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© 2003 – GREG LEE

CITA COM LA MUERTE


OESTE VERMELHO 1
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CAPÍTULO PRIMEIRO
O regresso do passado

O cavaleiro avançava inclinado sobre o pescoço do


animal. Levava o chapéu puxado para os olhos e as mãos
indolentemente apoiadas na sela. Era magro como uma
tábua, com o rosto seco, cortado por profundas rugas. Devia
ter uns cinqüenta anos, aparentando alguns mais, talvez. Os
olhos claros e vivos moviam-se inquietos sob as pálpebras
quase fechadas. Usava um revólver apenas, do lado direito,
um pouco alto. As roupas escuras que estava vestindo
mostravam, pela poeira que apresentavam, que devia ter
feito uma longa viagem.
O calor que abrasava aquela região de Montana e os
uísques que bebera no saloon de Winnet haviam contribuído
para aumentar aquela sensação de cansaço e sonolência.
Levantou a cabeça e olhou a porteira de um rancho que se
erguia na frente dele, a uns dez metros. Sobre os pilares que
formavam os lados da porteira, havia sido pregada uma
placa de madeira com as palavras: RANCHO NATAL
O nome do proprietário do rancho havia sido omitido.
No entanto, o cavaleiro sabia quem era o dono. Um sorriso
cruel distendeu os lábios finos, quando tocou os flancos do
cavalo com os joelhos, fazendo-o penetrar no rancho. Mais
atento, agora, percorreu a escassa milha que o separava da
casa principal do rancho.
O Rancho Natal era uma da melhores fazendas de
criação de gado bovino daquela região. Muito extenso,
apresentava-se excelentemente tratado, com bons e
abundantes pastos, milhares de cabeças de gado e ótimas
construções. John Farrel, seu proprietário, era um homem
de cinqüenta e poucos anos, cabelos totalmente brancos,
abundantes, que lhe cobriam as orelhas. Viera do Cobrado
dez anos antes e, juntamente com seu filho, Steve Farrel,
haviam trabalhado duramente, até erguerem aquela fazenda,
transformando-a na mais próspera da região de Winnet, ao
sul de Montana. O fato de o rancho ter progredido daquela
forma surpreendente, devia-se não apenas ao esforço
abnegado dos dois homens, mas também a outro detalhe
inteligente de John Farrel. Apesar de ser um dos maiores
criadores de gado de Montana, sempre se mantivera
afastado das lutas sangrentas que, ali mesmo, no condado de
Winnet, opunham os criadores de reses e os ovelheiros.
Dessa forma, conseguira sempre desviar todos os esforços e
recursos financeiros para o engrandecimento do Rancho
Natal, até transformá-lo na excelente propriedade que hoje
era.
O misterioso cavaleiro vestido de negro deteve a
montaria a cerca de cem metros da grande casa do rancho.
Era uma construção de dois andares, em estilo colonial, com
suas paredes brancas e a varanda apoiada em arcos. Na
varanda, encontrava-se um homem envergando uma camisa
de quadrados e um colete de couro. Sobre as calças de brim
azul, podiam ver-se dois revólveres brilhantes. Tratava-se
de John Farrel, que tinha o chapéu tipo Stetson atirado para
a nuca e observava o cavaleiro que se aproximava.
O dono do rancho semicerrou os olhos, intrigado. A
silhueta daquele forasteiro lhe parecia vagamente familiar.
No entanto, não podia dizer, com segurança, se o conhecia
ou não. O recém chegado deteve o cavalo a três ou quatro
passos da varanda e sorriu cinicamente. John Farrel
estremeceu. Não gostava daquele homem, de seu aspecto,
de seu sorriso. Um estranho pressentimento lhe dizia que
ele trazia a desgraça, a dor...
— Deseja alguma coisa, forasteiro? — perguntou com
voz pouco firme.
O cavaleiro, mantendo as mãos apoiadas na sela,
distendeu mais ainda o sorriso, olhando fixamente o
rancheiro. Pelo espaço de um minuto, nenhum dos dois
disse nada, limitando-se a olhar um para o outro. A
sensação de perigo e desconforto era cada vez mais intensa
em John Farrel. Por seu lado, o estranho forasteiro não
abandonava o sorriso mordaz.
— Perguntei se deseja alguma coisa, forasteiro. Não
ouviu? — perguntou de novo o rancheiro.
O recém-chegado balançou Levemente a cabeça, sem
deixar de encarar o outro.
— Você é John Farrel, não é? — perguntou
simplesmente.
John Farrel não pôde evitar um estremecimento. Era a
terceira vez, em vinte anos, que lhe faziam aquela pergunta,
desse jeito. E de todas às vezes, o rumo de sua vida foi
totalmente alterado a partir dessas palavras simples, mas
carregadas de sentido. Assentiu devagar.
— Sim, sou John Farrel. O que é que você quer?
O sorriso ampliou-se, com mais ironia ainda, tios lábios
do forasteiro. Fez um gesto vago com a mão e murmurou:
— Não quero nada, John Farrel.
— Nada?
— É... Nada. Isso o deixa surpreendido?
Deixava, sim. Farrel esperaria tudo, menos que aquele
homem não quisesse nada dele. No mínimo, talvez quisesse
sua vida. Isso, sim, seria o lógico. A menos que estivesse
enganado e aquele homem não fosse quem ele estava
pensando. Mas isso seria muito difícil. Alguma coisa dentro
de Farrel lhe dizia que não podia estar enganado e que
aquele desconhecido era um terceiro fantasma que ressurgia
das brumas de seu passado para lhe roubar a tranqüilidade.
— Por que não fala de uma vez o que quer?
O desconhecido manteve o sorriso e abriu as mãos, num
gesto condescendente.
— Para que a pressa, John Farrel? Temos todo o tempo
do mundo. O tempo que resta a cada um de nós, para viver.
Até mais.
Sem esperar resposta, voltou-se e, ao passo cansado do
cavalo, dirigiu-se à saída. John Farrel ficou ainda por largos
minutos na varanda, os braços caídos ao longo do corpo,
pensando e sentindo medo. Por fim, tinha tomado uma
decisão. Steve não ia gostar, mas era o único jeito.

CAPÍTULO SEGUNDO
Um negócio pouco claro

Steve Farrel tinha vinte e seis anos. Era um rapagão


fone, atlético, de rosto viril e bronzeado. Os olhos cinzentos
brilhavam com intensidade. Do lado direito, usava um
revólver com coronha de marfim. Os cabelos louros
apareciam, rebeldes, sob o chapéu de abas curtas. Fumava
nervosamente um cigano, montado num belo cavalo negro,
oculto atrás de uma pedra a uma milha da entrada do
Rancho Natal. Estava esperando já há duas horas e a
paciência não era seu forte. No chão, junto do cavalo,
podiam ver-se diversas pontas de cigarro, atestando o
nervosismo do jovem Farrel. Meia hora mais tarde, sorriu,
por fim. O homem que estava aguardando aparecia na curva
do caminho, com o cavalo a trote. Era um sujeito gordo,
pesadão, de chapéu negro no alto da cabeça. Vestia roupas
pretensamente elegantes, que lhe assentavam tão bem como
em um sapo.
Irving Oberby estava satisfeito. Sem nenhuma razão
aparente, o velho Farrel decidira vender-lhe o seu rancho,
propriedade cobiçada há tanto tempo. Oberby não tinha
mais de quarenta e cinco anos. No entanto, sua pele esticada
pela gordura fazia-o parecer um pouco mais novo. Sua cor
avermelhada lembrava um tomate, pronto a estourar. Uma
vistosa corrente de ouro enfeitava-lhe o colete claro, sob o
paletó escuro. Usava um revólver pesado e era o principal
criador de gado, rivalizando com John Farrel. Por isso, o
fato do velho Farrel estar querendo vender-lhe o rancho
acrescentava entusiasmo ao já otimista e poderoso Irving
Oberby.
De repente, um cavaleiro apareceu diante dele,
atravessando a montaria no caminho, impedindo-o de
avançar. Era Steve Farrel, o filho do homem que lhe
venderia o rancho.
— Olá. Steve. O que faz por aqui? — perguntou,
sorridente.
— Estava esperando você, Oberby.
— Esperando por mim?
— Você ia ao rancho de meu pai, não ia?
— Ia, sim. O velho Farrel está me aguardando.
— Para lhe vender o rancho?
O sorriso de Oberby ampliou-se.
— Exato. John decidiu vender e me fez uma oferta.
Steve aproximou mais o cavalo do de Oberby.
— Você não vai comprar nosso rancho, Irving.
— Como é que é?! — espantou-se o poderoso rancheiro.
— Eu disse que você não vai comprar o Rancho Natal,
Oberby.
— Não entendi. Seu pai me propõe a venda do rancho
sem eu ter falado coisa alguma a respeito. E, vem você
agora, me dizer que eu não comprarei esse rancho. Ficou
louco? Ou será que estão os dois Loucos? Foi seu pai quem
o mandou?
A expressão carreada de Steve preocupou o rancheiro.
— Não. Meu pai não sabe de nada.
— Então, o louco é apenas você, Steve. Quer sair do
meu caminho? John Farrel está me esperando e, em
questões de negócios, não gosto de chegar atrasado,
— Eu disse que você não vai comprar nosso rancho.
Portanto, não se encontrará hoje com meu pai.
— E quem vai me impedir?
— Eu.
— Escute, Steve. Não é segredo para ninguém que faz
muito tempo que venho querendo comprar o Rancho Natal.
Fiz duas ou três propostas a seu pai nesse sentido. Ele,
porém, não quis vender e eu não insisti. Agora, por motivos
que desconheço, ele resolveu vender. Diz que quer mudar-
se para a Califórnia. li claro que vou comprar.
— Não acha estranho que meu pai queira vender por
quarenta mil dólares um rancho que vale mais de cem mil?
— Isso não é da minha conta, Steve. Seu pai pediu
quarenta mil e acho que é um bom negócio para mim. Vou
comprar.
— Não comprará, Oberby. Sabe, estou cansado de me
mudar de um estado para outro. Já é a terceira vez que isso
acontece. Ficamos alguns anos num lugar, construímos um
belo rancho e, quando penso que criamos raízes, ele decide
vender e partir para outro estado. Chega! Por isso que, desta
vez, não vou permitir que ele faça o mesmo. Portanto,
Oberby, seja compreensivo e dê meia-volta. Regresse a seu
rancho. Eu justificarei sua ausência com meu pai, se for
necessário.
Oberby estava profundamente irritado com Steve Farrel.
Não podia admitir que alguém pretendesse impedi-lo de
realizar o maior negócio de sua vida.
— Os seus problemas com seu pai, Steve, resolva-os
com ele mesmo, sem misturar os outros, que nada têm a ver
com isso. Eu vou a esse encontro com seu pai, para
tratarmos da formalização da venda do rancho. Aliás,
mesmo que eu não vá, hoje, ao encontro com Farrel,
amanhã nos encontraremos no escritório do juiz, para
assinar a escritura de venda.
Antes que o rancheiro pudesse adivinhar o que ia
acontecer. Steve distendeu o braço e seu punho duro
atingiu-lhe o rosto, derrubando-o do cavalo. Oberby soltou
um grito e rolou pelo chão. Tentou levantar-se, mas duas
coisas o impediram: primeiro, sua gordura balofa constituía
um sério obstáculo; depois, uma patada de Steve no rosto
completou o que sua torpeza tinha iniciado. Caiu de novo,
de costas, com o sangue espalhando-se pelo rosto gordo.
Steve Farrel, convertido numa fúria, agarrou-o pelo paletó e
esmurrou-o repetidas vezes no rosto e nos rins. Por fim, um
direto potente no pescoço jogou Oberby no mundo da
inconsciência. Steve esperou, ofegante, que o rancheiro
recuperasse os sentidos. Quando isso aconteceu, agarrou-o
pelos cabelos e obrigou-o a sentar-se no chão.
— Lembre-se do que eu lhe disse, Irving Oberby! Você
não vai comprar o Rancho Natal, porque não vou permitir.
Se fizer outra tentativa nesse sentido, não será apenas uma
surra o que eu lhe darei, mas uns gramas de chumbo a mais
nesse corpo balofo.
O rancheiro olhou-o com ódio. Jamais odiara alguém
como estava odiando Steve Farrel nesse instante. A raiva, a
humilhação por que tinha passado ao ser surrado pelo rapaz
ultrapassava qualquer outra noção que pretendesse instalar-
se em seu cérebro.
— Você se arrependerá disto, Steve Farrel! Eu o
matarei! Eu o matarei com minhas próprias mãos!
A patada que Steve lhe aplicou no peito era forte o
bastante para derrubar um touro. Porém, as banhas que
cobriam o corpo do rancheiro serviram de amortecedor e ele
apenas caiu para trás, ficando de costas, gemendo.
— Se eu voltar a saber que você tenta uma aproximação
com meu pai para a compra do rancho, o matarei, Oberby!
— concluiu o rapaz, montando de um salto e afastando-se
em direção ao rancho.
O rancheiro ficou ainda uma hora estendido no chão,
sentindo o corpo todo doer. Por fim, fazendo um esforço
tremendo, conseguiu levantar-se. Chegou até o cavalo e
montou com dificuldade. Tocou os flancos do cavalo e
rumou para seu rancho, mastigando ameaças de morte
contra os Farrel. Não acreditava que o velho John fosse
alheio á surra que Steve lhe aplicara. Mas eles se
arrependeriam. Porque Oberby, além de um dos mais
poderosos rancheiros da região, era também o mais cruel,
desumano e inescrupuloso. Os ovelheiros tinham tido
excelentes provas disso. Durante o período mais intenso das
lutas entre os criadores de ovelhas e de reses, Oberby
esmagara uma porção de ovelheiros, nem sempre utilizando
processos limpos. Servia-se de seus pistoleiros para
estabelecer um ambiente de terror entre os criadores de
ovelhas, assassinando-os e massacrando os indefesos
animais. No entanto, perante a lei suas mãos estavam
limpas. Jamais se pôde provar coisa alguma contra ele.
***
John Farrel, nervoso, chupou o cigarro com força.
— Mas o que é que esse idiota está pensando? —
perguntou, furioso. — Eu lhe ofereço a possibilidade de
adquirir um rancho como e meu por menos da metade de
seu valor e ele não aparece?
O juiz Herbert Keaton tentou acalmar o rancheiro.
— Calma, John. Quem sabe se ele teve algum motivo
muito fone que o impediu de chegar na hora marcada?
— Uma hora de atraso é muito tempo, Herbert! E
ontem? Fiquei a tarde inteira esperando que ele aparecesse e
não deu as caras. Afinal, o que é que ele quer? Estou
vendendo um rancho por quarenta mil dólares. Um rancho
que vale, no mínimo, cem mil!
— John, somos amigos há muitos anos e acho que isso
me dá o direito de lhe falar como pretendo. No lugar de
Oberby, qualquer outro ficaria desconfiado. Por que é que
você quer vender, por tão pouco dinheiro, uma propriedade
que vale quase três vezes mais?
— Está querendo dizer que, por trás deste negócio, estou
escondendo alguma coisa ilegal, suja?
John Farrel estava vermelho de indignação. O fato de
Irving Oberby não ter comparecido ao encontro do dia
anterior e estar agora com mais de uma hora de atraso para
a assinatura da escritura de venda, fizera-o perder o controle
dos nervos.
— Não estou dizendo nada disso, John — retrucou o
juiz. — Mas convenhamos que sua atitude é, no mínimo,
estranha. Ninguém se desfaz de um rancho desses, em que
trabalhou durante dez anos, por um valor tão irrisório.
Afinal, nem para mim você quer contar por que vai vender?
O rancheiro acendeu um novo cigarro e tentou controlar-
se.
— Não tem nada de estranho ou misterioso, Herbert.
Acontece que tanto eu como meti filho não gostamos de
permanecer muito tempo num mesmo lugar. Chegamos ao
limite de nossa paciência em Montana. Depois, estas lutas
de criadores de gado com ovelheiros estão me deixando
decepcionado. Não quero mais ficar em Montana. Vou para
a Califórnia, onde comprarei outro rancho e ai permanecerei
até que nossa paciência, se esgote. Então, me mudarei para
outro lugar. Talvez para Nevada, para o Arizona, sei lá...
O juiz chegou a chama de um fósforo ao velho cachimbo
e chupou com força.
— Este diabo, de vez em quando, me prega uma peça
destas. Está entupido — disse, referindo-se ao cachimbo.
— Pare de fumar essa porcaria e fume cigarros, como
todo o mundo.
— Teria que fumar uma centena deles por dia, para me
satisfazer. Ainda mais tratando-se desses cigarros
fraquinhos do leste...
A conversa informal sobre fumo desanuviara um pouco
o ambiente. John Farrel, apesar de continuar furioso,
conseguira recuperar um pouco o controle dos nervos.
— Só espero mais quinze minutos, Herbert. Se ele não
aparecer vou embora e não tem mais negócio.
Meia hora depois, novamente furioso, o rancheiro
levantou-se, esmagou o cigarro no cinzeiro e explodiu:
— Eu quero que Oberby vá para o inferno, juiz! Não
vou esperar mais tempo! Se ele quiser conversar comigo,
para se justificar, precisará ter uma desculpa muito boa!
Sem esperar resposta do juiz, deixou o escritório e
atravessou a rua, com passadas furiosas. Não viu Steve, que,
da calçada oposta, ficara vigiando a entrada do escritório do
juiz, disposto a impedir que Irving Oberby comparecesse à
assinatura dos documentos de venda do Rancho Natal.

