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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRNDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PEDAGOGIA
ARTE E EDUCAÇÃO

Marcos Abranches: vida como obra de arte.

Ana Karênina Trindade de Araújo.


Professor Dr. Jefferson Fernandes Alves.

2018
Marcos Abranches: vida como obra de arte.

Ana Karênina Trindade de Araújo.


Professor Dr. Jefferson Fernandes Alves.
Arte e educação.
Pedagogia – UFRN – Departamento de Educação.

Marcos Abranches é professor de dança, bailarino, coreógrafo,


brasileiro, nascido em São Paulo, fundador da Cia. Vidança desde o ano de
2005, portador de coreoatetose (tipo de paralisia cerebral), patologia que não
interfere nem afeta no desenvolvimento adequado da sua inteligência,
deficiência que o artista adquiriu quando nasceu prematuramente aos 6 meses
e 20 dias de gestação, devido a uma lesão cerebral. O artista trabalha a
estética das suas limitações e possibilidades em seus espetáculos de dança.

A coreoatetose gera, em Marcos, movimentos involuntários,


intermitentes e irregulares da face e dos membros, devido a sua “diferença” o
dançarino propõe um estudo acerca da dança contemporânea que valoriza as
singularidades, enquanto aborda o tema de sua própria condição especial de
ser no mundo.

Em 2003, após conhecer Sandro Borelli, estreia como bailarino no


espetáculo Senhor dos Anjos e, de lá até hoje vem participando como bailarino
e ou coreógrafo de espetáculos seguidos, com temas diversos que passeiam
desde a literatura clássica à criações próprias. Utiliza-se de suas próprias
“limitações” para interpretar personagens sui geners nas regras delineadas
para o exercício que a dança contemporânea exige.

Marcos tinha uma dificuldade particular para se locomover, o que é


natural devido a sua patologia, por isso saia pouco de casa. Seus passeios
ficavam restritos quase sempre a idas ao teatro, na condição de espectador de
espetáculos de dança. Arte pela qual ele sempre teve muita admiração e que
lhe trazia grande prazer. Foi como frequentador do teatro que ele conheceu
Sandro Borelli e recebeu o convite para estrear como dançarino no espetáculo
Senhor dos Anjos, uma adaptação da vida e obra do poeta Augusto dos Anjos,
seu primeiro trabalho no palco.

Como integrante da Cia Far 15, de Borelli, atuou como dançarino


também nos espetáculos: Jardim de Tântalo e Metamorfose, este ultimo
baseado na obra literária de Franz Kafka, todos, incluindo Senhor dos Anjos,
dirigidos por Sônia Soares e Borelli.

Incentivado por Phillipe Genet, Marcos cria, com mais duas bailarinas,
uma coreografia que frutificou no espetáculo intitulado D... Equilibrio que
inaugurou a sua companhia, a Cia. Vidança. D... Equilibrio posteriormente se
transforma em um espetáculo solo, com a participação apenas de Marcos
Abranches. O sucesso atingido pelo primeiro espetáculo de sua companhia já
ultrapassou a marca de mais de 150 apresentações, em palcos brasileiros e
europeus.

O bailarino brasileiro participou de vários festivais de dança na


Alemanha e, no Deutsche Open Berlin, atuou na ópera teatralizada Vida e Obra
de Joana D’arc, dirigida por Christoph Schligenielf, um dos mais respeitados
diretores teatrais de toda Europa.

Não reconhecido no Brasil, relata que em sua estadia na Alemanha, os


restaurantes tinham a delicadeza de recebe-lo sempre com talheres
apropriados, enquanto que em seu próprio pais chegou a ser abordado por um
policial que se sentiu enganado quando ele se identificou como bailarino, fato
que o policial não quis aceitar devido a condição física de Marcos e o acusou
de mentiroso. Diferenças culturais à parte, o coreógrafo relata essas
experiências díspares com uma leveza impressionante de quem entende o
quanto as pessoas ainda estão desprovidas de meios para lidar com as
diferenças, que, na realidade, são comuns a todos nós viventes.

Suas coreografias são:

- Corpo sobre Tela: em parceria com Rogério Ortiz, baseada na obra de


Francis Bacon e dirigida pelo próprio Abranches. O espetáculo apresenta uma
combinação fantástica entre a dança e a pintura, onde o dançarino utiliza um
misto de movimentos voluntário e involuntários ao mesmo tempo em que seu
corpo se propõe como uma espécie de pincel que eclode a produzir telas, ao
vivo, em cena, durante o espetáculo. Um misto que se apresenta ao
espectador propondo uma experiência completamente outra de uma excitação
singular. Corpo sobre Tela é o seu espetáculo mais recente e já pode ser visto
pela internet via youtube, conta com a assinatura da Cia. Vidança.

