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“Os dois jovens julgavam a sociedade tanto mais soberanamente quanto mais baixo se

achavam nela colocados, pois os homens esquecidos se vingam da humildade de sua posição
pela altivez do olhar. E o seu desespero era tanto mais amargo quanto iam assim mais
rapidamente aonde os conduziam seus verdadeiros destinos. Luciano havia lido muito e muito
comparado; David pesara muito e muito meditara.” (p. 47)

“Sua imaginação apossou-se daqueles olhos de fogo, daqueles elegantes anéis de cabelo onde
cintilava luz, daquela esplêndida brancura, pontos luminosos aos quais ele se prendeu como
uma borboleta atraída pelas lâmpadas. Depois, aquela alma falou muito à sua para que ele
pudesse julgar a mulher.” (p. 67)

“Para dizer em que as mudas delícias desse amor diferiam paixões tumultuosas, seria preciso
compará-lo às flores campestres contrapostas às brilhantes flores dos canteiros. Eram olhares
doces e delicados como lotos azuis que vogam sobre as águas, expressões fugitivas como o
frágil perfume da rosa brava, melancolias ternas como o veludo do musgo; flores de duas velas
almas nascidas de uma terra rica, fecunda e imutável. Eva havia muitas vezes já adivinhado a
força escondida sob essa franqueza. Compreendia tão bem tudo o que David não ousava, que
o mais ligeiro incidente podia ocasionar uma mais íntima união de suas almas.” (p. 80)

“Aquela assembleia de personagens bizarras, com roupas heteróclitas e caras mascaradas,


parecei muito imponente a Luciano, cujo coração palpitou ao ver-se objeto e todos os olhares.
Por mais ousado que fosse, não pode enfrentar facilmente essa primeira prova, apesar dos
encorajamentos de sua amada, que desenvolveu todo o fausto de suas reverências e suas mais
preciosas graças ao receber as ilustres sumidades de Angoumois.” (p. 93)

“– Não há gloria barata – disse a sra. De Bargenton, tomando lhe a mão e apertando-a. – Sofra,
sofra, meu amigo, e será grande; as dores serão o preço de sua imortalidade. Eu bem desejaria
ter de suportar as vicissitudes de uma luta. Guarde-o Deus de uma vida atônica e sem
combates, na qual as asas da águia não encontram espaço; Invejo seus sofrimentos, porque ao
menos você vive! Desenvolverá suas forças, e terá a vitória! Sua luta será gloriosa. Quando
chegar à esfera imperial onde reinam as grandes inteligências, lembre-se das pobres criaturas
deserdadas da sorte, cuja inteligência se anula sob a opressão de um azoto moral e que
parecem ter sabido sempre o que era a vida sem poder viver, que tiveram olhos penetrantes e
nada vira, cujo olfato era delicado e não aspiraram senão flores empestadas. Cante então a
planta que seca no fundo da floresta, sufocada pela lianas, por uma vegetação gulosa e
espessa, sem ter sido amada pelo sol e que morre sem haver florescido!” (p. 105)

“Há, para as criaturas que amam, um prazer infinito nos acidentes da paisagem, na
transparência do ar, nos perfumes da terra a poesia que têm na alma. A natureza fala por
elas.” (P. 106)

“- Não se pode ser um grande homem gratuitamente – afirmou Daniel com a sua voz branda. –
O gênio orvalha suas obras com lagrimas. O talento é uma entidade moral que tem, como
todos os seres, uma infância sujeita a várias doenças. A sociedade repele os talentos
incompletos, como a natureza eliminas as criaturas fracas ou malconformadas. Quem se quer
elevar acima dos homens deve preparar=se para a luta, não recuar, diante de dificuldade
alguma. Um grande escritor é um mártir que não morrerá. Eis tudo.” (p. 97)

