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PAULO AFONSO – BA
2012
GILSELÂNDIA BRITO DE GOÍS
PAULO AFONSO – BA
2012
Dedico este trabalho a Deus, razão da minha existência, que me iluminou
durante essa jornada me dando força e sabedoria para concluí este
trabalho, a minha mãe Rosilândia Brito de Góis, ao meu pai Gilberto
Bezerra de Góis, ao meu irmão Bruno Brito de Góis, sem dúvidas é neles
que me espelho todos os dias, sendo responsáveis por tudo que sou e que
ainda serei.
Dedico também ao meu namorado Ygor Alysson Leite Miranda, pelo apoio
e compreensão em todos os momentos, sempre me incentivando, jamais
permitiu que eu desistisse.
À minha grande amiga e irmã Tharcila Ferraz, você sabe que mora em meu
coração.
Aos professores convidados para compor a banca Amin Seba e Risete Reis,
sempre com muita dedicação e comprometimento pelo curso.
A todos vocês o meu muito obrigada, por tudo de bom que me ensinaram, e
por cada expressão de apoio.
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e
ainda quando for velho não se desviará dele.
(Provérbios, 22,6)
RESUMO
GOIS, Gilselândia Brito. The bullying phenomenon and its legal aspects: civil
liability, the duty to indemnify and criminal liability. 2012. 120 pages. Completion
of course work for Bachelor of Law - School of Seven in September - FASETE, Paulo
Afonso / Bahia, 2012.
This paper aims at analyzing the legal aspects of the bullying phenomenon, liability
and duty to indemnify and criminal responsibility, and yet, as has positioned itself
against the judiciary in cases of this phenomenon. School violence has been
increasing in scale. Bullying is a set of physical aggression and / or psychological
committed by an aggressor, intentionally and repeatedly, without apparent
motivation, against one or more helpless victims. In this context, the study shows the
role of family and school to prevent and cope with the occurrence of bullying in
schools, and also the liability of parents, school, and the agent itself practitioner of
bullying, as well as the responsibility criminal cases against the bullying
phenomenon. The methodological procedures used for this study were: literature,
science, qualitative and exploratory. Considering the results of the research, it is
necessary to face the absence of specific legislation addressing the Constitution,
Civil Code, Criminal Code, the Child and Adolescent Code and Consumer Protection.
Realize yourself by researching the legal aspects of bullying, and responsibility in
civil and criminal spheres, as well as the positioning of the Judiciary.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................108
REFERÊNCIAS........................................................................................................112
ANEXOS......................................................
INTRODUÇÃO
O que difere entre o tipos de violência são as formas de abordagem das práticas, o
que torna necessário identificá-las para que se faça a intervenção de forma efetiva
logrando êxito.
Para SILVA (2010), o fenômeno bullying não é algo novo. Esse fenômeno sempre
existiu na sociedade e também no ambiente escolar, mas atualmente tem ganhando
maior destaque devido o aumento dessas ocorrências nas escolas. No entanto, as
pesquisas cientificas sobre o tema iniciaram nos anos 70, pelo pioneiro e
pesquisador da Universidade de Berger, na Noruega o professor Dan Olweus. De
acordo com Silva (2010, p. 14), “não tenho dúvidas de que o bullying não pode mais
ser tratado como um fenômeno exclusivo da área educacional. Atualmente ele já é
definido como um problema de saúde pública [...]”.
Segundo Silva (2010, p. 21) de origem inglesa, sem tradução na língua portuguesa,
o termo bullying significa um conjunto de atos agressivos físicos, e/ou psicológicos
praticados bully (agressor) valentão, tirano, brigão em face de uma ou mais vítimas
indefesas. Esse comportamento agressivo ocorre de forma intencional, repetitiva e
sem motivação aparente. Como verbo significa ameaçar, amedrontar, tiranizar,
oprimir, intimidar, maltratar. Sendo utilizado para caracterizar atos de agressividade
entre estudantes no ambiente escolar, causando dor, sofrimento e angústia a suas
vítimas.
O bullying não pode ser encarado como simples brincadeiras próprias da idade, nem
tampouco banalizá-las devido à falta de conhecimento para que se tome as medidas
necessárias para enfrentamento da violência nas escolas, daí a importância de
divulgação e campanhas de esclarecimento sobre o tema. O fenômeno precisa ser
estudado evitando qualquer forma banalizada de entendimento ao seu respeito.
Reza os artigos 206, e 227 da Carta Magna que é dever da família, da sociedade e
do Estado assegurar à criança, e ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à educação, indo a Constituição em seu texto muito mais além,
quando menciona que a criança e o adolescente devem ser colocados a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Nesse sentido está pautado o artigo 53 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que assegura o direito à educação à criança e o adolescente,
visando à formação cidadã e a profissionalização.
Diante deste contexto, configura-se como problemas de pesquisa neste estudo: Qual
a responsabilidade jurídica dos pais, das instituições de ensino e do próprio agente
causador das práticas do bullying? E ainda, como tem sido o posicionamento do
Poder Judiciário em decisões que envolvem o fenômeno bullying frente à ausência
de legislação específica aos casos desse tipo de violência?
A escola era depois do próprio lar, o ambiente mais acolhedor e seguro, fatores
essências ao desenvolvimento do individuo e ao bom desempenho do aprendizado
escolar. Ambiente esse destinado ao primeiro contato da criança com o âmbito
público, sendo um espaço de consolidação das interações sociais entre crianças e
adolescentes, que de forma significativa, influencia no desenvolvimento e
comportamento dos mesmos, capaz tanto de potencializar riscos quanto de
resguardar seus alunos.
O triste cenário ao longo dos anos tem nos mostrado que esse ambiente vem sendo
palco de situações de conflito, de comportamentos agressivos e violentos entre
estudantes.
De forma significativa, tem-se tratado sobre o seus aspectos e suas consequências acerca
da violência, principalmente quando essas práticas ocorrem no âmbito escolar, levando em
consideração que esse fenômeno assola todos os segmentos da sociedade, não estando
presente de forma isolada.
Apesar do bullying ainda ser pouco estudado no Brasil, o fenômeno já existe a muito
tempo nas escolas. De acordo com Silva (2010), esse fenômeno vem se tornando
um problema de saúde pública com graves consequências a todos os envolvidos. O
bullying se estende de forma sutil entre os estudantes e vai crescendo e tomando
proporções alarmantes, envolvendo cada vez mais crianças e adolescentes.
Para Almeida, Silva e Campos (2008): “Algumas dificuldades vividas pelas crianças
e adolescentes se desenvolvem na primeira infância ou são características próprias,
tendo ainda o reforço das circunstancias ambientais intrafamiliar, extrafamiliar e
intraescolar.” Essa influência do ambiente são aspectos que devem ser levados em
consideração, podendo conduzir a qualquer tipo de comportamento agressivo.
O bullying é um problema de ordem moral, já que suas ações partem das relações
interpessoais entre pessoas, e suas consequências atingem a dignidade humana. O
caminho para combater a violência nas escolas é sem dúvidas a formação ética
principalmente no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente. Essa
formação deve estar presente nas escolas e no seio familiar desses indivíduos ainda
durante a formação da personalidade.
