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MANUAL DE PRÁTICAS E MÉTODOS

SOBRE GRUPOS COMUNITÁRIOS


ROGÉRIO ROQUE AMARO
TÍTULO Manual de Práticas e Métodos sobre Grupos Comunitários
EDIÇÃO Leigos para o Desenvolvimento
TEXTO Prof. Dr. Rogério Roque Amaro, GlocalDecide

DESIGN GRÁFICO César Rodrigues


FOTOGRAFIA DA CAPA Reunião do Grupo Comunitário de Porto Alegre,
no distrito de Caué, em S. Tomé e Príncipe.
REVISÃO EDITORIAL Mónica Azevedo, Carmo Fernandes, Luísa Trindade,
Rita Marques, Rita Fonseca

IMPRESSÃO E ACABAMENTO Gráfica Barbosa e Filhos

ISBN 978-972-97652-4-7
1ª EDIÇÃO Dezembro de 2018

LEIGOS PARA O DESENVOLVIMENTO


Estrada da Torre, 26
1750-296 Lisboa | t +351 21 7574 278
www.leigos.org | www.facebook.com/leigosparaodesenvolvimento

Este livro foi escrito segundo as novas normas do acordo ortográfico.


É expressamente proibida a reprodução parcial ou integral deste livro
sem autorização.
NOTA PRÉVIA

O MANUAL DE PRÁTICAS E MÉTODOS SOBRE GRUPOS COMUNITÁRIOS


resulta do processo de avaliação, reflexão e sistematização da
experiência dos Grupos Comunitários do Bairro da Graça, em
Benguela, Angola, e de Porto Alegre, em Caué, São Tomé e Príncipe,
no âmbito dos seguintes projetos promovidos pela ONGD “Leigos
para o Desenvolvimento”:

• Projeto GPS da Governança Local - Gestão, Planeamen-


to e Sustentabilidade - Consolidação e disseminação da
experiência do Grupo Comunitário do Bairro da Graça,
cofinanciado por Misereor e Camões - Instituto da
Coopera­ção e da Língua IP, e;

• Projeto Rumo(s) ao Sul - Capacitação institucional para


o desenvolvimento em Porto Alegre e promoção nacional
do modelo territorial de Governança Partilhada com o
cofinanciamento do Camões - Instituto da Cooperação e
da Língua.
ÍNDICE

1
9
INTRODUÇÃO

2
17
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
18 O QUE É UM GRUPO COMUNITÁRIO?
19 QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA?

3
45
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS
COMUNITÁRIOS

4
59
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS
DE GRUPOS COMUNITÁRIOS
60 PORQUÊ CRIAR UM GRUPO COMUNITÁRIO?
60 EM QUE CONTEXTOS SE CRIAM GRUPOS COMUNITÁRIOS?
61 A IMPORTÂNCIA DE SE ENTENDER E SITUAR NO CONTEXTO
65 PARA QUÊ UM GRUPO COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS OBJETIVOS
67 QUAIS AS VANTAGENS DE UM GRUPO COMUNITÁRIO?
69 QUEM FAZ PARTE DE UM GRUPO COMUNITÁRIO?
73 TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

5
79
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS
80 COMO FUNCIONA E O QUE FAZ?
88 COMO SE CONSTRÓI UM GRUPO COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS ETAPAS
91 O PROCESSO E OS DESAFIOS DA ANIMAÇÃO DE UM GRUPO
COMUNITÁRIO
93 COMO MOBILIZAR A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE?
98 COMO MOBILIZAR E TRABALHAR EM PARCERIA?
102 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS E DIFICULDADES
105 ALGUMAS NOTAS SOBRE FINANCIAMENTOS E OUTROS RECURSOS
108 ASPETOS FORMAIS (ATAS, REGULAMENTOS)

6
121
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS
MEMBROS
122 A IMPORTÂNCIA DAS ASSOCIAÇÕES E GRUPOS DA COMUNIDADE
124 AS RELAÇÕES COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRAL E LOCAL
E COM OS SERVIÇOS PÚBLICOS DESCONCENTRADOS
129 O PAPEL DAS ONGs E DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS NÃO
LUCRATIVAS
133 O LUGAR E O PAPEL DAS EMPRESAS NUM GRUPO COMUNITÁRIO

7
139
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE
140 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA
AVALIAÇÃO
150 FATORES DE SUSTENTABILIDADE DE UM GRUPO COMUNITÁRIO

8
155
ALGUMA BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

9
161
ANEXOS
162 FICHAS DE DOIS GRUPOS COMUNITÁRIOS AVALIADOS RECENTEMENTE
E TOMADOS COMO EXEMPLOS
166 10 PASSOS PARA MONTAR E DINAMIZAR UM GRUPO COMUNITÁRIO
167 PERFIL ANIMADOR/A
168 ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS
1
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

Introdução

Há vários países onde se criaram Grupos Comunitários, para


enfrentar e tentar resolver os problemas que dificultam ou inibem
o Bem-Estar, o Bem-Viver, a Dignidade e a Sustentabilidade da
Vida das Comunidades Locais. Com figurinos e lógicas muito
variadas. Alguns surgiram há várias décadas, mas nos últimos
anos, sobretudo nos últimos dez anos, ganharam novo alento e
uma nova vaga de Grupos Comunitários tem vindo a afirmar-se.
De um modo coincidente, ou provavelmente conjugado,
com o regresso do tema dos Comuns, que, exatamente desde
há dez anos, tem vindo a ganhar relevo, não só na discussão
teórica e política, mas também (e sobretudo?) na militância
da Ação Coletiva e de alguns dos Novos Movimentos Sociais.
Os Comuns reivindicam novas (ou velhas, esquecidas e desvalorizadas?)
1

formas de propriedade e, sobretudo, de utilização e de gestão de atividades


e recursos, materiais e imateriais, que são de interesse da
Comunidade, no seu todo. Recusam a dicotomia (implantada
no século XIX e acentuada no século XX), que reduzia tudo a ser
privado (dependente do mercado, com fins lucrativos) ou público
(dependente do Estado), propondo antes uma lógica Comunitária,
assente nos princípios da Solidariedade, da Reciprocidade, da
Cooperação e da Democracia Participativa2, como contraponto (ou
mesmo oposição) às lógicas dominantes do Individualismo, da
Troca Mercantil, da Competição e da Democracia meramente formal
(ou seja, limitada a atos eleitorais) e superficial, respetivamente.
Reconhecendo que a dicotomia imposta desde o século XIX,
não só não resolve os problemas graves que afetam a Dignidade
e a Sustentabilidade da Vida, como os agravam profundamente,
pondo em causa a existência de Futuro, a proposta dos Comuns
recupera e atualiza o papel e a importância da Comunidade, como
Atriz e Protagonista fundamental dos seus processos e da sua
procura de Bem-Estar e de Bem-Viver.

10
MANUAL DE PRÁTICAS E MÉTODOS SOBRE GRUPOS COMUNITÁRIOS 1

Imagem 1 - Participação do Grupo Comunitário do Bairro da Graça num


debate sobre Desenvolvimento Comunitário em Luanda, Angola.

Nesse sentido, os Grupos Comunitários, dentro da sua Grupos


Comunitários:
diversidade, podem significar, por vezes, um regresso ao são um
passado, com experiências e valores, que ainda existem em certos regresso ao
futuro?
meios mais tradicionais (em particular em zonas rurais, tendo-
se, frequentemente, perdido nas cidades, mais individualistas e
anónimas), mas são também o que se pode chamar de “regresso ao
futuro”, assentando na ideia de que alguns valores comunitários,
muitas vezes vistos como do passado, podem, se atualizados,
enfrentar melhor o Futuro e os desafios da Dignidade e da
Sustentabilidade da Vida, do que os modelos e as lógicas que,
nos últimos dois séculos nos levaram à beira da Catástrofe.

11
INTRODUÇÃO

Com este Manual visa-se apresentar o que é um Grupo


Comunitário (GC), para que serve, como funciona e quais os passos normalmente
necessários para o criar, a partir sobretudo, de experiências
e iniciativas que se têm desenvolvido em países africanos
lusófonos, e pensando prioritariamente em iniciativas a terem
lugar na África ao Sul do Sahara.
Para além do objetivo geral referido anteriormente, pretende-
-se com este Manual, os seguintes objetivos específicos:

1. propor uma definição de Grupo Comunitário (GC);


2. enquadrar teórica e historicamente a sua existência e
funcionamento;
3. situar as razões e os contextos sociais da sua criação;
4. identificar os seus objetivos e vantagens;
5. caracterizar os seus membros e o seu funcionamento;
6. sugerir alguns métodos de Animação de um processo de
criação de um GC e de mobilização da Participação da
Comunidade e das Parcerias institucionais;
7. analisar os principais obstáculos e dificuldades à sua
existência e funcionamento;
8. indicar alguns dos procedimentos formais, que lhe estão
mais associados;
9. apresentar os principais desafios das suas relações com a
Administração Pública, Central e Local, com as instituições
privadas não lucrativas e com os Parceiros, em geral;
10. enumerar alguns dos seus resultados e impactos possíveis.

O Manual propõe-se promover estes objetivos tendo em conta,


como pontos de referência, os contextos dos países africanos
lusófonos e o conhecimento de algumas experiências de GC
nesses países, como se refere no capítulo 3 e se caracteriza,
mais em pormenor, no capítulo 4, procurando-se que as refle­
xões e sugestões aqui apresentadas possam, de alguma forma,

12
MANUAL DE PRÁTICAS E MÉTODOS SOBRE GRUPOS COMUNITÁRIOS 1

ser úteis e aplicáveis nesses países, mas também em África ao


Sul do Sahara em geral, para quem pretenda dar início a um
GC nesses contextos.

Do ponto de vista metodológico, a elaboração deste Manual assentou


essencialmente no conhecimento de um conjunto alargado de
experiências de grupos comunitários, nomeadamente:

• na sistematização das duas experiências de Grupos Experiências


em Angola,
Comunitários, um em meio urbano (no Bairro da Graça, São Tomé,
na periferia da Cidade de Benguela, em Angola), outro Portugal,
Canadá,
em meio rural (em Porto Alegre, no distrito de Caué, Espanha e
em São Tomé e Príncipe)3, ambos iniciados e animados França
pela ONGD4 Leigos para o Desenvolvimento (LD), e
acompanhadas e avaliadas recentemente pelo autor deste
Manual5 (anexo 1);
• nas aprendizagens e interrogações permitidas pelo
contacto, ainda que breve, em fevereiro de 2018, com
outro GC em meio urbano, também iniciado e animado
pelos LD, no Bairro da Boa Morte, na Cidade de São
Tomé;
• no conhecimento direto que o autor tem acumulado, des-
de 1984, das realidades de todos os países africanos lusó-
fonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e
São Tomé e Príncipe), decorrente das dezenas de viagens
e do acompanhamento de projetos locais e comunitários
e do trabalho com vários organismos internacionais6 e
ONG (locais e estrangeiras)7 nesses países e ainda dos
contactos com as realidades de outros países africanos,
nomeadamente do Burkina Faso, da Guiné-Conakry, do
Mali, do Quénia e do Senegal;
• nas oito experiências de Grupos Comunitários, viven-
ciadas e animadas diretamente pelo autor, em Portugal,

13
INTRODUÇÃO

desde 1994, das quais cinco ainda atualmente;


• nos 22 Fóruns Sociais de Freguesia, do concelho de
Santa Maria da Feira, que desde 2017, o autor tem
vindo a acompanhar, apoiar e capacitar, e que assumem
também como referência o conceito de Desenvolvimento
Comunitário e os princípios e as lógicas dos Grupos
Comunitários;
• em outras quinze experiências de Grupos Comunitários,
contactadas e analisadas (em curso), em Portugal (doze), e
no Canadá - Quebeque, na Catalunha e em França.

Para além do conhecimento do autor sobre esta temática, a


elaboração deste manual teve também em conta:

• a análise da Bibliografia consultada sobre Desenvolvimen-


to Comunitário ou Local e GC, juntamente com outra
sobre temas e conceitos conexos, como: Desenvolvimento,
Bem-Estar, Bem-Viver, Comunidade, Animação Comu-
nitária, Comuns, Reciprocidade, Solidariedade, Suste-
ntabilidade, Participação, Parceria e Governança Local
Partilhada e Participativa;
• as opiniões, avaliações e sugestões recolhidas nos múlti-
plos contactos e entrevistas (cerca de 220) realizadas, na
análise das vinte e duas experiências de GC indicadas, em
particular na avaliação dos GC de Benguela (Angola) e
São Tomé e Príncipe (Porto Alegre) e da Grande Lisboa,
todas em 20188;
• as perspetivas, ideias e interrogações recolhidas junto
de experiências congéneres no Canadá - Quebeque, na
Catalunha e em França.

14
NOTAS 1

NOTAS

1. Do tema que, em inglês, é designado pela palavra Commons.

2. Princípios explicados no capítulo 2.

3. Em anexo apresenta-se uma breve ficha de caracterização de ambos


estes GC.

4. ONGD significa “Organização Não Governamental para o Desenvolvi-


mento”, ou seja, que se consagra a projetos e iniciativas de Cooperação
para o Desenvolvimento, de Educação para o Desenvolvimento ou de
Ajuda Humanitária e de Emergência.

5. Em janeiro e fevereiro de 2018. Cf. Amaro (2018b) e Amaro (2018c).

6. Em particular como consultor do PNUD - Programa das Nações


Unidas para o Desenvolvimento, em Angola, e da OIT - Organização
Internacional do Trabalho, em Angola, Cabo Verde e Moçambique.

7. Mencionam-se em particular os casos das ONGD portuguesas: ACEP -


Associação para a Cooperação Entre os Povos; CIDAC - Centro de Intervenção
para o Desenvolvimento Amílcar Cabral; FEC - Fundação Fé e Cooperação;
IMVF - Instituto Marquês de Valle Flôr; ISU - Instituto de Solidariedade
e Cooperação Universitária; e LD - Leigos para o Desenvolvimento. Das
ONG locais, refiram-se muito em especial: as ONG Cabo-verdianas,
Atelier-Mar, Citi-Habitat e a PONG’s - Plataforma das ONGs de Cabo Verde;
as da Guiné-Bissau, AD - Acção para o Desenvolvimento, AIFA-PALOP -
Associação para a Investigação e Formação orientadas para Acção nos
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, DIVUTEC - Associação
Guineense de Estudos e Divulgação das Tecnologias Apropriadas, RA -
Rede Ajuda Cooperação e Desenvolvimento e Tiniguena - Esta Terra é
Nossa!; e ainda a FONG - Federação das ONG de São Tomé e Príncipe. De

15
INTRODUÇÃO

salientar também os projetos desenvolvidos: em Angola, em Cabo Verde e


na Guiné-Bissau, com a empresa portuguesa de consultoria internacional
CESO; em Angola e em Cabo Verde, com o INA - Instituto Nacional de
Administração (de Portugal); e, na Guiné-Bissau e em Moçambique, com
o Ministério da Solidariedade Social de Portugal. Sempre nos caminhos
do Desenvolvimento e do Desenvolvimento Comunitário.

8. Para além das 122 pessoas entrevistadas para efeitos da avaliação


dos GC em Benguela (35) e Porto Alegre (87), foram também ouvidas,
individual ou coletivamente, até agora, em 2018, cerca de 100
participantes dos outros 20 GC de Portugal (da Grande Lisboa), que
estão a ser analisados, para efeitos de publicação de um livro sobre
Desenvolvimento Comunitário e Grupos Comunitários em Lisboa, por
solicitação da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, neste caso com o
apoio, na recolha destes elementos, da Investigadora Bárbara Ferreira,
a preparar Doutoramento em Sociologia Económica sobre este tema,
no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade de
Lisboa. A preparação deste Manual pôde, deste modo, beneficiar das
reflexões tendo em vista a preparação desse livro e, portanto, da ajuda
preciosa e dos contributos da Dra. Bárbara Ferreira.

16
2
ENQUADRAMENTO
TEÓRICO

18 O QUE É UM GRUPO
COMUNITÁRIO?

19 QUAIS OS CONCEITOS DE
REFERÊNCIA?
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

O que é um Grupo Comunitário?

O que é No essencial, um Grupo Comunitário (GC) é uma plataforma


um Grupo
ou um ponto de encontro, para trabalho e Ação conjunta,
Comunitário?
entre o Envolvimento Ativo da Comunidade, designado por
Participação, e o Envolvimento Ativo das Instituições e Serviços
que nela intervêm, designado por Parceria, com vista ao Bem-
Estar e ao Bem-Viver da Comunidade.
Junta, portanto, a Participação da Comunidade com a Parceria
das Instituições e Serviços nela presentes, com a finalidade
de, em conjunto, contribuírem para o Bem-Estar e o Bem-
Viver da Comunidade. Estes são, pois, os quatro ingredientes
fundamentais de um GC:

4 1. participação da Comunidade;
Ingredientes
fundamentais
2. parceria das Instituições e Serviços;
3. trabalho e Ação Conjunta;
4. com vista ao Bem-Estar e ao Bem-Viver da Comunidade.

Imagem 2 - Reunião do Grupo Comunitário de Porto Alegre, no distrito de Caué, em S.


Tomé e Príncipe, com a presença do Prof. Rogério Roque Amaro.

18
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

Quais os conceitos de referência?

Para além do conceito de GC, definido no ponto anterior, são


importantes, para um enquadramento e uma explicação mais
fundamentada e clara do que é um GC e do que pressupõe e
implica, os seguintes conceitos (por sequência de explicação):

1. Comunidade 16 Conceitos-
-chave de
2. Desenvolvimento Comunitário um Grupo
3. Participação Comunitário
4. Visão Integrada
5. Parceria
6. Animação Comunitária
7. Comuns
8. Solidariedade
9. Reciprocidade
10. Cooperação
11. Democracia Participativa
12. Governança Local Partilhada e Participativa
13. Bem-Estar
14. Bem-Viver
15. Dignidade
16. Sustentabilidade

Sem prejuízo de um maior aprofundamento, facilitado e


sugerido no capítulo 8, com a Bibliografia de referência indi-
cada, pretende-se, neste ponto, definir, de uma forma simples,
clara e sintética, e, portanto, sem pretensões académicas ou
demasiado eruditas, o que significa cada um daqueles dezas-
seis conceitos.

19
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

A Comunidade é (ou, pelo menos, deveria ser) o centro, a


essência e a razão de ser de um GC, que só existe tendo-a como
ponto de partida e finalidade. Pode ser definida, de uma forma
muito simples, como um participante num GC referiu:

"A Comunidade é um conjunto de pessoas, que residem numa


mesma área ou lugar e que partilham as mesmas ideias e
preocupações."

De facto, uma Comunidade é um conjunto de pessoas, que


vivem em Proximidade, se sentem unidas e parte de um mesmo
grupo, são capazes de agir em conjunto, na defesa dos seus
interesses ou na conquista de um sonho coletivo e reivindicam
ter uma palavra a dizer nos problemas e nas decisões que lhes
dizem respeito. São, portanto, cinco os elementos necessários
para haver uma Comunidade:

1. um conjunto ou coletivo de pessoas;


2. que vivam em Proximidade, ou seja, no mesmo Terri­
tório (sendo este normalmente real, ou seja, implicando
Proximidade física e geográfica, mas também podendo
ser virtual, falando-se, neste caso de uma Comunidade
Virtual);
3. com uma Identidade comum, ou seja, um sentimento de
pertença a um mesmo conjunto;
4. uma Solidariedade de Ação potencial, tornando possível
uma Ação Coletiva, na defesa dos seus interesses e na
conquista dos seus Sonhos;
5. e com uma pretensão a uma Autonomia Relativa, ou seja,
a algum poder próprio de decisão, na abordagem dos seus
problemas e necessidades e na procura e conquista de
respostas.

20
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

Trata-se, como é evidente, de um conceito sociocultural e


não meramente administrativo1. Um Grupo Comunitário é, por um lado, uma
concretização e um resultado possível da existência de uma dinâmica de
Comunidade, mesmo que, por vezes, de sentido negativo, como
resposta a uma ameaça ou a um sentimento de estigmatização2,
mas também é, por outro lado, uma condição e um fator de
construção e de reforço do sentido de Comunidade. Ou seja,
pode ser, simultaneamente, um seu efeito e uma sua causa.

em resumo

COMUNIDADE
1. Conjunto de pessoas o que é
2. Identidade comum
3. Vivem em proximidade
4. Solidariedade de ação
5. Pretensão de autonomia

Por seu turno, o Desenvolvimento Comunitário ou Local é o


conceito estratégico de referência de um GC, na medida em que
lhe define as principais finalidades e métodos de concretização
e intervenção. Há quem distinga, dos pontos de vista histórico,
teórico e até cultural, os conceitos de Desenvolvimento Comunitário
e de Desenvolvimento Local3.
Neste contexto, e para efeitos deste Manual, tomam-se os dois
conceitos como sinónimos, com preferência pela designação
“Desenvolvimento Comunitário”, por conter o adjetivo que cor-
responde aos dois conceitos estratégicos aqui mais sublinhados
e valorizados - Grupo Comunitário e Comunidade -, sendo, por
isso, mais vivencial, mais afetiva e mais substancial4. Entende-se
por Desenvolvimento Comunitário (DC):

• um processo de mudança;
• centrado numa Comunidade (de pequena dimensão, ou

21
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

seja, com uma escala humana de Proximidade5);


• que visa dar resposta às suas necessidades fundamentais,
que se encontram por satisfazer, procurando, portanto,
aumentar o seu Bem-Estar e Bem-Viver;
• a partir, preferencial e fundamentalmente, das suas capa­
cidades e recursos (endógenos);
• o que implica uma metodologia e uma pedagogia de
Participação e de Autonomização (Empowerment) da
Comunidade;
• com o apoio de recursos exógenos de variados tipos, des-
de que fertilizadores dos endógenos;
• numa perspetiva integrada e multidimensional;
• o que exige uma lógica de Trabalho em Parceria, ou seja,
de articulação entre as Instituições e os Serviços que
trabalham na Comunidade;
• com impacto tendencial em toda a Comunidade;
• e segundo uma grande Diversidade de ritmos, lógicas,
processos e resultados, em função das características e
especificidades de cada Comunidade.

em resumo

DESENVOLVIMENTO
o que é . Processo de mudança
. Centrado na comunidade

COMUNITÁRIO
. Resposta às necessidades
. A partir dos seus recursos
. Metodologias participativas
. Apoio recursos exógenos
. Perspetiva integrada
. Trabalho em parceria
. Impacto na comunidade
. Diversidade

22
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

Estes são os dez pontos essenciais da definição do conceito


de Desenvolvimento Comunitário, os quais permitem destacar
as nove implicações metodológicas fundamentais para a Ação
Comunitária:

1. territorialização ou enraizamento na Comunidade, o que Implicações


metodológicas
implica ser-se da Comunidade ou ser-se reconhecido e Ação
aceite por ela; Comuni­tária
2. participação ou envolvimento ativo da Comunidade;
3. visão integrada dos problemas e das soluções;
4. trabalho em parceria, implicando a articulação entre as
Instituições e Serviços presentes na Comunidade;
5. flexibilidade das ações e dos caminhos a percorrer;
6. planeamento das ações, com improviso, sempre que
necessário;
7. avaliação permanente, para correção e flexibilização,
sempre que necessário;
8. adoção de uma perspetiva contínua de Investigação-Ação,
refletindo e agindo, de forma interativa, permanentemente;
9. conjugação de competências éticas (valores de referência),
relacionais e técnicas.

em resumo

IMPLICAÇÕES
1. Territorialização quais são
2. Participação da comunidade

METODOLÓGICAS
3. Visão integrada
4. Trabalho em parceria
5. Flexibilidade das ações
6. Planeamento com improviso
7. Avaliação permanente
8. Investigação-ação
9. Competências éticas, relacionais e
técnicas

23
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Destas implicações estratégicas e metodológicas, sublinham-se


três - Participação, Visão Integrada e Trabalho em Parceria, que,
a seguir, se explicam.

O conceito de Participação refere-se, neste domínio, ao envolvimento


ativo, individual e/ou coletivo, da Comunidade na abordagem
dos seus problemas e necessidades e das respostas possíveis
aos mesmos, na procura e na conquista do seu Bem-Estar e Bem-
Viver, em todas as suas fases6: diagnóstico, conceção, decisão,
planeamento, direção, execução, acompanhamento e avaliação.
Implica a possibilidade de dar voz a todas as pessoas da Comunidade,
com particular atenção às mais desfavorecidas, aos chamados
“sem voz” e às que não estão representadas por ninguém, nem
por nenhum grupo ou organização.

A assunção de uma Visão Integrada implica a abordagem dos


problemas e das necessidades da Comunidade e a procura das
respostas correspondentes, considerando e conjugando as
suas várias dimensões, ou seja, de uma forma holística e (pelo
menos) interdisciplinar.

A lógica do Trabalho em Parceria7 assenta na cooperação e


na Ação articulada entre as Instituições e Serviços de todos os
tipos que intervêm na Comunidade e lhe organizam respostas,
podendo ser definida como um processo de ação conjunta,
entre organizações e grupos de tipos diferentes, com diferentes
respostas, que, a partir de um diagnóstico partilhado, definem
um objetivo comum (assumido), decidem, planeiam e executam
em conjunto, dividem tarefas, partilham recursos de vários
tipos e avaliam em conjunto.

24
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

em resumo

PARCERIA
. Ação conjunta o que é
. Entre organizações diferentes
. Diagnóstico partilhado
. Objetivo comum (assumido)
. Divisão de tarefas
. Avaliação permanente
. Decisão, planeamento e execução
conjunta

Para promover, desencadear e organizar uma dinâmica de


Desenvolvimento Comunitário e constituir um Grupo Comunitário,
torna-se normalmente necessário definir e acionar estratégias
de Animação Comunitária ou Territorial, entendida como o
processo de mobilização, criação e consolidação das condições de base e dos
pilares fundamentais daquela dinâmica e da constituição e funcionamento
de um GC, pelo menos nas suas fases iniciais, o que implica
que cabe ao/à Animador/Animadora, figura que pode ser
essencial nesta lógica, no respeito pelos princípios estratégicos
e metodológicos do DC:

• estar enraizado ou enraizar-se na Comunidade, ou seja,


territorializar-se;
• mobilizar a Participação da Comunidade, sobretudo dos/
as “sem voz” ou menos representados/as;
• capacitar e/ou reforçar as capacidades das pessoas e dos
grupos (formais ou informais) da Comunidade, com vista
à sua Autonomização ou Empowerment;
• adotar sistematicamente uma perspetiva integrada dos
problemas e das necessidades e das soluções;
• mobilizar, facilitar e apoiar o Trabalho em Parceria entre
as Instituições, Serviços e outros Grupos, presentes na
Comunidade;

25
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

• agir e encorajar as ações com Flexibilidade, o que implica


Criatividade e Inovação permanentes;
• planear e improvisar com a Comunidade e com os
Parceiros;
• avaliar em permanência, de forma Participada (com o en-
volvimento da Comunidade) e Partilhada (com o envolvi-
mento dos Parceiros);
• praticar e suscitar processos de Investigação-Ação, ou
seja, de reflexão e sistematização contínua das práticas,
para as inspirar e corrigir, sempre que necessário, alimen­
tando um diálogo persistente entre Teoria e Práticas e
entre Investigadores e Atores;
• conjugar, em si mesmo/a e à sua volta, as competências
éticas (valores, como a Prossecução do Bem Comum, a
Solidariedade, a Equidade, a Democracia, a Transparên-
cia, a Sustentabilidade e a Dignidade da Vida), as com-
petências relacionais (tais como a capacidade de escuta,
a valorização do diálogo, o saber exprimir-se de forma
clara, a assertividade, a empatia com os/as outros/as, a
mediação de conflitos, a intermediação de reivindicações,
a resiliência perante as dificuldades e as contrariedades,
a resistência ao desgaste relacional e institucional) e as
competências técnicas (como as que são requeridas para
operacionalizar as oito alíneas anteriores), necessárias
para concretizar uma dinâmica de DC e o funcionamento
adequado de um GC.

O Animador/a A figura e o papel do Animador Comunitário ou da Animadora


Comunitário/a
Comunitária, que tem de reunir características muito fortes e
tem um papel
fundamental adequadas aos desafios que tem pela frente, é pois, muitas vezes,
crucial, como semeador/a, desocultador/a (de competências,
recursos e vozes), facilitador/a e mobilizador/a das condições
e fatores de concretização de DC e de um GC.

26
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

Como se referiu na Introdução, os desafios atuais do DC e da


constituição de um GC têm sido convergentes e simultâneos
com a (re)emergência das reivindicações dos Comuns, como Comuns:
Recursos
uma outra modalidade de propriedade, de utilização e de gestão fundamentais
dos recursos e das atividades, quer materiais, quer imateriais, para o Bem
Comum
para além das duas que dominaram os últimos dois séculos:
privada ou pública (por parte do Estado).
Normalmente, nos últimos duzentos anos, quando se pensa
em recursos naturais, como a terra, o solo, as florestas, a água,
ou em bens produzidos, como uma casa, um automóvel, roupa,
bens alimentares, ou ainda em serviços, como a educação, a
saúde, a distribuição de água ou de energia elétrica, trata-se de
bens ou serviços privados, que têm de se comprar e pagar no
Mercado, ou bens ou serviços públicos, que o Estado administra
e disponibiliza, em princípio a preços abaixo do Mercado, ou
até gratuitamente.
Contudo, na verdade, sempre existiu uma outra modalidade
de apropriação, utilização e/ou gestão de recursos naturais
(uma terra, uma floresta, uma pastagem, a água de um poço, os
peixes do mar, por exemplo) e de bens e serviços (um rebanho,
um forno, um moinho, a água para a rega, por exemplo), a
comunitária, em que a Comunidade, no seu conjunto e de forma
coletiva e equitativa, é que é a proprietária, utiliza e gere, em
vez de ser uma pessoa individual (ou associada a outras, cada
uma com a sua parte ou quota, em função do seu capital) ou
o Estado, em nome de toda a sociedade.
É verdade que essa outra forma de propriedade, utilização
e gestão pareceu extinguir-se e ser substituída, tantas vezes
de forma violenta, pela apropriação, privada ou pelo Estado,
desses recursos, bens ou serviços comunitários, principalmente
no âmbito das lógicas impostas pelo sistema capitalista, mas
também pelo chamado “socialismo de Estado” e pelo Estado-
-Providência.

27
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Também, sobretudo nas últimas três décadas, a apropriação


privada (pelo Mercado) tem tendência para se tornar dominante,
quase a modalidade única, com o argumento de ser a mais eficiente,
“invadindo” inclusive a esfera dos recursos, dos bens e serviços
e das atividades, até aqui, apropriados e geridos pelo Estado,
ou seja, do domínio público. E, no entanto, a constatação das
catástrofes e dos enormes custos, sociais, ambientais, culturais,
territoriais, económicos e políticos, provocados pelas lógicas,
ganâncias e contradições (de interesses) de muitas das gestões
privadas e públicas concretas, adicionada às graves ameaças
e aos urgentes desafios que se têm colocado à Equidade e à
Justiça Social e sobretudo à Dignidade e à Sustentabilidade da
Vida na nossa Casa Comum, têm contribuído para revalorizar
e reformular a pertinência, a importância e a validade de uma
propriedade, utilização e gestão comunitária de muitos recur-
sos naturais, bens e serviços e atividades, em geral, como uma
solução mais Digna, Sustentável e Democrática8.