CAPÍTULO TERCEIRO
Ovelheiros e vaqueiros

Depois que John Farrel deixou a cidade, furioso com


Irving Oberby e sua falta de palavra, Steve encaminhou-se
para o saloon. Estava precisando de uma bebida fresca. Não
tinha ainda atravessado a rua, quando sua atenção foi
atraída para uma garota de cerca de vinte e três anos,
cabelos louros muito claros, olhos profundamente azuis e
como de boneca. Sem ser muito baixa, tinha, no entanto,
alguns centímetros a menos que Steve, o que não importava
muito ao rapaz. Na verdade, o corpo escultural de Beth
Harris compensava a pouca altura. Os olhos límpidos
pareciam sorrir a todo o momento. Tinha os lábios cheios,
rosados, lembrando uma amora silvestre. Os seios erguidos,
duros, salientavam-se no tronco esbelto. Steve seguiu-a com
os olhos por alguns segundos.
De repente, Beth levantou os olhos para ele e ruborizou-
se. O coração de Steve Farrel quase pulou no peito. Beth era
muito linda. E corajosa também. O fato de estar ali, sozinha,
na cidade, demonstrava que era feita da mesma têmpera de
seu pai, Cyril Harris, o criador de ovelhas da região.
Inesperadamente, a situação complicou-se de forma
dramática. Antes mesmo que os acontecimentos se
verificassem, Steve sabia o que ia acontecer. Dois
vaqueiros, na verdade pistoleiros a serviço de Irving
Oberby. simulando estar bêbados, avançaram para Beth
Harris. Ela era a filha de Cyril Harris e isso era o bastante
para que os energúmenos a provocassem. Recebiam ordens
constantes de Oberby para hostilizar todo aquele que tivesse
qualquer tipo de relacionamento com ovelhas.
Os dois bêbados falsos cambalearam e um deles, a
pretexto de se equilibrar, passou o braço pela cintura de
Beth. A garota sacudiu-o com uni gritinho e o canalha
soltou uma gargalhada alvar. Logo, o outro pretendeu
agarrar a garota. Não chegou a fazê-lo porque, neste
instante, um murro brutal o atingiu no meio da testa.
atirando-o contra a parede do armazém de Kroner. O
segundo pistoleiro jogou se sobre o inesperado inimigo e foi
recebido por um pontapé violento no baixo-ventre. Gritou
de dor e dobrou-se para diante, a tempo de encaixar um
gancho potente de esquerda. Steve Farrel parecia uma
máquina demolidora, distribuindo murros a esmo, pois mais
três haviam entrado na luta. Enquanto protegia o corpo de
Beth Harris com o seu, o jovem esgrimia os punhos com
habilidade e contundência. Dois inimigos já estavam no
chão. Um sem sentidos, atingido por um direto fulminante
na ponta do queixo, e o outro retorcendo-se de dor, agarrado
ao baixo-ventre.
Neste instante, uma algazarra infernal partiu do interior
do saloon, de onde, segundos depois, saía um numeroso
grupo de ovelheiros. Tinham reconhecido a filha de Cyril
Harris e a natureza dos seus atacantes, homens de Oberby.
Não hesitaram. Aquela luta lhes dizia respeito também.
Pouco depois, o que tinha começado como uma simples
briga entre Steve Farrel, para defender uma garota, e dois
pistoleiros, pretensamente bêbados, tinha-se transformado
numa luta de proporções colossais, em que dezenas de
ovelheiros enfrentavam outros tantos vaqueiros, reacendido
por momentos o ódio que existia entre os trabalhadores dos
dois tipos de criadores.
Steve Farrel, sempre protegendo o corpo de Beth,
forçando-a a deslocar-se na direção da porta do armazém de
Kroner, continuava distribuindo murros com uma precisão
matemática. Nesse instante, não via mais a quem estava
atingindo, limitando-se a golpear todos os que se
aproximavam dele com instintos agressivos. Beth Harris
acabou entrando no armazém, no instante em que um tiro de
rifle soava na rua, dando um novo rumo à luta.
Imediatamente, quase todos os contendores se arrojaram ao
chão, sacando as armas.
Steve Farrel deixou-se cair atrás de um bebedouro de
animais, quando soavam novos tiros de rifle, provenientes
do telhado em frente ao armazém. Olhou para lá e pôde
distinguir um dos pistoleiros de Irving Oberby. O fato de
estar atirando diretamente nele só podia significar que já
tinham recebido ordens de Oberby para que o liquidassem.
Sabia que o poderoso rancheiro não perdoaria nunca a surra
que lhe aplicara, nem a sabotagem do negócio.
Os homens que se encontravam no chão, agora divididos
em dois grupos, ovelheiros de um lado e vaqueiros de outro,
haviam puxado das armas e começaram a atirar uns contra
os outros. Steve ergueu o revólver, apontou cuidadosamente
para o pistoleiro do telhado e apelou o gatilho. O homem
abriu os braços, soltou um berro e acompanhou o rifle, na
descida vertiginosa até o chão. Ficou imóvel, enrolado
sobre si mesmo, morto. Os tiros de dois outros vaqueiros de
Oberby concentraram-se com mais ódio em Steve Farrel,
depois que viram o companheiro cair morto na rua. O
bebedouro não era um lugar muito seguro para Steve, de
forma que ele rastejou para a calçada, protegendo-se com
uma coluna grossa, que sustentava a varanda do armazém.
As balas choviam à volta dele. Num momento em que o
ataque dos inimigos em menos intenso, o jovem assomou a
cabeça e fez fogo. Um dos pistoleiros sobreviventes recebeu
a bala no meio da testa e foi jogado para trás, mono. O
último canalha de Oberby ficou assustado e pretendeu bater
em retirada. Foi abatido por um tiro certeiro de um dos
ovelheiros de Cyril Harris.
Era o terceiro cadáver daquela luta. Nada daquilo lhe
interessava mais. Nunca se metera na luta entre ovelheiros e
criadores de gado bovino e era nisso que aquela briga inicial
se transformara. Recuou para a porta do armazém e entrou.
A loja estava deserta. Uma porta ao fundo, comunicava com
o interior do armazém. Steve Farrel aproximou-se dessa
porta, por onde se escutaram vozes.
— Você não tem um pingo de juízo, Beth — estava
dizendo o dono do armazém, Kroner, homem respeitado por
todo mundo, devido a sua sensatez e repúdio à violência. —
Com sua vinda à cidade, sozinha, acabou provocando este
tumulto todo, cujas conseqüências ainda ninguém sabe.
— Mas eu... — tentou argumentar a garota.
— Não há justificativa possível para uma imprudência
dessas, Beth. Você sabe como está o clima entre ovelheiros
e criadores de reses. Seu pai é o principal criador de
ovelhas. E claro que um acontecimento destes devia ter
passado por sua cabeça, antes de se lembrar de vir a Winnet
desacompanhada. O que estava querendo provar? Sua
valentia?
— Não... Eu apenas...
— Você sabe o que podia realmente ter acontecido? Ou
melhor, o que pode ter acontecido? Steve Farrel, um
excelente rapaz, pode ter morrido, pois à luta a murros
sucedeu-se o tiroteio.
— Não! Steve não pode ter morrido!
— Não entendo as mulheres. Steve Farrel é filho de um
dos maiores criadores de reses desta comarca, Talvez o
maior, rivalizando apenas com Oberby. Apesar de nunca
terem intervindo diretamente na luta contra os ovelheiros, a
verdade é que os Farrel são inimigos de vocês. No entanto,
você fica aí toda apavorada por alguma coisa ruim que
possa ter acontecido a ele...
— É que Steve Farrel me defendeu daqueles vaqueiros
bêbados...
— Não eram vaqueiros coisa nenhuma e não estavam
bêbados. Apenas fingiam, e são pistoleiros a serviço de
Irving Oberby, esse canalha! Mas sua preocupação com
Steve Farrel não será porque está apaixonada por ele?
A garota ruborizou-se intensamente e ficou silenciosa
por alguns instantes. Na loja. Steve estava na expectativa,
desejando e temendo a resposta de Beth Harris,
— Você sabe muito bem que meu pai jamais permitiria
um casamento entre Steve Farrel e eu. Ele é filho de um
criador de reses e meu pai cria ovelhas. Por isso, o fato de
eu estar preocupada com ele nunca poderia ser amor. E um
assunto que não me passa pela cabeça.
Steve engoliu em seco, empalidecendo. Todas as suas
esperanças, alimentadas ao longo de anos, acabavam por
ruir como um castelo de canas derrubado pelo vento. Beth
tinha razão. Qualquer tentativa de romance entre os
membros das duas famílias nunca passaria de uma ilusão,
Os chefes dessas famílias jamais permitiriam isso. Recuou
para a porta da rua e ia transpô-la, quando Kroner,
aparecendo na entrada para o interior do armazém, chamou-
o:
— Steve, você está bem?
O rapaz deteve-se. Atrás de Kroner aparecera a filha de
Cyril Harris, com expressão angustiada.
— Estou bem, sim. Não foi desta vez que conseguiram
acabar comigo.
— Você está bem... mesmo bem? — insistiu a garota.
— Estou, senhorita Harris. Não precisa se preocupar
comigo.
Tanto Kroner como Beth compreenderam que ele
deveria estar ali há algum tempo e que deveria ter escutado
a conversa que os dois travaram no interior do armazém
Beth Harris, triste, murmurou:
— Por que é que me defendeu, Steve?
— Por nenhum motivo especial. Simplesmente você é
uma mulher e eu sou um homem. Esses miseráveis
atacaram-na e era meu dever defendê-la. Só isso.
Beth baixou o rosto, lutando para não chorar.
— Compreendo De qualquer maneira, creio que devo-
lhe agradecer pelo que fez.
— Qualquer homem teria feito o mesmo, senhorita
Harris.
— Chame-me de Beth, por favo. Assim mesmo,
obrigada. Você arriscou sua vida por mim e jamais
esquecerei.
O rapaz sorriu tristemente e concluiu:
— Bem, tenho que ir andando agora. Até a próxima,
senhorita... Beth. Até logo, Kroner.
Sem esperar mais, saiu para a rua. Estava furioso
consigo mesmo e com aquela situação absurda, criada pelos
rancheiros de gado bovino e pelos ovelheiros. Montou e
esporeou furiosamente o cavalo, rumo ao rancho.

