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da Industrialização
WernerPlum
o Empresário,
Personagem
Marginalizado na
Sociedade Industrial
Friedrich-Ebert-Stiftung, Bonn
,,
I
J\.<.-v--. .JOCk(í r. l i
L. f . ___'::\..o.~
Título do original alemão:
Der Unternehmer,
AuIJenseiler in der InduslriegeselIschaft
Traduzido por Elisabeth Maria Corsetti
Copyright 1979
Fricdrich-Ebert-Stiftung
Godesberger Allee 149
D 5300 Bonn Z
República Federal da Alemanha por
Hildesheimer Druck- und Verlags-GmbH
Ê,ett ; r
Aspectos Sociais e Culturais
da Industrialização
6
vez expressar seu orgulho de uma maneira distinta
à da nobreza, que invocava a tradição, ou do clero,
que invocava a autoridade na revcla ç~o. O cr,prrl-
lo rebelde já não mais queria reconhecer ligações
nem autoridades, pois havia encontrado uma afir-
mação de seu próprio valor em sua dupla capacidade
de realização: não somente estava preparado para
administrar, como também havia descoberto o ra-
cionalismo em seu espírito econômico. Ele era não
somente capaz de inventar, mas também de criar de
maneira meramente ilimitada coisas novas, que desde
o sétimo dia da criação até aquele momento de
nenhum modo haviam existido.
- Tal dualismo pode ser definido, seguindo a Marx,
como sendo a luta de classes entre a burguesia e os
antigos estados. Porém, sucedeu àquela uma outra
luta de classes que a classe média burguesa teve que
enfrentar. Quando a criatividade dos novos ricos
não mais se enquadrou em nenhum esquema tradi-
cional, estes foram subclassificados nas categorias
suspeitas dos «capitalistaso, «exploradores», até
que se chegou à conclusão, pela contagem dos ho-
mens de ciência e busca dos políticos, de que já não
existe o «empresário autônomo» e menos ainda o
«empresário criador», que pelo menos já não existe
aqui ou ainda não existe. Existiu ele realmente al-
guma vez?
- (9 racionalismo, com o qual os individualistas bur-
gueses marcaram as primeiras fases da era indus-
trial, conduziu forçosamente .1\ uma racionalização
das organizações econômicas, que atoam como uni-
dades de concentração supraempresariais com uma
função regularizadora, aparentando um caráter pu-
ramente burocrático. Neste particular, resta pouco
lugar à courage civique da Europa Ocidental, ou à
non-conformity norte-americana. As novas gerações
mudaram de opinião de maneira radical. Em vez de
tomarem parte na Jivre concorrência, estas ascen-
dem - ou descem de posto - nas grandes organiza-
ções como os funcionários na escala hierárquica.
-- - _..!
balham estritamente orientadas segundo tarefas
fixas e são perseverantes ao ser-lhes confiada uma
tarefa pela qual manifestam interesse e através da
que esperam uma afirmação de sua pessoa. Seres
criativos são freqüentemente qualificados de emo-
cionais, imprevisíveis c imaturos i nos assuntos prá-
ticos da vida são tidos como sendo dependentes.
As qualidades enumeradas somente podem ser
consideradas sintomáticas em função de tendências;
as formas de manifestação serão, em cada caso
particular, muito diferentes. Característica do com-
portamento de pessoas particularmente criadoras
parece ser a presença simultânea de capacidades in-
telectuais excepcionais e falta de disciplina social.»
9
profissional a função de uma engrenagem minúscula no
mecanismo complicado das organizações burocráticas;
cn\ que inclusive () «tempo livre» tCJ11 um car;llcr c;lda
vez nlais passivo. Porénl, tão nov.as tanlpOUco são estas
e outras impressões similares. Em todos os períodos in-
dustriais foram escritos livros sobre a inércia, a depen-
dência e a monotonia da vida profissional - não só dos
operários, como também dos comerciantes - livros que
ocupam um lugar importante na história literária. Seja
dada agora a palavra ao filho de um comerciante,
Christian Buddenbrook, personagem de um romance
publicado em 1901:
10
Thomas Mann (1875-1955), deu forma à figura daquele
empresário com o qual devemos ocupar-nos agora:
11
índice
13
19. A difusão social dc profissões criadoras . 129
20. Adaptação dos administradores jovens a mu-
danças pcrmanenles 134
21. Sob a pressão do conformismo. 136
22. Advertências de pedagogos economistas comu-
nistas e capitalistas 140
23. lndicc bibliográfico 151
24. lndice geográfico 156
25. lndice de pessoas 158
26. lndice analítico de matérias 160
14
- - -- --- -_.- .
1. O «Empresário», um Ser Singular
15
Basel, 1955. O texto original alemão aqui traduzido
figura em Fritz Redlich, Dcr Untcm clzmcr. Wirt-
schafts- und Sozialgeschic1ltliche Studien, [«O em-
presário. Estudos de história econômica e social»],
Goettingen, 1964, pp. 91 s.)
Enquanto o historiador Fritz Redlich observava a falta
do «empresário» no Terceiro Mundo, o economista
Erich Gutenberg apenas considerava a personalidade do
«empresário •• como representante de um período econô-
mico declinante e reconhecia nele meramente uma
categoria histórico-sociológico-política que não podia
ser analisada com os métodos da economia empresarial.
«Em sua dupla função como proprietário e gerente,
o empresário pertence ao sistema liberal, do qual
é representante. Surgiu com ele e com ele perecerá
quando este termina. Para a personalidade em-
preendedora (o segundo conceito possível de em-
presário) há lugar em todos os sistemas econômicos,
pois não existe nenhum sistema que possa renunciar
a personalidades deciJIidas, de ampla visão e in-
teligentes. Só falta a estas personalidades, então,
aquela marca que lhes dê forma e caracteriza, rece-
bida do meio capitalista particular no qual trabalham
e que faz deles empresários neste sentido.
O primciro conceito de empresário é entendido de
maneira tão ampla e formal, que é capaz de englobar
os tipos mais diferentes da existência empresarial
e da conduta dos empresários. Na verdade, da massa
dos «empresários» destaca-se aquele tipo de grande
envergadura, elemento constante de distúrbios, que
gera o impulso propulsor do desenvolvimento
capitalista. Ensombrece tanto a massa, quase diría-
mos anônima, dos muitos milhares de empresários,
que estes são esquecidos facilmente na análise do
processo capitalista (e nos esforços pela fixação do
conceito de empresário não são levados em conta).
Mas, para o protótipo da dinâmica capitalista que
abandona os caminhos habituais, que opera com
novas produtos, novas técnicas de elaboração, novos
16
procedimentos de política de venda, novas formas
de organização e financiamento que, com freqüên-
cia, cria novos setores de produção, O primeiro con-
ceito de empresário possue a mesma validez que
tem para os muitos «empresários médios». Como
eles, também este protótipo do mecanismo capita-
lista scm posse nem lucro (sem a união da proprie-
dade e direção numa pessoa, em «sua» pessoa) não
é imaginável, principalmente nas épocas iniciais e
culminantes do capitalismo. Mas, com toda a cer-
teza, estes motivos não constituem as únicas forças
propulsoras de suas ações e de sua existência furta-
cor. Muitas vezes pode tratar-se simplesmente de
uma expressão ou explosão de energia exuberante,
ou de uma fantasia comercial, organizatória, ou
técnica particularmente elevada, ou também de uma
necessidade pessoal ou social exagerada de prestígio,
ou ainda de ressentimentos, ou da satisfação moti-
vada pelo éxito e pelo trabalho responsável. Os
métodos da economia empresarial não são sufu-
cientes para analisar esse fenômeno. Por esta razão,
temos que contentar-nos cm captar conceptualmente
o fato empresarial global - isto é, tanto O que diz
respeito aos grandes expoentes do sistema quanto
aos seus representantes que se mantém mais à
sombra - a partir de ambas as coordenadas, pro-
priedade e direção. Estas duas coordenadas consti-
tuem os elementos da economia empresarial daquela
classe que foi gerada pelo sistema capitalista. Tal
sistema reflete-se nos empre~ários, que reúnem em
sua pessoa a propriedade e a direção, nas tarefas
que lhes são confiadas e no tipo que representam,
apesar de que o motivo de suas ações possam
arraigar-se nas esferas pessoais, sociais ou espiri-
tuais que já são de natureza metaeconômica.
17
ais Zentrum betrieblicher WilIensbildung, insbeson-
ders die beiden Unternehmerbegriffe» [«A direção-
da empresa como centro de formação da vontade,
especialmente os dois conceitos de empresário»],
I" ed., Berlim-Heidelberg-Nova Iorque, 1951. Na
13" edição (1967), esta passagem figura às páginas
4825.)
18
2. Transformações Inauditas através
de Mudanças Imperceptíveis
19
inglês e dos avelórios negros da Alemanha. Esta in-
dústria havia vegetado sempre, sem poder desenvol-
ver-se a grande escala devido ao elevado cu.to das
matérias-primas. Na ocasião em que Fantina regres-
sara a Montreuil-sur-Mer havia-se operado uma
transformação inaudita nesta produção de <artigos-
negros>. Por fins de 1815, viera estabelecer-se na ci-
dade um homem, um desconhecido, a quem ocorreu
a idéia de substituir nesta fabricação a resina pela
goma-I~ca e, p~ra os braceletes em particular, as
chapas de metal simplesmente justapostas por cha-
pas soldadas. Esta transformação tão pequena fora
toda uma revolução.
Pois, esta minúscula mudança havia reduzido con-
sideravelmente O preço da matéria-prima permitin-
do, primeiramente, a elevação dos salários, o que
era uma vantagem para toda a localidade; em se-
gundo lugar, a melhoria da fabricação, o que vinha
em benefício do consumidor; cm terceiro lugar, a
venda mais barata, ao mesmo tempo que triplicava
o lucro em proveito do.Jabricante.
Assim, uma só idéia produziu três resultados. Em
menos de três anos, o autor deste procedimento
tinha-se tornado rico, 'o que é uma boa coisa, e havia
feito rica toda a redondeza, o que é melhor. Era um
estranho no departamento. De sua origem não se
sabia nada, o início de sua ascensão na empresa era
desconhecido. Contava-se que viera para a cidade
com muito pouco dinheiro, nó máximo com algumas
centenas de francos.
Mas, com este mesquinho capital, colocado ao ser-
viço de uma idéia engenhosa, fez fortuna e contri-
buiu para a prosperidade de toda a região.»
20
3. A Formação de Lendas em torno
ao «Empresário Criador»
21
daqueles que tomavam parte no trabalho e ascen-
diam porque não queriam gastar, mas lucrar, entre
aqueles que permaneceram no velho estilo porque
fomlll ourigados II limitar-se. E nota-se aqui o mais
importante: em tais casos, não era a afluência do
novo di"hciro o que provocava esta resolução, mas o
novo cspírito, precisamente o <espírito do capitalis-
mo> que havia entrado em ação. Conheço alguns
casos em que o- processo revolucionário geral foi
realizado com alguns poucos milhares de capital,
tomados por empréstimo de parentes. O problema
acerca das forças propulsoras da expansão do capi-
talismo moderno não é, cm primeiro plano, uma
questão sobre a origem das reservas monetárias
úteis, mas fundamentalmente diz respeito ao desen-
volvimento do espírito capitalista. Ao despertar e
conseguir impor-se, ele mesmo cria estas reservas
como meio de ação, e não inversamente. Contudo,
sua entrada em cena não foi pacífica. Uma onda de
indignação opôs-se regularmente aos primeiros ino-
vadores. Freqüentemente - conheço muitos casos
deste gênero - surgiram lendas em torno a sombras
misteriosas em suas vidas anteriores. Não é tão
fácil encontrar quem reconheça com suficiente im-
parcialidade que s6 uma firmeza de caráter extra-
ordinária pode preservar essa empresa de <novo
estilo> da perda do autocontrole s6brio e do nau-
frágio, tanto moral quanto econômico; que ao lado
da clareza de visão e da energia, são principalmente
certas qualidades <éticas> muito especiais e marcan-
tes que possibilitam ao empresário ganhar, em tais
inovações, a confiança pura e simplesmente impres-
cindível dos clientes e dos trabalhadores e manter-
lhe a elasticidade à superação das inumeráveis resis-
tências, sobretudo no que diz respeito à produção
excessivamente intensa de trabalho que é exigida do
empresário, incompatível com O confortável prazer
da vida - precisamente s6 qualidades éticas especí-
ficas de outra natureza que aquelas adequadas ao
tradicionalismo do passado.
22
- - - - ------------
E assim também não foram, em regra, os especulan-
tes ousados e sem escrúpulos, naturezas aptas à
aventura econômica como são encontradas em todas
as épocas da história econômica, ou simplesmente
os <grandes homens de dinheiro> o·s que criaram esta
mudança aparentemente discreta e dicisiva ao al-
cance do êxito da vida econômica, imbuída deste
novo espírito, mas homens educados na dura escola
da vida, prudentes e arriscados ao mesmo tempo e,
princípalmente, s6brios e perseverantes, perspicazes
e entregues inteiramente às suas coisas, com con-
cepções e princípios rigidamente burgueses.»
23
encontrar emprego e pão. O Pai Madalena pedia aos
homens boa vontade, às mulheres pureza de costu-
mes, e a todos probidade. Dividira as oficinas, a fim
de separar 05 sexos e manter as mulheres e as jovens
afastadas dos homens. Sobre este ponto era inflexí-
vel. Era este o único no qual se mostrava francamente
intolerante. Certamente era fundada esta severidade,
pois sendo Montreuil-sur-Mer uma cidade com
guanúção militar, não faltavam as ocasiões propí-
cias à corrupção. De resto, a sua vinda havia sido
um benefício e a sua presença era uma providência.
Antes da chegada do Pai Madalena, tudo naquela
região jazia num estado de desalentada languidez;
agora todos viviam aí a vida sadia do trabalho. Uma
forte circulação animava tudo e penetrava por todas
as partes. O desemprego e a miséria eram desconhe~
cidos. Não havia bolso, por mais humilde que fosse,
que não tivesse um pouco de dinheiro, nem uma
casa tão pobre em que não existisse um pouco de
alegria. O Pai Madalena empregava toda a gente,
fazendo uma única exigência: - Sede homens hones-
tos! Sede mulheres honradas!
(Victor Hugo, Les Misérnbles, livre V, cap. 2 : «Ma-
deleine», op. cit., p. 165; na tradução portuguesa,
p.227.)
24
I
d-
a seguinte: essas forças devem ter poder sobre as
almas humanas. Sem dúvida, a melhor ética perma-
nece ineficaz enquanto não houver alguém que quei-
ra segui-la, pois nela acredita. Pudemos constatar
que esta condição foi preenchida durante toda a
época do capitalismo nascente ...
Mas a condição objetiva necessária à eficácia das
forças morais também foi cumprida durante a época
do capitalismo nascente; quero dizer, pelo nível re-
lativamente pouco c/evado do desenvolvimento ca-
pitalista ...
Enquanto um sistema econômico estiver em fase de
estruturação, enquanto a conduta conômica depen-
der das resoluções livres de pessoas isoladas, as
doutrinas éticas e suas máximas morais conseqüen-
tes terão naturalmente um campo livre muito mais
_vasto para a sua atividade do que quando as rami-
ficações isoladas do sistema econômico já estiverem
completamente formadas, todos os procedimentos
mecanizados e cada elemento da economia for for-
çosamente obrig-a do a adotar uma determinada linha
de conduta.
Pois, já que ambas as condições foram preenchidas
durante uma época determinada, precisamente du-
rante a época inicial do capitalismo, penso que so-
mos autorizados a chegar à conclusão de que as
forças morais - a filosofia e, sobretudo, a religião -
depois de se terem tornado eficazes, participaram
também da formação do espírito capitalista, qual-
quer que seja o modo de sua ori"gem. Ou seja, que
este paralelismo, que pudemos constatar em inúme-
ros casos entre as doutrinas morais e as manifesta-
ções do espírito capitalista, pode ser interpretado, na
verdade, no sentido por nós aqui empregado, con-
siderando-se o mandamento como a causa, a forma
do comportamento dos sujeitos econômicos como o
efeito.
Ao fazermos novamente um retrospecto sobre a
contribuição das forças morais no desdobramento
do espírito capitalista, pode-se observar o que me
2S
parece ser principalmente O seguinte:
1. a criação do que se poderia chamar de uma dis-
posição favorável, isto é, o surgimento de uma con-
cepção de vida racionalizada e metódica, na qual a
filosofia da Baixa AntiguiJaJe e as três relieiües
principais tiveram participação uniforme;
2. O cultivo das virtudes burguesas, que foi igual-
mente preconizado pelos três sistemas religiosos e
pelos sábios da Antiguidade com O mesmo zelo;
3. o refreamento da ambição pelo ganho e a limitação
à mentalidade econômica, conforme preconizavam
ambas as religiões cristãs e segundo sucedeu real-
mente durante a época inicial do capitalismo. ·Por
isso, pode-se dizer que o capitalismo permaneceu
até o fim deste período sob a influência atenuante
das doutrinas morais do cristianismo. Quem não
reconhece este fato, não compreendeu o caráter do
~apitalismo em seus começos. .J
(Werner Sombart, Der Bourgeois. Zur Geistesge-
sC/lic"te tlcs lIIotlcrnen Wirlsc"afls/llcnsclICIJ, ["O
burguês. Contribuição à história moral e intelectual
do homem da economia moderna»], cap. 22: "Der
Anteil der sittlichen Maechte am Aufbau des kapi-
tnlisli schc1\ Gcis lcs.) [«Ati for~' as morais c sua con-
tribuição ao florescimento do espírito capitalista»],
Munique e Leipzig, 1913, pp. 353 ss.)
