Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
CURITIBA
2018
PIBID LETRAS-PORTUGUÊS: UMA PROPOSTA MULTIMODAL SOBRE
LINGUAGEM E IMAGEM - SEMIÓTICA E INTERACIONISMO
_________________________________
¹ Graduanda de Letras - Português, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
² Graduanda de Letras - Português, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
³ Graduanda de Letras - Português, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
4 Graduanda de Letras - Português, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
INTRODUÇÃO
Logo em seguida aparecem seus filhos (apenas os homens) passando por ela,
despedindo-se e pedindo sua bênção (a música então retorna à uma leveza, nos
indicando que há conforto para Maria José, em sua família, ao menos). Aos 5:24
(tempo do vídeo na página oficial do YouTube), logo após a cena dos filhos, é possível
ver seu cenho levantado e não franzido como já vinha ficando a algum tempo, nos
causando uma sensação de que ela está pensando, refletindo sobre algo – essa
sequência de informações imagéticas é de extrema importância, pois se analisado
todo o contexto do vídeo, e se considerado que seus filhos (por serem homens) estão
indo para a escola, pode-se dizer que ela possivelmente está refletindo na
possibilidade de ter podido frequentar a escola e, quem sabe, ter tido uma vida
diferente daquela. Essa possibilidade se dá pelo fato de que logo depois dessa
pequena pausa de reflexão, ela chacoalha a cabeça negativamente e franze
novamente o semblante como quem se repreende por estar pensando em algo tão
sem cabimento e até mesmo, tão audacioso. E ela segue resignada e frustrada.
Logo depois, então, começa a chamar sua filha, Maria de Lourdes, que se
encontra, assim como ela no início do vídeo, escrevendo seu nome naquele mesmo
caderno, naquela mesma janela. Assim, a história se repete e Maria José censura sua
filha, Maria de Lourdes, por estar usando seu tempo criando expectativas e
esperanças que não cabem à sua realidade. Atrás, o enterro de sua mãe, que morreu
guiada por essa mesma vida de frustração e amargura diante de uma realidade difícil
de mudar, diante das circunstâncias sociais e regionais do Ceará. O vídeo por fim,
termina com Maria de Lourdes revivendo a mesma história, tirando água do poço,
quando o vento bate sobre o caderno e vê-se as páginas virando com vários nomes de
Marias (Maria de Fátima, Maria das Dores, Maria da Conceição, Maria do Carmo),
indicando que a história vem se repetindo a gerações.
Retomando a visão de Vigotski a respeito do interacionismo, passando pelos
pontos mencionados no início do trabalho, percebe-se claramente que o
desenvolvimento da linguagem de Maria José (aqui pode-se considerar linguagem
como comportamento, uma vez que no vídeo quase não há falas, e as que existem,
seguem esse padrão de espelho) se dá pelas trocas comunicativas com a sua mãe,
que pelo que mostra o vídeo, acaba sendo uma das poucas referências que ela tem.
Essas estruturas construídas socialmente se internalizam – como já mencionado – e
Maria José passa então a acreditar (internalizar) e propagar a ideia de que a educação
não leva a lugar algum. Desconsiderando alguns pontos referentes à construção da
fala, mas levando em conta o quinto tópico sobre internalização, Vigotski alega que ela
ocorre por meio da mediação, assim como acontece no diálogo; isto é, esse ciclo de
Vida Maria acontece porque o discurso se repete, e este se repete por conta da
internalização (a criança se conforma em acreditar que aquilo é de fato daquela
maneira e não há outra alternativa), principalmente porque a apropriação é feita pela
fala à qual a criança está exposta, e o meio externo também contribui muito para isso,
por conta da mediação entre a criança e sua ação com o mundo.
VIDA MARIA: Uma proposta em sala de aula.
DELL’ISOLA, Regina Lúcia: Péret NOS DOMÍNIOS DOS GÊNEROS TEXTUAIS V.2 -
Belo Horizonte, 2009. Pág. 53-70.