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Revista Caminhos modernos da

Tempo musealização: a fabricação


Amazônico de musealia no Ocidente

Bruno Brulon*

RESUMO: O artigo apresenta alguns dos marcos no


desenvolvimento histórico dos museus modernos no Ocidente,
buscando definir a especificidade da musealização como
processo de produção de objetos de museu (musealia),
constitutivos de um regime de valor específico. A musealização,
conceito cuja centralidade na museologia contemporânea vêm
se mostrando incontestável na démarche por legitimação dessa
disciplina, apresenta traços históricos que permitem a sua
compreensão como processo por um lado marcado pela
necessidade humana de transmissão da cultura, e, por outro,
atravessado pelas particularidades inerentes ao contexto
histórico da Europa moderna.

Palavras-chave: Musealização. Museu. História do Ocidente.


Coleção.

ABSTRACT: This paper presents some of the landmarks in the


historical development of the modern museum in the West. Its
goal is to define the specificity of the musealization process as a
process of production of museum objects (musealia)
constitutive of a particular regime of value. Musealization, a
concept whose centrality in contemporary museology has
proven to be incontestable in the démarche for the discipline’s
legitimation, shows historical traces that allow it to be
conceived as a process that is marked by the human necessity
for the transmission of culture, on the one side, and
characterized by the particularities of the historical context of
modern Europe, on the other.

Keywords: Musealization. Museum. Western History.


Collection.

*
Bruno Brulon é museólogo e historiador. Professor de Museologia no Departamento de Estudos e Processos
Museológicos – DEPM. Mestre em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (Unirio/MAST). Doutor em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor da
dissertação “Quando o museu abre portas e janelas: o reencontro com o humano no museu contemporâneo”
(2008), da tese “Máscaras guardadas: musealização e descolonização” (2012) e de diversos outros trabalhos no
campo da museologia e do patrimônio.

Revista Tempo Amazônico - ISSN 2357-7274| V. 3 | N.1 | julho-dezembro de 2015 | p. 42-61


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Deixar um legado para que se torne eterno – eis o desejo de certos colecionadores que
criavam, no século XVIII, os primeiros museus públicos do mundo moderno. A eternidade
que almejavam estava atrelada à transmissão de seus nomes individuais ligados a coleções
destinadas, a partir de sua vontade, a se tornarem públicas, visitáveis, comunicadas às
gerações posteriores por meio do ato, inventado neste contexto histórico, da musealização1.
Um dos primeiros casos de musealização conhecido na Modernidade se configurou a
partir da vontade de um único colecionador desejando se fazer eterno, resultando na criação
de um dos primeiros museus públicos da história. Em 1753, ano de sua morte, Sir Hans
Sloane (1660-1753) estabelece em seu testamento a sua vontade de doar ao Estado inglês, em
sua integralidade, as suas coleções privadas, que dariam origem ao primeiro museu público
britânico, até hoje conhecido como o British Museum. Entre as exigências mais peculiares
para o seu tempo, estava a visitação periódica do público àquilo que seria um patrimônio
nacional musealizado, ou musealia – termo convencionado na museologia para se referir, de
modo geral, a “objeto de museu” ou objeto musealizado.
Ao deixar o seu legado para a nação, esse colecionador buscava “eternizar” suas
coleções como fonte de conhecimento universal para os intelectuais e o público mais amplo, 43
e, na medida em que inventava um novo tipo de processo de transmissão, certamente, tentava
investir nos objetos reunidos um sentido de sagrado que já estava ligado à sua permanência no
tempo, como fica claro no texto de seu testamento:
[...] being fully convinced that nothing tends more to raise our ideas of power,
wisdom, goodness, providence, and other perfections of the Deity, or more to the
comfort and well being of his creatures than the enlargement of our knowledge in
the works of nature, I do Will and desire that for the promoting of these noble ends,
the glory of God and the good of man, my collection in all its branches may be, if
possible kept and preserved together whole and intire […] that the same may be,
from time to time, visited and seen by all persons desirous of seeing and viewing the
same, under such statutes, directions, rules and orders, as shall be made, from time
to time, by the said trustees […] that the same may be rendered as useful as possible,
as well as towards satisfying the desire of the curious, as for the improvement,
knowledge and information of all persons […].2

1
No presente artigo, a “musealização” é historicamente entendida como “ato”, o que não exclui ou nega outras
abordagens contemporâneas que discutem a musealização como “processo” (BRUNO, 2014), ou como
“processo de atribuição de valor” (BRULON-SOARES, 2012) por meio de uma cadeia operatória que escapa aos
próprios museus.
2
“[...] estando totalmente convencido de que nada tende a elevar mais nossas ideias de poder, sabedoria,
bondade, providência, e outras perfeições da Divindade, ou o conforto e o bem estar de suas criaturas do que o
alargamento de nosso conhecimento nas obras da natureza, eu expresso minha VONTADE e desejo de que para
a promoção desses fins nobres, para a glória de Deus e o bem do homem, minha coleção, bem como todas as
suas ramificações, deva ser, se possível, mantida e preservada de forma integrada e como um todo [...] que a
mesma seja, de tempos em tempos, visitada e vista por todas as pessoas desejosas de verem e contemplarem a
mesma, de acordo com os estatutos, direções, regras e ordens, estabelecidos, de tempos em tempos, pelos
depositários responsáveis [...] que a mesma seja feita o mais útil possível, tanto para satisfazer o desejo dos
curiosos, quanto para a melhoria, o conhecimento e a informação de todas as pessoas [...]”. (Tradução nossa). O

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Tendo por princípio a disseminação do conhecimento e uma continuidade divina para


justifica-la, Sloane buscou legitimar a sua eternização por meio da invocação direta à “Deus”,
como principal razão para transformar seus bens privados em musealia. O destino do museu
que seria criado a partir de sua coleção provaria que a evocação do sagrado bem como a
menção a certos mitos históricos se mostraria necessária tendo esses últimos como traços
palpáveis para comprovar uma relação com as “origens” comuns inventadas pelo processo de
criação das identidades nacionais na Europa.
O British Museum é criado, após a morte de seu principal idealizador, por um ato do
Parlamento que lhe atribuiu tal nome. Ao ser finalmente aberto ao público em 1759, o museu
passa a perpetuar as suas intenções de transmissão de conhecimento a todas as pessoas. Não
havia, nesse momento, um museu nacional na Inglaterra, ou mesmo no restante da Europa,
onde as grandes coleções de livros e curiosidades geralmente pertenciam aos soberanos3. O
que é criado com o British Museum é uma nova concepção de transmissão de conhecimento
ao público, o que tem início com uma vasta coleção mas que não se limita a ela.
A musealização, conceito cuja centralidade na museologia contemporânea vêm se
mostrando incontestável na démarche por legitimação dessa disciplina, apresenta traços
44
históricos que permitem a sua compreensão como processo por um lado marcado pela
necessidade humana de transmissão da cultura, e, por outro, atravessado pelas
particularidades inerentes ao contexto histórico da Europa moderna. Na presente análise,
propomos nos remontar aos caminhos que levaram a musealização a se legitimar como
processo necessário para a concepção moderna da cultura e do conhecimento disseminados no
Ocidente, e como ato inerente à vontade humana da permanência pela transmissão.

