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Júlio Cesar Ferreira Santos

História do
Pensamento
Geográfico
APRESENTAÇÃO

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de História e Pensamento
Geográfico, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmi-
co e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às)
alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

Unisa Digital
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 o que é geografia? origens e base do conhecimento
geográfico........................................................................................................................................... 7
1.1 Primeiros Apontamentos..............................................................................................................................................7
1.2 Objeto da Geografia: Construção e Acúmulo Teóricos ao Longo do Tempo.............................................8
1.3 Definições de Geografia.................................................................................................................................................9
1.4 Princípios da Geografia...............................................................................................................................................11
1.5 O Período Pré-Institucional da Geografia.............................................................................................................11
1.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................20
1.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................20

2 A GEOGRAFIA INSTITUCIONALIZADA E OS FUNDAMENTOS DA


GEOGRAFIA CLÁSSICA..................................................................................................................... 23
2.1 A Contribuição de Ratzel: a Geografia Política Alemã (Território)..............................................................23
2.2 Paul Vidal de La Blanche: a Perspectiva Regional Francesa (Região).........................................................25
2.3 A Geografia Cultural Tradicional..............................................................................................................................27
2.4 O Anarquismo na Geografia: uma Geografia Libertária - Piotr Kropotkin...............................................30
2.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................31
2.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................31

3 A RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA PÓS-ANOS 1950........................................................ 33


3.1 A Geografia Neopositivista: a Supremacia Norte-Americana (Quantitativismo e Modelos
Econômico-Espaciais).................................................................................................................................................33
3.2 A Geografia Comportamental e Humanística: a Valorização da Subjetividade e da Dimensão
do Indivíduo...................................................................................................................................................................34
3.3 A Geografia Marxista: a Crítica ao Modo de Produção Capitalista do Espaço........................................36
3.4 A Geografia Cultural Crítica.......................................................................................................................................37
3.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................38
3.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................39

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 41


REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 43
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), o objetivo desta disciplina é apresentar um panorama sobre o desenvolvimento


das ideias geográficas. Serão identificados e discutidos ao longo da história da Geografia os principais
autores, conceitos, temas e bases filosóficas. Enfatizaremos a relação entre as formulações analisadas, o
contexto histórico que as engendrou e a fundamentação filosófica que as embasa.
Nesse sentido, o curso corresponde a uma exposição dos conteúdos da História do Pensamento
Geográfico, sendo enfatizada a relevância do espaço e das ideologias geográficas nos processos e fatos
ao longo do tempo, da Antiguidade ao século XXI.
Entre os objetivos, analisaremos as correntes do pensamento geográfico, buscando tornar possível
o reconhecimento, nos textos geográficos, das diferentes formas de se pensar o espaço social; e destaca-
remos o papel do movimento de renovação da Geografia empreendido na segunda metade do século
XX na configuração teórico-metodológica assumida por essa ciência hoje.

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o que é geografia? origens e base
1 do conhecimento geográfico

1.1 Primeiros Apontamentos

Desde a Antiguidade, viajantes descreve- superfície terrestre. A Geografia avançou sempre


ram os costumes dos homens, base de reflexões que o homem avançou a fim de alavancar o “pro-
filosóficas e descrições empiricistas para a forma- gresso” de seu povo.
ção de guias de expedições e relatórios (narrações O caráter científico da Geografia remonta a
romanceadas de aventuras). Essa prática revelava dois geógrafos alemães, Alexander von Humbol-
um intenso desejo de satisfação da curiosidade, dt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859). Esses ge-
produzindo um (re)conhecimento das diferenças ógrafos demonstraram que, entre os fenômenos
entre os povos. físicos e os fenômenos da vida, existem relações
Até o século XVIII, a Geografia ocupou-se constantes de causa e efeito.
em descrever os modos de vida dos homens na Humboldt era naturalista e debruçou-se so-
superfície terrestre, os modos e tipos de grupa- bre os fenômenos físicos, buscando a influência
mentos humanos. A produção geográfica, então, de fatores como a altitude, a temperatura, a umi-
revelava um caráter utilitário e prático ou, mesmo, dade, a seca nas formações vegetais.
possibilidade de apresentar a imagem pitoresca Ritter mostrou que, na Geografia, a natu-
de povos exóticos. reza não é o único poder causal e que o próprio
Nesse sentido, como elementos do fazer homem é, na superfície terrestre, um agente de
geográfico naquele momento, podemos apon- transformação e de vida. Para ele, a natureza e o
tar enumerações de lugares e de distâncias (en- homem são dois termos perpetuamente associa-
tremeadas de recordações históricas), conside- dos. Nesse sentido, o pensamento do geógrafo
rações arqueológicas e genealógicas, noções de gravita em torno dessa relação.
estatística e de administração.
A partir do fim do século XVIII, surge a ne-
cessidade de explicação de problemas e fatos
isolados. Assim, a característica científica da Ge-
ografia se afirma justamente no contexto do co-
lonialismo: viagens realizadas por cientistas e por
exploradores animados de curiosidade científica
eram repletas de atividades que visavam a com-
parações e à criação de generalidade dos fatos
vistos e vividos.
Assim, pode-se afirmar que, historicamente,
o progresso da Geografia como ciência remonta
ao progresso do nosso conhecimento sobre a

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1.2 Objeto da Geografia: Construção e Acúmulo Teóricos


ao Longo do Tempo

Principais momentos no que se refere à de-


finição do objeto da Geografia (até meados do
século XX):

pele, em face dos fatores do clima, pois


ƒƒ 1º momento: Geografia como o estudo
esse caminho deriva em DETERMINIS-
das relações dos homens com o meio
MOS;
físico. Essa noção é proveniente da
Geografia Botânica (Humboldt). Daqui ƒƒ 2º momento: Geografia como o estudo
derivou a Ecologia Humana, corrente dos grupamentos humanos em suas
que coloca os fatos humanos em rela- relações com o meio físico. Aqui, os ho-
ção com a série de causas naturais que mens são desconsiderados como indiví-
pode explicá-los e recolocá-los no enca- duos, já que se indica a Geografia como
deamento do qual fazem parte. Nota-se o estudo dos homens como coletivida-
a influência do meio físico ambiental, des e grupamentos (ação dos homens
apontando uma dependência causal como “sociedades”). Nesse sentido, é
(homem como ser passivo perante a pelos grupamentos que a humanida-
natureza). No debate científico, há te- de entra em contato com o meio físico,
orias e proposições colocadas à prova através do esforço de cooperação e de
dos demais membros da comunidade. conquistas materiais;
Nesse percurso, algumas falhas foram ƒƒ 3º momento: Geografia como o estudo
apresentadas; por exemplo, muitas das dos grupamentos humanos em suas
relações humanas com o meio físico relações com o espaço geográfico.
escapam ao âmbito da Geografia: em- Essa noção de espaço geográfico englo-
bora certas raças pareçam ligadas a um ba não somente as influências naturais
domínio geográfico bem limitado, não que se podem exercer, mas ainda uma
cabe à Geografia explicar as diferenças influência que contribui para formar o
que existem entre as etnias do ponto de espaço geográfico, o ambiente total, a
vista de suas reações em face da cor de influência do próprio homem.

Figura 1 – Relação entre grupamentos humanos e espaço geográfico.

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Assim, o Homem aparece como agente das coletividades humanas sobre a Ter-
da natureza, transformador da paisa- ra. Importante ressaltar que essas trans-
gem natural. A Geografia, sob esse pon- formações são estendidas por diversas
to de vista, estuda fenômenos de toda regiões em função das migrações.
ordem em relação à presença e à ação

Atenção

Algumas definições do objeto da Geografia, o ESPAÇO GEOGRÁFICO:

• Para Jean Tricart, seu campo seria a “epiderme” da Terra, isto é, a superfície terrestre e a biosfera;
• Para Jean Gottman, o espaço acessível aos homens e por eles utilizado para sua existência. Inclui, assim, os mares
e os ares;
• Para François Perroux, o espaço geográfico é um espaço localizável, concreto, “banal”. Se cada um dos pontos
do espaço é suscetível de ser localizado, o que importa é sua situação relativamente a um conjunto no qual se
inscreve e as relações por ele mantidas com os diversos meios de que faz parte, ou seja, conjuntos de relações na
superfície da Terra. Esse movimento conduz a uma REDE – sistemas de relações, sendo algumas condicionadas a
partir dos dados do meio físico e outras provenientes das sociedades humanas, responsáveis pela organização do
espaço em função da densidade demográfica, da organização social e econômica, do nível das técnicas etc.;

O espaço pode ser visto num sentido absoluto, como uma coisa em si, com existência espe-
cífica, determinada de maneira única. [...] Em segundo lugar, há o espaço relativo, que põe em
relevo as relações entre objetos e que existe somente pelo fato de esses objetos existirem e es-
tarem em relação uns com os outros. [...] Em terceiro lugar, há o espaço relacional, onde o espaço
é percebido como conteúdo e representando no interior de si mesmo outros tipos de relação
que existem entre objetos. (MABOGUNJE);

Um sistema de realidades (coisas e vida que as anima) supõe uma estruturação e uma lei de
funcionamento. O espaço não é nem uma coisa nem um sistema de coisas, senão uma realida-
de relacional: coisas e relações juntas. De um lado, um arranjo de objetos geográficos (objetos
naturais e objetos sociais) e, de outro, a vida que os preenche e os anima, a sociedade em mo-
vimento. (SANTOS);

• Sua definição só pode ser encontrada em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas pelo
TRABALHO.

Saiba mais

O espaço não é o resultado entre a interação entre


o homem e a natureza bruta, nem sequer um amál-
gama formado pela sociedade de hoje e pelo meio
ambiente. O espaço é produzido pelo trabalho!

