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ORGANIZAÇÃO SETE DE SETEMBRO DE CULTURA E ENSINO LTDA

FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FASETE


BACHARELADO EM DIREITO

GILSELÂNDIA BRITO DE GOIS

O FENÔMENO BULLYING E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS:


A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE INDENIZAR E A
RESPONSABILIDADE CRIMINAL

PAULO AFONSO – BA
2012
GILSELÂNDIA BRITO DE GOÍS

O FENÔMENO BULLYING E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS:


A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE INDENIZAR E A
RESPONSABILIDADE CRIMINAL

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito da Faculdade Sete
de Setembro – FASETE, como requisito
para obtenção do título de Bacharel em
Direito, sob a orientação da professora
Profª. Espc. Fabiene Arrais.

PAULO AFONSO – BA
2012
Dedico este trabalho a Deus, razão da minha existência, que me iluminou
durante essa jornada me dando força e sabedoria para concluí este
trabalho, a minha mãe Rosilândia Brito de Góis, ao meu pai Gilberto
Bezerra de Góis, ao meu irmão Bruno Brito de Góis, sem dúvidas é neles
que me espelho todos os dias, sendo responsáveis por tudo que sou e que
ainda serei.

Dedico também ao meu namorado Ygor Alysson Leite Miranda, pelo apoio
e compreensão em todos os momentos, sempre me incentivando, jamais
permitiu que eu desistisse.

A minha orientadora Fabiene Arrais, pelo carinho, incentivo, apoio, pela


confiança depositada, me deixando segura e confiante a respeito do tema
escolhido, por dividir seu imenso saber e pela disponibilização do seu
tempo.

Com imenso respeito e admiração à minha avó materna Maria Augusta de


Brito (in memorian) que não pode estar aqui para ver a realização desse
sonho, mas que muito me incentivou. Saudades da minha vó querida !!!

A toda minha família e amigos que ficaram envolvidas direta e


indiretamente na conclusão deste trabalho.

A todas as pessoas que sofreram e foram vítimas do bullying em algum


momento de sua vida.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradecer à Deus, razão da minha existência, muito obrigada


por me iluminar em todos os mementos da minha vida, só ele é digno de toda honra
e toda glória, tu eis fiel Senhor. Disse o Senhor: Não temas, porque eu sou contigo;
não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento
com a destra da minha justiça (Is 41.10)

Aos meus pais e meu irmão por existirem na minha vida.

Em especial quero agradecer ao meu namorado Ygor Alysson por toda


compreensão e apoio em meus momentos de desanimo.

À minha grande amiga e irmã Tharcila Ferraz, você sabe que mora em meu
coração.

Às minhas amigas Helen Oliveira, Edileuza e Fabíola Araújo que apesar da


distância sei que sempre estarão torcendo pelo meu sucesso.

À minha vizinha e amiga de todas as horas Nielma Barbosa, eu sempre


batendo a sua porta para pedir ajuda, muito obrigada.

A minha querida e admirável orientadora, Fabiene Arrais, responsável por


meu sucesso na conclusão deste trabalho.

Aos professores convidados para compor a banca Amin Seba e Risete Reis,
sempre com muita dedicação e comprometimento pelo curso.

Sem esquecer a grande colaboração da minhas companheiras e amigas de


todas as horas Jacque e Maira pelas palavras de apoio nos momentos mais difíceis,
à Osmar por me presentear com o livro Bullying na escola, pelas dicas de elaboração
desse trabalho ao qual me ajudou bastante e à Nancy Cavalcanti que sempre com
muita boa vontade fez as correções de ortografia pertinentes e sempre tirou minha
dúvidas, muito obrigada pelo incentivo de vocês.

À minha sogra e a minha cunhada por todo apoio.

Á todos os meus colegas de trabalho (Equipe Escritório Luiz Neto Advogados


Associados), pelo apoio e compreensão, em especial Adriene Cavalcante pela sua
ajuda e apoio nas horas mais difíceis.
Aos meus colegas de turma, pelos momentos de companheirismo que
tivemos durante esses quatro anos que passamos juntos, tantas foram às diversões,
troca de conhecimentos, alegria, stress e brigas.

Aos docentes, na transmissão de conhecimentos e experiências, apoiando


em nossas dificuldades.

Àqueles da minha turma que não conseguiram chegar até o final.

A toda a minha família por todo apoio e carinho, em especial as minhas


primas que eu amo Gérsica e Jailma e a minha Tia Cristina é um prazer ser sua
sobrinha e meus tios Edvalson e Nego), vocês possuem uma parcela muito especial
na realização desse sonho. Serei eternamente grata! Cada um com seu jeito
especial deixaram marca essa linda história.

A todos vocês o meu muito obrigada, por tudo de bom que me ensinaram, e
por cada expressão de apoio.
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e
ainda quando for velho não se desviará dele.
(Provérbios, 22,6)
RESUMO

GOIS, Gilselândia Brito de. O fenômeno bullying e seus aspectos jurídicos: A


responsabilidade civil, o dever de indenizar e a responsabilidade criminal.
2012. 120 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em Direito –
Faculdade Sete de Setembro - FASETE, Paulo Afonso/Bahia, 2012.

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar os aspectos jurídicos do


fenômeno bullying, a responsabilidade civil e o dever de indenizar e a
responsabilidade criminal, e ainda, como tem se posicionado o Poder Judiciário
frente aos casos desse fenômeno. A violência escolar vem aumentando em larga
escala. O bullying é um conjunto de agressões físicas e/ou psicológicas praticadas
por um agressor, de forma intencional e repetitiva, sem motivação aparente, contra
uma ou mais vítimas indefesas. Neste contexto, o estudo mostra o papel da família e
da escola na prevenção e enfrentamento da ocorrência de bullying no âmbito
escolar, e ainda, a responsabilidade civil dos pais, da escola, e do próprio agente
praticante do bullying, bem como, a responsabilidade criminal frente aos casos do
fenômeno bullying. Os procedimentos metodológicos utilizados para este estudo
foram: pesquisa bibliográfica, científica, qualitativa e exploratória. Diante dos
resultados da pesquisa, faz-se necessário frente à ausência de legislação
específica, abordar a Constituição Federal, Código Civil, Código Penal, Estatuto da
Criança e do adolescente e o Código de Defesa do Consumidor. Constatam-se
através da pesquisa os aspectos jurídicos do bullying, e a responsabilidade nas
esferas cível e criminal, bem como, o posicionamento do Poder Judiciário.

Palavras-chaves: Fenômeno bullying, responsabilidade civil, responsabilidade


criminal, violência escolar.
ABSTRACT

GOIS, Gilselândia Brito. The bullying phenomenon and its legal aspects: civil
liability, the duty to indemnify and criminal liability. 2012. 120 pages. Completion
of course work for Bachelor of Law - School of Seven in September - FASETE, Paulo
Afonso / Bahia, 2012.

This paper aims at analyzing the legal aspects of the bullying phenomenon, liability
and duty to indemnify and criminal responsibility, and yet, as has positioned itself
against the judiciary in cases of this phenomenon. School violence has been
increasing in scale. Bullying is a set of physical aggression and / or psychological
committed by an aggressor, intentionally and repeatedly, without apparent
motivation, against one or more helpless victims. In this context, the study shows the
role of family and school to prevent and cope with the occurrence of bullying in
schools, and also the liability of parents, school, and the agent itself practitioner of
bullying, as well as the responsibility criminal cases against the bullying
phenomenon. The methodological procedures used for this study were: literature,
science, qualitative and exploratory. Considering the results of the research, it is
necessary to face the absence of specific legislation addressing the Constitution,
Civil Code, Criminal Code, the Child and Adolescent Code and Consumer Protection.
Realize yourself by researching the legal aspects of bullying, and responsibility in
civil and criminal spheres, as well as the positioning of the Judiciary.

Keywords: bullying phenomenon, civil liability, criminal liability, school violence.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAPIA: Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a


Adolescência

APLB: Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia

APUD: Escrito Por

ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente

CFB: Constituição Federal Brasileira

CCB: Código Civil Brasileiro

CDC: Código de Defesa do Consumidor

CPB: Código Penal Brasileiro

CNJ: Conselho Nacional de Justiça

ONG: Organização não-governamental


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................11

1 VIOLÊNCIA NO AMBITO ESCOLAR E O FENÔMENO BULLYING: Um alerta nas


escolas.......................................................................................................................17

1.1 O FENÔMENO BULLYING: DA SUA ORIGEM A ATUALIDADE........................23


1.1.1Conceito e formas do bullying............................................................................28

1.2 PERSONANGENS E IDENTIFICAÇÃO DA PRÁTICA DO BULLYING.............35

1.2.1 Alvos do bullying................................................................................................36


1.2.2 Os bullies agressores........................................................................................37
1.2.3 Os espectadores da maldade............................................................................39

1.3 AS MARCAS DA MALDADE: O fenômeno bullying e suas consequências aos


envolvidos...................................................................................................................42

2 O ÁRDUO CAMINHO DOS VALORES MORAIS NA SOCIEDADE


COMTEMPORÂNEA: Ausência ou inversão desses valores gera o bullying............44

2.1 A PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES E NO


ENFRENTAMENTO AO BULLYING.........................................................................48

3 O FENÔMENO BULLYING E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS.............................60

3.1 O FENÔMENO BULLYING COMO FATO GERADOR DA


RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE INDENIZAR.....................................70

3.2 BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE CIVIL......................................73

3.2.1 Definição e classificações da responsabilidade civil.........................................76


3.2.2 Da responsabilidade dos pais por ato ilícito praticado por filho menor de
idade...........................................................................................................................82
3.2.3 Da responsabilidade civil quando a prática do bullying é cometida por pessoa
capaz..........................................................................................................................92
3.2.4 Da responsabilidade das instituições de ensino (pública e privada)................92

4 DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR PRÁTICAS DE BULLYING ..........102

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................108

REFERÊNCIAS........................................................................................................112

ANEXOS......................................................
INTRODUÇÃO

A violência nas escolas ainda é um dos maiores desafios da atualidade, ela


representa uma ameaça à ordem pública e ao processo de ensino aprendizagem,
acarretando graves consequências na vida das vitimas, erradicar as principais
causas que ameaçam a boa convivência entre as pessoas, deve ser o principal
objetivo, eliminando a violência e o desrespeito ao próximo. Diante da violência nas
escolas, a insegurança passa a fazer parte do cotidiano de todos os envolvidos no processo
educativo. Esse ambiente torna-se totalmente impróprio, desagradável e de exclusão.

O fenômeno bullying está presente em toda escola, seja pública ou particular,


independente de localização ou do tamanho da instituição. Nesse sentido a
psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva, autora da Cartilha Justiça nas escolas
(2010, p.11) afirma a existência do fenômeno em qualquer escola sem fazer
distinção:
O bullying existe em todas as escolas, o grande diferencial entre elas é a
postura que cada uma tomará frente aos casos de bullying. Por incrível que
pareça os estudos apontam para uma postura mais efetiva contra o bullying
entre as escolas públicas, que já contam com uma orientação mais
padronizada perante os casos (acionamento dos Conselhos Tutelares,
Delegacias da Criança e do Adolescente etc.).

O que difere entre o tipos de violência são as formas de abordagem das práticas, o
que torna necessário identificá-las para que se faça a intervenção de forma efetiva
logrando êxito.

Para SILVA (2010), o fenômeno bullying não é algo novo. Esse fenômeno sempre
existiu na sociedade e também no ambiente escolar, mas atualmente tem ganhando
maior destaque devido o aumento dessas ocorrências nas escolas. No entanto, as
pesquisas cientificas sobre o tema iniciaram nos anos 70, pelo pioneiro e
pesquisador da Universidade de Berger, na Noruega o professor Dan Olweus. De
acordo com Silva (2010, p. 14), “não tenho dúvidas de que o bullying não pode mais
ser tratado como um fenômeno exclusivo da área educacional. Atualmente ele já é
definido como um problema de saúde pública [...]”.

O fenômeno bullying é um tipo de violência envolvendo estudantes, pode ser


caracterizado por agressões físicas ou psicológicas entre crianças ou adolescentes,
no âmbito escolar. Esse tipo de violência possui características próprias que não se
deixa confundir com qualquer outra forma de violência, o bullying ocorre através de
atitudes agressivas, intencionais, repetidas que acontece sem motivação aparente,
praticado por um ou mais agressores, ocasionando dor e angústia, sendo efetuadas
em uma relação desigual de poder. (SILVA 2010, p. 21)

Segundo Silva (2010, p. 21) de origem inglesa, sem tradução na língua portuguesa,
o termo bullying significa um conjunto de atos agressivos físicos, e/ou psicológicos
praticados bully (agressor) valentão, tirano, brigão em face de uma ou mais vítimas
indefesas. Esse comportamento agressivo ocorre de forma intencional, repetitiva e
sem motivação aparente. Como verbo significa ameaçar, amedrontar, tiranizar,
oprimir, intimidar, maltratar. Sendo utilizado para caracterizar atos de agressividade
entre estudantes no ambiente escolar, causando dor, sofrimento e angústia a suas
vítimas.

No ambiente virtual, o bullying numa nova modalidade, o chamado cyberbullying,


que se utiliza dos meios dos tecnológicos como: e-mails, MSN, blogs, Orkut, twitter,
face book, torpedos. A violência agora ultrapassa a escola tornando uma
perseguição as suas vítimas que não tem mais segurança em nenhum lugar.

A identificação do fenômeno não é algo simples. Logo, é fundamental que todos


tenham conhecimento sobre o tema, para que seja feita a identificação precoce e
necessária para prevenção e enfrentamento de suas práticas em sala de aula.

Contundo, o estudo da temática é de suma importância, uma vez que a violência


escolar aumenta a cada dia, causando consequências psíquicas e sociais às
vítimas, que se tornam reféns das agressões, muitas vezes por medo dos seus
agressores sofrendo de forma velada. O fenômeno bullying é de alta complexidade,
devendo ser dado a ele a atenção necessária desde seus primeiros sinais.

Diante das práticas do bullying, é fundamental o papel dos pais, sociedade e do


Estado no desempenho decisivo de controle e reversão do bullying. Na busca de
transmitir valores éticos e morais, para prevenir esse fenômeno, assim como para
repelir as ações que o configurem.
A omissão dos pais e das instituições de ensino frente aos casos de bullying os
responsabiliza juridicamente nas esferas cível e penal por eventuais danos
causados as vítimas. Contundo cada um possui seu papel na prevenção e
intervenção, fazendo-se necessário a reflexão da sociedade diante desses atos
agressivos entre estudantes.

O bullying não pode ser encarado como simples brincadeiras próprias da idade, nem
tampouco banalizá-las devido à falta de conhecimento para que se tome as medidas
necessárias para enfrentamento da violência nas escolas, daí a importância de
divulgação e campanhas de esclarecimento sobre o tema. O fenômeno precisa ser
estudado evitando qualquer forma banalizada de entendimento ao seu respeito.

Importante destacar a importância do direito para disciplinar através das suas


normas jurídicas, as relações das pessoas em sociedade, desse conjunto normativo,
encontra se a responsabilidade jurídica dos pais como seu dever de guarda e
vigilância em relação aos atos praticados por seus filhos, bem como, a
responsabilidades das instituições de ensino frente aos casos de violência que
envolvam os alunos dentro da escola, devendo responder por eventuais danos
causados às vítimas de bullying.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não deve ser entendido apenas como


detentor de direitos a criança e ao adolescente, e sim dispositivos legais que visam à
proteção dos direitos individuais já garantindo na Constituição Federal a todos os
cidadãos, significa dizer que toda criança e adolescente possuem direitos
fundamentais garantidos constitucionalmente, mas em contrapartidas também
possuem deveres na ordem civil, devendo respeitar os direitos conferidos aos seus
pares, logo, o ECA não poderia propor outra expectativa de direito que ferisse a
Carta Magna.

Reza os artigos 206, e 227 da Carta Magna que é dever da família, da sociedade e
do Estado assegurar à criança, e ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à educação, indo a Constituição em seu texto muito mais além,
quando menciona que a criança e o adolescente devem ser colocados a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Nesse sentido está pautado o artigo 53 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que assegura o direito à educação à criança e o adolescente,
visando à formação cidadã e a profissionalização.

Logo, é direito de todos, estar em um ambiente escolar seguro e harmônico, com


condições adequadas para o desenvolvimento moral e social da criança e do
adolescente.

O presente trabalho faz uma breve abordagem dos principais aspectos da


responsabilidade jurídica na esfera cível e criminal dos pais, das instituições de
ensino de uma maneira geral do próprio agente praticante do bullying nas escolas. É
primordial entender a responsabilidade daquele que causa grandes prejuízos
materiais e morais à vítima do fenômeno. A vítima do bullying não pode ficar no
prejuízo, daí o direito para disciplinar o responsável para reparar o dano causado.

Diante deste contexto, configura-se como problemas de pesquisa neste estudo: Qual
a responsabilidade jurídica dos pais, das instituições de ensino e do próprio agente
causador das práticas do bullying? E ainda, como tem sido o posicionamento do
Poder Judiciário em decisões que envolvem o fenômeno bullying frente à ausência
de legislação específica aos casos desse tipo de violência?

O presente estudo parte da premissa de que as praticas de bullying gera o dever de


indenizar as vítimas, surgindo à responsabilidade jurídica do praticante desse
fenômeno, chamando à atenção para a postura vigilante dos pais, sociedade e do
Estado.

Diante do exposto, o objetivo geral é analisar os aspectos jurídicos do fenômeno


bullying, a responsabilidade civil e o dever de indenizar e a responsabilidade
criminal. E, como tem se posicionado o Poder Judiciário frente aos casos desse
fenômeno.

Como objetivos específicos destacam-se: caracterizar o fenômeno bullying como


uma prática da violência no ambiente escolar; analisar a responsabilidade jurídica
dos pais e da escola frente aos casos do bullying; elencar a responsabilidade civil
cabível e o dever de indenização frente às práticas do bullying; sopesar a
responsabilização cível e criminal do infrator, de acordo com o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA); considerar a atuação do Poder Judiciário nas decisões
envolvendo casos de bullying.

Para que os objetivos da pesquisa fossem alcançados, foram utilizados como


procedimentos metodológicos que norteiam o presente estudo como: o método
dedutivo onde “a racionalização ou a combinação de ideias em sentido interpretativo
têm mais valor que a experimentação caso a caso, ou seja, utiliza-se a dedução,
raciocínio que caminha do geral para o particular” (PRESTES, 2008, p.31).

Segundo Minayo (1993, p.23) “a pesquisa é uma atividade de aproximação


sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular
entre teoria e dados”. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, ou de fontes
secundárias, através de livros, jurisprudências, Legislação, artigos, revistas, sites
especializados, livros, pesquisas, monografias, teses, dentre outros meios, que
informaram sobre o tema proposto e que auxiliaram na elaboração deste trabalho.

De acordo com (PRESTES, 2008, p. 26) “a pesquisa bibliográfica é aquela que se


efetiva tentando-se resolver um problema ou adquirir conhecimentos a partir do
emprego predominante de informações de material gráfico, sonoro ou
informatizado”.

Em relação à forma de estudo para o levantamento dos dados contidos no presente


estudo e quanto ao objetivo geral da pesquisa, teve caráter qualitativo de cunho
exploratório. De acordo com Prestes (2008, p.26) “Por meio da pesquisa
exploratória, pode-se avaliar a possibilidade de desenvolvimento de um trabalho
satisfatório, o que vai permitir o estabelecimento dos critérios a serem adotados,
bem como dos métodos e das técnicas mais adequados.

Quem responderá por práticas de bullying no âmbito escolar? Qual a


responsabilidade dos pais frente aos casos de bullying praticado por filhos menores?
Qual a responsabilidade das instituições de ensino (pública e privada)? Frente à
ausência de Legislação específica, qual legislação aplicar? O agente que comete
bullying pode responder criminalmente? Essas são algumas questões que serão
abordadas durante o desenvolvimento deste trabalho.
O presente estudo está dividido em 4 capítulos, que trata de todo o referencial
teórico que constitui-se por revisões de literatura, que fornece informações para o
desenvolvimento do trabalho proposto servindo de fundamentação teórica, no qual
acredita-se que foram respondidos os problemas pesquisados e alcançados os
objetivos.

O primeiro capítulo traz abordagem geral acerca da violência no âmbito escolar e o


fenômeno bullying como uma forma de violência, ressaltando sua origem e
evolução, conceito e formas de manifestação do bullying. Abordam ainda os
personagens, qual sejam, alvo, agressor e espectadores, que compõem o cenário
da maldade e identificação das práticas desse fenômeno. As consequências que o
fenômeno acarreta aos envolvidos também estão presentes nesse capítulo.

O segundo capítulo analisam temas como os valores morais inerentes à formação


de cada indivíduo, bem como, sua ausência ou inversão desses valores como fato
gerador do bullying. Posteriormente enfatiza a importância da parceria família e
escola na construção dos valores e no enfrentamento ao fenômeno.

A seguir, o terceiro capítulo apresenta o bullying e seus aspectos jurídicos, como


esse fenômeno vem sendo encarado pelo ordenamento jurídico brasileiro; o
fenômeno bullying como fato gerador da responsabilidade civil e o dever de
indenizar; definição e classificação da responsabilidade civil; a responsabilidade dos
pais de acordo com o Código Civil, do próprio agente praticante do bullying quando
for capaz para responder pelo ato ilícito ou quando for absolutamente incapaz e
ainda a responsabilidade civil das instituições de ensino, seja pública ou privada,
segundo a Constituição Federal, Código Civil, Estatuto da Criança e do Adolescente,
Código Penal e o Código de Defesa do Consumidor.

Por fim, o quarto capítulo apresenta a responsabilidade na esfera criminal, as


sanções aplicadas de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente num
paralelo ao Código Penal Brasileiro.
1 VIOLÊNCIA NO ÂMBITO ESCOLAR E O FENÔMENO BULLYING:
Um alerta nas escolas

A escola era depois do próprio lar, o ambiente mais acolhedor e seguro, fatores
essências ao desenvolvimento do individuo e ao bom desempenho do aprendizado
escolar. Ambiente esse destinado ao primeiro contato da criança com o âmbito
público, sendo um espaço de consolidação das interações sociais entre crianças e
adolescentes, que de forma significativa, influencia no desenvolvimento e
comportamento dos mesmos, capaz tanto de potencializar riscos quanto de
resguardar seus alunos.

O triste cenário ao longo dos anos tem nos mostrado que esse ambiente vem sendo
palco de situações de conflito, de comportamentos agressivos e violentos entre
estudantes.

A violência nas escolas ainda é um dos maiores desafios da atualidade, ela


representa uma ameaça à ordem pública e ao processo educacional, acarretando
graves consequências na vida dos envolvidos. Erradicar as principais causas que
ameaçam a boa convivência entre as pessoas, deve ser o principal objetivo,
eliminando a violência, o preconceito e o desrespeito ao próximo.

De forma significativa, tem-se tratado sobre o seus aspectos e suas consequências acerca
da violência, principalmente quando essas práticas ocorrem no âmbito escolar, levando em
consideração que esse fenômeno assola todos os segmentos da sociedade, não estando
presente de forma isolada.

É de extrema importância que a escola, a família e a sociedade em sua totalidade,


estejam vigilantes diante dos comportamentos agressivos entre estudantes.
Devendo, portanto, construir uma parceria em que a prevenção, a informação e o
diálogo revestidos de afetividade sejam instrumentos auxiliares para impulsionar à
luta contra o fenômeno bullying, que se caracteriza como mais uma forma de
violência que ocorre nas escolas de todo o mundo.
Só através da participação e colaboração da família, escola e do Estado, será
possível o enfrentamento e a prevenção a esse fenômeno, objetivando o respeito
mútuo e uma convivência harmônica, saudável e seguro no âmbito escolar.

Apesar do bullying ainda ser pouco estudado no Brasil, o fenômeno já existe a muito
tempo nas escolas. De acordo com Silva (2010), esse fenômeno vem se tornando
um problema de saúde pública com graves consequências a todos os envolvidos. O
bullying se estende de forma sutil entre os estudantes e vai crescendo e tomando
proporções alarmantes, envolvendo cada vez mais crianças e adolescentes.

De acordo com as ideias de Silva (2010), o bullying utiliza-se de atos de violência


física ou psicológica, intencional, repetitiva e sem motivação aparente, relacionados
à desigualdade de poder, com o intuito de intimidar suas vitimas, executada por um
ou mais alunos contra um ou mais colegas. Nesse sentido afirma Fante (2005, p.
224), que o bullying: "É uma das formas de violência que mais cresce no mundo".

Diante da complexidade da sociedade contemporânea e da grande diversidade


cultural, vários fatores devem ser analisados acerca da problemática da violência no
ambiente escolar, que na maioria das vezes se iniciam na infância, enfatizando que
existem fatores circunstanciais a violência envolvendo crianças e adolescentes
como, por exemplo, o ambiente que cerca esse indivíduo.

Para Almeida, Silva e Campos (2008): “Algumas dificuldades vividas pelas crianças
e adolescentes se desenvolvem na primeira infância ou são características próprias,
tendo ainda o reforço das circunstancias ambientais intrafamiliar, extrafamiliar e
intraescolar.” Essa influência do ambiente são aspectos que devem ser levados em
consideração, podendo conduzir a qualquer tipo de comportamento agressivo.

O bullying é um problema de ordem moral, já que suas ações partem das relações
interpessoais entre pessoas, e suas consequências atingem a dignidade humana. O
caminho para combater a violência nas escolas é sem dúvidas a formação ética
principalmente no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente. Essa
formação deve estar presente nas escolas e no seio familiar desses indivíduos ainda
durante a formação da personalidade.
[...] a problemática da violência só pode ser compreendida partindo-se de
uma complexidade e multicausalidade, não podendo ser reduzida às
questões relativas à desigualdade social e exclusão social, criminalidade,
crise do Estado e das políticas públicas, especialmente na área social, falta
ética, etc; o fenômeno da violência apresenta uma dimensão estrutural e
cultural, ambas intimamente articuladas, exigindo-se mutuamente [...]
(CANDAU, 2000, p.13).

Nesse sentido Vigostsky apud Smolka, 1995 afirma que, “por trás da palavra
violência, os indivíduos apresentam uma série de experiências, que estão vinculadas
com o meio em que vivem e com suas formas de interação que exercem com o
ambiente social”.

Portanto, existem vários fatores que estão associados com o intuito de manifestação
da violência no âmbito escolar, envolvendo tanto atributos individuais, relacionados à
personalidade do indivíduo, quanto institucionais, estrutura familiar e aspectos
sociais. Esses aspectos fazem parte do meio social da criança ou do adolescente,
influenciando-o no seu desenvolvimento e em seu comportamento social.

[...] No meio educacional prevalecem duas vertentes na análise da violência


presente no cotidiano escolar: uma de cunho “sociologizante”, onde a
violência teria raízes externas às práticas escolares, como os contextos
político, econômico e cultural; a outra de cunho “psicologizante”, em que os
eventos conflituosos estariam relacionados à estruturação psíquica dos
agentes envolvidos em eventos conflituosos. Em ambas, as causas dos
problemas internos não são atribuídas às praticas institucionais realizadas
pela escola, mas as questões anteriores e/ou externas a ela [...] (AQUINO,
1998, apud RUOTTI, 2006, p.41 e 42).

A violência não nasce com o indivíduo, ela é fruto das interações entre o homem e o
meio no qual o mesmo encontra-se inserido, e das suas experiências no meio social.
A violência e a agressividade estão presentes na escola muitas vezes de maneira
mascarada ou até mesmo tolerada, dificultando sua identificação e
consequentemente a atuação necessária contra esses desvios sociais.

