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“ Breves Reflexões “
Autor: Joaquim Fernando da Cunha Guimarães
INTRODUÇÃO
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Em trabalho anterior, sob o título “Inventário ou «Realário» das Existências” , publicado na
revista Eurocontas n.º 45, de Janeiro de 1999, alertámos para alguns aspectos técnico-
práticos resultantes da entrada em vigor, em 1 de Janeiro de 2000, do Decreto-Lei n.º 44/99,
de 12 de Fevereiro.
Esse diploma veio, sem dúvida, introduzir, algumas regras contabilísticas importantes para a
melhoria da informação financeira traduzida nas demonstrações financeiras.
Com este trabalho pretendemos completar algumas das ideias então expostas, tendo em
consideração a evolução do assunto e algumas diligências que efectuámos para a clarifica-
ção de alguns aspectos relacionados com a problemática em apreço.
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No estudo atrás referido, apresentámos a definição de Lopes de Sá :
“ Inventário é a verificação ou existência de um componente patrimonial “.
O mesmo autor apresenta também as definições de inventário de outros dois autores:
“Confessamos não saber o que significa esta expressão no contexto da lei em apreço, o que
nos causa algum embaraço, principalmente quando não nos sentimos acompanhados nessa
ignorância, ao assistirmos a pedidos de várias entidades no sentido de a obrigação ser
adiada, apesar - dizem - do seu inegável interesse, principalmente, em termos de transpa-
rência e rigor.”
Quando esta dúvida surge num distinto professor e especialista de contabilidade e de fisca-
lidade, compete-nos interrogarmo-nos sobre essa realidade e tentar acrescentar algumas
ideias.
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Na oportunidade clarificámos que a palavra “realário” não faz parte do vocabulário, pois só a utilizámos como
justificação para que os inventários devam corresponder à realidade económica portuguesa.
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LOPES DE SÁ, A. e LOPES DE SÁ, A.M. Dicionário de Contabilidade, 9.ª Edição, Ed. Atlas, 1995.
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PINHEIRO PINTO, José Alberto “Inventário Permanente; problema de conceito ou de organização?”, artigo
publicado na Revista de Contabilidade e Comércio n.º 224, de Fevereiro de 2000 (pág. 671-4).
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a) Desde a implementação do POC/77 e até à data, com o POC/89, bem como com as
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Directrizes Contabilísticas , não são apresentados os conceitos de “Inventário” e de
“Inventário Permanente”;
b) O Decreto-Lei n.º 44/99, de 12 de Fevereiro (item 9), alterou o Capítulo 12, Classe 3,
do POC/89, mas não clarifica conceptualmente o inventário permanente, referindo
somente o seguinte:
b) O inventário permanente.
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Com permeio das Notas Interpretativas publicadas entre 1987 e 1988 e que foram tacitamente revogadas pelo
POC789.
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Não nos parece que estas duas últimas descrições sejam definições/conceitos na verdadei-
ra acepção da palavra, podendo considerar-se mais como características e conteúdo do
inventário.
Note-se, porém, que as NIC não contemplam objectivamente qualquer definição de “inventá-
rio permanente”.
f) Raul Dória, na 1.ª edição (1914) do seu “Dicionário Prático de Comércio”, o único
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escrito por um “português de gema” , refere:
“Sistema de contabilização das fazendas que tem em vista conhecer o valor global
dos stocks em qualquer altura que isto se torne necessário”.
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Estamos a lembrar-nos do “Dicionário de Contabilidade” de A. Lopes de Sá (brasileiro naturalizado português),
Ed. Atlas.
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O Dicionário teve mais duas edições. A 2.ª Edição, de 1955, e a 3.ª edição, de 1975. A 1.ª edição foi editada
pela tipografia da Escola Prática Comercial Raul Dória, do Porto. A 2.ª e 3.ª edições foram editadas pela Livra-
ria Cruz, em Braga. Na 3.ª edição o título do dicionário foi alterado para “Dicionário Prático do Comércio e
Contabilidade”.
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Publicado no “Jornal de Contabilidade da APOTEC” n.º 271, de Outubro de 1999.
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Face a algumas diligências que efectuámos, verificámos que esse relatório já foi apresenta-
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do, não tendo sido efectuada a divulgação pela CNC .
Julgamos que seria muito útil que os TOC, os ROC e os docentes de contabilidade tivessem
conhecimento do teor desse relatório, a fim de permitir o esclarecimento de certas dúvidas
que se têm colocado, o que, aliás, é mencionado na transcrição supra.
