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Boas Práticas na Produção de Coelho:

Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE SANTARÉM

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO CUNÍCOLA

ELABORAÇÃO DO MANUAL, SEU CUMPRIMENTO NA

EXPLORAÇÃO DO RIBATEJO E OESTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

NA MORTALIDADE E REJEIÇÃO DE ANIMAIS

Sílvia Alexandra Rosário de Carvalho

Dissertação apresentada na Escola Superior Agrária de Santarém para obtenção do grau de

Mestre em Sistemas de Prevenção e Controlo Alimentar

Orientador: Professor Coordenador Doutor Paulo Branco Pardal

Co-orientador: Professora Adjunta Mestre Paula Maria Augusto Azevedo

SANTARÉM

2009/2010
Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

AGRADECIMENTOS

Ao apresentar este trabalho quero agradecer, em primeiro lugar, ao meu orientador,

Professor Coordenador Doutor Paulo Branco Pardal e à Co-orientadora Professora Adjunta

Mestre Paula Maria Augusto Azevedo, pela sua sábia orientação, críticas e sugestões que

muito me instruiram.

À Professora Adjunta Doutora Fátima Quedas pela sua ajuda e colaboração no tratamento

dos dados referente aos inquéritos.

Ao Dr. Juan Maria Rosell, pela sua partilha de conhecimentos técnicos e práticos da

cunicultura.

Ao Dr. André Pinto Carvalho, Médico Veterinário da Nanta, pela sua disponibilidade e

prestabilidade.

A todos os Cunicultores que me facultaram os dados e abriram as portas das suas

explorações.

Aos meus pais, ao Miguel e à Mariana, pela compreensão e incentivo que sempre

manifestaram ao longo deste trabalho.

A todos, o meu obrigada.

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Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

SUMÁRIO

O presente trabalho teve como objectivo a elaboração de um manual de ―Boas Práticas na

Produção Cunícola‖ cumprindo o previsto na legislação comunitária e no ―Codex

Alimentarius‖. Simultaneamente, pretendeu-se caracterizar a exploração cunícola da região

Ribatejo e Oeste, com a respectiva avaliação do grau de cumprimento de boas práticas e da

sua eventual consequência na mortalidade e rejeição de animais para abate.

Realizou-se um inquérito junto da totalidade das explorações cunícolas da região do

Ribatejo e Oeste, registadas nos serviços oficiais, num total de dezassete explorações,

totalizando um efectivo de 6720 fêmeas reprodutoras. Nos pavilhões de crescimento e

engorda, procedeu-se ainda ao levantamento mensal do número de animais mortos, de

animais rejeitados para abate e da temperatura média registada nos meses de Verão.

A caracterização da exploração foi realizada com dados apresentados percentualmente,

para cada um dos itens analisados. O grau de cumprimento de boas práticas na exploração

cunícola para cada um dos itens considerados, foi calculado e apresentado sob a forma de

percentagem. As taxas de mortalidade e de rejeição dos animais foram calculadas, para cada

exploração, anualmente, e para o período dos meses de Verão.

As taxas de mortalidade e de rejeição de animais, calculadas nos sectores de crescimento e

engorda, apresentaram valores médios dentro dos valores de referência, mas com grande

heterogeneidade entre explorações, sugerindo a possibilidade de introduzir melhorias técnicas

em algumas dessas explorações.

Entre as boas práticas na exploração cunícola, e cuja situação de incumprimento foi

associada a maiores taxas de mortalidade e de rejeição de animais, destacou-se o

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incumprimento de vazio sanitário, da utilização de vestuário e calçado adequados e da

realização de análises periódicas à água.

Palavras-chave: coelhos, manual de boas práticas, cumprimento de boas práticas

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ABSTRACT

The purpose of this study was to draw up a manual of "Good Practices in Rabbit

Production" complying with the Community Legislation and the "Codex Alimentarius". At

the same time, it was intended to characterize the rabbit production in the Ribatejo and Oeste

regions, with respective assessment of the degree of compliance to good practices, and their

eventual effect on the mortality and rejected animals for slaughter.

A survey was conducted among all 17 officially recorded rabbit farms in the Ribatejo and

Oeste regions, totalizing 6720 breeder females. In the growing houses, the monthly number of

mortality and rejected animals for slaughter, and the mean temperature in the summer months

was recorded.

The characterization of the farms was performed with percentage data submitted for each

item analyzed. The degree of observance of good practice on the rabbit farm, for each item

considered, was also calculated and presented in percentage form. The rates of mortality and

rejected animals were calculated for each farm annually, and for the period of the Summer

months. The obtained data, relating to mortality and rejected animals were analyzed according

to the degree of good practice on the farm, including the effect of temperature recorded within

the house from the analysis of data obtained during the summer.

The rates of mortality and rejected animals, calculated in the growing and fattening

periods, showed average values within the reference values, but with great heterogeneity

between , suggesting the possibility of introducing technical improvements in some farms.

From among the good practices to be fulfilled on the Rabbit farms, and where the

situation of default was associated with higher mortality rates and rejected animals, the main

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causes pointed out were the failure to depopulate, use of inappropriate clothing and footwear

and the absence of periodic water analysis.

Key-words: rabbits, manual of good practice, compliance with good practical

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ABREVIATURAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS

mg- miligrama

g- grama

MJ- Megajoule

Kg- Quilograma

FAO- Food and Agriculture Organization

Ton- Tonelada

INE- Instituto Nacional de Estatística

UE- União Europeia

hab- habitante

m/seg- metro por segundo (referente à renovação do ar)

lux- unidade de intensidade de luz

ppm- parte por milhão

%- percentagem

h/dia- horas por dia

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ÍNDICE

Pag.

I- INTRODUÇÃO 1

II- OBJECTIVOS 3

III- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4

1- IMPACTO ECONÓMICO DA PRODUÇÃO DE COELHO NA


4
PRODUÇÃO ANIMAL

2- CARACTERIZAÇÃO DA FILEIRA CUNÍCOLA 10

3- SEGURANÇA ALIMENTAR NA PRODUÇÃO CUNÍCOLA 12

3.1- Regulamentos/Legislação suporte 12

3.2- Biossegurança 14

3.3- Rastreabilidade 18

IV- MATERIAL E MÉTODOS 20

V- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 22

1- MANUAL DE BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE COELHOS 22

1.1- Introdução 22

1.2- Enquadramento e objectivos 22

1.3- Conceitos e definições 23

1.4- Boas práticas na produção de coelhos 26

1.4.1- Condições das instalações 26

1.4.2- Disposições sobre as instalações de alojamento 28

1.4.3- Equipamentos 29

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1.4.4- Condições gerais de funcionamento 30

1.4.5- Boas práticas na produção do sémen 31

1.4.6- Boas práticas na recolha e avaliação do sémen 32

1.4.7- Boas práticas na gestação e maternidade 33

1.4.8- Boas práticas no crescimento e engorda 35

1.5- Profilaxia 36

1.6- Levantamento de perigos numa exploração de coelhos 42

1.6.1 A saúde das pessoas: tratadores, manipuladores e


42
consumidores

2- CUMPRIMENTO DE BOAS PRÁTICAS NA EXPLORAÇÃO


45
CUNÍCOLA

VI- CONCLUSÃO 63

VII- BIBLIOGRAFIA i

ANEXO I iii

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I. INTRODUÇÃO

Num mundo cada vez mais globalizado, a produção e comercialização de alimentos de

origem animal exige um cumprimento mais rigoroso das normas estabelecidas por

organismos internacionais. Igualmente, as exigências ambientais e de bem-estar animal

impõem um conjunto de novas restrições e normas a cumprir que implicam a adequação das

explorações. A produção cunícola, a par de qualquer outra produção animal, registou um

crescimento e modernização mundial nas últimas décadas, tornando clara e evidente a

necessidade de uma maior e mais detalhada atenção às condições de exploração destes

animais.

O consumidor do século XXI exige, sem margem de erro, todas as garantias para poder

depositar confiança nos produtos de origem animal que lhe são disponibilizados. Depois dos

problemas surgidos na última década (BSE, dioxinas, nitrofuranos, língua azul, gripe das

aves), o consumidor exige ao produtor o estrito cumprimento das regras, ―gratuitamente‖,

argumentando que foi o próprio sector pecuário a origem das crises de confiança, e por isso

não estando disposto a pagar mais.

A qualidade e a segurança dos alimentos, associadas à sua fácil preparação, são elementos

chave de sucesso. Os consumidores da União Europeia exigem aos criadores o cumprimento

de todas as exigências, sendo estas económicas, técnicas ou sociais. Numa perspectiva

técnica, toda a produção pecuária deverá incluir a temática do bem-estar animal, da

conservação e preservação do meio ambiente, da segurança alimentar e da segurança e

higiene no trabalho. É neste contexto que, a cunicultura, à semelhança de qualquer outra

actividade pecuária, deverá assentar sobre três pilares fundamentais: o cumprimento de

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legislação (Normas, Decretos e Leis) que condiciona a realidade produtiva das explorações, o

respeito pelas exigências da ―opinião social‖ da União Europeia e na produtividade/

rentabilidade da exploração, aspecto determinante da sua viabilidade económica.

Num passado recente, quer pelo aumento das exigências do consumidor, quer pelo

aparecimento das várias crises alimentares, têm crescido as preocupações com a segurança

sanitária dos produtos obtidos. Apesar de já existirem anteriormente orientações legais

referentes a estas questões, em 2004, surgem os Regulamentos CE nº 852/2004 e nº 853/2004

que, a nível comunitário, obrigam à implementação de sistemas de gestão de segurança

alimentar para a maior parte das instalações que contactam com géneros alimentícios, tendo

por base a metodologia HACCP (Análise de Riscos e Controlo de Pontos Críticos). Embora a

aplicação desta metodologia não seja obrigatória para a produção primária, justifica-se desde

já o estabelecimento de um conjunto de ―Boas Práticas‖, que permitam a obtenção de

alimentos sãos. A produção primária poderá estar sempre na origem de uma contaminação

inicial, assumindo logo uma importância fundamental na preservação e na durabilidade ao

longo de todo o percurso até ao consumidor final.

A adopção de um código de ―Boas Práticas‖ reveste-se de um carácter facultativo para o

produtor. No entanto, dado que a quase generalidade das regras e metodologias que se

incluem no manual proposto são obrigatórias por lei, será de todo o interesse para o produtor

a sua adopção de forma a certificar-se de que cumpre a legislação em vigor.

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II. OBJECTIVOS

Com o presente trabalho pretendeu-se elaborar um documento de referência que apoie o

empresário cunícola a produzir alimentos para o consumidor com total garantia de qualidade,

segurança alimentar e ética, em cumprimento da legislação vigente. Em suma, pretendeu-se

elaborar um manual de ―Boas Práticas‖ de produção de coelho que enumere o conjunto de

procedimentos a desenvolver pelo produtor cunícola e que lhe permitem obter um produto em

consonância com o previsto na legislação comunitária assim como no denominado ―Codex

Alimentarius‖.

Numa segunda etapa, pretendeu-se proceder a uma breve caracterização da empresa

cunícola da região Ribatejo e Oeste, com a respectiva avaliação do grau de cumprimento de

boas práticas na produção de coelho e da sua eventual consequência no desempenho

produtivo da exploração, nomeadamente ao nível da mortalidade e rejeição de animais para

abate.

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III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nas últimas décadas o crescimento e modernização mundial da indústria cunícola, a par

das restantes produções animais, tornaram clara e evidente a necessidade de uma maior e mais

detalhada atenção à saúde destes animais. O desenvolvimento a que se assistiu dos sistemas

de produção cunícola acarretou, paralelamente, um aumento na densidade animal em

determinadas áreas geográficas, aumentando-se a pressão de infecção. Além disso, a

intensificação do comércio de animais entre regiões, criou uma situação ideal para a

multiplicação e disseminação de vários agentes patogénicos (principalmente vírus e bactérias)

e a ocorrência de surtos de enfermidades que acarretam elevados prejuízos económicos.

É de referir a importância que o alimento medicado tem hoje em dia na cunicultura, devido

a problemas digestivos e respiratórios dos animais. Assim cada vez mais a indústria

responsável pelos alimentos desta espécie, tem desenvolvido medicações de forma a assegurar

uma boa produtividade que se traduz numa redução da taxa de mortalidade e do índice de

conversão alimentar.

1. IMPACTO ECONÓMICO DA PRODUÇÃO DE COELHO NA PRODUÇÃO

ANIMAL

Nas últimas décadas o comércio da carne de coelho tem sido influenciado por diversos

factores de ordem política, económica, ambiental e sociocultural. A procura de carnes

brancas, entre as quais a carne de coelho, devido aos baixos teores de colesterol, tem sofrido

um acréscimo considerável pela população em geral.

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As principais qualidades dietéticas da carne de coelho são as seguintes: carne branca,

suculenta e com agradável aroma. A carne de coelho apresenta um alto valor proteico e

elevado valor biológico; baixos teores de colesterol (50mg por 100g de carne) e elevada

relação proteína/energia (24g/MJ). A gordura presente é relativamente rica em ácidos gordos

essenciais (ROSELL, 2000). Para além destes aspectos a carne de coelho apresenta ainda

elevada digestibilidade e muitas possibilidades culinárias.

As características da carne de coelho permitem recomendá-la para segmentos da população

com necessidades específicas, nomeadamente países com dietas pobres e na alimentação de

crianças ou pessoas com limitações metabólicas. No entanto, o futuro desta carne e a sua

promoção estão baseados numa primeira condição indispensável - a segurança total para o

consumidor (ROSELL, 2000).

Na FIG. 1 está representada a produção de coelho a nível mundial e o respectivo consumo.

Figura 1 - Produção de coelho e respectivo consumo a nível mundial (Lebas e Colin, 2001).

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Como podemos constatar a Europa (Oeste) é a principal responsável pela produção de

coelho a nível mundial cerca de 647 450 toneladas, sendo também a maior consumidora,

cerca de 1,74kg/habitante.