Os Comuns são recursos naturais ou de todo o tipo, bens e


serviços e atividades, que, sendo fundamentais para o Bem
Comum e para a Dignidade e Sustentabilidade da Vida (nas suas
múltiplas dimensões e formas)9, são de interesse comunitário,
pelo que a Comunidade deve ter uma palavra importante a
dizer na sua apropriação, utilização e gestão, de forma plena (ou seja, com
plena e total responsabilidade) ou, pelo menos, em parceria com os outros
atores da sociedade, como as empresas, o Estado (Central e/
ou Local) e outras organizações10. Atualmente são considerados
como Comuns:

• não só alguns dos recursos naturais que tradicionalmente


já o eram, até pela sua importância estratégica, como as
florestas, a água, os peixes e os recursos do mar, os rios e
as jazidas de petróleo;

28
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

• como os bens e serviços que lhe estão associados, como as


pastagens, a extração de produtos das florestas, a pesca, a
extração petrolífera, os sistemas de irrigação;
• como também, e cada vez mais, produtos e valores
imateriais, como o conhecimento (por exemplo, dos mais
velhos, que, sendo de propriedade privada, é a maior
parte das vezes desperdiçado, quando poderia e deveria
ter uma utilização e, portanto, uma gestão comunitária,
naturalmente com o acordo do/a seu/sua “proprietário/a”),
os saberes tradicionais da agricultura e do artesanato, a
cultura de uma Comunidade, as migrações (com as suas
riquezas de valores, conhecimentos e diálogos), a utilização
produtiva e medicinal das ervas e produtos naturais, de
forma tradicional, pelas Comunidades locais, a moeda, a
programação e os sistemas informáticos, a educação de
uma criança11;
• como todas as atividades fundamentais para a
Sustentabilidade da Vida, cuja apropriação privada e com
fins lucrativos pode pô-la em causa e/ou a gestão pública
pode ser insuficiente ou inadequada.

em resumo

COMUNS
. Recursos naturais tipos de
. Bens e serviços
. Produtos e valores imateriais

Deste ponto de vista, a apropriação, utilização e gestão


Digna e Sustentável desses recursos, bens e serviços e
atividades pode requerer um papel central da Comunidade,
onde precisamente um Grupo Comunitário pode ser uma
plataforma essencial de concretização e o Desenvolvimento
Comunitário um conceito-chave de referência, na prossecução

29
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

do Bem Comum, ou seja, na promoção do Bem-Estar e do


Bem-Viver de todos e todas em conjunto, sem exclusão nem
discriminação de ninguém. Neste sentido, os Comuns não
só designam esses recursos, bens e serviços e atividades,
como também, e cada vez mais, as próprias modalidades de
apropriação, utilização e gestão, tendo a Comunidade como
ator principal.

Por outro lado, o tema e os desafios dos Comuns convocam quatro


outros conceitos, que estão associados a valores estratégicos
neste domínio: Solidariedade, Reciprocidade, Cooperação e
Democracia Participativa. Qualquer um deles requereria uma
abordagem aprofundada, que não é possível nem adequada
neste Manual, pelo que se limitará a uma caracterização sucinta
e exemplificativa12.

A Solidariedade é um princípio ético de relacionamento com


o/a Outro/Outra, no sentido de cada um se assumir como
corresponsável pelo Bem-Estar e Felicidade do/a Outro/Outra,
agindo em conformidade com esse sentimento, numa perspetiva
de entreajuda e de preocupação e solicitude permanentes
face aos/às Outros/Outras, em que o “nosso Bem-Estar” só se
realiza e completa com o “Bem-Estar dos/as Outros/Outras” e
não à sua custa13. Para se exprimir de forma emancipatória e
plena, e em consonância com os princípios do Desenvolvimento
Comunitário e dos Comuns, a Solidariedade deve ser:

1. ecocêntrica, ou seja, dirigir-se a todos os seres vivos e


componentes14 da Vida, e não apenas aos seres humanos
(caso em que se limita a ser antropocêntrica);
2. democrática, ou seja, praticada e assumida entre iguais,
respeitando o/a Outro/Outra, e não de forma assisten-
cialista ou meramente filantrópica, em que um/a (o/a que

30
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

pode ou tem) ajuda o/a “coitadinho/a” (o/a que não tem),


implicando portanto que há sempre uma Reciprocidade
(ver conceito a seguir);
3. emancipatória, no sentido de ter em vista a Autono-
mização e Empowerment do/a Outro/a, e não a perpetu-
ação da sua dependência;
4. sistémica, no sentido de abranger várias áreas ou di-
mensões da Vida: ambientais, sociais, culturais, económi-
cas, territoriais, cognitivas, políticas e éticas.

A Reciprocidade designa um princípio económico de entreajuda,


na prática de tarefas e serviços de natureza e efeitos económicos,
como sempre os povos praticaram, nas relações comunitárias, de
vizinhança ou de amizade, como, tradicionalmente, nas tarefas
de preparação das sementeiras, das colheitas ou de outros
trabalhos agrícolas, nos sistemas de pastoreio comunitário,
na utilização dos fornos comunitários, na construção de casas
próprias ou no cuidado das crianças15, ou, mais recentemente, na
partilha de viagens, de apartamentos ou de casas, na ocupação
das crianças ou na entreajuda no estudo ou nos programas
informáticos.
Ao contrário do princípio económico que rege as relações
de troca no Mercado normal (por isso chamadas de mercantis),
em que tem de se recorrer à moeda e a um pagamento, com
equivalência de valores contabilísticos (entre o que se paga e o
que se recebe), nas relações de reciprocidade, também se trans-
ferem ou se prestam bens ou serviços económicos, para responder
a necessidades, mas sem carácter mercantil e sem utilização de
moeda, e portanto de pagamentos em dinheiro. Igualmente ao
contrário do princípio económico praticado pelo Estado (de­
signado por “Princípio de Redistribuição”), que também não é
mercantil, mas que utiliza e contabiliza valores monetários, na
Reciprocidade não entra esse tipo de valorização (monetária).

31
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Ao invés, na Reciprocidade, a lógica é “eu ajudo e tu me


ajudarás”, em que o valor está nas pessoas ou na Natureza e nas suas ne-
cessidades e relações, sendo, portanto, sobretudo social, cultural, ambiental
ou cognitivo, e não essencialmente económico. Trata-se de um princípio
económico, de produção e de distribuição, que se pode clas-
sificar de substantivo, porque incorpora também e sobretudo
valores comunitários, sociais, culturais, ambientais, territo-
riais, cognitivos e democráticos, com vista à satisfação das
necessidades e à preservação da vida, em que todos e todas
partilham o que podem e desejam, recebem o que necessitam,
numa lógica tendencial de Equidade, sem exclusão ou domí-
nio sobre o/a Outro/a, e que além disso, inclui a Natureza e a
Sustentabilidade da Vida, nas suas preocupações e objetivos.

A Cooperação é um valor e um conceito associado à Solidarie-


dade, que significa trabalhar em conjunto, associar-se para uma
Ação Coletiva, em defesa de interesses e objetivos comuns
ou conjuntos, praticando a entreajuda e o esforço conjunto,
e que se opõe à lógica, dominante nos modelos capitalistas,
da Competição e da Concorrência (por vezes a qualquer custo
social, ambiental, cultural, territorial ou político)16.

A Democracia Participativa refere-se a uma modalidade de


Democracia, assente na ideia da Participação (no sentido abor-
dado atrás) direta do povo no governo ou gestão da sociedade.
Como é sabido, o conceito de Democracia tem origem nas
palavras do grego antigo “δῆμος” (demos ou “povo”) e “κράτος”
(kratos ou “poder” ou “governo”), significando, por isso, “o
Governo do Povo”.
Historicamente, nas versões modernas (dominantes nos
últimos dois séculos) da Democracia, esta tem assentado numa
lógica que se pode classificar de indireta, em que o Povo, em
eleições (em princípio livres), escolhe os seus representantes,

32
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

para decidirem e governarem em seu nome, durante um período


limitado. A esta modalidade de Democracia, chama-se normal-
mente Democracia Representativa.
Por seu turno, a Democracia Participativa, por vezes designada
de Democracia Direta, assenta na possibilidade de o Povo poder também
tomar iniciativas e participar nas decisões de assuntos e respostas que lhe
digam diretamente respeito e ao seu Bem-Estar e Bem-Viver.
Uma das modalidades de Democracia Participativa consiste no
envolvimento ativo das Comunidades locais, numa perspetiva de
Proximidade, na abordagem dos seus problemas e necessidade
e nas decisões e procura e concretização de soluções que lhes
deem respostas17. Neste sentido, um Grupo Comunitário, se
incorporar todos os seus princípios e componentes, é um dos
caminhos mais promissores e com mais potencialidades para
uma Democracia Participativa de Proximidade. É importante
ainda sublinhar que a Democracia Participativa não se opõe à
Democracia Representativa, antes a complementa, reforçando
e aprofundando, desse modo, a Democracia em geral.

Esta sequência de conceitos e de práticas possíveis conduz


necessariamente a refletir-se sobre que modelos de governo
e de gestão dos problemas e desafios da sociedade são mais
adequados atualmente e sobretudo para fazer face às grandes
questões da Dignidade e da Sustentabilidade da Vida em Comum.
Do século XX herdaram-se dois modelos dominantes de
regulação e de resolução dos problemas e desafios da vida em
sociedade: o que depende fundamentalmente das iniciativas
individuais e das lógicas do Mercado, predominante nas ex-
periências capitalistas, sobretudo de carácter liberal; e o que
assenta, fundamental ou até totalmente, no papel e na direção
central do Estado, como se tentou praticar nas experiências
socialistas de construção do comunismo. Houve também, como
é evidente e conhecido, experiências que procuraram articu-

33
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

lar lógicas dos dois modelos anteriores de referência, como


sobretudo nos casos em que prevaleceu a Social Democracia
ou o chamado Socialismo Democrático, com o Estado Social,
ou Estado-Providência, a completar ou a corrigir as “falhas”
do Mercado.
As questões e os desafios que têm surgido nas últimas
décadas, sobretudo quanto à Sustentabilidade e ao Futuro da
Vida e da Casa Comum, a par dos fracassos dos modelos de
Socialismo de Estado e da tendência recente (dos últimos cerca
de trinta anos) para um predomínio de uma lógica neoliberal de
Mercado, como “a única solução sem alternativa”18, implicando
o enfraquecimento ou mesmo o esvaziamento das respostas
do Estado Social, trouxeram para a discussão a procura de
modelos inovadores de regulação e de gestão dos problemas
da Sociedade.
Um novo É nessa perspetiva que se tem refletido e se tem proposto
modelo de
e praticado um outro modelo, designado por Governança
governo e de
gestão dos Partilhada e Participativa, com aplicações, para já, sobretudo
problemas?
ao nível Local e, por isso, que se referirá como Governança
Local Partilhada e Participativa. Situa-se em consonância com
os conceitos e as práticas de Desenvolvimento Comunitário e
dos Comuns e pode-se definir como:

• um modelo de gestão e de regulação dos problemas e


desafios da Dignidade e da Sustentabilidade da Vida, ou
seja, um conjunto de regras, normas e métodos para (ou
ainda uma maneira de) enfrentar e resolver os problemas
da Vida em Comum;
• que não assenta no Mercado (e na vontade e interesses de
cada um/a), nem apenas no Estado, utilizando-se, por essa
razão, a palavra Governança, em vez da palavra Governação,
que se refere tradicionalmente à Ação do Estado - esta é a
primeira diferença que aquela designação pretende evidenciar;

34
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

• de forma Partilhada, ou seja, mobilizando, articulando


e contando com as Parcerias entre o Estado Local, os
Serviços Públicos Desconcentrados (dependentes da
Administração Pública Central), as empresas (numa
lógica de Responsabilidade Social Corporativa e de
contribuição para o Bem Comum) e as Organizações da
Sociedade Civil - e esta é uma segunda diferença essencial,
porque assenta numa lógica de Cooperação (em vez de
Competição) entre os diversos Atores da Sociedade;
• e também de uma forma Participativa, ou seja, mobilizan-
do e contando com a Participação e o Envolvimento Ativo
da Comunidade, nas suas diferentes expressões: a título
individual e coletivo, em grupos formais ou informais,
com particular atenção aos/às “sem voz” ou não repre-
sentados/as por ninguém - e esta é outra das diferenças
essenciais, porque conta com o envolvimento ativo da
Comunidade na regulação dos problemas (ou seja, na
sua identificação e caracterização e na procura, decisão e
construção de soluções);
• e sobretudo experimentado e praticado ao nível Local, ou
seja, de Proximidade - e esta é a quarta diferença essen-
cial, pois significa que a regulação dos problemas não se
faz apenas a nível nacional, mas que começa no Local.

De um modo evidente, tendo em conta as definições e


propostas de reflexão sugeridas até aqui, um Grupo Comu-
nitário contém, em si próprio, todas as potencialidades para
ser uma experiência inovadora de Governança Local Partilhada
e Participativa.

Quanto ao conceito de Bem-Estar (da Comunidade e de cada


um/a dos seus membros), conceito importante, porquanto é
uma das principais finalidades do DC e de um GC, há várias

35
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

definições que se podem dar e se têm dado, ao longo do tempo


e na vasta bibliografia existente sobre o mesmo19, mas, para
efeitos práticos deste Manual, pode ser definido como uma
situação de realização individual e coletiva, onde se conjugam
os resultados e sentimentos seguintes:

• a satisfação das necessidades fundamentais, ao nível ma-


terial (alimentação, agasalho e abrigo), do conhecimento
(educação) e da saúde (vida longa e saudável) - dimensões
económica e social;
• um sentimento de autossatisfação, de contentamento, de
confiança e de emoções positivas - dimensão psicológica;
• um relacionamento positivo com a Comunidade envol-
vente - dimensão relacional social;
• uma interação Sustentável com o meio ambiente, ou seja,
com os ecossistemas envolventes - dimensão relacional
ecológica20;
• a liberdade de escolha da localização geográfica da sua
vida - dimensão territorial;
• o direito à sua Cultura e valores de referência - dimensão
cultural;
• o direito à Segurança e à Liberdade de opiniões, de ex-
pressão e de associação - dimensão política;
• a Equidade de resultados, em termos de Igualdade de
Oportunidades, nomeadamente quanto ao Género, à
Idade, à Localização Geográfica, à Orientação Sexual e à
Etnia - dimensão político-social.

Bem-Viver, Reflexão semelhante é a que se pode fazer relativamente ao


um conceito
conceito de Bem-Viver, também como uma das finalidades do
complementar
DC e de um GC. É, antes de mais, uma tradução possível do
conceito Buen Vivir, por seu turno tradução castelhana das
expressões-conceitos indígenas (dos Andes, da América do

36
QUAIS OS CONCEITOS DE REFERÊNCIA? 2

Sul): Sumak Kawsay (do povo Quechua), Suma Qamaña (do


povo Aymará) e Teko Porã e Teko Kavi (ambas do povo Guarani).
Significam sobretudo, no seu conjunto e de forma sintética21:

• viver em plenitude;
• em comunhão com a Natureza, a Mãe-Terra;
• e em harmonia com a Comunidade;
• com as suas necessidades fundamentais satisfeitas, ou seja,
sem carências básicas;
• no respeito pelos seus antepassados;
• e com direito a uma Morte Digna.

Por outro lado, entenda-se aqui por Dignidade (da Comunidade


e de todas as pessoas que dela fazem parte), outra das finali-
dades do DC e de um GC, a situação em que há uma preocupação
permanente de Igualdade de Oportunidades (a vários níveis,
como se referiu atrás, a propósito do conceito de Bem-Estar)
para todos e todas, uma Equidade tendencial de resultados e
sobretudo não se verificam situações crónicas e persistentes de
Pobreza e Exclusão Social.

Finalmente, a Sustentabilidade (da Vida) refere-se à possibili- Sustentabilidade,


a possibilidade
dade de ela ter continuidade e, portanto, Futuro, o que implica da Vida ter
conjugar oito condições ou dimensões (todas importantes para continuidade
se garantir a Sustentabilidade), a saber22:

1. Segurança Económica23;
2. Coesão Social;
3. Segurança e Valorização Ambiental;
4. Diversidade Cultural e Interculturalidade;
5. Coesão Territorial;
6. Conhecimento e Aprendizagem Crítica Permanente, ou
seja, Literacia para a Sustentabilidade;

37
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

7. Governança Partilhada e Participativa e;


8. Ética Partilhada para a Sustentabilidade.

Todos estes conceitos são importantes para enquadrar e funda-


mentar a compreensão e a concretização do que é um GC. Estão
relacionados entre si e é na sua coerência e articulação que se
deve procurar o seu entendimento e lógica. De certo modo,
constituem um conjunto, que vale pelo seu todo.

38
NOTAS 2

NOTAS

1. O que significa que nem sempre uma unidade administrativa, qualquer


que ela seja (distrito, concelho, freguesia, bairro, ou outra) corresponde
a uma Comunidade e vice-versa.

2. Esta é uma das razões por que é mais fácil e provável a criação de
um GC num bairro ou numa localidade estigmatizada e com fragilidades
e problemas sociais por resolver, do que em localidades de classes
sociais mais beneficiadas e desafogadas.

3. Ver, a este propósito, a Bibliografia sugerida no capítulo 8 deste Manual.

4. Tendencialmente a expressão “Desenvolvimento Comunitário” é mais


entendível em contextos culturais e sociais mais coletivos e comunitários
(por exemplo, mais na Europa do Sul, do que na do Norte, e mais em
África e na América Latina, do que na Europa e na América do Norte) e
“Desenvolvimento Local”, exatamente ao contrário, e em contextos mais
académicos, intelectuais e institucionais.

5. Normalmente até cerca de 20 000 habitantes.

6. Assume-se aqui o conceito de Participação no seu sentido mais com-


pleto, que não se conforma com o envolvimento em apenas algumas
daquelas fases (o mais comum, numa perspetiva parcelar, é ficar-se pela
da execução, que é a mais operacional e, portanto, menos importante,
em termos de conceção e de decisão).

7. Numa das últimas modas (pois, neste domínio, várias têm sido as de­
signações que se têm sucedido, sempre a descartar as anteriores, querendo
dizer praticamente a mesma coisa: partenariado, parceria, trabalho em
rede, consórcio, relações de stakeholders, ou simplesmente cooperação...),
a tendência tem sido para preferir as que contenham o adjetivo “colabora-

39
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

tivo” (como as de “trabalho colaborativo”, “rede colaborativa”, “estratégia


colaborativa”...), dando mais valor e força à ideia de “colaboração”, do que
às de “parceria” ou “cooperação”, quando a História e as práticas indicam
precisamente o contrário... Essa opção é aqui posta de lado, a favor precisa­
mente de “parceria” ou “cooperação”, pelo seu valor semântico e original.

8. Não se pode aqui deixar de referir o contributo fundamental que foi


dado, para esta revalorização do tema dos “Comuns” (do inglês Commons),
pela economista norte-americana, Elinor Ostrom, com o seu trabalho
sobre formas de propriedade e de gestão comunitária eficientes (de
recursos naturais, como florestas, pescas, jazidas petrolíferas, pastagens
e sistemas de irrigação), em várias zonas do Mundo (o seu trabalho
focou-se sobretudo na gestão das pastagens, em África, e de sistemas
de irrigação, no Nepal), e que lhe valeu o Prémio Nobel de Economia, em
2009, pela primeira vez atribuído a uma Mulher. O que Elinor Ostrom
procurou provar é que pode haver várias modalidades de apropriação e
gestão de recursos e sobretudo de interação entre os seres humanos e os
ecossistemas, cuja Sustentabilidade tem sido e é, muitas vezes, melhor
garantida e salvaguardada, de forma comunitária, ao contrário do que,
frequentemente, se pensa e se defende. Para as referências bibliográficas
adequadas, ver o capítulo 8 deste Manual.

9. O que, desde logo, implica uma perspetiva mais abrangente e, portanto,


ecocêntrica da Vida (com todas as formas de Vida a serem igualmente
importantes e as suas interações e solidariedades a serem um aspeto
crucial da sua Sustentabilidade), e já não meramente antropocêntrica,
em que o ser humano é o centro, o dominador e o fim último da Vida,
impondo-se e usando e abusando, a seu bel-prazer, das outras formas de
Vida (na prática, muitas vezes violentando-as e destruindo-as), como foi
a lógica dominante até agora, pelo menos nos últimos cerca de 200 anos.

10. O que, neste caso, remete para o conceito e as práticas de uma Gover­
nança Local Partilhada e Participativa, de que se falará adiante.

40
NOTAS 2

11. Segundo um provérbio africano (com expressões equivalentes em


várias línguas do Continente), com origem muito antiga, “é preciso
uma aldeia inteira para educar uma criança”, o que equivale a fazer
desse desafio, não uma tarefa só dos seus pais ou da sua família, mas
da Comunidade, ou seja, um Comum.

12. Mais uma vez se remete para o capítulo 8 a possibilidade de con-


sulta bibliográfica mais aprofundada.

13. Os budistas, por exemplo, associam a Solidariedade ao valor budista


da Compaixão, no sentido da interação e da motivação permanente para
ajudar todos os seres sencientes (todos os seres vivos que captam o
mundo ao seu redor através dos sentidos, implicando terem emoções
positivas e negativas, dores e sofrimento), definindo-a ainda como “o senso
de preocupação, mas mais do que isso, é a noção clara de que todos os
seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade. Essa compreensão
é que nos traz a compaixão” (nas palavras do próprio XIV Dalai Lama,
Tenzin Gyatso, ou grande Mestre do Budismo, numa mensagem de 1999).
De igual modo, também o sentido cristão original de Caridade se
pode associar ao valor da Solidariedade, se for entendido na sua origem
semântica da palavra grega chàris, com o significado de “graça”, ou da
derivação latina caritas, que significa “amor” ou “afeto”. Nesta perspetiva, a
Caridade pode ser entendida como um sentimento ou uma ação altruísta,
a favor de outras pessoas, sem interesses próprios em troca.

14. Incluindo as rochas e os sedimentos geológicos, onde assentam


as formas de Vida (os chamados elementos bióticos).

15. É interessante constatar que muitos povos encontraram designações


próprias para este tipo de entreajuda nas tarefas produtivas e nos
serviços, para satisfazerem as suas necessidades, como são os casos,
entre muitos outros, das expressões: Mutirão (no Brasil), Djunta Mon
(em Crioulo de Cabo Verde), Ajudada (em certas zonas do Nordeste

41
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

de Portugal), Kitembu (em Forro de São Tomé e Príncipe), ou ainda de


Minka (em diversos povos dos Andes, na América do Sul).

16. As lógicas de Cooperação podem, por isso, também ser associadas


às expressões culturais referenciadas na nota 15.

17. Outros exemplos de modalidades de Democracia Participativa são:


as iniciativas de Cidadãos e Cidadãs, com vista ao recurso a referen­dos
ou plebiscitos, para decisões fulcrais de interesse coletivo; a Democracia
Associativa, através do envolvimento das pessoas nas decisões e na
resolução concreta de problemas e necessidades, utilizando práticas e
metodologias associativas; a criação de fora e de coletivos de discussão
e de iniciativas cidadãs na internet; a multiplicação de experiências de
“Orçamentos Participativos Locais”, em que os Cidadãos e as Cidadãs
propõem e decidem iniciativas e respostas para os problemas da vida
em sociedade; os movimentos sociais de rua, que adquirem mobilização
e força suficiente para interferirem e condicionarem decisões políticas.

18. Ficou célebre a frase atribuída normalmente a Margaret Thatcher,


Primeira-Ministra do Reino Unido, entre 4 de maio de 1979 e 28 de
novembro de 1990, e uma das principais defensoras e aplicadoras do
modelo neoliberal, para o justificar: There is no alternative! (“Não há
alternativa!” às leis do Mercado, ao Capitalismo, ao neoliberalismo e à
globalização dominante), também conhecida pela sigla TINA, das iniciais
das palavras usadas.

19. Para alguns exemplos, veja-se o capítulo 8 deste Manual.

20. A bem dizer, a dimensão relacional ecológica ou ambiental inclui a


social. Contudo, a ideia aqui é explicitar a importância das duas com-
ponentes: as relações com a Comunidade e com a Natureza.

21. Para um maior aprofundamento, ver a Bibliografia sugerida no capítulo 8.

42
NOTAS 2

22. Para um maior aprofundamento e fundamentação deste conceito,


ver as referências bibliográficas no capítulo 8.

23. Conceito que substitui o de crescimento económico e que inclui


soberania alimentar, salários decentes, distribuição equitativa de rendi-
mentos, consumo suficiente e responsável, comércio justo, valorização
da economia local, gestão orçamental justa e não fundamentalista,
sistemas de financiamento para todos, com condições justas e éticas,
garantia de um Rendimento Incondicional Básico, preferência por ener­
gias limpas e renováveis.

43
3
BREVES NOTAS
HISTÓRICAS
SOBRE OS GRUPOS
COMUNITÁRIOS
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

Breves Notas Históricas Sobre os Grupos


Comunitários

Como já se referiu, os Grupos Comunitários (GC) têm, como


principal conceito de referência, o Desenvolvimento Comunitário
(DC). Ora o DC, como conceito de referência estratégica para a
Ação Comunitária, é assinalado desde finais do século XIX (por
volta de 1890), pelo menos nas seguintes situações iniciais1:

• como enquadramento a uma política colonial de trabalho


com as Comunidades locais, por parte das autoridades
britânicas, desde finais do século XIX, princípios do século
XX, procurando seduzi-las e envolvê-las nos objetivos e
interesses da Metrópole, a que se seguiu, mais tarde, a partir
dos anos 40 do século XX2, a adoção de uma estratégia
similar, visando enquadrar as dinâmicas de independência,
mas mantendo as ligações à antiga Metrópole3;
• como estratégia de (auto)organização e apoio a Comu-
nidades locais socialmente desfavorecidas, afetadas pelos
processos de industrialização capitalista, nos finais do sé-
culo XIX, e depois pela Grande Crise dos anos 20 e 30 do
século XX, nos Estados Unidos da América, com o apoio,
nesta altura, de Trabalhadores/as Sociais (a primeira área
profissional a envolver-se explicitamente em processos de
Desenvolvimento Comunitário4), surgindo então (já no
século XIX, mas sobretudo no século XX) as primeiras
referências a “organizações comunitárias”5, que se podem
considerar as antepassadas dos atuais Grupos Comunitários.

Mas é sobretudo após o final da Segunda Guerra Mundial que o


Desenvolvimento Comunitário ganha mais relevo e importância6:

• primeiro, a partir dos anos 50, com esse modelo e

46
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS 3

estraté­gia a ser adotado por algumas equipas da ONU e


por algumas ONG (Organizações Não Governamentais,
sobretudo dos pa­íses nórdicos) em processos de apoio
e “ajuda” ao Desenvolvimento, sobretudo em países
africanos7;
• depois, nos anos 60, com a promoção de processos de
Desenvolvimento Comunitário, nos E.U.A., para respon­
der aos problemas e necessidades das Comunidades mais
carenciadas, sobretudo dos meios rurais mais afastados,
mas também dos meios pobres urbanos, e melhorar as
suas condições de vida, através do seu próprio envolvi-
mento e com o apoio de Trabalhadores/as Sociais, no
âmbito do Programa designado por New Frontiers
(“Novas Fronteiras” internas8) e de outros de requal-
ificação urbana, tendo surgido então, nesses bairros,
experiências do mesmo género dos atuais GC, como os
“Conselhos de Vizinhança” e os “Conselhos Consultivos
de Vizinhança”;
• nos anos 60 e 70 na América Latina, inicialmente como
resultado da estratégia de influência dos E.U.A. no Desen-
volvimento dessa região e para obviar à sua tentação pelo
Comunismo, com o apoio da O.E.A. (Organização dos
Estados Americanos) e, mais tarde, numa lógica muito
diferente, por inspiração e ação das metodologias de
Educação Popular e da Pedagogia do Oprimido, propostas
e postas em prática por Paulo Freire e pelas correntes da
Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de
Base, que nelas se inspiraram;
• igualmente nos anos 60, nos bairros de Barcelona, com os
Comités de Barrio (como resistência de esquerda, contra
o regime ditatorial do General Franco) e também com as
Asociaciones de Vecinos, que, na mesma época, jogaram
um papel fundamental de aglutinação e de reivindicação

47
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

de interesses coletivos (abastecimento de água, escolas,


respostas de saúde, iluminação pública, parques);
• mais tarde, a partir dos anos 80, pelas aplicações do con-
ceito de Desenvolvimento Local, que ganhou finalmente
estatuto académico e reconhecimento científico, e pelas
iniciativas e experiências que suscitou e legitimou, com as
suas implicações metodológicas.

Imagem 3 - Assembleia Comunitária promovida pelo Grupo Comunitário do Bairro da


Boa Morte, na Cidade de S. Tomé, em S. Tomé e Príncipe.

Mas é sobretudo nas duas últimas duas décadas e meia que


se tem verificado um aumento e uma afirmação crescente de experiências
de Participação Comunitária em formas de Governança Local (abertas à
Partilha de responsabilidades entre diferentes Atores locais e à
Participação das Comunidades locais), inicialmente sobretudo
na América Latina, mas um pouco por todo o Mundo.

48
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS 3

Nesse sentido, a referência explícita e a existência reconhe-


cida de Grupos Comunitários, como se conhecem atualmente,
é de facto também deste período, podendo-se assinalar, sem
pretensão de exaustividade, mas sobretudo a título ilustrativo,
seis experiências de práticas interessantes de GC9:

1. em Portugal, na Cidade de Lisboa, onde a criação explíci-


ta de Grupos Comunitários teve origem em 1994, com as
características assinaladas no capítulo 210;
2. no Quebeque (Canadá - zona de língua francesa), na
Cidade de Montréal, onde foram constituídas, em 2006,
as primeiras “Mesas de Bairro” (tradução literal da
expressão francesa Tables de Quartier), com as mesmas
características dos GC aqui apresentados, existindo atual-
mente 30 dinâmicas destas, em bairros de maior vulnera-
bilidade social de Montréal11;
3. em Angola, com a criação, no início de 2011, no Bairro
da Graça, na periferia da Cidade de Benguela, pela ONG
portuguesa “Leigos para o Desenvolvimento”, de um
GC, que se encontra em pleno funcionamento, com os
princípios de referência assinalados neste Manual12;
4. em São Tomé e Príncipe, onde a mesma ONG constituiu,
em 2012, um GC na localidade de Porto Alegre, no dis-
trito de Caué, na Ilha de São Tomé, abrangendo também
as Comunidades vizinhas do Ilhéu das Rolas, de Ponta
Baleia e de Vila Malanza13, e, no mesmo ano, o do Bairro
da Boa Morte, na Cidade de São Tomé, seguindo sempre
os mesmos princípios aqui enunciados;
5. na Catalunha, e em particular na Cidade de Barcelona,
onde, sobretudo como reação à Grande Crise de 2008-
2011, na sequência do chamado Movimento dos Indigna-
dos (conhecido por “Movimiento 15-M”) e, mais recen-
temente, com o processo da independência da Catalunha

49
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

(desde 2017), ressurgiram e revitalizaram-se, em muitos


bairros da Cidade e noutras povoações, as “Associações
de Vizinhos” (com uma Federação muito ativa) e foram
criados “Comités de Bairro” e “Assembleias Comunitá­
rias”14, normalmente abertas a todos/as os/as Vizinhos/
as e congregando três tipos de atores: as associações e
grupos locais, as organizações de Economia Solidária
que têm sede ou trabalham no território e as entidades
públicas (do Estado, ao nível da Comunidade Autónoma
da Catalunha e das suas Províncias e Municípios) nele
presentes ou responsáveis;
6. em França, onde, por influência das experiências de Mon-
tréal, se estabeleceram, em 2014, doze Tables de Quartier
em bairros de vulnerabilidade social, dentro da mesma
lógica já assinalada, a título experimental, estando atual-
mente a serem avaliadas.

