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História do
Pensamento
Geográfico
APRESENTAÇÃO
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de História e Pensamento
Geográfico, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmi-
co e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às)
alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
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ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
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a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 o que é geografia? origens e base do conhecimento
geográfico........................................................................................................................................... 7
1.1 Primeiros Apontamentos..............................................................................................................................................7
1.2 Objeto da Geografia: Construção e Acúmulo Teóricos ao Longo do Tempo.............................................8
1.3 Definições de Geografia.................................................................................................................................................9
1.4 Princípios da Geografia...............................................................................................................................................11
1.5 O Período Pré-Institucional da Geografia.............................................................................................................11
1.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................20
1.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................20
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o que é geografia? origens e base
1 do conhecimento geográfico
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Assim, o Homem aparece como agente das coletividades humanas sobre a Ter-
da natureza, transformador da paisa- ra. Importante ressaltar que essas trans-
gem natural. A Geografia, sob esse pon- formações são estendidas por diversas
to de vista, estuda fenômenos de toda regiões em função das migrações.
ordem em relação à presença e à ação
Atenção
• Para Jean Tricart, seu campo seria a “epiderme” da Terra, isto é, a superfície terrestre e a biosfera;
• Para Jean Gottman, o espaço acessível aos homens e por eles utilizado para sua existência. Inclui, assim, os mares
e os ares;
• Para François Perroux, o espaço geográfico é um espaço localizável, concreto, “banal”. Se cada um dos pontos
do espaço é suscetível de ser localizado, o que importa é sua situação relativamente a um conjunto no qual se
inscreve e as relações por ele mantidas com os diversos meios de que faz parte, ou seja, conjuntos de relações na
superfície da Terra. Esse movimento conduz a uma REDE – sistemas de relações, sendo algumas condicionadas a
partir dos dados do meio físico e outras provenientes das sociedades humanas, responsáveis pela organização do
espaço em função da densidade demográfica, da organização social e econômica, do nível das técnicas etc.;
O espaço pode ser visto num sentido absoluto, como uma coisa em si, com existência espe-
cífica, determinada de maneira única. [...] Em segundo lugar, há o espaço relativo, que põe em
relevo as relações entre objetos e que existe somente pelo fato de esses objetos existirem e es-
tarem em relação uns com os outros. [...] Em terceiro lugar, há o espaço relacional, onde o espaço
é percebido como conteúdo e representando no interior de si mesmo outros tipos de relação
que existem entre objetos. (MABOGUNJE);
Um sistema de realidades (coisas e vida que as anima) supõe uma estruturação e uma lei de
funcionamento. O espaço não é nem uma coisa nem um sistema de coisas, senão uma realida-
de relacional: coisas e relações juntas. De um lado, um arranjo de objetos geográficos (objetos
naturais e objetos sociais) e, de outro, a vida que os preenche e os anima, a sociedade em mo-
vimento. (SANTOS);
• Sua definição só pode ser encontrada em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas pelo
TRABALHO.
Saiba mais
Diversos autores definiram a Geografia. Diz- Geografia seria o estudo das relações
-se que existem tantas Geografias para tantos au- dos grupamentos humanos com o
tores que as definiram um dia. Entre essas defini- meio geográfico (DEMANGEON, 1952);
ções, destacam-se algumas célebres: Para Pierre George, Geografia é o estu-
do da dinâmica do espaço humanizado;
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Racionalismo X Empiricismo
Descartes Francis Bacon
Spinoza Locke
Leibniz Hume
Kant
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HUMBOLDT RITTER
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Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, aprendemos o que é a Geografia, suas origens e bases de conhecimento, seu objeto
de estudo, várias definições e princípios. Vimos também o percurso dessa disciplina através dos tempos
e principais contribuições.
Marco Polo
Mercador e viajante (1254-1324). Nasce em Curzola, na Dalmácia (atual Croácia), na época provín-
cia veneziana. Aos 17 anos, acompanha o pai e o tio, ambos mercadores, numa viagem ao Extremo
Oriente. Passa pela Turquia, atravessa o golfo da Pérsia, o Afeganistão (onde fica um ano, curando-se
de malária) e o Paquistão, até chegar à capital do Império Mongol, em 1275.
Permanece na China por 17 anos, exercendo funções administrativas e diplomáticas na corte do so-
berano Kublai Khan, neto de Gengis Khan. O pai e o tio provavelmente desempenham funções técni-
cas, talvez de aconselhamento militar. Em 1295, os Polo se oferecem para acompanhar uma princesa
mongol até a Pérsia, e então voltam a Veneza, com riquezas e especiarias.