1.3 Definições de Geografia

Diversos autores definiram a Geografia. Diz- ƒƒ Geografia seria o estudo das relações
-se que existem tantas Geografias para tantos au- dos grupamentos humanos com o
tores que as definiram um dia. Entre essas defini- meio geográfico (DEMANGEON, 1952);
ções, destacam-se algumas célebres: ƒƒ Para Pierre George, Geografia é o estu-
do da dinâmica do espaço humanizado;

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ƒƒ “Geografia é o estudo dos princípios da 1. Atribuição de valor aos recursos que a


organização espacial das atividades hu- natureza fornece: constituição de mo-
manas, ou ainda como análise dos me- dos de vida;
canismos e dos processos que regulam 2. Evolução da técnica: elaboração de
o sistema espacial de atividades huma- procedimentos e materiais ao longo do
nas integradas.” (TAKEUCHI); tempo, para a subsistência do homem
ƒƒ Espaço humanizado: ecúmeno (ekume- e a formação de sociedades, revelando
ne); a área ocupada e seus anexos (todo a evolução de um tipo de civilização;
e qualquer espaço que possibilite a or- 3. Questão demográfica: distribuição dos
ganização da vida em sociedade). Revi- homens em função das condições da
são da ideia: as técnicas são criadas de natureza e dos recursos criados pela
acordo com as necessidades de pene- sua exploração (distribuição e dinâmi-
tração e instalação de elementos huma- ca migracional);
nos em áreas até então proibidas pela 4. Instituições humanas: modos de ocu-
natureza. “A área de expansão do gêne- pação da terra, desde as formas mais
ro humano tende a confundir-se com a simples até os grupamentos mais com-
superfície do globo.” (SORRE, 1984). plicados: da casa, passando pela aldeia,
até a cidade e o Estado-nação.
Antes da presença do homem na Terra, o
que havia era apenas Natureza. A Geografia Físi- A organização do espaço começa com a or-
ca não podia existir antes do homem, pois não há denação da vida econômica e social. A distinção
Geografia Física que não seja uma parte da Geo- reside em uma diferença de escala (dimensão dos
grafia Humana. A Humanidade transformou toda fenômenos e pluralidade) e de estrutura (o Esta-
a superfície da Terra em ecúmeno (seja pelo uso do muda a estrutura). A síntese cabe ao Estado,
produtivo, seja pela posse de seu conhecimento): responsável pela mudança na estrutura: a organi-
a ocupação que não se materializa é, todavia, po- zação passa à escala do Estado.
liticamente existente!
A organização do espaço nas sociedades
Organização e ordenação do espaço: ter- agrícolas elementares se efetua à escala da família
mos que designam os trabalhos atuais destinados (justaposição de organizações individuais que se
a modelar o espaço herdado, para introduzir nele conformam espontaneamente). Essa estrutura se
estruturas técnicas, jurídicas e administrativas perdeu devido ao desenvolvimento da indústria,
nascidas de um espírito de sistematização de sua seguido da urbanização, guiado pelo liberalismo:
utilização. As relações entre os homens e o meio contradições produzidas a serem resolvidas pela
implicam sempre um objetivo e uma vontade de coletividade estão no cerne dos debates – para
afetá-lo, uma ação voluntária. George, estão no Estado.
A seguir, quatro grupos de problemas re-
sultantes das relações das sociedades humanas
com o espaço geográfico (objetos de preocupa-
ção nos estudos geográficos):

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1.4 Princípios da Geografia

1. Não se deve crer em Geografia numa


espécie de determinismo brutal, numa Dicionário
fatalidade resultante dos fatores natu-
Sociologia: em linhas gerais, é a ciência que estuda
rais. Há a complexidade da causalida- a sociedade.
de a se considerar: o próprio homem é
uma causa que traz perturbações àqui-
lo que poderia parecer a ordem natu- 3. Para ser compreensiva e explicativa, a
ral. Sem determinismos absolutos, mas Geografia não pode ater-se somente à
somente possibilidades colocadas em consideração do estado atual das coi-
uso pela iniciativa humana; sem fatali- sas. Muitos fatos que, considerados em
dade, mas vontade humana; função das condições presentes, nos
2. A Geografia deve trabalhar apoiando- aparecem como fortuitos se explicam
-se sobre uma base territorial, uma re- desde que sejam considerados em fun-
lação necessária entre os homens e seu ção do passado. A História abre vastos
território. Aqui está a diferença entre a horizontes através da projeção dos fa-
Sociologia e a Geografia. Substituindo tos visíveis no passado para compre-
a organização tribal (consanguinida- ender a evolução da humanidade no
de) por uma organização territorial, há tempo.
uma base geográfica que a maior parte
das civilizações deu aos grupamentos
rurais;

1.5 O Período Pré-Institucional da Geografia

Geografia na Antiguidade de. Essa atividade se inicia a partir dos desloca-


mentos contínuos do homem, a fim de conservar
informações sobre os caminhos percorridos e as
Data dos primórdios da humanidade a pre-
suas direções e de transmiti-las a outros.
ocupação com a distribuição dos fenômenos. Per-
A expansão política, comercial e marítima
guntas como “por que as distribuições espaciais
dos povos do Mediterrâneo (Mesopotâmia, Fe-
estão estruturadas como estão?” foram feitas e
nícia, Egito) levou à elaboração de mapas maríti-
respostas (sempre provisórias), dadas.
mos, agregando a descrição de lugares e de po-
Historicamente, há a consciência da impor- vos.
tância da estrutura de determinada distribuição, Preparamos, a seguir, um resumo com as
suas causas e consequências, bem como relações principais contribuições dos povos citados:
que se estabelecem entre conjuntos de distribui-
ções espaciais, constituindo sistemas de organi- ƒƒ Babilônios: o mapa mais antigo data
zação espacial à superfície da Terra. de 2500 a.C., feito em uma placa de
No processo de entendimento/conheci- argila, representando o vale de um rio,
mento da realidade, a prática de fazer mapas provavelmente o Eufrates;
coloca-se como uma aptidão inata da humanida-

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Figura 2 – Mapa mais antigo de que se tem conhecimento (babilônio).

ƒƒ Egípcios: os mapas resultantes das me- medir a altura do Sol);


dições feitas no vale do Nilo no reinado ƒƒ Anaxímenes: estabeleceu o princí-
de Ramsés II (1333-1300 a.C.); pio do geocentrismo, que durou até
ƒƒ Fenícios: Galileu;
ƒƒ O périplo mais antigo de que se tem ƒƒ Hecateu de Mileto (560-480 a.C.):
notícia foi realizado por marinheiros viajou por parte do mundo conhe-
fenícios a serviço do faraó (século VII cido e escreveu “Uma Descrição da
a.C.). Eles partiram do Mar Vermelho, Terra”, a qual era ilustrada por um
dirigindo-se para o sul, navegando mapa em que a Terra estava repre-
sempre ao longo da costa africana; sentada por um disco com água
ƒƒ No século VI a.C., Cartago organi- em volta. O mundo conhecido pe-
zou duas expedições em busca das los gregos compreendia uma faixa
regiões produtoras de estanho. Um que se estendia do Atlântico ao rio
dos périplos contornou a África até Indo. As regiões a norte e a sul eram
Camarões pelo ocidente e o outro pouco conhecidas: o ecúmeno (ou
contornou a costa europeia até a “mundo habitado”) era concebido
Bretanha; com forma oblonga, isto é, o eixo
ƒƒ Gregos: o pensamento geográfico sis- leste-oeste com o dobro do com-
tematizado surgiu com os gregos e a primento do eixo norte-sul. A Lon-
palavra geo-grafia foi naturalmente gitude e a Latitude originaram-se
criada por eles e significa exatamente desse conceito. SIMETRIA entre os
“escrever sobre a Terra”. Conheça alguns gregos: o ecúmeno ocupava apenas
célebres “geógrafos”: um quarto do globo terrestre, o que
denota um desequilíbrio. Assim, os
ƒƒ Anaximandro de Mileto (610-546
gregos imaginaram três continen-
a.C.): discípulo de Tales, produziu o
tes como contrapeso (o Antípoda, a
primeiro mapa grego de que se tem
Terra Australis e a própria Eurásia). O
notícia. Era filósofo, engenheiro e
princípio da simetria era essencial-
geógrafo. Viajou e escreveu relatos
mente racional e possuía como fun-
de suas viagens. Inventou o gnô-
damentos a geometria e a perfeição
mon (um aparelho que serve para
da forma;

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Figura 3 – O ecúmeno dos antigos gregos.

ƒƒ Parmênides (510-450 a.C.): conce- ƒƒ Dicearco (século IV): produziu um


beu a esfericidade da Terra no sé- mapa utilizando dois eixos perpen-
culo V a.C., através de uma reflexão diculares: um alongado no sentido
filosófica sobre a forma ideal dos leste-oeste, o diafragma, passando
corpos e não da observação. Para pelas Colunas de Hércules e por Ro-
ele, a esfera é a mais perfeita de to- des, e o outro, a perpendicular, pas-
das as formas. Logo, a Terra, obra- sando por Rodes;
-mestra dos deuses, deveria ser uma
esfera; ƒƒ Eratóstenes (276-196 a.C.): foi di-
retor da Biblioteca de Alexandria.
ƒƒ Aristóteles: no século IV a.C., provou
Primeiro filósofo grego a autode-
a esfericidade da Terra. Duas obser-
vações: 1) a sombra da Terra na Lua nominar-se geógrafo. Observou,
na ocasião dos eclipses era redonda; em Siena (hoje Assuã, Egito), que
2) a altura dos astros em relação ao havia um poço no qual o sol incidia
horizonte variava quando um via- verticalmente em um determinado
jante se deslocava de norte para sul; dia (solstício de verão) e que, nesse
ƒƒ Heródoto (485-425 a.C.): Heródoto mesmo dia, em Alexandria, os obje-
escreveu a obra “A História”. Nela, tos tinham sombra. Ao medir o ân-
pretendia conhecer os locais onde gulo que os raios solares faziam com
tinham ocorrido os fatos históricos o horizonte no dia de solstício, ao
sobre os quais escreveria, incluindo meio-dia, calculou aproximadamen-
as populações, o contexto espacial te a circunferência da Terra. Ele che-
e a organização política. Essas in- gou ao valor aproximado de 46.250
formações seriam úteis ao poder km (lembrando que o comprimento
grego, pois serviriam para dominar real é de 40.000 km). A localização,
politicamente os “bárbaros” dos ter-
ligada à astronomia e à geometria,
ritórios vizinhos;
promoveu a Geografia à “ciência da
ƒƒ Alexandre Magno: o imperador em- localização dos lugares”, alcançan-
preendeu um cadastro do Império,
do o século XVIII com esse perfil. A
no qual os caminhos foram traçados
partir de Erastóstenes as perguntas
e verificaram-se as comunicações
clássicas da Geografia: “onde?” e “o
entre o mar Negro e o mar Verme-
que existe nesse lugar” puderam ser
lho;

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respondidas, pois estava em foco a Estrabão, a Geografia interessava


localização com precisão; para fins de governo (controle e pla-
ƒƒ Hiparco de Nicea (190-125 a.C.): era nejamento). Os geógrafos deveriam
astrônomo. Para ele, a posição rigo- se preocupar com o ecúmeno, com-
rosa de um ponto só pode ser de- parando-se, assim, a Heródoto, o pai
terminada astronomicamente e a da História;
representação cartográfica deve ser ƒƒ Ptolomeu (90-168): produziu a pro-
perfeita, tendo como base a proje- jeção cônica da superfície da Terra
ção da superfície da Terra num pla- num plano com princípios da Geo-
no, sendo a divisão da circunferência grafia matemática e da cartografia.
em 360º. Dessa forma, conforma-se Além disso, preparou o primeiro
uma rede de paralelos e meridianos atlas mundial, com uma extensão
projetados e igualmente distancia- dada à Europa de modo exagerado.
dos. Hiparco também elaborou a Esse erro permaneceu até o século
teoria das zonas climáticas (zonas XVII;
compreendidas entre paralelos);
ƒƒ Estrabão (64 a.C-21): pai da Geo-
grafia pré-institucionalizada. Para

Figura 4 – Mapa-múndi de Ptolomeu feito em pergaminho.

ƒƒ Romanos: alargamento do conheci- tacar a praticidade dos mapas romanos,


mento do mundo (tal como Alexandre contendo apenas as informações fun-
Magno). O mundo romano foi medido damentais.
e foram inventariados os seus recursos
militares e econômicos, a partir da fei-
tura de listas de cidades ao longo das
principais vias de comunicação (valor
estratégico e administrativo). Cabe des-

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Figura 5 – Mapa do Império Romano (1571).

