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RESUMO
O objetivo desse estudo foi apresentar e aplicar os métodos da pesquisa qualitativa nas Ciências
Humanas e Sociais, em História durante a pesquisa do mestrado. Nossa pesquisa tem como
temática a história indígena, cuja fonte principal é o romance A lenda dos cem (1995) do escritor
Gilvan Lemos, que narrou sobre um povo fictício denominados “Xacuris”, fazendo uma
analogia ao povo indígena Xukuru Ororubá, em Pernambuco. Utilizaremos métodos da
pesquisa qualitativa no decorrer de toda pesquisa: a história de vida, analisando a biografia do
autor do romance, a análise de conteúdo dos periódicos; jornais locais publicados na década de
1990 e a análise do discurso para refletirmos o romance em si. A partir dessas estratégias de
pesquisa pretendemos formular uma narrativa analítica para problematizarmos as percepções a
respeito do sentido da obra em relação aos conflitos entre os Xukuru Ororubá e os invasores
das terras indígenas na época. Essas metodologias possibilitarão refletir sobre os tipos de
influências que o citado autor foi tributário, para entendermos como percebeu os povos
indígenas retratado em seu romance e o que conhecia sobre o litígio envolvendo os indígenas
no período.
Introdução
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Artigo apresentado à disciplina: A Pesquisa Qualitativa aplicada às Ciências Humanas e Sociais, ministrada
pelo Prof. Dr. Xisto Serafim no Programa de Pós-Graduação em História, na Universidade Federal de Campina
Grande – UFCG (2019.1), como critério de avaliação final.
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Mestrando em História no Programa de Pós-Graduação em História da UFCG/PB.
métodos da pesquisa qualitativa; a história de vida em biografias, a análise de conteúdo e análise
do discurso, aplicada no início do nosso estudo. Por fim, apresentaremos considerações acerca
do aproveitamento da pesquisa qualitativa nesse campo de estudo, destacando sua importância
e eficácia para a realização e contribuições na grande área das Ciências Humanas e Sociais.
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A abordagem da chamada nova história indígena evidencia os indígenas enquanto sujeitos da/na História, que
foram ativos aos processos de contato com diversas estratégias e resistências. Processos que são novos apenas para
os historiadores, mas não para os indígenas. O que ocorre de novo é o reconhecimento das ações dos indígenas
enquanto sujeitos, contrárias a uma historiografia predominante até então. Nessa perspectiva no Brasil foram
pioneiras importantes, importante e significativas os estudos de John Monteiro e a contribuição na formação de
vários pesquisadores em todas regiões do pais. A esse respeito ver: MONTEIRO, 2001 e SILVA, 2015.
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Nesta mesma linha de considerações, para situarmos o leitor, enfatizamos que para a
discutirmos a questão da chamada nova história indígena na pesquisa, recorreremos aos os
estudos iniciados nos anos de 1990, pela antropóloga Manuela Carneiro da Cunha (CUNHA,
1992); pelos historiadores John Monteiro (MONTEIRO, 1994a e 1994b) e Ronaldo Vainfas
(VAINFAS, 1995) e pelo antropólogo João Pacheco de Oliveira (OLIVEIRA, 1999) que
romperam com a visão sobre a história indígena que tradicionalmente predominou na
historiografia brasileira. A nova abordagem configurou-se em contrapor à uma visão
historiográfica de longa data, que tratava às populações indígenas como meros espectadores,
passivos diante das situações envolvendo o contato com os não índios.
Ao problematizarmos às ações dos índios no Nordeste como atores sociopolíticos (que
é também um dos focos de nossa pesquisa) da própria história, buscamos contrapor à uma visão
que predominou durante muito tempo na historiografia brasileira, enfatizando os índios apenas
“vítimas” de um sistema global de colonização, “vítimas” de uma política e de práticas que lhes
destruíram. Discursos e imagens com duas consequências: a primeira consagrando a narrativa
sobre a eliminação dos índios e a segunda, pensando-os como sujeitos passivos, negando-os
como sujeitos históricos (CUNHA, 2012, p.22).
Nessa mesma perspectiva, destacamos reflexões sobre esse olhar descolado das
situações vivenciadas pelos indígenas ao longo da História:
Durante muito tempo, portanto, nos estudos sobre a História do Brasil, além das
referências ao índio apenas nos primeiros anos da colonização, predominou a visão
sobre os povos nativos como vitimados pelos inúmeros massacres, extermínios,
genocídios e etnocídios provocados pelas invasões e colonização dos portugueses e
outros povos vindos da Europa a partir de 1500 (SILVA, 2015, p.4).
