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WILLIAN BARCLAY
Trinity College,
Glasgow,
February, 1958
Nós vimos o Judaísmo essencial de Paulo; e agora nós devemos focar no outro lado do
quadro. Se havia uma coisa da qual Paulo tinha certeza era sobre o privilégio único de
ser o apostolo dos Gentios.
Após a conversão de Paulo na estrada para Damasco, veio a palavra de Deus ao
surpreso Ananias que Paulo iria procurá-lo para ajuda-lo. Não estranhamente Ananias
tendia a considerar o ex arqui-inimigo da Igreja com uma certa suspeita; mas Deus falou
com ele: "Ele é um vaso escolhido por mim, para levar meu nome até os Gentios"
(Atos 9:15). Daquele momento em diante, Paulo nunca perdeu uma oportunidade de
insistir sobre o seu apostolado aos Gentios. Em seu primeiro sermão registrado, em
Antioquia na Pisidia, quando os Judeus recusaram a oferta do evangelho, a afirmação de
Paulo e Barnabé é: O Senhor nos ordenou, dizendo, Eu te coloquei para ser luz aos
Gentios" (Atos 13:47). Quando os Judeus da sinagoga de Coríntios demonstraram
oposição violenta a mensagem do Senhor Jesus Cristo, a resposta de Paulo foi: "A partir
de agora irei para os Gentios" (Atos 18:6). Em sua defesa frente à multidão enfurecida
em Jerusalém, Paulo recorda como Deus falou com ele após o apedrejamento de
Estevão: "Saia: pois Eu te enviarei para longe, aos Gentios" (Atos 22:21). Em seu
discurso frente ao Rei Agripa, Paulo afirma o tinha definitivamente encarregado de
pregar aos Gentios (Atos 26:17, 23).
Repetidamente em suas cartas Paulo revela esta mesma consciência especial de
ser o mensageiro exclusivo do Senhor Jesus Cristo para o mundo Gentio. Ele desejava ir
a Roma para que ele pudesse ter alguns frutos lá, como ele tinha entre outros Gentios
(Romanos 1:13). Na mesma carta ele dá para si mesmo o titulo de apóstolo dos Gentios,
e chama a si mesmo o ministro do Senhor Jesus Cristo para os Gentios (Romanos 11:13;
15:16). Em Gálatas ele diz que o propósito do Senhor Jesus Cristo ter se revelado nele
foi para que ele pudesse pregá-Lo aos Gentios (Gálatas 1:16) E a mesma carta nos dá a
ideia de uma espécie de acordo através do qual Pedro foi para os Judeus e Paulo para os
Gentios (Gálata 2:1-10). Na carta aos Efésios Paulo escreve de si mesmo como o
prisioneiro de Cristo por amor de vocês, Gentios; e fala da graça que foi dada a ele para
pregar aos Gentios (Efésios 3:1-8). Nas Cartas Pastorais Paulo é descrito como um
professor dos Gentios (1 Timóteo 2:7; 2 Timóteo 1:11).
Se alguma vez houve um homem consciente de seu destino, esse homem foi
Paulo, e seu destino foi trazer a mensagem das boas novas do evangelho para o mundo
Gentio.
A INICIATIVA DIVINA
Simone Weil disse: "Pode-se definir como exigência: Todas as concepções de Deus que
são incompatíveis com um movimento de caridade pura são falsas. Todas as outras
concepções dele, em vários graus são verdadeiras." Há um modo de apresentar o
evangelho de Paulo, que é incompatível com a pura caridade de Deus. Algumas vezes o
evangelho de Paulo é pregado de modo que Deus e o Senhor Jesus Cristo são colocados
um contra o outro e contrastados um com o outro. O amor, graça e misericórdia do
Senhor Jesus Cristo é colocado contra a ira, severidade e julgamento de Deus. A
implicação nesta linha, é que através de algo que o Senhor Jesus fez, mudou a atitude de
Deus em relação ao homem, que Deus foi persuadido e pacificado pelo Senhor Jesus
Cristo para mudar Sua condenação em perdão.
Quanto mais estudamos os escritos de Paulo, mais vemos que a concepção
anterior é o reverso da verdade que Paulo via. Se uma coisa é clara, é isto, para Paulo,
toda iniciativa do processo de salvação está em Deus.
A vontade por trás de todo processo de salvação, é a vontade de Deus. Paulo
escreve aos Coríntios, "Aquele que nos estabeleceu com vocês em Cristo, e nos ungiu, é
Deus" (2 Coríntios 1:21). Ele fala aos Tessalonicenses sobre "a vontade de Deus em
Cristo Jesus" (1 Tessalonicenses 5:18). Ele escreve aos Gálatas sobre "Jesus, que deu a
si mesmo pelos nossos pecados, de acordo com a vontade de Deus" (Gálatas 1:4).
Assim, está longe da atitude de Deus, ser mudado por algo que o Senhor Jesus
fez, foi precisamente a atitude de Deus para com o homem que o Senhor Jesus
expressou. Está longe do propósito de Deus ser desviado, por algo que o Senhor Jesus
fez, era precisamente o propósito de Deus, que o Senhor Jesus veio cumprir. A salvação
veio ao homem não em oposição à vontade de Deus; ela veio porque era a vontade de
Deus.
Era o amor de Deus que estava por trás de todo processo de salvação. Paulo
escreve aos Tessalonicenses que "nosso próprio Senhor Jesus Cristo, e Deus, nosso Pai,
que nos amou, e nos deu consolação eterna" (2 Tessalonicenses 2:16). Foi seu amor que
Deus nos entregou na morte de Cristo (Romanos 5:8). É a bondade de Deus, que leva os
homens ao arrependimento (Romanos 2:4). É a partir do amor de Deus, que nada pode
nos separar (Romanos 8:39). É pela misericórdias de Deus que Paulo apela para os
homens (Romanos 12:1). Ele escreve aos Efésios sobre Deus "Aquele que é rico em
misericórdia, por causa do grande amor com o qual nos amou" (Efésios 2:4). Foi o
próprio Pai que nos fez "idôneos para participar da herança dos santos na luz"
(Colossenses 1:12). o Senhor Jesus Cristo veio dizer aos homens, não que Deus odeia
O CHAMADO DE DEUS
Vimos como Paulo acreditava com todo seu coração que Deus estava por trás de todo
processo de salvação. A iniciativa da salvação é uma iniciativa Divina, a iniciativa de
Deus.