CAPÍTULO QUARTO
Um rancho de graça

À medida que ia avançando dentro das terras que


constituíam o excelente rancho de Irving Oberby, John
Farrel mais se convencia de que precisava deixar seu
orgulho de lado e tomar uma atitude como aquela. Jurara
perante o juiz que não haveria mais negócio entre ele e
Oberby. Porém, não podia esquecer a visita do misterioso
cavaleiro vestido de negro que apenas lhe perguntara se ele
era John Farrel. E claro que estava cansado de saber que ele
era John Farrel. Do contrário, não se teria comportado
daquele jeito. Aquele homem era uma ameaça constante à
sua tranqüilidade e à sua vida. Não adiantava tentar
enganar-se a si mesmo. Como das outras duas vezes
anteriores, anos atrás, a única solução era mudar de estado.
Desta vez, iria para a Califórnia, onde tentaria reconstruir
sua vida. Claro que Steve não ia concordar, mas estava
pouco ligando para o que o filho dissesse. O que ia fazer era
também para o bem de Steve. Talvez um dia ele entendesse
e lhe desse razão.
Olhou em volta. Havia diversos vaqueiros por ali,
fingindo trabalhar. Na verdade, tratava-se de pistoleiros
contratados por Irving Oberby depois que os ovelheiros se
haviam instalado em Winnet. Os pistoleiros olhavam
desconfiados para ele, mas ninguém impediu seu avanço até
a enorme casa principal do rancho. Amarrou o cavalo numa
trave de madeira e ia começar a subir os degraus, quando a
voz irônica de um pistoleiro o deteve.
— Onde pensa que vai, amigo?
— Quem é você?
— Sou Risky, o capataz deste rancho. E fiz uma
pergunta.
— Irving Oberby está em casa?
— Está sim. Quem é você?
— Diga a ele que John Farrel está aqui e quer falar com
ele.
— John Farrel, hem? — uma nota de mordacidade mais
intensa apareceu na voz do pistoleiro-capataz. — Não creio
que meu patrão queira falar com você...
— Você não tem nada que crer, nem deixar de crer,
imbecil! Vá chamar seu patrão e deixe de conversa fiada.
— Escute aqui, vovô! Ainda ninguém se atreveu a falar
comigo desse jeito e não é agora que vou permiti-lo,
entendeu?
— Se você não for chamar seu patrão em quinze
segundos, imbecil, vou lhe mostrar quem é John Farrel!
Suma daqui!
O rancheiro tinha perdido de vez sua paciência. A
impertinência do vaqueiro deixara-o irritado. Estava
vermelho de indignação.
— Eu é que vou lhe ensinar boas maneiras, velho
cretino!
Juntando a ação à palavra, Risky desceu a mão para o
revólver. Mas foi surpreendido pelo movimento veloz do
rancheiro, que sacara primeiro que ele.
Risky não acreditava ainda no que seus olhos tinham
visto, ia dizer alguma coisa, quando uma voz soou atrás
dele:
— O que é que está acontecendo aqui, Risky? Ali estava
Irving Oberby, com o rosto coberto de hematomas, um olho
inchado e um ódio furioso na alma.
— Esse sujeito aí, John Farrel, diz que quer falar com
você, Oberby...
— Pode sumir daqui. Risky. Eu trato do caso com John
Farrel. Venha — concluiu, dirigindo-se a Farrel.
Entraram numa sala enorme, luxuosamente mobiliada,
ainda que não abundasse o bom gosto.
— O que foi que lhe aconteceu, Oberby? Caiu do
cavalo? — perguntou Farrel, olhando atentamente o rosto
do outro.
— O que é que você quer aqui? Devia expulsá-lo a
pontapés, John Farrel!
— Essa é boa! Você é que erra, demonstrando ser um
sujeito sem palavra, faltando aos dois encontros para a
venda do meu rancho e ainda por cima se mostra ofendido?
O que é que está pretendendo?
Oberby sorriu de forma sinistra.
— O que é que estou pretendendo? Isso pergunto eu,
Farrel! Não acredito na aparente inocência que você está
exibindo, sabe?
— Do que é que você está falando, idiota? — Farrel ia a
caminho da indignação mais uma vez. — Se não fosse
minha vontade louca de ir para a Califórnia, pode ter certeza
que jamais teria vindo aqui. Afinal, que justificativa você
tem?
Oberby deu alguns passos pela sala, acendeu um charuto
e grunhiu:
— Você me perguntou o que é que me tinha acontecido,
se eu caí do cavalo, lembra? Muito bem. Não caí do cavalo.
Derrubaram-me de lá. E em seguida me espancaram
brutalmente. Sabe quem fez isso?
Farrel balançou a cabeça negativamente. Não era difícil
ver que Oberby estava falando a verdade. Seu rosto
apresentava um estado lastimoso.
— O autor desta proeza foi seu filho, Steve Farrel!
Havia ódio nas palavras de Oberby. E um ódio tão
intenso, que Farrel estremeceu. Uma nova onda de
indignação apossou-se dele.
— Não acredito no que você está dizendo, Oberby!
Você é um mentiroso! Steve jamais faria uma coisa dessas.
Por que iria fazê-lo? Procure outra desculpa mais decente!
— Não seja imbecil, Farrel! Você está em minha casa e
não lhe convém me provocar. Meus homens poderiam
acabar com você em poucos segundos. Voltando a nosso
assunto, acho bom você educar melhor o seu filho. Ele me
deteve ontem, quando eu estava indo para o rancho para
falar com você. Disse-me que estava fado de pular de um
estado para o outro e que, desta vez, não iria para a
Califórnia. Não permitiria que você vendesse o rancho. E,
para me dissuadir, me deu uma surra, como você está
vendo. Agora, tem uma coisa... Não acredito que você
esteja fora disso.
Farrel olhou para Oberby com atenção. E foi forçado a
concluir que, apesar de saber que estava diante de um
homem sem escrúpulos, naquele momento ele estava
falando a verdade. Devia ter esperado uma reação daquele
tipo da pane de Steve. Só que jamais poderia pensar que ele
fosse tão longe.
— Steve é muito impulsivo. Eu sei que ele não está com
muita vontade de ir para a Califórnia, mas ninguém o
autorizou a tomar uma atitude dessas. Pode deixar que eu
cuidarei desse assunto com ele. Vamos tratar do nosso
negócio. Eu continuo disposto a vender o rancho.
Oberby sorriu com desprezo e caminhou até a janela.
— Agora não me interessa mais comprar seu rancho,
Farrel. Prefiro tê-lo de graça. Porque você e seu filho vão
morrer em breve. Aí, eu ocuparei suas terras.
Farrel empalideceu. Sabia que Oberby era canalha o
bastante para exercer uma vingança cruel sobre eles e isso o
deixava preocupado.
— Do que é que você está falando, Irving Oberby?
— Desde ontem que eu odeio Steve Farrel como jamais
odiei ninguém. John Farrel. Jurei que o mataria e vou fazê-
lo. Como suponho que isso transformará você em meu
inimigo, serei obrigado a matá-lo também. Dessa forma, seu
rancho ficará sem dono e eu o ocuparei. Fui claro?
John Farrel levantou-se, sem poder disfarçar a palidez.
— Você é um demônio, Oberby. Jamais poderá tocar em
meu filho, porque eu o matarei, se tentar!
Saiu dali com uma raiva tremenda disposto a ter uma
conversinha séria com Steve,

CAPÍTULO QUINTO
A hora da verdade

Steve Farrel sentia-se irritado consigo mesmo. Não


conseguia esquecer a filha de Cyril Harris, apesar de saber
que jamais poderia existir nada entre eles. Beth era filha do
principal criador de ovelhas. E isso era um rato que não
poderia ignorar. Odiava essa luta absurda, que nunca
apoiara. O estado de Montana, em geral, e a região de
Winnet, em particular, eram bastante grandes para que neles
coubessem, coexistindo pacificamente, ovelhas e reses.
Cada tipo de criação tinha suas características próprias e
não colidiam uma com a outra. Não havia motivo, portanto,
para que uma guerra daquele tipo destruísse centenas ou
militares de animais e as vidas de tanta gente. Era preciso
acabar com essa mentalidade cruel, tacanha. Isso, no
entanto, seria bastante difícil, enquanto existissem homens
como Irving Oberby. Mas, daquela vez tudo seria diferente.
Oberby não conseguiria comprar o Rancho Natal e
aumentar assim seu poderio. Ele o impediria, nem que para
isso tivesse que matá-lo.
Deteve o cavalo junto da varanda da casa e entregou as
rédeas a um vaqueiro, que levou o animal para a cocheira.
Steve entrou em casa com passo cansado. O pai estava
aguardando na sala, de rosto fechado, expressão dura.
— Estava esperando você. Steve disse.
O rapaz olhou para ele com a testa franzida. Não
pressagiava nada de bom a forma como o velho John Farrel
tinha falado.
— Algum assunto importante?
— Muito importante. Steve. Devo acrescentar que estou
bastante decepcionado com você.
— E por quê?
O velho levantou-se, deu alguns passos na direção do
rapaz e estendeu um dedo ossudo para a cara dele.
— Desde quando você tem autoridade para se intrometer
em meus negócios?
— Do que é que está falando, pai?
— Do que é que estou falando? Você sabe muito bem do
que é que eu estou falando! Da surra que você deu em
Oberby, para começar.
Steve imaginava que tosse alguma coisa desse gênero. O
poderoso rancheiro devia ter encontrado John Farrel e
contou-lhe o que tinha acontecido, sem dúvida.
— Pai, eu não quero ir para a Califórnia. Estou cansado
de pular de um estado para outro, sem poder me fixar em
lugar nenhum. Agora, quero criar raízes aqui. Gosto de
Montana, gosto deste rancho e quero ficar em Winnet!
— Mas eu não quero, Steve! Vou vender este rancho e
partir para a Califórnia, quer você goste ou não! Entendeu
bem? E não volte a intrometer-se em meus negócios!
— Pai, chegamos aqui faz dez anos. Juntos trabalhamos
duramente para erguer o Rancho Natal. Portanto, ele é tanto
meu, como seu. E não estou disposto a sair daqui. Tenho
direitos e não vou abrir mão deles!
O velho John Farrel estava vermelho de indignação.
Esticou o pescoço na direção do rapaz e bradou:
— Você não tem direito nenhum, imbecil! — pareceu
acalmar-se um pouco e prosseguiu em voz mais amena. —
Não pensei que alguma vez fosse obrigado a falar nisto, a
lembrar um pedaço de seu passado, mas você está me
obrigando, com sua atitude impensada...
Steve empalideceu. Compreendem o que John Farrel
queria dizer e sentiu que todos os seus argumentos perdiam
valor diante da verdade do pai.
— Está se referindo ao fato de eu não ser seu verdadeiro
filho, é isso?
O velho assentiu gravemente com a cabeça, mais calmo.
— Você não tem pais e sabe disso muito bem. Se eu não
o tivesse recolhido há vinte anos, quando os índios atacaram
a carroça de seus pais, matando todo o mundo, você
provavelmente teria morrido de fome e sede. Criei-o como
filho, dando-lhe tudo o que um filho pode querer. Nunca me
comportei com você de maneira diferente da que teria
utilizado com um filho. Por isso, você não tem o direito de
se intrometer nos meus negócios!
De cabeça baixa, o rapaz assentiu lentamente.
— Acho que tem razão, pai.. quem dizer, mister Farrel...
John sentiu como que uma punhalada, com o tratamento
que Steve usou.
— Não falei isso para que você deixasse de me
considerar seu pai. Simplesmente tentei fazê-lo ver as coisas
como elas são na realidade. Esta casa e o rancho sempre
foram seu lar e continuarão a sê-lo, onde quer que eu esteja.
Meu lar será o seu, sempre!
— Não, mister Farrel! Não adianta tentar enganar a mim
mesmo. Sempre serei um estranho em sua vida. Um infeliz
que você recolheu para que não morresse de fome e de sede.
Creio que já é hora de enfrentar a realidade pelo seu
verdadeiro nome.
O velho bufou, desorientado.
— Ora, pare com o melodrama! Escute aqui! Eu vou
vender o rancho e partiremos para a Califórnia. Ali
construiremos um novo lar. E, quem sabe, talvez sejamos
mais felizes ali do que em Winnet.
— Não, pai... mister Farrel. Pode fazer o que quiser com
o rancho. Afinal, ele é seu mesmo. Mas não irei para a
Califórnia. Vou arrumar algumas roupas e o cavalo que
você me ofereceu o ano passado e sairei de sua casa
imediatamente. Não quero ser mais um estorvo para seus
negócios.
John Farrel sentiu a aguilhoada da amargura. Não queria
perder Steve. Apesar de não ser de seu sangue, queria-o
como a um filho. Na verdade, jamais tivera outros herdeiros
e contava com Steve, para acompanhá-lo até os últimos
momentos de sua vida, continuando posteriormente sua
obra. A idéia de perdê-lo, por umas palavras impensadas,
deixava-o angustiado. Se pudesse contar-lhe toda a
verdade... Mas não podia. Não agora, pelo menos. Talvez
um dia, mais tarde.
— Não precisa sair desta casa. Steve. Eu preciso de você
junto de mim. Você é a minha única família!
— Adeus, mister Farrel — murmurou Steve,
encaminhando-se para a saída.
John deixou-se cair numa cadeira, arrasado. Não queria
aquilo. Não queria perder Steve. Mas também não podia
continuar em Winnet. A presença daquele homem estranho
e inquietante, vestido de negro, que o havia visitado dias
antes, continuava torturando-o. E, apesar de não ter voltado
a aparecer, tinha certeza de que estava na região, pronto
para se lançar sobre ele na primeira oportunidade. Tinha
que fugir, sair de Montana. E a Califórnia era o estado mais
indicado, no momento. Steve precisava entender isso!
Especialmente agora, que tinham conseguido um inimigo
poderoso, cruel e desumano. Irving Oberby faria o possível
para destruí-los antes que pudesse vender o rancho. Jamais
perdoaria o que Steve lhe tinha feito, disso não restava a
menor dúvida. Tentaria matar Steve Farrel e, como ele
dissera, isso significava que teria de liquidá-lo a ele
também, a John...
— Steve não pode se afastar de mim agora —
murmurou, levantando-se e caminhando até a porta.
Quando chegou à varanda, franziu a testa, preocupado.
Uma nuvem de poeira indicava a aproximação de um grupo
de cavaleiros. Minutos depois, quatro homens, encabeçados
por Risky, o capataz de Irving Oberby, detinham-se diante
da varanda.
— O que é que você quer aqui? — perguntou o
rancheiro.
Risky sorriu com cinismo e olhou os companheiros.
Sentia-se seguro de si mesmo.
— Trago um recado de meu patrão, de Irving Oberby.
— O que é que ele quer?
— Dar um conselho a você.
— Não aceito conselhos de canalhas, transmitidos por
miseráveis.
— Problema seu, Farrel. Oberby mandou dizer que acha
melhor você dar o fora. A Califórnia é um estado bem
grande e você pode viver lá, muitos anos. O que talvez não
seja possível, aqui.
Farrel franziu a testa. Era evidente, o jogo de Oberby.
Queria que ele abandonasse suas terras, para que pudesse
ocupá-las. E contava com a força de seu poder para o
assustar, certamente convencido que ele se apavoraria e
Fugiria imediatamente. Mas estava enganado.
— Diga a seu patrão que não receio coiotes e abutres.
Ele que não tente nada contra mim ou contra meu filho. Se
alguma coisa acontecer com Steve, eu arrancarei a pele de
Oberby e a sua, em tiras. Diga isso a ele.
— Você é um imbecil, Farrel! — riu Risky. — Estamos
lhe dando um conselho gratuito e saudável e você não quer
aproveitá-lo. Considero isso uma tremenda estupidez.
O sangue subira ao rosto de Farrel, de indignação.
— Escute aqui, canalha! Se dentro de dez segundos você
não estiver cavalgando para fora de minhas terras, pode ter
certeza de que puxarei de minha arma para lhe abrir um
buraco na testa!
Risky trocou um rápido olhar com os capangas. E antes
que Farrel pudesse reagir, quatro revólveres ficaram
apontados para ele.
— Você pode sacar e matar um ou dois de nós. Mas
nunca todos, Farrel. Os sobreviventes o crivariam de balas.
Por isso, e levando em conta que a vantagem, no momento,
é nossa, vamos dar-lhe uma lição que jamais esquecerá.
Algo parecido com o que seu filho fez com Oberby...
CAPÍTULO SEXTO
Recado para um canalha