No QUADRO 1 está representada a produção mundial de carne de coelho entre 2003 e

2008, de acordo com os dados da FAO em 2008.

QUADRO 1 – Produção mundial de carne de coelho.

ANO PRODUÇÃO DE CARNE (Ton.)

2003 1 434 159

2004 1 422 403

2005 1 476 159

2006 1 599 395

2007 1 781 209

2008 1 842 255

(FAOSTAT, 2008)

Estima-se que a produção mundial de carne de coelho ronde 1,84 milhões de toneladas de

carne. Cerca de 75% das importações a nível mundial são efectuadas pela União Europeia,

sendo os principais países importadores a Itália, a Bélgica, a França, a Alemanha, a Áustria, a

Espanha e Portugal. Os principais países exportadores são a China, a Hungria, a Polónia, a

Espanha, a França e Portugal (SANTOS PEREIRA, 2005).

No QUADRO 2 estão representados os principais produtores de carne de coelho a nível

mundial, segundo os dados da FAO em 2008.

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QUADRO 2 - Principais produtores de coelho a nível mundial

PAÍS Produção de carne de %

coelho (Ton.)

China 666 000 35,8

Venezuela 481 000 26,1

Itália 240 000 13,0

Coreia do Norte 91 000 4,9

Espanha 74 161 4,0

Egipto 69 840 3,8

França 51 400 2,8

República Checa 38 500 2,1

Alemanha 32 000 1,7

(FAOSTAT, 2008)

No QUADRO 3 está representada a produção de carne de coelho em Portugal, em dados

baseados numa amostra de 400 explorações industriais, com uma dimensão média de 600

fêmeas.

QUADRO 3 – Produção de carne de coelho em Portugal

ANO COELHOS ABATIDOS E

APROVADOS PARA CONSUMO

(Ton.)

2005 6554

2006 7101

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2007 8055

2008 8429

(ESTATÍSTICAS AGRÍCOLAS, 2008)

No QUADRO 4 apresenta-se a projecção do consumo de alguns alimentos per capita

(Kg/hab/ano).

QUADRO 4 – Projecção do consumo de alguns alimentos per capita (Kg/hab/ano)

PAÍSES BOVINOS PORCINOS AVES OVINOS/ COELHOS OVO


CAPRINOS
UE - 15 19,9 43,3 22,9 3,4 1,1 13,3
UE- 10 8,1 44,2 23,8 0,3 0,8 13,57
UE- 25 18,0 43,5 23,1 2,9 1,0 13,4
PORTUGAL 17,0 44,2 32,5 4,0 1,6 9,7
(SANTOS PEREIRA, 2005)

No QUADRO 5 está representado o consumo total de carne de coelho em alguns países


europeus.

QUADRO 5- Consumo total de carne de coelho em alguns países europeus.


PAÍS POPULAÇÃO CARNE DE COELHO
x106 (Ton.)
Itália 58,0 278 400
Espanha 40,0 125 000
Malta 0,39 3 332
Bélgica 10,25 18 450
Portugal 10,0 16 000
França 59,5 101 150
Alemanha 8,.0 82 000
(SANTOS PEREIRA, 2005)

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Como se pode observar, os países com maior consumo de carne de coelho são a Itália a

Espanha e a França. A Alemanha é também um potencial consumidor desta carne. Portugal,

proporcionalmente à sua população, é também um forte consumidor de carne de coelho.

No QUADRO 6 está representada a distribuição do efectivo cunícola em Portugal. A

produção cunícola intensiva em Portugal concentra-se nas regiões norte e centro do país e

caracteriza-se por uma dimensão média de 600 fêmeas.

QUADRO 6 – Distribuição do efectivo cunícola em Portugal em 1999

REGIÕES EXPLORAÇÕES % COELHAS %


REPRODUTORAS
Entre Douro e 23623 29 84300 25
Minho
Trás os Montes 9653 12 41866 13
Beira Litoral 21726 27 107022 32
Beira Interior 10236 13 29242 9
Ribatejo e Oeste 11706 14 58375 17
Alentejo 3035 4 9994 3
Algarve 1641 2 3799 1
TOTAL 81620 100 334598 100
(HIPÓLITO, 2006)

Como se pode observar, a produção cunícola intensiva concentra-se principalmente nas,

regiões Entre Douro e Minho e Beira Litoral onde se verifica a maior produção nacional, uma

vez que nestas zonas encontram-se cerca de 191 322 coelhas reprodutoras, o que representa

57% da produção nacional. Segue-se a zona do Ribatejo e Oeste, onde a cunicultura tem

também uma representatividade significativa, cerca de 58 375 coelhas reprodutoras e 17% da

produção nacional.

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2. CARACTERIZAÇÃO DA FILEIRA CUNÍCOLA

A fileira cunícola teve no seu conjunto uma evolução negativa na última década e meia,

tendo-se assistido a uma quebra no efectivo e também no número de explorações. A evolução

do preço do coelho vivo teve uma tendência positiva de 2002 a 2004 com valores de

crescimento relativamente superiores aos verificados nos principais meios de produção

utilizados (HIPÓLITO, 2006).

Em 2004, num levantamento de dados, estimou-se para Portugal um total de

aproximadamente 400 explorações, com um efectivo de 160 000 fêmeas em cuniculturas

industriais e 50 000 fêmeas em cuniculturas rurais, perfazendo assim um efectivo reprodutor

total de 210 000 fêmeas. A produção anual de coelhos cifrava-se num total de 9,7 milhões,

sendo que 8 milhões eram produzidos pelas reprodutoras industriais e os restantes 1,7

milhões, eram produzidos pelas reprodutoras rurais (SANTOS PEREIRA, 2005).

Posteriormente, em 2008, numa actualização de dados do INE (2008), estimou-se em 400 o

número de explorações industriais com uma dimensão média de 600 fêmeas e o total de

coelhos abatidos e aprovados para consumo em 8429 toneladas/ano, cerca de 162

000/semana.

A produção cunícola assenta em três tipos de sistemas de produção: o tradicional, o semi-

intensivo e o intensivo. A cunicultura tradicional é desenvolvida com o objectivo de produção

de animais para auto-consumo, a apresentação de animais em exposições ou como hobby.

Neste tipo de cunicultura as explorações são de pequena dimensão, inferior a 8 fêmeas,

recorrendo a um sistema de produção extensivo. Os alojamentos são normalmente coelheiras

em madeira. A alimentação é sobretudo à base de forragens, grãos de cereais e legumes. O

desmame efectua-se às 5-6 semanas e a cobrição é posterior ao desmame, traduzindo-se em

termos produtivos em cerca de 5 partos por ano e 35 láparos/ano (SANTOS PEREIRA, 2005).

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A cunicultura em sistemas semi-intensivo e intensivo, é desenvolvida com fins lucrativos e

visam a produção de carne para o mercado. O sistema semi-intensivo corresponde a uma

cunicultura intermédia, caracterizada por explorações de 8 a 100 fêmeas (SANTOS

PEREIRA, 2005). Já a cunicultura comercial ou industrial, com explorações de grande

dimensão (mais de 100 fêmeas) é desenvolvida com um objectivo que visa exclusivamente o

máximo de rentabilidade e lucro. O sistema de produção é intensivo, tendo como alimentação

um alimento composto industrial. As jaulas são em arame, os bebedouros são automáticos e

eventualmente a distribuição do alimento é também automática. O desmame efectua-se às 4-5

semanas e as beneficiações ocorrem nos 10-12 dias pós-parto, o que se traduz em cerca de 8

partos por ano e 65 láparos/ano (SANTOS PEREIRA, 2005).

Por norma os animais utilizados são híbridos, resultantes do cruzamento de duas raças

puras, seleccionados para parâmetros fundamentais tais como: fertilidade e prolificidade, boa

capacidade de crescimento (ganhos médios diários superires a 40g e com índices de

conversão aceitáveis), aptidão para maneio sobre rede ou grelha, maturidade sexual precoce

(4-5 meses) e com boa rusticidade.

Seguidamente, apresentam-se valores médios de alguns parâmetros técnicos e económicos

da exploração cunícola (SANTOS PEREIRA, 2005):

- Coelhos/fêmea/ano- 50 a 53;

- Idade de venda- 65 a 75 dias;

- Peso médio à venda (70 dias)- 2,250Kg (2,2- 2,5Kg);

- Peso vendido/fêmea/ano- 112,5Kg

- Renovação das fêmeas- 95- 100%;

- Partos/inseminação artificial- 75- 80%;

- Nados mortos- 7%;

- Nascidos vivos/parto- 9,5%;

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- Taxa de mortalidade nascimento/desmame- 7,6- 15%;

- Taxa de mortalidade engorda- 7%;

- Partos/fêmea/ano- 7,1;

- Índice de conversâo da engorda- 2,8- 3,2;

- Preço médio (Kg vivo)- 1,65€; (em 2010)

- Preço Kg de alimento- 0,30- 0,34€; (em 2010)

- Nº de fêmeas por unidade de trabalho- 450;

- Rendimento de carcaça- 55- 60%;

- Custo da carcaça em matadouro/Kg- 3,0- 4,0€;

- Produção nacional de alimentos para coelhos- 106 000 toneladas

- Custo médio de produção/coelho- 1,80€

- Taxa de rejeitados- 2,5- 3%

3. SEGURANÇA ALIMENTAR NA PRODUÇÃO CUNÍCOLA

3.1 Regulamentos/Legislação

Os Regulamentos 852/04 e 853/04 do Parlamento Europeu, são a base da legislação

europeia para a Segurança Alimentar da Produção Primária e vieram dar resposta à crescente

preocupação com a saúde dos animais, contemplando todas as fases de produção,

transformação e distribuição de alimentos. Nos referidos regulamentos, os operadores das

empresas do sector alimentar devem assegurar, tanto quanto possível, que os produtos da

produção primária sejam protegidos de contaminações, atendendo a qualquer transformação

que esse produtos sofram posteriormente. Para tal, estabelecem-se regras gerais destinadas

aos operadores das empresas do sector alimentar no que se refere à higiene dos géneros

alimentícios, tendo em atenção que os operadores do sector alimentar são os principais

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responsáveis pela segurança alimentar, e que a garantia da mesma ao longo da cadeia

alimentar tem início na produção primária.

O Regulamento CE n.º 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de

2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios, refere que a aplicação dos princípios de

Análise de Perigos e Identificação de Pontos Críticos de Controlo (HACCP) à produção

primária, não é ainda exequível de um modo geral. No entanto, os códigos de boas práticas

deverão incentivar a utilização das práticas higiénicas adequadas nas explorações agrícolas.

Sempre que necessário, tais códigos serão complementados por regras específicas de higiene

para a produção primária. É conveniente que os requisitos de higiene aplicáveis à produção

primária e às operações a ela associadas, sejam diversos dos aplicáveis a outras operações.

De acordo com o Regulamento CE n.º 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de

29 de Abril de 2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios é necessária uma abordagem

integrada para garantir a segurança alimentar desde o local da produção primária até à

colocação no mercado ou à exportação, inclusive. Todos os operadores de empresas do sector

alimentar ao longo da cadeia de produção devem garantir que a segurança dos géneros

alimentícios não seja comprometida.

O Regulamento CE nº 853/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de

2004, estabelece regras específicas de higiene aplicáveis aos géneros alimentícios de origem

animal. Certos géneros alimentícios podem apresentar riscos específicos para a saúde humana

que tornem necessário o estabelecimento de regras específicas de higiene. É esse,

nomeadamente, o caso dos géneros alimentícios de origem animal, nos quais se tem

constatado riscos microbiológicos e químicos.

O estabelecimento de um conjunto de normas de higiene alimentar permite garantir a

qualidade e a salubridade do produto. Das diversas actividades a desenvolver destacam-se as

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Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

seguintes: estabelecimento de boas práticas de higiene (infra-estruturas, produção e pessoal),

controlo de pragas, elaboração de um plano de limpeza, colheita de amostras para análises de

controlo das medidas implementadas e, de acordo com o Regulamento CE n.º 852/2004, de 29

de Abril, proceder à implementação do HACCP, nos casos em que é necessária a sua

aplicação (NEVES, 2006).

O Regulamento CE n.º 882/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de

2004, relativo aos controlos oficiais realizados para assegurar a verificação do cumprimento

da legislação relativa aos alimentos para animais e aos géneros alimentícios e das normas

relativas à saúde e ao bem-estar animal, refere que a saúde e o bem-estar dos animais são

factores importantes que contribuem para a qualidade e segurança dos géneros alimentícios,

para a prevenção da propagação das doenças animais e para um tratamento humano dos

animais. Ainda segundo o Regulamento, as normas estabelecidas nesta matéria figuram em

diversos actos que estipulam as obrigações das pessoas singulares e colectivas no que diz

respeito à saúde e ao bem-estar dos animais, bem como os deveres das autoridades

competentes.

3.2 Biossegurança

Alguns dos problemas de segurança alimentar que surgiram nas últimas décadas poderiam

ter sido minimizados tendo em conta algumas normas básicas de biossegurança. A

preocupação com a biossegurança teve início em meados dos anos 80, mas os programas de

biossegurança só começaram a estar presentes nas discussões de rotina dos profissionais da

área a partir da implantação de explorações intensivas de maior dimensão e mais organizadas,

já nos anos 90.

A presente década é marcada pela tomada de consciência do empresário pecuário da

importância da biossegurança. O empresário deixa de ser produtor de animais para passar a

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ser produtor de alimentos para o homem. Quer isto dizer que, na abordagem que faz à sua

exploração, para além da perspectiva simplista da produtividade da exploração, passa a incluir

nas suas preocupações a questão da Segurança e da qualidade alimentar.

A biossegurança é por definição o conjunto de medidas aplicadas no maneio dos animais e

que são utilizadas para reduzir o risco de introdução e disseminação de agentes patogénicos e

seus vectores nas explorações, ajudando assim a prevenir enfermidades infecto-contagiosas.

