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Resumo
O estudo aqui apresentado é parte de uma investigação mais ampla, intitulada “Enredos
da vida, telas da docência: os professores e o cinema”, realizada mediante apoio de
Edital Universal do CNPQ (2011/2013), sob responsabilidade de uma equipe de
pesquisadores de seis universidades brasileiras - da Bahia, Minas Gerais e Rio Grande
do Sul. Entende-se que a investigação das práticas docentes com cinema contidas neste
trabalho, constitui e concretiza o trabalho docente no dia a dia das salas de aula, sendo
este um tema relevante, necessário e pertinente para o campo da educação e da
docência. Nesse artigo apresentaremos reflexões realizadas em Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, pela riqueza de suas análises. Quanto às conclusões do estudo, o texto
discorre sobre as descobertas e reflexões que resultaram do levantamento empírico
relativas aos motivos, às finalidades, aos significados e às metodologias implementadas
pelos docentes para a realização das atividades com cinema na sala de aula e na escola.
Analisam-se, ainda, os fatores que dificultam ou impedem a realização de práticas
pedagógicas com cinema na perspectiva dos professores investigados. Completando o
estudo são apresentadas descobertas que procuram apreender os sentidos que aqueles
professores atribuem ao próprio trabalho docente, suas dimensões simbólicas, bem
como as tensões, as alegrias e dores, as emoções e sentimentos nele implicados.
Pensamos, enfim, diante do que nos contam as docentes sobre a formação ético-moral
por meio dos filmes, que talvez essa prática pudesse ser mais enriquecedora se o
cinema fosse trazido para escola como um “elemento perturbador” tanto de referências
estéticas, quanto de visões de mundo em geral, ou seja, se as atividades com cinema
fossem a porta pela qual entrassem também na escola novos sujeitos e novas ou
diferentes formas de perceber o que nos rodeia.
Palavras-chave: Educação; Cinema; Práticas pedagógicas.
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atividades com cinema na docência. Nos casos da não utilização do cinema pelos
professores em suas práticas, procura-se identificar e analisar as razões desta ausência e
os fatores ou circunstâncias que lhes dão origem.
Entende-se que a investigação das práticas docentes com cinema contidas neste
trabalho, constitui e concretiza o trabalho docente no dia a dia das salas de aula, sendo
este um tema relevante, necessário e pertinente para o campo da educação e da
docência. Tanto pelo que pode aportar de conhecimentos que contribuam para a
expansão e consolidação da pesquisa educacional no Brasil, quanto pelas contribuições
que poderá oferecer à melhoria da educação básica no país. Nesse artigo apresentaremos
reflexões realizadas em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, pela riqueza de suas
análises.
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foram respondidos 645 questionários dos 1.500 enviados as escolas. Concluímos que a
maioria são professoras entre 31 e 40 anos, casadas, possuem regime de trabalho de 40
horas, não possuem outra atuação profissional, gostam de ler, viajar, passear, acessar a
internet, assistir televisão e assistir filmes nas horas livres. Esse foi o perfil dos
professores das escolas municipais de Santa Maria que responderam os questionários, e
a partir deste contorno que tivemos a oportunidade de nessa primeira parte da pesquisa
ter ideia do público envolvido, bem como, saber o que eles gostam de fazer no tempo
livre.
A segunda parte do questionário contemplou a relação do professor com o cinema.
O professor-sujeito-pessoa está interligado não podendo ser separado, desta forma,
pensando a partir do questionamento voltado para o cinema e vida do professor,
tentamos saber como o professor percebe essa relação e se realmente o cinema faz parte
da vida e da profissão dele. Ao perguntarmos se costumam assistir filmes, 85%
responderam que sim, 14% não costumam e 1% não responderam. Também nos
interessou saber a frequência que esses professores assistem filmes, então obtivemos
36% das respostas afirmando que assistem 2 vezes por semana ou mais, 27% costumam
assistir filmes 1 vez por semana, 19% assistem raramente que significa menos que uma
vez por mês, 10% assistem 2 vezes por mês e 8% assistem uma vez por mês.