Alguns antecedentes históricos da musealização

O aspecto secreto das coleções, que nasce com os objetos guardados pela religião,
ainda na Antiguidade, e, depois, na Idade Média, tinha, entre outras, a clara função de conferir
prestígio aqueles a quem o segredo era revelado. Em muitos casos essa revelação tinha até
mesmo a força de uma iniciação. Colecionar, durante a Antiguidade e a Idade Média, como
uma atividade estreitamente ligada ao poder ou à fé, tinha o sentido de formar regalia, os

testamento de Sir Hans Sloane foi publicado em Londres em 1953, e uma cópia está disponível na British
Library. SLOANE (1753 apud WILSON, 2002, p.19).
3
Ibidem, p.22.

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tesouros dos templos ou das igrejas4. Foi, de fato, a partir do desenvolvimento dessas coleções
no interior de esferas religiosas da sociedade em que era formulada a concepção de um “lugar
sagrado”, e onde as ideias de mito e mistério se veem conectadas5, que se definiram, mais
tarde, os primeiros museus. Estes iriam, em sua origem, assimilar o caráter de “templos”,
perpetuado na Modernidade, no processo de legitimação das instituições hoje pensadas como
“clássicas”.
A relação museu-templo, com efeito, fundada no Ocidente moderno, não é de todo
superficial. A natureza dos objetos em uma coleção em um museu remete experiencialmente
às oferendas acumuladas e expostas nos templos gregos e romanos. O objeto oferecido aos
deuses na Antiguidade – e ainda hoje – não se pode tocá-lo; “subtraí-lo, deslocá-lo ou desviá-
lo do seu uso” são atos de sacrilégio6. O mero toque é uma ameaça à sua sacralidade – e
também ao mistério que o envolve.
Analogamente, também desde a Antiguidade, os objetos mantidos fora do circuito das
atividades econômicas eram acumulados nas residências dos detentores de poder. Esses
objetos adquiridos por compra ou presente, depositados nos tesouros particulares e guardados
com cuidado especial, não eram, em geral, acessíveis e a sua exibição tinha apenas lugar em 45
festas e cerimônias7. A exibição ao olhar maravilhado das pessoas nessas ocasiões consistia
em uma forma de demonstração pública de poder.
O prestígio adquirido pelo mero contato com os objetos sagrados pode ser apontado
como um traço definidor das relações de poder também ao longo da Idade Média. Pensando
nas formas de circulação das relíquias – que, em muitos sentidos, se comportavam como
mercadorias no contexto medieval –, é possível afirmar que a propriedade que mudava de
mãos e que passava a fazer parte de uma ou de outra coleção, funcionava simbolicamente para
afirmar ou negar a relação entre as partes. Embora as relíquias fossem entendidas como uma
fonte importante de poder sobrenatural e pessoal, e constituíssem o foco primordial da
devoção religiosa na Europa dos séculos VIII ao XII, elas eram compradas e vendidas,

4
MAIRESSE, François. Thesaurus. In: MAIRESSE, François & MARANDA, Lynn & DAVIES, Ann
(Diretores). Defining the museum. ICOM: International Commitee for Museology – ICOFOM. Morlanwelz,
Belgique. Paris: Harmattan, 2007. p.25
5
BENOIST, Luc. Signes, Symboles et Mythes. Paris: Presses Universitaires de France, 1989. p.103.
6
POMIAN, K. Coleção. Enciclopédia Einaudi, vol. 1. Memória-História. Porto: Imprensa Nacional / Casa da
Moeda, 1984, p. 56.
7
POMIAN, K. Coleção. Enciclopédia Einaudi, vol. 1. Memória-História. Porto: Imprensa Nacional / Casa da
Moeda, 1984, p. 58.

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roubadas ou divididas, como qualquer outra mercadoria8. Entretanto, ainda que podendo ser
adquiridas por roubos ou compras, as relíquias tinham grande valor simbólico quando
funcionavam como presentes. O poder da relíquia indexava o poder de quem a dava de
presente, e a efetividade dessa revisão de autoridade era revelada nas relações que ela
produzia e nos milagres realizados. Na prática, relíquias, uma vez instaladas em determinado
local, passavam a ser consideravelmente estáveis, e a aura do grande presente passava a
habitar na sua migração. Ela resistia ao movimento por diferentes sociedades, já que a
sociedade se movia em torno dela9, e o sentido do sagrado a acompanhava onde quer que ela
fosse.
Atravessando o turbulento cenário cultural que tomava conta da Europa medieval,
tem-se, no Renascimento, a emancipação da arte das instituições religiosas, que gerou um
longo processo de produtividade artística e de valorização das obras de arte. Essa
emancipação estava ligada a uma tomada de consciência humanista pela disseminação do
conhecimento. É nesse mesmo período que os humanistas criam as suas “academias”, que,
inspiradas em Platão, estavam mais próximas do antigo simpósio ou banquete do que da
universidade. Até esse momento, entretanto, não teria existido a necessidade de se criar uma 46
instituição, evocativa dos templos da Grécia antiga e portadora da “verdade” solene sobre o
passado, que pudesse, ao mesmo tempo, falar a palavra dos deuses exercendo a autoridade dos
soberanos.
É preciso, portanto, compreender as mudanças no pensamento europeu no período que
se seguiu, para que se entenda o surgimento da instituição museu na Modernidade. Uma
mudança significativa acontece, progressivamente até o início do século XVIII, no norte da
Europa ocidental, particularmente nas cidades de Londres, Oxford, Edinburgh, Amsterdã,
Copenhagen, Leyden e Paris. Até então as autoridades nestas cidades se preocupavam
majoritariamente com as pessoas, como governantes, padres, juízes e proprietários de terra,
enquanto que o mundo material da terra e do mar, do processamento de alimentos, da
produção de têxteis, e dos trabalhos com madeira e metais era deixado para as classes
trabalhadoras. Com o passar do tempo, homens educados passaram a se tornar fascinados pelo

8
GEARY, Patrick. Chapter 6. Sacred commodities: the circulation of medieval relics. In: APPADURAI, Arjun.
(ed.) The social life of things. Commodities in cultural perspective. Cambridge: Cambridge University Press,
2007, p.169.
9
WHARTON, Annabel Jane. Selling Jerusalem. Relics, replicas, theme parks. Chicago: The University of
Chicago Press, 2006, p. 45.

