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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
DISCIPLINA DE FILOSOFIA DA NATUREZA
DOCENTE: Thiago André de Moura Aquino
DISCENTE: Luccas de Amorim Rêgo

O real é racional?

RESUMO: Por meio do presente ensaio procuro apresentar algumas considerações


expositivas acerca da crítica kantiana da razão em seu uso cognitivo, a partir das etapas
traçadas nos ​Prolegômenos, ​sobre a constituição da natureza, identificada como realidade
(categoria). A seguir das etapas traçadas, vou mencionar o fio condutor do argumento
kantiano pelos atos judicativos, a esquematização dos conceitos puros do entendimento, os
princípios do entendimento puro e encerro com considerações à guisa de conclusão sobre a
posição idealista de pensamento.

Em meados do século XVIII, David Hume teceu uma crítica vigorosa à metafísica,
com que retomou a antiga tradição cética que, desde Sexto Empírico, deixara de ser praticada.
O filósofo escocês colocou em questão a validade objetiva do conceito de causalidade, e com
isso, como consequência, também de substância. Frente essa posição foi posta em suspeita a
possibilidade de se especular sobre uma totalidade incondicionada e causadora de tudo – o
que se aponta pelo nome Deus. Com esse movimento e suas subsequentes dúvidas céticas,
Hume erigiu um escrutínio da ​ciência do ser enquanto ser, ​que desde a antiguidade clássica
nutriu a especulação ontológica. Escusado dizer que, se tal crítica possui validade objetiva, a
existência da metafísica enquanto uma vertente da investigação filosófica é posta doravante
em xeque.
Diante dessa crítica, como reação, localiza-se historicamente a filosofia transcendental
kantiana, com a qual nos deteremos aqui. Kant reconhece que o ataque de Hume à metafísica
é especialmente grave e ocupa-se de lidar com ele1. Sua estratégia, no entanto, não consiste

1
​BECKENKAMP, J​. Introdução à filosofia crítica de Kant.​ Belo Horizonte: Editora Ufmg, 2017, p.
70.

1
em reabilitar a metafísica tradicional, pois, nesse sentido, era partidário do empirista escocês
na posição de que esta carece de fundamentos cognitivos para discursar sobre a realidade;
pelo contrário, sua reação é de “reforma” da metafísica, fundindo-a com a Lógica, em vista
da estabilidade que essa ciência muito cedo alçou, característica distinta que se apresentou
como modelo de produção de conhecimento a partir das ciências naturais, e com isso cunhou
a expressão ​lógica transcendental – q​ ue veio a ser, segundo a interpretação à qual nos
filiamos, uma ontologia que investiga a modalidade dos objetos externos segundo as
condições de possibilidade de serem apresentados ao sujeito nos limites da forma da intuição
– e resultado dessa reforma.
Até esse momento da história pesquisava-se quatro disciplinas em metafísica, a saber,
uma de metafísica geral ou doutrina do ente enquanto ente, a ontologia, e três de metafísica
especial ou do ente em espécie (mediante sua diferença específica, sempre subsumidos ao
ente generalíssimo, onde estão os objetos metafísicos por excelência), quais sejam, a
psicologia, ou doutrina da alma, a cosmologia, ou doutrina do mundo e a teologia, ou
doutrina de Deus. No bojo da filosofia kantiana as quatro disciplinas são tratadas em duas
partes da sua lógica transcendental: a ontologia é convertida em ​analítica dos conceitos e
princípios do entendimento, t​ ratada na analítica transcendental como lógica da verdade e,
assim, das condições de possibilidade do objeto em geral. As demais disciplinas, como a
psicologia, a cosmologia e a teologia, respectivamente, são confrontadas por Kant na
dialética transcendental como conceitos hauridos da razão voltada para si mesma a investigar
conceitos que ela própria produziu2 ​tomados, contudo, como predicados dos objetos.
Segundo a apresentação analítica da reflexão crítica acerca dos fundamentos e limites
da cognição humana, exposto nos ​Prolegômenos a toda metafísica futura que possa
apresentar-se como ciência (​ KANT, I. AA IV3), é um fato que há uma ciência matemática e
uma ciência física que produzem conhecimento, em sentido forte, com caráter de
universalidade e que isso nada mais indica do que a necessidade de resgatar seus princípios.
Tendo se mostrado a posição realista, um ponto de partida possível para essa investigação,