Tendo em conta os objetivos deste Manual, é importante referir


que, nos PALOPs (Países Africanos de Língua Oficial Portugue-
sa), a existência, aceitação e reconhecimento de dinâmicas
participativas e comunitárias passou a ser, em princípio, mais
facilitada com o desencadeamento e a concretização dos pro-
cessos de descentralização política e de criação e de eleição das
Autarquias Locais, em geral a partir dos anos 90 do século XX15.

Em Angola, onde ainda não houve um efetivo processo de


descentralização política, nem, portanto, eleições autárqui-
cas, a criação, em 2007, de CACS (Conselhos de Auscultação
e Concertação Social), que são estruturas consultivas ao nível
municipal, constituídas por representantes da sociedade civil
local, por escolha e convite dos Administradores Municipais,
é considerada um exemplo dessa abertura à Participação das
Comunidades locais, mas, na verdade, é-o de forma limitada, na

50
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS 3

medida em que se trata de um modelo determinado pelo poder


central do Estado, composto por membros selecionados pelos
responsáveis municipais (que continuam a não ser eleitos mas
designados e da confiança da Administração Pública Central, em
particular do Ministro da tutela), cujo funcionamento e lógica
depende da vontade desses responsáveis e que, normalmente,
têm essencialmente um papel meramente consultivo16.
Ainda em Angola, deve-se assinalar algumas iniciativas pro-
tagonizadas por ONGs angolanas ou estrangeiras na dina­mização
de processos participativos e comunitários, como são os casos de:

• ADPP Angola – Ajuda de Desenvolvimento de Povo para


Povo, com os projetos, desde 2006, dos Agentes Comunitá­
rios de Saúde e de apoio ao Desenvolvimento Comunitário;
• Mosaiko/Instituto para a Cidadania, sobretudo com o
projeto de criação e reforço, desde 2016, de 23 Grupos
Locais de Direitos Humanos (em dez províncias), e;
• CIES - Centro Informazione e Educazione allo Sviluppo
(Organização sem fins lucrativos), com os projetos de
"Participação Cidadã: Práticas e Caminhos para uma
Sociedade Mais Inclusiva”, entre 2011 e 2013, nas
províncias de Luanda e Benguela, e “Iniciativa Local em
Angola e reforço dos CACS: diálogo interinstitucional,
participação ativa e desenvolvimento para todos”, entre
2016 e 2018, ambos em parceria com a ONG angolana
“Kandengues Unidos“, com a consequente criação de
Núcleos Comunitários, que, não sendo GC, no sentido
aqui definido, são espaços e caminhos de reflexão, debate
e participação de pessoas das Comunidades. Para além,
obviamente, do caso já referido dos LD.

Em Cabo Verde, com o início do multipartidarismo e a realização


das primeiras eleições autárquicas em 1991 (como uma das

51
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

expressões da descentralização política), abriu-se a sociedade


cabo-verdiana à participação cidadã, tendo-se multiplicado, desde
então, a criação e a ação de várias ONG, com uma mobilização
importante do envolvimento das Comunidades locais, como a
que resulta, por exemplo, da dinamização e dos projetos das
organizações mencionadas na nota 7 da Introdução e, mais
geralmente, do trabalho da PONG’s - Plataforma das ONGs
de Cabo Verde. Não existem, contudo, registos da existência
de Grupos Comunitários.

Na Guiné-Bissau, em parte pela permanente instabilidade políti-


ca, ainda não houve processo de descentralização política,
continuando as regiões e os setores a serem dirigidos por
responsáveis designados pelo Governo Central. Realça-se, no
entanto, o importante trabalho de mobilização e ativação co-
munitária e de participação cidadã, realizado por várias ONGs
guineenses, desde os anos 90 do século XX, destacando-se, a
título de exemplo, as que são mencionadas na nota 7 da Intro-
dução, não existindo, contudo, registos de Grupos Comunitários,
no sentido definido neste Manual.

Em Moçambique, o processo de descentralização política


teve início nos finais dos anos 90 do século passado, tendo-se
realizado as primeiras eleições autárquicas (apenas nos 33
municípios criados até então) em 1998. No entanto, só a par-
tir de 2003, com a Lei dos Órgãos Locais do Estado17, e após
2005, com a publicação do Regulamento daquela Lei, é que os
princípios e as regras da descentralização ficaram clarificadas,
no que se refere aos “escalões territoriais” considerados e aos
seus órgãos locais correspondentes: província, distrito, posto
administrativo, localidade e povoação. É interessante verificar
que o Decreto nº 11/2005 (que regulamenta a LOLE de 2003),
dedica o Título VIII (dos artigos 100.º ao 122.º) à “Cidadania

52
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS 3

e participação”, definindo a “comunidade local” como “o con-


junto de população e pessoas coletivas compreendidas numa
determinada unidade de organização territorial, nomeadamente
província, distrito, posto administrativo, localidade e povoação,
agrupando famílias, que visam a salvaguarda de interesses
comuns, tais como a proteção de áreas habitacionais, áreas
agrícolas, quer sejam cultivadas ou em pousio, florestas, lu­
gares de importância cultural, pastagens, fontes de água, áreas
de caça e de expansão”18. Nesse âmbito, prevê, como “formas
de organização das comunidades”: o conselho local, o fórum
local e os comités comunitários19.
Os “conselhos locais” são essencialmente órgãos de consul-
ta das autoridades da Administração Local, previstos para os
níveis territoriais de distrito, posto administrativo e localidade,
estando a sua lógica e funções bem definidas na Lei.
Já o “fórum local” e os “comités comunitários”, que podem
definir as prioridades dos “representantes das comunidades e
dos grupos de interesses locais” (no primeiro caso20) e “permitir
que as comunidades se mobilizem na identificação e procura
de soluções dos seus problemas” ou ainda “realizar a gestão
da terra e outros recursos naturais, das escolas, dos postos de
saúde e outras instituições de natureza não lucrativa de âmbito
local” (no segundo caso21), parecendo abrir-se a possibilidade
de um efetivo Poder Comunitário e Participativo, não têm uma
definição tão precisa, sobretudo quanto à sua autonomia e
articulação com os órgãos de Poder Local22.
A porta aberta à existência de “programas de desenvolvimento
local participativo”, nomeadamente a nível distrital23, e ao
papel de “Instituições de Participação e Consulta Comunitária”,
embora inscrita na lei, está longe de ser confirmado na prática,
condicionada que está por diversos fatores, que inviabilizam
ou diminuem a sua aplicação.
No entanto, deve-se realçar as iniciativas, promovidas por

53
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

algumas ONGs moçambicanas, de mobilização da participação


comunitária e do envolvimento efetivo de cidadãos e cidadãs,
fora das estruturas previstas pelo Estado, como são, por exemplo,
os casos da:

• Fundação MASC - Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil,


formalmente criada em 2015, na sequência de oito anos
(2007-2014) de um Programa de Capacitação de OSCs -
Organizações da Sociedade Civil, com vista a contribuir
para o “processo de democratização e justiça social de
Moçambique”, e;
• da Plataforma “Cidadãos de Moçambique, criada em
2017, com o objetivo de “promoção da participação ativa
dos cidadãos na vida social e política da sua comunidade”.

Em São Tomé e Príncipe, o processo de descentralização política


também teve início com a passagem ao multipartidarismo, nos
princípios dos anos 90 do século XX, tendo-se realizado as pri-
meiras eleições autárquicas, para os órgãos distritais, em 199224.
Mas a dinamização de processos de participação comunitária tem
sido sobretudo um trabalho de ONGs são-tomenses, nomeada-
mente no quadro da FONG - Federação das ONGs de São Tomé
e Príncipe, ou estrangeiras, como a Alisei - Associazione per
la cooperazione internazionale e l’aiuto umanitario (ONGD
italiana) e o caso, já referido, dos LD.

54
NOTAS 3

NOTAS

1. Para um maior aprofundamento desta análise, ver as sugestões biblio­


gráficas no capítulo 8.

2. Data de 1942 a primeira referência explícita, pelo Governo britânico, à


expressão Community Development (“Desenvolvimento de Comunidade”,
normalmente na tradução brasileira, ou “Desenvolvimento Comunitário”,
mais usual na tradução portuguesa, de Portugal), como estratégia para
“auxiliar” as suas colónias na conquista da independência, mantendo
ligações preferenciais com elas, como veio a acontecer com a criação
da Commonwealth.

3. O que, naturalmente, não se enquadra nos objetivos e no sentido que


aqui se pretende dar ao DC e aos GC, como processos emancipatórios
das Comunidades locais, viabilizando a sua Autonomia e Empowerment.

4. Correspondendo às áreas atuais de Serviço Social e aos/às Assistentes


Sociais ou Técnicos/as de Serviço Social.

5. Da expressão de língua inglesa Community Organizing, também conhe-


cida pela sigla CO.

6. Para um maior aprofundamento desta análise, ver as referências biblio­


gráficas do capítulo 8.

7. É de 1956 o principal documento em que a ONU assume esse modelo


como estratégia de apoio a processos de Desenvolvimento, no âmbito das
suas missões.

8. Promovido no tempo da Administração de John Kennedy e, depois


do assassinato deste, de Lyndon Johnson.

55
BREVES NOTAS HISTÓRICAS SOBRE OS GRUPOS COMUNITÁRIOS

9. Para um maior aprofundamento desta análise, ver as notas bibliográficas


do capítulo 8.

10. Os primeiros GC foram os dos Bairros do Padre Cruz e da Horta


Nova (ambos na Freguesia de Carnide), da Quinta Grande (Freguesia da
Charneca) e do Bairro das Galinheiras (Freguesia da Ameixoeira), todos
em 1994, sendo os dois primeiros bairros de Habitação Social, o terceiro
um bairro de autoconstrução de barracas e casa precárias e o último
um bairro em parte de autoconstrução de génese ilegal. Atualmente
existem cerca de 20 GC na área da Grande Lisboa, a quase totalidade em
bairros de Habitação Social, sendo que nem todos correspondem aos
critérios de GC aqui apresentados, pois são, por vezes, mais Grupos de
Instituições e Serviços Públicos, para o trabalho na Comunidade (mas
sem Comunidade...). Os quatro primeiros eram efetivamente todos e
plenamente GC.

11. São muitas vezes anunciadas como “uma inovação de Montréal” e “uma
experiência única no Mundo”, o que não é claramente verdade, pois as de
Lisboa, apresentando, no essencial, as mesmas características, antecedem-
-nas de doze anos. O que não invalida o seu interesse e grande relevância.

12. Existe um Relatório de Avaliação desta experiência, realizado em


maio de 2018 (cf. Amaro, 2018b). É um dos elementos de inspiração
para este Manual.

13. Existe também um Relatório de Avaliação deste GC, concluído em


julho de 2018, que foi igualmente utilizado para apoio a este Manual (cf.
Amaro, 2018c).

14. Nalguns casos como “Comités de Defesa da República”, tendo em


vista a Luta pela Independência da Catalunha.

15. Embora, por vezes, a aceitação e reconhecimento sejam mais teóricos

56
NOTAS 3

e legais do que práticos e políticos.

16. Para uma avaliação de alguns desses CACS, pode ler-se, por exemplo,
González (2012), que os considera, apesar das suas limitações, positivos,
nalgumas das suas concretizações.

17. Normalmente conhecida pela sigla LOLE.

18. Artigo 104.º do Decreto nº 11/2005, de 10 de Junho.

19. No nº 1 do artigo 110.º, referindo ainda, como outra “forma de orga-


nização das comunidades” os “fundos comunitários”, que, na verdade, são
de natureza diferente das outras três, uma vez que se referem a fundos
financeiros para atividades de “desenvolvimento comunitário” (cf. artigo
114.º). No nº 2 do artigo 110.º, admite-se ainda “outras formas de orga-
nização definidas pelas respetivas comunidades”.

20. Ver artigo 112.º.

21. Ver artigo 113.º.

22. E, na prática, as insuficiências e falhas na concretização destas “boas


intenções” têm levado alguns analistas a falar em “‘democracia sob con-
trolo’ e num controlo dos processos e mecanismos de descentralização”,
uma vez que “o conceito de autonomia é limitado pela liberdade que é
conferida ao Estado para intervir e ‘desregular‘ “, agravadas pelas “práticas
de partidarização das instituições” e das relações estabelecidas pelo Poder
Local (cf. Osório e Cruz e Silva, 2009: 34 e 35).

23. Ver artigo 103.º.

24. E a seguir, com intervalos anómalos, só em 1998 e em 2006.

57
4
RAZÕES, CONTEXTOS,
OBJETIVOS, VANTAGENS
E TIPOS DE GRUPOS
COMUNITÁRIOS
60 PORQUÊ CRIAR UM GRUPO 67 QUAIS AS VANTAGENS DE UM
COMUNITÁRIO? GRUPO COMUNITÁRIO?

60 EM QUE CONTEXTOS SE CRIAM 69 QUEM FAZ PARTE DE UM GRUPO


GRUPOS COMUNITÁRIOS? COMUNITÁRIO?

61 A IMPORTÂNCIA DE SE ENTENDER 73 TIPOS DE GRUPOS


E SITUAR NO CONTEXTO COMUNITÁRIOS

65 PARA QUÊ UM GRUPO


COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS
OBJETIVOS
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

Porquê criar um Grupo Comunitário?

As experiências existentes mostram que os GC têm sido sobretudo


criados porque há Comunidades, ou pessoas em determinadas
Comunidades, que vivem em situações de Pobreza e Exclusão
Social, afetadas por profundas e crescentes Desigualdades
Sociais, ou seja em Indignidade Social, com o seu Bem-Estar
considerável ou mesmo gravemente diminuído, e/ou porque
existem ameaças à Sustentabilidade da Vida em risco de se
tornarem irreversíveis, sem que os modelos de regulação e de
governo se mostrem capazes de lhes responder, ou sequer, por
vezes, de ter em conta estas questões e desafios, como um dos
seus objetivos, prioridades e urgências.
Os GC têm sido criados porque há Pessoas e Seres Vivos e
Formas de Vida e de apoio à Vida em situações de Indignidade
e em risco de Sustentabilidade, que não têm voz nem poder,
para se defenderem, manifestarem as suas cóleras e assumirem
a sua Cidadania e construírem o seu Direito à Vida. Os GC
existem para lhes darem Vez e Voz!

Em que contextos se criam Grupos


Comunitários?

Consequentemente, os GC têm normalmente surgido em


contextos de vulnerabilidade social, em que persistem situações
de Pobreza e Exclusão Social e de Desigualdades Sociais e ameaças
à Sustentabilidade da Vida, nas zonas mais marginalizadas
da Sociedade, quer em meios rurais desvalorizados, quer em
meios urbanos desqualificados, nomeadamente em bairros de
barracas e de habitações precárias e/ou de Habitação Social e
considerados problemáticos.

60
EM QUE CONTEXTOS SE CRIAM GRUPOS COMUNITÁRIOS? 4

Infelizmente, como se caracterizará melhor no ponto seguinte,


os contextos africanos, e em particular os dos PALOPs, são
em geral de grande vulnerabilidade social e sensibilidade
ambiental, com múltiplas situações de Pobreza absoluta e de
Exclusão Social e com ecossistemas fortemente ameaçados ou
já em destruição, para além dos problemas graves que colocam
o saneamento básico (ou a sua falta), a recolha e o tratamento
dos lixos e o não acesso a recursos essenciais, como a água
potável, a eletricidade, a educação e a saúde.
No entanto, esta constatação não impede que os GC possam sur-
gir, ou já tenham surgido, noutros contextos menos vulneráveis,
como expressão de Cidadania, de Democracia Participativa e
de Governança Local Partilhada e Participativa, para resolver
problemas, enfrentar ameaças, decidir Caminhos, melhorar
respostas, construir Sonhos.

A importância de se entender e situar no


contexto

É sempre fundamental conhecer bem cada contexto comunitário, para que um


GC se adeque às características e particularidades de cada caso e seja uma
experiência “à medida” e não “pronto-a-vestir”. Por isso é que
cada GC deve ter em consideração o décimo princípio enuncia-
do aquando da definição de Desenvolvimento Comunitário - o
da “Diversidade de ritmos, lógicas, processos e resultados”.
Esta preocupação é ainda mais importante quando se trata,
como na grande maioria dos casos, de contextos problemáti-
cos e/ou em risco, com situações de Indignidade Social e de
ameaças à Sustentabilidade da Vida, para que se encontrem as
iniciativas e respostas mais adequadas e se mobilizem todos
os recursos e capacidades locais, de natureza endógena, em
particular os que se encontram ocultos e/ou desaproveitados.

61
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

Para isso, é fundamental que:

• o diagnóstico dos problemas e necessidades seja o mais


exaustivo possível;
• permanentemente atualizado;
• inclua o levantamento de todos os recursos, capacidades,
talentos e saberes locais, mesmo os mais escondidos e
menos clássicos;
• que todo este processo (continuo) seja partilhado, envol-
vendo todos os Parceiros (Instituições, Serviços e outros
Grupos);
• e participado, envolvendo a Comunidade, a nível
individual e coletivo, o mais amplamente possível;
• integre e conjugue, por isso, diferentes abordagens e
conhecimentos sobre a realidade, umas mais técnicas,
outras mais populares, evitando uma leitura mais
tecnocrática e assumindo uma mais democrática1;
• valorize, portanto, um diálogo de saberes e de perspetivas,
que será essencial para uma análise mais rica do contexto
e para um trabalho mais cooperativo e conjunto.

Este conhecimento de partida do contexto comunitário em


causa (diagnóstico) é uma condição essencial para um bom
início e funcionamento de um GC, devendo, por isso, ser uma
das suas primeiras tarefas, depois do conhecimento mútuo (de
todas as pessoas e entidades envolvidas) que, aliás, também
deve fazer parte daquele diagnóstico inicial, enquanto recursos
da Comunidade.

Atendendo aos contextos e aos objetivos a que se destina este


Manual, é importante que se situem, desde já, algumas das
características mais marcantes das sociedades africanas e, em
particular, dos PALOPs, e que mais se devem ter em conta na

62
A IMPORTÂNCIA DE SE ENTENDER E SITUAR NO CONTEXTO 4

criação de um GC. De uma forma concisa, sublinha-se:

• são sociedades demograficamente muito jovens, com taxas


de natalidade, índices de fecundidade e percentagens de
crianças e jovens muito elevadas2;
• apresentam grandes vulnerabilidades no acesso, em geral
pela maioria da população, a bens essenciais, como o emprego,
a alimentação, a habitação, a educação e a saúde, o que
se traduz em taxas de Pobreza extrema muito elevadas3, a
taxas de escolarização ainda com insuficiências4, sobretu-
do da população feminina, e a esperanças médias de vida
à nascença muito baixas5;
• por isso, têm, em geral, níveis de Desenvolvimento Huma-
no relativamente baixos6;
• contêm também, em geral, grandes desigualdades, não só en-
tre minorias da elite, com poder e níveis económicos muito
elevados e a grande maioria da população, a viver numa po-
breza extrema, mas também entre homens e mulheres, com
elas a serem discriminadas, no acesso a recursos fundamen-
tais, como a educação, o emprego e o poder, em geral;
• são sociedades ainda com um forte peso das zonas rurais,
mas que têm vindo a ser abandonadas, assistindo-se a
uma urbanização descontrolada, que provoca vários
problemas de habitabilidade precária e de marginalidades
sociais nas principais cidades7;
• os seus ecossistemas naturais correm riscos graves,
nomeadamente devido às secas, ao avanço da
desertificação, aos efeitos das alterações climáticas (em
particular nos casos dos países insulares, como Cabo Verde
e São Tomé e Príncipe, ou com partes insulares importantes
e muito expostos às bacias hidrográficas, como é o caso
da Guiné-Bissau) e à perda de biodiversidade, sobretudo
por razões e opções económicas, para além dos problemas

63
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

ambientais e de qualidade de vida, colocados pelo acesso


limitado a água potável, pela falta generalizada de
saneamento básico e pelas insuficiências e deficiências da
recolha e tratamento dos lixos;
• em contrapartida, são, em geral, países com uma grande
diversidade étnica e riqueza cultural, o que poderia ser
visto como um valor e uma riqueza, embora seja, mui-
tas vezes, fonte de conflitos, de tensões e até de guerras e
perseguições e deslocações de populações, em grande parte
por causa dos graves efeitos negativos de um mapa colo-
nial, desenhado na Conferência de Berlim (1884-1885), nos
gabinetes e segundo os interesses das potências coloniais;
• apresentam, em geral, Estados frágeis e, frequentemente,
com grandes instabilidades políticas e/ou défices
democráticos, além de quase total ausência de respostas
públicas de Proteção Social, normalmente associadas
ao modelo do Estado Social (ou Welfare State), que
praticamente não existe nestes países8.

Estas são características e fragilidades que devem ser tidas


em conta na abordagem da hipótese de criação de um GC nestes
países e, em particular, nos seus objetivos, conteúdos e estraté-
gias, tornando-o ainda mais útil e necessário, nomeadamente
para suprir algumas das insuficiências ou deficiências do Estado.
Esta é uma preocupação que deveria também ser tida em
conta pelos atores externos de financiamento e de cooperação
internacional (incluindo da União Europeia e das Nações Unidas),
que muitas vezes não têm em conta os contextos específicos
de cada realidade e as suas características e ritmos próprios e,
por conseguinte, as suas influências e impactos em processos
e dinâmicas participativas desta natureza.

64
PARA QUÊ UM GRUPO COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS OBJETIVOS 4

Para quê um Grupo Comunitário - principais


objetivos

Como já se referiu, a principal finalidade de um GC é a de melhorar as


condições de vida, ou seja, o Bem-Estar, o Bem-Viver e a Dignidade
da Comunidade e a Sustentabilidade da Vida, que lhe está as­
sociada. Este é um objetivo mais operacional, mas fundamental
para a Vida da Comunidade. É óbvio que há também quatro
outros objetivos, também centrais, mas de natureza mais política:

1. o de dar voz e poder à Comunidade, sobretudo aos/


às “sem voz” e/ou que vivem em situações de maiores
dificuldades e de marginalização (a vários níveis, mas
sobretudo social e política);
2. o de, em consequência, redistribuir poder na Sociedade,
permitindo, em particular, como se referiu, dar “Vez” e
“Voz” aos “sem voz” e, por conseguinte, pôr em contacto
e em diálogo (por vezes em confronto...) diferentes tipos
de poderes, com a emergência de um novo poder, o comu-
nitário, de natureza político-informal9;
3. o de reforçar e aprofundar a Democracia e a Cidadania,
em geral, fecundando-as com dinâmicas de Democracia
Participativa;
4. o de melhorar a gestão dos problemas e desafios da Socie-
dade e da Sustentabilidade da Vida, através de processos
inovadores de Governança Local Partilhada e Participativa.

em resumo

PRINCIPAIS
. Melhorar condições de vida quais são
. Dar voz e poder à comunidade

OBJETIVOS
. Redistribuir poder na sociedade
. Reforçar a democracia e cidadania
. Melhorar a gestão dos problemas

65
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

De um modo mais específico, é possível ainda explicitar os


seguintes objetivos:

1. exprimir as cóleras, revoltas e reivindicações da Comuni-


dade, sobretudo por parte dos/as que vivem situações de
discriminação e de não cumprimento dos seus Direitos e
da sua Dignidade e não têm normalmente “voz”, ou seja,
transformar o silêncio, a resignação e a subordinação em
Emoção de Revolta e de Direito à Indignação, para depois
se abrir à Inteligência das razões e das causas;
2. conhecer melhor os problemas, necessidades e desafios da
Comunidade e da Vida nela existente, passando à Inteligên-
cia e à Compreensão das situações;
3. discutir, elaborar e decidir respostas e projetos concretos
para aqueles problemas, necessidades e desafios, no senti-
do de passar a uma Lógica Deliberativa Operacional;
4. mobilizar a Comunidade - as suas pessoas e grupos organi-
zados, formais e informais - e os outros Atores, Instituições e
Serviços com intervenções no Território, para se construir uma
Ação Coletiva, a favor da Comunidade e da Vida nela presente;
5. articular e negociar com o Estado (Central e Local) e
os seus Serviços e com as outras Instituições e Organi-
zações com poder formal (de todo o tipo, mas sobretudo
económico e político), para que as propostas e iniciativas,
decididas em conjunto, possam ser viabilizadas e apoia-
das, na medida do necessário.

em resumo

OBJETIVOS
quais são . Transformar o silêncio em direito à indignação
. Conhecer melhor os problemas da comunidade

ESPECÍFICOS
. Passar a uma lógica deliberativa operacional
. Construir uma ação coletiva
. Articular e negociar com o Estado Central

66
QUAIS AS VANTAGENS DE UM GRUPO COMUNITÁRIO? 4

Quais as vantagens de um Grupo Comunitário?

A existência de um GC permite, se em bom funcionamento, como


decorre do que foi referido até agora, sobretudo as seguintes
vantagens:

• um melhor diagnóstico e conhecimento dos problemas, ne-


cessidades e recursos, capacidades e talentos da Comunidade
e da Vida nela presente;
• um diálogo mais rico de saberes e de perspetivas, entre os
de natureza técnica, intelectual e mais teórica e os de origem
popular e mais prática, entre os dedutivos e os indutivos e
entre os de tipo racional e os emocionais, intuitivos e afeti-
vos, todos igualmente importantes e necessários;
• uma melhor afetação e utilização de recursos, capacidades e
talentos, ou seja, uma melhor Eficiência, por permitir mobili-
zar mais efetivamente todos os recursos e talentos da Comuni-
dade e de todos os Atores que nela intervêm, nomeadamente
os que estão ocultos, subaproveitados e marginalizados;
• uma maior probabilidade de atingir os seus objetivos e os
resultados pretendidos, ou seja, uma maior Eficácia, pelo
envolvimento, efetivo e potencial, da Comunidade e de
todos os seus Atores, Instituições e Serviços na discussão,
na decisão, na construção e na concretização de propostas e
projetos de resposta aos seus problemas e necessidades;
• um alargamento das hipóteses de Sustentabilidade da Vida
presente na Comunidade e de continuidade dos seus projetos
e iniciativas, por conseguir reunir melhor todas as condições
para tal (enunciadas no capítulo 2) e sobretudo para uma
Ação Coletiva continuada, persistente e realmente cooperativa;
• uma visão mais integrada e holística da complexidade dos
problemas e das necessidades que se colocam à Dignidade e
à Sustentabilidade da Vida e da Comunidade e das conse-

67
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

quentes respostas, por combater a perspetiva tradicional


disciplinar, setorial e fragmentada, através das suas lógicas
de Territorialização, Participação, Cooperação e Parceria,
envolvendo a Comunidade e demais Instituições e Serviços;
• uma melhor conjugação, sobretudo nas situações de Pobreza
e de Exclusão Social, entre as responsabilidades das respos-
tas que cabem à Comunidade, e que podem ser referidas
como a sua Inserção (o esforço das pessoas da Comuni-
dade), e as que incumbem às Instituições e Serviços, e que
podem ser designadas por Inclusão (o esforço das Institu-
ições), permitindo fazer convergir os dois esforços e portanto
atingir uma efetiva Integração10;
• um efetivo Envolvimento e Responsabilização, por parte da
Comunidade, na procura e construção de respostas, o que
fundamenta e fecunda a sua Cidadania Ativa e Participativa,
e não meramente formal ou passiva;
• por isso, um aumento e aprofundamento potencial e efetivo
de Democracia na Sociedade, em geral, de forma descen-
tralizada e direta, a partir “de baixo” e dos/as “sem voz”;
• a possibilidade, como já se viu, de experimentar um novo
modelo de regulação e gestão dos problemas e desafios
da Comunidade e da Vida, o que se têm designado por
Governança Local Partilhada e Participativa.

em resumo

VANTAGENS
quais são . Melhor diagnóstico
. Diálogo de saberes e perspetivas
. Melhor afetação e utilização de recursos
. Maior probabilidade de atingir resultados
. Alargar as hipóteses de sustentabilidade
. Visão integrada e holística dos problemas
. Envolver e responsabilizar a comunidade
. Aumentar a democracia na sociedade

68
QUEM FAZ PARTE DE UM GRUPO COMUNITÁRIO? 4

continuação
. Experimentar novo modelo de regulação
. Partilhar responsabilidades entre a comuni-
dade e as instituições

Quem faz parte de um Grupo Comunitário?

São quatro os tipos de atores que fazem parte de um GC: a


Comunidade; as Autoridades Públicas (o Estado); as Organizações
da Sociedade Civil (sem fins lucrativos) com origem externa à
Comunidade; e os Agentes Económicos (com fins lucrativos)
presentes no Território. De uma forma mais pormenorizada:

1 - A Comunidade, que compreende:

1. qualquer pessoa da Comunidade, a título individual;


2. as suas Associações e Grupos organizados formais (tais
como: Coletividades Culturais, Desportivas e Recreativas,
Associações de Moradores/as, Associações de Pais e Mães e
Encarregados/as de Educação, Cooperativas de Agricultores/
as e Criadores/as de Gado, Cooperativas e Associações de
Pescadores/as, Cooperativas de Consumo, Cooperativas de
Habitação, Cooperativas de Produção e Comercialização,
Bandas Musicais, Filarmónicas, Ranchos Folclóricos);
3. os seus grupos organizados informais (de qualquer tipo,
como: Grupos de Jovens, Grupos de Mulheres, Grupos de
Dança, Grupos de Desporto).

