Ao longo do século XVIII, verifica-se que as regras do
neoclassicismo não possuem uma energia suficiente para evitar estilos próprios e espontâneos que buscam a expressão de sentimentos e de ideias, indiferentes ao academismo.
O pré-romantismo (como movimento que prepara a nova
sensibilidade romântica): apresenta ainda formas estruturais clássicas (soneto); procura conciliar a expressão classicizante com estados de alma caracterizados por tudo aquilo que se liga ao ser que é o indivíduo; exprime o sentimentalismo e o pessimismo doentio característicos dos românticos; permite a livre expansão do eu; cai no individualismo, no egocentrismo e na melancolia; como é próprio dos pré-românticos, o poeta inquieto e angustiado, aspira ao ideal e, por o não encontrar, perde a confiança na razão e na vida, manifesta a sua dor.
CARACTERÍSTICAS NEOCLÁSSICAS:
• o «locus amœnus» («Olha, Marília, as flautas dos pastores»; «Se é
doce no recente ameno Estio»): a Natureza alegre, amena, deleitosa, luminosa... - o Paraíso; • a divinização da mulher amada; mulher ideal, doce, carinhosa; comparada à Natureza, mas sempre superior; • personificação de elementos da Natureza («Se é doce no recente ameno Estio»); • personificação de coisas abstractas: a Ventura, a Sorte, o Amor, a Razão...; • o uso da mitologia; • a linguagem latinizante; • o uso dos subgéneros clássicos e arcádicos (soneto, ode, canção, ...); • a influência do classicismo: «Camões, grande Camões» - o percurso, o destino, o sofrimento; «Adamastor cruel» - recuperação da figura criada por Camões; «Se é doce no recente ameno Estio» - a mulher divina e presente, o «locus amœnus», a natureza paradisíaca... «Olha, Marília, as flautas dos pastores»: a Natureza bela se a mulher amada estiver presente.
lôbrega floresta»; é o «locus horrendus», uma paisagem feia, escura, lúgubre, triste. O sujeito poético também se sente triste, taciturno, a sofrer e a chorar as mágoas. Há uma conformidade entre o seu estado de espírito e o cenário; • gosto pela Natureza selvagem, escura e macabra; a selva escura; gosto da solidão; • o amor (guiado pelo coração, não pela razão; amor imenso que conduz ao sofrimento, à insónia, ao desejo de morrer); no entanto, a vida está subordinada ao amor («morte de amor melhor que a vida» - verso 14 do soneto «Se é doce no recente ameno Estio»); • a morte (como solução para ultrapassar esse sofrimento); • aceitação do sofrimento de amor; • a ausência da mulher (ou a crueldade, ou a indiferença, ou a brandura da paixão) como causadora do sofrimento; • o fatalismo e o desengano; • importância atribuída ao sentimento; • hiperbolização do sofrimento em que o poeta se sente bem: «Fiei- me nos sorrisos da Ventura»; • apologia do génio individual, por abandono da imitação dos modelos.
UNIVERSO POÉTICO BOCAGIANO: O EU, O AMOR, A MORTE
• temas autobiográficos (o eterno apaixonado, volúvel e
inconstante; o destino cruel; o sofrimento na vida e o desejo de morte; as dificuldades económicas); • a obsessão da morte; o fascínio pelo macabro e pelo nocturno; • a expressão hiperbólica dos sentimentos; • as ilusões breves/as desilusões duradouras; • a confidência; o desabafo do seu sofrimento; • o arrependimento; a melancolia e o pessimismo; o fatalismo; • o amor à liberdade; ...