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Créditos

Escritores: Jefferson Neves e Rafão Araújo


Sistema: Pedro Borges
Editor: Jorge Valpaços
Diagramação: Igor Moreno e Diego Bernard
Revisão: Lampião Game Studio
Design de Capa: Dan Ramos

Artistas
Berto Souza, Thiago Motta, Harijan, Bruno Prosaiko, Andrej Braga,
Gustave Doré e The Forge Studios com Maciej Zagorski e Pawel Dobosz,
Alexandre Rabelo.

Publicado pela New Order Editora, de Anesio Vargas Junior e Alexandre “Manjuba” Seba.
Julho de 2018
Todos os direitos desta edição reservados à New Order Editora.

Rua Laureano Rosa, 131, Bairro Alcântara - São Gonçalo - RJ


Cep:24710-350
Fone: (21) 97045:4764

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Sumário
Tomo I ..............................................................................................16
O Conto dos Anos ....................................................................18
Os povos de Belregard ...........................................................43
A Vida em Belregard ..............................................................57
Tomo II ..........................................................................................100
O Mundo Natural ..................................................................103
Belghor .......................................................................................115
Brandevir ...................................................................................123
Dalanor ......................................................................................131
Latza ...........................................................................................141
Parlouma ...................................................................................149
Varning .......................................................................................157
Viha ..............................................................................................165
Virka ............................................................................................173
Vlakir ..........................................................................................181
Principados de Rastov .........................................................187
Tomo III .........................................................................................196
Titereiros e Títeres .................................................................203
Um Mundo de Mentiras .....................................................223
Inominatus ...............................................................................239
Tomo IV ......................................................................................265
Sacrum Codex ........................................................................265
Sistema de Regras .................................................................299
Galeria dos Condenados ....................................................359
Lista de Apoiadores .............................................................375
INTRODUÇÃO
“Come on you outlaws, come on with me,
To the greenwoods of Belregard, when men can live free.
Trees, wild animals and the cool of the shade,
Far from the court, where the laws are made.”
The Outlaw’s Song

Se tu abriste este livro deves ter alguma ideia do do império romano. É um lugar escuro, envolto por
que se trata. Estou certo? Não? Deverias saber que uma era de trevas e ignorância, onde a única salva-
nem sempre a fortuna é reservada às almas curio- ção da humanidade parece residir na fé, no Tribunal
sas, neófito. Em todo caso, tem isto como um aviso do Supremo Ofício, aos homens santos que inter-
claro e direto: fecha este tomo e volta para a segu- pretam as misteriosas parábolas do Criador, o Deus
rança de teu lar. Finje que nunca viste tais carac- Pai.
teres e ignora o sussurro da Sombra ao pé de teu
ouvido nas noites que se seguirem... No entanto, os Neste livro, tu encontrarás todas as informações
descaminhos da glória e da derrota se abrem para que precisas para começar a jogar Belregard RPG.
aqueles que são ousados o bastante para dar o pri- Apresentaremos nele o ambiente deste mundo som-
meiro passo. Isso, tu já fizeste. Continua, se julgares brio, povos, culturas, lugares malditos e refúgios
prudente, atreve-te a flertar com a maldade que se sagrados. Como todo jogo, Belregard RPG também
esconde no teu coração, ou te consideras um santo? possui regras, que são simples e de fácil aprendiza-
Não sejas tolo, todos nós ouvimos a voz sedutora, gem, servindo para simular a abordagem verossímil
sussurrando todas as doces mentiras que desejamos deste jogo. O que tu vais precisar, além do livro, é
ouvir, especialmente quando estamos sozinhos com de alguns dados simples de seis faces e um grupo
nossos sonhos. Pois esta é a Sombra Viva, nos dan- de amigos com coragem o bastante para olhar nos
do o que desejamos, Ela é aquela que está quando olhos da Escuridão e não titubear.
não existe nada, aquela que tu escutas no silêncio e
No decorrer desta introdução, iremos te apresen-
vê no escuro. Permite a ti sorrir e abraça a causa do
tar os principais elementos de Belregard RPG: sua
pecado voluntário.
atmosfera, proposta e ferramentas utilizadas para
cumprir o papel pretendido. Tem cautela, certifica-te
Belregard é um RPG, um jogo onde os jogadores
de não manter nenhum esqueleto em teu armário,
interpretam personagens e vivenciam histórias de
limpa a alma e aceita-te como um ser de falhas e
horror em um cenário medieval cru e brutal, à ima-
pecados. Não deixas a Sombra te derrotar tão facil-
gem do que foi a idade média europeia após a queda
mente.
Entendendo Belregard dela, com seu “chafurdar na escatologia e sadismo”
Você certamente percebeu a imagem que abre nos ajuda a alimentar a imaginação e não podemos
esta introdução. Trata-se de uma obra de Gusvate nos esquecer de Robert E. Howard e, até mesmo, H.
Doré, do Idylls of King. Logo, não é uma obra origi- P. Lovecraft. O horror obsceno de Clive Barker pode
nal, mas serve para ilustrar a introdução. Não é exa- colocar algumas boas ideias ao lidar com o sobrena-
gero dizer que esta obra em particular foi uma das tural de Belregard e a vida cotidiana pode ser senti-
maiores influências visuais para o jogo, então fica o da em livros como Os Pilares da Terra de Ken Follett.
convite para “respirar um pouco de Doré” na com-
preensão do que queremos passar com Belregard. A magia em Belregard é sutil, não vindo na for-
ma do controle dos elementos, mas sim como uma
Este cenário se difere um pouco dos mais tradicio- ritualística sombria e perigosa. Este não é também
nais em sua abordagem. Em Belregard não existem um jogo com apenas um rosto, mas sim multiface-
raças não-humanas ou mesmo uma atmosfera mági- tado, carregando a responsabilidade de lhe permitir
ca exacerbada. Belregard contou com uma pesquisa os mais variados tipos de jogos, sempre carregando
histórica para ter seus meandros determinados e al- essa aura opressiva e sombria que a ambientação
guns livros de autores consagrados ajudaram a dar pede. Livra-te de conceitos pré estabelecidos e per-
coesão à sociedade e ao meio de vida deste povo. mite a ti mesmo explorar este ambiente sinistro e
Nomes como Marc Bloch, Jacques Le Goff, Michel assolador.
Pastoureau, entre outros, emprestaram suas teorias
e ideias para que fosse possível explicar sobre estas Conceitos
pessoas e seus comportamentos da melhor maneira. Magia: Ela não existe da forma como muitos
Apesar disso, é preciso advertir que Belregard NÃO podem imaginar. Não existem conjuradores capa-
É A EUROPA. Por mais que existam evidentes se- zes de controlar forças primordiais e criar incríveis
melhanças, muitos detalhes, costumes e comporta- efeitos destrutivos. A única magia, manipulada por
mentos foram misturados, ignorados ou inventados homens, uma vez conhecida em Belregard vinha da
para que este fosse, de fato, um cenário de fantasia adoração ao Único e mesmo esta desapareceu. Ape-
medieval e não uma recriação falha da Europa me- sar disso, ela ainda existe. Belregard é um mundo
dieval histórica. de magia inata, uma magia que existe na própria
terra, colocada pelo Criador no início dos tempos
As influências literárias de Belregard podem pare- para que a natureza tomasse ordem e tivesse senti-
cer óbvias, mas valem ser citadas para referências de do. Muitos fiéis não querem admitir, mas os cultos
outros que queiram se inspirar e pegar um pouco do primordiais, aqueles que servem à Horda, possuem
clima deste cenário. Por se tratar de algo um pouco ritos sangrentos, nefandos e maquiavélicos. Com ou
mais denso, pesado e maduro, penso que romances sem o consentimento, esta bruxaria é real e seu po-
históricos são um ótimo pedido para mostrar certas der foi sentido ao longo da história, por mais que o
abordagens ao cenário medieval precário. Bernard Tribunal negue isso.
Cornwell certamente te emprestarias ótimas ideias,
assim como Conn Iggulden. Literatura de fantasia Verdade: Ela não existe. Belregard foi escrito
também nos alimentaria muito bem a mente, desde com um conjunto de relatos tendenciosos, que não
o clássico dos clássicos Tolkien até o mais recente, e refletem uma resposta definitiva à maior parte das
aparente sucessor, George R. R. Martin. Leonel Cal- perguntas possivelmente apresentadas. A verdade
pode variar com inúmeros pontos de vista diferentes campanha. É preciso entender que o cenário car-
e isso deve ser lembrado por aqueles que desejam rega o perfil cru, brutal e maduro da idade média;
criar suas estórias aqui. Não existe apenas um cami- um local que inspira fascínio e terror, com castelos
nho para determinado fim. Isso fica claro, ainda, na imponentes e encantadoras damas desdentadas. O
fé que os homens seguem neste jogo. Existem inter- horror é um elemento importante na narrativa de
pretações oficiais para aquilo que o Único deixou de Belregard, seja no simples combate singular em um
ensinamento para os homens, mas nada impede que torneio de cavaleiros, ou na busca por pistas de Sel-
cada um tenha sua própria verdade particular. vagens habitantes dos ermos. O desconhecido é a
maior arma do narrador aqui, podendo usá-lo para
Maniqueísmo: Ele não existe. Este ponto é muito causar todo o tipo de pressão psicológica e física aos
importante, os homens de Belregard não possuem envolvidos em suas narrativas. Teste-se, arrisque-se,
uma única face. Eles não são pretos ou brancos, inove-se. Saia da sua zona de conforto e veja o quão
mas sim cinzentos. Não existem heróis definitivos bom isso pode ser. Caso não lhe agrade, você tem a
ou mesmo vilões irrecuperáveis, e se existem, são vida inteira de jogo para escolher outra coisa.
a mais pura exceção do mundo. A lealdade é uma
moeda muito importante nestas terras onde cada Não fiquemos presos a conceitos pré-determina-
um tem seus próprios interesses ao se envolver em dos de guerreiros e sacerdotes, os personagens de
problemas alheios. Não se deixem enganar e não se Belregard são pessoas, simplesmente pessoas. Se
deixem limitar. Quer que teu igslavo seja festivo e você se sente minimizado ao ser rotulado pela sua
bem humorado como um dalano? Que assim seja. profissão, pense da mesma forma para seu persona-
Homens são homens, para o bem ou para o mal. gem. Use de conceitos e abordagens amplas, faça de
Mesmo os Arautos, que deveriam ser porta vozes do seu personagem algo vivo.
Único, são pessoas errantes e dignas de pena como
qualquer outro indigente de Belregard. Narrando e Jogando Belregard
“Sai da casa de seus irmãos,
Ótica: O mundo é diferente a depender de quem o esquece a estrada do lar de seus conhecidos,
olha. Os arautos enxergam a Sombra e a Mentira em segue para o lugar que te direi…
qualquer lugar. Um nobre enxerga o ouro e poder. Sem hesitar”
Um cavaleiro enxerga perigos e dever. Deste modo - Versículo 3 do Livro dos Caminhos
a narrativa será totalmente diferenciada a depender
dos conceitos escolhidos em jogo. Seu personagem Independente de estar encarnando o papel de
teve contato com pagãos ou presenciou um rito de Narrador ou Jogador, é tua função, teu dever, con-
bruxaria? Ótimo. Costumamos dizer que o mundo tar tuas facetas deste mundo, descrever tuas sensa-
se divide entre a espada, fé e ouro. Esses caminhos ções, repassar aquilo que tua mente imagina... Fazer
se cruzam, mas não se mesclam com facilidade. a narrativa se tornar viva. Em Belregard tu contas
Este fator parece simples, mas fará toda a diferença histórias que usam um elenco não ortodoxo e enges-
em seu jogo. sado, tuas histórias podem variar de personagens,
passando de camponeses, cardeais, Arautos ou xa-
Variedade: Ela existe! Belregard não pretende ser mãs. Logo, quanto mais te dedicares para interpre-
um cenário de único lado. A intenção aqui é propor- tar esses diferentes personagens, mais envolvente
cionar o mais variado tipo de ambientação para uma será teu jogo. Ao redor de dois a cinco jogadores, o
narrador conta sua história como um anfitrião re- reforça a ideia de que não existe uma “gramática
cebendo visitantes. Ele irá introduzir o mundo aos belregardiana” no mundo.
jogadores, e juntos eles irão dar vida a tudo isso. Es-
tas dicas são apenas linhas gerais, no Livro Quatro Livro Um: Testimus Homini
deste tomo apresentaremos os caminhos de forma Este livro foi organizado pelo abade Tullus, que su-
um pouco mais cuidadosa. pervisionou o trabalho de um jovem copista chama-
do Maltus. Além disso, este copista possui um ami-
O narrador é responsável por: go muito próximo, identificado apenas como “P”,
• Fazer descrições vívidas do mundo. com quem parece nutrir um afeto muito forte. O
• Decidir andamento do jogo e agir como um juíz livro foi organizado por ordem de um nobre de Par-
em situações indecisas. louma, Augusto de Borgosa, que desejava afinar seu
• Envolver os personagens dos jogadores na his- próprio saber sobre a história dos homens em louvor
tória. ao Criador. Dessa forma, o trabalho de Maltus foi
• Fazê-los tomar decisões e arcar por elas. organizar conhecimentos antigos, como “Uma Bre-
ve História dos Homens”, escrito por Haskel no sé-
Os jogadores são responsáveis por: culo X, onde traça as linhas da história de Belregard
• Criarem personagens vividos, lógicos e indiví- desde o enaltecimento por Deus no combate contra
duos que tenham sintonia com o mundo do jogo. os bestiais até os dias mais recentes, conta ainda
• Tomarem decisões e estarem prontos para lidar sobre os costumes mais comuns entre os povos. Em
com suas consequencias. seguida se utiliza da obra de Técio de Villa, um es-
• Fazerem o possível para fazer as melhores cenas tudante da Academia do Saber de Varning, contem-
possíveis. porâneo do século XIV, que lançou verbetes sobre a
• Jogarem para contar uma história, seja de vitória vida em Belregard, indo dos sacramentos religiosos
ou fracasso. até questões corriqueiras como alimentação, sexo
e comércio. Através das anotações feitas ao longo
Se fossemos comparar com um carro, o narrador deste livro, é possível perceber a relação entre Mal-
seria o motor e os jogadores seriam o combustível. tus e P, além da linha dura, pulso firme, de Tullus.
Mesmo o melhor motor não serve para nada sem
Livro Dois: Tractatus Terrae
queima. O combustível sem um motor serve apenas
O Tratado da Terra original está perdido. Tratava-se
para queimar em vão. Os dois juntos impulsionam
de um livro contendo os limites de reinos, condados,
uma bela carenagem por lugares lindos, fazendo
ducados, de todas as posses de casas nobres de Bel-
nascer uma história.
regard. Estava em posse do imperador quando Vir-
O que Você Encontrará? ka caiu. Boa parte dos limites se mantiveram, com
O livro está organizado em tomos que dão a vi- um ou outro rompante de conquista surgindo em
são interna do cenário, como contata por alguém castelanias mais caóticas. O Tribunal do Supremo
que vive lá. Apenas o quarto tomo não segue esse Ofício deseja traçar novamente estas linhas, estes
padrão. O leitor perceberá que algumas palavras po- limites, descobrir como o mundo se encontra nesses
dem sofrer mudanças sutis, como uma capitular ou cinquenta anos depois da queda. Esse foi trabalho
uma letra a mais ou a menos. Isso serve para mos- do Enviado Minus, que através de agentes coletou
trar que são mãos distintas escrevendo e também informações sobre a política, cultura e economia
das castelanias de Belregard. Tirou dos textos im- mores são lançados para uso do narrador. São fer-
pressões muito pessoais de seus agentes e compilou ramentas, plots, tramas que ele pode experimentar
para o conhecimento do Eleito, o líder máximo da em Belregard. É onde se conhece a Sombra em sua
fé. Os comentários no Livro Dois ficam por conta de essência, os cultos e práticas pecaminosas.
oradores, um cargo abaixo do Eleito, que certamen-
te leram o livro antes do próprio. É aqui que são tra- Livro Quatro: Sacrum Codex
tadas as regiões de Belregard, cidades, formações Por fim, no último livro, temos as regras. É nesse
de destaque, além de pitacos e sugestões dos rumos livro que saímos do on para o off e falamos direta-
que estas áreas estão pra tomar nos próximos anos. mente contigo, leitor. É onde a adaptação das regras
Mostra-se um mundo dinâmico. para o Crônicas ocorrerá, com novidades, modifica-
ções, para adequar melhor ao cenário, além do re-
Livro Três: Mysterarcanum Mundi sumo que torna possível jogar. Mas a cereja do bolo
Este livro é o mais obscuro, trata-se do estudo fei- são as dicas. Percebemos, ao longo desses anos, que
to por um grupo secreto de Belghor, o Hakam. Aqui muitas vezes é difícil para alguém perceber ou se
são discutidas verdades sobre os Puros que são a encontrar em Belregard. O mundo é grande e cons-
base do Tribunal do Supremo Ofício, mostrando en- tantemente se questiona, “mas como eu jogo? So-
sinamentos destes homens santos que seriam evita- bre o que são as histórias?”. E é exatamente pra
dos, até mesmo negados, pela igreja. É um livro que isso que esse capítulo existe. Bebemos de nossas
fala sobre um seguimento mais puro da própria fé no próprias influências em outros jogos pra ajudar nar-
Criador. É onde tratamos dos Arautos como homens radores a encontrar seu próprio caminho dentro de
e mulheres despertos, capazes de enxergar o mundo Belregard. Além, é claro, de falar bastante sobre o
como ele verdadeiramente é, uma terra envolvida na horror, sobre o terror que são parte fundamental
Sombra, um mundo derrotado. Além disso, o último desse cenário. Como utilizar, como envolver seus
capítulo deste livro trata sobre as páginas negras jogadores nesse clima mais cru e pé no chão.
de segredos reais, é um momento onde lendas e ru-
b Belregard b

A Continuidade do Sangue
— E como ele é, dona? — perguntou a aia, passando a centésima se-
gunda escovada, não que estivesse contando.
— Pegamos todos os detalhes que podíamos do gestor … o que não
é muito. Escolhemos alguém forte e inteligente. Queremos uma criança
que seja tão inteligente quanto as mães dela — respondeu a noiva, pen-
sando com sorriso no futuro que a aguardava.
— Perdoe-me a ousadia, dona, mas eu certamente iria querer ver o
pretendente por completo antes de deitar com ele! — A garota deu uma
risadinha, sabendo que estava próxima de passar dos limites, mas segura
que a sós com sua ama as coisas eram mais tranquilas.
— Aratta, querida, tenho certeza que sim. Mas ele é uma mera fer-
ramenta para o ritual. Não só não podemos ver o rosto, no máximo a cor
da pele e algumas partes do corpo, como não tenho desejo algum de ver
como ele é. O homem será apenas um meio de eu e Runya termos nos-
so bebê, e a relação com um gestor não funciona como você pensa. —
As mãos da recém-adulta passavam entre as várias joias na penteadei-
ra. Era a única coisa que faltava para a cerimônia, mas ela ainda estava
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b O Conto dos Anos b

tentando decidir entre três peças, cada uma com um significado dife-
rente. Celebraria o sangue da sua família? A união sacramentada? Ou
sua chegada à vida adulta com um casamento nobre?
Aratta parou por alguns segundos na escovada seguinte, tentando
raciocinar como um homem de fora serviria como semente para duas
mulheres gerarem seu próprio bebê. — Mas então como acontece,
dona? É algum tipo de feitiço?
Com uma leve risada, a moça tamborilou os dedos por um carís-
simo colar que fora de sua avó. — Não, Aratta querida. O gestor, ou
gestora, é alguém com preparo ritualístico. A semente escolhida é cole-
tada no ato, para garantir que ela tenha saúde e ninguém mais tente
adultera-la ou de outra forma trocá-la. — A moça testou o colar no
pescoço, movimentando seu queixo de forma a ver por outros ângulos
sob a quente luz das velas do quarto. — Ouvi dizer que a parceira ou
parceiro pode participar do processo para que exista prazer na ocasião,
e eu certamente desejo Runya comigo … seu corpo no meu, enquanto o
gestor, com a nossa permissão, insere sua semente dentro de mim. Não
sei que aparato ele irá usar, ou se precisará fazer de outra forma, mas
nosso bebê está garantido e eu não podia estar mais feliz.
Aratta sentiu o rosto enrubescer ao pensar nas duas noivas na sua
noite de núpcias ... ou de geração, ou … esses costumes nobres de re-
giões distantes ainda eram muito estranhos. Não estranhos de forma
ruim, apenas curiosa. E Aratta era certamente muito curiosa.

— … e a garantia de meio ano caso haja falha na gestação. — O


Conselheiro Jugro terminou de resumir o contrato ao duque pela ter-
ceira vez. Contrato uterino, alguns o chamavam. Para ele, era a simples
garantia de que sua linhagem nobre se manteria intacta, e pelo menos
seria com um candidato digno — ele esperava.
— Agradeço, meu caro. Agora nos resta aguardar a chegada dele.
O que o mensageiro disse exatamente? — perguntou o duque, que
andava de um lado para o outro na frente do seu trono.

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b Belregard b

— “A chegada se dará garantidamente dentro dos últimos sinos do


dia”, de acordo com a mensagem, meu duque. Ainda há tempo de cance-
lar — disse o Conselheiro, um toque de cautela em sua voz.
— Cancelar o quê? O matrimônio de minha filha? O casamento que
tantos convidados — que já estão hospedados aqui, permita-me lembrá-
-lo — de tantas famílias importantes aguardam daqui a dois dias? Ou
você mais uma vez está… — Ele divagou, apertando e abrindo seu punho.
Era uma cólera conhecida por Jugro, e o Conselheiro sabia o que dizer.
— Perdão por trazer-te novamente a estes pensamentos, meu duque.
Mas eu preciso atestar os fatos e as possibilidades perante Vossa Graça, mes-
mo que sejam incômodos lidar com eles mais uma vez, caso contrário não
seria um conselheiro digno. — Jugro enrolou o pergaminho na sua mão e o
guardou em segurança dentro do seu bolso interno — um entre vários. Tal
assunto era absolutamente necessário para se manter em segredo.
— Tens razão, meu caro Jugro. Mas queres mesmo que eu reafir-
me tudo novamente? — disse o duque, apoiando a mão direita sobre o
apoio de braço do trono.
— Uma última vez, meu duque. Assim reafirmamos a sua vontade,
a do Grande Duque Mirtaz de Itryat, e a decisão de sua filha, Dranima
de Itryat. — O Conselheiro parou virado de lado para o duque, e olhou
fundo nos olhos do seu Senhor. — Quero que me diga novamente, meu
duque. Quero que me convença novamente.
— Muito bem — disse o duque, largando-se no seu trono. — Mi-
nha filha, a futura Duquesa Dranima de Itryat, casará com sua noiva
escolhida Runya de Amarat, no Equinócio de Primavera. O casamento
entre duas mulheres pode ser incomum nas nossas terras, mas em tantas
outras não o é. — Ele se ajustou no trono, deixando suas costas eretas.
— A linhagem nobre será assegurada através do serviço extremamente
discreto dos gestores.
Antes que Jugro pudesse interromper, o duque levantou uma mão
para silenciá-lo, e logo usou suas mãos para se empurrar para fora do
trono, permanecendo de pé em uma postura imponente, e prosseguiu:
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b O Conto dos Anos b

— O serviço dos gestores é algo ainda questionável em muitos


cantos, mas em casos similares, ou mesmo de uma possível infertili-
dade, é a garantia da continuidade da linhagem — pronunciou o
duque, com um quê de dúvida no meio da sua frase. — Um candi-
dato ou candidata é escolhido para servir como semente ou barriga
para o casal contratante, através de uma seleção extremamente discre-
ta que envolverá os interessados diretos, incluindo características físi-
cas, psíquicas, talentos ou feitos obtidos durante a vida, tudo no mais
absoluto anonimato — disse o duque, olhando pensativo para cima
nessas últimas palavras.
— Algo o perturba, meu duque? — indagou o Conselheiro.
— Não — respondeu o duque sem forças, mas logo se retificou. —
Não. Minha filha e sua esposa não conhecerão o candidato. Ele nunca
será revelado, e recebe o suficiente para não ter qualquer direito sobre
a criança. Isso protege a todos os envolvidos, e assegura a continuidade
do serviço. — O Conselheiro estava certo; ele estava sentindo cada vez
mais certeza do que estava prestes a acontecer. — Minha filha esco-
lheu sua esposa de acordo com os costumes, elas trocaram promessas
de acordo com a tradição, e ela terá que ser uma duquesa digna e for-
te para sobreviver como soberana desta região — enunciava ele com
uma voz cada vez mais forte.
Apoiando-se nos apoios do trono, o duque parecia organizar seus
pensamentos antes de prosseguir:
— Se ela governará dignamente, então ela precisa fazer valer sua
vontade. Se eu serei um pai digno, então saberei quando ela tomou
uma decisão importante em sua vida! — Ele segue até os degraus a
três metros do seu trono, um punho cerrado na frente do rosto. Olhan-
do de soslaio para seu Conselheiro, ele finaliza: — Minha família, meu
sangue, minha dinastia … ela apenas se fortalecerá por esta decisão.
Conforme o duque se volta para os documentos, Jugro sorri com o
canto da boca. Nunca se permitiria servir um Senhor fraco. E a Senhora
estava no caminho para ser tão forte quanto seu pai.

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b TOMO I b

Testimus Homini
Uma Breve História dos Homens
PROOEMIUM
Abadia do Passo Partido, Birman, mil trezentos e cinquenta anos após a ascensão dos homens em louvor ao Criador.
Escrevo estas linhas com meu coração em regozijo. Pensava que devido ao nosso isolamento jamais poderíamos ser
surpreendidos pela vida. Que tolos que somos! Apenas mais uma prova, dentre tantas ao longo de minha vida devota
em que o Criador reserva o melhor para aqueles que são valorosos.
Aqui no Passo dos dedicados há uma severa rotina de privações e cópias. A torre, que é abadia, abriga copistas e
Entendo o sacerdotes regulares da ordem Haskelita. Não somos muitos, mas representamos o chão, o alicerce seguro para os
ânimo de pescadores desse singelo vilarejo esquecido no recanto leste de Birman. A vida aqui segue o seu próprio ritmo.
meu jovem Arrastado, moroso, mas bom para o trabalho. Talvez seja pela fama que conseguimos alcançar ao longo dos anos,
pupilo, mas o não por um esforço próprio de renome, já que o orgulho pode ser caminho para as Provações, recentemente recebemos
a visita de um homem da nobreza de Parlouma.
ouro parece
lhe encantar Dom Augusto de Borgosa, um jovem promissor dentro dos escalões de poder, sir Augusto foi recentemente sagrado
mais que as cavaleiro dentro da Ordem dos Pardos, a mais tradicional cavalaria de Belregard. Lorde Augusto confessou ao
abade que seu verdadeiro interesse era pelas artes, pela história, pelo mundo: se a posição de cavaleiro lhe permitisse
cópias. Con- o estudo, ele a aceitaria de bom grado e foi o que aconteceu. Com sua soma inicial de riqueza, nos fez uma
versaremos. visita para encomendar um compilado de tomos tradicionais sobre a vida em Belregard.
Além do O encarregado da transcrição é o próprio abade, Tullus, homem extremamente sisudo, severo e competente. A despeito
mais, todo da idade avançada, o abade é o melhor copista desta torre e não poderia ser outro a assumir esta responsabilidade,
este tratado especialmente depois da generosa soma de moedas imperiais deixadas por lorde Augusto! O dinheiro aqui não nos
certamente vale tanto, mas pode comprar algum favor das proximidades, especialmente com o Mosteiro de São Paolo.
passará pelas As obras escolhidas para constar no tomo de Augusto foram os antigos trabalhos de Haskel, notório sacerdote e
mãos de bis- historiador, denominada “Uma Breve História dos Homens”, escrita por volta do século X e XI e “O Ruir dos
pos que nos Castelos”, um tratado mais recente, do século XIV, da autoria de Técio de Villa, estudante da Academia dos
Saberes de Varning. Ambas as obras foram revolucionárias e o próprio abade discorda de muitos pontos apresentados,
visitam.
mas considera a missão de copista como algo sagrado: ele seria incapaz de alterar a mais herética linha. Ainda
- Abade assim, será possível conferir alguns de seus comentários ao longo do tratado.
Tullus
Uma Breve História dos Homens se dividirá em partes. A primeira, representando a história até o momento, com
parte do que foi deixado por Haskel e depois continuado por seus seguidores, os Haskelitas. A segunda representa
um tratado sobre os principais povos que compartilham desta terra. Por fim, o Ruir dos Castelos, na terceira parte,
mostrando alguns detalhes e comportamentos comuns a todos nós. Esperamos que esta compilação seja suficiente para
alimentar a curiosidade do lorde. Serão versões menores dos tomos originais que talvez o motivem a novamente
solicitar nosso trabalho de copistas.

Estamos esperançosos e agradecidos.


Possa o Criador agraciar a todos.

Prelado Maltus, do Passo Partido, Birman.

b b
Gravura estilo bertina de
Motazzi, representando Ignazio, da abadia
de São Lazari, em Latza, durante penitência,
quando copia de pé no salão escuro, de costas
para a luz, sob o olhar excruciante de seu velho
mentor, imortalizado no crânio liso.
b Belregard b
Prima Pars
O Conto dos Anos
“Sábio é o homem que de seu povo conhece o passado
De idas e vindas é feita uma história de louvor e pecado
Se diz o homem santo que o erro nos é um presente dado
Me permita escapar do olhar e da chama do prelado!”
- “O Prelado e o Asa Negra”, ou “Como Tiecelin Escapou da Fogueira”

Esta obra foi escrita por volta do século X, intitulada “Uma Breve História dos
Povos de Belregard”, um imenso tomo que tenta dar coesão aos descaminhos da
humanidade desde que as palavras de Morovan, o Velho, despertaram a centelha
divina dos mortais. Haskel não terminou o tomo, que foi continuado, e ainda é, por
seus seguidores. Fiz um apanhado dos principais eventos da obra original para
apreciação de lorde Augusto. É de grande valia lembrar que o conhecimento
histórico não é algo valorizado dentro da sociedade, de um modo geral, sendo algo
que faz parte da realidade apenas de estudiosos e sacerdotes e, mesmo com o
surgimento de algumas universidades em Varning e Parlouma, o estudo dos feitos
dos homens ainda é parte da própria teologia, que encabeça os movimentos
intelectuais do mundo. Afinal, o homem sem direcionamento na fé é perigoso para
si mesmo e para os que estão ao seu redor.

alar sobre a condição atual de séculos, ruiu; vítima de sua própria corrupção
Belregard não é fácil. Séculos interna. O poder, que um dia fora central, voltou
atrás, um homem uniu as caste- a ser local. Barões, condes, duques e toda sorte
lanias do mundo civilizado sob de nobres tentaram se tornar reis de suas terras.
seu punho firme e os liderou para retomar o ber- Poucos lugares se mantiveram firmes. Alguns
ço da humanidade corrompido pela Sombra. O ainda passam por turbulências, movimentos
que não sabia é que a Sombra, o Eterno Inimigo, comunais, revoltas de vassalos e de susseranos.
a Antítese do Criador, não habitava numa alcova Aqueles que podem, mantêm suas terras, pro-
terrena, mas escondia-se por trás do coração de curam aliados e prestam juramentos valorosos.
todo mortal. Sendo assim, mesmo que motiva- Mais do que nunca, a palavra de um homem é o
dos por um senso de justiça divino, aqueles ho- seu maior bem e a honra pessoal tem um peso
mens e mulheres estavam cegos e entregaram-se muito maior do que moedas em muitos lugares.
à dualidade em seu âmago durante a empreita-
O comércio, que uma vez cortava todo o im-
da. Todos ali eram, ao mesmo tempo, monstros e
pério, com caravanas vindas do extremo nor-
heróis.
te, dos campos de caçadores vogos até o sul
Há cerca de cinquenta anos o império de Vir- da fronteira dentro do território de Belghor, já
ka, que uniu as castelanias de Belregard por três não existe mais. As estradas foram deixadas e

b 20 b
b O Conto dos Anos b
apenas os loucos abandonam a segurança das simpática às moedas – estas que podem facil-
terras do senhor para se aventurar em carava- mente ser falsificadas e por isso a cunhagem dos
nas mal protegidas. Os desesperados, ou sem tempos do Império é extremamente valorizada,
escolha, tentam ganhar a vida como bandidos, devido a maior confiabilidade de sua origem.
ocupando as velhas fortalezas imperiais e pro- Desta forma, os preços padronizados de alimen-
clamando-se senhores de uma terra de ninguém. tos, hospedagem e bens costumam ser cotados
em peças de cobre. A prata é um luxo e o ouro é
Apesar de toda essa situação, o Tribunal do reservado apenas aos reis em suas próprias tro-
Supremo Ofício ainda se apresenta como uma cas com outros lordes.
instituição, com base na castelania de Birman,
que pretende dar coesão aos anseios e temores Belregard é uma terra que passou por um
Sinto-me tão honrado de
humanos. O alicerce da igreja se fundamenta exaustivo processo de transformações ao longo poder ver esses textos
em três principais linhas filosóficas e seus se- dos séculos. Nos dias atuais, pouco da história em primeira mão. Não sei
expressar muito bem o
guidores religiosos - os padres, prelados, bispos antiga ainda é preservada ou mesmo estudada
sentimento que me causa.
e oradores - espalham-se por Belregard, divul- pelos intelectuais e eclesiásticos. Dos tempos Uma mistura de apreensão,
gando-a. A despeito das condições precárias imemoriais, antes dos homens se tornarem se- afinal, eu não deveria estar
lendo isso com excitação.
das viagens neste mundo tomado pelas trevas, nhores do mundo, pouco ainda existe. O passa-
Aproveitando, por que
a ordem eclesiástica faz o possível para manter do primordial de Belregard é envolto pela névoa aceita tantas exigências do
uma boa comunicação entre seus membros. Em da fábula e do mito. A última tentativa direta de Abade Tullus sendo que ele
é simplesmente insuportável?
regiões isoladas, esta se mostra uma tarefa dig- se organizar e catalogar todos os fatos vividos
Você não precisa dele para
na de heróis. pelos homens desta terra sombria aconteceu conseguir seu devido lugar
há séculos e, neste antigo registro, “Uma Breve dentro do Tribunal. Ele
Poucos locais mantém um mercado ativo e apenas te limita, fecha seus
História dos Povos de Belregard”, escrita pelo
olhos e segue o seu voo.
hoje a forma mais comum de comércio é o es- prelado Haskel, de Virka, o tempo foi dividido Você é livre, meu amado,
cambo. Dalanor, Varning e Parlouma, a parte em eras e a cada era atribuiu-se uma transfor- apenas voe - e quando o
central de Belregard, ainda pode se considerar fizer, voe para meus braços.
mação no panorama do mundo, menos física e
ui
ndir aq Seu eterno amigo
mais política.
e x p a
igno vem P.
Acho d sforço que m
e o
todo o eito. Passa c bre
f a so
sendo masiad
a d e d e ndidos
celerid picos empree
s é fé
os ato h o m ens de
pelo s

Gravura de Fergus representando uma das muitas construções abandonadas de Belregard. De antigas estalagens de estrada
até fortalezas imperiais, abandonadas, arruinadas, ocupadas por toda sorte de horrores,
animais selvagens e bandos de degenerados e criminosos.

b 21 b
b Belregard b
A Era da Vergonha com suas próprias mãos, o Único se voltou para
“A Saída da Lama” um pequeno e tímido vale, onde, sim, fez-se pre-
sente aos olhos das Crianças Cinzentas.
Segundo Haskel, a primeira era, a Era da Ver-
gonha, foi um período em que nem mesmo os Como dito, os Selvagens eram muitos, de for-
homens caminhavam sobre a terra. Pelo menos mas e tipos distintos. Apenas dois grupos tive-
tro
Não há regis não da forma como hoje. As lendas falam sobre ram seus registros preservados até os dias do
do
sobre a data as Crianças Cinzentas que habitavam o vale de império. Os belinar eram pequenos e ágeis, as
da
início da Era Belghor e lá sofriam a opressão dos Selvagens, gravuras de estudiosos do período mostram
as seu
Vergonha, m estes sim, senhores do mundo. O termo Selva- eles com traços felinos muito marcantes em
e com
fim acontec gem é intencionalmente genérico. A variedade suas fisionomias. Já os dwetar, que habitavam
da
o surgimento de seres que habitavam Belregard antes da as- as montanhas de Rastov, são semelhantes a bo-
Era das
com o censão humana era vasta. Eles ergueram civili- des e cabras, com suas longas barbas e corpos
Revelações,
no 01. atarracados, firmes. Outros existiram neste pe-
marco do A zações ciclópicas e cultuaram todo o círculo de
o no
É um períod aberrações. Este caminho torto envergonhou o ríodo e não são incomuns os relatos modernos
qual sabe-se Criador - aquele que ordenou o mundo. Assim de atividades selvagens pelos ermos do mundo.
ido
pouco, envolv como cada grão sobressalente de areia que jazia Inúmeros outros grupos únicos existiram no
em lendas ed
no fundo do mar, os Selvagens também eram mundo.
ens,
povos selvag filhos do Criador e, sendo incapaz de matá-los
que
animalescos,
da a
louvaram to
res
Horda de se
nefastos arder até hoje; aliás, será
Por certo eram bestiais pois se relacionavam com feras. Suas almas devem
veja como a animalidade se
que tais homens-besta detinham almas em suas carnes corrompidas? Pois
, ainda que haja até
faz presente também neste povo. O Único não nos fez para violar nossa natureza
todo tipo. Não negarei: tenho
hoje alguns que cismam em amenizar seus impulsos violando rebanhos de
certo asco destes que insistem com o bestialismo da Era da Vergonha.
P.

a
Os Monges Copistas
Lhe enviarei
alguns Este livro é apresentado como um apanhado de relatos e obras de grandes estudiosos de Belregard. Na
rascunho s o
riginais primeira parte temos um resumo da história conhecida do mundo, contada sempre pelo ponto de vista da
que possuo so
bre própria igreja, por mais que existam algumas declarações contraditórias, que logo são rebatidas por Tullus,
a fisionomia
o abade que supervisiona todo o trabalho. Na segunda parte são apresentadas as etnias de Belregard e
destes selvag
ens. seus principais traços marcantes, carregados de algum preconceito que deve ser utilizado para enriquecer
É assustador
, a experiência. Por fim, na terceira parte, a vida em Belregard, é um apanhado de inúmeros verbetes que
como toda o
bra servem para pincelar sobre os pormenores da vida difícil nesse mundo isolado, mas não abandonado de
da imundície
. cores e prazeres. Vale perceber as anotações laterais ao longo do tomo, mostrando um contato entre os
copistas que se confidenciam e criticam, uma prática comum mesmo entre os mais dedicados, mas certa-
mente condenada pelo estóico Tullus.

b 22 b
b O Conto dos Anos b
A própria corte primitiva de Dalanor apre- arbítrio de seguir para a luz ou para a treva. Ao Em minhas pesquisas
descobri que os mais
senta seres leoninos, corvinos, lupinos e tantos contrário do Pai de Todos, a Sombra Viva não antigos vestígios de
outros. Existem muitos outros mistérios entre assistiria impassível aos avanços da humanida- adivinhação do futuro
os selvagens do que podemos imaginar. Neste de. Ela influenciaria, manipularia e criaria a de- e feitiçaria datam deste
período. Afinal, o povo
tempo, zoofilia e sociedades erguidas através da sordem para atrair os homens para si e, ao mes- estava sedento por
relação com animais era o padrão social. mo tempo, serem menos dependentes do Único. qualquer resposta. Dentre
todos os métodos, o mais
antigo e tradicional, tanto
Como dito por Haskel, o tempo dos anos em Belregard é dividido em que persiste até hoje,
consiste na utilização de
dois momentos. Eles são indicadas por PA, Pré-Ascensão, e DA, Depois uma pedra negra e uma
branca em um alforge.
da Ascensão, como referência à Manifestação do Único e do Chamadas de Quidat e
enaltecimento dos homens como seus escolhidos. Marcando o ano 01 do Turpitud suas
interpretações são
calendário na conquista de Virka e na coroação de Bövrar I. diversas, mas para leigos,
eram usadas para
responder a questão
O Criador revelou-se aos homens através de Por muitos anos antes da fundação de Vir- inocente ou culpado, certo
um profeta, Morovan. Este homem santo foi ka, a primeira cidade, os homens de Belghor ou errado. P.
guiado por sonhos até uma antiga caverna, onde treinaram e aprenderam sobre os caminhos da
encontrou uma pedra inscrita com os ensina- purificação. É certo que muitas cidades foram Canto e Ei de
mentos do Pai. Tal pedra angular do criadoris-
Cantar, porque
criadas dentro do prórpio vale, mas nada restou ele
rompeu e triu
mo provavelmente havia sido usada pelos pró- de suas ruinas, salvo aquelas com alicerces em nfou
em Sua Glóri
prios selvagens quando ainda viviam na graça território selvagem. Apesar de todo o poderio a,
Força, Salvaç
do Altíssimo. Lá, depois de passar por longos apresentado pelos primeiros sacerdotes criado- ão
e Louvor. Pel
períodos de jejum e contemplação, Morovan foi ristas, capazes de realizar milagres e inspirar o
as
honras dos meu
capaz de compreender as inscrições da pedra
s
amor e o terror naqueles com boas e más inten- antepassados,
e assim alcançou a conciência pretendida pelo ções, grupos distintos discordavam dos rumos sempre lhe dar
ei
Criador. Naquele momento, Morovan, o grande dos homens e muitos partiram do vale para o glória. Ele lhes
profeta, fez arder a chama criadora de Deus. Mas norte, para a futura Belregard a ser conquistada, destruiu pela
força da espa
tal despertar não se fez presente sem propósito, e para o sul, onde estende a vasta selva de Áya. da.
Guiado pela gr
o Criador precisava dos homens para limpar o É certo ainda que alguns foram corrompidos na- aça
dos céus
mundo da vergonha que eram os selvagens, in- quele tempo primitivo, formando os primeiros
capaz ele próprio de cumprir o objetivo de dar inimigos da fé, nossos próprios irmãos.
fim aos seus filhos, mesmo com estes seguindo
Ainda que não saberemos sit amet, consecte- da pela
uma trilha torta de seus ensinamentos.
u it o entoa m que
tur adipiscing elit. PARA DE SHOWmEa VAI
u m a
úsicLER m
a m igo s defende m e
ica
echo ind FOIaOgGABRIEL lguns lutasse
Assim, aqueles que foram as Crianças Cinzen- O LIVRO DIREITO, Este trPORRA! uiava. A s homens que gozo
a n d o M oro v a n
lo Ú n ic o a o
d e p ra zeres e
tas, despertaram para o papel de executores QUE MANDOU quTU FAZER fISSO, e
eita p NÃO FOI? a vida
marcha p romessa e Morovan: Um da Celeste.
u m a
da vontade do Criador. No entanto, houve um PARA DE ia
havGRAÇA! SEGUIMOSsa d COM A PRO- Abóba
r e s s e m pela cau es festivos na v orosame
nte.
problema com a chegada do Criador ao mundo, GRAMAÇÃOmor NORMAL. e m s a lõ
Vivamus auctor rd e f
antee r
m disco
vindo de seu lar, a Abóboda Celeste. Sua for- ut erat gravida, vitae commodo Há quepurus ultrices.
u pai
u vejo me ãe
ma projetou uma sombra e esta também dividiu Aliquam sagittis vestibulum Mauris “L á etincidunt
u v e jo minha m
tante e In ãos e irmãs
Não distincidunt.
o poder no coração dos homens. As Crianças nibh mi, in volutpat turpis laoretu
lado, irm ovo.
Cinzentas passariam a ter, a partir dali, o livre tempus dictum enim est enim. Ao meu meu p pre”
Este é v ive r para sem
lutar e
a m a d o para
b 23 b O c h
b Belregard b
A marcha de conquista para fora de Belghor normalmente com vantagem numérica e foi
teve a liderança de Morovan, chamado de “O apenas através do fogo que os homens conse-
Velho” nos antigos escritos que não datam des- guiram vencer, eliminando permanentemente
ta época, mas que marcaram as tradições orais sua presença nas florestas ao redor de Virka.
que permaneceram até a Era do Sangue. Alguns
dizem que o tempo de preparo dos homens de Diante da vitória, Bövrar foi oficialmente co-

Belghor para a conquista foi de séculos, que não roado como primeiro rei dos homens, agindo

poderia ser o mesmo Morovan e sim um descen- como juiz, conselheiro e emissário da vontade

dente na ordem das hekklesias primitivas. Ou- divina. A posição de líder agora gera outras ca-
Vale a pena tros ainda dizem que Morovan havia se torna- pacidades e necessidades. É dito que os céus
ressaltar aqui a do um título, como o de Eleito do Tribunal, um se abriram no momento que o rei recebeu sua
completa coroa, como testificação de que este era o ca-
cargo máximo religioso, outros ainda dizem que
negligência minho correto a seguir. Bövrar I havia trans-
ele se tornou imortal à mando do Criador. Seja
quanto à formado a humanidade em uma máquina de
existência de qual for o caso, depois da saída dos homens do
vale de Belghor, através do Passo de Morovan, guerra, na busca pela limpeza do mundo. Como
outro grupo
foi dito, estes primeiros belghos encontraram
selvagem, os a figura do profeta perde participação ativa nos
chamados relatos e fala-se principalmente de Bövrar, que outros povos de origem humana, mas neste pri-
Cabeça-de-Cão. viria a ser chamado de Puro. meiro momento apenas os ignoraram, quando
Nos registros não os queimaram junto aos selvagens. Faz-se
particulares de Bövrar guiou os homens através da selvagem válido destaque especial aos abutus, que viviam
Haskel, ele faz Belregard, encontrando grupos nômades das no extremo norte da região de Virka, na costa
menção a estes antigas Crianças Cinzentas que haviam aban- acidentada. Um povo misterioso e recluso, eles
seres, mas me donado Belghor antes da marcha ter se iniciado cultuavam os selvagens abertamente e não fize-
incomoda o fato
oficialmente. Também direcionado pelo Criador, ram questão de se misturar aos novos vizinhos
de não tê-los
Bövrar abriu caminho com ferro e fogo até o e nem por isso foram poupados.
incluído entre os
caçados coração do continente, num largo vale monta-
nhoso e intocado pela mácula. Neste vale nas-
ceu Virka, a primeira cidade e futura capital do
a
império. A Virka do passado era singela com A Exatidão das Datas

suas estruturas de pedra rústica e madeira es-


É importante dizer que a linha do tempo apre-
cura, paliçadas e torres simples, mas o contato
sentada aqui foi construída por um sacerdote,
com os Selvagens das florestas ao redor da ca- em seu tempo, e posteriormente alterada por
pital foi intenso e hostil. Os belinar viviam nas seus seguidores. Datas exatas podem causar

Gravura de Erasmo mostrando matas, muitas vezes chamados estranheza, mas elas foram simplesmente es-
uma “cerca fantasma”, muito colhidas pela conveniência do autor. Mesmo a
comum entre os selvagens. de espíritos e mesmo crianças
Ainda praticada pelos druidas vinda do Criador, marcada no ano 900, pode
do norte. dos bosques, eram ardilosos
não ter ocorrido precisamente ali, mas devido a
e combatiam apenas
relatos destoantes, o padre precisou fazer uma
em último caso,
escolha por uma data para marcar a transição
do tempo.

b 24 b
A Era das Reve-
b O Conto dos Anos b lações foi do ano
A Era das Revelações 01 ao 900 DA.
“O Tempo da Coroa”
a Nesta, os homens
A Proliferação das Hekklesias receberam a re-
A coroação de Bövrar marcou o início de uma velação do Pai de
nova era. A Era das Revelações veio como um si- Grosso modo, a hekklesia era o culto atra- seu verdadeiro lu-
vés de ritos e tradições da igreja primitiva, gar na criação, eles
nal de que a verdade cairia sobre todos os Selva-
focando-se no seu objetivo inicial que era a seriam os purifi-
gens e que o seu tempo como senhores do mun-
erradicação dos selvagens. Quando este as- cadores. Trata-se
do havia finalmente terminado. A religiosidade sunto foi tornando-se secundário, as ideias de um período no
de Virka foi firmada na hekklesia e seu principal gerais sobre o culto e igreja tornam-se mais qual ergueram-se
fundamento, o cerne da fé criadorista daqueles plurais e dualistas. Desse modo, todo ho- as primeiras for-
tempos antigos, era a busca pelos selvagens e a mem santo que sagrava-se Orador dentro talezas dos ho-
purificação do mundo conhecido, eliminando a das Hekklesias poderia criar seu próprio mens, local onde
vergonha sentida pelo pai depois dos caminhos
braço da fé, muitas vezes iniciando um culto grupos bárbaros
completamente novo, apegando-se a algum foram converti-
tortos seguidos por seus primogênitos.
elemento obscuro deixado nas parcas es- dos, culminando na
crituras da época ou mesmo com interpre- vinda do Único
Foi no fim do período do governo de
tações tendenciosas e falhas. Nos tempos
Bövrar I que ocorreu o Levante dos Indefesos. atuais, estas interpretações seriam heresias.
Desesperados pelas derrotas sofridas, os Sel-
vagens lançaram um ataque suicida que visa- Patriarcado e a Participação
va assassinar o herdeiro do rei, que havia sido das Mulheres em Belregard

isolado com mulheres e crianças nas torres de


É possível perceber que ao longo do registro
Virka. Estes indefesos tiveram que proteger o histórico de Belregard poucas mulheres re-
primogênito e este fato modificou a estrutura ceberam destaque. Isso se explica mais por
patriarcal da sociedade de Belregard daquela costume que por um preconceito declarado.
época. A partir daquele momento, a maiorida- Desde o Levante dos Indefesos, em 51 DA,
as mulheres deixaram de ter um papel se-
de passou a ser aceita aos 13 anos e mulheres
cundário e submisso na sociedade. Mas a
puderam fazer parte dos exércitos e ordens ca-
igreja, o Tribunal, costuma resistir um pou-
valeiras no futuro.
co na inclusão de nomes e feitos atribuídos
a mulheres em seus registros. Como são os
A marcha de Bövrar I seguiu firme até 51 DA,
padres os detentores dos saberes e das le-
quando este cai enfermo em idade avançada. tras, essa omissão se justifica dessa forma.
Uns dizem que Bövrar viveu muito menos que No levante, a figura de Angelina tornou-se
Morovan, apesar de ter atingido uma idade ve- conhecida como a mulher que armou-se e
nerável, por afastamento da vontade do Único. liderou os supostamente indefesos na defe-
Outros dizem que era o preço pago por reinar sa do filho do rei. Mais tarde, Angelina seria
reconhecida como santa.
sobre o sangue dos Selvagens. Independente
disso, pode-se perceber que os reis sagrados e
reconhecidos pela igreja alcançam uma idade
muito maior que outros. Algo nos ritos privados muitas vezes levavam suas diferenças para o
de coroação agracia o monarca com este dom campo de batalha, mas o pulso firme de Bövrar
de Deus. Naquele momento, a visão frouxa da conseguiu manter boa parte da ordem. Com a
hekklesia já havia dado conta de criar divisões sua morte, seu filho foi coroado como Bövrar
religiosas, cultos internos e grupos menores que II e deu seguimento ao trabalho de seu pai com

b 25 b
b Belregard b
Amante do conhecimento grande ímpeto. A diferença mais marcante en- Ele propunha debates elaborados, acalorados,
e das libações. tre pai e filho é que o segundo era movido pela que deixariam inquisitores modernos noites e
P.
curiosidade e não pelo simples desejo de limpar noites sem dormir. Sua língua era afiada e nem
o mundo. Dessa forma, a guerra assumiu rumos mesmo o mais alto representante da Igreja po-
diferentes. Os esforços militares eram ainda o deria enfrentá-lo em um debate sem ter sua fé
cerne da humanidade, mas Bövrar II desejava colocada em jogo, perdido em questionamentos.
conhecer os selvagens, saber sobre suas pró- Bövrar II fez muitos estudiosos parecerem me-
prias histórias e suas escolhas. Um pedaço de ros tolos frente a seu conhecimento. Este grande
tomo selvagem poderia valer mais do que a ca- templo caiu há muito tempo, mas seus alicerces
beça do líder deles. O que fez com que povos serviram para erguer a que posteriormente se-
Por que insiste tão antigos se voltassem contra o Criador? De ria chamada Catedral do Deicídio, maior templo
em enobrecer onde vem a força do Criador? Por que nós fo- religioso existente, mas certamente menor que
tal homem? mos escolhidos acima de todos os outros? Estas o grande templo de outrora. A construção de
Sabemos de e outras muitas perguntas fizeram Bövrar II en- tal local é envolvida em mistério. Muitos relatos
seu destino, furnar-se em mistérios tidos como profanos por antigos falam sobre como o templo foi erguido
queimando na membros da Igreja. da noite para o dia, ou de como sua obra era
Alcova Pro-
completamente silenciosa, de modo que nem
fana, por que Bövrar II cercou-se de um harém particular se viam os trabalhadores. Acredita-se que com
trata-lo como
onde mantinha uma relação íntima, pecaminosa, seu vasto conhecimento dos segredos do mun-
se tivesse sido
com toda uma sorte de selvagens e povos huma- do sobrenatural, dos demônios selvagens e os
um homem
nos desgarrados, como os abutus. Ele tinha pre-
sacro? sigilos aprendidos com feiticeiros destes povos
dileção por fêmeas das espécies, pois sabia que primitivos, Bövrar foi capaz de escravizar mui-
muitas destas culturas eram matriarcais e eram tos destes seres horrendos para trabalharem na
das mulheres o conhecimento sobre os mistérios construção de seu templo. Esta construçao é
da vida, da morte, dos espíritos e da verdadeira tida como profana por muitos Lazlitas moder-
luz e escuridão. O jovem rei empreendeu inúme- nos, onde afirmam que sua estrutura, desenho
ras viagens para além das fronteiras visitadas e forma foi feito de modo a tocar o reinos dos
pelos exércitos de Virka em busca de locais tidos céus de modo errado, atravez de caminhos trô-
.
Apenas histórias como sagrados por povos primitivos. Lá tentou pegos transitados por selvagens, uma mistura
Atenha-se à ve r- encontrar o que foi deixado de vestígio do Cria- intrínseca entre o sagrado e o profano. Uma
dade e não aos dor nestes primeiros dias, quando Ele deu o mes- obra de arte somente possível de uma mente tão
mitos. Isso são mo valor e prestígio aos selvagens, seus filhos superior quanto a de Bövrar II.
apenas histórias perfeitos neste tempo passado. Bövrar criou as
de homens
chamadas Casas de Luz, refúgios contempla-
avarentos. MIA!
tivos, bibliotecas subterrâneas, locais de puro BLASFÊ á sob
a c r e d it a que est
saber. Com o conhecimento selvagem, inúmeros Você de sua
a s im p le s tarefa não
destes santuários profanos foram erigidos, a des- um e dita que
? A c r
capela andar
peito da desorganizada hekklesia da época.
h o p o d e r para m
ten cela?
-lo numa
arremessá final.
a versão
Bövrar II construiu o Grande Templo do Cria-
e is s o d
dor em Virka, onde tentou reunir as hekkle- Retir ciência es

Minha pa ndo.
se esgota
sias existentes para um acordo comum daqui-
lo que era o cerne da divindade criadorista.

b 26 b
b O Conto dos Anos b

Fora a ameaça selvagem, é preciso lembrar da Horda. Chamamos assim toda a sorte
de culto macabro que permeava os povos daqueles tempos. Infelizmente, uma pra-
ga que ainda hoje se encontra entranhada em muitos locais, sejam povoados isolados
ou nos grandes centros populacionais. Alguns povos ditos civilizados ainda se voltam
a estas práticas, sejam os belghos com seus sacrifícios animais ou os vihs com suas
previsões em tripas… A corrupção do homem me enoja.

As atitudes de Bövrar II lhe renderam uma los e caracteres certos, em momentos e lugares
Há quem diga que o
grande infâmia entre os habitantes de Virka, corretos, qualquer pessoa era capaz de fazer próprio nome daquele que
mas nenhum deles ousava erger arma ou pa- o inimaginável. Como ele muitas vezes repetiu experimentou toda sorte
de prazeres em busca do
lavra contra o rei. Em pouco tempo, em suas “Os mundos estão conectados e tudo reverbe-
conhecimento nutra afe-
pesquisas e buscas por saber proibido, Bövrar ra com autorização dos universos. Sua mente é tos ocultos. Emplastros com
se tornou um poderoso feiticeiro. Se naquele o mundo”. Até os dias de hoje, muitos dos es- unguentos que propiciam
de
excitação e ferramentas
tempo apenas os homens de verdadeira fé eram tudantes das artes místicas se cumprimentam pra zer são enc ont ra-
íntimo
capazes de realizar milagres, como poderia um usando o clássico cumprimente que Brövrar II dos com o nome de
homem que se deitava com selvagens realizar o utilizava “Sequeri Lux”, algo como “Siga a Luz” Bövrar II.
Ser isto um fetiche?
ia
mesmos feitos? Acredita-se que em seus estu- em belgho arcaico. se
Pura lascívia dos que já
dos, Bövrar tenha conseguido quebrar a barreira encontram perdidos.
entre os mundos. Na sua busca pelas raízes do Li com meus próprios olhos alguns textos antigos P.
poder de Deus no mundo, naquilo que os pró- sobre o assunto e eles falavam sobre Mentalismo,
prios selvagens viam com reverência, o rei foi Polaridade, Causa e Efeito e muitos outros princípios
capaz de compreender toda a teia que mantém que me parecem misteriosos. Ainda não pude ter
a realidade coesa. Com gestos, palavras, símbo- acesso à nenhum texto contendo informações mais
concretas. Segue um trecho introdutório do Tomo
da Manifestação Daquilo que Vem de Cima”
a
As Viagens de Bövrar II
“Ouve os gritos da Sabedoria. Não esteja surdo à
eles. Não deixeis ficares rouca. Sai da escuridão e
Acredita-se que o antigo rei tenha conhecido ouça. Siga os passos do Mestre e
muito além do que se tem hoje por Belregard. ouça os gritos da Sabedoria.
Além de ter ciência de povos como os vihs e os Ouve e segue, lembre-se dos Princípios. Sempre!
vogos dos ermos, acredita-se que o famigerado Pois, esta é a chave. Todas as outras são engano.
governante visitou terras além do continente O mundo está vivo. O estático é morte.
e até mesmo além deste plano carnal. Sempre
viajando de forma incógnita, Bövrar tentava Mas não acumule sem usar, pois será como o ouro
aproximar-se dos sábios e aprender com eles. que escurece sem ser gasto. De nada vale.
Se os relatos sobre sua morte forem reais e seu Lembre-se que nós estamos à serviço do Princípio.
corpo estiver mumificado em algum lugar, é Nós concordamos com a Lei, mas a Lei não precisa
muito possível que aquele que o encontrar seja da nossa concordância. Aqueles que seguirem o passo
agraciado com as bençãos do grande senhor da do Mestre e seguir os Princípios,
mágica da Forma-Pensamento, do homem que este está no Caminho.”
decodificou as intrincadas tramas da realidade,
para torcê-la a seu bel prazer, o homem que P.
conceituou e iniciou a teosofia.

b 27 b
b Belregard b
O fim do reinado de Bövrar II é um misté-
rio. Dentro dos anais da história de Virka Gravura estilo bertina de Arj,
representando uma
é dito que o rei morreu aos oitenta anos “prole de Popobawa”, um povo
selvagem temido pelos Abutos.
de idade de causas naturais. No en-
tanto, como se pode imaginar, muitas
são as lendas sobre como ele teria des-
coberto uma maneira de vencer a morte.
Alguns creem que o rei escondeu-se em
uma de suas Casas de Luz, onde teve o cor-
po preservado em rituais de mumificação.
Tais Casas são procuradas até os dias
de hoje e é de se imaginar que encon-
trar o corpo preservado do antigo rei
dos homens pode trazer a desgraça
ou o pleno conhecimento dos segredos
do mundo, além de muito ouro. Entretan-
to, depois do fim da regência de Bövrar II
não existia um descendente legítimo para assu-
mir o trono de Virka. Uma série de bastardos do
rei com suas consortes começaram a brigar pelo
Eu encontrei um homem controle de Virka. Este período ficou conhecido
que diz ter viajado Histórias dizem que a mãe que daria a luz a
como Guerra das Crianças, em 116 DA.
até Rastov e ouviu da este bastardo o fez dentro de um destes locais
boca dos descendentes A despeito do estado de caos dominante em de poder, concedendo poderes místicos à sua
do próprio Larsen e Virka, com reinados breves dos filhos do antigo cria. Larsen aprendeu todo o necessário em um
seus fantasmas sobre sua ambiente caótico de conflito civil e instabilidade
rei, a conversão dos povos primitivos reconhe-
história. Ele me disse
cidamente humanos se intensificou, especial- de poder. Ele próprio chegou a guiar Virka por
que se deitou com suas
mente com os parlos, que tiveram sua crianças duas vezes, nas tentativas da construção de um
mulheres, bebeu das suas
bebidas e dançou nas tomadas para aprender sobre os caminhos do triunvirato forte com filhos do antigo rei, mas a
suas festividades. Ele me Criador e logo devolvidas ao convívio com seus ganância de alguns sempre cobrava caro. Cansa-
disse que não posso mor- semelhantes, como completos estranhos no ni- do das disputas, Larsen reuniu os seus e partiu
rer sem sentir-me vivo nho. A miscigenação com o belghos, somada a para o oeste. Sua coluna de desertores explorou
ao menos uma vez em cantos ainda desconhecidos do mundo. Foram os
esta atitude de doutrinação da geração mais jo-
uma festividade desta.
vem quase fez com que os parlos desapareces- primeiros a encontrar os dalanos com seu pode-
Seria algo incrível em-
sem. Outros grupos étnicos menores também roso legado musical e especialmente os bárbaros
preendermos uma viajem
desta após estes tomos são assimilados pelo criadorismo, recebendo a vihs das estepes. Os clãs não trataram aqueles
estarem acabados. verdadeira luz do esclarecimento, dando-lhes a andarilhos com hostilidade, mas sim com respei-
chance de uma redenção, renegando qualquer to quase divino. Por terem vindo do sul, os vihs
P. acreditaram que aquela coluna havia saído do
tradição compartilhada pelos selvagens.
svarog, o mundo dos mortos, já que a religiosi-
No ano de 150 DA, um dos bastardos de Bövrar, dade antiga dos clãs coloca o mundano e o so-
que havia nascido depois da morte do rei, liderou brenatural em limites reais. Os vihs chamaram
seu bando e suas famílias para fora de Virka. aquela coluna de Marcha Fantasmagórica.

b 28 b
As histórias que ouvi
b O Conto dos Anos b sobre tal homem é algo
magnânimo. Incrível
Para muitos, testificavam-se os poderes so- Encurralados em seus corredores subterrâ-
imaginar alguém tão
brehumanos herdados de seu pai. Existem li- neos, os dwetar foram aniquilados deixando sensível, tão evoluído,
vros, músicas e muitas lendas sobre o êxodo Rastov sem governo. Devido a independên- mesmo estando en-
tre brutos, bárbaros.
empreendido por Larsen, histórias horrendas, cia trazida pelos igslavos que se juntaram aos
Sua sabedoria parece
mágicas e diabólicas. Histórias sobre sangue, belghos durante a marcha, não demora muito ofuscar ou ao menos,
luta e liderança. Histórias alicerces para as so- para que os descendentes destes grupos vol- fazer frente à glória
das conquistas de Lar-
ciedades que se ergueram a partir deste êxodo. tem a se dividir, até mesmo abandonando as
sen. Veja os lemas que
fortalezas criadas por Larsen. Reunindo-se Karn usou para guiar
Quando demonstrou interesse em avançar ain- em grupos menores, os clãs de Rastov come- sua vida. O povo de
da mais ao norte, além da vastidão florestal cha- Rastov o segue, mesmo
çam a tomar forma. Karn, o Branco, é o gran-
mada Taiga Branca, os vihs advertiram Larsen que sem consciência. É
de herói da guerra contra os selvagens, termi- incrível.
do perigo, pois a Taiga era, para os vihs, também nada em 345DA. Procurando reestabelecer
um sinônimo de inferno. Alguns clãs seguiram “Então viva sem medo
contato com Virka, já que desejava a presença
os belghos, destacando-se no que viriam a ser os da morte. Ela nunca
da igreja também em Rastov, a fim de teste- pode estar em seu
igslavos. A travessia da Taiga foi verdadeiramen- munharem a vitória contra os selvagens, Karn coração.
te custosa. Grupos inteiros se perderam e uma es- Não dê explicações
parte para a primeira cidade.
trada verdadeiramente segura demorou mais que a ninguém sobre sua
religião.
o normal para ser aberta. De fato, a Taiga poderia Em Virka, a Guerra das Crianças acabara em Respeite o próximo.
não ser o próprio Inferno, mas era sim uma severa 220DA graças a instauração de um governo co- Ame a vida e trabalhe
fronteira. Além da floresta, nas vastas planícies que mandado por Oradores das Hekklesias, em um para se aperfeiçoar.
Sua finalidade é o bem
se abriram sob o olhar inclemente dos ermos e da concílio que gerava mais intriga e disputas in- estar do seu povo.
Coluna de Balmung, as misteriosas montanhas dos ternas de sutiliezas do poder do que reais fei- Sempre saúde ao
ermos, Rastov nasceu sob a regência de Larsen. tos e reformas. Karn se mistura às estruturas encontrar um amigo.
Um estranho deve ser
de poder da Virka teocrática e tenta restaurar sempre bem tratado
A relação de Larsen com os selvagens foi dife- um governo convencional, mas é sufocado pe- também.
rente do que era pregado em Virka. Nas regiões los desejos de sacerdotes. Disposto a mudar a Sempre dê graças ao
montanhosas de Rastov, Larsen conheceu os levantar, à comida,
situação, Karn se alia a Bóccio e lidera o Levan- ao dormir. Se não vê
dwetar, baixos e atarracados. Inicialmente não te dos Alvos, em 370 DA, uma guerra civil que motivo para dar graças,
existiu hostilidade declarada e uma convivência dividiu e sitiou a cidade por dentro, separando não tem alegria de
viver.
pacífica foi estabelecida entre os povos. Isso moradores e tornando todos potenciais comba- Tenha honra ao morrer,
mudou em 160DA, quando Larsen foi envene- tentes, ninguém ficou isento enquanto o sangue pagando àqueles que
nado em sua corte por um emissário do povo deve.
de padre e pecador sujava as ruas. O Levante
dwetar. A traição reacendeu antigos ódios e fez Cante sua música de
culmina com a vitória de Karn e Bóccio. Assim morte quando ela sorrir
com que a velha pregação da hekklesia chegasse o Karnado é instaurado, gerando uma regência para ti”
até os gélidos salões de Rastov. dividida entre um Orador e um Rei.

As Hekklesias religiosas eram o pandemônio. Sem a orientação firme de uma espinha


dorsal religiosa, qualquer lunático poderia fazer suas próprias conclusões das parcas
palavras registradas de grandes sábios do passado, como Morovan e Bövrar I. Rapi-
damente, sem qualquer instrução divina ou estudo eclesiástico, uma palavra tornava-se
uma frase e uma frase tornava-se um novo pergaminho para uma nova ideologia.

b 29 b
b Belregard b
Tal sistema funciona inicialmente, mas gera
conflitos quando aquele que deveria ser o Karn
a
III morre antes de assumir. Na linhagem de su- Patriarcas e Matriarcas
cessão, dois segundos filhos disputam, ambos
De fato muito pouco se sabe sobre tais seres.
Oradores de Hekklesias. Cientes que qualquer
Pelo que restou dos escritos de Dankhila, estas
escolha gerará uma nova disputa, a nobreza se
entidades eram os grandes geradores e gerado-
Relatos antigos dizem cala e a Guerra dos Rosários marca Virka de 447
que ras de selvagens. Não eram exatamente femini-
o túmulo da Orante a 451 DA, quando Grimaldi, o Velho, consegue
fora nas ou masculinas, eram além de julgamentos
alvo de peregrinação
de provar que seu adversário, Lindon, envenenou o de gêneros ou mesmo moralidade, eram coisas
centenas de milhares
de
pessoas, todas interessa pequeno que seria o Karn III. O governo de Vi- que não deveriam existir, um testamento do
das
em ter visões do fut rka acaba voltando para o controle de oradores. erro do Criador, se é que foi Ele quem os criou.
uro e
até mesmo, visões daqu A Oradora deixou claro em seus textos que os
ilo
que lhes esperava na
pós Em 749 DA, Dankhila, Oradora de Virka, rece- seres tinham uma forte ligação com as estrelas
vida. Livros de caixas
do e em seus mapas do céu noturno existem inú-
antigo império mostram be visões do Criador. Apontada, posteriormen-
que meras constelações que não são mais possíveis
a peregrinação enchia te, pelo Tribunal como Santa das Revelações e
os
cofres de Virka, se tor de se avistar nos dias de hoje, constelações es-
- forte aliada na luta contra o Inimigo, Dankhi-
nando parte importan tas que representariam as espécies selvagens
te de
sua economia. la revelou que a ameaça selvagem nunca seria que povoavam o mundo. Dankhila nem mesmo
E imaginar que tudo detida enquanto os Patriarcas e as Matriarcas
isso fala sobre o aspecto destas entidades, dizendo
se perdeu. Quem será
continuassem existindo. Muitos ignoraram os sempre que seria impossível descrevê-las com
capaz de encontrar seu
túmulo? Estou simplesm alertas da Oradora, mas ela conseguiu juntar precisão e que se fosse possível, jamais o faria,
ente
fascinado. já que a mera lembrança, turvada pela mente
um secto de seguidores e, como era seu direito,
de fraca compreensão, já lhe roubava o calor
criou sua própria Hekklesia para a busca de tais
P. do corpo. A Oradora preocupava-se com a ideia
seres. Alguns dizem que Dankhila encontrou de que poderia haver uma constelação para os
uma das Casas de Luz de Bövrar II anos antes homens, um patriarca ou uma matriarca para
de chegar à tal conclusão. Pouco se sabe sobre os mesmos por aí. Ninguém sabe se ela e seu
a caçada daquele grupo formado por fanáticos, grupo conseguiram de fato destruir estas aber-
mas é fato que o número de selvagens só fez rações, ou se apenas as aprisionaram nos con-
fins sombrios do mundo. A igreja tentou escon-
diminuir até ocuparem apenas o imaginário de
der essas revelações descobertas por Dankhila,
gerações futuras.
principalmente por ela ser uma admiradora do
legado de Bövrar II e sempre assinar seus docu-
A situação de Virka voltou a se estabilizar po-
mentos com o clássico cumprimento “Sequeri
liticamente com a coroação de Dante I em 820
Lux”.
DA. Dizendo ser descendente direto do Karn
original, Dante chegou a Virka reivindicando
seu direito como regente. Junto de poderosos
Quase um milênio se passou durante a Era
aliados, os Oradores tiveram medo de um novo
das Revelações e os outros grupos étnicos que
levante tomasse as ruas da cidade e acataram as
foram convertidos ergueram seus próprios do-
exigências do novo monarca. Usando um pou-
mínios. Havia a primeira cidade, Virka, recém
co de força, Dante conseguiu dar o seu golpe
unificada sob o punho de Dante; Rastov, ao nor-
com relativa tranquilidade. Não mais utilizando
te, exercendo extrema influência nos povos do
o karnado como forma oficial de governo, assu-
sul; Viha, antigo lar dos inúmeros clãs bárbaros;
miu uma postura mais tradicional.
Igslav, terra dos clãs que seguiram os passos

b 30 b
b O Conto dos Anos b
dos belghos; mais ao sul se erguia Dalanor, uma Criador e aprenderam com as parábolas ouvi-
De acordo
terra de fábulas e canções. Sob a sombra das das diretamente de sua boca. Viram o mundo o
Grande C
montanhas que cercam o vale de Belghor, esten- se desvelar enquanto a boa obra era repassada oncílio
estas info
dia-se o prado de Parlouma, longo e belo, antiga do Criador para o ouvido mortal dos Puros. Par-
rmações
e teoria f
ora de-
terra de cavaleiros. te destes diálogos representam o cerne do que sacreditad
a, algo
se tornou a Litania do Criador. Alec fora filho mais que ju
Marcando o fim da Era das Revelações e tra- sto.
de nobres que largou tudo para viver apenas do Retire isso
zendo uma verdadeira reforma na maneira de se
do
que o mundo lhe retribuía depois de espalhar a texto.
enxergar o mundo e a própria religião em Bel- palavra de Deus. Lazlo era filho do pecado de
regard, está a vinda do Criador. Dessa vez não um padre e sedento pesquisador, contestador
através de um profeta, mas numa forma carnal, do mundano e do fantástico. Leoric foi filho de
como seus filhos, no ano de 900 DA. Por cerca cavaleiros traídos que buscou vingança e cres-
de vinte anos, mistérios inomináveis em forma ceu conhecendo apenas a violência, aprendendo
de forças naturais indicaram a vinda do Criador. a se disciplinar junto ao Pai. Outro fato marcan-
te do período foi o fim dos milagres. O que era
No momento de sua chegada os céus se abri-
possível para os homens devotos no passado,
ram e o Pai se fez homem para alertar os po-
não era mais com a vinda do Pai. Para alguns
vos de Belregard sobre os novos dogmas que
foi como perder a ligação com Deus, para ou-
seriam seguidos pela futura igreja reformada.
tros era a marca do novo começo, o tempo onde
Em sua chegada, o Criador experimentou as
o rio de graça seca e cada um precisa meditar
Três Marcas, ou Três Chagas. A primeira delas foi
sobre suas ações para ser agraciado. Uns dizem,
na alma, quando percebeu que sua vinda trouxe
que antes deste fato, o Criador permitia que ho-
o inimigo, a Sombra Viva, que também estava
mens realizassem milagres por pena, não por
livre para agir no mundo mortal. A segunda
qualquer tipo de merecimento.
marca foi a do ego, quando o Pai se mostrou
Ciclo da
diante de seus filhos, imaginando que sua mera é o qu e eu chamo de
Fato intere ss an te ate entre
presença seria capaz de trazer a clareza total te m a qu e é motivo de deb ríodo
Ausência, um no ssa história sob
re o pe
e pureza de pensamento pleno para todos, mas tu d io so s d e ele alento
os es
ed eu a vi nd a do Criador. Aqu da noite
foi um engano, já que encarar Deus diante de si que prec e existir
o fiel deixou d s mila-
era como estar diante de todos os seus pecados sentido por tod er am ca pazes de breve
s qu e sua
e falhar. No lugar de filhos devotados, o Criador para o dia. O er am cu ra r ou acalmar com e
d
gres não mais pu ra. Foi como se cada homem
o
presença inspirad rd houvesse sido abandonado
encontrou pessoas desesperadas que gritavam
B el re ga e de
e arrancavam os próprios olhos com as mãos, mulher de
un s d iz em qu e este foi um test he
tentando fugir da verdade. A última marca, pelo Pai. Alg
qu e o Ú ni co soubesse quem L o
do corpo, só veio no fim, quando ele partiu… resistência, para d evoção. Alguns
dizem que
ve rd ad ei ra três dias.
prestava in ta anos, outros de dos em
Morrendo. f o i d e tr
período esespera
se en co ntram relatos d ego
F at o qu e
e in te rv al o . A conclusão que ch
No entanto, a vinda do Criador não fora com-
períodos nest poucos, em
e es ta A us ên ci a aconteceu aos te retor-
pletamente angustiante. Ciente da sua necessi- é de qu finalmen
entes. Quando a,
dade de deixar frutos, Ele preparou alguns es- momentos difer e chamo de Ciclo da Presenç
o d o qu am d e
colhidos antes da chegada e estes homens que nou, no perí s, sa ce rd o tes não receber osos
an o
por mais trinta ato que torna ainda mais curi
não sofreram diante do pai foram Alec, Leoric . F
volta seus dons sos Milagres
e Lazlo, os Puros. Eles caminharam ao lado do o Livro dos Fal

b 31 b
b Belregard b
A Era de Sangue
a “O Peso do Aço”
A Era do Sangue
Acontecidos do Ciclo da Ausência
se iniciou em 901 As andanças do Criador com seus Puros mar-
e durou até o ano Como mostrado no texto, o Ciclo da Ausência cam o fim da Era das Revelações e início da Era
1000 DA. Um foi marcado por inúmeros momentos bizarros.
de Sangue. Apesar da presença de Deus, foi um
período conturba- Por todas as castelanias surgiram relatos de coi-
do e marcado por sas estranhas ocorrendo quando os sacerdotes
período conturbado para o homem comum.
traições de sangue, deixaram de sentir sua ligação com o Criador.
Por cerca de trinta anos o Criador caminhou
uma verdadeira Exemplos como os de Mikhail de Igslav, Bari-
vergonha o Pai, cos, ou da chamada Catedral Invertida, cons-
pelo mundo mortal e seus feitos são motivo de
mas também mo- truída por um homem só, não apenas sua parte discussão entre clérigos e leigos. Antigos regis-
mento da criação superior é impressionante, mas os infindáveis tros dão cabo de apontar certos acontecimentos
do Tribunal, cer- túneis de catacumbas abaixo dela. Este é um envolvendo a figura do Pai, mas é sabido que ele
cando os homens terreno fértil para eventos estranhos e atitudes próprio optou pela discrição depois de sua che-
de segurança. insanas. Na busca por respostas, especialmente
gada em Virka. Talvez por ter percebido o que a
do divino, o homem é capaz de coisas terríveis.
visão de seu semblante puro e perfeito causou
Lembre-se, os homens santos de Belregard sen-
tiam de fato a presença do Criador, era o que
aos seus filhos, muitos indignos de tal graça. O
lhes dava sustento. Subitamente, esta ligação Único vagou então apenas com os seus escolhi-
foi perdida. É um sentimento de perda que se- dos, capazes de absorver sua graça divina. Al-
gue ainda hoje. guns relatos são contraditórios, mostrando o Pai
de Todos em lugares distantes, mas em interva-

Gravura de Ferguson representando ruínas da Era de


Sangue, que devastou Belregard colocando irmãos contra
irmãos e pais contra filhos.

b 32 b
b O Conto dos Anos b
los curtíssimos de tempo. Isso pode-se explicar
pela natureza de Deus, incompreensível aos ho-
a
mens. Toda castelania, ou mesmo povo isolado, Narrando e Jogando: Arautos
tem algum relato misterioso sobre esse período,
Os Arautos representam um elemento diferen-
não só dando conta de mostrar a loucura que
ciado no jogo. Eles serão mais detalhados ao
acometeu antigos sacerdotes, mas de eventos
longo do livro, mas é importante perceber que
inexplicáveis envolvendo a figura de um homem este momento, o da morte do Criador, marca
humilde que caminhava de pés descalços, acon- o início da existência dessas pessoas ilumina-
selhando a quem Lhe procurava. Nenhum povo das e escolhidas, não por desejo, mas pela ne-
ou cultura foi deixado de fora. cessidade do combate contra a Sombra. Uma
última linha de resistência para combater um
Nunca mostrei isso para ninguém. Copiei inimigo que venceu a guerra e coloca em risco
esse trecho de um livro que estava a integridade física e espiritual de todo homem
sendo transportado por cavaleiros alguns e mulher de Belregard.
anos atrás. Fiquei estático ao ler e ainda
abalado por nunca ter esquecido nenhu-
ma das palavras que lhe transcreverei
”É inquietante a resistência de incluir Curioso perceber como relatos recolhidos ao
os Cinco Puros, pelo fato de dois deles longo dos anos dão uma noção de mostrar o
terem tido fins prematuros. Hellish quão importante foi a vinda do Criador para
simplesmente abraçou a loucura de sua todos os povos daquele tempo. Não apenas os
mente débil quando soube da partida tocados pela palavra foram agraciados, senti-
do Pai e o quinto, cujo o nome nunca
foi registrado, teria seguido com o
ram a vinda de seu Pai. Mesmo entre os he-
Criador, mas abraçou a causa da Sombra reges, entre os bandos nômades e selvagens, a
no vale de Belghor”. vinda do Único foi sentida e relatada, fosse
por desenhos rústicos em pedra, simbolismos
P. tacanhos ou por histórias passadas geração
após geração, todos o sentiram. A vinda de
Novamente, a vinda do Grande se converteu
um ser de pura luz que transcendia qualquer
crença ou vivência, bastando-se para colocar
em atitudes da Sombra. O mal em sua forma
cada homem aos seus pés, reconhecendo-O
mais pura se manifestou no mundo, mas en- como Senhor absoluto da vontade de cada
quanto o Criador caminhou e abençoou aqueles um de nós. Ouso dizer que o mundo já vivia
que tinham sido convertidos à sua fé, a Sombra em treva antes mesmo disso, por mais que não
concentrou-se num só lugar... O berço dos ho- soubéssemos, foi o Pai quem trouxe a primei-
mens, o Vale de Belghor. Influenciando direta- ra e verdadeira luz, ainda mais grandiosa que
mente os que ainda viviam em tão pura terra, a
a apresentada a Morovan. Acredito que mui-
to desta história fora abandonada, alterada
semente do mal genuíno tinha sido plantada e
ou esquecida devido o coração mesquinho do
estava pronta para germinar. Contam as lendas homem, afinal, muitos clérigos foram enver-
da época que o infame Bövrar II, o segundo rei dos gonhados pelo desaparecimento da sua capa-
homens, voltou à vida para reinar na terra negra e cidade de executar milagres. Muitos demons-
que a própria Sombra escolheu seu Eleito corrom- traram sua raiva alterando a história que o
pido, como contrapartida aos Puros do Criador. Criador escrevera. Histórias dizem que aque-
Um verdadeiro antro de podridão e perversidade.
le que assim o fizer, alterar textos sacros,
morrerá com chagas horrendas. Acredito que
Ciente desta ameaça, o Pai tentou remediar a sejam apenas lendas para nos obrigar a fazer
situação. Uma verdade que muitos catedráticos
aquilo de devemos fazer.

b 33 b
b Belregard b
já debateram é a questão do quão poderoso é o Durante o período da presença do Criador
Criador. Segundo palavras ditas pelo próprio, atra- no mundo, o poderio de Virka voltou a crescer.
vés de suas parábolas, toda a atitude desprendida Dante II havia tido apenas filhas e conseguiu
por Ele requer um custo. Algo que não tem mais orquestrar casamentos e acordos que o favore-
Criador tolo? retorno e ainda, de acordo com interpretações dos ceram no futuro, com seus netos. Em 920 DA, a
Uma criança fan- próprios puros, estava chegando ao fim. Dispos- família Vlakin torna-se importante em Virka e
farrona? Uma to a deixar uma última lição para suas crianças, em Rastov, unindo as duas primeiras grandes ci-
blasfêmia! Cer-
o Altíssimo desprendeu parte de sua essência di- dades dos homens. Desse modo, apesar de não
tamente textos
falsos atribuídos
vina para aquecer ainda mais a centelha que todo ser rei de Rastov, Ilário Vlakin torna-se repre-

aos Puros origi- o homem tem dentro de si, fazendo-a prevalecer, sentante dos interesses da castelania em Virka,
nais. Tanto que na maior parte do tempo, sobre a influência da ao mesmo tempo em que reinou na dita cidade.
foram perdoados Sombra e assim partiu. Alguns poucos dizem que O Criador não se envolvia em assuntos políticos,
pelo Tribunal. Se a Sombra é criação do próprio Criador, como um mas os regentes do período faziam uma verda-
a mim fosse consi- motivador à fazer o homem querer sair do lamaçal deira corte quando boatos da passagem do Cria-
derado tal poder, e ascender em direção à Abóbada Celeste. dor se espalhavam. Como sempre se apresenta-
expurgaria tais va de forma humilde, acredita-se que muitos
textos dos anais Em 905 DA, o Único, reunido com seus puros, miseráveis foram tratados como reis, sem que
históricos. fala sobre o perigo que se instalou no mundo com seus anfitriões se dessem conta do engano. Em
a sua chegada. Ele fala sobre como a Sombra se- todo caso, a vontade do Pai era realizada.
guiu seus passos e instalou-se no antigo berço da
humanidade, de onde vieram os primeiros desbra- A ida do Único, em 928 DA, não foi carregada
vadores e o próprio Morovan. O Criador alerta que de brilho ou glória. O Pai partiu como homem
era preciso expurgar o mau dali e a única forma de e sangrou para tanto. Em um último sacrifício,
fazê-lo é ir até o coração desta corrupção. Alguns na direção de Belghor e da Sombra, Ele buscou
Já falamos so- textos menores, até mesmo apócrifos, dos próprios enfraquecer o inimigo, tentando fazer suas gar-
bre essa teoria puros mostram uma visão extremamente humana ras se afrouxarem contra os mortais. Esta foi
ultrapassada sobre para o Criador. Lazlo chegou até mesmo a des- a última marca sofrida pelo Criador, a marca
Marcas. Reve-
crevê-lo como uma criança curiosa, uma que tinha da carne, quando ele sofreu das mesmas mo-
ja isso. Mais uma
o dom da criação poderosa, que aprendia com os léstias que nós, mortais, sofremos. O Altíssimo
coisa, sei que pode
escolher pala- erros e tentava melhorar, uma criança que ainda caminhou até Belghor, angariando seguidores
vras melhores e estava longe de ser perfeita, mas que merecia todo até a fronteira do antigo berço dos homens e lá
deixar a partida o amor dos homens. Se os homens fossem capa- mostrou como a Sombra corrompeu os que fi-
do Criador mais zes de perdoar os erros do Pai, o que mais poderia caram. Um reino distorcido e depravado havia
interessante. Eu ser impossível? Alec conta que o Senhor aprendeu sido erguido no vale e a presença inspiradora de
pouco me importo, muito com eles também. Leoric era visto como um Deus foi recebida com flechas, aço e maldizer.
mas lembre-se dos verdadeiro protetor de Deus, seu fiel escudo, em Leoric estava ao seu lado, junto de um exército
gostos de quem
todos os sentidos. Alec dizia que fora ele mesmo de soldados fiéis. Em meio ao conflito inicial, o
encomendou
que enxugara as lágrimas do Criador frente ao seu Criador partiu, deixando os homens de armas
estes tomos.
arrependimento. É muito possível que estes textos revigorados com sua inspiração, com seu sacri-
desconsiderados pela igreja tenham ajudado na in- fício divino. Os relatos sobre esse momento, da
fâmia que resultou na morte dos Puros. partida do Pai, são muitos.

b 34 b
b O Conto dos Anos b
Leoric, naturalmente, se manteve na fronteira
a e lançou os alicerces de seu próprio reino, ain-
O Sacrifício do Criador da chamado Brandevir. Ele pretendeu retomar o
Karnado, acompanhado de um sacerdote para
Deus percebeu, quando apresentou-se dian- guiar os homens pelo caminho da retidão, tem- Não é raro encon-
te dos muros de Belghor, que não seria capaz trar algumas marcas
perados para a guerra do corpo e do espírito. Foi
de fazer os homens vencerem a Sombra dire- de fundação de anti-
o orador Lazarus quem seguiu na regência com gos reinos e cidades em
tamente e que nem mesmo ele poderia chegar
o Puro. Lazarus foi grande estudioso do oculto Belregard. Muitas des-
até ela naquele momento. Percebendo como o
tas ruínas ainda possuem
Inimigo influenciava tudo diretamente daquela e do proibido. São dele os estudos sobre os Ím-
algum destaque, sendo
forma, o Criador preferiu deixar o mundo pro- pios que servem à Sombra. Leoric, desconfiado um ponto de referência
tegido com a sua partida. No seu sacrifício o de que Lazarus poderia acabar se deixando le- para muitos. Mas aqueles
que restou de sua centelha de poder foi utiliza- var pelos encantos do Inimigo, insistiu para que que se referem à Era do
Sangue costumam estar
da para criar uma defesa, um escudo, uma bar- o sacerdote abandonasse seus estudos profanos, afastados das cidades. Há
reira, forçando o poder da Sombra a se limitar. mas o mesmo não o ouviu e iniciou uma cisão quem diga que há alguma
O Inimigo sempre foi sutil e com o cerco impos- maldição entorno das pe-
no reino. Nessa divisão, em 967 DA, Brandevir
to pelo Criador, é apenas através dos Ventres dras angulares das cidades
ficou enfraquecido, transformando-se em dois
Negros que ela poderia agir mais diretamente, formadas neste período.
reinos, Braden ao sul, concentrada na Muralha Ainda há quem cogite
de rachaduras nesta proteção, locais onde o pe-
do Leão, onde Leoric manteve sua guerra e Bir- que elas foram erigidas
cado é mais intenso. No entanto, corroborando
man ao norte, regida por uma teocracia. seguindo alguma orientação
com a ideia de que Deus não é perfeito e erra,
astral. Vez por outra al-
a partida do Criador deu a Sombra tudo que ela gum cadáver é encontrado
A Era do Sangue viu ainda o surgimento de
poderia desejar, apesar das limitações de espa- nas proximidades. Mas é
muitos outros reinos e castelanias. A guerra en- claro que pode ser apenas
ço, agora ela tinha tempo de sobra para atuar
nos homens, sem pressa para vencer, ganhando tre os bárbaros iniciada por Rastov, tomou novos mais um assassinato feito
caminhos e um conflito armado na fronteira foi por bandoleiros de beira
e consumindo a todos com a sua mais básica e
de estrada.
fundamental aliada, a Mentira. deflagrado. Em 940 DA, os clãs de vihs quebram
sua relações com os barões de Rastov e fundam P.
sua própria regência, no reino de Viha que man-
Criador é tinha tradições antigas, mas que também prati-
A morte, partida, do
rmas di- cava do Criadorismo em hekklesias particulares,
contada de muitas fo
campo de com uma visão conciliatória entre os cultos an-
ferentes. Relatos do
tórias con-
batalha mostram his
tigos. A criação dos demais domínios se mostra
zem que o
traditórias. Alguns di em 955 DA, quando Ilário Vlakin, mostrando-se
i alvejado
corpo do Criador fo um governante de pulso frouxo, acaba ceden-
as uma flecha
de flechas, mas apen do muitas das terras de Virka a nobres que lhe
ferido o
negra parece ter Lhe faziam oposição. No lugar de conseguir novos
eu corpo cair
coração, fazendo S aliados, o monarca viu-se isolado em sua própria
m glória, uma
sem vida, sem luz, se reserva, enfraquecido enquanto outros passa-
mum. Outros
morte de homem co ram a gozar da prosperidade, como o ducado de
majestoso,
falam sobre um fim Lazari, em 957, que viria a se tornar a castelania
l subiu aos
onde Sua alma imorta
lta à vida os de Latza. Dalanor é fundada nessa época, sob
céus e trouxe de vo
talha. Outra a figura do lendário Lycaon, o justo. Parlouma
homens caídos na ba
desfazendo também ergue sua própria bandeira, a terra dos
fala de Seu corpo se
unca se sabe- cavalos e berço da cavalaria, dando sinais de me-
em fachos de luz. N
onteceu.
rá como realmente ac
lhora, de recuperação do antigo orgulho.

b 35 b
b Belregard b

Talvez pelos documentos estarem bem guardados naquela época, Haskel não tenha
falado sobre Os Livros dos Falsos Milagres. Durante o período que seguiu a par-
tida do Criador, proliferaram-se casos de testemunhos milagrosos. Homens capazes
de curar chagas e deficiências com a mera imposição das mãos, outros capazes de
suportar os mais severos ordálios de fogo e ainda aqueles que inspiravam multidões
com seus olhares ou singelas palavras. A igreja daquele período, não ainda o conso-
lidado Tribunal, investigou estes casos e todos foram catalogados em Livros dos
Falsos Milagres. Em todos os casos representados, a despeito do bem que se te-
nha feito, cada um dos milagreiros teve um fim trágico, por execução da igreja ou
traídos por aqueles que se beneficiaram de seu dom. Sabemos que antes da Ausên-
cia, devotos eram capazes de operar milagres, mas nunca depois disso, o que causa a
estranheza de tantos mundanos e vulgares operando tais feitos.