26
4. A Versatilidade Furta-cor da Figura
do Empresário
27
leine» - o empresário clássico, típico da época inicial da
industrialização. Este é o tipo de empresário tal como o
esboçou Joseph 5chumpeter, em 1942, no seu trabalho
de investigação Capitalism, Socialism and Dcmocracy:
28
a função do empresário. Esta função não consiste
essencialmente em inventar algo, nem em criar, por
outro lado, as condições que a empresa explora.
\.Sonsiste, pois, em colocar as coisas em marcha.» .J
(Joseph A. Schumpeter, Capitalism, Socialism and
Dcmocracy, cap. 12, seção 1, Nova Iorque, 1942.
Consulte também Capitalismo, socialismo e demo-
cracia, trad. de Ruy Jungmann, Rio de Janeiro."')
29
ser captadas num momento de intuição genial, po-
dem agora ser calculadas com exatidão.
Por outra parte, a personalidade e a força de von-
tade pesnm menos num meio ambiente acostumndo
com muJani'as econômicas - especialmente simboli-
zadas pelo fluxo contínuo de novos bens de con-
sumo e de produção - e em vez de apresentar-lhes
resistência, aceita-as naturalmente. A resistência que
provém dos interesses ameaçados por uma inovação
no processo de produção provavelmente não se ex-
tinguirá enquanto subsistir a ordem capitalista. Tal
resistência é, por exemplo, o grande obstáculo que se
interpõe no caminho à produção em massa de habi-
tações baratas, a qual pressupõe uma mecanização
radical e a eliminação total dos métodos pouco eco-
nômicos de trabalho. Mas, todas as demais formas
de resistência, especialmente a dos consumidores e
produtores contra coisas novas, só por serem novas,
quase desapareceram por completo. Assim, o pro-
gresso econômico tende a despersonalizar-se e a
automatiznr-se. O trabalho de escritório e de comis-
L são tendem a substitui; a ação individual. » ...J
(Joseph A. Schumpeter, op. cit.)
E5tC tcxlo surpreende-nos por duas razões, ambas de
mesma natureza :[primeiro - nas primeiras fases da in-
dustrialização houve efetivamente inúmeros empresários
que fracassaram antes a curto do que a longo prazo. Es-
ses pobres "fazedores de projetos» merecem nosso in-
teresse porque:
segundo - em numerosos países do Terceiro Mundo sur-
giram personalidades empresariais do tipo do «Pere Ma-
deleine», freqüentemente desempenhando a função de
um Ministro da Economia ou de um Chefe de Exército,
que por períodos breves ou longos não somente procla-
maram cheios de confiança a «política desenvolvimen-
tista», como também na verdade a praticaram. A muitas
destas personalidades foi-lhes impossível alcançar um
êxito duradouro. Tal fracasso é freqüentemente interpre-
tado como «típico» do Terceiro Mundoj
30
Antes de aventurar a tese de que o fracasso dos "faze-
dores de projetos» constitui uma característica essencial
do processo de industrialização, despidamo-nos, do "Pere
Madeleine», o personagem do romance que Victor Hur,o
fez fraca5sar por motivos que não foram de índole polí-
tico-econômica,
Como empresário, o Pere Madeleine obteve sucesso
porque:
31
5 . «As Noites de Insônia do Empresário
não são Improdutivas»
32
igual ao salário que ele mesmo deve dar a um admi-
nistrador, contabilista ou capataz que lhe diminue
esse esforço e encargo.
Contudo, os resultados efetivos do trabalho do em-
presário, que trabalha por conta própria e os do
substituto assalariado são muito diferentes, mesmo
quando ambos possuem as mesmas capacidades e os
mesmos conhecimentos.
Em tais épocas, nas quais o negócio traz grandes
perdas devido à instabilidade da conjuntura e tanto
a fortuna como a honra do empresário estão em
jogo, seu espírito acha-se dominado por um só pen-
samento, o de como poder apartar de si a desgraça;
e, assim, o sono abandona-o.
Em tal situação não ocorre O mesmo com o substi-
tuto assalariado. Quando trabalha honestamente du-
rante o dia e chega à noite cansado em casa, dorme
ele tranqüilo com a consciência do dever cumprido.
Mas, as noites de insônia do empresário não são
improdutivas. Nelas concebe planos e ocorrem-lhe
idéias de como afastar o seu infortúnio, as quais não
vêm, porém, à mente do administrador assalariado,
por mais que possa também aspirar a cumprir seria-
mente o seu dever, pois elas só nascem de um es-
forço supremo de todas as forças espirituais, dirigi-
das a um ponto único.
A necessidade é a mãe das invenções e assim tam-
bém o empresário se torna inventor e descobridor
em sua esfera, devido à sua situação acossante.
Assim como o inventor de uma máquina nova e útil
percebe com direito um excedente resultante do em-
prego desta em comparação com a máquina mais
antiga e disfruta deste excedente como recompensa
do seu invento, assim também o rendimento suple-
mentar que o empresário produz através de seu
maior esforço mental, comparando-o ao do adminis-
trador assalariado, deve caber-lhe como recompensa
de sua indústria.
O empresário que trabalha por sua própria conta e
risco, apesar de dotado de idênticas qualidades, pos-
33
sue uma capacidade de rendimento maior que o
substituto assalariado, por grande que seja também
a fidelidade deste ao dever e essa é a razão pela qual
pertence ao empresário mais uma retribuição, a qual
chamamos de <recompensa industrial>. Uma relação
semelhante surge no trabalho manual simples. A
força do trabalhador que carrega terra, numa obra de
empreitada,') será fortalecida e acerada através da
sensação de que cada golpe de enxada O beneficia e
aumenta o seu lucro, enquanto que O trabalhador
assalariado, fiel ao seu dever, que sempre tem que
combater as dificuldades e esforços no trabalho
através da obrigação moral que ele mesmo se impõe,
fatiga-se muito mais cedo e realiza uma jornada in-
ferior a do empregado que trabalha por comissão,
apesar de possuírem a mesma força e habilidade.
Esta consideração pode, ao mesmo tempo, contribuir
também para moderar nosso jugalmento sobre O tra-
balhador, quando achamos que rende muito menos
ao ser contratado a salário fixo que cm regime de
salário por comissão, I}P sentido de que não pode-
mos imputar esta circunstância somente à sua indo-
lência e irresponsabilidatde (juízo este ao qual nos
sentimos inclinados com muita facilidade), mas que
deve ser atribuída também, em parte, às diferenças
na capacidade de rendimento, independentes do ar-
bítrio do trabalhador.
34
gemaesse Arbeitslohn und dessen Verhaeltnis zum
ZinsfuB und zur Landrente» [«O salário naturel e
sua relação às taxas de juro e à renda da terra»],
§ 7, seção b, «Industriebelohnung» [«A recompensa
da indústria], Rostock, 1850, pp. 83 55., nova ed.
Jena, 1910, pp. 481 s.)
35
6. Sobre o Afã de Fazer Projetas
36
obrigado a definir a sua situação profissional - o empre-
sário como fazedor de projetos - da seguinte maneira :
37
projeto por si mesmo e conformando-se com a pro-
dução efetiva como recompensa de sua invenção .• ')
(Daniel Defoe, An essay UpOIl projects [«Ensaio
sobre projetos»], obra escrita entre 1692 e 1697, I'
cd., Londres, 1697; reimpressão em fac-símile, Lon-
dres, 1969, pp. 33 55.)
38
estudante de física ou de química estariam cm con-
dições de <terminar de inventar> sistematicamente
em poucas semanas e que permaneceram incomple-
tos porque sua terminação cabal dependia do acaso
de uma idéia feliz que não queria aflorar. Ou, as
experiências fracassavam porque se havia cometido
algum erro na construção da máquina, que o inven-
tor não percebia. Assim, Papin*) sofreu muito por
não ter sido um mccânico capacitado. Seus constan-
tcs fracassos eram devidos, provavelmente com fre-
qüência, só a um pequeno erro: um parafuso ou um
gancho demasiado fracos. Tem-se que considerar
que a um homem como Papin as teorias sobre a so-
lidez e a resistência dos materiais, etc. eram ainda
praticamente desconhecidas.
Mas, evidentemente, o que faltava àqueles homens
em matéria de formação e instrução científica sou-
beram-no substituir por uma fantasia florescente,
de cuja força criadora dificilmente poderíamos fazer
idéia hoje em dia. Os séculos que precederam a
época da Ilustração, com os quais o período do capi-
talismo nascente coincide foram, com efeito, em
todos os terrenos da cultura humana, de uma fecun-
didade sem precedentes na invenção e na organiza-
ção; seria estranho se esta força criadora não tives-
se sido também comprovada no terreo da técIÚca . .•
Como nasceu esta vontade inventiva? Quando
Dcfoc, o único que planteou, pelo que vejo, esta
pergunta antes do que eu, responde que O motivo
foram as perdas comerciais durante a época de Com-
39
mOr1wealth e da Restauração, que obrigaram a muita
gente a melhorar seus rendimentos e a refletir sobre
novas possibilidades de existência econômica, pa-
rece-me ser tal resposta demasiado restrita. Quero
acreditar, sobretudo, que contém no melhor dos ca-
sos urna explicação somente para uma época, na
qual já afluíam novas forças ao aperfeiçoamento da
técnica, forças estas que nasceram da tensão dos
interesses capitalistas e que, então, seguiram sendo
até os nossos dias as verdadeiras forças propulsoras
do progresso técnico, mas que, como já vimos an-
teriormente, não estavam presentes em absoluto, ou
somente existiam cm forma de germe nos séculos,
em que se desdobrava uma vontade inventida e que,
na minha opinião, mesmo ainda na época tardia do
barroco do qual Defoe fala, dificilmente chegaram
a ter a relevante importância que mais tarde rece-
~~. '
Vejo duas fontes das quais podia nascer e devia
evadir-se a vontade inventi,va antes de que o capita-
lismo a gerasse. Uma é -o ímpeto geral da época, pelo
menos de fins do século XV, do século XVI e XVII,
pelo <conhecimento do mundo>, o rasgo fáustico da
época ...
Mas, sem dúvida: foi necessário que interesses reais
viessem em auxílio daquela aspiração puramente
ideal, para dar-lhe a grande força de penetração que
de fato possuiu. Pois, através de uma análise mais
minuciosa, encontramo-nos aqui frente a dois cen-
tros de interesses dos que devia nascer com uma
necessidade imperiosa mesmo na época pré-capita-
lista, desde o final da Idade Média, um esforço ar-
dente, constantemente renovado e cada vez mais
poderoso, de subjugar a natureza, de dominar as
forças naturais e, com isso, uma busca incessante de
novas possibilidades técnicas; estou-me referindo
ao interesse na posse do ouro e no comando bem
sucedido de guerra.
Da sede de ouro nasceu a alquimia que, por sua vez,
foi a mãe de numerosas invenções e descobertas; da
40
..
L_ _ ___________ _. _
mesma ambição orlgmaram-se as reformas mais
significativas no campo da técnica mineira; a mes-
ma ânsia por ouro fez com que os homens se lan-
çassem ao oceano, forçando os progressos no âmbito
da náutica.
Assim também, o desenvolvimento das forças arma-
das impulsionou sistematicamente o progresso téc-
nico. Este foi um âmbito da atividade humana em
que o empenho básico de inovação e aperfeiçoa-
mento tornou-se igualmente uma necessidade, como
sucedeu ao aferramento básico ao tradicional em
todas as demais áreas de cultura.
Podemos seguir claramente de que maneira todo o
progresso técnico daquela época se situa em torno
destes dois núcleos; os escritos dos alquimistas, os
livros sobre fogos de artifício e outras obras sobre
a artilharia, os livros sobre minas, os manuais de
navegação, são os primeiros símbolos da aspiração
de adquirir uma visão clara no domínio técnico e,
sobretudo, do desejo de ampliação desses conheci-
C1entos, de aperfeiçoamento do saber técnico.» :::J
(Werner Sombart, «Die Technik im Zeitalter des
Fruehkapitalismus» [«A técnica na época do capita-
lismo nascente»] em Archiv fller Sozia/wissenschaf-
ten und Sozia/politik [«Arquivo das ciências e da
política sociais»], vol. XXXIV, Tuebingen, 1912,
pp. 731 ss.)
41
iniciar-se mais tarde. A ambição de lucro dos europeus,
lançando-os ao mar e «os manuais de navegação como os
primeiros símbolos da aspiração de adquirir uma visão
clara no domínio técnico» - quem deixou um testemunho
mais vivo do seu tempo que Daniel Defoe7]
42
rt c-
7. Do Projeto da Arca de Noé ao Projeto
da Bomba Atômica
43
começava a transformar-se. O método insuportável e pe-
dante dos Ilrandes escritores já não satisfazia a avidez de
conhecimentos da pequena-burlluesia, que não queria
mais tolerar nos textos as obscuridades que anteriormen-
te passaram despercebidas. Por isso, em princípios do
século XVIlI, o velho costume lingüístico de formulação
vigorosa c pesada, de expressão por meio de frases lonllas
e intrincadas cessou quase repentinamente. A velha lin-
guagem perdia, então, urna' certa beleza, enqtianto apa-
recia um estilo mais leve e simples, em que se u;;avam
frases de rápida compreensão que melhor correspondi"am
às necessidades da época moderna. , """
10 grande êxito de Defoe, como escritor, não residiu ulti-
mamente no fato de que os textos nascidos de sua pena
foram escritos no estilo moderno burguês. Dentre as '
virtudes burguesas do período inicial do capitalismo fez
parte a capacidade à parcimônia cabal da vida econômica
através da poupança, dos lares com as matérias-primas,
do preenchimento adequado do tempo, da economia das
forças. Defoe foi o jornalista moderno que entendeu de
economia da expressão. Por isso, foi compreendido du-
rante os séculos que vão desde o período do pré-capita-
lismo, seu início, apogeu, final, ou do pós-capitalismo,
até os nossos dias.
O estilo da obra com que Defoe inaugurou a idade do
jornalismo moderno era conciso e rigoroso. Mesmo as
informações sobre a história tecnológica foram condimen-
tadas com pimenta política. Defoe já estava dominado
pelo capricho de muitos dos seus sucessores, que não
podiam resistir a tentação de encontrar uma data de
nascimento para a famosa «revolução industriaJ". Era
natural que tivesse que adiantar esta data à sua época:
ao ano de 1680.*) J
L..,
44
_ _ __ _ • _ _ _ _ . . . . . . . . 0 .0 • __ _
«Não gostaria de traçar os precedentes da inclinação
de fazer projetos além do ano de 1680, data do nas-
cimento do monstro, apesar de ter dado sinais de
vida já no período da última guerra civil. Afirmo
que nenhuma época tem sido inteiramente despro-
vida de alguma coisa desta natureza e, como teste-
munho do seu sucesso, foram deixados alguns pro-
jetos muito felizes, como por exemplo, os reservat6-
rios para a provisão de água à cidade de Londres e
ap6s, o novo canal (New Riuer)**), ambas as empre-
sas muito consideráveis e projetos perfeitos, aven-
turados ao risco do sucesso. Durante o reinado de
Carlos I, inúmeros projetos vieram à luz por per-
ceberem dinheiro sem a intervenção do Parlamento:
opressões através de monop6lios e privilégios u *).
Porém, estes estão excluídos do nosso esquema, por
constituírem irregularidades; pois, em projetos deste
tipo, os franceses são tão fecundos como n6s e, mais
que projetos, estes são estratagemas. Depois do in-
cêndio de Londres [1666], o projeto de invenção de
um extintor de incêndio significou um grande êxito
para seu autor e achamos ser muito útil. Mas, aproxi-
madamente no ano de 1680, o mistério da arte de fa-
zer projetos começou a introduzir-se paulatinamente
no mundo. O príncipe Ruperto, tio do Rei Carlos II,
fomentava em alto grau aqueles projetos relacionados
às máquinas e à mecânica e o bispo Wilkins chegou a
escrever um livro, acrescentando a parte te6rica.
,
seus leitores com a indicação de duas datas que pareciam
marcar o começo da época moderna : 1680 e 1720. Esta pe-
quena incongruência é, por este motivo, instrutiva, pois pode
suscitar a proposição de que cada nova geraçã.o estaria in-
c1 inólda a considerar a sua época como o início da época
mouerna.
") Aqueduto construído em 1613 para suprir água potável
à cidade de Londres.
U*) Em forma de taxas lançadas arbitrariamente, impostas a
pessoas ricas, sendo a ' sua demanda autenticada pelo selo
secreto real.
