Sunteți pe pagina 1din 7

A ordem da concupiscência e a grandeza do homem em Pascal

Luiz Roberto Zanotti- manhã


Prof. Maria Isabel- Ética I

1. Introdução

Pascal foi por muito tempo tido como um filósofo ligado à religião e mais particularmente
ao Cristianismo, porém esta interpretação teve uma reviravolta a partir da publicação de
“Deus escondido” de Lucien Goldmann, fazendo com que seu livro “Os pensamentos”
deixasse de ser simplesmente uma publicação religiosa para revelar seu projeto ontológico
e antropológico.

2. O divertimento e o repouso

Um dos seus temas mais famosos “o divertimento” nos dá privilegiadamente o percurso


seguido por Pascal no seu pensamento filosófico.
Num primeiro momento, Pascal discorre sobre os objetivos colocados para o ser humano
desde sua infância como a posição social, a cultura, a fortuna, etc., trazendo com
conseqüência uma enorme atribuição de encargos e negócios desde que o homem se
encontra na infância.
Pascal, nesta reflexão do primeiro momento, pensa que uma forma de tornar o ser humano
feliz seria deixar os homens em repouso num quarto, longe destas obrigações e metas.
Porém, a partir de um segundo momento, como podemos constatar no fragmento a seguir,
Pascal revisa este pensamento ao verificar que os homens têm razão para não ficarem
quietos, pois eles pressentem que ficariam frente a frente com o nada e os filósofos não
percebem a necessidade do homem de desviar a sua atenção evitando pensar em si mesmo.

Filósofos.
Estamos cheios de coisas que nos projetam para fora.

1
O nosso instinto faz-nos sentir que é preciso buscar a nossa felicidade fora de nós. As
nossas paixões nos empurram para fora, mesmo quando os objetos não se oferecem
para excitá-las. Os objetos exteriores nos tentam por si mesmos e exercem um apelo
sobre nós, ainda que não pensemos neles. E assim não adianta os filósofos dizerem:
entrai dentro de vós mesmos, aí encontrareis o vosso bem; se não acredita neles, e
aqueles que acreditam são os mais vazios e mais tolos.(Pascal, 2001, fr143/464).

Assim, todo divertimento é preferível ao repouso, neste vale de lagrimas que é a vida, pois
é impossível ao homem permanecer em repouso, porque neste caso, ele meditaria sobre a
infelicidade da sua condição e a morte que o espreita, e como esse pensamento é tão
insuportável, é necessário fugir do mesmo e lançar-se a alguma atividade para preencher
este vazio.
Esta necessidade do preenchimento do vazio da existência, Pascal exemplifica de maneira
soberba no caso do jogador que tem seu pensamento desviado para o jogo com o objetivo
do lucro pecuniário, mas Pascal argumenta que se alguém que lhe oferecesse o valor
provável de seu ganho com a promessa de que ele não jogasse, ele provavelmente recusaria
o dinheiro, pois não se abandona tão facilmente o jogo, tido como uma das atividades para
preencher o “buraco” da vida. Disto pode-se então dizer que:

(...) a atividade dos homens é ordenada em função de uma dupla finalidade: a


finalidade sem fim e a finalidade interessada. (Lebrun, 1983, 18).

Assim, a pratica do ócio dos latinos está ultrapassada por esta pratica na busca insaciável do
que Pascal chama de concupiscência.
Finalmente, num terceiro momento Pascal vai atentar para o fato que o ser humano esta
mais perto de saber que não vivem mais dentro da “primeira natureza”, porém como este
pensamento esta recalcado, acaba por gerar uma dicotomia onde o homem acredita buscar
sinceramente o repouso, quando na realidade buscam apenas a agitação.
No segundo discurso presente em “Três discursos sobre a condição dos poderosos”, Pascal
apresenta as grandezas presentes no mundo.

2
Há no mundo duas espécies de grandezas: grandezas de estabelecimento e grandezas
naturais. As grandezas de estabelecimento dependem da vontade dos homens, que
julgaram com razão dever honrar certas posições e associar a elas certos respeitos.
(Pascal, 1994, 83).

Na grandeza de estabelecimento encontram-se a dignidade e a nobreza, estas qualidades


estão associadas às normas sociais estabelecidas e aspectos culturais de um povo. Esta
ordem estabelece as leis, regras, valores a serem compartilhados pela sociedade.

As grandezas naturais são aquelas independentes da fantasia dos homens, porque


consistem em qualidades reais e efetivas da alma ou do corpo, que torna ambos
estimáveis, como as ciências, a luz do espírito, a virtude, a saúde, a força. (Pascal
1994,84).

