Sunteți pe pagina 1din 13

APRENDIZAGENS INTERDISCIPLINARES E

NARRATIVAS DE SI: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO


SUPERIOR NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
Pablo Rodrigo Bes Oliveira1
Gilmar de Moraes2

Resumo:

A escrita deste artigo surge da inquietação do autor em analisar como ocorre o processo de
apropriação dos conteúdos desenvolvidos buscando a interdisciplinaridade, pelos acadêmicos,
através das disciplinas de Estudos Culturais, Diversidade e Cultura Religiosa e Relações
Étnico-Raciais, do Curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade do Ensino à
Distância. A pesquisa foi realizada alunos que realizaram estas disciplinas e participaram das
mesmas através dos fóruns de discussão propostos, onde, além de encontrarem presentes
conceitos teóricos que se apresentaram conectados nas três disciplinas, foram realizadas
produções escritas nos moldes das “narrativas de si” que evidenciam o entendimento dos
mesmos sobre os assuntos. Dessa forma, puderam-se perceber detalhes interessantes sobre a
construção dos materiais, uso da linguagem mais apropriada e como as narrativas dos alunos
confirmam sua constituição e subjetividades. Como resultados da pesquisa, destacamos que
uma boa alternativa de promoção da aprendizagem interdisciplinar pode ser o uso de
narrativas onde os alunos retratem experiências de si. Através destas narrativas, percebemos
que os alunos ao narrarem-se acabam se constituindo e, através do resgate de suas memórias,
evidenciam como se formaram suas concepções de etnia e práticas interculturais.

Palavras-chave:Interdisciplinaridade.Educação a Distância.Narrativas. Experiência de Si.

INTERDISCIPLINARY LEARNING AND SELF-NARRATIVES: AN EXPERIENCE


IN HIGHER EDUCATION IN DISTANCE EDUCATION

Abstract:

The writing of this article arises from the author's concern to analyze how the process of
appropriation of the developed contents seeks to interdisciplinarity, by the academic ones,
through the disciplines of Cultural Studies, Diversity and Religious Culture and Ethnic-Racial
Relations, of the Degree in Pedagogy , in the form of Distance Learning. The research was
carried out by students who carried out these disciplines and participated in them through the
proposed discussion forums, where, in addition to finding present theoretical concepts that
were connected in the three disciplines, written productions were carried out along the lines of
"self narratives" their understanding of the subjects. In this way, interesting details about the
construction of materials, use of the most appropriate language and how the students'

1
Acadêmico do Curso de Especialização em Gestão e Tutoria em EAD. Tem graduação em Administração e
Licenciatura em Pedagogia. Possui especialização em Gestão e Planejamento Escolar, Educação Infantil, MBA
em Coaching e Mestrado em Educação.
2
Professor Orientador do Curso de Especialização em Gestão e Tutoria em EAD. Tem graduação em
Administração e Licenciatura em História. Possui Especialização, Mestrado e Doutorado em História
Empresarial.
2

narratives confirm their constitution and subjectivities can be perceived. As results of the
research, we emphasize that a good alternative of promoting interdisciplinary learning can be
the use of narratives where students portray experiences of themselves. Through these
narratives, we perceive that the students in narrating end up constituting themselves and,
through the rescue of their memories, evidence how their conceptions of ethnicity and
intercultural practices were formed.

Keywords: Interdisciplinarity. Distance Education. Narratives. Experience of Self.

1. INTRODUÇÃO
“Ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio”
Heráclito.

A iniciativa deste artigo surge da inquietação primeira sobre a famosa frase do filósofo
pré-socrático Heráclito, que nos capturou enquanto pesquisador da área da educação, mais
especificamente na educação à distância, e nos fez refletir nas disciplinas da matriz curricular
do Curso de Licenciatura em Pedagogia como as águas deste rio, onde ao adentrarem nossos
alunos, não mais seriam eles os mesmos. Da mesma forma que, nosso esforço e movimento é
para que, a cada nova oferta de uma disciplina em questão, também está (o rio) já não seja
mais a mesma, pois sofre ajustes, alterações, adaptações e novos incrementos por parte dos
professores.

Temos presenciado mudanças significativas em muitas áreas nas últimas décadas, que
afetam sobre maneira a nossa forma de viver e, desta forma, nosso jeito de ser e aprender.
Estas mudanças normalmente são descritas associadas às características do chamado
ciberespaço3 e o uso de novas tecnologias da informação e comunicação de forma
disseminada pela população.