45
o príncipe oeixou-nos um met~l, que leva ·0 seu
nome e o primeiro projeto neste âmbito foi, segundo
recordo, a fundição de canhões feitos deste metal e
sua perfuração, sendo ambas as operações realizadas
r.cy,undn urn método especial por ele inventado c que
morreu com ele, com granoe prejuízo para o em-
presário.»
(Daniel Defoe, op. cit., pp. 24 ss.)
46
.
I
I
d'
nlãos, transformou-se cm un1 comércio, praticado
talvez com a mais alta intriga, maior artifício e as-
túcia, que somente ousou aparecer sob a máscara da
honestidade. Pois, enquanto os agentes tinham em
mãos as cartas, transformaram a bolsa de valores
loda em uma sala de jogo, fazendo subir ou baixar
os preços das ações à sua vontade, dispondo sempre
tanto de compradores como de vendedores, que en-
tregavam prontamente seu dinheiro a mercê de suas
palavras mercenárias. Este comércio de florescimen-
to repentino, tendo provado a doçura do sucesso
que costuma acompanhar a toda novidade, deu ori-
gem ao objeto ilegítimo e complexo de que falo,
como instrumento adequado para dar trabalho aos
agentes de câmbio. t assim que o fazedor de pro-
jetos, educado para O tráfico em bolsa, adotou ele
mesmo, por sua vez, com muita diligência, o papel
de negociador, seu pai adotivo, até que ambos che-
garam a ser calamidades públicas, na verdade,
quase escandalosas.»
(Daniel Defoe, op. cit., pp. 28 ss.)
47
to resulta o paradoxo, que um homem que dedica os
seus melhores esforços a realizações objetivas torna-
-se, do ponto de vista social, de tal modo individua-
lista que, pelo menos em principio, não confia senão
em seu próprio juízo. t muito fácil demonstrar que
o individualismo intelectual e o poder científico
apareceram simultaneamente na história e, desde
então, nunca mais se separaram.
Que lugar ocupará o homem de ciência na sociedade
contemporânea? Ele parece orgulhoso do fato de
que, de um ou de outro modo, e quase sempre indi-
retamente, O trabalho de seus colegas tenha total-
mente transformado a vida econônúca dos homens,
através da eliminação considerável do trabalho fí-
sico. Mas deve estar igualmente angustiado, pelo
fato de que os resultados das suas pesquisas acaba-
ram por constituir uma ameaça grave para a humani-
dade, desde o momento em que os frutos de suas
investigações caíram nas mãos de detentores cruéis
do poder político. Ele é consciente do fato de que os
métodos técnicos b~eados em suas investigações
levaram à concentração do poder econômico e, com
isso, também do poder político, entregues em mãos
de uma pequena minoria, de cujas manipulações a
sorte da massa de indivíduos, que parece cada vez
mais amorfa, tornou-se totalmente dependente. E
mais : esta concentração da força econômica e polí-
tica nas mãos de uns poucos não só levou o homem
de ciência a uma dependência material exterior,
como também ameaça a sua existência interna, im-
pedindo o desenvolvimento de personalidades in-
dependentes, com a criação de meios refinados de
influências intelectuais e morais.
De modo que vemos hoje delinear-se para o homem
de ciência um destino verdadeiramente trágico. Am-
parado pelas suas aspirações por clareza e indepen-
dência exterior, ele forjou, por si próprio, com seus
esforços quase sobre-humanos, as armas de sua
sujeição exterior e do aniquilamento de sua perso-
nalidade.»
48
...---.....
(Albert Einstein, Ueber die moralisclze Pflicht des
Wissensc/wftlers, mensagem à Società Italiana per il
Progresso delle Scienze, na ocasião de seu 43° Con-
gresso realizado em outubro de 1950, em Lucca. O
texto original alemão apareceu em Physikalische
Blaettcr [«Páginas de física»], Mosbach-Baden,
1952, nO 5, assim como em Albert Einstein. Ueber
den Fricdcn. Weltordllul1g oder Weltuntergang?
[«Albert Einstein. Ordem mundial ou fim do mun-
do?»], editado por Otto Nathan e Heinz Norden,
Berna, 1975, pp. 533 s.; em caráter de prefácio figura
na obra de Charles-Noel Martin, L'heure H a-t-el/e
sonné pour le monde?, Paris, 1955. Cf. também
A Bomba H. Princípio ou fim?, com uma mensagem
de Albert Einstein, trad. do original francês de José
J. A. dos Santos, Lisboa, Edição Livros do Brasil,
Coleção Vida e Cultura.)
49
8. «Robinson Crusoe»,Relato sobre a Vida
Simples na Natureza Livre ou Manual para
a Exploração Desconsiderada da Natureza?
50
Mas Ocfoe alcançou seu maior êxito corno autor de ro-
mances de aventuras"), através da leitura palpitante dos
quais introduziu o leitor, por assim dizer, às teorias soo
ciais e dou trinas morais e burguesas modernas.
Seu romance de aventuras mais célebre, Robinson Cru·
soe, seguiu caminhos singulares na literatura mundial.
No continente europeu, pessimistas da cultura, corno
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), viram muito cedo
na epopéia de Robinson a glorificação oportuna de um
estado livre da natureza e o elogio da «vida simples» de
artesãos modestos, capazes e livres, que queriam ser in·
dependentes dos homens e da fortuna. Aqui, na figura
deste «Robinson», vestido de peles, e do seu acompa-
nhante negro «Sexta-Feira», urna burguesia resignada
sofreu urna profunda amargura, fugindo com estas figu-
ras do romance do quotidiano, volvendo ao passado, à
utopia e à natureza .virgem».
Deste modo, o Robinson de Defoe se transformou, corno
dizia Jean-Jaques Rousseau, «num verdadeiro castelo no
ar» para as crianças daquela burguesia européia que, de
preferência, se teriam mantidas af"stadas de todas as
relações criadas, então, pelo processo de industri"lização
que rompia e, com ele, pelo capit"lismo moderno.
«A ilha do gênero humano é a terra; o objeto mais
surpreendente "OS nossos olhos é o sol. Logo que
con\CçaUl0S a afasta.r-nos de n65 nlcsnl0S, nossas
primeiras observações devem recair sobre um e
SI
outro. Por isso, a filosofia de quase todos os povos
selvagens gira uIÚcamente sobre as divisões imagi-
nárias da terra e sobre a divindade do sol ...
Robinson Crusoe em sua ilha, sozinho, desprovido
da assitência de seus semelhantes e dos instrumen-
tos de toda a sorte, providen.ciando, contudo, a sua
subsistência e - conservação e procurando para si
mesmo uma espécie de bem-estar, eis um assunto
interessante para todas as idades e que conta com
mil meios de fazer-se agradável às crianças. Eis co-
mo transformamos em realidade a ilha deserta que,
no início, me servia de comparação. Este estado, eu
admito, não é o do homem social; provavelmente
não deve ser o de Emílio, mas é sobre este mesmo
estado que ele deve apreciar todos os outros. O meio
mais seguro de elevar-se acima de preconceitos e de
ordenar seus julgamentos sobre as verdadeiras' rela-
ções das coisas é o de colocar-se no lugar de um
homem isolado e de julgar tudo como este homem
deverá julgar por si me~mo, considerando a sua
própria utilidade.
Este romance, desembaraçado de toda a sua verbosi-
dade, começando com o naufrágio de Robinson pró-
ximo à sua ilha e terminando com a chegada do na-
vio que vem tirá-lo dela, será ao mesmo tempo o
divertimento e a instrução de Emílio durante a época
de que aqui tratamos. Quero que sua mente O trans-
forme, que ele se ocupe sem cessar de seu castelo,
de suas cabras, de suas plantações; que aprenda em
detalhe não nos livros, mas através das coisas, tudo
o que é necessário saber em caso semelhante; que
pense em ser O pr6prio Robinson; que se veja ves-
tido de peles, usando uma grande boina, um grande
sabre, toda a grotesca equipagem da figura, o guar-
da-sol ao lado, do que não terá necessidade. Quero
que se inquiete devido às medidas a tomar se isto ou
aquilo lhe viesse a faltar, que exarIÚne a conduta do
seu her6i, que investigue se omitiu algo, se não tinha
nada mais conveniente afazer; que assinale atenta-
mente as suas faltas e se aproveite delas para ele
52
próprio não cair cm caso similar, pois não é de du-
vidar que não projete realizar uma empresa seme-
lhante; é o verdadeiro castelo no ar desta ditosa era,
na qual não se conhece outra felicidade que o neces-
sário e a liberdade.»
(Jean-Jacques Rousseau, Emile ou de l'educatiorl
["Emílio ou sobre a educação»], obra escrita de 1757
a 1760, la ed., Paris e Amsterdam, 1762.)
53
Estes colonos tinham que ser versáteis, pois a primeira
fase de exploração das terras virgens não conduziu à
idéia de divisão do trabalho. Eram individualistas, :tal
como «Robinson», dispostos a isolar-se da massa. Pr~
feriam que a grande sociedade seguisse seu próprio ca-
minho, depois de haverem formado uma pequena socie-
dade para uso próprio. Para estes emigrantes já não
existia o passado. Todo o presente era apenas um estado
provisório.
Seu' modelo literário era' aquele Robinson, que trabalhava
tenazmente na construção' de sua própria casa, até haver
criado em torno dela a sua pequena república própria.
Para os -emigrantes europeus era ele o modelo daqueles
empresários e inventores hábeis que, providos de escasso
capital ou quase sem ele, irradiavam o espírito do capi-
talismo moderno.
Estas são perspectivas que permitem uma interpretação
totalmente diferente da epopéia robinsoniana de Defoe,
dificilmente apropriada à edificação de uma burguesia
fatigada da indústria à qual, na velha Europa, o cad ter
dinâmico do capitalismo moderno seguiu sendo incom-
y-reensível por muito tempo ainda. _
LQuem descobrir 110 Robinson de Defoe o prot6tipo do
empl'esário do período inicial do capitalismo poderá tam-
bém aprender a sentir o que há de singular na força colo-
nizadora da Europa: a força imponente que mais tarde
seri.i '~hamada imperialismo - a capacidade da Europa de
dominar o mundo, quase todo o mundo, simplesmente
através da fundação de pequenas empresas, inicialmente
insignificantes, em todas as partes e em qualquer parte
do mundo. Não foram grandes chefes militares os que
fundaram os impérios transnacionais da indústria capi-
talista moderna. O começo foi obra de meros pequenos
Robinsons. J
54
\.
9. A Poesia Descolorida dos Individualistas
Pequeno-Burgueses
55
a consagrar o meu tempo a melhorar o meu modo
de vida e a fazer coisas tão fáceis quanto possível.»
56
sam nisso, pois se mostram insensíveis às mara-
vilhas da natureza inanimada e não percebem, ·por
assim dizer, as admiráveis florestas que os rodeiam
a não ser no momento em que tombam sob seus
golpes. Seu olhar está ocupado com um outro
espetáculo. O povo americano vê-se marchar através
desses desertos, drenando os pântanos, saneando os
rios, povoando a solidão e subjugando a natureza.
Esta imagem magnífica que os americanos têm de
si próprios não se apresenta somente de tempos em
tempos à sua imaginação; pode-se dizer que ela
segue cada um deles tanto na mais minúscula de
suas ações como nas mais importantes e que per-
manece sempre diante do seu espírito.
Nada se pode conceber de tão pequeno, tão ex-
tenuado, tão cheio de miseráveis interesses, em uma
palavra, tão antipoético, que a vida de um homem
nos Estados Unidos; mas dentre os pensamentos
que a dirigem encontra-se sempre um, cheio de
poesia, como o nervo oculto que dá vigor a todo o
resto.
Nos séculos democráticos, a extrema mobilidade
dos homens e seus impacientes desejos fazem que
eles mudem sem cessar de lugar e que os habitantes
de diferentes países se mesclem, se vejam, se escu-
tem e se ilIÚtem; não são, por conseguinte, somente
os membros de uma nação que se tornam semelhan-
tes; as nações mesmas se assimilam e todas juntas
formam, à vista do espectador, mais que uma ampla
democracia, onde cada cidádão é um povo. Isto põe
de manifesto, pela primeira vez, a forma do gênero
humano.»
57
Sem maiores esforços poderia Defoe ter trasladado a
ação de sua novela a alguma região afastada de sua pátria
inglesa e ter descrito, na mesma ocasião, os rios e as
montanhas. Contudo, Defoe queria expressar algo di-
ferente. Seu Robinson não era nem um indivíduo primi-
tivo, nem um pobre proletário. Este herói era um capita-
lista em posse da riqueza oferecida pela natureza da ilha
e de toda aquela encontrada no navio naufragado. Estas
riquezas foram as bases necessárias para fazer de Ro-
binson - usando as palavras de Marx - «um entesoura-
dor racional>.:
58
Kapitals [«O Processo de Produção do Capitah]
1" parte : «Die allgemeine Forme! ães Kapitals»
[«A fórmula geral do capital»], 1" cd., Hamburg,
1867. Cf. a tradução portuguesa de António D.
Gomes, O Capital, 5' ed., Lisboa, 1977. Marx-
Engels, Werke, [«Obras»], vol. XXlII, Berlim, 1962,
pp. 167 s.)
59
conhece limites: extende-se e aumenta sem medidas.
Isto oferece um vasto campo aos poetas e lhes per-
mite ver o quadro de longe. A democracia, que
oculta o passado à poesia, abre-lhe o porvenir.
Como todos os cidadãos que compõem uma socie-
dade democrática são semelhantes, a poesia não
pode fixar-se em nenhum deles em particular;
porém, a própria nação se oferece ao seu pincel. A
similitude de todos os indivíduos, que torna im-
próprio cada um deles separadamente de ser o ob-
jeto da poesia, permite aos poetas encerrar todos
numa mesma imagem e de considerar, enfim, o
povo mesmo. As nações democráticas reconhecem
mais claramente do que todas as demais a sua pró-
pria forma e esta grande forma se presta maravilho-
samente à pintura do ideal.»
(Alexis de Tocqueville, op. cit., pp. 78-79.)
60
finalmente, que não existia coisa nenhuma desejada
que não pudesse ser feita, principalmente se tivesse
ferramentas. No entanto, fiz uma quantidade de
coisas sem elas e algumas com nada menos que um
machado e uma machadinha, coisas que talvez nunca
tivessem sido feitas deste modo anteriormente, o
que me custou um trabalho imensurável. Por
exemplo, se queria uma tábua não me restava outro
caminho que o de abater uma árvore, colocá-la de
lado diante de mim e aparar a sua superfície em
ambos os lados com o meu machado até tê-la feita
da espessura de uma prancha e, ap6s, tomando-a
lisa com minha machadinha. t verdade que através
deste método apenas pude fazer uma s6 prancha
de cada árvore; mas para isso não havia nenhum
outro remédio senão paciência.~
61
10. Prenúncio de uma Nova Era
62
Esta estima aos acontecimentos e realizações do homem
simples e de meio modesto em romances não era coisa
rara na época de Defoe. Os «romances picarescos»
europeus do século XVII constituem um testemunho
eloqüente a respeito. Muitos destes romances populares
têm em comum a despedida dos «bons» velhos tempos
dos cavaleiros e da nobreza. Deles se diferenciava a
epopéia de Robillson, redigida por Daniel Defoe nos
primeiros anos do século XVIII. Esta foi o prenúnCio de
uma nova época sobre a qual se colocou um olhar cheio
de otimismo na crença da supremacia da razão humana,
com firme esperança no progresso econômico e social.
Tal confiança não era ilusória. Ao construir seu novo
mundo - a era moderna - Robinson Crusoe demonstrou
ser uma pessoa diligente, mas não especi,,:Jmente hábil.
Seu autor não lhe facilitou a arte de invenção como
cinqüenta anos antes o escritor alemão Hans Jacob
Christoph von Grimmelshausen (por volta de 1620 a
1676) à figura picaresca de «Simplicíssimo, o Aven-
tureiro» quem, perdido numa ilha deserta do sul, gozava
de surpreendentes dotes de inventor:
«Finalmente descobri que, misturando o sumo de
pau-brasil*) - do que existem diversas variedades
nesta ilha - com o sumo de limão, era perfeita-
mente possível escrever sobre uma espécie de folha
o
grande de palmeira, que me causava muita satis-
fação, já que agora podia conceber e escrever ora-
ções do modó devido.»
(Hans Jacob Christoph von Grimmelshausen, Der
abenteuer/iche Simp/icissimus [«Simplicíssimo, '0
Aventureiro»], na versão de 1671 - «Edição D» -
Livro 6, cap. 23: «Der Monachus beschliesst seine
Histori und macht diesen sechs Buechern das Ende»
[«O monge termina as suas hist6rias e coloca um
ponto final nos seus seis livros» l.)
63
,i
Apesar de que Roúinson, entrando em cena como herói
romanesco em 1719, vivia na sua ilha cercado igualmente
por uma natureza exuberante, não chegou ele a des-
cobrir a tinta, mesmo com toda a boa vontade possível.