Foi possível observar que os professores costumam assistir filmes em sua grande
maioria e o fazem com frequência, sendo este um resultado que nos motivou a continuar
a pesquisa, pois não teria sentido dar seguimento se os professores não tivessem o
cinema em suas vidas.
Consideramos relevante saber o local e com quem os professores assistem aos
filmes, para saber se o meio pessoal ou profissional prevaleceria e visualizamos que
quase a totalidade dos professores assiste em casa representando 94%, mas também
assistem em cinemas e no trabalho, juntos representam 6%. A maioria dos professores
assiste em companhia dos familiares, significando 56%, seguido dos amigos e colegas
de trabalho somando juntos 13%, mas também os que assistem sozinhos representam
uma porcentagem significativa de 31%. Constatamos que os professores assistem filmes
tanto em casa como no trabalho, estando na sua vida pessoal e profissional.
Chama-nos a atenção de que os professores não costumam assistir filmes em
cineclubes, justamente num local que exibe os filmes gratuitamente, não comerciais e
que buscam produzir um pensamento crítico possibilitado pelo filme e pela riqueza do
debate que há em torno da temática desenvolvida, diferente daqueles com intuito
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comercial. Assim, ficamos intrigados para saber a causa dos professores não
frequentarem cineclubes, sendo que nossa cidade possui várias opções.
Em âmbito profissional perguntamos se os professores utilizavam os filmes em
seu trabalho, então 91% disseram que sim, 5% não utilizam e 4% não responderam esta
pergunta. Seguindo foi levantado 57% utilizam os filmes como um recurso didático,
28% não especificaram, 8% não utilizam, pois concebem que o cinema é uma forma de
lazer e 7% não especificaram. Dessa forma percebemos que mesmo o cinema estando
presente na vida e na profissão do professor, o filme é visto apenas como um recurso
didático que ilustra conteúdos, como um apoio nas aulas, não utilizando todo o
potencial cultural e formativo para o ser humano.
“Para dar ênfase aos resultados, selecionamos algumas formas de como o
professor utiliza os filmes em seu local de trabalho e as repostas foram as seguintes:
“integrando-o ao que está sendo trabalhado” “quase sempre com o tema estudado em
aula”,” adequando o conteúdo e nível dos alunos”,” de acordo com o tema de estudo, o
filme é um ótimo recurso”,” utilizo o filme para enfatizar o conhecimento sobre algum
assunto”,” de uma maneira que eu possa ilustrar meu trabalho, para que o assunto
ensinado seja melhor assimilado”. Percebe-se então, que todas as respostas têm em
comum o filme visto como um recurso didático.
A pergunta talvez que mais nos indica a relação do cinema na vida do professor
foi: você acha importante o cinema na vida do professor? 94% responderam que sim,
4% responderam que não e 2% não responderam. Logo pedimos porque achava
importante o cinema na vida do professor e 36% responderam porque serve de recurso
didático, não contemplando o real sentido da pergunta que era na vida e não na
profissão, logo percebemos que o profissional está muito presente, sendo difícil mostrar
o lado pessoal. Outros 21% não responderam, 20% consideram importante, pois é uma
forma de lazer, 15% consideram ser cultura e 8% atribuíram outros fins. Nessa parte
percebemos que se somarmos o percentual de professores que veem o cinema como
lazer e cultura, não teríamos tantos professores utilizando filmes como recurso didático
em sala de aula, assim essa contradição nos mobiliza a pensar outras questões a serem
trabalhadas na formação. Na perspectiva de tecer alguns traços comparativos com a
pesquisa realizada com professores de Belo Horizonte, onde encontramos dados muito
semelhantes aos encontrados na cidade de Santa Maria, Ramos e Teixeira (2010, p. 16)
conversam com Alain Bergala que em A Hipótese-Cinema propõe pensar esta arte como
a experiência de encontro com a alteridade. “Aponta um caminho inventivo e fértil para
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este trabalho, ao mostrar como o cinema pode deixar de ser apenas um recurso
didático para se tornar uma oportunidade para o encontro com a arte.”
