Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Música Litúrgica
por Alfredo Votta Jr.
Os fiéis têm este direito; por outro lado, os mesmos fiéis não têm
direito a desobedecer nem forçar a desobediência às normas. Os
fiéis não podem tomar os sacerdotes como reféns obrigados a fazer
concessões litúrgicas sob a pena de se esvaziarem os bancos do
templo (embora, claro, nem todo abuso litúrgico nasça do desejo
de agradar fiéis).
2
O chamado Novus Ordo, ou “Missa de Paulo VI”, traz em suas
instruções algumas flexibilidades que não podem, a meu ver, ser
interpretadas como deixa para a solução mais cômoda. Em outras
palavras, a licitude não é suficiente para a beleza e a riqueza da
Liturgia (ainda que indispensável).
O Próprio, por sua vez, muda sempre; é diferente para cada Missa.
Por esta razão é que ele se chama assim: cada Missa tem seu
“próprio Próprio”.
3
lugares ele não é usado, fazendo com que muitos sequer saibam
que ele existe. Mas ele existe e deve ser usado.
Listemos:
Mas e a segunda opção? Muitos poderão dizer sobre ela: “aí, sim!”,
porque ela é a mais praticada, por muitos a única conhecida. Alguns
poderão interpretar que a primeira opção se aplica só a casas
religiosas, só a monges e, mesmo assim só alguns deles. Um hábito
que chega a ser uma mera curiosidade, de certa forma, e por tantas
pessoas apenas conhecido por meio de filmes.
Em português:
7
Sede para mim um Deus protetor e um lugar de refúgio,
para me salvar; pois sois meu apoio e meu refúgio; e pelo
vosso nome haveis de me conduzir e me alimentar.
8
Como o leitor talvez tenha percebido, não defendo que se cante o
Introito sem informar aos fiéis que texto está sendo cantado.
Evidentemente é a Deus que se dirige a Liturgia; e se o fiel sabe o
que está sendo cantando ele se pode unir mais perfeitamente a ela.
Considero importante que os fiéis tenham em mãos o texto que
está sendo cantado pelo cantor ou grupo de cantores, mesmo que
a música utilize o texto na língua do país. Imprescindível? Não;
mas, sendo possível, acredito que auxilie bastante. Pode-se
imprimir o Próprio do dia para distribuir aos presentes, caso não
exista algum outro tipo de guia publicado. Por misericórdia,
abstenhamo-nos de retroprojetores ou datashow...
9
Note-se que a escrita do canto gregoriano usa uma pauta de quatro
linhas, enquanto a notação musical moderna utiliza cinco. A
notação gregoriana continua sendo usada para o canto gregoriano,
e os livros são publicados neste sistema.
10
Por sua vez, o americano Richard Rice escreveu música para o
Próprio da Missa, também em inglês, destinada a coros. Suas
composições são simples (seu trabalho se chama Simple Choral
Gradual, isto é, “gradual coral simples”) e muito boas para a
Liturgia, além de muito acessíveis para coros.
Copio aqui o início do seu Introito Esto mihi. Não estranhe o leitor
a diferença de texto: Rice usa uma tradução diferente daquela usada
no exemplo anterior.
Salmo Responsorial
Dando seqüência às nossas sessões de compreensão do Próprio da
Santa Missa, chegamos agora ao seu segundo item: o Salmo
Responsorial. Se o primeiro item que vimos, o Introito, é
desconhecido de muitos, o mesmo não pode ser dito do Salmo
Responsorial que, bem ou mal, parece ser feito na maioria das
igrejas.
13
Os salmos, em seu texto original, não trazem refrão; porém, na
Liturgia um refrão é introduzido, selecionado entre os versículos
do próprio salmo. Serve para sublinhar, por assim dizer, o caráter
e o espírito daquele salmo específico.
Veja que no início do segundo verso juntei duas sílabas (“se es-...”)
em uma (“s’es”), que é como pronunciamos.