Foi no período próximo do fim da Era do San- Alec lutou muito para acabar com o caos das
gue que os Puros encontraram um fim trágico. hekklesias, foi o último dos Puros a cair. Durante
Um a um tombaram desacreditados. O primei- o tempo em que seguiu sozinho, não se manifes-
ro foi Lazlo, em 945 DA, que se suicidou ao se tou pelos destinos de seus irmãos, talvez julgan-
lançar de sua torre de estudos dentro de Virka, do que apenas o próprio Criador pudesse julgar
onde seguiu com as pesquisas depois da partida seus captores. Em 961 DA, no concílio de Velize,
do Criador. Lazlo era muito apoiado pela classe Alec acabou com as Hekklesias e instaurou a
nobre e pelos comerciantes, já que defendia o Trina, onde os ensinamentos eram divididos en-
Desculpe a ausência, sofri progresso. Acusado de estudar o proibido, de tre os que foram deixados por ele próprio, a pro-
um ataque de salteadores
na última viagem. Meu compactuar com a Sombra, seus inúmeros to- liferação da palavra do Criador e a humildade;
mensageiro morreu no mos, quase todos foram queimados, mas alguns entre as palavra de Lazlo, na busca pelo saber
ataque. Algo me diz que foram recuperados por seus seguidores, que se e do culto racional, e por Leoric, representando
os salteadores sabiam quem
eu era, parecia mais do mantiveram em segredo, passando por ordálios o braço tenaz da fé, o caminho irrepreensível.
que um ataque para me de purificação. Naturalmente, o Puro escondeu tais verdades,
roubar. Quando comecei
de que estava erguendo novas bases sobre o le-
a lhe escrever isso, senti Leoric morreu como viveu, no combate. De-
estar sendo observado, gado de seus irmãos, já que seus irmãos haviam
seguido. Ficarei um tempo pois de anos guiando seus homens na conquis- sido mortos e desacreditados. Com a Hekklesia
sem escrever-lhe, o coração ta de Belghor, o Puro teve um sonho onde viu Trina, Alec lançou o fundamento do Tribunal do
não aguenta, meus olhos o Leão triunfando sobre a Serpente. Juntando
choram. Supremo Ofício, fundado oficialmente em 988
seus exércitos, marchou para a negra Belghor e DA, o mesmo ano em que Alec foi morto por
Do seu amado lá morreu, em 968 DA. Até ser enaltecido como
P. apedrejamento acusado de traição por deitar-se
santo, acreditava-se que Leoric havia abando- com a mulher do monarca de Virka.
nado seus irmãos no conflito, acorvadando-se,
mas tais acusações foram retiradas. Por fim veio Varning nasceu em 970 DA, diante da fra-
a morte de Alec, que viveu até 988 DA, com queza de Giocomo Vlakin, filho de Ilário, em
cento e oito anos de idade. manter suas terras. Um lugar que pensava no
progresso, seguindo ensinamentos deixados

b 36 b
b O Conto dos Anos b
por Lazlo, onde o perdão pelo pecado dos ho- O prelado morreu no ano de 1001 e seu tra-
mens havia sido dado com a partida do Criador. balho teve certa continuidade, mas mesmos os
O progresso não deveria ser freado. Tal local logo registros destes tempos mais recentes são raros
tornou-se um antro de corrupção embasadas nas e estão guardados em monastérios ou em posse
acusações da própria igreja. Esta mesma igreja da mais alta nobreza.
que acabou perdoando os puros em 990 DA, acei-
tando-os como padroeiros de seus três caminhos. A Era da Conquista
“O Punho e o Ouro”
Enquanto alguns se preocupavam com as
oportunidades deixadas por seus vizinhos, na Visando manter o padrão criado por Haskel,

busca por novas terras, títulos e riquezas, pou- aqueles que seguiram com seu trabalho marca-

cos prestavam atenção à verdadeira ameaça, ram o início de uma nova era no momento em

aquela vinda de Belghor. Tirando proveito disso, que Vlakin II começou a ter apoio popular em

Vlakin I de Virka, viu a oportunidade de devol- sua Marcha. A Era da Conquista marca o esforço

ver a glória à primeira cidade dos homens. Cla- da monarquia de Virka em reconquistar o berço

mando pela retomada de Belghor, por vias de dos homens e assim consolidar seu poder como

uma marcha, Vlakin I, filho de Giocomo, iniciou principal centro de influência.

uma campanha militar a qual seria fortemente ina


st a se in ic ia em 1001 e term
ui do
A Era da Conq estruturação
religiosa e uniria todos os homens. Do servo ao
ar ca d a pe la
sendo m uma
prelado, do capataz ao cavaleiro, todos seguem
em 1070 DA, e a co nq ui st a de Belghor,
ka
a mesma fé. Os registros da época, que mos- império de Vir a pe lo pr óprio Criador.
tarefa d ei x ad
tram muitos relatos de soldados de Braden, fa-
lam sobre os horrores nas fronteiras, das coisas
que saem das montanhas, das máquinas que são
empreendidas contra as muralhas e do terror
que Belghor causa no coração de todos. Porém,
os registros de Haskel terminam antes de um re-
sultado dessa propaganda.

Gravura de Fergus representando a temível fortaleza de Xerigordon.

b 37 b
b Belregard b
Você tem recebido Giocomo Vlakin havia deixado Virka limitada Foi na coroação de Vlakin III que o império
minhas cartas? Se sim, a uma simples reserva que mal servia para ali- de Virka nasceu, em 1050. Ainda que nem todas
porque insiste em não mentar seus limites. Tentando restaurar a glória as castelanias do período tivessem se curvado
me responder? O que
de Virka e lembrar às demais terras que ele era ao domínio imperial, a criação do Tractatus Ter-
lhe fiz? Minha pobre
rei da Primeira Cidade, Giocomo exigiu que o rae, delimitou terras e acertou velhas disputas
alma sofre no alento
Tribunal o reconhecesse como Vlakin I em 1001 advindas da Era do Sangue, angariando ainda
da solidão.
DA, firmando uma dinastia que restauraria esta mais poderosos aliados para Vlakin III.
Caso não as tenha glória passada. No entanto, o monarca teve
recebido, acredito en- pouco tempo para realizar seus sonhos. Ciente Convocando todos os homens e mulheres das
tão que estamos sendo disso, preparou o terreno para seu filho, reali- terras civilizadas capazes de erguer uma arma
vigiados. zando favores e tornando Virka, novamente, um para se juntarem à marcha contra Belghor. Re-

ponto de encontro neutro entre as castelanias. unidos na velha Muralha do Leão, erguida por
Tenha cuidado. Leoric, Vlakin III liderou pessoalmente seus ho-
Giocomo não conseguiu corrigir todos os seus
erros do passado, mas passou a lição para seu mens até o coração da terra tomada pela Som-
P. bra. O combate foi longo e a Guerra do Coração
filho que assume como Vlakin II em 1030 DA e
tenta seguir os sonhos de seu pai. Negro durou longos e penosos dez anos. No de-
correr deste período, muitas vidas se perderam.
Vlakin II conseguiu puxar as cordas de in- Homens de todos os cantos de Belregard, ricos
fluência deixadas por seu pai e iniciou um cami- e pobres, marcharam contra a negra Belghor.
nho para a conquista. Cuidou para passar toda Concentrando-se em Braden, os ataques foram
sua instrução ao seu filho, pois tinha plena cons- direcionados ao antigo Passo de Morovan, por
ciência de que não conseguiria encerrar todos os onde os homens tinham partido pela primeira
conflitos latentes do continente. Varning estava vez e, pouco a pouco, a vitória parecia próxima.
em guerra quase declarada com Birman, já que Quando deram os primeiros passos para dentro
a segunda acusava a primeira de realizar cultos do vale, gerações depois de terem partido, nem
da Horda em aberto. Rastov tinha interesse em mesmo o mais antigo dos homens poderia reco-
dominar Dalanor, em busca de terras mais fér- nhecer tal lugar. Uma civilização ciclópica havia
teis e clima mais ameno, com Viha colocando-se dominado as terras de outrora. Homens de co-
em seu caminho para proteger os dalanos. Dessa ração negro zombavam das litanias do Criador
forma, Vlakin III cobrou os favores deixados por e cultuavam a Sombra abertamente e imagens
seu pai. Os alicerces para a convocação à guerra blasfemas de criaturas e seres jamais imagina-
estavam lançados em uma propaganda que se dos adornavam as torres e castelos.
espalhou pelos quatro cantos do continente. Um
Lembro-me dos registros de
chamado geral às armas que seguia de perto a
Xerigordon, a primeira fortaleza
construção de grandes estradas ligando as prin-
a ser tomada. Dos homens que
cipais castelanias de Belregard. Estradas estas
entraram em seus salões escuros,
que foram fundamentais para a instauração do poucos voltaram, sendo ainda hoje
poder imperial. Em 1045 DA, Vlakin II dá um considerada como um lugar de
importante passo para sua dominância, unindo pleno mau agouro. Evitado. Nunca
Viha e parte do Território de Rastov, formando pus meus olhos nela, mas as descri-
a Grande Viha, juntando novamente os povos de ções são de causar pesadelos. Mi-
raiz bárbara. nha lucidez parece me abandonar
cada vez que leio sobre tal local.

b 38 b
b O Conto dos Anos b
Quando alcançou o chamado Arcem Aeter- III marca também o fim da Era da Conquista e A Era dos Homens
nus, a fortaleza do monarca de Belghor, hoje inicia a Era dos Homens, longo período de rela- se inicia em 1071
completamente modificada para purificá-la da tiva paz e calmaria. e segue até 1301
corrupção, Vlakin III trocou golpes com o rei de DA quando os ho-
coração negro. A batalha entre os dois foi lon- A Era dos Homens mens viveram sob
ga e custosa. Não se sabe muito sobre o rei de “A Palavra e o Livro” o jugo imperial,
crentes que este
Belghor daquele período, os registros mantidos
Uma vez que a monarquia local fora conquis- era o verdadei-
na castelania foram destruídos e Vlakin III nun-
tada, a influência da igreja cuidava do resto e ro desejo do Pai,
ca falou publicamente sobre seu encontro com mas o homem é
mesmo rebeliões esporádicas eram combatidas
a treva encarnada, não se sabe se, de fato, era
de imediato, sempre com a alegação da manu- um ser de pecado,
a linhagem Bövrar que havia retornado em uma de orgulho e pai-
tenção da fé, já que tais grupos praticavam toda
paródia profana. Por fim, Vlakin sai vitorioso, xão. Assim, mesmo
a sorte de culto profano, enaltecendo selvagens
mas terrivelmente desfigurado. Despachando o maior gesto em
e desejando trazer a ruína ao glorioso império. louvor ao Senhor
seus soldados para que ocupassem as cidades
Essa era de quietude e plenitude do império foi mostra-se rachado
dominadas, o rei desceu até os níveis inferiores
conhecida como a Era dos Homens mas não re- e corrompido
do Aeternun e fez uso das forjas de Belghor,
presentou grande oportunidade para eles, que por dentro.
usando do aço escuro, Vlakin forjou uma coroa
foram oprimidos diariamente pela igreja.
que seria símbolo do império. Tal ornamento
consistia numa máscara de ferro com pesadas O Tribunal casou perfeitamente com os dese-
ombreiras e coroada à imagem das represen- jos de Vlakin III depois de sua conquista. O po-
tações divinas do Criador. Quando mostrou-se der é instaurado e o Império é reconhecido em
novamente para seu povo, envergando aquela uma coroação em Belghor. O imperador recebeu
coroa, dez anos depois de lançada a Cruzada, a sua coroa por sobre a máscara de ferro, sendo
estaca final para a supremacia dos Vlakin havia anexada permanentemente a ela em seguida, e
sido fincada. foi ovacionado por todos. Dos soldados que in-
vadiram o vale negro até a população oprimida
Aproximando-se da igreja com a vitória, fi-
que vivia sob o domínio do monarca anterior,
cou fácil para Vlakin confirmar seu poder em
todos louvaram Vlakin III como se este fosse
cada uma das castelanias de Belregard e mes-
uma reencarnação viva do primeiro Bövrar. O
mo os irresolutos vihs estavam com seus co-
Eleito ao seu lado foi admirado como o próprio
rações amaciados depois daquela conquista. O
Morovan e a boa nova se espalhou como fogo
poder do império foi sendo firmado e peque-
em palha seca. No entanto, a vitória trouxe ou-
nas revoltas foram logo sufocadas. Vlakin III,
tros problemas.
como grande representante dessa nova ordem,
buscou por relíquias e segredos. Tendo interes- Braden havia se erguido como um reino cria-
se especial nos feitos de Bövrar II, o monarca do para combater Belghor e agora que não ha-
realizou pequenas buscas pelos terrenos mais via mais a ameaça externa, a situação interna
isolados de Belregard como havia feito em 1061 da castelania tornou-se delicada. Servindo ain-
DA, quando massacrou os moradores do ducado da como um meio caminho, um campo neutro
Lazari, em busca dos tesouros da família. Com para as negociações nos períodos em que o
a unidade assegurada, todo o ducado Lazari se imperador passava em Belghor. O intuito ori-
tornou uma grande zona logística, com campos ginal de Vlakin III era o de que o antigo ber-
de treinamento e prisões. O império de Vlakin ço dos homens se tornasse o foco do império,

b 39 b
Um viajante me vendeu
b Belregard b
alguns desenhos e rabisco mas é inegável que existe, ou existia, algo de
que valem a pena serem
s
ruim na própria terra, que deixava os homens
a
vistos. Olhe esses crânios,
elas são deformadas. Nos perdidos, desesperados, depois de muito tem- Os Degenerados
textos, afirma-se que a po em seus limites. Alguns acreditam que os
degeneração está direta- Sempre se ouviu falar sobre homens solitários
degenerados só surgiram depois que Belghor foi
mente interligada com ess que abandonaram o convívio social e partiram
a recuperada. Histórias sobre homens loucos nos
deformidade. Mandarei os para os ermos, para as matas, em busca de ilu-
textos para que analise, ma limites das cidades e nos ermos sempre foram
s minação. Alguns tornaram-se grandes sábios,
é assustador e fascinante.
comuns, mas os registros aumentaram com a retornando com valiosas lições de humildade,

P. tomada de Belghor. quase sempre inspirados no que foi deixado


pelo Puro Alec. Mas nem todos conseguem
Nos primeiros anos da Era dos Homens, que alcançar esta luz, muitos tornam-se loucos,
se ocuparam basicamente da consolidação do continuam solitários ou se juntam a outros per-
poder, pouca coisa aconteceu em Belregard. didos em paródias deturpadas de uma socie-
dade caótica e profana. Na Belregard moderna
As terras foram novamente divididas, tendo
existem muitos destes desgarrados que repre-
uma organização diferente da atual, com novos
sentam um perigo para os viajantes incautos.
e grandes ducados marcando o terreno, como Tocados pelos miasmas do mundo, os Degene-
os de Vlakir e mesmo Latza recuperada de seu rados fogem do Imago Dei, a forma perfeita
massacre. Os problemas começaram a apare- dada ao homem pelo Criador, quando não na
cer após a morte de Vlakin III e a coroação de carne deturpada, na mente distorcida e, por
Vlakin IV. A região da Grande Viha mostrava isso, foram considerados portadores de almas
animais. Desse modo, não recai sobre execu-
constantes sinais de fragmentação e o poderio
tores qualquer pena de punição quanto a mor-
militar ainda latente de Braden fazia com que
te de um Degenerado, sendo tratados como
seus vizinhos ficassem constantemente preocu- cabeças de lobo pela sociedade.
pados, cobrando atitudes imperiais.

Gravura de Fergus, de um
crânio degenerado numa mesa
ritualística profana.

b 40 b
b O Conto dos Anos b
Para piorar a instabilidade da dinastia, o go- escondidos e esquecidos é o caminho certo para a
verno dos Vlakin era curto, geralmente termi- ruína, quando feito sem cautela, direcionado ape-
Estranho você falar com
nado em tragédia, em traição e intrigas políti- nas pela curiosidade orgulhosa dos homens. tanta agressividade sobre
cas palacianas, apenas o governo do último dos o estudo do oculto. Nós
O golpe final contra o império veio em 1270 dois sabemos da sua paixão
Vlakin, o VIII, durou tempo o bastante para po- sobre artes bovráticas.
DA, quando Vlakin VIII criou o Cruenta Tribu-
der ser comparado com os dos demais grandes
tum, uma execução ritual para punir os traidores Não tente esconder isso
monarcas do passado. Se existiu algo comum de mim, lhe conheço por
da coroa. Mandou escavar um imenso fosso cir-
em todos os Vlakin, fora sua paixão e afinco em completo. Não deixe Tullus
cular em Virka e adornou suas bordas com placas dominar sua mente.
investigar os mistérios do mundo. Nesta altura,
de mármore exibindo caracteres na Fala Negra de
seus arquivos brováticos entupiam salas e salas P.
Belghor. Dizia o monarca que havia encontrado
em vários lugares do império.
um caminho para a própria Alcova Profana, o lar
Vlakin VIII foi mais um homem curioso, inte- da Sombra, o inferno e que o império de Virka ha-
ressado em descobrir sobre as glórias passadas via tornado-se tão grandioso que tornou-se capaz
e o fim do seu reinado é envolto em mistérios de dominar até mesmo o reino do inimigo e dessa
profundos. No ano de 1250 DA, a insatisfação forma faria com que a Sombra punisse os infiéis,
de muitas castelanias se fez mais clara. Não curvando-a à sua vontade. Relatos afirmam que o
mais tentando resolver as contendas pelo apelo imperador fora instruído por um visitante trajado
religioso ou meramente político, Vlakin VIII en- em negro durante toda a titânica construção do
viou suas forças, suas tropas, para acabar com fosso, relata-se até que todo o processo de cons-
as revoltas. O que deveria ter sido um ponto fi- trução fora relatado em um diário, completamen-
nal nas agressões serviu apenas para fomentar te perdido, não existe nenhuma prova real sobre
ainda mais o conflito. Alguns fatores pontuais isso. Todos nós, homens santos, vulgares e nobres,
podem ser observados como causadores da ruí- desejaríamos que fosse verdade, que o homem ti-
na do império, claro que estes fatores são de fá- vesse controle sobre o mal, mas este era um sinal
cil observação agora, depois que tudo terminou. claro da arrogância de Vlakin VIII.

Acredita-se que as divisões políticas dos ter-


ritórios estavam desgastadas e muitos nobres,
duques e condes, desejavam novas alianças e
acordos de terras e a recusa imperial em mudar
o tractatus levou a insatisfação a muitos. Além
Se não existe provas, por-
disso, o Tribunal, que era grande aliado e lega- que alimentar e dar vida a
lizador, estava demonstrando uma imensa into- estas histórias folclóricas?
lerância e paranóia. Hoje em dia é sabido que os
Retire isso do texto.
próprios oradores e mesmo Eleitos do período
acabaram contaminados pela corrupção laten-
te dos Vlakin, possivelmente advinda da busca
do último imperador por segredos antigos. Uma
verdadeira corrida por profanidades. A história
de Belregard testemunha que buscar por segredos

b 41 b
b Belregard b
A abertura do grande fosso fez com que o Tri- Em 1290 DA, o surto da Insania foi controla-
bunal daquele período abrisse seus olhos para do. Aldeias inteiras foram cercadas por forças
o pecado latente dos Vlakin. Apesar disso, não imperiais, com seus cidadãos proibidos de sair,
houve uma declaração aberta de conflito. Zokran, tendo suas casas queimadas e derrubadas até
o Eleito do período, sabiamente aproximou-se a pedra. Nos grandes centros, como na própria
das castelanias insatisfeitas e passou a apoiá-las Virka, bairros foram isolados, um estado de sítio
em seus planos para quebrar os grilhões contra que fazia apenas aguardar o definhar de cada
o império. Demorou um pouco de tempo, alguns uma daquelas pessoas. O pavor da doença ainda
anos, para que o cisma contra o Tribunal, como existe, ainda paira no ar em seus miasmas noci-
força dominadora e opressora, fosse apagado e os vos, mas oramos todos os dias para que ela não
cavaleiros sacros pudessem engrossar as fileiras mais tome a todos, como ocorreu. O surto da
de revoltosos. A situação virou de tal modo que doença fez com que os esforços das castelanias
a própria igreja liderou as forças que marcharam se voltassem para sua recuperação e foi só no
contra Virka. Mas a abertura do fosso trouxe ou- verão de 1300 DA que os exércitos organizados
tros problemas para o mundo. invadiram o vale de Virka. A insatisfação era ta-
manha que as fazendas e cidades menores den-
No mundo isolado dos tempos atuais, acre- tro do vale fizeram volume a coluna no ataque.
dita-se que o ar tornou-se venenoso, que exis-
te algo de ruim pairando ao nosso redor e que O conflito contra Virka foi demorado, mas
estes miasmas são capazes de nos corromper, trouxe a vitória. Curiosa é a raridade de relatos
enlouquecer. O que fomentou esta ideia foi a desta conquista. Sabe-se apenas do caminhar da
grande praga que cobriu Belregard depois da coluna libertária, liderada por cavaleiros sacros
Este evento de abertura do fosso em Virka. Ela foi chamada do Tribunal e por conta desta filiação, tais cava-
Tíccia, assim como de Insania, ou Praga da Loucura e tomava a no- leiros não são lembrados por seus nomes, já que
os outros doze bres e plebeus sem distinção. Além das terríveis representavam ali apenas a força da fé, o desejo
relatos similares feridas e chagas purulentas que ela abria pelo de se livrar das amarras de um império corrup-
que conhecemos corpo do doente, levava a febres fortíssimas que to. Restaram registros da luta em algumas ci-
bem foram proi- colocavam as pessoas em estados de loucura in- dades, mas quando o conflito chegou em Virka
bidos de entrarem
tensa, um delírio que muitas vezes acabava sen- propriamente dita, os registros são ausentes. A
neste tomo. Gos-
do compartilhado por aqueles ao redor, como vitória foi alcançada, sabe-se, com a rendição
taria de adicio-
na-los, afirmando ocorreu na vila de Tíccia, em Virka, onde todos de Vlakin VIII, que foi executado pelas mãos do
ainda mais a pra- os moradores morreram de exaustão depois de próprio Eleito Zokran, já velho e cansado, mas
ga que foram os passarem dias apenas dançando ao som de uma ainda empunhando uma lâmina executora.
Vlakin para nossa melodia que apenas eles ouviam.
terra. Mas devo
seguir essas ordens
e você também. A Insania levou muitos e não poupava ninguém. Acreditamos que tenha
sido algo vindo da Alcova Profana, mas pode ter sido uma punição de
Deus pela arrogância do homem. Foram tempos sombrios, pessoas eram
trancadas em suas casas ou em seus quartos, pela própria família, que não
tinha outra escolha a não ser orar do lado de fora ouvindo a loucura e
a praga roubar até a última centelha de luz de seus entes queridos.

b 42 b
A chamada Era da
b O Conto dos Anos b Luz, uma asneira,
liderança de Servia Vibius Severa, uma mulher tem seu início em
Realmente me pasma a ideia de simples- 1301 e segue aind
mente não haver relatos reais, documentos que fora consorte de Vlakin VIII e provavel- a
hoje, quando ainda
históricos realmente confiáveis deste período. mente por esta ligação íntima ainda hoje Vlakir
Se eu pudesse sugerir, diria que tem algo estamos em
é uma terra de aspirações imperialistas, dese-
relacionado com o visitante trajado em negro. 1348 DA, uma
Mas sei que se falar isso para nosso irmãos jando retomar a glória e o orgulho. Em 1303 a época de engano
posso ser apedrejado. região de Latza, do antigo ducado Lazari, se e isolamento.
separa de Birman e Vlakir, sob o governo de
Cheguei a ouvir que escribas deste tempo
foram assassinados aos montes. E ainda mais Vittus, o Jovem, que já demonstrava os sinais de
preocupante, dizem entre os copistas que al- loucura que o transformaria no Dementia Rex,
guns cavaleiros do Tribunal são incumbidos de um eterno lembrete de que a Insania ainda paira
encontrar textos deste tempo e destruí-los.
nos ares poluídos do mundo. Rastov recuperou
Quando vier até aqui, lhe mostrarei tudo a terra de Igslav e Viha voltou-se para sua visão Curiosa esta for-
que consegui reunir sobre referências a este diferente do criadorismo, aproximando-se mais ma de falar da
visitante estranho que o imperador recebeu.
de seus cultos antigos. Dalanor tenta se man- fé. Preciso veri-
Existem muitos relatos parecidos, em diferentes
épocas e locais. Seria essa a mesma pessoa? ter orgulhosa, cantando sobre futuro e Varning ficar que haskelita
busca unir novamente os caminhos abandona-
traçou as linhas
Poderia ser um devaneio meu, mas... E se deste texto. Ou-
dos do mundo. Parlouma sofre internamente,
esse visitante for a própria Sombra, ou quem sadia tem limite.
sabe, o quarto Puro? Vlakir quer o império, Birman deseja o poder Fora tu?
da igreja para aplacar as aflições dos homens e
P.
Braden é uma colcha de retalhos pronta para ser
anexada. Belghor se isola e Latza… Latza ape- Simplesmente perfeito. Con-
A Era da Luz nas bate palmas e vê a dança da loucura tomar a seguiu compilar tudo que
esses incompetentes copiam
“A Ironia” todos novamente. como lesmas adestradas
em um tomo digno da sua
A Era dos Homens teve seu fim com a queda Velhos ódios se reacenderam e muitos volta- grandeza. Não me confor-
do império. As feridas deixadas pelo império co- ram seus olhos para além do antigo vale, em mo com seu nome sendo
retirado dos registros e
meçaram a curar. Com a perda do poder central, busca de novas descobertas na intenção de apa- apenas Tullus, esse carcomi-
da figura poderosa que era a própria Virka, a gar toda a dor causada ao único mundo que co- do e ressequido, receberá
Primeira Cidade dos Homens, senhores, lordes, nhecem. Ainda assim, o que os mantém unidos, os devidos créditos.
suseranos voltaram-se para seus próprios pro- mesmo que distantes, é a fé. A igreja ainda se Porque não nos rebelamos e
blemas. Sem a necessidade de responder a um ergue como um bastião de segurança, sendo a fugimos com esses textos?
poder maior, que não o da igreja dentro de seu mão que pune e a que acaricia. Tenho um conhecido em
Varning que possui o lugar
território, muitos novos conflitos surgiram em perfeito para nos escon-
escala local. O próprio Tribunal manteve-se neu- Por mais que eu fique tentado a alte- dermos enquanto fazemos
tro diante destas contendas menores, ajudando rar o fim deste trabalho, desgostoso mais cópias disso.
em momentos onde acordos de paz ou reconhe- da forma como nossa amada igreja é
tratada, me mantenho fiel aos meus Estarei sempre a lhe
cimentos de lordes era necessário, mas nunca princípio s de copi sta. Os hom ens que se- esperar.
envolvendo-se diretamente, a igreja só atuava guiram os côm puto s de Hask el não eram
quando o sangue já havia sido derramado. tão iluminados quanto o próprio e prova- P.
velmente aind a sent iam- se ama rgur ado s com
os acontecimentos dos últimos anos. Faz
Novas castelanias se firmam no panorama de quase uma geração que o império caiu e eu
imo.
Belregard. Em 1301 DA, o ducado de Vlakir se não vejo dias melhores no horizonte próx
Possa o Criador ter piedade de nossas almas.
declara independente da arruinada Virka sob a

b 43 b
Gravura estilo bertina de Motazzi,
representando uma feira em Varning,
a castelania mais cosmpolita de Belregard.
b OS POVOS DE BELREGARD b

Secunda Pars
Os Povos de Belregard
“Vou te contar, meu amigo viajante,
Se algum dia te chamarem a Viha
Desconfia por um instante!
Por mais que lá brilhe um lindo sol de dia
Não poderás segurar teu choro na noite fria!”
- “O Feroz que Miou”, Balada Satírica atribuída a Tiecelin

Em seu tratado sobre o mundo de Belregard, Haskel fez um apanhado sobre os


povos que disputavam o território e a graça de Deus. No entanto, por se tratar de
um trabalho antigo, seus escritos não abrangem um panorama do que ocorreu en-
tre o surgimento e a queda do império de Virka. Coube, então, a Gaius, um jovem
estudioso de Rastov, compilar os últimos acontecimentos. Ele utilizou-se da obra
original e alterou o texto a seu bel prazer, como é costume entre copistas menos
comprometidos. A obra tem pouco mais de dez anos, tendo sido escrita em 1340
DA. Algumas cópias do trabalho ainda existem em capelas e bibliotecas pelo mundo,
principalmente em Varning, onde a obra serve como alicerce para aqueles interessa-
dos em entender a conjuntura dos povos de Belregard. Por sorte, lorde Augusto,
serei eu a lhe preparar este compilado, assim corrigirei
os exageros de Gaius sempre que possível.

á dizia o velho ditado proferido O contato entre as muitas etnias de Belregard A mistura dos
nos exemplas dos sacerdotes: aconteceu tardiamente, no sentido de uma ver- povos já foi assun-
“A História é contada pelos dadeira integração. Os vihs e igslavos têm con- to mais delicado
vencedores”. Num primeiro tato com os belghos desde que Larsen levou no passado. Penso
que deve ser algo
momento, aqueles homens saídos de Belghor, seu exército para o norte. Os dalanos estiveram
importante para
o berço da humanidade, viram todos os povos ao lado dos selvagens belinaren nas lutas pela
aqueles que de-
do mundo recém-descobertos como Selvagens floresta do sul e só foram convertidos em sua
sejam constituir
que mereciam nada além do castigo. Demorou totalidade quando o Único veio ao mundo dos família. Eu, caso
muito para que a atitude quanto a estes povos homens para lhes direcionar. não fosse devoto,
bárbaros fosse revista. Para observadores me- teria a preocupa-
nos fanáticos, os homens das florestas tinham Algo semelhante ocorreu com os parlos, que ção de confirmar
sim algum contato com os Selvagens, mas não foram úteis nas guerras promovidas pelos se minha esposa
eram como eles em qualquer aspecto. Tinham belghos, mas só receberam atenção depois que não teria sangue
Deus ressaltou a importância da conversão. Os selvagem dalano
uma cultura própria e uma forma de ver o mun-
vogos nunca foram vistos como aliados favorá- correndo nas veias.
do completamente diferente da dos escolhidos.
Apesar de assimilados e até mesmo miscigena- veis e até hoje entregam-se às suas selvagerias

dos, estes povos ainda preservam algumas de nas montanhas gélidas.

suas características ancestrais.

b 45 b
Apesar de ainda b Belregard b
não me sentir con-
Belregard é uma terra vasta e não poderia Observemos as principais etnias de Belregard:
fortável a sós com
conter apenas tais grupos étnicos entre seus
um dalano, devo BELGHOS
dizer que o comen- habitantes. Inúmeros povos menores comparti-
lham destas histórias de glória e tragédia. Dos Bradando serem os escolhidos do Criador,
tário de Gaius é
os belghos tomaram para si o dever de unir
forçoso. Apesar misteriosos abutus, que ocupam o norte da de-
da conversão não vastada Virka, aos errantes strigori, que vagam a humanidade sob punho firme. Para alguns,
ter sido rápida, em suas cumpanhias comercializando a sorte e comportam-se como verdadeiros ditadores, se-
aquelas terras eram o destino. Uma quantidade tão absurdamente nhores do destino dos homens, para outros são
dos homens e da grande que chega a assustar. Da mesma forma como irmãos mais velhos, apenas preocupados
igreja assim que os com o direcionamento dos mais jovens. Uma
são as línguas, de dialetos divergentes de uma
selvagens foram
mesma matriz à idiomas completamente dife- coisa é fato: os belghos encarnam tudo aquilo
aniquilados.
rentes utilizados por grupos isolados. Belregard que o ser humano pode ser, seja para o bem ou
é uma terra de povos e culturas surpreendentes. para o mal. Seu ímpeto e sua sede por conquis-
ta já fizeram o mundo tremer mais de uma
vez. O último grande feito destes senhores
dos homens foi a construção do Império de Vir-
ka que, tragicamente, ruiu há algumas décadas.

Físico e Vigor: Os belghos apresentam uma


grande variação de traços físicos e podem ser
distinguidos em três grupos diferentes: Os
belghos do oeste são altos, indo de 1,70m até
1,80m para os homens e 1,60m a 1,70m
para as mulheres; a pele varia do moreno cla-
ro ao branco dos vihs, com cabelos seguindo
a mesma lógica na medida em que o sangue
se misturou com o dos antigos bárbaros. Na
área central do território, onde ficava Virka, os
belghos apresentam estatura um pouco mais
baixa, peitos largos e traços um pouco mais
rústicos com tons de pele variando para o es-
curo, além dos cabelos encaracolados. No
leste, especialmente em Belghor, o tom
de pele mais comum é o negro, com
variações levemente mais claras.

Gravura estilo bertina de Motazzi, representando


Badram, um pastor de Belghor.

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b OS POVOS DE BELREGARD b
Idioma e Dialetos: O belgho original, falado Nomes Típicos - Belgho Atual: Argus,
em Belghor, sofreu inúmeras alterações e hoje Dagom, Macedon, Sandoval, Ulysses, Abella,
se assemelha muito pouco ao seu representan- Fabrice, Lelita, Trista e Valarie. Belgho Antigo:
te mais velho. Hoje carrega basicamente duas Aharon, Doran, Efrat, Haskel, Joshua, Adela,
versões. A versão simples, vulgar, é comumente Deanna, Feigel, Hadassah e Samara.
falada pela população mais pobre que concen-
Observações sobre os Costumes
tra-se em Varning e em Birman. Sempre à som-
bra dos castelos e catedrais, acabaram por acos- †† Belghos são muito competitivos, um traço
tumarem-se a uma forma simplificada da língua que se reflete em todas as instâncias de
falada por reis e sacerdotes. Sua forma culta e suas vidas: da retórica ao combate.
rebuscada é reservada aos líderes, e não só os
de Birman e Virka, o Alto Belgho é falado em †† Devido à forte religiosidade, gostam de
todas as cortes, de Rastov a Belghor. Asseme- decorar passagens da vulgata assim como
feitos de Santos da Igreja. É muito interessante o
lha-se muito ao parlo, mas é visivelmente mais
quanto ditados e provérbios
complexo, mesmo em sua versão simplificada. O dizem sobre um povo.
†† Belghos, por sua rotina belicosa no pas- -P.
belgho original, antigo, existe apenas em alguns
sado, consideram cabelos longos e barba
nomes de cidades e pessoas de Belghor. Existe “A fé sustenta a vontade.”
por fazer um desleixo. Quando muito,
ainda a Fala Negra de Belghor, que é utilizada
usam cavanhaques curtos, sem bigode.
“A luz é mais forte
para fins profanos, acredita-se que tenha sido a
no escuro.”
língua original deixada pelo Criador para unir os †† Apesar da ligação com a fé, evitam pin-
homens sob uma só fala, mas foi corrompida e, turas, ídolos e demais representações de “A fé que não dói é
muito fácil de crer.”
por possuir palavras de poder, é utilizada por Deus. Igrejas interioranas de povoados
cultistas, feiticeiros e hereges. belghos são simples e discretas. No en- “Com fé não há pergunta.
tanto, os mais gananciosos não deixam Sem fé não há resposta.”
Etnias Descendentes: Não é exagero dizer de lucrar com o mercado sacro.
que todas as etnias de Belregard tem um pou-
co do sangue belgho correndo em suas veias. †† Sua história é cheia de profetas, homens
Podemos dizer que o povo belgho se transfor- que falavam, mesmo que erroneamente,
mou muito depois que saiu de sua terra natal, como se fossem porta vozes do Único.
influenciando e sendo influenciados pelos de- Eles foram os primeiros juízes conhecidos
mais grupos que encontraram em seu caminho. ao longo da Era das Revelações, cujos atos
Os belghos que se mantiveram em Belghor, que são relembrados de forma heróica pelos
passaram pelo domínio da Sombra, vêem-se Belghos.
como verdadeiros, como escolhidos, como pu-
†† Dizem que se o Único voltar, retornará
ros, distinguem-se dos demais por considerá-los
como um Belgho.
sujos, chegando ao ponto de identificarem-se
como verum. Existem ainda os latos, que ocu- †† Dão muita importância ao casamento.
pavam a região de Latza antes da chegada dos
Lazari, hoje são pouquíssimos, já que seu sangue †† Possuem muito respeito ao sacrificar ani-
foi misturado, mas o seu apego a dualidade da mais como oferendas, uma prática antiga
vida e da morte marcaram aquela terra insana. e só realizada em áreas interioranas.

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b Belregard b
†† Uma tradição antiga diz que todo adulto †† Na adoração, são fúnebres e zelam um
é responsável por toda criança, isso criou eterno luto pela partida do Único com
“Eia, pois, quem vem lá.” forte união no passado, um senso de co- cultos austeros e pesarosos. Guardam o
Esta é a saudação mais
comum por toda Belregard. munidade. dia do deicídio com pesar e tristeza. Sen-
Dizem os mais antigos tem-se culpados por sentir felicidade pe-
que este costume, criado †† Festividades religiosas são celebradas rante o sacrifício de Deus.
pelos Belghos, remonta com fervor.
tempos imemoriais, quan-
do era difícil distinguir Dalanos
os selvagens dos humanos. †† Quando combatentes, gostam da espada Os dalanos são um povo apaixonado. Tudo em
Logo, a preocupação ante curta - o gládio belgho - e o punhal, car- suas vidas é levado de forma extrema e de-
a aproximação de um regando ambos no cinto. O punhal é dado
potencial inimigo era muito dicada. Para aqueles que observam de longe,
comum. Nos dias de hoje aos sete anos e a espada aos treze, cada estes homens e mulheres podem parecer de-
isto pode não fazer mais arma agregada a um ritual de passagem. masiadamente frívolos e libertinos, mas da mes-
sentido, já que todos são O pomo da espada indica seu nível social.
um tanto selvagens... ma forma que se entregam às suas conquistas,
Além disso, geralmente portam um escu- os dalanos têm uma íntima relação com as flo-
P. do grande ou broquel e, como vestimen- restas pacatas que cercam seus domínios. Um
ta de combate, a cota de malha, uma vez velho ditado diz que “todo dalano nasce à som-
que valorizam a mobilidade. Afinal, quem bra de sua própria árvore” e carrega, com isso, o
protege o homem é o Único e não a arma- prazer em tudo que há de simples. Uma pessoa
dura que veste. nunca suporta problemas demais, basta olhar
para o lado positivo das coisas e tudo, eventual-
†† Normalmente, visitam sacerdotes e bus-
mente, dará certo. Este é um pensamento que
cam seu aconselhamento. Também uti-
pode irritar os mais enérgicos e pessimistas.
lizam de ritos de dor e privação quando
precisam de uma resposta espiritual.
Físico e Vigor: Os dalanos têm uma estatura
Toda essa necessidade de ser assertivo
mediana, alcançando uma média de 1,70m de
deve-se ao seu fardo autoimposto de ser
altura para os homens e 1,65m para as mulheres.
irrepreensível.
Normalmente possuem corpos delgados, esguios.

a
A Face do Imperador

Quando Vlakin III conquistou Belghor, surgiu diante de seus seguidores vestindo uma imponente máscara
de ferro. Este aparato, que inspirava até mesmo o terror, passou a ser conhecido como a Coroa de Virka e foi
então usada por todos os imperadores. Nos momentos em que o poder passava às mãos de um novo regente,
o povo de Virka tinha apenas um dia para contemplar a face do Imperador já que, depois daquele momento,
ele só surgiria vestindo a dantesca armadura. Este comportamento gerou inúmeros boatos e o mais tene-
broso de todos alegava que Vlakin III havia tornado-se imortal, depois de compactuar com a Sombra em
Belghor, e que matava seus filhos e netos sempre que estes fossem assumir o trono de Virka, garantindo
assim o seu controle do império. Verdade ou não, o fato é que desde que Virka caiu, a coroa desapareceu.
Muitos atribuem poderes sobrenaturais ao objeto e mais de um grupo já partiu para as velhas ruínas em bus-
ca do artefato. É certo que, em Vlakir, onde pretende-se retomar o império, a recuperação do objeto seria
de extrema importância para que o simbolismo em torno da união dos povos seja mais uma vez restaurada.

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b OS POVOS DE BELREGARD b
Possuem a pele suave, seja em seus tons mais
claros ou mais escuros, o que oscila entre os kil-
then e os varnos, respectivamente indo de um
Gravura estilo bertina de
tom alvo como neve ao oliva das amêndoas, Motazzi, representando
Anaïs, armadilheira de Ignar.
que recebe inúmeros elogios daqueles que
se deixam encantar pela graça dos dalanos.
Os cabelos e os olhos costumam seguir um
padrão claro, mas existe um fato curioso
quanto ao tratamento dado às pessoas de
cabelos avermelhados: ruivos são vistos
como perigosos, dados a ataques de lou-
cura e com certa afinidade à sortilégios e
feitiços suspeitos.

Idioma e Dialetos: O dalano é uma


língua romântica que sofreu algumas mu-
danças quando entrou em contato com
o belgho. Ainda mantém diferenças ca-
racterísticas, como algumas consoantes,
além de ser moderadamente flexionada.
É a segunda língua mais popular
dentro da corte, além de ser
a língua mais usada para as
canções dos trovadores e
pequenos manuais de poesia
do amor cortês. Aqueles verda-
deiramente apaixonados e dedica-
dos a suas musas costumam aprender
a língua como um sinal de prova desta
devoção. Muitas das músicas entoadas em
ritos sacros do Tribunal são feitas em dalano,
devido a isso criou-se o ditado: “Sempre fica
mais belo quando dito em dalano”. Além da lín-
gua principal, o dalano sofre diferenças quando Etnias Descendentes: Como dito acima, é
se afasta de seu centro nervoso do território, possível perceber algumas nuances em traços
ficando mais pesado e complexo no norte, onde e características dos dalanos do norte e do sul
se mistura com vihs e um tom menos melodio- de seu território de origem. Aqueles do norte,
so, mas bruto, curto, no sul, quando se mis- conhecidos como kilthen, possuem um por-
turou com o parlo. As diferenças dos dialetos te maior, são grandes escaladores que vivem
não impossibilitam o contato entre os dalanos, na área das terras altas de Dalanor e possuem
mas pode causar confusão e mesmo inflamar forte tradição guerreira que desdenha de arma-
os territorialismos. duras. Dividem-se quase como os vihs, em clãs
que usam pinturas ritualísticas e vestem togas

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b Belregard b
de um tecido grosso, geralmente coloridas em conselheiro, e protegido por Isegrim, seu
padrões que ajudam a identificar o clã de ori- lobo guardião. Este reino perfeito ruiu de-
gem. O legado musical dos kilthen fica por con- vido às maquinações de Renart, o raposo,
ta de suas flautas e gaitas de fole. Já no sudeste que traiu Isegrim e levou o rei à loucura.
se desenvolveram os varnos, um pouco mais Cantando sobre seus dias de glória, as ba-
“O fim da arte inferior baixos e atarracados que o dalano comum, mas ladas de trovadores foram o que mantive-
é agradar, o fim da arte
média é elevar, o fim da apegados à tradição musical através do canto. ram Dálan vivo. Desta lenda primeva vem
arte superior é libertar.” Habitantes das áreas pantanosas do sul, os var- a importância da música.
nos nunca foram muitos, mas sua descendência
“O talento desenvolve-se no AA Baladas satíricas sobre nobres e reis são
amor que pomos no se proliferou no legado deixado entre parlos,
que fazemos.” belghos e dalanos que partiram para viver na atribuidas a Tiecelin, o corvo mítico da

castelania de Varning. O típico varno vive por corte de Dálan. Costume que persiste até
“Uma coisa bela persuade hoje, tudo é satirizado.
por si mesma, sem conta própria nos pântanos, uma pessoa de vida
necessidade de um orador.” simples, numa casa simples, dedilhando um vio-
AA Ruivos são associados a Renart, aquele
lão e cantando melancolicamente sobre as ma-
“A nudez dalana é obra que destruiu o reinado de Dálan.
de Deus.” zelas da vida cercada por mosquitos e disputan-
do o pouco com crocodilos. AA Muitas vezes acusados de covardes, da-
lanos costumam ter calma ao tomar deci-
Nomes Típicos: Aaron, Edmond, Jean, Louis,
sões que envolvam confronto físico.
Tissot, Blanche, Cécile, Heloise, Nicole e Viviane.
AA Quando combatentes, dão muito valor
Observações sobre os Costumes
ao arco longo, que usam para caçar aves.
Utilizam o sabre dalano de pomos ador-
AA Dalanos adoram tanto o vinho, que fazem
nados com couro, madeira e latão. Dizem
disputas e festivais inspirados no tema.
que, devido o amor dos dalanos por suas
AA Bricolage é um costume antigo que envol- armas, nasceram as bainhas de madeira
ve ser proficiente em várias tarefas cor- que preservam o fio das lâminas, man-
riqueiras, desde costurar até alvenaria, tendo-as afiadas e evitando o contato
desta forma, todo dalano tende a apren- metal-metal enquanto é embainhada e
der a se virar sozinho. desembainhada.

AA Dão muito valor a mudanças climáticas e à AA Grandes torneios de trovas são comuns
movimentação de astros, ventos e mares. ao longo dos meses quentes do ano. Mui-
tas cidades guardam o título de Grande
AA Ninguém trabalha aos domingos, sendo Trovador para aqueles que vencem as
um dia não dedicado aos cultos, mas sim competições e podem, por um ano, gozar
à família. de um grande regalo nestes locais.

AA Acredita-se que no passado remoto os AA O Amor Cortês, marcado pela impossibi-


povos da região de Dalanor viviam sob o lidade da relação da nobreza com a vassa-
justo jugo do rei Dálan, pintado como um lagem, é uma criação dalana muito antiga.
bravo leão em antigas iluminuras. Dálan Ela é vista na música, pintura e poesia.
era auxiliado por Tiecelin, seu corvo

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b OS POVOS DE BELREGARD b
AA A superstição dalana coloca pequenos
espíritos, as fadas, em quase toda ques-
a
tão rotineira, de modo que singelas ofe- O Rei Adormecido
rendas nas casas e jardins são comuns
Os dalanos contam que Dálan teve um filho e
para agradar estes guardiões.
que este filho foi levado da floresta logo de-
pois do nascimento. Eles temiam que aqueles
AA Em suas adorações ao Único, são louva-
homens brutos vindos do leste, os belghos, pu-
dores que possuem o segredo da devoção
dessem matar a criança. Elise, a mulher que o
através da música. Acreditam serem do- salvou, o teria criado para ser um rei, ensinan-
nos de um dom especial que une os po- do-lhe tudo que precisava saber sobre a corte e
vos e faz com que suas preces atinjam a sobre a guerra. Era preciso que o filho do leão
Abóbada Celeste. aguardasse a chance de retornar para reivindi-
car seu reinado. Para os que creem na lenda, o
Parlos primogênito de Dálan está em uma ilha ao nor-
Antigos senhores das planícies do sul domi- te de Belregard, adormecido e protegido por

navam suas terras sob os cascos de poderosos uma corte de espíritos nobres, talvez pelo pró-
prio pai louco. As opiniões sobre a realização
cavalos. Sendo os primeiros a domesticar o ani-
desta “profecia” se dividem. Alguns dalanos
mal, os parlos tinham uma antiga tradição guer-
pensam que o retorno da linhagem real trará de
reira e poderosa, marcada por rituais tribais volta a glória de Dalanor, já outros pensam que
e vínculos sanguíneos entre cavaleiros e suas esta história serve mais para assustar crianças
montarias. Sabiamente, os belghos trataram de com ameaças do rei adormecido que a pegará
convertê-los e boa parte deste ímpeto e or- se não devorar todo o prato de lavagem.

gulho selvagem se perdeu por um longo tempo,


mas desde que o império caiu, os parlos têm
buscado seu próprio passado. Ainda represen- de seus cavalos, era comum encontrar homens
tam os maiores comerciantes de Belregard, do- com a coloração do cabelo semelhante à de ga-
nos das poucas rotas a permanecerem abertas ranhões avermelhados e hoje este sinal é sempre
nesse mundo sombrio que se revela na nova era. associado à boa sorte, saúde e sucesso para o
Os Cavaleiros Pardos, a mais antiga ordem de rebento que o porta. Independente destas mar-
cavalaria, têm feito o possível para se manter cas rubras, os parlos mantêm os cabelos curtos,
unida e coesa, trazendo de volta o orgulho de para os homens, e também apreciam bigodes
seu povo. longos e tratados, muitas vezes ornamentados
“Antes de começar o tra
com pequenos anéis. -
balho de mudar o mund
o,
Físico e Vigor: Os parlos constituem um dê três voltas dentro
povo baixo, para o padrão belgho, de ombros Idioma e Dialetos: A língua mais falada em de casa.”
largos e membros fortes. Costumam ter a pele toda Belregard é o parlo. Quando os belghos ini-
“O ladrão tem trabalho
bronzeada, podendo variar de um castanho ciaram a conversão dos Senhores dos Cavalos,
leve e sonhos ruins.”
claro à oliva e seus cabelos seguem os mesmos fizeram questão de aprender a sua língua para
tornar a assimilação mais fácil. Os primeiros a “Se quer ir rápido, vá
padrões, com um ou outro risco rubro, casta- sozinho. Se quiser ir longe,
nho claro, em algumas mechas. Estes riscos, as aprender este idioma o chamaram de romântico
vá em grupo.”
‘fagulhas’, são apontadas como sinal de boa e, de fato, o Parlo ainda carrega este traço em
suas características. Com consoantes longas, “Primeiro, aos meus; depois,
ventura. No passado, quando a vida de um par-
aos alheios.”
lo estava relacionada intimamente com o trato ou duplas, e uma acentuação distinta, o Parlo
muitas vezes parece ser cantado e não falado.

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b Belregard b
Fato que gerou uma lenda, sem qualquer prova, Nomes Comuns: Bacco, Demetrio, Fedro,
de que nos tempos dos Senhores dos Cavalos, os Nazzarro, Patrizio, Amanda, Demetria, Felicia,
parlos comunicavam-se desta maneira, apenas Lelia e Teresa.
com uma plena cantoria carregada de emoções.
Como acabou por tornar-se a língua do comér- Observações sobre os Costumes
cio, sofreu grandes alterações em comparação
com sua norma culta, mas esta ainda é utiliza- AA Uma lenda antiga que diz que Parlouma
da em ocasiões formais. A maioria das taxas e foi a primeira terra moldada, berço do
impostos possuem nomes derivados do Parlo. primeiro ventre de onde vieram os Selva-
Como o próprio povo, a língua se adapta, sen- gens. Ruínas desta profana capital esta-
do usada com nomenclaturas diferenciadas em riam ao longo da costa sul de Belregard.
Vlakir, por exemplo, devido ao peso religioso
que a castelania procura invocar, aproximando- AA Palourma possui rica tradição musical,
-se do Alto Belgho. especialmente no canto.

Etnias Descendentes: Apesar de serem


apegados a sua terra, os parlos se adaptaram à
vida nômade com facilidade, fazendo essa
dicotomia lhes parecer natural. Dessa ma-
neira, o sangue parlo se espalhou jun-
to do sangue belgho, mas é possível
perceber uma influência maior entre
etnias menores que se espalham
nas proximidades do território.
Ao norte de Parlouma, nos povoa-
dos que fazem fronteira com Vla-
Um Parlo não costuma kir, os vlakos são um exemplo da
repetir o que fala, nem união dos parlos com os belghos,
regressar por um caminho carregando todo o ímpeto dos se-
já pisado. Isso se deve por
gundos junto a adaptabilidade dos
sua desconfiança ensinada
desde berço. “Deixar rastro primeiros. Os vlakos podem repre-
é ser uma presa” e “Quem sentar uma verdadeira ameaça
muito pergunta quer muito para o Tribunal, devido ao seu fer-
saber” são ditos comuns aos
vor religioso e imperialista. Já no
Parlos, que são extrema-
mente atentos aos seus leste, os brados se mostram
próprios passos e aos dos fruto de uma verdadeira
seus próximos. Por outro mistura étnica, que é mais
lado, ter uma amizade ver-
associada aos parlos por
dadeira de um Parlo pode
ser o que salvará sua vida questões belicosas. As
em situações adversas. grandes cavalarias marca-
ram seu espaço em Braden,
P.
uma terra que, hoje, está
entregue ao caos.

Gravura de Berto representando


Italo, chefe da casa Graziano,
de Rivienza.
b OS POVOS DE BELREGARD b Houve um boato sobre duas
crianças, uma Parla e uma
AA Dão muito valor à hora da refeição. Sendo AA Quando ainda criança, uma trança da cri- Dalana, ambas meninas. A
este um momento de comunhão familiar. na do cavalo de seu pai, ou mãe, é colo- boneca da primeira caiu em
um poço e a segunda insistiu
cada junto ao seu cabelo. Essa trança o em descer para pegá-la.
AA É comum que pequenas vilas possuam acompanha por toda a vida, sendo troca- Tomada por um espíri-
suas próprias tradições e dialetos locais, da apenas quando se casa, onde o casal to travesso, a menina Parla
assim como um certo orgulho. O chama- empurrou sua amiga no poço
compartilha de uma crina retirada de um e esta caiu, quebrando seu
do campanilismo prega o apego à sua ci- mesmo cavalo, o cavalo que conduz pela braço. Contudo, para além de
dade e às suas tradições, assim cada cam- Marcha de União, selando o casamento. conseguir pegar a boneca,
ponês luta em defesa de seus valores… esta menina Dalana encontrou
Arrancar a trança de um parlo é um ato uma joia de ouro jogada no
Muitas vezes com fervor excessivo. inaceitável, feito apenas por vencedores poço. Desde então o ditado
em duelos sem honra. “empurrão Parlo” é ouvido,
AA Apesar da forte ligação com o comércio, significando algo adverso
os parlos possuem essa paixão pelo lar e que poderá o recompensar.
AA Apaixonados pela equitação e pela arte Sobre a história? Bem, há
sempre anseiam pelo retorno. da esgrima, os parlos são famosos pelo quem diga que a menina
talento em ambas as áreas. Códices já Parla pegou a joia e jogou
AA Para se protegerem de depredações nos a sua amiga novamente no
foram escritos e o último tratado, enco- poço. Mas esta é apenas uma
campos, poderosos dignatários se uni-
mendado pelo marquês de Strarrari du- versão que é contada.
ram para oferecer proteção em troca de
rante a Era dos Homens, é um dos mais
tributo, criaram a Camorra. Toda peque- P.
significativos sobre a arte da esgrima e
na, e mesmo grande, cidade é governada
Duello Parlo.
por uma camorra por trás dos panos. Um
“Padrinho” lidera uma rede de favores e AA Como nem todos podem portar e aprender
troca de influências capazes de afetar até a lutar com sabres, em todo lugar é possí-
mesmo o rei. vel encontrar Zuffas, rinhas de briga onde
lutadores treinados em combattimento,
AA O Sciopero, algo como uma greve, é práti-
uma espécie de luta envolvendo apenas o
ca comum. Parlos não tem medo de seus
corpo, são travadas. Duelos brutais com
governantes e empregadores, sendo as-
apostas fartas, quase sempre apadrinha-
sim, se necessário, lutarão até morrer.
das por alguém da Camorra local.
AA Parlos são reservados, atentos e oportu-
AA Quando combatentes, parlos fazem exí-
nistas. Possuem alguns lemas que nor-
mio uso do florete, assim como da longa
teiam suas vidas, alguns são: Não fale a
lança parla, para os combates montados.
estranhos o que se pensa; sempre preveja
Desde jovens, as práticas de equitação
os passos dos seus inimigos; se não con-
parecem preparar os mais simples cam-
seguir vencer de modo justo, use golpes
poneses para o combate montado.
baixos ou mande alguém lutar por você;
a oportunidade faz o larápio; nunca faça AA Na adoração, são devotos dos ritos anti-
um inimigo sem necessidade; não caia na gos, não gostam de “invenções” e buscam
bebedeira; respeite a/o esposa/marido, seguir ao Tribunal ao extremo em seus ri-
mesmo que tenha outras mulheres/ho- tuais. São devotos de estátuas e imagens
mens; nunca chame as autoridades para de santos e Puros. Seja por adoração, tra-
assuntos pessoais. dição ou busca de acalento, todo parlo
busca a igreja durante sua vida.

b 53 b
b Belregard b
mesma raiz, estes grupos ainda existem. Mar-
a cadamente do lado vih, onde algumas tradições
Os Oradores das Estrelas se mantêm e os clãs respeitam uns aos outros,
adotando a unidade de Viha como algo maior
O sorriso Vih é Os céus de Belregard sempre inspiraram fas-
que estas pequenas diferenças. É comum que
sempre sincero, alguns cínio àqueles que permitem-se entregar à ob-
estas divisões sejam relacionadas a alguma
dizem. Ainda que originado servação dos astros e, apesar de boa parte do
com o ceifar da vida de mundo ser completamente leiga e ignorante grande figura do passado, algum herói dos po-
alguém, ninguém ousa dizer quanto ao firmamento, os Oradores das Es- vos do norte, de modo que alguns clamam por
que um Vih finge seu
trelas representam os maiores estudiosos de uma ancestralidade com os mesmos.
prazer. Não é em vão que
muitos destes são contrários Belregard sobre o assunto. A torre dos obser-
às apresentações artísticas vadores fica em Parlouma, próxima à costa sul, Físico e Vigor: Possuem uma compleição
de Dalanos, uma vez que sobre uma alta e escarpada elevação. Ali estu- física robusta e forte na maioria dos casos. A
estes “fabulam mais a vida diosos buscam padrões no céu noturno e con- coloração das mechas vai de claras ao loiro es-
que a vivem”. tam com sacerdotes e eruditos vulgares entre
curo e, até mesmo, a um tom levemente pratea-
os seus. Recentemente uma descoberta feita
P. do. Os vihs têm por costume manter os cabelos
por Antonini de Petugia deixou os ânimos um
pouco alterados. Baseado em leituras de textos longos, tanto homens quanto mulheres. Alguns
da Era das Revelações, o sacerdote alega que fazem longas tranças nas mechas à frente do
existem certos seres, verdadeiras entidades de rosto para, assim, fazer uma volta com a mesma
poder imensurável, adormecidas nos confins do por trás da cabeça, mantendo o cabelo preso.
mundo. Ele as chamou de Patriarcas e corrobo- Os olhos seguem padrões azuis, esverdeados e
ra sua teoria dizendo que os belinaren e dwetar
também com alguma coloração cinzenta. Mu-
só deixaram de existir porque seus Patriarcas
lheres que nascem com olhos de cor cinza são
foram mortos. A despeito da comoção, Anto-
nini acabou desacreditado quando demonstrou apontadas como bruxas em potencial. Já os
sérios lapsos de demência assassina, colocando igslavos costumam ter cabelos de tonalidades
em risco a vida de todos dentro da torre. Hoje, escuras e os olhos seguem o mesmo padrão,
encontra-se trancafiado no porão da mesma, talvez pela miscigenação com os belghos. A cor
aguardando seu destino enquanto canta louvo- castanha e negra predomina neste caso. O uso
res a seres antigos.
da barba é comum entre os adultos, que as man-
tém rasteiras e bem aparadas, normalmente na
forma de cavanhaque. Para aqueles que usam de
Vihs e Igslavos
fios compridos, há sempre tranças, pois o con-
Os bárbaros da planície de Ig ocupavam boa
trário – soltos – é sinal de indisciplina. As mu-
parte do norte de Belregard. Senhores dos lobos
lheres costumam manter penteados elaborados
e donos de uma fortíssima tradição guerreira,
em coques ou tranças ornamentadas.
viram-se divididos sob a influência dos belghos.
Um grupo, os vihs, se manteve fiel às raízes bár-
Idioma e Dialetos: O vihs é um idioma
baras, resistindo por muitos anos à influência da
forte e complexo que usa um alfabeto diferen-
própria igreja dentro de seus domínios. E o ou-
te do usado em Parlo, Belgho ou Dalano. Sua
tro, os igslavos, acabou se convertendo de for-
principal característica é uma divisão encon-
ma mais rápida, encantado com o poderio mili-
trada em quase todas as consoantes, que as fa-
tar dos homens civilizados. No passado, quando
zem assumir uma característica suave ou dura.
eram um único povo, dividiam-se em inúmeras
Um acento muitas vezes é o que diferencia pala-
tribos diferentes e, mesmo compartilhando uma
vras aparentemente idênticas.

b 54 b
b OS POVOS DE BELREGARD b
Independente disso, os vihs carregam seu Desde os Isegrundr do sul, com seus cultos
idioma nativo com grande orgulho e, na cor- bestiais e devoção a espíritos lupinos, aos Tjú-
te de Viha, ele é valorizado em detrimento do der do norte, senhores de uma metalurgia len-
Belgho. O contrário só ocorre quando muitos dária, dominadores do aço de Halav, cada clã
estrangeiros fazem-se presentes. possui sua própria história, mas desde o domí-
nio belgho, preferem ver-se como semelhantes
Etnias Descendentes: Seria impossível de- atendendo ao título de vihs, algo que remonta a
marcar todas as divisões menores dentro dos “ira, justa retribuição”.
clãs vihs. O próprio termo “vihs” é um exagero
genérico que estes povos utilizaram para ten- Nomes comuns: Adrik, Mikhail, Nikolai,
tar recuperar o vasto território da Grande Viha. Vladmir, Yurik, Alina, Mila, Natasha, Sonya
Além da notória distinção para com os igslavos, e Ursula.
o restante do povo vihs é completamente frag-
mentado, carregando cada qual sua particulari- a
dade e trejeito.
Os Horrores de Ig

O nome igslavo vem de uma planície que cobre


toda a região sul de Rastov. Quando chegaram
lá a primeira vez, os homens civilizados viram-
-se perdidos e atormentados. Os relatos, apesar
de escassos, dão conta de mostrar fenômenos
misteriosos e inexplicáveis ganhando forma no
vasto território. Homens morriam durante o
sono e os poucos que despertavam, desespera-
dos, estavam mudados para sempre, enlouque-
cidos e falando sobre vermes imensos e uma
cidade de estruturas circulares, serpenteando
umas por dentro das outras em uma configura-
ção incompreensível para qualquer homem são
de Belregard. Os próprios nativos, os igslavos,
corroboravam as lendas, contando histórias so-
bre serpentes gigantescas adormecidas sob a
planície, às quais muitas tribos prestavam hon-
rarias e realizavam sacrifícios para manter estes
deuses peçonhentos em constante descanso.

Gravura de Berto representando


Natasha, tutora de Zamok.
b Belregard b
Observações sobre os Costumes devem lhes dar algum rumo digno na
vida, não sendo mais sua responsabilida-
** Quase sempre comem com as mãos e de de depois disso.
modo comunitário.
** Adoram tudo que envolva força, violência
** Ficam nus com facilidade e não possuem e hematomas.
vergonha do corpo.
** Procuram motivos para brigar e adiam
** Bebem muito em grupo e beber faz parte motivos para evitar uma rixa.
do cotidiano. Nunca recusam uma bebida,
** Quando combatentes, igslavos prefe-
pois seria imperdoável, um gesto rude.
“A tradição protege a lei.” rem fazer uso de armaduras pesadas,
** Mulheres e homens são vistos como espada e escudo. Além disso, preferem
“À força de batermos ferro iguais em todas as tarefas.
tornamo-nos ferreiros.” focar seus esforços na proteção pró-
** Para os vihs, a Taiga Branca guarda o Sva- pria e de aliados. Já os vihs fazem uso da
“A força dos tiranos está rog, o mundo dos mortos. tradicional montante vih, assim como
toda na paciência
machados e o arco longo.
dos povos.” ** Quando membros de clãs di-
ferentes se encontram, é co-
“Mais vale beber que cuspir!”
mum que troquem histó-
“CHEEKI BREEKI” rias sobre suas viagens
e conquistas. Um com-
Tolice!
bate é certo, mas nun-
ca até a morte, quando
veem-se como irmãos.

** A religiosidade dos
vihs se mesclou com
as pregações de Alec,
criando um cisma no
criadorismo.

** Usam muitas penas de


corvos em seus adornos.

** Filhos bastardos são


criados até os dez anos
pelos pais, que

Gravura de Berto representando


Vigo, responsável pelo campo de
treino de São Ludenov.
b OS POVOS DE BELREGARD b
** Na adoração, igslavos são tradicionais e II, com sua curiosidade extrema, parece ter le-
fiéis aos preceitos do Tribunal, já os vihs vado-os a sério, sendo acusado de ter mantido
possuem ritos estranhos aos outros po- consortes deste povo em seu harém particular.
vos. A mistura do culto do Único com os Então, centenas de anos depois do genocídio, os
Selvagens gerou ritos que muito alegam abutus parecem voltar a dar passos vacilantes
serem verdadeiras heresias. Muitos dos ri- para fora das sombras de seus ancestrais, ha-
tos dedicados ao Único possuem paralelo
bitando a mesma terra de antes, ao norte da,
em religiões selvagens da Horda.
agora, arruinada Virka. Além das marcantes ta-
tuagens, possuem pele escura e usam cabelos
Algumas Etnias Menores de nota trançados, geralmente bem longos.
Abutus: Esta pequena etnia é encontrada ao
norte da região central de Belregard, demons- Strigori: Para os leigos e crentes, o povo stri-
tram uma forte espiritualidade, apesar de suas gori vaga sem rumo pelas terras de Belregard,
atitudes deicidas. Muito tempo atrás, num perío- impossibilitados de viver em um só lugar por
do próximo da fundação da cidade de Virka, a culpa de uma maldição e os próprios não fazem
primeira cidade dos homens, os abutus tiveram qualquer esforço para desmentir os supersticio-
seu contato com os belghos e apesar dos medos e sos. Vivendo em núcleos familiares matriarcais,
cuidados destas “crianças mais novas”, ficaram a figura comumente mais respeitada é a da anciã,
felizes em compartilhar de seu saber do mundo avó, ou bisavó dos mais jovens da caravana. Um
natural. Não demorou até que as animosidades traço curioso do povo strigori são suas mãos.
surgissem, em especial quando os belghos co- Acreditando que a vida e a morte são um ciclo,
meçaram a aprender sobre a visão religiosa deste onde se vai de uma pra outra até purificar sua “Sua sorte
misterioso povo de pele marcada. Era comum, alma, o povo consegue observar este caminho Minha sorte
Nasce, cresce
tanto para homens quanto para mulheres, exibir através das mãos, numa leitura que assombra os Fode, Fode
tatuagens escuras em linhas da altura do lábio leigos. Quando meninas possuem muitos traços
inferior até o queixo, podendo ir até o pescoço Sua sorte
nas palmas das mãos, ou mesmo quando estas
Minha sorte
em alguns casos. Para os abutos, aquelas linhas são enrugadas, quase como mãos de velhas, são Chora, Mata
representavam o sangue de seus antepassados, rapidamente amadrinhadas por uma anciã, ge- Sofre, Sofre
que já havia escorrido da mandíbula colossal de ralmente da própria família. Dividindo-se em
Sua sorte
Yon’Sabráh, o seu deus ancestral e faminto, até linhagens distintas, que descendem daquela Minha sorte
o dia em que um herói do povo abutu, chamado primeira, os strigori se espalham por todos os Pesca, planta
de Glimlag, algo como “aquele que sorri diante cantos de Belregard. Vistos com suspeita pela Come, colhe

da morte”, deu fim a entidade. maioria das pessoas, são temidos pelo seu fa- Sua sorte
moso mau olhado e demais sortilégios. Parecem Minha sorte
Sem deuses para louvar, os abutus desenvol- Velho fica
conhecer os caminhos do mundo. A chegada
veram uma forte tradição ligada aos ancestrais, Então Morre”
de uma caravana strigori pode causar as mais
celebrando seus rituais em “cemitérios flores- variadas reações. Da hostilidade declarada a (cantiga strigori)
tais”. Quando um abutu morre, ele é enterrado uma controlada curiosidade. Apesar das reações
com sementes na cabeça, de modo que sua som- negativas, muitos vêem bem o negócio com os
bra seja local de louvor para seus descendentes. strigori, que sempre tem o que oferecer e trocar.
Quando passaram a aconselhar os belghos para
que se livrassem também de seu deus, foram
caçados e mortos. Apenas o monarca Bövrar

b 57 b
Gravura estilo bertina de Motazzi, representando
o culto fálico em Latza. Curiosamente, o artista
lembrou-se apenas do semblante do mendigo
aleijado, por isso desenhou todos de costas.
b A Vida em Belregard b

Tertia Pars
A Vida em Belregard
“Andar por Varning é como caminhar em um imenso pasto. Você sente odores mistura-
dos de relva, pura natureza, mas também uma murrinha de bosta. Você não se importa,
a paisagem é linda. Além do mais, todo resto de dejeto que você encontra pelo cami-
nho está seco, duro, preto. Até que você chuta ou pisa em um sem querer e vê a casca
se partindo pra revelar aquela merda verde e viva. Os que falam sobre a purificação
daquele antro só estão enganados com as maravilhas da cidade portuária”.
- Verdramino, Bispo de Varning, em correpondência privada com oradores de Birman

os anos que se seguiram à Era mens irmãos e trás toda a universalidade de


do Sangue, Belregard experi- nossa cultura, por mais que existam diferenças
mentou um intenso crescimen- em todos os âmbitos aqui e ali. Desse modo, é
to populacional, uma vez que, fácil compreender como ela se encontra presente
diante da nova paz, mesmo que tênue, campo- nos muitos momentos da vida, especialmente nos
neses, nobres e até mesmo, sacerdotes aumen- três que se destacam como Sacramentos: o Nas-
taram o contingente de suas classes. Apesar cimento, o Casamento e a Morte. Estes são ape-
disso, a mobilidade continuou problemática e o nas os três maiores sacramentos, não os únicos.
estrato mais baixo desta sociedade, o campe-
sinato, continuou representando nove décimos Dos Sacramentos
da população, contra o décimo restante dividido O Primeiro Sacramento: Devido aos meios
igualmente entre nobreza e os outros. Cada gru- Entendi sua ultima carta.
de vida precários, a mortalidade infantil é mui-
Entendo o que está passan-
po conta com suas próprias maneiras de levar a
to comum dentro de todas as camadas da so- do. Não quero continuar a
vida, mas algumas características são comuns a
ciedade. A morte faz parte do dia a dia de um ser um impecilio na sua vida.
todos, principalmente no âmbito religioso. Siga-a como achar interes-
homem de Belregard: todos já viram um irmão sante. Sei que em uma es-
morrer ou mesmo um filho antes de completar colha entre tua vida sob as
Antes de tentar falar sobre nossas diferenças,
botas de Tullus ou reinando
um mês de vida. Por conta disso, os batismos
precisamos compreender o que nos torna iguais. ao meu lado, Tullus ganharia.
É muito simples apontar o próximo e acusá-lo são realizados cedo, normalmente no dia se-
guinte ao nascimento. A forma da cerimônia Na fria madrugada encon-
de todas às incompatibilidades, mas difícil ad-
trará meu corpo congelado
é sempre a mesma, mas a pompa pode variar,
mitir que nós somos assemelhados em tantos pelo peso miserável do inver-
outros aspectos. Proponho aqui uma reflexão dependendo da condição da família ali presen- no. Aí sim, então e por fim
te. Padrinhos tendem a ser numerosos, para que saberá que ninguém, nem
geral de nossos comportamentos e anseios. O
aquela que lhe pariu das
elemento comum mais forte dos povos de Bel- exista um grande número de pessoas à lem- entranhas, lhe amou como eu.
regard é a religião, ela é a argamassa que une brar do fato e ajudar na criação do infante em
Adeus meu amor.
todos nós. A fé no Único é o que torna os ho- tempos calamitosos.
b 59 b P.
b Belregard b
Importante.
Já se registrou A criança costuma ser segurada pelo sacer- Na primeira infância, até a idade dos seis ou
casos de crianças dote e então ouve a Litania do Criador ao pé do sete anos, a criança passa aos cuidados de mu-
nascidas eloquen- ouvido. É lhe sussurrado um trecho dos escritos lheres, dedicando-se à brincadeiras variadas
tes. A Litania deixados pelos homens que conviveram com o como: bola, dados, peões, cavalos de madeira,
serve para apazi- louças e potes em miniatura, esconde-esconde,
Pai e, ao fim, a criança é ungida com água santi-
guar os espíritos,
ficada e recebe seu nome depois do padre profe- cabra-cega etc. Existe pouco contato entre os
impedindo que
rir: “Ego te baptizo in nomine Patris...”. Apenas outros adultos e as crianças desta idade, que
algum alma perdi-
da, que um flagelo um nome lhe é dado, já que não existe o costu- costumam ser deixadas juntas sob os cuidados
dos Ímpios, tome me dos nomes de família. Os sobrenomes vêm de mulheres dedicadas apenas a isso. Podendo
conta do corpo. com o passar dos anos, seja do lugar de origem variar desde anciãs e jovens moças, em peque-

ou por alguma característica. Ítalo de Belizza e nas aldeias, a amas de leite dedicadas entre os
mais nobres.
Godofro, o Alto, são bons exemplos disto. Di-
ficilmente um camponês carregará o nome de
O Segundo Sacramento: O casamento não
seu reino de origem, como Lars de Virka. Estes
é motivado apenas por uma questão familiar,
títulos são convenientes aos monarcas, já deno- mas também financeira e social. Existe um dita-
tando suas posses e terras. Um camponês, ou do bem antigo que diz “nunca case com alguém
mesmo nobre, que ande ostentando o nome de que o ajude a ser mais pobre, ninguém precisa
uma determinada região pode acabar ofenden- de ajuda para isso”. Esta união pode ser usa-
do o seu senhor por direito. Grande parte dos da para muitos fins, unindo duas fortunas, duas
homens livres prefere se identificar pela sua linhagens ou muitas vezes servindo como um
ocupação, tal como Grom, o Ferreiro. caminho para a reconciliação.

a
Técio de Villa

Técio de Villa é um renomado estudante da Academia do Esclarecer de Varning e, recentemente, apresentou


um trabalho que visava condensar os costumes dos povos de Belregard. Segundo o próprio autor, o mun-
do está passando por severas transformações e, logo, muitos dos paradigmas atuais cairão por terra. Ele
criou um movimento de estudo que busca entender e compreender a sociedade de seu tempo. Batizou-a
de “Medievalismo”, alegando que Belregard passa por uma idade média que pode resultar em diversos
caminhos. O estudante não ousa prever quais serão estas mudanças, mas assume o compromisso de tentar
traçar da forma mais clara, direta e objetiva possível, os ditames da sociedade atual. Ele e um algumas
dúzias de companheiros catalogaram muitas informações dos povos, desde o que comem, até como se
relacionam com o sexo.

O resultado final da pesquisa gerou uma obra conhecida como “O Ruir dos Castelos” e foi recebida com
muita relutância pelos demais acadêmicos de Belregard. A obra foi concluída recentemente, no ano de
1349 DA e ainda não foi largamente copiada, está escrita em parlo e consiste de 34 tomos enormes,
de modo que boa parte dos letrados conseguirá compartilhar do conhecimento. Tendo em vista que os
maiores copistas são padres, é provável que a obra de Técio sofra variadas alterações durante o processo,
principalmente nos tópicos que tratam sobre religiosidade, sexualidade e demais assuntos tidos como
polêmicos pela igreja. É bem possível que o tomo original jamais seja copiado de forma integral. Além
disso, seus textos costumam ter alterações por parte dos copistas, ditadas pelo bairrismo, amor e demais
atitudes tendenciosas.

b 60 b
b A Vida em Belregard b
Outro antigo ditado fala que “somente os po- A cerimônia tende a ser simples. Diante do sa-
bres se unem por amor ou burrice”. Deve-se es- cerdote, os noivos devem fazer suas juras. Neste
colher bem o cônjuge e um senhor nunca casa primeiro momento, apenas estes três estarão
sua prole sem antes pedir conselhos às pessoas dentro da igreja e, nesta privacidade, quebrada
mais próximas de si, sejam estes senhores do apenas pela presença do padre, os noivos podem
próprio ou mesmo servos. Diante de um sacer- externar suas verdadeiras juras, contentamentos
dote, o casal deve trocar promessas e geralmen- ou receios, e até mesmo ódios. Somente depois
te um objeto irá simbolizar esta união, como um da troca é que as portas são abertas para que os Há quem diga que sopas
feitas com o umbigo de
anel, um lenço, um pedaço de rédea, entre ou- relacionados entrem para a missa. Segue-se um recém-nascidos propiciam a
tros. O elemento essencial para o casamento é momento de reflexão, muitas vezes no próprio força de muitos homens a
o consentimento do casal e nem sempre os pais cemitério da igreja e, por fim, a festa que sem- quem as consome. Apesar
de ser considerado algo
precisam dar o aval para que o mesmo ocorra. pre toma vários dias. Todo o senhorio participa intolerável pelo Tribunal do
Mas, é claro que manipulações, de todas as par- e a quantidade de festejos varia de acordo com Supremo Ofício, esta prática
tes, ocorrem por trás dos panos ou na frente o prestígio e dinheiro daquele casal, mas todos ainda é comum, sobretudo
nos ermos de Belregard.
deles, e com plateia. comemoram, dos reis aos servos. Há inclusive traficantes
de umbigos chamados de
O cônjuge de menor influência, riqueza ou carangueijos que vendem
qualquer outra representatividade de poder, é estes peculiares acepipes

absorvido pela família do outro, não importan- a a cavaleiros próximos a


grandes combates.
do seu sexo. Desse modo, o dote é pago pela As Parteiras
P.
família de menor poder e não precisa ser algo
verdadeiramente valioso, sendo também impor- Parte fundamental do sacramento do nasci-
mento, a parteira costuma ser uma mulher,
tante, e interessante, uma herança de família,
apesar de tempos de necessidade já terem feito
uma relíquia religiosa, algo que tenha um valor
com que homens assumissem o encargo. São
simbólico e que, naturalmente, seja reconhecido figuras extremamente respeitadas, mesmo em
pela outra. castelanias mais “civilizadas”, já que a parteira
não atua apenas no momento do nascimento,
O casamento é quase indissolúvel e os meios mas também durante todo o processo da gra-
para se anular o mesmo são poucos, como a não videz e também depois dela, na recuperação
consumação na noite de núpcias, infertilidade da mãe. São grandes conhecedoras de ervas e
ou impotência de um dos cônjuges. Também, preparos de unguentos, daí um possível atrito
com os ditames do Tribunal, já que são vistas
no caso da descoberta de algum grau de paren-
como curandeiras e benzedeiras em suas comu-
tesco oculto. A igreja pode dar esta anulação
nidades. Muito comuns nas áreas interioranas,
e poucas vezes é flexível com aqueles que de- a parteira é um símbolo da sabedoria popular
sistem de seus votos. O que pode invalidar um e não raras as que cumprem também um papel
casamento inclui: ser menor de doze anos para espiritual, dando aconselhamentos e mostran-
mulheres, e de catorze para homens; Ser mem- do caminhos mais brandos. As babas de Viha
bro de uma das ordens de sacerdotes; terem pais são um ótimo exemplo da importância desse
tipo de personagem, que certamente tem seus
num grau de parentesco considerado proibido,
similares em todas as castelanias de Belregard.
em geral inferior ao sétimo. Em último caso, a
palavra de anulação direta de um Orador, sendo
desnecessário dizer que esta medida só é utili-
zada por pessoas de muito poder.

b 61 b
b Belregard b
O Terceiro Sacramento: A estimativa de Sendo estes cultistas da Horda adoradores de
vida raramente passa dos quarenta anos em Bel- falsos deuses, eles pifiamente conseguiram ape-
regard, salvo os sacerdotes que costumam atin- nas criar um pequeno “lar” dentro da Fímbria.
gir idades veneráveis, possivelmente pela vida
temperada com boa alimentação e atividades Sacramentos Menores: Dezenas de sacra-

físicas dos mosteiros. Mesmo com sua amplitu- mentos menores já foram instituídos e derru-

de de territórios e culturas, o funeral segue um bados ao longo dos anos, seja por necessidade

padrão quase imutável em todas as terras, quan- local ou por capricho de um clérigo. Existem,

do estas estão de acordo com a fé regente do assim, alguns sacramentos menores, rotineiros,

Tribunal. O morto é sepultado com as honrarias parte da cerimônia diária de todo fiel, estando a

que lhe cabem e também é velado por vários missa e a confissão entre os mais importantes.

dias. Acredita-se que, depois da morte, as almas Pelo menos uma vez por semana, normalmente

passem um longo tempo ainda no mundo, mas no sétimo dia, é preciso comparecer às missas

não coexistindo diretamente com os vivos. As do alvorecer e do entardecer. Muito canto e lou-

almas perambulam por um reflexo sombrio de vor marcam o dia, onde normalmente se aprovei-

Belregard, chamado de Fímbria. Lá elas devem ta o número grande de pessoas para continuar

pagar por seus pecados antes de ascenderem à a obra de responsabilidade da igreja. Já a confis-

presença do Criador, tornando-se um com Ele. são deve ser feita uma vez por ano, pelo menos.

As orações e preces ajudam as almas a encon- Normalmente a punição para os pecados en-

trar seus caminhos e não faltam histórias que volve algumas horas de oração e penitência na

relatem o encontro de vivos e mortos - algumas companhia do padre ou serviços maiores, em

macabras, outras gloriosas. Lazlo teorizava que casos mais graves, como uma peregrinação. O

todos os locais de conforto (paraísos) e locais fiel sabe que seu segredo está seguro com o pre-

de danação (infernos) de cada vertente cultista lado, mas é inegável o poder que estes homens

da Horda estariam aqui, em bolsões isolados. exercem devido a esta confiança. É confiando
na inegável pureza e integridade do Tribunal
que este costume se mantém firme e imutável.