[...] a problemática da violência só pode ser compreendida partindo-se de
uma complexidade e multicausalidade, não podendo ser reduzida às
questões relativas à desigualdade social e exclusão social, criminalidade,
crise do Estado e das políticas públicas, especialmente na área social, falta
ética, etc; o fenômeno da violência apresenta uma dimensão estrutural e
cultural, ambas intimamente articuladas, exigindo-se mutuamente [...]
(CANDAU, 2000, p.13).
Nesse sentido Vigostsky apud Smolka, 1995 afirma que, “por trás da palavra
violência, os indivíduos apresentam uma série de experiências, que estão vinculadas
com o meio em que vivem e com suas formas de interação que exercem com o
ambiente social”.
Portanto, existem vários fatores que estão associados com o intuito de manifestação
da violência no âmbito escolar, envolvendo tanto atributos individuais, relacionados à
personalidade do indivíduo, quanto institucionais, estrutura familiar e aspectos
sociais. Esses aspectos fazem parte do meio social da criança ou do adolescente,
influenciando-o no seu desenvolvimento e em seu comportamento social.
A violência não nasce com o indivíduo, ela é fruto das interações entre o homem e o
meio no qual o mesmo encontra-se inserido, e das suas experiências no meio social.
A violência e a agressividade estão presentes na escola muitas vezes de maneira
mascarada ou até mesmo tolerada, dificultando sua identificação e
consequentemente a atuação necessária contra esses desvios sociais.
A violência escolar é um fenômeno social grave e de alta complexidade, por isso que
sua definição não é algo simples, necessitando para tanto, um estudo que está a
cada dia em constante construção.
No contexto brasileiro, as situações de conflito no âmbito escolar se tornam cada
vez mais frequentes no ambiente escolar.
Do ponto de vista histórico, o problema da violência escolar não é recente,
mas o que pode ser considerado novo são as formas pelas quais essa
violência se manifesta, divididas pelo autor em quatro aspectos: o
surgimento de formas de violência mais graves, apesar de bastante raras; a
idade cada vez menor dos alunos envolvidos nos casos de violência que,
nesse caso, entra em conflito com o ideal de infância como o período de
inocência; a ação de agentes externos que ocupam o espaço da escola com
agressões geradas fora dela; a repetição e o acúmulo de pequenos casos
que não são necessariamente violentos mas que criam a sensação de
ameaça permanente. Vários autores enfatizam esse último aspecto como
aquele que mais tem despertado preocupação na atualidade, pois tais
situações colaboram para o sentimento de angústia que atinge boa parte da
comunidade escolar, que passa a ficar em constante estado de alerta à
menor presença de sinais que representem perigo físico ou ameaça
psíquica. (CHARLOT, 2002 apud RUOTTI, 2006, p. 25).
De acordo com (Charlot, 2002 apud Ruotti, 2006, p.27) existe três tipo distintos de
violência que estão presentes nas escolas:
[...] a violência na escola, quando ela é o local de violências que têm origem
externa a ela. Por exemplo, quando um grupo invade a escola para brigar
com alguém que está nas dependências da escola, nesse caso, a escola é
invadida por uma violência que anteriormente acontecia apenas fora de
seus portões, ou na rua. Outro tipo é a violência à escola, relacionada às
atividades institucionais e que diz respeito a casos de violência direta contra
a instituição, como a depredação do patrimônio, por exemplo, ou da
violência contra aqueles que representam a instituição, como professores. O
terceiro tipo é a violência da escola, entendida como a violência onde as
vítimas são os próprios alunos, exemplificada no tipo de relacionamento
estabelecido entre professores e alunos ou nos métodos de avaliação e de
atribuição de notas que refletem preconceitos e estigmas, ou seja, outros
critérios que não os objetivos de desempenho [...]
É fundamental tecer comentários acerca das diversas formas de violência, tanto a
que vem de fora para adentrar a escola, chamada de violência na escola, e a
violência que ocorre dentro da escola, chamada de violência da escola. Através
dessa distinção e do conhecimento adquirido, que se pode de forma efetiva intervir
com o objetivo de mudar essa realidade que está presente fora e dentro da escola.
A violência que vem de fora para dentro da escola é a mais óbvia, a que
mais aparece – podemos chamá-la então de violência na escola. A entrada
de armas, presença de gangues, o tráfico de drogas nos arredores etc. A
violência das escolas, são aquelas que se encontram intimamente
articuladas com uma determinada ordem escolar, com as questões e
problemas que ela mesma tece. As relações sociais entre os diversos
atores presentes no ambiente escolar são produtoras de violências de
variadas espécies, como agressões físicas, agressões verbais, ameaças,
furtos, discriminações racistas e sexistas, e violência sexual. Em outras
palavras, a escola é um território de produção de violências das mais
diversas ordens, tipos e escalas. (Revista Jurídica Consulex, Ano XIV, nº.
325, 1º de Agosto/2010)
Ainda nessa ideia pondera Charlot (2002) apud Ruotti, (2006, p. 28) afirmam que a
distinção quanto à origem da violência de extrema importância:
As mais variadas formas de violência podem ocorrem no âmbito escolar, isso porque
a mesma não possui significado único, variando de acordo com os personagens
envolvidos e o contexto no qual ela se insere.
Entre as diversas formas de manifestações de violência no âmbito escolar, encontra-se o bullying que
vem se destacando, e se configura como uma relação desigual de poder entre estudantes.
Especialistas afirmam que o bullying é a forma de violência mais gravosa e cruel, pois as atitudes dos
agressores às vitimas podem trazer consequências irreversíveis e imensuráveis, além de prejudicar o
processo de aprendizagem e de interação social, refletindo negativamente no âmbito escolar,
tornando-se decisivo para evasão, baixo rendimento escolar, entre outras.
Para Routti (2006, p.175), “Trata-se de um fenômeno antigo ao qual, apenas recentemente, tem sido
dada atenção às suas causas e consequências”.
A partir das pesquisas feitas e dos dados obtidos, aquilo que se costuma
classificar como “brincadeira de criança” passa a ser visto como uma forma
de violência que pode implicar em sequelas, tanto às vítimas quanto aos
agressores. Dessa forma, no contexto escolar, bullying compreende uma
série de agressões como xingamentos, apelidos, fofocas, empurrões e
chutes que ocorrem com frequência contra outra pessoa. (ROUTTI, 2006,
p.176)
Mesmo diante dos acontecimentos ocorridos na Noruega, não havia interesse das
instituições sobre o assunto, consequentemente as autoridades do âmbito
educacional não se posicionavam oficialmente diante dos fatos ocorridos no âmbito
escolar. Ainda de acordo com Silva (2010, p.111), acerca dos trabalhos realizados
pelo pioneiro e pesquisador da Universidade de Berger, na Noruega Dan Olweus, no
estudo sistematizado do bullying:
Seguindo a mesma linha trazida por Silva (2010) a ABRAPIA (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), acrescenta que:
[...] Como os estudos de observação direta ou indireta são demorados, o
procedimento adotado foi o uso de questionários, o que serviu para fazer a
verificação das características e extensão do bullying, bem como avaliar o
impacto das intervenções que já vinham sendo adotadas.