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negá-lo, construindo sobre ele toda uma outra versão, ou ainda para ultrapassá-lo. Como
narrativas, são representações que se referem a vida e que a explicam” (PESAVENTO, 2008,
p.3).
Nesse campo de abordagem a Literatura é uma prática da sociedade, sendo uma fração
da realidade criativa da ficção acerca do mundo, cuja características são bem específicas como
prática, porém não se pode separar dos processos sociais gerais (WILLIAMS, 2011, p.61). Ou
seja, de certa forma o escritor de ficção tem como referência uma situação concreta como
ingrediente fabulatório para a criação e, isto possibilita compreender que uma obra não é criada
do nada, mas a partir de uma série de práticas que o autor experimenta no mundo onde está
inserido.
Sobre esses aspectos, para o ofício do historiador, o texto literário pode ser tomado como
fonte de estudo, porque a História se faz presente através da mediação criadora da linguagem
da Literatura, mesmo sendo um tipo especial de fonte, pois a mesma tem uma dimensão artística
que não pode ser ignorada como apontou (CORONEL, 2008). Porém, não se trata de buscar
informações históricas nos textos literários, não propomos isto devido reconhecermos à
finalidade intrínseca pertinente à Literatura, em outras palavras, o conteúdo literário devido ao
gênero não tem compromisso com a situação social que se propõe discutir, como é no caso da
ciência em geral.
Por outro lado, alertou um autor: “todos sabemos que a Literatura, como fenômeno
depende para se constituir e caracterizar do entrelaçamento de vários fatores sociais”
(CÂNDIDO, 1967, p.13). Ou seja, sendo essencial para à compreensão de uma obra literária os
contextos históricos da composição. Sendo que as circunstâncias envolvendo determinada obra
se torna crucial para o historiador, possibilitando compreender as posições políticas de uma
determinada obra e autor, considerando no conteúdo o caráter ideológico explícito ou implícito.
Discutido a teoria que respalda o uso da Literatura como fonte, apresentaremos de modo
breve o autor do romance e logo após também uma breve apresentação da obra. Gilvan de Souza
Lemos o autor do romance, nascido julho de 1928 em São Bento do Una, no interior de
Pernambuco, cerca de 215 Km do Recife, foi considerado um dos principais escritores da sua
geração no cenário literário pernambucano, falecendo em agosto de 2015 no Recife, aos 87
anos. Publicou 25 livros, entre novelas, contos e romances, produzindo também textos em
coletâneas, periódicos nacionais e internacionais, destacando-se com o primeiro
romance Noturno sem música publicado em 1956. Depois desse período não parou mais de
lançar novos livros (CORRÊA, 2017). Foi membro da Academia Pernambucana de Letras,
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ocupando a cadeira 26, sendo empossado em 2012, integrando a geração Pós-Regionalismo e
anterior ao Movimento Armorial, atualmente o autor está em um período de redescoberta.
O romance A lenda dos cem foi publicado em 1995 pela Editora Civilização Brasileira.
Sendo uma narrativa não-linear, com várias histórias entrecruzadas, mesmo que em princípio
pareçam ser todas desconexas, tendo como elo principal Pedro Correia, conhecido como Peto,
descendente do povo “Xacuris”. Um “remanescente” (não um indígena) após sobreviver ao
massacre do seu povo por pessoas que tinham interesses pelas terras habitadas pelos indígenas.
Ao longo da trama, ocorrem várias reviravoltas na vida de Peto, que no decorrer do romance
desencadeará na tentativa vingança ou justiça contra os dizimadores do seu povo.
Pensar as diferentes narrativas acerca do povo Xukuru sob diversas perspectivas, no
caso em questão a partir de uma obra literária, se faz necessário compreendermos os debates
acerca dos povos indígenas no Brasil na década de 1990. Assim, A Lenda dos cem, possibilita
refletir sobre os discursos a respeito dos indígenas no período, como também os embates dos
Xukuru do Ororubá para a demarcação do território onde habitavam. Com as reivindicações e
mobilizações, enfrentaram muitos conflitos, violências e assassinatos de indígenas. A partir de
1989 os Xukuru conseguiram que a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) iniciasse o processo
Identificação e Delimitação do das terras. Em 1992 foi declarada a posse permanente dos
Xukuru, a demarcação do território ocorreu em 1995, sendo homologado definitivamente em
20014.
