
Ipueiras Faz. Pântano do Papagaio/Acamp. Clodomir Santos de 31/01/2018 50 Sem Terra
Morais
Porto Nacional Faz. Chianini/Acamp. Marielle Vive 01/07/2018 20 Sem Terra
Subtotal: 3 115
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom Jesus/Gabriel Filho 17/04/2018 18 Sem Terra
Subtotal: 1 18
Brasil
Conflitos Pessoas
Terra 1124 590400
Trabalho 89 1477
Água 276 368465
Seca
Raquel Baster1
De 2009 a 2018, 1.409 mulheres sofreram algum tipo de violência. Este número pode
ser multiplicado por muitos dígitos, pois nos casos, por exemplo de um despejo, ou de
uma expulsão, é computado o número de famílias, não é feito um levantamento do nú-
mero de mulheres, envolvidas naquela violência. Pode-se dizer com certeza que é sobre
as mulheres que recai a carga mais pesada destas ações, pois elas ao verem destruído o
local de sua habitação e trabalho carregam consigo a dor e a angústia das crianças que
estão sob sua responsabilidade.
1 Educadora popular, jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba (PPGC/UFPB).
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
O texto de Raquel Baster a seguir analisa a situação das mulheres em conflitos no cam-
po e as ocorrências em que elas estiveram envolvidas no ano de 20182.
As mulheres camponesas exercem pa- afetam no direito a uma vida mais digna.
pel fundamental na soberania alimentar. Este cenário de desigualdade vem no longo
A Organização das Nações Unidas para dos anos contribuindo para uma série de
Alimentação e Agricultura (FAO) aponta violências e violações de direitos das mu-
as mulheres como responsáveis por mais lheres camponesas.
da metade da produção de alimentos do
mundo e com importante contribuição na O levantamento de dados da CPT, em 2018,
preservação do meio ambiente e da biodi- demonstrou que 486 mulheres sofreram
versidade. Por outro lado, as mulheres do algum tipo de violência (tortura, agressão,
campo são as que mais vivem em situação tentativa de assassinato, aborto, intimi-
de desigualdade social, política e econômi- dação etc.) em conflitos no campo. Desse
ca. E como particularidades, podemos ci- total, duas mulheres sem-terra morreram
tar as mulheres negras e indígenas contra em decorrência da situação de conflito nos
as quais a discriminação aparece de forma acampamentos em que moravam, outras
mais intensa. seis sofreram tentativas de assassinato,
37 sofreram ameaças de morte e 16 foram
No Brasil, as mulheres do campo enfren- presas injustamente.
tam mais restrições do que os homens no
acesso à terra, água, sementes, tecnolo- Verônica Pereira Milhomem, mais conhe-
gias, créditos e assistência técnica. Elas cida como dona Vera, tinha 54 anos quan-
também são discriminadas no mercado de do morreu em fevereiro de 2018, em Re-
trabalhos rurais e são as responsáveis pela denção, no Pará. Dona Vera foi a óbito por
maior parte do trabalho não remunerado, conta de complicações motivadas pelo gra-
já que ficam também à frente dos cuida- ve estado de saúde em que se encontrava
dos de suas casas, dos filhos e de afazeres desde a Chacina de Pau D’Arco que ocor-
domésticos. Além de serem as maiores ví- reu no ano anterior. Ela perdeu seus dois
timas de violência e exploração sexual em únicos filhos, dois irmãos, dois sobrinhos
decorrência da instalação de projetos de e uma cunhada. Tudo em um único dia.
desenvolvimento. E há uma tendência do Sua família ocupava a fazenda Santa Lú-
aumento da violência contra as mulheres cia, no Sudeste do Pará, e foi brutalmente
no campo, em especial por causa de confli- assassinada por policiais que cumpriam
tos pela terra, água e por defenderem terri- mandados de segurança. Depois dessa
tórios indígenas, quilombolas e outros. atrocidade, o quadro de saúde de dona
Vera se deteriorou, já que era diabética, fa-
Todos estes fatores contribuem significa- zia tratamento de hemodiálise devido a um
tivamente para diminuir a capacidade das problema renal, e dependia totalmente da
mulheres de participarem e incidirem nos ajuda dos dois filhos assassinados.
espaços de discussão e decisão das polí-
ticas públicas voltadas ao campo, que as De acordo com informações da Comissão
2 Os editores
85
Pastoral da Terra (CPT) da região, após o extrativismo com fins lucrativos – ativida-
massacre, que a colocou em um estágio des de produção e à expansão territorial
de alta vulnerabilidade e fragilidade, não das frentes de mineração, do agronegócio,
houve qualquer iniciativa do Estado para do monocultivo de árvores, de petróleo e
apoiá-la, em nenhuma instância. A única gás e do complexo energético. Esse mode-
ajuda veio de familiares e amigos que fi- lo econômico vai na contramão do extrati-
zeram uma campanha pública em seu fa- vismo de subsistência e do bem viver que
vor. A morte de dona Vera levanta questões são realizados com saberes ancestrais e de
importantes sobre o papel do Estado que resistência, em grande parte por mulheres.
se omitiu frente ao desdobramento de um
caso brutal de violência contra trabalha- Essas duas diferentes formas de explora-
dores rurais sem-terra e também apresen- ção constroem antagonismo nos modos de
ta um cenário recorrente de uma situação perceber e estar no mundo e geram confli-
de dependência emocional e econômica tos em torno do acesso, do uso, da apro-
que oprime muitas mulheres camponesas. priação e da significação do mundo mate-
rial e simbólico no/do campo.
O estado do Pará teve o maior número de
situações de violência contra mulheres em Entre os anos de 2009 até 2018, a CPT
conflitos no campo, ano 2018. De acordo registrou 1.409 casos de violência contra
com os dados, foram 21 no total, em um mulheres em situação de conflitos no cam-
estado onde predomina a exploração dos po. Isso mostra como esse jeito de “se de-
recursos naturais por megaempreendi- senvolver” é sustentado pelo sofrimento de
mentos, como por exemplo as mineradoras mulheres. E não só.
e hidrelétricas, e há uma histórica confliti-
vidade agrária. São vários os casos que em Um agravante registrado em 2018 é que
decorrência das suas lutas, por não serem as disputas por território tradicional atin-
vítimas passivas como frequentemente são giram também crianças. Duas meninas da
percebidas, mulheres são assassinadas, etnia Kinikinau, de sete e nove anos, fo-
perseguidas e criminalizadas e/ou vivem ram atropeladas por uma caminhonete en-
em situações de ameaça, perigo e violações quanto andavam de bicicleta no dia 13 de
de direitos. novembro de 2018, na Terra Indígena Ca-
choeirinha, em Miranda, no Mato Grosso
As vozes de mulheres no campo em áreas do Sul. O motorista fugiu do local e suspei-
de conflito vêm ao longo dos anos sendo ta-se que o atropelamento tenha sido pro-
silenciadas, por serem invisibilizadas e pe- posital. Segundo informações e denúncia
las vidas cruelmente ceifadas. Ao mesmo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
tempo ocorre um crescimento significativo foi protocolado um pedido de investigação
do protagonismo das mulheres no campo, junto ao Ministério Público Federal. Nesse
a partir de suas auto-organizações, princi- mesmo ano, seis crianças sofreram algum
palmente nos enfrentamentos às inúmeras tipo de violência por causa de conflitos no
retiradas de direitos. campo.
Luta contra o crime da Vale no rompimento da barragem de Mariana, em Belo Horizonte- MG.
Foto: Agatha Azevedo.
a Cacica Madalena Pitaguary levou um tiro conservadorismo e do fundamentalismo,
na nuca ao confrontar-se com um homem em especial no Executivo, Legislativo e Ju-
encapuzado que a emboscou em uma es- diciário, assim como a influência do setor
trada dentro da Terra Indígena, localizada ruralista sobre a elaboração de políticas,
no município de Pacatuba, a poucos quilô- implicam em um retrocesso sem preceden-
metros de Fortaleza, no Ceará. E não foi a tes na garantia dos direitos indígenas, com
primeira vez que ocorreu uma tentativa de intensificação da ofensiva contra os direi-
homicídio contra o território indígena Pi- tos indígenas e o genocídio destas popula-
taguary. De acordo com os dados da CPT, ções remanescentes e voltando a crescer.
em 2016, outra liderança, Ceiça Pitaguary
quase foi assassinada na aldeia Santo São vários os exemplos que em decorrên-
Antônio do Pitaguary, em Maracanaú, no cia das suas lutas e por não serem vítimas
mesmo estado. passivas como frequentemente são perce-
bidas, mulheres são assassinadas, per-
A situação de violência nestes casos é seguidas e criminalizadas e/ou vivem em
agravada já que as leis e práticas institu- situações de ameaça, perigo e violações de
cionais criadas para enfrentar a violên- direitos. E isso não é de agora. Também
cia contra a mulher tratam-na como um na região Nordeste, no dia 12 de agosto de
ser “universal”. Sendo assim, as indíge- 1983, Margarida Maria Alves foi assassi-
nas não se reconhecem nessas estruturas nada na porta de sua casa por pistoleiros
(ROSA, 2016). Ao mesmo tempo, o avanço mandados pelo dono do engenho onde ela
de políticas e projetos que privilegiam o se- trabalhava, no município de Alagoa Gran-
tor elétrico, a mineração, o agronegócio e de - PB. O motivo do assassinato foi evi-
a construção civil e o aprofundamento do denciado pela postura da líder sindical em
87
defesa dos direitos das trabalhadoras do rante a ocupação da fazenda Verde Vale,
campo. Margarida foi a primeira mulher a no município de Alvorada do Oeste, em
ocupar o cargo de presidenta do Sindicato Rondônia. Em outro caso de intimidação
dos Trabalhadores Rurais (STR) no muni- policial, 400 mulheres também sem-ter-
cípio, quando moveu mais de 70 ações por ra foram coagidas por horas dentro de
desrespeito às leis trabalhistas, contra os ônibus por policiais militares, ao final da
usineiros da cana-de-açúcar da região. ocupação da sede da empresa Nestlé, em
São Lourenço, no estado de Minas Gerais,
Esses 35 anos que separam as histórias durante protesto contra a privatização das
de Margarida, Madalena e Ceiça, aproxi- águas por corporações internacionais. São
mam-nas das realidades de violências so- diversos os conflitos, prisões arbitrárias,
fridas pelas mulheres no campo. No que violências em manifestações populares,
diz respeito às violências sofridas, seria despejos forçados e assassinatos que se
possível traçar uma linha do tempo com multiplicam de Norte a Sul do país, e se
os dados dos relatórios da CPT desde os agravam ano após ano.
anos 80 e sua relação com o crescimen-
to das grandes corporações no país. Em A exploração e contaminação da água,
nome do avanço econômico, avolumam-se como no caso da Nestlé, ou pelos rompi-
os impactos socioterritoriais sobre os gru- mentos de barragens, a usurpação da terra
pos sociais mais vulnerabilizados, como as e a destruição das florestas impactam di-
mulheres, provocando repercussões nega- retamente a vida cotidiana das mulheres,
tivas sobre suas vidas, trabalho e saúde. afetando o suprimento das necessidades
Esse desenvolvimento oculta transforma- diretas de reprodução da vida doméstica
ções territoriais que têm, ao longo desses e comunitária. Sem espaços para produ-
anos, expulsado populações inteiras dos zir, elas ficam também sem possibilidade
seus locais de produção e reprodução ou de desenvolver suas atividades e trabalhos
torna seus modos de vidas inviáveis. cotidianos, comprometendo a segurança e
soberania alimentar, dimensão na qual as
Lugares assumidos pelas mulheres nos mulheres foram situadas historicamente,
conflitos a partir de relações socialmen- conforme assinalado no início do texto.
te construídas
As transformações nos territórios, advin-
As lutas das mulheres vêm a cada ano res- das da implementação de megaempreen-
significando os lugares assumidos por elas dimentos também provocam, explicita-
nos conflitos do campo. Ressignifica tam- mente, o aumento dos riscos de estupros e
bém os papéis impostos pelo patriarcado, outras violências sexuais, gravidez indese-
pois esse outro jeito de se enxergar e se po- jada e o aumento de problemas relaciona-
sicionar nas disputas territoriais interfere dos à saúde emocional das mulheres.
nas estruturas e relações sociais de po-
der. Contudo, na força desigual de repres- Eulina da Silva Souza, agricultora e mo-
são está o aparato do Estado que tem se radora da comunidade Gabriel Filho, em
demonstrado, cada vez mais, refratário e Palmeirante, no Tocantins, foi despejada
contrário a esse levante. Um exemplo disso de sua casa em abril de 2018. Ela e sua
foram as 16 prisões de mulheres campo- família moravam na casa há 11 anos. Uma
nesas registradas em 2018. de suas filhas, que estava grávida, quando
soube do despejo passou mal e perdeu o
Desse total de prisões, 10 mulheres sem- bebê. A ordem de reintegração de posse fa-
-terra foram detidas em julho de 2018 du- vorável ao proprietário da terra, Paulo Frei-
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
tas, foi concedida por uma decisão do juiz Desta forma, é necessário que se reflita so-
da Comarca de Filadélfia, onde o mesmo bre o papel do Estado, enquanto um ator
proprietário responde a um processo cri- articulador central e suas prioridades em
minal pelo assassinato, em 2010, de uma termos de políticas públicas no que se refe-
das lideranças do grupo dos camponeses, re não só ao reconhecimento, mas também
que hoje dá nome à comunidade. É eviden- às possibilidades de ação para a garantia
te, o aborto sofrido pela filha de Eulina se dos direitos das mulheres do campo, a
deu em decorrência do conflito pela terra. uma vida sem violência, a um bem viver.
Nesse sentido, as alternativas reais reque-
Os dados apontados em 2018 revelam rem processos de mobilização e organiza-
que as mulheres e crianças do campo vi- ção das mulheres, bem como visibilidade
venciam múltiplas faces da violência, o das notificações e subnotificações de vio-
que demanda a proposição de diretrizes lências sofridas por elas no campo, e pelo
e ações de enfrentamento à esta violência acesso à informação, para que se reforce a
específica. Rumos que contemplem a espe- conscientização sobre o tema e sua desna-
cificidade das demandas de cada grupo, de turalização.
cada mulher.
Referências
MACHADO, Ismael. Elas, marcadas para mor- ROSA, Ana Beatriz. Por que a violência contra
rer. São Paulo: A Pública,2013. Disponível em: mulheres indígenas é tão difícil de ser comba-
http://apublica.org/2013/07/marcadas-pa-
tida no Brasil. Huff PostBrasil. 25/11/2016.
ra-morrer/. Acesso: fevereiro 2019.
Disponível em: http://www.huffpostbra-
Mulheres e Conflitos Ambientais: nem nossos sil.com/2016/11/25/por -que-a-violencia-
corpos, nem nossos territórios – da invisibili-
dade à resistência – Rio de Janeiro: Instituto -contra-mulheres-indigenas-e-tao-dificil-de-
Políticas Alternativas para o Cone Sul – Pacs, -s_a_21700429/. Acesso: fevereiro 2019.
2017. DARON, Vanderléia Leodete Pulga. Um grito
Mulheres, trabalho e justiça socioambiental/ lilás: cartografia da violência às mulheres do
Rivane Arantes e Vera Guedes (Orgs.). – Recife: campo e da floresta. Brasília: Secretaria de Po-
SOS CORPO – Instituto Feminista para a De-
líticas para as Mulheres, 2009.
mocracia, 2010.
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FOTO: Ana Mendes / CIMI
Terra
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Tentativa ou
Nº de Famílias Famílias Ameaçadas Casas Roças Bens
UF Famílias Área Ameaça de Pistolagem
Ocorrências Expulsas Despejadas de Despejo Destruídas Destruídas Destruídos
Expulsão
Centro-Oeste
DF 2 275 736 200
GO 8 1851 255630 198 1353
MS 36 2755 19955 24 1276 575 61 31 325
MT 47 5454 1295079 550 633 859 725 440 1 430 1174
Subtotal 93 10335 1571400 574 831 2335 2653 501 1 461 1499
Nordeste
AL 5 310 536 120 210
BA 112 11009 445422 2000 2399 3465 461 352 849
CE 15 2595 9380 60 240 230 215 35 80
MA 199 16154 989745 316 1638 2235 462 111 413 1065
PB 14 1866 7561 30 60 1014 534 30 60 534
PE 74 6061 14777 1 1345 1779 1468 278 806 1173 534
PI 25 1036 5281 80 331
RN 2 150 0 100 50 50
SE 10 0 0 5
Subtotal 456 39181 1472702 31 3986 7380 8313 1446 977 1973 3112
Norte
AC 59 4994 670132 1785 1259 24
AM 44 6886 11598449 468 1046 704 722 316
AP 47 1285 237975 2 20 299 404 20 200
PA 121 25547 10093708 660 1099 2816 1301 461 301 621 1016
RO 66 4997 1524930 155 369 1608 746 270 35 158 607
RR 17 8556 12031957 20
TO 38 1574 81192 20 318 390 225 53 2 2 196
Subtotal 392 53839 36238343 837 2274 7944 4639 1526 358 781 2359
Sudeste
ES 5 300 80 300 200 200 200
MG 59 3886 27317 620 726 815 1147 2 65 285 256
RJ 11 528 34650 200 200 272
SP 56 5015 28548 200 2658 1643 1000 40 110 883
Subtotal 131 9729 90595 820 3884 2858 2419 242 375 285 1139
Sul
PR 17 2487 37271 200 727 20 2 2 1509
RS 11 170 1156 45 50 91 4
SC 24 2339 14027
Subtotal 52 4996 52454 45 250 818 24 2 0 2 1509
Total : 1124 118080 39425494 2307 11225 21335 18048 3717 1711 3502 9618
1 Agradecemos à inestimável colaboração da equipe responsável pelo CEDOC, pela qualidade do trabalho técnico-cien-
tífico e a presteza que só se explicam pela profunda implicação com a causa da luta pela terra e a solidariedade com
aqueles e aquelas que sofrem e insistem na luta pela vida, dignidade território. A Antônio Canuto pela contribuição na
leitura crítica do texto e a Leonardo Patrick Souza Silva, estudante de Políticas Públicas da UFF campus de Angra dos
Reis, pela dedicação qualificada na elaboração de vários gráficos. Esses agradecimentos não os implicam em nossos
eventuais erros que são de nossa única responsabilidade.
2 Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense.
Pesquisador do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
3 Pesquisador do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
4 Pesquisadora do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
5 Pesquisador do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
6 Pesquisador do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
7 Nota do editor: Os dados fornecidos pelo CEDOC Dom Tomás Balduino, para subsidiar esse artigo, são atualizados e
podem divergir daqueles publicados nos relatórios Conflitos do campo no Brasil.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
tir de 2013, quando foram registradas Assim, a agenda liberal pró-capital finan-
87.889 famílias em conflito que passaram ceiro, pró-agronegócio, pró-capital minerá-
a 120.048, em 2014, ou seja, um aumen- rio, contra os direitos trabalhistas, contra
to de 36,6%, patamar esse que se man- a legislação ambiental, contra os direitos
tém elevado desde então, com uma média indígenas, dos quilombolas e demais po-
anual de 124.065 famílias envolvidas em pulações tradicionais, agenda que já vinha
conflitos por terra no período da chamada sendo radicalizada por Michel Temer à
ruptura política (2015-2018). frente do governo desde 2015, será consa-
grada nas urnas legitimando eleitoralmen-
Considerando-se todo o significado das te uma agenda antipopular que já vinha
chamadas Jornadas de Junho de 2013, sendo radicalizada no período da ruptura
quando milhares de brasileiros e brasilei- política8. O campo já o demonstra a par-
ras foram às ruas demandar melhores con- tir de 2014, com o aumento significativo
dições de mobilidade urbana (Movimento (36,6%) do número de famílias envolvidas
do Passe Livre), por melhores condições em conflito (Figura 1).
de segurança pública e contra a violência
policial, saúde e educação “Padrão FIFA”, O aumento do número de pessoas envol-
numa alusão irônica às exigências eleva- vidas em conflitos não foi homogêneo no
das de qualidade das obras para a Copa território nacional. Houve, inclusive, di-
do Mundo em relação à precária qualida- minuição em três das macrorregiões bra-
de dos serviços públicos, enfim, o Brasil se sileiras, a saber: na região Sul, o número
viu diante de uma clara agenda de insatis- de pessoas envolvidas em conflitos caiu
fação com o poder (que deveria ser) público 44,8%; na região Centro-Oeste, em 27,6%
e com forte apelo popular. e na região Sudeste em 8,6%. Sendo assim,
foi o aumento exponencial do número de
Quando se observa o número de famílias pessoas envolvidas em conflitos na região
envolvidas em conflitos por terra em 2014, Norte, de 119,7%, em 2018 em relação a
o campo brasileiro também manifesta a seu 2017, o maior responsável pelo aumento
modo um aumento da tensão política que geral do número de pessoas envolvidas em
viria se agravar em 2015, quando frações conflitos no país, haja vista que o aumento
das classes dominantes, com destaque na região Nordeste, de 13,2%, foi relativa-
para as oligarquias agrárias e minerárias, mente baixo em relação à região Norte.
vide o protagonismo da bancada ruralista,
em particular, vão se recusar a reconhecer
Assim, a região Norte passou a predo-
os resultados das urnas e iniciar o proces-
minar entre todas as regiões brasileiras
so de ruptura política, que teve seu ápice
em três momentos decisivos, a saber, (1) o quanto ao número de pessoas envolvidas
impeachment de Dilma Rousseff, em agos- com uma proporção maior que todas as re-
to de 2016, (2) o impeachment preventivo giões somadas, ou seja, 51,3% de todas as
de Lula Silva com sua prisão, em abril de pessoas envolvidas em conflitos no Brasil!
2018, processo esse que se completaria (3) Isso nos dá forte indício do avanço/inva-
com a eleição de Jair Messias Bolsonaro são da Amazônia, o que será corroborado
em outubro de 2018. pelos demais indicadores dos conflitos.
8 A expressão “legitimando eleitoralmente a agenda antipopular” só aparentemente é paradoxal, haja vista que o proces-
so eleitoral foi abertamente influenciado pela posição do judiciário, que só a partir daquele ano eleitoral viria permitir a
prisão em segunda instância, condição em que se enquadrava Lula da Silva, e pela condenação imposta a Lula pelo Juiz
Sérgio Moro que, mesmo tendo sido protagonista do impedimento da candidatura daquele que tinha a preferência em
todas as pesquisas de opinião para ganhar as eleições para presidência da República, não se viu eticamente impedido de
aceitar fazer parte do governo para quem suas ações efetivamente contribuíram para eleger.
95
Pessoas Envolvidas em Conflitos por Cabe destacar que desde a primeira me-
Região – Brasil 2017-2018 tade dos anos 2000, já desde o 1º governo
Lula da Silva, que todos os indicadores de
avanços das lutas sociais por terra e terri-
tório começam a sofrer retrocesso, como se
pode ver na sequência de gráficos a seguir.
9 Os conflitos no campo, para esta parte da análise, se referem à soma das ocorrências de violência contra a ocupação
e a posse de terras com as ocorrências de ocupações e acampamentos realizados por movimentos sociais rurais. Sendo
assim, nessa análise o conflito assinala apenas a existência de disputa de terra se manifestando naquela região.
10 Fonte http://www.incra.gov.br/tree/info/file/15997.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Figura 05. Fonte: CIMI, ISA, 2019. Elaborado por: LEMTO-UFF, 2019.
14 O decreto foi assinado por Temer durante a realização do 15º Acampamento Terra Livre - ação indígena que reuniu
milhares de povos indígenas em Brasília em abril de 2018. O decreto homologou a demarcação da terra uma área de 20
mil hectares, no município de Barão do Melgaço-MT para posse permanente desse povo. Fonte https://widgets.socioam-
biental.org/pt-br/placares.
15 Fonte: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/desmatamento-em-terras-indigenas-cres-
ce-124-mas-segue-concentrado-em-areas-criticas.