Ao valer-se de uma quantidade nunca antes percebida de informações e imagens, as


pessoas procuram se ajustar, se organizar, adaptarem-se em busca de contemplar estas
mudanças, ao menos minimamente. Investem em torno daquilo que precisam para trabalhar e,
por outro lado, para viver como um ser cyber, inserido em redes sociais que exigem
participação ativa e esforços diários de aproximação e interação.

Dentro destes mecanismos de comunicação e interação propiciadas pelas novas


tecnologias, se encontra inserida, também a educação à distância, como uma modalidade de
ensino que objetiva valer-se destas ferramentas para promover caminhos onde aprendizagem
possa ser desenvolvida em formatos onde possamos alcançar nossos alunos nos inúmeros
recantos do Brasil.

A educação à distância, porém, não pode partir da ideia de que é uma modalidade
universal e que pode abranger a todos através de sua metodologia e propostas pedagógicas.
Lembramos que as pessoas são únicas e singulares e também, seguindo esta linha de
pensamento, aprendem de forma diferenciada e particular. Logo, ao propormos a Educação à
Distância devemos nos preocupar com estas singularidades/ particularidades e investir na

3
Segundo Pierre Lévy, o ciberespaço integra todas as mídias anteriores, como a escrita, o alfabeto, a imprensa, o
telefonema, o cinema, o rádio, a televisão e, adicionalmente, todas as melhorias da comunicação, todos os
mecanismos que foram projetados até agora para criar e reproduzir signos (LEVY, 2000, p.64).
3

construção dos materiais instrucionais que serão oferecidos, procurando oferecer linguagens
diversas e formatos variados que possam ajustar-se às especificidades ou modalidades da
aprendizagem de cada aluno.

Um ponto mais interessante a se analisar, fugindo do eixo clássico da dicotomia entre


o ensino universitário presencial e o à distância é que, em ambos, ainda se ensina e se aprende
de forma fragmentada, onde a tendência é para a separação e dissociação de saberes, o que, na
perspectiva dos autores deveria ser revisto.

Para darmos conta de atender estas inquietações iniciais que colocamos, nos valemos
de uma pesquisa com alunos que cursaram as disciplinas de Estudos Culturais; Diversidade e
Cultura Religiosa; e Relações Étnico-Raciais, do Curso de Licenciatura em Pedagogia, na
modalidade a distância. Os dados foram coletados através das atividades propostas pelo
ambiente virtual dos acadêmicos, onde exerceram a “narrativa de si” e, através das quais
podemos perceber indícios de aprendizagens interdisciplinares ocorridas.

2. APRENDER EM TEMPOS PÓS-MODERNOS

Tem sido um grande questionamento dos estudiosos da área da educação a forma


como as pessoas aprendem e, hoje, frente a este novo mundo global e digital, não seria
diferente.Podemos dizer que a pós-modernidade4 inaugura um tempo de problematizações em
torno do tema e que hoje admitimos com maior segurança que as pessoas aprendem sim e
muito, inseridas em sua cultura, através das práticas cotidianas, das experiências e vivências,
das trocas realizadas entre os grupos que participa.

O fato é que as culturas contemporâneas encontram-se envoltas com as tecnologias


digitais que compõe o chamado ciberespaço.

As grandes tecnologias digitais surgiram, então, como a infraestrutura do


ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de
transação, mas também novo mercado de informação e do conhecimento(Levy,
1999, p. 32, grifo nosso)

No conceito de ciberespaço do filósofo Pierre Lévy encontramos aproximações com o


que consideramos importante que exista na modalidade de educação à distância. Percebemos
que a comunicação e os espaços de sociabilidade existentes neste espaço devem ser
perseguidas e incrementadas, pois, principalmente na modalidade online os alunos anseiam
pela fluidez e rapidez da comunicação. Aspiram possuir a comunicação instantânea
característica dos ciberespaços.

Como bem citou o autor, este novo mercado que envolve a informação e
conhecimento engloba todas as milhares de instituições escolares, públicas e privadas que
fazem uso destas tecnologias nos seus processos de ensino, seja na modalidade presencial ou
na educação à distância.

4
Entendemos a pós-modernidade conforme HARVEY em sua obra Condição Pós Moderna, (2011), como um
período que possui algumas características facilmente identificáveis, sendo uma delas a própria reconfiguração
social ocorrida com o advento das novas tecnologias de informação e da emergência da comunicação em redes, a
chamada network.
4

Um desafio que nos inquieta ainda mais nessa esfera da educação na modalidade a
distância é a tentativa de transformar esse ensino em algo que possua traços interdisciplinares.
Mas, como a educação chegou aos moldes encontrados hoje, no Brasil e, porque não dizer no
mundo?