Mas, para Paulo, o assunto era ainda mais pessoal que isso. Se dissermos que é a
vontade de Deus que está por trás de todo processo de salvação, e deixarmos assim,
podemos sentir que todo propósito de Deus, era um tipo de propósito generalizado
visando a salvação da humanidade. Mas Paulo tinha certeza que o propósito de Deus
não era um propósito generalizado, mas sim um propósito individualizado, que o
propósito de Deus não era apenas a salvação da humanidade, mas a salvação de cada
homem individualmente. Como Augustinho disse na famosa frase com a qual Paulo
concordaria de todo coração: "Deus ama cada um de nós como se existisse apenas um
de nós para amar." Por esta razão Paulo achava muito importante o chamado de Deus.
O chamado de Deus não é apenas uma chamada ampla e geral a toda
humanidade; é a convocação pessoal de Deus e convite para cada homem
individualmente. Deus não propõe apenas a salvação de toda humanidade, ele tem "Sua
própria escada secreta em cada coração." Ele convida cada homem individualmente
para responder seu chamado.
A ideia do chamado de Deus está por todas as cartas de Paulo; e é de máximo
interesse e significado ver o que Paulo acreditava sobre o porque Deus está chamando
os homens.
Paulo acreditava que Deus está chamando os homens para salvação. Ele escreve
aos Tessalonicenses que Deus está chamando eles, não para ira, mas para salvação
(1 Tessalonicenses 5:9). Deus os escolheu, desde o principio, para salvação
(2 Tessalonicenses 2:13).É objetivo de Deus, resgatar os homens da situação sem
esperança na qual se encontram, e liberta-los das correntes nas quais se envolveram.
O mundo antigo sentia, pessimistamente, que tinha perdido a batalha moral. "Os
homens", disse Epicteto, "estão dolorosamente conscientes de sua fraqueza nas coisas
necessárias." Os homens amam seus vícios e os odeiam ao mesmo tempo," disse
Sêneca. "Não temos apenas agido errado," ele disse. "Vamos fazê-lo até o fim." Pérsio,
o poeta Romano, escreveu desesperadamente: "Deixe o culpado ver a virtude e definhar,
pois perderam ela para sempre." Ele fala sobre a "imunda Natta, entorpecida pelo vício."
"Quando um homem," disse Epicteto, "está endurecido como uma pedra, como pode
algum argumento convencê-lo?" Sêneca declarou que o que os homens precisavam
acima de tudo era "uma mão estendida para levantá-los." O mundo antigo estava
profundamente consciente que era inextricavelmente emaranhados e enredados no
PENSAMENTOS DE PAULO
SOBRE O SENHOR JESUS CRISTO
Quando tentamos descobrir o que Paulo pensava e acreditava sobre o Senhor Jesus
Cristo, devemos começar lembrando duas coisas. Primeiro, Paulo não era um teólogo
sistemático. Paul não era, de modo algum, como um homem sentado em uma biblioteca
ou em um estudo, cuidadosamente e logicamente compilando um sistema de teologia.
Em primeiro lugar Paulo argumentou pela experiência. Quando ele fala sobre o Senhor
Jesus, ele não nos oferece algo que é fruto de pensamento, dedução, estudo ou o
equilíbrio cuidadoso da teoria de um contra a teoria de outro e a filosofia de um contra a
filosofia de outro. Ele constantemente diz: "Isto é o que aconteceu comigo. Isto é o que
tenho vivido. Isto é o que o Senhor Jesus fez por mim. Isto sei que é verdade."
É verdade que isto pode ser uma distinção muito injusta para fazer. Mas é
verdade dizer que o interesse de Paulo não era em teologia, mas em religião. Ele nunca
se preocupou em elaborar e desenvolver um sistema que seria plenamente satisfatório
para a mente e o intelecto: ele estava interessado em dizer aos homens sobre uma fé
baseada em experiência, pela qual eles deveriam viver. Quando Paulo fala sobre o
Senhor Jesus, ele simplesmente estabelece sua própria experiência de seu Senhor
ressuscitado.
Segundo, devemos nos lembrar que não havia nada estático na crença de Paulo.
Paulo era sempre confrontado com o fluxo, sempre em movimento e mudança, da
experiência humana. Ele foi sempre envolvido em situações de mudanças. Ele teve que
encontrar um erro após o outro; ele tinha que igualar-se com um conjunto de pensadores
após o outro; ele tinha que lidar com uma heresia após a outra. Ele estava vivendo nos
dias quando a Igreja ainda estava em efervescência, muitos dias antes do tempo em que
a Igreja se estabeleceu como uma instituição ortodoxa. E para satisfazer cada mudança
de situação e problema, ele tinha que tirar novas verdades e novos tesouros do que ele
mesmo chamava de insondáveis riquezas de Cristo. Ele estava sempre descobrindo
novas grandezas e novas adequações no Senhor Jesus Cristo. Não importava quanto
Paulo tinha vivido, ele nunca pode chegar na religião estática.
É dito que uma certa senhora famosa foi questionada sobre qual qualidade ela
considerava como a mais necessária para uma pessoa possuir de modo que ele possa se
destacar na vida. Ela respondeu em uma palavra: "Adaptabilidade." No sentido mais
elevado possível, e não em qualquer sentido oportunista, a teologia de Paulo era uma
teologia adaptável. Estava sempre aprofundando, desenvolvendo e ampliando-se para
atender as novas situações que a vida da Igreja em crescimento trouxe para ele. É por
A ENCARNAÇÃO
O fato central do Cristianismo é que no Senhor Jesus Cristo, Deus veio a este mundo,
que no Senhor Jesus Cristo, Deus tomou a vida do homem sobre ele mesmo. Esta é a
doutrina que chamamos de Encarnação, porque a palavra Encarnação literalmente
significa a própria carne. Como isto pode acontecer, os homens ainda tentam explicar,
e através dos séculos, eles tem elaborado suas teorias. O método talvez nunca saibamos;
o fato, a maioria de nós certamente e abençoadamente sabemos. Paulo via a Encarnação
de dois lados.