Três anos depois, Marco Polo é feito prisioneiro em uma batalha entre venezianos e genoveses, tradicionais
rivais. Na prisão, em Gênova, narra as aventuras no Oriente ao escritor toscano Rustichello, que redige o Livro
das Maravilhas – A Descrição do Mundo. Marco Polo torna-se famoso. Ao sair da prisão, volta para Veneza, onde
fica até a morte. No decorrer dos séculos, o Livro das Maravilhas transforma-se num clássico traduzido para inú-
meras línguas. As informações geográficas nele contidas são utilizadas durante a era das viagens marítimas nos
séculos XV e XVI.
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Na sua opinião, o que o autor quer dizer quando afirma que “quanto mais se perdia em bairros
desconhecidos de cidades distantes, melhor compreendia as outras cidades que havia atra-
vessado para chegar até lá, e reconstituía as etapas de suas viagens, e aprendia a conhecer o
porto de onde havia zarpado, e os lugares familiares de sua juventude, e os arredores de casa,
e uma pracinha de Veneza em que corria quando era criança”? Qual seria a relação entre o
entendimento do mundo desconhecido pelas viagens e sua própria experiência?
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A GEOGRAFIA INSTITUCIONALIZADA
2 E OS FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA
CLÁSSICA
Saiba mais
1. A criação da Confederação Germânica
era o primeiro passo para a unificação, A obra de Ratzel, “Antropogeografia”, apresenta os
a fim de reunir o poder disperso pelas fundamentos da aplicação da Geografia à História
várias unidades confederadas; (1882). Essa obra funda a Geografia Humana, pos-
suindo como objeto geográfico o estudo da influ-
2. Prússia e Áustria disputavam a hege- ência que as condições naturais exercem sobre a
monia dentro da Confederação; humanidade (fisiologia, psicologia dos indivíduos
3. Segundo passo para a unificação: re- e, então, sociedade). Para Ratzel, a natureza influen-
pressão aos levantes populares de ciaria:
1848. A reação à onda revolucionária
• A própria constituição social, através dos recursos
que tomou a Europa através de alian- do meio em que está localizada a sociedade;
ças e ações unificadas sob um coman- • A possibilidade de expansão de um povo, obsta-
do comum foi realizada com a articula- culizando-a ou acelerando-a;
ção das classes dominantes (agrárias), • As possibilidades de contato com outros povos,
formando um bloco reacionário con- gerando, assim, o isolamento e a mestiçagem.
trarrevolução;
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Em Ratzel, a sociedade é vista como um or- Partiu das colocações ratzelianas referentes à
ganismo que mantém relações duráveis com o ação do Estado sobre o espaço. As teorias e téc-
solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades nicas que legitimavam e operacionalizavam o
de moradia e alimentação. O progresso podia imperialismo eram formas de defender, manter e
ser alcançado através do maior uso dos recur- conquistar territórios. Um dos mais proeminentes
sos do meio, logo, uma relação mais íntima com estudiosos do tema era o jurista Rudolf Kjellen.
a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo,
tanto maior seria para a sociedade a necessidade Figura 7 – Rudolf Kjellen.
de manter sua posse. Segundo Ratzel, quando a
sociedade se organiza para defender o território,
transforma-se em Estado. O território representa
as condições de trabalho e existência de uma so-
ciedade e o progresso implicaria a necessidade
de aumentar o território.
No processo de constituição dos concei-
tos basilares de seu pensamento, o ESPAÇO VI-
TAL revela uma proporção de equilíbrio entre a
população de uma dada sociedade e os recursos
disponíveis para suprir suas necessidades. O ex-
pansionismo aparece como algo natural e inevi-
tável: essa é a teoria que legitima o imperialismo
alemão. Além de Kjellen, Halford Mackinder (teoria
do Heartland) e Karl Haushofer garantiram que o
pensamento geopolítico adquirisse um lugar na
Atenção
Geografia. O General Karl Haushofer era amigo de
A Geografia ratzeliana privilegiou o elemento hu- Hitler e diretor do Instituto Geopolítico de Muni-
mano, com a valorização da História e do espa- que. Para ele, a Geopolítica era parte da estratégia
ço. Principais temas: a formação dos territórios, a
difusão dos homens pelo planeta, a distribuição militar do Reich. Sua escola influenciou direta-
dos povos na superfície terrestre, o isolamento e mente os planos de expansão nazistas.
suas consequências.
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Figura 9 – Paul Vidal de La Blache. posição com ação nacional. Sua ação consistia no
domínio total das relações capitalistas, cujo pro-
cesso foi completado com Napoleão Bonaparte.
