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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE PROFESSORES E HUMANIDADES


PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

Gabriel Filipe de Oliveira Santos

Palavra como questão

GOIÂNIA

2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
ESCOLA DE PROFESSORES E HUMANIDADES
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

Gabriel Filipe de Oliveira Santos

Palavra como questão

Programa de projeto como parte dos


requisitos para os alunos do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência, da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás, sob orientação
pedagógica da Professora e mestre
Divina Paiva.

GOIÂNIA

2019
A PALAVRA COMO QUESTÃO

RESUMO

Este pequeno artigo tem por objetivo analisar o conto “Famigerado”, de


Guimarães Rosa, à luz das Formas Simples, de André Jolles. O texto é lido,
invertendo as posições do inquiridor e do questionado. Tendo como fundo a
modernização do sertão nos anos 60, o embate entre o letrado e o jagunço revela
tensões e ambiguidades, abordadas pela estilística.

Palavras-chaves: Guimarães Rosa. Conto. Famigerado.


ABSTRACT

This small article aims to analyze the story "Famigerado", by Guimarães Rosa,
in the light of André Jolles' Simple Forms. The text is read, reversing the positions
of the inquirer and the respondent. Having as a background the modernization of
the sertão in the 60s, the clash between the lawyer and the jagunço reveals
tensions and ambiguities, approached by the stylistic.

Key-words: Guimarães Rosa. Tale. Famigerado.

O conto de Guimarães Rosa, por título de “Famigerado”, tem esse


vocábulo como eixo principal, o que faz o poema apontar para si uma estrutura
anedota séria, ou seja, uma inversão de forma simples da advinha, tal como
supõe Andre Jolles em seu livro Formas Simples. A ideia linguística que o conto
recebe, é uma riqueza que seu autor revela os procedimentos estilísticos, que
devem ser investigados na leitura.

O texto de Rosa conta o encontro entre o bando de Damázio, líder


jagunço, conhecido pelas “dezenas de carregadas mortes” com um pacato
médico de uma localidade no meio do sertão. A visita imponente do cavaleiro –
um verdadeiro personagem das aventuras romanescas – tem um objetivo
definido: descobrir o sentido do vocábulo “famigerado”, que lhe teria sido dita por
um “moço do Governo, rapaz meio estrondoso...”. Sem saber ao certo se foi ou
não “nome de ofensa”, do alto de seu alazão, Damázio interroga o doutor e
aguarda, armado, o esclarecimento. O conto se faz nesse relance entre duas
culturas, dois mundos, dois modos de ser.

O início do conto situa o texto na esfera dos contos de fadas, do “Era uma
vez” das narrativas: “Foi de incerta feita – o evento.” Indeterminado no tempo, o
evento surge no final da frase. Reforça-se, assim, a ideia de que os contos de
Rosa quebram expectativas e traçam acontecimentos, de trás para diante, de
cabeça para baixo. Aliás, a frase seguinte ratifica essa noção, pois, a instauração
do elemento da surpresa: “Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça”?
O segundo parágrafo, após rápidas frases curtas anteriores que introduzem o
encontro – “Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela” –, abre-se com um
registro puramente utópico, sem verbos, sem complementos: “Um grupo de
cavaleiros”. A cena do conto está centrada na imagem dos homens, postados na
frente da casa. A ênfase nos sujeitos enigmáticos, independentemente de suas
ações, chama atenção para sua postura e seus gestos – como a afirmar que a
ação está toda prenunciada na atitude corporal: “[...] um cavaleiro rente, frente à
minha porta, equiparado, exato; e, embolados de banda, três homens a cavalo”.

No conto de Guimarães Rosa, nos deparamos constantemente com


expressões de frases personalizadas, como também, padronizadas, como
expressões idiomáticas, recorrendo a antigas estruturas linguísticas. É o caso da
conhecida frase: “a um palmo do nariz” e “Ali, antenasal, de mim a palmo!”. O
narrador causa o mesmo impacto exclamativo ao se deparar com Damázio tão
perto dele, que se tem os leitores diante da surpresa escrita.