Paulo via a Encarnação do lado de Deus Pai. Para Paulo a encarnação era, no
sentido mais literal, um ato de Deus. Deus enviou seu Filho em carne como a carne de
qualquer homem (Romanos 8:3). É o amor de Deus, o qual está em Jesus Cristo, nosso
Senhor (Romanos 8:39). Era Deus que estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo
mesmo (2 Coríntios 5:19). Aquele dom é um dom indescritível (2 Coríntios 9:15).
Antes de tal ato de amor, diante de tal esplendor de generosidade, não há nada para o
homem fazer além de silencio e grata adoração. A Encarnação em sua essência é um ato
de Deus em nome do homem.
Paulo viu a Encarnação do lado do Senhor Jesus Cristo, Filho. Aqui Paulo viu a
Encarnação de um modo que é exclusivamente seu. Ele não pensava no sacrifício do
Senhor Jesus Cristo como se tivesse começado na terra. Ele não pensava no sacrifício
do Senhor Jesus Cristo apenas nos termos das coisas horríveis que aconteceram com Ele
neste mundo, e que terminou com a quebra de seu coração pela deslealdade dos homens,
e a quebra de Seu corpo na Cruz. Paulo pensava no sacrifício do Senhor Jesus Cristo
começando na eternidade. Paulo era assombrado pelo pensamento que o Senhor Jesus
Cristo deu-se a fim de tornar-se homem. Ele nunca poderia esquecer como o Senhor
Jesus Cristo deixou de lado Sua glória pela humilhação da natureza humana. Com uma
maravilha que pulsa até mesmo através da palavra escrita, ele diz: "Embora fosse rico,
por amor de vocês se fez pobre" (2 Coríntios 8:9). Para Paulo o sacrifício do Senhor
Jesus Cristo foi um sacrifício que começou antes do tempo e do mundo; era algo que
teve seu início na eternidade.
Os teólogos chamam isto de a teoria kenosis da encarnação. O verbo grego
kenoum significa esvaziar; e o substantivo kenosis (κένωζις) significa um
esvaziamento. E a ideia é que, o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, deliberadamente
e sacrificialmente esvaziou a si mesmo de Sua glória divina a fim de tornar-se homem.
O pensamento de Paulo encontra a sua expressão máxima em Filipenses 2:5-11.
Lá Paulo fala sobre o Senhor Jesus Cristo, o qual tinha igualdade com Deus, por direito,
e não como uma coisa a ser arrancada; mas ele desistiu disto e não prendeu isto a Ele, e
Ao estudarmos os escritos de Paulo, nos deparamos com exemplo após exemplo do que
o Senhor Jesus Cristo fez para o homem.
Na vanguarda do pensamento de Paulo estava o fato de que o Senhor Jesus
Cristo trouxe aos homens o conhecimento de Deus, que sem Ele, eles nunca poderiam
ter possuído ou entrado nele. O Senhor Jesus mesmo disse: "Aquele que vê a mim, vê
ao Pai" (João 14:9) e esta era uma parte essencial e primaria da crença de Paulo. Para
colocá-lo, em seu modo mais simples, Paulo acreditava com todo seu coração que o
Senhor Jesus mostrou-nos como é Deus. Deus ordenou a luz brilhar na escuridão "Para
dar a luz do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios 4:6).
O Senhor Jesus é a revelação da glória de Deus; Ele é a glória encarnada; Nele todo
homem vê a glória de Deus.
É na carta para os Colossenses que esta ideia aparece em todo seu esplendor.
Esta carta foi escrita para combater uma heresia que declarava que o Senhor Jesus
certamente era grande, mas que Ele era apenas um estágio no caminho do conhecimento
de Deus. Paulo não tinha nada com isto. Para ele não havia nada de parcial sobre o
Senhor Jesus Cristo. O Senhor Jesus era a revelação completa de Deus. "Ele agradou ao
Pai," ele escreve, "que Nele deveria habitar toda plenitude" (Colossenses 1:19). Ele fala
sobre o Senhor Jesus Cristo "no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
conhecimento" (Colossenses 2: 3). Então ele continua para fazer a declaração além da
qual nenhuma declaração sobre o Senhor Jesus Cristo pode ir: "Nele habita toda a
plenitude da divindade, corporalmente" (Colossenses 2:9). Não é que o Senhor Jesus
veio para trazer a revelação plena de Deus. Não é que Ele veio escrever um livro, ou
para dar um curso de sermões ou palestras sobre como é Deus. Pelo contrário, Ele veio
para ser a revelação plena de Deus. Não é como se Paulo dissesse: "Escutem ao Senhor
Jesus Cristo, e você irá aprender como Deus é." É como se ele dissesse: "Olhem para o
Senhor Jesus Cristo, e vocês verão como Deus é." Esta procura por pecadores, este
cuidado para os sofredores, esta alimentação para os famintos, este conforto para os
aflitos, este amor sacrificial pelos homens é uma demonstração no tempo da atitude
eterna de Deus para os homens. Mas isto poderia não ser suficiente para mostrar aos
homens como Deus é. Isso, em si mesmo, pode até ser uma coisa torturante e
assombrosa. Pode ser como permitir a um homem um vislumbre de um pouco de calor e
esplendor no qual ele próprio nunca poderá entrar. Pode ser simplesmente seduzir um
homem com uma visão de beleza, que nunca poderia ser outra coisa senão algo visto a
uma grande distância. Como Paulo viu, o Senhor Jesus Cristo veio abrir o caminho de
Deus para os homens, para dar aos homens acesso à Deus.
No capitulo anterior vimos as grandes figuras que Paulo usou para expressar a obra do
Senhor Jesus Cristo; agora devemos voltar nossos pensamentos para a mais importante
de todas as partes s pensamentos de Paulo. Devemos nos perguntar: por que é que a
morte do Senhor Jesus Cristo está na mente de Paulo? Qual é a posição da Cruz no
esquema de Paulo das coisas?
