Material Complementar Aula: 02/08/2007 Ser escravo MATTOSO, Kátia de Queiros. Cap. IV O Africano adapta-se ao Brasil e aos brasileiros
Escravo: condição antiga num mundo novo
Ser escravo: condição (contingência, estar) e não essência Escravidão não é uma determinação da cor negra: escravidão na África Formas de escravidão no continente africano Diferença entre a escravidão praticada pelos africanos na África e a praticada no Brasil: Escravidão na África: o escravo permanece na sua ambiência física, no seu mundo psíquico, na cultura conhecida, conhece o sistema e por isso adapta-se com facilidade à condição servil; servidão patriarcal Escravidão no Brasil: ligada á produção com fins lucrativos; relações de exploração; ressurgimento da forma de exploração servil da antiguidade Questões: o escravo que é também possuidor de escravos será escravo e senhor? Existem várias espécies de escravos? Que tipos de relações sociais se estabelecerão entre as diferentes categorias de escravos? Respostas: fundamentadas a partir da historicidade e do materialismo histórico (condições materiais e afetivas experimentadas num contexto social) No Brasil não houve um modelo único, mas múltiplas formas da condição escrava Do carregamento de escravos à “cabeça” de negro. O escravo reconquista uma personalidade? Viagem ao Brasil: não é um lapso no tempo; possibilitava a constituição de laços de amizade que poderiam se tornar vínculos sólidos dependendo dos arranjos nas fazendas: forma de inserção social “malembos”: amigos de cativeiro, solidariedade verdadeira e obrigações de ajuda mútua Dessocialização: mistura das etnias nas fazendas por precaução e segurança; dispersar a linhagem Negro africano: “capturado” – extraído violentamente de seu meio social e sua cultura e inserido na sociedade escravista Despersonalização: o escravo se torna coisa, objeto, mercadoria Vínculo senhor-escravo: laço unívoco interdita ao escravo qualquer personalidade jurídica e pública, inteiramente entregue ao arbítrio do senhor Ponto de vista jurídico: escravo é “inferior” – justificativa para o sistema escravista Plano psicológico: sobrevivência do negro depende de uma certa “repersonalização”, de uma aceitação de sua posição no corpo social: adaptação, ajustamento em estabelecido com seu novo ambiente Nova personalidade do escravo: criada por essa inserção, numa sociedade dominada por um modelo branco, de homens pretos ainda sob a inspiração e padrões africanos: tensões continuadas Humildade, obediência e fidelidade: qualidades essenciais de conformação do “bom escravo”: vias suaves ou violentas: em geral, o senhor prefere a persuasão à imposição Persuasão de caráter paternalista e patriarcal (intimidade, identificação, integração, manipulação): equilíbrio ou confronto? Apesar da intimidade, o mundo dos senhores e o dos escravos continuam cultural e socialmente separados, antagônicos, confrontando-se. Equilíbrio precário: recurso à violência e à repressão Adaptação da mão-de-obra obediente e humilde é uma forma sutil e eficaz de resistência Violência preventiva: reduzir o escravo à obediência e à humildade pela legaldade e religião Jogo dialético entre adaptação e inadaptação, ressocialização ou ressitência: influência dos escravos mais antigos ao africano recém chegado: problema da língua e da religião Dupla aceitação: a do grupo e a do escravo: o africano necessita sobretudo ser aceito pelo seu grupo: referencial em relação à sociedade branca e à negra Crioulos: negros nascidos no Brasil – maior necessidade de serem assimilados pela sociedade: no limite; objeto de contradições irredutíveis entre brancos e negros Africanos: forjaram pela necessidade, uma cultura nova, uma resposta original e viva às questões apresentadas por uma adaptação difícil ao novo meio em que foram inseridos Dupla aceitação ou aprendizado: ajustamento tácito ao modelo branco numa tensão que busca, ao mesmo tempo, imitar o modelo branco e manter a tradição africana Obedecer? Necessidade de obediência para o escravo e de se fazer obedecer, para o senhor. Caráter da obediência: dependerá dos parceiros, do trabalho requerido e das condições: diferença entre escravos da cidade, das minas, do campo Obediência como meio de sobrevivência e de resistência: estratégia para subir na escala social e para recriar seu mundo destruído Triplo aprendizado antes de colher os resultados da aparente docilidade: aprender a língua do senhor, a rezar ao Deus cristão e saber realizar um trabalho útil. Compreender, orar, trabalhar Adaptação através do idioma, da oração e do trabalho é dupla: em relação à comunidade negra e à branca Problema da linguagem: o senhor se contenta em ser entendido Questão religiosa: apoio da Igreja à sociedade escravista para ensinar as virtudes da paciência e da humildade: escravos aprendem apenas as exterioridades da religião (obediência e humildade na vida de trabalho e o vocabulário religioso) sem qualquer contato com a doutrina cristã: sincretismo Aprender a trabalhar bem: o que mais importa e significas submeter-se à disciplina do grupo Funções representativas: o padre substitui o senhor na função educativa e religiosa; o feitor na organização do trabalho e no controle Castigos corporais: manter a ordem através do exemplo: persuasão? Quem sabe quanto valho? Juridicamente: escravo como bem móvel que vale os preços pagos e os cuidados necessários para fazê-lo trabalhar Senhor como empresário: não deixará desvalorizar esse capital indispensável à prosperidade de seu empreendimento Saúde: como nos hábitos de vida e de trabalho o escravo vai ter dificuldade para adaptar-se ao Brasil e aos brasileiros
Entre As Ruínas Da Ferrovia Bahia-Minas e Os Vestígios Do Rio Gravatá: A Construção Da Identidade Territorial Através Do Mapa Da Memória Com Camponeses Da Comunidade Alfredo Graça - Araçuaí-Mg