Steve Farrel tinha pegado suas coisas e estava no


estábulo, selando o belo cavalo negro, último presente de
aniversário de John Farrel. De repente, o ruído de cavalos
aproximando-se sobressaltou-o. Por uma fresta entre as
tábuas da parede do estábulo, avistou os quatro cavaleiros
que se detinham diante da varanda. Escutou a conversa
entre John Farrel e os homens de Oberby, sentindo uma
emoção intensa, quando o rancheiro ameaçou matar Oberby
e seus pistoleiros, se tocassem em Steve. Estava já
arrependido de ter tomado uma atitude precipitada daquelas.
Reconhecia que Farrel sempre fora um pai para ele e que
lhe queria como a um filho de verdade.
Empalideceu subitamente, ao ver como os pistoleiros
mantinham o rancheiro sob a ameaça das armas e mais
ainda quando o cínico Risky declarou suas intenções de
espancar o velho. Não podia permitir que os canalhas
tocassem em Farrel. Empunhou um rifle e chegou à porta do
estábulo. Estava de lado em relação aos quatro bandidos.
Apontou cuidadosamente para o capataz e apelou o gatilho.
O revólver que Risky estava empunhando voou como se
tivesse asas. O canalha soltou um grito e voltou-se com um
movimento brusco.
— Soltem as armas, canalhas! O primeiro que fizer um
gesto suspeito leva chumbo! — bradou o rapaz.
Lentamente os pistoleiros foram largando os revólveres.
Compreendiam que a vantagem estava agora do lado de
Steve Farrel e que seria loucura tentar alguma ação
desesperada. Por outro lado, o fato de não ter atirado
diretamente sobre eles demonstrava que o rapaz não estava
disposto a matá-los, pelo menos a sangue-frio.
— Muito bem. Assim está melhor. Pai, vá para casa e,
pela janela, fique com um rifle apontado para estes coiotes.
Sentindo a alegria voltar a sua alma, pois o fato de Steve
estar do lado dele, chamando-o novamente de pai,
significava que tinha mudado de idéia sobre a decisão de
querer abandoná-lo, John sorriu.
— Certo, filho. Vamos dar uma lição nesses abutres,
para que Oberby saiba com quem está lidando.
Correu para a casa, enquanto o rapaz mantinha os
pistoleiros sob a ameaça do rifle. Segundos depois, o cano
de uma carabina aparecia na janela.
— Estão sob a mira do rifle, Steve — informou John
Farrel.
— Muito bem, companheiros — sorriu o rapaz. — Pelo
que eu escutei, esse valentão queria dar uma surra em meu
pai. Como acho que seria uma deslealdade, porque ele
estava sozinho contra quatro, vamos resolver isso agora.
Desça do cavalo, Risky.
O capataz de Oberby estava lívido. A situação invertera-
se e isso não o deixava tranqüilo.
— Nós voltaremos a nos encontrar. Steve Farrel.
Começou a voltar o cavalo para saída do rancho, mas um
tiro de rifle o impediu. A bala arrancou-lhe o chapéu da
cabeça, obrigando-o a deter-se, tremendo.
— Eu disse para você desmontar, Risky! Ou está com
medo, covarde?
— Escute aqui — balbuciou o capataz. — Vim apenas
trazer um recado de meu patrão. Não tenho nada que me
envolver com você.
Um novo tiro cofiou a correia da sela do cavalo de
Risky. Assustado, o animal empinou e a sela deslizou pelo
lombo suado da montaria. Risky tombou com estrépito
contra o chão duro. Steve Farrel largou o rifle e aproximou-
se do capataz de Oberby. Agarrou-o pelos cabelos,
obrigando-o a levantar-se. Risky gritou, mas de nada
adiantou. O punho direito de Steve esmagou-se brutalmente
contra o rosto viciado do pistoleiro, atirando-o de costas
mais uma vez.
— Levante-se, covarde! Lute como um homem! —
bradou o rapaz.
Risky, os olhos brilhando de ódio, ergueu-se lenta-
mente. Por uns instantes, ficou olhando o rapaz fixamente.
De súbito, atirou-se sobre ele, avançando de cabeça baixa,
disposto a atingi-lo no peito. Enganou-se. Foi recebido por
um gancho que levava a força da dinamite. Atingido de
baixo para cima, o pistoleiro quase foi erguido nos ares.
Endireitou-se, com o sangue espirrando em todas as
direções, dois dentes faltando na boca. Sacudiu a cabeça e
lançou-se de novo ao ataque, agitando os braços como pés
de moinho.
Steve Farrel, com um sorriso confiante, esperou que ele
se aproximasse e encaixou o murro que lhe era dirigido. Ao
mesmo tempo, avançou o punho esquerdo, que estalou
contra o ouvido do canalha. Risky gritou alto, a tempo de
receber um direto demolidor na base do pescoço. Recuou
aos tropeções, com a boca aberta, procurando reter o ar que
se escapava. Conseguiu manter ainda o equilíbrio e, com
um esgar de ódio, avançou de novo, atirando o braço para
diante, tentando agarrar o rapaz. Encontrou apenas o vazio,
porque Steve, com um salto ágil, desviara-se para o lado.
Ao mesmo tempo, esticou a perna direita. Risky tropeçou e
perdeu o equilíbrio, caindo de bruços.
— Como é um coiote? Vai ficar mordendo o chão o
tempo todo?
Raivoso, o capataz de Oberby virou-se no chio. Sorriu
malignamente e, agarrando um punhado de terra, jogou-a
traiçoeiramente nos olhos de Steve. Apanhado de surpresa,
o rapaz ficou cego por alguns instantes. Risky aproveitou
para se levantar de um salto e aplicar um murro feroz no
rosto dele. Steve Farrel recuou e tropeçou, caindo de costas.
O capataz de Oberby saltou sobre ele, levantando a bota,
disposto a esmagar o rosto do inimigo. Fazendo um esforço,
Steve tinha aberto os olhos, a tempo de ver o pé do outro
descer sobre ele. Rolou sobre si mesmo, levantando-se com
agilidade.
Surpreso. Risky perdeu alguns segundos preciosos.
Quando quis reagir, era tarde. Furioso com o golpe
traiçoeiro do adversário, Steve decidiu acabar com a briga.
Com uma sucessão de golpes curtos, massacrou o rosto de
Risky, que não tinha mais forças para responder ao
endiabrado ataque. Finalmente, um direto aplicado com a
raiva incontida atirou o pistoleiro a vários metros, fazendo-o
cair de costas. Tentou ainda levantar-se, mas as forças
abandonaram-no definitivamente. Ficou imóvel,
inconsciente.
No mesmo instante, pensando que John Farrel devia
estar distraído com a luta entre o filho e o capataz, um dos
pistoleiros de Oberby desceu velozmente a mão esquerda
para o revólver que tinha ficado no coldre do cinturão
duplo. Não chegou sequer a sacar. Um tiro de rifle, partindo
da janela, atravessou-lhe a garganta limpamente. O
pistoleiro abriu muito os olhos, como se não acreditasse no
que estava acontecendo. Os braços caíram ao longo do
como, soltando o revólver. Logo se dobrou para frente,
caindo como um saco vazio. Steve tinha voltado a
empunhar o rifle que deixara no chão para lutar com Risky
e apontou-o para os dois pistoleiros restantes.
— Algum de vocês quer fazer companhia a esse idiota?
Se quiser, tente!
Nenhum se moveu. Pouco depois, John Farrel saía de
casa, com a carabina engatilhada.
— Acho que como aviso para Irving Oberby já chega —
disse, com um sorriso.
Steve balançou a cabeça num assentimento.
— Concordo, pai.
— Bom, espero que Oberby compreenda o recado que
lhe mandamos agora.
— Não conte com isso, pai. Oberby é um coiote sujo e
traiçoeiro. Não descansará enquanto não cometer outra
sujeira contra nós. Acontece que, desta vez, estaremos
prevenidos.
John Farrel sentiu-se feliz. As palavras de Steve
indicavam que estava disposto a ficar com ele, a lutar ao
lado do pai.
— Bom, juntos poderemos bem com esses coiotes —
murmurou.
— Claro, pai. Vocês! — o rapaz dirigiu-se aos dois
pistoleiros. — Carreguem esses abutres nos seus cavalos e
dêem o fora daqui. Têm exatamente um minuto para
abandonar nossas terras. Após isso, começaremos a dar caça
a todos os esbirros de Oberby que virmos em nosso rancho.
Os homens de Oberby não esperaram que a ordem fosse
repetida. Desmontaram rapidamente, carregaram os dois
corpos atravessados num cavalo e, pouco depois,
cavalgaram para a saída do rancho.
— Digam a Oberby que todo aquele que invadir nossas
terras será abatido antes de lhe perguntarmos o que veio
fazer! — gritou o rapaz, quando os inimigos já se
afastavam.
John Farrel avançou para Steve e colocou-lhe a mão no
ombro.
— Obrigado por me ter defendido, filho.
— Fiz apenas meu dever, pai. Vamos entrar?
— Não vai mais partir?
— Não. Ficarei aqui, até que venda o rancho. Depois, o
futuro dirá.
— Não haverá mais venda de rancho. Steve.
Compreendi que estava errado e mudei de opinião.
Enfrentarei a luta, aconteça o que acontecer.
Steve Farrel abraçou o pai, emocionado. No entanto, não
imaginava exatamente ao que John estava querendo se
referir. O velho não pensava na ameaça de Oberby, mas sim
na daquele estranho e inquietante cavaleiro vestido de
negro. De qualquer maneira, não fugiria mais. Se havia de
enfrentar o passado, seria de cabeça erguida, com Steve
junto dele.
Entraram em casa, esquecidas as divergências de
momentos antes, dispostos a unirem suas forças contra os
inimigos.
CAPÍTULO SÉTIMO
Um ataque brutal

Os cinco cavaleiros avançavam cautelosamente,


acompanhando a cerca que limitava o rancho de John
Farrel, ao norte. Tinham rostos cruéis e usavam os
revólveres baixos, ao estilo dos pistoleiros.
***
— Não. Acho que não. Os únicos que poderiam
atrapalhar seriam John Farrel e o filho. Mas Risky e os
outros rapazes estão lá, para entretê-los enquanto fazemos
este trabalhinho.
— É... — murmurou um terceiro. — Creio que vai ser
moleza, mesmo. Esses idiotas não suspeitam de nada.
— Vamos, rapazes. Não podemos perder tempo. Risky
não pode entreter os Farrel por muito tempo.
Apertaram os flancos dos cavalos, que aumentaram a
velocidade. Dez minutos mais tarde, já dentro das terras dos
Farrel, os cinco cavaleiros detinham as montarias. A pouca
distância, um celeiro onde era guardada a forragem dos
animais erguia suas paredes cinzentas para o céu azul. Uns
trezentos metros mais além, umas cinqüenta cabeças de
gado comiam placidamente. Devia haver alguns vaqueiros
por ali, mas os pistoleiros não os avistavam.
— Pete, ajude-me aqui — grunhiu um deles, laçando a
cerca.
Dois outros homens se juntaram a Slim, puxando a
corda, amarrada às selas. A cerca não resistiu muito tempo,
sendo arrancada e arrastada alguns metros. Os dois outros
pistoleiros avançaram para o celeiro. Um deles levava uma
lata de querosene, que espalhou nas paredes de madeira.
Logo chegaram com um fósforo e as chamas não tardaram a
lamber a construção.
Através da fumaça, três vaqueiros de Farrel apareceram
pelo lado oposto do celeiro, gritando. Avistaram os
pistoleiros e compreenderam imediatamente o que estava
acontecendo. Sacaram os revólveres, dispostos a repelir o
ataque. Dois deles, porém, não puderam chegar a apelar o
gatilho. Os homens de Oberby anteciparam-se e abriram
fogo. O primeiro vaqueiro recebeu uma bala no peito, que
lhe atravessou o coração. Gritou agudamente e caiu de
bruços. O segundo teve a cabeça estourada por um balaço
certeiro. O último, um rapaz de menos de vinte anos, de
nome Bill, atirou-se ao chão, protegendo-se com uma pedra.
Apertou o gatilho do revólver, e teve a satisfação de ver um
dos pistoleiros abrir os braços, agitar-se espasmodicamente
e cair para trás.
Porém, um rifle entrou em ação nesse instante e Bill
sentiu a mordida de uma bala na perna direita. Rolou sobre
si mesmo, disposto a vender caro a vida. Através da fumaça,
avistou outro dos pistoleiros, que soltava uma gargalhada
cruel. Bill apontou para a cabeça dele e apelou o gatilho.
Slim foi arrancado da sela com uma bala nos miolos.
Quando bateu contra o chão macio, estava modo.
Pete, rangendo os dentes, raivoso, descarregou o tambor
do revólver sobre Bill, crivando-o de balas. O rapaz
estremeceu violentamente ao receber o impacto do chumbo,
acabando por se imobilizar. Cinco cadáveres eram o
balanço do traiçoeiro ataque dos homens de Oberby. As
chamas devoravam a construção de madeira. Os três
pistoleiros de Oberby que tinham sobrevivido à defesa dos
vaqueiros meteram os cavalos a galope na direção das reses
que se agitavam, assustadas. Tirando os rifles dos arções
das selas, os três homens começaram a atirar friamente
sobre os animais, que caíam entre gemidos angustiados. Em
poucos minutos, o pasto estava coberto por reses monas,
cujo sangue dava uma rota tétrica à paisagem. Com uma
gargalhada brutal, Pote ordenou:
— Vamos embora, rapazes! Isso já chega como aviso
para esses imbecis!
Fizeram voltear os cavalos e, minutos depois, partiam a
galope, em direção ao rancho de Irving Oberby, depois de
cumprida sua sinistra e cruel tarefa.
***
Steve Farrel, no pátio do rancho, foi o primeiro a notar a
coluna de fumaça negra que se elevava nos ares.
— Pai! — chamou, preocupado.
O velho John Farrel apareceu pouco depois. Olhou na
direção apontada pelo filho e empalideceu.
— Aquela fumaça vem dos barracões onde guardamos a
forragem dos animais para o tempo de seca!
— Vamos para lá! Deve ter sido alguma ponta de cigano
que um dos vaqueiros idiotas deixou acesa por lá. Vamos!
Os dois montaram de um salto e cavalgaram na direção
da fumaça. Apesar das palavras de Steve, ambos sabiam que
não se tratava de nenhum acidente. Aquilo era trabalho de
Oberby. E agora compreendiam o verdadeiro objetivo da
visita de Risky e seus capangas. Era apenas para distraí-los,
enquanto os outros canalhas davam prosseguimento à
sabotagem em outro ponto do rancho.
O primeiro a chegar perto do barracão quase
completamente consumido pelas chamas foi Steve Farrel,
que deteve a montaria com uma expressão de raiva
impotente.
— Miseráveis! — grunhiu, contemplando os destroços.
— Steve! Aqui! — chamou John, que acabava de
descobrir os corpos no chão.
Os dois homens abaixaram-se junto dos cadáveres. Eram
três vaqueiros e dois pistoleiros de Oberby. Não restava
mais dúvida sobre a autoria do atentado.
— Ele me paga! — exclamou Farrel, olhando com
tristeza e raiva as reses massacradas brutalmente.
Carregaram os cadáveres nos cavalos e levaram-nos de
volta ao rancho. Nada podiam fazer para salvar o celeiro,
quase totalmente destruído. Uma hora depois, os corpos das
cinco vítimas do bárbaro ataque eram enterrados no
cemitério do rancho e os dois proprietários entraram em
casa, de cabeças baixas.
— O que vamos fazer, pai? — inquiriu o rancheiro.
— Não sei, Steve. Não temos força bastante para atacar
de frente esse assassino. Porém, temos que ficar alerta. Ele
não vai se limitar ao que fez até agora. Sua intenção é
expulsar-nos daqui e não descansará enquanto não o
conseguir.
— Nós o impediremos, pai. No momento, vou até a
cidade. Irving precisa ver que não tenho medo. Talvez isso
o irrite mais e ele cometa algum erro.
— E muito perigoso, Steve. Ele pode tentar alguma
coisa contra você na cidade mesmo.
— Não tentará, pai. Isso seria muito evidente e o peso da
lei cairia sobre de, apesar da passividade do xerife Reeves.
— Pelo menos, tenha cuidado, filho.
— Pode deixar, pai. Saberei me cuidar.
Pouco depois, o rapaz cavalgava para a saída do rancho.
Aparentava uma tranqüilidade que estava longe de sentir,
depois de compreender que Irving parecia disposto a acabar
mesmo com eles. O poderoso rancheiro tinha pelo menos
uma dúzia de pistoleiros ao seu serviço, o que o tornava
uma força muito difícil de ser vencida. De qualquer forma,
o jovem Farrel não estava disposto a deixar-se expulsar de
suas terras sem luta. A imagem de Beth Harris voltou a sua
mente. Amava aquela mulher quase com loucura e tinha
certeza de não ser indiferente para ela. Precisava fazer
alguma coisa para vencer a barreira que se tinha erguido
entre eles, causada pela estúpida e absurda luta entre
ovelheiros e vaqueiros.