Uma coisa é certa, para Paulo a Cruz era o centro da fé Cristã. A insistência
continua de Paulo está na centralidade essencial da Cruz. Ele escreve aos Coríntios:
"Pregamos Cristo crucificado" (1 Coríntios 1:23). Ele escreve: "Determinei não saber
nada entre vocês, a não ser Jesus Cristo e Ele crucificado" (1 Coríntios 2:2). Ele escreve
aos Gálatas: "Deus proíbe que me glorie, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo" (Gálatas 6:14). Não há necessidade de tentar provar que, para Paulo a Cruz do
Senhor Jesus Cristo estava no centro de universo.
É, ainda mais claro que, para Paulo a Cruz do Senhor Jesus Cristo tinha um certo
poder de auto comprovação. A Cruz continha seu próprio apelo. Buscar decorá-la com
belas palavras era simplesmente para obscurecê-la. Para Paulo, a Cruz era algo a ser
mostrado aos homens em toda a sua gritante simplicidade. Ele não vai pregar com
sabedoria de palavras, para que a cruz do Senhor Jesus Cristo não se torne sem efeito
(1 Coríntios 1:17). Ele não vem com excelência de discurso ou sabedoria (1 Coríntios
2:1). Ele não conseguia entender como os Gálatas podiam ter se desviado quando o
Senhor Jesus Cristo tinha sido exposto diante de seus olhos (Gálatas 3:1).
Paulo poderia ter dito que primeiro e mais importante, a Cruz não é a ser
discutido, mas sim algo a ser mostrado aos homens. Ele tinha convicção que a Cruz
tinha seu próprio poder persuasivo, que a história da Cruz, simplesmente contada, vai
quebrar as barreiras, que a primeira tarefa do pregador cristão é, sem enfeites, mostrar
ao mundo o Homem na Cruz. Por esta mesma razão, é ainda mais importante, tentarmos
ver o que Paulo viu na morte do Senhor Jesus Cristo.
Podemos muito bem começar com algo sobre o qual não pode haver disputa
possível. Paulo estava certo que o Senhor Jesus Cristo morreu em favor do homem.
Devemos ser cuidadosos para entender esta frase certo. A preposição do Grego é sempre
huper que significa em favor de. A preposição não é anti, o que significaria, em vez de.
A Versão Autorizada geralmente traduz isto simplesmente como pelos homens.
Podemos muito bem achar no final, que há um elemento no pensamento de Paulo de
que o Senhor Jesus morreu no lugar do homem, mas o fundamental, básico e essencial
pensamento é que o Senhor Jesus morreu na Cruz em favor dos homens. Ele escreve aos
Tessalonicenses sobre o Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós (1 Tessalonicenses
Para qualquer um que lê o livro de Atos, até mesmo atenção mais superficial é
imediatamente claro que a Igreja primitiva era caracteristicamente e especificamente, a
Igreja do Senhor Jesus Cristo ressuscitado. Naquele estágio, a atenção da Igreja estava
mais focada na Ressurreição do que estava na Cruz.
Havia uma razão para isto. Naquela época a Igreja ainda era essencialmente
Judaica. Por esta razão, os homens ainda estavam pensando no Senhor Jesus nos termos
do Messias Judeu; e a única coisa que era a garantia final que o Senhor Jesus era o
Messias, era o fato Dele ter ressuscitado dos mortos. Era inevitável e certo que, nessa
fase, a atenção dos homens devia ser fixada sobre a Ressurreição.
É verdade que nos escritos e pensamentos de Paulo a ênfase, em algum grau,
muda. É verdade que a ênfase de Paulo está na Cruz, e na morte expiatória e sacrificial
do Senhor Jesus Cristo. Mas no final do dia, não é menos verdade que, para Paulo,
como para a Igreja primitiva como um todo, a Ressurreição era central para a fé Cristã.
Quando lemos os Evangelhos Sinópticos e ouvimos as palavras reais do Senhor
Jesus, descobrimos que o Senhor Jesus nunca predisse Sua morte sem predizer Sua
ressurreição. Ele nunca ensinou sobre vergonha sem posterior triunfo. A humilhação e a
glória estavam integralmente e inseparavelmente conectadas. Uma não podia existir sem
a outra. No primeiro anuncio do Senhor Jesus sobre Sua morte aos Seus discípulos ele
disse que, "O Filho do Homem deve sofrer muitas coisas e ser rejeitado entre os
anciãos, principais sacerdotes, escribas, ser morto e após três dias ressuscitar." (Marcos
8:31; compare Marcos 9:31). Para o Senhor Jesus a Cruz e a Ressurreição eram parte do
mesmo processo e Ele não podia nunca falar da Cruz sem falar do triunfo que estava
além dela.
Era o mesmo com Paulo. Ele fala do Senhor Jesus Cristo "que foi entregue por
nossas ofensas e ressuscitou para nossa justificação" (Romanos 4:25). Ele diz que
embora o Senhor Jesus Cristo "foi crucificado pela fraqueza, ainda assim vive pelo
poder de Deus" (2 Coríntios 13:4). Na grande passagem em Filipenses (Filipenses 2:5-
11) a humilhação do Senhor Jesus Cristo consta em toda sua terribilidade gritante, mas a
passagem chega a sua conclusão triunfante, " pelo que também Deus O exaltou
soberanamente." Paulo era igual ao seu Mestre; ele nunca podia falar da agonia e
vergonha da Cruz sem seus pensamentos irem além, para o triunfo e esplendor da
Ressurreição.
Quão central o pensamento da ressurreição era para Paulo pode ser visto a partir
do fato de que ele a menciona especificamente em cada carta, exceto em
2 Tessalonicenses e Filemom; e mesmo nestas duas cartas, embora o fato de a
EM CRISTO
Todo homem que escreve ou fala muito tem frases favoritas. Ele as usa quase sem saber
que o está fazendo. Paulo tinha tal frase e a frase é em Cristo. Temos estudado algo
sobre o que o Senhor Jesus Cristo significava para Paulo e é apropriado que agora
recorramos a esta frase, que ocorre tão frequentemente nos escritos de Paulo e que
claramente significava muito para ele. Esta frase não é apenas a essência da teologia de
Paulo, como é o resumo de toda sua religião. Para Paulo esta frase em Cristo sempre foi
uma declaração resumida da fé cristã. De todas as cartas que Paulo já escreveu, está
ausente em apenas uma - em 2 Tessalonicenses. Ninguém pode negar que o passar dos
anos aprofundou, enriqueceu e intensificou o seu significado para Paulo; mas o fato que
permanece é que esta frase e tudo o que ela significa não era um desenvolvimento
atrasado e súbito na mente, pensamento e coração de Paulo. Do começo ao fim de sua
vida Cristã era o centro e alma de sua experiência Cristã.