Em 1989, Dan Olweus publicou o livro “Bullying at School”: what we know and what
we can, apresentando e discutindo o problema, o resultado do livro foi um sucesso,
ajudando a identificar o bullying e seus possíveis agressores e vítimas, e ainda,
indicando estratégias de como intervir. Contundo, conseguiu mobilizar as escolas da
Noruega e toda sociedade civil, numa campanha contra o bullying nas escolas.
Ainda tomando como base Silva (2010, p. 112), o projeto antibullying proposto por
Dan Olweus tinha os objetivos de aumentar a conscientização sobre o problema
para desfazer mitos e ideias erradas sobre o bullying e promover apoio e proteção
às vítimas contra esse tipo de violência escolar.
De acordo com Dan Olweus apud (2005, p. 46): “os dados de outros países indicam
que as condutas bullying existem com relevância similar ou superior as da Noruega,
como é o caso da Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Países
Baixos, Japão, Irlanda, Espanha e Austrália”.
Nos Estados Unidos, é cada vez maior a preocupação no que se refere à violência,
devido o seu grande aumento, e em especial, as ocorridas no âmbito escolar. O
fenômeno bullying segundo Fante (2005, p. 46): “cresceu muito entre os alunos das
escolas americanas. Os pesquisadores já estão classificando o bullying como “um
conflito global”, e destacam que se essa tendência permanecer, haverá muitos
jovens que se tornarão adultos abusadores e delinquentes”.
O bullying vem merecendo especial atenção, devido ao grande aumento desse tipo
de violência no ambiente escolar, passando a ganhar destaque em meados da
década de 90 a partir dos estudos realizados por pedagogos e psicólogos.
Dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2.217) admitiram ter tido algum tipo
de envolvimento direto na prática do bullying, seja como alvo (vitima) seja
como autor (agressor); houve um pequeno predomínio de sexo masculino
(50,5%) sobre o sexo feminino (49,5%) na participação ativa das condutas
de bullying; as agressões ocorrem principalmente na própria sala de aula
(60,2%), durante o recreio (16,1%) e no portão das escolas (15,9%); em
torno de 50% dos alvos (vítimas) admitem que não relataram o fato aos
professores, tampouco aos pais. (SILVA, 2010, p.113)
[...] O bullying não pode ser mais tratado como um fenômeno exclusivo da
área educacional. Atualmente ele já é definido como um problema de saúde
pública e, por isso mesmo, deve entrar na pauta de todos os profissionais
que atuam na área médica, psicológica e assistencial de forma mais
abrangente. A falta de conhecimento sobre a existência, o funcionamento e
as consequências do bullying propicia o aumento desordenado no número e
na gravidade de novos casos, e nos expõe a situações trágicas isoladas ou
coletivas que poderiam ser evitadas [...] (SILVA, 2010, p.14)
Essa prática não se restringe apenas a escola, ela está presente no nosso dia a dia
há muito tempo, apesar de não ser percebido e de não ser dado a esse problema a
atenção que deveria, até mesmo por falta de informação e por encarar essas
atitudes como uma simples brincadeira, onde na verdade são falsas brincadeiras,
que camuflavam sentimentos pouco nobres, de preconceito, intolerância e de
maldade consciente.
Para Silva (2010, p.146): “Este termo se originou da palavra mob, que há anos é
empregada para designar a máfia. Dessa forma a palavra mobbing encerra, em si, a
idéia de grupos de caráter “mafioso”, que exercem pressões ou ameaças sobre os
outros trabalhadores em ambientes profissionais”.
Todos nós já fomos ou ainda seremos vítimas de alguma prática de bullying, esse
fenômeno pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações
interpessoais e não só na escola, podendo ser identificado no ambiente familiar, no
trabalho ou no âmbito escolar, sendo que sua incidência maior ocorre no espaço
escolar entre estudantes.
Além das formas supracitadas de bullying, existe também uma nova modalidade
desse fenômeno muito presente e violenta, que se dá através dos meios de
comunicação, em especial a Internet e os aparelhos celulares. Essa prática é
conhecida como cyberbullying.
O fenômeno bullying através do espaço virtual torna se ainda mais perverso do que
o bullying tradicional, pois ultrapassa o âmbito escolar. Chega a perseguir suas
vítimas onde quer que elas estejam, aliado a tecnologia, o ciberbullying, utiliza-se de
e-mails, MSN, blogs, Orkut, twitter, face book, torpedos, entre outros utilizados pelos
agressores, deixando a agressão de ter caráter restrito apenas as escolas. A vítima
agora não tem mais segurança em lugar nenhum.
Segundo Beatriz Santomauro, Revista Nova Escola Ano XXV, nº. 233, junho/julho de
2010, p.67/71: “Na comparação com o bullying tradicional, basta sair da escola e
estar com os amigos de verdade para se sentir seguro. Agora com sua intimidade
invadida, todos podem ver os xingamentos e não existe fim de semana ou férias”.
Hoje esse fenômeno traz maior intensidade. A maior dificuldade é quando não se
admite a ocorrência do bullying, quando não se tem conhecimento do problema, ou
quando se nega a enfrentá-lo. As atitudes e comportamentos violentos que configuram o
bullying podem ser classificados como diretos ou indiretos.
[...] existem dois tipos de bullying direto e indireto. O primeiro é mais fácil de
ser percebido, pois são ataques abertos à vítima. Podem ser ataques físicos
– socos, empurrões, chutes, etc. ou verbais – colocar apelidos, ameaças,
insultos, espalhar boatos e fofocas. O segundo é um tipo de agressão mais
sutil e, por isso, mais difícil de ser percebido. São casos de alunos que
fazem caretas ou gestos obscenos para as suas vítimas, que manipulam
relacionamentos, isolam e excluem colegas das atividades em grupo [...]
(RUOTTI, 2006, p. 178)
[...] O bullying escolar não privilegia o gênero. Atua nos dois com a mesma
desenvoltura, respeitando a especificidade de cada um. O masculino
prioriza o uso da força, da supremacia física e da intimidação. O feminino
utiliza-se da agressão psicológica através da humilhação e exclusão,
podendo ser tão ou mais cruel e perverso [...] (MELO, 2010, p.31)
É mais comum e existe um predomínio maior dos meninos serem autores desse
fenômeno, com características próprias. No que se refere às vítimas, não existe
diferença, ou seja, não há preferência de gêneros, tanto os meninos quanto as
meninas servem de alvo para os protagonistas do terror.
Essas brincadeiras de mau gosto, como colocar apelidos pejorativos nos seus pares,
zoar, xingar, bater, discriminar, chutar, tiranizar, dominar, isolar entre outras, de
alguma forma tendem a ofender e trazer graves consequências aos envolvidos,
estando presentes no âmbito escolar e em seu cotidiano e a partir do momento em
que essas vítimas passam a sofrer as consequências advindas dessas brincadeiras,
estas vitimas se tornam reféns do fenômeno bullying.