Tem como objectivos minimizar riscos sanitários, melhorar a produtividade e obter produtos e

animais seguros para o consumo humano. O seu cumprimento previne ou reduz a entrada e

disseminação de agentes patogénicos e seus vectores nas explorações animais. Constitui uma

alternativa eficaz às medidas tradicionais de luta contra as doenças (antibioterapia e

imunoprofilaxia).

Seguidamente, enumera-se o conjunto de medidas mais relevantes:

 Garantir o Bem-Estar animal, quer seja a nível das jaulas, assim como das condições

ambientais, luminosidade e maneio;

 Disponibilizar sempre água aos animais, garantindo as suas necessidades diárias.

Deve-se proceder a uma análise inicial num laboratório acreditado de forma a verificar se a

mesma é potável. Periodicamente é aconselhável realizar análises para verificação dos

valores;

 Proporcionar aos animais uma dieta que assegure o adequado consumo de nutrientes,

dependendo da idade e condição produtiva, contribuindo para a sua saúde e bem-estar. Os

alimentos devem conter somente os fármacos aprovados pela autoridade competente e devem

ser acompanhados duma prescrição do médico veterinário. Todos os alimentos devem ser

armazenados num local adequado e com condições que assegurem a sua qualidade física,

química e microbiológica;

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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

 Garantir um bom isolamento térmico dos silos, pois a humidade e o calor favorecem o

crescimento de contaminadores, a perda de sapidez e valor nutritivo do alimento. Os silos mal

isolados (50-60ºC no Verão) e os comedouros expostos à humidade são pontos críticos. No

entanto, a água de bebida tem mais interesse prático pelo perigo de contaminações químicas

(proximidade de campos de cultivo ou indústria) e, sobretudo, contaminações fecais

(microbianas: enterobactérias, algas, entre outros). A cloração da água é o método que tem

mais vantagens e menos inconvenientes para a saúde dos coelhos. O uso de hipoclorito

cálcico (em comprimidos: uma quarta parte de um comprimido de 100g por depósito de 300-

500l) ou de hipoclorito sódico é suficiente para desinfectar. A eficácia do hipoclorito é maior

se a água for ácida (pH 6) (ROSELL, 2002);

 Garantir a limpeza dos silos. Em relação aos alimentos e à água de bebida, os sistemas

de armazenagem e distribuição merecem uma especial atenção. Os silos devem ser limpos e

desinfectados. Antigamente utilizava-se o dióxido de enxofre, por combustão do enxofre. Na

actualidade recomendam-se fumigénios de formaldeído ou antifúngicos específicos

(enilcozanol). Nas paredes dos depósitos e nas tubagens forma-se o ―biofilm‖, que protege os

microorganismos contra os desinfectantes. Por isso é recomendável fazer limpezas periódicas

para eliminá-los. O uso de produtos ácidos e alcalinos é de grande utilidade. A este respeito

devem ser adoptadas medidas de autoprotecção contra queimaduras (ROSELL, 2002);

 Limitar a entrada de animais domésticos e selvagens;

 Limitar a entrada de pessoas estranhas;

 Assegurar uma boa higiene a nível da exploração, jaulas e comedouros;

 Armazenar os fármacos e vacinas de acordo com as instruções inscritas nas fichas

técnicas correspondentes, em local apropriado, mantendo-os nas embalagens originais, de

forma a facilitar o seu reconhecimento;

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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

 Assegurar uma boa profilaxia, cumprindo os intervalos de vacinações e

desparasitações;

 Administrar vitaminas e medicamentos nas doses correctas e cumprindo sempre os

intervalos de segurança;

 É essencial um livro de registos, (os registos devem manter-se durante três anos e

devem estar disponíveis para a autoridade competente quando os solicitar), que permita

registar o maneio reprodutivo, as visitas do médico veterinário, a aplicação de

fármacos/vacinas, periodicidade nas limpezas e desinfecções, existindo outros aspectos

relevantes, tais como:

- Controlo de pragas- deve estabelecer-se um ou mais procedimentos que especifiquem

medidas passivas e activas para o controlo de roedores, insectos e aves. Apenas aplicar

praguicidas de acordo com a legislação em vigor e aprovado pela autoridade competente;

- Eliminação de resíduos;

- Eliminação de cadáveres;

 É essencial a existência de pedilúvios e rodilúvios, que garantam a desinfecção

(pessoas e veículos) de forma a minimizar a entrada de microrganismos na exploração e

arredores.

Com o objectivo de garantir a inocuidade dos produtos primários, os produtores deverão

adoptar medidas no que diz respeito à limpeza e desinfecção das instalações, dos

equipamentos, dos instrumentos, dos veículos; controlo de parasitas; prevenção de perigos

biológicos, químicos ou físicos; prevenção de contaminações por resíduos ou substâncias

perigosas; prevenção de enfermidades contagiosas transmissíveis ao ser humano. Dada a

função dos produtores em controlar os perigos derivados da produção primária, o novo

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regulamento (CE 178/2002) impõe a obrigação de informar a autoridade competente quando

existe a suspeita de algum problema que possa afectar a saúde humana (SEVILLA, 2005).

3.3 Rastreabilidade

A par da biossegurança, a rastreabilidade afigura-se como um pilar fundamental da

segurança alimentar. Entende-se por rastreabilidade, a capacidade de detectar a origem e de

seguir o rasto de um determinado género alimentício, de um alimento para animais, de um

animal produtor de géneros alimentícios ou de uma substância, destinados a ser incorporados

em géneros alimentícios ou em alimentos para animais, ou com probabilidades de o ser, ao

longo de todas as fases da produção, transformação e distribuição. Consideram-se como fases

da produção, transformação e distribuição, qualquer fase, incluindo a importação, desde a

produção primária de um género alimentício até à sua armazenagem, transporte, venda ou

fornecimento ao consumidor final e, quando for o caso, a importação, produção, fabrico,

armazenagem, transporte, distribuição, venda e fornecimento de alimentos para animais

(Regulamento CE n.º 178/2002, de 28 de Janeiro).

Nos últimos anos, surgiram algumas crises alimentares como a BSE, das dioxinas, dos

nitrofuranos, Corante Sudan I, que demonstraram a necessidade de estabelecer medidas

apropriadas em situações de emergência que permitessem assegurar que qualquer tipo de

alimento que apresente sério risco para a saúde humana, saúde animal e ambiente possa ser

recolhido. Terá de ser conhecida informação associada a ―um passo à frente, um passo atrás‖.

Muito mais do que um mecanismo que permite intervir rapidamente no mercado para que

proceda à retirada do produto, a rastreabilidade é uma ferramenta que serve para produzir nos

consumidores um sentimento de confiança no abastecimento alimentar.

A nível da cunicultura a rastreabilidade é assegurada através do livro de registo de

medicamentos, elaborado pela Direcção Geral de Veterinária, o qual permite registar todas as

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medicações administradas aos animais, quer sejam por via oral, injectável ou alimentar, o

motivo do tratamento e duração do mesmo. O titular do livro deve conservar o mesmo pelo

período de três anos a contar da data que o inicia.

O fornecimento de alimento granulado é assegurado por empresas certificadas, que

garantem um alimento que reúne as caracteríticas microbiológicas, físicas e químicas exigidas

pela qualidade alimentar. Por cada fornecimento de um lote de alimento granulado, este é

acompanhado de uma guia na qual constam a medicação, o intervalo de segurança a cumprir e

a que tipo de animais se destina (maternidade ou engorda, uma vez que as necessidades

alimentares são distintas), e por uma amostra do lote, que deve ser guardada num local isento

de humidades e calor de forma a garantir as características organolépticas, químicas e físicas

do alimento e que permite ser uma amostra fiável para o caso de ocorrerem problemas num

lote de animais e ser necessário enviar para laboratório para analisar.

As vacinas e medicamentos adquiridos são acompanhados de uma guia onde consta o lote

de fabrico, o fabricante, as doses recomendadas, os intervalos de segurança e o

acondicionamento ideal.

Cada grupo de animais que sai para matadouro é acompanhado de uma guia onde consta: o

nome do cunicultor e localização da exploração, o número de animais, o número de registo de

exploração, a hora e local da carga e descarga.

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IV. MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente, para a elaboração do manual de boas práticas, procedeu-se a uma pesquisa

bibliográfica da legislação relativa à segurança alimentar na produção primária e na produção

cunícola em particular. Paralelamente, por forma a criar um documento que conjugue os

requisitos da fileira produtiva, o cumprimento de legislação, a garantia de segurança alimentar

e apresente exequibilidade de aplicação pelo empresário cunícola, estendeu-se a pesquisa

bibliográfica a documentação relativa à produção cunícola, sendo esta acompanhada de visitas

a explorações cunícolas, para conhecimento da actividade ―in loco‖.

Numa segunda fase, procedeu-se à elaboração de um inquérito (Anexo I), efectuado junto

da totalidade das explorações cunícolas da região do Ribatejo e Oeste, registadas nos serviços

oficiais da Zona Agrária das Caldas da Raínha e da Direcção Geral de Veterinária de

Santarém. As explorações inquiridas, num total de dezassete, nove no distrito de Leiria e oito

no distrito de Santarém, totalizaram um efectivo de 6720 fêmeas reprodutoras. O inquérito

realizado visou a obtenção de informação para uma breve caracterização da exploração

cunícola da região e a avaliação do grau de cumprimento de boas práticas na produção de

coelhos. Para além da avaliação de uma série de parâmetros, entendidos como fundamentais

no bom funcionamento da exploração cunícola, nos pavilhões de crescimento e engorda de

cada uma das explorações analisadas, procedeu-se ao levantamento mensal do número de

animais mortos e de animais rejeitados para abate. No referido sector de produção da

exploração, crescimento e engorda de animais, procedeu-se ainda ao registo da temperatura

média mensal, verificada no interior do pavilhão, durante os meses de Verão (Junho, Julho,

Agosto e Setembro).

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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

Com base na informação recolhida, no conjunto de questões que visaram a caracterização

da exploração, para cada um dos itens analisados, calcularam-se as percentagens de cada uma

das classes estabelecidas. No que respeita às boas práticas na exploração cunícola, e também

percentualmente, calculou-se o nível de cumprimento de cada um dos itens considerados. A

taxa de mortalidade e de rejeição dos animais foi calculada, para cada exploração estudadas,

da seguinte forma:

Taxa de mortalidade = nº total de animais mortos / nº médio de animais desmamados

Taxa de rejeição = nº total de animais rejeitados / nº médio de animais desmamados

A rejeição dos animais para abate foi determinada, ainda na exploração pelo comprador de

coelhos, tendo por critério de selecção a existência de abcessos visíveis (uma vez que a nível

de matadouro as carcaças são eliminadas), peso vivo inferior a 2,0Kg (são considerados

animais caquéticos). As referidas taxas foram calculadas, anualmente, e para o período dos

meses de Verão (Junho, Julho, Agosto e Setembro).

Com base nos cálculos efectuados analisaram-se os resultados produtivos anuais de cada

exploração (taxa de mortalidade e de rejeição de animais) em função do grau de cumprimento

de boas prática na exploração cunícola. Finalmente, analisaram-se os mesmos resultados

produtivos, considerando apenas os dados obtidos durante os meses de Verão e incluindo, na

análise efectuada, o efeito da temperatura registada no interior do pavilhão.

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V. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

1. MANUAL DE BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE COELHO

1.1 Introdução

Com a evolução da civilização humana, a cunicultura e, em especial, a produção e

comercialização de coelho, passaram a ser actividades económicas de relevo. Devido às

exigências do mercado actual, existe a necessidade de sensibilizar e fomentar entre os

cunicultores a aplicação e seguimento de sistemas para a redução de riscos, sejam eles por

contaminação física, química ou microbiológica, com o objectivo de produzir um alimento

inócuo, que não cause danos aos consumidores.

O cumprimento de boas práticas ao longo da produção, assegura a conservação do

ambiente, garante a saúde e bem - estar animal, assim como a inocuidade dos alimentos,

aumenta a rentabilidade das explorações cunícolas e acima de tudo assegura a saúde humana.

1.2 Enquadramento e objectivos

A higiene e segurança alimentar devem ser encaradas como um compromisso e um

objectivo vital por todo o sector alimentar. Para o cunicultor e para a cunicultura resultam

inúmeros benefícios, dos quais se salientam a melhoria da qualidade higiénica dos produtos, o

cumprimento da legislação nacional e comunitária em vigor, a racionalização e optimização

dos recursos técnicos e humanos, o aumento da confiança por parte dos clientes/

consumidores, reforçando obviamente a sua posição no mercado nacional e internacional.

O desconhecimento ou negligência das boas práticas de higiene, por parte dos cunicultores,

levam à contaminação dos produtos de origem animal destinados ao consumo e,

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consequentemente, à ocorrência de alterações da qualidade que causam, muitas vezes,

elevados custos sociais e económicos.

O estabelecimento de um conjunto de normas de higiene alimentar permite garantir a

qualidade e a salubridade do produto. Das diversas actividades a desenvolver destacam-se as

seguintes: estabelecimento de boas práticas de higiene (infra-estruturas, produção e pessoal),

controlo de pragas, elaboração de um plano de limpeza, colheita de amostras para análises de

controlo das medidas implementadas e, de acordo com o Regulamento CE n.º 852/2004, de 29

de Abril, proceder à implementação do HACCP, nos casos em que é necessária a sua

aplicação (NEVES, 2006)

Assim, os objectivos deste manual são os seguintes:

 Apresentar as principais características das instalações, equipamentos e utensílios para

a produção de coelho;

 Sensibilizar os cunicultores para a importância do maneio e higiene das instalações,

dos equipamentos, dos utensílios e operadores, através de um conjunto de regras simples;

 Sensibilizar o cunicultor para a sua responsabilidade na qualidade e segurança da

carne de coelho.

1.3 Conceitos e definições

Segundo ROSELL (2002), um agressor é qualquer elemento físico, químico ou biológico

que modifica as constantes dos organismos, provocando uma reacção de stress no animal.

Este responde com alterações biológicas, destinadas a compensar a agressão. Em seguida são

enunciados alguns exemplos:

 Agressões físicas: velocidade do ar elevada e temperatura baixa (<12ºC).

