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JESU CHRISTO,
TRADUZIDO EM PORTUGUEZ
SEGUNDO
A VULCAT A,
COM VARIAS ANNOTAÇÕES
HISTÓRICAS ; DOGMÁTICAS , E MORAES ,
E APONTADAS
AS DIFFERENCAS MAIS NOTÁVEIS
DO ORIGINAL GREGO.
A N TONI Q° PEREIRA
DE FIGUEIREDO,
DEPUTADO ORDINÁRIO DA REAL MEZA CENSÓRIA,
TOM. I,
Que comprehende os Evangelhos de S. Mat-
theus , e S. Marcos.
Segunda Impressão mais correãa no Texto 3 e ac-
crescentada nas Notas.
LISBOA
Na Regia Offic. Typograf. m.dcc.lxxxi.
Com licença da Real Me%a Censória.
Vende fe na loja da Viuva Bertrand -e Filhos , Mercador»*
de Livros junto í Igreja dot Martyres ao Xiado cm Lisboa.
ao eminentíssimo,
reverendíssimo
SENHOR
D. J O Â O,
CARDEAL DA CUNHA ,
ARCEBISPO METROPOLITANO
D'EVORA,
DO CONSELHO D'ESTADO,
E DE GABINETE
S. MAGESTADE FIDELÍSSIMA,
&c &c. &c. .
i
respondérd ao trabalho , o sruSîo d cul
turel.
Só nie resta pois occorrer a huma
óbjecçao , que se po'de sazer contra o me~
recìmento desta minha Obra. E he , que
nao sendo eu nem ainda mediatamente in-
Jìruido nas Linguas Originaes Hebrai-
ca , e Grega , etn que forao respeSlìva-
mente ejeritos os Evangelhos j mal po-
deria sabir exaSîa , e perseita esta mi-
ftba Versao. Certo , grande óbjecçao he
eHa , e tal, que para Ihe responder , me
vejo obrigado a valer-me de Discurjò
alheo. Responderd por mim o Illustrìjst-
mo Bossuet Bìspo de Meaux , a cuja au-
thoridade creio , que ninguem deixard
de ceder.
No anno de mit setecentos e dous
publicou este grande Prelado huma lar-
ga Instrucçdo , sobre huma Versao Fran-
cessa do Novo Testamento , que no mef-
mo anno imprìmíra em Trevoux o fa-
vioso Ricardo Simon. Entre outras Re
stexoes admiravtis , e de mttito juizo ,
que por toda a Obra efpalhou Mr. Bos
suet y sao terminantijsnnas para minha
. ; de-
àesensao , duas que elle traz sobre o
estudo das Línguas Originaes , e sobre
o que se deve julgar da dependencia
que dellas tem as Versões da Escri
tura.
A primeira he na Prefação da
Obra., e diz assim : Peço ao sabio Lei
tor, que- se não deixe cegar do conheci
mento das Línguas , que o Author des
ta Versão de Trevoux, e seus amigos,
não cessão de nos ostentar com jactan
cia. Seria na verdade querer renovar a
barbarie dos seculos ignorantes , se al
guem negasse a hum tão bello , e tão
útil estudo o louvor , que elle merece.
Mas nisto mesmo póde haver hum ex
cesso muito para temer. E tal he , o
de fazer dependente do conhecimento
das Linguas a Religião, e a Tradição
da Igreja. Eu me tenho assás explica
do sobre esta importante materia nos
Reparos á Prefação do Author , tra
tando da setima Passagem della. Nin
guem ignora as Regras que deo San
to Agostinho , para hum se aproveitar
do Hebreo , e das outras Linguas Ori-
ginaes , sem para isso ser necessario sa-
bellas com tanta exactidão. Eire Padre
se servio tão felizmente destas Regras,
que sem nenhum Hebreo , e com mui
pouco do Grego , não deixou Santo A-
gostinho de sahir o maior Theologo do
Occidente , e de combater as heresias
pelo meio das demonstrações mais con
vincentes. Outro tanto disse de San
to Athanaíio na Igreja Oriental : e fe
ria facil produzir outros muitos exem
plos igualmente memoraveis. A Tradi
ção da Igreja , e dos Santos Padres fer
vem de tudo aos que a sabem , para es
tabelecer perfeitamente o fundo da Re
ligião. Os que reduzem todo o seu sa
ber a manejar , e folhear os Livros dos
Rabinos , quasi sempre vem a alonga r-
se muito da verdade. E a estes podemos
nós applicar estas palavras de S.Justino
no seu Dialogo com o Judeo Tryfon :
Se vós não desprezais as doutrinas dos
que a fi mesmo se elevão , e querem ser
chamados Rabbi , Rabbi : nunca por nun
ca tirareis proveito das Escrituras Pro
feticas. ...
A
A segunda vem no Corpo da mes
m Instrucçao , no lugar a que elle no
precedente se remette , que hesobre a se
tima Pajsagem de Simon. He certo (diz
segunda vez Mr. Bojsuet) que os prin-
cipaes Reparos , que se podem fazer a
huma Obra desta qualidade , quero di
zer, os Reparos fundados no Dogma ,
não dependem do conhecimento parti
cular das Linguas , e só estão addictos
ao conhecimento da Tradição univer
sal da Igreja , que qualquer póde sa
ber perfeitamente sem tanto de He-
breo , e tanto de Grego , pela lição
dos Padres , e pelos Principios de hu
ma sólida Theologia. Esta Reflexão he
de fnmma importancia : e deve cada
hum guardar-se muito de dar tantas
vanrajes aos Sabios no Hebreo , c na
Crítica ; pois que destes se achão mui
tos não só entre os Catholicos , mas
ainda entre os Hereges. Ha pouco que
nós vimos hum exemplo dos exceflívos
louvores que noslb Author lhes dá , e
de quão cegamente se prestou elle aos
seguir , até nesta mesma Versão. De
ve-
ve-se sem duvida estimar muito o co
nhecimento das Linguas , de que se ti
rão grandes luzes : mas não se deve
crer , que para refutar, por exemplo,
as licenciosas interpretações deGrccio,
de quem neste seculo se faz tanto ca
so , he necessario saber tanto do He-
breo , do Grego , e do Latim , e aííim
mesmo tanto da Historia , e da Críti
ca , quanto elle mostra nos seus Escri
tos. Em todos os tempos haverá na
Igreja Escritores, que possuão em grao
eminente todos estes talentos particu
lares : mas esta não he a sua maior
gloria. A sciencia da Tradição he a
verdadeira sciencia Ecclesiastica : o res
to fica para os curiosos , ainda de fo
ra , como por tantos seculos foi para
os Gentios a Filosofia.
Atéqui o Illustrijstmo Bojsuet : a
cujo discurso se eu accrescentdra algu
ma cousa , viria facilmente a incorrer
na juHa censura , de que promettendo
fazer huma Dedicatória , passei a com
por huma Apologia : principalmente quan
do o respeitavel Nome de FOSSA EMI-
. NEN-
NENCIA per fi só era capaz de ser-
vir de completa defensão ao Livro , e
de bonra cabal a seu Author.
Deos guarde a VOSSA EMINÊN
CIA por muitos , muito dilatados , e
muito selices atinos. Lisboa , 8. de Ja-
neiro de 1778.
Be VOSSA EMINÊNCIA
PRE-
í
PREFAÇÃO
AOS LEITORES.
PARTE I.
Da utilidade , que todos podem tirar da lição das Di'
minas Escrituras , e especialmente das do Novo
Testamento. Como a Quarta Regra do Index Ro
mano , oueprobibia a lição da Biblia em vulgar ,
a ijuem não tiveste licença dos Bispos , ou Inquisi
dores y foi modernamente modificada pila Sagrada
Congregação nejks últimos Pontificados.
Esta utili Jade póde-se demonstrar primeiramente
pelo testemunho das meímas Escrituras. De
pois pelas Authoridades dos Santos Padres. E
ultimamente pela intelligencia , e persuasão ,
cm que neste particular esteve sempre a Igreja.
Primeira Prova
Tirada das mesmas Escrituras.
xvm Prefação { ■
Catholica : A's doze Tribus , que vivem
dispersas.
S. João sim dirige a sua segun
da : A" Senhora Eleãa , e a seus filhos.
Mas isto mesmo prova , que nem as mu
lheres são inhabeis , para selhescommu-
nicar por escrito a palavra de Deos.
Antes para que ninguém se jul-
gasle inhibido de ler , ou de ouvir ler
as Cartas , que os Apóstolos escrevião
a esta, ou áquella Igreja : requer S. Pau
lo da parte de Deos aos de Thessaloní-
ca , que façao ler a sua primeira Carta
a todos os Santos Irmãos. E escrevendo
aos Colossenses, conclue assim: Depois
que esta Carta for lida entre vós , fazei
que também a lêao os da Igreja de Lao-
âicéa.
Ora se os Sagrados Apóstolos , inspi
rados sem dúvida pelo Espirito Santo,
querião , e mandavão que todos lessem
as suas Cartas ; homens , e mulheres;
grandes, e pequenos; Ecclesiasticos , e
Seculares : quem pôde duvidar, que a
toda a classe de pessoas de hum , e ou
tro
aos Leitores. xix
tro sexo he de summa utilidade a lição
das Sagradas Escrituras ? Se quando a
fé dos Professores do Christianisino eG»
tava tenra, e como em leite, julgavão
estes primeiros Mestres de Religião,
que nenhum damno lhes podia causar,
mas que antes contribuiria muito esta
lição para os confirmar na mesma fé,
e para excitar em todos elles a pieda
de , e amor de Deos ; que perigo póde
haver hoje na lição dos Evangelhos , e
Cartas dos mesmos Apostolos ; quando
a fé se acha tão arraigada no coração
de todos os verdadeiros Catholicos Ro
manos ; e quando as Divinas Letras se
achao tão explanadas nos Escritos de
tantos Santos Padres, e nos Commen-
farios de tantos Expositores doutiffimos ?
Quasi toda a doutrina dos Evan
gelhos foi dirigida por Jesu Christo ao
Povo dos Judeos , de que elle sempre
andava acompanhado. Por isso quando
o Pontífice lhe fez os interrogatorios ,
sobre qual era a sua doutrina , respon- M
deo-lhe o Senhor : (a) O que eu tenho jgfc.
•#* ii eu- 2*- 314
xx PrefaçXo
ensinado no Mundo , tem sido em público.
Un sempre ensinei na Synagoga , e no Tem
plo , onde concorrem todos os Judeos.
Pergunta-o pois aos que me ouvirão , que
elles bem sabem o que eu lhes dijse.
Quem dirá porém , que a Plebe
Judaica era mais capaz , e estava mais
bem disposta para ouvir a palavra do
Filho de Deos , do que está hoje o Povo
GtW Christão ? Erao os Judeos , (a) como
Iv- "vallegoriza S. Paulo , os filhos de Agar
mulher escrava , que figurava o Testa
mento Velho : os Christãos porém são os
filhos de Sára mulher livre , que figura
va o Novo Testamento. Ora os escra-
joJXv V0Sj (ty Je^u ^-*'ír^° Por S.João,
» 5- ' não sabem o que faz seu Senhor ; ao mes
mo tempo que aos livres tudo se lhes
communica, enada se lhes reserva. Co
mo he logo crivei , que se haja de nega r
aos Christãos, o que se concedeo aos Ju
deos ? Ou que os filhos do Novo Testa
mento tenhão menos parte nos segredos ,
... e Mysterios do Pai Gelestial , do que ti-
verão os filhos do Testamento Velho?
• . -v Se-
aos Leitores. xxi
Segunda Prova
Tirada dos Santos Padres.
Terceira Prova
Tirada da intelligencìa , e persuasão 9
que sempre houve na Igreja.
PARTE II.
Do metbodo , e forma que guardei nesta Versão d»
Testamento Novo. Regras principaes da Inter
pretação. Versões de que me vali. Qual seja-
a autboridade da Vulgata Latina.
N
aos Leitores. XLIX
ISTovo , quasi a mesma com a nossa Vul
gata. Porque os seus Amhores de tal
sorte se cingirão á letra , que ao mes
mo tempo cuidarão muito em deixar o
sentido claro. Est enim verborum tena*
cior cuni perspicuitate sententia.
Em quanto porém a distinguir com
caractères Itálicos (que são os que por
outro nome se chamão grifos) as pala
vras que para melhor intelligencia se
accrescentão á letra do Texto , que vai
em caractères Romanos , (chamados por
outro nome redondos : ) Eu estou com os
Padres Amelote , e Qúesnel , que ao
contrario de todos os maisTradiictores
que aífima alleguei , compozerão , e
mandárão imprimir as suas Versões ^ sem
usar de differença alguma de caracteres*
Porque considerei , que as addições que
podem encontrasse numa Versão da
Sagrada Escritura , podem ser de tres
géneros. Humas daquellas palavras ,
sem as quaes ficaria o sentido muito
imperfeito , e pouco ou nada intelli-
givel. E estas de nenhuma sorte se de-
^ ##*fí*£ VGÍTÎ
t PrefaçXo
vem reputar alheias , ou estranhas do
Texto. Como quando S. Marcos , no
cap. 3. depois de hum largo discurso
que attribue ao Senhor, continua aflìm
no vers. 30. Quoniam dicebant : spiri-
tum immundmn habet. O que se nao
póde atar bem com o discurso antece
dente, sem supprir antes daquella ora-
çao causal , quoniam dicebant , a seguin-
te : Dizia-lhes isto Jesus. De sorte que o
vers. 3 o. faça estesentido: Dizia-lhes isto
Jesus , parque elles 0 accusavao de que es
tava posséjso do espiriio ìmmundo : que he
como vertêrão Saci, e osdeMons. Ou
como quando fallando da figueira , que
oAmo mandavacortar, diz oLavradoc
ao Amo por S. Lucas, cap. 3. vers. 8.
que lha deixe ainda escavar, e estercar
por aquellc anno : e no vers. 9. prosegue ,
dizendo : Et siquidem fecerit sruSium-.
sm autem , insuturum succides eam. He
claro qneaquelle primeiro membro, à"
Jìquìdem fecerit fruSìum , fica defeituo-
so , e escuro , se senão supprir o que
nelle secalou no Texto , que heverten
aosLéitorês. u
do aísim : E se ella der srtiflo ì muito
embora. O que ninguém dirá que he al
terar o Texto: porque supprir nellc.hu-
ma ellipse , he absolutamente necessá
rio para elle se entender.