Gravura estilo bertina de Fergus,


representando a importância dos
sacramentos. Muitos acreditam que
nem todos os mortos descansam.

b 62 b
b A Vida em Belregard b
no inverno. Nem todos conseguem cumprir este
a longo caminho em tempos iguais, mas eventual-
Os Três Nobres e os Três Mortos mente todos nós passamos por este ciclo. Menor
que o ciclo das estações, existe o da rotina, do
Conta uma lenda que três jovens príncipes va-
dia a dia. O emprego deste tempo diário pode
gavam pela floresta real quando foram abor-
até variar de acordo com o lugar, o clima e o
dados por três mortos, seus duplos. Apesar do
horror causado pelo encontro, os três príncipes relevo, mas costuma dividir semelhanças com a
ficaram curiosos e, em sua arrogância típica, maioria das regiões.
exigiram saber o que cadáveres faziam fora
de suas covas. Os mortos disseram que vie- Levanta-se sempre cedo, antes mesmo do al-
ram lhes alertar sobre as futilidades da vida, vorecer, e as atividades se iniciam com a aurora.
lembrá-los que para a terra não se leva nada, Muito da religiosidade diurna exige que o fiel es-
apenas a carne que alimenta os vermes. Ainda teja em jejum, por isso, durante as primeiras ati-
desdenhando, os três príncipes foram trespas-
vidades que precedem a aurora do trabalho, ra-
sados e sentiram a vida lhes fugir, exceto um,
ramente se come graças às primeiras orações do
que abandonou o que tinha de valor e tomou o
manto do morto, para encontrar um novo cami-
dia. As refeições, três, dividem o dia de trabalho.
nho. Alguns dizem que este homem era Alec, o No meio da manhã, toma-se o desjejum; com o
Puro. Mas esta pode ser apenas uma história. trabalho já iniciado; à tarde,almoçam e descan-
sam com um pouco de leitura, jogos e distrações
variadas e; finalmente, se retorna ao trabalho
Do Tempo até o anoitecer, quando se come pela última vez
O tempo, tão incontrolável e imparável, pa- no dia, durante a ceia. Dorme-se cedo. Não se
rece fluir de forma diferente entre os povos de perambula pela noite escura e mesmo as tochas
Belregard. Para o camponês, o tempo chamado e velas são evitadas nas casas mais humildes,
longo, do plantio, é mais importante que o cur- com toda sua palha e madeira.
to, o da noite, em que apenas se dorme. Diferen-
Os minutos após o crespús-
te do clérigo que o usa o tempo chamado curto Esse tempo longo é dividido em doze meses,
culo são chamados de “a
para estudar e sabe que pode-se queimar três cada qual relacionado a uma atividade em par- hora da anta” por muitos
velas antes do sol nascer, reservando alguma ticular: em primum, celebra-se o novo ano que habitantes de Belregard.
Isso se iniciou em um
delas às suas orações. O ritmo da vida é ditado se inicia; em secundus, repousa-se no interior da
boato de Vlakir no qual
pelas estações. Pessoas comuns, fora do clero, casa, aproveitando o calor do fogo; em tertium, um camponês consumia seu
sejam nobres ou servos, não costumam se im- reiniciam-se os trabalhos no campo; em locus, sexo junto a uma anta,
justamente neste horário.
portar com a passagem dos dias. Para o campo- o mais belo mês do ano, renovam-se todas as
Muitos vizinhos ouviam os
nês, importa saber apenas quando é época de coisas; em quintus, as campanhas se iniciam, gemidos do animal e do
plantar e colher. em que o lorde se arma e parte pelos campos; camponês, sempre assustados.
Uma noite foram ao seu
em sextus, ceifa-se o campo; em septimus, co-
encontro e toparam com a
O tempo não se limita apenas à marcação por lhe-se; em octavus, prepara-se o grão e debu- cena libidinosa. O camponês
dias, meses e anos, apesar de sua passagem ser lha-se o trigo; em nonus e decimus, colhe-se e foi enforcado, mas o boato
sentida dessa forma mais que de qualquer outra. se espalhou e até violên-
semeia-se a uva; em undecima, prepara-se para
cias sexuais cometidas com
O tempo iguala os homens e os faz passar pelas o inverno com a madeira e engorda-se o porco; humanos são atribuídas a
quatro estações da vida. Nascemos em nosso em duodecimus, reserva-se em casa com a famí- “hora da anta” em diversos
verão, crescemos em nossa primavera, amadu- cantos de Belregard.
lia e aguarda-se o ano novo para celebrar.
recemos no outono e nos deitamos para a morte P.

b 63 b
b Belregard b
Um costume moderno que ganha força é
a divisão do ano apenas em quatro, dividindo
a
Aqueles que possuem
deficiência física ou mental apenas a estação. Afinal, a plebe não precisa de O Peso da Palavra
em Belregard, caso sejam exatidão e acostuma-se em dizer “viajarei para
observadas por membros da Quando se olha para um camponês e para um
Igreja, possuem uma sorte ver minha mãe no fim do verão” ou “meu filho
nobre, é natural imaginar que este primeiro
ímpar. Estes são recolhi- nascerá no começo do outono”.
mal tem onde cair morto. Isso é uma verdade.
dos e bem cuidados, pois
já portam as chagas do A Sociedade
A diferença de poder e posse entre as classes
passado corrompido. Estas sociais em Belregard é gritante. Enquanto um
crianças já estariam pa- Um dos pontos mais importantes do compor- nobre pode viver em um castelo de cômodos
gando o preço do deicídio tamento social e político em Belregard baseia-se desconhecidos por ele mesmo, um camponês é
por todos. Contudo, grande na relação entre vassalo e senhor. Não importa o obrigado a se enfurnar em uma casa pequena
parte delas nasce distante
quão grande é o seu poder, todo senhor tem um com toda sua família e os animais. No entanto,
de abadias e por hora é
descartada por ser apenas senhor mais poderoso que ele. Grande parte dos o maior bem do homem de Belregard é a sua
um peso morto do leito. vassalos são proprietários de posses menores
palavra. Ainda que o peso da palavra do cam-
ponês seja menor que a do nobre, confia-se na
P. que, por alguma razão, vinculam-se a senhores
sinceridade das pessoas. Um dos maiores insul-
mais poderosos a fim de ter uma “patronagem”. tos que um homem pode fazer a outro é o de
No momento da filiação, é preciso determinar as marcá-lo como indigno de confiança. A traição
obrigações de um para com o outro e, enquanto da palavra é a maior vergonha para um homem
o vassalo torna-se proprietário de um território carregar, o que pode facilmente transformá-lo
do senhor, na forma de um feudo, este senhor em um Cabeça de Lobo.

pode lhe cobrar participação militar e política,


seja na guerra aberta ou para conselhos buro-
de terras, manter determinada área nas mãos
cráticos. O senhor pode ainda favorecer seu vas-
da família que já lhe servia e lhe favorecia, que
salo de outras formas, garantindo-lhe um bom
tirá-los de lá e encontrar novos proprietários.
casamento ou ordenando seu filho mais velho a
Apesar desta disposição, ela não é lei. No caso
alguma ordem de cavaleiros.
do proprietário nominal das terras morrer, de-
A cerimônia de vassalagem costuma ser sin- ve-se realizar novamente a cerimônia de posse
gela, salvo nos casos de senhores realmente po- e vassalagem, já que nada impediria o próprio
derosos, e quase sempre é acordada oralmente. senhor de dar aquelas terras a outra pessoa ou,
O vassalo coloca-se a disposição do patrono, ainda pior, que um outro líder ganancioso vis-
alegando “tornar-se homem deste” e firma o ju- se as terras como abandonadas e simplesmente
ramento sobre os escritos da fé ou sobre alguma tomasse posse.
relíquia sagrada. Um objeto simbólico também
As terras de um determinado senhor são
pode ser dado ao fim da cerimônia, represen-
divididas em dois tipos: as reservas e conces-
tando a passagem do feudo. Em Birman este
sões. Este segundo refere-se exatamente àquilo
objeto costuma ter conotações religiosas. Já em
que ele cede a seus vassalos, em troca da pro-
Varning, um simples contrato é redigido por um
dução e do pagamento. As próprias concessões
sacerdote e ambas as partes assinam.
têm suas divisões internas, que serão tratadas
Os feudos tendem a ser concedidos a título mais adiante. As reservas estão limitadas ao
pessoal e vitalício, mas a hereditariedade é ex- próprio castelo do regente, seja ele um rei, ba-
tremamente comum. Vale mais, para um senhor rão, duque, conde ou marquês, e seu séquito de
servos domésticos.
b 64 b
b A Vida em Belregard b
A corte também tem seu lugar na reserva. O lorde local, senhor das terras, guarda os
A paisagem de uma reserva é quase sempre a documentos de suas concessões e reservas com
mesma, com um grande castelo de pedra em muito cuidado. Mais que o ouro ou suas joias,
determinada parte alta do relevo, cercado por estes documentos são sua verdadeira fortuna.
construções pomposas, a corte, e ladeados, de Normalmente selados com o emblema real de
todos os lados, pelas terras e pastagens dos sua casa nobre e um reconhecimento do Tribu-
camponeses. As terras dos camponeses, as fai- nal, estas folhas de pergaminho representam o
xas, não são cercadas ou claramente delimita- poder do nobre em questão. O Tractatus Terrae,
das, apesar de todos saberem de quem é o que. livro do imperador com todas as terras de Bel-
Geralmente todos se unem para lavrar o solo, regard e seus respectivos senhores, está conve-
juntando os bois e os arados pesados para fazer nientemente perdido neste período conturbado
o trabalho de forma mais rápida. Estes lavra- da história em que, apesar do isolamento dos
dores que auxiliam os camponeses são muito senhores feudais, existe o evidente desejo na
respeitados e recebem parte da colheita como terra alheia.
pagamento pelo trabalho pesado.
Chamar Vlakir, Parlouma, e outros, de reino
também não é a melhor forma de se tratar tais
regiões. Na verdade, apesar do termo “reino”
estar convencionado na cultura popular de Bel-
regard, o nome mais correto para estas áreas é
o de castelania, que nada mais é do que um tipo
de senhorio, área de influência de um determi-
nado senhor. Influência e poder que são exerci-
dos das mais variadas formas, como a cobrança
de taxas por todo comércio e toda a troca rea-
lizada em suas terras. Apesar disso é ele quem
detém os meios de produção que os campone-
ses precisam, como a forja, o moinho e etc.

As terras dadas na forma de concessões po-


dem ter, no caso das classes mais baixas, dois
tipos básicos de ocupantes: os servos e os ho-
mens livres. A diferença básica entres estes dois
tipos é o fato do homem livre gozar de certa
liberdade dentro das terras de um senhor. Ele
pode morar onde desejar e algumas vezes pode
até mudar de senhorio. Estes homens são res-
ponsáveis pela direção da comunidade aldeã,
desempenhando papel importante na vida ru-
ral. Administrando a terra e os rebanhos, tam-
bém coletando, quando não por um enviado do
Gravura estilo bertina de Motazzi mostrando o milharal senhor, a talha (imposto) dos camponeses.
de Ygor, rico comerciante igslavo de Varning.

b 65 b
b Belregard b
Estas aldeias, que aos poucos tornam-se cida- tica de Belregard encontrava-se mergulhada no
des, são aglomerados de ofícios na maior parte caos. Originalmente o termo “feudo” era utiliza-
das vezes. Ferreiros, carpinteiros, curtidores e do como sinal de dívida de sangue, de vingança,
toda sorte de trabalhadores unem-se em peque- de ajuste de contas. Acabou convencionando-se
nos grupos para fazer valer um pouco de sua o uso para as terras conquistadas como resulta-

“Puxa, estica, amarra, vira, vontade. Está longe de ser algo organizado ou do destas contendas.
salta, corre, abaixa. grita, verdadeiramente expressivo, mas em Varning
gira, silencia.” já existem grandes corporações de ofícios que O feudalismo firma-se na máxima de que a

dominam determinadas áreas, juntando os terra pertence a Deus e que os senhores gover-
Essa é uma brincadeira
melhores em uma única filiação, muitas vezes nam por direito divino, possuindo-a e governan-
muito comum entre as
crianças. Uma delas entoa chamada de guilda. Em alguns locais as guildas do como bem entendem, assim como alicerça-se
as ordens e as demais no dever de servir cabido ao homem de simples
ganharam muito respeito e poder, formando
devem seguir. A vez é
verdadeiros cartéis e controle sobre um ofício, ofício. No entanto, o Eleito é o responsável
passada para as demais,
que embaralham os verbos manipulando desde quem se torna um aprendiz supremo da força humana, sendo o vigário de
e seguem as ordens. Deus em Belregard, possuindo assim o direito de
até o preço de venda.
intervir e impor sanções a um nobre injusto. A
Mas é dito que, na ver-
dade, estas são ordens da- O Triângulo Social ele é dado o poder de pronunciar julgamentos, de-
das durante torturas feitas Como apontado pelo iluminado padre Yorek por, retirar terras, substituir ou excomungar um
pelo Tribunal do Supremo
de Kinlar, a divisão natural dos homens foi or- rei que caía em seu desagrado. De maneira se-
Ofício em suas audiências
com aqueles que respondem denada pelo próprio Criador em uma espécie melhante, o Eleito tem o direito de declarar uma
por pecados cometidos... de triângulo, sua interpretação foi totalmente invasão, assalto de guerra ou declarar paz entre
detalhada na carta intitulada de “O Poder Re- dois feudos, mesmo que sua vontade vá contra
P.
gencial Divino e o Dever do Homem Corriquei- a vontade dos governantes, sua palavra será
ro”. A mobilidade social, para os sacerdotes, é acatada. O Eleito é a voz máxima sob os céus.
engessada por conta desta visão da ordem so-
A ordem de classificação e precedência no
cial. A grande vantagem do triângulo social é a
Sistema Social é a seguinte:
possibilidade de visualizar claramente a função
de cada um dentro deste sistema. Do mesmo ♝ Vossa Santidade, O Eleito – O cargo
modo, ascender nesse triângulo faz parte do máximo do Tribunal do Supremo Ofício.
objetivo da maioria das pessoas de Belregard. ♚♛ Vossa Majestade, O Rei / A Rainha
Por exemplo, um cavaleiro que tenha provado – O maior posto dentre os homens corriqueiros.
sua valentia na batalha ou foi bem sucedido em
♜ Dons e Donas, Os Nobres –
torneios, poderá tornar-se rico e conseguir pa-
Seletos senhores que podem ter suas ter-
gar por um castelo. Assim, sua importância na
ras dentro das terras reais. (eles são di-
terra iria aumentar e ele poderia, então, tornar-
vididos em barões, duques, marqueses e
-se um barão, conde ou duque. Nobres podero-
condes. Sendo barões os menores e duques os
sos aspiram ao cargo de rei, e os servos sonham
mais poderosos).
♞ Dons e Donas, Cavaleiros – Protetores e
em ser homens livres. Todos sonham com algo
melhor do que possuem.
mantenedores dos escalões acima.
O termo feudalismo foi criado por Haskel para ♟ Camponeses / Servos – O campe-
denominar as terras em constante disputa du- sinato em geral, incluindo homens livres e
rante a Era do Sangue, quando a situação polí- comerciantes.

b 66 b
b A Vida em Belregard b

Gravura estilo bertina de Fergus, representando


a importância da fé, que não abandona o homem
nem mesmo nas estradas de Belregard.

Mesmo com todo o poder da igreja, estar aci- A Divisão da Sociedade


ma da lei dos homens não é um privilégio de Aqueles que Trabalham “Operantibus”
todos, muitos homens do clero veem-se atados e Seja ele de Latza ou de Rastov, o homem sim-
até mesmo subjugados frente à alguns que con- ples de Belregad leva uma vida semelhante em
seguirem escalar grandes picos de poder. Deste todos os cantos do continente. Fadado a fazer
modo, um orador tem uma influência equiva- parte da parcela mais baixa da população, seu
lente a um duque, um cardeal equivalente a um papel dentro da sociedade é o de alimentar e
conde e assim por diante. Seguindo a lógica, em calçar o caminho para a nobreza. Sem qualquer
casos de poder equivalente, a palavra final será instrução ou conhecimento teórico, os campo-
do eclesiástico em questão. neses dedicam-se a tarefas práticas de produ-
ção no dia a dia. A criação de animais e o culti-
vo de terras estão entre as principais atividades

b 67 b
b Belregard b
destes homens simples e humildes. O homem
nasce fadado a fazer o que se espera dele, nada
a
mais que isso, apenas esperando o fim. Longevidade dos Reis

O campesinato é tão absorto que nem mes- Um fato curioso que salta aos olhos daqueles
mo calcula o tempo com grande precisão. Tudo observam as histórias dos reis de Belregard é
o quanto a idade venerável que boa parte deles
que lhes interessa é saber em qual a estação
consegue alcançar, quando não passam por al-
atual, para que a terra possa ser trabalhada.
gum atentado que lhes interrompe a vida. Para
Um camponês tem poucas chances de mudar um homem simples, e mesmo um nobre, viver
de vida, já que sua participação como alicerce até os cinquenta é motivo de glória e causa
das outras castas é muito valorizada. A maior estranheza que alguns reis tenham consegui-
parte da população de Belregard ocupa esta do chegar a mais que o dobro disso. Alguns
posição, trabalhando duro ao longo de suas estudiosos alegam que os registros antigos
estão errados, que muitos filhos assumiram as
vidas, relativamente breves, para manter a no-
coroas dos pais sem mudar o próprio nome, o
breza e o clero em suas condições confortáveis.
que causaria a confusão. Outros apontam mo-
Lembrando que é dever do nobre proteger seus tivos mais sagrados, provando a divindade dos
camponeses dos saqueadores e invasores, assim reis pela longevidade, como um sinal claro do
como é dever do camponês agarrar-se em armas Criador para que aquele reinado seja longo e
quando necessário. próspero. Para poucos, muitos dos quais já pa-
garam com a vida por espalhar tais histórias, os
Dentro do título camponês encontram-se al- anos a mais dos reis em Belregard tem uma ori-
gumas divisões. Existem os servos, os mais bai- gem muito mais profana, que parace envolver o

xos dentre os mesmos, sendo melhores apenas próprio Eleito e seu domínio sobre luz e treva.

que os bandidos. Devem suas vidas aos seus se-


nhores, que têm todo o direito sobre suas parcas
posses. A produção de um servo vai quase toda e principalmente do arroteamento. As rou-

para o seu senhor e ele mantém apenas o sufi- pas femininas consistem de duas túnicas, as

ciente para sobreviver. Temos depois os homens mais pobres usam apenas uma, sendo uma

livres que, mesmo ainda vivendo em terras de maior do que a outra. Além disso, as mulhe-

senhores, contam com uma certa quantidade res também usam um longo manto sobre seus

de posses pessoais, algum dinheiro e possibi- ombros. Somente nas últimas décadas tem se

lidades dentro da sociedade. Como um braço tornado normal o adorno de pescoços e pu-

dos homens livres, têm surgido em Belregard nhos com enfeites singelos. As camponesas

uma divisão distinta de homens dedicados ao costumam usar algodão cru tingido com aça-

comércio. Eles já são mais comuns em Varning. frão, ou linho barato quando são agraciadas

Lembrando que nunca um camponês aprenderá por sua senhora.

a utilizar uma espada, ele não deve tempo de


As atividades dos homens livres variam em
sobra para isso.
uma vasta gama de possibilidades. Quando livre,

O dia a dia de um servo é carregado de so- não colocado no determinado serviço porque

frimento, já que devem cuidar da terra do se- assim seu senhor quis, o homem simples con-

nhor por dois ou três dias por semana, e cuidar segue alcançar objetivos normalmente impossí-

das funções agrícolas como aração e colheita veis para alguém de seu status social. Existem
os cavaleiros mercantes, uma ordem menor de

b 68 b
b A Vida em Belregard b
cavalaria, não necessariamente nobre, que vem narcas são sábios em reservar este título apenas
se tornando popular nos últimos anos. Surgem aos mais confiáveis súditos. É desta casta que
como uma luz no comércio abandonado desta surgem os mais proeminentes cavaleiros de Bel-
Belregard arruinada. Seja fundando os alicer- regard. As ordens cavaleirescas aceitam mem-
ces de novos entrepostos comerciais, empórios bros vindos de qualquer estrato social, desde Seria comum imaginar que
onde se reúnem mercadores de vários cantos que tenham uma patronagem digna. É raro que reis e senhores de maior
poder seriam considerados
do mundo durante as épocas quentes, ou como camponeses consigam apoio o bastante para sa- até mágicos pelos mais
exploradores que se dedicam a reencontrar ca- grarem-se cavaleiros e certos filhos de duques pobres, mas isso não ocorre
minhos antes abandonados e torná-los seguros, já são educados desde jovens para tornarem-se em Belregard. A ausência
de esperança e a certeza
os homens e mulheres livres de Belregard conse- escudeiros. É esperado que todos os detentores da degeneração do mundo
guem forçar seu lugar no mundo. desses nobres títulos sejam versados nas mais impossibilita a projeção na
comuns armas militares, táticas de combate e figura de poder como algo
Aqueles que Lutam “Militantium” taumatúrgico. Pelo contrário,
controle de conflitos, afinal, um nobre que não há sempre desconfiança aos
A nobreza está logo acima dos camponeses e pode se defender não será um bom líder. Devido que possuem mais pão e
também divide-se em certos estratos com parti- tempos de paz, muitos desses nobres deixaram carne para se alimentar.
cularidades próprias. Os pequenos proprietários que suas armas enferrujassem e que suas bar- P.
de terras muitas vezes não carregam qualquer rigas crescessem, colocando sua segurança em
título de nobreza relevante e têm, aos poucos, mãos de outrem.
juntado laços com os homens livres comercian-
tes, dando origem a pequenos centros, os bur- Em territórios onde o conflito é constan-
gos. Lá, promove-se a união de outros homens, te, como em Viha e Braden, os marqueses são
livres ou não, para o comércio interno. Ferreiros, escolhidos entre os barões de maior renome e
carpinteiros e toda a sorte de ofícios juntam-se sucesso militar. A eles são dadas marcas, peda-
em praças largas para gritar alto o preço de seus ços de um território de fronteira, muitas vezes
produtos e serviços. dentro do território de outro nobre, como um
conde ou duque, e estes devem subordinação ao
Os condes figuram como primeiro título nobre marquês, no que diz respeito à guerra. O mar-
de real valor. Suas propriedades não são vastas, quês pode até mesmo tomar terras de seus vi-
mas podem gozar de uma relativa participação zinhos, ocupando os campos e usando de suas
dentro da corte de seus respectivos reinos. En- plantações, se estas forem necessárias em seu
quanto em viagem, os condes podem nomear esforço na fronteira.
um substituto para coordenar seus domínios e
No topo da nobreza está a figura do rei, deten-
estes viscondes têm poderes limitados nestas
tor de todas as terras de uma determinada re-
ocasiões, apesar de sempre serem da confiança
gião e que, mediante auxílio militar e logístico,
do conde. Em seguida vêm os barões, que não
cede certas partes para nobres e camponeses.
diferem muito em poder, mas sua influência
A família regente e seus relacionados costumam
militar é maior. Normalmente estes títulos são
habitar castelos, quase sempre construídos em
dados àqueles que demonstraram coragem no
locais altos, e ao redor destes espalha-se uma
campo de batalha.
pequena comunidade de servos. A corte tem

O maior dos títulos que um homem pode ter, seu lugar ao redor destes bastiões do poder real,

dentro da nobreza, é o de duque. Os ducados são contando com moradias de nobres e pousadas

quase como estados dentro do estado e os mo- especiais para atender a realeza e aos influentes
quando visitam determinada corte.

b 69 b
b Belregard b
O feudalismo é baseado na troca de terra para
o serviço militar. Bövrar I criou esse conceito,
apesar do termo só ter sido cunhado tempos de-
pois, para recompensar seus cavaleiros pela sua
ajuda na vitória contra os Selvagens. A vida dos
senhores e nobres é centrada em torno de seus
castelos ou mansões, ou lutando pelos interes-
ses de seu senhor seja nos salões ou no campo
de guerra.

A maioria dos nobres, em tempos de paz, des-


prende-se de parte de sua riqueza em grandes
festas ou banquete e, enquanto comem e be-
bem, assistem as brincadeiras de um bobo da
corte ou escutam as canções e músicas de tro-
vadores. Eles vivem daquilo que é tirado de sua
reserva, afinal, a floresta e seus trabalhadores
lhe proporcionaram a madeira para casas e mó-
veis, assim como as quentes roupas de linho, lã
e couro.

Aqueles que Rezam “Orante”


Junto dos nobres, e também subordinados ao
rei, está o clero. Dividido em determinadas or-
Uma típica bula do dens que interpretam de maneira particular as
Tribunal, contendo
as demandas de ideias deixadas pelos Puros que acompanharam
sacerdotes.
o Único em suas andanças pelo mundo, os sa-
cerdotes influenciam toda a sociedade.

As três principais visões de mundo religioso


são lições passadas pelos homens que caminha-
ram ao lado do Criador:

Alec pregava o total desapego aos bens ma-


teriais e até aos sentimentos mundanos. Este
andarilho foi o responsável pela criação do Tri-
bunal do Supremo Ofício original. É somente no
total desapego que pode-se novamente entrar
em contato com o Pai de Todos. Leoric, encarna-
ção do soldado divino, não chora pelo sacrifício
do Único, mas o aponta como a última direção
que o Criador deu aos homens e que agora eles
devem honrá-lo seguindo o mesmo caminho, lu-
tar eternamente contra a Sombra.

b 70 b
b A Vida em Belregard b
Por fim, o pragmático Lazlo crê na busca pelo Eleito - Sumo Pontífice, Pai das Primei-
conhecimento, seja ele qual for, chamando a to- ras Crianças, Escolhido da Santa Mão, Seta
dos para um culto racional e sem sincretismos Indicadora - Escolhido pelos Conclave dos Ora-
profanos trazidos pelas hekklesias, pregando dores, seu posto é vitalício. É também o chefe
que todo conhecimento é válido, acreditando de Birman, lar do Tribunal. Sendo um dos cargos
que este é o caminho para reservar seu lugar ao mais antigos e firmes da história de Belregard,
lado da essência do Criador na Abóbada Celeste. o Eleito fora um cargo criado por Alec, quando
escolhia em uma cidade alguém para guiar os
Dentro destas ordens a divisão é basicamente convertidos deixados após sua visita. Dedica-se
a mesma. Quando alguém deseja tornar-se sa- a unir os povos e firmar o poder do Único. Com-
cerdote, o ideal é que inicie esse caminho desde bater a Sombra e mediar conflitos do homens.
cedo. Os pajens, trazidos pelos seus pais até as Tem pleno poder dentro do Tribunal, possuindo
igrejas, oferecem também uma espécie de dote, poder de nomear e retirar poder para cargos. Há algumas décadas os
geralmente em dinheiro, para custear seus estu- ferreiros passaram a batizar
dos. Esta quantidade varia muito e geralmente Orador - Escolhido pelo consenso entre bis- uma espécie de alabarda
é cara demais para que famílias de camponeses pos, arcebispos e população, endossado pelos de “Lâmina da Capelã”,
referindo-se a uma arma
coloquem seus filhos no clero. Pode ocorrer de Acadêmicos Cardinalícios. Tido como cargo forjada de acordo com
pajens serem aceitos em ocasiões especiais. Os mais puro entre todos os outros, pois sua es- o desejo de Fernanda
mendicantes são mais propensos a isso. A no- colha envolve uma vida sem máculas e pouca Gusmão, responsável pela
capela nas imediações de
breza mantém o costume de mandar o segundo influência política, mesmo que isso não seja de Rastov. A mesma lâmina
filho para estudar junto à igreja. Enquanto o pri- total verdade. O Corpo Oratórios dos Fracos e foi responsável por matar
mogênito irá suceder os negócios e posses dos Necessitados, como foi chamado originalmente, lobos, acabar com ladrões
de peregrinos e abafar 3
pais, o segundo filho está fadado ao aprendizado nasceu com o intuito de amparar aqueles que revoltas camponesas. Não é
monástico. Lembrando que o clero só aceitará sofriam com os problemas reais deixados por raro, sobretudo aos Leoris-
um futuro aprendiz se o mesmo já tiver alfabeti- tas, pegar em armas para
péssimos governantes. Criaram e instituíram
resolver seus problemas.
zado e com conhecimento literal sobre a Vulgata, legalmente aquilo que seria tratado como fraco E estas normalmente são as
o Livro Sagrado. Aqueles que não passam nesse e necessitado, dentro das normas do Tribunal. mais letais.
primeiro teste são dispensados. Não é preciso Agem como mediadores e conselheiros, levando
P.
dizer que muitas famílias gastam tudo que pos- a vontade do povo e das castelanias até o Eleito.
suem pagando instrutores para que seus filhos
estejam preparados para isso. Cardeal - O Corpo Cardinalício. É um dignitá-
rio de alto grau e atende aos desígnios do Eleito,
Tornando-se prelados depois de alguns anos servindo como mãos e olhos para este. Existe
de estudo, então, são mandados para igrejas e um número que varia entre 70 a 120 destes. Tra-
capelas em áreas afastadas dos grandes centros balham em grandes locais, grandes focos da fé.
e da corte. É nestes locais que os aspirantes a
sacerdotes aprendem sobre os verdadeiros misté- Arcebispo - Cuida de um conjunto de Conse-
rios de Belregard. Lidando com a superstição de lhos Distritais. São escolhidos entre os bispos
camponeses e tendo que lhes orientar em suas pelos cardeais.
transgressões, muitos candidatos desistem da
Bispo - Cuida de um Conselho Distrital (união
vida sacerdotal nesta fase.
de várias Igrejas). Se existe alguma fagulha de
real bondade, sem interesse político, está daqui
para baixo.

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b Belregard b
Prelado - Cuida de Igrejas. do que é o amor cortês dos trovadores de Da-
lanor; o desdém da dama almejada, que parece
Prior - Cuida de uma ordem, um Priorado.
acompanhar os passos do gatuno que espreita
Abade - Responsável por Abadia ou Convento. na segurança da noite sem dar atenção ao seu
Capelão - Padre militar ou que dirige capela. apaixonado poeta. Independente de quão encan-
tadora a noite e a lua possam ser, o medo impera
Acólito - Auxiliar de um Sacerdote.
no coração de todo homem que vive nas terras
Mendicantes - A mais baixa na hierarquia, de Belregard quando o sol se põe no horizonte.
são homens e mulheres sem apego material,
grandes viajantes e pregadores. Arquitetura
Traçar todas as variações de construções em
Os Pormenores do Mundo Belregard seria um esforço imenso e desne-
ar cessário para este trabalho. O que precisamos
Não seria prudente ressalt Um mundo de Escuridão
aqui o nosso me do tentar compreender são os padrões de moradia,
do escuro? A vida em Belregard não é branda. Aqueles elementos comuns que fazem o camponês da
-P. que vivenciam este período são pessoas guer- isolada Rastov compartilhar vivências com o
Tolices! Não dê reiras que tentam conquistar novas terras ao pastor de Belghor. As estruturas em Belregard
armas ao inimigo. custo da vida de seus aliados e inimigos selva- possuem estilos particulares que costumam
gens. A mistura dos povos gerou uma recém- se distinguir pela localidade e pelo povo que
-nascida busca por elegância com suas sedas,
as construiu. Os belghos possuem fama como
tapeçarias, pedras preciosas, perfumes, espe-
construtores engenhosos, excelentes trabalha-
ciarias, pérolas e marfim, assim, provocando
dores com pedra. Desde muito tempo tem-se
uma mudança na sociedade em geral. O requin-
evidências de seus esforços na construção de
te, o bom gosto e a finesse parecem ser algo
pontes, torres e palácios de pedra. Parte desse
novo, algo sendo finamente degustado e apre-
conhecimento foi perdido, mas alguns lugares,
ciado por aqueles capazes de pagar seu custo.
como Vlakir, mantém viva a tradição.
É neste cenário contraditório que se envolve o
homem atual, ainda que existam avanços e me- O chamado estilo virkânico se caracteriza pe-
lhoras, o isolamento deixou tais benécies fecha- las construções austeras e robustas, de paredes
das e reservadas a grupos e lugares. O que une grossas e janelas pequenas. Mesmo as igrejas
a todos, fora a crença do Criador, é a escuridão
deste estilo podem ser confundidas com forta-
quase literal.
lezas da fé. Ainda é o tipo mais respeitado de

A noite tem seus encantos e assombros. Da arquitetura, por carregar muito da passada gló-

mesma forma que ela fascina o amante trovador ria do império. O estilo mais recente e que tem

com a inspiradora luz do luar, causa arrepios no se tornado popular nas construções do último
campo, quando o uivo faminto irrompe o silên- século é o birmânico, que carrega uma forte
cio dos lares. A lua surge como uma salvadora, e estreita relação com a fé. Caracteriza-se por
jogando sua luz pálida quando não há sol para estruturas altas, de torres e arcos impressio-
aquecer os homens. Um sem número de canções nantes. Um espaço interno amplo e um exímio
já foram escritas para a garbosa dama que vaga aproveitamento da luz através de janelas, vitrais
solitária nas noites frias. Melodias falam de um e rosáceas cativantes.
amor puro e inalcançável, um reflexo perfeito

b 72 b
b A Vida em Belregard b
Menos impressionantes, apesar de mais típi- ce contrário ao que seria natural. Há de se per-
cas, as construções dos camponeses e homens guntar o porquê dessa atitude e como poucos
menos abastados segue um padrão quase igual centros populacionais desse porte continuam
em todos os cantos do mundo. No campo, as ocupados hoje. Nos locais onde o poder conse-
casas costumam ser grandes salões cumpridos guiu se manter centralizado no rei, ou na figura
que poucas vezes tem divisórias internas com do nobre que tomou as rédeas da situação isto é
paredes sólidas de terra ou madeira. Costuma- notável. Não fosse o abandono das cidades, tal-
-se usar tecido, cobertores, para dividir os cô- vez Belregard não estivesse tão isolada e escura
modos das casas. Não é incomum que mais de como se encontra.
uma família viva na mesma casa e é costume “Mas como essas coisas
que todos durmam no mesmo local, comparti- Fenômeno ímpar tem ocorrido em certos lu- foram feitas? Grandes
gares, especialmente em Varning, é o dos bur- castelos e fortalezas de
lhando da mesma cama. A ideia de privacidade
tempos imemoriais!”
não é tão relevante quanto na cidade e mesmo gos. A ascendente classe dos comerciantes, jun-

os banhos podem ser comunais. Um espaço da to de seus cavaleiros mercantes, têm realizado “Não seja tolo, isso foi
as feiras em grandes encontros de estradas e criado quando o Criador
casa pode ser reservado para os animais, a fim
ainda estava entre nós.”
alguns destes comerciantes acabam por viver
de protegê-los do frio, dos lobos e de ladrões. “Mas há quem diga que
nestas áreas, sob a proteção de senhores locais estão de pé há muito
Já na cidade, a organização das residências é e como recompensa, ajudam tais senhores na tempo atrás.”
muitas vezes confusa. Varning tenta mudar isso defesa e melhoria estrutural de seus domínios.
“Então diga, meu bom
com políticas severas de padronização, mas só É um fenômeno que tem feito surgir as cidades homem, se o Único não
consegue manter-se coesa no grande centro. pequenas, em pontos fortes de comércio. Em al- está mais nestas paragens,
porque estes colossos insistem
Normalmente, quando possível, as casas são guns casos, estas cidades, burgos, conseguem
em ficar de pé?”
construídas com o primeiro andar de pedra, po- autonomia junto ao senhor geral daquela área, “Para nos lembrar de nossa
dendo ter anexos superiores de madeira. Como permitindo que a torre, o forte ou mesmo mos- insignificância. Hoje nem
sabemos mais como fazê-los.”
os ofícios sãos mais comuns nas cidades, as por- teiro, se torne autossuficiente.
tas e janelas ficam abertas durante o dia, exibin- “Eu vejo tudo de outra
do produtos ou oferecendo serviços. Como dito Existem alguns tipos observáveis de cidade, forma, meus caros.”
por mais que estes estilos se misturem com “E como vê?”
antes, a privacidade é assunto sério na cidade,
frequência. Existe a cidade que se manteve do
de modo que as casas costumam ter maiores di- “Tudo isso serve apenas
visões internas. período imperial, esta costuma ser mais ampla para guardar festins e
e organizada, por mais que tenha sido também oferendas que peregrinos
deixam. Sempre visito ruínas
As Cidades e os Castelos vítima de uma histeria generalizada quando
para garantir ao menos
conflitos locais deflagaram a queda do poder uma boa refeição.”
Durante o período imperial, grandes cidades
imperial, elas contam com estruturas de pedra
marcaram o mapa de Belregard. Capitais e cen-
e amplas áreas de socialização, como praças e
tros comerciais fervilhantes de vida e cultura.
banhos. Existe também o burgo, muito comum
Conforme Virka demonstrava seus sinais de
no oeste de Belregard, a partir de Varning, nor-
fraqueza, tais locais acompanhavam o “sangra-
malmente iniciado por ajuntamentos de comer-
mento” imperial, sendo abandonados, saquea-
ciantes em seus empórios; estes são centros de
dos, aos poucos. O movimento de êxodo parece
fervor em determinadas épocas do ano propí-
até mesmo forçado em alguns locais. Estruturas
cias ao comércio. As demais são cidades novas
grandiosas de pedra sendo largadas ao tempo
ou espalhadas ao redor de castelos e igrejas, go-
enquanto famílias juntam o que podem para
vernadas por nobres e bispos.
partir aos campos, tomando um rumo que pare-

b 73 b
b Belregard b

Gravura estilo bertina de Ferguson, representando um santuário abandonado em Virka, já reclamado pela natureza.

b 74 b
b A Vida em Belregard b
O caso geral do ambiente urbano é caótico, mais pobres. A área mais próxima ao castelo
mesmo nas cidades que sobreviveram ao êxo- do nobre local é destinada à corte e esta corte
do total. As ruas em sua maioria são de terra pode variar de tamanho, de acordo com o poder
lamacenta, em raros casos, um pequeno peda- aquisitivo daquele senhor em especial. Na mura-
ço pode ser calçado com pedras ou tábuas de lha externa ficam os cidadãos de bem, mas em
madeira barata. A água é retirada de poços ou áreas periféricas da corte, e devem se recolher
lagos e rios próximos. Os excrementos são ar- antes que os portões se fechem no início do cre-
remessado a céu aberto, muitas vezes na rua. púsculo. Entretanto, muitos cidadãos não têm o
A iluminação, quando existe, consiste de tochas direito de residir dentro dos portões e por isso
colocadas à frente das casas, sendo sua manu- aglomeram-se nos arredores dos grandes muros.
tenção responsabilidade do proprietário da resi-
dência. Um indigente encontrado morto pode fi- Na área interna de um castelo existem divi-
car jogado por dias até ser recolhido. As cidades sões de espaço. A estrutura destinada à mo-
representam o progresso puro e simples, mesmo radia do nobre é chamada de torreão e estes
que ainda rústico. costumam ser mobiliados de forma singela, já

A arquitetura dos castelos mudou a partir da que o espaço normalmente é amplo demais e as
Era do Sangue, quando as construções de ma- necessidades pequenas. No primeiro andar do
deira deram espaço à pedra e blocos de barro, torreão costuma-se realizar banquetes e é tam-
assim sendo possível suportar aos cercos e de- bém onde o nobre recebe seus súditos e subor-
fender-se da melhor forma possível. Ao redor de dinados. Festas que costumam ter a intenção de
um castelo existem fortes muros para as pro- agradar a população também são realizadas ali,
priedades ricas, ou cercas de madeira em terras assim como saraus.
Em Viha e Varning
itetôni-
novos estilos arqu
criados.
cos estão sendo
sca
Enquanto Vihs bu
, por
ser uma vanguada
sadas
meio de linhas ou
rning
e geométricas, Va
a encerra o co sm op oli tismo
uma
da castelania em
esen-
O Abandono das Cidades culinária que repr
rias
ta a fusão de vá
É de se estranhar este abandono de grandes centros populacionais, que realmente vai contra a lógica da tendências.
união em momento de necessidade. Não fosse este êxodo, Belregard poderia ter se mantido quase que a
mesma, ainda com suas lutas internas de poder. Talvez as reflexões finais do último imperador ajudem a
jogar uma luz, mesmo que duvidosa, sobre a questão. Tais escritos podem ainda estar em seus aposentos
reais no palácio de Virka, ou talvez na posse de algum saqueador, ou ainda colecionador.

“Que seja condenada a alma que habita esta casca profana. Maldito seja o sagrado e o profano! Do que
vivi e construí pouco me resta para admirar, apenas sigo com o peso da coroa nos ombros e na fronte
carregada de desalento. Se é o que resta aquele que se dedica, ao que busca onde é preciso pela clareza da
Luz e segurança da Sombra, maldito seja eu… Bövrar sabia de pouco, os abutus arranharam uma verdade
incômoda e o uivo dos Celestes apontou uma direção, mas nenhuma destas descobertas parecia fazer sen-
tido sozinha, foi só quando uni todas, buscando na Alcova Profana pelo cortejo ideal é que compreendi. Foi
me dada uma escolha… O horror da verdade, a loucura da iluminação final, ou a segurança da ignorância?”

b 75 b
b Belregard b
Tecnologia camponês colhe o linho, tosquia a ovelha, en-
tão carda e tinge a lã. Já a do cavaleiro utilizará
“Caminho do céu, A guerra é a grande força motriz do progresso
suas horas vagas para fiar, tecer e bordar. Estes
caminho do chão. no campo dos inventos em Belregard. Nem tudo
No céu há esquadros per- tecidos podem ser lisos (com uma só cor), mis-
está relacionado a ela, mas é inegável a sua con-
feitos, cabeça turados (matizados), variegados (com flores e
e mente a seguir. tribuição quando se percebe o uso da armadura
ornatos de folhagem), salpicados (com esferas)
Na terra há imperfeição, e completa entre os cavaleiros mais abastados,
ela que devemos seguir. ou listrados de diversas maneiras. Uma verda-
a balestra, o trabuco, a besta de mão e tantos
Fazemos ferramentas, somos deira profusão de variedades que se reflete nos
ferramentas. Mas onde as outros legados de longos períodos de conflito
moradores de Belregard que, muitas vezes, dedi-
ferramentas estão quando o como a Era do Sangue e o subsequente caos da
mundo precisa delas?” cam-se à elaboração de uma roupa que irá des-
queda do império. São notórias as vantagens
- atribuído a Frida Guilz tacá-los na multidão. A moda em si varia muito,
trazidas pelos moinhos, tanto de água quanto
de castelania para castelania.
de vento. Assim como os avanços nas constru-
ções de castelos e igrejas, com seus arcos mo-
Engana-se quem pensa que camponeses utili-
numentais. Por mais que muitos destes avanços
zam roupas sem cores fortes ou que as cores do
estejam isolados entre a nobreza e o clero, sua
mundo são limitadas e cinzentas. As indumentá-
presença pode ser sentida em maior ou menor
rias variam muito, com corantes vegetais e uri-
grau por todo o mundo, dos simples óculos de
na de homem, adicionadas à fervura para que
leitura ao arado pesado puxado por bois, pas-
as cores surjam e se fixem na peça de roupa.
sando pelas caravelas que singram no mar sul
Em algumas cidades existem baldes em esqui-
saídas de Varning. O maior invento de tecno-
nas e pontos discretos onde os homens podem
logia dos tempos atuais pode ser gigantesco
urinar para que o líquido seja usado nas tintu-
observatório construído pela ordem dos Orado-
rarias próximas. Independente de quão cinza o
res das Estrelas, de Parlouma, num movimento
mundo pode ser, a fagulha de alegria concedida
encabeçado por Antonini de Petugia e também
pelo Divino faz com que o homem encontre cor,
vale citar as pontes elevadiças de Varning.
mesmo na mais profunda treva.

Vestuário Alimentação
As roupas e a moda são ritmadas pelo triân-
O passado turbulento formou uma sociedade
gulo de poder, o sistema que rege a sociedade
simplista e brutal, com a total inexistência de
de Belregard. As leis definem que um cidadão
requinte. Os tipos de alimentos mais consumi-
só deve usar roupas cabíveis à sua classe so-
dos são carnes em geral, frutas, peixes, aves de
cial, para que assim, os membros desta casta
caça, pão e tubérculos. Deste modo, a alimen-
sejam facilmente distinguidos por suas roupas.
tação segue moldes simples, onde o rico terá
A roupa usada por classes da nobreza é supe-
muito e com preparo ideal, e o pobre comerá o
rior e claramente diferente da roupa usada por
que lhe resta da forma que for possível ser feito.
um plebeu, sendo assim, as vestimentas podem
Assim como amor pela comida, os povos de Bel-
fornecer informações sobre o status da pessoa
regard gostam de entregar-se à bebida, afinal,
que as usa.
devido a má qualidade da água, beber é uma ne-
cessidade. Os pobres bebem cerveja ou cidra e
O trabalho de confecção destes tecidos usa-
os ricos deliciam-se com muitos tipos diferentes
dos nas roupas costuma caber apenas às mu-
de vinhos. Não é rara a fermentação de frutas e
lheres, cada uma a sua moda. A mulher do
cereais para o fabrico de bebidas e há também

b 76 b
b A Vida em Belregard b
técnicas de destilação de toda sorte. Há aldeias distintas formas, como podemos ver no caso do
conhecidas pelos licores de jabuticada ou pela caju, utilizado desde sua polpa até sua castanha,
aguardente de cana, por exemplo. Em ambas as que é torrada. Muitas castanhas são apreciadas
cozinhas, dos ricos e dos pobres, os temperos não apenas como aperitivos, como também
são populares, junto com os molhos, normal- para a feitura de pratos quentes e doces. Como
mente à base de miolo de pão, vinagre, cebola, já dito, vale ressaltar a diversidade de bebidas,
noz, pimenta e até canela. mostos fermentados e destilados que são feitos
com base de frutas e cereais. A carne de porco
A alimentação dos camponeses fica concen- é a mais consumida entre os camponeses, nor-
trada nos cereais ou tubérculos, cada qual rela- malmente morto no fim do ano, mas tem seus
tivo à geografia mais propícia. Dentre os cereais produtos salgados e consumidos por um longo
temos como os mais populares são a cevada, o tempo depois de armazenados. Mas não se en-
arroz, o centeio e o trigo, normalmente semea- gane, tudo isso é tirado da terra e usado com
dos e colhidos juntos para fornecer uma mistu- sensatez, um ditado antigo deixa o cuidado bem
ra de que é feito um pão escuro, mas também claro: “O regalo de hoje é o roncar da barriga
podem servir como ensopados e mingaus. Em de amanhã”.
áreas montanhosas, cultiva-se a espelta e nas
áreas meridionais, diferentes espécies de mi- Para a nobreza, “o primeiro dos luxos é levado
lho. A aveia e o sorgo entram principalmente na à sério”. Os cereais dos camponeses são prati-
composição de sopas acompanhadas de semen- camente abandonados por uma variedade maior
tes de cânhamo, legumes (favas, ervilhas, cou- de carnes: veados, gamos, cabras, antas, javalis,
ves, lentilha, feijão, tomate, cebolas, alho, raba- lebres, perdizes, codornas, faisões e tantos ou-
nete, etc) ou de castanhas. Áreas mais úmidas tros são populares nas mesas da nobreza, junto
possuem diferentes espécies de raízes e tube- das enguias criadas em lagos particulares. Os
rosas, como batatas, mandiocas, inhames e ca- banquetes são uma peça central da influência
rás. Nota-se que os tubérculos são versáteis e de de um nobre em seu território. Realizados para
grande importância para o fabrico de farinhas e promover grandes eventos como casamentos,
demais derivados. Não é raro, por exemplo, ter coroações, visitantes ilustres, torneios e feria-
acesso a massas feitas a base de batata-doce dos santos, é no banquete aberto ao povo que
como principal repasto de uma família pobre. se pode medir a popularidade de um monarca
entre os seus súditos. Comer até se entupir é um
Sempre que possível, uma família terá uma costume apreciado entre os nobres, em festas
pequena, mas notória criação de aves domés- eles comem tanto que irão procurar locais para
ticas para ovos e carnes. Queijos, fortes e sua- vomitar, liberando espaço para poder comer
ves, com ervas também são comuns, junto dos mais e mais. Em tempos mais antigos e som-
peixes em áreas onde a pesca é possível. Fru- brios, como resultado das revoltas da Era do
tos dos bosques também figuram com grande Sangue o termo boccaculo nasceu. Pela escassez
importância, como maçãs, pitangas, pêras, ta- de comida em muitos locais comia-se tudo dos
marindos, amoras, ameixas, nêsperas, sorvas, animais, da boca até o ânus, sem deixar nada
nozes, avelã e etc. Entretanto, frutas cítricas de fora. Nos tempos atuais, com o isolamento
são apreciadas, bem como produtos tropicais, de certos lugares, não é difícil imaginar este
com destaque para a canela e cana-de-açúcar, cenário se repetindo.
itens raros e caros. Os frutos são utilizados de

b 77 b
b Belregard b
Da necessidade nasce a inovação e muitos
pratos típicos desses povos nasceram da falta de
a
boa ou alguma comida. Desde compotas feitas Morrendo pela Boca
com cascas e frutas, até defumação de vísceras
Nobres costumam utilizar pratos de estanho e,
não comestíveis de outro modo. É impossível
com o passar do tempo, a oxidação do material
negar que a necessidade deixa uma marca na
pode torná-los venenosos. Copos para tomar
história da culinária de Belregard muito mais cerveja e vinho podem ser feitos do mesmo
profunda que o regalo. Outra curiosidade fica material e a mistura do álcool com óxido de es-
por conta dos cozinheiros, uma classe quase se- tanho pode gerar desmaios semelhantes a nar-
parada dos demais homens livres. Como a comi- colepsia, onde o enfermo parece estar morto e
da é assunto sério, bons cozinheiros podem go- pode acabar sendo enterrado vivo.

zar de relevantes regalias dentro da casa nobre


ou em uma comunidade mais humilde.
conhecidas como baladas românticas. Eles são
Música
muito bem vistos por nobres e reis de toda Bel-
Os tempos violentos que antecederam os dias regard, mas não foram poucos que encontraram
de hoje obrigaram os habitantes de Belregard a o fim na guilhotina após ridicularizar um nobre
viver em uma sociedade primitiva com extrema em uma de suas canções. Seguindo a mesma
falta de elegância ou requinte. Porém, com os linha, os menestréis ganham a vida através da
atuais tempos de paz, ainda que isolada, a si- poesia, da música e da recitação de versos, sen-
tuação deu sinais de mudar. O mundo foi criado do acompanhados sempre do alaúde, harpa, ou
enquanto o Único cantava e os astros dançavam outros instrumentos de cordas. Eles são famosos
em gozo. Seja entre os filhos do Único ou entre por sua retórica emocionada e muito requisita-
os selvagens da Horda, a música e a dança estão dos para imortalizar um determinado momento
impregnadas na cultura dos povos de forma in- em música ou poesia. Muitos poetas escrevem
trínseca. A música sempre foi parte importante pela inspiração vinda originalmente do coração,
das atividades religiosas da igreja, além disso, contando as histórias sem aumentar um pon-
muitos rituais pagãos também utilizam a música to, apenas embelezando-as. Muitos outros são
em seus cultos. Os ideais do amor cortês foram financiados, isso quando não são obrigados a
recentemente introduzidos e têm tomado todos imortalizar atos nem sempre tão verdadeiros,
os salões e praças destas terras. Por mais que nem sempre tão grandiosos.
o Tribunal tente erradicar danças antigas e tra-
dicionais embrenhadas na cultura popular, ale- Acompanhando os menestréis e os trovadores,
gando seu paganismo enrustido, é uma tarefa existem os saltimbancos, que nada mais são do
impossível: o povo simplesmente ama dançar ao que artistas itinerantes sem muito sucesso que,
som dos tambores. devido suas habilidades na dança, mágica, acro-
bacias, e malabarismo, auxiliam os menestréis e
Os trovadores são originalmente músicos os trovadores em suas apresentações ou tentam
viajantes e sua presença serve tanto como en- trilhar seus caminhos sozinhos. Devido sua arte
tretenimento como meio de atualizar-se sobre pouco valorizada, eles são em sua maioria con-
novidades de outras terras. Os temas das mú- siderados vagabundos e indignos de confiança.
sicas cantadas pelos trovadores tratam princi-
palmente do cavalheirismo e o amor cortês –

b 78 b
b A Vida em Belregard b
Arte
a
A arte de Belregard é restrita à produção de
O Óleo de Linun
pintura pietista (arte sacra) na forma de ma-
nuscritos iluminados, mosaicos e afrescos em A arte de Berto de Linun é assombrosa. Seus quadros, quase sempre
igrejas. Não existem muitas pinturas de retrato imensos retratando pessoas em seus tamanhos naturais, são de um de-
na arte. As cores ocupavam uma segunda im- talhamento que fascina e assusta. Apesar do talento, o pintor não faz
portância. Apesar disso, alguns entusiastas da- sucesso entre os nobres, que preferem o trabalho de mãos menos deta-
lanos, dedicados a gravuras, tem desenvolvido lhistas, que sabiamente encobrem seus defeitos e deformidades. Berto
usa uma técnica secreta de pintura a óleo tão fenomenal que suas obras
as chamadas xilogravuras que, aos poucos, tor-
parecem vivas. Este fato gerou caos em uma exibição nos salões de uma
nam-se populares até para a ilustração de Lita-
nobre família de Parlouma, os Orchiri. Não se sabe como tudo come-
nias. Apenas recentemente um novo tipo de arte çou, mas uma histeria generalizada tomou conta dos convidados para
tem fascinado os entendidos no assunto, trata- a exibição, quando um antepassado Orchiri, morto a séculos, apareceu
-se das gravuras livres. Obras que usam de uma caminhando pelo salão, supostamente saído de um quadro. Atualmente
perspectiva jamais imaginada dentro da história a situação de Berto é preocupante. Ele está sob a proteção sigilosa dos
da arte em Belregard. Um estilo que foi criado e Orchiri, sendo que eles o têm emprestado para fazer pinturas para ami-
gos próximos e interessados que têm cruzado Belregard para lhe pedir
continua sendo encabeçado por Berto de Linun.
uma pintura de um antepassado. O Tribunal mandou caçar cada uma de
Os novos artistas são seguidores do Puro Lazlo,
suas artes e o inferno que aguarda Berto parece estar só começando.
estes poucos revolucionários estão dispostos
a sair dessa ditame pietista e seguir por cami-
nhos mais ousados, caminhos guiados pela sua
própria vontade. Alguns estão encontrando a
notoriedade e já chamaram a atenção do Tribu-
nal, que adjetiva tal demonstração de arte como
profana, abusiva e diabólica. Independente de
como o Tribunal rotule, muitos homens de
Belregard têm gostado de tal ousadia.
Dessa forma, até mesmo pela infâ-
mia, a arte bertina se espalha.

Gravura estilo bertina, representando a


elegância do artesanato dalano ao seguir
as formas naturais do chifre do
cervo campestre.

b 79 b
b Belregard b
Entretenimento, Festivais e Feriados • O Dia da Ascensão: Ocorre no início do
ano. As festividades duram vários dias,
A monotonia e tédio da vida corriqueira é
normalmente arrastando-se pela primei-
aliviada por vários tipos de entretenimento, fes-
ra semana do ano. Festas são acompa-
tas e feriados. Os camponeses compartilhavam
nhadas de procissões religiosas, lembran-
uma vida em comum no trabalho dos campos,
do os grandes feitos que trouxeram a luz
nos deveres da aldeia e nos serviços da igreja,
aos homens. Crianças batizadas nessas
por isso, costumam estar unidos em datas co-
datas tendem a serem importantes para
memorativas. As festividades em sua maioria
a história do mundo. Grandes líderes reli-
são financiadas pelo senhor local, pelo clero ou
giosos costumam reafirmar seus votos de
em raros casos é feita do esforço comum dos
batismo nesta data.
camponeses. Um costume que poderia sur-
preender a muitos ainda é mantido em Belre- • A Vitória Sobre os Selvagens: Come-
gard, que é o da hospitalidade. Poucas pessoas morado ao longo do ano, em pequenas
fecham as portas de suas casas para viajantes, festividades que lembram a derrota dos
eles costumam ser bem recebidos e bem trata- belinaren e dwetar contra o avanço hu-
dos. Viajantes sempre têm histórias para contar mano. É um feriado “flutuante”, que
e isso pode garantir o entretenimento por si só, muitos monarcas realizam para ganhar
tirando camponeses e senhores de uma rotina o prestígio de seus súditos com um dia
possivelmente entediante. Por isso mesmo que o de comemorações. Em épocas especial-
crime contra o anfitrião é tratado de forma mui- mente críticas, ocorrem comemorações
to severa em todos os cantos do mundo. Aquele de vitória em todo mês. Áreas remotas fi-
que rouba ou prejudica a pessoa que lhe rece- cam agitadas nessa data, fazem com que
beu e tratou bem torna-se um pária, assim como os pagãos também se reúnam, mas para
aquele que rouba a casa de um anfitrião. lamber suas feridas e afiar as suas garras.

Costumes diferentes sobre recepção de hós- • A Divina Encarnação: Comemorado no


pedes mudam de um canto ao outro. Um vih irá dia 08 de tertium, é um feriado “univer-
oferecer sua mulher para o hóspedes. Um parlo sal” em Belregard. Não é raro que dure
irá exibir seus cavalos ao viajante e um dalano mais de um dia, apesar de não se estender
possivelmente irá beber até cair. como o Dia da Ascensão. Lembra-se da

Muitos dos feriados são herança dos selva- presença do Único e tem um cunho mais

gens, mesmo que o Tribunal tenha alterado mui- religioso, contando com o jejum dos de-

to dos seus ritos originais, mesmo que tenha sa- votos e prática de litanias. É o momento
Não tenho apreço cramentado muito de seus símbolos pagãos, em para pagar promessas e criar novas me-
aos jogos. Homens sua essência, as festas possuem cunho selvagem tas. Normalmente nessa data é celebrada
são tomados por o aniversário do grande rei, independente
e foi sobre coisas desse tipo que Lazlo lutou sua
uma fúria animal e da data do seu real nascimento, marcan-
mais parecem bes-
vida inteira para mostrar à igreja, mas esta pa-
do sua autoridade devida e facilitando as-
tas que gente quan- rece estar mais preocupada em não assustar e
similação dos homens ao longo das eras.
do lutam entre si. confrontar sua massa adoradora.
E ainda chamam • O Luto pelos Caídos: Celebração que
Dentre os feriados e festividades mais po-
isto de Lazer. ocorre em finais de decimus, dia 31,
pulares de Belregard, grande parte de cunho
religioso, podemos citar: para celebrar os mortos. Um dia de res-

b 80 b
b A Vida em Belregard b
guardo e jejum, quando se fica com a fa- Viagens e Comércio
mília e se conta boas histórias daqueles
Como já foi citado, o costume da hospita-
que partiram. A reclusão não é apenas mo-
lidade ainda é muito forte em Belregard, mas
tivada pelo louvor, mas também pelo medo.
esse parecer ser um dos poucos confortos que
Existe a crença de que neste dia o véu entre
uma pessoa poderá ter, se decidir encarar uma
o mundo dos vivos e dos mortos está mais
viagem sozinha. Os caminhos do mundo en-
fino. A Fímbria se torna uma com o mundo
contram-se obscurecidos aqueles que buscam
dos vivos. Viajantes de todos os cantos rela-
desbravá-los muitas vezes encontram a tênue
tam coisas abomináveis ao homem crente e
linha que separa o mundano do sobrenatural. Os
temeroso às forças da Sombra.
relatos de viajantes sobre os assombros da es-
• O Deicídio: Independente do ramo da fé trada inundam tabernas e salões. Claro que boa
que siga, todo devoto do Único celebra o parte destas histórias não passam de resultado
momento da morte de Deus. É simbolica- do medo dos homens perante o desconhecido Festas locais são comuns
mente comemorado no dia 08 de duode- na próxima curva de uma estrada abandonada. e por vezes remontam o
cimus e o dia da morte, exata, do Criador Carnis Valia em menor es-
Belregard, desde os dias idos do império, é cala. Em Varning há corte-
é um segredo guardado pela igreja de jos liderados pelo símbolo
pontilhada por torres e postos avançados. Pelo
Alec. Parece que é um fato ignorado para da família do patrono-bur-
os
os outros segmentos da fé e deve carregar
menos a cada um dia de cavalgada o viajante guês, já em Belghor tem
uma grande cerimô nia
pode encontrar uma velha ruína. O grande pro-
alguma importância, para ser ocultado religiosa inflamada..
blema é que boa parte delas contém morado- Estas festas menores
desta maneira. Textos de Lazlo e Bövrar
res recentes e não muito amistosos. Bandos de costumam ser vistas com
II sobre o Deicídio foram encontrados em .
famintos, ladrões, penitentes e mesmo feras desconfiança peça Igreja
confins de Belregard, a igreja executou
dos ermos tomam as estruturas como moradia,
verdadeiras cruzadas para tomar posse
quando vazias, a praga é sua residente, o que
de tais escritos e guardá-los de modo tão
exige cautela daqueles que buscam abrigo em
sigiloso que ninguém abaixo dos Orado-
tais locais.
res saberia sua localização.

• Carnis Valis: Festival que costuma ter Por conta desse sentimento de isolamento, o
início no fim de primum e segue até o trabalho de mensageiros é extremamente apre-
início de secundus, durando uma semana ciado por todos. Assim como o dos comercian-
facilmente. Esta festividade sofreu sérias tes que tentam levar seus produtos para outras
transformações ao longo dos séculos. castelanias e senhorios. Varning é exemplo dis-
Alguns apontam como uma tradicional so, tentando consolidar-se como a principal in-
celebração pagã de culto à carne, mas a vestidora na revitalização do comércio em Bel-
igreja do Único a transformou num lou- regard, rivalizando suas intenções com Vlakir,
vor à vida, onde se bebe e come-se sem tanto que tem pago boa quantia em dinheiro por
barreiras, exacerbando o que é básico mapas e catalogadores dispostos a enfrentar o
para qualquer um sobreviver. Crianças desconhecido. Como o comércio caiu em um es-
nascidas entre mes dez e onze costumam tado de abandono nos cantos mais afastados do
receber resistência para serem batizadas, mundo, o escambo surgiu como uma alternativa
os clérigos dizem que são imundas pois, viável para os camponeses e moradores de ci-
são concebidas pela promiscuidade, são dades menores, centradas em apenas um único
filhos do canis valis. senhor e suas terras.

b 81 b
b Belregard b
Aqueles que falsificam moedas, misturando outros
a metais baratos na composição costumam respon-
Comércio de Almas der severamente as autoridades locais, humilha-
ções e pagamento de multas são punições comuns.
Os strigori, uma etnia menor que parece ter
se ramificado dos parlos a muitos séculos, for- Interessante perceber que o lorde de um do-
mam grupos familiares de mercadores que se
mínio também viaja. É comum para senhores
unem nas chamadas cumpanias e vendem o
poderosos passar boa parte do ano em carava-
que podem em todos os cantos de Belregard.
Possuidores de certo misticismo em sua leitura
nas visitando seus vassalos. A corte de um rei é
de mãos e jogos de sorte e azar, os strigori não uma corte viajante e receber a figura central de
são bem vindos em qualquer lugar, mas a hipo- uma castelania é motivo de orgulho para qual-
crisia dessa relutância fica clara quando todos, quer lorde. Durante o inverno é comum que o rei
do camponês ao lorde, buscam pelos conselhos passe em sua própria morada, mas pode acon-
destes misteriosos senhores do destino. Dizem
tecer deste decidir residir nas terras de um de
que os strigori nem sempre aceitam dinheiro,
seus nobres, o que certamente trará grande re-
moedas de ouro, pelos serviços que são requisi-
tados. Muitas vezes o preço é maior, envolven-
verência ao escolhido, assim como uma extrema
do almas de culpados e inocentes. Diz-se que responsabilidade em atender as necessidades do
Domínico de Verezza, simplório camponês, vi- rei e sua corte pessoal durante todo o inverno,
veu cento e sete anos depois de ter dado o olho fora outros senhores que desejem partilhar do
de um ganancioso a uma velha strigori cega. contato durante os meses frios. É como diz o ve-
Apenas rumores sem sentido.
lho ditado: “O rei é como o fogo. Perto de mais
você se queima e longe demais você congela”.

As rotas de comércio que não se encontram Saúde


abandonadas são poucas, pode-se destacar ain- A vida de todos em Belregard está sujeita a
da o uso da Via Regis, que liga Belregard de Ras- doenças e enfermidades. A morte não é uma
tov a Belghor. Um caminho largo e pavimentado fantasia e sim uma realidade pela qual todos
de pedras, hoje danificado em muitos de seus já passaram. É muito provável que um campo-
trechos e desviado na área central, onde chega- nês ou nobre já tenham perdido entes queridos,
Dizem que há alguns va a Virka. Os rios também são muito usados
viventes que guardam principalmente crianças. Os cuidados em ge-
pequenos tesouros em suas para o comércio em cidades portuárias de mé- ral com a higiene existem, mas é verdade que
bocas, substituindo dentes dio porte. Os empórios ainda existem, concen- boa parte da população não se preocupa tanto
por metais preciosos. Não tração de mercadores em uma determinada área
é raro, por isso, que nobres quanto deveria. Sabão barato, usado para rou-
e comerciantes tenham em determinada época do ano. Normalmente pas, costuma ser feito de sebo de carneiro, mis-
seus dentes arrancados por são pequenos domínios, mas também podem se turado a urina velha, que ajuda a tirar manchas.
bandidos. Por isso que em armar próximos de grandes cidades.
Belregard os latrocínios são Nos que são usados pelas pessoas, é comum co-
chamados de ações de locar rosas ou calêndulas, para atribuir também
Todas as castelanias ainda praticam o comér-
bandidos tiradentes. um aroma que seja agradável. Para os dentes
cio com moedas, principalmente os resquícios
utilizam-se palitos de avelã, alcaçuz ou raiz de
do império, mas apenas em seus grandes cen-
alteia. São hastes fibrosas que podem ser usa-
tros. A economia concentra-se no uso de moe-
das para limpar a boca e os dentes. Junto com o
das de cobre que costumam ser pesadas por
sal e a sálvia, esfregados em um pano entre os
mercadores no momento da venda e da compra.
dentes, tiram as impurezas e perfumam.

b 82 b
b A Vida em Belregard b
Além dos cuidados básicos, existe também a É proibido, dentro dos ditames do Tribunal,
questão da beleza. Homens e mulheres procu- utilizar-se de seres humanos para estudo da me-
ram parecer mais atraentes para seus possíveis dicina. Muitos médicos e curandeiros recorrem a
parceiros de romance. Enquanto a literatura porcos para aperfeiçoar suas técnicas. Contra-
cortês desenha homens e mulheres perfeitos na riando a vontade do Tribunal, monges mendican-
imaginação do camponês e do nobre, são os cui- tes e estudioso uniram-se para destrinchar a vida
dados singelos do dia a dia que chegam para to- humana, doando-se em vida para que se corpo
dos. Alguns truques, para estes toques, são bem fosse estudado após a morte, um ato condená-
conhecidos; para colorir os lábios, costuma-se vel, praticado em segredo. O tratamento mais
utilizar açafrão; para escurecer os cílios, utiliza- comum utilizado pelos médicos e apotecários é Emplastro para dores nas
pernas: tome folhas de
-se o negro da fuligem; para embranquecer os o da sangria. Acredita-se que o corpo é contro- louro, broto de goiabeira e
dentes se utiliza a sálvia; e para aveludar a pele, lado por quatro fluidos corporais chamados hu- caroços de uva.
basta um regular uso de clara de ovo e vinagre. mores. Eles são a Bile Negra, Bile Amarela, Fleu-
Ferva em urina fres-
ma e o Sangue. O tratamento com sanguessugas ca da manhã e ate em
A principal causa subjacente das doenças se equilibra os humores, prevenindo doenças. panos virgens nas coxas ou
deve à falta de higiene. Os remédios são precá- canelas doloridas.
rios, sendo em sua maioria receitas caseiras que O Papel das Mulheres
Repelente de insetos: curta
na melhor das hipóteses, atrasam a morte por dejetos em sol à pino por
É importante abordar o assunto em particular,
algum tempo. As crenças dos médicos sobre as três dias, até secar.
devido a mudança do paradigma sofrido pela so-
causas das doenças são baseadas em antigos
ciedade no seu início, da fundação de Virka, até Moa as fezes e as fixe
ensinamentos que datam da Era das Revelações. em varas finas de bambu
os tempos atuais. Até o ano de 51 DA, o papel das
Sendo que muito desses médicos tratam os hu- com banha de porco.
mulheres na nascente sociedade de Belregard era
manos e animais de maneira semelhante.
secundário. Elas estavam fadadas a passar suas Acenda as varetas com lume
vidas zelando pela rotina diária do cuidar da casa, baixo. A fumaça feita por
Existe uma crença comum de que as doenças
tal artifício afastará insetos
do marido e da prole. A religiosidade, também
se espalham pelos ares. Os camponeses temem e pequenos infortúnios.
ainda muito nova para aqueles recém saídos de
os miasmas nocivos a sua saúde, de modo que
Belghor, pregava a submissão das mulheres como
alguns usam pequenas bolotas de ervas e espe-
um preceito claro em seus ditames. Morovan, o
ciarias como cordões, para que possam recorrer
Velho, primeiro profeta do Criador alertava sobre
a elas em caso de encontrar uma nuvem de fu-
os perigos contidos na mulher, que o homem sá-
maça ou qualquer odor suspeito no ar, fechando
bio manteria a sua como posse, não permitindo
as mãos em forma de concha, com as bolotas no
grandes liberdades, para que fosse uma cumpri-
centro para respirar um ar supostamente puro.
dora dos anseios de seu marido. Ele é muito claro
Nos períodos de peste, quando cidades inteiras
nos primeiros versículos, quando um de seus se-
encontram-se contaminadas, corajosos médicos
guidores pergunta sobre Lohanna, a jovem que
vestem-se de forma nada usual para combater
acompanhava, e cuidava, do velho sábio:
epidemias, vestindo longas e pesadas casacas
que cobrem todo o corpo e cobrindo o rosto com
“A mulher envenena. Não sabe do mal que
uma máscara que lembra a forma de um pássaro,
tem dentro de si, por isso sangra. Nem todo ru-
de modo que possam colocar essências purifi-
bro poderia limpá-la. Mantêm firme a mão em
cadoras na ponta do “bico”, preservando seu ar
sua conduta e não cai no encanto, não vacila no
puro. Costumam manter distância dos seus pa-
feitiço inocente.”
cientes, atendendo-os com longas colheres.
- Das palavras de Morovan, o Velho.

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b Belregard b
Essa situação demorou muito a mudar, sendo Naquela torre não estavam apenas mulheres
reconhecido o papel de igualdade das mulheres e crianças, mas também o bem valioso do rei,
apenas em 51 DA, quando Virka foi atacada por seu filho, aquele que viria ser Bövrar II. O jovem
uma força conjunta de Selvagens. De maneira também lutou ao lado das mulheres e foi certa-
covarde, as hordas atacaram uma torre, por trás mente esta experiência que o fez decretar, as-
do exército, onde estavam escondidas as mulhe- sim que coroado, a igualdade entre os gêneros,
res e crianças. Encurralados, não tiveram outra permitindo que mulheres também adentrassem
escolha. Sob a liderança de Angelina, uma sim- ordens de cavalaria e fossem mais ativas em
ples moradora da primeira cidade, o Levante dos hekklesias religiosas, tornando-se até mesmo
Indefesos teve início. Armando-se com o que fi- Oradoras. Com este édito também passou a se
cou na reserva dos soldados, rechaçaram as for- considerar os 14 anos como maioridade.
ças Selvagens, deixando poucos sobreviventes.
Daquele ponto em diante, a figura de Angelina
sempre foi reverenciada e respeitada. Enquan-
to viva, serviu pessoalmente como Escudo da
Casa de Bövrar II, mas voltou-se contra o rei
alguns anos depois. Os motivos que levaram a
deserção de Angelina são misteriosos, mas ela
nunca foi acusada como traidora. A atitude ser-
ve para mostrar a sabedoria da guerreira, que
percebeu a loucura cada vez mais latente no mo-
narca. A morte da santa é envolta em mistério,
mas muitos creem que ela ascendeu aos céus.
Sua canonização ocorreu apenas em 991 DA,
após a dos três Puros.

Gravura estilo bertina, representando


Minnie curtindo ervas no azeite de palma,
demonstrando a dedicação de quem os
pregoará nas feiras em Varning.

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b A Vida em Belregard b
Essa igualdade de gênero trazida por Ange- amor seria dividido entre a prole e o Criador.
Tenho certeza,
lina permitiu que as mulheres assumissem lu- A atitude gerou revolta em Virka, mas o Tribunal porém, que o que
gares de destaque da sociedade, colocando-as não recuou, aumentando a pressão contra a no- grafo e o que
em todas as suas camadas, da vassala presa à meação da Oradora que, por sua vez, angariava sempre grafei
terra até a senhora de um domínio real. Antes fiéis entre os humildes. representam a
do édito (que nunca foi contestado, a despeito verdade e apenas
de ter sido decretado por Bövrar II), as mulheres Não é comum que camponeses, servos, ergam a verdade pois
armas para lutar por algo que seu senhor não sigo os ritos dos
estavam sempre em uma desvantagem política
mandou diretamente e essa mobilização chama copistas. A oração
com relação aos casamentos, sendo utilizadas
a atenção. Vlakin I, governante do período, não pela iluminação de
como uma moeda de troca por seus familiares;
nossas mentes nos
não que esta lógica tenha sido abandonada, mas podia perder apoio do Tribunal e condenou Telma
mantém distantes
por traição e heresia. A Oradora foi queimada em
hoje o cônjuge de menor influência é que se sub- do flerte com a
mete ao de maior, independente do sexo. praça pública. O filho, Túlio, tornou-se Orador e deturpação daqui-
lutou a vida toda para canonizar a mãe, o que foi lo do que é e que
Apesar desta aceitação, a igreja, o Tribunal, feito em 1053 DA. precisa sê-lo.
nunca aceitou plenamente a participação das
mulheres dentro de seus círculos mais internos.
Na época das hekklesias, as mulheres podiam
alcançar o cargo de Oradoras e, eventualmente
a
fundar seu próprio séquito. A história é pontua- Verdade dos Livros, Mentira dos Homens
da de algumas que marcaram momentos e lo-
Alguns estudiosos da vulgata, e mesmo de
cais, como a hekklesia de Doráh, formada pela
textos mais antigos do criadorismo, percebem
Oradora Natalia que, próxima dos parlos, iniciou
sutis alterações na medida em que o material
a conversão para o criadorismo; apesar das re-
é copiado e recopiado. Uma dupla de estudio-
lações tensas entre as etnias naquele começo de
sos do mosteiro de São Paolo, em Birman, está
contato, a hekklesia de Doráh (palavra de ori- levantando questões perigosas. Juno começou
gem no parlo arcaico que significa “coração”) a questionar certas mudanças de um texto pra
foi grande responsável na educação dos jovens outro, apontando uma variação no sexo de
para a aceitação da fé. O cargo máximo das grandes pensadores do passado, logo ela cha-
igreja, de Eleito, nunca foi assumido por uma mou a atenção de Octávio para o mesmo e am-
mulher. É sabido que são os Oradores e Cardeais bos debruçaram sobre os mais antigos tomos.
que escolhem o Eleito, quando o atual morre, Eles suspeitam de uma forte campanha do Tri-
e esse controle ainda é exercido por muitos ho- bunal para o controle de sua informação e os

mens. Desse modo, é muito muito comum ver questionamentos chegam ao ponto de cogitar
uma verdade que abalaria a resistência da igreja
mulheres como freiras em irmandades isoladas,
para com as mulheres, a ideia de que um dos
fechadas, como a Congregação de Frika, em
Puros, possivelmente Alec, era mulher! O Cria-
Viha, com sua devoção exacerbada e mortifica-
dor ter escolhido uma companheira Pura é ab-
ção em ritual de flagelação.
solutamente plausível, mas abalaria o criadoris-
mo e sua resistência na aceitação das mesmas.
Em 1013 DA, a Oradora Telma por pouco não
tornou-se a primeira Eleita. Os Cardeais e Ora-
dores presentes na votação alegaram que Telma
não poderia assumir, já que tinha um filho, seu

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b Belregard b
Sexo primeira noite, onde a lua de mel de recém ca-
sados era passada na companhia do monarca.
A sexualidade é tabu na maior parte da socie-
Isso mostra importância do sexo no selamento
dade, mas nem por isso ela deixa de ser pratica-
de acordos tão importantes como o matrimônio.
da. Existem documentos de padres e sacerdotes,
A abstinência sexual é utilizados como um padrão de questionário para
fruto de muitos desdobra-
mentos culturais em Belre-
mulheres e homens em seus momentos de con-
fissão, que podem passar bem a ideia do quão
a
gard. Bufões cantam troças
variada é a vida sexual das pessoas simples, Sexualidade
acerca de casais que não
fazem sexo, há interditos ou mesmo abastadas. Questões como zoofilia,
Não existem justificativas em Belregard para
aos vihs ainda praticantes masturbação com auxílio de instrumentos cria-
que se repita um visão preconceituosa no que
dos cultos antigos acer-
dos para este propósito, incesto e adultério fa- diz respeito às sexualidades individuais. Por
ca da prática sexual em
certas configurações dos zem parte do questionário de confissão. O que isso ela não é tratada no verbete sobre sexo,
astros e fases do floreio mostra um sinal das tais práticas. Independente já que se têm por normal o envolvimento en-
das árvores. Aos criadoristas do quanto os sacerdotes tentem fazer homens e tre homens e mulheres. Não podemos no valer
não se pratica sexo na data mulheres sentirem-se culpados por seus desejos do discurso de “jogo verossímil” para replicar
do Deicídio, na data da comportamentos condenatórios quando este
e impulsos, o sexo é um elemento fundamental
morte de cada um dos 3 mesmo mundo supostamente baseado na rea-
Puros, por 3 meses após o da vida humana.
lidade, brinca com reinos imaginários e forças
parto e quando se contrai profanas inventadas. Em Belregard as relações
alguma doença que ataque A excitação, o prazer do gozo, é tão importante
homoafetivas e bissexuais são tidas como nor-
as pernas ou o peito. para o homem quanto para a mulher. Acredita-se mais e a única ressalva que precisa ser feita
A esta prática se atribui a que um filho sadio só irá nascer quando ambos quanto ao resultado destes relacionamentos é
relação entre o prazer e o
atingirem o seu ápice na relação. Isso gera um com relação a nobreza. A nobreza presa pelo
sopro da vida, associado ao
gemido de prazer do gozo. costume de taxar pessoas desequilibradas, ou sangue, presa pela herança, presa pela conti-
Sem os ares de plenos mesmo com alguma deficiência, como resultado nuidade do nome. Dessa forma, fica fácil ima-
pulmões o sexo não seria de um coito mal realizado. No caso das famílias
ginar que nobres irão preferir casar seus filhos
bem praticado. e filhas (afinal o casamento arranjado ainda é
mais pobres, que compartilham do mesmo quar-
o mais comum) com pessoas que poderão car-
to, da própria cama, não existe a preocupação da regar o nome adiante. Mas e quando isso não
privacidade para os momentos da relação entre for possível ou mesmo desejado? Você deve
os casais e em um mundo onde ter muitos filhos evitar? De forma alguma. Tome o “problema” e
é sinal de boa venturança, os casos de incesto o transforme em história. Um casal do mesmo
entre irmãos e irmãs é muito mais comum do que gênero poderia adotar uma criança para herdar
o seu nome e os seus bens, poderia ser uma
os prelados gostariam de admitir.
criança de origem humilde, um órfão, ou ainda
algum filho da nobreza menor. Um dos cônjuges
Nos cultos antigos, voltados à Horda e aos
poderia ainda ser parte do processo, novamen-
Selvagens, o sexo era um elemento quase que
te envolvendo a importância de um terceiro
central. É comum às heresias colocarem a se-
elemento que receberia destaque pro participar
xualidade como tema central de seus cultos e dessa continuidade. Pense nos desdobramen-
louvores. É como se o estado pleno do prazer, tos, na “ciranda” que você criaria com as casas
do gozo sem constrangimentos, fizesse de sua nobres tentando elencar seus filhos para serem
ligação com o além, o outro lado, mais forte. escolhidos como herdeiros.

Quando dos primeiros reinados humanos, onde


os cultos antigos ainda estavam entranhados no
pensamento de todos, era comum o costume da

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b A Vida em Belregard b
Crime e Castigo medindo apenas 8 metros quadrados, no qual
cerca de 10 a 20 prisioneiros poderiam ser en- Aqueles que sujam as mãos
Punição e Tortura - Não há carrascos fixados
carcerados ao mesmo tempo.
a um Patrono ou qualquer
O período violento e sedento de sangue que
cargo em torno da tortura
Belregard atravessa é motivo de barbárie e sen- Falando a grosso modo, todo homem tem seu
ou da violência legal. Estes
timentalismo cruel e impiedoso, induzindo os preço. Normalmente este preço não é pesado indivíduos sempre portam
em ouro, mas o suserano sabe bem quanto va- capazes e mantos para não
legisladores a utilizar os horrores das torturas
serem identificados pelos
lem seus súditos e quando um homem comete
e castigos para manter a lei e endireitar os pri- demais, sendo seu trabalho
sioneiros. Câmaras de tortura e masmorras são um crime contra seu semelhante, especialmente de executor ou torturador
o assassinato, ele precisa pagar por este preço. parte da corveia paga ao
partes importantes da arquitetura de muitos
senhor de terras. Não é
Normalmente traduzido na prisão, ou na humi-
castelos. Definitivamente, a utilização da tor- raro, porém, que alguns sejam
tura como forma de punição é um meio total- lhação pública amarrado ao tronco e vestindo a tão eficientes neste nefasto
máscara de ferro pesado do burro, ou na berlin- papel, que agradam os olhos
mente legítimo para fazer a justiça, para extrair
daqueles que testemunham o
confissões ou obter informações sobre um de- da levando golpes de vegetais podres, a vida de espetáculo cruento.
terminado crime. um homem tem seu valor. Só existe uma manei-
ra de fazer com que um pária perca esta condi-
Outro meio de punição muito utilizado nos ção, é quando ele se torna um Cabeça de Lobo.
tempos atuais é o vexame público, onde o alvo Um Cabeça de Lobo pode ser morto por qual-
poderá ser colocado em praça pública ou ser quer outro homem sem que existam consequên-
amarrado para ser alvo de tomates podres e até cias para isso, da mesma forma que um caçador
mesmo pedras. pode matar um lobo, mesmo em floresta real,
sem ser punido pelo crime. É o título máximo
As câmaras de tortura são localizadas nas
do ostracismo.
partes mais baixas dos castelos e suas entra-
das costumam ser sinuosas, projetadas para O próprio puro Alec pregava a abolição da
abafar os gritos de agonia de suas vítimas. tortura dentro da igreja, afirmando que tal bar-
Elas são frequentemente muito pequenas, bárie além de não ser mais cabível era herança
imunda, deixada pelos Selvagens. Torturadores
eram adeptos de infligir dor a outrem, arrancan-
do tiras de couro das costas ou mutilando meti-
culosamente membros de prisioneiros. Alec foi
além e escreveu várias éditos sobre questões de
guerra envolvendo a igreja, entre as principais
notas falava sobre tratamento minimamente de-
cente, permitir que o prisioneiro cultue seu falso
deus, não poderem ser usados como “escudos
humanos” dentre outras.
Gravura estilo bertina de Fergus,
representando o costume de
enforcar longe das cidades para
não macular o ambiente com
miasmas nocivos.

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b Belregard b
Esses éditos foram ignorados desde o Eleito vendo uma litania sacerdotal, onde os acusados
Octavio, que afirmou que “tais ações são lou- são advertidos sobre o castigo divino por terem
váveis, mas o tempo deste tipo de ação benevo- jurado falsamente. O Orador de Vlakir, Krigor,
lente ainda não chegou”. Existe uma profunda tem levantando uma reforma total neste siste-
discussão sobre o assunto entre ordens militares ma judicial absurdamente ultrapassado, em suas
e as ordens mendicantes. próprias palavras é afirmado “Os papéis que re-
gem nossas leis não acompanham a roda que
Justiça Feudal e a gira nossas vidas”.
Administração Judicial
O poder legal foi dado ao Tribunal como uma
Os Ordálios
herança quase divina e estabelecida por Bövrar As consequências de um falso juramento não
I, ele é a maior base legal conhecida, sendo que ocorreram apenas uma vez, assim, aos susera-
cada suserano tem a palavra final sobre suas ter- nos foi dado o direito de impor provações aos
ras. Este por sua vez não tem o intuito de aten- culpados na esperança de apelar ao Único, onde
der às exigências públicas, mas sim ser respon- Ele espiaria e perdoaria os erros cometidos. Os
sável pela manutenção do poder. Porém existe métodos mais usados eram obrigar o acusado
um fato importante, assim que o Tribunal fosse a caminhar descalço sobre brasa ardente, en-
iniciado, tanto o acusador quanto o acusado re- fiar a mão em uma chama, carregar um peda-
cebem o mesmo tratamento, sendo ambos pre- ço de ferro em brasa até uma dada distância,
sos, e o requerente, caso tenha perdido a causa, enfrentar uma besta portando uma arma pífia
A Querência - Há um sofrerá a mesma pena que o réu caso ele tivesse ou apenas os punhos, ou o mais cruel, banhar
antigo costume em torno
sido condenado. o acusado com água fervente, sendo que após
dos julgamentos. O con-
denado pode clamar pela os ordálios, caso o alvo cicatrizasse suas feri-
Querência. Seis crianças O Juramento das em três dias, ele era inocente, caso não o
são chamadas a emitir o
Mostrando sua brutalidade, o Tribunal não fizesse, ele era culpado. Um método arcaico de
parecer sobre o criminoso.
Caso a maioria o absolva, exige que o acusador prove sua acusação, o ônus julgamento consistia em lançar um homem que
é entendido que a pureza da prova está sobre o acusado, que deve livrar-se jurou a inocência em água fria, com a ideia de
do Único se revelou, mas
da acusação, se ele puder fazê-lo. Um juramen- que a mais pura água fria rejeitaria o criminoso.
em qualquer outro caso,
inclusive empate, a pena é to normalmente é a forma mais utilizada para Portanto, se o alvo flutuar ele é culpado, se ele
aumentada. Quase sempre provar a inocência, porém além do acusado, al- afundar é inocente e deve ser resgatado. Apesar
ela se transforma em pena
gumas testemunhas farão o “juramento de au- desses métodos, em alguns casos os suseranos
capital, ainda que Lazlitas
insistam que isso é uma xílio”, sendo feito em sua maioria por parentes ordenam que seus capatazes averiguem pistas
sandice. Há quem diga que ou amigos que juram acreditar na inocência do sobre a evidência do possível crime, dentro des-
este costume vem desde
réu. A quantidade desses “juramentos de auxí- se período muitos acusados preferem se confes-
os tempos das Crianças
Cinzentas, e outros associam lio” varia de acordo com a gravidade do crime e sar, evitando assim que seu senhor incorresse à
isto aos cultos antigos. ao posto do acusado. Este método é totalmente ira de Deus, submetendo-o a provações físicas.
ineficaz caso o acusado não tenha uma quan- Existe também a excomunhão, quando alguém
tidade satisfatória de pessoas que possam lhe comete sérios crimes contra a igreja. Esta pes-
auxiliar. Caso seja confirmada a culpa em um soa passa a ser um homem morto que caminha.
período futuro, todos aqueles que juraram se- Criadoristas não podem lhe dirigir a palavra, ele
rão acusados de cometer perjúrio ao tribunal. O se torna um pária abandonado. Muitos cometem
juramento é um processo muito solene, envol- o suicídio nestas condições, outros isolam-se.

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b A Vida em Belregard b
Com o apoio de um estudioso do Círculo de Origem da Cavalaria
Lazlo, o Orador Krigor de Vlakir escreveu um
Em 120 DA, enquanto a marcha dos belghos
tomo intitulado de “Sobre derrubada dos méto-
ainda dava cabo de erradicar a presença selva-
dos arcaicos de leis e reformulação cívil”. Neste
gem do mundo, mas com o gosto da vitória so-
tomo ele abomina todos esses métodos arcaicos
bre os belinaren, a ordem dos Cavaleiros Pardos
deixados pela Primeira Lei escrita por Bövrar I e
é criada. Pouco tempo antes da sagração destes
pelos Selvagens, dando espaço para uma lei ra-
soldados, os belghos haviam aprendido que nem
cional capaz de julgar com eficácia e justiça. Mas Seria lindo e até
todos os povos em seu caminho eram selvagens, ingênuo crer que esse
ele está bem longe de ser aceito pela maioria.
e isso incluía os parlos dos campos ao sul. Ini- processo fora
ciando um processo forte de conversão destes, sempre puro. Registros
O Duelo Judicial mostram traições, men-
tomando filhos e filhas para um processo de acul- tira, suborno e toda
A forma arcaica de julgamento que atraiu es- turamento, usando especialmente a religião, em sorte de pecado. Os
pecialmente aos nobres guerreiros foi o duelo pouco tempo os belghos mudaram completamen- cavaleiros são, afinal de
judicial - um julgamento por combate. O acusa- contas, meros homens.
te a mentalidade daqueles senhores dos cavalos,
dor e o acusado lutam uns com os outros, e o orgulhosos e belicosos. Conflitos existiram, mas
vencedor ganha o caso. Acredita-se que, pela o grupo que aceitou a superioridade dos grandes
graça imerecida do Criador, o inocente tem van- propagadores do criadorismo foram sagrados na
tagens sobrenaturais e assim é capaz de vencer hekklesia de Virka e Arturo recebeu o título de
a perjura em seu nome. Quando um dos adver- primeiro grão-mestre dos Cavaleiros Pardos, or-
sários não pode lutar, é permitido que outro dem criada por estes parlos convertidos.
campeão assuma o seu lugar. Embora o duelo
judicial tenha caído em desuso em boa parte Com o passar do tempo, ao longo das eras,
dos tribunais de Belregard, ele ainda continua muitas outras ordens de cavalaria surgiram. O
a ser empregado, em particular, como meio de mais comum é que fossem firmadas sob a ban-
solução de controvérsias que envolvem a honra deira de um rei, quase sempre como uma espécie
de um homem. de guarda real, a mais bem treinada e equipada
daquelas terras. Também poderiam ser forma-
A Cavalaria de Belregard das por vias de algum acontecimento de rele-
A cavalaria é uma força de importância dentro vância, como o nascimento de um primogênito,
deste cenário atual no qual se encontra o mundo um casamento que selara a paz e até mesmo a
isolado. Com senhores menores cercando suas vitória sobre um antigo inimigo. Foi durante a
terras e, muitas vezes, deixando de responder o Era do Sangue, período no qual o mundo se viu
ao poder real, homens armados e juramentados numa situação muito semelhante a de hoje, di-
surgem como uma necessidade para manter a vidido entre senhores gananciosos, com irmão
ordem em castelanias fragmentadas. Existem apunhalando irmão, que a cavalaria ganhou for-
dicotomias dentro da cavalaria, ao mesmo tem- ça, já que lordes, duques, barões e condes pas-
po que podem representar o máximo em capa- saram a sagrar os seus subalternos com o título
cidade guerreira, em força bruta de lordes e se- de nobreza para conseguir vantagens sobre os
nhores de terras, os cavaleiros também podem vizinhos gananciosos. A Belregard dos dias de
ser assim chamados por uma mera conveniên- hoje prepara terreno para algo semelhante ocor-
cia de títulos, sem qualquer reflexo com seus rer, com ordens surgindo diante da necessidade
objetivos originais. de proteção de nobres casas influentes.