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De acordo com esse documento , denominado “ Nota de Análise” e intitulado “Aplicação do
Dec. Lei n.º 44/99, de 12 de Fevereiro – Inventário Permanente de Existências e Demons-
tração dos Resultados por Funções”, uma das questões abordadas prende-se com a data
de entrada em vigor desse diploma legal, cujo parecer resumimos no seguinte quadro:
1. Se não ultrapassou os limites em 1998 e Dispensa, pelo menos, até ao ano 2001
1999. (inclusive).
3. Se não ultrapassou em 1998 mas ultra- Dispensa no ano de 2000 e obrigação a partir
passou em 1999. de 1 de Janeiro de 2001.
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A CNC tem sido objecto de diversas críticas pela não divulgação dos seus trabalhos (v.g. pareceres, relatórios).
Durante quatro meses e em representação da Direcção da Câmara dos TOC estivemos a exercer funções na
Comissão Executiva da CNC e abordámos o assunto. Então sugerimos que, sem custos para a CNC, os refe-
ridos documentos fossem divulgados nos “CD” da CTOC e da OROC e, também, que a CNC desenvolvesse
um “site”, pelo que foi com agrado que constatámos que essa pretensão já estava a ser equacionada há já
algum tempo, enquadrada no Plano de Actividades da CNC 2001/2002, pelo que aguardamos (a evolução do
assunto) desenvolvimentos na matéria.
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Ao qual tivemos acesso aquando das referidas funções.
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Por outro lado, a adopção do SIP poderá ser considerada uma boa medida de controlo
interno da área das existências, a ser objecto de revisão/auditoria pelo Revisor Oficiais de
Contas (ROC).
Também neste particular o prefácio do referido diploma destaca que a adopção do SIP “visa
facilitar o processo conducente à revisão/auditoria de contas”.
Neste contexto, e uma vez que havia que clarificar a posição da Ordem dos Revisores Ofi-
ciais de Contas (OROC) no que tange, designadamente, ao conteúdo dos relatórios a emitir
pelos ROC, elaborámos uma exposição à OROC que, pela sua importância, passamos a
transcrever na íntegra:
“Em conversas com alguns colegas tenho constatado a existência de dúvidas e diferentes
pontos de vista sobre qual deverá ser a posição do ROC para o caso de uma empresa não
adoptar o sistema de inventário permanente (SIP) na contabilização das suas existências,
quando a tal se encontra obrigada, cf. dispõe o Decreto-Lei n.º 44/99, de 12 de Fevereiro.
Na verdade, caso o ROC constate essa realidade deverá emitir opinião com reservas por
limitação ou, simplesmente, relatar uma ênfase na certificação legal das contas? E, inde-
pendentemente dessas evidências, não deverá mencionar tal facto no Relatório Anual da
Fiscalização Efectuada?
Com efeito, tenho verificado que há divergências de interpretação que poderão sintetizar-se
nas seguintes atitudes:
Julgo que este assunto é de extrema importância pois poderá suscitar desinteligên-
cias com o órgão de gestão, com os técnicos oficiais de contas e entre os próprios
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Na exposição constavam outros argumentos técnicos que aqui não reproduzimos por não os considerarmos
relevantes.
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É óbvio que, nos termos do art. 47.º do Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de Novembro, o ROC tem como compe-
tência específica a fiscalização da gestão com vista à observância das disposições legais, e, sendo o POC o
diploma em referência aprovado por Decreto-Lei, então o ROC não deverá alhear-se desse facto.
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ROC, pelo que sugiro que o assunto seja devidamente divulgado a todos os colegas,
com vista à uniformização dos procedimentos”.
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Como é comummente sabido, a maior parte das PME’s, especialmente as que apresentam
estruturas organizativas precárias, têm dado preferência à utilização do designado “sistema
de inventário intermitente (ou periódico)”.
Ora, não fugindo à questão, porque não é assim que se resolvem os problemas, também é
do conhecimento dos profissionais de contabilidade que, não raras vezes, esses inventários
são elaborados com alguma criatividade12, de forma a apresentarem-se os resultados con-
tabilísticos e fiscais numa perspectiva de economia fiscal dos impostos sobre o rendimento.
Agora que se chama à colação o “inventário permanente” para as empresas que estão den-
tro da dimensão definida no n.º 2 do art.º 1.º do Decreto-Lei n.º 44/99, de 12 de Fevereiro13,
e marginalizando as referidas dúvidas conceptuais, a essas empresas coloca-se o problema
de traduzir essa mutação nas demonstrações financeiras.
Com efeito, se tal não for concretizado, poderão surgir, entre outros, os seguintes proble-
mas:
É óbvio que a feitura dos ditos “inventários” poderá resultar de registos por defeito ou por
excesso, pelo que o problema terá de ser equacionado dentro desses parâmetros.
Assim, retomando a questão, como regularizar contabilística e fiscalmente (em sede de IRC
ou IRS) os stocks de forma a cumprir o diploma14?
