Sunteți pe pagina 1din 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

KAREN AYESKA COSTA DA SILVA

OS ESTÁGIOS DE ​OUTROS JEITOS DE USAR A BOCA, ​DE RUPI KAUR EM ​O


LIVRO D’ELE ​E ​LIVRO DE MÁGOAS ​DE FLORBELA ESPANCA

Salvador
2019
KAREN AYESKA COSTA DA SILVA

OS ESTÁGIOS DE ​OUTROS JEITOS DE USAR A BOCA, ​DE RUPI KAUR EM ​O


LIVRO D’ELE ​E ​LIVRO DE MÁGOAS ​DE FLORBELA ESPANCA

Trabalho apresentado como parte dos requisitos


necessários a aprovação na disciplina LECT49 -
Poesia Portuguesa e Cultura oferecida ao curso de
Letras da Universidade Federal da Bahia, sob a
orientação da Profª Drª Claudia da Cruz Cerqueira
no semestre 2019.1

Salvador
2019
APRESENTAÇÃO

Nascidas em épocas diferentes sob situações completamente diferentes, Florbela


Espanca e Rupi Kaur trazem em seus poemas um eu lírico que lida com a dor, com a
perda, mas também com amores e sonhos impossíveis. Através dos estágios de ​Outros
Jeitos de Usar a Boca​, primeira obra da poetisa nascida na Índia e criada no Canadá,
pode-se traçar um paralelo entre as autoras que, de formas tão distintas, acabam
harmonizando suas falas.
O objetivo deste trabalho é mostrar como os estágios - a dor, o amor, a ruptura e
a cura - de Outro Jeito de Usar a Boca dialogam com poemas presentes em O Livro
D’ele e Livro de Mágoas. Enquanto Florbela Espanca abordou temas como a própria
poesia, depressão, amores correspondidos e não correspondidos, Rupi Kaur traz em seu
trabalho poemas feministas, com temática sobre estupro, empoderamento e
relacionamentos abusivos.
Para traçar paralelos entre os poemas escolhidos e embasar a proposta inicial
desse trabalho, foi utilizada a perspectiva da análise do discurso. Orlandi aponta que
"em suma, a Análise do Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico
produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos",
(ORLANDI, 1999, p. 26). Um discurso pode ser interpretado e reinterpretado de
diferentes formas, uma vez que é necessário o dispositivo da interpretação para
acessá-lo; a leitura de um texto, nesse caso o texto literário, é compreender a produção
dos diversos sentidos que esse texto apresenta, para além dos sentidos explícitos.
Fatores como o sujeito - tanto quem escreve quanto quem lê -, a linguagem e o contexto
histórico social são cruciais para que a leitura de um texto seja feita desta ou daquela
forma. Por essa razão, a Análise do Discurso foi escolhida para fazer a articulação entre
os textos que serão usados aqui.
Antes de aprofundar a forma como as fases de Outros Jeitos de Usar a Boca
podem ser encontradas nos trabalhos de Florbela Espanca, mesmo com tantos anos de
distância entre seus os trabalhos, além das características únicas de ambas, é preciso
entender quem foram essas mulheres e como suas vidas estão interligadas às suas obras.
AS MULHERES QUE ESCREVEM

Florbela Espanca, nascida Florbela d'Alma da Conceição Lobo Espanca, é


considerada hoje em dia uma das maiores poetisas da literatura, reconhecimento esse
que veio, em grande parte, de forma póstuma. A história de Florbela começa em 1894,
com seu nascimento em Vila Viçosa, Alentejo, em Portugal. Foi criada pelo pai e pela
madrasta e ainda na adolescência escreve seus primeiros poemas, quando cursou o
ensino médio em Évora. Em 1913, ela se casa com Alberto Moutinho e em 1917 conclui
Letras no Liceu de Évora e quatro anos mais tarde, ingressa no curso de Direito em
Lisboa. Florbela Espanca é considerada uma das primeiras figuras feministas de
Portugal, tendo contribuído com o jornal O Portugal Feminino. No ano de 1919, a
escritora publica Livro de Mágoas e em 1923, lança Livro de Sóror Saudade; ambas as
obras quase não tiveram visibilidade. Em 1921, Florbela Espanca se divorcia e se casa
pela segunda vez, com Antonio Guimarães. dois anos depois da publicação de Livro de
Sóror Saudade, a poetisa novamente se divorcia e se casa pela terceira - e última vez -
com Mário Lage, em Matosinho.