Mas que tem isso a ver com o Salmo Responsorial? Tudo, pois
usamos uma versão metrificada do Saltério (o livro dos Salmos),
impressa, a propósito, com o nome de Saltério Litúrgico, pelas
Edições Lumen Christi. É a tradução oficial da CNBB. Ainda que
o Salmo Responsorial seja só recitado, na Missa (e não cantado),
este conhecimento é importante para proferi-lo com beleza.
Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o
caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores.
Gradual
Neste terceiro texto vamos falar do Gradual. Antes de
começarmos, apenas destaco que a palavra Gradual designa o tipo
de peça musical que entenderemos neste texto, mas também é o
nome dado ao livro que contém música para as Missas (Gradual
Romano, Gradual Simples, em latim Graduale Romanum e Graduale
Simplex).
19
chamado rito “tridentino”, a “Missa Tridentina”. O papa Bento
XVI ensinou, recentemente, que a Missa Tridentina não foi
abolida, e que ela e a “Missa de Paulo VI” são duas formas de um
único rito romano.
20
e o Gradual? O primeiro já é de conhecimento do leitor. O Gradual
é que nos apresenta novidade, neste momento.
Não por ter menos texto é que o Gradual se torna mais curto que
o Salmo Responsorial, ao menos quando se utiliza um Gradual
gregoriano. Os Graduais costumam ser muito melismáticos. O
leitor não terá nenhuma dificuldade de entender esta palavra
quando ouvir o Gradual Viderunt omnes, da Missa do Dia de Natal.
21
Mas não é meu intento entediar o leitor com considerações
lingüísticas ou fonéticas (e não seria nem mesmo se eu entendesse
destes assuntos). Apenas me permita recordar seu significado: a
partir do verbo lehalel (louvar, glorificar) obtemos o
imperativo halelu, que significa “louvai”. Este verbo, acrescido das
duas primeiras letras do nome de Deus, torna-se haleluya,
literalmente “louvai o Senhor”.
Estes são apenas alguns entre numerosos. Repare o leitor que não
estou falando da música, mas do texto. O texto para a Aclamação
antes do Evangelho (com ou sem Aleluia, pois às vezes ele é
omitido, como logo veremos) é preciso, lembremo-nos de que ele
é parte do Próprio; e, assim, está previsto no Lecionário (e também
no Graduale Romanum).
22
O texto da Aclamação antes do Evangelho não necessariamente se
relaciona, ao menos de modo óbvio, com o Evangelho que a segue.
A tradição litúrgica não exige esse tipo de correlação entre todas as
leituras da Missa, entre as antífonas, ou entre leituras e antífonas.
E, ainda que assim fosse, a iniciativa de introduzir textos novos é
incorreta; além disto, prejudica gravemente a Liturgia quando traz
expressões que querem “preparar o povo para acolher a palavra de
Deus” ou coisa do tipo, dizendo que “Jesus Cristo vai falar”, como
num dos exemplos que dei. A meu ver é a vinheta radiofônica por
excelência.
“Vinde após mim!”, o Senhor lhes falou, “e vos farei pescadores de homens”.
24
O “triplo aleluia” passou a ser utilizado em algumas composições
novas escritas para a Aclamação antes do Evangelho. Além disto,
como existem várias antífonas do Ofício Divino, no Tempo Pascal,
cujo texto é esse mesmo triplo aleluia, elas foram aproveitadas e
reunidas no Graduale Simplex como possibilidades para uso na
Missa. Um deles é o Aleluia do Sábado Santo.
1 – Primeira leitura
25
2 – Aleluia
3 – Segunda Leitura
4 – Aleluia
5 – Evangelho
27
As aclamações quaresmais em latim são oito:
Por isso, coloco aqui um apelo pessoal pela extinção desta prática,
especialmente nas Missas transmitidas pela televisão. Nada de
repetir a aclamação; nada de aplausos.
Seqüência
Falo da Seqüência, que ainda grafo com trema porque... sem trema
não dá.