2 - As Autoridades Públicas ou Estado, em que há que ter em


conta quatro subconjuntos:

1. a Administração Pública Local, ou seja, as Autarquias


Locais (tais como: Regiões, Províncias, Departamentos
Territoriais, Postos Administrativos, Municípios, Distritos,

69
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

Freguesias, Localidades) e os seus órgãos, nomeadamente


executivos (tais como: Governos Regionais, Provinciais
ou Departamentais, Câmaras Municipais ou Distritais,
Responsáveis de Postos Administrativos e de Localidades,
Juntas de Freguesia) e legislativos (tais como: Assembleias
Regionais, Provinciais, Departamentais, Municipais,
Distritais ou de Freguesia);
2. as Autoridades tradicionais (tais como sobas, régulos,
chefes de tabanca e outros), que se consideram aqui,
porque normalmente tendem a ser integrados, enquadrados
e subsidiados pela Administração Pública (Central ou
Local, conforme os casos), mas também poderiam ser
associados à Comunidade, sobretudo naqueles casos em
que mantêm a sua autonomia face ao Estado e privilegiam
as suas relações e fidelidades com a Comunidade;
3. os Serviços Públicos Desconcentrados, dependentes da
Administração Pública Central, com intervenções no
Território, sobretudo nas áreas da Ação Social (Serviços
Públicos de Ação Social ou de Segurança Social, nas suas
diferentes valências - atendimento geral, apoio à Infância e
à Juventude, apoio aos Seniores, apoio a Pessoas Vítimas de
Violência, apoio a Pessoas com Incapacidades, ou outras),
da Agricultura, Florestas e Pecuária (Serviços e Depar-
tamentos de Apoio à Agricultura e à Criação de Gado,
Serviços Florestais, Centros de Experimentação e Verifi-
cação Agrícola e Pecuária, Centros Públicos de Formação
Especializada nestes domínios), da Educação (Escolas de
todos os níveis, Institutos Politécnicos, Universidades), do
Emprego (Serviços de Emprego - atendimento geral, apoio
e encaminhamento e Centros de Formação Profissional
Públicos), da Saúde (Hospitais Públicos, Centros de Saúde,
Postos Sanitários, outras Unidades de Saúde Locais) e da
Segurança e Ordem Públicas (Polícias e outras Forças de

70
QUEM FAZ PARTE DE UM GRUPO COMUNITÁRIO? 4

Segurança e Ordem Pública, aquartelamentos locais das


Forças Armadas), além de quaisquer outros Serviços Públi-
cos Desconcentrados, que sejam pertinentes em cada caso;
4. as Empresas Públicas (com gestão autónoma), de âmbito
nacional ou local11, que prestem serviços à Comunidade
e/ou estejam presentes no Território, nomeadamente nas
áreas do fornecimento e distribuição de água, energia
elétrica e gás, do saneamento básico (limpeza dos espaços
públicos e recolha e tratamento de lixos e outros resíduos
sólidos ou líquidos), da gestão das estradas e outras
infraestruturas de comunicação ou dos transportes
públicos, dos arranjos e jardinagem dos espaços públicos,
da gestão habitacional (de bairros de Habitação Social,
nacional ou municipal), das atividades desportivas e culturais,
da organização de eventos, da gestão e ordenamento dos
estacionamentos.

3 - As Organizações da Sociedade Civil (sem fins lucrativos)


ou ONGs, Associações e outras entidades equiparáveis (com
missões sociais e sem fins lucrativos), com origem externa à
Comunidade, em que se podem considerar quatro situações:

1. as ONGs e Associações nacionais, ou seja, com origem em


iniciativas de Pessoas ou Grupos residentes no país;
2. as Igrejas, Grupos e Congregações religiosas e outros Grupos e
Associações sócio-caritativas, com presença e ação no território;
3. as ONGs estrangeiras, com origem noutros países;
4. as delegações de Organismos Internacionais, que, embora
não sejam do mesmo tipo das anteriores, por obedecerem a
hierarquias de natureza para-pública, de âmbito supranacio-
nal, podem ser associadas, nas suas estratégias e modos de
atuar, a este grupo.

71
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

4 - Os Agentes Económicos (com fins lucrativos) presentes no


território, em que é útil distinguir quatro casos:

1. os Agentes Económicos Locais formalizados, com origem


na Comunidade, de qualquer setor ou área de atividade12;
2. os Agentes Económicos Locais informais (não formaliza-
dos), com origem na Comunidade, de qualquer setor ou
área de atividade13;
3. os Agentes Económicos de origem externa à Comunidade
mas nacionais, ou seja, com a maioria de capitais nacio-
nais, de qualquer setor ou área de atividade;
4. os Agentes Económicos de origem externa ao país, ou seja,
com a maioria de capitais estrangeiros e/ou de natureza
transnacional, de qualquer setor ou área de atividade.

Correspondem, no fundo, a duas grandes categorias: a


Comunidade (a que se refere a dinâmica da Participação) e o
conjunto das Instituições, Serviços e Empresas, ou seja, dos outros
três tipos de Atores (a que diz respeito a lógica das Parcerias).

Na gestão Como já se referiu (ver a nota 12), pode haver casos de múltiplas
das múltiplas
pertenças, sobretudo quando Pessoas da Comunidade assumem
pertenças é
fundamental também outras funções, por exemplo, enquanto: representantes
identificar e
clarificar os
de Autarquias Locais (como eleitos), de Serviços Públicos
diferentes Desconcentrados (como Técnicos/as de Serviço Social, Técnicos/
papéis
as de Serviços Agrícolas, Pecuários ou Florestais, Educadores/as,
Professores/as, Diretores/as de Estabelecimentos de Educação
e Ensino, Enfermeiros/as, Médicos/as, Agentes Sanitários/as,
Agentes de Autoridade, ou outros) ou de Empresas Publicas
(como dirigentes, delegados/as ou funcionários/as); membros
ou representantes de ONGs (dirigentes, técnicos/as ou outros
funcionários/as); e/ou Agentes Económicos (dos vários tipos
referidos, enquanto Empresários/as ou seus representantes).

72
TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS 4

Em todos estes casos, convém identificar, manter e clarificar


estas duplas (ou mesmo múltiplas) pertenças, pela necessidade
e importância de distinguir papéis e missões e interesses em
presença, até pelo potencial de interações, parcerias e processos
cooperativos que tal permite e esclarece.
De facto, um membro de uma Comunidade, que é simulta-
neamente Professor/a ou Técnico/a de uma Instituição ou de
um Serviço Público ou de uma Empresa, não pode ser apenas
considerado/a do lado da Comunidade, pois será, provável e
frequentemente, confrontado com posições e instruções, que
resultam e obedecem muito mais a lógicas e ordens institucionais,
que poderão opor-se ou entrar em conflito e contradição com
aquela, obrigando-o/a a compromissos e opções nem sempre
lineares e evidentes. Deste ponto de vista, essas Pessoas, podem
envolver-se, por vezes, do lado da Participação (Comunitária),
outras do da Parceria (Institucional).

Tipos de Grupos Comunitários

Tendo em conta os GC atualmente existentes (com diferentes


designações), pode-se identificar sete categorias ou tipos,
considerando apenas a sua composição, a saber (indicados por
ordem crescente do modo como se concebe a Participação da
Comunidade):

1. Grupos exclusivamente de Instituições e Serviços, que


não preveem a Participação da Comunidade, sendo, por
isso, na verdade, quando muito, Grupos de Trabalho
Comunitário ou na Comunidade, para a Comunidade,
mas não com a Comunidade - são Grupos exclusivamente
de Parceiros Institucionais;
2. Grupos predominantemente de Instituições e Serviços, que

73
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

incluem algumas Pessoas da Comunidade, mas a convite,


por seleção e após autorização daqueles Parceiros - são
Grupos predominantemente de Parceiros Institucionais14;
3. Grupos de Instituições e Serviços (por vezes predominantes15,
outras não), com a presença dos representantes das
organizações formais da Comunidade - neste caso, trata-se
já de Grupos Comunitários incompletos, apenas com os
representantes de Grupos formais da Comunidade;
4. Grupos de Instituições e Serviços (por vezes predominantes16,
outras não), com a presença dos representantes das orga-
nizações formais e informais da Comunidade - neste caso,
trata-se já de Grupos Comunitários incompletos, apenas
com os representantes de todos os Grupos da Comunidade;
5. Grupos exclusivamente de membros (individuais ou co-
letivos) da Comunidade, sem a presença de Instituições e
Serviços - são Grupos exclusivamente de Comunidade;
6. Grupos predominantemente de membros (individuais ou
coletivos) da Comunidade, com a presença, por convite
da Comunidade, de algumas Instituições e Serviços - são
Grupos predominantemente de Comunidade;
7. Grupos que juntam, de forma totalmente aberta, quais-
quer membros (individuais e coletivos, formais e infor-
mais) da Comunidade e todas as Instituições e Serviços,
que intervêm na Comunidade - são estes os Grupos
Comunitários plenos.

Apenas no último tipo se tem uma lógica plena de Gover-


nança Local Partilhada e Participativa, sendo verdade que, nos
tipos 3, 4 e 6, também se podem ter experiências parcelares e
incompletas desse modelo de regulação, exceto nos casos de
predominância das Instituições e Serviços, assinalados nos tipos
3 e 4, nos quais já se entra na fronteira da Governação Integrada
(ver notas 14, 15 e 16).

74
NOTAS 4

NOTAS

1. Como escreveu Antonio Gramsci, um reputado filósofo, jornalista e


político italiano do princípio do século XX: “O elemento popular ‘sente’,
mas nem sempre compreende ou sabe; o elemento intelectual ‘sabe’,
mas nem sempre compreende e muito menos ‘sente’; (...) o erro do
intelectual consiste em acreditar que se possa ‘saber’ sem compreender
e, principalmente, sem sentir e estar apaixonado” (Gramsci, Concepção
dialéctica da História, pp. 138-139).

2. Segundo dados do FNUAP - Fundo das Nações Unidas para a População


(Relatório de 2017), as percentagens de população com menos de 15
anos eram, por exemplo, de 47% em Angola, 45% em Moçambique, 43%
em São Tomé e Príncipe, 41% na Guiné-Bissau e 30% em Cabo Verde.
Em Portugal, por exemplo, aquela percentagem era apenas de 14%.

3. Muito frequentemente entre 40% e 60%, inclusive para os PALOPs


(exceto Cabo Verde), segundo dados da ONU.

4. Na África subsaariana a média de anos de escolaridade para as pes-


soas com 25 e mais anos era, em 2015, de 5,4 anos, sendo de 5,0 em
Angola, 4,8 em Cabo Verde, 2,9 na Guiné-Bissau, 3,5 em Moçambique e
5,3 em São Tomé e Príncipe, enquanto que, por exemplo, em Portugal,
era de 8,9 anos e, na média mundial, 8,3 anos (dados do Relatório de
Desenvolvimento Humano de 2018, do PNUD - Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento).

5. Na África subsaariana a esperança média de vida à nascença era, em


2015, de 58,9 anos, sendo de 52,7 anos em Angola, 73,5 em Cabo Verde,
55,5 na Guiné-Bissau e em Moçambique e 66,6 em São Tomé e Príncipe,
enquanto que, por exemplo, em Portugal, era de 81,2 anos e, na média
mundial, 71,6 anos (dados do Relatório de Desenvolvimento Humano de
2018, do PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

75
RAZÕES, CONTEXTOS, OBJETIVOS, VANTAGENS E TIPOS DE GRUPOS COMUNITÁRIOS

6. Angola, Guiné-Bissau e Moçambique pertencem ao grupo de países


com “baixo nível de desenvolvimento”, respetivamente em 150º, 178º
e 181º lugares (em 188 países), na classificação do IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano de 2015, ao passo que Cabo Verde e São
Tomé e Príncipe estão no grupo de países com “nível médio de desen-
volvimento”, respetivamente em 122º e 142º, naquela classificação.
Portugal, por exemplo, naquele ano, estava em 41º lugar (dados do
Relatório de Desenvolvimento Humano de 2018, do PNUD - Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

7. Um dos exemplos mais notórios desta evolução é a Cidade da Praia,


onde surgiram, nos últimos anos, condomínios fechados ao lado de
autênticas “favelas” e aumentaram as desigualdades sociais, as situações
de Exclusão Social e a criminalidade e insegurança. Luanda e Maputo
já tinham esta evolução (agravada pelos efeitos da guerra civil), Bissau
também e, mais recentemente, a Cidade de São Tomé.

8. Neste, como em quase todos os outros pontos, Cabo Verde é um caso


à-parte.

9. Questão que será abordada mais em detalhe no capítulo 5.

10. Que significa, nesta explicação, o resultado da articulação positiva


entre Inserção (esforço das pessoas em situação de Pobreza e/ou Exclusão
Social) e Inclusão (respostas e trabalho, por parte das Instituições e
Serviços, que têm a Missão de combater a Pobreza e/ou a Exclusão Social).

11. Empresas Publicas Municipais, por exemplo, embora, pela sua proxi-
midade geográfica, normalmente estão mais sintonizadas com o primeiro
grupo (das Autarquias Locais) e com as suas lógicas de envolvimento e
de relacionamento com a Comunidade, do que com as outras Empresas
Publicas, de âmbito nacional, pelo que, a bem dizer, também poderiam ser
consideradas, do ponto de vista estratégico, naquele grupo.

76
NOTAS 4

12. Surge aqui uma questão muito pertinente: enquanto Pessoas da


Comunidade, também poderiam ser consideradas no primeiro tipo,
mas está-se aqui a distinguir duas lógicas de interesses, o comunitário,
enquanto Comunidade e o económico, enquanto Agente Económico,
que podem, nalguns casos, ser distintos, ou mesmo conflituantes
(noutros convergentes e coincidentes). Pretende-se salvaguardar esses
dois papéis, o que também pode acontecer noutras situações, em que
Pessoas da Comunidade sejam, simultaneamente, representantes de
outras entidades, como Autarquias Locais, Serviços Públicos Descon-
centrados, Empresas Publicas ou Organizações da Sociedade Civil, de
origem externa. Adiante se voltará a este assunto.

13. Obviamente, desde que em atividades de natureza não criminosa


e socialmente aceites.

14. Este tipo e o anterior correspondem ao modelo normalmente designado


por Governação Integrada, por ser essencialmente institucional, com
um papel preponderante da Administração Pública (Central e Local),
incluindo os Serviços Públicos Desconcentrados, sem dar um relevo
central à Participação da Comunidade, o que o distingue totalmente do
que aqui se designou por Governança Local Partilhada e Participativa
(ver explicação no capítulo 2).

15. Neste caso correspondem ainda a uma variante da Governação Inte-


grada, mencionada na nota anterior.

16. Neste caso correspondem ainda a uma variante da Governação Inte-


grada, mencionada na nota anterior.

77
5
PRINCIPAIS ASPETOS
E DESAFIOS
OPERACIONAIS

80 COMO FUNCIONA E O QUE FAZ? 98 COMO MOBILIZAR E TRABALHAR


EM PARCERIA?
88 COMO SE CONSTRÓI UM GRUPO
COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS 102 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS E
ETAPAS DIFICULDADES

91 O PROCESSO E OS DESAFIOS 105 ALGUMAS NOTAS SOBRE


DA ANIMAÇÃO DE UM GRUPO FINANCIAMENTOS E OUTROS
COMUNITÁRIO RECURSOS

93 COMO MOBILIZAR A 108 ASPETOS FORMAIS (ATAS,


PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE? REGULAMENTOS)
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

Como funciona e o que faz?

Antes de mais, as condições e regras de funcionamento de um


GC devem ser definidas, em conjunto e de forma democrática, se possível por
consenso, por todos os seus membros. Podem constar de um Regulamento,
se for entendida como vantajosa a sua existência formal.

O funcionamento de um GC pleno (ver tipologia no capítulo


anterior) assenta sobretudo na realização de reuniões periódicas
plenárias e abertas a qualquer membro da Comunidade e a todas as Instituições
e Serviços que intervêm no Território1. Essas reuniões constituem a expressão
mais explícita, evidente e visível do GC, porque é nelas que se
partilham os conhecimentos, se discutem as ideias, se elaboram
os projetos, se tomam as decisões conjuntas e se partilham as
avaliações, com vista a cumprir os objetivos coletivos, que se
mencionaram no capítulo 4.

Dado o seu carácter central na dinâmica de um GC, há aspetos


da sua logística que podem ser determinantes, nomeadamente
os seguintes:

Periodicidade A periodicidade - convém que haja uma periodicidade das


mensal
reuniões plenárias certa e facilmente identificável, mesmo por
quem não se guia por agendas de registo escrito ou eletrónico2. A
maioria dos GC existentes tendem para uma periodicidade mensal,
em dias certos do mês (por exemplo, a primeira quinta-feira, o
segundo domingo, o terceiro sábado ou a última quarta-feira3),
mas há GC que optam por intervalos mais curtos, como as três
semanas, os quinze dias ou até, em casos excecionais, o semanal4.
Uma periodicidade de reuniões mais alargada do que um mês
é normalmente contraproducente, porque não permite ganhar
ritmo e adquirir espírito de Grupo de forma continuada e con-
sistente. Contudo, como se disse, cada GC decidirá conforme o

80
COMO FUNCIONA E O QUE FAZ? 5

que for mais apropriado e conveniente. É óbvio, por outro lado,


que se marcarão reuniões plenárias extraordinárias sempre que
necessário e for do entendimento coletivo.

O horário - este é um dos pontos mais controversos e sensíveis Horário de


acordo com as
da logística de um GC, pois, normalmente, os horários de possibilidades
conveniência da maior parte das Pessoas da Comunidade (que da comunidade
podem ser ao fim-de-semana, por exemplo em África e mais nos
meios rurais, ou ao fim da tarde ou, melhor ainda, à noite, mais
nos meios urbanos ou na Europa, quando já estão libertas das
suas ocupações e labutas profissionais e, se possível, das suas
tarefas domésticas5) não coincidem com os interesses dominantes
dos/as Técnicos/as e outros/as Representantes das Instituições
e Serviços (que normalmente preferem os dias da semana e
nos seus horários de trabalho, até para não colidirem... com
as suas responsabilidades familiares). A solução (difícil) deve
ser encontrada por consenso, mas, em caso de dúvida, deveria
sempre privilegiar os interesses da Comunidade, sobretudo
numa lógica de GC aberto, e não os das Instituições e Serviços,
porque são estes que estão ao serviço daquela e não o contrário
e porque um GC tem na Comunidade a sua razão principal de
existência. Pode-se ainda optar por soluções variáveis ou de
horários rotativos, mas essa opção dificulta a apreensão das
reuniões por rotina, o que é sobretudo negativo para quem não
se rege por agendas escritas ou eletrónicas, como já se referiu6.

O local - o local ou locais das reuniões plenárias devem ser As reuniões


devem ser num
apropriados para a sua dimensão e prever sempre a vinda de local escolhido
elementos não habituais (em GC abertos, como é evidente) e para facilitar a
participação da
serem facilitadores da Participação da Comunidade, quer na comunidade
disposição dos lugares (preferencialmente em círculo, de modo
a não haver lugares dominantes), quer no seu simbolismo (locais
com um grande peso de constrangimento ou de limitação de

81
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

expressões, como, nalguns casos, os de culto e os de atendimento


institucional e tecnocrático, são de evitar, por exemplo). Uma boa
opção consiste em reunir em locais rotativos, por permitir acolher
em várias Instituições, Serviços e até Grupos da Comunidade,
valorizar e explicitar os diferentes Grupos, dinâmicas, culturas
e etnias e distribuir melhor as distâncias a percorrer pelas
diferentes Pessoas e Grupos. Tem, no entanto, o inconveniente,
já assinalado nas alíneas anteriores, de dificultar rotinas.

Mobilização A mobilização para as reuniões - embora esta questão seja


para as
abordada mais à frente, quando se referir a formalização de
reuniões
convites para as reuniões do GC, convém também mencioná-la
neste ponto, uma vez que faz parte e é uma peça importante da
sua logística. De facto, é fundamental assegurar que a informação
sobre a realização de reuniões seja clara, ampla e adequada, no
tempo, no conteúdo e nos destinatários/as (Pessoas e Grupos
da Comunidade e Instituições e outros Parceiros), sendo acon-
selhável que se diversifiquem as modalidades de comunicação
(boca-a-boca, porta-a-porta, através da afixação de folhetos em
locais estratégicos e/ou de uma rádio comunitária, com avisos
nas igrejas, nos mercados, com envio de mensagens de telemóvel,
etc.). Esta é uma das funções importantes dos/as Participantes
ou entidades que têm o papel de facilitadores/as, seja como
Animadores/as, Moderadores/as ou Coordenadores/as7.

A moderação A moderação das reuniões8 - este é também um aspeto


das reuniões
importante de um GC, pois, de uma moderação que saiba gerir
é um fator-
chave e pode os tempos e os modos de intervenção, de escuta, de reflexão,
ser feita de
5 formas
de discussão e de deliberação e o equilíbrio entre os vários
diferentes momentos e que saiba apaziguar, mas também mobilizar,
depende, em grande parte, o sucesso das reuniões e, mais em
geral, do próprio GC. Até agora tem havido, nos GC existentes,
cinco tipos de modalidades:

82
COMO FUNCIONA E O QUE FAZ? 5

1. moderação por um elemento neutro, que não pertença à


Comunidade nem às Instituições e Serviços e que seja aceite
por todos/as9;
2. moderação por rotatividade de todos/as os/as Participantes
(da Comunidade) e Parceiros (Instituições e Serviços), pla-
neada previamente;
3. moderação pela entidade anfitriã da reunião, no caso de
locais rotativos;
4. moderação variável, escolhida por todos/as em cada reunião,
podendo repetir-se, de uma para a seguinte;
5. moderação mais duradoura (por períodos relativamente
longos, como um ano ou um semestre), por escolha coletiva.

Nalguns casos houve combinações ou sequências de algumas


destas modalidades. Em qualquer caso, a escolha deve ser sempre
coletiva.

O modo de definição e o conteúdo da “Ordem de Trabalhos” A ordem de


trabalhos
- a “Ordem de Trabalhos” é um aspeto importante das reuniões de
um GC, na medida em que o seu conteúdo estabelece os assuntos
a abordar, os quais devem corresponder aos interesses dos/as
Participantes e Parceiros, incidindo sobre os seus problemas,
necessidades e sonhos prioritários e, por conseguinte, ser
mobilizadores. Por isso, ela deve, sempre que possível, ser
estabelecida previamente, com os contributos de todos/as10,
mas permitir a inclusão de pontos urgentes, de última hora, e/
ou de interesse geral, sempre com a concordância do Coletivo11,
respeitando, no fundo, o sexto princípio metodológico do
Desenvolvimento Comunitário (“Planeamento com improviso”),
tal como referido no capítulo 2. Importante também é haver
sempre um ponto de Informações, em particular para incentivar
e proporcionar a partilha de atividades e um melhor mútuo
conhecimento entre os Parceiros, aproveitando as oportunidades

83
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

que, a esse propósito, a existência de um GC pode permitir.


Ainda é necessário ter em consideração que as reuniões podem
ter características e objetivos diferentes (por exemplo, para
efeitos de Diagnóstico, de definição do Planeamento das suas
atividades, de Avaliação, por contraposição às de funcionamento
corrente), o que implica Ordens de Trabalho, dinâmicas e
tempos diferentes.

Linguagem A linguagem utilizada - de forma a que todos e todas possam


utilizada
participar e envolver-se plenamente nas reuniões, deve-se fazer
um esforço para que a linguagem e os termos utilizados sejam
compreensíveis para todos e todas, evitando-se expressões
demasiado eruditas e tecnocráticas, preferindo-se um registo
mais democrático, “horizontal” e solidário12. É evidente que os GC
também podem (e devem) ser oportunidades de aprendizagem e
de capacitação, mas nos dois sentidos (dos/as Técnicos/as para
a Comunidade e vice-versa, e não apenas no primeiro sentido),
mas sobretudo é importante que todos e todas estejam sempre a
acompanhar e a sentir-se partes iguais do Coletivo. É importante
fazer referência que há outros tipos de linguagem e comunicação
que se podem e devem utilizar, sobretudo em determinadas
situações (como, por exemplo, em reuniões de Diagnóstico e
de Avaliação), como o desenho, o teatro, a fotografia e o vídeo,
e que podem facilitar o objetivo enunciado.

Modos de Os modos de decisão - esta é uma questão muito importante,


decisão
que pode gerar controvérsias e até diferendos nos GC, sobretudo
quando deles fazem parte (como é desejável) entidades com
legitimidades e mandatos muito diferenciados: Pessoas da Co-
munidade, a título individual; Associações e Grupos, formais e
informais, da Comunidade; Autarquias Locais eleitas, mas com
“tecnoestruturas” permanentes, por vezes, com poderes, formais
e informais, muito próprios; Serviços Públicos Desconcentrados,

84
COMO FUNCIONA E O QUE FAZ? 5

dependentes da Administração Pública Central (também ela


decorrente, em parte, de eleições, mas composta estrutural-
mente por Dirigentes e Técnicos/as, muitas vezes com grande
poder de autonomia); Organizações Não Governamentais, com
outras lógicas, objetivos e agendas; Empresas, de tipos muito
diferentes, também com os seus objetivos e critérios de poder
(económico). Misturam-se, neste conjunto complexo, neste
autêntico puzzle, legitimidades e poderes muito distintos, que
nem sequer são completamente comparáveis, à luz dos critéri-
os mais usuais de decisão13. Estão, de facto, em interação, pelo
menos sete tipos de poderes muito diferentes:

1. político-formais (decorrentes da Democracia Representativa);


2. técnicos (legitimados pela Tecnocracia);
3. económicos (assentes nas Oligarquias Económico-Financeiras);
4. associativos (fundamentados pela Democracia Participativa
Associativa);
5. por vezes os científicos (escorados na Academia e nos
Sistemas de Institucionalização da Produção e da Valida­
ção do Conhecimento);
6. institucionais (associados às Instituições externas, que
intervêm na Comunidade) e;
7. os emergentes comunitários ou político-informais (base­a­dos
na Democracia Participativa de Proximidade e suscitados e
fecundados pelos GC)14.

Nesse sentido, os modos de decisão não podem de facto re-


produzir simplesmente e exclusivamente as lógicas de votações
da Democracia Representativa15. Se se partir do princípio de
que
1. se trata de legitimidades de facto diferentes, mas todas

igualmente importantes, necessárias e... legítimas, sem entrar


em comparações de natureza quantitativas e hierárquicas, as
soluções mais interessantes e positivas têm sido as de:

85
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

1. decidir e deliberar, primeiro, por consenso, após discussão


aprofundada e equitativa;
2. em seguida, na ausência daquele, por consentimento das
partes mais convencidas ou flexíveis (sempre após todos
os esclarecimentos, argumentos e reflexões);
3. e, só em última instância, por votação equitativa (“uma
pessoa, um voto”)16.

Mas o importante é que cada GC decida e estabeleça coleti-


vamente qual o modo de decisão que quer assumir, podendo,
por exemplo, figurar no Regulamento do GC, se a sua existência
formal for um entendimento conjunto17.

Atividades Contudo, um GC não se esgota em reuniões plenárias, antes


dos Grupos
deve ter outras componentes, concretizações e participações,
Comunitários
como por exemplo:

• diversos tipos de atividades comunitárias, decididas e


planeadas em conjunto;
• outros tipos de eventos, também decididos e planeados
em conjunto;
• contactos e reuniões preparatórias das atividades e even-
tos referidos, envolvendo apenas alguns dos Participantes
e Entidades do GC;
• grupos de trabalho, úteis para operacionalizar atividades e
projetos concretos, retirando essa preocupação mais práti-
ca das reuniões plenárias (que assim podem ficar focadas
na reflexão e no planeamento estratégico e na partilha de
informações), mas que, de preferência, devem ter missões
específicas e ser de curta duração, além de poderem ser
abertos à participação de todos os membros do GC18;
• reuniões bilaterais, para discutir e preparar aspetos específicos;
• outros tipos de reuniões, que se revelem necessárias.

86
COMO FUNCIONA E O QUE FAZ? 5

Um aspeto importante é que um GC deve incidir as suas atividades Natureza


das ações
nas várias dimensões e domínios de interesse, que se relacionam
dos Grupos
com a Vida e a Sustentabilidade da Comunidade, ou seja, nas Comunitários
áreas sociais (normalmente as predominantes, nas respostas
às questões da Pobreza e da Exclusão Social, da Educação e da
Saúde), culturais (relativas às identidades e património locais
e ao convívio e à Festa comunitária), económicas (quanto à
procura de emprego e ao apoio à geração de rendimentos e à
economia local), ambientais (proteção e valorização do meio
ambiente, defesa da biodiversidade, produção e utilização de
energias renováveis e saneamento básico e tratamento dos
lixos) e do Desenvolvimento, do Bem-Estar e do Bem-Viver, em
geral. Nesse sentido, uma iniciativa interessante pode ser a
definição e construção de um Roteiro de Desenvolvimento,
como estratégia de ações de Desenvolvimento, mobilizando
e envolvendo a Comunidade, como fizeram, por exemplo, os
Grupos Comunitários do Bairro da Graça (Benguela - Angola) e
de Porto Alegre (São Tomé e Príncipe). Um GC concretiza-se e
realiza-se, procurando cumprir os seus objetivos, através deste
conjunto de Ações e de outras que se revelem pertinentes e
necessárias.

Uma questão final (numa lista que não se pretende exaustiva) diz Comissão
Coordenadora
respeito à necessidade ou não da existência de uma Comissão
Coordenadora do GC. As experiências conhecidas mostram
que não é uma opção imperativa, pode ser vantajosa ou não, dependendo
mais da sua composição e do seu modo de funcionamento (transparência,
democraticidade, articulação com a Comunidade e os Parceiros, rotatividade
ou longevidade)19. Pode, contudo, assumir um papel impor-
tante na conquista da Sustentabilidade de um GC, para o que
se torna fundamental a sua Capacitação, com essa finalidade.
As experiências existentes são muito diversificadas e vão
desde modelos com as características sugeridas no parágrafo

87
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

abaixo, até estruturas permanentes compostas apenas por


Técnicos/as de diferentes Parceiros Institucionais ou apenas
por representantes dos poderes político-formais (Autarquias
Locais e/ou Serviços Públicos). De qualquer modo, mais uma
vez, esta deve ser uma decisão coletiva e, pelas experiências
conhecidas, recomenda-se que, a existir, uma tal Comissão
deve ter, no mínimo, três pessoas, ser rotativa e expressar a
diversidade de Participantes e Parceiros do GC.

Como se constrói um Grupo Comunitário -


principais etapas

Historicamente, tem havido diferentes estratégias para construir


um GC:

Um Grupo 1. por iniciativa e proposta de uma Organização Não


Comunitário
surge por
Governamental;
iniciativa de 2. a partir de uma vontade e decisão política de uma
quem?
Autarquia Local;
3. a partir de um Serviço Público Desconcentrado, depen-
dente da Administração Pública Central (sobretudo das
áreas da Ação Social, da Educação - Ensino Superior e
da Saúde), em resultado de políticas públicas ou, mais
frequentemente, do “empreendedorismo autónomo e
solidário”, individual ou coletivo, de algum/a/uns/mas
dos/as seus/suas Técnico/as;
4. por iniciativa ou reivindicação de Pessoas ou Grupos,
formais ou informais da Comunidade;
5. por elementos individuais neutros, a título de Cidadania
militante.

Estas diferentes estratégias têm percorrido etapas distintas,

88
COMO SE CONSTRÓI UM GRUPO COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS ETAPAS 5

mas é possível identificar e caracterizar as mais importantes.


