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ANO 1 2 / Nº 43

DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO RIO DE JANEIRO MAIO 2017

Psicologia, Educação
e Cidadania
QUE PROJETOS DE PODER ESTÃO EM
DISPUTA NO ESPAÇO ESCOLAR E DE
QUE FORMA A PSICOLOGIA PODE ATUAR
NA PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES
CRÍTICAS E AUTÔNOMAS?
P I X A B AY. C O M

EVENTO ARTIGO ENTREVISTA


Ato em desefa da Luta Anti- Professoras da UERJ A psicóloga Márcia Badaró
manicomial ocupa praça no apontam o que está por trás do fala sobre crise no Sistema
Centro do Rio desmonte da universidade Prisional brasileiro
JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • ABRIL DE 2017 01
p. 04 p. 06 p. 10
SUMÁRIO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA
DO RIO DE JANEIRO
R. Delgado de Carvalho, 53 - Tijuca
CEP: 20260-280 - Tel./Fax: (21) 2139-5400

Diretoria Executiva
Diva Lúcia Gautério Conde (Crp 05/1448), Presidente
EDITORIAL p. 03
Marilia Alvares Lessa (Crp 05/ 1773), Vice-Presidente
Achiles Miranda Dias (Crp 05/27415), Secretário
LUTA ANTIMANICOMIAL p. 04
Rodrigo Acioli Moura (Crp 05/33761), Tesoureiro

ARTIGO | ESTHER ARANTES p. 06 Conselheiros Efetivos


Alexandre Nabor Mathias França (Crp 05/32345)
Cíntia De Sousa Carvalho (Crp 05/40996)
ASSITÊNCIA SOCIAL p. 08
Juraci Brito Da Silva (Crp 05/28409)
Patrick Sampaio Braga Alonso (Crp 05/32004)
DIA INTERNACIONAL DA MULHER p. 09 Paula Land Curi (Crp 05/20409)
Roberto Stern (Crp 05/1700)
SISTEMA PRISIONAL p. 10 Roseli Goffman (Crp 05/2499)
Rosilene Souza Gomes (Crp 05/10564)
ARTIGO p. 12 Simone Garcia Da Silva (Crp 05/40084)
Silvia Ignez Silva Ramos (Crp 05/28424)
ESPAÇO ORIENTAÇÃO p. 14 Thiago Melicio (Crp 05/35915)

Conselheiros Suplentes
CINEMA p. 15 Eliana Olinda Alves (Crp 05/24612)
Evelyn Rebouças De Gouvêa (Crp 05/41205)
ARTIGO | ÂNGELA SOLIGO p. 16 Fabíola Foster De Azevedo (Crp 05/42893)
Giovanna Marafon (Crp 05/30781)
CAPA p. 18 Ismael Eduardo Machado Damas (Crp 05/42823)
Janaina Sant’Anna Barros Da Silva (Crp 05/17875)
DIVERSIDADE SEXUAL p. 24 José Henrique Lobato Vianna (Crp 05/18767)
Juliana Gomes Da Silva (Crp 05/41667)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA p. 26 Maria Da Conceição Nascimento (Crp 05/26929)
Michele Da Silva Mota (Crp 05/ 31331)
ESCOLA SEM PARTIDO p. 28 Mônica Valéria Affonso Sampaio (Crp 05/44523)
Paula Kwamme Latgé (Crp 05/ 38749)
Rita De Cássia Louzada (Crp 05/11838)
LAICIDADE p. 29
Saulo Oliveira Dos Santos (Crp 05/31988)
Viviane Siqueira Martins (Crp 05/ 32170)
BAIXADA FLUMINENSE p. 30
Comissão Editorial
REGIÃO SERRANA p. 31 Roseli Goffman (Crp 05/2499)
Alexandre Nabor Mathias França (Crp 05/32345)
NORTE-NOROESTE FLUMINENSE p. 32 Diva Lúcia Gautério Conde (Crp 05/1448)
Rosilene Souza Gomes (Crp 05/10564)
PRESTAÇÃO DE CONTAS p. 33 José Novaes (Crp 05/980)
Fernanda Haikal Moreira (Crp 05/34248)
INFORMES DAS COMISSÕES p. 34 Redação, Edição e Fotos
Felipe Simões, jornalista responsável (MTb 31728/RJ)

Projeto Gráfico e Diagramação


Julia Lugon

Os conceitos emitidos nos artigos assinados são de


responsabilidade dos autores, não refletindo neces-
sariamente a opinião do CRP-RJ.

O Jornal do CRP-RJ é uma publicação trimestral do


Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

Contato: ascom@crprj.org.br

CONSELHO REGIONAL
DE PSICOLOGIA
DO RIO DE JANEIRO

www.crprj.org.br /crprj /realcrprj /crprj


02 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • ABRIL 2017
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
P I X A B AY. C O M

As relações da Psicologia com a Edu- vestigado o rico espaço que é uma são como princípio organizador da
cação datam do século XIX. Ela en- escola, em seus vários níveis de es- Educação Brasileira?
tra exatamente na formação su- colarização? Temos nos dirigido a
perior nos cursos de Direito e de um cotidiano onde se aprende ou De outro lado, está em disputa um
Medicina e, na escolarização, en- não, onde se ensina ou não, onde o outro projeto educacional que pro-
tão chamada secundária, no Colé- desenvolvimento se mostra em to- põe exatamente romper com o
gio Pedro II e nos Colégios Episco- das as suas etapas, seguindo seu mundo escolar, pautado no com-
pais desde pelo menos 1856, como percurso ou sendo dificultado por promisso de formar e desenvolver
nos ensinam as pesquisas de Mas- incompreensões, onde múltiplas o pensamento crítico, pelo conta-
simi (1990) e Vechia & Lorenz (1998). relações e laços sociais se formam, to com a diversidade da produção
de teorias e seus conceitos. A Refor-

EDITORIAL
onde valores éticos e morais se for-
No início do século XX, a criação do mam, afetos, pautas de sociabilida- ma do Ensino Médio surge como
Pedagogium, como setor do Institu- des, experiências de dor e alegria, uma outra política pública para a
to de Educação no Rio de Janeiro, tensões e prazeres, e, para além, educação de jovens. A promessa de
marca o início da aplicação de mé- onde se encontra o mundo em au- atender interesses de alunas e alu-
todos e técnicas psicológicas para las, livros, exercícios, conversas, nos não se coaduna com a realidade
avaliar dificuldades de aprendiza- por entre as salas de aula, corredo- das escolas brasileiras. Que objeti-
gem e que, até os anos 60, será uma res, pátios? O que tem a Psicologia vos educacionais estão sendo pro-
marca da contribuição da Psicolo- aprendido deste universo pleno de postos a adolescentes e jovens?
gia à Educação. vida, espaço primordial de produ-
Desejamos que esta seja uma boa
ção de subjetividades?
A partir daí, as teorias do desen- leitura e que abra perspectivas de
volvimento humano passaram a Neste número, dedicado à Psicolo- pesquisas, estudos e ida em bus-
ser tema fundamental na forma- gia e à Educação, o jornal do CRP- ca dos espaços de desenvolvimen-
ção de professores, nas Escolas Nor- -RJ objetiva abrir uma interlocu- to da vida que são as escolas e seus
mais e nos cursos de Pedagogia. Os ção que traga para nós, psicólogas processos educativos. O CRP-RJ nos
autores são citados – Piaget, Vygot- e psicólogos, a necessária implica- desafia a resistir e a participar nas
sky, Wallon, Freud, Winnicott, Gard- ção psi com o mundo da Educação. lutas que aproximem a Psicologia
ner, Skinner – e estão presentes em Qual o real sentido de um sistema das Políticas Públicas para a Educa-
todos os concursos públicos para educacional pautado no princípio ção brasileira. •
professores como referências bi- da inclusão? O que isso significa
MASSIMI, M. História da Psicologia Bra-
bliográficas e compondo as narra- para todo o processo social, econô- sileira, da época colonial até 1934. São
tivas educacionais. mico, político do país? O que sig- Paulo: EPU, 1990
nifica, para um povo, desde a Edu-
De nossa parte, podemos dizer que VECHIA, A; LORENZ, K.M. (orgs) Progra-
cação Infantil, o convívio com as
a Psicologia também tem se enri- ma de Ensino da Escola Secundária Bra-
diferenças? De que diferenças esta- sileira, 1850-1951. Curitiba: Ed. do Autor,
quecido neste processo? Temos in-
mos falando ao estabelecer a inclu- 1998

JORNAL DO CRP-RJ • Nº42 • MAIO DE 2017 03


GRANDE TARDE DA LUTA ANTI-
MANICOMIAL CONCENTRA CENTENAS
DE MILITANTES, PROFISSIONAIS
E USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL NO
CENTRO DO RIO
ATO FOI ORGANIZADO PARA MARCAR A IMPORTÂNCIA DO DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL.
Na data em que o Brasil celebra o Profissionais e militantes de Saú- se prende” mobilizaram os par-
Dia Nacional da Luta Antimani- de Mental, como o psiquiatra Pau- ticipantes do ato.
comial, 18 de maio, centenas de lo Amarante, também presente no
O CRP-RJ marcou presença neste
militantes, profissionais, usuá- ato, fizeram discursos de apoio à
que é um dos mais importantes
rios de Saúde Mental e seus fami- Reforma Psiquiátrica e de defesa a
eventos do calendário da Psico-
liares ocuparam a Cinelândia, no um modelo terapêutico e assisten-
logia, representado por sua con-
Centro do Rio de Janeiro, para co- cial que acolha os sujeitos em so-
LUTA ANTIMANICOMIAL

selheira-presidente, Diva Lúcia


memorar os 30 anos de Luta Anti- frimento psíquico sem discriminá- Gautério Conde (CRP 05/1448),
manicomial no Brasil. -los e criminalizá-los. pelos conselheiros Alexandre
França (CRP 05/32345) e Roseli
Organizado pelo Núcleo Estadu- Outros profissionais de Saúde Men-
Goffman (CRP 05/2499), e pela
al de Luta Antimanicomial – com tal também denunciaram a grave
assessora de Políticas Públicas,
apoio do CRP-RJ, entre outras ins- situação de precarização dos equi-
Fernanda Haikal (CRP 05/34248).
tituições –, o Ato “30 anos de luta: pamentos da rede e das condições
resistindo sem temer” contou de trabalho. Diversos presentes fi- Importantes personalidades da
com diversas atividades cultu- zeram intervenções criticando os Psicologia e reconhecidos mili-
rais e artísticas que marcaram a novos modelos manicomiais vi- tantes da Luta Antimanicomial
importância da Reforma Psiquiá- gentes revestidos de práticas de brasileira, como Eduardo Mou-
trica brasileira. cuidado, como as Comunidades rão Vasconcelos (CRP 05/32652)
Terapêuticas. Entre uma atração e Ademir Pacceli (CRP 05/3148),
Na grande tarde da Luta Antima- e outra, gritos de “Fora, Temer!” e também estiveram presentes
nicomial, o protagonismo foi dos “Saúde não se vende, loucura não no ato. •
usuários de Saúde Mental, que
promoveram diversas interven-
ções e apresentações musicais, Da esq. para dir.: Diva Conde, Eduardo Mourão e Alexandre França
teatrais e de dança, mostrando
que a loucura não pertence ao
manicômio.

Performances do bloco “Loucura


Suburbana” e do grupo musical
“Harmonia Enlouquece”, ambos
compostos por usuários e ex-u-
suários de Saúde Mental, anima-
ARQUIVO CRPR-RJ

ram e descontraíram o público


presente.

04 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


A R Q U I V O C R P R - RJ

LUTA ANTIMANICOMIAL
Ato em favor da Luta Antimanicomial ocupa a Cinelândia, no Centro do Rio

18 DE MAIO: cos no Brasil e a implementação


de serviços territoriais substitu-
Mais do que nunca, não po-
demos esquecer que sem SUS
UM DIA DE LUTA PARA tivos, representou um marco fun- (Sistema Único de Saúde) não
damental para a área, apontando há Reforma Psiquiátrica. Por
A PSICOLOGIA! um horizonte das mudanças há isso, a Psicologia não pode es-
CONFIRA ABAIXO A ÍNTEGRA DA décadas pretendidas. tar isenta na luta por uma saú-
NOTA DIVULGADA PELO CRP-RJ de pública que seja de fato uni-
Mas só a lei não basta. A Psico- versal, gratuita e de qualidade.
EM SEU SITE E MÍDIAS SOCIAIS
logia precisa estar unida e vigi- Somente assim estarão assegu-
EM HOMENAGEM A ESSA IM-
lante, pois o manicômio não está
PORTANTE DATA. rados os importantes avanços
apenas no interior dos muros obtidos nas últimas décadas
O dia 18 de maio, que há 30 anos das instituições totais. O mani- no campo da Saúde Mental.
marca o Dia Nacional da Luta An- cômio, muitas vezes, está presen-
timanicomial, é, antes de mais
te em nossas práticas cotidianas Nesse 18 de maio, o CRP-RJ con-
nada, um dia de luta. Um dia em
de sujeição e estigmatização do vida as (os) psicólogas (os) do
que psicólogas (os), demais pro-
sujeito em sofrimento psíquico. estado do Rio de Janeiro a con-
fissionais de Saúde, usuários e fa-
tinuarem engajadas (os) na
miliares devem ocupar as ruas A Psicologia tem um compromis- luta e na militância pelo forta-
e praças das cidades brasileiras so ético de continuar sua luta
para defender as diretrizes da Re- lecimento do SUS e da Política
forma Psiquiátrica como modelo
pela desinstitucionalização to-
tal e irrestrita, rompendo com
Nacional de Saúde Mental. •
assistencial em Saúde Mental.
as amarras da camisa de força
A Lei nº 10.216 de 2001, que decre- e derrubando os muros que por
tou o fim dos hospitais psiquiátri- séculos enclausuram a loucura.