Diante dessas situações, problematizar o romance no contexto impulsionando a
enveredar na busca dos fios que engendrou cada acontecimento nas mobilizações dos Xukuru
pelas terras e as redes de conexões que por diversos meios formaram a imagem dos indígenas
no Nordeste na década de 1990.
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Site Câmara dos Deputados, DECRETO DE 30 DE ABRIL DE 2001. Homologa a demarcação administrativa
da Terra Indígena Xucuru (Xukuru), localizada no Município de Pesqueira, estado de Pernambuco. O
PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art, 84, inciso IV, da Constituição, e
tendo em vista o art. 19, § 1º, da Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, e art. 5º do Decreto nº 1775, de 8 de
janeiro de 1996, DECRETA: Art. 1º Fica homologada a demarcação administrativa promovida pela Fundação
Nacional do Índio - FUNAI, da terra indígena destinada à posse permanente do grupo indígena Xucuru (Xukuru),
a seguir descrita: a Terra Indígena denominada Xucuru (Xukuru), com superfície de vinte e sete mil, quinhentos e
cinqüenta e cinco hectares, cinco ares e oitenta e três centiares e perímetro de oitenta e um mil, duzentos e cinco
metros e setenta e três centimetros, situada no Município de Pesqueira, Estado de Pernambuco (...).
Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret_sn/2001/decreto-139-30-abril-2001-348639-publicacaooriginal-1-
pe.html>. Acesso: julho de 2019.
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3. A ciência e a pesquisa qualitativa: um panorama geral
“Todos os homens, por natureza, tendem ao saber” (ARISTÓTELES, 2002, 980ª) essa
frase são as linhas iniciais da obra Metafísica do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Essa
pequena citação possibilita pensar dois aspectos fundamentais. O primeiro, o caráter existencial
humano para conhecer o funcionamento das coisas, por outro uma reflexão sistemática da
curiosidade, cuja consciência do saber descortina o infinito do não saber. Em outras palavras,
inicia-se as tentativas de entendimento das coisas do mundo amparada no caráter lógico da
razão como método, algo muito caro a ciência moderna, tema do tópico em seguida.
Diante dessas brevíssimas reflexões, o que conhecemos atualmente como ciência e
método, tem origens em tempos remotos, intrínseco à condição humana em face da necessidade
de conhecer o mundo circundante, as situações vividas para resolução de problemas práticos.
E, portanto, devido ao caráter existencial do nosso modo humano de ser, fazendo com que o
conhecimento seja uma questão inescapável e perturbadora para àqueles que veem o mundo de
uma forma não óbvia, não guiado somente pela opinião (doxa), mas sendo envolvidos pelo
angustiante chamado do Ser e pelo seu desvelamento.
Com um considerável salto histórico, reconhecemos que a Filosofia suplantou o mito na
chamada Antiguidade Clássica, na Modernidade a Ciência suplantou a Filosofia. Para realizar
essa reflexão, recorremos a História para compreendemos que a Ciência e a pesquisa se
desdobraram ao longo das épocas. Em um processo com erros e acertos em um longo caminho
de buscas metódicas para as explicações das causas de determinada ocorrência na situação
social, utilizando-se de informações coletadas por meios de observações, com recursos
adequados para que dados singulares pudessem explicar a regularidades das causas e efeitos.
Importante destacar também que todo o arcabouço de conhecimento contemplados atualmente
não é fruto de uma inteligência isolada na abstração do tempo, mas de um fator histórico e
social, um esforço coletivo e permanente no curso do tempo (CHIZZOTTI, 2011, p.19-20).
Sobre a pesquisa, pode ser considerada como uma busca sistemática e rigorosa em
informações para descobrir o funcionamento, a lógica, a coerência de um conjunto
aparentemente desconexo de informações. Para que o pesquisador, com esforços, possa chegar
a uma resposta fundamentada a um problema específico, ou em uma área do conhecimento a
partir de uma problemática singular.
Com a ciência moderna, a pesquisa cientifica é definida pelos critérios evidentes que
orientam as ações como: a teoria, o método e linguagem específica. Assim, a pesquisa
pressupões dois aspectos relevantes para a realização: as teorias que as fundamentam e a visão
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do mundo do pesquisador. Logo, existe uma variedade de teorias e visões sobre o fazer
cientifico, que pode ser interpretado esse leque de possibilidades como paradigmas.