“-A consciência, meu caro, é uma bengala de que cada qual lança mão para bater no vizinho e
da qual não se serve jamais para o uso próprio. Ora essa! Por que esta irritação? O acaso faz
para você num dia o milagre pelo qual esperei durante dois anos, e você se diverte a discutir os
meios?” (p. 266)

“- Blondet tem razão – disse Cláuio Vignon. – O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se
um meio para os partidos e de um meio passou a ser um negócio. Não tem fé nem lei. Todo
jornal é, como disse Blondet, uma loja onde se vendem ao público palavras da cor que deseja.
Se houvesse um jornal dos corcundas, haveria de provarnoite e dia a beleza, a bondade, a
necessidade das corcundas. Um jornal não é feito para esclarecer, mas para lisonjear as
opiniões. Desse modo, todos os jornais serão, dentro de algum tempo, covardes, hipócritas,
infames, mentirosos, assassinos. Matarão as ideias, os sistemas, os homens, e, por isso
mesmo, hão de tornar-se florescentes. Terão a vantagem de todos os seres pensantes: o mal
será feito sem que ninguém seja o culpado. Eu serei, eu, Vignon, vocês serão, tu Lousteau, tu
Blondet, tu Finot, Aristides, Platões, Catões, homens de Plutaro; seremos todos inocentes,
poderemos lavar-nos as mão de toda infâmia. Napoleão explicou a causa desse fenômeno
moral, ou imoral, como quiserem, numa frase sublime que lhe foi inspirada pelos seus estudos
sobre a Convenção: “Os crimes coletivos não comprometem ninguém”. O jornal pode permitir-
se o procedimento mais atroz, ninguém se julga pessoalmente conspurcado com isso. “ (p.
287-288)

“- O amor, jogado como uma chama no vasto império de seu cérebro, incendiou-o – disse Leão
Giraud.” (p. 301)

“- Certamente – disse Dauriat recostando-se sultanescamente na poltrona. – Li os seus versos


e os fiz ler por um homem de gosto, por um bom juiz, porque não tenho a pretensão de ser um
conhecedor. Eu, meu amigo, compro a glória já feita como aquele inglês comprava amor. O
senhor é tão grande poeta quanto bonito rapaz, meu filho – disse Dauriat. – Palavra de homem
honesto, não digo de livreiro! Seus sonetos são magníficos, não se sente neles o lavor, o que é
raro quando se tem inspiração e estro. Enfim, o senhor sabe rimar, uma das qualidades da
nova escola. Suas Boninas são um belo livro, mas não um negócio, e eu só me posso ocupar de
vastos empreendimentos. Em consciência, não posso ficar com os seus sonetos; ser-me-ia
impossível lança-los; não há neles a ganhar o suficiente para cobrir as despesas do
lançamento.” (p. 321)
“– É difícil – respondeu Luciano, enquanto voltavam para casa – ter ilusões sobre o que quer
que seja, em Paris. Há impostos sobre tudo. Tudo aqui se vende, tudo aqui se fabrica, até
mesmo o êxito.” (p. 349)

“Luciano viu-se na praça de Vendôme, estonteado como se acabasse de receber na cabeça um


golpe de maça. Regressou a pé, pelos bulevares, procurando julgar-se. Sentiu-se joguete de
indivíduos invejosos, ávidos e pérfidos. Quem era ele nesse mundo de ambições? Uma criança
que corria atrás dos prazeres e fozes da vaidade, sacrificando-lhes tudo; um poeta sem
reflexão profunda, dirigindo-se, de uma luz para outra luz como um borboleta, sem plano fixo,
escravo das circunstâncias, pensando bem e agindo mal. Sua consciência foi-lhe um carrasco
impiedoso.” (p. 411)

“Nem o moleiro nem a moleira poderiam imaginar que, além do ator, do príncipe e do bispo,
há um homem ao mesmo tempo príncipe e ator, um homem revestido de um magnífico
sacerdócio, o poeta, que parece não fazer nada e que todavia reina sobre a humanidade,
quando bem sabe interpretar.” (p. 429)