Ainda mais, devemos observar que Paulo nunca, em tempo algum, olhou esta
frase como descrevendo uma experiência religiosa que era única e peculiar a si mesmo.
Não era algo que ela aproveitava porque estava em uma posição especialmente
privilegiada ou porque ele tinha subido a uma altura devocional, que as pessoas comuns
jamais poderiam esperar chegar. Era algo a ser conhecido e vivido por todo homem e
mulher Cristão. Paulo não só teria dito que a frase em Cristo era a essência da vida
Cristã em geral, ele teria dito que é a essência de toda vida Cristã individual também.
Ainda mais, no entanto, devemos observar que Paulo nunca usa a frase em Jesus;
ele fala sobre estar em Cristo, em Cristo Jesus, em Jesus Cristo, no Senhor, mas nunca
em Jesus. Isto quer dizer que esta frase tem a ver exclusivamente e especificamente com
o Senhor Jesus Cristo ressuscitado. Ela não descreve ou expressa uma relação física,
que é dependente do tempo, espaço e contato físico, uma relação que pode ser
encontrada e perdida conforme presença e ausência se alternam. Ela descreve uma
relação espiritual, que é independente do tempo e espaço, uma relação do sempre e em
toda parte presente Senhor Ressuscitado e sempre vivo Senhor Jesus Cristo. Tennyson
chegou perto de expressá-lo, quando ele escreveu no Panteísmo Superior:
Fale com Ele tu pois Ele ouve e Espírito com o Espírito podem se encontrar -
Ele está mais perto que a respiração, e mais próximo do que as mãos e os pés.
Esta não é uma relação necessariamente limitado com uma pessoa física, é uma relação
ilimitada com o Senhor Ressuscitado.
CONCEPÇÃO DE FÉ
DE PAULO
É bem claro que não há palavra tão próxima do centro da crença de Paulo quanto a
palavra fé. Temos apenas que ler suas cartas para ver que para Paulo a palavra fé
sintetiza a essência do Cristianismo. É, portanto, de suprema importância entendermos
algo sobre o que Paulo quis dizer sobre fé, se queremos entender o que o Cristianismo
significava para ele.
É de fundamental importância notar que para Paulo fé é sempre fé em uma
pessoa. Fé não é a aceitação intelectual de um conjunto de doutrinas; fé é fé em uma
pessoa. Sanday e Headlam estabeleceram que há quatro significados principais da
palavra fé e quatro conexões principais nas quais Paulo as usa - fé em Deus, fé no
Senhor Jesus, fé nas promessas de Deus e fé nas promessas do Senhor Jesus. É, na
verdade, provável que todo o uso Paulino da palavra fé, possa encaixar neste esquema;
mas será ainda mais iluminador ir direto para as próprias cartas e examinar o modo que
Paulo usa a palavra fé nelas.
Devemos começar com o significado que não é teológico e que precisa de um
pano de fundo especial de conhecimento especializado para entende-lo. Paulo usa fé
significando lealdade, fidelidade, que poderíamos mais naturalmente chamar totalmente
fiel. Este é o modo que ele usa esta palavra quando ele está falando sobre o fruto do
espírito (Gálatas 5:22). Lá fé é simplesmente lealdade e a fidelidade, que são as mais
valiosas qualidades na vida. Paulo escreve regularmente para suas Igrejas da gratidão
com que ele ouviu sobre sua fé e do louvor, que a fé deles ganhou. Ele diz que a fé da
Igreja Romana é comentada por todo o mundo (Romanos 1:8). Em Efésios 1:15 ele fala
que ouviu da fé daqueles a quem ele escreve. Em Colossenses 1:4 ele diz aos
Colossenses que ele ouviu da fé deles e ele fala da firmeza da fé deles em Cristo
(Colossenses 2:5). Ele escreve aos Tessalonicenses que a história da fé deles penetrou
não apenas sobre toda a Macedônia, mas também através de toda província de Acaia
(1 Tessalonicenses 1:8). Ele diz a eles que, uma vez que ele teve que os deixar apresada
e secretamente, ele agora escreve para inquirir sobre a fé deles (1 Tessalonicenses 3:5).
Ele fala da paciência e fé deles (2 Tessalonicenses 1:4). Ele escreve aos Filipenses do
sacrifício e serviço da fé deles (Filipenses 2:17).
Em todos esses casos a referencia é a lealdade e a fidelidade da Igrejas jovens ao
Senhor Jesus Cristo, a lealdade e a fidelidade que superou a perseguição e brilhou
através das trevas da vida atribulada que os primeiros Cristão tiveram que viver.
A GRAÇA ESSENCIAL
James Moffatt em seu livro Grace in the New Testament (Graça no Novo Testamento)
sucintamente estabeleceu que a essência e o centro da fé e religião Paulina pode ser
resumida em uma breve frase: "Tudo é de graça, e graça é para todos." Pois para Paulo a
graça é a graça essencial.
Devemos começar observando dois fatos gerais sobre graça. Este dois fatos não
são exclusividade de Paulo; eles pertencem à própria natureza da ideia de graça.
Teremos que voltar a eles de forma mais completa, mas no momento, vamos expor eles
brevemente.
Primeiro, graça é, na essência, algo lindo. A palavra grega para graça é caris
(ταρις) e caris (ταρις) pode significar beleza física, tudo o que está contido na palavra
charme. A graça sempre se move no reino de algo cativante, da amabilidade, da
atratividade, da beleza e do charme. A palavra tem em si toda a beleza da santidade. Há
certos termos Cristãos que, inevitavelmente, têm em si uma ideia e atmosfera de
severidade e de gravidade. Mas graça, no sentido Cristão, é algo, de tal beleza
insuperável, que o coração se curva, em adoração frente a ela.