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mundo natural e toda sua variedade e seu potencial10. Segundo Susan Pearce, a essência dessa
mudança, apesar dela não ter ocorrido bruscamente, foi a transformação da visão de um
universo arbitrário, no qual acontecimentos físicos e materiais se davam aleatoriamente, sem
causa e efeito, “da maneira planejada por Deus”, em uma visão padronizada, segundo a qual
os eventos materiais eram repetitivos e confiáveis11. A partir de então, dissemina-se a crença
na possibilidade de uma ordem material do universo. A repetitividade significava que uma
evidência material poderia ser coletada e esta demonstraria a “natureza” das coisas. Isso
significava que o conhecimento adquirido a partir dos objetos coletados e organizados poderia
servir de base para novas explorações e para o ensino daquilo que já havia sido descoberto.
Pode-se apontar que as coleções particulares começaram a ser formadas a partir do
século XIV. Cada uma delas era reunida por um indivíduo, e nada garantia que elas
sobreviveriam o tempo de sua vida se a sua continuidade não fosse estipulada em testamento,
e, mesmo assim, elas podiam não sobreviver12. Diferentemente dos tesouros, as coleções
particulares contêm objetos cujo valor mercantil resulta, por uma parte essencial, não da
matéria a partir da qual são fabricados, mas do trabalho ao qual estes devem a sua forma13. A
noção de preciosidade está aqui já desconectada de um suposto valor de mercado. 47
Contrariamente aos tesouros, essas coleções não são diretamente monetáveis. O valor dos
objetos em uma coleção não estava atrelado, por exemplo, ao preço dos metais preciosos ou
ao seu valor de compra, mas a uma série de outros fatores ligados essencialmente às formas
pelas quais cada artefato poderia ter sido adquirido: a distância que teriam percorrido, a
relação de forças e de poder entre o vendedor e o comprador, o valor do achado em si, ou
mesmo um valor decorrente de um leilão. Em outras palavras, todo tesouro representa uma
riqueza efetiva, e uma coleção é uma riqueza virtual14. Esse conjunto de valores intrínsecos
dos objetos, somados a um outro conjunto de valores extrínsecos, seriam responsáveis a
atribuir prestígio àqueles que os possuíssem.

10
PEARCE, Susan. The collecting process and the founding of museums in the sixteenth, seventeenth and
eighteenth centuries. In: PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari
&WEIJ, Astrid (ed.). Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu:
Finnish National Gallery, 2010, p. 12.
11
Ibidem, p. 13.
12
Algumas coleções, em determinados contextos como o patriciado veneziano dos séculos XVI ao XVIII,
tinham maior durabilidade graças à organização familiar quase dinástica que fazia com que as coleções
numerosas fossem transmitidas de geração em geração. POMIAN, Krzysztof. Musée et patrimoine. In: JEUDY,
Henri Pierre. (dir.). Patrimoines en folie. Paris: Éd. De la Maison des sciences de l’homme, 1990. p.182.
13
Ibidem, p. 182.
14
Ibidem.

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Na segunda metade do século XIV e início do XV, os colecionadores na Europa eram


quase que exclusivamente os humanistas, os artistas, juristas e médicos. A estes logo foram
incluídos os membros dos patriciados urbanos e os homens do clero, primeiramente o papa e
depois os cardiais. Somente depois, em diferentes momentos, nos variados países, surgem
colecionadores da nobreza, começando pela alta aristocracia e as cortes, de modo que os
tesouros principescos mudaram de natureza e adquiriram gradativamente os traços das
coleções particulares, como se vê com clareza no exemplo francês, a partir de Francisco I.
Finalmente, desde o início do século XVII, nas Províncias Unidas, e um pouco mais tarde em
outros lugares, o uso do colecionismo descende até a média burguesia15.
Paralelamente às mudanças de estatuto econômico das coleções, de sua geografia e do
pertencimento social de seus proprietários, também evolui o seu conteúdo, sem que esta
mudança tenha sido necessariamente decorrente das outras – é possível, entretanto, que o
inverso seja verdadeiro16. Tendo no início sido compostas principalmente de antiguidades e
pinturas modernas, a partir do século XVI as coleções particulares passam a incluir os objetos
de naturalia e os de exótica (posteriormente classificados como “espécimes da natureza” e
“objetos testemunhos”17), além de estampas e desenhos. 48
Essa mudança de conteúdo e de intenção nas coleções é o que irá, em grande parte,
marcar o surgimento dos primeiros museus. Foi na Itália onde se tem notícia da utilização,
pela primeira vez, do termo “museu” referindo-se a uma coleção distinta. Foram os hábitos de
outros colecionadores conhecidos que levaram, diretamente, às aspirações de Cosimo de
Médici (1389-1464), que governou Florença, para reunir uma grande coleção de joias
entalhadas, vasos de pedra, e moedas e medalhas de ouro e prata.
Lorenzo, o Magnífico (1448-92), seu neto e herdeiro, no século XV, se apropriou do
termo “academia”, e sua associação com Platão, para descrever o grupo de acadêmicos e
sábios que se reuniam ao seu redor, e, da mesma forma passou a utilizar o termo “museu”,
proveniente de Alexandria, para descrever a própria coleção. “Museu”, assim, passou a ser um
termo transmitido por gerações, conferindo prestígio à corte dos Médici18. Até o século XVIII
esta foi, segundo Pearce, apenas uma palavra entre outras – galeria, gabinete, teatro, estúdio,

15
Ibidem, p. 183.
16
Ibidem.
17
Cf. BRULON, Bruno. Os objetos de museu, entre a classificação e o devir. Informação & Sociedade. João
Pessoa, v.25, n.1, p.25-37, jan./abr., 2015.
18
PEARCE, Susan. The collecting process and the founding of museums in the sixteenth, seventeenth and
eighteenth centuries. In: PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari
&WEIJ, Astrid (ed.). Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu:
Finnish National Gallery, 2010, p. 16.