“Minha querida irmã,

Há dois dias, às cinco da madrugada, recebi p último suspiro de uma das mais belas criaturas
de Deus, a única mulher que poderia amar-me como tu me amas, como me amam David e
minha mãe, juntando a esses sentimentos tão desinteressados o que uma mãe e uma irmã não
poderiam dar: todas as venturas do amor! Depois de me haver sacrificado tudo, talvez a pobre
Corália tenha morrido por mim! Por mim que neste momento n~~ao tenho com que lhe fazer
o enterro... Ela me consolaria da vida; só vós, meus anjos queridos, podereis consolar-me da
sua morte. Essa inocente rapariga, creio eu, foi absolvida por Deus, porque morreu
cristãmente... Oh! Paris!... Minha Eva, Paris é ao mesmo tempo toda a gloria e toda a infâmia
da França, aqui perdi muitas ilusões, e ainda vou perder mais outras, mendigando o pouco
dinheiro que precioso para enterrar em chão sagrado o corpo de um anjo!

Teu desgraçado irmão

LUCIANO”

“Surpreendido por aquela multidão à qual se sentia estranho, aquele homem de imaginação
sentiu como que uma imensa diminuição de si mesmo. As pessoas que, no interior, gozam de
certa consideração, e que ali a cada passo encontram provas de sua importância, não se
acostumam de modo algum a essa perda total e súbita de seu valor. Ser algo em sua terra e
nada ser em Paris são dois estados que requerem transições; e aqueles que passam muito
bruscamente de uma para o outro caem numa espécie de aniquilamento.” (p. 154)

“Luciano, desde o jantar, viajava de espanto em espanto. A vida literária, que lhe parecera por
dois meses tão pobre, tão nua a seus olhos, tão horrível no quarto de Lousteau, tão humilde e
tão insolente ao mesmo tempo nas Galerias de Madeira, ostentava-se com estranhas
magnificências e sob aspectos singulares. Essa mistura de altos e baixos, de transações de
consciência, de elevações e de covardias, de traições e de prazeres. De grandezas e de
servidões deixava-o fora de si como um indivíduo empolgado por um espetáculo inaudito.” (p.
262)

“Para Luciano, a vida tornara-se um sonho mau; era-lhe indiferente viver ou morrer. A
coragem peculiar ao suicida serviu-lhe então para aparecer forrado de bravura aos olhos dos
espectadores do duelo. Permaneceu em seu lugar, sem avançar. Essa despreocupação passou
por frio cálculo; acharam que o poeta era muito forte. Miguel Chrestien avançou até o seu
limite. Os dois adversários fizeram fogo ao mesmo tempo, porque os insultos haviam sido
considerados iguais. Ao primeiro tiro, a bala de Chrestien aflorou o queixo de Luciano, e a bala
deste passou a dez pés acima da cabeça do adversário. Ao segundo tio, a bala de Miguel se
alojou na gola da sobrecasaca do poeta, a qual, por felicidade, era acolchoada e guarnecida de
entretela. Ao terceiro tipo, Luciano recebeu a bala no peito e caiu.

- Está morto? – perguntou Miguel.

- Não – respondeu o cirurgião –, há de curar-se.

- Tanto pior! – respondeu Miguel.

