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necessária?
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Enfermeiro, professor assistente da Escola de Enfermagem - UFBA, doutorando do Instituto
de Saúde Coletiva da UFBA.
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Campo de saberes e âmbito de práticas. Ver (ALMEIDA-FILHO; PAIM, 2014).
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“O Observatório de Análise Política em Saúde (OAPS) está vinculado ao Projeto Análise de
Políticas de Saúde no Brasil (2003-2017) apoiado pelo CNPq e Ministério da Saúde (Chamada MCTI /
CNPq / CT-Saúde / MS / SCTIE / Decit N º 41/2013), conformado por uma rede de pesquisadores
inseridos em diversas instituições de ensino e pesquisa da área da saúde e afins envolvidas com a
produção de conhecimento crítico na área de Políticas de Saúde” (ISC, 2018, não paginado).
Naquele relatório, Esperidião (2017) apresenta uma importante revisão das
publicações sobre a temática, considerando os últimos 5 anos, evidenciando que:
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“Essa opção por distinguir análise de políticas e análise política em saúde foi apresentada em
mesa-redonda do 2º Congresso de Política, Planejamento e Gestão […] inspirada em Burawoy”
(PAIM, 2015, p. 282, grifo nosso).
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Em referência às perspectivas teóricas norte-americanas e europeias das ciências políticas,
economia e sociologia que focalizam governos, instituições e atores. Ver (PAIM, 2015).
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Intelectual cujo pensamento tem sido fundamental para conformação da área de PPGS no
âmbito da Saúde Coletiva, contribuindo para a construção do pensamento crítico no campo da saúde
no continente latino-americano nos últimos 50 anos (TEIXEIRA, 2015).
especificamente com a sociedade civil7:
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“Eu proponho que a sua unidade [da sociologia enquanto disciplina] é definida por um ‘ponto
de vista’ — o ponto de vista da sociedade civil, melhor dizendo, os diversos pontos de vista da
sociedade civil, uma vez que ela está longe de ser uma entidade unificada e homogênea. A sociedade
civil foi uma criação congênere do capitalismo, emergida para proteger a comunidade humana da
tirania do mercado” (BURAWOY, 2008, p. 35).
Esses três períodos da sociologia [sociologia utópica, sociologia
para políticas públicas e sociologia pública] não deveriam ser
vistos como separados e desconexos. Formados em resposta à
mercantilização, eles também se desenvolveram dialeticamente.
Se as sociologias profissional e para políticas públicas
repudiaram a sociologia utópica, agora, a sociologia pública
combina a postura valorativa (tão central a essa última) com o
engajamento disciplinado (próprio das duas primeiras) (id., id.,
p. 39, grifos meus).
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O campo da Saúde Coletiva inicia sua constituição com o processo da RSB. Ver Paim (2008).
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Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal,
fixando limites individualizados para as despesas primárias ao valor do limite referente ao exercício
imediatamente anterior, corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -
IPCA, que assim, passa a ficar congeladas por 20 anos (BRASIL, 2016).
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Intelectual orgânico da RSB. Ver Paim (2008)
desmontes de políticas e programas à revelia dos posicionamentos contrários de
entidades acadêmicas, pesquisadores e movimentos sociais, destacando os
processos relativos à nova portaria da Política Nacional de Atenção Básica (OAPS,
2017) e às novas diretrizes para o “Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS)” (OAPS, 2018, p. 01).
Adicione-se a esse cenário aquelas relações “onde os olhos não alcançam”
(PAIM, 2018, não paginado). Numa “conversa” sobre os 30 anos do SUS, Paim
(2018) comenta que o processo de revolução passiva, que condicionou e agora limita
a implantação do SUS11, também favoreceu o desenvolvimento da expansão do
capital na saúde do Brasil, chegando hoje a formas muito mais complexas daquelas
que começaram a ser analisadas na década de 1970. Em estudo publicado
recentemente, Sestelo et al. (2017) postulam que a dominância financeira que
caracteriza a mais recente onda de expansão do capital, conformando o regime
global de produção e acumulação de riqueza, se expressa na saúde, pelo
aprofundamento da financeirização, de forma que “essa nova configuração debilita
abordagens restritas ao orçamento público e ao papel do Estado […]” (SESTELO et
al., 2017, p. 1099). E ainda recomendam:
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Ver (PAIM, 2008)
considerar que a “análise política em saúde” representaria um retorno às origens do
comprometimento moral da produção em Saúde Coletiva com a ideia e o projeto da
Reforma Sanitária Brasileira12. Dessa síntese, articulada àquela referência ao real
sumarizada acima, pela forma e desenvolvimento da expansão do capital na área da
saúde no Brasil, poderíamos parafrasear o sociólogo inglês, afirmando que a onda da
dominância financeira torna, unindo “valoração” e “engajamento disciplinado”, a
“análise política em saúde” necessária.
Finalmente, assim colocada a noção de “análise política em saúde” na
relação com a produção científica e a questão da “rarefação” na área de PPGS
(enquanto hipotética substância pouco presente, ao mesmo tempo, necessidade
estratégica), cabe então concluir (re)situando nosso arcabouço latino-americano do
pensamento estratégico em saúde. Retomando fundamentalmente o estudo de
Federico (2015), podemos reafirmar que reunimos potente arsenal de categorias para
analisar densamente relações densas como, por exemplo, as “diversas dimensões do
poder e as relações estabelecidas entre papel do Estado, propósitos do governo, as
organizações, a constituição de sujeitos e a história” (PAIM, 2015, p. 283) a partir do
pensamento orgânico, portanto vivo e inacabado, de Mário Testa. Em sua produção
se registram caminhos para “aprofundadas análises sobre os conceitos operacionais,
mas com a constante preocupação em demonstrar a relação com as categorias
analíticas e como essa compreensão dialética tem impactos na práxis sociossanitária”
(VIRGENS, 2017b, p. 2084).
Para quem chegou até aqui, espero que tenha valido a leitura,
minimamente como provocação a um debate antigo, todavia contemporâneo e caro à
área de PPGS, geneticamente comprometida com a ação.
Referências
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Ver (PAIM, 2008)
ALMEIDA-FILHO, Naomar De; PAIM, Jairnilson Silva. Saúde Coletiva com Campo
de Saberes e de Práticas: abordagens e perspectivas. In: PAIM, JAIRNILSON
SILVA; ALMEIDA-FILHO, NAOMAR DE (Org.). Saúde Coletiva: teoria e prática. 1a
ed. Rio de Janeiro, RJ: MedBook, 2014. p. 41–45.
PAIM, Jairnilson Silva. Jairnilson Paim: uma leitura sobre os 30 anos do SUS - Outra
Saúde. Outra Saúde, 2018. Disponível em:
<http://outraspalavras.net/outrasaude/2018/03/22/jairnilson-paim-uma-leitura-sobre-
os-30-anos-do-sus/>. Acesso em: 6 abr. 2018.