Tendo uma vida pessoal conturbada e uma saúde mental bastante afetada, todo
sofrimento vivido por Florbela aparece em seu eu-lírico. Seus trabalhos publicados
Livro de Mágoas (1919), Livro de Soror Saudade (1923) ​e ​Charneca em Flor (1929)
mostram diferentes fases da vida da autora; ​Reliquiae (1931), ​obra póstuma, traz a
metalinguagem e declarações a Portugal. Os escritos de Florbela Espanca entre 1913 e
1915 foram compilados em uma obra titulada ​Trocando Olhares​, e desses textos, que
incluíam poemas e contos, a autora selecionou trinta e três poemas que seriam
publicados sob o título ​O Livro d'Ele - o que não chegou a acontecer. A morte do irmão,
os abortos, os casamentos falidos e a própria depressão que a acompanhara durante toda
a vida a levaram a uma morte precoce aos 36 anos - mesma idade que sua mãe falecera.
Apesar de algumas fontes afirmarem que Florbela Espanca cometeu suicídio, isso de
fato nunca se provou.

Um dos principais nomes da poesia contemporânea, Rupi Kaur nasceu na


Punjab, na Índia, em 1992. Aos quatro de idade, emigrou para Toronto, no Canadá; seus
pais queriam que ela estudasse Ciências, o coração da poeta pertencia às artes. Formada
em Retórica e Escrita Profissional pela Universidade de Waterloo, Kaur aprendeu a
pintar e desenhar com a mãe e utilizou desse talento, juntamente com a escrita poética,
para contar e compartilhar seus traumas em ​Milk & Honey​, seu primeiro trabalho
lançado em 2014, publicado no Brasil sob o título de Outros Jeitos de Usar a Boca. Em
2017, Rupi Kaur lança seu trabalho mais recente, ​The Sun and Her Flowers,​ também
um compilado de seus poemas e alguns textos mais longos, com um foco maior em
empoderamento, produções sobre imigração e amor pela Índia. A característica mais
marcante da obra de Kaur, além de serem curtos em sua maioria, talvez seja o link
existente entre cada estágio apresentado em seus livros e como todos culminam em um
crescimento, do texto em si e do eu lírico.

Rupi Kaur é uma das primeiras autoras de uma nova geração de poetas que
surgiu juntamente com o avanço das plataformas sociais. Nomes como Lang Leav,
Amanda Lovelace, Nikita Gill e, no Brasil, Ryanne Leão, são recorrentes e importantes
no novo cenário da produção de poesia é que feita a partir das redes sociais. Rupi Kaur
começou seus primeiros posts em blogs pessoais e no Tumblr antes de migrar para o
Instagram, onde seu reconhecimento mundial viria. A indiana chegou a vender 700.000
cópias do seu primeiro livro em 2017, mais do que autores consagrados, como Margaret
Atwood. Em suas entrevistas, Kaur sempre frisa como sua intenção nunca foi vender
poesia, mas sim escrever como forma de catarse, o que inevitavelmente, levou as
pessoas a se identificarem com suas palavras. No prefácio de Outros Jeitos de Usar a
Boca, a autora traz o primeiro dos poemas e que pode ilustrar bem essa fala:

meu coração me acordou chorando ontem à noite

o que posso fazer​ eu supliquei

meu coração disse

escreva o livro

(KAUR, 2017, p. 7)

Autoras que a um primeiro ver não parecem ter nada em comum são mulheres
que, através da poesia, acabaram por dialogar de forma tão próxima sobre assuntos tão
delicados e inerentes a todos os seres que sentem. Diálogo esse possível através da
articulação de características do textos analisadas pela ótica da Análise do Discurso.
PRIMEIRA PARTE ​—​ A DOR

Enquanto na obra de Rupi Kaur, a dor é o que a impulsiona a mudança, ao


crescimento, é o ponto mais baixo da trajetória desse eu lírico, a dor é tema recorrente,
quase que permanente nos poemas de Florbela Espanca. Dores que a atormentam
constantemente a ponto de fazer a morte ser bem vinda, seja a de um amor não
correspondido, uma frustração sem nome que se converteu em uma dor que nunca a
deixou de acompanhá-la, a dor da saudade de quem uma vez ela foi - ou acreditava ter
sido — são alguns elementos frequentes na poesia da autora portuguesa. Em A Maior
Tortura, presente em Livro de Mágoas, o eu lírico se lamenta de uma dor que o
acompanha desde sempre, e que ele sequer pode expressá-la, já que não se considera
poeta — a metalinguagem é um traço marcado das produções de Florbela Espanca em
Livro de Mágoas.

Na vida, para mim, não há deleite.

Ando a chorar convulsa noite e dia ...