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etc. – mas logo museu se tornou a palavra padrão para as coleções de materiais naturais e
históricos, provavelmente a partir do seu uso em Florença. O uso da terminologia grega,
segundo a autora, leva diretamente a uma continuidade com a filosofia de Platão. Trata-se de
uma ênfase no ensinamento segundo o qual cada aspecto das coisas primárias era apenas um
vestígio imperfeito e incompleto da ideia verdadeira, da essência ideal das coisas, de modo
que as representações terrestres eram apenas as sombras das coisas reais que existiriam no
cosmos. Vale lembrar, ainda, que a filosofia de Platão havia sido retomada em Alexandria na
forma de um neoplatonismo, que elaborou a conexão entre as coisas da terra e o ideal celeste,
e que mais tarde seria reapropriada pelo cristianismo.
Com efeito, os Médici inspiraram um dado número de coleções famosas, que se
constituíram ao norte dos Alpes, por membros da casa imperial dos Habsburgo, e estas
serviram de modelo para as centenas de coleções similares constituídas por príncipes ou
homens de menor importância por todo o período em que o cristianismo se desenvolveu de
forma mais intensa na Europa19. Pouco a pouco, os soberanos colecionadores buscaram
estabelecer para si coleções que funcionassem, ao mesmo tempo, como espaço de
maravilhamento, contemplação e meditação, e como fonte de prestígio e poder. 49
Samuel von Quiccheberg, um médico flamengo que fora empregado por Albrecht V
da Bavária, estabeleceu a base conceitual dessas coleções com o seu Theatrum Amplissimum
de 1565. A ideia de um teatro de conhecimento foi retirada de um livro de Giulio Camillo
(c.1480-1544) intitulado O teatro de memória, tendo sido este uma real construção, feita de
madeira e grande o bastante para comportar duas pessoas, construído por Camillo na corte de
Francisco I da França. Toda a sua concepção fora pensada para apresentar o cosmos como um
sistema místico, organizado segundo as ideias neoplatônicas, no qual o observador podia
adentrar20. Tratava-se, logo, de um teatro de ideias, no qual se pretendia colocar em cena todo
o conhecimento do mundo. Esse tipo de empreendimento real supunha conferir aos soberanos
o estatuto de possuir sob sua guarda todo o conhecimento organizado sobre o cosmos.
A origem das coleções desse tipo, assim, provinha de uma necessidade de se
engendrar uma fonte outra de prestígio entre as já existentes. Nelas se via a possibilidade de
se projetar um poder intelectual sobre o todo, o macrocosmo, por meio da criação e da posse
de um microcosmo do universo. Essa concepção fundadora dos primeiros museus, que

19
Ibidem, p. 15.
20
PEARCE, Op Cit.

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possibilitou que fossem colocados em cena tais “teatros do conhecimento”, teve como base
um paradigma específico.
Segundo aquele que podemos chamar de um paradigma do conhecimento
colecionável, cada pedaço de informação era uma evidência – isto é, um fato autossustentado
– apresentado por meio de uma coisa material. Como apontado na análise realizada por Pearce
acerca dessas coleções, fora o pensamento de Francis Bacon que atuou como determinante
para essa nova perspectiva sobre os objetos21. Através desse pensador se disseminou a noção
de que por meio do desenvolvimento da investigação metódica, corpos de informação
poderiam ser construídos, a partir dos quais procedimentos confiáveis poderiam ser
deduzidos. A assertiva de Bacon ainda é a premissa fundamental sobre a qual a ciência
experimental é constituída.
Na segunda metade do século XVII, sob a influência explícita de uma “nova filosofia”
marcada pelo pensamento baconiano22, nasce aquele que é considerado um dos primeiros
museus: em 1675, Elias Ashmole deixa as suas coleções particulares para a Universidade de
Oxford para uso dos estudantes; estas tornam-se acessíveis em 1683. Mais tarde, em 1734 é
aberto ao público, em Roma, o museu Capitolino. Em 1743, Anna Maria Luisa de Médici 50
oferece ao Estado da Toscana as coleções acumuladas pela sua família durante três séculos
com a reserva expressa de sua inalienabilidade e acessibilidade ao público23. Em 1753, o
Parlamento britânico cria o British Museum a partir das coleções adquiridas por Hans Sloane.
Esses primeiros museus resultaram, em sua maioria, da formulação precoce na ideia de
bem público, ou de uma esfera pública que poderia se responsabilizar por coleções
particulares que – parecia aos seus proprietários – podiam ser de interesse público e
constituiriam fontes reconhecidas de conhecimento. Essas doações eram uma forma de
transferir responsabilidade e refletiam a crença em uma contribuição com as Luzes. Além
disso, a dádiva de coleções definia um forte laço entre os doadores e o Estado. Estava aí
estabelecida uma nova e mais potente relação de poder.
Ao passarem a fazer parte das nações, e se tornarem propriedade pública, os museus
desempenham a função, que era das igrejas até o século XIV, de criar um consenso sobre o
modo de opor o visível ao invisível, e, desta maneira, passam a ser os locais consagrados em
que todos os membros de uma sociedade podem comunicar na celebração de um mesmo

21
Ibidem, p.19.
22
SCHAER, Roland. L’invention des musées. Paris: Gallimard / Réunion des musées nationaux, 2007, p. 32.
23
POMIAN, Krzysztof. Coleção. Enciclopédia Einaudi, vol. 1. Memória-História. Porto: Imprensa Nacional /
Casa da Moeda, 1984, p. 82.

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culto. Em consequência, como aponta Pomian24, o número de museus aumenta nos séculos
XIX e XX, na medida em que cresce a desafeição das populações, sobretudo urbanas, pela
religião tradicional. O novo culto que se sobrepõe ao antigo, incapaz de integrar a sociedade
em seu conjunto, é de fato aquele de que a nação se faz, ao mesmo tempo, sujeito e objeto, em
uma homenagem perpétua que realiza a si mesma, celebrando o seu próprio passado em todos
os seus aspectos.