Dessa forma, como tendências da Geografia Com a fragmentação política na Europa, as


na Antiguidade, podemos indicar, em síntese: invasões bárbaras dão a tônica e produzem um
ambiente de isolamento. Instala-se uma guerra
ƒƒ A Geografia matemática, ligada à astro- generalizada na Europa romanizada e o modo
nomia e à geometria; de produção feudal produz o seu próprio espaço,
ƒƒ A Geografia descritiva, resultante da tendo a autossubsistência do feudo como diretriz.
descrição do mundo conhecido. Consequências diretas desse momento da
História:

Geografia na Idade Média


ƒƒ População masculina desviada para
funções militares;
Feudalismo na Europa ƒƒ Abandono das atividades agrícolas e
consequente redução da produção;
A Idade Média, na Europa, é marcada pela ƒƒ Aumento das taxas de mortalidade;
queda do Império Romano e pela difusão do Cris- ƒƒ Desorganização de todos os sistemas
tianismo. Nesse processo, houve uma regressão econômicos, sociais e políticos;
no conhecimento científico (incluindo a Geogra-
ƒƒ Destruição dos sistemas de comunica-
fia).
ção;

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ƒƒ Invasões de diferentes povos e pulveri- Império Muçulmano


zação do poder político.
Nos territórios dos povos muçulmanos, ve-
A fragmentação política é notadamente rifica-se um relevante desenvolvimento científico
verificada devido à ausência de políticas unifor- a partir do século IX. Do Afeganistão ao Atlântico
mes sobre o território: a figura do Estado pratica- (costa da África), definiu-se um extenso território
mente inexiste. Com uma Europa despovoada e no qual a necessidade de conhecer as posses, o
tendo a desarticulação dos sistemas de comuni- mundo, pertencia ao tecido social. A necessidade
cação como um entrave às trocas, a circulação de religiosa de viajar a Meca, por exemplo, deu um
pessoas, bens e informações é dificultada. Assim, novo impulso às viagens e ao comércio. Com tro-
a mobilidade característica da Antiguidade de- cas e viagens, avança a Geografia muçulmana!
saparece. Como consequência, há um profundo Os viajantes muçulmanos mais famosos são
DESCONHECIMENTO DE OUTRAS ÁREAS. Al-Biruni, Al-Idrisi (1099-1164) e Ibn Batutta, pro-
Nesse sentido, a Igreja Católica torna-se o dutores de relatos sobre as áreas percorridas, as-
maior poder, já que se torna o único poder cen- sim como os antigos europeus.
tral europeu. A Igreja fornecia todas as respostas, A promoção das artes e ciências pelos mo-
a partir de interpretações bíblicas. narcas muçulmanos possui, entre seus destaques,
O imobilismo populacional é gerado a par- a tradução da obra ptolomaica para o árabe, per-
tir do fim das viagens. Esse fato acarretou o desco- mitindo o desenvolvimento da astronomia, da as-
nhecimento do mundo real e a aceitação da visão trologia, da matemática e da geometria.
religiosa. A interpretação da realidade pela Igreja As imprecisões do conhecimento e das des-
tornou-se uma forma possível de conhecimento crições geográficas podem ser apontadas como
do mundo, principalmente marcando a relação fragilidades da Geografia muçulmana: as localiza-
entre homem e natureza como uma oposição, a ções eram pouco rigorosas (latitude e longitude
partir de uma concepção religiosa/física. eram utilizadas apenas pelos astrônomos). Havia
Nesse contexto, a adoção de conhecimen- uma clara separação entre geógrafos e astrôno-
tos geográficos bíblicos ganhou espaço na Euro- mos.
pa. A cartografia religiosa produzia os mapas com A reconquista da Península Ibérica pelas
base nos mapas circulares romanos, com caracte- cruzadas (1096-1291) possibilitou a incorpora-
res teológicos e não geográficos. Durante a Idade ção dos elementos da ciência islâmica no saber
Média, esqueceu-se que a Terra era esférica e a cristão (século XII). Essa é a famosa herança mu-
crença de que era plana baseava-se na imagem çulmana, conferindo impulso às grandes navega-
de um disco circundado por água. ções do século XV.
Ptolomeu (século II) foi o último geógrafo
na Europa com consciência da esfericidade da Império Chinês
Terra até o século XV. No fim da Idade Média, as
cruzadas, as peregrinações e o renascimento do
Na China, a cartografia desenvolvia-se sem
comércio acendem a curiosidade pelo mundo
contato com os muçulmanos ou com os euro-
desconhecido, provocando uma nova etapa do
peus. Interessante marcar essa tradição indepen-
desenvolvimento da Geografia. Reaparecem os
dente no extremo Oriente.
itinerários de viagens, as obras que descreviam as
terras visitadas. A invenção do papel (ano 100), o processo
de impressão e a invenção da bússola orientaram
Contudo, o mundo conhecido não se resu-
a confecção dos mapas do Império Chinês. Entre
mia à Europa. Havia outras áreas do planeta onde
os principais destaques, cabe mencionar:
floresciam as ciências, as artes, a matemática etc.

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ƒƒ Pei Hsiu (224-273), cartógrafo, lançou as de recursos naturais, levantamentos


bases da cartografia científica chinesa. técnicos empreendidos pelas Socieda-
Representou o império desde a Pérsia des Geográficas nacionais (as Socieda-
até o Japão. Os mapas de Hsiu permi- des Geográficas eram instituições que
tem depreender que os chineses pare- serviam aos interesses imperialistas das
ciam desconhecer o Ocidente; nações europeias);
ƒƒ Os jesuítas (século XVI) encontraram ƒƒ Aprimoramento das técnicas cartográ-
mapas de boa qualidade e confecciona- ficas: representação e localização dos
ram um atlas do império; fenômenos observados a partir da ex-
ƒƒ Marco Polo (1254-1324), mercador ve- pansão do comércio exigiram precisão
neziano, percorreu a rota da seda em de mapas e cartas.
uma longa viagem pelo interior da Ásia
até a China (1270-1295). Viajou também Destaques:
a serviço do rei mongol Kublai Khan,
neto de Gengis Khan: percorreu a Tartá-
ƒƒ Bernhard Varenius (1622-1650): sua
ria, a China e a Indonésia. “O Livro das
principal obra foi batizada como “Geo-
Maravilhas”, de Marco Polo, foi durante
grafia Geral”, na qual se manifestava um
muito tempo uma das poucas fontes
debate entre racionalismo e empiricis-
de informação sobre a Ásia no Ociden-
mo. Nesse sentido, a Geografia Geral
te. Nele, há descrições de interesse ge-
passou a defender os métodos racio-
ográfico, a despeito das descrições de
nalistas. Além disso, era preciso forjar
lendas e históricas fantásticas.
uma “Geografia específica”, a partir do
estudo das regiões concretas (divisões,
A formação da Geografia como ciência moder- limites, descrições de áreas, ocupando-
na e a sistematização do conhecimento geo- -se dos aspectos terrestre, celeste e hu-
gráfico no Século XIX mano). Por fim, Varenius preocupou-se
com os debates acerca da natureza da
O rápido avanço do conhecimento do mun- Geografia (epistemologia), separando-
do pelos europeus, como consequência dos des- -a dos estudos cosmográficos;
cobrimentos dos séculos XV e XVI, colocou as ba- ƒƒ Immanuel Kant (1724-1804): o famoso
ses para o gradual nascimento de uma Geografia filósofo, antes de ser encarado como
oficial no século XIX. tal, denominava-se geógrafo. Para Kant,
Principais pressupostos que possibilitaram Geografia (espaço) e História (tempo)
a institucionalização da Geografia: são ciências empíricas e derivam de
experiências do homem, mas também
sistematizam e classificam os fatos cir-
ƒƒ Conhecimento efetivo da extensão real
cunscritos à superfície da Terra. Sua
do planeta: pensamento unitário de
principal obra geográfica, “Geografia
seu conjunto graças às explorações, for-
Física”, estabelecia uma doutrina: arti-
jando um espaço mundial;
culação entre Política, Geografia física
ƒƒ Existência de um repositório de infor- e contemplação matemática (forma da
mações sobre variados lugares da Terra, Terra). Kant acreditava que Geografia e
fornecendo base empírica para a com- História acabam por se distinguir por-
paração em Geografia: conhecimento que a primeira descreve a natureza no
das realidades locais garantido pelas presente e no espaço (dimensão espa-
conquistas coloniais, com inventários cial em três dimensões), enquanto a

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segunda descreve a evolução linear do Com o expansionismo napoleônico, a uni-


homem ao longo do tempo (dimensão ficação alemã se realiza ao mesmo tempo que é
temporal, uma dimensão). decretado o bloqueio continental.
Algumas características justificam determi-
A contribuição de Humboldt e Ritter nados encaminhamentos e orientações executa-
dos na Alemanha. A ausência de um Estado ao
lado da diversidade dos membros da Confedera-
Alexander Von Humboldt (1769-1859) e ção Germânica, bem como a ausência de relações
Carl Ritter (1779-1859). duráveis entre eles, somou-se à inexistência de
A sistematização da Geografia, sua colo- um centro organizador do espaço. Dessa forma,
cação como uma ciência particular (parcelar) e havia a necessidade da Geografia para a constru-
autônoma, foi um desdobramento das transfor- ção do Império!
mações operadas na vida social pela emergência A Geografia surge na Alemanha devido a
do modo de produção capitalista. A Geografia foi questões políticas e territoriais, visando à unifica-
um instrumento da etapa final desse processo de ção. Os fundamentos científicos da Geografia são
consolidação do capitalismo em determinados uma contribuição dos prussianos, desenvolvendo
países da Europa, principalmente a ALEMANHA. a Geografia no plano prático. Nesse sentido, havia
No que se refere à Alemanha, sua primeira uma questão central: quais seriam os conceitos
unificação deu-se em 1870, com uma estrutura bases do conhecimento?
socioeconômica que apresentava um feudalismo A grande discussão no plano filosófico en-
modernizado, ou seja, o capitalismo penetra no tre Racionalismo e Empiricismo possuía como ex-
quadro agrário alemão, sem alterar a estrutura poentes:
fundiária.

Racionalismo X Empiricismo
Descartes Francis Bacon
Spinoza Locke
Leibniz Hume
Kant

No caso da Geografia propriamente dita, ƒƒ Utilizam avanços técnicos e conceituais


consolida-se a ideia generalizada de que Hum- das expedições (África, América e Ásia),
boldt e Ritter são considerados, universalmente, organizando conhecimento para expli-
os fundadores da Geografia moderna. car realidades espaciais:
ƒƒ Humboldt, naturalista: ponto de vis-
ƒƒ Estabelecem novas regras: ta ecológico;
ƒƒ Observações diretas; ƒƒ Ritter, historiador: ponto de vista
ƒƒ Descrições detalhadas; histórico;
ƒƒ Comparações; ƒƒ Produzem, no período de 1800 a 1840,
ƒƒ Raciocínios gerais e evolutivos; um dos mais importantes pensamentos
científicos e filosóficos na Europa. Nes-
ƒƒ Revivem material empírico sobre o
se momento, há o positivismo (Comte),
mundo conhecido, a partir de políticas
o materialismo (Hegel) e a crítica da
de exploração e colonização;
economia política (Marx);
ƒƒ Desenvolvem método comparativo e
classificação;

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ƒƒ Destacam o papel da ciência compara- A Geografia, enquanto ciência integradora,


tiva e da Geografia como ciência inte- caminhava na contramão da constituição de uma
gradora. ciência com conhecimento científico específico,
isto é, representava uma contradição no seio do
positivismo.
No processo de fortalecimento dos povos
germânicos, a Geografia se institucionaliza na A seguir, quadro síntese com as caracterís-
Prússia por decreto. Antes mesmo da institucio- ticas e contribuições de Humboldt e Ritter:
nalização e de ser considerada uma ciência mo-
derna, Ritter já lecionava Geografia na faculdade
(assim como Kant).