16 Segundo o ISA - Instituto Socioambiental -, entre as dez TIs mais desmatadas em 2017-2018, seis estão no sudoeste
do Pará
17 Para maiores detalhes consultar:
1- http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-05/menos-de-7-das-areas-quilombolas-no-brasil-
-foram-tituladas;
2- http://cpisp.org.br/direitosquilombolas/observatorio-terras-quilombolas/;
3- http://www.palmares.gov.br/;
4- http://cultura.gov.br/144-comunidades-quilombolas-foram-certificadas-em-2018%EF%BB%BF/;
99
Segundo levantamento da Organização tituição responsável pela certificação das
Terra de Direitos, com base em informa- comunidades quilombolas no território
ções do Incra, a destinação de recursos brasileiro, emitiu certificado para apenas
públicos para a titulação de territórios 144 comunidades e titulou somente qua-
quilombolas sofreu uma queda de mais de tro terras quilombolas em 2018, segundo
97% nos últimos cinco anos. Em 2013 fo- a Comissão Pró Índio de São Paulo.
ram usados mais de R$ 42 milhões para
a desapropriação das terras onde estão os Advirta-se, no entanto, que mais que res-
territórios quilombolas e este valor caiu ponsabilizar os governos por esses núme-
para cerca de R$ 1 milhão, em 2018. ros, por maiores responsabilidades que
possam ter, é preciso registrar que nesses
Nos últimos 15 anos, 206 áreas quilom- anos em que maior foi a extensão de áreas
bolas, com cerca de 13 mil famílias, foram desapropriadas e maior o número de famí-
tituladas pelo Instituto Nacional de Colo- lias assentadas foram também os anos de
nização e Reforma Agrária (Incra), órgão maior mobilização dos movimentos sociais
que executa a titulação das terras já iden- através de ocupações e acampamentos.
tificadas e reconhecidas. Em relação aos Portanto, há uma correlação positiva entre
processos de certificação, nos últimos 13 mobilização social e conquista de terras.
anos, 3.168 comunidades remanescentes Mais adiante veremos que o número de
de quilombos foram identificadas e certifi- ações dos movimentos sociais através de
cadas. Quase 80% delas foi identificada a ocupações e acampamentos caiu de cerca
partir de 2003, quando foi editado o Decre- de 700 ações em 2003 para 160 em 2018!
to 4887, que estabeleceu os procedimentos
de identificação, reconhecimento, delimi- Intensificam-se as ocorrências de con-
tação, demarcação e titulação das terras flitos no campo em 2018
ocupadas por quilombolas. No entanto, a
destinação definitiva das áreas pleiteadas
O ano de 2018 registra que as ocorrências
que se dá com a titulação mostra o quanto
de conflitos no campo aumentaram em
a colonialidade e seu racismo ainda pre-
4%, em relação a 2017, passando de 1.431
valece na política brasileira: somente 6,5%
ocorrências para 1.489.
das áreas identificadas e certificadas fo-
ram tituladas.
As ocorrências dos conflitos específicos
por terra apresentaram um aumento ex-
Ronaldo dos Santos, da Coordenação Na-
pressivo a partir de 2016, já no período da
cional de Articulação das Comunidades
ruptura política (2015-2018). Enfim, os
Quilombolas (Conaq), avalia que:
recentes anos de 2016, 2017 e 2018 são
os que mais tiveram conflitos por terra no
“Conceitualmente, o decreto proporcio-
Brasil, como se pode notar na figura 06, a
nou avanços. Na prática, o decreto é só
um instrumento, ele depende da opera-
seguir.
ção da máquina estatal para que real-
mente se torne efetivo. E aí a gente en- Quanto às localidades onde ocorreram con-
tende que o racismo institucional ainda flitos por terra (figura 07), apesar da queda
impera”. do número de localidades em conflito em
2018 em relação ao ano anterior, 868 con-
A Fundação Cultural Palmares (FCP), ins- tra 882, em 2017, esse número mantém
5- http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-05/menos-de-7-das-areas-quilombolas-no-brasil-
-foram-tituladas e; 6-http://cpisp.org.br/direitosquilombolas/observatorio-terras-quilombolas/.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
elevada a tensão conflitiva que caracteriza Sudeste com 13,7% e a região Sul, com
o período de Ruptura Política (2015-2018), apenas 3,4% das localidades em conflito
cuja média é 858 conflitos por terra/ano18, por terra e água-terra no Brasil, conforme
conforme se pode verificar na figura 07. se vê na Tabela 03 e na figura 08.
tenso não são amazônicas: o Mato Grosso para compensar a queda dos preços e, ain-
do Sul e o Espírito Santo. da, pela necessidade de maior consumo de
água derivado do incremento da explora-
Quando calculamos o Índice de Intensida- ção de minérios com menor teor. Os ca-
de de Conflitos por Terra e Água-terra com sos envolvendo a Cia. Vale, em Mariana,
base na proporção de localidades em con- em 2015 e, recentemente, em 2019, em
flito comparada com a proporção de pes- Brumadinho, ambos em Minas Gerais, são
soas envolvidas em conflito (Índice 2), os trágicos exemplos dessa hipótese.
números surpreendem na medida que nos
indicam que há uma proporção maior de Afinal, as jazidas de ferro em Minas Gerais
localidades em conflito do que o número têm cerca de 40% de teor, enquanto em Ca-
de pessoas nelas envolvidas em todas as rajás, no Pará, o teor pode alcançar 66%.
regiões, exceto na região Norte. Nesse caso, Ou seja, para obter o mesmo resultado de
a região Centro-Oeste se destaca pelo seu produção, as minas da Vale em Minas Ge-
Índice mais elevado, de 2.66, seguido da rais produzem 1/3 a mais de rejeitos que
região Nordeste, índice 1.38, e pelas regi- em Carajás, tendo de retirar minério em
ões Sudeste, Índice 1.59 e pela região Sul, menor teor de um volume maior de rocha,
Índice 1.09. A única região que apresenta o que necessariamente implica maior con-
Índice abaixo de 1.0 é a região Norte, com sumo de água.
Índice 0.65.
As categorias sociais implicadas nos
Esses Índices nos sinalizam que há um conflitos por terra e/ou água
problema fundiário generalizado no país,
sendo que a região Norte, e como vimos, Entre as classes proprietárias que vêm
toda região da Amazônia Legal, apresenta protagonizando conflitos por terra envol-
uma maior proporção de pessoas em rela- vendo água se destacam as Mineradoras
ção às localidades em conflito, ao contrário implicadas em 135 localidades nesse tipo
das demais regiões. de conflito; os Empresários, em 74 locali-
dades e as empresas Hidrelétricas em 31
No país das águas em abundância explo- localidades. Portanto, as empresas Mine-
dem os conflitos envolvendo água radoras protagonizaram 50% das locali-
dades com conflitos por água-terra, sendo
Nos últimos anos muitos dos conflitos por que em 28 dessas localidades estavam im-
terra vêm envolvendo explicitamente uma plicadas Mineradoras Nacionais e, em 107
das suas principais qualidades metabóli- outras localidades as Mineradoras Inter-
cas, qual seja, a água. O número de loca- nacionais.
lidades implicadas em conflito que implica
água apresenta, desde 2005, um aumento Os Empresários protagonizaram ou-
exponencial: passou de 71 localidades re- tra parcela significativa dos conflitos por
gistradas para 276, em 2018, um aumento água-terra, estando implicados em 27,4%
de mais de 289%. O ano de 2018 apresen- das localidades que tiveram esse tipo de
tou um aumento de 40,1% em relação ao conflito, enquanto as empresas Hidrelétri-
ano anterior, conforme se verifica na figura cas estavam implicadas em outras 11,4%
09. Tudo indica que a queda no preço das das localidades e os Fazendeiros em 10%.
commoditties em função da crise de 2008
tenha contribuído para esses números te- O Governo e agentes públicos estiveram
rem aumentado tanto desde 2010, sobre- implicados em, pelo menos, três localida-
tudo pela busca de aumento da produção des em conflitos por água-terra, como na
103
Bahia, pela conivência com as grandes cia da economia brasileira das exportações
proprietárias na concessão de outorgas de commoditties agrícolas e minerais, des-
que ensejam conflitos entre, de um lado, de o Plano Real (1994), dependência essa
grandes usuários que usam a água para que se acentuou com o boom da primeira
fins de acumulação e, de noutro lado, usu- década dos anos 2000 e se acentuou, ain-
ários em que a água está destinada à re- da mais, no período da ruptura política,
produção da vida. esteja subjacente a esse aumento tanto
dos conflitos por terra, como dos conflitos
Já entre as categorias não-proprietárias ou pela água. Assim, os principais protago-
em posse de uso real das condições meta- nistas e suas práticas implicadas em con-
bólicas de produção/reprodução da vida e flitos por água-terra são: (1) Empresários e
mesmo pequenos proprietários implicadas Fazendeiros agronegociantes em sua ávida
em localidades em conflito por terra-água busca por terra-solo-fotossíntese e, con-
em 2018, o destaque absoluto ficou por sequentemente, por água com seus pivôs
conta das Outras Populações Tradicionais centrais, piscinões e outras técnicas para
(Ribeirinhos e Pescadores), implicadas em irrigação; (2) pelas Mineradoras protagoni-
80,5% das localidades com esse tipo de zando conflitos por terra-água para mine-
conflito, seguidos de longe pelos Assenta- rar o ferro, o manganês, o cobre, o ouro, o
dos, implicados em 5,9% das localidades, fosfato, a bauxita e outros minérios e sua
dos Pequenos Proprietários, em 5,2%, dos demanda não só por área para abrigar os
Quilombolas, em 3,3% das localidades e rejeitos e toda a logística necessária à ativi-
dos Indígenas e Atingidos por Barragem, dade mineira, mas sobretudo para separar
essas duas últimas categorias em 1,8% o minério propriamente dito dos rejeitos,
das localidades cada uma, e os Posseiros o que aumenta a demanda por água cada
em 1,5%. Em suma, o total das popula- vez que o teor de minério é menor; (3) pe-
ções tradicionais (Indígenas, Quilombolas, las Empresas Hidrelétricas protagonizan-
Posseiros e Outras Populações Tradicio- do conflitos por terra-água pela demanda
nais) estiveram implicadas em 87,1% das de imensas áreas de terra que são alaga-
localidades em conflitos por terra-água. das que, assim, ficam impedidas de serem
Tudo indica que o aumento da dependên- agricultadas e de produzir outra forma de
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
energia, qual seja, o alimento. Tanta terra, tanto conflito por terra ...
Assim, esses conflitos se dão (1) por inun- O ano de 2018 registra um acirramento
dações de áreas de comunidades ribei- dos conflitos por terra no Brasil. Com re-
rinhas e de pescadores por hidrelétricas lação à extensão de terras (hectares) em
que, assim, não só impedem o alimento disputa no território brasileiro, houve, de
advindo da pesca dessas populações tra- 2017 para 2018, um aumento da área em
dicionais, como também o cultivo das vár- disputa de 6,5%, com cerca de 39 milhões
e 425 mil hectares implicados em conflitos
zeas ocupadas tradicionalmente, (2) por
no campo, em 2018, contra 37 milhões e
poluição das águas por agrotóxicos e tam-
19 mil hectares, em 2017. Registre-se que
bém por rejeitos de barragens de grandes
a área de 39 milhões e 425 mil hectares
empresas mineradoras (Vale do Rio Doce e implicada em conflitos em 2018 corres-
a tragédia da Vale-Samarco em Mariana e ponde a 4,6% da área total do país, o que
adjacências em Minas Gerais, e da empre- dá a dimensão da importância da terra,
sa norueguesa Hydro Alunorte, em Bar- e tudo que nela está implicado, na atual
carena (PA)) e, ainda, (3) pelo uso intenso conjuntura brasileira. Permitam-nos fri-
de água pelo latifúndio empresarial mono- sar: em um só ano, cerca de 40 milhões de
cultor (agronegócio), como se viu no Oes- hectares, ou seja, 4,6% da área territorial
te baiano, em Correntina (BA), por exem- do país, estava sendo objeto de disputa.
plo, ou pela mineração que disputa água Não há a menor dúvida que há uma ques-
com populações tradicionais como se viu tão (de reforma) agrária em aberto.
em Angico dos Dias, município de Cam-
po Alegre de Lourdes e Caitité, também Observemos que o ano de 2015, que inau-
na Bahia. Nesses dois casos, foi notória a gura o período de ruptura política, viu a
ação de empresas de mineração em coni- extensão – área - em disputa em conflitos
vência com as autoridades (que deveriam no campo aumentar extraordinariamente
em 163%, em relação a 2014, passando de
ser) públicas.
8 milhões e 134 mil hectares em conflito
para 21 milhões e 387 mil hectares. Entre
do latim. Talvez, por isso, combatam com Famílias expulsas por região – Brasil
tanta ênfase as populações tradicionais, 2017-2018
os indígenas e os quilombolas com seus
tempos lentos, entendidos como preguiço-
sos e ociosos. Embora se viva o paradoxo
do time is money: afinal tempo pode ser
medido assim como o dinheiro e, assim,
se pode dizer que tempo é dinheiro. Já a
riqueza, como diz qualquer bom livro de
economia ou de boa filosofia, é aquilo que
Tabela 07. Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduino
se desfruta. Assim, se tempo é, ele mesmo, Elaboração: LEMTO-UFF
riqueza, a rapidez e a velocidade são um-
contrassenso. A geografia da violência das classes pro-
prietárias fica visível no mapa que segue
Foram registradas, em todo o período de abaixo que registra, na extensão territorial
2015-2018, um total 3.175 de ações vio- das mesorregiões, a intensidade dessa vio-
lentas protagonizadas pelo Poder Privado lência através das expulsões e ameaças de
e pelo Poder Público e/ou seus agentes, o
expulsão no período da ruptura política e,
que nos dá a média anual 795 (vide tabela
06). em círculos, registra as mesmas ocorrên-
cias de violência do Poder Privado no ano
de 2018. Queremos chamar a atenção do
Um dos registros que melhor capta as
leitor para amplitude de mesorregiões de
ações violentas das classes proprietárias
maior intensidade (mais escuras no mapa)
Categorias sociais implicadas nos conflitos por terra
Classes proprietárias e pseudo-proprietárias
Brasil: média 2015-2018 e 2018
Empresários Fazendeiros Grileiros Madeireiro Mineradoras Total
2015-18 190 357 120 61 67 795
2018 260 328 92 57 189 928
Variação % + 36,9% - 08,1% - 23,3% - 10,1% + 182% +16,%%
Tabela 06. Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduino/ Elaboração: LEMTO-UFF.
Fazendeiros (99 contra 108). Isso nos indi- 10.000 anos. Ignora-se que esses povos/
ca um intenso processo de tentativa de ex- comunidades/grupos sociais em posse
propriação de terras em posse real de uso real de uso tradicional pudesse viver a re-
de comunidades várias, de camponeses, gião sem saber pescar, sem saber coletar,
quilombolas e indígenas e avanço devas- sem saber caçar, sem saber cuidar dos
tador contra a floresta e campos de ocu- animais (pecuárias), sem saber cuidar das
pação rigorosamente milenar: a presença plantas e sem saber cultivar (agriculturas),
humana registrada na Amazônia brasileira sem saber se curar (medicinas), sem saber
remonta a 11.200 anos, em Monte Alegre, se proteger das intempéries (arquiteturas),
Pará. Sublinhemos que estamos diante de sem saber relacionar-se enquanto mulhe-
matrizes de racionalidades distintas entre, res e homens instituindo regras, enfim,
de um lado, grupos que se relacionam com sem saber, sem saberes, sem sabores.
a terra e tudo que nela está implicado en-
quanto metabolismo, é dizer, com terra-so- Destaquemos, ainda, o amplo predomí-
lo-água-biota/biocenose/fotossíntese en- nio das Mineradoras na região Sudeste,
quanto condição de produção/reprodução ainda por conta das inúmeras comunida-
da vida e, de outro lado, grupos/classes des ribeirinhas e de pescadores, além dos
sociais que veem a terra e tudo que nela pequenos proprietários, que ainda lutam
está implicado como recurso natural, é por sua dignidade em função dos efeitos
dizer, como todo recurso é um meio para do crime da Vale-Samarco-BHP Billiton no
um determinado fim e, no caso das clas- Vale do Rio Doce, caso Mariana.
ses que vêm protagonizando a ocupação
capitalista moderno-colonial da Amazônia, Tudo indica, até pelos recentes desdobra-
esse fim é ganhar dinheiro que, como equi- mentos de Brumadinho, que a empresa
valente geral, se abstrai da concretude da Vale abandonou definitivamente qualquer
riqueza da terra e tudo que nela está impli- relação de respeito à região do vale do rio
cado como condição metabólica, é dizer, de Doce e mesmo ao nome do rio que um dia
reprodução da vida. A fratura metabólica é lhe inspirou o nome: Cia Vale do rio Doce.
o efeito concreto dessa abstração, como se A empresa se alienou de qualquer relação
vê amplamente com a devastação de rios e com a própria realidade metabólica que
florestas, onde o ecocídio vem acompanha- um vale enseja com suas encostas, suas
do de etnocídio, quando não de genocídio matas e sua bacia hidrográfica, condições
e, pouco se diz, de epistemicídio porque metabólicas essas que, durante milhares
implica o olvido dos conhecimentos ances- de anos, os indígenas, como os Krenak,
trais que, como vimos, remonta a mais de por exemplo, e centenas de anos as comu-
111
nidades ribeirinhas e quilombolas, se rela- 112 localidades contra os Sem-Terra, em
cionaram enquanto suas condições de re- 38 contra os Assentados e em 8 outras
produção da vida se alimentando de seus localidades contra Pequenos Proprietá-
peixes, da fertilidade de suas várzeas e de rios.
suas matas, a Mata Atlântica, praticamen-
te toda desmatada para beneficiar os negó- 2- As Mineradoras, se envolveram em
conflitos por terra e/ou água em 188 lo-
cios e os negociantes da mineração, sobre-
calidades sendo que, em 156, contra Po-
tudo. A Vale, tudo indica, se abstraiu no pulações Tradicionais, ou seja, 83% do
valor de suas ações na bolsa e já não sabe total e, em 32 localidades, ou seja, em
o que é um vale enquanto condição me- 17%, contra outras categorias sociais em
tabólica da vida, daí o colapso ambiental, luta por terra e/ou água. Saliente-se a
a fratura metabólica que Mariana e Bru- voracidade com que as Mineradores se
madinho são trágicos e criminosos exem- envolvem em disputa por água: em 72,3%
plos21. das localidades em que as Mineradoras
protagonizaram conflitos, a água esteve
implicada diretamente, seja impedindo
É importante que se registre, ainda, que
o acesso à água às comunidades ribei-
todas as classes proprietárias e pseudo- rinhas, de pescadores e de vazanteiros,
-proprietárias que protagonizaram confli- seja poluindo as águas, seja pelo não-
tos em disputa por terra e água o tenham -cumprimento de procedimentos legais,
feito contra as Populações Tradicionais, como na maior parte dos conflitos ocorri-
predominantemente, conforme podemos dos em 2018 em Minas Gerais e Espírito
verificar: Santo, ainda pelos efeitos da criminosa
ação da Vale-Samarco-BHP Billiton no
1- Os Empresários22 e Fazendeiros, em vale do rio Doce.
423 localidades cometeram ações de vio-
lência em disputa por terra e/ou água Um gravíssimo caso de agressão à vida
sendo, em 72,8% das localidades em que e à dignidade dos povos tradicionais se
estiveram implicados o fizeram contra deu em Barcarena, Pará, provocado pela
Populações Tradicionais em uso real de maior empresa do mundo de explora-
suas condições metabólicas de produ- ção de bauxita/alumina (matéria-prima
ção/reprodução, a saber: Posseiro em para produção de alumínio): a empresa
145, Quilombola em 64, Indígenas em 51 norueguesa Hydro Alunorte. Sob investi-
e em 162 localidades contra Outras Po- gação desde 2017, a empresa é acusada
pulações Tradicionais. Em outras 27,2% de ter dutos irregulares e utilizá-los para
das localidades em que os Empresários despejar água contaminada no rio Pará,
e Fazendeiros cometeram alguma ação em Barcarena. A Hydro Alunorte foi alvo
violenta foram contra outras categorias de uma denúncia de que a região da refi-
sociais em luta por terra e/ou água: em naria estaria contaminada com água tó-
21 Devemos registrar as profundas implicações da submissão das diferentes atividades produtivas ao capital financeiro.
O capital financeiro opera com a fórmula geral D-D’ e, nesse sentido, se abstrai do mundo da riqueza concreta que, ne-
cessariamente, passa pelas condições materiais de produção/reprodução da vida no capitalismo D-M-D’, sendo que esse
M entre dois dinheiros implica a agricultura, a indústria e o conjunto das atividades extrativas. Sendo assim, os territó-
rios em suas dimensões mais profundas metabólicas e culturais ficam subordinados aos controladores dos rendimentos
das ações com seus tempos próprios de trimestres e valorizações anuais dos investidores. A busca de rendimentos cada
vez maiores medidos em dinheiro, equivalente geral, logo abstrato, implica o colapso das condições concretas metabólica
e culturais nos territórios. Nas palavras de Luiz Gonzaga Beluzzo: “Os representantes dos fundos exercem rígido controle
sobre os resultados financeiros e são, eles mesmos, controlados pela ditadura dos resultados trimestrais que informam
os analistas de mercado encarregados de classificar as ações das companhias listadas nas bolsas de valores. Nos anos
1960, um investidor carregava seu portfólio de ações por nove ou dez anos. Hoje, o prazo médio é um ano”. O título do
artigo de L. G. Beluzzo é “Brumadinho e o Capitalismo” foi publicado na Carta Capital em 20 de fevereiro de 2019 e con-
sultado em https://www.cartacapital.com.br/opiniao/brumadinho-e-o-capitalismo/
22 Inclui as empresas Hidrelétricas.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
24 Karl Marx, formado em Direito, dizia que o direito não tem história. Segundo ele, seriam os homens através de suas
relações sociais (e de poder) que criam o direito e não o contrário.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Estado tem forte componente patrimonia- níveis para os agronegociantes com o Pla-
lista, posto que capturado pelos interes- no Safra.
ses privados, particularmente dos grandes
proprietários de terra, os Donos do Poder Recentemente, a ganância dessas oli-
conforme a consagrada expressão do juris- garquias teve seu apetite aguçado pelas
ta Raimundo Faoro. O Plano Real (1994), grandes oportunidades de demanda de
por exemplo, colocou o estado a serviço dos matérias primas agrícolas e minerais do
grandes grupos financeiros submetendo a mercado mundial, o que tem alimentado
sociedade brasileira, sobretudo a grande o crescimento dos conflitos e da violência,
maioria que não pode especular com os tí- seja pela servidão voluntária de nossas eli-
tulos da dívida pública, às maiores taxas tes que procuram oferecer facilidades para
de juros do mundo, digna de agiotas, e os investimentos externos, sobretudo para
intermediando a favor dos interesses dos fundos de pensão atraídos para compra de
grandes exportadores de produtos primá- terras como ativos financeiros, como se viu
rios agropecuários e minerais, como a Lei na região do Matopiba.
