Sunteți pe pagina 1din 95

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/287216562

Cancro cítrico: a doença e seu controle

Book · June 2014


DOI: 10.13140/RG.2.1.1207.0485

CITATIONS READS
6 1,089

2 authors:

Franklin Behlau José Belasque


Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura University of São Paulo
42 PUBLICATIONS   458 CITATIONS    72 PUBLICATIONS   831 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Impact of the main citrus diseases and pests on the premature fruit drop of orange orchards of the São Paulo citrus belt View
project

All content following this page was uploaded by Franklin Behlau on 18 December 2015.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Cancro cítrico:
a doença e seu controle

Franklin Behlau
Fundo de Defesa da Citricultura

José Belasque Jr.


Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo

1a Edição - Araraquara (SP) - 2014


Coyright© Fundecitrus, 2014
e-mail: comunicacao@fundecitrus.com.br

Editoração eletrônica e arte-finalização: Patrícia Bortolato


Fotos: Fundecitrus

Cancro cítrico: a doença e seu controle / Franklin Behlau,


José Belasque Jr. – Fundecitrus, 2014
82 p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-68170-00-7

1. Cancro cítrico. 2. Citricultura. 3.Doença. 4. Citros.


5. Controle. I. Título

Ficha catalográfica elaborada pela área de Comunicação – Fundecitrus


Todos os direitos reservados. Não são permitidos reprodução,
armazenamento, exibição ou transmissão por meios eletrônico,
mecânico, gravação ou quaisquer outros sem a autorização dos autores
e sem dar os devidos créditos.
Cancro cítrico: a doença e seu controle


Aos citricultores, em especial aos mantenedores do
Fundecitrus, pela confiança e apoio à instituição”


Aos funcionários e ex-funcionários do Fundecitrus
pelos anos de dedicação em prol da citricultura”


Agradecemos
Os autores

III
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Por suas contribuições ao conhecimento

“ e controle do cancro cítrico

Aos pesquisadores Rui Pereira Leite Jr. e


James H. Graham
Dedico.
Franklin Behlau

Aos professores Armando Bergamin Filho e


Nelson Gimenes Fernandes”
Dedico.
José Belasque Jr.

IV
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Franklin Behlau José Belasque Jr.


Engenheiro agrônomo gradua- Engenheiro agrônomo gradua-
do pela Universidade Estadual de do em 1997 pela Universidade
Londrina – UEL (Londrina, PR) em Estadual Paulista – Unesp (Jabo-
2003, mestre em Fitopatologia ticabal, SP), concluiu o mestrado
pela Escola Superior de Agricul- em Produção Vegetal na mesma
tura “Luiz de Queiroz” – Esalq/ instituição em 2000 e o doutora-
USP (Piracicaba, SP) em 2006 e do em Fitopatologia pela Escola
PhD com ênfase em Fitopatolo- Superior de Agricultura “Luiz de
gia pela Universidade da Flórida – Queiroz” – Esalq/USP (Piracicaba,
UF (Flórida, EUA) em 2010. Des- SP) em 2005. De 1999 a 2013
de 2010 é pesquisador científico foi pesquisador científico do Fun-
do Fundecitrus (Araraquara, SP), decitrus (Araraquara, SP), tendo
onde também atua como docen- atuado no controle das principais
te e orientador do mestrado pro- doenças da cultura dos citros,
fissional em Controle de Doenças especialmente cancro cítrico e
e Pragas dos Citros do Fundeci- HLB. Desde 2013 é professor de
trus. A principal linha de pesqui- Fitopatologia e Microbiologia na
sa é o controle e epidemiologia Esalq/USP. Publicou mais de 30
do cancro cítrico, sobre a qual já artigos científicos em revistas in-
publicou diversos trabalhos cien- dexadas e mais de 40 artigos em
tíficos e técnicos em revistas na- revistas técnicas. Participou da
cionais e internacionais, realizou orientação/co-orientação de mais
cursos e proferiu palestras e trei- de 15 alunos de graduação ou
namentos, no Brasil e no exterior. pós-graduação e é revisor ad hoc
da Fapesp e do CNPq e de revis-
tas científicas Qualis A e B nacio-
nais e internacionais.

V
P
Cancro cítrico: a doença e seu controle

refácio

O
cancro cítrico e seu patógeno, Xantho-
monas citri subsp. citri, têm uma longa
história no Brasil. Foram identificados
pela primeira vez na região de Presiden-
te Prudente, SP, em 1957, e desde en-
tão, a despeito de muitas ações visando
sua erradicação, nunca mais deixaram as terras
paulistas. Ao contrário, além de atualmente ocu-
parem grande parte do estado, são encontrados
também em estados (Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande
do Sul) e países próximos (Argentina, Bolívia, Pa-
raguai e Uruguai).

Os métodos de erradicação utilizados ao lon-


go desses quase 60 anos variaram desde a elimi-
nação de toda planta cítrica, em determinados
municípios, até a aplicação de raios de diferentes
comprimentos (começou-se com 12 metros, foi-
-se a mil metros, voltou-se a 50 metros e depois a
30 metros) para a delimitação de áreas nas quais
se eliminavam a planta sintomática e as assinto-
máticas. O raio de 30 metros como critério de
erradicação vigorou de 1995 a 1999. Com essas
medidas, mesmo que não se tenha conseguido

VI
Cancro cítrico: a doença e seu controle

a erradicação completa do patógeno, o cancro


cítrico manteve-se em níveis mínimos, sem causar
prejuízos significativos aos produtores.

Esse quadro mais ou menos estável come-


çou a mudar depois que o minador dos citros
(Phyllocnistis citrella) foi identificado em São Pau-
lo, em 1996. Esse inseto forma galerias nas folhas
jovens de citros, pelas quais o agente causal do
cancro cítrico ganha acesso aos tecidos da plan-
ta, aumentando assim em muito sua eficiência de
infecção. Com isso, nos anos subsequentes, os
casos de cancro cítrico aumentaram dramatica-
mente e sua distribuição espacial tornou-se me-
nos agregada, dificultando o processo de erradi-
cação. Optou-se então, em 1999, por mais uma
mudança na regra de erradicação: incidência de
plantas sintomáticas superior a 0,5% no talhão
determinava a sua eliminação total; para incidên-
cias iguais ou menores que 0,5% continuava a
valer a regra dos 30 metros. A implementação
dessa nova regra reduziu significativamente o nú-
mero de novos casos da doença. Tudo parecia es-
tar sob controle até que, em 2009, sem qualquer
justificativa técnica, resolveu-se abolir a elimina-
ção de talhões com mais de 0,5% de plantas
sintomáticas, mantendo-se porém o raio de 30
metros. Ainda pior, em 2013 aboliu-se também
a regra dos 30 metros, substituindo-a pela elimi-
nação apenas da planta sintomática e pela pulve-
rização daquelas assintomáticas situadas dentro
do raio de 30 metros com calda cúprica.

O resultado não poderia ter sido diferente:


nunca na história da citricultura paulista a inci-
dência do cancro cítrico esteve tão alta como
agora. É apenas questão de tempo (pouco tem-

VII
Cancro cítrico: a doença e seu controle

po) para que a doença torne-se endêmica no estado


e, com isso, onere o produtor com o nada desprezível
custo de seu controle.

É nessa nova realidade da citricultura paulista que


se insere o presente trabalho Cancro cítrico: a doença e
seu controle, escrito por Franklin Behlau e José Belasque
Jr. É a primeira vez que, em nossa literatura científica,
são discutidas as técnicas de manejo do cancro cítrico
disponíveis nessa fase pós-erradicação da citricultura
paulista. Deixando claro que a melhor opção para São
Paulo ainda é a erradicação nos moldes vigentes entre
1999 e 2009, os autores, realisticamente, reconhecem
que esse tempo já passou (não por motivos técnicos)
e dedicam-se a discutir o futuro. E o futuro passa
ainda pela erradicação (agora definida pelo próprio
produtor, em função das características específicas de
sua propriedade), mas envolve também a desinfestação
de máquinas e pessoas que entram e/ou trabalham
na propriedade, o emprego de bactericidas cúpricos e
indutores de resistência, o plantio de variedades mais
resistentes, a poda e a desfolha, as mudas sadias, o
quebra-vento e o controle do minador. Todas essas
medidas têm o seu custo e o sucesso ou o fracasso
do produtor de citros dependerá do nível de seu
conhecimento sobre essas técnicas e de sua capacidade
de integrá-las num programa de manejo. Este livro tem
valor inestimável para o produtor que quer ter sucesso
em seu negócio. E também é indispensável para técnicos
que atuam na área.

Armando Bergamin Filho


Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Universidade de São Paulo
Piracicaba, fevereiro de 2014

VIII
Cancro cítrico: a doença e seu controle

S umário

1.
Introdução, 1

2.
Importância, 3

3.
Etiologia, 6

4.
Sintomas, 9

ix
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Ciclo da doença e
5. Controle, 36
7.
epidemiologia, 20 Histórico da legislação no Estado de São Paulo..36
Estratégias de controle.........................................41
Sobrevivência.......................................... 20
Medidas de controle..............................................44
Disseminação.......................................... 21 Inspeção e erradicação.................. 44
Infecção................................................... 25 Desinfestação................................ 50
Bactericidas cúpricos..................... 52
Colonização e reprodução...................... 27 Indutores de resistência................. 56
Resistência varietal........................ 57
Poda e desfolha............................. 59
Mudas sadias................................ 61
Quebra-vento................................ 64
Controle do minador..................... 67

6.
Diagnóstico, 29
Sintomatologia........................................ 30
Corrida bacteriana.................................. 30
Cancro cítrico e a
8.
Isolamento do agente causal................... 31
Teste de patogenicidade.......................... 32 citricultura paulista, 70
PCR......................................................... 34 O presente............................................... 70
Sorologia................................................. 35 O futuro................................................... 74

9.
Referências, 76

Anexo I, 80

X
Cancro cítrico: a doença e seu controle

1O
Introdução

cancro cítrico é uma doença presen-


te em algumas das principais regiões
produtoras de cítricos do mundo, as
quais incluem os estados de São Pau-
lo e Flórida (Estados Unidos), os maio-
res produtores mundiais de suco de
laranja. Embora esteja presente nessas e em
outras regiões nos continentes asiático e ame-
ricano há várias décadas, a doença ainda pro-
voca danos e perdas relevantes.

O número de ocorrências de cancro cítrico


nos pomares paulistas é crescente desde 2009
e os fatores determinantes para essa epidemia
sem precedentes vivida pela citricultura em São
Paulo são apresentados neste documento. A ex-
pectativa é que a incidência da doença continue
aumentando nos próximos anos no estado. Não
se sabe, no entanto, qual será a velocidade de
progresso do cancro cítrico no parque citrícola
paulista. As diversas alterações ocorridas na le-
gislação de erradicação desde a década de 1990
têm levado à desuniformidade no rigor das me-
didas adotadas para controlar a doença nas pro-
priedades citrícolas, dificultando a elaboração
de prognósticos. Apesar de o cancro cítrico ain-
da se encontrar em baixa incidência, a citricultu-
ra paulista precisa encarar essa doença de forma
diferente da adotada nos quase 60 anos desde
a primeira detecção da doença em São Paulo.

1
Cancro cítrico: a doença e seu controle

O objetivo deste livro é facili- aqui descritos, com maior ênfa-


tar o acesso de profissionais, tan- se nas últimas duas décadas. Em
to do setor produtivo quanto da razão do momento atual vivido
área acadêmica, às informações pela citricultura paulista, inédito
sobre o cancro cítrico, para que frente ao número recorde de ca-
possam utilizá-las no campo ou sos em todo o estado, é apresen-
mesmo para o enriquecimento tada também uma análise crítica
do conhecimento preexistente sobre as mudanças mais recentes
por meio de pesquisas. O nível no programa de erradicação, as
de detalhe das informações co- quais contribuíram para o cresci-
nhecidas hoje sobre essa doença, mento da doença em São Paulo.
seu agente causal e as estratégias Este documento detalha ainda
de controle é significativamente a importância do cancro cítrico
mais amplo do que o existen- para a citricultura, o agente cau-
te quando da primeira detecção sal, as fases do ciclo epidemioló-
da doença no país, em 1957. Os gico, as estratégias de controle,
principais acontecimentos ocor- os desafios atuais e, por fim, as
ridos desde aquela época, sua expectativas sobre o futuro da
importância e seus impactos são doença no estado.

2
Cancro cítrico: a doença e seu controle

2O
Importância

cancro cítrico é uma das doenças mais


importantes da citricultura mundial – e
há razões para isso, tanto nas regiões
que apresentam a doença amplamen-
te distribuída quanto naquelas onde a
doença está presente em uma peque-
na parcela dos pomares, e a principal forma de
controle é a erradicação de plantas. Mesmo em
áreas livres, ações são adotadas para impedir a
entrada do patógeno, as quais exigem recursos
humanos e financeiros.

As principais consequências do cancro cí-


trico em áreas onde a doença é endêmica são
desfolha de plantas, queda prematura de frutos
e depreciação da produção (Figura 1). Embora
aparentemente menos impactante, a desfolha

3
Cancro cítrico: a doença e seu controle

decorrente da alta incidência do bra-ventos, imprescindíveis em


cancro cítrico pode comprome- condições endêmicas, a queda
ter seriamente o desenvolvimen- de frutos pode chegar a 20% da
to das plantas, principalmente produção inicial (Figura I E e F).
nos primeiros anos após o plantio
(Figura 1 A e B). A perda de fo- Por outro lado, em regiões
lhas compromete a área fotos- onde o cancro cítrico está sob
sintética da planta, resultando controle oficial (governamental)
em menor produtividade na sa- e a erradicação de plantas é a
fra corrente e também em safras principal medida de controle, o
futuras. Outro problema associa- impacto da doença está direta-
do ao cancro cítrico é a redução mente relacionado ao aumento
da qualidade da produção para o dos custos de produção com de-
mercado de fruta fresca. Frutos sinfestação de máquinas e uten-
com lesões de cancro cítrico não sílios e, principalmente, com ins-
podem ser comercializados em peções e eliminação de plantas.
áreas livres no país produtor e A magnitude dos custos de cada
também no mercado internacio- uma dessas medidas depende do
nal. Em áreas endêmicas, mesmo rigor empregado na prevenção.
que a comercialização seja possí- Quanto mais rígido, menor é o
vel, frutos sintomáticos apresen- risco de o cancro cítrico se esta-
tam menor valor comercial (Figu- belecer na propriedade. Nessa
ra I C e D). O maior impacto do condição, caso a doença venha a
cancro cítrico, no entanto, está ser detectada, os focos tendem a
relacionado à queda de frutos ser formados por poucas plantas
antes da colheita, que pode che- e o impacto direto nos custos de
gar a até 80% em casos mais se- produção é menor. No entanto,
veros, dependendo da variedade quando as medidas de inspeção e
e das condições meteorológicas. eliminação de focos não são de-
A queda de frutos em função vidamente executadas, há maior
do cancro cítrico pode ser ob- probabilidade de ocorrência da
servada quando os frutos ainda doença e da formação de focos
estão imaturos e se estender até com muitas árvores doentes.
o momento da colheita. Mesmo Como consequência, perdem-se
com a utilização de medidas de mais plantas e necessitam-se de
controle, como a aplicação de inspeções mais frequentes, com
bactericidas cúpricos e de que- maiores custos de produção.

4
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A B

C D

C E F

Figura 1 - Potencial de dano do cancro cítrico às plantas cítricas: desfo-


lha (A, B), depreciação da qualidade dos frutos (C, D) e queda prematura
da produção (E, F).

5
Cancro cítrico: a doença e seu controle

3O
Etiologia

agente causal do cancro cítrico é uma


bactéria Gram-negativa, aeróbia, ba-
ciliforme, com um flagelo polar, fa-
cilmente isolada e cultivada em meio
de cultura em laboratório. As colônias
resultantes do crescimento bacteriano
em meio de cultura sólido apresentam coloração
amarela, bordas lisas e aspecto viscoso (Figura 2).
O cultivo laboratorial pode ser feito em meios de
cultura sólidos ou líquidos simples, ocorrendo
crescimento até mesmo em meio ágar-água. A
faixa ótima de temperatura é 28 oC a 32 oC e nes-
sas temperaturas as colônias são visíveis a olho
nu geralmente após 48 a 72 horas de cultivo.

A bactéria causadora do cancro cítrico é atu-


almente classificada como Xanthomonas citri
subsp. citri, espécie membro das proteobacté-

6
Cancro cítrico: a doença e seu controle

ças em citros. Dentre essas


está Xanthomonas fuscans
subsp. aurantifolii, agen-
te causal de cancroses em
plantas de limas ácidas (Ci-
trus aurantifolia e C. latifo-
lia) e limões verdadeiros (C.
limon), relatada apenas na
América do Sul. Dois tipos
(ou patótipos) são conhe-
cidos dentro dessa espécie
– o patótipo B, descrito na
Argentina, Uruguai e Para-
guai; e o patótipo C, descri-
to exclusivamente em São
Figura 2 - Colônias de Xanthomonas Paulo. Ambos patótipos são
citri subsp. citri em meio de cultura ágar de ocorrência relativamente
nutriente. rara e não possuem impor-
tância econômica para a
rias (classe Gammaproteobacte- produção de citros. A outra
ria). Em razão de novas técnicas e espécie de Xanthomonas pato-
conhecimentos em biologia mole- gênica aos citros é X. alfalfae
cular, a sua taxonomia sofreu al- subsp. citrumelonis, agente cau-
terações, principalmente nas duas sal da mancha bacteriana dos ci-
últimas décadas, e diferentes no- tros. Essa é uma doença de ocor-
mes científicos para essa bactéria rência mais comum em viveiros
são encontrados na literatura. As por afetar principalmente citru-
sinonímias mais comuns são Xan- melo Swingle (C. paradisi x Pon-
thomonas campestris pv. citri e cirus trifoliata), mais comumente
Xanthomonas axonopodis pv. ci- utilizado como porta-enxerto.
tri. Esses nomes são ainda válidos, A mancha bacteriana dos citros
no entanto sugere-se o emprego causou grandes prejuízos à pro-
da nomenclatura atual. dução de mudas na Flórida nas
décadas de 1980 e 1990 devido
Duas outras espécies de Xan- à necessidade de erradicação de
thomonas já foram identificadas milhares de mudas. No entanto,
como agentes causais de doen- com a mudança do sistema de

7
Cancro cítrico: a doença e seu controle

produção de mudas para vivei- da predominância nos hospedei-


ros telados, a doença perdeu im- ros mencionados, essas duas es-
portância. Recentemente, essa pécies de Xanthomonas também
espécie também foi detectada podem infectar, dependendo do
de forma isolada em citrumelo isolado bacteriano, outras espé-
Swingle em São Paulo. Apesar cies e híbridos de citros.

8
4D
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Sintomas

iferentemente de algumas doenças


dos citros, os sintomas de cancro cítri-
co são característicos e, por isso, relati-
vamente fáceis de serem identificados
no campo. Os sintomas podem ocorrer
em folhas, frutos e, de maneira menos
frequente, em ramos. De modo geral, as lesões
apresentam as mesmas características nos dife-
rentes órgãos da planta em que ocorrem.