HUMBOLDT RITTER

Utiliza o método indutivo (empirismo de Desenvolve sua vida em instituições


Bacon). acadêmicas e militares.

Associou tanto o Romantismo alemão


(idealismo) quanto o mecanicismo francês Sofre as mesmas influências de Humboldt.
(a prática científica).

A característica que vai diferenciá-lo é


Defende a necessidade de compilar e a influência da Teologia Naturalista: a
analisar dados sobre as diferentes partes do Terra havia sido desenhada por Deus, em
mundo para melhor compreensão da Terra. benefício da humanidade. A associação com
o sagrado dificulta a aceitação de sua obra.

As pessoas formavam parte da natureza. Sistema natural: área delimitada dotada de


uma individualidade.

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1.6 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a),

Neste capítulo, aprendemos o que é a Geografia, suas origens e bases de conhecimento, seu objeto
de estudo, várias definições e princípios. Vimos também o percurso dessa disciplina através dos tempos
e principais contribuições.

1.7 Atividades Propostas

Marco Polo

Mercador e viajante (1254-1324). Nasce em Curzola, na Dalmácia (atual Croácia), na época provín-
cia veneziana. Aos 17 anos, acompanha o pai e o tio, ambos mercadores, numa viagem ao Extremo
Oriente. Passa pela Turquia, atravessa o golfo da Pérsia, o Afeganistão (onde fica um ano, curando-se
de malária) e o Paquistão, até chegar à capital do Império Mongol, em 1275.
Permanece na China por 17 anos, exercendo funções administrativas e diplomáticas na corte do so-
berano Kublai Khan, neto de Gengis Khan. O pai e o tio provavelmente desempenham funções técni-
cas, talvez de aconselhamento militar. Em 1295, os Polo se oferecem para acompanhar uma princesa
mongol até a Pérsia, e então voltam a Veneza, com riquezas e especiarias.
Três anos depois, Marco Polo é feito prisioneiro em uma batalha entre venezianos e genoveses, tradicionais
rivais. Na prisão, em Gênova, narra as aventuras no Oriente ao escritor toscano Rustichello, que redige o Livro
das Maravilhas – A Descrição do Mundo. Marco Polo torna-se famoso. Ao sair da prisão, volta para Veneza, onde
fica até a morte. No decorrer dos séculos, o Livro das Maravilhas transforma-se num clássico traduzido para inú-
meras línguas. As informações geográficas nele contidas são utilizadas durante a era das viagens marítimas nos
séculos XV e XVI.

Agora, responda à questão:

1. No final da Idade Média, reapareceram os trajetos e os itinerários de viagens, bem como a


curiosidade pelos lugares desconhecidos. O navegador Marco Polo narrou suas histórias, re-
pletas de aventuras e lendas, bem como plenas de caracteres importantes no que se refere à
descrição das terras visitadas.

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História do Pensamento Geográfico

Na sua opinião, o que o autor quer dizer quando afirma que “quanto mais se perdia em bairros
desconhecidos de cidades distantes, melhor compreendia as outras cidades que havia atra-
vessado para chegar até lá, e reconstituía as etapas de suas viagens, e aprendia a conhecer o
porto de onde havia zarpado, e os lugares familiares de sua juventude, e os arredores de casa,
e uma pracinha de Veneza em que corria quando era criança”? Qual seria a relação entre o
entendimento do mundo desconhecido pelas viagens e sua própria experiência?

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A GEOGRAFIA INSTITUCIONALIZADA
2 E OS FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA
CLÁSSICA

2.1 A Contribuição de Ratzel: a Geografia Política Alemã (Território)

Figura 6 – Friedrich Ratzel. 4. Guerra entre Prússia e Áustria pelo


comando do Estado produziu a “prus-
sianização” da Alemanha: uma organi-
zação militarizada da sociedade e do
Estado;
5. Monarquia burocratizada: a ação do
Estado em todos os domínios da so-
ciedade civil, através de grande repres-
são social interna e agressiva política
exterior. Em 1871, forma-se o Império
Alemão. A política cultural nacionalis-
ta estimulada pelo Estado e guerras de
conquista empreendidas por Bismarck
anunciam esse período;
Friedrich Ratzel (1844-1904) vivencia a 6. Um problema: a Alemanha, um novo
constituição real do Estado alemão e suas primei- Estado europeu, rapidamente indus-
ras décadas. Mais do que isso: sua obra foi instru- trializou-se, mas não possuía colônias
mento de legitimação dos desígnios expansionis- para oferecer matérias-primas e formar
tas do Estado alemão recém-constituído. amplo mercado consumidor.
Contexto de constituição do Estado alemão:

Saiba mais
1. A criação da Confederação Germânica
era o primeiro passo para a unificação, A obra de Ratzel, “Antropogeografia”, apresenta os
a fim de reunir o poder disperso pelas fundamentos da aplicação da Geografia à História
várias unidades confederadas; (1882). Essa obra funda a Geografia Humana, pos-
suindo como objeto geográfico o estudo da influ-
2. Prússia e Áustria disputavam a hege- ência que as condições naturais exercem sobre a
monia dentro da Confederação; humanidade (fisiologia, psicologia dos indivíduos
3. Segundo passo para a unificação: re- e, então, sociedade). Para Ratzel, a natureza influen-
pressão aos levantes populares de ciaria:
1848. A reação à onda revolucionária
• A própria constituição social, através dos recursos
que tomou a Europa através de alian- do meio em que está localizada a sociedade;
ças e ações unificadas sob um coman- • A possibilidade de expansão de um povo, obsta-
do comum foi realizada com a articula- culizando-a ou acelerando-a;
ção das classes dominantes (agrárias), • As possibilidades de contato com outros povos,
formando um bloco reacionário con- gerando, assim, o isolamento e a mestiçagem.
trarrevolução;

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Em Ratzel, a sociedade é vista como um or- Partiu das colocações ratzelianas referentes à
ganismo que mantém relações duráveis com o ação do Estado sobre o espaço. As teorias e téc-
solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades nicas que legitimavam e operacionalizavam o
de moradia e alimentação. O progresso podia imperialismo eram formas de defender, manter e
ser alcançado através do maior uso dos recur- conquistar territórios. Um dos mais proeminentes
sos do meio, logo, uma relação mais íntima com estudiosos do tema era o jurista Rudolf Kjellen.
a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo,
tanto maior seria para a sociedade a necessidade Figura 7 – Rudolf Kjellen.
de manter sua posse. Segundo Ratzel, quando a
sociedade se organiza para defender o território,
transforma-se em Estado. O território representa
as condições de trabalho e existência de uma so-
ciedade e o progresso implicaria a necessidade
de aumentar o território.
No processo de constituição dos concei-
tos basilares de seu pensamento, o ESPAÇO VI-
TAL revela uma proporção de equilíbrio entre a
população de uma dada sociedade e os recursos
disponíveis para suprir suas necessidades. O ex-
pansionismo aparece como algo natural e inevi-
tável: essa é a teoria que legitima o imperialismo
alemão. Além de Kjellen, Halford Mackinder (teoria
do Heartland) e Karl Haushofer garantiram que o
pensamento geopolítico adquirisse um lugar na
Atenção
Geografia. O General Karl Haushofer era amigo de
A Geografia ratzeliana privilegiou o elemento hu- Hitler e diretor do Instituto Geopolítico de Muni-
mano, com a valorização da História e do espa- que. Para ele, a Geopolítica era parte da estratégia
ço. Principais temas: a formação dos territórios, a
difusão dos homens pelo planeta, a distribuição militar do Reich. Sua escola influenciou direta-
dos povos na superfície terrestre, o isolamento e mente os planos de expansão nazistas.
suas consequências.

Figura 8 – Karl Haushofer.


O método utilizado por Ratzel encarava a
Geografia como ciência empírica (observação e
descrição), com a busca da síntese das influências
na escala mundial. Assim, cria-se uma visão na-
turalista, com a Geografia do Homem como uma
ciência natural.
Entre os expoentes da chamada “Escola De-
terminista” de Geografia, podem-se apontar Ellen
Semple (Estados Unidos) e Elsworth Huntington
(Reino Unido). Para eles, as condições naturais de-
terminam a História e o homem é um produto do
meio. Esse tipo de colocação indicava a naturali-
zação da História humana.
Produzida como contribuição a partir do
pensamento ratzeliano, a GEOPOLÍTICA é o estu-
do da dominação dos territórios pelos Estados.

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Princípios geopolíticos de Haushofer: ƒƒ As áreas hegemônicas do Hemisfério


Norte (Estados Unidos, Alemanha, Rús-
ƒƒ Toda potência precisa controlar um sia e a então “zona de coprosperidade
espaço geográfico suficientemente asiática”, controlada pelo Japão) deve-
grande para garantir sua segurança e riam subordinar o Hemisfério Sul.
possibilitar uma lucrativa exploração
econômica;
ƒƒ Existe a “Ilha Mundial” (a Eurásia), o que
levou a Alemanha a criar um poder na-
val;

2.2 Paul Vidal de La Blanche: a Perspectiva Regional Francesa (Região)

Figura 9 – Paul Vidal de La Blache. posição com ação nacional. Sua ação consistia no
domínio total das relações capitalistas, cujo pro-
cesso foi completado com Napoleão Bonaparte.
O projeto hegemônico da classe revolu-
cionária (burguesia) aglutinava os interesses da
sociedade através da revolução popular, dirigida
pelos ideólogos burgueses e somada à participa-
ção política de massas. A Revolução Francesa foi
um movimento popular, comandado pela bur-
guesia. Nesse processo, o pensamento burguês
gerou propostas progressistas, instituindo uma
tradição liberal no país. Contudo, o contínuo des-
gaste entre burgueses e o resto do povo francês
conduziu ao acirramento da luta de classes.

