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1. Tempo do crime
O estudo do tempo do crime está ligado à aplicação da lei penal no tempo. Em relação ao tempo
do crime, há três teorias (i) atividade; (ii) resultado; e (iii) ubiqüidade ou mista.O tema é
tratado pelo art. 4º do CP:
“Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
o momento do resultado.”
O CP, portanto, adota a teoria da atividade. Considera-se praticado o crime no momento da
conduta, pouco importando o momento do resultado. A teoria da atividade só tem relevância
para os crimes materiais/causais/de resultado (aqueles em que o tipo penal contém conduta e
resultado e exige a produção deste último para a consumação). Nos crimes formais e de mera
conduta, a consumação se dá com a prática da conduta.
A primeira e mais importante consequência da teoria da atividade diz respeito à
imputabilidade do agente, a qual deve ser analisada no momento da conduta.
Cuidado: no tocante à prescrição, o CP adota, como regra, a teoria do resultado (art. 111, I):
“Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou.”
Súmula nº 711/STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
Crime permanente é aquele em que a consumação se prolonga no tempo, pela vontade do
agente. O agente dolosamente mantém a situação contrária ao Direito Penal. De acordo com a
Súmula nº 711/STF, aplica-se para todo crime permanente a lei vigente na data de sua cessação,
mesmo que seja mais grave, pois o delito também foi praticado depois da entrada em vigor da
lei mais grave.
A Súmula também se aplica ao crime continuado (CP, art. 71).
2. Lugar do crime
Há também três teorias: (i) atividade; (ii) resultado; e (iii) ubiquidade ou mista. Esta última foi
adotada pelo art. 6º do CP:
“Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
LUTA: lugar – ubiquidade; tempo – atividade.
O fundamento da adoção da teoria da ubiqüidade é a soberania dos países afetados pelo crime.
Se o crime atinge interesses de dois países, um deles não pode privar o outro do direito de
processar e julgar o criminoso.
Os crimes que afetam os interesses de dois ou mais países são os chamados crimes à distância
(ou de espaço máximo). São aqueles, portanto, em que a conduta e o resultado ocorrem em
países diversos.
Como o agente pode ser processado, julgado e cumprir penas em dois países, o CP traz regra
para evitar o bis in idem (art. 8º). A pena cumprida no estrangeiro é abatida da pena a ser
cumprida no país:
“Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.”
Crimes plurilocais (ou de espaço mínimo) são aqueles em que conduta e resultado ocorrem em
comarcas diversas, porém dentro do mesmo país. O problema não é de soberania, e sim de
competência. O tratamento do tema está contido no art. 70, caput, do CPP:
“Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.”
Nos crimes plurilocais o CPP adota, como regra geral, a teoria do resultado. A competência é
do local em que o crime se consumou.
Nos crimes dolosos contra a vida, quando plurilocais, a jurisprudência consagra a teoria da
atividade, em razão da (i) produção de provas (as testemunhas do crime, por exemplo,
encontram-se no local de sua prática); e (ii) por conta da própria razão de existir do Tribunal do
Júri: a sociedade, abalada pelo crime, julga quem violou a lei penal.
Aula 3.2
3.1.Conceito
A norma penal incriminadora é formada por um preceito primário e por um preceito
secundário. Preceito primário é a definição da conduta criminosa; preceito secundário é a
pena cominada.
Na lei penal em branco o preceito secundário é completo: a pena foi devidamente cominada.
Mas o preceito primário é incompleto, ou seja, depende de complementação.
* Franz Von Liszt → normas penais em branco são corpos errantes em busca de ua alma
* norma penal em preto é a norma penal completa
3.2.Espécies
a) Homogênea ou lato sensu
A lei penal é complementada por outra lei. Em outros termos, o complemento tem a mesma
natureza jurídica da lei penal a ser complementada. A lei penal em branco homogênea pode ser
(i) homovitelina, quando tanto a lei penal quando seu complemento encontram-se no mesmo
diploma legislativo (exemplo: CP, art. 304 – uso de documento falso – complementados pelos arts.
297 a 302); ou
(ii) heterovitelina, quando a norma penal em branco e seu complemento estão contidos em
diplomas legislativos diversos. (art. 169, parágrafo único, I, do CP – apropriação de tesouro →
definição de tesouro está contida no Código Civil)
c) Ao avesso ou inversa
O preceito primário (conduta criminosa) é completo, mas o preceito secundário depende de
complementação.
Em outras palavras, há o crime, mas falta a pena. Exemplo: art. 1º da Lei nº 2.889/1956
(genocídio)
“Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial
ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a
destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;”
d) De fundo constitucional
Norma penal em branco de fundo constitucional é aquela em que o complemento está contido
na Constituição Federal. Exemplo: art. 121, § 2º, VII, do CP.
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição:”
e) Ao quadrado
Na norma penal em branco ao quadrado o complemento da norma também precisa de
complementação.
Exemplo: art. 38 da Lei nº 9.605/1998:
“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que
em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:”
O que é floresta? O que é preservação permanente? O complemento está no art. 6º da Lei nº
12.651/2012 (Código Florestal):
“Art. 6o Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse
social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas
de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:”
O art. 6º do Código Florestal pode ser complementado por ato do Chefe do Poder Executivo.
Aula 3.3
“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”
Abolitio criminis é a nova lei que torna atípico o fato até então considerado criminoso.
Natureza jurídica: abolitio criminis é causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, III). Na
verdade, a abolitio criminis apaga a própria tipicidade do crime (o fato passa a ser atípico) e,
por consequência, retira do Estado o direito de punir.
A abolitio criminis apaga a execução e os efeitos penais da sentença condenatória (maus
antecedentes, reincidência, por exemplo). Todavia, subsistem os efeitos extrapenais (exemplo:
obrigação de reparar o dano).
Há dois requisitos para a abolitio criminis: (i) revogação formal do tipo penal; e (ii) supressão
material do fato criminoso.
* no atentado violento ao pudor houve a revogação formal do tipo penal, mas não a supressão
material do fato criminoso, que passou a ser considerado estupro. Assim, diz-se que houve o
deslocamento geográfico do tipo penal (STF – transmutação topográfica do tipo penal), não
havendo que se falar em abolitio criminis. Há, portanto, uma manifestação da continuidade
normativa ou da continuidade típico-normativa → o tipo penal é formalmente revogado, porém
crime continua existindo perante outro tipo penal.
* é possível que uma conduta que deixou de ser crime, no futuro, volte a sê-lo.
Aula 3.4
Aula 3.5
Lei temporária é aquela que tem seu prazo de vigência previamente definido no tempo. Um
exemplo recente é a Lei da Copa (Lei nº 12.663/2012, art. 36):
“Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de
2014.”
Lei excepcional é aquela que vigora somente em uma situação de anormalidade.