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 Agressões químicas: alta concentração de amoníaco no ambiente (>10ppm). Alta

concentração de vapor de água (lavagem da exploração com água com muita pressão, entre

outras causas).

 Agressões biológicas: elevada pressão infecciosa nas jaulas, nos ninhos e nos

comedouros sem lavar nem desinfectar. Alimento contaminado, por exemplo mais de 100 mil

(105) Unidades Formadoras de Colónias (UFC) de Clostridium perfringens por grama de

alimento.

O efeito da agressão varia segundo o estado fisiológico do animal, a duração da agressão

(humidade permanente na fossa ou amoníaco durante as operações de limpeza) e a

intensidade (ex: 32ºC e 80% de humidade relativa é uma combinação perigosa em especial

quando a velocidade do ar é baixa). Os coelhos suportam as agressões leves, mas se se

prolongam, as suas reservas esgotam-se e adoecem ou em certas ocasiões pode ocorrer a

morte (ROSELL, 2002).

Apresentamos em seguida algumas definições que consideramos importantes (NEVES,

2006):

A Higiene dos Géneros Alimentícios é um conjunto de medidas e condições necessárias

para controlar os riscos e assegurar que os géneros alimentícios sejam próprios para consumo

humano tendo em conta a sua utilização (Regulamento CE n.º 852/2004, de 29 de Abril).

Num Código (Manual) de Boas Práticas de Higiene encontram-se as regras

recomendadas nacional e internacionalmente em matéria de higiene alimentar, nomeadamente

as do Codex Alimentarius. Segundo o Regulamento CE n.º 852/2004, de 29 de Abril, os

códigos de boas práticas de higiene deverão conter informações adequadas sobre os riscos que

possam resultar da produção primária e operações conexas e sobre as acções para controlar os

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referidos riscos, incluindo as medidas relevantes estabelecidas na legislação nacional e

comunitária ou nos programas nacionais e comunitários (Regulamento CE n.º 853/2004, de

29 de Abril).

O HACCP ou Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controlo é um sistema preventivo

que identifica situações de perigo de contaminação a nível físico, químico e microbiológico,

ao longo de todo o processo de produção de géneros alimentícios (Regulamento CE

n.º852/2004, de 29 de Abril).

Um Perigo é um agente de natureza física, química ou biológica (microbiológica) que

possa causar um risco (dano) inaceitável para a saúde do consumidor e para a qualidade do

produto.

Um Risco é a hipótese ou probabilidade (quantificada em termos estatísticos), da

ocorrência de um perigo.

Considera-se como Contaminação, a presença ou introdução de um perigo. Uma

contaminação cruzada ocorre quando a introdução de um perigo resulta, entre diversas

situações possíveis, do contacto do género alimentício com uma superfície de equipamentos,

de utensílios, das mãos dos operadores ou embalagens sem higiene ou com deficiente

higienização.

São Produtos Primários os produtos da produção primária, incluindo os produtos da

agricultura, da pecuária, da caça e da pesca (Regulamento CE n.º 852/2004, de 29 de Abril).

Limpeza e desinfecção:

- Com a limpeza pretende-se remover a sujidade da superfície das instalações,

equipamentos ou utensílios;

- Através da desinfecção procura-se a destruição ou diminuição dos microrganismos até

níveis aceitáveis.

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Uma boa lavagem e desinfecção periódicas das instalações e equipamentos, promovem um

ambiente limpo, previnem o aparecimento de patologias e posteriormente a administração de

fármacos.

1.4 Boas práticas na produção de coelhos

Segundo o Decreto-Lei n.º 214/2008, de 10 de Novembro, foram estabelecidas as

condições gerais para o exercício das actividades pecuárias, tendo em consideração o respeito

pelas normas do bem-estar animal, a defesa hígio-sanitária dos efectivos, a salvaguarda da

saúde, a segurança de pessoas e bens, a qualidade do ambiente e o ordenamento do território,

num quadro de sustentabilidade e de responsabilidade social dos produtores pecuários.

Com o correr dos anos, as relações recíprocas da saúde animal com outros factores

aumentaram. Além da economia o produtor de coelhos deve importar-se também com a Saúde

Pública e Meio Ambiente. As suas acções, inclusive no âmbito da higiene, devem calibrar-se.

A prevenção da enteropatia mucóide ou outras infecções mediante a administração de

antimicrobianos, está claramente regulada, para evitar a presença de resíduos na carne. O

cloranfenicol e os nitrofuranos foram proibidos na produção animal devido ao seu elevado

risco sobre a saúde dos que o manipulam ou dos consumidores (ROSELL, 2002).

1.4.1 Condições das instalações

De acordo com a Portaria 635/2009, do Diário da República, 1.ª série — nº 111 — 9 de

Junho de 2009, as explorações têm de assegurar as seguintes condições:

- Possuir uma barreira sanitária física, implantada a uma distância mínima de 5m das

instalações de alojamento dos animais, que assegure a protecção da exploração de forma a

evitar o contacto com outros animais;

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- Possuir um filtro sanitário dotado de instalações sanitárias, implantado de modo a

constituir o único acesso às instalações de forma a poder ser atribuída autonomia sanitária;

- Caso sejam previstos outros pontos de acesso na barreira sanitária, estes devem ser

mantidos encerrados e assinalados com tabuletas de proibição de entrada de pessoas e

veículos estranhos à exploração;

- Possuir instalações apropriadas para quarentena dos animais provenientes de outras

explorações, excepto nas unidades de recria ou acabamento, nos entrepostos e nos centros de

agrupamento;

- Possuir um depósito ou local destinado ao armazenamento de alimentos e outros produtos

necessários ao funcionamento da exploração;

- Possuir um rodilúvio ou outro sistema de desinfecção na zona de acesso dos veículos;

- Possuir instalações ou contentores para acondicionamento dos animais mortos que

aguardam eliminação;

- Se a exploração possuir sistema próprio de eliminação dos animais mortos, este deverá

estar localizado fora da barreira sanitária;

- No caso em que a eliminação dos cadáveres de animais seja realizada por incineração,

esta deverá assegurar o cumprimento dos requisitos do Regulamento CE n.º 1774/2002, do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 3 de Outubro, e os do Decreto -Lei n.º 78/2004, de 3

de Abril, relativo às emissões atmosféricas, bem como do Decreto -Lei n.º 85/2005, de 28 de

Abril, caso seja prevista a incorporação de resíduos na instalação de incineração;

- No caso em que a exploração pecuária possua instalações de combustão cuja potência

instalada seja sujeita ao Decreto -Lei n.º 233/2004, de 14 de Dezembro, na sua actual

redacção, fica obrigada à obtenção de título de emissão de gases com efeito de estufa e ao

cumprimento dos requisitos do Decreto -Lei n.º 78/2004, de 3 de Abril e, em caso de mistura

com resíduos, os do Decreto – Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril;

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- Possuir infra -estruturas e equipamentos que permitam implementar o plano de gestão de

efluentes pecuários que é proposto nos termos da portaria de gestão de efluentes pecuários

(Portaria nº 631/2009 de 9 de Junho).

1.4.2 Disposições sobre as instalações de alojamento

De acordo com a Portaria 635/2009, do Diário da República, 1.ª série — nº 111 — 9 de

Junho de 2009, as instalações destinadas a alojar coelhos ou lebres devem possuir os

seguintes requisitos fundamentais:

- Ser construídas de forma a assegurar condições adequadas de isolamento térmico e

higrométrico, bem como ser de fácil limpeza e desinfecção, sendo que as paredes e pavimento

deverão manter -se íntegros e lisos;

- Estar dimensionadas de modo a disporem das estruturas que assegurem o correcto

cumprimento do plano de produção previsto, tendo em consideração a legislação vigente em

matéria de bem -estar animal;

- Dispor de meios que permitam assegurar o controlo da ventilação, da temperatura, da

humidade e luminosidade, de acordo com o sistema de produção;

- Dispor de sistema de abastecimento de água que assegure a eficiente lavagem das

instalações e de água com qualidade adequada para o abeberamento dos animais;

- Sempre que o sistema de produção o justifique, as instalações devem estar dotadas de

sistema de recolha e drenagem dos efluentes pecuários constituído por colectores fechados,

para reservatórios ou sistemas adequados de gestão de efluentes, situados fora da barreira

sanitária, nos termos da portaria de gestão de efluentes pecuários;

- Ter janelas e outras aberturas de arejamento e locais de alimentação protegidos, de forma

a evitar a entrada de pássaros e roedores;

28 Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


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- Dispor de pedilúvios ou de sistemas de desinfecção do calçado, à entrada de cada

pavilhão;

- Possuir condições para o isolamento de animais que sejam identificados como enfermos

ou acidentados;

- No caso de explorações com áreas de produção ao ar livre, deverão ser estabelecidas as

medidas hígio-sanitárias necessárias ao controlo efectivo dos agentes infecto -contagiosos e

parasitários.

1.4.3 Equipamentos

De acordo com a Portaria 635/2009, do Diário da República, 1.ª série — nº 111 — 9 de

Junho de 2009, o equipamento mínimo exigido para as explorações deverá contribuir para

assegurar as condições de controlo zootécnico e hígio-sanitário dos animais e das instalações,

devendo possuir:

- Comedouros e bebedouros que cumpram as normas de bem -estar vigentes e que evitem

derrames para as camas;

- Jaulas para alojamento dos animais que cumpram as condições de bem-estar. Estas

deverão ser feitas com materiais que assegurem o bem-estar do animal e pensadas para uma

maior autonomia e comodidade do cunicultor industrial. O componente metálico deste

equipamento deve ser em ferro galvanizado de alta qualidade, evitando uma corrosão

prematura das jaulas, garantindo assim mais durabilidade das mesmas. Os materiais plásticos

devem ser virgens e não tóxicos, respeitando as normas hígio-sanitárias para o cuidado da

saúde animal e garantindo um alimento são para o consumo humano. É aconselhável

possuírem um estrado com o efeito ―descansa-patas‖ de forma a garantir o bem-estar dos

animais;

- Equipamento de lavagem por pressão das instalações;

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Boas Práticas na Produção de Coelho:
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- Equipamento de pulverização destinado à aplicação de desinfectantes ou insecticidas nas

instalações.

Caso se proceda à lavagem e desinfecção dos veículos de transporte dos animais, bem

como das jaulas de alojamento, após a sua descarga na exploração, aquelas deverão ser

realizadas com equipamento autónomo e fora da barreira sanitária.

1.4.4 Condições gerais de funcionamento

De acordo com a Portaria 635/2009, do Diário da República, 1.ª série — nº 111 de 9 de

Junho de 2009, as explorações devem assegurar as seguintes condições:

- O pessoal afecto à exploração terá de usar vestuário apropriado para o trabalho e os

visitantes vestuário protector;

- Após a saída de cada grupo de animais ou quando termina um ciclo de produção, as

jaulas e o material de produção (comedouros, bebedouros e ninhos) devem ser limpos e

desinfectados, bem como assegurado um vazio sanitário (é aconselhável uma semana), antes

da introdução de um novo grupo de animais;

- Os animais domésticos e silvestres não podem ter acesso aos pavilhões de alojamento dos

coelhos, devendo ainda ser estabelecido e mantido um plano de controlo de pragas e de outros

invasores;

- Estabelecer e manter actualizado um plano de produção, bem como implementar as

medidas de biossegurança programadas;

- Executar as medidas higiénicas, sanitárias, de bem-estar animal e de controlo que venham

a ser determinadas pela Direcção-Geral de Veterinária;

- Promover o uso eficiente da água, implementando medidas ou procedimentos de detecção

e eliminação de perdas de água nas tubagens, nos depósitos, nas torneiras e outros

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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

equipamentos, monitorização dos caudais e dos consumos de água bem como a separação das

águas pluviais;

- Promover o uso eficiente da energia, implementando medidas de redução no âmbito das

construções, equipamentos e processos produtivos;

- Promover um programa de controlo ambiental assegurando nomeadamente o registo dos

consumos de água e das fontes energéticas da exploração, bem como dos efluentes e dos

resíduos produzidos na exploração;

- Promover e manter actualizados procedimentos e ou equipamentos de emergência quanto

a falhas de energia, abastecimento de água ou incidentes no sistema de recolha e tratamento

de efluentes.

1.4.5 Boas Práticas na Produção do Sémen

De realçar a importância em manter as condições ambientais constantes, pois promovem

um bem-estar dos animais e consequentemente uma boa produção de sémen. Entendem-se por

condições ambientais constantes as seguintes:

 Temperatura - deve oscilar entre os 18 e os 22ºC;

 Ventilação - velocidade de renovação máxima de 0,3m/seg;

 Níveis de amoníaco entre os 5 e os 20ppm;

 Humidade Relativa - 65%;

 Intensidade da iluminação aconselhada nos machos - 20 lux e cerca de 8h/dia.

- Assegurar um ambiente limpo e desinfectado, utilizando apenas produtos autorizados e

respeitando sempre as diluições indicadas nos rótulos.

- Manter as jaulas, comedouros e bebedouros lavados e desinfectados. Evitar a deposição

de dejectos pois promovem o desenvolvimento de microrganismos patogénicos. É importante

31 Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
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verificar diáriamente as pipetas de água de forma a certificar que os animais têm água à sua

disposição.

- De realçar a importância do fornecimento de água potável e de alimento (de origem

certificada) aos animais. É aconselhável adaptar o fornecimento de alimento, consoante o

ritmo reprodutivo de cada exploração. Sendo assim, para explorações onde os machos são

utilizados 2 vezes por semana é aconselhável alimentação à descrição. Por outro lado, se a sua

utilização é apenas 1vez por semana ou menos, a alimentação deverá ser restringida a cerca de

150-200g diárias, de forma a evitar o excesso de peso dos animais e consequentemente a falta

de líbido.

- Praticar um maneio que não cause stress aos animais, evitando ruídos e barulhos que

possam afectar o seu bem-estar.