Tem um hino antigo que diz: "A graça é um som encantador", e há um mundo de
verdade nisto.
Segundo, graça sempre tem nela, a ideia de um presente que é completamente
grátis e totalmente imerecido. As ideias de graça e mérito são mutuamente exclusivos e
completamente contraditória. Ninguém pode adquirir a graça, só pode ser
humildemente, agradecidamente e adoravelmente recebida. Graça é algo que é dado,
como dizemos, grátis. A ideia fundamental de graça é um presente, dado pela pura
generosidade do coração de quem dá, um dom que quem recebe nunca poderia ter
conquistado e nunca poderia ter merecido por qualquer esforço de sua autoria. Quando
Paulo tal importância da graça, ele seguiu uma linha de pensamento que era muito
estranha para o ensino judaico ortodoxo de sua época. É verdade que em seus maiores e
mais devocionais momentos, a religião Judaica repousava na misericórdia de Deus e em
nada mais. Do livro de orações diárias dos Judeus vem a oração que todo Judeu ainda
conhece: "Soberano dos mundos, não por causa de nossas obras de justiça que nós
apresentamos as nossas súplicas diante de ti, mas por causa da tua misericórdia
abundante." Nesta oração Abrahams, comenta: "Recompensas e punições eram
infligidas em algum tipo de acordo com a justiça e pecado de um homem, mas nada que
um homem com seus pequenos poderes e oportunidades finitas podem fazer, constitui
uma reivindicação em favor do Todo-Poderoso e do Infinito. Em última instância, tudo
o que um homem recebe da mão divina é um ato de graça." Aí fala o pensamento mais
Cada carta que Paulo escreveu começa batendo a tecla da graça e termina
deixando o som da graça tocando nos ouvidos dos homens.
Quando Paulo pensou e escreveu assim, ele estava pensando e escrevendo sobre
as profundidades e alturas de sua própria experiência religiosa. Ele sabia o que tinha
sido, e ele sabia o que era e não havia explicação possível para a mudança a não ser a
graça de Deus. Ele sabia do trabalho que uma vez ele estava fazendo, e ele sabia do
trabalho que agora lhe tinha sido dado para fazer, ele sabia como o perseguidor se
PENSAMENTOS DE PAULO
SOBRE O ESPÍRITO SANTO
Quando o Senhor Jesus deixou este mundo em seu corpo, foi Sua promessa que Ele
enviaria o Espírito Santo para Seu povo (João 14:16, 17, 26; 16:7, 13). É, por isso, claro
que a doutrina do Espírito Santo é uma das mais importantes doutrinas da fé Cristã. É a
pura verdade que o Espírito Santo é alguém para ser experimentado, e não algo para ser
falado e argumentado. No entanto, será salutar para nós ver a grandeza do pensamento
de Paulo sobre o Espírito.
Temos de começar observando que aqui, como em qualquer outro lugar, Paulo
conduz todas as coisas direto para Deus. Aqui, como em toda parte, seu monoteísmo
intransigente e sua convicção da supremacia fundamental de Deus dominam todo o seu
pensamento.
Paulo está certo que o Espírito Santo é o presente de Deus. Em
1 Tessalonicenses 4:8 ele fala sobre Deus, que também nos deu seu Espírito Santo. O
Espírito Santo, como Paulo vê o assunto, vem ao homem através do anúncio do
evangelho Cristão, que produz a fé nos corações dos homens. Devemos colocar dois dos
dizeres de Paulo juntos. Em Romanos 10:17 Paulo fala que a fé vem do ouvir e o ouvir
por meio da palavra do Senhor Jesus Cristo. Em Gálatas 3:2, 5 ele fala sobre receber o
Espírito através de escutar pela fé. O Espírito é recebido pelos homens como uma
consequência de sua escuta e aceitação pela fé do evangelho que é pregado a eles. O
Espírito Santo é presente de Deus aos homens, e vem aos homens quando os homens
reagem em fé à mensagem de boas novas enviada por Deus.
Aqui, bem no começo, estamos cara a cara com este fato essencial. A vinda do
Espírito Santo na vida do homem não é algo que um homem pode conquistar, alcançar
ou ganhar pelos seus próprios esforços; é algo que o homem deve aceitar e receber pela
fé. É um dos grandes e simples fatos da vida Cristã, que não podemos receber o Espírito
de Deus, a menos que estejamos preparados para esperar pacientemente, em oração e
esperançosamente a vinda do Espírito.
Mais de uma vez Paulo usa uma curiosa e vivida frase sobre o Espírito Santo.
Em 2 Coríntios 1:22 ele fala sobre Deus que nos deu o penhor do Espírito. Em
2 Coríntios 5:5 ele fala sobre Deus nos dando o penhor do Espírito. Em Efésios 1:14 ele
fala sobre o Espírito que é o penhor de nossa herança.
A palavra que a Versão Autorizada traduz como penhor é a palavra Grega
arrabon (αρραβων). Esta é uma palavra que aparece frequentemente em contratos e
acordos. Entre os papiros muitos desses contratos ainda existem, e esta palavra ocorre
G. K. Chesterton uma vez disse que, qualquer que seja a verdade sobre o homem é
verdade que, sem dúvida, o homem não é o que ele estava destinado a ser. Com esta
máxima Paulo concordaria completamente; e a razão para esta situação é o pecado. Há
alguns que acusariam Paulo de ser, por assim dizer, obcecado com o pecado. Mas o fato
é este - Paulo usa a palavra hamartia (αμαρηια), a palavra mais comum para pecado, 62
vezes em suas cartas; e dessas 62 ocorrências 48 estão em Romanos e apenas 14 em
todas as outras cartas; na carta aos Filipenses a palavra hamartia (αμαρηια) não ocorre
nenhuma vez. Obviamente é verdade dizer que Paulo via com intensidade a seriedade
do pecado, mas seria muito errado dizer que ele tinha uma obsessão mórbida com a
ideia do pecado. Vejamos, então, o que Paulo tem a dizer sobre o pecado.