Os sintomas tornam-se visíveis geralmente


de duas a cinco semanas após a infecção do te-
cido vegetal pela bactéria. Inicialmente, os sin-
tomas em folhas apresentam-se como pontos
escurecidos, muitas vezes com amarelecimento
ao redor, resultado da multiplicação da bacté-
ria e encharcamento do tecido vegetal (Figura
3 A e B). Posteriormente, os sintomas evoluem
para pústulas salientes de coloração marrom-
-clara (Figura 3 C, D e E). Nas folhas, as lesões
podem ser observadas inicialmente na face in-
ferior, lado com maior número de estômatos
(Figura 3 A e B). Com o progresso da doença, es-
sas lesões tornam-se maiores, circulares e mais
escuras, com aspecto eruptivo, podendo atingir
mais de um centímetro de diâmetro (Figura 4).
Mesmo em lesões mais velhas é possível obser-
var o encharcamento do tecido marginal à área
necrosada, causado pela colonização bacteria-
na (Figura 5). Na maior parte das vezes, as lesões

9
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A B C

D E

Figura 3 - Comparação dos primeiros sintomas de cancro cítrico (setas)


nas faces inferior (A) e superior (B) da folha e sintomas iniciais de cancro
cítrico em folhas poucas semanas após a infecção (C, D e E).

são visíveis nos dois lados da fo- minador dos citros (Phyllocnis-
lha e apresentam halo amarelado tis citrella). Sintomas de cancro
(Figura 6), porém não raramen- cítrico presentes em ferimentos
te há lesões sem a presença do mecânicos ou do minador dos
halo ou visíveis em apenas uma citros apresentam mesma colo-
das faces foliares, principalmente ração e textura das lesões oriun-
quando associadas às injúrias do das de penetração estomática,

10
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Figura 4 - Sintomas típicos de cancro cítrico em folhas maduras.

11
Cancro cítrico: a doença e seu controle

no entanto, na maioria das


vezes, o formato e tamanho
das lesões variam, resultado
do desenvolvimento de múl-
tiplas infecções no ferimento
ou da penetração bacteriana
em uma grande extensão dos
tecidos (Figura 7).

Outra característica que


merece atenção é que geral-
mente os sintomas do can-
cro cítrico são salientes em
folhas, ramos e frutos, mas
isso não deve ser considerado
Figura 5 - Escurecimento ou enchar- regra para o seu diagnóstico.
camento do tecido foliar ao redor das Em muitas situações, plantas
lesões de cancro cítrico, onde há maior doentes podem apresentar
concentração de Xanthomonas citri lesões com elevação discre-
subsp. citri. ta ou em apenas uma das
faces foliares. Além disso, é
possível a observação de le-
sões com bordas de coloração
mais escura (Figura 8). Apesar
de haver uma tendência de
escurecimento à medida que
envelhecem, a ocorrência de
lesões escuras não está neces-
sariamente relacionada à ida-

Figura 6 - Sintomas de cancro


cítrico em folha que ilustram
a correspondência das lesões
nas faces superior (esquerda)
e inferior (direita) e a maior
intensidade do halo amarelo
na face superior.

12
Cancro cítrico: a doença e seu controle

como pontua-
A B
ções marrons,
que se tornam
salientes à me-
dida que se
desenvolvem
(Figura 9). Em
estádio avan-
çado, as lesões
em frutos po-
dem apresentar
a formação de
anéis concêntri-
cos e rachadu-
ras, resultado
do crescimento
Figura 7 - Sintomas de cancro cítrico em feri- da área lesiona-
mento do minador do citros na face superior da e da necrose
(A) e na face inferior (B) da folha. do tecido afeta-
do (Figura 10).
As lesões de
de. Os fatores que levam a essa cancro cítrico
variação de sintomas ainda são não afetam as características in-
desconhecidos, no entanto sabe- ternas do fruto. A profundidade
-se que não há diferenças etioló- dos sintomas nesses órgãos está
gicas e epidemiológicas importan- restrita ao flavedo (camada mais
tes entre o cancro cítrico de lesões externa ou casca) e albedo (ca-
claras e o de lesões escuras. mada intermediária de coloração
branca presente entre o flavedo e
Em frutos é comum a ocorrên- a polpa do fruto) (Figura 11).
cia de sintomas na face voltada
para o exterior da copa das plan- Os sintomas em ramos são
tas. Isso ocorre devido à maior semelhantes aos observados em
exposição desse lado à chuva e folhas e frutos (Figura 12). Em-
ao vento, fatores que aumen- bora menos frequentes, depen-
tam a predisposição às infecções. dendo da suscetibilidade do ge-
Inicialmente, as lesões surgem nótipo de citros, não é incomum

13
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Figura 8 - Lesões de cancro cítrico com bordas escuras em folhas.

que lesões em ramos resultem ser confundidas com ele. Dentre


em suas mortes, prejudicando o essas estão bacterioses como a
desenvolvimento da planta, prin- cancrose dos citros e a mancha
cipalmente nos primeiros anos. bacteriana dos citros, causadas,
No entanto, o cancro cítrico não respectivamente, por X. fuscans
provoca a morte das plantas do- subsp. aurantifolii e X. alfalfae
entes. subsp. citrumelonis, e doenças
não bacterianas, como a leprose
Os sintomas de cancro cítrico dos citros, incitada por Citrus le-
são característicos e poucas do- prosis virus (CiLV), e a verrugose,
enças da cultura dos citros podem causada pelo ascomiceto Elsinoe

14
Cancro cítrico: a doença e seu controle

3 cm

Figura 9 - Sintomas iniciais de cancro cítrico em frutos.

fawcettii (anamorfo Sphaceloma senvolvimento mais lento e com


fawcettii), em citros em geral, e menor tamanho que os de cancro
por E. australis (anamorfo S. aus- cítrico (Figura 13 A). Contudo, não
tralis), em frutos de laranja doce é possível diferenciar visualmen-
(C. sinensis). Os sintomas da can- te a cancrose do cancro cítrico.
crose em citros são muito pareci- Por outro lado, os sintomas des-
dos com os de cancro cítrico, apre- tas duas doenças são distintos da
sentando-se na forma de lesões mancha bacteriana dos citros, ca-
circulares, salientes, marrons e, na racterizada por lesões não salien-
maioria das vezes, delimitados por tes, rodeadas por escurecimento
um halo amarelo, mas com de- e encharcamento do tecido ve-

15
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Figura 10 - Sintomas de cancro cítrico em frutos maduros.

Flavedo
getal
e pre-
sen-
ça de
halo
ama- Albedo

relo
(Figu-
ra 13
B e Figura 11 - Profundidade da lesão de
C). As cancro cítrico em fruto.

16
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Figura 12 - Sintomas de cancro cítrico em ramos.

lesões da mancha bacteriana não mas lisas (Figura 15). Em ramos, a


são corticosas e eruptivas como leprose resulta no descamamento
as lesões do cancro cítrico. Os sin- das lesões, o que não é observa-
tomas desta doença podem ocor- do no cancro cítrico (Figura 16).
rer em folhas, ramos e, raramen- Sintomas de verrugose, por sua
te, em frutos. As lesões de leprose vez, também são caracterizados
em frutos contrastam com as do por necrose mas, diferentemen-
cancro cítrico por serem escuras e te do cancro cítrico, apresentam
deprimidas (Figura 14). Em folhas, deformação foliar e saliência em
também são escuras, podendo apenas um dos lados. Essa saliên-
apresentar diferentes tonalidades, cia pode ocorrer na face inferior

17
Cancro cítrico: a doença e seu controle

ou superior das folhas (Figura 15). cancro cítrico e leprose, mas di-
Halos amarelos ao redor do teci- ficilmente observados em lesões
do necrosado são comuns para de verrugose. Em frutos, as lesões

A B C

Foto: Timothy D. Riley

Foto: Timothy D. Riley


Figura 13 – Comparação dos sintomas de cancro cítrico (A, lado esquer-
do) e cancrose (A, lado direito) em folhas inoculadas simultaneamente por
ferimento; sintomas de mancha bacteriana dos citros na face superior (B)
e inferior (C) de folhas de pomelo.

A B C

Figura 14 - Comparação dos sintomas de cancro cítrico (A), leprose (B) e


verrugose (C) em frutos.

18
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A B C

Figura 15 - Comparação dos sintomas de cancro cítrico (A), leprose (B) e


(A)
verrugose (C) em folhas. (B)

de cancro cítrico geralmente são


maiores que as de
verrugose, principal-
mente nos maduros A B

(Figura 14). Além


disso, ao contrário
do cancro cítrico, as
lesões de verrugose
podem ser parcial-
mente destacadas
dos tecidos vege-
tais. Maior dificul-
dade de distinção
entre essas duas
doenças ocorre em
plantas de limões
verdadeiros e de li-
mas ácidas, as quais
podem apresentar
Figura 16 - Comparação dos sintomas de cancro cí-
sintomas em folhas,
trico (A) e leprose (B) em ramos.
ramos e frutos tanto

19
Cancro cítrico: a doença e seu controle

5 Ciclo da doença
e epidemiologia

Sobrevivência

E
ntende-se por sobrevivência a capacida-
de do agente causal de uma doença em
manter-se viável entre ciclos da cultura.
A sobrevivência ocorre muitas vezes em
condições adversas ao patógeno, como
falta de hospedeiro ou tecido vegetal
suscetível, ou condições meteorológicas não
favoráveis ao seu desenvolvimento. A bactéria
causadora do cancro cítrico não possui meca-
nismos de sobrevivência normalmente observa-
dos em outros patógenos, como plantas hos-
pedeiras alternativas, estruturas de resistência,
atividade saprofítica, sobrevivência no solo ou
em insetos, dentre outros. Essa bactéria infec-
ta apenas plantas da família Rutácea e não é
capaz de causar doença, ou de sobreviver por
vários meses ou anos, em plantas daninhas ou
outras culturas. Além disso, essa bactéria apre-

20
Cancro cítrico: a doença e seu controle

senta um período de sobrevivên- suscetíveis, são desfavoráveis à


cia muito curto fora das plantas disseminação e progresso do can-
cítricas. Esse tempo pode variar cro cítrico. Nesse período pratica-
de algumas horas, quando as cé- mente não surgem novas lesões
lulas bacterianas se encontram nas plantas cítricas em áreas com
em superfície inerte seca, expos- a presença do patógeno, exceto
tas a luz direta e altas tempera- quando ocorrem eventos pluvio-
turas, até alguns meses, quando métricos associados a tempera-
em lesões presentes em restos de turas elevadas. Dessa maneira, a
cultura. O processo de decompo- forma mais importante de sobre-
sição de folhas, ramos e frutos vivência e perpetuação da bacté-
com lesões da doença resulta na ria é em lesões da doença existen-
completa eliminação das células tes em frutos, folhas e ramos que
de X. citri subsp. citri existentes permanecem nas plantas cítricas
nas lesões. A não sobrevivência (Figura 17). Como o período de
da bactéria causadora do cancro permanência dos ramos e folhas
cítrico no solo, após a completa nas plantas é maior do que o dos
decomposição dos tecidos cítri- frutos, esses órgãos assumem
cos sintomáticos, deve-se a sua maior importância na sobrevivên-
baixa capacidade de nutrir-se na cia da bactéria. Lesões de cancro
ausência dos tecidos do hospe- cítrico em folhas e ramos de plan-
deiro. Esses materiais, portanto, tas doentes permitem a sobrevi-
não servem como fontes impor- vência por vários anos e são, nas
tantes de inóculo para o desen- nossas condições, a principal fon-
volvimento epidêmico da doença. te de inóculo para a infecção de
novas plantas e pomares cítricos
A cultura dos citros caracteri- nos anos subsequentes.
za-se pelo cultivo das plantas na
mesma área por vários anos, con-
dição essa que permite ao cancro Disseminação
cítrico permanecer indefinida-
mente em um pomar. As tempe- A bactéria causadora do can-
raturas mais baixas e o reduzido cro cítrico pode ser transportada
regime pluviométrico no outono para áreas livres da doença pela
e inverno nas condições do Sul ação do homem ou da nature-
e Sudeste do Brasil, associados za. O homem é responsável pelo
à escassez de fluxos vegetativos trânsito de mudas, material de

21
Cancro cítrico: a doença e seu controle

colheita, implementos e veículos tos. O material vegetal infectado


com a bactéria do cancro cítrico; descartado próximo de pomares
a natureza, pelas chuvas acompa- pode servir de fonte de bactérias
nhadas de ventos (Figura 17). para o início de novos ciclos de in-
fecção do cancro cítrico na mes-
O plantio de mudas infectadas ma área ou em áreas próximas.
possibilita que o patógeno seja le-
vado para áreas distantes até en- O homem tem participação
tão livres ou para áreas com bai- importante na disseminação do
xa incidência da doença. Apesar cancro cítrico, no entanto even-
do período de sobrevivência da tos naturais como chuvas associa-
bactéria ser relativamente curto das a ventos são a principal forma
em superfícies inertes, a disse- de disseminação da bactéria nas
minação por utensílios e equipa- áreas citrícolas. Na ocorrência de
mentos é muito comum e ocorre chuvas, as lesões de cancro cí-
quando esses são utilizados em trico preexistentes liberam bac-
plantas doentes molhadas e reu- térias, as quais permanecem no
tilizados em seguida em plantas filme de água que se forma na
ainda sadias. A água promove a superfície das plantas molhadas.
liberação da bactéria das lesões As bactérias são então dispersas
de cancro cítrico em pouco mi- pela ação do vento nos respin-
nutos e prolonga sua sobrevivên- gos de chuva a curtas distâncias,
cia externamente na superfície para diferentes partes da planta e
das plantas. Quando máquinas e para árvores ao redor ou, ainda,
equipamentos são utilizados em para pomares localizados a até
plantas doentes, mas secas, não alguns quilômetros de distância.
há a disseminação do cancro cítri- Havendo condições favoráveis,
co para plantas sadias. Além dis- como temperaturas elevadas e
so, a presença de água também brotações, as bactérias dispersa-
favorece a penetração da bactéria das poderão dar início a novos
na planta após a disseminação, ciclos da doença. Na presença de
necessária para que ocorra a in- filmes d’água, a exsudação das
fecção das plantas. Outra forma bactérias de lesões novas de can-
comum de disseminação é por cro cítrico é instantânea. Progres-
meio de restos vegetais contami- sivamente, lesões mais velhas,
nados presentes em carrocerias de vários meses, suberizam-se
de caminhão ou em implemen- e a liberação do inóculo ocorre

22
Disseminação: A disseminação da bac-
téria pode ocorrer por ação de
chuvas acompanhadas de vento
ou por intermédio do homem por
meio de máquinas, ferramentas,
equipamentos, mudas, material
de colheita e vestuário infestados.
Infecção: A infecção ocorre quando
a bactéria penetra na planta. A pe-
netração pode ocorrer por abertu-
ras naturais, como os estômatos,
ou por ferimentos, que podem ser
mecânicos ou provocados por in-
setos, como o minador dos citros.
Colonização: Durante a colonização
a bactéria se multiplica no espaço
intercelular do tecido vegetal, de
onde libera enzimas que degra-
dam as células das plantas para
obtenção de nutrientes. É nesta
fase que os sintomas aparecem.
Sobrevivência: A bactéria sobrevive de
um ano para outro no pomar em
lesões remanescentes de cancro
cítrico em frutos, folhas e ramos
da planta. Na presença de água,
estas lesões liberam bactérias, que
ao serem disseminadas, reiniciam
o ciclo da doença.
Figura 17 – Ciclo epidemiológico do cancro cítrico.
Cancro cítrico: a doença e seu controle

23
Cancro cítrico: a doença e seu controle

mais lentamente e com menor de molhamento foliar, mesmo


quantidade de bactérias viáveis. na ausência de chuvas. Como
Se, por um lado, a disseminação consequência, o trânsito de má-
promovida pelo homem pode ser quinas em pomares tem intensi-
contida pela conscientização e ficado também a disseminação
adoção de medidas preventivas, do cancro cítrico entre plantas
pouco pode ser feito para evitar a na mesma linha de plantio ou
disseminação natural da doença. mesmo entre talhões. Dessa for-
Em áreas endêmicas, o efeito do ma, a disseminação da doença,
vento na disseminação do cancro que historicamente esteve mais
cítrico pode ser minimizado pela associada a eventos de chuvas
implantação de quebra-ventos e à presença de tecidos suscetí-
arbóreos, que reduzem conside- veis na primavera e verão do Sul
ravelmente a intensidade da do- e Sudeste brasileiros, vem ocor-
ença, mas não impedem sua in- rendo durante todo o ano como
trodução no pomar. resultado de tratos culturais e
operações mecanizadas na pre-
Nos últimos anos, a citricul- sença de plantas molhadas por
tura, principalmente a paulis- orvalho ou chuva.
ta, tem se caracterizado pela
formação de pomares mais
adensados, com menores espa- Infecção
çamentos entre plantas e tam-
bém entre linhas de plantio. A infecção inicia-se com o con-
Além do menor espaçamento, tato da X. citri subsp. citri com a
a citricultura atual destaca-se planta cítrica. A disseminação da
também pela intensificação das bactéria não garante a ocorrência
operações mecanizadas, prin- do cancro cítrico. Para que a do-
cipalmente pulverizações e ins- ença desenvolva-se é necessário
peções para o manejo do huan- que o patógeno penetre e esta-
glongbing (HLB, greening). Nos beleça-se nos tecidos da planta
dias atuais é comum em muitas cítrica. As formas mais comuns
propriedades citrícolas a reali- de penetração são por aberturas
zação de aplicações quinzenais naturais, como os estômatos; por
de defensivos. Plantios mais ferimentos mecânicos, causados
adensados resultam também por equipamentos, atrito entre
no prolongamento do período partes da própria planta, abrasão

24
Cancro cítrico: a doença e seu controle

de partículas de poeira, dentre superior (adaxial). Em folhas e


outros; e ainda por ferimentos ramos, a infecção natural ocorre
causados por insetos como, por geralmente em até seis semanas
exemplo, o minador dos citros – após o início do desenvolvimen-
que ao alimentar-se em tecidos to desses órgãos e os frutos são
novos provoca aberturas que fa- suscetíveis até cerca de 90 dias a
cilitam a penetração (Figuras 17 partir da queda das pétalas, perí-
e 18). Além de disseminar a bac- odos esses que se tornam maio-
téria, o vento também promove res na ocorrência de ferimentos
na planta abrasão por partículas mecânicos ou causados pelo mi-
do solo e pelo atrito entre folhas nador dos citros. Os períodos de
e ramos da copa, o que resul- primavera e verão são os mais
ta em ferimentos que permitem favoráveis para o aumento do
a entrada da bactéria. Um fator número de plantas com a doen-
fundamental para a penetração ça. Como nas condições do Sul e
é a presença de água na super- Sudeste do Brasil o florescimen-
fície da planta. A umidade do ar to principal dos citros ocorre no
elevada não afeta diretamente o final do inverno, os frutos per-
desenvolvimento da doença, mas manecem mais suscetíveis du-
favorece o prolongamento do rante a primavera. As infecções
período de molhamento da copa, mais precoces de frutos normal-
que por sua vez é necessário para mente resultam na formação de
a ocorrência da infecção. lesões mais severas, que indu-
zem a queda prematura. Quando
A infecção da parte aérea da o regime de chuvas é escasso na
planta cítrica por X. citri subsp. primavera e abundante no verão
citri não ocorre uniformemen- é comum os sintomas ocorrerem
te durante todo o ano, estando em folhas, mas não em frutos.
mais frequentemente associada
com as fases de crescimento das Ao final da fase de infecção
plantas e aos períodos de maior inicia-se uma interação mais ín-
ocorrência de chuvas. A penetra- tima entre a bactéria e a planta.
ção natural por estômatos nor- Esse ponto representa o come-
malmente é mais comum na face ço do processo de colonização,
inferior (abaxial) das folhas. Isso quando a bactéria passa a viver à
ocorre porque há mais estôma- custa dos nutrientes obtidos dos
tos nesse lado em relação à face tecidos da planta hospedeira.