- Oh, sim, tanto pior – repetiu Luciano, deixando correr as lágrimas.” (p. 413)

“Minha irmã bem-amada,

Vimo-nos há pouco pela última vez. Minha resolução é inabalável. Eis o motivos: em muitas
famílias, encontra-se uma criatura fatal que é para as mesmas uma espécie de doença. Eu sou
essa criatura para vós. Não é minha esta observação, mas de um homem que muito conheceu
o mundo. Ceávamos uma noite entre amigos, no Rochedo de Cancale. Entre os mil gracejos
que então se trocaram, disse-nos aquele diplomata que certa jovem a quem viam com espanto
continuar solteira estava doente de seu pai. Desenvolveu-nos então a sua teoria sobre as
doenças de família. Explicou-nos como, sem tal mãe, tal casa teria prosperado, como tal filho,
arruinara o pai, com tal pai destruíra o futuro e a consideração dos filhos. Embora sustentada a
rir, essa tese social foi apoiada em dez minutos com tantos exemplos que fiquei
impressionado. Essa verdade compensava todos os paradoxos insensatos, mas
espirituosamente demonstrados, com que os jornalistas se divertem entre si, quando não têm
a quem mistificar. Pois bem, eu sou a criatura fatal da nossa família. Com o coração cheio de
ternura, procedo como um inimigo. A todos os vossos devotamentos tenho correspondido
com males. Embora involuntariamente desferido, o último golpe foi o mais cruel de todos,
Enquanto eu levava em Paris uma vida sem dignidade, cheia de prazeres e de misérias,
tomando a camaradagem por amizade, deixando a verdadeiros amigos por gente que queria e
devia explorar-me, esquecendo-vos e só me lembrando de vós para causar-vos mal, seguireis a
humilde vereda do trabalho, encaminhando-vos penosa mas seguramente para a fortuna que
eu tentava tão loucamente apanhar de surpresa. Enquanto vos tornáveis melhores eu
introduzia em minha vida um elemento funesto. Sim, tenho ambições desmensuradas, que me
impedem de acetar uma vida humilde. Tenho os gostos e prazeres cuja lembrança envenena as
alegrias que estão a meu alcance e que outrora me teriam satisfeito. Ah, minha querida Eva,
julgo-me com mais severidade do que ninguém, pois me condeno sem remissão e sem piedade
para comigo mesmo. A luta em Paris exige uma força constante, e minha vontade só marcha
por acessos: meu cérebro é intermitente. O futuro tanto me assusta que não quero futuro, e o
presente me é insuportável. Desejei rever-vos, quando teria feito melhor expatriar-me para
sempre. Mas o exílio, sem meios de vida, seria uma loucura, e eu não acrescentarei às
restantes. A morte parece-me preferível a uma vida incompleta; e, em qualquer posição em
que me suponha, sei que mina excessiva vaidade me faria cometer tolices. Certas criaturas são
como zeros, é-lhes preciso um algarismo que as preceda, e o seu nada adquire então um valor
décuplo. Só posso adquirir valor por um casamento com uma vontade forte, inabalável. A sra.
Bargenton era mesmo a mulher para mim, e eu pus a perder a minha vida não abandonando
Corália por ela. David e tu, poderíeis ambos ser excelentes pilotos para mim; mas não sois
bastante fortes para domar minha fraqueza, que de certo modo se furta à dominação. Gosto
de uma vida fácil, sem aborrecimentos; e, para desembaraçar-me de uma contrariedade, sou
de uma covardia que pode levar-me muito longe. Nasci príncipe. Tenho mais destreza de
espírito do que é preciso para vencer, mas só a tenho por um momento, e o prêmio, numa
carreira percorrida por tantos ambiciosos, pertence àquele que apenas desenvolve ao fim da
jornada. Faria o mal, como abado de o fazer aqui, com as melhores intenções do mundo. Há
homens carvalhos, e eu talvez não seja mais que um arbusto elegante, com pretensões a
cedro. Eis aí o meu balanço. Esse desacordo entre meus recursos e meus desejos sempre há de
anular todos os meus esforços. Há muitos desses caracteres na classe letrada, devido a
contínuas desproporções entre a inteligência e o caráter, entre o querer e o desejo. Qual seria
o meu destino? Posso vê-lo de antemão ao lembrar-me de algumas velhas glórias parisienses
que encontrei inteiramente esquecias. Ao limiar da velhice, estarei mais velho que os meus
anos, sem fortuna e sem consideração. Todo o meu ser atual repele semelhante velhice: não
quero ser um farrapo social.

