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Origem
Autos do processo nº 3001185-56.2013.8.26.0296
2ª Vara do Foro de XXX-SP
AGRAVO DE INSTRUMENTO
com o objetivo de ver reformada decisão inaudita altera pars do XXX Juízo Cível do
Foro de XXX, de fls. 28, que deferiu em tutela antecipada sua internação compulsória,
apontando como Agravado seu genitor XXX, brasileiro, aposentado, portador do RG
XXX e do CPF XXX, com endereço à Rua Manoel Queiroz, 77, Jd. São Pedro, XXX, SP, o
que faz pelas razões de fato e de direito expostas em anexo.
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RAZÕES DE AGRAVO
EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
I – DOS FATOS
A ação foi ajuizada 10 (dez) dias após a subscrição do laudo por psiquiatra,
atestando genericamente descontrole de quadro psíquico e necessidade de internação
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em clínica especializada em caráter urgente e compulsório e ausência de condições de
tratamento ambulatorial no momento.
“Vistos.
Emende o autor a inicial, para que regularize o pólo passivo da ação,
que deverá constar a municipalidade. Prazo de dez dias.
A verossimilhança das alegações iniciais, no sentido de que o
requerido é dependente químico e coloca em risco a sua própria
integridade física e de seus familiares, dentre eles o requerente, seu
pai, está corroborada pela declaração médica de fls. 16 que instrui a
inicial.
Diante disso, já que patente a ameaça de sua integridade física e de
seus familiares caso tal medida seja concedida somente ao final,
defiro a internação compulsória em clínica especializada para o
tratamento da doença informada na declaração médica acostada às
fls. 16, que deverá ser providenciada pela Secretaria Municipal de
Saúde do Município.
Oficie-se, com urgência, sendo desde já deferido o reforço policial, se
necessário.
Citem-se e Intime-se” (g.n.)
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recentes enviadas por ele a ela (docs. 09 e 10) e sua carteirinha de freqüência ao grupo
Amor Exigente (doc. 11), obrigação imposta pela clínica, segundo consta de seu relato.
Por fim, resta ressaltar que, desde a emergência relatada no laudo médico
do mês de maio até a efetiva internação do paciente, decorreram quase dois meses (57
dias), que o Agravante já atingiu a maioridade há mais de década, não é interditado, ou
seja, é pessoa com capacidade de direito e, até a presente data, não há notícia de que
sequer tenha sido proposta qualquer ação de interdição por seus familiares.
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II- ESCLARECIMENTO PRELIMINAR: DA INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO NA FORMA DE
INSTRUMENTO E NO PRAZO
1. PRELIMINARMENTE
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Lei Federal Complementar 80/94, artigo 128: Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria
Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer: I – receber, inclusive quando necessário,
mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou
instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.
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Para que legitimamente se possa exigir o provimento jurisdicional algumas
condições são impostas, as chamadas condições da ação: legitimidade ad causam,
possibilidade jurídica e interesse de agir. Neste caso, nenhuma delas está satisfeita,
como se verá.
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interesse no exercício da jurisdição (...), não lhe convém acionar o aparato judiciário
sem que dessa atividade se possa extrair algum resultado útil. É preciso, pois, sob esse
prisma, que, em cada caso concreto, a prestação jurisdicional solicitada seja necessária
e adequada”2.
2
ARAUJO CINTRA, Antonio Carlos de; PELLEGRINI GRINOVER, Ada e RANGEL DINAMARCO, Candido.
Teoria Geral do Processo, 20ª edição. Malheiros: 2004, pag 259.
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vide Portaria Ministério da Saúde n. 3088/11, que regulamenta também o atendimento a urgências
psiquiátricas.
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privada às expensas do Estado, distante 160 Km de sua residência, o que dificulta a
reinserção em seu meio, objetivo de toda internação permitida por nosso
ordenamento jurídico.
Por mais essas razões lógicas, portanto, é de rigor a extinção do feito sem
resolução do mérito, o que ora se reitera.
Como se sabe, o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal e o artigo 165
do Código de Processo Civil exigem que qualquer decisão judicial seja fundamentada.
De forma ainda mais específica, o artigo 273, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil,
estabelece que, “na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e
preciso, as razões de seu convencimento”.
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Disponível on-line em http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/111276-3088.html
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E nesse ponto, a ordem quebrou toda a lógica da coisa pública e acabou
por determinar privatização liminar do SUS, rompendo, ainda, com o pacto da
separação de Poderes, já que invadiu esfera do Poder Executivo quando acaba por
dizer como o Município deve agir, engessando-o a ponto de não lhe dar alternativa de
encaminhando do paciente para a rede SUS, como deveria ser prioritariamente.