Kandir25 e através de outros fortes subsí-
dios. Na região do Matopiba muitas dessas em-
presas estrangeiras vêm negociando dire-
Recentemente, em fevereiro de 2019, a tamente com grileiros, segundo Fábio Pitta,
atual Ministra da Agricultura, Tereza Cris- Pós-doutorando em Geografia Econômica
tina, cometeu o que bem merece o neolo- pela Universidade de São Paulo (USP) e
gismo de sincericídio, isto é, uma sincera pesquisador da Rede Social de Justiça e
declaração do que, em linguagem popular, Direitos Humanos. Dentre as 13 fazendas
se chama “mamar nas tetas do Estado”, ao compradas pela Tellus – empresa criada
criticar as ações do Ministro da Economia pelo TIAA-CRE, fundo de pensão privado
Paulo Guedes, de destinar o subsídio que criado para gerir as economias de profes-
hoje é direcionado para os grandes pro- sores universitários dos Estados Unidos -,
dutores, para fortalecer o seguro agrícola. estão as fazendas Ludmila e Laranjeiras,
Disse a Ministra: no município de Santa Filomena, Piauí e
as fazendas Sagitário e Marimbondo, na
Temos que ter muito cuidado porque es- cidade de Balsas e Alto Parnaíba, no Ma-
tamos falando de 20% do PIB, que é o ranhão.
agronegócio que faz. Como é que isso vai
se dar? Em quanto tempo isso vai acon-
O pesquisador assinala que estas áreas
tecer? É uma medida radical? Eu brinco
até que é um desmame. Você pode fazer
estão em locais de Chapada, “onde só ha-
o desmame radical e o controlado. Ainda viam terras devolutas”, e revela “casos de
está muito no campo das nossas ideias expropriação violenta em áreas onde sur-
de lá e de cá. As nossas equipes estão giram novas fazendas, algumas recente-
sentando agora para discutir26. mente adquiridas pela Radar S/A e pela
Tellus S/A. Essas fazendas foram negocia-
A Ministra se referia explicitamente aos das através de uma figura conhecida como
191 bilhões de reais (aproximadamente 50 ‘O Maior Grileiro de Terras da Região’ do
bilhões de dólares estadunidenses) dispo- sul do Maranhão e do Piauí”27.
25 A Lei Kandir, lei complementar nº 87/1996, isenta do tributo ICMS os produtos e serviços destinados à exportação.
A lei tem este nome em homenagem ao seu autor, o ex-deputado federal Antônio Kandir do PSDB.
26 ”Desmame de subsídios não pode ser radical”. Jornal O Estado de São Paulo, 11 de fevereiro de 2019. Consultar
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,desmame-de-subsidios-nao-pode-ser-radical-diz-ministra-da-agricura
27 Fundos de pensão estrangeiros grilam terras na região do Cerrado. Brasil de Fato. Belém (PA), 7 de feverei-
115
Para Maurício Correia, advogado da Asso- pulações tradicionais. O Grupo de In-
ciação dos Advogados dos Trabalhadores teligência Territorial Estratégica (Gite)
Rurais (AATR) da Bahia, há vários casos informa que existem 28 terras indígenas,
de grilagem de terras na região do oeste 42 unidades de conservação ambiental,
865 assentamentos rurais e 34 territó-
da Bahia. Um deles é referente à matrícu-
rios quilombolas; comunidades que es-
la 2280, registrada no cartório Santa Ma- tão sendo retiradas de seus territórios
ria da Vitória. Segundo ele, um casal de de onde produziam alimentos para a sua
advogados que atuava na região a mais subsistência para dá lugar a plantações
de 30 anos registrou em seu nome uma industriais destinadas à exportação.
área de mais de 150 mil hectares distri-
buídos em diferentes municípios da re- Assim, tal como vimos no caso da empresa
gião e, assim, “regularizou-a”, em outras mineradora norueguesa Hydro Service, em
palavras, grilou-a. O mesmo advogado Barcarena, no Pará, há uma enorme cum-
cita outro caso, o da fazenda Campo Lar- plicidade entre o estado e agentes (que de-
go, localizada na divisa entre os municí- veriam ser) públicos, com as velhas e com
pios de Mansidão, Cotegipe e Barra, em as novas oligarquias. Tudo indica que ja-
que a fazenda teria uma extensão de 130 gunços, coronéis e os grileiros agora têm
mil hectares. A Coordenação de Desenvol- CNPJ.
vimento Agrário (CDA) fez a mediação da
área e, por meio de uma ação discrimina-
tória, “constatou que a área foi grilada”. Os que sofrem/R-existem à violência do
Registre-se que o pretenso-proprietário poder privado e do poder público
dessa área, é a empresa Caracol Aguiar,
controlada por um Fundo de pensão dos Entre as categorias sociais implicadas,
professores universitários da Universi- entre 2015-2018, nos conflitos por terra
dade de Harvard nos EUA, o TIAA-CRE. enquanto classes Não-proprietárias ou em
posse real de uso das condições de pro-
Muitos investidores internacionais, inclu- dução/reprodução da vida cabe destacar
sive fundos de pensão, denunciados por o predomínio absoluto das populações tra-
comprarem terras griladas, vêm candida- dicionais, com 61,5% do total dessa cate-
mente se defendendo afirmando que seus goria implicada em conflito. Em seguida,
títulos são juridicamente bons, ignorando em importância estão os Sem-Terra, com a
que boa parte das terras no Brasil não são expressiva proporção de 31,8%, seguidos
recuperadas pelo Estado, conforme deter- pelos Assentados com 6,9% e os Pequenos
mina a lei, assim como são muitos os ca- Proprietários com 3,0%.
sos que vêm a público onde há cumplicida-
de de empresas ligadas a esses fundos de É interessante ressaltar que no subcon-
pensão que mantém relações com agentes junto das Populações Tradicionais, os Pos-
públicos que agem ao arrepio da lei. seiros correspondem a 39,7% do total, os
Indígenas a 23,1%, os Quilombolas a 18%
Mauricio Correia se referindo à região do e 19,2% correspondem às Outras Popu-
Matopiba assinala que: lações Tradicionais, a saber, Ribeirinhos,
Pescadores, Vazanteiros, Mulheres Que-
Esses territórios, porém, não são espa- bradeiras de Coco Babaçu, Catadoras de
ços vazios. Há décadas vivem neles po- Mangaba (Mangabeiras), Seringueiros, etc.
28 Dizemos r-existência para ressaltar que não se trata somente de resistir à ação do capital, quase sempre em coni-
vência com os governos/agentes (que deveriam ser) públicos, conforme os históricos dos conflitos registrados pela CVT
amplamente documentam, mas sim de lutas pela afirmação de modos de existência haja vista que estão em posse real
de uso de seus territórios. Nesses casos, esses modos de ser próprios lutam pela dignidade de seus modos de vida e, em
geral, para eles, a terra é condição da vida em reprodução cultural e metabólica, simbioticamente.
117
Categorias sociais implicadas nos conflitos por terra29
Classes não-proprietárias, em posse real de uso e pequenos-proprietárias
Brasil – 2015-2018 e 2018
Populações Sem Terra Assentados Pequenos Outros Total geral
Tradicionais Proprietrios30
Média Anual 509 289 63 29 2,7 934
2015-17
2018 801 178 71 27 3 1079
Variação % + 57,4% -38,4% + 12,7% - 06,9% -11,1% + 15,5%
Tabela 11. Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduino/ Elaboração: LEMTO-UFF.
29 Com base nas Localidades em Conflito por Terra e Terra-Água em 2018.
30 Inclui também Arrendatários e Parceleiros.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
6,5% e 2,5%. A predominância das Popu- vez mais, vista como território.
lações Tradicionais em relação aos Sem-
-Terra, aos Assentados e Pequenos Pro- Conclusões preliminares, como sempre
prietários implicados nas localidades em
conflito por terra e água-terra se reproduz O ano de 2018, sobretudo à medida que
em todas as regiões brasileiras, a saber: avançava o calendário eleitoral e crescia
a candidatura que elegeria o atual presi-
Na região Nordeste o conjunto de Popula- dente, foi explicitando o caráter contradi-
ções Tradicionais predominam com 82,9% tório da cordialidade do povo brasileiro,
das localidades contra 17,1% % das outras sobretudo a violência que o constitui31.
categorias de Sem-terra, Assentados e Pe- Na base dessa violência, o caráter de he-
quenos Proprietários; na região Sul 80% rói desbravador da conquista do territó-
contra 20%; na região Norte, 72,5% contra rio pelo poder que o Estado, a princípio,
27,5%; na região Centro-Oeste com 67,3% o colonizador português e, depois, o Esta-
contra 22,7% e, na região Sudeste com do brasileiro com a colonialidade herdada,
66,6% contra 33,3%. Em suma, as Popu- consagra ao domínio territorial. As sesma-
lações Tradicionais predominam com, no rias, origem do latifundiário, eram cedidas
mínimo, 2/3 do conjunto de categorias aos homens de cabedal e aos amigos do
sociais não-proprietárias e/ou em posse Rei, não só para que ganhassem dinhei-
real de uso das condições metabólicas de ro como brasileiros32, mas também para
produção/reprodução da vida e pequenos que cumprissem uma função do Estado,
proprietários (Ver Tabela 12). qual seja, a conquista territorial. Enfim,
enquanto ganhavam dinheiro eram heróis
Considerando: (1) que a violência protago- da conquista territorial. Essa linha difusa
nizada pelos Empresários e Mineradoras, entre o poder privado e o poder público,
categorias que tanto se destacaram entre entre o poder de facto e poder de jure, es-
as classes proprietárias e pseudo-pro- trutura nossas relações sociais e de poder.
prietárias desde 2015 e, em particular em Mais tarde, com o Código Civil de 1832, o
2018; (2) que a relevância das populações poder de fazer justiça será objeto de com-
tradicionais entre as categorias não pro- pra e venda e, portanto, acessível a quem
prietárias e/ou em posse real de uso das pode pagar numa sociedade escravocrata:
condições metabólicas de produção/re- os latifundiários e comerciantes. Daí nas-
produção da vida; (3) a expressiva exten- cerá o fenômeno do coronelismo em que
são de terras em disputa e; (4) o aumento o poder de jure é exercido pelo poder de
exponencial dos conflitos por terra envol- facto, isto é, pelos potentados latifundiá-
vendo água nos indicam claramente que rios, os “coronéis”. Ainda hoje, o símbolo
estamos diante de um violento processo da Política Militar do Rio de Janeiro apre-
expropriatório protagonizado pelo grande senta um ramo de café e outro de cana em
capital agrário, minerário e financeiro e de armas, a serviço do poder ali representado
r-existências de múltiplos grupos/classes pela Coroa Real. Enfim, o poder privado
sociais em luta pela vida e pela terra, cada do café e da cana indica que a defesa da
31 A expressão cordial não indica, ao contrário do que se pensa, apenas bons modos e gentileza. Cordial vem do radical
latino cordis, relativo a coração e, como tal, também capaz de atos violentos movidos pela emoção. Fernandes, Claudio.
O Homem Cordial na Formação do Brasil. In História do Brasil. Consultar https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/his-
toriadobrasil/o-homem-cordial-na-formacao-brasil.htm.
32 Brasileiro, no período colonial, era o nome que se dava aos que viviam de explorar o Brasil. É sugestivo que entre
os adjetivos pátrios relativos a quem nasce no Brasil tenha prevalecido brasileiro, quando estão dicionarizados também
brasilense, brasiliano e brasilês. Aliás, poucos são os adjetivos pátrios derivados em eiro. Parece que explorar o Brasil
bem expresse o olhar dominante da classe dominante bem brasileira.
119
propriedade está acima da defesa da vida. los discursos trazidos por Bolsonaro33. As
Talvez isso nos esclareça a violência ins- discussões sobre a Lei Antiterrorismo, que
crita na nossa sociedade e não só nas suas têm como possibilidade a criminalização
polícias, embora essa seja conhecida como de ações de movimentos sociais, passam
uma das que mais mata no mundo. Dian- a andar junto com os diversos discursos
te de tanta violência estruturante vinda da públicos onde Bolsonaro fala abertamente
própria sociedade não se tem, na verdade, que os militantes do MST e MTST “são to-
hegemonia, pois se tem menos persuasão dos terroristas”.
que dominação, o que, talvez, nos expli-
que porque da necessidade permanente de Os efeitos práticos não tardaram, como
pacificadores, desde o Duque de Caxias, se viu no Acampamento Hugo Chávez,
patrono do exército brasileiro e conhecido em Marabá. Ali, o ainda pré-candidato à
como Pacificador, até as UPPs – Unidades presidência fez um discurso na curva do
de Polícia Pacificadora. A serem pacifica- ‘S’, em Eldorado dos Carajás, na região
dos, os índios, os quilombolas, os campo- Sudeste do Pará, onde em 1996 ocorreu
neses (vide Canudos e do Contestado) e o maior massacre da história recente do
os pobres das periferias urbanas. Talvez país, onde defendeu os policiais presos,
o que estejamos assistindo, hoje, nos faça acusados daquele crime, afirmando que
lembrar a boutade atribuída a Caetano Ve- eles estavam apenas fazendo seu trabalho
loso quando, em plena ditadura empresa- e se defendendo dos militantes. Disse tam-
rial-militar (1964 e 1985), afirmara que a bém que quem deveria estar preso eram os
ditadura seria uma expressão autêntica da militantes do MST. Duas semanas depois,
cultura dominante na sociedade brasilei- o Acampamento Hugo Chávez, na mesma
ra. À época, a afirmação causara espanto, região, sofreu um atentado cometido por
mas o movimento que hoje se mostra nas pistoleiros, no qual há indícios de envolvi-
ruas através do bolsonarismo talvez esteja mento da polícia. Mesmo com a denúncia
a nos obrigar a enfrentar as contradições feita pela direção do Movimento à Delega-
mais profundas da sociedade brasileira cia de Conflitos Agrários (DECA), o coman-
sem que nos enganemos a nós mesmos dante responsável se recusou a agir, ale-
quanto ao nosso caráter. gando que ordens superiores os proibiam
de interferir “mesmo que houvesse uma
À medida que um discurso de ódio afir- carnificina”.
mava a candidatura que viria se tornar
vitoriosa na campanha a presidente da Enfim, há uma grande tensão conflitiva de-
República, cresce o número de conflitos rivada da expansão/invasão do capital em
em que os que protagonizam a violência o suas diversas frações – minerária, agro-
faziam invocando o nome de Bolsonaro. A pecuária, empreiteiros/estradas/energia-
violência que já era aceita por boa parte -hidrelétrica-solar-eólica – sob o manto
das instituições e respaldada pelo poder do capital financeiro contra os grupos/
público, no que tange impunidade e favo- classes sociais que r-existem em suas ter-
recimento de latifundiários, grileiros e ou- ras/territórios tradicionalmente ocupados
tros empresários, passa a ser incitada pe- ou como trabalhadores rurais sem-terra
33 Eis algumas frases de Jair Bolsonaro nesse sentido. (1) “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”, disse em comício
no dia 1º de setembro em Rio Branco. Logo depois, sua assessoria declarou que “foi uma brincadeira, como sempre”. (2)
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, disse Bolsonaro na sessão da Câ-
mara quando do impeachment de Dilma Rousseff, dedicando seu voto ao coronel Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Co-
di, serviço de inteligência e repressão, durante a ditadura militar, acusado de cometer pelo menos seis assassinatos sob
tortura. (3) “O erro da ditadura foi torturar e não matar” (entrevista à rádio Jovem Pan, junho de 2016). Fonte: https://
exame.abril.com.br/brasil/frases-polemicas-do-candidato-jair-bolsonaro/.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
em luta por um pedaço de terra para uma ço das commoditties agrícolas e minerais
vida digna. Essa tensão conflitiva é atra- depois da crise de 2008 e, sobretudo pela
vessada por violências que visam, sobre- queda do crescimento da economia chine-
tudo, expropriar grupos/classes sociais sa dos dois dígitos para algo em torno de
que tradicionalmente ocupam o território. 7%. No plano nacional, mas amplamente
E, mais, essa violência que, aparentemen- articulado com o plano internacional, a
te se naturaliza como cultura, precisa ser ligação entre a ruptura política pós-2015
enfrentada não só através de instrumen- e o aumento dos conflitos e da violência
tos legais e formais, mas enfrentando as protagonizado pelo Poder Público e pelo
condições materiais em que se funda, em Poder Privado, se deve à centralidade que
que a concentração fundiária cumpre um o bloco de poder fundado no capital finan-
papel estruturante nesse sentido34. ceiro e nos capitais de exportação de bens
primários agrícolas e minerais adquire no
Os dados analisados até aqui nos permi- país, particularmente, no novo ciclo de
tem afirmar a tese que o processo de rup- acumulação que se inaugura com o Plano
tura política iniciado em 2015, em que a Real (1964), que levou à reprimarização da
Frente Parlamentar Agropecuária, a Ban- nossa pauta de exportações e, ainda, viu
cada Ruralista, teve um papel protagônico, cair a contribuição do setor secundário in-
não foi um processo que se deu exclusi- dustrial no PIB de cerca de 26%, em 1994,
vamente na esfera da representação polí- para menos de 10% nos dias atuais. Acres-
tica e da superestrutura do Estado, mas cente-se a continuidade da política finan-
também um processo violento que vem se ceira e de exportação de produtos agríco-
dando no território onde se acirra a luta las e minerais que caracterizaram todos os
pela apropriação das condições metabóli- governos desde FHC, sem exceção35.
cas de reprodução da vida entre, de um
lado, grande parte dos grupos/classes so- A tese que esse artigo analisou tem como
ciais que tradicionalmente ocupam esses base o que os dados sobre os conflitos des-
territórios e, de outro lado, as oligarquias de 2015 a 2018 sinalizam, qual seja, a ne-
latifundiárias agrárias e minerárias sob o cessidade de aumentar a produção para
manto do capital financeiro, sobretudo de- continuar acumulando diante da queda de
pois do Plano Real. Assim, aquilo que para preços das commoditties. É isso que está
uns é visto como condição necessária para subjacente a esse aumento da violência
a produção/reprodução da vida, para ou- que se abate contra os camponeses e as
tros, essas mesmas condições são vistas populações tradicionais, entre elas indíge-
como recursos, enfim, meios para a acu- nas e quilombolas, que veem seus territó-
mulação de capital. rios sendo objeto de invasão pela expansão
capitalista do agrohidronegócio, da mine-
Talvez, o elo que nos ajude a entender a li- ração, da exploração de energia, inclusive
gação entre a ruptura política e o aumento a solar e eólica. Como se vê, é todo o meta-
dos conflitos e da violência protagonizadas bolismo da vida que está implicado, o que
pelo poder público e pelo poder privado, no exige uma ampliação do conceito de terra,
plano internacional seja a queda no pre- haja vista que implica o solo, o subsolo, a
34 A relação entre regimes políticos e a estrutura fundiária já havia sido percebida por Barrington Moore. Consultar
MOORE, Jr. Barrington. As origens sociais da ditadura e da democracia. Editora Martins Fontes. São Paulo, 1983.
35 Basta ver a continuidade do tucano Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston nos governos Lula e do
ilegítimo Temer e, ainda, a presença de lideranças políticas do agronegócio nos governos do PT: Roberto Rodrigues, ex-
-presidente da ABAG – Associação Brasileira de Agrobusiness – Ministro da Agricultura e Luiz Fernando Furlan, Presi-
dente da Sadia, Ministro da Indústria e Comércio, ambos no governo Lula da Silva, e Kátia Abreu, conhecida como Miss
Motosserra, como Ministra da Agricultura de Dilma Rousseff.
121
água, o sol (fotossíntese e energia), a flora 6 - Manual para Defender os Direi-
e a fauna. Acreditamos que os dados ana- tos dos Povos Indígenas e Tradicionais
lisados corroboram amplamente essa tese. Realização Fundação para o Devido Pro-
cesso DPLF. http://www.dplf.org/sites/
default/files/povos_indigenas_web_c.pdf
Tudo indica que o caráter antirreforma
agrária, anti-indígena, anti-quilombolas,
Referências
anti-populações tradicionais e anti-popu-
lações das periferias urbanas que já vi- ALENTEJANO, P. R. R. A política Agrária do
governo Temer: a pá de cal na agonizante re-
nha se delineando desde o governo FHC
forma agrária brasileira? Revista OKARA: Geo-
se acentua com o processo de ruptura grafia em debate, v.12, n.2, 2018. ISSN: 1982-
política posto em prática desde 2015 pe- 3878 João Pessoa, PB, DGEOC/CCEN/UFPB
las classes dominantes. A eleição de Jair – http://www.okara.ufpb.br
Messias Bolsonaro consagra e radicaliza Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
essa agenda política liberal-conservadora (APIB) - http://apib.info/
que se explicitou com a ruptura de 2015 MOORE, Jr. Barrington. As origens sociais
emprestando-lhes a legitimidade do voto da ditadura e da democracia. Editora Martins
popular, para o que foi fundamental o im- Fontes. São Paulo, 1983.
peachment preventivo de Lula da Silva e, De olho nos ruralistas: Observatório do agro-
como pode ser visto pelas mudanças insti- negócio no Brasil - https://deolhonosruralis-
tucionais que vem sendo postas em práti- tas.com.br/
ca desde a eleição do novo governo e suas Comissão Pastoral da Terra (CPT) - https://
primeiras medidas. www.cptnacional.org.br/
Conselho Indigenista Missionário (CIMI) - ht-
Publicações tps://cimi.org.br/
1- Dossiê Michel Temer e a Questão Agrária – Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) -
Revista Okara. Universidade Federal da Paraí- http://fama2018.org/
ba. Volume 12. Número 2.
Instituto Socioambiental (ISA) - https://www.
2- Conflitos no Campo Brasil 2017 – Comissão socioambiental.org/pt-br
Pastoral da Terra (CPT - Nacional).
LEITE, A. Z; CASTRO, L. F. P; SAUER, S. A
3- “Lista Suja” do Trabalho Escravo - Ca- questão agrária no momento político brasilei-
dastro de Empregadores, que submeteram ro: liberalização e mercantilização da terra no
trabalhadores a condições análogas às de estado mínimo de Temer. Revista OKARA:
escravo - http://olma.org.br/wp-content/ Geografia em debate, v.12, n.2, p. 247-274,
uploads/2018/11/cadastro-de-empregadores- 2018. ISSN: 1982-3878 João Pessoa, PB, DGE-
-publicacao-semestral-ordinaria-detrae-outu- OC/CCEN/UFPB – http://www.okara.ufpb.br
bro-2018.pdf
MALHEIRO, Bruno Cezar, MICHELOTTI, Fer-
4 - Imobiliárias agrícolas transnacionais e a es-
nando e PORTO-GONÇALVES, Carlos Wal-
peculação com terras na região do MATOPIBA.
ter. Mais Além da Conjuntura: por outros
Realização: Rede Social de Justiça e Direitos
horizontes de sentido. 2019. No prelo.
Humanos. Apoio: GRAIN, CPT, Development
and Peace, Aidenviroment, FIAN. https:// Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
www.farmlandgrab.org/uploads/attachment/ Terra (MST) - http://www.mst.org.br/
MATOPIBA.pdf TEIXEIRA, Gerson. 2019. Censo Agropecuá-
5 - Dossiê: violações aos territórios tradicio- rio Desautoriza Pesquisa da Embrapa sobre a
nais e crimes contra as águas. Realização: Co- Preservação da Vegetação Nativa nos Imóveis
missão dos Povos Originários e Comunidades Rurais. Articulação Nacional de Agroecolo-
Tradicionais (PCTS) – FAMA /2018. https:// gia, Brasília. In: http://www.agroecologia.org.
pt.scribd.com/document/374527485/Dossie- br/2019/01/14/censo-agropecuario-desauto-
-Aguas-Fama20mar2018-Versao-Final-Sandra riza-pesquisa-da-embrapa-sobre-a-preser.pdf
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Centro-Oeste
DF 1 200 1 75 2 275
GO 6 1801 1 200 1 8 1851
MS 26 2075 7 625 3 480 36 2755
MT 39 5154 5 610 3 474 47 5454
Subtotal: 72 9230 14 1510 7 954 93 10335
Nordeste
AL 5 310 5 310
BA 87 9759 25 2780 112 11009
CE 11 2325 3 380 1 30 15 2595
MA 196 16154 3 162 199 16154
PB 11 1616 3 510 14 1866
PE 58 4420 16 2201 74 6061
PI 21 639 4 477 25 1036
RN 2 150 2 150
SE 5 5 10
Subtotal: 396 35373 59 6510 1 30 456 39181
Norte
AC 55 4865 4 522 59 4994
AM 44 6886 44 6886
AP 46 1285 1 20 47 1285
PA 114 25547 5 980 2 460 121 25547
RO 57 4971 8 1505 1 35 66 4997
RR 17 8556 17 8556
TO 34 1574 3 115 1 18 38 1574
Subtotal: 367 53684 21 3142 4 513 392 53839
Sudeste
ES 3 300 2 300 5 300
MG 47 3312 10 1394 2 120 59 3886
RJ 10 528 1 200 11 528
SP 27 3328 27 3750 2 989 56 5015
Subtotal: 87 7468 40 5644 4 1109 131 9729
Sul
PR 16 2487 1 14 17 2487
RS 7 107 4 158 11 170
SC 19 1689 4 770 1 180 24 2339
Subtotal: 42 4283 9 942 1 180 52 4996
* Os dados da primeira coluna, denominada conflitos por terra, referem-se à soma das ocorrências em que as famílias
foram despejadas, expulsas, ameaçadas de despejo ou expulsão, tiveram seus bens destruídos ou sofreram ações de
pistolagem.