Apresenta-se, de seguida, a sequência mais frequente de constituição
de um GC, chamando-se a atenção de que pode haver várias
combinações e arranjos:

1. surgimento da ideia, por exemplo, de um dos cinco modos 9 Etapas de


constituição
referidos antes, podendo ser a título individual ou coletivo; de um Grupo
2. primeiro levantamento ou diagnóstico de problemas, Comunitário
necessidades, recursos e sonhos da Comunidade, pela
entidade ou Pessoa de quem surgiu a iniciativa, mas que
pode, desde logo, começar a ser partilhado com outras
entidades e/ou Pessoas, servindo para a sua mobilização
(ver o passo seguinte), podendo inicialmente ser parcelar
e simultâneo com a primeira etapa, justificando-a e
tornando-se o elemento mobilizador ou o motor do
processo que se segue;
3. levantamento e pré-mobilização de outras Pessoas, Gru-
pos e Instituições interessadas, no sentido de se poder
constituir um “conjunto inicial de arranque”;
4. auscultação e partilha do pré-diagnóstico com esse “con-
junto inicial de arranque”, gerando um primeiro momen-
to de reflexão coletiva, que justifique e motive uma lógica
de Participação, Cooperação e Parceria;
5. tomada de decisão coletiva, no âmbito desse “conjunto
inicial de arranque”, da vontade de criação de um Grupo
Comunitário, de que assim se torna uma espécie da sua
“Comissão Instaladora”;
6. realização de ações de sensibilização, formação e capaci­ta­
ção dessa “Comissão” inicial, eventual e progressivamente
alargadas a Pessoas e Grupos da Comunidade e/ou a Insti-
tuições e Serviços presentes no Território, por convite ou de
forma aberta, sobre o sentido, a natureza, os objetivos, as
vantagens, a composição, os modos de funcionamento e as

89
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

dificuldades de um GC20, com recurso a especialistas convi-


dados ou em sistema de autoformação partilhada, podendo
tratar-se essencialmente de uma sensibilização básica, que
acompanha as primeiras ações (ver etapa 8);
7. definição conjunta de algumas regras básicas de funciona-
mento, que podem ser escritas ou orais21;
8. definição conjunta de alguns projetos e ações de início e
lançamento do GC, que correspondam a respostas pos-
síveis a alguns dos principais problemas e necessidades,
diagnosticados como prioritários pelo Grupo inicial, ou a
atividades festivas, que juntem e atraiam as Pessoas, e que
sejam mobilizadores da Ação Coletiva;
9. funcionamento em pleno do GC.

em resumo

GRUPO
como se 1. Surgimento da ideia
constitui
2. Pré-diagnóstico

COMUNITÁRIO
3. Mobilização de pessoas, grupos e instituições
4. Reflexão sobre o pré-diagnóstico
5. Tomada decisão coletiva - "Comissão Instaladora"
6. Ações de sensibilização e capacitação
7. Definição de regras básicas de funcionamento
8. Projetos e ações conjuntas
9. Funcionamento pleno

Não há nenhuma rigidez nem obrigatoriedade nesta sequência, podendo ser


diferente e algumas das etapas ocorrerem em simultâneo, dependendo também
dos contextos (nomeadamente culturais) e das características
dos Atores/Atrizes inicialmente envolvidos/as. Nalguns casos
pode ser importante avançar logo para algum tipo de atividades
facilmente mobilizadoras, como uma Festa Comunitária, mas
será sempre importante ir refletindo e avaliando o processo
(o que também vai capacitando os/as intervenientes), ainda

90
COMO SE CONSTRÓI UM GRUPO COMUNITÁRIO - PRINCIPAIS ETAPAS 5

que de maneira pouco formal e técnica, mas antes convivial


e descontraída.
O tempo que demora a percorrer estas etapas é muito variável,
podendo ir normalmente de três a seis meses. Interessante tam-
bém é verificar que a data “oficial” (ou comemorativa) de início
do GC pode coincidir com várias daquelas etapas, dependendo
da tomada de consciência e da decisão coletiva, ou seja, do que
todos/as em conjunto considerarem significativo e marcante.
Depois, o funcionamento corrente do GC pode ter diversas
fases e momentos (anexo 2), sendo vulgar que, após um
período inicial de entusiasmo, que pode durar bastante tempo,
dependendo do tipo de atividades e respostas que se for
conseguindo e da dinâmica da sua Animação22, se entre em fases de algum
desânimo e desinteresse, por vezes de natureza cíclica, contra os quais
é necessário reagir, estando atentos às principais necessidades e anseios
da Comunidade e conjugando a realização de Projetos (com
respostas concretas àquelas necessidades) com a ousadia de
construir Sonhos, que se tornem progressivamente Projetos
concretos, e ainda com a organização de eventos festivos e de
convívio, para reforçar o espírito comunitário. Esse é o papel
em especial da Animação e da Coordenação do GC, distinguindo
os de mobilização e incentivo (que são os focos do primeiro),
da organização e realização (que são os focos do segundo).

O processo e os desafios da animação de um


Grupo Comunitário

Os processos de preparação, constituição, lançamento e fun-


cionamento de um GC podem precisar de uma estratégia de
Animação, que os facilite, acompanhe e apoie. No essencial essa
estratégia deve obedecer aos dez princípios e aos objetivos da
Animação Comunitária ou Territorial (“entendida como o pro-

91
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

cesso de mobilização, criação e consolidação das condições de


base e dos pilares fundamentais da dinâmica e da constituição e
funcionamento de um GC”), que foram definidos anteriormente.
A figura do Animador ou Animadora, que tanto pode ser
uma pessoa reconhecida da Comunidade, um/a Técnico/a de
uma das Instituições ou Serviços presentes no Território ou
um elemento neutro, desde que seja aceite por todos e todas,
pode ser fundamental, em particular nas etapas mencionadas
no ponto anterior, para:

1. desencadear e iniciar o processo de criação do GC;


2. apoiar no diagnóstico (ou pré-diagnóstico) inicial e na sua
sistematização;
3. desocultar recursos, talentos, competências, capacidades e
saberes escondidos, marginalizados ou subaproveitados;
facilitar a reflexão conjunta inicial;
4. mobilizar a Comunidade e a sua Participação;
5. mobilizar os Parceiros - Instituições, Serviços e Empresas;
6. esclarecer o que é um GC, quais os seus objetivos, vanta-
gens, dificuldades e modos de funcionamento;
7. contribuir para as ações de sensibilização, formação e
capacitação da Comunidade e dos Parceiros sobre os
desafios de um GC;
8. ajudar a definir as regras e as condições de lançamento e
de funcionamento do GC;
9. dinamizar as atividades e projetos de arranque do GC;
10. contrariar os momentos de desânimo e de desinteresse,
mobilizando, animando e incentivando, a partir dos obje-
tivos do GC e das necessidades da Comunidade.

Além de ser reconhecido/a e aceite por todos e todas, o/a


Animador/a tem de reunir um conjunto crucial de competências
éticas, relacionais e técnicas, como lhe foram associadas

92
COMO MOBILIZAR A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE? 5

anteriormente, de que têm de se destacar as seguintes: estar


enraizado no Território e na Comunidade, que deve conhecer bem;
ser militante e conhecedor do Desenvolvimento Comunitário; e ter
capacidades de escuta e de ser entendido/a, de negociação e de
mediação e gestão de conflitos, de deteção de talentos, sobretudo
os ocultos e subaproveitados, de resistência às pressões e de
resiliência ao desânimo e às situações negativas, de “sedução”
e empatia, sobretudo com os “sem voz” (anexo 3).

Como mobilizar a participação da comunidade?

Sendo a Comunidade o centro, a razão de ser e a finalidade última


de um GC, a questão da sua Participação e da correspondente
mobilização é absolutamente essencial e decisiva da sua existência
e do seu funcionamento. Daí ser muito importante haver uma
estratégia explícita com essa preocupação.

Essa estratégia deve ter, como grande prioridade (mas não com exclusividade), as
Pessoas e Grupos da Comunidade “sem voz”, as mais marginalizadas, vulneráveis
e desvalorizadas, o que exige, primeiro, identificar essas Pessoas e Grupos, de
preferência como reflexão coletiva, também no âmbito do GC.

Normalmente são as seguintes:

• os/as Seniores isolados/as;


• as Crianças e os/as Adolescentes, sem a atenção dos pais;
• os/as Jovens sem projetos e perspetivas de futuro;
• as Pessoas com doenças mentais;
• as Pessoas portadoras de deficiências e com necessidades
especiais;
• as Pessoas com orientações sexuais diferentes das dominantes;
• os/as Imigrantes, sobretudo os/as que estão em situação

93
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

irregular;
• as Pessoas e as Famílias, em geral, de algumas Etnias, que
sofrem de preconceitos discriminatórios e até racistas;
• as Pessoas descrentes e desanimadas, em geral;
• e outras, dependendo das situações concretas de cada
Comunidade.

Para a mobilização destas e das Pessoas e Grupos, em geral, da


Comunidade, há que começar por ter em conta os obstáculos
e dificuldades inerentes à Participação, dos quais se sublinham
os seguintes:

1 - Por parte da Sociedade, em geral, e dos seus valores


dominantes, nomeadamente:

• a Participação e a Capacidade de Iniciativa não são os


valores dominantes, incentivando-se antes, em geral, a
obediência e a subordinação;
• o modelo de Desenvolvimento dominante e os objetivos
e os sonhos mobilizadores são muito mais da ordem do
Economicismo, do Consumismo, do Individualismo e do
“Ter”, do que da Democracia, da Cidadania, da Solidarie-
dade e do “Ser”;
• a Participação implica e provoca, inevitavelmente, proces-
sos de Autonomização e de Empowerment, com conse-
quências em termos de Redistribuição de Poder e, quem
tem o Poder, resiste o mais possível em o ceder e partilhar.

2 - Por parte das próprias Pessoas e Grupos potenciais Participantes,


em particular as fortes e inevitáveis tendências, existentes nestas
Pessoas e Grupos, para:

• a inação e a passividade, por hábitos e culturas adquiridas;

94
COMO MOBILIZAR A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE? 5

• a subordinação, a acomodação e o oportunismo ao as­


sistencialismo, por conveniências e maus hábitos;
• o excesso de reivindicalismo, por estratégia e comodismo23;
• o desânimo, a desistência ou a resignação, normalmente
por cansaço, descrença ou frustração, após tentativas sem
resultados;
• a desmotivação e a ausência de vontade, por falta ou insu-
ficiência de informação;
• a baixa autoestima e confiança em si próprio/a, por falta
de exercício e de experiências de poder e de autonomia e
por longos hábitos de subordinação;
• a tentação de usar as reuniões para tratar de casos concre­
tos e personalizar as situações, tornando as reflexões
casuísticas e não salvaguardando a privacidade do que
está em causa24.

3 - Por parte dos/as Técnicos/as e “Animadores/as”, que deveriam


ser os/as facilitadores/as e mobilizadores/as de processos
participativos e que normalmente acabam por os inibir ou
dificultar quando:

• têm falta de criatividade e de adoção de estratégias “à


medida” de cada caso e situação, acomodando-se, frequen-
temente, a soluções “pronto-a-vestir”;
• ficam subordinados/as aos “tempos e objetivos dos
políticos”25 e/ou aos “tempos dos programas e dos
financiamentos”26, os quais raramente são compatíveis
com os tempos, normalmente muito mais longos e
diversificados, dos processos participativos;
• se limitam ao espaço e aos horários dos gabinetes e dos
atendimentos, não se adequando aos lugares do Território
e aos horários e tempos da Comunidade;
• têm falta de paciência e de persistência para o tempo

95
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

(demorado) da Participação;
• não resistem, por vezes, ao assistencialismo ou a formas
mais benignas de protecionismo, ambos “inimigos” e
inibidores da Participação;
• confundem a Participação plena com a mera adesão
das Pessoas e Grupos da Comunidade às suas (dos/as
Técnicos/as) ideias, iniciativas e atividades, limitando-
-se à componente de Execução (a menos exigente, em
termos de aquisição de Autonomia e Poder) dos processos
participativos;
• se sentem ameaçados/as, nos seus poderes técnicos (de
atribuição de recursos e de fiscalização de benefícios) e
resistem, inibem, deturpam ou manipulam os processos
participativos;
• ficam reféns das suas aprendizagens académicas e dos
saberes científicos e técnicos, não se abrindo aos ensina-
mentos das práticas e dos atores mais populares e das
suas próprias experiências indutivas, que, por vezes, são
muito mais úteis e eficazes para dinamizar ou, pelo menos,
completar dinâmicas participativas.

O Animador/a Por todas estas razões, é fundamental que, nas estratégias de


tem de ser
mobilização da Participação, que pode estar a cargo, se necessário,
persistente,
criativo, flexível do/a Animador/a Comunitário/a, referido anteriormente, se seja
e diversificado
nas suas
persistente, criativo, flexível e diversificado, em função de cada
abordagens caso, situação e circunstância. Os métodos a utilizar devem,
portanto, ser formais e informais, convencionais e inovadores,
individuais e coletivos, racionais e emocionais, mais técnicos
e mais lúdicos. Alguns exemplos:

• Reuniões convencionais;
• conversas informais de grupos ou individuais;
• concursos de fotografias;

96
COMO MOBILIZAR A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE? 5

• pinturas de paredes (grafitti);


• desenhos das crianças;
• jogos de rua;
• percursos de descoberta em grupo pelo Território;
• concursos de projetos e orçamentos participativos;
• representações teatrais (com adoção de modelos como o
“Teatro Fórum” e os “Ateliês de Poder”, segundo a metodo­
logia do “Teatro do Oprimido”);
• inscrições livres em murais;
• aproveitamento de festas;
• passeios e locais e momentos de convívios banais de Pessoas
e Grupos da Comunidade (nos cafés e nas ruas, sobretudo
com os/as Seniores, as Crianças e os/as Jovens).

Sobretudo há que saber respeitar e aproveitar os ritmos e


os interesses e motivações diferenciadas das Pessoas e Grupos.
Mas também é fundamental que a entidade a que pertence ou
que enquadra o/a Animador/a esteja sintonizada com estes
princípios e preocupações e lhe dê apoio e incentivo.

Imagem 4 - Apresentação à comunidade do Roteiro de Desenvolvimento do Bairro da


Graça 2017-2022 pelo Grupo Comunitário do Bairro da Graça, em Benguela, Angola.

97
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

Como mobilizar e trabalhar em parceria?

A mobilização dos Parceiros - Autarquias Locais, Serviços Públicos


Desconcentrados, ONGs, e Empresas -, que ainda o não estejam
é outro dos pilares importantes de um GC. Embora não sendo o
seu centro, o contributo dos vários Parceiros é absolutamente
fundamental, pelos recursos, serviços e respostas que já disponibilizam
ou ainda podem organizar, em conjunto com a Comunidade, de uma forma
mais eficiente, eficaz e sustentável. Por isso, é muito importante que sejam
mobilizados e conquistados para a lógica da Cooperação e da
Ação Coletiva, inerentes a um GC.

As vantagens do envolvimento dos Parceiros, idealmente de


todos os que estão presentes no Território, pelo menos de um
modo tendencial e, se necessário, progressivo, são as mesmas
que estão associadas a um GC (ver as que se mencionaram
no capítulo 4), em particular as seguintes, se o Trabalho em
Parceria for bem aproveitado, nas suas potencialidades, e não
for atingido pelas dificuldades, riscos ou deturpações, que se
indicam depois:

6 Vantagens 1. um melhor Diagnóstico do Território e da Comunidade,


do trabalho em
parceria
pela partilha de conhecimentos, perspetivas, preocupações
e olhares;
2. uma melhor Eficiência na afetação dos recursos de todo
o tipo, pela sua mobilização e partilha entre todos os
Parceiros;
3. uma maior Eficácia no cumprimento dos objetivos e dos
resultados e metas desejadas e programadas, pelo envolvi-
mento concertado dos Parceiros com a Comunidade;
4. um aumento das possibilidades de maior Sustentabilidade
e continuidade das ações e respostas e dos seus resultados,
pelo compromisso conjunto e numa lógica de Cooperação,

98
COMO MOBILIZAR E TRABALHAR EM PARCERIA? 5

que une os Parceiros e a Comunidade;


5. uma melhor Avaliação de todos os processos, iniciativas e
projetos, pela partilha e troca de pontos de vista;
6. a efetiva possibilidade de se praticar um modelo inova-
dor de Governança Local Partilhada e Participativa, pela
Responsabilidade Conjunta que assim é mobilizada e
praticada.

Contudo, o Trabalho em Parceria tem riscos e dificuldades e


é frequentemente atingido por desvios e tentações27, que o
podem deturpar. Sublinham-se as principais:

1. o caso das Parcerias em que se entra apenas por estar na moda, 11 Desvios e
tentações do
por ser de bom-tom ou para não parecer mal, mas não por con- trabalho em
vicção e assunção plena de uma lógica de Cooperação; parceria
2. as Parcerias a que se adere por oportunismo, por conveniên-
cias próprias ou por imposição dos financiadores e/ou dos
programas, e não para servir a Comunidade e assumir o GC;
3. a tendência de alguns Parceiros para uma atitude de
arrogância e de superioridade tecnocrática, em relação a
outros, considerados menores, mas sobretudo em relação
à Comunidade, por “não estar ao mesmo nível técnico
e de conhecimentos”, inquinando e inviabilizando a
democraticidade e a horizontalidade, exigidas num GC e
podendo tender para uma lógica de assistencialismo28;
4. a colocação “em cima da mesa” das discussões e reflexões
do GC, como questão importante, de uma comparação
das legitimidades dos diferentes Parceiros e entidades que
o compõem e da sua hierarquização, consoante a sua
natureza (política, económica, cultural, técnica, associa-
tiva ou outra), o estatuto que têm29, e os respetivos pesos
quantitativos, o que, como já se referiu, não faz sentido
(numa lógica de Desenvolvimento Comunitário e de Grupo

99
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

Comunitário), além de ser, naqueles termos, irresolúvel;


5. a por vezes irresistível tentação de infiltração partidária
e de aproveitamento político e manipulação dos GC,
por parte de forças políticas, quer ligadas aos Governos
(Central e Local), quer aos Partidos da Oposição, porque,
sobretudo quando funcionam bem, os GC adquirem
prestígio e fazem sobressair capacidades de liderança, de
dirigismo e técnicas30;
6. os constrangimentos que resultam para os/as represen-
tantes dos Parceiros Institucionais no GC, das obediências e
fidelidades hierárquicas a que estão sujeitos/as, obrigando­-
-os/as a consultar as suas chefias, sobretudo em casos de
decisões mais sensíveis, o que provoca atrasos, por vezes
irreparáveis, na resolução de problemas da Comunidade,
mina a sua confiança e expectativas e inquina ou emperra a
Parceria, uma vez que uma possível “fidelidade comunitária
e territorial” horizontal, em construção, é preterida por
uma “fidelidade institucional e setorial” vertical31;
7. a existência, por vezes, de um cálculo mercantil e “con-
tabilístico” da Parceria e do GC, em que alguns Parceiros
tentam fazer uma avaliação de “custos-benefícios” do
seu envolvimento em determinadas ações e atividades, ou
mesmo no GC, pervertendo completamente o que é um
GC e uma Parceria para o Desenvolvimento Comunitário
e esquecendo que quem deve fundamentalmente beneficiar
e ganhar com o GC e as Parcerias é a Comunidade32;
8. o relativamente pouco envolvimento e empenhamento de al-
guns Parceiros na filosofia, nos objetivos e nas atividades do
GC, levando a uma certa superficialidade e irregularidades e
descontinuidades nas suas presenças e compromissos;
9. a falta de paciência de alguns Parceiros para os tempos e os
resultados (por vezes demorados) do Trabalho em Parceria e
do Desenvolvimento Comunitário, esquecendo ou ignorando

100
COMO MOBILIZAR E TRABALHAR EM PARCERIA? 5

que o DC e um GC assemelham-se mais a uma maratona do


que a uma corrida de cem metros, exigindo planeamento,
persistência, tempo, paciência, fôlego e inteligência;
10. a lógica institucional que leva alguns Parceiros a exigirem
um lugar de preponderância na apresentação e divulgação
das atividades e da própria existência do GC33, o que
não é coerente com os seus valores, em que todos têm a
mesma importância e a preponderância deve pertencer à
Comunidade;
11. a incapacidade da maioria dos Parceiros em perceber e
aceitar que o DC e um GC representam, de facto, uma
mudança de paradigma em múltiplos aspetos, incluindo
no conceito e nas práticas das deontologias profissionais,
que não podem mais ser fechadas, setoriais, muradas
e tecnocráticas34, como até agora, por influência das
perspetivas disciplinares e segmentadas, devendo passar
a ser integradas, transversais, partilhadas, comunitárias
e democráticas35, sem perder (ou até aumentando) o seu
valor e qualidade36.

Sendo certo que há determinadas “culturas Institucionais” e


“culturas profissionais” que tornam mais prováveis algumas destas
“síndromes” nalguns tipos de Parceiros e/ou de profissões, também
é verdade que as características psicológicas e temperamentais
próprias de cada Pessoa podem ser determinantes para desencadear,
amortecer ou amplificar estas reações e comportamentos.
Perante todos estes desafios e dificuldades, a mobilização dos
Parceiros para o GC, que pode estar a cargo, se necessário, do/a
Animador/a Comunitário/a requer, entre outras características:

• persistência;
• tempo para muitas conversas e contactos informais;
• capacidade para resistir às pressões e às contrariedades;

101
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

• diplomacia e paciência com os altos e baixos, as possíveis


contradições e eventuais incoerências dos diálogos, das
opiniões e das posições;
• resiliência face aos muito prováveis desânimos ocasionais;
• respeito pela Diversidade institucional, política e pessoal;
• muita criatividade e flexibilidade nas posições e propostas;
• mas... Coerência com os princípios e valores estratégicos de
referência, sobretudo do Desenvolvimento Comunitário;
• por isso, defesa intransigente da Comunidade e dos objeti-
vos do seu Bem-Estar e Bem-Viver.

Principais obstáculos e dificuldades

São quatro os principais tipos de obstáculos e dificuldades com


que se defrontam normalmente os GC:

1. os relativos à mobilização da Participação da Comunidade;


2. os relativos à mobilização do Trabalho em Parceria;
3. os relativos às questões de financiamento do seu funciona-
mento e das suas iniciativas, projetos e atividades;
4. os que se referem à interação e confronto de poderes,
desencadeados pela existência de um GC pleno.

Como já se referiu, a criação e existência de um GC implica


a interação e o relacionamento, entre, pelo menos, sete tipos
diferentes de poderes, num quadro completamente novo
de Parceria, Solidariedade e Cooperação e, portanto, de hori-
zontalidade, em vez das tradicionais lógicas, muitas vezes
marcadas pela Hierarquização, Subordinação e Competição,
de predominância vertical.
Este é um dos maiores desafios de um GC e comporta riscos,
cria tensões, introduz sérias dificuldades e requer ousadia e

102
PRINCIPAIS OBSTÁCULOS E DIFICULDADES 5

a­bertura à inovação. Os sete poderes em presença são, como já


se mencionou, os seguintes:

1. o poder político-formal, constituído e legitimado pelas


regras da Democracia Representativa, exercido pelos
correspondentes eleitos e governantes, e normalmente
representado nos GC pelas Autarquias Locais, pelas
Autoridades Tradicionais (sobretudo em África) e pelos
Serviços Públicos Desconcentrados, dependentes da
Administração Pública Central37;
2. o poder técnico, decorrente da Tecnocracia e das “estru-
turas técnicas” de todas as entidades, que fazem parte
do GC (Autarquias Locais, Serviços Públicos Desconcen-
trados, dependentes da Administração Pública Central,
Empresas Publicas, ONGs, nacionais e estrangeiras,
delegações dos Organismos Internacionais e outras enti-
dades, incluindo as Associações Locais, que tenham essas
estruturas), presente, em geral, nos GC pelos Técnicos/as
que as representam38;
3. o poder económico, resultado de uma Sociedade do Mer-
cado, dominada por critérios economicistas e pela força
das Oligarquias Económico-Financeiras, eventualmente
presente nos GC, com diferentes expressões, incidências e
influências, através de Empresas dos vários tipos, incluin-
do, nalguns casos39, as Empresas Públicas;
4. o poder associativo, em princípio saído da Democracia
Participativa Associativa, representado nos GC pelos diri-
gentes das Associações Locais e outros Grupos, formais e
informais locais e das ONGs;
5. o poder científico, validado pela Academia e pelos Siste-
mas Institucionais Formais de Produção e Certificação
do Conhecimento (Universidades, Institutos Politécnicos
e outras Instituições de Ensino Superior e Investigação),

103
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

nalguns casos presente nos GC, através de representantes


dessas entidades, públicas40 ou privadas41;
6. o poder institucional, associado às Instituições externas
que intervêm no Território, tais como as ONGs, nacionais
ou estrangeiras, que pertençam ao GC;
7. o novo poder comunitário, de natureza político-informal,
fecundado pelos GC, como um dos seus efeitos potenciais
mais importantes, fruto da lógica e dos princípios da De-
mocracia Participativa de Proximidade, presente através
da Comunidade, nas suas expressões diversas42.

A existência de um GC tem, em relação a esta questão, vários


efeitos e lança diversos desafios:

9 Desafios 1. permite criar um novo poder, o poder comunitário,


da existência
de um Grupo
expressão da Democracia Participativa e de natureza
Comunitário político-informal, como já se referiu;
2. que pode, em consequência, tornar-se ou ser interpretado
como uma ameaça potencial a questionar os outros seis
poderes já existentes;
3. arriscando-se a criar algumas tensões e eventuais confron-
tos com eles;
4. podendo até, nalguns casos, gerar alianças entre alguns
desses poderes, para se defenderem e impedirem, limitarem,
submeterem ou inclusive manipularem o novo poder
comunitário;
5. se se ultrapassarem ou não se verificarem as tensões ante-
riores, a existência do GC acaba por convidá-los para um
diálogo construtivo e cooperativo;
6. ... e convocá-los para uma Parceria;
7. com o desafio da sua articulação e integração;
8. implicando e enunciando a necessidade de reconfigurações
e reformulações de cada um desses poderes e do seu

104
ALGUMAS NOTAS SOBRE FINANCIAMENTOS E OUTROS RECURSOS 5

conjunto articulado (como um puzzle);


9. levando a uma certa redistribuição de poderes, que é um
dos objetivos políticos importantes de um GC.

Tratando-se de um ponto muito sensível e uma das maiores


dificuldades na criação e no funcionamento de um GC, esta
questão deve ser gerida com grande prudência, inteligência e
sensatez, podendo um/a eventual Animador/a desempenhar um
papel fundamental de mediação, negociação e pacificação, embora
corra sempre riscos de ser mal-entendido e até hostilizado por
alguns desses poderes... ou inclusive por todos43, não devendo
contudo esquecer-se que a sua opção e fidelidade prioritárias
deveriam ser sempre com a Comunidade.

Algumas notas sobre financiamentos e outros


recursos

Numa Sociedade extremamente mercantilizada, onde o dinheiro Será que os


financiamentos
tudo parece comprar e determinar, a questão do financiamento são mesmo
é, muitas vezes, considerada determinante ou, pelo menos, uma necessários
ao bom
das mais importantes. Será assim também com a existência, o funcionamento
funcionamento e as atividades dos GC? A bem dizer, para ser de um Grupo
Comunitário?
criado, funcionar e para muitas das suas atividades, um GC pode
ser autossuficiente e não necessitar de financiamentos! Provam-
-no vários dos GC existentes, sobretudo os mais duradouros,
alguns com mais de 20 anos.
De facto, um GC pode ser criado, funcionar e promover
muitas atividades assentando exclusivamente na partilha dos
recursos (de todo o tipo), competências, capacidades e talentos
dos seus membros, ou seja, da Comunidade e dos Parceiros.
Deve aliás ser essa a sua base de existência.
Contudo, é inevitável completar e reforçar essa base com o

105
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

apoio de recursos financeiros e outros externos, realçando-se,


quanto aos financeiros, as seguintes origens potenciais:

7 Tipos 1. fundos públicos das Autarquias Locais, fazendo todo o


possíveis de
financiamento
sentido que apoiem projetos e iniciativas de Desenvolvi-
mento Comunitário, no seu Território e nas Comuni-
dades, por cujo Bem-Estar e Bem-Viver devem velar, numa
lógica de Governança Local Partilhada, sendo, por isso,
legítimo reivindicar que os seus orçamentos contemplem
verbas para financiar os GC existentes na sua área de
gestão e as suas atividades, ainda que tal possa ser muito
difícil nalgumas Autarquias Locais, sobretudo em proces-
sos ainda recentes e pouco consolidados, como acontece
nos países africanos, em geral44;
2. fundos públicos da Administração Pública Central, sendo
também pertinente esperar e solicitar apoios, com esta
origem, para projetos nas suas áreas de ação, envolvendo
os Serviços Públicos Desconcentrados correspondentes,
que sejam Parceiros do GC, exatamente porque se está
a visar o Bem Comum e a Sustentabilidade da Vida,
que também são objetivos da sua responsabilidade e
prioridade;
3. programas e linhas de financiamento de Instâncias e
Organismos Internacionais (como a União Europeia,
o Banco Mundial, o PNUD - Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, a OCDE - Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e
outros, nomeadamente no âmbito da ONU), que visem
apoiar projetos de Desenvolvimento Comunitário e
Sustentável, de Luta contra a Pobreza e outros, associados
ao Bem-Estar e ao Bem-Viver das Comunidades,
eventualmente com a ajuda, nas candidaturas, de ONGs
nacionais e/ou estrangeiras;

106
ALGUMAS NOTAS SOBRE FINANCIAMENTOS E OUTROS RECURSOS 5

4. programas e linhas de financiamento e outros apoios,


proporcionados por ONGs, nacionais ou estrangeiras, ou
outras Instituições Privadas (como Igrejas e Fundações),
que, nalguns casos, oferecem oportunidades interessantes;
5. apoios financeiros e/ou técnicos, com origem em
Empresas e/ou Fundações Empresariais, no âmbito da
sua Responsabilidade Social (e Ambiental e Cultural)
Corporativa, que são cada vez mais frequentes e com
alguns focos compatíveis com os objetivos dos GC, em
particular em termos de Desenvolvimento Comunitário
e de Desenvolvimento Sustentável, com os quais muitas
Empresas estão comprometidas, pelo menos ao nível do
discurso, das intenções e das mensagens de Marketing;
6. recurso, nalguns casos, à obtenção de fundos de apoio
pelo sistema de Crowdfunding (ou captação de fundos,
para projetos de interesse coletivo ou relativos ao Bem
Comum, aberta a grupos ou redes de pessoas ou até a
toda a gente, em geral), cada vez mais mobilizado, para
projetos específicos, e com resultados encorajadores;
7. em situações muito excecionais, poderá recorrer-se a
créditos bancários, nomeadamente através e com o apoio
de alguns dos Parceiros, mas é uma solução que tem sem-
pre custos elevados, pelo que é de evitar.

Em todos estes casos, sempre que for necessário apresentar Desafios da


gestão de
candidaturas ou pedir formalmente estes apoios e depois geri-los financiamentos
(com a consequente abertura e gestão de uma conta bancária e das
operações de recebimentos e pagamentos daí inerentes), deve-se
ter em conta que, não estando, na sua maioria, formalizados, os GC
têm de se socorrer de algum(uns) dos seus Parceiros que o estejam,
o que obviamente só é possível quando houver, normalmente
numa fase mais avançada, um clima de confiança, nomeadamente
quanto à gestão dos dinheiros e à prestação de contas.