29
Uma tentativa de tradução: Ave, estrela do mar, cara Mãe de Deus,
sempre Virgem, feliz porta do céu. Tentativa, porque traduções literais
são um pouco difíceis de encontrar. Como o texto original é
metrificado, é comum que se façam traduções também
metrificadas, o que modifica um pouco o poema.
Ofertório
Na Forma Extraordinária do Rito Romano, a “Missa Tridentina”,
o Ofertório possui a sua própria antífona, assim como, já vimos, o
Introito possui a sua e, logo veremos, a Comunhão também.
31
não foi a única modificação feita no Ofertório pelos executores da
reforma litúrgica de 1969-1970; no Rito Novo ele se tornou
consideravelmente mais curto.
32
Certo: “primeiro lugar” não significa “exclusividade”; mas isto
abordaremos em outro texto, fora desta série.
33
48. O canto é executado alternadamente pelo grupo de
cantores e pelo povo, ou pelo cantor e pelo povo, ou só
pelo grupo de cantores. Pode-se usar a antífona com seu
salmo, do Gradual romano ou do Gradual simples, ou
então outro canto condizente com a ação sagrada e com a
índole do dia ou do tempo, cujo texto tenha sido aprovado
pela Conferência dos Bispos.
34
O número 142 menciona até “música de fundo do órgão”, que não
aparece, na IGMR, em nenhum outro ponto que mencione o
Ofertório – trata-se de música exclusivamente instrumental
executada pelo órgão. Pessoalmente, gosto desta possibilidade,
embora defenda o uso das antífonas do Ofertório colocadas pelo
Graduale.
36
codificado em Tra le sollecitudine, o motu proprio do papa São Pio X
que provê numerosas diretrizes para a música sacra:
http://musicasacra.com/pdf/offertoryverses.pdf
Comunhão
A Santa Missa, celebrada em Rito Romano ou em qualquer dos
ritos legítimos da Igreja, traz em si o estupendo milagre da presença
real de Cristo nas espécies eucarísticas. O milagre não só
impressiona por si mesmo, mas também por ocorrer em todas as
vezes que a Missa é celebrada, desde há quase dois mil anos: um
milagre tremendo se repetindo incessantemente, um incontável
número de vezes ao longo da história desde a sua primeira
ocorrência, pelas mãos do próprio Deus, quando sua celebração
foi instituída.
38
mais impressionante da Santa Missa. Em segundo lugar, mas
igualmente fenomenal à compreensão humana, está a ideia de
receber o Corpo do próprio Cristo como alimento. Isto é a
Comunhão. Se ela não existisse, a transformação do pão e do vinho
em Corpo e Sangue de Cristo já seria suficientemente espantosa.
Mas que os fiéis sejam alimentados por estes elementos torna tudo
ainda mais grandioso.
39
88. Terminada a distribuição da Comunhão, ser for
oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em
silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode entoar ainda um
salmo ou outro canto de louvor ou hino.
41
Evangelhos. Um exemplo é a Solenidade do Sagrado Coração de
Jesus, cuja Comunhão traz as palavras de Jo 19, 34:
42
Isto facilita muito o trabalho dos grupos de canto gregoriano. Se
os cantores ainda não têm grande experiência, o fato de não
poderem estudar uma Comunhão nova por semana poderia
impossibilitar o uso do gregoriano nesta parte da Missa. A lista das
sete antífonas é uma ajuda (e tanto!) do Graduale Romanum.
Um parêntese:
Fecho o parêntese.
Introdução ao Ordinário
Quando me coloquei a tarefa de explicar o Próprio da Missa, uma
das primeiras coisas que fiz foi compará-lo ao seu companheiro, o
Ordinário, para poder contrastar os dois e dizer, explicando o que
o Próprio não é, o que ele é. Ao começar um esboço sobre o
Ordinário, não me parece tão despropositado utilizar o mesmo
método; tanto que começo dizendo, neste momento, que o
Ordinário é ordinário precisamente porque não é Próprio.
