Em O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária: crítica da arte
e estética geral, um dos problemas abordados por Bakhtin, presentes na estética material, é o fato de esse método não ser capaz de fundamentar a forma artística já que suscita um punhado de dúvidas, e, para ele, parece ser inconvincente a forma da obra de arte transformar-se em algo isento do momento axiológico. Ao fazer com que a obra se desligue desse momento importante de sua construção, momento que deve-se ter em mente e não ser ignorado, pois ele estará intimamente ligado com a forma composicional e arquitetônica, as tensões emocionais e volitivas presentes se tornam incompreensíveis (trazendo ainda uma impossibilidade de exprimir qualquer relação axiológica presente, como as da do autor com o espectador, autor com herói, espectador com herói, entre outras), e isso é algo que vai muito além do material. Essa relação é também indispensável para que se entenda a noção de estilo. Ao nos depararmos com uma obra artística, seja qual for, todos esses elementos (e outros) são importantes para a fruição. Ao não se compreender tal fenômeno, caímos na inocência de achar que o que sentimos quando entramos em contato com a arte seja algo espiritual ou psicofísico, totalmente hedonista e individual (algo que é absurdo, pois dentro de nós o outro também está presente) - um pecado cometido pela teoria da recepção, por exemplo. Toda obra está preenchida por ideologemas, valorações, preceitos éticos, filosóficos, morais e etc, ao ignorar esses fatores perde-se toda a compreensão, não só do conteúdo, mas da forma também, logo, a obra passa ser um objeto puro, e somente, desligado de toda a realidade social, do caudal turbulento em que todos, autor e espectador, estamos inseridos.