No que diz respeito aos paradigmas, são caracterizados como conquistas cientificas
reconhecidas universalmente, e por um certo período de tempo fornecem modelo de problema
e soluções aceitáveis pelos pesquisadores – podem ser provisórias até serem suplantados por
outro paradigma. Dessa forma, um paradigma é reconhecido porque engloba uma lei, uma
teoria, uma aplicação como também um dispositivo experimental que posteriormente serão a
base do nascimento de tradições de pesquisas cientificas constituindo um campo de
conhecimento (Ibid., p.21).
Com o passar do tempo gera o acúmulo dos conhecimentos científicos, novas
articulações são incorporadas expondo a ciência tida como normal à crise do paradigma,
fazendo com que certezas e normas aceitas serem discutidas novamente e tais debates podem
gerar uma revolução cientificas. Quando os cientistas serão guiados por um novo modelo, por
um novo paradigma sendo estes novos instrumentos orientadores dos olhares e direções a qual
seguirá desde então (Ibid., 2011, p. 21). Circunstâncias consideradas como positivas para o
desenvolvimento cientifico, isso porque, em diferentes domínios do conhecimento, da pesquisa
moldam-se diferentes olhares para as situações sociais.
As teorias cientificas podem ser categorizadas como: paradigma, tradição, modelo,
programa e postura de pesquisa (CHIZZOTTI, 2011). Porém, não discutiremos essas questões
devido por não ser o foco de nosso estudo, abordaremos, no entanto, a pesquisa atual em
Ciências Humanas. Portanto, não realizaremos a abordagem histórica do tema, apesar de
entendermos como fundamental para se compreender a pesquisa qualitativa atual, discutir o
desenvolvimento cientifico da pesquisa. Como por exemplo, o contexto histórico, os
pensadores que realizaram os estudos, desde do século XVI ao XIX, os fundamentos basilares,
como também a evolução das Ciências Humanas e Sociais. Acreditamos ser muito relevante a
discussão, com os cinco marcos decisivos da pesquisa qualitativa, sobretudo o segundo marco,
no início do século XX com a Escola de Chicago, quanto a criação do método interpretativo
realista a partir de história de vida de pessoas comuns, entre outros aspectos.
Apresentaremos o modelo atual em Ciências Humanas e Sociais5, sendo caracterizadas
por duas orientações basilares; que são os fundamentos e a prática de pesquisa. Ambas contêm
5
O autor afirmou que haveria discórdia, pelos leitores e especialistas quanto a distinção entre “humanas e sociais”
devido as Ciências Humanas serem todas sociais, porém advertindo que o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico-CNPq fez a distinção entre Ciências Humanas e as Sociais Aplicadas, com respectivas
subáreas de pesquisa, e tal diferenciação torna-se pertinente e atual (CHIZZOTTI, 2011, p.13).
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pressupostos teóricos, modos específicos de abordar a realidade, peculiares entre si. No que diz
respeito aos meios de colher informações que são genericamente designadas como pesquisa
quantitativa e pesquisa qualitativa (CHIZZOTTI 2011, p. 27). Nesse sentido, a qualificação de
ser ou pesquisa qualitativa ou quantitativa diz respeito aos meios de obter as informações, tendo
como arcabouço o “como”, de “qual forma” será colhida as informações para determinado tipo
de pesquisa, seja em Ciências Humanas ou Naturais.
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Em oposição ao Positivismo, a pergunta sobre o qualitativo é respondida de forma
diferente pela Sociologia Compreensiva, que, como o próprio nome indica, coloca
como tarefa das Ciências Sociais a compreensão da realidade humana vivida
socialmente e totalmente diversa do mundo das ciências naturais (MINAYO, 2004,
p.11).
A pesquisa qualitativa abriga, deste modo, uma modulação semântica e atrai uma
combinação de tendências que se aglutinaram, genericamente, sob este termo: podem
ser designadas pelas teorias que as fundamentam: fenomenológica, construtivista,
crítica, etnometodológica, interpretacionista, feminista, pós-modernista; podem,
também, ser designadas pelo tipo de pesquisa: pesquisa etnográfica, participante,
pesquisa-ação, história de vida etc. (CHIZZOTTI, 2003, p. 223).