As duas grandezas devem ser respeitadas. Mas, no entanto, o fato de serem de naturezas
diferentes deve ser observado para que sejam respeitadas de formas diferentes. As
grandezas de estabelecimento devem ser respeitadas sendo que as honrarias prestadas aos
reis, por exemplo, devem ser reconhecidas dentro da justiça dessa ordem e não como
qualidades naturais. As qualidades naturais, por sua vez, devem ser estimadas de tal forma
que o rei honrado só deverá ser estimado se possuir qualidades de homem de bem. Caso
contrário, as devidas cerimônias deverão ser prestadas, mas o desprezo interior não poderá
ser evitado.
A grandeza natural possui um duplo significado na existência humana, que advém da nossa
origem divina e do nosso posterior retorno à Deus, e na nossa miséria resultante do pecado
original, do que chamaremos de “queda”, que aconteceu quando a soberba do homem
quebrou a harmonia que deveria caracterizar a relação entre ele e Deus. A grandeza relativa
à nossa origem divina faz com que nos reconheçamos como seres decaídos da graça divina.
Para compreendermos o ser humano é necessário que se relacionem duas verdades
contraditórias: grandeza e miséria.
Estes duas verdades contraditórias aparecem nas obras de Epíteto e Montaigne, com o
primeiro reconhecendo no homem, uma grandeza de condição, pois ignora a corrupção da

3
natureza enquanto Montaigne assumiu a miséria presente no homem, sem levar em conta
sua primeira dignidade.
A forma encontrada por Pascal para harmonizar esta contrariedade, que obviamente não
pode ser justaposta, numa Natureza dada como única, é distinguir:

“uma natura integra (antes da Queda) e uma natura lapsa (depois da queda)”.(Lebrun,
1983, 75).

Assim, esta antinomia entre uma grandeza e uma fraqueza da Natureza é resolvida pela fé
que coloca estas características em sujeitos diferentes: tudo o que há de enfermo pertence à
Natureza, tudo que há de poderoso pertence à Graça.

3. A ordem da concupiscência

Esta “queda” fez com que o homem começasse a ser “regido” pela concupiscência, é
apresentada por Pascal, a partir do conceito das ordens, como inscrita na ordem do carne,
ordem esta onde se encontra os ricos e poderosos e que têm por objeto o corpo; Pascal
apresenta ainda, a ordem do espírito com os homens cultos na busca do objeto de suas
curiosidade; e finalmente, a ordem da vontade, também chamada de caridade, com os
sábios que têm por objeto a justiça e a virtude.
Assim as ordens de grandeza para Pascal são três: corpo, espírito e vontade, com a ordem
do corpo ligada aos reis e à concupiscência, a ordem do espírito se referindo ao desejo de
eficiência do homem, muitas vezes cientista em somar potencias, fazer maquinas, apaziguar
a sua curiosidade e finalmente a ordem da vontade que se refere ao orgulho pelo amor a
Deus, à ordem da caridade e à grandeza da justiça, que o apóstolo São Paulo apresenta no
conceito de justiça onde o justo é aquele que tem a lei no coração.
É interessante, que o orgulho não esteja nem na ordem do corpo, nem do espírito, e sim no
movimento da justiça que se encontra na virtude.
Desta forma, as grandezas da vontade não significam nada para os que se entregam às
coisas do espírito, que por sua vez, são invisíveis aos olhos dos ricos, que são os poderosos
da carne, deixando claro que a grandeza da sabedoria, que só pertence a Deus, é invisível

4
aos carnais e às pessoas de espírito. Há aqueles que só admiram as grandezas carnais, como
se não houvesse as espirituais; e os que só admiram as espirituais, como se não houvesse
outras infinitamente mais altas.

É a concupiscência que faz sua força, isto é, a posse das coisas que a cupidez dos
homens deseja. (Pascal, 1994, 88).

No terceiro discurso, Pascal fala de todos os reis da Terra, são os reis da concupiscência,
este amor que os homens têm pelas coisas terrenas e passageiras que tiveram a sua origem
no pecado, nesta troca dos bens materiais pelo amor divino de Deus.
Assim, é a concupiscência que faz a força do rei, pois é apenas a posse das coisas que a
cobiça do homem deseja. Sendo assim, os reis terrenos são apenas reis da concupiscência já
que não são a força nem o poder natural que fazem com que as pessoas se submetam a ele,
mas a cobiça dos bens da concupiscência. Enquanto Deus está cercado de pessoas cheias de
caridade, que cobiçam os bens da caridade que estão em poder de Deus.
Aqui a concupiscência aparece como um princípio da submissão, ao qual os homens se
deixam submeter para obterem vantagens materiais.