Por esta razão, autor fê-lo escrever seu diário de
maneira menos extravagante. As invenções jil. não eram
para ele exclusivamente obra da inspiração divina nem
o resultado do afã de criar a partir da abundância~ Surgia
agora o problema da economia dos valores inventivos.
Um exemplo neste sentido nos oferece Robinson com
o seu primeiro intento de construir uma canoa:
64
lo; e, na verdade, era-me muito mais fácil guiá-lo
quarenta e cinco milhas no mar que quarenta e cinco
braças para colocá-lo em movimento na água.
Pus-me a trabalhar neste bote com a maior loucura
que haja cometido homem algum em são juízo.
Comprazia-me com o projeto sem determinar se me
era possível levá-lo a efeito. Não é que a dificuldade
de lançar o bote não me viesse freqüentemente a
mente; mas pus um ponto final às minhas próprias
perguntas a respeito, através desta resposta insen-
sata: .Vamos fazê-lo primeiro; estou certo de que
encontrarei de uma maneira ou de outra um meio
de transportá-lo quando estiver terminado> ...
Agora compreendia, apesar de ser demasiado tarde,
a tolice de iniciar um trabalho sem antes considerar
as suas dificuldades e sem julgar se nossas próprias
forças podem levá-lo a um bom termo.»
Assim teve Robinson que pagar caro por não ter feito
precederem seus projetas de um cálculo de custo e de
uma estimação de suas forças. Aquele bote, sobre o qual
girou o assunto anteriormente, deveria ser apresentado
primeiro à pequena burguesia industrial para fins peda-
gógicos como exemplo da desanimadora «ruína de um
projeto». Mas, em realidade, existiram na história dos
processos de industrialização ruínas de projetos muitís-
simo mais freqüentes e mais !lraves que desta canoa.
Contudo, só rara vez têm os fracassos tecnológicos o
mérito de irigressar na literatura mundial para servir de
advertência. Assim, pois, na época moderna, são obriga-
dos a serem expostos aos olhos dos homens sob a forma
de blocos de concreto armado fantasmagóricos ou -
pior ainda - na natureza livre, como advertência indes-
trutível.
6S
11. Isolamento e Cooperação
66
Em uma palavra, a natureza das coisas e a experiên-
cia haviam-me ensinado, após sensatas reflexões,
que todas as coisas boas deste mundo não são boas
a não ser enquanto nos são úteis e que, por muito
que rcalnlcntc aculllulcnlos para Jar aos outros,
apenas sentimos prazer no tanto quanto podeinos
usufruir e nada mais.»
(DaIÚel Defoe, op. cit., pp. 142 s.)
67
cristãs da América. Ele disse-me, portanto, que
imaginava ser mais aconselhável permitir a ele e
aos outros dois lavrar e cultivar novas terras, semear
tanto quanto possível; e que deveríamos esperar
uma outra colheita, a fim de ter um suplemento de
trigo quando viessem os seus compatriotas, pois a
necessidade poderia ser para eles uma ocasião de
discórdia ou de crer que haviam sido salvos de uma
dificuldade para serem arrojados em outra. -Re-
cordai>, disse ele, -que os filhos de Israel, apesar de
se regozijarem no princípio por haverem sido
levados do Egito, rebelaram-se contra o mesmo
Deus que os havia salvo, quando lhes faltou O pão
no deserto.>
Sua prudência era tão razoável, e tão bom seu
conselho, que eu não poderia estar senão muito
agradecido por ele, assim como estava também
satisfeito com sua fidelidade. Deste modo, nos
pusemoW·os quatro a lavrar a terra da melhor ma-
neira permitida pelas nossas ferramentas de ma-
deira, com as quais estávamos providos.»
68
Tocqueville ocupou-se novamente deste fenômeno, em
. 1840, na sua análise sobre a democracia americana: .
69
Convém não perder de vista estas reflexões de Tocque-
ville, colocando-as agora em relação a uma outra, mais
precisamente, à de Marx.
Na primeira metade do romance, Robinson Crus oe
revelou ser um entesourador, procurando salvaguardar
seu tesouro de toda a intervenção social. Um medo
terrível apoderou-se dele, ao descobrir, após muitos anos
de permanência na sua ilha, vestígios da existência de
outros homens. Resultava-lhe muito difícil aceitar outras
pessoas no seu domínio econômico. Guardava, neste
particular, uma viva desconfiança. Todavia, aconteceu
ao mesmo tempo aquilo que Marx preconizou na sua
.. fórmula geral do capital»: «Este capitalista é mais hábil
porque a vida eterna do valor que o entesourador crê
assegurar salvando o dinheiro dos perigos da circulação,
é ganha por aquele lançando sempre de novo o dinheiro
na circulação.»')
O círculo narrativo de Defoe termina com poucas -
mas muito ilustrativas - palavras sobre a visita em";:'
preendida, em 1694, por Robinson Crusoe à ilha, oito
anos após ter abandonado a sua colônia .
70
carregamento de coisas úteis, se quisessem dedicar-
se a plantar, o que fiz posteriormente. Os homens
deram prova de muita honestidade e diligência de-
pois de terem sido orientados e de receberem suas
propriedades.»
(Daniel Defoe, op. cit., pp. 341 s. Dcfoe descreveu
esta visita mais detalhadamente no segundo volume
de RoúillSOIl Crusoc.)
71
tida da produção capitalista. Foi assim que, no prin-
cípio, a manufatura propriamente dita mal se
distinguiu dos ofícios da Idade Média, excetuando
o maior número de operários explorados simul-
taneamente. A oficina do chefe de corporação
limitou-se a alargar as suas dimensões ...
Opera-se também uma combinação de trabalhos,
ainda que os operantes façam O mesmo trabalho ou
idênticos, quando atacam o objeto do seu trabalho
por diferentes lados ao mesmo tempo. Doze pe-
dreiros, cujo dia combinado conta 144 horas de
trabalho, simultaneamente ocupados nos diferentes
lados de uma construção, fazem avançar a obra
muito mais rapidamente do que o faria um único
pedreiro em doze dias ou 144 horas de trabalho.»
72
12. O Tempo não tem Importância
73
da «etapa inicial» do capitalismo e soube - como peda-
gogo sócio-político e, ao mesmo tempo, também soció-
logo - ilustrar a transição da ética antiga à moderna do
homem dedicado às atividades econômicas.
Robinson é o personagem de ficção que nos faz participar
da transformação espiritual quase imperceptível da época
«pré-capitalista» para a do capitalis mo moderno.
Enquanto Robinson era o único habitante da ilha, vivia
na forma de sociedade mais fechada que pode ser con-
cebida e não apenas por ser o único membro de «sua~
sociedade. Praticava uma economia doméstica e rural
rigorosamente isolada; num estado de profundo ensimes-
ma menta entregava-se às suas ocupações. Vivia a sua
obra como um artista. Não tinha que entregar nenhum
de seus produtos ao mercado. Nisto se assemelhava aos
artesãos da Idade Média que, na verdade, tinham que
vender e participavam da economia de intercâ mbio, mas
que estavam empenhados, sobretudo, a produzir bens
que fossem dignos de seu criador. A profunda aversão . -
dos artesãos «pré-capitalistas» contra falsificações ou""
mesmo substituições, inclusive contra trabalhos de quali-
dade inferior, explica-se pclo «antigo» conceito de honra
do artista pela qual mesmo Robinson sentia orgulho.
Por outra parte, o inglês Defoe dotou o herói do seu ro-
mance de ·um dom que logo se converteu no tipo ideal
predominante do novo capitalismo americano: o illdit-
tereutiated mail. A semelhança de Robinson, na primeira
metade do século XVIII, dificilmente poderia ocorrer aos
colonos europeus da América do Norte a idéia de divisão
do trabalho. Concernente às realidades da fase de funda-
ção das colonias, evitava-se conscientemente um grau
elevado de especialização e convinha, ao contrário, des-
tacar-se através de um espírito dinâmico e versátil, adap-
tando-se às condições de vida caracterizadas pelas rápi-
das transformações. Como Robinson Crusoe, Benjamin
Franklin, o <<inventor dos pára-raios, dos boatos jornalís-
ticos e da república» foi um modelo para esta jovem bur-
guesia industrial.
No período «pré-capitalista» de sua vida, Robinson criou
para si uma atmosfera agradável de trabalho, na qual o
74
tempo não tinha importância. foi a fase na qual jamais
teve pressa, precisamente porque sempre fazia ·algo. So-
bre este conforto «pré-capitalista» dizia WernerSombart:
«Mesmo quando se trabalha não se procede com
pressa. Não há razão para se produzir uma grande
quantidade num prazo muito breve ou determinado.
A duração do período de I'rodu~ão é determinada
por dois fatores : pelo tempo necessário para produ-
zir um objeto tão bom e sólido quanto possível e pe-
las necessidades naturais do próprio trabalhador.
A produção de bens é a realização de temperamen-
tos exuberantes que <vivem com plenitude' as suas
obras.»
(Werncr SombarL, Der UOIl,..~('oh;. Zur Ct!j!i[c5~e
sclJiclJle des modcmell WirlsclJaftsllwlIscliclI, [«O
burguês. Contribuis'50 à história moral e intelectual
do homem da economia moJerna»], Munique e
Leipzig, 1913, cap. 2: «Die vorkapitalistischc Wirt-
schaftsgesinnung» [«A mentalldade econômica pré-
-capitalista»], p. 20,)
75
13. «Tempo é Ouro»
76
-se; negligeava-se seguidamente a realização da
ronda e a maior parte das noites eram passadas a
beber. Escrevi, por conseguinte, um artigo para ser
lido no Junto'), no qual expunha tais irregularida-
des,salientando, porém, mais particularmente a
desigualdade desta taxa de seis xelins dada aos guar-
das, cm relação às condições daqueles que eram
obrigados a pagá-la; pois, uma pobre viúva, dona de
uma casa, cuja fortuna total a ser vigiada pela guar-
da talvez não ultrapassasse a soma de cinqüenta
libras, contribuia tanto quanto o mais rico comer-
ciante que possuia milhares de libras em mercadoria
nos seus depósitos.
'Em suma, propus uma vigilância mais efetiva, na
qual deveriam ser contratados homens mais ade-
quados que se dedicassem constantemente a este
serviço; e, como um meio mais acessível das estabe-
lecer os custos, propus também a elevação de taxas
que deveriam estar relacionadas à propriedade. Co-
mo esta proposta foi aprovada pelo Junto, foi ela
transmitida aos outros clubes, mas de maneira que
parecesse ser proveniente deles, preparando, todavia,
apesar de o plano não ser colocado imediatamente
elll execução, a opinião pública à esta mudança e o
caminho à lei promulgada alguns anos mais tarde,
quando os membros do nosso clube chegaram a go-
zar de maior influência.»
77
morte. Vd. Benjamin Franklin, Tllc Autobiography
with Sayings of Poor Richard, Hoaxes, Bagatclles,
Essays and Lelters . Se/ected and arranged by Carl
van Dorel!, Nova Iorque, 1940, pp. 117 s. Cf. tam-
bém a Alllouios ra{ia de JJelljll/nin Frmlklin, tradu-
zido por Urenno Silveira, São Paulo, 1953.)
78
cem libras é muito mais fácil ganhar as segundas,
dada a natureza prolífica do dinheiro.»
79
'gem seguinte, pertencente ao artigo The Way to
.. «uth de 7 de julho de 1757:
«Quanto tempo mais do que é necessário gastamos
põlra ourmir7 [~j(.llICCCI1l0S que (rapO!iól que Junnc
não caça galinhas. c tjuc <tcrcIllOS bastante lClllpO
para dormir na tumba., como diz o Pobre Ricardo.
Se o tempo é a coisa mais preciosa, <disperdiçá-lo.,
como continua, <é a maior prodigalidade pois', como
diz em outra parte, <o tempo perdido não se encon-
tra jamais', e o que chamamos de «tempo sufi-
ciente» é sempre muito breve •. Devemos, pois, le-
vantar e agir sem cessar para atingir os nossos fins;
deste modo, usando de diligência, realizaremos mais
com menos dificuldades. A preguiça faz as coisas
mais custosas, mas o trabalho torna tudo mais fácil,
como diz o Pobre Ricardo: <Quem tarde se levanta
troteia todo o dia. e nem siquer consegue acabar 05
seus negócios à noite, <pois a preguiça marcha tão
lenta~nte que a pobreza logo a alcança., segundo
podemos ler no Almanaque do Pobre Ricardo. E
acrescenta : <Dirija seus negócios! Não permita que
eles o dirijam!' e
<Quem cedo deita e madruga
Torna-se sadio, rico e sábio"
Portanto, que significam os desejos e as esperanças
de tempos melhores? Torná-los-emos melhores se
soubermos agir.»
(Benjamin Franklin, T11e Way to Wealt11, na edição
inglesa p. 204. Cf. também Sciencia do bom homem
Ricardo ou o caminho da fortuna e misce/anea de
moral e economia, Barcelos, Tipographia da Aurora
do Cavado; 1894.)
80
glês Dcfoe, irradiava este americano com certo cinismo e
humor um. otimismo extraordinário.
A alegria de viver, aliada a uma moderação voluntária da
direç50 econômica, era o inaudito, o novo: alr,uém dispõe
dWi llH'io~; c, LUl1ludo, IldO Wi c.lissipa. Alguét1\ ensina a
Cl:OllOlUia não como uma segurança diante da necessi-
dade, mas como uma virtude dos ricos, a qual não deve
ser praticada só ocasionalmente, senão que deve marcar
Ioda a personalidade.
Este traço, com o qual estas personalidades americanas
provocaram assombro no continente europeu a mediados
do século XIX, havia-se convertido na sua característica
comum. Tocqueville escrevia em 1840 :
81
o próprio interesse bem entendido não é uma dou-
trina sublime, mas é clara e definida. Não pretende
alcançar grandes finalidades, mas obtém sem muito
esforço todas as coisas a que se propõe. Como se
encontra ao alcance da compreensão de todos, cada
indivíduo a compreende facilmente e a retém na
mente sem dificuldade. Adaptando-se maravilhosa-
mente às debilidades dos homens, obtém facilmente
um grande império, cuja força não é difícil conser-
var, pois o interesse pessoal volve contra si mesmo
e utiliza, para dirigir as suas paixões, do mesmo
aguilhão que as estimula.»
(Alexis de Tocqueville, De la démocratie en Amé-
ril/ue, Paris, 1840. Em auvres completes, Paris,
NRF-Gallimard, 1951, livro 2, 2 n parle, cap. 8:
«Comment les Américains combattent l'individua-
lisme par la doctrine de l'interêt bien entendu», pp.
128-129).
82
(Em Staats-Lcxikol1 odcr Ellzy/dopiidic dcr Staats-
wisscl1sclzaftCII, [«Léxico político ou . enciclopédia
das ciências políticas »], editado por Carl von Rot-
tek e Carl Th. Wclckcr, vol. VI, AlIona [1837], p.
19.)
83
14. Pioneiros Soviéticos da Indústria e seus
Modelos Capitalistas
84
verstas*). o capitalismo avançado absorve-os .pela
força no seu turbilhão, arranca-os de suas aldeias
perdidas, faz deles participantes do movimento
histórico mundial e coloca-os frente à classe inter-
nacional, poderosa e unida dos industriais.
Não há dúvida de que só a extrema miséria obriga
os homens a abandonar a sua pátria e de que os
capitalistas exploram com a maior falta de escrú-
pulos os trabalhadores imigrantes. Sem dúvida, só
os reacionários podem fechar os olhos diante da
significação progressista desta migração modema
dos povos. Não é nem pode ser possível redimir-se
da opressão do capital sem o sucessivo desenvolvi-
mento do capitalismo, sem a luta de classes que é
conseqüência sua. f precisamente a esta luta que O
capitalismo incorpora as massas trabalhadoras de
todo o mundo, quebrando o atraso e a rudeza da
vida local, rompendo as barreiras e os preconceitos
nacionais e agrupando os trabalhadores de todos os
países em grandes fábricas e minas da América du
Norte, Alemanha, etc.
A América do Norte encabeça a lista dos países que
importam trabalhadores. Vejam-se os dados sobre o
número de imigrantes na América do Norte:
No decênio 1821-1830 99.000 imigrantes
1831-1840 496.000
1841-1850 1.597.000
1851-1860 2.453.000
1861-1870 2.064.000 "
1871-1880 2.262.000
1881-1890 4.722.000
1891-1900 3.703.000 "
Nos 9 anos 1901-1909 7.210.000
85
média, mais de um milhão de pessoas ao ano.
Ademais, é interessante a mudança na composição
dos emigrados (dos imigrantes, ou sera, dos que se
estabeleceram na América) . Até 1880, predominava
lá a chamada vellza imigração dos velhos países
cultos, como a Inglaterra, a Alemanha e, em parte,
a Suécia. Inclusive, até 1890, a Inglaterra e a Ale-
manha apresentavam juntas mais da metade de
todos os imigrantes.
