Ressignificação de uma cultura operária: o caso das indústrias têxteis em Itapetinga-SP
Agência de Fomento: CAPES
Objeto e objetivos:
Em meio ao processo de industrialização de Itapetininga, na década de 1970, a
Fiação e Tecelagem Dona Rosa (uma das primeiras indústrias de Itapetininga – sua instalação data em 1943) prepara-se para desinstalar sua fábrica do município (em 1973), na mesma década em que é instalada a Nisshinbo do Brasil (em 1974). As duas fábricas se divergem em vários sentidos: a primeira é fundada com capital carioca, a segunda com capital japonês; a primeira foi instalada em 1943, a segunda em 1974; a primeira ficava no centro da cidade, a segunda afastada; na primeira, os moradores do entorno sabiam o que acontecia e como a fábrica era operada, bem como a função de diversos operários da fábrica e a segunda, como dizem os interlocutores: “é fechada”; na primeira, os trabalhadores indicavam outros trabalhadores, na segunda, isso não é possível; na primeira, os cargos administrativos eram compostos por brasileiros, na segunda, são japoneses ou descendentes (com raras exceções).
Dessa maneira, empreendemos a seguinte questão: como a diferença entre as
relações de trabalho nas duas fábricas (contrato, organização do processo de produção, maquinários dispostos, etc.) constitui e é constituída na prática social dos agentes em referência a permanência no trabalho a partir de uma situação concreta de trabalho fabril? Aqui, duas premissas se mantiveram no decorrer da pesquisa: a de que a acentuação do processo de industrialização de Itapetininga na década de 1970 influenciou no modo como os trabalhadores das fábricas mencionadas significaram a noção de estabilidade no trabalho; e a de que essa influência tem um grau de destaque à instalação da Nisshinbo do Brasil (nesta última premissa considero a comparação entre as relações de trabalho na Fiação e Tecelagem Dona Rosa e a Nisshinbo).
Considerando “cultura operária” como um campo de investigações nas ciências
sociais (WEBER, 1999), o problema acima faz referência a aspectos culturais de uma “situação operária concreta” (PALMEIRA, 1976). Articulando à situação dos trabalhadores da indústria têxtil Nisshinbo do Brasil, no município de Itapetininga, no interior do Estado de São Paulo com a então Fiação e Tecelagem Dona Rosa. Assim, nos importa a análise dos sentidos atribuídos à noção de estabilidade no trabalho (que se aproxima do conceito de permanência no trabalho e da noção ligada veiculada pelas expressões: “trabalho fichado”, “trabalho registrado” ou “trabalho fixo”), de como essa categoria prática é mobilizada na trajetória de trabalhadores e trabalhadoras de indústria têxtil em Itapetininga.
A expressão permanência no trabalho, antes de se consolidar como um conceito
provisório, apareceu em alguns momentos em que os interlocutores falavam sobre o tempo de trabalho na fábrica, os trabalhos anteriores e, ainda, sobre a comodidade de “não ter que ficar procurando trabalho”. Dessa maneira, previamente, apostei na possibilidade de analisar o sentido atribuído à expressão, considerando-a como uma proposição que carrega um “valor em si mesmo”, buscando compreender de que modo essa categoria se articula com processos de significação nas trajetórias de trabalhadores e trabalhadoras da indústria têxtil em Itapetininga, bem como, de que maneira ela se articula em processos de significação das práticas dos agentes como um elemento de distinção de uma “cultura operária”.
Pretende-se, por fim, através de entrevistas, levantamento historiográfico e
trabalho de observação, compreender como a diferença entre a organização interne das duas fábricas se distinguem e como essa distinção marca diferentes processos de significação com a “permanência no trabalho”.
Metodologia
Lazarus (2001), em um esboço de suas trajetórias de pesquisas em contextos de
fábrica, aponta algumas palavras que surgiram em entrevistas realizadas para a investigação de temas vinculados à “antropologia operária” francesa, entre as décadas de 1980 e 1990 e, desse modo, indica alguns procedimentos realizados com o resultado destes materiais, no qual, destacamos aqui, por ora, o procedimento que nos será útil para a construção de nosso objeto de pesquisa: perguntar que tipo proposições decorrem as palavras que apareceram na entrevista.