A violência escolar é um fenômeno social grave e de alta complexidade, por isso que
sua definição não é algo simples, necessitando para tanto, um estudo que está a
cada dia em constante construção.
No contexto brasileiro, as situações de conflito no âmbito escolar se tornam cada
vez mais frequentes no ambiente escolar.
Do ponto de vista histórico, o problema da violência escolar não é recente,
mas o que pode ser considerado novo são as formas pelas quais essa
violência se manifesta, divididas pelo autor em quatro aspectos: o
surgimento de formas de violência mais graves, apesar de bastante raras; a
idade cada vez menor dos alunos envolvidos nos casos de violência que,
nesse caso, entra em conflito com o ideal de infância como o período de
inocência; a ação de agentes externos que ocupam o espaço da escola com
agressões geradas fora dela; a repetição e o acúmulo de pequenos casos
que não são necessariamente violentos mas que criam a sensação de
ameaça permanente. Vários autores enfatizam esse último aspecto como
aquele que mais tem despertado preocupação na atualidade, pois tais
situações colaboram para o sentimento de angústia que atinge boa parte da
comunidade escolar, que passa a ficar em constante estado de alerta à
menor presença de sinais que representem perigo físico ou ameaça
psíquica. (CHARLOT, 2002 apud RUOTTI, 2006, p. 25).

Contudo, a escola deixa de ser um lugar de sonhos, de um futuro melhor, com


oportunidades de mudança de vida, para alimentar em seu próprio ambiente a
violência muitas vezes tolerada, e nesse contexto vai se desenvolvendo em várias
formas e etapas.

Como já abordado, a violência traz em sua essência a dificuldade de sua definição,


e principalmente de sua identificação em alguns casos no seio da sociedade, na
prática, surgem às dificuldades de identificação, quando um determinado
comportamento pode ser considerado uma violência, como se manifesta, como deve
ser evitada e combatida.

De acordo com (Charlot, 2002 apud Ruotti, 2006, p.27) existe três tipo distintos de
violência que estão presentes nas escolas:

[...] a violência na escola, quando ela é o local de violências que têm origem
externa a ela. Por exemplo, quando um grupo invade a escola para brigar
com alguém que está nas dependências da escola, nesse caso, a escola é
invadida por uma violência que anteriormente acontecia apenas fora de
seus portões, ou na rua. Outro tipo é a violência à escola, relacionada às
atividades institucionais e que diz respeito a casos de violência direta contra
a instituição, como a depredação do patrimônio, por exemplo, ou da
violência contra aqueles que representam a instituição, como professores. O
terceiro tipo é a violência da escola, entendida como a violência onde as
vítimas são os próprios alunos, exemplificada no tipo de relacionamento
estabelecido entre professores e alunos ou nos métodos de avaliação e de
atribuição de notas que refletem preconceitos e estigmas, ou seja, outros
critérios que não os objetivos de desempenho [...]
É fundamental tecer comentários acerca das diversas formas de violência, tanto a
que vem de fora para adentrar a escola, chamada de violência na escola, e a
violência que ocorre dentro da escola, chamada de violência da escola. Através
dessa distinção e do conhecimento adquirido, que se pode de forma efetiva intervir
com o objetivo de mudar essa realidade que está presente fora e dentro da escola.

A violência que vem de fora para dentro da escola é a mais óbvia, a que
mais aparece – podemos chamá-la então de violência na escola. A entrada
de armas, presença de gangues, o tráfico de drogas nos arredores etc. A
violência das escolas, são aquelas que se encontram intimamente
articuladas com uma determinada ordem escolar, com as questões e
problemas que ela mesma tece. As relações sociais entre os diversos
atores presentes no ambiente escolar são produtoras de violências de
variadas espécies, como agressões físicas, agressões verbais, ameaças,
furtos, discriminações racistas e sexistas, e violência sexual. Em outras
palavras, a escola é um território de produção de violências das mais
diversas ordens, tipos e escalas. (Revista Jurídica Consulex, Ano XIV, nº.
325, 1º de Agosto/2010)

Quando se identifica e se distingue um determinado comportamento torna-se mais


fácil e eficaz fazer a intervenção necessária no combate à violência, tanto ao aluno
quanto aos que compõem a instituição escolar.

Ainda nessa ideia pondera Charlot (2002) apud Ruotti, (2006, p. 28) afirmam que a
distinção quanto à origem da violência de extrema importância:

Para se pensar as estratégias de ação, pois se a escola está limitada à


adoção de arranjos que impeçam a violência na escola, muitas são as
opções e possibilidades de intervenção e prevenção para os casos de
violência à escola e da escola.

A realidade escolar presenciada no cotidiano está associada às diversas formas de


violência, às vezes oculta ou velada. Esse tipo de violência merece ainda mais a
atenção dos pais, dos profissionais da educação e das autoridades competentes. Os
alunos passam por situações de violência física e/ou psicológica e sofrem de forma
velada, por medo ou por vergonha dos seus agressores.

O agressor quando realiza práticas de violência, a faz com intencionalidade, com


uso de inteligência e de forma consciente para manter-se em uma relação de poder
sobre aqueles muitas vezes indefeso. Essa violência é praticada por vontade, o que
difere dos animais que utilizam a força e seu instinto para auto defesa.
A violência explícita é mais combatida pelos pais, professores ou pela comunidade
escolar. Quando os atos de violência ocorrer independente da forma a qual se
manifeste é necessário que sejam tomadas medidas urgentes e eficazes, para evitar
e solucionar esse mal que se encontra dentro e fora da escola.

[...] a forma de violência explícita tende a ser combatida e controlada pela


escola, enquanto que a violência implícita tende a não receber nenhum tipo
de intervenção, seja porque não é percebida, seja porque é considerada de
menor importância por não acarretar consequências negativas visíveis.
Esse tipo de violência é, normalmente, confundido como indisciplina ou
brincadeiras, trazendo graves consequências psicológicas as vítimas.
(ROUTTI, 2006, p.37)

As mais variadas formas de violência podem ocorrem no âmbito escolar, isso porque
a mesma não possui significado único, variando de acordo com os personagens
envolvidos e o contexto no qual ela se insere.

Dentre as várias formas de violência encontra-se: a violência física que compreende


aos danos à vida dos indivíduos; a violência econômica que esta relacionada a
danos causados ao patrimônio da vítima; e a violência moral aquela que fere os
princípios de ordem moral, como a dignidade da pessoa humana. Esse conjunto de
violências compõem o fenômeno bullying, tema que não pode ser mais tratado como
simples brincadeiras de criança ou próprias da idade, devendo ser encarado como
um problema que precisa ser dado à atenção necessária para seu combate,
contando com o apoio dos pais, escola e da sociedade em geral.

Entre as diversas formas de manifestações de violência no âmbito escolar, encontra-se o bullying que
vem se destacando, e se configura como uma relação desigual de poder entre estudantes.
Especialistas afirmam que o bullying é a forma de violência mais gravosa e cruel, pois as atitudes dos
agressores às vitimas podem trazer consequências irreversíveis e imensuráveis, além de prejudicar o
processo de aprendizagem e de interação social, refletindo negativamente no âmbito escolar,
tornando-se decisivo para evasão, baixo rendimento escolar, entre outras.

Para Routti (2006, p.175), “Trata-se de um fenômeno antigo ao qual, apenas recentemente, tem sido
dada atenção às suas causas e consequências”.

A partir das pesquisas feitas e dos dados obtidos, aquilo que se costuma
classificar como “brincadeira de criança” passa a ser visto como uma forma
de violência que pode implicar em sequelas, tanto às vítimas quanto aos
agressores. Dessa forma, no contexto escolar, bullying compreende uma
série de agressões como xingamentos, apelidos, fofocas, empurrões e
chutes que ocorrem com frequência contra outra pessoa. (ROUTTI, 2006,
p.176)

O bullying tem merecendo especial atenção, pois se tornou preocupante, devido o


aumento dessa prática no âmbito escolar. Esse fenômeno precisa ser melhor
entendido por pais e profissionais da educação, por se tratar de comportamento
violento. Tal comportamento é resultado das relações de interação dos indivíduos e
do contexto social que os cercam.

O fenômeno bullying se caracteriza por um conjunto de condutas agressivas,


repetitivas e intencionais, que ocorrem sem motivação evidente. Essas atitudes de
violência podem ser de caráter físico e/ou psicológico praticadas por um ou mais alunos
contra uma ou mais pessoas, que encontram-se impossibilitadas de se defender, causando
dor e sofrimento aos vitimados.

Os praticantes do bullying utilizam algumas estratégias como: a intimidação, o abuso do


poder, para amedrontar mantendo suas vítimas sob seu domínio. De acordo com Fante
(2005, p. 16): “A realidade que presenciamos nas escolas, é impregnada de diversas
formas de violência, às vezes oculta, onde os alunos passam por situações de
humilhação, gozações, ameaças, imputação de apelidos constrangedores,
chantagens, intimidações”.

A violência escolar existe, em todo o mundo e se manifesta sob múltiplos aspectos.


O que difere entre os tipos de violência são as formas de abordagem das práticas, o
que torna necessário identificá-las para que se faça a intervenção de forma efetiva
logrando êxito.

1.1 O FENÔMENO BULLYING: DA SUA ORIGEM A ATUALIDADE

O fenômeno bullying sempre existiu na sociedade, estando presente nas escolas,


sem qualquer distinção, podendo ser a mesma, privada ou pública. De acordo com
Melo, 2010, p.24, “o que há de novo no bullying é o estudo sistematizado numa
metodologia científica, utilizando-se métodos e procedimentos adequados e
atribuindo-se uma importância nova aos comportamentos antigos, sobretudo no
âmbito escolar”.
Segundo Melo (2010), as pesquisas científicas sobre o bullying iniciaram a partir da
década de 70, através do pioneiro pesquisador da Universidade de Bergen, na
Noruega, Dan Olweus, que iniciou um estudo com cerca de 84 mil estudantes,
aproximadamente 400 professores e em média de mil pais de estudantes. Para Silva
(2010, p.111); “na Noruega, o fenômeno bullying, foi durante muitos anos, motivo de
apreensão entre pais e professores que se utilizavam dos meios de comunicação
para expressar seus temores e angústia sobre os acontecimentos”.

Mesmo diante dos acontecimentos ocorridos na Noruega, não havia interesse das
instituições sobre o assunto, consequentemente as autoridades do âmbito
educacional não se posicionavam oficialmente diante dos fatos ocorridos no âmbito
escolar. Ainda de acordo com Silva (2010, p.111), acerca dos trabalhos realizados
pelo pioneiro e pesquisador da Universidade de Berger, na Noruega Dan Olweus, no
estudo sistematizado do bullying:

No final de 1982, um acontecimento dramático começou a reescrever a


história do bullying naquele país: três crianças, com idade entre 10 e 14
anos, haviam se suicidado no norte da Noruega. As investigações do caso
apontaram, como principal motivação da tragédia, as situações de maus-
tratos a que tais jovens foram submetidos por seus colegas de escola. Em
resposta à grande mobilização nacional diante dos fatos, o Ministério da
Educação da Noruega realizou, em 1983, uma campanha em larga escala,
visando ao combate efetivo do bullying escolar.

Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Berger, Noruega, iniciou


nessa época um estudo que reuniu aproximadamente 84 mil estudantes,
quase quatrocentos professores e cerca de mil pais de alunos. Todas as
séries foram observada, o que corresponderia, atualmente no Brasil, a
representantes desde o primeiro ano do ensino fundamental até o último
ano do ensino médio.

A pesquisa possuía o objetivo de avaliar a natureza e ocorrência do fenômeno


bullying no ambiente escolar entre crianças e adolescentes daquele país.
Acrescenta Silva (2010, p. 112) que, “o estudo constatou que um em cada sete
alunos encontrava-se envolvido em casos de bullying, tanto no papel de vítimas
como no de agressor”.

Seguindo a mesma linha trazida por Silva (2010) a ABRAPIA (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), acrescenta que:
[...] Como os estudos de observação direta ou indireta são demorados, o
procedimento adotado foi o uso de questionários, o que serviu para fazer a
verificação das características e extensão do bullying, bem como avaliar o
impacto das intervenções que já vinham sendo adotadas.

Nos estudos noruegueses utilizou-se um questionário proposto por Olweus,


consistindo de um total de 25 questões com respostas de múltipla escolha,
onde se verificava a frequência, tipos de agressões, locais de maior risco,
tipos de agressores e percepções individuais quanto ao número de
agressores (Olweus, 1993). Este instrumento destinava-se a apurar as
situações de vitimização/agressão segundo o ponto de vista da própria
criança. Ele foi adaptado e utilizado em diversos estudos, em vários países,
inclusive no Brasil, pela ABRAPIA, possibilitando assim, o estabelecimento
de comparações interculturais [...]

Em 1989, Dan Olweus publicou o livro “Bullying at School”: what we know and what
we can, apresentando e discutindo o problema, o resultado do livro foi um sucesso,
ajudando a identificar o bullying e seus possíveis agressores e vítimas, e ainda,
indicando estratégias de como intervir. Contundo, conseguiu mobilizar as escolas da
Noruega e toda sociedade civil, numa campanha contra o bullying nas escolas.

Segundo o pensamento de Silva (2010, p. 112), com o apoio do governo norueguês,


esse projeto deu origem a uma Campanha antibullying, e em pouco tempo, houve
uma redução em cerca de 50% dos casos de bullying na escola. Devido ao sucesso
do projeto, as campanhas contra o bullying se estenderam a outros países, entre
eles a Inglaterra, o Canadá e Portugual.

Ainda tomando como base Silva (2010, p. 112), o projeto antibullying proposto por
Dan Olweus tinha os objetivos de aumentar a conscientização sobre o problema
para desfazer mitos e ideias erradas sobre o bullying e promover apoio e proteção
às vítimas contra esse tipo de violência escolar.

De acordo com Dan Olweus apud (2005, p. 46): “os dados de outros países indicam
que as condutas bullying existem com relevância similar ou superior as da Noruega,
como é o caso da Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Países
Baixos, Japão, Irlanda, Espanha e Austrália”.

Pesquisas sobre o fenômeno, ao redor do mundo, apontam para o


crescimento do problema: estima-se que de 5% a 35% das crianças em
idade escolar estejam envolvidas em condutas agressivas no ambiente
educacional. Neste quadro estatístico, incluem-se tanto os jovens vítimas de
violência quanto os próprios agressores. Os espectadores não foram
incluídos nos índices, o que nos faz imaginar que a população de jovens
indiretamente envolvidos no bullying é ainda mais expressiva. (SILVA, 2010,
p. 112)

Nos Estados Unidos, é cada vez maior a preocupação no que se refere à violência,
devido o seu grande aumento, e em especial, as ocorridas no âmbito escolar. O
fenômeno bullying segundo Fante (2005, p. 46): “cresceu muito entre os alunos das
escolas americanas. Os pesquisadores já estão classificando o bullying como “um
conflito global”, e destacam que se essa tendência permanecer, haverá muitos
jovens que se tornarão adultos abusadores e delinquentes”.

[...] é um fenômeno bastante antigo, visto que se trata de uma forma de


violência que sempre existiu nas escolas – onde os valentões continuam
oprimindo e ameaçando suas vítimas, por motivos banais – e que até hoje
ocorre despercebida da maioria dos profissionais de educação [...] (FANTE,
2005, p. 44)

O bullying vem merecendo especial atenção, devido ao grande aumento desse tipo
de violência no ambiente escolar, passando a ganhar destaque em meados da
década de 90 a partir dos estudos realizados por pedagogos e psicólogos.

O bullying sempre existiu nas escolas; no entanto, somente há pouco mais


de trinta anos começou a ser estudado sob parâmetros psicossociais e
científicos, e recebeu a denominação específica pela qual é conhecido
atualmente em todo o mundo. (SILVA, 2010, p.161)

No cenário brasileiro, o tema vem sendo aos poucos pesquisado, comentado e


estudado, motivo pelo qual torna-se de absoluta relevância diante da sociedade ou
para que sejam tomadas medidas e soluções que sejam capazes de combater e
prevenir o bullying, bem como conhecer as consequências advindas desse
fenômeno para os vitimas e para a sociedade.

No Brasil, o atraso em identificar e enfrentar o problema foi enorme. Por


aqui, o tema só começou a ser abordado junto à sociedade a partir de 2000,
quando Cleo Fante e José Augusto Pedra realizaram uma pesquisa séria e
bastante abrangente sobre o assunto. Esse trabalho pioneiro resultou em
um programa de combate ao bullying denominado “Educar para a paz”.
Graças a esses esforços, o tema bullying começou a ganhar espaço em
debates públicos. (SILVA, 2010, p. 161).

Segundo Silva (2010, p. 113), no Brasil, a Organização não governamental (ONG)


Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência
(ABRAPIA), começou a estudar, pesquisar e divulgar o bullying desde 2001, no ano
de 2002 a ONG realizou um estudo com aplicação de questionários com a
participação de estudantes em 11 escolas com séries compreendidas entre 5ª a 8ª,
estando essas escolas localizadas no Rio de Janeiro. O objetivo deste estudo é
ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que o bullying
aconteça.
No período compreendido entre novembro e dezembro de 2002 e março de
2003, a Abrapia realizou uma pesquisa, por meio de questionários
distribuídos a alunos de 5º a 8º série de 11 escolas (nove públicas e duas
particulares), no estado do Rio de Janeiro. Os resultados apontaram alguns
dados bastantes significativos:

Dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2.217) admitiram ter tido algum tipo
de envolvimento direto na prática do bullying, seja como alvo (vitima) seja
como autor (agressor); houve um pequeno predomínio de sexo masculino
(50,5%) sobre o sexo feminino (49,5%) na participação ativa das condutas
de bullying; as agressões ocorrem principalmente na própria sala de aula
(60,2%), durante o recreio (16,1%) e no portão das escolas (15,9%); em
torno de 50% dos alvos (vítimas) admitem que não relataram o fato aos
professores, tampouco aos pais. (SILVA, 2010, p.113)

Conforme os dados relatados na pesquisa, tanto meninas quanto meninos se


envolvem nas práticas de bullying. Esse fenômeno ocorre em todas as escolas, não
estando restrito a nenhum tipo específico de instituição. A esse respeito comenta
Silva (2010, p.117): “pode-se afirmar que está presente, de forma democrática, em
100% das escolas em todo o mundo, públicas ou particulares”.

O Bullying pode se manifestar em qualquer lugar onde existam relações


interpessoais e não só na escola.

[...] O bullying não pode ser mais tratado como um fenômeno exclusivo da
área educacional. Atualmente ele já é definido como um problema de saúde
pública e, por isso mesmo, deve entrar na pauta de todos os profissionais
que atuam na área médica, psicológica e assistencial de forma mais
abrangente. A falta de conhecimento sobre a existência, o funcionamento e
as consequências do bullying propicia o aumento desordenado no número e
na gravidade de novos casos, e nos expõe a situações trágicas isoladas ou
coletivas que poderiam ser evitadas [...] (SILVA, 2010, p.14)

Essa prática não se restringe apenas a escola, ela está presente no nosso dia a dia
há muito tempo, apesar de não ser percebido e de não ser dado a esse problema a
atenção que deveria, até mesmo por falta de informação e por encarar essas
atitudes como uma simples brincadeira, onde na verdade são falsas brincadeiras,
que camuflavam sentimentos pouco nobres, de preconceito, intolerância e de
maldade consciente.

No ambiente de trabalho o termo mobbing, é utilizado para definir uma forma de


violência psicológica, assédio moral, ou qualquer ato de terror psicológico no âmbito
ambiente laboral. De acordo com Silva (2010, p.145) pondera que no Brasil, “o termo
mobbing é sinônimo de assédio moral. Nos países europeus, a palavra mobbing
define o abuso de poder que ocorre entre adultos no ambiente profissional.”

Definição de assédio é a exposição do trabalhador (a) a situações


humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada
de trabalho e no exercício de suas funções. Em outras palavras:
deterioração dos valores humanos e consequentemente perda da
dignidade. (DIRCEU MOREIRA, Revista Direcional Educador, ano 6, edição
70 – Novembro/2010).

Já o termo bullying refere-se a crianças ou adolescentes que direta ou indiretamente


praticam atos de violência física ou psicológica, de forma intencional e repetitiva,
sem uma motivação evidente, relacionados a desequilíbrios de poder entre seus
pares, ocorre preferencialmente no contexto escolar, enquanto o mobbing define os
mesmos comportamentos sendo que o local escolhido é o ambiente de trabalho.

Para Silva (2010, p.146): “Este termo se originou da palavra mob, que há anos é
empregada para designar a máfia. Dessa forma a palavra mobbing encerra, em si, a
idéia de grupos de caráter “mafioso”, que exercem pressões ou ameaças sobre os
outros trabalhadores em ambientes profissionais”.

Assim como o fenômeno bullying, o mobbing é antigo, existindo nas relações de


trabalho desde sua origem, mas tomando como base as ideias de SILVA (2010),
esse termo não teve tanta representatividade quanto o trabalho forçado, ou seja, o
trabalho escravo, que afligiu a sociedade da época, marcada pela ausência de
direitos dos trabalhadores.

1.1.1 Conceitos e formas do bullying


De origem inglesa, a palavra bullying vem conceituar comportamentos agressivos,
intencionais e repetitivos, que ocorrem sem motivação evidente. O bullying é
executado dentro de uma relação desigual de poder, para intimidar, excluir, humilhar
e perseguir suas vítimas, essas estratégias são utilizadas pelos praticantes de
bullying sempre com o objetivo de impor medo e manter as vítimas sob seu domínio.
A respeito da origem da palavra bullying segue o pensamento de Ruotti (2006,
p.177):
A palavra bullying é menos familiar às línguas latinas, que não possuem
uma tradução direta da palavra. Apesar da proximidade com as línguas de
origem anglo-saxã, nos Estados Unidos, por exemplo, a palavra bullying
muitas vezes é substituída pelas palavras victimization (vitimização) e peer
rejection (rejeição pelos colegas), usadas para indicar ações negativas entre
pessoas iguais (Peter, Cowie, Olafsson e Liefooghe, 2002)

O termo bullying é adotado por muitos países para definir a intencionalidade de


humilhar e agredir uma ou mais pessoas, sob uma relação desigual de coação e
poder. Esse termo conceitua os comportamentos agressivos e anti sociais, utilizado
pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre os problemas da
violência escolar. (FANTE, 2005 apud MELO, 2010).

Há muitos estudos sobre a fenomenologia do bullying nos últimos anos. No


entanto, há algumas dificuldades encontradas pelos estudiosos, e entre
estas dificuldades está: encontrar termos correspondentes ao bullying em
diversos idiomas, nos mais variados Países. (FANTE, 2005).

Diante da dificuldade em traduzir o fenômeno bullying, adota-se o mesmo critério


para defini-lo e compreendê-lo.

A maior parte das pesquisas levantadas adota a definição elaborada por


Olweus, segundo a qual bullying é definido a partir de três características:
trata-se de um comportamento agressivo ou de uma ofensa intencional;
ocorre repetidamente e durante muito tempo; ocorre em relações
interpessoais caracterizadas por um desequilíbrio de poder. [...] essa é uma
definição que procura distinguir o bullying de outro tipo qualquer de
agressão pontual ou momentânea. No caso do bullying há uma clara
intenção de ofensa ao outro e isso parte do pressuposto de que o agressor
tem alguma superioridade em relação a vitima como, por exemplo, alunos
mais velhos e/ou fisicamente mais fortes que agridem alunos mais novos
e/ou mais fracos, reduzindo assim as chances de defesa da vítima.
(OLWEUS 1993, apud RUOTTI 2006, p.177).

Todos nós já fomos ou ainda seremos vítimas de alguma prática de bullying, esse
fenômeno pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações
interpessoais e não só na escola, podendo ser identificado no ambiente familiar, no
trabalho ou no âmbito escolar, sendo que sua incidência maior ocorre no espaço
escolar entre estudantes.

Os bullies juvenis também crescem e serão encontrados em versões


adultas ou amadurecidas (ou melhor apodrecidas). No contexto familiar, os
bullies crescidos e mais experientes podem ser identificados na figura dos
pais, cônjuges ou irmãos dominadores, manipuladores e perversos,
capazes de destruir a saúde física e mental, e a autoestima de seus alvos
prediletos. No território profissional, costumam ser chefes ou colegas
tiranos, “mascarados” e impiedosos. Suas atitudes agressoras (ou
transgressoras) estão configuradas na corrupção, na coação, no uso
indevido do dinheiro público, na imprudência arbitrária no trânsito, na
negligência com os enfermos, no abuso de poder de lideranças, no
sarcasmo de quem se utiliza da “lei da esperteza”, no descaso das
autoridades, no prazer em ver o outro sofrer. (SILVA, 2010, p.22).

A ABRAPIA define o termo bullying: “compreende todas as formas de atitudes


agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas
por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas
dentro de uma relação desigual de poder”. Diversos conceitos são encontrados para
definir o bullying, no entanto, a definição trazida de forma unânime por alguns
autores aduz que:
Comportamentos agressivos e anti sociais [...]. Sem termo equivalente na
língua portuguesa, define-se universalmente como um conjunto de atitudes
agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente,
adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e
sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam,
ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão,
além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações
do comportamento bullying (FANTE, 2005, p. 28 e 29).

O bullying possui características próprias, não se deixando confundir com outras


formas de violência. Portanto, esse fenômeno traz comportamento ligado à
agressividade física, verbal ou psicológica, exercidos de forma corriqueira nas
escolas.
[...] No dicionário encontraremos as seguintes traduções para a palavra
bully: individuo valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão bullying
corresponde a um conjunto de atitudes de violência físicas e/ou psicológica,
de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra
uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender.
Seja por uma questão circunstancial ou por uma desigualdade subjetiva de
poder [...] (SILVA, 2010, p.21)

Atitudes e comportamentos agressivos de crianças e adolescentes no âmbito


escolar, muitas vezes ignorados ou entendidos como normais por pais e
professores, tornou-se um grande problema do mundo moderno. As consequências
causadas por esse fenômeno cruel e silencioso vão muito além do ambiente escolar.

[...] Em inglês, o bully é o valentão, um tipo que, valendo-se do seu


tamanho ou musculatura, frequentemente acompanhados da atrofia de
inteligência e de sentimentos, tem prazer em bater nos mais fracos. Por
vezes, o bullying não se expressa por meio de murros e tapas. Basta a
chacota e a zombaria. Sentem-se felizes quando a vítima se sente ridícula.
(ALVES, 2009, p. 37).

O bullying pode se manifestar de várias formas, mas segundo Silva (2010, p. 22 e


23), dificilmente as vítimas do bullying será agredida por apenas um tipo das formas
previstas, ainda segundo a citada autora, as formas empregadas aos atos de
bullying compreendem:

 Verbal: apelidar, xingar, zoar, insultar, ofender.


 Físico: bater, chutar, beliscar, espancar, empurrar, ferir, roubar, furtar ou
destruir pertences da vítima, atirar objetos contra a vítima;
 Moral e Psicológico: difamar, caluniar, discriminar, irritar, humilhar, excluir,
isolar, ridicularizar, aterrorizar e ameaçar, chantagear e intimidar, tiranizar,
dominar, perseguir, fazer fofocas ou intrigas.
 Material: furtar, roubar, destroçar pertences.
 Sexual: abusar, assediar, insinuar, violentar.
 Virtual: zoar, discriminar, difamar por meio de Internet e celular.

Além das formas supracitadas de bullying, existe também uma nova modalidade
desse fenômeno muito presente e violenta, que se dá através dos meios de
comunicação, em especial a Internet e os aparelhos celulares. Essa prática é
conhecida como cyberbullying.

Os avanços tecnológicos também influenciam esse fenômeno típico das


interações humanas. Com isso novas formas de bullying surgiram com a
utilização de aparelhos e equipamentos de comunicação (celular e internet),
que são capazes de confundir, de maneira avassaladora, calúnias e
maledicências. (SILVA, 2010, P. 24).

O fenômeno bullying através do espaço virtual torna se ainda mais perverso do que
o bullying tradicional, pois ultrapassa o âmbito escolar. Chega a perseguir suas
vítimas onde quer que elas estejam, aliado a tecnologia, o ciberbullying, utiliza-se de
e-mails, MSN, blogs, Orkut, twitter, face book, torpedos, entre outros utilizados pelos
agressores, deixando a agressão de ter caráter restrito apenas as escolas. A vítima
agora não tem mais segurança em lugar nenhum.