Abranches também assinou trabalhos como Formas de Ver e Via sem


Regra, ambos pela Cia. Vidança, também trabalhou nos espetáculos senhor
dos Anjos, jardim do Tântalo e Metamorfose pela Cia. Far 15; Trem Fantasma
e Vida e Obra de Joana D’arc pela Deutsche Berlin.

Olhar para a deficiência e olhar para a arte, ou juntas,

a arte pelo deficiente, não está no simples olhar de ver.

Está na grandeza sem limites do respeito e da alma das

pessoas. (ABRANCHES, Arte sem Limites, 2013)

Apoiado em um saber estético-filosófico o artista evoca que “em filosofia


discute-se a questão do sistema autopoiético” e pensa sobre a capacidade
interpretativa humana como uma forma “que concebe o homem não como um
agente que ‘descobre’ o mundo, mas que o constitui” (ibdem).

Nas palavras do artista a sua arte é um exercício de construção, “um


chamamento para a reflexão sobre o modo de agir, pensar e opinar das
pessoas”, o corpo de Marcos dança para evocar nos espíritos pensamentos
sobre honestidade e integridade, na expectativa de contribuir para que “as
pessoas possam interiorizar os seus verdadeiros valores de equivalência”
(idem).

O corpo que dança é, para Abranches, um receptáculo cheio de vida que


pode suscitar nas pessoas, outras, modos de pensar e de ser diferentes dos
pré-estabelecidos no ritmo da “normalidade”. A arte então deve alimentar as
almas vazias, e eu diria também as inertes; a arte deve abalar algum status
parado, estanque, quadrado, imutável... para criar diferentes possibilidades de
ser em diferentes mundos possíveis.

Só para ilustrar, o que não poderia me passar desapercebido, ao


conhecer o trabalho de Marcos é uma breve reflexão acerca dos nefastos
tempos da Shoa, neste eclipse total de humanidade, a Arte estava obrigada a
acompanhar determinadas regras estéticas, que ditavam suas condições ou
não de sua apresentação ao mundo, formas estas restritas aos conceitos de
beleza relacionados a pura perfeição e a uma perfeita harmonia de cores e
formas. Para longe de evocar as potencialidades próprias dos objetos de arte
ela era reduzida apenas a sua mera função de agradar e acalmar as almas,
enquanto instrumento transmissor do belo que apraz, mas a questão escapa e
se dá para além daquilo que se mede ou se conforma a uma única e
determinada concepção de beleza. A dança de Abranches, o seu fazer
artístico, a sua vida e sua interpretação, tudo misturado e levado à cena, abre
uma possibilidade de reconhecer as diferenças e de, pelo menos, evitar
catalogar o mundo de maneira restrita, além de evocar pensamentos e
sentimentos mais elevados nos humanos. A beleza dos seu trabalho jamais
teria lugar no espaço tempo do mundo nazi.

Passados estes tempo, os espectadores clamam por um mundo com


experiências estéticas que contemplem toda diversidade em que se arremata a
vida humana. Na esperança de que os homens possam contar como uma
vivência ancorada no respeito e no amor pelas diferenças, ou, pelo menos na
consciência de que as diferenças andam por todo lado, a todo instante,
reivindiquemos o lugar descompromissado, pelo menos da Arte, respeitando
sua forma de ser em si mesma sem desejar nada mais dela do que a sua plena
liberdade de se dar, acontecer e a parecer segundo o modo que melhor lhe
convier.. Até porque, entre o que é belo e o que é feio traça-se uma linha muito
ténue rumo ao juízo de gosto, que também deve ser respeitado, mas nunca
deve ditar quais devem ser os limites da arte.

Em um mundo tão assimétrico, desconforme, brutal, inumano, desigual e


coisificado é urgente que a arte nos alimente também de febre, dor, horror,
fome... pois, do contrário, ela não será capaz de nos fazer ver para além
daquilo que nos oferece as leis sociais e a vida prosaica. A arte deve nos fazer
despir e respirar fora da caixa. Se sua forma geral é harmoniosa ou não, isso é
o que menos deve importar, tanto para o artista – como criador de novos
mundos possíveis, quanto para o fruidor – observador e pensador de novas
formas de ser, ver, pensar e sentir do seu próprio mundo.

A dança de Abranches é uma exaltação ao que pode o homem como


criador, inventor de sua própria condição de ser no mundo. É uma chamada ao
despertar de novas possibilidades de criar de sua própria vida, é fazer da sua
vida uma obra de arte, e isso é coisa que Nietzsche já nos ensinou e que aqui
não cabe pormenorizar, mas que se espelha devidamente no trabalho de um
coreografo que assume e expõe suas potencialidades junto com suas
limitações, desconsiderando assim o papel principal de suas impossibilidades
físicas, ao utilizar-se de ambas para recriar um modo de ser da arte para
artecriar a vida.

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