Os museus nacionais e a fabricação dos musealia por meio da musealização

Herdeira e inventora do legado greco-romano, a Itália é reconhecida como o ponto de


partida de onde se tem início a constituição do patrimônio cultural europeu, e é de lá que este
se dissemina para o restante do continente desde o século XVIII, ganhando ênfase a partir da
sua ressignificação com a Revolução Francesa no final desse século. Assim, a
patrimonialização – isto é, o ato de se instituir “patrimônio” – iria ter como origem a Itália e a
França revolucionária, motivada, sobretudo neste último contexto, pela necessidade de
medidas imediatas de proteção do patrimônio nacionalizado contra o vandalismo ideológico 51
que ameaçava a sua conservação preventiva a partir de 179225. Por sua vez, a musealização,
apresentou origens distintas, tendo sido inventada, como se viu anteriormente, a partir de uma
vontade de permanência por parte de certos colecionadores privados e tendo como finalidade
a transmissão de bens atrelados a esses indivíduos notáveis a uma dada coletividade que
deveria ser levada a imaginar-se como Nação. O que os dois processos análogos têm em
comum, sem dúvida, é o fato de terem sido formulados no momento em que se constituíam as
identidades nacionais na Europa moderna; todavia, se diferenciam em suas finalidades
essenciais, o primeiro visando a proteção dos bens nacionalizados como patrimônio em meio
a Revolução, e o segundo priorizando a comunicação de uma herança privada nas metrópoles,
ofertada e disponibilizada ao público pelos museus como musealia.
Como fica claro na obra de Pomian sobre os museus, a primeira característica
fundamental da musealização, e que já se podia perceber nos primeiros estabelecimentos
criados com o nome de “museu”, é a permanência. Segundo o autor,
Tout musée est évidemment une collection. Mais c’est une collection différente, à
plusieurs titres, des collections particulières, bien qu’il ait fallu du temps pour cette
différence en arrivât à s’exprimer pleinement. Elle tient d’abord au fait que la
protection qui entoure les pièces de musée s’étend, contrairement à celle dont

24
Ibidem.
25
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Unesp, 2006, p. 106.

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bénéficient les objets d’une collection particulière, au-delà d’une vie humaine. Cela
suppose des garanties juridiques et financières de la durée.26

Contrariamente à coleção particular que, na maior parte dos casos, se dispersa depois
da morte daquele que a tinha formado e sofre as repercussões das flutuações de sua fortuna, os
museus sobrevivem aos seus fundadores e têm, pelo menos em teoria, uma existência perene.
Mais ainda, seja qual for o seu estatuto legal, o museu é um bem público. Para o autor, um
museu privado não é mais do que uma coleção particular que ostenta um nome que o assimila
a uma instituição muito diferente. Esse caráter público dos museus exprime-se também pelo
fato de, contrariamente às coleções particulares, eles serem abertos a todos27. Partem de uma
noção tácita de que o acesso aos “semióforos”, i. e. aos objetos destinados à contemplação,
deveria ser inteiramente livre – já que o invisível é uma realidade que deve ser visitada por
todos e não meramente uma ficção oculta.
Em um museu, a escolha dos objetos e a maneira de expô-los devem ser fundadas
sobre princípios que supostamente possuem uma validade intersubjetiva e que se toma
emprestada da ciência, em certos casos, da história e notadamente da história da arte, em
outros, ou mesmo de uma ideologia oficial28. Ao entrar para o museu o objeto atravessa uma
passagem em direção a novos universos de significações, e, particularmente no contexto dos
52
primeiros museus enciclopédicos, esses universos são constituídos pelas intenções claras de se
estabelecer uma ligação com o passado clássico – sendo tal ligação um dos principais
condutores da constituição das coleções nesse período. Tal ligação inventada com o passado –
que tem efeito no contexto europeu tanto quanto, posteriormente, com a colonização, no
contexto das colônias – para ser sentida como verdadeira precisava ser amplamente
disseminada, o que resulta na segunda característica basilar da musealização, a de ter a
comunicação como objetivo, a da transmissão.
Como resultado claro do início da disseminação da ideologia iluminista na Europa,
tem-se na Inglaterra, com a coroação do rei Carlos I, em 1660, a criação da Royal Society, que

26
“Todo museu é evidentemente uma coleção. Mas trata-se de uma coleção diferente, em muitos sentidos, das
coleções particulares, ainda que tenha levado tempo para essa diferença chegar a se exprimir plenamente. Ela se
baseia, primeiramente, no fato de que a proteção que envolve as peças do museu se estende, contrariamente
àquela de que se beneficiam os objetos de uma coleção particular, para além de uma vida humana. Essa supõe as
garantias jurídicas e financeiras da duração.” (Tradução nossa) POMIAN, Krzysztof. Musée et patrimoine. In:
JEUDY, Henri Pierre. (dir.). Patrimoines en folie. Paris: Éd. De la Maison des sciences de l’homme, 1990, p.
184.
27
Id. Coleção. Enciclopédia Einaudi, vol. 1. Memória-História. Porto: Imprensa Nacional / Casa da Moeda,
1984, p. 183.
28
Id. Musée et patrimoine. In: JEUDY, Henri Pierre. (dir.). Patrimoines en folie. Paris: Éd. De la Maison des
sciences de l’homme, 1990, p. 185.

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realizava reuniões semanais, em Londres, onde, em nome de uma nova filosofia do


conhecimento, eram apresentadas performances singulares como, por exemplo, a dissecação
de um golfinho, e onde era mantido um Repositório, que já tinha a forma de um museu, em
que espécimes eram guardados. Em cerca de 1663, Robert Hooke (1635-1703) foi assinalado
como responsável pelo Repositório e, em 1669, a sociedade empregou Thomas Willisel
(1621-1675) para percorrer as ilhas britânicas coletando material “para tornar a coleção mais
completa”29. Foi desse meio intelectual que emergiu aquele que é reconhecido como o
primeiro museu, no sentido que ainda se tem hoje da instituição, fundado por Elias Ashmole
(1617-1693), em 1683, com patronato real. Tendo Ashmole colocado como condição, nas
cláusulas de sua doação, que a universidade de Oxford construísse um prédio especial para
guardar as “raridades” da coleção doada30, o museu, então, possuía três andares, comportando
um laboratório, uma galeria de exposições na qual as coleções eram exibidas, e salas de
leitura. O contexto iluminista, e a tendência à valorização dessas coleções de museus,
configura o momento de definição de uma terceira característica da musealização: a de
produção de conhecimento científico.
Desse contexto em que circulavam os objetos de prestígio para as ciências, seus 53
colecionadores e os intelectuais responsáveis por estuda-los, teria origem o precursor British
Museum, que só seria aberto ao público em 1759. Sua fundação foi possível graças a Sir Hans
Sloane, que estava disposto a doar a sua própria coleção constituindo, de fato, uma coleção de
coleções. Tendo colecionado não apenas para si mesmo, mas para todo o mundo acadêmico,
Sloane atuou em prol de um ideal universalista e do enciclopedismo cujo objetivo era o de
enquadrar todo o conhecimento do mundo em um período que pode ser descrito como, nas
palavras de Isaiah Berlin, “talvez o último período na história da Europa ocidental quando a
omnisciência humana era pensada como um fim alcançável”31. Fora essa aspiração para o
universalismo que informou o colecionismo de Sloane e, consequentemente, modelou o
British Museum32.
No novo contexto, inaugurado notadamente pelo British Museum, em que as coleções
começavam a ser abertas a um público mais amplo e menos exclusivo, além do material que