A grande diferença se encontra na forma e nos meios que são utilizados


pelos praticantes de ciberbullying. No bullying [...] as formas de maus tratos
eram diversas, no entanto todas, sem exceção ocorriam no mundo real.
Dessa forma, quase sempre era possível às vitimas conhecer e,
especialmente, reconhecer seus agressores. No caso do ciberbullying, a
natureza vil de seus idealizadores e/ou executores ganham uma
“blindagem” poderosa pela garantia do anonimato que eles adquirem. Sem
qualquer tipo de constrangimento, os bullies cibernéticos (ou virtuais) se
valem de apelidos (nicknames), nome de outras pessoas conhecidas ou de
personagens famosos de filmes, novelas, seriados. (SILVA, 2010, p. 126).

Segundo Beatriz Santomauro, Revista Nova Escola Ano XXV, nº. 233, junho/julho de
2010, p.67/71: “Na comparação com o bullying tradicional, basta sair da escola e
estar com os amigos de verdade para se sentir seguro. Agora com sua intimidade
invadida, todos podem ver os xingamentos e não existe fim de semana ou férias”.

Os praticantes de ciberbullying ou “bullying virtual” utilizam, na sua prática,


os mais atuais e modernos instrumentos da internet e de outros avanços
tecnológicos na área da informação e da comunicação (fixa ou móvel), com
o covarde intuito de constranger, humilhar e maltratar suas vítimas. Os
ataques perversos do ciberbullying extrapolam, em muito, os muros das
escolas e de alguns pontos de encontro reais, onde os estudantes se
reúnem em território extraclasse (festas, baladas, praças de alimentação em
shoppings, cinemas, lanchonetes etc.) (SILVA, 2010, p. 126).

Hoje esse fenômeno traz maior intensidade. A maior dificuldade é quando não se
admite a ocorrência do bullying, quando não se tem conhecimento do problema, ou
quando se nega a enfrentá-lo. As atitudes e comportamentos violentos que configuram o
bullying podem ser classificados como diretos ou indiretos.

[...] existem dois tipos de bullying direto e indireto. O primeiro é mais fácil de
ser percebido, pois são ataques abertos à vítima. Podem ser ataques físicos
– socos, empurrões, chutes, etc. ou verbais – colocar apelidos, ameaças,
insultos, espalhar boatos e fofocas. O segundo é um tipo de agressão mais
sutil e, por isso, mais difícil de ser percebido. São casos de alunos que
fazem caretas ou gestos obscenos para as suas vítimas, que manipulam
relacionamentos, isolam e excluem colegas das atividades em grupo [...]
(RUOTTI, 2006, p. 178)

A prática direta do bullying inclui agressões físicas como: beliscar, espancar,


empurrar, ferir, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima, atirar objetos contra a
vítima, atos de ordem verbal, como: colocar apelidos pejorativos, xingar,
constranger, insultar, ofender, esses ataques são praticados diretamente as vítimas.

[...] O bullying é classificado como direto quando as vitimas são atacadas


diretamente, ou indireto, quando as vitimas estão ausentes. São
considerados bullying direto os apelidos, agressões físicas, ameaças,
roubos, ofensas verbais ou expressões ou gestos que geram mal estar aos
alvos. São atos utilizados com uma frequência quatro vezes maior entre os
meninos. O bullying indireto compreende atitudes de indiferença,
isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo mais adotados pelas
meninas [...] (NETO, 2004, p.36)

A prática indireta traz a possibilidade de maiores prejuízos, já que pode deixar


traumas. É um tipo de agressão mais sutil e, por isso, mais difícil de ser percebida,
utiliza-se comportamentos como: atitudes de indiferença, isolamento, desprezo,
exclusão e difamação da vítima.

[...] Porém, dificilmente a vítima recebe apenas um tipo de maus-tratos;


normalmente, os comportamentos desrespeitosos dos bullies costumam vir
em “bando”. Essa versatilidade de atitudes maldosas contribui não somente
para a exclusão social da vítima, como também para muitos casos de
evasão escolar, e pode se expressar das mais variadas formas [...] (SILVA,
2010, p.22 e 23)

A vítima pode receber mais de um tipo de agressão, aumentando ainda mais o


sofrimento e o medo, entre outros sentimentos que esses vitimados costumam sentir
frente às práticas dessa atitude cruel.

Tanto meninas quanto meninos se envolvem em casos de bullying, no entanto, os


meninos de uma forma geral aparecem com uma frequência maior no papel de
autores das agressões e de vítima.

[...] O bullying escolar não privilegia o gênero. Atua nos dois com a mesma
desenvoltura, respeitando a especificidade de cada um. O masculino
prioriza o uso da força, da supremacia física e da intimidação. O feminino
utiliza-se da agressão psicológica através da humilhação e exclusão,
podendo ser tão ou mais cruel e perverso [...] (MELO, 2010, p.31)

Os casos de meninas envolvidas como agressoras de bullying são raros e quando


agem, exercem o bullying diferente dos meninos. Elas costumam agir de maneira
sutil e cruel. Nesse sentido Fante (2005) apud Melo (2010): “Valem-se da calúnia, da
difamação, da fofoca, da exclusão e da manipulação de relacionamentos”.
Muito cedo, as crianças são classificadas e confinadas em subgrupos ou
panelinhas nas escolas e nos bairros, segundo aparência, interesses ou
comportamentos: os populares, os atletas, os cabeças, os esquisitos, os
estranhos, os CDFs, os retardados, os rejeitados, as bichinhas, os ninguém.
(Middelton – Moz e Zawadski, 2007, apud Melo, 2010, p.30).

É mais comum e existe um predomínio maior dos meninos serem autores desse
fenômeno, com características próprias. No que se refere às vítimas, não existe
diferença, ou seja, não há preferência de gêneros, tanto os meninos quanto as
meninas servem de alvo para os protagonistas do terror.

Os meninos vivem com medo de não cumprir as regras não ditas do


pertencimento: atitude bacana, não demonstrar sentimentos, fazer o tipo
valentão ou machão, exercer bullying ou ser alvo dele, ser bom em
esportes, não parecer sensível demais ou “intelectual”, ter boa aparência e
nunca chorar, nunca pedir ajuda nem parecer ser próximo demais da
própria mãe. As meninas são pressionadas para se adequar a uma imagem
especifica daquilo que significa ser mulher, e sofrem pressão constante para
pertencer a um grupo, para ser atraente. Elas tendem a espalhar boatos
maliciosos, intimidar, destruir a reputação de outra [...] tendem a usar a
exclusão social como principal arma, em lugar da agressão emocional ou
física direta, embora estudos indiquem que também elas têm se tornado
cada vez mais agressivas fisicamente na última década. (Middelton – Moz e
Zawadski, 2007, apud Melo, 2010).

Essas brincadeiras de mau gosto, como colocar apelidos pejorativos nos seus pares,
zoar, xingar, bater, discriminar, chutar, tiranizar, dominar, isolar entre outras, de
alguma forma tendem a ofender e trazer graves consequências aos envolvidos,
estando presentes no âmbito escolar e em seu cotidiano e a partir do momento em
que essas vítimas passam a sofrer as consequências advindas dessas brincadeiras,
estas vitimas se tornam reféns do fenômeno bullying.

As brincadeiras alegres tão comuns na infância e na juventude são


necessárias para uma formação psicológica saudável e harmoniosa, mas
precisamos estar atentos à linha tênue que separam essas brincadeiras
ditas de “mau gosto” que resvalam para a caracterização do bullying.
(MELO, 2010, p.30).

Seguindo o pensamento de Silva (2010), uma brincadeira ocorre de maneira natural


e espontânea, quando todos os envolvidos se divertem, mas, quando apenas uma
pessoa ou um grupo se aproveitam da fragilidade dos seus pares, deixa de ser uma
brincadeira sadia e normal, passando a ganhar um nome próprio e devastador que
traz em seu teor o medo e o sofrimento, o chamado bullying.
Desde a década de 80, na Europa, os pesquisadores da mente humana
iniciaram a nobre tarefa de nomear determinadas condutas de jovens entre
si, dentro de seus universos acadêmicos. Esses estudos fizeram a distinção
entre brincadeiras naturais e saudáveis, típicas da vida estudantil, daquelas
que ganham requintes de crueldade e extrapolam todos os limites de
respeito pelo outro. (SILVA, 2010, p.13).

Essas “brincadeirinhas” consideradas muitas vezes como normais por pais e


profissionais da educação, possui o nome bem definido o bullying, e traz sérias
consequências, causando desde problemas na aprendizagem até sérios transtornos
psíquicos e comportamentais.

1.2 PERSONANGENS E IDENTIFICAÇÃO DA PRÁTICA DO


BULLYING

Muitas formas de classificação são feita pelos autores, para distinguir os


envolvimentos nesse circulo vicioso que é o fenômeno bullying, como: vítima,
agressor e espectador, independente de classificação, em todos os casos os
envolvidos podem sofrer graves consequências no que se diz respeito à
aprendizagem e ao convívio social.

Cada envolvido na prática do bullying, independente da sua atuação, possui seu


papel e características próprias. Nesse sentido a ABRAPIA (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) em 2008, classificou os
protagonistas do bullying de forma diferenciada, dessa forma a classificação ocorre
da seguinte maneira:

 Alvos de bullying (vítimas): Nesse grupo encontram-se os alunos que sofrem


bullying;
 Autores de bullying (agressores): são os alunos que apenas praticam o
bullying;
 Alvos/ Autores de bullying (agressores/vítimas): constituído de alunos que ora
sofrem, ora praticam o bullying;
 Testemunhas de bullying: são os alunos que não sofrem nem praticam
bullying, apenas observam e convivem em um ambiente em que essa prática
ocorre.

Além das classificações supracitadas, Silva (2010), ainda descreve de forma


minuciosa outras classificações utilizadas por especialistas do tema acerca dos
envolvidos na prática do bullying. São elas:

1.2.1 Alvos do bullying

As vítimas de bullying geralmente são pouco sociáveis, apresentam insegurança,


ansiedade, baixa autoestima, passividade, coordenação motora deficiente,
submissão, alguma dificuldade de aprendizado, isolamento, depressão, possui
poucos amigos, apresentam fragilidade em relação aos seus agressores, reagem
com medo sem possibilidade de defesa. Segundo Silva (2010, 37 a 42), além da
vítima típica, há dois tipos de vítimas no fenômeno bullying, a provocadora e a
agressora.
 Vítima típica: São alunos que apresentam pouca habilidade de
socialização. Em geral são tímidas ou reservadas, e não conseguem reagir
aos comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra elas. São
mais frágeis fisicamente ou apresentam da maioria dos alunos: são
gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam óculos; são
“Caxias”, deficientes físicos; apresentam sardas ou manchas na pele,
orelhas ou nariz um pouco mais destacados; usam roupas fora de moda;
são de raça, credo, condição socioeconômica ou orientação sexual
diferentes.

 Vítima provocadora: são aquelas capazes de insuflar em seus


colegas reações agressivas contra si mesmas. Não conseguem responder
aos revides de forma satisfatória. [...] discutem ou brigam quando são
atacadas ou insultadas. Nesse grupo geralmente encontramos as crianças
ou adolescentes hiperativos e impulsivos e/ou imaturos, que criam, sem
intenção explicita, um ambiente tenso na escola. Acabam “dando tiro nos
próprios pés”, chamando a atenção dos agressores genuínos.

 Vítima agressora: ela reproduz os maus-tratos sofridos como forma


de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e
vulnerável, e comete contra esta todas as agressões sofridas. Isso aciona o
efeito “cascata” ou de círculo vicioso, que transforma o bullying em um
problema de difícil controle e que ganha proporções infelizes de epidemia
mundial de ameaça a saúde pública. (SILVA 2010, p. 37 a 42).

As vítimas do bullying ficam isoladas, demonstram medo em ir à escola


comprometendo assim o rendimento escolar, demonstram insegurança, sentem
enjoos, dores de cabeça ou na barriga em dias de aula, síndromes, distúrbios do
sono, depressão chegando a tentar ou cometer suicídio. Ficam com receio em reagir
às reações sofridas.

A vítima, ao se preparar para ir à escola, sabe o que a aguarda. Gostaria de


fugir, mas não pode. E não há nada que possa fazer para que o bullying não
aconteça. Informar os professores só agravará a sua situação. Misturado ao
medo, cresce o ódio, o desejo de vingança e as fantasias de destruir os
agressores que, um dia, poderão se transformar em realidade. Ir á escola é
um sofrimento diário e silencioso. (ALVES, 2009, p.37).

Observa-se que a vítima do bullying pode reagir de diferentes maneiras, elas podem
ser apenas agredidas sem reagir contra seus agressores, podem ficar sofrendo sem
qualquer reação ou ainda podem revidar as agressões sofridas. No entanto,
independentemente das reações, as vítimas apresentam medo, insegurança,
reações físicas, ainda aliadas ao temor constante em ir à escola.

1.2.2 Os bullies/agressores

São agressores aqueles que vitimizam os mais frágeis, podendo ser de ambos os
sexos. Os bullies ou agressores, são populares, possuem condutas de desrespeito e
agressividade; tende a envolver-se em vários comportamentos antissociais.

Sem dúvida, o ambiente familiar o qual esse individual está inserido pode influenciar
de forma negativa e/ou positiva, bem como os comportamentos desenvolvidos nesse
ambiente, se o agressor viver cercado de violência doméstica refletira nas atitudes
da criança ou adolescente, com maiores chances de se tornarem mais agressivos
devido à ausência de afetividade e dialogo entre os que compõem o seio familiar.

Algumas condições familiares adversas parecem favorecer o


desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a
desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de
tolerância ou permissividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões
emocionais como forma de afirmação dos pais (NETO, 2005, p. 67).

Os autores do bullying consideram suas atitudes de agressividade ou violência como


qualidade, como forma de se autoafirmar. Na maioria das vezes é mais forte do que
suas vitimas, com pouca empatia, sentem total satisfação em dominar, humilhar as
pessoas e causar dor e sofrimento.
Sem nenhum receio esses agressores maltratam os coleguinhas sem medir as
consequências dos seus atos. Para Silva (2010, p. 43): “os agressores apresentam
desde muito cedo, aversão às normas, não aceitam serem contrariados ou
frustrados, geralmente estão envolvidos em pequenos delitos, como furtos, roubos
ou vandalismo, com destruição do patrimônio público ou privado”.

Segundo as ideias de Neto (2005), pondera que os fatores individuais também


podem influenciar na adoção de atitudes agressivas, tais como: hiperatividade,
impulsividade, distúrbios comportamentais, dificuldade de atenção, déficit de
inteligência e baixo rendimento escolar.

 Agressor: eles podem ser de ambos os sexos. Possuem em sua


personalidade traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes,
essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança
que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de intenso
assédio psicológico. O agressor pode agir sozinho ou em grupo. Quando ele
está acompanhado de seus “seguidores”, seu poder de “destruição” ganha
reforço exponencial, o que amplia seu território de ação e sua capacidade
de produzir mais e novas vítimas. Os agressores apresentam, desde muito
cedo, aversão ás normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados. As
manifestações de desrespeito, ausência de culpa e remorso pelos atos
cometidos contra os outros podem ser observadas desde muito cedo (por
volta dos 5 a 6 anos). (SILVA 2010, p. 43 a 44).

Vários fatores contribuem para que esse comportamento agressivo ocorra, portanto,
não basta apenas tomar atitudes de punição aos autores do bullying sem que haja
intervenção e investigação do ambiente ao qual esse agressor encontra-se inserido.

1.2.3 Os espectadores da maldade

Os espectadores ocupam uma posição de observação e omissão diante das práticas


de bullying, esses alunos não participam nem sofrem as agressões, mas as
presenciam e as observam sem demonstrar nenhum tipo de reprovação ou conduta
que impeça os ataques aos vitimados, que podem sentir-se incomodados ou com
medo, mas infelizmente acabam prestando uma parcela de participação por meio da
sua omissão diante dos ataques do bullying.
Essa postura de neutralidade e silêncio adotada pelos espectadores reflete como
apoio aos agressores em suas práticas de violência, já que não tomam qualquer
atitude em ajuda as vítimas.

Pesquisas da ABRAPIA comprovam que as testemunhas do bullying representam a


maioria dos estudantes, que através do medo de se tornarem próximas vitimas
acabam contribuindo indiretamente para que o bullying prospere.

Para Silva (2010, p.45 e 46) os espectadores se dividem em três grupos distintos:

 Espectadores passivos: assume uma postura por medo absoluto de


se tornarem a próxima vítima. Recebem ameaças explícitas ou veladas do
tipo “Fique na sua, caso contrário a gente vai atrás de você”. Eles não
concordam e até repelem a atitude dos bullies; no entanto, ficam de mãos
atadas para tomar qualquer atitude em defesa das vítimas.

 Espectadores ativos: estão inclusos nesse grupo os alunos que,


apesar de não participarem ativamente dos ataques contra as vítimas,
manifestam “apoio moral” aos agressores, com risadas e palavras de
incentivo. Não se envolve diretamente, mas isso não significa em absoluto,
que deixam de se divertir com o que vêem.

 Espectadores neutros: os alunos que, por uma questão sociocultural


(advindos de lares desestruturados ou de comunidades em que a violência
faz parte do cotidiano), não demonstram sensibilidade pelas situações de
bullying que presenciam. Eles são acometidos por uma “anestesia
emocional”, em função do próprio contexto social no qual estão inseridos.

Os espectadores em qualquer das definições supracitadas, em sua grande maioria


usam a omissão frente aos ataques do bullying. Ainda segundo Silva (2010, p. 46):
“A omissão só faz alimentar a impunidade e contribuir para o crescimento da
violência por parte de quem pratica, ajudando a fechar a ciranda perversa dos atos
de bullying”.

Por se tratar de um fenômeno que age principalmente de forma velada, torna-se


necessário que os pais e professores identifiquem os personagens do bullying
(vítimas, agressores e espectadores) através dos vários aspectos comportamentais,
considerando o papel que cada um desempenha seja no ambiente escolar ou
familiar.

O comportamento bullying pode ser identificado em qualquer faixa etária e


nível de escolaridade, portanto, desde os três ou quatro anos de idade é
possível perceber o comportamento abusivo, manipulador, dominador e, por
outro lado, passivo, submisso e indefeso”. (FANTE; PEDRA, 2008).

É de suma importância que esse desvio social seja identificado, bem como, o papel
que cada personagem desempenha. Só diante dessa postura de alerta é que a
família e a escola poderão intervir efetivamente combatendo esse mal que assola a
sociedade.

O diálogo também é um forte aliado no combate ao bullying, portanto, “é


fundamental que, tanto em casa quanto na escola, a criança tenha liberdade para
dizer o que pensa e o que sofre.” (Gabriel Chalita, Revista Profissão Mestre, p.27). A
alerta maior encontra-se naquele aluno que não demonstra o que sente, e fica
sofrendo calado.

De acordo com o pesquisador Dan Olweus, citado por Cleo Fante (2005), apud Melo
(2010, p.37 e 38), para que um aluno possa ser identificado como vítima, os
professores devem observar se ele apresenta alguns destes comportamentos:

 Durante o recreio está frequentemente isolado e separado do grupo, ou


procura ficar próximo do professor ou de algum adulto?
 Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando
inseguro ou ansioso?
 Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido?
 Apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares?
 Apresenta ocasionalmente contusões, ferida, cortes, arranhões ou a roupa
rasgada, da forma não natural?
 Falta às aulas com certa frequência (absenteísmo)?
 Perde constantemente os seus pertences?

Além dos comportamentos supracitados que devem ser observados no ambiente


escolar ou em casa para identificação das vítimas, é importante frisar que as
mesmas podem apresentar insegurança, ansiedade, podem ser fisicamente mais
fracas do que o agressor, apresentar sinais de estresse que acaba resultando em
baixa imunidade fisiológica, mudança repentinas de humor, aparentemente não
possui amigos, procuram sempre a companhia de um adulto fora do horário da aula,
apresentam baixo rendimento escolar, ficam com receio de fazer uma pergunta ao
professor e ser alvo de “chacota”, nunca levam um colega para sua casa nem
frequenta a casa de nenhum colega, mostram aversão aos assuntos que envolva a
escola e resistência em frequentar a instituição.

A vítima prefere calar - se diante das agressões físicas ou verbais, numa tentativa de
diminuir a dor e o sofrimento, mesmo estando distante da escola, as vítimas
continuam a lembrar das agressões as quais são refém.

Ainda segundo as lições de Dan Olweus, citado por Cleo Fante (2005), apud Melo
(2010, p.38) no que tange a identificação do agressor os procedimentos adotados
devem ser os mesmos da identificação das vítimas do fenômeno bullying.

 Faz brincadeiras ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil?


 Coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas, de forma
malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama?
 Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga? Incomoda, intimida, empurra,
picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa o cabelo, envolve-se em
discussões e desentendimento?
 Pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros
pertences sem o seu consentimento?

Os agressores desafiam seus familiares, colegas e professores, não respeitam as


pessoas a sua volta, quebram os pertences da vítima, estão sempre envolvidos em
discussões na escola mesmo de forma velada. São conhecidos como, valentões,
tiranos e durões. Alguns agressores se comportam em casa como se não tivessem
cometido nada, e quando são questionados acerca das suas atitudes reprovadoras,
negam com veemência aos questionamentos.

O ambiente escolar é o local de maior ocorrência do fenômeno. Dentro da escola o


bullying pode ocorrer nos corredores, no pátio de recreios, banheiros, salas de aula,
bibliotecas, quadras esportivas entre outros ambientes dentro da escola, podendo
ocorrer também nas imediações das escolas, como condomínios, lan houses,
shoppings e outros ambientes comuns aos alunos.

O bullying é uma das faces da violência nas escolas que deve ser
trabalhada no cotidiano, sem, no entanto, negarmos ou inviabilizarmos os
vários outros tipos de violência que ocorrem no ambiente escolar, levando
em consideração todos os atores neles envolvidos. (Revista Consulex, Ano
XIV – N. 325, 1 de agosto de 2010, p. 35)

É oportuno frisar que as práticas de bullying são atitudes sem motivação aparente,
constantes e intimidadoras, não podendo a esse fenômeno ser atribuído a qualquer
ato, como por exemplo, receber apenas um soco ou um empurrão, ouvir expressões
inconvenientes e desagradáveis por uma única vez não irá configurar o bullying,
necessitando que esses atos de violência ocorram de forma continuada, ainda que
exista intervalo de tempo de um ato a outro.

1.3 AS MARCAS DA MALDADE: O fenômeno bullying e suas


consequências aos envolvidos

As consequências advindas desse fenômeno podem ou não ser superados pela


vítima, que contará desde o comportamento da mesma até seus relacionamentos
com seus pares. No entanto, se essas marcas do bullying não forem superadas, a
vítima carregará um trauma que a prejudicará no seu desenvolvimento. Nesse
sentindo Fante (2005, p. 79), traz como uma das consequências do bullying e talvez
a mais grave, a capacidade do fenômeno de causar traumas ao psiquismo de suas
vítimas e envolvidos.
[...] gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, baixa
autoestima, dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento escolar,
podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves, além
de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, transformando-a em
um adulto com dificuldades de relacionamentos e com outros graves
problemas.

Segundo Cleodelice Aparecida Zonato Fante em seu artigo o fenômeno bullying e as


suas consequências psicológicas aos envolvidos:

As consequências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e


abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o
déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o
absentismo e a evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional, a
baixa na resistência imunológica e na autoestima, o stress, os sintomas
psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio.
Para os “agressores”, ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos
objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de
obtenção de poder, o desenvolvimento de habilidades para futuras condutas
delituosas, além da projeção de condutas violentas na vida adulta. Para os
“espectadores”, que é a maioria dos alunos, estes podem sentir
insegurança, ansiedade, medo e estresse, comprometendo o seu processo
sócio educacional.

Para o Promotor de Justiça Lélio Braga Calhau em seu artigo na Revista Consulex
(2008, p. 47): o fenômeno bullying produz efeitos que vão muito além de
provocações e ofensas as vitimas com graves consequências aos vitimados, aos
próprios agressores e a sociedade em sua totalidade.

O fenômeno bullying estimula a delinquência e induz a outras formas de


violência explicita, produzindo em larga escala cidadãos estressados,
deprimidos, com baixa autoestima, resistência à frustração e reduzida
capacidade de autoaceitação, autoafirmação e autoexpressão, alem de
propiciar o desenvolvimento de doenças psicossomáticas, transtornos
mentais e psicopatologias graves. (CALHAU, 2006, p.10)

As consequências dessa prática covarde são incalculáveis, causando danos aos


vitimados que certamente serão como marcas ou cicatrizes que vão ser carregadas
ao longo da vida, onde sempre serão lembradas recordações de humilhação e de
desprezo vividos, isso quando não acarretar em suicídio, depressão entre outras
consequências. Oportuno citar a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, 2010:

[...] Não existe sucesso ou qualquer outra realização material ou profissional


que apague o sofrimento vivenciado por uma criança ou um adolescente
afetado pela violência do bullying. Todos carregam consigo a cicatriz dessa
triste experiência, e a marca tende a ser mais intensa quanto mais cedo ela
ocorre (infância) e por quanto mais tempo ela persiste [...].

São nítidos os males que o bullying acarreta, tornando-se necessário e em caráter


de urgência a efetiva atuação de prevenção e combate as práticas desse fenômeno,
que deve ser levado a sério desde os primeiros indícios. Para que isso ocorra, as
escolas, a família, sociedade e Poder Público devem tomar algumas medidas e
buscar algumas soluções que sejam capazes de combater e prevenir o bullying, bem
como conhecer as consequências advindas desse fenômeno para a sociedade.
2 O ÁRDUO CAMINHO DOS VALORES MORAIS NA SOCIEDADE
COMTEMPORÂNEA: Ausência ou inversão desses valores gera o
bullying

Em tempos atuais, os valores essenciais à vida dos indivíduos encontram-se


desintegrados, tornando-se um grande obstáculo aos indivíduos. Valores inerentes a
formação dos indivíduos como: o respeito, a ética, a solidariedade, o
companheirismo, o cooperativismo e a cidadania, estão sendo esquecidos e não são
facilmente visíveis nos atuais modelos de famílias e nos processos educacionais.

O processo de globalização marcados na sociedade contemporânea tem nos


mostrado o grande aumento dos meios de comunicação e os avanços econômicos,
que ao longo dos anos está vencendo a tradição humanista.

Os valores supracitados inerentes aos cidadãos estão sendo esquecidos ou


abandonados pela larga escala da economia, que se mostra em nível elevado de
superioridade na vida dos indivíduos contemporâneos, passando os mesmos a
aderir a uma nova ordem social.

Essa valorização ao individualismo e ao isolamento adotados na sociedade atual


tem acarretado uma mudança significativa nos relacionamentos sociais entre os
indivíduos, bem como, afetando perceptivelmente a adoção dos valores sadio
convívio social.

O mundo moderno, dos questionamentos e porquês, do isolamento das


pessoas em frente aos computadores, do exacerbado culto do “eu”,
aumentou o nosso individualismo e colocou um grande ponto de
interrogação não apenas sobre qual está sendo o papel da família na
educação, como também sobre qual a responsabilidade que se pode
imputar á escola, nesse conflituoso processo. (Revista Consulex, Ano XIV –
N. 325, 1 Agosto de 2010, p. 31).
Essa crise de valores morais e éticos enfrentados pela sociedade contemporânea
tem contribuído de forma significativa para que as práticas do bullying venham a se
propagar, sendo o ambiente escolar o lugar em que os comportamentos antissociais
mais se destacam.

Essas práticas de bullying nas escolas é bem maior do que as estatísticas mostram,
na maioria das vezes ocorrendo de forma velada e omitidas por quem sofre ou por
quem presencia esses comportamentos agressivos. Os professores que as vezes
sofrem violência nas escolas, sejam físicas ou verbais dos alunos, não são
encorajados a denunciar ou registrar ocorrência de casos de violência, ou que já
tenham sido vitimas do bullying ou que já tenham identificado casos que envolva
esse tipo de violência.