25
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A B

C D

E F

Figura 18 - Lesões de cancro cítrico resultantes da penetração de Xan-


thomonas citri subsp. citri por estômatos (A), por ferimentos causados por
espinhos (B), por atrito mecânico (C, D), por minador dos citros (E) e por
outros insetos (F).

26
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Colonização dos tecidos foliares. A bactéria


não penetra nas células vegetais.
A colonização é restrita ao espa-
A colonização, caracterizada
ço intercelular. Durante a colo-
pela reprodução da bactéria
nização, as bactérias provocam
dentro da planta e pelo início
hiperplasia e hipertrofia do tecido
da doença propriamente dita
vegetal que levam, respectiva-
(Figura 17), é a última fase do
mente, ao aumento do número e
processo de desenvolvimento do
do tamanho de células da planta
cancro cítrico na planta. É nessa
na região afetada. Adicionalmen-
fase que ocorrem a retirada e a
te, enzimas liberadas pela bacté-
utilização de nutrientes da planta
ria durante a colonização atuam
pela bactéria e, como consequ-
diretamente na célula vegetal e
ência, o aumento da população
promovem o aumento da per-
bacteriana. Para que isso ocorra
meabilidade e o rompimento da
é necessário que as condições
membrana plasmática das célu-
ambientais sejam favoráveis à
las das plantas. Como resultado,
proliferação da bactéria dentro
as células vegetais extravasam
do tecido vegetal. O fator mete-
nutrientes no mesófilo foliar, os
orológico que está intimamente
quais são utilizados para a nu-
relacionado a esse processo é a
trição da bactéria causadora do
temperatura. De modo geral, a
cancro cítrico. O rompimento das
faixa mais favorável de tempe-
células da planta confere aspec-
ratura para colonização e repro-
to encharcado e escurecido ao
dução está situada entre 25 oC e
tecido vegetal afetado. Esse é o
35 oC.
primeiro sintoma da doença, que
muitas vezes não é observado em
Ao infectar as plantas, a bac-
razão do seu diminuto tamanho.
téria do cancro cítrico coloniza o
A morte das células da planta
tecido vegetal localmente, pró-
leva à necrose do tecido, e o acú-
ximo ao ponto de penetração e
mulo de células mortas resultará
não sistemicamente, pelo siste-
mais tarde em lesões salientes de
ma vascular. A colonização ocor-
coloração marrom. A bactéria do
re pelo aumento do número de
cancro cítrico continua o proces-
células bacterianas no mesófilo,
so de colonização radialmente a
camada celular localizada inter-
partir do ponto inicial de infecção
namente, abaixo da epiderme
e permanece ativa nas margens

27
Cancro cítrico: a doença e seu controle

das lesões (Figura 5), as quais po- tecidos sadios na mesma árvore ou
dem continuar expandindo-se na pomares próximos. Assim inicia-
presença de tecido suscetível e -se um novo ciclo da doença, que
condições meteorológicas favo- resultará em novas lesões e mais
ráveis. Por isso, quando não as- plantas doentes. Ressalta-se que
sociados a ferimentos mecânicos em áreas de produção de cítricos
extensos nas folhas, os sintomas com a presença de sistema de ir-
da doença são caracterizados por rigação por aspersão (canhão ou
lesões circulares. Quando as con- pivô central, por exemplo), a pre-
dições são adversas, normalmen- sença de água livre (molhamento)
te durante o outono e o inverno, na superfície das plantas durante
as bactérias presentes nas lesões o outono e o inverno permite que
diminuem sua atividade biológi- os processos de disseminação,
ca, mas permanecem viáveis até infecção e colonização ocorram
a primavera ou períodos mais continuamente quando sob tem-
quentes e chuvosos. Esse período peraturas elevadas. Nessas condi-
de outono e inverno, com chuvas ções, o período de sobrevivência
menos frequentes e ausência de da bactéria nas lesões, durante o
tecidos novos, mais suscetíveis, qual não há novos ciclos da doen-
nas plantas cítricas, é caracteriza- ça, é muito curto ou praticamente
do pela sobrevivência da bactéria inexistente, ocorrendo continua-
nas lesões da doença. Com o re- mente a disseminação da bactéria
torno das chuvas, o molhamento a partir das lesões da doença e
da superfície das plantas permite a novos ciclos de infecção e colo-
exsudação bacteriana das lesões e nização nos tecidos ainda sadios
a disseminação das bactérias para próximos.

28
6
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Diagnóstico

O
diagnóstico de amostras vege-
tais com cancro cítrico, ou ape-
nas da bactéria agente causal,
pode ser feito empregando-se
diferentes técnicas. Embora
a identificação possa ser, na
maioria das vezes, relativamente fácil, há neces-
sidade de conhecimento especializado e treina-
mento acerca das técnicas disponíveis. O diag-
nóstico baseado apenas nos sintomas atende
a maioria das situações associadas ao manejo
do cancro cítrico, mas a eliminação de plantas
e pomares, a confirmação da doença em áreas
livres, a liberação do comércio de frutos para
áreas livres ou sob erradicação/supressão da do-
ença, por exemplo, necessitam ou até mesmo
exigem que, além da sintomatologia, a confir-
mação esteja sempre associada a técnicas espe-
cíficas para a detecção do agente causal da do-
ença. Dentre essas técnicas, as mais usuais são
a corrida ou fluxo bacteriano, isolamento em
meio de cultura, patogenicidade, PCR (reação
de polimerase em cadeia) e sorologia. Outros
procedimentos podem ser usados, no entanto
esses são os mais comumente empregados.

29
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Sintomatologia com a mancha bacteriana dos ci-


tros, cancrose dos citros, leprose
Na maioria das vezes, lesões e verrugose, como abordado an-
de cancro cítrico podem ser diag- teriormente.
nosticadas apenas com base nos
sintomas visualizados a olho nu
(Figuras 3 a 16). A análise pode ser Corrida bacteriana
feita ainda com auxílio de micros-
cópio estereoscópico, que permi- Nesse procedimento, uma se-
te a observação mais detalhada ção, de um a dois milímetros de
das lesões e a distinção do cancro largura de tecido vegetal da re-
cítrico de sintomas provocados gião com anasarca é retirada da
por fatores abióticos ou outras amostra, fragmentada na pre-
doenças. De modo geral, como sença de um filme de água so-
descrito anteriormente, as lesões bre uma lâmina de vidro, coberta
de cancro cítrico possuem centro por uma lamínula e observada
necrosado, coloração marrom, em microscópio óptico. Quando
aspecto erumpente e anéis con- há infecção dos tecidos por Xan-
cêntricos, os quais evidenciam o thomonas, na maioria dos casos
crescimento radial da lesão. Ao observa-se um fluxo bacteriano
redor da necrose observa-se facil- migrando de um ou mais pontos
mente uma estreita região escu- dos fragmentos vegetais presen-
recida, muitas vezes com menos tes na lâmina (Figura 19). Esse flu-
de um milímetro de espessura, xo saindo dos tecidos, que é mais
caracterizada por anasarca ou en- facilmente observado em lesões
charcamento dos tecidos (Figura jovens, corresponde ao sinal do
5). Nessa região, as bactérias es- patógeno e é usado para a con-
tão em ativa multiplicação e colo- firmação da natureza bacteriana
nizam os tecidos limítrofes à área do agente causal. Apenas tecidos
necrosada da lesão. A anasarca infectados apresentam esse fluxo
corresponde ao extravasamento bacteriano. No entanto, sintomas
do conteúdo citoplasmático das circulares, necróticos e salientes
células vegetais que estão sob o em citros podem corresponder ao
ataque das bactérias causadoras cancro cítrico (X. citri subsp. citri)
do cancro cítrico. É importante ou às cancroses de limões e limas
salientar que os sintomas podem ácidas (X. fuscans subsp. auran-
ser confundidos principalmente tifolii) e a corrida bacteriana não

30
Cancro cítrico: a doença e seu controle

permite a diferenciação dessas es- relativamente simples. Colônias


pécies. Porém, como a cancrose típicas (Figura 2) podem ser obser-
e a mancha bacteriana dos citros vadas em isolamentos em meios
nunca foram descritas em laranja como nutriente ágar, mantidos
doce, amostras sintomáticas des- de 28 °C a 32 °C a partir de 72
sa espécie podem ser seguramen- horas. Outros meios de cultura
te diagnosticadas empregando- simples também podem ser em-
-se a corrida bacteriana. Devido pregados. As colônias bacterianas
à rapidez e facilidade, esse foi o são viscosas, amarelas, circulares,
método de diagnóstico mais em- brilhantes e com bordas lisas. As
pregado em São Paulo para con- espécies X. fuscans subsp. auran-
firmação oficial do cancro cítrico tifolii e X. alfalfae subsp. citrume-
para fins de erradicação. lonis apresentam colônias com
essas mesmas características, no
entanto seu crescimento é mais
Isolamento do agente causal lento e as colônias são menores
que X. citri subsp. citri. Além dis-
O isolamento de Xanthomo- so, há cepas dessas bactérias que
nas spp. em meio de cultura é são produtoras de pigmento es-
curo em meio de cultura. X. citri
subsp. citri não apresenta essa
característica. A bactéria pode ser
mais facilmente isolada de lesões
novas devido à maior quantida-
de de células bacterianas viáveis.
Lesões mais velhas e amostras
foliares com alguma deteriora-
ção ou dessecadas dificultam
o isolamento. Para eliminar ou
reduzir a presença de microrga-
nismos contaminantes, antes do
isolamento deve-se desinfestar
Figura 19 - Fluxo ou corrida bacteriana de superficialmente o material ve-
células de Xanthomonas citri subsp. citri (seta getal lesionado. Para isso deve-se
preta) liberadas de lesão de cancro cítrico em mergulhar pequenos fragmentos
folha de laranja doce (seta branca) observada do tecido vegetal com as lesões
ao microscópio óptico com 100 x de aumento.
em solução aquosa de álcool (60

31
Cancro cítrico: a doença e seu controle

a 70 °GL) por um a dois minutos, Testes de patogenicidade


em seguida, em solução de hipo-
clorito de sódio (1 a 2%) por um Patogenicidade é a capacida-
minuto e, por último, deve-se la- de de um microrganismo causar
var os fragmentos com água. Na doença. Testes de patogenicidade
sequência, os tecidos desinfesta- podem ser realizados a partir de
dos devem ser fragmentados em colônias bacterianas obtidas em
filme de água para liberação das isolamento ou de amostras vege-
bactérias e, após alguns minutos, tais suspeitas de infecção, visan-
as alíquotas devem ser transferi- do à reprodução dos sintomas de
das para o meio de cultura. Tanto cancro cítrico. Para isso são ino-
para observação de corrida bac- culadas folhas jovens de mudas
teriana quanto para o isolamento de citros ou mesmo folhas cítricas
direto a partir dos tecidos sinto- destacadas. É um teste de diag-
máticos deve-se sempre utilizar a nóstico que pode levar vários dias
região de anasarca da lesão, lo- ou mesmo semanas para com-
calizada entre o tecido necrosado pletar-se, mas tem a vantagem
e o tecido sadio (ou halo amare- de ser específico, pois é capaz de
lo), a qual possui maior quanti- distinguir as diferentes Xantho-
dade de bactérias vivas. Embora monas patogênicas dos citros.
o isolamento de Xanthomonas
em meio de cultura seja simples Para inoculação dos tecidos
e fácil, essa técnica exige conhe- foliares podem ser empregados
cimento para a identificação das diferentes métodos. Colônias em
colônias bacterianas obtidas. Na meio de cultura, preferencial-
indisponibilidade de o diagnósti- mente com até 24 horas de culti-
co ser feito diretamente a partir vo, podem ser inoculadas direta-
das colônias em meio de cultura mente nos tecidos via ferimentos
são empregados testes bioquími- com agulhas. A partir dessas
cos, de patogenicidade, de PCR mesmas colônias também podem
ou sorológicos para a detecção ser feitas suspensões aquosas, ou
do agente causal. Os testes bio- em tampão salino, para inocula-
químicos não são descritos aqui, ção via ferimentos com agulha,
pois geralmente o diagnóstico do aspersão ou infiltração com se-
cancro cítrico é feito com o em- ringa (Figura 20). A inoculação via
prego de outros métodos. ferimentos com agulha ou princi-
palmente por infiltração de sus-

32
Cancro cítrico: a doença e seu controle

pensões concentradas resulta em de vegetação simples, sob tem-


sintomas mais rápidos, geralmen- peratura ambiente. No entanto,
te em menos de uma semana. quando a inoculação é realizada
Quanto menor a concentração da por aspersão é recomendável que
suspensão bacteriana, mais lenta- as plantas sejam mantidas em câ-
mente os sintomas de cancro cítri- mara úmida por 24 a 48 horas,
co aparecem. Preferencialmente para favorecer a penetração da
devem ser utilizados tecidos folia- bactéria na planta. Períodos mais
res jovens, ainda imaturos, para frios, com temperaturas inferio-
testes de patogenicidade. Não res a 25 °C, podem retardar ou
há necessidade da manutenção mesmo comprometer o apareci-
das plantas ou folhas inoculadas mento de sintomas, fazendo com
em ambiente com temperatura, que os testes de patogenicidade
luz e umidade relativa controla- levem mais tempo para serem fi-
das. O material vegetal pode ser nalizados.
mantido em laboratório ou casa
A inoculação de folhas des-
A B tacadas e a infiltração do limbo
foliar com suspensão bacteriana
resultam em sintomas nem sem-
pre similares aos observados em
campo (Figura 20). Isso decorre da
forma de inoculação dos tecidos
e há necessidade de experiência
prévia para o diagnóstico seguro
da doença. Quando há suspeita
de cancrose na amostra foliar,
como para amostras de limões e
limas ácidas de regiões com essas
doenças, nos testes de patoge-
nicidade são empregados tanto
folhas de laranja doce quanto
Figura 20 - Lesões de cancro cítrico em de limões verdadeiros ou limas
folhas de laranja doce inoculadas com ácidas. Caso o patógeno seja X.
Xanthomonas citri subsp. citri por infiltra- citri subsp. citri, tanto os tecidos
ção (A) e ferimentos (B), 30 e 70 dias de laranja doce quanto de limão
após a inoculação, respectivamente. ou lima ácida apresentarão sin-

33
Cancro cítrico: a doença e seu controle

tomas, mas apenas esses últimos do cancro cítrico. Na maioria dos


serão infectados se a amostra protocolos empregam-se amos-
contiver X. fuscans subsp. auran- tras de DNA extraído de culturas
tifolii. Amostras foliares desseca- bacterianas previamente isoladas
das ou já em decomposição difi- e mantidas em laboratório, mas
cilmente permitem o isolamento há protocolos desenvolvidos para
de Xanthomonas diretamente o emprego direto de lesões de
em meio de cultura. Nesses casos amostras suspeitas. Como conse-
pode-se tentar o isolamento indi- quência, em algumas situações o
reto do agente causal. Esse pro- diagnóstico do cancro cítrico via
cedimento é realizado pela desin- PCR pode demorar mais de uma
festação dos tecidos, maceração semana, pois exige o isolamento
das lesões presentes na amostra do patógeno em meio de cultura,
em água ou tampão salino e a extração do DNA das culturas
inoculação da suspensão obti- bacterianas e por último a ampli-
da. Nesse caso, para aumentar a ficação do material genético via
chance de sucesso de reprodução PCR. As vantagens dessa técnica
dos sintomas para diagnóstico ou são a especificidade e a capaci-
isolamento, deve-se optar pela dade de detectar concentrações
inoculação por infiltração com mínimas da bactéria, difíceis de
seringa em folhas cítricas jovens serem diagnosticadas por isola-
não destacadas. mento ou patogenicidade. Como
já citado, vários são os protocolos
descritos na literatura científica
PCR acerca do diagnóstico do cancro
cítrico via PCR. Para mais detalhes
Diferentes protocolos foram sobre a utilização dessa técnica, con-
desenvolvidos nos últimos 15 sultar a literatura especializada.
anos para o diagnóstico do cancro
cítrico via PCR. Essa técnica é uma
das mais laboriosas e custosas de Sorologia
todas e seu emprego exige mão
de obra e infraestrutura especia- Técnicas sorológicas são basea-
lizadas. A técnica PCR baseia-se das na detecção específica de uma
em gerar milhões de cópias de ou mais proteínas do agente cau-
uma região específica do material sal da doença ou proteínas resul-
genético (DNA) do agente causal tantes da interação do patógeno

34
Cancro cítrico: a doença e seu controle

com o hospedeiro. Após ter seu e infraestrutura especializadas, o


uso diminuído com o desenvolvi- diagnóstico do cancro cítrico com
mento de técnicas baseadas em essa metodologia é de grande
PCR, a sorologia pode novamente utilidade tanto em laboratórios
ser empregada para o diagnósti- como no campo, onde o próprio
co do cancro cítrico, mas agora produtor pode confirmar a ocor-
com extremas facilidade e rapi- rência de cancro cítrico.
dez. Há poucos anos foi lançado
no mercado um teste rápido para
o diagnóstico de cancro cítrico, o
qual consiste num kit composto
por uma pequena bolsa plástica
contendo solução tampão e uma
fita específica para o diagnóstico
(Figura 21). O exame é realizado
em poucos minutos. Basta mace-
rar uma pequena lesão, ou parte
de lesão, no interior da bolsa plás-
tica com tampão e, em seguida,
colocar a fita parcialmente em
contato com a solução, seguindo
as instruções do fabricante. O re-
sultado do teste será positivo ou
negativo para cancro cítrico. Esse
teste também pode ser empre-
gado para colônias isoladas em
meio de cultura, suspensões bac-
terianas aquosas, amostras her-
barizadas ou restos vegetais em Figura 21 – Teste sorológico para a de-
decomposição. Dentre os testes tecção rápida de cancro cítrico. Duas
descritos para o diagnóstico do bandas vermelhas (setas) devem apa-
cancro cítrico, esse é o mais rápi- recer na fita em amostras positivas
do, além de ser específico para X. para cancro cítrico: a banda superior
citri subsp. citri, uma vez que este serve como controle e indica que o
não detecta a presença de outras teste foi realizado adequadamente e
Xanthomonas que afetam os ci- a banda inferior indica a presença da
bactéria do cancro cítrico na amostra.
tros. Por não exigir mão de obra

35
Cancro cítrico: a doença e seu controle

7O
Controle
Histórico da legislação no estado de São Paulo
controle por erradicação objetiva a
eliminação completa do patógeno de
uma determinada área (região geo-
gráfica) ou produto agrícola comer-
cial. Diferentes medidas de controle
podem ser consideradas como erradi-
cação. O tratamento de frutos em pós-colheita
com produtos químicos sanitizantes ou erradi-
cantes tem como objetivo eliminar células bac-
terianas e fúngicas presentes na superfície dos
frutos, sendo assim caracterizado como erradi-
cação. Adota-se a erradicação de um patógeno
para impedir sua disseminação para áreas ainda
livres dele. Assim, a estratégia pode ser adotada
como uma prática oficial, regulamentada por
legislação específica, ou pelos próprios produ-
tores, com práticas para impedir, ou reduzir, a
disseminação do patógeno entre propriedades
ou dentro de um mesmo pomar.