O leitor pode ter certeza de que estou falando sério, mesmo que
agora eu invoque uma particularidade um pouco cômica da língua
portuguesa: o adjetivo “ordinário” tem neste idioma, entre outros
significados, um aspecto negativo do qual às vezes nos valemos
para ofender uma pessoa. “Homem ordinário” está entre as
qualificações que homens não gostariam de ouvir a seu respeito,
normalmente... Este adjetivo, imbuído agora de um ar depreciativo
a nossos ouvidos, tem origem menos malvada: homem ordinário é
45
homem que não tem nada de esplêndido, impressionante ou...
extraordinário (claro). É o homem comum e simples. A palavra
“medíocre”, igualmente nada elogiosa, a rigor também não chega
a ser uma ofensa, significando algo ou alguém que não passa da
média.
47
Convido o leitor a perceber que escrevi os nomes das partes do
Próprio em português, e as do Ordinário em latim (exceto o
Kyrie, em grego). Isto porque, já que o Ordinário nunca varia,
podemos dar a cada parte, como nome, a primeira ou primeiras
palavras de seu texto. Isto acontece com todas elas:
48
seja comentar apenas a música, faz-se necessário compreender
algumas questões referentes à Liturgia em si e suas partes.
Em grego:
Kyrie eleison.
Christe eleison.
Kyrie eleison.
C – Kyrie eleison.
A – Kyrie eleison.
C – Christe eleison.
A – Christe eleison.
C – Kyrie eleison.
A – Christe eleison.
C – Kyrie eleison.
A – Kyrie eleison.
C – Kyrie eleison.
50
A – Christe eleison.
C – Christe eleison.
A – Christe eleison.
C – Kyrie eleison.
A – Kyrie eleison.
C – Kyrie eleison.
51
2 – o assistente recita: Tenha misericórdia de ti Deus Onipotente e, tendo
perdoado teus pecados, conduza-te à vida eterna; o celebrante
responde Amém.
6 – Kyrie
52
C – Manifestai, Senhor, a vossa misericórdia.
A – E dai-nos a vossa salvação.
C – Senhor, que sois o caminho que leva ao Pai, tende piedade de nós.
A – Senhor, tende piedade de nós.
C – Senhor, que sois a vida que renova o mundo, tende piedade de nós.
A – Senhor, tende piedade de nós.
Tropos não são novidade introduzida pelo Rito Novo, sua origem
é bem antiga. O fato de que tropos possam ser criados com
liberdade pode nos deixar um tanto apreensivos quanto à
possibilidade de abusos. Porém, e infelizmente, os abusos
cometidos no Ato Penitencial passam longe da invenção de tropos
inadequados, preferindo vias mais radicais como a completa
omissão de qualquer destes textos que estamos examinando,
substituindo-os por alguma canção pop de “cantor católico” cuja
letra, na opinião de alguém, pareça ter alguma relação com perdão
ou misericórdia.
53
E mesmo que a tal canção não seja pop, basta que seu texto difira
destes que o Missal coloca para que tenhamos grave abuso
litúrgico. Algumas composições tentam disfarçar seu texto como
se fossem tropos de um Kyrie de verdade, mas o estrago já está
feito. Um exemplo muito conhecido:
Senhor, que viestes ao mundo para nos salvar, tende piedade de nós.
54
Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, que continuamente nos visitais com a graça do vosso Espírito, tende
piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, que vireis um dia para julgar as nossas obras, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, Filho de Deus, que, nascendo da Virgem Maria, vos fizestes nosso
rmão, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, Filho primogênito do Pai, que fazeis de nós uma só família, tende
piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
55
Cristo, que prometestes o paraíso ao bom ladrão, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, que acolheis toda pessoa que confia na vossa misericórdia, tende piedade
de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
56
O Kyrie mais simples é o de número XVI, cuja indicação é para os
dias de semana do Tempo Comum. Mais simples porque
praticamente todo silábico.
iij indica três. Por quê, então, mais adiante aparece apenas ij?
Porque nas últimas três vezes em que se canta Kyrie eleison, nesta
composição, as duas primeiras são iguais, mas a terceira é um
pouco diferente, e vem escrita por extenso na seqüência, depois
do ij.