E não tenho uma sombra fugidia

Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite

A minha atroz, imensa nostalgia! ...

A minha pobre Mãe tão branca e fria

Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,

A urze que se pisa sob os pés.

Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda é maior:

Não ser poeta assim como tu és

Para gritar num verso a minha Dor! ...

(p. 133)
Para a Análise do Discurso, o sujeito é o indivíduo interpelado pelo discurso,
que o lê através de suas ideologias. O texto - ou discurso - só apresenta significado
quando interpretado por um sujeito que lhe atribua o conteúdo. A dor é de fato
subjetiva, existem pessoas com tendência a sentir mais ou menos dor que outras,
emocional ou fisicamente. E exceto pelos casos raros, todos os indivíduos a sentem. A
dor é sentida pelo eu lírico em Florbela como Dor, personificada e real, presente desde
muito cedo e sem nada que a apazigue. Em Outros Jeitos de Usar a Boca, essa dor volta,
em outra estrutura mas com a mesma potência:

você tem dores

morando em lugares

em que dores não deveriam morar

(p. 39)

A motivação por trás da dor não é a mesma, mas a forma como ela se estrutura,
a interpelação da dor pelo sujeito se assemelha de tantas maneiras que poderia ter sido
facilmente a mesma pessoa se vendo em um espelho de diferentes posições; na primeira
parte de Outros Jeitos de Usar a Boca, a dor acompanha essa personagem principal
também desde muito cedo e durante seu crescimento, é constante e acaba por delinear
quem essa personagem se torna. Apesar do eu lírico florbeliano em Livro de Mágoas
manter o ar de tristeza e pesar pairando sobre si durante todo desenvolvimento do livro,
a constância de sua dor atrelada a metalinguística dá o tom marcante que essa obra
carrega.

Retomando a sequência dos estágios em que os sentimentos se dão, depois da


dor, que seria o ponto mais baixo e mais fundo que se poderia estar, inicia-se o segundo
e possivelmente mais importante estágio.

PARTE DOIS - O AMOR

Camões, naquele que é um dos seus sonetos mais icônicos, trouxe o amor como
antítese: o famoso ​fogo que arde sem se ver e de tantas outras formas, a ideia do amor
como antítese foi cantada, escrita, levada aos cinemas e a todas as artes, já que afinal, o
amor e a arte andam tão entrelaçados como sempre estiveram. Florbela e Rupi,
mulheres de épocas diferentes e distantes uma da outra, conseguiram transmitir essa
ideia da inconsistência que é o amor de maneiras bem parecidas, atravessadas talvez
pela terrível alegria que é amar:

Li um dia, não sei onde,

Que em todos os namorados

Uns amam muito, e os outros

Contentam-se em ser amados.

Fico a cismar pensativa

Neste mistério encantado...

Digo pra mim: de nós dois

Quem ama e quem é amado?...

(ESPANCA, p.44)

seu nome

é a conotação

positiva e negativa

mais forte em qualquer língua

ou ele me acende ou

me deixa dias em agonia

(KAUR, p. 69)

Nos escritos de Florbela Espanca presentes em O Livro d’Ele, a maioria dos


poemas são sobre esse ​ele e​ o jeito que ele brinca com os sentimentos desse eu lírico,
como esse romance entre os dois acontece muitas vezes no plano das ideias e em outras
vezes completamente como um amor não correspondido. O ​ele é lindo, com os olhos
mais lindos e é o mais especial de todos, mas ainda assim, ele não pertence a ela - a
ideia de amor ligado a posse é inevitável, e até certa dose, aceitável- e isso a destrói de
várias formas, chegando a beirar o ódio.

A linha entre o amor e ódio é tênue, e tanto já foi dito sobre isso; é justamente
essa linha que aproxima a poesia de Espanca com Rupi Kaur e sua produção
contemporânea. Apesar do ​ele do eu lírico em Outros Jeitos de Usar Boca ser um ele
que a princípio veio para curar e caminhar ao lado dela, esse sentimento conflitante a
assusta, levando a um extremo ou outro. Ou a dor extrema ou ao amor devastante. Em
ambos os poemas, as personagens lidam com esse amor ao não saber lidar, sabendo que
amam, mas sofrendo justamente por amar. O Amor tão contrário a si mesmo, como
afirmou Camões, foi o que moveu as duas escritoras em cenas tão distintas.

Como tudo que é em excesso, esse amor inconstante em algum momento se


transformou em uma coisa nociva. O estágio seguinte é a ruptura e ela se dá de mais de
uma maneira.