36
Cancro cítrico: a doença e seu controle

O cancro cítrico é uma “praga O histórico parcial da cam-


quarentenária” em muitos paí- panha de erradicação do cancro
ses, incluindo o Brasil, e o comér- cítrico no Brasil, mais especifica-
cio nacional e internacional de mente no estado de São Paulo,
cítricos é regulado por medidas foi descrito por Santos (1991) e
obrigatórias de exclusão e erra- as informações que seguem fo-
dicação do patógeno. Esse status ram extraídas da obra citada.
quarentenário deve-se à inexis- Ainda em 1957, imediatamente
tência do patógeno em muitas após a primeira detecção oficial
regiões produtoras de cítricos, do cancro cítrico no Brasil, o go-
nos cinco continentes, as quais verno de São Paulo optou pela
objetivam manter sua condição erradicação do patógeno. Para
de área livre. A legislação brasilei- essa decisão considerou-se a gra-
ra determina dois tipos de pragas vidade da doença e a campanha
quarentenárias – A1 e A2. Qua- de erradicação realizada, naque-
rentenárias A1 são as pragas exó- la época com êxito, nos Estados
ticas não presentes no país. As Unidos. Assim, foram iniciados
quarentenárias A2 são pragas de os trabalhos de eliminação de
importância econômica poten- plantas com sintomas de cancro
cial, já presentes no país, porém cítrico e das demais presentes
apresentando disseminação loca- num raio de 12 metros. Esse foi
lizada e submetidas a programa o primeiro método de erradica-
oficial de controle. Assim, a bac- ção para o cancro cítrico adotado
téria agente causal do cancro cí- no Brasil. Após o início dos tra-
trico é uma praga quarentenária balhos de eliminação de plantas
A2 por sua importância econômi- e da constatação da doença em
ca potencial e por estar presente vários municípios da região no-
no país, mas com disseminação roeste paulista, denominada Alta
localizada e sob controle oficial Sorocabana, ainda em 1957, ou-
(governamental). Desde a primei- tras medidas foram adotadas na
ra detecção do cancro cítrico no tentativa de erradicação do pató-
Brasil, em 1957, essa doença foi geno:
relatada oficialmente nos estados a) a interdição do plantio de
de Mato Grosso, Mato Grosso novos pomares cítricos e de
do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio viveiros em 29 municípios;
Grande do Sul, Roraima, Santa b) a eliminação de todos os
Catarina e São Paulo. viveiros cítricos, infectados

37
Cancro cítrico: a doença e seu controle

ou não com cancro cítrico, da doença para delimitação da


nessa mesma região; área de erradicação. Dessa for-
c) a restrição do comércio de ma, todas as plantas cítricas, sin-
frutas e mudas originárias tomáticas ou não, presentes nas
de qualquer desses municí- propriedades com plantas infec-
pios; e tadas, e as demais presentes nas
d) o início de uma ampla cam- propriedades vizinhas num raio
panha de divulgação da de mil metros deviam ser erradi-
existência do cancro cítrico cadas. Em 1966, a coordenação
no estado. da campanha de erradicação, até
então executada pelo Instituto
Apesar dessas medidas emer- Biológico de São Paulo, passou a
genciais inicialmente adotadas, ser exercida pela Coordenadoria
novos casos da doença foram de Assistência Técnica Integral
identificados na região de ação (CATI), órgão público recém-cria-
do governo, levando à eliminação do no estado de São Paulo. Essa
de todas as plantas cítricas pre- nova fase perdurou até 1975,
sentes nos municípios delimitados quando então foi criada a Cam-
pela campanha de erradicação panha Nacional de Erradicação
do cancro cítrico. Essa ação, exe- do Cancro Cítrico (CANECC), su-
cutada pelo governo do estado, bordinada ao Ministério da Agri-
perdurou de 1957 a 1961. Nes- cultura. Com isso, a campanha
se período foram inspecionadas de erradicação da doença passou
aproximadamente 11 mil proprie- a apresentar um comando único
dades e um total de 1,2 milhão de no Brasil, com ações simultâneas
plantas foram eliminadas. e integradas para a eliminação
do patógeno nos estados de São
A partir de 1962, as ações do Paulo, Paraná e Mato Grosso do
governo estadual precisaram ser Sul. Em 1977, a CANECC solici-
estendidas para outras regiões do tou a participação dos citricul-
estado após a detecção de novos tores paulistas na campanha de
casos da doença em municípios erradicação e então foi criado o
até então livres do cancro cítrico. Fundecitrus, na época denomina-
Nessa fase seguinte, os critérios do Fundo Paulista de Defesa da
de erradicação foram revistos, Citricultura. O Fundecitrus, se-
passando-se a adotar um raio diado em Araraquara, na região
de mil metros a partir dos focos central do estado de São Paulo,

38
Cancro cítrico: a doença e seu controle

auxiliou fortemente os órgãos município de Urupês (norte do


públicos na detecção e erradica- estado), considerado até então
ção de focos da doença em São uma barreira natural à doença.
Paulo e no Triângulo Mineiro de Em 1979 ocorreu o primeiro caso
1977 a 2010. Em 2010, o con- na denominada “zona citríco-
vênio existente entre a Secretaria la de exportação”, inicialmente
de Agricultura e Abastecimento no município de Monte Alto e,
do Estado de São Paulo (SAA/ posteriormente, em Cândido Ro-
SP) e o Fundecitrus, o qual per- drigues. Até então, a localização
mitia que ações de defesa sanitá- da doença estava restrita à área
ria vegetal fossem exercidas pelo do estado não tradicional ao cul-
Fundecitrus, foi encerrado, e a tivo de cítricos. Vistorias e levan-
responsabilidade de inspeção e tamentos executados após 1979
erradicação de focos da doença indicaram a presença da doença
foi transferida para os citriculto- em outros municípios da “zona
res, sob fiscalização da SAA/SP. de exportação”, como Taquari-
Atualmente, as ações do Fundeci- tinga, Araraquara, São José do
trus estão direcionadas para a re- Rio Preto e Itápolis, entre outros.
alização e fomento de pesquisas Apesar dessas novas ocorrências,
voltadas à sanidade dos citros e a metodologia de erradicação foi
para a educação fitossanitária, a abrandada em 1987, com a de-
fim de preparar melhor o citricul- cisão da eliminação das plantas
tor para a prevenção e controle cítricas presentes apenas em um
das principais pragas e doenças raio de 50 metros da planta sin-
da cultura. tomática, e novamente em 1995,
com a redução do raio para 30
Embora as ações da campa- metros. Essa última metodologia
nha de erradicação do cancro vigorou até 1999, quando foi no-
cítrico tenham sido estendidas vamente alterada.
para outras regiões, como men-
cionado, a disseminação da do- A campanha de erradicação
ença continuou a ocorrer não so- do cancro cítrico, determinada
mente pelo estado de São Paulo, por legislação federal, é válida em
mas também por outras regiões todo território nacional (Portaria
do país. Em 1974 foi detectado 291 do Ministério da Agricultu-
o primeiro caso de cancro cítrico ra, Pecuária e Abastecimento).
à margem direita do rio Tietê, no Constatada a presença de cancro

39
Cancro cítrico: a doença e seu controle

cítrico, a legislação federal deter- erradicação das plantas conside-


mina, desde a década de 1990, a radas como suspeitas de infecção
eliminação da planta sintomática era determinada considerando-
e a aplicação de medida de con- -se a incidência de plantas sin-
trole complementar em um raio tomáticas detectadas no talhão.
mínimo de 30 metros a partir de Por talhão entende-se um bloco
cada planta sintomática detecta- uniforme de plantas cítricas da
da. Segundo essa legislação, as mesma idade, variedade e porta-
plantas contidas no raio, conside- -enxerto e mantidas sob os mes-
radas como suspeitas de infecção, mos tratos culturais. Incidências
devem receber um dos seguintes de plantas sintomáticas superio-
métodos complementares: res a 0,5% determinavam a eli-
a) eliminação completa; minação de todas as plantas do
b) poda drástica dos ramos; talhão. Para incidências iguais ou
ou menores a 0,5%, a planta sinto-
c) desfolha química. mática e as demais contidas num
raio mínimo de 30 metros a partir
Embora esses métodos este- de cada planta sintomática eram
jam previstos em legislação fede- eliminadas. Nessa época, em São
ral, a erradicação das plantas com Paulo, não eram mais aceitos
cancro cítrico é substituída pelo como métodos de erradicação a
manejo da doença nos estados poda drástica ou a desfolha das
do Paraná, Santa Catarina e Rio plantas suspeitas de estarem in-
Grande do Sul. O estado do Pa- fectadas. A metodologia de er-
raná possui legislação específica, a radicação baseada na incidência
qual determina o manejo integra- de plantas sintomáticas no ta-
do para controle da doença. Nesse lhão foi adotada a partir de se-
estado todos os plantios de citros tembro de 1999. A mudança na
devem ser relatados à secretaria metodologia de erradicação em
de agricultura e são autorizados São Paulo nesse ano foi provoca-
mediante o emprego de medidas da pela observação de um maior
de manejo do cancro cítrico. número de casos de cancro cítri-
co (tanto no número de plantas
No estado de São Paulo ado- afetadas como de talhões) após
tou-se, de 1999 a 2009, uma a introdução, em 1996, do mi-
legislação mais rigorosa para o nador dos citros, que alterou o
cancro cítrico. Nesse período, a padrão espacial do cancro cítri-

40
Cancro cítrico: a doença e seu controle

co e potencializou a dissemina- ao menos uma inspeção em área


ção da doença. Mais detalhes da total a cada trimestre para de-
interação entre o minador dos tecção e eliminação das plantas
citros e o cancro cítrico são apre- sintomáticas. Embora essa nova
sentados a seguir. legislação estadual esteja em
concordância com um dos quatro
Recentemente, outras duas métodos de erradicação previs-
mudanças ocorreram na legisla- tos na legislação federal vigente
ção do estado de São Paulo re- (Portaria 291), é a primeira vez
ferentes ao controle do cancro em sua história que a citricultura
cítrico, uma em 2009 e a mais paulista deixa de adotar a erradi-
recente em 2013. Em 2009 dei- cação de plantas assintomáticas
xou-se de eliminar todas as plan- para controle do cancro cítrico.
tas de talhões com incidência de
plantas sintomáticas superior a
0,5%. Nesse ano voltou-se a uti- Estratégias de controle
lizar exclusivamente o raio de 30
metros, independentemente da Controlar doenças de plantas é
incidência de plantas sintomáti- empreender quaisquer ações que
cas. Esse era o critério adotado visem prevenir ou reduzir os danos
de 1995 a 1999, quando ainda provocados pelo agente causal da
não se registrava a presença, no doença à cultura. Como para a
Brasil, do minador dos citros. Em grande maioria das doenças de
novembro de 2013 foi publicada plantas, o controle do cancro cí-
a Resolução SAA 147, que alte- trico deve basear-se no emprego
rou novamente as ações de er- de um conjunto de medidas, as
radicação do cancro cítrico em quais são determinadas pela es-
São Paulo (Anexo 1 - pag. 81). Se- tratégia a ser adotada. De forma
gundo essa legislação, que vige simplificada, existem duas estra-
atualmente, somente as plantas tégias globais de controle para o
sintomáticas devem ser elimina- cancro cítrico. Uma delas baseia-
das, e as demais presentes até 30 -se na exclusão e erradicação do
metros dessas plantas sintomáti- patógeno. Nesse caso, o objetivo
cas devem ser pulverizadas com é manter os pomares de uma de-
calda cúprica a cada nova brota- terminada região (que pode ser
ção. Além disso, todo produtor um continente, um país, um es-
comercial de citros deve realizar tado, uma região ou até mesmo

41
Cancro cítrico: a doença e seu controle

uma propriedade) livres da doen- a manutenção da erradicação de


ça ou com incidência muito baixa plantas resultaram na mudança
de plantas doentes. A outra con- de estratégia e na interrupção das
siste no manejo integrado. A fina- campanhas de erradicação. O es-
lidade dessa segunda estratégia tado de São Paulo mantém, des-
é reduzir os danos e perdas em de 1957, uma campanha oficial
áreas com ampla disseminação da de erradicação do cancro cítrico.
doença, nas quais o cancro cítrico Apesar das mudanças ocorridas
está presente na maioria das plan- na metodologia de erradicação
tas e pomares cítricos. da doença ao longo de mais de
cinco décadas e do aumento do
Os custos financeiros e huma- número de casos desde 2009, o
nos e os impactos econômicos e parque citrícola paulista, diferen-
sociais da eliminação da maioria temente de outras regiões, ainda
das plantas e pomares cítricos de apresenta uma baixa incidência
uma região comprometem a via- de plantas e pomares doentes.
bilidade dessa estratégia em áreas Embora não se tenha alcançado
altamente infestadas. A erradica- a erradicação do agente causal
ção do agente causal da doença do cancro cítrico em São Paulo,
foi adotada no passado, durante a baixa ocorrência da doença é
vários anos ou mesmo décadas, uma vantagem competitiva com-
em algumas regiões produtoras partilhada por todos os citriculto-
de citros como a Flórida (Estados res do estado.
Unidos), a Argentina, o Uruguai e
os estados do Sul do Brasil, den- Independentemente da estra-
tre outras. Mas nessas mesmas tégia global de controle do can-
regiões ou países, as campanhas cro cítrico ser a erradicação ou o
de erradicação do patógeno não manejo integrado, em ambos os
existem mais e seus citricultores cenários o produtor deverá ado-
atualmente adotam o manejo tar um conjunto de medidas de
integrado do cancro cítrico. Os controle específicas para cada
níveis de incidência relativamen- situação. A decisão sobre qual
te altos que a doença atingiu, estratégia adotar depende da le-
mesmo após a erradicação de mi- gislação em vigor e da incidência
lhares de plantas e pomares em da doença na região. Além disso,
cada uma dessas regiões, e os uma mesma medida de controle
custos elevados necessários para pode ser adotada tanto num ce-

42
Cancro cítrico: a doença e seu controle

nário de erradicação do patóge- o cancro cítrico nunca foi elimina-


no quanto no manejo integrado do totalmente, mas mantido em
do cancro cítrico. A estratégia de níveis mínimos de incidência du-
exclusão e erradicação é tecnica- rante mais de 50 anos. Para fins
mente indicada para áreas citríco- didáticos, o termo erradicação é
las nas quais não há cancro cítrico utilizado neste documento como
(áreas livres) ou a ocorrência da sinônimo de supressão para re-
doença é muito baixa e está res- ferir-se à estratégia de controle
trita a poucos pomares. A exclu- adotada oficialmente no Brasil e
são consiste em evitar a entrada em outros países.
da bactéria causadora do cancro
cítrico em áreas sem a doença. É importante salientar que a
Para isso, as medidas de contro- erradicação de plantas está ne-
le recomendadas são o plantio cessariamente associada a ins-
de mudas sadias, a utilização de peções frequentes realizadas
material de colheita próprio e a por pessoal treinado, capaz de
desinfestação de ferramentas, identificar a doença nos estádios
equipamentos e veículos que iniciais e em situações diversas.
adentram a propriedade. A er- Além disso, o controle químico,
radicação, por sua vez, consiste representado historicamente pe-
na eliminação do agente causal los bactericidas cúpricos e, mais
da doença em uma determinada recentemente, pelos indutores de
área pela remoção e destruição resistência, tem espaço limitado
de plantas com e sem sintomas, nesse cenário. Nenhum defen-
com objetivo de evitar ou reduzir sivo agrícola é capaz de impedir
a disseminação da doença para a entrada e a disseminação da
talhões e propriedades ainda li- doença entre plantas no pomar.
vres dela. Contudo, é possível Nesse caso, o uso desses produ-
que programas de erradicação tos deve estar sempre associado à
não consigam a completa e de- inspeção e erradicação e limitado
finitiva eliminação do patógeno, a talhões ou propriedades com
mas resultem na manutenção da focos de cancro cítrico. Como no
doença em níveis muito baixos e cenário de erradicação do pató-
estáveis ao longo dos anos. Tem- geno são empregadas a inspe-
-se, nesse caso, a supressão da ção e a eliminação de plantas,
doença, a qual define exatamen- e o uso de cúpricos e indutores
te a situação de São Paulo, onde de resistência não impede, por

43
Cancro cítrico: a doença e seu controle

completo, a ocorrência de novas cítrico. No entanto, essa opção é


infecções; não faz sentido o uso um caminho sem volta. Uma vez
desses defensivos em larga esca- presente nos pomares, o cancro
la, devendo-se aplicar os recursos cítrico não pode ser eliminado
financeiros na detecção precoce sem a destruição das plantas. Evi-
de plantas sintomáticas e na erra- dentemente, a opção pela erradi-
dicação dos focos da doença. cação do cancro cítrico que São
Paulo fez, e ainda faz, permite que
Por outro lado, o manejo inte- custos adicionais para seu contro-
grado é recomendado para áre- le sejam evitados. Do contrário, a
as nas quais a doença está am- disseminação da doença pelo par-
plamente disseminada, não mais que citrícola paulista resultaria em
restrita a uma pequena parte dos aumento de custos e redução da
talhões e das propriedades. Essa rentabilidade do citricultor.
é a situação dos estados do Sul
do Brasil e do estado norte-ame-
ricano da Flórida, como já cita- Medidas de controle
do. Nessas regiões, de uma for-
ma geral, o controle é realizado Inspeção e erradicação
com o objetivo final de reduzir a Em áreas livres ou sob erra-
queda de frutos com sintomas de dicação cada citricultor precisa
cancro cítrico. Nesse cenário, as saber se o cancro cítrico ocorre
medidas de controle visam ame- em seus pomares e também na
nizar os efeitos da doença e são microrregião em que sua pro-
adotadas de maneira integrada. priedade insere-se por meio de
As principais medidas de contro- inspeções periódicas (Figura 22).
le recomendadas nessa situação A presença da doença numa pro-
são: plantio de variedades menos priedade qualquer, ou nos seus
suscetíveis, implantação de que- arredores, até alguns quilôme-
bra-ventos arbóreos, controle do tros, exige ações de erradicação
minador dos citros e aplicação de quando da detecção dos focos
bactericidas cúpricos e indutores da doença, para a manutenção
de resistência. da sanidade dos pomares.

Teoricamente, regiões de baixa Por propiciar a observação mi-


incidência ou livres da doença po- nuciosa das plantas, a maioria das
dem optar pelo manejo do cancro inspeções para o cancro cítrico é

44
Cancro cítrico: a doença e seu controle

realizada via solo A


pelo caminhamento
dos inspetores entre
as linhas de plantio
do pomar, próximo
à copa das plantas
(Figura 22 A). No en-
tanto, em pomares
adultos, com árvo-
res de grande porte,
é fundamental ainda
B
a realização de ins-
peções em platafor-
mas, como as utili-
zadas para detecção
de HLB. Essas inspe-
ções permitem me-
lhor vistoria do topo
das plantas, onde o
cancro cítrico pode
ocorrer inicialmente
após a disseminação
Figura 22 – Inspeções de cancro cítrico via solo
por chuva associada
(A) e plataforma (B).
a vento (Figura 22 B).

A frequência e a nhamento no pomar: contínua e


velocidade de inspeção são alta- detalhada (Figura 23). O objetivo
mente dependentes do risco de da inspeção contínua é procurar
contaminação que uma deter- por focos da doença em área até
minada área apresenta. Em face então livre do cancro cítrico. Para
de ocorrência prévia da doença essa vistoria, o inspetor deve ob-
na propriedade ou em áreas vi- servar as plantas ao caminhar de
zinhas, a frequência de inspeção forma ininterrupta paralelamente
e o nível de atenção devem ser à linha de plantio. Essa é uma ins-
intensificados. Sugerem-se duas peção mais rápida e o rendimento
metodologias distintas de inspe- pode variar de 400 a 1000 plan-
ção quanto à velocidade de cami- tas/dia/inspetor, dependendo do

45
Cancro cítrico: a doença e seu controle

O inspetor caminha em semicírculos ao redor das plantas, realizan-


O inspetor observa as plantas ao caminhar paralelamente as do paradas para uma observação mais minuciosa quanto à presença
linhas de plantio. O rendimento varia de 400 a 1000 plantas por de sintomas. O rendimento varia de 100 a 400 plantas por dia de
dia de trabalho por inspetor. trabalho por inspetor.