A partir de 1880 inicia-se o aumento incrivelmente
rápido da chamada nova imigração da Europa
Oriental e Meridional, da Áustria, da Itália e da
Rússia. Estes três países forneceram o· seguinte
número de imigrantes aos Estados Unidos da
América do Norte:
86
tes, trabaihadores agrícolas. As na\'ües adiantadas
se apoderam, por assim dizer, das melhores formas
de salários, deixando as piores aos países menos
civilizados.»
(Wladimir Iljitch Lenin, «Capitalismo e Imigração
dos trabalhadores», em Za Pravdll, nO 22 de 29 de
outubro de 1913.)
87
prometemo-nos uns aos outros, solene e firmemente,
que estamos dispostos a qualquer sacrifício, que
agüentaremos e nos manteremos de pé nesta luta
tão diflcil - a luta contra a força dos costumes -,
que trabalharemos durante anos e decênios sem
descanso. Trabalharemos para desarraigar a maldita
regra : .cada um por si e Deus por todos>, para ex-
tirpar o costume de considerar o trabalho somente
como uma obrillação e de considerar lellÍtimo apenas
o trabalho remunerado de acordo com uma norma
determinada. Vamos trabalhar para infundir nàs
consciências, no hábito, na vida diária das massas,
a regra: .todos por um e um por todos>, e a outra:
·cada um segundo sua capacidade, a cada um segun-
do sua necessidade> e para implantar, paulatina mas
inflexivelmente, a disciplina comunista e o trabalho
comunista.
Colocamos em movimento um bloco de peso inau-
dito, u~á montanha de obscurantismo, de igno-
rância, de obstinação na defesa dos hábitos de
.livre comércio> e .livre jogo> da oferta e da procura
da força de trabalho humana, como de qualquer
outra mercadoria. Começamos a alterar e a destruir
os preconceitos mais arraigados, os costumes se-
culares mais. tenazes e atrasados.»
88
«Em comparação com as nações adiantadas, o nisso
é um mau trabalhador. Nem podia ser de outro
modo sob o regime czarista em que eram tão vivas
as sobrevivências do feudalismo. Aprender a tra-
balhar, eis a tarefa que o poder soviético deve colo-
car em toda a sua amplitude perante o povo. A
última palavra do capitalismo neste terreno - o
sistema Taylor·) -, tal como todos os progressos
.lo capitalismo, reúne em si toda a refinada feroci-
dade da exploração burguesa e muitas conquistas
científicas valiosas respeitantes ao estudo dos movi-
mentos mecânicos durante o trabalho, a supressão
de movimentos supérfluos e inábeis, a elaboração
dos métodos de trabalho mais racionais, a im-
plantação dos melhores sistemas de contabilidade
e controle, etc. A República Soviética deve adoptar,
a todo o custo, as conquistas mais valiosas da ciên-
89
cia e da técnica neste domínio. A possibilidade de
realizar o socialismo será precisamente determinada
pela medida em que conseguirmos combinar o po-
der soviético e a forma soviética de administração
com os últimos progressos do capitalismo.»
(W. r. Lenin, em Prauda, nO 83 de 28 de abril de
1918. Cf. a tradução portuguesa A s tarefas da re-
UOlllÇão, realizada por Antonio Pescada, 2" cd.,
Lisboa, 1978, pp. 117-118.)
90
15. A Combinação da Administração
Industrial com a Educação de Massas
preconizada por Lenin
91
os impulsos criadores partirem da direção central do
partido e que esta direção se servisse de funcionários e
técnicos desprovidos de todo poder político, para levar a
cabo os seus projetos:
uScrcmos nós m esmos, os opcr~írio!;, que o rga nizare-
mos a grande produção, partindo daquilo que já foi
criado pelo capitalismo, apoiando-nos na nossa ex-
periência operária, estabelecendo uma disciplina ri-
gorosa, lima disdplina. de ferro, JnanliJa pelo puJeI'
do Estado dos operários armados. Reduziremos os
funcionários públicos aO papel de simples agentes
executantes das nossas diretrizes, ao papel "de fiscais
e contabilistas », responsáveis, amovíveis, modesta-
mente retribuídos (conservando sempre, bem enten-
dido, os especialistas de qualquer gênero, de qual-
quer espécie e de qualquer categoria): eis a nossa
tarefa proletária, eis por onde podemos e devemos
começar,41 realizar a revolução proletária. Estas pri-
meiras lfiedidas, baseadas na grande produção, con-
duzem, por si mesmas, à extinção gradual de todo o
funcionalismo, ao estabelecimento gradual de uma
ordem - sem semelhança com a escravatura assala-
riada - na qual as funções de fiscalização e de con-
tabHidade, cada vez mais simplificadas, serão de-
sempenhadas por toda a gente, alternadamente, até
se tornarem um hábito e até desaparecerem, por
fim, como funções específicas de uma categoria es-
pecial de indivíduos. »
(W. I. Lenin, Estado e Revolução, cap. 3, § 3, " SU-
pressão do parlamentarismo», l ' edição em brochu-
ra, Moscou, 1918 ; Edições do Progresso, Moscou,
1967. Cf. a tradução de Armando de Azevedo, Cole-
ção Preto e Branco, Lisboa, 1975, p. 119.)
92
e a boa vontade dos subordinados, pois assim sendo, tor-
nava-se necessário opor-se imediatamente a uma even-
tual estratégia independentista da parte deles. De todos
os Inodos, foi possível criar, assim, uma situação, na qual
os poderes do E~;l;lJO soviélko Jc~dooraram COn\ toda a
libenlade, se bem que de maneira ditatorial, uma inicia-
tiva em vista do desenvolvimento industrial que somente
poderia ser entravada por fenômenos de insuficiência.
Is to conduziu c1 1II11 ponto tal, cm que só as nlais .lltas
instâncias da direção do partido puderam dar provas de
uma iniciativa criadora, acompanhada tanto de erros
enormes quanto de sucessos gigantescos.
Lenin havia complementado sistematicamente o culto
dissolvido do ditador dirigente no seio do politbllrcau
pelo da «massa criadora» que consistia, na verdade, na
criação de diferenças no status entre ativistas e não-
-ativistas. O rendimento máximo para o benefício da
empresa tornou-se um princípio básico na União Sovié-
tica, baseado no interesse do Estado e da direção do par-
tido. Na sua essência, esta racionalização no aproveita-
mento da força de trabalho humana não se distinguia da
«administração científica», praticada nas empresas de
economia privada de tipo norte-americano. Foi somente
muito mais radical.
É necessário também admitir aqui certamente que, nos
primeiros anos de sua existência, a União Soviética pade-
ceu uma miséria tal, até então não conhecida por nenhum
outro Estado industrial em momentos de profundas
transformações técnicas. A importância econômica da
intervenção desinteressada, em 'situações de crise extra-
ordinárias, do homem simples e sem conhecimentos das
teorias do trabalho, conheceu, a partir dos acontecimen-
tos dos anos de 1918 e 1919 na União Soviética, seus
aspectos essenciais na edificação industrial.
Este fenômeno, no âmbito da industria moderna, foi pela
primeira vez apontado por Lenin no seu artigo sobre
A grallde iniciativa:
93
dade do trabalho é necessário salvar-se da fome e
para salvar-se da fome é necessário elevar a produ·
ti vidade do trabalho.
É sabido que, na prática, contradições semelhantes
são resolvidas pela ruptura do círculo vicioso, por
uma transformação profunda no espírito das mas-
sas, pela iniciativa heróica de alguns grupos que
desempenha com freqüência um papel decisivo ao
operar-se uma mudança. Os serventes e os ferroviá-
rios de Moscou (levando naturalmente" em conside-
ração a sua maioria e não"um punhado de especula-
dores, de burocratas e demais guardas brancos) são
trabalhadores que vivem em condições desesperada-
mente difíceis. Sofrem de desnutrição crônica e, ago-
ra, antes da nova colheita, devido ao agravamento
geral da crise alimentar, padecem verdadeira fome .
E estes trabalhadores esfomeados, cercados pela
odiosa propaganda contra-revolucionária da burgue-
sia . .. organizam os <sábados comunistas>, traba;;;.
lham em horas extras sem nen/JUma remuneração
e conseguem um aumento considerável da produtivi-
dade do trabl1l1lO, apesar de estarem cansados, ator-
mentados e extenuadps pela fome. Não é este um
heroísmo grandioso? Não é este o começo de uma
transformação histórica de importância universal?
A produtividade de trabalho é, em última análise, O
mais importante, o mais decisivo para o triunfo do
novo regime social. O capitalismo conseguiu uma
produtividade de trabalho desconhecida no feuda-
lismo. E ri capitalismo poderá ser e será definitiva-
mente derrotado, porque O socialismo cria uma
produtividade muito mais elevada. É uma tarefa
muito difícil c muito longa, mas o essencial é que já
começou. Se no verão de 1919, na esfomeada Mos-
cou, trabalhadores com fome, após quatro penosos
anos de guerra imperialista e depois de ·um ano e
meio de uma guerra civil ainda mais dura, puderam
iniciar esta obra grandiosa, que proporções não ad-
quirirá quando triunfarmos na guerra civil e con-
quistarmos a paz?
94
o comunismo representa um produtividade de tra-
balho mais elevada que o capitalismo, .u ma produti-
vidade obtida voluntariamente por trabalhadores
conscientes c unidos que JiSpÕCITI de meios técnicos
modernos.»
(w. I. Lenin, A grande iniciativa, Moscou, julho de
1919.)
95
um teust do Estado. Os méritos que possue como
comunista são indiscutíveis; sem dúvida, qualquer
comerciante o enganará e fará muito bem. Não há
razão para ocupar este posto o comunista mais digno
e admirável, de cuja fidelidade ninguém duvidaria
exceto um louco, em lugar de uma pessoa com ex-
periência, hábil e conscienciosa no seu trabalho, que
o faria muito melhor que o comunista mais abne-
gado... .
Confiamos a comunistas, cheios de excelentes qua-
lidades, o cumprimento de um trabalho prático para
o qual 'são totalmente incapazes. Quantos comunis-
tas possuímos nas instituições estatais ? Temos uma
enorme quantidade de materiais, obras sólidas que
cntusiasmariatn ao mais minucioso dos cientistas
alemães, montanhas de papel, e são necessários cin-
qüenta anos de trabalho da Comissão para a Reco-
pilação e o Estudo dos Documentos relativos à His-
tória dq;;Partido, multiplicados por cinqüenta para
poder orientar-se mas, num trust de Estado, não se
pode praticamente obter nada, nem saber quem é o
responsável e por que ...
Nosso pior inimigo interno é o burocrata, o comu-
nista que ocupa um cargo de responsabilidade nas
instituições soviéticas (e também um posto sem res-
ponsabilidade), que goza da estima geral pela sua
honestidade. Um tanto severo, mas virtuoso. Não
aprendeu a combater a burocracia, não é capaz de
lutar contra ela e a encobre. Devemos livrar-nos
deste inimigo e o conseguiremos com a ajuda de to-
dos os trabalhadores e camponeses ...
Por esse motivo, modificam-se os objetivos princi-
pais de nossa política interna, em especial da eco-
nomia. O que nos falta não são decretos, instituições
ou métodos novos de luta. Devemos verificar as
aptidões dos homens, verificar a execução real.
A próxima depuração será dos comunistas que se
sente", administradores. Todos os que se dedicam a
organizar comissões, conferências c conversações c
não realizam um simples trabalho, será melhor que
96
empreguem as suas forças em tarefas de propagan-
da, agitação ou qualquer coisa útil. Querem justificar
as suas complicadas e especiais invenções dizendo
que a nova política econômica requer formas origi-
nais. Mas não realiZam o trabalho que se lhes pede.
Não se preocupam de economizar o kopek, nem pro-
curam convertê-lo em dois, mas imaginam planos de
bilhões e até de trilhões de rublos soviéticos. Com-
bateremos contra esta praga. Verificar os homens e
verificar a execução real do trabalho: tal é, uma vez
mais e só ela, agora, a chave de toda atividade, de
toda política.»
(W. I. lenin, .. A Situação Internacional e Interior da
República Soviética», final de um discurso pronun-
ciado diante da fração comunista do Vo Congresso
dos trabalhadores metalúrgicos de toda a Rússia, no
dia 6 de março de 1922.)
97
mar que, no Ocidente, duzentos anos de educação
moral e religiosa precederam o nascimento da gran-
de indústria moderna, na qual a organização técnica
e administrativa da empresa exigiu de cada traba-
lhador em particular uma disciplina sem preceden-
tes. Na Rússia, ao contrário, ambos desenvolvimen-
tos coincidiram, já que a educação massiva dos
trabalhadores e a organização técnica e administra-
tiva da indústria em grande escala ocorreram ao
mesmo tempo. Deste modo, no Ocidente, a educa-
ção massiva do povo foi o resultado de um cresci-
mento não planificado que o chamado <management
científico> pôde aceitar sem contestação. Porém, na
Rússia, procurou-se tanto desenvolver a disciplina
do trabalho quanto introduzir o <management cien-
tífico> sob a direção e a supervisão do partido dita-
torial ...
Foi de acordo com os preceitos de Lenin que, no
início da década de 20, o governo soviético patroc~
nou uma <direção científica de empresa> e um movi-
mento amplo de inassas para a obtenção de uma
maior disciplina no trabalho, ilustrando, assim, a
dupla exigência de uma direção autoritária dentro
da empresa e de um melhoramento e uma melhor
execução destas diretivas pela organização da ini-
ciativa de massa. O relacionamento entre managers
e trabalhadores, entretanto, estava imbuído de um
significado político, não somente devido a esta du-
pla intervenção do governo, mas porque era legiti-
mada pelo atraso da Rússia e por estar ela cercada
de vizinhos capitalistas inimigos.
Este retraso devia ser superado; o país devia tornar-
-se independente do auxílio extrangeiro; devia che-
gar a possuir a indústria mais avançada do mundo
para preservar a sua independência e ;J.:;segurar a
vitória final do socialismo. Tanto o exercício da
autoridade dentro das empresas eCOllômicas, como
a agitação entre o povo para conseguir a disciplina
no trabalho e na produtividade, foram meios para
chegar a estes fins políticos. Difundiu-se nas massas
98
uma ética, segundo a qual cada tarefa devia sc!" u rr:~
prova de fidelidade à causa nacional e à missão
mundial ...
t evidente que o contraste entre as ideologias na
Inglaterra e na Rússia foi acentuado pela discrepân-
cia do intervalo de tempo entre a educação de mas-
sas e a organização de grandes empresas econômicas.
Entretanto, tanto a crença no esforço individual e no
sucesso, quanto no trabalho como um ato de con-
fiança política, devia necessariamente entrar em
conflito com os mesmos problemas criados pela
burocratização interna da indústria.»
99
16. «Mudando o Mundo, transformai-vos!
Renunciai a Vós mesmos!»
100
Derradeiro, supremo dos triunfos
Será esgotar o corrompido charco.
Ganho terreno onde milhões habitem,
Seguros não, mas livres, mas ativos I
t verdejante o campo, fértil! Homens
E rebanhos no novo !joio .'~5cnt .,nl
Aprilzívclmorada, ao pé do outeiro,
Que gente audaz, enérgica erguer soube!
Aqui no interior é um paraíso;
Li fora rUGe (l lll 'lr c i.l borda chega;
Mas, se abre brecha para entrar violento,
Comum esforço a repará-Ia acode.
Oh, sim! A id~ia tal todo me voto,
t: da sapiência a derradeira máxima:
Que só da liberdade e vida é digno
Quem cada dia conquistá-Ias deve!
Assim robusta vida, entre perigos,
Crianças, homens, velhos, aqui passam.
Pudesse eu ver .o movimento infindo!
Livre solo pisar com povo livre!
Ao momento fugaz então dissera:
"ts tão belo, demora-te! Por séculos
E séculos de meus terrenos dias
Não se apaga O vestígio». - Agora mesmo,
Somente em pressentir tanta delícia,
Gozo ditoso o mais celeste instante .•
101
produção de máquinas capazes de armazenar um número
cada vez maior de pensamentos e lembranças humanos
até que, finalmente, a racionalidade da máquina no do-
mínio industrial, que se tornou incontrolável, funcione
melhor que a pobre racionalidade de que o homem pode
dispor.
102
(Bertholt Brecht, Das Badcllcr Lcllrstlleck vom Ei,,-
verstaendnis [«Peça didática de Baden-Baden sobre
o consentimento»], 1" parte; também no final da
11" parte em: Gesammelte Werke [«Obras Com-
pletas»], vol. II, Frankfurt/Mai/l, 1967, pp. 589 ss.
e 612.)
103
capitalista tende a automatizar o progresso pelas
suas próprias realizações, podemos inferir que ela
tende a fazer-se a si mesma supérflua - a fraca ssar
sob a pressão de seus próprios êxitos. A unidade
indwllrial gig'lll1p, 11C·r("ilailH'I1!t· hllrtHT.IIi Z.HI., 11:10
elimina !julIIclllc ':IS finllas Jc pequellu ou JII éJiu
porte, <expropriando> os seus donos, mas elimina,
finalmente, também o empresário e expropria a
burguC6ia como classe que, ncr.tc proccs~o , corre o
risco de perder não SOlncntc a s ua renda, como
também o que é infinitamente mais importante, a
sua função. Os verdadeiros pioneiros do socialismo
não foram os intelectuais ou os agitatores que o
apregoavam, mas os Vanderbilts, os Carnegies e os
Rockefellers.»")