CAPITULO OITAVO
Pacto de amizade

Os três homens avançavam silenciosamente,


aproximando-se do rancho de Cyril Harris. Era uma
propriedade muito extensa. No entanto, não tanto como a
uns dez anos atrás. Nessa época, Harris conseguira a
concessão de uma parcela de terras que englobava toda a
parte sul das colinas Winnet, numa extensão enorme. Foi
recebido com entusiasmo na região, vindo de Nevada.
Trazia algum dinheiro e todo o mundo pensava que ele se
dedicaria à criação de gado bovino, com todas aquelas
terras.
Porém, depois de ter a propriedade em seu nome, Cyril
Harris declarou sua intenção de criar ovelhas.
Contra os protestos dos criadores de reses, trouxe para a
região os primeiros milhares de ovelhas. Aí começou a
guerra com os vaqueiros, especialmente com Irving Oberby,
o principal rancheiro naquela época. Aos poucos, Oberby
adquiriu os ranchos dos três criadores que tinham suas
propriedades limitando com a dele, aumentando
consideravelmente a área de seu rancho. Seu poder e força
cresceram e Cyril Harris compreendeu que não poderia lutar
sozinho.
Por isso, foi a Nevada em segredo e voltou com cinco
outros criadores de ovelhas, a quem cedeu a metade de suas
terras. Os novos criadores trouxeram seus próprios animais
e as forças em Winnet voltaram a apresentar um equilíbrio
temporário.
Porém, Irving Oberby não estava disposto a deixar que
os ovelheiros se mantivessem em Winnet e contratou mais
de uma dúzia de ferozes pistoleiros. Nessa situação de pé de
guerra, os anos foram transcorrendo, até aqueles dias. As
escaramuças entre os homens de Oberby e os ovelheiros
eram constantes. Nenhum dos outros criadores de reses
participava diretamente das hostilidades, se bem que
estivessem do lado de Oberby. Por tradição, os criadores de
reses não gostavam dos ovelheiros. O fenômeno não era
apenas de Winnet, mas estendia-se por todo o estado de
Montana, chegando, em alguns pontos, a assumir
proporções quase de guerra civil.
Assim estava a situação em Winnet, quando os três
cavaleiros chegaram a quinhentos metros dos pastos de
ovelhas, perto da casa principal de Cyril Harris. Centenas de
animais se encontravam por ali, mordiscando grama e
capim, de qualquer espécie. Enquanto dois homens se
encaminhavam para as ovelhas, o terceiro, carregando uma
lata de querosene, deslocava-se para os estábulos e currais,
ao lado da casa principal do rancho.
Diversos trabalhadores andavam por ali, em suas tarefas
costumeiras. Uni minuto mais tarde, os tiros de rifle,
abatendo cruelmente as ovelhas, começaram a ouvir-se, do
lado sul. Imediatamente, os empregados de Cyril Harris
responderam ao ataque. Porém, os pistoleiros de Oberby
estavam bem situados, protegidos por uma formação
rochosa de onde podiam repelir o fogo dos ovelheiros e
abater mais alguns animais. Com isso, ninguém prestou
atenção ao homem que havia desmontado junto dos currais
e começava a regar as paredes de madeira seca com o
querosene. Sorrindo sinistramente, o pistoleiro acabou o
liquido que tinha na lata e jogou o recipiente para longe.
Recuou alguns passos, botou fogo numa tocha e ergueu o
braço, disposto a atirá-la sobre as paredes molhadas.
Não passou da intenção, porque um tiro de rifle quebrou
o silêncio naquela parte do rancho. O pistoleiro abriu os
braços, soltou a tocha e caiu para diante, de bruços, morto.
Steve Farrel desmontou de um salto, com o rifle
fumegante, e aproximou-se dele. Voltou-o com a ponta do
pé e comprovou que estava morto. O tiroteio continuava do
outro lado da casa, nos pastos. Montou de novo e, pouco
depois, contemplava a cena dantesca que se abria diante
dele. Havia mais de urna centena de ovelhas mortas,
manchando de vermelho os pastos.
A menos de uma centena de metros da casa, Cyril Harris
e seus homens, uma meia dúzia no total, lutavam para
desalojar os dois pistoleiros das rochas, o que estava
parecendo uma tarefa impossível. Por aquele lado, Harris
não conseguiria espantar os pistoleiros. Para chegar até eles
teriam que passar por uma espécie de estreito e baixo
cânion, onde seriam presa fácil. Era preciso atacá-los pelo
outro lado.
Steve dirigiu o cavalo para o lado da casa, contornou-a
e, durante quase uma hora, cavalgou ao redor do maciço
rochoso, bem longe para não ser notado pelos pistoleiros.
Finalmente, encontrou-se atrás deles. Começou então a
avançar com prudência, tentando não se fazer notado.
Conseguiu chegar assim até urna distância de cem metros.
Não via ainda os atacantes, mas as pequenas nuvens de
fumaça indicavam claramente os lugares onde se
encontravam. Desmontou e, depois de amarrar o cavalo
numa árvore raquítica, deslocou-se de rastos, procurando
uma posição mais vantajosa.
Finalmente, avistou a cabeça do primeiro canalha. O
primeiro disparo de Steve Farrel foi apenas de aviso.
Repugnava-lhe a idéia de abater um homem pelas costas,
ainda que fosse um miserável como aquele. O pistoleiro deu
um salto quando a bala de Steve bateu na rocha, junto dele,
Voltou-se como uma fera, com o rifle engatilhado. Viu o
rapaz e apertou o gatilho. Steve deixou-se cair de joelhos e
fez fogo. Enquanto a bala do pistoleiro passava sobre sua
cabeça, o projétil que saiu do rifle do jovem Farei levava
um endereço mais celeiro. Um buraco escuro apareceu no
meio da testa do homem de Oberby, que abriu os braços e
soltou a carabina. Lentamente, deslizou contra a rocha que o
protegia, até ficar imóvel, dobrado numa posição grotesca.
O outro pistoleiro, compreendendo que a situação
começava a ficar perigosa, optou pela solução mais fácil.
Deslizando lateralmente, a coberto das rochas, chegou até o
cavalo e montou de um salto, perdendo-se na distância em
poucos minutos.
Steve Fartei levantou-se, desconfiado. Porém, não havia
sinais de outros pistoleiros e, mais afoito, dirigiu-se ao
encontro de Cyril Harris e seus homens, que se tinham
levantado também.
— Parece que esses canalhas não conseguiram o que
pretendiam — sorriu o rapaz.
— Graças a sua ajuda, Farrel. Obrigado, rapaz —
agradeceu o criador de ovelhas.
— Foi um prazer, Harris. Esses miseráveis, ou outros
mandados por Oberby, atacaram meu rancho há duas horas.
Abateram algumas cabeças de gado e mataram três de
nossos vaqueiros. Só espero que tenham sido esses dois que
eu liquidei aqui.
— Dois? Eu só vi você despachar um, Farrel —
murmurou o ovelheiro.
— Tem outro ao lado dos estábulos. Cacei-o quando se
preparava para incendiar os currais.
O ovelheiro olhou para lá, instintivamente, ainda que, de
onde se encontrava, não pudesse avistar o pistoleiro morto.
Steve olhou também. Na esquina da casa, viu a figura
elegante de Beth Harris, que avançava correndo ao encontro
deles.
— Você está bem, papai? — perguntou a garota,
preocupada.
— Estou sim, filha. Esses miseráveis conseguiram
apenas matar algumas ovelhas, graças à oportuna ajuda de
Farrel — voltou-se para o rapaz e estendeu a mão para ele.
— Minha filha me contou o que aconteceu na cidade,
quando você a defendeu. Quem agradecer-lhe e dizer que
pode contar com a minha amizade, apesar de estarmos em
campos opostos, rapaz.
— Por que diz que estamos em campo opostos, Harris?
— Nós somos criadores de ovelhas e você é um
vaqueiro, Fartei. Não é estarmos em campos opostos, isso?
— Não forçosamente, Harris. Este condado é
suficientemente grande para que nele coexistam reses e
ovelhas. Os homens é que complicam a situação.
Beth tinha o rosto radiante de felicidade. O que estava
escutando parecia-lhe um sonho. Jamais pensara que fosse
possível ouvir uma conversa daquelas entre Steve Farrel,
filho de um dos maiores criadores de gado, e Cyril Harris, o
ovelheiro mais importante da região.
— Particularmente, sou da mesma opinião, Farrel.
Infelizmente. Oberby não pensa assim e não me dá trégua.
Nem a mim nem a nenhum dos meus companheiros,
criadores de ovelhas.
— Oberby acabará caindo em si, de uma maneira ou de
outra, Harris. De qualquer forma, pode contar com o apoio
dos Farrel. Tenho certeza de que meu pai pensa como eu.
Eí, agora que nós somos também inimigos de Oberby,
considero um absurdo não juntarmos nossas forças contra
esse assassino.
Beth tinha a impressão de estar voando nas nuvens da
irrealidade. Steve exultava também como rumo do diálogo
com o ovelheiro. Quando, uma hora atrás, se dirigia para a
cidade, escutara os tiros provenientes do rancho de Harris,
pressentira o que estava acontecendo e sentiu a alma
angustiada, pensando que Beth poderia estar em perigo. Por
isso mudara de rumo, cavalgando para ali a tempo de
impedir o pistoleiro de incendiar os estábulos.
— Seja o que for que venha a acontecer, Farrel —
continuou Harris —, pode contar com minha amizade e
gratidão. Talvez assim, outros criadores de reses vejam a
razão e, juntamente conosco, possam convencer Oberby de
que está cometendo uma barbaridade.
— Tomara que sim, Harris.
— Não quer entrar? Podemos tomar um uísque para
selar nossa amizade.
— Aceito com prazer, Harris.
— Pode me chamar de Cyril, como todo o mundo,
Farrel.
— De acordo, Cyril. Desde que você me trate de Steve
— sorriu o rapaz, estreitando mais uma vez a mão que
Harris lhe estendia.
Exultante, Beth correu para a casa. Tinha medo que os
dois homens compreendessem o que estava se passando
dentro dela. Especialmente seu pai, que talvez não
aprovasse aquele amor. Ainda era cedo para isso...

CAPÍTULO NONO
Um foragido perigoso

Steve e John Farei entraram na cidade com a


preocupação estampada no rosto. Sabiam que, de qualquer
canto, de qualquer telhado, poderia partir um tiro traiçoeiro,
acabando com a vida de algum deles ou de ambos. Desde
que Irving Oberby pusera suas cabeças a prêmio,
precisavam andar com todo o cuidado, se não queriam
acabar sob as baias traiçoeiras de algum pistoleiro de
Oberby. Pai e filho, de comum acordo, separaram-se diante
do escritório do xerife. John encaminhou-se para a
delegacia e Steve dirigiu-se para o saloon.
John entrou no escritório de Fred Reeves com uma
sensação de alívio. Ali dentro, pelo menos, era improvável
que encontrasse a morte às mãos dos homens de Oberby ou
do estranho cavaleiro negro que o havia visitado. Reeves
estava sentado atrás de sua mesa, com as botas apoiadas
sobre o tampo.
— John Farrel! Isto é o que eu chamo de surpresa,
diabos!
Fred Reeves devia ter uns cinqüenta anos, aspecto duro,
cabelos grisalhos. Há muito que havia decidido afastar-se da
luta entre rancheiros e ovelheiros. No começo, tentara
impedir as hostilidades, Porém, logo teve que se convencer
de que era inútil. Os dois grupos rivais pareciam dispostos a
destruir-se e nada os deteria. Por isso, resolvera ignorar a
luta, limitando-se a registrar as baixas de um e de outro
lado. O mesmo estava acontecendo em outras regiões de
Montana, onde os xerifes eram impotentes para controlar a
situação.
— Admiro sua calma, Reeves! — bradou Farrel.
Oberby quase acaba com os Harris esta tarde e você se
mantém ai, comodamente instalado, sem tomar nenhuma
providência.
Reeves tirou finalmente os pés de cima da mesa.
— O que é que você gostaria que eu fizesse, Farrel? Não
tenho poder para neutralizar a ameaça que os dois grupos
representam um para o outro. E depois, não saberia em que
posição me colocar. Teria que optar por uma situação
intermediária. Para isso, necessitaria de mais voluntários do
que os que eventualmente possam existir no condado. Veja
bem. Os homens de Harris, somados aos pistoleiros de
Oberby, constituem uma força que não posso enfrentar. Em
outras regiões do estado, a situação é idêntica e meus
companheiros acabaram adotando a mesma atitude que eu.
A única solução é esperar que um dos grupos aniquile o
outro. Só depois eu terei condição de intervir.
John Farei estava indignado.
— Não posso entender essa passividade, Reeves. Meus
homens e meu rancho foram atacados hoje mesmo pelos
pistoleiros de Oberby! Mataram três de meus vaqueiros.
Será que nem mesmo assim vai tomar uma atitude?
O xerife levantou-se, furioso, e agarrou um pasquim que
repousava sobre a mesa.
Problemas bem mais graves me preocupam, Farrel. Veja
isto! Tex Coyne, um perigoso fora-da-lei, acaba de sair da
prisão de Yuma, depois de cumprir uma pena de vinte anos.
E sabe o que foi que ele fez assim que se achou em
liberdade? Assaltou um banco, matou um xerife e dois
empregados do banco. Fugiu e dirigiu-se para Montana.
Pelas informações que acabo de receber, ele encontra-se
nesta região, em Winnet, mais precisamente. Você imagina
o que ele tenha vindo fazer aqui?
Apesar da fúria que invadia o xerife, este não pôde
deixar de reparar na palidez que cobria o rosto do rancheiro.
Farrel tinha os olhos fixos no cartaz em que se pedia a
captura de Tex Coyne. Era o passado, o doloroso e
inquietante passado que voltava. Porque Tex Coyne, o
foragido reclamado pela justiça, era o homem vestido de
negro que o tinha visitado dias atrás. Durante vinte anos,
apenas duas vezes havia se lembrado dele. Porém, parece
que Coyne não o tinha esquecido, apesar de ter mudado
muito naquele tempo todo.
— O que aconteceu, Farrel? Está passando mal? —
perguntou o representante da lei.
— Não, não. Não é nada sério. Um ligeiro mal-estar que
passará logo. Espero que esse foragido não cause grandes
problemas em Winnet, Reeves. E desculpe a forma como eu
falei há pouco.
— Não tem importância, John. Compreendo o que você
sente e pode ficar tranqüilo que, depois de resolver este caso
de Tex Coyne, verei se posso fazer alguma coisa contra
Oberby. Se bem que você saiba tão bem como eu que ele
sempre comete suas canalhices de forma impecável. Jamais
foi possível acusá-lo de nada, com provas.
— Eu sei, Reeves. Desculpe minha impulsividade.
— Não pense mais nisso. Li tenha cuidado, para o caso
de deparar com Tex Coyne. E um assassino perigoso e
cruel. Não sei o que estará fazendo nesta região, mas não
estranharia se tivesse vindo trabalhar para Irving Oberby.
— Compreendo. Obrigado pelo aviso, Reeves. Até a
próxima.
O rancheiro voltou-se, deixando o escritório do xerife.
Estava bem mais preocupado do que quando entrara ali. E o
motivo de sua preocupação, agora, não era apenas Irving
Oberby, mas especialmente Tex Coyne, o fantasma que
ressurgia de seu passado.
***
Steve Farrel, com os cotovelos apoiados no balcão,
saboreava o uísque lentamente. Aparentava uma tran-
qüilidade que estava longe de sentir. Sabia que sua vida
pouco valia se aparecessem os homens de Oberby. Os
habitantes de Winnet não interviriam na luta e o xerife
estava afastado dela por decisão própria há muito tempo.
Estava, portanto, sozinho. Voltou-se e passeou os olhos pelo
soloon. Não havia muita gente ainda. E. não viu sinais de
homens de Oberby. Só havia uma saída e Steve tinha
chegado a essa conclusão depois de muito pensar. Era
preciso destruir Oberby e seus homens. Apenas desse jeito a
paz poderia voltar à região de Winnei.
Quando John Farrel chegou junto dele, o rapaz
perguntou:
— O que disse o xerife?
— O mesmo de sempre. Que não poderia intervir,
porque não dispõe de gente que queira arriscar-se a entrar
numa luta desse gênero.
— Já esperava isso. E, no fundo, não condeno Reeves.
Na verdade, pouco se pode fazer quando dois grupos
insistem em se destruir.
O rapaz deixou uma moeda sobre o balcão e
encaminhou-se para a saída, acompanhado pelo pai.
— Onde é que você vai, Steve?
Acabar com os pistoleiros de Irving Oberby. Só assim
teremos paz.
— Mas você não poderá fazer nada sozinho!
O rapaz contou então ao pai em que consistia seu plano.
Iria juntar-se à equipe de Cyril Harris e, juntos, marchariam
sobre Oberby. Sem os pistoleiros, o poderoso rancheiro não
se atreveria a continuar as hostilidades.
— Devíamos ter feito isso há mais tempo, pai. Cyril
Barris estava com a razão. Nós é que fomos egoístas não
intervindo. Deveríamos ter pensado que só anulando os
pistoleiros de Oberby, criadores de gado e ovelheiros
poderiam conviver. Porque esta região é grande o bastante
para todos.
— Concordo. Steve. Vou com você, então.
O rapaz deteve-o.
— Agradeço sua ajuda e vou precisar dela, pai. Mas não
para vir comigo. Não esqueça que um dos objetivos mais
cobiçados presentemente por Oberby é o nosso rancho. Vá
para lá e retina nossos vaqueiros. Fiquem preparados para o
caso de Oberby aparecer por lá.
De acordo, Steve. Mas tenha cuidado.
Pode ficar sossegado, pai. Eu saberei fazer as coisas.
Pouco depois, os dois homens deixavam a cidade,
cavalgando, decididos a acabar de uma vez com a
intranqüilidade que reinava na região, provocada pelo
rancheiro ambicioso e cruel.