Pelo que não posso deixar de no
tar de incoherencia os Traductores de
Mons , e Mr. de Saci : os qnaes verten
do o referido periodo deste modo , Aprés
cela j' // porte du fruit , ala bonne heu
re', pozerao em redondo aquelle aprés
cela , que não he do Texto , e sem o qual
podéra muito bem estar a oração ; e
mandarão imprimir em grifo , d la bon
ne heure , que certamente se devia sob-
cntender , e que era de indispensável
necelBdade o exprimir- se.
Da mesma sorte , quando Christo
chorando sobre Jerusalém , disse por
S. Lucas, 19.42. Oiiia fi cognovijjes &
tu , & quidem in hac die tua , qua ad
pacemtibii &c. Traduzirão aílim os de
Mons, e com elles Saci, Huré, eMes--
fengui : Ah 1si tu reconnoijsois , au moins
en ce joujr qui í' est donê , ce qui tepeut
îj apor-
LH PrefaÇXo
aporter la paix. Onde ninguem deiïà
de ver , quantas palavras accrescentá-
rão , e quantas mudarão estes habeis In
terpretes ; sem que algum delles com
tudo mandasse imprimir em grifo algu
ma , mas deixando ir todas em redon
do , como Texto do Evangelista.
As segundas addiçóes podem ser
as de certas particulas , que não fervem
senão de atar o discurso , ou de distin
guir humas narrações das outras : co
mo v. g. Ora , emfim , entre tanto , de
pois , então , no mesmo tempo , de tal
sorte que , a saber , e outras semelhan
tes. Estas porém todos os referidos Tra-
ductores as costumão entretecer no Tex
to, sem as notarem com alguma diffe-
rença de caracteres , ainda quando ellas
se não achão no Original. E com ra
zão: porque ajuntar estas particulas na
da altera o sentido; e só serve de unir
o que se deve entender unido , ou de se
parar o que se deve entender separado.
As addições do terceiro gcnero são
aquellas , que mais fervem de parafra
se-
aos Leitores. Lin
sear , ou amplificar o Texto , do que pa
ra o explicar fìmplesmente. Como quan-
do dizendo o Texto de S. Mattheus , 1 6.
ì6. Ant quam dabìt homo commutatio-
nem pro anima sua ? Vertem os de Mons
com Saci : Ou par quel échange V hom
me pourra- t-ìl racheter son ame , âpres
qu' il r aura perdue ? E dizendo S. Mar-
cos , 8. 37. Aut quid dabit homo com-
mutationìs pro anima sua ? Vertem os
mesmos : Et s'etant perdu unefois , par
quel échange se pourrat - il r acheter•?
Todos os que entendem as duas lin-
guas , conhecem logo , que no primei-
ro lugar he de fora do Texto aquelle ul-
tirao periodo , típrés qrf il V aurâ per
due. E no segundo aquelle primeiro:
Et j' etant perdu une fois. E aíïïm ti-
veráo razáo aquclles Traductores , de
mandar imprimir emoutros caractères,
o que deste modo accrescentái áo aoTexto.
Porém como eu na minha Versao
me abstive com todo o cuidado de se-
melhantes addiçôes parafrasticas ; tam-
bem nesta parte me sao eseusadas estas
pre-
tw PrefaçXo
precauções , como da mesma sorte as
julgarão -escusadas os Padres Amelote,
e Quesnel ; se bem que as suas Versões
não são menos livres , do que as de
Mons , Saci , e dos outros. Pelo que
só me resta dar conta de alguns luga
res da minha Versão, em que seguindo
os mesmos Interpretes , preferi o Texto
Grego ao Latino da Vulgata.
He pois de notar, que ainda que
o Sagrado Concilio de Trento na Ses
são 4. declarou authentica a Vulgata La
tina ; todos os bons Theologos com tu
do, ainda mesmo os que por terem as
sistido no Concilio , podiao , e devião sa
ber muito melhor, qual fora nesta par
te a mente, e intenção dos Padres: to
dos aflentao, e ensinão, que o declarar
o Concilio authentica a Vulgata , não
foi tirar a fé , e authoridade pública ,
de que até a 1 li gozavão os Originaes
Hebraico, e Grego da Sagrada Biblia ;
nem prohibir o recurso a esies Textos
originaes , quando ás luzes da boa Crí
tica se offerecessem alguns graves fun
da-
áos Leitorës. lv
damentos para duvidar, se o Interprete
Latino verteo exactamente este , ou aquel-
le Jugar : Mas foi unicamente preferir a
Vulgata a todas as mais Versoes que en
tão corrião, ainda de Authorcs Catholi-
cos , como crao as de Desiderio Erasmo ,
de Santes Pagnino, de Francisco Vaia
ra Jo , de Isidoro Claro ; a fim de que sò ella
tivesse fé , e authoridade pública nas ma
térias de Religião, sem que para as de
cidir , e expôr fosse necessario consultar as
Fontes. Que-isso na frase dos JurisconsuU
tos he o que quer dizer authentico : Escri
to que tem , e deve ter fé , e authorida-»
de pública emjuizo, como declara Ju-^
liano no Livro De Fide Instrumentorum.
Que esta , e não outra fosse a men
te, e intenção do Sagrado Concilio de
Trento , (além de outros graviflimos
fundamentos que assim o persuadem) he
hum facto expressamente attestado por
todos os Theologos , que se acharão pre
sentes ao mesmo Concilio. Aflim An
dré da Veiga, Franciscano, que affistio
no Concilio, quando na primeira aber-
tu-
\
tví Prefação
tura do anno de 1545-. se publicou aeî»
Je o Decreto dos Livros Canonicos, e
da Vulgata. Veja-se o que elle escreve
na sua Obra Da Justificação , Livro 1$.
cap. 9. Aflìm Melchior Cano, da Or
dem de S. Domingos , que aflistio na se^-
gunda abertura do anrio de 1551. no
Livro 2. Dos Lugares Theologicos , cap.
15-. AíEm o noíso Diogo de Paiva de
Andrade, Doutor Secular, que aflistio
na terceira -abertura de 1562. no Livro
4. da Desensa da mesma Vulgata. Alíim
outras testemunhas do mesmo caracter,
que a Historia do Concilio produz a este
mesmo intento, no Livro 6. cap, 17.
He certo, que se quando se trata
de averiguar, e expor o sentido da pa
lavra de Deos escrita , não bastasse á
Igreja Catholica a Vulgata Latina , mas
fosse necessario recorrer sempre aos Ori-
ginaes ; estaríamos todos obrigados a
conceder, e confessar, que tudo o que
depois do Cisma dos Gregos se tem de*-
finido na Igreja , carece de provas, e
documentos authenticos $a Sagrada Es'
cri-
aos Leitores. lvii
crítura : porqHc todas essas definições
sobre o Dogma , e sobre a Mora] , fei
tas nos quatro primeiros Concílios La-
teranenses , no de Vienna , no de Con
stança , no de Florença , no de Trento ;
tiverão por bafe a mesma Vulgata , que
ao menos des do tempo do Cisma de
Focio , isto he, des do meio do Sécu
lo nono, he a de que sempre usarão os
Concilios , os Papas , os Bispos , e os
Doutores do Occidente. Mas quem se
persuadirá sem sacrilégio, que por mais
de oitocentos annos permittíra Jesu
Christo, que a sua Igreja venerasse , e
seguisse como Escrituras Canónicas as
que realmente o não erão, se a Vulga
ta Latina as não contém puras , e legiti
mas ? Quem senão hum ímpio crerá , que
não confiou Deos á sua Igreja o mes
mo Depósito , que confiou á Synagoga ?
Porém huma cousa he fer a Vulga
ta huma regra authentica da doutrina da
Fé, e dos Costumes; outra cousa henão
haver na Vulgata lugar algum , que não
efieja traduzido do Original com toda a
LVIII PREFAÇXO
clareza , força , e propriedade do mes
mo Original. A Primeira parte he inne-
gavel depois do Decreto , que emanou do
Sagrado Concilio de Trento. A segun
da he a que negão todos os bons Críti
cos, que tratarão esta questão, sem ex
ceptuar os mesmos que aífiftírão no Con
cilio. Para o que bastava advertir, que
depois que em Trento se declarou au-
tbentica a Vulgata , forão alguns doUs
mil os lugares, que nella se emendarão
por ordem dos Su m m os Pontifices Xisto
V. e Clemente VIII. como os Curiosos
podem ver em Humfredo Hody no fim
da sua Obra De Textibus Originalibus. E
quem tiver á mão as primeiras Impres
sões da Vulgata , como a de Moguncia
de 1462. a deRoma de 1471. adeNa-
polesdei47Ó. e as Venezianas de 1478.
1480. 1497. e outras deste tempo, e as
conferir com as Impressões modernas,
achará quanto varião humas das outras.
Esta he pois a razão , por que aquel-
les mesmos Traductores , que no fron-
tispicio das suas Versões promettem dar-
nos
aos Leitores. lix
nos as VersÒes da Sagrada Biblia segun
do a Vulgata ; (como promettem Amelo-
te, Saci, eHuré) confessãoque em al
guns lugares tiverão por melhor íeguir
no corpo o Texto Grego, do que o La
tino: humas vezes porque a ambiguida
de do Latino faz necessario o recurso ao
Grego , para se determinar o sentido ver
dadeiro : outras porque a Versão Latina
não exprime bem toda a força do Origi
nal : outras porque se aparta delle : outras
finalmente porque alguns lugares da Vul
gata tem contra si vehementes , e bem
fundadas suspeitas, de que não são obra
da primeira mão, mas sim descuido dos
Copiadores que depois vierão. A lição
das Notas Críticas , que frequentemen
te ajunto na margem inferior da minha
Versão, fará ver que lugares são estes,
e que fundamentos me obrigarão a apar»
tar-rae nelles da Vulgata Latina.
Mas ninguem por isso se persuada,
que tanto neste ponto , como em todos
os outros , segui ás cegas , e sem dele-
sto, tudo o que achei nos Traductores
as-
LX PRE FÁÇ£ O
affima nomeados. Porque a combinação
attenta da minha Versão com as delles ,
bastará para desenganar os Leitores, de
que aproveitando-me de todas , a ne
nhuma transcrevi servilmente. E ainda
que o amor proprio me faz crer , que
ella a nenhuma das outras cederá na cla
reza , e propriedade , e a todas excede
rá na fidelidade , e exactidão : Não dei
xo com tudo de conhecer , (porque a isso
me obriga a propria experiencia do tra
balho, e do perigo) que não faltará ain
da assim na presente Versão que notar, e
que emendar : porque as dificuldades que
neste gcnero se encontrão , são quasi in
superaveis ás limitadas forças do enten
dimento humano. Por isso rogo por ul
timo a todas as Pessoas intelligentes, e
bem intencionadas , que se alguma cou
sa lhes desagradar nesta minha Versão,
ma communiquem caritativamente ; pa
ra que achando-se racionavel , e bem fun
dado o seu reparo, se emende tudo nas
segundas Ediçoes.
IN-
INDICE
DOS
CAPÍTULOS,
que se contém neste Livro.
EVANGELHO DE S. MATTHEUS.
EVANGELHO DE S. MARCOS.
v
CAP, I. Préga Joao 0 Baptifmo de Pe-
nitencìa. Baptiza-se Jesus , e reti-
ra-se aoDeserto. Hetentado dodemonio.
Pré-
dos Cati'tulos. lxxi
Préga o Evangelho em Galiléa. Chaîna
a Pedro , André , Tìago , e Joâo. Vai a
Cafarnaum , onde cura de huma febre
a figra de Pedro. Cura tambem hum
posféjso , e hum leproso. De todas as par
tes o vent buscar o povo. 233.
CAP. II. Apresentao a Jesus hum paraly-
tico. Prova com a sua cura , que elle
tem foder de perdoar peccados. Chama
a Mattheus , e corne em sua casa. Os
que estâo bons , nao necestitao de Medi-
co. l)d a razao por que feus Difcipulos
tiao jejuao. Desculpa-os de haverem co-
Ihido humas espigas em dia de J-abba-
do. 240.
CAP. III. Cura Jefu Christ0 0 homem da
mao restccada. Foge de ter disputas com
os Fariseos. Concorrem os pòvos a elle.
Cura varias enjermidades. Ejcolhe os
dozc Apostolos. Poem-se os feus nomes.
Envia-os a prégar 0 Evangelho. Con-
funde os Doutores da Lei. O que obede-
cé a Deos , he mai , e irmdo de Jefu
Christo. 246.
CAP. IV. A parabola do femeador expli-
cada por Jefu Christo aos Apostolos. A
alampada deve-fe por sobre 0 candieiro.
O Reins dos Ceos comparado a hum grao
demojìarda. A tormenta acalmada. 252.
CAP,
Ixxu Indice
CAP. V. Livra Jejus hum endemonìnha-
do. Permitte a huma legiao de demonios
que Je mettao numa manada de po-rcos.
Nao quer que este homem o Jiga. Cura
huma mulher que padecia hum fluxo de
fangue. Refuscita huma menina. 259.
CAP. VI. Só na sua Patria nao recebe
houra hum Profeta. Envia Jesus os
Apofìoìos a prégar. Prohibe-lhes todo 0
•vìatico. Dá-lhes poder de expellir demo
nios , e curar ensermìdades. Herodes ou-
vindo afama de Jesus , diz que elle era
0 Baptisa resuscitado. Milagre dos paes
multiplicados. Caminha Jesus por Jima
das aguas. Faz acalmar huma tormen-
ta. Confeguem muitos enfermas asaude ,
só com Ihe tocar a orla do vestido. 266.
CAP. VII. Tradiçoes humanas contra os
Divinos Preceitos. Só 0 que sahe do co-
taçao , faz immundo 0 homem. Caso da
mulher Cauanéa. Cura Jesus hum ho
mem furdo , e mudo. 277.
CAP. VIII. Sustenta Jesus quatro mil ho-
mens com fete paes. O fermenta dos Fa-
rifeos. Cura hum cego. Pergunta aos A-
postolos que conceito fórmao delle. Re-
Jponde Pedro , confejfando ser elle 0 Mef-
fias. Mas como pouco depois 0 quer dif
fuadir de padecer , e de morrer ; 0 Se-
nhor
dos Capitvlos. Lxxrn
Khor o reprehende , chamando-ìhe Sata
fiaz. He necejsario levar a Cruz , e ir
em seguìmento de Jefu Chrijio. Nada.
devemos ejìimar tanto , como a noffa
aima. 284.