(J oseph Schumpeter, Capitalism, Socialism and De-
mocracy, Nova Iorque, 1942; na edição inglesa
p. 134.)..,.0-'
104
prometer o prestígio ou o peso social da classe
diretamente . ligada a ela, e que a unidade gigante
tende a deslocar a burguesia da função à qual deve
a sua importância social. A mudança correspon-
dC'lIlt· IIU !:igllirit'.ulu d.I!; ill!dillli\·oe!i do Il1U1Hlo
ullrg,lIê~ c sua. atitude lipit:a, assinl contO a perda
simultânea de vitalidade, são fáceis de comprovar.
Por um lado, O processo capitalista ataca inevitavc\-
Illr:ntc a base cconômica da s pequenas empresas
inJus triais c comerciais. O que fez com as camadas
pré-capitalistas, faz ele também - e, em realidade,
através do rnCSnlQ mecanismo de concorrência -
com as camadas inferiores da indústria capitalista.
Marx ganha aqui, naturalmente, muitos pontos. Na
verdade, os fatos relativos à concentração industrial
não correspondem inteiramente às idéias que são
difundidas ao público. Este processo é menos avan-
çado e mais entravado pelas reações e tendências
compensatórias do que se deduz de muita s ülter-
pretações populares. Em particular, a empresa em
grande escala não só aniquila como também cria,
em certa medida, um campo de atividade às pe-
quenas empresas industriais e, especialmente, co-
Inerciais. TaJnbén\ no caso dos camponeses e dos
fazendeiros, o mundo capitalista provou que queria
e era capaz de seguir uma política protecionista
custosa, porém, bem sucedida no seu conjunto. A
longo termo, contudo, poderão existir poucas dú-
vida s a respeito do fenômeno da concentração pro-
grcs~ iva ou suas conseqüências ...
Ágora é importante descobrir exatamente em que
consistem estas conseqüências. Um tipo muito di-
fundido de crítica social ... lamenta a .decadência
da concorrência. e a equipara com o declínio do
capitalismo, devido às virtudes, que atribue à con-
corrência, e dos vícios, que imputa aos <monopólios)
indu striais modernos. Conforme este esquema de
interpretação, a monopolização desempenha o papel
da arteriosclerose e reage diante das chances da
ordem capitalista com um rendimento econômico
105
cada vez mais insatisfatório. Vimos as razões pelas
quaís esta teoria deve ser rejeitada. No plano econô-
mico, nem a defesa da concorrência, nem a acusação
contra a concentração do controle econômico estão tão
consolidados como implica esle arllullicnlo. [ ilbs-
traindo totalmente de sua solidez deixa passar des-
percebido o ponto central da questão. Mesmo se os
consórcios gigantescas fossem dirigidos com uma
perfeição divina, as conseqüências políticas da con-
centração não deixariam de ser as que são. A estru-
tura política de uma nação é grandemente afetada
pela eliminação de uma quantidade de pequenas e
médias empresas, onde 'os proprietários dirigentes,
juntamente com os seus parentes, clientes e conheci-
dos pesam quantitativamente nas urnas eleitoris
e exercem sobre o que podemos chamar de classe
dos quadros diretivos uma influência tal, que a
direção das grandes empresas jamais poderá obter.
O verdadeiro fundamento da propriedade privada..;. '
e do direito de contratação desmorona numa nação
onde as manifestações mais vivas, mais concretas
e significativas destes direitos desaparecem do hori-
zonte moral do povo.~ .
106
dentro e ninguém fora dos limites uos grandc c
consórcios.»
107
17. Do Empresariado Autônomo ao Emprego
de Quadros Diretivos Contratados
108
burguês de empresa - pelo menos nos países industriais
«ocidentais» - e é próprio do bom senso burguês con-
siderar com desassossego os resultados de tal trabalho,
simplesmente porque essas realizações, em suas dimen-
sões, não permitem mais uma visão de conjunto e que
sejam submetidas a uma análise.
Aquele que formular, por exemplo, a ousada tese de que
90 % dos homens de ciência que atuaram na longa
história da humanidade ainda vivem na atualidade,
comete talvez o erro de subestimar o fato. t difícil
imaginar o fenômeno que aqui se afirma, inclusive sem
a devida estima. E poder-se-ia compor uma longa cadeia
de fatos e afirmações da mesma espécie, ou semelhantes
que, enfim, não são mais facilmente imagináveis. t
mesmo possível que nossa cadeia pudesse ser de um
tamanho inimaginável.
Existe uma superprodução de produtos, de decretos, de
saber, de informações. Porém, apesar disto, não há nada
que substitua a intuição, a improvisação, a aceitação de
riscos e a ação espontânea. Mesmo se fosse possível
criar empresas ainda maiores das já existentes, nada
seria oferecido aos homens que devem trabalhar na
indli s Lria, ou que inclusive procuranl pronlovcr a indus-
trialização, que possa substituir atarefa seinpre difícil
de pensar e refletir. Para tal, para a meditação, reflexão,
invenção e predisposição de uma ação responsável segue
sendo ncccssárfa aquela. aulotlomia de que, cm outros
tempos, souberam dar prova os empresários com muito
menos capital, menos meios de .transformar os processos
de produção, menos possibilidaaes de agir sobre o mer-
cado e de exercer influência sobre O modo de vida dos
seus contemporâneos.
Quem não levar este. aspectos em consideração não terá
captado o que é, talvez, a função mais importante da
empresa no decurso do longo e penoso pr0cesso de in-
dustrialização: a luta do empresário contra as forças
anônimas da administração e os funcionários do Estado,
sua capacidade de coordenar os conheCImentos especia-
lizados e a habilidade comercial numa empresa, apesar
da dispersão da ciência.
109
Uma força sócio-política tem, sem dúvida, suplantado
no decorrer de aIgulas décadas, de maneira cada vez
mais intensa, aquele empresário que, ao mesmo tempo,
é proprietário do capital: referimo-nos aos empresários
contratados e aos que tem caráter de funcionário. Estes
compõem os quadros dirigentes da economia e, como
homens de ciência, diretores ou também como chefes
de divisão na administração do Estado, nos centros de
produção e nos serviços de pesquisa, são os responsá-
veis de manter as coisas em andamento. Não é fácil
determinar quem lhes confere tal responsabilidade. O
produtor? Os trabalhadores? Os consumidores? Os
eleitores? O povo? O governo? Como a sua responsabili-
dade não é tão palpá"el quanto o interesse pessoal que
se pode atribuir facilmente ao empresário autônomo, os
novos quadros diretivos suscitam, nas burocracias pri-
vadas ou estatais, temores e dúvidas acerca de sua ca-
pacidade. Logo após a Segunda Guerra Mundial, leitores
e autores ainda sentiam facilmente arrepios quando ~':
em inglês - se fazia referência à burocracia") na empresa
110
industrial e, com ela, à influência do White Collar") na
indústria, ou quando - no âmbito lingüístico alemão -
se falava de Manager, quando não, de <funcionário do
Estado> ou, ainda, quando - nos países de línGua fran-
cesa - se invocava à previsão freqüentemente citada de
Saint-Simon (1760-1825): «Le gouvernement des per-
sonnes va être remplacé pa.r I' administration des choses.»
111
18. O Declínio do Empresariado e o
Crescimento de Quadros Diretivos
Qualificados - uma Comparação ao
Nível Internacional
Os quadros estatísticos comparativos do Instituto Inter-
nacional do Trabalho oferecem-nos a oporlunidade de
seguir, em alguns países da América do Norte e do Sul,
da Europa Ocidental e Oriental, da Africa e da Asia,
o retrocesso contínuo da participação de empresários
autônomos e de trabalhadores independentes no con-
junto da população ativa, a partir da década de 30 do
nosso século. Além disso, a partir do início da década de
60 com O auxílio dos quadros estatísticos resultantes da
comparação ao nível internacional, pode-se observar com
maior facilidade o aumento percentual paulatino dos
quadros diretivos no conjunto da população ativa.
""
Os anuários estatísticos do Instituto Internacional do
Trabalho, em Genebra, são editados desde 1936 em fran-
cês, espanhol e inglês. Utilizamos aqui os dados forne-
cidos pelo Anuário de Estatísticas do Travalllo, da ter-
ceira à trigésima sexta edição (respectivamente 1938 e
1976).
Nas edições mais recentes, o material relativo à população
ativa acha-se reunido no capítulo 2 (<<Estrutura da popu-
lação economicamente ativa»). No capítulo 2 A (<<Distri-
buição segundo a posição profissional e o ramo de ativi-
dade econômica») encontram-se os dados sobre os <dnde-
pendentes», isto é, empregadores autônomos e trabalha-
dores independentes. Do capítulo 2 A forem extraídos,
igualmente, as informações relativas aos independentes
no sdor secundário de produção (minas, economia ener-
g<:.tica, indústrias de tranformação, empresas de constru-
ção).
No capítu lo 2 13 (<<Distribuição segundo a posição e o
grupo profissional>,) encontra-se o material de informa-
ção sobre os «quadros diretivos». Relativo a estes, o
material estatístico nos quadros sinópticos seguintes é
112
avaliado cm todos os se tores econômicos. Até o momento
. presente ainda não foi possível abarcar estatisticamente,
numa comparação ao nível internacional, os quadros
diretivos correspondentes a setores cconômicos particu-
lares. Para estabelecer as cifras relacionadas aos quadros
diretivos rccorreu-se à ISCO (International Standard
Classification of Occupations, CITP cm francês e cruo
cm cspanhol), que foi objcto de revisão cm 1968.
Nossos diagramas englobam sob a denominação de
«quadros diretivos» os grupos profissionais 0/1 e 2 da
ISCO. As denominações destes grupos profissionais não
concordam, na verdade, obrigatoriamente entre si nas
três línguas oficiais dos anuários de estatísticas do
Instituto Internacional do Trabalho. O grupo profissional
0/1 é assim denominado respectivamente: "Professional,
technical and related workers = Personnel des pro-
fessions scicntifiques, libérales et assimilées = Pro-
fcsionalcs, técnicos y trabajadorcs asimilados~. O grupo 2
é definido da seguinte maneira: "Administra tive and
managerial workers = Directeurs et cadres administra-
tifs supérieurs = Directores y funcionarios públicos
superiores».
No intcnto de uma classificação internacional da situa-
ção profissional, só é possível eliminar parcialmente as
incongruências das definições que se manifestam na
língua corrcntc. Dcstc ponto de vista, por exemplo, 05
clirigeants, ultimamente também chamados com freqüên-
cia respo71sables em francês, correspondem aos managers
em inglês, Fuehnmgskraefte em .alemão e ejecutivos em
espanhol. \
113
Canadá
1931 1961
94793
Estados Unidos
114
Pessoas em atividldc:: em todos .os lCtorcs econô-
mlcos
Cifras em milhares
Chile
Peru
115
Austrália
1933
1961 1971
Japão
116
Egito
8334
Filipinas
151G1
85~G
117
Suécia
2502 1
24856
Grã-Bretanha
2t075
118
Hungria
.1 930 1960
1970 1975
Polônia
17501
15006
1931 1960
1970 1974
119
Bélgica
1930 1961
1970 1975
França
120
Países Baixos
22074
1950
1961 1975
121
o Instituto Internacional do Trabalho só dispõe de da-
dos mais anti'g os no que diz respeito a alguns poucos
países em via de desenvolvimento, proporcionando al-
guma informação acerca da participação anterior de em-
prcs.írios aulônulllos no conjunto tia popula\:ilu óltiva c
permitindo estabelecer comparações com a situação
atual. Por este motivo, somente podem ser aqui levados
em consideração O Peru e o Chile, dentre os países sul-
-amcril:olllos , o Egito dentre 05 ti" Africa c, dentre os
países asiáticos em via de desenvolvimento, as l'ilipinas.
Nestes países, a percentagem de empresários autônomos
e de trabalhadores independentes manteve-se muito
elevada nas últimas décadas, em relação ao total geral
das pessoas em atividade. Na verdade, o volume da
população ativa aumentou, mas o conjunto de sua
estrutura modificou-se, inicialmente, muito pouco.
Comparando os quatro países em via de desenvolvi-
mento com os países industriais aqui relacionados con-
vém destacar que, por volta de 1930, a percentagem de .,'.
empresários pertencentes à população ativa de muitos
países industriais não era totalmente diferente daquela
notada recentemente nos países em via de desenvolvi-
mento. Esta semelhança, 'eiTI grande parte, pode ser ex-
plicada pelo fato de que nos países altamente industriali-
zados, por volta de 1930, uma parte considerável d~
população também se ocupava em setores econômicos
que até então ainda não haviam sido abrangidos pelos
processos de racionalização industrial. Somente nas
áreas à margem da economia e em estado de estagnação
c..::ontinua manlcnuo-sc UI11 sctor proporcionahncntc re-
presentante de empresários da classe média. Um número
relativamente elevado de empresários autônomos numa
parte da população ativa pode ser interpretado direta-
mente como um sintoma da estagnação industrial.
f curioso lamentarem alguns assessores industriais em
países em via de desenvolvimento a falta de úm «setor
privado dinâmico». Isto poderia ser mencionado retros-
pectivamente com respeito à industrialização, por exem-
plo, da América do Norte e da Aus trália. Porém, aqúele
que fizer tal afirmação frente às condições atuais na
122
Suécia, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, no Cana-
dá e na República Federal da Alemanha, torna-se sus-
peito de querer fomentar nos países em via de desen-
volvimenlu estruturas hierárquicas dentro da população
123
Esta citação pertence à parte intitulada «O setor privado»,
que termina com a frase seguinte :
« ... fazer desaparecer o que é denominado, .falta
oe c.lin.1mir.mo. cm muito5 paí!; c~ cm via de o c!;c n-
volvitncnlo.n
124
destes quadros diretivos - gerentes, cientistas, funcio-
. nários públicos - pode resultar frutífera para o desen-
volvimento futuro, apesar de que tais quadros diretivos
p() !Õ ~am ter perdido tõHub{'I1\ sua .111loll0mia cmrrc~.,rial
UII uJo a hajóllll aJquiriJo nunca. O luaior pais indus-
trial, os Estados Unidos da América conheceu urna
evolução em direção à burocratização interna das em-
presas, típica da sociedade industrial. Em princípios do
século XIX, os empresários autônomos ou os trabalha-
dores independentes ainda representavam quatro quintos
de todos os americanos cm atividade. Esta proporção
decresceu tanto quanto aos dados relativos (de 20,3 0/0
no ano de 1930 a 7,9 0/0 no ano de 1975) corno quanto
às cifras absolutas enquanto, paralelamente, o conjunto
da população ativa americana quase dobrou neste perío-
do. A mesma tendência manifesta-se no setor secundário
de produção, ou seja, no setor industrial propriamente
dito, de maneira, porém, não tão vertiginosa. Neste setor,
a percentagem de empresários atingiu, já há algumas
décadas, um nível muito baixo. A ética original do
cidadão americano, a non-collformity, já estava há muito
tempo divorciada da realidade.
Os Estados Unidos, O Canadá e a Suécia são países in-
dustriais que experimentaram uma queda muito rápida
da participação dos empresários no conjunto da popula-
ção ativa. Nesses três países, a percentagem baixou de
mais de 20 °/0 nos anos de 1930/ 31 a 7 a 8 010 nos anos
de 1975/ 76. Além disto, a percentagem de empresários
entre as péssoas ocupadas no setor secundário de pro-
dução é muito baixa (entre 3,6 °70 e 4,2 % nos anos de
1975/ 76). Este retrocesso vertiginoso era acompanhado
de um aumento ainda mais acentuado da percentagem de
quadros diretivos no conjunto da população ativa. Em
1975/76, um quinto - na Suécia inclusive um quarto -
do total geral da população ativa destes paíse< altamente
industrializados era representado por quadros diretivos.
Tais observações não podem, contudo, ser generalizadas.
Nos demais países industriais «ocidentais» (com os quais
se estabeleceu aqui comparações), registra-se sempre,
sem dúvida, a tendência ao aumento dos quadros dire-
125
ti vos, paralelamente à diminuição da percentagem de
empresários. Contudo, tanto o retrocesso desta quanto
o aumento da percentagem de quadros diretivos se veri-
fica, em muitos países industriais, em forma relativa-
mente lenta.