CAPÍTULO DÉCIMO
O plano de um gênio

Steve Farrel cavalgou duramente até o rancho de Cyril


Harris. Ficou admirado por não ter encontrado ninguém
pelo caminho. O lógico seria deparar com alguns
ovelheiros. Porém, o rancho parecia deserto. Desmontou
diante da casa e estava subindo os degraus da varanda,
quando a porta se abriu e a filha de Harris apareceu.
— Beth, onde está todo o mundo?
— Saíram todos, Steve. Estou com tanto medo!
— Por quê? O que aconteceu? Onde está seu pai?
— Meu pai chegou á conclusão de que a única forma de
acabar com esta guerra é destruir Irving Oberby e seus
homens. Reuniu todos os empregados e partiram para o
rancho de Oberby.
Steve ficou tenso. Harris antecipam-se, mas tivera a
mesma idéia que ele.
— Eu vim aqui precisamente para propor isso a seu pai,
Beth. Concordo com ele em que essa é a única forma de
acabarmos com esta guerra. A paz precisa voltar a Winnet.
Aqui há espaço para ovelhas e reses. Mas para isso temos
que afastar os inescrupulosos e ambiciosos do caminho.
Oberby e seus pistoleiros assassinos têm que ser
aniquilados, expulsos de Winnet.
— Tenho medo. Steve! Oberby é um homem mau e
muito poderoso. Dispõe de assassinos profissionais a seu
serviço. Os empregados de meu pai atiram razoavelmente,
mas não são assassinos!
Uma onda de ternura, uma vontade enorme de proteger
aquela garota, invadiu o jovem Farrel. Aproximou-se dela e
levantou-lhe o queixo com a mão.
— Não se preocupe. Beth. Eu cuidarei para que nada
aconteça a seu pai.
Os rostos estavam muito juntos. Lentamente, foram se
colando as bocas, num beijo longo, apaixonado, em que ia
toda a força de um amor, alimentado sem esperanças por
muito tempo.
— Eu amo você, Beth — disse ele, quando se
separaram.
— Também o amo, Steve. Há muito tempo.
Pouco depois, o rapaz saltava para a sela e empreendia
um galope furioso, rumo ao rancho de Irving Oberby. Em
seu peito, levava agora uma razão por que lutar, por que
esmagar as feras que pretendiam acabar com a paz em
Winnet. O amor de Beth Harris parecia lhe dar mais forças.
Meteu-se por um atalho, disposto a chegar ao rancho de
Oberby o mais depressa possível. Demorou pouco para
chegar lá. Os ranchos de Oberby e de Harris estavam
ligados um ao outro, sendo que a passagem habitual se fazia
através de um apelado desfiladeiro. Por aí, Harris e seus
homens pensavam certamente entrar nas terras de Oberby.
Steve, porém, preferiu escolher outro caminho, mais
difícil, mas muito mais curto. Queria estudar o terreno antes
do ataque e tinha certeza de que os homens de Cyril Harris
não fariam isso, lançando-se ao ataque sem medir as
conseqüências. Além dos pistoleiros de Oberby, juntos com
seus vaqueiros, serem mais numerosos do que os homens de
Harris, era preciso não esquecer que se tratava de homens
acostumados a matar com a maior facilidade. Eram
assassinos profissionais, para quem a vida humana não tem
qualquer valor.
Como acontecera no rancho de Harris, também na
fazenda de Oberby o silêncio era quase total. Parecia que
todo o mundo se tinha evaporado de repente. Steve
desmontou a uns duzentos metros da casa principal e
avançou cautelosamente, protegendo-se com tudo o que
poderia oferecer algum abrigo. Minutos depois, tinha
chegado à conclusão de que realmente não havia ninguém
ali. O que significava que Oberby havia decido também a
avançar sobre Cyril Harris, depois de saber que o ataque
que mandara contra ele tinha falhado. Um leve ruído atrás
de Steve deixou-o tenso. Não estava tão sozinho como
havia pensado.
— Levante os braços, Steve Farrel — ordenou uma voz..
Steve não obedeceu. Em vez disso, voltou-se velozmente
e apertou o gatilho do rifle que estava empunhando. Na
frente dele, estava um vaqueiro, apontando-lhe um revólver.
O homem tentou fazer fogo, mas era tarde. Antes que seu
dedo apertasse o gatilho, a bala de Steve atravessou-lhe o
coração, matando-o.
Aquele vaqueiro devia ter ficado de guarda no rancho,
pois ninguém mais aparecia. Isso reforçava a idéia de Steve
de que Oberby decidira atacar, em massa. De repente, um
estremecimento percorreu o corpo do rapaz. Sem saber por
que, tinha certeza de que Oberby havia preparado uma
cilada para os homens de Cyril Harris. E achava que sabia
onde. No apertado desfiladeiro que servia de ligação para os
dois ranchos vizinhos!
Cobriu o como do vaqueiro morto com uma manta e
correu para o cavalo, partindo a galope forçado em direção
ao desfiladeiro. Só esperava não chegar tarde demais.
***
Irving Oberby, entrincheirado atrás de um enorme
penhasco, no alto do desfiladeiro, soltou uma risada. Ao seu
lado, encontrava-se Risky, o capataz, já recuperado da surra
que Steve Farrel lhe aplicara.
— Os patinhos estão chegando, Risky grunhiu o
poderoso rancheiro, apontando para a entrada do
desfiladeiro.
Na verdade, uma nuvem de poeira assinalava, já na
entrada do desfiladeiro, o grupo constituído por Cyril Harris
e seus homens.
— Espero que você saiba me recompensar por esta
magnífica idéia. Oberby — sorriu o cruel Risky.
— Quando tudo isto terminar, você receberá sua
recompensa. Risky. Essa idéia de atrair Cyril Harris e seus
palhaços até aqui foi ótima. Assim, acabamos com eles de
unia vez por todas,
— E os que não caírem sob o fogo das armas de nossos
rapazes, ficarão embaixo das patas do gado. A parte mais
inteligente do plano ainda foi essa. Aprisionando as reses na
entrada do desfiladeiro, elas ficarão nervosas e agitadas.
Quando as soltarmos, se lançarão sobre os homens de
Harris, destroçando-os.
— Foi uma grande idéia, na verdade, Risky. Você
merece um prêmio especial por isso. Não esquecerei.
Entrementes, depois de uma breve parada, os homens de
Cyril Harris voltaram a avançar. Haviam observado o
cânion atentamente e não tinham avistado sinal de qualquer
homem de Oberby. Cyril não estava tranqüilo, no entanto.
Por isso, recomendou a seus empregados:
— Avancem com muito cuidado e não tirem os olhos
dessas paredes. Não estranharia se Oberby tivesse
preparado alguma recepção suja, muito ao seu jeito.
Prosseguiram o avanço, cautelosamente. Observavam as
paredes rochosas com atenção, apesar de não conseguirem
ver ninguém. Sabiam que ali era possível esconder um
verdadeiro exército e não estavam sossegados. Entretanto,
foi essa atenção, essa desconfiança, que salvou a vida de
muitos deles, inclusive do próprio Harris. De repente, sobre
uma saliência de rocha, o ovelheiro avistou um reflexo
metálico, inconfundível. Tratava-se do cano de um rifle e só
podia pertencer a um homem emboscado.
— É uma cilada! — gritou Cyril Harris. — Escondam-
se.
No mesmo instante, soaram os primeiros tiros,
provenientes da parede do lado direito. Dois dos
empregados de Harris não tiveram tempo de se proteger.
Abriram os braços em cruz, gritaram de agonia e tombaram
surdamente dos cavalos, com os corpos crivados de balas.
Os restantes, mais afortunados, correram para a proteção
das rochas baixas, escapando á chuva de balas que caía
sobre eles.
Imediatamente trataram de responder ao fogo, mas sem
resultados positivos. Os pistoleiros de Oberby, apesar de
estarem emboscados a poucos metros do solo, não se
mostravam o bastante para poderem servir de alvo. Por
outro lado, os ovelheiros, a maior parte protegida por pedras
que se encontrava no meio do desfiladeiro, não teriam
chances de agüentar por muito tempo. Recuar seria loucura,
pois os pistoleiros os varreriam sem piedade. Escalar a
parede atrás deles não era loucura menor, pois ficariam
totalmente expostos, da mesma forma. E tinham perfeita
noção de que jamais conseguiriam desalojar os criminosos.
Sua situação não era das melhores, realmente. A única
opção que lhes restava era responder ao ataque, esperando
até se esgotarem suas munições. Irving Oberby havia
conseguido caçá-los!
***
Atrás da rocha sobranceira ao cânion, Irving Oberby
estava contente. O plano ia se desenvolvendo de acordo
com suas mais ambiciosas expectativas. Além de já terem
sofridos duas baixas, os homens de Cyril Harris estavam
encurralados no fundo do desfiladeiro, praticamente ao
alcance das balas de seus pistoleiros. E os que não fossem
atingidos logo teriam que abandonar os esconderijos,
quando o gado fosse solto. Então se transformariam em
massas sanguinolentas, esmagados pelas patas das reses, ou
cairiam debaixo do fogo de seus homens.
— Risky! — chamou.
— Chegou a hora de animar a festa, patrão?
— Chegou, sim. Você sabe o que tem de fazer, não
sabe?
Risky mostrou-se ofendido.
— É claro que sei, Oberby! Está esquecendo que este
piano foi bolado por mim? Você queria marchar
diretamente sobre o rancho de Harris. Eu é que tive a idéia
de esperá-los aqui, quando Dixie trouxe a informação de
que o maldito ovelheiro estava se preparando para nos
atacar!
— Está bem, está bem. Então, vá fazer a sua parte do
trabalho.
— Pode deixar, Oberby! Cortarei aquelas cordas e a
cerca ruirá, deixando caminho livre para que as reses se
lancem, como feras, no desfiladeiro, esmagando esses
palhaços!
Risky sentia uma alegria feroz. Um plano seu ia ser
executado integralmente, com êxito pleno. Isso o
transformava, a seus olhos, numa espécie de gênio. Cuspiu
para o lado e começou a arrastar-se para o extremo da pane
superior do desfiladeiro. Depois, só precisada descer até a
gruta, mais embaixo, e soltar as duzentas reses que havia
aprisionado ali. Os homens de Cyril Harris estavam
perdidos!
CAPITULO DECIMO-PRIMEIRO
A sujeira que deu errado