E assim o fez sem que não haja nos autos uma linha sequer, seja de
argumentação, seja de prova, que aponte para a inexistência de leitos públicos para
internação no Município de XXX e região (note-se que Campinas, cidade vizinha e
muito mais próxima que Descalvado, tem uma rede de atenção psicossocial
considerada exemplar – doc. 20)
Para que uma obrigação judicial possa ser imposta no início do processo,
antes do exercício da defesa e da produção de prova, é necessário que haja prova
inequívoca da verossimilhança das alegações e fundado receio de dano irreparável ou
de difícil reparação, além da reversibilidade do provimento, conforme previsto no
artigo 273 do Código de Processo Civil. Ademais, o princípio da proporcionalidade deve
ser aplicado, ponderando-se o benefício trazido ao autor e o prejuízo imposto ao réu
com a antecipação da tutela.
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A começar que não há comprovação suficiente nos autos de que a
ausência de concessão da tutela antecipada cause dano irreparável ou de difícil
reparação ao Agravado ou ao Agravante.
5
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência - ONU
Artigo 14
Liberdade e segurança da pessoa
1.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas:
(...)
b) Não sejam privadas ilegal ou arbitrariamente de sua liberdade e que toda privação de liberdade
esteja em conformidade com a lei, e que a existência de deficiência não justifique a privação de
liberdade;
6
Princípios da ONU para a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental e para a melhoria da
saúde mental.
PRINCÍPIO 4
Determinação de um transtorno mental
(...)
4. Uma história de tratamento anterior ou uma hospitalização como usuário não deverão por si
mesmas justificar qualquer determinação presente ou futura de um transtorno mental.
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Não se olvide que Internação não mais é sinônimo de tratamento para
questões relacionadas às drogas ou sofrimento mental, como foi no passado e como
revela desejar o Agravado em sua petição inicial.
Mas não se pode dizer que o relatório médico juntado aos autos satisfaça
tal exigência.
Mas não é só, porque não bastava ao médico descrever só isso, já que pelo
Código de Ética Médica é vedado ao médico deixar de garantir ao paciente o exercício
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do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer
sua autoridade para limitá-lo.7 O Código Civil segue na mesma toada, sedimentando
em seu artigo 15 a necessidade do consentimento informado do paciente para toda e
qualquer intervenção médica sobre o corpo do paciente, que tem o direito de recusá-la
mesmo que esteja vivenciando situação de risco de vida.
Portaria MS n. 2391/2002
Artigo 5º (...)
Parágrafo único. O laudo médico é parte integrante da
Comunicação de Internação Psiquiátrica Involuntária, a qual
deverá conter obrigatoriamente as seguintes informações:
I - identificação do estabelecimento de saúde;
II - identificação do médico que autorizou a internação;
7
Resolução CFM n. 1931 de 17/09/2009, artigo 24
8
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Autonomia do paciente e direito de escolha de tratamento medico sem
tranfusão de sangue. In Direitos do Paciente, Coord. Álvaro Villaça Azevedo e Wilson Ricardo Ligeira.
Saraiva: São Paulo, 2012,pag. 281
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III - identificação do usuário e do seu responsável e contatos da
família;
IV - caracterização da internação como voluntária ou
involuntária;
V - motivo e justificativa da internação;
VI - descrição dos motivos de discordância do usuário sobre
sua internação;
VII - CID;
VIII - informações ou dados do usuário, pertinentes à
Previdência Social (INSS);
IX - capacidade jurídica do usuário, esclarecendo se é
interditado ou não; e
X - informações sobre o contexto familiar do usuário;
XI - previsão estimada do tempo de internação
Mas esse dever não foi satisfeito, pois os documentos nada descrevem
sobre a frequência, as características e as tentativas de tratamento ambulatorial que
teriam restado infrutíferas.
Alerta: o que foi juntado aos autos pelo Agravado é uma coleção de
internações pelas quais passou XXX, mais de 40 (quarenta) segundo consta (doc. 08),
ou seja, ao invés de ter se demonstrado que o Agravado tentou sempre e
exaustivamente se valer do tratamento ambulatorial, demonstrou-se na inicial que o
Agravado habitualmente interna o Agravante, e em geral por longo período (vide fls.