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 05


UERJ
VIVA
COMMONS.WIKIMEDIA.ORG/WIKI/USER:JUNIUS

POR ESTHER ARANTES,


HELIANA CONDE E
ESTELA SCHEINVAR
PROFESSORAS DA UERJ

PROFESSORAS APONTAM O QUE de privatização nos campos da edu- mais de mil contratados e mais de
ARTIGO

ESTÁ POR TRÁS DO PROCESSO cação e da saúde. “Eu sou você ama- 40 mil estudantes, da educação bá-
DE DESMONTE DESSA IMPOR- nhã”, já dizia uma antiga (e assusta- sica à pós-graduação. Além de ser,
dora) propaganda. Nesse sentido, ou justamente por ser, local de for-
TANTE UNIVERSIDADE PÚBLICA.
ao convocar pessoas e instituições, mação para profissionais de Saúde,
A existência da Universidade do Es- não apenas do Rio de Janeiro, mas o HUPE é um dos maiores e melho-
tado do Rio de Janeiro (UERJ) está do Brasil e da comunidade interna- res hospitais do Rio, com mais de
ameaçada por uma política de go- cional, a lutar juntos por resistência 500 leitos, 10 mil internações/ano e
verno que, de forma declarada, a vê ao “desmonte” da Universidade Pú- cerca de 180 mil consultas ambula-
como um entrave a seus intentos blica, a UERJ também procura mos- toriais especializadas/ano. Já a PPC
elitistas e privatizantes. A situação trar o quanto a situação por ela vi- é responsável por mais de 200 mil
não é nova – há dez anos, pelo me- vida é uma condensação das forças consultas/ano e cerca de 8 mil cirur-
nos, professores, alunos e funcio- que configuram a biopolítica neoli- gias ambulatoriais/ano.
nários vêm lutando pela manuten- beral contemporânea.
ção de uma UERJ pública, popular, Para além do volume e da qualidade
libertária e de qualidade –, mas se Criada em 1950, a UERJ é um dos pa- de serviços, dos empregos e das prá-
agravou enormemente desde o ano trimônios culturais do estado do ticas de formação, a UERJ se carac-
de 2016: a propalada “ausência de re- Rio de Janeiro e do Brasil. Com uma teriza por seu compromisso com a
cursos” do Estado para o financia- sede (campus Maracanã) e 13 uni- diversidade cultural e com os movi-
mento da Universidade escamoteia, dades externas – campi regionais, mentos de enfrentamento da pobre-
desde então, o fato de que qualquer Colégio de Aplicação (CAP), Hos- za: orgulha-se de ter sido a primei-
gestão econômica é, em primeira pital Universitário Pedro Ernesto ra universidade pública do Brasil a
instância, uma política; além do (HUPE), Policlínica Piquet Carneiro adotar o sistema de cotas (hoje, qua-
mais, aparenta fazer da UERJ uma (PPC) e Universidade Aberta da Ter- se 30% do corpo discente) e de aco-
espécie de “balão de ensaio” de pre- ceira Idade (UnATI) –, reúne mais lher, cotidianamente, os mais diver-
tensões muito mais generalizadas de 7 mil trabalhadores estáveis, sos movimentos sociais, políticos e

06 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


F L I C K R . C O M / M A R C E L O F R E I XO /

F L I C K R . C O M / M A R C E L O F R E I XO /

MANIFESTO DA CRP-RJ EM DEFESA DA UERJ


No dia 19 de janeiro, o CRP-RJ divulgou em seu site, mídias sociais e infor-
mativos on-line um manifesto de apoio à UERJ. A íntegra da “Nota de apoio
à UERJ e repúdio ao desmonte da universidade pública” pode ser conferi-
da pelo link <www.crprj.org.br/site/nota-de-apoio-a-uerj-e-repudio-ao-des
monte-da-universidade-publica/>.

científicos. Com isso, ela estabele- receberem seus salários e perderem ção e, paralelamente, investe em

ARTIGO
ce alianças que irradiam uma cer- os seus postos de trabalho. Eventu- alianças espúrias, outorgando isen-
ta cultura: aquela comprometida ais bolsas de pesquisa conquistadas ções fiscais a empresas sem qual-
com as lutas pela liberdade e pela pelos docentes, de responsabilidade quer relevância social e garantindo
democracia em nosso país. da Fundação Carlos Chagas de Am- altas rendas aos grupos financeiros
paro à Pesquisa – FAPERJ (também e empresariais que lhe dão suporte.
Apesar de tudo isso, o governo do sucateada), igualmente sofrem atra- Por outro lado, o abandono a que a
estado do Rio de Janeiro prioriza, sos sem quaisquer justificativas por Universidade se encontra presente-
quanto à UERJ, a política de sucate- parte dos órgãos responsáveis. Por mente submetida apenas prolonga,
amento, tentando fazê-la, digamos, fim, mas provavelmente não como embora com intensidade exponen-
morrer à míngua. Os cotistas (cerca último capítulo, por falta de paga- cial, a política conduzida, há dez
de 10 mil) não vêm recebendo a bol- mento do governo do Estado às em- anos, pelo mesmo grupo que gover-
sa-permanência que lhes é devida e presas que fornecem alimentos e na hoje o estado do Rio de Janeiro –
que lhes permite, efetivamente, fre- serviços de limpeza, tanto o bande- aliado, por sinal, à direção central
quentar a Universidade, suprindo jão da Universidade – por cuja relati- da UERJ até 2015, a qual conduziu
despesas com transporte, alimen- vamente recente implantação a co- a universidade enfrentando gran-
tação e material didático. Já os pro- munidade uerjiana tanto lutou – se des movimentos internos que aler-
fessores e funcionários concursa- encontra fechado, como os serviços tavam para a tendência ao desmon-
dos – incluindo aqui os aposentados de limpeza e manutenção dos pré- te, à precarização e à privatização.
– convivem com enormes atrasos e/ dios, comprometidos.
ou parcelamento de salários e com Porém, com o apoio indispensável
o não pagamento do décimo-tercei- Cumpre reiterar, portanto, que a si- de todos aqueles que defendem
ro de 2016. Os professores terceiriza- tuação hoje vivida pela UERJ acom- uma universidade pública, popu-
dos somam meses a fio sem remu- panha, por um lado, as diretrizes de lar, libertária e de qualidade, a
neração e os técnicos terceirizados um governo que despreza os servi- UERJ resiste!•
estão sempre sob a ameaça de não ços públicos destinados à popula-

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 07


NÃO AO DESMONTE DA SEGURIDADE
SOCIAL BRASILEIRA: RESISTIR É PRECISO
E LUTAR, MAIS QUE NECESSÁRIO!
POR JULIANA GOMES o retorno do “primeiro-damismo”, sionais não tipificados na NOBRH
a “desprofissionalização” do SUAS e em uma de suas propagandas.
DA SILVA (CRP 05/41667)
a vigilância às famílias mais vulne-
PSICÓLOGA E CONSELHEIRA-PRESIDENTE No estado do Rio, essa mistura de
ráveis da população.
DA COMISSÃO DE PSICOLOGIA E ASSIS-
atribuições das seguridades já co-
TÊNCIA SOCIAL DO CRP-RJ
"Nessa maré de meçou. Lutamos contra ao desmon-
Vivemos um momento de retroces- desconstrução da te da Secretaria Estadual de Assis-
sos em nosso país marcado por mui- tência Social e Direitos Humanos e
tas mudanças desfavoráveis às (aos)
seguridade social, não de políticas importantes para o es-
trabalhadoras (es), tais como propos- podemos cochilar: tado, a exemplo das políticas volta-
tas de reforma na previdência social, das aos Direitos Humanos, ao com-
resistir é preciso bate ao racimo e à homofobia. Mas
flexibilização da CLT e dos contratos
de trabalho e congelamento de gas- e lutar, mais que a Assistência Social foi agregada à
pasta da Saúde e o tripé da seguri-
tos públicos, o que certamente im- necessário!"
pactará na qualidade dos serviços dade social ficou bípede.
prestados à população. O programa consiste em visitações
para “ensinar” às famílias como cui- Essa confusão, é claro, é intencio-
ASSISTÊNCIA SOCIAL

Investimentos essenciais como saú- dar dos seus filhos na primeira in- nal e tem como objetivo a retirada
de, educação, assistência social, se- fância, provocando uma mistura de de direitos sociais, afiançados cons-
gurança pública e previdência es- papéis nas políticas de seguridade, titucionalmente e que só se torna-
tão sendo veiculados pelo governo visto que parte do que vai ser leva- ram concretos e inscritos em lei
como gastos supérfluos e de fácil do pelos “visitadores” são informa- depois de muita mobilização da po-
corte. Políticas sociais que estavam ções do âmbito da saúde. pulação e de profissionais.
em pleno desenvolvimento estão
sob risco de não serem executadas Ademais, os visitadores não ne- Nessa maré de desconstrução da
e, até, de se extinguirem. cessitam ter formação profissio- seguridade social, não podemos
nal. Diversos Conselhos Estaduais cochilar: resistir é preciso e lutar,
Nesse contexto, temos o Sistema e Municipais de Assistência Social mais que necessário! Afinal, direito
Único de Assistência Social (SUAS), negaram o programa por entender não é favor e, como diz Dom Tomás
cuja conferência nacional em 2015 que ele desvirtua a política e retro- Balduíno: “Direitos Humanos não
teve como tema “Consolidar o SUAS cede os avanços e o respeito às fa- se pede de joelhos, exige-se de pé".
de vez rumo a 2026”. Dois anos de- mílias, tutelando e culpabilizando
pois, vemos essa política retroceder individualmente o sujeito pelas ma- Contato com a Comissão
em pontos cruciais. zelas sociais do país. de Psicologia e Assistência
Social do CRP-RJ
Atualmente, há uma política na- A história, porém, fica mais com-
cional denominada “Criança Feliz”, plexa quando pensamos que o mi- Entre em contato conosco pelo
que tem como embaixadora a pri- nistro de Desenvolvimento Social e e-mail compsisuas@crprj.org.br e
meira-dama do Brasil, qualificada Agrário (MDSA) é um médico, ape- participe de nossas reuniões men-
apenas como “mãe e com todos os sar de a política em questão es- sais abertas à categoria! Nossas
predicados para atuar no SUAS”. tar voltada para o desenvolvimen- reuniões acontecem sempre na úl-
to social e a Medicina não constar tima 5ª feira de cada mês às 19h na
O programa vem recebendo duras nos documentos do próprio MDSA sede do CRP-RJ. No primeiro semes-
críticas de profissionais, pesquisa- como profissão afim desta área. tre deste ano, os próximos encon-
dores e militantes da área por re- Além disso, ressalta-se que o pró- tros serão nos dias 25 de maio e 29
presentar um retrocesso em ques- prio MDSA transforma o “Sistema” de junho. Venha e fortaleça a nossa
tões que já haviam avançado, como em “serviço” e faz menção a profis- luta!•

08 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 •MAIO 2017


8 DE MARÇO
DIA INTERNACIONAL

F L I C K R . C O M / S R TA A C A R O L ( A N A C A R O L I N A P O R T O ) C C BY 2 . 0
DA MULHER
NO MÊS EM QUE SE MARCA ESSA IMPORTANTE DATA, O CRP-RJ PROMOVEU UMA
AGENDA DE EVENTOS PELO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA DEBATER JUNTO ÀS
(AOS) PSICÓLOGAS (OS) E ESTUDANTES POSSÍVEIS FORMAS DE ENFRENTAMENTO
ÀS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. CONFIRA ABAIXO.

CICLO DE PALESTRAS “PSICOLO- LIDIS (Laboratório Integrado em A primeira mesa do evento teve
GIA E RESISTÊNCIA: A LUTA DAS Diversidade Sexual e de Gênero, Po- como tema “Mulheres Encarcera-
MULHERES” líticas e Direitos). das”. A palestrante foi Márcia Badaró
(CRP 05/2027), psicóloga aposentada
A partir de um esforço conjunto A cobertura completa dessa mesa da Secretaria de Estado de Adminis-
entre as universidades UFF, FAMA- está disponível em nosso site pelo tração Penitenciária (SEAP), atual-
TH e Universo em parceria com o link: <www.crprj.org.br/site/deba- mente conselheira do Conselho Fe-
CRP-RJ, foram promovidos, no Rio te-psicologia-e-resistencia-a-luta- deral de Psicologia e conselheira do

DIREITOS HUMANOS
e em Niterói, vários debates sobre -das-mulheres-reune-psicologas-os- CRP-RJ entre 2004 e 2010.
as conquistas e desafios das mulhe- -e-estudantes-na-sede-do-crp-rj/>.
res nos últimos anos. Denominada O segundo debate teve como tema
“Psicologia & Resistência: a luta das III SEMINÁRIO “VIOLÊNCIAS CON- “Violência contra a Mulher Negra e
mulheres”, a atividade foi coorde- TRA A MULHER E POLÍTICAS PÚ- Trans”, com participação de Elize-
nada pela conselheira do CRP-RJ e BLICAS” ACONTECE NA BAIXADA te Lopes (CRP 05/34578), psicóloga e
professora da UFF Paula Land Curi coordenadora no CIAM /Baixada, e
A Comissão Gestora do CRP-RJ na
(CRP 05/20409). Vanessa Andrade, psicóloga do CE-
Baixada Fluminense, em parceria
PLIR (Centro Estadual de Promo-
Ao todo, cerca de mil pessoas parti- com o Centro de Direitos Humanos
ção da Liberdade Religiosa e Direi-
ciparam dos debates nos quatro dias de Nova Iguaçu, a Coordenadoria de
tos Humanos).
de atividades. Psicólogas (os), ativis- Políticas para as Mulheres de Nova
tas, antropólogas (os), cientistas so- Iguaçu e a Casa de Cultura de Nova Ao final do debate, foram prestadas
ciais, dentre outros, abordaram te- Iguaçu, realizou, no dia 22 de mar- homenagens a oito mulheres pelas
mas como aborto, prostituição, ço, em Nova Iguaçu, o III Seminário suas valiosas contribuições sociais
violência sexual e a questão LGBT. “Violências Contra a Mulher e Polí- na construção dos avanços nas polí-
ticas Públicas”. Psicólogas (os) e es- ticas de garantia de direitos para as
No dia 17 de março, esse importante tudantes lotaram o local do even- mulheres. Encerrando o evento, Josy
debate aconteceu na sede do CRP-RJ to para debater, pensar e articular Lozada, atriz, contadora de história e
com participação das palestrantes ações estratégicas no enfrentamen- integrante de diversos movimentos
Nympha do Amaral, psicanalista e to à violência contra a mulher. sociais, recitou algumas poesias re-
professora do curso de especializa- ferentes às lutas e desafios das mu-
ção em Psicanálise e Saúde Mental O evento recebeu o apoio também lheres na realidade contemporânea.
no Instituto de Psicologia da UERJ, da Superintendência dos Direitos
Ludmilla Fontenele, assistente so- da Mulher de Nova Iguaçu, além A cobertura completa do evento
cial, professora da UFRJ e pesqui- dos Conselhos Municipais dos Di- está disponível em nosso site pelo
sadora na área de Saúde Reproduti- reitos das Mulheres da Baixada e do link <www.crprj.org.br/site/iii-se-
va e Prevenção da Violência Sexual, Centro Integrado de Atendimento minario-sobre-violencias-contra-a-
e Anna Paula Uziel, psicóloga, pro- à Mulher em Situação de Violência -mulhere-e-politicas-publicas-acon-
fessora da UERJ e coordenadora do da Baixada (CIAM). tece-na-baixada/>. •
JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 09
P I X A B AY. C O M