Para responder esta pergunta nos cabe um retorno ao passado antes mesmo da
constituição da Modernidade. “Para pensar o mundo, para conhecê-lo, é imperativo pensar
matematicamente, que é o sonho filosófico, a exigência cartesiana, o sonho da razão ou da
‘matematização do mundo”(SOUZA DA FONSECA, 2005, p.1).

Como se forma o modelo, padrão, molde ou paradigma que irá conduzir e constituir a
Modernidade? Temosque lembrar que existiram alguns fenômenos que ocorreram entre os
anos1500 e 1700 que acabam por alterar a forma como as pessoas descreviam o mundo eseu
modo de pensar.

De acordo com Capra (1982) antes de 1500, a visão do mundo dominante na Europa,
assim como na maioria das outras civilizações, era orgânica. As pessoas viviam em
comunidades pequenas ecoesas, e vivenciavam a natureza em termos de relações orgânicas,
caracterizadas pelainterdependência dos fenômenos espirituais e materiais e pela
subordinação dasnecessidades individuais às da comunidade.

Este entendimento do mundo de forma orgânica e interdependente irá transformar-se


radicalmente nos séculos XVI e XVII, onde “a noção de mundo como um universo orgânico,
vivo e espiritual foi substituída pela noçãode mundo como se ele fosse uma máquina, e a
máquina do mundo converteu-se nametáfora dominante da era moderna (CAPRA, 1982,
p.49)”.

Essa mudança foi ocasionada por mudançasrevolucionárias na física e na astronomia.


Tivemos o surgimento de um novo método de investigação desenvolvido por Francis Bacon,
o qual envolvia a descrição matemática danatureza e o método analítico de raciocínio
concebido por Descartes.

Aqui nos cabe discriminar um pouco mais do que se tratava tal mudança e como
aCiência agora passa a ser vista como legítima para operar e promover as mudanças eajustes
necessários ao mundo. A ciência, através do seu método científico desenvolvidoacaba
estabelecendo as verdades que irão reger o mundo e irão compor as formas depensar desde
então, as certezas sobre os fenômenos e suas explicações. Neste momento se instituem
grandes metanarrativas5 que irão reger os passos acadêmicos e intelectuais e, por conseguinte
as formas como se aprendem e ensinam no interior das instituições de ensino.

Pois bem, esta maneira de enxergar o mundo a partir de suas partes, procurando, dessa
maneira um melhor entendimento sobre o objeto de investigação foi e ainda é aplicado
atualmente em pesquisas experimentais e com ciências que utilizem esta metodologia como
suporte em suas pesquisas, porém, não deveria ter sido disseminada como único caminho e
fonte verdadeira e legitima para que os processos educativos ocorressem.

5
Por metanarrativas, valemo-nos do conceito trabalhado por Lyotard (1998), na sua obra A condição Pós-
Moderna, como modelos explicativos universais, estáveis e totalizantes, que estabelecem as perspectivas para
conhecer a realidade e associam à razão como verdade e o meio para emancipar o homem.
5

É curioso que atualmente, mesmo com inúmeros estudos eanálises que direcionam
outros caminhos para que os processos educativos se estabeleçam, isso ainda se encontra
distante. O que percebemos é que o conjunto de ideias ou este “discurso em sua realidade
material de coisa pronunciada ou escrita” (FOUCAULT, 1996, p.8) do método científico
cartesiano, principalmente notocante à pretensão de ser possuidor da Verdade em
detrimentode toda e qualquer outra maneira de analisar o problema, ainda possui grande
legitimidade e, de certa maneira, ainda percebemos uma primaziadas ciências exatas em
detrimento das humanas.

Da mesma forma, muito se tem falado sobre pensamentosistêmico ou interdisciplinar,


multidisciplinar e transdisciplinar, mas ainda aprendemos nanossa escolarização, salvo
algumas poucas exceções, de forma fragmentada, divididae separada por tipos, categorias e
classificações. Podemos afirmar que os discursos provenientes do método cartesiano e
baconiano ainda ressoam em nossas realidadesatuais e perpassam/ constituem nossos sistemas
de ensino, principalmente se entendermos que “todo sistema de educação é uma maneira
política de manter ou modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que
eles trazem consigo” (FOUCAULT, 1996, p.44). Saberes aqui entendidos como toda a gama
de conteúdos e conhecimentos criados no interior das múltiplas ciências que tomam para si as
regras cartesianas nas suas produções e poder, como o caráter produtivo e que se estabelece
microscopicamente nestes sistemas de educação, definindo/ articulando o que será ensinado,
seus formatos e metodologias.