Observa-se que a vítima do bullying pode reagir de diferentes maneiras, elas podem
ser apenas agredidas sem reagir contra seus agressores, podem ficar sofrendo sem
qualquer reação ou ainda podem revidar as agressões sofridas. No entanto,
independentemente das reações, as vítimas apresentam medo, insegurança,
reações físicas, ainda aliadas ao temor constante em ir à escola.
1.2.2 Os bullies/agressores
São agressores aqueles que vitimizam os mais frágeis, podendo ser de ambos os
sexos. Os bullies ou agressores, são populares, possuem condutas de desrespeito e
agressividade; tende a envolver-se em vários comportamentos antissociais.
Sem dúvida, o ambiente familiar o qual esse individual está inserido pode influenciar
de forma negativa e/ou positiva, bem como os comportamentos desenvolvidos nesse
ambiente, se o agressor viver cercado de violência doméstica refletira nas atitudes
da criança ou adolescente, com maiores chances de se tornarem mais agressivos
devido à ausência de afetividade e dialogo entre os que compõem o seio familiar.
Vários fatores contribuem para que esse comportamento agressivo ocorra, portanto,
não basta apenas tomar atitudes de punição aos autores do bullying sem que haja
intervenção e investigação do ambiente ao qual esse agressor encontra-se inserido.
Para Silva (2010, p.45 e 46) os espectadores se dividem em três grupos distintos:
É de suma importância que esse desvio social seja identificado, bem como, o papel
que cada personagem desempenha. Só diante dessa postura de alerta é que a
família e a escola poderão intervir efetivamente combatendo esse mal que assola a
sociedade.
De acordo com o pesquisador Dan Olweus, citado por Cleo Fante (2005), apud Melo
(2010, p.37 e 38), para que um aluno possa ser identificado como vítima, os
professores devem observar se ele apresenta alguns destes comportamentos:
A vítima prefere calar - se diante das agressões físicas ou verbais, numa tentativa de
diminuir a dor e o sofrimento, mesmo estando distante da escola, as vítimas
continuam a lembrar das agressões as quais são refém.
Ainda segundo as lições de Dan Olweus, citado por Cleo Fante (2005), apud Melo
(2010, p.38) no que tange a identificação do agressor os procedimentos adotados
devem ser os mesmos da identificação das vítimas do fenômeno bullying.
O bullying é uma das faces da violência nas escolas que deve ser
trabalhada no cotidiano, sem, no entanto, negarmos ou inviabilizarmos os
vários outros tipos de violência que ocorrem no ambiente escolar, levando
em consideração todos os atores neles envolvidos. (Revista Consulex, Ano
XIV – N. 325, 1 de agosto de 2010, p. 35)
É oportuno frisar que as práticas de bullying são atitudes sem motivação aparente,
constantes e intimidadoras, não podendo a esse fenômeno ser atribuído a qualquer
ato, como por exemplo, receber apenas um soco ou um empurrão, ouvir expressões
inconvenientes e desagradáveis por uma única vez não irá configurar o bullying,
necessitando que esses atos de violência ocorram de forma continuada, ainda que
exista intervalo de tempo de um ato a outro.
Para o Promotor de Justiça Lélio Braga Calhau em seu artigo na Revista Consulex
(2008, p. 47): o fenômeno bullying produz efeitos que vão muito além de
provocações e ofensas as vitimas com graves consequências aos vitimados, aos
próprios agressores e a sociedade em sua totalidade.
Essas práticas de bullying nas escolas é bem maior do que as estatísticas mostram,
na maioria das vezes ocorrendo de forma velada e omitidas por quem sofre ou por
quem presencia esses comportamentos agressivos. Os professores que as vezes
sofrem violência nas escolas, sejam físicas ou verbais dos alunos, não são
encorajados a denunciar ou registrar ocorrência de casos de violência, ou que já
tenham sido vitimas do bullying ou que já tenham identificado casos que envolva
esse tipo de violência.
Os pais e os professores ficam sem saber que atitude aderir para combater o
fenômeno bullying, isso quando os mesmos conseguem identificar o comportamento
violento de um filho ou aluno, nesse sentido preferem encarar o problema como
sendo brincadeiras naturais da idade.
Segundo Maluf apud Oliva (2009) afirma que: “Estamos em meio a um colapso de
valores, as normas estabelecidas estão sendo contestadas sem parâmetros. A
disciplina foi esquecida.”
Nesse sentido são as afirmações de Maluf apud Oliva (2009), “a falta ou inversão de
valores morais e éticos, o desprestígio da educação no grupo familiar, a carência
afetiva dos filhos desde cedo, os pais omissos, ausentes dos problemas
familiares/escolares e jogando para a escola toda responsabilidade de educá-los.
Diante dessa ausência ou inversão de valores que tem gerado cada vez mais esses
comportamentos anti sociais, um dos principais problemas enfrentado pelas escolas,
tem sido em atuar de forma eficaz na resolução dos conflitos. A criança ou o
adolescente sofre muitas vezes de forma velada, necessitando que a escola esteja
capacitada para lidar com as diversidades e desigualdades sociais.
Ainda nessa linha de raciocínio Lopes Neto relaciona os diversos fatores que
poderão influenciar para as práticas de bullying:
Esses comportamentos de agressividade podem se desenvolvidos pelas c rianças e adolescentes na infância, quando
não são características próprias, tendo como influência positiva ou negativa o meio
em que encontram- se inseridas como familiar, social ou escolar. Fatores como:
distúrbios de personalidade, dificuldade de relacionamento, influência familiar ou de
amigos; condições escolares e seus métodos pedagógicos; são predominantes para
as práticas de agressividade entre crianças e adolescentes.
A criança é influenciada pelo meio em que vive, recebe daqueles que a cerca
ensinamentos e as formas culturais. Logo, se essa criança não tiver em seu
processo de desenvolvimento construção de valores éticos e morais, dificilmente
formará um conceito de si mesma, por isso é de extrema importância a conduta da
família e da escola na abordagem desses valores no desenvolvimento da criança,
sempre observando não só as dificuldades cognitivas, mas também
comportamentais.
O agressor, muitas vezes, pratica a violência na mera ilusão de que está agindo de
maneira correta, devido à concepção de valores que o mesmo tem em sua vida,
diante das influências vivenciadas em seu dia a dia.
Para que esse tipo de conduta seja neutralizado nas escolas deve haver um
esforço de pais e orientadores, pois os danos aos alvos são muito severos.
Os pais devem avisar professores e orientadores se suspeitarem que seus
filhos sejam vítimas do bullying e não devem permitir que a questão seja
mal investigada ou subvalorizada, pois é muito difícil para as escolas
admitirem esta situação.
Os pais devem observar melhor o comportamento dos seus filhos para entender o
que se passa no seu mundo de incertezas e conflitos, nesse sentido Cury (2003, p.
43), comenta: "Há um mundo a ser descoberto dentro de cada jovem, mesmo dos
mais complicados e isolados. Muitos jovens são agressivos e rebeldes, e seus pais
não percebem que eles estão gritando através de seus conflitos."
