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Por que repensar a obra por está ótica é tão importante? Simplesmente pelo fato de
podermos enxergar com clareza que Beauvoir não se desprende da realidade, mas pelo
contrário, é completamente a frente de seu tempo, principalmente nos aspectos
históricos.
Esta edição comemorativa separa os dois eixos centrais da narrativa em livros distintos,
sendo: Fatos e Mitos; Experiência vivida, e um pequeno livro intitulado “70 anos
depois”.
FATOS E MITOS
A EXPERIÊNCIA VIVIDA
A partir dos pensamentos acima, a autor inicia uma investigação através de uma
série de outros pensamentos, buscando a compreensão por meio de questões.
Aqui, Beuvoir critica a Biologia, o ponto de vista psicanalítico e o ponto de vista
materialista. Ao questionar a biologia, a autora não nega que exista uma
natureza feminina que se difere da natureza masculina, porém, ela também não
acredita que essa diferença seja o suficiente para explicar os motivos pelos quais
a mulher é sempre colocada em ponto de subordinação com relação ao homem.
Já o ponto de vista psicanalítico de Freud e Adler é confrontado, afinal, são
pensamentos masculinos acerca da essência da mulher que dependeram de um
contexto histórico para se solidificarem. Em outras palavras, se existe, de fato,
um complexo de inferioridade feminino em relação aos homens, é porque a
mulher está inserida dentro de um contexto social que valoriza muito mais a
virilidade masculina, do que a virilidade feminina. Nesta parte, a autora
também busca compreender o que dá à mulher o status de feminina levantando
diversas questões. Afinal, o que dá a uma mulher o status de mulher? Seriam
suas vestes, unhas pintadas ou uma essência pré-existente platônica da essência
feminina? Ou esta essência estaria presa à um conceito biológico de que a
feminilidade está ligada diretamente as questões biológicas? Será que basta
pintar o cabelo, unhas e usar saia para ser mulher? E partindo de questões como
estas que Beauvoir sintetiza toda a sua ideia em uma única frase, sendo ela:
Não se nasce mulher, torna-se.
Enfim, o livro é incrivelmente rico e merece ser lido, estudado e folheado
dezenas de vezes, até que suas palavras tornem-se efetivas em nosso eu. Como
estudante de Ciências Sociais, é interessante ler Beauvoir. A teoria da autora
acerca da formação da figura feminina no campo social, a construção da
identidade feminina, o lugar da mulher na sociedade segunda a concepção e
visão histórica, a mulher como objeto e não somo sujeito, dentre outros diversos
temas abordados pela autora, tornam a experiência de leitura extremamente
densa e rica. É necessário uma capacidade intelectual que exceda as linhas desta
obra. Em outras palavras, para que se compreenda de fato as ideias de Beauvoir,
faz-se necessário ler as diversas contribuições citadas pela autora ao longo de
sua narrativa. A compreensão das correntes filosóficas e das inúmeras
contribuições de outras correntes para a compreensão da teoria e formação da
mulher como ser no campo social é indispensável. Este é um livro que merece
destaque na prateleira, não por ser um livro que estuda àquilo o que buscamos
compreender, mas por ser um livro que excede as expectativas do leitor com
relação as teorias estudadas e apontadas por Simone de Beauvoir. Uma leitura
realmente intrigante.
“Mas, de qualquer maneira, criar, cuidar não são atividades, são funções
naturais; nenhum projeto está envolvido; é por isso que a mulher não encontra
aí a razão de uma afirmação arrogante de sua existência; ela passa seu destino
biológico passivamente.”
A AUTORA
Simone de Beauvoir foi uma autora e filósofa francesa. Ela escreveu romances,
monografias sobre filosofia, questões políticas e sociais, ensaios, biografias e
uma autobiografia. Ela é agora mais conhecida por seus romances metafísicos,
incluindo Ela veio a ficar e os mandarins, e por seu tratado de 1949 sobre o
segundo sexo , uma análise detalhada da opressão das mulheres e um trato
fundamental do feminismo contemporâneo.