Antes de mais nada, devemos notar que Paulo insistia na universalidade do
pecado. O pecado não era, para ele, algo em que somente algumas pessoas estavam
envolvidas; não é como uma doença que ataca alguns e outros escapam. Para Paulo cada
homem está envolvido no pecado. Ambos, Judeus e Gentios, estão sob o pecado
(Romanos 3:9). Todos pecaram e estão privados da glória de Deus (Romanos 3:23). O
pecado é uma situação humana universal.
Para Paulo esta universalidade do pecado era duplamente provada. Primeiro, era
um fato da experiência humana. Segundo, era um fato da história. Para Paulo todos os
homens estavam envolvidos no pecado de Adão; este é o foco de Romanos 5. Não é que
todos os homens pequem como Adão pecou; não é que todos os homens herdaram de
Adão o vicio e a tendência de pecar; é que em Adão todos os homens, na verdade,
pecaram. Para nós este é um argumento estranho. Para um Judeu era perfeitamente
normal. Os Judeus criam fortemente na solidariedade. Até hoje existem tribos
primitivas, e se você perguntar a um homem de uma dessas tribos seu nome, ele não vai
dizer o nome dele, ele vai dar o nome de sua tribo. Ele está preso em sua tribo, ele não
tem existência separada; fora da tribo, ele não vive. Simplesmente desta mesma forma,
todos homens pecaram em Adão.
A prova de Paulo para isto é simples e para um Judeus muito lógico. Porque
Adão pecou, a morte entrou neste mundo. Morte é a pena do pecado. O pecado de Adão
foi uma violação direta de um mandamento de Deus. Onde não há mandamento, não
pode haver pecado. Agora, a Lei não estava no mundo até Moisés chegar; portanto não
podia haver violação da Lei; não podia haver pecado, no sentido acima apresentado. E
mesmo assim entre Adão e Moisés os homens também morriam. Eles não haviam
violado a Lei, pois não havia Lei para violar, mesmo assim eles morriam. Porque?
Porque eles tinham pecado em Adão; nele eles tinham, na verdade, cometido pecado.
Havia uma árvore de pera perto de nosso vinhedo, carregada com frutas. Em
uma noite de tempestade, nós jovens vis, partimos para roubá-la e carregar nossos
despojos embora. Nós pegamos uma grande quantidade de peras (não para banquetear-
nos, mas para jogá-las aos porcos) apesar de comermos apenas o suficiente para ter o
prazer do fruto proibido. Mas não eram as peras que minha alma miserável cobiçava,
pois eu tinha muito melhores em casa. Eu as peguei simplesmente para ser um ladrão. O
único banquete que tive foi um banquete de iniquidade, o qual aproveitei na íntegra. O
que era isto que eu amei naquele roubo? Foi o prazer de agir contra a lei, a fim de que
eu, um prisioneiro sobre regras, pudesse ter uma imitação mutilada de liberdade, por
fazer sem impunidade o que era proibido, com uma fraca semelhança de onipotência?
(Confessions 2:4-6).
É um fato da experiência que o coração humano deseja a coisa proibida e a lei
quando proíbe algo desperta o desejo por ela.
CONCEPÇÃO DE PAULO
SOBRE A CARNE
Qualquer exame da mente de Paulo, que não procurar entender o que Paulo queria dizer
com a carne seria muito inadequado, pois esta expressão aparece repetidamente em suas
cartas. Ao mesmo tempo, a leitura mais apressada das cartas de Paulo deixa claro que
não é fácil de entender exatamente o que Paulo queria dizer com esta palavra, pois ele
muito obviamente não a usa sempre do mesmo modo. Ele usa ela em muitas conexões
diferentes e com muitas conotações diferentes, embora seja verdade dizer que entre seus
vários usos, há um uso que é característico da mente e pensamentos de Paulo.
Basta apenas olharmos por cima para o que está escrito em 2 Coríntios 10:3 para
ver a dificuldade. Lá Paulo escreve: Embora andemos na carne (en sarki - εν ζαρκι),
não combatemos segundo a carne (kata sarka - καηα ζαρκα). É muito claro que nesta
frase Paulo está usando a palavra carne com significados muito diferentes, embora esses
significados podem estar inter-relacionados. Andar na carne é algo que nenhum homem
pode evitar; combater segundo a carne é algo que todo homem deve evitar. Vamos,
então, ver se podemos separar os vários usos Paulinos da palavra carne, sarx.
Paulo frequentemente usa a palavra carne em um sentido bastante neutro e
literal, significando nada além que corpo humano. Ele nos fala que sua primeira visita
para a Galácia e sua primeira pregação lá, foram devido à uma enfermidade da carne
(Gálatas 4:13). Isto significa simplesmente que sua chegada na Galácia se deu devido a
alguma moléstia corporal, alguma doença física. Ele fala do espinho em sua carne
(2 Coríntios 12:7). A probabilidade esmagadora é que o espinho na carne era uma
deficiência física que lhe causou dor intensa e excruciante. Ele fala de estar ausente na
carne (Colossenses 2:5) e daqueles que nunca viram seu rosto na carne (Colossenses
2:1). Ele está se referindo ali para aqueles que não o conheciam pessoalmente, e que
nunca tinham visto ele cara a cara, em presença física. Ele fala sobre viver na carne e
permanecer na carne (Filipenses 1:22, 24). Ele está se referindo a vida corporal, física
que ele vivia. Quando ele fala do Senhor Jesus, ele fala do corpo de Sua carne
(Colossenses 1:22) pelo qual ele quer dizer o corpo humano, físico, natural que o
Senhor Jesus usou em seus dias na terra. Ele fala do dever Cristão de ministrar para
aqueles que são pobres em coisas carnais (Romanos 15:27). A palavra é o adjetivo
correspondente sarkikos (ζαρκικοις). Carnal (Versão em inglês) é uma tradução infeliz,
porque é uma palavra que em inglês adquiriu uma má conotação. Quando Paulo fala
sobre ministrar as necessidades carnais daqueles menos afortunado, ele simplesmente
quer dizer o dever de trazer ajuda prática para a vida e cotidiano daqueles que são
A SEGUNDA VINDA
NOS PENSAMENTOS DE PAULO
Fazemos bem em tentar ver qual o lugar que a doutrina da Segunda Vinda tinha nos
pensamentos da Igreja primitiva; pois esta é uma doutrina que sofreu um de dois
destinos opostos no pensamento da Igreja moderna. Para a maioria, é muito
negligenciado; é raro que um sermão sobre isto seja ouvido; não é exagero dizer que em
muitos locais isto venha a ser encarado como uma das excentricidades da fé, que tem
sido superada e deixada para trás. Por outro lado há alguns poucos que pensam muito
sobre isto, mais que qualquer outra coisa; a Segunda Vinda para eles é a doutrina mais
importante da fé Cristã; ela domina todo o seu pensamento e toda a sua pregação. É de
extrema importância tentarmos ajustar o equilíbrio, e vermos tanto que a doutrina da
Segunda Vinda receba seu lugar certo em nosso pensamento, e que ela não usurpe um
lugar que não é o seu, até preencher todo o horizonte.