CAP. IX. ATransfiguraçao de Jefu Chri
jio. A vinda de Elias. Expelle Jésus
hum demonìo surdo , e mudo. Prediz a-
sua Paixao , e Morte. O maior entre
feus Discìpulos deve fer 0 mais pequeno.
Deve-fe arrancar 0 olho , que nos serve
de escandalò. 290.
GAP. X. Nao se póde 0 marido separar
de sua mulher para casar cóm outra.
Abraça , e abençoa Jésus os meninos.
Quanto cufla largar os bens do Mundo.
Récompensa dos que os largao por amor
de Deos. Reprime Jésus a ambìçao dos
dous Apojìolos , Tiago , e Joâ'o. Dá vif
ta a hum cego. 300.
CAP. XI. Entrada de Jefu Chrijio em
Jérusalem. Amaldiçoa huma figueira.
Lança fóra do Templo os négociantes.
Nada he impojjivel á sé , e d oraçao»
Perdao dor inimigos. Confunde os Dou-
tores da Lei. 309.
CAP. XII. A parahola dos Lavradores a-
quem se arrendou huma vinha. Tentao
osFariseos a Jefus Jobre a obrigaçao Je
pi-
lxxiv Indice
pagOr o tributo a César ; e tentao-no tís
Sadduceos sobre a resurreiçao. Quai he
o primeiro Mandamento. David chama
Jeu Senhor ao Mesfias. Caute/a contra
os Doutores da Lei. Louva Jejus a es
mola de huma pobre viuva. 3 1 6.
CAP. XIII. Desiruiçao do Templo. Guer-
ras , e perfiguìçoes. Falfos Chrijìos , e
falfos Profetas. Sinaes no Sol , e na
Lua. Vinda de Jejù Chrifio cm gran
de gloria. Incerto 0 dia da sua vin
da. 324.
CAP. XIV. Ajunta-se 0 Supremo Confe-
Iho contra Jésus. Huma mulher Ihe lan
ça fibre a cabeça huma redoma de chei-
ros. Traiçao de Judas , que Jésus des'
cobre. Instituiçao do Sacramento da Eu-
caristia. Córta Pedro huma orelha a
Malco. Fogem os Discipulos. Jésus ac-
cusado na presença de Caisaz , conde-
mnado d morte , e entregue aos ultra-
jes da familia. Pedro 0 nega tres ve-
zes. 331.
CAP. XV. Jésus aprefintado a Pìlatos.
Barrabaz preserido a Jésus. He conde-
mnado a morrer crucificado. Ultrajes
que Ihe sazem ossoldados. Caminka pa
ra 0 Calvario , onde he crucificado en
tre dous ladrÓes. Repartent os soldados
en-
nos Capitulos. lxxv
entre Ji osseus vestìdos. Blasfemao viui-
tos delle. Trévas em toda a terra. Dd
Je/as hum grande brddo , dizendo : Eloi.
Chegao-lhe á boca huma efponja de vi-
nagre. Dd outro grande brddo , e espi-
ra. José de Arimathéa o sepulta com
decencia. 343.
CAP. XVI. Vao as santas mulheres ao
sepulcro. Sabem por aviso de hum Anjo
ter Jesus resurgido. Apparece 0 Senhor
d Magdalena : depôts a dous Difcipu-
los : depôts a todos os Apostolos juntos.
Envia-os a prégar por todo 0 Mundo.
Prediz os milagres , que hao de fazer
os que crerem. Sobe ao Geo. 351.
O
O SANTO EVANGELHO
JESU CHRISTO,
S E G U N D O
S. MATTHEUS,
G A P I T U L O I.
Genealogia de Jeju Chrìsto , sua Côtt-
ceiçao , e Nascimento.
{a) Ippîll EneaLocia de Jesu Chrì-
.
sto , (b) fiìho de David , fi-
lho de Abrahão.
4 Abrahao gerou a lsaac. Isaac ge-
rou a Jacob. Jacob gerou a Judas, e a
feus irmãos»
Tom. I, A Ju-
(ji) Genealogia. Àiridaque o Evatigelista dìZ
liber generatinnis -t Livro da Genealogia ; muitos ,
e bons Traductores com tudo veriem simples-
roence Genealogia ; porque labem fer este hum
puro Hebraismo dos Judeos , que chamáo Livro
todo ogenero deescritos> comoCanas, Eseri*
turas de compra , e venda , Bilhetes de repudio.
Sa ci com Lucas de Bruges.
(b) Filbo ds David. O nomear o Evatigelista
/
a O Santo Evangelho de J. C.
3 Judas gerou a Farés , e a Za-
rao (s) de Thamar. Farés gerou a Es-
ron. Esron gerou a Arão.
4 Arão gerou a Aminadab. Ami-
nadab gerou a Naasson. Naasson gerou
a Salmon.
jr Salmon geron a Booz de Rahab.
Booz gerou a Obed de Ruth. Obed ge
rou1 a Jessé. Jessé gerou ao Rei David.
6 O Rei David gerou a Salamão (d)
da que fora mulher de Urias.
Sa-
sómente a David, eAbraháo, foi porque a es
tes especialmente promettêra Deos , que do seu
sangue nasceria o Messias. O nomear primeiro
a David, fendo mais moderno, foi attender à
Dignidade Real , e a que a sua memoria estava
inais fresca entre osjudeos, e o seu nome na
boca de todos. Calmet com S. "Jeronymo , e S. João
Chrysojlomo. ■ *
(e) De Thamar. Tendo Jefu Christo por suas
avós segundo a carne muitas mulheres santissi-
mas , e nobilíssimas , só quiz que se, nomeas
sem quatro na sua arvore : Thamar incestuosa ,
Bersabé adultera, Rahab, e Ruth estrangeiras
de humilde fortuna : para com isto dar aos Pcc-
cadores confiança; aos Gentios hum penhor da
sua vocação ao Evangelho ; a todos hum exem
plo de humildade. S. Jeronymo.
. (d) Da que fora mulher de Urias. Isto he , de
\
SEGUNDO S. MATT. CaP. T. J
7 Salamâo geron a Roboão. Ro»
boao gerou aAbias. Abias geron aAsa.
8 Ala gerou a Joíafat. Josafat ge
ron a Jorão. (e) Jorao geron a Ozias.
o Ozias gerou a Joathão. Joathão
gerou a Ácaz. Acaz gerou a Ezeqnias.
10 Ezequias gerou a Manafles. Ma-
nassés gerou a Amon. Amon gerou a
Josias.
A ii Jo-
Bersabé, de cujo adulterio com o Reí David
nasceo humfilhoj e mono este, recebeo David
por sua legitima mulher a Bersabé , cujo pri-
meiro marido fora morto na guerra ; e delia
teve David aSalamáo. 2. Reg. 12. 24. Calmet.
(e) Jorao gerou a Ozias. Joráo náo foi pai
immediaco de Ozias, mas fomente feu tercei-
ro avô. Porque Joráo gerou a Ocozias , Oco-
zias ajoás, que teve a Amazias , de quem nas
ceo Ozias. i. Paralip.cap. 22. 24. e 25. Duas ra-
zóes se allegáo da caula desta omissáo. Huma ,
que o Evangelista por hum certo mysterio , quiz
dividir toda a Genealogia de Christo em tres
classes iguaes, cada huma de quatorze geraçóes.
Outra, que como o Profera Elias tinha predi-
ro a Acab Rei de Israel , que toda a sua descen-
dencia seria exterminada ; parece que o Evan*
gelista quiz executar esta lentença por huma
especie de morte civil, ao menos até â quarta
geração na Genealogia de Christo ; porque Jo
ráo teve por mulherîiuma filha de Acab. Sacj,
4 O Santo Evangelho de J, C.
11 (s) Josiasgerou a Jeconias, e a
feus irmaos , ao tempo que os Judeos
foráo levados cativos a Babylonia.
12 E depois da transmigraçáo pa
ra Babylonia , Jeconias gerou a Sala-
thiel. Salathiel gerou a Zorobabel.
13 Zorobabel gerou a Abiud. Abiud
gerou a Eliacim. Eliacim gerou a Azor.
14 Azor gerou aSadoc. Sadoc ge
rou a Aquim. Aquim gerou a Eliud.
15- Eliud gerou a Eleazar. Eleazar ,
gerou a Mathan. Mathan gerou aJacob,
1 6 Jacob gerou a Jolé (g) Esposo
de
(/) Josias gerou a 'Jeconias. Tambem Josias
náo foi pai immediato de Jeconias , mas de Joa-
quim, de quem nasceo Jeconias. 4. Reg. 3j. E,
na verdade le encre Josias , e Jeconias le náo
contar Joaquim , faltará nasegunda, ou nater-
cei ra classe huma geraçáo ; náo pordeícuido do
Evangelista , masdos Copiadores. Se se contar ,
como querem muitos Santos Padres , e Expo-
sicores j tudo fica piano» Ca-lmht corn Santo Ej>i-
fanio y e S. Jeronymo.
(g) Esposo de Maria. Se José só erapaiexis-
timado, e náo verdadeiro deChriíto, como nos
dà o Evangelista a conhecer os alcendentes de
Christo pelos de José ? He parque por huma
parte a Genealogia entre os Judeos lempre se
tecia pelos Yaróes 3 e ná*> pelas Fcmeas : e poc
.-
SEGUNDO S. AÎATT. Cap. I. Ç
de Maria , da qnal nasceo Jesus , que
se chama (h) o Christo.
17 Desde Abrahão pois até David
ha quatorze geraçoes. Desde David até
o cativeiro de Babylonia , quatorze ge
rações. Desde o cativeiro de Babylonia
até Jesu Christo , quatorze geraçoes.
Ora
outra parte corno pela Lei do Livro dos Nú
meros cap. 1,6. -vers. 6. 7.8. sempre as femeas , que
eráo herdeiras, deviáo casar na mesma Tribu,
e Familiar O mesmo era declarar os ascenden
tes de José, que declarar os de Maria, da qual
era Christo verdadeiro Filho. Aflim responde
Saci com Eusebio de Cesarea , Santo Hilario,
S. João Chrysostomo , S. Cyrillo de Alexandria ,
e Santo Euquerio de Leão ; cuja authoridade
deve preponderar á dúvida negativa que póe
Calmer , de náo-constar que a Senhora foíTe her«
deira de seus pais. Pereira.
(4) OCbriílo. O que na Lingua Hebraica he
Meffias , ná Grega he Cbrijius , na Latina Unclus ,
na Portugueza o Ungido: nome que por excel-
lencia se attribue nas Escrituras ao Filho de
Deos feito Homem , para significar a Unção da
Graça , eda Divindade, segundo explica S. Pau
lo aos Hebreos, 1. p. E não se repare em eu
neste , e em outros lugares pôr articulo a este
fome ; porque aflim o fizeráo todos os bons
Traductores na consideração de ser este nome
adjectivo , e pedillo aflim mesmo o sentido.
Pereira.
6 O Santo Evangelho de J. C.
i 8 Ora eis-aqui como foi a Concei
ção de Jesu Christo. Tendo-se despo
sado Maria sua Mãi , com José, achon-
se (/') antes de cohabitarem , estar ella
pejada por obra do Elpirito Santo.
19 Então José, seu marido, como
era hum homem justo, e não a queria
infamar , rcsolveo deixalla secretamente.
20 Mas quando elle andava com
isto no pensamento , eis-que lhe appa-
receo em sonhos hum Anjo do Senhor ,
e lhe disse : José , filho de David , não
temas receber comtigo a Maria (k) tua
mu-
(i) Antes de cohabitarem. O Evangelho re
fere o que se passou na verdade , que foi con
ceber a Senhora , antes que José a conhecesse
maritalmente. Mas não se pôde dahi inferir ,
?ue elle a conhecesse depois. Porque a Igreja
empre teve por hereges , os que tal affirma-
váo. S. Jeronymo.
(fc) Tua mulber. Deste lugar infere Santo
Agostinho no Livro 1. das Núpcias , e daConcu-
fiscencia , cap. 1 1. e no Livro 22,. contra Fausto ,
cap. 7. que entre José , e a Senhora havia já
então verdadeiro matrimonio, enáo meros es-
ponsaes. Porque de outra forte parece que não
diria o Anjo tua mulber , mas sim tua esposa.
O mesmo affirma Santo Ambrósio no Livro 2.
sobre o Evangelho de S. Lucas , n. 5. Nem o
SEGUNDO S. MaTT. Cap. L- f
mulher ; porque o que nella se gerou ,
he obra do Espirito Santo.
21 Ella parirá hum Filho , e tu lhe
chamarás por Nome Jesus ; pois 'elle
será , o que livre o seu povo dos seus
peccados.
22 Todas estas cousas porém acon
tecerão , para se cumprir o que o Se
nhor tinha dito pelo Profeta :
23 Eis huma Virgem conceberá ,
e parirá hum Filho, e o seu Nome se
rá Emmanuel , que quer dizer Deos
comnosco.
24 José levantando- se de dormir,
fez como lhe havia mandado o Anjo
do Senhor, e recebeo a sua mulher.
Mas
CAPITULO II.
CAPITULO III.
Vinda , e prégaçdo doBaptiJla no Deserto.
Reprehensâo que dá aos Fariseos , e Sad-
duceos. Diffère»fa entre ofeu Baptismo ,
e o de Jesu Chrifto. Desce o Efpirito
Santosobre jesu Cbrijìo , depôts de Joao
o baptizar. O Eterno Pai o acelama feu
Filho muito amado.
i TVT Aquelle tempo veio Joâo Ba-
-L^l ptista a prégar no Deserto de
Jndéa, dizendo:
2 Fazei pcnitencía ; porque esta- pro»
ximo o Reino dos Ceos.
3 Porque de João he que o Profe»
ta Isaias disse : Voz do que clama no
xu Deserto: Appareillai o caminho do Se-
nhor, endireitai as suas varédas.
4 Ora Joao andava vestido de pel
les de camello, e trazia sobre os feus
rins huma cinta de couro. E o feu íus-
tento (a) erao gafanhótos , e mel sil-
vestre.
En-
CAPITULO IV.
Vai Jesus para o Deserto , onde depois de
jejuar quarenta dias , he tentado pelo de
mónio. Chama os quatro pescadores , Pe
dro, André, Tiago , e João. Annuncía
o Evangelho na Galiléa. Cura muitos
doentes. Anda acompanhado de muita
povo.