123
3 Grito dos Posseiros de Anapu, divulgado pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Anapu, em Setembro de
2004.
125
rio Público Federal e a Polícia Federal, foi Esperança, Fevereiro,2019)
identificada uma organização criminosa
envolvendo políticos do estado, que frau- No PDS Esperança, as famílias dedicam-
dava projetos da SUDAM, grilava terras -se ao cultivo de cacau e açaí consorciado
públicas, falsificava documentos e desvia- com urucum, pimenta, mandioca, lavoura
va recursos para campanhas eleitorais. branca e árvores frutíferas nos lotes indi-
Regivaldo Pereira Galvão, que controlava a viduais, e decidiram não assumir manejo
caixa da quadrilha, atuava principalmente florestal na reserva, mas preservá-la in-
em Anapu, onde havia 15 projetos aprova- tacta. No PDS Virola-Jatobá, as famílias
dos pela SUDAM. assentadas realizam plantio de mandioca,
caju, maracujá, abacaxi, pimenta, café e
Resistência dos Projetos de Desenvolvi- lavoura branca, nos lotes individuais. Nos
mento Sustentável sob risco primeiros tempos, o PDS Virola fez experi-
ência de manejo florestal, promovida pela
Em dezembro de 2002, as Glebas Bacajá ASSEFA, grupo de técnicos que a Dorothy
e Belo Monte foram destinadas à criação ajudou a formar, e mais tarde assumida
de dois PDSs, hoje conhecidos como Es- por uma empresa madeireira até 2016,
perança e Virola-Jatobá. De acordo com a quando a EMBRAPA assumiu a orientação
Portaria INCRA/P/Nº 477, de 1999, que técnica.
definia como um Projeto de Desenvolvi-
mento Sustentável, PDS, dois elementos “Perder a vida tá fácil demais”
distintos dos projetos de assentamento
convencionais, por ser “de interesse social Frente à proposta e à consolidação dos
e ecológico, destinada às populações que PDS em Anapu, o assédio às famílias come-
baseiam sua subsistência no extrativismo, çou a se tornar constante. Tanto por parte
na agricultura familiar e em outras ativida- dos madeireiros, interessados na madeira
des de baixo impacto ambiental”(Art. 1º); contida nas áreas de preservação, quanto
“mediante concessão de uso, em regime pelos empresários, fazendeiros e grileiros,
comunal, segundo a forma decidida pelas que têm/tinham interesse em se apropriar
comunidades concessionárias”(Art. 2º). das áreas. Ao contexto que já era por si
só conflituoso, se somou a escassa presen-
Vale lembrar que nos PDS 80% da área to- ça dos órgãos públicos, que além de não
tal é destinada à reserva legal, via cessão impedirem a ação dos grupos antagônicos
de uso em regime comunal, enquanto os aos PDS, deixaram as famílias assentadas
20% às famílias assentadas. A produção mais vulneráveis diante dos ataques às
extrativista “para quem não tem ganância” áreas de preservação.
pensa a relação duradoura com o territó-
rio, um tipo de exploração que permite a Assim, cresceu a insegurança fundiária
subsistência por gerações. entre as famílias. Muitas delas, por se sen-
tirem ameaçadas, abandonaram os lotes, e
“[o PDS] representa a preservação da Ama- diversos assentados por insistirem no mo-
zônia completa. Quem preserva tem, com delo de desenvolvimento sustentável pro-
economia. Um sistema de economia da posto e por não aceitarem as imposições
mata, que é sustentável, sustentar a mata
e sustentar a nós com produção. A luta não
dos que se declaravam donos de áreas em
acabou, porque enquanto existir as pesso- disputa, pagaram com a própria vida sua
as que têm amor pela preservação, elas [es- resistência. Foram executados. Foi assim
sas pessoas] não deixam ninguém invadir com a Dorothy, em 2005, no lote 55 do
o que é dele.” (Agricultor assentado no PDS PDS Esperança, e com outras 19 pessoas
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Água
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
1 Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor da Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ). Integrante do Grupo Integrante do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS).
E-mail: luizjardim.ffp@gmail.com.
2 Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor na Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Integrante do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS). O autor agradece a CAPES e
FAPEG pela bolsa de pós-doutorado. E-mail: ricardo.goncalves@ueg.br
135
tência comunitária. Isso colabora para que biu, em valores nominais, de R$ 160 mi-
a mineração se torne uma atividade não lhões para R$ 2,38 bilhões entre 2001 e
olvidada pelo debate que reflete os confli- 2011 (ANM, 2017).
tos que palmilham o espaço agrário brasi-
leiro. Diante desse quadro cresceu a importân-
cia política e econômica do setor mineral
Os primeiros anos do século XXI represen- e das empresas mineradoras na sociedade
taram um período de crescente expansão brasileira, influenciando políticas de go-
do setor extrativo mineral e agropecuário verno. Assim, os efeitos espaciais da mine-
na América Latina. Com isso, terra, ener- ração incrementam e tornam-se indissoci-
gia, água, minérios, alimentos e espaço áveis dos problemas que afetam o espaço
territorial se tornaram mercadorias nego- agrário brasileiro. Além de representar no-
ciadas no comércio internacional, O boom vas dinâmicas espaciais locais e regionais,
das commodities minerais com alta de pre- a mineração se soma ao conjunto da esca-
ços dos minérios no mercado global e as lada de violências e conflitos agrários. Nes-
demandas de países emergentes, como a te sentido, Gonçalves (2016) defende que
China, impactaram o comportamento de além da água e da terra, o subsolo compõe
empresas, governos e sociedades, com os territórios em disputa e deve ser levado
graves implicações agrárias, ambientais e em consideração para entender a questão
territoriais3. agrária brasileira contemporânea.
Entre 2003 e abril de 2012 foram encami- A apropriação dos recursos do subsolo am-
nhados aproximadamente 182.463 reque- plia as pressões sobre os territórios, atra-
rimentos de pesquisa à Agência Nacional vés de práticas características de conflitos
de Mineração (ANM), antigo Departamen- agrários como compra ilegal de terras em
to Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), áreas de assentamento, grilagem, ameaças
sendo 136.718 autorizadas, 74,93% do de morte, pressão psicológica, persegui-
total. Ainda, houve 2.946 concessões de ções, assassinatos etc. (BEDINELLI, 2016).
lavra e 1.299 permissões de lavra garim- Somam-se a isso, as ações do Estado no
peira aprovadas pelo Ministério de Minas sentido de servir aos interesses do capital
e Energia (MME) no mesmo período (SAN- mineral nacional e estrangeiro (como leis,
TOS, 2012). Isto implicou na intensificação projetos de lei, medidas provisórias, uso de
da mineração em regiões tradicionais e na força policial, prisões de indígenas, cam-
expansão do controle e disputa pelo sub- poneses, quilombolas, posseiros e outros
solo brasileiro. Destaca-se ainda que as grupos). Não se pode deixar de mencionar
operações minerais, que em 2004 eram da a violência provocada por desastres e im-
ordem de 20 bilhões de reais, em 2011 su- pactos ambientais de diferentes escalas,
peraram R$ 85 bilhões (MALERBA, 2015). que levam a mortes ou a lesões e ferimen-
À vista disto, a exportação brasileira de tos graves de um sem número de pessoas.
minério significava 6,8% da pauta expor- Também não se podem omitir os efeitos
tadora em 2000, uma década depois, em cotidianos sobre a saúde das pessoas da
2011, elevou-se para 17,6%. Por sua vez, poluição gerada pela atividade minerária
a arrecadação da Compensação Financei- que, em muitos casos, levam lentamente à
ra pela Exploração de Recursos Minerais impossibilidade de trabalhar e até à morte.
(CFEM) - os royalties da mineração - su- Unidades de conservação, áreas de fron-
3 O boom das commodities minerais entre os anos 2002 e 2011 caracterizou-se pela crescente elevação do preço de
diversos minérios no mercado mundial, especialmente diante da elevada demanda de países emergentes como a China
(WANDERLEY, 2017).
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
teira, rios e lagos, terras indígenas, territó- foram pelo menos 203.430 famílias envol-
rios quilombolas, terras tradicionalmente vidas nesses conflitos. São sujeitos que de-
ocupadas, comunidades camponesas e as- pendem das águas, das florestas e da terra
sentamentos de reforma agrária metamor- para reproduzir socialmente sua própria
foseiam-se em territórios em disputa pela existência com dignidade.
ação de mineradoras. Os dados compila-
dos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) A mineração foi responsável por 579 casos
revelam que entre 2004 e 2018 diferentes dos conflitos envolvendo a água (51,6% do
sujeitos que vivem e trabalham em territó- total de conflitos por agua), por 535 dos
rios onde se desenvolvem atividades mine- casos de conflitos por terra (47,6% do total
rárias estiveram envolvidos em situações dos conflitos), e 9 casos implicando vítimas
de conflito. (Gráfico 1). de violência (0,8%). Portanto, o modelo de
mineração no Brasil representa a ameaça
Diante do total de 1.123 conflitos envol- de fratura sistemática da base material e
vendo a mineração no Brasil, os ribeiri- imaterial das vidas das famílias que vivem
Gráfico 1 – Sujeitos atingidos pelos conflitos envolvendo a mineração no Brasil - 2004 a 2018 (%).
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (CPT, 2018). Elaboração: os autores.
nhos estiveram envolvidos em 221 casos nos espaços dominados pela atividade mi-
(19,7%); pequenos proprietários em 194 nerária, assim como promove amputações
(17,3%); posseiros em 174 (15,5%); qui- ecológicas (GUDYNAS, 2015). Fica patente
lombolas em 117 (10,4%); pescadores em a conexão entre questão agrária e mine-
97; geraizeiros em 96; assentados em 67; ração diante das reconfigurações da luta
indígenas em 66; sem terra em 30; campo- pela terra, água e território no momento
neses de fundo de pasto em 24 e por fim, em que a “disputa pelo subsolo” (GONÇAL-
os demais casos somaram 37. Ademais, VES, 2016) se acirra com o avanço da ex-
137
ploração mineral no país. neração no país, entre 2004-2018. Deve-se
lembrar que o território mineiro historica-
A expansão acelerada dos projetos extra- mente é onde a mineração vem apresen-
tivos no Brasil - com minas a céu aberto, tando maior valor produzido e por conse-
barragens de rejeitos, duplicação de fer- quência o que mais vem sofrendo com a
rovias, minerodutos, estradas, indústrias exploração mineral. Em seguida, destaca-
de transformação e terminais portuários -se a Bahia, com 217 conflitos, totalizando
- ampliou também o número de conflitos 19% dos casos registrados; o Maranhão
entre 2004 e 2018, com implicações em comparece com 168 casos, 15% do total;
diversos estados das regiões brasileiras. o Pará, com 105 conflitos, 9% do total; Es-
(Gráfico 2). pírito Santo compareceu na lista com 67
conflitos catalogados, o que representou
A análise do gráfico 2 revela a agudização 6%. Ademais, a distribuição geográfica dos
dos conflitos após 2010, com aumento de conflitos envolvendo a mineração nas dis-
casos especialmente nos estados de Minas tintas regiões brasileiras demonstra que
Gerais, Pará, Maranhão e Espírito Santo, Nordeste e Sudeste se destacam, sendo a
Gráfico 2 - Evolução dos conflitos envolvendo a mineração no Brasil – 2004 a 2018. Fonte: Comis-
são Pastoral da Terra (CPT, 2018). Elaboração: os autores.
que se caracterizam como importantes ter- primeira responsável por 39,7% dos ca-
ritórios de exploração e explotação mineral sos compilados, e a segunda por 39,4%.
ou de infraestruturas conexas à minera- Em seguida, a região Norte é realçada com
ção, como ferrovias, rodovias, minerodutos 19,5% dos conflitos. Em todas as regiões
e portos. Apenas Minas Gerais, com um to- do país os impactos e conflitos recaem so-
tal de 340 casos registrados, foi responsá- bre espaços ocupados predominantemente
vel por 30% dos conflitos envolvendo a mi- por grupos excluídos e pobres, em especial
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
4 Outro exemplo que também contribui para se compreender que os conflitos envolvendo a mineração não se reduzem
à mina e seu entorno é o Projeto Minas-Rio da Anglo American, que interliga a área de extração em Conceição do Mato
Dentro - MG ao porto do Açu, em São João da Barra - RJ por meio de um mineroduto de 530 km, que atravessa 32
municípios (SANTOS; MILANEZ, 2015).
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
cular. A forma de operar das empresas de sos sistematizados pela CPT, ou aproxi-
extrativismo mineral impõe um modo vio- madamente, 4,8% dos conflitos ligados à
Gráfico 3 – Empresas causadoras de conflitos no território brasileiro – 2004 a 2018. Fonte: Co-
missão Pastoral da Terra (CPT, 2018). Elaboração: os autores.
lento de atuar nos territórios. (Gráfico 3). extração mineral no Brasil. A condição de
As empresas que mais compareceram extrema pobreza, aliada à ganância por
como causadoras de conflitos envolvendo encontrar um veio rico em ouro, diamante
a mineração no território brasileiro foram ou outra pedra preciosa, levam diversos in-
a Samarco-Vale-BHP Billiton, presente divíduos a desrespeitar limites territoriais
em 283 casos (25%); a Vale, em 146 ca- preestabelecidos como Terras Indígenas,
sos (13%); a Bamin, em 99 casos (9%); a Unidades de Conservação, propriedades
Anglo American em 85 casos (8%); a Lipa- privadas, áreas de concessão minerária
ri Mineração, em 24 casos; a INB, em 19 etc. Os garimpos, legais ou ilegais, são
casos; a Mineração Amapari, em 19 casos conduzidos por agentes econômicos de pe-
e a Kinross, em 18 casos. No entanto, ao queno e médio porte.
considerar o fato de que a Samarco Mine-
ração S.A., é uma joint venture da Vale S.A. Os estragos no ambiente e conflitos ge-
e da BHP Billiton, constata-se que a Vale rados são proporcionais ao tamanho, à
aparece em 428 situações de conflitos, o capacidade de extração e ao valor do in-
equivalente a 38,1% dos casos compilados vestimento. Ainda assim, os garimpeiros
pela CPT, o que mostra o grau de violência também são afetados pela instalação de
provocado pela maior mineradora do país. minas de empresas mineradoras. Ao con-
trário dos povos do campo que não dispu-
O garimpo também é um fator gerador de tam o minério com as grandes corpora-
conflitos sociais e compareceu em 54 ca- ções, os garimpeiros lutam pelo direito à
141
exploração dos recursos minerais. (2013) e Gonçalves (2016).
ritmos de explotação dos minérios, criar povos da terra e das florestas. Logo, para
áreas livres de mineração, fortalecer os ór- que o modelo de mineração depredador no
gãos de fiscalização e monitoramento da país seja radicalmente mudado é impres-
atividade, eliminar a influência parasitária cindível a organização da sociedade sem
das mineradoras dentro do Estado, certi- que ocorram outros desastres como os
ficar a segurança e saúde dos trabalha- rompimentos de barragens em Mariana/
dores, respeitar os direitos tradicionais de MG e Brumadinho/MG.
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Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Centro-Oeste
DF
GO 2 18
MS
MT 3 264
Subtotal: 5 282
Nordeste
AL
BA 65 20187
CE
MA
PB 2 325
PE 2 50
PI 9 101
RN
SE 55 2497
Subtotal: 133 23160
Norte
AC
AM 1 100
AP 3 520
PA 37 36692
RO 11 6743
RR
TO
Subtotal: 52 44055
Sudeste
ES 20 2274
MG 65 3222
RJ
SP
Subtotal: 85 5496
Sul
PR
RS
SC 1 700
Subtotal: 1 700
1 Nossos agradecimentos a Cássia Regina da Silva Luz do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino-CEDOC pelo
envio dos dados e diálogo nas suas interpretações, e a minha filha Malu Oliveira, a quem ofereço esta análise, ainda
criança ela me ajuda a ser feliz em nossos banhos no Velho Chico, enquanto escrevia estas linhas ela dormia ao meu
lado com toda a sua inocência.
2 Engenheiro Agrônomo, Aperfeiçoado em Georreferenciamento de Imóveis Rurais, Educador Social da CPT- Centro-
Oeste da Bahia-Núcleo da Diocese de Bom Jesus da Lapa.
3 Rosa, Guimarães. Grande Sertão: Veredas (p. 45)
4 Depoimento de Analdina Gramacho (D. Dina) para o documentário “Das Águas Gerais: a Resistência de um Povo”.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JzE5aSaoEuM. Acesso em 26/02/2019 às 17:55 h.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
de água mundial usadas para a irrigação onde acomodam-se os agentes que resis-
(WWAP, 2018)7. tem e/ou são excluídos espacialmente.
Já o documento final do FAMA, que ex- E mais, “as agências estatais de meio am-
pressa a visão dos participantes do evento, biente, limitam-se, por vezes, à ação sim-
se contrapõe ao discurso do Ministro Blai- bólica de administrar as representações
ro Maggi ao afirmar, em uma perspectiva da Natureza, separando a Natureza a con-
crítica, que: servar da Natureza ordinária, aberta aos
apetites econômicos”. Parecem ser estas
O modo de produção capitalista, histori- as simbologias que sustentam o discurso
camente, concentra e centraliza riqueza de Blairo Maggi e também ajudam a tornar
e poder, a partir da ampliação de suas aceitáveis os dados da ANA.
formas de acumulação, intensificação de
seus mecanismos de exploração do tra-
Nesse sentido, entidades como o grupo
balho e aprofundamento de seu domínio
sobre a natureza, gerando a destruição
AGROPLUS/UFV e a Associação dos Agri-
dos modos de vida. Vivemos em um perí- cultores e Irrigantes da Bahia-AIBA, além
odo de crise do capitalismo e de seu mo- de autarquias do estado baiano e institui-
delo político representado pela ideologia ções públicas de ensino, inclusive estadu-
neoliberal, na qual se busca intensificar nidenses, participam dos estudos sobre o
a transformação dos bens comuns em Potencial Hídrico do Oeste da Bahia, no
mercadoria, através de processos de pri- Projeto Urucuia8. Este é um exemplo do
vatização, precificação e financerização envolvimento de setores privados e uni-
(...) O resultado desejado pelas corpo- versidades públicas a serviço do agrone-
rações é a invasão, apropriação e o con-
gócio. A lógica desse esforço é “referenciar
trole político e econômico dos territórios,
das nascentes, rios e reservatórios, para
cientificamente” o que os agronegociantes
atender os interesses do agronegócio, baianos afirmam categoricamente: “há no
hidronegócio, indústria extrativa, mine- oeste da Bahia água suficiente para ex-
ração, especulação imobiliária e geração pansão da agricultura”. Neste caso con-
de energia hidroelétrica. O mercado de creto, é possível recorrer a um velho dito
bebida e outros setores querem o contro- popular que diz que “quem paga a banda,
le dos aquíferos. As corporações querem escolhe a música”. Assim, torna-se previ-
também o controle de toda a indústria sível antecipar os resultados dos estudos,
de abastecimento de água e esgotamento sem profetizar, e menos ainda ironizar, que
sanitário para impor seu modelo de mer-
afirmarão: “há água no oeste baiano para
cado e gerar lucros ao sistema financei-
ro, transformando direito historicamente o agronegócio”.
conquistado pelo povo em mercadoria.
O Projeto Urucuia remete a um conceito
Cabe aqui retomar a análise de Acselrad citado por Martínez-Alier, para quem:
(op. cit. apud FABIANI, 1989), para quem
o Estado: Ao incorporar o meio ambiente, a noção
de intercâmbio desigual pode ser amplia-
insere-se na luta pela apropriação sim- da de modo a incluir externalidades lo-
bólica da base material impondo a defini- cais não contabilizadas e que, nesse exato
ção de uma natureza estatizada, integra- sentido, não são ressarcidas, assim como
da ao capital, e de uma natureza residual inscrever diferentes tempos de produção
De acordo com a tabela 3, são oito as prin- Tabela 4 - Fonte: CEDOC CPT - 2018
cipais categorias causadoras de conflitos
pela água em 2018, com destaque para Segundo a tabela 5, foram 10 as principais
Mineradora Internacional, agente em 111 formas de violência ocorridas em 2018, que
casos (40,22%), principalmente nos es- fizeram 153 vítimas, das quais 75 (49,0
tados de Minas Gerais e Pará. Ao somar 2%), foram impactadas pela Omissão ou
esses 111 casos aos 28 protagonizados Conivência das autoridades públicas; 53
casos (34,64%) estão relacionados a Da-
nos variados, que vão desde a destruição
de roças até a eliminação de nascentes.
Por fim, em sete casos (4,58%) houve Ame-
aça de Morte. Aqui cabe destacar três con-
flitos emblemáticos: 1) as 58 ações envol-
vendo a tragédia de Mariana da Samarco/
Vale/BHP Bilinton em Minas Gerais; 2) as
55 comunidades do Baixo São Francisco
Sergipano, na luta pela manutenção dos
seus modos de vida, contra os interesses
especulativos imobiliários; 3) as 30 ações
da Hydro Alunorte contra as comunidades
Trabalho
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Ana Aranha1
Conflitos Trabalhistas
Depois que a ação do Estado no combate aos conflitos trabalhistas chegou ao fundo
poço em 2017, quando a CPT registrou 66 ocorrências, com 530 pessoas envolvidas na
denúncia e os órgãos competentes libertaram apenas 386 pessoas, pode-se dizer que
houve uma reação positiva no combate ao trabalho escravo em 2018, apesar da exigui-
dade dos recursos e da diminuição constante do número de fiscais do trabalho.
Em 2018 registraram-se:
1.477 pessoas envolvidas 179% maior que o ano anterior 2 pessoas assassinadas.
2 Os editores
157
uma análise qualitativa sobre a dinâmica te pressão do grupo liderado por Zé Ma-
de como esses químicos ameaçam a vida ria, o líder foi executado com 25 tiros, em
das populações rurais no Brasil – o país abril de 2010. Os assassinos levaram o
que mais utiliza agrotóxicos no mundo. seu pendrive e pasta, onde ele guardava
as denúncias contra o uso irresponsável
De 2000 a 20018, a CPT detectou 363 ví- de agrotóxicos pelas fazendas locais. Me-
timas em conflitos envolvendo essas subs- nos de um mês depois da sua morte, a lei
tâncias, pessoas que morreram ou tiveram foi revertida, voltando a permitir a aplica-
sua vida ameaçada devido ao contato com ção de agrotóxicos por avião no município.
elas. São situações que abarcam intoxi- João Teixeira Junior e José Aldair Gomes
cação de trabalhadores e moradores do Costa, respectivamente o dono e o geren-
campo, assim como lideranças rurais per- te da empresa Frutacor, que produz frutas
seguidas por denunciar o problema. Se- na região, foram denunciados como réus
guindo a classificação por conflitos feita pelo Ministério Publico Estadual. O caso
pela organização, os casos estão distribu- ainda será julgado em terceira instância.