Dessa maneira, ainda no limite do tema sugerido, a elaboração do problema
disposto à pesquisa fica, por fim, do seguinte modo: como a diferença entre as relações de trabalho nas duas fábricas (contrato, organização do processo de produção, maquinários disposto, etc.) constitui e é constituída na prática social dos agentes em referência a permanência no trabalho a partir de uma situação concreta de trabalho fabril? Este trabalho contará com algumas fases de trabalho de campo, no qual a primeira já foi elaborada e tinha o objetivo de compreender o contexto de instalação da indústria têxtil Nisshinbo do Brasil, com levantamento de materiais relativos à história político-econômica da cidade, no qual já elaborei alguns esquemas que permitiram traçar um planejamento para a realização das próximas fases do trabalho de campo.
Neste sentido, contando com um levantamento bibliográfico da literatura sobre
indústrias têxteis no Brasil (e no Estado de São Paulo), sistematizarei alguns dos principais elementos que dialogam com a pesquisa que ora sugiro. Dos procedimentos metodológicos já consolidados, a sistematização do estágio de crescimento industrial da cidade de Itapetininga foi fundamental para a compreensão do contexto de mudança nas relações de trabalho no que diz respeito à indústria têxtil na cidade, permitindo um recorte temporal minimamente limitado e orientado por um processo que envolveu diversos setores da cidade.
Principais resultados e conclusões
A primeira fase do trabalho de campo me permitiu algumas conclusões prévias
sobre a pesquisa e a articulação de diversos elementos. Das conclusões, a mais importante é que, considerando as questões levantadas anteriormente e as condições objetivas (de tempo, principalmente) para o empreendimento da pesquisa, concluo que não há viabilidade para o andamento do último problema de pesquisa apresentado, mas que o mesmo poderia ser um orientador para uma pergunta possível com as ferramentas que me disponho.
E, das articulações, acredito que o panorama geral sobre o processo de
industrialização de Itapetininga, na década de 1970, articulado com a questão das indústrias têxteis no município, permitiu perceber que a Fiação e Tecelagem Dona Rosa (uma das primeira indústria de Itapetininga – sua instalação data em 1943) prepara-se para desinstalar sua fábrica do município (em 1973), na mesma década em que é instalada a Nisshinbo do Brasil (em 1974). As duas fábricas divergem em vários sentidos: a primeira é fundada com capital carioca, a segunda com capital japonês; a primeira foi instalada em 1943, a segunda em 1974; a primeira ficava no centro da cidade, a segunda afastada; na primeira, os moradores do entorno sabiam o que acontecia e como a fábrica era operada, bem como a função de diversos operários da fábrica e a segunda, como dizem: “é fechada”; na primeira, os trabalhadores indicavam outros trabalhadores, na segunda, isso não é possível; na primeira, os cargos administrativos eram compostos por brasileiros, na segunda, são japoneses ou descendentes (com raras exceções).
Referências Bibliográficas Sintéticas
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo. Trad. Ivone C.
Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
CASTEL, R. As Metamorfoses da Questão Social. Uma Crônica do Salário. Petrópolis:
Editora Vozes, 4.a edição, 1998.
GRAMSCI, Antonio. Caderno 22 (1934): Americanismo e Fordismo. In: GRAMSCI,
Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. 04 Edição e tradução de Carlos Nelson Coutinho; co-edição, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. pp. 241 - 282.
HARVEY, David. A transformação político-econômica do capitalismo do final do
século XX. In: HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 17. ed. São Paulo: Loyola, 2008. pp. 115 – 184.
PALMEIRA, Moacir. Prefácio. In: LEITE LOPES, J. S. O vapor do diabo: o trabalho
dos operários de açúcar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976