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Revista Aproximação – 2º semestre de 2013 – Nº 6

A VERDADE ENQUANTO ALÉTHEIA E SUA DINÂMICA


ENTRE HEIDEGGER E LACAN

Bruno Abilio Galvão


Graduado em Filosofia pela UFES
Eliene Rocha Gomes
Graduada em Psicologia pela UFES

Resumo: A verdade enquanto alétheia, resgatada dos gregos por Heidegger, diz respeito
à dinâmica de encobrimento e desencobrimento da relação entre ser e ente. Os entes,
componentes da physis, têm por essência o ser e correspondem ao aparente, enquanto o
ser ocupa uma posição inaparente. Assim, na physis, que abrange todas as coisas
existentes, o ser se oculta em cada ente que aparece. Portanto, a verdade enquanto alétheia
corresponde a essa dinâmica em que apenas é possível delimitar e dizer a parte desta que
aparece. Lacan, dialogando com Heidegger, tem por objetivo mostrar como o pequeno a,
objeto perdido e causa de desejo, aparece somente enquanto objeto provisório e parcial
para tamponar a falta estrutural. Uma vez que essa falta é fundante do sujeito e indizível,
os objetos tomados pelo analisando como semblantes dessa falta só aparecem em análise.
Palavras-chave: Alétheia. Ente. Pequeno a. Ser.

Abstract: The truth as alétheia rescued from the Greeks by Heidegger regards the
dynamic of concealment and uncovering the relationship between be and being. The
beings, components of physis, have in essence the be and correspond to apparent while
be occupies a unapparent position. Thus, the physis, which covers all existing things, be
is hidden in each entity that appears. So the truth as alétheia matches this dynamic in that
it is only possible to delimit and say that this part appears. Lacan dialogue with Heidegger,
aims to show how the little a, and lost object cause of desire, appears only as provisional
and partial object to buffer the structural fault. Once, this lack is the foundational subject
and unspeakable, the objects taken by analyzing as countenances this lack only appear in
treatment.
Keywords: Alétheia. Being. Little a. Be.

1- Introdução

O objetivo deste trabalho é compreender a relação entre saber e verdade de acordo


com a prática analítica da Psicanálise proposta por Jacques Lacan. Tomamos como ponto
de partida a afirmativa de Lacan, presente no capítulo VIII do Seminário 20, intitulado
Mais, Ainda, que correlaciona a verdade ao termo grego alétheia: “A verdade, digamos,

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para irmos direto ao assunto, é de origem, άλήθεια, termo sobre o qual tanto especulou
Heidegger.” (LACAN, 1985, p. 123). Portanto, para compreendermos o sentido que
Lacan atribui à verdade, é necessário mostrar como Heidegger compreende a verdade
enquanto alétheia e como ela é utilizada por Lacan.

2- Alétheia enquanto dinâmica de desencobrimento e encobrimento

A palavra alétheia, para os gregos antigos, significava o aparecimento ou o


desencobrimento do que compreendiam como physis e logos, e “sentido” ou “verdade do
ser” para Heidegger é o surgimento dos entes que compõem a physis (PESSOA, 2003).
Portanto, a verdade ou o sentido do ser é configurada no desencobrimento ou surgimento
da physis e do logos enquanto unidade originária, o desencobrimento se dá pela
diferenciação do mesmo que a constitui, ou seja, daquilo que é manifesto ou existente.
Trata-se de desencobrir-se a partir do ser do que já está desencoberto. Portanto, o
desvelamento de um ente se dá a partir da própria physis, que é composta destes.

Sobre a alétheia, Heidegger, no fragmento 112 de Heráclito, traduz como:

O pensamento do sentido (phroneîn) é a coragem mais nobre (aretè) e isso


porque (kai) saber (sophie) é: recolher (légein) (do encobrimento para o
desencobrimento) o desencoberto (alétheia) na sua pro-dução (poieîen)
realizada na medida do surgimento (kata phýsin) (PESSOA, 2003, p. 78).
A partir desse fragmento de Heráclito, podemos afirmar que alétheia é
compreendida por esse pensador como a passagem do coberto para o desencoberto. Uma
vez que “no pensamento de Heráclito tudo – e não apenas deuses e homens, livres e
escravos -, mas tudo, sem qualquer exceção, é compreendido no movimento ordenador
da inversão: dia e noite, saúde e doença, justiça e injustiça, inverno e verão, etc” (BRITO
JR., s. d., pág. 83) Assim, a questão da verdade se dá nesse jogo ou movimento de inversão
dos opostos e a verdade apontada por Heidegger como desencobrimento evoca a relação
da passagem de um estado ao seu contrário, assim o desencobrimento só pode ocorrer
mediante a negação do encobrimento. Há a primazia do encobrimento em relação ao
desencobrimento, pois para aparecer é necessário antes estar oculto e o sentido e a verdade
do ser está no aparecimento (PESSOA, 2003).