ídos do seguinte modo: 71% em conflitos
pela terra (256 vítimas), 21% em conflitos O conflito que tirou a vida de Zé Maria re-
trabalhistas (77 vítimas) e 8% em conflitos vela que os agrotóxicos exigem um olhar
pela água (30 vítimas). global, pois envolvem a questão da terra,
da água e trabalhista. O líder era crítico do
O ícone que representa as mortes em con- modo como a terra da sua região fora fatia-
flitos pela terra envolvendo agrotóxicos é da dentro do Perímetro Irrigado Jaguaribe-
José Maria Filho, conhecido como Zé Ma- -Apodi, que levou a água do rio de mesmo
ria do Tomé. O apelido é uma referência nome à Chapada do Apodi. O projeto des-
ao nome da comunidade onde ele nasceu e locou pequenos produtores, que ocupa-
vivia, Tomé, que fica na Chapada do Apodi, vam a terra há gerações, para dar espaço
município de Limoeiro do Norte, Ceará. A a empresas de grande porte, muitas delas
história desse líder comunitário que teve multinacionais, que hoje estão demitindo
coragem de denunciar os impactos dos os trabalhadores que empregavam na re-
agrotóxicos na sua região é a exceção que gião devido à seca.
confirma a regra.
O assassinato gerou mobilização de orga-
Zé Maria era um pequeno produtor rural nizações nacionais e internacionais, colo-
que despertou para os impactos dos agro- cando as denúncias de Zé Maria na im-
tóxicos ao ver os efeitos na pele de uma prensa, mas o “recado” foi dado para os
de suas filhas, que quando pequena sofria moradores, que ainda têm medo de falar
com coceiras e irritações. Ele seguiu os ca- sobre o assunto. Graças ao monitoramen-
nais de água que abastecem sua comuni- to de diversas organizações, porém, sabe-
dade e descobriu que passavam dentro de -se que as famílias continuam sofrendo as
grandes plantações de frutas na região. consequências dos agrotóxicos, sendo o lo-
cal que mais concentra conflitos com este
Passou então a pular cercas para tirar fo- componente em todo o país, de acordo com
tos dos aviões jogando agrotóxicos sobre o levantamento da CPT.
a água que abastecia as famílias locais, e
liderou um movimento para pressionar por Crianças entre as vítimas
mudanças. Semanas depois que os vere-
adores da cidade aprovaram a proibição A família de Zé Maria tem que lidar, hoje,
da pulverização aérea na cidade, sob for- com mais uma consequência da presença
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
contínua de agrotóxicos: a neta do líder as- pouco mais de um mês depois que o caso
sassinado foi uma das crianças diagnosti- do Paraná veio à tona, o governo revogou
cadas com puberdade precoce em pesquisa a norma que proibia a aplicação de agro-
da Faculdade de Medicina da Universidade tóxicos a menos de 50 metros de escolas,
Federal do Ceará. Conduzida pela médica casas, unidades de saúde, rios e manan-
Ada Pontes Aguiar, a pesquisa estabeleceu ciais. Hoje, o único impedimento legal para
correlação entre os problemas de saúde da aplicação perto de escolas no estado é para
nova geração e o contato com agrotóxicos. pulverização aérea, regido por lei federal.
A pesquisa encontrou ingredientes ativos
não só na água usada na casa das famílias Ainda em 2018, outro caso de contamina-
pesquisadas, mas também no seu sangue ção em escolas, que também está registra-
e urina. A pesquisa foi abordada em maté- do no relatório da CPT, voltou à tona em
ria da Repórter Brasil e entrou no levanta- denúncia feita por professor de Rio Verde,
mento da CPT, com oito crianças entre as Goiás. O professor Hugo Alves dos San-
vítimas. tos – que denunciou episódio em que um
avião jogou agrotóxicos sobre sua escola,
As crianças são presença constante na em 2013, até então maior caso de conta-
base de dados: há 91 delas entre as víti- minação em escolas do país – voltou a falar
mas. Escolas rurais servem de cenário em entrevista à Repórter Brasil. Dessa vez
para nada menos que um terço das vítimas ele denunciou que a intoxicação de crian-
de conflitos por terra relacionados a agro- ças em Rio Verde continua acontecendo de
tóxicos. Mais da metade foram intoxicadas forma contínua. Segundo ele, os fazendei-
dentro de escola do Paraná em novembro ros não respeitam a distância mínima e jo-
de 2018, quando um trator da fazenda de gam químicos com trator no entorno das
soja vizinha violou as regras para distân- escolas. Embora a região apareça uma vez
cia mínima e aplicou Paraquate, agrotóxi- no relatório da CPT, registrando 37 vítimas
co proibido na União Europeia, a poucos em 2013, o professor diz que o número de
metros da unidade de ensino. Os alunos, vítimas é muito maior, pois a contamina-
que estavam brincando na quadra, corre- ção ocorre de forma contínua e silenciosa.
ram para ver a “máquina nova do fazendei-
ro”, e sentiram no rosto a umidade trazida A denúncia foi confirmada por estudo da
pela nuvem de produto químico. Foram Human Rights Watch sobre intoxicações
mais de 50 crianças e adolescentes into- por agrotóxicos em zonas rurais do Brasil.
xicados só neste caso, mas o número sobe Depois de visitar sete locais do Brasil rural,
para mais de 100 quando se leva em conta a pesquisa concluiu que casos como o de
os funcionários da escola que também fo- Rio Verde se repetem: crianças, professo-
ram vítimas do episódio. O caso foi revela- res e moradores do campo são intoxicados
do por matéria da Agência Pública dentro em escalas menores, mas de modo disse-
do projeto Por Trás do Alimento, site que minado e contínuo. A exposição contínua
reúne a cobertura sobre agrotóxicos feita pode gerar consequências médicas sérias,
em parceria com a Repórter Brasil. como os casos de puberdade precoce no
Ceará ou casos de câncer identificados em
Esse caso foi classificado como conflito de pesquisas na Itália sobre o Paraquate, um
terras porque as escolas ficam próximas dos químicos mais vendidos no Brasil em-
a fazendas que não respeitam a distância bora proibido na União Europeia.
mínima fixada em lei. A resposta do esta-
do à denúncia foi desastrosa, indicando Depois de dar diversas entrevistas sobre
que outras violações assim devem ocorrer: o caso da pulverização sobre a escola em
159
2013, Hugo relata ter sofrido perseguição. analisar o SINAN de 2007 a 2011. Para o
Ele perdeu o cargo de diretor e chegou mesmo período, ela encontrou um número
a ser proibido de falar com a imprensa. ainda menor no Sistema Nacional de In-
Tudo, segundo ele, por pressão do poder formações Tóxico-Farmacológicas: apenas
econômico local. 14 óbitos por agrotóxicos registrados como
ocupacionais.
Trabalhadores: reféns do silêncio
Para a pesquisadora, porém, os casos re-
Além de suas comunidades continuarem gistrados devem ser analisados com deti-
sofrendo intoxicação, as duas lideranças da atenção, pois servem de referência para
citadas acima sofreram consequências se- entender uma dinâmica que vitimiza mui-
veras por denunciar os impactos dos agro- tos outros: “atrás de cada óbito há vários
tóxicos. A certeza da punição cala a maior trabalhadores convivendo nas mesmas
parte das vítimas, ainda mais quando o condições, exercendo a mesma função ou
ganha pão está em jogo. O medo de perder algo similar, estando expostos aos mesmos
o emprego faz, dos trabalhadores, o grupo fatores de risco. Dessa forma pode-se afir-
mais silencioso. mar que ‘pouco significa muito’”.
No caso dos conflitos trabalhistas, o que O exemplo de caso escolhido para análi-
mais chama a atenção no levantamento da se pela pesquisadora também está no le-
CPT é a subnotificação: foram apenas 77 vantamento da CPT e também ocorreu no
vítimas em conflitos relacionados ao traba- município de Limoeiro do Norte, dentro de
lho de 2000 a 2018. Em uma atualização uma empresa que cultiva frutas na Cha-
dos dados do Sistema de Informação de pada do Apodi – região onde Zé Maria foi
Agravos de Notificação (SINAN) feita pela morto e onde vive a sua família.
Agência Pública, podemos verificar os da-
dos do sistema de saúde para o mesmo pe- Como Zé Maria, o caso de Vanderlei Ma-
ríodo analisado pela CPT: de 2000 a 2018, tos da Silva é a exceção que confirma a
há registro de 9.098 casos de intoxicação regra. Segundo laudo médico, a causa da
em que a vítima tinha exposição à subs- sua morte foi “hepatopatia grave de pro-
tância no trabalho. Assim como nos dados vável etiologia induzida por substâncias
da CPT, esses são os casos de pessoas in- tóxicas”. Ou seja, um diagnóstico que não
toxicadas, nem todos levaram à morte. nomeia os agrotóxicos. Foi preciso grande
mobilização de médicos e outros pesquisa-
Mas mesmo os dados do sistema público dores para provar a ligação entre a exposi-
de saúde são considerados como subno- ção contínua a esses químicos e o quadro
tificados – em especial quando se trata da de intoxicação que levou à morte. Graças
exposição no trabalho. Essa é a principal a essa mobilização, a morte de Vanderlei
conclusão da pesquisadora Rosany Bo- foi a primeira em que a Justiça reconhe-
chner em artigo publicado pela Fiocruz em ceu essa relação e condenou a empresa.
2015, como sugere o título “Óbito Ocupa- O caso também foi registrado em detalhes
cional por exposição a agrotóxicos utiliza- em matéria da Repórter Brasil.
do como evento sentinela: quando pouco
significa muito”. Vanderlei trabalhou por mais de três anos
como responsável por estocar, pesar e
Buscando casos de mortes, a pesquisa- transportar agrotóxicos dentro da fazenda
dora encontrou 66 óbitos devido a intoxi- da norte-americana Del Monte Fresh Pro-
cação por agrotóxicos de uso agrícola ao duce, empresa que se apresenta como a
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
1 *Além destes dados de trabalho escravo rural, houve 25 denúncias de trabalho escravo na área urbana, envolvendo
382 trabalhadores, dos quais 209 foram resgatados.
FOTO: Juliana Pesqueira
Violência
contra a
pessoa
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
minar de processo civilizatório, algumas de armas, uma das insígnias do atual go-
delas chegam até ser “medievais”. Aborda- verno federal. O então deputado Colatto,
remos rapidamente duas dessas propostas não reeleito nas últimas eleições, é hoje o
referentes ao tema agrário antes de apre- recém-nomeado chefe do Serviço Florestal
sentar o tamanho da montanha de ata- Brasileiro pelo governo Bolsonaro. Seu PL
ques. está em plena sintonia com o Decreto nº
9685, assinado em janeiro de 2019 pelo
O PL 6442/2016 de autoria do deputado seu chefe. Esse decreto facilita a posse de
Nilson Leitão (PSDB-MT) causou espanto armas em território nacional.
Fonte dos dados: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar da Agropecuária,
2018. Org. Martins, Lucas
Fonte dos dados: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar da Agropecuária,
2018. Org. Martins, Lucas
Fonte dos dados: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar da Agropecuária,
2018. Org. Moizés, Brenna.
Fonte dos dados: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar da Agropecuária,
2018. Org. Moizés, Brenna.
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sociais no campo (principalmente do MST) ques aos povos do campo quanto aos da
como atividades terroristas. natureza. O gráfico 5 mostra o desenvol-
vimento no tempo de ações parlamentares
Os gráficos 3 e 4 representam a totalida- contra indígenas. E damos este destaque
de das propostas legislativas consideradas porque assumimos uma máxima encon-
ataques à natureza, totalizando 180 pro- trada em alguns estudos ambientalistas
postas. O gráfico 3 aponta o ano de 2007 de que para preservar a natureza deve-se
Fonte dos dados: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar da Agropecuária,
2018. Org. Martins, Lucas
como o início de uma ofensiva mais mas- preservar a comunidade que dela direta-
siva contra os direitos que asseguram a mente vive e retira seu sustento. Muitos
preservação da natureza. De 2008 a 2014 dos ataques às terras indígenas são para
existem oscilações na quantidade de pro- criar legislação que permita explorar eco-
postas, porém 2015 significa um aumento nomicamente suas riquezas naturais (flo-
vertiginoso nos ataques, que embora dimi- restas e minérios principalmente). O tema
nua nos anos seguintes, mantem-se signi- dos indígenas, principalmente das suas
ficativos. Aparecem em primeiro lugar as terras, nunca esteve tão em voga no deba-
proposições que afetam as terras indíge- te político e a explicação é uma só: querem
nas, em seguida destacam-se os ataques à roubar as terras dos indígenas, por isso, a
legislação que institui o licenciamento am- intensificação de ataques nos anos 2015 e
biental a fim de praticamente extingui-lo; 2016.
propostas pela liberação de mais agrotó-
xicos e propostas para ampliar e agilizar E os sinais dos tempos indicam mais vio-
áreas de mineração, atividade com alto im- lências contra os povos originários. O re-
pacto no meio ambiente e nas sociedades cém empossado Secretário Especial de
locais, vide a memória recente dos crimes Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, na
de Mariana e de Brumadinho. tentativa de imprimir uma narrativa contra
as terras indígenas, afirmou que o “maior
As propostas legislativas que visam as so- latifundiário do país é o índio”. Recurso
ciedades indígenas merecem uma atenção discursivo que apareceu na luta contra a
maior, por elas aparecerem tanto nos ata- reforma agrária décadas atrás, ao afirma-
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
rem que o maior latifundiário do país era bancada no parlamento são noções téc-
a Igreja. nicas a respeito de um suposto ramo da
economia de importância fenomenal nas
O que se esperar da atual legislatura? Em- contas do Estado. Por dentro desses con-
bora as eleições de 2018 tenham signifi- ceitos e títulos, há processos sociais, eco-
cado uma ampla renovação no Congresso nômicos e até culturais de longa duração
Federal – 52% de novos deputados e 85% que vêm diuturnamente influenciando,
de novos senadores – foi como “trocar seis moldando e, atualmente, determinando o
por meia dúzia”. O caráter conservador dos Estado brasileiro. Além disso, influencia
novos deputados eleitos e o empoderamen- ou determina vidas e mortes, bem próxi-
to que todos eles terão baixo o discurso de mo daquilo que Mbembe (2018) chamou
extrema-direita do presidente eleito, induz de “necropolítica”. Os assassinatos no
à construção de uma agenda legislativa de campo, pistolagem, milícias, expulsões,
ataques. A tríade de bancadas BBB (Bala – milhões de litros de agrotóxicos aliados
Boi – Bíblia), com espírito ideológico e inte- ao aumento dos casos de câncer, disse-
resses em comum, somam, já no início da minação dos transgênicos, desproteção
legislatura, 243 deputados, praticamente e hiperexploração dos bens naturais, leis
a metade do Congresso nacional (DIAP, regressivas, excludentes e retirada de di-
2018). reitos causam, direta e indiretamente, rá-
pida ou a conta-gotas, a morte de homens
Em específico, foram eleitos 91 deputados e mulheres e a devastação da natureza.
que compõem a Banca Ruralista. Porém,
como frequentemente acontece, essa ban-
cada infla nos primeiros dias de novas le- Contra o povo de Deus
gislaturas, sendo que na atual já se con-
tabilizam mais de 200 deputados fiéis aos Quando o primeiro autor desse texto come-
interesses do agronegócio. Esse tamanho, çou a estudar a questão agrária brasileira,
com o fiel apoio das bancadas da Bíblia, na segunda metade da década de 1990, o
da Bala, dos Empresários e dos Bancos, conceito que dominava a literatura crítica
concede um poder incomensurável aos era o de luta pela terra. Já nos primeiros
ruralistas, deixando o Estado brasileiro à anos do novo século, o conceito de luta
mercê de seus interesses. O agravante em pelo território teve ampla repercussão nas
relação ao poder dessa bancada no jogo ciências humanas e entre as organizações
político é que depois do Golpe de 2016 ela e movimentos sociais. Luta pelo território,
tenta impor uma pauta perversa e mal- criada na simbiose entre acadêmicos e mo-
dosa em relação ao povo e à natureza. vimentos sociais, significou um avanço in-
terpretativo que ampliou a noção de luta
social. Contudo, nos últimos anos, nota-se
Violência, perversidade e maldade deve- um novo conceito emergir dessa simbiose,
riam contribuir na leitura e interpretação que é o conceito de luta pela vida (projetos
do que significa o agronegócio atualmente. de vida versus projetos de morte; território
A definição de agronegócio, bem como os de vida versus território de morte). Longe
títulos que recebe sua representação po- de ser resultado de um avanço teórico, de
lítica – a institucional Frente Parlamentar uma depuração intelectual, trata-se de um
da Agropecuária ou a popular Bancada conceito ou noção que emerge da tragédia
Ruralista -, não nos dá base para defi- de nosso tempo, na qual a reprodução so-
nir, e muito menos entender, o que são e cial de comunidades camponesas, índios,
o que realmente fazem. Agronegócio e sua quilombolas e a preservação da natureza
173
está cada vez mais difícil e ameaçada. Vi- As eleições de 2018 significaram a disputa
vemos uma conjuntura contra o povo de entre valores e crenças na qual ficaram es-
Deus. canteados o conhecimento produzido pela
ciência, formação e debate político, fatos
Teologicamente povo de Deus significa o e eventos históricos. A cabeça dos brasi-
povo dos pobres. Segundo Comblin (2002), leiros foi dominada por teses anti-intelec-
o conceito de povo é muito mais bíblico do tuais e o discurso de ódio às minorias do
que sociológico e é na América Latina que presidente eleito, claramente anti-cristão,
se resgata essa doutrina tão clara na Bí- conquistou corações e mentes. Portanto,
blia, colocando-o como uma realidade his- a atuação parlamentar das bancadas cita-
tórica. “Povo de Deus é um conceito essen- das nesse texto contra índios, quilombo-
cialmente bíblico e teológico e designa uma las, camponeses e a natureza provedora
realidade revelada por Deus e fundada por são ações contra o povo de Deus.
Jesus” (p.121).
Resta-nos, portanto, positivar o título da
“Os conceitos de povo e pobre são solidá- nota publicada pelas Pastorais Sociais no
rios e correlativos” (p. 11), na medida em Campo, nesse fim de fevereiro de 2019: “a
que não há pobres que não formem um esperança luminosa dos pobres vencerá a
povo e não há povo que não seja de pobres. escuridão”.
Tabela 8 - Assassinatos
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Vítimas Idade Categoria
Bahia
Iramaia Assentamento Boa Sorte 24/01/2018 Márcio Matos Oliveira 33 Liderança
Pau Brasil T. I. Caramuru Catarina 06/11/2018 Reinaldo Silva Pataxó 40 Liderança
Paraguassu Indígena
Subtotal: 2
Mato Grosso
Colniza T. I. Kawahiva do Rio Pardo 10/10/2018 Erivelton Tenharin 43 Liderança
Indígena
Paranatinga PDS Rio Jatobá 07/02/2018 Carlos Antônio dos Santos, 51 Liderança
"Carlão"
Subtotal: 2
Pará
Acará Com. Quil. Alto Acará/Biovale 14/04/2018 Nazildo dos Santos Brito 33 Liderança
Quilombola
Altamira Faz. Atalas/Tigre/Castelo dos 11/10/2018 Aluísio Sampaio dos Santos, A Liderança
Sonhos/PDS Brasília "Alenquer"
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 09/01/2018 Gazimiro Sena Pacheco, 36 Sem - terra
"Gordinho"
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 09/01/2018 Valdemir Resplandes dos Santos, 47 Liderança
"Muletinho"
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia 03/06/2018 Leoci Resplandes de Sousa A Sem - terra
Barcarena Com. Ramal Fazendinha/Hydro 12/03/2018 Paulo Sérgio Almeida Nascimento 47 Liderança
Alunorte
Marabá Região de 4 Bocas/Plano Dourado 24/08/2018 Arleis Pereira de Sousa A Trab. Rural
Marabá Região de 4 Bocas/Plano Dourado 24/08/2018 Paulo de Tasso Mendes da Silva 37 Trab. Rural
Novo Progresso PDS Terra Nossa e Riozinho 12/01/2018 Romar Roglin 55 Assentado
Novo Progresso PDS Terra Nossa e Riozinho 18/05/2018 Antônio Rodrigues dos Santos A Assentado
Novo Progresso PDS Terra Nossa e Riozinho 13/07/2018 Ricardo Roglin A Assentado
Pau D Arco Faz. Santa Lúcia/Acamp. Nova 04/03/2018 Joacir Fran Alves da Mota 38 Sem - terra
Vida/Jane Júlia
Placas PDS Castanheira 15/12/2018 Gilson Maria Temponi, "Mineiro" 43 Liderança
Santa Isabel do Pará Granja Kitagawa/Acamp. 13 de 02/06/2018 Katyson de Souza, "Gatinho" 39 Liderança
Agosto
Santa Maria das Faz. Pontal/Acamp. Lagoa Azul 01/08/2018 Juvenil Martins Rodrigues, 59 Liderança
Barreiras "Foguinho"
Santarém Com. Quilombola Tiningu 29/09/2018 Haroldo Betcel A Quilombola
Subtotal: 16
Paraíba
Alhandra Faz. Garapu/Acamp. D. José 08/12/2018 José Bernardo da Silva, "Orlando" A Liderança
Maria Pires
Alhandra Faz. Garapu/Acamp. D. José 08/12/2018 Rodrigo Celestino A Liderança
Maria Pires
Subtotal: 2
Rondônia
Nova Mamoré Acamp. Dois Irmãos/Dois 25/07/2018 Tiago Campin dos Santos 23 Posseiro
Amigos/Faz. do Bispo/Linha 29 C
Nova Mamoré Acamp. Dois Irmãos/Dois 25/07/2018 Ademar Ferreira 24 Posseiro
Amigos/Faz. do Bispo/Linha 29 C
Ouro Preto do Oeste Faz. Triângulo/Trianon/Acamp. 09/02/2018 Joscione Nunes das Neves 32 Trab. Rural
Jaú/Terra Nossa/Lote 204/Acamp.
Monte Cristo
Ouro Preto do Oeste Faz. Triângulo/Trianon/Acamp. 03/04/2018 Edemar Rodrigues da Silva, 36 Liderança
Jaú/Terra Nossa/Lote 204/Acamp. "Galego ou Lalaco"
Monte Cristo
Seringueiras Faz. Bom Futuro/Acamp. Enilson 22/07/2018 Ismauro Fátimo dos Santos 49 Liderança
Ribeiro
Vilhena Acampamento Jhone Santos 08/07/2018 Lucas de Lima Batista 21 Sem - terra
Subtotal: 6
Total: 28
175
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Diana Aguiar1
1 Membro do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional)
e Doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
2 Dizeres de uma faixa empunhada por guerreiros Munduruku bloqueando a realização de Audiência Pública da Ferro-
grão em Itaituba, em dezembro de 2017, em razão da não realização de Consulta Prévia.
177
e a francesa Louis Dreyfus Commodities de expansão da soja no Oeste da Bahia ao
– compraram terrenos cujos títulos apre- novo Porto Sul em Ilhéus –; ou corredores
sentam indícios de grilagem, alimentando em expansão, como a Ferrovia Norte-Sul
a especulação, bem como os conflitos pela – em seu trecho até Açailândia (no Mara-
terra na região3. nhão), onde se integra com a Ferrovia Ca-
rajás para chegar até o porto de Itaqui em
Mas não é somente sobre o Tapajós que São Luís – estão entre as vias prioritárias
incidem projetos de corredores logísticos, às agroestratégias4. Em comum, a inten-
que implicam na apropriação privada da ção de conexão entre as principais fron-
terra em territórios indígenas e de ocupa- teiras agrícolas do Cerrado – no Norte do
ção tradicional e camponesa. Corredores Mato Grosso e no MATOPIBA – e os portos
projetados, como a Ferrovia Paraense S.A. do chamado Arco Norte5.