Querida irmã, adorada tanto por teus últimos rigores como tuas primeiras ternuras, se
pagarmos caro o prazer que tive em tornar a ver-te, e a David, considerareis talvez mais tarde
que nenhum preço era demasiado elevado para as derradeiras venturas de um pobre ente que
vos amava!... Não procureis saber de mim nem de meu destino; ao menos me terá servido a
minha inteligência para a execução de meus desejos. A resignação, meu anjo, é um suicídio
cotidiano; mas eu só tenho resignação para um dia, vou aproveitá-la hoje...

Duas horas.

Sim, está definitivamente resolvido. Adeus, pois, para sempre, minha querida Eva. Sinto certa
doçura em pensar que não viverei senão em vossos corações. Aí será meu túmulo... não quero
outro. Mais uma vez, adeus! É o último de teu irmão

LUCIANO” (p. 548)

“Em relação à gravidade do assunto, muito pouco se tem escrito sobre o suicídio, nem tem
sido devidamente observado. Talvez não seja essa uma doença suscetível de observação. O
suicídio é efeito de um sentimento que denominaremos, se quiserem, a estima de si mesmo,
para não confundi-lo com a palavra ‘honra’. No dia em que o homem se despreza, no dia em
que se vê desprezado, no momento em que a realidade da vida está em desacordo com as
suas esperanças, mata-se, e presta assim satisfação à sociedade, perante a qual não quer ficar
despojado de suas virtudes ou de seu esplendor. Por mais que se diga, entre os ateus (cumpre
excetuar os cristãos do suicídio), só os covardes aceitam uma vida desonrada.
O suicídio é de três naturezas: primeiro o suicídio que não é mais que o último acesso de um
alonga enfermidade e que sem dúvida pertence à patologia; depois o suicídios por desespero;
e, finalmente, o suicídios por raciocínio.

Luciano queria matar-se por desespero e raciocínio, as duas espécies de suicídio de que se
pode voltar atrás porque de irrevo- [550] gável só há o suicídio patológico; mas às vezes as três
causas se reúnem, como em Rousseau.

Uma vez tomada a resolução, começou Luciano a procurar os meio de executá-la, e o poeta
quis findar poeticamente. Primeiro pensara apenas em atirar-se às aguas do Charente; mas, ao
descer pela última vez a ladeira de Beaulieu, ouviu antecipadamente o barulho que provocaria
o seu suicídio, viu o terrível espetáculo de seu corpo vindo à tona n’água, deformando, e
objeto de inquérito policial, sentiu, como alguns suicidas, um amor-próprio póstumo.” (p. 549-
550)

“Sem esperar pela resposta de Luciano, o espanhol tirou do bolso um estojo de charutos e
estendeu-o aberto a Luciano, para que se servisse de um.

- Eu não sou viajante – respondeu Luciano – e estou demasiado próximo do gim de minha
jornada para que me permita o prazer de fumar...

- O senhor é muito severo consigo mesmo – retrucou o espanhol. – Embora cônego honorário
da catedral de Toledo, eu de tempos em tempos me permito um charutinho. Deus nos deu o
fumo para adormecer nossas paixões e nossas ores... O senhor me parece ter um pesar, pelo
menos traz o seu símbolo na mão, como o triste deus himeneu. Tome... todos os seus pesares
se dissiparão com o fumo...

E o padre tornou a apresentar a charuteira de palha, com uma espécie de sedução, lançando a
Luciano olhares animados de caridade.

- Perdão, meu padre – replicou secamente Luciano –, não há charutos que possam dissipar os
meus pesares...

Ao dizer isso, os olhos de Luciano encheram-se de lágrimas.

