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Este artigo foi publicado na Revista Texto &
Contexto em Enfermagem, UFSC, Florianópolis, SC.
Maio de 2003.
REUNIÕES DE TRABALHO:
mais que uma ferramenta administrativa, um processo educativo
ABSTRAC
Mobilization focused on the technique of work meetings, as an educational process, with a
view to providing information for the practice of nursing in the fields of care/attention,
administration and teaching. In order to establish a guideline for the study, inspiration was
taken from a Pichonian approach on operational groups, emphasizing meticulous planning,
both as regards the preparatory phase, the logistical and organizational aspects, and the
dynamics of the group meeting, punctuating the key moments of a meeting.
KEY WORDS: Consensus development conference. Health services administration.
Personnel Management. Nursing
REUNIONES DE TRABAJO:
más que una herramienta administrativa, un proceso de educación
RESUMEN
La movilización que enfoca la técnica de reuniones de trabajo, en su carácter de proceso de
educación, con el objetivo de auxiliar a la práctica de enfermeria, en los cuidados/asistencia,
administración y enseñanza. La inspiración para delinear un hilo conductor vino del abordaje
pichoniano en los grupos operativos, enfatizando la planificación con criterio, tanto en lo que
refiere a la fase preparativa, los aspectos logísticos y de organización, cuanto en lo que refiere
a la dinámica del encuentro grupal, puntuando los momentos-llave de una reunión.
DESCRIPTORES: Reuniones de consenso. Administración de los servicios de salud.
Administración de Personal. Enfermeria.
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Doutora em Enfermagem pela EEUSP, Professora Adjunta vinculada ao DAOP e ao Programa de Pós-
Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EEnfUFRGS)
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Enfermeira, Mestranda e Bolsista da CAPES junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EEnfUFRGS)
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INTRODUÇÃO
A chamada do título é um convite para repensar sobre tema tão polêmico, pois, bem-
vindas ou não, reuniões de trabalho são práticas que têm persistido nos mais diversos âmbitos
e áreas de trabalho. Ao adentrar nos argumentos polarizados do porque sim e do porque não
realizá-las, é inevitável deparar-se com razões diametralmente opostas, geradoras de
confrontos. Por ora, entende-se que na fronteira entre esses mesmos confrontos – região de
conflitos mas também campo fértil ao entendimento – talvez seja possível encontrar
explicações mais sensatas ou, pelo menos, um caminho a seguir.
Mesmo não se dispondo de dados sistematizados, oriundos de pesquisas sobre o
tema, atemo-nos a experiências vivenciadas em nosso trabalho. Mas, basta evocar situações
do cotidiano para lembrar-se de comentários que afloram comumente e que poderiam ser
alocados na lista do “porque sim”, em que reuniões sugerem oportunizar brainstorming,
socialização do conhecimento, planejamento conjunto, subsídios para tomadas de decisões
mais acertadas e outros chavões administrativos. Em contrapartida, é impossível alienar-se ao
rol dos “porque não”, onde borbulham comentários sobre reuniões cansativas, em que nada se
resolve, sugerindo uma perda de tempo, apenas para enumerar alguns dos desconfortos.
Um fato incontestável é que, em meio às posições de ataque e defesa, reuniões são
necessárias e fazem parte da vida organizacional, independentemente da natureza da
atividade. E, em se tratando da área da saúde e educação – onde marcadamente a enfermagem
se situa - adquire uma conotação especial, haja vista as especificidades a que remetem tais
processos de trabalho. Entre outros aspectos, sinaliza-se a condição de interdependência intra
e inter-equipes e entre áreas de conhecimento para que o trabalho se efetive. Este fato coloca
seus protagonistas na eminência de muitas situações face-a-face. Precisando interagir,
informar, dialogar, debater, tomar decisões coletivas, reuniões acontecem.
Como as abordagens que versam sobre o tema em pauta são bastante escassas,
mesmo considerando o amplo espectro, em se tratando de áreas de conhecimento afins, a
presente mobilização consiste em organizar e sistematizar algo em torno da temática que
possa subsidiar a prática nos campos da assistência/cuidado, administração e ensino, na
enfermagem. Delineamento de um fio condutor, planejamento, sinalização de momentos-
chave de uma reunião, preparo para coordenação e participação são temas essenciais desta
abordagem, porém, com a ressalva de não circunscrever a técnica de reunião de trabalho
como tão somente uma ferramenta administrativa. A tônica é a de iluminá-la como condição
sine qua non de um processo educativo em que se busque a aprendizagem contínua, em prol
do cuidado, administração e ensino.
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TIPOS DE REUNIÕES
Antes de entrar em questões mais específicas e operacionais, julga-se pertinente
apontar os tipos de reuniões, de acordo com alguns critérios que interferem no processo como
um todo. Esta caracterização não é estanque em suas fronteiras, mas facilita a compreensão de
muitos aspectos que vão se refletir na organização das diversas fases do processo.
Periodicidade, presença dos participantes, espaço de fala e atribuição do poder decisório são
alguns dos critérios definidores de tipos de reuniões, e são classificações que podem variar em
alguns termos mas, no teor, são de consenso predominante:
Quanto à periodicidade
Denomina-se ordinária quando segue um cronograma previamente estabelecido. Ao
ser marcada fora do protocolo habitual, geralmente em caráter emergencial, caracteriza-se
como sendo extraordinária.
Quanto à presença
Na forma de participação espontânea, procede-se a um convite para as pessoas
interessadas. Porém, quando trata-se de participação obrigatória, as pessoas são
convocadas.