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b Belregard b
O Tribunal do Supremo Ofício se aproximou cada um dos gestos acompanhado dos dizeres
cedo da cavalaria, como formavam uma força dos deveres, dos quatro votos da cavalaria. A
de elite, era preciso atrelar o poder dado aos obediência e a humildade sempre pesando nos
cavaleiros com o poder secular da fé, não de ombros, a castidade na consciência e a excelên-
modo a torná-los ainda mais poderosos e sim cia como obrigação ardida na face.
de colocar a eles um limite além daquele esta-
belecido pelos seus senhores. Se os deveres de Organização
um cavaleiro eram a obediência cega diante dos Depois do concílio de Lenora, as ordens de
ditames de seu suserano, passava a ser também cavalaria passaram a seguir uma mesma estru-
o de proteger o clero, a igreja, a fé. Tais práticas tura que imita, simula, o mundo ideal imaginado
se difundiram rapidamente, de modo que hoje pelos homens. As ordens sociais estão incluídas
em dia é impossível uma ordem de cavaleiros em toda a escala de poder, com representantes
ser reconhecida sem que exista algum patrono de reis, nobres, sacerdotes e trabalhadores que
religioso e isso foi firmado no concílio de Le- fazem funcionar toda a ordem, de modo que
nora, ocorrido em 992 DA, para firmar todo o não são apenas filhos abastados da nobreza que
processo mínimo necessário para se consagrar formam um grupo de cavaleiros.
uma ordem.
No topo da hierarquia interna está o Grão-
Sagração -mestre/Grã-mestra, geralmente a figura mais

Tornar-se cavaleiro é sonho para muitos. É velha e respeitada dentro da cavalaria local. Não

senso comum que qualquer nobre, incluindo ou- precisa nem mesmo ser ainda atuante nas con-
Um dos escribas que tros cavaleiros, podem sagrar um homem como tendas, desde que possa guiar a cavalaria com
conheci me disse que pudor, moral e firmeza. Junto desta figura está
viu um édito sobre os parte de uma ordem. Esta honraria tornaria o
povos e seus cavaleiros. candidato ligado ao suserano daquele que o sa- o Patriarca, geralmente bispo ou orador do Tri-
De acordo com ele a gra. Para homens livres pode ser uma digna atri- bunal, que garante as bençãos dos santos para
intenção era descobrir todas as espadas juramentadas daquela ordem.
quais grupos, locais e buição, mas para os que são vassalos de outrem,
tragédias formariam pode significar guerra. É comum que o futuro Abaixo, na ordem, ficam os artesãos, campone-
os melhores cavaleiros. cavaleiro passe alguns anos sob a tutela de um ses, que normalmente convivem com os cava-
Não creio que esse leiros em suas fortalezas centrais da organiza-
trabalho tivesse superior, como escudeiro, até receber o título
boas intenções. interino, mas não basta apenas uma troca de ção. Nenhum destes grupos chega a mudar sua

juramentos para se fazer cavaleiro, aquele que posição dentro da sociedade de Belregard, mas

sagra deve ser capaz de armar seu novo solda- internamente muitas variações podem ocorrer,

do, com armadura, armas, cavalo e as esporas como camponeses que se tornam grandes escu-

de ouro, algo elevado demais até mesmo para deiros e a história é repleta de jovens pobres que

nobres menores. vestiram armas de seus suseranos para lutar em


seu lugar, provando que o aço não desdenha dos
As esporas de ouro são o símbolo máximo do menos favorecidos.
cavaleiro, aquilo que o coloca em seu devido lu-
gar dentro da estrutura social. O ritual de inicia- Assim, funcionando quase como um paralelo

ção pode ser simples ou elaborado, a depender da sociedade, as ordens de cavalaria fazem va-

da riqueza de quem sagra. A visão mais comum ler seus juramentos. Tais juras devem ser feitas

é do futuro cavaleiro ajoelhado para receber a es- aos suseranos quanto aos líderes da ordem, com

pada nos ombros, na cabeça e um tapa no rosto, base em quatro fundamentos:

b 90 b
b A Vida em Belregard b
• Obedientia: O mais importante, o de obe- A Arte da Guerra
diência dos ditames de seus superiores. De todas as disputas possíveis a que mais
marca o território e o povo que ele vive é a
• Egestatem: O de pobreza. Por mais que
guerra. Belregard já experimentou momentos de
sejam nobres, cavaleiros não devem ser
conflito aberto entre senhores nobres e mesmo
reconhecidos por sua riqueza, devendo
entre o alto escalão da igreja. Passou por con-
ser capazes de viver com o básico. Ainda
flitos internos, que colocaram grandes cidades
que possuindo terras.
em xeque e contendas que separaram reinos no

• Castitati Coniugale: A castidade conjugal, passado. Na atual situação das castelanias, os

permitindo que os cavaleiros se casem, pre- ruídos ainda baixos da guerra voltam a ser ou-

ferencialmente dentro da própria ordem. vidos. A pele dos tambores de guerra começa a
ser esticada e o pó é retirado das trombetas, ar-
• Suma Perfectio: Herança do pensamento mas são afiadas calmamente e as forjas podem
belicoso de Leoric, onde o cavaleiro deve se aquecer a qualquer momento para voltar ao
atingir excelência em sua arte de guerra. incessante retinir dos martelos no aço. O mundo
parece saber que o conflito bate à porta.

b 91 b
b Belregard b
A Mobilização das Forças Muitos destes lordes que tiveram de segurar as
rédeas de seus domínios já estão mortos e é dever
Existe um tipo especial Não só os nobres em seus garbosos cavalos
de copista especializa- de seus filhos manter o legado, ou vingarem-se.
fazem parte do conflito. A própria cavalaria,
do em relatar períodos
como visto em raros momentos, armada com
de guerra. Eles têm a As Armas
capacidade de ameni- toda em aço reluzente, de espada, escudo e lan-
zar defeitos e acentuar ça, sobre o poderoso corcel, ainda é uma visão Para os belghos a arma dos homens, por ex-
qualidades daqueles que celência, é a espada. Apesar de nunca terem se
rara e boa parte das ordens de Belregard conta
travam tais embates.
com poucos desses exímios lutadores. Fora os importado com a beleza de suas ferramentas
A terra esconde os erros, nobres que se armam de cotas de malha e armas quando forjadas, os belghos são famosos por te-
o tempo esquece as dores rem conseguido garantir uma boa durabilidade
de qualidade, o contingente de infantaria de um
e a vida segue.
nobre é composto por seus vassalos. Campone- a suas armas feitas de aço, isso nos tempos da

ses, homens da terra, podem ser convocados a fundação de Virka, quando a atenção da huma-
“Em uma guerra espe- nidade estava voltada para a floresta, no comba-
ra-se que seus incita- qualquer momento, compondo grupos pouco,
dores sejam homens de ou nada, treinados no uso de lanças e espadas te contra os belinaren. As lâminas destas espa-
boa índole e centrados simples, ou da funda e arco e flecha. das costumam ser curtas e largas, com um bom
em suas tarefas. Mas peso redondo na ponta do punho. Num combate
essa não é a realidade.
Uma guerra normalmente Existem muitas formas de se convocar o exér- próximo, usam o cabo contra a face de seus ad-
ocorre da seguinte forma: cito de camponeses. Normalmente recebem versários, lhes esfacelando o nariz.
líderes sem amor ao algum treinamento prévio e costumam com-
povo se ufanam e caem Os parlos já foram famosos pelo seu uso da
em devaneios e luxurias, por as linhas de frente na batalha. Em Virka, a
almejando algo que não convocação costuma ser feita por um enviado lança, enquanto montados sobre seus corcéis
têm, envolvendo-se em do rei, que percorre os territórios e convoca os poderosos. O arremesso era muito comum como
contendas desnecessárias. modalidade de combate, eles não conheciam o
Eles incitam uma guer- estandartes exibindo um amarrado de flechas
ra onde os miseráveis negras; já em Parlouma, a convocação ocorre arco e a flecha, mas seus braços treinados eram
morrerão. Homens sensatos com presentes de bons cavalos, que devem ser capazes de fazer pequenas lanças preparadas
lutam essa guerra por atravessarem o peito de um inimigo desprote-
seus suseranos na espe- montados pelos campeões das famílias.
rança de salvar alguns, gido. Esta prática foi abandonada e parece que-
inclusive a si mesmos. Tropas regulares, especialmente treinadas rer voltar de forma ainda tímida, mas o uso da
Esses homens sensatos são para a defesa e avanço de um determinado se- lança continua comum, principalmente entre os
esquecidos pelo tempo.”
nhor poderoso também existem e podem ser cavaleiros de todas as ordens. Os Cavaleiros Par-
mantidas por longos períodos de tempo. Al- dos, de Parlouma, são conhecidos por sua extre-
guns bons exemplos de exércitos permanentes ma perícia no uso das armas de haste.
nas castelanias de Belregard são os Zayin de
Belghor, ordem existente desde os tempos em Preferindo lâminas leves e delgadas, os dala-

que a castelania vivia sob a vigília da linhagem nos investem na beleza de suas armas. Conheci-

profana, talvez ainda detentores de segredos dos por terem incorporado certos adornos e de-

obscuros desse tempo maldito. Devido ao con- talhes que valorizam as espadas, alguns acusam

texto atual das relações entre nobres, a primeira as mesmas de servirem apenas como enfeite,

coisa que um senhor se preocupou em fazer, mas a lâmina afiada de um sabre dalano é capaz

quando da queda do império, foi cercar-se de de fazer o acusador mudar de ideia. Dalanos pre-

forças capazes de defendê-lo de seus vizinhos zam espadas, adagas e punhais, jamais usando

que, certamente, desejavam suas terras tanto armas que consideram “bárbaras”, como man-

quanto ele desejava a de outros. guais, machados e clavas. Apesar disso, guar-

b 92 b
b A Vida em Belregard b
dam essa opinião para si mesmos, quando tem por fora e rígida por dentro, suportando a for-
os vihs lutando ao seu lado. ça e a tensão da corda ao ser puxada. As fle-
chas também variam de tamanho e formato, as
Os homens do norte, vihs em particular, pre- mais usada em confrontos são pontudas, com
ferem armas longas. Quando o ferro, e depois o uma pequena cabeça de ferro delgada e afiada.
aço, lhes foram apresentados, não tardou para As flechas de caça tem um formato triangular,
que imensos guerreiros portassem espadas dig- precisamente afiado nas três pontas e, por fim,
nas de seu porte. Empunhadas com ambas as existe a flecha de caça daqueles que vagam
mãos, estas montantes já fizeram carne e ossos pelos bosques reais e não
se partirem com a força de seu impacto. Apesar podem abater um animal
disso, as espadas são uma preferência dos igslavos, grande como um cervo.
como fruto do contato e da influência dos belghos.
Os vihs preferem o uso do machado, seja de
uma lâmina, duas ou qualquer variação possível.
O machado representa não só a força dos ho-
mens, como também remete a suas raízes, sim-
ples e humildes. O machado não é só uma arma,
como também é uma ferramenta.

De uma maneira geral, os


arcos são usados por todos os
grupos, em especial aqueles
homens livres que vagam pelas
áreas fora da jurisdição de deter-
minadas castelanias. Estes homens cos-
tumam ter mais força em Viha, onde com-
põem parte do exército, sendo soldados muito
bem pagos. A variedade dos arcos dentro de
Belregard fica por conta do material do qual ele
é feito. Um arco é uma arma prática, não servin-
do apenas para o combate, mas também para
a caça. Este último elemento configura algo de
perigoso, já que caçar numa floresta, quando
denominada território real, é garantir seu lugar
entre os fora da lei mais procurados.

A construção de um arco é uma ciência que Gravura estilo bertina de


Fergus, representando Louis,
exige cuidado e preparação. A escolha da ma- arqueiro de Lenora.
deira é fundamental e as mais populares em
Belregard são o carvalho, freixo, olmo e, es-
pecialmente, teixo. Este último tem uma com-
posição que favorece seu uso na fabricação do
arco. É uma madeira de duas camadas, flexível

b 93 b
b Belregard b
Estas flechas têm uma cabeça robusta e ape- mesmo que não se saiba usá-la, mas esta prática
nas uma ponta pequena de ferro, o bastante deve ser temperada com bom senso.
para abater coelhos, por exemplo.
O ápice desta corrida armamentista dentro de
A armadura mais usada entre os que podem Belregard é o cavaleiro. Seja de qualquer ordem
pagar é a malha. O objetivo da malha, feita da que ele venha, a um cavaleiro encarna o máximo
união de dezenas de anéis rebitados individual- de aparatos bélicos em sua imagem. Montado
mente, é amortecer o impacto dos golpes. Ape- em um cavalo poderoso, uma verdadeira mura-
nas ela não é o bastante para isso, então é co- lha de músculos, estes homens vestem suas ma-
mum que cavaleiros vistam uma grossa camada lhas finamente construídas e ajustadas, além do
de tecido por baixo da malha, reduzindo a dor imponente escudo de madeira e a lança balan-
sentida pelo choque da arma. Espadas não são ceada para o seu uso sobre o corcel. É o tipo de
capazes de cortar a malha, mas o impacto pode investimento que chega a ser hereditário, com
partir ossos. Flechas finas podem atravessar os cavaleiros usando túnicas de malha que perten-
anéis e é por conta dessa valorização do impac- ceram a seus avôs.
to, que as clavas, maças, manguais e martelos
são também importantes no combate singular. O Conflito
Dizem que um antigo
barão do sul de Da- Apenas recentemente o uso de armaduras de A guerra não é rápida. Ela é lenta e custa caro.
lanor mandou que uma placas pesadas tem sido percebido no “teatro de Seja no cerco ou na luta campal, o conflito aber-
armadura perfeita fosse
feita para ele. Por cento guerra” em Belregard. Estas armaduras são mui- to e declarado leva muito mais do que vidas.
e noventa e três dias o to caras, mas certamente trazem mais proteção. Mesmo vitoriosos, senhores e lordes podem ver-
ferreiro trabalhou sem As flechas costumam ser desviadas de peitorais
cessar. Ela deveria ser tão -se falidos quando termina uma guerra, diante
bela quanto as gravuras de aço maciço e a única arma que parece ser ca- de todo o gasto que tiveram. Não é fácil iniciar
que ilustram as armas paz de penetrar tais peitorais é a besta. todo o processo do conflito. Normalmente se
de Leoric. Depois de
terminada, antes mes- inicia com uma declaração, que não ocorre an-
Adquirir um equipamento não é simples
mo de vesti-la, o barão tes de conversas com conselheiros, geralmente
mandou que quebrassem como conseguir alimento. Espadas, machados e
membros da igreja, que podem tentar resolver a
as falanges dos dedos do escudos não ficam pendurados em oficinas e
ferreiro para que ele não ferrarias, são objetos feitos sob encomenda. situação entre sí, mas nobres costumam ter a ca-
pudesse fazer uma obra beça dura e por isso muitos ignoram o conselho
que superasse aquela. Por Uma túnica completa de malha precisa ser fei-
fim o barão não tinha ta com as medidas do homem que irá usá-la, dos homens santos, lançando-se no conflito por
nada do porte físico de para que os braços fiquem com bom movimen- tolos motivos. As convocações dos vassalos são
Leoric. A armadura não então feitas e todos devem apresentar-se com
serviu em sua forma to. São equipamentos caros, não é qualquer um
bufônica, terminando como que será visto com a mais simples das espadas seus cavaleiros e homens de armas dispostos
fruto de saque. pelas ruas. Existe o fator social envolvido, se o para o combate. O clima é importante quando
portador das armas não é um soldado reconhe- se fala de guerra. Ninguém batalha no inverno.
cido, um guarda, um nobre, ou qualquer um que Normalmente as guerras são declaradas nos
tenha o aval de portar tais objetos, este homem meses mais frios do ano, para que a mobiliza-
tornar-se-ia alvo de evidente suspeita. Andar ção ocorra ainda na primavera e a marcha esteja
por uma aldeia ou corte vestindo armadura e iniciada até o verão. Quando existe proximidade
portando armas é o mesmo que dizer que está entre as partes em desacordo, esse tempo pode
lá para causar problemas. Carregar uma espa- ser curto, naturalmente.
da junto a cintura é elegante dentro da corte,

b 94 b
b A Vida em Belregard b
A logística da guerra é fundamental para o O Além (O Não Natural) Eu poderia afirmar que
seu funcionamento. Um senhor não pode mar- Uma das poucas certezas que os homens nove entre dez ritos
char com seus cavaleiros e soldados contando modernos que envolvem
podem ter é a certeza do caminhar inexorável
nascimento, casamento,
com caça e coleta para sobreviver. Desse modo, rumo a morte. Para muitos, principalmente os velhice e morte estão
tolo o homem que pensa na ida para a batalha que compartilham a fé dos cultos antigos, a atrelados ao tempo da
como algo glorioso. Uma coluna de agregados, selvageria. Possuímos mais
morte nada mais é um retorno para um todo,
trabalhadores, servos ligados a seus senhores, relação com as crianças
para a natureza. Os povos pagãos costumam ce- cinzentas e com os sel-
escudeiros e mesmo familiares seguem as tro- vagens do que gostaría-
lebrar seus funerais de forma discreta, com ce-
pas, fazendo parte do acampamento, cuidado mos de admitir. Isso só
lebrações que não lembram o luto dos religiosos,
da cozinha e participando da ordem geral no faz afirmar ainda mais
mas que comemoram a partida daquele que caiu a minha fé que não
cenário de guerra. Existe uma etiqueta entre os
para a próxima vida junto de seus ancestrais, sei sobre as coisas que
grandes cavaleiros que é a do não ataque aos estão sobre a terra e
sendo novamente um com a terra. Muitos tipos
“agregados”, mas acidentes já aconteceram ao sob o céu.
de ritos diferentes são praticados, como no caso
longo da história. De um modo geral, é sabido
de alguns clãs vihs, que colocam seus mortos
que o mundo vive sob a “Paz de Deus” e que
em barcos simples de madeira e deixam correr
conflitos abertos entre as casas nobres preci-
pelo rio ou pelo mar aberto, rumo ao outro mun-
sam ser aprovados pelo Tribunal, mas devido
aos conflitos entre a igreja e suas representantes do. Ou os parlos que cremam itens de apreço,

em outras castelanias, parecem ir minando o ou até mesmo a própria vítima, e guardam as

poder centralizado de Birman. cinzas em um lugar de destaque dentro da casa.

Prisioneiros A vida segue um ritmo difícil para a maior par-


te das pessoas e as lutas diárias não existem ape-
Um costume extremamente comum, e res-
nas no sentido do trabalho, mas também do espí-
peitado, é o dos prisioneiros de guerra. Quan-
rito. O homem simples tem por aliados o Criador,
to maior o cargo de um homem dentro da
seus Angellus e a Igreja, mas também tem seus
hierarquia local, mais valioso ele é para a cap-
inimigos, a Sombra, os Ímpios e as Provações.
tura. Seus captores podem pedir resgate pelo
nobre, pelo cavaleiro, até mesmo sacerdote, Quando o Pai acendeu a chama divina den-
enriquecendo facilmente. O que impede que os tro de cada homem e mulher, a Sombra colocou
combates massivos se desenvolvam sem iniciar
também sua escuridão, por isso existe um te-
com todos desejando garantir prisioneiros é a
mor absurdo da morte repentina, que vem rápi-
presença das auriflamas nos exércitos, enquan-
da e certeira, não dando tempo para o acerto de
to uma determinada bandeira estiver erguida, os
contas. Afinal, quando o fim vem calmo, pela
prisioneiros são proibidos. Grandes soldados as
idade avançada ou mesmo por uma doença que
mantém de pé durante todo o início da batalha,
acompanha o enfermo por muito tempo, o ho-
para garantir a efetividade de seus exércitos.
mem pode debitar suas falhas para com Deus e
Quando são baixadas, a captura é permitida.
seus próximos. Mas o plano da Sombra é ceifar a
O costume dos prisioneiros de guerra costuma
vida dos homens, antes que este se aproxime do
salvaguardar a vida nobre, já que muitos se ren-
Único e é tarefa dos Angellus proteger os igno-
dem, preferindo a prisão que a possibilidade da
rantes, dando oportunidade para que a verdade
morte. O cativeiro para estes homens e mulhe-
res costuma ser brando, a depender das posses os alcance antes do suspiro final.

de seus captores. Grupos de mercenários cos-


tumam capturar para enriquecer rapidamente.

b 95 b
b Belregard b
Desde que o criadorismo tomou conta do A Abóbada Celeste
mundo, as relações dos homens com a mor- À Abóbada Celeste estão destinadas as almas
te modificaram-se. Hoje existe um sentimento daqueles que viveram nas virtudes do Criador,
muito maior de perda por aqueles que partem. que buscaram pelas boas obras e ganharam o
A desolação só aumenta quando os sacerdotes mundo com ações corretas. Não é preciso dizer
dizem que os bons e os maus são separados no que a idealização dos homens santos para aque-
além, cada um indo para o lugar onde merece les que merecem o paraíso parece limitar a um
estar. Os homens, dessa maneira, vivem com número muito pequeno os candidatos. As repre-
medo. Vigiados por olhos invisíveis, oscilando sentações da Abóbada Celeste sempre mostram
sempre entre a virtude e o pecado. agrados aos cinco sentidos dos bons filhos de
Deus, doces frutas para a boca, o canto dos pás-
saros para os ouvidos, a delicada seda para os
dedos, os agradáveis campos para os olhos e o
Gravura estilo bertina de aroma das flores para o nariz.
Fergus, representando uma
estátua de Lazlo repleta de
oferendas com desejos de O paraíso é partilhado por todos aqueles que
boa sorte.
cuidaram as boas obras em vida, mas mesmo
assim parece existir uma divisão. Como foi es-
crito por São Rastramus em 423 DA, existem
três céus diferentes. Este homem santo foi ar-
rebatado e conheceu a Abóbada Celeste, tendo
escrevido sobre a experiência em seguida. Seus
relatos são extremamente confusos e até mesmo
contraditórios. Ele alegava lembrar-se de pouco
em detalhes, a imagens surgiam na memória
envolvidas por uma névoa de confusão, a única
coisa que permanecia idêntica depois da saída
do paraíso era a paz de espírito e corpo. O fim
das dores e dos tormentos. Rastramus morreu
em paz, deitado em sua cela de monge e com
um tranquilo sorriso nos lábios, depois de es-
crever suas memórias. Pouco do que ele relatou
entrou no cânone da igreja, mas as bulas de sua
não condenação da visão são o suficiente para
lhe dar credibilidade.

Um dos mais sábios seguidores de Lazlo acre-


dita que os 3 céus que Rastramus visitou foram:
A grande Abobada Celeste, lar do Único e dos
Angellus e os dois céus menores, criados pelos
dwetar e belinarem. A força do culto dessas duas
raças selvagens ecoaram no mundo espiritual e
“arrastou” seus paraísos celestes da Fímbria para
o plano superior, o plano supremo. Obviamente,
ele é tido como um herege sem precedentes.

b 96 b
b A Vida em Belregard b
A Alcova Profana contro com a Sombra. Sob sussurros é dito que
em uma de suas parte é falado que um humano
À Alcova Profana vão todos aquele que vive-
vil, entregue às artimanhas da Sombra não para
ram no pecado, praticando abertamente das
sofrer na Alcova, ao contrário, será recebido
Provações e compactuando com a Sombra ou
com honras para servir em seu exército. Tais
louvando deuses falsos. O que existe neste mun-
textos são tidos como profanos e sua consulta é
do de sombras é discutível. Sacerdotes falam
extremamente proibida.
sobre punições dantescas de dor e sofrimento
eterno, mas as heresias clamam pelo oposto.
A Fímbria
Punições trazem a ideia de que a Sombra está
O que realmente fascina nesta trindade de
submissa ao Criador, recebendo os pecadores
destinos do pós vida é a Fímbria. A Fímbria é
em seu reino, mas isso é dito à boca miúda. Mui-
destinada ao homem comum, que viveu uma
tos acreditam que a Alcova é uma terra de fogo
vida oscilando entre bem e mal, sendo aquilo
e enxofre, onde a eternidade é sua única com-
que o Criador esperava que ele fosse, dono de
panheira além da dor. Outros narram paisagens
si mesmo. Dessa forma, a Fímbria surge como
gélidas de pensamentos e sonhos congelados e
um mundo cinzento, à imagem e semelhança do
existem ainda os que falam dos tormentos par-
nosso, onde todos têm a chance de purgarem-se
ticulares e assim na Alcova Profana você encara
de suas falhas, ou abraçar as causas profanas, e
seus erros e medos, uma experiência que não
decidir seu destino. Nesse caminho de purifica-
pode ser compartilhada.
ção, o falecido conta com os vivos, através de
suas orações.
Visões de inferno são comuns dentro do Tribu-
nal. Normalmente as pinturas de tormentos são
Um forte exemplo da relevância da Fímbria
relacionados a um dos Ímpios da Sombra. O con- no imaginário é o túmulo de São Pierre. No ano
denado passa a sofrer nas garras destes arau- 1000 DA, durante a Era do Sangue, um cavalei-
tos sombrios, pagando pela Provação a qual se ro marcou seu nome entre os povos de Dalanor.
entregaram em vida. Aos gulosos é reservada a Pierre le Noir fez frente às tentativas de Igslav
eterna ceia onde se come a carne e o dejeto. Aos invadir seu território. Quando teve ajuda ofere- A fímbria e as orlas são
irados o ódio rasga por dentro da pele. Aos inve- assuntos de discussão
cida por aliados vihs, não aceitou, chegando a
entre sábios. Parece que
josos fica a agonia descontente de querer mais, devolver a cabeça do mensageiro ao rei de Viha, tais temas lançam uma
de boca sangrenta pelo rilhar dos dentes. Aos com um bilhete deixando claro o desprezo pela infinidade de tons de
luxuriosos fica o êxtase do gozo nunca alcança- ajuda. Uma figura contraditória, mas que espa- cinza sobre algo que era
claramente preto e branco.
do, mas sempre próximo. Por fim, aos avarentos lhou fervor pelos combatentes que resistiram a A existência de uma
fica o peso do que se juntou e não partilhou, a um cerco na cidade de Lenoira. Foi condenado membrana conjunta ligando
arrebentar os joelhos. pela igreja, mas absolvido quando em seu sacri- tudo aquilo que cremos
sobre o mundo espiritual
fício final selou a passagem por onde as forças
soa confuso e nos coloca
Anos após a morte de São Rastramus, tex- de Igslav invadiriam Dalanor. Enterrado como no devido lugar:
tos estranhos foram encontrados próximos sua herói, mas ainda condenado pelas atrocidades
velha morada em Virka, relatos dizem que os da guerra, seu corpo se encontra em uma singe- “Apenas meros grãos nessa
infinidade de poder e
pergaminhos estavam enrolados em couro ne- la capela em Lenoira, sob a escultura em pedra conhecimento.”
gro umedecido de piche e cheirava a enxofre. A negra de seu corpo. Os Oradores da época dis-
pouca informação que se tem relata que o tex- seram que a alma de Pierre era pesada e só com
to retratava uma viagem à Alcova, descrevendo muita oração ele alcançaria a Abóbada Celeste.
seus anéis de danação, visão dos Ímpios e o en- Há séculos seu corpo é velado.

b 97 b
b Belregard b
cernir onde começa e onde acabam tais atos, o
a próprio Tribunal desistiu de tentar separar tais
O Cão de Tarrasses ritos do meio do povo, provando ser uma tarefa
miticamente impossível. Assim sendo, a feitiça-
O cachorro é companheiro do homem a muito
ria selvagem é sutil, misturada com crenças ecle-
tempo. Antes mesmo da revelação de Morovan,
siásticas, sendo vistas quase como inofensivas.
as Crianças Cinzentas contavam com o apoio
de cães na caça e na proteção de suas famílias.
Na outra face da moeda existe a magia Bövrá-
Curiosa é a relação destes animais com o ser-
viço da morte. É crença antiga que os agentes
tica, idealizada, categorizada e transcrita pelo
do ciclo de vida e morte são os cães de Tar- homem mais sábio que já andou por Belregard,
rasses. Este nome surge em culturas diferentes, Bövrar II. Este homem goza de notória infâmia
com uma sonoridade ligeiramente alterada pelo nos dias de hoje, mas seu legado é perpétuo nos
idioma local, mas sempre fazendo referência a estudos mais aprofundados do que pode ser
uma cidade, fortaleza, fora de paraísos e in-
compreendido pelo que nos foi deixado atra-
fernos, onde vivem os seres que observam os
vés do Criador. Bövrar II não estava mais vivo
caminhos do mundo. Quando uma alma deve
ser colhida, são os cães de Tarrasses que vem
quando o Único desceu da Abóbada e alguns
buscá-la. Por mais que não seja um detalha- lazlitas mais coragosos chegam a conjecturar
mento compartilhado, é algo tão enraizado um encontro de ambos, onde o Pai não trataria
que inúmeros cemitérios possuem estátuas de este filho com desgosto, mas com alívio, por ter
cães vigilantes. Curiosamente, muitos relatos sido o que chegou mais próximo da verdade. Bö-
de morte, assistida por sacerdotes, pontuam
vrar II não tinha pudores quanto ao que usava
sobre o som de rosnados, uivos, ou o farejar pe-
para atingir seus objetivos, misturando-se nas
las frestas da porta quando um moribundo se
entrega a morte.
heresias selvagens sem qualquer medo e através
destes estudos, disse ter compreendido a verda-
deira natureza do Criador.
Assim como há a Abobada e a Alcova, a Fím-
bria é um plano espiritual paralelo ao terreno. Bövrar viu o Único de três formas:

Enquanto um está acima e o outro abaixo, a


• Único Histórico - seguindo o fio da his-
Fímbria age como uma liga que une todos esses
tórias e os acontecimentos táteis.
locais de residência do espírito. Crê-se que den-
tro da Fímbria existem as Orlas, locais com ca- • Único Mítico - seguindo o fio legendário.
racterísticas e próprios seres nativos. Possivel-
mente eles foram formados ao longo da criação • Único Místico - seguindo o fio do
do mundo devido a crença multifacetada dos vá- caminho interno.
rios povos que caminharam sobre Belregard. O
As três formas agem para a compreensão total
pouco que se conhece sobre as Orlas é baseado
da figura grandiosa do Criador, mas a terceira
em livros primordiais, arcaicos e com base não
em especial foi onde Bövrar II dedicou sua vida.
religiosa, mas quase científica.
Alguns discípulos de Lazlo intitularam este tipo
A Magia e o Misticismo de conhecimento como Adoração Esotérica. Os
cultos que seguem os ensinamentos de Bövrar II
Os selvagens deixaram seu misticismo enrai-
são divididos em Fraternitatis e estão em todos
zado à cultura dos homens civilizados de modo
os locais.
tão profundo e intrínseco que é impossível dis-

b 98 b
b A Vida em Belregard b
A Adoração Esotérica é um conjunto de en-
sinamentos conhecidos como a parte mais pro-
a
fundamente mística da adoração ao Único. His- O Bando Arlequim
toricamente eles são baseados não nos textos
Durante a celebração do Luto pelos Caídos,
sacros da Vulgata, mas nos textos que Bövrar II
onde famílias se reúnem na segurança de suas
detalhou em seus inúmeros tomos.
casas para celebrar a memória dos que já par-
tiram, o que separa o mundo dos vivos e dos
Tal prática firma seu alicerce na crença da
mortos se enfraquecesse. É quando o Bando
reencarnação e evolucionismo das almas. Não Arlequim vaga pelas estradas de Belregard.
há proselitismo religioso dentro da adoração Famosos por suas festividades macabras, o
esotérica. Os mestres ensinam aos novos que bando liderado pelo bobo da corte inicia o cor-
todas as religiões são provenientes de Deus, que tejo que segue por toda a madrugada, sendo
as teria apresentado conforme as necessidades seguido por toda sorte de condenados ainda
confinada à Fímbria. A visão do bando poderia
espirituais e o nível de evolução de cada povo.
levar qualquer homem são à loucura. Esta len-
Também não há impedimentos àqueles que de-
da gerou procissões semelhantes em algumas
sejarem estudar sua doutrina, desde que o fa- cidades, onde bandos saem pelas madrugadas,
çam por livre e espontânea vontade. geralmente guiados por alguém fantasiado de
bobo e seguido por condenados, parando nas
Seria necessário muito espaço para destrin- casas para pedir por orações ou o que quer
char sobre a forma como tal filosofia pensa e que seja possível. Muitos dizem que o Bando
age, mas o que é preciso afirmar é que o Tri- de Arlequim consegue fazer um homem visi-
bunal repudia e abomina qualquer ação desta tar a Fímbria nessa data, permitindo a um ser

facção pseudo religiosa. vivo ver através dos véus da vida e da morte.
Em tempos passados, aqueles escolhidos para
encenar a procissão do bando, eram bandidos
e criminosos, sendo que estes seriam mortos
pela população ao amanhecer, como sinal de
repúdio do homem à morte.

is
cê fo i inso len te, bu rro e res sequido muitas vezes. Muito ma
Vo obra
es do que pod eri a sup ort ar, mesmo assim, chegou ao fim da
vez
i um bom trabalho.
e sou obrigado a admitir que fo
a
ver am mu ito s err os, con tra dições e principalmente, influenci
Sim, hou vi-
onselho que se retire de suas ati
da Sombra sobre sua razão. Ac írito.
e dedique-se a enobrecer o esp
dades por pelo menos seis meses
minta de bom alimento.
Alimente sua alma, pois está fa

ido e lhe recomendar ao nobre


Gostaria de atender-lhe o ped
em Birman, mas não posso
trabalho de copista do Tribunal
fazê-lo. Não está apto.

Tullus

b 99 b
b Belregard b

O Verdadeiro Alicerce
Na sala pequena de uma casa singela, um trabalhador é inquirido por
um homem de negro. O ar é quente e o cheiro de carne assada entra pela
janela aberta. Um homem de frente para o outro. Um homem apreensivo,
um homem relaxado. Um chapéu de palha apertado em dedos grossos,
um sorriso tranquilo, sardônico, no canto de uma boca.

Minha família não poderia estar mais feliz. Chegamos à Vlakir depois
de ouvir as histórias sobre o Demiurgo e suas obras, seus milagres. Como
mestre pedreiro, consegui prestar meus serviços ao próprio Templo, ini-
ciando as obras de uma nova capela no extremo leste da castelania. O
tempo aqui é ótimo, vivemos em uma casa grande, que também serve de
oficina para o nosso trabalho do dia a dia. A esposa e as crianças também
parecem gostar, especialmente Lelia. A pequena tomou um gosto estra-
nho pelas romãs que nascem aqui. Ela diz que são pequenos vermes gor-
dos, por causa da extremidade do fruto, como uma “boquinha dentada”,
do jeito que ela faz, imitando a coisa de um jeito adorável.
b 100 b
b O Conto dos Anos b
Mas o meu dia aqui é bem simples. Acordo cedo, preparo um bom
desjejum com o leite de cabra e espero os outros serventes chegarem.
Como mestre pedreiro, meu trabalho é supervisionar toda a obra, desde
o corte da madeira até o encaixe das pedras. Gosto de cinzelar os blocos
pessoalmente, quase não sinto o revide da rocha quando bato com os
pregos, tão grossas são minhas palmas. Por volta do meio do dia, faze-
mos uma pausa para comer e Lelia sempre me trás uma romã. Come-
mos juntos, cuspindo as sementes em Maltus, um dos serventes. Um
dia desses ela me disse “Papai, não engula o caroço, é um vermezinho
que vai nascer dentro do senhor…” Achei graça, claro, bagunçando seu
cabelo enquanto descascava a coisa dentro da boca.
De fato, nosso trabalho seguia por todo o dia, normalmente, mas a
noite eu sabia que algumas pessoas vinham inspecionar. Eram homens
da igreja, tenho certeza, vestidos em negro, carregando tochas. Certa
noite peguei meu Mitia espiando pela janela, mas o censurei, claro. O
garoto é impressionável, falou em ter visto uma cabra e um porco. Um
absurdo. Animais são barulhentos e nós sempre dormimos numa paz
silenciosa aqui.
Não vou negar que, pensando agora, já encontrei montes de terra re-
mexidas no campo de trabalho, manchas escuras, claro, mas não faço
caso disso, cuido do meu trabalho, senhor.

De um lado, muita fala apressada, sorrisos nervosos e dedos aperta-


dos de nós brancos. Do outro uma frieza calma, analítica que só se fez
pronunciar depois de um tempo que pareceu maior do que realmente
fora. Quando a boca abriu, foi com um estalo seco. Veio o inspirar pro-
fundo e a instrução.
“O teu alicerce é bom, Basko. Mas como casa de nosso Senhor, o De-
miurgo demanda outros preparos. Faz muito bem em deixar Aqueles
que Vem com o Escuro trabalharem sozinhos. Amanhã fará tua peque-
na Lelia engolir os caroços de romã e à noite, quando Mitia denunciar
a vinda Deles, deixe a menina sair. Tua noite de sono continuará sendo
licenciosa e tua vida próspera. Pela graça do Demiurgo”.

b 101 b
b TOMO II b

TRACTATUS TERRAE
DAS TERRAS DE DEUS
PROOEMIUM
10 de Primum de 1350 anos Depois da Ascenção dos Homens em Louvor ao Criador
Que possam estas palavras encontrar a ti, ó Eleito, em boa saúde.
Os esforços para constatar a atual situação das castelanias de Belregard continua
custando muito de nossa ordem. Não entenda isso como um voto de desistência, Amado
Senhor, mas como uma prova da tenacidade daqueles que o servem. Nas proximidades
de Birman o clima segue como já foi constatado, com seu poder ordenado e centrado
na sacra mão de vossa santidade.
Blasfemadores! Vlakir ousa erguer-se contra vossa graça, alegando ter encontrado uma verdade dis-
tinta de todos nós, com um suposto terceiro céu ao alcance dos homens que lhe convém.
O rei Demiurgo se coloca como um deus na terra, além do desejo de restaurar o
império de Virka.

É sempre prudente Parlouma dá sinais de alianças aos traidores, o rei está velho e demonstra fraqueza,
mas a rainha é sua verdadeira força. Seus leais soldados mantem amor pelo orgulho
desconfiar de da cavalaria parla que vem ressurgindo. A atual situação daquelas terras a coloca
povos distantes. muito próxima de Vlakir, com um casamento arranjado que pode nos dar problemas.
Belghor se inflama com um orgulho pecaminoso de uma paixão que só pode arrasá-los
Ainda se julgam
novamente à Sombra. A linhagem Malik ainda sonha com o poder e com a retri-
como os eleitos
pelo único. buição de Belghor. Possuem muito metal, mas não entregarão facilmente. Os Cães de
Belghor estão se fortalecendo e se tornando uma força notavelmente obscura.
Seriam os insanos Latza se mantém uma incógnita com seu governante demente. Um Rei louco que ar-
inocentes? remessa parte do seu reino num tremedal de lama. Um lugar nojento com arenas de
gladiadores de crianças como soldados. A arbitrariedade é chocante.
Avarentos! No oeste, na corrupta Varning, onde comerciantes se fecham numa sociedade secreta,
onde troca de favores e enriquecimento é normal. A usura é praticada sem qualquer
espécie de proibição. Estão se armando e ligando os pontos isolados do mundo, Varning
pode se tornar uma força perigoso no futuro, contra a glória do Brandevir.

b b
b TOMO II b
Dalanor começa a mostrar hostilidade para com Parlouma. Seu rei deita-se com ani- Fornicadores!
mais e compactua com forças misticas da floresta. Seu povo é fraco e se perdem nos
encantos do mundo selvagem.
Na ruína de Virka a podridão se espalha. Este local é mal, corrupto, um lar para a
Não tenho mais
Sombra. Não vale a pena senhor. esperanças sobre estas
terras corrompidas.
Já Viha parece ter saudades da união de seu povo. As desavenças entre pai e filho
jogaram a castelania numa pré guerra civil, dividindo o povo, pois ambos se dizem reis. União? Eles já foram
O local estã frágil, estão em transição de tradições e costumes. unidos alguma vez?
Rastov tenta manter a colcha de retalhos presa em linhas frágeis. Outrora um exemplo A guerra fratricida é uma
da vivência ordenada sem um proder controlador, um grupo menor ameaçar colocar questão de tempo.
fim a paz ao dragar o povo para mudanças conflituosas no equilibrio politico. Teremos
problemas com os vogos meu senhor.
Pouco preciso falar sobre Brandevir, afinal, o senhor a conhece intimamente.
Como líder de teus enviados, tenho conseguido relatos variados sobre a situação atual das
terras de Belregard. A reconstrução do Tractatus será trabalhosa. Infelizmente não posso
contar com a mesma tenacidade que tenho nos corações de outros. Meu maior esforço, no
momento, é o de retirar impressões pessoais, tanto apaixonadas quanto horrorizadas, dos
relatos de outros membros de nossa ordem. De modo que vossa santidade recebe apenas o
que é importante, sem qualquer tolice dos homens que o servem, meu senhor.
O Tractatus Terrae original, pertencente ao imperador, pode ter desaparecido nas
guerras. As terras de hoje não estão seguindo os mesmos limites determinados pela
dinastia dos caídos e enquanto um punho firme não se erguer para colocar ordem e
cercas, uma nova Era do Sangue pode surgir. Que seja então tu, grandioso, a guiar
estes tolos em direção da luz do Criador.
Dessa maneira, o novo Tractatus Terrae, o Acordo da Terra, está dividido em duas
partes. Na primeira, apresentamos a composição de nosso continente quanto as suas
principais caractertísticas geográficas mais marcantes. Da selva de Áya aos ermos
do norte. No segundo livro mostramos como estão as organizações sociais, políticas e
econômicas de Belregard, reis, lordes, senhores de cidades, vilas e mosteiros. O senhor
saberá de tudo.
São tempos sombrios, amado Eleito, e é apenas com a força do glorioso Tribunal que os
homens poderão caminhar para fora desta treva com as cabeças erguidas. Estou ciente
de que este tomo passará pelas mãos de Oradores antes de chegar aos teus cuidados,
senhor, mas espero que estes respeitem meu trabalho.
Que a paz do Criador esteja contigo.
Enviado Minus
b b
b DO MUNDO NATURAL b
Prima Pars
Do Mundo Natural
elregard é uma terra vasta de A relação do homem com a natureza sempre
terrenos e formas variadas. foi dicotômica. Apesar de usá-la para seus fins,
É possível que um homem se- seja como recurso para erguer uma morada, ou
guindo a Via Régia, a princi- como arma nas queimadas de caça aos selvagens,
pal rota de ligava Virka para o leste e oeste, a natureza também causa espanto, assombro,
montado sobre um hestur, demore cerca de medo. É muito comum que camponeses nasçam,
um ano para ir de Gidar, em Belghor, até Eka- cresçam e morram sem conhecer o que existe
tria, em Rastov, passando pela margem das além da montanha ou bosque mais próximo. Não
demais castelanias em seu caminho, podendo por preguiça, não simplesmente pela fidelidade
ter uma mostra breve dos encantos e assombros a um suserano, mas por medo. O mundo sel-
desta terra. A mão do Criador se faz presente vagem intimida a maioria dos homens, o isola-
em cada monumento natural. Em cada resquí- mento imposto pela própria terra é muito mais
cio deixado pela sua sabedoria infinita, e por antigo que os dos miasmas nocivos que, hoje,
mais que o homem tenha deturpado e feito a corrompem nosso ar.
natureza se curvar em certos locais, ele não é
capaz de ser maior que a criação mais antiga a
do Pai; porque antes dos homens, antes dos
O Tractatus Terrae original
selvagens, Belregard é e sempre será a jóia
mais valiosa do Criador. O primeiro Acordo da Terra foi escrito durante
a vigência do Império de Virka, no que é con-
É sabido que durante a Era do Sangue muito siderado cada vez mais como um passado glo-
da geografia central de Belregard foi alterada. rioso de Belregard. Não há certeza sobre como
Na corrida pela proteção de senhores que te- ele se perdeu. Ele estaria na decadente Virka?

miam traições e ataques de todos os lados, o Teria se perdido mesmo ou está nas mãos de
alguém? Há muitos segredos, como as Casas
relevo foi transformado na exploração de pe-
de Luz que podem ter sido reveladas em anota-
dreiras para a construção de castelos, fortes e
ções deste importante tratado. Não é incomum
torres. Um cenário semelhante, de guerra e in-
haver campanhas para a busca desta relíquia ou
segurança, avizinha-se novamente sobre todos algum enganador que vende trechos deste texto
nós. É preciso ter cautela, pois os inimigos não antigo. A questão é que o antigo Tractatus ser-
estão apenas nos campos de batalha ou salões viria para atestar ou contestar atuais divisões
da corte, o inimigo é antigo e muito poderoso. de terras e como o Tribunal vem tentando abra-
çar seus vizinhos na campanha de dominância,
A Sombra se estende dentro do coração dos homens
fica claro seu interesse em fomentar um novo
nestes tempos sinistros, tomando o pouco que resta
tratado para evitar futuras brigas territoriais.
da luz do Pai dentro de corações pecaminosos.

b 105 b
b Belregard b
a
A Tecnologia do Passado

Não se sabe ao certo como era possível criar obras tão majestosas, estradas tão imponentes, edificações
tão estáveis. Apesar de menos de um século ter se passado desde a queda de Virka enquanto um império,
muito do que se fazia não é replicável. Uns dizem que os mestres construtores do passado não transmitiram
aos mais jovens, outros afirmam que não é mais necessária tanta imponência e aquilo caiu no esquecimen-
to. Alguns ao observar as construções do Império, e até mais antigas, do tempo de Bövrar II, afirmam que
não foi uma mente humana capaz de tamanhas obras. Independente da versão sobre o ocorrido, não se
consegue reproduzir com primazia todas as técnicas das antigas construções e os padrões arquitetônicos e
tecnológicos até das castelanias mais avançadas, como Varning, não se aproximam do requinte e potência
do passado, inclusive algumas plantas antigas são simplesmente incompreensíveis, com notas que parecem
de uma língua perdida. Lendas dizem que há determinadas pedras das estradas pavimentadas e construções
antigas que possuem inscrições, fendas e mistérios que já tragaram a vida de muitos curiosos. Por esta razão
o ditado “sigo em frente como em cabresto de mulas” é considerado um conselho sábio.

O Céu lhida para tornar-se a lua. Benito de Belregard,


Segundo a Litania tradicional, sem muitas famoso trovador dos dias atuais, também es-
mudanças dentre os três segmentos da fé, quan- creveu sua própria versão da história, chamada
do o Único desprendeu parte de sua essência “Opposto dell’Amore”, onde um homem, todas
criadora e divina na própria terra de Belregard, as manhãs, prepara-se para escalar uma imensa
fez os ciclos de passagem do sol e da lua terem montanha, numa tentativa de lá chegar ao anoi-
um pleno sentido. Trouxe, desta maneira, as es- tecer e poder encarar sua amada de perto.
tações do ano e fez surgir o próprio tempo.
Estas canções poderiam ter sido vistas como
A lua com seu brilho cinzento ilumina as noi- heréticas, mas suas incompatibilidades lógicas
tes do mundo com toda a sorte de ideias e su- fazem com que os sacerdotes de Birman as ig-
perstições. Para aqueles que não têm uma fide- norem e as tenham como meras distrações cam-
lidade muito grande para com o Único, não por pesinas. Apesar disso, servem muito bem para
maldade ou falta de lealdade, a lua exerce certo demonstrar a relação que os homens têm com
fascínio. Seu brilho misterioso encanta os poe- a Lua. Para outros ela também significa o ter-
tas e trovadores, lhes inspirando nas mais belas ror. A noite trás a insegurança e por isso a Lua
canções de tragédia e amor perdido. Não é difí- também cumpre um papel amedontrador den-
cil ouvir baladas sobre um amor distante, sem- tro da cultura popular. Manifestações da Sombra
pre influenciadas pelo amor cortês de Dalanor, surgem ao anoitecer, quando não podem ser dife-
usando a distância do homem para com a lua renciadas em plena escuridão. Para estes mesmos
numa forma de comparação. A mais famosa é, crentes, a Lua pode servir como um farol, trazen-
sem sombra de dúvidas, “La Ballade de l’Amour do um pouco de luz ao mundo envolto em trevas,
Impossible”. Escrita por Henry em 998 DA, a enquanto o Sol recupera-se de sua última viagem.
canção fala sobre o amor de um homem por
Como já se deveria imaginar, o Sol também
sua mulher, ainda nos dias da Era da Vergonha.
exerce uma imensa influência dentro da cultu-
Quando o Único coordenou a criação, o prota-
ra popular de Belregard. Visto como o grande
gonista perdeu sua amada, já que ela foi esco-
b 106 b
b DO MUNDO NATURAL b
culpado pela vida existir no mundo, graças à sa-
bedoria do Único, o Sol encarna um perfil mas-
a
culino daquele que tudo provê. Para alguns ele é Antigos Festejos
a encarnação do Criador e aquele que caminhou
A relação dos indivíduos em Belregard com as
entre os homens não era nada além que um filho
estações do ano é muito forte e não é raro que
da vontade do Sol, do Pai. Esta teoria vem sendo
os diferentes povos desta terra possuam festi-
aceita cada vez com mais facilidade, mesmo en-
vidades relacionadas às colheitas, bem como
tre os círculos da fé que seguem os preceitos de às fases da lua. Equinócios e solstícios são re-
Alec. Em regiões mais frias, como Viha, Igslav e levantes em festivais de colheita de cereais e
Rastov, o sol tem uma grande importância entre O Tribunal do Supremo Ofício não conseguiu
os nativos. Para os vogos e vihs praticantes de de forma alguma afetar este antigo costume. O
que ocorre é a transformação de tais festivida-
heresias, existe uma relação muito íntima entre
des, com a inserção da litania do Único em seus
o Sol e a Lua, algo que realmente remete aos
ritos, como pregações que Alecistas fazem no
relacionamentos das baladas dos trovadores, de
lume de grandes fogueiras que se acendem nos
maneira que eles formam um casal de equilíbrio. festivais de colheita do milho. Muitas destas
festividades são importantes como símbolos
Eclipses solares e lunares têm um lugar muito da fartura e da hospitalidade, sendo um mo-
especial dentro da cultura geral. O fenômeno é mento para a acolhida de um novo aldeão em
carregado de imensa superstição. Existem rela- uma comunidade, algo muito incomum em um
tos antiquíssimos de verdadeiras guerras civis mundo permeado pelo isolamento. Os povos

ocorrendo no momento em que o dia tornou- arraigados à terra consideram este um momen-
to importante para acolher um estrangeiro, já
-se noite, trazendo o caos as comunidades que
que o solo precisará ser arado para um novo
acreditavam no fim do mundo. Estes fatos isola-
plantio. Ocorre que vez por outro aproveita-se
dos servem para fomentar as teorias do secto dessa “renovação dos solos” e fogueiras rituais
de Lazlo de que os homens são tão selvagens para a promoção de penas capitais, ainda que
quantos os próprios Selvagens, quando se veem não sejam legítimas pelas castelanias. Muitos
confrontados com uma verdade aterradora e são os relatos de pessoas e por vezes famí-

um destino do qual não pode fugir. Algumas lias inteiras que simplesmente desaparecem
durante estes festejos...
vezes surgem profetas que tentam convencer
o povo de que um destes momentos se aproxi-
ma, mas normalmente eles são tomados pela
igreja e trancafiados para que sua loucura não nado e meticuloso. Em alto mar o céu é o único
contagie os inocentes. bom guia que um marinheiro pode ter e certos
pontos brilhantes ajudam-nos a encontrar o ca-
O Brilho do Céu Noturno minho para o seu destino. Segue abaixo as prin-
Depois de muitos anos em observação cala- cipais constelações a trazer significado para a
da, os homens de Belregard puderam perceber população, além de certos fenômenos inexplicá-
certas permanências no céu noturno. Estrelas e veis que trazem mais medo que conforto:
constelações foram recebendo nomes na medi-
da em que se tornavam frequentes no imaginá- O Círculo
rio da população e recentemente, com os avan- Brilhando sobre as cabeças dos habitantes de
ços marítimos de Varning, o estudo do céu tem Belregard existe um círculo formado por seis
se tornado um pouco mais cuidadoso, coorde- estrelas brilhantes. Este cinturão é visto como

b 107 b
b Belregard b
parem de tentar ser aquilo que não são. Apesar
a da ascensão da humanidade, nenhum homem ja-
Ela Se Move mais será a estrela mais brilhante, o próprio Pai.

Aqueles que se dedicam a olhar os céus de Bel- A Sombra


regard já notaram: a sombra se movimenta pe-
Seria estranho afirmar que as pessoas po-
los céus. Alguns já tentaram identificar o que
dem ver uma sombra durante a noite, mas o que
isto significa, dizem que os strigori conseguem
acontece é um fenômeno extremamente estra-
prever os acontecimentos analisando o movi-
nho, que trás o medo àqueles que acreditam nos
mento desta sombra no céu, este manto negro
sinais do céu. Algumas vezes as mais populares
que está sempre em movimento. Mas o que
constelações e estrelas isoladas simplesmente
poucos sabem é que há alguns dias nos quais
desaparecem do céu. Elas não brilham por dias
a sombra não é vista nas noite de Belregard.
e dias, até que finalmente retornam. Alguns
Nestes dias, a noite apresenta todas as estrelas
curiosos já perceberam um “rastro” de estrelas
no céu, mas a alvorada possui manchas escu-
que vão sumindo e desaparecendo, como se um
ras bloqueando a luz do sol, como se a sombra
imenso manto negro as cobrisse. Ninguém pode
tentasse adentrar o dia. Este fenômeno é cha-
afirmar o que é aquilo, mas o medo fica presen-
mado de aurora negra e era bem raro. Alguns
te nos corações de camponeses e nobres, quan-
consideravam-no auspícios de maus tempos,
do percebem a ausência daquele brilho no céu.
colheitas ruins. Porém, os sábios Lazlitas e ob-
servadores dos céus notaram que a frequência Neschek
das auroras negras tem aumentado a cada ano.
Esta constelação foi nomeada por Helish, o
O que isto significa? Os incultos já consideram
Puro que simplesmente deixou de existir quando
isto um sinal do fim dos tempos…
a encarnação viva do Criador partiu, e apontada
como um sinal de pleno mau presságio. Tendo
a forma de uma serpente peçonhenta, Neschek
um bom presságio, já que representa a união habita o imaginário dos homens de Belregard
dos homens na solidariedade para compartilhar como uma força que envenena e sufoca aqueles
suas vitórias e derrotas. Nos tempos em que se que vacilam na fé. Muitas vezes relacionada aos
vive hoje, com a guerra batendo à porta de to- Selvagens, esta serpente já serviu para acusar
das as castelanias, aqueles mais temerosos re- grupos hereges de adoração ao mal encarnado
zam para que as lideranças olhem para o céu da Sombra e assim motivar verdadeiras caçadas
e aprendam a lição de humildade que o Único aos pecadores. Verdade ou não, nos dias em
deixou naquele imenso tapete escuro. que Neschek brilha forte no céu, os homens de
bem trancam suas portas.
A Coroa
Uma clara referência ao símbolo máximo do
O Clima
Criador, este conjunto de estrelas não se fecha, Belregard é uma terra que conta com estações
como o círculo, mas brilha em quatro pontos do ano bem delimitadas, que costumam ocor-
encimados por um único maior entre os mes- rer praticamente ao mesmo tempo, ditando os
mos. Para aqueles que temem o futuro, este é ritmos da vida. No norte de Belregard, que vai
um novo aviso do Criador para que os homens dos ermos até o encontro de Rastov com Viha,

b 108 b
b DO MUNDO NATURAL b
o clima é severo durante boa parte do ano, com A parte central do continente, Virka, Parlou-
nevascas fortes nos meses frios e verões cur- ma, Vlakir, Latza e Birman, possui um clima
tos, breves, onde a vida luta para florescer. Em seco, com verões quentes. Por fim, o pedaço su-
Viha e na porção mais sul de Rastov, o tempo é doeste, com Braden e Belghor, é também seco,
úmido e chuvas são constantes em boa parte do mais agreste, com chuvas ocasionais e tem-
ano, mantendo os pântanos e charnecas alimen- pestades de raios. O esquema, rabiscado por
tados. O território centro-oeste, que engloba meus dedos débeis, darão cabo de demonstrar
Dalanor e Varning, possui estações bem distin- estas variações:
tas, com raros invernos frios onde a neve cai,
mas verões calorentos. Varnind, em sua porção
leste, apresenta um clima mais abafado, com
chuvas frequentes em seus pântanos.

b 109 b
b Belregard b
Podemos traçar um perfil da fauna e flora Região Noroeste
destas regiões, segundo tudo que foi colhido (Viha e Antiga Igslav)
pelos vassalos deste Enviado.
Ainda compartilhando grande similaridade
com a área norte, o clima que engloba Viha e
Região Norte (Rastov e os Ermos)
a antiga Igslav é de verões mais quentes, mas
Ao norte, desde o paredão montanhoso dos
invernos com a mesma neve de Rastov. É uma
ermos até as planícies abaixo destes, na área cen-
região de névoa, charcos e pântanos. As árvo-
tral de Rastov especialmente, temos a taiga com
res são sorveira, carvalho e coníferas (abetos,
extensos bosques de pinhos, abetos, larício, frei-
pinheiros e araucárias também). O território é
xos, álamos tembladores e bétulas. Apresentando
pontilhado de bosques e florestas. As florestas
uma fauna rica e variada com o urso, o lince, o
são mais marcantes nas Terras Altas do leste.
lobo, a marta, a raposa comum e a cibelina como
Em outros lugares, a vegetação é a típica de
máximos representantes, junto a um inacredi-
charnecas e pântanos, composto de urze, sa-
tável leque de espécies de aves. Mais ao norte,
mambaias, musgos e gramíneas. Há formações
na zona ocupada pelos Ermos, a taiga dá lugar à
de mangues mais ao sul e sudeste, mas são raros
tundra com seus permanentes gelos, nos quais o
em comparação com toda a região. A fauna é
solo pode crescer, quando o verão está em seu
apogeu, em forma de musgos, líquens e árvores muito rica com cervos, veados, lontras, armi-

anãs, como as bétulas. Nas margens são vistos nhos, martas e pumas, além dos lobos comuns
leões marinhos e pinguins, para além das temí- por toda Belregard. Caranguejos e siris abundam
veis baleias. Toda costa oeste possui atividades nas costas e mangues. Nas charnecas há aves de
de caça à baleia para obtenção de óleo e peles. A rapina de grande porte como águias-pescadoras
carne de bestas do gelo como morças é por de- e condores. Os lagos são abundantes de salmão,
mais rançosa, mas apreciada pelos povos do nor- atum e truta.
te. No inverno as temperaturas extremas tornam
muito difícil a sobrevivência que, sem dúvida,
Região Centro-Oeste
conseguem alguns roedores como o lêmingue, a (Dalanor e Varning)
lebre polar, a raposa cibelina, o glotão, algumas Contando com um clima temperado, de chu-
aves e animais domesticáveis como a rena. Como vas e possibilidade de neve no inverno, e verões
animais de tração, para o abate e também para que podem ser verdadeiramente quentes, apre-
fornecer lenha, são utilizadas lhamas e guanacos, senta uma flora muito semelhante a de Viha em
comuns em todo território montanhoso. Ao sul sua porção oeste, mas com grupos de árvores
da taiga encontramos as terras negras. É a zona muito maiores em suas vastas florestas, além
mais fértil, pois embora os invernos continuem dos carvalhos, as cecóias gigantes e mangueiras
sendo duros, os verões são mais quentes, com figuram lado a lado em seus tamanhos impres-
frequentes precipitações. É uma zona de cereais
sionantes. Existem ainda os impressionantes
e de espécies herbáceas e halófilas. Apesar de ser
cajueiros que facilmente enganam o viajante
uma de difícil cultivo, as araucárias das franjas
que é levado a crer que se trata de inúmeras
mais quentes provém pinhas que são utilizadas
árvores quando, na verdade, é apenas uma que
para toda sorte de pratos e bebidas.Os dias são
pode cobrir quilômetros de distância. Possuindo
longos no verão e curtos no inverno. Nestas ter-
uma fauna variada com muitos animais que figu-
ras, ter as roupas molhadas é saber que o vento
ram nas mesas de banquetes reais, como patos
frio causará uma dor cortante.
selvagens, a queixada, a lebre, o faisão, perdiz,

b 110 b
b DO MUNDO NATURAL b
codornas, o venison dos veados e cervos, além, mimosas, na porção sul pode-se encontrar tam-
claro, de alguns predadores como os lobos e bém a lótus e o papiro, muito utilizado para re-
felinos espreitadores das sombras das árvores, gistrar os mais antigos textos dos homens em seu
como as temidas onças. Na porção que corres- processo de secura. Ao sul, dentro de Belghor,
ponde a Varning, as árvores são mais baixas e o solo fica menos pedregoso, já que o rio Nurit
pelo longo rio toda a área torna-se mais panta- corta todo o território, trazendo uma terra mais
nosa, com brejos e mangues. A fauna mantém-se fértil. A variedade da fauna fica por conta das
semelhante, com predadores dos charcos, como manadas de búfalos, urubus, e gazelas nas sa-
crocodilos e jacarés e as temidas serpentes de vanas comuns entre Braden e Belghor. Existem
muitos metros de comprimento. ainda os pequenos fenecos, as hienas, os cha-
cais, javalis e mangustos. O rio Nurit também é
Região Centro-Leste ocupado por crocodilos, enguias e peixes-boi e
(Virka, Parlouma, Latza, Vlakir e Birman) fala-se de feras ainda maiores nos recantos mais
Com seus invernos frios e úmidos e verões escondidos da castelania.
quentes e secos, toda a região demarcada por
esse tipo de clima apresenta uma grande diver-
sidade de vida. Além da enorme quantidade de a
insetos, há diversas espécies de roedores como
O Clima de Belregard
pacas e cutias, corvos, corujas, falcões, águias,
coelhos, lebres, lobos, raposas, linces, veados, É importante perceber o esquema da divisão
javalis, lagartos, cobras e tantos outros. Nas flo- climática em todo o continente. Apesar de ser
restas, que são mais comuns na área de Latza e um território vasto, Belregard compartilha das
Virka, sob as sombras das montanhas que cer- estações dos ermos do norte ao fim de Belghor.
cam Belregard, encontram-se sobreiro, jambei- Por mais que existam noções de norte e sul,
ro, medronheiro, ipê-amarelo, cedro, carvalho, Belregard funciona com uma estranha divisão
cipreste, amendoeira, azinheira, oliveira-brava, climática. Territórios próximos não comparti-
pinheiros, cactus, loureiro, urze, rosmaninho, lham o tempo, com estes podendo ser inclusive
alecrim, timo, zimbro, alfazema, piteira, giesta opostos. Enquanto Viha, por exemplo, é mar-
espinhosa, dentre outras, além da imensa varie- cada por estepes frias e neve em parte do ano,
dade de peixes dos grandes lagos gêmeos. Nas Dalanor, ao lado, experimenta uma brisa fresca
demais regiões, os bosques são esparços e pon- e praticamente perpétua. Para os habitantes de
tilhados pelas planícies longíncuas de Parlouma Belregard, esse comportamento climático não
ou pelos pântanos que separam Birman de Latza. é estranho, pelo simples fato de não conhece-
rem outro lugar para comparar. O motivo desta
Região Sudeste (Braden e Belghor)
divisão pode estar relacionado a organização
O terreno de Braden é quente e seco, apresen- que o próprio Criador deu ao mundo. Assim
tando invernos chuvosos que costumam arruinar sendo, o narrador pode optar por nuances cli-
as estradas de pavimento irregular deixadas pelo máticas nos limites destes bolsões, como um
império. O terreno da porção norte desta área clima quente e úmido entre Parlouma e Braden.
climática é rochoso, com poucos bosques de
árvores de tronco fino e alto como o eucalipto,
além do olmo, acácias, pequizeiros, cajazeiros e

b 111 b
b Belregard b
a
Fauna e Flora Fastásticas

O narrador deve ter em mente que Belregard ainda é um mundo de fantasia, por mais que tenhamos dei-
xado ele com esse toque de uma verossimilhança palpável e isso significa que você, contador de histó-
rias, tem a liberdade para criar elementos novos. Você DEVE fazer isso! Então não se acanhe em fazer
árvores, plantas, ervas e animais diferentes, com um toque de fantasia maior. Não é preciso ir muito lon-
ge, se te faltam ideias, apresentamos alguns exemplos disso nas castelanias, mas você se inspirar em ani-
mais pré-históricos para criar essa fauna bizarra, como mamutes nos Ermos do Norte e algum Kaprosu-
chus saharicus em pântanos e na beira de lagos por Belregard, afinal, um “crocodilo galopante” colocaria
muito terror em qualquer personagem.

Das Áreas Livres Grandes felinos, como tigres brancos e linces


disputam território com os lobos, na busca pela
Existem áreas em Belregard que não fazem
caça. Algumas montanhas dos Ermos são re-
parte direta de um ou outro território, são locais
conhecidas pelos homens de Rastov, como os
de limite, zonas de transição, por isso são apre-
Dedos dos Deuses, acidentados com um pinácu-
sentados antes neste tratado. As áreas monta-
lo pontiagudo como um dedo apontando para o
nhosas, florestais, que fazem parte de territórios
céu. Os vogos, nativos dos ermos em sua plura-
serão apresentados nestes, como forma de cercar
lidade de clãs, contam que no passado remoto
as relações locais com o determinado ponto.
a região era uma vasta planície e foi escolhida
pelos gigantes como local de seu descanso,
As montanhas representam dualidade para
como eram seres colossais de forte ligação com
o homem. Elas são barreiras, protegem, mas
a terra, deitaram-se para morrer e seus corpos
também oprimem. São o palco de histórias ter-
se tornaram as montanhas. Acredita-se que o
ríveis, lar de bestas inomináveis, mas também
grande paredão rochoso que separa os Ermos
são reduto de grandes sábios, que se isolam em
de Rastov, conhecida como Coluna de Balmung,
cavernas e picos para retornar ao convívio com
seja a espinha dorsal do maior dos gigantes, se-
a sabedoria de Deus, ou a loucura dos hereges.
nhor de todos estes e último a cair. Como um
Belregard é uma terra marcada por grandes ca-
braço, um tributo da Coluna de Balmung, todo
deias montanhosas em todo seu perfil norte,
o norte de Belregard, cercando a antiga Igslav,
dos ermos extremos até o abraço sombrio do
passando por Virka, Latza e começando a se
véu em torno de Belghor. fragmentar em Birman, existe a Muralha Norte.
A porção central de Belregard é ocupada apenas
Ao norte de Belregard se estendem quilôme-
pelo Vale de Virka, no que diz respeito a gran-
tros de picos nevados dos Ermos do Norte. Ain-
des formações montanhosas. O paredões que
da hoje aquela região não foi completamente
cercam o vale deram a certeza de se tratar de
mapeada, mas sabe-se ser marcada por vales
um lugar abençoado quando os primeiros ho-
profundos, florestas, bosques e lagos que ficam
mens saíram de Belghor e encontraram refúgio
congelados durante a maior parte do ano. Habita-
em seu interior verdejante e fresco. Estas mon-
da por uma fauna selvagem de grandes predado-
tanhas já foram a principal fonte de pedras para
res. É um ambiente hostil, feroz que mantém sob as fortalezas do império e acredita-se que ainda
suas sombras apenas os mais atrozes dos seres. sejam férteis de metais preciosos.

b 112 b
b DO MUNDO NATURAL b
Como última área de destaque do norte po-
a demos citar a vastidão da Planície de Ig, antigo
A Fonte do Medo lar dos igslavos. Ocupando as sombras das mon-
tanhas de Virka e da muralha norte, a planície
Não, eles não vão normalmente aos ermos. As de igg é uma vastidão de campos planos ainda
zonas de transição, os espaços de circulação e, mais longos que os prados de Parlouma. Um lo-
sobretudo, as terras mais afastadas nutrem to- cal pontilhado por clãs de vihs e igslavos com
das as supertições que arrepiam as mais puras fortalezas abandonadas do império. É a área de-
almas dos castos habitantes de Belregard. Mas sejada por Viha, mas também lugar de assom-
não pense que na mata ou em fendas nas mon- bro, onde contam-se histórias sobre as imensas
tanhas não se abrigam grupos isolados, bando- serpentes que fazem seus caminhos debaixo da
leiros ou até bestas quase nunca vistas. Alguns terra, formando trilhas que passam umas por
dirão que isso é apenas fruto das mentes de- dentro das outras, numa configuração impossí-
bilitadas pelas parcas rações que um campo- vel para a nossa compreensão.
nês dispõe. Mas não é incomum topar com
ossadas nas estradas…

a
O Veio Sangrento dos Gigantes
Da mesma forma que as montanhas, as flores-
tas de Belregard representam perigo e seguran- Por mais que os homens santos queiram des-
ça. São lugares que inspiram o medo enquanto
mentir as lendas vogas sobre gigantes mortos,
são o refúgio dos excluídos, lar de bandidos e
encarar um bárbaro com mais de dois metros
dos degenerados que infestam matas, bosques,
e meio de altura faz com que a certeza vaci-
vivendo suas vidas desesperadas longe do alen-
le. Muitos clãs vogos alegam ter o sangue
to da fé. As florestas de destaque dentro dos
dos gigantes correndo em suas veias, mas al-
territórios costumam receber seus nomes por
guns relatos apresentam uma ideia diferente.
algum acontecimento ou característica marcan-
te, mas sem sombra de dúvidas são as florestas Dizem que no interior de certas montanhas

dalanas que mais ocupam o imaginário, com existem veios de sangue ainda correntes e

suas árvores altivas e impressionantes. Ainda crianças vogas com idade entre os sete e dez

assim, é ao norte que fica a área mais assom- anos devem adentrar cavernas e salões escu-
brosa, a Taiga Branca entre Viha e Rastov. Uma ros em busca destes veios, superar suas ad-
barreira natural que tira a vida de mercadores e versidades e beber do sangue. Relatam que
viajantes até os dias de hoje, por mais que es- as crianças que sobrevivem ao rito de passa-
tradas tenham sido construídas. O frio no inte- gem apresentam um crescimento muito mais
rior da floresta pode fazer o sangue congelar acelerado que as demais.
e ainda assim, algumas delas ainda dão frutos
azulados durante todo o ano. É um lugar de len-
das sombrias, lar de Baba Golod, a Mãe Famin-
ta que devora as crianças que caminham para
longe de suas casas.

b 113 b
b Belregard b
Lagarto Escaldado A vida só consegue fluir onde correm rios
2 partes de óleo de coco e nascem os lagos. Belregard conta com gran-
7 cebolas grandes
Açúcar mascavo
des porções de água doce, mas apenas três dos
a
maiores lagos são mostrados nos mapas dispo-
Coentro fresco níveis. O lago Narash entre Viha, Rastov e o an- Ruína nos Mares
Pimenta Belgha tigo território de Igslav e os lagos Gêmeos de
Barriga de lagarto-que-cavalga Vlakir. Existem um número imenso de outros
Muitos exploradores tentaram seguir os passos
de Varis para explorar o arquipélago, mas não
lagos e rios espalhados por Belregard, mas seu
Modo de Fazer uso se destaca em Varning, que aprendeu desde
tiveram sucesso. Não é improvável que os es-
Frite a cebola no óleo, adicione cedo a correr por suas águas para fazer valer
critos do explorador sejam falsos, forjados por
a barriga de lagarto inteira e o comércio. O mar também mostra seus misté-
homens que supostamente os encontraram, ou
cubra com uma camada grossa de rios, especialmente no norte de Belregard, no
que tenham sido alterados para parecer mais
coentro picado. Escalde e sirva Arquipélago de Varis. Como a costa norte do
agradáveis quando, na verdade, a ilha é sim-
acompanhado de inhame. continente é de falésias e penhascos, torna im-
plesmente abandonada e desinteressante, para
outra, a verdade escondida é a de que o filho de
possível a fundação de um porto para mandar
Há quem diga que barcos até o conjunto de ilhas. Ela figurou nos
Dálan, primeiro rei de Dalanor, dorme lá com
lagartos-que-cavalgam estão mapas mais antigos no ano 980 DA, quando o
seus espíritos guardiões, embalado pelas glo-
sendo criados em cativeiro. navegador Varis, de Varning, correu toda a costa
riosas canções do passado.
Porém, é um engano pensar isso, de Belregard, mostrando os contornos do con-
tamanha a bravura desta besta. tinente pelos ermos e finalmente a ilha. Varis
Há quem diga, inclusive, que um nunca retornou de sua viagem, mas seus escri-
Lagarto de Varning cativo causa tos, milagrosamente preservados, chegaram até
impotência e frigidez se ingerido. a costa e o pouco que contam falam de uma ilha
de maravilhas, um paraíso na terra.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando caçadores
(ou iscas) de Varning cercando
um lagarto-que-cavalga.

b 114 b
b DO MUNDO NATURAL b
Existem ainda os mistérios do extremo sul.
a Depois do Vale de Nessir em Belghor, com seus
Os Sorridentes Senhores Selvagens paredões rochosos, encontra-se uma passagem
que sobe para sair do vale, abrindo-se em um
A verdade é que os belghos ficaram apavorados terreno quente, de verde exuberante. Ladeando
com os áyas. Os guerreiros selvagens desde- a passagem estão estátuas colossais de criatu-
nham das armaduras e se lançam ao combate ras humanoides com faces animais, ou corpos
com lanças de madeira e pontas de sílex, escu- selvagens e eloquentes rostos misteriosos. Para
dos ovais de corpo inteiro feitos de couro duro a maioria, trata-se de uma prova da presença
curtido. Seus corpos altos e esguios escondem selvagem daquele lado e por isso o espaço é
músculos poderosos, mas o verdadeiro terror evitado. Ainda assim, alguns grupos de Cães de

vem na face. Todo guerreiro passa por um ritual Belghor já atravessou o caminho e passou pelo
julgo daqueles olhares petrificados para explo-
de mortificação da carne, em sua boca, quando
rar. É sabido que existem povos nas selvas, mas
o lábio superior é cortado e alguns dentes são
estes são extremamente reclusos e hostis. Os
serrilhados, o que lhes dá um eterno aspecto
belghos chamaram aquela área de Selva de Áya,
zombeteiro e risonho. Os Cães de Belghor que
referindo-se aos nativos por este nome. Como
exploraram o sul e sobreviveram contaram com
eles não migram para o norte, Belghor prefere
terror o pesadelo que foi combater aqueles ho-
deixa-los em paz.
mens que riam como hienas num total regozijo
em meio a matança. O que segue, meu bom Eleito, é um apanhado
das castelanias, focado em questões políticas,
mas ressaltando também aquilo que tais terras
podem ter de relevante para o teu conhecimento,
pela glória do filho mais querido do Criador.

Vossa Santidade não deve se enganar com a suposta organização


tomo. Ele foi escrito para apresentar apenas as principais estrutu apresentada neste
econômicas de cada castelania. Mesmo o comércio aqui apresentado, ras sociais, políticas e
tão organizado, é uma
mera projeção ideal da possibilidade.
O isolamento é real. Nosso povo sente o abandono e esse é mais
luz da fé envolva a todos e remova a treva desse tempoumsommotbriivoo. para que a

b 115 b
b DAS CASTELANIAS b

Belghor
“Vinde ao Pai”

Capital Apenas um belgho puro, um verum, preferen-


Melechit, “A Morada do Rei”. cialmente descendente que quem já viveu no
vale no período de domínio sombrio pode as-
Poder sumir altos cargos, como o de orador.
Malik II, O Filho do Rei, Senhor da Terra dos Ho-
mens, Protetor da Memória do Criador, Rei População
de Belghor e Duque de Melechit. Malik é Majoritariamente formada por belghos, com
nosso
um homem austero e taciturno. É casado com um grande número de parlos. Apesar de possuí-
Percebo aqui um amor de ghor.
Abella, uma filha da nobreza local, com ligações rem seus próprios traços, costumes e caracterís-
enviado pelo rei de Bel r-
ce
diretas nas ricas minas de Charon. Malik teve ticas, as etnias sofrem uma certa influência
Talvez o Eleito devesse ores.
pouco contato com o pai e foi criado quase que do lugar onde vivem, da cultura compartilhada
car-se de homens melh
integralmente pelo orador Priscus, que guiou o em uma determinada castelania. Em Belghor,
rapaz numa doutrina religiosa severa, criando os belghos representam o modelo exemplar
uma mente extremamente devotada e penitente. de adoração melancólica e fanática, com seus
Apesar da riqueza, Malik sempre se apresenta cultos de mortificação da carne e condenação
em trajes simples e gosta de caminhar descalço do riso em praticamente todas as instâncias da
pelas ruas da cidade. vida. Desse modo, as demais etnias que vivem
em Belghor costumam ter o lado religioso mais
Adoração exacerbado, especialmente nessa visão pessi-
Só existe um Deus, o Único. Os belghos mista e pesada da fé, na qual os homens devem
são ligados à textos antigos que muitos do viver em luto, culpados pelo sacrifício do Pai
Tribunal têm como apócrifos, sendo alguns para mostrar aos povos livres onde se escondia
deles escritos na Fala Negra de Belghor. Na o inimigo, a Sombra Viva.
castelania, os belghos são ligados às antigas
leis que impunham dor, sofrimento e priva-
ção aos adoradores do Único. Aceita-se a au- Não, não é correto falar sobre palavras que
toridade do Tribunal do Supremo Ofício, mas
defende-se a ideia de que a sede da igreja seja
alimentam a corrupção da alma
em Belghor, não em Birman. As atividades de dos mais puros.
pessoas de fora do vale são limitadas.

b 117 b
b Belregard b
Símbolo/Cor mas outros desejam participar de uma política
Plumas acinzentadas adornam as bordas do maior e, assim, tem tentado influenciar o rei
escudo vinho escuro listrado em negro. Ao cen- quanto aos acordos comerciais que poderiam
tro do estandarte, encontra-se o punho negro de ser abertos.
aço belgho, com quatro espinhos marcando as
quatro gerações dos Bövrar que reinaram sobre
Belghor. Atualmente, os espinhos fazem referên- a
cia aos calvários do Criador. Sabe-se dentro dos Fauna e Flora Fantásticas
dogmas, que o criador passou por três marcas,
da alma, do ego e da carne, mas os verum de Aquilo que se destaca na natureza
Belghor alegam a existência de uma última mar- particular de Belghor

ca, a do renascimento.
A Lótus Negra: Esta rara flor de beleza espe-

O Passado tacular, que se abre apenas em noites sem lua,


Belghor foi terra de início e de fim. Berço das emitindo um brilho sutil arroxeado encerra um
Crianças Cinzentas, dos belghos que espalha- dos mais poderosos venenos do mundo. Geral-
ram a palavra do Criador, mas também terra mente brota apenas em locais de natureza mor-
do julgo profano, onde a Sombra colocou o ta, onde nem os animais carniceiros perambu-
sangue dos Bövrar para reinar. No período de lam. O chá feito a partir desta flor é capaz de
governo desta dinastia bövrariana, os povos matar quem o bebe e mesmo seu aroma, doce
livres do vale foram escravizados e usados
num primeiro momento, pode causar enjoos
como mão de obra ou transformados em solda-
depois de algum tempo.
dos de mente ocupada pelo desejo da Sombra.
Os registros deste período foram perdidos na Lâminis: Um felino de corpo grande e pesado,
conquista de Belghor. Durante o período impe- com imensa força nas patas dianteiras e om-
rial, Belghor foi governada por um arquiduque bros largos capazes de carregar um homem.
e serviu de moradia ao imperador durante o
Sua pelagem cor de ouro sujo lhe permite es-
inverno até ser substituída por Dalanor. O últi-
conder-se nos campos queimados de Belghor
mo arquiduque, Malik, tornou-se rei de Belghor
e atocaiar suas presas com grande eficiência.
com a queda do império.
Mas o que chama a atenção em seu aspecto

O Presente são as imensas presas superiores que brotam

Devido ao isolamento natural de Belghor de sua boca, como duas lâminas de sabre. O

com o restante do continente, Malik II, filho do couro desta besta é muito valorizada para a

primeiro rei, não tem grande interesse em confecção de roupas pela sua cor incomum,

manter relações com o restante dos reinados de além do mais, as presas do Lâminis são verda-

Belregard. O monarca julga que sua castelania deiramente mortais, e podem ser usadas como

é autossuficiente e, com o povo sendo respeita- punhais eficientes.

do e vivendo para produzir, ele não precisa te-


mer problemas imediatos. O que preocupa Ma-
lik II é a nobreza de sua terra. Alguns nobres
concordam com o isolacionismo de Belghor,

b 118 b
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio Charon
A metalurgia é forte em Belghor e seu me- (Aprox. 5.000 habitantes)
tal negro adorna boa parte das fortalezas que Este é o antro do poder militar de Belghor.
se mantiveram de pé depois da Conquista. A
Para cada camponês existe também um soldado.
arte sacra feita em pedra e bronze é valoriza-
Aqui estão as minas de metal, fonte da principal
da e popular. Pelo apego arraigado dos belghos
renda da castelania. Os soldados de Cha-
em sua fé, a arte sacra de Belghor costuma ser
ron estão sempre atentos, seus olhos protegem
vista com grande reverência em todos os can-
o paredão de pedra, sempre vigilantes nas in-
tos de Belregard, mesmo que costume invocar
contáveis montanhas, lar dos pagãos. Patrono
imagens da dor e sofrimento experimenta-
dos pelo Criador. Os belghos condenam o uso Local: Duque Mordecai, O Imparável, iniciou

destas imagens, mas se aproveitam do apego sua vida na nobreza como um barão que reuniu
das demais etnias. O comércio interno ainda soldados para fortalecer o Forte das Testemu-
faz uso de moedas imperiais e pouco a pouco nhas três décadas atrás. Hoje, ele guia centenas
a cunhagem tem sido modificada para exibir os de soldados protegendo o coração de Belghor.
símbolos do rei, sendo o cajado de cobre a mais
comum, seguido pelo báculo de prata e o punho a
de ouro, extremamente raro e normalmente usa-
O Rio das Almas
do em negociações entre casas nobres. As rela-
ções de Belghor estão limitadas a Braden, num As escavações em Charon são antigas e mui-
primeiro momento. tos dos velhos túneis estão abandonados, iso-
lados ou desmoronaram com o tempo. É dito
Devido ao caos dominante na castelania
que o povo de Charon já cavou mais fundo do
norte, alguns barões e cavaleiros independen-
que deveria, encontrando um misterioso rio
tes tentam se aliar ao rei Malik II, acreditando
subterrâneo que pode fazer parte do rio Nurit,
que ele é uma melhor escolha que Birman, que
mas que é assombrado pelas almas de garim-
também tenta uma aproximação de Belghor,
peiros abandonados no interior da terra. Nin-
mas questões de orgulho religioso atrapalham
guém sabe exatamente o caminho para o rio,
uma maior aproximação. Malik II procura se
mas ao longo da história foram registrados
aproximar de Parlouma para evitar os conflitos
momentos em que tal local foi encontrado e
ao norte, mas ainda é preciso encontrar uma
os relatos falam sobre um estranho barqueiro
passagem, ou criar uma. Belghor não espera ser
que por lá vaga em seu pequeno barco, ilumi-
desafiada em uma guerra, já que conta com uma
nando o caminho com um lampião de cobre
boa fonte mineral e um bom número de forta-
e vela na proa. Ele cobre todo o seu corpo e
lezas. É uma castelania que conseguiu manter
usa uma longa vara para navegar. Aqueles que
união e parece apontar para o futuro.
viajaram com o barqueiro dizem que ele cobra
duas moedas, de qualquer valor, para arranjar
Assentamentos
um encontro com os mortos. Um dos relatos,
Belghor se divide em 4 regiões principais, os
ainda em algum livro da igreja em Melechit,
ducados conquistados pelo Juízes desde a con-
identifica a misteriosa figura como Charon, o
solidação do reino.
mesmo nome da cidade.

b 119 b
b Belregard b
Melechit
a (Aprox. 15.000 habitantes)
O Isolamento em Belghor A gigantesca capital é tão grande e tão forte-
mente guarnecida que seria preciso uma nova
O antigo berço dos homens conseguiu man-
marcha de conquista sob a união de todos os
ter-se coeso depois da queda de Virka. Belghor homens para tomá-la. O local possui gigantes
continua com o poder centralizado nas mãos de prédios de basalto negro que demonstram
Malik II e seus duques. No entanto, a ordem que sua grandiosidade antes da queda do império.
se percebe nas principais cidades da castelania Ao lado da gigantesca acrópole, reúnem-se mi-
não deve servir de engano para os recantos mais lhares de construções de pedra e madeira que
abrigam a população de camponeses. Melechit
isolados deste território. Em aldeias, vilas, po-
consegue forçar a civilidade através de um
voados e mesmo assentamento maiores de
local tomado por trevas. Possui ainda fornalhas
barões e condes, o isolamento se faz sentir no
subterrâneas na Fortaleza do Conquistador,
assédio constante daqueles que discordam da onde o primeiro imperador forjou sua coroa.
atual postura religiosa dentro de Belghor. Para Patrono Local: Malik II, O Filho do Rei.
muitos, o verdadeiro caminho era o da Sombra, Rege com punho de ferro, mantendo um con-
era o da dinastia em poder antes da chegada trole rígido de seus duques.
dos Vlakin, a dos Bövrar. Existem ainda o culto
Orlit
dos adoradores de Kupala, o demônio que vive
(Aprox. 1.000 habitantes)
adormecido sob as montanhas do Véu Noturno.
Há alguns dias à cavalo das minas de ferro
Fora esta questão interna, existe o isolamento
de Charon, encontra-se o assentamento que é
externo. A única saída conhecida de Belghor leva
destino das caravanas de metal para venda ou
para o território de Braden, que tem passado por
troca. Sua principal função é tirar os olhos de
sérios problemas e conflitos internos, tornando comerciantes e invasores da capital e das mi-
uma viagem de passagem, ou comercial, extre- nas, negociando em um campo mais neutro.
mamente perigosa. Não descrevemos aqui a mo- Patrono Local: Duque Miron, descendente de
rada dos “selvagens” nas montanhas, deixando uma linhagem de escravagistas e torturadores
de selvagens. Seus métodos são frios e ele man-
esse perigo imprevisível de uso do narrador.
tém o local sob pulso firme.

Forças Militares
Gidar Organizados em Falanges, os Belghos divi-
(Aprox. 2.000 habitantes)
dem seus homens assim como o Único um dia
Nascida sobre as ruínas de uma antiga cida- organizou seus seres de luz nos exércitos divinos.
de que, dizem, já era arruinada no tempo das
Crianças Cinzentas, os pescadores e agriculto- Zayin, “A Espada”
res retiram da terra o que precisam. Gidar nunca (250 lanceiros e 80 cavaleiros)
viu uma guerra e pretende continuar assim.
Assentada na capital, a Espada age com pres-
Patrono Local: Duquesa Nessa, A Milagrosa, as-
teza. São disciplinados e instruídos nos escritos
sumiu o ducado após anos de muita luta, provação
sacros, sendo cavaleiros-sacerdotes que seguem
e dificuldades. À mulher são creditados alguns mi-
Belghor ao longo da história, tanto em seus tem-
lagres, o principal deles, sarar a grande praga que
pos de luz quanto de trevas.
se abateu sobre o Rio Nurit no último ano.
b 120 b
b DAS CASTELANIAS b
Gravura estilo bertina de
Motazzi mostrando a paisagem
agreste de Belghor.

Meginnag, “O Escudo” O Óbolo Negro


(430 lanceiros e 120 cavaleiros) (150 lanceiros e 50 cavaleiros)
Estão em Charon protegendo as monta- Homens que agem especialmente para a
nhas, mantendo o homem livre tranquilo en- proteção de Orlit, todos escolhidos à dedo
quanto os lobos uivam clamando a bestialidade pelo Duque Miron, que recebem uma moeda
dos selvagens. de metal enegrecido com a heráldica pessoal
do duque, mostrando que estão acima da lei e
Kidon, “A Lança” podem, sim, iniciar um processo inquisitório
(120 Lanceiros e 35 cavaleiros) sobre qualquer um.

Um cisma divide essa facção originalmente


Construções e Formações
com a função de proteger Gidar. Alguns acre-
ditam no milagre executado e veem a duquesa Montanhas do Véu Noturno
Nessa como uma santa, outros acreditam que é
Belghor fica no vale cercado por estas altas
obra negra e a veem igualmente enegrecida. A montanhas e a despeito do clima quente local,
coisa tomou tamanha proporção que o Tribunal seus picos altíssimos ficam congelados durante
mandou seus cavaleiros para a cidade. o inverno, que trás fartura ao rio Nurit durante
os meses quentes, tornando as terras ao redor
Naal, “A Sandália”
de suas margens extremamente férteis. Recebe-
(60 cavaleiros)
ram esse nome nos tempos de Morovan, quan-
Estes soldados mendicantes viajam por do o profeta falou que os homens viviam numa
Belghor como verdadeiros paladinos e médicos eterna noite até encontrar o amanhecer glorioso
do povo. da fé no Criador.
b 121 b
b Belregard b
fizeram para ele uma sepultura entre as monta-
a nhas ao norte da castelania. Esta tumba ainda é
Terror do Óbolo Negro procurada nos dias de hoje.

Há determinadas áreas de Belghor que possuem Rio Nurit


quase que uma legislação própria. O Óbolo Ne-
Trata-se de um rio de grande importância re-
gro funciona como um Estado paralelo, cobran-
ligiosa. Aqui ocorrem todos os batismos e sua
do taxas próprias às guildas de artesãos e talhas
água é milagrosa. As pinturas e textos dizem
e corveias aos produtores rurais. Há muitos que
que Alec, em sua visita à antiga Belghor, secou
ascendem socialmente por adentrarem no Óbo-
as águas do rio para encontrar um bebê que
lo, uma vez que a “escolha” do Duque Miron
fora jogador para morrer, fazendo encher nova-
possui critérios bem particulares: a valentia e
mente em seguida.
até a crueldade de mulheres e homens que não
hesitarão ao fazer escolhas duras. Basta ver as Forte das Testemunhas
iniciais “O.N.” grafadas nas paredes com cinzéis
O local é uma fortaleza natural, com penhas-
e armas improvisadas para saber que aquele
cos íngremes e terreno acidentado. Na parte
perímetro é controlado de forma tirânica pelo
leste, a face do penhasco se eleva 400 metros
Óbolo Negro. Há alguns boatos que dizem que
acima da planície circundante. O acesso só é
há interesses próprios e conflitos internos nesta
possível através de uma difícil trilha que serpen-
facção, uma vez que não é incomum que algum
teia pela montanha. Quando o local foi toma-
membro morra subitamente envenenado ou es-
do pela Sombra, este foi o único local que se
quartejado enquanto dormia…
manteve puro de acordo com os vestígios. Os
grandes homens devotos sobem até o Forte em
jejum para buscar claridade de ideias.