“O PROBLEMA DO
SISTEMA PRISIONAL É
CULTURAL, ESTRUTURAL
E POLÍTICO”, AFIRMA
PSICÓLOGA

Um sistema deficitário no número Psicologia, falou um pouco mais so- lho Nacional de Direitos Humanos
SISTEMA PRISIONAL

de vagas disponíveis e abundante bre essa questão. e com autoridades dos poderes Exe-
no índice de encarceramento. Esse cutivo e Judiciário, além de familia-
é o retrato do Sistema Prisional do Que diagnóstico você res das vítimas do massacre. Pode-
Brasil, um país que ostenta a 4ª posi- faz da atual situação se constatar a total negligência do
ção no ranking das nações que mais do Sistema Prisional Estado, pois tratava-se de uma tra-
encarceram no planeta. brasileiro? gédia anunciada pelo relatório do
MNPCT, de 2015, e pelas cartas dos
O problema do Sistema Prisional
O recente massacre no Complexo Pe- presos a seus familiares pedindo so-
é cultural, estrutural e político.
nitenciário Anísio Jobim (COMPAJ), corro. Segundo esses familiares, es-
A cultura punitivista que assola
no Amazonas, e os demais que se se- sas correspondências foram envia-
o país vende a ilusão de que a pri-
guiram no Amapá e no Rio Grande das às autoridades, mas nenhuma
são garante a segurança da socieda-
do Norte expuseram de forma de- providência imediata foi tomada. É
de. Pessoas amontoadas em condi-
vastadora as fragilidades há déca- preciso lembrar que a unidade pri-
ções degradantes, expostas a todo
das enfrentadas pelo Sistema Prisio- sional do Amazonas era privatizada
tipo de doenças e sem qualquer as-
nal, deixando bem claro a falência a custos gigantescos para o Estado.
sistência, submetidas a constantes
da política de encarceramento em Merece, portanto, uma investigação
atos de violência do próprio Esta-
massa dirigida especialmente às ca- séria e criteriosa.
do, sairão da prisão certamente em
madas “perigosas” da população: jo-
condições muito piores do que en-
vens negros, pobres, moradores das Esse cenário que você
traram. Ou seja, violência gerando
periferias urbanas, social e economi- violência, um ciclo que não termi-
aponta ajuda a explicar
camente vulnerabilizados. na. Como representante do CFP, par- a escalada da violência
ticipei, em janeiro, de reuniões em em diversos presídios
Em conversa com o Jornal do CRP- brasileiros?
Manaus sobre o ocorrido no COM-
RJ, Márcia Badaró Bandeira (CRP
PAJ e na cadeia pública Raimundo Sim. À medida que o Estado não
05/2027), psicóloga aposentada da
Vidal. Estive reunida com a repre- cumpre o seu papel de custodiar
Secretaria de Estado de Adminis-
sentantes da Secretaria Nacional os presos em condições dignas de
tração Penitenciária (SEAP), conse-
de Direitos Humanos, do Mecanis- cumprimento da pena, o gerencia-
lheira do CRP-RJ entre 2004 e 2010 e
mo Nacional de Prevenção e Com- mento das prisões fica a cargo das
conselheira do Conselho Federal de
bate à Tortura (MNPCT) e do Conse- facções criminosas, reproduzindo

10 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017


o que acontece fora das prisões com A situação em nosso estado também cada vez menor. Segundo dados da
o agravante de estarem todos confi- é crítica. No evento de lançamento Defensoria Pública, há cerca de 600
nados em condições desumanas e da “Frente Estadual pelo Desencar- pedidos de exame criminológico
de insuportável convivência. ceramento”, em 26 de janeiro, de- em apenas uma unidade. Essa rea-
poimentos de familiares destaca- lidade prejudica a atenção à saúde
A privatização vem sendo ram as violências cotidianas a que mental da população carcerária.
defendida pelo Estado são submetidos os presos e familia- Acredito que a maioria dos psicólo-
como forma de ampliar res, as precárias condições das uni- gos reconhece a ineficácia do Exa-
a eficácia na gestão dades, já exaustivamente apontadas me Criminológico e desejam rea-
do Sistema Prisional. pelo Fórum Permanente de Saúde lizar outras práticas, mas alegam
Porém, como você mesma no Sistema Penitenciário (FPSSP) e que o exame é o que garante o lu-
lembrou, o COMPAJ era, pelos vários relatórios do Mecanis- gar do psicólogo no Sistema Prisio-
desde 2014, gerido por mo Estadual de Prevenção e Comba- nal e, consequentemente, o empre-
te à Tortura (MEPCT). Em relação à go, o que, a meu ver, é um equívoco.
uma empresa privada.
saúde da população carcerária, re-
Essa tragédia no presídio
latório de 2016 do MEPCT e da Justi- O que é o Fórum
do Amazonas põe em
ça Global aponta: “A atenção à saúde Permanente de Saúde do
xeque esse projeto de
do preso é um fracasso (...), os am- Sistema Penitenciário
privatização? bulatórios das unidades são extre- (FPSSP-RJ) e qual tem
Isso só veio a ratificar o que já tem mamente precários em suas ações, sido a importância da
sido dito por especialistas em segu- recursos humanos e materiais”. Des- atuação do CRP-RJ nesse
rança pública desde o final da dé- de 2011, o FPSSP denuncia o proble- movimento?
cada de 1990, quando o tema foi in-
troduzido no Brasil por influência O CRP-RJ é protagonista dessa his-
da política norte-americana de to- "A cultura punitivista tória. O Fórum é um movimento

SISTEMA PRISIONAL
social criado em 2011 a partir de
lerância zero. No caso do COMPAJ, que assola o país uma audiência pública realizada
segundo informações obtidas nas
reuniões de que participei em Ma- vende a ilusão de pelo CRP-RJ diante das denúncias
naus, a empresa responsável pela que a prisão garante do Conselho Estadual de Saúde so-
administração e gestão da unida- bre uma verba de valor considerável
de não cumpriu com vários itens do a segurança da destinada à saúde da população pri-
contrato firmado com o Estado, en- sociedade". sional, retida no Fundo Estadual de
tre eles o número reduzido de agen- Saúde sem a aplicação devida. A se-
tes penitenciários por plantão. Em cretaria-executiva do Fórum é com-
ma da tuberculose nos presídios.
audiência pública realizada em no- posta por representantes do CRP-RJ,
De acordo com a Pastoral Carcerá-
vembro de 2015 na ALERJ sobre a pri- dos Conselhos Regionais de Nutri-
ria, “o sistema prisional brasileiro
vatização dos presídios, foram apon- cionistas (CRN-4), de Serviço Social
tem 28 vezes mais incidência de ca-
tados pelo Ministério Público vários (CRESS-7ª região) e da Associação
sos de tuberculose que a população
problemas na terceirização dos ser- dos Servidores da Área de Saúde e
em geral”. Fato que torna o proble-
viços nas unidades prisionais do Assistência Penitenciária (ASSAP).
ma em questão de saúde pública.
Rio, cujos contratos apresentavam Seu caráter é político, propositivo
Enfim, tudo visto e dito e nenhuma
informações discrepantes do que se e de atuação permanente, onde as
mudança, pois os recursos são sem-
via na prática e a custos exorbitan- decisões são tomadas pelas entida-
pre destinados à área da segurança.
tes para o Estado. Esses fatos têm de- des e movimentos sociais ligados ao
monstrado a falácia da privatização tema. Até 2016, o Fórum realizou 15
das prisões, desmascarando as pro-
Em sua avaliação, qual
eventos, e as parcerias com o Minis-
messas de mais eficácia, maior eco- deve ser o papel da (o)
tério Público e a Defensoria Pública
nomia para o Estado e garantia de psicóloga (o) nesse espaço?
resultaram em ações importantes,
"ressocialização" para os presos. O momento é muito difícil para como a desativação do Hospital de
que os psicólogos possam ter um Custódia e Tratamento Psiquiátri-
Fale um pouco, por favor, outro papel que não o de realizar co Heitor Carrilho. Recentemente,
sobre a situação das o Exame Criminológico. Enquan- o Fórum também conquistou uma
unidades prisionais no to o número de presos só aumen- vaga no Comitê Estadual de Preven-
estado do Rio de Janeiro. ta, o quantitativo de profissionais é ção e Combate à Tortura. •

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 11


CRIANÇAS E ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RUA:
UMA EXPERIÊNCIA DE CUIDADO
POR ÉRICA LOUREDO DO invadem os territórios e descons- Diante do empecilho, a equipe se di-
troem identificações. vidiu por frentes de trabalho e os
PASSO (CRP 05/35024)
técnicos passaram a se deslocar até
E ANDRÉA PAOLA MOURE Trataremos deste assunto a par- esses serviços onde a demanda era
(CRP 05/45119) tir da experiência de trabalho com recebida inicialmente. Os Conselhos
PSICÓLOGAS DA EQUIPE DE REFERÊNCIA crianças e adolescentes em situa- Tutelares foram os principais dispo-
ARTIGO

INFANTO-JUVENIL PARA AÇÕES DE ATEN- ção de rua. Essa prática começa em sitivos, mas também os Serviços de
ÇÃO AO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DRO- Niterói a partir da preocupação e o Acolhimento Institucional, as Esco-
GAS (ERIJAD) DA PREFEITURA DE NITERÓI movimento-deslocamento de uma las, o Consultório na Rua, entre ou-
equipe. Essa equipe se chama ERI- tros. A equipe construía trajetórias
Recentemente, acompanhamos di- JAD, que surgiu a partir de uma a partir das crianças e adolescentes
versas notícias sobre a “maré cinza” portaria intersetorial assinada pe- atendidos, transitando pelos dispo-
da cidade de São Paulo, onde o pre- los secretários de Saúde e Assistên- sitivos onde eles tinham passagem,
feito João Dória, vestido com roupas cia Social no ano 2008, dispondo so- o que possibilitou o entendimento
de funcionários da limpeza muni- bre a “constituição de uma Equipe de que a rede se constrói a cada caso.
cipal, apagou com tinta cinza as pi- de Referência Infanto-Juvenil para
chações e grafites que cobriam os ações de atenção ao uso de álcool e Assim, a equipe passou a circular
muros. A ação faz parte do Progra- outras drogas – ERIJAD e dando ou- pelos serviços e pela cidade e, nes-
ma Cidade Linda, que prevê a pin- tras providências” (Niterói, Portaria se movimento, nos encontrávamos
tura de muros e reparo de calçadas Conjunta SMAS/SMS Nº01/08). com uma clientela que não era tra-
nos bairros da cidade. zida pelas famílias ou vizinhos,
Inicialmente, o local de trabalho muitas vezes chegavam pela polí-
Esse evento de conhecimento públi- era o CAPSad. A ERIJAD ali localiza- cia, por queixas dos comerciantes
co nos convoca a pensar essa cena da absorvia demandas e encaminha- ou pelo incômodo que causavam.
como uma pantomima das lógicas mentos dos casos de crianças e ado- Essas crianças e adolescentes vi-
conservadoras que falam de uma lescentes usuários de álcool e outras viam em situação de rua.
estética do que deveria ser público drogas. Com o tempo, a equipe per-
e descartam a ética impressa pelas cebeu que era difícil que essa cliente- Segundo a Resolução Conjunta
histórias humanas que atravessam la chegasse ao CAPS: eles chegavam CNAS/Comanda Nº 1 de 15 de dezem-
e marcam esses espaços. Novos for- em alguns serviços, mas, quando bro de 2016, no Artigo 1º, podemos
matos de higienismo, costumeira- eram encaminhados para o equi- “definir como crianças e adoles-
mente travestidos de cuidado, que pamento de Saúde Mental, não iam. centes em situação de rua os su-

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P I X A B AY. C O M

jeitos em desenvolvimento com os teias de atravessamentos entre os formatados para atendimentos in-
direitos violados, que utilizam lo- casos, pontos de conexão desconhe- dividuais, em settings específicos e
gradouros públicos, áreas degrada- cidos, laços imprevisíveis: Marcos com horário marcado. Essa apresen-
das como espaço de moradia ou so- veio para a rua buscando a sua mãe tação provoca as equipes, elas são
brevivência, de forma permanente e seu irmão; Jessica fugiu do abrigo instigadas a mudar modos de fun-
e/ou intermitente, em situação de porque passou a namorar Marcos; cionamentos, saberes prévios e pre-

ARTIGO
vulnerabilidade e/ou risco pesso- Pedro é o irmão de Joaquim que é o conceitos. Esse encontro coloca so-
al e social pelo rompimento ou fra- melhor amigo do irmão de Marcos. bre a mesa a resistência de cada um
gilidade do cuidado e dos vínculos E, assim, as vidas iam se desenhan- para trabalhar com essa população.
familiares e comunitários, priori- do e, à medida que os conhecíamos, Nas resistências aparecem exigên-
tariamente situação de pobreza e/ eles iam existindo, aparecendo, tor- cias para eles: que sejam pontuais,
ou pobreza extrema, dificuldade de navam-se visíveis para a rede de cui- que cheguem sozinhos, que entrem
acesso e/ou permanência nas políti- dado da qual fazíamos parte. nos consultórios, atendendo às ex-
cas públicas, sendo caracterizados pectativas. Que sejam limpos, orde-
pela sua heterogeneidade, como gê- Entretanto, a chegada deles nessa nados e controlados. Que atendam
nero, orientação sexual, identidade rede nunca foi muito fácil. Costu- aos desejos de uma sociedade “lin-
de gênero, diversidade étnico-ra- ma-se dizer que eles andam em ban- da” que não os concebe como parte
cial, religiosa, geracional, territo- do. É assim que conseguem chegar. e não aceita sua contribuição.
rial, de nacionalidade, de posição É como se, cientes de sua pequene-
política, deficiência, entre outros”. za e fragilidade, eles se acoplassem A ERIJAD grifa o efeito nocivo de
feito “megazord” [do desenho ani- perseverar nas exigências que não
Cada uma daquelas crianças carre- mado Power Rangers, robô gigante produzem acesso e, além disso, ex-
gava marcas da história que os fize- composto por cinco robôs menores] cluem. Precisamos construir outra
ra chegar às ruas. Situações de negli- e, ao estilo Capitães de Areia, se co- clínica, outro tipo de abordagem,
gência, violência, abuso, separações nectam, se protegem e formam um outro tipo de trabalho nos espa-
e uma série de intervenções equivo- corpão, maior e mais forte. Desse ços que eles frequentam e do modo
cadas. Alguns vinham de outros mu- jeito conseguem sobreviver às ad- que eles os ocupam. Esse trabalho é
nicípios e encontravam nesta cidade versidades da vida na rua. nosso, a exigência deve ser para nós,
o seu lugar. Ao conhecer cada uma precisamos nos deslocar, entender
das histórias, passamos a transmiti- Isso para nossos serviços é difícil, que acompanhar a trajetória e o
-las aos serviços e colegas. E ao puxar tanto no campo da Saúde quanto movimento deles é o primeiro pas-
o fio das biografias, identificamos da Assistência Social, onde fomos so para um possível trabalho. •
JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 13
PSICOLOGIA
E EDUCAÇÃO
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Uma categoria profissional, para Sabemos que a Psicologia está pre- Lembrando que o nosso Código de
ser legitimada como tal e ter seu sente na Educação há anos, de várias Ética é também um instrumento
campo de atuação institucionali- maneiras, sendo possível, inclusive, de reflexão, tomamos um de nos-
zado, necessita de reconhecimen- afirmar que este foi um importan- sos Princípios Fundamentais para
to da sociedade. Os Conselhos Pro- te campo, visto que possibilitou a colocar em evidência. O Princípio
ESPAÇO ORIENTAÇÃO

fissionais surgem como órgãos que sua constituição. Sabemos também III, dentre outros não menos re-
fiscalizam e disciplinam as profis- que, inclusive nas instituições esco- levantes, diz: “O psicólogo atuará
sões regulamentadas, sempre pau- lares, temos trabalhado na direção com responsabilidade social, anali-
tados pelos seus Códigos de Ética. de romper com as velhas amarras sando crítica e historicamente a re-
Estes, por sua vez, expressam uma de nossas origens, que circunscre- alidade política, econômica, social
dada concepção de homem e so- vem o saber e o fazer do psicólogo e cultural” na qual nos inserimos.
ciedade, pautados por princípios e como normativo e adaptativo.
normas que se orientam pelo res- E hoje, dado o nosso tenebroso e te-
peito humano e por direitos fun- O que temos são psicólogos tentan- merário cenário, temos que retomá-
damentais. do reinventar, criar novos olhares -lo sempre, analisar precisamente
para a Psicologia na Educação atra- o que chega a nós, psis, através das
O Código de Ética Profissional vés não só de discussões, mas tam- (inúmeras e imprecisas) demandas
do Psicólogo – Resolução CFP nº bém de seus trabalhos técnicos, escolares. Temos sempre que inda-
010/2005 – é uma norma jurídica, sempre sustentados pela ética que gar: O que temos produzido? Para
de caráter normativo e regulador nos rege. Contudo, temos visto que quem produzimos? Em nome de
de nossa profissão. Ele, além de tal desafio não é simples. A nossa que/quem produzimos?
considerar a Lei nº 5766, de 20 de formação em Psicologia ainda tem
dezembro de 1971, e o Decreto nº cheiro de formata-ação e centra- Não podemos esquecer que, por
79.822, de 17 de junho de 1977, con- se numa visão individualista, ge- trás dos pedidos que nos chegam,
rando impactos diversos quer em há outros, latentes, porém não me-
templa também a Constituição
termos práticos, quer políticos. nos problemáticos. Por isso, é fun-
Federal de 1988, conhecida como
Constituição Cidadã. damental que, seja na escola ou
Se apostarmos na premissa de que
em qualquer outro espaço institu-
ao psicólogo cabe resistir, insistir no
Atualmente falamos em Psicologias, cional em que atuamos, estejamos
diálogo e na reflexão, dizemos que
cujo plural evidencia a diversidade atentos à demandas que nos che-
a ele cabe também implicar-se com
de saberes e fazeres possíveis. E, por gam para não cairmos nas velhas
a produção de conhecimento e com
isso, não podemos nos furtar em te- armadilhas de normatização de

as demandas da sociedade. E, neste
cer, mesmo que breves, considera- condutas e subjetividades.
contexto, caberá a ele também se in-
ções sobre Psicologia & Educação.
terrogar do que a Psicologia produz.