Algumas peças para o Kyrie nos dão melodias diferentes para cada
vez em que uma invocação é cantada. É o caso do décimo Kyrie.
Neste caso, mesmo no Rito Novo, cantam-se todas as melodias
escritas. As rubricas da Forma Ordinária, ao mesmo tempo em que
fixam as seis súplicas, estabelecem que o número pode ser maior,
por razões de composição musical. Mesmo nas composições
58
polifônicas, em ambos os ritos se admite um número maior de
repetições.
Glória
O Gloria, fazendo parte do Ordinário, é (ou deve ser) muito bem
conhecido pelos fiéis, pois figura em todas as Missas dominicais.
Todas? Bem – não exatamente em todas, mas já chegaremos lá. A
maioria das Missas dominicais utiliza, sim, o Gloria, que vou
escrever sem acento neste texto por usar a palavra latina.
59
Maioria das Missas Dominicais, isto é, não todas; donde já
concluímos que o Gloria é uma daquelas partes do Ordinário que
se omitem em certas datas litúrgicas. Não se trata de regra e
exceção; a Missa com o Gloria não é a regra, e a Missa sem Gloria
também não é a regra. A regra é, de acordo com a data, usá-lo ou
não.
Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens, objetos da
benevolência (divina) [Bíblia Ave Maria]
60
Gloria in altissimis Deo et in terra pax in hominibus bonae
voluntatis [Vulgata]
Com estas palavras a abri-lo, este texto foi composto em grego; era
um dos inúmeros psalmi idiotici que se escreveram nos séculos II e
III. Esta designação pode nos causar a nós, falantes de português,
um certo estranhamento, por idiotici nos fazer lembrar da
palavra idiota, que tem para nós significado bastante negativo.
Entretanto, mesmo o nosso idiota vem do grego idiôtés, referindo-
se ao homem privado, particular (e não público). Os psalmi
idiotici são “salmos privados”, de composição nova, diferentemente
dos poemas do Saltério hebraico.
62
em latim e o Gloria em português. Para vê-lo maior, clique no
quadro.
63
O texto não pode ser substituído por nenhum outro. Isto exclui
textos parecidos, paráfrases, extensões, abreviações etc. Tampouco
vejo como seria possível admitir versões métricas.
64
deparemo-nos com música que poderia ser acompanhada de
palmas (mesmo que efetivamente não seja).
65
Assim ele continua, alternando muitas frases silábicas com
ocasionais melismas. Seu Amen é melismático – dezenove notas na
segunda sílaba!
Credo
Passamos neste momento ao Credo, palavra latina que abre este
texto que os cristãos desde cedo aprendem a recitar. É o terceiro
item do Ordinário, lembrando que o primeiro é o Kyrie e o segundo
é o Gloria.
O Credo, por sua vez, faz parte da Missa nas Solenidades (mas não
nas Festas) e em todos os Domingos (incluindo os da Quaresma e
os do Advento). Em algumas ocasiões especiais, em que a Liturgia
inclui a renovação das promessas do Batismo, o Credo é omitido;
ou, melhor dizendo, apenas parece omitido, porque o próprio rito
da renovação das promessas inclui o texto do Credo adaptado à
forma de perguntas do celebrante, às quais respondem
afirmativamente os fiéis.
67
No Rito Tridentino, chamado também a Forma Extraordinária do
Rito Romano, o texto é o do Credo Niceno-constantinopolitano. Esta
designação se explica pelo fato de que ele se formulou no Concílio
de Nicéia (donde é niceno) e no Concílio de Constantinopla
(donde é constantinopolitano), no século IV. Aqui o copio em
português:
Creio em um só Deus,
Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra
De todas as coisas visíveis e invisíveis.
70
Uma consulta ao Graduale Romanum mostra que as melodias para
o Credo se encontram em parte separada do livro. Além disto, são
menos numerosas (seis), o que se explica pelo fato de que
o Credo se tornou parte fixa da Missa relativamente tarde, no século
XI.