Paul Vidal de La Blache (1845-1918), geó- Dicionário


grafo francês, foi o principal formulador da escola
francesa de Geografia e elaborou a atual divisão Hegemonia: supremacia, superioridade.

regional da França em departamentos. La Blache


só pode ser compreendido a partir da relação
Nesse sentido, as Rebeliões de 1848 e a pró-
entre a conjuntura da Terceira República, o anta-
pria Comuna de Paris revelaram as intenções da
gonismo com a Alemanha e a particularidade do
burguesia: as repressões revelaram o caráter do-
desenvolvimento histórico da França.
minante da burguesia e sua luta para a manuten-
O contexto do desenvolvimento histórico ção do poder sobre o Estado.
francês no século XIX consiste na luta para a eli-
E a ciência? Qual era seu papel diante de
minação dos resquícios feudais, alcançada com a
tal quadro de complexidade na sociedade fran-
plenitude da revolução burguesa e a fundação do
cesa? Sob o discurso da neutralidade, legitimou
Estado burguês.
doutrinas autoritárias de ordem, distanciando-se
Devido à unificação precoce de seu territó- dos interesses sociais e dissimulando o conteúdo
rio, além da centralização do poder graças à tra- ideológico.
dição absolutista, a burguesia possuía uma sólida

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Em 1870, ocorre a Guerra Franco-prussiana: Geografia aparece como ciência dos lu-
França perde Alsácia e Lorena, fundamentais para gares, o que interessaria é o resultado
a sua industrialização. Cai o Segundo Império de da ação do homem na paisagem. O ho-
Luís Bonaparte e ocorre o levante da Comuna de mem transforma matéria natural e cria
Paris. Sob os auspícios germânicos, surge a Ter- formas sobre a superfície terrestre.
ceira República, período de desenvolvimento da
Geografia francesa.
Assim, o homem, como hóspede antigo de
A Geografia se institucionaliza com o apoio vários pontos da Terra, se adaptou em cada lugar
do Estado francês, colocada em todas as séries do criando (em relação com a natureza) um conjun-
ensino básico e instituída nas Universidades atra- to de técnicas, hábitos, usos e costumes passa-
vés das cátedras e dos institutos de Geografia. dos socialmente, formando GÊNEROS DE VIDA.
A guerra havia colocado para a classe domi- Uma vez estabelecido, o gênero de vida tenderia
nante francesa a necessidade de pensar o espaço, a reproduzir-se da mesma forma. Alguns fatores
fazer uma Geografia que deslegitimasse a refle- poderiam agir impondo uma mudança no gêne-
xão geográfica alemã ratzeliana, dominasse o ter- ro de vida: o crescimento populacional poderia
ritório francês e, ao mesmo tempo, fornecesse os impulsionar a sociedade em busca de novas téc-
fundamentos para o seu expansionismo. nicas ou levar a dividir a comunidade e criar um
Assim como Ratzel, La Blache veiculou, atra- novo núcleo.
vés do discurso científico, o interesse da classe do- Para o progresso humano, o contato com
minante de seu país. Devido ao desenvolvimento outros gêneros de vida seria fundamental, pois os
diferenciado do capitalismo nesses países, foram contatos gerariam arranjos mais ricos, pela incor-
diferentes também as formas e os conteúdos des- poração de novos hábitos e técnicas.
sas ideologias. Principais críticas às proposições Os “Domínios de civilização” correspondem
ratzelianas: a uma área abrangida por um gênero de vida co-
mum, englobando várias comunidades. Os gê-
ƒƒ Politização exagerada do discurso ge- neros de vida se difundiriam pelo globo em um
ográfico: “necessária neutralidade da processo de enriquecimento mútuo, levando ao
ciência” apontava contra o caráter apo- fim dos localismos.
logético do expansionismo alemão e a As fronteiras europeias definiriam domínios
concepção de “espaço vital”; de civilização, solidamente firmados por séculos
ƒƒ Caráter naturalista de Ratzel: minimi- de história! Aqui está a crítica ao expansionismo
zação do elemento humano. La Blache alemão, ao controle territorial interno, e o funda-
defende o poder criativo do homem e mento da legitimação da ação colonial francesa.
valoriza a história; Por quê?
ƒƒ Concepção fatalista da relação homem/ A ação imperialista francesa não se concen-
natureza: La Blache era mais relativista e trava na Europa: o expansionismo colonial na Ásia
critica a ideia da determinação da histó- e na África produziu uma Geografia Colonial. O
ria pelas condições naturais. Tudo o que contato dos gêneros de vida estagnados das áre-
se refere ao homem é mediado pelas as atrasadas do mundo com a missão civilizadora
contingências (incerteza, pode ou não francesa conduziria ao progresso.
acontecer), pela possibilidade! A Geografia deveria estudar os gêneros de
ƒƒ Objeto de estudo da Geografia: relação vida, os motivos de sua manutenção ou transfor-
homem/natureza na perspectiva da mação, e sua difusão, com a formação dos do-
paisagem. O homem é um ser ativo que mínios de civilização. Nesse sentido, considerar
sofre influência da paisagem. Assim, a as obras humanas sobre o espaço criadas pelas

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sociedades, na sua relação histórica e cumulativa com as de Ratzel, desenvolvendo-as e defenden-


com os diferentes meios naturais. do-as das críticas levantadas contra a Geografia
A “Geografia Universal”, obra projeto dos Humana. Febvre imprimiu orientações decisivas
discípulos de La Blache, conduziu aos debates so- à Geografia Humana, no sentido de uma com-
bre REGIÃO, conceito balizador da Geografia após preensão histórica das conexões entre as socie-
a morte de La Blache. A Região aparecia como dades humanas e os meios geográficos. Questão
unidade de análise geográfica, que exprimiria a levantada: “Que relações mantêm as sociedades
própria forma de os homens organizarem o espa- humanas com o meio geográfico atual?” Para Fe-
ço terrestre, um instrumento teórico de pesquisa bvre, esse é o problema fundamental e único que
e um dado da realidade. Além disso, a Região era a Geografia deve apresentar.
uma escala de análise, uma unidade espacial do- Maximilien Sorre era lablachiano e manteve
tada de individualidade em relação às suas áreas os fundamentos, desenvolvendo-os. A Geografia
limítrofes: diferenciação de áreas pela observa- deve estudar as formas pelas quais os homens or-
ção. ganizam seu meio, entendendo o espaço como
Aos poucos, a Região foi sendo compreen- “a morada do homem” e desenvolvendo o con-
dida como um produto histórico, que expressaria ceito central de Habitat: uma porção do planeta
a relação dos homens com a natureza. A forma- vivenciada por uma comunidade que a organiza,
ção de uma Geografia Regional foi marcadamen- uma construção humana, uma humanização do
te realizada através de monografias regionais. Os meio, que expressa as múltiplas relações entre o
estudos regionais propiciaram o aparecimento de homem e o ambiente que o envolve.
especializações, como a Geografia da População, A proposta de espaço geográfico de Sorre
Agrária, Urbana, do Comércio, dos Transportes, inovou ao considerar espaços sobrepostos (o físi-
das Indústrias, da Energia, Econômica! co, o econômico, o social, o cultural etc.) em inter-
A influência de La Blache na produção his- -relação: todo o planeta como espaço humaniza-
toriográfica francesa foi considerável. Lucien Fe- do, o novo ecúmeno.
bvre, em “A Terra e a Evolução Humana” (1922),
apresenta as ideias de La Blache confrontadas

2.3 A Geografia Cultural Tradicional

A Geografia Tradicional (Clássica ou Posi- sentido, justifica-se o estímulo para pensar o es-
tivista) conforma-se inclinando a Geografia Hu- paço, logo, para fazer Geografia.
mana ao estudo de fenômenos humanos como Definiu o objeto geográfico como o estudo
produtos da ação humana, não para os processos da influência que as condições naturais exercem
sociais que os engendraram. sobre a humanidade, realizou extensa revisão bi-
A Geografia de Ratzel foi um instrumento bliográfica sobre temas das influências da natu-
poderoso de legitimação dos desígnios expan- reza sobre o homem e concluiu criticando duas
sionistas do Estado alemão recém-constituído. A posições: a que nega tal influência e a que visa a
unificação tardia da Alemanha deixou-a de fora estabelecê-la de imediato. Nesse projeto de Rat-
da partilha dos territórios coloniais, alimentando zel, essa ligação se expressa na justificativa do ex-
um expansionismo latente, que aumentaria com pansionismo como algo natural e inevitável, uma
o próprio desenvolvimento interno. Daí depreen- sociedade que progride gerando uma teoria que
de-se o agressivo projeto imperialista, o propósi- legitima o imperialismo bismarckiano. Uma visão
to constante de anexar novos territórios. Nesse do Estado como protetor acima da sociedade

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vem no sentido de legitimar os Estados prussia- relação entre a população e os recursos, uma situ-
nos, onipresentes e militarizados. ação de equilíbrio construída pelas sociedades e
A Geografia proposta por Ratzel privilegiou a diversidade dos meios, e explicaria a diversida-
o elemento humano e abriu várias frentes de es- de dos gêneros de vida.
tudo valorizando questões referentes à história À Geografia caberia estudar os gêneros de
e ao espaço, como a formação dos territórios, a vida, os motivos de sua manutenção ou transfor-
difusão dos homens pelo planeta (migração, co- mação, e sua difusão com a formação dos domí-
lonização), a distribuição dos povos e das raças na nios de civilização. Acentuou o propósito humano
superfície terrestre. Metodologicamente, mante- de Geografia Humana, entretanto esta foi conce-
ve a ideia da Geografia como ciência empírica. bida como um estudo de paisagem: os homens
Os discípulos de Ratzel radicalizaram suas se interessam por suas obras. La Blache fala de
colocações, o que se denomina “escola determi- população, de agrupamento e nunca de socieda-
nista” de Geografia: a história era determinada de; fala de estabelecimentos humanos, não de re-
ou o homem é um produto do meio. Uma últi- lações sociais; fala de técnica e dos instrumentos
ma perspectiva proveniente das formulações de de trabalho, porém não de processo de produção;
Ratzel, a chamada escola “ambientalista”, não era enfim, discute a relação homem/natureza, não
considerada uma filiação direta à Antropogeogra- abordando as relações entre os homens. É por
fia. Entretanto, sem dúvida Ratzel foi o primeiro essa razão que a carga naturalista é mantida.
formulador de suas bases. Modernamente, apoia- Mas a Geografia Cultural Clássica ou Tra-
da na Ecologia, a ideia de estudar as inter-relações dicional não floresceu apenas na Europa. Nos
dos organismos que coabitam determinado meio Estados Unidos, o geógrafo Carl Sauer, fundador
já estava presente em Ratzel. e expoente máximo da Escola de Berkeley (Uni-
A escola de Geografia que se opõe às co- versidade da Califórnia), destacou-se. Sua escola
locações de Ratzel vem a ser a francesa e tem de pensamento reuniu geógrafos em torno das
como principal formulador Paul Vidal La Blache. ideias de Sauer, cuja história confunde-se (até
Na segunda metade do século XIX, a França e a 1970) com a da Geografia Cultural dos Estados
Alemanha (no caso, ainda a Prússia) disputam a Unidos.
hegemonia no controle continental da Europa.
Havia nesses dois países uma disputa de interes- Figura 10 – Carl Sauer.
ses nacionais, uma disputa entre imperialismos.
A Geografia de Ratzel legitimava as ações impe-
rialistas do Estado bismarckiano. Era mister para
a França combatê-la; o pensamento geográfico
francês nasceu com essa tarefa.
A Geografia francesa, que esconjurou a Ge-
opolítica germânica, vai criar uma especialização
denominada Geografia Colonial e La Blache pro-
põe uma postura relativista, dizendo que tudo o
que se refere ao homem é medido pela contin-
gência. Esse posicionamento, aceito por seus se-
guidores, fez com que a Geografia francesa aban-
donasse qualquer intento de generalizações. La
Blache definiu o objeto da Geografia como a re-
lação homem/natureza; na perspectiva da paisa-
gem, colocou o homem como um ser ativo, domi-
nante do gênero de vida, o qual exprimiria uma