2
​Cf. KANT, I. ​Krv. ​B 316 (Apêndice à Analítica Transcendental).
3
​Modelo de citação conforme a “Akademie-Ausgabe: KANT, Immanuel. Gesammelte Schriften.
Berlin: Walter de Gruyter, 1900ss. O que for referente à ​Crítica da razão pura será referido como
“KrV, B x”, onde ‘x’ indica a paginação original, também conforme o modelo das pesquisas
kantianas, a despeito do qual omitirei a indicação da paginação da edição A, por questão prática, pois
nas minhas anotações e tradução da obra essa paginação não está fornecida. Nas referências
bibliográficas estarão indicadas as traduções utilizadas.

2
fonte insuperável de querelas, opta-se pela abordagem chamada “idealista transcendental”,
conquistada na ​Crítica​, e supõe-se o princípio do conhecimento na estrutura subjetiva da
cognição e não no objeto conhecido, i.é., os fundamentos a priori das condições de
possibilidade dos objetos cognoscíveis mediante a estrutura do intelecto do sujeito.
Na esteira dessa investigação, Kant expõe como resposta para a matemática a
estrutura ​a priori ​da sensibilidade. Assim sendo, o que libera tudo o que pode orientar-se no
espaço ou no tempo, e com isso também o que pode ser dado a algum dos cinco sentidos.
Mas não apenas, na medida que pela forma da intuição podem dar-se intuições formais, isto
é, uma intuição pura do espaço, por exemplo, o que nos fornece esquemas como a ideia de
um ponto geométrico ou de uma reta e até de figuras, que evidentemente não se dão
empiricamente, mas são lucidamente pensáveis e nos permitem organizar a experiência
empírica4. Tem-se assim, portanto, a estrutura ​a priori da sensibilidade, apresentada na
primeira parte dos ​Prolegômenos.​
Ainda nessa obra temos o desdobramento seguinte no qual trata-se dos princípios de
todo conhecimento puro da natureza. Assim sendo, Kant exibe uma distinção da natureza no
seu aspecto material e formal; sendo aquele “a ​soma de todos os objetos da experiência” (AA
IV: 295), e esse “é, portanto, a conformidade de todos os objetos da experiência à leis e, na
medida em que essa conformidade é conhecida ​a priori,​ sua ​necessária conformidade a leis”
(Ibidem, 296). A forma a priori da sensibilidade, junto com a experiência perceptiva,
possibilita o aspecto material da natureza, e, por sua vez, a forma do entendimento prescreve
à natureza suas leis e oferece o aspecto formal. Vale ressaltar, nessa distinção, o seguinte
esclarecimento de Kant:
Vamos, portanto, tratar aqui apenas da experiência e das condições
universais dadas ​a priori ​de sua possibilidade, e determinar, a partir disso, ​a
natureza enquanto o inteiro objeto de toda experiência possível​.
(Ibidem. Grifo meu).
Temos com isso a localização da natureza na relação com o sujeito cognoscente e,
uma primeira indicação do seu sentido formal. O autor, por sua vez, reitera diversas vezes
que isso se trata, rigorosamente, de fenômenos, ou aparecimentos - isto é, aquilo que da coisa
considerada em si mesma o sujeito tem a experiência dada a forma de sua subjetividade. Para

4
​As façanhas bélicas de Arquimedes são um exemplo histórico disso.