O projeto hegemônico da classe revolu-
cionária (burguesia) aglutinava os interesses da
sociedade através da revolução popular, dirigida
pelos ideólogos burgueses e somada à participa-
ção política de massas. A Revolução Francesa foi
um movimento popular, comandado pela bur-
guesia. Nesse processo, o pensamento burguês
gerou propostas progressistas, instituindo uma
tradição liberal no país. Contudo, o contínuo des-
gaste entre burgueses e o resto do povo francês
conduziu ao acirramento da luta de classes.
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Em 1870, ocorre a Guerra Franco-prussiana: Geografia aparece como ciência dos lu-
França perde Alsácia e Lorena, fundamentais para gares, o que interessaria é o resultado
a sua industrialização. Cai o Segundo Império de da ação do homem na paisagem. O ho-
Luís Bonaparte e ocorre o levante da Comuna de mem transforma matéria natural e cria
Paris. Sob os auspícios germânicos, surge a Ter- formas sobre a superfície terrestre.
ceira República, período de desenvolvimento da
Geografia francesa.
Assim, o homem, como hóspede antigo de
A Geografia se institucionaliza com o apoio vários pontos da Terra, se adaptou em cada lugar
do Estado francês, colocada em todas as séries do criando (em relação com a natureza) um conjun-
ensino básico e instituída nas Universidades atra- to de técnicas, hábitos, usos e costumes passa-
vés das cátedras e dos institutos de Geografia. dos socialmente, formando GÊNEROS DE VIDA.
A guerra havia colocado para a classe domi- Uma vez estabelecido, o gênero de vida tenderia
nante francesa a necessidade de pensar o espaço, a reproduzir-se da mesma forma. Alguns fatores
fazer uma Geografia que deslegitimasse a refle- poderiam agir impondo uma mudança no gêne-
xão geográfica alemã ratzeliana, dominasse o ter- ro de vida: o crescimento populacional poderia
ritório francês e, ao mesmo tempo, fornecesse os impulsionar a sociedade em busca de novas téc-
fundamentos para o seu expansionismo. nicas ou levar a dividir a comunidade e criar um
Assim como Ratzel, La Blache veiculou, atra- novo núcleo.
vés do discurso científico, o interesse da classe do- Para o progresso humano, o contato com
minante de seu país. Devido ao desenvolvimento outros gêneros de vida seria fundamental, pois os
diferenciado do capitalismo nesses países, foram contatos gerariam arranjos mais ricos, pela incor-
diferentes também as formas e os conteúdos des- poração de novos hábitos e técnicas.
sas ideologias. Principais críticas às proposições Os “Domínios de civilização” correspondem
ratzelianas: a uma área abrangida por um gênero de vida co-
mum, englobando várias comunidades. Os gê-
Politização exagerada do discurso ge- neros de vida se difundiriam pelo globo em um
ográfico: “necessária neutralidade da processo de enriquecimento mútuo, levando ao
ciência” apontava contra o caráter apo- fim dos localismos.
logético do expansionismo alemão e a As fronteiras europeias definiriam domínios
concepção de “espaço vital”; de civilização, solidamente firmados por séculos
Caráter naturalista de Ratzel: minimi- de história! Aqui está a crítica ao expansionismo
zação do elemento humano. La Blache alemão, ao controle territorial interno, e o funda-
defende o poder criativo do homem e mento da legitimação da ação colonial francesa.
valoriza a história; Por quê?
Concepção fatalista da relação homem/ A ação imperialista francesa não se concen-
natureza: La Blache era mais relativista e trava na Europa: o expansionismo colonial na Ásia
critica a ideia da determinação da histó- e na África produziu uma Geografia Colonial. O
ria pelas condições naturais. Tudo o que contato dos gêneros de vida estagnados das áre-
se refere ao homem é mediado pelas as atrasadas do mundo com a missão civilizadora
contingências (incerteza, pode ou não francesa conduziria ao progresso.
acontecer), pela possibilidade! A Geografia deveria estudar os gêneros de
Objeto de estudo da Geografia: relação vida, os motivos de sua manutenção ou transfor-
homem/natureza na perspectiva da mação, e sua difusão, com a formação dos do-
paisagem. O homem é um ser ativo que mínios de civilização. Nesse sentido, considerar
sofre influência da paisagem. Assim, a as obras humanas sobre o espaço criadas pelas
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A Geografia Tradicional (Clássica ou Posi- sentido, justifica-se o estímulo para pensar o es-
tivista) conforma-se inclinando a Geografia Hu- paço, logo, para fazer Geografia.