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léxicos em periódicos no estado de Pernambuco (Jornal do Commercio, Diário de
Pernambuco, Diário da Noite) foram apresentados e significados na época em questão, como
por exemplo: “Índios”, “Xukuru”, “demarcação”, “justiça” etc. E em terceiro e último,
realizaremos a análise do discurso de Michel Pêcheux para problematizarmos as condições de
produção da obra e o seu conteúdo. Abordaremos a seguir de forma mais detalhada os passos
que seguiremos com a pesquisa.
Neste tópico discorreremos de modo breve como pretendemos operar com as estratégias
de coleta de informações na pesquisa qualitativa, contudo não problematizaremos o caráter
histórico e a diversidade teórica de cada estratégia devido ao espaço reduzido e ao foco do nosso
estudo.
Assim, iniciaremos com a metodologia da história de vida; a biografia. A história de
vida tem o objetivo de narrar a vida de um indivíduo ou grupo, fundamentando-se em várias
fontes. Como também relatos do sujeito; como documentos, entrevistas, ou qualquer outro meio
com informações sobre situações vividas, o contexto e o próprio indivíduo (CHIZZOTTI, 2011,
p.102). A biografia propriamente dita “é a narrativa da vida de uma pessoa, feita por outrem,
que com base em documentos, hipóteses e orientações teóricas e reconstrói a vida do biografado
(biografia clássica) ” (Ibid.). Nesse sentido, entendemos que com a história de vida; a biografia
é possível compreender as experiências individuais dos sujeitos, como também entender as
situações sociais cujo indivíduos compunham.
Nessa modalidade de pesquisa, um dos principais desafios está relacionado a coleta de
dados porque necessitando de uma grande quantidade de material que possibilite o acesso
mínimo as informações necessárias (HOLANDA, 2010). O autor afirmou uma necessidade de
evidenciar a compreensão do material histórico coletado, como também um olhar apurado na
análise das fontes. Chamando a atenção quanto ao método, porque sugere que o conhecimento
do vivido não representa necessariamente a compreensão do real, ou seja, a certeza de
determinado fato a ser narrado e problematizado.
No que diz respeito à cientificidade, o método biográfico enfatiza a necessidade de
repensar o modo como analisar a realidade no estabelecimento desse meio cientifico, capaz de
explicar pequenas frações do cotidiano, o comum, em detrimento das grandes explicações. Em
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outras palavras, os autores chamaram a atenção quanto ao problema de relacionar o micro com
o macro e vice-versa de forma coerente e metodológica (SILVA; MAIA, 2010).
Quanto ao nosso problema de pesquisa, entendemos a necessidade de recorrermos a
metodologia da biografia para compreendermos o contexto da vida de Gilvan Lemos na década
de 1990 e as disputas de terras entre os Xukuru de Ororubá e os fazendeiros invasores nas terras
indígenas. Isto porque, será possível aplicar o método para compreendermos a dinâmica das
relações estabelecidas entre a produção da obra, A lenda dos cem e as disputas de terras, a crença
na (in)existências de indígenas na região e o contexto social cujo autor esteve inserido. Na
tentativa de compreendermos a vida de Lemos enquanto escritor como também um cidadão
comum, possibilitará ter acesso a uma quantidade de informações sobre o sujeito e discutir com
maior embasamento os porquês do conteúdo da obra, que são as perguntas que direcionam
nossa pesquisa.
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Algo importante de ser frisado é que na análise de conteúdo tem como pressuposto que
o léxico, um vocábulo considerada uma unidade discreta do texto, constitui uma síntese
condensada da realidade, e a frequência de seu uso permite revelar a concepção do emissor,
seus valores, opções e preferências (CHIZZOTTI, 2011, p.117).
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da análise do discurso recorreremos as ideias de Michel Pêcheux6 junto às interpretações de Eni
Oralndi7 nos auxiliando para que tenhamos mais propriedade nas incursões ao pensamento de
Pêcheux. Assim pretendemos realizar uma perspectiva descritiva, analítica e reflexiva do
romance objetivando problematizar em que condições e como o discurso funciona na obra
literária.
Quanto a bibliografia que será utilizada, incialmente a Semântica e discurso: uma crítica
a afirmação do óbvio Michel Pêcheux (1938-1983), tendo como apoio a interpretação da
comentadora do pensamento de Pêcheux, a pesquisadora Eni Orlandi com a obra Análise do
Discurso: princípios e procedimentos. Os diálogos entre essas duas obras possibilitarão
construir um embasamento para que, a partir dos conceitos sobre análise do discurso favoreçam
outras perspectivas de interpretações do romance e as condições de sua produção, distanciando
nos deliberadamente das análises da crítica literária que comumente ocupa-se desse gênero.