Steve Farrel, com os dentes apertados de raiva,


cavalgava velozmente na direção do desfiladeiro. Cada vez
mais tinha a certeza de que o cruel rancheiro havia
preparado uma cilada para os homens de Cyril Harris. De
alguma forma, ficara sabendo que ele tencionava atacar o
seu rancho e antecipara-se, armando aquela emboscada no
cânion. Se não recebessem ajuda urgentemente, nenhum dos
homens de Cyril Harris teria a menor chance de escapar
com vida.
Estava na metade do caminho, quando soaram os
primeiros tiros. Estremeceu. Aquilo significava, não só que
estava certo em suas deduções, como também que estava
atrasado. Receava que fosse tarde demais para os
ovelheiros. O tiroteio era intenso, o que podia ser um bom
sinal, por outro lado. O fato de Cyril e seus homens estarem
respondendo ao fogo de Oberby queria dizer que tinham
conseguido esconder-se antes de serem massacrados.
Enterrou as esporas no cavalo, que pareceu ganhar asas. Em
menos de dez minutos, tinha chegado perto dos paredões
rochosos que constituíam o desfiladeiro. O tiroteio provinha
do lado oposto da passagem. Os ovelheiros haviam sido
apanhados logo na entrada.
Nesse instante, uma sombra deslizou pela parede
rochosa, suspensa por uma corda. Na mão levava uma faca.
Steve desmontou e, protegendo-se com as pedras da base do
cânion, aproximou-se o mais que pôde. Estremeceu de raiva
ao reconhecer Risky, o capataz de Oberby. Não sabia ainda
o que ele estaria fazendo ali, mas não podia ser nada bom.
Precisava impedi-lo. Logo descobriria o que ele estava
pretendendo fazer.
Risky sorriu cruelmente. A um metro dele, mais
embaixo, avistava já a entrada da gruta onde tinha
encerradas as reses. Os tiros chegavam até ali com
intensidade, deixando-as nervosas e assustadas. Precisava
apenas descer mais um pouco e sua mão, armada de uma
faca afiada, cortaria as cordas que seguravam a paliçada,
tampão improvisado, mas resistente, que impedia até esse
momento que o gado se lançasse numa corrida louca.
Estava a meio metro apenas. Mais alguns centímetros e
começaria a cortar as cordas. De repente, um tiro de rifle
cortou a tranqüilidade daquele lado do desfiladeiro.
Imediatamente a corda que sustentava o corpo de Risky foi
arrebentada pela bala e o pistoleiro caiu estrondosamente na
esplanada de pedra diante da gruta.
Steve Farrel tinha-se esmerado naquele tiro. Sabia que
não teria outra chance de abrir fogo contra o miserável.
Porém, não queria matá-lo traiçoeiramente. Por isso, a única
solução era cortar a corda em que estava pendurado.
Apertou o gatilho do rifle com a certeza de não falhar.
Sorriu, satisfeito, ao ver como o bandido despencava, com
um grunhido de raiva. Imediatamente, Steve correu para lá.
Quando pisou na esplanada e ouviu os mugidos furiosos das
reses dentro da gruta, fechada pela cerca de troncos,
compreendeu o plano diabólico engendrado por Oberby. Se
Risky tivesse cortado aquelas cordas, o gado sairia e,
enlouquecido, se lançaria pelo desfiladeiro, para onde
estava voltado, esmagando os homens que encontrasse pela
frente. E não precisava ser muito arguto para saber que só
podia tratar-se da gente de Cyril Harris.
Risky, ainda aturdido, estava se levantando, quando o
rapaz pulou na frente dele.
— Você de novo, cachorro! — exclamou, raivoso,
Risky.
— Eu de novo. Risky. E desta vez, acho que será a
última. Porque um de nós não vai sair vivo daqui.
— Estou de acordo, Farrel. Você está sobrando...
— Talvez, Risky. Por isso, é bom tentar me matar logo.
Porque senão, atirarei sobre você como se não passasse de
um coiote faminto.
O capataz de Oberby sentia o ódio aumentar. Não
esqueceria nunca a surra e a humilhação que sofrem às
mãos de Steve Farrel, diante de seus homens. E, mesmo que
Farrel não estivesse ali, ele o procurada quando acabassem
com Harris. Oberby não queria que matassem os Farrel
abertamente, para que as suspeitas não recaíssem sobre ele.
Porém, Risky se encarregaria de fazer as coisas de forma a
parecer uma provocação da pane de Steve Farrel. E o
mataria, esvaziando o carregador de seu revólver no corpo
odiado. No entanto, o filho de John Farrel decidira
simplificar-lhe as coisas, aparecendo ali. Não teria muito
tempo de vida, o miserável coiote...
— Você vai pagar agora o que me fez em seu rancho no
outro dia, Farrel. Vai se arrepender de ter nascido. Porque
não vou matá-lo rapidamente. Sabe o que vou fazer?
Steve não se impressionou com as ameaças de Risky.
— Pare de falar e lute como um homem
— Não haverá luta, Farrel. Apenas um tiro. Um só, que
sairá de meu revólver. Você ficará ferido, aí mesmo. Logo
abrirei esta cerca e o gado se lançará sobre você, pisando,
esmagando-o lentamente. E eu estarei aqui para ver. Será
uma morte cruel, horrorosa. Mas, assim mesmo, menor do
que o ódio que sinto por você!
— Vai parar de falar, feito uma velha solteirona? Ou
prefere que eu arrebente a sua boca, como fiz no meu
rancho?
Risky sorriu forçosamente. A lembrança do que
acontecera no rancho de Farrel deixava-o angustiado de
ódio. Mas ele se vingaria agora. Pensando pegar o rapaz
desprevenido, deixou-se cair de joelhos, ao mesmo tempo
em que sacava o revólver com a velocidade de uma
centelha.
No entanto, não foi rápido o bastante. Steve Farrel
lançou-se para diante, em prancha, rolando imediatamente
para a esquerda, já com o revólver empunhado e apertando
o gatilho. O tiro de Risky passou a poucos milímetros de
sua cabeça. A bala de Farrel, por outro lado, enterrou-se
profundamente na testa do canalha.
Risky abriu muito os olhos, como se não acreditasse no
que estava acontecendo. Logo abriu as mãos, soltando a
arma. Tentou ainda erguer os braços, para tocar com os
dedos o local atingido, mas as forças escaparam-lhe
repentinamente e ele caiu de joelhos. Olhava para Farrel e
não acreditava ainda. Ele, Joe Risky, era o mais rápido
gatilho de Montana! Como era possível que um novato
como Farrel o tivesse vencido? Caiu para diante, morto,
sem ter entendido ainda que Farrel não era tão novato como
ele pensava..
Steve Farrel levantou-se finalmente, depois de ter
certeza de que o cruel pistoleiro estava morto. O sangue
escorria abundante pelo orifício que lhe aparecem na testa,
rolando pela pedra lisa. Agarrou o cadáver pelos pés e
arrastou-o para cima de outra pedra, tirando-o desse jeito do
caminho das reses. Um novo plano começava a germinar
em sua mente.
Sem dúvida, Oberby contava com aquelas reses para que
sua emboscada terminasse a seu favor. Ia ter uma surpresa.
Steve estudou a situação. Se abrisse a cerca, o gado se
lançaria enfurecido pelo desfiladeiro, cumprindo
perfeitamente seu papel nos planos de Oberby. Precisava
soltar as reses, mas obrigando-as a seguir na direção oposta.
Desceu da esplanada rochosa onde travara a luta com
Risky e colocou-se no meio do desfiladeiro. De onde estava,
podia ver a entrada da gruta e as cordas que sujeitavam a
forte cerca. Levou o rifle ao rosto, apontou cuidadosamente
e abriu fogo. Com três tiros, cortou as cordas. O gado, cada
vez mais assustado, forçou a cerca e completou o trabalho.
Sem a segurança das cordas grossas, os troncos cederam e
os primeiros animais saíram da grua Alguns tropeçaram nos
troncos e caíram. Não se levantaram mais, porque a
avalancha descontrolada de reses que os seguiam passou em
cima dos primeiros animais, esmagando-os, indiferentes aos
mugidos de angústia.
Plantado no meio do desfiladeiro, com as pernas abertas
e os pés firmemente apoiados no chão, Steve levou o rifle
ao rosto e começou a atirar. Teve que matar algumas das
reses que vinham na frente, para que as restantes
compreendessem o perigo e mudassem de direção. Logo
suspirou aliviado, ao ver que o gado dava uma curva para a
direita, saindo do desfiladeiro e correndo enlouquecido
pelas terras abertas de Irving Oberby. Quando a última
cabeça de gado se perdeu nos pastos do lado oposto àquele
em que se desenrolava o tiroteio, Steve Barrei sorriu
satisfeito e começou a escalar a parede rochosa, por cima da
gruta de onde saíram as reses. Quando chegou à altura onde
se encontrava a corda que Risky tinha utilizado para descer,
seu trabalho foi mais fácil, pois ele utilizou-a para melhor
chegar ao topo da parede.
***
Irving Oberby esfregou as mãos, satisfeito. Não tardaria
muito para que Risky cortasse as cordas que seguravam a
cerca e o gado se lançaria, louco de medo e de fúria, pelo
desfiladeiro. Os homens de Cyril Harris seriam totalmente
dizimados, ou pelas patas das reses ou pelos rifles de seus
homens. Depois cuidaria de John Farrel e de Steve. Eles não
perderiam por esperar. Atacaria seu rancho de tal forma que
eles teriam mesmo que abandonar Winnet, fugindo para a
Califórnia. Quando estivessem fora da comarca, Risky e
seus pistoleiros se encarregariam de lhes dar o merecido.
Esperava que o xerife Reeves não interviesse. Mas, se
resolvesse fazer alguma coisa, poderia sofrer um “acidente”.
Soltou uma curta risada e apurou o ouvido. Instantes depois,
começou a ouvir o barulho ensurdecedor que as reses
faziam ao pisar o chão duro. Risky tinha cumprido sua parte
no plano, libertando o gado. Dentro de alguns segundos,
estaria ali,
Porém, sua expressão de alegria selvagem começou a
modificar-se, passando para espanto e raiva, pois o ruído
das patas das reses, em vez de se aproximar, estava se
afastando. Em poucos minutos, não se ouvia mais nada, o
que significava que o gado se tinha perdido nas terras
abertas dos pastos, ao invés de se lançar pelo cânion!
Oberby soltou uma maldição. O imbecil do Risky tinha
falhado, permitindo que o gado corresse na direção errada.
— Você se arrependerá, grande idiota! — grunhiu, com
os punhos voltados na direção onde supunha encontrar-se
Risky.

CAPÍTULO DÉCIMO-SEGUNDO
O fim de um canalha

Steve Farrel atingiu o topo da parede rochosa do cânion


com o rosto suado e as mãos feridas pelo esforço para se
içar pela corda áspera. Deixou-se ficar alguns instantes de
bruços, recuperando as forças, e logo se levantou. O tiroteio
prosseguia., mas agora com menos intensidade. O jovem
Farrel começou a arrastar-se o mais rapidamente possível,
tentando proteger-se com as pedras. Imaginava onde
estariam ocultos os homens de Oberby, mas não queda ser
visto nem pelos ovelheiros, pois poderiam confundi-lo com
algum pistoleiro inimigo e o abaterem.
Finalmente, começou a ver as colunas de fumaça que
saíam dos rifles, de ambos os lados do desfiladeiro. Os
homens de Cyril Harris estavam protegidos atrás de pedras
de razoáveis dimensões, no lado esquerdo do desfiladeiro.
Sua posição, no entanto, se bem que fosse segura em
relação aos tiros dos pistoleiros, não permitia, no entanto,
que atirassem com segurança.
Do lado oposto, os homens de Oberby, melhor
entrincheirados, podiam fazer fogo tranquilamente, através
das frestas das rochas que haviam escolhido como refúgios.
Steve compreendeu por que o gado desempenharia um
papel importante no plano de Oberby. Os seus pistoleiros
não podiam atingir os ovelheiros enquanto estivessem
abrigados atrás das rochas. Mas quando o gado se lançasse,
em disparada, pelo cânion, os homens de Harris teriam que
abandonar seus refúgios, sendo então abatidos como
coelhos em ruga.
Um movimento uns dois metros abaixo de Steve chamou
sua atenção. Inclinou-se mais e seu rosto iluminou-se com
um sorriso de satisfação. Ali estava Irving Oberby, como
um general que, do alto de seu posto de observação, longe
do perigo das balas, comanda o ataque de seus soldados.
Oberby dava mostras de grande excitação e Steve tinha
certeza de saber o motivo. Ele ouvira o gado afastar-se em
direção contrária à que esperava e ficara furioso. Rindo
interiormente, Steve Farrel confeccionou rapidamente um
laço com a corda que Risky utilizara para descer a parede
rochosa. Com habilidade, deixou cair o laço sobre Oberby.
que foi apanhado de surpresa. Quando sentiu o cânhamo em
volta do pescoço, gritou histericamente. Steve puxou com
força, içando com dificuldade o rancheiro uns centímetros
do chão. Oberby, patinhando, tinha metido os dedos entre a
corda e a pele do pescoço, lutando em vão para abrir o laço.
Steve desceu-o até ele tocar com os pés no chão, sem
afrouxar muito a pressão quando o rancheiro começava a
abrir a boca com falta de ar, a pele se tomando arroxeada.
— Oberby! Você está perdido! Dê a sua palavra de que
aceitará viver nessa região de acordo com as regras que
estabeleceremos em seguida!
Irving Oberby parecia possesso. Olhou com dificuldade
para cima, apesar de já ter reconhecido a voz de Steve
Farrel.
— Você... você se arrependerá disto... — grunhiu o
rancheiro.
Steve compreendeu que ainda não tinha chegado a hora
de Oberby se dar por vencido. Certamente esperava a
chegada de Risky, que o livraria daquela situação perigosa.
O rapaz decidiu dar-lhe algum tempo para pensar. Esticou
de novo a corda, amarrando a ponta numa saliência de
rocha, de forma que o gordo rancheiro tinha que ficar na
ponta dos pés, para não ser estrangulado.
Depois de comprovar que o rancheiro não podia escapar,
Steve Farrel chegou-se mais para a beira do penhasco, até
poder avistar os pistoleiros, entrincheirados embaixo. Levou
o rifle ao rosto e começou a atirar. Os pistoleiros, aturdidos,
suspenderam o fogo por instantes. A presença de um
atirador atrás deles deixava-os entre dois fogos. O primeiro
a cair foi uni renegado mexicano, que se voltou para
responder aos tiros de Farei. Cyril Harris, do outro lado,
compreendendo o que estava acontecendo, ergueu-se um
pouco e apertou o gatilho O mexicano soltou um grito de
agonia e caiu atravessado sobre a pedra que o protegera até
esse momento.
Steve lançou uma olhada a Oberby. Continuava
firmemente preso, na ponta dos pés, incapaz de se mover,
com medo de ser enforcado. Seu rosto suado estava lívido,
Logo o jovem Farrel dirigiu de novo sua atenção para os
pistoleiros. Um tiro mais celeiro fez voar a cabeça de um
segundo assassino. Os outros compreenderam que, se
ficassem onde estavam, seriam abatidos sem piedade pelo
implacável atirador. Começaram a abandonar os refúgios,
correndo como loucos para a saída do desfiladeiro. Na fuga
tinham sua única esperança de salvação.
Porém, esqueceram-se dos ovelheiros, aos quais tinham
acossado até então. Cyril e os seus homens saíram de trás
das rochas e, com os rifles e revólveres sem descanso,
foram abatendo a escassa dúzia de pistoleiros. Quando
sobravam apenas quatro, um tropel de cavalos procedente
dos lados da cidade, chegou até eles. Os pistoleiros, agora
momentaneamente fora do alcance das balas dos ovelheiros,
pararam, assustados. Na frente dos cavaleiros que se
aproximavam a galope, vinha um homem de cabelos
grisalhos, em cujo peito brilhava a estrela da lei. Os
bandidos compreenderam que não teriam a menor chance
de escapar por ali também. Esconderam-se o melhor que
puderam e abriram fogo contra o grupo composto pelo
xerife Reeves e os voluntários que havia conseguido reunir.
Ao lado de Reeves, brilhava a cabeleira loura de Beth
Harris!
Depois que Steve partira para o rancho de Oberby, a
garota decidira fazer um apelo a Reeves, para que impedisse
a luta de morte que se travaria. Reeves decidiu finalmente
intervir, uma vez que a situação ameaçava transformar-se
numa luta generalizada.
Rapidamente reuniu um grupo de dez voluntários e
partiu para as terras de Irving Oberby. Logo viu que chegara
quase no final do combate, quando encontrou os pistoleiros
em fuga. Ordenou a seus homens que se espalhassem e, em
poucos minutos, acabaram com a resistência dos pistoleiros.
Apenas um sobreviveu, ferido na perna. Entregou-se
docilmente e foi amarrado a um cavalo, onde ficou
esperando o final dos acontecimentos, vigiado por dois
voluntários.
Em seguida, o xerife juntou-se ao grupo de Cyril Harris
e contornaram o desfiladeiro, para subirem até o lugar onde
se encontrava Steve Farrel, com Oberby.
***
— Seu reinado chegou ao fim, Oberby — estava
dizendo Steve, olhando com desprezo o cruel rancheiro.
— Você me pagará, Farrel! — rosnou Oberby.
— Não é hora de vir com ameaças. Oberby. Seus
pistoleiros foram dizimados. Você está sozinho e o xerife
Reeves decidiu intervir. O mínimo que lhe pode acontecer é
ser expulso de Winnet. No entanto, isso ainda se pode
evitar, desde que você se comprometa a viver dentro dos
limites de suas terras, respeitando os outros, sejam criadores
de reses ou ovelheiros!
Como resposta, o canalha cuspiu sobre o rapaz,
forcejando para se libertar. Estava louco de raiva e ódio e
recusava-se a aceitar que tinha a guerra perdida.
— Não adianta mais nada, Oberby. Winnet é bastante
grande para aqui caberem vacas e ovelhas, sem que umas
atrapalhem as outras. Compreenda isso de uma vez e talvez
ainda possa viver em paz, nesta região.
— Mesmo que eu seja expulso desta região — grunhiu
Oberby — voltarei com mais homens e acabarei com todos
vocês! Com os Farrel e com os malditos ovelheiros, raça do
diabo!
— Não seja imbecil, Oberby. O xerife deve estar
chegando a qualquer momento, para levá-lo para o xadrez.
Raciocine e ainda pode salvar-se.
— Nunca! Eu esmagarei todos vocês!
No momento em que Cyril Harris e o xerife Reeves
apareceram no alto do penhasco, o ódio de Oberby
aumentou, atingindo o máximo. Forcejou para se libertar.
Sua intenção era clara. Atirar-se sobre o ovelheiro que o
vencera. Harris desceu, acompanhado por Reeves, até a
estreita plataforma onde mal tocavam os pés de Oberby.
— Você perdeu, Oberby — disse tristemente Reeves.
— Vou expulsá-lo da região, no mínimo. Isso, porque
não consegui uma prova concreta para enforcá-lo.
Infelizmente, o que hoje aconteceu aqui foi desencadeado
por ovelheiros e vaqueiros ao mesmo tempo. Não sei a
quem atribuir a maior responsabilidade. Isso, apesar de você
ter atacado o rancho de Cyril Harris esta manhã. No
entanto, como de costume, não deixou provas
comprometedoras, uma vez que esses miseráveis não
trabalhavam abertamente para você. No entanto, tenho
esperanças de que aquele que conseguimos capturar vivo
nos conte a história toda, direitinho, permitindo que você
acabe balançando na ponta de urna corda.
— Esse miserável é um assassino, xerife! — bradou
Harris, colocando-se na frente de Oberby. — Ele atacou
meu rancho, liquidou minhas ovelhas depois de ter
assassinado três vaqueiros dos Pairei e incendiado os
celeiros.
Oberby perdem definitivamente a cabeça. Um
movimento mais brusco conseguiu fazer soltar a corda presa
na saliência rochosa, mais em cima. Ainda com o laço no
pescoço, mas com a ponta da corda livre, Oberby tentou
fazer o que estava desejando mais que qualquer outra coisa
no mundo.
Harris encontrava-se na frente dele, na beira do
penhasco. Bastaria um ligeiro empurrão para que
despencasse no abismo, esmagando-se contra as rochas.
Sem pensar duas vezes, o cruel rancheiro avançou para
Harris, surpreendendo todo o mundo. No último instante,
Steve Farrel compreendeu a intenção de Oberby. Estendeu o
braço e puxou violentamente Cyril Harris, pelo colete. O
ovelheiro saiu bruscamente do caminho de Irving Oberby,
que, não encontrando resistência, perdeu o equilíbrio e se
projetou no abismo, com a corda ainda agarrada ao pescoço.
Na metade da descida, a ponta solta da corda prendeu-se
numa fresta entre duas rochas mais salientes. E o como de
Oberby ficou pendurado no espaço, balançando
tragicamente na ponta da corda, O grito que soltou ficou
ecoando pelas paredes rochosas. Tivera o fim que merecia,
apesar de tudo.