mana ao estudo de fenômenos humanos como Definiu o objeto geográfico como o estudo
produtos da ação humana, não para os processos da influência que as condições naturais exercem
sociais que os engendraram. sobre a humanidade, realizou extensa revisão bi-
A Geografia de Ratzel foi um instrumento bliográfica sobre temas das influências da natu-
poderoso de legitimação dos desígnios expan- reza sobre o homem e concluiu criticando duas
sionistas do Estado alemão recém-constituído. A posições: a que nega tal influência e a que visa a
unificação tardia da Alemanha deixou-a de fora estabelecê-la de imediato. Nesse projeto de Rat-
da partilha dos territórios coloniais, alimentando zel, essa ligação se expressa na justificativa do ex-
um expansionismo latente, que aumentaria com pansionismo como algo natural e inevitável, uma
o próprio desenvolvimento interno. Daí depreen- sociedade que progride gerando uma teoria que
de-se o agressivo projeto imperialista, o propósi- legitima o imperialismo bismarckiano. Uma visão
to constante de anexar novos territórios. Nesse do Estado como protetor acima da sociedade
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vem no sentido de legitimar os Estados prussia- relação entre a população e os recursos, uma situ-
nos, onipresentes e militarizados. ação de equilíbrio construída pelas sociedades e
A Geografia proposta por Ratzel privilegiou a diversidade dos meios, e explicaria a diversida-
o elemento humano e abriu várias frentes de es- de dos gêneros de vida.
tudo valorizando questões referentes à história À Geografia caberia estudar os gêneros de
e ao espaço, como a formação dos territórios, a vida, os motivos de sua manutenção ou transfor-
difusão dos homens pelo planeta (migração, co- mação, e sua difusão com a formação dos domí-
lonização), a distribuição dos povos e das raças na nios de civilização. Acentuou o propósito humano
superfície terrestre. Metodologicamente, mante- de Geografia Humana, entretanto esta foi conce-
ve a ideia da Geografia como ciência empírica. bida como um estudo de paisagem: os homens
Os discípulos de Ratzel radicalizaram suas se interessam por suas obras. La Blache fala de
colocações, o que se denomina “escola determi- população, de agrupamento e nunca de socieda-
nista” de Geografia: a história era determinada de; fala de estabelecimentos humanos, não de re-
ou o homem é um produto do meio. Uma últi- lações sociais; fala de técnica e dos instrumentos
ma perspectiva proveniente das formulações de de trabalho, porém não de processo de produção;
Ratzel, a chamada escola “ambientalista”, não era enfim, discute a relação homem/natureza, não
considerada uma filiação direta à Antropogeogra- abordando as relações entre os homens. É por
fia. Entretanto, sem dúvida Ratzel foi o primeiro essa razão que a carga naturalista é mantida.
formulador de suas bases. Modernamente, apoia- Mas a Geografia Cultural Clássica ou Tra-
da na Ecologia, a ideia de estudar as inter-relações dicional não floresceu apenas na Europa. Nos
dos organismos que coabitam determinado meio Estados Unidos, o geógrafo Carl Sauer, fundador
já estava presente em Ratzel. e expoente máximo da Escola de Berkeley (Uni-
A escola de Geografia que se opõe às co- versidade da Califórnia), destacou-se. Sua escola
locações de Ratzel vem a ser a francesa e tem de pensamento reuniu geógrafos em torno das
como principal formulador Paul Vidal La Blache. ideias de Sauer, cuja história confunde-se (até
Na segunda metade do século XIX, a França e a 1970) com a da Geografia Cultural dos Estados
Alemanha (no caso, ainda a Prússia) disputam a Unidos.
hegemonia no controle continental da Europa.
Havia nesses dois países uma disputa de interes- Figura 10 – Carl Sauer.
ses nacionais, uma disputa entre imperialismos.
A Geografia de Ratzel legitimava as ações impe-
rialistas do Estado bismarckiano. Era mister para
a França combatê-la; o pensamento geográfico
francês nasceu com essa tarefa.
A Geografia francesa, que esconjurou a Ge-
opolítica germânica, vai criar uma especialização
denominada Geografia Colonial e La Blache pro-
põe uma postura relativista, dizendo que tudo o
que se refere ao homem é medido pela contin-
gência. Esse posicionamento, aceito por seus se-
guidores, fez com que a Geografia francesa aban-
donasse qualquer intento de generalizações. La
Blache definiu o objeto da Geografia como a re-
lação homem/natureza; na perspectiva da paisa-
gem, colocou o homem como um ser ativo, domi-
nante do gênero de vida, o qual exprimiria uma
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grafia Histórica e a Geografia Econômica esta- ta em campo era baseada em técnica de análise
riam fundidas, já que a segunda se interessaria morfológica desenvolvida pela Geografia Física,
pelas Áreas Culturais procedentes da anterior. bem como em um método histórico evolutivo ES-
Por fim, a Geografia Cultural encontrava-se TRUTURAL, buscando determinar as sucessões de
integrada ao objetivo geral da Geografia: a dife- cultura em uma área.