Mas, problematizar sobre estas questões somente não é necessário, é preciso agir.
Precisamos providenciar que haja uma:

verdadeira ruptura entre o discurso teórico e a prática real dos agentes. Isso
compromete profundamente a atuação do agente, tornando-a totalmente estéril, uma
vez que ele não consegue se dar conta do mecanicismo de sua prática e das
exigências de sua contínua reavaliação. Ao mesmo tempo em que vai pronunciando
um discurso teórico esclarecido e crítico, transformador, vai realizando outro
discurso prático rotineiro, dogmático e conservador (SEVERINO, 2007, p.38).

Para que possamos contribuir de alguma forma com o processo de mudança da


realidade educacional devemos agir de forma inovadora, acreditando na ruptura necessária
para significar a aprendizagem através de novas maneiras onde esta possa ocorrer novamente
de forma global, orgânica e integrada.

3. A BUSCA PELA INTERDISCIPLINARIDADE

Buscar por uma prática interdisciplinar, aqui entendida, conforme Fazenda (1998)
como “mais processo que produto”, não vista como “categoria do conhecimento, mas de
ação”, significando uma tentativa deromper com discursos que se encontram soberanos nos
sistemas educacionais que nos encontramos e, inclusive, subverter a própria maneira como
fomos ensinados durante nosso processo de escolarização. Fazenda (1998) ainda, ao analisar
as diversas fases pelos quais o conceito de interdisciplinaridade passa ao longo das décadas de
70, 80 e 90, enfatiza que:

A revisão contemporânea do conceito de ciência orienta-nos para a exigência de


uma nova consciência, que não se apoia apenas na objetividade, mas que assume a
subjetividade em todas as suas contradições. A partir da constatação de que a
condição da ciência não está no acerto, mas no erro, passou-se a exercer e a viver a
interdisciplinaridade das mais inusitadas formas (FAZENDA, 1998, p.34).
6

Desta forma, entendendo que é necessário que os processos de ensino/aprendizagem


possam ocorrer de forma a envolver também as subjetividades envolvidas. Subjetividades
estas que nos constituem como professores bem como aos nossos alunos e que perpassam os
conhecimentos/ conteúdos e as disciplinas, não podendo ser deixadas de lado ou
menosprezadas, optou-se por perseguir uma prática interdisciplinar. Mesmo entendendo que
esta prática se estabeleça de encontro, chocando-se com o formato como, ainda hoje,
percebemos nos processos educacionais desenvolvidos no nível superior analisado.

Poucos ainda são os professores que se arriscam em busca de uma postura


interdisciplinar em seus projetos e planejamentos de suas aulas, desfazendo-se dessas amarras
das ciências cartesianas que fizeram parte de nossa escolarização inicial. Ressaltamos o que
nos lembra Veiga-Neto ao falar:

Todos nós que hoje exercemos a docência ou a pesquisa em Educação tivemos uma
formação intelectual e profissional nos moldes iluministas. Uma das consequências
disso é que talvez não estejamos suficientemente aptos para enfrentar, nem mesmo
na vida privada, as rápidas e profundas mudanças culturais, sociais, econômicas e
políticas em que nos achamos mergulhados (VEIGA-NETO, 2007, p.23).

As formas como fomos ensinados, como tivemos nossas primeiras experiências na


escolarização inicial, os procedimentos e características de nossos primeiros mestres, as
estruturas e mecanismos criados para esta finalidades são parte integrante de nossa
constituição e, representam modelos que irão aparecer e confrontar-se quando buscamos
outras formas de atuar como professores. Podemos admitir existir um choque de alguns
discursos ao tomarmos esta proposição. Alerta Larossa (1994)

(...) que a própria experiência de si não é senão o resultado de um complexo


processo histórico de fabricação no qual se entrecruzam os discursos que definem a
verdade do sujeito, as práticas que regulam seu comportamento e as formas de
subjetividade nas quais se constitui a sua própria interioridade. (LAROSSA, 1994,
p.43)

Pensando dessa maneira, se propor a trabalhar com as disciplinas buscando um


formato interdisciplinar tem tanto a ver com o que se propõe ao aluno quanto o que se projeta
a si mesmo como educador, tem relação direta às práticas que historicamente nos marcaram e
constituíram verdades sobre o ensinar e sobre o aprender que impregnam nossa práxis. Então,
buscar outro (des)caminho é almejar por uma certa liberdade e aventurar-se a, além de pensar
diferente sobre o tema, também materializar em ações estes pensamentos. É levantar uma
bandeira em busca de “transmitir não o mero saber,mas uma cultura que permita compreender
nossa condição e nos ajude aviver, e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar
aberto e livre” (MORIN, 2005, p.11).

