Morte do engenheiro, líder da construção da Belém-Brasília, foi no
dia 15 de janeiro de 1959.
Bernardo Sayão, que em Imperatriz já denominou ginásio escolar e
é nome de rua (no povoado Lagoa Verde) e de avenida (no Centro) é apontado como o “pai da Belém-Brasília”. Vice-governador do estado de Goiás e braço direito do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) na construção da rodovia, é Bernardo Sayão de Araújo, engenheiro agrônomo, quem chefia a realização da obra, entre 1958 e 1959, quando morre em conseqüência de uma tragédia. A historiadora Edelvira Marques cita Bernardo Sayão como o grande dínamo da construção de Brasília (DF). “Trabalhador incansável, madrugava em cima de um trator a tomar providências”, escreveu Edelvira, no livro “Imperatriz – Memória e Registro”(Ética Editora, 1996). “Acompanhando o ritmo do grande presidente, tão logo as obras tiveram andamento no Planalto, foi ele incumbido de projetar a grande via, o respiradouro, a artéria que conduziria o sangue do ‘Brasil Novo’ às águas mornas da baía de Guanabara e daí ao mundo’.
Foi o próprio Bernardo Sayão quem fez o traçado, no mapa, da
“Rodovia da Unidade Nacional”, em 1957, após constatar a descrença do então governador do Pará, Manoel Barata, a quem buscara apoio naquele mesmo ano. “Vamos construir esta estrada e o roteiro é este aqui”, teria afirmado Sayão, para o engenheiro e amigo Jofre Parada, que o acompanhara na viagem até a capital Belém (PA). “Por sorte ou destino, Imperatriz estava ali, à espera do milagre...”, constata a historiadora e professora Edelvira Marques, em seu livro.
Para o reconhecimento topográfico da estrada, necessário para o
início dos trabalhos, a Rodobrás (empresa responsável pela construção da rodovia) definiu três frentes distintas: Imperatriz, então com três mil habitantes, é uma delas, a segunda; e Belém e Brasília, as outras duas, a primeira e a terceira, respectivamente. De acordo com Sebastião Negreiros, autor do livro “A História de Um Jornalista Despretensioso”, sua autobiografia jornalística (Ética Editora, 1996), “numa primeira fase dos trabalhos da estrada, o desmatamento foi a atividade que consumiu o maior número de mão-de-obra, por ser um trabalho muito pesado não carente de pessoas especializadas”.
Algumas dessas mão-de-obras não especializadas foram ouvidas
pela reportagem. Em Lagoa Verde, por exemplo, ouvimos Jonas de Aquino Gomes, 61 anos, que trabalhou no desmatamento da estrada. “Naquele tempo, era tanto peão trabalhando que mais parecia um foguete”, conta Jonas, acrescentando ter ouvido do próprio Bernardo Sayão que “havia como o presidente JK fazer a obra mecanizada, mas queria dar o ganho para os brasileiros”. “E, em conseqüência disso, naquele tempo, nós brincamos com nota de mil contos”.
Morte trágica resultou em comoção geral na cidade
Bernardo Sayão era um líder corajoso. Como havia muito assombro, inclusive estórias de índios, o presidente JK teve nele um ponto de apoio muito importante na abertura da Belém-Brasília. “Tanto para construir Brasília quanto para as estradas que ligariam a capital da República ao litoral”, assegurou Edelvira Marques, anteontem, em entrevista.
A morte de Sayão fez Imperatriz parar. “Foi uma surpresa geral
porque não havia morrido nenhuma pessoa nessa estrada, de Estreito a Belém. A única pessoa que morreu foi o chefe”. O lugar onde morreu, Ligação, no estado do Pará, era o ponto de encontro da turma que vinha do sul com a que vinha de Belém. “Justamente lá ele foi acidentado”, recorda.
Natanael Cipriano de Araújo, topógrafo profissional, foi contratado
para trabalhar na época em que morava no Goiás, hoje Tocantins. Dois dias antes da morte de Sayão, ele teve um contato com o engenheiro. “Ele desceu do helicóptero e pediu pressa para a chegada em Ligação”. O serviço de topografia demoraria mais cinco dias, faltavam cerca de 18 quilômetros. “Dois dias depois, recebi a notícia. Não acreditei, a princípio, mas depois me certifiquei de que o fato era verídico”.
A reação de Natanael foi a mesma do lavrador Manoel Anibes
Bezerra, 66 anos, que ainda descreve Bernardo Sayão em vida: “Era um homem alto, forte, bom sangüíneo (corado) e tratava bem as pessoas. “A morte dele causou comoção geral. Nós não queríamos nem acreditar”, disse.
Para João dos Reis Gomes, 65 anos, recordar-se da morte de
Sayão não deve ser agradável. “Bom mesmo é perceber o que ele dizia, já naquela época: essa rodovia vai trazer desenvolvimento para esta parte do país. Eu só não imaginava que seria tanto trânsito na rodovia”, conta. “Ele dizia que aqui iam passar cerca de 500 carros por dia. Naquele tempo, imaginar 500 carros, era demais. Hoje, passam muito mais”.