renciação da Terra em áreas. A observação dire-
Piotr Kropotkin (1842-1921) nasceu em fa- punha uma mudança no sistema educacional e,
mília rica e tradicional da Rússia czarista. Estudou principalmente, no ensino de Geografia, colo-
nas melhores escolas de Moscou, sendo sempre cando-a como o principal veículo divulgador de
um dos alunos mais brilhantes (recebendo, inclu- suas ideias de igualdade entre os povos. Afinal, os
sive, elogios do czar Nicolau I), e tinha um futuro estudos geográficos como eram ensinados nas
garantido como general do exército russo. Mas, escolas naquele momento ajudavam a fomentar
apesar de todas as condições financeiras favorá- o preconceito e a ideia de superioridade dos eu-
veis, preferiu seguir um caminho inverso, vivendo ropeus sobre outras raças, justificando o colonia-
do seu próprio trabalho. Exerceu as funções de lismo da Europa, principalmente sobre a Ásia e a
jornalista, professor e até tipógrafo, e, para deses- África.
pero de sua família, tornou-se geógrafo e, mais Para o geógrafo russo, a ciência geográfi-
tarde, um anarquista. ca deveria valorizar as diferenças físicas entre as
Entretanto, também como geógrafo, Kro- regiões, mostrando que uma não se sobrepõe à
potkin não seguiu o protocolo. Uniu Geografia e outra, mas se complementam, e que são essas di-
Anarquismo e, ao contrário de seus colegas, pas- ferenças que garantem o perfeito funcionamento
sou a defender o fim do Estado e suas leis, das ins- da natureza, dando equilíbrio aos diversos acon-
tituições religiosas, do sistema trabalhista vigente tecimentos naturais. Além disso, ela deveria mos-
e das fronteiras entre os países. Com isso, acabou trar que as particularidades físicas de cada região
sendo marginalizado pela própria Sociedade Ge- não deveriam pertencer a uma região específica,
ográfica Russa, que já o havia premiado. pois se tratam de bens comuns a toda a huma-
Suas teorias anarquistas se aproximavam nidade. Defendia, assim, o fim das fronteiras en-
do comunismo, defendendo o fim da proprieda- tre os países. Principalmente, a Geografia deveria
de privada, do trabalho assalariado e do Estado, mostrar aos jovens estudantes que, apesar das
lutando por uma igualdade econômica e política diferenças culturais, nenhuma raça era superior à
entre todos. Por isso, sua orientação era conheci- outra, apenas que cada uma vivia conforme sua
da como anarquista-comunista. Além disso, de- realidade e que essas diferenças precisavam ser
fendia a liberdade moral de cada indivíduo. Para respeitadas. Mostrar que todos eram irmãos e
ele, o homem só seria totalmente feliz se tivesse que deveriam se unir para resolver os problemas
respeito e vivesse plenamente conforme sua mo- que lhes fossem comuns. Quando todos tivessem
ral. Ainda, a religião existia somente para padro- essa consciência de igualdade e irmandade, seria
nizar o moralismo, impedindo o homem de viver o momento de derrubar a burguesia do poder e
com toda a sua vontade e criatividade. instalar a Anarquia, dando uma nova perspectiva
Para que o anarquismo fosse entendido e esperança para a humanidade.
de forma pacífica pela sociedade, Kropotkin pro-
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Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, estudamos a Geografia Institucionalizada e os fundamentos da Geografia Clássica,
vimos as contribuições de Ratzel e Paul Vidal de La Blache, e falamos um pouco da Geografia Cultural
Tradicional e do Anarquismo na Geografia.
Agora, utilizando sua apostila, discorra sobre esse contexto histórico e como Ratzel contribuiu, a
partir de sua produção geográfica, para a criação da Alemanha.
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A RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA
3 PÓS-ANOS 1950
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Desde o fim da Idade Média, com a crise do nalmente, destaca-se Yi-Fu Tuan, que tem apre-
sistema teocêntrico, os filósofos retomaram os es- sentado novos e fundamentais conceitos para a
tudos da Grécia clássica, sociedade marcada pela compreensão do ambiente e das aspirações do
valorização das artes e das ciências que objetivam homem em termos de qualidade ambiental. Po-
o bem-estar humano. Os renascentistas conside- de-se fazer referência, ainda, à colaboração de Ke-
ravam que a religião era insuficiente para explicar vin Lynch nos estudos sobre a imagem da cidade,
os fenômenos da natureza e suas relações com o tornando a percepção interdisciplinar.