/
22 O Santo Evangelho deJ. C.
17 Desde entao começou Jesus a
prégar , dizendo : Fazei penitencia ,
porque esta* proximo u Rcino dos Ceos.
18 E caminhando Jesns ao longo
do mar de Galiléa , vio dous irmaos,
Simão, que se chama Pedro, e feu ir-
mao André , que lançavao a rede ao
mar, porque erao pescadores:
19 E disse-lhes : Vinde apôs mim,
e eu vos farei pescadores de homens.
20 E elles, sem mais detença, dei-
xadas^as redes, o seguírao.
21 Passando mais adiante* vio 011-
tros dous irmãos , Tiago , filho de Ze-
bedeo , e Joao feu irmão , que com
feu pai Zebedeo estavão na barca, con-
certando as suas redes : e chamou-os.
22 E elles nomesmo ponto deixan-
do as redes, e o pai, forão em feu se-
gnimento.
23 E Jesus rodeava toda a Galiléa,
enfinando nas suas Synagogas , e pré-
gando {ç) o Evangelho do Reino ; e cu»
ran-
(í) O Evangelho do Reino. Evangelho he hu«
ma palayra Grega , que íìgnifica bom annúncio }
SEGUNDO S. MATT. CaP. IV. 23
rando toda a casta de doenças , e de en
fermidades, que havia no povo.
24 De forte, que tendo-se estendi
do por toda a Syria a fama do seu No
me, lhe vierão apresentar todos os que
se achavao doentes , e padeciao diver
sos males ; os posséssos , (d) os lunáti
cos, os paralyticos: e elle os curou.
25 E huma grande multidão de po
vo o foi seguindo de Galiléa , de De^-
cápole , de Jerusalém , de Judéa , e da
lém do Jordão.
CA-
ou alegre nova. O Evangelho do Reino po
rém , heo que promettia o Reino dos Ceos aos
homens, que seguissem a Jesu Christo. Ame-
LOTE„, e Hure.
(d~) Os lunáticos. Isto he , os que eráo su
jeitos aos accessos do mal caduco , que nós cha
mamos accidentes epileticos , ou de gota coral,
que, segundo a opinião do vulgo, dependem
dos dia» y ou quartos da Lua. Saci.
a 4 O Santo Evangelho de J.C
CAPITULO V.
$ermao das oito Bemaventuranças , prégado
no mor:te. Os /postolos,fal da terra , e luz
do Mundo. feju Chrtsto vhdo ao Mun
do , não para destruir, alei , mas para
a aperfeiçoar. Que nos não devemos irar
centra o próximo , mas ir bufcallo , quan
do elle está queixoso de nós. Quese não de
ve olhar para a mulher com olhos impudi
cos. Que devemos cortar por tudo o que
nos pôde.servir de occasião de ruína espiri
tual. Que a troco dese não violar a carIr 1
dadefraterna , devemos estarfeitos a tu
do deixar , e a tudo foffrer. Que deve
mos amar , efazer bem a nossos inimigos\
CA-
SEGUNDO S. MATTHEUS. 37
CAPITULO VI.
Como havemos de dar a esmola , e como ha
vemos de orar. Do bom espirito do je
jum. Que não devemos ajuntar thesou-
ros , senão no Ceo. Que o nosso olho de
ve ser simples. Que não podemos servir
a dous Senhores. Que não devemos in-
quietar-nos pelo que havemos de comer ,
ou vestir , ou pelo que ha de ser de nós.
CAPITULO VII.
Condemnao-se osjuizos temerários. Que Jè
não devem dar as cousas santas aos cães.
Que todo o que pede , e busca , e bate á
porta , Deos o ouve. Que devemos fazer
ao próximo o que queremos que elle nos
faça. Que he estreita a porta , por onde
se entra no Cea. Como se hão de conhe
cer' os Profetas falsos. Como se ha de ou
vir a palavra de Deos.
CAPITULO VIII.
Sdra Jesu Chrijlo hum leprofo. Admira,
e louva afé doCenturiao. Cura a figra
de Pedro. Expelle demonios. Manda a
hum que 0 Jìga , e que se deixe de ir en
terrar seu pai. Faz serenar huma tem-
pejìade no mar. Perrtíitte aos demonios
que Jàiao de hum pojfejso , e que se vao
metter numa manada de pércos.
CAPITULO IX.
Sdra Jesu Christo hum paralytico. Decla
ra o poder que tem deperdoar peccados.
Chama a Mattheus. Murmuração dos
Farijèos , por verem comer o Senhor com
os peccadores. Cura huma mulher , que
padecia hum fluxo de sangue , e resusci-
ta huma menina. Dá vista a dous ce
gos , efalia a hum endemoninhado mudo.
CAPITULO X.
Envia Jesu Christo os doze Apostolos t
pregar , e instrue-os. Dejcrevem-Je osseus
nomes. Exhorta-os a padecer , e sqffrer»
. Diz-lhes que não viera ao Mundo tra
zer paz , mas trazer guerra. Que he
necessario confejfallo diante dos homens ,
e prezar mais do que tudo o seu Nome.
Que o que honra aos seus servos , a elle
honra , e delle terá a recompensa,
C A P I T U L O XT.
Manda o Baptista des da priztío pergun
tar a Jesus , se elle he o Mejftas pro
mettido. Jesus o louva em presença do
povo. Compara os Judeos aos meninos ,
que brincão no terreiro. Reprehende , e
ameaça as Cidades , que se não tinhão
convertido com jeus milagres. Convida
que venhao a elle os que estão fatigados.
Diz que o seu jugo he suave.
CAPITULO XII.
Defende Jesu Christ0 feus Discipulos , que
haviao colhido humas efpigas em dia de
sabbado. Cura 0 que tinha huma das maos
reficcada. Manda a outros muitos que
curou , que 0 nao digao por ora. Conven-
ce a calumnìa dos Fanjeos , que attri-
buìâo a Beelzebú a liberdade , que elle
dera a hum poffejjò. Declara fer irremij-
Jìvel 0 peccado contra 0 Espirito Santo.
Diz que se ha de âar conta de toda a
palavra ociosa. Nao mostra aos Judeos
cutro prodigio . que 0 do Profeta -^jonas.
Declara porsua mai , e porJeus irmaos ,
todos os que fazem a vontade de feu
Eterno Pai.
I
84 O Santo Evangelho de J. C.
que o sacrifício ; nunca condem narieis os
innocentes.
8 Porque o Filho do Homem he Se
nhor até do sabbado mesmo.
9 Depois de partir dalli, veio pa
ra a Synagoga da Cidade.
10 Eis-que apparece hum homem ,
que tinha (b) resiccada huma das mãos.
È para terem de que o arguir , fizerão
a Jesus esta pergunta : He licito curar
nos sabbados?
11 Mas Jçíus lhes respondeo : Que
homem haverá de entre vós , que se
tiver huma ovelha , e esta em dia de
sabbado lhe cahir em huma cova, não
lhe lance a mão para dahi a tirar?
12 Ora quanto mais excellente he
hum homem, do que huma ovelha ? Logo
he licito fazer bem nos dias de sabbado.
13 Então disse para o homem: Es
tende a tua mão. Elle a estendeo , e fi
cou sa, como a outra.
Os
CAPITULO XIII.
Jesus sentado em huma barca propõe ao
povo varias parabolas , como a do se
meador , e a do joio misturado no trigo.
Elle as explica particularmente a seus
Discípulos. Ensinando em Nazareth , diz
que hum Profeta só na sua Patria dei
xa de ter estimação.
■
SEGUNDO S. MATT. CaP. XIII. 103
praia escolhem os bons para os vasos,
e dei tão fora os máos.
49 Affim será no fim do Mundo :
sahiráõ os Anjos, e separarao os máos
de entre os justos ;
50 E lançalk>s-hão na fornalha de
fogo. Ahi será o chorar , e o ranger com
os dentes.
5: r Tendes vós comprehendido bem
tudo isto ? Sim , responderão elles.
y2 Proseguio Jesus : Esta he a ra
zão , por que todo o Doutos instruido no
que diz respeito ao Reino do Ceo , he
semelhante a hum pai de família, que
tira do seu thesouro as cousas novas , e
as velhas.
5- 3 Depois que acabou de dizer es
tas parabolas , partio Jesus dalli.
54 E vindo para a sua Patria , elle os
enfinava nas suas Synagogas ; de forte ,
que cheios de espanto, dizião: Donde
lhe vem a este a sabedoria, e os mila
gres ?
55 Não he este (g) o filho do Of-
CA-
lho, que officio era o de S. José. Muitos Padres
antigos, como S. Justino, Santo Ambrosio, e
Tiiepdoreto, dizem que era o de Carpinteiro i q
esta he a opinião comraum, em que está o povo
Catholico. Porém outros com Santo Hilario,
S.Pedro Chiylologo, e Santo Isidoro de Sevi
lha , cfoamáo-íhe Ferreiro. As Versões Orientaes
Dra lhedáo hum officio , ora outro. Tillem^nt
tom, i. «ota z, sobre S, José , pag.jo^ Psksiba,.
SEGUNDO S. MATTHEUS. 105s'
CAPITU L O XIV.
Dá-Jè a cabeça do Baptista a huma moça
por preço de hum baile. Comfinco pães ,
e ãous peixes satisfaz Jeju Chrifio no
Deserto finco mil homens. Caminha sobre
as ondas em occastão de tormenta. O mes
mo faz Pedro , em quanto lhe não falta
a fé. Cura o Senhor diversas enfermida
des ao contaílo do seu vestido.
CAPITULO XV.
Tradição dos Fartfios , que os obrigava a
lavarem as mãos frequentemente. Elles
tinhão corrompido o quarto preceito do
Decalogo. A Cananea alcança remedio-
para humasua filha endemoninhada. Je
sus sustenta quatro mil homens com se
te pães , e poucos peixes.
)
SEGUNDO S. AÍATT. CaP. XV. I i ^
físta a seu pai , óu a sua mai. E assim
por fazerdes valer a vossa tradição, in
validastes o Mandamento de DeoS.
7 Hypocritas , com razão profeti
zou de vós Isaias, quando disse:
8 Este povo honra-me com os lâ-isei-
bios* mas o seu coração está longe de «»,
mim.
9 Em vão porém me adorão elles,
quando enfinao maximas , e precei
tos , fV) que vem dos homens.
ió Depois chamando para si o po
vo, disse-lhes : Ouvi, c comprehendei
bem.
11 Não he o que entra pela boca ,
0 que faz immundo o homem; mas o
Tom. I. H que
\
ti6 O Santo Evangelho deJ.G.
24 E Jesus lhes respondeo : (e) Eu
hão fui enviado senão ás ovelhas , que
perecerão da casa de Israel.
25- Mas ella veio, e adorou-o, di
zendo: Senhor, ajuda-me.
26 Respondeo-lhe Jesus : Não he
bem tomar o pão dos filhos , (/) e lan-
çallo aos cães.
2 7 Replicou a miilher : Áffim he , Se
nhor : (g) mas tambem os caxorrinhos co
mem
CAPITULO XVI.
Para o experimentarem , pedem os Fari-
seos , e Sadduceos a Jefu Cbrijio que
lhes faça ver algum prodígio do Ceo.
Elle os reprehende. Pergunta do Senhor
aos Apostolos sobre asua Pessoa. Respos
ta de Pedro consessando a Divindade do
Senhor. Louva Jeju Christo a sua fé
e promette- lhe as chaves do Reino dos
Ceos. Depois o reprehende , chamando-o
Satanaz , por elle se oppôr d sua Pai
xão , e Morte. Ensma-nos que deve ca
da hum levar a sua cruz , e que a ca
da hum pagará Deos , segundo forem
as suas obras.
CAPITULO XVII.
A Transfiguração de Jesu Christo , com o
mais que neliasuccedeo. O Baptista com
parado a Elias. Sara Jesu Christo hum
lunatico , que os Apostolos não pudérao
livrar. A fé, ainda do tamanho de hum
grão de mostarda , he capaz de trans
portar montes. Prediz Jesus a sua Pai
xão. Faz pagar por Jì, e por Pedro o
tributo das duas Dracmas.
CAPITULO XVIII,
O maior no Reino dos Ceos he o que se faz
como hum menino. He grande peccado es
candalizar os pequenos. Como se deve dar
a correcção fraterna. 0 que não obedece
d Igreja , deve ser tratado como hum
Gentio, ou Publicano. Dd Jesu i.hriji»
aos Apostolos o poder de ligar , e desatar.
De quanta força seja a oração dos que
se unem. A ira de Deos contra os quê
d sua imitação não perdoão ao próximot
CAPITULO XIX.
O Matrimonio indissolúvel. E não pode hum
homem divorciar-se de sua mulher senão
em caso de adultério. Louvor dos que por
amor de Deos observao o celibato. Jesus
impondo as mãos aos meninos. Aconse
lha a pobreza a hum rico , e este se entris
tece. Embaraço que as riquezas fazem
á salvação. Tremia dos que tudo deixão
for Christo.
ï f I ^ Endo Jesus acabado estes dis-
JL cursos , partio de Gahléa , e
veio para os confins de Judéa , além do
Jordão.
On-
(g) E cheio de cólera , <b-c. Nada provoca
mais a ira de Deos contra nós , do que a fal
ta de caridade com os próximos. Amhloth.
SEGUNDO S. M.4TT. CAP. XIX. 139
1 Onde foi muita a gente que ofe-
guio , e onde mesino curou elle os
doentes.
3 Vierão ter com elle tambem os
Fariseos, para o tentarem, e pergun-
tárão-lhe: He licito a hum homem lar-
gar sua mulher por qualquer causa?
4 Elle lhes respondeo : Vòs não les- Genes.i.
tes , que quem creou o homem no prin- v-
cipio , fez homem , e mulher , e disse :
5- Por esta razao deixará o homem
o paì , e a mai , e ajuntar-se-ha com
sua mulher , e scrao dous numa fó
carne ?
6 Pelo que elles já nao sao dous,
mas huma fó carne. Não separe logo o
homem, o que Deos ajuntou.
7 Porque razão logo , replicárao
elles, ordenou Moyfés , que désse hum
homem a sua mulher carta de defqui-
te, e a deixasse ir?
8 Respondeo-lhes elle : Por causa
da dureza de vosso coraçao , he que Moy
fés vos permittio largar vossas mulhe-
res : porém no principio não foi aíììm.
Pe-
140 O Santo Evangelho de J.C.
9 Pelo que eu vos declaro, que to
do aquelle, que larga sua mulher, (d)
senão he por causa de fornicação , e ca
ía com outra, he adultero: e o que ca
sa com a que o outro largou , he adul
tero.