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SESSÃO RECOMENDADA
A CAÇA
Filme:
A caça (Jagten)
Produção:
Dinamarca/Suécia
(2012)
Direção:
Thomas Vinterberg

D I V U L G A Ç Ã O C A L I FO R N I A F I L M E S

POR JOSÉ NOVAES com a diretora, associando Lu- usam préstimos da Psicologia, em
cas a uma visão que teve de car- uso no Brasil.
(CRP 05/980)
PSICÓLOGO E COLABORADOR tões pornográficos que viu com
DO CRP-RJ seu irmão adolescente. O filme acompanha a estigmatiza-

CINEMA
ção e a segregação de Lucas, o ódio
Em uma pequena localidade, Lu- A partir daí, cria-se uma teia in- e a violência que sobre ele e os seus
cas, de cerca de 40 anos, separado sidiosa, baseada em preconcei- se abate: sua cadela é morta, seu
de sua mulher com quem vive seu tos, em “verdades” estabelecidas filho adolescente que o visitava é
filho adolescente, trabalha numa (“Klara não estava mentindo; agredido, os comerciantes se recu-
escola infantil, cuidando prin- crianças não mentem”, diz a di- sam a vender para ele. Lucas e uns
cipalmente dos meninos. Klara, retora a todos... Como “não men- poucos amigos que lhe restam se
uma menininha de 5, 6 anos, gos- tem”? Nesta idade, simplesmen- esforçam para escapar desta rede
ta muito dele: ele a ajuda em cer- te não distinguem bem fantasia que o vai constrangendo, isolando,
tas ocasiões, quando, desorien- da realidade). Em uma cena que punindo e agredindo.
tada, ela tem dificuldades para concentra essa construção da
voltar para casa por não conse- “verdade”, a diretora chama o O final mostra Lucas se reintegra-
guir “pisar nos riscos” das calça- delegado da comunidade e sub- do à comunidade e participan-
das ou pisos dos aposentos das ca- metem Klara a um interrogató- do com os amigos de uma caça, o
sas. rio ignominioso, forçando-a a que faziam de costume. A última
confirmar aquilo que está em cena do filme, no entanto, é assus-
Lucas se vê envolvido numa acu- suas mentes. Klara, de início, tadora e aterrorizante, pois mos-
sação de assédio sexual a Klara, nega, mas é induzida, obrigada tra que o espírito do preconceito e
que fez um comentário à diretora a aceitar a versão dos seus inqui- do ódio persiste, sorrateiro e per-
da escola, dizendo que não gosta sidores; em vários outros mo- nicioso, e assombra um Lucas ain-
de Lucas após ele, inabilmente, re- mentos, Klara continua negan- da vulnerável. É possível, portan-
cusar um presente que Klara quis do, diante dos pais, por exemplo. to, estabelecer um paralelo com
lhe dar, uma bijuteria em forma A violência moral e psicológica o atual momento em nosso país,
de coração. Klara se sente despre- que se abate sobre a criança nos com a explosão da intolerância,
zada e tece outros comentários lembra práticas jurídicas, que do ódio e da punitividade. •

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 15


P I X A B AY. C O M

A REFORMA DO ENSINO MÉDIO


E A BASE COMUM NACIONAL:
CONTRADIÇÕES E
IMPOSSIBILIDADES
EDUCAÇÃO

POR ÂNGELA SOLIGO por meio do acesso a saberes, condu- o direito a conhecimentos na área
DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE tas e princípios valorizados pela so- socioambiental; o acesso a conheci-
PSICOLOGIA EDUCACIONAL DA ciedade, orientando a organização mentos e desenvolvimento de pen-
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNICAMP dos projetos pedagógicos em uma samento criativo, crítico-analítico e
Nos últimos três anos, a partir de perspectiva de educação integral de capacidade de argumentação, de
proposta do então ministro da Edu- voltada à construção da cidadania. diálogo e proposição de ações. Para
cação, Aloísio Mercadante, e com o Ensino Médio, as dimensões que
A BNC integra o conjunto de leis orientam a organização curricular,
ampla participação da sociedade,
que regulam a Educação do país segundo a BCN, são trabalho, ciên-
profissionais e entidades da Educa-
– Constituição Federal, a Lei de Di- cia, tecnologia e cultura.
ção e movimentos sociais, foi conce-
retrizes e Bases da Educação, Dire-
bida a Base Comum Nacional (BNC)
trizes Curriculares da Educação Bá- Os conhecimentos esperados para
para a Educação Básica. A ideia visa
sica –, e deve orientar as políticas essa etapa incluem as linguagens
garantir que, nas escolas de qual-
de formação de professores, elabo- – português, uma segunda língua,
quer região do país, seja assegura-
ração de materiais e tecnologias arte e corpo; a matemática; as ci-
do o desenvolvimento de conteúdos
educacionais, infraestrutura esco- ências da natureza – física, quími-
e habilidades considerados necessá-
lar e avaliação educacional. ca, biologia; e as ciências humanas
rios em cada etapa da escolaridade.
– história, geografia, sociologia, fi-
O estabelecimento da BNC visa pro- São princípios norteadores da BCN: losofia. Esses são concebidos de for-
mover maior equidade e inclusão o direito à diversidade e respeito; ma articulada, garantindo o aces-

16 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


so a saberes que preparem para o xos. Mas, então, essa escolha não é são, impõe-se agora o sequestro de
mundo e para o futuro de forma ati- bem escolha, já que o leque de ofer- seus sonhos e futuro.
va, participativa e consciente. tas pode ser reduzido e nenhuma
delas corresponder às expectativas Quais as consequências dessas mu-
Em meados de 2016, o atual minis- dos alunos em uma escola. Então, danças para professoras (es) do En-
tro da Educação, Mendonça Filho, na prática, a ideia de livre escolha sino Médio? O que a oferta de algu-
estabeleceu novo projeto para o fica descartada, o que pode resultar mas, e não todas as opções, acarreta
Ensino Médio por meio de Medida em frustração, necessidade de mu- para seu trabalho? Sindicatos e enti-
Provisória (MP), agora sancionada dança de escola e evasão. Problema dades da Educação já apontaram o
pelo presidente Michel Temer. Não que a MP prometia resolver, mas problema que se anuncia: necessi-
repetirei aqui as reiteradas críticas que, de fato, vai aprofundar. dade de deslocamentos para várias
ao recurso da MP para definir uma escolas para compor carga horária
política nacional e o caráter antide- Outro elemento é a possibilidade de que suporte seu salário, maior di-
mocrático dessa medida, já que não que se conte, no conjunto de experi- versidade de matérias, mais tempo
resultou de diálogo com a comuni- ências de aprendizagem do núcleo dispendido, mais cansaço.
dade escolar. Vale a pena, no entan- diversificado, a experiência práti-
to, conhecer o que se propõe para ca em atividades de trabalho e cur- Na propaganda massiva que inva-
a educação da juventude brasileira, sos profissionalizantes frequenta- diu as mídias abertas, o governo
de forma especial para a maioria de dos pelos estudantes em sistemas menciona experiências bem-suce-
jovens da classe trabalhadora que paralelos. Isso, na prática, além de didas, aparentemente semelhan-
frequenta a escola pública. representar inserção privatista no tes, em países como o Canadá. Mas
campo da política pública, resulta não menciona que, nesses países,
Segundo a MP, o Ensino Médio deve em sequestro de possibilidade de um dos fatores em comum diz res-
organizar-se segundo os eixos lin- acesso aos conhecimentos histori- peito às boas condições de trabalho
guagens, matemática, ciências da camente valorizados pela humani- e salário dos professores, o que esta-
natureza, ciências humanas e for- dade. Portanto, o que parecia am- mos longe de alcançar.
mação técnica e profissional. De pliar, em essência, reduz.

EDUCAÇÃO
acordo com a proposta, embora se Um projeto que desconsidera pro-
encaminhe para a ampliação da Como ficam os estudantes da esco- fessoras (es), que não os ouve e não
carga horária e para a adoção do en- la pública que desejam frequentar propõe melhorias em suas condi-
sino em tempo integral, os estudan- uma universidade pública? O ves- ções de trabalho, que “vende” à ju-
tes poderão, na segunda metade da tibular unificado não mudou. En- ventude a ideia de liberdade ao mes-
etapa, optar por diferentes percur- tão, enquanto os estudantes das es- mo tempo em que sequestra seus
sos de formação; terão, portanto, colas privadas continuarão tendo direitos, não está fadado ao fracas-
formação básica diferenciada de acesso ao mesmo conjunto de co- so. Ao contrário, representa o suces-
acordo com suas escolhas. Parece nhecimentos amplos que são va- so do conservadorismo, da exclu-
bom? Porém, aqui cabem algumas lorizados nas formas de ingresso à são, do neoliberalismo selvagem,
indagações: serão suficientes três universidade, os da escola pública da desigualdade estruturante que
semestres letivos para se trabalhar os terão reduzidos e, em muitos ca- marca nossa sociedade.
com os cinco eixos estruturantes de sos, não terão acesso a eles. E, pior,
modo a fornecer ao aluno condições estarão sendo induzidos a ingres- E nós, a Psicologia, o que temos a di-
para uma escolha bem orientada e sar prematuramente no mundo do zer sobre isso? Como pensar uma
fundamentada? Podemos afirmar, trabalho. Psicologia do compromisso, social-
com base em pesquisas com estu- mente relevante, que se cala ou até
dantes que abandonam o curso Derrubam-se os princípios da BCN aplaude acriticamente essas medi-
superior, que não. O pouco tempo em nome de uma modernização das? Cumpre-nos, como ciência do
para o desenvolvimento dos cinco que, de fato, nos leva ao passado de humano, implicada na vida e no di-
eixos certamente imporá aligeira- extrema exclusão promovido pelas reito à singularidade, ao pleno de-
mento e superficialidade. reformas educacionais da ditadu- senvolvimento da pessoa como sujei-
ra militar. A consequência óbvia é to do/no mundo, a defesa de nossas
Além disso, a própria medida facul- reduzir as possibilidades de aces- juventudes, de seus direitos sociais e
ta às escolas definirem que eixos so da juventude da classe pobre às subjetivos – seu direito de sonhar, de-
ofertarão, ou seja, as escolas não universidades. A uma juventude já sejar e construir o futuro. •
são obrigadas a oferecer os cinco ei- exposta a muitas formas de exclu-

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 17


P I X A B AY. C O M

PSICOLOGIA,
E CIDAD
CAPA

DE QUE FORMA NÓS, PSICÓLOGAS (OS), PODEMOS CONTRIBUIR macropolítico de tensões, dispu-
PARA QUE A ESCOLA SEJA FERMENTO DE VIDA, POTÊNCIA E tas e divisões. De um lado, setores
ligados a determinados grupos re-
TRANSFORMAÇÃO? COMO A PSICOLOGIA PODE ESTAR INSERI- ligiosos tentam apropriar-se da
DA NESSE ESPAÇO, FOMENTANDO O RESPEITO À ALTERIDADE Educação para consolidar um pro-
EM TEMPOS DE TANTA INTOLERÂNCIA ÀS DIFERENÇAS? jeto conservador de poder em que
importantes temas e debates serão
A Educação tem ocupado, espe- municipal. Assim, foram constitu- criminalizados e banidos do espaço
cialmente após a promulgação da ídos importantes marcos, como a escolar. De outro, grupos ligados ao
Constituição de 1988, uma posição Lei de Diretrizes e Bases da Educa- alto empresariado nacional tentam
central na agenda nacional de de- ção Nacional (LDBEN – Lei nº 9.394 emplacar um modelo de Educação
bates sobre a construção de um de 1996) e o Plano Nacional de Edu- tecnicista e privatizado, ajustado
modelo de desenvolvimento eco- cação (PNE), que determina, a cada às demandas do capitalismo neoli-
nômico, social e cultural que in- dez anos, as diretrizes a serem se- beral e nada comprometido com a
clua, de modo efetivo, democráti- guidas e as metas a serem alcança- construção da autonomia e da cons-
co e igualitário, todas as parcelas das nesse campo. ciência crítica dos estudantes.
da população. De lá para cá, muitas
políticas públicas, voltadas princi- No começo do século XXI, os deba- No epicentro dessa guerra de trin-
palmente à Educação Básica, foram tes voltados à Educação tornaram- cheiras, as vozes roucas, porém ain-
pensadas, debatidas e implemen- -se um verdadeiro pomo da discór- da potentes, de professores, peda-
tadas em nível federal, estadual e dia, recrudescendo um cenário gogos, educadores e estudantes

18 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017


EDUCAÇÃO
DANIA

CAPA
fazem-se ouvir na defesa insistente projetos de lei, ao pautar mudan- gem? Como efetivar práticas peda-
de um projeto de Educação libertá- ças de ordem curricular, pedagó- gógicas que favoreçam, no espaço
rio e democrático que rompa com gica ou organizacional, pouco con- escolar, encontros, diálogos e afe-
os grilhões impostos por esse mo- versam com a realidade das escolas tos? De que forma nós, psicólogas
delo de sociedade patriarcal, auto- brasileiras e com as reais deman- (os), podemos contribuir para que
ritário, racista e desigual. das do corpo docente e discente. a escola seja fermento de vida, po-
Com isso, joga-se uma cortina de tência e transformação? Como a
Como resultado, a Educação tem fumaça nos problemas estruturais Psicologia pode estar inserida nes-
sido alvo intermitente de investi- da Educação brasileira, tais como o se espaço fomentando o respeito à
das legislativas, judiciais e de ins- subfinanciamento da rede pública, alteridade em tempos de tanta in-
tituições privadas, fazendo com os altos índices de evasão escolar, a tolerância às diferenças?
que uma verdadeira avalanche de qualidade do ensino, a redução do
projetos de lei desemboque nas câ- número de estudantes por turma,
maras municipais, assembleias le- a remuneração dos professores e a
Outros olhares sobre
gislativas e no próprio Congresso precariedade das instalações esco- a escola
Nacional. lares, entre outros. Antes de pensar o papel da escola
na formação de subjetividades e a
O problema é que, a exemplo da Assim, diversas questões são pos- inserção da Psicologia nesse pro-
própria reforma do Ensino Médio tas à nossa reflexão. Como pensar cesso, é preciso, inicialmente, in-
recentemente sancionada pelo pre- a escola para além dos muros dos vestigar que tipos de forças atuam
sidente Temer, a maioria desses processos de ensino-aprendiza- nesse espaço. Em um olhar mais