29
PEARCE, Susan. The collecting process and the founding of museums in the sixteenth, seventeenth and
eighteenth centuries. In: PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari
&WEIJ, Astrid (ed.). Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu:
Finnish National Gallery, 2010, p. 21.
30
SCHAER, Roland. L’invention des musées. Paris: Gallimard / Réunion des musées nationaux, 2007, p. 32.
31
BERLIN (2000, p.39 apud WILSON, 2002, p. 14).
32
WILSON, David M. The British Museum. A history. London: The British Museum Press, 2000, p. 14.

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era preservado, era transmitido, de forma ainda mais significante, o sentido de continuidade.
A própria Ciência estava construindo uma tradição e um pedigree, nos quais os homens se
lembravam de seus mestres, e eram, da mesma forma, lembrados pelos seus pupilos33.
Tratava-se, assim, de um período em que se compunha uma cadeia de valores que iria definir
o papel dos museus nos próximos séculos. Neste contexto, em que a Europa inventava e
transmitia a própria ideia colonizadora de Ocidente, a musealização é praticada como um ato
de conversão a um dado regime de valores baseado no corpo de conhecimentos forjado pelo
Iluminismo.
A relação com o passado antigo, e, particularmente com o império Romano que
deixou seu rastro histórico por quase toda a Europa, não é, no desenvolvimento dos museus,
uma relação gratuita. Ao contrário, ela desempenha um papel fundamental na formulação das
identidades nacionais no momento em que se passa a inventar os patrimônios das nações34.
Não é por outra razão que o período apontado como o de maior proliferação dos museus tenha
tido início, com as inevitáveis progressões das particularidades nacionais nos anos que
seguiram a 183035. A musealização, portanto, é inventada tendo como quarta característica
fundamental o fato de ser um ato inegavelmente ideológico, sendo sua finalidade a 54
representação de uma dada identidade e promovendo a disseminação da representatividade de
certos referenciais em uma cultura dada.
O momento de criação da ideia de Nação é o período de formação de uma cultura de
particularização dentro da universalização iluminista, da qual os museus fizeram parte. Nesse
contexto histórico demarcado por fortes embates identitários, dentro e fora da Europa, é
através de experiências como a de Napoleão no Oriente que este último passa a ser assimilado
pelo Ocidente modernizado, como um corpo de conhecimentos específico. Tal processo,
como explica Edward Said, não apresentou apenas a vantagem de se engendrar uma
perspectiva ocidental, mas também “a técnica triunfante de apoderar-se da imensa
fecundidade do Oriente e torná-la sistematicamente, até do ponto de vista alfabético,

33
PEARCE, Susan. The collecting process and the founding of museums in the sixteenth, seventeenth and
eighteenth centuries. In: PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari
&WEIJ, Astrid (ed.). Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu:
Finnish National Gallery, 2010, p. 22.
34
THIESSE, Anne-Marie. La création des identités nationales. Europe XVIIIe-XIXe siècle. Paris: Éditions du
Seuil, 2001.
35
Uma clara evidência de tal importância pode ser apontada no fato de no início do século XIX, no processo de
expansão do British Museum, ter se dado um número de aquisições significativas, que incluíam a Pedra de
Roseta (1802), a coleção de Townley de esculturas clássicas (1805), e esculturas do Parthenon grego (1816),
incluindo o friso do templo em Bassai. BEARD, Mary e HENDERSON, John. Antiguidade clássica. Uma
brevíssima introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995, p. 17.

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conhecível para os leigos ocidentais”36. Os museus desse período, assim, eram os


encarregados de informar para o seu público sobre todo o conhecimento do mundo não-
europeu (considerado, de forma geral, como não-ocidental) e sobre como este estava
organizado para além das fronteiras das nações civilizadas.

A abertura do templo: a revolução dos museus públicos

Os museus, descendentes das prestigiosas coleções que por muito tempo foram um
atributo de poder na constituição das identidades na Europa e não eram acessíveis a um
grande número de pessoas, ao serem disseminados durante os séculos XVIII e XIX, em meio
ao desenvolvimento das identidades nacionais, são gradativamente legitimados como
instituições sociais, reconhecidas coletivamente. Neste processo, as sociedades começam a
questionar se o recém criado museu deveria desempenhar um papel a seu serviço. Para
satisfazer as necessidades das sociedades, os museus deveriam deixar de ser propriedade
simbólica dos príncipes e passar a pertencer ao Estado.
Até o fim do século XVIII, o público dos museus se resumia essencialmente aos 55
conhecedores, aos sábios, amadores e artistas, aos quais a maior parte dos estabelecimentos,
fossem privados ou públicos, abriam as suas portas. A entrada no museu, até este período, era
considerada um privilégio37. As sugestões para uma maior abertura da instituição pareciam,
até então, arriscadas: a entrada das massas poderia ameaçar a permanência dos que ali já
estavam.
É sabido que alguns dos gabinetes de curiosidade, como explica Mairesse, como um
tipo particular de coleção aberta, funcionaram como atrações muitas vezes itinerantes, pagas e
lucrativas, que se dirigiam a um público essencialmente popular38. Nesses casos, o fator da
curiosidade era determinante para atrair lucratividade, e os gabinetes com objetos variados
eram uma forma de disseminação de um conhecimento que não se teria acesso de outra
36
SAID, Edward W. Orientalismo. O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 105.
37
MAIRESSE, François. La Notation de Public. In: [ANNUAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL
COMMITTEE FOR MUSEOLOGY/ICOFOM (27)]. Calgary [Canada]. June/July 2005. Coord. Hildegard K.
Vieregg. Symposium Museology and Audience – Museología y El Público de Museos. Munich: ICOM,
International Committee for Museology/ICOFOM; ISS: ICOFOM STUDY SERIES, Munich, Germany, n.35, p.
7-25, 2005, p. 8.
38
MAIRESSE, François. La Notation de Public. In: [ANNUAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL
COMMITTEE FOR MUSEOLOGY/ICOFOM (27)]. Calgary [Canada]. June/July 2005. Coord. Hildegard K.
Vieregg. Symposium Museology and Audience – Museología y El Público de Museos. Munich: ICOM,
International Committee for Museology/ICOFOM; ISS: ICOFOM STUDY SERIES, Munich, Germany, n.35, p.
7-25, 2005, p. 9.