Figura 23 – Metodologias de inspeção para detecção de cancro cítrico


quanto à velocidade de caminhamento no pomar (A) e frequência em fun-
ção da presença ou proximidade de plantas com sintomas da doença (B).

tamanho das plantas. A inspeção copa e parar em frente às plantas


detalhada, por sua vez, objetiva a cada dois passos para observar
quantificar o número total de a presença de sintomas de cancro
plantas doentes. Essa inspeção é cítrico (Figura 23 A).
muito mais lenta e minuciosa que
a contínua e o rendimento pode Diferentes estratégias de ins-
variar de 100 a 400 plantas/dia/ peção podem ser implementa-
inspetor. Na inspeção detalhada, das em propriedades com e sem
o inspetor deve caminhar na li- histórico recente da doença. Para
nha em semicírculos ao redor da áreas onde o cancro cítrico não

46
Cancro cítrico: a doença e seu controle

tenha sido relatado nos últimos ção específico para cada talhão.
dois anos e nas quais não há ris- Apesar de a legislação atual exigir
co iminente de contaminação inspeções trimestrais, indepen-
sugerem-se pelo menos quatro dentemente da presença da do-
inspeções contínuas distribuídas ença, e a eliminação somente das
ao longo do ano. Essas inspeções plantas sintomáticas, a adoção de
podem ser realizadas em todas medidas complementares como
as linhas de plantio ou em linhas inspeções mais frequentes em
alternadas. A vantagem dessa áreas afetadas e a eliminação das
última é a maior frequência do plantas ao redor das plantas sin-
número de passadas em uma de- tomáticas ou até mesmo de um
terminada área. É importante que talhão com muitas plantas doen-
uma dessas inspeções seja reali- tes podem aumentar significati-
zada no máximo um mês antes vamente as chances de sucesso
da colheita. da erradicação ou supressão do
cancro cítrico. Por isso, em pro-
Caso sejam detectadas plan- priedades com casos da doença
tas com cancro cítrico em pro- sugere-se estabelecer três zonas
priedades comerciais, os esforços de inspeção (Figura 23 B):
para o controle da doença devem a) talhões livres;
ser intensificados. Assim que as b) talhões com cancro cítrico
primeiras plantas doentes forem e talhões vizinhos desses; e
encontradas pelas inspeções, c) plantas vizinhas às plantas
elas devem ser imediatamente doentes eliminadas.
queimadas e uma varredura deve
ser realizada em toda proprieda- • Talhões livres: podem ser
de, com inspeções detalhadas, feitas inspeções contínuas
para determinar a quantidade de assim como para as pro-
plantas doentes e a distribuição priedades livres.
da doença. Com isso é possível
saber quais talhões estão com • Talhões afetados e talhões
plantas sintomáticas e a incidên- vizinhos: as inspeções de-
cia de plantas com cancro cítrico vem ser detalhadas e rea-
em cada talhão. Conhecendo-se lizadas mensalmente. Esse
a distribuição e incidência da do- intervalo pode ser aumen-
ença na propriedade é possível tado após 18 a 24 meses
estabelecer um plano de inspe- sem novas ocorrências da

47
Cancro cítrico: a doença e seu controle

doença. Em pomares adul- eliminados. A eliminação de ta-


tos, com plantas de grande lhões, total ou parcialmente, pre-
porte, a realização de ins- vine que áreas ainda sadias ou
peções em plataformas é com baixa incidência, na mesma
recomendada (Figura 22 B). propriedade e em propriedades
vizinhas, sejam afetadas.
• Plantas vizinhas às plantas do-
entes eliminadas: estabelece- Embora seja teoricamente pos-
-se um raio para inspeções sível eliminar por completo o can-
detalhadas das plantas vizi- cro cítrico de propriedades intei-
nhas às plantas detectadas ras apenas com a eliminação das
com a doença, realizadas plantas sintomáticas, aeliminação
mensal ou quinzenalmen- de plantas vizinhas às plantas sin-
te. Essas inspeções podem tomáticas é aconselhável em to-
ainda ser sincronizadas com dos os casos. Frequência maior de
as inspeções mensais no ta- inspeção para detecção do cancro
lhão. A faixa de ação depen- cítrico permite, teoricamente, me-
derá da mão de obra dispo- nor rigor na eliminação das plan-
nível e do rigor adotado pelo tas assintomáticas circunvizinhas
produtor. A inspeção de das plantas doentes. Além disso,
plantas adjacentes às doen- o número de plantas assintomá-
tes é de grande importância ticas a serem eliminadas depende
para o controle do cancro também da qualidade das inspe-
cítrico. Plantas com cancro ções, incidência de plantas sin-
cítrico são mais frequente- tomáticas, idade e variedade das
mente detectadas próximas plantas e do tempo que a doença
dos focos iniciais da doença está presente no talhão.
e são tipicamente plantas
não detectadas (escapes) re- Frequência adequada, quali-
manescentes de inspeções dade das inspeções e eliminação
anteriores ou resultantes de de plantas vizinhas das detecta-
novas infecções. das com cancro cítrico são fun-
damentais para conter a doença.
Talhões com alta incidência Na grande maioria das inspeções,
ou com plantas sintomáticas es- apenas parte das plantas sinto-
palhadas por toda sua extensão máticas é detectada. Ou seja, o
devem ser preferencialmente total de plantas doentes em uma

48
Cancro cítrico: a doença e seu controle

área qualquer é subestimado a doença. O emprego de tama-


e essas plantas não detectadas nha distância na Flórida naquela
ou escapes continuarão a atuar época visava a completa erradica-
como fontes de inóculo para a ção da bactéria agente causal do
infecção de novas plantas e po- cancro cítrico de sua citricultura.
mares. Quanto maiores a frequ- A erradicação de um patógeno
ência e qualidade das inspeções, qualquer exige esforços desco-
menos plantas escapes perma- munais. São Paulo, ainda capaz
necerão na área. Por outro lado, de empregar milhares de inspe-
longos intervalos entre inspeções tores para detecção do cancro
e baixa qualidade de inspeção re- cítrico, adotou o critério do 0,5%
sultarão em muitos escapes. Os associado a levantamentos amos-
raios de erradicação devem ser trais anuais, varreduras nas áreas
maiores ou deve-se até mesmo mais contaminadas do estado,
eliminar talhões inteiros quan- inspeções em zonas não comer-
do não se consegue detectar ciais e inspeções detalhadas em
nas inspeções grande parte das áreas comerciais próximas de fo-
plantas sintomáticas. Para ilus- cos da doença. O governo da Fló-
trar essa situação vale comparar rida, não podendo contar com a
os programas de erradicação de mesma força para inspeção, teve
São Paulo e Flórida. Simultanea- que adotar raios maiores e inde-
mente à incorporação do critério nizar os citricultores.
de erradicação do cancro cítrico
com base na incidência de plan- Quanto maior o número de
tas doentes (0,5%) em São Paulo, plantas sintomáticas detecta-
devido à introdução do minador das num talhão, mais plantas
dos citros, a Flórida, também em assintomáticas devem ser eli-
1999, substituiu o então vigente minadas. Como já discutido, é
raio de erradicação de aproxima- comum a existência de plantas
damente 38 metros para quase escapes, não detectadas após as
600 metros. Na presença do mi- inspeções. Quando a incidência
nador, o cancro cítrico passa a é maior, a doença encontra-se,
ser propagado mais facilmente geralmente, mais distribuída no
também a distâncias maiores, de talhão e a probabilidade de sa-
até alguns quilômetros, exigindo neamento da área somente pela
a eliminação de mais plantas cir- eliminação das plantas sintomá-
cunvizinhas das detectadas com ticas é bastante reduzida. Nessas

49
Cancro cítrico: a doença e seu controle

situações, o rigor na eliminação minadas ou que o foco seja de-


de plantas assintomáticas deve tectado precocemente, quando o
ser maior. Muitas vezes, alta in- número de plantas doentes ainda
cidência de plantas sintomáticas é muito pequeno. Assim, a citri-
ocorre também em pomares de cultura paulista deve incorporar
plantas mais jovens, de genótipos na sua rotina ações integradas de
mais suscetíveis, ou em talhões controle do cancro cítrico. Apesar
que estão infestados já há alguns da prevenção e a eliminação de
anos, e o citricultor deve estar focos ainda ser a melhor opção
atento a isso. no curto e médio prazos, medi-
das de controle adotadas em áre-
As inspeções devem também as endêmicas, como bactericidas
ser feitas em pomares cítricos não cúpricos e quebra-ventos, passa-
comerciais, quintais de zonas ur- ram a ter papel importante tam-
banas e rurais, pastagens, entre bém para a citricultura paulista
outros, pois qualquer planta sin- mediante o aumento da doença
tomática produz continuamente no estado. Os citricultores devem
muitos milhões de bactérias capa- traçar suas estratégias de con-
zes de serem disseminadas a qui- trole considerando os métodos
lômetros de distância por chuva disponíveis, seu custo relativo, a
com ventos. Caso sejam detecta- situação específica em que se en-
das plantas doentes, elas devem contram frente ao cancro cítrico,
ser eliminadas. Plantas aparente- o destino da produção e sua re-
mente sadias localizadas em áreas ceita financeira com a citricultura.
não comerciais também devem A situação atual é mais comple-
ser, quando possível, eliminadas. xa que a vivida pelos citricultores
no passado. Cada situação tem
Sanear uma área detectada suas peculiaridades e desafios e
com cancro cítrico, ou manter a os citricultores devem aprender a
doença em baixíssima incidência, empregar os métodos de contro-
exige esforço rigoroso e contínuo, le objetivando a melhor relação
por vários anos ou até mesmo custo/benefício possível.
por tempo indefinido. Dificilmen-
te consegue-se eliminar o cancro Desinfestação
cítrico de uma propriedade em Quando a estratégia de con-
apenas uma safra, a não ser que trole é evitar a entrada da bac-
todas as plantas cítricas sejam eli- téria causadora do cancro cítrico

50
Cancro cítrico: a doença e seu controle

numa propriedade ou local ainda nato de clorohexidina na pele,


livre da doença, a desinfestação sendo indicado, portanto, para
de equipamentos, ferramentas, a desinfestação das mãos. Esses
utensílios, veículos e pessoas compostos químicos têm ação
(pele, roupas e calçados) que têm apenas superficial, não atingem
acesso aos pomares é essencial de forma significativa as bactérias
(Figura 24). Nesse caso, desinfes- presentes internamente nas le-
tar consiste em eliminar superfi- sões de cancro cítrico e também
cialmente a bactéria do cancro não possuem ação residual. As-
cítrico. Como a bactéria é inca- sim, quando aplicados em tecido
paz de infectar objetos e pesso- vegetal infectado (folhas, frutos
as e os produtos desinfestantes e ramos de citros com lesões de
não têm ação de penetração, o cancro cítrico) não são efetivos
termo desinfecção é muitas ve- no controle da doença e também
zes erroneamente empregado não previnem novas infecções ou
como sinônimo de desinfestação. a exsudação das bactérias das le-
Essa medida de controle é em- sões. Dessa forma, seu uso é ex-
pregada, por exemplo, quando clusivo para aplicação em mate-
se pretende evitar a entrada da riais inertes ou pele, agindo como
bactéria agente causal do cancro desinfestantes de superfície e
cítrico numa propriedade livre da não devendo ser aplicados para
doença, num viveiro de mudas cí- o controle do cancro cítrico em
tricas, ou em pomares ainda livres condições de campo. Doses e for-
de uma propriedade que tenha o mas de aplicação devem seguir as
cancro cítrico presente em um ou recomendações dos fabricantes.
poucos talhões.
A desinfestação deve ocorrer
Os produtos utilizados para a em vários pontos e atividades
desinfestação, também chama- na fazenda. Arco-rodolúvios de-
dos de erradicantes, são à base vem ser instalados em todos os
de amônia quaternária, hipoclo- pontos de acesso da proprieda-
rito de sódio ou digluconato de de para a desinfestação de todos
clorohexidina. Enquanto os dois os carros, caminhões, ônibus de
primeiros são indicados para trabalhadores e implementos que
aplicação em veículos, equipa- transitam por esses acessos (Figu-
mentos, ferramentas e utensí- ra 24 A). Além disso, é importante
lios, pode-se aplicar o digluco- que os veículos sejam vistoriados

51
Cancro cítrico: a doença e seu controle

quanto à presença de restos ve- ção de utensílios próprios para a


getais cítricos e que eles sejam colheita é necessário que a cada
eliminados. Condutores dos ve- mudança de área se façam ainda
ículos, visitantes e pessoas, de a desinfestação desse material e
maneira geral, que entrem na a higienização das mãos e rou-
propriedade devem ser orienta- pas dos colhedores com produto
dos a passar pelo pedilúvio e lavar erradicante adequado (Figura 24
as mãos e calçados com o produ- C). O escalonamento da colheita
to desinfestante apropriado. de áreas sem histórico da doença
para áreas com ocorrências pré-
Também deve ser realizada a vias também auxilia na prevenção
desinfestação durante as inspe- da disseminação da bactéria cau-
ções de cancro cítrico. Normal- sadora do cancro cítrico. Seguin-
mente, os inspetores são orien- do esse raciocínio, atenção deve
tados a não tocar nas plantas ser voltada também às atividades
durante a vistoria. No entanto, tratorizadas continuamente reali-
quando sintomas suspeitos da do- zadas em pomares. Assim como
ença são encontrados, uma análi- o material de colheita, máquinas
se visual mais minuciosa das lesões e equipamentos também podem
deve ser realizada, o que neces- disseminar a bactéria dentro do
sariamente leva à manipulação talhão ou para diferentes talhões,
do material vegetal. Nesse caso, e por isso, devem ser apropriada-
e sempre que houver mudança mente desinfestados (Figura 24 D).
de talhão, ou mesmo de linha de
plantio, durante as inspeções, é Bactericidas cúpricos
importante a desinfestação das Bactericidas cúpricos para o
mãos dos inspetores (Figura 24 B). controle de doenças de plantas
são estritamente protetivos, não
A colheita é uma atividade que possuem atividade curativa nem
impreterivelmente deve ser acom- ação sistêmica na planta. O co-
panhada de desinfestação prévia. bre presente na grande maioria
Materiais de colheita, como cai- das formulações cúpricas está na
xas, sacolas e escadas, transitam forma fixa, como o hidróxido de
por muitos talhões em um curto cobre, oxicloreto de cobre e óxi-
espaço de tempo, por isso podem do cuproso. Ao contrário de co-
contribuir para a disseminação bres não fixos ou solúveis, como
do cancro cítrico. Além da utiliza- o sulfato e o nitrato de cobre, os

52
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A B

C D

Figura 24 - Desinfestação preventiva de material de colheita (A), barra para


aplicação de herbicida (B), veículo (C) e mãos (D).

cobres fixos são predominante- vegetal e formam uma barreira


mente insolúveis ou muito pouco protetora que funciona como um
solúveis. Essa característica pro- reservatório de cobre, liberando
porciona maior período residual e lentamente íons de cobre tóxi-
menor fitotoxicidade às plantas. cos para as bactérias. Exsudatos
Uma vez aplicados, as partícu- da planta e microrganismos de-
las de cobre aderem à superfície sempenham papel importante na

53
Cancro cítrico: a doença e seu controle

solubilidade de cobre, formando preventivas com cúpricos em


ácidos fracos que reduzem o pH área total, independentemente
na superfície da planta, o que au- da existência do cancro cítrico
menta lentamente a solubilidade em sua propriedade. Essas aplica-
e disponibilidade de cobre iônico. ções resultam em maiores custos
de produção sem que o produtor
Bactericidas à base de cobre tenha benefícios no controle da
são componentes essenciais do doença. Os recursos humanos e
manejo integrado do cancro cítri- financeiros empregados nas pul-
co por reduzirem a quantidade de verizações com cúpricos, nesse
sintomas nas plantas e as perdas caso, deveriam ser investidos em
por queda de frutos sintomáticos. inspeções de plantas para detec-
Por isso são essenciais para áreas ção e eliminação de focos. No en-
nas quais a doença é endêmica. tanto, pomares mais adensados,
Produtos cúpricos não impedem com intenso trânsito de máqui-
a entrada do cancro cítrico no po- nas e frequente contato dessas
mar, ou a disseminação da doen- com as plantas cítricas, devem
ça entre plantas e pomares, mas ser pulverizados mensalmente
diminuem a quantidade de sinto- com cúpricos objetivando reduzir
mas nas plantas. Em áreas onde a disseminação da doença entre
o controle do cancro cítrico é fei- plantas e talhões.
to com a eliminação de plantas,
como no estado de São Paulo, o Como já mencionado, o uso
uso do cobre para o controle do de cúpricos não impede por com-
cancro cítrico deve ser racionali- pleto a disseminação do cancro
zado e, quando utilizado, estar cítrico entre plantas e pomares.
sempre associado a inspeções fre- Se assim fosse, nas regiões onde
quentes e à eliminação dos focos se faz uso contínuo de cúpricos,
da doença. Assim, seu uso pode não existiriam plantas doentes
ser recomendado para os talhões nos pomares tratados. Por exem-
ou propriedades com cancro cí- plo, no estado do Paraná, desde
trico principalmente nas épocas o plantio, os pomares recebem
de primavera e verão, quando as periodicamente pulverizações
plantas estão mais predispostas à cúpricas, as quais não impedem
infecção. Atualmente, no estado que em poucos meses ou anos a
de São Paulo, muitos produtores doença já esteja presente em to-
estão realizando pulverizações das as plantas das áreas tratadas.