Nessa ocasião, comparou-se igualmente a República Fe-
deraI da Alemanha com outros países industriais «ociden-
tais», apesar de que só se pode dispor de dados referen-
tes a este país a partir de 1950. Todavia, quando se tem
em conta que já em 1933, no Reich alemão, a percentagem
de independentes repnisentava somente 16,4 % em re-
lação ao conjunto da população ativa e que, no mesmo
ano, a percentagem de independentes nas atividades
econômicas correspondentes ao setor secundário de pro-
dução era de 11,6 % , a baixa contínua da participação
de empresários parece haver seguido um ritmo mais
moderado. Neste estudo comparativo merecem especial
alcn~:ão os dui~ paí~jcs da Europa Oriental, a Po!ürfia c a
Hungria. Em 1930/31, apresentavam estes países índices';'
de participação de empresários tão elevados corno os que
foram dados a conhecer nestes anos, em dimensões com-
paráveis, na França no Japão e no Chile. A França e o
Japão seguiram sendo países industriais, nos quais a
diminuição da percentagem de empresários e o aumento
da participação dos managers não cessou de se fazer de
maneira hesitante. A Polônia e a Hungria, ao contrário,
foram atingidas por grandes transformações políticas
depois da Segunda Guerra Mundial, devido à ocupação
soviética.
Desde 1950, a participação de empresários no setor se-
cundário de produção*) dos países da Europa Oriental
126
50b o regime comunista diminuiu tanto que, na atuali-
dade, só a Suécia e os Estados Unidos apresentam índices
similares. Quanto à industrialização e a racionalização,
no entanto, não podem eles ser comparados de maneira
nenhuma com os Estados Unidos e a Suécia.
Os exemplos dos países da Europa Oriental sob o regime
comunista mostram claramente que a supressão forçada
da categoria social de empresários não conduz necessaria-
mente à formação de percentagens fortes de quadros
dentro da população ativa. Não obstante, a tendência
nos países industriais comunistas é similar àquela que
ocorre nos países industriais capitalitas: a «cientifica-
ção» crescente da direção de empresas econômicas não
somente traz consigo umá consolidação do domínio
burocrático; esta camada dirigente amplia-se cada vez
mais dentro da população ativa.
Isto não constitue, inicialmente, tlnl indício de crcsci-
lllcnlo d.l democracia ccotll..l mka ~r'II..:as ao .lUJlH~1l1l) do
número de quaJros diretivos, mas no momento tampouco
representa um índice contra as tendências à democrati-
zação na economia industrializada. Menos ainda pode
dizer-nos o aumento do número de cientistas, de dire-
tores com status de empre!;aJos e de funcionários acerca
do fortalecimento ou debilitamento do «capitalismo».
Com a diminuição quantitativa do número de empresá-
rios como classe capitalista, o capitalismo perde somente
a sua personalidade. Tornou-se mais anônimo, como o
foi outrora em suas manifestações imperialistas múlti-
plas, mais impessoal, inclusive em grau crescente,
«transnacionaJ". Do mesmo modo, perfila-se a des-
personalização do poder nos países comunistas, na ver-
dade, na medida em que progride a racionalização da
indústria.
Na substituição de empresários autônomos por quadros
diretivos contratados ou por funcionários do Estado não
só se manifesta uma transformação nas estruturas do
poder. Uma importância bem maior possue a socializa-
ção das capacidades de rendimento nos países indus-
triais, tanto capitalistas como também comunistas. Não
só a direção da empresa e a direção comercial tiveram
127
que escolher, nas sociedades industriais, o caminho da
«cientificação». Também dos trabalhadores e dos e';"-
pregados se exige, de ano a ano, uma maior preparação
científica no posto de trabalho. E não é apenas isto. As
transformações tecnológicas incessantes têm lugar se-
gundo um processo racional que se subtrai cada vez mais
ao manejo humano.
Isto obriga à população ativa, na medida em que se
ocupa nos setores altamente racionalizados da economia
moderna, a desenvolver capacidades múltiplas de adap-
tação permanente ao instrumental técnico do seu meio.
Do que precede pode-se inferir também O seguinte: o
empresário, com suas faculdades dinâmicas e criadoras
está em via de desaparecer das sociedades industriais.
É a própria população ativa que tem que desenvolver
agora, numa medida crescente, estas capacidades dinâ-
micas e criadoras.
128
19. A Difusão Social de Profissões Criadoras
129
agora lanlo ser levados ao mercado nUllla prudu.;ão CIlI
maSSa barata, como também ser adaptados cm grande
medida às necessidades individuais. Da mesma maneira
como h,í v.lrias Jécadas nas oficinas c fábricas se em-
prega Villll [J\áquillil S <':01110 (camplifkaJurcs de (ore,.:,})),
assim também na atualidade estão-se usando, cm escala
cada vez maior, máquinas computadoras de dados como
«amplificadores do pensamento». A grande vantagem de
tais máquinas radica no fato de que elas podem encarre-
gar-se de muitas tarefas mentais de rotina de menor en-
vergadura. Aqui se manifesta inequivocamente uma das
superioridades da máquina sobre o homem. Os nervos e
o cérebro humanos apresentam um tempo de operação
que pode ser superado cm rapidez em milhares de vezes
pelo dos computadores modernos. Nos casos cm que os
processos de trabalho são suscetíveis de serem reduzidos
a uma simples decisão alternativa (<<sim •• ou «não»), é a
máquina moderna de calcular mais segura que o homem.
Uma vez que o homem criativo haja disposto correta-
mente a estruturação organizatória e a programação, os ""'"
processos de trabalho subordinados desenrolam-se sempre
em conformidade a estas diretrizes.
As decisões da direção da empresa são consideravelmente
facilitadas pela técnica eletiônica avançada do processa-
mento de dados, sempre que se trate do controle do cum-
primento de tarefas ou de planejamentos táticos. As de-
cisões complexas, ao contrário, que surgem para as plani-
ficações estratégicas, dificilmente podem ficar a cargo do
proccssamenlo eletrônico de dados. Aqui não interéssam
muito as vantagens dos computadores, as elevadas velo-
cidades do pensamento. A precisão dos dados tampouco
constitui uma ajuda tão decisiva. Mais importantes são,
neste particular, os órgãos destinados ao registro dos estí-
mulos externos. E, para isso, o homem possui milhões de
vezes mais receptores do que um computador.
Tal circunstância exige agora dos novos quadros uiretivos
da economia moderna uma criatividade como a que, nas
fa ses iniciais da industrialização, somente foi exigida dos
empresários pioneiros. A liberação da rotina através da
transferência de trabalhos rudes a computadores, a apa-
130
rclhos Jc transpurte c a 1l1{lljuinas 1l1eL-:lnk~lS l! .11lLom:\licas
nos escritórios, na agricultura, no con1(~ .!"Cio .:"!. -",'are:jV, nas
minas, enfim, em todos os setores industrializados da
economia, niio é interpretada sem contcstõl~~ão como 11m
ucnefíciu pelu inJivíJuo. CuntillU ~lIll cxistinJu, certa-
mente, muitos trabalhos de rotina. As aparelhagens
modernas de calcular dão estímulo à pressa na vida quo-
tidiana do meio industrial, exigindo do homem uma capa-
cidade elevada de reação até o limite do tolerável. Con-
tudo, produz-se na indústria uma transferência em dire-
ção às tarefas que exigem capacidades inldecluais, pro-
cesso este que abrange se tores cada vez mais amplos da
população industrial em atividade.
Esta transferência revela muito mais claramente as capa-
cidades das quais depende o êxito IlO âmbito industrial.
Iniciativa, originalidade e força criadora são qualidades
exigidas, mais do que nunca em qualquer época anterior e
de círculos muito mais amplos que no passado, do mundo
laborioso da indústria. Apesar disto, evidentemente, há
ainda enormes reservas de capacidades criativas não
aproveitadas que se manifestam fora do trabalho através
de uma variedade de hobbies. Depois da Segunda Guerra
Munolial, surgiram numerosas profissões, nos domínios
da televisão, da Informação e da organização do lazer, nas
quais as novas geraçõcs encontraram saídas para a capa-
cidade criativa que seus pais não tiveram a oportunidade
de aproveitar. Por outro lado, precisamente o desenvolvi-
mento técnico da microeletrônica conduziu também ao
fato de que muitas profissões, que olltrora exigiam habili-
dades criativas, eslcjaIn perdendo illlporlância. Fala-sc,
na imprensa, do fim da idade do chumbo.
Contrário às mudanças provocadas anteriormente na so-
ciedade humana pelo progresso industrial, as técnicas
modernas de informação têm feito que a ameaça social,
inerente a toda transformação tecnolór.ica, já não seja
apenas conhecida por alguns iniciados. Todo membro da
sociedade industrial afetado por tal mudança poderia
agora ser informado de maneira imediata e exaustiva
sobre os perigos que ameaçam sua profissão ou influem
sobre seu meio ambiente.
131
Isto conduz a que aquelas decisÕes que anteriormente
«só.) eram de nature'za empresarial, sobretudo a que o
reconhecimento dos riscos e também a escolha do essen-
cial, possam agora ser transferidos a uma camada mais
ampla da população em atividade nas sociedades indus-
triais. Com o processamento moderno de dados, chegou-
se na sociedade industrial a uma superprodução de saber
e informação que permite conhecer tudo sobre todos
numa fração de segundo. Trata-se de um estado de super-
informação que corresponde a um estado de não-saber.
Em tal estado, resulta determinante decidir e fazer aquilo
que é essencial, e realmente s6 o essencial. Ao cumprir-se
tal exigência, abrir-se-á o caminho a uma nova geração
de empresários.
Neste particular, é bom lançar um olhar retrospectivo à
história das velhas gerações de empresários. Das pri-
meiras fases da industrialização participaram homens do-
tados de ,enso para o merc·ado, para a produção e a ela-
boração de p,y>jetos. Reconhece-se isto nitidamente nas
personalidades novas e bem sucedidas de outrora. Não
eram eles professores, mas homens de fortuna com ânsias
de progredir. Como fabricantes sem tradição social, tam-
pouco gozavam de prestígio na coletividade. Eram per-
sonagens marginalizados, . com freqüência também pro-
testantes e homens que não pertenciam à comunidade re-
ligiosa predominante. Inúmeras vezes não foram admiti-
dos, por este motivo, nas universidades e nos estabeleci-
mentos de ensino tradicionais. Não estudavam as ma-
térias clássicas. Destacavam-se por seu pensamento in-
dependente e sua busca incansável das relações entre a
técnica e a economia. Eram solitários que sabiam organi-
zar tecnicamente a revolução no âmbito das ciências na-
turais. As empresas por eles fundadas não estavam
isentas de crises e, freqüentemente, não se mantinham
por muito tempo. Estes industriais consideravam suas
empresas como algo riscante, talvez apenas efêmero, em
todo caso, como algo muito modesto. .
Homens com tais qualidades devem haver existido certa-
mente também em outras épocas e áreas culturais. Atual-
mente, são raros nas grandes empresas industriais mo-
132
der'nas. Apesar disto, pessoas deste tipo encontram hoje
novamente a possibilidade de desdobrar as suas perso-
nalidades como outsiders, sem dúvidà. t pouco provável
que encontrem um lugar nos palses ,industriais que se
tornaram velhos. Dificilmente poderá ser proclamada por
cátedras institucionalizadas a maneira de poderem abar-
car e realizar - do acúmulo do saber que escapa a toda a
'visão de conjunto e da super-informação que esmaga os
membros da sociedade industrial - O que é essencial à
sociedade humana.
Isto não significa que a formação de novas personalidades
empresariais criadoras e dispostas a assumir riscos deva
ficar somente entregue ao acaso. t perfeitamente posslvcl
organizá-la. t posslvel que aqueles palses, cujos sistemas
industriais ainda não se arraigaram, tenham as melhores
chances de formar de maneira organizada, aquelas per-
sonalidades CJue não se apresentam aos exames unica-
mente em vista de obter um emprego mais seguro ou
confortável.
133
20. Adaptação dos Administradores Jovens
a Mudanças Permanentes
134
índole dificilmente poderá repetir-se com freqüência e,
com toda certeza, não de uma maneira constante.
Com a criatividade no sentido lato acontece outr.1 coisa.
(~ lIlIIa al.;Zio illleir.lll1t'uh' t:rialivól opor- !;(' .1 ('('rl .I! .. dlel'.l-
\'ÕeS do gosto, da moda, da rapidez da decolagem de
aviões, ou da produção de energia. Porém, aquele que se
recusa sempre e em todos os lugares a aceitar as inova-
ções oferecidas pela indústria n50 é uma personalidade
criativa. Tampouco o é qUClll iInila GHla inovação que
surge.
Uma criatividade refletida faz parte da atividade quoti-
diana dos quadros dirigentes modernos, a saber, a obser-
vação da maneira como outros empresários, outros· países
e outras cidades souberam· resolver as mudanças, a fim de
admiti-las com as retificaçêíes julgadas necessárias.
A mudança não é um fenômeno secundário com o qual
os quadros dirigentes são também obrigados a participar
à margem de sua esfera de trabalho. Para o diretor de
unia empresa, para O prefeito de uma comunidade ou um
funcionário dirigente, encarregado de supervisionar uma
ordem de trânsito ou I1ma regulamentação aduaneira, a
mudança é o problema central da direção. A mudança
pode ser imitativa ou criativa. t possível reformar uma
empresa ou uma comunidade da mesma maneira como
já sucedeu a outras empresas e comunidades; ou pode-se
fazê-lo de uma maneira nova.
135
21. Sob a Pressão do Conformismo
136
munis tas, não se faz muito ruído em torno aos fracassos.
Outra coisa sucede nos países cm via de desenvolvimen-
to, sobre os quais a opinião pública mundial coloca um
olhar severo. O eventual sucesso ou insucesso dos pro-
jetos iliJustriais são lá submetidos aos cálculos mais rigo-
rosos possíveis, enquanto o setor público ou os s6cios
estrangeiros deles participam. Em tais ciscunstâncias, é
difícil promover os elementos criativos.
Um dos principais obstáculos à criatividade é a pressão
do conformismo, exercida pelas mais diversas institui-
ções. Nos países em via de desenvolvimento, as forças
criativas podem ser facilmente entravadas tanto por auto-
ridades internacionais modernas, quanto por costumes
obsoletos e ordens sociais tradicionais.
Nos países industriais, os obstáculos principais são a satis-
fação pessoal e a letargia nacional. Os grandes Estados e
empresas têm a tendência de querer manter o status quo.
Mostram-se mutuamente solícitos ou respeiiam pelo me-
nos certas linhas de demarcação, destinadas a restringir
num maior grau possível os domínios em que a concorrên-
cia conduz a situações imprevisíveis. Este estado de coisas
pode induzir à inércia e à estagnação. Em alguns países
industriais, a incapacidade de toda a disposição às inova-
ções refletidas teria provavelmente alcançado ainda mai-
ores proporções se, a mediados da década de 70 do nosso
século, não tivessem surgido no âmbito da empresa do
Terceiro Mundo certos quadros dirigentes ricos em idéias,
pequenos em realidade, mas de importância crescente,
levados por um desejo de progredir, os quais violaram
indiferentemente certos gelltlemitn agreemcllts e algumas
linhas de demarcação entre as grandes potências indus-
triais.
A fundação de associações para a proteção do meio am-
biente pela iniciativa da comunidade constitui um ato
cOllscrvaJor C n:io criador. Contudo, são necessários pre-
cisamente tais impulsos para incitar as potê.lcias indus-
triais tão grandes e tornadas por isso mesmo tão inertes
à realização de idéias não convencionais.
O efeito da pressão' do conformismo em todas as partes
depende, tanto nos países industriais quanto nos países
137
em via de desenvolvimento, da medida em que este se
solidifica em clichês ou preconceitos sociJ.is. Esta pressão
pode manifestar-se da seguinte maneira:
Todo aquele que se desvia das normas, crê no
novo e coloca em questão as estruturas vigentes,
é considerado anormal.
A educação tem por objetivo a adaptação a deter-
minados sistemas de valores e expectativas.
Frente aos não-conformistas adotam-se atitudes
céticas e ridicularizantes, queafetam a sua digni-
dade e bloqueiam os seus esforços criativos.
Círculos hierarquicamente estruturados incenti-
vam princípios autoritários que recompensam a
adaptação a convenções. Os valores baseados na
experiência são mais válidos que novas proposi-
ções.
A busca de segurança não permite correr o risco
de colocar em questão soluções antigas. As res-
postas se limitam às soluções desejadas pelas . .
autoridades. Quem quiser obter sucesso deve'"
evitar toda confrontação com o seu meio e, sobre-
tudo, as tensões com os seus superiores.
A formação de espe~ialistas é uma boa coisa en~
quanto o especialista somente tenha que resolver
determinados problemas. Porém, esta faz também
surgir o bloqueio da informação, que torna mais
difícil o reconhecimento da problemática de uma
solução.
A eliminação da pressão do conformismo, dos bloqueios
da informação e do temor à au toridade, é a condição
prévia para despertar as forças criativas. Em certas épocas
como, por exemplo, a dos pioneiros norte-americanos, o
meio ambiente preenchia esta função numa ampla me-
dida. Mas, onde não é esse o caso, convénl criar unl meio
favorável ao processo criativo. Quanto maiores forem os
obstáculos, opostos pelo meio ambiente às personalidades
criativas, tanto mais urgente se faz O desdobramento sis-
temático de métodos pedagógicos destinados a incentivar
a criatividade.