Segundo o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira


Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), no site da
revista escola diz: Qualquer ambiente escolar pode apresentar indícios e casos de
bullying. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando
sua existência".

Os pais e os professores ficam sem saber que atitude aderir para combater o
fenômeno bullying, isso quando os mesmos conseguem identificar o comportamento
violento de um filho ou aluno, nesse sentido preferem encarar o problema como
sendo brincadeiras naturais da idade.

Segundo Maluf apud Oliva (2009) afirma que: “Estamos em meio a um colapso de
valores, as normas estabelecidas estão sendo contestadas sem parâmetros. A
disciplina foi esquecida.”

Nesse sentido são as afirmações de Maluf apud Oliva (2009), “a falta ou inversão de
valores morais e éticos, o desprestígio da educação no grupo familiar, a carência
afetiva dos filhos desde cedo, os pais omissos, ausentes dos problemas
familiares/escolares e jogando para a escola toda responsabilidade de educá-los.

Diante dessa ausência ou inversão de valores que tem gerado cada vez mais esses
comportamentos anti sociais, um dos principais problemas enfrentado pelas escolas,
tem sido em atuar de forma eficaz na resolução dos conflitos. A criança ou o
adolescente sofre muitas vezes de forma velada, necessitando que a escola esteja
capacitada para lidar com as diversidades e desigualdades sociais.

[...] A preocupação da escola não pode resumir-se somente em transmitir os


conteúdos a serem desenvolvidos durante o ano em cada série, seus
métodos e processos de avaliação utilizados, mas acima de tudo, a escola
deve estar apta a lidar com as adversidades e desigualdade existente entre
seus alunos, preparada para lidar com situações de conflito, preconceitos,
violência e discriminação [...] (Revista Direcional, Ano 6- Ed 70 – Novembro
– 2010, p.15)

Oportuno neste momento fazer alusão que, o processo de aprendizagem está


relacionado às interações do indivíduo com o meio o qual encontra-se inserido, bem
como, a influência cultural vivida por esse indivíduo, onde referências negativas
pesará na formação dos mesmos. Fatores como: pessoais de cada aluno (baixa
auto estima, falta de interesse em ir à escola) aliado a fatores socioculturais
(pobreza, exclusão social, desemprego, ausência de limites, desejo de auto
afirmação, falta de aceitação as diferenças e etc.) influenciaram nessa formação de
personalidade.

Ainda abordando essa ideia de desenvolvimento do indivíduo para Palmeira e


Roseira (2008, p.131), “não se limita apenas ás relações entre os sujeitos,
considerada apenas em uma dimensão cognitiva, mas envolve todo o contexto sócio
histórico cultural, no qual o indivíduo está inserido desde o seu nascimento”.

Segundo Vigostski (2001, p.115), “o aprendizado humano pressupõe uma natureza


social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida
intelectual daqueles que as cercam”, para o autor a formação da criança acontece a
partir da sua interação com seus pares, num processo recíproco de vivências, onde
são repassadas uns aos outros, adquirindo através dessa troca os conhecimentos
que serão precursores de sua formação.

Ainda nessa linha de pensamento do mencionado autor, para Palmeira e Roseira


(2008, p.132), na área da educação podem ser observados:

1. O funcionamento psicológico é baseado nas relações entre o sujeito e o


mundo externo, relações essas que se desenvolvem no processo histórico;
2. A relação homem mundo é mediada por sistemas simbólicos;
3. As funções psicológicas têm um apoio biológico, porque eles passam
pelo cérebro.
Nessa perspectiva, o fator biológico deixa de ter cunho predominante, passando os
fatores sociais e culturais a ganhar maior destaque nesse processo de
desenvolvimento do indivíduo. Ressaltando, contudo, o processo de maturação de
cada indivíduo, que estão a partir da ótica do desenvolvimento baseado nos fatores
socioculturais.

Ainda nessa linha de raciocínio Lopes Neto relaciona os diversos fatores que
poderão influenciar para as práticas de bullying:

Fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de temperamento e


influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade, constituem
riscos para a manifestação do bullying e causam impacto na saúde e
desenvolvimento de crianças e adolescentes. (LOPES NETO, 2005)

Esses comportamentos de agressividade podem se desenvolvidos pelas c rianças e adolescentes na infância, quando
não são características próprias, tendo como influência positiva ou negativa o meio
em que encontram- se inseridas como familiar, social ou escolar. Fatores como:
distúrbios de personalidade, dificuldade de relacionamento, influência familiar ou de
amigos; condições escolares e seus métodos pedagógicos; são predominantes para
as práticas de agressividade entre crianças e adolescentes.

Sendo assim para Vigostski (2001, p.67), “o movimento real do processo de


desenvolvimento do pensamento infantil não se realiza do individual para o
socializado, mas do social para o individual”.

Para que a criança e o adolescente, pessoas em desenvolvimento, possam adquirir


uma maturidade e consequentemente o desenvolvimento de sua personalidade, é
necessário um ambiente escolar adequado, com segurança, harmônico, que
possibilite aos seus alunos condições necessárias para essa maturidade, agregando
valores inerentes as relações humanas, afetividade e diálogo entre os alunos.

Na visão Vigostskiana, o processo de maturação do indivíduo, se dá como um fator


secundário do desencadeamento dos comportamentos dos indivíduos, com
características de mudanças e transformações com complexidade e qualitativas.

[...] Vigostski não vê a criança apenas como um adulto em maturação, ele a


vê com características próprias, num jogo dialético, no qual é sujeito ativo
da sua própria história. Assim sendo, a criança, no seu processo de
desenvolvimento, influencia o ambiente e a si mesma, ao mesmo tempo que
é influenciada por ele. [...] (PALMEIRA e ROSEIRA, 2008, p.133):

Acontecimentos que ocorrem durante a infância, serão levados refletidos na vida


adulta, sendo um ponto de partida para a compreensão de alguns fatores que
podem efetivamente influenciar a prática de delitos. Daí a importância de se ter boa
condições no ambiente da criança no processo de seu desenvolvimento.

A criança é influenciada pelo meio em que vive, recebe daqueles que a cerca
ensinamentos e as formas culturais. Logo, se essa criança não tiver em seu
processo de desenvolvimento construção de valores éticos e morais, dificilmente
formará um conceito de si mesma, por isso é de extrema importância a conduta da
família e da escola na abordagem desses valores no desenvolvimento da criança,
sempre observando não só as dificuldades cognitivas, mas também
comportamentais.

Vários fatores contribuem para as condições de violência, o cenário social de


miséria, desemprego, prostituição, a exclusão social, o preconceito, a influência
negativa dos meios de comunicação que banalizam as práticas de violência,
trazendo muitas vezes como alternativa de resolução de problemas, eliminando o
diálogo, podendo ser responsáveis pelo comportamento agressivo, influenciando na
formação da criança ou do adolescente.

O agressor, muitas vezes, pratica a violência na mera ilusão de que está agindo de
maneira correta, devido à concepção de valores que o mesmo tem em sua vida,
diante das influências vivenciadas em seu dia a dia.

2.1 A PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DOS


VALORES ÉTICOS NO ENFRENTAMENTO AO BULLYING

A parceria família e escola são cruciais no desenvolvimento da criança e do


adolescente, mas cada uma possui uma influência diferenciada.
O papel da escola é fundamental na formação do caráter do indivíduo dando o apoio
necessário à família nesse processo de construção da personalidade, mas, não
poderá substituir o dever de educar da família (pais ou quem os representem), não
se pode atribuir toda responsabilidade do ato de educar à escola, a participação da
família nesse processo é um marco fundamental para o desenvolvimento da
criança, que levará consigo essa formação para sua fase adulta. Para Calhau
(2006), “O que ocorre na infância vai refletir em nossa vida adulta”.

[...] é necessário que a que a instituição escolar atue em parceria com as


famílias dos alunos e com todos os setores da sociedade que lutam pela
redução da violência em nosso dia a dia. Somente dessa forma seremos
capazes de garantir a eficácia de nossos esforços [...] (SILVA, 2010, p. 161)

Segundo Chalita (2004, p. 17), “Qualquer projeto educacional sério depende da


participação familiar: em alguns momentos, apenas do incentivo; em outros, de uma
participação efetiva no aprendizado, ao pesquisar, ao discutir, ao valorizar a
preocupação que o filho traz da escola”.

A psicóloga Silvana Martanin no site Observatório da Infância aborda de forma


objetiva o dever dos pais e da escola:

Para que esse tipo de conduta seja neutralizado nas escolas deve haver um
esforço de pais e orientadores, pois os danos aos alvos são muito severos.
Os pais devem avisar professores e orientadores se suspeitarem que seus
filhos sejam vítimas do bullying e não devem permitir que a questão seja
mal investigada ou subvalorizada, pois é muito difícil para as escolas
admitirem esta situação.

É importante enfatizar que é na família que se encontra os primeiros laços de


afetividade, sendo sem dúvidas mais fortes, trazendo consigo grande relevância na
formação da criança, daí a preocupação em traçar o objetivo de buscar sempre que
seu filho através dos valores éticos e morais respeitem as adversidades, mesmo que
para isso signifique colocar limites e muitas vezes ter que dizer “não” às suas
vontades e dengos. Sem dúvidas essas posturas dos pais diante de
comportamentos dos filhos serão refletidos no futuro da criança ou do adolescente
de forma positiva. Nesse sentido pontua a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva
apud Revista Claudia, n 1, Ano 50, Janeiro 2011, “filhos não querem amigos,
querem pai e mãe”.
E exatamente os respeito às adversidades que precisam ser trabalhados pelo seio
familiar e pela a escola. Nesse sentido, Fante (2005), têm abordado o bullying como
sendo uma das consequências a essas recusas das diferenças entre as crianças e
adolescentes:

[...] o bullying começa frequentemente pela recusa de aceitação de uma


diferença, seja ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo
religião, raça, estatura física, peso, cor dos cabelos, deficiências visuais,
auditivas e vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual
e física; ou está relacionada a aspectos como força, coragem e habilidades
desportivas e intelectuais [...]

A incapacidade de aceitação do que possa ser considerado como “diferente” pode


gerar diversas reações entre elas, a agressividade, o desprezo e a falta de respeito,
gerados devido à ausência de valores morais, como: tolerância, o respeito, a
solidariedade, a cooperação e etc.

E esses comportamentos agressivos na maioria das vezes vem provenientes de


lares onde a agressividade, a falta de respeito para com os demais integrantes do
lar, o preconceito e as demonstrações claras ou veladas de apatia às diferenças,
tem se tornado marcas registradas no cotidiano das famílias, onde
consequentemente serão reproduzidos pelos seus sucessores.

Os pais devem observar melhor o comportamento dos seus filhos para entender o
que se passa no seu mundo de incertezas e conflitos, nesse sentido Cury (2003, p.
43), comenta: "Há um mundo a ser descoberto dentro de cada jovem, mesmo dos
mais complicados e isolados. Muitos jovens são agressivos e rebeldes, e seus pais
não percebem que eles estão gritando através de seus conflitos."

Quando a família encontra-se desestruturada, quando não há afetividade, diálogo,


limites e abuso de poder, entre os que integram o seio familiar, as possibilidades de
comportamentos agressivos são facilmente manifestados, muitas vezes aliado ainda
a características pessoais de cada indivíduo sendo alguma delas a hiperatividade,
impulsividade, falta de atenção, desinteresse pela escola entre outros. A família
deve ser o porto seguro para que as crianças e os adolescentes sintam-se
protegidos, respeitados e amados.
A esse respeito Chalita (2005, p. 19 e 20) comenta: “Na família moderna, em
numerosos casos, falta amor [...] não é exemplo de família o ódio, a violência, a
tolerância apática [...]”. Essa ausência de afetividade e de diálogo no ambiente
familiar trará grandes probabilidades para que a criança ou adolescente se tornem
adultos com condutas anti sociais e/ou violentas, podendo posteriormente conduzir,
consequentemente a atitudes criminosas ou delinquentes.

Muitas vezes os pais encontram-se ocupados com atividades do cotidiano,


afastando se consequentemente dos filhos e do seu crescimento pessoal, faltando
nesse processo de formação das crianças e dos adolescentes o diálogo,
acompanhamento a cada comportamento diário.

[...] é imprescindível que os pais encontrem tempo para uma convivência


saudável com seus filhos, estabelecendo um diálogo permanente sobre
suas vidas, dúvidas, angústias, expectativas e o universo ao seu redor.
Cabe aos pais, ainda, nessa troca de ideias com os filhos, reservar um
espaço para que, de forma franca e transparente, possam expressar seus
sentimentos e pensamentos a respeito deles. Isso é fundamental para
prepará-los para a vida adulta [...] (SILVA, 2010, p.171).

De acordo com o psicólogo Cury (2003), “o dialogo é uma ferramenta educacional


insubstituível. Deve haver autoridade na relação pai-filho e professor-aluno, mas a
verdadeira autoridade é conquistada com inteligência e amor”. Através desse
diálogo, família e escola estarão aptas para transmitirem os valores necessários à
formação da infância à fase adulta.

Segundo Silva (2010, p.171): “antes de repreender os filhos, é preciso ouvi-los com
sincera disposição de ajudá-los. Para tanto, é necessário que, desde muito cedo, os
pais reforcem com palavras e atitudes os aspectos positivos e os acertos da
criança”. Ainda de acordo com as lições de Silva (2010), diante dessas atitudes dos
pais para com os filhos, com o passar do tempo, a criança ou adolescente, irá
adquirir segurança e autoconfiança.

A criança e o adolescente passam a maior parte do tempo no seio familiar ou na


escola, daí a importância da ênfase a necessidade da percepção e da sensibilidade
no momento da identificação precoce e resolução dos conflitos individuais e sociais
que afligem esses sujeitos que ainda encontram em construção da personalidade.

Observa-se que a família e a escola têm pouca percepção quanto à ocorrência do


fenômeno bullying, seja na identificação dos que praticam o fenômeno, seja para
quem está sendo vítima desses maus tratos, no entanto, esse último torna-se ainda
mais difícil, em virtude das pessoas vitimadas por esse fenômeno não se
defenderem ou não buscarem ajuda, consequentemente a maioria desses atos
ocorrerem sem a presença de um adulto. A declaração feita pela criança acerca da
ocorrência de maus tratos é praticamente inexistente, por medo ou vergonha diante
dos agressores.
Segundo Silva (2010), “é comum que os pais achem difícil reconhecer o
comportamento violento de um filho, preferindo tratar o problema como “coisa da
idade”. Ainda segundo uma pesquisa realizada pela citada autora, existe quatro
grupos onde meninos e meninas encontram se inseridos por apresentar
comportamentos agressivos, não existindo para tanto uma sequência desses
comportamentos, ou seja, não existe um manual para o bullying, sendo necessário a
observação precoce e buscar os indícios para a identificação, prevenção e solução
do problema.
No primeiro estão crianças que não tiveram limites, pois os pais ausentes
trocam a função de educadores pela de amigos. Entre os bullies, a maioria
tem esse histórico. O segundo inclui crianças que não tiveram exemplo em
casa; já terceiro se refere a meninos e meninas com alterações de
comportamento aparentemente repentinas. [...] até aqui é fundamental que
os pais reconheçam o problema, conversem com os filhos e busquem
acompanhamento psicológico – a terapia familiar é uma boa alternativa [...]
O quarto grupo, o de crianças de índole genuinamente perversa – minoria
absoluta entre os bullies e bem mais complicado. Desde muito cedo, 2,3
anos, eles demonstram incapacidade de sentir o sofrimento do outro. Há
uma indiferença no olhar. Não se comovem diante da dor de um animal, não
retribuem um sorriso, um carinho. “Elas não têm aquilo que Deus nos deu
de fábrica, o senso moral”, explica a psiquiatra. (REVISTA Cláudia, Ano 50,
n. 1, p. 94, Janeiro 2011).

A precária orientação dos pais ou a falta dela, muitas vezes por falta de
conhecimento do assunto, pode acarretar voluntariamente práticas de bullying e
ainda poderá contribuir ao sofrimento velado vivido pelas vítimas desse fenômeno.

[...] Alguns pais podem ser desastrosamente negativos, ao tentarem orientar


os filhos sobre como devem reagir frente a situações nas quais são vítimas
de bullying. Eles tecem comentários irônicos e responsabilizam o filho
vitimado pela falta de competência em lidar com as agressões sofridas.
Geralmente agem assim por falta de conhecimento ou por estarem
reproduzindo experiências vividas na infância ou mesmo na vida adulta.
Sem se dar conta, os pais que adotam essa postura estão reforçando as
atitudes dos agressores e, inadvertidamente, alimentam a insegurança e o
sentimento de inferioridade do filho.[...] (SILVA, 2010, 172)

Ainda de acordo com Silva (2010), alguns pais assumem uma postura contrária, não
aceitam que os filhos sejam passivos aos atos de violência, e passam a orientá-los e
encorajá-los a revidarem as agressões sofridas, numa espécie de justiça com as
próprias mãos ou até mesmo uma forma de autoafirmação equivocada.

[...] Essas atitudes de contra-ataque só tendem a agravar o problema,


potencializando a violência entre os estudantes. As soluções mais eficazes
ocorrem quando se estabelece uma parceria que envolva a escola, os pais
dos jovens vítimas e os pais dos autores de maus-tratos. Todas as partes
implicadas nesse processo precisam de orientação e ajuda e, muitas vezes,
de encaminhamento a profissional da área de saúde. [...]

Nessa seara, para Melo (2010, p.41): “os pais não deve, tomar nenhuma iniciativa
contra o agressor, a não ser comunicar o fato à direção da escola e exigir que
busquem informações sobre os programas que estão sendo desenvolvidos em
outras escolas e comunidades para se combater o bullying”.

É oportuno salientar que os pais devem observar o comportamento dos seus filhos,
estando atento a qualquer ato que possa caracterizar casos de bullying; no intuito de
conversar e orientar, só através dessa postura os pais passarão a confiança e o
respeito dos seus filhos.

 Os pais devem estimular constantemente o filho a contar o que lhe


ocorre na escola, de maneira franca e aberta.
 Os pais não devem tomar iniciativa contra o agressor, a não ser
comunicar o fato à direção da escola e exigir que busquem informações
sobre os programas que estão sendo desenvolvidos em outras escolas e
comunidades para se combater o bullying.
 Os pais não devem estimular o filho a revidar os ataques.
 Os pais devem sugerir ao filho que evite o agressor ou busque a
ajuda do professor, do treinador ou do adulto que saiba agir nesses casos.
(MELO, 2010, p.41)

Ainda nesse sentido segundo Fante (2005), Quando houver omissão da escola na
resolução dos conflitos entre crianças e adolescentes, deve-se buscar a ajuda do
Conselho Tutelar, que de acordo com sua competência tomará as atitudes cabíveis.
Segundo pesquisas realizadas pela ABRAPIA, os autores da prática de bullying
pertencem a famílias desestruturadas, onde o relacionamento afetivo entre os que
integram o seio familiar é precário, os pais não exercem seu papel tampouco o de
vigilância aos atos praticados por seus filhos.

Algumas condições familiares adversas parecem favorecer o


desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a
desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de
tolerância ou permissividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões
emocionais como forma de afirmação dos pais (NETO, 2005, p. 67).

Ainda segundo o citado autor, vários são os fatores que favorecem as práticas de
violência tanto fora como dentro do âmbito escolar, abarcando diversos fenômenos,
dentre eles o bullying entre crianças e adolescentes, sobre esses aspectos pontua o
autor:

[...] Fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos de


temperamento e influências familiares, de amigos, nas escolas e da
comunidade, constituem riscos para a manifestação do bullying e causam
impacto na saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes.[...]
(NETO, 2005, p.66).

A valorização da formação de valores na construção da personalidade é de extrema


necessidade, visto que, esses valores éticos e morais, quando sólidos, propiciam ao
indivíduo desde a terna infância à fase adulta a base para toda sua vida.

[...] A formação de valores, hábitos que o indivíduo terá como base por toda
a sua vida, em conjunto com a criação familiar, é adquirida em sua maior
parte na Educação Infantil. Baseado nessa colocação surge à necessidade
de alertar os educadores da educação infantil, visto que esses são
responsáveis em grande parte pelo processo educacional de valores da
criança na fase inicial de sua vida. É de ressaltar que tal colocação em
relação à educação infantil não quer dizer que educadores voltados para as
demais fases do ensino não são responsáveis pela formação moral do
aluno. Pelo contrário, a formação de valores de indivíduo é por toda vida,
porém é na fase infantil que são formadas as bases de uma boa educação.
[...] www.educador.brasilescola.com.

A sociedade deve reconhecer o bullying e suas graves consequência, para daí então
ser tomadas as devidas e cabíveis atitudes para prevenir que esses atos de
violência venham se manifestar nas escolas.

O fenômeno bullying não é facilmente reconhecido, dentre vários fatores, a


dificuldade reside no comportamento da vítima desse fenômeno que sofre na
maioria das vezes calada, ou seja, de forma velada, como medo que possam sofrer
represália por parte dos agressores, tornando-se reféns da violência e da covardia
de quem pratica tais atos. Completando essa ideia, a autora chama à atenção
quando a criança ou adolescente é vítima de maus tratos em seu próprio lar,
devendo a escola agir com cautela na abordagem a família da vítima.

Os professores, às vezes, também se deparam com situações delicadas:


podem suspeitar que uma criança ou adolescente esteja sofrendo violência
doméstica, ao observar mudanças comportamentais, marcas físicas ou
mesmo notar algum sentimento de tristeza. Em tais situações, deve-se
evitar falar com os pais sob suspeitas, pois as crianças poderiam sofrer
represálias ou serem trocadas de escola. O mais indicado é que o diretor e
o professor recorram à denúncia anônima, registrando os motivos da
suspeita com a solicitação de sigilo em relatório oficial. A omissão dos
profissionais da escola incorre em uma infração administrativa grave,
segundo o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente. (SILVA,
2010, p.173).

As vítimas do Bullying, por medo, não contam aos seus professores nem aos seus
pais o que estão vivendo e porque estão sofrendo, isso acontece principalmente,
quando estas precisam ir à escola, onde na maioria das vezes acontece todo o
cenário de terror.

Aos poucos essas vítimas vão se isolando dos seus “coleguinhas”, torna se triste e
deprimida, sem perspectiva alguma de lutar em busca dos seus direitos,
apresentando insegurança, sem nenhuma interação social e em alguns casos
optando até pelo suicídio. Para Pereira (2002) “a que na maioria das vezes os
professores identificam quem são os agressores, no entanto, apresentam maior
dificuldade de apontar os alunos que estão sendo vítimas do Bullying”. Ainda nesse
sentido de acordo com Olweus, apud Fante (2005, p.49):

[...] não há dúvidas de que a maioria dos casos de Bullying acontece no


interior da escola. Entretanto, para que um comportamento seja
caracterizado Bullying, é necessário distinguir os maus-tratos ocasionais e
não graves dos maus-tratos habituais e graves [...].

Daí a importância da percepção dos professores, ainda quando esse problema


surge na sala de aula, espaço onde o papel do professor torna-se ainda mais
evidente, aliado ao comprometimento do desempenho escolar dos alunos, bem
como, sua construção da personalidade.

A ação das escolas perante o assunto ainda está em fase embrionária. A


maioria absoluta não está preparada para identificar e enfrentar a violência
entre seus alunos ou entre os alunos e o corpo acadêmico. Essa situação
se deve a muito desconhecimento, muita omissão, muito comodismo e uma
dose considerável de negação da existência do fenômeno. (SILVA, 2010, p.
162)

É necessário que os professores tenham conhecimento acerca do fenômeno


bullying, para então saber atuar diante da situação, seja em sala de aula ou fora
dela. Existem vários casos de violência escolar, normalmente as vítimas dificultam
ainda mais a identificação do problema, por medo de expor ao corpo docente ou à
direção da escola, sob alegação ou falsa ideia que não possa haver solução ao caso
ou omissão de ajuda.

Prevenir e combater o bullying na escola é de responsabilidade de toda a


escola, envolvendo funcionários, professores, diretoria, alunos e pais de
alunos. Não se resolve o bullying escolar na polícia ou na Justiça, últimas
instâncias a serem procuradas, se todo o resto falhou.
(www.observatoriodainfancia.com.br)

Os professores precisam do apoio do poder público nessa luta contra o bullying, é


extremamente necessário valorizar esses profissionais, incentivar a formação
continuada, estimular a consolidação de práticas pedagógicas que desprezem
qualquer tipo de preconceito e discriminação racial ou de qualquer gênero,
valorização do diálogo e do respeito entre os alunos e os professores e todos que
compõem a comunidade escolar.

[...] as escolas precisam, inicialmente, reconhecer a existência do bullying e


tomar consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o
desenvolvimento socioeducacional e para a estruturação da personalidade
de seus estudantes. [...] as escolas necessitam capacitar seus profissionais
para a identificação, o diagnóstico, a intervenção e o encaminhamento
adequado de todos os casos ocorridos em suas dependências. [...] As
instituições de ensino têm o dever de conduzir o tema a uma discussão
ampla, que mobilize toda a sua comunidade, para que estratégias
preventivas e imediatas sejam traçadas e executadas com o claro propósito
de enfrentar a situação [...]. (SILVA, 2010, p.162).

Segundo a Revista Claudia (2011), de acordo com uma pesquisa realizada em 2010
pela Plan Brasil, ONG direcionada para a defesa dos direitos da infância, mostra que
as escolas na sua grande maioria encontram-se sem preparação para enfrentar o
fenômeno bullying. Segundo o pediatra Lauro Monteiro, do Rio, editor do site
observatório da infância, “As instituições de ensino têm de agir antes de o bullying
acontecer”.
Ainda segundo a ONG Plan Brasil, presente em 66 países, “um de cada três
estudantes brasileiros de ensino fundamental revela ser ou ter sido alvo de “maus-
tratos” por parte de colegas dentro da escola. Pela persistência das agressões, um
de cada dez casos configuram bullying”. (Revista Veja, edição 2213, ano 44, n.16,
20 de abril de 2011).

As pesquisas revelam números significativos, porém, encontram-se ainda


subestimados, nesse sentido, Fante (2005) afirma que: “o problema é maior do que
as estatísticas fazem supor, já que a maioria das vítimas tem medo e vergonha de
se identificar”.

A escola e o âmbito familiar na contemporaneidade vêm marcados pela ausência de


valores morais, bem como a dificuldade de formar referências éticas que devem
apresentar-se como princípios basilares na vida de cada indivíduo.

O respeito às diferenças deve ser um ponto de partida para enfrentar o bullying nas
escolas, para a partir dessa consciência de respeito as diversas escolhas que cada
ser humano faz na vida, só então se conseguirá evitar e prevenir o bullying nas
escolas. Nessa abordagem tem se posicionado Pereira (2002, p. 11):

[...] A educação e a cultura deveriam tender à eliminar as formas agressivas


de resolução de tensões que provocam as diferenças individuais. A
educação deveria valorizar e promover os comportamentos de empatia, a
negociação verbal, o intercâmbio de ideias, acedência de ambas as partes
na procura da justiça, no direito à igualdade de oportunidades para todos e
no direito às diferenças de cada um. Educar para a liberdade com igualdade
de direitos e obrigações em que os direitos de um determinam onde
começam os direitos dos outros [...].