107
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

Será também sempre de considerar a hipótese de se constituir


Fundos próprios, com os contributos dos membros do GC, como
acontece, por exemplo, com o Grupo Comunitário do Bairro da Graça
(Benguela - Angola), embora normalmente os valores alcançados
nunca sejam muito elevados. As suas regras (de montantes,
periodicidade de pagamentos, gestão e aplicação em despesas)
devem ser discutidas e decididas em conjunto e de forma clara.

Para além dos recursos financeiros, nem sempre disponíveis


(e, a bem dizer, necessários), é importante para um GC contar
com outros tipos de recursos “em espécie”, como: salas, outras
infraestruturas, equipamentos, horas de trabalho, aconselhamento
ou outros. Podem ser partilhados pelos Parceiros, como são os
exemplos do terreno, cedido pela paróquia do Bairro da Graça
(Benguela - Angola), para a construção de um Espaço Criança,
ou do terreno para o Centro Comunitário de Porto Alegre (São
Tomé e Príncipe), disponibilizado pela Câmara Distrital de Caué,
ou ainda disponibilizados por entidades externas.

Aspetos formais (atas, regulamentos)

Formalização A primeira questão que se coloca é a da formalização do próprio


do Grupo
GC. Como já se referiu, essa questão foi colocada em quase
Comunitário,
sim ou não? todos os atualmente existentes, tendo a opção sido sempre a não
formalização.
A argumentação para a não formalização tem consistido
fundamentalmente na tese de que as eventuais vantagens
da formalização jurídica (constituição como associação ou
cooperativa, por exemplo), que são normalmente associadas
à possibilidade de o GC se candidatar a programas e receber
diretamente apoios financeiros, podem ser asseguradas pelo
recurso (partilhado e rotativo) às associações e outras organizações

108
ASPETOS FORMAIS (ATAS, REGULAMENTOS) 5

formais que dele fazem parte. Em contrapartida, os seus


inconvenientes são vários e consideráveis, tais como a necessidade
de escolher e eleger órgãos sociais, entre a Comunidade e os
diversos Parceiros (alguns de carácter estatal, o que inclusivamente
colocaria diversos problemas e dificuldades jurídico-legais),
e de apresentar contas formalmente e submeter-se às várias
obrigações legais e fiscais, o risco das lutas pelo poder no seu
interior e de derrapar para rigidezes organizacionais, perdendo
a sua flexibilidade e capacidade de adaptação, para além dos
custos processuais, resultantes da formalização.
Nesse sentido, tem-se preferido manter os GC como Plataformas
Informais de Participação e Parceria, quase que como se resultassem
e funcionassem como Acordos ou Compromissos de Honra entre
os seus membros, sem precisarem de criar uma nova entidade
jurídica, podendo aquele(s) Compromisso(s) ser(em) tácitos ou
explícitos, orais ou escritos.

Tenha-se em conta que a resolução desta questão não deveria


interferir numa outra, mais importante e essencial, que é a do
reconhecimento político do GC e do seu papel e função na resolução
e regulação dos problemas e desafios da Sociedade e da Vida,
em geral, como “laboratórios” e “campos de experimentação” de
um novo modelo de Governança Local Partilhada e Participativa.
Este reconhecimento político depende sobretudo de um
ato de vontade política da Administração Pública Central e/ou
Local, é muito importante para o funcionamento, a eficácia, a
afirmação e a continuidade do GC, devendo, por isso, ser uma
prioridade a ser conquistada com uma estratégia de paciência,
persistência, transparência e inteligência, em que a Comunidade
e os Parceiros devem estar envolvidos.
Independentemente da decisão sobre formalização ou não
do GC, que deve ser sempre amplamente discutida, ponderado
e decidida coletivamente, há algumas formalidades mínimas

109
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

que se devem assegurar, como:

1. o envio atempado de convites para as reuniões;


2. a realização de atas e de folhas de presenças das reuniões;
3. e (eventualmente) a elaboração de um Regulamento.

O envio com antecedência suficiente de convites para


as reuniões é fundamental, para todos e todas tomarem
conhecimento da sua realização e poderem participar, se o
entenderem. Repare-se que, de um ponto de vista técnico-­
-jurídico, a Comunidade e os Parceiros não podem ser convocados,
se o GC não estiver formalmente constituído, pois não são
dele associados ou membros formais, devendo por isso ser
convidados.
A antecedência não deve ser excessiva, senão o convite pode ser esquecido,
mas também não pode ser demasiado em cima da data, senão pode ser muito
tardio para ser eficaz. Pelas experiências dos GC existentes, recomenda-se
que os convites sejam enviados e dados a conhecer de formas
múltiplas, devendo-se ter em conta as especificidades de cada
contexto específico. Alguns exemplos:

• por e-mail;
• por cartas, nalguns casos;
• por mensagens de telemóvel;
• por chamadas de telemóvel ou telefone;
• por afixação de cartazes ou folhetos em locais públicos
privilegiados, como painéis das Autarquias Locais, das
Escolas, Centros de Saúde ou de outros Serviços Públicos
ou ainda em lojas e lugares de comércio;
• por distribuição de folhetos nas caixas de correio;
• nas redes sociais;
• no site do GC, no caso de existir e/ou nos dos Parceiros;
• ou também oralmente, na chamada lógica “boca-a-boca”.

110
ASPETOS FORMAIS (ATAS, REGULAMENTOS) 5

Normalmente, deve-se enviar com uma antecedência de duas


semanas e posteriormente na semana anterior, pelo menos no
início dos GC, passando depois a ser suficiente o envio uma
semana antes.

Do convite deve constar a Ordem de Trabalhos e ter anexa a


ata da reunião anterior, no caso de não ter sido enviada antes,
logo após essa reunião. O seu envio deve estar a cargo do/a
moderador/a correspondente, da Comissão de Coordenação,
se existir, ou de quem o GC decidir.

Quanto às atas e às folhas de presenças, são importantes


porque, por um lado, registam e sistematizam quem esteve
presente e participou e os assuntos abordados e decididos em
cada reunião e, por outro, partilham essa informação com os
membros que não puderam estar presentes nas reuniões, para
dentro das próprias Associações e outras entidades Parceiras e
com a Comunidade em geral.
As atas devem ser concisas e sintéticas, limitando-se ao
essencial e sobretudo realçando as decisões tomadas, estando a
cargo de quem o GC decidir, conforme explicado anteriormente.
Devem ser enviadas para todos os membros, presentes ou não
nas reuniões, juntamente com o convite para a próxima reunião
ou antes, logo na sequência daquela a que diz respeito, e também
afixadas em locais públicos, nas redes sociais e nos sites, onde
fizer sentido, para transparência e conhecimento geral e da
Comunidade, em particular.

A existência de regras de funcionamento de um GC é importante,


devendo ter em conta sobretudo os aspetos logísticos já
abordados. Contudo, essas regras e normas podem simplesmente
ser discutidas coletivamente e acordadas oralmente entre a
Comunidade e os Parceiros, fazendo parte do que se designou

111
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

acima por Compromisso de Honra do GC. No entanto, alguns


dos GC existentes preferiram passá-las a escrito, elaborando um
Regulamento formal, discutido e decidido em conjunto. O que
interessa, seja qual for a modalidade escolhida, é que:

1. elas sejam decididas e assumidas sempre coletivamente e


de forma democrática;
2. sejam concisas e limitadas ao essencial, não se perdendo
em pormenores excessivos e escusados, que tudo tentam
prever, complicando mais do que regulando;
3. sejam flexíveis, sempre sujeitas a revisão e melhorias,
de acordo com o que a realidade, o bom senso e a
democracia forem determinando.

112
NOTAS 5

Notas

1. Muitos dos GC atualmente existentes não contemplam esta abertura,


como já se referiu.

2. Muitas Pessoas da Comunidade podem não usar agenda ou até terem


uma baixa literacia, que o não facilite, mas isso não pode ser um fator
de discriminação ou de inibição.

3. Curiosamente, as quartas-feiras e as quintas-feiras são os dias mais fre-


quentes nos GC existentes em Portugal, talvez por serem a meio da semana,
mas, tirando as sextas-feiras, os sábados e os domingos, normalmente
preteridos por serem fim-de-semana, não há outras razões objetivas para
excluir os outros dias. Já em África os sábados e os domingos podem, ao
contrário, ser mais convenientes e de mais fácil marcação.

4. Um dos GC mais ativos e interessantes, o do Bairro da Horta Nova (da


Freguesia de Carnide, em Lisboa - Portugal), funcionou, nos seus três
primeiros anos de existência, em meados dos anos 90, semanalmente,
sempre às quintas-feiras. Contínua a existir, 24 anos após o seu início,
mas agora mensalmente.

5. Claro que isto depende muito da situação profissional e familiar em que


as Pessoas se encontram e do tipo de atividades em que estão envolvidas.
Mais uma vez, há que ter em conta as especificidades de cada contexto e
das condições sociais e culturais próprias de África, neste caso, onde, por
exemplo, ao contrário, os fins de tarde e as noites são, em geral, pouco
convenientes para a Comunidade, por falta ou falhas da energia elétrica,
por falta de transporte, por dificuldades de mobilização das mulheres ou
até por ser mais provável haver excessos de consumo de álcool.

6. Assinale-se, por curiosidade, que historicamente, em Lisboa, os GC


existentes mais abertos, resistentes, ativos e efetivamente comunitários

113
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

têm optado por reunir ao fim da tarde (18h ou 19h), mas sobretudo à noite
(21h, ou mesmo 21h30m). Ao contrário do que seria provável em África.

7. Normalmente, se existirem, podem ser os/as Coordenadores/as a


ocuparem-se desta função.

8. Não se deve confundir a função de moderação das reuniões com as


de coordenação do GC (abordadas mais à frente, ainda neste capítulo) e
com as de animação dos processos de constituição e de funcionamento
corrente do GC. É óbvio que pode acontecer que estas três funções estejam
concentradas numa mesma pessoa, pelo menos nalgumas fases de um
GC, mas tal não é recomendável, para evitar a acumulação de papéis,
até porque se trata de objetivos diferentes. O/a Moderador/a ajuda a
organizar e ordenar as reuniões e as intervenções e a cumprir-se a Ordem
de Trabalhos; os/as Coordenadores/as asseguram o cumprimento do
Plano Estratégico do GC e das suas atividades; o/a Animador/a tem como
principais missões a mobilização dos/as Participantes da Comunidade
e dos Parceiros.

9. Alguns dos GC existentes optaram por esta modalidade, sobretudo


nos seus primeiros tempos de lançamento, evoluindo depois para as
duas seguintes.

10. Alguns GC fazem-no, pelo menos nas suas grandes linhas, de uma
reunião para a outra.

11. Uma solução consiste em incluir sempre, na Ordem de Trabalhos, um


ponto sobre “Outros assuntos, a decidir na própria reunião”. É o que faz a
maioria dos GC existentes.

12. Dois exemplos ocorridos em GC: a expressão “designação do


projeto”, que estava a colocar dificuldades, junto de Pessoas mais
velhas e sem escolarização, foi substituída, com vantagem e sem se

114
NOTAS 5

perder substância, por “nome do projeto”; a palavra inglesa feedback,


tão usada pelos/as Técnicos/as, que estava a ser um estrangeirismo
incompreensível para algumas Pessoas, passou a ser “reação” e “co-
mentário”, conforme os casos.

13. Normalmente “copiados” da Democracia Representativa, através de


votações, em que cada pessoa, por si, vale um voto e todos valem o mesmo,
mas... desde que se esteja a representar apenas a si própria. O que não
é o caso de muitas das pessoas presentes nas reuniões, que estão nelas
em representação de entidades coletivas, formais ou informais, de tipos
muito diferentes e com legitimidades muito distintas. Nestes casos, quais
são os critérios para decidir quantos votos vale cada uma?

14. Este é uma questão de abordagem essencial, que se retomará mais


adiante.

15. Até pelo que se refere na nota 13, tendo-se já verificado situações
particularmente embaraçosas, deste ponto de vista, como, por exem-
plo, as seguintes: 1) uma reunião onde estavam dezenas de pessoas
individuais da Comunidade e algumas Instituições, pelo que o voto
individual desequilibraria, na opinião dos representantes destas últimas,
a decisão a favor daquelas, o que consideravam inaceitável; 2) nessa
mesma reunião, em que a proposta alternativa era de haver um só voto,
em nome de toda a Comunidade, o que foi completamente recusado
pelas Pessoas desta, por considerarem que nem todas tinham a mesma
opinião, o que não fundamentava “um voto por todas”, e por recusarem
um cenário de “ditadura institucional”, sem o contrapeso de uma “de-
mocracia comunitária”; 3) uma outra situação, em que as Instituições
e as Autarquias se desgastaram em discutirem qual delas tinha mais
legitimidade e representava mais pessoas, para saber qual a proporção
de votos de cada uma na votação de um assunto de uma reunião... sem
conseguirem chegar a uma conclusão fundamentada e aceite.

115
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

16. Curiosamente, ou até sintomaticamente, o autor deste Manual, nas


suas experiências de vários GC, nos últimos 24 anos, nunca necessitou
de passar ao terceiro cenário, nas centenas (ou mais) de decisões em
que participou.

17. Sobre esta questão, ver Aspetos Formais mais adiante.

18. Alguns dos GC existentes optaram por “decompor-se” em Grupos de


Trabalho normalmente de natureza setorial (sobre “Educação”, ‘Emprego”,
“Saúde”, “Segurança”, por exemplo) e permanente, o que não se tem reve­
lado uma boa solução, em termos dos princípios e dos objetivos de um
GC, uma vez que: tende a setorializar, em vez de integrar e de territo­
rializar; é de pendor e lógica mais tecnocrática do que comunitária; tende
a valorizar mais as reuniões parcelares dos Grupos de Trabalho, ainda
por cima fechadas a outros membros, do que as reuniões plenárias, pela
multiplicação permanente de reuniões que pode implicar, arriscando a
fragmentação do GC; tende a cristalizar as composições desses Grupos,
em vez de as diversificar e flexibilizar.

19. Como se pode justificar facilmente, a existência de uma Comissão


de Coordenação muito técnica tem sido muito mais frequente nos GC
mais institucionalizados ou de pendor mais tecnocrático e mais rara nos
mais abertos à Comunidade, sobretudo nos denominados como “plenos”.

20. Podendo seguir-se, como guião, os pontos principais deste Manual.

21. E que podem ter em conta as principais questões abordadas nos


Aspetos Formais deste Manual.

22. A sua duração é muito variável, mas os ciclos de maior entusiasmo


podem ser de dois até cinco anos.

23. Note-se que a reivindicação faz parte da Participação, mas esta

116
NOTAS 5

não se esgota na exigência que outrem (seja o Estado, os Organismos


Internacionais, as ONGs ou outras formas de ajuda) resolva todos os
problemas e necessidades, sem envolvimento e esforço do/a próprio/a.

24. Isto também pode acontecer por parte dos/as Técnicos/as, que
usam muitas vezes histórias concretas que conhecem ou acompan-
ham. Os GC não deveriam transformar-se em reuniões de “discussão
e análise de casos”.

25. Normalmente determinados pelos prazos e pelas promessas eleitorais.

26. Quase sempre condicionados pelos critérios e metas dos finan-


ciadores e das Instituições.

27. Que também podem ser designadas por “síndromes”, por serem,
de certo modo, sintomas de “doenças”, que podem ferir de morte as
Parcerias.

28. Casos há em que alguns Parceiros/Técnicos/as se consideram ex-


plicitamente estando noutro patamar acima da Comunidade e de outros
Parceiros, colocando a questão de poder haver, para certos assuntos,
reuniões separadas...

29. Esta é uma situação que tem acontecido com algumas Autarquias
Locais e Autoridades Tradicionais, por considerarem que, na sua legit-
imidade de Poder Local eleito (ou designado e validado pelo Governo),
são as responsáveis mais importantes pelo Desenvolvimento das suas
Comunidades.

30. São frequentes os casos em que os GC têm sido aproveitados para


conquistar votos ou como palco de lutas eleitorais, como campo privi-
legiado de filiação partidária e de recrutamento de candidatos locais e
para criar ou dominar associações locais, subordinadas informalmente

117
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

aos interesses partidários. Estas situações tanto se verificam em África


como noutros contextos. Por reação a isso, há GC que estabelecem
regras muito claras e rígidas (por vezes incluídas em Regulamentos)
sobre a rejeição da entrada de forças partidárias ou movimentos ou
associações com elas conotadas.

31. O que coloca, muitas vezes, os/as Técnico/as, representantes no GC


das suas Instituições e Serviços, perante um dilema difícil: ou são fiéis
à Comunidade, ao GC e à resolução imediata de problemas e necessi-
dades urgentes que a afetam, correndo o risco de desagradarem aos/às
chefes e... de serem despedidos/as, ou obedecem a estes, conservam
o emprego e as suas boas graças, mas atrasando ou impossibilitando a
resolução das situações e perdendo a confiança da Comunidade, pelo
menos, quando os casos são recorrentes. Na maioria das vezes, é esta
última a tendência predominante, mas também há autênticos exemplos
de “heroísmo” da primeira opção, contribuindo aliás, por vezes, para
mudanças na própria lógica das suas Instituições e Serviços, passando
estes a serem mais descentralizados e eles/as a terem mais Autonomia
de decisões e mais Empowerment.

32. Chegando alguns Parceiros a afirmar e a assumir que só vão às


reuniões do GC em que se tratarem de assuntos do seu interesse...

33. Exigindo, por exemplo, que o seu nome ou o seu logótipo sejam
evidenciados, senão mesmo privilegiados, nos cartazes, publicidade e
outros meios de comunicação e divulgação dessas atividades.

34. Com os/as Técnicos/as a serem os/as seus/suas guardiões/guardiãs


acérrimos/as.

35. Passando a ser a Comunidade a sua defensora e guardiã mais


acérrima.

118
NOTAS 5

36. Esta é das questões mais difíceis e controversas num GC, em que
há Parceiros de tipos e com responsabilidades sociais e políticas muito
diferentes e ainda com a presença da Comunidade. Mas não é solução
fingir que ela não existe ou querer enfrentá-la com as lógicas do pas-
sado, como se não se estivesse em face de um novo paradigma, com
novos desafios, a exigir inovações, criatividade e ousadia.

37. Eventualmente completados pelas Empresas Publicas, cujas lógicas


de funcionamento também se cruzam com o poder económico.

38. Que, desse modo, acabam por ser, simultaneamente, expressão do


seu próprio poder técnico e instrumentos de outros poderes (políti-
co-formais, económicos ou associativos), que representam, o que, muitas
vezes, não é isento de contradições e tensões.

39. Ver nota 37.

40. Fazendo parte, nestes casos, dos Serviços Públicos.

41. Fazendo então parte das ONGs e Instituições congéneres ou das


Empresas, consoante não tiverem fins lucrativos ou os tiverem.

42. Uma das ambiguidades e tensões que podem decorrer daqui é a


dos/as dirigentes associativos/as locais, sobretudo os/as que tendem
a perpetuar-se, e que são, de certo modo, atravessados/as e potenciais
portadores/as de dois tipos de poder: o associativo (enquanto diri-
gentes) e o comunitário (enquanto membros da Comunidade), tanto
podendo combiná-los, de forma positiva, como manipular o segundo,
para benefício e reforço do primeiro, como se sentirem ameaçados/
as pelo novo poder e hostilizá-lo e tentar destruí-lo ou minimizá-lo
ou subordiná-lo.

43. Como, aliás, já tem acontecido.

119
PRINCIPAIS ASPETOS E DESAFIOS OPERACIONAIS

44. Já quanto a outros recursos, como terrenos, infraestruturas,


equipamentos e trabalhadores/as, o apoio pode ser mais fácil de se
concretizar, como se verá adiante.

120
6
PRINCIPAIS RELAÇÕES
E DESAFIOS DOS SEUS
MEMBROS

122 A IMPORTÂNCIA DAS 129 O PAPEL DAS ONGS E DAS


ASSOCIAÇÕES E GRUPOS DA INSTITUIÇÕES PRIVADAS NÃO
COMUNIDADE LUCRATIVAS

124 AS RELAÇÕES COM A 133 O LUGAR E O PAPEL DAS


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EMPRESAS NUM GRUPO
CENTRAL E LOCAL E COM COMUNITÁRIO
OS SERVIÇOS PÚBLICOS
DESCONCENTRADOS
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

A importância das associações e grupos da


Comunidade

As Associações e Grupos Locais, formais ou informais, são


evidentemente, em princípio, uma componente essencial do
Desenvolvimento Comunitário e de um Grupo Comunitário.
Porque são, antes de mais:

• uma expressão das capacidades de iniciativa, de orga-


nização e autonomização da Comunidade, ou seja, de
Empreendedorismo Social e Comunitário;
• plataformas e estratégias de defesa e afirmação dos
interesses e direitos da Comunidade;
• oportunidades e caminhos de exercício de Democracia
Participativa Associativa, ou seja, de afirmação de um
poder associativo, em princípio de base democrática.

Contudo, também são, com muita frequência, por um lado, “palcos” de


discórdias e de lutas e rivalidades de grupos e interesses locais e, por outro,
experiências de prolongamento e de longevidade diretiva, de
projetos pessoais de protagonismo e de dominação e/ou de
autênticas “monarquias familiares de direção”, que, de facto
e na prática, impedem o funcionamento democrático e com
direções rotativas, que em princípio é uma regra histórica e
identitária fundamental do funcionamento, pelo menos das
Associações. Nessas situações, uma Associação ou Grupo Local
pode, como expressão de um poder associativo cristalizado e
pouco democrático, por si só ou com o apoio de outros poderes
presentes no Território e/ou no GC, tornar-se um obstáculo ou
criar várias dificuldades à sua criação e/ou funcionamento1:

• impedindo o exercício de uma verdadeira Democracia


Participativa de Proximidade Direta, envolvendo sobretu-

122
A IMPORTÂNCIA DAS ASSOCIAÇÕES E GRUPOS DA COMUNIDADE 6

do os/as “sem voz” e não representados/as por ninguém;


• opondo-se à afirmação de um poder comunitário informal;
• inviabilizando o efetivo funcionamento e eficácia do Grupo
Comunitário.

Neste domínio é importante ter em conta os diversos contextos


sociais, culturais e políticos, onde os GC existem, pois podem
condicionar a criação e o funcionamento das Associações e
outros Grupos da Comunidade. Nalguns países africanos, onde
a cultura democrática ainda é recente e não está consolidada2,
por exemplo, muitas Associações e Cooperativas são criadas
mais de fora para dentro (com apoios e incentivos externos à
Comunidade e, às vezes, ao próprio país), do que resultantes de
uma vontade e uma dinâmica endógenas, tendo, nesses casos,
uma natureza mais artificial e pouco mobilizadora da Participação
comunitária e estando, por outro lado, mais sujeitas a situações
de má gestão e de corrupção.
Por outro lado, os representantes das Associações e Grupos
locais, que participam nas reuniões dos GC nem sempre partilham
as informações e os seus conteúdos com os seus colegas e
associados, tornando-os opacos e pouco transparentes, o que não
ajuda à realização de uma lógica comunitária e ao cumprimento
dos seus objetivos, podendo provocar mal-entendidos e tensões
na Comunidade, como bem ilustram alguns GC e é também o
caso do de Porto Alegre.

Visto tratar-se de expressões importantes da Comunidade, a


abordagem destas situações é essencial e determinante para
um bom ambiente no GC, ou mesmo para a sua sobrevivência,
pelo que é importante que o/a Animador/a e/ou a Comissão Coordenadora (no
caso de existirem) e todos os Parceiros se mobilizem, para, com persistência,
paciência, bom senso e inteligência, geri-las e enquadrá-las, de forma a desativá-
-las e/ou a minimizar os seus efeitos negativos.

123
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

De qualquer modo, é importante que um GC também seja uma


oportunidade de qualificação e capacitação associativa e dos
seus dirigentes, por exemplo, através de ações de sensibilização
e de formação sobre temas (a decidir com os/as próprios/as),
tais como:

• constituição e enquadramentos jurídico-legais de uma


Associação ou Cooperativa;
• elementos básicos sobre os princípios e valores das
organizações de Economia Social e Solidária;
• processos de liderança e de dirigismo;
• planeamento de atividades;
• gestão de conflitos;
• moderação de reuniões;
• elementos básicos de contabilidade e de prestação de contas;
• sistemas de avaliação;
• estratégias de relacionamento com a Administração Públi-
ca, Central e Local;
• obtenção de fundos e apoios financeiros e outros.

As relações com a administração pública


central e local e com os serviços públicos
desconcentrados

As relações de um GC com o Estado concretizam-se através de


cinco tipos de Parceiros:

1. a Administração Pública Local, ou seja, as Autarquias


Locais (tais como: Regiões, Províncias, Departamentos
Territoriais, Postos Administrativos, Municípios, Distritos,
Freguesias, Localidades) e os seus órgãos, nomeadamente
executivos (tais como: Governos Regionais, Provinciais

124
AS RELAÇÕES COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRAL, LOCAL E SERVIÇOS PÚBLICOS 6

ou Departamentais, Câmaras Municipais ou Distritais,


Responsáveis de Postos Administrativos e de Localidades,
Juntas de Freguesia) e legislativos (tais como: Assembleias
Regionais, Provinciais, Departamentais, Municipais, Dis-
tritais ou de Freguesia);
2. as Autoridades tradicionais, sobretudo em África (tais
como sobas, régulos, chefes de tabanca e outros), que
se consideram aqui, porque normalmente tendem a ser
integrados, enquadrados e subsidiados pela Administração
Pública (Central ou Local, conforme os casos), mas tam-
bém poderiam ser associados à Comunidade, sobretudo
naqueles casos em que mantêm a sua autonomia face ao
Estado e privilegiam as suas relações e fidelidades com a
Comunidade;
3. a Administração Pública Central, nos seus órgãos execu-
tivos, legislativos e judiciais centrais (respetivamente: Go­
verno - Ministérios, Secretarias e Subsecretarias de E­stado;
Assembleia Nacional ou da República; e Tribunais);
4. os Serviços Públicos Desconcentrados, dependentes da
Administração Pública Central, com intervenções no
Território, sobretudo nas áreas da Ação Social (Serviços
Públicos de Ação Social ou de Segurança Social, nas suas
diferentes valências - atendimento geral, apoio à Infância e
à Juventude, apoio aos Seniores, apoio a Pessoas Vítimas de
Violência, apoio a Pessoas com Incapacidades, ou outras),
da Agricultura, Florestas e Pecuária (Serviços e Depar-
tamentos de Apoio à Agricultura e à Criação de Gado,
Serviços Florestais, Centros de Experimentação e Verifi-
cação Agrícola e Pecuária, Centros Públicos de Formação
Especializada nestes domínios), da Educação (Escolas de
todos os níveis, Institutos Politécnicos, Universidades), do
Emprego (Serviços de Emprego - atendimento geral, apoio
e encaminhamento e Centros de Formação Profissional

125
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

Públicos), da Saúde (Hospitais Públicos, Centros de Saúde,


Postos Sanitários, outras Unidades de Saúde Locais) e da
Segurança e Ordem Públicas (Polícias e outras Forças de
Segurança e Ordem Pública, aquartelamentos locais das
Forças Armadas), além de quaisquer outros Serviços Públicos
Desconcentrados, que sejam pertinentes em cada caso;
5. as Empresas Públicas (com gestão autónoma), de âmbito
nacional ou local3, que prestem serviços à Comunidade
e/ou estejam presentes no Território, nomeadamente nas
áreas do fornecimento e distribuição de água, energia
elétrica e gás, do saneamento básico (limpeza dos espaços
públicos e recolha e tratamento de lixos e outros resíduos
sólidos ou líquidos), da gestão das estradas e outras
infraestruturas de comunicação ou dos transportes públicos,
dos arranjos e jardinagem dos espaços públicos, da gestão
habitacional (de bairros de Habitação Social, nacional
ou municipal), das atividades desportivas e culturais, da
organização de eventos, da gestão e ordenamento dos
estacionamentos.

É evidente que os tipos de relacionamento e as possibilidades


de Parcerias e de Ação Conjunta são muito diferentes com as
entidades destas cinco categorias, sendo muito mais próximas,
no que isso tem de positivo e negativo, com as dos primeiro,
segundo e quarto grupos, pela sua presença e partilha territorial.
São, em qualquer caso, relações e Parcerias muito importantes,
nalguns casos até decisivas, para os dois lados, nomeadamente
pelas seguintes quatro razões:

Razões da 1. os GC são experiências que potencialmente reforçam e


importância
das relações
aprofundam a Democracia, ao conterem e praticarem
de parceria processos de Democracia Participativa, que podem com-
pletar e fecundar as fórmulas e os órgãos da Democracia

126
AS RELAÇÕES COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRAL, LOCAL E SERVIÇOS PÚBLICOS 6

Representativa, de que o Estado, nos seus diversos níveis,


é ou deve ser a expressão;
2. os GC possibilitam experiências de um novo modelo de
regulação dos problemas relativos à Dignidade Social e à
Sustentabilidade da Vida, aqui designada por Governança
Local Partilhada e Participativa, que poderão ser uma
Inovação Política fundamental, para fazer face aos
problemas e desafios, que ameaçam, perturbam e interrogam
o Presente e o Futuro;
3. para os GC é essencial, ou mesmo decisivo, o reconheci-
mento político (pelos órgãos da Administração Pública,
Central ou Local) da sua existência4, admitindo explici-
tamente a sua existência e contando realmente com os
seus contributos para inspirarem a formulação de políti-
cas públicas (pelo menos ao nível das políticas públicas
locais, sobretudo de Desenvolvimento Comunitário e
Sustentável, e em todas as áreas das políticas públicas
centrais, mencionadas na quarta alínea acima) e para a
resolução concreta dos problemas e desafios atuais (nas
mesmas áreas referidas);
4. além disso, todos os apoios financeiros e técnicos que
a Administração Pública, Central ou Local, e os seus
Serviços e Empresas Publicas possam prestar aos GC são
completamente bem-vindos e necessários, quer para o seu
funcionamento, quer para os seus projetos e atividades.

É, por tudo isto, muito importante o envolvimento destes


Parceiros Públicos no GC, como também o são os apoios de
todo o género que o Estado lhe possa prestar, sendo, portanto,
fundamental estabelecer e cuidar de uma relação positiva com
os seus diferentes níveis e órgãos, desde que seja:

• de Parceria e de Cooperação mútua e não, nem de mera

127
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

reivindicação obstinada e insensata, nem tão-pouco de


subordinação humilhante;
• de complemento e enriquecimento e não de substituição
das obrigações e responsabilidades públicas.