- As jaulas deverão ser feitas com materiais que assegurem o bem-estar do animal e

pensadas para uma maior autonomia e comodidade do cunicultor industrial. O componente

metálico das jaulas e os materiais plásticos devem ter as características referidas em 1.4.3

Equipamentos. As suas dimensões deverão ser de 90cm de comprimento por 40cm de largura

e com 30cm de altura, aconselhando-se a colocação de um estrado com o efeito ―descansa-

patas‖ de forma a garantir o seu bem-estar.

1.4.6 Boas Práticas na Recolha e Avaliação do Sémen

- É importante manter o material destinado às recolhas do sémen (vaginas artificiais e

tubos colectores de sémen) limpo e esterilizado, com o objectivo de não propagar doenças ou

alterar a qualidade do sémen;

- Na altura de realizar as recolhas, as vaginas artificiais e tubos colectores devem estar a

uma temperatura recomendável de 42-45ºC. Temperaturas superiores podem afectar a

mobilidade dos espermatozóides e provocar um efeito inibitório no salto no macho;

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- Para cada recolha é aconselhável utilizar uma vagina artificial por macho, pois pode

constituir um meio de propagação de doença a machos sãos;

- Após a recolha o sémen deverá ser colocado em banho-maria a uma temperatura de 37ºC;

- Assegurar no laboratório um ambiente limpo e desinfectado, utilizando apenas produtos

autorizados e respeitando sempre as diluições indicadas nos rótulos;

- A temperatura ambiente do laboratório deve ser de 15-20ºC de forma a não provocar

alterações no sémen, e este não deve estar muito tempo exposto à luz;

- A avaliação microscópica do sémen deverá ser realizada em microscópio que disponha de

platina aquecida, a fim de não alterar as suas características;

- O material destinado à avaliação microscópica (lâminas, lamelas e pipetas) deverá estar

limpo e esterilizado;

- É de extrema importância que o diluidor seja armazenado e conservado de acordo com as

indicações do fornecedor, uma vez que o mesmo é responsável por manter a qualidade do

sémen por tempo limitado;

- Quando o sémen é destinado a ser distribuído a cunicultores este deverá ser transportado

em mala térmica que garanta uma temperatura constante (17,5º/18ºC), evitando assim

choques térmicos e mecânicos.

1.4.7 Boas práticas na Gestação e Maternidade

Na gestação e maternidade devem ser respeitados os requisitos seguintes:

- Assegurar um ambiente limpo e desinfectado, utilizando apenas produtos autorizados e

respeitando sempre as diluições indicadas nos rótulos;

- De realçar a importância em manter as condições ambientais constantes, pois promovem

um bem-estar dos animais e consequentemente uma boa produção de leite na maternidade.

Entende-se por condições ambientais constantes as seguintes:

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 Temperatura - deve oscilar entre os 18 e os 22ºC. Temperaturas inferiores podem

causar mortalidade nos ninhos e superiores alteram o comportamento das fêmeas/mães,

podendo provocar também mortalidade por falta de aleitamento;

 Ventilação - velocidade de renovação máxima de 0,3m/seg;

 Níveis de amoníaco entre os 5 e os 20ppm;

 Humidade relativa - 65%;

 Intensidade de iluminação nas fêmeas - 20 lux cerca de 16h/dia.

- Os láparos recém-nascidos devem estar a uma temperatura de 30-35ºC. Quando se

verifica uma diminuição brusca da temperatura ambiental, é necessário verificar se têm cama

suficiente nos ninhos;

- Manter as jaulas, comedouros e bebedouros lavados e desinfectados e evitar a deposição

de dejectos pois promovem o desenvolvimento de microrganismos patogénicos;

- De realçar a importância do fornecimento de água potável e de alimento (de origem

certificada) ad libitum aos animais. É importante verificar diariamente os bebedouros de

forma a certificar que os animais têm sempre água à sua disposição;

- Praticar um maneio que não cause stress aos animais, evitando ruídos e barulhos que

possam incomodar o seu bem-estar;

- As jaulas e os materiais em plástico devem respeitar os mesmos requisitos descritos no

ponto 1.4.3 Equipamentos;

- As suas dimensões deverão ser 98cm de comprimento por 40cm de largura e 38cm de

altura, aconselhando-se também a colocação de um estrado com o efeito ―descansa-patas‖;

- Na altura da inseminação artificial, o material utilizado (cânulas) deve ser esterilizado e

de uso exclusivo para cada fêmea, caso contrário poderá provocar infecções e difundi-las na

exploração.

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1.4.8 Boas Práticas no Crescimento e Engorda

Durante a fase de crescimento e engorda devem ser respeitados os requisitos seguintes:

- Assegurar um ambiente limpo e desinfectado, utilizando apenas produtos autorizados e

respeitando sempre as diluições indicadas nos rótulos;

- De realçar a importância em manter as condições ambientais constantes, pois promovem

um bem-estar dos animais e consequentemente um bom desenvolvimento na engorda.

Entende-se por condições ambientais constantes as seguintes:

 Temperatura - deve oscilar entre os 18 e os 22ºC. Temperaturas superiores, alteram o

comportamento dos animais, causando redução na ingestão de alimento, o que origina animais

fracos e em casos extremos mortalidade;

 Ventilação - velocidade de renovação máxima de 0,3m/seg;

 Níveis de amoníaco entre os 5 e os 20ppm;

 Humidade relativa - 65%;

 Intensidade da iluminação - 20 lux cerca de 8h/dia.

 Densidade animal adequada – 6 a 7 animais/jaula.

- Manter as jaulas, comedouros e bebedouros lavados e desinfectados e evitar a deposição

de dejectos pois promovem o desenvolvimento de microrganismos patogénicos;

- De realçar a importância no fornecimento de água potável e de alimento (de origem

certificada) ad libitum aos animais;

- Praticar um maneio que não cause stress aos animais, evitando ruídos e barulhos que

possam incomodar o seu bem-estar;

- As jaulas devem respeitar os mesmos requisitos descritos no ponto 1.4.3 Equipamentos;

- As dimensões são as descritas no ponto 1.4.7, uma vez que utilizam-se jaulas multiuso

ocorrendo uma rotação dos animais (as mães saem ao desmame e os láparos permanecem nas

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jaulas durante o período da recria e engorda). Quando o grupo sai para abate, permite fazer

uma boa lavagem, desinfecção e vazio sanitário adequados.

A densidade animal tem bastante influência na produção, especialmente nas enterites,

transtornos respiratórios, feridas e abcessos como consequência de brigas entre os animais. A

incidência de enterites nas engordas diminui consideravelmente ao reduzir a densidade de 20

a 14 láparos por m2 de jaula (as dimensões são normalmente de 40x90cm). O aumento da

densidade conduz a atrasos no crescimento e maiores taxas de mortalidade (ROSELL, 2000).

Quando a densidade é elevada e as temperaturas aproximam-se do valor crítico, superiores

a 25-30ºC, os transtornos aumentam, originando stress térmico, já que os coelhos não são

capazes de eliminar calor por condução (contacto com superfícies frias) nem por convecção,

sufocando por falta de oxigénio. Nesta situação, os coelhos tendem a eliminar calor,

aumentando a frequência respiratória (ROSELL, 2000).

1.5 Profilaxia

No QUADRO 7 estão referidos alguns exemplos de enfermidades que podem ocorrer nas

explorações de coelhos.

QUADRO 7 – Algumas das enfermidades presentes na produção de coelho.

Enfermidade Factores do meio ambiente Agentes implicados


Coriza contagioso Correntes de ar, mudanças Pasteurella.multocida,
bruscas de temperatura B.bronchiseptica
―Mal de patas‖ Pavimentos Stafilococcus aureus e
outros microrganismos
Tinhas e sarnas Calor e humidade elevados Trichophyton
mentagrophytes, M.canis
Pseudomona Má posição dos bebedouros P.aeruginosa
cutânea
Mamites Frio, correntes de ar e Stafilococcus aureus
humidade

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Hemorrágica vírica Mudanças bruscas de Calicivírus


temperatura
Mixomatose Abundância de moscas e Vírus da Mixomatose
clássica mosquitos
Adaptado de ROSELL ( 2000).

Alguns pilares da higiene são o conhecimento dos agentes patogénicos, o seu ciclo

biológico e, em particular, os seus meios de difusão e formas de resistência no animal ou no

meio.

É importante realçar que um dos principais inconvenientes na produção intensiva de

coelhos, é a produção, no mesmo pavilhão, de animais em estados fisiológicos distintos

(maternidade, recria e engorda) (ROSELL, 2002).

Esta ideia não implica que a produção mais recomendada seja a de banda única. Para

explorações com dimensão suficiente (mais de 500 reprodutoras), é preferível ter duas ou

mais bandas únicas, mas cada uma no seu espaço.

No coelho existem doenças que aparecem em situações previsíveis. Nestes casos, o uso de

antibióticos como prevenção denomina-se metafilaxia. Assim, quando se prevê que o risco de

Stafilococcus em reprodutoras seja elevado, recomenda-se a aplicação de antibióticos por via

parental (noutros casos por via oral), na altura do parto. O parto é o estado de maior stress

para a coelha e um momento de contágio para as crias (ROSELL, 2002).

As doenças do aparelho digestivo, nos láparos desmamados, são o exemplo paradigmático

na prevenção médica. A profilaxia tem vantagens: evita que adoeçam e portanto que haja

mortalidade; evita atrasos notáveis no crescimento e falta de homogeneidade das ninhadas ou

outros problemas (animais rejeitados no matadouro, carcaças mal classificadas). A profilaxia

na patologia digestiva é altamente vantajosa, porque é difícil na maior parte dos casos curar os

animais doentes (ROSELL, 2002).

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A melhor forma de prevenir as doenças infecciosas é vacinando. O manuseamento das

vacinas contra a mixomatose deve ser cuidadoso, durante o transporte e a sua aplicação. Os

choques térmicos ou os restos de desinfectantes (o álcool não se pode usar) podem inactivá-

las (ROSELL, 2002).

É importante ter como norma primordial a eliminação de animais enfermos como elemento

chave na medicina preventiva e na produção, tendo como objectivo evitar a difusão de

enfermidades infecto-contagiosas (ROSELL, 2000).

É de primordial importância no fim da realização de cada tarefa, a lavagem e desinfecção

das mãos, a fim de evitar contaminações cruzadas (por exemplo inspeccionar ninhadas,

eventualmente com E.coli e de seguida ninhadas não contaminadas sem lavar/desinfectar as

mãos).

No QUADRO 8 estão referidos alguns exemplos de consequências na produção,

resultantes de alterações fisiológicas e oscilações nos factores ambientais.

QUADRO 8 - Exemplos de algumas consequências na produção resultantes de alterações

fisiológicas e oscilações nos factores ambientais.

Factores ambientais Alterações fisiológicas Consequências na produção


predisponentes
Má posicionamento e estrutura Hipotermia, fome e Morte dos láparos com menos
do ninho traumatismo de 15 dias fora do ninho
Diminuição brusca da Transtorno Abandono da ninhada,
temperatura neuroendócrino canibalismo
Temperatura ambiente elevada Transtorno Baixa produção de sémen
neuroendócrino
Diminuição do fotoperíodo Transtorno Recusa de macho
neuroendócrino
Aumento brusco da temperatura Transtorno metabólico Toxémia da gestação/Cetose
Adaptado de ROSELL (2000)

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No QUADRO 9 está representado um diagrama dos factores de risco na produção de

coelhos.

QUADRO 9 – Diagrama dos factores de risco na produção de coelhos.

FACTORES FACTORES
PRECIPITANTES FAVORECEDORES
(exógenos) (exógenos)
vírus; bactérias; fungos; alojamento; maneio;
parasitas alimentação; água; higiene

COELHOS ENFERMOS

FACTORES PREDISPONENTES (endógenos):


raça; estirpe; linha; sexo; idade e estado fisiológico.
Outros factores de variação individual: hereditários; congénitos; endócrinos;
imunitários; metabólicos e acções recíprocas de enfermidades em simultâneo.

Adaptado de ROSELL (2000)


Raça (Ex: raça Californiana, raça Neozelandesa, etc.); Estirpe (Ex: Hyla, Hyplus,

Valenciana, etc); Linha (Ex: AGP, GP, CD, etc.).

A produção intensiva de coelhos caracteriza-se pela criação de muitos animais em espaços

reduzidos e com produção todo o ano. Nessas condições o que é inerente ao ser vivo, a luta

pela saúde e doença, a vida e a morte, multiplica-se. A medicina preventiva procura mantê-los

em condições sanitárias compatíveis com a produção.

Os indicadores de saúde nos coelhos podem-se observar através do seu aspecto, estado

corporal e comportamento. Além disso, o rendimento nas diversas produções é um excelente

sinal de saúde:

- líbido e fertilidade nos animais produtores de sémen;

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- fertilidade e produção de leite nas fêmeas;

-crescimento e homogeneidade nos láparos.

O limite entre o fisiológico e patológico, em certas ocasiões, não é fácil determinar. A

melhor forma de conhecer é com critério e experiência acerca da biologia e patologia

(ROSELL, 2002).

No QUADRO 10 está representado um diagrama com os pontos críticos de contágio nas

explorações de coelhos

QUADRO 10 – Pontos críticos de contágio numa exploração de coelhos

Roedores, pássaros e coelhos Animais domésticos (cães, gatos)


selvagens

Palha dos ninhos Água de bebida


Outras espécies
domésticas: Alimento
aves, ovelhas,
EXPLORAÇÃO DE
vacas
COELHOS Insectos
Difusão vertical da doença
Difusão horizontal da doença
Transporte
do
matadouro Futuros Cunicultor, visitas,
reprodutores Alojamento Inseminador
(adquiridos)

Adaptado de ROSELL (2000)

Nas explorações de coelhos, a difusão de enfermidades pode ser horizontal, quando ocorre

em distintos segmentos da população (por ex: entre a engorda e reposição, a reposição e

maternidade ou a maternidade e engorda) ou vertical, quando ocorre durante a gestação e

lactação. ROSELL (2000), numa revisão sobre a temática descreve a difusão horizontal, com

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referência às possíveis vias de infecção e métodos de transmissão, e o contágio vertical, da

seguinte forma:

Difusão Horizontal pode ser:

- Directa, através do contacto de um coelho receptivo e um enfermo, por intermédio da

urina (Encefalitozoonoses) ou fezes (Coccidioses e Colibaciloses) ou através do ar

(Pasteureloses);

- Indirecta, necessita duma fonte de infecção que pode ser um hospedeiro enfermo

(Mixomatose) e um reservatório inanimado (palha com pêlos contaminados por esporos de

dermatófitos) e um vector intermediário entre ambos ( o cunicultor a manipular os ninhos). A

Mixomatose e a Tinha difundem-se por vectores mecânicos (moscas, mosquitos, pulgas),

podendo também fazê-lo por via directa.