Uma passagem estranha e A Pedra Angular A Passagem


enigmática rondam esse lugar. Tido como local onde Morovan mostrou aos Antes da Era da Conquista, uma passagem
Quando a Sombra avançou, homens as leis do Criador e iniciou o caminho entre as montanhas à oeste de Belghor dava
forças humanas vieram aqui para fora do vale de Belghor. Localizada numa caminho para que homens de coração negro
para matar, pilhar e des- depressão entre rochas, próxima à entrada de atacassem Parlouma. Esta passagem sempre
truir. Dizem que os todos uma profunda caverna, a pedra ainda se man- fora protegida pelos servos da Sombra, mas
estavam dispostos a morrer tém erguida, mas não tão reta quanto o nome acabou derrubada pelos esforços de um santo
antes de se renderem às sugere. Possui cerca de dois metros de altura e, do povo parlo, Ercole de Borgosa, que rompeu
garras da Sombra. Então, os pelo menos, um metro de circunferência. Ao lon- o caminho ao derrubar os pilares que sustenta-
sacerdotes mataram a todos, go de sua superfície, estão antigos entalhes de vam uma das cavernas. Malik II tem interesse
suicidaram-se em seguida. significado perdido. A caverna tem suas paredes em reencontrar este caminho, oficializando-o
Carregando para si todo o de entrada cobertas de pintura rupestre. como rota comercial.
pego do homicídio e danação de
ceifar sua própria vida. Dizem A Tumba de Leoric A Fortaleza de Xerigordon
que seus corpos nunca foram O Puro Leoric morreu sozinho na passagem Foi a primeira fortaleza a ser tomada quando
encontrados, foram levados entre Braden e Belghor, mas acredita-se que os Belghor foi invadida. Apesar de reconquistada,
para a morada do Único para o homens de coração negro, impressionados com nunca se soube o que ocorreu com os homens
descanso eterno. a pureza, coragem e força daquele guerreiro,
b 122 b
b DAS CASTELANIAS b
que adentraram seus salões mais profundos e
a A construção possui uma
não mais retornaram. Diversas vezes, tentou- maldade além do compreendido.
-se utilizá-la para fins de defesa, mas a tragédia Cavaleiros Mercantes em Belghor Suas entranhas emanam um
está relacionada a este local amaldiçoado.
Além das forças oficiais a serviço da nobreza,
veneno maligno que faz com
O Vale Nessir existem aqueles contratados por ricos comer-
minha alma queira danar-se
ciantes para lutar. A cavalaria mercante não
para não precisar encará-la.
No extremo sul de Belghor, conforme as mon-
é forte em Belghor, como o é em Varning e
Se a Sombra um dia fez
tanhas vão fechando o seu abraço ao redor do
isso se explica pela relação das casas mer-
morada na terra, ela com
vale, é possível ver estranhas construções. O
cantes com a aristocracia. Ricos mercadores de
certeza escolheu esse antro
que um dia pode ter sido um imenso portão de
Belghor ainda precisam ter relações com a
como sua morada em algum
pedra escurecida, agora jaz tombado, revelando momento.
nobreza para atuar livremente pela castelania
um declive acentuado do terreno até terras mais
e isso limita os poderes expansivos das casas
quentes, onde uma mata verde e viva se contras-
mercantes, situação que só parece capaz de mu-
ta com o cinza de Belghor. Ladeando esta monu-
dar quando uma rota para Parlouma for aberta.
mental passagem, estão estátuas ciclópicas de
Desse modo, é a própria guarda oficial da cidade
seres antropomorfizados, Selvagens, de corpos
que faz a proteção das casas, mas alguns casos
humanos e cabeças de animais desconhecidos,
pontuais mostram que existem exceções, como
de longas presas e trombas, dentes rotundos e
a Casa Macer, que faz o transporte perigo-
olhar contemplativo.
so dos metais de Belghor para alguns domí-
eu
Não posso falar mais sobre meu senhor. Minha vida corrvale.
nios aliados e se protege com seus cavaleiros

perigo pela simples menção ao interesse em desbravar o ição


mercantes, os Cães de Belghor.

O local é guardado não somente pelo medo, mas superstir.


e aço. Muita da nossa história está ali, posso sent

a
O Orgulho Belgho

Todo belgho é orgulhoso de seu pioneirismo na adoração ao Criador, os que ficaram em Belghor veem
visitantes como tolos iludidos. Para os belghos de Belghor, autoproclamados Verdadeiros, o período que
viveram sob influência da Sombra foi nada mais que um tempo de provação. Todo homem livre da castelania
consegue traçar sua ancestralidade até alguém que foi explorado durante o governo corrupto, escravizado
ou morto. Por isso, a necessidade da adoração vem forte e poderosa nos dias de hoje. Malik II aceita a autori-
dade do Tribunal, mas apenas até certo ponto, reunindo-se com belghos verdadeiros para acertar detalhes do
interesse do Eleito. Além disso, existe ainda a resistência daqueles que os verdadeiros continuam chamando
de selvagens, pagãos e hereges. Com o fim do império, muitos se voltaram contra o novo rei e seu sucessor,
acreditando que os cultos sombrios eram a escolha certa para o mundo. Tais pecadores se escondem nas
montanhas que cercam Belghor. Além dos hereges, as montanhas de Belghor, chamadas Véu Noturno, guar-
dam um segredo muito mais antigo e profano. Acredita-se que Morovan foi tentado por um demônio quando
tentou espalhar a palavra do Criador para as Crianças Cinzentas. Tal demônio é chamado nas escrituras de
Kupala e apresentava-se na forma de uma linda mulher que desejava o culto dos povos pelo seu poder sobre
a fertilidade e fartura. Kupala foi associado aos Ímpios como uma prole da mistura das vontades de Amon
e Arshma. Este demônio adormece sob as montanhas.

b 123 b
b DAS CASTELANIAS b

Brandevir
“Diante do Tribunal,
até os reis devem se ajoelhar.”

É possível perceber uma cer-


As castelanias de Birman e Braden passam por uma situação tensa. Enquanto Birman é ta acidez em seu comentário
uma terra marcadamente religiosa, berço e centro do Tribunal do Supremo Ofício, Braden quanto as atitudes do Tr
ibunal
é uma terra arruinada e está prestes a ser anexada. Adiantando-se aos conflitos de outras que, de certo, não querem mais
castelanias, como Parlouma e Vlakir, Birman já convoca antigas noções de fidelidade para que a glória ao Criador. Nesse
anexar o território, a começar pelo próprio brasão, que invoca o antigo dever ponto, discordo dos Haske-
de proteção à muralha sob os auspícios do Criador. listas. Tolices devem ser
Dessa forma, as informações aqui apresentadas serão referentes a união das castelanias, já que apagadas das linhas.
a maior parte da porção norte de Braden já se encontra sob o controle de Birman e apenas
alguns barões do sul, junto da meretriz que se diz filha do antigo rei, fazem resistência. Em
tempo esta discórdia terá fim e nenhum dos abutres que almejam a carcaça do antigo reino de
Leoric terão seu quinhão, aquela terra boa de homens bons deve retornar ao seio do
Criador, como foi no passado. Assim sendo, o Brandevir refere-se
tanto a um lugar quanto a uma nova castelania.

Capital pedintes, miseráveis e doentes realizando pro-


Ravison. Lenora foi antiga capital de Braden e cissões para sua morada. No sul, tentando riva-
ainda se ergue como local de conflito, já que a lizar o poder com o Eleito, está a corte suja e
meretriz mantém lá a sua corte fiel de pecado- imunda de pecadores liderados por Anastásia,
res, junto do falso herdeiro. filha do antigo rei de Braden. A meretriz possui
um filho, de nome Norik, e alega que este é o
Poder verdadeiro senhor de Braden. Alguns poucos ba-
Teocrático. O Eleito governa Birman e este rões abraçaram a causa da concubina do diabo.
homem é Vincenzo de Ravison, A Voz do Cria-
dor, Bispo de Ravison, Eleito pela Vontade Adoração
Dele, Guia de Todos os Homens, Porto Seguro O criadorismo é o foco central do louvor
dos Desalentados, Alento dos Desesperados, o em Brandevir. É o que dita os ritmos de toda
único capaz de levar os homens pelo caminho a vida. Aqui os ritos são levados a sério e todo
da pureza nestes tempos sombrios. Vincenzo é cidadão seria capaz de pregar em vilarejos
um homem velho, que prova a benevolência do distantes, tão acostumado está em ouvir a la-
Pai para consigo ao alcançar mais de 80 anos dainha de seus sacerdotes. Toda cidade prós-
com o vigor de um soldado. A este homem são pera de Brandevir, e mesmo os mais isolados
atribuídos muitos milagres de cura e por isso vilarejos, nasceu ao redor de uma igreja. Mes-
seus dias em Ravison são ocupados, com muitos mo entre os pecadores do sul, onde o povo

b 125 b
b Belregard b
inocente não tem opção a não ser seguir os
ditames daquela que traiu o Pai, sabemos que
a
resite a fé. Aquelas almas atormentadas es- Anastásia de Lenora
peram apenas pela salvação do Tribunal que,
cer tamente, chegará logo. É notável o repúdio que os homens da igreja
tem para com Anastásia. A verdade é que a ba-
População ronesa é uma guerreira com todos os méritos.
Majoritariamente formada por belghos que Foi casada com Norik, filho de Norvik, o antigo

Hei de confessar que admiro se distanciaram um pouco de seus modos mais rei de Braden e deu ao seu filho o nome do pai

alguma das mudanças de antigos. Em Brandevir existe um apego religioso que faleceu num dos muitos ataques dos ho-

comportamento, haja vista que forte que se traduz em imagens, pinturas, vitrais mens de Birman. Ela conseguiu reunir um secto

antigos costumes não condi- e esculturas. A vida dos moradores de Brande- de barões desgostosos com os planos da igreja,

zem mais com o que vivemos vir é ditada pelos sinos das igrejas de cada ci- de torná-los todos submetidos a algum bispo,
nesta aurora. dade, de cada vilarejo. Tudo gira em torno do mas as opções são poucas. As forças de Anas-
religioso e assim rituais diários mostram esta tásia são ínfimas e talvez ela acabe aceitando
devoção com orações prévias para cada ação do alianças com Belghor e até mesmo Vlakir. O
dia, desde o carpinteiro ao soldado, todos pos- que mais motiva os aliados da baronesa é o fato
suem suas próprias preces para pedir por prote- de seu filho ter nascido contra todas as expec-
ção e sucesso no dia do trabalho, um costume tativas, num campo de batalha, onde ela mes-
que continua nas outras instâncias da vida, com ma portava uma lança contra cavaleiros sacros
pedidos antes de comer, de dormir e ao acor- do Tribunal. A criança motiva os homens como
dar. O povo de Birman é puro, é grato. Existem um verdadeiro messias, que mal completou um
também os brados do sul, fruto da mistura das ano de idade. Ao longo da descrição, será no-
muitas etnias que responderam ao chamado tável a depreciação de tudo que gira em torno
de Leoric no passado. da figura desta mulher, de suas forças ao lo-
cal onde fixa sua resistência. É preciso lembrar
Símbolo/Cor
que, a despeito do distanciamento pretendido
O símbolo de Birman, em enaltecimento do
pelo enviado Minus, ele ainda é um homem do
Criador, representava sua coroa dourada sobre
Tribunal que responde ao Eleito.
um campo branco, nem mesmo utilizando-se
da cruz do próprio Tribunal, dos caminhos do
homem em louvor. Com o Brandevir tomando
tre o rei e seu conselheiro, Lázarus, o reino fora
forma e recuperando a glória dos tempos dos
dividido entre Birman e Braden. Assim seguiu
puros, a muralha cinzenta foi acrescentada
por muito tempo. Birman tornou-se o seio seguro
ao campo, já que esta era a bandeira de Bra-
do criadorismo, mesmo durante a existência de
den. E assim Brandevir procura voltar a ser o
Virka e do império, enquanto Braden era a fron-
bastião verdadeiro da fé, aquele sonhado pelo
teira segura do mundo civilizado, onde erguia-se
forte Leoric no passado.
a Muralha do Leão, protegendo o mundo dos hor-
O Passado rores. Quando Belghor caiu e, posteriormente, o
O Brandevir existiu no passado, chamado de império de Virka, Braden tornou-se uma colcha
reino de Birmanen na época, quando foi criado de retalhos sem grande organização. Seus barões
por Leoric, a fim de combater as forças da Som- belicosos voltaram-se uns contra os outros. En-
bra, vindas de Belghor. Por desentendimentos en- quanto Birman se mantinha pura e firme.

b 126 b
b DAS CASTELANIAS b
O Presente
a O interesse de recuperar o Brandevir surgiu
Praeterita Dementia depois de peregrinações realizadas pelo próprio
Eleito na terra castigada de Braden. Em conver-
Brandevir é uma utopia. No seio dos mais nos-
sa com os barões do norte daquela castelania,
tálgicos reside o desejo de reunir Braden a Bir-
conquistando-os para a união. O presente do
man, a ponto de que os cordéis que são escri-
Brandevir já é glorioso, mas uma pequena man-
tos nesta castelania remetem de forma heroica
cha se esconde no sul, na forma de Anastasia
feitos considerados impossíveis. Muitos consi-
de Lenora. É uma mera questão de tempo até
deram isto loucura ou obras da bufonaria, mas
que as forças de Birman se recuperem das úl-
entretém jovens e desesperançosos. Não é inco-
timas conquistas e coloquem ordem no caos. É
mum que o fanatismo supere a nostalgia e fei-
possível que a muralha do leão seja novamente
tos imprudentes sejam feitos, como atentados
utilizada, já que Belghor parece novamente se
àqueles que desejam manter a separação entre
isolar e o orgulho que brota daquela terra é, de
os territórios. Vez por outra os mais fervorosos
certo, pecaminoso.
cultuadores do passado saem em procissões
noturnas com tochas acesas, portando túnicas Relações e Comércio
e capuzes roxos e entoando cânticos que nar- O Brandevir tem relações comerciais contur-
ram o passado virtuoso de Brandevir. Estranha- badas com seus vizinhos. A parte ainda resis-
mente este séquito não é aplacado pelas forças tente de Braden prefere realizar comércio com
da lei, ainda que haja destruições e até assassi- Belghor ou Parlouma, alé, de realizar saques
natos promovidos por estes sombrios membros contra as caravanas que partem para o sul. O
da seita chamada de Praeterita Dementia. comércio com Latza ocorre de forma muito
tímida com os comerciantes que tem coragem
de atravessar o charco norte e Vlakir mostra-
-se resistente quanto a aproximação, já que se
julga detentora da verdadeira fé, com seu rei de-
miurgo. Brandevir está cercado de inimigos, here-
ges. Traidores no sul, fanáticos no leste e loucos no
norte. Parlouma ainda se mantém neutra, realizan-
do um comércio tímido pelos barcos do Lago das
Lágrimas, mas a promessa de aliança com Vlakir
parece preceder alguma hostilidade vindoura.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando a antiga
Muralha do Leão em Braden.

b 127 b
b Belregard b
Assentamentos
O Brandevir é dividido em bispados e qua-
a
tro são os principais. O bispado de Lenora, ao Fauna e Flora Fantásticas
sul, ainda não está formado, já que depende da
Aquilo que se destaca na natureza
queda da traidora.
do Brandevir

Ravison
Suplicante: Estas árvores comuns no sul do
(Aprox. 10.000 habitantes)
território não possuem folhas. São apenas ga-
O centro poderoso da fé do Criador é resplan- lhos retorcidos em dois ramos que se erguem
decente. Uma cidade que cresceu muito durante alto, de modo que pareçam mãos de suplican-
o governo dos imperadores, talvez como um si- tes. Foi com o galho de uma destas árvores
nal dos céus de que a ruína se aproximava e, as-
que o Criador fez o seu cajado para caminhar.
sim, a fé precisava se fortalecer. É uma gloriosa
O Esteio do Criador é um objeto que denota
cidade de muralhas altas e brancas, encimadas
a importância de uma pessoa na sociedade, é
pelas torres dos sempre vigilantes e destacada
o sinal de sua unção com o Criador. O esteio é
pelos pináculos de igrejas, capelas e catedrais
o báculo do bispo, a vara do mendicante. Esta
prósperas. Suas ruas são largas e pavimenta-
árvore consegue viver com poucas quantidades
das. Não existem mendigos e miseráveis, pois
a glória dos homens em louvor ao Pai é plena de água, que ficam reservadas em suas raízes

em seus salões e os campos são fartos à som- durante longos períodos.

bra das muralhas. É onde se encontra o novo


Besta Lisa: As lendas sobre serpentes são
Virkarium, sede do criadorismo, erguido em
comuns no oeste de Belregard, mas conta-se
resposta a ruína eminente do império corrupto.
que o norte de Belghor também era tomado
Patrono Local: Vincenzo de Ravison, o Eleito.
por elas. Um dos homens que seguia Morovan
Odara encantou as serpentes e partiu com elas para
(Aprox. 11.000 habitantes) o norte, deixando o caminho livre. Hoje, este
Odara fica ao sul da antiga Birman e fazia fron- homem é louvado como são Ignázio. Esta len-
teira com a castelania irmã de Braden, foi um lo- da explica as imensas serpentes que vivem no
cal terrivelmente marcado pela guerra, quando
pântano Brago, na fronteira com Latza. São
os barões cavaleiros se rebelaram diante da jun-
cobras negras que se embrenham pelas raízes
ção. É um bispado fortificado onde se encontra
das árvores e alcançam até 15 metros de com-
o grande cemitério dos homens santos do pas-
primento. São constritoras em sua maioria, mas
sado. Lugar de oração, para onde viajam muitos
existem relatos sobre grupos menores, famílias
peregrinos que engrossam as fileiras dos valentes
derivadas, capazes de espirrar um veneno po-
Humildes. Hoje é um local de paz, que conta com
deroso que faz o sangue ferver. São cobiçadas
a força de muitos. Patrono Local: Bispo Hilário,
o Jovem. Um homem que alcançou alta posição pelo seu couro e pelo veneno, mas ainda não se

dentro do Tribunal, a despeito da pouca idade. conhece qualquer coisa produzida pelo mesmo.

Foi um soldado de Braden durante muitos anos e


viu a corrupção se espalhar entre os seguidores
de Anastásia, convertendo-se cedo ao abandonar
a espada para portar o báculo.
b 128 b
b DAS CASTELANIAS b
Tarsanis Cavaleiros Sacros
(Aprox. 10.000 habitantes, porém o (200 cavaleiros)
número pode ter dobrado dada a
chegada de refugiados) A principal força do Tribunal, os cavaleiros al-
vos tiveram suas fileiras engrossadas quando foi
Tarsanis é uma joia vermelha encravada no
prometido aos homens de Braden a aceitação na
terreno cruel de Braden. Suas muralhas de terra
e barro deixam clara a vida bruta mesmo tão ordem caso se rendessem pacificamente. Estes

distante da Muralha. Tornou-se bispado a pou- paladinos são ungidos na graça do Criador. Exis-
co tempo, como prova da entrega dos barões tem espalhados por Belregard, onde a igreja pre-
do norte para com a causa do Brandevir. Uma cisa demonstrar seu braço forte e, caso convoca-
cidade belicosa, que hoje é usada para sediar as dos de todos os recantos somariam mais de mil.
forças do Eleito que anseiam pela conquista do
sul. Patrono Local: O bispo Bérnico, o Calmo,
Cavaleiros Rubros
compartilha poder com o barão Ireus Tarsus,
(120 cavaleiros)
que fora antigo senhor de Tarsanis e lidera os A ordem original formado em Braden. Hoje,
soldados nos conflitos com o sul. boa parte destes soldados servem aos barões
que aceitaram a ocupação do Tribunal, mas o
Lenora
mesmo mantém olhos atentos sobre estes, já que
(Ínfimo)
sua antiga fidelidade aos Leões é preocupante.
A cidade fundada por Leoric guarda pouco
de sua glória pregressa. Não apenas pela cor- Os Humildes
rupção que se abriga por trás de suas muralhas (200 lanceiros)
de pedra, mas pelo castigo constante ao qual
Formado por qualquer homem e mulher que
foi acometida ao longo dos anos. É uma cidade
deseje servir ao criador. Formam a base da pro-
suja, de ruas estreitas que se espremem por ca-
teção de Tarsanis e o convite para ingressar nas
sas de barro, onde os dejetos correm livres a céu
fileiras dos humildes fez com que muitos ho-
aberto e os miseráveis povoam as ruas como as
mens livres, e mesmo servos, abandonassem as
Se são tão poucos, por que
pulgas nas costas de um cão vadio. A pouca ri-
terras do sul para jurar lealdade ao bispo. Existe
ainda não tomamos Lenora?
queza local fica no forte vermelho, virado para
a promessa de terras quando Lenora cair.
Ouvi dizer que um dito Marius
o sul, onde a corte de Anastásia se banqueteia os lidera. Um arqueiro! De fato,
sem limites com o pouco que aquele povo sofri-
Leões de Braden o desespero deve ser grande.
do produz. Lorde local: Anastásia, a Pecadora.
(Ínfimo) Conta-se que a Sombra lhe
O bispado de Lenora está prometido ao bispo arrancou um olho para que não
Jano, da abadia de São Paolo, que assumirá as- As forças contrárias ao Tribunal contam com
precisasse mais fechá-lo na hora
sim que a conquista for completa. alguns cavaleiros desertores, assim como lan- de fazer mira.
ceiros e até mesmo arqueiros, tamanho é o seu
Forças Militares desespero em fazer alguma frente com as forças
Organizados em ordens sacramentadas que corretas e abençoadas por Deus.
respondem diretamente ao Eleito. O único gru-
po de soldados ainda fiel aos pecadores são os
Leões de Braden.

b 129 b
b Belregard b
Construções e Formações
a
Rio Rubro Cavaleiros Mercantes em Brandevir

O rio Rubro é um dos principais para o conta-


Os cavaleiros mercantes do Brandevir são os
to entre Braden e Parlouma e carrega esse nome
homens corajosos e imbuídos com aquela mis-
devido aos grandes depósitos de barro em sua
são sonhada por são Genaro, o Imbatível. Ge-
margem sul, que deixam as águas com uma to-
naro foi um sacerdote do Tribunal que viveu no
nalidade avermelhada.
período da queda do Império. Ele viu as caste-

Rio Sacro lanias ruírem e entregarem-se ao caos. Enquan-


to todos procuraram a segurança de suseranos,
O rio sacro é um marco para a história de Bra-
Genaro convocou aqueles capazes e sem dese-
den pois foi onde Morovan, o primeiro profeta,
jar nada em troca prestou serviços a senhores
demonstrou mais um de seus milagres, freando
e vassalos, atravessando territórios em disputa
a corrente brutal deste rio caudaloso e cheio de
para levar o que os necessitados precisaram e
pedras traiçoeiras. Morovan não apenas cami-
quando era confrontado tentava apelar para o
nhou pelo rio, como fez todos os seus seguido-
amor ao Criador. Quando o amor era negado,
res passarem em segurança. É local onde ainda
fazia valer a força conquistada nos treinamen-
são feitos batizados e suas águas, apesar de con-
tos diários da abadia de Leoric e trazia o ar-
tinuarem perigosas, são consideradas sagradas.
rependimento aos que se colocavam em seu

Lago das Lágrimas caminho. Assim, os cavaleiros mercantes repre-


sentam uma ponte de contato entre o Brandevir
Diz-se que, quando percebeu a traição dos
e seus muitos inimigos, trazendo informações,
selvagens, o Criador chorrou e suas lágrimas
mas também levando.
formaram o grande lago que isolou as Crianças
Cinzentas do restante do mundo por muito tem-
po. O lago não carrega qualquer outro sinal de
tristeza, já que é fértil em peixes e suas águas Terras Acidentadas
calmas permitem o deslocamento por suas Toda a área central de Braden é de terras aci-
águas com facilidade. É o que mantém os rebel- dentadas. Morros, colinas, serras ao sul, uma
des de Lenora ainda em condições de lutar. área pedregosa, seca e perigosa.

Círculo do Pregador Muralha do Leão


Quando Leoric firmou a pedra fundamental Erguida por Leoric para fazer fronteira com
de seu reino, Lázarus pregou por dias neste cír-
Belghor, a antiga muralha de pedra ainda se
culo de pedras. O local foi usado novamente
ergue, mesmo que praticamente abandonada.
quando o imperador desejou fazer o seu cha-
É formada por pesados blocos de granito e en-
mado para retomar Belghor. É um lugar de po-
cimada por ameias largas, com corredores que
der, de pureza, certamente utilizado antes pelos
podem suportar uma fila de três homens com
selvagens, mas devidamente purificado destes
bom espaço. O portal, com o formato de uma
pecados bestiais.

b 130 b
b DAS CASTELANIAS b
grande cabeça de leão de bronze, pode voltar
a sentir o sangue inimigo. A guarnição local é
a
mínima, formada especialmente por Leões de Aquilo que passa pela muralha

Braden, que mantém uma aliança sutil com Orlit


Ninguém sabe ao certo, mas tropeiros repas-
de Belghor, especialmente para o comércio do
sam tonéis e caixas pela Muralha do Leão. Se-
metal que apoia os revoltosos.
riam armas? Belghor é conhecida como uma

O Virkarium, castelania ímpar na forja do metal negro, mas

Salão de Todos os Santos porque há tanta atividade comercial nesta re-


gião? Aliás, é mesmo uma atividade comercial?
Encravado em Ravison está o coração do
Nas tavernas são ouvidas histórias sobre o trá-
criadorismo. O Virkarium é novo, erguido fico de crianças e até sacrifícios obscuros. Se-
quando o Tribunal percebeu a corrupção la- riam apenas boatos?
tente de Virka. Pensou-se em mudar o nome
Aquilo que passa pela muralha
da sede da fé, mas os oradores julgaram que
é algo enraizado para os fiéis. O Virkarium O isolamento em Brandevir se explica de for-
fica em um complexo dentro da cidade, com ma geográfica no norte, com o pântano Brago
a catedral dos santos em seu centro, morada impedindo o avanço. No oeste, esta limitação
e tribunal do Eleito. Protegido pelos melhores se faz de forma política, com fronteiras brutas
cavaleiros sacros, a elite igslava que formou com Vlakir, especialmente, que disputa uma
as fileiras da ordem no começo de tudo. supremacia religiosa com o Tribunal e den-
tro do território, por mais que este relato dê
a entender que a maior parte de Braden já foi
conquistada, as Terras Acidentadas ainda são
nutridas com o sangue de muitos. A situação
do sul é de uma verdadeira guerra civil, com
barões jurando lealdades em um dia, para no
outro destilarem traições severas. Anastásia
não está tão mal quanto julga o texto escrito
por um enviado do Eleito. Ela conta com os
Leões, cavaleiros, lanceiros e arqueiros que
darão suas vidas pela baronesa.

b 131 b
b DAS CASTELANIAS b

Dalanor
“Orgulhosamente bela.”

Cuidado com o que fala sobre


esse homem. Investigadores
do Tribunal relatam que o rei
Capital Adoração
tem relações sexuais com
Galliard. Criadorismo. Não se pode chamar o povo de
animais e criaturas feéricas
Dalanor de pagão, o criadorismo é forte den-
que residem na floresta. Não é
Poder tro da castelania, como religião principal e fun-
possível confiar nem mesmo
Galdrich, o Belo, A Voz de Dálan, Punho de damental, contando com a presença de bispos
na Oradora de Dalanor, pois a
Isegrin, Tendão de Urshol, Inimigo do Raposo e conselheiros religiosos na corte de inúmeros
mesma já desfruta dos prazeres
e Senhor do Amanhecer, Aquele que Deita em de sua cama.
duques e condes. A despeito disso, Dalanor é
Relva Branda, O que Reina do Lago, Portador uma terra de forte misticismo, onde as lendas
do Alaúde de Ouro e Duque de Galliard. Tido da antiga corte do rei Dálan povoam o imaginá- Nunca coma um alimento vindo
como o homem mais bonito já visto nesta era, rio rotineiro de homens e mulheres. Este apego de terras dalanas ou vendida
seus olhos são penetrantes, azulados como o às tradições antigas é tolerado pela igreja, desde por um dalano sem orar e con-
céu da primavera, físico magro e elegante, com que não entre em conflito com seus ditames. sagrá-la ao Único. Seus ritos
cabelos caindo em cascatas cor de oliva so- pagãos ainda são presentes e
bre ombros perfeitos. Sua imagem é o reflexo População os grãos são banhados com
da beleza de Dalanor e o rei ama-se acima de Majoritariamente formada por dalanos, mas imundície pagã desde o plantar
qualquer outra coisa. Seu corpo é tão delicado com um significativo número de parlos e mesmo até o colher do fruto. Tudo
e belo que poderia ser confundido com uma vihs. A vida em Dalanor segue uma melodia que ritmado por canto blasfemo e
mulher se assim o desejasse. Sua prepotência é apenas os mais atentos podem escutar. É co- danças rituais envolvendo
devida, afinal, todos que o conhecem se rendem mum que se cante sobre os afazeres e todo tra- fogo e sexo.
aos seus encantos, ficando fascinados por sua balhador conhece alguma canção que põe ritmo
beleza, fineza e eloquência ao pronunciar cada em seu serviço. A música está entranhada na
palavra. Por sempre ter todos aos seus pés, o rei mente dos povos desta terra verdejante. Mesmo
não costuma lidar bem com a perda. Seus olhos os selvagens kilthens das terras altas possuem
demonstram desprezo e preconceito aos estran- uma tradição com suas vozes graves que ten-
geiros, ao mesmo tempo que demonstra extre- tam vencer a força do vento e com os varnos do
ma possessão por toda Dalanor e cada pessoa leste, que dedilham seus lamentos em violões.
que nela vive. Sua corte deve estar sempre pron- O dalano exemplar é um apaixonado pelo que
ta e disponível, seus servos sempre belos e ar- faz e este traço de excelência pode ser absorvi-
rumados, cada coisa perfeitamente arranjada. do por aqueles que vivem tempo o bastante na
O rei ainda não é casado. castelania. Como o trovadorismo, o amor cor-
tês e inúmeras outras expressões nasceram em

b 133 b
b Belregard b
Dalanor, é muito comum que o amor pela arte,
pela música, pela tradição de fábulas e lendas
a
Aqui podemos ver como o sejam absorvidas por outros povos que lá vivem. A Música do Corpo
misticismo e mágico rondam a
vida de um dalano desde seu Símbolo/Cor Um dos mais antigos braços da fé do Criador
nascimento, com essa pequena Em um estandarte dourado, um leão cor de das regiões dalanas afirma que o ser humano
canção de ninar fica mel demonstra toda a imponência do rei do mun- é uma harpa com dez cordas, cada uma delas
realmente claro.. do, afinal, o sangue do rei dos animais corre nas representando um nível do corpo. Se estiverem
veias desse povo. Duas plumas mescladas em desafinadas, não existe equilíbrio físico, mental
Rabo de Tiecelin cinza e preto representam a cor do corvo e do e espiritual, impossibilitando alcançar o estado
Traga mais sorte pra mim! lobo, homenagem de Tiecelin e Isegrin. A harpa sagrado. Para que haja harmonia, precisamos
Rabo de Tiecelin de dez cordas, item tão famoso e emblemático, ajustar a tensão em cada corda. A técnica de
Traga mais sorte pra mim! faz-se presente. A harpa superior demonstra tan- controle de humores através da sangria junto à
to o Único quando o rei Dalán. As três harpas música é uma das principais técnicas espirituais
Barriga de Renart inferiores representam as três faces do homem e médicas para cuidar de alguém em Dalanor.
Leva esse azar pra lá! - carne, alma e ego -, representam também os Se pudéssemos definir de um modo simples, a
Barriga de Renart Puros e os míticos conselheiros, Tiecelin, Isegin igreja faz vistas grossas para o misticismo de
Leva esse azar pra lá! e Renart. Dalanor com medo de perder um aliado impor-
tante, perdendo este povo definitivamente para
Cabeça de Isegrin O Passado os cultos selvagens.
Traga mais sorte pra mim! O povo de Dalanor sustenta uma mítica mui-
to poderosa. Segundo contam as lendas, este
Cabeça de Isegrin
reino foi o lar do mais valoroso dos homens,
Traga mais sorte pra mim!
o Rei Dálan. Dálan é pintado nas tapeçarias O Presente
à forma de um leão e encarna assim os valores Devido a ter contato com grande presença
da honra, coragem e liderança. Para alguns, isto imperial nos idos da Era da Conquista, a presen-
pode ser sinal de que a antiga Dalanor foi lar
ça da igreja também é muito forte nos dias de
de Selvagens, mas a maior parte dos dalanos
hoje, sendo que ela divide poder com o rei – por
caçoam destes boatos e alegam a mera inveja
vezes o superando em certas ocasiões. Galdri-
Onde está as informações dos difamadores. Na época do domínio im-
ch, o Belo, é rei de Dalanor e faz o possível para
sobre o antigo castelo de verão perial, Dalanor tornou-se um dos principais
manter o controle de seus súditos. Não é um mo-
do Imperador? Os grupo de focos da corte. Em seus momentos de descanso,
os imperadores ocupavam os mais belos salões narca cruel ou ditatorial, motivo pelo qual tem
cavaleiros retornou com as entrado em conflito com os representantes do
informações que pedi? Conse- e se entregavam aos mais variados festejos. Em
certas épocas, Dalanor tornava-se a capital do Tribunal do Supremo Ofício em seus domínios.
guiu fazer um mapa descente
império, já que assuntos importantes precisa- Diante do punho frouxo do monarca, a igreja
da região? Os boatos sobre sente-se no direito de agir e assim emprega o
vam ser tratados e uma viagem para Virka
fantasmas e seres das trevas estava fora de questão. Dessa forma, quando seu pequeno, mas bem treinado, contingente de
que habitam nele parecem ter voltou a ter sua independência, este reino foi cavaleiros sacros para cuidar dos assuntos que
algo de verdade? Sobre os uma das poucas castelanias a manter uma fogem ao seu controle. Dalanor foi um dos
tesouros dosVlakir, unidade forte e um rei no poder. poucos reinos a dar continuidade a uma uni-
alguma pista? dade coesa com o fim do Império. A maior
do rei e já se deita
Ouvi dizer que Amelí caiu nos encantos tolerado. representante do Tribunal é a Oradora Amelí,
com ele. Isso não deveria ser que procura ser boa aliada do rei.

b 134 b
b DAS CASTELANIAS b
ganância dessa terra é tão grande que os têm É digno de nota informar sobre
a assustado. No fim das contas, O Rei Galdrich as inúmeras variedades de vinho
Fauna e Flora Fantásticas está mais disposto a ficar no seu lugar, bebendo e queijo encontrados em Dala-
vinho e deixando seus inimigos lutarem. Muitos nor? Falo sobre a briga comer-
Aquilo que se destaca na natureza particular
estudiosos vêm até à castelania para aprender, cial entre Dalanor e Varning
de Dalanor
viver sob o modo de vida dalano. Este é o maior sob o domínio comercial? Não
Theodrora: ou Fruto dos Deuses, frutos escu-
tesouro que Dalanor pode oferecer no fim das sei se seria digno de nota
ros que nascem em arvores de 4 a 8 metros.
contas. Um povo que não se orgulha da guerra, citar tal fato em um livro de
mas do amor que pregam ao mundo. Não que tamanha importância.
Sua semente pode ser seca ao sol, ou em for-
eles estejam fazendo esforço de esconder, mas
no, para ser usada na fabricação de um doce
dificilmente você aprenderá tudo de um dalano.
marrom escuro, levemente amargo e extrema-
Existe um ditado nestas terras que definem bem
mente saboroso. Utilizado das mais variadas
isso “os livros guardam pouco conhecimentos
formas, desde endurecido em pequenas bar-
daquilo que é necessário aqui”. É preciso viver
ras até derretido em calda para acompanhar em Dalanor para aprender sobre esse povo.
pratos salgados.
Assentamentos
Quimera: Nas histórias antigas dizem que to- Dalanor age de modo um pouco diferente das
dos os animais cruzavam entre si, não bastan- outras castelanias, sendo dividida em quatro
do, existem lendas que falam sobre homens e grandes regiões, cada uma chamada de Corte.
animais se deitando em uma grande e profana Essas divisões falam sobre uma tradição mui-
orgia. Isso possivelmente é a origem de estra- to antiga, como quase tudo em Dalanor, onde
nhas criaturas chamadas vulgarmente de qui- o Leão, o Corvo, o Lobo e o Raposo discutiram
meras, uma mistura confusa entre dois ou mais por dias sobre como dividiriam o reino. Por esse

animais e em alguns casos, com uma similari-


motivo, precisarei apresentar esse domínio de
forma diferente dos outros.
dades profana com partes humanas.

Corte do Leão
A mais nobre das Cortes, morada do rei e da
Relações e Comércio maioria dos membros reais. Aqui se encontram
Mantendo um comércio interno com as moe- a capital Galliard e as chamadas Terras Nobres,
das do império, Dalanor tem interesse em au- a Floresta Altiva e a Fonte Tangite. É admirável e assustador ver
mentar suas relações com o norte, mas tem
como os dalanos mantem o
medo das movimentações que ocorrem entre Galliard
mesmo amor pela caçada que
Rastov e Viha. Eles preferem ficar longe de Var- (aprox. 15.000 habitantes)
seus antecedentes, centenas
ning, têm medo de amarras mais firmes do Tri-
A cidade só não se tornou uma cidade gigan- de anos atrás. Seria belo
bunal aqui, mantendo apenas o contato minima-
tesca porque possui um espaço limitado. Gal- se tivessem evoluído à luz
mente necessário. Mesmo tendo uma visão da
liard é uma fortaleza no grande lago Le’nore. da civilização, mas não, ainda
religião bem parecida com as demais, Dalanor
Uma aldeia se espalha pelas margens do lago, caçam como os primitivos
possui muitos costumes peculiares, principal-
mas o centro principal da corte dalana ocorre homens pisando descalços
mente envolvendo toda a mistica folclórica de
atrás de suas altas muralhas. Sempre existem e pedindo licença para cada
seu povo e não querem abandonar isso. Eles têm
pessoas saindo e pessoas chegando. Galliard árvore e animal que matam,
tentado contato por mar com Parlouma, mas a
possui uma corte tão pomposa, bela, luxuosa e como eles fossem mais do que
b 135 b coisas a nos servir.
b Belregard b
ensaiada que é um espetáculo por si só. As ruas moram aqui nunca trabalharam para se manter,
da cidade são limpas e suas casas são extrema- vivem para pensar, criar, divagar e produzir be-
mente bem cuidadas. Essa é uma ordem real, leza, vivendo daquilo que é coletado dos Grande
independente dos custos disso. Tudo de mais Campos. Nasccio é uma cidade apertada, ruas
belo e puro produzido no reinos é trazido para a estreitas pavimentadas com pedra que serpen-
Corte do Leão essa é uma ordem real. Patrono teiam de modo confuso. Nasccio cresceu de
Local: Galdrich, o Leão, A Voz de Dálan. uma vila de pensadores para uma cidade grande.
Patrono Local: Yeliana, A Vidente. Esta jo-
São tantas festividades Terras Nobres vem fora encontrada na região da Fonte Tangite
pagãs, tanto sincretismo, São o extremo nordeste, banhada pelo rio por um soldado e entregue para o Rei. Ele deci-
tanta mistura e blasfêmia que Melisarde, pelo delta do Lac Le’Nore e pelo rio diu trazê-la para sua corte depois de ouvir sua
seria impossível descrever mui- Loyal. Uma região bela, farta e selvagem. Aqui história. A jovem afirma ter sido raptada quando
to sobre elas sem manchar a está a região da Floresta Altiva, local onde está criança por criaturas da Floreta Altiva muitos
pureza de tal tomo. Mas lhe construída a Real Morada Outonal do Rei, e anos atrás e após conhecer a sociedade dos se-
prometo enviar uma epístola também é onde são celebradas muitas das fes- res de lá, ela foi arremessada de volta ao mundo.
especial sobre tais comemo- tividades folclóricas de Dalanor e de acordo as O Rei adorou a história e possui enorme estima
rações. Me preparei espiritual- lendas, é morada de dríades, faunos e espíritos pela jovem. Alguns dizem que ela está esperan-
mente para adentrar no fogo faéricos. A Fonte Tangite é um lugar entre pe- do um filho do mesmo.
e dança pagãos e relatar nada dras ancestrais e a fonte é extremamente bem
além do que vi e ouvi. Casa dos Oficios
cuidada e sempre vigiada. Daqui são retirados as
sangue sugas usadas no tratamento dos humo- Uma enorme casa, outrora uma fortificação
Eu já quis visitar o lugar res dos nobres de Dalanor, e para os mais pode- militar, onde os jovens são ensinados sobre
e relatar cada detalhe do rosos de Varning, Viha e Parlouma. Sua água é oficios e artesanatos uteis para a vida do povo
processo de coleta das sangue tão pura que existe um acordo com Birman onde dalano. Você precisa pagar para ser aceito, mas
sugas, mas fui impedido. Dalanor deve ceder barris desta água tirada na não muito, além de precisar comprar seu próprio
Guardas reais protegem o fonte para a realização de celebrações sacras, material e sua estadia aqui. Juntando tudo isso,
lugar dia e noite. Peço que sendo o batismo e a lavagem da escadaria as os pobres só podem contar com a generosidade
mova seus aliados para que principais dentre todas. de um padrinho, caso seu filho seja um prodígio.
me consigam uma carta branca Os jovens são testados e então enviados para
para relatar o que ocorre em Corte do Corvo mestres. A ligação de um pupilo com um mestre
tal lugar, o Tribunal Englobando a região centro-leste, seguindo é quase tão forte quando a relação de pai e filho,
precisa saber. uma relação para a vida toda. Seu mestre lhe
pela margem do rio Loyal. Aqui se encontram
a cidade de Nasccio, lar da Casa dos Ofícios, e ensinará tudo que sabe sobre sua especialidade,
a cidade de Tangrare, lar Orquestra Sinfônica e que vai desde a olaria, forja, pinturas de vitrais,
Bravas Escolas Musicais do Nosso Senhor, todos curtição de couro e afins. Dentro da sua especia-
sendo cercados pelos Grandes Campos. lidade um jovem aprenderá sobre a praticidade,
usando-a para facilitar sua vida corriqueira, mas
Nasccio aprenderá também sobre a arte e espiritualidade
(aprox. 8.000 habitantes) existente em cada uma das suas criações.
Esta cidade sempre foi casa de grandes pen-
sadores, um lugar intocado pela guerra e o Rei
pretende que permaneça assim. Muitos que

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b DAS CASTELANIAS b
Tangrare Corte do Lobo
(aprox. 5.000 habitantes)
Fazendo a vigia da fronteira marítima, esta
Cidade irmã de Nasccio que vive sob as cordas região engloba parte do sudoeste e extremo sul,
da arpa. O Rei Dalán mandou construir Tangrare por toda a costa. A principal cidade é Suvraire,
após ter um banquete arruinado por uma trupe lar dos bancos e principalmente dos Villeres, os
de músicos péssimos. Tangrare foi construída cobradores de imposto, e Couppaccio, sede das
para parecer com uma harpa de dez cordas e forças militares de Dalanor.
por isso é muito fácil caminhar por ela. Tangrare
respira e vive música, essa é sua única função. Suvraire
Moradores da cidade incluem familiares de alu- (aprox. 6.000 habitantes)
nos que foram aceitos nas Orquestra Sinfônica e Tudo que é produzido por Dalanor passa por
Bravas Escolas, músicos, poetas e todo tipo de Suvraire, seja em corpo presente ou em modo de
artistas que vivem de embalar a vida dos dala- dinheiro. Toda a riqueza do reino passa por aqui
nos. O comércio de Tangrare deve-se quase que de algum modo. Além de escoar a produção do
totalmente à arte. Monarca Local: Oberon, O reino para Viha, Varning e Parlouma pelo rio e
Prateado. O mais velho homem de Tangrare pos- oceano, a cidade é importante por ser a sede dos
sui o melhor ouvido de todo o reino, tanto para Villeres, os homens do rei, cobradores de impostos.
a música como para tramoias da corte. Todos os Patrono Local: Erico Três-Pontas, Mestre das
nobres vêm para Tangrare e seus ouvidos garan- Moedas. Este jovem homem ambicioso e sagaz
tem que nada passe despercebido, somente para enriqueceu após criar um sistema de contas
depois ser repassado para o Rei. Além de tudo com base em segredos numéricos raptados de
isso, ele é o maestro da Orquestra. um viajante de Parlouma. Ele foi agraciado pelo
Rei após criar um sistema de recompensas para
Orquestra Sinfônica e
cada fraude encontrada por um Villere, assim
Bravas Escolas Musicais
garantindo total afinco de seus homens. Como
A maior e mais bela orquestra de Belregard, o não poderia ser diferente, Erico é o Mestre das
local possui uma das arquiteturas mais incríveis Moedas e chefe dos Villeres de todo o reino.
Assim como na Fonte
de todo o mundo conhecido, com colunas de
Tangite, tentei ter acesso
mármore Belgho trazidas por mar no ápice do Couppaccio a alguma catacumbas e fui
império e veludo vermelho da melhor qualidade. (aprox. 10.000 habitantes) desencorajado, quase impedido.
O lugar é um enorme complexo, envolvendo sa-
Temi por minha vida e resolvi
Aqui está o coração militar de Dalanor. Lar
las de estudo e locais para apresentação. Exis-
retroceder, mas não antes de
de bravos cavaleiros das 3 forçar militares que
tem pessoas de todo o canto do mundo aqui.
conseguir mercenários dispos-
mantem o reino sob os trilhos desejados pelo
Apenas os melhores um dia sairão das escolas
tos a investigar um mausoléu
rei. A menor das grandes cidades de Dalanor
e irão para o grupo de músicos oficiais. Esse
e me trazerem informações.
foi erguida sobre as construções selvagens des-
processo é longo, pois cada músico tem que
Eles ainda não retornaram,
truídas na Era das Revelações. Os subsolos de
provar sua capacidade por no mínimo três anos,
será que foram aprisionados
Couppaccio possuem centenas de catacumbas,
somente então será avaliado por uma bancada
pela guarda ou encontraram
caminhos e labirintos desta antiga fortaleza
extremamente exigente. O Rei costuma descer
um fim pior?
selvagem, o que veio a calhar. Couppaccio vive
até Tangrare para ver apresentações e dar ins- basicamente do comércio movimentado pelas
piração aos jovens ao presenciarem sua beleza. forças militares, desde couro para arreios, ma-
deira, aço e outros. As catacumbas, masmorras e

b 137 b
b Belregard b
Doenças desconhecidas, chagas locais subterrâneos são usados pelas forças mi-
litares para esconder coisas que o rei não quer
a
que corroem a carne, quebram
os ossos e liquefazem seus ver andando por seu reino, coisa que ele julga A Nefastária

olhos. Este lugar deveria ser indignas. Patrolo Local: Lüdvig, O Lobo. Sen-
Apesar de certas amenidades que podem ser
expurgado da terra. Ainda sinto do o homem mais jovem a receber o título de
sentidas pelos visitantes da castelania, Dalanor
seu cheiro e só de lembrar, Lobo, Lüdvig possui rivalidade ferrenha com
guarda em sua história recorrentes surtos de
minha pele coça. Erico Três Pontas pela atenção do rei. Lüdvig
uma moléstia cruel e letal: a nefastária. Adqui-
está disposto a fazer o que o rei quiser, tudo
rida nos pântanos de Spergestus, esta doença
que ele desejar será realizado com a mais veloz
inicialmente desenvolve fortes dores no corpo
presteza. Seu coração acelera ao ver vossa ma- e febres àqueles que são contaminados. Não é
jestade destilando sua beleza divina. incomum a cremação de corpos vivos e de toda
uma casa na qual havia um doente, tamanho o
Corte da Raposa temor desta doença se alastrar. Todos sabem
Situado na região centro-oeste do reino às que se trata dos ares pútridos do pântano, daí
margens do Ventre Selvagem. Apenas um aglo- o nome nefastária; esta doença que faz com
merado de vilas e cidadelas que recebem o nome que as gerações vindouras de contaminados

de Spergestus, sendo que sua população ultra- nasçam como tolos. Não é incomum descobrir

passa mil pessoas. Aqui foram arremessados os que alguém da família foi contaminado, basta
ver as crianças falando sandices, que muitos
mais pobres e bandidos. A cidade é quase uma
consideram verdades do passado ou premo-
prisão. O que sobra da colheita é enviada para
nições. Há alguns que também profetizam ou
cá, assim como o resto de tudo o que for produ-
revelam segredos durante os delírios febris.
zido. Para se manter um reino tão belo, a feiura
Boatos afirmam que o governo da castelania
deveria ser afastada à força. As forças militares
executa os contaminados para que nada secre-
irão arrastar pessoas para esse lugar, fazendo to saia das bocas dos doentes. Mas há quem
uma limpeza elitista ao gosto do seu rei. Os mais diga que a corte de Dalanor usa alguns doentes
loucos e irremediáveis, seja de doença na mente ainda vivos e presos em masmorras para reve-
ou na carne, algo que ofende a visão, são arre- lar desígnios nefastos sobre Belregard, fazen-
messados na Ilha dos Invisíveis. A única figura do-os viver uma vida em febre e alucinações até
de poder de toda essa região fica por conta do morrerem vomitando suas próprias entranhas.
condado de Lefevre, que pode ser considerado Mas estes são apenas contos nefastos para uma
o centro de Spergestus, atualmente sob domínio castelania tão alegre e cortês.

de Alain, um ditador louco.

Forças Militares
Seus soldados vagam por toda Dalanor em co-
Situadas em Couppaccio e guiadas por Lüd-
mitivas prontas para o combate a qualquer mo-
vig, O Lobo, as forças de Dalanor se divi-
mento. Eles criaram um sistema de mensagens
dem em três facções que possuem funções
que permite se alertar perigos grande velocida-
bem distintas.
de, usando desde flechas sinalizadoras à falcões
Crinare mensageiros treinados.
(240 lanceiros e 100 cavaleiros)
Eles são os soldados responsáveis pela frontei-
ra costeira e a fronteira com outras castelanias.

b 138 b
b DAS CASTELANIAS b
Arret Grandes Campos
(150 lanceiros e 50 cavaleiros) Histórias dizem que a fauna e flora de Dalanor
Estes homens de armas agem na camada mé- possui vida mistica, algo que reverbera na Fím-
dia, sua tarefa é cuidar dos problemas internos, bria de modo especial. Por isso mantem muitos
entre cidades, se focando principalmente nas dos ritos, festividades e celebrações envolvendo
estradas do reino. Existe uma briga intensa en- o preparo, plantio, aguardo e seara. Os Grandes
tre os soldados do Arret e os Villares, pois existe Campos são uma enorme região responsável
um abismo de poderio financeiro entre ambos, pelo grosso da produção de alimentos da cas-
e os últimos gostam de esfregar isso na cara telania, focada em sua área central. Os anais
destes homens de armas. da história contam que antes do atual rei, o
Tribunal proibiu partes destes ritos, o resultado
Griffu foi fome e calamidade. Quando o rei Galdrich
(300 lanceiros e 30 cavaleiros) assumiu, ele mandou executar uma grande ce-
Se o Crinare age nas fronteira do reino e o Ar- lebração e convidou seres da floresta. Aqueles
ret age nas frontas das cidades, o Griffu traba- que se lembram, falam de modo confuso sobre Abominação!
lha nas ruas das cidades, resolvendo problemas bebidas, comilança, ervas alucinógenas e visita
interinos causados pelos cidadãos. De uma bri- de diversas criaturas que dançaram e copula-
ga de taverna a um acordo não resolvido entre ram com os humanos. Desde lá, os seleiros de
comerciantes, tudo será resolvido pela Griffu, Dalanor nunca estiveram tão cheios de grãos.
eles são uma organização feita para lidar com o
cidadão diretamente. Mais do que o rei gostaria
Rio Melisarde
de admitir, membros do Griffu estão propícios à O rio se alimenta do que desce pelo lago Na-
corrupção e suborno, o que os coloca em rivali- rash de Rastov e sua fartura em peixes é len-
dade com soldados do Arret. dária. Esta fartura é justificada pelos milagres
de um mulher dalana, Melisarde, que fez o rio
Marcos Geográficos correr novamente muitos séculos atrás, quando
Ilha dos Invisíveis os igslavos o bloquearam para enfraquecer Da-
lanor antes de um ataque.
As construções desta ilha foram original-
mente criadas para monges que precisavam Lac Le’Nore
de isolamento para ter contato com o divino. Há quem diga que amarram os
Este lugar caiu em desuso há seculos após ser
O lago que cerca a ilha onde está encravada
desertores da corte em pedras
inundada várias vezes. Hoje, o local serve como
Galliard. Suas águas de um azul intenso dão a
e lançam no lago. Seriam os
entender que o lago é muito mais profundo do
uma prisão para pessoas horrendas, mutiladas amáveis dalanos tão cruéis
que parece ser. Outros, mais espiritualizados,
de modo grotesco, aberrações nascidas com com opositores?
alegam que o lago pertence a noite e por isso se
deformidades, além de loucos e lunáticos. De-
inunda de um azul profundo durante o dia, para
vido uma ordem direta do rei, as forças milita-
lembrar aos homens que a noite é dos poetas
res, principalmente o Griffu, têm liberdade total
e dos trovadores. O próprio rei Dálan apreciava
para arremessar alguém aqui. Eles são jogados
ouvir suas melodias no lago, ao anoitecer.
lá para morrer, mas como os malditos tendem a
se ajudar, os moradores de Spergestus levam em
canoas o resto do resto que possuem para que
estes esquecidos possam sobreviver.
b 139 b
b Belregard b

Este local é muito antigo. Acredito que exista desde a Era da Verg
onha e sendo
assim deve ter sido habitado por selvagens, o que explicaria a corrupçã
o tão laten-
te no sangue dalano. Precisamos manter vigilância sobre este domíni
o.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando Lac Le’Nore
ao redor do castelo Galliard.

b 140 b
b DAS CASTELANIAS b
Rio Loyal colocados naquela posição é de tirar o sono
dos mais criativos. Não existem grandes mon-
O rio Loyal apresenta uma coloração verme-
tanhas em Dalanor, e nenhuma rocha parecida
lha intensa em suas águas barrentas. Enquanto
com as da formação. Acredita-se que aquele
alguns alegam que é o próprio barro dos bancos
seja um Ventre Selvagem, um local de ado-
ao sul do Lac Le’Nore, outros alegam que suas
ração dos povos primitivos, para o louvor de
águas rubras servem como alerta do que foi fei-
Patriarcas e Matriarcas.
to ao povo dalano com a chegada dos belghos e
sua verdade sobre o mundo. O quanto do san-
Floresta Altiva
gue inocente foi derramado quando estes não
foram diferenciados dos selvagens. O nome serve para mostrar toda a área de
floresta de Dalanor, que engloba praticamente
toda a castelania. Para os dalanos existem nuan-
ces, certas áreas onde a vegetação se mostra
Alguns chama este rio de Deloyal, diferenciada, onde eles apelidam com nomes

algo que denota a desonestidade das próprios, mas para o visitante é difícil discer-

atividades que ocorrem em alguns pontos nir tais elementos. As florestas de Dalanor são
assombradas por beleza e espanto. Não só por
em sua margem. Bandidos e assassinos suas imensas árvores, mas pelas lendas e fá-
negociam vidas e ouro com o mesmo bulas de estranhas luzes dançantes ao anoi-
descaso por aqui. Dizem que o rio fica tecer e das cortes de fadas que ocorrem em
vermelho na lua nova, refletindo o sangue clareiras abençoadas.
de todos que já morreram por desleal-
dade que cerca o local. a
O Isolamento em Dalanor

Terras Altas Num primeiro momento é fácil imaginar que


Dalanor é o melhor lugar para se viver. Talvez
No noroeste de Dalanor, junto a fronteira
seja, se você for belo, perfeito, aos olhos do
com Viha, existem as terras altas escarpadas.
rei. Além dos perigos comuns a qualquer lu-
Um terreno livre de grandes florestas, mas pon-
gar, como bandidos de estrada, caminhos ruins
tilhado por bosques e lar dos kilthen. Os clãs
por dentro das florestas, e as bestas quiméri-
dalanos ocupam esta área, dividindo-a entre si e
cas que nada mais são que um reflexo de tudo
suas reuniões, em terrenos neutros das terras al-
aquilo que o monarca abomina, Dalanor vive
tas, são marcadas por libações que duram dias, sobre uma tênue linha de perturbação. O glo-
festividades que geram prazer, sangue, o fim e rioso reino de Galdrich deve ser sempre belo
o início de contendas. e bandos de viajantes maltrapilhos certamen-
te não se encaixam nesse contexto. Em um
Ventre Selvagem mundo onde é raro chegar a maioridade com
Junto da corte da Raposa existe uma anti- todos os dentes na boca, é muito simples atrair
ga formação de pedras circulares que intriga atenção indesejada das muitas patrulhas do

viajantes. Muitos já tentaram explicá-la, mas rei. O que faz o perigo de Dalanor é a loucura
disfarçada de pureza de seu rei.
a mera ideia de blocos tão grandes de pe-
dra sendo transportados para aquela região e

b 141 b
b DAS CASTELANIAS b

Latza
“A alegria é, muitas vezes,
mãe de inúmeras loucuras.”

Capital População
Lazari. Majoritariamente formada por belghos, mas
com algum número de parlos. Latza tem uma
Poder relação íntima, desde os dias de sua fundação,
Vittus II, Dementia Rex. Um louco feroz e com dois elementos comuns na vida de todo ho-
lunático, essa é a descrição para Vittus. Doze mem, mas que normalmente são negados por
duques passaram por Lazta, e a dinastia La- motivos corriqueiros, como o medo e a doutri-
zari foi toda enterrada no Mausoléu das Eras. na. Estes elementos são a Morte e a Loucura.
Ele mandou desenterrar seus antigos ancestrais, Originalmente, os Lazari lideraram um culto
parentes e amigos mais próximos, “mumificar” a morte dentro de Latza. E por mais que este
e colocá-los em sua corte, para que nunca se estivesse escondido, recentemente Vittus fez
sinta sozinho, sempre acompanhado da Amici- aflorar a loucura de sua linhagem e esta parece
tia Mortuus. Ele busca seus aconselhamentos, contaminar todos ao seu redor, se espalhando
festeja ao lado deles. Ele tem proferido verda- pela castelania como uma onda. A loucura não
deiras sandices, como dizer que o eleito bebe é tão bem expressada individualmente como
sangue de Angellus, ou ainda ele diz que existe traços característicos pessoais, mas serve como
uma capela invertida que leva à Alcova Profana lembrete para aqueles que precisam se relacio- Como é crença na região, o
ou mesmo que existe um Puro que se tornou nar com habitantes de Latza. Já a relação com choro e o a dor ajudam na
corrompido e é imortal. Essas, dentre outras a morte vem de maneira mais palpável. Fruto passagem do morto. Assim,
loucuras tomam formas ainda maiores quando dos latos, um povo recluso que compartilhou as famílias que podem
a lua cheia toma os céus. de seus saberes com os Lazari. Em Latza não pagar, contratam bardos
se tem o mesmo repúdio e medo da não vida. para emocionar as pessoas
fonte é O que existe lá é um respeito quase exacerba- fazendo-as chorar e sofrer
Tem certeza sobre isso que afirma? A sandice do para com os mortos que se traduz em cultos por tal perda. Além disso,
realmente confiável? Isso me parece co. fervorosos a relíquias sacras de partes dos cor- mulheres devotas à santa
exagerada até mesmo para um rei lou pos de homens santos e a velação de corpos por igreja vizinham famílias
vários dias, enquanto estes decompõem diante em luta para chorar pelo
dos olhos de todos. falecido, empurrando-o para
o mundo dos mortos.

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b Belregard b
Adoração crescer, apesar deste nunca ter se tornado uma
Adoração independente. O Tribunal não tem castelania independente, pela obediência aos
grande força na castelania, mas todo homem Vlakin, os duques Lazari conseguiram uma boa
ainda é temente a Deus e assim faz seus pró- reputação como gestores e no advento do im-
prios ritos e honrarias. Sacerdotes ainda são pério, suas terras foram conquistadas. Este ato
encontrados, mas não se colocam tanto como foi considerado uma traição. Ciente da riqueza
líderes comunitários. O próprio rei Vittus insti- dos Lazari, os imperiais buscaram as tumbas de
seus antepassados, o que criou o costume no

IA
tuiu os dias de cultos fálicos, exaltando o poder
dominatório do pênis, normalmente em orgias ducado de se enterrar os mortos cada vez mais

ÊM
de proporções assustadoras. Tais orgias são nor-
F
malmente realizadas entre nobres e o clero, mas
fundo. Desse modo, criou-se uma verdadeira
cidade subterrânea sob a estrutura original da

AS
camponeses bem dispostos também são bem mansão Lazari. Além desta exploração, Lazari

BL
vindos ao culto. Eles depositam muito poder ao
destino e acreditam que a morte é apenas uma
foi utilizada como campo logístico para o impé-
rio, abrigando soldados e mesmo prisioneiros. O
parte do ciclo, por isso não carregam profundo Cárcere dos Condenados foi construído na ve-
Por falar em morte, pesar pela mesma. A fixação pela morte se faz lha mansão, que ainda hoje é sede do governo.
existem muitas histórias presente em algumas igrejas que utilizam como 'Lazari conseguiu sua independência, tornan-
de trapaceiros e mentiro- ornamento e adorno os ossos de seus ilustres do-se Latza, quando
Vittus recusou o
so usando o processo de caídos lá sepultados.
apoio do Tribunal,
semi morte causado pelos enviando de volta
frutos dos Arbusteiros Símbolo/Cor
Circundado por plumas de cor mostarda qui- aos oradores apenas
Mori, descritos abaixo, para mera está erguida, com as garras afiadas, mas a cabeça de seu arauto.
se safarem de dívidas e sob controle enjaulada por grades de cor cin-
acusações, se escondendo zenta. Interessante perceber o uso da quimera Gravura estilo bertina
entre os mortos. Acha como simbolo do reino, certamente uma opção de Motazzi represen-
tando Vittus II, rei de
digno adicionar tais rumores que apenas confirma a loucura latente dos mo- Latza recebendo um
requerinte em seus
ao tomo meu senhor? narcas desta terra jovem, além de comprovar a salões.
necessidade de urgência em dar fim a esta lou-
cura toda. Além da lenda da quimera de Bari-
cus, um ídolo de ouro criado para ser louvado,
a própria imagem da coisa é um reflexo distor-
cido de tudo que existe nestte reino maculado.
A quimera é o amálgama, a mistura do que não
deve ser feito, assim como a vida e a morte se
encontram em Latza.

O Passado
Antes da ocupação imperial,
Lazta foi o orgulhoso ducado
de Lazari, uma força in-
dependente dada como
presente a um grande
aliado de Giocomo
Vlakin, não demorou
para que o bom ge-
renciamento das ter-
ras fizesse o ducado

b 144 b
b DAS CASTELANIAS b
O Presente
a Latza é maior do que fora o ducado de
Existe até mesmo um
A Música do Corpo Lazari e vive momentos tensos, já que seu louco
feriado para tal ato, cha-
governante não parece disposto a aliar-se a Vla-
mado de Dementia Oculli,
Aquilo que se destaca na natureza
kir ou Birman, os lados da balança de poder no
onde o rei caminha entre os
particular de Latza
leste de Belregard. Apesar disso, o povo parece
mendigos e maltrapilhos e
Arbusteiros de Mori: Estes pequenos arbus- amar seu governante. Vittus, um descendente
se um deles lhe agradar,
tos crescem em certos locais de Latza e podem da dinastia Lazari, presa pela paz e o sossego,
receberá a honra de se
facilmente ser confundidos com qualquer outra apenas interrompendo-o quando é atingido por
tornar um homem livre e
coisa, já que seus frutos, pequenos e escuros, um de seus surtos de paranoia, quando julga cri-
talvez até um nobre. De
brotam próximo da terra, nos galhos centrais minosos para lutarem em seu amado coliseu de
forma controversa, ela
da planta. O fruto é extremamente venenoso Baricos, ou quando fala da quimera de ouro que
também usa o dia para
e pode matar quem come um ou dois deles. lhe aconselha. Mesmo com seus surtos e atos no
arremessar nobres
Os antigos latzos usam essas frutas para atin- mínimos excêntricos, Vittus não é só apreciado
imprestáveis na pobreza.
gir uma experiência de quase morte. Um chá pelo seu povo, como amado pelos mais humil-
é feito com as frutas, diluído com água, sob a des. O regente já colocou mendigos como con-
supervisão de um sacerdote experiente, que de- selheiros e obrigou nobres a viverem nas ruas.
verá tomar após. O sacerdote deve ser forte, já Muitos dos nobres de Latza compartilham das
que sentirá dores terríveis por um dia inteiro, loucuras de seu senhor.
onde será acometido por delírios, podendo vir
ao óbito. A urina do sacerdote, ainda carrega-
Relações e Comércio
Como mostrado acima, as relações de Latza
da com o poder das frutas, é oferecida aqueles
com seus vizinhos é tensa, para dizer o mínimo.
que desejam experimentar o caminhar para a
O comércio acontece com cidades mais próxi-
porta da morte.
mas nas fronteiras entre Vlakir e Birman, mas a
Ímpio Porcino: Estas bestas vagam pelos maior parte da produção local é destinada a ma-
campos de Latza e não costumam ser caçadas nutenção da castelania e pela infâmia que pos-
de forma leviana. Os homens espertos evitam suem os moradores de Latza, a maior parte dos
as varas porcinas sempre que podem. Chegan- mercadores prefere evitar tal contato ou limitá-
do a altura de um homem, com um couro cin- -lo ao máximo. Entre suas principais produções,
zento e enrugado, exibindo uma crina de pelos podemos citar a beterraba, batata e cevada; a
duros na cabeça e nas costas, com suas patas pecuária é desenvolvida através de rebanhos bo-
finas, em comparação com seu corpo largo, vinos, suínos e caprinos.
mas ágeis e de cascos fendidos, uma face bi-
cuda que termina em presas ferozes, são tam-
Assentamentos
Diferente das demais castelanias, Latza não
bém chamados de porcos do inferno. Sua carne
tem ducados, apenas cidades governadas por
é muito apreciada, assim como as presas para
patronos submetidos aos anseios de Vittus, que
ornamentação. Sabe-se que alguns bandos de
controla Lazari, a capital. Ilkar é controlada por
degenerados enlouquecidos de Latza os tentou
um bufão, Bajnok. Petugia é controlada por um
domesticar… Sem sucesso.
homem com real sagacidade.

b 145 b
b Belregard b
Lazari e Antal Petugia
(aprox. 20.000 habitantes) (aprox. 8.000 habitantes)
A antiga cidade de Aneska se tornou aperta- Encostado nas montanhas a oeste de Latza
da, confusa e caótica. Pela necessidade de mais encontra-se o grande domínio de Petugia. De-
espaço e, principalmente, pelo modo de dividir pois de Lazari, esta é a comunidade mais antiga
os ricos dos miseráreis, Aneska fora dividida do reino. Aqui é treinada a Legião das Crianças.
em duas. Lazari é onde encontra-se boa parte Nos arredores da cidade existe o registro de for-
Como podemos buscar a da história de Latza, sede do castelo real e dos te atividade herética do passado, desde totens a
luz do Criador baseado nas fortes militares. Encontra-se o núcleo da cidade, antigos templos. O Tribunal mandou Latza der-
bases da nossa civilização e a morada do Rei. Antal circunda toda Lazari rubar cada um deles, mas a linhagem dos Lazari
se alguns reis insistem em como uma região periférica espremida por mu- parece ignorar tais ordenanças. Aqui moram a
arremessar seus domínios ros e construções disformes, um local perigoso maioria dos fazendeiros e comerciantes do rei-
em lamaçais de horror e e sem leis, literalmente. A guarda praticamente no, sendo que as famílias vivem bem distantes
caos? Antal é lar de de- abandonou Antal, sendo que seu controle é fei- umas das outras, uma lenda local diz que “viver
zenas de grupos criminosos, to pela intimidação pessoal de cada um. A des- em comunidade lhe deixa insano”, e parece ha-
incluindo sequestradores, peito disso, Vittus é respeitado em Antal e seus ver alguma verdade já que Petugia parece estar
falsificadores de moeda, passeios pelas praças imundas sempre juntam livre dos caprichos lunáticos do Rei Vittus, por
assassinos e toda sorte multidões ansiosas pelos favores arbitrários do enquanto. Patrono Local: Asztrik, O Cinzento.
de malditos. Um lugar a rei. Nobres só saem de Lazari quando vão até o O homem recebeu esse nome por ter sobrevivi-
ser ignorado. Coliseu ou quando precisam viajar para fora da ci- do às fogueiras dos pagãos que habitam as mon-
dade. Patrono Local: Lazari é controlada pelo Rei tanhas de Latza. As cinzas nunca saíram com-
Vittus, Antal não possui poder controlador central. pletamente da sua pele e cabelos. Dizem que a
experiência de quase morte o deixou mais sábio
Ilkar do que nunca.
(aprox. 12.000 habitantes)
O local poderia ser um grande centro politico,
religioso e militar, entretanto a turba confusa O povo daqui parece ter se esquecido do quão sério
impede o avanço. As leis alteradas sem prévio é o paganismo. Falam de tal blasfêmia com natu-
aviso e as sandices do Rei Vittus deixam Ilkar ralidade ímpar, algo que me incomoda. Não bastando,
sem saber com se controlar. Mesmo os nobres riem enquanto assustam suas crianças com cantigas
são obrigados a se adaptar rapidamente. Uma aterroradoras. Veja apenas um pequeno trecho..
longa lista de Patronos já estiveram na lideran-
ça de Ilkar, mas simplesmente abandonaram “Grande, Parrudo, Peludo e Destemido.
ou foram presos, por discordar da palavra real. Arrasta esse menino pra floresta
Dois anos atrás, um bobo da corte encontrou-se Ele não come, não respeita e está sempre fedido
com o rei e compartilharam de suas loucuras. Bate com o machado bem no meio da sua testa”
Rei Vittus retirou o antigo patrono e colocou o
bobo em seu lugar. Por mais incrível que possa
soar, a loucura do bufão parece entender a men-
te insana do rei e pela primeira vez em décadas,
Ilkar anda sobre trilhos. Patrono Local: Bajnok,
Filho da Lua.

b 146 b
b DAS CASTELANIAS b
Forças Militares
É expressamente proibido criar exércitos pes-
a
soais em Latza, logo, aqueles que o fazem ten- Cavaleiros Mercantes em Latza
tarão esconder suas ações.
Não existe qualquer estrutura formal para os
Legere Rex cavaleiros mercantes de Latza. De modo que
(200 Espadachins) são investimentos independentes e, muitas
vezes, extremamente perigosos. Ocorre de al-
Os melhores soldados de Latza são aqueles
gumas pessoas livres se juntarem para montar
treinados no Coliseu. Para adentrar as fileiras
uma caravana composta de apenas uma car-
destes soldados de elite, os candidatos visitam o
roça que pode vender de tudo. De panelas su-
subterrâneo da estrutura na companhia de Vit-
cateadas até orelha de diabos encontrados nas
tus e quando retornam à superfície estão muda-
estradas. Seria fácil confundir um grupo de ca-
dos para sempre. Alguns atribuem esta bizarra
valeiros mercantes de Latza com uma cumpa-
iniciação a mantícora de ouro de Baricos.
nhia strigori, mas este não é o caso. Costumam
Legião dos Loucos (Variável) ser bem pobres, já que a posição não significa
nada dentro da castelania. Realizam um comér-
Homens lunáticos, insanos, instáveis e loucos
cio tímido com Vlakir, já que o mais comum
são comuns na maioria das cidades de Belregard.
de acontecer é que sejam expulsos dos lugares
Normalmente são párias da sociedade, pensan-
onde tentam parar. Existem comerciantes em
do nisso, o rei Vittus recebe todos os loucos
Latza, especialmente no sul, e estes homens
enviados para Latza. Esses loucos recebem um
podem empregar alguns cavaleiros mercantes
tratamento especial e secreto na casa de repou-
mais tradicionais, equipando-os com pouco pe-
so que faz com que os pacientes percam parte
rante o juramento de fidelidade.
da sua reatividade emocional. Depois disso, eles
são usados como verdadeiras bestas carniceiras
pelos soldados da Legere Rex.

Santissimo seja o Senhor. Blasfémia, podridão, ritos Construções e Formações


profanos. Tudo isso misturado com uma medicina estranha De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:

e malévola. Cavaleiros deveriam visitar tais terras e Coliseu de Baricos


desmantelar isso tudo.
Antigo coliseu onde ocorriam os jogos do impé-
rio. Foi Vittus quem renomeou o Coliseu, ale-
Legião das Múmias (Variável)
gando ter encontrado uma velha estátua de ouro
Muitos dos soldados famosos foram mumifi- no subsolo da estrutura. Segundo Vittus relatou a
cados e aguardam em um lugar de prestígio no um sacerdote enviado de Birman, a estátua falou a
Mausoléu das Eras. Eles são contabilizados no ele e ensinou segredos antigos.
total de guerreiros do reino, o rei Vittus afirma
que se Latza for atacada severamente, eles irão Labirinto das Ossadas
levantar e lutar para proteger o reino. Quando
O rei encontrou as ossadas dos mortos em va-
necessário, ele manda buscar algum general mu-
las comunais que datavam da ocupação imperial,
mificado para auxiliar em decisões de defesa real.
um episódio que ficou conhecido como Massacre

b 147 b
b Belregard b
da Conquista (1061 DA), quando os Lazari se re-
Sobre a pesquisa de a
cusam a aceitar o domínio dos Vlakin, de quem
castigos e torturas que
fora encomendado por vossa tinham sido fortes aliados, e acabaram massacra- Isolamento em Latza
dos. Disposto a invocar essa ancestralidade, Vittus
santidade, acredito que é O isolamento em Latza se explica principal-
digno de nota visitar esse mandou que os ossos fossem recuperados e usados
mente pelos degenerados. Estes perturbados
para decorar túneis sob sua morada, onde ele gos-
lugar. Com devida autori- existem em toda Belregard, mas seu número
zação, seria de grande valia ta de soltar prisioneiros que atraíram seu interesse
em Latza é assombroso. São homens e mulhe-
para o Tribunal. particular. Os poucos que saem do labirinto de tor-
mento estão mudados para sempre. res dementes que fazem comunidades indepen-
dentes nas florestas, pântanos e montanhas,
Casa de Mumificação com seus próprios reis de coroas de ossos e ca-
samentos reais consanguíneos. Vittus não faz
Os costumes dos Lazari eram macabros e envol-
qualquer esforço para acabar com a presença
viam a prática da necromancia e vivissecção de
destes bandos independentes. Alguns dizem
Infusão de bile, ervas animais e humanos, daí o interesse pela mumifica-
que, todo ano, o rei faz uma grande assembleia
daninhas e coisas ainda ção. Acreditando que devidamente preservado, um
mais estranhas em mortos. com os reis degenerados, onde eles reafirmam
cadáver pode voltar a vida, Vittus reconstruiu tal
Há relatos de espasmos seus votos e foi dessa forma que o rei conse-
morada e colocou homens para estudar este antigo
de vida mesmo após dias guiu seu título de Dementia Rex, que ele carre-
costume, que havia sido proibido. Vittus reconstitui
de falecimento. Além disso, ga sobre todos os outros possíveis. Os degene-
tal costume após receber uma revelação vinda de
alguns alegam conseguir rados são tão comuns nos campos que mesmo
textos sacros antigos onde “Morre primeiro para
vislumbrar o futuro lendo viajantes comuns, comerciantes que sejam, são
depois ser vivificado por mim”. O local é aterra-
entranhas intestinais de de- tratados com hostilidade inicial, até que se per-
dor e profano aos olhos do Tribunal. É um costume
funtos em decomposição à ceba não tratar-se de degenerados.
moderno trazer as crianças aqui, mostrando para
luz das estrelas. Bruxaria as mesmas que a morte é parte de vida e que não
Existem muitas lendas envolvendo os degene-
qualificada. devem temer.
rados aqui em Latza. Uns dizem que eles já fo-
ram humanos são e que muitos querem ajuda.
Casa de Repouso São Pazzo
Outros afirmam que eles possuem ódio e procu-
Criada por volta de 1063, durante a ocupação
ram alvos relacionados ás suas antigas vidas. A
imperial, a casa de repouso visava tratar as ma-
verdade está longe de ser revelada, mas se um
zelas mentais pelas quais passavam soldados e
dia for descoberta, será com ajuda de Latza.
prisioneiros mandados para Latza. Utilizando-se
de métodos sinistros, os médicos de São Pazzo de-
Ainda hoje enviarei uma senvolveram uma técnica para acalmar o mais his-
carta diretamente ao térico dos homens, com incisões na altura das têm- Colina das Espadas
Eleito, lhe pedindo poras, testa e por dentro dos olhos para alcançar Quando assumiu a liderança de Latza, Vittus
uma ação enérgica com o cérebro. Tais técnicas são usadas ainda hoje, mas decretou que as espadas deveriam ser aban-
relação a tal blasfêmia. com avanços sombrios, onde é possível despertar donadas em seus domínios. Antes da loucura
Isso é inaceitável. a selvageria destes loucos com comandos simples, tomar conta de sua mente, o monarca buscou
Sobre a tal doença resultado dessa técnica é a Legião dos Loucos. meios pacíficos para dar ordem ao seu povo e
Insania, que tipo de ordenou que todas as espadas fossem deixadas
informações adquiriu? na colina próxima a Lazari. Hoje este monte é
horrendo, com centenas de espadas enferruja-

b 148 b
b DAS CASTELANIAS b
das e é onde as Crianças da Legião vem jogar
suas armas quando se iniciam na ordem, como
a
gesto simbólico. Vittus gravou a seguinte men- A Loucura de Baricos
sagem na colina: “Trago a paz e não a espada”.
Conta uma lenda antiga que antes da vinda do
Gruta de Irbelle Criador ao mundo dos homens, alguns sacer-
dotes foram capazes de realizar pequenos ri-
Dizem que o rei se apaixonou por uma mulher
tuais e feitiços. Eles conseguiam curar doenças
chamada Irbelle, para encantá-la ele construiu
e até mesmo reviver os mortos. Poucos dias an-
uma gruta para ela. A gruta é totalmente arti-
tes de sua vinda, a ligação espiritual que estes
ficial e foi construída com pedras de todos os
homens tinham com o Pai caiu por terra e seus
tipos, o sol quando nasce passa por prismas de
dons foram perdidos. Muitos enlouqueceram,
cristal que fazem o lugar brilhar em inúmeras
como o infame Baricos. Baricos, o Sereno, foi
cores. Irbelle não gostou do lugar, o rei a ma-
um homem que enlouqueceu diante da perda
tou afogada e usa seu crânio como carranca na
do contato com o Criador. Sentindo-se abando-
gôndola que utiliza para passear pela gruta. Os
nado, mandou que se construísse uma estátua
casamentos reais de Latza são realizados obri-
de ouro de um ser que lhe falou através de um
gatoriamente aqui sob a benção do rei, todos
sonho. Tratava-se de uma aberração com
embarcados em gôndolas.
corpo de leão, cabeça de homem e asas de
Rio Brago morcego - uma verdadeira manticora. Prestan-
do homenagens ao ídolo profano, Baricos
O rio Brago também dá nome a área pantano-
e seus adoradores nem puderam responder a
sa ao seu redor, lar de uma fauna extremamente
forte represália da mão armada dos religio-
diversificada. O terreno acidentado é uma das
sos. Dizem que a figura de ouro ficou por muito
linhas de defesa da castelania contra as ambi-
tempo escondida, já que não viram maneira de
ções de Birman. Até hoje uma das punições por
destruí-la. Esta estátua supostamente foi en-
crimes é ser arremessado no brejo, acorrentado
contrada por Vittus, que agora a utiliza como
em pesadas bolas de metal, por dias, meses ou
um trunfo, talvez sendo até mesmo o que man-
até o fim da vida.
tém tropas invasoras afastadas de suas terras.
Ainda pior, a estátua pode ser o que mantém
a castelania unida, fazendo com que pessoas

“É terrível a cacofon ia que se ouve a aceitem as loucuras de Vittus, desde que pas-

todo momento nos arirosredores dos pâ ntanos . sem tempo o suficiente em suas terras.
m depoi
Muitos dos prisione s sesegusoemltavivendo nas
de algum tempo, ma formando comunidades
lama, na decadência, mpartilham de tudo. Por vezes, eles mesmos
de degenerados que cocativos, mas já ouviu-se sobre prisioneiros que foram
libertam os novos s mesmos homens, depois de não passarem por algum
devorados vivos por esmetento feito pelos mesmos. Independentemente de qual
tipo de torpe julga istência destes enlouquecidos já é uma punição forte o
seja a questão, a exficiente para os que são lançados lá. “
su
b 149 b
b DAS CASTELANIAS b

Parlouma
“Prados e trovões.”