4. OS CAMINHOS INVESTIGATIVOS

A pesquisa valeu-se como material empírico de análise, dos fóruns utilizados para a
mediação dos conteúdos aos alunos através de seu ambiente virtual de aprendizagem das
disciplinas de Estudos Culturais, Cultura e Diversidade Religiosa e Relações Étnico-Raciais e
Educação Africana e Indígena. Nestes fóruns, forma propostas atividades onde os alunos
pudessem narrar-se em torno de algumas experiências abordando conteúdos comuns as
disciplinas em questão. Após a execução destas narrativas, fez-se a leitura das mesmas
procurando perceber indícios de que os conteúdos possam ter sido entendidos na forma de sua
7

inter-relação e, desta forma, suscitado melhores condições de resposta aos acadêmicos. Estes
acadêmicos fazem parte do curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade à distância,
online.

Foram analisadasas respostas de 1295 alunos, distribuídos pelas três disciplinas citadas
durante o primeiro semestre de 2017. Nestes fóruns, bem como nas disciplinas em questão
procurou-se observar para efeito desta pesquisa como os alunos se posicionariam em relação
ao conceito de cultura6 e diversidade cultural, uma vez que entendemos ser o conceito central
para o entendimento proposto pelas disciplinas. O que nos interessou era poder verificar como
os conceitos operavam através dos alunos, uma vez que haviam sido trabalhados de forma
fragmentada e agora deveriam, com a proposta dos fóruns, serem articulados de forma
integrada e complementar.

Nesta metodologia de pesquisa entendemos ser importantes como elementos a serem


analisados, as subjetividades, os traços identitários que se evidenciam nas narrativas propostas
aos alunos. Da mesma forma como entendemos os pesquisadores implicados/ perpassados
pela pesquisa e seus resultados uma vez que, da mesma forma que os alunos, estes também,
ao escreverem e interpelarem os dados, constituem-se a partir de suas narrativas.

5. OS ACHADOS DA PESQUISA

Visando uma prática que promovesse um processo de aprendizagem interdisciplinar


envolvendo as disciplinas em que os autores se encontravam responsáveis pela docência,
foram propostos fóruns aos alunos que contemplassem questões onde se pedia aos alunos
respostas discursivas, focadas nas narrativas de suas experiências relacionadas aos temas.
Como tema central, perseguimos o conceito de cultura, enquanto práticas e discursos que
constituem a nossa própria identidade, bem como a diversidade cultural, típica de uma
sociedade altamente hibridizada ou miscigenada etnicamente como a da nossa sociedade
brasileira.

Figura 1. Imagem de Fórum da disciplina de Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-Brasileira e


Indígena

6
Aqui cabe esclarecer que nos valemos do conceito de cultura, conforme Hall (2006) onde se refere ao conjunto
de práticas que fazem parte da constituição de nossas identidades durante o percurso de nossas vidas, logo, sendo
social e historicamente construída. Entendemos para o efeito da pesquisa que a religiosidade é também parte
importante da cultura, bem como a forma como nos confrontamos com as questões étnico-raciais também são
produzidas socialmente no interior destas culturas.
8

Fonte: Recurso eletrônico, Pedagogia EAD, Rede CNEC, 2017.

Transcrição do texto deste fórum: Olá pessoal! Nesta unidade discutimos os conceitos de
pluralidade e diversidade cultural, que são importantes para que possamos atingir o patamar
da Interculturalidade. Dessa forma, vamos fazer um pequeno resgate de nossas origens étnicas
e culturais?

Após esse regramento sobre a atividade o professor coloca-se a narrar sobrea sua
infância e a constituição étnica de sua família, o que faz com que os alunos tenham um
engajamento maior na atividade ao perceberem a sua participação.

Figura 2. Imagem de Fórum da disciplina de Cultura e Diversidade Religiosa

Fonte: Recurso eletrônico, Pedagogia EAD, Rede CNEC, 2017.