Em relação a fonologia ativamente ativada no conto, vale a pena


mencionar alguns trechos. As assonâncias são inúmeras e fazem ecoar os
conceitos significativos que trazem o significante ideal ao longo de sua leitura.
Por exemplo: “Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado”. A
sequência silábica intensifica o sentido da imagem e traz a prosa a marca
inequívoca da densidade poética. Também, a aliteração nasal da frase “O Medo
Me Miava”, que minimiza a posição do narrador em um gato vulnerável.

Outro fator relevante, são as aliterações das sílabas, que contribuem para
a atmosfera sinistra, que vai se adensando pelas descrições: “Via-se que
passara a descansar na sela – decerto relaxava o corpo para dar-se mais à
indigente tarefa de pensar.” Atento ao valor significativo dos vocábulos, o autor
constrói seu texto como corpo vivo, fazendo as palavras ganharem densidade e
materialidade. O universo que Rosa revela o seu compromisso com a linguagem
como modo de religar o signo às coisas, priorizando para tanto o aspecto lírico
de sua prosa narrativa.

Ao lado da prosa, e das metamorfoses linguísticas, Rosa usa


constantemente das elipses, que tornam o conto uma sucessão significativa.
Tudo se faz nas entrelinhas, imitando o processo de decodificação de sinais
entre narrador e cavaleiro: “Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo
desfechar com algo, de repente, por um és-não-és.” E mais adiante, de modo
mais intenso, o jogo comunicativo fica mais alusivo, bem mais sugestivo e
lacunoso, do que documental: “A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de
entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim
no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava.”

No conto, o narrador culto se organiza para ouvir o visitante. Afinal,


“aquele propunha sangue, em suas tenções”. A questão central que Rosa tenta
apresentar é proposta por Damázio, o feroz e lendário cavaleiro, que “trazia entre
dentes aquela frase”: “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar
o que é mesmo que é : fasmigerado... faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-
gerado...?”.

O efeito do conto ocorre na surpresa com o inusitado da questão


enigmática, após toda a atmosfera de suspense, ameaças, olhares e deduções.
Esperava-se um ataque a qualquer momento, pois a descrição que antecede a
pergunta desenha uma moldura terrificante: “Carregara a celha. Causava outra
inquietude, sua farusca, a catadura de canibal.” E após conversas “de travados
assuntos, insequentes”, pura “dificultação”, a pergunta se faz hesitante, tímida,
com “a meia esguelha”, sem encarar seu leitor. Tomado de susto pelo
inesperado da interpelação, o cuidadoso narrador medita se alguém teria feito
intriga, “invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem”. Quem
hesita agora é o doutor, limitando-se a perguntar: “Famigerado?” A coragem do
cavaleiro de “armas alimpadas” tem seu contraponto no receio do letrado,
acuado pela perigosa questão. Afinal, o jagunço conta que teria até mesmo
evitado inquirir o padre no São Ão (nome feito de aumentativo, marcado pela
recorrência silábica, reforçando novamente a potência das letras), pois os
homens da igreja, a seu ver, “logo engambelam”. Portanto, nem o saber religioso,
nem o saber rústico da experiência do sertão, cultura de base oral, dão conta do
enigma a ser decifrado. A palavra “famigerado” condensa, no seu mistério, aquilo
que enfraquece o mais forte, que o fragiliza frente ao homem das letras. Diante
da palavra desconhecida, o perigoso matador está desarmado.

Pode-se dizer que o conto em foco se faz em torno da busca de um


sentido, só que restrito ao mistério da palavra opaca. Como na análise, o sujeito
percorre a linguagem no encalço de um desejo errante e fugidio. “Famigerado”,
o vocábulo proibido, indecifrado para o guerreiro dos Gerais, é o nó do enredo e
em torno dele se armam todas as demais investidas, os recuos, as indecisões,
os negaceios, as projeções, as fantasias de ambos os personagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANDIDO, Antonio. “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”. Em


Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1970.
JOLLES, André. Formas simples. (Trad. A. Cabral). São Paulo: Cultrix, 1976.

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