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Não confundir com “Contabilidade Criativa”, pois esta pressupõe o cumprimento do postulado da “Imagem
verdadeira e apropriada”.
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“2- Ficam dispensadas do estabelecido nas alíneas a) e b) do número anterior as entidades nele referidas, até
ao termo do exercício seguinte àquele em que tenham sido ultrapassados dois dos três limites referidos no
art.º 262.º do Código das Sociedades Comerciais”.
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Não podemos ignorar que, em abono da verdade, este problema já se colocou em final de 1999, pois são os
saldos iniciais de 2000.
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a) Perspectiva contabilística
CONTAS A
OPERAÇÃO
DÉBITO CRÉDITO
Stock em excesso:
– Mercadorias 59 ou 697 382
– Produtos acabados e intermédios 59 ou 697 383
– Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos 59 ou 697 384
– Matérias primas, subsidiárias e de consumo 59 ou 697 386
Stock deficitário:
– Mercadorias 382 59 ou 797
– Produtos acabados e intermédios 383 59 ou 797
– Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos 384 59 ou 797
– Matérias primas, subsidiárias e de consumo 386 59 ou 797
Quer o stock em excesso (valor inventariado superior ao real) quer o stock deficitário
(valor inventariado inferior ao real) são regularizados pela conta “59 – Resultados
transitados”, no pressuposto de que resultam de “erros fundamentais”, como estipula
a Directriz Contabilística n.º 8, sob o título “Clarificação da Expressão ‘regularizações
não frequentes e de grande significado’, relativamente à Conta 59 - «Resultados
transitados»”.
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Em estudo anterior sob o título “ A conta «59 – Resultados transitados» (POC e CIRC)”, publicado no nosso
livro “Contabilidade, Fiscalidade, Auditoria – Breves Reflexões” Ed. Autor, 1997, apelámos à divisão da conta
“59 – Resultados Transitados” em diversas subcontas:
- 591 Por aplicação dos resultados líquidos
5911 Do exercício...
5912 Do exercício...
- 592 Por regularizações (correcções) contabilísticas
5921 Correcções relativas a exercícios anteriores
5922 Correcções da DC n.º 10
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Da mesma forma, o citado movimento a crédito na conta “59” traduz-se num acrés-
cimo dos capitais próprios (situação líquida), i.e., numa variação patrimonial modifica-
tiva (ou quantitativa) positiva não reflectida no resultado líquido, que entra (a adicio-
nar) no lucro tributável do IRC (campo 202 do Q07 da DR22), pois não consta das
excepções previstas no art.º 21.º do CIRC.
Caso essas regularizações contabilísticas sejam relevadas nas contas “697” e “797”
serão registadas no campo 201 e no Q07 da DR22.
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Note-se, contudo, que esta situação poderá penalizar fiscalmente, em sede de IR, os
contribuintes que pretendam regularizar a sua situação, pelo que, em nossa opinião,
se justificaria um regime contabilístico-fiscal transitório que obviasse a essas situa-
ções.
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Em alternativa, há quem defenda que não se deveriam efectuar esses dois registos, com sinal contrário, pois
o lucro tributável é o mesmo. Na verdade, o lucro tributável é o mesmo quer se utilize um ou outro procedi-
mento, só que, em nossa opinião, a clareza dos registos não é a mesma, pelo que defendemos a situação
exposta.
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4. CONCLUSÕES
Além das dúvidas conceptuais sobre o “inventário permanente“, o D.L. n.º 44/99, de 12 de
Fevereiro, veio trazer algumas dificuldades práticas na sua implementação e exigir um
esforço redobrado não só ao órgão de gestão, principal interessado e responsável pela ela-
boração das demonstrações financeiras, como também aos profissionais responsáveis pela
execução da contabilidade – os Técnicos Oficiais de Contas (TOC) – e pela revisão legal
das contas – os Revisores Oficiais de Contas (ROC).
Neste trabalho sublinhámos, por isso, algumas das tarefas que incubem ao órgão de gestão
e àqueles profissionais.
Acresce a este facto que as próprias entidades envolvidas mais directamente na concepção
daquele diploma legal - a Comissão de Normalização Contabilística e a Administração Fiscal
– ainda não divulgaram as diversas dúvidas que subsistem na aplicação do SIP, como,
aliás, foi reconhecido, já em 1999, por despacho do Secretário do Estado dos Assuntos Fis-
cais.
Dado que nos preocupamos com estas questões, dirigimos exposições àqueles dois orga-
nismos e à OROC para a clarificação de algumas dúvidas e apenas recebemos resposta
desta última entidade, a qual, pela sua importância, divulgamos neste trabalho.
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ANEXO N.º
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