54
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Naquela região, como em outras, redução de cerca de 50% de in-


bactericidas cúpricos são empre- grediente ativo e volume de cal-
gados para reduzir a queda de da em relação ao que vem sendo
folhas e, principalmente, frutos praticado em algumas regiões
com sintomas, mas não para im- que realizam o manejo integrado
pedir a disseminação da doença da doença sem comprometer a
entre plantas e pomares. Caso qualidade do controle, o que sig-
o cancro cítrico esteja presente nifica redução de custos de pro-
numa área, o uso exclusivo de dução e de impactos ambientais,
bactericidas cúpricos não impe- além de au­mentar o rendimento
dirá a infecção de novas plantas operacional dos equipamentos.
e talhões nessa mesma área, e a
doença continuará a se expandir Para áreas nas quais se faz o
caso as plantas doentes, e as vizi- manejo do cancro cítrico, as pul-
nhas, não sejam eliminadas. verizações são iniciadas pouco
antes do florescimento, visando
Até o momento não foram proteger as brotações que acom-
observadas diferenças quanto à panham os ramos reprodutivos,
eficácia das diferentes formula- ou logo após, quando os frutos
ções de cobre fixo para o con- estão com 3 a 5 milímetros de
trole do cancro cítrico. Segundo diâmetro. As aplicações são rea-
resultados de pesquisas recentes lizadas subsequentemente em in-
conduzidas pelo Fundecitrus em tervalos de 21 a 28 dias durante o
pomar destinado a produção período de primavera e verão, ou
de suco, doses de 50 a 70 g de sempre que as plantas apresenta-
cobre metálico por 100 litros de rem folhas (brotações) ou frutos
água e volume de calda de 70 ml jovens. O controle químico do
por m3 de copa são suficientes cancro cítrico se faz, geralmente,
para um adequado controle do optando-se por um dos seguintes
cancro cítrico. No entanto, em programas de pulverização:
pomares destinados ao merca- a) aplicações durante toda a
do de fruta fresca doses maiores primavera e verão em inter-
podem ser necessárias. Por outro valos fixos ou sempre que
lado, doses e volumes menores as plantas apresentarem te-
terão ainda que ser melhor in- cidos jovens, objetivando a
vestigados. De qualquer forma, proteção de folhas e frutos;
estes valores representam uma

55
Cancro cítrico: a doença e seu controle

b) aplicações somente duran- O uso de bactericidas cúpricos


te a primavera (ou no má- para o controle do cancro cítrico
ximo até o início do verão), em áreas endêmicas é imprescin-
visando a proteção de fru- dível. No entanto é importante
tos em desenvolvimento, salientar que o uso frequente de
quando estão suscetíveis à cobre pode levar à seleção de re-
infecção. sistência a esse metal na popu-
lação da bactéria causadora do
Essa última estratégia propor- cancro cítrico. Isso já ocorreu na
ciona redução significativa do nú- Argentina na década de 1990,
mero total de aplicações durante quando o controle químico em
uma safra e, além dos frutos, tam- alguns talhões na região de Cor-
bém confere proteção às folhas rientes passou a ser menos efeti-
durante o período de pulveriza- vo devido à resistência ao cobre
ções. A paralisação das pulveriza- detectada na população de X. ci-
ções ao final da primavera pode tri subsp. citri daquela região.
resultar em maior intensidade da
doença no verão subsequente. No Indutores de resistência
entanto, as consequências desse Estudos recentes têm demos-
aumento da doença para as safras trado o efeito de inseticidas sis-
seguintes ainda são desconheci- têmicos neonicotinóides sobre o
das. Além disso, o destino da pro- cancro cítrico. Além de promover
dução, dentre outros fatores, de- o controle de importantes pragas
termina o programa de controle e vetores que afetam os citros,
químico com cúpricos a ser adota- como o psilídeo Diaphorina citri,
do. Como sintomas de cancro cí- inseto vetor do HLB, esses produ-
trico em frutos não são aceitos no tos promovem reduções signifi-
mercado in natura, o regime de cativas na intensidade do cancro
pulverizações cúpricas nos cultivos cítrico, principalmente em plantas
destinados a esse mercado deve jovens de até três anos de idade.
ser mais intensivo que em poma- Essa redução não ocorre pela ação
res cuja produção é destinada à bactericida desses compostos ou
indústria. Nesse segundo caso, somente pelo controle do mina-
objetiva-se exclusivamente reduzir dor dos citros, mas principalmen-
a queda de frutos resultante da te pela ativação do sistema de de-
presença da doença. fesa das plantas. Os ingredientes
ativos mais estudados, com ação

56
Cancro cítrico: a doença e seu controle

comprovada como indutores de (drench) no colo das plantas. No


resistência genética no controle entanto, fatores como a dinâmica
do cancro cítrico e com registro do produto no solo e na planta
comercial para a cultura dos ci- pós-aplicação, solubilidade, ab-
tros no Brasil, são: acetamiprido, sorção e redistribuição na planta,
imidacloprido e tiametoxam. degradabilidade e efeito da asso-
ciação com bactericidas cúpricos
É importante ressaltar que, da no controle do cancro cítrico pre-
mesma forma que os bactericidas cisam ser mais bem estudados. O
cúpricos, os indutores de resistên- efeito de indução de resistência
cia não impedem a disseminação para o cancro cítrico também
do cancro cítrico entre plantas e já foi demonstrado para outras
pomares e, consequentemente, o substâncias como: acibenzolar-S-
estabelecimento do cancro cítrico -metil e ácido isonicotínico, mas
no pomar. Em áreas onde o can- esses indutores de resistência não
cro cítrico está sob erradicação ou possuem efeito inseticida, como
supressão, o uso desses produtos os neonicotinóides. Os indutores
deve ser nos talhões ou proprie- de resistência, com ou sem ação
dades com histórico da doença inseticida, não possuem ação
e naqueles com maior risco de bactericida e, embora sejam sis-
contaminação (vizinhos de áreas têmicos nas plantas, suas aplica-
com a doença). Por outro lado, ções devem ser preventivas.
os indutores vêm se tornando um
componente importante para o Resistência varietal
manejo do cancro cítrico em áreas Todas as espécies e varieda-
com ocorrência endêmica da do- des comerciais de citros podem
ença. No Brasil, com a necessida- ser afetadas pelo cancro cítrico.
de de controle do psilídeo D. citri Entretanto, existem diferenças
em razão do HLB estar presente significativas de suscetibilidade
em parte das áreas produtoras de entre esses genótipos. Assim, os
citros do país, tem-se como bene- genótipos comerciais de citros
fício adicional do uso desses inse- não apresentam imunidade, ante
ticidas a redução da intensidade a qual o patógeno é incapaz de
do cancro cítrico pela indução se desenvolver nos tecidos da
da resistência genética das plan- plantas e provocar a doença. No
tas. Melhores resultados têm sido entanto, como já mencionado,
obtidos com aplicações via solo esses mesmos genótipos de citros

57
Cancro cítrico: a doença e seu controle

apresentam diferenças quanto frutos com sintomas. No entanto,


à intensidade da doença. Nesse em áreas livres próximas a áre-
caso, a resistência é parcial e os as com ocorrência da doença, o
genótipos são suscetíveis ao pa- plantio de materiais menos susce-
tógeno, mas diferem quanto à tíveis pode resultar, futuramente,
magnitude dos sintomas. Embora em menores focos da doença (fo-
suscetíveis, as diferenças quanto cos com poucas plantas doentes).
à suscetibilidade dos genótipos
de citros ao cancro cítrico são A suscetibilidade de plantas
marcantes no campo e, por isso, cítricas ao cancro cítrico não de-
permitem controle mais efetivo pende apenas da variedade copa,
da doença nas regiões em que pois o porta-enxerto também
são empregados. Genótipos me- influencia o desenvolvimento da
nos suscetíveis apresentam sinto- doença. Como a bactéria do can-
mas menos intensos em folhas e cro cítrico infecta preferencial-
frutos e o progresso da doença é mente tecidos jovens, porta-en-
mais lento, os quais resultam em xertos que induzem menor vigor
menor queda de frutos. Trata-se vegetativo, como Poncirus trifo-
de um método de controle re- liata e seus híbridos (ex. citrume-
lativamente efetivo, durável, de lo Swingle), tendem a contribuir
baixo custo e, quando associado para a redução da intensidade da
a outros métodos de controle, doença. Da mesma forma, inde-
permite a produção econômica pendentemente da variedade ou
de citros mesmo quando todas as espécie, a intensidade do cancro
plantas apresentam a doença (ce- cítrico diminui à medida que as
nário comum nas regiões endê- plantam tornam-se mais velhas,
micas, nas quais se faz o manejo devido à menor proporção de
do cancro cítrico). Por outro lado, tecidos suscetíveis na copa em
em áreas livres do patógeno, o plantas adultas em comparação
uso de genótipos resistentes (ou às plantas jovens. Dentre alguns
menos suscetíveis, como visto) dos genótipos utilizados na pro-
é praticamente irrelevante. Nes- dução de cítricos no Brasil, os
sas regiões o objetivo é manter menos suscetíveis são as tange-
as áreas de produção completa- rinas Ponkan, Satsuma, Tankan,
mente livres do patógeno e não Cleopatra e Sunki (C. reticulata) e
empregar métodos de controle a laranja doce Folha Murcha (C.
que resultem em menor perda de sinensis) (Figura 25). Esta última

58
Cancro cítrico: a doença e seu controle

se destaca por ser a variedade de agente causal do cancro cítrico


laranja doce de menor suscetibi- localiza-se exclusivamente nas
lidade ao cancro cítrico cultivada lesões da doença. Externamente,
comercialmente no Brasil. O ma- quando as plantas doentes apre-
nejo da doença em pomares de sentam água livre em sua super-
Folha Murcha é significativamen- fície, as bactérias exsudam das
te mais fácil. Mais suscetíveis que lesões e podem atingir partes das
esses materiais, em condições plantas assintomáticas ou mesmo
de campo, são as laranjas doces plantas vizinhas. Em razão de sua
Pera, Valência e Natal (C. sinen- colonização dar-se de forma lo-
sis). Ainda mais suscetíveis são calizada, a poda de tecidos sinto-
as laranjas doces precoces, como máticos ou a desfolha de plantas
Hamlin, Rubi, Westin, Bahia, doentes podem ser empregadas
Baianinha (C. sinensis) e a lima como métodos de controle da
ácida Tahiti (C. latifolia). Por úl- doença. Dificilmente consegue-se
timo, o grupo de genótipos alta- erradicar a bactéria causadora do
mente suscetíveis é formado pela cancro cítrico em uma área em-
lima ácida Galego
(C. aurantifolia), os
limões verdadeiros
(C. limon) e os po-
melos (C. paradisi).

Poda e desfolha
O cancro cítrico
é uma doença na
qual o patógeno
coloniza as plantas
de forma localiza-
Foto: Agroterenas

da, não sistêmica,


contrariamente às
bactérias associadas
ao HLB ou à cloro-
se variegada dos
citros (CVC). Inter- Figura 25 – Pomar da variedade de laranja doce
namente às plantas Folha Murcha no sul do estado de São Paulo.
cítricas, a bactéria

59
Cancro cítrico: a doença e seu controle

pregando-se a poda ou a desfolha sintomáticos das plantas. Além


de plantas, mas esses métodos disso, plantas podadas ou des-
de controle podem ser utilizados folhadas que estejam próximas
como medidas de sanitização. Sa- de plantas e pomares com can-
nitização é a redução do inóculo cro cítrico são muito facilmente
de uma área infestada com um reinfectadas. Plantas podadas ou
patógeno. Para isso, a poda deve desfolhadas emitem continua-
ser preferencialmente drástica, mente novas brotações, as quais
eliminando-se todos os ramos são muito suscetíveis a infecções
das plantas cítricas e deixando-se pela bactéria agente causal do
apenas as ramificações principais. cancro cítrico. A doença pode
Por outro lado, a desfolha pode ressurgir em magnitudes maio-
ser feita com defensivos quími- res que as observadas antes do
cos ou fertilizantes nitrogenados. uso desses métodos em razão
Em razão dos riscos inerentes do da maior predisposição à infec-
emprego de defensivos e da ine- ção dos tecidos jovens das plan-
xistência de produtos registrados tas. Por isso, sugere-se que essas
para uso como desfolhantes em medidas sejam utilizadas apenas
citros é mais plausível o emprego em áreas isoladas, seguramente
de fertilizantes nitrogenados para distantes de plantas e pomares
a desfolha de plantas cítricas. com a doença e com uma efeti-
Essa desfolha pode ser consegui- va eliminação dos restos vegetais
da com pulverização da copa das retirados das plantas doentes. A
plantas com calda de nitrato de poda drástica de plantas é mais
amônio a 5%. efetiva na remoção de folhas e
ramos sintomáticos que a desfo-
A eficácia da poda e da des- lha, portanto mais efetiva na sa-
folha na redução do inóculo de- nitização de áreas infestadas. As
penderá da remoção por comple- plantas devem receber, imediata-
to dos tecidos sintomáticos das mente após a poda, a pintura dos
plantas doentes (folhas, ramos troncos com cal, para prevenir a
e frutos) e da retirada e destrui- sua rachadura pela ação dos raios
ção desses restos culturais por solares. Sugere-se também o em-
queima ou enterro. Muitas vezes, prego de inseticidas para controle
esses métodos de sanitização fa- do minador dos citros e também
lham na eliminação do inóculo de cúpricos nas brotações emi-
pela falta de remoção dos tecidos tidas pelas plantas podadas ou

60
Cancro cítrico: a doença e seu controle

desfolhadas nos meses seguintes as nas quais pratica-se o manejo


ao emprego desses métodos de dessa doença. Para isso é funda-
controle. Tanto a poda quanto mental a aquisição das mudas de
a desfolha são mais efetivas no viveiros fechados com cobertu-
controle do cancro cítrico quando ra plástica e tela antiafídeos nas
realizadas nos meses de outono laterais (ambiente fechado), nos
e inverno, nas nossas condições, moldes de produção de mudas
em razão de serem períodos com cítricas do estado de São Paulo.
menor frequência de chuvas. A legislação paulista determina
uma série de procedimentos a se-
A desfolha de plantas também rem seguidos pelos produtores de
pode ser empregada em talhões mudas cítricas, os quais deveriam
nos quais foram eliminadas plan- ser adotados, obrigatoriamente,
tas sintomáticas, nesse caso como em todo o país. Várias são as con-
uma medida adicional, objetivan- sequências negativas do empre-
do a redução do inóculo da área. go de mudas com cancro cítrico.
Como é comum a ocorrência de Mudas doentes facilitam enorme-
escapes, dentre as plantas rema- mente a introdução do patógeno
nescentes no talhão podem ain- em regiões ou mesmo proprieda-
da existir plantas doentes e nesse des até então livres da doença.
caso a desfolha auxiliaria na que- O replantio de mudas cítricas em
da de folhas sintomáticas dessas pomares já instalados, em substi-
plantas. Essa associação da erra- tuição a plantas eliminadas (ativi-
dicação de focos com desfolha dade comum em áreas com HLB),
não é frequentemente utilizada pode resultar na introdução da
pelos citricultores, mas pode ser doença em vários pontos de uma
efetiva na manutenção de baixos propriedade. Plantas com can-
níveis da doença. cro cítrico apresentam desfolha
intensa quando não manejadas
Mudas sadias adequadamente, assim, plantios
A utilização de mudas sadias é com mudas doentes resultam em
uma medida essencial no controle pomares nos quais medidas de
do cancro cítrico, assim como de controle terão de ser empregadas
qualquer outra doença de planta. de imediato, aumentando os cus-
O emprego de mudas sadias deve tos e as perdas na produção.
sempre ocorrer em áreas livres do
cancro cítrico e também em áre- Vale ressaltar que a produção

61
Cancro cítrico: a doença e seu controle

de mudas em ambientes con- de mudas não sejam seguidas


trolados não é um sistema com- corretamente, mudas de plan-
pletamente imune à entrada e tas cítricas podem apresentar
à propagação da bactéria agen- não somente cancro cítrico mas
te causal do cancro cítrico. Nos também outras doenças e pra-
anos 2005 e 2006, em São Paulo, gas, como HLB, CVC, gomose e
o cancro cítrico foi detectado em nematóides. Portanto, mudas cí-
mais de duas dezenas de viveiros tricas devem ser produzidas em
de mudas cítricas. A legislação ambientes fechados nos quais
paulista que regulamenta a pro- são empregadas ações que prio-
dução de mudas cítricas em vivei- rizem a sanidade do material de
ros fechados é anterior a 2005, propagação produzido. O ide-
portanto todos aqueles viveiros al é utilizar estufas climatizadas
infestados com a doença possu- completamente isoladas do meio
íam cobertura plástica, tela em externo que possuam mecanis-
suas laterais, dentre outras carac- mos automatizados de controle
terísticas. Mudas doentes foram de temperatura, umidade relati-
comercializadas por esses viveiros va e luz. No entanto, devido ao
e a doença foi introduzida em alto custo de implantação e ma-
áreas até então livres. Alguns ci- nutenção dessas instalações, a
tricultores utilizaram essas mudas produção de mudas cítricas no
para o replantio em vários pon- Brasil concentra-se em ambientes
tos de sua propriedade, dissemi- protegidos com cobertura plás-
nando a doença em suas áreas. tica e tela nas laterais. Quanto à
Algumas das normas de produ- localização, a legislação federal
ção de mudas não foram segui- atual exige uma distância míni-
das naquela ocasião e a bactéria ma de 20 metros entre viveiros
agente causal do cancro cítrico e pomares cítricos. No tanto, o
foi introduzida em um dos vivei- ideal é que essa distância seja a
ros pelo emprego de borbulhas maior possível. Embora não seja
retiradas de plantas com cancro obrigatória, a implantação de
cítrico. Os demais viveiros foram quebra-ventos arbóreos na peri-
contaminados pela aquisição de feria das estufas auxilia não so-
porta-enxertos desse primeiro vi- mente na preservação física das
veiro contaminado. instalações, mas também reduz a
possibilidade de disseminação de
Caso as normas de produção doenças para dentro das estufas.

62
Cancro cítrico: a doença e seu controle

A tela existente nas laterais des- pomares próximos à área de pro-


sas estruturas, embora tenha ori- dução de mudas. A qualificação
fícios muito pequenos, é incapaz dos trabalhadores do viveiro para
de impedir a entrada da bactéria a adoção dessas medidas preven-
X. citri subsp. citri e de outros tivas e também para o reconhe-
microrganismos patogênicos. As- cimento da doença é fundamen-
sim, recomenda-se manter um tal. Outro aspecto que merece
recuo interno de pelo menos dois atenção é a sanidade do material
metros entre a tela e as bancadas vegetal utilizado na formação das
de mudas, para evitar o molha- mudas (copa e porta-enxerto),
mento das plantas na ocorrência tais como das sementes e borbu-
de chuvas, que podem trazer a lhas ou gemas vegetativas. É im-
bactéria agente causal do cancro prescindível que esses materiais
cítrico. Da mesma forma, uma vez tenham procedência conhecida e
presente no ambiente de produ- sejam produzidos em conformi-
ção de mudas, a bactéria pode- dade com a legislação atual, livres
rá disseminar-se para as demais de doenças e pragas. Apesar de o
plantas pela água, dependendo cancro cítrico não ocorrer em se-
da técnica de irrigação utilizada. mentes é possível que elas sejam
Sistemas de irrigação que promo- infestadas com a bactéria duran-
vem o molhamento foliar como te sua extração de frutos sinto-
a aspersão resultam na dissemi- máticos e, como consequência,
nação do cancro cítrico em vivei- sirvam de veículo para ingresso
ros. Por isso, é preferível, nesses da bactéria causadora do cancro
ambientes, a utilização de irriga- cítrico em viveiros. De qualquer
ção por gotejamento ou mesmo forma, como medida preventiva,
manual, mas dirigida diretamente recomenda-se o tratamento das
ao substrato ou colo das plantas, sementes antes de serem utiliza-
sem permitir que o molhamento das no sistema de produção de
da parte aérea ocorra. mudas. Esse tratamento pode ser
térmico (52 oC por 10 minutos)
Devido ao risco da ocorrên- ou químico (hipoclorito de sódio
cia de cancro cítrico em viveiros, 0,5%). E, finalmente, é funda-
recomenda-se a realização de ins- mental sempre atentar para o
peções mensais nas estufas para controle de acesso e a desinfesta-
detecção precoce da doença, ção de pessoas, utensílios, roupas
além de inspeções rotineiras dos e equipamentos todas as vezes

63
Cancro cítrico: a doença e seu controle

que elas entrarem nas estufas. miana), grevílea (Grevillea robusta),


pinus (Pinus spp.), eucalipto (Eu-
Quebra-vento calyptus spp.) e Corymbia torelliana
A utilização de quebra-ventos (Figura 26). C. cunninghamiana e C.
é uma das práticas mais eficazes torelliana são aquelas que agrupam
no controle do cancro cítrico. o maior número de características
Essa é uma medida imprescindí- desejáveis e por isso são as mais
vel para o manejo integrado em indicadas para as condições de São
áreas de ocorrência endêmica da Paulo. C. torelliana pertence à fa-
doença. É importante ressaltar, mília do eucalipto e não é comum
no entanto, que quebra-vento no Brasil. Essa espécie, que tem
e cerca viva não são sinônimos. sido amplamente utilizada como
Quebra-vento é uma barreira quebra-vento em áreas citrícolas da
homogênea, permeável, forma- Argentina e Flórida, tem grande po-
da por plantas mais altas que tencial para ser usada na citricultura
os citros, instalada externa e in- brasileira. As plantas apresentam
ternamente nos pomares, com a crescimento rápido, boa resistência
finalidade de reduzir a ação dos ao frio e, diferentemente das es-
ventos sobre as plantas cítricas. pécies de eucalipto utilizadas para
Por outro lado, cerva viva é uma esse fim, forma uma barreira homo-
barreira homogênea mais densa gênea da base ao topo das plantas,
(menos porosa) e de menor altura características marcantes também
que a cortina quebra-vento, ins- em plantas de C. cunninghamiana
talada no perímetro da proprie- (Figura 26). Para formação de cer-
dade com a finalidade de restrin- cas vivas, as espécies mais indicadas
gir o acesso de pessoas e animais. são o sansão-do-campo (Mimosa
caesalpiniifolia) e o jambolão (Eu-
As espécies utilizadas como que- genia spp.). Como essas espécies
bra-vento devem apresentar menor apresentam maior densidade de
competição com as plantas cítricas, copa, porém altura máxima de cres-
crescimento rápido e uniforme, cimento menor, é comum o plantio
copa densa porém permeável e não de cerca viva no perímetro da pro-
serem hospedeiras de patógenos e priedade consorciada com espécies
pragas que afetam os citros. Entre recomendadas como quebra-vento,
as espécies recomendadas como que apresentam copa mais permeá-
quebra-vento estão casuarina (Ca- vel ao vento e atingem maior altu-
suarina equisetifolia e C. cunningha- ra. Para maior proteção do pomar

64
Cancro cítrico: a doença e seu controle

durante os primeiros anos, espécies tanto, essa medida vale apenas para
arbustivas como o capim-napier ou pomares em formação.
capim-elefante (Pennisetum purpu-
reum) podem ser cultivadas tempo- A finalidade do quebra-vento
rariamente durante o crescimento é reduzir a ação direta das cor-
do quebra-vento arbóreo. No en- rentes de ar sobre as plantas cí-

A B

C D

Figura 26 - Espécies arbóreas utilizadas como quebra-vento na cultura dos


citros para o manejo integrado de cancro cítrico: Corymbia torelliana (A),
Grevillea robusta (B), Eucalyptus spp. (C) e Casuarina cunninghamiana (D).