Só através da parceria com a comunidade escolar, famílias e sociedade se chegará


por meio desse conjunto a intervenção efetiva e necessária nesse processo de
melhorias nas relações humanas e em especial em resguardar o bem mais precioso
que é a vida.
Enfrentar a violência não é tarefa fácil. A violência é um fenômeno social,
complexo e multifatorial. A escola sozinha não consegue conter as
violências sem a participação, envolvimento e compromisso da família, sem
o apoio de instituições que asseguram os direitos de crianças e
adolescentes, sem o comprometimento efetivo de governos na criação de
políticas públicas e investimentos em projetos concretos – que ofereçam
oportunidades de mudanças significativas na vida de crianças e
adolescentes – na capacitação de profissionais de educação, saúde,
assistência social, operadores do direito, dentre outros, para o
desenvolvimento de programas preventivos eficazes. (Cleo Fante, Revista
Jurídica Consulex – Ano XIV – nº. 325 – 1º de Agosto/2010).
Uma forma de enfrentamento às práticas do bullying no âmbito escolar vem sendo
desenvolvida e aplicada no Estado de Pernambuco, por meio da literatura de cordel.
O cordel "Bullying Escolar. A peleja da covardia com a senhora educação", de
autoria dos advogados Isaac Luna e Inácio Feitosa, através dos seus versos
populares, vem informar a sociedade acerca desse fenômeno, aliado a fácil
acessibilidade e compreensão que o cordel transmite, sendo ainda uma forma de
valorização e disseminação da cultura local.

A partir da conscientização de todos os envolvidos será possível prevenirmos as


práticas do fenômeno bullying e construirmos um ambiente escolar sadio, seguro e
de relações pacíficas entre os alunos e a todos que fazem a instituição escolar. De
acordo com Giroux (1988, p.102):

[...] a escola deverá ser caracterizada por uma pedagogia que demonstre
seu compromisso em levar em conta as concepções e os problemas que
afetam profundamente os estudantes em suas vidas diárias. Igualmente
importante é a necessidade de cultivar um espírito de crítica e um respeito
pela dignidade humana que sejam capazes de associar questões pessoais
e sociais em torno do projeto pedagógico de ajudar os alunos a se tornarem
cidadãos críticos e ativos [...]

Os comportamentos agressivos entre as crianças e adolescentes estão presentes


em todas as escolas, sem qualquer distinção, sendo ainda pequena a percepção
dos pais, da escola e da sociedade para as ocorrências dessas práticas de covardia
entre estudantes. A ocorrência de violência no âmbito escola segundo Lopes Neto,
(2011), tem colocado em risco os quatro pilares da educação:

[...] A violência na escola representa uma ameaça aos quatros pilares da


educação, caracterizada no Relatório Delors, em 1998, como aprender a
conhecer/aprender a fazer/aprender a viver juntos/aprender a ser. Interfere
na aprendizagem e também na qualidade de ensino. [...]

A escola e a família devem estar preparadas para enfrentar esse fenômeno ainda
pouco conhecido, que muitas vezes ataca de forma velada, causando imensuráveis
consequências aos envolvidos, daí é de suma importância que a escola identifique o
bullying e de pronto faça as intervenções cabíveis, comunicando a direção sempre
que essas práticas forem identificadas; promover palestras e debates no ambiente
escolar sobre o tema; incentivar quanto ao conhecimento do bullying apresentando
aos alunos as possíveis consequências dessas práticas covardes de violência
implícita ou explicitas.

Se o docente desconfiar que a criança ou adolescente seja vítima de


violência sexual, física ou psicológica, é essencial observar a relação dela
com a família, conversar com outros profissionais e levar o caso á direção
[...] comunicar ao conselho tutelar, ao disque-denúncia ou a algum outro
órgão responsável. Se o docente observar que mesmo com a denúncia o
quadro de violência contra o discente não mudou, este deverá buscar outras
instâncias como as Varas da Infância ou até o Ministério Público. É
importante que o professor não desista de ajudar o seu aluno. [...] (Revista
Direcional, Ano 6- Ed 70 – Novembro – 2010, p.15 e 16)

Faz menção Silva (2010, p.168 e 169), acerca do posicionamento dos professores
sobre a problemática da violência no ambiente escolar:

[...] Inicialmente, o professor deve se dirigir ao diretor do estabelecimento de


ensino, uma vez que este é responsável, uma vez que este é responsável
pela vigilância de tudo que ocorre no interior das dependências escolares.
Cabe ao diretor, como autoridade máxima desse ambiente, realizar uma
sindicância (ou averiguação) interna e tomar as decisões necessárias sobre
as condutas e os procedimentos que devem ser adotados pelos professores
e por todos os funcionários de sua escola [...].

Segundo alguns autores, os professores possuem um significativo papel na atuação


preventiva no combate da violência no ambiente escola, no entanto, é notório que a
formação e qualificação que o profissional da educação recebe ainda são muito
precárias, não estando muitas vezes esse profissional apto para lidar com situações
de violência, não conseguindo, portanto realizar a mediação necessária diante das
exigências impostas ao longo dos tempos.

[...] A análise do quadro de medidas adotadas e dos problemas de


segurança apresentados indica que a questão da segurança nas escolas
passa muito mais pela figura do professor, de sua ação educativa e sua
atuação como formador de opinião do que propriamente pela atuação de
profissionais de segurança pública [...]. (FUKUI, 1992, apud ABRAMOWAY,
2002:91 apud ROUTTI, 2006, p. 46).

Ocorrendo qualquer indício de bullying em sala de aula ou em qualquer outro


ambiente escolar, a intervenção deve ser imediata, aquele que não age contra essas
práticas, está sendo tolerante a violência e conivente com a situação de covardia tão
presente nas escolas, os professores devem intervir e não ser omissos as práticas
desse fenômeno.
3 O FENÔMENO BULLYING E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS

No ordenamento Jurídico brasileiro, o bullying não possui legislação própria, sendo


classificado muitas vezes como condutas de menor potencial ofensivo, devido à
ausência de Lei Federal, destinada a punir os autores dessa prática tão covarde.

Os casos quando chegam ao Poder Judiciário são tratados como infrações com
previsão no Código Penal como: injúria, difamação, calúnia, ameaça, lesão corporal
e racismo, onde as pessoas vitimadas por essas práticas pleitearão pelos danos
causados, uma indenização à título de danos materiais quando afetar o patrimônio
da vítima e ainda aos danos morais e estéticos, já que o bullying é fato gerador do
dano moral, pois viola o direito da personalidade e fere frontalmente princípios
constitucionais, como o respeito à dignidade humana, um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil, com previsão no art. 1º, inciso III, do texto
constitucional (CRFB/88).

Art. 1º da CFB/88. A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Com o objetivo de demonstrar como o Judiciário Brasileiro tem se posicionado frente


aos casos de bullying, e ainda, considerando que as práticas do fenômeno violam o
princípio da dignidade da pessoa humana, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
julgou por unanimidade, pela condenação de uma instituição de ensino a reparação
à título de dano morais a uma vitima do fenômeno, levando em consideração a
afronta ao princípio supracitado.

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ABALOS


PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA ESCOLAR. BULLYING.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA. SENTENÇA
REFORMADA. CONDENAÇÃO DO COLÉGIO. VALOR MÓDICO
ATENDENDO-SE ÀS PECULIARIDADES DO CASO.

1. Cuida-se de recurso de apelação interposto de sentença que julgou


improcedente pedido de indenização por danos morais por entender que
não restou configurado o nexo causal entre a conduta do colégio e eventual
dano moral alegado pelo autor. Este pretende receber indenização sob o
argumento de haver estudado no estabelecimento de ensino em 2005 e ali
teria sido alvo de várias agressões físicas que o deixaram com traumas que
refletem em sua conduta e na dificuldade de aprendizado.
2. Na espécie, restou demonstrado nos autos que o recorrente sofreu
agressões físicas e verbais de alguns colegas de turma que iam muito além
de pequenos atritos entre crianças daquela idade, no interior do
estabelecimento réu, durante todo o ano letivo de 2005. É certo que tais
agressões, por si só, configuram dano moral cuja responsabilidade de
indenização seria do colégio em razão de sua responsabilidade
objetiva. Com efeito, o colégio réu tomou algumas medidas na tentativa de
contornar a situação, contudo, tais providências foram inócuas para
solucionar o problema, tendo em vista que as agressões se perpetuaram
pelo ano letivo. Talvez porque o estabelecimento de ensino apelado não
atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão social,
sobretudo no caso de crianças tidas como "diferentes". Nesse ponto,
vale registrar que o ingresso no mundo adulto requer a apropriação de
conhecimentos socialmente produzidos. A interiorização de tais
conhecimentos e experiências vividas se processa, primeiro, no
interior da família e do grupo em que este indivíduo se insere, e,
depois, em instituições como a escola. No dizer de Helder Baruffi, "neste
processo de socialização ou de inserção do indivíduo na sociedade, a
educação tem papel estratégico, principalmente na construção da
cidadania. (TJDF - APELACAO CIVEL: APC 20060310083312 DF - Relator
(a): WALDIR LEÔNCIO JÚNIOR - Julgamento: 09/07/2008 - Órgão
Julgador: 2ª Turma Cível Publicação: DJU 25/08/2008 Pág.: 70). (grifo
nosso).

Na decisão acima, restou provado pelo autor, ora vítima, que o mesmo foi vítima de
bullying, sofrendo violência de ordem física e verbal, que sem dúvidas foram
determinantes para que o mesmo carregasse traumas irreversíveis no seu
desenvolvimento pessoal e na aprendizagem escolar. Tais agressões por si só
configuram o dano sofrido pela vítima, recaindo a responsabilidade na instituição de
ensino em virtude da responsabilidade objetiva, devendo a mesma repensar seu
papel na formação da criança e do adolescente. Indivíduos em desenvolvimento e
construção da personalidade, que levaram suas vivencias desde a fase terna a vida
adulta.
A responsabilidade jurídica será atribuída ao agressor da prática do bullying quando
este for maior e responder pelos seus atos, ao seu responsável legal quando o
agressor for incapaz ou relativamente incapaz e ao estabelecimento de ensino
(público-privada) quando for omisso diante dos casos de bullying no âmbito escolar.

No entanto, outras violências podem ser equiparadas a atos de bullying, no mesmo


sentido tem julgado a Colenda turma do Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE ROUBO E POSTERIOR


EXTORSÃO CONTINUADA. CREDIBILIDADE DA PALAVRA DA VÍTIMA.
AFASTADA A CONTINUIDADE DELITIVA. SENTENÇA MANTIDA 1. A
vítima, um garoto com apenas quatorze anos de idade, foi submetida ao
que a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência denomina de bullying. Seu sofrimento começou a partir de
uma tentativa frustrada de roubo, quando gritou por socorro e o réu se
afastou, temendo a reação dos transeuntes. Desde então, passou a
importuná- la no caminho da escola, exigindo-lhe dinheiro. As ameaças de
morte a si e aos familiares levavam-na a entregar ao extorsionatário todo o
dinheiro que ganhava dos pais, passando também a vender seus pertences
a fim de atender a essas exigências. Diante do clima de terror que lhe
infundia o algoz, desenvolveu grave distúrbio psicológico que prejudicaram
seu desempenho escolar e a obrigaram a tratamento especializado,
passando a ser medicada com psicotrópicos. (Apelação Criminal n.
2004091011545-4APR – DF, 13.10.2008).

Logo, percebe que o bullying não deve ser encarado como brincadeiras próprias da
idade, causando danos muitas vezes irreparáveis que serão levadas para o resto
das vítimas, pois as práticas desse fenômeno ferem a dignidade humana, princípio
fundamental para os demais direitos do homem, devendo ser combatido de forma
precoce pelas autoridades competentes. Oportuno frisar as palavras de Mário
Felizardo em seu artigo “O fenômeno bullying”:

Estamos falando do isolamento intencional, dos apelidos inconvenientes, da


amplificação dos defeitos estéticos, do amedontramento, das gozações que
magoam e constrangem, chegando à extorsão de bens pessoais, imposição
física para obter vantagens, passando pelo racismo e pela homofobia,
sendo “culpa” dos alvos das agressões, geralmente, o simples fato de
serem “diferentes”, fugirem dos padrões comuns à turma - o gordinho, o
calado, o mais estudioso, o mais pobre.

Ainda nesse sentido, Silva (2010, p. 82) aponta acerca das conseqüências
traumáticas causadas as vítimas do bullying:

Não existe sucesso ou qualquer outra realização material ou profissional


que apague o sofrimento vivenciado por uma criança ou um adolescente
afetado pela violência do bullying. Todos carregam consigo a cicatriz dessa
triste experiência, e a marca tende a ser mais intensa quanto mais cedo ela
ocorre (infância) e por quanto mais tempo ela persiste.

O promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, o Professor


Lélio Braga Calhau em uma palestra, ministrada com o tema "Bullying e suas
Considerações Jurídicas", descreveu como o Judiciário brasileiro tem encarado esse
fenômeno:

A palavra bullying não existe juridicamente, por isso trabalhamos em cima


das ações ligadas a ele, principalmente calúnia, injúria, difamação, racismo,
ameaças e lesões corporais. Somente assim podemos atacar o problema.
[...] grande parte da sociedade ainda tenta relativizar o bullying, taxando-o
como uma brincadeira inocente, o que prejudica o trabalho da Justiça.

Tomando como base as ideias de Silva (2010), no Brasil, existem vários projetos de
Lei em debate nas Casas Legislativas tanto Municipais quanto Estaduais, dentre
esses projetos de Lei aguardando votação, encontra se o projeto sob o nº. 350, de
2007, do Deputado Estadual Paulo Alexandre Barbosa (PSDB/ SP), no qual autoriza
o Poder Executivo a instituir o Programa de Combate ao Bullying, com ações que
envolvem a participação da comunidade nos estabelecimentos de ensino da rede
pública ou privada do Estado de São Paulo.

Em nível Federal, a Comissão de Segurança Pública e de Combate ao


Crime Organizado e a de Educação da Câmara dos Deputados já
aprovaram proposições neste sentido, a ser analisada em caráter
terminativo pelas Comissões de Finanças e Tributação e de Constituição de
Justiça e de Cidadania. O diferencional no texto sob análise é a exigência
de que também os clubes de recreação adotem medidas de
conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying, ao lado das
alterações propostas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). (FANTE, Revista Jurídica
Consulex, Ano xiv, nº. 325, 1º de agosto de 2010).

Recentemente foi lançado a Cartilha do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o


tema: “Bullying - cartilha 2010 justiça nas escolas”, tendo como autora a psiquiatra
Ana Beatriz Barbosa da Silva. Nesta cartilha contém orientações de como identificar
e de prevenção ao bullying nas escolas, em seu conteúdo traz que o fenômeno
começa no próprio lar, sendo a escola apontada como corresponsável nos casos de
violência.

Em seu teor a cartilha traz perguntas e respostas acerca do bullying, conceito,


formas de manifestação do fenômeno, ciberbullying, consequências, como identificar
o bullying, o papel da família e das escolas para ajudar as vítimas, a cartilha tem o
objetivo de prevenir e erradicar as práticas de bullying.

A Promotoria da Infância e Juventude do Estado de São Paulo teve a iniciativa de


elaborar um projeto de Lei com a possibilidade de criminalização das práticas do
fenômeno bullying. Fazendo alusão a Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), no que tange aos casos relacionados ao bullying há
possibilidade que essas práticas possam ser consideradas crime e que as punições
sejam desde as medidas socioeducativas até a internação ambas previstas nos art.
112, que podem ser cumuladas com algumas medidas protetivas indicadas no art.
101, I a VI do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Para o ato infracional praticado por adolescente será aplicado além das medidas de
proteção, em casos de situação de risco, poderão ser paliçadas as medidas sócio
educativas. Em se tratando de ato infracional praticado por criança, serão aplicadas
a estas apenas as medidas protetivas. DEL – CAMPO (2006, p. 150 e 151).

Os direitos da criança e do adolescente foram introduzidos no ordenamento jurídico


brasileiro através da Constituição Federal de 1988, garantindo aos mesmos proteção
integral, consolidado posteriormente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), que se baseia no melhor interesse da criança, conforme disposto no artigo 1º
do referido estatuto, que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos e devem
ter absoluta prioridade e proteção integral da família, sociedade e do Estado.

Art. 1º do ECA. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao


adolescente. (grifo nosso)

Todos os alunos, pais e profissionais que lidam com crianças e


adolescentes no dia a dia devem ter conhecimento e entendimento da
legislação que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Dessa
maneira, todos podem se informar, orientar e refletir sobre seus atos e
comportamentos, bem como saber as consequências que deles podem
surgir. (SILVA, 2010, p.167)

Contudo, segundo Del – Campo (2006, p. 3), “o estatuto afastou-se da doutrina de


situação irregular, acolhida pelo Código de Menores (Lei nº 6.697, de 10.10.1979),
que compreendia como objeto de atenção apenas os menores em situação irregular,
ou seja, aqueles em conflito com a lei ou, por qualquer motivo, privados de
assistência.
No ordenamento jurídico brasileiro, a doutrina da proteção integral a criança e ao
adolescente foi recepcionada no art. 227 da Constituição da República Federativa do
Brasil (CRFB/88), introduzindo valores previstos na Convenção dos Direitos da
Criança fazendo alusão quanto ao dever prioritário da família, da sociedade e do
Estado assegurar os direitos elencados em seu caput, nesse sentido, o ECA
recepcionou em seu art. 18, o princípio da dignidade humana:

Art. 227 CFB/88. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (EC nº.
65/2010) (grifo nosso).

§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o


disposto no art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por
profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de
qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos
fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao
adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

Art. 18 do ECA. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (grifo nosso).

A situação irregular adotava o termo menor, com o advento da proteção integral


aquele termo não é mais utilizado.

Tomando como base o art. 227 da Constituição Federal, é assegurada a criança e


ao adolescente a proteção integral, com absoluta prioridade, os direitos previstos no
mencionado artigo, sendo essa garantia dever da família, da sociedade e do Estado.

Esta doutrina é baseada nos direitos próprios e especiais das crianças dos
adolescentes, que na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento,
necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral (integral
porque determina e assegura os direitos fundamentais sem qualquer
discriminação). Podemos observar, pois, que à criança e ao adolescente o
legislador constituinte concedeu tais prerrogativas visando ao seu pleno
desenvolvimento dentro de um contexto apropriado e que, sem dúvida, os
orienta a uma vida melhor e para uma perfeita convivência social [...]
(BASTOS, p.493).

Todos os direitos acima elencados são assegurados à criança, ao adolescente e ao


jovem, o ECA em seu art. 2º, caput, estabelece que é criança a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente entre doze e dezoito anos de idade
incompletos e o jovem com redação dada pela Carta Magna, é aquela dos quinze
aos vinte e nove anos de idade.

Art. 2º do ECA. Considera se criança, para efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre os doze e
dezoito anos de idade.

Parágrafo único: Nos casos expressos na lei, aplica-se execpcionamente


este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Para Del – Campo (2006), em regra o ECA será aplicado aos menores de dezoito
anos de idade, com amparo legal no art. 228 da CF e por exceção até os vinte e um
anos de idade.

Ainda segundo Del – Campo (2006, p. 8), “Os direitos das crianças e dos
adolescentes exatamente pela imperatividade de suas normas e interesse do Estado
em sua formação, são explicitados nos arts. 3º e 5º”.

Art. 3º do ECA. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que se trata esta Lei, assegurando- se- lhes, por Lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhe facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral e social, em condições de liberdade e
de dignidade. (grifo nosso)

Mais adiante o ECA em seu art. 4º, vem consolidar o texto constitucional,
ressalvando que a criança e o adolescente, devem ser amparados com prioridade
absoluta, na implementação dos direitos assegurados por Lei pela família sociedade
e pelo Estado, a lei não deixa dúvidas quanto à responsabilidade atribuída a esses
sujeitos no que tange a proteção da criança e do adolescente.

Nesse sentido é a previsão do artigo Art. 4º do Estatuto da Criança e do


Adolescente:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária. (grifo nosso)

O Estatuto da Criança e do Adolescente vem materializar o artigo supracitado, onde


expõe em seu texto, que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer
forma de exploração, sendo que qualquer atentado será punido nos termos da lei:

Art. 5º do ECA - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer


forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais.

Segundo a pesquisadora Myriam Puglieses de Castro apud Gallindo em seu artigo


Assédio moral nas instituições de ensino – Bullying:

[...] quem negligencia, discrimina, explora, age com violência, crueldade


e/ou oprime a criança e o adolescente viola os seus direitos básicos deve
ser punido, seja quanto atenta, seja quando age, ou quando se omite,
permitindo a ação que viola seus direitos fundamentais, deve ser punido,
portanto, conforme os termos da lei [...]. (ECA, comentado, p. 48).

Qualquer suspeita de maus tratos contra a contra a criança ou adolescente que se


tenha conhecimento, deve ser obrigatoriamente comunicado ao Conselho Tutelar,
sem, contudo, comprometer qualquer outra forma legal de providência, correrá pena
de multa prevista no art. 245 do Estatuto, caso haja omissão quanto à comunicação
a órgãos competentes para a devida solução do caso.

Art. 13 do ECA. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos


contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras
providências legais.

Art. 245 do ECA. Deixar o médico, professor ou responsável por


estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola
ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
criança ou adolescente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em


caso de reincidência.

Ainda segundo Del – Campo (2006, p. 14) acerca da inexistência de violação de


segredo profissional em casos de comunicação a autoridade competente de maus
tratos envolvendo crianças ou adolescentes.
A comunicação não implica o crime previsto pelo art. 154 do Código Penal
(violação de segredo profissional), porque a determinação legal configura
justa causa, uma vez que o sigilo profissional não pode ser colocado como
empecilho à proteção de crianças e adolescentes.

Importante destacar que, não existindo Conselho Tutelar local, as atribuições a ele
conferidas no art. 136 do ECA, consequentemente será repassadas a autoridade
judiciária da infância e da juventude local, devendo ser comunicada a este qualquer
suspeita da ocorrência de maus tratos contra a criança ou adolescente. Quando
houver ocorrência de crime, para uma possível instauração de inquérito, a polícia
pode ser acionada. DEL – CAMPO (2006, p. 14 e 365).
Art. 262 do ECA. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as
atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade judiciária.

No entanto, essa intervenção estatal tem dividido opiniões, a respeito tem se


pronunciado o Procurador de Justiça Guilherme Zanina Schelb apud Lélio Braga
Calhau (2009, p. 83): “A intervenção deve ser ponderada, na medida em que, se, por
um lado, deve fazer cessar a humilhação, por outro, deve estimular na vítima do
bullying a capacidade de autodefesa, evitando uma super proteção prejudicial”.

A respeito da preparação das escolas para enfrentar o bullying e suas


manifestações do âmbito escolar:

Atualmente um grande número de escolas mantém em seus quadros


pedagogos e psicólogos, que, em sendo chamados para ajudar, poderão
contribuir muito com a solução dos problemas. A orientação deve nortear a
ação desses profissionais. Chamar a polícia e o Ministério Público, a meu
ver, somente nos casos mais graves. A solução, dentro do possível, deve
ser conseguida compartilhando o problema com o grupo de alunos, tendo
em vista que os alunos tendem a voltar a praticar os atos de bullying assim
que se colocarem sem supervisão. (CALHAU, 2009, p. 85)

Depois de esgotas todas as alternativas e tentativas de negociação, deve se buscar


o apoio do Ministério e o Conselho Tutelar. Nessa ideia contribui Calhau (2009, p.
85), “embora a polícia possa participar hoje com grupos de acompanhamento
escolar, chamar a polícia pode assustar demasiadamente os alunos e provocar o
retraimento, o que dificultaria qualquer medida negociada”.
Importante destacar que, as medidas de prevenção são de suma importância no
enfretamento ao bullying no âmbito escolar, a partir desse posicionamento,
esgotadas todas as possibilidades de cabíveis a situação deverá acionar as
autoridades competentes.

Ter uma vida digna, com qualidade de vida, sendo respeitado independente de
qualquer opção que se faça é um direito que encontra guarida na Carta Magna, com
um dos fundamentos legais da Republica Federativa do Brasil em seu artigo 1º, à
Dignidade da Pessoa Humana, vem trazer essa garantia de vida digna a todos os
cidadãos para que possam viver em condições satisfatórias. Contudo, as práticas de
bullying ferem esse princípio, já que seus atos agridem, humilham, causa dor e
sofrimentos irreparáveis as vítimas acarretando-lhes danos físicos e/ou psíquicos.

Tratar acerca do bullying é antes de tudo fazer alusão à dignidade humana, valor
fundamental da ordem jurídica, que encontra amparo em diversas legislações.

Art. 1º da CFB: A República Federativa do Brasil, formada pela União


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana

Logo, fazendo alusão ao direito constitucional, a proteção contra as práticas de


bullying advém do princípio da dignidade da pessoa humana, e ainda assegura que
ocorrendo o dano, consequentemente, serão passíveis de indenização, encontrando
insculpido no artigo 5º, inc. V e X, da Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988:
Art. 5º da CFB. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano moral ou material
decorrente dessa violação.

Num paralelo entre com a Carta Magna, o ECA traz sua previsão legal acerca do
direito a dignidade humana, a liberdade e ao respeito, já que os atos de
discriminação e violência do bullying atentam contra os princípios constitucionais.
Art. 15 do ECA. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 17 do ECA. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da


integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. (grifo nosso).

Art. 18 do ECA. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (grifo nosso).

Na Carta Magna, esses direitos elencados no artigo supracitado, divide-se em cinco


categorias, são elas: individuais e coletivos, sociais, de nacionalidade, políticos e de
organização partidária. Devendo ser assegurados sempre que compatíveis a criança
e ao adolescente, respeitando sua condição de pessoa em desenvolvimento, os
direitos previstos legalmente.

Contundo, resta claro que as práticas de bullying, violam direitos previstos na


Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Fazendo uma abordagem ao Código Civil Brasileiro, em seu art. 12, tratando dos
direitos da personalidade, é de suma relevância frisar a proteção contra o bullying no
que tange aos direitos irrenunciáveis, indisponíveis, intransmissíveis que são
características próprias do direito da personalidade.

Art. 12 do CCB. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a


direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei. (grifo nosso).

A prática desse fenômeno bullying desrespeita os princípios constitucionais e as


legislações infraconstitucionais, pois expõem o ser humano, seja por agredir, por
humilhar, causando danos físicos e/ou psíquicos as vítimas.

3.1 O FENÔMENO BULLYING COMO FATO GERADOR DA


RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE INDENIZAR

Em que pese à ausência de legislação especifica as práticas do fenômeno bullying


em muitos casos são caracterizados como conduta de menor potencial ofensivo.
Ocorrendo dano, as vítimas desse fenômeno, poderão pleitear na justiça, danos
morais ou extrapatrimonial e, em alguns casos, danos patrimoniais, em espécie
quando a vítima tiver seu patrimônio atingido.

A indenização buscará minorar a dor e abalo psicológico causados às vítimas do


fenômeno, pois resta a certeza que a recomposição perfeita do statu quo ante não
acontecerá em sua plenitude. Daí a necessidade de conhecer e analisar
juridicamente as peculiaridades do fenômeno, para que não se banalize por meio do
instituto do dano moral e consequentemente não incorra em enriquecimento ilícito da
vítima.

Podem ser responsabilizados pelas práticas do fenômeno bullying, os agressores,


seus responsáveis legais e os estabelecimentos de ensino, conforme previsão do
Código Civil.

O bullying não pode ser considerado como brincadeiras de criança ou adolescente,


se o agente praticante do fenômeno for maior de idade, este responderá pelos
danos causados as suas vítimas, se cometer um ilícito penal, será processado, e se
condenado poderá ir preso, de acordo com as penalidades prevista pelo Código
Penal Brasileiro. Se o agente for menor de idade, os pais ou responsáveis por este
menor responderá solidariamente pelos prejuízos causados e o menor sofrerá as
sanções disciplinares estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Importante destacar as ideias de Cavalieri Filho (2000, p. 70), acerca da


inafastabilidade do dano para a configuração da responsabilidade civil:

O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria


que se falar em indenização, nem em ressarcimento, se não houvesse o
dano. Pode haver responsabilidade sem culpa, mas não pode haver
responsabilidade sem dano. Na responsabilidade objetiva, qualquer que
seja a modalidade do risco que lhe sirva de fundamento – risco profissional,
risco proveito, risco criado etc. o dano constitui o seu elemento
preponderantemente. Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que
reparar, ainda que a conduta tenha sido culposa ou até dolosa.