Transcrição do texto com a proposta do fórum:Queridos alunos e alunas! No nosso Fórum


desta semana temos a intenção de abordar, para efeito de conhecimento geral e
enriquecimento cultural, as mais variadas denominações religiosas que fazem parte das
localidades onde vivemos. Desta forma, fica a tarefa:Escolha uma religião a seu critério,
descreva o seu nome e comente como a doutrina desta denominação escolhida considera o
transcendente, a vida após a morte.

Uma análise sobre as respostas dos alunos nesse fórum evidenciou o conhecimento
adquirido nas demais disciplinas sobre a importância do respeito a diversidade cultural e o
reconhecimento de que as religiões também fazem parte significativa da cultura da qual as
pessoas fazem parte. Mesmo não sendo abordada diretamente sobre esta questão, ao
referirem-se a denominação religiosa que escolheram, aparecem inúmeras vezes as expressões
“respeito em primeiro lugar”, “cada um com a sua opinião diferente”, ou ainda, “Acho que
respeitar o outro é o melhor a se fazer, seja qualquer religião que ele seguir”, entre outras
deste tipo.
Figura 3. Imagem de Fórum da disciplina de Estudos Culturais
9

Fonte: Recurso eletrônico, Pedagogia EAD, Rede CNEC, 2017.

Transcrição do texto com a proposta de trabalho: Queridos alunos, neste pequeno texto eu
narro um pouco da minha história pessoal, na tentativa de estabelecer uma análise sobre como
os aspectos étnicos me constituíram e acabaram tangenciando e influenciando a minha
trajetória. É proposto que você faça o mesmo exercício:Construa uma narrativa da sua vida
pessoal, desde a infância, abordando os aspectos étnicos envolvidos e os aspectos
relacionados à área da sua educação formal (escolar) e informal (no âmbito da família e outros
grupos sociais).Compartilhe conosco essa sua história.

Neste fórum, o professor antecipou-se ao enunciado proposto narrando como foi a sua
infância aos alunos e problematizando os aspectos relacionados a sua educação formal e
informal. Após seguem as instruções para a execução da tarefa.
O momento da análise das respostas destes fóruns para a produção deste artigo se
reveste de uma grande história de subjetividades que se afloram com as propostas colocadas
aos alunos. Nas suas narrativas podemos perceber em detalhes como as questões relacionadas
ao conceito de cultura que havíamos procurado ensinar no interior das três disciplinas
propostas se evidencia, pois os relatos nos contam muito mais do que havíamos pedido, nos
contam, nas entrelinhas sobre como as práticas e os discursos culturais se estabelecem e
moldam estes sujeitos que se narram. Nas palavras de Larossa (1994), “cada pessoa se
encontra já imersa em estruturas narrativas que lhe preexistem e em função das quais constrói
e organiza de um modo particular sua experiência, impõe-lhe um significado”.

Das centenas de relatos suscitados pela provocação inicial do fórum, elegemos para
análise algumas dezenas de respostas onde apontavam-se indícios, pistas, posições,
marcadores de experiências que serviram para compor estes alunos enquanto sujeitos, no
interior de suas culturas. De acordo com ARFUCH (2010, p.118) “a percepção do caráter
configurativo das narrativas, em especial as autobiográficas e vivenciais, se articula, quase de
modo implícito, com o caráter narrativo da experiência”.

Algumas respostas que nos apontaram questões interessantes foram as seguintes: “me
ajudaram formar a minha cultura e meu futuro”, “fui estudar seguindo o ensinamento dos
meus pais e também para deixá-los orgulhosos”, “minha mãe sempre dizia que minha
professora era minha segunda mãe”, “tive também amigos de diferentes cores, e nunca me
senti diferente deles”, ”tinha amigos de todas as cores e nunca diferenciei ninguém, pois
sempre tive uma educação onde todos são iguais, independente de culturas, raça...”, “meus
10

pais sempre trabalharam para que não me faltasse nada e o mais importante que era o estudo ,
já que eles não tiveram a oportunidade”.

Os relatos denotam os aspectos referentes às questões sociais envolvidas,


evidenciando em sua grande maioria relatos associados a pobreza e condições humildes
durante a infância e juventude. Evidenciam como os ensinamentos dos pais acerca dos
estudos se estabelece na forma de uma profecia que se cumpre ao permanecerem nos estudos
em nível superior. Da mesma maneira, os relatos espontâneos associados aos aspectos que
envolvem questões étnicas ou raciais demonstram o entendimento do pertencimento destas no
conceito maior e abrangente da cultura familiar ao qual se encontravam inseridos. Saliento
que inúmeras foram as narrativas, da mesma forma, onde relatos de haverem sido
presenciadas/ vivenciadas cenas de racismo também se fizeram presentes, o que sugere
análises futuras sobre estes relatos.