EPÍLOGO

John Farrel estava sentado na varanda do rancho,


aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Estava
preocupado com o que pudesse acontecer com Steve, nas
terras de Oberby. Ouvira o eco do tiroteio momentos antes e
não pudera evitar um estremecimento. Levantou-se,
disposto a reunir seus homens e avançar em socorro de
Steve e dos ovelheiros. Seu filho tinha razão, Não podia
deixar-se ficar numa posição egoísta de neutralidade,
enquanto os ovelheiros eram dizimados pela fúria cruel e
ambiciosa de Irving Oberby. Precisavam acabar com os
pistoleiros de Oberby, para que a paz pudesse voltar a
Winnet. Empunhou o rifle e verificou a carga dos
revólveres. Já começar a descer os degraus da varanda para
chamar seus homens, agrupados dentro do dormitório,
esperando ordens, quando o cavaleiro vestido de negro
apareceu contornando silenciosamente a casa.
— Solte essa carabina, John Farrel!
Farrel estremeceu e não teve outro remédio senão
obedecer.
— O que é que você quer, afinal?
— Não adivinha, Fartei? Ou será que ainda não me
reconheceu?
— Eu sei quem você é, Tex Coyne!
— Isso me facilita as coisas. Sou realmente Tex Coyne.
Assim mesmo, não imagina o que é que eu quero?
— O passado morreu, Tex.
— Para você, talvez, pois transformou-se num honesto
rancheiro, rico e poderoso. Mas não para mim, que passei
vinte anos em Yuma!
— Eu não tive culpa que você fosse preso,
— Claro que teve. Vou refrescar sua memória, antes de
liquidá-lo. Farrel.
O rancheiro empalideceu. O que sempre temera estava
chegando por fim.
— Há vinte anos atrás, um grupo de quatro homens
mascarados atacou uma diligência que transportava um
carregamento de ouro de uma mina. Dois guardas
escoltavam o veículo. Eram apenas dois e, assim mesmo,
disfarçados de vaqueiros, para não levantar suspeitas.
Acabe com isso de uma vez, Tex!
— Não. Você vai escutar a história até o fim.
— Para quê? Quer me matar? Pois tente!
— Calma, Farrel! Como eu estava dizendo, esses quatro
homens atacaram a diligência. Eu tinha descoberto o
carregamento e propus o golpe. No entanto, todos nós
estávamos enganados. Não havia apenas dois guardas
naquela diligência. Havia quatro, uma vez que outros dois
seguiam ocultos dentro da carroça. Como resultado eles nos
caçaram, depois mesmo de termos abatido um deles. Porém,
a surpresa nos paralisou por alguns instantes e eles nos
pegaram. O cocheiro era também um guarda e isso nos
perdeu. Entretanto, quando nos conduziam para a cadeia,
conseguimos fugir, matando um e ferindo dois dos guardas.
Não conseguimos levar o ouro, mas salvamos as vidas,
infelizmente para nós, sua consciência começou a roê-lo por
dentro e você decidiu entregar-se, Até aí, tudo bem. Era a
sua pele que estava em jogo.
— Eu não podia fazer outra coisa.
— Podia, sim! Podia, pelo menos, ter ficado calado!
Mas não! Decidiu dar com a língua nos dentes e nos
denunciou. Fomos capturados dois dias depois, enquanto
você cumpria apenas uma pena suspensa. Eu, Sam e Talbot
ficamos apodrecendo na cadeia. Cinco anos depois, Sam
conseguiu fugir, jurando que procuraria você, até o matar,
lembra?
— Ele me encontrou e tentou me matar, em Dakota do
Norte. Mas eu fui mais rápido.
— Estou sabendo, Farrel. Você sempre foi um atirador
perigoso.
— Foi um duelo leal...
— Acredito. Porém, mais cinco anos se passaram,
depois que você fugiu para o Arizona. Pensou que se Sam
estava em liberdade, os outros também deviam estar e logo
o encontrariam, não foi?
Farrel assentiu com a cabeça, lívido.
— Não era bem assim. Só cinco anos depois! Talbot foi
posto em liberdade, por bom comportamento. Procurou e
achou você. Teve o mesmo destino de Sam, o coitado.
— Você sabe que Talbot nunca atirou muito bem. Nunca
deveria ter me provocado abertamente.
— Concordo. Ele deveria ter metido uma bata nas suas
costas. Mas foi idiota e pagou isso com a vida. Mas você
ficou assustado outra vez. Vendeu seu rancho no Arizona e
mudou-se para aqui, para Montana, Agora, apareci eu. Não
sou torpe como Sam e Talbot. Por isso, você não terá a
menor chance de me matar.
— O que é que você quer? Eu lhe entregarei meu
rancho, para que me esqueça, Tex. Não quero matar mais. O
passado morreu. Irei embora para a Califórnia, para o
México, para qualquer lugar!
— Não quero seu rancho, Farrel. Não poderia usá-lo.
— Por que não?
— Tenho a cabeça à prêmio e você sabe disso, Farrel. Se
me instalasse abertamente aqui, o xerife me caçaria em três
tempos...
— Pode mudar de nome, mudar de vida...
— Não, Farrel. Quando saí de Yuma, estava sem
dinheiro. Assaltei um banco, sabe? Matei o xerife e dois
empregados desse banco. Minha cabeça é mais valiosa
ainda, agora. Nunca poderia mudar de vida. Por isso, vou
matá-lo e, depois, fugirei para o México. Só então poderei
viver em paz comigo mesmo.
Farrel recuou dois passos. Compreendia que não podia
impedir Tex Coyne de cumprir sua vingança.
— Tex, tem outra coisa que você não sabe. Eu tenho um
filho, que vai chegar a qualquer momento. Ele perseguirá
você, se me matar, e não terá descanso enquanto não o
liquidar.
— Ele nunca me achará. E se achar, pior para ele, Farrel.
— Durante estes anos eu não tenho ficado parado com o
revólver. Tex. Posso matá-lo...
— Talvez. Mas não acredito. Eu sempre atirei melhor do
que você.
— Prefere arriscar?
— Não, Farrel. Não vou arriscar.
Antes que o rancheiro pudesse reagir, uma língua de
fogo saiu do revólver de Tex Coyne. O revólver de Farrel,
ainda no coldre, saiu disparado pelos ares, acertado pela
bala de Coyne.
— Agora, você está desarmado, Farrel. Poderei matá-lo
tranqüilamente.
— Um assassinato a mais ou a menos, em sua vida, não
tem importância, não é?
— Não. Mas não vou assassiná-lo. Veja.
Tex Coyne aproximou-se de Farrel e deixou cair o outro
revólver entre os dois.
— Agora, você recua dez passos. Eu farei o mesmo. O
primeiro que pegar a arma atira. Concorda?
Farrel não podia fazer outra coisa, senão concordar.
— Está bem. Se você quer assim...
— Quero assim. Recue dez passos.
Farrel assentiu com a cabeça e começou a recuar.
Quando tinha dado os dez passos para trás, deteve-se,
esperando.
— Ótimo, Farrel. Você está a dez passos da arma. Agora
eu recuarei também. Só que eu não me afastarei dez passos,
imbecil! Apenas quatro.
Inesperadamente, o bandido levou a mão às costas e
apareceu com uma nova arma nos dedos. Quando Farei
compreendeu a cilada, era tarde. Assim mesmo, fazendo um
esforço desesperado, atirou-se para diante, tentando chegar
ao revólver. Sentiu a mordida das balas na carne, mas não
se deteve. Possesso. Tex Coyne apertava o gatilho
furiosamente, numa tentativa de fazer Farrel cair antes de
conseguir apanhar a arma. Não conseguiu. O rancheiro
tombou sobre o revólver e seus dedos crisparam-se sobre a
coronha no momento em que o percussor da arma de Coyne
batia no vazio. Descarregara as seis baias no corpo de
Farrel, sem conseguir detê-lo. O rancheiro, com um
supremo esforço, ergueu o revólver do chão e apertou o
gatilho, estourando a cabeça de Coyne com uma única baia.
Também não teria forças para dar outros tiros. Caiu de
joelhos primeiro e logo para diante.
***
Steve Farei e Beth estavam na varanda do rancho de
Harris. O xerife carregara os cadáveres nos cavalos e partira
com eles para a cidade, onde seriam enterrados na vaia
comum.
Finalmente, a guerra entre criadores de reses e
ovelheiros parecia ter chegado ao seu termo em Winnet.
Cyril Harris observou os dois jovens por alguns instantes e
tossiu.
— Bom — começou. — Em outras circunstâncias, eu
jamais consentiria no casamento de minha filha com o filho
de um criador de vacas. Porém, na situação em que nos
encontramos, creio que era o melhor que podia acontecer
para Beth. Você me salvou a vida diversas vezes, é um
excelente rapaz e não vejo motivo para pôr obstáculos a
esse amor tão inesperado.
Disse as últimas palavras com ironia, pois há muito tinha
percebido que o jovem Farrel não era indiferente a sua filha.
No entanto, sempre temera as conseqüências desse amor.
Agora, porém, não via mais motivo para isso. Sentia-se
feliz. Esperava fazer as pazes com John Farei muito em
breve, apesar de nunca terem sido inimigos. Apenas se
encontravam em campos opostos.
Steve e Beth não responderam. Suas bocas Juntaram-se
num beijo longo, apaixonado, que apenas foi interrompido
pela tosse insistente do ovelheiro.
— Não acham que seria bom ir avisar John Farrel de que
a luta entre vacas e ovelhas chegou ao fim?
— É mesmo! — exclamou Steve. — Quase tinha
esquecido.
— Vamos lá, Steve — sorriu a garota.
Pouco depois, os jovens cavalgavam velozmente na
direção do rancho de John Farei. Levavam a esperança nos
corações, a alegria no olhar e nos sorrisos.
***
O primeiro tiro surpreendeu os dois jovens, quando se
encontravam ainda a uma milha da casa do rancho. Steve
deteve o cavalo e estremeceu.
— O que significa isto? Será que algum pistoleiro de
Oberby conseguiu escapar e veio atacar o meu pai?
— Não creio, Steve. Se algum tivesse escapado com
vida, a esta hora estaria bem longe de Winnet, onde sabe
que sua pele não vale nada.
— Isso seria o lógico, realmente. Mas o que significa
este tiro, então?
— Alguma arma que se disparou acidentalmente, com
certeza. Mas o que estamos fazendo aqui parados? Vamos
ver o que foi! — exclamou a garota.
Steve saiu de seu aturdimento e apertou os flancos do
cavalo com os joelhos, partindo a galope. Quando se
encontravam apenas a uns duzentos metros da casa, soaram
mais tiros, Seis consecutivos. Depois, uns segundos de
silêncio e, por fim, um último Logo, o silêncio voltou a
pairar sobre o rancho. Entraram a galope no pátio e Steve
desmontou antes que o cavalo se imobilizasse. Nesse
instante, os vaqueiros começavam a sair do barracão-
dormitório, depois de terem escutado os tiros. Steve olhou o
quadro que aparecia diante dele e estremeceu.
— Pai! — gritou.
Acabava de ver o corpo ensangüentado de John Farrel e,
a poucos metros, o de outro homem, com a cabeça
despedaçada. Correu para John e ajoelhou-se ao lado dele.
Segurou-lhe a cabeça nos braços e murmurou:
— Pai. O que significa isto, pai? — havia angústia em
sua voz.
John Farrel estremeceu e entreabriu os olhos.
Reconheceu o filho e seus lábios distenderam-se num
sorriso.
— Que bom que você está aqui, Steve! Tive tanto medo
que Oberby o matasse...
— Calma, pai. Oberby não existe mais. O que aconteceu
aqui?
— Nada que deva preocupá-lo, filho. Apenas o passado
que voltou para cobrar uma dívida.
— O passado? Que passado? Que dívida, pai?
— É uma longa história, Steve. Não pense nela. Tudo
está em paz agora. Toque este rancho para frente, faça dele
o maior rancho do Oeste e case com uma mulher que o
mereça. E o melhor que pode fazer por minha memória...
— Pai, quem é esse homem?
— Ele é o passado, Steve. Mas, não interessa agora.
Steve não sabia o que pensar.
— Não fale mais, então, pai. Já foram chamar um
médico. Logo o senhor vai ficar bom e depois
conversaremos.
John Farrel sorriu fracamente.
— Não adianta mais, Steve. O velho Clayton não vai
poder fazer nada por mim. Cheguei ao fim de minha
estrada. Você lembra quando tivemos que fugir de Dakota
do Norte e do Arizona? Aquilo eram fugas, realmente,
porque este passado me perseguia. Um erro de minha
juventude, quando me liguei com quem não devia...
— Mas quem é esse homem?
— Um assassino. Tex Coyne. Foi meu sócio no passado,
durante esse único erro de minha vida. Depois eu me afastei
dele e dos outros dois, mas nunca me perdoaram. Estiveram
presos. Quando saíram da prisão, me procuraram para
acabar comigo. Os dois primeiros, eu pude cuidar deles.
Mas agora não. Tex Coyne foi mais esperto do que eu. Ele
encontrarei com ele no inferno...
— Não, pai! Você não vai morrer! O doutor Clayton tem
que salvá-lo. Agora a paz existe em Winnet. Oberby e seus
pistoleiros foram dizimados. O xerife cuidou dos que
restavam. Esta terra agora é boa para se viver, pai...
— Fico muito feliz em ouvir isso, meu filho. Você
merece uma terra assim, onde possa viver em paz. Procure
uma boa esposa...
— Já a encontrei, pai. É Beth Harris.
A garota, com os olhos cheios de lágrimas, aproximou-
se do moribundo e segurou-lhe a mão.
— Nós cuidaremos de você, John Farrel — disse com
carinho.
— Meu filho soube escolher. Você é uma boa moça.
Faça-o feliz. De onde eu estiver, eu a abençoarei.
John Farrel apoiou a cabeça no peito de Beth e
apertando convulsivamente a mão de Steve, fechou os
olhos, sem perder o sorriso tranqüilo que lhe distendia os
lábios,
— Morreu... murmurou Steve, com a voz embargada.
Com um soluço, Beth Harris pousou a cabeça de Farrel
no colo e abraçou-se a Steve. Ainda bem que havia uma
esperança para eles. O futuro abria-se diante dos dois, com
a bênção de um homem que acabara pagando duramente um
erro do passado.

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