Então, a partir dessa relação de contrários pautada na alternância entre


ocultamento e aparecimento, como pensar essa relação, se para Heidegger a physis, tudo
que existe, é composta por entes e o desencobrimento é a diferenciação do que aparece?

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Desta maneira, pensar somente o aparente é pensar que tudo o que surge decorre do que
já é enquanto ente. Quando o ente aparece algo está oculto, pois a alternância exige troca.
Disso que se oculta, é possível apenas fazer apontamentos já que se trata do que nossos
olhos não alcançam. Considerando tudo o que surge como ente e a physis constituída de
entes, tudo o que existe, então o que permanece oculto se oculta no próprio ente. Segundo
Pessoa (2003), o surgimento dos entes é o sentido e a verdade do ser, tudo o que aparece
é ente, já o que se distingue dos entes é o dessemelhante enquanto sentido e verdade,
portanto, o que se distingue dos entes é o ser. Então o ser, enquanto distinto dos entes,
mantém-se oculto neles. Se a verdade do ser é o ente e este se oculta, podemos
compreender sua verdade como aparente enquanto desencobrimento, o que corresponde
a apenas uma parte da verdade.

Compreender o significado da verdade enquanto alétheia implica em considerar


aquilo que possui primazia no acontecimento. Nesse sentido, Pessoa (2003) propõe o
sentido de “encobrimento” (léthe), que na palavra alétheia se apresenta negado pelo
prefixo “a”, como fenômeno que se dá em três momentos complementares: a própria
diferença, o ocultamento e o esquecimento.

O primeiro momento, a própria diferença ontológica entre ser e ente é


caracterizada como a participação do ser naquilo que aparece. Se tudo o que aparece é
ente, então o ser que participa do aparecimento do ente permanece inaparente neste. Dessa
forma, o primeiro aspecto do encobrimento mostra que o ser se encobre no aparecimento
dos entes.

O segundo momento, o ocultamento do ser no ente constitui a essência dos entes,


o ente enquanto aquilo que surge é o que aparece do verdadeiro. Este, ao mostrar-se,
torna-se “publicamente” conhecido, possibilitando a enumeração de várias
características, porém essas são tomadas como a verdade em sua completude e não como
parte da verdade, o que encobre a possibilidade de apreender o sentido do ser que se dá
no ente, “a aparência, doxa, não é uma coisa ao lado do ser e da revelação (unverborgen),
mas pertence sempre a essa” (HEIDEGGER apud PESSOA, 2003, p. 81).

O terceiro momento é o que Heidegger chama de “esquecimento”, fenômeno que


mantém íntima ligação com a compreensão dos aspectos do ente, como a verdade em sua
totalidade, contribuindo para que o sentido do ser permaneça oculto. Então, o
esquecimento consiste em tomarmos as aparências como a verdade em sua completude e

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“se funda no fato de não sabermos que estamos esquecidos, pois, se assim não fosse,
lembraríamos” (PESSOA, 2003, p. 81).

Esses três momentos do encobrimento constituem o fenômeno da léthe em que o


ente é mostrado como ele não é, de forma parcial. Ao mostrar o ente como ele não é, não
o desvincula da verdade originária (alétheia), pois é parte desta, o que Heidegger
compreende como “errância”. “A errância é a antiessência fundamental da essência
originária da verdade” (PESSOA, 2003, p.82). Assim, errância consiste no discurso e nas
atitudes daqueles que se voltam, por falta de compreensão dessa conjuntura, para as
determinações públicas que os entes são vinculados. Uma vez que a “não verdade”, como
se compreende o ente, é uma parte da verdade que oculta a compreensão total do ser, esta
não precisa ser excluída, pois é fundamental para a dinâmica dos contrários, mantendo o
movimento e o jogo entre ser e ente, verdade e aparência.

3- O objeto perdido e sua aparência

A verdade enquanto alétheia, proposta por Heidegger e sua aproximação ao


processo de análise psicanalítica em Lacan é possível à medida que em Lacan há um
ponto de partida comum e não tomado ao acaso. Lacan afirma acerca da verdade: “[...]
toda a verdade, é o que não se pode dizer. É o que só se pode dizer com a condição de
não levá-la até o fim, de só se fazer semi-dizê-la”. (LACAN, 1985, p.124)

A verdade em sua totalidade não pode ser dita, ela é apenas “semi-dita”, o dizer
mostra apenas uma parte e a outra permanece indizível. A verdade enquanto
desencobrimento é composta pelo ente, parte aparente, e pelo ser, que permanece oculto,
podemos considerar o processo analítico como uma relação entre entes, na dinâmica do
discurso do sujeito. O analisando por meio da linguagem se coloca enquanto discurso na
análise, ao se colocar, toda a verdade não é possível ser dita, pois o ser do ente permanecer
oculto, assim é possível apenas produzir um saber acerca do aparente em relação à
verdade, ou seja, aos aspectos e características do ente que aparecem no discurso.