Não sendo fácil desenvolver relações de Parceria deste tipo5,


elas devem ser encaradas e geridas com persistência, boa-fé e
inteligência, evitando aqueles que têm sido os três principais
desvirtuamentos ou enviesamentos:

1. a manipulação política, por parte do Estado, Central


ou Local6, entendendo ou procurando transformar o
GC numa espécie de “delegação” ou “antena” das suas
políticas e objetivos. Ora um GC é um Parceiro e um
complemento, que enriquece o Estado e as políticas
públicas, com a sua Autonomia e Poder próprio, e numa
lógica de Democracia Participativa e não de arremedo ou
imitação de Democracia Representativa;
2. as tentativas de partidarização do seu funcionamento,
dos seus protagonismos (e protagonistas) e das suas
conquistas, para fins eleitoralistas e para as querelas e
combates político-partidários. Ora um GC tem também
uma natureza, um conteúdo e objetivos políticos, mas
não partidários, devendo ser aberto a todas as correntes,
sensibilidades e opiniões, desde que respeitem e prossigam
os seus objetivos, filosofia, princípios e valores, como
referenciados no Desenvolvimento Comunitário;
3. a tentação, por parte dos GC, de desvalorização, dispensa
ou mera substituição do Estado e das suas funções e
responsabilidades políticas e sociais, relativamente ao Bem-
-Estar e ao Bem-Viver das Comunidades e à Sustentabilidade
da Vida, seja por argumentos neoliberais ou libertários,
quando são radicalmente anti-Estado, seja por mero cansaço

128
O PAPEL DAS ONGS E DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS 6

e desistência, perante frustrações, resultantes de um Estado


inoperante, ineficiente e ineficaz.

Mas também é verdade, como se sublinhou no capítulo 5, que


muitas vezes as características psicológicas e temperamentais
das personagens concretas envolvidas, em representação destas
entidades públicas ou para-públicas, pode determinar reações
e comportamentos diferentes dos previstos, seja no sentido de
“boas surpresas”, seja no de “más surpresas”.

O papel das ONGs e das instituições privadas


não lucrativas

Neste ponto, pretende-se abordar o papel que as ONGs (Organizações


Não Governamentais), em geral, com origem externa ao território,
sejam nacionais ou estrangeiras, podem desempenhar num GC e
que tipo de relações podem estabelecer com elas.

Trata-se de Instituições Privadas, que visam o interesse comum


ou o interesse geral (em vez do interesse particular, que é o objetivo
de uma Empresa, por exemplo) e que não têm fins lucrativos (ao
contrário de uma Empresa), assumindo normalmente formas
jurídicas específicas - Associação, Cooperativa, Mutualidade ou
Fundação (dependentes de quadros jurídico-legais próprios, ao
contrário das Empresas, que são enquadradas pelos Códigos
Comerciais).
Por vezes são designadas, no seu conjunto, por Terceiro
Setor, para distinguir do “Primeiro Setor”, que diz respeito
às Empresas, com fins lucrativos, e do “Segundo Setor”, que
se refere ao Setor Público, compreendendo os Serviços da
Administração Pública, Central e Local, e as Empresas Públicas,
mas que aqui se designarão preferencialmente, e de forma

129
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

geral, por “Economia Social e Solidária” (ou ESS), sobretudo por


razões de rigor histórico, conceituais e substantivas (significado
explícito da expressão).
Muitas destas organizações têm um papel fundamental na
criação, no funcionamento e/ou no apoio ao GC, como são os
casos, a título meramente exemplificativo, de:

• Leigos para o Desenvolvimento (ONGD7 portuguesa), nas


experiências já referidas do Bairro da Graça (em Benguela
- Angola) e de Porto Alegre e do Bairro da Boa Morte (na
Ilha de São Tomé - São Tomé e Príncipe);
• ADRA - Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente
e MOSAIKO - Instituto para a Cidadania (ONGs ango-
lanas), em ligações ou apoios ao GC do Bairro da Graça
(Benguela - Angola);
• Alisei - Associazione per la cooperazione internazionale
e l’aiuto umanitario (ONGD italiana) e MARAPA - Mar,
Ambiente e Pesca Artesanal (ONG são-tomense) e ainda
da FONG - Federação das ONGs de São Tomé e Príncipe,
em ligações ou apoios ao GC de Porto Alegre;
• ADM Estrela - Associação de Desenvolvimento e
Melhoramentos, Associação Santa Teresa de Jesus -
Dignidade e Desenvolvimento, Fundação Calouste
Gulbenkian, Fundação Aga Khan para o Desenvolvimento,
GLOCALDECIDE - Associação para a Democracia, a
Cidadania e o Desenvolvimento e a PROACT - Unidade de
Investigação e Apoio Técnico ao Desenvolvimento Local, à
Valorização do Ambiente e à Luta contra a Exclusão Social
(ONGs portuguesas), entre muitas outras, no apoio à
criação e ao funcionamento de vários GC em Portugal, na
zona de Lisboa;
• XES - Xarxa de Economía Alternativa y Solidaria de
Catalunya (a “Rede de Economia Alternativa e Solidária

130
O PAPEL DAS ONGS E DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS 6

da Catalunha”), no apoio aos “Comités de Bairro” e às


“Assembleias Comunitárias” de alguns bairros de Barcelo-
na e povoações da Catalunha;
• CMTQ - Coalition montréalaise des Tables de quartier
(a “Coligação de Montréal das Tables de Quartier”),
no apoio e enquadramento às Tables de Quartier de
Montréal, no Canadá;
• FCSF - Fédération des Centres Sociaux et Socioculturels
de France (a “Federação dos Centros Sociais e Sociocul-
turais de França”), no apoio e enquadramento às Tables
de Quartier de França.

Estas ONGs têm tido e podem ter papéis e funções muito


variadas num GC, algumas até de forma consecutiva e/ou
acumulada, algumas como membros do GC, com plenos direitos,
outras como elementos externos, de apoio:

• animação do processo de criação e do funcionamento do GC; Papel das


ONG’s
• envolvimento Ativo, como Parceiro pleno, em todas as num Grupo
suas ações e iniciativas; Comunitário
• apoios financeiros ao seu funcionamento e a alguns dos
seus projetos;
• apoios técnicos à sua criação, funcionamento e atividades;
• apoio à obtenção de financiamentos e outras ajudas,
nomeadamente na preparação de candidaturas a diversas
entidades e programas;
• intermediação nas relações com a Administração Pública,
Central ou Local, e os seus Serviços Públicos e com
Organismos Internacionais e outras ONGs, nomeadamente
estrangeiras;
• realização de ações de lobbying (pressão e influência), a
favor do GC e da sua Comunidade, sobre os decisores
políticos e outros responsáveis institucionais, nacionais,

131
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

estrangeiros ou internacionais;
• realização de ações de advocacy (divulgação e defesa dos
direitos e interesses), a favor do GC e, sobretudo, da sua
Comunidade, junto dos órgãos de Comunicação Social e
dirigida às Autoridades e à Sociedade, em geral.

Por todas estas razões, as ONGs que estão presentes no


Território e prestam serviços à Comunidade, têm um papel
importante num GC, pelo que as relações a estabelecer com
elas devem ser privilegiadas e abordadas com persistência,
bom senso, abertura à Diversidade e inteligência, o que deve
ser tido em conta pelo/a Animador/a, no caso de existir.

Imagem 5 - 94ª Reunião do Grupo Comunitário do Bairro da Graça, em Benguela,


Angola, com a presença do Prof. Rogério Roque Amaro.

132
O LUGAR E O PAPEL DAS EMPRESAS NUM GRUPO COMUNITÁRIO 6

O lugar e o papel das empresas num Grupo


Comunitário

Como já se referiu (ver capítulo 4 - Quem Faz Parte de um Grupo


Comunitário), os Agentes Económicos com fins lucrativos8, com
sede ou presentes no Território, também podem (e devem)
fazer parte de um GC9, uma vez que são parte interessada e
têm influências na Vida da Comunidade e nos seus processos
de Dignidade e Sustentabilidade. Comece-se por sublinhar dois
aspetos importantes:

1. há de facto Agentes Económicos deste tipo muito diversos,


desde os informais e os pequenos produtores e comercian­tes
locais (normalmente com pequenos negócios, que, por vezes,
mal asseguram a sobrevivência), passando por Empresas
grandes ou médias de capitais predominantemente nacio­
nais, até Empresas estrangeiras e Empresas ou Grupos Trans-
nacionais (com presença e interesses em vários países10);
2. nem sempre os interesses de curto prazo entre estes Agen-
tes Económicos e a Comunidade são convergentes, mas,
a longo prazo, e numa perspetiva de Sustentabilidade, há
toda a vantagem em cooperarem, até porque uma Comu-
nidade com maior Bem-Estar e melhor Bem-Viver tam-
bém beneficia as Empresas e vice-versa.

O envolvimento das Empresas num GC pode traduzir-se em


várias contribuições positivas para a Comunidade:

• pela criação de empregos e/ou possibilidades de estágios e Papel dos


Agentes
formação profissional, que possibilitem a Pessoas da Comu- Económicos
nidade, através de contactos e de um trabalho, proporciona-
dos pelo GC;
• pelos produtos adquiridos e vendidos à Comunidade e

133
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

à Economia Local, incentivados pelas redes tecidas pelo


GC, reforçando as suas fontes de geração de rendimentos
e os seus consumos, ou seja, o Sistema Produtivo Local;
• pela participação nas iniciativas, em geral, do GC,
contribuindo para a sua realização em boas condições;
• pelos apoios financeiros e materiais a alguns dos seus
projetos e atividades (comunitárias);
• pelos apoios técnicos a alguns dos seus projetos (comunitá­
rios), a partir dos seus recursos.

Por seu turno, as Empresas e os Agentes Económicos, em geral,


podem beneficiar da existência e da pertença a um GC:

• por relações mais estreitas que daí podem resultar com


a Economia Local, em termos dos seus fornecimentos e
mercados;
• pelos recursos, capacidades e talentos locais, que, desse
modo, podem conhecer e aproveitar melhor;
• por uma Comunidade com maior Bem-Estar e melhor
Bem-Viver, que assim pode proporcionar um contexto
mais favorável para os seus negócios;
• pela melhor imagem e práticas de Responsabilidade
Social, Cultural, Ambiental e Comunitária, que as liga­ções
no âmbito do GC e com os seus Parceiros e a Comuni-
dade lhes podem permitir e facilitar;
• pelas melhores relações políticas e institucionais que daí
podem derivar;
• pelos negócios adicionais que destes processos e contactos
podem resultar.

Contudo, normalmente os Agentes Económicos com fins lucrativos


regem-se pela norma de que “tempo é dinheiro”, não gostando de
perder tempo com reuniões e conversas que não sejam práticas

134
O LUGAR E O PAPEL DAS EMPRESAS NUM GRUPO COMUNITÁRIO 6

e não se traduzam rapidamente em concretizações, pelo que


não é de esperar que frequentem muitas reuniões, sobretudo
se não tiverem objetivos muito precisos e, por isso, devem ser
mobilizados sobretudo se for para atividades concretas, em que
seja muito claro quais os seus contributos específicos e/ou se
forem visíveis e evidentes os benefícios que podem obter (nem
que seja especialmente em termos de imagem).

135
PRINCIPAIS RELAÇÕES E DESAFIOS DOS SEUS MEMBROS

NOTAS

1. Infelizmente, são vários os (maus) exemplos que se poderiam apre-


sentar, nos diversos GC conhecidos, sobre experiências negativas destas,
nalguns casos quase dinamitando a sua existência, ou, pelo menos,
degradando-a e limitando-a profundamente: foram, por exemplo, os
casos, em certa altura, dos GC da Freguesia de Carnide (em Lisboa) e,
atualmente, de Porto Alegre (em São Tomé e Príncipe) e da Quinta das
Fonsecas e da Calçada (na Freguesia de Alvalade, em Lisboa).

2. Há situações muito variadas e até contrastantes, neste domínio,


nos PALOPs, sendo o caso de Cabo Verde o de melhores resultados
democráticos e associativos.

3. Empresas Públicas Municipais, por exemplo, embora, pela sua


proximidade geográfica, normalmente estão mais sintonizadas com
o primeiro grupo (das Autarquias Locais) e com as suas lógicas de
envolvimento e de relacionamento com a Comunidade, do que com as
outras Empresas Publicas, de âmbito nacional, pelo que, a bem dizer,
também poderiam ser consideradas, do ponto de vista estratégico,
naquele grupo.

4. O que deveria ser completamente independente da sua formalização


como Grupo. Aliás, como se viu atrás, no capítulo 5, praticamente todos
os GC têm optado por não se formalizarem juridicamente como Cole-
tivo, considerando que têm mais vantagens na sua permanência como
Plataformas Informais.

5. Também neste caso, o papel de um/a Animador/a Comunitário/a pode


ser muito importante e decisivo.

6. Na verdade, mais frequente, por parte de algumas Autarquias Locais,


em casos de GC já existentes.

136
NOTAS 6

7. ONGD significa “Organização Não Governamental para o Desenvolvi-


mento”, consagrada a projetos de Cooperação para o Desenvolvimento,
Educação para o Desenvolvimento e/ou Ajuda Humanitária e de Emergência.

8. Assim designados, para distinguir das Organizações de Economia So-


cial e Solidária (Associações, Cooperativas, Mutualidades e Fundações),
portanto sem fins lucrativos, que estão consideradas na Comunidade (se
tiverem origem em iniciativas de Pessoas da Comunidade) ou nas ONGs
(se tiverem origem, nacional ou estrangeira, fora da Comunidade).

9. Infelizmente são raros os GC que têm Agentes Económicos com fins


lucrativos na sua composição.

10. Nos GC atuais, o único que tem, nalgumas reuniões, a presença de


Empresas Transnacionais é o de Porto Alegre (São Tomé e Príncipe), com
o Grupo Pestana (ligado à Hotelaria e ao Turismo) e a Agripalma (na ex-
ploração de palmares e na produção sobretudo de óleo de palma).

137
7
RESULTADOS E FATORES
DE SUSTENTABILIDADE

140 PRINCIPAIS RESULTADOS E


IMPACTOS E COMO PROCEDER
À SUA AVALIAÇÃO

150 FATORES DE SUSTENTABILIDADE


DE UM GRUPO COMUNITÁRIO
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

Principais resultados e impactos e como


proceder à sua avaliação

É de esperar que, através de um GC, se melhorem as condições


e a qualidade de vida da Comunidade, ou seja, se melhore, em
termos gerais, o seu Bem-Estar e Bem-Viver e a sua Dignidade,
reduzindo ou mesmo eliminando as situações de Pobreza e
Exclusão Social, e se garanta a Sustentabilidade da Vida nela
presente. Em termos mais específicos, espera-se que haja efeitos
e impactos positivos ao nível de:

• condições materiais de vida, abrangendo áreas como


o emprego, os rendimentos, os consumos essenciais e
suficientes e condições dignas de habitabilidade, permitin-
do a satisfação das necessidades fundamentais, ou seja,
assegurando a Segurança Económica;
• acesso ao conhecimento e à educação, com melhores
infraestruturas escolares e sistemas de ensino e com as
respostas necessárias de educação não formal e informal,
ou seja, garantindo o Conhecimento e uma Aprendizagem
Crítica Permanente;
• acesso à saúde e a uma vida longa e saudável, com
melhores infraestruturas e respostas de saúde, ou seja,
contribuindo para a Coesão Social;
• relações sociais positivas, em particular no seio da Comu-
nidade, e Igualdade de Oportunidades (nomeadamente
em termos de Género), reforçando também a Coesão
Social e Comunitária;
• boas relações e respeito entre culturas e etnias, afirman­
do e valorizando a Diversidade Cultural e o Diálogo
Intercultural;
• proteção e valorização da Natureza, dos ecossistemas
locais e de todas as formas de Vida, assumindo uma visão

140
PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA AVALIAÇÃO 7

ecocêntrica (e não meramente antropocêntrica) da Casa


Comum e do seu Desenvolvimento (Sustentável), viabili-
zando a Segurança Ambiental;
• promoção e Desenvolvimento dos recursos e valores
do Território, quer urbano, quer rural, recusando o seu
desper­dício, desqualificação e marginalização e lutando
pela Coesão Territorial;
• afirmação e exercício de um novo poder (Comunitário),
com base na Democracia Participativa de Proximidade e no
respeito dos Direitos Humanos, preservando a Liberdade e
a Segurança Política e tornando possível a experimentação
de uma Governança Local Partilhada e Participativa;
• assunção e reforço prático de valores éticos de referência
estratégica do Desenvolvimento Comunitário, nomeada­
mente no que se refere a Solidariedade, Cooperação,
Equidade, Democracia e Transparência, explicitando uma
Ética para a Sustentabilidade.

Em termos práticos, é possível exemplificar com alguns


resultados e impactos (entre muitos outros), já alcançados
em Grupos Comunitários conhecidos, indicando-se por ordem
cronológica aproximada:

1. a construção de uma escola nova de 1.º ciclo, reivindicada Exemplos de


resultados e
pela Comunidade, através do GC, no Bairro da Horta impactos
Nova (na Freguesia de Carnide, em Lisboa);
2. a abertura de cantinas escolares para proporcionar ali-
mentação às crianças do 1.º ciclo, através de soluções de
Economia Social e Solidária (com Associações locais, já
existentes ou criadas para o efeito), discutidas e concretiza-
das nos respetivos GC, a partir de competências e talentos
(emprego) da Comunidade e privilegiando os recursos da
Economia Local, nas escolas dos Bairros Padre Cruz e da

141
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

Horta Nova (ambos na Freguesia de Carnide, em Lisboa) e


das Galinheiras (na Freguesia da Ameixoeira, em Lisboa);
3. a criação e gestão de uma Creche, Jardim de Infância e
Centro de Atividades de Tempos Livres para Crianças,
por uma Associação de Moradores (e, portanto, também
como iniciativa de Economia Social e Solidária), reivindi-
cada, enquadrada e apoiada pelo GC correspondente, no
Bairro dos Lóios (na Freguesia de Marvila, em Lisboa);
4. a discussão, de um modo totalmente Participativo, aberta
a toda a Comunidade, das condições e requisitos de um
projeto de Requalificação Urbana do Bairro, nas reuniões
do GC, com a presença das/os Vereadoras/es e dos/as
Técnicos/as responsáveis do Município, no Bairro Padre
Cruz (na Freguesia de Carnide, em Lisboa);
5. a paralisação temporária dos trabalhos de desmatamento
das florestas secundárias da zona de Porto Alegre, para
implantação de palmares, por parte da Empresa Transna-
cional Agripalma, através de uma ação direta de impedi-
mento das máquinas e da interposição de uma Providên-
cia Cautelar nos tribunais, decididas e levadas a cabo pelo
GC de Porto Alegre (que abrange as Comunidades do
Ilhéu das Rolas, de Ponta Baleia, de Porto Alegre e de Vila
Malanza, na Ilha de São Tomé, em São Tomé e Príncipe),
com o apoio da ONG são-tomense “MARAPA”, para
defesa dos interesses económicos, sociais e ambientais da
Comunidade1;
6. a criação de um Programa de Consumo Vigiado de Estu-
pefacientes, envolvendo as Autarquias Locais, os Serviços
Públicos pertinentes e algumas ONGs, que intervêm neste
domínio, em resultado de uma negociação no GC, no
Bairro da Alta de Lisboa (distribuído pelas Freguesias do
Lumiar e de Santa Clara, em Lisboa);
7. a delimitação e adjudicação de Hortas Comunitárias a

142
PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA AVALIAÇÃO 7

Pessoas das Comunidades, nos Bairros da Horta Nova


(na Freguesia de Carnide, em Lisboa), como reivindicação
e conquista da Comunidade no GC, e da Liberdade-Serafina
(na Freguesia de Campolide, em Lisboa), em resultado de
um projeto de Orçamento Participativo do Município de
Lisboa, discutido e formulado no GC;
8. a descoberta e valorização de Talentos Locais, nas áreas
da Música, da Dança, da Pintura, da Gastronomia e
de outras Artes Performativas e Expressões Culturais,
através da organização, pelo GC, de Festivais e Festas
Comunitárias, essencialmente com recursos e talentos
endógenos, como acontece nos Bairros da Flamenga e do
conjunto designado por “Quatro Crescente”2 (ambos os
GC na Freguesia de Marvila, em Lisboa) e da Horta Nova
(na Freguesia de Carnide, em Lisboa);
9. a recolha de lixo, por reivindicação, conquista e coope­ração
(com os Serviços Públicos Municipais) do GC, no Bairro da
Graça (na periferia da Cidade de Benguela, em Angola);
10. a diminuição notável do número de casos de gravidez
precoce, em resultado de ações de sensibilização e de infor-
mação, concebidas, planeadas e realizadas exclusivamente
pelos Grupos Locais e outros Parceiros (em particular da
Saúde) do GC, também no Bairro da Graça (na periferia da
Cidade de Benguela, em Angola);
11. a abertura e funcionamento de uma Creche e Jardim de
Infância para dar resposta às Crianças da Comunidade
de Vila Malanza, com a luta e o apoio do GC de Porto
Alegre (que abrange as Comunidades do Ilhéu das Rolas,
de Ponta Baleia, de Porto Alegre e de Vila Malanza, na
Ilha de São Tomé, em São Tomé e Príncipe);
12. algumas melhorias3 no abastecimento de água e energia
elétrica às Comunidades de Porto Alegre e Vila Malanza,
em resultado das lutas e insistências do GC de Porto Alegre

143
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

(que abrange as Comunidades do Ilhéu das Rolas, de Ponta


Baleia, de Porto Alegre e de Vila Malanza, na Ilha de São
Tomé, em São Tomé e Príncipe);
13. a conquista de um processo de cogestão de um espaço (al-
gumas salas) de propriedade (pública) Municipal, mas de
ampla utilização Comunitária, em que são os vários Gru-
pos da Comunidade, em conjunto com algumas ONGs e
Serviços Públicos Municipais, utilizadores desses espaços,
que, de forma cooperativa, em reuniões coletivas, definem
as normas e regras da sua utilização e gestão e, na prática
os autoadministram, claramente numa lógica de Comuns,
tendo-se tornado uma das alavancas para a criação de um
GC no Pendão (conjunto de zonas habitacionais de várias
tipologias, situado na Freguesia de Queluz-Belas, no con-
celho de Sintra, em Portugal);
14. a realização de vários projetos, da iniciativa e responsa­
bilidade de Pessoas e Grupos da Comunidade, visando
respostas a problemas e necessidades, diagnosticadas em
conjunto, e/ou a afirmação de valores e talentos culturais
locais, a partir de um concurso de PICs - Projetos de
Inovação Comunitária, concebido, preparado e organiza-
do de forma Participativa, na Comunidade, com o apoio
técnico e financeiro de uma ONG4 e de um Programa
Nacional de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social5, e
com a decisão final a caber, de modo Participativo, à Co-
munidade6, também neste caso, como uma das alavancas
para a criação de um GC no Pendão (conjunto de zonas
habitacionais de várias tipologias, situado na Freguesia de
Queluz-Belas, no concelho de Sintra, em Portugal);
15. a formulação e concretização de um Projeto (iniciado em
2018 e ainda em curso, para três anos) sobre Participação
Comunitária Feminina (Projet MTElles7), que “procura
identificar e ultrapassar os obstáculos que limitam a plena

144
PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA AVALIAÇÃO 7

participação das mulheres no desenvolvimento das suas


comunidades, pondo em ação práticas inovadoras e in-
clusivas de democracia participativa”, uma iniciativa das
Tables de Quartier de Montréal (na Região francófona do
Quebeque, no Canadá);
16. o arranjo e reparação das partes comuns (portas exterio­
res, elevadores, campainhas, lâmpadas e pinturas das
escadas, caixas de correio) dos prédios de Habitação
Social, como reivindicação da Comissão de Lotes e con-
quista negociada e obtida em reuniões do GC, no Bairro
da Quinta das Fonsecas e da Calçada8 (na Freguesia de
Alvalade, em Lisboa);
17. a obtenção e atribuição de uma cadeira de rodas a uma
menina de 14 anos com incapacidade motora, que, por
essa razão, não saía de casa nem ia à escola, situação
detetada e resolvida por iniciativa exclusiva do GC, embora
com o apoio conquistado de outras organizações (como
a Santa Casa de Misericórdia de São Tomé e Príncipe),
no Bairro da Boa Morte (na Cidade de São Tomé, em São
Tomé e Príncipe);
18. a reabilitação e reabertura do Centro Cultural Comu-
nitário de Porto Alegre, para realização de atividades
culturais e comunitárias, como infraestrutura de interesse
Comunitário, desejada, concretizada, acompanhada e
gerida pelo GC de Porto Alegre (que abrange as Comu-
nidades do Ilhéu das Rolas, de Ponta Baleia, de Porto
Alegre e de Vila Malanza, na Ilha de São Tomé, em São
Tomé e Príncipe), em particular através de um Comissão
nomeada pelo GC e com o apoio da ONGD “Leigos para
o Desenvolvimento”;
19. a construção de um Centro de Recursos Educativos e
Formativos (CREF) em Porto Alegre, como infraestrutu-
ra de Formação, Capacitação e Qualificação ao serviço

145
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

da Comunidade, uma iniciativa discutida, partilhada e


acompanhada pelo GC de Porto Alegre (que abrange as
Comunidades do Ilhéu das Rolas, de Ponta Baleia, de Por-
to Alegre e de Vila Malanza, na Ilha de São Tomé, em São
Tomé e Príncipe), em particular através de um Comissão
nomeada pelo GC e com o apoio da ONGD “Leigos para
o Desenvolvimento”;
20. a construção (ainda em curso) e a consequente disponibi-
lização de um “Espaço Criança”, como infraestrutura
para Atividades de Tempos Livres para Crianças, uma
iniciativa discutida, partilhada e acompanhada pelo GC
do Bairro da Graça, para responder a uma necessidade
por si identificada (na periferia da Cidade de Benguela,
em Angola), com o apoio da ONGD “Leigos para o
Desenvolvimento”.

Para avaliar os resultados e os impactos de um GC, é conveniente


ter em conta o conceito que o inspira e fundamenta, ou seja, o
Desenvolvimento Comunitário, pelo que o modelo de avaliação
deve assentar em doze princípios estratégicos de referência:

1. Autoavaliação - a avaliação centra-se fundamentalmente


numa lógica de autoavaliação dos/as protagonistas e dos/
as participantes do Grupo Comunitário (GC). Eles/as serão
sempre os sujeitos principais da avaliação;
2. Animação - por isso, poderá ser importante a existência de
um/a “avaliador/a externo/a” mas que será essencialmente
um/a animador/a ou dinamizador/a dos processos de auto­
avaliação, provocando-a, promovendo-a e sistematizando-a;
3. Heteroavaliação - no entanto, se existir, cabe ao/à “ava­liador/a
externo/a” outro papel importante, que é o de confrontar,
sistematizar e propor olhares de (hetero) avali­ação, que com-
plementem e desafiem as reflexões saídas da autoavaliação;

146
PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA AVALIAÇÃO 7

4. Continuidade e Permanência - esta avaliação não pode


nem deve contemplar só os resultados (perspetiva ex-post)
do GC, mas deve também valorizar os pontos de partida
(pers­petiva ex-ante) e os processos (perspetiva on going),
ainda que retrospetivamente, devendo, de preferência, ser
contínua;
5. Participação - atendendo aos princípios inerentes ao
Desenvolvimento Comunitário, a avaliação implica a par-
ticipação ativa das Pessoas e dos Grupos da Comunidade;
6. Partilha - pela mesma razão, implica também o envolvi-
mento e a cooperação, numa lógica de Parceria, das orga-
nizações, grupos e entidades parceiras, que não pertençam
ou emanem da Comunidade9;
7. Multiplicidade de Perspetivas e Conhecimentos - a avalia­­
ção deve saber convocar e pôr em diálogo múltiplos
olhares e perspetivas, com várias origens, sensibilidades,
saberes e linguagens;
8. Multidimensionalidade - serão tidas em conta sete dimen­
sões de avaliação (ver a seguir a sua explicação), relacio-
nadas com as componentes e fases do processo normal de
planeamento de ações de Desenvolvimento Comunitário;
9. Aprendizagem e Formação - este modelo de avaliação,
ao assentar na reflexão participada e partilhada dos/as
protago­nistas e participantes envolvidos/as, estimula a
aprendizagem e a formação sobre o conceito e as práticas
de Desenvolvimento Comunitário, sobre o sentido e os
processos de um Grupo Comunitário e sobre as realidades
comunitárias vivenciadas (e assim também refletidas),
tornan­do-se uma estratégia informal de aquisição de
Conhe­cimentos e, de certo modo, de Educação de Adultos;
10. Investigação-Ação - na sequência do ponto anterior,
este modelo de avaliação, ao gerar e estimular (novos)
conhecimentos, pode servir de base à Investigação sobre

147
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

as dinâmicas e caminhos de Grupos Comunitários e de


Desenvolvimento Comunitário, mas é simultaneamente
um suporte para a Ação, para a sua melhoria contínua
e para a disseminação e replicação das suas práticas,
alimentando um diálogo e um cruzamento potencialmente
fecundos entre as duas componentes, ou seja, viabilizando
processos de Investigação-Ação;
11. Diversidade Metodológica - pelos seus princípios e carac-
terísticas, esta avaliação combina abordagens e indicadores
quantitativos e qualitativos, convocando uma diversidade
de técnicas de recolha de informações e de dados, o que
implica o desafio de utilizar escalas de ava­liação que, de
forma quantitativa, permitam compatibilizar e qualificar,
tanto as dimensões quantitativas quanto as qualitativas;
12. Flexibilidade - o modelo de avaliação proposto nunca é
definitivo, muito menos rígido, pelo que, ao ser aplicado e
ao se avançar na sua concretização, podem sempre surgir
alterações e adaptações, na sua própria estrutura, conteú-
dos, procedimentos e indicadores.

Como foi referido, são sete as dimensões de avaliação consi­


deradas, o que permite abordar o Grupo Comunitário de vários
pontos de vista e ângulos de observação, a saber:

1. a sua Pertinência, ou seja, se se justifica a sua existência,


face aos problemas e necessidades, que estiveram na sua
origem e o fizeram constituir, inclusive se persistem (esses
ou outros) e o continuam a justificar;
2. a sua Coerência, ou seja, a fidelidade e o rigor, com que
incorpora, respeita e pratica os seus princípios e valores
de referência, nomeadamente os que decorrem do con-
ceito (Desenvolvimento Comunitário) que o enquadra:
os princípios estratégicos da Territorialização; da Partici-

148
PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS E COMO PROCEDER À SUA AVALIAÇÃO 7

pação; da Capacitação, Autonomização e Empowerment


da Comunidade; da Perspetiva Integrada; do Trabalho em
Parceria; da Flexibilidade; do Planeamento com Improvi-
so; da Avaliação Permanente; da Investigação-Ação; e da
Conjugação de Competências10;
3. o seu nível de Execução, ou seja, o cumprimento dos seus
programas de ações, atividades e tarefas, tal como planea-
do ou combinado, entre os seus membros;
4. a sua Eficiência, ou seja, o tipo, os modos e a qualidade
de afetação dos recursos, que mobiliza;
5. a sua Eficácia, ou seja, o grau e a qualidade de cumpri-
mento dos seus objetivos e das suas metas, quantitativas e
qualitativas;
6. os seus Impactos, ou seja, os efeitos estruturais, duradouros,
indiretos e inesperados que tem provocado na Comu­nidade,
em termos individuais e coletivos, na autonomização e no
Empowerment pessoal e comunitário, nas Entidades e Gru-
pos, que dele fazem parte, nos Serviços Públicos, nas relações
de parceria, nos/as Técnicos/as envolvidos/as, na Sociedade
envolvente11;
7. a sua Sustentabilidade, ou seja, as condições, as possibili-
dades e as probabilidades da sua continuidade e autono-
mização e das suas atividades e resultados.