Evidenciou-se através das centenas de respostas diretas (feitas pelos próprios alunos) e
indiretas (comentários dos colegas sobre seus relatos) que o entendimento do conceito de
cultura e da diversidade cultural, da forma como procuramos desenvolver no interior das
disciplinas se evidenciou nas respostas propostas no formato interdisciplinar. O conceito
trabalhado foi entendido, sendo ressignificado nas respostas que nos apontaram inúmeras
evidências de discursos e práticas que envolveram o desenvolvimento daqueles que se
narram. Isso ocorre nos relatos sobre a infância, sobre as tradições, sobre os conselhos, enfim,
sobre as experiências mais diversas que envolveram e constituíram as suas identidades
culturais.

Neste momento percebemos que ao suscitar o uso de algumas tecnologias do eu


propostas por Larossa (1994), sobre tudo o ver-se, expressar-se e o narrar-se, ficaram
explicitadas as condições sobre as quais os sujeitos se constituíram, ou seja, “o sujeito é uma
variável do enunciado. E são estes posicionamentos, essas posições discursivas, as que
literalmente constroem os sujeitos, na mesma operação que lhe atribuem um lugar
discursivo”(LAROSSA, 1994, p.66).
As respostas evidenciam como os conselhos/ ensinamentos dos pais, avós e familiares
a respeito da escola parecem acompanhar uma ideia de emancipação de uma condição de
precariedade ou pobreza através do estudo escolarizado. Ou seja, percebemos que essa matriz
que suscita o investimento num certo tipo de preparação intelectual que irá propiciar maiores
condições financeiras no futuro, se ajusta muito bem ao modelo capitalista e hiperconsumista
que nos encontramos inseridos atualmente.

Por hiperconsumo, nos alinhamos com Lypovetski (2007) entendendo que hoje a
sociedade já não se sacia somente com o ato de consumo em si e sim “espalha-se toda uma
cultura que convida a apreciar os prazeres do instante, a gozar a felicidade aqui e agora, a
viver para si mesmo” (p.102). Desta forma, viver numa sociedade onde tudo ao seu redor
convida/ convoca para consumir, inclusive associando a felicidade a este ato, parece
naturalizar o fato de que, possuindo maior renda, seremos mais felizes. E, o mercado de
trabalho impõe como um de seus inúmeros discursos, o de que com maior formação/
escolarização, melhor será a conquista de um bom emprego (aqui entendendo como bom
aquele que me propiciaum salário que me insira ainda mais neste consumo desejado).

Nas narrativas dos alunos, podemos perceber que aqueles que se descreviam com
infâncias humildes em ambientes precários e vulneráveis socialmente, procuram afirmar que
“ainda assim” foram felizes. O que demonstra certa vergonha ou timidez do adulto ao narrar-
11

se e perceber essa lógica materialista/ capitalista que não fez parte de seus olhares quando
criança. É pensando e olhando para a infância, buscando o retrospecto proposto pelos
exercícios que se expõem olhares diferentes e se percebem questões que naquela época não
eram importantes nem problematizadas. Ou seja, o que é necessário para que sejamos
realmente felizes?

Aqui nos cabe salientar que “é contando histórias, nossas próprias histórias, o que nos
acontece e o sentido que damos ao que nos acontece, que nos damos a nós próprios uma
identidade no tempo”(LAROSSA, 1994, p.69). Essa identidade forjada pelas práticas
culturais, marcadas pelas experiências temporais ficou muito evidente nas narrativas dos
acadêmicos nas centenas de respostas das quais selecionamos algumas para essa análise. De
fato percebemos que, conforme anunciou Larossa (1994, p.69) “a subjetividade humana está
temporalmente constituída, a consciência de si estará estruturada no tempo da vida”. E o
tempo da vida é a cultura!

Porém, cabe aqui um olhar crítico para este posicionamento narrado como verdade
absoluta, que une a ideia de carência de recursos materiais com a infelicidade ou o insucesso e
que enxerga ou transfere para a educação a saída para esta mazela estrutural. Pois, a cada dia,
formam-se mais pessoas, no nível superior e, nem por isso, não existam desempregados
também formados. Essa ideia de associar o capital humano (pessoas) com o capital intelectual
(conhecimentos dos trabalhadores de uma empresa somados) é típica de um processo de
globalização7 que impõe ao mundo uma visão empreendedora e, por conseguinte, um modo
de ser e agir alinhados como uma lógica que visa ser universal e que, ao mesmo tempo que
favorece alguns, exclui e marginaliza muitos outros.
Costa (2009), adverte que:

(...) a estreita interface dessa teoria do Capital Humano com a educação está,
portanto, na importância que a primeira atribui à segunda, no sentido desta última
funcionar como investimento cuja acumulação permitiria não só o aumento da
produtividade do indivíduo-trabalhador, mas também a maximização crescente de
seus rendimentos ao longo da vida (COSTA, 2009, p.177).