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O historicismo era a base da Geografia de 4. Difícil escapar da tese da aptidão ao


Sauer, cuja crença na diversidade cultural, ênfase meio.
no passado, valorização da contingência, prima-
do da compreensão, postura antiurbana e privilé-
Sauer defendia que a Geografia Cultural
gio de sociedades tradicionais eram temas recor-
parte de uma descrição das características da
rentes.
superfície terrestre para chegar, mediante uma
Para Sauer, existiriam dois caminhos nos es- análise de sua gênese, a uma classificação com-
tudos geográficos: parada das regiões: Geografia como uma ciência
COROLÓGICA (ou seja, dos lugares).
1. Limitar-se ao estudo de uma relação Sauer considerava o homem o último agen-
causal particular entre o homem e a te que modifica a superfície da Terra, inclusive
natureza: interesse preferencial pelo como agente geomorfológico. A ocupação huma-
homem e sua relação com seu meio, na pela perspectiva da geomorfose humana ine-
adaptação do homem ao meio físico. gavelmente afirmou a naturalização de processos
Esta seria a Geografia Humana; sociais. Dessa forma, toda Geografia é Geografia
2. Definição do material de observação: Física, não porque o trabalho humano esteja con-
atenção para aqueles elementos da dicionado pelo meio, mas porque o homem, por
cultura material que conferem caráter si mesmo, é objeto indireto da investigação geo-
específico à área. Esta seria a Geografia gráfica, confere expressão física à área com suas
Cultural. moradias, seu lugar de trabalho, mercados, cam-
pos e vias de comunicação.
No percurso intelectual que conduziu à A Geografia Cultural se interessa pelas obras
Geografia Cultural nos Estados Unidos, algumas humanas inscritas na superfície terrestre, impri-
contribuições merecem destaque: de Karl Ritter, mindo uma expressão característica. A chamada
o meio físico considerado campo de estudo geo- Área Cultural refere-se ao conjunto de formas in-
gráfico; de Ratzel, consideraram-se seus estudos terdependentes diferenciadas funcionalmente de
culturais posteriores (mobilidade populacional, outras áreas. Os fatos da Área Cultural devem ser
condições de assentamento humano, difusão da explicados por qualquer causa que tenha contri-
cultura por meio das vias principais de comuni- buído para criá-los e nenhum tipo de causalidade
cação); e, finalmente, de La Blache, considerou-se tem prioridade sobre outro.
a “suavização” de Ratzel: substituição do determi- Para Sauer, o trabalho do geógrafo consiste
nismo pelo possibilismo. em mapear a distribuição dessas marcas, agrupá-
Sauer reagiu à postura ambientalista na -las em associações genéticas, descrevê-las desde
Geografia (para ele, problemas da chamada “Ge- a origem e sintetizá-las em sistemas comparati-
ografia Humana”). Conclusões: vos de áreas culturais. Nesse sentido, defendia a
reconstrução das sucessivas culturas de uma área,
1. Nenhum campo científico se expressa começando pela cultura original e continuando
por meio de uma relação causal parti- até o presente.
cular; A Geografia Econômica era considerada
2. A investigação ambientalista carece de por Sauer parte do programa da Geografia Cultu-
fatos como objetos de estudo à não ral. A localização passa a ser um instrumento para
há seleção de fenômenos, mas somen- a síntese, não um objetivo em si mesmo. Assim, a
te de relações à sem categorias de ob- Área Cultural é essencialmente econômica e sua
jetos de estudos; estrutura é determinada tanto pelo crescimento
histórico quanto pelos recursos naturais. A Geo-
3. Ausência de método próprio;

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grafia Histórica e a Geografia Econômica esta- ta em campo era baseada em técnica de análise
riam fundidas, já que a segunda se interessaria morfológica desenvolvida pela Geografia Física,
pelas Áreas Culturais procedentes da anterior. bem como em um método histórico evolutivo ES-
Por fim, a Geografia Cultural encontrava-se TRUTURAL, buscando determinar as sucessões de
integrada ao objetivo geral da Geografia: a dife- cultura em uma área.
renciação da Terra em áreas. A observação dire-

2.4 O Anarquismo na Geografia: uma Geografia Libertária -


Piotr Kropotkin

Piotr Kropotkin (1842-1921) nasceu em fa- punha uma mudança no sistema educacional e,
mília rica e tradicional da Rússia czarista. Estudou principalmente, no ensino de Geografia, colo-
nas melhores escolas de Moscou, sendo sempre cando-a como o principal veículo divulgador de
um dos alunos mais brilhantes (recebendo, inclu- suas ideias de igualdade entre os povos. Afinal, os
sive, elogios do czar Nicolau I), e tinha um futuro estudos geográficos como eram ensinados nas
garantido como general do exército russo. Mas, escolas naquele momento ajudavam a fomentar
apesar de todas as condições financeiras favorá- o preconceito e a ideia de superioridade dos eu-
veis, preferiu seguir um caminho inverso, vivendo ropeus sobre outras raças, justificando o colonia-
do seu próprio trabalho. Exerceu as funções de lismo da Europa, principalmente sobre a Ásia e a
jornalista, professor e até tipógrafo, e, para deses- África.
pero de sua família, tornou-se geógrafo e, mais Para o geógrafo russo, a ciência geográfi-
tarde, um anarquista. ca deveria valorizar as diferenças físicas entre as
Entretanto, também como geógrafo, Kro- regiões, mostrando que uma não se sobrepõe à
potkin não seguiu o protocolo. Uniu Geografia e outra, mas se complementam, e que são essas di-
Anarquismo e, ao contrário de seus colegas, pas- ferenças que garantem o perfeito funcionamento
sou a defender o fim do Estado e suas leis, das ins- da natureza, dando equilíbrio aos diversos acon-
tituições religiosas, do sistema trabalhista vigente tecimentos naturais. Além disso, ela deveria mos-
e das fronteiras entre os países. Com isso, acabou trar que as particularidades físicas de cada região
sendo marginalizado pela própria Sociedade Ge- não deveriam pertencer a uma região específica,
ográfica Russa, que já o havia premiado. pois se tratam de bens comuns a toda a huma-
Suas teorias anarquistas se aproximavam nidade. Defendia, assim, o fim das fronteiras en-
do comunismo, defendendo o fim da proprieda- tre os países. Principalmente, a Geografia deveria
de privada, do trabalho assalariado e do Estado, mostrar aos jovens estudantes que, apesar das
lutando por uma igualdade econômica e política diferenças culturais, nenhuma raça era superior à
entre todos. Por isso, sua orientação era conheci- outra, apenas que cada uma vivia conforme sua
da como anarquista-comunista. Além disso, de- realidade e que essas diferenças precisavam ser
fendia a liberdade moral de cada indivíduo. Para respeitadas. Mostrar que todos eram irmãos e
ele, o homem só seria totalmente feliz se tivesse que deveriam se unir para resolver os problemas
respeito e vivesse plenamente conforme sua mo- que lhes fossem comuns. Quando todos tivessem
ral. Ainda, a religião existia somente para padro- essa consciência de igualdade e irmandade, seria
nizar o moralismo, impedindo o homem de viver o momento de derrubar a burguesia do poder e
com toda a sua vontade e criatividade. instalar a Anarquia, dando uma nova perspectiva
Para que o anarquismo fosse entendido e esperança para a humanidade.
de forma pacífica pela sociedade, Kropotkin pro-

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História do Pensamento Geográfico

2.5 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, estudamos a Geografia Institucionalizada e os fundamentos da Geografia Clássica,
vimos as contribuições de Ratzel e Paul Vidal de La Blache, e falamos um pouco da Geografia Cultural
Tradicional e do Anarquismo na Geografia.

2.6 Atividades Propostas

1. Considere a seguinte passagem:

A abrangente produção ratzeliana deixa transparecer a integração de fatos da modernidade e do


rápido desenvolvimento da sociedade no contexto da Alemanha que se unificava. Reflexões sobre o
Estado, a história, as raças humanas, o ensino da geografia e a descrição de paisagens perpassam a
obra do geógrafo, que se preocupava em auferir uma identidade comum à nação em formação.

A seguir, leia o seguinte enunciado:

ƒƒ A produção intelectual de Ratzel tem lugar em um contexto de unificação de territórios ger-


mânicos e criação da Alemanha. A autora menciona “fatos da modernidade” referindo-se aos
discursos utilizados para sustentar a criação da Alemanha, bem como as características políti-
co-econômicas da Europa da segunda metade do século XIX.

Agora, utilizando sua apostila, discorra sobre esse contexto histórico e como Ratzel contribuiu, a
partir de sua produção geográfica, para a criação da Alemanha.

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A RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA
3 PÓS-ANOS 1950

3.1 A Geografia Neopositivista: a Supremacia Norte-Ameri-


cana (Quantitativismo e Modelos Econômico-Espaciais)

No caminhar da evolução do pensamento enunciado, na verificação das hipóteses e na for-


geográfico, chegamos num ponto em que velhas mulação das explicações dos fenômenos geográ-
ideias são retomadas e trabalhadas com novas ficos. A validade dos enunciados obtidos não se
roupagens. Trata-se da teoria positivista, que res- daria mais através da observação e descrição do
surge aliada à matemática, caracterizando a Nova geógrafo sobre os fenômenos, mas conforme os
Geografia. Essa concepção de Geografia despon- procedimentos de verificação propostos pela me-
ta na década de 1950, considerando o conjunto todologia científica.
de ideias e de abordagens que começou a se di- Seguindo esse fio condutor, até mesmo os
fundir e a se desenvolver. O surgimento de no- fenômenos sociais e da natureza são explicados
vas perspectivas para a análise está integrado à pelos mesmos modelos e técnicas (pressupondo
transformação profunda provocada pela II Guerra a unidade da ciência, todos os ramos são pauta-
Mundial nos setores científico e tecnológico, bem dos pelos mesmos procedimentos, sem metodo-
como nos níveis político, social e econômico. Essa logias específicas). A utilização de técnicas mate-
transformação, abrangendo o aspecto filosófico e máticas e estatísticas foi denominada Geografia
metodológico, foi denominada “revolução quan- Quantitativa e, assim, novos métodos de analisar
titativa e teorética da Geografia”, batizada assim os dados coletados e as distribuições espaciais
por Ian Burton. dos fenômenos formaram a primeira característi-
Embora se possam encontrar indícios des- ca desse “fazer geográfico”.
de a década de 1940, a contribuição do geógrafo
norte-americano Fred Schaefer, em 1953, com seu
“Exceptionalism in Geography: a methodogical
examination”, marca cronologicamente a tomada
de consciência dessas tendências renovadoras.
A Nova Geografia (ou Geografia Quantitati-
va ou Geografia Teorética) se caracterizou, princi-
palmente, pelo traço positivista no que se refere
à busca de explicações científicas, tentando su-
perar a descrição regional que, para Schaefer, eli-
minava o conteúdo científico da Geografia. Essa
nova proposta consiste na metodologia científi-
ca como paradigma para a pesquisa geográfica,
salientando-se a necessidade de maior rigor no

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3.2 A Geografia Comportamental e Humanística: a Valoriza-


