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Introdução
a) Mente e Corpo em Freud
A psicanálise foi marcada desde o início pela problemática mente e corpo, visto que
Freud, enquanto neurologista, se propôs a estudar uma patologia que historicamente encenava
em si essa questão. Por toda a sua obra Freud teve a preocupação de explicar e sistematizar
essa questão, de modo que a relação entre o somático e o psíquico em Freud foi sendo
construída a partir de um movimento característico do seu pensamento. Nos primeiros textos
de Freud, entre 1888-1899, a relação mente e corpo foi enfrentada de forma audaciosa e
criativa.
Freud encaminhou essa questão no texto “Sobre a concepção das afasias” (1891), propondo
o primeiro modelo do aparelho psíquico pautado em um aparato de linguagem, ou seja, que
fosse capaz de pensamento, de processos psíquicos aludindo a representações-objeto,
representações-palavra e associações entre tais representações. Diferente, portanto, dos
modelos propostos por seus contemporâneos, tais como Karl Wernick e Theodor Meyenert,
que, conseguiam explicar satisfatoriamente a repetição da linguagem falada considerando que
havia uma localização anatômica para funções psíquicas.
Já Meynert entendia que existia uma projeção do corpo no cérebro, ponto a ponto, (Freud
[1891] 2006). Freud refutou essa ideia quando adotou alguns pressupostos da teoria de
Jackson que admitia que processos psíquicos e fisiológicos devem ser pesquisados
separadamente. Deste modo, a série psíquica e a neurológica não devem ser tratadas numa
relação de causa e efeito, não havendo correlação entre esses processos. Segundo os
pressupostos de Jackson, até certo ponto, adotados por Freud, o processo psíquico é paralelo
ao fisiológico, é na verdade concomitante dependente, (Freud [1891] 2006). Isso se dá da
seguinte forma: as alterações fisiológicas ocorridas nas fibras nervosas elaboradas pela
excitação sensorial emanam consecutivas reestruturações funcionais no deslocamento das
excitações periféricas até serem, enfim representados no órgão cerebral. As modicações ai
originadas convertem-se então conforme o paralelismo no correspondente de uma
representação psíquica, (Freud [1891] 2006).
Freud formalizou então a ideia da concomitância dependente, ideia esta que foi sendo
trabalhada, ainda que de forma furtiva em textos anteriores, tais como o “Cérebro”, (1888),
“Histeria” (1888), e “O tratamento psíquico” (1890), segundo Winograd (2004). Sendo assim,
a tese da concomitância dependente consistia em que algo simples do ponto de vista
psicológico corresponda sempre a algo complexo do ponto de vista neurológico, ou seja, esses
processos ocorrem ao mesmo tempo a partir de um certo momento, são correlatos e de ação
mútua, (Winograd, 2004), uma relação de paralelismo psicofísico. Sendo assim, Freud
rejeitou a ideia localizacionista, a representação localizada nas células nervosas, tão usual no
meio neurológico da época, como também a causalidade mecânica.
Vemos assim como Freud foi progressivamente imprimindo contornos próprios à
problemática mente e corpo, não reduzindo uma a outra, mas mantendo uma relação ao
mesmo tempo de autonomia e reciprocidade. Se, de um lado, pode-se afirmar que, para
Freud, a alma “fabrica” corpos reais, simbólicos e imaginários, de outro lado, também é
preciso dizer que o corpo é a fábrica da alma, (Winograd 2003).
A tese da concomitância dependente impôs á Freud uma questão: o que aconteceria quando
uma cadeia fisiológica fosse correspondente, simultânea e paralela a uma cadeia psicológica?
Em 1895 Freud retomou a questão do limiar da consciência para explicar tal acontecimento.
Disse:
...essa excitação somática se manifesta como uma pressão nas paredes das
vesículas seminais, que são revestidas de terminações nervosas; assim essa
excitação visceral se desenvolve continuamente, mas tem que atingir uma
certa altura para poder vencer a resistência da via de condução intermediaria
até o córtex cerebral e expressar-se como um estimulo psíquico. (Freud
[1985] 2006 p. 109).
O conceito de limiar diz de um período, uma transição, de uma cota necessária para poder
iniciar outro processo. Após isso a representação passaria a ser munida de energia. No
entanto, não se trata de passar de energia física para energia psíquica, mas de uma
valorização, de uma mudança de modalidade da excitação física vinda do aparato anímico,
(Winograd 2004).
Novamente, Freud tocou na questão mente e corpo e mais uma vez para colocá-la em
associação direta.
Por fim, nossos comentários assinalam apenas alguns aspectos do tratamento da problemática
mente e corpo em Freud. A posição assumida por ele, nesse momento ofereceu mudanças de
carácter extremamente relevantes e inaugurais para o desenvolvimento da sua metapsicologia.
Justificativa
Segundo as hipóteses adotadas neste projeto, o pensamento freudiano foi caracterizado
por um movimento e acompanhá-lo no interior da sua obra possibilitaria uma melhor
compreensão da problemática mente e corpo.
Ainda, entender como se dá as relações entre mente e corpo permitiria uma melhor
compreensão das patologias contemporâneas, como também da delimitação do campo de
saber da psicanálise.
Objetivo
Objetivo desse projeto é realizar uma revisão bibliográfica dos textos de Freud sobre a
histeria, destacando que a relação mente e corpo está presente em todo o desenvolvimento
dessa temática.
Essa pesquisa se ocupará de fazer um resgate histórico da relação mente e corpo para em
seguida observar como Freud se ocupou dessa questão nos textos sobre histeria de 1888-
1899, para enfim, verificar como isso se desdobrou em Freud e como as elaborações dele
poderiam nos ajudar a pensar as patologias contemporâneas.
Além disso, a abordagem das questões envolvidas na relação mente e corpo em Freud, insere-
se nas atuais discussões sobre os possíveis pontos de aproximação entre psicanálise e
neurociência, portanto, discuti-la nos permitira marcar o lugar da psicanálise frente a esse
saber.
Metodologia
Essa pesquisa terá por base uma análise bibliográfica dos textos sobre histeria de
Freud, bem como de seus comentadores, rastreando e acompanhando o desenvolvimento da
relação mente e corpo presente na construção desse conceito.
Bibliografia Básica
Assoun, P.L. (1996). Metapsicologia Freudiana: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Freud, S. (2006). Histeria (1888). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (2006). Após a nomeação como privatdozent (1891). In: Obras Completas. Rio de
Janeiro: Imago.
Freud, S. (2006). Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome especifica
denominada “neurose de angústia” (1895). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (2006). Carta 52 (1896). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (2006). O mecanismo psíquico do esquecimento (1898). In: Obras Completas. Rio
de Janeiro: Imago.
Gabbi jr, O. F. (1990). Sobre a concepção da afasia e da histeria: notas sobre a relação entre
anatomia e linguagem nos primários da teoria freudiana. Discurso. Revista do departamento
de filosofia da USP, n 18. Acesso em 26 de setembro, 2012 da base de dados do portal da
capes.
Winograd, M. (2004). Freud é monista, dualista ou pluralista?. Ágora Vol. 07 n. 02. Acesso
em 14 de setembro, 2012, da base de dados do portal da capes.
Winograd, M & Mendes, L.C (2009). Qual corpo para a psicanálise? Breve ensaio sobre o
problema do corpo na obra de Freud. Psicologia: teoria e prática, vol. 11 n. 2. Acesso em 01
de setembro, 2012, da base de dados do portal da capes.