Segundo Silva (2010, p.171): “antes de repreender os filhos, é preciso ouvi-los com
sincera disposição de ajudá-los. Para tanto, é necessário que, desde muito cedo, os
pais reforcem com palavras e atitudes os aspectos positivos e os acertos da
criança”. Ainda de acordo com as lições de Silva (2010), diante dessas atitudes dos
pais para com os filhos, com o passar do tempo, a criança ou adolescente, irá
adquirir segurança e autoconfiança.
A precária orientação dos pais ou a falta dela, muitas vezes por falta de
conhecimento do assunto, pode acarretar voluntariamente práticas de bullying e
ainda poderá contribuir ao sofrimento velado vivido pelas vítimas desse fenômeno.
Ainda de acordo com Silva (2010), alguns pais assumem uma postura contrária, não
aceitam que os filhos sejam passivos aos atos de violência, e passam a orientá-los e
encorajá-los a revidarem as agressões sofridas, numa espécie de justiça com as
próprias mãos ou até mesmo uma forma de autoafirmação equivocada.
Nessa seara, para Melo (2010, p.41): “os pais não deve, tomar nenhuma iniciativa
contra o agressor, a não ser comunicar o fato à direção da escola e exigir que
busquem informações sobre os programas que estão sendo desenvolvidos em
outras escolas e comunidades para se combater o bullying”.
É oportuno salientar que os pais devem observar o comportamento dos seus filhos,
estando atento a qualquer ato que possa caracterizar casos de bullying; no intuito de
conversar e orientar, só através dessa postura os pais passarão a confiança e o
respeito dos seus filhos.
Ainda nesse sentido segundo Fante (2005), Quando houver omissão da escola na
resolução dos conflitos entre crianças e adolescentes, deve-se buscar a ajuda do
Conselho Tutelar, que de acordo com sua competência tomará as atitudes cabíveis.
Segundo pesquisas realizadas pela ABRAPIA, os autores da prática de bullying
pertencem a famílias desestruturadas, onde o relacionamento afetivo entre os que
integram o seio familiar é precário, os pais não exercem seu papel tampouco o de
vigilância aos atos praticados por seus filhos.
Ainda segundo o citado autor, vários são os fatores que favorecem as práticas de
violência tanto fora como dentro do âmbito escolar, abarcando diversos fenômenos,
dentre eles o bullying entre crianças e adolescentes, sobre esses aspectos pontua o
autor:
[...] A formação de valores, hábitos que o indivíduo terá como base por toda
a sua vida, em conjunto com a criação familiar, é adquirida em sua maior
parte na Educação Infantil. Baseado nessa colocação surge à necessidade
de alertar os educadores da educação infantil, visto que esses são
responsáveis em grande parte pelo processo educacional de valores da
criança na fase inicial de sua vida. É de ressaltar que tal colocação em
relação à educação infantil não quer dizer que educadores voltados para as
demais fases do ensino não são responsáveis pela formação moral do
aluno. Pelo contrário, a formação de valores de indivíduo é por toda vida,
porém é na fase infantil que são formadas as bases de uma boa educação.
[...] www.educador.brasilescola.com.
A sociedade deve reconhecer o bullying e suas graves consequência, para daí então
ser tomadas as devidas e cabíveis atitudes para prevenir que esses atos de
violência venham se manifestar nas escolas.
As vítimas do Bullying, por medo, não contam aos seus professores nem aos seus
pais o que estão vivendo e porque estão sofrendo, isso acontece principalmente,
quando estas precisam ir à escola, onde na maioria das vezes acontece todo o
cenário de terror.
Aos poucos essas vítimas vão se isolando dos seus “coleguinhas”, torna se triste e
deprimida, sem perspectiva alguma de lutar em busca dos seus direitos,
apresentando insegurança, sem nenhuma interação social e em alguns casos
optando até pelo suicídio. Para Pereira (2002) “a que na maioria das vezes os
professores identificam quem são os agressores, no entanto, apresentam maior
dificuldade de apontar os alunos que estão sendo vítimas do Bullying”. Ainda nesse
sentido de acordo com Olweus, apud Fante (2005, p.49):
Segundo a Revista Claudia (2011), de acordo com uma pesquisa realizada em 2010
pela Plan Brasil, ONG direcionada para a defesa dos direitos da infância, mostra que
as escolas na sua grande maioria encontram-se sem preparação para enfrentar o
fenômeno bullying. Segundo o pediatra Lauro Monteiro, do Rio, editor do site
observatório da infância, “As instituições de ensino têm de agir antes de o bullying
acontecer”.
Ainda segundo a ONG Plan Brasil, presente em 66 países, “um de cada três
estudantes brasileiros de ensino fundamental revela ser ou ter sido alvo de “maus-
tratos” por parte de colegas dentro da escola. Pela persistência das agressões, um
de cada dez casos configuram bullying”. (Revista Veja, edição 2213, ano 44, n.16,
20 de abril de 2011).
O respeito às diferenças deve ser um ponto de partida para enfrentar o bullying nas
escolas, para a partir dessa consciência de respeito as diversas escolhas que cada
ser humano faz na vida, só então se conseguirá evitar e prevenir o bullying nas
escolas. Nessa abordagem tem se posicionado Pereira (2002, p. 11):
[...] a escola deverá ser caracterizada por uma pedagogia que demonstre
seu compromisso em levar em conta as concepções e os problemas que
afetam profundamente os estudantes em suas vidas diárias. Igualmente
importante é a necessidade de cultivar um espírito de crítica e um respeito
pela dignidade humana que sejam capazes de associar questões pessoais
e sociais em torno do projeto pedagógico de ajudar os alunos a se tornarem
cidadãos críticos e ativos [...]
A escola e a família devem estar preparadas para enfrentar esse fenômeno ainda
pouco conhecido, que muitas vezes ataca de forma velada, causando imensuráveis
consequências aos envolvidos, daí é de suma importância que a escola identifique o
bullying e de pronto faça as intervenções cabíveis, comunicando a direção sempre
que essas práticas forem identificadas; promover palestras e debates no ambiente
escolar sobre o tema; incentivar quanto ao conhecimento do bullying apresentando
aos alunos as possíveis consequências dessas práticas covardes de violência
implícita ou explicitas.
Faz menção Silva (2010, p.168 e 169), acerca do posicionamento dos professores
sobre a problemática da violência no ambiente escolar:
Os casos quando chegam ao Poder Judiciário são tratados como infrações com
previsão no Código Penal como: injúria, difamação, calúnia, ameaça, lesão corporal
e racismo, onde as pessoas vitimadas por essas práticas pleitearão pelos danos
causados, uma indenização à título de danos materiais quando afetar o patrimônio
da vítima e ainda aos danos morais e estéticos, já que o bullying é fato gerador do
dano moral, pois viola o direito da personalidade e fere frontalmente princípios
constitucionais, como o respeito à dignidade humana, um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil, com previsão no art. 1º, inciso III, do texto
constitucional (CRFB/88).