10 Disserão-lhe seus Discípulos : Se
tal he a condição de hum homem a res
peito de íua mulher , não convem ca-
sar-se.
Ao
(d) Senão he por causa de fornicaçTè. Esta c\m*
fula náo deve comprehender toda a proposição
de Christo , de force , que no caso de haver for
nicação seja licito não só o divorcio, mas tam
bem o novo matrimonio. Mas deve entender-
fe, ou excepcivamente , e entre parenthesis ,
de forte que faça este sentido : Todo o que lar
ga sua mulher (o que não he licito, senão no caso
de fornicação) e casa com outra , he adultero. Ou
negativamente: Todo o que larga sua mulher , não
tendo havido fornicação , e tasa com outra , he adul
tero. Na qual sentença sim se affirma o adulte
rio daquelle , que fóra do caso de fornicação
larga huma mulher , e casa com outra : mas
como observa Santo Agostinho no Livro 1. Dos
casamentos adulterines , cap. e seguintes, não
se pôde daqui bem inferir : Logo se tiver ha
vido fornicação, e o marido por isso largar sua
mulher , e casar com cutr3 , não lie adultero
o marido- Porque ou a mulher esteja innocen»
segundo S. Matt. Cap. XIX* 141
11 Ao que elle respondeo : (b) Nem
todos sao capazes desta resolução; mas
fómente aquelles, aqucm isto foidado.
12 Porque ha huns caítrados, que
nascêrao aflìm do ventre de sua mai. E
ha outros castrados , a quem outros ho-
mens fizerao taes. E ha outros castra-
dos , que a fî mesmos se castrárao por
amor do Reino dos Ceos. (f) O que
he
te , ou culpada , sempre , segundo a Doutrina
de Christo , commette adulterio , o que casa
com outra ; como por advertencia do mesmo
Santo Agostinho he clariflimo de S. Marcos,
10. u. e de S. Lucas } 16. 18. e como por isso
depois do Concilio de Milevi , Can. 17. defi-
nio o de Trentp na Sefsáo 24. Can. 7. Veja-
se Arcudio na Concordia da Igreja Occidental , e
Oriental sobre os Sacramentos , Livro 7. cap. 4-
e Pouget nas Instituiqoes Catbolicas , P. 3. Sef
sáo t. cap. 8- §• <?• Pereira.
(&) Nem todos sa0capa7.es deJlaresoluçSo. As-
íìm expóem aquelle , non ovmes capiunt verbum
ijíud, as Versées dos dous Bispos de Vence ,
e de Chálons; as de Amelote , Mons, Saci ,
Qyesnel, Huré, Le Gros, e MefTengui , com
as antigas Syriaca , e Arabica. Pereira.
(í) O que be capaz de camprebender , <ùrc. Náo
o foi Origenes no terceiro íeculo , que enten»
dendo á lctra este texto s elle mesmo sc cas-
trou , cuidando que affim observava o Evan
142 O Santo Evangelho de J.C.
he capaz de comprehender isto , com*
prehenda-o.
13 Então lhe forão apresentados vá
rios meninos , para lhes impôr as mãos ,
e fazer oração por elles. E como os
Discípulos os repellião com palavras as
peras ,
14 Jesus lhes difíe : Deixai os me
ninos , e não embaraceis que elles ve-
nhão a mim ; porque destes taes he o
Reino dos Ceos.
15- E depois que lhes impoz as mãos ,
partio dalli.
Eis-
gelho , como refere Eusebio na sua Historia
Ecclestastica , Livro 6. cap. 8. Náo o foi antes
de Origenes oucro Christáo, de quem escreve
S. Justino Martyr na Apologia 2. que pedira li
cença ao Governador Felis para os Cirurgiões
o castrarem , náo obstante a prohibição das
Leis Romanas. Porém a Igreja Catholica sem
pre entendeo esta castração , náo no sentido ma
terial, mas sim no espiritual : que consiste em
vivermos em carne 3 como senáo fossemos de
carne. Por isto o Canon 21. dos que chamáo
Apostolicos , chama a esta mutilação hum ho
micídio. E o primeiro dos Nicenos manda de
por do Clericato , os que cahirem neste ab
surdo. Pbreira.
SEGUNDO S. MATT. CAP. XIX. 143
16 Eis-que se chega a elle hum ,
que lhe disse: Bom Mestre, que obras
boas devo eu fazer , para alcançar a
vida eterna ?
17 E Jesus lhe respondeo : Porque
me perguntas tu (d) o que he bom ? Bom
só Deos o he. Porém se tu queres entrar
na vida , guarda os Mandamentos.
Que
(i) O que he bom , &c. Amelote , Saci ,'
Huré, e os mais que costumo alie: vertem
aflím , segundo o texto Grego actual : Pour
quoi m' appelle-z. vous loti ì Porém Calmer mostra
com Erasmo, e outros, que a lição da Vul
gata he a verdadeira , e a que se conforma
com o contexto ; e que dos mesmos exempla
res Gregos cita Milles nas suas varias lições
muitos , que trazem o mesmo sentido. Aquel-
le mancebo tinha feito duas cousas : huma, dar
a Jesus o titulo de bom ; outra dizer, que boas
obras faria elle. A huma, e outra cousa respon
de o Senhor. Responde á primeira, não negan
do ser elle bom ; mas arguindo tacitamente o
mancebo , de que não o tendo elle em conta de
Deos , mas de hum puro homem , ainda aflim
o chame bom , quando só Deos he bom. E com
isto quiz o Senhor elevar a alma daquelle man
cebo ao conhecimento da sua Divindade , co
mo bem observão os Santos Padres Epifânio,
Ambrósio, Agostinho, &c. Responde a segun
da, advertindo-o que o bem que devia fazer ,
era observar os Mandamentos. Pereira.
i44 O Santo Evangelho deJ.Ca
i 8 Que Mandamentos ? lhe pergun
tou elle. £ Jesus lhe respondeo : Não
!■ matarás : Não fornicarás : Não furta
rás : Não dirás falso testemunho.
1 9 Honrarás a teu pai , e a tua mai :
E amarás a teu próximo como a ti mesmo.
2 0 Disse-lhe o homem : Tudo isto
tenho guardado desde a minha mocida*
' de : que he o que me falta ainda ?
21 Jesus lhe respondeo: Se queres
ser perfeito, vai, vende o que tens, é
dá-o aos pobres, e terás hum thesouro
rio Ceo; e depois vem, e segue-me.
'22 O mancebo como ouvioesta pa
lavra , retirou-se triste ; porque tinha
muitos bens.
23 E Jesus disse a seus Discípulos : Em
verdade vos digo , que hum rico difficul-
tosamente entrará no Reino dos Ceos.
24 Ainda vos digo mais: Que mais
fácil he entrar hum camelo pelo fundo
de huma agulha , (e) do que entrar hum
rico no Reino dos Ceos.
Os
(ff) Bo que entrar bum rico no Reino dos Ceos.
Isto se deve entender somente daquelles, que
nas riquezas tem toda a sua confiança, como
SEgundo S. Matt. Cap. XIX. 14?
15 Os Discípulos , ouvidas estas pa-i
lavras , conceberão grande espanto, .ô
dizião : Quem poderá logo salvar-se ?
v 26 Porém o Senhor olhando para
elles , disse : Aos homens he isto impos
sível; mas a Deos tudo he poflível.
.. 27 Então lhe disse Pedro: Eis-aqui
estamos nós (f) que deixámos tudo, e
te seguimos: que galardão pois será o
noslb ?
2 8 E Jesus lhes respondeo : Em ver
dade vos aiïïrmo , que quando ( g ) no
dia da regeneração estiver o Filho da
Tom. I. K Ho-
D Senhor diz mais claramente por S. Marcos,
20. 24. e corno o entendem Santo Ambrpsio t
S. João Chrysostomo , S. Gregorio Magno , e
outros Padres. Entre os quaes he digno de se
Jer o Tratado de S. Clemente Alexandrino ,
<]ue tem por titulo : Que rico he o que Jísaha\
Pereira.
(/} Que deixamos tudo. Náo tendo Pedro del
atado senão o seu barco, e as suas redes, dia
resolutamente a Christo , ejue deixara tudo j
porque, como adverte Santo Agostinho cíce*
vendo a Paulino, com efeito tudo des\>re%a aqu:l-
le , que de/pre-za apo je não só de tudo quanto pa*
dia ter , mas tambem de tudo o que queria tis4
Pl'HAJWKLi
Q-) No dia da regeneração. No da dojuizoj
146 O Santo Evangelho de J.C.
Homem sentado no Throno da sua Glo
ria ; vós , que me seguistes , também es
tareis sentados sobre doze Thronos , e
julgareis as doze Tribus de Israel.
29 E todo o que deixar por amor
do meu Nome a casa, ou os irmãos, ou
as irmans , ou o pai , ou a mãi , ou a
mulher, ou os filhos, ou as fazendas:
receberá cento por hum , e possuirá a
vida eterna. -
30 Porém muitos primeiros , (h) vi-
ráõ a ser os últimos; e muitos últimos,
virão a ser os primeiros.
CA-
(6) Viráõ a ser os uítimos'. Por últimos pri
meiros , emendem os Santos Padres os Judeos t
por primeiros últimos os Gentios $ chamados á
Igreja depois da reprovação dos Judeos. Sas
so Hilário, S.João Chrysojlomo , S. Gregorio Ma
gno. Outros entendem por últimos primeiros,
os Sábios , e Grandes do Mundo , a quem a
sua soberba condemna ; e por primeiros últimos
os Apóstolos , e todos os que neste Mundo vi
vem desprezados por Christo , que a sua hu
mildade, e paciência os salva. Hessel, Jan-
SKNIO DE GAND, AMELOTK.
Sègundõ S* MatthfAjs. 14?
CAPITULO XX.
A parábola dos trabalhadores mandadoi
trabalhar na vinha em diversas horas*
Os primeiros serão os últimos , e últi
mos os primeiros* Prediz Jesus a fuá
Morte , e Resurreiçao* Ambição dos fi
lhos de Zebêdeo. Os que são maiores *
devem ser os mais pequenos. A domina
ção he alheia do Apostoladô.
1
ijrt O Santo Evangelho de J.C.
23 Continuou Jesus : He verdade
que vós haveis de beber o meu calis.
M.as em quanto a terdes assento á mi*
nha mão direita , ou á esquerda , (e) não
me pertence a mim o dar-vo-lo ; mas
isso he para aquelles , para quem meu
Pai o tem preparado.
24 Os outros dez que isto ouvirão,
índignárão-se contra os dous irmãos.
25" E Jesus chamando-os a si, lhes
disse: Vós sabeis, que os Principes das
Nações dominao os seus súbditos ; e que
os que entre elles são Maiores , exerci?
tão sobre os outros o seu poder.
26 (/) Não deve ser affim entre vós :
mas todo o que entre vós quizer ser o
maior j esse seja o que vos firva :
27 E o que entre vós quizer fer Q
primeiro, esse seja vosso servo;
28 Bera como o Filho do Homem
não
f/) Nao me pertence a mim. A mim conside?'
fado só como homem. Duhamel com Santo Agosi
tinha.
(/) Nao tleve ser affim entremos. S. Bernafc
do a Eugénio: He claro: fràhibc-se ao.: Apojitç
tes a dùmiuaçâe. Píreir^.
segundo S. Matt. Cap. XX. 15^
nao vpio a ser servido, mas a servir, e
a dar a sua vida para redempção dç
muitos.
29 Sahindo elles de Jericó , foi mui
ta a genre que seguio a Jesus.
30 Eis-que dous cegos que estavão
sentados junto á estrada , ouvindo que
passava Jesus , gritarão, dizendo : Se
nhor filho de David , tem compaixão
de nós.
31 Reprehendia-os a gente que se
calassem. Porém elles cada vez grita
va© mais , dizendo : Senhor Filho de
David , tem compaixão de nós.
32 Então parou Jesus, e chaman*
do-os , disse : Que quereis que vos faça ?
33 Que se nos abrão os olhos , re->
spondêrão elles.
34 E Jesus movido de compaixão
que delles teve, tocou-lhes os olhos: e
.
no mesmo instante virão, e oforão se-
CA-
O Santo Evangelho deJ.G.
CAPITULO XXI.
Dá Je/ù Cbrifto a sua entrada em Jeru
salem. Lança fora do Templo os nego
ciantes. Tapa a boca aos Fariseos que
murmaravão delle. Efpantão-Je os Após
tolos de ver , que huma figueira que o
Senhor amaldiçoara , seecou no mesmo
instante. Quanto pôde a sé. A parábola-
dos dous filhos , e a dos mãos lavrado
res. O Reino dos Ceos passará dos Ju-
deos aos Gentios.
GA-
fechou o canto, lie Jesu Christo, que unindo
as duas paredes do edilicio espiritual, aSyna-
goga com a Igreja , os Judeos com os Gen
tios, se constituio principal fundamento da no
va Religião (juc fundava. S. Agostinhq,,
* SEGUNDO S. MaTÏHEUS. l6$
CAPITULO XXII.
Celebra o Rei as vodas de seu filho. O que
não trouxe veftido nupcial, he expulso,
e lançado em trévas. Deve-se pagar o
tributo a Cesar. Os Sadduceos confun
didos. O preceito maximo he o de amar
a Deos de todo o coração. David sendo
Pai do Messias , chama a esteseu Senhor.
1 CAM T U L O XXIII.
Devem-se crer y mas nao imitar os mãos
Pastores. Vaz Jefu Chrifio huma lar
ga , eforte inveiliva contra os vicios dos
Farifeos. Em perseguirem a Jesu Chri-
. Jio , imitao elles a perversidade de seus
maiores. O Templo virá a ficar deserto.
Mii >"CA-
180 O Santo Evangelho de J.C.
CAPITULO XXIV.
Prediz Jesu Chrìjìo a ruina do Templol
Manda-nos refguardar dos Profetasfal-
sos. Tenomems ejpantojos , que hao de
proceder d sua vinda. O bom Servo ejìd
Jempre vigilante ao que feu Senhor que-
rerd delle. Devemos ejìar promptos pS'
ra o tempo que o Senhor vier.
/
segundo S. Matt. Cap. XXIV. 187
Ihidos des dos quatro Ventos , de hum
ilia extremidade do Ceo ate á outra.