Seguindo neste raciocínio, a educação se insere na preparação e formação deste capital


que irá mobiliar as empresas e que alia-se a ideia de que para que aumente seus ganhos o
trabalhador precisa possuir habilidades empreendedoras, no sentido de possuir iniciativa de
investir e buscar sua própria formação e aprimoramento. Estes discursos possuem muita força
em nossa sociedade, compondo nossa cultura, e foram explicitados também nas respostas dos
alunos. Alguns dos relatos contam de que os pais não tiveram a oportunidade de estudar e que
os alunos sentiam-se nesta obrigação de aproveitar os estudos também por este motivo,
porém, o que poderia ser problematizado aqui seria se, na época da escolarização de seus pais,
os apelos e direcionamentos em busca desta constituição de capital humano era tão evidente/
necessária/ urgente quanto em nossos dias atuais?

6. CONSIDERAÇÃO FINAIS

7
Aqui entendemos globalização como um processo que vai muito além de simples união em blocos econômicos
ou eliminação/ diminuição de barreiras comerciais e sim, como um movimento que impõe mudanças culturais,
econômicas, sociais e políticas que assolam o mundo inteiro a partir de meados dos anos 1990 e acabam
elegendo como hegemônico o sistema econômico capitalista como caminho a ser seguido. Da mesma forma,
associa-se ao fenômeno da globalização o advento das novas tecnologias de informação e comunicação que se
estendem ao mundo via world wide web. A globalização evidencia muitos olhares críticos pela forma como foi
imposta e pela evidência do aumento da pobreza e de pessoas marginalizadas ao redor do mundo.
12

Os desafios que a atual condição Pós Moderna nos impõe refletem diretamente nas
formas como a aprendizagem de nossos alunos ocorre, uma vez que os ritmos, tempos e
espaços em que as mesmas ocorrem se reconfigura na mesma proporção da reconfiguração
espaço-temporal que presenciamos.

Dessa maneira, procurar por novos processos de ensino–aprendizagem que reflitam


numa prática interdisciplinar se fazem necessários. Também é importante que se revejam os
processos de escrita e se proponham exercícios de análise das narrativas trazidas por nossos
alunos. Narrativas estas que devem ser vistas como constituidoras dos sujeitos que se narram,
como altamente implicadas na sua identidade cultural e social.

Ao experimentarem um espaço interdisciplinar onde havia a possibilidade da


elaboração de uma narrativa, os acadêmicos puderam refletir sobre suas memórias e
exteriorizar os seus aprendizados ao contarem suas próprias histórias. Estas histórias puderam
relacionar como os aspectos étnico-raciais e as práticas culturais e discursos familiares se
mostram presentes e servem como elementos fortemente relacionados à constituição dos
sujeitos e suas subjetividades.
13

REFERÊNCIAS

ARFUCH, Leonor. O Espaço Biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de


Janeiro: EDUERJ, 2010.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1998.

COSTA, Sylvio de Sousa Gadelha. Governamentalidade neoliberal, teoria do capital


humano e empreendedorismo. Educação & Realidade, 2009, 34.2.

FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. São Paulo;


Papirus, 1998.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso: aula inaugural proferida no Collège de France,


pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 1996.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. TupyKurumin, 2006.

LÉVY, Pierre. O ciberespaço como um passo metaevolutivo. Revista FAMECOS, Porto


Alegre, n. 13, dezembro 2000.

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo.


São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. J. Olympio, 1998.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 11. ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

SEVERINO, Antônio Joaquim. O conhecimento pedagógico e a interdisciplinaridade: o


saber como intencionalização da prática. In: FAZENDA, Ivani (Org.). Didática e
Interdisciplinaridade. 12 ed. Campinas: Papirus, 2007, p.31-44.

SOUZA DA FONSECA, Maria. Sobre a matematização do mundo. Revista Iberoamericana


de Educación, Número 35/7, 2005.

VEIGA-NETO, Alfredo. Olhares. In: Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa


em educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

S-ar putea să vă placă și