Na decisão acima, restou provado pelo autor, ora vítima, que o mesmo foi vítima de
bullying, sofrendo violência de ordem física e verbal, que sem dúvidas foram
determinantes para que o mesmo carregasse traumas irreversíveis no seu
desenvolvimento pessoal e na aprendizagem escolar. Tais agressões por si só
configuram o dano sofrido pela vítima, recaindo a responsabilidade na instituição de
ensino em virtude da responsabilidade objetiva, devendo a mesma repensar seu
papel na formação da criança e do adolescente. Indivíduos em desenvolvimento e
construção da personalidade, que levaram suas vivencias desde a fase terna a vida
adulta.
A responsabilidade jurídica será atribuída ao agressor da prática do bullying quando
este for maior e responder pelos seus atos, ao seu responsável legal quando o
agressor for incapaz ou relativamente incapaz e ao estabelecimento de ensino
(público-privada) quando for omisso diante dos casos de bullying no âmbito escolar.
Logo, percebe que o bullying não deve ser encarado como brincadeiras próprias da
idade, causando danos muitas vezes irreparáveis que serão levadas para o resto
das vítimas, pois as práticas desse fenômeno ferem a dignidade humana, princípio
fundamental para os demais direitos do homem, devendo ser combatido de forma
precoce pelas autoridades competentes. Oportuno frisar as palavras de Mário
Felizardo em seu artigo “O fenômeno bullying”:
Ainda nesse sentido, Silva (2010, p. 82) aponta acerca das conseqüências
traumáticas causadas as vítimas do bullying:
Tomando como base as ideias de Silva (2010), no Brasil, existem vários projetos de
Lei em debate nas Casas Legislativas tanto Municipais quanto Estaduais, dentre
esses projetos de Lei aguardando votação, encontra se o projeto sob o nº. 350, de
2007, do Deputado Estadual Paulo Alexandre Barbosa (PSDB/ SP), no qual autoriza
o Poder Executivo a instituir o Programa de Combate ao Bullying, com ações que
envolvem a participação da comunidade nos estabelecimentos de ensino da rede
pública ou privada do Estado de São Paulo.
Para o ato infracional praticado por adolescente será aplicado além das medidas de
proteção, em casos de situação de risco, poderão ser paliçadas as medidas sócio
educativas. Em se tratando de ato infracional praticado por criança, serão aplicadas
a estas apenas as medidas protetivas. DEL – CAMPO (2006, p. 150 e 151).
Esta doutrina é baseada nos direitos próprios e especiais das crianças dos
adolescentes, que na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento,
necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral (integral
porque determina e assegura os direitos fundamentais sem qualquer
discriminação). Podemos observar, pois, que à criança e ao adolescente o
legislador constituinte concedeu tais prerrogativas visando ao seu pleno
desenvolvimento dentro de um contexto apropriado e que, sem dúvida, os
orienta a uma vida melhor e para uma perfeita convivência social [...]
(BASTOS, p.493).
Art. 2º do ECA. Considera se criança, para efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre os doze e
dezoito anos de idade.
Para Del – Campo (2006), em regra o ECA será aplicado aos menores de dezoito
anos de idade, com amparo legal no art. 228 da CF e por exceção até os vinte e um
anos de idade.
Ainda segundo Del – Campo (2006, p. 8), “Os direitos das crianças e dos
adolescentes exatamente pela imperatividade de suas normas e interesse do Estado
em sua formação, são explicitados nos arts. 3º e 5º”.
Mais adiante o ECA em seu art. 4º, vem consolidar o texto constitucional,
ressalvando que a criança e o adolescente, devem ser amparados com prioridade
absoluta, na implementação dos direitos assegurados por Lei pela família sociedade
e pelo Estado, a lei não deixa dúvidas quanto à responsabilidade atribuída a esses
sujeitos no que tange a proteção da criança e do adolescente.
Importante destacar que, não existindo Conselho Tutelar local, as atribuições a ele
conferidas no art. 136 do ECA, consequentemente será repassadas a autoridade
judiciária da infância e da juventude local, devendo ser comunicada a este qualquer
suspeita da ocorrência de maus tratos contra a criança ou adolescente. Quando
houver ocorrência de crime, para uma possível instauração de inquérito, a polícia
pode ser acionada. DEL – CAMPO (2006, p. 14 e 365).
Art. 262 do ECA. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as
atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade judiciária.
Ter uma vida digna, com qualidade de vida, sendo respeitado independente de
qualquer opção que se faça é um direito que encontra guarida na Carta Magna, com
um dos fundamentos legais da Republica Federativa do Brasil em seu artigo 1º, à
Dignidade da Pessoa Humana, vem trazer essa garantia de vida digna a todos os
cidadãos para que possam viver em condições satisfatórias. Contudo, as práticas de
bullying ferem esse princípio, já que seus atos agridem, humilham, causa dor e
sofrimentos irreparáveis as vítimas acarretando-lhes danos físicos e/ou psíquicos.
Tratar acerca do bullying é antes de tudo fazer alusão à dignidade humana, valor
fundamental da ordem jurídica, que encontra amparo em diversas legislações.
Num paralelo entre com a Carta Magna, o ECA traz sua previsão legal acerca do
direito a dignidade humana, a liberdade e ao respeito, já que os atos de
discriminação e violência do bullying atentam contra os princípios constitucionais.
Art. 15 do ECA. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis.
Fazendo uma abordagem ao Código Civil Brasileiro, em seu art. 12, tratando dos
direitos da personalidade, é de suma relevância frisar a proteção contra o bullying no
que tange aos direitos irrenunciáveis, indisponíveis, intransmissíveis que são
características próprias do direito da personalidade.
O dano moral ocorrerá quando a vítima do bullying tiver sua integridade física ou
moral, seus direitos de personalidades e princípio constitucionais violados. O
bullying causa dor e sofrimento entre outros fatores, não se pode mensurar o dano
que esse fenômeno causará a vida dessa pessoa vitimada. De acordo com Gagliano
(2009, p. 36), “o dano poderá atingir outros bens da vítima, de cunho
personalíssimo, deslocando o seu estudo para a seara do denominado dano moral”.
Com muita propriedade, Bittar (1993, p.41) caracteriza o dano moral:
O agente que pratica bullying pode responder judicialmente na esfera cível e penal.
No mesmo sentido, é oportuno apreciar as lições de Diniz (2009, p.25) quanto a
possibilidade de responsabilidade nas duas esferas:
Certos atos ilícitos, devido a sua gravidade por infringir norma de direito
público, constituindo crime ou contravenção, e por causar danos a terceiros,
e às suas conseqüências, têm repercussão tanto na esfera cível como no
criminal, hipótese em que haverá dupla reação da ordem jurídica: a
imposição de pena ao criminoso e a reparação do dano causado à vítima.
Importante trazer a baila acerca do princípio da independência das
responsabilidades jurídicas:
Este período sucede o da composição tarifada, imposto pela Lei de das XII
Tábuas, que fixava, em casos concretos, o valor da pena a ser paga pelo
ofensor. É a reação contra a vingança privada, que é assim abolida e
substituída pela composição obrigatória. Embora subsista o sistema do
delito privado, nota-se, entretanto, a influência da inteligência social,
compreendendo-se que a regulamentação dos conflitos não é somente uma
questão entre particulares.