Para ilustrar a relação do professor com o cinema acima mencionado trazemos
fragmentos das respostas dos professores “sim, é importante na vida de todas as
pessoas, pois é uma forma de cultura e lazer”, “sim, porque podemos utilizá-lo como
um meio de recurso para a vida escolar”, “sim, através dos filmes podemos explorar
muitos assuntos em sala de aula” e “sim, pois considero um importante recurso para a
introdução dos temas a serem trabalhados”. As respostas foram parecidas com as
anteriores, mas ainda prevaleceu a ideia de que o cinema é importante, pois serve de
aporte para as aulas.
Finalizando nossas análises dos questionários a última pergunta consistia numa
espécie de convite, perguntando se os professores gostariam de participar de uma
formação sobre cinema. Então, dos 645 questionários respondidos, 371 professores
responderam que gostariam de participar, pouco mais de 50% dos professores, fato
considerado positivo se não fossem o número de professores que estão fazendo a
formação sobre cinema, que totalizam 24 participantes.
Assim, nos questionamos sobre a importância do cinema na vida do professor de
não querer participar de uma formação com essa temática? Será que para a utilização de
filmes em sala de aula não precisa de formação? Esses poucos participantes realmente
querem e estão abertos a participar, discutir e compartilhar conhecimentos e vivências
sobre o cinema, tanto na sua vida como em sua profissão.
Cabe destacar um elemento da cultura docente local que, a propósito dos docentes
da rede municipal não estarem recebendo o piso nacional para os salários de
professores, decidiram como manifestação de resistência, não aderir a nenhum projeto
de formação continuada. Ainda, cabe sempre lembrar que as condições desfavoráveis a
que são submetidos os professores “à realização de um bom trabalho, tanto do ponto de
vista das condições salariais, ritmos e jornadas laborais, quanto face às bases materiais e
infraestrutura das escolas e redes de ensino” (RAMOS e TEIXEIRA, 2010, p.16)
Após o levantamento destes dados, convidamos todos os professores a
participarem da formação. Como já foi dito, somente 24 professores aceitaram o
convite. Os encontros estão acontecendo aos sábados pela manhã. Estes acontecem
intercalando atividades à distância com presenciais, utilizando textos, curtas-metragens,
filmes e outros dispositivos para refletirmos as temáticas.
As atividades propostas iniciam com exercícios corporais e no primeiro encontro
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É por essa via que entendemos o cinema, como objeto estético para pensarmos o
mundo da cultura, como também nos permite refletirmos, falarmos, escrevermos sobre
nossa vida, nossa história, associada ao contexto em que estamos. Consideramos que a
experiência estética na formação do docente possibilita outro olhar aos sentidos que
perpassam os sujeitos e que necessitam ser (re)visitados. Pesquisar esses processos de
significação se configura num caminho cheio de possibilidades, que conferem à
formação um lugar propositivo, não apenas estático. Possibilita olhar o professor como
um “Si” sensível, que percebe sua subjetividade.
Nos primeiros encontros realizados algumas questões importantes já estão sendo
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principalmente com a preocupação de apresentar aos estudantes obras que possam lhes
causar algum tipo de estranhamento, que os façam pensar a exceção, o extraordinário e
promova rupturas no modo de ver os diferentes aspectos que constituem aquilo que
consensualmente denominamos realidade.
Para agir eticamente em tempos de incerteza, faz-se necessário um esforço no
sentido de provocar, de duvidar de nós mesmos e das diversas posições estabelecidas
para os indivíduos e grupos nas famílias, nas escolas, na cidade e em todos os espaços
nos quais existimos que nos formam e ao qual formamos por meio de nossas ações
cotidianas.
Pensamos, enfim, diante do que nos contam as docentes sobre a formação ético-
moral por meio dos filmes, que talvez essa prática pudesse ser mais enriquecedora se o
cinema fosse trazido para escola como um “elemento perturbador” (Bergala, 2008,
p.29) tanto de referências estéticas, quanto de visões de mundo em geral, ou seja, se as
atividades com cinema fossem a porta pela qual entrassem também na escola novos
sujeitos e novas ou diferentes formas de perceber o que nos rodeia.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Milton José de (2001). Imagens e sons: a nova cultura oral. São
Paulo: Cortez.
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