– que visa a conectar o Nordeste do Mato
Grosso e Sudeste do Pará ao complexo A lógica impulsionadora é encontrar rotas
portuário de Barcarena –; corredores em mais rápidas entre as zonas de expansão
construção, como a Ferrovia de Integra- dos monocultivos e o novo destino prio-
ção Oeste-Leste (Fiol) – que visa a conectar ritário da soja, a China. A transformação
Gráfico 1 – Expansão do volume de soja e milho exportado pelos portos do Arco Norte em relação
ao total das instalações portuárias (em milhões de toneladas – 2010, 2014, 2017)
uma mina de ferro em Caetité e as zonas na geografia da produção e circulação da
3 Para mais a respeito desse processo, ver AGUIAR, D. A Geopolítica de Infraestrutura da China na América do Sul: um
estudo a partir do caso do Tapajós na Amazônia brasileira. Rio de Janeiro: FASE e Action Aid, 2017.
4 ALMEIDA, A. W. B. DE. Agroestratégias e desterritorialização: direitos territoriais e étnicos na mira dos estrategistas
dos agronegócios. In: Capitalismo globalizado e recursos territoriais: fronteiras da acumulação no Brasil contemporâneo.
Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. p. 101–144.
5 De acordo com o Portal da Estratégia, do Ministério da Infraestrutura, “O Arco Norte é um plano estratégico que com-
preende portos ou estações de transbordos dos estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e Maranhão. A região é
vista como fundamental para parte do escoamento dos grãos de Mato Grosso”. Disponível em http://portaldaestrategia.
infraestrutura.gov.br/spntt/288-arco-norte-1.html - acesso em 14/03/2019.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
soja em uma era de ascensão chinesa é diu consideravelmente (58% entre 2010
tão acelerada que estamos testemunhan- e 2017) e está entre os que movimentam
do um processo emergente de redesenho maior volume de soja na região. Os por-
das rotas comerciais de commodities agrí- tos de Barcarena apresentam o maior salto
colas no país. A escalada desse processo é Não figuravam sequer entre os portos de
tal que, em cerca de sete anos, o volume movimentação de carga de soja em 2010.
de soja e milho exportado pelos portos do Entre 2014 e 2017, a movimentação des-
Arco Norte, em relação ao total das instala- ses portos cresceu impressionantes 432%.
ções portuárias do país, aumentou de 23% Juntos passaram a constituir o maior es-
em 2010 para 41% em 2017 (ver gráfico paço logístico para exportação de soja do
1). Portos tradicionais e6 com rotas conso- Arco Norte. Vale lembrar que, dentre as
lidadas do Centro-Sul do país – tais como cargas que por ali passam, estão aquelas
Gráfico 2 - Expansão do volume de soja e milho exportado pelos principais portos do Arco Norte
(em milhões de toneladas – 2010, 2014, 2017)6
6 No gráfico, Barcarena se refere aos portos de Vila do Conde (Companhia das Docas do Pará), Terfron (Bunge e Ammagi)
e Ponta da Montanha (ADM) somados; Itaituba se refere às estações de transbordo de carga Terfron (Bunge e Ammagi) e
Hidrovias do Brasil. Ver: ANTAQ. Anuário Estatístico 2017. Brasília: fevereiro de 2018
179
tação de soja (ver gráfico 2). nos é dado pelo xamã Davi Kopenawa, a
respeito da abertura da estrada Perimetral
Essa expansão frenética tem como espe- Norte em território Yanomami no estado de
lho as ameaças e invasões aos territórios Roraima pelos militares no início dos anos
e modos de vida que se encontram na rota 1970:
da soja. Não é casual que a partir da carto-
grafia dos conflitos no campo, Porto-Gon- A raiva do luto invadiu novamente o meu
çalves et al7 demonstrem que justamente pensamento: “Esse caminho dos bran-
as áreas de maior violência e conflito nos cos é muito ruim! Os seres da epidemia
estados de Pará e Rondônia correspondem xawarari vêm seguindo por ele, atrás das
máquinas e dos caminhões. Será que sua
aos eixos viários (BR 364 ou Brasília-Cuia-
fome de carne humana vai nos matar a
bá-Porto Velho, BR 153 ou Belém-Brasília todos, um depois do outro? Terão aberto
e a BR 163 ou Cuiabá-Santarém) associa- a estrada para silenciar a floresta de nos-
dos a alguns desses corredores. sa presença? Para aqui construir casas,
sobre os rastros das nossas? Serão eles
Ao mesmo tempo, essa correspondência realmente seres maléficos, já que conti-
nos remete a dinâmicas históricas, já que nuam nos maltratando assim?”9.
essas rodovias foram abertas durante o go-
verno Juscelino Kubistchek (Belém-Brasí- O compromisso em buscar pôr em relevo a
lia, inaugurada em 1959, e Brasília-Porto perspectiva dos povos indígenas também
Velho, inaugurada em 1960) e no marco do nos conduz a um percurso de ainda mais
Programa de Integração Nacional (PIN) do longa duração, um percurso que nos per-
regime militar (BR 163, iniciada em 1970 e mita descolonizar a infraestrutura e os ca-
inaugurada em 1976). Esses dois períodos minhos. Para tanto, e visando a superar
representam a era de alta intensidade na os limites de nosso conhecimento sobre a
abertura de grandes estradas que visavam história territorial antes da invasão colo-
a ampliar o controle do Estado sobre os nial, podemos recorrer a alguns recursos:
sertões do Brasil. Por outro lado, na pers- os acúmulos sobre as dinâmicas de espa-
pectiva dos territórios, a instauração am- cialização dos troncos linguísticos indíge-
pla da vida no eixo da estrada é também a nas e os achados arqueológicos.
história do genocídio de povos indígenas8,
da apropriação privada da terra e do en- É assim, por exemplo, que aprendemos que
trecruzamento dos destinos de colonos e os povos indígenas, na era pré-colonial, se
populações ribeirinhas e sertanejas ali es- territorializaram das margens dos grandes
tabelecidas. A violência inscrita nesse pro- rios, e suas múltiplas ramificações, às en-
cesso marca ainda hoje as sociedades que tranhas da floresta, constituindo fluxos a
dela emergiram. partir dessas veias d’água. A ampla pre-
sença de povos indígenas de troncos lin-
Um raro relato na perspectiva dos povos guísticos comuns em áreas extensas, tal
indígenas violentados por esse processo como documentado no mapa etno-históri-
7 PORTO-GONÇALVES, C. W.; CUIN, D. P.; LADEIRA, J.N.; Silva, M. N; LEÃO, P. C. R. Brasil. In: Ruth Bautista Durán;
Oscar Bazoberry Chal; Lorenzo Soliz Tito. Informe 2017. Acceso a la tierra y territorio en Sudamérica. La Paz: Instituto
para el Desarrollo Rural de Sudamérica, 2017. 298 p.
8 O relatório final da Comissão da Verdade apresenta uma sistematização cuidadosa e dilacerante da violência na aber-
tura das estradas do Programa de Integração Nacional e outros grandes projetos do regime militar. Ver BRASIL. Comissão
Nacional da Verdade (CNV). Relatório da Comissão Nacional da Verdade, v.2. – Brasília: CNV, 2014. 416 p.
9 O relatório final da Comissão da Verdade apresenta uma sistematização cuidadosa e dilacerante da violência na aber-
tura das estradas do Programa de Integração Nacional e outros grandes projetos do regime militar. Ver BRASIL. Comissão
Nacional da Verdade (CNV). Relatório da Comissão Nacional da Verdade, v.2. – Brasília: CNV, 2014. 416 p.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
10 NIMUENDAJU, C. Mapa Etno-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes. Brasília: IPHAN, IBGE, 2017. p. 121.
11 LITTLE, P. E. Amazônia: Territorial Struggles on Perennial Frontiers. Baltimore: The Johns Hopkins University Press,
2001.
12 HECKENBERGER, M. J. Estrutura, História e Transformação: a Cultura Xinguana na Longue Durée, 1000-2000
D.C. In: Os Povos do Alto Xingu. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000, p. 29.
13 Ibid.
181
agenda pública de infraestrutura, como mente a reiteração de projetos em progra-
se definem e se implementam, dificilmente mas governamentais distintos. Muitos dos
se dão por meio de amplo debate público. projetos prioritários no programa do gover-
Ao contrário, são as pressões empresariais no golpista (PPI) e no homônimo programa
pela abertura de vias de escoamento, de do atual governo são os mesmos do PAC
veias para a drenagem econômica de ter- e do PIL dos ex-presidentes Lula e Dilma
ritórios que se constituem em imperativos, Roussef, tais como a pavimentação da BR
traduzidos em programas governamentais 163, a Ferrogrão e a Fiol. Poucos interes-
de infraestrutura e nos projetos em seus ses capitalistas são tão imunes a mudan-
portfólios. ças de governo e tão plasmados na agenda
pública quanto os logísticos.
A lógica do planejamento governamental
estruturada por projetos viários retomou Para buscar estabilidade em meio às ins-
centralidade no período pós-redemocra- tabilidades que dominam a política nacio-
tização, a partir dos chamados eixos na- nal nos últimos anos, recorre-se a figuras
cionais de integração e desenvolvimento bem aceitas pelo mercado, entidade fan-
(Enids)14, propostos no Programa Brasil tasmagórica que determina a condução do
em Ação (1996-2000). Estado empresarial. Tal é o caso do atual
ministro da infraestrutura, engenheiro mi-
O desenho dos Enids se dá em um contex- litar que esteve nos quadros públicos da
to de reformas neoliberais que respondem área de infraestrutura de todos os governos
aos imperativos de seu tempo: expropriar desde o da ex-presidenta Dilma Roussef.
os sujeitos dos territórios incorporados, No centro de sua agenda está assegurar a
por meio de mecanismos sustentados por retomada de projetos que estagnaram na
uma narrativa de “eficiência” e “desen- era pós-PAC. Para tanto, uma série de lei-
volvimento” (entendido como crescimen- lões estão programados, sem respeitar os
to) que lhe desse legitimidade. Ao mesmo marcos da Consulta Livre, Prévia e Infor-
tempo, transformar o Estado em uma “em- mada (CLPI) dos povos indígenas e povos e
presa a serviço das empresas”15 de forma comunidades tradicionais, tais como pre-
a que este estado empresarial (ou corpo- vistos na Convenção 169 da Organização
rativo) servisse a esses imperativos. Esse Internacional do Trabalho (OIT). A premis-
processo de neoliberalização pode não ter sa subjacente é de que não há nada, nem
acontecido de forma homogênea, contínua ninguém, no caminho do traçado da rota,
ou progressiva, mas configurou-se como a além de sua viabilização financeira.
lógica subjacente a todos os programas a
partir de então (Programa de Aceleração do No entanto, por mais que queiram ignorá-
Crescimento – PAC, Programa de Investi- -las, a promessa logística de fluxos contí-
mento em Logística – PIL e Programa de nuos e rápidos de commodities para a ex-
Parcerias de Investimento – PPI), apesar de portação tropeça nas fricções promovidas
suas especificidades (mais ou menos pri- pelas re-existências populares nos territó-
vatizantes, mais ou menos centradas no rios. Os projetos e a expansão de corredo-
investimento estrangeiro). res, que fermentam o processo emergen-
te de redesenho de rotas comerciais, não
Um elemento que dá a dimensão das con- aterrissam sem atrito nos territórios. Po-
tinuidades em meio às diferenças é justa- rém, se o planejamento e implementação
14 Ou, como nos sugerem Porto-Gonçalves et al (Op. cit., p. 125), “eixos de violência, conflitos e devastação”.
15 DARDOT, P.; LAVAL, C. A Nova Razão do Mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016,
p. 288.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
de projetos viários estão historicamente criminalização das lutas sociais que se dão
marcados pelo autoritarismo e violência, nas rotas dos conflitos. A defesa da demo-
o contexto no qual vivemos aponta para o cracia passa por estarmos atentos e fortes
acirramento destas lógicas, com a provável diante desses processos.
militarização nos territórios em disputa e
Referências
AGUIAR, D. A Geopolítica de Infraestrutura da Unesp, 2003, pp. 187-205.
China na América do Sul: um estudo a partir
HECKENBERGER, M. J. Estrutura, Histó-
do caso do Tapajós na Amazônia brasileira. Rio
ria e Transformação: a Cultura Xinguana na
de Janeiro: FASE e Action Aid, 2017.
Longue Durée, 1000-2000 D.C. In: Os Povos
ALMEIDA, A. W. B. DE. Agroestratégias e des- do Alto Xingu. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
territorialização: direitos territoriais e étnicos 2000, p. 29.
na mira dos estrategistas dos agronegócios. In: KOPENAWA, D. O tempo da estrada. In: KOPE-
Capitalismo globalizado e recursos territoriais: NAWA, D.; ALBERT, B. (Eds.). A Queda do Céu:
fronteiras da acumulação no Brasil contem- Palavras de um xamã yanomami. São Paulo:
porâneo. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. p. Companhia das Letras, 2015. p. 291–310. p.
101–144. 306.
ANTAQ. Anuário Estatístico 2017. Brasília: fe- LITTLE, P. E. Amazônia: Territorial Struggles
vereiro de 2018. on Perennial Frontiers. Baltimore: The Johns
Hopkins University Press, 2001.
Disponível em:
MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA - Portal
<http://portal.antaq.gov.br/wpcontent/uplo-
da Estratégia. Disponível em http://portalda-
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estrategia.infraestrutura.gov.br/spntt/288-ar-
v4-4-versão-final.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2019
co-norte-1.html - acesso em 14/03/2019.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A Nova Razão do Mun-
NIMUENDAJU, C. Mapa Etno-Histórico do
do: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Brasil e Regiões Adjacentes. Brasília: IPHAN,
Paulo: Boitempo, 2016, p. 288. IBGE, 2017. p. 121.
GALVÃO, A. C. F.; BRANDÃO, C. A. Funda- PORTO-GONÇALVES, C. W.; CUIN, D. P.; LA-
mentos, Motivações e Limitações da Proposta DEIRA, J.N.; Silva, M. N; LEÃO, P. C. R. Bra-
Governamental dos “Eixos Nacionais de Inte- sil. In: Ruth Bautista Durán; Oscar Bazoberry
gração e Desenvolvimento”. In: GONÇALVES, Chal; Lorenzo Soliz Tito. Informe 2017. Acceso
M. F.; BRANDÃO, C. A.; GALVÃO, A. C. F. a la tierra y territorio en Sudamérica. La Paz:
(Eds.). Regiões e Cidades, Cidades nas Regiões: Instituto para el Desarrollo Rural de Sudamé-
o desafio urbano-regional. São Paulo: Editora rica, 2017. 298 p.
183
Tabela 9 - Tentativas de Assassinato
N.º de
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Idade Categoria
Pessoas
Amazonas
Santa Isabel do Rio T.I. Jurubaxi-Téa 16/11/2018 Arlindo Nogueira A (o)Indígena
Negro
Subtotal: 1
Bahia
Mansidão Assentamento Nova Esplanada 29/06/2018 Edmilson Araújo Silva 47 Assentado
Subtotal: 1
Ceará
Maracanaú T. I. Pitaguary/Emp. Britaboa 12/09/2018 Madalena Pitaguary 55 Liderança
Indígena
Subtotal: 1
Maranhão
Sítio Novo T. I. Krikati 06/01/2018 Cacique João Grossar Krikati A Liderança
Indígena
Subtotal: 1
Mato Grosso
Colniza T. I. Kawahiva do Rio Pardo 10/10/2018 Cleomar Tenharim 31 (o)Indígena
Subtotal: 1
Mato Grosso do Sul
Miranda Aldeia Mãe Terra/T. I. 13/11/2018 Criança Indígena Kinikinau 9 (a)Indígena
Cachoeirinha
Miranda Aldeia Mãe Terra/T. I. 13/11/2018 Criança Indígena Kinikinau 7 (a)Indígena
Cachoeirinha
Subtotal: 2
Minas Gerais
Capitão Enéas Faz. Norte América/Acamp. 08/03/2018 Thiago Coimbra 32 Liderança
Alvimar Ribeiro
Capitão Enéas Faz. Norte América/Acamp. 08/03/2018 Não Informado 74 Sem - terra
Alvimar Ribeiro
Subtotal: 2
Pará
Almeirim Projeto Jari Celulose/Jarcel 24/02/2018 Não informado 2 A Posseiro
Bom Jesus do Tocantins Fazenda Mococa 16/02/2018 Não informado A Liderança
Bom Jesus do Tocantins Fazenda Mococa 16/02/2018 Não informado 2 A Sem - terra
Itaituba Reserva Indígena Praia do 21/01/2018 Raimundo Saw Munduruku A (o)Indígena
Mangue
Marabá Região de 4 Bocas/Plano 24/08/2018 "Pé de Pato" A Trab. Rural
Dourado
Marabá Região de 4 Bocas/Plano 24/08/2018 Wesley de Oliveira Souza A Trab. Rural
Dourado
Marabá Região de 4 Bocas/Plano 24/08/2018 "Negão" A Trab. Rural
Dourado
Santarém T. I. Munduruku/UHE 09/03/2018 Raoni Bernardo Maranhão 41 Aliado
Tapajós/Mineradora Belo Valle
Sun/PAC
Subtotal: 10
Paraíba
Alhandra Manifestações 2018 06/04/2018 Lindinalva Pereira de Lima 35 Assentada
Filha
Subtotal: 1
Paraná
Guaíra T. I. Guarani Mbya/Aldeia Tekohá 06/11/2018 Donecildo Agueiro 21 (o)Indígena
Yhovy
Subtotal: 1
Piauí
São João do Arraial Com. dos Cocais/Açude Sta Rosa 03/03/2018 Francisca Nascimento A Liderança
Subtotal: 1
Rio Grande do Sul
Marau Área do DNIT 15/02/2018 Não Informado A (o)Indígena
Marau Área do DNIT 15/02/2018 Não Informado 81 (o)Indígena
Subtotal: N.º de 2
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Idade Categoria
Rondônia Pessoas
Nova Mamoré Acamp. Dois Irmãos/Dois 25/07/2018 Ednilson Cabral de Souza A Posseiro
Amigos/Faz. do Bispo/Linha 29 C
Nova Mamoré Acamp. Dois Irmãos/Dois 25/07/2018 Vandim, "Gardenal" A Posseiro
Amigos/Faz. do Bispo/Linha 29 C
Seringueiras Faz. Bom Futuro/Acamp. Enilson 22/07/2018 Sabrina 16 Sem - terra
Ribeiro
Subtotal: 3
Tocantins
Palmeirante Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom 01/11/2018 Agente da CPT-AR/TO A Ag. pastoral
Jesus/Gabriel Filho
Subtotal: 1
Total: 28
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Antônio Canuto1
Todos os dias somos bombardeados por Os acidentes nestes silos provocam mortes
uma campanha que nos quer fazer crer por asfixia, pois encobrem os trabalhado-
que o agronegócio é o grande carro chefe res com várias toneladas de grãos - soja,
do desenvolvimento e progresso do Brasil: milho, arroz ... Diz a reportagem que estas
Agro é Tech. Agro é Pop. Agro é Tudo. mortes “são um efeito colateral pouco co-
nhecido da modernização do campo”.
Mas, o secretário executivo do CIMI, Cle-
ber Buzatto, já em 2016 mostrou que na O levantamento registrou pelo menos 106
verdade o agro é cídio. Cídio de homicídio, mortes em silos de grãos, desde 2009 até
pelo elevado número de “assassinatos de julho de 2018. Foram 106 mortes que de
indígenas e camponeses” registrados a alguma forma chegaram ao conhecimento
cada ano. da imprensa. Muitas outras mortes podem
ter ocorrido sem terem sido noticiadas.
Mas, além das mortes violentas em con-
flitos no campo, que a CPT registra a cada O ano com mais acidentes fa-
ano, na cadeia do agronegócio há um sem tais foi 2017, quando houve 24 mortes.
número de mortes de trabalhadores que fi- Em 2018, até julho, o levantamento regis-
cam invisíveis aos olhos da sociedade. trou 13 mortes.