3i Aprendei o que vos digo, por
huma comparação tirada da figueira.
Quando os seus ramos estão já tenros ,
e nascidas as solhas , conheceis vós que
ç&i perto o Estio.
33 Affim tambem, quando vós vir
des todas estas cousas, sabei que o Fi
lho do Homem está á porta.
34 Em verdade vos digo , que não
passará esta geração , sem que se cum»
prão todas estas cousas.
. . Passará o Gco, e a terra; mas
não pasiaráo as minhas palavras.
36 No tocante porém áquelle dia ,
e momento, ninguem sabe quando elle
será, nem ainda os mesmos Anjos dos
Ceos: só meu Pai he que o sabe.
37 £ succedera na vinda do Filho
do Homem , o mesmo que succedeo em
tempo de Noé,
38 Porque do mesmo modo que
poucos dias antes do diluvio estavao os
homens comendo , e bebendo ; casan
do-
i88 O Santo Evangelho de J.C.
do-se huns , e fazendo casar outros ; até
o dia em que Noé entrou na arca :
'39 E não conhecerão que vinha o
diluvio , senão depois que elle veio ,
e os levou a todos : Assim succedera
tambem quando vier o Filho do Ho
mem.
40 Então dedous que estiverem no
campo, tomar-íè-ha hum, e deixar-le-
ha outro.
• 41 De duas que estiverem moendo
no mesmo moinho, tomar-sc-ha huma,
e deixar -se-ha outra.
42 Vigiai pois , porque não sabeis
em que hora virá vosso Senhor.
43 Porque sabei , que se o pai de
familia estivesse advertido da hora, em
que havia de vir o ladrão ; certamente
havia de vigiar, enao havia de consen
tir que lhe minassem a sua casa.
44 Por isso estai vós tambem aper
cebidos , porque não sabeis em que ho
ra virá o Filho do Homem.
4? Qual he o Servo fiel , e pruden
te, a quem seu Senhor deo o governo
da
SEGUNDO S. MATT. CaP.XXIV. 189
cia sua família , para a seu tempo lhe
distribuir o sustento?
46 Ditoso aquelle Servo , se quan
do chegar seu Senhor, o achar este em
tal occupação.
47 Em verdade vos digo, que clle
o constituirá administrador de todos os
íeus bens.
43 Mas se aqnelle Servo he máo,
c dizendo no seu coração , Meu Senhor
rião vem tão cedo,
49 Começa a espancar os outros
companheiros , e se põe a comer , e
beber com homens dados ao vinho :
50 Virá o Senhor daquelle Servo
no dia que elle o não espera , e na ho
ra que clle não sabe ;
51 (/) E removei Jo-ha , e o porá
com os hypocritas : alli haverá choro,
e ranger dos dentes.
CA-
, (/) E rimovcllo-ha. Ou do officio 3 ou de sua
casa. Duhamjel.
jpo O Santo Evangelho de J.C.
CAPITULO XXV.
A parabola das dez Virgens. A outra dos
t alentos repartidos. Cada hum será re
compensado segundo os seus merecimen
tos. Jesu Christo reconhecerá como fei
to a elle , o que se fizer aos seus.
!
O Santo EvangêLfïû deJ.G.
comprar, eis-que veio o Esposo ; e as
que se achavão promptas , entrarão com
elle \h) a celebrar as vodas : e fechou-
se a porta.
1 1 Em fim chegarão tambem as outras
Virgens, e disserão: Senhor, abre-nos.
12 Mas elle lhes respondeo : Em
verdade vos digo, que eu vos não conheço.
13 Vigiai pois , visto que não ía~
beis o dia , nem a hora. ,
14 Porque elle fez como hum ho*
mem, que estando para se ausentar pa-r
ra longe , chamou os seus Servos , e dik
rribuio entre elles os seus bens.
1? E tendo dado a hum finco ta
lentos, a outro dous, a outro hum, se
gundo a capacidade de cada hum dej»
les ; partio logo.
16 O que recebera pois finco talen--
tos , foi-se , e entrou a negociar comi
elles, e ganhou outros finco.
Da
(i) A celebrar asDodas. Entrarão no banque
te , e gozo; do Ceo. O fim porém desta para
bola he mostrar a necessidade que. todos temos
de trabalhar , cada hum segundo o íeu talento }
e-iegundo o íeu emprego. Saci.
V .^
Segundo S. Matt. Cap. XXV. ipy
17 Da mesma sorte o que recebera
dous, ganhou com elles outros dous.
1 8 Mas o que só recebera hum , foi
cavar na terra, e escondeo nella o ca
bedal de seu Senhor.
19 Passado muito tempo , veio o
Senhor daquelles Servos , e chamou-os
a contas.
20 Aprefentou-fe o que havia rece
bido finco talentos , e entregou-lhe ou
tros íinco , dizendo : Senhor , tu me
entregaste. finco talentos ; eis-aqui tens
outros finco , que eu ganhei por cima.
21 Respondeo-lhe seu Senhor : Bem
está , Servo bom , e fiel ; já que foste fiel
nas cousas pequenas , dar-te-hei a in
tendencia das grandes ; entra no gozo
de teu Senhor.
22 Da mesma forte se apresentou
o que havia recebido dous talentos , e
disse : Senhor , tu me entregaste dous
talentos ; eis-aqui tens outros dous , que
ganhei por cimã.
23 Disse-lhe seu Senhor : Está bem ,
Servo bom , e fiel } já que foste fiel nas
Tom. I. N cou-
i94 O Santo Evangelho de J.C.
cousas pequenas , dar-te-hei a intenden
cia das grandes; entra no gozo de teu
Senhor.
24 Por fim chegou o que tinha re
cebido hum só talento, e disse: Senhor,
eu sei que tu es hum homem duro de
condição ; que segas onde não semeas
te; e.que recolhes onde nada espalhaste.
25- O medo que por isso tive de ti,
fez que fosse eu esconder na terra o teu
talento: eis-aqui tens o que he teu.
16 Porém seu Senhor lhe respon-
deo: Servo máo, c preguiçoso; tu sa
bias que eu sego onde não semeio , e
que recolho onde nada espalhei.
27 Devias logo pôr o meu dinheiro
ao banco , para que quando viesse ,
recebesse eu com o seu juro o que era
meu.
2 8 Tirai-lhe pois o talento , e dai- o
ao que tem dez talentos.
29 Porque a todo o que já tem,
dar-sc-lhe-ha , e dar-se-lhe-ha em abun
dancia : e ao que não tem , tirar-se-lhe-
ha até o que parece que tem,
E
SEGUNDO S. MATT. pAP. XXV. 19?
, 30 E este Servo inutil lançai-o nas
trévas exteriores : alli haverá choro, e
ranger dos dentes.
31 Mas quando vier o Filho do Ho
mem na sua magestade , acompanhado
de todos os seus Anjos ; então assentar-
sç-ha elle sobre o Throno da sua Gloria.
32 E estando juntas diante delle to
das as Nações , separará huns dos ou
tros , como hum pastor separa as ove
lhas de entre os cabritos:
33 E porá as ovelhas á sua mão di
reita , e os cabritos á esquerda.
34 Então dirá o Rei aos que esta-
ráÕ á sua mão direita : Vinde , bemditos
de meu Pai, a possuir o Reino, que vos
está apparelhado desde o principio do
Mundo.
3 5- Porque eu tive fome, e vós destes-
me de comer; tive fede, edestes-me de
beber ; era estranho , e recolhestes-me ;
3 6 Estava nú , e vestistes-me ; esta
va enfermo, e visitastes-me ; estava no
carcere, e viestes ver-me.
3 7 Então lhe responderão osjustos ;
N ii Se-
■
ipó O SANTO pVANGELHO DE J. C.
Senhor, quando tevimos nósterfomey
e te démos de comer ? quando ter scde ,
e te démos de bcber ? •
3 8 Quando fer cstranho , e te recolhe-
mos ? ou quando estar nú , e te vestimos ?
39 Ou quando te vimos nós enfer-
mo , e te visitámos ? ou estando no car-
oere , e viemos ver-te ?
40 E o Rei lhes responderá : Naverda-
de vos digo, que quantas vezes vós fìzestes
isto a hum destes meus irmãos mais pe-
queninos , a mim mesmo he que o fizestes.
41 En tão di rá ta m bem aos que esta rao
û sua mão csqnerda: Apartai-vos de mim ,
malditos , para o fogo eterno , que esta
apparelhado paraodiabo, e seusAnjos.
42 Porque eu tive fome , evósnao
me déstes de comer ; tive fede? e não
me déstes de beber;
43 Era estranho, e não me recolhestes ;
estava nú , e não me vestistes ; estava en-
fcrmo , eno carcere , e náo me viíìtastes.
44 Entao dirão elles tambem : Senhor,
quando re vimos nós ter fome, ou ter fe-
<de, ou fer estranho, ou estar enfermo,
ou
Segundo S.Matt. Cap. XXV. 197
ou no carcere ; e deixa'mos de te aíEstir ?
45- Entâo lhes relponderá elle: Na
verdade vos digo , que quantas vezes o
deixastes vós de fazer a hum destes mais
pequeninos , a mim o deixastes de fazer.
46 E iráo estes para ocastigo eter-
no : e os justos para a vida eternav
c a p 1 t u l o xxvr.
Fazem os Sacerdotes Confelho para darem
a morte a Jesu Chrifto. Huma mulher
-• Ihe lança sobre a cabeça oprecìoso o-eo ,
que trazia numa redoma de alabas-
tro, Negociaçao de Judas no Conselho Su
preme Falla Jesus dejìa traiçao estando
ceando. Institue 0 Sacramento da Euca-
ristia. Prediz a Pedro que elle 0 negará
tres vezes. Asua oraçao no Horto. Asua
prìzâo. Toma Pedro a espada para 0 de-
sender. Fogem os Difeipulos. He accusa-
do Jesus na presença de Caifaz por tes-
temunbas saisis. Hejulgado réo de mor
te. Os servos Ihe fazem todo 0 gener0
de ultrajes. Pedro 0 nega tres vezes,
1 f I ^ Endo Jesus acabado todos ef-
JL tes diicurfos , disse para feus
Difeipulos :
Vós
198 O Santo Evangelho deJ. C.
ï Vós sabeis que daqui a dons dias
se ha de celebrar a Pascoa; e o Filho do
Homem será entregue a ser crucificado.
3 Então se ajuntárão os Principes
dos Sacerdotes , e os Senadores do po
vo , na fala do Summo Pontifice, que
se chamava Caifaz :
4 Onde tiverão Conselho , sobre co
mo prenderião por traição, e matarião
a Jesus.
y Mas elles dizião : Não convem
que isto se faça no dia da festa , para
que não succeda excitar-se no povo al
gum motim.
6 Ora achando-se Jesus em Betha-
nia em casa de Simão o Leproíò ;
7 Chegou-se a elle huma mulher,
que trazia huma redoma de alabastro,
cheia de precioso balsamo ; eestandoje-
sns á meza , derramou-lho sobre a ca
beça.
8 O que vendo os Discípulos , (a)
dis-
(«) Differao com indignação. Pelo que pare
ce de S. João , 12. 4. só Judas se indignou. Mas
pela figura enallage pócm os Evangelistas algu-
Hias vezes o plural pelo singular. Como quan
segundo S. Matt. Cap. XXVI. 199
disseráo com indignação : Para que foi
este desperdício?
o Pois se podia vender este bálsamo
por muito bom preço, e dar- se este aos
pobres.
10 Mas Jesus sabendo isto, disse-lhes :
Porque molestais vós esta mulher , que
no que fez , me fez huma boa obra ?
iï Porque vòs-outros sempre ren
des comvosco os pobres j mas a mim (b)
nem sempre me tereis.
Por-
deixarão, e fugirão. . ;
5-7 Os quadrilheiros pois seguran
do a JesuSv, levárão-uo a casa do Smn-
O ii - mo
(ï) segarem da espada. De sua authorida4«
particular, expõe S. Agostinho.
aia O Santo Evangelho de J.C.
mo Pontifice, que era Caifaz, para on«
de havião concorrido os Doutores da
Lei, e os Senadores.
58 E Pedro ohia seguindo de lon
ge , até o pateo do Pontifice : e entrando
para dentro, assentou-se com os quadri
lheiros, para ver em que ocaso parava.
50 Entretanto os Principes dos Sa
cerdotes, e todo o Conselho, andavão
buscando quem jurasse algum falso tes
temunho contra Jesus , a fim de o en
tregarem á morte.
60 (/) Mas não o acharão : fendo aífim
que forao muitos os que se apresentarão
para jurar falso. Porfimvierao duas tes--
temunhas falsas , que depozerão aflim :
61 Este disse : Eu posso destruir o Tem
plo de Deos , e reedificallo em tres dias.
6z Então levantando-fe , disse pa
ra elle o Summo Pontifice : Tu nada
respondes ao que estes depõem contra ti ?
Po-
(<) Mas não o acldrSo. Porque ainda que fa
rão muitos os que vicráo com animo de jurar
falso , não eráo sufficientes os depoimentos ,
porque huns aos outros iedestruiáo, como dá
a entonder S. Marcos, 14.56. Saci.
segundo S. Matt. Cap.XXVT. il 3
63 Porém Jesus estava calado. E o
Summó Pontifice lhe disse: Eu te con-
juro por Deos vivo, que nos digas, se
tu es o Christo Filho de Deos ?
64 Respondeo-lhe Jesus : (u) Tu a
disseste: maseuvosdeclaro, quedaquia
feu tempo vereisvós o Filho doHomem.
assentado á mão direi ta do poder de Deos ,
que vira sobre as nuvens do Ceo.
6y Çx) Então rasgou o SummoPon- -
tifîce os feus vestidos,e disse : Blasfemou :
que mais testemunhas nos sao necessarias ? .
Eis-ahi ouvistes vós agora a blasfcmia.
66 Que julgais vós ? Respondêrao
elles : He réo de morte.
67 Entao huns (jy) lhe cuspírao no
rosto, e oferírão ás punhadas; e outros
o esbofeteárão , dizendo:
Adi-
(«) Tu 0 difijle. Modo de fallar dos He-
breos , quando querem consirmar o que ouví-
ráo. O que he claro de S. Mareps , 14. 62. que
exprime esta resposta de Jesu Christo , Tu a
Aifseste , por estoutras palavras, eu osou. Sacï.