Número de participantes
A decisão sobre o número de participantes nem sempre cabe à equipe de
coordenação e, com freqüência, é preciso haver uma acomodação, uma apropriação. O que se
sabe, com base na observação cotidiana e a partir do que recomenda a literatura9 é que,
desejando-se uma ênfase na pluralidade de pontos de vistas, um grupo maior é recomendado;
já quando pretende-se aprofundar reflexões, um grupo menor oferece melhores resultados, e
neste caso o módulo recomendado oscila entre seis a quinze participantes9-5. Mas em um
debate nem sempre é possível verificar essas condições ideais. Neste caso, é preciso
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Duração da reunião
Outro cuidado de quem prepara uma reunião diz respeito ao tempo de duração da
mesma. Há vários fatores intervenientes: tipo e finalidade, extensão e complexidade da
agenda, número de participantes, quando e onde a reunião será realizada e tempo disponível10.
Quanto ao tempo, em reuniões que se estendem por mais de 2 horas, corre-se o risco
de intelectualizações excessivas acerca do tema e de fadiga entre os participantes. Assim
apresenta-se como sugestão de duração ideal entre 1h30min e 2 horas5. Mas convém alertar
sobre os riscos de se economizar tempo, sob pena de deixar questões mal resolvidas que terão
que ser retomadas10.
Em reuniões mais longas, pode-se propiciar um intervalo de dez a quinze minutos
que possibilite aos participantes uma pausa nas discussões.
“assuntos gerais” pode ser feita por ocasião da abertura da reunião, tendo em
vista a necessária administração do tempo;
Como se vê, os quesitos não advêm de qualidades inatas. “Dirigir reuniões é uma
habilidade gerencial, e portanto uma competência adquirida”7:33 que remete a outras
habilidades como trabalhar em equipe, solucionar conflitos, delegar. Em razão da
complexidade e amplitude aí compreendida, a condução de debates e a consoante dinâmica é
um conteúdo que, em si mesmo, mereceria uma publicação à parte. Por isso, neste tópico,
limita-se a tecer algumas considerações gerais que suscitem reflexões. Entre elas, elege-se a
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FUNÇÃO DE SECRETARIADO
Ao secretário cabe auxiliar no planejamento e execução de todos os aspectos
referentes à organização do ambiente, elaboração da agenda, envio do convite ou convocação
mas também dele se espera que dê suporte ao coordenador nas inscrições e no controle do
tempo da reunião. O secretário ainda é responsável pelo registro do conteúdo proveniente da
discussão grupal e pela manutenção do equipamento de gravação, nas situações em que se
apropria deste recurso. Posteriormente, as informações são reorganizadas e sistematizadas na
forma de ata, na qual se descreve todo o conteúdo da reunião de maneira detalhada, ou
minuta, em que consta apenas uma súmula do que foi discutido.
AVALIAÇÃO DA REUNIÃO
A avaliação é uma oportunidade de rever, refletir e repensar a dinâmica em si, a
participação dos membros, do coordenador, e o interjogo de papéis. Esta etapa realimenta o
intuito construtivo de se implementar reuniões de trabalho nos ambientes organizacionais,
abdicando de concebê-las como uma ferramenta administrativa que se usa de forma
protocolar para tão somente resolver problemas e tomar decisões. A idéia é que se traduza em
um processo educativo que envolve aprimoramento técnico-científico, auto-conhecimento, e
enfrentamento das próprias resistências, desenvolvimento da agilidade intelectual, capacidade
de se expressar, de liderar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reuniões de trabalho podem ser espaços de aprendizagem, de desenvolvimento das
capacidades humanas que possibilitam o aprimoramento técnico, científico e ético das
relações. Aprimorar-se na ocupação desses espaços, seja com vista à assistência,
administração ou ensino, é um desafio que exige desenvolvimento de habilidades específicas,
disciplina, enfrentamento dos medos, valorização da diversidade e superação.
REFERÊNCIAS
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2. Bleger J. Temas de psicologia. São Paulo: Martins Fontes; 1991.
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4. Dall’Agnol CM. Avaliação de desempenho na enfermagem e o ser (a)crítico. [tese]. São
Paulo (SP): Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo/USP; 1999.
5. Dall’Agnol CM, Ciampone MHT. Grupos focais como estratégia metodológica em
pesquisas na enfermagem. Rev Gaúch Enferm 1999 Jan;20(1): 5-25.
6. Nobre JA. Escola de resgate de líderes. Porto Alegre: Passaporte para o sucesso; 2002.
7. Silveira Neto FH. Outra reunião? Teoria e prática para a realização de reuniões eficazes. 2.
ed. Rio de Janeiro: COP; 1988.
8. Castelo L. Reuniões eficazes. [Online]. [citado 2002 Aug 02]. Disponível em URL
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9. Debus M. Manual para excelência en la investigación mediante grupos focales.
Washington, Academy for Development; 1996. 96 p. [Não publicado].
10. Linkemer B. Reuniões que funcionam: definindo a agenda, administrando os imprevistos,
pondo em prática a tomada de decisão. Porto Alegre: Nobel; 1991.
11. Oliveira EL de. O Irmanito: a organização de aprendizagem e a dinâmica de grupo.
[Online]. [citado 1999 Sept 99]. Disponível em URL
http://sbdg.org.br/irmanito36/organizações.htm. Consulta em 02/09/1999.
12. Zimerman DE. Fundamentos técnicos. In: Zimerman DE, Osório LC (Org.). Como
trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. p33-40.
13. Gayotto MLC, Domingues I. Liderança: aprenda a mudar em grupos. 3.ed. Petrópolis:
Vozes; 1995.