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20) o que contraria todo o arcabouço da Lei 10.216/01 e viola o direito do paciente de
ser tratado preferencialmente em serviços comunitários de saúde mental (artigo 2º, IX)
Isso aponta para o fato de XXX ser uma potencial vítima do triste fenômeno
do hospitalismo, que equivale ao fato do paciente passar a se identificar com as quatro
paredes após internações sucessivas, familiarizando-se a elas, passando a ter
dificuldades de viver em liberdade como decorrência das inúmeras internações. Não
se olvide que há o efeito iatrogênico: o isolamento pode ser fazer surgir ou agravar a
doença mental. A tutela antecipada concedida pode estar se prestando a reforçar esse
quadro.
O certo é que, para dar concretude aos princípios da Lei 10.216/01, aos
direitos fundamentais das pessoas em sofrimento mental e as evidências científicas
acumuladas por agências respeitáveis internacionalmente, o Ministério da Saúde
editou inúmeras portarias, como lhe incumbe.
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saúde mental, Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), Núcleos de Atenção
Psicossocial (NAPS), Residências Terapêuticas, CAPS I, II, III, CAPSi, CAPSad, Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), Unidades de Pronto Atendimento
(UPA)/Pronto Atendimento, e leitos e enfermaria especializadas em hospitais gerais,
entre outros.
Nessa rede, a atenção às pessoas em crise, deve se dar nos CAPS III,
dotados de leitos de retaguarda para o enfrentamento da urgência, no Pronto Socorro
Geral em articulação com a rede SAMU 192; sendo certo que em municípios que não
tenham estes dispositivos, há que se garantir que os serviços de emergência de
Hospitais Gerais atendam às situações de crise na área de saúde mental.
E há algumas razões para que assim seja, para que não se segregue à
força os pacientes com transtorno mental em manicômios ou estabelecimentos que
tenham outros nomes, mas que se prestam ao mesmo fim de retenção forçada e
supressão de direitos ao longo do tempo.
PRINCÍPIO 15
Princípios para a Admissão
1. Nos casos em que uma pessoa necessitar de tratamento em
estabelecimento de saúde mental, todo esforço será feito para
se evitar uma admissão involuntária.
2. O acesso a um estabelecimento de saúde mental será
oferecido da mesma forma que em qualquer outro
estabelecimento de saúde frente a outro problema de saúde
qualquer.
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problemas múltiplos e colaterais, por exemplo, machucados, problema de pressão,
diabetes, eventuais doenças sexualmente transmissíveis, necessidade de exames etc.
PRINCÍPIO 16
Admissão involuntária
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(...)
3. Um estabelecimento de saúde mental só poderá receber
pacientes admitidos involuntariamente se tiver sido designado
para isso por uma autoridade competente prescrita pela
legislação nacional.
Aliás, a propósito, na toada que segue o processo, tudo indica que quem
fará a avaliação do caso é um médico, com a devida vênia, nada independente, ou seja,
o médico da própria clínica privada onde XXX foi internado, a qual aufere lucros com a
manutenção do paciente nas dependências da clínica, que já anuncia em sua página
de internet que o prazo mínimo de tratamento é de 6 (seis) meses (doc. 15), fazendo
tábula rasa da singularidade dos pacientes, descumprindo a necessidade da confecção
de um projeto terapêutico individualizado imposta por lei 13 e por princípios i
10
Princípios para a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental e para a melhoria da
assistência à saúde mental, ONU, 1991
PRINCÍPIO 13
Direitos e condições de vida em estabelecimento de saúde mental
1. Todo usuário de um estabelecimento de saúde mental deverá ter, em especial, o direito de ser
plenamente respeitado em seu:
(a) Reconhecimento, em qualquer lugar, como pessoa perante a lei;
(b) Privacidade;
(c) Liberdade de comunicação, que inclui liberdade de comunicar-se com outras pessoas do
estabelecimento; liberdade e enviar e receber comunicação privada não censurada; liberdade de
receber, privadamente, visitas de um advogado ou representante pessoal e, a todo momento razoável,
outros visitantes; e liberdade de acesso aos serviços postais e telefônicos, e aos jornais, rádio e televisão;
2. O ambiente e as condições de vida nos estabelecimentos de saúde mental deverão aproximar-se,
tanto quanto possível, das condições de vida normais de pessoas de idade semelhante (...)
11
Princípios para a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental e para a melhoria da
assistência à saúde mental,1991
PRINCÍPIO 9
Tratamento
1. Todo usuário terá direito a ser tratado no ambiente menos restritivo possível, com o tratamento
menos restritivo ou invasivo, apropriado às suas necessidades de saúde e a necessidade de proteger a
segurança física de outros.
(...)
