Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Resumo: A verdade enquanto alétheia, resgatada dos gregos por Heidegger, diz respeito
à dinâmica de encobrimento e desencobrimento da relação entre ser e ente. Os entes,
componentes da physis, têm por essência o ser e correspondem ao aparente, enquanto o
ser ocupa uma posição inaparente. Assim, na physis, que abrange todas as coisas
existentes, o ser se oculta em cada ente que aparece. Portanto, a verdade enquanto alétheia
corresponde a essa dinâmica em que apenas é possível delimitar e dizer a parte desta que
aparece. Lacan, dialogando com Heidegger, tem por objetivo mostrar como o pequeno a,
objeto perdido e causa de desejo, aparece somente enquanto objeto provisório e parcial
para tamponar a falta estrutural. Uma vez que essa falta é fundante do sujeito e indizível,
os objetos tomados pelo analisando como semblantes dessa falta só aparecem em análise.
Palavras-chave: Alétheia. Ente. Pequeno a. Ser.
Abstract: The truth as alétheia rescued from the Greeks by Heidegger regards the
dynamic of concealment and uncovering the relationship between be and being. The
beings, components of physis, have in essence the be and correspond to apparent while
be occupies a unapparent position. Thus, the physis, which covers all existing things, be
is hidden in each entity that appears. So the truth as alétheia matches this dynamic in that
it is only possible to delimit and say that this part appears. Lacan dialogue with Heidegger,
aims to show how the little a, and lost object cause of desire, appears only as provisional
and partial object to buffer the structural fault. Once, this lack is the foundational subject
and unspeakable, the objects taken by analyzing as countenances this lack only appear in
treatment.
Keywords: Alétheia. Being. Little a. Be.
1- Introdução
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 56
Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6
para irmos direto ao assunto, é de origem, άλήθεια, termo sobre o qual tanto especulou
Heidegger.” (LACAN, 1985, p. 123). Portanto, para compreendermos o sentido que
Lacan atribui à verdade, é necessário mostrar como Heidegger compreende a verdade
enquanto alétheia e como ela é utilizada por Lacan.
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 57
Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6
Desta maneira, pensar somente o aparente é pensar que tudo o que surge decorre do que
já é enquanto ente. Quando o ente aparece algo está oculto, pois a alternância exige troca.
Disso que se oculta, é possível apenas fazer apontamentos já que se trata do que nossos
olhos não alcançam. Considerando tudo o que surge como ente e a physis constituída de
entes, tudo o que existe, então o que permanece oculto se oculta no próprio ente. Segundo
Pessoa (2003), o surgimento dos entes é o sentido e a verdade do ser, tudo o que aparece
é ente, já o que se distingue dos entes é o dessemelhante enquanto sentido e verdade,
portanto, o que se distingue dos entes é o ser. Então o ser, enquanto distinto dos entes,
mantém-se oculto neles. Se a verdade do ser é o ente e este se oculta, podemos
compreender sua verdade como aparente enquanto desencobrimento, o que corresponde
a apenas uma parte da verdade.
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 58
Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6
“se funda no fato de não sabermos que estamos esquecidos, pois, se assim não fosse,
lembraríamos” (PESSOA, 2003, p. 81).
A verdade em sua totalidade não pode ser dita, ela é apenas “semi-dita”, o dizer
mostra apenas uma parte e a outra permanece indizível. A verdade enquanto
desencobrimento é composta pelo ente, parte aparente, e pelo ser, que permanece oculto,
podemos considerar o processo analítico como uma relação entre entes, na dinâmica do
discurso do sujeito. O analisando por meio da linguagem se coloca enquanto discurso na
análise, ao se colocar, toda a verdade não é possível ser dita, pois o ser do ente permanecer
oculto, assim é possível apenas produzir um saber acerca do aparente em relação à
verdade, ou seja, aos aspectos e características do ente que aparecem no discurso.
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 59
Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6
Portanto, podemos dizer que a relação entre verdade e saber, compreendida sob a
dinâmica da alétheia, se dá em relação ao desejo e a sua causa, o pequeno a, que, por se
tratar de algo perdido, mantém fora do alcance do analisando a possibilidade de saber o
que ele é. O sujeito em processo de análise, em constante devir, se deparará com outros
objetos que possuam o semblante daquilo que foi perdido e, ao ser motivado pelo desejo
de encontro, se moverá em busca do que é aparente tomando-o como o que completa a
falta real. Nessa dinâmica entre ser e ente, há algo que permanece oculto e, ao permanecer
oculto, permite que outros objetos apareçam enquanto semblante para o sujeito fazendo
com que este se mova em direção a esse objeto.
4- Conclusão
Podemos concluir que Lacan, ao falar do objeto perdido causa de desejo, fundante
da falta estrutural e da busca por esse objeto que possam suprir tal falta, faz com que o
indivíduo se mova em direção a outros objetos que possam suprir tal falta. Uma vez que
ele desconhece o que de fato lhe falta e tomando o objeto como substituto, este objeto
adotado, possível de ser dito em processo de análise, proporcionará o saber somente de
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 60
Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6
uma parte da verdade, pois a falta estrutural do sujeito é indizível. Assim, a verdade para
Lacan é compreendida e utilizada no sentido pensado por Heidegger como alétheia, em
que o ser, enquanto essência do ente, se oculta nele na medida em que o ente surge,
constituindo dessa forma a verdade sobre o ser, em que uma parte da verdade pode ser
dita, a aparente e a outra permanece inefável. Assim, como nos disse Lacan, “[...] toda a
verdade, é o que não se pode dizer” (LACAN, 1985, p.124), pois esta só pode ser “semi-
dita”.
Bibliografia:
Recebido: 08/2013
Aprovado: 12/2013
http://ifcs.ufrj.br/~aproximacao 61