A lei das XII Tábuas, que determinou o quantum para a composição
obrigatória, regulava casos concretos, sem um princípio geral fixador da
responsabilidade civil. A actio de reputis sarciendi, que alguns afirmam que
consagrava um princípio de generalização da responsabilidade civil, é
considerada, hoje, como não contendo tal conceito (Lei das XII Tábuas –
Tábua VIII, Lei 5.ª).
Nesse sentido, afirma Diniz (2009, p. 130), “... a prova da culpa do agente será
necessária para que surja o dever de reparar.” Reforça o pensamento da autora que
não basta o ato ou o fato ilícito, é necessário o aspecto da culpa a estimular o
elemento subjetivo do agente. Para esta teoria sem o elemento subjetivo culpa, não
existe a possibilidade de caracterização da responsabilidade do agente.
Esta culpa, por ter natureza civil, se caracterizará quando o agente
causador do dano atuar com negligência ou imprudência, conforme cediço
doutrinariamente, através da interpretação da primeira parte do art. 159 do
Código Civil de 1916 (“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a
outrem, fica obrigado a reparar o dano”), regra geral mantida, com
aperfeiçoamentos, pelo art. 186 do Código Civil de 2002 (“Art.186. Aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito”). GAGLIANO (2009, p. 13).
Nesse momento aplica-se o previsto no art. 927 do Código Civil, quando o agente
mediante conduta culposa viola direitos de outrem, causando danos a este que
poderá pleitear reparação pelos prejuízos causados. Ainda nesse sentido, o citado
autor faz alusão ao que se refere aos direitos violados.
[...] Portanto, a partir do momento em que alguém, mediante conduta
culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato
ilícito, e deste ato deflui o inexorável dever de indenizar, consoante o art.
927 do código civil.
O novo Código Civil em seu art. 927 em seu parágrafo único estabelece que quanto
à reparação do dano independente do elemento culpa: “Haverá obrigação de reparar
o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem”.
De acordo com Gagliano (2009), contundo, poderá o agente causador do dano ser
isento de reparar o dano, se arguir como matéria de defesa, a culpa exclusiva da
vítima, uma das causas de excludentes de responsabilidade . A conduta culposa da
vítima tem força de romper o nexo causal, isentando o agente causador do dano da
responsabilidade civil.
No campo da responsabilidade objetiva do Estado fazendo alusão ao art. 37, § 6º,
da Constituição Federal, pode se aplicar a mencionada causa de excludente de
responsabilidade, qual seja, culpa exclusiva da vítima se restar provado que a
mesma tenha agido com culpa. Nesse sentido, a administração pública poderá
provar a culpa da vítima, sendo que a essa última não precisará provar a culpa do
agente causador do dano.
Discorrendo sobre o tema, Bandeira de Melo (1998, p.634) apud Gagliano (2009, p.
114) aborda um exemplo acerca da responsabilidade do Estado, aplicando a culpa
exclusiva da vítima.
É como nos ensina Diniz (2009, p. 527) “A responsabilidade direta ou por fato
próprio é a que decorre de um fato pessoal do causador do dano, ou seja, de uma
ação direta de uma pessoa ligada à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio,
por ato culposo ou doloso”. Ademais, o Código Civil, nos arts. 186 e 927 traz a
fundamentação jurídica de forma implícita acerca do fato próprio. No entanto,
havendo dano, serão indenizados todo aquele que sofrer lesão. O código civil faz
alusão ao ato ilícito no artigo 186 e 187:
Art. 186 do CCB. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187 do CCB. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Ainda sob a égide do mencionado código, o artigo 927, extrai do seu texto legal a
obrigação de reparar a parte lesada dos prejuízos causados. O ordenamento jurídico
brasileiro adota a teoria da responsabilidade civil objetiva, a conhecida teoria do
risco, considerando que o prejuízo causado a vítima será reparado
independentemente de culpa, frisando que em alguns casos com previsão legal será
adotado a culpa presumida.
Art. 927 do CCB: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Será analisada sob a ótica do Código Civil, nos arts. 3º, 4º e 5º, acerca da
capacidade jurídica dos agressores, respeitando suas especificidades, ou seja, se o
agressor é pessoa capaz, se incapaz ou relativamente incapaz para responder os
pelo ilícito cometido. Ainda será analisada a responsabilidade das instituições de
ensino se pública ou privada.
3.2.2 Da responsabilidade dos pais por ato ilícito praticado por filho
menor de idade
Art. 1.634 do CCB. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
Ainda de acordo com o voto do relator, o mesmo enfatiza que o fenômeno não deve
ser encarado como brincadeiras próprias da idade, traz consequências sérias e
posteriormente conceitua o bullying, objetivando esclarecer e não deixar dúvidas de
como o fenômeno se manifesta para que não ocorra equívocos entre o fenômeno e
brigas pontuais.
A previsão do art. 933 do novo código, faz menção a responsabilidade dos pais
ainda que sem culpa, destacando sem dúvidas a teoria do risco na responsabilidade
dos pais frente aos atos praticados por seus filhos menores.
O antigo Código Civil fazia equiparação do menor púbere ao maior e capaz para
responder pelos atos da vida civil, enquanto o absolutamente incapaz era
inimputável, e, portanto, a responsabilidade de reparação recaia apenas aos seus
pais. (GAGLIANO, 2009, p.154).
No entanto, o novo Código Civil possui uma alteração bastante significativa do texto
revogado, atribuindo a responsabilidade ao próprio incapaz. O art. 928 do Código
Civil reconhece a responsabilidade do incapaz, antes não recepcionada pelo Código
de 1916, que considerava o menor inimputável.
Para Gagliano (2009, p. 154) as alterações previstas no Código Civil de 2002 foram
de extrema importância, primeiro por melhorar a compreensão do texto do artigo
932, no seu inciso I, alterando a palavra “poder” para “autoridade”, segundo por
reconhecer a responsabilidade jurídica do incapaz, conforme art. 928, parágrafo
único do novo Código Civil.
Da mesma forma entende e leciona o jurista, Sílvio de Salvo Venosa (2009, p. 77):
Conforme os arts. 1.630 e 1.634 do Código Civil, os filhos menores de 18 anos estão
sujeitos ao poder familiar, cabendo aos responsáveis por esse menor, que esteja em
companhia do mesmo e em vigilância e guarda, com deveres de velar pelo bom
desenvolvimento desse sujeito em processo de formação, respeitando sua idade e
condição.