65
Cancro cítrico: a doença e seu controle

tricas, proporcionando condições disseminação da bactéria entre


menos favoráveis para a penetra- plantas e pomares. A doença nor-
ção da bactéria do cancro cítrico malmente adquire proporções se-
no tecido vegetal e o progresso veras quando chuvas são acom-
da doença no pomar. As árvores panhadas por rajadas de ventos
formam um obstáculo natural, com velocidade média superior
reduzindo a frequência e veloci- a 8 metros por segundo (28,8
dade de rajadas de vento e, con- quilômetros por hora). Além de
sequentemente, sua capacida- causar danos físicos às folhas,
de de disseminar a bactéria por ventos com essa magnitude são
gotas de chuva e de causar feri- capazes de lançar a bactéria do
mentos nas folhas pela abrasão cancro cítrico diretamente den-
de partículas de poeira e atrito tro das plantas pelos estômatos,
de galhos, lesões que permitem independentemente da presença
a entrada da bactéria nas plantas de camada protetora de cobre na
cítricas. Além disso, áreas prote- superfície delas.
gidas por quebra-vento perdem
menor quantidade de água devi- Os quebra-ventos arbóreos
do à redução da evapotranspira- não devem constituir uma barrei-
ção e, consequentemente, o de- ra compacta, mas sim permeável.
senvolvimento e a produtividade Devem ser implantados perpendi-
dos pomares podem ser maiores. cularmente à direção dos ventos
Outra vantagem do emprego de predominantes ou em sistemas
quebra-vento no pomar é que a de compartimentação. O ideal é
proteção também contribui para que o quebra-vento arbóreo seja
maior eficácia das pulverizações implantado antes do plantio do
em dias com ventos, por reduzir pomar, para proporcionar prote-
as perdas por deriva. ção às plantas nos primeiros anos,
quando as plantas cítricas são
Em áreas nas quais o cancro mais suscetíveis à doença. Caso o
cítrico é endêmico, maiores inten- pomar já esteja instalado, plantas
sidades da doença são frequente- de citros devem ser eliminadas
mente associadas aos quadrantes para dar lugar ao quebra-vento.
da planta expostos à incidência O plantio de árvores nas extre-
de ventos predominantes. A in- midades das linhas de citros não
cidência de vento acompanhado constitui um quebra-vento. Além
de chuva é a principal forma de de não promover a formação de

66
Cancro cítrico: a doença e seu controle

barreira homogênea, essa prática tar alguns inconvenientes, como


compromete o desenvolvimento redução da área útil de cultivo
das plantas cítricas adjacentes e das plantas cítricas; competição
dificulta o trânsito de tratores e das plantas mais próximas por
equipamentos nas entrelinhas. luz, água e nutrientes; e, princi-
palmente, dificultação das pulve-
O plantio entre as linhas de rizações aéreas, imprescindíveis
quebra-vento pode variar de 100 em grandes áreas contínuas de
a 400 metros de distância, con- citros. Além disso, há a possibili-
forme a declividade do terreno e dade, apesar de pouco estudada,
o nível de proteção que se pre- de as espécies utilizadas como
tende. Produções destinadas ao quebra-vento serem hospedeiras
consumo in natura precisam de de pragas dos citros, como é o
mais proteção, pois o cancro cí- caso da grevílea, que pode abrigar
trico afeta o aspecto do fruto. e multiplicar o ácaro da leprose
Neste caso, as distâncias entre (Brevipalpus phoenicis). Assim, o
um quebra-vento e outro são planejamento da implantação das
menores. Em uma área plana, o barreiras quebra-vento e a ade-
quebra-vento oferece uma pro- quada condução delas são funda-
teção horizontal equivalente a mentais para amenizar as desvan-
uma distância de até dez vezes a tagens inerentes a essa técnica.
sua altura. Essa distância é redu-
zida à medida que a declividade Controle do minador
do terreno aumenta. A altura da Como mencionado anterior-
barreira quebra-vento a ser con- mente, a bactéria causadora do
siderada no cálculo da distância cancro cítrico pode penetrar na
de proteção não é a altura total planta por aberturas naturais ou
das plantas arbóreas do quebra- por ferimentos, que podem ser
-vento, mas a altura acima da mecânicos ou provocados pelo
copa das plantas da cultura a ser minador dos citros. Esse inseto é
protegida, que nesse caso são as uma praga da cultura que afeta
plantas cítricas. principalmente as folhas ainda
jovens. O adulto não provoca
Apesar de apresentar vanta- danos, é somente na fase jovem
gens para o manejo do cancro cí- que o inseto é prejudicial ao de-
trico, o uso de quebra-ventos em senvolvimento vegetativo do po-
pomares de citros pode apresen- mar. Apesar de não disseminar

67
Cancro cítrico: a doença e seu controle

a bactéria de uma planta para ção resulta em maior exposição


outra ou mesmo para diferentes da planta à infecção e ao aumen-
partes da planta, ao se alimentar to da área vegetal lesionada pela
de tecido vegetal situado logo bactéria que, por sua vez, leva ao
abaixo da cutícula de ramos e, aumento da população da bac-
principalmente, de folhas jovens, téria causadora do cancro cítrico
o minador provoca ferimentos no pomar e, consequentemente,
que servem de entrada para a à maior severidade e incidência
bactéria causadora do cancro cí- da doença (Figura 7). Anterior-
trico. O minador forma galerias mente à presença do minador
sinuosas de coloração prateada, dos citros, o controle do cancro
resultante da alimentação nas cítrico era menos custoso e tam-
fases imaturas desse inseto, prin- bém menos difícil. Na presença
cipalmente na face inferior das desse inseto, as plantas ficam
folhas (Figura 27 A). Durante a mais predispostas à infecção pela
alimentação, as lagartas rompem bactéria, resultando em epide-
a cutícula e a epiderme e expõem mias mais rápidas e intensas da
o mesófilo foliar, tornando-o doença. O minador dos citros
mais predisposto à infecção pela foi primeiramente detectado em
bactéria (Figura 27 B). Essa intera- São Paulo em 1996. Posterior-

A B

Figura 27 – Galeria de minador dos citros na face inferior da folha (A) e


lagarta minadora alimentando-se no limbo foliar (B).

68
Cancro cítrico: a doença e seu controle

mente a essa data, o número de fluxo vegetativo jovem, usual-


focos da doença apresentou um mente com inseticidas à base de
aumento drástico. O mesmo foi abamectina. Inseticidas neoni-
observado na Flórida após a pri- cotinóides, como tiametoxam e
meira detecção desse inseto, em imidacloprido, normalmente utili-
1993. Nessas duas regiões, os zados em plantas de até três anos
aumentos observados no núme- de idade para o controle de D. ci-
ro e tamanho dos focos da doen- tri, também promovem o contro-
ça resultaram em mudanças nas le do minador. As doses e o uso
respectivas campanhas de erradi- desses inseticidas devem seguir
cação existentes na época. as orientações dos fabricantes.
O controle biológico do minador
Além de contribuir para a apresenta eficiência limitada. O
ocorrência de cancro cítrico, o inimigo natural mais conhecido
minador é uma praga que pode e estudado dessa praga é a ves-
trazer prejuízos significativos à pa Ageniaspis citricola. Por não
planta cítrica. As galerias for- ocorrer naturalmente no Brasil,
madas pelo ataque desse inseto essa vespa foi importada e libe-
atrasam o crescimento de mudas, rada nos pomares paulistas para
prejudicam o ramo produtivo, contribuir no controle do mina-
provocam queda prematura de dor. Esse parasitóide tem rápida
folhas, que por sua vez levam à e ampla dispersão. No entanto,
redução da taxa fotossintética e apesar de já terem sido registra-
da produção das plantas. Como das taxas de parasitismo superio-
nas fases imaturas esse inseto se res a 80%, o uso do controle quí-
alimenta nas brotações, o contro- mico não pode ser dispensado,
le deve ser feito preventivamente, principalmente quando ocorrem
quando as plantas apresentam altas infestações da praga.

69
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Cancro cítrico e a
citricultura paulista
8
O presente

D
e 1999 a 2012, o Fundecitrus reali-
zou levantamentos amostrais no es-
tado para quantificar a incidência de
talhões com cancro cítrico. O último
levantamento (em 2012) indicou uma
incidência de 1,39% de talhões de po-
mares cítricos comerciais com ao menos uma
planta com sintomas da doença (Figura 28). Esse
é o maior nível de contaminação em toda a his-
tória da citricultura em São Paulo. Os fatores de-
terminantes desse aumento da doença foram:

70
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Figura 28 – Incidência de talhões com cancro cítrico no estado de São


Paulo segundo levantamento amostral realizado pelo Fundecitrus de 1999
a 2012. Barras indicam o erro padrão da média.

(i) a mudança ocorrida na trico do Fundecitrus, extintas em


legislação estadual, em 2010, fossem substituídos por
junho de 2009, quando equipes de inspeção dos próprios
talhões com incidência su- citricultores e os focos detectados
perior a 0,5% de plantas fossem eliminados com relativo
sintomáticas passaram a rigor, a doença não estaria au-
não ser mais obrigatoria- mentando no estado. Mas ações
mente eliminados; e de exclusão e erradicação, em
(ii) a interrupção dos traba- uma área tão extensa como a da
lhos de inspeção de can- citricultura paulista, dificilmente
cro cítrico por equipes do serão adequadamente realizadas
Fundecitrus, ocorrida em estando sob a responsabilidade
janeiro de 2010. apenas dos próprios citricultores.
O rigor necessário para eliminar
A incidência da doença no es- plantas e pomares não é algo que
tado passou a aumentar a partir deveríamos exigir, ou esperar, de
de 2009. Caso os esforços das qualquer citricultor, ainda mais
equipes de inspeção de cancro cí- diante da relativa inexperiência

71
Cancro cítrico: a doença e seu controle

dos citricultores paulistas em rela- tas doentes, presentes em zonas


ção ao cancro cítrico. Desde a pri- rurais e urbanas, em quintais de
meira detecção da doença no es- casas, em pastos, dentre outros
tado até os dias atuais, ações de locais, não é algo que possa ser
exclusão e erradicação estiveram realizado somente pelos citricul-
(e estão) sob a responsabilidade tores. Os produtores têm autono-
do poder público. É claro que mia dentro de sua propriedade e
os citricultores devem empregar somente dentro dela. Ações em
seus próprios esforços para man- áreas externas, como a detecção
ter e, se necessário, restabelecer e eliminação de plantas doentes,
a sanidade de seus pomares. Mas não podem ser executadas pelos
a erradicação, ou supressão, do produtores na velocidade e com
cancro cítrico assim como a ma- a efetividade necessárias para
nutenção de baixa incidência do manter baixas as incidências de
HLB exigem, invariavelmente, que cancro cítrico e também do HLB
as medidas de controle sejam rea- em São Paulo. Assim, o único ce-
lizadas não só dentro das proprie- nário previsível é o do aumento
dades, mas também fora delas. contínuo da incidência do cancro
Trata-se de duas doenças que po- cítrico no estado.
dem ser continuamente introdu-
zidas em propriedades que ado- Como visto, em 1999 a eli-
tam medidas de controle, uma minação de todas as plantas de
transmitida por um inseto alado talhões infestados com cancro
(o psilídeo D. citri) – no caso do cítrico passou a ser obrigatória
HLB, e a outra disseminada por quando a incidência de plantas
chuvas com vento – caso do can- doentes fosse superior a 0,5%.
cro cítrico. Como já descrito, há Para incidências iguais ou meno-
outros mecanismos de dissemina- res que 0,5%, as plantas doentes
ção do cancro cítrico, mas chuvas e as demais contidas num raio de
associadas a ventos são o fator 30 metros eram eliminadas. Ante-
preponderante na disseminação riormente a 1999, a metodologia
da doença entre propriedades. de erradicação compreendia so-
Para esse mecanismo de propa- mente a aplicação do raio de 30
gação deixar de ser importante, metros. Essa metodologia, válida
plantas doentes espalhadas em somente para São Paulo, de 1999
todo o estado precisam ser eli- a 2009, fez-se necessária em ra-
minadas. E a eliminação de plan- zão do incremento na incidência e

72
Cancro cítrico: a doença e seu controle

severidade do cancro cítrico após sintomáticas. Inaugura-se, por-


a introdução do minador dos ci- tanto, uma nova era na citricultu-
tros. Depois da introdução do ra paulista, na qual cada citricultor
minador, as epidemias de cancro deverá estar melhor qualificado
cítrico passaram a ser mais rápidas para empregar adequadamente
e a disseminação da doença no as ações de prevenção e controle
pomar tornou-se menos agrega- para o cancro cítrico.
da. Essa mudança na dinâmica do
cancro cítrico quando associado A manutenção do cancro cítri-
ao minador dos citros exigiu que co em baixos níveis, mesmo em
os critérios de sua erradicação fos- áreas extensas, com centenas de
sem revistos por especialistas bra- milhares de hectares, é possível.
sileiros em 1999, levando à ado- Em São Paulo, a baixa incidência
ção do 0,5% de incidência como foi conseguida com as ações do
referência para a eliminação com- programa de erradicação em-
pleta dos talhões afetados. pregadas pelo governo estadual
e pelo Fundecitrus, o qual teve
Por outro lado, o manejo do um custo direto (inspeções e er-
cancro cítrico é possível e é adota- radicação dos focos) de aproxi-
do, por exemplo, nos estados do madamente R$ 9,5 milhões/ano,
Sul do Brasil (Paraná, Santa Cata- em uma área total aproximada de
rina e Rio Grande do Sul) desde 600 mil ha (R$ 15,83/ha/ano). Por
a década de 1980 e mais recen- outro lado, o manejo da doença
temente na Flórida (a partir de custaria de R$ 180 a R$ 360/ha/
2006). Para o manejo são realiza- ano, resultante de três a seis apli-
das pulverizações de bactericidas cações de bactericidas cúpricos/
cúpricos, dentre outras ações, as safra, respectivamente. Além do
quais não promovem a cura das custo financeiro significativamen-
plantas doentes nem impedem te maior em relação à manuten-
que elas sejam reinfectadas, mas ção do programa de erradicação,
reduzem as perdas que ocorrem a ocorrência endêmica do cancro
na forma de queda de frutos com cítrico em São Paulo ainda levaria:
sintomas. A legislação atual em a) a uma perda de 7% a 10%
São Paulo, válida desde 2013, de- de área de produção, em
termina a realização de quatro ins- razão da necessidade da
peções anuais em todas as plantas implantação de quebra-
e a eliminação das plantas cítricas -ventos arbóreos;

73
Cancro cítrico: a doença e seu controle

b) a uma redução da área de Isso poderá ser observado em São


plantio da variedade Ha- Paulo nos próximos anos.
mlin e de outras variedades
precoces, as quais são mais
suscetíveis ao cancro cítri- O futuro
co; e
c) a perdas anuais de pro- O cenário mais provável é que
dução, ocasionadas pela a incidência de cancro cítrico
queda prematura de frutos deva continuar a aumentar em
com sintomas da doença, São Paulo. É impossível prever
mesmo em pomares com a velocidade com que a doença
pulverizações cúpricas. se expandirá, mas ela vai depen-
der, quase que exclusivamente,
Portanto, a manutenção de das ações de controle emprega-
baixas incidências de cancro cítri- das pelos próprios citricultores.
co, ou melhor ainda, a manuten- Caso as ações sejam intensifica-
ção de áreas livres da doença, é a das, o progresso da doença será
melhor alternativa para uma citri- relativamente lento e será com-
cultura economicamente ativa e pensador manter a erradicação
competitiva. No entanto, isso exi- de focos como principal medida
ge a detecção e a eliminação de de controle. Por outro lado, se a
focos com rigor e rapidez maiores doença continuar a progredir na
que as atualmente empregadas mesma velocidade dos últimos
em São Paulo. Tanto a legislação quatro anos (desde 2009), antes
atual quanto os esforços empre- de 2015, provavelmente, tere-
gados na detecção e eliminação mos mais de 10% dos talhões
de focos são muito diferentes dos afetados e a eliminação de focos
empregados de 1999 a 2009, será cada vez mais custosa e ine-
quando manteve-se a doença em ficaz para conter a doença.
incidências inferiores à 0,30% no
Estado. Na impossibilidade de se Os citricultores paulistas não
empregar maior esforço na de- têm experiência no manejo do
tecção e eliminação de focos, o cancro cítrico e já estão diante
manejo integrado do cancro cítri- do aumento do número de casos
co poderá substituir a erradicação da doença. Assim como observa-
de focos como estratégia princi- do nos últimos anos para o HLB,
pal de controle para essa doença. o controle ou manejo do cancro

74
Cancro cítrico: a doença e seu controle

cítrico em São Paulo serão mol- tência; avaliação da reação de ge-


dados à magnitude de aumento nótipos de laranja doce e plantas
da doença vivenciado pelos ci- transgênicas à doença; e quanti-
tricultores paulistas. Apesar de ficação comparativa do efeito de
várias regiões citrícolas de outros medidas de controle, como uso
países, ou mesmo no Brasil, já de quebra-ventos, controle do
realizarem o manejo da doença minador dos citros e aplicação de
pela adoção de medidas integra- cúpricos na redução da incidência
das de controle amplamente di- e severidade da doença.
fundidas, a ocorrência de cancro
cítrico em São Paulo irá resultar Somente após anos de apren-
em desafios específicos que le- dizado os citricultores poderão
varão ao aprimoramento de me- contar com ferramentas de con-
didas de controle compatíveis à trole e manejo mais eficazes. É
realidade do estado. Buscando pouco provável que sejam de-
antecipar esse aperfeiçoamento e senvolvidos defensivos curativos
contribuir para a redução do im- para o cancro cítrico ou mesmo
pacto que o cancro cítrico poderá genótipos completamente resis-
ter no futuro sobre a citricultura tentes à doença. Menos provável
paulista, o Fundecitrus e insti- ainda é uma solução definitiva
tuições parceiras têm focado no para o controle do cancro cítrico.
desenvolvimento de projetos de No entanto, a pesquisa tem con-
pesquisa com cancro cítrico em tribuído significativamente para a
áreas endêmicas. As principais li- atenuação dessa doença e muitos
nhas de estudo englobam: uso de produtores têm utilizado as infor-
bactericidas cúpricos e outros de- mações disponíveis em seu favor,
fensivos; avaliação da resistência de forma que o cancro cítrico não
de X. citri subsp. citri ao cobre e mais represente uma ameaça te-
caracterização genética da resis- merária ao futuro da citricultura.