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maneira. Essas primeiras coleções-museus, ainda que já representassem o devir-museu da


Modernidade, não continham em si a ruptura com o passado principesco e não pertenciam ao
Estado ou representavam a Nação. É somente quando a ideologia enciclopédica serve de
motor para a transformação das coleções em museus que se dá a mudança de que falamos.
No caso já abordado do British Museum, a partir do qual se cunhou o conceito de
museu público, apesar de a coleção inicial ter sido proveniente de uma coleção privada, a
iniciativa em si de criação do museu teve origem na preocupação com a educação pública e o
avanço da ciência39. A revolução que tem início com a abertura dos museus para as
sociedades é, logo, uma revolução conceitual, sustentada fortemente pelos Estados nacionais.
Um processo de realocação de valores (e de objetos) é colocado em prática quando a missão
que antes era conferida aos príncipes e à igreja, de produzir uma continuidade com o passado
gerando prestígio, passa a ser atribuição da Nação.
Os museus do Vaticano em Roma, entre eles o museu Capitolino (1734), além da
galeria de pinturas no Palazzo dei Conservatori (1749) e o museu Pio-Clementino (1772) são
exemplos inicias de museus onde o conceito de público se tornou atrelado ao conceito de
nacional. Na Inglaterra, gradualmente, em sintonia com o novo desejo por parte dos 56
governantes de educar o seu povo, as coleções principescas se tornaram museus públicos, o
que se deu pela ação dos próprios príncipes. Isso não significou, entretanto, que todos os bens
da realeza se tornariam públicos: a coleção real inglesa se mantém até o presente como
propriedade pessoal da monarca. No bojo do mesmo processo de abertura e legitimação, as
coleções dos Habsburgo foram retiradas do palácio de Stallburg e colocadas no palácio do
Belvedere, em Viena, em 1776. A coleção real em Dusseldorf e a Dresden Gallery foram
abertas ao público no meio do século. A galeria Uffizi foi doada ao Estado pelos príncipes
Médici em 1743.
A relação entre o atributo do público com o nacional toma um passo decisivo em
Paris, em 27 de setembro de 1792, quando a convenção nacional decidiu criar um museu de
arte nacional no interior do Louvre, baseado na expropriação de coleções reais, e coleções
tomadas de famílias nobres e instituições religiosas. O exemplo francês foi rapidamente

39
MEIJER-VAN MENSCH, Léontine & VAN MENSCH, Peter. From disciplinary control to co-creation –
collecting and the development of museums as praxis in the nineteenth and twentieth century. In:
PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari &WEIJ, Astrid (ed.).
Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu: Finnish National Gallery,
2010, p. 36.

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copiado pela Europa, configurando um modelo daquilo que se tornaria, em menos de um


século, “uma das instituições fundamentais do Estado moderno”40.
A abertura do museu do Louvre, em 1793, traz uma mudança radical na concepção de
público. A data do primeiro aniversário da deposição do Rei foi escolhida pelos franceses para
marcar a entrada, pela primeira vez, do povo em seu antigo palácio. Segundo Mairesse, a
abertura do Louvre marca, por um tempo, a entrada das massas de trabalhadores no museu.
Pela primeira vez ele se torna verdadeiramente um espaço público. Tendo sido, até o século
XVIII, essencialmente dependente do poder religioso e aristocrático, é com a Revolução
francesa que grandes mudanças que aconteciam em toda a Europa são trazidas para o museu,
que começa a tomar a forma que conhecemos na atualidade.
Desde que a concepção de patrimônio se legitima na modernidade com a Revolução
francesa, o termo passa a estar marcado pela dicotomia entre a preservação do nacional e o
vandalismo ideológico. Enquanto os bens eclesiásticos se juntavam àqueles da Coroa,
confiscados por lei a partir de 1792, e passavam a constituir o patrimônio nacional41, por outro
lado – e ao mesmo tempo – o vandalismo revolucionário vinha ameaçar a conservação dos
bens na França. A insurreição de 10 de agosto de 1792 coloca um fim à monarquia e 57
simbolicamente são derrubadas as estátuas dos reis nas praças públicas. O poder dado ao povo
incita a destruição dos símbolos do Antigo Regime, que ofuscavam a imagem de população
livre e legitimavam um iconoclasmo oficial. “Cívicas e patrióticas”42, as depredações da
Revolução não eram meramente vândalas. Representavam o repúdio a um conjunto de bens,
“emblemas de uma ordem finda”. O museu se instaura aqui, como um abrigo das obras que,
em parte, precisavam ser resguardadas do vandalismo, e, de outra forma, constituíam o
patrimônio nacional francês, fazendo coincidir assim musealização e patrimonialização. Esse
novo projeto de museu traz consigo uma nova ideologia para as instituições. O valor que
legitimou o patrimônio na França revolucionária, e que marcou profundamente a ideia de
museu que ainda hoje se perpetua, foi o do bem nacional, e consequentemente o do público.
A morte do Rei, assim como a proclamada morte de Deus, abrem novas perspectivas
para o museu, colocando-o no papel de “palácio, templo, portador de sentidos, exposição de
valores”43. Adotando tal discurso, essa instituição se consagrou como lugar onde as nações

40
BAZIN (1967, p.169 apud MEIJER-VAN MENSCH & VAN MENSCH, p. 35).
41
SCHAER, Roland. L’invention des musées. Paris: Gallimard / Réunion des musées nationaux, 2007, p. 54.
42
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001, p. 108.
43
MAIRESSE, François. La Notation de Public. In: [ANNUAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL
COMMITTEE FOR MUSEOLOGY/ICOFOM (27)]. Calgary [Canada]. June/July 2005. Coord. Hildegard K.
Vieregg. Symposium Museology and Audience – Museología y El Público de Museos. Munich: ICOM,