(...) Onde está então esse eu, se não está no corpo, nem na alma e como amar o corpo
ou a alma, senão por essas qualidades que não são o que fazem o eu, pois são
perecíveis (...).(Pascal, 2001, fr688/323).

Pois o amor tem que ser a Deus, sem ele ninguém consegue ser feliz, e como já vimos na
historia do jogador, existe um imenso abismo entre o desejo e a felicidade, que é
apresentada como sendo o repouso, com a vontade na sua eterna busca de novos objetivos.

Vontade que, segundo Pascal, atuava na ordem da caridade, mas a partir da “queda” passou
a operar na ordem do corpo, na ordem da concupiscência. Apresentando-se num movimento
mecânico onde nada tem tendência para nada, os corpos agora dependem de causas
externas fazendo com que esta vontade agora mecanizada se dirija a outros objetivos que
não o amor a Deus. Nesta queda, ao passar a operar em outra ordem, a vontade passa a

5
operar de um modo impróprio de forma que perde toda a sua dinâmica, passando a operar
de uma forma mecânica.

Pois não devemos nos enganar, somos autômatos tanto quanto o espírito. Daí decorre
que o instrumento pelo qual se faz a persuasão não é a demonstração apenas. (...) Ele
inclina o autômato que carrega a mente sem que ela pense nisto.(Pascal, 2001,
fr821/252).

Assim, a vontade muda de natureza, mecaniza-se, num claro rebaixamento do espírito, o


espírito perde a sua função e é carregado sem pensar pelo corpo, por uma vontade mecânica
que se inscreveu na ordem do corpo.
A partir desta “queda”, a verdade é perdida pelo espírito, sendo substituída pela crença
gerada num processo de repetição que vai ter como resultado o costume. A justiça agora é o
costume presente.
Esta vontade mecanizada, que é determinada pela imaginação, é que vai regular a ordem
social e política. Neste modo de pensar, Pascal descobre que a economia ganhou autonomia
em relação à moral, sendo que a ordem política mecânica, esta inscrita na ordem da
concupiscência, ou seja, a ordem da concupiscência se confunde com a ordem social e
política, pois esta ordem social e política não precisa mais ser moral. A ordem política é
uma ordem enquanto política, definida pelo emprego da força e não deve se justificar por
uma ordem moral. Assim, a ordem social e política não é instituída pela virtude e sim
maquinalmente.

4. A grandeza do homem

Grandeza
As razões dos efeitos marcam a grandeza do homem por ter retirado da
concupiscência uma tão bela ordem. (Pascal, 2001, fr 106/403).

Neste fragmento demonstra-se que apesar da “queda” o homem conseguiu retirar a


grandeza da própria concupiscência, retirou dela um regulamento admirável e fez em

6
conseqüência um quadro de caridade, ou seja, as razões dos efeitos da grandeza do homem
fazem que, apesar dele estar na ordem do corpo, ele tenha resquícios, desejos de caridade,
que é uma ordem infinitamente mais elevada.
Então, ele reconhece a miséria da existência e busca falar em nome da justiça, mas a sua
grandeza, já que ele não pode mais ser avaliado pelos valores morais, está na forma como
ele julga os outros homens, pois não há mais lugar na virtude, no agir bem e sim no julgar
bem, no discernir bem.Este julgamento do julgar acaba permanecendo como um valor
moral que possibilita a grandeza do homem em meio à concupiscência.
Este bom juízo faz com que o modo de ver passe por uma remissão pela transcendência e
permite ao homem ver o mundo como sendo realmente da concupiscência, e não da
caridade, que como já vimos não pode ser desvelada. Portanto o virtuoso agora é aquele
que tem a capacidade de julgar bem, ou seja, aquele que busca agir de uma forma melhor.
Enfim, como diz Leopoldo e Silva ao analisar a obra de Pascal:

“O homem é um ser paradoxal que pelo lado da grandeza se supera (“ o homem


ultrapassa infinitamente o homem “) mas essa superação se constitui em outro
paradoxo, pois o que deveria ser atingido por ela está irremediavelmente
comprometido pela distancia que separa o homem de Deus”.(Leopoldo e Silva, 2002,
355).

5. Bibliografia

LEBRUN, G. - “Pascal”, Brasiliense, 1983


LEOPOLDO E SILVA, F – “Pascal: Condição trágica e liberdade” in: Cadernos de Historia
e Filosofia da Ciência, série 3, v.12, 2002.
PASCAL, B. - “Pensamentos sobre a política”, Martins Fonte, 1994.
PASCAL, B. - “Pensamentos”, Martins Fontes, 2001.

S-ar putea să vă placă și