Capital belgho a ser convertido no criadorismo, o san-


Parméquia. gue parlo acabou sendo diluído em um longo
processo de aculturação. A igreja daqueles tem-
Poder pos temia uma revolta por parte dos senhores
Rei Absolon Del Aqueline e rainha Adalene dos cavalos e assim tomou suas crianças para
Del Aqueline. Possui apenas uma filha, Alissa. transformar a próxima geração. Este orgulho
O primogênito, Absolon II, faleceu em 1342, lu- tem retornado hoje, mas a mistura gerou uma
tando na revolta de Rikard. Alissa, com 16 anos, série de outras etnias menores que possuem um
seguiu os passos do irmão, adentrando a ordem toque parlo em seu sangue, como os varnos dos
do Cavaleiros Pardos, como escudeira. pântanos, que cantam seus lamentos, os guer-
reiros brados do leste, envolvidos na guerra dos
Adoração traidores e os vlakos do norte, que refletem um
Seguem os ditames do Tribunal à risca, usan-
apego religioso exagerado. Além disso, devido
do como base os textos originais em parlo e não
à camorra, uma espécie de oligarquia local das
a versão “empobrecida” chamada de Vulgata.
cidades e fazendas, os parlos acabam marcados
As ordens cavaleirescas são presentes, seguidas
por um sentimento de ufanismo que, quando
pelas ordem mendicantes extremistas, entretan-
não direcionado a estrangeiros de Parlouma, faz
to, os Lazlitas não podem considerar Parlouma
com que eles mesmos troquem ofensas e hosti-
como sua casa. O criadorismo é forte dentro de
lidades entre si.
Parlouma e são raros os momentos em que se vê
algum tipo de adoração antiga surgindo entre Símbolo/Cor
os homens, mesmo aqueles que tem desejado Cavalo corcoveado sobre um manto marrom e
recuperar o orgulho das ordens dos cavaleiros verde musgo encimado por um elmo que repre-
Pardos, a primeira cavalaria de Belregard. senta os cavaleiros parlos. A simbologia do cava-
lo é muito forte para os parlos. Retrocedendo a
População tempos bárbaros, quando os parlos começaram
Majoritariamente formada por parlos, com
a ser convertidos, temos o cavalo como filho da
um considerável número de belghos. Em Parlou-
noite e do mistério, é destruidor e triunfante,
ma vive-se sob o ritmo dos parlos, que é focado
nutriente e asfixiante. O cavalo está associado
no trabalho durante a maior parte do dia, com a
às trevas do mundo ctoniano, e pode surgir ga-
tarde reservada para o lazer e prazer com famí-
lopando das entranhas da terra ou dos abismos
lia e amigos. Como foram o primeiro povo não
do mar. Os parlos creem que o primeiro cavalo

b 151 b
b Belregard b
veio do oceano, saído das entranhas do mundo O já velho Absolon não exerce mais a mesma
para cavalgar os campos e quando morreu, teve influência em seu território e a ausência de um
seu coração enterrado naquela terra que tomou herdeiro legítimo para o trono preocupa muitos
como lar. Este coração, ainda hoje, pulsa e atrai nobres e inclusive a família real. No caso da mor-
os raios que castigam a planície. te do rei, a filha do mesmo irá assumir. Isso não
seria um problema, se a mão de Alissa não esti-
O Passado vesse prometida a um jovem príncipe de Vlakir.
Antes de tornar-se um reino, o território vas-
to de planícies era pontilhado de vilarejos que
viviam sob o julgo da camorra local. Parlouma
surgiu do descuido de Vlakin I em ceder con-
a
cessões de terra a nobres aliados. O oportunista Fauna e Flora Fantásticas
Fabrizio de Parlouma, que tomou o território e
Aquilo que se destaca na natureza
tornou-o seu reino particular, reestruturou toda
particular de Parlouma
a organização local, nomeando duques e condes
em 970 DA. Não foi um rei popular, mas abriu Dragona: Árvore comum dos campos de Par-
caminho para o resgate do orgulho parlo. Du- louma, possui um caule fino que se alarga na
rante a ocupação imperial, Parlouma não pas- copa. A parte inferior da copa apresenta ape-
sou de um grande campo de treinamento para nas galhos, que se entrelaçam como raízes e
as ordens de cavaleiros sacros durante todo o por cima estão as folhas, finas e muitas, como
período. Para aqueles poucos que se lembravam um morro coberto de capim. A seiva vermelha
das tradições da cavalaria de seu próprio povo da dragona é utilizada como corante, verniz e
foi difícil ver o Campo Trovejante ser mancha- até mesmo como parte do tratamento para inú-
do e castigado pelos cascos de cavaleiros que meras doenças. Dizem que o que escorre dela,
visavam apenas servir ao império que lhes opri- na verdade, é o sangue dos dragões, mas tais
mia. No momento em que a chance da liberdade criaturas ocupam apenas as lendas de Belregard.
surgiu, alguns parlos foram contra toda a fama
de passivos espectadores e pegaram em armas Argentavis: Estes pássaros são mais comuns
para restaurar sua supremacia local. Absolon, o no norte de Parlouma, nas redondezas dos
Alto, surgiu como líder dos parlos e, montado montes sacros e outras áreas ao sul de Virka.
em seu corcel negro, correu os campos de Par- São aves imensas de plumas negras e cabeça
louma convocando a todos para a guerra. pelada, com bicos longos feitos para rasgar. A
envergadura destes terrores alados pode chegar
O Presente a oito metros e se engana quem pensa que são
Da queda do império em diante, muita da tra- pássaros de pouca força, já que podem erguer
dição de Parlouma tem voltado à tona. Os cava- até mesmo uma pessoa no ar. Suas plumas são
leiros Pardos, a mais antiga das ordens, tem feito valorizadas como decoração de roupa, assim
o possível para recuperar seus valores perdidos como o bico, que pode figurar como cabeça de
e ofuscados ao longo do tempo. Os parlos vêm clava em armas toscas.
investindo em uma campanha de militarização
de sua castelania, por mais que a desunião mar-
que o terreno político na região, alguns barões
e duques têm buscado o poder das alianças.

b 152 b
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio Aquirrare
Parlouma sempre inovou em questões comer- (aprox. 5.000 habitantes) Lembrando majestade, que
ciais e meios de produção. Foi a primeira cas- Estando na região mais a oeste da capital, a
toda essa região fora uma
telania a fazer uso dos moinhos de água e do cidade é o eixo que liga toda Parlouma. A Ca-
imensidão alagada de brejos e
canais para alimentar plantações distantes dos morra está impregnada aqui, o sistema de briga
lagos. A utilização de diques
principais rios. Souberam usar dos avanços tra- familiar e apadrinhagem está tomando propor-
e moinhos drenaram toda a
zidos pelo império, em seus impressionantes ções catastróficas e muitos inocentes morrem
água desta região. Com uma
aqueduto, para trazer a água das montanhas. A em meio da guerra comercial que as famílias
pequena gôndola é possível
despeito de tais avanços a situação atual não é travam. Como local de passagem para o outro
viajar rapidamente entre as
propícia nem mesmo para estes grandes comer- lado do rio, Aquirrare pode entrar em confli-
fazendas. Acha válido uma
ciantes. A desconfiança que se instaura entre tos entre barqueiros de Varning, que fazem o
pesquisa aprofundada sobre tal
os condes torna o comércio um assunto menor. mesmo serviço em Tiepole. Patrono Local:
engenhosidade?
Seus principais produtos são: trigo, batata-doce, Duque Warrane de Zuria, O Mentiroso. Nin-
milho, cevada, uva, batata, frutas, tabacos, vi- guém gosta de Warrane, ele tenta agradar a
nhos, suínos, ovinos, caprinos, bacalhau, carvão todos, mas no fim, usa o que sabe para se favo-
e ferro. Seus produtos são desaguados para Var- recer, inclusive, tem lucrado muito com a guerra
ning, Vlakir e Branden na medida do possível. que se abate sobre Aquirrare, dizem que ele é o
Sua rivalidade com Dalanor pelo controle dos “Grande Padrinho”.
vilarejos ao redor de Virka faz o clima ser tenso.
Normarom
Assentamentos (aprox. 1.000 habitantes)
Parlouma é dividida em 6 regiões principais,
A estrada que leva até as Montes Sacros passa Encontrei um diário de um
ducados concedidos às respectivas famílias há
em Normarom. Impossível um real adorador do homem que morreu enforcado em
duas ou mais gerações, além da fortificação do
Único não ir até tal cidade ao menos uma vez uma árvore após assaltar um
Castelo Royal.
na vida. Aqui fica a grande catedral do Tribu- viajante. O diário relata toda sua
Torquato nal. Um verdadeiro antro de fé. Patrono Local: caminhada até os monte sacros,
(aprox. 8.000 habitantes) Duquesa Odeletta de Olivier, que sofre profun- ele passou por experiências
da investigação após seu marido trair o rei e desumanas e inacreditáveis.
Uma grande cidade que se estende ao longo
iniciar uma revolta contra o mesmo, além da Impossivel o homem que escre-
do vale que é banhado pelo Rio Mesnile onde a veu tal diário ter assaltado e
suspeita de a que ela esteja envolvida na morte
corte real costuma ir quando o inverno se abate
do próprio filho. O Tribunal pretende, assim que matado um viajante. Este homem
em Parméquia. A comunidade prospera graças viu o Criador face à face. Irei
possível, convencer o rei a colocar outra pessoa
aos acordos comerciais feitos com os vizinhos. pesquisar sobre sua vida.
no comando.
Junto com o avanço aumentou a pobreza e a cri- Lhe enviarei tal tomo assim que
minalidade. Patrono Local: Duque Madelon II, Borgosa restaurá-lo.
O Emissário. Homem de confiança do Rei, Ma- (aprox. 8.000 habitantes)
delon viaja Belregard como grande emissário
A maior cidade produtora de alimento. Sede
real e é tido como o homem mais sábio da corte.
dos fazendeiros e das grandes guildas. O cam-
Seus olhos afiados não costumam deixar nada
panilismo, o bairrismo, aqui é tão grande que
passar e é conhecido por ouvir muito e falar
cada baronato parece um ducado diferente,
pouco. Desaprova o acordo do rei com Vlakir,
com costumes e jeitos ímpares. As mudanças na
mas não era seu conselheiro na época.
corte de Borgosa têm gerado sérios conflitos e

b 153 b
b Belregard b
muita mortes já ocorreram. O ducado é onde
existe a maior concentração de barões de Par-
a
louma. Patrono Local: Duque Gutierre III Isolamento em Parlouma
com apenas 10 anos, supervisionado pelo tutor
Gaetano, o Rubro, que reformulou a politica de O isolamento em Parlouma se dá pelas longas

Borgosa, subdividindo o ducado em baronatos estradas. Os caminhos são muitos e a camorra

menores, tem causado muito desconforto, mas cuida para que nem mesmo as cidades sejam

o rei parece não se importar, afinal, o recolhi- completamente seguras. O bairrismo é forte

mento de impostos de Borgosa nunca foi tão dentro de Parlouma e, muitas vezes, visitantes

farto. Gaetado tem contratado homens para precisam conhecer os verdadeiros chefes das

fazer sua segurança, formando um pequeno cidades, que não o lorde local, para manter a

exército de lanceiros. segurança dos seus. Além desse problema in-


terno, sair das fronteiras da castelania pode ser
Parméquia problemático. Para o leste, os rios e montanhas
(aprox. 10.000 habitantes) impedem uma viagem diretamente para Bra-
den ou para Belghor, no norte a febre religiosa
Em um grande platô e cercado por imponentes
de Vlakir pode causar problemas e no oeste
muros de pedra está o grande Castelo Parme-
fica Varning, a única mão amiga, mas cheia de
quiano. Construída sob marco da vitória sobre
segundas intenções, que pode vir a se erguer.
os selvagens, a capital é um sítio da história dos
pagãos, erguida sobre ruínas de antigos cultistas
adoradores da Horda. Sussurra-se que lâminas e
garras são afiadas nas sombras, alertando que
os pecadores querem seu lar ancestral de vol-
ta. Parméquia é um exemplo de infraestrutura e
avanço, suas ruas de pedra e casas de dois pisos
são uma imagem marcante para todo visitante.
Patrono Local: Rei Absolon Dell Aqueline.

b 154 b
b DAS CASTELANIAS b
Forças Militares Campeões Alvos
Com exceção das milicias submetidas aos pa- (150 lanceiros e 130 cavaleiros)
tronos locais, a armada de Parlourma divide em
Liberti Linteum
Estes cavaleiros errantes possuem a árdua e
seis exércitos distintos
“Aqui se faz presente um
ingrata tarefa de vigiar a Floresta Alva. Esta
homem livre que não pode ser
Cavaleiros Pardos (300 cavaleiros) vigília já foi responsável de inúmeros comba-
detido, colocado em prisão sem
tes contra os pagãos. Muitos de seus cavaleiros
O maior orgulho de Absolon foi a reestrutura- motivos, não pode ter seus bens
ruíram, suas mentes pareceram entrar em um
ção da cavalaria oficial de Parlouma. Na busca confiscados, colocado como fora
rodopio insano sem fim, se tornando apenas re-
pelas raízes de seu povo, os velhos costumes e da lei, exilado e não pode ser
flexos esquálidos do que um dia foram.
tradições de cavalaria dos parlos foram utiliza- morto sem devido julgamento
dos para trazer de volta estes altamente treina- Ratos Vermelhos que deve ocorrer em harmonia às
dos cavaleiros de elite. São liderados por Benito, (100 lanceiros e 20 cavaleiros) leis de sua castelania e sob o
chamado “enferrujado” pelas sardas que co- olhar do Criador.
Com um sem número de soldados menores,
brem seu corpo e o cabelo ruivo. É de seu direito portar uma
os Ratos foram inicialmente formados por Gae-
Guarda Real Parméquiana
arma, ter servos, animais,
tano, o Rubro, mas seu contingente tomou pro-
(220 lanceiros e 80 cavaleiros)
comprar e vender coisas, sempre
porções nunca antes vistas. Muitos são os guer-
vigilantes aos impostos. Assim
Estes homens são selecionados entre os me- reiros oficiais e mais ainda são os simpatizantes.
como os benesses, está sob
lhores e todos passam por uma entrevista real Estes homens possuem a árdua tarefa de manter
novas leis de obrigações, como
com a rainha Adalene. Estes homens recebem o os barões de Borgosa sob vigilância.
cidadão de bem.”
título de homens livres após cinco anos de servi-
Construções e Formações
ço e uma promessa de possível ingressão aos seus
De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
filhos quando completarem a idade necessária.
O local é um caos. As estra-
Florestas Alvas das caem em desuso na mesma
Fúria Adelana
(160 lanceiros e 50 cavaleiros) Uma floresta densa, quase primitiva. Diferen- velocidade que outras nascem.
É inegável que a família da rainha Adelene
te de Dalanor, existem poucas lendas sobre cria- Isso é capaz de deixar qual-
foi uma das mais justas ao longo da história de
turas amistosas compactuando com os homens. quer um louco, talvez seja por
Parlouma. Seus servos fieis choraram quando a
Aqui há apenas muito respeito e uma ponta de isso da lenda do labirinto. Dizem
descendência real se desfez e sobraram apenas
temor à sua grandiosidade e escuridão. É quase que no meio da floresta está o
mulheres à serem casadas. A ordem foi criada
sempre tomada de neblina e pouco têm coragem Labirinto das Brumas, uma região
durante a revolta de Rikard, quando um ataque
de se afastar das estradas principais. mistica, uma espécie de pedaço
surpresa foi realizado a carruagem da rainha
da Fímbria na terra, e aquele
Rio Sieburgo que conseguir atravessar o
e parte do bando se recusou a matar Adelene,
agindo contra seus antigos aliados.
Estando conectado ao Rio Mesnile, este rio labirinto irá rejuvenescer. Acredito
faz a importante missão de permitir que toda que isso seja o motivo de que
Filhos de Aqueline (300+ lanceiros) produção do Circuito dos Campos chegue até muitos idosos sejam deixados às
Latza, Birman e Virka. Com uma extensão mo- margens das Florestas Alvas
Formados principalmente de condenados e
desta, a maior parte desse desague é feito por quando o peso de suportá-los
soldados indisciplinados, os Filhos de Aqueline
balsas e barcos menores, somente depois encon- é demasiadamente alto.
formam o maior contingente de lanceiros do
trando embarcações maiores para seguir para
reino. Todo àquele que lutar uma guerra vitorio-
destinos mais longínquos.
sa poderá se tornar um homem livre, é o que
promete o rei.

b 155 b
As fortificações contam b Belregard b
com uma invenção genial. Uma Triângulo das Torres feiras e festivais acontecem a cada estação na
espécie de globo misturado região. Devido a mistura de vilas, diferentes pa-
Três torres de vigília construídas durante a
com uma luneta, usando es- tronos, o local é confuso e somente quem é de
Era do Homens estão lá até hoje sobre o monte
pelhos, vidro polido e cristais, lá parece entender como toda região funciona.
Benay. As torres foram construídas de maneira
apontadas diretamente entre
estratégica, cobrindo uma área extensa e permi-
elas. Triangulando a região. A Passagem
tindo que todos os locais fossem vigiados com
Através de códigos sigilosos, Antes da Era da Conquista, uma passagem
a mesma qualidade. Um torre está voltada cons-
conseguem trocar mensagens entre as montanhas leste de Parlouma davam
tantemente para o mar, remontando o medo
usando o reflexo projetado. caminho para que homens de coração negro
da lenda sobre bestas selvagens que sairiam do
Tentei buscar mais sobre atacassem a castelania. Esta passagem sempre
mar, outra torre está constantemente apontada
tal invento, mas foi impedido. fora protegida pelos servos da Sombra, mas
para Belghor e a outra torre aponta em direção
Preciso de uma autorização acabou derrubada pelos esforços de um santo
a toda região oeste.
e homens caso seja de seu do povo parlo, Ercole de Borgosa, que rompeu
interesse saber mais sobre isso Montes Sacros o caminho ao derrubar os pilares que sustenta-
meu senhor. vam uma das cavernas. A única pista para a pas-
Lar do corpo de santos e local de procissão.
Senhor, há necessidade de sagem são os dizeres gravados em parlo numa
A lenda diz que foi aqui que o primeiro homem
proteção às modestos que pe- placa de metal: “Abandonai toda a esperança,
recebeu seu cavalo dado como presente dos
regrinam. São fortes de alma, aquele que ousar por estes umbrais passar”.
céus pelo Único. Os mais antigos pregam que
mas fracos de carne. Os todo batizado deve ao menos uma vez na vida
Ponte da Feira
saqueadores e bandidos riem participar da peregrinação até estes montes. A
de sua audácia, da sua coragem peregrinação começa no limites de Virka cerca A grande feira de Parlouma que atrai o mun-
em atravessar tais terras, e de 15 dia antes da comemoração do Dia da As- do todo acontece sobre o Rio Mesnile em Tor-
flagelam sua carne. Como se censão, que será comemorado com a chegada quato. O comércio é livre e qualquer um pode
peregrinação não fosse sofrida dos peregrinos ao local. montar uma barraca no local e vender seus pro-
o suficiente, os massacres e dutos. A feira tomou proporções tão grande que
mazelas que enfrentam têm Castelo Royal extrapolou o espaço da ponte e se estendeu ao
afastados fieis. Por esses (aprox. 4.000 habitantes) longo de todo o aqueduto do rio Mesnile, todos
devotos intercedo. Uma poderosa fortaleza se encontra no topo
os 14 piers são lotados de comerciantes tentan-
do vender suas mercadorias.
da do Pico dos Parlos Livres onde é possível ver
todo o mar do sul. Para chegar até o castelo é
preciso subir uma imensa estrada de pedra es-
corregadia. Patrono Local: Duque Amaranto, bem assim. Abaixo
tio da Rainha Adalene, um cavaleiro veterano Na prática todos sabem que não écamorra mantém
que tenta seguir os passos de Leoric, o Puro,
da política de livre comércio a não vender. De
mas vê-se preso nos afazeres militares, deixan- rígido controle sobre quem pode oudias após nossa
do sua vida espiritual de lado. acordo um informante, que morreu ra poder vender e
conversa, todos precisam pagar paorra.
Circuito dos Campos por proteção à cam
Uma região localizada na área central de Par-
louma que conecta Aquirrare, Borgosa e Torqua-
to. A região é a principal produtora de tudo que
Parlouma come, veste, bebe e vende. Grandes

b 156 b
b DAS CASTELANIAS b

Gravura estilo bertina de Fergus


mostrando a Ponte da Feira onde
ocorre o comércio local.

a
O Acordo do Rei

No longo período de governo de Absolon, o


amado rei teve de provar seu valor inúmeras
vezes contra revoltas internas de nobres insa-
tisfeitos. Em um período curto da Era da Luz,
Campo Trovejante
no ano de 1342, uma revolta liderada pelo du-
Esta vasta planície próxima da costa sul de Parlouma é que de Normanon, Rikard, deixou complicada a
constantemente castigada pelo vento frio vindo do mar e situação de Absolon. O rei, tendo menos apoio
as tempestades são comuns na área. Alguns acreditam que do que julgou que teria, viu-se obrigado a acei-
o coração do primeiro cavalo, dado aos homens nos Mon- tar ajuda de Vlakir, vinda de Gaedus, um lorde

tes Sacros, está enterrado no centro da planície e é sua for- local. Em troca, depois que a revolta foi contro-

ça primitiva e intensa que faz gerar o tempo severo. É um lada e a esposa de Rikard colocada para gover-
nar o ducado, Absolon prometeu a mão de sua
campo de cavalgada, de treinamento para a recém formada
filha, Alissa, ao primogênito de Gaedus, ainda
cavalaria dos Pardos. É sempre possível ver tropa de cavalos
recém nascido naquela época. Pouco a pouco
selvagens correndo por essa região, assim como sempre foi
o momento da cobrança se aproxima e muitos
e como sempre será.
dos nobres de Parlouma veem com maus olhos
a entrega da filha do rei dessa forma. Não é difí-
cil imaginar um cenário de desastre seguido da
morte do rei, onde um levante dividirá o reino,
não aceitando o rei estrangeiro.

b 157 b
b DAS CASTELANIAS b

Varning
“Fraternidade.”
O poder desses juízes excede
tudo que vi em outro lugares.
Eles são os donos das casas,
das ruas, dos animais e até
dos homens. Desculpe ser
fatalista senhor, mas o nível
de poder deles está tão
estruturado que a população
Capital Dividam com seus semelhantes a recompensa do
se cegou e aceita seu poder,
Tiepole. suor”. Os cofres do Tribunal estão gordos com
quase acima do Tribunal. São
as doações feitas pelo conselho de Varning. Em
tomado pela cegueira do ouro.
Poder contrapartida, o Conselho odeia a avareza e ten-
Conselho Comercial. Um conselho de ricos ta controlar o poder monetário dos seus afilia- Semelhantes para esta socie-
mercadores governa Varning, sendo que a iden- dos. Eles aceitam o Tribunal até o ponto onde dade possui outro significado.
tidade destes homens é mantida em segredo, suas ideias retrogradas não tentam impedir o Eles não creem em igualdade
mas certos juízes apresentam uma face pública avanço de sua nação. para todos, perante as suas
para a população, cuidando de boa parte dos próprias leis e julgamento,
assuntos mundanos que permeiam a castela- População seus semelhantes são seus
nia. O corpo conhecido como Fâmulo Incógnito Formada principalmente por belghos e parlos, irmão desta sociedade secreta.
serve aos Conselheiros levando suas vontade mas um sem número de outras etnias também Existem centenas de histórias
aos homens do reino. Dizem que todos os co- marcam sua presença de Varning. Como terra de claro favorecimento de um
merciantes, Fâmulos e conselheiros fazem parte de misturas, temos os vanos dos pântanos, que em favor de outro, apenas
de uma sociedade secreta de ajuda mútua. Eles já viviam na região e possuem um costume na- por participar desse seleto e
possuem segredos sobre a matemática e conta- turalmente rude para com estrangeiros. Varning sigiloso grupo.
bilidade e não querem dividir com ninguém e não é uma terra de gente belicosa, mas certa-
por isso se fecham de modo sigiloso. O homem mente a ganância corre em suas veias e pode
chamado de Klauss, O Rico, deu origem o pri- fazer com que eles assumam qualquer risco pelo
meiro banco de Belregard, A Casa de Fortunas, lucro. O desejo pelo dinheiro está estampado Colocação acertada. Nunca
Pedras e Títulos, e criou a possível sociedade nos olhos destes homens e mulheres e como as ande em Varning de forma
secreta, pessoas dizem que os membros da fra- oportunidades para o lucro não se abrem para tranquila, especialmente com
ternidade estão divididos em graus e cada grau todos, não é difícil de acreditar que o crime, o objetos de valor.
subdividido em etapas. Os Conselheiros se en- roubo, estejam também entranhados nas almas
contram no topo, na última etapa do sexto grau. daqueles que vivem em Varning.

Adoração Símbolo/Cor
São homens crentes, acreditam na prosperi- Sob um fundo verde que representa o fundo
dade que o Único é capaz de lhes proporcionar. do mar, uma truta marrom mostra sua impo-
Se amparam na parte da Vulgata que diz: “Vão, nência. A truta é um peixe dócil, mas carnívoro,
conquistem e voltem para seus lares com bens se alimentando de outros peixeis. Este peixe é
de ouro e prata, juntem rebanhos e puro linho. um símbolo do poder do Conselho Comercial de

b 159 b
b Belregard b
Neste período iniciou-se Varning pois tem a coragem de migrar para os
o que hoje chama-se oceanos por boa parte de sua vida, retornando
de perscrutação. O que à água doce apenas para a desova. Assim como
antes era uma questão deve ser no mundo comercial, nadar entre tuba- a
de sobrevivência, agora é rões para dar conforto aos seus filhos.
Fauna e Flora Fantásticas
utilizado para enriqueci-
O Passado
mento e ganho de poder. Aquilo que se destaca na natureza
Varning surgiu durante a Era do Sangue,
Com algum sigilo, particular de Varning
quando os burgueses da ainda imponente Virka
mas de conhecimento
passaram a enriquecer com o comércio e com Quiesca: Esta árvore dos pântanos sul possui
da maioria, existem
a guerra. Sendo censurados pela própria igreja uma característica muito perigosa. Suas raízes
escola de infiltradores
e acusados de cometer o pecado da ganância são altas e costumam ser usaras como lar de
e espreitadores (o que
através da usura, muitos destes mesmos nobres predadores, especialmente jacarés. A noite, as
o povo chama de “olhar
migraram para o sul de Virka. Lá, junto inclusive folhas desta plante amitem um brilho pontilha-
de vilão”) até mesmo de
de um dos Puros, um dos homens iluminados do e pequeno, como se fosse um céu estrela-
assassinos, quase todos
pelo próprio Criador, estes comerciantes ini- do e a menor das vibrações faz com que estas
servindo aos interesses
ciaram uma nova forma de governo. Com o caos estrelas caiam e a menor respiração próximo
comerciais de Varning.
ocupando a capital, proclamar uma indepen- delas faz com que a pessoa sinta sonolência e
É dito que conhecendo
dência não foi difícil e assim nascia o reinado de acabe dormindo. Alguns predadores desenvol-
a pessoa certa e com
Varning. Quando o império se ergueu, Varning veram a tática de bater na árvore por baixo,
bom dinheiro, pode-se
sabiamente recuou, oferecendo um apoio tími- quando sentem a aproximação de uma possível
até comprar um esprei-
do na esperança de ser poupada, mas os agentes pressa, mantendo-se sob a água para não serem
tador ou assassino para
de Virka, sabendo do grande conhecimento dos afetados. Alguns alquimistas alegam que o pó
lhe servir com lealdade
comerciantes sobre as rotas, caminhos e perigos pode ser usado para criação de poções.
por toda a vida.
do mundo, tomaram Varning num dos primeiros
Megatherium: Esta besta gigante, com o cor-
atos de consolidação do poder imperial. No pe-
po maior que o de um urso, pelagem farta de
ríodo em que as revoltas começaram a estourar
cor de cobre e um rosto cumprido, vaga pelas
em toda Belregard, foi papel de Varning encon-
terras de Varning em seu passo lento. Seria um
trar os velhos mapas e registros para que se pu-
animal inofensivo, não fossem as imensas gar-
desse minar o poder do império por dentro.
ras em suas mãos. Mesmo com golpes lentos,
O Presente a besta é capaz de matar homens que subesti-
Apesar da vitória, os longos anos de con- mam sua aparente calmaria. As garras longas
trole cobraram seu preço no enfraquecimento são valorizadas como adorno e os religiosos
do domínio de Varning e nas rotas de comércio. dizem que o comportamento destas criaturas é
Muito fora alterado e abandonado, hoje poucos um reflexo, uma paródia, da ganância do povo
dos caminhos ligam os grandes centros à cidade de Varning, que se torna lento, ainda que peri-
portuária. A grande influência do Tribunal ain- goso, com as riquezas que acumula.
da torna difícil uma liberdade como que se tinha
no passado e as chances de Varning parecem es-
tar melhores no mar. Querem impedir muitos es-
trangeiros de entrar, todos que realmente quise-
rem, devem servir como soldados no Secundus.

b 160 b
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio Conselho em Tiepole é correr risco de receber Juro que tentei senhor, juro que
As relações de Varning costumam ser neutras a visita inconveniente de seus Fâmulos. Atual- fiz tudo que pude, mas nada
e amistosas com seus vizinhos. Dalanor realiza mente é o local de passagem pelo rio e pelo consegui descobrir sobre essa
trocas com frequência, assim como Parlouma, lago. Os barqueiros de Tiepoli trabalham o dia sociedade secreta. Eles pare-
apesar dessa segunda se sentir dividida por sua inteiro para levar pessoas de um lado para o ou- cem ter descobertos livros de
relação com Vlakir. Como Dalanor e Parlouma tro. Patrono Local: Agapito, O Amado. Ele é Brovär II que relata sobre o
tem tido atrito ao ocupar aldeias pertencentes um seguidor ferrenho de Leoric, e prega que o poder dos números e dos astros,
à Virka no passado, Varning sem mantém neu- Caminho Irrepreensível deixado pelo Puro é a mas encerra-se por aí.
tra neste assunto, disposta a comercializar com solução de todos os problemas do mundo. Ele é Se quisermos saber mesmo quem
ambos os lados. Peixes, grãos, vinhos, carnes de dedicado a aumentar o poder da representação são estes homens e mulheres,
corte, artesanato e até mesmo uma limitada mão popular não somente do conselho, mas também precisaremos nos infiltrar, usar
de obra, através de tutores estudados na Acade- de todos os comerciantes do reino. Dizem que as armas que eles usam tão bem.
mia do Saber podem ser exportados de Varning. ele é tido como Grão Mestre dentro da socieda- Para isso, preciso que senhor me
de secreta em que participa. dê poder para recrutar pessoas de
Assentamentos confiança. Aguardo uma resposta.
Varning se divide em três provincias distintas.
a
Tiepole ocupa boa parte central do território,
no lago Fortuna e a região a oeste deste. Traglia- Cavaleiros Mercantes em Varning

mento ocupa e parte sul e segue em direção a


Os cavaleiros em Varning seguem muito bem
Costa Dalana. Rivienza ocupa a região norte do
o padrão estabelecido por são Genaro, talvez
rio Fortorino e segue em direção da Costa Parla.
sem todo o apego religioso visto em Birman,

Tiepole mas o votos de pobreza e dedicação total a

(aprox. 8.000 habitantes) casa se fazem valer. Em uma terra onde a con-
fiança, votos de juramento e honestidade se
Uma grande cidade que só cresce. Os melho-
mostram moedas mais valiosas que as de me-
res engenheiros de cidades foram convocados
tal, as casas mercantes buscam estas pessoas
até onde é possível convocar. Eles redesenha-
para os seus serviços de entrega, escolta e ex-
ram as novas ruas da cidade e criaram um meio
ploração. Se existe um lugar onde os cavaleiros
de ordem impressionante. O domínio que se es-
mercantes gozam de alguma possibilidade de
tende de modo confortável ao longo da margem
futuro melhor, é aqui.
do Rio Fortorino, onde o Conselho mantem suas
sedes e casas. A cidade se espalha por ilhotas
em meio ao rio e os terrenos circunvizinhos, Como já alertei acima, apenas
onde ficam fazendas e aldeias simples, são
Tragliamento
(aprox. 9.000 habitantes) como escravo fiel e discreto.
alagados. Para entrar em Tiepole é preciso um
Estes homens de poder
passe, que pode ser conseguido através do favor Devido anos de estudo e o situamento do por- querem se tornar imbatíveis.
de nobres, para caso de visita, para moradia é to num lugar perfeitamente planejado, onde o Tiepole é uma cidade impos-
preciso cumprir seu tempo na Secundus. Com mar é convidativo, a cidade se tornou o maior sível de invadir com grande
um sistema justo de impostos o povo prospera ponto comercial da costa sul de Belregard. A contingente, tudo isso foi
graças ao acordo comerciais feitos com Parlou- prosperidade do local faz as pessoas dizerem pensado. O homem chamado de
ma e Dalanor. A criminalidade é pesadamente que se Tiepole é a cabeça, Tragliamento é o co- Agapito é adorado e a mente
esmagada e junto com a ela a liberdade, o au- ração. Tudo que é produzido, principalmente
por trás disso tudo.
toritarismo cresce ao ponto que falar contra o em Rivienza é escoado para cá, onde seguirá
b 161 b
b Belregard b
de Viha até Branden. Como a região mais leste problema, mas nada o faz sobre isso. Apesar
de Varning, Tragliamento, por ser este grande de se localizar numa área pantanosa, a cidade
porto, atrai a atenção de Aquirrare de Parlouma. prospera sem a dificuldade de Tiepole. Patrono
Toda a situação comercial está em risco, pois a Local: Eleutério, O Igualitário. O homem foca-
Camorra tem estendido suas garras até aqui e -se em ser justo e comandar com igualdade. Seu
isso não tem agradado o Conselho. A Camorra sistema de impostos é claro, coeso e tido por
não arrisca tentar influenciar Tiepoli e por isso muitos como perfeito. Ele não está feliz com o
ruma ao sul. O Duque Warrane já foi alertado, contratempo infeliz que está travando com o du-
o mesmo diz estar trabalhando para resolver o que Warrane de Aquirrare, como não tem tido
respostas sobre suas solicitações, ele pretende
falar diretamente com o Rei Absolon muito em
breve. Dizem que ele é tido como Juiz dentro da
sociedade secreta em que participa.

Rivienza
(aprox. 12.000 habitantes)
Estando no ponto mais a oeste, Rivienza
é um aglomerado de povoados e aldeias
que se mantem da agricultura, pescaria e
pecuária. O rio Fortorino é generoso com
toda a região. O aumento do comércio
e a maior necessidade de terras obrigou
a região a expandir seu território, nesse
processo entraram em região selvagem,
gerando um conflito inesperado entre os
camponeses de Rivienza. Patrono Local:
Durant, O Inteiro. Seguidor convicto
dos ensinamentos de Lazlo, Durant é
um amante da razão e trabalha para o
progresso. Sua mente consegue enten-
der perfeitamente o lamaçal em que
os pagãos vivem e acredita que tem
autorização, por estar mais evoluído
e preparado para esmagá-los e tomar
suas terras. Dizem que ele é tido
como Cavaleiro do Leste dentro da
sociedade secreta em que participa.

Gravura estilo bertina de


Fergus mostrando o caos das
construções em Tiepole.

b 162 b
b DAS CASTELANIAS b
Não é pelo seu tamanho,
Forças Militares Ordem dos Bem Nascidos
(160 Lanceiros e 80 Cavaleiros)
nem pela sua dedicação, mas
Retirando os pouco guardas pessoais e auxi- pela disciplina e fanatismo
liadores militares, Varning proíbe exércitos pes- Formado por filhos de comerciantes que vi- que as forças de Varning me
soais, sendo que o poderio militar se encontra ram a prosperidade lhes alcançar, estes jovens impressionam. Os soldados
somente nas mãos do Conselho. esperam a oportunidade de retribuir um pou- são tomados de uma crença
co do que receberam. Os recrutas são indica- na retidão que assusta.
Cavaleiros Umbráteis dos pelos Perfectus e somente depois análise A possibilidade de crescer e
(180 lanceiros e 200 cavaleiros) de seu caráter, adentram à Ordem, isto ser- mudar a sua posição social é
Estes soldados seguem ritos de pobreza, vi- ve até mesmo para os filhos dos membros do atraente, mas todos sabemos
vendo por conta do conselho. São inclinados conselho. Normalmente recebem ordens dos que nada é dado levianamente,
aos caminhos mendicantes deixados por Alec, Cavaleiros Umbráteis. existe um pesado custo. Todo
sendo que foram conhecidos por muito tem- o misticismo, sigilo e organi-
Secundus (300+ lanceiros)
po como Pobres Cavaleiros do Criador, sem- zação desta sociedade secreta
pre enaltecendo o nome do reino e não o seu Estes homens são formados de sobreviventes pode-se nota espelhada na
próprio. Os cavaleiros são instruídos à razão e inimigos de uma guerra, traidores da nação, la- forma como os soldados são
adentram aos primeiros graus da primeira eta- drões ou qualquer homem que queira ter Varning arranjados. Novamente lhe digo
pa da sua sociedade secreta. Protegem todos os como casa. Qualquer pessoa que não tenha nas- meu senhor, Varning aponta
Fâmulos Incógnitos por toda Varning e devem cido aqui e queira receber sua cidadania, poderá como a maior força
receber prontamente qualquer ordem vinda adentrar ao Secundus e conseguí-la após alguns de Belregard..
dos Perfectus. Estes homens enfatizam o auto anos de trabalho. Além disso, o Secundus serve
sacrifício e poder em troca de submissão. São como sistema penitenciario já que não existem
seguidores da Hekklesia Alecista e dedicam-se prisões em Varning. Eles são comandados por
a preparar o homem corriqueiro de hoje no rei e soldados dos Bem Nascidos.
sacerdote de amanhã.
Verdugos (número desconhecido)
Cavaleiros da Perfeição Estes homens não possuem nome ou muito
(50 cavaleiros e 30 lanceiros) menos face. Ninguém tem acesso aos mesmos.
Os Perfectus são membros de um grupo se- Quando o peso da justiça recai em demasia sob
leto retirado dentro os Cavaleiros Umbráteis , um inimigo, estes homens se vestem de negro
a elite dentro da elite dos homens de armas de e amparam nos textos da Vulgata “Com tais
Varning. Estes continuam a viver sob as custas povos [inimigos] não fará pacto algum e nem terá
do conselho, mas são agraciados com maior piedade deles”. Eles derramarão o sangue inimi-
conforto e bens. Seu grau de entendimento so- go e em seguida desaparecerão. Alguns dizem
bre o funcionamento do mercado, dos números que somente os Conselheiros sabem quem são,
e da influência, os permite ir além. Seguem o sendo que seus nomes estão escondido em um
Caminho Irrepreensível à risca e qualquer ato livro de sigilo extremo pela ordem. Eles são a
vexatório pode ser motivo para serem retirados roda firme da carroça que trilha o caminho do
desse seleto grupo. São selecionados e empode- progresso, não podendo ser descarrilhada inde-
rados um a um pelo próprio Agapito de Tiepole. pendente do custo.

b 163 b
b Belregard b
Construções e Formações
Varning passa por uma constante reforma,
a
novas construções nascem a cada ano e muitas O Isolamento em Varning
antigas estão sumindo do mapa. Além disso,
O crime nas estradas de Varning é uma coisa
muitos locais não são de conhecimento de es-
real que ocorre a todo momento. Bandos vivem
trangeiros, o Conselho se agrada do sigilo. De
em bosques e pântanos esperando a oportuni-
tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
dade para o roubo. Além disso existem os peri-
Costa Parla e Dalana gos selvagens, já que Varning possui um terre-
no aberto para o norte, onde ficam as planícies
O lado leste chamada de Costa Parla é uma
de Ig, lar de clãs ainda rústicos dos homens
região calma, devido às formações rochosas e
bárbaros. Não é incomum que ocorram saques
ilhotas, o mar é calmo as cidades são alocadas
a algumas fazendas ao norte do território, nos
sobre um grande platô sobre falésias de cerca
períodos de colheita. As fronteiras de Varning
de trinta metros. O local é perfeito para anco-
são relativamente bem protegidas, o único pe-
ramento de grandes barcos. Toda a região até
rigo real que elas podem representar é o de re-
Aquirrare é extremamente disputada por comer-
fugiados e fugitivos da Corte da Raposa vindos
ciantes gananciosos. O lado oeste chamado de
de Dalanor. O Conselho parece não se importar
Costa Dalana já é caracterizada pela forte on-
tanto, como se estivesse tudo sobre controle ou
dulação e pela presença de correntes de água e
como se fosse algo esperado.
ventos muito fortes. O local atrai observadores
e estudiosos da marés e dos mares, muitas cons-
truções são abandonada enquanto a fúria do
mar parece adentrar cada vez mais sob a terra. Sede do Conselho
Existem passagens e portas nos
Um imponente prédio de forma circular, com
lugares mais inusitados. Abaixo Túneis de Luz
de uma passarela, no fundo de um domo arredondado e colunas largas, localizado
Obra de Bövrar II, estes túneis são menciona- nas terras mais secas ao oeste de Tiepoli. Aqui se
beco, atrás de um chiqueiro. A ci-
dos em alguns trechos da Vulgata, tidos como reúnem todos os mercadores membros do conse-
dade foi construída e as entradas
grandes proezas de engenharia da antiguidade. lho da capital, local que eles chamam de “Salão”.
foram mantidas. Isso aumenta
Acredita-se que os túneis tenham mais de seis- Dentro deste prédio realizam seus rituais e reu-
ainda mais o clima supertisão e
centos metros de cumprimento e corte boa par- niões que chamam de “modus”. Abaixo de sua
poder causado pelos Verdugos.
te do centro de Tiepole, sendo conectado por decoração requintada, é possível observar regras
Dizem que durante a constru- túneis menores. Os túneis são equipados com simbólicas precisas, muito equivalentes à arquite-
ção, um enviado do Orante de placas de bronze polidas que refletem com per- tura geomântica deixada por Bövrar II e profun-
Varning da época veio até aqui feição, criando assim ilusões. Dizem que apenas damente estudada por Lazlo. A grande sala de
para supervisionar a obra. Ao àqueles abertos realmente ao conhecimento dei- entrada batizada de “Meio” é o único lugar onde
ver sua planta ele identificou xado por Bövrar podem encontrar salas secretas um não comerciante pode entrar. As salas são dis-
as geomancia e bruxaria brovatica existentes lá embaixo, os curiosos, entram e atra- postas de modo a respeitar posições astrológicas
em suas linhas. Comuniquei vessam sem nada encontrar. Escritos ancestrais es- e seu acesso dependerá do seu status da socieda-
pessoal em Birman e nenhum tão talhados na entrada “Luz para uns, trevas para de. O Tribunal, mesmo entrando e saindo no lugar
registro sobre isso foi encontrado. outros”. Sua entrada é proibida, é dito que apenas que desejar, nunca tomou nenhum ação inquisi-
Se for verdade, creio que este Verdugos possuem chaves para as entradas, que es- dora e investigativa sobre tal local. Eles possuem
enviado fora assassinado. tão espalhada por vários locais da cidade. “Capítulos” em Tragliamento e Rivienza.

b 164 b
b DAS CASTELANIAS b
Rio Fortorino Lago Fortuna
Se Tiepole é a cabeça, Tragliamento o cora- O grande lago que é o tributário do rio for-
ção, Fortorino é o sangue. Sem ele Varning per- turino é farto em peixes e suas águas calmas
de seu significado. O rio nasce nas montanhas estimulam a navegação. A antiga ponte que liga-
de Virka, atravessa Típole e Rivienza ao longo va o leste e oeste de Belregard foi derrubada e
de mais de duzentos quilômetros, forma o lago barqueiros costumam cobrar para fazer o trans-
do Castelo dos Sábios e desagua no mar. O rio porte, de ambos os lados do lago, ou do rio.
é realmente largo em Típole e já alagou a capi-
tal três vezes. Grandes paredões de pedra estão
sendo construidos na margem metropolitana do
rio, tentanto impedir sua fúria em situação futura. a
Este rio é rico de grande variedade de peixes e
Um Oponente a Altura
muitos tipos de trutas diferentes. Na margem do
rio é possível comer o melhor peixe de toda região. O Conselho aumenta seu poder e cada via fica
impossível negar que existe uma sociedade
Castelo dos Sábios secreta por trás dos interesses comerciais de
Este local serviu com mausoléu para homens Varning. Esta sociedade discreta tem ações
profanos durante a Era do Sangue. Depois serviu reservadas que interessa apenas àqueles que
como edifício militar na Era da Conquista, épo- dela participam. Seus membros dizem culti-
ca em que foi usada como refúgio por muitos var o aclassismo, os princípios da liberdade,
homens que praticavam atos profanos. Durante democracia, igualdade, fraternidade e aperfei-
a Era dos Homens o lugar caiu em desuso até çoamento intelectual. Eles estão ligados à uma
Meus enviados foram impedidos de
o Conselho tomar sua posse após negociação doutrina que não lhes coloca cabrestos ou limi-
entrar, então eu tentei. Por fim,
com o Tribunal. Hoje o local é usado novamen- tes, criando assim uma forma ímpar de culto,
nem minha reputação nem meus
te como mausoléu para os sábios cavaleiros e unindo os três caminhos que os Puros deixaram
documentos me deram entrada até
membros da sociedade secreta de Varning, mas em apenas um. Esse aumento de poder do Con-
aqui. Fui abertamente afrontado e
dizem as boas pequenas que eles usam o lugar selho tem preocupado o Tribunal. O Conselho
humilhado por tais homens.
para coisas muito mais ocultas. tem guiado os sacerdotes de Varning a agirem
de acordo sua ótica de adoração, criando assim
Academia do Saber uma inimizade velada com o Tribunal. Homens
A primeira, e única universidade de Belregard. foram enviados a Varning com a função de se
Aqui são formados os melhores tutores que um misturar, adentrar à esta possível sociedade
nobre pode pagar, versados em teologia, direito, sigilosa e descobrir os seus segredos e a Con-
matemática, história e filosofia, tem representado selho está agitado, afinal, com quanta liberda-
quebras de paradigmas sociais, ainda que a presen- de de ideias, é sabido que alguns dos membros
ça do Tribunal em seus salões limite um pouco as estão trilhando caminhos perigoso, caminhos
teorias que rompem completamente com o pensa- que não deviam ser ultrapassados.
mento vigente. Localiza-se em um amplo terreno,
murado e protegido, próximo a Rivienza contando
com suas próprias terras para subsistência. O dire-
tor geral da instituição chamase Vitorio de Rivien-
za, um homem severo e Juíz de Varning.

b 165 b
b DAS CASTELANIAS b

Viha
“Honrai os ancestrais.”
Eles estão fracos senhor. O
velho não tem coragem de enfren-
tar e matar seu filho, como era
esperado pelo seu povo. O novo
não quer enfrentar seu pai, pois
sabe que pode perder. Há muito
Capital em um jovem vil. O novo rei é sagaz e quer sair em jogo aqui e o poder está
Divido entre Zamok e Tarlag. do tradicionalismo e evoluir Viha. desequilibrado.
Poder Adoração Não sei se nos alertamos
Divido entre Radu Ignasov e Fëdor Ignasov. Viha comporta grupos de adoração criadorista com a forma sincrética perfei-
O controle de Viha está dividido em um feudo e também dos cultos antigos. O criadorismo de tamente equilibrada da adoração
familiar. De um lado o tradicionalismo de Radu Viha é resultado de uma cisão com os ditames de Viha. Eles conseguiram
Ignasov, o rei por direito, conhecido pelo seu mais tradicionais do Tribunal. Ao contrário do que encontrar um equilíbrio exato
pulso firme quando os assuntos chegam ao seu se podia esperar, por serem belicosos, os vihs en- entre suas antigas crenças
cuidado, mas também zeloso pela liberdade do contraram na visão de Alec, o mendicante, uma e os ditames do Tribunal.
espírito de Viha, pela liberdade dos ducados sob lógica muito mais coesa para com suas tradições Abandonaram seus atos mais
seu domínio, ao mesmo tempo que favorece o ancestrais. No desapego do material o homem se danos, se agarram ao tradi-
status estabelecido e o poder em mãos tradi- aproxima da natureza, e comungando com ela con- cionalismo. Não sei dizer, em
cionalmente escolhidas. Há alguns anos, Radu segue as respostas, orientações e paz. Dessa ma- minha vã sabedoria se seria
partiu em uma busca solitária, visitando a Taiga neira o poder do Tribunal dentro de Viha é muito interessante mexer com suas
Branca para encontrar a cura para Mika, seu fi- pequeno, já que os sacerdotes lá presentes, mes- crenças, pois no fim de tudo,
lho mais novo. Deixou Ivan, seu filho mais velho, mo bispos, mais parecem os druidas dos clãs, ho- são devotos do Único com
no comando do reino e quando retornou desco- mens simples de pés descalços que interpretam os grande fervor.
briu, para seu terror, que o filho do meio, Fëdor, sinais e os augúrios da natureza. Estes homens são
havia matado o irmão e assumido o seu lugar verdadeiros oradores e controladores de muitas O Tribunal deveria mostrar
com o apoio de muito jovens, todos cansados de massas. Os cultos antigos são tão plurais quanto apoio ao jovem. Uma comi-
participarem da vida sem nunca influenciarem o se pode imaginar. Cada clã segue uma linha muito tiva, com sacerdotes, bispos,
resultado final das coisas. Agora, Radu está iso- específica, adorando espíritos de ancestrais, ou de que proponha sua conversão
lado na porção norte de Viha, tentando acertar animais e seres protetores. Existe a ideia geral de ao conhecimento de todos.
as contas com seu filho. Apesar de todo o ódio que o mundo dos mortos, chamado Svarog, seja Tenho certeza de que ele não
que pode sentir pela traição, o velho rei ainda um lugar sempre próximo, acessado por certos recusaria as lanças e espadas
sonha com a Grande Viha e espera resolver a portais, passagens e caminhos escondidos, logo, dos cavaleiro sacros.
situação da melhor forma possível. Já Fëdor não eles possuem muito contato com seus ancestrais.
acredita na teia frouxa onde Viha está amarrada Os cultos não creem numa Alcova Profana criado- Possivelmente, um correspon-
e dedica-se a conquista, fazendo cada clã cur- rista, um lugar separado para o mal, já que o Sva- dente a Fímbria criadorista.
var-se a sua vontade. Mas engana-se quem cre rog comporta toda essa dualidade que é, segundo
eles, o próprio homem.

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b Belregard b
População O Passado
Majoritariamente formada pelos clãs de Viha. Viha nasceu como uma resposta dos bárbaros
Como solicitado, informo à minha A presença de igslavos também é relevante, da planície contra a exploração vinda de Ras-
senhoria que esses homens dominam especialmente em áreas onde os belghos po- tov. Viha fora, por muito tempo, uma terra
o controle do arco. E não são dem ser encontrados, no nordeste. Muitos dos dominada pelo tribunal, mas interpretações di-
homens fracos, como de costume, costumes antigos estão preservados em Viha, ferenciadas da fé sempre foram toleradas en-
são fortes com troncos milenares. especialmente as questões religiosas. Além de tre suas fronteiras. Aparentemente teria sido
Treinados nas armas pesadas, de seguirem com sua própria visão criadorista, em esta a única maneira de manter os bárbaros sob
balanço e no arco. Atiram em arco e Viha os cultos antigos são tolerados pelos clãs. controle. Viha foi uma das maiores opositoras
em linha reta com a mesma precisão. Além disso existe a questão da mobilidade mili- ao poder do Império e o combate aberto domi-
Usam flechas grossas, três vezes tar. Os homens livres de Viha costumam compor nou os campos do reino durante os primeiros
mais grossas que aquelas que usa- as fileiras de arqueiros das forças convocadas pela anos da ocupação. Demorou muito para que os
mos na região leste. nobreza e o valor destas tropas de artilharia faz vihs fossem acalmados e isso veio em uma nova
com que a mobilidade social, a mudança de uma conversão forçada. Muitos filhos foram tomados
Lembro-me de ler sobre as situação de homem simples, ainda que livre, dos pais, levados para a igreja. Coube pratica-
conversões. Os vihs sempre possa ser alterada para a de nobre menor, ou mente a toda uma nova geração o papel de acal-
demonstraram uma vontade ferro mesmo barão. mar os homens do norte. Ainda assim, ao
que só poderia ser dobrada com a longo de toda a existência do império de Vi-
força da fé e, principalmente, do Símbolo/Cor rka, uma ou outra revolta estourava em Viha.
fogo. Transformar estes lobos Sobre o escudo da casa Ignasov, partilhados A criação da Grande Viha pareceu acalmar os
em cães nunca foi tarefa fácil. nos campos negros e brancos, estão a figura do nobres, quando o território de Igslav foi incor-
lobo e do nó. O lobo carrega um forte signifi- porado ao de Viha, situação que mudou depois.
cado em Viha, por isso é apresentado em duas
formas, em guarda e em ataque. Como guar- O Presente
dião, o lobo representa Garmír, a besta que Durante a queda do império, os vihs foram os
defende a passagem do Svarog, que mantém a primeiros a pegar em armas a fim de lutar contra
separação entre os vivos e os mortos. O lobo poder absurdo que começava a destruí-los. Com
em sua postura de ataque apresenta o anseio de a reconsolidação do domínio em Viha, muitos
recuperar aquilo que um dia pertenceu ao povo tentaram retornar para sua antiga terra, mas
vihs, a Grande Viha. Os nós fazem relação di- a instabilidade geral trazida com a queda do im-
reta com a visão dos cultos antigos. É comum pério tornou esta uma tarefa muito difícil para
que os guerreiros, antes da batalha, façam laços a maioria dos homens que foram afastados de
e nós nos cabelos e barbas, isso mostra como seus lares. Com tanta gana por liberdade, não é
seu destino está entrelaçado com o que quer estranho esperar que o infante tenha reais mo-
que ocorra naquele momento. Apenas os deu- tivos para se erguer com seu genitor. A rebeldia
ses, apenas os espíritos podem desatar os nós, está tão atrelada a este povo, que muitos, mes-
que são ao mesmo tempo uma ligação direta mo não concordando, respeitam e apoiam a de-
com os ancestrais. É uma ideia antiga, a de que cisão audaciosa do jovem em desafiar o seu pai.
a vida de cada homem seja traçada por um fio O que é dito por muitos é que o velho já deveria
de tecido na grande trama da existência. Muito ter chamado por duelo e banhado o solo com o
provável que, com a vitória de Fëdor, o brasão sangue do seu filho, mas mesmo que a tradição
passe por mudanças. ordene algo, seu coração paterno tem evitado o
encontro fatal que se dará em breve.

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b DAS CASTELANIAS b
Assentamentos
a Inevitavelmente, as cidades estão sendo dra-
Fauna e Flora Fantásticas gadas para uma guerra civil. O Círculo Alvo,
uma área ancestral de adoração dos povos anti-
Aquilo que se destaca na natureza
gos, onde os clãs vihs sempre se reuniram para
particular de Viha
debates neutros sobre a escolha de seus reis e
Lança de Dazbog: Este cogumelo escuro e outras grandes decisões, tem servido como um
pontudo brota em muitos lugares de Viha. Tem marco geográfico entre os dois domínios. A
seu nome como referencia de um deus antigo Viha de hoje representa dois reinos em um só. A
que representa o sol para os povos vihs. O co- guerra aqui é fria como os alpes do litoral norte.
gumelo é utilizado em muitos rituais de bata- O velho escolheu um campo neutro para nego-
lha e mesmo antes destas, já que é capaz de ciações, o jovem escolheu outro. Mesmo os mais
levar os homens a um estado de transe insano próximos do reis não sabem como agir e têm
e assassino, onde desdenhas das proteções e medo de tomar uma ação errada. O conflito é
se lançam ao conflito de peito aberto, como diferente do esperado, tomado por covardia de
pontas de lança. escaramuças e perscrutação.

Arctodus: Este imenso urso vaga em peque- Existem seis grandes cidades ancestrais, todas
nos grupos familiares pelas terras de Viha. É elas recebem o apelido de Cabeças de Scylla. Esta
um animal magnífico e assustador. Muito maior que fora uma divindade cultuada no passado,
que qualquer urso de Belregard, são ainda mais como uma besta dos mares. Pelo que as lendas
magros, de modo que suas cargas são acelera- antigos relatam, Scylla seria uma ninfa de rara be-
das com as pernas longas. A pele destes animais leza, mas da cintura para baixo ela estava ligada a
é valorizada, mas possuem uma aura quase sa- inúmeros tentáculos que terminavam com a cabe-
grada para os clãs de Viha, que caçam estes ani- ça de lobo que uivava e rosnava sem parar. Este seria o momento perfeito
mais apenas como parte de elaborados rituais.
Cada cidade que compõe a Scylla é escolhida
para firmam uma boa alian-
pelo Rei. Caso um novo rei assuma, ele poderá
ça. Nosso espiões possuem
destituir ou erguer novas cidades. Estas cidades
informações privilegiadas caso
Relações e Comércio possuem regalias vantajosas, como menos im-
o Tribunal tenha interesse.
Os vizinhos estão com medo de fazer negó- postos, mais soldados, melhores sementes e vi-
Tanto o pai quando o filho
cios, estão com medo de escolherem o lado er- gilância acirrada. Isso apenas fortalece o status
estão atrás de ajuda, e podem
rado. Caso façam negócios com o velho, terão quo tão odiado pelo jovem rei.
a qualquer momento, dar um
sérios problemas comerciais com o novo. Caso
passo vacilante em direção ao
escolham o novo, podem sentir o peso da fú- Zamok fracasso.. A hora perfeita para
ria do velho. O lugar vive sob tensão, pois não (aprox. 10.000 habitantes) encontrarem a mão do Tribunal.
há uma guerra declarada, apenas movimenta- É a capital oficial de Viha, localizada ao sul do
ções. O velho não deixa claro suas intenções, Círculo Alvo, de modo que atualmente encon-
o jovem tem movido suas peças com audácia. tra-se ocupada por Fëdor e seus partidários. É
Os vizinhos têm medo disso e estão estocando uma cidade grande, murada e repleta de salões
comida e armas. Alguns pretendem lucrar com de madeira, onde os festejos são constantes.
uma possível futura guerra. Todos os ânimos A despeito da postura belicosa atual ocupada
estão inflamados. aqui, os clãs não deixam de celebrar. O clima ge-

b 169 b
b Belregard b
ral é de vitória, todos consideram que o reinado
de Radu terminou e é só uma questão de tem-
po até que o crânio do velho esteja enfeitando
a
as paliçadas. Patrono Local: Fëdor Ignasov, o Cavaleiros Mercantes em Viha
filho do rei. O príncipe é jovem e visionário, bei-
rando o fanatismo em seu sonho de conquista. Devido a atual situação política de Viha, os ca-

A coisa é tão séria meu valeiros mercantes da castelania estão em forte


Borghatya
senhor, que nem mesmo os desuso. Alguns grupos continuam atuando nas
(aprox. 2.000 habitantes)
tradicionais e sagrados ritos cidades fronteiriças, fazendo o serviço para as
de inverno foram respeitados. Fica ao sul, ás margens do lago Vorga. Prati- casas mercantes da forma tradicional, juran-
Os reis não foram vistos, cam a caça e realizam festividades esportivas de
do fidelidade e se valendo com a honestidade
preferiram ficarem isolados em inverno. Local é conhecido pela ótima madeira
e dedicação. Como servem aos comerciantes,
seus quarteis de guerra, evi- cortada das florestas leste que fazem sua fron-
sua lealdade não se encontra dividida num nível
tando expor-se. O povo está teira com Dalanor, pelo lago. Uma área que ainda
triste e os sábios dizem carrega o misticismo dos vizinhos. Patrono lo- imediato, mas seus senhores, os ricos negocia-

que isso irá irar os ventos do cal: Gornek, o Curto. Homem baixo e atarracado, dores, podem colocá-los em posições opostas

inverno. Parece que um grande feroz seguidor de Fëdor, sendo seu amigo desde nos conflitos nascentes. Isso seria belo senão
inverno está chegando.. a infância. Dizem que foi Gornek quem segurou trágico, pois tais cavaleiros têm sido pegos na
Ivan para que o amigo pudesse matá-lo. Gornek guerra trocada, entre os disparos de ataques,
fala pouco, preferindo a linguagem do aço.
eles são os primeiros a morrer. Como mensa-

Borgrovinik gens de alerta, alertas de terror, saque e assas-

(aprox. 5.000 habitantes) sinato, esses cavaleiros são usados como peças
Fontes seguras meu senhor, Uma cidade que vive da pesca do mar, desen-
no triste tabuleiro que os dois reis indecisos co-
nos garantem que a bruxa está volvida com a tecnologia de barcos que supor- locaram na mesa. Se não fosse pelos pesados
agindo para os dois lados. Tem tam as marés traiçoeiras. Possui águas termais votos de lealdade, todos debandariam. Aqueles
se encontrado com o pai, mesmo que foram transformadas em banhos na época que o fizeram, encontraram tristes fins.
jurando lealdade ao filho. Alguns do império e ainda hoje são populares como fon-
dizem que ela quer cumprir tes curativas para algumas doenças. Um dos lo-
planos malévolos, outros alegam cais que juram total fidelidade a Fëdor. Patrono
que ela tenta apenas remediar Local: Baba Vikina, a velha bruxa é a principal pedra, boa parte das pessoas vivem em largas
a situação. Independente disto, conselheira de Fëdor. O jovem príncipe leva os tendas de couro com postes centrais. A caça é
tomando por verdade, essa enig- conselhos da sábia em muita conta. Acreditam a principal atividade local e torna Tarlag uma
mática criatura tem seus próprios que ele mesmo não forçou um encontro com o cidade famosa pela troca de peles e demais de-
interesses nesta guerra. pai porque Vinika lhe disse sobre dias auspicio- rivados. Alguns senhores de clãs do norte tem
sos para o combate, coisa que o rapaz espera. ocupado áreas de Tarlag com seus homens para
mostrar apoio ao rei, fato que, mesmo entre
Tarlag aliados vihs, faz estourar uma ou outra briga
(aprox. 8.000 habitantes) volta e meia. Patrono local: Radu Ignasov, rei
Cidade ao norte do Círculo Alvo, atual refúgio de Viha. O velho alfa dos lobos bárbaros vive
de Radu Ignasov. Trata-se um lugar caótico, com em um estado de latende depressão, incapaz de
poucas construções permanente de madeira e acreditar nos últimos acontecimentos.

b 170 b
b DAS CASTELANIAS b
Dizem que infiltradores do
Gravura estilo bertina de Mottazzi jovem príncipe estão procu-
representando as cidades Ignar e Röv.
rando uma brecha para raptar
Mika. Ele não quer que esse
casamento seja firmado, possui
outros planos para a irmã.
Mas será difícil passar pela
proteção de Lerith e toda
sua sagacidade. Além disso,
a Alta conta com ajuda dos
melhores homens do velho rei.

Tudo indica que os druídas não


estão felizes com a atual
situação de Viha e que, se pai
e filho não se resolverem irão
invocar antigos ritos sangren-
tos, que obrigarão os dois a se
enfrentarem ou darão a coroa
para uma nova linhagem.

milenares concedem poderes mágicos aos druidas que aqui vivem e por
isso é o local onde os mais antigos ritos são realizados. O tribunal nunca
Röv (aprox. 5.000 habitantes)
consegui entrar em Borgata e nem mesmo a religiosidade mesclada do
Esta cidade na margem do rio Stöv é a prin- criadorismo tem força nos salões dos druidas. Patrono local: Tebrus, o
cipal aliada de Radu. A cidade é irmã de Ignar, seco. Este velho druida vê com alegria os conflitos de Viha, entendendo
no território de Rastov, do outro lado do rio e, que o caos é o que os deuses desejam.
seguindo conselheiros, o rei pretende casar sua
filha com o filho de Bron, senhor daquelas ter- Forças Militares
ras. Talvez seja o primeiro passo para que Radu Como sempre foi formada por clãs quase independentes, as forças de
demonstre que deseja formar a Grande Viha no- Viha são livres, servindo apenas ao senhor do clã ou ao rei em tempos
vamente. A cidade em um porto pesqueiro prós- de guerra e, agora, encontram-se divididas em duas frentes.
pero que, apesar de manter um povo belicoso
por trás de suas parcas muralhas, sempre expe- Ratos de Fëdor
rimentou tranquilidade. Patrono local: Lerith, (número desconhecido)
a Alta. Forte aliada de Radu, Lerith está com a Agem como espiões, captando informações e principalmente, denun-
guarda de Mika, a filha mais nova do rei. A me- ciando qualquer um que não apoie o novo rei. Possuem uma série de
nina se recuperou da saúde debilitada, mas deve gestos e sinais que os identificam como parte do grupo. Um métodos
ser poupada dos horrores da guerra, da luta en-
de guerrilha completamente nova para o povo de Viha.
tre os de seu sangue.
Mandíbula de Garmír (150 lanceiros)
Borgata (aprox. 2.000 habitantes) As forças principais de Fëdor que aumentam dia após dia. Todo jo-
A cidade dos sábios possui os mais anti- vem poderá portar uma arma e mudar o futuro e por isso, mais e mais
gos sítios. Dizem que ossadas de criaturas recrutam se aprontam.

b 171 b
b Belregard b
Serpentes de Anulag (150 lanceiros)
a
Descendentes de um culto primitivo, esses
Holspä, os jogos da virtude
guerreiros são escolhidos em seu nascimento.
Sem sentimentos, eles servem como assassinos,
Sedia-se anualmente em Borghatya o Holspä,
capatazes e carrascos para o rei. Atualmente
uma sequência de atividades esportivas que
encontram-se divididos, mas ainda tendem a
tomam vários dias de toda a castelania. São
servir Radu, pelo menos até que Fëdor consiga
enviadas equipes de todas as cidades e todo e
matá-lo.
qualquer conflito ou situação de instabilidade
política é parada durante os jogos. Porém, di-
Vigília Imortal (200 lanceiros)
ferentemente da caça, torneios de arquearia ou
Contingente maior responsável por julgar e
justas dalanas, por exemplo, a Holspä se adéqua
servir. Como andarilhos, estes soldados cami-
à austeridade e simplicidade de Viha. Disputas
nham com a função de proteger os mais fracos.
como arremesso de toras de madeira, resistên-
Tentam ignorar o conflito e concentrar-se na
cia em submergir no lago Vorga, parcialmente
segurança dos clãs.
congelado, e disputas pelo maior consumo de
porcos assados são apenas algumas das moda-
Lobos de Radu
lidades do festival, que possui grande consumo
(100 lanceiros e 100 arqueiros)
de bebidas alcoólicas e festividades em todas
as noites. Vez por outra o Tribunal envia seus A guarda pessoal do rei respondeu ao seu

homens para tentar fiscalizar a festa, mas nada chamado assim que ele se estabeleceu no norte.

surte efeito. Seus arqueiros são lendários como matadores


profissionais, fazendo uso do arco de teixo, tão
Para além de ser um ritual que instaura por famoso entre os vihs. Seus número tem aumen-
muitas vezes a paz em meio à tensão da caste- tado, até mesmo aqueles que estavam velhos
lania, verdadeiramente decide laços de aliança têm desenferrujado suas armas para servir seu
e exalta honra e prestígio aos participantes. rei verdadeiro.
Há alguns que afirmam que as facções políti-
cas e os acordos são verdadeiramente selados Construções e Formações
não nos bastidores do Holspä, mas durante as Dos locais mais importantes, estes são os que

competições. Vencer um torneio, pode signifi- se destacam.


Neste rito, duas pessoas
car uma vitória em uma circunstância na qual
são obrigadas a lutar, com seria muito improvável sair vivo em um comba-
Hadzihel “Círculo Alvo”
armas cegas e pouca proteção, te armado. Contudo, apenas vihs e igslavos são Dizem que a primeira grande assembleia dos
fazendo com que o combate autorizados inicialmente a participar dos tor- clãs ocorreu com a chegada dos belghos na mar-
dure muito. O derramamento neios, ainda que nomes de estrangeiros estejam cha de Larsen. Eles se reuniram num antigo tem-
de sangue deve durar horas grafados na grande pedra que registra o nome plo a céu aberto, um círculo de pedras, para deci-
em um combate até a morte, dos antigos vencedores. Como eles consegui- dir o destino dos estrangeiros. Ainda hoje o local
causando muita dor antes que ram participar do Holspä? Há quem diga que é é respeitado como terreno neutro, especialmente
o derrotado seja levado dessa necessário efetuar um ritual iniciático. Talvez para as questões do conflito entre pai e filho. É
vida para os braços da morte. seja por isso que apenas ao lado dos nomes dos muito possível que o ritual da monomancia tome
estrangeiros há uma marca de sangue… palco entre estas pedras antigas, que já viram
muitos reis serem coroados e depois tombar.

b 172 b
b DAS CASTELANIAS b O local está confuso até
Küstefeld “Alpes do Litoral” realidade são antigas tumbas dos senhores de em sua linguagem. Antigos
A fronteira física de Viha com Rastov é a Tai-
clãs do passado, assim como se seus homens e tradicionais nomes estão
ga Branca, porque a costa norte, outro caminho
sábios, seus druidas, feiticeiros e sacerdotes. sendo abandonados pelos
possível, é macada por paredões rochosos pe-
Um terreno tomado por superstições e medo, equivalentes da linguagem
mas que atrai os loucos e corajosos com a pro- comum. Isso têm irado druídas,
rigosíssimos, onde imensas aves fazem ninhos.
messa do ouro enterrado junto destes homens principalmente por ser adotado
Além disso, por seus vales profundos existem
importantes do passado. pelos incultos e apoiado pelo
buracos chamados “Ira da Terra”, por onde jatos
de água fervente jorram de tempos em tempos.
jovem príncipe.
Caminhar por estes corredores é muito perigo- a
so, já que os buracos expelem fumaça a todo
O Isolamento em Viha Em sigilo, relata-se que o
momento, jorrando sem qualquer aviso prévio. jovem, tomado de ganância,
Além dos perigos naturais de uma terra indô- tem aceitado entre os seus,
Hassjäger “Campos de Caça” toda sorte de bandidos e
mita, Viha sempre foi arriscada para viajantes.
Este termo se refere a todo território selva- Antes mesmo do conflito de sangue familiar, saqueadores. Até mesmo o
gem de Viha. É uma prática comum entre os os clãs já eram uma ameaça para viajantes crime mortal de saquear as
clãs realizar rituais de passagem entre os jovens desavisados. Quem não conhece as terras não Planícies Ondulantes tem
que se tornam adultos. O mais popular é o da imagina que está passando de um território sido perdoado, tudo em troca
caçada, onde os jovens candidatos são manda- para outro, de modo que podem ser abordados, de mais e mais lanças para
dos para os campos próximos do clã e devem ou atacados diretamente, por grupos divergen- travar sua guerra.
sobreviver durante uma semana, enquanto são tes a qualquer momento. Existem clãs que são Se isso for verdade, ele está
caçados pelos seus companheiros. Dificilmente até mesmo nômades e vivem apenas do saque alimentando a fera que poderá
alguém morre no processo, mas aqueles que são de viajantes ou nas colheitas. Atualmente a si-
lhe devorar por inteiro.
capturados devem passar mais um ano como
tuação se tornou ainda pior, já que a divisão
crianças até terem uma nova oportunidade.
interna em dois blocos deixou as hostilidades,
que eram apenas por baixo dos panos, declara-
Waldklänge “Floresta dos Sussurros”
das. Viha nunca esteve tão perigosa.
Este ramo da grande floresta de Dalanor, nas
Terras Altas, carrega muitas características se- Ouro de Reis, Ruína de Tolos
melhantes ao terreno vizinho, mas as árvores
É de conhecimento geral para os moradores
seguem uma mescla, tornando-se coníferas na
de Viha que muitos tesouros e artefatos len-
margem oeste. É uma área exuberante e fresca,
dários estão enterrados junto de seus antigos
convidativa, com uma fauna farta. Local tam-
donos nas Planícies Ondulantes. Apenas um
bém de lendas, já que os povos feéricos de Dalanor
tolo tentaria roubar as posses de antigos reis
certamente perambulam por lá também. Os kil-
e druidas, mas uma busca pode ser motivada
then das Terras Altas fazem a floresta de morada.
pelo desespero, especialmente com Viha vi-
Faldwell “Planícies Ondulantes” vendo sua divisão ao mesmo tempo que em
que observa a possibilidade de recuperar seu
Uma série de morros baixos que podem fa-
território de Igslav.
cilmente confundir o viajante, mas que na

b 173 b
b DAS CASTELANIAS b

Virka
“A torre que nos levará ao céu.”

Eu tentei meu senhor, mas falhei. Me esforcei ao máximo, mas falhei. Virka se tornou
uma terra fechada, uma
casca bruta impenetrável. O caminho para entrar no vale, o passo da glória, ainda está
sendo ladeado pelas
figuras silenciosas de antigos imperadores cravados nas rochas escuras, mas tudo lá
dentro mudou. As cidades
de mármore estão arruinadas e a natureza reclama o terreno de volta para si. O vento
que sopra no vale é
abafado, carregado de miasmas enlouquecedores, prova disso é que alguns insistem em
viver naquela terra mal-
quista. O que pude fazer, de melhor, foi juntar relatos de alguns viajantes, ou fugitiv
os, tentando dessa forma
compreender o que existe lá. Enviei algumas pessoas eu mesmo, mas o resultado não foi
melhor. Alguns não
retornaram, outros vieram loucos e um deles ousou dizer que viveria no vale para sempre
, pois é supostamente
uma terra de liberdade, certamente os devaneios de um homem demente. Transcrevi o
material, já que muitos se
encontravam em situação lamentável. Espero encontrar teu perdão pela falta de compet
ência.

Mensagem do batedor Enrico, para o seu senhor


“Ainda existe vida no vale, meu senhor! Vir- A palidez da pedra é hoje manchada pelo
ka já recebeu muitos nomes. Já foi a primeira verde da natureza, que parece encobrir o
cidade dos homens, o centro do mundo, a ca- vale. É como se o próprio tempo fizesse o pos-
pital de um império, mas hoje jaz em ruínas sível para esquecer-se de tudo que ali acon-
– abandonada a própria sorte. Evitada por teceu. Os testemunhos de sábios sobreviventes
todo e qualquer homem de bem, os boatos e da queda do império alegam que nenhum
rumores sobre as condições vergonhosas do exército seria capaz de destruir a cidade, da
antigo orgulho imperial se espalham pelo forma como foi e eu sou capaz de atestar isso
mundo civilizado. Apenas relatos posteriores com meus olhos. As construções megalíticas
à queda dos Vlakin, e algumas notas de via- de Virka resistiram a investidas de aríetes e
jantes corajosos, loucos ou perdidos, dão cabo catapultas. Algo fez esta terra tremer. Não
de pintar uma visão da cidade. Sabe-se que caminhei pelo centro do vale, circundei as
as antigas estruturas de mármore, com seus montanhas e encontrei os abutus vivendo no
pilares circulares e estatuetas de perfeitas fei- norte. Um povo tímido, receoso de qualquer
ções estão arruinadas, mas ainda de pé. um de fora. Não sei se são pecadores por na-
tureza, como alega o Tribunal, mas até mesmo
eles enxergam a maldade em Virka”.

b 175 b
b Belregard b
a
Não é tão Ruim Assim?

O vale de Virka é grande o bastante para conter um punhado de cidades e vilarejos. Quando a guerra civil
se espalhou como fogo dentro do vale, boa parte destes lugares se tornaram perigosos, por conter algumas
riquezas que logo seriam saqueadas, mas e depois? Não haveriam soldados, cavaleiros, que participaram
das guerras e desejavam tomar pra si um pouco daquela terra? Não haviam filhos muito abaixo da linha
sucessória que teriam melhores chances firmando um ducado, ou um condado dentro do vale de Virka? Por
que isso não aconteceu? Primeiro, por não existir mais um poder centralizador que desse a confirmação
desse novo controle. Mas nada impede que estes homens tenham sim tentado se firmar a força. E se existem
duques e condes em cidades arruinadas, fazendo o possível para manter sua própria hegemonia no vale?

Relato de Benegário de Tiepole


“Meu senhor, perceba, sou apenas um comerciante. O que eu faço é um serviço para nobres saudosistas ou curiosos.
Minha casa conseguiu fazer algum nome nos últimos anos e com meus cavaleiros mercantes conseguimos entrar no
vale para recuperar alguns objetos. O senhor sabe que o artesanato de Virka é valorizado, assim como seu trabalho
em pedra e dessa forma recupero estes artefatos mundanos para vender. Não pense que roubo ou que saqueio, muitas
das vezes é apenas outro mercado. A menos de um dia de cavalgada, depois da passagem pelas montanhas, uma
antiga vila é utilizada como ponto de troca. Quem cuida dela são pessoas que continuam vivendo lá. Eu não questiono,
não pergunto sobre seus senhores, nem mesmo sobre seus interesses com o que eu troco, mas eles sempre me desejam
a segurança do Criador, e isso me basta”.

a
Ruínas e Relíquias

Virka está cheia de tesouros do passado, os mais importantes são a Coroa do Imperador, a pesada máscara
de ferro negro que o conquistador forjou em Belghor; A Litania do Criador, o tomo máximo, imenso e pe-
sado do criadorismo, perdido desde a queda, contendo os caracteres de poder ditados pelo Pai; o Esteio do
Eleito, o báculo divino daquele que guia a alma dos homens; O Primeiro Livro dos Grandes Milagres, um
livro catalogando os atos supernos realizados pelos homens de fé desde o inicio dos tempos. Estas e muitas
outras relíquias podem ainda estar nas ruínas de Virka, ou na posse de pessoas de outras castelanias que
já enviaram seus saqueadores. Este interesse por relíquias sempre existiu, mas agora é fomentado, já que a
capital do império caiu, fazendo com que armas de soldados, formas de brasões, elmos de crista, estátuas
de homens importantes, tudo seja ainda mais procurado. E algumas casas nobres acrescentam estes objetos
a suas galerias de artes.

b 176 b
b DAS CASTELANIAS b
Das confissões de Vougan Velhaco
“Nossos inquisidores questionaram a decrépita figu- Lá, percebendo que no interior do poço havia o que
ra de Vougan até ele nos contar sua verdadeira parecia ser sangue, coletou alguns sanguessugas que
história. Verdade ou não, confirma a perturbação estavam agarrados as paredes e em massas de carne
de sua mente e justifica o uso do fogo para acabar disformes. Vougan detalha de forma depravada o
com seu tormento. O velho alega ter mais de cem apetite que sentiu enquanto observava o pequeno
anos e que recebeu a benção da vida quando fez animal se contorcendo entre seus dedos e chegou a
parte do grupo de mercenários de Dalanor, “Riso babar durante o depoimento, lembrando-se de como
de Tiecelin”. É uma figura respeitada neste vilarejo foi delicioso colocar aquilo na boca e morder até
e o povo ignorante o chama de milagreiro. Pouco estourar, com o sangue fresco alimentando-o. O ve-
depois da queda do império, o bando de Vougan foi lho disse que sentiu-se mais vivo que nunca, dono de
enviado a Virka para saquear e depois de se separar uma saúde de ferro. Uma blasfêmia, naturalmente.
do grupo, encontrou um poço fétido dentro dos anti- O fogo lhe trará paz”.
gos salões desmoronados da capital.

a
Sangue Fresco

O sangue é um elemento importante na cultura geral de Belregard. É através do trabalho nele, com as san-
grias, que um homem doente pode ter seus humores equilibrados e encontrar a cura. É de conhecimento
geral que o sangue dos reis é diferente do sangue dos meros mortais. O que dirá então, o sangue de um impe-
rador? Dizem que era costume em Virka, na capital, guardar os sanguessugas do tratamento da família. Eles
eram mantidos em poços úmidos e eram bem alimentados. Esse cuidado era motivado por esta crença de
que o sangue da nobreza é diferente do da plebe e, quando caindo em mãos erradas, poderia utilizado para
feitiços e pragas. Talvez Vougan tenha tido a sorte de abocanhar o sanguessuga que carregava a essência dos
Vlakin, ou o motivo de sua longevidade seja outro, completamente diferente.

Devaneios de um fugitivo de Virka

“Este homem foi encontrado em Rivienza, Varning, com os pés sangrando. Ele tinha um sorriso demente
nos lábios quando viu as pessoas saindo de suas casas pela manhã. Foi detido, considerado um degenerado.
Estava nu e desnutrido. A igreja foi chamada e um sacerdote conseguiu tirar dele algumas verdade. Chama-
va-se Erasmus e vivia em Virka. Segundo ele, tinha família e fugiu de lá porque seria condenado a morte.
Falou que Virka não tem um rei, mas a antiga capital é ocupada por um poderoso culto, o Vermis Vocis.
Eles fazem uso do grande fosso escavado pelos imperadores, onde está uma ligação para a Alcova Profana
da Sombra Viva. Lá, os imperadores arremessavam os condenados por traição e Erasmus disse que havia
traído o culto e por isso fora condenado, mas fugiu, porque não queria ouvir o rugido da besta. Um louco.
Mas é preciso ter cautela, já que é possível que toda sorte de cultos se proliferem nas ruínas abandonadas”.

b 177 b
b Belregard b
a
O Vermis Vocis

O culto é um exemplo do tipo de deturpação que pode ocorrer dentro de Virka. Como os imperadores ha-
viam, em sua arrogância, escavado um fosso profundo no meio da cidade, para jogar lá seus condenados
como um testemunho de que Virka era maior que a Sombra, não é difícil de imaginar um uso disso para
cultistas e fanáticos. O Vermis Vocis é liderado pela misteriosa figura que atende pelo nome de Voz e todo
seu conhecimento é baseado na leitura de um livro chamado Laudare ad Vermem, escrito na Fala Negra de
Belghor. O culto controla alguma parte das antigas ruínas, cobrando tributo dos moradores que ainda vivem
lá. Na maior parte do tempo não incomodam, mas ocasionalmente surgem com demandas, como exigências
de sacrifícios, além dos tributos de plantio. No fundo, talvez, o Vermis Vocis represente um monarca como
qualquer outro homem cruel de Belregard.

Canção do Fora da Lei

“Uma pequena estrofe da música que tem sido ouvida, não nos salões da nobreza,
mas nas praças sujas de cidades e vilas pobres...

“Venha você, bandido, caminhe comigo

Até a verdejante Virka, onde todo homem tem abrigo!

Árvores, caça e o frescor da sombra do vale

Longe da corte e do prelado, onde só a traição cabe!”

a
Corte Criminosa

É de se imaginar que os boatos também causem desejos exploratórios, especialmente quando as lendas
falam sobre uma terra sem reis, onde todos os homens vivem livres, respeitando-se uns aos outros. Párias,
bandidos, criminosos, veem Virka como uma terra prometida, um lugar seguro, onde podem viver sem as
cobranças da vida juramentada, onde podem caçar e viver uma vida simples, feliz. A situação pode até ser
essa, em algum lugar do vale, mas tratá-lo por inteiro como um paraíso pode tirar boa parte do tempero que
o torna interessante para uma história, como a sombra sempre presente da corrupção que vaza do fosso no
meio da antiga capital. E todos nós sabemos: Virka pode até mesmo ser um paraíso, mas basta o número
certo de seres humanos para que tudo se torne ruína e o abuso de poder ocorra.

b 178 b
b DAS CASTELANIAS b
Das palavras do louco Inácio, trancafiado em Vlakir
Inácio fora capturado depois de enlouquecer. Vivera como nobre em Vlakir, aceitando os ditames detur-
pados da religiosidade local e como viera de uma família apegada aos preceitos do império, Inácio viveu
bem até abraçar a loucura. Ele disse, em seus devaneios, que havia encontrado diários de seu avô, que
fora camareiro do último imperador e que, supostamente, esteve com o Vlakin em seu último momento. Seu
avô viveu em Vlakir por pouco tempo e o jovem Inácio tinha apenas uma única lembrança dele, do dia
em que o encontraram em sua casa, nu e imundo, tendo deixado mensagens nas paredes e em folhas, com
dizeres estranhos, mapas do céu noturno e orações apócrifas. O velho escondeu as anotações entregando
ao neto, dizendo-lhe que um dia ele entenderia tudo aquilo. Inácio alega que compreendeu, mas não tem
os papéis. Para a absorver todo o conhecimento, devorou as páginas. E agora murmura que espera a
chegada deles, porque as estrelas se alinham e logo um grande olho se abrirá no céu. Ele gargalha e
se refestela na própria imundice, alegando já ouvir o rufar demente das trombetas da destruição. Não foi
purificado no fogo, pois alguns homens de Vlakir acreditam que a loucura de Inácio é um toque de Deus
e que, apesar de perturbado, o que ele prevê é o alcance do terceiro céu.

a
O Fim do Mundo

Preocupações sobre o fim do mundo sempre existiram em Belregard. Dificilmente um homem comum
pensa no mundo muito distante do momento em que ele vive. Projeções daqui a 100, 200 anos são com-
pletamente absurdas mesmo para os reis que podem, no máximo, esperar que seu sangue ainda esteja
correndo entre a nobreza. Eventos marcantes, como eclipses, sempre são acompanhados de uma pesada
carga de crendice escatológica. E mesmo a situação atual do mundo, em sua política isolacionista, faz
com que o fantasma de um apocalipse paire no ar. Os de cabeça fraca se agarram a cultos inomináveis,
que alegam reconhecer aquele punhado de escolhidos. Outros lutam por uma nova união, dizendo que
esse afastamento dos povos envergonha o Criador. O fim do mundo pode muito bem já estar, no isolamen-
to, ou talvez ele venha dos céus, das entranhas da terra, com o despertar de coisas antigas. Mesmo que
tratada com certo desdém em outros lugares, por pessoas esclarecidas, em Virka parece que as pessoas
realmente creem que o mundo está para acabar.

Relato do mercador Décio:


Em certa feita, numa grande feira, conheci um rapaz que veio de Virka. Seu nome era Túlio e disse que
era “nascido no touro”. Não entendi na hora, mas depois que dividi a tenda com ele pelos dias da feira,
acabou se abrindo comigo. Túlio disse que, apesar de Virka ter sido o berço da maior civilização que já
marcou Belregard, a mistura gerada lá e o abandono do Tribunal fez com que ritos antigos, misturados
entre si, voltassem a aparecer. Ele disse que se chamava tauromaquia, nunca tinha ouvido esse nome em
minha vida. Aparentemente, a pessoa a ser batizada lá, era banhada no sangue de um touro, grandes
touros, atiçados pelos participantes, que depois se entregavam aos festins e libações. Ao que entendi, não
era apenas um batismo daqueles que nascem, mas também para aqueles que se tornam guerreiros. Saiba
apenas, vossa santidade, que não mais me deitei com Décio, ou o permiti em minha tenda, depois de desco-
brir isso. Eu juro pelo Criador nos céus.

b 179 b
b Belregard b
a
Velhos Inimigos

Um medo perene que ainda assombra os pensamentos dos moradores de Belregard é o retorno dos selva-
gens. Muitos ainda tocam nestes nomes, alertando filhos, vizinhos, sobre os perigos de se caminhar pelos
ermos, onde eles ainda viveriam. É fato que não se vê um selvagem a mais de mil anos, mas as práticas
deles ainda podem ser encontradas em comunidades isoladas do mundo. Com Virka não foi diferente.
Poderiam os homens do vale ter encontrado algum sobrevivente? Talvez aprisionado de forma misteriosa,
com o uso de algum sortilégio brovático, dentro de salões profundos? Poderia algum tipo de selvagem
voltar a caminhar sob o sol? Ou mesmo algum dos patriarcas e matriarcas que pariram estes seres? Po-
deriam ser eles homens? Afinal de contas, não seria a selvageria inerente a todos nós?

Localidades e Marcos
É possível deduzir algumas coisas que ainda
existem em Virka, algumas características que
se mantiveram mesmo com a queda do império.
De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:

Virka, Cidade das Torres


A capital, primeira cidade dos homens, sempre
foi grande, espaçosa e protegida. De certo que
suas muralhas, hoje, estão arruinadas e suas tor-
res tombadas, mas é nesta ruína que encontram
o Castelo Real do Imperador, a Catedral do Dei-
cídio e tantos outros locais de extrema impor-
tância na história dos homens, como o grande
fosso que liberou os miasmas que envenenam o
mundo. De certo que foi um local saqueado, mas
sabe-se lá o que ainda pode existir de valioso em
seus corredores e salões abandonados.

Sapienta
Gravura estilo
bertina de Mottazzi Um complexo de torres e salões de estudo,
representando ruínas
comumente vistas local onde o imperador passou a maior par-
em Virka.
te de seus últimos dias. Estudava com afinco
textos antigos e proibidos. Dizem que morreu
na mais alta das torres do complexo, tran-
cando-se em uma das salas, onde ateou fogo.
Fica ao nor te de Virka e perdeu boa par te de
seu valor nas chamas.

b 180 b
b DAS CASTELANIAS b
Obelisco de Morovan
Assim como existe a pedra angular e funda- Alguns alegam já terem-na visto flutuar em certas
mental em Belghor, que marca o ponto onde as noites. Outros falam que ela aumenta de tamanho, como
primeiras lições do Criador foram deixadas, Vi-
rka exibe o Obelisco de Morovan como o mes- se saísse da terra, outro já dizem o contrário, que ela era
mo significado. Com a altura de mais de cinco bem maior. A única verdade é que existe algo de estra-
homens, acredita-se que esta imensa pedra ne-
gra e lisa, angulosa, já estava erguida quando
nho com o Obelisco, sendo essa estranheza algo muito
os homens chegaram ao vale. Era um local de particular do observador.
orações e pedidos, onde os primeiros oradores
faziam suas celebrações fundamentais.

As Fendas
Uma formação mais recente, as fendas não
tem apenas um lugar como referência. Elas são Tudo está morto senhor. Um campo enorme, como um baronato,
rachaduras, buracos na própria terra, por onde todo queimado. Sem vida. Mas não foi fogo, mas sim o calor da
exala calor e fumaça. Acredita-se que sejam re-
terra que não permite que haja vida. É assombroso.
verberações do grande fosso escavado no meio
da cidade, uma resposta da Alcova Profana, que
agora faz os seus próprios caminhos para Belre-
gard. Evita-se ao máximo passar perto das cor-
rentes de ar quente que exalam destes buracos.

As Fossas
O antigo local onde fora tirada toda pedra uti- Isso serve como proteção natural ao local meu senhor. Um
lizada para a construção do império se tornou
um conjunto de fossos horrendos, deformes, es-
grande contingente teria muitas dificuldades para adentrar à
quálidos, nas montanhas que circundam Virka. cidade sem ser surpreendido pelos enormes buracos, que aparecem
Buracos enormes feitos pelos homens, tomados de repente e sem aviso. Parecem verdadeiras alcovas profanas em
de águas sujas pelos antigos resíduos da escava-
ção e cercado por uma vegetação hostil.
escala menor. E há quem diga que brotam bestas nunca antes
vistas de tais orifícios. Obviamente crendices.

b 181 b
b DAS CASTELANIAS b

Vlakir
“O que você teme?”
Senhor, desde já peço
desculpas se lhe ofendo com
as palavras que escreverei, mas
meus olhos apenas relatam
aquilo que vi e li. Não aumentei
Capital Adoração um único fato, mesmo quando
Chryssos (Cidadela de Prata). Braço apócrifo do Criadorismo. Durante a minha alma foi acometida pela
queda do império, quando tudo começou a ruir imensa surpresa e descrédito.
População frente aos olhos dos homens, muita coisa mu- Não creio das sandices que
Maioria Belghos seguido de Parlos e uma dou sua ordem. Antigos caíram e novos se reer- ouvi, mas não sou eu que devo
mistura de várias etnias que se juntaram na for- gueram. O atual Rei Demiurgo foi iluminado julgar, mas antes de tudo,
mação da cidade desde a época do império. É por um profeta misterioso e todos agora creem deixo claro pela minha alma
estranho, não segue uma lógica esperada. Uma em Demiurgo, um dos nomes do Único. Ocorre como testemunha: Ao Único
mistura disforme e impossível em qualquer ou- em Vlakir uma heresia declarada, um culto a fi- não reside aqui.
tro lugar. Aqui encontramos uma amostra do gura do rei. As orações são feitas em seu nome,
que seria Belregard em sua totalidade. Dos mais direcionadas a sua figura. Uma anomalia. Dizem que este emissário tem
distantes, reclusos, passando pelos mais popu- servido como conselheiro do Rei
losos, todos os povos estão representados aqui, Símbolo/Cor Demiurgo em sigilo, lhe ensi-
seja ao menos por um único cidadão. É como se Adornando um fundo de cor vermelho escura, nando rituais espirituais para
tivessem preparando uma arca, com uma amos- assim como a cor das bandeiras do antigo impé- ser um líder perfeito, dobrando
tra de cada um dos povos, para o caso de tudo rio, estão duas plumas de cores marrom e bran- a vontade de seus seguidores.
isso um dia ser engolfado pelas águas. co mescladas, como as cores da águia e as cores Ele lhe tem ensinado sobre
do leão. Ao centro, temos um grifo estampado, conhecimentos tão profundos
PODER uma criatura monógama, símbolo do casamento que até mesmo Bövrar II
Rei Demiurgo, O Sem Nome, Aquele que e pacto. Ela representa as ideologias do antigo
Morrera, O que se Fez Novo, O Encarnado, O
poderia se surpreender.
império somando duas naturezas e qualidades
Escolhido das Estrelas, O Portador da Stémma. distintas, a da águia e a do leão. As três coroas
O Rei foi visitado dias antes do fim culminante representam as três grandes dinastias, os Bö- Em suas pregações, o Demiur-
do império, um emissário, um ser de luz, um vrar, os Vlakin e a que está por vir, aquela que go alega que o Criador está
enviado das sombras, alguém impossível de se irá guiar os justos para uma nova terra, um novo morto. Que não simplesmente
definir, lhe trouxe muito conhecimento e lhe céu. Um segundo significado para as coroas é tombou retornando para a
guiou para as terras onde hoje está Vlakir. O a representação dos três céus. O primeiro céu Abóbada, mas que de fato está
homem por trás do falso título de Deus é um foi quebrado na primeira vinda do Único, o se- morto, que ninguém mais olha
velho de boa compleição, olhar calmo e sorriso gundo céu se rompeu com a morte do Único, o pelos homens. Um absurdo!
fácil, uma típica manifestação sombria, que ca- terceiro céu será a morada dos escolhidos com o
tiva os mais fracos. Único renascer. O grifo é simbolo de sabedoria,
justiça e foi conhecido por botar ovos de pedra
ágata, uma pedra com grande simbologia para

b 183 b
b Belregard b
o culto a Demiurgo, sendo que a mesma é utili- enquanto dizem adorar o Único em uma das sua
zada como anéis e adornos pelos sacerdotes e muitas faces. Uma guerra que acabará em san-
nobres, demonstrando sua importância e status. gue mais cedo ou mais tarde.

O Passado
As terras que hoje formam a castelania de
Vlakir já pertenceram a muitos lugares dife-
a
rentes. Já foi parte de Parlouma, de Brandevir Fauna e Flora Fantásticas
e mesmo de Virka. No ano 1102 DA, o ducado
Aquilo que se destaca na natureza
Há quem diga que esta mulher de Vlakir foi criado em honra a Severo, um po-
particular de Vlakir
foi a causa da queda do deroso aliado dos Vlakin. Funcionando de for-
Império, mas consigo enxergar ma semelhante com as terras dos Lazari, mas Dhevora: Estas plantas carnívoras são as
inteligência e estratégia ao sem sofrer a pressão de ter sido um território maiores já encontradas em toda Belregard, nas-
preservar esta castelania da concedido antes do domínio imperial. Quando cendo nos arredores de outras árvores, são um
decadência inevitável de Virka. a dinastia Vlakin começou a dar seus sinais de chamariz para animais com sede. Em forma
Muitos estudam as decisões fraqueza, quem estava no comando do ducado de copo, com uma borda redonda, as Dhevo-
firmes e corretas de Serbia. era Servia Víbius Severa, uma consorte do impe- ra geralmente estão cheia de água armazena-
Claro que há quem a condene rador. Dizem que Servia cortou relações com o da e exalam um odor inebriante, que convida
pelo fato de ser consorte império a contragosto que, por seu desejo, teria os mais desatentos. Ela é capaz de devorar até
do imperador. Mas Alec nos feito sua terra tombar junto de Virka se fosse pequenos roedores, como ratos, e pode causar
ensinou a não julgar as almas preciso, mas esta retirada, aliando-se a igreja, algum dano em mãos e pés desavisados. Além
precipitadamente. fez com que Vlakir fosse poupada. Antes que disso, os pequenos “dentes” da planta injetam
Virka caísse por completo, verdades espirituais uma substância que acelera o apodrecimento
foram reveladas ao Rei Demiurgo, verdade so- do corpo, necrosando as áreas.

