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CHARTIER, Roger. O mundo como representação. In: À beira da falésia: a história entre
incertezas e inquietudes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
Resenha
Ao tomar como pretexto o editorial da revista Annales publicado nos anos oitenta,
que desvinculava a história da propalada crise que acometia as ciências sociais em
decorrência do declínio dos grandes paradigmas, o estruturalismo e o marxismo, o autor
não apenas descreve as estratégias discursivas empregadas e as medidas tomadas com o
intuito de transpor o impasse, mas contrasta esse momento de imprecisão com o que a
história mais recentemente então lidava. No primeiro momento, referente à época do
editorial publicado, o caminho escolhido pela disciplina havia sido escamotear os
vínculos passados entre a própria disciplina e os paradigmas tomados por decadentes, a
exemplo dos avanços da história social e econômica, inegavelmente tributária deles; bem
como, de modo retrospectivo, retomar a história das mentalidades, e principalmente
apropriar-se dos objetos pertencentes as áreas em ascensão, a etnologia e a linguística.
Assim operando, o campo da história retomava, livre de riscos, a posição de centralidade
antes ameaçada. No segundo momento, contudo, quando a disciplina se via novamente
ameaçada, por outras razões, as medidas tomadas haviam sido outras, agora em forma de
renúncia.
1
tradição historiográfica. As renúncias assim consistiam no abandono do esforço em
descrever a totalidade do mundo social, confiando maior consideração na análise de certos
pontos da realidade tidos por reveladores; no igual abandono da necessidade de traçar
particularidades, preferindo traçar regularidades; e, por fim, no abandono do recorte
social para a análise de objetos culturais.
2
representação compreendia-se não apenas a imagem presente do objeto ausente, mas a
própria perversão dessa relação, onde a imagem representada pretende ocupar o lugar do
objeto e ser assim apreendida, a exemplo das exibição daquele ordenamento em que os
indivíduos dedicavam-se a edificar um imagem de si que fizesse jus ao lugar que
acreditavam ocupar no ordenamento hierárquico próprio aquela sociedade de corte.