PARTE TRÊS - A RUPTURA

A ruptura como terceira parte remete a primeira, já que não há ruptura sem dor,
de uma forma ou de outra; e como já foi discutido, ambas as autoras trabalham a dor em
suas produções de forma a soar como algo inseparável da construção do eu lírico. O
ponto em que Florbela Espanca e Rupi Kaur dialogaram nesta chamada ruptura, para
além do ato de romper, está ligado também a ideia de invadir, transbordar. E é com a
figura do mar que elas acabam por ilustrar a forma como os eu líricos vem a romper
com o amor, com elas mesmas, por vezes até com a própria realidade.

Eu q'ria ser o Mar ingente e forte


O mar enorme, a vastidão imensa...
Eu q'ria ser a árvore que não pensa
Que ri do mundo vão e até da morte…

Eu q'ria ser o Sol, irmão do Mar


O bem do que é humilde e pobrezinho...
Eu q'ria ser a pedra do caminho
Que não sofre a tortura do pensar...

Mas o Mar também chora de tristeza,


E a árv're também como quem reza
Levanta aos céus os braços como um crente!

E o Sol cheio de mágoa ao fim de um dia,


Tem lágrimas de sangue na agonia,
E as pedras, essas, pisa-as toda a gente…
(p. 144)

Novamente em Livro de Mágoas, com aquele eu lírico mais soturno, Florbela


trabalha com a ideia de se afastar, de ser algo que não aquilo que se é. Entretanto, é a
dor por trás da ruptura que rege as decisões e, se a leitura do sujeito poderia começar e
terminar apenas com os pontos positivos de cada elemento trazido pela autora, ela é
levada a um caminho inverso: a ruptura aqui não é apenas dos sentimentos, mas também
da expectativa que o leitor poderia fazer acerca da ideia de ser cada um dos elementos.
A ruptura traz tantos nuances de si mesma que alguns podem passar mais despercebidos
do que que outros; o mar de Kaur tem a força das águas que podem ser uma coisa ou
outra, dependendo de quem o veja:

eu sou água

leve o bastante

para gerar vida

violenta o bastante

para levá-la embora

(p. 146)

Mais do que no estágio da dor, agora o eu lírico de Kaur se aproxima do ar


sombrio que o de Espanca carrega consigo; é a ruptura consigo mesma, sua essência e o
externo se separando ainda que momentaneamente. E talvez justamente por propiciar
novas nuances, diferentes formas daquilo que supostamente se é, é que a ruptura o
estágio onde a leitura feita pelo sujeito seja mais delicada, ainda mais impregnada deste
que o lê do que nas outras partes. De fato, para ler é preciso considerar o contexto e
co-texto - quem escreveu, de onde escreveu, para quem escreveu -, mas não há discurso
sem quem o interprete, não há texto se não há o sujeito fazendo a leitura deste.

Nenhuma dor dura para sempre.Tanto em Outros Jeitos de Usar a Boca quanto
em Livro de Mágoas, a ruptura se dá por sentir demais: a tristeza, o amor, a dor, o
querer. Mas depois do rompimento, existem escolhas a serem feitas e é assim que
passa-se para o último estágio, a cura, onde as poetisas se encontram novamente na fase
mais profunda e a que leva a parte final dessa análise.
PARTE QUATRO - A CURA

Em todos os pontos onde Kaur e Espanca convergiram até então, é na cura que o
diálogo entre elas se firma, sob a luz de um tema que as une mais do que qualquer dor
que elas tenham tentado escrever. Uma conversa entre o presente e o passado sobre a
mulher e ser mulher é onde as autoras executam o que é curar e estar curada e na
realidade, nada melhor e mais preciso poderia ter sido escolhido que não a mulher.

Rupi Kaur se consagrou nos últimos justamente em um momento onde a ideia


do feminismo e a luta pela igualdade tomou força e espaço no mundo; expor a própria
alma é algo que os poetas fazem desde a Antiguidade, mas falar para e pelos outros é
algo que começou não fazem tantos séculos. Os estudos literários feministas surgiram
cerca de 300 anos atrás e desde então lutaram para conquistar seu espaço, assim como
as aquelas que tornaram possíveis esse movimento. Na parte final de seu primeiro
trabalho que também dá nome a parte final desta análise, Kaur traz as mulheres como
referência de cura em meio a temas como perdão e amor próprio; amar outras mulheres
e entender que levantar outras mulheres a libertam é também uma maneira de se curar:

todas nós seguimos em frente quando

percebemos como são fortes

e admiráveis as mulheres

à nossa volta

(p. 201)

Em tempos de luta pela igualdade, o discurso que enaltece a mulher feito por
uma mulher tornou-se quase que uma responsabilidade social. É uma lembrança ao
sistema patriarcal que existe um movimento e ele não vai se calar, e isso feito através da
poesia, carrega em si um valor ainda mais potente. Agora é preciso uma viagem no
tempo para cerca de cem atrás, quando uma jovem Florbela no início dos seus escritos
deixou expressa sua posição:

Ó mulher! Como és fraca e como és forte!