Sangue, que seja, mas a glória bre o real poder do criador, sobre o cosmos, Ossuda: Os lagos gêmeos de Vlakir são imen-
é apenas uma. Vlakir será mais aprendeu sobre um deus indiferente ao bem e ao sos e a vida é farta em ambos, mas o que se
uma pedra na grande muralha mau, um ser mais evoluído que o apresentado às destaca são as ossudas. Peixes imensos, que
protetora do Senhor, Vlakir crianças cinzentas por Morovan. podem chegar a 10 metros de comprimento.
fará parte do Brandevir. O Presente Além da fartura de alimento que representam,
Hoje Vlakir recuperou seu ímpeto inicial, vol- suas cabeças são duras, formadas por placas
tando a ser uma terra, uma monarquia que não de ossos extremamente valorizadas como fer-
só apoiaria o império como deseja fortemente ramentas, já que são extremamente resistentes,
seu retorno. Mantendo inclusive o nome que servindo até mesmo como escudos. A pesca
fora dado pelo imperador nos gloriosos tempos destes animais é perigosa, já que suas bocar-
idos. Vlakir se mostra como uma das forças do- ras possuem força o bastante para arrebentar
minantes no leste de Belregard, disputando os cascos de barcos. Existem dezenas de espécies,
territórios de Parlouma, Latza e Braden, direta- desde a ossuda preta até a ossuda cascavel,
mente contra do Tribunal do Supremo Ofício em cada uma com seu devido valor na cultura e
Birman. Tal rivalidade é ainda mais intensa pe- culinária.
las diferenças de crença, O Tribunal acusa Vla-
kir de heresia, deturpação e práticas nocivas ao
homem, acusam de compactuar com a Sombra

b 184 b
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio
Mesmo estando em uma situação favorável e
a É de se admirar tamanha
Cavaleiros Mercantes em Vlakir
riqueza com tão pouco
privilegiada, Vlakir sofre. Por mais que tente,
comércio. Sei que não é meu
a castelania não consegue fazer comércio com
Os cavaleiros mercantes de Vlakir assumem papel, mas acredito ser digno
Parlouma de modo significativo. Parlouma se
uma postura de nobreza dentro da castelania. uma investigação maior sobre
fecha e parece que pelo mais que Vlakir tente,
Eles são escolhidos como verdadeiros paladinos as finanças de Vlakir. Ou eles
nunca consegue alcançar o alto escalão da cas-
da vontade do Demiurgo. São poucos e lideram herdaram muitos dos tesouros
telania dos parlos e as melhores chances para
grupos menores de caçadores e mercadores. do império ou realmente
mudar isso, é com um possível casamento entre
Com a situação isolada de Vlakir, os cavaleiros encontraram uma terra que
a nobreza. Latza não querer apoiá-la nem no co-
são verdadeiros salteadores imbuídos de uma jorra leite e ouro.
mércio e muito menos na guerra. Sem aliados,
justificativa divina. Eles atacam regiões fron-
resta apenas se fortalecer com o fraco comércio
teiras, tomando aquilo que é preciso quando o
e à base do ouro que mantiveram com a queda
comércio simples não funciona. As negociações
do império. Mas no fim, o Rei Demiurgo pouco
são simples, geralmente desfavorecendo os ne-
se importa em fazer firmes laços com estes po-
gócios locais, o que normalmente gera recusa,
vos, ele sabe que os dias finais estão chegando e
que termina em sangue. Os abusos dos cavalei-
quando chegarem, ele será aquele que guiará os
ros de Vlakir são famosos, mas eles mantém
homens mundanos ao terceiro céu.
uma aura de pureza, já que fazem a mando do
Finalmente um pouco de ordem
Assentamentos único e verdadeiro senhor dos homens.
para esta mistura caótica.
A castelania se divide em três zonas geográ- Tantos povos, tantas coisas
ficas importantes, o Planalto Superior, mora- distintas, é necessário colocar
da do Rei Demiurgo, do Tribunal Reformado e com antro para a realeza e clero de Vlakir. 3 são cada qual em seu lugar, con-
Casa dos Observadores Estelares. No Planalto as camadas de portões dividindo a cidade em forme o Único nos revelou. Não
Central moram os nobres. O Planalto Inferior é área externa, central e núcleo. No externo mo- vejo possibilidade de ordem se
a moradas dos soldados e camponeses. ram os acólitos e familiares, no central moral não houvesse essa organização
o Rei Demiurgo e lideres da fé. No núcleo está da castelania, por certo
As três cidades, Chryssos, Chákry, Láspini
foram construídas juntas ao longo de três dé-
apenas a Catedral da Santa Igreja Reformada, se matariam.
feita em alinhamento com as estrelas, em espe-
cadas, estando prontas somente há cinco anos.
cial com os Três Marcos, três constelações im-
Elas receberam nomes estranhos, sem signi-
portantes para essa nova vertente eclesiástica.
ficado para nenhuma das línguas conhecidas Ainda estamos tentando
Acredita-se que quando o terceiro céu se abrir,
e cada uma possui exata distância, angulação, entender as diferenças meu
ele se abrirá a partir destas constelações e serão
tamanho e função no grande plano de abrir o senhor, mas tudo aponta ainda
os líderes de Vlakir os escolhidos para seguirem
terceiro céu. mais e mais heresias.
para viver ao lado do criador. Os muros da cida-
Chryssos (Domus) “Cidadela de Prata” de seguem um padrão radial dentro de muros
(aprox. 10.000 habitantes) poligonais, o local foi apelidada de Cidade Es-
telar pelos visitantes, que são poucos. Nenhum
A cidade foi construída ao longo de vinte anos
estrangeiro entrou nos muros de tal cidade.
e somente há cinco concluiu suas obras. Cercada
Patrono Local: Rei Demiurgo.
com uma muralha em forma de uma estrela de
12 pontas com um portal e uma pira de incenso
sempre acessa e cada uma delas, o local serve

b 185 b
b Belregard b
Seria infantil acredi-
Chákry “Escadaria de Cobre” Forças Militares
tar que a população
(aprox. 8.000 habitantes) Quando o conselheiro mandou que o Rei De-
iria aceitar tudo de boa
vontade. Já foram relatadas Situada no Planalto Central, nesta cidade resi- miurgo construísse as três cidades, nos devidos

resistências populares e dem os homens livres e camponeses que viram moldes, ele ordenou também uma sequência de

grupos criminosos que a verdadeira fé de Demiurgo, banharam-se em outras informações e exigências que deveriam

tenta burlar a lei lutando água e beberam do cálice. A cada ano, pessoas ser seguidas. Uma destas é a organização dos

com eficiência com armas são expulsas da cidade, indo morar no Tredema, soldados de Vlakir que deveriam seguir os mo-

improvisadas. É sabido o nome pejorativo dado aos Planaltos Inferio- delos adotados por Demiurgo para seu exército

também que muitos têm res. Aqueles que foram observados pelo clero celeste. A população é proibida de de portar ar-

resgatado um estilo de e foram aceitos pela verdade, serão ascendidos mas e resolver problemas de forma física, ape-

luta que selvagens usavam de status. Aqueles que se perderam em cami- nas as forças militares podem fazê-los.

séculos atrás, baseado em nhos pecaminosos, serão arremessados para


Thryonus
agarramento, arremessos, o mais baixo degrau da sociedade. Patrono
(120 lanceiros divididos em 3 grupos)
quedas, estrangulamentos Local: Os Escravos de Cobre, uma ordem cleri-
e torções de membros. cal que responde diretamente ao Rei Demiurgo. Estes soldados nunca podem pisar fora dos
Os selvagens lutavam Eles governam e pesam a alma dos homens em domínios do Planalto Alto, faz parte do seu
como animais selvagens, balanças celestiais. juramento. Eles são responsáveis de cuidar das
mas o povo de Vlakir muralhas, manter as piras de incenso acessas e
tem aperfeiçoado isso, não Láspini “O Tredema” manter vigia aos portões.
buscando ficarem fortes (aprox. 20.000 habitantes)
Kyrurtus
e parrudos, passando Situada em toda a área que compreende o
(120 lanceiros divididos em 4 grupos)
despercebidos como fracos Planalto Inferior, aqui se encontram os servos
e ingênuoes. A antiga luta e trabalhadores que mantêm Vlakir funcionan- Assim como os Thyonus, o Kyrutus nunca
fora batizada de lenis ars, do. Aqui estão os comerciantes e os homens de deve se afastar do Planalto Central, protegendo
buscando mais agilidade, sa- pouca fé. Os homens vivem suas vidas enquan- os homens que são, de acordo com o Rei De-
gacidade e inteligência para to sonham em serem escolhidos para subirem miurgo, o maior tesouro de Vlakir.
fazer com que um homem pelas escadarias de cobre e morar em Chákry,
Archimus
desarmado possa enfrentar ficando mais próximo do Rei Demiurgo. Mui-
(120 lanceiros divididos em 40 trios)
um soldado paramentado. tos já desistiram de ascenderem na fé e vivem
suas vidas apenas esperando dia de amanhã. O Estes homens funcionam como os olhos de
Rei Demiurgo nunca desceu até o Planalto In- Pascholo por todo o Planalto Baixo, funcionan-
ferior desde a primeira vez que colocou os pés do como pequenos grupos que tem a função de
no Planalto Superior, o Tredema é sinônimo de tentar ser a balança dos céus na vida atribuladas
podridão espiritual. Patrono Local: Monge destes homens simples.
Pascholo, o homem que subiu até a cidade de
Construções e Formações
ouro e por livre vontade aceitou fazer-se servo,
De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
descendo até o Tredema para então ajudar os
homens simples a enobrecerem seus espíritos. A Via Celeste
Pascholo é um líder admirável e pretende fazer
Caminho de Pedras que se inicia no Planalto
com que todos alcancem o terceiro céu.
Inferior e vai até o núcleo de Chryssos. Ape-
nas umas vez por ano as pessoas podem subir
as escadas até a Cidadela Dourada, entrando
b 186 b
b DAS CASTELANIAS b
e saindo por todos os portões, em procissão e Lýkos, é a besta que vive no coração do ho-
meditação. Este dia é chamado de Procissão da mem, representa a segunda era onde homens se Estes homens perderam a
Deidade e todos esperam tal dia com ansiedade mataram e mataram os selvagens, representa o sanidade e a vergonha na
durante todo o ano. império dos Vlakir, representa o Segundo Céu cara. Eles utilizam ervas
e a morte do Único quando a Sombra firma-se proibidas, se embebedam de
Casa dos Observadores Celestes
na terra. Stémma é a jóia divina colocada sobre veneno e afundam suas mentes
Um secto do culto que nasceu em Parlouma, a cabeça daqueles que encontraram a mente destruídas em viagens até
mas tornou-se ainda maior em Vlakir. Eles têm
divina e representa a última era dos homens, a Alcova Profana. Quando
observado os céus e acreditam ter encontrado
Demiurgo entre as estrelas, elas brilham e ca-
representa o último grande império, a abertu- voltam, estão tão perdidos
minham pelos céus, toda noite. Demiurgo fala ra do Terceiro Céu. Desta constelação o Único que mal sabem o que falam,
através do brilho das estrelas e eles têm trans- cavalgará em meio o cosmo em um grifo que os proclamando imundice de suas
crito essas mensagens que falam sobre coisas guiará para uma terra divina, celestial, suprema, bocas enquanto juram que são
que são segredos mantidos pelo Rei Demiurgo e que fica no norte muito distante, um lugar per- palavras de sabedoria.
seu conselheiro secreto. feito onde o sol brilha por todo o dia e não há
pranto nem dor, nem choro e nem angústia: O
Três Marcos
Terceiro Céu. Eu prometi que não iria mais
São três constelações importantes para a ver- me irar, mas tem sido um
tente do Criadorismo em que Vlakir é erigida. Lagos Gêmeos trabalho extenuante reunir
Stavrós, é a grande cruz que flagela a carne do
homens, representa a primeira era do homem
Os dois grandes lagos que cercam tudo que nossos informantes
guiados por Morovan, representa o primeiro im- Vlakir certamente explicam o su- trouxeram e conseguir fazer
pério dos Bövrar, representa o Primeiro Céu e a cesso da loucura do Demiurgo. isso de modo imparcial. É um
primeira vinda do Único. Pela fartura de peixes nos desfile de sandices e heresias.
lagos gêmeos, a castelania
ainda não passou por
a um período de pesada
Isolamento em Vlakir fome.

Vlakir é uma terra de paranoia, um lugar onde


as pessoas são julgadas a todo momento. A
sociedade é claustrofóbica, com sacerdotes de
juízes sempre atentos para sinais de heresia.
Por mais que o Tribunal condene as atitudes do
Demiurgo, esta sociedade funcionando dessa
maneira, sob o julgo constante de uma figura
divina, que julga os merecedores e indignos é Gravura estilo bertina
de Mottazzi, mostran-
tudo que o próprio Tribunal pode desejar. Vla- do um sacerdote de
Vlakir punindo peca-
kir não tem aliados próximos, nem mesmo a dores em meio as ruas
da Cidadela de Prata.
louca Latza os abraça com amor e a melhor
chance de Vlakir mudar este quadro é com a
conquista do sul, que pode vir a acontecer com
o casamento da filha do rei de Parlouma.

b 187 b
b DAS CASTELANIAS b

Principados de Rastov
“Não nos curvamos a rei algum.”

Capital viviam visando o bem estar dos seus e da sua


Fantome. região. É uma forma totalmente descentraliza-
da de poder. O papel principal dos príncipes é
População intermediar situações de conflito e tensão entre
Um número bem dividido entre belghos, maio- clãs ou relações exteriores. Existem duas ou três
ria, igslavos e menor grau, vihs. Rastov é uma dúzias de príncipes, mas dentre eles, apenas 13
terra indômita. Apenas dois homens foram ca- são tidos como honoráveis, com linhagem testi-
pazes de tomar este povo forte e independente ficada. Qualquer decisão ou julgamento, sobre
como líderes verdadeiros. O primeiro, Larsen, qualquer assunto que envolva os principados, só
foi o que comandou a Marcha Fantasmagórica acontecerá se os treze aceitarem unanimemen-
e levou os insatisfeitos ao extremo norte, onde te. Uma das coisas mais notáveis é que os prín-
lançou os alicerces deste principado. O segundo cipes não são ricos, não possuem terras, apenas
foi Vlakin II, que firmou o Império de Virka sob recebem primícias de produção. Eles são fun-
seu punho. Este traço de escasso domínio cen- cionários dos clãs e por isso devem viver com
tral marcou o povo de Rastov, transformando-os aquilo que os clãs geram da terra. No momento,
em pessoas autossuficientes e belicosas quando o governo de Rastov passa por uma situação de-
a força bruta é necessária para proteger seus licada: três dos treze príncipes se destacaram e
O que me impressionou sobre
lares. Aqueles que vivem nos Principados recor- se uniram, são chamados de O Tridente e sua in-
os relatos dos descendentes
rem aos governantes apenas em momentos de fluência tem causado inquietação nos líderes de
de príncipes, é são os mesmo
impasses verdadeiramente relevantes, seguindo clã. São eles: Dimitri “Mitia” Bogarov, Aleksan-
que dão as sentenças, como
com suas vidas e atos de forma independente na der “Aliosha” Popescu e Ivana “Vânya” Vladova.
juízes que devem ser, mas são
maior parte do tempo.
também eles que portam o
Adoração peso do carrasco. Isso não é
Poder Por muitos anos eles foram contra a adoração condizente com a posição digna
Com uma estrutura totalmente inco- do Único, mas não por descrer das obras do de um príncipe.
mum, Rastov é governado por um Conselho criador dos homens, mas pela total desaprova-
de Príncipes, descendentes daqueles que for- ção aos preceitos e ordenanças do Tribunal do
mavam a lendária Marcha Fantasmagórica li- Supremo Ofício. Eles não aceitam que ninguém
derada pelo bastardo Larsen. Estes príncipes, tenha posses da terra, que dirá aceitar que al-
sendo cada um representante de determinado guém tenha posse de suas almas. Entretanto, foi
números de clãs, são tanto os que aplicam as através de alguns cavaleiros mendicantes das
leis quanto os que as julgam. O governo real de Sacras Ordens de Alec, que muitos desses ho-
Rastov deve-se aos clãs, grupos de famílias que mens entenderam o chamado à simplicidade e

b 189 b
b Belregard b
fizeram as pazes com o culto ao Único, muitos
se converteram e templos foram construídos.
a
Estes templos são singelos em comparação Fauna e Flora Fantásticas
com o de outras terras, são construções de
Aquilo que se destaca na natureza
madeira por vezes até impressionantes, mas de
particular de Rastov
interiores espaçosos, onde o povo pode se abri-
gar em momentos de necessidade. A presença Bitürd “Raiz Ruim”: Conta uma lenda, vinda
do Tribunal se faz sentir nas ordens, principal- do oeste de Rastov, que sementes originais da
mente, já que sendo o território que abrange a Taiga Branca foram plantadas em Rastov, mas o
antiga região de Igslav, foi aqui que nasceu a mau daquela mata congelada foi recusado pela
ordem dos cavaleiros sacros, que representam terra, de modo que a raíz das árvores planta-
o punho firme da igreja. das crescia para cima, tomando tudo em seu
caminho. As primeiras moradas dos homens fo-
Símbolo/Cor
ram perdidas para as árvores e ainda é possível
Sob plumas marrons e verdes, para represen-
encontrar estas ruínas de largos salões, onde
tar a paisagem da região, encontra-se um escu-
a madeira foi tomada pelos troncos grossos
do forrado de penas de falcão, representando
das raízes que sobem aos céus. Devido ao mau
as inúmeras gerações que viveram nessas ter-
agouro ligado a estas plantas, muitos godi utili-
ras. Em destaque, se encontra o grande rei dos
zam sua seiva, ou mesmo lascas, para fazer ri-
céus, o falcão, escolhido por sua capacidade de
tuais sombrios. Uma prática antiga deste povo
voar entre o mundo dos vivos e dos mortos,e ver
era cremar um bandido, assassino e pior, com
àquilo que os homens, cegos em sua vaidade,
raízes e troncos de Bitürd, amaldiçoando não
não conseguem enxergar.
somente a carne, mas a alma da pessoa, impe-

O Passado dindo que ela seguisse para a Abóbada Celeste.

Existe uma lenda muito antiga, que data É tipo como um ato de extrema perversidade e

da Era das Revelações, sobre a Legião Fantas- sua prática parece ter caído em desuso.
Esses tomos são um grupo magórica. Segundo a mesma, durante a Guer-
de sagas escritas durante a Ursus Cani: Estes grandes cães selvagens pos-
ra das Crianças, um dos filhos bastardos do rei
viagem e chegada de Larsen e morto partiu com um grupo de seguidores, e
suem corpos largos, pesados, e cabeças com-

sua motiva. Quase tudo foi pactas com orelhas curtas e um focinho largo.
suas famílias, para conhecer novas terras e fugir
escrito em prosa, com poemas das disputas covardes em Virka. Chegando ao
Seus corpos são cobertos por pelos curtos em

intercalados. Simples e direto. extremo norte, depois do contato com os bár-


diferentes tonalidades terrosas. Vivem em ma-

Os textos tratam sobre a tilhas e são caçadores exímeos. Seu nome se dá


baros vihs, estes homens e mulheres fundaram
diáspora, disputas e linhagem. um povoado sob as sombras das montanhas que
ao fato de parecerem uma mistura de cães com

Um aglutinado que mistura ursos e pouquíssimos clãs podem se orgulhar


dominam o norte de Belregard. Assim nasceu a
história com velhas de ter conseguido domesticar estas bestas. São
irresoluta Rastov, esse período foi contato ao
tradições orais. um pouco maiores que lobos e bem mais fortes
longo dos intitulados Tomos da Diáspora. Por
que os mesmos.
longos anos fora terra de valentes soldados e
lendários cavaleiros, os mais bem treinados ho-
mens de toda a Belregard – Cavaleiros Al-
vos. Com a queda do grande líder que fundou
o reino, brigas internas dividiram o território e

b 190 b
b DAS CASTELANIAS b
visando a não fragmentação, surgiu o Baronato Relações e Comércio
de Rastov. Um conselho de barões cuidou dos Sem muitos aliados comerciais, Rastov não
negócios do domínio por um longo tempo e só tem feito investidas para mudar isso. Com um
viu sua unidade restaurada nos idos do Império sistema de autossustentação, os clãs suprem
de Virka. Sendo os maiores influenciadores dos suas próprias necessidades, negociando entre
bárbaros do sul, especialmente os igslavos, os si. Quando preciso, cavaleiros mercantes esco- Esse homem é de tamanha im-
homens de poder em Rastov guardaram uma lhidos pelos príncipes servirão como emissá- portância para essas pessoas
importante lição em sua história. rios para negociações externas. Eles compram e a guerra que se inicia envol-
apenas aquilo que sua terra não produz, como vendo seu nome é tão surpreen-
O Presente dente, que precisarei fazer uma
por exemplo, o bom aço. São reconhecidamente
Quando o império deu indícios de que iria fra-
bons no artesanato em couro e madeira. São os epístola apenas sobre sua vida
quejar, estes homens rapidamente se voltaram
melhores nas artes rústicas, com salgamento de e sobre sua morada. Mas lhe
aos seus antigos aliados e mesmo com toda a
carnes e embutidos. adianto meu senhor, algo muito
divisão que existe hoje, no sentido de muitos ruim acontecerá aqui.
senhores numa única terra, o Principado de
Rastov anexou definitivamente a terra de Igslav a
e assim voltou a sua antiga forma de governo, Cavaleiros Mercantes em Rastov
onde um conselho de senhores de terras tomam
boa parte das decisões em conjunto. Esta me- Os Hussardos são os cavaleiros mercantes de
Rastov . A situação da castelania é comple-
dida foi tomada para que os igslavos também
tamente particular e seus cavaleiros sentem
tivessem direito neste novo domínio e assim esse reflexo. Rastov experimenta uma liber-
ocupassem as cadeiras da nobreza ao lado de dade que não é caótica. Os lordes, os prínci-
seus antigos companheiros. Tudo estava em paz pes de Rastov, votam-se ao seu povo apenas
em momentos de crise, deixando-os seguirem
até que líder de clã Yago Dobrev, perdeu par-
suas vidas como bem entendem em boa parte
te de seu território para a eterna guerra que do tempo. O comércio com metais preciosos
Draclau Reznikov trava com os vogos. Tendo em Rastov é praticamente inexistente e muitos
muita influência, principalmente com um mem- nunca viram moedas, que não são cunhadas
em cidade alguma. Isso forma um grupo de
bro do Tridente que está apaixonado por sua
pessoas que não sabe lidar com o comércio,
irmã mais nova, Dobrev exigiu retratação. Para que não seja na base da troca ou da força.
não cair em vergonha pela desmarcação do ca- Quando estes grupos são formados, geral-
samento, o príncipe influenciou o Tridente na mente por vassalos pouco treinados, e manda-
tentativa de trazer de volta a infâmia de Rez- dos para o sul em busca de alguma mercadoria
em particular, o resultado pode ser desastro-
nikov, para que ele perca poder e influência.
so. Sem saber lidar com as nuances comer-
Draclau Reznikov, o Marquês de Ferro, que de- ciais, os Hussardos acabam vestindo o capuz
fende Rastov dos Vogos, na fortaleza de Yastreb de saqueadores e por muitas vezes as castela-
Poiska, fora escolhido unanimemente por todos nias de Viha e Dalanor já sofreram nas mãos
destes homens e mulheres. Aos Hussardos são
os príncipes há duas décadas e desde lá, sua
dadas missões simples, eles devem obter algo
lealdade é para com o povo de Rastov. O homem e nem sempre estes mandantes enviam outros
que defende esse povo está sendo acusado e sua produtos para serem trocados. Costumam ser
imagem está sendo denegrida pelo Tridente e despreparados, mas para eles é uma missão
sagrada, assim sendo ela será realizada, custe
outros príncipes. Isso irá gerar uma guerra cívil
o que custar, leve o tempo que levar.
muito em breve.

b 191 b
b Belregard b

Assentamentos
Ekatria Fantome
(aprox. 15.000 habitantes) (aprox. 10.000 habitantes)
Região mais populosa de Rastov, aqui estão Saindo do marco zero da Estrada Vitsten,
os clãs mais fortes e mais bem situados. Eles há a Estrada Branca, a lendária estrada feitas
possuem número e, principalmente, a valoriza- com pedras brancas. Essas pedras são mis-
da liberdade. Eles têm percebido a movimenta- teriosas, pois não existem na região e estão
ção e o acúmulo de poder do Tridente. Notaram aqui há muitos séculos. A lenda mais famosa
principalmente o que está acontecendo no nor- conta que cada membro da Legião Fantasma-
te e o conflito criado com Draclau por motivos górica carregou uma dessas pedras por anos,
egoístas. Já anunciaram que não aceitarão qual- para lembrar o peso que tinham sobre os om-
quer autoridade sobre suas terras e muito menos bros. Até hoje é incerta a origem da sua cons-
sobre suas vidas, não querem lutar uma guerra trução, bem como da sua função, mas lendas
contra àquele que os protegeu por tantos anos. contam sobre um rei que caminhará sobre ela
Ekatria tem recrutado cavaleiros mercantes até a Marca da Fronteira para botar fim à guer-
para negociar aço, pois querem se armar contra ra com os vihs. Cercada com uma alta mura-
os que atentam contra a paz. Patrono Local: lha de madeira e pedra o local serve de casa
Os principais clãs são os Engberg, Ljugman e para o Tridente e outros príncipes menores.
Löfgren. Juntos eles representam quase metade Patrono Local: O Tridente
dos homens de Ekatria.

b 192 b
b DAS CASTELANIAS b
Árborag terras. Como fica próxima da fronteira com Essas assembleias são presidi-
(aprox. 8.000 habitantes) Viha, existe uma troca comercial um pouco das pelos mais antigos Godis
mais efervecente. Recentemente, um casamen- que efumaçam os príncipes
É um enorme aglomerado de pescadores
to entra a filha de Bron e o filho de Lars, da com baforadas de fumaça,
sob uma planície verde sem fim. Um dos locais
aldeia vizinha do outro lado do rio e território entoam cantigas ao som de
mais belos de Rastov. Em nenhum outro lugar
de Viha, fomentou alguma preocupação dos tambores e fazem sacrifício
na castelania é possível encontrar mais tradi-
príncipes, receosos de uma perda de território. animais e até humanos em
cionalismo. As pessoas de Árborag fugiram in-
Patrono Local: Bron, o Calmo. honra aos espíritos naturais.
cessantemente de qualquer ideia de autoridade
centralizada. Até hoje quem fala pelo povo não
Forças Militares
É um verdadeiro desfile de
são os líderes de clã e sim os Godi, uma mistura
Todos aqueles que aceitam um líder de clã lhe
imundice e blasfêmia.
de sacerdotes e xamãs. Estes Godis, aconselha-
devem serviço militar. As forças armadas de
dos pelos líderes de clãs, se encontram em nível
Rastov são dividas em forças expedicionárias
Estes homens parecem não
regional com os príncipes em assembleias dis-
chamadas de Leihags, basicamente, grupos or-
ter ritos muito firmes, se
tritais a cada primavera para resolver problemas
ganizados para vigiar as fronteiras contra pos-
reúnem mais por vocação do que
locais. O maior problema no momento é esta
síveis invasores sazonais. Além disso, existem
por organização militar. Suas
agitação em Rastov. Eles querem a paz e estão
dolkögs, homens que aceitam o dever de prote-
orações não seguem um padrão,
preocupados com tudo que está acontecendo.
ger os seus, agindo como “mercenários”. Eles
mas sempre encerram com
Patrono Local: Conselho irregular de Godis.
não sabem plantar ou cuidar de uma família, estes dizeres:
mas sabem empunhar armas. Trocam seus ser-
Eskif e Naskapt (Clã Östberg) “Vista-me de Saúde, Vigor,
viços por cuidados. Os Leihags são formados
(aprox. 12.000 habitantes) Lealdade, Prudência, Paciência,
unindo homens de vários clãs e respondem ao
As cidades gêmeas são lar da mais antiga for- conselho de príncipes. Já os Dolkögs respondem
Humildade, Gratidão, Bondade,
tificação de Rastov, o Forte do Fantasma, local ao Godi ou líder de clã, ou qualquer um que pos-
Generosidade. De todo o
construído por Larsen e onde hoje repousa sua sa lhe suprir, existem às centenas. resto dispa-me”.
espada e ossadas. As cidades ficam uma na parte
inferior e outra na parte superior do Monte Stö- Leihag de Solstício
vart, o maior na costa leste de Rastov. As cidades (6 mil expedicionários)
são cercadas por montanhas, dos quais o mais
Responsável por cuidar das fronteiras ao lon-
alto é o Stövart com quase mil metros. Embora o
go da Verão e Inverno, eles se focam em evitar
clima seja particularmente chuvoso e nevoento,
o roubo de plantações e de animais, mantêm os
em dias claros de verão o local alcança as tem-
olhos nas fronteiras de Viha, Dalanor e Virka,
peraturas altas da castelania. Quase todo líder
evitando que invasores e bestas famintas após
de clã vem aqui para visitar o Forte pelo menos
o inverno, causem estragos em vilas de Rastov.
uma vez em sua vida. Muito guerreiros rumam
Seus homens são divididos e assentados em um
até aqui para lavar ou provar sua honra e bravura.
local, devendo viver ali, mas sempre lembrar da
Patrono Local: Olag Östbergson, O Cego Maldito. sua real função. Normalmente formado por ho-
mens mais velhos.
Ignar (Clã Isegrundr)
(aprox. 5.000 habitantes)
A antiga aldeia de Ignar já foi palco de acor-
dos ancestrais entres vihs e igslavos, mas aca-
bou enfraquecida depois da nova divisão de

b 193 b
b Belregard b
Sim meu senhor, há exceções Leihag de Equinócio Construções e Formações
à regra. Nem todo príncipe (3 mil expedicionários) Rastov não é farta de grandes construções
é dado ao peso da espada e e monumentos, em contrapartida, seus locais
Responsável por cuidar das fronteiras ao lon-
geográficos são marcos de importância e beleza
por isso em certas ocasiões go da primavera e outono. Seu foco é cuidar da
ímpar. De tudo visto aqui, aquilo que se destaca.
precisará de um Vulkovi para população e do tumulto que ocorre nas grandes
executar a sentença dada. vilas durante as grandes feiras e festivais. São

Mas sempre, ele deverá estar responsáveis por evitar que os estoques para o
inverno sejam roubados e principalmente prote-
a
presente e observar o sangue ger os campos de invasores. Seus homens são Isolamento em Rastov
verter daquele que recebe o quase sempre vistos nas cidades e nas principais
peso da justiça. estradas. Normalmente é um contingente for- O isolamento em Rastov pode se dar de mui-
mado por jovens. tas formas. Apesar da fronteira com os vogos

Na epístola que mandarei à ser defendida, existem passagens menores e os


Snijeg Vukovi (200 homens)
vossa senhoria, explicarei sobre saques são comuns em todas as épocas. Por
Um dos mais antigos Dolkögs de Rastov. For- conta da variedade de povos, clãs e mesmo in-
a tradição dos Vukovi e do seus mados por um líder ancestral que matou um
atual “campeão”, chamado de teresses, não é difícil que viajantes encontrem
urso faminto apenas com as mãos e se tornou
Emilianencko Bjork. Dizem que problemas passando por territórios em disputa.
líder de uma matilha de lobos, os Vukovi são ho-
ele foi o maior e melhor Vukovi Com a atual ascenção do Tridente, alguns godi
mens e mulheres que aceitaram a árdua tarefa
que já pisou nessa terra. Pelo de empunhar a espada para aquele que dá a sen- e senhores não se mostram muito empolgados

que tudo indica, querem que ele tença. Evitando que homens de pouco estômago com essa união forçosa e mesmo os membros
tenha que se sujar com sangue, os Vukovi são os do Tridente podem manter as alianças como
lidere as forças do Tridente
juizes mais presentes em vários povoados. uma fachada, prontos para destilar traições a
caso precisem travar uma guer-
ra contra Draclau, o Marquês qualquer momento. Rastov é uma terra de ho-
Vred Haj (80 homens) mens endurecidos e aqueles que dominam as
de Ferro. Será uma guerra
Estes Dolkögs são intimamente ligados aos sutilezas dos assassinatos costumam estar um
entre irmãos e compatriotas. mares e possuem uma espécie de código secreto
Um desfile de desgraças. passo a frente. O próprio Marquês de Ferro é
dos mares. Viajam em barcos pelos rios de Ras-
um problema para o Tridente, já que seu poder
tov e sentem saudades das antigas pilhagens so-
e popularidade podem ficar divididos pelos que
bre terras inimigas. Estão sedentos por sangue,
seguem o guardião da fronteira.
tempos de paz não lhes trazem nada de bom.

Krydse Fyr (120 homens)


Vigilantes das estradas e florestas, este
Monte Stövart
Dolkög é conhecido por usar lanças enormes, Um dos mais altos de Rastov, o monte foi mui-
utilizadas há séculos contra a cavalaria vih. to importante na mítica enchente que limpou as
Estes homens vivem em sua maioria no norte. terras do norte, um castigo divino para muitos
Sua maioria são homens sem família, sem laços, Godi. Povos antigos vinham para cá, entorpe-
aceitam as estradas como amantes e as matas ciam-se com bebidas e ervas, uniam-se em amor
como irmãs. e eram possuídos dos espíritos animistas, fir-
mando o pacto de comunhão com a terra. Este
Cavaleiros Alvos (100 Cavaleiros) costume vem se acabando década após década.

A ordem formada originalmente pelos igs-


Templo do Criador
lavos convertidos ao criadorismo ainda é uma
força relevante em Rastov, ocupando-se, princi- Construído para firmar aliança e fazer as
palmente, de servir ao Tridente. pazes com a religião do Único. O local foi

b 194 b
b DAS CASTELANIAS b
construído e dado de presente aos pobres mis- Um dia, se o gelo se desfizer, o caminho para Pela santa graça de destra do
sionários devotos de Alec. Estes pobres anda- dentro do templo estará aberto e então o misté-
rilhos trouxeram conhecimentos básicos sobre rio se encerrará ao saberem o que existe dentro
santo Tribunal e pela
a escrita e matemática, além de muito conheci- deste local. O frio ao redor do templo é cortan-
graças dos Puros.
mento sobre a medicina. Àquele que se conver- te e mortal em seu pico.
te aos ensinamentos do Único devem vir até o
Templo onde irão se banhar em águas cristali- Taiga Branca Relatos afirmam que animais
nas, na esperança de rumar à Abobada Celeste A Taiga Branca se espalha entre as fronteiras gigantes com chifres e guarras
após a sua morte. de Viha e Rastov. Uma mata de coníferas e abe- brutais podem ser encontra-
tos largos. É uma região de mistérios. Acredi- dos congelados nas partes
Monte Människa-Gud ta-se que Baba Golod, a Mãe Faminta, viva no superiores de tais picos.
interior da floresta, pronta para atrair crianças
A montanha dos Deuses e Homens, com mais Que tipo de criatura são
de cinco mil metros de altura é para o povo de e deleitar-se em sua carne.
Rastov, o pico do mundo. Histórias dizem que
essas? Crias do Único ou
aquele que escalar o monte se tornará imortal. Yastreb Poiska bestas regurgitadas da Alcova?
Localizada na fronteira com o território vogo, A Marca da Fronteira, o Ninho do Falcão, é a
o local é morada de muitas criaturas estranhas. linha de defesa entre Rastov e o território dos Sinto-me incompetente, mas
Vogos. Comandada por Draclau Reznikov, o
Monte Halav são muitas nuances que
Marquês de Ferro, os valentes se erguem contra
Situado nos ermos do norte, em território a barbárie e impedem as invasões vogas pelo
envolvem esse povo meu senhor.
Vogo, este vulcão inativo possui o melhor metal principal cale de acesso às terras de Rastov. Precisarei fazer uma epístola
já encontrado em Belregard, o aço halavano. Na Duas muralhas de pedra enegrecida são aterro- também sobre tal mítica cria-
época de fundação de Rastov, tal aço foi larga- radoras, um lugar para a todos fazer temer. tura. Estranha e aterroradora.
mente explorado, mas perdeu-se o controle da
região para os bárbaros. Hoje em dia, tais armas Forte do Fantasma
são verdadeiras relíquias e o Marquês de Ferro Criado para servir de lar para o grande con-
tem desejado recuperar esta posição estratégica. quistador do norte, o líder da diáspora, o topo
de toda árvore, Capitão da Legião Fantasmagó-
Vales de Hivalzar
rica, Larsen. Parte de suas ossadas e sua espada
As primeiras estruturas de Rastov foram er- de aço negro de Belghor se encontram aqui. O
guidas usando gordura de baleia e barro. A caça local é totalmente forrado com ossos, a maioria
destes mamíferos era parte da cultura de Ras- deles de seguidores fiéis ao capitão. O princi-
tov. Nos campos à oeste, existe um vale, apeli- pal motivo de todos esses ossos é lembrar que a
dado de Praia das Ossadas. Neste local existem vida é curta, lembrar de que é preciso mudar en-
centenas de ossadas gigantes de baleias, todas quanto vivo, assim como está na entrada, uma
calcificadas e cobertas com relva. A imagem frase muito dita por Larsen: “Faça-o antes do
do lugar é aterrorizante à luz do luar. Bárbaros último suspiro”.
primitivos, moradores originais de Rastov, ainda
visitam o sítio para cultuar seus antigos deuses. Lago Narash Seria impossivel relatar a
O imenso e gélido lago Narash ajuda na so- quantidade de lendas e cantigas
Templo de Skärning Kyla que rondam tal feito. Mas as
brevivência da população de Árborag e durante
Um das mais antiga formações humanas os meses quentes do ano, que são mais longos mais famosas relatam sobre
de Rastov. A construção mais a noroeste da que nas demais regiões de Rastov, é comum peixes do tamanho de homens
castelania, o local mais frio de todo o norte. observar embarcações sobre as águas plácidas
Lendas dizem que um inverno aterrorador se
que arrastam crianças para o
do lago. Acredita-se que uma imensa serpente
abateu sobre a região, todos se fecharam no
mundo das águas, até o cântico
esteja adormecida nos confins profundos de seu
templo e foram congelados. O templo jaz sob leito e esta serpente, uma espécie de Matriarca
de mulheres que enlouquecem
o gelo cristalino, em dias claros é possível de selvagem, de tempos em tempos pari toda sorte mulheres e homens.
ver as pessoas congeladas em seu interior. de peixes para usufruto dos povos.
b 195 b
b Belregard b

O Meu Espantalho
A traição é uma praga. É como veneno no corpo doente, como ferrugem
no aço velho. A pessoa que trai dificilmente faz uma vez só. Ela experi-
menta. Consegue. Sente o gosto da impunidade e o agridoce de qualquer
vergonha desaparece. Quando ela surge, e ela sempre surge, fere muita
gente. É como quando tivemos nosso primo doente em casa, ninguém
entrava no quarto fedorento, o miasma começou a vazar pelo seu corpo
e o pai o botou pra descansar, como fizemos com o cão daquela outra
vez. Esse miasma da traição envenena outros, faz com que um justo, um
singelo, um simples, sinta como foi usado, como foi enganado e iludido,
gerando nele o mesmo desejo. Quando esse trair se faz por aqueles com
quem você escolheu compartilhar sua vida, isso se torna ainda pior.
Não existe um dia na vida em que o traído não pense no que aconteceu.
Não repita, não reviva cada uma das mentiras que foram contadas, que
se lembre de olhar nos olhos do outro, tentando buscar um sinal pra se
agarrar, de quantas vezes ele mentiu pra si mesmo, incapaz de acreditar.
É como se o véu da vida perfeita começasse a apresentar buracos, descos-
b 196 b
b O Conto dos Anos b
turas rudes, sujeira. Você percebe como foi feito de tolo, como
brincaram com a sua doce ilusão. Ilusão que era algo real, pal-
pável, dentro do teu acreditar, dentro do teu viver.
A esperança é de que você, traído, não se contamine. Quando
se descobre sobre o pecado dos outros, você se culpa. Pensa no
que fez de errado, sabe que o fez, sabe que falhou inúmeras
vezes, mas se lembra que também foi tentado, mas não cedeu.
Sabe que nunca forçou a união, mesmo isso sendo difícil em
nosso mundo de amarras morais, mas mesmo assim foi traído.
É importante segurar na pequena vitória de não ter descido
até o mesmo fosso. É importante manter-se firme na certeza de
que fez sua parte da melhor forma que poderia ter feito e de
que precisarão lavar a boca pra falar do teu nome.
Curioso perceber que não citei o Criador, nem mesmo a Som-
bra. Não culpei o Inimigo, nem odiei o Pai pelo que me acon-
teceu. O que eu vivi é uma coisa humana e não reservarei a
culpa há ninguém além de quem o fez. Por isso deixo este aviso
aos que vierem depois de mim. Agarrem-se a certeza de que
fizeram o melhor. Eu vivi uma vida privilegiada. Domino as le-
tras e o arado, mas o veneno me tomou. Não siga pelo mesmo
caminho. Eu transformei a ferrugem em ódio, rilhei os dentes
e matei. Eu não sou mais ninguém, sou apenas um homem
traído que cuida do campo.
Pelo menos agora, no meu plantio, balançam os cabelos ver-
melhos de meu doce espantalho.

b 197 b
b TOMO III b

MYSTERARCANUM MUNDI
Dos mistérios do céu e da terra
PROOEMIUM

Como foi escrito por Abimaleque, que aguarda em seu trono


abençoado pelos céus, senhor de todo Hakam, o que segue é o
colhido do inimigo. Palavras cruéis escorrem destas páginas
e a sedução do Escuro se faz presente em cada linha. É acon-
selhado, mesmo para ti, supremo no saber, que te atente. Que
pare por um momento. É preciso ter cuidado, as artimanhas
são muitas e nosso coração falho, mortal, pode cair nas redes
e só perceber quando é tarde demais. Aquele que vislumbra este
tomo precisa comungar com o Grande Pai. O jejum é esperado
dos que se embrenham no saber dos de fora do vale, mantenha
o corpo livre das impurezas antes de prosseguir. Quanto mais
leve estiver o corpo, melhor a mente estará protegida dos peri-
gos descritos nas próximas páginas. Por isso fecha tuas mãos,
vira a face para o céu, como se encarasse o próprio sol gran-
dioso, pois esta é a força do altíssimo pra teus olhos falhos.
Suplica pela proteção, ora e louva por sete vezes:

“Baruch ata creaton eloheinu melech haolam.


Asher bachar banu micol haamim.
Venatan lanu et torato.
Baruch ata creaton noten hatorah”

b b
b TOMO III b
O que apresento aqui foi coletado por Aima a frente, Aio acima,
Aira atrás, Airão à direita e Aimote à esquerda,
em busca do Ainas final.

Os que vivem fora do vale estão sujos, carregados do pecado que lhes
seguiu. O mundo se contorce em resposta à corrupção dos homens
e Belghor também o sente. Por vontade do Abimeleque estudamos e
entendemos o que organiza e coloca os de fora do vale em seus devidos
lugares. Os Cães de Belghor foram mandados para tirar verdades dos
que as escondem e primeiro apresento aqueles que são os titeriteiros
do grande teatro de Belregard, os que puxam as cordas de cavaleiros e
padres. O Tribunal do Supremo Ofício, vergonhosa torre de
tijolos mentirosos e falhos.

O conhecimento profano da Sombra Viva segue no mundo das men-


tiras, mapeando o saber coletado ao longo dos anos, tanto por nós
quanto por aqueles de fora do vale. Dessa forma, nas duas partes que
seguem, podemos mostrar ao Abimeleque tudo aquilo que se espera
de Belregard, dos que controlam os homens pela fé, pela espada e de
quem os detêm pela vontade e pelo espírito, na corrupção sombria.

O verdadeiro saber chega ao nosso tratado quando tivemos em nos-


sas mãos um forasteiro. O homem, de nome César, disse-se devoto do
Leão, de Leoric, o que tombou tentando livrar-nos da Sombra no vale.
Um pagador de promessas, César alegou ter partido de Rastov para
encontrar o túmulo de Leoric, já que sua família havia sido salva
de uma praga quando ele rogou ao santo. Verdade ou não, um pecador.
Foi tomado pelos Cães, que o fizeram contar sobre o que ele viu em
suas andanças, o que saltou aos olhos mortais nos descaminhos de
Belregard. Dessa forma retiramos de uma vez o véu que cobre o mundo
sujo e vemos a plena escuridão que nos cercam.

b b
b TOMO III b

É preciso, ao fim, lembrar das palavras:

“Baruch ata creaton eloheinu melech haolam


Asher natan lanu torat emet
v’chayei olam nata b’tocheinu
Baruch ata creaton noten hatorah”

Por sete vezes é preciso preservar o corpo, mesmo depois da


leitura, de modo que fechem todos os caminhos abertos nas
linhas sagradas e profanas. É assim que deve-se despedir o
desbravador. Novamente com Aima a frente, Aio acima, Aira
atrás, Airão à direita e Aimote à esquerda,
em busca do Ainas final.

Assim é escrito por Baal’Tsar’Kodun, Aquele Nascido Arão


entre os Homens, da Linhagem dos Cinzentos, que teve seu
sangue cativo pelos que retornaram da tumba e
hoje se ajoelha perante Abimaleque.

b b
a
O Hakam

Esta ordem secreta de Belghor se dedica a coletar informações do mundo, especialmente do que ocorre
fora das montanhas da castelania. Formada majoritariamente por belghos que se entitulam como verum,
os verdadeiros, formam uma sociedade reclusa de assassinos, infiltradores e espiões. São comandados
pela misteriosa figura que atende pelo título de Abimaleque e seus seguidores adotam novos nomes quan-
do são iniciados, de modo que não tenham suas vidas anteriores atreladas aos deveres da sociedade que,
numa disputa de fidelidades, devem dar mais importância ao Hakam, que repete a sabedoria em belgho
arcaico. Todos atrelam o cilício, uma fita de metal e couro com espinhos, em suas coxas profundamente
no momento da aceitação à seita, mortificando a carne por toda sua vida.

De modo que este livro, em sua primeira parte, apresenta a estrutura da igreja com todas as suas hipo-
crisias. No livro dois é apresentado o outro lado, os agentes da Sombra, os Ímpios, os cultos e demais
inimigos da alma do homem, já que os verum não são adoradores da Sombra, mas acusam o Tribunal e
todos fora do vale, de modo geral, como devotos fracos e falhos. Por fim, nesta terceira parte estão os
verdadeiros segredos do mundo, são páginas negras apenas para os olhos do próprio Abimaleque, que
devem ser lidas apenas depois da devida prece e dos ritos de proteção.

Por ser um livro de segredos, este capítulo não contará com legendas e anotações.
b Titereiros e Títeres b
Prima Pars
Titereiros e Títeres
ora a organização das caste- havia perdido seus irmãos de fé em momentos
lanias arruinadas, com seus diferentes. Lazlo, com sua busca pelos saberes
duques, condes e barões deses- plenos, havia morrido em 945 DA acusado de
perados pela atenção de reis fa- heresia e Leoric, o soldado exemplar, tombou
lhos, uma verdadeira espinha dorsal se mostra em 968 DA, acusado de covardia, de ter abando-
por trás dessa sociedade, a fé. Todos os homens nado seus homens na batalha. Alec viveu muitos
devem se curvar perante Deus e por isso o pre- anos e em seu isolamento, onde passava a maior
sente tratado fala acerca desta força. O Tribunal parte do tempo peregrinando, a despeito da ida-
tem, pelo menos, duas faces, aquela que mostra de avançada, percebeu o pecado nas Hekklesias
ao povo, sempre isenta e bela, que sorri diante e decidiu dar um basta. Depois de formar a Tri-
dos problemas do mundo e finge ser uma mão na Hekklesia, fundou o Tribunal, mas não exigiu
amiga para os desesperados. Ao mesmo tempo, para si o título de Eleito. Naquele mesmo ano da
existe uma face oculta, uma face que esconde os fundação, Alec seria morto por apedrejamento.
verdadeiros ensinamentos deixados pelos Puros,
que condena os homens mais santos que já ca- Dois anos depois da morte de Alec, em 990

minharam por este mundo escuro. O Tribunal é DA, os Puros foram perdoados e reconhecidos

um inimigo real, que manipula, que deturpa, um como patronos do Tribunal. Uma medida con-

verdadeiro mestre de fantoches puxando suas veniente, já que ia de encontro aos interesses

cordas ligadas aos humildes e aos poderosos. daquela época, onde se procurava uma unidade

Este tratado apresenta a verdade encontrada maior entre os homens, a despeito do período

pelo Hakam, para a glória de Abimaleque. turbulento pelo qual passavam, já que cerca de
dez anos depois o movimento da conquista se-
O Tribunal do Supremo Ofício ria lançado pelos Vlakir e o império de Virka
O Tribunal do Supremo Ofício nasceu em 988 se ergueria para envergonhar o mundo uma vez
DA, criado por um dos Puros que caminhou mais. A Belghor desta época era uma terra to-
com o Criador, Alec. Até então a religiosidade mada pela Sombra. Poucos registros permane-
de Belregard era praticada pelas Hekklesias, cul- ceram desse período, mas é crença geral que a
tos independente que ainda carregavam o ele- dinastia dos Bövrar, grandes desbravadores de
mento central da religião primitiva, a caça aos segredo antigos, retornou da sepultura para re-
selvagens. Com a vinda do Criador, os Puros ger, escravizando aqueles que não aceitassem o
compreenderam que este não era mais o ponto abraço sombrio do Inimigo. Como o Tribunal era
central, apesar da vigência ser sempre necessá- centrado em Virka, as lições dos Puros demora-
ria, assim Ele deixou lições para que todos pu- ram muito tempo para chegar ao vale e, quando
dessem encontrar caminhos para se libertarem chegaram, já estavam contaminadas, como se-
das amarras do espírito mortal e ascenderem guem até os dias de hoje.
para o Seu lado no momento da morte. O único
dos Puros ainda vivo nestes dias era Alec, que

b 205 b
b Belregard b
O símbolo do Tribunal incorpora a marca
máxima do criadorismo, que é a Coroa, reco-
nhecendo o governo do Criador sobre todos os
homens. O Tribunal incluiu por trás da
Coroa uma cruz. Sua base longa re-
presenta o caminho do fiel na busca
pelo Criador, que é representado
pela coroa no centro da cruz, de
onde partem três caminhos, o de
Lazlo a esquerda, do saber, de
Leoric a direita, do guerreiro e de
Alec acima, numa forma de reco-
nhecer, mesmo que sutilmente, a
superioridade do desprendimento
do Puro, ainda que o próprio Tribu-
nal não a pratique tanto quanto deve-
ria. Ainda veremos, neste tratado, um
estudo sobre as vidas e lições deixadas por
eles, especialmente o que é conveniente-
mente evitado pela Igreja.

A Estrutura
O Tribunal se baseia em um tripé, chamado
de Herança dos Puros, de modo que cada uma
das lições, numa visão superficial, foi incorpora-
da nas práticas da igreja e carrega uma espécie
de vertente dentro do criadorismo. O criado-
São mendicantes e andarilhos, normalmente
rismo básico, puro e simples, prega a união dos
avolumando-se nas áreas mais pobres de cidades,
homens em um bem maior e comum, prega obe-
ou mesmo fora das muralhas, junto dos párias.
diência à ordem natural das coisas, firmando a
O alecistas são grandes pregadores, levando o
pedra fundamental de suseranias e vassalagens.
conhecimento do Criadosr Suas palavras e ensi-
Além disso, o criadorismo é vigilante quanto aos
namentos para os quatro cantos do mundo. Um
selvagens e todos aquele que, através de seus
alecista costuma ser humilde e prestativo, dis-
atos, envergonhem o Pai. Os votos fundamen-
posto a curar as feridas da carne e da alma. Uma
tais do criadorismo envolvem celibato, mas não
vertente da ordem são os Angulares, sacerdo-
necessariamente pobreza, salvo os alecistas. Al-
tes dedicados aos julgamentos. Por carregarem
guns locais, devido ao cisma atual, podem apre-
essa aura incorruptível, por serem pessoas sem
sentar nuances maiores em um ou outro.
preço, os alecistas Angulares atuam como juízes

O Criadorismo Alecista, primeira vertente em tribunais da igreja ou da nobreza. Costumam

criada logo depois do reconhecimento dos Pu- ser procurados para aconselhamento. São pedin-

ros, é a alma do Tribunal. Assim como Alec, tes e simplórios, testando sua fé diariamente.

os alecistas fazem voto de pobreza e celibato. Os alecistas creem que os homens estão mais

b 206 b
b Titereiros e Títeres b
próximos do Criador quando sua carne e nem vamente nos campos de batalha, servem como
sua alma são tentadas por desejos simplórios. treinadores para os mais jovens. O leoristas não
fazem voto de pobreza e nem de celibato, mas
O Criadorismo Lazlita, o caminho esquer- uniões só são permitidas entre membros da pró-
do do Tribunal, é aquele dedicado ao estudo e pria ordem, de modo que não se perca contro-
a reflexão. Num primeiro momento, fora mal in- le de posses. Dentro dos leoristas surgiram os
terpretado devido as palavras de Lazlo sobre a Cavaleiros Sacros, o braço militar do Tribunal,
acumulação de bens, apesar de não serem adep- são a maior representação do orgulho cavaleiro
tos ao voto da pobreza, os lazlitas não são ricos, de Belregard, verdadeiros paladinos da fé mili-
já que o desejo de acúmulo de saber costuma tante. Os cavaleiros não possuem uma sede de
ser superior ao de riquezas materiais, o voto do poder, que poderia ser o Brandevir, mas estão
celibato é feito também entre eles. Afirmam que espalhados por todos os cantos de Belregard,
laços matrimoniais e sexo por prazer turvam o defendendo membros importantes do Tribunal.
discernimento. Os lazlitas são grandes copistas
e catalogadores do conhecimento acumulado ao Existem outras ordens internas dentro dos
longo dos anos. Foi graças a eles que pedaços três segmentos principais. Os segmentos em
da Litania foram traduzidos para o parlo, tor- si, os três principais, representam mais a forma
nando as palavras sagradas conhecidas por ou- pela qual os sacerdotes abordam a religiosida-
tros que não os próprios sacerdotes. Ainda que de, como uma escola de pensamento. É muito
o domínio das letras não seja de todos, os lazli- comum que a partir do cargo de bispo o apego
tas fazem o possível para que os registros sejam aos ditames mais arraigados de cada ordem se-
difundidos e sua neutralidade ao observar cos- jam deixados de lado para uma dedicação maior
tumes e mesmo ritos é famosa. Devido a vida ao serviço dentro do Tribunal. Dessa maneira,
dedicada ao trabalho constante e permanente, alecistas e leoristas puros raramente atingem
os lazlitas vivem nos clautros e scriptoriuns em cargos altos, apesar de alguns já terem sido
constante trabalho. Os Ocultos no Claustro Eleitos. Lazlitas comumente assumem cargos
representam um grupo influente da fé lazlita, de logística e administração, como bispos e car-
dedicados ao estudo do conhecimento proibido, deais. Nada, na escolha da ordem, impede a as-
são aqueles que copiam e preservam heresias, cenção interna de um sacerdote, mas é reconhe-
mantendo-o como arma. Seus nomes são ocul- cida a resistência em aceitar-se mulheres Eleitas,
tos e estão dispostos a dissecar e usar o profano limitando-as a se ocuparem como oradoras,
em busca do que é sacro. apesar de muitos afirmarem que já houve Eleitas
no passado de Belregard, sendo isto ocultado
O Criadorismo Leorista representa o braço pelos que guardam a memória do mundo.
armado da igreja, é composto por pessoas que
temperaram suas vidas na forjas que constroem Outras ordens religiosas que podem ser cita-
o caráter inspirado no santo guerreiro. Os leo- das são os Paecal, um grupo de alecistas de-
ristas são padres, sacerdotes, como todos os ou- dicado ao combate espiritual contra os Ímpios
tros, mas parte de seus ensinamentos é baseada e demais manifestações da Sombra. Além das
no treinamento com armas. É muito comum que devoções comuns aos alecistas, os Paecal acre-
velhos soldados, guerreiros e mesmo nobres ditam que é preciso estar no limiar da vida e da
busquem a ordem no desejo de apaziguar o es- morte para encontrar o Inimigo frente a frente,
pírito perturbado. Por mais que não lutem no- por isso seus cultos são compostos por longas

b 207 b
b Belregard b
sessões de autoflagelação, algo muito comum não existe história certa ou errada para aqueles
em Latza. Talvez esta seja uma explicação para que acabam sendo convocados para o serviço
a tolerância de todas as profanações ante à igre- maior em nome do Criador.
ja que se perpetuam nesta castelania: os Paecal
lá residem e obtém as forças para o enfrenta- O Desprendimento de Alec
mento definitivo. Muitos vestígios afirmam que o Puro chama-
do de Alec era o filho mais velho de um senhor
Os Haskelitas, um braço da fé lazlita, foram
de muitas posses, porém, em tenra idade, des-
criados em homenagem a Haskel, o homem san-
prendeu-se de tudo e seguiu à risca os ensina-
to que tentou ter um olhar mais brando sobre a
mentos deixados pelo Único. Alec defendia que
história e a cultura dos povos. Assim, o papel
somente com o total desprendimento do mun-
dos Haskelitas é catalogar os acontecimentos e,
do material seria possível alcançar e realizar
principalmente, dar continuidade a obra “Uma
os desejos do seio do Criador. O homem que
Breve História dos Homens”. Por certo os haske-
decidisse peregrinar pelo caminho desbravado
litas não são bem vistos por aqueles que guar-
por Alec estaria entrando no campo das infi-
dam os segredos do mundo.
nitas possibilidades e, consequentemente, na
esfera do espírito criativo universal, ou seja, o
Já a fé guerreira de Leoric deu inúmeros frutos
poder de execução de milagres através da graça
pelo mundo ao longo da história e os Tubal são
divina. O Puro escreveu poucos textos direta-
apenas um exemplo. Ordem formada por solda-
mente, a maior parte do conhecimento escrito
dos dedicados ao treinamento e temperança de
deixado por ele foi transliterado por seus segui-
corpo e mente, os ditos forjados são dedicados
dores. Nestes textos é afirmado que o homem
e podem ser considerados contemplativos, frios
está em constante luta entre duas forças: o ape-
e distantes, não envolvendo-se emocionalmente
go e o desprendimento. O primeiro é motivado
em questões mundanas.
pelo ego, pela alma, e o segundo é a pura inspi-
Os Puros ração d’O Perfeito, a centelha da criação supe-
Diversos foram os homens santos, mas nenhu- rior onde está guardada toda a potencialidade
ma alma encarnada em Belregard foi como es- existente no mundo. Porém, ele alertava que o
tes. A teologia dos Puros é extremamente par- desprendimento não deveria agir nos campos
ticular e suas vidas são um testemunho de que das grandes obras. O desprendimento deve-

a
Verdades Cruéis

Você perceberá que os ensinamentos deixados pelos Puros podem ir contra o que a Igreja faz no pre-
sente. Não há nada de equivocado nisto. Lembre-se que você lê o tratado preparado por um grupo
secreto de uma terra fanática, que condena o Tribunal. Talvez estas linhas também sejam grafadas
com a mais vil mentira. Não é difícil crer que os ensinamentos simples deixados foram distorcidos
até agradar aqueles que comandam. Além disso, muito foi romanceado. Por outro lado, não tenha
tudo por mentira. Muitos foram aqueles que trabalharam com todo fer vor para trazer a verdade à
tona, tentando por fim santificar o legado deixado pelos Puros.

b 208 b
b Titereiros e Títeres b
ria ocorrer principalmente no campo material,
pois os desejos da carne são o chamado à trilha
a
dos espinhos. Sua plena convicção no despren- Os Cinco Puros
dimento se baseia em algo essencial existente
Alguns registros antigos falam sobre cinco
somente naqueles possuidores da fé inquestio-
homens seguindo os passos do Criador, cinco
nável: a certeza de que o mundo nos trará aquilo Puros que receberam suas lições, mas apenas
que precisamos e desejamos, pois nossas vonta- três entram na história oficial. É atribuído o
des estão em consonância com as leis divinas. nome Helish a um destes Puros excluídos. Sa-
bemos que a história nunca permitiu que mu-
Por volta de 930 DA, após muito meditar so- lheres ocupassem cargos de importância. Nem
dentro ou fora da igreja. Esse preconceito não
bre esses pilares onde ergueria a fé de Belregard,
perdoou nem mesmo os Puros. Muito dizem
Alec idealizou o que futuramente seria conhe- que Alec poderia ter sido mulher. Mas existem
cido como o Tribunal do Supremo Ofício, sua certezas de que Helish tenha sido. Dedicou sua
Hekklesia Alecista. Escritos relatam que após vida a mudar a posição da mulher na sociedade
e descobriu em vários textos antigos, selvagens,
noventa dias de jejum, o Criador repousou sobre
sobre a importância da mulher no grande plano
o corpo enfraquecido de Alec. O diálogo entre celeste. Ignorados até mesmo por Lazlo, estes
os dois foi registrado pelos seguidores. Estes textos colocavam a mulher no centro de todo
textos eram confusos e muitas vezes contraditó- poder vindo dos céus. Esses textos são tidos
como ultrajantes… Existem entusiastas que
rios, porém, em quase todos existia a afirmação
buscam os textos de Helish, mesmo sendo acu-
da máxima: “O novo e estranho ensino que fora sados de apócrifos e hereges. Talvez um dia o
dado por Mim, Teu Pai, Criador e Rei, será cau- Tribunal beatifique Helish assim como fez com
sador de confusão entre os homens escravos do os outros. Fato é que Helish morreu em deses-
ouro, pois em verdade declaro, todos vocês são pero, tendo carne, ossos, tudo desmanchado
diante de uma multidão horrorizada no exato
filhos de um só Pai, e eu tenho todos vocês como
momento em que o Criador tombou diante
meus filhos”. Este trecho nunca foi aceito como de Belghor. O quinto Puro não teve seu nome
parte interina da Litania do Único, pois choca- registrado, mas os textos apócrifos falam que
va-se com o principal texto d’A Litania, utili- seguiu com o Criador até Belghor e que pas-
sou pelas muralhas. Este Puro teria se tornado
zado em coroações reais: “A vós lhe prometo,
o Eleito Negro, uma figura sinistra, sombria e
serão feitos Reis e Rainhas, e governarão minhas misteriosa, detentora de saberes inimagináveis,
terras até o dia do fim, porque assim escolhi para que guiou o povo de Belghor durante o período
que reinem acima de todos [os povos] da terra”, sob o controle da Sombra.

e o clero não sentia-se confortável em dividir os


Puro, para quem?
direitos e amor divino com o campesinato.
Os Puros foram separados, verdadeiros santos
Após derramar pura sabedoria sobre seus dis- andando na terra. Erraram, aprenderam, se
cípulos, Alec vagou erroneamente por todas as arrependeram e mudaram seus rumos. Foram
mártires ímpares. Mas todos, sem excessão,
terras de Belregard pregando o que o Criador
sofreram como ninguém, morrendo desacre-
havia-lhe revelado em segredo. Enquanto isso, ditados. O mundo os queria mortos. E mais
seus discípulos interpretavam e moldavam a que o mundo, a Sombra que abraçou o cora-
Hekklesia ao seu bel entendimento, modifican- ção dos algozes dos Puros. Tudo ficará mais
claro após a leitura do capítulo 3, que trata os
do, e porque não, deturpando, muitos dos en-
Arautos e a Bravura.
sinamentos originais deixados pelo Puro. Como

b 209 b
b Belregard b
um pai que observa a ignorância de seus filhos, A difamação tomou conta das ruas noturnas
Alec deixou que a Hekklesia tomasse rumos de Virka e rapidamente uma torrente de segui-
estranhos, fragmentando-se em diversas filoso- dores revoltados atentou contra a vida do Puro.
fias, que em suma, eram adequadas para aten-
der as necessidades dos governantes locais. De maneira vã, Alec tentou fugir para as flo-
restas regionais e em clamor implorou ao Cria-
Três décadas após a formação de sua própria dor, “tende piedade de mim”, e assim, o senhor
Hekklesia Alecista (ainda não Tribunal), por lhe foi companheiro naquele momento e em se-
volta de 960 DA, apenas meia dúzia de verda- gredo lhe revelou, “Assim como eu morri por
deiras organizações haviam sobrevivido como amor, você, meu filho, morrerá pelo o amor e
uma ordem puramente eclesiástica. Assim temor ao que lhe ensinei”. Ouvindo isso direta-
como aprendera com Leoric, o puro Alec sabia mente do seu criador, Alec permaneceu imóvel,
que era o momento de guerrear e declarou aos aguardando seus captores. O dia amanheceu ne-
quatro ventos que não existia nenhuma fagulha buloso e turvo nos céus de Virka, e o que era fes-
de entendimento divino nas organizações ainda ta tornou-se luto de pranto, dor e vergonha. Seus
existentes. Em consequência, os devotos torna- mais fiéis seguidores pranteavam e tentavam lu-
ram-se arredios e a manipulação tornou-se qua- tar ferozmente pela liberdade de seu guia espiri-
se impossível. Como medida de sobrevivência, tual. Porém, o Puro lhes advertiu... “Está Feito”.
as Hekklesias resolveram unir-se declararando
que estariam submissas aos seus planos e co- Mais rápido que o julgamento de um bandido

mando divino. Como um grande evento, a Trina ou estuprador, Alec foi condenado à morte por

Hekklesia, como ficou conhecida, mudou defini- injúria e distorção das palavras do Divino. Sua

tivamente seu nome para Tribunal do Supremo punição seria o apedrejamento. Cada revoltoso

Ofício em 988 DA. Os membros desta criaram lançou uma pedra na frágil carne do homem

degraus e hierarquias, dividindo-se em vários causando-lhe grande dor. Contudo, em nenhum

títulos, porém deixaram a poltrona mor para momento Alec relutou em resistir a sua punição,

Alec que receberia o título de Supremo Guia recusando-se a ser amarrado ao tronco. Algo

dos Gentis. Sua chegada a Virka, antiga sede re- nunca visto em toda a história. Quando o cre-

ligiosa, era aguardada com grande expectativa púsculo se aproximou, Alec, O Puro, deixou o

e louvor. mundo dos homens para ser levado aos reinos


superiores. Após sua morte constatada, o Tribu-
Como prova de devoção ao Puro, Giocomo, nal do Supremo Ofício não se declarou. Apesar
o governante de Virka, cedeu seu castelo e ser- de ter sido criado com base nos preceitos do
vos para cuidar tanto de Alec como de seus se- homem que acabara de ser apedrejado, concor-
guidores. Entretanto, na noite que antecedia as dou com o clamor social e político do momento:
festividades, a mulher de Giocomo procurou os Alec deveria morrer.
aposentos do Puro no intuito de lhe manchar a
santidade conquistada. O caráter irrepreensível Este foi o legado do homem que aprendeu a

forjado há anos permitiu que o Puro permane- amar O Único acima de todas as coisas e morreu

cesse inocente e recusou a mulher. Como o de- na vã esperança de dar ao mortal o dom de ser

sencadear de uma cachoeira, a mulher luxuriosa amigo do Criador.

difamou a imagem do homem acusando-lhe de


tentar tomar-lhe à força.

b 210 b
b Titereiros e Títeres b
As Vocações de Alec
a
Um homem sonhou com homens e mulheres
Arrebatamento de Alec
de muita fé, inspirados no ideal divino de que
ao se desprenderem dos bens deste mundo, se-
Na época do acontecido não se falava sobre o
riam capazes de dirigir-se aos humildes com as
arrebatamento de Alec aos céus, depois que
mãos abertas, para lhes dizer outra vez palavras
seu corpo foi recolhido da praça da cidade e
de amor e verdade. E a Santa Providência iria
levado para ser queimado. Atualmente, depois
lhes suprir todas suas necessidades e anseios.
do perdão, é aceita a ideia de que o espírito do
Este homem foi Alec, e após a sua morte, de-
Puro partiu para a Abóbada Celeste e que seu
zenas de Vocações, ordens mendicantes, surgi-
corpo queimou sozinho, chocando os soldados
ram. O ensinamento do Puro formou vertentes
responsáveis. Estes, tocados pela verdade ele-
diferentes e obrigou o clero secular a tornar-se
mentar da pureza daquele homem, abandona-
mais fiel às suas obrigações sacerdotais. Devido
ram suas armas para peregrinar, tornando-se
ao conhecimento levado aos incultos (graças aos
grandes mendicantes, formando a Ordem das
esforços de Lazlo), os Mendicantes estimularam
Cinzas, carregando o pó de Alec para abençoar
o desenvolvimento e florecimento de novas con-
os desvalidos. Tal ordem não existe nos tempos
gregações e enriquecimento humano.
atuais. Até onde se sabe.

Ao longo dos anos, muitas outras expressões


de vida religiosa surgiram na Grande Obra,
“A entrada para os Reinos é como um grande
nome dado por Alec para descrever seu traba-
portal de pedra. A Hekklesia é o que sustenta a
lho. Obviamente, estas ordens não concordam
guerra entre o mundo material e o mundo espiri-
em tudo, tendo algumas que se baseiam em
tual, a direita e a esquerda do portal. Sem o mais
conceitos não ortodoxos, como Abolição do
puro culto ao Criador, tudo ruirá, desmoronará e
Governo Humano, Livre Arbítrio Controlado,
o portal se fechará.”
Poder Pluriforme ao Povo de Deus, e outros. Por
esse motivo, muitas dessas ordens preferem se A Lógica de Lazlo
manter isoladas pelo seu comportamento radial,
“É como ordem que O Único fala através
sendo ainda proibidas em muitas cidades.
de mim, Ele tornou-se sacrifício vivo, para
O símbolo universal dos mendicantes, a Pedra que você O louve com vosso culto racional.”
Angular, nada mais é que um triângulo inverti- - A Verdade sobre a Mentira, de Lazlo
do. A Pedra angular é a uma pequena peça de
Lazlo foi o mais lógico dentre todos os Puros.
material rochoso cortada em triângulo, sendo
Para muitos, podendo ser mais sábio que Mo-
utilizada no ponto mais alto de um arco para
rovan, para outros, um antro de prepotência e
sustentá-lo. Esta pedra não faz a mínima força,
arrogância, capaz de questionar até o próprio
porém se for retirada, a estrutura virá ao solo.
Criador. Antes de converter-se aos caminhos do
Trata-se da primeira peça a ser idealizada e pre-
Único, conta-se que era um comerciante aman-
parada na construção de um arco. Alec foi a pe-
te do dinheiro e dos prazeres. A história relata
dra angular sob a qual a Igreja foi firmada. Em
que ele gastou tudo que tinha para pesquisar e
seus ensinamentos, a Pedra Angular e portais
desvendar os mistérios do Senhor, mistérios que
eram usadas constantemente:
permaneciam escondidos por toda Belregard.

b 211 b
b Belregard b
O fazia não por fé, mas por descrença, tentan-
do provar que tudo aquilo era mentira e manipu-
a
lação dos indefesos. A Caverna do Sangue Vertido

Este Puro foi responsável por entender e des- Conta-se que muitos anos após a morte de
mascarar vários dos ritos sincréticos da igreja Alec, uma mulher infértil estava condenada a
do Único, assim como por lutar para a transli- morte por ser culpada pelo fim de uma impo-
teração da Litania do Único para o jargão po- nente linhagem de governantes. Na esperança
pular, assim como foi responsável por mudar
de esconder-se de seus captores, ela refugiou-se
vários dos procedimentos habituais dos cultos
nas cavernas fluviais na costa norte de Virka.
e obrigações do clero, foi até mesmo responsá-
Lá, clamou de maneira desesperada por um
vel por demolir e alterar construções eclesiás-
milagre e este se fez. Os relatos afirmam que
tias, ao perceber o envolvimento com magia
a mulher viu a imagem de Alec formada na ro-
geomânticas em seu projeto. Com o objetivo
cha da caverna e jurou que a água que vertia
de realizar uma tradução de qualidade e fiel aos
originais, Lazlo foi à Virka, onde viveu durante das paredes estavam cheia do sangue que fora

20 anos. Estudou belgho primitivo com os es- derramado do Puro. Ela fartou-se desta água

cribas locais famosos e examinou todos os ma- e secretamente vagou pela noite sombria de

nuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução Virka rumando para o quarto de seu marido.
da Litania do Único tornou-se conhecida como Como se os véus de mistérios do Criador tiras-
“Vulgata”, ou seja, escrita na língua de pes- sem a lucidez do homem, sem maiores come-
soas comuns, o parlo. Dizem que no processo dimentos, o homem tomou-a intensamente por
aprendeu a Fala Negra de Belghor, junto de seus quinze dias. Após ser dada como desapareci-
segredos e poderes. da, ela saiu do quarto nupcial e decretou que
estava cheia do amor de seu marido: a mulher
Lazlo foi perseguido por vários puristas do
estava esperando uma criança. Até a presen-
clero que acreditaram que a massa não deveria
ter acesso à estes documentos. Foi ameaçado te data, mulheres de toda Belregard enviam

e caçado, e seu sangue foi clamado inúmeras bravos homens para recolher água desta fonte

vezes nesse processo. Vários documentos se para lhes dar a esperança de profunda fertili-

perderam, porém a providência do Único agiu dade. O Tribunal do Supremo Ofício tentou por
discretamente para que sua obra fosse conhe- muito tempo desincentivar tal prática, porem
cida. Lazlo era um homem de fé, era inegável, percebeu que as ofertas de júbilo enviadas pe-
mesmo não sendo compreendido por nenhum los felizardos futuros pais era deveras gorda
dos homens santos. É atribuido a ele o feito para ser ignorada. Além disso, muitos afirmam
que fora mais tarde chamado de Culto Racio- que a água límpida do lugar possui capacidades
nal, onde o homem devia desligar-se das cas- de cura. Contudo, nenhum fato fora confirma-
tas, materialismo, sentimentalismo e adorar o do pelo Tribunal. Ainda é possível ver o rosto
Único de todo seu coração. De maneira lógica,
de Alec formado na parede rochosa do local,
assim como o aprendizado de qualquer outra
como uma marca eterna da sua passagem pela
coisa. Ele afirmava que um guerreiro santifi-
terra dos homens.
cado deveria viver com os olhos no mundo e o
coração nas Escrituras.

b 212 b
b Titereiros e Títeres b

Diferente do que muitos afirmavam, ele não É verdade que ele descobriu muito segredos
acreditava que a pobreza seria o caminho para sobre Bövrar II, principalmente sobre a infusão
alcançar os céus e por isso continuou com seus maligna que este fez ao Culto d’O Único. Mas
negócios por muitos e muito anos, utilizando- Lazlo estava ciente que muita coisa fora deixada
-se disso como financiador da sua grande obra. a ser interpretada, e através destes fragmentos
Muitos usaram seus argumentos para desme- conseguiu definir conceitos únicos para os ho-
recer a pobreza pregada por Alec, mas logo mens de seu tempo. Para ele, existia mais ver-
tais argumentos eram destruídos. A riqueza de dade escondida entre a bruxaria e feitiçaria do
Lazlo era um caminho para seu método, não o que em muitos textos tidos como sacros, e isso
cerne da realização. Aqueles que usaram suas causou guerras sociais por onde passava. Ele
palavras para justificar o enriquecimento puro descobriu que A Verdade é cristalina, criando
e simples, são manipuladores. Definitivamente, idealismos formosos e panoramas únicos que
Lazlo estava à frente do seu tempo, e talvez es- oferecem alimento espiritual e instrução prática
tará por muitos e muitos anos, pois sua Doutri- para toda classe de pessoas, do rude ao educa-
na da Deum Sapientia não foi compreendida do, do cientista ao devoto. Ele criou o conceito
nem mesmo pelos maiores sábios de Virka. Ele de Anéis do Aprimoramento, onde descreve
criou termos como Seta da Existência, onde que um servo devoto deve aprimorar técnicas
disserta sobre as consequências futuras dos de refinamento físico, moral e espiritual, des-
atos presentes, sendo seguido pela Roda da vendando assim novos horizontes e novas pos-
Existência, um caminho onde tudo que existe sibilidades para a humanidade a cada novo con-
irá seguir um fluxo e Vórtice Atemporal, esta- ceito apreendido e posto em prática, em direção
do onde o ser encontra-se fora da Roda e ruma à materialização do poder Único na terra.
por um “atalho” até o Único. Termos compreen-
Através desse aprimoramento o homem
didos apenas pelos seus firmes seguidores.
irá dominar: O Homem Físico, a carne; O Ho-

b 213 b
b Belregard b
mem Superior, seu reflexo nos planos divinos;
O Homem Interior, sua mente; A Centelha Espi-
a
ritual, parte perfeita existente em cada um e o Arrebatamento de Alec
Controle Divino, o poder de deixar o livre arbí-
trio por puro consentimento e colocar sua vida Existe uma crença popular não muito antiga.

nas mãos das Provisões Divinas. São conceitos Dizem que a cada sorriso de uma criança o

abstratos e práticos ao mesmo tempo. Sua sa- Pai está ali. Em vários outros momentos tidos

bedoria e conhecimento era tão surpreendente como bons, ali estaria o Criador. Mas seria essa

que alguns brincam com a possibilidade de um presença apenas algo metafórico? De acordo

debate entre Bövrar II e Lazlo… Séria algo mag- com estudo lazlitas pouco difundidos, o Úni-

nânimo e desesperador. Seus textos são dádivas co esteve na terra mais de uma vez. As vezes

pungentes e exaltadas do íngreme, o mais glo- como andarilho, outra como nobre. Cada um

rioso Caminho que leva à santidade. daqueles que fizeram grandes obras enquan-
to vivos, possuiram de algum modo, a chama
O próprio Puro dizia que sua maior descoberta divina. Mas algo além da pura centelha estava
foi a Teoria Divino-Numérica. Entretanto, lá, um toque verdadeiro do divino, a presença
pouco se conseguiu decifrar desses escritos, do Pai. Se há verdade nisso, não se é capaz de
pois além de serem muito antigos, eles foram afirmar, entre tudo, o Tribunal tem profundo
inspirados pelo Único diretamente, e aparen- interesse naqueles que se dizem santos ou mes-
temente não está escrito em nenhuma língua mo nobres de boa índole. Talvez apenas para
humana.A teoria explana sobre camadas dos evitar tumultos ou para conseguir colocar as
planos divinos, e informa que o homem alcan- mão numa verdadeira encarnação do Criador.
ça estas camadas durante sua jornada, podendo
assim fazer contato com personificações evoluí-
das d’O Único. Dentro destes estudos, ele apa- É fatídico na melhor das hipóteses pensar
renta demonstrar que dentro de um ciclo pura- que o conhecimento seria o motivo da loucura
mente lógico e numérico, essas personificações de Lazlo. Como já ensinara Alec, O Puro: “O
evoluídas descem ao plano terrestre para trazer comedimento é o caminho para todas as coi-
ensinamentos de paz e altruísmo, são os chama- sas”, entretanto, foi na sua busca de encontrar
dos Grandes Arautos. O Caminho que Lazlo se perdeu. Os últimos
vestígios de sua vida relatam que ele foi visitado
Seus discípulos acreditam que O Único veio à
pelo Único em sigilo, o trecho é parte da sua
terra inúmeras vezes, sempre deixando grandes
carta de óbito:
ensinamentos e diretrizes aos homens, estan-
do presente nas inúmeras passagens das eras. “Apenas um único puro de coração é o que lhe
Essa filosofia não é tida como uma religião, pedi, Ó Senhor, e mesmo assim, não foi encon-
sendo que a doutrina não possui igreja especí- trado. Um único puro é o que preciso para que
fica, sendo objeto de ensino oral. Normalmente este herde e dê continuidade ao que brevemente
este assunto é tido como sigiloso e envolto em iniciei, e mesmo assim, não foi encontrado. Ar-
mistérios. Afinal, muitos acreditam que estas remessarei tudo isso ao vento das Eras, para que
encarnações d’O Único devem ser mantidas e somente os teus filhos tenham acesso aos teus co-
seu conhecimento propagado, pois sem elas, os nhecimentos sigilosos”.
homens estarão fadados ao sofrimento.

b 214 b
b Titereiros e Títeres b
O escriba de Lazlo, que lhe ajudara devido sua
a visão enfraquecida, relata... “Meu senhor anda en-
Em Cada Esquina, uma Verdade sandecido, agarrou em seus fracos braços tomos e
mais tomos de papel e os arremessou em caixotes de
Seria impossível dizer para onde foram e qual diversos tamanhos. Sem preocupar-se com o quão
a importância dos textos enviados por Lazlo havia sido difícil conquistá-los e como se alguém es-
para os inúmeros e diferentes lugares. O que tive para tomar-nos de assalto, ele ordenou-me que
de tão importante estava sendo pesquisado enviasse as caixas para o porto, onde seriam despa-
que o levou a “loucura”? O que fora perdido chadas para lugares sem destino. Assim o fiz e quan-
para sempre? Muitos já tentaram recuperar to retornei, meu senhor não estava mais em sua torre
o que Lazlo lançou aos quatro cantos, mas é de meditação”.
impossivel. Entretanto, é bem capaz de um ca- Pouco sabem que dias antes do desaparecimento
valeiro encontre um pedaço dos seus escritos de Lazlo, uma caçada iniciava-se. Após meses de
num poema em Rastov, ou nos pergaminhos estudo, a Hekklesia de Virka declarou que os es-
de um andarilho em Viha, quem sabe, até critos do Puro eram pura obra de magia e heresia.
mesmo sendo usado como base para um culto Alegaram que ele mantinha contato com espíritos
mortuário em Latza. Estes textos estão por aí, profanos, demônios ardilosos e seres da Horda.
contendo muitas verdades e ainda mais, ques- Deste modo, cavaleiros executores estavam à beira
tionamentos. O que farão os cavaleiros mercan- de sua morada, pouco antes de sua ascensão aos
tes ao colocar as mão e saber da importância céus, comprovando a santificação de seu corpo.
da sua nova posse? Ainda assim a igreja não aceitou Lazlo como um
Puro de imediato, mesmo com testemunhas ten-
Culto a Lazlo do visto o corpo do homem ascender aos céus,
seu reconhecimento veio somente quando os três
Lazlo morreu em 945 DA e só seria perdoado
Puros foram perdoados.
em 990 DA. Até o dia da aceitação dos Puros no
Assim como o Único é capaz de expressar sua
Tribunal, como um dos pilares que sustentam
vontade através dos sons dos mares, foi através
a igreja, os estudiosos de Lazlo foram caça-
de um menestrel cego de Belghor que o Cria-
dos e formaram inúmeras sociedades secretas.
dor inspirou o bardo a cantar sobre os últimos
Mesmo sem ter em posse os documentos mais momentos da vida de Lazlo na terra, a musica
importantes do Puro, estes homens e mulheres é conhecida como “L’ombra in Me”, a até hoje
fizeram o possível para preservar seus santuá- esta canção é reproduzida na maioria dos rituais
rios e bibliotecas sobre os mais variados assun- fúnebres de Belregard.
tos. Quando veio o perdão, o Tribunal convidou
estes antigos devotos a entregar estas coleções
“Por que fugirei se sei que ele me quer?
Por que fugir se ouço Tua voz através do vento?
para que fossem preservadas. Algumas foram
As ancoras da minha vida estão a se despedaçar,
entregues, quando não confiscadas, roubadas,
E o que sobrará é o frio do relento.
mas é certo que um sem número de outras ain-
No silêncio da noite, é Contigo que minha alma sonha
da aguardam ocultas. Muitas até prometerem
Revelando Teus profundos segredos e esmeros
retribuição e vingança contra o Tribunal.
Vejo a maldita face sombria e medonha
E entendo o quão Teu caminho é severo”.

b 215 b
b Belregard b
Círculo Secreto de Lazlo
Poucos dentre os discípulos de Lazlo segui-
ram seus ensinamentos à risca. Aqueles que o
fizeram, são normalmente homens e mulhe-
res da mais profunda cultura e conhecimento,
acreditando estarem perdidos em meio à ig-
norância humana. Eles são ativos na política
e comércio local, apesar de manterem poucas
relações pessoais, talvez um estigma anti-social
deixado pelo seu mestre. Eles normalmente for-
mam grandes fundos financeiros para auxiliá-
-los na fuga de captores ou compra de grandes
escritos históricos.

O símbolo do círculo é uma estrela de cinco


pontas (ou vértices) dentro de um pentágono.
A divisão exata formando triângulos mostra a
perfeição da criação, e as cinco pontas demons-
tram os elementos e o divino.

A maioria dos ensinamentos deve ser manti-


do em segredo total, caso contrário, o “traidor”
será expulso da seita. Afinal, muitas das coisas
ensinadas pelo círculo poderiam enlouquecer
os homens ignorantes de Belregard. O círcu-
lo tem crescido rapidamente, pelo menos sua
ideologia, e com isso, tem causado problemas
ao Tribunal do Supremo Oficio. Os membros do
círculo costumam ser caprichosos, mantendo re-
lações pessoais frias e puramente lógicas.

A Intrepidez de Leoric
Os meandres da história afirmam que Leo-
ric nasceu tão fraco e pequeno que seus pais
foram aconselhados a sacrificar a criança para
não manchar a linhagem de bravos homens a
quem pertencia. Foi com medo de dar início a
uma linhagem fraca a partir da criança que o su-
serano Bartolomeu Brostovich, senhor dos seus
pais, resolveu ordenar que seus homens obri-
gassem o pai de Leoric a sacrificar o neófito.
Incapacitado de tomar esta atitude, Leoric fora
abandonado em meio à floresta da Taiga Branca,

b 216 b
b Titereiros e Títeres b
então encontrado por camponeses locais momen- o seio e a dor do arrependimento foi sua com-
tos antes de seu pai ser assassinado por seu patrono. panheira até que seus captores o levassem para
De acordo com relatos que vieram da boca do pró- a prisão. Local que permaneceu até a vinda do
prio Puro para seus seguidores, em sua infância Único à terra. Não se sabe exatamente a locali-
acompanhou seu pai adotivo, sentado em sua cela, zação do Monte da Aliança, ou mesmo Zidorah,
em todas as suas atividades campestres e diaria- seus nomes até são clamados por alguns lordes,
mente era alimentado de leite de cabras. Meses de- desejosos de motivar peregrinações até estes
pois, Leoric era um garoto sadio e forte como um campos santos, talvez sejam montanhas ao nor-
filho de touro. Durante o início de sua maturidade, te de Belghor, ou mesmo em Birman e Latza.
desenvolveu-se com um homem forte e irresoluto
de músculos firmes como rochas. Sua força era ca- Durante sua reclusão, Leoric forjou seu cor-

paz de tombar bestas e seus cabelos eram cheios po para aquilo que seria mais tarde conhecido

como a juba de um leão. como O Caminho Irrepreensível. Inspirando-se


nas palavras que o Senhor sussurrava em seus
A dura vida de camponês e as capacidades hu- ouvidos, afinal ele era de pouca cultura e as le-
manas surpreendentes fizeram com que Leoric se tras não lhe eram familiares, Leoric temperou
tornasse um homem de caráter deformado, usan- força e vontade. Seu Caminho iniciava-se na
do seus dons para apoderar-se daquilo que não lhe forja do corpo sadio e livre das impurezas da
pertencia. Caçado por muitos, sua fama malévola terra, passando pelo campo da pureza mental e
amedrontou muitos homens em toda Belregard. finalizando com retidão do caráter. Leoric aca-
O ápice de sua impureza aos olhos do divino se bou liberto no período em que o Criador cami-
deu quando utilizou de toda sua força para abrir nhou entre os homens e assim deparou-se com
caminho até o trono de Bartolomeu Brostovich, o a multidão que circundava o Pai. O Criador fala
já velho assassino de seu pai, para lhe tirar a vida para todos, mas assim que os olhos se cruza-
com as próprias mãos ao empurrar seus dedos rijos ram, o Pai sorriu e recebeu-o com um abraço,
sobre os olhos do velho homem. Foi neste momen- “Como é bom revê-lo, meu Filho”.
to que Leoric viu o crepúsculo de mais um dia e o
Único falou ao seu ouvido: Quando o Senhor sacrificou-se para salvar
os homens, Leoric tornou-se arredio e a ira de
“Suba até as Montanhas da Aliança, até o mon- outrora lhe aflorava a pele. Porém, os ensina-
te de Zidorah e contemple as terras de Belregard, mentos do Único lhe mantiveram em retidão.
terras dos meus filhos, também sua propriedade. Em vários textos, Lazlo e Alec parecem sentir
Observe ao sul, as terras de Belghor. Seus residen- algum tipo de inveja da amizade de Leoric com
tes não ouviram minhas palavras e por isso meu O Único, e definitivamente, nenhum dos Puros
coração sofre silenciosamente. Lá, neste mesmo sofreu tanto quanto ele quando o Pai morreu.
monte, formaremos uma aliança em breve, e tu Anos depois, Leoric era o bravo que criou o con-
serás o responsável de ensinar a estes filhos do ceito de Cavaleiro Errante do Criador, sendo um
rebento aquilo que é correto aos meus olhos. Lá herói honrado, lutador exímio e guerreiro intré-
será o lugar onde você nascerá novamente para a pido, além de possuir o caráter inquestionável,
minha grande obra, e lá será o leito de sua morte”. seguindo sempre o caminho da verdade, bonda-
de, lei e ordem, sempre disposto a proteger as
Ouvindo essas palavras Leoric caiu de joelhos, palavras d’O Único.
enojando daquilo que fizera. O pranto tomou-lhe

b 217 b
b Belregard b
Inúmeras lendas o relatam como um gigante
capaz de lançar grandes pedras, possuir cabe-
a
los de fogo e músculos de pedra. Seu legado es- A Crueldade de Leoric
tendeu-se por toda Belregard e seus atos foram
responsáveis por auxiliar a Igreja a manter-se Como parte da propaganda do Tribunal que

firme ao ser afrontada pelos servos da Sombra. negou a santidade dos Puros por muitos anos,

Seus milagres foram tantos e tão poderosos que algumas histórias brutais são atribuídas a Leo-

sua veracidade era questionada até pelos mais ric nos seus anos de andanças pro Belregard,

altos sacerdotes da terra. Histórias relatam que purificando e caçando o pecado. Contam que

ele foi capaz de destruir templos com seus pró- o Puro não poupava nem mesmo crianças, se

prios punhos, matar feras famintas com mãos percebesse nelas alguma semente da Sombra,

nuas e desafiar tantos homens quanto fossem cortando o mal pela raiz. Em algumas castela-

colocados como oponentes. Sua justiça era tão nias talvez seja possível acompanhar relatos an-

firme que muitas vezes excedia o entendimento tigos de puro horror, quando Leoric e seus ho-

dos pobres de espírito e por isso, sua rigidez era mens entravam em conventos, mosteiros, para

confundida com tirania sacerdotal. Entretanto, enforcar os religiosos sob o pretexto da corrup-

mesmo assim, ele possuiu grandes companhei- ção. Seus métodos eram brutais e rápidos, o

ros, formando a primeira grande Ordem dos que ajudou a igreja no fim, com a propaganda
de covardia que fora feita para contra o Puro.
Cavaleiros Errantes, homens e mulheres dis-
postos a livrar o mundo da influencia do profa-
no com as próprias mãos.
A primeira visão fora cumprida durante a
Nos seus últimos dias como rei de Braden,
Batalha do Passo em 968 e seus eventos foram
Leoric murmurava sobre visitas do Criador,
transliterados pela famosa Balada do Leão. A
sobre visões confusas que precisavam ser dei-
morte de Leoric foi por muito tempo mentirosa,
xadas aos seus seguidores e algumas destas
já que o Tribunal acusou o Puro de levar seus
foram preservadas:
soldados para a Belghor corrompida e abando-
ná-los no meio da batalha, mas é sabido que é
“A mim o Senhor revelou visões perturbadoras. mentira, o Puro foi separado dos seus e confron-
Pedi a verdade e esta me foi dada, permitindo ver certas coisas: tado pelos homens de coração negro, tomban-
Três serão as grandes missões do meu povo, porem Tu será mais do sozinho contra milhares. Aredita-se que sua
forte e permitirá que Meu filhos reinem por todo o sempre. pureza era tamanha, que os homens ainda sãos
Eis que a Primeira fera era a Serpente, asquerosa e peçonhenta, daquela Belghos o enterraram em um santuário
suas presas de aço e veneno, amaldiçoara secreto, procurado até hoje.
a carne do Meu povo e seu escudo lhes protegerá.
Muito da história permanece em mistério,
Por sua vez, a Segunda fera era como um Urso, cujas unhas eram
pois de acordo com os versos acima, que fazem
de bronze, e sua bocarra devorava os pequenos,
parte da Litania, Leoric estaria presente no
Tu retornará e seu escudo protegerá Meu povo.
Segundo Confronto da Fera. Muitos acreditam
E assim a Terceira fera sairá dos mares como um Lagarto, sua que O Puro retornará a terra dos homens assim
língua de fogo queimará meus filhos, e neste momento filho meu, como O Único o fez. Sobre o Terceiro Confronto
Tu não os protegerá, pois, estará comigo em espírito”. da Fera, os Oradores acreditam que será o mo-
mento da destruição terrestre, onde as ondas
b 218 b
b Titereiros e Títeres b
engolirão os mais altos montes assim como des- Somente após dominar todos estes campos, o
crito na parte final da Litania. Guerreiro estaria pronto para entender a verda-
deira fé prometida aos filhos d’O Único, e esta
Definitivamente, Leoric é o maior símbolo da fé seria representada através da Bravura para
fé guerreira do Único e sua imagem para sempre enfrentar o imundo, injusto e profano, o mais
será lembrada pelos homens de Belregard. importante sentimento na concepção de Leoric,
o Leão de Braden.
O Caminho Irrepreensível
Diferente dos seus irmãos Lazlo e Alec, Leoric Somente após sua morte, discípulos de
não criou ordens propriamente ditas. Ao contrá- Lazlo fomentaram o que seria conhecido
rio disso, ele fomentou através do exemplo vivo como Anel da Tríplice Aliança, um anagra-
a personificação do Caráter Irrepreensível, ma que representaria o conceito de caráter
O Caminho do Guerreiro. idealizado pelo Puro.