Homem. Sendo assim, desenvolveram uma pers- A partir da década de 1950, o comporta-
pectiva humanista, procurando ampliar e valori- mento humano voltou a ser mais amplamente
zar o indivíduo, tanto no que ele é quanto no que debatido nas ciências sociais, principalmente por
ele pode fazer. meio de autores como Kirk (1952), que trabalhou
a relação existente entre as percepções ambien-
Saiba mais tais e a tomada de decisões locacionais, desafian-
do o predomínio do positivismo lógico.
No século das “luzes” (XVIII), a ciência positivista Os anos 1960 foram marcados por grandes
ganha destaque, baseada em conceitos direciona-
dos sobre o significado e o objetivo das ciências de transformações sociais e políticas no mundo, que
modo geral. O Humanismo, inerentemente subjeti- refletiram, por conseguinte, nas ciências. Os mo-
vo, perde então espaço para a ciência neutra e isen- vimentos de contracultura: hippie, dos direitos
ta, com objeto bem definido.
civis, do blues, feminista, gay, passeatas contra
a guerra do Vietnã, entre outros, refletiram uma
nova ordem mundial. Houve uma transformação
Entre as contribuições que “culminaram” na na sociedade mundial e nas suas relações; as ci-
Geografia da Percepção, estão: a “escola francesa ências, então, voltam seu “foco” para as questões
tradicional”, que é o primeiro marco, com suas te- humanas.
ses regionalistas, que implicavam a necessidade Nesse contexto, o pensamento geográfico,
de contatos prolongados do geógrafo com os lu- até então preponderantemente neopositivista
gares e as paisagens; Carl Sauer, a partir de 1925, ou neomarxista, apresenta uma nova alternativa
com as paisagens culturais; Wright, em 1947, epistemológica, por meio da absorção de concei-
com sua “geosofia”; Kirk, em 1951, que propõe a tos humanistas. A Geografia humanística procura
Geografia comportamental como base para a to- um entendimento do mundo humano através do
mada de decisões locais; um ano depois, Dardel estudo das relações das pessoas com a natureza,
demonstra a importância das experiências para do seu comportamento geográfico, bem como
questionamentos sobre o espaço; Lowental, na dos seus sentimentos e ideias a respeito do es-
década de 1960, torna-se um marco propondo paço e do lugar. Percebe-se no humanismo a luta
que a valorização da experiência e imaginação fa- por uma visão mais abrangente, fugindo de res-
cultaria a formação de uma nova epistemologia, trições.
de uma “escola do pensamento”; Anne Buttimer,
nos anos 1970, estuda os valores humanos e suas
repercussões espaciais; Goul e White, em 1974, Dicionário
propõem uma metodologia que une imagens
Neo: prefixo indicativo de “novo”.
mentais, percepção e mapas, os Mental Maps; fi-
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Quanto ao contexto interno à ciência mo- BALHO como base das relações sociais
derna, apresentam-se como razões intelectuais: ao longo do tempo, mediando as rela-
ções entre o homem e a natureza;
A disputa com o Positivismo: a Escola Instituições Sociais apresentadas como
de Frankfurt aparece como uma clara dominadoras da sociedade, postas aci-
reação antipositivista (filósofos como ma dos interesses sociais: 1) instituições
Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benja- econômicas; 2) legitimação através de
min e Habermas se destacam produzin- ideias, significados e símbolos; 3) ins-
do uma teoria crítica da cultura); tituições de poder que sustentem as
Objetividade e ideologia nas Ciências relações sociais práticas e ideológicas
Sociais: importância do conceito de anteriores;
ideologia desenvolvido pelo marxismo As mudanças históricas resultam de
nas ciências sociais; apresentação do processos econômicos e políticos base-
problema da objetividade e da impos- ados na forma assumida pela proprie-
sibilidade de suprimir os juízos de valor dade privada dos meios de produção e
(neutralidade científica); pelas relações de trabalho;
Ciência passa a ser vista como depen- Sociologia, Ciência Política, Economia,
dente do contexto social e não como História e Geografia voltadas à interpre-
algo abstrato, isolado do mundo: o ho- tação dos fenômenos humanos como
mem de ciência compartilha problemas expressão e resultado de contradições
comuns com o resto da sociedade e so- sociais.