(.v) EntSo rasgoit osseus mejìidos. Acção ordi»
naria entre os Judeos nas occafiôes de grande
dor. Pkreira. -
( y ) Lhe cuspírao no rosto. O que em todas
îi4 O Santo Evangelho de J.C.
68 Adi vinha, Christo, quem te deo?
6o Entre tanto estava Pedro assenta
do fora no pateo: e chegando- se a elle
huma escrava, disse-lhe: Tu também es
tavas com Jesus de Galiléa.
70 Mas elle o negou em presença
de todos-, dizendo: Não sei o que dizes.
71 E sahindo elle á porta ,vio-o outra
escrava, e disse para os que alli se achavão :
Este também estava com Jesus Nazareno,
72 Negou-o Pedro segunda vez , di
zendo : Juro que tal homem não conheço.
73 Dahi a pouco chegárao-se huns
que alli estavão, edisseráo a Pedro: Tu
certamente es também dos taes : (z) por
que a tua linguagem te dá a conhecer,
74 Então começou elle a praguejar-*
se, e a jurar que não conhecia tal ho
mem. E immediatamente cantou o gallo,
• 75 E Pedro se lembrou da palavra que
lhe
as Nações se reputa pela maior ignominia, Pfi»
FEIRA. .
(%) Porque a tua linguagem. O accento próprio
dos de Galiléa, quando fatláo, différente dos de
Jerusalém ; como entre nós o dos que são das
PrpyinçUs a respeiíp dosde Lisboa. Ambldtb,
segundo S. Matt. Cap. XXVI. Î 1 5s
lhe havia dito Jesus: Antes que o gallo
cante, mchas de tu negar tres vezes. E
sahindo para fora , chorou amargamente.
CAPITULO XXVII.
Judas torna a entregar aos Sacerdotes o
dinheiro , que clLes lhe tinhao dado , e vai
enforcar-je. Jesus aceusado na presença
de Pilatos não responde palavra. Sonho
da mulher de Pilatos a respeito da inno-
cencia de Jesus. O povo lhe prefere Bar-
rabdz. Pilatos depois de lavar as mãos ,
o manda açoutar , e o entrega aos Judeos
para ser crucificado. Os soldados o car-
regao de opprobrios. Caminha para o Mon
te Calvario , levando a Cruz aos hombros.
Alli lhe dão a beber vinho misturado com
fel. lie crucificado entre dous ladrões. Di
videm ossoldados entre fi osseus vestidos.
He blassemado. Trevas em toda a terra.
Clama Jesus em alta voz , Eli. Dão-lhe a
beber vinagre. Terna a dar outro brado ,
e espira. Prodígios quesucceâêrao nasua
morte. José deArimathea pede oseu Corpo,
e o enterra. Poem-se guardas ao sepulcro.
I /""^ Hcgada que foi a manhã , todos
V—j os Principes dos Sacerdotes, e Se
nadores do povo, se ajuntárão erii Con-
se-
2 1 6 O Santo Evangelho de J. C.
selho contra Jesus , para o entregarem
á morte.
2 E prezo o levárão, e entregarão
ao Governador Poncio Pilatos.
3 Então Judas , que havia sido o
traidor , vendo que fora condemnado
Jesus, tocado de arrependimento, tor
nou a levar as trinta moédas de prata
aos Principes dos Sacerdotes, e aos Se
nadores, dizendo:
4 Pequei , entregando o sangue in
nocente. Mas elles lhe responderão :
A nós que fenos dá? Visses tu lá o que
fazias.
5- E depois de lançar as moédas no
Templo, retirou-se, e foi-fe pendurar
de hum laço.
6 Mas os Principes dos Sacerdotes
tomando o dinheiro, disserao: Não he
licito deitallo na arca das esmolas , por
que he preço de sangue.
7 Tendo pois deliberado em Con
selho sobre a materia , comprarão com
elle o campo de hum oleiro, para ser
vir de cemeterio aos forasteiros.
Por
secundo S. Matt. Cap. XXVII. 2 1 7
3 Por esta razão se ficou chaman
do aquelle campo até o dia de hoje,
Haceldama , isto he , Campo de sangue.
9 Então secnmprio o que fora di
to (a) pelo Profeta Jeremias : E tomá- \
rão as trinta moedas de prata , preço
do que foi apreçado, a quem pozerao
em preço com os filhos de Israel ;
10. Ederao-nas pelo campo de hum
oleiro, affim como me ordenou o Senhor.
11 Foi apresentado pois Jesus ao
Governador ; c o Governador lhe fez
esta pergunta : Tu es o Rei dos Judeos ?
Respondeo-lhe Jefiïs : Tn o dizes.
iz E fendo accufado pelos Princi
pes dos Sacerdotes , e pelos Senadores ,
não respondeo cousa alguma.
13 Então lhe disse Pilatos: Tu não
ouves de quantos crimes te fazem cargo ?
Mas
CA-
gelista significou o dia de sabbado : alludindo a
que pela Lei do Êxodo, 16. 5. tudo o que era
necefíario para o sabbado , se devia preparar
antes , ainda que fosse accender lume , ou co
zinhar. Porque nada do que fosse servil > et»
licito fazer no sabbado. Amelotb.
SEGUNDO S. MATTHEUS. 227
C A P I T U L O XXVIII.
Treme a terra. E/pantdose os Guardas.
Hum Anjo déclara ds santas mulheres
■it Kefurreiçao de 'Jésus. O Senhor mes
mo Ihes apparece , e manda-lhes que avi-
Jem os Apoftolos , que 0 verao e n Gali-
léa. Os G sardas suborna dos dizem que
ejìando eiles dormindo , vierao es Dijci-
fulos , e levdrao 0 corpo. Os Discipulot
0 vem em Galiléa. Elle os envia a pré*
gar , e baptizar por todo 0 Mundo.
JESU CHRISTO>
SEGUNDO
S. MARCOS.
CAPITULO I.
Préga João o Baptismo de Penitencia. Bapti
zasse Jesus, e retira-fe ao Deserto. He
tentado do demónio. Préga o Evangelho
em Galiléa. Chama a Pedro , André , Tia
go , e João. Vai a Cafarnaum , onde cu
ra de huma febre a sogra de Ped^o. Cu
ra tambem hum pofiejso , e hum içprofo.
Detodàs as partes o vem buscar o povo.
CAPITU L O IL
Apresentao ajejus hum paralytico. Prova
com a sua cura , que elle tem poder de
perdoar peccados. Chama a Mattheus ,
e come em sua casa. Os que esião bons ,
mo necejsitao de Medico. DA a razão por
que seus Discípulos não jejuao. Descul
pa- os de haverem colhido humas espigas
em dia de sabbado.
CAPITULO III.
Cura jfesu Chrijio o homem da mão rejlc-
cada. Foge de ter disputas com os Fari-
Jeo.r. Concorrem os póvos a elle. Cura va
rias enfermidades. EJcolhe os doze Após
tolos. PÕem-se os seus nomes. Envia-os a
prégar o Evangelho. Confunde os Douto
res da Lei. O que obedece a Deos , he
mai y e irmão de Jefu Christo.
CAPITULO IV.
A parabola do semeador explicada por Je-
su Chrijìo aos Apostolos. A alampada
deve-se pôr sobre o candieiro. O Reino
dos Ceos comparado a hum grão de mos
tarda. A tormenta acalmada.
CA-
(á) Cal-te , emudece. Em todas as Linguas
tem summa valentia a metafora , que às crea-
turas inanimadas attribue os (entinientos das ani-
madas. Como quando Christo disse por S. Lu
cas : Si tacuerint , lapides clamabunt. E Virgilio nas
Georgicas: Pontemindignaius Araxes. Pbrkira.
secundo S. Marco s. aj?
CAPITULO V.
Livra Jejus hum endemoninhado. Permit'
te a huma legiao de demonios que Je met-
tao numa manada de pórcos. Nao quer
que este homem o siga. Cura huma mu-
Iher que padecia hum fluxo de sangue,
Rejujcita huma menina.
i f I ^ Endo passado o mar , vierão pa-
JL ra a terra dos Gcrazénos.
2 Ë ainda bem Jesus nao tinha des-
embarcado , quando logo se lhe poz di-
ante hum homem posséíso do espirito
immundo, que vinha dos sepulcros ,
3 Onde de ordinario habitava ; e
nem coin çadeias opodia já alguem íbs-
ter prezo.
4 Porque militas vezes estando em
grilhoes, ecadcias, tinha rornpido as
cadeias , e feito em pedaços os gri
lhoes ; e ningiiem o podia domar.
5- E sempre de dia , e de noite an-
dava pelos sepulchros , e pelos montes
gritando , e ferindo-se com pedras.
6 Vendo pois a Jesus de longe, veio
correndo, e adorou-o.
R ii E
■
l6o O SANTO EVANGELHÔ DE J. C
7 Edando hum grande grito , dis
se : Que tens tu comigo , Jésus Fiiho
de Deos Altiílimo? Eu te esconjuro por
Deos , que me náo atormentes.
8 Porque Jésus lhe dizia : Espirito
immundo, sahe desse homem.
9 E perguntou-lhe : Que nome he
o teu? Aoque elle respondeo: Legiáo,
porque somos muitos.
10 E pedia-lhe instantemente , que
o náo lançasse fóra do paiz.
n Andava alli pastando no monte
huma grande manada de pórcos.
12 E osimmundos espiritos suppli-
eavao a Jésus , dizendo : (a) Manda-
nos para os pórcos , para nos metter-
mos nelles.
13 Deo-lhes Jésus logo esta permis-
sao. E sahindo os espiritos immundos,
entráráo ncs pórcos ; e a manada que
era de alguns dous mil , correo com
grande viclencia , e foi-se preeipitar no
ma r, onde se affogárâo.
Os
(st) Manda-nos para os pórcos. Sinal de que
náo podiáo « sem sua permissào. Amelotju
Segundo S. Marcos. Cap.V. 261
14 Os que os andavão apascentan
do , fugirão , e forao dar a noticia i
Cidade , e pelos campos : donde sahí-
rao muitos a ver , o que tinha succc-
dido.
15- E chegando onde Jesus estava ,
virão assentado , e vestido , e em seu jui-
£o, o que fora vexado do demonio; o
que os encheo de medo.
16 E depois que os que se tinhão
achado presentes , lhes contárão o que
succedera ao possdsso, e aos pórcos:
17 Começarão a pedir a Jesus, que
íè fosse da lua terra.
18 A tempo que elle hia para en
trar na barca , começou o que fera ve
xado do demonio , a pedir-lhe que o
deixasse ir com elle.
19 Porém Jesus o não admittio , e
disse-lhe : Vai para tua casa para os teus ,
e annuncia-lhes as grandes cousas que
o Senhor te fez , e a misericordia que
«sou comtigo.
20 Foi-se elle, e começou a public
car em Decápole os grandes favores
que
i6z O Santo Evangelho de J.C.
que recebera de Jesus ; de que todos fi-
cavão admirados.
21 Tendo passado Jesus segunda
vez á banda dalém numa barca , con-
correo a elle muita gente do povo, que
se ajuntou na ribeira.
23 E chegou (b) hum dos Princi
pes da Synagoga , por nome Jairo ; e
vendo a Jesus, lançou- se a seus pés;
23 E pedia-lhe com instancia , di
zendo : Eu tenho huma filha , que está
nas ultimas : vem impôr-lhe a mão par
ra a curares, e para lhe dares vida.
24 Foi Jesus com elle ; e era tan
to o povo que o seguia , que o apertavão.
25 Então huma mulher, que havia
do-
(&) Hum dos Principes da Synagoga. A Syna^
goga era o lugar , onde os Judeos de cada po
voação seajuntavão a orar, e a ouvir a lição ,
e explicação da Lei , e dos Profetas. Os que
preíldiáo aos Doutores da Lei , eráo os que se
chamaváo Principes da Synagoga , que sempre cos-
tumaváo ser homens de grande virtude, e li
teratura. E alEm estes , como refere Filo He-
breo , eráo os que deviáo aplainar as difficul-
dades que occorriáo na lição, e explicação da
Lei ; e os que deviáo cantar o Hymno. Amb-
tOTJÏ,
segundo S. Marcos. Cap. V. 263
doze annós que padecia hum fluxo de
sangue ;
a6 E que tinha soffrido muito ás
mãos de vários Médicos; e que depois
de haver gastado tudo quanto tinha ,
naô havia recebido beneficio algum, an
tes cada vez se achava pcior :
27 Tendo ouvido fallar de Jesus,
veio por detrás entre a chusma , e to-
cou-lhe o vestido.
28 Porque dizia: Se eu tocar o seu
vestido, ficarei sl
29 E no mesmo instante se lhe sec-
cou a fonte do seu sangue ; e ella sen-
tio no seu corpo estar curada do mal.
50 Jesus conhecendo logo em si
mesmo a virtude, que sahia delle, vol-
tou-se para a gente , e disse : Quem foi
que tocou nos meus vestidos ?
31 Respondêrão-lhe seus Discípu
los : Tu vês que a chusma te vai com
primindo de todas as partes , e então
perguntas , Quem foi que me tocou ?
32 E Jesus olhava em roda para to
dos y por ver a que isto fizera.
A
/
O Fanto Evangelho- deJ.C.
33 A mulher porém que sabia o
que se tinha passado neila , cheia de
medo , e toda tremendo, veio lanças
se a seus pés , e declarou-lhe toda 3
verdade.
34 E Jesus lhe disse: Filha, a tua
fé te salvou : vai-te em paz , e fica cu
rada do teu mal.
35- Ainda elle não tinha acabado
de fallar , quando chegão alguns , e
dizem ao Principe da Synagoga : He
morta tua filha : porque queres tu dar
ao Mestre o trabalho de ir mais longe?
36 Mas Jesus tendo ouvido esta pa
lavra , disse ao Principe da Synagoga,
Não tenhas medo: crê fomente.
37 E não permittio que oacompa"
nhassem, senão Pedro, Tiago, e João
irmão de Tiago.
38 Depois que chegarão a casa do
Principe da Synagoga , vio Jesus o re^
buliço , e os que estavão chorando , e
fazendo grandes prantos ;
39 Aos quacs disse quando entrou:
Porque he tanta turbação, ç tanto cho
ro?
segundo S. Marcos. Cap. V. 265-
ro ? A menina não está morta , mas
dorme.
40 Zombaváo elles. Mas Jesus fa
zendo sahir todos para fora , tomou o
pai , e a mãi da menina , e os que com
igo trazia , e entrou onde a menina es
tava deitada :
41 E pegando-lhe na mão , disse-
Ihe : Talitha cumi , que quer dizer :
Menina , eu te mando , levanta-te.
