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Clarissa Grassi
Ainda que tenha adotado diferentes formas de lidar com a finitude ao longo do tempo, o
ser humano continua sendo o único animal que tem necessidade de ocultar o cadáver.
Seja pela inumação, cremação ou até práticas de canibalismo, modalidades diversas de
enterramento e dispositivos funerários criados revelam e acompanham mudanças
significativas em diferentes formas de se lidar com a morte e o morto.
Partindo de uma visão do cemitério como fonte histórica, Bellomo (2000) aponta várias
possibilidades de estudo do tema, como: formação étnica, genealogia, memória familiar
e da comunidade, crenças religiosas, ideologia política, gosto artístico, evolução
econômica, perspectiva de vida e posição da população em relação à morte.
O ofício dos marmoristas italianos na cidade de Ribeirão Preto/SP, assim como sua
produção escultórica entre os anos de 1890 e 1930, foi tema do estudo de Maria Elizia
Borges (1991; 2002). Tânia Andrade de Lima (1994) analisou sob o enfoque da arqueologia
o processo de implantação dos valores burgueses a partir dos cemitérios oitocentistas no
Rio de Janeiro, analisando jazigos e adornos. Ela e Harry Rodrigues Bellomo (1998), que
se dedicou a analisar a estatuária fúnebre de Porto Alegre/RS, são considerados pioneiros
nos estudos da arte tumular.
Ainda que inicialmente muitos estudos tenham abarcado em uma mesma análise arte e
arquitetura tumular, o aprofundamento das temáticas colaborou para que se tornassem
linhas independentes de pesquisa. A arquitetura tumular passou a realizar a análise
tipológica das construções, assim como seus referenciais arquitetônicos, possibilitando
compreender as influências sofridas pelos programas arquitetônicos como o da cidade e
das edificações sacras.
Para além da monumentalização dos cemitérios ao longo do século XX, temas, como o
processo de secularização desses espaços, passaram a ser privilegiados. O trabalho de
Claudia Rodrigues (2005), “Nas fronteiras do além: a secularização da morte no Rio de
Janeiro”, aborda o processo da perda de controle da igreja sobre a morte e a posterior
secularização dos cemitérios cariocas. O tema da dessacralização da morte também foi
abordado por Alcineia Rodrigues dos Santos (2011), que estudou a relação da população
da região do Seridó/RN com a ocorrência de surtos epidêmicos na metade do século XIX.
As mudanças nas práticas fúnebres durante as primeiras décadas do século XX, que a
Irmandade de São Miguel e Almas, em Porto Alegre/RS, adotou, foram tema do estudo de
Mauro Dillmann (2013), que também abordou a busca de distinção social das famílias
através da construção de túmulos.
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Como citar: GRASSI, Clarissa. Estudos cemiteriais. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA,
Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed.
rev. ampl. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2016. (verbete). ISBN 978-85-
7334-299-4
Clarissa Grassi Mestre em Sociologia (PGSOCIO-Universidade Federal do Paraná - UFPR),
presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC), integra os grupos de
pesquisa do CNPq Imagens da Morte: a morte, os mortos e o morrer no mundo Ibero-
americano (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO), Imagem e
Conhecimento (UFPR) e Núcleo de Estudos do Paraná (UFPR). Especializada em pesquisas
sobre arte e arquitetura tumular.