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de Janeiro, ambos de 1948, a primeira Bienal de São Paulo em 1951, e a legitimação crítica do
Concretismo e do Neoconcretismo (ANJOS, 2005: 52-53).
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Figura 1. Marepe, A Bica (1999), zinco, cabo de aço, estrutura de ferro anexada ao telhado,
600 x 600 x 600 cm (Foto: Eduardo Eckenfels).
percurso que a água poderia fazer; pelo contrário, sugere um caminho longo,
não objetivo, permeado por avanços e retrocessos pelo qual a água seria
escoada.
A preocupação com a água, mais especificamente com o seu
armazenamento diante de um contexto de escassez, faz parte da construção
identitária da região e evoca a própria construção do que hoje reconhecemos
como Nordeste. Como assinala Durval Muniz de Albuquerque Júnior, as
regiões, ou a sua ideia, não são fatos inertes na natureza, não estão dadas
desde sempre, mas são “fatos humanos” em grande parte produzidos a partir
de discursos que não são emitidos a partir de um espaço exterior a eles, mas
sua própria locução encena, produz e pressupõe esse espaço (1999: 23; 66).
Foi no final do século XIX que políticos dos estados hoje conhecidos
como nordestinos se identificaram em torno de um discurso comum que
defendeu a destinação de recursos financeiros por parte da União para aqueles
estados que sofriam com o problema da seca, problema esse que os demais
estados da região Norte não enfrentavam. Na Constituição de 1891 as
bancadas de parlamentares desses estados conseguiram incluir uma obrigação
de destinação de verbas especiais por parte da União para o socorro de áreas
vítimas de flagelos naturais, como a seca. Mais tarde, em 1919, foi criada a
Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) destinada a atender as
demandas da região Nordeste, termo que passa a ser então empregado para
distinguir esses estados dos outros estados nortistas (idem, ibidem: 68-70).
Outra obra de Marepe que nos remete à questão da água é Filtros
(1999). Aqui os populares filtros de barro são prolongados em sentido vertical
por meio do empilhamento de várias seções intermediárias do objeto
responsável pela filtragem. A exemplo de A bica, novamente o percurso da
água é prolongado, o que pode nos sugerir a baixa qualidade original desse
insumo, o que exigiria sucessivas filtragens, ou ainda a dificuldade em obter
esse produto na sua versão apropriada para consumo humano.
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Figura 2. Marepe, Filtros (1999), filtros de barro, bancos de madeira, copos de vidro e água,
dimensões variáveis.
3 Para Albuquerque Júnior, essa foi a primeira tentativa de dar uma definição para o Nordeste
que não se restringisse aos âmbitos geográfico, natural, econômico e político, mas que
considerasse também aspectos culturais e artísticos (1999: 72).
4 O Congresso foi um misto de encontro artístico-cultural e político. A ideia era unir os membros
dos estados daquela região em torno do patriotismo regional. O objetivo do Centro era reunir e
congregar “elementos de vida e cultura nordestinas” por meio de conferências, excursões,
exposições de arte, uma biblioteca com obras dos intelectuais da região e da edição da revista
O Nordeste (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999: 73).
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Referências bibliográficas
ANJOS, Moacir dos. Local/global: arte em trânsito. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
______. Longe ou perto demais para saber do que se trata. In: Crítica, Moacir dos
Anjos. Rio de Janeiro: Automatica, 2010. p.183-197.
COUTO, Maria de Fátima Morethy. Arte e biografia: fabulações. In: Anais do Encontro
da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas [Recurso eletrônico] /
Sheila Cabo Geraldo, Luiz Cláudio da Costa (orgs.). Rio de Janeiro: ANPAP, 2011.
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Museu vivo: Marepe. Direção: Cacá Vicalvi. São Paulo: SESC TV, 2011. 23’16”.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eg68TijEhOw>. Acesso em
setembro de 2016.
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