As vias de infecção podem ser:

 Via Oral a partir de alimentos e leite contaminados, fezes, urina;

 Via Respiratória, através de partículas de pó ou humidade que transportam

microrganismos como a Pasteurella spp., E.coli;

 Via Cutânea resulta da acção dos ácaros da sarna ou dermatófitos e também da

Mixomatose Atípica ou do Staphylococcus spp. causado por arranhões ou

mordeduras da coelha aos láparos, quando a pele destes é mais permeável.

Os métodos de transmissão, podem ser:

- Através da ingestão de alimentos contaminados;

- Por via aérea (ex: Salmonella spp ou E. Coli);

- Por contacto (ex: dermatófitos);

- Por inoculação (ex: mosquitos - Mixomatose);

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- Por via exógena (agulhas contaminadas, cânulas de inseminação artificial ou pela monta

natural).

O Contágio Vertical pode ser:

- Hereditário quando se transmite através do genoma dos progenitores;

- Congénito se está presente ao nascimento ou durante a gestação (pode atravessar a

placenta) e os estafilococus são um exemplo.

1.6 Levantamento de perigos numa exploração de coelhos

A Norma 80:20 estabelece que se controlarmos 20% dos riscos mais frequentes,

eliminamos 80% dos perigos resultantes. De seguida enumera-se alguns dos riscos para os

animais, consumidores e pessoas que manipulam os animais (cunicultores).

Os riscos mais frequentes para o consumidor são:

- Microbiológicos nomeadamente as zoonoses, tais como Salmonelas, Campylobacter e a

Tinha;

- Físicos tal como a presença de corpos estranhos (agulhas) no interior do animal;

- Químicos podendo ser resíduos de antibióticos ou de pesticidas (proveniente de

desinfecções do ar ou dos equipamentos, nomeadamente as jaulas) (SEVILLA, 2005).

1.6.1 A saúde das pessoas: tratadores, manipuladores e consumidores

É possível que ao descrever os aspectos mais relevantes da higiene nas explorações de

coelhos, se entenda que o principal objectivo sejam os animais, mas convém destacar as

pessoas que com eles trabalham e que podem vir a padecer de doenças profissionais. Elas são

mais importantes que os coelhos, por si mesmas e porque, se estão sãs efectuarão melhor o

seu trabalho.

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As zoonoses são doenças comuns ao homem e a outros animais. O mais frequente é que os

coelhos contagiem os tratadores (zooantroponoses, como é o caso da Tinha por exemplo),

embora ocasionalmente o contágio possa ser de forma inversa (antropozoonoses, como a

Estafilocócia).

Desde 1996 que se verificou uma maior utilização de zoosanitários (antibióticos,

hormonas, desinfectantes, insecticidas, entre outros) e consequentemente, casos de reacções

adversas aos mesmos produtos nas pessoas. Estas substâncias podem absorver-se através da

pele, por via oral ou serem inaladas, provocando sintomas respiratórios, náuseas, dor de

cabeça, dermatites e fotossensibilização.

Atenção especial merecem também os transtornos que sempre se puderam observar, por

hipersensibilidade (alergias) aos coelhos (ao seu pêlo e saliva), os traumatismos (feridas com

o material), as doenças infecciosas (Estafilocócias, Tétano e sobretudo a Tinha) e parasitárias

(Encefalitozoonoses, Sarna Sarcóptica, Toxoplasmose). Isto aplica-se aos tratadores de

coelhos, trabalhadores de matadouros e técnicos de campo. De forma muito destacada, deve

assinalar-se outros grupos de risco, como as crianças, os asmáticos e os imunodeficientes.

Quando se fala em ventilação nas explorações, supõe-se que o objectivo é o bem-estar dos

coelhos e em definitivo, a sua produção. Não obstante, deve-se destacar também que as

pessoas que trabalham em ambientes com má ventilação, por exemplo, com pouco oxigénio,

excesso de dióxido de carbono ou de amoníaco, para além de frio e humidade, sem dúvida

que sofrem as consequências, embora estas sejam a longo prazo.

No que diz respeito aos consumidores, o risco para a sua saúde pode ser devido à presença

de microrganismos patogénicos (Salmonella spp., entre outros), devido a contaminações em

origem (tratamentos inadequados na exploração) ou durante o manuseamento incorrecto da

carne. Outro risco importante é a presença de resíduos de zoosanitários na carne.

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Por todos estes motivos estabeleceram-se práticas de higiene nos países desenvolvidos, que

incluem todos os âmbitos: produção, transformação e comercialização. O uso prudente de

antimicrobianos e a traçabilidade permitem assegurar em parte estes requisitos (ROSELL,

2002).

Em suma, o maneio de zoosanitários deve ser efectuado de forma prudente sempre com

luvas e frequentemente, com óculos, touca e máscara. A higiene pessoal não deve ser

descuidada por exemplo, mediante a lavagem com sabão antiséptico. Com respeito à

ventilação não faz falta insistir no seu efeito sobre a saúde. Finalmente, no que concerne ao

Tétano, a vacinação é absolutamente recomendável sendo o médico quem melhor poderá

indicar.

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2- CUMPRIMENTO DE BOAS PRÁTICAS NA EXPLORAÇÃO CUNÍCOLA

Nos serviços oficiais da Zona Agrária das Caldas da Raínha e Direcção Geral de

Veterinária de Santarém, da região do Ribatejo e Oeste, está registado um total de dezassete

explorações cunícolas, nove no distrito de Leiria e oito no distrito de Santarém, com um

efectivo total de 6720 fêmeas reprodutoras.

Na FIG. 2 apresenta-se a distribuição do efectivo cunícola desta região em função da

dimensão da exploração. Como se pode observar, verifica-se o predomínio da exploração com

dimensão média de 400-600 fêmeas, representando 40% do total, seguida das explorações

com 100-200 e 200-300 fêmeas, ambas com 24%. As explorações de maior dimensão, 800-

1000 fêmeas, representam apenas 12% das explorações da região. Esta distribuição reflecte a

dimensão média da exploração do país que é de 600 fêmeas/exploração (Santos Pereira,

2005).

Distribuição do efectivo

12% 24%
100-200 Fêmeas
200-300 Fêmeas
400-600 Fêmeas
40% 800-1000 Fêmeas
24%

Figura 2 - Distribuição do efectivo reprodutor

Todas as explorações registadas naqueles serviços consomem três ou quatro tipos de

alimento granulado (ração), recorrem à inseminação artificial como forma de beneficiação do

efectivo reprodutor, asseguram a renovação do efectivo a partir de avós (GPs) e são

conduzidas em banda de 42 dias com venda dos coelhos aos 70 dias.

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Na FIG. 3 está representado o perfil do cunicultor da região do Ribatejo e Oeste, com base

na sua idade e nível de escolaridade. Como se pode verificar, o cunicultor apresenta,

maioritariamente (47%), idade superior a 50 anos. Os escalões etários 20-30 anos e 30-40

anos representam, respectivamente, 24 e 29%, dados que reflectem alguma fragilidade no

tecido empresarial jovem da região, neste sector de produção. No que concerne ao grau de

escolaridade, também se verifica alguma fragilidade ao nível da formação, uma vez que, mais

de metade dos inquiridos (60%), apenas concluíram o ciclo preparatório e, apenas 5% obteve

formação superior (bacharelato), enquanto os restantes (35%) obtiveram formação ao nível do

ensino liceal. Porém, antes de iniciarem a actividade, a totalidade dos responsáveis pelas

explorações (100%) frequentou um curso de jovem agricultor ou realizou estágio em

exploração cunícola.

Na totalidade das explorações avaliadas, no que respeita ao equipamento mínimo exigido

para assegurar as condições de controlo zootécnico e hígio-sanitário dos animais e das

instalações, bem como relativamente ao seu dimensionamento, e em todos os sectores,

aquisição de sémen, gestação e maternidade, crescimento e engorda, verificou-se o total

cumprimento dos requisitos legais.

Escolaridade Ciclo
Perfil do cunicultor
preparatório
Liceu
50% 47%
5%
40% Formação
29% 35% superior
24%
30%
20% 60%
10%
0%
20-30 30-40 >50
Idade

Figura 3 - Perfil do cunicultor de acordo com a idade e escolaridade

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Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

A FIG 4 apresenta o grau de cumprimento de determinadas boas práticas essenciais na

produção de coelhos: 1 - existência de rede mosquiteira; 2 - cumprimento de vazio sanitário; 3

- cumprimento das dimensões dos equipamentos; 4 - controlo de pragas e roedores; 5 –

ventilação adequada; 6 – existência de rodilúvio na entrada da exploração; 7 –existência de

pedilúvio na entrada da exploração; 8 – existência de vedação na área circundante; 9 –

obrigatoriedade de uso de vestuário e calçado adequado à função; 10 – limpeza e desinfecção

periódica do meio ambiente; 11 – limitação à entrada de pessoas estranhas; 12 – livro de

registos actualizado e preenchido; 13 – limpeza e desinfecção periódica do equipamento; 14 –

limpeza e desinfecção periódica das tubagens de água e depósitos; 15 – eliminação de

cadáveres em cumprimento da legislação; 16 – desinfecção periódica de silos; 17 –

cumprimento de prazos na administração de fármacos; 18 – cumprimento de intervalo de

segurança; 19 – realização periódica de análises à água; 20- exigência de certificado do

fornecedor de alimentos; 21 – administração de alimento medicado aos animais.

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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

Cum prim ento de prazos na adm inistração de


fárm acos

Adm inistração de alim ento m edicado aos anim ais.

Exigência do certificado ao fornecedor de alim ento

Realização de análises periódicas à água

Cum prim ento do intervalo de segurança

Desinfecção periódica dos silos

Elim inação de cadáveres de acordo com a


legislação

Lim peza e desinfecção periódica das tubagens e


depósitos
Lim peza e desinfecção periódica dos
equipam entos

Possui livro de registos preenchido e actualizado

Lim itação à entrada de pessoas estranhas

Lim peza e desinfecção periódica do m eio


am biente

Uso de vestuário e calçado adequado às funções

Existência de vedação na àrea circundante da


exploração

Existência de pedilúvio na entrada da exploração

Existência de rodilúvio na entrada da exploração

Ventilação adequada

Controlo de pragas e roedores

Cum prim ento das dim ensões dos equipam entos

Cum prim ento do vazio sanitàrio

Existência de rede m osquiteira


0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Cum pre Não cum pre

Figura 4- Grau de cumprimento de boas práticas na produção cunícola(%).


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Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

Como se pode verificar pela leitura da FIG 4, itens como o cumprimento da dimensão dos

equipamentos, o controlo de praga de roedores, a ventilação adequada, a limpeza e

desinfecção periódica do meio ambiente, a limitação da entrada de pessoas estranhas, a

limpeza e desinfecção periódica dos equipamentos, tubagens de água e depósitos, a

desinfecção periódica dos silos, o cumprimento dos prazos na administração de fármacos, o

cumprimento dos intervalos de segurança, a exigência de certificação ao fornecedor de

alimento e a administração de alimento medicado são cumpridos, sem excepção, por todas as

explorações cunícolas da região.

Por outro lado, no que diz respeito à existência de rede mosquiteira, verifica-se que 12%

das explorações não cumpre o requisito. Este aspecto poderá ser preocupante já que esta

situação facilita a difusão de doenças como a Mixomatose e a Tinha por vectores mecânicos.

Como é sabido, os insectos são reservatórios primários de infecção.

Ainda de acordo com a FIG. 4, verifica-se que 12% das explorações não cumprem o vazio

sanitário entre entrada e saída de animais de cada pavilhão. Esta situação resulta da

indisponibilidade de espaço ao nível das instalações, em que o cunicultor para o rentabilizar

instala fêmeas reprodutoras e coelhos de engorda no mesmo pavilhão. Segundo ROSELL

(2002), um dos principais inconvenientes na produção intensiva de coelhos, é a produção, no

mesmo pavilhão, de animais em estados fisiológicos distintos (maternidade, recria e engorda).

O não cumprimento do vazio sanitário pode resultar em contágios, indesejáveis, entre

diferentes grupos de animais, já que nunca são efectuadas limpeza e desinfecção eficazes.

No que concerne ao dimensionamento dos equipamentos utilizados, verifica-se o total

cumprimento do legislado, aspecto extremamente importante para assegurar o bem-estar

animal. Esta situação resulta, em parte, do facto de os equipamentos serem adquiridos a

empresas certificadas, nas quais as normas referentes às dimensões são homologadas.

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Também o controlo de roedores e pragas é assegurado pela totalidade das explorações da

região, aspecto igualmente relevante pois, sendo estes vectores de transmissão de inúmeras

doenças, nomeadamente Salmonelas e Tinha, entre outras, esta prática constitui uma

importante forma de evitar a sua propagação.

Pode-se verificar o total cumprimento da existência de ventilação adequada na totalidade

das explorações, aspecto relevante já que permite uma boa renovação do ar, nomeadamente

de oxigénio e uma boa eliminação do amoníaco presente na urina dos animais. O

cumprimento deste requisito afigura-se essencial prevenindo certos problemas respiratórios

que advêm duma ventilação inadequada.