N.º de
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Idade Categoria
Pessoas
Conceição do Mato Com. do Turco/Projeto 27/03/2018 Elias Souza A Liderança
Dentro Minas-Rio/Anglo American
Conceição do Mato Família Pimenta/Proj. 27/03/2018 Lúcio da Silva Pimenta A Liderança
Dentro Minas-Rio/Anglo American Quilombola
Itacarambi Com. Quil. Ilha da Maria Preta 27/01/2018 Reinaldo Silva A Liderança
Quilombola
Manga Com. da Ilha de Pau Preto/Rio 09/05/2018 Maria Zilah de Mattos A Ag. pastoral
São Francisco/Proj. Jaíba
Subtotal: 15
Pará
Acará Com. Quil. Alto Acará/Biovale 17/07/2018 Ananias Brito de Souza A Quilombola
Acará Com. Quil. Alto Acará/Biovale 17/07/2018 Ivonete dos Santos 23 Quilombola
Acará Com. Quil. Alto Acará/Biovale 17/07/2018 Laeson de Souza 31 Quilombola
Acará Com. Quil. Alto Acará/Biovale 17/07/2018 Quilombola do Alto Acará 2 A Quilombola
Alenquer Ameaça de Morte contra o Pres. 16/07/2018 João Gomes da Costa A Sindicalista
do STTR de Alenquer
Anapu Gleba Bacajá/PDS 06/12/2018 Pe. José Amaro Lopes de 51 Ag. pastoral
Esperança/Assassinato da Ir. Souza*
Dorothy
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. 01/05/2018 Leoci Resplandes de Sousa+ 27 Sem - terra
Luzia
Anapu Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. 01/05/2018 Iraci Resplandes A Liderança
Luzia
Barcarena Com. 15/01/2018 Maria do Socorro Costa da A Liderança
Burajuba/Codebar/Itupanema/Cari Silva* Quilombola
pi/Hydro Alunorte
Barcarena Com. 18/03/2018 Ludmilla Machado de Oliveira A Liderança
Burajuba/Codebar/Itupanema/Cari
pi/Hydro Alunorte
Barcarena Com. Bom Futuro/Mineradora 15/01/2018 Ângela Maria Vieira A Liderança
Hydro Alunorte
Barcarena Com. Bom Futuro/Mineradora 18/03/2018 Maria Salestiana Cardoso 69 Ribeirinha
Hydro Alunorte
Barcarena Com. Jesus de Nazaré/Hydro 15/01/2018 Bosco Oliveira Martins Júnior* A Liderança
Alunorte
Barcarena Com. Ramal Fazendinha/Hydro 15/01/2018 Paulo Sérgio Almeida 47 Liderança
Alunorte Nascimento+
Breu Branco Fazenda Chama/Acampamento 26/06/2018 Claudionor da Silva Feitosa* 35 Liderança
Irmã Dorothy
Itaituba Com. Mangabal e 18/03/2018 Pedro Braga A Liderança
Montanha/PCH's Tapajós
Itaituba Com. Mangabal e 18/03/2018 Ageu Lobo Pereira 36 Liderança
Montanha/PCH's Tapajós
Itaituba Com. Mangabal e 18/03/2018 Francisco Firmino Silva, "Chico 68 Liderança
Montanha/PCH's Tapajós Catitu"
Jacareacanga T. I. Munduruku/UHE 03/04/2018 Maria Leusa A Liderança
Tapajós/Mineradora Belo Indígena
Sun/PAC
Jacareacanga T. I. Munduruku/UHE 03/04/2018 Cacique Geral da Aldeia PV A Liderança
Tapajós/Mineradora Belo Indígena
Sun/PAC
Jacareacanga T. I. Munduruku/UHE 03/04/2018 Cacica da Aldeia PV A Liderança
Tapajós/Mineradora Belo Indígena
Sun/PAC
Jacareacanga T. I. Munduruku/UHE 03/04/2018 Ana Poxo A Liderança
Tapajós/Mineradora Belo Indígena
Sun/PAC
Marabá Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa 28/07/2018 Não Informado 3 A Sem - terra
Ernestina/Acamp. Hugo Chávez
Marabá Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa 28/07/2018 Não Informado 2 Criança
Ernestina/Acamp. Hugo Chávez
Novo Progresso PDS Terra Nossa e Riozinho 05/11/2018 Maria Márcia Elpídia de Melo A Liderança
Pau D Arco Faz. Santa Lúcia/Acamp. Nova 05/05/2018 Rivelino Zarpellon* A Advogado
Vida/Jane Júlia
Pau D Arco Faz. Santa Lúcia/Acamp. Nova 05/05/2018 José Vargas Júnior* A Advogado
Vida/Jane Júlia
189
N.º de
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Idade Categoria
Pessoas
Placas PDS Castanheira 31/01/2018 Gilson Maria Temponi, 43 Liderança
"Mineiro" +
Santa Maria das Barreiras Faz. Pontal/Acamp. Lagoa Azul 01/08/2018 João do Novo Acordo* A Sem - terra
Santa Maria das Barreiras Faz. Pontal/Acamp. Lagoa Azul 01/08/2018 José do Milton* A Sem - terra
Santarém Com. Quilombola Tiningu 29/09/2018 Não Informado A Liderança
Quilombola
São Félix do Xingu Fazenda Tucunaré 01/11/2018 Moisés Feitosa Pereira 49 Trab. Rural
Trairão P. A. Areia II/Com. São Mateus 20/05/2018 Osvalinda Maria Marcelina A Liderança
Alves Pereira*
Trairão P. A. Areia II/Com. São Mateus 20/05/2018 Daniel Alves Pereira* A Assentado
Trairão P. A. Areia II/Com. São Mateus 21/11/2018 Antônio de Paula Silva* A Assentado
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Marcos Vinícius Silva de A Sem - terra
a 49 Souza
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Joacy Alves de Sousa A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Rosinalva Alves de Sousa A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Hikaro Brasileiro Silva A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Antônio Pablo Souza Silva A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Josiane do Nascimento A Sem - terra
a 49 Brasileiro
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Yasmin Brasileiro Silva A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Ingridd Victtórya de Almeida A Sem - terra
a 49 da Silva
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Wemily Fabriny de Jesus Silva A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Alan Conceição da Silva A Sem - terra
a 49
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 31/01/2018 Fabrício de Souza Silva A Sem - terra
a 49
Subtotal: 49
Paraná
Santa Helena Tekoha Mokoi Joegua-Ete Dois 14/03/2018 Cacique Cláudio Vogado A Liderança
Irmãos-Pyau/Itaipu Binacional Indígena
Subtotal: 1
Pernambuco
Jaqueira Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca 06/11/2018 Ernande Vicente Barbosa da A Posseiro
Silva*
Jatobá Com. Bem Querer de Baixo/T.I. 26/09/2018 Adeilde Nascimento 46 Liderança
Pankararu Indígena
Orocó Com. Quil. Caatinguinha/Territ. 30/09/2018 Alexandre da Silva A Liderança
Águas do Velho Chico Quilombola
Orocó Com. Quil. Umburana/Territ. 30/09/2018 Jacielma Santos da Silva A Liderança
Águas do Velho Chico Quilombola
Orocó Com. Quil. Vitorino/Territ. Águas 30/09/2018 Isaías da Silva Landim A Liderança
do Velho Chico Quilombola
Recife Eng. Boa Vista/Complexo Suape 11/05/2018 V. L. D. 49 Liderança
Sertânia Fazenda Jaú 22/08/2018 Epifânio Guilhermino da SIlva 56 Sem - terra
Sertânia Fazenda Jaú 22/08/2018 Bruna Leite da Silva 17 Sem - terra
Sertânia Fazenda Jaú 22/08/2018 Urbano Leite da Silva 60 Sem - terra
Sertânia Fazenda Jaú 22/08/2018 Silvana Maria Passos da Silva 45 Sem - terra
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Jacilene dos Santos, "Darinha" A Liderança
Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Cícero Soares A (o)Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Sidinei Batalha A Liderança
Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Tiago Oliveira A Liderança
Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Cordeiro Xavante A (o)Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 José Auto A Liderança
Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Pedro Monteiro A Liderança
Indígena
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
N.º de
Municípios Nome do Conflito Data Nome da Vítima Idade Categoria
Pessoas
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 Fernando Monteiro 49 Liderança
Indígena
Tacaratu T. I. Pankararu/Us. Eletronuclear 26/09/2018 George Sarapó A Liderança
Indígena
Subtotal: 19
Rio de Janeiro
Mangaratiba Faz. Santa Justina/Acamp. Olga 07/01/2018 Edevaldo da Conceição A Quilombola
Benário
Subtotal: 1
Rondônia
Cacoal T. I. Sete de Setembro 11/05/2018 Cacique Almir Narayamoga 45 Liderança
Suruí Indígena
Campo Novo de T. I. Uru-Eu-Wau-Wau 11/05/2018 Awapu A Liderança
Rondônia Indígena
Nova Mamoré T. I. Karipuna 09/02/2018 Adriano Karipuna A Liderança
Indígena
Nova Mamoré T. I. Karipuna 09/02/2018 André Karipuna A Liderança
Indígena
Ouro Preto do Oeste Faz. Triângulo/Trianon/Acamp. 03/04/2018 João Batista Rodrigues A Sem - terra
Jaú/Terra Nossa/Lote 204/Acamp.
Monte Cristo
Porto Velho Acamp. Nova Esperança/Boa 10/11/2018 Delson Pinto de Souza 45 Posseiro
Esperança/Título Definitivo São
Sebastião/Flona Bom Futuro
Subtotal: 6
Roraima
Mucajaí T. I. 06/09/2018 Resende Sanoma A Liderança
Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé Indígena
Subtotal: 1
Tocantins
Barra do Ouro Gleba Tauá 17/07/2018 Valdinez Pereira dos Santos, 42 Liderança
"Pica-Pau"
Subtotal: 1
Total: 165
191
FOTO: Juliana Pesqueira
Manifestações
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Cristianismo da libertação
Breves notas sobre a CPT
Michael Löwy1
A Comissão Pastoral da Terra - CPT é uma como na doutrina tradicional da Igreja, ob-
das expressões mais importantes do que jeto da atenção caridosa.
se pode chamar de «Cristianismo da Liber-
tação», no Brasil. Entendemos por Cristia- Geralmente, refere-se a esse amplo movi-
nismo da Libertação um vasto movimento mento sócio-religioso como “Teologia da
social que surgiu no começo da década de Libertação”, porém, como o movimento
1960, antes mesmo do Concilio Vaticano surgiu muitos anos antes da nova teolo-
II. Esse movimento envolveu setores signi- gia e certamente a maioria de seus ati-
ficativos da Igreja (padres, ordens religio- vistas não são teólogos, esse termo não é
sas, bispos), movimentos religiosos leigos apropriado; algumas vezes, o movimento é
(Ação Católica, Juventude Universitária também chamado de “Igreja dos Pobres”,
Cristã, Juventude Operária Cristã), pas- mas, uma vez mais, essa rede social vai
torais com base popular, Comunidades bem mais além dos limites da Igreja como
Eclesiais de Base (CEBs), bem como várias instituição, por mais ampla que seja sua
organizações populares criadas por ativis- definição. Proponho chamá-lo de Cristia-
tas das CEBs; clubes de mulheres, asso- nismo da Libertação, por ser um conceito
ciações de moradores, sindicatos de cam- mais amplo que “teologia” ou que “Igreja”
poneses ou operários etc. Sem a existência e incluir tanto a cultura religiosa e a rede
desse movimento social não poderíamos social, quanto a fé e a prática. Dizer que se
entender fenômenos sociais e históricos trata de um movimento social não significa
de tal importância como a emergência do necessariamente dizer que ele é um órgão
novo movimento operário e camponês no “integrado” e “bem coordenado”, mas ape-
Brasil a partir dos anos 1970. nas que tem, como outros movimentos se-
melhantes (feminismo, ecologia etc.) uma
Se tivéssemos de resumir em uma única certa capacidade de mobilizar as pessoas
fórmula a ideia central do Cristianismo ao redor de objetivos comuns2.
da Libertação poderíamos nos referir à ex-
pressão consagrada por muitos teólogos No Cristianismo da Libertação podem-se
e bispos: “a opção preferencial pelos po- encontrar elementos de “igreja” e de “sei-
bres”. Mas é preciso acrescentar imedia- ta” (de acordo com os conceitos sociológi-
tamente que, para a nova concepção só- cos de Troeltsch). Mas podemos entendê-lo
cio-religiosa, esses pobres são os agentes melhor se usarmos o tipo-ideal weberiano
de sua própria libertação e os sujeitos de da religiosidade soteriológica comunitá-
sua própria história – e não simplesmente, ria (soteriologische Gemeindereligiosität),
1 Cientista Social, formado pela Universidade de São Paulo-USP, radicado na França, onde atualmente é Diretor Emérito
de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, em Paris.
2 Essa precisão tornou-se necessária porque certos sociólogos, com o pretexto de que a natureza da rede era insufi-
cientemente “integrada” e “bem coordenada”, negam a existência de um movimento social: segundo Jean Daudelin, por
exemplo,“esse movimento não foi nada mais que uma utopia teológica e uma ficção sociológica” (“A crise da Igreja Pro-
gressista no Brasil: fraqueza institucional e vulnerabilidade política”, manuscrito, 1991).
195
cujas origens remontam às antigas formas tão radical e consequente quanto a CPT.
econômicas de ética comunitária3. Todos Vasta rede composta tanto por membros
esses elementos podem ser encontrados, do clero – religiosos, mas também padres e
em forma quase “pura”, nas comunidades alguns bispos – quanto por leigos de todo
eclesiais de base e nas pastorais populares tipo – teólogos, estudiosos, biblistas, so-
brasileiras, em particular na CPT. ciólogos e, sobretudo agentes pastorais,
frequentemente vindos das zonas rurais, a
Poderíamos então dizer que há uma “luta CPT, fundada em 1975, foi uma formidável
de classes dentro da Igreja”?. Sim e não. escola de agentes camponeses4. De início
Sim, na medida em que certas posições estabelecidas na região Norte – Amazônia –
correspondem aos interesses das elites e Nordeste, ela pouco a pouco se estendeu
dominantes e outras aos dos oprimidos. ao conjunto do país; graças à sua ligação
E não, na medida em que bispos, reli- direta com a Conferência Nacional dos Bis-
giosos ou padres que chefiam a “Igreja pos do Brasil (CNBB), a Comissão gozou de
uma grande autonomia face às estruturas
dos Pobres” não são, eles próprios, pobres.
paroquiais locais, e não dependia da boa
Sua dedicação à causa dos explorados tem
vontade dos bispos de cada região5. Mui-
como motivo razões espirituais e morais
tos agentes pastorais, mas também mem-
inspiradas pela cultura religiosa, pela fé
bros do clero – o padre Josimo Tavares,
cristã e pela tradição católica. Além disso,
impulsionador da CPT na região do Bico
essa dimensão moral e religiosa é um fa-
do Papagaio, estado do Tocantins (antigo
tor essencial na motivação de milhares de
norte de Goiás), é apenas o exemplo mais
ativistas cristãos nos sindicatos, nas as-
conhecido – pagaram com suas vidas pelo
sociações de moradores, nas comunidades
engajamento ativo e intransigente da CPT,
de base e nas frentes revolucionárias. Os
ao lado dos trabalhadores rurais em suas
próprios pobres se conscientizam de sua
lutas por seus direitos.
condição e se organizam para lutar como
cristãos que pertencem a uma Igreja e
O milenarismo da CPT – mas também das
são inspirados por uma fé. Se conside-
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e
rarmos essa fé e essa identidade religio- do Cristianismo de Libertação de um modo
sa, profundamente arraigada na cultu- geral – se traduz na utopia sócio-religio-
ra popular, só como um “envelope” ou sa do “Reino de Deus” , não como trans-
“roupagem” de interesses sociais e eco- cendência projetada em um outro mundo,
nômicos, estaremos incorrendo no tipo de mas como uma sociedade nova aqui em-
abordagem reducionista que nos impede baixo, fundada no amor, na justiça e na
de entender a riqueza e a autenticidade do liberdade. Entretanto, contrariamente ao
movimento verdadeiro. milenarismo tradicional, este “Reino” não
é concebido como iminente, mas sim como
De todas as estruturas do Cristianismo da fruto de uma longa marcha – caminhada
Libertação no Brasil, poucas encarnam a é a palavra mais utilizada neste contexto
“opção prioritária pelos pobres” de modo – até a Terra Prometida, segundo o mode-
3 Max Weber, “Zwischenbetrachtung”, in: Die Wirtschaftsethik der Weltreligionen. Konfuzianismus und Taoismus, Tü-
bingen: JCB, Mohr, 1989, p. 485- 486. Inglês:“Religious rejections of the word and their directions”, in: H.H. Gerth e C.W.
Mills, orgs., From Max Weber. Londres: Routledge, 1967, p. 329.
4 O pesquisador brasileiro Luiz Inácio Germany Gaiger considera que os agentes pastorais da CPT cumpriram a função
de “intelectuais orgânicos” (no sentido gramsciano) do movimento camponês em sua origem. cf. Agentes religiosos e
camponeses sem terra no sul do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 58-60.
5 Os bispos mais ativos no apoio à CPT foram dom Moacir Grecchi, dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Ara-
guaia e dom Tomás Balduino, bispo de Goiás. Cf. Pe. José Oscar Beozzo, A Igreja do Brasil, Petrópolis: Vozes, 1994,
p.129-130.
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
lo bíblico do Êxodo. As lutas sociais pre- dores agrícolas para se organizar. Como
sentes são teologicamente interpretadas escreveu Sérgio Görgen – padre francisca-
como etapas que prefiguram e anunciam o no e um dos principais dirigentes da CPT
Reino. Uma leitura inovadora e carregada no estado do Rio Grande do Sul: «A CPT
de historicidade social da Bíblia é uma dos não substitui a organização de classe. Ela
elementos formadores decisivos deste mi- tenta contribuir, aconselhar, ajudar na
lenarismo sui generis e da sua transmis- conscientização, aprimorar as formas de
são aos segmentos populares6. organização, de estudar cientificamente a
realidade, mas não substitui os órgãos re-
Uma das características centrais da cultu- presentativos dos trabalhadores»7.
ra sócio-religiosa da CPT – que se encon-
tra integralmente no MST – é a crítica das Entretanto, na prática, a distinção entre
consequências sociais dramáticas da in- “assessorar” – um termo rico de significa-
trodução do capitalismo no campo – fome, dos – e dirigir não é sempre tão fácil de es-
expulsão dos camponeses, pauperização, tabelecer. Tensões e conflitos inevitáveis
êxodo rural. Desta visão crítica radical de- surgiram durante os anos de formação
corre a denúncia da política de “moderni- do MST, entre a organização autônoma
zação” autoritária dos militares e dos seus e alguns membros do clero na CPT. Mas,
projetos faraônicos, assim como o pro- pouco a pouco, os dirigentes da CPT e a
testo contra a orientação neoliberal dos maioria dos bispos que lhe são próximos
governos civis neoliberais que sucederam, aceitaram a separação do MST, aportan-
de 1985 a inícios dos anos 2000, o regime do ao movimento um apoio consequente e
militar. respeitando sua autonomia8.
6 Cf. Scott Mainwaring, The Catholic Church and Politics in Brazil 1916-1985. Stanford: Stanford University Press,
1986, p. 178-181; L.I.G. Gaiger, Agentes religiosos..., p. 34. Ver, por exemplo, o livro do biblista e beneditino Marcelo de
Barros Souza publicado pela CPT, A Bíblia e a luta pela terra. Petrópolis: Vozes/CPT, 1983.
7 Frei Sérgio Antônio Görgen, Os cristãos e a questão da terra. São Paulo: FTD, 1987, p. 67-68.
8 Entrevista com Sérgio Görgen, 5 jun. 1999.
197
Tabela 11 - Manifestações
UF Ocorrências Pessoas
Centro-Oeste
DF 28 11822
GO 9 1490
MS 30 1820
MT 16 2510
Subtotal: 83 17642
Nordeste
AL 36 11200
BA 82 25092
CE 5 6050
MA 31 3815
PB 16 7800
PE 54 14120
PI 8 5250
RN 6 1350
SE 5 10440
Subtotal: 243 85117
Norte
AC 6 6300
AM 13 1740
AP
PA 35 6570
RO 22 6450
RR 4 3728
TO 6 940
Subtotal: 86 25728
Sudeste
ES 9 850
MG 40 5870
RJ 5 200
SP 19 5512
Subtotal: 73 12432
Sul
PR 30 22410
RS 15 5800
SC 8 1440
Subtotal: 53 29650
Notas da CPT
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
ISSN 1676-661X
201
Tristes recordes da anti-reforma agrária
Só na região Sul do Pará, no final de 2017, Goiânia, 14 de março de 2018 (Dia Internacio-
a Vara Agrária de Marabá determinou a
nal de Luta contra as Barragens).
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi “lidera uma associação criminosa, com o
surpreendida ontem (27) com a notícia da fim de cometer diversos crimes, tais como,
prisão do Padre José Amaro Lopes de Sou- ameaça à pessoa, esbulho possessório, ex-
sa, em Anapu, Pará. torsão, assédio sexual, importuna ofensa
ao pudor, constrangimento ilegal e lava-
Padre Amaro faz parte da equipe pastoral gem de dinheiro.”
da Prelazia do Xingu e da equipe da CPT
à qual pertencia a Irmã Dorothy Stang, Até o momento não tivemos acesso ao
assassinada em 2005, em Anapu, na luta Inquérito Policial que deu origem a este
pelo direito à terra para os que dela pre- mandado de prisão, mas há suspeita de
cisavam e na defesa de uma convivência que houve uma ação bem orquestrada
harmoniosa com a natureza. Por isso, ela para juntar elementos, não se sabe de que
foi incansável e obstinada na concretiza- qualidade, que pudessem sustentar uma
ção dos chamados PDS, Projetos de De- decretação de sua prisão. A ordem de pri-
senvolvimento Sustentável. são se baseia não em fatos concretos, mas
em depoimentos de fazendeiros e de outras
O Padre Amaro e as Irmãs de Notre Dame pessoas que se dispuseram a atestar con-
de Namur (Congregação à qual Irmã Do- tra o padre.
rothy pertencia) continuaram apoiando as
comunidades que lutavam pela terra e o O que chama a atenção é que boa parte
PDS, como Dorothy fazia. Durante estes 13 do inquérito, como se extrai do mandado
anos, após a morte de Dorothy, sofreram de prisão, começou a ser elaborada após
vários tipos de ataques e ameaças. Desde a prisão de um motorista que trabalhava
2001 o Centro de Documentação Dom To- com o Pe. Amaro, em janeiro último. Vá-
más Balduino, da CPT, registra ameaças rios depoimentos, citados no mandado,
de morte contra o Pe. Amaro que se suce- iniciam dizendo praticamente que, ao sa-
deram diversas vezes nos anos seguintes. ber da prisão do referido motorista, aí sim
decidiram comparecer à delegacia para
A prisão do Pe. Amaro é uma medida que agregar algumas informações a respeito
vem satisfazer a sanha dos latifundiários da ação do Pe. Amaro, que é apresenta-
da região que pretendem de toda forma do como o grande líder e incentivador das
destruir o trabalho realizado pela CPT, e ocupações de terras no município. A ele se
desmoralizar os que lutam ao lado dos pe- incrimina, inclusive, ser o incentivador de
quenos para ver garantidos os seus direi- assassinatos de pessoas, a fim de caracte-
tos. E se enquadra no contexto do cenário rizar a região como de conflitos agrários.
nacional em que os ruralistas ditam os ru- A juíza sequer ouviu o Ministério Público
mos da política brasileira. antes de decretar a prisão do padre.
cido pelos conflitos no campo que amea- trabalham: “Padre Amaro é um incansável
çam, escravizam e assassinam dezenas de defensor dos direitos humanos e, por isso,
homens e mulheres todos os anos. Anapu é odiado pelos exploradores da região e por
não escapa desse cenário. Irmã Dorothy, aqueles que acobertam seus crimes. Há
padre Amaro e as irmãs de Notre Dame de muito tempo que ele vem sendo ameaçado
Namur colocaram suas vidas a serviço das de morte pelos latifundiários, por aqueles
pessoas abandonadas pelo Estado à pró- que querem se apropriar criminosamen-
pria sorte. A partir de sua atuação foram
te de terras públicas para explorá-las, às
criados os PDS’s, como uma alternativa
custas da expulsão do povo que precisa
de desenvolvimento sustentável, transfor-
das terras para sobreviver”.
mando terras, em sua maioria públicas e
apropriadas indevidamente por poucos,
em um projeto de agricultura que além Também fazemos nossa a preocupação
de garantir a subsistência das famílias e das irmãs de o Padre Amaro ter sido “le-
de abastecer as mesas da cidade, buscam vado para o presídio em Altamira, uma vez
preservar ao máximo o meio ambiente. que Taradão - o mandante do assassinato
É uma nova forma de se conviver com a de Dorothy - está lá. Isso coloca a vida do
terra, uma nova proposta de sociedade, e padre Amaro em sério risco”.
isso incomoda aqueles que querem manter
seus interesses escusos. Dorothy não foi A Diretoria e a Coordenação Nacional da
apenas morta nesse chão, ela foi planta- CPT denunciam mais este esquema de ata-
da nessa terra e sua luta continuou e irá car os que defendem o direito dos e das
continuar pelas mãos de tantas mulheres camponeses de lutar pela terra e por con-
e homens da terra, de padre Amaro, pelo
dições de vida dignas, os que, como o papa
trabalho das organizações populares, da
CPT e por todo o povo pobre que resiste Francisco pede, sabem mergulhar os pés
bravamente e diariamente no campo. na lama para estar junto dos que são in-
justamente espoliados dos seus direitos e
Como dizem as irmãs que com o padre da dignidade de pessoas humanas.
crise política e social – crise de destino pois contamos com a luz e a força daquele
como nação – em que a minoria de po- que disse a verdade: “o que vocês fizeram a
der mergulha cada vez mais o Brasil. algum dos meus irmãos mais pequeninos,
Mas não os deterão, nem a nós com eles, a mim o fizeram” (Mateus 25,40).
Quando a gente pensa que, neste País, en- A Equipe da CPT em Anapu atuava e atua
volvido a cada dia em novos escândalos, na defesa dos camponeses que buscam
nada mais pode nos surpreender, surge terra e a desejam cultivar de maneira sus-
algo novo que nos surpreende ainda mais. tentável como a missionária propugnava.
Por isso, no decorrer de praticamente duas
Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como décadas, vem sofrendo com denúncias,
Taradão, foi condenado pelo Tribunal do ameaças, agressões diversas, chegando
Júri em abril de 2010 como um dos man- à eliminação física de irmã Dorothy em
dantes do assassinato da missionária Do- 2005, e agora, há praticamente dois me-
rothy Stang no dia 12 de fevereiro de 2005, ses, à eliminação moral do Padre Ama-
em Anapu (PA). Foi condenado a 30 anos ro, que está em prisão sob as acusações
de prisão, mas gozava de liberdade por for- mais esdrúxulas e absurdas para satis-
ça de habeas corpus que lhe fora conce- fazer a sanha belicosa dos ruralistas que
dido em 22 de agosto de 2012. O STF, no não aceitam que alguém se interponha nos
dia 21 de junho do ano passado, revogou seus caminhos de acumulação de terras
este habeas corpus e ele voltou à prisão. A e de capital e de devastação do meio am-
apelação da defesa para que ele fosse posto biente. Quem se atrever a levantar a voz
em liberdade foi negado pelo Superior Tri- em favor dos sem terra, dos camponeses
bunal de Justiça (STJ), que então apelou pobres, posseiros, ribeirinhos e de outras
ao STF, resultando na decisão do ministro comunidades rurais certamente vai en-
Marco Aurélio, que concede novo habeas frentar a perseguição.
corpus para que Taradão aguarde em li-
berdade o julgamento definitivo das ape- Vivemos a lamentável situação em que au-
lações feitas a outras instâncias do Judi- toridades de diversas instâncias, tanto do
ciário. Executivo, quanto do Legislativo e do Ju-
diciário dão o suporte que esses latifun-
A Diretoria e Coordenação Executiva Na- diários precisam para continuar impondo
cional da CPT, comprometidas com o povo seus interesses sobre os povos e comuni-
da terra, das águas e das florestas, reite- dades. Na segunda-feira, 28 de maio, ou-
radamente tem se expressado sobre como tro habeas corpus que será julgado é o de
a impunidade alimenta cotidianamente a Padre Amaro. Diante desse cenário de in-
violência contra os trabalhadores e tra- justiças e perseguições, nos apoiamos na
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
profecia de Isaías e nos indignamos pro- “Ai dos que absolvem o ímpio mediante su-
fundamente diante do quadro que vivemos borno e negam ao inocente a sua justiça!”
e com ele dizemos: Is. 5,23.