O dano moral ocorrerá quando a vítima do bullying tiver sua integridade física ou
moral, seus direitos de personalidades e princípio constitucionais violados. O
bullying causa dor e sofrimento entre outros fatores, não se pode mensurar o dano
que esse fenômeno causará a vida dessa pessoa vitimada. De acordo com Gagliano
(2009, p. 36), “o dano poderá atingir outros bens da vítima, de cunho
personalíssimo, deslocando o seu estudo para a seara do denominado dano moral”.
Com muita propriedade, Bittar (1993, p.41) caracteriza o dano moral:

Como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano


valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador,
havendo-se, portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais
íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração
pessoal), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua
(o da reputação ou da consideração social).

Ainda se tratando do dano moral, em relação a violação à dignidade da pessoa


humana:
Todos os conceitos tradicionais de dano moral terão que ser revistos pela
ótica da Constituição de 1988. Assim é porque a atual Carta, na trilha das
ademais Constituições elaboradas após a eclosão da chamada questão
social, colocou o Homem no vértice do ordenamento jurídico da Nação, fez
dele a primeira e decisiva realidade, transformando os seus direitos no fio
condutor de todos os ramos jurídicos. [...] Pois bem, logo no seu primeiro
artigo, inciso III, a Constituição Federal consagrou a dignidade humana
como um dos fundamentos do nosso Estado Democrático de Direito. Temos
hoje o que pode ser chamado de direito subjetivo constitucional à dignidade.
Ao assim fazer, a Constituição deu ao dano moral uma nova feição e maior
dimensão, porque a dignidade humana nada mais é do que a base de todos
os valores morais, a essência de todos os direitos personalíssimos.
(CAVALIERI FILHO, 2010, p. 82).

Quanto ao dano material, o agressor responderá sempre que lesar o patrimônio da


vítima, devendo da mesma forma que o dano moral, ressarcir a vítima de todo o
prejuízo causado nessa esfera. Sendo totalmente admissível a reparação cumulada
em danos morais e materiais ocorridos de um mesmo ato ilícito, esse é o
entendimento da Súmula 37 do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

O agente que pratica bullying pode responder judicialmente na esfera cível e penal.
No mesmo sentido, é oportuno apreciar as lições de Diniz (2009, p.25) quanto a
possibilidade de responsabilidade nas duas esferas:

Certos atos ilícitos, devido a sua gravidade por infringir norma de direito
público, constituindo crime ou contravenção, e por causar danos a terceiros,
e às suas conseqüências, têm repercussão tanto na esfera cível como no
criminal, hipótese em que haverá dupla reação da ordem jurídica: a
imposição de pena ao criminoso e a reparação do dano causado à vítima.
Importante trazer a baila acerca do princípio da independência das
responsabilidades jurídicas:

Art. 935 do CCB. A responsabilidade civil é independente da criminal, não


se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja
o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Portanto, ocorre como espécie do gênero, se o dano, a vítima poderá acionar o


Poder Judiciário, nascendo à responsabilidade na esfera cível e até mesmo criminal,
em que a vítima será amparada e ressarcida dos eventuais danos causados pelos
ilícitos das práticas do bullying.

3.2 BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil acompanha a evolução da sociedade, devendo ser


analisada de acordo com seu período histórico e social. Para Gagliano (2009, p. 10)
“para a nossa cultura ocidental, toda reflexão, por mais breve que seja, sobre raízes
históricas de um instituto, acaba encontrando seu ponto de partida no Direito
Romano”. Devendo ser analisados e acompanhados as mudanças da sociedade
que altera a forma de analise e entendimento dos fatos que causam danos a alguém
por infringir uma norma pré existente, que condiciona o agente infrator a reparar o
dano causado.

Tomando como base as idéias de Diniz (2009), as reações em conjunto de grupos


contra o alvo (agressor) pela transgressão a um de seus membros, era conhecida
como vingança coletiva, utilizada na era mais primitiva. Com a evolução histórica
essa reação até em tão coletiva passou a ser uma reação individualizada, ganhando
outra conotação, qual seja, vingança privada, onde se passou a utilizar a justiça com
as próprias mãos, por meio da Lei do Talião, uma forma de rudimentar de revidar
uma agressão sofrida, sob a égide do uso da força, violenta e utilizada de força
totalmente desproporcional.

Importante trazer a baila que os elementos que compõem a responsabilidade civil


como: a conduta (positiva/negativa); o dano e o nexo de causalidade ou ainda
qualquer excludente de responsabilidade, eram todos completamente
desconhecidos pelos indivíduos daquela época. A responsabilidade era objetiva, ou
seja, inexistia a necessidade de se comprovar a culpa, sendo necessário apenas a
insatisfação do individuo lesado em face do dano sofrido. Posteriormente com a
evolução na responsabilidade civil, surgiu a noção de responsabilidade com culpa.

Contundo, mesmo com a tentativa de proporcionalizar frente à arbitrariedade


imposta a época, a Lei do Talião não impediu a continuidade da violência, por meio
da justiça feita pelas próprias mãos, uma vez que, a vingança estava num círculo
vicioso de gerar mais vingança.

Posteriormente sobreveio o período de composição entre a vítima e o ofensor


objetivando a atender a pretensão daquele lesado, bem como, evitando a aplicação
da pena estabelecida na Lei do Talião. Visava que o ofensor reparasse à vitima
mediante compensação pecuniária, chamada à época de poena, pagamento em
dinheiro ou outros bens. Nesse sentido, faz alusão Alvino Lima (1999, p.21) apud
Gagliano (2009, p.11):

Este período sucede o da composição tarifada, imposto pela Lei de das XII
Tábuas, que fixava, em casos concretos, o valor da pena a ser paga pelo
ofensor. É a reação contra a vingança privada, que é assim abolida e
substituída pela composição obrigatória. Embora subsista o sistema do
delito privado, nota-se, entretanto, a influência da inteligência social,
compreendendo-se que a regulamentação dos conflitos não é somente uma
questão entre particulares.
A lei das XII Tábuas, que determinou o quantum para a composição
obrigatória, regulava casos concretos, sem um princípio geral fixador da
responsabilidade civil. A actio de reputis sarciendi, que alguns afirmam que
consagrava um princípio de generalização da responsabilidade civil, é
considerada, hoje, como não contendo tal conceito (Lei das XII Tábuas –
Tábua VIII, Lei 5.ª).

Tendo em vista que, de forma geral a valoração atribuída ao ressarcimento do dano


causado difere entre o ofensor e a vítima, surge à necessidade dessa tarifação
levando-se em consideração a obrigatoriedade da recomposição econômica, bem
como, o caso concreto e o dano causado, fixando uma tarifa de forma objetiva, era o
que previa a Lei das XII Tábuas entre outros códigos existentes naquela época.
Essa valoração do dano e a diferenciação entre delitos privados, limitados a
interesses do próprio ofendido, e os delitos públicos, perpetrado em face de
interesses e direitos envolvendo a sociedade, surgi a partir da evolução do direito
romano.

De acordo com o pensamento de Venosa (2009), um marco na evolução histórica da


responsabilidade civil se dá, porém, com o afastamento da vingança privada, onde o
Estado passou a intervir na função de punir, estabelecendo a fixação do valor do
dano sofrido pela vítima e determinando a composição entre as partes, funções
essas, até então exercida pelos particulares. Outro marco de grande importância se
deu com a edição da Lex Aquilia, como divisor de águas da responsabilidade civil,
que segundo Gagliano (2009, p. 11): cuja importância foi tão grande que deu nome à
nova designação da responsabilidade civil delitual ou extracontratual.

A Lex Aquilia de damno veio a cristalizar a ideia de reparação pecuniária do


dano, impondo que o patrimônio do lesante suportasse o ônus da
reparação, em razão do valor da res, esboçando-se a noção de culpa como
fundamento da responsabilidade, de tal sorte que o agente se isentaria de
qualquer responsabilidade se tivesse procedido sem culpa. Passou-se a
atribuir o dano à conduta culposa do agente. A Lex Aquilia de damno
estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando uma
forma pecuniária de indenização do prejuízo, com base no estabelecimento
de seu valor. DINIZ (2009, p. 11).

Para Venosa (2009, p. 17), “o sistema romano de responsabilidade extrai da


interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos
injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente.”
Passa a surgir a responsabilidade com amparo na culpa fora de uma relação
obrigacional, ou seja, extracontratual. Frutos da Lex Aquilia, a chamada
responsabilidade subjetiva, fundada na culpa, como aspecto primordial na reparação
do prejuízo da responsabilidade aquiliana, quebrando a ideia primitiva de pena para
posteriormente a acessão da reparação do prejuízo sofrido.

Segundo Gagliano (2009, p. 12) “incorporada no grande monumento legislativo da


idade moderna, a saber, o Código Civil de Napoleão, que influenciou diversas
legislações do mundo, inclusive o Código Civil brasileiro de 1916”.
Contudo, ainda de acordo com Gagliano (2009), observou-se com a evolução e
necessidade da sociedade que a responsabilidade civil pautada e fundamentada
apenas no elemento culpa, não mais satisfazia os casos concretos, em que os
mesmos não eram solucionados devido à carência probatória do elemento culpa.

Segundo as ideias de Diniz (2009), devido a essa insuficiência quanto ao


fundamento na teoria da culpa, a responsabilidade civil evolui, em relação ao dever
de reparação não só baseada na culpa, hipótese da teoria da responsabilidade
subjetiva pela culpa ou dolo, surgindo à responsabilidade do risco, hipótese da
responsabilidade objetiva, baseadas sob o aspecto objetivo, uma vez que o agente é
responsável por riscos na sua atividade, ainda que o mesmo tenha agido com
diligência para impedir tal conduta, fincando obrigado a ressarcir o prejuízo causado.

Afirma Diniz (2009, p. 12): “Ampliando-se a indenização de danos sem existência de


culpa”. Modernamente, as teorias mencionadas foram recepcionadas nas
legislações, sem, contudo, deixar de frisar que a teoria da culpa não deixou de ser
agregada pelo ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do Código Civil de 2002.

3.2.1 Definição e classificações da responsabilidade civil

Responsabilidade Civil é um tema que apresenta uma grande complexidade diante


do âmbito jurídico, importante destacar que esse tema encontra-se presente no dia a
dia de todas as pessoas e principalmente nas relações interpessoais quando
envolve qualquer ameaça à integridade física ou patrimonial das pessoas.

Para Dias, 1994, p.1: “Toda manifestação da atividade humana traz em si o


problema da responsabilidade”. Sempre que houver violação aos direitos de outrem
deve haver reparação civil, para que haja possibilidade de recomposição do status
quo ante ou ao menos que se possa atenuar o sofrimento vivido pela pessoa lesada.
Nesse sentido são as palavras de Diniz (2009, p.03):

Deveras, a todo instante surge o problema da responsabilidade civil, pois


cada atentado sofrido pelo homem, relativamente à sua pessoa ou ao seu
patrimônio, constitui um desequilíbrio de ordem moral ou patrimonial,
tornando imprescindível a criação de soluções ou remédios que nem
sempre se apresentam facilmente, implicando indagações maiores que
sanem tais lesões, pois o direito não poderá tolerar que ofensas fiquem sem
reparação.

Ademais responsabilidade, em seu sentido jurídico está associada ao fato de haver


respostas pelos atos praticados. Para Fiuza (2004, p. 257): “revela, então, um dever,
um compromisso, uma sanção, uma imposição decorrente de algum ato ou fato”.

[...] dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato,


seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a
prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são
impostas. Onde que, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não
fazer alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou
penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se exige a
satisfação ou cumprimento da obrigação ou da sanção. [...] (DE PLÁCIDO e
SILVA 1989 apud FIUZA 2004)

Diante da dificuldade em conceituar responsabilidade civil devido a sua amplitude,


vários conceitos podem ser encontrados nas doutrinas e decisões jurisprudenciais.
Para Gagliano (2009, p. 01): “a palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo
latino respondere, significando a obrigação que alguém tem de assumir com as
conseqüências jurídicas de sua atividade.”

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a


reparar dano moral ou patrimonial causados a terceiros, em razão de ato do
próprio imputado, de pessoa por quem ela responde, ou de fato de coisa ou
animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal. Definição esta
que guarda, em sua estrutura, a ideia da culpa quando se cogita da
existência de ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco, ou seja, da
responsabilidade sem culpa (responsabilidade objetiva). MELLO apud
DINIZ (2009, p. 34)

Em seu sentido etimológico, responsabilidade exprime a ideia de obrigação,


encargo, contraprestação. Em sentido jurídico, o vocábulo não foge dessa
ideia. Designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da
violação de outro dever jurídico. Em apertada síntese, responsabilidade civil
é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente
da violação de um dever jurídico originário. CAVALIERI (2004, p.24).

Para Diniz (2009) a responsabilidade civil comporta várias classificações quanto a


suas espécies: quanto ao seu fato gerador da responsabilidade civil, em relação ao
fundamento da responsabilidade civil e relativamente ao agente. Assim sendo,
segundo o pensamento da citada autora classifica-se a responsabilidade civil como:
1) Quanto ao fato gerador da responsabilidade civil: esta pode ser contratual ou
extracontratual ou aquiliana. A responsabilidade contratual origina-se do
inadimplemento da obrigação fixada no negócio jurídico bilateral ou unilateral.

Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou


da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma inflação a um dever
especial estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso decorre de
relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar.
Baseia-se no dever de resultado, o que acarretará a presunção da culpa
pela inexecução previsível e evitável da obrigação nascida da convenção
prejudicial à outra parte. Só excepcionalmente se permite que um dos
contratantes assuma, em cláusula expressa, o encargo da força maior ou
caso fortuito.

Na responsabilidade contratual será possível especular cláusula para


reduzir ou excluir a indenização, desde que não contrarie a ordem pública e
os bons costumes. Se o contrato é fonte de obrigações, sua inexecução
também o será. Quando ocorre o inadimplemento do contrato, não é a
obrigação contratual que movimenta a responsabilidade, uma vez que surge
uma nova obrigação que se substitui à preexistente no todo ou em parte: a
obrigação de reparar o prejuízo consequente à inexecução da obrigação
assumida. A responsabilidade contratual é o resultado da violação de uma
obrigação anterior, logo, para que exista, é imprescindível a preexistência
de uma obrigação. DINIZ (2009, p. 128).

Contudo, a responsabilidade civil contratual é originada pelo inadimplemento de


norma jurídica prevista no contrato. No ordenamento jurídico brasileiro a
responsabilidade contratual está prevista nos arts. 389 e s. e 395 e s. do novo
Código Civil.

A responsabilidade extracontratual ou aquiliana resulta da violação normativa, ou


seja, não depende de relação contratual ou de qualquer vinculo entre as partes e se
origina em ato ou fato ilícito praticado por pessoa capaz ou incapaz. No
ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade extracontratual está prevista nos
arts. 186 a 188 e 927 e s do novo Código Civil.

A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da Le, ou melhor, é a


lesão a um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer
relação jurídica. O lesante terá o dever de reparar o dano que causou à
vítima com o descumprimento do preceito legal ou a violação de dever geral
de abstenção pertinentes aos direitos pertinente aos direitos reais ou de
personalidade, ou seja, com a infração à obrigação negativa de não
prejudicar ninguém. O onus probandi caberá à vítima; ela é que deverá
provar a culpa do agente. Se não conseguir, tal prova ficará sem
ressarcimento. Além dessa responsabilidade delitual baseada na culpa,
abrangerá ainda a responsabilidade sem culpa fundada no risco, ante a
insuficiência da culpa para cobrir todos os danos. DINIZ (2009, p. 130).
2) Em relação ao fundamento da responsabilidade civil: nesta modalidade encontra-
se a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva. A responsabilidade
subjetiva é pautada em ato ilícito que se justifica na culpa do agente, quando este
age sem a cautela necessária, caracterizando imprudência, negligência ou imperícia,
ou ainda, quando o agente quer ou pelo menos assume o risco de produzir o
resultando, agindo com dolo por ação ou omissão.

Nesse sentido, afirma Diniz (2009, p. 130), “... a prova da culpa do agente será
necessária para que surja o dever de reparar.” Reforça o pensamento da autora que
não basta o ato ou o fato ilícito, é necessário o aspecto da culpa a estimular o
elemento subjetivo do agente. Para esta teoria sem o elemento subjetivo culpa, não
existe a possibilidade de caracterização da responsabilidade do agente.
Esta culpa, por ter natureza civil, se caracterizará quando o agente
causador do dano atuar com negligência ou imprudência, conforme cediço
doutrinariamente, através da interpretação da primeira parte do art. 159 do
Código Civil de 1916 (“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a
outrem, fica obrigado a reparar o dano”), regra geral mantida, com
aperfeiçoamentos, pelo art. 186 do Código Civil de 2002 (“Art.186. Aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito”). GAGLIANO (2009, p. 13).

Nesse mesmo sentido segue os ensinamentos de Cavalieri Filho (2004, p.40)


elencando ainda os pressupostos da responsabilidade subjetiva.

[...] há primeiramente um elemento formal, que é a violação de um dever


jurídico mediante conduta voluntária, um elemento subjetivo, que pode ser
de dolo ou a culpa e ainda, um elemento causal material, que é o dano e a
respectiva relação de causalidade. Esses três elementos apresentados pela
doutrina francesa como pressupostos da responsabilidade civil, subjetiva,
podem ser claramente identificados no art. 186 do código civil, mediante
simples análise do seu texto, a saber:

a) Conduta culposa do agente, o que fica patente pela expressão “aquele


que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia”;
b) Nexo causal, que vem expressa no verbo causar; e
c) Dano, revelado nas expressões “violar direito ou causar dano a
outrem”;

Nesse momento aplica-se o previsto no art. 927 do Código Civil, quando o agente
mediante conduta culposa viola direitos de outrem, causando danos a este que
poderá pleitear reparação pelos prejuízos causados. Ainda nesse sentido, o citado
autor faz alusão ao que se refere aos direitos violados.
[...] Portanto, a partir do momento em que alguém, mediante conduta
culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato
ilícito, e deste ato deflui o inexorável dever de indenizar, consoante o art.
927 do código civil.

Por violação de direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo,


não só os relativos, que se fazem mais presentes no campo da
responsabilidade contratual, como também e principalmente os absolutos,
reais e personalíssimos, nestes incluídos o direito a vida, a saúde, à
liberdade, à honra, à intimidade, ao nome e a imagem.

Tenha-se em mente, entretanto, que nem sempre haverá coincidência entre


violação de direito e ilicitude a rigor, não são expressão sinônimas a
violação de direito é apenas uma das formas que a ilicitude pode revestir. A
ilicitude, como sinônimo de violação de um dever jurídico, transgressão de
um comando geral, é mais ampla e coloca-se no plano abstrato, sendo
necessário apenas, para gerar a obrigação de indenizar-se concretamente e
na violação deu causa a um dano. Pode haver ilicitude sem dano (conduta
culposa e até dolosa que não chega causar prejuízo a outrem) e dano sem
ilicitude, como atrás já ficou acentuado. (CAVALIERI FILHO, 2004, p.40).
A responsabilidade objetiva é fundamentada no risco da atividade assumida pelo
agente. De acordo com Diniz (2009, p. 130) “é irrelevante a conduta culposa ou
dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre
o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de
indenizar”. Na responsabilidade objetiva, o prejudicado não precisa realizar a
produção de prova contra o agente causador do dano de que tenha atuado com
culpa.
È irrelevante a conduto culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez
que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima
e a ação do agente para que surja o dever de indenizar. DINIZ (2003, p.120)

O novo Código Civil em seu art. 927 em seu parágrafo único estabelece que quanto
à reparação do dano independente do elemento culpa: “Haverá obrigação de reparar
o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem”.

De acordo com Gagliano (2009), contundo, poderá o agente causador do dano ser
isento de reparar o dano, se arguir como matéria de defesa, a culpa exclusiva da
vítima, uma das causas de excludentes de responsabilidade . A conduta culposa da
vítima tem força de romper o nexo causal, isentando o agente causador do dano da
responsabilidade civil.
No campo da responsabilidade objetiva do Estado fazendo alusão ao art. 37, § 6º,
da Constituição Federal, pode se aplicar a mencionada causa de excludente de
responsabilidade, qual seja, culpa exclusiva da vítima se restar provado que a
mesma tenha agido com culpa. Nesse sentido, a administração pública poderá
provar a culpa da vítima, sendo que a essa última não precisará provar a culpa do
agente causador do dano.

Discorrendo sobre o tema, Bandeira de Melo (1998, p.634) apud Gagliano (2009, p.
114) aborda um exemplo acerca da responsabilidade do Estado, aplicando a culpa
exclusiva da vítima.

Figura-se que um veículo militar esteja estacionado e sobre ele precipite um


automóvel particular, sofrendo avarias unicamente neste ultimo. Sem os
dois veículos não haveria a colisão e os danos não se teriam produzido.
Contudo, é de evidência solar que o veiculo do Estado não causou o dano.
Não se deveu a ele a produção do evento lesivo. Ou seja: inexistiu relação
causal que ensejaria a responsabilidade do Estado.

3) Relatividade a sua vinculação: está relacionado a vinculação as pessoas que


responderão pelo dano, podendo a responsabilidade ser direta, simples ou por fato
próprio e indireta ou complexa. Direta quando o ato lesivo estiver extremamente
ligado ao causador do dano. Importante destacar que, a responsabilidade por fato
próprio traz como ponto fundamental a ação ou omissão culposa do agente na
pratica do ilícito, quando restar provado o nexo de causalidade e o dano. Regra
geral o agente responderá pelo seu próprio ato.

É como nos ensina Diniz (2009, p. 527) “A responsabilidade direta ou por fato
próprio é a que decorre de um fato pessoal do causador do dano, ou seja, de uma
ação direta de uma pessoa ligada à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio,
por ato culposo ou doloso”. Ademais, o Código Civil, nos arts. 186 e 927 traz a
fundamentação jurídica de forma implícita acerca do fato próprio. No entanto,
havendo dano, serão indenizados todo aquele que sofrer lesão. O código civil faz
alusão ao ato ilícito no artigo 186 e 187:

Art. 186 do CCB. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187 do CCB. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Ainda sob a égide do mencionado código, o artigo 927, extrai do seu texto legal a
obrigação de reparar a parte lesada dos prejuízos causados. O ordenamento jurídico
brasileiro adota a teoria da responsabilidade civil objetiva, a conhecida teoria do
risco, considerando que o prejuízo causado a vítima será reparado
independentemente de culpa, frisando que em alguns casos com previsão legal será
adotado a culpa presumida.

Art. 927 do CCB: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente


de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

O entendimento doutrinário é pacífico quanto à reparação cumulada em danos


materiais e morais ocorridas de um mesmo fato ilícito que tenham gerado os danos
mencionados, e tem sido no mesmo sentido o posicionamento do STJ através
Súmula 37 estabelece que: “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato”.

A responsabilidade será indireta ou complexa, quando vincular o responsável


indiretamente ao fato ou ato lesivo, ou seja, responderá por ato de outrem. Sendo
estas subespécies alvo de interesse especifico deste trabalho. Na indireta o agente
é vinculado a ato de terceiro, quando estiver sob a responsabilidade do agente, ou
ainda, de animal ou coisa inominada que se encontram sob as cuidados do agente.
Podem ser citados os arts. 932, I, III, do Código Civil e art. 37, parágrafo 6º da
Constituição Federal. Casos em que o ato ou fato lesivo é praticado por uma
pessoa, sendo que outra irá responder pelo dano causado, mesmo que não tenha
participado para a ocorrência do prejuízo.

Será analisada sob a ótica do Código Civil, nos arts. 3º, 4º e 5º, acerca da
capacidade jurídica dos agressores, respeitando suas especificidades, ou seja, se o
agressor é pessoa capaz, se incapaz ou relativamente incapaz para responder os
pelo ilícito cometido. Ainda será analisada a responsabilidade das instituições de
ensino se pública ou privada.

3.2.2 Da responsabilidade dos pais por ato ilícito praticado por filho
menor de idade

A família é uma ferramenta de extrema relevância no desenvolvimento das crianças


e dos adolescentes, contribuindo de forma significativa no processo pedagógico,
social e moral. Portanto, a família deve aderir uma postura de vigilância e prevenção
frente ao comportamento dos filhos, utilizando como ferramenta, o diálogo e a
transmissão de valores morais com base sólida, no enfrentamento às práticas de
agressividade que tem contribuído para a propagação do fenômeno bullying. Sendo
que, a inobservância destes preceitos originaria a responsabilidade ao evento
danoso havido.

Os pais responderão solidariamente com os filhos quando estes cometerem ato


ilícito que cause danos a outrem e não possuam patrimônio satisfatório para
ressarcir a vítima, consequentemente, o patrimônio do genitor poderá ser objeto
desse prejuízo causado a vítima.

A responsabilidade solidária encontra respaldo legal no art. 942, parágrafo único do


Código Civil, sempre que o filho tiver uma conduta que provoque prejuízo a outrem e
não tiver como arcar com a reparação cabível, caberá aos pais responder
solidariamente com o filho causador do dano.

Art. 942 do CCB: Os bens do responsável pela ofensa ou violação do


direito de ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos respondem solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-


autores e as pessoas designadas no art. 932.

Importante destacar a necessidade de existência do nexo de causalidade entre a


conduta do agente causador do dano, ou seja, do menor e o prejuízo causado à
vítima, para que seja aplicada a responsabilidade civil dos pais frente a conduta do
filho, pois trata-se de responsabilidade objetiva, não sendo relevante a culpa do
agente praticante do bullying, de acordo com o disposto no artigo 933 do Novo
Código Civil. O artigo 928 do Código Civil não isenta o incapaz de responder pelos
atos que causem danos a outrem, sendo os pais os responsáveis solidários em
casos em que o menor não possua patrimônio suficiente para reparação do dano.

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas


por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem
de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser


eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.

Para o professor Chalita (2005, p. 20): “A família tem a responsabilidade de formar o


caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais.
Os filhos se espelhando nos pais e os pais desenvolvendo cumplicidade com os
filhos”. Nesse sentido prevê os arts. 1.630 e 1.634, inciso I e II, do novo Código Civil,
acerca do poder familiar partindo da obrigação de educar, de zelo, de vigilância, de
guarda, de orientação, e ainda, a responsabilidade jurídica dos responsáveis pela
reparação civil de atos ilícitos cometidos por menores praticantes do bullying,
conforme versa os arts. 932, inciso I e art. 933 mesmo diploma legal. A
responsabilidade é objetiva, ou seja, não se precisa comprovar a culpa do agente,
bastando apenas à comprovação que a conduta foi determinante para a ocorrência
do dano.
Art. 1.630 do CCB. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto
menores.

Art. 1.634 do CCB. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I - dirigir-lhes a criação e educação;


II - tê-los em sua companhia e guarda;

Contudo, não se pretende através da vigilância e do dever dos pais de reprimir


certos atos dos seus filhos, tolher a liberdade e o direito as brincadeiras necessárias
na infância ou adolescência. Pretende-se, no entanto, aplicar às disciplina e o
resgate aos valores morais essenciais a formação desse cidadão ou cidadã na
sociedade. O dever de educar é dos pais, não devendo atribuir tal competência
apenas à escola, que deve atuar como um complemento nessa formação que se
inicia no seio familiar. Partindo desse contexto, a Cartilha do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) (2010, p. 11):
Muitas vezes o fenômeno bullying começa em casa. Entretanto, para que os
filhos possam ser mais empáticos e possam agir com respeito ao próximo, é
necessário primeiro a revisão do que ocorre dentro de casa. Os pais, muitas
vezes, não questionam suas próprias condutas e valores, eximindo-se da
responsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é fundamental.
O ensinamento de ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se
estende para o âmbito escolar, onde as crianças e adolescentes passarão
grande parte do seu tempo.