Como sabes ser doce e desgraçada!


Como sabes fingir quando em teu peito

A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma imagem

Adorada que amaram doidamente!

Quantas e quantas almas endoidecem

Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm

Sem nunca o confessarem a ninguém

Doces almas de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade

Dum rei; amor de sonho e de saudade,

Que se esvai e que foge num lamento!

(p.54)

A pauta feminista aparece em vários dos trabalhos de Florbela Espanca em


diferentes momentos, já que o tempo inteiro seus poemas são permeados pelo feminino,
e a autora brilhantemente tem a sensibilidade de, em meados do século XX, reforçar que
diferente do que o sistema perpetuou, as mulheres são mais fortes e mais capazes de
lidar com a dor - e talvez por este motivo, tanto ela quanto Rupi Kaur mostrem o quão
fortes são ao lidar com questões tão dolorosas como foi apresentado nos estágios
passados.

O estágio da cura fala sobre forças e encontrar essa força na figura da mulher, e
esse ser um ponto de convergência entre as autoras é onde fica evidente que o texto de
ambas, apesar de seres escritos por mulheres em contextos sócio político históricos
completamente distintos e apresentarem co-textos diferentes. Ser mulher e ser uma
mulher que pensa, que levanta e que empodera outras mulheres, as cura como autoras,
como personalidades influentes e como indivíduos, cura a alma de quem escreve e a
alma de quem está lendo.
UMA CONCLUSÃO EM PRIMEIRA PESSOA

A subjetividade para desenvolver este trabalho foi tamanha que um fechamento


mais tradicional seria quase que um desserviço às impressões dadas ao decorrer da
análise entre duas autoras com características tão ímpares. Apenas sob um ponto de
vista diferenciado como o que foi dado aqui podemos aproximar Florbela Espanca, em
sua Portugal dos anos 1900 de Rupi Kaur, transitando entre a Índia e o ocidente do
século XXI. Se o texto, entre vários outros fatores, depende da leitura feita do sujeito
para promover seu sentido, fica claro então que os sentidos de um texto são
praticamente inesgotáveis; No meio de todos já existentes, é gratificante trazer mais um
olhar sobre trabalhos tão necessários de mulheres tão brilhantes.

REFERÊNCIAS

BATISTA, Pollyana. Biografia de Florbela Espanca. ​Estudo Prático​. 29 set 2017.


Disponível em: <https://www.estudopratico.com.br/biografia-de-florbela-espanca/>.
Acesso em: 30 maio 2019

Curiosidades Sobre Florbela Espanca. ​Sebo Itinerante. 2016. Disponível em:


<https://seboitineranteblog.wordpress.com/2016/05/29/curiosidades-sobre-florbela-espa
nca/>. Acesso em: 30 maio 2019

ESPANCA, Florbela. ​Poesia de Florbela Espanca v. 1.​ Porto Alegre: LP&M, 2014.

Florbela Espanca Poemas Escolhidos. ​Escritas.org. 2019. Disponível em:


<https://www.escritas.org/pt/bio/florbela-espanca>. Acesso em: 30 maio 2019

FISCHER, Molly. Profile: Rupi Kaur, Author of Milk and Honey. ​The Cut​, out. 2017.
Disponível em:
<https://www.thecut.com/2017/10/profile-rupi-kaur-author-of-milk-and-honey.html>.
KAUR, Rupi. ​Outros Jeitos de Usar a Boca.​ São Paulo: Planeta, 2017.

MZEZEWA, Tariro. Rupi Kaur Is Kicking Down the Doors of Publishing. ​The New
York Times​. out. 2017. Disponível em:
<https://www.nytimes.com/2017/10/05/fashion/rupi-kaur-poetry-the-sun-and-her-flower
s.html>. Acesso em 30 maio 2019
ORLANDI, E. LAGGAZI-RODRIGUES, S. (Orgs.). ​Discurso e Textualidade.
Campinas: Pontes, 2006.

SPENCER, Erin. Rupi Kaur: The Poet Every Woman Should Read. HuffPost. 22 jan
2015. Disponível em:
<https://www.huffpost.com/entry/the-poet-every-woman-needs-to-read_b_6193740>.
Acesso em: 30 mai 2019

S-ar putea să vă placă și