3
mim bastará mencionar uma única vez, nas palavras de Kant, para que já não se perca de
vista:
Pois, como podemos muito bem ter, de maneira ​a priori e​ antes que
quaisquer objetos nos sejam dados, uma cognição daquelas condições
necessárias para que uma experiência de objetos seja possível, mas nunca
uma cognição das leis às quais eles podem estar ​sujeitos em si mesmos,
sem relação com uma experiência possível​, não seremos capazes de
estudar ​a priori a natureza das coisas de nenhum outro modo ​exceto
investigando as condições e leis universais (embora subjetivas)
unicamente sob as quais essa cognição é possível enquanto experiência
(segundo a mera forma), e determinando, em seguida, a possibilidade
das coisas como objetos da experiência. ​(Ibidem: 297, grifo meu).
É importante que se mantenha audível as primeiras páginas da introdução B à KrV,
onde Kant menciona um certo “​a priori d​ erivado”, isto é, conhecimentos ​a priori que contém
elementos empíricos, como por exemplo ​XXX​, os quais possuem validade objetiva e
universal necessária, mas tratam-se de móbiles subsumidos à uma legislação investigada
pelas ciências puras da natureza. Essa legiformidade da experiência possível é fornecida pela
estrutura categorial do entendimento e pelos princípios puros da experiência, os quais quero
mencionar apenas ​en passant.
Para fazer esse percurso, é razoável indicar que seu fio condutor, desde a edição B da
Crítica,​ é ao menos a termo da apresentação, o ato judicativo. Faz sentido supor que o
problema da objetividade em geral perpassa a crítica da razão no uso cognitivo, e isso
significa investigar a possibilidade de um objeto do nosso conhecimento. Em fato, o conceito
de objeto chega a ser declarado como “o conceito supremo” da filosofia transcendental5. É
importante notar que não se trata nem do ser enquanto ser, tampouco do ente realíssimo, já
que temos como resultado da ​Crítica sua inacessibilidade ao entendimento humano, mas o
objeto ​em geral,​ e assim se mostra a filosofia transcendental como uma ontologia crítica, ou
ao menos uma substituta da ontologia como praticada tradicionalmente. E é propriamente o
ato judicativo que permite a representação de objetos, por meio da qual todo o pensamento
sobre objetos é possível (Cf. AA IV: 318 ss). Assim sendo, não há palavras (nomes ou
conceitos) que representam por si só a relação do sujeito apercetivo com os objetos da

5
KANT, I. ​KrV B 347.

4
experiência, efetiva ou possível, mas necessariamente há a mediação por atos judicativos que
estabelecem a relação e se apresentam, assim, como fio condutor da dedução das categorias
puras do entendimento.
Há a complexa argumentação kantiana acerca da relação entre categorias puras do
entendimento e fenômenos, isto é, a esquematização das primeiras em relação ao segundo, da
qual fazemos apenas a menção. Como escreve Beckenkamp
Como regra que possibilita a unidade da síntese do múltiplo dado ​a priori ​na
intuição do tempo, a categoria é estabelecida ​a priori c​ omo regra que
possibilita a unidade de toda e qualquer síntese de um múltiplo dado, uma
vez que o tempo constitui a condição formal do sentido interno, pelo qual
tão somente nos pode ser dado um múltiplo da intuição sensível.
(BECKENKAMP, J. 2017, p. 116)
Há uma heterogeneidade incontornável entre o elemento formal do entendimento (as
categorias) e o elemento material da sensibilidade (o múltiplo dado na intuição empírica).
Mediante esse estado de coisas, naturalmente, levanta-se a questão de como é possível
compatibilizar esses elementos - ainda que no seio dos quais outras questões vão surgir, como
por exemplo, a relação entre os juízos ditos de percepção, formados a partir unicamente da
experiência perceptual, e conexão mental do múltiplo dado, de um indivíduo, com os juízos
de experiência, constituídos por necessidade e universalidade - a qual é discutida por Kant no
capítulo dedicado ao “esquematismo dos conceitos puros do entendimento” e fazemos
menção para deixarmos esse tópico:
O conceito do entendimento contém a unidade sintética pura do diverso em
geral. O tempo, como condição formal do diverso do sentido interno,
portanto da conexão de todas as representações, contém um diverso ​a priori
na intuição pura. Uma determinação transcendental do tempo, no entanto, só
é homogênea com a ​categoria (​ que constitui a unidade da mesma) na
medida em que seja ​universal e se baseie em uma regra ​a priori. ​De outro
lado, porém, ela só é homogênea com o fenômeno na medida em que o
tempo ​esteja contido em cada representação empírica do diverso. Uma
aplicação da categoria a fenômenos será possível, portanto, através da
determinação transcendental do tempo que, como esquema dos conceitos do
entendimento, faz a mediação na subsunção dos últimos sob a primeira.
(KANT, I. KrV B 177 - 178)