O bullying virtual, conhecido por “cyberbullying”, faz suas vítimas reféns mesmo
estando fora da escola, através dos meios eletrônicos, as vítimas são atingidas onde
estiverem. O ciberbullying utiliza-se na maioria das vezes, das interfaces das redes
sócias como: e-mails, MSN, blogs, Orkut, Twitter, Face Book, torpedos, entre tantos
outros utilizados pelos agressores. A violência ultrapassa os muros das escolas,
deixando suas vítimas sem nenhuma segurança. Nessa seara, o Tribunal de Justiça
de São Paulo assim têm entendido que:
A Cartilha do CNJ traz em seu bojo orientações que devem ser adotadas frente aos
casos do fenômeno no âmbito escolar por todos que compõem a instituição de
ensino:
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os
comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam
na maioria das vezes. A direção da escola (como autoridade máxima da
instituição) deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de
proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá ser
responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais
(ou ilícitos) a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial.
Dessa forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas autoridades
competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a
impunidade e inibem o crescimento da violência e da criminalidade infanto-
juvenil.
O professor deve ter uma postura compatível com seu papel enquanto mediador,
pois os alunos costumam tomar como exemplo a postura dos seus professores. É
muito comum identificar em sala de aula professores que praticam bullying muitas
vezes em situações do dia a dia, quando expõe seus alunos ao constrangimento, ao
ridículo, a chacotas, ameaças e até mesmo a certas comparações.
O dever de indenizar não isenta a instituição por ser a mesma municipal, cabe ao
Estado a responsabilidade e reparação aos danos causados a vítima de violência no
âmbito escolar. A instituição pode ser municipal ou Estadual, a responsabilidade
atribuída ao Estado não possuirá qualquer distinção, pois o direito a educação é
uma direito com proteção constitucional, devendo ser garantida a segurança a
incolumidade física e psíquica de todos os envolvidos no processo educacional.
Alguns doutrinadores defendem as teses de que os pais podem ser acionados para
integrar o pólo passivo da mesma demanda a qual a escola esteja respondendo, e
ainda em caso de condenação da escola ao pagamento de indenização, pode
acionar judicialmente os pais da vítima numa ação de regresso, numa tentativa de
reaver o valor da indenização condenada judicialmente.
Importante frisar acerca do prazo para que a vítima do bullying possa ingressar com
uma ação de indenização pleiteando danos materiais e/ou morais em razão de ter
sido lesada pelos atos ilícitos praticados pelo autor do bullying, conforme previsão
do art. 27 do CDC. Desrespeitado esse prazo, prescreve o a pretensão para intentar
a mencionada ação.
4 DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR PRÁTICAS DE
BULLYING
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade
do adolescente à data do fato.
Importante destacar que na seara penal a capacidade jurídica dos agentes também
deve ser observada, do mesmo modo, que no âmbito civil. A imputabilidade seria o
conjunto de condições mentais e biológicas que permitem o entendimento da
ilicitude de certos atos. Não sendo portador dessas condições, ou por ter menos de
18 (dezoito) anos, ou por não ter um desenvolvimento mental completo, será isento
de pena.
Em 1984, com a reforma do Código Penal, o sistema binário foi substituído pelo
sistema vicariante, que adotou a culpabilidade como fundamento da pena, e a
medida de segurança foi associada à inimputabilidade. GRECO (2009).
Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por
ele cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a
possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A
imputabilidade é a regra; a inimputabilidade, a exceção (GRECO, 2008, p.
396).
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade
do adolescente à data do fato.
Quando o ato infracional for praticado por criança (até os 12 anos incompletos) a
esta será aplicada medida de proteção a luz do art. 101, I a VIII do ECA. Conforme
previsão do art. 99 do mencionado Estatuto, tais medidas poderão ser aplicadas
isoladas ou cumulativamente.
Art. 101 do ECA. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:
Segundo art. 105 do ECA, atos infracionais cometidos por criança (até os doze anos
de idade incompletos) serão aplicadas a estas apenas as medidas elencadas no art.
101 do mencionado Estatuto.
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Quando o adolescente for apreendido em flagrante por cometer ato infracional, será
conduzido a autoridade policial, para que seja tomada as medidas cabíveis,
conforme arts. 172 e 173 do ECA, quando a prisão em flagrante for decorrente de
ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça contra a pessoa.
Importante frisar que, ao adolescente infrator os mesmos direitos garantidos ao
maior imputável, conforme se verifica no art. 106 do ECA. DEL – CAMPO (2005, p.
219).
Art. 172 do ECA. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional
será, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente.
Ainda segundo Del – Campo (2005, p. 218), quando for apreendida uma criança em
flagrante, estas devem ser conduzidas ao Conselho tutelar, conforme art. 136, I, do
ECA, quando não houver o referido órgão, a criança será encaminhada à autoridade
judiciária segundo previsão do art. 262, do ECA.
No entanto, ainda segundo Del – Campo (2005, p. 219), se o ato cometido pelo
infrator tiver gravidade, de acordo com o art. 173, o adolescente poderá ser
apreendido, onde se promoverá a oitiva do condutor, as testemunhas, a vítima e o
adolescente.
Art. 174 do ECA. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o
adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo
de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante
do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia
útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Assim sendo, diante da analise dos artigos supramencionados, todo ato ilícito
cometido pelo menor de 18 anos será ato infracional e não crime. Sendo a ele
aplicada as medidas sócio-educativas previstas no art. 112 do ECA. O adolescente
infrator poderá ter sua liberdade cessada ou não por meio da medida de internação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, num primeiro momento, o tema deve ser amplamente divulgado para
melhor compreensão de todas as pessoas, no sentido extinguir a banalização do
fenômeno num compreensão equivocada das suas características, consequências
muitas vezes irreversíveis e qual postura agir diante dos casos.
Quem pratica bullying comete ato ilícito e viola os direitos da personalidade das
vítimas como a intimidade e a honra. Logo, a vítima de bullying pode exigir a
reparação dos danos sofridos, seja material ou moral.
Percebe-se que o entendimento da jurisprudência tem sido unânime no sentido de
responsabilizar os pais de forma solidária e objetiva em relação aos atos praticados
pelos filhos menores de idade quando eles estiverem sob sua guarda e vigilância,
quanto à responsabilidade das escolas, quando for pública, responderá
objetivamente levando em consideração a teoria do risco administrativo, tendo a
administração o direito de regresso em face daquele que cometeu o ato ilícito,
quando a instituição for privada, essa responderá pela falha na prestação do serviço
conforme previsão do Código de Defesa do Consumidor.
A partir da análise da legislação brasileira, resta provado que aquele que pratica
bullying comete ato ilícito, causando lesão à dignidade da pessoa humana, passível
de reparação nas esferas cível e criminal, consequentemente esses agressores
devem ser punidos pelos seus atos, da mesma forma que os demais sujeitos a eles
responsáveis por sua direção, vigilância, guarda ou cuidados.
Na seara penal, esperam que o fenômeno venha a ser tipificado como crime
merecendo inclusão imediata no Código Penal, devido à gravidade do fenômeno na
vida dos envolvidos. É necessária a criminalização do bullying para dar ao problema
a importância que ele merece, tendo em vista que o fenômeno causa sérios danos e
consequências como, homicídio, furto, violência física grave, entre outros. O Estado
não pode se eximir de legislar sobre esse fenômeno tão complexo que gera sérios
problemas sociais.
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