42 E no mesmo ponto se levantou
a menina , e começou a andar : porque
esa já de doze annos : e elles ficarão
em extremo assombrados.
43 Mas Jesus lhes mandou com
preceito expresso , que ninguém o sou
besse: e disse (c) que dessem de comer
4 menina.
CA-
CAPITULO VI.
Só fia sua Patria nao recebe honra hm
Profeta. Envia Jesus os Apóstolos abri
gar. Prohibe-lhes todo o viatico. Dá-
lhes poder de expellir demónios , e cu
rar enfermidades. Herodes ouvindo afa
ma de Jesus , diz que elle era o Baptis
ta refufcitado. Milagre dos pães multi
plicados. Caminha Jesus por cima das
aguas. Faz acalmar huma tormenta.
Conseguem muitos enfermos a saúde , só
com lhe tocar a orla do vestido.
tas
(<t) Para a sua Patria. Para Nazareth , on
de costumava habitar com seus pais ; e donde
havia quasi onzemezes que se tinha ausentado.
segundo S. Marcos. Cap. VI. l6f
tas maravilhas , como as que se fazem
por suas rnáos?
4 Náo he este o official , fîlho de
Maria , irmáo de Tiago , e de José,
e de Judas , e de Simao ? Náo vi-
vem aqui entre nos suas irmans ? E
daqui tomaváo motivo para íe escan-
dalizarem.
4 Mas Jésus lhes dizia : Hum Pro-
seta só deixa de fer honrado na sua pa-
tria , e na sua casa , e entre os feus pa
rentes.
5" (b) E nao podia fazer alli milagre
aJgtim , senao foi que curon algunspou-
cos enfermos , impondo-lhes as máos.
De
(i) Enao podia fazer alli milagre algurn. Ter-
riveis consequencias as da increaulidade , e da
obstinaçáo ! Secarem de hum cèrto modo a
fonte das Divinas graças , e tornarem como
impotente o que tudo póde. Que por impo-
rencia de Christo explica o Evangeliila o ob-
staculo , que á sua prcgaçáo punháo os feus
naturaes. Náo porque poifa a creatura tírar as
forças ao Creador ; mas porque a incredulida-
de, eingratidáo do* homens frustra muitas ve-
zes osdesignios de Deos ; ou faz que para náo
ver frustrados os feus deíìgnios, suspenda Deos
as suas obras. Amelqte.
1 62 O Santo Evangelho de J.C.
6 De forre que (c) Jesus se admi
rava da sua incredulidade; e foi rnissio-
nar pelas Aldeias circumvizinhas.
7 Neste tempo chamou os doze , e
começou a enviallos de dous em dous,
e lhesdeo poder contra osespiritos im-
mundos.
8 E ordenou-lhes , que nas jorna
das não levassem senão somente o seu
bordão: que não levassem nem alforge,
nem pão , nem dinheiro na cmta.
9 Mas que fossem calçados de íàn-
dalhas , e que não se provessem de duas
túnicas.
10 E disse-lhes: Em qualquer casa
onde entrardes, ficai nella , até sahir-
des do lugar.
n E quando succéda que vos não
queirão receber, nem ouvir; sahi, e sa
cudi o pó de vossos pés , em testemu
nho contra elles. 1
Ten-
CO Jesus fe admirava. Admirava-se , para
que nós nos admirássemos ; e para que admi-
rando-nos , concebêssemos hum extremo hor
ror desta disposição , que de si he capaz de
alongar de nós as divina s misericórdias. Saci.
Sëgundo S. Marcos. Cap.VT. 169
ií Tendo pais fahido , prégavao
aos póvos, que fízessem penitencia.
13 Eexpelliáo muitos demonios, c
ungiáo com oleo muitos enfermos , e
os curavâo.
14 Ora o Rei Hérodes ouvindo fal-
lar de Jésus , (porque o feu Nome se ti-
nha feito célèbre) disse : He que Joáo
Baptista reíurgio dos morros ; e por
isso elle obra tantos milagres.
15* Outros diziao, He Elias. Ou
tras , He hum Profcta , como os ou
tros Profetas.
16 Hérodes que Olivia estes rumo-
res , disse : Este he Joâo , a quem eu
mandei degollar , e que reíurgio dos
mortos.
17 Porque he defaber, que omes-
moHerodes, como setinha casado com
Herodias, sendo esta mulher de feu ir-
máo Filippe; mandou prender , e mét
ier em ferros no carcere a Joáo , por
causa desta mulher.
18 Porque Joáo Ihe dizia : Náo te
he licito ter a mulher de teu irmao.
Is-
270 O Santo Evangelho de J.C.
19 Isto fazia que Herodias (d) an
dasse espreitando occasiao de o perder;
mas não a podia achar.
20 Porque Herodes , que sabia que
João era hum homem justo , e santo,
temia-o , e respeitava-o ; e fazia por
conselho seu muitas cousas , e ouvia-o
com gosto.
21 Mas em fim chegou hum dia
favoravel para Herodias : e foi , que no
dia que Herodes fazia annos , deo elle -
hum banquete aos Grandes da Corte,
aos Officiaes de Guerra , e aos princi-
paes da Galiléa.
22 E como entrasse no festim a fi
lha da mesma Herodias ; bailou , e agra
dou ella tanto a Herodes , e aos que
estavao com elle ámeza, que o Rei lhe
disse : Pede-me o que quizeres , que tu
do te darei.
23 Ainda acereseentou mais com
ju-
(i) AndaJJc espreitando. Aífim traduzem Ame-
lote , Saci , e os de Mons , aquelle instdiabatur
ei da Vulgata, que o Grego diz, imminebat ei;
como se disseramos em Portuguez, andava sa
bre elle de -vigia. Pereira.
segundo S. Marcos. Cap. VI. 271
juramento : Tudo o que pedires , te
darei , (e) ainda que seja ametade do
meu Reino.
24 O que ouvindo a moça, sahio
a dizello a sua mãi , e perguntou-lhe :
Qiie hei de eu pedir? E a mãi lhe re-
spondeo ? A cabeça de João Baptista.
25 Foi elia logo (/) a grão pres
sa , e entrando onde o Rei estava : Pe
ço , lhe disse , que sem mais demora
me dê num prato a cabeça de João
Baptista.
26 Ficou o Rei triste : (g) mas por
cau-
(f) Ainda que seja ametade do meu Reino. San
to Ambrósio he de parecer, que este juramen
to foi affectado, e feito por Herodes de con
certo comHerodias, para ter hum pretexto de
dar a morce ao Baptista. Amelotb.
(/) -A grão pressa. Antes que o Rei es
friasse do gosto , e satisfação , em que estava
por ella. Saci.
(g) Ma! por causa do juramento. O juramen
to cahindo sobre huma matéria táo iniqua , co
mo era dar a morte a hum homem como o Ba
ptista , per si mesmo era nullo , e de nenhum
vigor. Só o capricho, ou a vaidade, opodiáo
fazer cumprir. Este assumpto provarão os nos
sos Padres do Concilio VI. de Toledo no Ca
non 2. com as authoridades de Santo Ambro
272 O SANTO EVANGELHO DEj.C*
causa do juramento , e dos que com el
le estavao á meza , nao a quiz defgos-
tar.
27 E aíîìm mandou a hum dosseus
gnardas , que lhe trouxesse a cabcça
n u m prato. E elle indo ao carcere 0
degollou :
28 E trazendo-a num prato , deo-a
á moça , e a moça a deo a sua mai.
29 O que ouvindo feus Diícipulos,
vierão, e levárao o feu corpo , e o po-
zerao no sepulchro.
30 Ora os Apostolos ajuntando-se
onde Jesus cstava , contárao-lhe tudo 0
que havião feito , e ensinado.
31 E elle lhes disse : Vinde, retirai-
vos a algum lugar deserto, e descançai
hum pouco. Porque com» erão muitos
os que entravão, e sahião, não tinhão
tempo para comer.
32 Entrando pois numa barca, de-
rão comsigo num lugar deserto , por
esta rem iós.
Po-
íìo, Santo Agoflinho, S. Gregorio Magn», e
Santo Hìdoro de Sevilha. Pereira.
SÈGUNDO S, MARCOS. Cap. VI.
3 3 Porém aîguns que os vírao partir ,
deráo a noticia a ontros : e aíïïm foráo
muitos os que sahindo de todas aquellas
Cidades , concorrêráo a pé para aquelle
lugar, echegárâo lá primeiro que elles*
34 Jésus saltando em terra, vio hu
ma grande multidao de povo, que lhe
fez compaixáo, porque eráo como ove-
llias sem pastor ; e começou a ensinar-
Ihes muitas cousas.
35* M is como se hia fazendo tar
de, chegárao-se a elle feus Discipulos,
e disseráo-lhe : Nós estâmes num de-
serto , e elle lie já tarde.
36 Despede-os , que váo por esses
Casaes, eAldeias vizinhas, a comprar
viveres que comâo.
37 Respondeo-lhes Jésus: Dai.-lhes
vós de corner. Continua ráo elles : (h) Se*
Tom. I. S rá
CAPITULO VII.
Tradições humanas contra os Divinos Pre
ceitos. Só o que fahe do coração , faz,
immundo o homem. Caso da mulher
Cananéa. Cura Jesus hum ho
mem surdo , e mudo.
C A P I T U L O VIII.
Sustenta Jesus quatro mil homens com fe
te paes. O fermento dos Farifeos. Cura
hum cego. Tergunta aos Apqftolos que
conceito férmao delle. Responde Pedro,
confeffando ser elle o Mefjias. Mas co-
mo pouco depôts o quer diffuadìr de pa-
decer , e de morrer ; o Senbor o repre-
hende , chamando-lhe Satanaz. HeneceJ-
fario levar a Cruz , e ir em feguimen-
to de Jefu Chrìfto. Nada devemos es-
timar tanto, como a nojsa aima.
CAPITULO IX.
A Transfiguração de Jesu Christo. A vhi'
da de Elias. Expelle Jesus hum demónio
fardo , e mudo. Prediz a sua Paixão ,
e Morte. O maior entre seus Discípulos
deve ser o mais pequeno. Deve-se arran
dar o olho , que nos ferve de escândalo.
CAPITULO X.
Não se pôde o marido separar de sua mu
lher para casar com outra. Abraça , e
abençoa Jejus os meninos. Quanto cus
ta largar os bens do Mundo. Recompen
sa dos que os largão por amor de Deos-
Reprime Jesus a ambição dos dou s Após
tolos , Tiago , e João. Dá vista a hum
1 cego.
CAPITULO XI.
Entrada de Jeju Chrijio em Jerusalem.
Amaldiçoa huma figueira. Lança fóra
do Templo
pojjivel os enegociantes.
dféfi, Nada dos
d oração. Verdão he ini
im-
CA-
CAPITULO XII.
A parabola dos Lavradores a quem se ar-
rendou huma vinha. Tentao as Fariseos
a Jesus jobre a obrigaçao depagarotri-
buto a Cejar ; e tentao-no os Sadducetts
Jobre a rejurreiçao. Quai he o primeìn
Mandamento. David chama leu Senfor
• ao MeJJlas. Cautela conira os Douions
da Lei. Louva Jesus a esmola de hum
pobre viuva.
CAPITULO XIII.
Destruição do Templo. Guerras , e perse
guições. Falsos Cbristos j e falsos Frase
ias. Sinaes no Sol , e na Lua. Vinda de
Jefu Christo cm grande gloria. Incerto
o dia da sua vinda.
G A P I T U L O XIV.
Ajunta-fe 0 Supremo Conselho contra Je
sus. Huma mulher ïhe lança sobre a ca-
beça huma redoma de cheiros. Traiçao
de Judas , que Jesus descobre. Infiitui-
çae do Sacramento da Eucarìstia. Cór-
ta Pedro huma orelha a Maïco. Fogem
os Discipulos. Jesus accufado naprefen-
ça de Caifaz , condemnado d morte , e
entrevue aos ultrajes da familia. Pedro
â nega tres vezes.
)
34» O Santo Evangelho de J.C.
65- Então começãrão alguns a cus
pir nelle, a tapar-lhe o rosto, e adar-
Jhe punhadas, dizendo : Adivinha. E
os officiaes lhe davão bofetadas.
66 Neste meio tempo estando Pedro
em baixo no pateo , veio huma das es
cravas do Summo Pontifice :
67 E vendo a Pedro , que estava
aquentando-se , encarou nelle, e disse-
lhe: Tu tambem estavas com Jesus Na
zareno. • : .{ •.,. :•> t :
68 Mas elle o negou, dizendo: Eu
não sei , nem entendo o que tu me di
zes. E como sahisse fora onde era a en
trada do pateo , cantou o gallô.
69 E outra escrava , que tambem
ovio, disse para os que estavão presen
tes : Este he lá daquelles.
70 Negou-o Pedro segunda vez. E
dahi a pouco disserão-lhe os que alli es
tavão : Seguramente tu es daquelles,
porque es Galileo.
* --71 E Pedro começou a praguejar,
e a jurar , .dizendo : Eu não conheço
esse homem, de que vós me fallais.
E
segundo S. Marcos". Cap. XIV. 343
72 E im mediatamente cantou o gal
io a segunda vez. E então se lembrou
Pedro da palavra queJesus lhe dissera:
Antes que o gatlo cante duas vezes ,
me has de tu negar tres vezes. E co
meçou a chorar. ... ■- T
CAPITULO XV.
Jesus apresentado a Pilatos. Barrabaz pre
ferido a Jesus. He condemnado a morrer
.crucificado. Ultrajes que lhe fazem os
soldados. Caminha para o Calvario , onde
he crucificado entre dous ladroes. Repar
tem os soldados entre st osseus vestidos.
Blasfemão muitos delle. Trevas em to
da a terra. Dd Jesus hum grande brd»
do , dizendo : Eloi. Chegão-lhe d boca
huma esponja de vinagre. Dd outro gran
de brádo , e espira. José de Arimathéa
0 sepulta com decencia.
CAPITULO XVI.
Vão assantas mulheres aosepulcro. Sabem
for aviso de hum Anjo ter Jesus resur-
gido. Apparece o Senhor á Magdalena :
depois a dous Dijcipulos : depois a to
dos os Apostolos juntos. Envia-os apré-
gar por todo o Mundo. Prediz os mila
gres , que hão de fazer os que crerem.
Sobe ao Ceo.