5
Os esquemas então representam as regras para a subsunção do múltiplo sensível às
categorias, mas o momento final da resposta acerca da concordância entre a unidade formal
do entendimento e a multiplicidade material dos dados da intuição é fornecida precisamente
na determinação do “Sistema de todos os princípios do entendimento puro”, e representam os
princípios ​a priori ​do entendimento para a experiência em geral na forma de juízos sintéticos
a priori.​ Com isso, Kant estabelece os Axiomas da intuição, as Antecipações da percepção, as
Analogias da experiência e os Postulados do pensamento empírico em geral, que não apenas
vão constituir os ​princípios da Natureza6 enquanto o conjunto de todos os fenômenos efetivos
e possíveis, mas também um conhecimento do intelecto, investido por si mesmo e a própria
determinação de seus limites como princípios que permitirão ao filósofo determinar a
ultrapassagem dessa fronteira crítica e a constituição antinômica de ideias metafísicas.
Com as considerações levantadas até agora, creio estar indicada a posição idealista7 de
pensamento. É evidente que o idealista não põe em questão que haja um mundo externo,
tampouco que seja razoável algum tipo de fratura na relação entre a consciência e o mundo,
mas antes trata-se de uma questão de princípio, e em particular acerca da relação entre ​ser e
pensar.​ A estrutura do real (o grande fetiche metafísico, ora identificado por Kant com a
Natureza, conforme páginas 3 e 4) coincide com a estrutura interna do sujeito, pois o real é o
que é em relação com o sujeito. Tendo sido identificado com a natureza, logo, com o
conjunto de toda a experiência possível, no idealismo transcendental encontro uma
determinação do real segundo o limite da estrutura racional mínima do conjunto de toda
experiência possível. Não há algo aquém do que uma experiência possibilitada pelo intelecto
humano, como também não há algo além do limite dessa mesma experiência, traçado pelas
suas condições de possibilidade.
Isso posto parece indicar que a natureza (realidade, ou mundo, sendo o último termo
também utilizado por Kant) se mostra como um reflexo do intelecto humano. Um reflexo por
analogia, isto é, não “uma similaridade imperfeita de duas coisas, mas antes uma perfeita
similaridade de duas relações entre coisas inteiramente dissimilares” (AA IV: 357). O
intelecto, portanto, mediante suas relações internas, tanto da intuição com o entendimento e
mesmo, numa “via negativa”, da razão com sua não adequação à intuição, ou as condições de

6
​Cf. AA IV: 304 a 306, com ênfase no § 23.
7
​Me refiro à tradição do idealismo alemão, particularmente Kant, os pós-kantianos e sua culminância
e fim em Hegel.

6
esquematização dos conceitos puros do entendimento, por analogia, projeta para si mesmo o
mundo, numa perfeita similaridade com algo ​fundamentalmente d​ issimilar, isto é, o mundo -
e, enfim, a objetividade8 tão cara ao conhecimento científico. E note-se que também é
fornecido por analogia a estrutura do mundo que permitirá o uso prático objetivo da razão,
desde antes do escrutínio desse uso da razão, quando Kant estabelece que até mesmo a
relação de um ente supremo ​em si mesmo c​ om o mundo é passível de ser estabelecida por
procedimentos analógicos (Cf. ibidem). Portanto, a possibilidade da experiência em geral é,
ao mesmo tempo, a lei universal da natureza, e os princípios da primeira são, eles próprios, as
leis da última.
Temos então um idealismo que identifica o mundo, ou realidade, com a Natureza e
esta se apresenta como um reflexo espelhado por analogia do entendimento humano,
descoberto em seus princípios através de uma investigação do pensamento dando voltas em
torno de si mesmo. Tanto a identificação do real com a natureza, como, talvez especialmente,
esse grande esforço de prudência da razão sempre atenta à seus limites e conhecendo os
princípios do mundo através sua própria constituição, abrem enorme flanco para uma
acalorada querela dos idealistas entre si, a erigir sistemas e liberar o pensamento de si
próprio, até 1813.

Referências bibliográficas:

​ rad. Fernando Costa Mattos. 3º edição. Petrópolis: Editora


KANT, I. ​Crítica da razão pura. T
Vozes, 2010.
______. ​Prolegômenos a toda metafísica futura que possa apresentar-se como ciência. ​Trad.
José Oscar de Almeida Marques. 1º edição. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2014.

8
​Isto é, a adequação da matéria do conhecimento às estruturas formais da subjetividade no ato
cognitivo.

7
BECKENKAMP, J​. Introdução à filosofia crítica de Kant​. Belo Horizonte: Editora Ufmg,
2017.

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