Nesse sentido, a análise do discurso possibilitará problematizar as condições de
produção para tratarmos do jogo político e simbólico tanto na obra como no contexto da época
a respeito dos indígenas Xukuru e as demandas sociopolíticas do período. As problematizações
dos discursos com o referencial teórico de Michel Pêcheux será um meio para refletirmos o que
está por trás desses textos e sua produção, para questionarmos quais interesses para manutenção
de certos discursos estereotipados a respeito dos Xukuru.
Desse modo, portanto, ler o romance de Gilvan Lemos de forma não crítica depõe
diretamente em desfavor aos Xukuru, quanto ao sentido da identidade indígena quanto ao
direito ao território. Isto porque, o autor construiu a ideia do “ser” Xacuris/Xukuru a partir de
um imaginário perpetuado ao longo dos séculos contra os povos indígenas em geral, que dialoga
diretamente com o olhar predominante na sociedade como um todo, parte da crença que os
povos indígenas somente são indígenas quando apresentam características identitárias
romantizadas, estigmatizadas ou folclóricas.
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Michel Pêcheux nascido em Tours na França em1938, faleceu em Paris em 1983. Filósofo francês, expoente
maior do círculo de intelectuais, fundou a linha de pesquisas conhecida como Análise de Discurso na segunda
metade do século passado. Através da análise do funcionamento discursivo, objetivou explicitar os mecanismos
da determinação histórica a partir dos processos de significação da linguagem materializada na ideologia
(SANTOS, 2013, p.209).
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Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi é uma pesquisadora brasileira, pioneira na esfera da análise do discurso no
Brasil com suporte pecheutiano. Formou-se em 1964 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara,
em 1970 foi mestre em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em 1976, também pela USP
em conjunto com a Universidade de Paris/Vincennes na mesma área De 1967 até 1979 foi professora na USP,
quando se transferiu para o Laboratório de Estudos Urbanos da Universidade de Campinas (UNICAMP) que
coordenou até aposentar-se. É a maior especialista brasileira em análise do discurso e com vasto conhecimento
sobre a obra de Michel Pêcheux. Informações disponível em: <https://colunastortas.com.br/eni-orlandi/>. Acesso:
julho de 2019.
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Considerações parciais
Nessa etapa final desse texto, percebemos que a pesquisa qualitativa nos dias atuais,
cobre um campo multidisciplinar envolvendo as Ciências Humanas e Sociais, assumindo
tradições ou paradigmas de análises diversas. Reconhecemos, portanto, a importância enquanto
metodologia para a coleta de dados em pesquisas, sobretudo no campo da historiografia.
Demonstrando o compromisso que a ciência e a pesquisa são práticas válidas para a construção
solidária da vida social sendo o papel do pesquisador é decisivo nesse processo, fazendo suas
escolhas com responsabilidade e conhecimento.
Entretanto, por parte dos pesquisadores conhecer ambos os tipos de pesquisa, a
quantitativa e qualitativa serve para demarcar as convicções sobre o que entendem como ciência
e, quais rumos irão optar para o estudo que realizam, se encaminhando assim em direção a
novas descobertas sem se furtar do rigor e da objetividade. Os métodos estão longe de
esgotarem determinados campos, como também deixam abertos os horizontes de interrogações
nas pesquisas como um todo, em nossos estudos isso não vem sendo diferente.
Destacamos que para nossa pesquisa, os métodos da pesquisa qualitativa, se executados
metodologicamente com rigor será decisivo para nossa empreitada. Sobretudo, devido à
complexidade do tema a ser abordado que é a discussão entre Literatura, História e história
indígena. O apoio dessa metodologia, nos possibilitará discutir o romance junto aos novos
estudos sobre os índios no Brasil nas áreas da Antropologia e História na década de 1990 e com
a análise do discurso, entrecruzando com as outras estratégias. Contribuindo para que possamos
viver em um país que possa a cada dia superar os preconceitos contra os indígenas. Pois,
conhecer a História do Brasil é também conhecer as origens como foram sendo construídos os
preconceitos enfrentados pelos povos indígenas e nossa pesquisa também se propõe a discutir
essas situações.
Referências
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