Quanto à existência de rodilúvio, na entrada da exploração, verifica-se uma situação de

total incumprimento por parte das explorações analisadas. Este facto poderá ser considerado

preocupante atendendo a que, regularmente, há entrada de veículos na exploração,

provenientes do matadouro e/ou do fornecedor do alimento, podendo estes constituir vectores

de transmissão de doenças. No que concerne à existência de pedilúvio na entrada da

exploração assiste-se, uma vez mais, a uma situação preocupante, já que, apenas 6% das

explorações, garantem esta prática, negligenciando o perigo eminente que constitui a entrada

de pessoas, embora restrita, nas suas explorações. Seria desejável, em cada visita, incluindo a

do médico veterinário ou de algum técnico, o uso de kits descartáveis que incluem pés, touca

e bata.

A existência de vedação verificou-se na quase totalidade das explorações (88%). Nas

restantes, a vedação ou era inexistente ou encontrava-se em mau estado, permitindo a entrada

de animais selvagens, potenciais vectores de propagação de doenças e, eventuais causadores

de avultados prejuízos nas explorações.

No que respeita à utilização de vestuário e calçado adequados às funções verificou-se,

igualmente, um elevado nível de adesão por parte dos cunicultores (82%). Em todas as

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explorações verificou-se o uso de bata branca e limpa, bem como de calçado antiderrapante, o

que se afigura uma boa prática, particularmente importante após lavagens e desinfecções.

Verificou-se o total cumprimento na limpeza e desinfecção periódica do meio ambiente,

equipamentos e depósitos e tubagens de água, assim como na limitação da entrada de pessoas

estranhas na exploração. Esta observação reflecte a sensibilização, cada vez maior, do

cunicultor para o cumprimento desta prática, prevenindo o aparecimento e desenvolvimento

de determinados insectos e microrganismos (vírus, bactérias e fungos) que, ao propagarem-se,

provocam sérios prejuízos na produção.

No que concerne à actualização e preenchimento do livro de registos, também o grau de

cumprimento dos cunicultores é elevado (82%). O cumprimento desta prática é de

considerável importância, permitindo ao médico veterinário a identificação de eventual

situação anómala. O preenchimento do livro dos registos, e respectiva manutenção de registos

actualizados, reveste-se igualmente de enorme importância em eventual situação de crise

sanitária, constituindo um importante pilar da rastreabilidade.

Pode-se verificar que nenhuma exploração procede à eliminação de cadáveres em

conformidade com a legislação. A eliminação é efectuada na própria exploração mas sem

cumprimento dos requisitos legais. Esta situação resulta de alguma precariedade que se

verifica no país, a nível de serviços para a recolha de cadáveres, na exploração animal em

geral e, na exploração cunícola, em particular. As empresas de recolha de cadáveres que

operam no mercado são escassas e onerosas, praticando valores que, na generalidade, a

exploração cunícola não consegue suportar. A eventual recolha de cadáveres, a ser realizada,

para além do serviço a pagar, acresce custos à produção, já que implica que o cunicultor

disponha de um sistema que permita ―armazenar‖ os cadáveres por tempo limitado. As

dificuldades apresentadas para obter este serviço a custo aceitável traduz-se em situações de

incumprimento, aspecto que se reveste de alguma importância já que, como é sabido, os

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cadáveres de animais originam problemas de contaminação do solo e das águas subterrâneas,

maus odores e, sobretudo, transmissão de agentes patogénicos.

É satisfatório verificar um total cumprimento no que diz respeito à desinfecção de silos, o

que é extremamente importante, evitando o desenvolvimento de bolores e fungos no seu

interior, eventuais contaminações a nível do alimento e, consequentemente, problemas

digestivos nos animais e/ou a respectiva morte.

Também se pode verificar o total cumprimento dos prazos na administração de fármacos e

respeito dos intervalos de segurança. Existe uma preocupação na administração dos fármacos,

a nível de dosagem, de prazo (desparasitações e vacinações periódicas ao longo do ano),

assim como no cumprimento do respectivo intervalo de segurança.

No que concerne à realização periódica de análises à água consumida na exploração,

verifica-se que estas apenas são efectuadas em 65% das explorações. O elevado grau de

incumprimento verificado (35%) é preocupante na medida em que a eventual contaminação

da água de bebida, com elevado teor de microrganismos ou mesmo com resíduos de produtos

químicos, poderá ser responsável por diversos problemas ao nível digestivo e , eventualmente,

causa de morte dos animais.

No que diz respeito à exigência de certificação ao fornecedor de alimento e à

administração de alimento medicado aos animais, verifica-se que a totalidade das explorações

cumpre com esta prática. É de referir a importância que o alimento medicado tem hoje em dia

na cunicultura, devido aos problemas digestivos e respiratórios dos animais. Assim cada vez

mais a indústria responsável pelo fabrico dos alimentos desta espécie, tem desenvolvido

medicação visando assegurar uma elevada produtividade que se traduz pela redução da taxa

de mortalidade e do índice de conversão alimentar. O fornecimento de alimento granulado é

assegurado por empresas certificadas, que garantem um alimento que reúne as características

microbiológicas, físicas e químicas exigidas.

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Na FIG. 5 apresenta-se informação relativa às taxas de mortalidade e de rejeição de

animais, registadas nos sectores crescimento e engorda de coelhos, das explorações estudadas.

12%
Taxa de Rejeitados/Mortalidade média

10%

8%

6%

4%

2%

0%
Alcanhões 120

Batalha 200
Alenquer 120

Alcanhões 300

Benedita 400

Benedita 500

Pegões 600

Pegões 800
Alpiarça 400

Bombarral 600

Bombarral 1000
Leiria 100

Leiria 500
Benav 100

Fátima 450
Tomar 230

Rio Maior 300

Explorações

Taxa de Rejeitados Mortalidade média

Figura 5- Taxas de mortalidade e de rejeição de animais, registadas nos sectores

crescimento e engorda de coelhos, das explorações estudadas.

No QUADRO 11 apresentam-se algumas estatísticas descritivas para as taxas calculadas

para a mortalidade e rejeição de animais (médias, máximos e mínimos), bem como a

percentagem de explorações com resultados acima dos valores de referência.

QUADRO 11 - Taxas de mortalidade e de rejeição de animais - médias, máximos e

mínimos, e percentagem de explorações acima dos valores de referência.

TAXA DE TAXA DE REJEIÇÃO


MORTALIDADE
Valor médio das 6,0 ± 0,02% 3,0 ± 0,01%
explorações
Valor máximo 10% 5%

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Valor mínimo 4% 1%
% de explorações acima
dos valores de referência 18% 24%
Taxa de mortalidade: 7%
Taxa de rejeição: 2,5-3%

Da análise da FIG. 5 e do QUADRO 11, verificamos que a taxa de mortalidade média

registada foi de 6%, com um valor máximo de 10% e um mínimo de 4%. O valor médio

calculado para a taxa de mortalidade encontra-se ligeiramente inferior aos valores de

referência referidos na literatura para este sector de produção da exploração cunícola que,

segundo SANTOS PEREIRA (2005) cifra-se em 7%. Para estes resultados concorre,

certamente, o facto de a totalidade das explorações em estudo recorrer à utilização de

alimento medicado. Porém, verifica-se uma grande heterogeneidade de valores calculados

para a taxa de mortalidade entre as diversas explorações em estudo, situando-se 18% destas

acima dos valores de referência. Esta observação sugere a possibilidade de boa parte das

explorações poder vir a melhorar o seu rendimento, implementando melhores condições

técnicas na explorações dos seus animais. O mesmo acontece relativamente à taxa de rejeição

de animais, tendo-se calculado um valor médio de 3%, com um máximo de 5% e um mínimo

de 1%. Também para este parâmetro o valor médio calculado encontra-se no limite superior

dos valores de referência referidos na bibliografia consultada, cifrando-se estes em 2,5-3%

(SANTOS PEREIRA, 2005). Em relação à taxa de rejeição de animais, verifica-se que 24%

das explorações ultrapassa o limite de referência, evidenciando a possibilidade de alguma

melhoria técnica ao nível da exploração, minimizando a taxa de rejeição de animais e,

permitindo melhorar o seu rendimento.

Na FIG. 6 apresenta-se informação combinada relativa a parâmetros analisados, cujo

cumprimento não é assegurado pela totalidade das explorações, e as respectivas taxas de

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mortalidade e rejeição de animais, verificadas. Entre estes parâmetros encontram-se a

existência de rede mosquiteira, o cumprimento de vazio sanitário, a existência de pedilúvio,

existência de vedação, o uso de vestuário e calçado adequados, o livro de registos actualizado

e finalmente as análises periódicas à água.

10%

9%

8%

7%

6%

5%

4%

3%

2%

1%

0%
Análises periódicas à
Rede mosquiteira

Pedilúvio

Vedação
Vazio sanitário

Vestuário e calçado

Livro actualizado
adequados

água

Taxa de mortalidade das explorações cumpridoras


Taxa de rejeição das explorações cumpridoras
Taxa de mortalidade das explorações não cumpridoras
Taxa de rejeição das explorações não cumpridoras

Figura 6 – Taxas de mortalidade e de rejeição de animais das explorações cujo

cumprimento dos parâmetros analisados não é assegurado pela sua totalidade.

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Da leitura da FIG. 6 pode-se verificar que, globalmente, a taxa de mortalidade dos animais

não sofreu qualquer alteração entre as explorações cumpridoras e incumpridoras de requisitos

como existência de rede mosquiteira, de vedação e de livro de registos actualizado. Esta

observação da inexistência de rede mosquiteira e de vedação não terem um efeito directo na

taxa de mortalidade era já expectável uma vez que se trata de medidas de prevenção de

contaminação exterior por animais que sejam reservatórios primários de infecção. Não se

tendo verificado a eventual infecção, não se registou aumento na taxa de mortalidade dos

animais da exploração. O mesmo acontece com a manutenção de um livro de registos

actualizado, obrigatório por lei, que assume importância para o médico veterinário identificar

eventual situação anómala e, em caso de crise alimentar, conseguir, de forma rápida,

identificar a origem dos animais infectados. Assim sendo, esta situação de incumprimento

também não se traduz em qualquer alteração da taxa de mortalidade.

Pelo contrário, situações de incumprimento da exploração no que respeita a parâmetros

como o vazio sanitário, a utilização de vestuário e calçado adequados e a realização de

análises periódicas à água, traduziu-se num acréscimo da taxa de mortalidade verificada. No

que concerne ao vazio sanitário, o incumprimento desta medida foi responsável por um

acréscimo da taxa de mortalidade em um ponto percentual (7% vs 6%). Esta observação

sugere um eventual contágio indesejável de animais ocorrido nas explorações onde nunca são

efectuadas limpeza e desinfecção eficazes. O mesmo acontece no que diz respeito à não

utilização de vestuário e calçado adequados, parâmetro onde o grau de incumprimento das

explorações é de 18%, e que é responsável por um acréscimo de 2% da taxa de mortalidade (8

vs 6%), evidenciando a importância do cumprimento deste requisito. O valor de 8% registado

para a taxa de mortalidade, nas explorações que não cumprem este requisito, é considerado

elevado e sugere a possibilidade de uma eventual contaminação dos animais pela falta de

limpeza do vestuário e calçado utilizados.

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Finalmente, no que concerne à realização periódica de análises à água, verifica-se que a

taxa de mortalidade nas explorações não cumpridoras sofre um acréscimo de três pontos

percentuais, comparando com a taxa de mortalidade verificada nas explorações cumpridoras

(8% e 5%, respectivamente). A não realização periódica de análises à água traduz-se num

desconhecimento da sua eventual contaminação, quer ao nível químico (resíduos químicos)

quer ao nível microbiológico (presença de microorganismos quer sejam bactérias, fungos,

vírus ou parasitas), cujo consumo poderá estar na origem de graves problemas a nível

digestivo e, consequentemente na morte dos animais.

No que concerne à taxa de rejeição de animais verificada situações de incumprimento de

vazio sanitário e de livro de registos actualizado, não se traduziu em qualquer alteração entre

explorações cumpridoras e incumpridoras daqueles requisitos. Quanto ao vazio sanitário, a

situação de incumprimento apenas parece ter influência na taxa de mortalidade dos animais,

não se reflectindo em lesões que possam ser motivo para a sua rejeição. Quanto à situação de

incumprimento da manutenção de um livro de registos actualizado, à semelhança do já

referido relativamente à taxa de mortalidade, não era expectável ter qualquer influência na

taxa de rejeição dos animais. No que concerne a outras situações de incumprimento na

exploração, apenas o incumprimento de medidas como a utilização de vestuário e calçado

adequados, e a realização periódica de análises à água, e à semelhança do que se verificou

para a taxa de mortalidade, a taxa de rejeição de animais registou um acréscimo nos valores

observados, cifrando-se este em um e dois pontos percentuais, nos referidos parâmetros

analisados, respectivamente. Possivelmente, a já referida eventual contaminação dos animais

pela falta de limpeza do vestuário e calçado utilizados e os problemas ao nível digestivo que

resultam da ingestão de água contaminada, podem estar igualmente, a par de uma maior taxa

de mortalidade, também na origem de uma maior taxa de rejeição de animais. É de notar que

a situação de incumprimento destes dois requisitos foi a principal causa de acréscimo

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registado para as taxas de mortalidade e de rejeição de animais, e que estas situações

representam 8% e 4%, respectivamente, das explorações analisadas.

Contrariamente ao que se verificou com a taxa de mortalidade, onde os parâmetros como a

existência de rede mosquiteira e de vedação, não tiveram qualquer influência, já para a taxa de

rejeição esta situação manifestou-se negativamente. Esta observação, a par do requisito

pedilúvio, cuja existência se traduziu num decréscimo para ambas as taxas calculadas, de

mortalidade e de rejeição, não encontra qualquer explicação plausível para além da

coincidência e de se estar a trabalhar na análise de um número reduzido de explorações.

No QUADRO 12 apresentam-se as temperaturas médias registadas, nos meses de Verão

(Junho, Julho, Agosto e Setembro), no interior dos pavilhões de crescimento e engorda de

animais, das explorações em estudo. O referido quadro combina ainda informação relativa a

situações de incumprimento dos principais requisitos de boas práticas na exploração cunícola.