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 19


superficial, poderíamos dizer que está ancorado em uma visão cog- cação. Essa lógica, atravessada na
a escola brasileira parece agoni- nitivista e assistencial, ou seja, em vida escolar, tem provocado, como
zar, imersa num ciclo vicioso de um desenvolvimento técnico e ge- um de seus efeitos, o adoecimento
queixas e fracassos que produz neralista e em cuidados e preven- de professores e o encaminhamen-
adoecimentos, sofrimentos e de- ção, produzindo um ritmo único to de muitos alunos para especia-
sencontros. Corpo docente mal re- do ensinar-aprender, normaliza- listas”.
munerado e subvalorizado de um do/normalizador”.
lado, estudantes desinteressados e “Os mecanismos que trabalham
indisciplinados de outro. tendo como meta acabar com a in-
disciplina descentram o professor
Dentro dessa perspectiva fatalista –
“A escola é o único da experiência da ambiguidade
muito conveniente àqueles que de- equipamento coleti- do lugar que ocupa e, consequen-
cretam a falência da escola e a ne-
vo que reúne gente temente, da possibilidade de, junto
cessidade de privatização imediata com os alunos, produzir regras co-
da Educação –, a Psicologia parece em meio a uma so- muns e trabalhar a violência impli-
se encaixar em um único papel: o ciedade que separa. cada em seu papel. O lugar do pro-
de “salvadora da pátria”. Isto é, a fessor é estabelecer limites para
(o) psicóloga (o) escolar é chamada
Conviver não é fácil, é que a classe seja um campo de afe-
(o) a intervir, a partir das queixas uma arte que requer tação e provocação em que o conta-
e encaminhamentos de professo- experimentação de to com o aluno não é um pré-requi-
res e coordenadores, na aplicação sito, mas uma conquista. Quando
de testes e avaliações a fim de diag-
afetos, discordâncias, o modo de organização do traba-
nosticar um suposto problema e conflitos, aproxima- lho escolar e o lugar do professor
intervir propondo uma solução
ções e distâncias". não entram em discussão, o que se
pontual. impõe é a hierarquia como legiti-
Marisa Rocha mação da autoridade estabelecida.
Na avaliação de Lygia de Sousa Vié- Como a soberania somente se man-
gas, psicóloga, professora da Facul- tém através da violência, podemos
dade de Educação da Universidade
CAPA

Segundo ela, a indisciplina é apon- compreender melhor de que modo


Federal da Bahia e membro do Fó- tada pelos educadores como um a indisciplina, como fenômeno de
rum sobre Medicalização da Educa- dos problemas mais difíceis de resistência à ordem, é produzida
ção e da Sociedade, “ainda é domi- equacionar em sala de aula. “As sistematicamente por toda a comu-
nante na prática de psicólogos um queixas de indisciplina e violência nidade escolar”, argumenta a pro-
olhar psicologizante, patologizan- vêm aumentando, levando muitas fessora da UERJ.
te e, portanto, medicalizante das vezes a escola a priorizar a discipli-
queixas escolares”. na educacional, gerando expectati- Essa percepção míope da escola
vas normalizadoras. É fundamen- como espaço em profunda crise
Conforme explica, ainda é bastan- tal destacar que, quando a questão legitima discursos de normatiza-
te comum ver psicólogas (os) esco- disciplinar passa a ser o eixo nortea- ção de condutas e individualização
lares atuando nesse espaço a partir dor do processo educacional, os an- de problemas de ordem conjuntu-
de uma perspectiva clínica e indi- tagonismos recrudescem, as técni- ral. Esses discursos associam a não-
vidualizante pautada no diagnósti- cas de controle se ampliam, assim -aprendizagem a algum tipo de dis-
co de supostas doenças para justifi- como os adoecimentos e encami- túrbio do aluno ou de sua família.
car a não-aprendizagem dos alunos, nhamentos, inviabilizando outros É esse olhar medicalizante que, ao
invisibilizando questões sociais, pe- modos possíveis de convivência”. transformar a diferença e a plurali-
dagógicas e institucionais. dade em algo tóxico para o ambien-
Para Marisa Rocha, “é importante te escolar, corrobora a produção do
A psicóloga Marisa Lopes da Ro- evidenciar que a indisciplina na es- “fracasso escolar” e parece validar
cha, professora associada do De- cola é uma ação que não está des- de modo equivocado a presença da
partamento de Psicologia da UERJ, contextualizada, podendo ser en- (o) psicóloga (o) nas escolas.
mestre em Filosofia da Educação e tendida como forma de expressão
doutora em Psicologia Social, afir- das instituições implicadas em cer- “Chama atenção o contingente de
ma que “o projeto educacional tos modos de pensar e fazer edu- crianças e adolescentes encami-

20 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017


P I X A B AY. C O M

CAPA
nhados aos serviços de Psicolo- dens (sociais, históricas, pedagó- “Na perspectiva crítica, com a qual
gia em função de seus padrões de gicas, familiares e política – mul- me identifico, vamos entender que
comportamento ou de aprendiza- tifatoriais, portanto) passam a ser o fracasso escolar é resultado de
do não atingirem as expectativas reduzidas, por um senso-comum, a um processo bastante complexo
da escola. Observo que as pessoas problemas individuais orgânicos”. e que, portanto, deve ser analisa-
não procuram apenas o serviço de do em sua complexidade. É preci-
Psicologia para as dificuldades co- Portanto, fica claro que, dentro so considerar questões históricas,
tidianas e escolares de seu filhos, desse caleidoscópio de problemas, políticas, econômicas, sociais, ins-
mas também em busca da valida- queixas e fracassos que rotula a es- titucionais, pedagógicas e relacio-
ção da ideia de que possuem algum cola e engessa suas engrenagens, nais como dimensões essenciais
‘transtorno mental’”, explica Luísa é fundamental a Psicologia pen- no enfrentamento das dificulda-
Damasceno, psicóloga e mestre em sar para além da lógica do adoeci- des vivenciadas por professores,
Psicologia pela UFF. mento que parece contaminar as gestores, estudantes e familiares
relações produzidas nesse espaço. na construção da experiência es-
“Tem se tornado cada vez mais re- Nesse sentido, se dispensássemos colar”, sinaliza Lygia Viégas.
corrente pais e professores procu- outro olhar sobre a escola, que será
rarem o psicólogo educacional a que encontraríamos? Se instigásse- Para ela, “o essencial é dialogar
fim de obter respostas que ofere- mos nosso olhar para a complexi- com a realidade específica na qual
çam uma explicação de fundo bio- dade das forças que atuam e a di- a demanda se constitui. O psicólo-
lógico ao ‘comportamento agita- namicidade das relações que são go precisa compreender tais de-
do da criança’, a sua indisciplina, tecidas nesse espaço, que outros mandas de forma complexa e evi-
ao porquê de suas ‘dificuldades es- papéis poderíamos, a partir daí, tar ocupar o lugar de quem sabe
colares’”, argumenta ela. “Dessa supor para a Psicologia? resolver os problemas da escola, ca-
forma, questões de diferentes or- minhando na direção de criar par-

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 21


cerias com os educadores, estudan- “A inclusão de todos os alunos, in- crianças e os adolescentes brasi-
tes e familiares na construção de dependentemente de suas necessi- leiros: uma educação para a liber-
práticas democráticas e sensíveis dades, na rede regular de ensino dade, que corrobora a autonomia
ao sofrimento de todos os envolvi- coloca em questão os déficits do se- do sujeito, ou uma educação tec-
dos na demanda”. tor educacional para gerenciar iso- nicista, que aprisiona a diferença
ladamente as demandas surgidas. e silencia o pensamento crítico? A
“Precisamos considerar a escola O trabalho intersetorial envolven- tomar pelo projeto de lei conheci-
como um território complexo e do educação, saúde, assistência so- do como “Escola sem Partido”, está
denso no bom sentido da palavra: cial, entre outras áreas, é impres- em curso, com cada vez mais força
nela, ao mesmo tempo em que so- cindível”, argumenta. política em nosso país, um proje-
mos engolidos, podemos ser criati- to de Educação que anula a escola
vos. Tenho apostado que as contra- “Há diferentes possibilidades de di- como campo de diálogo, coletiviza-
dições presentes no chão da escola álogo entre a Saúde e a Educação. ção, experimentação e exercício de
são o ingrediente essencial para Acredito na potencialidade do pro- respeito à alteridade.
sua transformação. E é com esse fissional de Educação em desauto-
olhar e essa escuta que adentro as rizar essas invasões do discurso Não à toa, a escola finca bandei-
escolas: buscando não apenas sua medicalizante, psicologizante, psi- ras de resistência, metabolizando,
fraqueza, mas sua força”, defende canalisante, muitas vezes mascara- como há muito não se via, uma in-
a psicóloga. das como ‘interlocuções’ e ‘traba- tensa agenda nacional de mobili-
lhos em rede’. O que deve interessar zação de professores, estudantes e
De acordo com Luísa Damasceno, a ao trabalho em rede são os modos familiares frente à dureza dos tem-
(o) psicóloga (o) escolar deve estar de subjetivação do aluno, do pa- pos que seguem. Escolas são ocu-
atenta (o) para “escapar a essa lógi- ciente. Nesse sentido, é importan- padas pelos estudantes e pela co-
ca padronizadora, normalizadora te que se possam traçar as circuns- munidade, professores organizam
e segregadora que atravessa os ca- tâncias em que se compuseram, greves gerais, corpo docente e dis-
nais midiáticos, as relações pais-fi- que forças se atravessam e que efei- cente unidos por uma escola que
lhos e as expectativas da escola fren- tos estão se dando a cada nova in- eduque para a liberdade, não para
te às dificuldades de seus alunos”. tervenção”, afirma a psicóloga. o silenciamento.
Segundo ela, “o psicólogo educacio-
CAPA

nal deve envolver em sua análise to- Esse cenário certamente implica a
dos os atores do sistema educacio- Educar para fazer prática da Psicologia no campo da
nal. Isso quer dizer que o objeto de pensar ou para fazer Educação, uma vez que o que está
sua intervenção está para além das calar? em jogo são as subjetividades que
questões individuais do aluno”. serão constituídas no espaço es-
Como podemos ver, a tensão ma-
colar. A Psicologia estará na esco-
cropolítica do atual momento vi-
“Acho interessante exercitarmos la afiançando sujeitos autônomos,
venciado em nosso país permeia o
um outro olhar, uma outra escuta estimulados ao pensamento críti-
cotidiano escolar, influencia os en-
de acolhimento dessas ‘queixas es- co e capazes de, no convívio com a
contros e relações ali constituídos
colares’ que nos chegam como de- diferença, estabelecer relações so-
e afeta diretamente as subjetivida-
manda. E rever com muito cuidado ciais e institucionais saudáveis, ou
des que se vão constituindo nesse
o hábito de encaminhar aos servi- corroborando o ajustamento dos
espaço. Enquanto políticas públi-
ços de saúde e a consultórios qual- sujeitos às demandas do mercado,
cas voltadas à garantia de direitos
quer criança que apresenta um tornando-os alheios a essa cadeia
sociais são progressivamente pre-
comportamento ou uma aprendi- de produção de alienação em mas-
carizadas, outras, de cunho con-
zagem que não corresponde às ex- sa e insensíveis às violências e ao
servador, vão sendo construídas
pectativas”, defende. aprisionamento da liberdade?
como instrumento de institucio-
Luísa Damasceno destaca ainda a nalização de determinados proje-
“A escola é o único equipamento
importância da interdisciplinarida- tos de poder.
coletivo que reúne gente em meio
de no encaminhamento das deman- a uma sociedade que separa, que
Diante disso, cabe indagar: que
das escolares. Para ela, “o exercício produz subjetividades atravessadas
proposta de Educação está sen-
da interdisciplinaridade possibilita por medo e isolamento. Conviver
do efetivamente pensada para as
a abertura de um outro olhar”. não é fácil, é uma arte que requer

22 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017


experimentação de afetos, discor- entender, sentir e agir? Deparamo- percepção da escola como um blo-
dâncias, conflitos, aproximações e -nos com muitos impedimentos, al- co fechado às mudanças cede lu-
distâncias. Se consideramos que a gumas adesões imediatas à aven- gar à dimensão da complexidade
escola se constitui como um apare- tura dos encontros, outras não tão onde a escola não é mais um edifí-
lho de normatização da subjetivida- imediatas, olhares curiosos, olha- cio, mas um território existencial
de, ou seja, tendo como função prin- em que a diversidade de vínculos e
cipal homogeneizar e disciplinar a “O psicólogo educa- de ações faz diferença”, afirma.
diversidade de formas de inserção
na vida, podemos verificar que a in- cional deve envolver Por isso, é importante que a Psicolo-
disciplina, de fato, é inerente a esse em sua análise todos gia direcione um outro olhar para
processo como fenômeno de resis- a escola, tentando compreendê-la
tência, de afirmação da diferença”,
os atores do sistema não como um território cristaliza-
afirma Marisa Rocha. educacional. Isso do de normas, condutas, burocra-
quer dizer que o obje- cias e fluxos institucionais. É preci-
“O caminho é provocar um cam- so não naturalizar a escola como um
po de experimentação, tarefa que to de sua intervenção universo de produção de fracassos e
não diz respeito apenas ao psicó- está para além das tensões, visto que a escola é um em-
logo numa perspectiva institucio- brião de diversidade e, afinal, onde
nal, mas que, sem dúvida, é seu ob-
questões individuais há diferença, há também embates.
jetivo primeiro quando começa do aluno”. Romper, de forma crítica e interdis-
um trabalho”, analisa a professo- Luísa Damasceno ciplinar, com os paradigmas adap-
ra da UERJ. tacionistas e normatizadores ainda
presentes no universo escolar, vol-
“Sustentar tal prática é um desafio. res de descrédito em relação à pro- tando seu olhar e sua escuta para
Como favorecer a multiplicidade posição de pensar o que se passa e a potência da multiplicidade: esta
de narrativas do/no cotidiano para colocar em análise as implicações deve ser a bússola ética da Psicolo-
a produção de outras maneiras de com o que se faz. E, aos poucos, a gia Escolar e Educacional. •

CAPA
CONSIDERAÇÕES DO CRP-RJ SOBRE O PROJETO
DE LEI DO SENADO Nº 557/2013

Apresentado no Senado em dezembro de 2013, o Projeto de Lei nº 557/2013 dispõe sobre o aten-
dimento psicológico ou psicopedagógico para estudantes e profissionais da rede pública de
Educação Básica. A matéria encontra-se atualmente na Comissão de Educação, Cultura e Es-
porte do Senado.