Importante destacar a responsabilidade jurídica dos pais pelos atos ilícitos


praticados pelos seus filhos menores de idade, em virtude do poder familiar e do
dever de guarda, vigilância e orientação daqueles que os assistem, conforme se
verá adiante nos artigos do novo Código Civil. Assim posiciona-se a jurisprudência:

APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INTERNET. USO DE IMAGEM


PARA FIM DEPRECIATIVO. CRIAÇÃO DE FLOG – PÁGINA PESSOAL
PARA FOTOS NA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES.
RESPONSABILIDADE DOS GENITORES. PÁTRIO PODER. BULLYING.
ATO ILÍCITO. DANO MORAL IN RE IPSA. OFENSAS AOS CHAMADOS
DIREITOS DE PERSONALIDADE. MANUTENÇÃO DA INDENIZAÇÃO.
PROVEDOR DE INTERNET. SERVIÇO DISPONIBILIZADO.
COMPROVAÇÃO DE ZELO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELO
CONTEÚDO. AÇÃO. RETIRADA DA PÁGINA EM TEMPO HÁBIL.
PRELIMINAR AFASTADA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. AUSENCIA DE
ELEMENTOS.
Apelo do autor – Da denunciação da lide - I. Para restar configurada a
denunciação da lide, nos moldes do art. 70 do CPC, necessário elementos
demonstrando vínculo de admissibilidade. Ausentes provas embasando o
pedido realizado, não há falar em denunciação da lide.
Da responsabilidade do provedor de internet - II. Provedores de internet
disponibilizam espaço para criação de páginas pessoais na rede mundial de
computadores, as quais são utilizadas livremente pelos usuários. Contudo,
havendo denúncia de conteúdo impróprio e/ou ofensivo à dignidade da
pessoa humana, incumbe ao prestador de serviços averiguar e retirar com
brevidade a página se presente elementos de caráter ofensivo.
III. Hipótese em que o provedor excluiu a página denunciada do ar depois
de transcorrida semana, uma vez ser analisado assunto exposto, bem como
necessário certo tempo para o rastreamento da origem das ofensas
pessoais – PC do ofensor. Ausentes provas de desrespeito aos direitos
previstos pelo CDC, não há falar em responsabilidade civil do provedor.
Apelo da ré - Do dano moral - IV. A Doutrina moderna evoluiu para firmar
entendimento acerca da responsabilidade civil do ofensor em relação ao
ofendido, haja vista desgaste do instituto proveniente da massificação das
demandas judiciais. O dano deve representar ofensa aos chamados direitos
de personalidade, como à imagem e à honra, de modo a desestabilizar
psicologicamente o ofendido.
V.A prática de Bullying é ato ilícito, haja vista compreender a intenção
de desestabilizar psicologicamente o ofendido, o qual resulta em abalo
acima do razoável, respondendo o ofensor pela prática ilegal.
VI. Aos pais incumbe o dever de guarda, orientação e zelo pelos filhos
menores de idade, respondendo civilmente pelos ilícitos praticados,
uma vez ser inerente ao pátrio poder, conforme inteligência do art. 932,
do Código Civil. Hipótese em que o filho menor criou página na internet
com a finalidade de ofender colega de classe, atrelando fatos e imagens de
caráter exclusivamente pejorativo.
VII. Incontroversa ofensa aos chamados direitos de personalidade do
autor, como à imagem e à honra, restando, ao responsável, o dever de
indenizar o ofendido pelo dano moral causado, o qual, no caso, tem
natureza in re ipsa.
VIII. Quantum reparatório serve de meio coercitivo/educativo ao
ofensor, de modo a desestimular práticas reiteradas de ilícitos civis.
Manutenção do valor reparatório é medida que se impõe, porquanto
harmônico com caráter punitivo/pedagógico comumente adotado pela
Câmara em situações análogas. APELOS DESPROVIDOS- (Apelação Cível
Nº 70031750094, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Liege Puricelli Pires, Julgado em 30/06/2010). (grifo nosso).

Em seu voto, o relator fez as seguintes considerações acerca das características e


formas de manifestação do fenômeno, da importância em compreender o bullying e
suas implicações no ambiente escolar, da responsabilidade dos pais diante da falta
de vigilância e fiscalização em relação aos atos praticados pela filha menor de idade.

Destarte, quem nunca foi vítima de risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos


como "bola”, quatro-olhos" na escola? Já testemunhamos uma dessas
"brincadeirinhas" ou até fomos vítima delas. Mas, segundo os especialistas,
esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até
professores, está longe de ser inocente e, hoje é conhecido como bullying;
um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos
entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação.
Trocando em miúdos: quem sofre com o bullying é aquele aluno perseguido,
humilhado, intimidado.

Ainda de acordo com o voto do relator, o mesmo enfatiza que o fenômeno não deve
ser encarado como brincadeiras próprias da idade, traz consequências sérias e
posteriormente conceitua o bullying, objetivando esclarecer e não deixar dúvidas de
como o fenômeno se manifesta para que não ocorra equívocos entre o fenômeno e
brigas pontuais.

Os Especialistas orientam que isso não deve ser encarado como


brincadeira de criança e revelam que é um fenômeno, que acontece no
mundo todo, mas pode provocar nas vítimas desde diminuição na auto-
estima até o suicídio, uma vez que "bullying" diz respeito a atitudes
agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais aluno(s)
contra outro.

No presente caso, restou comprovado essa ocorrência e que o dano moral


decorreu diretamente das atitudes inconvenientes da colega estudante, filha
do apelante, no intento de desprestigiar a apelada tanto no ambiente
colegial, com potencialidade de alcançar o maior número de pessoas, uma
vez que criou um blog com a única finalidade de expor, humilhar e
constranger à apelada; recaindo toda a responsabilidade sobre o apelante,
diante do descuido na fiscalização do uso da internet pela filha.
Por fim, o Relator, cita a autora Marie – France Hingoyen, no que se refere a o papel
da Lei diante condutas inaceitáveis na sociedade, retratando a preocupação frente a
impunidade por parte do agressor e a vingança por parte da vítima. O Relator ainda
salienta que uma possível reparação ao dano irá amenizar o sofrimento da vítima de
bullying, pois uma reparação completar nunca irá acontecer, e conclui ressaltando a
importância das medidas de prevenção aos casos de bullying.

Contudo, não podemos perder de vista as lições de Marie - France


Hingoyen, ao observar que "a lei continua sendo um anteparo, ao esclarecer
as pessoas de que essas atitudes existem e são inaceitáveis. Ela permite
levantar uma dupla preocupação: com a impunidade por parte do agressor e
com a vingança por parte da vítima. Punir o autor da agressão é uma forma
de afirmar que o que as pessoas vivenciaram é profundamente inaceitável,
mesmo que nunca seja possível reparar completamente nem compensar
totalmente uma injustiça. Não se trata de maneira alguma de um perdão
barato. Salienta que apesar de tudo, a justiça jamais poderá reparar o
sofrimento das vítimas. E, pois, importante não nos limitarmos aos
regulamentos e às leis, sob o risco de cairmos na juridicidade excessiva; é
preciso insistir na prevenção".

Segundo o Código Civil os menores de dezesseis anos de idade são considerados,


absolutamente incapazes, devendo ser representados por seus responsáveis legais,
os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos de idade, são considerados
relativamente incapazes, estes poderão exercer certos atos da vida civil, devendo
ser assistidos por seus responsáveis legais.

Desta forma, quando as praticas do fenômeno bullying forem cometidas por


menores de 18 anos de idade, os pais serão responsáveis pela reparação civil
cabível, em consequência do ato ilícito praticado pelo seu filho que estiver sob sua
autoridade e companhia, conforme previsão legal do art. 932, I e art. 933 do Código
Civil de 2002.
Se o agente que praticou a ação ou omissão causadora do dano for menor
de 16 anos de idade, será considerado absolutamente incapaz ou
inimputável (CC, art. 3º, I), sendo certo, contudo, que, nos termos do art.
928 do CC, responderá pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes. [...] O novo Código Civil, rompendo com o sistema anterior,
estabeleceu a responsabilidade subsidiária ou secundária do incapaz, pois
responsáveis imediatos pela reparação serão os pais, tutores e curadores.
(STOCO, 2007, p. 243).

Importante destacar segundo Gagliano (2009, p. 152), que na vigência do Código


Civil de 1916, em seu art. 1.521 trazia a seguinte redação: “filhos menores que
estivessem sob seu poder e companhia”, nota se que a responsabilidade era
atribuída apenas aquele dos pais (mãe ou pai) que possuía aproximação direta com
o menor de idade. O contato direto do menor era essencial para atribuir a
responsabilidade dos atos ilícitos praticados pelo absolutamente incapaz.

Ainda segundo Gagliano (2009, p. 152), se o ilícito fosse cometido no período de


visita, a responsabilidade caberia aquele dos pais que estivesse com o menor nesse
momento. Com o advento do novo Código Civil, a alteração no texto legal foi latente.

Art. 932 do CCB. São também responsáveis pela reparação civil:

I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em


sua companhia.
II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições.

Art. 933 do CCB. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo


antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos
atos praticados pelos terceiros ali referidos.

A expressão “autoridade” prevista na nova redação do atual Código Civil dá maior


ênfase ao poder de família, diferente do termo utilizado no Código anterior que
previa a expressão “poder” como uma forma de contato direto com o menor,
segundo entendimento do renomado civilista.

A expressão “poder” no Código anterior era anacrônica, na medida em que


o pai não tivesse o menor em sua companhia não deixava de ter o “pátrio
poder” sobre ele. Mais técnico, portanto, o Código de 2002, ao chamar a
atenção de que somente aquele dos pais que exerce, de fato, a autoridade
sobre o menor, fruto da convivência com ele, poderia ser responsabilizado
pelo dano causado. Ademais, vale lembrar que não mais se analisa culpa
para efeito de responsabilidade, ainda que sob a forma de presunção, na
medida em que o art. 933 ressaltou que todas as modalidades de
responsabilidade indiretas são objetivas. (GAGLIANO, 2009, p. 154).

A previsão do art. 933 do novo código, faz menção a responsabilidade dos pais
ainda que sem culpa, destacando sem dúvidas a teoria do risco na responsabilidade
dos pais frente aos atos praticados por seus filhos menores.

Quem exerce poder familiar responderá solidária e objetivamente pelos atos


do filho menor que estiver sob sua autoridade e em sua companhia (CC,
arts. 932, I, 933 e 942), pois como tem a obrigação de dirigir sua educação.
deverá sobre ele exercer vigilância (RJTJ/SP, 41:121). (DINIZ, 2009, p. 531)
A responsabilidade dos pais no ato de educar, compreendendo o dever de
assistência e vigilância aos filhos menores:
Quando se cogita da responsabilidade paterna, tem-se em vista o
inadimplemento real ou presumido dos deveres que ao pai corre em relação
ao menor. Esses deveres são de duas ordens: a) assistência, que não é só
a material, traduzida na prestação de alimentos e satisfação de
necessidades econômicas, mas também moral, compreendendo a instrução
e a educação, esta no seu mais amplo sentido; b) vigilância. Na primeira
categoria se entende incluída a obrigação de propiciar ao menor, ao lado da
prestação de conhecimentos compatíveis com as suas aptidões e situação
social e com os recursos do pai, o clima necessário ao seu sadio
desenvolvimento moral, inclusive pelo bom exemplo. A vigilância é o
complemento da obra educativa, e far-se-á mais ou menos necessária,
conforme se desempenhe o pai da primeira ordem de deveres. Esses os
motivos por que se presume a responsabilidade do pai. Um filho criado por
quem observe à risca esses deveres não pode ser autor de injusto prejuízo
para outrem. (DIAS, 2006. p. 748-749).

Importante destacar o posicionamento de Carlos Roberto Gonçalves, (2007, p. 133):

A responsabilidade paterna independe de culpa (CC, art. 933). Está sujeito


à reparação do dano, por exemplo, o pai que permite ao filho menor de 18
anos sair de automóvel. Se o filho, culposamente, provoca acidente de
trânsito, o lesado tem direito de acionar o pai, para obter indenização. Da
mesma forma, responde pelo ressarcimento do dano causado pelo filho o
pai que não o educa bem ou não exerce vigilância sobre ele, possibilitando-
lhe a prática de algum delito, como incêndio, o furto, a lesão corporal e
outros. Em todos esses casos, comprovado o ato ilícito do menor, dele
decorre, por via de consequência e independentemente de culpa do
pai, a responsabilidade deste. (grifo nosso).

Ainda nesse sentido, tem se posicionado o Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul, no que tange a responsabilidade solidária dos pais em relação aos atos ilícitos
praticados pelo filho menor de idade e será também, objetiva em relação ao dever
de indenizar os prejuízos causados por estes atos.

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE DOS PAIS PELO ACIDENTE DE
TRÂNSITO CAUSADO PELO SEU FILHO MENOR. CULPA EXCLUSIVA
DO CONDUTOR DO VEÍCULO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS,
MORAIS E ESTÉTICOS. PENSIONAMENTO. - Responsabilidade dos pais
pelo acidente de trânsito causado pelo seu filho menor. A solidariedade
resulta da culpa in vigilando. Regra contida no art. 932, inciso I do Código
Civil de 2002 (...) (Apelação Cível Nº 70019661446, Décima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias
Teixeira).
Eis o entendimento da jurisprudência acerca da responsabilidade civil dos pais, pela
reparação civil pelos atos praticados pelo filho absolutamente incapaz:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. CULPA CONCORRENTE. DANOS MORAIS. I. Preliminar
de sentença extra petita rejeitada. A aplicação do direito sob fundamentos
distintos dos suscitados pelas partes, mediante o reconhecimento da culpa
concorrente, não evidencia sentença extra petita. II. Preliminar de
ilegitimidade passiva rejeitada. Os pais são responsáveis pela reparação
civil quanto ao ato praticado pelo filho menor (art. 1.521, I, do anterior
Código Civil atual art. 932, I). (...) (Apelação Cível Nº 70006550594, Décima
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André
Pereira Gailhard, Julgado em 27/10/2004)

O antigo Código Civil fazia equiparação do menor púbere ao maior e capaz para
responder pelos atos da vida civil, enquanto o absolutamente incapaz era
inimputável, e, portanto, a responsabilidade de reparação recaia apenas aos seus
pais. (GAGLIANO, 2009, p.154).

Note-se, entretanto, que, enquanto vigeu o Código de 1916, essa


responsabilidade solidária dos pais por atos dos filhos somente se aplicava
em se tratando de menores púberes (relativamente capaz - maiores de 16 e
menores de 21 anos). Isso porque o art. 156 da Lei Civil revogada, sem
equivalente no Código Civil brasileiro de 2002, equiparava esses menores
aos maiores, pelos ilícitos que houvesse praticado. Vale dizer, caso
dispusessem de patrimônio, seriam responsabilizados conjuntamente com
os seus pais pelo dano causado (obrigação solidária). Em se tratando de
absolutamente incapaz (menor impúbere), por sua vez, essa regra não teria
incidência, em virtude de o legislador o haver considerado inimputável, e,
por conseqüência, apenas sobre os seus pais pesaria a obrigação civil de
indenizar.

No entanto, o novo Código Civil possui uma alteração bastante significativa do texto
revogado, atribuindo a responsabilidade ao próprio incapaz. O art. 928 do Código
Civil reconhece a responsabilidade do incapaz, antes não recepcionada pelo Código
de 1916, que considerava o menor inimputável.

Como os menores entre 16 e 21 anos, no sistema revogado, eram


considerados capazes para fins de responsabilidade civil (art. 156 do
Código de 1916), os pais eram solidariamente responsáveis por eles, nessa
idade. Veja agora o art. 928 do presente Código Civil, que estabelece a
responsabilidade do próprio incapaz. (VENOSA, 2009, p. 79)

Para Gagliano (2009, p. 154) as alterações previstas no Código Civil de 2002 foram
de extrema importância, primeiro por melhorar a compreensão do texto do artigo
932, no seu inciso I, alterando a palavra “poder” para “autoridade”, segundo por
reconhecer a responsabilidade jurídica do incapaz, conforme art. 928, parágrafo
único do novo Código Civil.

Art. 938 do CCB. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as


pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não
dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único: A indenização prevista neste artigo, que deverá ser


equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependam.

Da mesma forma entende e leciona o jurista, Sílvio de Salvo Venosa (2009, p. 77):

Não se trata de aquilatar se os filhos estavam sob a guarda ou poder


material e direto dos pais, mas sob sua autoridade, o que nem sempre
implica proximidade física. Essa responsabilidade tem como base o
exercício do poder familiar que impõe aos pais um feixe enorme de deveres.
Trata-se de aspecto complementar do dever de educar os filhos e sobre
eles manter vigilância.

O STF já se posicionou acerca da responsabilidade dos pais, mesmo diante de uma


emancipação do menor. “a emancipação é ato voluntário em benefício do menor;
não tem o condão de obliterar a responsabilidade dos pais”. A doutrina diverge
quanto a esse entendimento. VENOSA (2009, p.79).

Responsabilidade civil - Colisão de veículos – motorista menor emancipado


– Irrelevância – Pai corresponsável – Ação procedente. O fato de o
motorista culpado ser menor emancipado não afasta a responsabilidade do
pai, a que, pertence o veículo causador do dano. (RT 494/92).

Na maioria das vezes as práticas do fenômeno bullying envolvem agressores


menores de idade, ou seja, os estudantes são vítima de seus próprios pares,
impossibilitados juridicamente de responder sozinhos pelos danos causados as suas
vítimas.

Contudo, quando o praticante do bullying for menor de 16 anos de idade, em razão a


sua incapacidade absoluta, não poderá responder diretamente pelos danos
causados, nem tampouco integrar o pólo passivo de uma ação indenizatória,
devendo as pessoas responsáveis pelo menor assumir a responsabilidade do dano
causado, ou seja, os pais ou responsáveis responderão solidariamente pelos atos
causados por seus filhos. Com base nessas considerações Rui Stoco (2007, p. 243)
pondera acerca da responsabilidade dos incapazes:

Se o agente que praticou a ação ou omissão causadora do dano for menor


de 16 anos de idade, será considerado absolutamente incapaz ou
inimputável (CC, art. 3º, I), sendo certo, contudo, que, nos termos do art.
928 do CC, responderá pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes. [...] O novo Código Civil, rompendo com o sistema anterior,
estabeleceu a responsabilidade subsidiária ou secundária do incapaz, pois
responsáveis imediatos pela reparação serão os pais, tutores ou curadores.

Conforme os arts. 1.630 e 1.634 do Código Civil, os filhos menores de 18 anos estão
sujeitos ao poder familiar, cabendo aos responsáveis por esse menor, que esteja em
companhia do mesmo e em vigilância e guarda, com deveres de velar pelo bom
desenvolvimento desse sujeito em processo de formação, respeitando sua idade e
condição.

O bullying virtual, conhecido por “cyberbullying”, faz suas vítimas reféns mesmo
estando fora da escola, através dos meios eletrônicos, as vítimas são atingidas onde
estiverem. O ciberbullying utiliza-se na maioria das vezes, das interfaces das redes
sócias como: e-mails, MSN, blogs, Orkut, Twitter, Face Book, torpedos, entre tantos
outros utilizados pelos agressores. A violência ultrapassa os muros das escolas,
deixando suas vítimas sem nenhuma segurança. Nessa seara, o Tribunal de Justiça
de São Paulo assim têm entendido que:

Reparação por danos morais - Campanha difamatória pela Internet - Blog


criado pela colega de escola para prática de bullying - Responsabilidade do
genitor em razão da falta de fiscalização e orientação - Sentença reformada
apenas para reduzir o valor da indenização, considerando a extensão do
dano, a época dos fatos e a realidade das partes. Apelação - 9136878-
66.2006.8.26.0000 – Relator (a): Miguel Brandi Comarca: Santo André/SP -
Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Privado - Data do
julgamento: 22/12/2010 - Data de registro: 06/01/2011 - Outros
números: 994060397674.

O cyberbullying, por se tratar de um ambiente virtual, não isenta o agressor ou o seu


responsável a quem incumbe o dever de guarda e vigilância. E assim o
entendimento do Tribunal de Justiça de Rondônia, resguardando os direitos de um
professor agredido moralmente por um determinado número de alunos, em rede
social. Nota-se que nesse momento o agressor deixa de atingir seus pares, fazendo
o professor experimentar a dor, desrespeito e desprezo das práticas covardes do
cyberbullying.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - COMUNIDADE VIRTUAL DO ORKUT -
MENSAGENS DEPRECIATIVAS A PROFESSOR - RESPONSABILIDADE
DOS PAIS. Os danos morais causados por divulgação, em comunidade
virtual – orkut – de mensagens depreciativas, denegrindo a imagem de
professor – identificado por nome –, mediante linguagem chula e de baixo
calão, e com ameaças de depredação a seu patrimônio, devem ser
ressarcidos. Incumbe aos pais, por dever legal de vigilância, a
responsabilidade pelos ilícitos cometidos por filhos incapazes sob sua
guarda. (TJ-RO – Acórdão COAD 126721 - Ap. Civ. 100.007.2006.011349-
2 – Rel. Convocado Juiz Edenir Sebastião Albuquerque da Rosa – Public.
em 19-9-2008). (grifo nosso).

Logo, os Tribunais vêm decidindo acerca do fenômeno na modalidade virtual, tão


agressiva quanto o bullying tradicional, pois essa forma de bullying utiliza-se do
anonimato, o que dificulta ainda mais a identificação dos envolvidos. Dessa forma,
os agressores atingem suas vítimas e deixam reféns do fenômeno através dos
meios eletrônicos. Urge, portanto, maior desenvolvimento de informática e
legislação, afim de efetivar a tutela jurisdicional a quem e como praticar o ato lesivo.

3.2.3 Da responsabilidade civil quando a prática do bullying é cometida


por pessoa capaz

O bullying ocorre em qualquer espaço onde existam relações interpessoais. O


fenômeno pode estar presente em qualquer escola, sejam pública ou privada, se
estendendo a instituições de ensino superior, que também podem apresentar
manifestações das práticas do fenômeno. Logo, o bullying pode envolver agressores
maiores de idade e não só crianças e adolescentes, esse agressor é pessoa capaz,
sua ação será fundamentada à luz da responsabilidade subjetiva, para responder
pelos seus atos e consequentemente pelos danos causados as suas vítimas na
esfera cível e/ou criminal. Logo, a responsabilidade do agente praticante do bullying
quando maior de idade será subjetiva.

3.2.4 Da responsabilidade das instituições de ensino (pública e privada)


O bullying é um problema de saúde pública, tornou-se ao longo dos anos objeto de
discussões, devido o aumento em larga escala dos casos desse fenômeno,
envolvendo crianças e adolescentes no âmbito escolar. Muitas escolas omitem os
casos de violência nas escolas, seja por medo que a mesma possa comprometer a
imagem da escola ou pela real falta de conhecimento acerca do assunto sendo
tratado pela escola como algo normal, no entanto, a omissão só gera a
disseminação da violência no ambiente escolar.

A Cartilha do CNJ traz em seu bojo orientações que devem ser adotadas frente aos
casos do fenômeno no âmbito escolar por todos que compõem a instituição de
ensino:
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os
comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam
na maioria das vezes. A direção da escola (como autoridade máxima da
instituição) deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de
proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá ser
responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais
(ou ilícitos) a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial.
Dessa forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas autoridades
competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a
impunidade e inibem o crescimento da violência e da criminalidade infanto-
juvenil.

A omissão ou intervenção de forma inadequada das escolas ao fenômeno bullying


fere a previsão Constitucional no art. 205, ainda contribuir de forma significativa para
que essa prática de violência se propague ou resulte em problemas mais sérios e
danosos. Nos casos de omissão pela escola na intervenção e enfrentamento ao
bullying, será responsabilizada pela reparação as vítimas em razão da omissão da
escola ao dever de vigilância e zelo a incolumidade física e psíquica dos seus
educandos.

Art. 205 da CFB/88. A educação, direito de todos e dever do Estado e da


família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A escola é apontada como grande prevenção da violência contra criança e


adolescente, devendo, portanto ser um lugar que transmita segurança, propiciando o
debate acerca do tema, com o objetivo de eliminar do âmbito escolar essas práticas
de violência contra o próximo. Os atos de violência que ocorrem no âmbito escolar
precisam ser prevenidos e combatidos, para que seu aumento seja coibido.
[...] Entretanto, para que isso aconteça, seus profissionais devem ser
capacitados para atuar na melhoria do ambiente escolar e das relações
interpessoais, promovendo a solidariedade, a tolerância e o respeito às
características individuais, utilizando estratégicas adequadas à realidade
educacional que envolvem toda a comunidade escolar [...]. (FANTE, 2005,
p. 169).

É importante destacar que todos os envolvidos sofrem nesse cenário de dor e


alienação, daí o dever da família, da sociedade e do Estado de assegurar os direitos
constitucionalmente previstos à criança e ao adolescente.

Acerca da responsabilidade do Poder Público de garantir o acesso à escola, é


oportuno apreciar a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, in verbis:

ECA. APELAÇÃO. PEDIDO DE VAGA EM CRECHE E EM


ESTABELECIMENTO PÚBLICO DE ENSINO. DIREITO À EDUCAÇÃO.
DEVER DO MUNICÍPIO. O Município tem a obrigação de assegurar o
acesso das crianças à educação, cumprindo-lhe garantir vagas na rede
pública de ensino, e, na falta destas, deve proporcionar esse direito na rede
privada, às suas expensas. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº
70034651844, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/03/2010).

O professor deve ter uma postura compatível com seu papel enquanto mediador,
pois os alunos costumam tomar como exemplo a postura dos seus professores. É
muito comum identificar em sala de aula professores que praticam bullying muitas
vezes em situações do dia a dia, quando expõe seus alunos ao constrangimento, ao
ridículo, a chacotas, ameaças e até mesmo a certas comparações.

Todo professor deve proceder de forma que seu comportamento sirva de


exemplo para seus alunos. No entanto, muitas vezes, a escola se depara
com circunstâncias em que o professor se destitui de suas obrigações e
acaba criando situações que podem ameaçar, constranger ou colocar em
risco a integridade física e/ou psicológica de um estudante. (SILVA, 2010,
p.169)

Quando o praticante do fenômeno for o professor, este responderá pelos danos


causados as vítimas e a instituição de ensino responderá solidariamente conforme
previsão legal do Código Civil nos art. 932, I, III e IV e art. 933, pelos ilícitos pelas
pessoas descritas nos artigos mencionados.

Ementa. Apelação civil. Responsabilidade civil. Responsabilidade do


estabelecimento do ensino. Agressão entre menores. Falta de cuidado da
educadora e da escola. Agravo retido. Denunciação da lide. Tratando de
responsabilidade fundada no artigo 932, inciso IV, do código civil, não
procede a denunciação da lide, haja vista a inexistência de direito de
regresso do estabelecimento de ensino contra os pais do causador do dano.
Ilegitimidade passiva da professora. Sendo a educadora responsável pela
vigilância aos menores que se envolveram na agressão, tem
legitimidade para responder por danos decorrentes do evento. Tendo a
educadora e a escola faltada com o cuidado necessário na guarda dos
alunos da turma maternal, cujos antecedentes indicavam a presença
de um aluno com histórico de brigas, devem responder pelos danos
causados pela agressão (e não agressividade) verificada. Dano moral
puro. [...] Apelações providas, em parte. Agravo retido desprovido. Decisão
unânime. 63 TJRS. 10ª C. AC 70024551392. Rel. Jorge Alberto Schreiner
Pestana. J 28.05.2009. DJ 23.07.2009. (grifo nosso). (grifo nosso)

Neste sentido, vejamos o entendimento da Quinta Câmara de Direito Público da


Comarca de Ribeirão Preto, na apelação nº 0169350-45.2007.8.26.0000, julgamento
de 16/05/2011, o eminente Desembargador relator Nogueira Diefenthaler, acerca do
posicionamento absurdamente inadequado do professor que jogou o menor em uma
lixeira.
RESPONSABILIDADE CIVIL DANOS MORAIS HUMILHAÇÃO POR PARTE
DE PROFESSOR E COLEGAS BULLYING. I Menor que veio a ser jogado
em lixeira por professor que objetivava impor ordem na sala de aula. Ação
desproporcional que deu ensejo a zombarias e piadas por parte dos demais
colegas Configuração do chamado bulying. Reparação por danos morais
cabíveis. II Adequação do valor arbitrado na condenação Redução à quantia
de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais). Sentença reformada em parte.
Recurso parcialmente provido. Apelação - 0169350-45.2007.8.26.0000 –
Relator (a): Nogueira Diefenthaler - Comarca: Ribeirão Preto - Órgão
julgador: 5ª Câmara de Direito Público - Data do julgamento: 16/05/2011 -
Data de registro: 17/05/2011 - Outros números: 6320785700. (grifo nosso)

Quando o bullying ocorrer nas escolas públicas, a responsabilidade será do Estado,


pois se trata de serviço público. No ordenamento jurídico brasileiro a
responsabilidade do Estado em regra, é objetiva, baseada na teoria do risco
administrativo, risco criado por sua atividade administrativa. A teoria do risco
administrativo responsabiliza o Estado por riscos na sua atividade administrativa que
cause danos a terceiros, importante à existência do nexo causal entre a aquela
atividade e o dano causado.