ção da Subjetividade e da Dimensão do Indivíduo

Desde o fim da Idade Média, com a crise do nalmente, destaca-se Yi-Fu Tuan, que tem apre-
sistema teocêntrico, os filósofos retomaram os es- sentado novos e fundamentais conceitos para a
tudos da Grécia clássica, sociedade marcada pela compreensão do ambiente e das aspirações do
valorização das artes e das ciências que objetivam homem em termos de qualidade ambiental. Po-
o bem-estar humano. Os renascentistas conside- de-se fazer referência, ainda, à colaboração de Ke-
ravam que a religião era insuficiente para explicar vin Lynch nos estudos sobre a imagem da cidade,
os fenômenos da natureza e suas relações com o tornando a percepção interdisciplinar.
Homem. Sendo assim, desenvolveram uma pers- A partir da década de 1950, o comporta-
pectiva humanista, procurando ampliar e valori- mento humano voltou a ser mais amplamente
zar o indivíduo, tanto no que ele é quanto no que debatido nas ciências sociais, principalmente por
ele pode fazer. meio de autores como Kirk (1952), que trabalhou
a relação existente entre as percepções ambien-
Saiba mais tais e a tomada de decisões locacionais, desafian-
do o predomínio do positivismo lógico.
No século das “luzes” (XVIII), a ciência positivista Os anos 1960 foram marcados por grandes
ganha destaque, baseada em conceitos direciona-
dos sobre o significado e o objetivo das ciências de transformações sociais e políticas no mundo, que
modo geral. O Humanismo, inerentemente subjeti- refletiram, por conseguinte, nas ciências. Os mo-
vo, perde então espaço para a ciência neutra e isen- vimentos de contracultura: hippie, dos direitos
ta, com objeto bem definido.
civis, do blues, feminista, gay, passeatas contra
a guerra do Vietnã, entre outros, refletiram uma
nova ordem mundial. Houve uma transformação
Entre as contribuições que “culminaram” na na sociedade mundial e nas suas relações; as ci-
Geografia da Percepção, estão: a “escola francesa ências, então, voltam seu “foco” para as questões
tradicional”, que é o primeiro marco, com suas te- humanas.
ses regionalistas, que implicavam a necessidade Nesse contexto, o pensamento geográfico,
de contatos prolongados do geógrafo com os lu- até então preponderantemente neopositivista
gares e as paisagens; Carl Sauer, a partir de 1925, ou neomarxista, apresenta uma nova alternativa
com as paisagens culturais; Wright, em 1947, epistemológica, por meio da absorção de concei-
com sua “geosofia”; Kirk, em 1951, que propõe a tos humanistas. A Geografia humanística procura
Geografia comportamental como base para a to- um entendimento do mundo humano através do
mada de decisões locais; um ano depois, Dardel estudo das relações das pessoas com a natureza,
demonstra a importância das experiências para do seu comportamento geográfico, bem como
questionamentos sobre o espaço; Lowental, na dos seus sentimentos e ideias a respeito do es-
década de 1960, torna-se um marco propondo paço e do lugar. Percebe-se no humanismo a luta
que a valorização da experiência e imaginação fa- por uma visão mais abrangente, fugindo de res-
cultaria a formação de uma nova epistemologia, trições.
de uma “escola do pensamento”; Anne Buttimer,
nos anos 1970, estuda os valores humanos e suas
repercussões espaciais; Goul e White, em 1974, Dicionário
propõem uma metodologia que une imagens
Neo: prefixo indicativo de “novo”.
mentais, percepção e mapas, os Mental Maps; fi-

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A questão central dessa perspectiva é traba-


lhar as diversas categorias de análises geográficas, Atenção
como espaço, lugar, território, por meio da cogni-
Os lugares variam em escala.
ção humana, ou seja, a partir dos significados que
o homem lhes dá. Sendo assim, a Geografia da
Percepção é apenas uma das concepções huma- O quarto pode ser um lugar, o sofá da sala,
nistas. A partir da década de 1960, ocorreu uma a cidade onde o indivíduo nasceu, mas também
expansão dos estudos sobre a Percepção. Esse pode ser um Estado-nação. Existe uma ligação
novo paradigma considera que todas as pessoas sentimental, uma identidade entre o indivíduo e
possuem explicações sobre os fenômenos que as o lugar, que se reflete por meio de símbolos exis-
cercam. Os humanistas produziam estudos sobre tentes, como a arte, educação, política etc.; pe-
valores e percepções individuais ou de pequenos quenos lugares podem ser conhecidos por meio
grupos, utilizando esses levantamentos na com- da experiência direta, incluindo o sentido íntimo
preensão atual e no planejamento futuro da orga- de cheirar e tocar.
nização de espaços e paisagens.
Assim, a Geografia passou a se basear nas
A percepção essencial do mundo, em resu- premissas de que há possibilidade de se compre-
mo, abrange toda maneira de olhá-lo: consciente ender a maneira como os indivíduos se sentem
e inconsciente, nublado e distintamente, objeti- em relação ao lugar e considera que cada pessoa
vo e subjetivo, inadvertido e deliberado, literal e ou grupo humano possui uma visão e um modo
esquemático. A própria percepção nunca é pura: diferente de enxergar o ambiente circundante,
“sensoriar”, pensar, sentir e acreditar são proces- que se expressa por meio de suas atitudes e valo-
sos simultâneos, interdependentes. Entretanto, res e na forma como organiza seu espaço.
embora se coloque como uma alternativa aos pa-
A Humanidade não é mera observadora
radigmas científicos desse período, nota-se que
dessa dinâmica, mas parte dela. Na maioria das
a Geografia da Percepção não deixa de absorver
vezes, a percepção humana não é abrangente,
conceitos e, principalmente, metodologias de ou-
mas antes parcial, fragmentada, misturada com
tras “Escolas do Pensamento”, como, por exemplo,
considerações de outra natureza. Quase todos os
os “Mapas Mentais”, que desenvolveram o uso dos
sentidos estão em operação e a imagem é uma
métodos quantitativos na percepção, criados por
combinação de todos eles.
Gould e White, em 1974.
Do ponto de vista biológico e psicológico,
A percepção, portanto, é mais ou menos
chama-se percepção o processo cognitivo através
detalhada, dependendo da vivência, da experi-
do qual se conhecem objetos e situações próxi-
ência, de questões étnicas, políticas, entre outras.
mos no tempo e no espaço, que são compreen-
Entretanto, um fator que se destaca na forma-
didos e percebidos por aqueles que constituem
ção da apreensão que o homem faz do meio é
e estabelecem relações com eles. Os objetos
sua capacidade de se deslocar no espaço. Nessa
distantes no tempo não podem ser percebidos,
perspectiva, o espaço é dimensional, se expressa
apenas evocados, imaginados ou pensados, pois
por uma representação, mas, para um fenome-
o espaço pode constituir uma obstrução para a
nólogo (estudioso da fenomenologia), o espaço
percepção.
é um contexto que possui sentido de amplitude,
liberdade e infinitude. Já o Lugar é um produto da
experiência humana, não se refere a objetos ou
localização, mas a experiências e envolvimento
com o mundo.

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3.3 A Geografia Marxista: a Crítica ao Modo de Produção


Capitalista do Espaço

O contexto do nascimento das correntes como da derrota dos Estados Unidos no


críticas da Geografia remonta à década de 1960, Vietnã.
época da expansão neopositivista (Geografia
Quantitativa), surge como reação e movimento
No que se refere às transformações nas Ci-
de insatisfação com as propostas colocadas para
ências Sociais, consideramos:
a Geografia até então e reflete um quadro de crise
da ciência geográfica, posto que reúne diferentes
elementos questionadores à ordem social basea- ƒƒ Os questionamentos das desigualda-
da na desigualdade social, característica do modo des entre o mundo desenvolvido e o
de produção capitalista. Na década de 1970, proli- mundo subdesenvolvido;
feram movimentos críticos e radicais nas ciências ƒƒ A grande oposição ao Capitalismo:
sociais, tendo como fundamentação correntes da constatadas as péssimas condições de
filosofia: trabalho e de vida (principalmente nas
cidades), surgem os movimentos so-
ƒƒ Marxismo (preocupações sociais); ciais urbanos;
ƒƒ Fenomenologia, existencialismo, her- ƒƒ Questionamentos ao sistema de racio-
menêutica (filosofia dos significados), nalidade científica (séculos XVII e XVIII),
valorização da subjetividade, da experi- sendo a ciência moderna apresentada
ência pessoal e das questões sociais. como inimiga da sociedade: situações
críticas como a catástrofe nuclear, a
corrida armamentista, a engenharia ge-
Esse momento de intensa produção e de- nética etc. suscitaram a pergunta: “qual
bate acadêmico produz duas vertentes analíticas o papel da ciência e tecnologia moder-
profundamente historicistas: a Geografia Marxis- nas?”;
ta e a Geografia Humanista. ƒƒ Conflito entre a racionalidade da ciên-
Vejamos os contextos externos e históricos cia e os valores da vida humana.
e as razões sociais que permitiram a eclosão do
movimento crítico na Geografia:

ƒƒ Momento de grandes transformações Atenção


internacionais, com o fim da Guerra Fria
e o florescimento do marxismo no Oci- Entre os principais críticos, destacam-se nas de-
mais ciências humanas:
dente;
ƒƒ Mudanças no Terceiro Mundo, com a • Na Economia: novas reflexões com base na
análise do capitalismo proposta por Marx (por
descolonização e a consciência do sub- exemplo, a contribuição de Mandel ao elaborar
desenvolvimento como produto da do- sua teoria das ondas longas);
minação; • Na Sociologia: Lefebvre (filósofo) dedica-se à
construção de uma teoria marxista do espaço
ƒƒ Crise do Sistema de Dominação Oci- (produto social que recebe releitura marxista);
dental, a partir do aparecimento de Gramsci e Escola de Frankfurt.
movimentos revolucionários, do triunfo
da Revolução na China e em Cuba, bem

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Quanto ao contexto interno à ciência mo- BALHO como base das relações sociais
derna, apresentam-se como razões intelectuais: ao longo do tempo, mediando as rela-
ções entre o homem e a natureza;
ƒƒ A disputa com o Positivismo: a Escola ƒƒ Instituições Sociais apresentadas como
de Frankfurt aparece como uma clara dominadoras da sociedade, postas aci-
reação antipositivista (filósofos como ma dos interesses sociais: 1) instituições
Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benja- econômicas; 2) legitimação através de
min e Habermas se destacam produzin- ideias, significados e símbolos; 3) ins-
do uma teoria crítica da cultura); tituições de poder que sustentem as
ƒƒ Objetividade e ideologia nas Ciências relações sociais práticas e ideológicas
Sociais: importância do conceito de anteriores;
ideologia desenvolvido pelo marxismo ƒƒ As mudanças históricas resultam de
nas ciências sociais; apresentação do processos econômicos e políticos base-
problema da objetividade e da impos- ados na forma assumida pela proprie-
sibilidade de suprimir os juízos de valor dade privada dos meios de produção e
(neutralidade científica); pelas relações de trabalho;
ƒƒ Ciência passa a ser vista como depen- ƒƒ Sociologia, Ciência Política, Economia,
dente do contexto social e não como História e Geografia voltadas à interpre-
algo abstrato, isolado do mundo: o ho- tação dos fenômenos humanos como
mem de ciência compartilha problemas expressão e resultado de contradições
comuns com o resto da sociedade e so- sociais.
fre influências das ideias sociais e mo-
rais dominantes;
O Marxismo permitiu compreender que os
ƒƒ Fatos humanos são instituições sociais
fatos humanos são historicamente determinados
e históricas produzidas não pelo espí-
e que a historicidade garante a interpretação ra-
rito e pela vontade livre dos indivídu-
cional deles e o conhecimento de suas leis. Nes-
os, mas pelas condições objetivas nas
se sentido, os fenômenos sociais são dotados de
quais a ação e o pensamento humanos
sentido e significação e são históricos.
devem se realizar; as relações de TRA-

3.4 A Geografia Cultural Crítica

A Geografia Cultural Crítica começou a ƒƒ Os seres humanos agem racionalmente


emergir no início dos anos 1970, a partir dos es- em conjunto, para o alcance de metas
tudos da Geografia Humana, incluindo a pers- pessoais e sociais;
pectiva marxista estruturalista. Contudo, nesses ƒƒ Os geógrafos deveriam buscar pratici-
pontos, os geógrafos trabalharam explicações de dade nos estudos. A Geografia Humana
padrões de ocupação e atividades humanas e isso deveria ser relevante e seus resultados
excluía as considerações de cultura e símbolo. deveriam ser aplicados a uma situação
Esses pontos são: concreta no mundo;
ƒƒ A Geografia Humana deveria evitar
ƒƒ O mundo físico é domínio da Geografia questões políticas e ideológicas, bem
Física científica e estabelece limites à como filosóficas, tanto abertas quanto
conduta do homem; litigiosas.