O CRP-RJ divulgou, no final de 2016, uma nota pública posicionando-se contra a aprovação
desse projeto de lei por considerar que ele se baseia no modelo de inserção da (o) psicóloga
(o) nas escolas a partir de uma atuação essencialmente clínica que desconsidera não apenas
a realidade escolar brasileira como também a grande produção acadêmica e científica da Psi-
cologia Escolar e Educacional.

Para ler a íntegra do documento divulgado pelo CRP-RJ, acesse nosso site pelo link: <www.
crprj.org.br/site/wp-content/uploads/2016/12/consideracoes-PL-557.pdf>.

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 23


“DIVERSIDADE
SEXUAL E DE
GÊNERO É UMA
REALIDADE E, POR
ISSO, NÃO PODE
ESTAR AFASTADA
DA SALA DE AULA”
ARQUIVO CRPR-RJ
DIVERSIDADE SEXUAL

EM ENTREVISTA AO JORNAL sou com Jaqueline Gomes de Jesus, estar afastada da sala de aula. Esse
DO CRP-RJ, PROFESSORA DO psicóloga e professora do Instituto debate é fundamental e, normati-
Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). vamente falando, é uma discussão
IFRJ DEFENDE A INCLUSÃO DO
que deve estar presente na educa-
DEBATE SOBRE DIVERSIDA-
Por que debater ção desde a mais tenra idade, con-
DE SEXUAL E DE GÊNERO NAS siderando as particularidades de
ESCOLAS. diversidade sexual e de
compreensão de cada indivíduo
gênero na sala de aula?
conforme o seu desenvolvimento
Polêmica, mas necessária. Assim A educação acontece de forma inte- psicossocial. Em nossa sociedade,
podemos definir a inclusão dos de- gral. A inclusão desse debate é uma não se discutem os papéis de gêne-
bates sobre diversidade sexual e de proposta não apenas de se transmi- ro, não se debate a violência de gê-
gênero na escola desde a Educação tir informações e conhecimento em nero que ocorre pela naturalização
Infantil, uma proposta rechaçada nível cognitivo, mas também práti- das discriminações. E a escola pode
com veemência pelos setores mais cas, atitudes e reflexões que traba- ajudar no enfrentamento desse
conservadores da nossa sociedade. lhem com a dimensão afetiva dos quadro de machismo, homofobia,
alunos, formando cidadãos que se transfobia e todo o tipo de violên-
Porém, a adoção de práticas peda- reconheçam em seus direitos fun- cia que vivemos.
gógicas que abordem em sala de damentais. O que acontece em nos-
aula identidade de gênero, orienta- sa sociedade é que, em virtude do
Por que a proposta
ção sexual e sexualidade pode ser histórico moral e religioso que re-
de adoção de práticas
um potente antídoto contra a dis- cebemos da tradição judaico-cris-
tã que nos constitui, discutir diver-
pedagógicas e conteúdos
criminação e a violência (física e
sidade sexual e de gênero tem sido
curriculares que
psicológica) de gênero, fomentan-
do nos estudantes o respeito e a to- uma questão interditada na vida so- contemplem esse debate
lerância à diversidade. cial. A escola tem esse papel de refle- desde a Educação Infantil
tir sobre o mundo que está aí pos- incomoda tanto?
Para falar um pouco sobre esse to. Diversidade sexual e de gênero é Exatamente porque vivemos numa
tema, o Jornal do CRP-RJ conver- uma realidade e, por isso, não pode tradição milenar religiosa e moral

24 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


de interdição não apenas do sexo e Na prática, não é o jovem transgê- evasão escolar das crianças e adoles-
da relação sexual, mas também do nero que desiste da escola: ele é centes transgêneros, mas eles são
corpo das pessoas. Conhecer e en- expulso da escola, atormentado, mais importantes para mostrar ao
tender o seu corpo e rediscutir os violentado, agredido (muitas ve- corpo docente e técnico como valo-
papéis que lhe são atribuídos, tudo zes fisicamente). E o entendimen- rizar a diversidade humana, reco-
isso é interditado. Este é um grande to dos pais, responsáveis, profes- nhecendo a si próprios como pesso-
desafio: mudar a concepção social sores e demais trabalhadores da as que são diversas também, afinal
de silenciamento e de violência na escola é muito deturpado a res- diferente não é só o outro!
forma como se tratam as discussões peito dessa situação: tem-se a con-
sobre gênero e sexualidade. cepção de que se deve mudar essa
De que forma a (o)
criança e esse adolescente. Esse é o
psicóloga (o) pode
Você acha que as escolas movimento mais agressivo e perni-
desempenhar uma
e os professores, de modo cioso, que influencia não apenas a
evasão escolar como também os ín-
intervenção potente nesse
geral, estão capacitados contexto?
dices de suicídio e/ou tentativa de
para lidar com essa
suicídio, quatro vezes maiores en- Saindo do nível técnico e tático sim-
questão?
tre esses jovens. O correto é criar plesmente, pois, muitas vezes, nos-
Não. Até porque o principal não é a um ambiente de segurança na es- sa formação profissional nos leva
capacitação, pois temos disponível cola para que esses jovens possam a responder a demandas com tes-
muita produção bibliográfica a esse ser quem são, para que possam vi- tes, avaliações e intervenções pon-
respeito. O grande desafio é a ques- venciar sua identidade de gênero tuais em vez de avaliar o contexto
tão conjuntural: as escolas, o gover- da forma como se identificam e re- de aprendizagem e de relações so-
no, os diretores e os professores en- conhecem. ciais no espaço escolar. O desafio da

DIVERSIDADE SEXUAL
tenderem que essa capacitação é (o) psicóloga (o) na questão de gêne-
fundamental e deve ser abordada na ro é conhecer as políticas da insti-
escola. Mesmo que a Lei de Diretrizes "Em nossa sociedade, tuição escolar e pensar estratégias
e Bases (LDB) estabeleça a educação não se discutem os para estabelecer espaços de liber-
sexual para abordar gênero nas esco-
las, a tradição conservadora e violen- papéis de gênero, não dade onde se possa debater essa te-
mática, criando segurança para as
ta que vivemos impõe aos professo- se debate a violência pessoas, independente da sua iden-
res que isso não deve ser discutido.
de gênero que ocorre tidade de gênero. É importante re-
conhecer que as discussões sobre
Dados do MEC mostram pela naturalização das
sexualidade e gênero não são do in-
que é alarmante o índice discriminações". teresse apenas das pessoas que não
de evasão escolar entre são heterossexuais ou cisgêneras.
crianças e adolescentes Também as pessoas heterossexuais
transexuais. O que A adoção de programa e as cisgêneras precisam valorizar
provoca essa situação? pedagógico que inclua a liberdade de vivência do gênero,
Todo esse contexto de violência e
esse debate na escola reconhecer o direito à vida das pes-
discriminação nas escolas, acen- pode ajudar a evitar esse soas transgêneras e o direito da li-
tuado em relação às crianças e quadro de evasão? vre expressão da orientação sexual
adolescentes trans. Essa criança e Existem muitos programas pedagó- de lésbicas, gays e bissexuais. Os psi-
esse adolescente são impedidos ini- gicos de inclusão desse debate. Há cólogos têm muito a contribuir nes-
quamente de ser quem são na es- toda uma legislação nacional e in- se campo, promovendo discussões
cola; de conviver com os demais ternacional acerca da inclusão des- e buscando se capacitar porque, em
estudantes de forma igualitária; se debate na escola. A questão é as geral, nossa formação ainda é mui-
de usar espaços de uso comum de escolas, a família e a comunidade to precária em gênero e sexualida-
acordo com o gênero com o qual reconhecerem a importância des- de, como infelizmente acontece em
se reconhecem; não são chamados se debate porque os programas já quaisquer formações de nível supe-
e atendidos a partir do nome e do existem. É claro que esses progra- rior em nosso país. Essa é uma ques-
gênero com o qual se identificam. mas são importantes para evitar a tão, sobretudo, cultural. •

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 25


INCLUSÃO EM EDUCAÇÃO: É HORA DE
EDUCAÇÃO INCLUSIVA

COMPREENDER A EDUCAÇÃO INCLUSIVA


PARA ALÉM DAS DEFICIÊNCIAS!
P I X A B AY. C O M

POR MÔNICA PEREIRA DOS um conjunto de técnicas pedagógi- fluenciada pelos avanços nas ciên-
cas e didáticas a serviço da educa- cias médicas, a educação especial
SANTOS (CRP 05/21534)
PROFESSORA ASSOCIADA DA FACULDADE DE ção de pessoas com deficiências. No aparece como uma forma de reinte-
EDUCAÇÃO DA UFRJ, FUNDADORA E COORDE- Brasil, segundo a Lei Brasileira de In- grar aqueles sujeitos com deficiên-
NADORA DO LAPEADE (LABORATÓRIO DE PES- clusão, aprovada em 2015, este gru- cia que eram diagnosticados como
QUISA, ESTUDOS E APOIO À PARTICIPAÇÃO E À
po inclui qualquer pessoa que tenha "educáveis" à sociedade, posto que,
DIVERSIDADE EM EDUCAÇÃO)
impedimento de longo prazo de na- até o presente, viviam em isolamen-
Existem diferenças cruciais entre tureza física, mental, intelectual ou to clínico ou asilar. Este movimen-
três conceitos: educação especial, sensorial, o qual, em interação com to ficou conhecido como integracio-
movimento integracionista e mo- uma ou mais barreiras, pode obs- nista e foi o modelo predominante
vimento inclusivista em educação. truir sua participação plena e efe- na educação especial até o final dos
A ideia deste modesto ensaio é fazer tiva na sociedade em igualdade de anos 1980.
ver à/ao leitor(a) que tratam-se de condições com as demais pessoas.
três coisas diferentes, embora entre- Nos anos 1990, na Europa, e em par-
cruzem-se na história e, em alguns Esta modalidade de educação, se- ticular na Inglaterra, um forte mo-
países, cheguem mesmo a ser con- gundo se observa historicamente, vimento liderado pelos ativistas
fundidos como sinônimos, como é, foi organizada, em seu início, com com deficiência em favor da subs-
lamentavelmente, o caso do Brasil. o objetivo de educar os sujeitos com tituição do então chamado mode-
deficiência para que se ajustassem lo integracionista de educação de
A educação especial tem sido tradi- à sociedade. Vinculada a um mo- pessoas com deficiências pelo de
cionalmente compreendida como delo clínico, e muito em parte in- inclusão tomou força e repercutiu

26 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


to e do estreito vínculo ao campo Dakar, que reforça a educação como
da educação especial, cabe assina- um direito social e tem influencia-
lar que o princípio de inclusão ja- do as legislações educacionais em
mais se limitou ao campo das de- nível mundial.
ficiências. A inclusão, como um
movimento político e como um pa- No Brasil, como em muitos outros
radigma filosófico, é fortemente países, em especial os da América
fundamentada na ideia de Direitos Latina, tem se tornado costume, la-
Humanos, e, neste sentido, consti- mentavelmente, associar a ideia de
tui-se um enorme contrassenso uti- inclusão estritamente à educação
lizar a expressão como mero substi- especial, fazendo com que o termo
tutivo para educação especial. seja confundido com um movimen-
to que se relacione apenas aos sujei-
O movimento pela inclusão pode tos com deficiência. Isto se verifica
ser datado, em termos de seus prin- com facilidade ao se analisar as pró-
cípios éticos, políticos e de direi- prias políticas públicas brasileiras,
tos sociais, ao movimento negro que tratam, inclusive, inclusão so-
estadunidense, movimentos étni- cial como algo quase diferente de
co-culturais de povos colonizados inclusão educacional. Ao se falar em
pelos europeus, bem como aos mo- inclusão social, nas políticas públi-
vimentos de outras (assim chama- cas, percebe-se a ampliação do foco e
das à época) minorias sociais, como, a expressão vinculada a legislações e
por exemplo, o movimento feminis- ordenamentos jurídicos vinculados
ta. O que todos têm em comum são a todos os grupos em situação de
alguns preceitos básicos que hoje desvantagem social e histórica. No

EDUCAÇÃO INCLUSIVA
compõem a luta pela inclusão so- entanto, no campo da educação, o
cial: liberdade de ser e existir sem termo inclusão fica expressivamen-
opressão, participação social ple- te vinculado ao grupo das pessoas
na, reconhecimento de cidadania e com deficiência. A título de exem-
direitos sociais, independentemen- plo, a única lei brasileira que leva a
te de aspectos específicos étnicos, palavra inclusão em seu título refe-
culturais, religiosos, de capacida- re-se tão somente a este grupo (a cha-
des, de gênero, de orientação sexu- mada Lei Brasileira de Inclusão – Es-
al, de idade, de condição social, po- tatuto da Pessoa com Deficiência, Lei
em várias políticas públicas. Como líticos, etc., de cada pessoa. nº 13.146 de julho de 2015).
foi dito, o modelo integracionista
É mais do que tempo de reconhecer-
previa que as pessoas com deficiên- "A inclusão, como um mos a inclusão como parte de um
cia se ajustassem à sociedade. Em
contrapartida, o movimento pela movimento político e movimento mais amplo, que abran-
ge e reconhece todas as diferen-
inclusão propunha que a socieda- um paradigma filosófi- ças como igualmente intituladas
de se ajustasse às particularidades
de cada sujeito, independentemen-
co, é fortemente fun- a qualquer direito social, em nível
te de terem ou possuírem alguma damentada na ideia de máximo de participação e usufru-
condição diferenciada, como, por to. De outra forma, continuaremos
Direitos Humanos". alimentando uma ideia separatis-
exemplo, uma deficiência. Este mo-
vimento refletiu-se em plano mais ta e nada democrática de que as di-
amplo ao ser traduzido em algu- Desse modo, inclusão em educação ferenças nos separam também em
mas declarações lideradas pela é parte do movimento de inclusão valor como seres humanos (quem
UNESCO, como "Educação Inclusi- social, que, por sua vez, vincula-se “vale” mais “merece” mais e vice-
va" (Inclusive Education), ao se refe- estreitamente aos Direitos Huma- -versa), o que é um absurdo. E pior:
rirem aos direitos educacionais de nos. Está vinculada, ainda, ao con- corrermos o sério risco de conti-
pessoas com deficiências. ceito de Educação para Todos, que nuar naturalizando a justificativa
também se constituiu em grande para a criação e/ou manutenção de
A despeito da importante inversão movimento mundial a partir da dé- privilégios em nome de um conve-
de lógica proposta pelo movimen- cada de 1990, com a Declaração de niente e antidemocrático mérito. •

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 27


ES T U D A N T E S D O E N S IN O
MÉ D IO D IZ E M “ N Ã O !” A O P L
“ ES C O L A S E M P A R T ID O ”
Um dos expoentes do processo ul- mundo maior do que ele pensa. O te denunciar!”. Seria insustentável,
traconservador que assola o Bra- “Escola sem Partido” não deixa es- seria impossível de lecionar maté-
sil nessa segunda década do sécu- paço para isso. rias sociais. Não existe pensamen-
lo XXI, o Projeto de Lei conhecido to sem ideologia.
como “Escola sem Partido” repre- Daniel: Acredito que já existiu “Es-
senta, na prática, um plano de fas- cola sem Partido”: foi a ditadura mi- Diversas propostas
citização da educação e criminali- litar e o AI-5 [Ato Institucional nº 5, conservadoras de reforma
zação do ensino como passaporte de 1969]. A censura ao direito de opi- da educação brasileira
para a constituição de subjetivida- nião e de manifestação é um crime têm ganhado destaque,
des críticas, criativas e autônomas. que deve ser combatido. O deputa- como o PL "Escola sem
do cujo nome não deve ser citado, Partido" e a mudança no
ESCOLA SEM PARTIDO