QUADRO 12 - Temperaturas médias registadas, nos meses de Verão no interior dos

pavilhões de crescimento e engorda de animais, e das situações de incumprimento dos

principais requisitos de boas práticas na exploração cunícola.

Localidades Efectivo Temperatura Vazio Uso de vestuário Análises


média de sanitário e calçado periódicas
Verão (ºC) adequados à água
Leiria 100 33 Sim Não Não
Benavente 100 35 Não Sim Não
Alcanhões 120 30 Sim Não Não
Alenquer 120 35 Sim Não Não
Batalha 200 35 Sim Sim Não
Tomar 230 28 Sim Sim Sim
Rio Maior 300 30 Sim Sim Sim
Alcanhões 300 30 Sim Sim Sim
Benedita 400 30 Sim Sim Sim

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Alpiarça 400 37 Sim Sim Sim


Fátima 450 30 Sim Sim Sim
Benedita 500 28 Sim Sim Sim
Leiria 500 33 Não Sim Não
Pegões 600 28 Sim Sim Sim
Bombarral 600 28 Sim Sim Sim
Pegões 800 28 Sim Sim Sim
Bombarral 1000 32 Sim Sim Sim

A temperatura média registada nas explorações foi de 31,0 ± 2,98ºC, com um máximo de

37ºC na exploração situada em Alpiarça e um mínimo de 28ºC em diversas explorações

situadas em Tomar, Benedita, Pegões e Bombarral. A elevada amplitude de temperaturas

médias registadas no interior dos pavilhões das diversas explorações estudadas resulta do

facto de apenas algumas disporem de painéis de arrefecimento, o que permite uma

temperatura mais controlada e, consequentemente, um melhor bem estar animal. Os valores

médios registados são consideravelmente superiores aqueles referidos na literatura como

temperaturas óptimas para esta fase de desenvolvimento dos animais. Segundo ROSELL

(2000), a temperatura do pavilhão de animais em fase de crescimento e engorda deverá situar-

se entre os 18 e os 22ºC.

No QUADRO 13 apresentam-se as taxas calculadas para a mortalidade e de rejeição de

animais (médias, máximos e mínimos) durante os meses de Verão, bem como a percentagem

de explorações com resultados acima dos valores de referência.

QUADRO 13 - Taxas de mortalidade e de rejeição de animais nos meses de Verão -

médias, máximos e mínimos, e percentagem de explorações acima dos valores de referência.

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Taxa de mortalidade Taxa de rejeição

Valor médio das explorações 7,4 ± 0,03% 2,7 ± 0,01%


Valor máximo 12% 5%
Valor mínimo 4% 1%
% de explorações acima dos
valores de referência 41% 24%
Taxa de mortalidade: 7%
Taxa de rejeição: 2,5-3%

Da análise do QUADRO 13, verificamos que a taxa de mortalidade média registada

durante os meses de Verão foi de 7,4%, com um valor máximo de 12% e um mínimo de 4%.

O valor médio calculado para este período é ligeiramente superior à média anual que tem

como valor 6%, máximo de 10% e um mínimo de 4%. Igualmente, os valores registados para

a taxa de mortalidade, ultrapassam os valores de referência referidos na literatura, reflectindo

a importância da temperatura nos meses de Verão. Também a percentagem de explorações

que têm os valores acima dos valores de referência, é significativo, 41%, enquanto que em

relação à média anual, apenas 24% ultrapassavam os valores tidos como referência. Em

relação às taxas de rejeição não se verificam alterações dignas de registo, uma vez que os

valores são muito próximos.

A FIG. 7 combina informação relativa às taxas de mortalidade e de rejeição de animais,

calculadas nos meses de Verão, e as temperaturas médias registadas no interior do pavilhão

dos animais em fase de crescimento e de engorda.

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14% 40

35
12%

30
Taxa de Rejeitados/Mortalidade de Verão

10%

25

Temperaturas
8%

20

6%
15

4%
10

2%
5

0% 0
Alcanhões 120

Batalha 200
Alenquer 120

Alcanhões 300

Benedita 400

Benedita 500

Pegões 600

Pegões 800
Alpiarça 400

Bombarral 600

Bombarral 1000
Leiria 100

Fátima 450

Leiria 500
Benav 100

Tomar 230

Rio Maior 300

Explorações

Taxa de rejeição de Verão Taxa de mortalidade no Verão Temperatura Verão

Figura 7 – Taxa de mortalidade no Verão, taxa de rejeição de Verão e temperaturas


registadas no Verão.

A exploração onde se registou a temperatura média mais elevada (37ºC), Alpiarça, foi uma

exploração que apresentou, face à média das explorações em estudo, valores intermédios

/baixos de taxas de mortalidade e rejeição de animais (6% e 3%, respectivamente).

Igualmente, outra exploração que registou uma temperatura média elevada (35ºC), Benavente,

apresentou um bom desempenho produtivo, no que concerne às taxas de mortalidade e

rejeição de animais. Esta observação sugere que, outros factores que não as elevadas

temperaturas per si, assumam um papel preponderante nos resultados produtivos da


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exploração. Esta observação difere da referida pela bibliografia onde a temperatura é indicada

como tendo um efeito directo no desempenho produtivo dos animais. Segundo ROSELL

(2000), temperaturas elevadas alteram o comportamento dos animais, causando redução na

ingestão de alimento, originando animais fracos e, em casos extremos, maior mortalidade. O

aumento de temperatura de 18ºC para 33ºC reflecte-se numa elevação do ritmo respiratório do

coelho, em 2,5 vezes. Para o mesmo diferencial de temperatura, o ritmo cardíaco aumenta

1,10-1,16 vezes, provocando um aumento da quantidade de água evaporada (90 a 128ml)

(ROSELL, 2000). Ainda segundo o autor, quando a temperatura ultrapassa o valor crítico

superior, 30ºC no caso da engorda, os rendimentos alteram-se e os ganhos médios diários

diminuem cerca de 1 a 4%, por cada ºC de acréscimo. Possivelmente, nas explorações onde se

registaram valores de temperatura mais elevados também houve um menor crescimento dos

animais, mas esse parâmetro não foi avaliado no presente trabalho.

Porém, é igualmente verdade que as maiores taxas de mortalidade foram observadas em

explorações que registaram elevadas temperaturas durante os meses de Verão, nomeadamente

nas explorações Leiria, Batalha e Leiria. Note-se, no entanto que para além da temperatura

elevada, todas estas explorações não realizam análises periódicas à água e, em duas delas, os

funcionários não utilizam vestuário e calçado adequados. Esta observação sugere que, o efeito

negativo da elevada temperatura poderá ser um aspecto particularmente importante quando

alguns procedimentos de boas práticas na exploração não são cumpridos.

Como é sabido, as elevadas temperaturas favorecem o desenvolvimento microbiológico na

água e a propagação de agentes infecciosos.

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VI. CONCLUSÃO

A exploração cunícola do Ribatejo e Oeste, com uma dimensão média de 400-600 fêmeas,

caracteriza-se por um sistema de produção conduzido em banda de 42 dias, com venda dos

coelhos aos 70 dias e recurso à inseminação artificial, como forma de beneficiação do

efectivo reprodutor. O seu tecido empresarial está envelhecido, apresenta baixo nível de

escolaridade, embora, maioritariamente tenha frequentado curso de jovem agricultor ou

realizado estágio em exploração cunícola.

A totalidade das explorações avaliadas cumpre a legislação no que respeita ao equipamento

mínimo exigido para assegurarem as condições de controlo zootécnico e hígio-sanitário dos

animais e das instalações, bem como relativamente ao seu dimensionamento. No que

concerne ao cumprimento de boas práticas de produção, para a generalidade das explorações

em estudo, são também cumpridos os principais requisitos legais que foram objecto deste

estudo. Porém, alguns requisitos como a existência de rede mosquiteira, a realização de vazio

sanitário, a existência de rodilúvio e pedilúvio, a existência de vedação no perímetro da

exploração, o uso de vestuário e calçado adequados às funções, o livro de registos actualizado

e preenchido, a eliminação de cadáveres em cumprimento da legislação e, finalmente, a

realização periódica de análises à água, verificou-se um alto valor de incumprimento em

alguma explorações.

As taxas de mortalidade e de rejeição de animais, calculadas nos sectores de crescimento e

engorda, apresentaram valores médios dentro dos valores de referência. Porém, a grande

heterogeneidade de valores registados entre explorações, quer para a mortalidade quer para a

rejeição de animais, sugere que, considerável parte da exploração cunícola da região poderia

63 Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

introduzir melhorias técnicas na exploração dos animais, aumentando, dessa forma, a sua

produtividade e rentabilidade.

Entre as boas práticas a cumprir na exploração cunícola e cuja situação de incumprimento

foi associada a maiores taxas de mortalidade e de rejeição de animais, destacou-se o

incumprimento de vazio sanitário, a utilização de vestuário e calçado adequados e a realização

de análises periódicas à água.

Outro aspecto importante foi a verificação de elevados valores de temperatura ambiente

dos meses de Verão, registados no interior dos pavilhões de crescimento e engorda e que

ultrapassam substancialmente os valores recomendados. Esta questão assumiu particular

importância nas explorações onde, para além do registo de elevadas temperatura, não se

cumpriram requisitos como a realização de análises periódicas à água e/ou os funcionários

não utilizam vestuário e calçado adequados, traduzindo-se numa considerável elevação da

taxa de mortalidade e de rejeição de animais.

64 Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

VII. BIBLIOGRAFIA

DECRETO-LEI nº 214/2008 do Diário da República, I Série. Nº 218 de 10 de

Novembro de 2008.

FAOSTAT http://faostat.fao.org/site/569/DesktopDefault.aspx?PageID=569#ancor.

HIPÓLITO, L. (2006) – Estratégia de Desenvolvimento Rural para a Região de

Entre Douro e Minho 2007 – 2013. Publicação da Direcção Regional de Agricultura de

Entre Douro e Minho. Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e Pescas.

LEBAS, F e COLIN, M (2001) - Cuniculture nº 158- 28(2) Março/Abril 2001.

LUCAS, J.M. (2008) - Estatísticas Agrícolas. Pagª 56.

NEVES, A.M.G.S. (2006) - Manual de boas práticas na produção do mel. Conceitos

e definições pagª5. Editado por Federação Nacional dos Apicultores de Portugal.

PORTARIA 635/2009 do Diário da República, I Série n.º 111 de 9 de Junho de 2009.

REGULAMENTO CE nº 178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho de 28

de Janeiro de 2002, relativo à rastreabilidade e segurança alimentar.

i Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

REGULAMENTO CE n.º 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de

Abril de 2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios.

REGULAMENTO CE nº 853/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de

Abril de 2004, que estabelece regras específicas de higiene aplicáveis aos géneros

alimentícios de origem animal.

ROSELL, J. M. (2000) - Enfermedades del conejo. Editora Mundi-Prensa. Volume I.

605pp.

ROSELL, J. M. (2000) - Enfermedades del conejo. Editora Mundi-Prensa. Volume II.

598pp.

ROSELL, J. M. (2002) - Profilaxia em explorações de cunicultura intensiva, II

Jornadas Internacionais de Cunicultura, UTAD Vila Real, 11 e 12 de Outubro.

SANTOS PEREIRA A. (2005) - Simpósio Europeu de Cunicultura. Elanco. Lisboa,

Junho de 2005.

SEVILLA L. (2005) Seguridad Alimentaria - Implantación de un sistema APPCC en

una granja de conejos,. ―simposium de cunicultura‖ 19 e 20 de Maio de 2005.

ii Mestrado em SPCA, ESAS, 2010


Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

ANEXO I

Cunicultor:

Localização da exploração:

Dimensão do efectivo:

Habilitações literárias:

Taxa de mortalidade Verão/Inverno:

Taxa de rejeição:

Temperaturas de Verão/Inverno:

Frequentou um curso de jovem agricultor ou estagiou numa exploração cunícola:

Consumo de mais que uma ração:

Forma de beneficiação das fêmeas (IA):

Renovação do efectivo com GPs:

Nº de dias de cada banda:

Idade dos animais à venda:

Existência do equipamento mínimo exigido para assegurar as condições de

controlo zootécnico e higio-sanitário dos animais e das instalações:

Cumprimento dos requisitos legais na obtenção de sémen, no dimensionamento de

todos os sectores (gestação, maternidade, crescimento e engorda):

INSTALAÇÕES

- Presença de rede mosquiteira nas janelas?

- Cumprimento do vazio sanitário?

- Cumprimento das normas comunitárias em relação às dimensões dos equipamentos?

- Controlo de pragas e roedores?

- A ventilação é adequada?
iii Mestrado em SPCA, ESAS, 2010
Boas Práticas na Produção de Coelho:
Elaboração do manual e avaliação do grau de cumprimento na exploração cunícola

- Existe um rodilúvio na entrada da exploração?

- Existe um pedilúvio na entrada da exploração?

- A área da exploração está devidamente vedada de forma a evitar a entrada de animais

selvagens?

- Uso de vestuário e calçado adequado às funções?

- Faz eliminação de cadáveres de acordo com a lei?

- Limita a entrada de pessoas estranhas na exploração?

- Possui o livro de registos actualizado e devidamente preenchido?

- Possui o pavilhão de maternidade e engorda no mesmo pavilhão?

DESINFECÇÕES E LAVAGENS

- L+D dos equipamentos (jaulas) é periódica?

- L+D das tubagens de água e depósitos é periódica?

- L+D do meio ambiente é periódica?

- Desinfecção dos silos é periódica?

PROFILAXIA

- O uso de fármacos é correcto?

- O cumprimento dos prazos na admnistração de fármacos é correcto?

- O intervalo de segurança é respeitado?

ANÁLISES

- Realiza análises periódicas à água?

- Exige certificação do fornecedor de alimentos?

- Administra ração medicada aos animais?

iv Mestrado em SPCA, ESAS, 2010

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