- Oh! Meu jovem, foi então a Divina Providência que fez com que eu desejasse sacudir com um
pouco de exercício a pé o sono que acomete os viajantes pela manhã, para que , consolando-o,
pudesse eu obedecer à minha missão neste mundo?... E que grandes pesares se pode ter na
sua idade?

- As suas consolações, meu padre, seriam de tão inúteis: o senhor é espanhol, eu sou francês;
o senhor acredita nos mandamentos da igreja, eu sou ateu...

- Santa Virgem del Pilar! O senhor é ateu! – exclamou o padre, tomando do braço de Luciano
com maternal solicitude. – Pois eis aí uma das curiosidades que eu tencionava observar em
Paris! Na Espanha, não acreditamos nos ateus... só mesmo na França é que pode alguém ter
tais ideias aos dezenove anos.

- Oh! Eu sou um ateu completo; não creio nem em Deus nem na sociedade nem na ventura.
Olhe-me bem, meu padre, pois daqui a algumas ora eu não mais existirei... Eis o meu último
sol!... – disse Luciano, com certa ênfase, apontando para o céu.
- Hum! Que fez para morrer? Quem o condenou à morte?

- Um tribunal soberano: eu mesmo!

- Criança! – exclamou o padre. – Matou algum homem? Espera-o o cadafalso? Raciocinemos


um pouco. Se quer voltar para o nada, na sua opinião, tudo lhe é indiferente neste mundo, não
é?

Luciano inclinou a cabeça em sinal de assentimento.

- Pois bem, pode então contar-me as suas penas?... Trata-se sem dúvida de alguns amoricos
que não vão bem, não é assim?

Luciano deu de ombros muito significativamente.

- Quer então matar-se para evitar a desonra ou porque desespera da vida? Pois bem, poderá
matar-se tanto em Poitiers. As areias movediças do Loire não devolvem a sua presa.

- Não, meu padre – respondeu Luciano -, tenho o que me serve. Há vinte dias, vi a mais
encantadora enseada em que possa aportar ao mundo um homem desgostoso deste...

- Ao outro mundo? O senhor não é ateu!

- Oh! O que eu entendo por outro mundo é a minha futura transformação em animal ou em
planta...

- Tem alguma doença incurável?

- Sim, meu padre...

- Ainda bem que chegamos a algo de positivo; e que doença é?

- A pobreza.

O padre olhou para Luciano, sorrindo, e disse-lhe com uma graça infinita e um sorriso quase
irônico:

- O diamante ignora o seu valor.

- Só que padre poderia lisonjear um pobre que vai morrer!... – exclamou Luciano.

- Não morrerá! - disse o espanhol com autoridade.

- Já ouvi dizer – retrucou Luciano - que roubavam as pessoas na estrada, mas que as
enriquecessem eu não sabia.

- Vai sabe-lo – disse o padre, depois de verificar se a distância que se encontravam do carro
ainda lhes permitia darem alguns passos a sós.” (p. 550 – 551)

“Não veja nos homens, e principalmente nas mulheres, senão instrumentos; mas não deixe
que eles o percebam. Adore como ao próprio Deus aquele que, colocado acima do senhor, lhe
pode ser útil, e não o abandone até que ele lhe tenha pago bem caro a sua servidão. No
comércio do mundo, seja, em suma, duro como o judeu e vil como ele: faça pelo poder o que
faz ele pelo dinheiro. Mas também preocupe-se tanto com o gomem que caiu como se ele
jamais tivesse existido. Sabe por que deve proceder assim?... O senhor quer dominar o mundo,
não é? Pois é preciso começar por obedecer ao mundo e estuda-lo bem. Os sábios estudam os
livros, os políticos estudam os homens, seus interesses, as causas geradoras de seus
interesses, as causas geradoras de ações. Ora, o mundo, a sociedade, os homens tomados em
conjunto são fatalistas: eles adoram o acontecimento. Não sabe por que lhe faço esse
pequeno curso de história? É que o julgo de uma ambição desmedida...” (p. 557)

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