O Jornal do CRP-RJ conversou com que encabeçou o PL, é apoiado por Ensino Médio aprovada
dois estudantes secundaristas da uma direita conservadora e igno- pelo governo Temer.
rede pública de ensino para saber rante que não entende e nunca vai
Nesse cenário, você acha
o que pensam a respeito: Carla, de entender absolutamente nada so-
importante a mobilização
18 anos, cursa o 6° período do Ensi- bre estrutura pedagógica e educa-
dos estudantes?
no Médio e Técnico em Química no ção. Como diz o grande Karnal: "De-
Instituto Federal do Rio de Janeiro veríamos mudar o nome de 'Escola Carla: Mais do que importante, é
(IFRJ) de Duque de Caxias, e Daniel, sem Partido' para 'Escola do meu necessária. Ocupei minha escola
também 18, cursa o 3º ano do Ensi- partido e da minha igreja'". contra a PEC 55 e todos esses pro-
no Médio na FAETEC. jetos inconstitucionais. Esses pro-
jetos são apenas o começo de algo
Se o PL for aprovado, que muito pior que está por vir. A união
Confira abaixo a íntegra das entre-
impactos ele teria, na sua dos estudantes é a única capaz de
vistas. Os nomes usados nesta maté-
opinião, sobre o cotidiano não deixar que o Brasil acabe na
ria são fictícios.
da escola onde você mão de golpistas corruptos. É exa-
estuda? tamente por isto que o “Escola sem
Você conhece o Projeto de
Carla: O que mais gosto na minha Partido” serve, para desestruturar
Lei conhecido como "Escola
escola é a liberdade que eu, aluna, essa força e construir cidadãos que
sem Partido"? Qual a sua tenho para falar, agir e me compor- não lutam pelo que querem.
opinião a respeito dele? tar da maneira que eu achar me-
Carla: Antes de ocupar minha esco- lhor. Todos os dias, consigo apren- Daniel: A mobilização e a conscien-
la, não tinha ideia do que eram pro- der algo novo e, aos poucos, vou tização são importantes em todos
jetos e emendas constitucionais. construindo minha identidade. Se os aspectos, principalmente a cons-
Hoje, sei que o “Escola sem Partido” o “Escola sem Partido” for aprovado, ciência da participação da vida po-
é ditadura em sala de aula. Acredi- será um retrocesso, e as escolas se lítica. Perdemos muito nesses anos
to que tenho o direito de expor mi- tornarão prisões de pensamentos. de governo de esquerda em quali-
nha opinião e ouvir opiniões dife- dade de consciência e luta. Por mui-
rentes das que ouço, por exemplo, Daniel: Os impactos seriam for- to tempo brincamos de militância.
no meu ambiente familiar. A esco- tes. Imagine se um professor, ao fa- Agora, é necessário largar o manu-
la é um lugar que precisa libertar lar da Guerra Fria, cite o nome de al de como ser politizado e começar
e mostrar ao aluno que existe um Marx e um aluno levanta e fala “Irei a viver a política.•
28 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017
NOTA DE ESCLARECIMENTO
SOBRE TITULAÇÃO EM
“PSICOLOGIA CRISTÔ
EM RESPOSTA À GRANDE REPERCUSSÃO GERADA, NO COMEÇO DO ANO, APÓS O PREFEITO
DO RIO DE JANEIRO ANUNCIAR A NOMEAÇÃO DE SEU FILHO – AUTOINTITULADO “PSICÓLOGO
CRISTÃO” – COMO SECRETÁRIO MUNICIPAL DA CASA CIVIL, O CRP-RJ DIVULGOU À CATEGORIA E
À SOCIEDADE, EM 7 DE FEVEREIRO, A NOTA DE ESCLARECIMENTO ABAIXO.
POR DECISÃO JUDICIAL, O FILHO DO PREFEITO FOI AFASTADO E IMPEDIDO E ASSUMIR QUALQUER
OUTRO CARGO GOVERNAMENTAL NA PREFEITURA DO RIO.
ATÉ O FECHAMENTO DESTA EDIÇÃO, A POSTAGEM DA NOTA NA PÁGINA OFICIAL DO CRP-RJ NO
FACEBOOK TEVE MAIS DE 7.500 CURTIDAS, 700 COMENTÁRIOS E 9.250 COMPARTILHAMENTOS.
CONFIRA ABAIXO A ÍNTEGRA DO ESCLARECIMENTO.

O Conselho Regional de Psico- te registrada (o) junto ao CRP, dade para o sujeito. Pelo contrá-

LAICIDADE
logia do Rio de Janeiro acompa- conforme estabelecem as leis rio, a Psicologia, como profissão
nha com preocupação a prolife- 4119, de 1962, e 5.766, de 1971. baseada em técnicas e métodos
ração de casos de profissionais cientificamente comprovados e
que afirmam praticar “Psicolo- Em segundo, cabe destacar que validados, reconhece que a reli-
gia Cristã”, fato que ganhou no- a Psicologia engloba uma for- giosidade e a fé estão presentes
toriedade após a nomeação do mação generalista e que, den- na cultura e participam na cons-
novo secretário municipal da tro dessa formação, o Conselho tituição da dimensão subjetiva
Casa Civil da Prefeitura do Rio Federal de Psicologia reconhece de cada um de nós.
de Janeiro, autointitulado “psi- 12 especialidades, técnica e cien-
cólogo cristão”. Diante disso, o tificamente validadas, não figu- Assim sendo, os princípios e con-
CRP-RJ, autarquia federal res- rando nessa lista a dita “Psicolo- ceitos que sustentam as práticas
ponsável por orientar, fiscalizar gia Cristã”. religiosas são de ordem pesso-
e disciplinar o exercício profis-
al e a transgressão desse limiar
sional da Psicologia no estado Por fim, mas não menos impor-
que separa uma prática privada
do Rio de Janeiro, vem a público tante, ressalta-se que a Psicolo-
– no caso, a religião – de uma prá-
prestar alguns esclarecimentos gia, como ciência e profissão,
tica profissional de esfera públi-
que se fazem necessários. é laica e deve estar eticamente
ca – como é o caso da Psicologia
comprometida com o respeito à
Em primeiro lugar, é importan- – pode acarretar sérias consequ-
liberdade de crença / não-crença
te lembrar que, para se intitular do sujeito. ências, comprometendo a atua-
psicóloga (o) e exercer legalmen- ção da (o) psicóloga (o) e seu com-
te a Psicologia, a (o) profissional Afirmar a laicidade como princí- promisso ético e político para
deve ser diplomada (o) em insti- pio ético da Psicologia não signi- com o sujeito atendido, qualquer
tuição de Ensino Superior reco- fica desqualificar a importância que seja o espaço e o contexto des-
nhecida pelo MEC e devidamen- da religiosidade e da espirituali- se atendimento.

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 29


ARQUIVO CRPR-J
À direita: Representantes do CRP-RJ e do SINDPSI-RJ marcam presença em ato
público na Baixada Fluminense. | Abaixo: Psicólogas (os) e estudantes reunidos em
evento comemorativo do aniversário de fundação da Subsede Baixada.
ARQUIVO CRPR-J

COMISSÃO GESTORA DO CRP-RJ NA BAIXADA


REALIZA PLANEJAMENTO DE AÇÕES PARA 2017
E APOIA MOVIMENTOS SOCIAIS E SINDICAIS
BAIXADA FLUMINENSE

Para 2017, a Subsede do CRP-RJ na no começo de 2016 em Itaguaí, Du- mediante agendamento prévio pelo
Baixada Fluminense pautou o pla- que de Caxias e Nova Iguaçu. e-mail subsedeni@crprj.org.br.
nejamento de suas ações no apoio
aos movimentos sociais e sindicais Ações para 2017 Agenda de eventos
na região e também na promoção Diante disso, iniciamos 2017 com Segue a programação de eventos
de atividades junto a psicólogas animação, dando continuidade às prevista para o primeiro semestre
(os), estudantes de Psicologia e pro- atividades do ano anterior, inte- de 2017: em março, debate sobre o
fissionais e instituições parceiras. grando ações junto a movimentos Dia Internacional da Mulher; em
sociais e apoiando, em conjunto abril, debate sobre a prática clínica;
9º CNP / COREP com o Sindicato dos Psicólogos do em maio, debate sobre exploração e
Esse planejamento foi feito a par- Estado do Rio de Janeiro (SINDPSI/ violência à criança e ao adolescente;
tir das deliberações do 9° Congres- RJ), a mobilização de trabalhadores em junho, debate sobre refugiados.
so Nacional de Psicologia (CNP), que dos diversos municípios da Baixa-
aconteceu em junho de 2016 em Bra- da, tais como o Fórum da Assistên- Acompanhe a agenda de atividades
sília. As deliberações aprovadas no cia Social na cidade de Belford Roxo do CRP-RJ na região em nosso site
CNP têm abrangência nacional e de- e o Movimento Unificado dos Servi- pelo link: <www.crprj.org.br/site/
vem ser cumpridas por todo o Siste- dores de Nova Iguaçu, este último category/baixada/>.
ma Conselhos de Psicologia nos pró- articulado contra as violações às Comissão Gestora: Mônica Valéria Af-
ximos três anos (2016-2019). A versão Políticas Públicas em diversas pre- fonso Sampaio (CRP 05/44523) – Con-
preliminar do caderno das delibe- feituras e órgãos estatais na região. selheira-presidente; Viviane Siqueira
rações do 9º CNP está disponível em Martins (CRP 05/32170) – conselheira.
nosso site pelo link: <www.crprj. Reuniões semanais Colaboradores: Vanda Vasconcelos Mo-
org.br/site/category/corep/>. reira (CRP 05/6065), Jacqueline dos San-
A Comissão Gestora reúne-se sema-
tos Soares (CRP 05/41408) e Erika Barbo-
nalmente às terças-feiras, a partir
Em nosso planejamento, conside- sa de Araújo (CRP 05/50040).
das 17h30min, na Subsede Baixada.
ramos também a demanda apre-
A primeira hora dessas reuniões é Contato: subsedeni@crprj.org.br / (21)
sentada pelas (os) psicólogas (os) 2768-0007 / Facebook: Subsede Baixada
aberta à participação da categoria,
presentes nos três Pré-Congressos
Regionais de Psicologia realizados
de estudantes e movimentos sociais CRP/RJ.•

30 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


Imagens de divulgação dos eventos
promovidos pelo CRP-RJ na Região
Serrana no primeiro trimestre de 2017

COMISSÃO GESTORA DA
REGIÃO SERRANA INICIA 2017
COM DIVERSAS ATIVIDADES
Em 2016, o CRP-RJ promoveu na Re- Psicologia Clínica e suas Peculiari- CRP nas Universidades
gião Serrana eventos distribuídos dades” foi o tema de palestra mi- O projeto “CRP nas Universidades”
pelas cidades de Petrópolis, Car- nistrada no município de Carmo inicia seu segundo ciclo, levando
mo, Nova Friburgo e Teresópolis. por Renata Rosa Costa Farias (CRP aos estudantes discussões e deba-
Esses eventos tiveram como objeti- 05/45723), psicóloga clínica e espe- tes sobre a importância do Sistema
vo a aproximação com a categoria

REGIÃO SERRANA
cializanda em Psicogeriatria pelo Conselhos de Psicologia e sobre te-
na região e o debate sobre temáti- IPUB/UFRJ. “Clínica com Crianças” mas atuais da Psicologia.
cas relacionadas à prática cotidiana foi o tema de uma mesa redonda
da Psicologia nos diversos espaços. que aconteceu em Petrópolis com A Comissão Gestora, em parceria
participação de profissionais de va- com a Universidade Estácio de Sá
O plano de ação da Comissão Ges-
riadas linhas teóricas. de Nova Friburgo, promoverá pelo
tora do CRP-RJ na Região Serra-
segundo ano consecutivo a Entrega
na para 2017 foi construído a par- Marcamos presença também no Itinerante de Carteira Profissional
tir do levantamento das Pesquisas “Simpósio em Avaliação Psicológica no município, com previsão para
de Opinião aplicadas ao longo dos da Região Serrana”, promovido pela acontecer em abril e setembro.
eventos realizados e também le- Universidade Católica de Petrópolis
vando em conta as deliberações do (UCP) em fevereiro em Petrópolis. Para acompanhar a agenda de even-
9º Congresso Nacional e Regional tos e atividades do CRP-RJ na Região
de Psicologia (CNP e COREP) para os Em março, foi apresentado mais um Serrana, acesse nosso site pelo link
próximos três anos de gestão. Cine Psi em Petrópolis com o tema <www.crprj.org.br/site/category/
“Violência Doméstica”, previsto regiao-serrana/> ou fique atento às
Planejamento de 2017 para ser realizado também na cida- publicações na página da Subsede
Em janeiro, aconteceu, na Subse- de de Teresópolis no mês de abril. da Região Serrana no Facebook.
de do CRP-RJ em Petrópolis, o pri-
Ao longo do ano, estão previstos Comissão Gestora: Ismael Eduardo
meiro Cine Psi do ano, com tema
eventos com as seguintes temáti- Machado Damas (CRP 05/42823) – Con-
“Atendimento Clínico à Pessoa com
cas: Psicologia e RH, Racismo Ins- selheiro-presidente; Fabíola Foster de
Deficiência”. O palestrante foi Is-
titucional, Luta Antimanicomial, Azevedo (CRP 05/42893) – conselheira.
mael Eduardo Machado Damas
Psicologia e Educação, Política so- Colaboradoras: Débora Esteves Müller
(CRP05/42823), psicólogo da Asso- (CRP 05/46269) e Victoria Antonieta Tá-
bre Drogas, Psicologia Hospitalar,
ciação de Pais e Amigos dos Excep- pia Gutiérrez (CRP 05/20157).
Laicidade, Medida Socioeducativa,
cionais – APAE Petrópolis.
Autismo e Produção de Documen- Contatos: (24) 2243-0834 / E-mail: subse-
Em fevereiro, foram realizados dois tos, entre outros. depetropolis@crprj.org.br / Facebook:
eventos na região. “Envelhecer: a CRP – Subsede Região Serrana. •

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 31


SUBSEDE DO CRP-RJ Porciúncula
Varre-sai

NO NORTE E NOROESTE Natividade


Laje do Muriaé
Bom jesus do Itabapoana
Itaperuna
Italva São Francisco

FLUMINENSE AMPLIA
Miracema de Itabapoana
Santo Antônio de Pádua Cardoso
Moreira
Aperibé