fre influências das ideias sociais e mo-
rais dominantes;
O Marxismo permitiu compreender que os
Fatos humanos são instituições sociais
fatos humanos são historicamente determinados
e históricas produzidas não pelo espí-
e que a historicidade garante a interpretação ra-
rito e pela vontade livre dos indivídu-
cional deles e o conhecimento de suas leis. Nes-
os, mas pelas condições objetivas nas
se sentido, os fenômenos sociais são dotados de
quais a ação e o pensamento humanos
sentido e significação e são históricos.
devem se realizar; as relações de TRA-
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Dessa forma, haveria a necessidade de uma culturas, tendo como elementos para a transfor-
Geografia que estudasse os domínios da ativida- mação cultural a religião, as artes, a crença e as
de humana em termos espaciais e suas expres- formas de trabalho. Ela abrange desde análises de
sões ambientais. Além disso, há uma contradição, objetos da prática cotidiana, as representações da
pois nega o homem a si mesmo a linguagem de natureza na arte e a construção social de identi-
moldar as metas que procura, mesmo tendo in- dades baseadas em lugares, como a pesquisa da
tenções moralmente infundadas e o resultado de cultura material, costumes sociais e significados
seu trabalho ser de valor para a humanidade. Os simbólicos.
objetos de pesquisa continuam exclusivamente Para entender as expressões existentes
empíricos e as interpretações da motivação hu- numa cultura, é preciso conhecer a linguagem dos
mana, utilitárias. Nesse dilema, perdemos o fato símbolos e seus significados nessa cultura. Todas
de que a Geografia maravilha-se com o mundo as paisagens são simbólicas, porque são produtos
humano e também perdemos a falta do reconhe- da apropriação e transformação do meio ambien-
cimento de outras motivações humanas. te pelo homem. O simbolismo é mais apreendido
Quanto à teoria marxista, havia o problema nas paisagens mais elaboradas e através da repre-
de manter o momento dialético em que um modo sentação da paisagem na pintura, poesia e outras
de produção é reconhecido na prática como um artes.
modo de vida, como pensava Dennis Cosgrove, a Enfim, a Geografia Cultural Crítica pode ser
expressão de seres humanos conscientes, autor- entendida como um ramo da Geografia preocu-
reflexivos e engajados na produção e reprodução pado com a distribuição espacial das manifesta-
de suas vidas e de seu mundo material. ções culturais, como as religiões, as crenças, os
A Geografia Cultural Crítica deve se prestar rituais, as artes, as formas de trabalho, tudo o que
a tratar a perspectiva do materialismo histórico, é resultado de uma criação ou transformação do
porque se percebeu que a Geografia Humana e o homem sobre a natureza ou das suas relações
marxismo estruturalista podem entrar em contra- com o espaço, seja no planeta, em um continen-
dição com as emoções dos homens na dialética te, país etc.
entre cultura e natureza.
A Geografia Cultural é um ramo da Geogra-
fia que se orienta a partir dos debates sobre as
Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, tratamos da renovação da Geografia pós-anos 1950. Falamos um pouco da Geo-
grafia neopositiva, marxista, comportamental e humanística, chegando até a Geografia Cultural crítica.
Vamos checar seu aprendizado?
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História do Pensamento Geográfico
Seguem quatro trechos dos pensamentos de autores que aparecem como referências para a Ge-
ografia Crítica ou para a Pedagogia. Observe, particularmente, os destaques nos textos. Leia-os e faça o
que se pede ao final:
Todo o século XIX foi um contínuo esforço por efetivar a educação do ponto de vista nacional. Nesse
século desenvolveu-se a mais extensa luta dos partidos políticos, conservadores e progressistas, rea-
cionários e liberais, por apoderar-se da educação e da escola, para seus fins. Em geral, pode-se dizer
que foi uma luta entre a Igreja e o Estado em torno da educação; venceu este e em cada país foi orga-
nizada uma educação pública nacional. [...] A Revolução Industrial principiada em fins do século an-
terior, agora se desenvolve intensamente e origina a concentração de grandes massas de população
e a necessidade de cuidar de sua educação. [...] Trata-se agora de dar caráter cívico ao ensino de cada
país, em forma de educação patriótica e nacionalista. Com isso acentuam-se as diferenças nacionais e
preparam-se os acontecimentos bélicos desse e do nosso século (LUZURIAGA, 1983, p.180-181, grifo
nosso).
Tal sistema (o escolar) contribui de maneira insubstituível para perpetuar a estrutura das relações de
classe e, ao mesmo tempo, para legitimá-la ao dissimular que as hierarquias escolares que ele pro-
duz reproduzem hierarquias sociais. (BOURDIEU; PASSERON, 1975, p. 213, grifo nosso).