Sanctus
O Sanctus, quarta parte do Ordinário da Missa, precedido pelo
Kyrie, pelo Gloria e pelo Credo, apresenta o simbolismo do
número 3 ao proclamar “Santo, Santo, Santo”. Mais uma vez, a
Liturgia tem a Escritura como principal fonte, e falo
especificamente do livro do santo profeta Isaías, capítulo 6,
versículo 3:
71
Bíblia Ave Maria - 3. Suas vozes se revezavam e diziam: Santo,
santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama
a sua glória!
72
Uma segunda palavra hebraica faz parte do texto do Sanctus:
“Hosana”. Seu significado original é uma súplica por salvação, mas
logo se tornou uma aclamação triunfal. Mais uma vez a fonte é a
Escritura: Mt 21, 9.
E em latim:
Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth. Pleni sunt coeli et terra
gloria tua. Hosanna in excelsis. Benedictus qui venit in nomine Domini.
Hosanna in excelsis.
Embora a famosa composição cujo texto é o que citei ali não seja
uma monodia gregoriana, é uma melodia única destinada ao canto
a uma voz só. De qualquer maneira, realmente incorretas são as
adições feitas ao texto.
74
Um caso bem pior, sobre o qual cheguei mesmo a escrever um
texto específico no blog Salvem a Liturgia, é o famoso “Santo dos
Anjos”. Dói-me profundamente citar-lhe o texto, mas
lamentavelmente terei que fazer isso.
-Corações ao alto.
-O nosso coração está em Deus.
Em latim:
-Dominus vobiscum.
-Et cum spiritu tuo.
-Sursum corda.
76
-Habemus ad Dominum.
77
cante o Sanctus, o sacerdote o recita em voz baixa, logo depois do
prefácio.
78
Remetemos o leitor a este site
http://www.christusrex.org/www2/cantgreg/kyriale.html do
qual constam gravações dos diversos ordinários gregorianos, onde
encontrará também o Sanctus XVIII gravado no Mosteiro de São
Bento de São Paulo. Muitas pessoas têm conhecido o canto
gregoriano por meio desse site, e somos muito gratos a tão boa
iniciativa.
Agnus Dei
O Cordeiro de Deus (em latim Agnus Dei) é quinto e último
integrante do Ordinário da Missa. Seu texto de compõe das
seguintes invocações:
Em latim:
Na Vulgata:
79
É São João Batista quem avista Jesus passando e profere este
solene título dado pela Igreja ao Messias desde o início e
para sempre.
Fração do pão
Mais uma vez é necessário observar que o texto não deve ser
alterado nem sofrer acréscimos. Eventualmente se ouve, em
certas igrejas, um Cordeiro de Deus com o acréscimo "morreste
80
por causa de nós, foste imolado em nosso lugar" - o que,
certamente, não deveria acontecer. Sabemos que muitos são os
casos de composições para o Ordinário que mutilam o texto ou
acrescentam palavras indevidas; falei disto nos outros textos desta
série, às vezes examinando casos concretos; isto deve já estar
suficientemente claro para muitos, incluindo nossos leitores. E
para que não se diga que é algum tipo de ideia inventada
pelo Salvem a Liturgia, observo que comentários escritos por
leitores indicam que muitos deles já há algum tempo estão
incomodados com a violação dos textos litúrgicos. A própria
IGMR se preocupa com esse erro, o que fica claro no número 53,
quando se fala do Gloria:
81
Enquanto o sacerdote parte o pão e deita uma parte da hóstia no
cálice, a schola ou um cantor canta ou pelo menos recita em voz alta
a invocação Cordeiro de Deus, a que todo o povo responde. A
invocação acompanha a fração do pão, pelo que pode repetir-se o
número de vezes que for preciso, enquanto durar o rito. Na última
vez conclui-se com as palavras: Dai-nos a paz.
E ouvir
neste: http://www.christusrex.org/www2/cantgreg/cantus/agnu
s_18.mp3.
82