AÇÕES POLÍTICAS POR


Campos dos
Itaocara Goytacazes
São João
da Barra

MUNICÍPIOS São José


de Ubá
Cambuci

DA REGIÃO São Fidélis


Quissamã
Carapebus
Macaé
Conceição
de Macabu
NORTE NOROESTE FLUMINENSE

A Comissão Gestora do CRP-RJ no Psicologia; Identidade, Gênero e Di- ção do projeto político do CRP-RJ na
Norte e Noroeste Fluminense tem versidade Sexual; Saúde Mental; Psi- região, entre elas: a Comissão de Es-
ampliado suas ações políticas nos cologia Clínica; Psicologia e Políti- tudantes, que abarca alunos de gra-
municípios da região e, com a elei- cas Públicas; Psicologia e Pacientes duação em Psicologia da Univer-
ção e posse do XV Plenário do CRP- Crônicos ou Terminais. sidade Federal Fluminense (UFF),
-RJ (Gestão 2016-2019), destaca que Universidade Estácio de Sá e IseCen-
dará continuidade à agenda ético- Comissão dos sa; a comissão formada pelas (o) psi-
-política que vem sendo desenvolvi- Coordenadores de Cursos cólogas (os) colaboradoras (es) do
da desde 2010 com foco na atuação CRP nos espaços de Controle Social,
de Psicologia
nas políticas públicas e na garan- compondo conselhos municipais
tia dos Direitos Humanos. Confira Com o objetivo de articular a quali- da região; e a Comissão de Orienta-
as principais atividades previstas ficação da formação nos cursos de ção e Fiscalização (COF), representa-
para 2017. Psicologia na região, a Subsede con- da na Subsede pela psicóloga fiscal
solidou a Comissão dos Coordenado- que oferece plantões de atendimen-
res de Cursos de Psicologia, que atu- to e orientação à categoria.
Ações estratégicas almente possui representatividade
Em 2017, a Subsede realizará even- de universidades dos municípios de Você pode acompanhar as ativi-
tos cujas temáticas foram definidas Campos dos Goytacazes, Macaé, San- dades do CRP-RJ no Norte-Noroes-
pela categoria nos Pré-Congressos e to Antônio de Pádua e Itaperuna. Es- te Fluminense em nosso site pelo
no Congresso Regional de Psicolo- pera-se para este ano que a referida link: <www.crprj.org.br/site/cate-
gia, em 2016, estes que são a maior e Comissão fomente a construção de gory/norte-noroeste/>.
mais democrática via de participa- perspectivas coletivas e ampliadas
ção dos psicólogas (os) e estudantes para a formação psi, além de propi- Comissão Gestora: Evelyn Rebouças
do estado do Rio de Janeiro junto à ciar a realização de eventos conjun- de Gouvêa (CRP 05/41205) – Conselhei-
gestão do CRP-RJ. tos entre todas as instituições, resul- ra-presidente; Michelle da Silva Motta
tando no intercâmbio de práticas e (CRP 05/31331) – conselheira. Colabora-
Assim, entre os diferentes assun- conhecimentos diversos. dores: Fátima dos Santos Siqueira Pes-
tos a serem abordados, alguns dos sanha (CRP 05/9138), Denise da Silva Go-
quais pode-se esperar a discussão mes (CRP 05/41189), Bianca Miranda (CRP
Outras Comissões 05/4420) e Jéssica Maciel (CRP 05/49890).
nos Cine Debates, rodas de conversa
e seminários, são: Avaliação Psicoló- Permanecerão em 2017 outras comis-
Contato: subsedecampos@crprj.org.br
sões imprescindíveis à implementa-
gica e Produção de Documentos em

/ (22) 2728-2057

32 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017


BALANÇO FINANCEIRO

P I X A B AY. C O M
DO CRP-RJ DE 1º DE
JANEIRO A 31 DE
DEZEMBRO DE 2016
VEJA COMO É EMPREGADO Iniciamos 2016 com
R$ 4.554.576 aplica-
O VALOR QUE VOCÊ PAGA
dos em CDB. A re-
DE ANUIDADE AO CRP-RJ. ceita do CRP-RJ no
Na edição anterior desta publica- ano de 2016 foi de R$
ção, apresentamos o balanço finan- 11.488.366. Desse va-
ceiro referente ao período de 1º de lor, R$ 2.774.688 foram repassados também nas regiões de abrangên-
janeiro a 31 de outubro de 2016. Nes- ao CFP, nos deixando uma recei- cia das subsedes.
ta edição, apresentamos o balanço ta líquida de R$ 8.713.679. Conside-
final referente a todo o ano de 2016. rando-se o valor de R$ 4.554.576 de Apesar de termos fechado o ano
superávit dos anos anteriores, as re- com saldo de R$ 707.113,00 em cai-
Conforme apresentado anterior- ceitas líquidas do CRP-RJ em 2016 so- xa, cabe ressaltar que, em virtude
mente, 25% de toda a receita obti- maram R$ 13.268.255. da grave crise econômica que atra-

PRESTAÇÃO DE CONTAS
da pelo CRP-RJ é repassado para o vessa o Brasil, estamos com uma
Conselho Federal de Psicologia. A Desse valor, despendemos R$ inadimplência de 33,5% das contri-
receita remanescente é destinada 5.224.632 com a folha de pagamen- buições.
ao pagamento da folha salarial dos to e R$ 7.336.510 com a manutenção
funcionários, às despesas corren- das atividades do Conselho, tais
Fique em dia com o CRP-RJ!
tes – como contratos de prestação como pagamento de contas, tribu-
tos e contratos. Esse valor também Vale lembrar que é por meio do pa-
de serviços vigentes, tributos e im-
foi utilizado para custear impor- gamento das anuidades, única fon-
postos – e às ações do CRP-RJ junto
tantes ações do CRP-RJ voltadas à te de arrecadação financeira do
às (aos) psicólogas (os) e à sociedade.
categoria e à sociedade, tais como: CRP-RJ, que podemos garantir o
O valor da receita que venha a so- a “Oficina de Psicologia para Ges- funcionamento administrativo do
brar se torna o superávit financeiro. tão Integral de Riscos e Desastres”, Conselho e de nossas atividades em
Esse superávit é investido em apli- realizada em janeiro de 2016 no prol da Psicologia, da sociedade e de
cação no Banco do Brasil (CDB) para Centro do Rio; os 24 Pré-Congres- você, psicóloga (o). Por isso, é funda-
ser utilizado em possíveis ações sos Regionais de Psicologia (que mental que você mantenha o paga-
emergenciais e/ou de manutenção aconteceram por todas as regiões mento da anuidade em dia.
e expansão do CRP-RJ. do estado do Rio entre fevereiro e
abril de 2016); o 9º Congresso Re- O não pagamento da anuidade pode
De 2010 a 2014, acumulamos R$ gional de Psicologia (COREP), rea- lhe deixar em situação irregular
5.051.712 de superávit. A partir de lizado em abril/maio, no Rio de Ja- para o seu exercício profissional ou
2015, começamos a usar o valor des- neiro; os Seminários “Psicologia de sua empresa. Para garantir uma
sa aplicação para obra emergencial nas Escolas”, de Assistência Social, prática com ética e qualidade, aces-
no prédio da sede do CRP-RJ (na Ti- de Direitos Humanos e de “Políti- se <www.crprj.org.br> e saiba como
juca) e para as obras de reforma da cas Públicas da Região Serrana”, re- ficar em dia com o CRP-RJ!
nova sede (no Centro do Rio) e das alizados, respectivamente, em ju-
Em caso de dúvida ou se tiver em
subsedes da Baixada (em Nova Igua- nho e julho do ano passado; a 10ª
atraso com sua(s) anuidade(s), envie
çu) e da Região Serrana (em Petró- edição da Mostra Regional de Prá-
e-mail para cobranca@crprj.org.br
polis). Esses recursos também fo- ticas em Psicologia (também em
que um funcionário do CRP-RJ irá
ram utilizados na modernização do
mobiliário da sede e das subsedes.
julho); e diversos outros eventos
promovidos pelo CRP-RJ na sede e
ajudá-la (o).•

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 33


COMISSÃO REGIONAL DE DIREITOS
HUMANOS (CRDH)
A Comissão Regional de Direitos Gênero, coordenado pela co- A CRDH tem acompanhado com
Humanos do CRP-RJ constituiu-se laboradora Maiara Fafini (CRP grande preocupação a situação
tendo como coordenadores Ro- 05/43721); o eixo de Violência de brasileira, com enfoque no estado
berto Stern (CRP 05/1700), conse- Estado, coordenado pela cola- do Rio de Janeiro, e intervém em
lheiro, e José Novaes (CRP 05/980), boradora Ana Cláudia Camuri vários momentos apontando em
colaborador. (CRP 05/37443); o Eixo de Direi- notas os ataques aos Direitos Hu-
tos Humanos e Socioeducação, manos, mesmo aqueles estabeleci-
A CRDH mantém uma estrutu- coordenado pelo conselheiro Ju- dos legalmente. Além disso, reali-
ra por eixos temáticos, que são raci Brito (CRP 05/28409); o Eixo zando, em 28 de janeiro, o evento,
sete: Eixo de Laicidade, coordena- de Direitos Humanos e Esporte, bastante concorrido, no auditório
do pelo conselheiro José Henrique coordenado pelo conselheiro da sede do CRP-RJ: “Roda de Con-
Lobato Vianna (CRP 05/18767); Eixo Rodrigo Acioli (CRP 05/33761); o versa Liberdade de crença/não
de Relações Raciais, coordenado eixo de Mobilidade Social, Aces- crença: um direito humano”.
pela conselheira Maria da Concei- sibilidade e Direitos Humanos,
ção Nascimento (CRP 05/26929); coordenado pela conselheira Ja- Contato: cotec@crprj.org.br.
o eixo de Diversidade Sexual e de naina Sant’Anna (CRP 05/17875).
INFORME DAS COMISSÕES

AVANÇOS NA REGIONALIZAÇÃO E
DESCENTRALIZAÇÃO DO CRP-RJ
A Comissão Intergestora de Re- Pré-Congressos Regionais de (os) psicólogas (os) colaboradoras
gionalização e Descentralização Psicologia em todas as regiões (es) que representarão o CRP-RJ
(CIRD) do CRP-RJ informa que a do estado do Rio, o que fomen- como Pontos Focais nas regiões
mobilização das (os) psicólogas tou a expressiva participação do Sul Fluminense, Leste Flumi-
(os) no interior do estado do Rio de psicólogas (os) do interior nense e Região dos Lagos. Outro
de Janeiro se intensifica em 2017, no 9º Congresso de Regional de avanço é construção da Resolução
tendo como demanda a necessi- Psicologia (COREP). da CIRD, que institui essa política
dade de aproximação com o CRP- e regulamenta os trabalhos da Co-
Nas deliberações do 9º Con-
RJ, especialmente com a crise so- missão no CRP-RJ.
gresso Nacional de Psicologia
cial, econômica e política que (CNP), houve o indicativo de Nosso planejamento para 2017 pre-
atravessa o país e estabelece um que as Comissões de Interiori- vê entregas de carteiras itineran-
cenário de violações dos direitos zação fossem instituídas como tes, eventos temáticos e apoio às
sociais e trabalhistas. permanentes nos Conselhos Re- atividades do Sindicato dos Psicó-
gionais de Psicologia. logos do Estado do Rio de Janeiro.
Relembramos o trabalho da ges-
tão do CRP-RJ com a realização, no Nas reuniões mensais da CIRD, Contato: cotec@crprj.org.br.
A N N A K Y B E L E - STO C K . D E V I A N TA R T. C O M

primeiro trimestre de 2016, de 24 na sede do CRP-RJ, definimos as

34 JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO 2017


COMISSÃO REGIONAL DE PSICOLOGIA
E POLÍTICAS PÚBLICAS (CRPPP)
Em 11 de fevereiro, foi realizada, eles Alexandre Vasilenskas (CRP • Denise da Silva Gomes (CRP
na sede do CRP-RJ, a Oficina de 05/30741), psicólogo representan- 05/41189) | Suplente no Conselho
Planejamento do Fórum de Saú- te do CRP-RJ no Conselho Estadu- Municipal do Idoso de Campos;
de do Rio de Janeiro com a parti- al de Saúde, e Maiara Fafini (CRP • Simone Hang Vianna (CRP
cipação da CRPPP e da Comissão 05/43721), psicóloga coordenado- 05/50889) | Suplente no Conselho
de Saúde do CRP-RJ. ra do Eixo de Diversidade Sexual Municipal de Assistência Social e
e de Gênero da Comissão de Direi- no Conselho Municipal de Saúde,
No período da manhã, houve a ambos de Petrópolis;
tos Humanos do CRP-RJ.
contribuição da professora da
• Vanda Vasconcelos Moreira (CRP
pós-graduação em História da Na parte da tarde, foi realizado 05/6065) | Titular no Fórum Grita
UFF Virgínia Fontes, que realizou um balanço das atividades reali- Baixada.
uma análise de conjuntura desta- zadas em 2016 e a definição de es-
cando o cenário de golpe jurídi- tratégias, prioridades e ativida- Destituições:
co-parlamentar vigente no Brasil. des para o ano de 2017. • Ismael Eduardo Machado Da-
Ela destacou o risco da “segmen- mas (CRP 05/42823) | Suplente no
tação ou dessolidarização gera- Informes do Controle Social Conselho Municipal de Assistên-
cional”, ou seja, setores de traba- cia Social de Petrópolis;
Informamos abaixo as seguintes
lhadores que, isolados em suas • Raphael Curioni Maia (CRP
alterações em representações do
demandas específicas, se posicio- 05/47980) | Suplente no Conselho

INFORME DAS COMISSÕES


CRP-RJ no Controle Social.
nam perversamente alheios à de- Municipal de Saúde de Petrópolis;
manda de trabalhadores que este-
Instituições: • Victória Guitierrez (CRP 05/20157)
jam fora de sua faixa geracional.
| Rede de Discussão e Cuidados
• Ederton Quemel Rossini (CRP
Em seguida, houve intervenções sobre Drogas de Petrópolis.
05/50.996) | Titular no Conselho
de diversos participantes, entre Municipal do Idoso de Campos; Contato: crppp@crprj.org.br

COMISSÃO DE ANÁLISE PARA CONCESSÃO


DO TÍTULO DE ESPECIALISTA (CATE)
O Título de Especialista é concedi- estabelecidos pela Resolução nº anos de registro no CRP; (b) não
do pelo Conselho Federal de Psi- 013/2007. Você pode requerê-lo possuir anuidades em aberto
cologia dentro das 12 especiali- de duas formas: através do Con- junto ao CRP; e (c) não estar res-
dades atualmente reconhecidas curso de Provas e Títulos, reali- pondendo a processo ético-disci-
na Psicologia: Psicologia Clínica, zado periodicamente pelo CFP, plinar no CRP.
Psicologia Escolar/Educacional, ou por meio de Curso de Especia-
Psicologia do Esporte, Psicologia lização reconhecido pelo MEC, Mais informações estão dispo-
Hospitalar, Psicologia Jurídica, com mínimo de 360h/aula, con- níveis na seção Orientação Pro-
Psicologia Organizacional e do forme determina o Ofício do CFP fissional de nosso site pelo link:
Trabalho, Psicologia Social, Psi- nº 089/2016. <www.crprj.org.br/site/orienta
cologia de Trânsito, Psicomotri- cao-profissional/>.
cidade, Psicopedagogia, Neurop- Vale lembrar que a (o) psicóloga
Contato:
sicologia e Psicologia em Saúde. (o) não é obrigada (o) a possuir
administrativo.cotec@crprj.org.br.
Título de Especialista. Contudo,
A concessão do Título de Espe- caso queira requerê-lo, é necessá-
cialista está sujeita aos trâmites rio: (a) possuir no mínimo 2 (dois)

JORNAL DO CRP-RJ • Nº43 • MAIO DE 2017 35

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