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Dessa forma, haveria a necessidade de uma culturas, tendo como elementos para a transfor-
Geografia que estudasse os domínios da ativida- mação cultural a religião, as artes, a crença e as
de humana em termos espaciais e suas expres- formas de trabalho. Ela abrange desde análises de
sões ambientais. Além disso, há uma contradição, objetos da prática cotidiana, as representações da
pois nega o homem a si mesmo a linguagem de natureza na arte e a construção social de identi-
moldar as metas que procura, mesmo tendo in- dades baseadas em lugares, como a pesquisa da
tenções moralmente infundadas e o resultado de cultura material, costumes sociais e significados
seu trabalho ser de valor para a humanidade. Os simbólicos.
objetos de pesquisa continuam exclusivamente Para entender as expressões existentes
empíricos e as interpretações da motivação hu- numa cultura, é preciso conhecer a linguagem dos
mana, utilitárias. Nesse dilema, perdemos o fato símbolos e seus significados nessa cultura. Todas
de que a Geografia maravilha-se com o mundo as paisagens são simbólicas, porque são produtos
humano e também perdemos a falta do reconhe- da apropriação e transformação do meio ambien-
cimento de outras motivações humanas. te pelo homem. O simbolismo é mais apreendido
Quanto à teoria marxista, havia o problema nas paisagens mais elaboradas e através da repre-
de manter o momento dialético em que um modo sentação da paisagem na pintura, poesia e outras
de produção é reconhecido na prática como um artes.
modo de vida, como pensava Dennis Cosgrove, a Enfim, a Geografia Cultural Crítica pode ser
expressão de seres humanos conscientes, autor- entendida como um ramo da Geografia preocu-
reflexivos e engajados na produção e reprodução pado com a distribuição espacial das manifesta-
de suas vidas e de seu mundo material. ções culturais, como as religiões, as crenças, os
A Geografia Cultural Crítica deve se prestar rituais, as artes, as formas de trabalho, tudo o que
a tratar a perspectiva do materialismo histórico, é resultado de uma criação ou transformação do
porque se percebeu que a Geografia Humana e o homem sobre a natureza ou das suas relações
marxismo estruturalista podem entrar em contra- com o espaço, seja no planeta, em um continen-
dição com as emoções dos homens na dialética te, país etc.
entre cultura e natureza.
A Geografia Cultural é um ramo da Geogra-
fia que se orienta a partir dos debates sobre as

3.5 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a),

Neste capítulo, tratamos da renovação da Geografia pós-anos 1950. Falamos um pouco da Geo-
grafia neopositiva, marxista, comportamental e humanística, chegando até a Geografia Cultural crítica.
Vamos checar seu aprendizado?

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3.6 Atividades Propostas

Seguem quatro trechos dos pensamentos de autores que aparecem como referências para a Ge-
ografia Crítica ou para a Pedagogia. Observe, particularmente, os destaques nos textos. Leia-os e faça o
que se pede ao final:

Todo o século XIX foi um contínuo esforço por efetivar a educação do ponto de vista nacional. Nesse
século desenvolveu-se a mais extensa luta dos partidos políticos, conservadores e progressistas, rea-
cionários e liberais, por apoderar-se da educação e da escola, para seus fins. Em geral, pode-se dizer
que foi uma luta entre a Igreja e o Estado em torno da educação; venceu este e em cada país foi orga-
nizada uma educação pública nacional. [...] A Revolução Industrial principiada em fins do século an-
terior, agora se desenvolve intensamente e origina a concentração de grandes massas de população
e a necessidade de cuidar de sua educação. [...] Trata-se agora de dar caráter cívico ao ensino de cada
país, em forma de educação patriótica e nacionalista. Com isso acentuam-se as diferenças nacionais e
preparam-se os acontecimentos bélicos desse e do nosso século (LUZURIAGA, 1983, p.180-181, grifo
nosso).

Tal sistema (o escolar) contribui de maneira insubstituível para perpetuar a estrutura das relações de
classe e, ao mesmo tempo, para legitimá-la ao dissimular que as hierarquias escolares que ele pro-
duz reproduzem hierarquias sociais. (BOURDIEU; PASSERON, 1975, p. 213, grifo nosso).

O espaço pedagógico é repressivo, mas esta ‘estrutura’ tem um significado mais vasto do que a repres-
são local: o saber imposto, ‘engolido’ pelos alunos, ‘vomitado’ nos exames, corresponde à divisão
do trabalho na sociedade burguesa, serve-lhe, portanto, de suporte. Esta análise desenvolveu-se
desde a descoberta da pedagogia ativa (Freinet) até as investigações da crítica institucional que pros-
seguem nos nossos dias. (LEFEBVRE, 1977, p. 226, grifo nosso).

A geografia escolar que foi imposta a todos no fim do século XIX e cujo modelo continua a ser repro-
duzido ainda hoje, quaisquer que possam ter sido os progressos na produção de ideias científicas,
encontra-se totalmente alheada de toda a prática. De todas as disciplinas na escola [...], a geografia
é, ainda hoje, a única que surge como um saber sem a mínima aplicação prática fora do sistema de
ensino. [...] No entanto, o mestre, o professor, sobretudo dantes, obrigava a ‘fazer’ muitos mapas [...]
são imagens simbólicas que o aluno deve desenhar por si próprio: dantes era mesmo proibido de-
calcar, talvez para melhor o apreender. A imagem mágica que deve ser reproduzida pelo aluno é,
antes de mais nada, a da Pátria. Outros mapas representavam outros Estados, entidades políticas
cujo esquematismo dos caracteres simbólicos vem reforçar ainda mais a ideia de que a nação onde
vivemos é um dado intangível (dado por quem?), apresentado como se tratasse não de uma cons-
trução histórica, mas de um conjunto espacial engendrado pela natureza. É sintomático que o termo
eminentemente geográfico ‘país’ tenha suplantado, em todas as matérias, as noções mais políticas de
Estado, de nação [...]. (LACOSTE, 1977, p. 38, grifo nosso).

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Após a leitura, reflita particularmente sobre os grifos (destaques) dados aos textos e responda às
questões:

1. Todos os autores parecem unânimes ao afirmar o caráter conservador da escola e do ensino


de Geografia até os dias de hoje. Comente a relação apontada entre o fortalecimento do Es-
tado nacional (o País, o patriotismo e a consequente diferenciação entre os povos) e o papel
da Geografia na ação dos países, particularmente no que se refere às guerras e à afirmação do
Estado. Lembre-se de sua apostila (releia as contribuições de Ratzel e La Blache, por exemplo)
e articule com os textos.

2. Como você vê a legitimação da repressão ao aluno na escola e pela escola que os autores
insinuam? Em sua opinião, de que forma ocorre essa reprodução das hierarquias sociais (so-
ciedade de classes e a divisão do trabalho) no ambiente escolar?

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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS

CAPÍTULO 1

1. Percebe-se que Marco Polo estabelecia constantemente comparações entre os novos lugares
aos quais era apresentado e as outras cidades e áreas por onde passou, assim como sempre se
remetia à sua própria história/infância. Dessa forma, o autor destaca que Marco Polo afirmava-
-se como ser (afirmava sua identidade) através do encontro com o outro, com o diferente, com
outros lugares. Em outras palavras, para o autor, Marco Polo se reconhecia ao se diferenciar
dos outros e ao estabelecer as distinções entre as diferentes localidades por onde passou e
que constituem, então, sua experiência.

CAPÍTULO 2

1. A Alemanha não existia como país até 1871. A confederação de pequenas unidades políticas
que formava certa identidade germânica, disputada por Prússia e Império Austro-Húngaro,
integra-se e, sob o comando da Prússia (vencedora da guerra), forma a Alemanha. Esse país
mantinha a coexistência de uma estrutura agrária conservadora herdada do feudalismo e o
avanço da industrialização. Rapidamente, a indústria alemã exige um mercado consumidor
para a sua produção, o que se vê dificultado pela inexistência de colônias alemãs nos trópicos
(ao contrário das rivais França e Inglaterra). Assim, era preciso forjar uma estratégia nacional
visando à ampliação do território alemão, posto que o mundo já estivesse dividido entre as
potências neocolonialistas quando a Alemanha surge. Para isso, o Estado alemão conta com
Ratzel, que, através de suas teorias racistas e territoriais, fundamenta o poder do Estado ale-
mão na contínua expansão do seu território (no continente europeu). A relação entre o de-
senvolvimento da sociedade e o crescimento do território estava colocada: quanto mais uma
sociedade se desenvolve, mais território é necessário para satisfazer a demanda econômica
e, automaticamente, o Estado também se fortalece. O inverso também seria verdadeiro: se a
sociedade enriquece e não há aumento do território, o Estado declina e todo o país sofre as
consequências. Por fim, Ratzel se utilizou de uma ideologia nacional poderosa, articulando o
povo alemão recém-criado com características ambientais do território, revelando uma rela-
ção íntima entre o espaço físico e a sociedade.

CAPÍTULO 3

1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.

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REFERÊNCIAS

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DEMANGEON, A. Uma definição da geografia humana. In: DEMANGEON, A. Problèmes de géographie


humaine. Tradução de Jaci Silva Fonseca. Paris: Librairie Armand Colin, 1952. p. 25-34.

FERREIRA, C. C.; SIMÕES, N. N. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1986.

MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1985.

SAUER, C. Introducción a la geografía histórica. In: CORTEZ, C. (Org.). Geografía histórica. Cidade do
México: Instituto Mora, s.d. p. 35-52.

SORRE, M. Fundamentos da geografia humana. In: MEGALE, J. F. (Org.). Max Sorre. São Paulo: Ática, 1984.
p. 87-98.

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