É sempre importante ver não apenas onde os pensamentos Cristãos terminavam,
mas também onde eles começavam. Para um Judeu a doutrina da Segunda Vinda teria
parecido não só completamente inteligível, mas também completamente inevitável. Não
estamos dizendo que a doutrina da Segunda Vinda é um produto de pensamento Judeu,
pois ninguém pode honestamente ler os evangelhos e não conseguir admitir que o
Senhor Jesus falou de Sua Vinda em poder; mas estamos dizendo que as figuras nas
quais a Segunda Vinda foram visualizadas eram, em grande parte Judaica, tanto em seu
contorno e em seus detalhes.
É possível considerar o pensamento Judaico de duas maneiras. Em um sentido,
que os Judeus foram os maiores pessimistas da história; mas em um sentido muito mais
verdadeiro, que os judeus foram os maiores otimistas da história. Os Judeus nunca
perderam a certeza que eles são o Povo Escolhido. Para eles, povo eleito
necessariamente implicava o respeito, poder e domínio mundial. Tornou-se cada vez
mais claro para eles que esse triunfo que aguardavam nunca poderia acontecer por
meios puramente humanos; deveria acontecer pela intervenção direta de Deus nos
assuntos mundial. Seu numero era muito pouco para alcançarem poder mundial; havia
apenas cerca de 4 milhões de Judeus na Palestina no tempo do Senhor Jesus e isto não
era nada comparado com os impérios no mundo. Eles tinham perdido sua
independência. Eles foram, por sua vez sujeitas aos Babilônios, Persas, Gregos e
Romanos. Se a promessa de Deus, como eles viam, sempre se tornavam realidade,
poderia apenas se tornar realidade pela intervenção direta, sobrenatural e divina nos
assuntos humanos. Os Judeus aguardavam por esta intervenção e ainda aguardam.
As profecias foram cumpridas, e a nova era foi inaugurada pela vinda de Cristo.
Ele nasceu da semente de Davi.
Ele morreu, de acordo com as escrituras, para nos livrar desta presente era má.
Ele foi enterrado.
A MENTE DE PAULO
A RESPEITO DA IGREJA
As cartas de Paulo nos proporcionar um amplo material para chegar a uma ideia clara de
seus pensamentos e crenças sobre a Igreja; pois nelas a palavra ekklesia, igreja, aparece
cerca de sessenta vezes. Vejamos primeiro como, e em que conexões, ele usa essa
palavra.
Paulo usa a palavra ekklesia, em ambos, singular e plural, para descrever o corpo
dos crentes em qualquer lugar. Assim ele fala para a Igreja em Cencréia (Romanos
16:1); a Igreja dos Laodicenses (Colossenses 4:16); a Igreja dos Tessalonicenses
(1 Tessalonicenses 1:1; 2 Tessalonicenses 1:1). Ele fala sobre as Igrejas dos Gentios
(Romanos 16:4); as Igrejas da Galácia (1 Coríntios 16:1; Gálatas 1:2); as Igrejas da
Macedônia (2 Coríntios 8:1). Ele chama aqueles que trouxeram várias doações para os
Cristãos pobres de Jerusalém, os mensageiros das Igrejas (2 Coríntios 8:23); e exorta
aos Coríntios à mostrar o fruto de seu amor perante todas as Igrejas (2 Coríntios 8:24).
Ele fala sobre o cuidado de todas as Igrejas, que está em seu próprio coração
(2 Coríntios 11:28).
Sabemos que nos primeiros dias, as reuniões dos Cristãos deve ter sido pequena,
pois antes do início do terceiro século não havia surgido qualquer tipo de edifícios da
Igreja. Nos primeiros dias os Cristãos ainda se reuniam em qualquer casa que tivesse
uma sala grande o suficiente para acomodá-los. Assim Paulo usa a palavra ekklesia para
qualquer parte específica da Igreja em qualquer lugar. Assim ele fala da Igreja que está
na casa de Áquila e Priscila (Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19); da Igreja em Laodicéia
que está conectada com a casa de Ninfa (Colossenses 4:15); da Igreja que está na casa
de Arquipo (Filemom 2).
Paulo usa a palavra ekklesia como uma descrição do corpo dos Cristãos locais
reunidos em qualquer lugar para o culto e para a instrução. Esse é um uso que está
muito perto de nosso uso da palavra congregação. Ele fala das coisas impróprias que
aconteciam quando os Cristãos de Corinto se reuniam na Igreja (1 Coríntios 11:18). Ele
sustenta que o profeta edifica a Igreja (1 Coríntios 14:4, 5, 12), e critica aqueles que
colocam muita ênfase no falar em línguas, pois na Igreja, ele mesmo prefere falar cinco
palavras com entendimento, do que dez mil palavras em uma língua desconhecida
(1 Coríntios 14:19). Ele fala de toda a Igreja sendo reunida em um único local
(1 Coríntios 14:23). Ele estabelece que as mulheres devem estar em silencia na Igreja, e
que é uma vergonha para elas falar (1 Coríntios 14:34, 35). Ele fala das coisas que
ordenou e ensinou em todas as Igrejas (1 Coríntios 4:17; 7:17). Em todos esses casos a
O FIM