Importante frisar que, o Estado pode afastar a responsabilidade em casos de


exclusão do nexo de causalidade, com as hipóteses de culpa exclusiva da vítima ou
de terceiros, caso fortuito ou força maior. Segundo a doutrina se “o Estado, por seus
agentes, não deu causa a esse dano, se inexiste relação de causa e efeito entre a
atividade administrativa e a lesão, (...) o Poder Público não poderá ser
responsabilizado". (CAVALIERI FILHO, 2008. p.253).

De acordo com o artigo 37, § 6º da CF/1988, determina que as pessoas jurídicas de


direito público e as de direito privado que prestam serviços públicos responderão
pelos prejuízos que seus agentes, causarem a terceiros, ficando assegurado o
direito de regresso nos casos de dolo ou culpa em face ao responsável causador do
dano, ou seja, em casos de bullying, o Estado entrará com ação de regresso em
face da direção da instituição de ensino que não tomou as medidas cabíveis para
prevenção ou para cessar as práticas do fenômeno no âmbito escolar.

Art. 37 da CFB/1988. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998).

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Logo, se a atuação estatal resultou em danos para o administrado, caberá o dever de


ressarcimento, respeitando os princípios constitucionais, diferenciando da
responsabilidade quando no âmbito privado. Eis alguns posicionamentos
jurisprudenciais acerca da responsabilidade objetiva do Estado:

REPARAÇÃO DE DANOS - Bullying - Menor de idade agredido, tendo sua


cabeça introduzida dentro de vaso sanitário, com a descarga acionada.
Reconhecimento de situação vexatória e humilhante, apta a caracterizar o
dano moral, independente de qualquer outro tipo de comprovação - Fatos
ocorridos dentro do estabelecimento de ensino, em sanitário fechado -
Ausência de fiscalização suficiente, o que gera a responsabilidade da
escola pelo ocorrido - Sentença mantida. Recurso improvido. Apelação -
0013121-08.2009.8.26.0220 – Relator (a): Luís Fernando Lodi -
Comarca: Guaratinguetá - Órgão julgador: 37ª Câmara de Direito Privado -
Data do julgamento: 25/08/2011 - Data de registro: 09/09/2011 - Outros
números: 00131210820098260220. (grifo nosso)

O dever de indenizar não isenta a instituição por ser a mesma municipal, cabe ao
Estado a responsabilidade e reparação aos danos causados a vítima de violência no
âmbito escolar. A instituição pode ser municipal ou Estadual, a responsabilidade
atribuída ao Estado não possuirá qualquer distinção, pois o direito a educação é
uma direito com proteção constitucional, devendo ser garantida a segurança a
incolumidade física e psíquica de todos os envolvidos no processo educacional.

RESPONSABILIDADE DO ESTADO. O Município é responsável por danos


sofridos por aluno, decorrentes de mau comportamento de outro aluno,
durante o período de aulas de escola municipal. O descaso com que
atendido o autor quando procurou receber tratamento para sua filha se
constitui em dano moral que deve ser indenizado. (TJ-SP – Ap. 7109185000
– Rel. Des. Barreto Fonseca – Julg. em 11-8-2008).

Quando as práticas do fenômeno bullying ocorrem nos estabelecimentos de ensino


privados, a responsabilidade será objetiva e fundamentada juridicamente pelo
Código de Defesa do Consumidor (CDC), tendo em vista que esses prestam
serviços aos consumidores re respondem por atos praticados dentro da escola.
Podem ser citados os arts. 2º, 3º, 6º, 8º e 14º da Lei 8078/90, que buscam equilibrar
à relação entre o consumidor e fornecedor.

Art. 2º do CDC. Consumidor é toda pessoas física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,


ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Conforme se desprende o caput do artigo acima disposto, a vítima do bullying


equipara-se a destinatário final em relação à prestação do serviço prestado pela
instituição de ensino privada, considera-se essa vítima consumidora que utiliza-se o
serviço por ela prestado.

Tratando-se de relação de consumo, pode ocorrer a inversão do ônus da prova,


conforme previsão do art. 6º, VIII, do CDC, direito conferido ao consumidor para
garantia de defesa jurídica justa, equilibrando a relação processual entre os
litigantes. Esse direito é conferido ao consumidor frente a sua condição de
vulnerabilidade nas relações de consumo e encontra amparo legal na própria
Constituição Federal de 1988 nos arts. 5º, XXXII e 170, V do referido diploma, que
atribui ao Estado à defesa do consumidor.

O artigo 3º do CDC conceitua fornecedor e em seu parágrafo segundo faz alusão


quanto à prestação de serviço mediante remuneração. Logo, as instituições de
ensino privada e as vítimas do bullying estão ligados a uma prestação de serviço da
instituição privada, remunerada pelo consumidor.

Art. 3º do CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (grifo nosso)

A instituição de ensino privada, por prestar serviços educacionais aos consumidores,


responderá objetivamente pela falha na qualidade e segurança do serviço, quando
ocorrer bullying dentro do estabelecimento de ensino privado, a reparação ao dano
causado a vítima será devido, pois restará caracterizado que houve defeito na
prestação do serviço.

A instituição de ensino deve tomar todas as medidas de prevenção cabíveis aos


casos de bullying, e quando identificados casos, a intervenção deve ser imediata,
cabe as mesmas o dever de guarda e vigilância, objetivando a incolumidade de toda
a inobservância desses deveres imputará a escola a responsabilidade pelos danos
causados a vítimas

Art. 6º do CDC. São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências.

Acerca da responsabilidade civil objetiva da instituição de ensino, por defeito na


prestação de serviço educacional, que detém o dever de guarda a incolumidade
física e psíquica de seus alunos. Destaca–se o posicionamento unanime da décima
terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, na
apelação nº 0003372- 37.2005.8.19.0208, julgado em 02 de fevereiro de 2011.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. VIOLENCIA ESCOLAR.


“BULLYNG”. ESTABELECIMENTO DE ENSINO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA.FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL
CONFIGURADO. DESPROVIMENTO DOS RECURSOS.I – Palavra inglesa
que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar,
“Bullying” é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetidos; II – Os fatos relatados e provados
fogem da normalidade e não podem ser tratados como simples
desentendimentos entre alunos. III – Trata-se de relação de consumo e a
responsabilidade da ré, como prestadora de serviços educacionais é
objetiva, bastando a simples comprovação do nexo causal e do dano; IV –
Recursos – agravo retido e apelação aos quais se nega provimento.

Ainda conforme disposições do Código de Defesa do Consumidor, no art. 8º, é dever


de fundamental importância ao consumidor, a prestação do serviço buscando a
qualidade e segurança ao consumidor.

Art. 8º do CDC. Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo


não acarretarão riscos á saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e
fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as
informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Tratando-se acerca da segurança na prestação do serviço malgrado o caput do


artigo supramencionado, quando houver fala na prestação desse serviço pondo em
risco a segurança esperada, haverá o dever de indenizar por eventuais danos
causados às vítimas:

Que dever impõe a lei ao fornecedor de produtos e serviços? Quando se


fala em risco de consumo, o que se tem em mente é a ideia de segurança.
O dever jurídico que se contrapõe ao risco é o dever de segurança. Risco e
segurança são elementos que atuam reciprocamente no meio do consumo,
como vasos comunicantes. Onde houver risco terá que haver segurança.
Quanto maior o risco, maior será o dever de segurança. [...] Portanto, para
quem se propõe fornecer produtos e serviços no mercado de consumo a lei
impõe o dever de segurança; dever de fornecer produtos seguros, sob
pena de responder independentemente de culpa (objetivamente) pelos
danos que causar ao consumidor. Aí está, em nosso entender, o verdadeiro
fundamento da responsabilidade do fornecedor. (CAVALIERI FILHO, 2010,
p. 491) (grifo do autor).

Contundo, é necessária a comprovação da conduta, se é comissiva ou omissiva, do


nexo causal entre a conduta do estabelecimento de ensino responsável pela
prestação do serviço, uma vez que, está sob a responsabilidade e cuidados dos
alunos, e do dano sofrido pela vítima do bullying, que será o estudante. Quando
esses requisitos não forem comprovados, restará afastada a responsabilidade do
estabelecimento de ensino. Acerca da relevância do nexo causal afirma CAVALIERE
FILHO (2010, p. 278):
Mesmo na responsabilidade objetiva é indispensável o nexo causal. Esta é
a regra universal, quase absoluta, só excepcionada nos raríssimos casos
em que a responsabilidade é fundada no risco integral, o que não ocorre no
Código do Consumidor. Inexistindo relação de causa e efeito a exoneração
da responsabilidade, conforme enfatizado em várias oportunidades.

A responsabilidade objetiva do estabelecimento de ensino privado pela prestação de


serviço seguro aos seus consumidores encontra respaldo no art. 14 do Código de
Defesa do Consumidor, ou seja, o fornecedor do serviço responderá
independentemente de culpa, pelos danos causados as vítimas. A possibilidade de
excludentes de responsabilidade do fornecedor, ou seja, do estabelecimento de
ensino encontra-se no art. 14, parágrafo 3º, I e II do referido Código.

Art. 14 do CDC. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;


II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Nesse diapasão, foi o posicionamento da segunda Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Rio de Janeiro, na apelação Cível sob nº. Apelação Cível n° 0015239-
71.2007.8.19.0203, julgamento em 28 de julho de 2010, o eminente Desembargador
Carlos Eduardo da Fonseca Passos se pronunciou acerca da adoção de
providências adequadas pelo estabelecimento de ensino, restando provada a
afastabilidade da responsabilidade da escola.

RELAÇÃO DE CONSUMO. Estabelecimento de ensino. Prestação de


serviço de tutela de menor. Alegação de abalos psicológicos decorrentes de
violência escolar. Prática de Bullying. Ausência de comprovação do
cometimento de agressões no interior do estabelecimento escolar.
Adoção das providências adequadas por parte do fornecedor.
Observância do dever de guarda. Falha na prestação do serviço não
configurada. Fatos constitutivos do direito da autora indemonstrados.
Manutenção da sentença. Recurso desprovido. (grifo nosso).

Se tratando de culpa exclusiva do consumidor, ora aluno, afastará a


responsabilidade da instituição de ensino privado, é o entendimento da
jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Ementa. Dano moral. Pedido fundado na alegação de que os réus teriam


injuriado a autora e a agredido fisicamente. Ausência de prova concreta a
esse respeito. Documento subscrito pela diretora do estabelecimento de
ensino que sugere haver sido a autora quem iniciou o entrevero. Não
caracterização da responsabilidade do instituto de ensino, porquanto agiu
de forma diligente quando do desentendimento entre seus alunos. Não
configuração de dano moral. Apelo desprovido. TJSP. 6ª C. AC
994070233915. Rel. Sebastião Carlos Garcia. J 10.06.2010. DJ 25.06.2010.

As instituições de ensino privado em regra, adotam os contrato chamados de


contratos de adesão. À luz dos arts. 25 e 51 do CDC, nos contratos de adesão não
podem conter em seu teor cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a
obrigação de indenizar do fornecedor.

Art. 25 do CDC. É vedada a estipulação contratual de cláusula que


impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista
nesta e nas seções anteriores. (grifo nosso)

Art. 51 do CDC. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I -
impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do
fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo
entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá
ser limitada, em situações justificáveis; [...] (grifo nosso)

Alguns doutrinadores defendem as teses de que os pais podem ser acionados para
integrar o pólo passivo da mesma demanda a qual a escola esteja respondendo, e
ainda em caso de condenação da escola ao pagamento de indenização, pode
acionar judicialmente os pais da vítima numa ação de regresso, numa tentativa de
reaver o valor da indenização condenada judicialmente.

Importante frisar acerca do prazo para que a vítima do bullying possa ingressar com
uma ação de indenização pleiteando danos materiais e/ou morais em razão de ter
sido lesada pelos atos ilícitos praticados pelo autor do bullying, conforme previsão
do art. 27 do CDC. Desrespeitado esse prazo, prescreve o a pretensão para intentar
a mencionada ação.
4 DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR PRÁTICAS DE
BULLYING

Devido à ausência de tipificação na Legislação para os casos do fenômeno, aquele


que comete bullying, responderá pelos ilícitos tipificados no Código Penal, tais como:
injúria (art. 140 do Código penal), difamação (art. 139 do Código Penal), calúnia (art.
138 do Código Penal), constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal), ameaça
(art. 147 do Código Penal), lesão corporal (art. 129 do Código Penal), racismo,
homicídio (art. 121 do Código penal), furto (art.155 do Código Penal), roubo (art. 157
do Código Penal) e dano (art.163 do Código Penal).

No dia 28 de maio de 2012, a Comissão especial instituída pelo Senado Federal


para a de reforma do novo Código Penal aprovaram proposta de criminalização para
as práticas de bullying, a Comissão utilizou o termo intimidação vexatória para a
tipificação das práticas do fenômeno no âmbito escolar. A comissão sugeriu punição
de um a quatro anos de prisão, caso o agente capaz para responder pelos atos da
vida civil, ou seja, maior de idade.

Quando o agente praticante do fenômeno for menor de idade, a prática será


considerada ato infracional conforme art. 103 do ECA, sendo aplicada medidas sócio
educaivas, prevista no art. 112 do mesmo diploma Legal, podendo ser privativas de
liberdade ou não. (http://www.progresso.com.br/caderno-a/bullying-pode-resultar-
em-prisao-no-brasil).
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,


sujeitos às medidas previstas nesta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade
do adolescente à data do fato.

A Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado de São Paulo


também tomou a iniciativa de elaborar um anteprojeto de lei objetivando que a
prática do fenômeno bullying seja considerada crime, além do projeto também
prever sanções para o bullying na modalidade virtual, chamado de ciberbullying.
(http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=4544).

Importante destacar que na seara penal a capacidade jurídica dos agentes também
deve ser observada, do mesmo modo, que no âmbito civil. A imputabilidade seria o
conjunto de condições mentais e biológicas que permitem o entendimento da
ilicitude de certos atos. Não sendo portador dessas condições, ou por ter menos de
18 (dezoito) anos, ou por não ter um desenvolvimento mental completo, será isento
de pena.

Em 1984, com a reforma do Código Penal, o sistema binário foi substituído pelo
sistema vicariante, que adotou a culpabilidade como fundamento da pena, e a
medida de segurança foi associada à inimputabilidade. GRECO (2009).

Art. 26 do ECA. É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 27 do ECA. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente


inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação
especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por
ele cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a
possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A
imputabilidade é a regra; a inimputabilidade, a exceção (GRECO, 2008, p.
396).

Os agressores menores de idade são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos em


caso de crime ou contravenção penal, às medidas sócio disciplinares estabelecidas
no ECA, conforme previsão dos art. 104 do ECA, Art. 27 do Código Penal e Art. 228
da Constituição Federal de 1998 e arts. 103, 106 e 112 do mencionado Estatuto com
o rol das medidas sócio educativas aplicadas ao adolescente infrator, podendo ser
cumuladas com algumas das medidas protetivas previstas nos arts. 98, 99,101, I a
VI, do ECA.
Art. 228 da CFB/1988: São penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.

Art. 103 do ECA. Considera-se ato infracional a conduta descrita


como crime ou contravenção penal.

Art. 104 do ECA. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito


anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade
do adolescente à data do fato.

Quando o ato infracional for praticado por criança (até os 12 anos incompletos) a
esta será aplicada medida de proteção a luz do art. 101, I a VIII do ECA. Conforme
previsão do art. 99 do mencionado Estatuto, tais medidas poderão ser aplicadas
isoladas ou cumulativamente.

Art. 98 do ECA. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são


aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados
ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;


II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
Art. 99 do ECA. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas
isoladas ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.

Art. 101 do ECA. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à
criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

Segundo art. 105 do ECA, atos infracionais cometidos por criança (até os doze anos
de idade incompletos) serão aplicadas a estas apenas as medidas elencadas no art.
101 do mencionado Estatuto.

Art. 112 do ECA. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade


competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade


de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação
de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas
condições.

Quando o adolescente for apreendido em flagrante por cometer ato infracional, será
conduzido a autoridade policial, para que seja tomada as medidas cabíveis,
conforme arts. 172 e 173 do ECA, quando a prisão em flagrante for decorrente de
ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça contra a pessoa.
Importante frisar que, ao adolescente infrator os mesmos direitos garantidos ao
maior imputável, conforme se verifica no art. 106 do ECA. DEL – CAMPO (2005, p.
219).
Art. 172 do ECA. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional
será, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente.

Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para


atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional praticado
em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição
especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso,
encaminhará o adulto à repartição policial própria.

Ainda segundo Del – Campo (2005, p. 218), quando for apreendida uma criança em
flagrante, estas devem ser conduzidas ao Conselho tutelar, conforme art. 136, I, do
ECA, quando não houver o referido órgão, a criança será encaminhada à autoridade
judiciária segundo previsão do art. 262, do ECA.

Art. 173 do ECA. Em caso de flagrante de ato infracional cometido


mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem
prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, deverão:

I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;


II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da
materialidade e autoria da infração.

Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto


poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.

Quando a apreensão em flagrante resultar de um ato infracional que não envolva


violência ou grave ameaça contra a pessoa, os pais ou responsáveis por este
infrator deverão ser localizados, obedecendo à previsão do artigo 174 do ECA. Del –
Campo (2005, p. 219).

No entanto, ainda segundo Del – Campo (2005, p. 219), se o ato cometido pelo
infrator tiver gravidade, de acordo com o art. 173, o adolescente poderá ser
apreendido, onde se promoverá a oitiva do condutor, as testemunhas, a vítima e o
adolescente.
Art. 174 do ECA. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o
adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo
de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante
do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia
útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

Os artigos que se seguem prevêem acerca do termo de compromisso de


apresentação ao Ministério Público (MP), do encaminhamento do adolescente ao
MP quando não houver liberação do mesmo, do encaminhamento de peça quando o
adolescente for liberado, da peça de informação acerca de investigação quando não
houver hipótese de flagrante, garantias oferecidas ao infrator quanto ao transporte,
resguardados os direitos a integridade física e psicológica do adolescente, e ainda, a
oitiva informal. DEL – CAMPO (2005, p. 221 a 225).

Art. 175 do ECA. Em caso de não liberação, a autoridade policial


encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério
Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência.

§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial


encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, que fará a
apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e
quatro horas.

§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a


apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial
especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência
separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
exceder o prazo referido no parágrafo anterior.

Art. 176 do ECA. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial


encaminhará imediatamente ao representante do Ministério Público cópia
do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

Art. 177 do ECA. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de


participação de adolescente na prática de ato infracional, a autoridade
policial encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das
investigações e demais documentos.
Art. 178 do ECA. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento
fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou
que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de
responsabilidade.

Art. 179 do ECA. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério


Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de
ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e
com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata
e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou
responsável, vítima e testemunhas.

Assim sendo, diante da analise dos artigos supramencionados, todo ato ilícito
cometido pelo menor de 18 anos será ato infracional e não crime. Sendo a ele
aplicada as medidas sócio-educativas previstas no art. 112 do ECA. O adolescente
infrator poderá ter sua liberdade cessada ou não por meio da medida de internação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu a partir do referencial teórico, analisar o comportamento


agressivo entre estudantes configurado como bullying, buscando compreender as
características e as consequências do fenômeno na vida dos envolvidos, bem como,
a competência e responsabilidade da família, da instituição de ensino e do próprio
agente praticante do ato ilícito.

No Brasil, os estudos acerca do bullying ainda são bastante recentes, apesar do


fenômeno ser bastante antigo no âmbito escolar, daí a necessidade de programas
de prevenção e esclarecimento sobre o tema, pois, muitas vezes pela falta de
conhecimento do tema, impossibilita a intervenção cabível aos casos.
É de suma importância conscientizar a todos que o bullying não é brincadeira própria
da idade, que o fenômeno possui características próprias que não se deixa confundir
com qualquer outro tipo de brigas pontuais, como foi discorrido ao longo do trabalho.

Contudo, para se prevenir e enfrentar a ocorrência de bullying nas escolas é


necessária a parceria da família, escola, sociedade e Poder Público respeitando a
competência e responsabilidade de cada um, para que se possa, de forma eficaz,
enfrentar esse fenômeno que se encontra presente nas escolas de todo o mundo.

Os arts. 227, 228 e 229 da Constituição Federal preveem os direitos específicos da


criança e do adolescente sendo dever de todos assegurar aos mesmos com
absoluta prioridade a proteção integral, garantindo os direitos previstos no
mencionado artigo, sendo essa garantia dever da família, da sociedade e do Estado.
A prioridade absoluta estabelece preferência à criança e ao adolescentes em todas
as áreas de interesses, onde os mesmos terão suas garantias devidamente
protegidas.

Logo é essencial à parceria entre família e escola no processo de formação moral


dos educandos, buscando o objetivo de resgatar os valores necessários para uma
convivência harmônica, de bem estar e que favorecerá ao processo de
aprendizagem dos alunos, buscando estabelecer limites e responsabilidades. Fingir
que o bullying não existe ou não dá ao assunto a atenção que ele merece é sem
dúvida ser conivente com as práticas de violência.

Nesta compreensão é que a educação fundada em valores possui sua relevância,


surgindo da necessidade de oferecer novas propostas pedagógicas, pautada em
princípios necessários para a educação moral dos discentes, ressaltando a
importância em observar as características sociais, bem como as experiências
vivenciadas por cada indivíduo envolvido nesse processo de aprendizagem em
conflito com a ausência de valores.

A formação de valores no desenvolvimento de cada indivíduo deve ser trabalhada


por toda fase da sua vida, mas, é na fase da infância que são formadas as bases
morais norteadoras que a mesma carregará por toda sua vida.
O objetivo de incentivar a tolerância, a cooperação, o respeito às diferenças, a
afetividade, o diálogo, tomar atitudes preventivas contra a violência, tornará o
ambiente e convívio harmônico entre as relações humanas, transmitindo confiança
aos envolvidos no processo educativo. Logo, facilitará a intervenção quando casos
de bullying forem identificados, que deverão ser levados a conhecimento das
autoridades competentes, para que se possa coibir e aplicar as medidas cabíveis às
práticas desse fenômeno no ambiente escolar.

Assim sendo, num primeiro momento, o tema deve ser amplamente divulgado para
melhor compreensão de todas as pessoas, no sentido extinguir a banalização do
fenômeno num compreensão equivocada das suas características, consequências
muitas vezes irreversíveis e qual postura agir diante dos casos.

As campanhas de prevenção são determinantes para enfrentamento do fenômeno,


quando casos de bullying forem identificados na escola, todas as medidas cabíveis
devem ser tomadas, objetivando a garantia de ambiente seguro e sadio ao
desenvolvimento da criança e do adolescente. Quando todas as possibilidades de
resolução do problema forem esgotadas e restarem inexitosas, as autoridades
competentes devem ser acionadas como Conselho Tutelar, Ministério Público e o
Poder Judiciário.
Ao Estado cabe a implantação de políticas públicas para prevenir e coibir a
ocorrência do bullying na sociedade, objetivando a proteção dos direitos
constitucionalmente garantidos, como a dignidade da pessoa humana, do vitimado
pelo fenômeno.

Devido à ausência de legislação especifica aos casos de bullying, serão aplicados o


Código Civil, o Código Penal e o Código de Defesa do Consumidor, amparo legal
que responsabilizará o praticante de bullying nas esferas civil e criminal.

Quem pratica bullying comete ato ilícito e viola os direitos da personalidade das
vítimas como a intimidade e a honra. Logo, a vítima de bullying pode exigir a
reparação dos danos sofridos, seja material ou moral.
Percebe-se que o entendimento da jurisprudência tem sido unânime no sentido de
responsabilizar os pais de forma solidária e objetiva em relação aos atos praticados
pelos filhos menores de idade quando eles estiverem sob sua guarda e vigilância,
quanto à responsabilidade das escolas, quando for pública, responderá
objetivamente levando em consideração a teoria do risco administrativo, tendo a
administração o direito de regresso em face daquele que cometeu o ato ilícito,
quando a instituição for privada, essa responderá pela falha na prestação do serviço
conforme previsão do Código de Defesa do Consumidor.

A partir da análise da legislação brasileira, resta provado que aquele que pratica
bullying comete ato ilícito, causando lesão à dignidade da pessoa humana, passível
de reparação nas esferas cível e criminal, consequentemente esses agressores
devem ser punidos pelos seus atos, da mesma forma que os demais sujeitos a eles
responsáveis por sua direção, vigilância, guarda ou cuidados.

Na seara penal, esperam que o fenômeno venha a ser tipificado como crime
merecendo inclusão imediata no Código Penal, devido à gravidade do fenômeno na
vida dos envolvidos. É necessária a criminalização do bullying para dar ao problema
a importância que ele merece, tendo em vista que o fenômeno causa sérios danos e
consequências como, homicídio, furto, violência física grave, entre outros. O Estado
não pode se eximir de legislar sobre esse fenômeno tão complexo que gera sérios
problemas sociais.

No entanto, para que se possa atingir esse objetivo, é importante caracterizar o


fenômeno sem qualquer tipo de banalização, para que se evite que todo ato seja
considerado como bullying, além de ser uma forma de coerção é também uma forma
de conscientização a todos, pois é notório na maioria das vezes a ausência dos pais
na educação dos filhos, a partir do momento em que o bullying passar a ser
considerado crime, muitos de forma cautelosa pensarão antes de negligenciar sua
posição frente ao dever de prestar a educação aos filhos, bem como, as escolas na
omissão adotada em muitos casos, quando deveriam prestar a vigilância e guarda
da criança e do adolescente dentro da escola.
Daí a importância do direito para regular a atuação nociva à sociedade, pois, por
meio das normas jurídicas serão aplicadas as punições necessárias ao agente
praticante de bullying, reduzindo a insegurança jurídica. As vítimas não podem ficar
reféns desses atos cruéis sem que os agressores sofram as medidas cabíveis.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não pode ser entendido como superprotetor


desses sujeitos em desenvolvimento da personalidade, pois o Estatuto prevê direitos
e deveres como as medidas sócio-educativas, que vão desde advertência até
internação que devem ser aplicadas e respeitadas. Para crianças (até 12 anos de
idade incompletos), a lei não estabelece nenhuma responsabilização, cabendo
apenas às medidas protetivas. No entanto, os pais ou o responsável legal
responderá por atos praticados pelo filho menor de idade.

É de suma importância ressaltar as limitações enfrentadas durante a realização


deste trabalho, visto que, a literatura majoritária acerca do tema é estrangeira, na
área jurídica a literatura ainda é escassa, frente à falta de tipificação para o
fenômeno. Contundo, não se pretende esgotar o assunto, devido a sua
complexidade e por ser um fenômeno mutável, devido à ausência de Legislação
Federal e por ser um fenômeno que encontra-se em fase embrionária no campo das
pesquisas brasileiras.

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ANEXOS
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