138
Seria um erro pretender limitar a promoção da criativi-
dade aos mais bem dotados. Quase todos os homens são
equipados da capacidade de conceber idéias criativas e de
realizar uma atividade original, por débeis Ou raras que
possam ser. O motor do desenvolvimento industrial não
foi somente o gênio extraordinário de personalidades
criativas altamente dotadas, mas também, e sobretudo, os
numerosos «pequenos» inventores c organizadores que,
através de melhoramentos imperceptíveis, asseguraram
a continuidade do desenvolvimento tecnológico.
t certo, todavia, que até pouco tempo atrás o processo de
aquisição de novas informações esteve a cargo de círculos
restritos. Tal aspecto teve pouca relação com a genialidade
das pessoas que 05 compunham. A casualidade desem-
penhou neste caso um grande papel - a casualidade que
proporcionou as novas infornluçõcs.
Não ter que deixar nada entregue ao acaso é uma meta
que a chamada direção «científica» da empresa se havia
colocado. Till intento não é menos desacertado que a con-
cepção contrária, ou seja, a de querer deixar tudo nas
mãos do acaso. No decurso da evolução tecnológica pro-
duzir-se-ão sempre novas rupturas de tendências através,
por exemplo, de inovações imperceptíveis com repercus-
sões imponderáveis que não são possíveis de serem pre-
vistas dentro do sistema em vigor - isto é, sobre a base
da tendência existente e da analogia conhecida. E sempre
haverá pessoas a contribuir de maneira notória em tais
mudanças de tendências. Por outra parte, nunca haverá a
necessidade de se esperar pelo acaso, ao desejar-se uma
mudança das situações críticas. Trata-se, pois, de provo-
car rupturas de tendências, formando pessoas capazes de
criar novas situações através de idéias criativas.
139
22. Adver tência s de Pedag ogos Econo mistas
Comu nistas e Capita listas
140
idade, encontram também agora eco na pedagogia eco-
nômica.
Daremos aqui a palavra a duas personalidades. Ambos
preconizavam uma direção moderna da economia, mas
achavam-se ao mesmo tempo em posições diametralmente
opostas, ou seja, um cra de orientação comunista, o
outro Jc orientação capitalista.
Em fevereiro de 1939, o pedagogo soviético Anton Se-
mionovitch Makarenko (1888-1939) escrevera o artigo
"Vontade, coragem e tenacidade», publicado pela pri-
meira vez em 1946, no qual dizia :
141
f: necessano ter, sobretudo, a coragem de adnútir
com franqueza: <Não sabemos ... para que quere-
mos educar. Não sabemos se devemos educar para a
coragem. E se isto se tornar de um momento para
outro <antipedagógico>? E se de um momento para
outro se tornar prejuJicial à saúde? E se, de repente,
<1 5 Jllamãcs não estiverem de acordo?)
Quem é ô culpado de tal confusão? Permitam-me a
pergunta: Onde estão, na verdade, os cientistas pe-
dagogos, onde estão as centenas de engenheiros de
pedagogia que já há muito tempo tinham a obriga-
ção de analisar e solucionar as questões da educação
comunista? Em nenhuma parte foram estas palavras
citadas com tanta freqüência como nos artigos sobre
pedagogia. Mas, que foi dito nestes artigos sobre as
questões da educação da vontade, da coragem e da
tenacidade?
Como muitas outras questões concernentes à edu-
cação, estas foram praticamente riscadas da ordem ..,.
do dia. Acham-se dissimuladas através da afirmação
obsoleta e que nos é totalmente estranha, de que
nem siquer existem problemas específicos da edu-
cação, de que a educação está inseparavelmente li-
gada ao processo de ensino. Palavra de honra, é
inclusive difícil de crer, mas há quem se dedica a
tais habilidades simplórias e ingênuas. Em vez de
estudar com franqueza e seriedade os problemas da
educação comunista, toma-se um ar inteligente para
explicar:
<Educação? Mas, para que? Pois o professor ensina
e educa ao mesmo tempo. História I Você não pode
ilnaginar C01110 a história poJe educar por si só! ... )
A história educa, naturalmente. Mas a literatura
também educa, como a matemática. Mas reduzir,
por tal motivo, o processo educativo ao trabalho que
se faz em classe, eis o que ninguém tinha evidente-
mente o direito de fazer, do mesmo modo que um
construtor não tem o direito de afirmar que na
construção de uma casa seria suficiente ocupar-se
142
com as questões da calcfação central e da construção
do teto ...
Por que os orga'nizadores da educação escolar pro-
cedeni com uma simplicidade tão informal? Mera-
lllcntc porque eles lnC~lnos não sabem u que significJ.
a tenacidade. Não têm interesse especial por meta
nenhuma; portõlllto, ttll11pOLJCO pclwi oujctivos d .•
cduca~:~o COIllunis ta. Alénl disso, pcnsanl Uc.l se-
guinte maneira: Sair-se-á bem de uma ou de outra
maneira sem isto. A construção de uma ponte é algo
bem diferente que pode desmoronar após um mês.
Quando outorgamos um diploma a um estudante,
quem pode saber que espécie de pessoa ele é? De
algum modo devemos evitar isto.
Algumas escolas se assemelham a uma mamãe afe-
tuosa, cujo método educativo é determinado pelas
sentenças: <A criança deve estar bem alimentada!
A criança não deve resfriar-se!. Ela superalimenta a
criança simuladamente com sucessos escolares <de
100 %. e tem o cuidado de que não pegue um res-
friado devido à sua coragem ou, digamos, à sua te-
nacidade. E, exatamente como esta mamãe, tam-
pouco a escola encontra tempo para refletir uma só
vez acerca do quanto perdemos, tanto nos êxitos
escolares, quanto também na saúde das crianças, por
este zelo cego.
Em vez disso, vive-se mais tranqüilamente. Em vez
disso, pode-se expressar o trabalho realizado em per-
centagens esquecendo que, em todos os outros se-
tores da vida soviética, os homens procuram, ousam,
encontram, arriscam, às vezes, n1.1S criam sempre
algo novo.
Cor.lgcln! Tente seriamente, s inceramente c com
zelo consagrar-se à tarefa de formar um indivíduo
corajoso. Neste caso, não será possível limitar-se a
diálogos consagrados. Não será possível fechar as
básculas e envolver a criança em algodão. Isto não é
possível porque para a vossa consciência sensívei, o
resultado neste caso seria claro: você educaria um
obse'r vador cínico, para quem os atos de heroísmo
143
de outrem não seria senão um espetáculo c algo
divertido.
Não é possível formar homens corajoso·s sem colocá-
-los em situações nas quais podem mostrar coragem,
sejam lá quais forem os meios, seja através do auto-
domínio, de uma palavra direta, franca, de certas
privações, de paciência ou de audácia. Não seremos
capazes de entregar-nos à educação da vontade, se
não se elucidou previamente a pergunta sobre o que
consiste a diferença entre a vontade soviética e a
vontade da sociedade burguesa. Nesta último, o
homem necessita a vontode para oprimir outro ho-
mem, a tenacidade está dirigida no sentido de obter
o melhor pedaço do bolo social. Não corremos o
perigo de colocar estas categorias burguesas no lu gar
das nossas, se limitarmos toda a pedagogia ao cha-
mado tratamento <individual> 7
A educação da vontade comunista, à coragem comu-
nista e à .tenacidade comunista não pode ser alcan-
çada s·e li( os exercícios especiais na vida coletíva.
Não é nenhum método de ação a dois e de caso a
caso, nenhum método de não-resistência dlmoda, de
moderação e de tranqüilidade, mas urna questão de
organização do coletivo, a organização das exigências
existentes nos homens e - simultaneamente com o
coletivo - a organização do esforço humano real,
vivo e conseqüente : este deve ser o conteúdo do
nosso trabalho educativo ... »
144
Antony Jay, nascido cm 1939, em Londres, escreveu 'em
1967 no seu livro Mallagelllent and Machiavclli:
145
parados em suas especialidades. Mas o que faltava a
quase todos eles era alguma centelha de originali-
dade, idéias criativas, espírito crítico, a necessidade
de fazer algo novo ou diferente . . .
Estes, repito, eram estudantes formados, a maior
parte com bons certificados e provenientes de uni-
versidades conceituadas. Era bastante simples o que
havia acontecido : a partir do momento em que se
lhes havia selecionado como elite acadêmica, a sua
originalidade e criatividade foram ignoradas ou re-
primidas. Com respeito à história ou ao inglês, nin-
guém queria ouvir as suas opiniões, interpretações e
comentários imaturos e, provavelmente, infundados.
Queria-se descobrir como poderiam assimilar e re-
produzir os julgamentos correntes de mentes mais
maduras. Ninguém desejava saber o que pensavam
de Hamlet, mas se conheciam o que haviam dito
Johnson, Hazlitt, Bradley e Caroline Spurgeon. A .·,
originalidade e a criatividade não são chamas con:"
tímias, exceto em algumas pessoas altamente cria-
tivas. Em muitos casos, apagam-se com muita facili-
dade e, se a sabedoria acumulada do passado for
derramada sobre eles' durante dez anos, não é de
surpreender que esta chama se extinga. A isto é ne-
cessário acrescentar o terrível estado de espírito
criado pelo sistema de exames, a atitude de esperar
para que se lhes digam o que fazer após, que se lhes
dê um programa preciso, um plano de estudos, a
data de um exame e que alguém assegure estarem
realizando o primeiro deles, depois o segundo, até
chegarem à prova final. Por dez anos são obrigados
a levar uma vida de corredor: uma série de barreiras
e um jóquei, num treinamento contínuo. Não é de
estranhar que saiam sem idéias próprias sobre o que
desejam fazer, simplesmente esperando 'Por outro
jóquei que os conduza a saltar a próxima barreira.
Quando os estudantes se dão conta de qu~ não há
mais jóqueis, mas que cabe a eles mesmos construir
o tipo de obstáculo desejado, ficam perplexos e se
sentem vagamente traídos ...
146
o irônico é que se perguntássemos ao~ universitá-
rios por que desejavam obter um título, a maioria
deles responderia: 'Para obter um bom emprego>.
Seria interessante se um dos novos estados da cor-
poração superasse o sistema. A educação é, acima de
tudo, urna Junção de grupos sociais avançados e a
forte pressão à educação universal na década de
1860 foi proveniente dos empregadores que neces-
sitavam um pessoal instruído e numeroso. Suponha-
mos uma corporação gigante que garanta a educação
universitária e urna grande variedade de empregos,
concedidos aos 21 anos à base de sal,írios iniciais
elevados, a um grupo de jovens inteligentes de qua-
torze anos. Eles poderiam, então, 'partir do zero. e
conceber um programa de estudos que certamente
lhes desse instrução sobre as disciplinas necessárias
e os conhecimentos básicos requeridos, mas que
também os obrigaria a realizar trabalhos originais,
a ter idéias pessoais, a conceber projetos de pes-
quisa, a planificar e a coordenar o trabalho de outros,
assumir a liderança de projetos e, corno urna espécie
de exercício intelectual, a começar o tipo de traba-
lho que seriam chamados a fazer ao saírem da uni-
versidade e ao entrarem na corporação. Natural-
mente, seria acadêmico e supervisionado por um
pessoal acadêmico. Mas, seria dado ênfase à criati-
vidade, assiIn como à memória, à inteligência c à
técnica do discernimento. Deve haver muita gente
na indústria e educação que se comprazeria em aca-
bar com o sistema de exames e em organizar . urna
reforma escolar para os jovens entre quatorze e
vinte e um anos. Talvez eles terão algum dia a opor-
tunidade para tal. Talvez algum dia deixemos de
educar para o conformismo e comecemos a educar
para a criatividade.»
147
Numa passagem posterior, Antony Jay desenvolve esta
idéia, agora totalmente identificada com os pontos de
vista capitalistas:
148
atraente, esta corre o perigo de ser sobrecarregada
por novos quadros, cuja principal preocupação 'é o
esquema de pensões c, assim, a lei de Gresham·)
começará a entrar em ação. O mau elimina o bom,
tanto em matéria de direção de empresa, como de
dinheiro ; se um indivíduo olha ao seu redor e vê
pessoas menos capazes do que ele fazendo mais ou
menos o mesmo trabalho por um salário semelhante,
cOllle~'ará a pensar que não está no lugar adequado.»
149
Dentre Os empresá rios, os persona gens margin alizados ,
ao contrário, não se cnquaJr anl Cln ncnhun1a ordcn1. No
melhor dos casos, crianl uma nova ordem. Mas muitos, a
maioria deles, que deram de maneira imprevi sta inpulso s
õlO~; diferen l e!. pc ríodw; indU:;lr i,Ib, fr,1L'S~;,H·,HII
como
cconolll istas político s, ou, pelo Incnos, não estavam to-
mados pela vaidade e necessid ade de seguran ça de man-
ter o seu sucesso eternam ente.
Tholllas Mann expõe isto em seu rOlnance sobre um.:l
família de negocia ntes Os 13//(/dcllúrooks, através da dia-
lética de figuras épicas: frente à geração decaden te dos
l3uddenbrooks estavam os homens de fortuna vitoriosos
da família Hagens troems e os audaciosos agentes de
bolsa como Sigismu nd Gosch :
"Certa vez, perdeu na Bolsa, de um golpe, seis tá-
leres e meio, em duas ou três apólices que compra ra
com intençõ es especul ativas. Dessa vez, a sua voca-
ção dramáti ca arrastou -o de tal maneira que dava·,a
impress ão de estar a represe ntar. Deixou -se êâir
num banco, na atitude de quem tivesse perdido a
batalha de Waterlo o. Apertan do contra a testa o
punho cerrado , repetiu várias vezes, com olhar blas-
femo : <Ah, com todos os diabos I. Como, no fundo,
o aborrec iam os pequen os lucros certos que fazia na
venda deste ou daquele prédio, essa perda, esse
golpe tróBico, com que o Céu ferira a sua pessoa de
intrigan te, causou- lhe um prazer que durante sema-
nas o fez feliz. Quando alguém lhe dirigia a palavra :
<Ouvi dizer, sr. Gosch, que teve um prejuízo . Que
pena! .. .' costum ava respond er: <Oh, meu prezado
amigo! Uomo nOIl educllto daI dolore riman sempre
bambillo!, Claro que ninguém o entendi a.»
(Thoma s Mann, Buddenbrooks. Verfall einer Fa-
milie, op. cit.; na traduçã o portugu esa p. ~48.)
150
23. Índice bibliográfico
151
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155
24. lndice geográfico
156
Rottcrdam, 87 União Soviética (Rússia), 84,
Rússia (vd. União Soviética) 86-91,93,95,97 sS., 126;
141,143 s.
Suíça, 145
Suil.,'a, 145 USA (vd. América do Norte),
15,568.,79,85 s., "88,90,
Tâmisa,37 104,114,123,125,127
157
25. índice de pessoas
158
Schumpclcr, Joseph A ., 18, Tuequcvillc, Alcxis Clércl de,
28-31,103-107,154 s. 56 s., 59 S., 68-71, 81 s.,
Smith, Adam, 32, 155 155
Sombart, Wcrncr, 18, 24, 26,
38,41,53,75,155 Vandcruilt, Curnclius , lO·1
Stakhanov, Alexei C., 89
Webe r, Max, 1 B, 21, 23, 73,
Taylor, rn~dcril:k WillSlow, IIO,I.ri:>
U9,97,155 Wekkcr, Carl Thcudur, 82 S .,
Thucncn, Johallll Hcillrich 154
von, 32, 34, 149, 155 Wilkens, John (bispo), 45
159
26. lndice analítico de matérias
160
Idade Média, 40, 74
Imperialismo, 6, 54, 87, 127
Inlprcnsa, 50, 76, 131
Individualismo, 6 s., 48 s ., 54, 56-62, 82, 90, 99, 101 ss.
Indústria do aço, 104
InJúslria algodoeira, 104
Instituto Internacional do Trabalho, 112 s" 122
Instrumentos de cálculo, 129 55.
Invenções, 5, 20, 27-30, 33, 37, 39 55., 43, 4S s., 54, 62 55., 66,
74,76,79,109,139
Jornalismo, 44,50,78
Junto, 77
Racionalidade, 6 s., ],1, ],6, 44, 58, ~3, 66, 71, 78, 89 s., 93, 95,
100 sS., 12.2, 12.9 s.
Religiosidade, 26, 47, 63 s., 82,97,140
Renascimento, 5, 53
Revolução, 92, 100, 132
Revolução industria C44
Romances, 9 s., 19, 27, 31, 43, 51 S., 55 S., 58 55., 63, 70 s.,
73 s., 149
161
Servidão , 86, 89
Sistema educativ o, 21,39,5 0-53,59 ,74,97 sS., 132, 134, 138
s.,
110-149
Socialis mo, 79, 88, 94,98,1 015.
Socicuau c anônima , 46
Socictà Italiana per ii Progress o delle Scienze, 49
Tayloris mo, 89
Televisã o, 131, 136
Tempo livre, 10, 131
Terceiro Mundo, 15 5., 29, 30 5., 111, 122 55., 137 5.
89,
Trabalh adores, 10, 21 5., 23 5., 27, 31, 34, 70 55., 84 55.,
92,94,1 06,110, 128,140
Trabalh o feminin o, 23 s .
Uuilevc r,87
162