Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
A relação do sujeito com o Outro, e com a vida, é simbolizada por um engodo, uma
isca, cujo ponto de referência é o significante do falo. O falo como simbólico tem
por tarefa orientar o ser humano com relação a um significado, assim sendo orienta
o desejo, e por esta razão se encontra numa posição privilegiada.
Ou seja, enquanto a demanda de amor visa o ser o desejo visa à falta a ser, isto
que estaria aquém da presentificação do significante, aquém da presentificação do
ser. “É no espaço virtual entre o apelo da satisfação e a demanda de amor que o
desejo ocupa seu lugar e se organiza”.
Desse modo, só podemos situar o desejo a partir de sua dupla relação à demanda.
Aquém ou além, dependendo do aspecto que considerarmos a demanda. Além da
demanda em relação a uma necessidade, ou aquém da demanda estruturada em
termos significantes. Ou seja: além da necessidade, aquém das palavras.
O impasse do desejo no sujeito obsessivo se demonstra com o fato que para ele
desejar, isto é, ter acesso a falta a ser que o desejo exige, é necessário se
desvencilhar do ser do Outro do significante que é lhe imposto com a demanda.
Para isso, procura destruir o Outro: o desejo do obsessivo implica na destruição do
Outro. Quando ele detém o objeto do seu desejo nada mais existe, e na destruição
do Outro, quando ocorre, o próprio desejo vem a desaparecer. No entanto, se essa
destruição não ocorre torna-se servo da demanda. Preso na demanda de amor
tenta ser para o Outro, e, simultaneamente, preserva o Outro na sua toda potência.
Numa análise, o analista deve sustentar esse impasse entre a falta e a potência do
Outro, abstendo-se do furor terapêutico. Único modo de construir um espaço onde
o sujeito obsessivo poderá colocar em questão, por um lado, suas identificações, o
seu ser, para deixar aparecer o sujeito dividido; e, por outro lado, reencontrar-se
na ex-sistência, na sua falta a ser, lá onde é apesar de não ser. O que provoca uma
nova inserção do sujeito no mundo com o trabalho que nunca acaba e com respeito
ao amor, não mais visto como uma solução, uma possibilidade de se livrar da falta,
mas como resultado da impossibilidade da queda do Outro.