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celebravam a si mesmas, e se inventavam. Ao chegarem ao século XIX, os museus já são


percebidos como estabelecimentos públicos por toda a Europa. Um verdadeiro culto aos
museus e culto aos objetos de museu44 é instaurado – culto este que pode ser interpretado
como um culto ao próprio sentido do bem público, ou culto ao nacional.
Na medida em que o Estado passava a ser visto, de modo cada vez mais claro, como
um instrumento de poder para a burguesia, os museus se legitimavam como parte de um
sistema político e cultural mais amplo, e se abriam aos diversos públicos atuando na
disseminação dos valores burgueses. Tal abertura se dava dentro de um processo mais amplo
de transformação das sociedades na Europa moderna, às quais o museu servia como uma
estrutura – arquitetônica e ideológica – orgânica. Os museus, assim, eram percebidos, em
certos contextos, como lugares de passagem que além de guardarem objetos, eram espaços
onde a vida moderna acontecia. Na Paris do século XIX, por exemplo, onde se imaginava
uma “cidade de passagens”45, no sentido discutido por Walter Benjamin, mesmo o modelo
hegemônico de instituição reconhecido no Louvre, podia ser pensado como um lugar de
passagem que integrava a cidade, permitindo a circulação dos mais diferentes estratos da
sociedade em suas galerias. 58
Durante a segunda metade do século, o museu se torna um modelo mais ou menos
padronizado46. Ao seguirem o modelo do Louvre, esses museus públicos europeus eram
museus nacionais no sentido de serem instituições do Estado, mas também por refletirem um
orgulho nacional, ou, até mesmo, um patriotismo que só poderia ser manifestado coletiva e
publicamente.
O processo de abertura dos museus aos públicos, que se mostra ilimitado atualmente,
tanto em suas potencialidades contemporâneas quanto no âmbito da diversificação das
abordagens comunicacionais que já passam a alcançar até mesmo os não-públicos,
evidenciam nesta análise histórica o sentido comunicacional inerente e qualidade sine qua non
da musealização.

International Committee for Museology/ICOFOM; ISS: ICOFOM STUDY SERIES, Munich, Germany, n.35, p.
7-25, 2005, p. 10.
44
Sobre a noção de “culto aos museus” ver MAIRESSE, François. Le culte des musées. Bruxelles: Académie
royale de Belgique, 2014.
45
“Ville en passages”, no francês. Cf. BENJAMIN, Walter. Paris, capitale du XIXe siècle. Œuvres, III,
coll. Folio essais. Paris, Gallimard, 2000.
46
MEIJER-VAN MENSCH, Léontine & VAN MENSCH, Peter. From disciplinary control to co-creation –
collecting and the development of museums as praxis in the nineteenth and twentieth century. In:
PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari &WEIJ, Astrid (ed.).
Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu: Finnish National Gallery,
2010, p. 34.

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Considerações: alguns apontamentos contemporâneos

Aqui, como se viu, não se procurou narrar a história da musealização e dos museus,
mas uma parte da história da autoridade dessas instituições no contexto em que esta foi
constituída como parte integrante do processo mais amplo de constituição de musealia. Os
museus, em geral, são reconhecidos a partir da totalidade de suas coleções preservadas, e
delas provém o seu valor intrínseco. Entretanto, como apontam os seus próprios profissionais
hoje, as coleções de raridades históricas nada significam e não têm nenhum valor sem uma
documentação adicional. É o documento por detrás das coleções em si que conferem aos
museus possibilidades de fala com o seu público. Se os objetos têm o sentido de evidências,
os documentos que os acompanham atestam aquilo que essas evidências podem narrar. Logo,
são estes últimos que designam as possibilidades de ressonância da fala dos museus e atestam
a autoridade dessa fala. Os museus são também discursos; e se não fossem peças-chave na
política das representações não teriam chegado a se constituir de forma hegemônica em quase
todo o mundo. 59
Tal processo de construção de autoridade e atribuição de valores, que, apenas a partir
da segunda metade do século XX, no âmbito da museologia disciplinar, passa a se chamar de
musealização, existe, de fato, para além dos próprios museus. Como se buscou demonstrar na
presente análise, os museus, em sua história, foram criados para servir de meio ou instrumento
à disseminação de certos valores fundamentais para a cultura hegemônica do Ocidente. A
musealização, assim, era a finalidade a ser alcançada pelos processos ideológicos que
constituíram as identidades dominantes e, logo, transmissoras do patrimônio musealizado.
Neste sentido, sem correr o risco de cometer um anacronismo, poderíamos afirmar que a
musealização criou os museus.
Hoje, uma visão ampla pode perceber o Museu como uma família de instituições
educacionais, desde aquários a zoológicos, incluindo grupos sociais musealizados, galerias de
arte não lucrativas, casas históricas, sítios e distritos históricos, herbários, sítios
paleontológicos e arqueológicos, jardins botânicos, centros de ciência, planetários, museus
para crianças, centros de interpretação do patrimônio, parques naturais e reservas, museus
virtuais na rede eletrônica (cibermuseus) e fora dela, etc. Todas essas formas de museu tendo
em comum a produção e disseminação de conhecimento com um fim público.

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Com o papel cada vez mais claro de criar acessibilidade, muitos museus no presente
se confrontam com o fato de que a própria acessibilidade é uma questão de interpretação. Ao
serem oferecidos como um serviço a todos os seguimentos do público, os museus que já
foram considerados fontes do conhecimento enciclopédico se deparam com a constatação de
que não há nenhuma garantia de que a mensagem enviada será a mesma mensagem recebida.
A sua própria autoridade é, então, colocada em cheque.
O fato que nos revela a história dos museus é o de que a musealização, como outros
processos sociais, depende de uma crença social para se fazer legítima. Crença na narrativa
criada por meio de objetos que adquirem valor na medida mesmo em que são inseridos em
narrativas, e passam a ser vistos como portadores de uma verdade. Tal compreensão histórica
da verdade construída a partir dos musealia desafia o próprio papel desempenhado pelos
museus na história, relativizando a sua construção e rompendo com a sua reificação.
Prevalece, então, a ideia de que os museus fazem uma história e não a história, por meio do
processo social e ao mesmo tempo sacralizado da musealização.

Referências bibliográficas 60
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