75
9
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Referências
Amaral, S.F. 1957. Providências para a erradicação do cancro cítrico. O Biológico 23:112-
123.
Amorim, L., Bergamin Filho, A. 2001. A epidemiologia do cancro cítrico. Summa
Phytopathologica 27:151-156.
Barbosa, J.C., Gimenes-Fernandes, N., Massari, C.A., Ayres, A.J. 2001. Incidência e
distribuição de cancro cítrico em pomares comerciais do estado de São Paulo e sul do
Triângulo Mineiro. Summa Phytopathologica 27:30-35.
Behlau, F., Amorim, L., Belasque Jr., J., Bergamin Filho, A., Leite Jr., R.P., Graham, J.H.,
Gottwald, T.R. 2010. Annual and polyetic progression of citrus canker on trees
protected with copper sprays. Plant Pathology 59:1031-1036.
Behlau, F., Belasque Jr., J., Bergamin Filho, A., Graham, J.H., Leite Jr., R.P., Gottwald, T.R.
2008. Copper sprays and windbreaks for control of citrus canker on young orange
trees in southern Brazil. Crop Protection 27:807-813.
Behlau, F., Belasque Jr., J., Graham, J.H., Leite Jr., R.P. 2010. Effect of frequency of copper
applications on control of citrus canker and the yield of young bearing sweet orange
trees. Crop Protection 29:300-305.
Behlau, F., Canteros, B.I., Minsavage, G.V., Jones, J.B., Graham, J.H. 2011. Molecular
characterization of copper resistance genes from Xanthomonas citri subsp. citri
and Xanthomonas alfafae subsp. citrumelonis. Applied and Environmental
Microbiology 77:4089-4096.
Belasque Jr., J., Barbosa, J.C., Bergamin Filho, A., Massari, C A. 2010. Prováveis
consequências do abrandamento da metodologia de erradicação do cancro cítrico no
estado de São Paulo. Tropical Plant Pathology 35:314-317.
Belasque Jr., J., Bergamin Filho, A. 2006. Estratégias de controle do cancro cítrico. Summa
Phytopathologica 32:143-148.
Belasque Jr., J., Gimenes-Fernandes, N., Massari, C.A. 2009. O sucesso da campanha
de erradicação do cancro cítrico no estado de São Paulo, Brasil. Summa
Phytopathologica 35:91-92.
Belasque Jr., J., Parra-Pedrazzoli, A.L.G., Rodrigues Neto, J., Yamamoto, P.T., Chagas,
M.C.M., Parra, J.R.P., Vinyard, B.T., Hartung, J.S. 2005. Adult citrus leafminers
(Phyllocnistis citrella) are not efficient vectors for Xanthomonas axonopodis pv. citri.
Plant Disease 89:590-594.
Bitancourt, A.A. 1957. O cancro cítrico. O Biológico 23:101-111.
Bock, C.H., Graham, J.H., Gottwald, T.R., Cook, A.Z., Parker, P.E. 2010. Wind speed
effects on the quantity of Xanthomonas citri subsp. citri dispersed downwind from
canopies of grapefruit trees infected with citrus canker. Plant Disease 94:725-736.
Bock, C.H., Parker, P.E., Gottwald, T.R. 2001. Effect of simulated wind-driven rain on
duration and distance of dispersal of Xanthomonas axonopodis pv. citri from canker-
infected citrus trees. Plant Disease 89:71-80.

76
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Brunings, A.M., Gabriel, D.W. 2003. Xanthomonas citri: breaking the surface. Molecular
Plant Pathology 4:141-157.
Civerolo, E.L. 1984. Bacterial canker disease of citrus. Journal of the Rio Grande Valley
Horticultural Society 37:127–146.
Childers, C.C., Rodrigues, J.C.V., Welbourn, W.C. 2003. Host plants of Brevipalpus
californicus, B. obovatus and B. phoenicis (Acari: Tenuipalpidae) and their potencial
involvement in the spread of viral diseases vectored by these mites. Experimental
and Applied Acarology 30:29-105.
Danós, E., Berger, R.D., Stall, R.E. 1984. Temporal and spatial spread of citrus canker
within groves. Phytopathology 74:904-908.
Eppo Bulletin. 2005. Xanthomonas axonopodis pv. citri. EPPO Bulletin 35:289-294.
doi:10.1111/j.1365-2338.2005.00835.x.
Ferreira, H., Belasque Jr., J. (Org.). 2011. Proceedings of Workshop on Xanthomonas
citri/Citrus canker. Ribeirão Preto: Unesp/Fundecitrus, 2011. 114 p. ISBN: 978-85-
64947-04-7. Disponível em: <http://www.fcfar.unesp.br/wxc/download/workshop_
Xanthomonas.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2013.
Finch, S.J. 1988. Field windbreaks: design criteria. Agricultural Ecosystems &
Environment 22/23:215-228.
Gimenes-Fernades, N., Barbosa, J.C., Ayres, A.J., Massari, C.A. 2000. Plantas doentes
não detectadas nas inspeções dificultam a erradicação do cancro cítrico. Summa
Phytopathologica 26:320-325.
Goto, M. 1992. Citrus canker. In: Kumar, J., Chaube, H.S., Singh, U.S., Mukhopadhyay,
A.N. (Eds.). Plant diseases of international importance. Englewood Cliff, NJ:
Prentice- Hall. p. 170-208. v. 3.
Gottwald, T.R., Bassanezi, R.B., Amorim, L., Bergamin-Filho, A. 2007. Spatial pattern
analysis of citrus canker-infected plantings in São Paulo, Brazil, and augmentation of
infection elicited by the Asian leafminer. Phytopathology 97:674-683.
Gottwald, T.R., Graham, J.H. 2000. Canker. In: Timmer, L.W., Garnsey, S.M., Graham,
J.H. (Eds.). Compendium of citrus diseases. 2. ed. St. Paul: APS Press. p. 5-8.
Gottwald, T.R., Graham, J H., Schubert, T.S. 2002. Citrus canker: The pathogen and its
impact. Plant Health Progress doi:10.1094/PHP-2002-0812-01-RV.
Gottwald, T.R., Hughes, G., Graham, J.H., Sun, X., Riley, T. 2001. The citrus canker
epidemic in Florida: the scientific basis of regulatory eradication policy for an invasive
species. Phytopathology 91:30-34.
Gottwald, T.R., Irey, M. 2007. Post-hurricane analysis of citrus canker II: predictive model
estimation of disease spread and area potentially impacted by various eradication
protocols following catastrophic weather events. Plant Health Progress doi:10.1094/
PHP-2007-0405-01-RS.
Gottwald, T.R., Mcguire, R.G., Garram, S. 1988. Asiatic citrus canker: spatial and temporal
spread in simulated new planting situations in Argentina. Phytopathology 78:739-
745.
Gottwald, T.R., Timmer, L.W. 1995. The efficiency of windbreaks in reducing the spread
of citrus canker caused by Xanthomonas campestris pv. citri. Tropical Agriculture
72:194-201.

77
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Graham, H.L., Myers, M.E. 2013. Integration of soil applied neonicotinoid insecticides and
acibenzolar-S-methyl for systemic acquired resistance (SAR) control of citrus canker on
young citrus trees. Crop Protection 54:239-243.
Graham, J.H., Dewdney, M.M., Myers, M.E. 2010. Streptomycin and copper formulations
for control of citrus canker on grapefruit. Proceedings of the Florida State
Horticultural Society 123:92-99.
Graham, J.H., Gottwald, T.R., Cubero, J., Achor, D. 2004. Xanthomonas axonopodus
pv. citri: factors affecting successful eradication of citrus canker. Molecular Plant
Pathology 5:1-15.
Graham, J.H., Gottwald, T.R., Riley, T.D., Achor, D. 1992. Penetration through leaf
stomata and growth of strains of Xanthomonas campestris in citrus cultivars varying
in susceptibility to bacterial diseases. Phytopathology 82:1319-1325.
Graham, J.H., Gottwald, T.R., Riley, T.D., Cubero, J., Drouillard, D.L. 2000. Survival of
Xanthomonas campestris pv. citri (Xcc) on various surfaces and chemical control
of Asiatic citrus canker (ACC). Proceedings of the International Citrus Canker
Research Workshop. Fort Pierce, FL. 2000. p. 7.
Graham, J.H., Mcguire, R.G., Miller, J.W. 1987. Survival of Xanthomonas campestris pv. citri
in citrus plant debris and soil in Florida and Argentina. Plant Disease 71:1094-1098.
Jaciani, F.J. 2012. Diversidade genética de Xanthomonas citri subsp. citri, caracterização
molecular e patogênica de Xanthomonas fuscans subsp. aurantifolii e detecção de
Xanthomonas alfalfae subsp. citrumelonis no Brasil. Tese de doutorado. Jaboticabal,
SP. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Kositcharoenkul, N., Chatchawankanphanich, O., Bhunchoth, A., Kositratana, W. 2011.
Detection of Xanthomonas citri subsp. citri from field samples using single-tube
nested PCR. Plant Pathology 60:436-442.
Leite Jr., R.P., Mohan, S.K. 1990. Integrated management of citrus bacterial canker
disease caused by Xanthomonas campestris pv. citri in the State of Paraná, Brazil.
Crop Protection 9:3-7.
Leite Jr., R.P. 1990. Cancro cítrico: prevenção e controle no Paraná. Londrina: Fundação
Instituto Agronômico do Paraná. 51 p. (Circular 61).
Malavolta Jr., V.A., Carvalho, M.L.V., Palazzo, D.A., Nogueira, E.M.C. 1983. Sobrevivência
de Xanthomonas campestris pv. citri (Hasse) Dye, em amostras de solo. Fitopatologia
Brasileira 8:640.
Massari, C.A., Belasque Jr., J. 2006. A campanha de erradicação do cancro cítrico no
estado de São Paulo – Situação atual e contaminação em viveiros. Laranja 27:41-55.
McGuire, R.G. 1988. Evaluation of bactericidal chemicals for control of Xanthomonas on
citrus. Plant Disease 72:1016-1020.
Palazzo, D.A., Malavolta Jr., V.A., Nogueira, E.M.C. 1984. Influência de alguns fatores
climáticos sobre o índice de infecção de cancro cítrico causado por Xanthomonas
campestris pv. citri em laranjeira Valência (Citrus sinensis) em Bataguassu, MS.
Fitopatologia Brasileira 9:283-290.
Rigano, L.A., Marano, M.R., Castagnaro, A.P., Amaral, A.M., Vojnov, A.A. 2010. Rapid
and sensitive detection of Citrus Bacterial Canker by loop-mediated isothermal
amplification combined with simple visual evaluation methods. BMC Microbiology
10:176. doi:10.1186/1471-2180-10-176.

78
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Rossetti, V. 2001. Manual ilustrado de doenças dos citros. Piracicaba: Fealq/


Fundecitrus. 207 p.
Santos, C.F.O. 1991. Cancro cítrico: ocorrência no Brasil e seu combate. In: Rodriguez,
O., Viégas, F., Pompeu Jr., J., Amaro, A.A. (Eds.). Citricultura brasileira. 2. ed.
Campinas: Fundação Cargill. p. 787-823.
São Paulo (Estado). Resolução da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) nº 147,
de 31 de outubro de 2013. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 1º de novembro
de 2013. Seção 1. p. 50.
Schubert, T.S., Rizvi, S.A., Sun, X., Gottwald, T.R., Graham, J.H., Dixon, W N. 2001.
Meeting the challenge of eradicating citrus canker in Florida – again. Plant Disease
85:340-356.
Stall, R.E., Marco, G.M., Canteros, B.I. 1982. Importance of mesophyll in mature-leaf
resistance to cancrosis of citrus. Phytopathology 72:1097-1100.
Stall, R.E., Seymour, C.P. 1983. Canker, a threat to citrus in the Gulf-Coast States. Plant
Disease 67:581-585.
Stein, B., Ramallo, J., Foguet, L., Graham, J.H. 2007. Citrus leaf miner control and copper
fungicide sprays for management of citrus canker on lemon in Tucumán, Argentina.
Proceedings of the Florida State Horticultural Society 120:127-131.
Timmer, L.W. 1988. Evaluation of bactericides for control of citrus canker in Argentina.
Proceedings of the Florida State Horticultural Society 101:6-9.
Timmer, L.W., Gottwald, T.R., Zitko, S.E. 1991. Bacterial exudation from lesions of Asiatic
citrus canker and citrus bacterial spot. Plant Disease 75:192-195.
Vernière, C.J., Gottwald, T.R., Pruvost, O. 2003. Disease development and symptom
expression of Xanthomonas axonopodis pv. citri in various citrus plant tissues.
Phytopathology 93:832-843.

79
Cancro cítrico: a doença e seu controle

ANEXO 1

Resolução SAA - 147, de 31-10-2013

Estabelece procedimentos a serem adotados no Estado de São Paulo vi-


sando a supressão/erradicação da praga denominada cancro cítrico, causa-
do pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri.

A Secretária de Agricultura e Abastecimento, Considerando a necessida-


de de manter a incidência da praga cancro cítrico em baixa prevalência nos
pomares cítricos do Estado de São Paulo e considerando o que determina a
Portaria Federal 291 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
- MAPA, de 23-07-1997, o Decreto Estadual 45.211, de 19-09-2000, o Decre-
to Federal 24.114 de 12-04-1934, e considerando que a cultura de citros é
definida como de peculiar interesse do Estado de São Paulo nos termos do
inciso I, do Decreto 45.405 de 16-11-2000, e considerando que a ocorrên-
cia de pragas com restrições fitossanitárias é de comunicação obrigatória,
resolve:

Artigo 1º - Estabelecer os procedimentos visando a manutenção da su-


pressão/erradicação do cancro cítrico no Estado de São Paulo.

Parágrafo Único - Fica adotado para o Estado de São Paulo, o método de


eliminação da planta contaminada pela bactéria Xanthomonas citri subsp.
citri, causadora do cancro cítrico e pulverização das demais plantas de ci-
tros abrangidas pelo raio perifocal mínimo de 30 metros, medido a partir
da planta contaminada, com calda cúprica na concentração de 0,1% de
cobre metálico, repetindo a pulverização a cada brotação.

Método contemplado no item 3.1.d, do Anexo II, da Portaria 291, de 23-


07-1997, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que apro-
va as normas sobre exigências, critérios e procedimentos, a serem adotados
na Campanha Nacional de Erradicação do Cancro Cítrico - CANECC, em áreas
contaminadas pela praga e naquelas que venham a ser afetadas.

Artigo 2º - Todo produtor que explore propriedade comercial de citros


no Estado de São Paulo deverá promover no mínimo 1 vistoria trimestral
em todas as plantas de citros da propriedade, com o objetivo de identificar e
eliminar plantas que apresentem sintomas do cancro cítrico.

Parágrafo Único - Entende-se por propriedade comercial a propriedade


agrícola que comercializa sua produção citrícola, possuindo no mínimo
uma unidade de produção (UP) / talhão.

80
Cancro cítrico: a doença e seu controle

Artigo 3º - Efetuadas as vistorias, o produtor deverá apresentar à Coor-


denadoria de Defesa Agropecuária até o dia 15 de julho um relatório semes-
tral por propriedade comercial e por unidade de produção (UP) ou talhão,
relativo às vistorias feitas entre 1º de janeiro a 30 de junho, e outro até 15
de janeiro, relativo às vistorias feitas entre 1º de julho a 31 de dezembro .

Parágrafo Único - O modelo do relatório semestral bem como o seu con-


trole de recebimento está estabelecido pela Portaria CDA 21 de 15-12-
2011.

Artigo 4º - A Coordenadoria de Defesa Agropecuária fará fiscalizações


amostrais em plantas de citros de propriedades comerciais, com o objetivo
de verificar o cumprimento das normas estabelecidas pela legislação e a ve-
racidade das informações que constam do relatório semestral apresentado
pelo produtor.

Artigo 5º - Em propriedades não comerciais, seja em áreas urbanas ou


rurais, públicas ou privadas, compete à Coordenadoria de Defesa Agrope-
cuária promover a realização de fiscalizações amostrais, visando detectar a
ocorrência de cancro cítrico.

Artigo 6º - No ato da fiscalização da Coordenadoria de Defesa Agrope-


cuária, sendo detectada planta com sintoma de cancro cítrico, o material será
identificado, coletada amostra e encaminhada para diagnóstico em labora-
tório credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
para emissão de laudo.

Parágrafo Único - Caso fique constada a presença do cancro cítrico, serão


adotadas todas as exigências, critérios e procedimentos aprovados pela
Portaria Federal 291 de 23-07-1997.

Artigo 7º - As vistorias previstas nesta resolução poderão ser efetuadas


também pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária, sempre que esta jul-
gar necessário.

Artigo 8º - O proprietário, arrendatário ou ocupante a qualquer título


de imóvel rural ou urbano é obrigado a executar, às suas custas, dentro da
respectiva propriedade e no prazo que lhes for determinado, todas as medi-
das de supressão/erradicação do cancro cítrico estabelecidas na legislação.

Parágrafo Único - No caso da não execução das medidas previstas, a Co-


ordenadoria de Defesa Agropecuária executará compulsoriamente as re-
feridas medidas de eliminação da planta contaminada e pulverização do
raio perifocal com cobre metálico.

Artigo 9º - O proprietário, arrendatário ou ocupante a qualquer título


que tiver na sua propriedade planta de citros eliminada pela Coordenadoria
de Defesa Agropecuária, por força das ações de supressão/erradicação do

81
Cancro cítrico: a doença e seu controle

cancro cítrico, não terá direito a qualquer tipo de indenização e deverá res-
sarcir o Estado as despesas de eliminação das plantas contaminadas.

Artigo 10º - Os proprietários, arrendatários ou ocupantes a qualquer


título que não cumprirem as normas estabelecidas nesta resolução, estarão
sujeitos às penalidades estabelecidas pelo Decreto 45.211, de 19 de setem-
bro de 2.000.

Artigo 11º - A Coordenadoria de Defesa Agropecuária estabelecerá os


modelos de documentos previstos nesta resolução e poderá também bai-
xar em normas complementares o estabelecimento de critérios técnicos e
administrativos que se fizerem necessários para execução da interdição das
áreas, para supressão da praga, para o trânsito de vegetais, para a suspensão
de atividades e demais medidas de controle sanitário previstas no Decreto
45.211, de 19-09-2000.

Artigo 12º - Os documentos previstos nesta Resolução, tais como lau-


dos, termos, autos de interdição, relatórios e demais que venham a ser soli-
citados para compor o processo administrativo, deverão ser arquivados pelo
período mínimo de 5 anos pelo produtor e pela CDA.

Artigo 13º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação e,


revoga a Resolução SAA 43 de 25-06-2009 e, a Portaria CDA-16, de 01-06-
2001. (PSAA 12.772/2012)

82
View publication stats

S-ar putea să vă placă și