Poucas horas antes de a CPT lançar, em gadores. Pe. Amaro ainda foi acusado de
Brasília, no dia 4 de junho de 2018, a causar “tumulto social” em Anapu e de ser
edição referente a 2017 de “Conflitos no chefe de quadrilha armada na região, temi-
Campo Brasil”, o Tribunal de Justiça do do pelo prefeito, vereadores e fazendeiros.
Pará negou por unanimidade o pedido de
habeas corpus impetrado a favor do Padre Mantida a prisão do Padre Amaro, a vio-
José Amaro Lopes Souza, da CPT, manten- lência continua solta em Anapu. No mes-
do-o assim afastado de Anapu (PA), onde mo dia do julgamento, mais um camponês
desenvolve seu trabalho pastoral em apoio foi assassinado na luta pela terra, o jovem
às comunidades camponesas. Dez dias an- Leoci Resplandes de Sousa. Mais um que
tes, o ministro Marco Aurélio de Mello, do se soma aos 15 trabalhadores ali assassi-
Supremo Tribunal Federal, havia concedi- nados a partir de 2015. Em 09 de janeiro
do o benefício a Regivaldo Pereira Galvão, deste ano, o tio de Leoci, Valdemir Res-
o “Taradão”, condenado em segunda ins- plandes dos Santos, foi assassinado e, em
tância como mandante do assassinato da 2015, seu primo Hércules Santos de Sou-
Irmã Dorothy Stang, da CPT, em 2005, em za. À violência judiciária se soma a física,
Anapu. para o êxito de um projeto de morte.
Dorothy já condenado em Júri Popular e ao qual buscamos ser fiéis, também sob
negada ao padre cujo trabalho pastoral injúria, perversidade e condenação. Con-
incomoda os que o acusam, uma minoria fortam-nos e nos animam as palavras do
que se sente dona do território e da políti- profeta Isaías (cap. 10, vers. 1-3):
ca e age sem escrúpulos para manter seus
privilégios? “Ai dos que decretam leis injustas e dos es-
crivães que escrevem perversidades, para
Ao Pe. Amaro, às Irmãs de Anapu e à Pre- prejudicarem os pobres em juízo, e para
lazia do Xingu nosso apoio e solidariedade. arrebatarem o direito dos aflitos do meu
povo, e para despojarem as viúvas, e para
Apesar das ameaças e perseguições, não
roubarem os órfãos! Que fareis no dia do
nos demoverão da missão de serviço aos ajuste de contas, da calamidade que vem
pequenos, preferidos de Jesus de Nazaré, de longe?”.
Companheiros e companheiras em greve É uma greve que clama aos quatro cantos
de fome. para que uma verdadeira democracia volte
a vicejar em nossa terra.
A Comissão Pastoral da Terra em todo o
Brasil vem acompanhando com muita Este gesto de vocês que muitos consideram
atenção e preocupação este gesto radical tresloucado representa o que de mais sa-
que vocês estão fazendo. Em vocês a CPT grado o povo brasileiro defende, a luta por
também se sente representada pois co- dignidade, por igualdade e por uma sobe-
munga dos mesmos valores e das mesmas rania nacional que a cada dia mais está
aspirações que vocês expressam. Estamos sendo aviltada. Os valores de nossa nação,
junto com vocês torcendo para que uma de nosso povo, estão sendo negociados no
solução justa e adequada seja encontrada, balcão de negócios do mercado capitalista
no mais rápido tempo possível. internacional, insensível, implacável e in-
sensato. E cada dia são mais os vendilhões
Esta é uma greve de solidariedade. Vocês da pátria que se arvoram em defensores
estão colocando em risco suas vidas, num dos trabalhadores quando na realidade os
momento em que o fantasma da fome vol- jogam às margens da cidadania.
ta a rondar milhares e milhares de famí-
lias brasileiras em decorrência das políti- Amigas e companheiros, recebam o nosso
cas adotadas que restringem e destroem mais sincero e afetuoso abraço de toda a
direitos que os mais frágeis da sociedade, CPT, carregado de esperança de que a luta
que com muito custo conquistaram e ao de vocês não será em vão.
mesmo favorecem os que sempre quiseram
dominar e determinar os rumos da nação. Em nome de toda CPT.
Felizes vocês se forem insultados e perseguidos e se disserem todo tipo de calúnia con-
tra vocês, por causa de mim” (Mt 5, 11).
Nós, Conselheiros e Conselheiras, Coor- to de Cristo, que veio para que tivéssemos
denação Executiva Nacional e Diretoria vida e vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em A CNBB nos representa. Nós somos CNBB.
reunião do Conselho Nacional, queremos
MANIFESTAR nosso REPÚDIO às afirma- O CIMI, diferentemente das acusações do
ções do Sr. Jair Bolsonaro que, em vídeo Sr. Jair Bolsonaro, é um Organismo da
que circula nas redes sociais, ofende a Igreja Católica que nasceu para SERVIR
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil os Povos Indígenas e tem cumprido exem-
(CNBB) e o Conselho Indigenista Missioná- plarmente esta missão, sendo muitas das
rio (CIMI), chamando estes dois Organis- vezes a única voz em sua defesa e em apoio
mos de “banda podre da Igreja Católica”. às suas lutas, para não perderem suas ter-
ras e territórios, para preservarem suas
As ofensas dirigidas a estes Organismos se culturas e direitos e para reconquistarem
estendem também a todos os católicos e a territórios dos quais foram esbulhados
todas as católicas do Brasil e do Mundo, já pela sociedade envolvente.
que somos muitos e muitas, mas forma-
mos um só corpo (cf. 1 Cor 12, 13). O CIMI, também, não pode jamais ser cha-
mado de “banda podre da Igreja Católica”.
A CNBB, diferentemente das acusações do Ele é uma das muitas formas de se prati-
Sr. Jair Bolsonaro, é um Organismo que car a caridade cristã, através da prática da
há 66 anos coordena as atividades de to- solidariedade com os Povos Indígenas. O
dos os bispos Católicos do Brasil, que tanto CIMI nos representa. Nós somos CIMI!
bem tem feito não somente à Igreja Católi-
ca, mas ao povo brasileiro, quando tomou Cremos que o povo brasileiro, os cristãos
a defesa dos perseguidos e torturados pela de todas as Igrejas e os Católicos ficarão
ditadura militar. Durante todos os anos de com quem faz o bem e promove a vida e a
sua história tem tomado posição ao lado paz; com quem busca a verdade e denun-
do bem, da verdade, da justiça, da vida, cia a mentira e as injustiças; ficarão com a
da dignidade da pessoa humana, especial- CNBB e com o CIMI.
mente dos mais pobres e excluídos. Tem se
manifestado em Documentos, Mensagens Assumimos como nossas as afirmações da
e Notas no sentido de promover a demo- Nota Conjunta da Ordem dos Advogados
cracia, os direitos dos trabalhadores, dos do Brasil (OAB), CNBB e outras entidades
povos indígenas, das comunidades campo- sobre o momento em que vivemos. Com
nesas e a favor de uma Reforma Agrária elas queremos:
autêntica.
“AFIRMAR o peremptório repúdio a toda
A CNBB, portanto, não pode jamais ser manifestação de ódio, violência, intolerân-
chamada de “banda podre da Igreja Cató- cia, preconceito e desprezo aos direitos
lica”, pelo contrário, ela nos ajuda a ser e humanos, assacadas sob qualquer pretex-
viver como cristãos e cristãs, no seguimen- to que seja, contra indivíduos ou grupos
223
sociais, bem como a toda e qualquer in- corrupção endêmica, do fisiologismo polí-
citação política, proposta legislativa ou de tico, do aparelhamento das instituições e
governo que venha a tolerá-las ou incenti- da divulgação de falsas notícias como veí-
vá-las”; culo de manipulação eleitoral, para que se
garanta o livre debate de ideias e de con-
“REITERAR a imperiosa necessidade de cepções políticas divergentes, sempre las-
preservação de um ambiente sociopolítico treado em premissas fáticas verdadeiras”.
genuinamente ético, democrático, de diá-
logo, com liberdade de imprensa, livre de “Conhecereis a verdade e a verdade vos li-
constrangimentos e de autoritarismos, da bertará” (Jo 8, 32).
*Utilizamos as letras iniciais das entidades para identificar aquelas cujo nome é apre-
sentado por extenso.
CCL Centro de Cidadania e Liderança Confapesca Conf. Nac. das Fed. e Ass. de
Pescad Artesanais, Aquicultores e
CDVDH Centro de Defesa da Vida e dos Ent. de Pesca
Direitos Humanos
CGT Confederação Geral dos
CDHHT Centro de Direitos Humanos Trabalhadores
Henrique Trindade
CNAP Confederação Nacional de
Cedefes Centro de Documentação Eloy Agricultores Portugueses
Ferreira da Silva Conafer Confederação Nacional dos
Ceifar Centro de Estudo, Integração, Agricultores Familiares
Formação e Assessoria Rural CNPA Confederação Nacional dos
Cepami Centro de Estudos da Pastoral Pescadores e Aquicultores
do Migrante Contag Confederação Nacional dos
229
Trabalhadores na Agricultura Conaq Coordenação Nacional de Articulação
CRB Conferência dos Religiosos do Brasil
das Comunidades Quilombolas
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do
Conlutas Coordenação Nacional de Lutas
Brasil
CRQ Coordenação Regional dos
Cotrec Conselho de Trabalhadores Assenta
Quilombolas
dos na Região de Cáceres
CSBP Coordenação Sindical do Bico do
CDRRI Conselho Deliberativo da Reserva
Papagaio
Extrativista Rio Ituxi
Cese Coordenadoria Ecumênica de Serviço
Coema Conselho Estadual do Meio Ambiente
Diocese
Diocese
CIR Conselho Indígena de Roraima
DCE Diretório Central dos Estudantes
Cimat Conselho Indígena Munduruku
do Alto Tapajós DJP Dominicans for the Justice and
Peace
Cimi Conselho Indigenista Missionário
Eeacone Eeacone
CNS Conselho Nacional dos Seringueiros
EIV-MG Estágio Interdisplinar de Vivência de
CP** Conselho Paroquial
CPP Conselho Pastoral dos Pescadores Minas Gerais
Crea Conselho Regional de Engenharia e Fuvi Famílias Unidas do Vale do Ivinhema
Arquitetura
FAF Federação da Agricultura Familiar
CRABI Conselho Regional dos Atingidos pela
Fapesca Federação das Associações de
Barragem de Itaipu
Pescadores Artesanais do Estado do
CP* Consulta Popular
RJ
Cooperosevelt Cooperativa Agrícola Mista de
Produção Rooselvelt FAMCC Federação das Associações e
Conselhos Comunitários do Estado
Coomigasp Cooperativa de Mineração do
Garimpo de Serra Pelada FCP* Federação das Colônias dos
Pescadores
CMTRCR Cooperativa de Mulheres
Trabalhadoras Rurais de Cáceres e NGolo Federação das Comunidades
Região Quilombolas do Estado de MG
Coopemard Cooperativa de Pescadores Marcílio FACQRS Federação das Comunidades
Dias Quilombolas do Estado do RS
Cooterra Cooperativa dos Lavradores na Luta FCQPR Federação das Comunidades
pela Terra Quilombolas do Paraná
Cemem Cooperativa Ecológica de Mulheres Fepaemg Federação de Pescadores Artesanais
Extrativistas de Marajó
do Estado de Minas Gerais
Fepearo Federação de Pescadores Artesanais
Comag* Cooperativa Mista Agroextrativista de
Gurupá e Aquicultores do Estado de
Coopervida Coopervida Rondônia
Ceqneq Coord. Est. das Com. Negras e Quil. Feraesp Federação dos Empregados Rurais
da PB
Assalariados do Estado de São Paulo
COIAB Coordenação das Organizações
Feab Federação dos Estudantes de
Indígenas da Amazônia Brasileira Agronomia do Brasil
CMS Coordenação dos Movimentos Sociais FPERJ Federação dos Pescadores do Estado
CECQESCZ* Coordenação Estadual das do Rio de Janeiro
Comunidades Quilombolas do ES FPRN* Federação dos Pescadores do Rio
Zacimba Gaba
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Grande do Norte
Agricultura do Estado de Tocantins
FPPMG Federação dos Pescadores
Profissionais de Minas Gerais Fetraece Federação dos Trabalhadores na
Fetaemg Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado do Ceará
Agricultura do Estado Fetaes Federação dos Trabalhadores na
de Minas Gerais
Agricultura do Estado
Fetaesp Federação dos Trabalhadores na
do Espírito Santo
Agricultura do Estado de São Paulo
Fetaema Federação dos Trabalhadores na
Fetacre Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão
Fetagri/PA Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado do Acre
Fetag/RJ Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado
do Pará/Amapá
Agricultores do Estado
Fetaep Federação dos Trabalhadores na
do Rio de Janeiro
Fetag/BA Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná
Fetag/PI Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado da Bahia
Fetag/PB Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí
Fetaerj Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado da Paraíba
Fetag/AL Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado
do Rio de Janeiro
Agricultura do Estado de Alagoas
Fetarn Federação dos Trabalhadores na A
Fetaeg Federação dos Trabalhadores na
gricultura do Estado
Agricultura do Estado de Goiás do Rio Grande do Norte
MAP Movimento Agrário Popular MCST Movimento dos Carentes Sem Terra
MACDV* Movimento Alerta Contra o Deserto MCP* Movimento dos Conselhos Populares
Verde
MEHT Movimento dos Expropriados da
MBB Movimento Bandeira Branca Hidrelétrica de Tucuruí
MTB** Movimento Brasil Sem Terra MPA Movimento dos Pequenos
Agricultores
MBST Movimento Brasileiro dos Sem Terra
Mopear Movimento dos Pescadores
MBTR Movimento Brasileiro dos
Artesanais do Paraná
Trabalhadores Rurais
Mopepa Movimento dos Pescadores
MBUQT Movimento Brasileiros Unidos
do Estado do Pará
Querendo Terra
MPPA Movimento dos Pescadores e
MCC Movimento Camponês Corumbiara
Pescadoras Artesanais
MCP Movimento Camponês Popular
Mopeba Movimento dos Pescadores e
MCXV Movimento Capão Xavier Vivo Pescadoras do Estado da Bahia
Moab Movimento dos Ameaçados por Bar- MTRSTB Movimento dos Trabalhadores Ru-
ragens rais Sem Terra Brasileiros
MTRSTP Movimento dos Trabalhadores Ru-
MAAP Movimento dos Assentados do Ama-
rais Sem Terra do Paraná
pá
MTST Movimento dos Trabalhadores
MABE Movimento dos Atingidos pela
Base Espacial Sem Teto
MAB Movimento dos Atingidos por MSTI Movimento dos Trabalhadores Sem
Barragens Terra Independente
233
Ecovida* Movimento Eco Vida MSST Movimento Social dos Sem Terra
Mespe Movimento Ecossocialista de Per- MSO Movimento Social Organizado
nambuco
MSTR* Movimento Socialista Trabalhista de
MDBF* Movimento em Defesa das Baías de Rondônia
Florianópolis
MSONT Movimento Sonho da Terra
Ceta Movimento Estadual de
MTV* Movimento Tapajós Vivo
Trabalhadores Assentados,
Acampados e Quilombolas MTB* Movimento Terra Brasil
MFP Movimento Fé e Política Terra Livre Movimento Terra Livre
MG* Movimento Geraizeiro MTL Movimento Terra Trabalho e
MGA* Movimento Grito das Águas Liberdade
MIG Movimento Indígena Guarani MTV Movimento Terra Vida
MIQCB Movimento Interestadual das MTEM Movimento Terra, Educação e
Quebradeiras de Côco Babaçu
Moradia
MJA* Movimento Juriti em Ação
MTL-DI Movimento Terra, Trabalho e
MNDDH Movimento Nacional de Defesa dos
Direitos Humanos Liberdade, Democrático e
Humanitas Organização para Direitos Humanos SFJP Serviço Franciscano de Justiça e Paz
e Cidadania
SAF Sindicato da Agricultura Familiar
OPA Organização Popular
Sindbancários Sindicato dos Bancários
OTL Organização Terra e Liberdade
SERJ* Sindicato dos Economistas do Rio de
Paróquias Paróquias Janeiro
PCB Partido Comunista Brasileiro SER Sindicato dos Empregados Rurais
PT Partido dos Trabalhadores SGSP Sindicato dos Garimpeiros de Serra
Pelada
PSOL Partido Socialismo e Liberdade
SJP* Sindicato dos Jornalistas
Past. da Criança Pastoral da Criança
Profissionais
PJMP Pastoral da Juventude do Meio
SM Sindicato dos Metalúrgicos
Popular
SINPRA Sindicato dos Pequenos e Médios
PJR Pastoral da Juventude Rural
Produtores Rurais Assentados
PR Pastoral Rural
SQP Sindicato dos Químicos e Petroleiros
Pégazus Pégazuz
SRBH Sindicato dos Rodoviários de Belo
Pescadores Pescadores Horizonte
Rede Alerta Rede Alerta contra o Deserto Verde Sintraf Sindicato dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar
Reapi Rede Ambiental do Piauí
Sindipetro-RJ Sindicato dos Trabalhadores na
RCONGs Rede Cerrado de Ongs Indústria do Petróleo - RJ
Rejuind Rede da Juventude Indígena STL Sindicato dos Trabalhadores na
Lavoura
Raaca-Sul Rede de Assistência Comunitária dos
Assentados e Acampados do Sul da Sindsaúde Sindicato dos Trabalhadores
Bahia na Saúde
Fian Rede de Informação e Ação pelo SEPE Sindicato Estadual dos Profissionais
Direito a se Alimentar de Ensino do Rio de Janeiro
Roda Rede de Organizações em Defesa da Sinait Sindicato Nacional dos Auditores
Água Fiscais do Trabalho
RGC* Rede Grita Cerrado Sinpaf Sindicato Nacional dos
Trabalhadores da Codevasf e
Remtea Rede Mato-Grossense de Educação
da Embrapa
Ambiental
Sind-UTE Sindicato Único dos Trabalhadores
Renap Rede Nacional de Advogados e Advo
em Educação de MG
gadas Populares
Sinergia Sinergia
SI Sem informação
SDS Social Democracia Sindical
SS Sem Sigla
Sapê Sociedade Angrense de Proteção
SAB Serviço de Animação Bíblica
Ambiental
235
SMDDH Sociedade Maranhese de Defesa dos Pernambuco
Direitos Humanos
Uniterra União dos Movimentos Sociais pela
SPDDH Sociedade Paraense de Defesa dos Terra
Direitos Humanos
USST União dos Santanenses Sem Terra
SOS Cachoeirão SOS Cachoeirão
USTN União dos Trabalhadores Rurais Sem
SOS Capivari SOS Capivari Terra do Norte
TD* Terra de Direitos UEE-RJ União Estadual dos Estudantes do RJ
Tupã 3ETupã 3E UFT União Força e Terra
UNASFP União das Associações de Fundo de UNE União Nacional dos Estudantes
Pasto
UST* União Socialista pela Terra
UMP União das Mulheres Piauienses Via Campesina Via campesina
UAPE União dos Agricultores de
Conflitos 2018
no
Campo Brasil
Fontes de Pesquisa
Comissão Pastoral da Terra Regional CE - http://cptce. Agência de Notícias da Repórter Brasil - https://repor-
blogspot.com.br/ terbrasil.org.br
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ms.blogspot.com.br/ Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva - Ce-
Comissão Pastoral da Terra Regional PI - http//cptpi. defes
blogspot.com Corte Interamericana de Direitos Humanos - OEA -
Comissão Pastoral da Terra Regional RS - http://cpt- CDH-CP
dors.blogspot.com.br/ Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos -
Comissão Pastoral da Terra Regional SP - http://www. CDVDH
cptsp.com.br/ Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical
Notícias da Terra - Boletim Informativo da CPT - RO - Popular - Cepasp
www.cptrondonia.blogspot.com Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos -
Pastoral da Terra - CPT Nacional - Goiânia - GO CEPDH
Combate Racismo Ambiental
Outras fontes
Agência 10envolvimento - BA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - Ibama
Anistia Internacional Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Articulação Nacional de Agroecologia - ANA Instituto Humanitas Unisinos - IHU
Articulação Nacional das Pescadoras - ANP Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -
Incra
Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz
- Asfoc Informe Agropecuário - Epamig - Belo Horizonte - MG
Blogs Ministério Público Estadual - MPE
Comissão de Assuntos Indígenas - CAI Ministério Público Federal - MPF
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - Ministério Público do Trabalho - MPT
CDDPH
Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo
Coletivo Amazônia de Formação e Ação Revolucionária
Observatório do Pré-Sal e da Indústria Extrativa Mi-
- Cefar
neral
Centro Alternativo do Norte de Minas
Observatório Quilombola - www.koinonia.org.br
Centro de Estudos Ambientais
Ofícios
Comitê Dorothy - PA
Organização Internacional do Trabalho - OIT-ONU
Comitê Rio Maria
Organização das Nações Unidas - ONU
Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos
Ordem dos Advogados do Brasil - OAB
Conselho Estadual de Povos Indígenas
Ouvidoria Agrária
Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós - Cimat
Plataforma Dhesca Brasil - Direitos Humanos Ecôno-
Delegacia de Polícia Civil micos, Sociais, Culturais e Ambientais
Departamento de Medicina Legal REDECCAP
Diário da Justiça Rede de Cooperação Alternativa - RCA
Documentos Gerais Redmanglar Internacional - Cogmanglar
Facebook Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares -
Renap
Fórum Carajás
Revista da Faculdade de Ciência e Tecnologia - UNESP
Fórum da Amazônia Oriental - FAOR
Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio
Fórum de Comunidades Tradicionais - FCT
Grande do Sul - SINPRO/RS
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego -
- FDHT/MT
SRTE
Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos
Universidade Federal do Pará - UFPA
Fórum do Campo Potiguar
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará
Universidade Federal de Goiás - UFG
Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas
Universidade Federal de Pernambuco - UFP
Fórum pela Reforma Agrária e Justiça no Campo
Universidade Federal Fluminense - UFF
Fórum pela Vida no Semiárido da Microrregião de So-
www.br.radiovaticana.va
bral
www.caa.org.br - Centro de Agricultura Alternativa do
Fórum Suape
Norte de Minas
Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
www.indiosnonordeste.com.br
239
www.institutopaulofonteles.org.br Agência Pará
www.intersindicalcentral.com.br Agência Petroleira de Notícias - APN
www.irpaa.org Agência Pública
www.pib.socioambiental.org/pt Agência Reuters
www.portaldomar.org.br Agência Senado
www.portalkaingang.org Agora Bahia - Salvador - BA
www.preservareresistir.org Agora Paraná
www.resistenciacamponesa.com Agora São Paulo - São Paulo - SP
www.riosvivos.org.br Alagoas 24 Horas
Alto Madeira - Porto Velho - RO
Imprensa Amazonas em Tempo - Manaus - AM
A Crítica - Manaus - AM Amigos da Terra-Amazônia Brasileira - PA
A Folha - São Carlos - SP BBC Brasil - Londres - ING
A Gazeta - Cuiabá - MT Bem Paraná - Portal Paranaense
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