Para Lacan (1985), entre o dito e o indizível há um limite, o “gozo”, que só


pode ser apreendido por meio de uma aparência, de um objeto parcial, o pequeno a, pois
“este, por estar no bom caminho, ele nos fará tomá-lo por um ser em nome de ser
aparentemente alguma coisa” (LACAN, 1985, pág 128). Definido como “algo que não
pode ser representado, um resto, que se constitui como um ponto de furo no psiquismo,

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que causa no sujeito a busca de um reencontro, a busca do objeto perdido” (GUEDES,


2010, pág. 162).

O pequeno a, objeto causa de desejo, consiste em objetos substitutivos que o


sujeito busca para tamponar a falta fundante do início de sua vida, sabe ter perdido algo,
mas o que perdeu permanece inaparente. O sujeito lacaniano, ao se deparar com
semblantes desse objeto, tende a mover-se sempre em direção a eles motivado pelo
desejo.

O pequeno a possui duas instâncias, a primeira que é perdida e indizível e a


segunda que é semblante ou aparente. Considerando que a verdade apontada aqui como
desejo é a instância aparente que se dá repetidamente, pois é impossível dizer toda a
verdade, o outro, o analista, é tido como um lugar do saber e para o analisando, é como
se analista conhecesse toda a verdade, essa suposição que parte do analisando não
corresponde à realidade. O outro, o lugar do saber, trata-se apenas de uma suposição de
quem se coloca em análise, o analista detém somente o aparato teórico funcional para se
estruturar o discurso que escuta e, a partir do que é aparente, do que se mostra, produzir
um saber.

Portanto, podemos dizer que a relação entre verdade e saber, compreendida sob a
dinâmica da alétheia, se dá em relação ao desejo e a sua causa, o pequeno a, que, por se
tratar de algo perdido, mantém fora do alcance do analisando a possibilidade de saber o
que ele é. O sujeito em processo de análise, em constante devir, se deparará com outros
objetos que possuam o semblante daquilo que foi perdido e, ao ser motivado pelo desejo
de encontro, se moverá em busca do que é aparente tomando-o como o que completa a
falta real. Nessa dinâmica entre ser e ente, há algo que permanece oculto e, ao permanecer
oculto, permite que outros objetos apareçam enquanto semblante para o sujeito fazendo
com que este se mova em direção a esse objeto.

4- Conclusão

Podemos concluir que Lacan, ao falar do objeto perdido causa de desejo, fundante
da falta estrutural e da busca por esse objeto que possam suprir tal falta, faz com que o
indivíduo se mova em direção a outros objetos que possam suprir tal falta. Uma vez que
ele desconhece o que de fato lhe falta e tomando o objeto como substituto, este objeto
adotado, possível de ser dito em processo de análise, proporcionará o saber somente de

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uma parte da verdade, pois a falta estrutural do sujeito é indizível. Assim, a verdade para
Lacan é compreendida e utilizada no sentido pensado por Heidegger como alétheia, em
que o ser, enquanto essência do ente, se oculta nele na medida em que o ente surge,
constituindo dessa forma a verdade sobre o ser, em que uma parte da verdade pode ser
dita, a aparente e a outra permanece inefável. Assim, como nos disse Lacan, “[...] toda a
verdade, é o que não se pode dizer” (LACAN, 1985, p.124), pois esta só pode ser “semi-
dita”.

Bibliografia:

BRITO JR. Bajonas Teixeira. Os primeiros pensadores gregos (Introdução ao


pensamento da filosofia). [s. l.]. [s. n.]. [s. d.].
GUEDES, Denise de Fátima Pinto. Uma introdução ao conceito de objeto a. Psicanálise
& Barroco em revista, Rio de Janeiro, v.8, n.1: 159-174, jul.2010.
LACAN, Jacques. Mais, ainda – Cap. VIII – O saber e a verdade. Rio de Janeiro. Jorge
Zahar Editor. 1985.
PESSOA, Fernando Mendes. O assunto e o caminho do pensamento de Heidegger.
Espírito Santo. Edufes. 2003.

Recebido: 08/2013

Aprovado: 12/2013

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