4. O tratamento de cada usuário deverá estar direcionado no sentido de preservar e aumentar sua
autonomia pessoal.
12
Vide Lei 10.216/01
13
Lei 11.343/06, Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente
de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
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internacionais14 e determinação de que toda internação deva ocorrer pelo menor
tempo possível15 e por um período inicial curto16.
Nesse passo, para o crack, tido como a droga mais devastadora e que não é
usada pelo Agravante, o período para desintoxicação aguda leva, segundo o Conselho
Federal de Medicina, de 7 a 14 dias, funcionando a internação como medida inicial de
tratamento, após o que deve o paciente ter acesso à rede de tratamento ambulatorial
bem como aos processos integrados, segundo as “Diretrizes Gerais Médicas para
Assistência Integral ao Crack” do CFM17.
Por sua vez, para respeitável Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime, sediado em Viena (UNODC) que dá as diretrizes mundiais para o enfrentamento
dos males das drogas:
14
Princípios para a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental e para a melhoria da
assistência à saúde mental, ONU, 1991
PRINCÍPIO 9
Tratamento
1. Todo usuário terá direito a ser tratado no ambiente menos restritivo possível, com o tratamento
menos restritivo ou invasivo, apropriado às suas necessidades de saúde e a necessidade de proteger a
segurança física de outros.
2. O tratamento e os cuidados a cada usuário serão baseados em um plano prescrito individualmente,
discutido com ele, revisto regularmente, modificado quando necessário e administrado por pessoal
profissional qualificado.
15
Portaria MS 2391/02 artigo 2: (..) a internação psiquiátrica somente deverá ocorrer após todas as
tentativas de utilização das demais possibilidades terapêuticas e esgotados todos os recursos extra-
hospitalares disponíveis na rede assistencial, com a menor duração temporal possível
16
Vide Princípios da ONU, no capítulo sobre admissão involuntária.
17
Acessível pelo endereço http://www.cremerj.org.br/downloads/386.PDF, pág. 06
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intoxicação aguda, ou caso o indivíduo possa colocar em risco a
sua própria segurança ou a de outros. Vários estudos mostram
que não há evidências da eficácia dessas medidas, que pelo
contrário, fortalecem o estigma, contribuem para o processo de
exclusão, fragilizam vínculos sociais e aumentam o risco de
infeçcões pelo HIV18.
Ou seja, a internação forçada é um mal em si, e por isso, deve ser manejada
com muita cautela e por um período restritíssimo, dando-se assim vazão ao princípio
pro-homine dos direitos humanos: aos direitos humanos deve ser dada a maior
extensão possível e as suas restrições devem ser lidas da forma mais restritiva possível.
18
https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2013/04/08-treating-drug-dependence-from-coercion-
to-cohesion.html. Para o relatório completo, acessar https://www.unodc.org/documents/lpo-
brazil//noticias/2013/09/Da_coercao_a_coesao_portugues.pdf
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Portaria MS 130/2012, art. 6° § 1º A permanência de um
mesmo paciente no acolhimento noturno do CAPS AD III fica
limitada a 14 (catorze) dias, no período de 30 (trinta) dias.
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(...)“não pode haver qualquer justificativa para o uso de
confinamento solitário e restrição prolongada de pessoas com
deficiência em instituições psiquiátricas; A segregação e a
restrição prolongadas podem constituir tortura e maus-tratos.
Afirmou, ainda, que “É essencial que o banimento absoluto de
todas as medidas coercitivas e não-consensuais, incluindo a
contenção e o confinamento solitário de pessoas com
incapacidade psicológica ou intelectual, deva ser aplicado a
todos os locais de privação de liberdade, inclusive em
instituições psiquiátricas e de cuidados social.”19
“Cuidados médicos que causam grande sofrimento sem
nenhuma razão justificável podem ser considerados um
tratamento cruel, desumano ou degradante, e se há
envolvimento do Estado e intenção específica, é tortura”.20
Nunca é demais lembrar o trágico caso do Sr. Damião Ximenes Lopes, que,
em 1999, foi vítima de tortura, maus tratos e faleceu nas dependências da clínica
psiquiátrica Casa de Repouso Guararapes, o que ocasionou a condenação do Brasil
perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
19
Versão original em
http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/HRCouncil/RegularSession/Session22/A.HRC.22.53_English
.pdf (livre tradução)
20
http://www.onu.org.br/internacao-compulsoria-e-discriminacao-na-saude-podem-ser-formas-de-
tortura-diz-especialista-da-onu/
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instem o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo que ali faça
inspeção, o que ora se requer.
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