Sunteți pe pagina 1din 3

Universidade Federal de São João del-Rei

Programa de Pós-Graduação em História


Disciplina: Viagens, representações e sociabilidade
Professor: João Paulo Coelho de Souza Rodrigues
Aluno: Jair Luiz de Freitas

CHARTIER, Roger. O mundo como representação. In: À beira da falésia: a história entre
incertezas e inquietudes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

Resenha

As reflexões apresentadas por Roger Chartier, em texto basilar da moderna


história cultural, “O mundo como representação”, são propostas de revisões e de posturas
interpretativas plausíveis à uma historiografia que renitentemente se renova quando
ameaçada em sua posição de centralidade em meio as ciências sociais.

Ao tomar como pretexto o editorial da revista Annales publicado nos anos oitenta,
que desvinculava a história da propalada crise que acometia as ciências sociais em
decorrência do declínio dos grandes paradigmas, o estruturalismo e o marxismo, o autor
não apenas descreve as estratégias discursivas empregadas e as medidas tomadas com o
intuito de transpor o impasse, mas contrasta esse momento de imprecisão com o que a
história mais recentemente então lidava. No primeiro momento, referente à época do
editorial publicado, o caminho escolhido pela disciplina havia sido escamotear os
vínculos passados entre a própria disciplina e os paradigmas tomados por decadentes, a
exemplo dos avanços da história social e econômica, inegavelmente tributária deles; bem
como, de modo retrospectivo, retomar a história das mentalidades, e principalmente
apropriar-se dos objetos pertencentes as áreas em ascensão, a etnologia e a linguística.
Assim operando, o campo da história retomava, livre de riscos, a posição de centralidade
antes ameaçada. No segundo momento, contudo, quando a disciplina se via novamente
ameaçada, por outras razões, as medidas tomadas haviam sido outras, agora em forma de
renúncia.

A necessária reformulação do objeto da história, conforme argumenta Roger


Chartier, decorre de duas novas ofensivas à disciplina, expressas em um retorno ao valor
do sujeito, não mais submisso as estruturas; e a nova proeminência da dimensão política.
Como sugere, as mudanças nesse caso não se deram, tal como anteriormente, através da
anexação de novos objetos, sendo antes orientadas por renúncias a alguns princípios da

1
tradição historiográfica. As renúncias assim consistiam no abandono do esforço em
descrever a totalidade do mundo social, confiando maior consideração na análise de certos
pontos da realidade tidos por reveladores; no igual abandono da necessidade de traçar
particularidades, preferindo traçar regularidades; e, por fim, no abandono do recorte
social para a análise de objetos culturais.

Diante dessas mutações em forma de renúncias no campo da história, o autor


dedica-se a formular algumas noções necessárias à edificação de uma história cultural
sobre novas bases. A primeira delas, a noção de apropriação, se refere à uma dada maneira
de lidar com os bens culturais, atenta aos usos e as interpretações possíveis, o que requer
outros princípios para a composição dos objetos de análise que não aqueles das figurações
sociais que apartam elites e povo, dominantes e dominados, mas que prese primeiramente
por traçar a área social de circulação dos objetos culturais. Assim procedendo, o
historiador se percebe livre de velhas operações redutoras, que vinculavam previamente
dados bens a dados grupos ao invés de analisar os usos variados dos objetos
compartilhados por estamentos diferentes, isto é, poder atentar-se para os usos
socialmente diferenciadores de um bem comum por cada estamento. Outro ganho advindo
reside na objeção necessária àqueles que desvinculam os bens culturais de seus suportes,
não percebendo com isso que o formato em que certo bem é apresentado carrega em si,
não somente as expectativas do público visado, mas igualmente determina sua área de
circulação.

Quanto à noção de representação coletiva, Roger Chartier a apresenta como uma


renúncia à divisão corrente nas ciências sociais entre a objetividade das estruturas e a
subjetividade das representações, reconhecendo-a enquanto componente objetivo da vida
social, por nela estar incutida de modo implícito as próprias divisões do ordenamento
social, expressas nos esquemas de classificação, e devido a noção referir-se igualmente
aos esquemas que regem as práticas dos sujeitos na vida cotidiana, conformando-a. Ao
conceder atenção à noção de representação, o autor concorre para uma maior
compreensão da formação de identidades, enquanto relação de força entre uma
representação auto atribuída e aquela imposta pela posição adversária, ambas em disputa
pelo poder de ordenar ou ao menos intervir no ordenamento social. Ao assim definir o
conceito, enquanto edificação simbólica de algo que visa reger a apreensão da realidade,
o autor reconhece a grande valia do termo para a análise em específico das sociedades de
antigo regime, em que o termo à época já conhecia grande carga semântica; por

2
representação compreendia-se não apenas a imagem presente do objeto ausente, mas a
própria perversão dessa relação, onde a imagem representada pretende ocupar o lugar do
objeto e ser assim apreendida, a exemplo das exibição daquele ordenamento em que os
indivíduos dedicavam-se a edificar um imagem de si que fizesse jus ao lugar que
acreditavam ocupar no ordenamento hierárquico próprio aquela sociedade de corte.

Considerando ainda a sociedade de antigo regime, o autor exemplifica a relevância


das formas dadas à certos bens culturais e às práticas gestadas ao entorno dos livros
quando de sua popularização. Ao passo que a princípio sua reduzida disseminação
contribuía para que apenas a posse conferisse alguma distinção, sua maior circulação
engendraria a criação de uma miríade de práticas e formatos socialmente diferenciadores
que dessem conta do novo estado de coisas.

Compreendido enquanto um conjunto de propostas conceituais tidas por


necessárias à revitalização da disciplina, o texto de Roger Chartier apresenta enorme
vitalidade pois não apenas se insere na própria tradição da disciplina, ao oferecer novas
ferramentas enquanto caminho para o aperfeiçoamento das análises, mas elabora-os tendo
em vista os problemas conjunturais enfrentados pela história.

S-ar putea să vă placă și