O espaço pedagógico é repressivo, mas esta ‘estrutura’ tem um significado mais vasto do que a repres-
são local: o saber imposto, ‘engolido’ pelos alunos, ‘vomitado’ nos exames, corresponde à divisão
do trabalho na sociedade burguesa, serve-lhe, portanto, de suporte. Esta análise desenvolveu-se
desde a descoberta da pedagogia ativa (Freinet) até as investigações da crítica institucional que pros-
seguem nos nossos dias. (LEFEBVRE, 1977, p. 226, grifo nosso).
A geografia escolar que foi imposta a todos no fim do século XIX e cujo modelo continua a ser repro-
duzido ainda hoje, quaisquer que possam ter sido os progressos na produção de ideias científicas,
encontra-se totalmente alheada de toda a prática. De todas as disciplinas na escola [...], a geografia
é, ainda hoje, a única que surge como um saber sem a mínima aplicação prática fora do sistema de
ensino. [...] No entanto, o mestre, o professor, sobretudo dantes, obrigava a ‘fazer’ muitos mapas [...]
são imagens simbólicas que o aluno deve desenhar por si próprio: dantes era mesmo proibido de-
calcar, talvez para melhor o apreender. A imagem mágica que deve ser reproduzida pelo aluno é,
antes de mais nada, a da Pátria. Outros mapas representavam outros Estados, entidades políticas
cujo esquematismo dos caracteres simbólicos vem reforçar ainda mais a ideia de que a nação onde
vivemos é um dado intangível (dado por quem?), apresentado como se tratasse não de uma cons-
trução histórica, mas de um conjunto espacial engendrado pela natureza. É sintomático que o termo
eminentemente geográfico ‘país’ tenha suplantado, em todas as matérias, as noções mais políticas de
Estado, de nação [...]. (LACOSTE, 1977, p. 38, grifo nosso).
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Após a leitura, reflita particularmente sobre os grifos (destaques) dados aos textos e responda às
questões:
2. Como você vê a legitimação da repressão ao aluno na escola e pela escola que os autores
insinuam? Em sua opinião, de que forma ocorre essa reprodução das hierarquias sociais (so-
ciedade de classes e a divisão do trabalho) no ambiente escolar?
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
CAPÍTULO 1
1. Percebe-se que Marco Polo estabelecia constantemente comparações entre os novos lugares
aos quais era apresentado e as outras cidades e áreas por onde passou, assim como sempre se
remetia à sua própria história/infância. Dessa forma, o autor destaca que Marco Polo afirmava-
-se como ser (afirmava sua identidade) através do encontro com o outro, com o diferente, com
outros lugares. Em outras palavras, para o autor, Marco Polo se reconhecia ao se diferenciar
dos outros e ao estabelecer as distinções entre as diferentes localidades por onde passou e
que constituem, então, sua experiência.
CAPÍTULO 2
1. A Alemanha não existia como país até 1871. A confederação de pequenas unidades políticas
que formava certa identidade germânica, disputada por Prússia e Império Austro-Húngaro,
integra-se e, sob o comando da Prússia (vencedora da guerra), forma a Alemanha. Esse país
mantinha a coexistência de uma estrutura agrária conservadora herdada do feudalismo e o
avanço da industrialização. Rapidamente, a indústria alemã exige um mercado consumidor
para a sua produção, o que se vê dificultado pela inexistência de colônias alemãs nos trópicos
(ao contrário das rivais França e Inglaterra). Assim, era preciso forjar uma estratégia nacional
visando à ampliação do território alemão, posto que o mundo já estivesse dividido entre as
potências neocolonialistas quando a Alemanha surge. Para isso, o Estado alemão conta com
Ratzel, que, através de suas teorias racistas e territoriais, fundamenta o poder do Estado ale-
mão na contínua expansão do seu território (no continente europeu). A relação entre o de-
senvolvimento da sociedade e o crescimento do território estava colocada: quanto mais uma
sociedade se desenvolve, mais território é necessário para satisfazer a demanda econômica
e, automaticamente, o Estado também se fortalece. O inverso também seria verdadeiro: se a
sociedade enriquece e não há aumento do território, o Estado declina e todo o país sofre as
consequências. Por fim, Ratzel se utilizou de uma ideologia nacional poderosa, articulando o
povo alemão recém-criado com características ambientais do território, revelando uma rela-
ção íntima entre o espaço físico e a sociedade.
CAPÍTULO 3
1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.
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REFERÊNCIAS
SAUER, C. Introducción a la geografía histórica. In: CORTEZ, C. (Org.). Geografía histórica. Cidade do
México: Instituto Mora, s.d. p. 35-52.
SORRE, M. Fundamentos da geografia humana. In: MEGALE, J. F. (Org.). Max Sorre. São Paulo: Ática, 1984.
p. 87-98.
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