Estas sete dimensões relacionam-se intimamente com as


componentes dos processos de planeamento, em geral, e nas
áreas do Desenvolvimento Comunitário, em particular, como
se pode observar no quadro 1, o que lhes permite também
servir para, simultaneamente, acompanhar e avaliar aquelas
componentes, inspirá-las e decorrer delas (anexo 4).

149
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

COMPONENTES DO PLANEAMENTO DIMENSÕES DE AVALIAÇÃO


Diagnóstico Pertinência
Princípios estratégicos Coerência

Ações, atividades e tarefas programadas Execução

Recursos a mobilizar Eficiência

Objetivos gerais e específicos e metas Eficácia

Efeitos estruturais, duradouros, indiretos e inesperados Impactos

Continuidade e autonomização Sustentabilidade

Quadro 1 - Relação entre as dimensões de avaliação e as componentes do planeamento.


Fonte: elaboração do autor.

Fatores de sustentabilidade de um Grupo


Comunitário

Ao contrário do que frequentemente se pensa e se afirma, a


Sustenta­bilidade de uma organização, de um projeto, de uma experiência
ou de um grupo, não depende exclusivamente de recursos financeiros. Essa
suposição de que tudo depende do dinheiro, e, portanto, da
vertente económico-financeira, resulta do predomínio, nas
sociedades, de uma visão econo­micista e mercantil, onde tudo
parece determinado pelos fatores económicos e pelo valor de
mercado. Mas contraria o próprio conceito de Desenvolvimento
Sustentável, de onde deriva o de Susten­tabilidade que, como se
assumiu anteriormente, deve ser abordado com oito dimensões:
económica, social, ambiental, cultural, territorial, cognitiva,
política e ética.
Ora, até pelas suas características e pela filosofia que o preside,
a Susten­tabilidade de um Grupo Comunitário depende muito
mais de outras dimensões do que da económico-financeira (de ter
dinheiro), como evidenciam os vários GC que existem, sobretudo

150
FATORES DE SUSTENTABILIDADE DE UM GRUPO COMUNITÁRIO 7

os que duram há mais tempo. De facto, têm sido determinantes


os seguintes fatores, mais em conjugação do que isolados:

• o efetivo envolvimento em continuidade da Comunidade,


ou pelo menos de Associações e Grupos da Comunidade,
significando que sentem e assumem o GC como “seu”, o
que, por seu turno, depende dos dois fatores a seguir;
• a permanência, nos pontos de abordagem e tratamento do
GC, de problemas e necessidades efetivamente pertinentes
e sentidos como prioritários pela Comunidade, o que passa
por uma atenção contínua à realidade comunitária e, portan­
to, a um Diagnóstico Local permanentemente atualizado;
• a capacidade de se ir resolvendo ou, pelo menos, iniciando
respostas aos problemas e necessidades mais prioritárias da
Comunidade, para que exista um sentimento de eficácia da
ação do GC;
• o funcionamento efetivo e mobilizador de uma Comissão
de Coordenação, ou equivalente, capacitada para as suas
funções de planeamento e organização das atividades
do GC, nomeadamente das referidas nas duas alíneas
anterio­res;
• a existência de um/a Animador/a ou entidade com a
função de Animação do GC, que mobilize permanente-
mente a Comunidade e os Parceiros, podendo este papel
ser progressivamente assumido pela Comissão de Coor-
denação, caso se decida que existe, à medida que o GC se
vai consolidando12;
• a assunção explícita de responsabilização pela continui-
dade do GC, por parte de Parceiros permanentes (ou, pelo
menos, um), públicos ou privados, que assegurem (ou
apoiem) institucionalmente as funções de Animação e/ou
de Coordenação, anteriormente referidas;
• o apoio explícito persistente (mas não indefinido13), técnico,

151
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

institucional e/ou político, por parte de uma ou mais ONGs


externas, às funções de Animação e/ou Coordena­ção, anteri­
ormente mencionadas.

em resumo

SUSTENTABILIDADE
quais as . Envolvimento da Comunidade
principais
. Pertinência dos temas
condições
. Diagnóstico atualizado
. Eficácia das ações
. Animação persistente
. Coordenação capacitada
. Envolvimento institucional e
apoios externos

Como se pode verificar, trata-se de fatores essencialmente


de nature­za social, cultural, cognitiva, política (num sentido
abrangente), insti­tucional, territorial e ética, e não tanto económi-
co-financeira, o que não quer dizer que estes (existência de apoios
financeiros) não possam ajudar, mas não são determinantes.

Imagem 6 - Jardim de Infância de Vila Milanza criado pelo Grupo Comunitário de


Porto Alegre.

152
NOTAS 7

NOTAS

1. Embora tivesse sido uma vitória provisória, que depois não teve
continuidade, não deixa de ser simbólica do tipo de ações que um GC
pode desenvolver.

2. Abrangendo quatro bairros, os dos Alfinetes, do Marquês de Abrantes, da


Quinta do Chalé e das Salgadas, todos na Freguesia de Marvila, em Lisboa.
Estes quatro bairros constituíram, em conjunto, um Grupo Comunitário,
designado por “Quatro Crescente”.

3. Contudo ainda com muitas falhas, quer em quantidade (por exemplo,


quanto ao número de horas de abastecimento), quer de qualidade e dos
cuidados do consumo, por parte das populações (no caso da água), man-
tendo-se pois como lutas do GC.

4. A Fundação Aga Khan para o Desenvolvimento.

5. Neste caso, o CLDS - Contrato Local de Desenvolvimento Social.

6. De um total de cerca de 30 candidaturas, foram aprovadas e financiadas


15, após uma pré-seleção, realizada por um júri, constituído, equitativa-
mente, por representantes da Comunidade e por Parceiros das Autarquias
Locais e de ONGs a trabalhar no Território.

7. MT de Montréal e “Elles” de “Elas”.

8. Curiosamente a designação deste Bairro tem três versões: a de “Quinta


das Fonsecas e da Calçada”, dos nomes dos Bairros antigos de “Quinta da
Calçada” (Bairro provisório, de construção pública, para albergar trabalhadores
da Província, vindos para a Cidade) e de “Quinta das Fonsecas” (Bairro de
autoconstrução de casas precárias e abarracadas), como os/as residentes
ainda o conhecem; “Telheiras Sul”, por parte da Empresa Municipal de

153
RESULTADOS E FATORES DE SUSTENTABILIDADE

Gestão dos Bairros Municipais de Lisboa - GEBALIS; e “Azinhaga ou Quinta


dos Barros”, por parte das Autarquias Locais e da Empresa Municipal de
Transportes Públicos - CARRIS. Dado ser a designação mais usual, por parte
da Comunidade, foi a primeira que se adotou para nomear o GC.

9. Ainda que os seus representantes sejam da Comunidade. Porque aqui


está-se a referir às Instituições ou Serviços, nas suas lógicas institucionais
e não pessoais.

10. Ver as implicações estratégicas e metodológicas do Desenvolvimento


Comunitário no capítulo 2.

11. Esta é uma das dimensões de avaliação mais importantes, por se referir
a mudanças estruturais e profundas, mas também é das mais difíceis de
avaliar.

12. Como já se referiu no capítulo 5, o papel do/a Animador/a é particu-


larmente importante no lançamento e no início de um GC, enquanto que
o da Comissão de Coordenação se centra mais na gestão estratégica e
corrente, sobretudo na fase em que o GC já está em “velocidade de cru-
zeiro”, mas as fronteiras entre os dois tipos de funções não são rígidas,
podendo (ou mesmo devendo) a Animação continuar pelo tempo fora
(normalmente entre os sete e os dez anos), podendo ser progressivamente
também assumida pela Comissão de Coordenação. Essa é, por exemplo,
a estratégia adotada pelos “Leigos para o Desenvolvimento”, nos GC que
apoiam. Repare-se ainda que pode incumbir ao/à Animador/a o papel de
Animação e de mobilização da Comissão de Coordenação, até esta estar
capacitada e autónoma.

13. As experiências existentes apontam para um máximo de dez anos,


como referência, mas depende muito dos contextos e das condições e
dinâmicas dos GC.

154
8
ALGUMA BIBLIOGRAFIA
DE REFERÊNCIA
ALGUMA BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

Para quem pretender fundamentar, aprofundar e/ou completar


as informações, os conhecimentos e as propostas e sugestões
apresentadas e partilhadas neste Manual, deixam-se algumas
referências bibliográficas, naturalmente selecionadas e, portanto,
não exaustivas:

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OSÓRIO, C. e CRUZ E SILVA, T. (2009). Género e governação
local. Estudo de caso na província de Manica, distritos de
Tambara e Machaze. Maputo: WLSA Moçambique, 124 p.
OSTROM, E. (2003). Governing the Commons - The Evolution ou
Institutions for Collective Action. New York and Cambridge:
Cambridge University Press (15 th edition), 295 p.
PARACHINI, L. and COVINGTON, S. (2001). Community Organi­
zing - TOOLBOX: A Funder’s Guide to Community Organi­zing.
Washington: Neighborhood Funders Group, 127 p.

159
ALGUMA BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

Revista de Economia Solidária (2017), Nº 11 sobre “A Economia


Solidária e os Comuns”, Ponta Delgada: ACEESA.
SANTOS, B. S. (2002). Democratizar a Democracia: os Caminhos
da Democracia Participativa. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 682 p.
SILVA, M. M. (1962). Desenvolvimento Comunitário: uma
técnica de promoção social, Lisboa, Associação Industrial
Portuguesa.
SILVA, M. M. (1963). Fases de um Processo de Desenvolvimento
Comunitário. Analise Social, vol. I (4), pp. 538-558.
SILVA, M. M. (1964). Oportunidade do Desenvolvimento Comu-
nitário em Portugal, Analise Social, vol. II (7-8), pp. 498-510.
VIEIRA, I. (2017). A Participação - um Paradigma para a Inter-
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(2.ª edição).
VILLASANTE, T. R. (1984). Comunidades Locales - análisis,
movimientos sociales y alternativas. Madrid: Instituto de
Estudios de Administración Local.

160
9
ANEXOS

162 FICHAS DE DOIS GRUPOS 168 ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA


COMUNITÁRIOS AVALIADOS GRUPOS COMUNITÁRIOS
RECENTEMENTE E TOMADOS
COMO EXEMPLOS

166 10 PASSOS PARA MONTAR


E DINAMIZAR UM GRUPO
COMUNITÁRIO

167 PERFIL ANIMADOR/A


ANEXO 1 - FICHA DO GRUPO COMUNITÁRIO DO BAIRRO DA GRAÇA

Grupo Comunitário do Bairro da Graça

DIMENSÕES DE ANÁLISE CARACTERÍSTICAS


NOME Grupo Comunitário do Bairro da Graça

LOCALIZAÇÃO Bairro da Graça (Benguela - Angola)

TIPO GEOGRÁFICO Suburbano

DATA DE INÍCIO 11 de fevereiro de 2011

PERIODICIDADE DAS REUNIÕES Três em três semanas (em princípio)

NÚMERO DE
43
ENTIDADES-MEMBROS

12 Grupos da Comunidade; 6 Igrejas; 4 Órgãos da


Administração Pública Local (sendo 2 Autoridades
TIPOLOGIA DE ENTIDADES
Tradicionais); 8 Serviços Públicos Desconcentrados; 11
Instituições Privadas sem fins lucrativos; 2 Empresas

Parcialmente. Só os/as representantes de Associações


ABERTURA À COMUNIDADE
ou Grupos organizados

EXISTÊNCIA DE REGULAMENTO Sim

EXISTÊNCIA DE COMISSÃO DE
Sim
COORDENAÇÃO

Nº ELEMENTOS DA COMISSÃO
7
DE COORDENAÇÃO

ENTIDADE DE ANIMAÇÃO DO
ONGD “Leigos para o Desenvolvimento”
GRUPO

162
ANEXO 1 - FICHA DO GRUPO COMUNITÁRIO DO BAIRRO DA GRAÇA 9

DIMENSÕES DE ANÁLISE CARACTERÍSTICAS


Recolha do lixo; diminuição do número das gravidezes
precoces; criação do Espaço Criança para ocupação e
atividades de tempos livres para as crianças desocu-
PRINCIPAIS RESULTADOS
padas; diminuição do consumo de álcool e de drogas
ALCANÇADOS
pelos jovens; cooperação entre coletivos de arte/teatro
do bairro; e elaboração de roteiro de desenvolvimento
do bairro a 6 anos

O GC é reconhecido pelo Estado (Administração Local e


Serviços Públicos Desconcentrados, sobretudo ao nível da
RELAÇÃO COM O ESTADO Educação e da Saúde), com presença, em geral, nas reuniões
(embora desigual), envolvimento nalgumas atividades e
partilha de alguns recursos (humanos, sobretudo)

Sim, existe o Grupo de Saúde e o Grupo de Saneamento.


EXISTÊNCIA DE GRUPOS DE
Em função de missões e tarefas específicas, e por tempo
TRABALHO
determinado, constituem-se grupos de trabalho temporários

163
ANEXO 1 - FICHA DO GRUPO COMUNITÁRIO DE PORTO ALEGRE

Grupo Comunitário de Porto Alegre

DIMENSÕES DE ANÁLISE CARACTERÍSTICAS


NOME Grupo Comunitário de Porto Alegre

Porto Alegre (Município de Caué, Ilha de São Tomé, São


LOCALIZAÇÃO Tomé e Príncipe) - envolvendo as Comunidades de Ilhéu
das Rolas, Ponta Baleia, Porto Alegre e Vila Malanza

TIPO GEOGRÁFICO Rural

DATA DE INÍCIO 22 de janeiro de 2012

PERIODICIDADE DAS REUNIÕES Quinzenal (em princípio)

NÚMERO DE
40
ENTIDADES-MEMBROS

21 Grupos da Comunidade; 1 Órgão da Administração


Pública Local; 8 Serviços Públicos Desconcentrados;
TIPOLOGIA DE ENTIDADES
4 Instituições Privadas sem fins lucrativos; 6 Agentes
económicos

Parcialmente. Só os/as representantes de Associações


ABERTURA À COMUNIDADE
ou Grupos organizados

Existe um documento de referência de princípios de fun-


EXISTÊNCIA DE REGULAMENTO
cionamento, mas sem ser propriamente um Regulamento

EXISTÊNCIA DE COMISSÃO DE
Sim
COORDENAÇÃO

Nº ELEMENTOS DA COMISSÃO
7
DE COORDENAÇÃO

ENTIDADE DE ANIMAÇÃO DO
ONGD “Leigos para o Desenvolvimento”
GRUPO

164
ANEXO 1 - FICHA DO GRUPO COMUNITÁRIO DE PORTO ALEGRE 9

DIMENSÕES DE ANÁLISE CARACTERÍSTICAS


Criação de uma Creche e Jardim de Infância; consti­tuição
e apoio a dinâmicas associativas locais (sobretudo: uma
Comissão de Pais da Creche e Jardim de Infância, uma
PRINCIPAIS RESULTADOS Associação Comunitária, um Grupo Etnográfico, um Grupo
ALCANÇADOS de Jovens de Surf e um Grupo de Mulheres); apoios ao
estudo, no âmbito de um Programa de Apoio Escolar;
reconstrução de um Centro Cultural Comunitário; e criação
de uma Rádio Comunitária

O GC é reconhecido pelo Estado (Administração Local e


Serviços Públicos Desconcentrados, sobretudo ao nível da
Educação e da Saúde), com presença, em geral, nas reuniões

RELAÇÃO COM O ESTADO


(embora desigual), envolvimento nalgumas atividades e
partilha de alguns recursos (humanos, espaços e materiais,
sobretudo); a Câmara Distrital de Caué reconhece o GC
como interlocutor chave do território e manifesta interesse
na sua replicação noutras zonas do distrito

Sim, em função de missões e tarefas específicas e por


EXISTÊNCIA DE GRUPOS DE
tempo determinado (ex: comité da água; grupo de sa-
TRABALHO
neamento; comissão de festa de fim ano)

165
ANEXO 2 - 10 PASSOS PARA MONTAR E DINAMIZAR UM GRUPO COMUNITÁRIO

10 Passos para montar e dinamizar um Grupo


Comunitário

01 Conhecer a comunidade e o contexto onde se insere

Mobilizar um grupo de participantes inicial e diversificado (que integre


02 as diferentes expressões da comunidade)

Identificar e priorizar as necessidades, recursos e sonhos da


03 comunidade no arranque e revisitar de tempos a tempos

Identificar os principais stakeholders e estabelecer relações de


04 proximidade

Estabelecer relações de confiança, num registo equilibrado entre o


05 formal e a informalidade

Reforçar as competências de animação comunitária de quem lidera e/ou


06 dos participantes

Definir em coletivo um conjunto de regras de funcionamento de base,


07 incluindo a divisão de tarefas

Desenvolvimento de ações coletivas de acordo com os interesses e


08 prioridades da comunidade

Implementar estratégias de motivação: celebrar as conquistas, organizar


09 momentos de convívio, mobilizar novos participantes, lançar novos desafios

Planear e avaliar em conjunto a ação coletiva e o funcionamento do


10 Grupo Comunitário garantindo a melhor adequação à realidade

166
ANEXO 3 - PERFIL ANIMADOR/A 9

Perfil Animador/a

167
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS

Escalas de Avaliação para Grupos Comunitários1

Com vista a combinar e comparar os diferentes tipos e dimensões de avaliação, quantitativas


e qualitativas, adotam-se Escalas de Avaliação, que, embora de expressão quantitativa,
também servem para traduzir as avaliações qualitativas.

Em geral, consideram-se quatro níveis:

0 - Ausência: quando não se verifica a dimensão avaliada;


1 - Fraco: quando o nível verificado é baixo ou muito baixo;
2 - Moderado: quando o nível verificado é médio;
3 - Forte: quando o nível verificado é elevado;
4 - Muito forte: quando o nível verificado é muito elevado.

A aplicação desta Escala às sete dimensões consideradas é apresentada de seguida.

A atribuição destes níveis às diferentes dimensões resulta do processo coletivo, participado


e partilhado, de autoavaliação, de forma fundamentada, com justificações, evidências e
exemplificações, por consenso, maioria ou média aritmética simples (método definido
coletivamente), com o apoio, o confronto e o contraditório do “avaliador externo”, enquanto
animador do processo, nas também enquanto hetera avaliador.

Escalas e níveis de Avaliação propostos (por dimensões e princípios estratégicos e


metodológicos), a partir da página seguinte.

1 - Escalas de avaliação construídas pelo autor.

168
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS 9

1. RELEVÂNCIA OU PERTINÊNCIA

0 - Ausência: o Grupo Comunitário não é pertinente, pois o(s) problema(s) e as neces-


sidades que o motivou(aram) não existiu(ram) ou já não existe(m), ou não tinha(m)
ou já não têm qualquer importância.
1 - Fraca: o Grupo Comunitário tem uma pertinência baixa, pois o(s) problema(s) e as
necessidades que o motivou(aram) estava(m) ou está(ão) muito atenuado(s) ou
em vias de resolução.
2 - Moderada: o Grupo Comunitário tem uma pertinência moderada, pois o(s) prob-
lema(s) e as necessidades que o motivou(aram) era(m) ou é(são) relativamente
importante(s), mas não prioritário(s) nem urgente(s).
3 - Forte: o Grupo Comunitário é fortemente pertinente, pois o(s) problema(s) e as
necessidades que o motivou(aram) era(m) ou é(são) importante(s) e prioritário(s).
4 - Muito forte: o Grupo Comunitário tem uma pertinência muito elevada, pois o(s)
problema(s) e as necessidades que o motivou(aram) era(m) ou é(são) grave(s) e
urgente(s) e detetaram-se novos problemas conexos.

2. COERÊNCIA (decomposta segundo os princípios estratégicos e metodológicos de referência)

2.1. ABORDAGEM TERRITORIAL

0 - Ausência: o Grupo Comunitário não tem um território de referência ou não


está enraizado na sua Comunidade.
1 - Fraca: o Grupo Comunitário apenas tem relações com os líderes formais da
Comunidade do seu território de referência.
2 - Moderada: o Grupo Comunitário tem relações e mobiliza os líderes formais e
informais e os grupos formais da Comunidade do seu território de referência.
3 - Forte: o Grupo Comunitário tem relações e mobiliza todos os grupos e líderes
formais e informais da Comunidade do seu território de referência.
4 - Muito forte: o Grupo Comunitário é reconhecido e mobiliza e envolve toda a
Comunidade do seu território de referência.

169
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS

2.2. PERSPETIVA INTEGRADA

0 - Ausência: o Grupo Comunitário reflete uma visão setorial (e segmentada) da


realidade e das atividades.
1 - Fraca: o Grupo Comunitário desenvolve pontual e raramente atividades integradas.
2 - Moderada: o Grupo Comunitário desenvolve atividades integradas,
envolvendo alguns setores e áreas de intervenção e Parceiros, mas não todos.
3 - Forte: o Grupo Comunitário tem e pratica, sistematicamente, uma visão
integrada das atividades, porém apenas no seu interior e nas suas iniciativas.
4 - Muito forte: o Grupo Comunitário assenta numa visão sistematicamente
integrada, que fica presente no território e nas organizações, para além das
suas iniciativas, sem perder o seu rumo estratégico.

2.3. PARCERIA OU TRABALHO EM PARCERIA

0 - Ausência: as entidades do Grupo Comunitário não fazem nada em conjunto.


1 - Fraco: o Grupo Comunitário admite a colaboração pontual e episódica e a
solicitação de recursos a algumas entidades, que são informadas das suas
atividades.
2 - Moderado: algumas entidades são consultadas sobre as atividades do Grupo
Comunitário, estão presentes nalgumas reuniões e podem dar as suas sugestões.
3 - Forte: as entidades parceiras tomam parte sistematicamente nas decisões, na
programação, nas tarefas e na avaliação do Grupo Comunitário.
4 - Muito forte: os parceiros refletem, decidem, concretizam e gerem o GC e as
suas atividades em conjunto e a prática da parceria é levada para fora do
próprio Grupo Comunitário, tornando-se prática no território.

2.4. PARTICIPAÇÃO

0 - Ausência: o Grupo Comunitário funciona sem a presença de pessoas da co-


munidade, que não são convocadas.

170
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS 9

1 - Fraca: o Grupo Comunitário funciona com algumas pessoas da comunidade,


que são apenas informadas das suas atividades, podendo aderir e beneficiar
de algumas delas.
2 - Moderada: as pessoas da comunidade são consultadas sobre as ativi­dades pro-
gramadas pelo Grupo Comunitário e podem envolver-se na sua implementação.
3 - Forte: as pessoas da comunidade podem fazer propostas e tomam parte nas
decisões e na avaliação do Grupo Comunitário.
4 - Muito forte: as pessoas da comunidade e estas, em geral, apropriam­-se do
Grupo Comunitário e decidem autonomamente, no essencial, a sua pro-
gramação, podendo redefinir objetivos e atividades.

2.5. MOBILIZAÇÃO DE CAPACIDADES E RECURSOS ENDÓGENOS

0 - Ausência: o Grupo Comunitário não prevê a mobilização de capacidades e


recursos endógenos.
1 - Fraco: o Grupo Comunitário mobiliza pontualmente sobretudo recursos
endógenos materiais.
2 - Moderado: o Grupo Comunitário mobiliza sobretudo o trabalho de algumas
pessoas da comunidade, nomeadamente para as suas atividades.
3 - Forte: o Grupo Comunitário mobiliza sobretudo o máximo de competências,
saberes e capacidades de trabalho das pessoas da comunidade.
4 - Muito forte: o Grupo Comunitário mobiliza e utiliza todas as capacidades
e recursos endógenos possíveis e só recorre a recursos exógenos para
completar e fertilizar aqueles.

2.6. SUSTENTABILIDADE

0 - Ausência: não existe, no Grupo Comunitário, nenhuma estratégia para a


continuidade das suas ações, resultados e efeitos.
1 - Fraca: o Grupo Comunitário conta, para a continuidade das suas acções,
resultados e efeitos, sobretudo com apoios exteriores.

171
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS

2 - Moderada: o Grupo Comunitário conta, para a continuidade das suas acções,


resultados e efeitos, sobretudo com os apoios do Estado e/ou das autarquias
locais.
3 - Forte: o Grupo Comunitário conta, para a continuidade das suas acções,
resultados e efeitos, sobretudo com o envolvimento e recursos dos seus
parceiros e instituições.
4 - Muito forte: o Grupo Comunitário conta, para a continuidade das suas acções,
resultados e efeitos, com o empenhamento e envolvimento dos seus parceiros
e instituições e dos/as participantes da comunidade.

3. EXECUÇÃO

0 - Execução nula: X = 0
1 - Execução fraca: 0 < X < 42,5%
2 - Execução moderada: 42,5% ≤ X < 67,5%
3 - Execução forte: 67,5% ≤ X < 82,5%
4 - Execução muito forte: 82,5% ≤ X < 100%

4. EFICIÊNCIA

Ausência: o Grupo Comunitário é ineficiente, pois subutiliza ou utiliza mal


todos os recursos (humanos, materiais, equipamentos, financeiros, etc.) que
tem afetados.
Fraca: o Grupo Comunitário tem uma eficiência fraca, na medida em que
subutiliza ou sobre-explora as capacidades dos seus recursos humanos
e pessoas, embora possa utilizar eficientemente os outros recursos
afetados.
Moderada: o Grupo Comunitário tem uma eficiência moderada, na medida
em que utiliza eficientemente as capacidades dos seus recursos humanos e
pessoas, mas o mesmo não acontece com os outros recursos afetados.
Forte: o Grupo Comunitário tem uma eficiência forte, pois utiliza

172
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS 9

eficientemente (sem subutilização nem sobre-exploração) todos os recursos


que lhe estão formalmente afetados.
Muito Forte: o Grupo Comunitário tem uma eficiência muito forte, na medida
em que, para além de utilizar eficientemente todos os recursos que lhe
estão formalmente afetados, ainda mobiliza outros recursos (ex.: trabalho
voluntário, materiais, infraestruturas, equipamentos, financeiros, etc.) de
outras proveniências, designadamente da comunidade e partilhados com
outros parceiros.

5. EFICÁCIA

5.1. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA (quando pertinente)

Ausência: Ineficácia, pois o Grupo Comunitário não cumpriu nenhum dos seus
objetivos e metas (X = 0)
Fraca: Eficácia fraca, pois o Grupo Comunitário cumpriu ou começou a cumprir
alguns dos seus objetivos e metas, mas em baixa percentagem (0 < X < 42,5%)
Moderada: Eficácia moderada, pois o Grupo Comunitário cumpriu ou já cumpriu,
sensivelmente, metade dos seus objetivos e metas (42,5% ≤ X < 67,5%).
Forte: Eficácia elevada, pois o Grupo Comunitário cumpriu ou já cumpriu, a
maioria dos seus objetivos e metas (67,5% ≤ X < 82,5%).
Muito forte: Eficácia muito elevada, pois o Grupo Comunitário ( já) cumpriu a
totalidade ou quase dos seus objetivos e metas (82,5% ≤ X< 100%).

5.2. AVALIAÇÃO QUALITATIVA (quando aplicável)

Na componente qualitativa, a escala é a mesma da Avaliação quantitativa, com as


mesmas descrições e características, mas sem a referência às percentagens.

173
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS

6. IMPACTOS

0 - Ausência: não se verificou qualquer impacto, mudança ou efeitos indiretos ou


inesperados ou verificaram-se fundamentalmente impactos negativos.
1 - Fracos: houve alguns impactos e mudanças, mas sobretudo ao nível das/os
técnicas/os e/ou das organizações envolvidas.
2 - Moderados: verificaram-se impactos e mudanças importantes nas/os
técnicas/os e nas organizações envolvidas, mas muito poucos ao nível dos
participantes da comunidade.
3 - Fortes: verificaram-se impactos e mudanças importantes nos/as participantes
da comunidade e também nas/os técnicas/os e/ou nas organizações
envolvidas e na comunidade em geral.
4 - Muito fortes: além de impactos e mudanças importantes nas/os participantes
da comunidade, nas/os técnicas/os e nas organizações envolvidas e na
comunidade em geral, houve também efeitos indiretos e inesperados positivos.

7. SUSTENTABILIDADE

0 - Ausência: o Grupo Comunitário e os seus resultados não são sustentáveis e os


seus efeitos esgotam-se com a saída da equipa e do apoio dos LD, pois não se
encontram garantidas nenhuma das condições de Sustentabilidade mencionadas.
1 - Fraca: só (ainda) foi garantida uma das condições de Sustentabilidade
mencionadas.
2 - Moderada: estão garantidas duas condições de Sustentabilidade mencionadas.
3 - Forte: estão garantidas três das condições de Sustentabilidade mencionadas.
4 - Muito forte: estão garantidas todas as condições de Sustentabilidade
mencionadas.

Condições essenciais de Sustentabilidade:

1. A comunidade assume o Grupo Comunitário e os seus resultados, defende-os


e está disposta a lutar por eles.

174
ANEXO 4 - ESCALAS DE AVALIAÇÃO PARA GRUPOS COMUNITÁRIOS 9

2. O Grupo Comunitário e os seus resultados têm reconhecimento e apoio por


parte da Administração Pública (Central ou Local).
3. As entidades do Grupo Comunitário, ou algumas com mais capacidade
de resposta no domínio da Intervenção Comunitária, asseguram a sua
continuidade e dos seus resultados.
4. Encontram-se garantidos outros apoios externos ao Grupo Comunitário e aos
seus resultados.

175
Os LEIGOS PARA O DESENVOLVIMENTO são uma ONGD católica,
que trabalha há mais de 30 anos em prol do desenvolvimento integral
e integrado em países de expressão portuguesa. Atualmente conta com
projetos em Angola, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, atuando
preferencialmente na área da Formação e Educação, da Dinamização
e Organização Comunitária, Empreendedorismo e Empregabilidade,
Capacitação de Agentes Locais, Promoção do Voluntariado e Pastoral. O
trabalho no terreno é feito através de jovens voluntários que permanecem
pelo período mínimo de um ano como facilitadores, privilegiando a
relação, a parceria, o conhecimento local, a simplicidade de meios e a
capacitação, sendo assim criada a possibilidade do autodesenvolvimento
das comunidades. Beneficiam dos seus projetos cerca de 50.000 pessoas/
ano e já partiram em missão mais de 400 voluntários.

ROGÉRIO ROQUE AMARO é licenciado e doutorado em Economia,


na especialização de Analyse et Planification du Développement
(Université des Sciences Sociales II, de Grenoble - França). Atualmente
é Professor Associado do Departamento de Economia Política da Escola
de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE-IUL e é Vice-Presidente
da GLOCALDECIDE – Associação para a promoção da Democracia,
Cidadania e Desenvolvimento. É consultor do PNUD e da OIT. Colabora
e apoia vários projetos e iniciativas de Desenvolvimento Comunitário e
de Economia Solidária em Portugal e nos PALOP. Tem vários artigos,
livros e outras publicações nestes domínios.

Co-Financiadores

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