Esta filosofia é estudada pelo Círculo Secreto


de Lazlo, até a presente data e esta doutrina,
tão simples em teoria, fomenta tudo aquilo que a
Lazlo decifrou no campo da lógica e da razão.
A Peregrinação do Leão
O modo de vida criado por Leoric seria respon-
sável por criar guerreiros sacerdotais, peregri- O corpo de Leoric nunca foi encontrado, após
nos errantes e grandes líderes por toda terra. os eventos da Batalha do Passo, a única coisa
Até hoje o ditado permanece na boca do povo que restou fora a espada do Puro cravada no
“Assim como O Leão Faria” para expressar uma
chão, afirmando ainda mais seu possível retor-
obra executada com retidão.
no dos céus neste mesmo local, onde retiraria

Sua filosofia pregava que o homem é reflexo sua espada para lutar contra novos inimigos.

d’O Divino e deve primeiramente manter seu Como homenagem, todos os soldados que lhe

corpo livre de impurezas, mantendo-o sadio. acompanhavam doaram seus escudos para for-
Após este processo, ele deve ter a manutenção mar uma espécie de mausoléu para o Leão de
da serenidade, mantendo-se calmo em qualquer Braden. Com o passar dos anos, vários guer-
situação. Tudo isso será em vão se sua imagem reiros rumaram para o lugar na esperança de
pública for repleta de manchas, por isso, o ter- conectar-se mais intimamente com o Criador,
ceiro e não menos importante campo é a repre- inspirando-se com os grandes feitos do Puro.
sentação social sem máculas. Todos estes con- Ano após ano, mais e mais peregrinos ruma-
ceitos eram chamados de Retidão Terrestre ram de todos os lugares de Belregard até o
pelo Puro. Em consequência disso, o Guerreiro
nada amistoso local na esperança de prestar
deverá se aprofundar nos dois conceitos que da-
homenagens ao maior guerreiro santo que
riam forma ao Enobrecimento Divino, onde
a história já relatou.
o homem conquistaria a vitória da mente sobre
o corpo, dando consequência ao domínio dos
pensamentos pelo espírito.

b 219 b
b Belregard b
A Litania do Únco Cópias de certas passagens, páginas, capítu-
A base de todo saber religioso de Belregard, o los e versos eram feitas para que sacerdotes em
livro que encerra os primeiros ensinamentos de comunidades afastadas pudessem ter acesso a
Deus. O tomo é dividido em 7 livros: A Fagulha, palavra do Criador.
contanto o inicio das eras e o chamado de Mo-
O cerne da Litania só foi escrito durante a
rovan. A Chama, contando sobre os primeiros
Era do Sangue, depois da partida do Único, que
donos da terra e a luta. A Fumaça, sobre os pri-
desceu ao mundo dos homens para que eles
meiros atos selvagens. A Cinza, sobre os relatos
compreendessem o verdadeiro objetivo de suas
dos tempos futuros. A Palavra de Amor, sobre
vidas. Ainda assim, como aconteceu no passa-
os ensinamentos do Único na Terra quando aqui
do, poucos foram capazes de aprender verdadei-
pisou. A Palavra de Guerra, as profecias deixa-
ramente tudo aquilo que fora dito e proclamado
das pelo Único sobre o mundo futuro. A Palavra
pelo Pai, que caminhou como um deles. As pa-
de Morte, sobre o fim dos tempos. Cada um dos
rábolas que resultaram de sua visita ainda são
livros são divididos em novos livros menores e
estudadas, mesmo séculos depois, em busca de
estes divididos em capítulos e versetos.
revelações e auxílio.
Quando Morovan, o Velho, primeiro Profeta
do Criador, teve seu encontro com o Pai, ele tra-
tou de registrar tudo o que ouviu da voz retum-
a
bante, impositora, mesmo que bela, do Único. Nada Escrito em Pedra

Naqueles tempos não havia ainda um alfabeto


O Conselho dos Filhos de Morovan foi o even-
organizado dos homens civilizados e coube a
to ocorrido em 989 DA quando o Tribunal
Morovan e um grupo de sacerdotes, a criação
decidiu por organizar os livros da Litania, se-
de símbolos e caracteres que pudessem trans-
parando, elevando e censurando alguns. Seja
mitir, da forma mais fiel possível, o poder da
por acreditar que eram impuros, ou por crerem
palavra do Criador. Morovan morreu desapon-
que alguns ensinamentos não deveriam ter sua
tado, alegando que o registro não chegava per-
língua original alterada ou pior, criam que não
to do que deveria transmitir. Assim iniciou-se a
deveriam cair em mãos incultas. Independente
Litania do Criador, o tomo sagrado que deveria
do que fora dito pelo Tribunal, a verdade é que
registrar todos os grandes fatos da vida dos ho-
mais uma vez as palavras foram alteradas. Para
mens, fossem eles mundanos ou espirituais.
atender os interesses dos homens da época e

Ao longo do tempo, durante a expansão, a Li- visando a manutenção do poder sacro do Tribu-

tania cresceu. Nela estão registrados os feitos nal, muita coisa foi incluída, excluída e alterada.

de reis e sacerdotes, com capítulos tendo sido


acrescidos por grupos de cardeais, ou por Elei-
tos, depois de toda conquista de relevância. Po- A Litania foi ampliada por muitas vezes, como
rém, o texto não conta apenas com registros his- quando os Puros tiveram o perdão do Tribunal,
tóricos. Existem muitas fábulas registradas em séculos depois de suas mortes injustas, e assim
suas antigas páginas e assim, serve como uma tiveram suas vidas registradas nas últimas pá-
fonte de saber. Sempre escrita na língua culta ginas do livro. Acredita-se que esta foi a última
dos homens santos, o Alto Belgho, a Litania vez em que o tomo fora ampliado, e possivel-
nunca ficou a disposição de qualquer fiel. mente visto. Sempre trancado no relicário do

b 220 b
b Titereiros e Títeres b
Virkarium, antigo centro da fé do Império de Vi-
rka, a Litania do Único perdeu-se no tempo com a
a queda do poder imperial. Com a capital aban- Os Santos e sua Adoração
donada, possivelmente ocupada por hereges do
Uivo Celeste, os homens santos da Era da Luz Os santos também são figuras recorrentes den-
sentem-se ludibriados pelo destino. O tomo que
tro do criadorismo. Sendo canonizados desde a
carrega as palavras do Pai não pode ser abando-
aceitação dos Puros, que são os maiores santos,
nado desta forma.
tantos outros seguiram seus passos. Morovan é
Fisicamente, a Litania do Único é um livro de patrono de toda a igreja, Angelina representa
tamanho assombroso. Tendo noventa centímetros a cavalaria e a proteção da casa nobre. Toda
de comprimento e pesando cerca de setenta qui- cidade, pequena e grande, possui alguma his-
los, tem uma capa de couro branco, com adornos
tória relacionada a algum santo, seja um que
simples, reforçada nas pontas superior e inferior
nasceu lá, ou que passou pelo local em algum
por placas de bronze polidas e bem trabalhadas.
O centro se destaca com uma esfera de muitas momento da história. Da mesma forma são as
pontas, que alguns dizem se tratar da grandeza suas atribuições, existem santos das batalhas e
sempre expansiva da centelha gloriosa deixada dos deveres domésticos. É comum que pessoas
pelo criador, no coração de cada homem. As pri- se devotem a um santo, ou a um grupo deles,
meiras páginas contam com os registro de Moro- entendendo que estes santos sãos mais próxi-
van, caracteres que raríssimos sacerdotes pode-
mos por já terem sido pessoas comuns, fazendo
riam traduzir, mas acredita-se que a compreensão
uma ligação mais fácil com o Criador. As histó-
de um deles é o bastante para dar ao mortal a
experimentação de encarar os olhos de Deus por rias são sempre marcadas por sofrimento, com
um segundo, deixando puro, ou louco. Os regis- homens e mulheres que rumaram contra toda
tros históricos seguem depois, em duas colunas a sorte para serem enaltecidos pelo Criador, o
ordenadas por páginas. Iluminuras detalhadíssi- que torna popular o dito: “O Criador não esco-
mas adornam o início de cada folha que, a despei- lher os preparados, mas prepara os escolhidos”.
to da idade, ainda são perfeitamente maleáveis.

b 221 b
b Belregard b
O Libertari casamento, morte, acordar, refeições, dormir e
“Os homens de poucos bens não possuem tem- trabalhos, cada uma das grandes obras da vida
po, aqueles que muito leem, possuem sempre a dos homens.
mesa farta.” - Lazlo, O Puro
Mesmo aqueles não sabem ler recebem o Li-
A vida é difícil e as amarguras do plano ter- bertari, pois aprendem com o tempo, decoram
reno impedem que o homem carnal rasgue o na base das repetições de seus pais e o entre-
céu e alcance o Único. Pensando nisso, os puros laço destas preces com o âmago mortal é tão
compilaram sete orações que permitiriam, atra- grande que elas costumam ser utilizadas como
vés da repetição, mudar o homem. Elas são o su- um parâmetro de tempo. É comum, em receitas
pra sumo daquilo que os Puros ensinaram, pre- simples e completas, a fala “aqueça e mexa o
ces que eles mesmos sempre tulizaram, como se caldeirão por trinta casamentos”, por exemplo,
inspirados pelo Único. aproximando o tempo de trabalho na cozinha,
ou até mesmo na forja, quando é preciso marte-
A meditação sobre essas orações é capaz de
lar o ferro durante dez ou quinze mortes.
mudar a vida do homem e ajuda-lo a alcançar o
reino de Deus.
Este costume nos serve para compreender um
O Libertati é um livro com 7 orações que todo pouco da mentalidade dos povos de Belregard,
homem e mulher batizado de Belregard conhe- pelo menos dos tolos que vivem fora do vale,
ce, esses livros são um dos primeiros presentes mas admito que alguns daqui ainda perdem tem-
dados pela igreja para os pequeninos. Elas retra- po com orações em língua vulgar, que jamais al-
tam etapas da vida e atos diários. Nascimento, cançariam o Criador.

Oração do Tempo da Natalidade Trabalho


Quando uma criança nasce deve-se orar logos Antes de iniciar qualquer atividade:
nos primeiros suspiros de vida ao longo dos seus
Sem ti nada podemos, me envolve com fé
primeiros sete dias.
Prostro-me perante a Tua bondade;
Ampare este pecador,
Angellus abençoado, santo guardião, guarda esta vida do terror da-me força para concluir este trabalho
Cobre com tua asas; fortalece a sua carne e que vou iniciar,
guia sua mente para o caminho para sua honra e Glória.
Enche sua alma com amor celeste a fim de que guardado por
ti ela tenha grande misericórdia.
Trabalho
Ó Altíssimo, Único entre os celestes, Tu
Após terminar qualquer trabalho:
deste à luz da criação, Envia Teus Servos,
teu anjo guardião, enchendo-o de bondade e salvando Seu poder é pleno
Declaro júbilo e alegria por servir a Ti
sua alma possuída por paixões e pecados dos terrores da alcova.
Me permitiu chegar até aqui
Hoje e sempre.
livre-nos da impureza e salva as nossas almas,
(1x para cada dia de nascido até o sétimo)
Pois Tu és bom.

b 222 b
b Titereiros e Títeres b
Após as Refeições
Acordar
Deu a chuva, Deu saúde e deu a força
Ao despertar do sono, antes de fazer qual-
Seamos no tempo apropriado. Plantamos e colemos.
quer coisa, reverencia o senhor teu Deus.
Vivemos por tua graça.
Santo Criador, misericórdia para com meus erros
Santo Criador, faz um dia novo
Senhor dos Céus, Poderoso, Altivo e Guerreiro
Casamento
Da-me o tesouro, sopra-me a vida,
Livra-me da impureza e brilha minha alma Quando um casal se une, após a união do

Tem piedade de nós! (3x) sacerdote e os votos, os três, marido,


mulher e padre, devem orar juntos.

Aqui fazemos santa trindade, pelo poder dos seus filhos de luz e pelo
poder do seu sacrifício, cuida e eleva o amor que vive em nós
Morte Sele o laço que apresentamos a Ti como oferenda diante de Vós a con-
Quando em um velório, deve-se orar da lua sumação deste Sacramento.
alta até o cantar do galo. Erguidos pelo poder da graça, somo ricos do teu amor. (Sacerdote diz)
Guia-me abaixo de Vossas santas Leis, (Noivos falam)
Santo Senhor de Luz, tem compaixão de nós,
Vossos Ensinamentos para caminhar em Vossos passos. (Sacerdote diz)
Grande é Tua Misericórdia (3x)
Despertai em nós teu amor. (Noivos falam)
O mundo se quebra a nossa volta
Derrama piedade em nossa tristeza,
Mostra-nos, ó Criador, a força do Teu Amor! (3x)
Tira-nos o desespero, a dor e a angústia,
Trás-nos a Paz, que vai além da compreensão,
Antes de Dormir
O canto da meia noite afasta o pecado
Ouve meu coração que está arrependido (3x) Trás tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Leva a alma e me trás o conforto Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Sem pecado quero viver, para tua honra. perdoa-nos as nossas iniqüidades.
Trás tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Livra-nos da espada inimiga e da adaga do ladrão,
Antes do Café da Manhã,
Trás tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Almoço e Jantar
Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Dá às andorinhas, dá aos peixes e dê a nós
Cuida de nosso sono e nos dê a luz para mais um dia.
Seara no apropriado. Esticamos a mão e recebemos
Trás tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Vivemos por tua graça.
Guia as nossas almas, nos faça ser bons.

b 223 b
b Titereiros e Títeres b
Secunda Pars
Um Mundo de Mentiras
Saiba, ó Abimaleque, que os inimigos do homem espreitam dentro do
vale. Não apenas nas cavernas da terra, também se esconde nas caver-
nas dos homens, a luta pela luz ocorre dentro de cada um de nós e tu,
iluminado pelo saber dos que vieram antes, fundamentará nossos próxi-
mos passos. Aqui segue o que se sabe sobre os horrores que não são vistos,
apenas sentidos, aqueles que se revelam diariamente nos detalhes e por-
menores da vida banal. São saberes que estão nos livros de padres, mas
também na boca de camponeses que, em sua vivência simples,
confrontam o pecado a todo momento, de sol a sol.

SOMBRA plural, um erro normal incentivado pelo baixo


conhecimento do jargão arcaico empregado na
época em que O Único veio a terra.
“Só há um Inimigo”.

- Capitulo 1, Verso 1, O Livro do Tomando a premissa de um inimigo, partire-

Fim, Litania do Único, tradução mos nosso estudo sobre A Sombra e A Horda.

de Lazlo de 982 DA
Quando o Único veio ao mundo, seu esplen-

É com essa frase que se inicia o Livro do Fim, dor de poder gerou uma Sombra, o reflexo som-

o ultimo livro da Litania. E é com base nele que brio de sua magnificência que ganhou vida. Seu

Lazlo definiu os princípios da Guerra Oculta poder, equivalente ao d’O Único, era distorcido

entre a Abóbada Celeste, morada do Único, e a e esquálido, gerando assim uma vida quase que

Alcova Profana, reduto da Sombra. divina. Durante as andanças do Criador, a Som-


bra o acompanhou e impregnou no homem sua
Antes de tudo, precisamos definir o que se- semente, assim, ampliando a sede e tendência
ria esse Inimigo. Na tradução oficial divulgada do homem ao erro. Somente o Único, em sua
pelo Tribunal do Santo Oficio, o verso seria “Só escala de compreensão divina foi capaz de per-
existem inimigos”, de acordo Lazlo, um erro ceber que aquilo que salvaria a humanidade,
inadmissível na tradução das escrituras. Em também seria o motivo do fim, e que somen-
profundos estudos, o Puro encontrou a escrita te partir, ir embora, não daria cabo àquilo que
arcaica que seria “unum hostem”, que significa- havia piorado. Nesse momento, para frustrar os
ria definitivamente, “Só há um Inimigo” e não planos da Sombra, ele se fez humano e morreu
“tantum hostium” que seria “Só existem inimi- na esperança de estilhaçar o poder do seu rival.
gos”, aqui, o gênero um, seria alterado para o Mas isso não ocorreu.

b 225 b
b Belregard b
É sabido, até mesmo pelo Tribunal, que a mais clara possível, e para Lazlo, isso viria so-
Sombra escondeu-se no vale de Belghor, antigo mente através do conhecimento.
berço dos homens, e fez voltar a vida a dinastia
dos Bövrar, que haviam arranhado a superfície Muitos se enganam acreditando que o culto à

dos segredos mais profundos do mundo. Apesar Sombra é regado de sangue e prazeres da carne.

de todo pecado enraizado nesse sangue, foi seu Essa imagem mal formada e errônea deve-se a

legado que permitiu ao Abimaleque o conheci- muitos desses cultistas que se infiltraram nos

mento pleno sobre o mundo. Vale lembrar ainda asseclas da Horda na esperança de fugirem da

que a mentira, de modo generalizado, não foi atenção dos servos da verdadeira fé ao longo

trazida pela Sombra. Homens mentiam e traíam dos séculos. O verdadeiro culto à Sombra está

muito antes do Único encarnar, o que a Sombra muito além desses padrões bestiais e puramente

fez foi deixar esta marca mais evidente naqueles visuais, ele se entende como o infinito mental e

pré-dispostos a isso. seu campo de ação é tão próximo que é capaz


de enlouquecer os homens de pouca fé.
De acordo com os profundos estudos e medi-
tação d’A Palavra, Lazlo definiu que não exis- Os servos da Sombra pregam que Ela é a di-

tem outros deuses. Aqueles muitos seres divinos vindade dentro de nós e o caminho à Verdade,

adorados pelos Selvagens, grupo nomeado de verdade esta que seria responsável por nos tor-

A Horda, eram nada mais que forças derivadas nar verdadeiros Deuses, tomando conhecimen-

da criação do divino que utilizavam da centelha to sobre tudo, principalmente sobre as tramas

desse poder para operar milagres no campo ce- divinas que regem o livre arbítrio, enobrecendo

lestial. Isso vale, evidentemente, para os Patriar- virtudes como iluminação, sabedoria, orgulho,

cas, que eram os responsáveis pela manutenção independência e liberdade das amarras da ig-

das populações de selvagens pelo mundo. Acre- norância dos homens. Conceito muito parecido

ditamos que muitos ainda existam, adormecidos com os estudo de Lazlo, o Puro.

em recantos do mundo. Entretanto, quando


O culto a Sombra pode ser categorizado como
Deus separou aquilo que era bom para si, seus
práticas Internas e as práticas Externas. As prá-
seguidores operaram milagres apenas pelo co-
ticas internas agem diretamente na personalida-
nhecimento empírico e incompreendido da ar-
de, caráter e psiquê do indivíduo, treinando e
caica Forma Pensamento, ideologia categoriza-
capacitando-o a abrir os portões da sua mente
da séculos antes por Bövrar II.
outrora fechados pelos conceitos consensuais

Lazlo escreveu por inspiração divina: divinos e humanos. As práticas externas são
uma parte muito mais complexa, sendo exerci-
“Vinde meu filhos, ajuntai-vos à Luz do Meu co- das somente por poucos, exigindo inúmeros fa-
nhecimento, pois a Escuridão lhe cegará os olhos”. tores naturais e físicos para expressar o poder
aprendido. Isso inclui lugares adequados, símbo-
Obviamente, uma ordenança deixada pelo Único. los sagrados, indumentárias e vestimentas cabí-
veis. O maior praticante e estudioso das práticas
Para o Puro, a Sombra era o arquétipo do
externas foi Bövrar II.
nosso ego mais sombrio, a monstruosa perso-
nalidade humana. Fica claro dessa maneira que Desta maneira, o conceito interno pode ser
a briga no plano espiritual está na mente dos praticado individualmente, agindo apenas do
homens. Assim, devemos tornar a nossa sombra seu singular, ou em grupo no âmbito externo,

b 226 b
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
agindo no material e nas leis mundanas. Sendo bando tambores nas montanhas de Viha, eles,
que o sucesso de uma não depende da outra. nossos inimigos, estão debaixo de nossos olhos,
bebendo e comendo conosco em nossas mesas,
Nos anais da história, quando esses cultistas talvez dormindo conosco em nossas camas, e
se encontravam, para o que chamavam de Mis- somente o santo poder divino será capaz de re-
sa Sombria, àqueles praticantes do conceito velar a mentira que nos é pregada.
interno deviam cumprimentar seus companhei-
ros com a mão direita, deixando claras suas in- E nosso Inimigo, ainda mais próximo, reside
tenções, e os adeptos do conceito externo, de- em nosso peito, nossa carne, nosso ser. E so-
veriam cumprimentar seus irmãos com a mão mente as Boas Obras, os atos divinos refletidos
esquerda, afirmando que estava dispostos à ver através do fortalecimento da Pedra Angular, do
a materialização dos seus estudos. Assim fican- Bom Conhecimento e do Caminho Irrepreen-
do conhecido como Caminho da Mão Direita ou sível, poderão repudiá-lo e vencer essa guerra
Intus e Caminho da Mão Esquerda ou Ex. natural travada à séculos.

O principal conceito da Mão Direita era que Mentira


“Somente a Vontade poderia gerí-lo”, ou seja, “Não me lembro mais dos dias brilhantes, dias
somente fazendo aquilo que se quer e apren- antecessores à Escuridão que veio e roubou mi-
dendo com isso, poderia sintonizar-se com a nha mente e amarrou minha alma às correntes
Verdadeira Vontade, ou, a Vontade do Universo. da cegueira”
Em contrapartida, a Mão Esquerda norteava-se
- dos escritos apócrifos do Louco
no princípio de “Usa tuas Mãos para fazer de ti
um templo”, pregando que o ensino sem atitude
Quando a Sombra veio ao mundo, Ela ca-
material era nula. Indo contra o que se esperava,
minhou ao lado do Único, e assim como Ele,
ambas as filosofias são co-irmãs e caminham de
utilizou os poderes inerentes aos sentimentos
mãos dadas, afinal, de maneira consequente, os
humanos para firmar Sua essência de maneira
praticantes do conceito Interno irão praticar o
material. O Criador buscou no temor, fé e amor
Externo mais cedo ou mais tarde, seja em con-
as bases do firmamento do Seu poder, a Sombra
junto, ou separado.
por Sua vez, sondou os corações humanos e viu
que todos, independente do credo, classe social
Independente do conceito adotado, o grupo
ou idade são criaturas imperfeitas e para masca-
em si prega a “mentalidade do rebanho”, onde
rar tal imperfeição, nos amparamos na Mentira.
somente com a união do “Seja feita a Minha
Assim, utilizou essa sequela do nosso caráter
vontade” e com “Seja feita a Tua vontade”, se-
para firmar seu poder terreno.
rão alcançados os Grandes Feitos, ou como La-
zlo intitulou, de Obras Profanas.
Definitivamente, o mundo de Belregard é do-
minado pela Mentira. Seja ela a Grande Mentira,
Indo totalmente contra o que é pregado pelos
que tange as reais intenções do divino que são
beatos e incultos do Tribunal do Supremo Ofi-
deturpadas pelo homem, ou as verdades corri-
cio, os verdadeiros inimigos, praticantes de co-
queiras do nosso dia natural. As razões morais
nhecimentos profanos, são pessoas do mais alto
para a mentira são motivo de discussões aca-
escalão intelectual, o que irá gerar, alto escalão
loradas entre os estudiosos. Mas definitivamen-
social e financeiro. Eles não estão escondidos
te, a Mentira é tida como um desvio no código
entre as negras florestas de Belghor ou retum-

b 227 b
b Belregard b
ético estabelecido durante as eras. Os homens E quais as consequências da Mentira?
estão propensos, senão obrigados, a ceder às
Para Alec, o principal desgaste moral causa-
tentações da enganação, e com o passar nos
do pela mentira é o menosprezo da Realidade
anos, aceitamos a “mentira social” onde esta
Universal. Esta realidade são as verdades imu-
tornou-se um fator inofensivo e parte do nos-
táveis deixados pelo Criador, nosso Pai, Guer-
so estilo de vida pífio. Nosso entendimento do
reiro e Confidente. Para provar tal revelação,
que é totalmente honesto tornou-se envergado
ele visitou a abadia de Latza, onde teve contato
e pragmático.
com indivíduos que foram categorizadas como
pessoas anômalas com pensamentos anormais
Uma clara razão para que a mentira persis-
para a sociedade, ou popularmente, loucas.
ta em existir em nosso meio é a noção da sua
Lá, ao levar a palavra do Criador a várias des-
inofensiva ameaça perante os olhos do Criador,
tas almas, Alec identificou que eles viviam em
e nos tempos atuais, a mentira assume sua pior
uma realidade falseada, distorcida, recriada ou
face, a Traição. Assim como a Sombra traiu o
substituída. Em menor escala, as pessoas que
Criador ao inserir no homem a semente pútrida
dão brecha a mentira, vivem em uma realidade
da mentira, o homem planta em seu seio men-
anormal, onde suas atitudes em nada afetarão
tiras tidas como verdade, que à curto ou longo
a ordem natural das coisas e principalmente,
prazo, serão motivo de danação, tanto terrena
onde a Lei Divina não se aplique.
quanto espiritual.

Para Alec, um dos precursores deste estudo


O Cortejo Sombrio
No dias que precederam a vinda do Único ao
moral, a mentira está impregnada no caráter
mundo dos homens ocorreu um estranho evento
humano. Testificou isso quando comparou duas
chamado de “A Ausência”. Os sacerdotes de Belre-
crianças que cresciam entre seus seguidores
gard, até aquele momento, eram capazes de operar
peregrinos. Uma das crianças fora deixada para
pequenos milagres como curar doenças e purificar
ser educada por seus pais e outra fora criada
alimentos, além de um leve controle do clima, mas
pelo próprio Puro. Antes mesmo de completar
três dias antes do Único fazer-se mortal, esta liga-
o terceiro ano, ambas as crianças deram seus
ção, esta fonte de poder divino, terminou. Muitos
primeiros passos na Mentira. Assim, idealizou o
sacerdotes sentiram-se abandonados, com uma de-
que até hoje é conhecido como a Grande Men-
solação em seu âmago que não poderia se explica-
tira, uma triste afirmação que comprova que o
da de nenhuma forma. Hoje sabemos que este foi
homem, independe do caminho que siga, sem-
o teste, para o Criador saber quais seriam aqueles
pre conviverá com a semente da enganação lhe
que continuariam ao seu lado, mesmo sem ele lhes
perseguindo.
presentear com estes dons.
Os asseclas da Sombra determinam que “não
Alguns homens santos enlouqueceram neste
há mentira, apesar do que se diz, sem intenção,
período, entregando-se a atos terríveis numa es-
desejo ou vontade de enganar”. Deixando claro
perança de entender o que estava acontecendo.
que a mentira só será categorizada como a mes-
Não foram poucos os que buscaram ajuda em seus
ma, quando esta for dita com a clara intenção
antigos tomos, onde eles mesmos criticavam e ca-
de cegar os olhos do observador sobre um dado
çavam os Selvagens por adorar sua corja de deuses
fato distinto.
inferiores. Os sacerdotes enlouquecidos voltaram-
-se para a Horda e para os Patriarcas.

b 228 b
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
a
A Mentira no Mundo Espiritual

Assim como a Fé fortalece nosso Senhor, a mentira é o alimento que nutre os desejos da Sombra. Afinal,
seu claro intuito é pregar que o homem não precisa da figura Divina e que este é apenas um dos estados
possivelmente alcançados pelo homem natural. A Mentira age como uma fera, uma praga, uma mácula ou
uma doença, espalhando-se pelo mundo tomando conta de cada centelha de vida, subjugando a tudo e a
todos. Diferente do Criador, que chamou a poucos para portarem sua Bravura, a Mentira chamou a muitos
para portar sua calúnia e ela ira testar os homens constantemente, tentando a cada momento obrigá-lo a
dobrar-se perante a mentira consensual, tão facilmente aceita e sedutora a todos. Ela agirá como uma besta
faminta que têm sobre sua posse toda a reserva de carne possível, e graças ao poder do Único, alguns pou-
cos bravos, os Arautos, resolvem minar suas reservas. Ela irá usar tudo que puder para evitar isso.

A força da mentira não pode ser medida de maneira humana, entretanto seu poder é supremo, muito mais
forte do que qualquer outra fonte de poder. Seus servos são agradecidos e seus sonhos são realizados, em
contrapartida, aqueles que lutam contra essa farsa, sofrem, penam, morrem e são levados ao júri, sem a
mínima chance de defesa. Quanto maior a Bravura concedida e gerada por sua Fé, mais a Mentira irá lhe
caçar para destroçar suas esperanças.

Um local dominado pela mentira irá repudiar, ou talvez caçar, os Arautos. As tentativas de lutar contra ela
em nada surtirão efeito se não for através das obras do espírito. Definitivamente, a posição do Senhor é clara
com relação à mentira em vários versos da Litania: “Afaste-se de Mim ó mentiroso”, “A mentira é como
algemas, levante suas mãos aos céus, pois eu possuo as chaves” “A mentira lhe roubará a mente”, e muitos
outros. Assim sendo, Deus nos tirou da mentira para sermos Portadores da Sua Verdade, pois ela não pende,
enverga ou quebra, é firme como rocha para todo o sempre.

A Horda é um termo genérico usado pelos ho- que o sacerdócio passou a observá-los com mais
mens quando se referem aos seres que imenso cuidado, dentro de suas próprias fileiras. Os
poder que os Selvagens louvavam. Um nome Cortejos Sombrios, como passaram a ser cha-
mados, são uma das maiores preocupações do
mais acurado para este grupo de seres é o de
Tribunal do Supremo Ofício, pelo menos em seu
Patriarcas, ou Matriarcas. No passado, duran-
discurso, já que a corrupção financeira abun-
te a luta contra os Belinaren e Dwerthären, os da naqueles corredores. Não só homens santos
homens só conseguiram dar fim as duas espé- compactuam com a Sombra, pessoas simples
cies quando encontraram seus Patriarcas nos também. Oferecendo a vida de seus primogêni-
confins da florestas e da montanhas. São bes- tos, homens e mulheres conseguem erguer suas
tas absolutamente inumanas e indiferentes ao vidas de forma assombrosa. Os meios para se
realizar os pactos são muitos, desde o encontro
mundo a sua volta. Existem apenas para, de
numa encruzilhada até o sacrifício ritual de al-
tempos em tempos, parir suas proles defor-
gum animal em homenagem a um dos Ímpios.
madas e é por isso que é impossível dar fim
aos Selvagens de qualquer espécie, sem antes
encontrar seus genitores.

Não que os pactos e acordos profanos fossem


novidade naquela época, mas foi daquele ponto

b 229 b
b Belregard b
As Cinco Provações
As Cinco Provações representam as fraquezas
a
humanas mais perigosas, capazes de corromper O Diabo
a alma e entregar o fiel à Sombra. As Cinco Pro-
Demônios e Diabos fazem parte do imaginá-
vações não aparecem na Litania do Único. Elas
foram escritas originalmente por Ivárius, um rio do mundo de Belregard, são imagens que as

sacerdote que isolou-se do mundo por volta de pessoas desenham e idealizam quando se fala

800 DA. Suas reflexões o levaram a conhecer a sobre o pecado, o mal. São termos genéricos

si mesmo e assim pôde apontar e catalogar tudo que fazem referência a criaturas sombrias, aos

aquilo que tornava os homens perigosos para o próprios Ímpios e até mesmo a própria Sombra.
mundo e para si mesmos. Ele estudou sobre a No entanto, é possível perceber que o Desejo,
Era da Vergonha nos raros tomos existentes em como cerne do que pode levar o homem a pe-
sua época e pôde constatar que boa parte do car, é personificado na figura do Diabo, uma
que ele julgava pecaminoso era praticado aber- besta de três faces que devora os pecadores. Tal
tamente pelos Selvagens e pelos homens ainda entidade é apontada como amante da Sombra,
sem direcionamento na Fé. algumas vezes é dito que foi o primeiro homem
a cair no pecado e por isso foi aceito por ela
Sucumbir às Provações é o primeiro passo
como um igual, para reinar na Alcova ao seu
rumo à perdição do espírito. É quando o homem
lado. Fala-se pouco sobre o Diabo, como enti-
abre as portas de seu coração para a corrupção
dade individual. Talvez como uma forma de não
da Sombra Viva. A chave para o entendimento
perder o foco para o verdadeiro e fundamental
desta falha nos homens está no Desejo, que é
inimigo, que é a Sombra.
regido pelo Diabo, consorte da Sombra. O de-
sejo é relacionado a soberba, ao orgulho, mas é
também a marca deixada pelo próprio Criador
quando depositou no homem a centelha divina. Luxúria
É graças a esse Desejo, que queima e arde, que
É o desejo desmensurado pelo prazer carnal.
os homens de Belregard são capazes de feitos
Aquilo que torna o homem escravo de seus dese-
incríveis, para o bem ou para o mal. O Desejo,
jos mais primitivos e animalescos, o simples pra-
por si só, não é pecado, mas sim as consequên-
zer pela fornicação é capaz de corromper até o
cias desse desejo sem controle.
mais puro dos homens. Um perfeito exemplo dis-
so é Bövrar II, que mesmo sendo um dos homens
O pecado pode possuir uma pessoa, habi-
mais sábios de todo o tempo, era famoso por
tando seu corpo e comandando sua vontade. O
entregar-se a toda a sorte de libações e orgias.
Eleito Lázarus, que foi o mesmo a oficializar os
pecados quando tornou-se a liderança dentro do Para aqueles que já cultuaram a Horda, sejam
Tribunal, idealizou cada um dos pecados como homens ou Selvagens, as celebrações carnais
uma entidade à serviço da Sombra, chamadas de nada mais são do que um reflexo das atividades
Ímpios, vindos da Alcova Profana sempre que de seus próprios deuses naturais, que pratica-
um homem de fé titubeava em suas crenças e vam a fornicação entre si. Já para o mundo ci-
entregava-se a provação. Estando possuído por vilizado, a terra, a natureza, não são entidades,
uma entidade das Provações, a única maneira de mas sim coisas. Coisas criadas pelo Único, que
estar livre novamente é passando por ritual de vive sozinho em sua Abóbada Celeste e não pra-
exorcismo dirigido por um bispo ou cardeal. tica tais libertinagens.

b 230 b
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
O celibato dos sacerdotes de Belregard não O grande problema ocorre quando o invejo-
veio só como uma forma de dar o exemplo quan- so não se foca em conseguir aquilo que dese-
to ao pecado da luxúria, mas principalmente ja, mas sim em destruir o que seu semelhante
pelo interesse da igreja em não correr o risco de possui, valendo-se da máxima “se eu não tenho,
perder suas terras a possíveis descendentes que ninguém tem”. A inveja é uma serpente velha e
desejassem reivindicar alguma posse. Isso aca- obesa, que se arrasta pelo mundo espalhando
bou tornando os padres e sacerdotes militantes seu veneno e matando tudo ao seu redor. Ela
quanto a atitude contra a luxúria, o que era an- fomenta a traição e corrompe com os olhos, já
tes uma questão que cabia apenas aos homens que é pelos olhos que a inveja começa. Da in-
santos, é também vigiada e se estende a toda a veja nasce o rancor, a alegria na má sorte do
sociedade. Boa parte das confissões feitas pe- próximo e o pesar por sua prosperidade. Dentro
los fiéis consistem em detalhes sobre suas vidas do culto de Lazlo, que mostra uma faceta mais
particulares, dentro das relações no casamento. branda da inveja, nós vemos a inveja dos erudi-
tos, onde a única maneira de se saber mais que
A entidade relacionada à Provação da Luxú- o outro é através do estudo.
ria atende pelo nome de Arshma, segundo o
que foi escrito por Lazarus, este ser à serviço Como a visão distorcida é comum aqueles que
da Sombra era assim chamado pelos Homens de se deixam levar pelas provações, o invejoso que
Coração Negro, habitantes da antiga Belghor. chega ao limite de destruir o foco de sua inveja
É representado por uma figura meio homem e pode ver-se, na verdade, como um justiceiro e
meio bode. Seus chifres são imensos, remetendo é exatamente esta a ideia de Invídia, a perso-
a ideia herdada pela heresia dos selvagens, onde nificação do pecado. Representada como uma
os chifres representam a virilidade dos relacio- serpente obesa com feições de uma senhora ve-
nados aos tais animais. Representações deste lha, olhos amarelos e dentes quebrados cheios
ser já foram encontradas em Belregard, feitas de sangue, de tando apertá-los uns nos outros
em cerâmica e até em bronze, deixando claro e ranger, pela angústia em ver as posses de ou-
que em tais locais ocorriam cultos a Arshma. trem. Seu olhar é capaz de tornar pessoas e ob-
Independente de seu aspecto bestial, é atribuí- jetos em pó, desde que ela deseje.
do a Arshma o poder da plena sedução.
Gula
Inveja
O pecado da gula é levado muito a sério
A inveja é uma Provação que tem duas faces. dentro do culto de Leoric. O maior presente
Por um lado, ela pode servir para trazer bons do Criador para os homens foi seu corpo per-
resultados, quando mostra-se capaz de motivar feito, capaz de feitos incríveis desde que bem
um homem a conquistar aquilo que seu seme- condicionado. O guloso desdenha do presente
lhante possui, de maneira honesta. Esta compe- de Deus, deformando a criação do Pai quan-
titividade na sociedade não pode ser vista com do vivem para comer e não comer para viver.
maus olhos, já que trás algo próximo ao progres- A gula afasta o homem do caminho da retidão,

so. É claro que Varning está mais disposta a ver a um pecado contra o próprio corpo. Comer em

inveja de forma branda, enquanto o Tribunal con- excesso também ofende aqueles que praticam a
mendicância, já que devorando com o apetite de
tinua suspeitando antes de dar o braço a torcer.
muitos, o pecador priva pessoas necessitadas
de se alimentarem.

b 231 b
b Belregard b
O guloso vive na sujeira, dentro e fora de seu quanto ao avanço comercial da humanidade. A
corpo. Ele é acompanhado por um coro perpé- acumulação de bens não é vista com bons olhos
tuo que segue seus passos, a Orgia das Moscas, pelo Tribunal do Supremo Ofício, apesar deles
como Lázarus chamou. Chafurdando no próprio mesmos contarem com uma boa quantia de
vício, incapaz de tirar de sua mente a ideia do ouro em suas reservas e em seus salões, ador-
alimento, da libação, o faminto não se importa nando símbolos e altares. Por ser uma prática
com as moscas que rodopiam ao seu redor, ban- que vai contra o que Alec pregava, sobre o total
queteando-se de seus restos e depositando seus desapego aos bens materiais, a riqueza é uma
ovos da ceia fresca. Novamente esta prática era faca de dois gumes. Da mesma forma que a in-
comum nos tempos da Era da Vergonha, entre veja, ela pode ter duas faces, uma grave e uma
selvagens e hereges. E vale ressaltar, a gula não branda.
se limita a comida, mas toda atividade de con-
sumo que seja praticada de forma desmedida Quando um homem acumula muito mais do

e assim deve ser que precisa para sobreviver, ele pode ser visto

observada tam-
bém na bebida
e nos demais
vícios.

até mesmo como um


É por esta relação aos insetos
assassino, já que priva
que a figura relacionada a
outros que pode-
gula atende pelo nome de
riam beneficia-
Zaalzebub. Lázarus disse
rem-se de seus lu-
que ouviu este nome ao pé
cros. E ele apenas
do ouvido enquanto refletia
os junta, guardando
sobre os pecados. Quando deu
para si mesmo. O Tri-
um tapa no rosto, provocado
bunal tenta motivar es-
pela irritação de algo peque-
tes homens a doar parte de
no, pôde conferir que se
suas rendas para os necessita-
tratava de uma mosca gor-
dos, ou para a própria igre-
da e vermelha. O senhor
ja, ajudando-a na manu-
das pestes, Zaalzebub,
tenção da corrupção
aguarda aqueles inchados
pelo mundo. Alguns
pela própria incapacidade
ajudam, mas outros
num poço de podridão, à
só buscam bene-
eterna cantoria da Orgia
fício próprio.
das Moscas.
Invest indo
Avareza naquilo que os
agrada, seja na arte ou no
A avareza só teve uma
combate, alguns homens beneficiam-se destes
grande representação quando a castelania de
comerciantes e nobres ricos, quando vêem-se
Varning ergueu-se sob a proposta de Lazlo
patrocinados pelos mesmos.

b 232 b
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
O desejo pelas coisas pode estar relacionado a se transformado e, irado, buscou os homens
inveja, a gula, a ira e à luxúria. Por isso a Avareza para limpar o mundo. Esta é uma ideia que pode
é apontada como a raiz de todo o mal. O Ímpio preocupar aqueles que passam muito tempo
relacionado a esta prática recebeu o nome de refletindo sobre a existência. Estaria o Criador
Mammom. Uma figura representada com um satisfeito com os rumos da humanidade? Seria
corpo imenso e coberto de ouro. Mammom é o ele capaz de propor uma nova limpeza usando
pai da usura e este sim é o lado mais perigoso da filhos ainda mais jovens e preparados?
avareza. O usuário, praticante da usura, é visto
como um ladrão do próprio tempo, já que ele Ao contrário do que se poderia imaginar, as

consegue seu dinheiro na cobrança de juros e ordens de cavaleiros de Belregard não se valem

assim cobra por algo que não lhe pertence. O da ira em seus combates. Um conhecimento,

usuário é anti-natural, ele faz o dinheiro dar cria uma prática, que o próprio Leoric deixou para
e é também por isso que, apesar de ser repre- os homens. Segundo o Puro, aquele que inicia
sentado como uma figura masculina, Mammom um combate irado está fadado à derrota. Um
sempre aparece com uma barriga imensa e os verdadeiro guerreiro deve deixar sua mente
seios vazando leite. Algo que simplesmente não leve antes de um embate, assim ele pode dire-
deveria existir. cionar sua força onde é verdadeiramente preci-
so. Sentir raiva não é errado, você só não deve
Ira
deixar-se levar por ela.
A ira é um dos pecados mais perigosos, já
Amom é o Ímpio que representa a ira. Uma
que pode facilmente levar a morte. Apesar de
paródia de cavaleiro. Uma criatura de traços he-
sua importância no imaginário popular, como
uma sombra que paira sobre todos os homens, diondos e desproporcionais. Orelhas pontudas,

a ira é mais comumente vista como uma con- nariz alongado e cabeça achatada, um corpo de

sequência de outros pecados. Ficamos irados braços e pernas longos, magros, mas poderosos.

por não conseguirmos aplacar nossos desejos Monta em seu cavalo tão deformado quanto ele

de consumo, seja na luxúria, na gula, na ava- e porta uma lança de ossos. Sempre nu, desde-

reza ou na inveja. A ira é como um resultado nha das proteções dos homens e é capaz de falar

disso, que pode nos levar ao assassinato e a com qualquer pessoa diretamente em sua men-
danação do corpo e da alma. A ira já foi vista te, induzindo pensamentos que motivam a fúria
até mesmo no Único. A vergonha o tomou quan- e o ódio, levando o alvo a perder o controle de
do viu no que suas primeiras crianças haviam si mesmo.

b 233 b
b Belregard b

Abra teus Olhos!


Bem, você deve estar se perguntando por que te chamei aqui, não é?
É hora de você saber a verdade, criança, é hora de abrir teus olhos para
a rede de mentiras que atrofiam sua alma. Eu, você, todos que você co-
nhece, todos nós estamos presos numa trama de intrigas, politicagem e
corrupção, mas não podemos enxergá-la por perdermos tempo demais
pensando apenas em nós mesmos. Ei, não me olhe com essa cara, já fui
tido por louco muitas vezes, mas quando você conseguir enxergar o que
eu enxergo, você vai me dar a razão... Mas, preciso saber se você está pron-
to para a verdade. Já se sentiu sozinho alguma vez? Sim, aquela solidão
avassaladora e sufocante, o coração apertado de angústia e controlando
seus pensamentos para não se afundar nas próprias mágoas... Ah, você
sabe do que falo, não sabe? Seus olhos mostram sua indecisão, transbor-
dam com a melancolia de alguém que não consegue encontrar compa-
nhia nem no meio de uma multidão, tampouco em si mesmo na solidão
de seu quarto... Você sentiu tudo isso, seu espírito foi quebrado e molda-
do, seu semblante transparece todo esse abandono do qual você sempre
tentou fugir. Venho te observando, e minhas suspeitas só ganharam mais
b 234 b
b O Conto dos Anos b
e mais força: você não é como os outros, de jeito algum! Mas sem um
direcionamento, sem a mão guia, sem a minha mão, você rumou cego,
desesperado, em silêncio, e voltou ao rebanho. Bem... esse lugar não é se-
guro para conversarmos. Mas, no final, nenhum lugar é verdadeiramente
seguro, então, contentemo-nos com o que podemos fazer agora.
Como você bem sabe, há muitas e muitas gerações, na distante época
conhecida como Era das Revelações, a humanidade se ergueu contra os
Selvagens que habitavam o mundo. Nossos sacerdotes, os homens mais
sábios e mais puros que jamais existiram, nos guiaram nessa cruzada.
Pelos lugares mais longínquos, sobre as planícies mais distantes e intoca-
das, nas profundezas dos vales mais escuros e nos cumes das mais oníri-
cas montanhas, nós caçamos, nós marchamos, nós levamos nosso ferro
e nosso fogo, e com a fúria histérica de nossas lâminas, caçamos os mal-
ditos Selvagens até os limites do mundo conhecido. Foi sob os auspícios
destes santos homens, os primeiros sacerdotes, que as parábolas do su-
premo Criador foram interpretadas e transmitidas. Vivemos uma época
difícil, mas iluminada pelos santos ensinamentos. Porém, o coração dos
homens é misterioso e impenetrável... Finda as grandes campanhas, algo
passou despercebido até mesmo pela inquebrantável atenção dos maio-
res sábios: uma corrupta e avassaladora sombra cresceu em segredo nos
corações de alguns. Assim como nenhum pedaço de terra permanece sem
seu rei – muitas vezes autoproclamado, febris e proibidos sonhos de poder
e conquista se apossaram do coração de alguns homens. Sim, pelo seu olhar,
posso ver que se lembrou das histórias que ouviu de sua ama de leite em sua
conturbada infância. Talvez, uma das melhores figuras para ilustras esse
período é do Rei Feiticeiro, o filho do primeiro rei de Virka, Bövrar II.
b 235 b
b Belregard b
Nem nos sonhos mais loucos e deturpados, Bövrar I, o benevolente, ima-
ginaria que seu filho seria capaz dos horrores que perpetrou. Sim, pois
alguns dos maiores males não acontecem quando um inocente é execu-
tado em praça pública, mas quando pequenos e precisos atos vis são exe-
cutados e distantes da visão do homem comum. Pois é quando o coração
do nobre de espírito se enche de dúvida e aflição, que este irá desviar seu
olhar... E, em pouco tempo, as leis e virtudes que transbordavam em seu
íntimo são corrompidas, e as ações que sempre julgou duvidosas passam
a fazer parte de seu cotidiano – um cotidiano secreto, onde cada peque-
na ação é repleta de mal, repleta de uma força invisível que lhe guia cada
vez mais para as sombras. Foi assim que muitos dos feitos de Bövrar II
modificaram lentamente a filosofia tão bela, tão pura, tão santa, que os
nossos primeiros sacerdotes descobriram nas palavras do Criador ao lon-
go de tantos e tantos anos de estudos e sacrifícios. Foi assim que a maioria
desses atos se perdeu no tempo e na história: o coração aflito do bom ho-
mem, somado ao desvio de seu olhar, fez com que muitas sandices fossem
cometidas. Já as perdemos nas curvas do tempo, já não sabemos até que
ponto Bövrar II foi responsável pela deturpação dos ensinamentos do seu
pai, além de não sabermos o quanto suas primeiras ações arruinaram os
corações de homens de fraca vontade, que perpetuaram práticas tão vis.
Os poucos fragmentos que sobreviveram dessa época foram escritos em
línguas perdidas e que nossos sábios já não sabem mais como traduzir
corretamente. As poucas histórias – sim, aquelas histórias horripilantes
que sua ama de leite te contava para evitar que fizesse algazarra – se
transformaram em fábulas infantis e fantasiosas. Mas o olhar cuidadoso,
o estudo das escrituras, e os sentidos atentos para as nuances do mun-
do permite que se extraiam preciosas informações. Algumas dizem que
Bövrar II cometeu o impensável: compactuou com poderosos Selvagens
b 236 b
b O Conto dos Anos b
em troca de poder. Esses sobreviventes que escaparam das nossas santas
campanhas se esconderam nas sombras do mundo, e vez por outra, uti-
lizando de perspicácia, feitiçaria, ou sabe-se lá o que dominavam, passa-
ram despercebidos pela vigília altiva de nossos melhores homens. Como
Bövrar II entrou em contato com esses Selvagens, não se sabe, mas as
consequências desse encontro você logo ficará sabendo. Bövrar II se tor-
nou o dono dos conhecimentos proibidos e desconhecidos dos Selvagens,
realizando cultos e rituais ancestrais nas mais profundas catacumbas.
Algum tempo depois, alguns dos mais próximos de Bövrar II passaram
a participar desses malditos rituais, compactuando com seus horrores
indizíveis... E, num intervalo de tempo já desconhecido, as maldades rea-
lizadas começaram a se espalhar pelos porões e adegas da cidade. Logo,
como uma peste maldita, disseminou-se pelos assentamentos e vilarejos de
bons homens e mulheres – os mesmos construídos com tanto sangue e sa-
crifício pelos santos guerreiros que tombaram durante a era da Revelação.
E, aconteceu assim: as pessoas que tiveram contato com aqueles rituais
e libações macabras não sabiam do poder, não sabiam da sutileza das
artes dos Selvagens. Logo, as coisas saíram de controle e adquiriram um
ar sombrio, porém perturbador: enquanto Bövrar II detinha o conheci-
mento proibido para extrair poder dos rituais, seus seguidores não com-
preendiam aquelas atividades malditas. Era como uma doença, uma pra-
ga febril e histérica que possuiu e consumiu a mente dessas pessoas: logo,
cada uma se julgou como dona das capacidades para decifrar os ritos, e,
tal como fogo se espalha na palha seca, seus pensamentos se tornaram
irracionais e bestiais, e a prática desses ritos proibidos perdeu seu nefasto
significado – qualquer que tenha sido – e saiu dos abismos de Bövrar
II. Talvez ele nunca tenha conhecido até que distâncias essa maldade se
espalhou... Mas todos os assentamentos foram tocados por essa sombra.
b 237 b
b Belregard b
A histeria de cada um que se julgava conhecedor dos verdadeiros pode-
res negros os impelia para cada vez mais longe, de forma que pudessem
realizar suas ações fora do alcance das mãos sórdidas de Bövrar II – e
também fora do alcance uns dos outros.
Você... Você se lembra de quando o Pai desceu ao mundo dos homens
para nos guiar? Talvez tenha ouvido isso daquela sua mesma ama de lei-
te, talvez tenha ouvido por infindáveis noites sobre a satisfação e amor do
Criador, e como ele se orgulha do que fizemos e nos tornamos. Pois essa
é uma bela de uma mentira! Você quer saber o por quê dele ter vindo até
nós? O Único veio até nós com medo! Sim, medo! Não desvie o seu olhar...
Ele veio com medo, o medo de alguém desesperado para evitar que seu
erro se repetisse... O mesmo erro que ele cometeu ao criar os Selvagens!
Estávamos prestes a nos tornar aquilo que deveríamos destruir, aquilo
que deveríamos ter destruído... Mas, foi sob a direção do Pai que pude-
mos retornar ao caminho dos Puros. Sob a direção dos Três Eleitos por
Ele, pudemos encontrar os rastros de corrupção original e acabar com
ela. Porém, como fomos tolos! Como nos desviamos, como não percebe-
mos as sementes que Bövrar II plantou no solo abaixo de nós! O solo que
conquistamos com tanto esforço, pelo qual lutamos tanto e tantos mor-
reram! Essa semente de horror demorou muito tempo para germinar, ela
se alimentou de nossa ignorância, se fortaleceu de nossos medos, e logo
floresceu. Os frutos que se originaram são fartos, estão tão espalhados
quanto encrustados na nossa sociedade... São sombrios e venenosos, car-
regando ainda resquícios dos selvagens dos primeiros tempos.
Enquanto os homens se voltam para o Portão do Leão, na vã luta contra
os Negros de Belghor, ninguém percebe a guerra que travamos aqui. Seja
nos amplos salões da corte, nos vastos campos de batalha repletos de aves
b 238 b
b O Conto dos Anos b
carniceiras, ou mesmo nos corredores de capelas como esta onde estamos,
nós somos os responsáveis por dormir sempre com um dos olhos abertos!
É muito arriscado confiar nos outros, poucos são aqueles em que pode-
mos descansar nossos cansados corações... Dizem que a terceira vinda
do Criador está próxima; ora, eu mesmo interpretei os sinais e as antigas
parábolas, e posso lhe assegurar com todas as forças que tenho, criança:
ninguém, escute bem, ninguém virá. Nós estamos completamente sozi-
nhos! Selvagens ainda dormem nas sombras dos ermos, sendo louvados
em segredo, sob a escuridão avassaladora das noites sem lua; a guerra
bate à porta das castelanias, e ela pode estourar a qualquer momento.
Não adianta dirigir os olhos para os céus em prece, criança! Ninguém irá
lhe escutar... O Criador está morto!
- Palavras de Ratramnus, Bispo de Virka, ao Neófito Haskel,
na Capela do Deicídio.

b 239 b
b Belregard b

b 240 b
Innominatus
b O Conto dos Anos b

Aqui estão as páginas negras que pe rte ncem


ape-
nas aos olhos daquele tocado pela Luz. Os ca
rac-
teres que se seguem foram trazidos da pura Tr
eva.
Aqui se encontra o limiar do pecado e da purif
ica-
ção. Aqui se encontra a beira do abismo.
go,
Tal qual o espelho reflete o teu olhar torpe e va
o fosso da Alcova reflete o que existe de pior, ou
ve
mais verdadeiro, na carcaça ter rena. O selo de
o
se r quebrado apenas pelo portador do limiar,
be
que caminhou com o sol e a lua e mesmo ele sa
es-
do caminho tortuoso que se seguirá. Adiante
tão os seg redos escondidos por gerações.
Homens dedicaram suas vidas a descob rir uma fagulha
do que aqui é aprese ntado, seus nomes estão citados
e saiba tu, ó Iluminado, que foram postos ao descanso
para que jamais tal conhecimento pudesse escapar de
teus olhos. Toda prudencia ainda seria pouca.

Queb ra o selo e desvenda aquilo que só tu, ó Abimaleque,


pode encarar. Todos aqueles que reuniram tais sabe res
foram postos para o descanso junto ao Criador, estas pá-
ginas tortas e proibidas estão aqui apenas para ti.

b 241 b
b Belregard b
A Verdade sob re a
Mentira do Mundo
Como levantado por Nahik

Quando, em 905 DA, é acreditado que a Sombra


trouxe de volta o sangue dos Bövrar para reinar
em Belghor, o que temos é uma meia verdade. Ne-
nhum corpo ergueu-se da tumba, nenhum cadáver
caminhou e regueu o povo. A Belghor daquele tem-
po era um lugar singelo, de campos e sem senhores,
um lugar que foi dominado com facilidade ao ser
visitado pelo homem santo que caminhou ao lado
do Criador. Um dos Puros, aquele que teve o seu
nome apagado das escrituras, não entrou no vale
quando veio o Pai, ele veio antes, veio armado do
conhecimento de treva e luz e aqui fez seu local de
culto. Ele que receberia tantos nomes, mas nunca
o seu verdadeiro, nós o chamamos de Eleito Negro,
num período ante rior a existência do próp rio Tri-
bunal. Portando a sabedoria de Bövrar II e os en-
sinamentos que ouviu do próp rio Criador,
o Escurecido tomou o vale para si, usando-o como
um grande caldeirão para remexer seu
próp rio feitiço de dominação.
b 242 b
b O Conto dos Anos b

a
A Língua de Bövrar II

Sempre é dito que Bövrar tinha uma língua de prata, capaz de convencer qualquer pessoa a apoiar o seu lado
em qualquer contenda. Não se comenta sobre livros e tomos trazidos pelo Eleito Negro, mas que ele carre-
gava a mesma capacidade de convencer e argumentar que o antigo rei possuía. Dessa maneira é acreditado
que o Eleito Negro possuia a língua de Bövrar, que ele havia encontrado o túmulo do antigo rei e arrancado
sua língua, ainda presente em um corpo esquelético, então arrancou a sua própria e colocou esta no lugar.
Se esta língua sobreviveu antes, por que não sobreviveria agora?

Ele identificou a presença da Somb ra e com ela se deitou.


Desse modo o coração daqueles primeiros foi tornado negro e a cor-
rupção se espalhou pelo vale. O restante da história é de conheci-
mentos dos incultos, quando, muitos anos depois, o Criador apon-
tou a direção para o inimigo e então seus escolhidos marcharam
contra o vale, iniciando a busca que demoraria anos para se con-
cretizar, mas a primeira vitória, a própria morte do Criador, veio
logo cedo. Foi uma vitória, pois em seu sacrifício, o Pai de Todos
lançou uma verdadeira proteção por sobre o mundo, impedindo a
Somb ra de agir livremente, diretamente, contra os mortais. O
fragmento abaixo foi encontrado em uma velha biblioteca abando-
nada entre as cidades arruinadas de Braden e foi escrito por um
homem vacilante, perto da morte, chamado César. É possível per-
ceber sua loucura permeando as páginas,
mas ele fala sobre verdades.
b 243 b
O Manuscrito de César b Belregard b

Penso eu que vivemos em um mundo fadado ao abandono.


Posso ser queimado vivo por escrever tais palavras, mas o que se pode esperar
um homem da minha idade? Estou cansado e sinto uma pontada de vergonha
a cada vez em que digo as palavras Criador, Pai, Altíssimo, Deus, Senhor,
Único ou qualquer outro título que os homens deem a maior ilusão já contada.
Do que valem nossas vidas se não existirá qualquer compensação no além, no que
vem depois? Se, como eu penso, nosso Pai jaz morto, do que nos vale preservar
uma civilidade construída em torno de um cadáver? Mesmo agora, descrente e
confuso de tudo aquilo em que passei a vida acreditando, sinto como se os olhos
do Criador estivessem sobre os meus ombros, vigiando em silêncio, esperando que
eu me vire para fitá-Lo de volta. Eu já encontrei estes olhos antes e é apenas por
isso que ainda não dei cabo de minha vida, eu mesmo. Não me lembro quando foi,
ou sequer onde eu estava, mas eu tive a revelação e agora a transmito para este
pedaço de papel, tão caro para os vulgares, tal qual suas almas devem ser para
a Sombra Viva que a todos consumirá.

Os Arautos...

A referência mais antiga ao termo Arauto vem das primeiras escrituras que
sucederam os escritos de Morovan, o Velho, dentro da Litania. Algumas vezes
chamados de Guardiões, outras vezes de Angelorum, os Arautos auxiliaram o
Criador na ordenação de todas as coisas. Seus nomes costumam ser citados den-
tro de louvores e orações. Grandes homens de Belregard diziam-se iluminados
pelos Angelorum, como foi o caso de Leoric, o Puro do caminho guerreiro que
tinha como seu patrono pessoal Belik, o segundo em comando,
o Mão Direita do Criador.

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b O Conto dos Anos b

Tais Guardiões formam um grupo de 26 figuras distintas, cada qual com sua devida
atribuição, de Alik à Zhomik. Os Arautos surgem no imaginário de todos os mortais,
do rei ao criminoso, aos quais todos pedem ajuda e auxílio, como se tais figuras fossem
intermediárias dos vulgares, dos leigos, entre estes e o Criador.

É nos ensinado, pelas sagradas escrituras, que o Criador depositou em todos nós a cha-
ma celeste, que nos tornou senhores do mundo. Esta essência não veio apenas do Pai, mas
de todos os seus Angelorum. Cada um deles emprestou a força motriz da criação para
que o Único pudesse nos tirar das sombras da ignorância, como as Crianças Cinzentas
que éramos, e nos fizesse abrir os olhos para as glórias e para as tragédias. Sim, porque
o Pai não nos fez perfeitos, ou pelo menos não conseguiu que fôssemos. Possam os sacer-
dotes acima de mim jamais lerem tais palavras, mas Deus nunca foi perfeito.
Ele errou antes e errou depois, com os Selvagens e conosco. Sei que nem mesmo nos seus
Angelorum ele pode confiar plenamente. Prova do que eu digo pode ser confirmada
quando é impossível encontrar o nome do vigésimo quarto Arauto. Por quê?

A única coisa que sabemos sobre este proscrito, é que sua posição entre as hostes divinas
era a de Mão Esquerda do Criador. Sou levado a crer que o vigésimo quarto fora um
traidor. A sombra Viva, o Inimigo a que todos nós aprendemos a temer e odiar, foi um
dos filhos pródigos do Criador, um ser que existe antes do tempo, cria da pura von-
tade de Deus. Foi ela quem colocou a semente da dúvida no coração mortal. Ela quem
preparou o caminho, que foi longo, para a vitória. Sim, sua vitória. O mundo de hoje,
esta Belregard, nada mais é do que o símbolo da vitória da Sombra. E por isso que
me coloco com toda esta descrença perante o que pode vir quando meu coração parar de
bater. O que será de mim? O que foi dos que vieram antes? Sinto em meus ossos que não
demorarei a descobrir.

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b Belregard b
Veio então a morte do Criador. Ou pelo menos o abandono de seu corpo mortal. Acredi-
tamos que estávamos livres dos pecados mundanos e espirituais, mas a vinda do Cria-
dor, durante a Era do Sangue, fez com que o Inimigo seguisse seus passos. Todos nós
conhecemos essa história. A verdade, porém, é outra. Por mais de uma vez deparei-me
com textos que relatavam encontros saídos de sonhos e pesadelos. Homens simples e pode-
rosos diziam-se capazes de enxergar dois mundos distintos, o mundano e o Outro. Com
a vinda da Sombra, tais mundos pareciam entrar em colisão e foi, no intuito de impedir
esta catástrofe, que o Criador se sacrificou, formando um firmamento, um bloqueio, um
verdadeiro escudo para que todos pudéssemos viver longe das malícias da Sombra. Ele
errou novamente. O Inimigo não tem pressa, ele aguardou e venceu.

Pego-me rindo do destino...

Ao longo de nossa história, muitos homens e mulheres se destacaram. Foram verda-


deiros campeões em suas causas. O observador atento irá perceber que a grande maioria
destes iluminados recebeu um fim trágico. Não é preciso procurar muito. Tome o exemplo
dos Puros Alec, Leoric e Lazlo, todos mortos de forma terrível, desacreditados e
caçados. Anos depois, seus nomes tornaram a ser enaltecidos, mas nada pode mudar
o passado. A isso, eu atribuo a vigilância do Inimigo. Tais figuras conseguiram, de
alguma forma, fazer arder e queimar a chama deixada pelo Pai e, assim, tornaram-se
capazes de enxergar a verdade. Passam a compreender a quem o mundo pertence e, caso
não enlouqueçam com a ideia, veem-se cercados pela Sombra, tendo a escolha de lutar, a
vida toda, uma luta covarde, ou se entregarem a perdição.

Agora eu percebo que minha própria vida está marcada por tal escolha. Não sou nobre
ou forte o bastante para mudar a vida de muitos, mas sinto que este escrito - é a minha
espada erguida contra a escuridão. Posso eu próprio, um simples prelado, ser um
Arauto? Mesmo velho e carcomido, a ideia me faz sorrir e aquece o peito junto do vinho.

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b O Conto dos Anos b
Talvez seja apenas o meu ego, a Provação da Luxúria
me tentando. Não posso me
deixar levar por Arshma e seus encantos da carne e do
saber. Em pensar que a pró-
pria figura do Ímpio, com seus chifres de bode, está rela
cionada ao momento em que eu
abri meus olhos. Exatamente quando presenciei a possessã
o do irmão Ítalo e fui lançado
contra a parede como um reles boneco de pano perante
a força daqueles que tem a vontade
roubada pela Sombra.

Talvez esta seja a chave...

Da mesma forma que tive meu corpo, minha alma e min


ha vontade esmagadas naque-
le dia, o Criador experimentou o mesmo no momento em
que deu seus primeiros passos
junto aos homens e viu como sua presença os machucava
, culminando em seu sacrifício.
Posso ter dito antes que Deus não é perfeito, mas não
existem dúvidas quanto a sua
benevolência. Talvez ele seja como uma criança ingênua
. Sejam verdadeiras ou não estas
minhas reflexões, sinto-me aliviado. Não descarto a idei
a de que sejam apenas devaneios
de minha mente cansada que, mesmo agarrando-se ao
ceticismo melancólico tenta manter
uma centelha de luz, mesmo que distante, me fazendo
acreditar
em heróis neste mundo de trevas.

Sinto que devo registrar estes pensamentos e reflexões.


Sinto-me compelido a apresentar
tal ideia desta maneira. Se este for o meu legado, pelo
qual serei lembrado, reverenciado
ou queimado, não sei dizer e pouco me importo. Sinto-m
e em paz, como se tivesse conden-
sado aqui a síntese de minha vida de reflexões, vendo o
mundo com os olhos que não são
apenas meus, mas também de toda a hoste sacra deixada
dentro
de mim pelo nosso Pai, nosso Deus morto.

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b Belregard b
a
César Está Certo?

O texto, apesar de confuso, dá cabo de explicar bem o que são os Arautos dentro de Belregard. Original-
mente foram os seres celestes que auxiliaram o Único, talvez suas primeiras criações. Estes Arautos, Guar-
diões ou Angelorum ainda tentam ajudar a humanidade. A Sombra de fato venceu. Ela realmente ganhou
Belregard para sí, mas o sacrifício final do Criador cuidou para que ela jamais pudesse agir diretamente,
forçando-a a ser sutil e discreta, na forma deste escudo, essa película que separa o mundano do outro lado,
do sobrenatural. Em alguns lugares esta película é mais fina, frágil. Estes são os Ventres Negros, locais onde
a influência da Sombra é mais poderosa, normalmente relacionados a locais de assassinato, tragédia ou pac-
tos declarados. Para ter mais informações sobre os Arautos, leia o livro iv, sobre a narrativa em Belregard.

É com base no manuscrito de César que podemos


refletir sobre muitas das verdades desse mundo.
É com base nele que entendemos o papel dos Arau-
tos na história de gênese de Belregard e sua rela-
ção com a Fala Negra. O Deicídio e a vitória da
Sombra, o isolamento sofrido pelo mundo e mes-
mo os miasmas que corrompem os ares. Tudo está
relacionado. Se este homem falou sobre enganos, é
coincidência demais.

Os Grandes Arautos
Adendo ao manuscrito de César
revelado por Zavidh

É sabido que, no início de tudo, o Criador elegeu


Arautos para ajudar na criação e ordenação do
mundo. Estes Angelorum foram 26 no total:
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ALIK, b
BEL IK, CALIK, D’ROLIK,
O Conto dos Anos b

ElIK, FOLIK, GALIK, HOLIK, I’AIK,


JOLIK, KOLIK, LIMIK, MIMIK,
NIMIK, O’IK, PALIK, QANIK,
RORIK, SAIK, T’OIK, ULIK,
VOLRIK, WAIMIK,
Y’MIK e ZHOMIK.

Apesar de seu número, um deles foi perdido e es-


quecido, não se recorda de como se chamava e
acredita-se que seu nome seja um tom de pode r.
Estes foram os nomes sagrados corrompidos para
criar a Fala Negra de Belghor. Utilizando-se dos
nomes destes seres antigos, que são palavras de
pode r, os corruptos criaram uma língua capaz de
distorcer o mundo. Mesmo estas páginas, que
abrigam todos os nomes, salvo um, pode conter
algum resquício deste pode r. Todo cuidado é ne-
cessário. Acreditamos, porém, que a ativação do
pode r nestas linhas necessita do nome do Arauto
que foi apagado, uma seme nte do mal, que faz re-
velar a magia dentro de todas as coisas, que tor-
na possível distorcer o que o Criador ordenou.

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b Belregard b
a
O Arauto Esquecido

É possível perceber que cada nome de Arauto inicia com uma letra do alfabeto, que corresponde ao alfabeto
da própria Fala Negra. A letra que falta é o X, de Xül. Xül é a Sombra. A Sombra Viva foi um Arauto que
atuou contra o Criador, mas por quê? Não sabemos. Perceba que os Arautos foram escolhidos pelo Criador,
isso pode significar que haviam outros. Mas que seres primevos eram estes, que compartilhavam um mo-
mento tão antigo da própria criação de tudo? Nosso trabalho, nesse momento, é dar mais perguntas que
respostas. O nome Xül é de conhecimento apenas dos cultistas mais poderosos e envolvidos nos segredos
do mundo. São pessoas que aprenderam a manipular a própria realidade. Que são capazes de romper as
barreiras impostas por Deus, para limitar o poder da Sombra. Pronunciar seu nome é abrir um convite, abrir
uma rachadura no tecido da realidade. Um conhecimento que causa ciúmes naqueles que o possuem.

As Mulheres e a Magia

É sabido que desde os tempos de Morovan, o Velho, e antes, as mulheres eram deixadas em um papel de
segundo lugar dentro da sociedade. Quando as crianças cinzentas saíram do vale de Belghor, as mulheres
foram colocadas na posição de coletoras, de cuidadoras de crianças e serviçais das necessidades do homem.
O seu sangrar era visto como algo perigoso, que atraia os predadores das matas virgens. Isso tudo se explica
por uma simples emoção, o medo. Morovan sabia do poder das mulheres e sua ligação com as linhas de lei
do mundo. O primeiro profeta do criadorismo não queria ver o seu poder sendo contestado e somente no
reinado de Bövrar II é que elas assumiram de novo um papel de protagonistas dos rumos da história. Bövrar
não demorou a perceber essa ligação das mulheres com o mundo mais tênue do irreal e, dessa forma, apro-
ximou-se delas para descobrir os seus segredos. Essa relação das mulheres com o poder pode ser observada
nas sociedades que mantém seus cultos antigos, mesmo que em um sincretismo com o criadorismo, como
dos vihs, onde mulheres assumem o papel de babas, sábias conselheiras, feiticeiras e líderes. Às mulheres foi
reservado o poder do Único. Esta é uma verdade, mesmo que nenhum homem queira admitir. O Eleito lutará
a todo custo para que nenhuma mulher ocupe cadeiras do alto escalão do Tribunal, ele sabe o que isso repre-
sentaria. Brovar II só conseguiu seu espantoso poder ao observar e entender as mulheres. Muitos afirmam
que Alec, o Puro, teria sido uma mulher, mas teve seu sexo escondido para evitar mais alarde.

A Cated ral Inve rtida


Das anotações da pesquisa de Xantus

O Ciclo da Ausência é comentado com dúvida e


questioname nto entre os círculos eclesiásticos.
Ninguém sabe, nem mesmo o mais devoto lazlita,
quanto tempo ele durou.
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b O Conto dos Anos b

Fala-se sobre três meses, sobre três anos, até


mesmo sobre 30 anos, período de abandono an-
tes de vinda do Criador. A verdade incômoda,
no entanto, é a de que este período nunca ter-
minou, depois de sua vinda ao mundo dos ho-
mens, o Criador jamais fez-se sentir através
de preces e louvores, nenhum sace rdote realizou
milagres, curou doenças ou purificou os mias-
mas do mundo. Não faltam exemplos na histó-
ria de homens que enlouqueceram nesse período.
Muitos acreditaram que este era um pedido do
Criador, para que fizessem algo pra provar o seu
amor e devoção. Não existe, dentro da obra hu-
mana, maior prova do labor devoto que a cons-
trução de uma catedral. Um homem tentou
agradar ao Pai ergue ndo uma obra inigualável
e não a construiu para cima e sim para baixo.
Pensando em provar ao Criador que não temia
a próp ria Alcova Profana, a Catedral Inve rti-
da acessou lugares onde o homem jamais deve-
ria pisar e liber tou males que ainda infestam
os ares. Os miasmas tão nocivos, carregados de
pecado, não saíram apenas do fosso do

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b Belregard b

Cruenta Tributum de Virka. Não se sabe exata-


me nte onde está a Cated ral, mas existem os que
sussur ram sob re os seg redos enterrados em seus
salões profundos. Vlakin, o último imperador de
Virka, deixou escrito em seus diários, do pou-
co que sob rou da queda de sua tor re incendia-
da, que os salões estão, na verdade, espalhados
por Belregard, de modo que o grande trabalho da
vida do miste rioso constr utor da Cated ral, foi
fazer toda a ter ra de sua ofe renda.
Os registros sob re esse miste rioso constr utor
são encontrados em muitos
manuscritos apócrifos:

“Sem nome, pouca carne e ossos. O trabalhador fadado à loucura arrasta pedras, ergue toras
de madeira e molda o barro. Sozinho. Mantido por forças desconhecidas. Menos de um metro e
meio. Menos de cinquenta quilos. Mais de mil toneladas de pedras amontoadas e esculpidas há
mais de quinze quilômetros de qualquer montanha.
[...]Em sua entrada, uma pedra de onze toneladas move-se sutilmente. Em seu centro, um obe-
lisco com oito metros de altura e trinta e duas toneladas brota do solo, como um estalactite. Com
a força da certeza do louvor, ele sempre afirmava: Este local será palco de um grande evento.
Aqueles que possuem ligação com o mundo além do mundo, [...]Fímbria podem ser alcançados
através dos seus corredores e salas.
Cada anel, cada medida, parecem contém magia e instruções supernas. Era sobre esse tipo de
magia geométrica que Lazlo tanto falou[...]
Seja como local de morada quando o Único voltar. Seja quando Leoric reunir os exércitos.
Seja quando a Sombra vir em sua forma carnal para a terra [...]A Catedral Invertida
será peça inseparável e indivisível”.

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b O Conto dos Anos b

O Terceiro Céu, os Textos de


Demiurgo e a
Queda do Império
Como colhido por Talamek, que viveu
entre os incultos

Muito se discute sobre o mundo além, sobre o


que existe na Abóbada Celeste e é notória a vi-
são distorcida que se prolifera em Vlakir, com os
ditames do Demiurgo, o rei que não se vê apenas
como profeta, mas como uma forma de Deus em
transcendência. As realidades são apenas parte
da verdade. Existe muito, muito mais. Tudo em
oculto.O primeiro céu foi rompido por Bövrar II.
O segundo céu por Vlakin VII e quem
romperá o terceiro céu?

O Único criou leis, forças espirituais que regem


o universo, tudo aquilo que existe neste mundo e
nos outros. Essas leis são tão fortes que impõem
limites até em seu grande poder. Essas leis são
de conhecimento superno e carregam uma força de
gênese e de fim. Quando o primeiro céu foi rompi-
do, nas descobertas do segundo rei dos homens,

b 253 b
b Belregard b

o Único começou a sang rar. Quando o segundo céu


foi rompido, no conhecimento adquirido pelo úl-
timo impe rador, o mundo se destruiu.

Quais serão as consequências da aber tura do


terceiro céu? Por bene volência e inge nuidade, o
Criador de tudo dividiu com Bövrar II a arqui-
tetura do mundo, apenas para se arrepende r ao
perce ber que a sede de conhecimento de tal homem
pode ria rasgar aquilo que fora tão
arduamente erigido.

Esses textos falam sobre conceitos que envolvem


estrelas, realidades, mundos e criaturas inomi-
náveis. Bövrar II cruzou conhecimento obtido
com o Pai com aquilo que a Horda sabia e viu
que o Criador não lhe contará tudo. Por um pla-
no ambicioso da Sombra, Bövrar II teve acesso a
mais do que lhe seria devido. Assim o primeiro
céu foi rompido. O Único começou a morrer, tendo
sua força esvaída aos poucos. Desde de aber tura
do primeiro céu até a vinda do Único ao mundo
dos homens, ele sang rou e se enfraqueceu.

b 254 b
b O Conto dos Anos b

O mundo muda, mas os homens não. Vlakin foi


o grande impe rador e quis buscar segredos, queria
o pode r, sabedoria e prestígio conquistados por
Bövrar II. Reuniu o máximo de conhecimento,
sendo menos místico que Bövrar II e muito me-
nos respeitador para com as leis supremas, Vla-
kin queria desvelar os segredos. O segundo céu foi
rompido. O mundo se despedaçou. A próp ria queda
do império de Virka está relacionada a esse rom-
pime nto, acredita-se que Vlakin VII teve em suas
mãos o segredo da próp ria existência divina do
Criador, mas optou por entregar o mundo ao caos,
a uma nova Era de Sangue, por não suportar
esta verdade.
Vlakir fora erguida, sob a tutela de um ser miste-
rioso. Rei Demiurgo pode ria estar sendo coorde-
nado pelo quar to Puro? O Eleito Negro? Ou a reen-
carnação de Vlakin? Ou mesmo a reencarnação do
único? Agentes do Rei foram enviados e muito do
conhecimento fora trazido. Textos nunca antes
vistos por Bövrar II ou Vlakin.

b 255 b
b Belregard b
a
Futuro Incerto

Se Deus realmente morreu, talvez não haja esperança. Possivelmente é uma guerra perdida contra a Sombra,
mas quanto ainda existe de segredos? Quão talhado em pedra está o futuro? Que tipo de acontecimentos
aguardam para ser desvelados com os planos do Demiurgo tomando forma? Assim como o Abimaleque do
Hakan é um ser que busca os segredos do mundo, o Demiurgo domina sua própria forma de ver o oculto.
Quem está certo?

Textos sobre a construção da cidade que traria o po-


der divino e romperia definitivamente o véu que di-
vide o mortal do supe rno. A carne do espírito. O Co-
meço do Fim. Estes textos falam sobre um báculo de
ouro, cercado de 142 báculos de prata, enrolados en-
tão por 142 serpe ntes de bronze e tantas outras coi-
sas que só pode riam ser ente ndidas por alguém des-
prendido do mortal e instruído por um ser supe rno.

As Encar nações do Único


Da busca pelo menino do pé torto de Doru

A morte do Criador não é acreditada da mesma forma


dentro dos círculos místicos do mundo. Enquanto o
Tribunal defende a ideia de que Deus sacrificou ape-
nas a sua casca mortal, a verdade é muito mais cruel.

b 256 b
b O Conto dos Anos b

O Criador se foi diante dos muros de Belghor, morto


pelos homens e coração corrompido pela Sombra. Em
seu sacrifício final lançou uma proteção ao mun-
do, mas talvez também tenha tentado garantir uma
continuidade para si nos ciclos da existência.
Quando a vulgata foi criada, os textos foram passa-
dos para o parlo simples e o conhecimento do que es-
tava registrado na Litania passou para os vulgares,
ainda que nobres, discutiu-se sobre algumas tradu-
ções de termos e passagens. Algumas destas falam
sobre reencarnação e não só das almas puras dos
homens, mas também a do Pai.

Na famosa frase: “Pois Eu lhe guardo hoje, seja for-


te” defende-se que o correto seria “Pois Eu lhe guar-
dei ontem, guardo hoje e guardo amanhã, seja forte”.
Neste tempo, quando traduzido, a temporalidade
sobre ontem, hoje e amanhã não era clara e não ti-
nham palavras distintas. De acordo um grupo de
copistas Lazlitas, isso indica uma temporalidade
no poder do Criador. Defende-se que a fala “cíclica”
dessa abordagem faz uma referência com a possibili-
dade da reencarnação. Quando o Criador fala sobre
“levantar-se” ou “colocar-se de pé mais uma vez”, não
b 257 b
b Belregard b
a
A Volta do Criador?

Como já dito, as leis existem e todos, inclusive o Único, precisam respeitá-las. Mas isso não impede que ele
não possa encontrar meios de contorná-las. Para enfraquecer a Sombra, concedendo poder aos Arautos, o
Único se desfez de seu corpo físico, parando de gerar uma sombra física, confinando a Sombra ao mover de
títeres. Abrindo mão do poder centralizado e abraçando o poder germinado às centenas, Arautos possuem
poder do Único e alguns deles são, inevitavelmente, o próprio Criador reencarnado. Essa reencarnação não
possui plena consciência de onde veio e o que fará, mas sua trajetória mudará definitivamente o rumo do
mundo e das coisas. Dizem que algumas pessoas sabem sobre isso e caçam a encarnação derradeira do
Único. Seja para beber de sua sabedoria, para aprisioná-la ou para matá-la.

Aneis de Aprimoramento
e Teosofia
Do tratado dos mistérios das formas de Tarik

É assustador saber que haja uma guerra, uma batalha


sigilosa, espiritual, que coloca em aposta as nossas
vidas e a regência sobre as leis universais supernas.
Contextualizada como Guerra Oculta pelo puro Lazlo,
a Abóbada Celeste e a Alcova Profana lutam pela re-
gência divina, lutam por nossas vidas, lutam pelo
controle das leis que mantém tudo aquilo que conhe-
cemos e aquilo que nem sequer
sabemos de sua existência.

Como sabemos, o culto à Sombra é sigiloso, discre-


to e envolve praticantes e não praticantes de magia.

b 258 b
b O Conto dos Anos b
Como também é sabido, as práticas externas
foram estudadas severamente por Bövrar II e este
conseguiu manipular parte do poder superior
através de suas mãos.

Queríamos não usar os textos profanos da magia e


nos focar apenas nos textos deixados por Lazlo, mas
vemos que para saber da verdade, é preciso nos apro-
fundar em ambos.

Primeiro vamos falar sobre a Mentira. Lazlo desco-


briu sobre o fluxo das coisas, a Lei da Correspondên-
cia e Primórdio. Com isso ele aprendeu que o poder,
a fé, a crença, despre ndida pelos humanos segue em
fluxos incompreensíveis até o Único. Ele desvendou
a Teoria Divino-Numérica, a forma como o mundo
fora constr uído e como as coisas funcionam. Mas
por infusão de ensinamentos sombrios, esse fluxo
alimenta a Sombra e seus Ímpios, esse é o poder da
Mentira. E por isso ele alerta sobre o sincretismo
nocivo e a infusão da profanidade naquilo que deve-
ria ser sacro. Logo, parece ser uma guerra perdida, é
impossível separar aquilo que fora maculado daqui-
lo que ainda é puro. Alime ntamos a Sombra, mesmo
que não seja a nossa vontade genuína.
b 259 b
Como também é sabb idoBelregard b
, as prátic as exte rnas
foram estudadas seve ramente por Bövrar II e este
conseguiu manipular par te do poder superior
através de suas mãos.

Que ríamos não usar os textos profanos da magia e


nos focar ape nas nos textos deixados por Lazlo, mas
vemos que para saber da verdade, é preciso nos apro-
fundar em ambos.

Primeiro vamos falar sob re a Me ntira. Lazlo desco-


briu sob re o fluxo das coisas, a Lei da Cor respondên-
cia e Primórdio. Com isso ele aprendeu que o poder,
a fé, a crença, desprendida pelos humanos segue em
fluxos incomp reensíveis até o Único. Ele desvendou
a Teoria Divino-Numérica, a forma como o mundo
fora construído e como as coisas funcionam. Mas
por infusão de ensinamentos sombrios, esse fluxo
alimenta a Sombra e seus Ímpios, esse é o poder da
Me ntira. E por isso ele aler ta sob re o sincretismo
nocivo e a infusão da profanidade naquilo que deve-
ria ser sacro. Logo, parece ser uma gue rra perdida, é
impossível separar aquilo que fora maculado daqui-
lo que ainda é puro. Alimentamos a Sombra, mesmo
que não seja a nossa vontade genuína.

b 260 b
Agora falemos sob re os milagres e magias. Para o
b O Conto dos Anos b

Puro, o modo correto para alcançar o poder Sup re-


mo, sem causar danos à car ne e ao espírito, seria o
desenvolvimento dos Anéis do Aprimoramento, com
ela seria possível ao devoto executar milagres, mes-
mo que sem consciência, pela fé e não pelo ego. Os
Anéis conseguem ser o extrato prático e racional do
caminho deixado por Leoric e o amor ensinado por
Alec. A soma de todos esse fatores, faria do devoto
um Puro, alguém maior até dos que os Puros origi-
nais, alguém que ope raria milagres como os Grandes
Arautos, os seres de luz do Angelor um. Mas como o
próp rio Lazlo queixa-se ao Único antes de par tir, ele
não encontrou um único seguidor que conseguisse
compree nde r plenamente os Anéis.

Do outro lado da moeda temos a teosofia, chamada


vulgarmente de Conhecime nto Bovratico, ou ape nas
Magia Bovratica, que consegue, através de esforços
psíquicos, concentração, meditação, geomancia,
numerologia, astrologia e outros, alcançar também
os conceitos da Teoria Divino-Numérica, entender
as escalas do mundo e seus algoritmos, manipulan-
do-os. Engana-se quem acredita que um é fácil e o
outro é tortuoso. Em ambos os lados é preciso
b 261 b
b Belregard b

instrução racional, anos de dedicação e desp rendi-


mento, tortura da próp ria carne, negação da vida
corriqueira, foco absoluto e debr uço sobre as obras
escritas. A dife rença entre um e outro é basicamente
sua postura e a forma como os fins serão justificados.

Sendo simples, aquele que o faz pela fé, depe nde ainda
do Único para lhe conceder a realização de um ato so-
bre humano e milagroso. Aquele que o faz pela teosofia,
não depe nde disso. Mas para isso, precisa de ajuda
de nomes, astros, ferramentas e alegorias, dragando ou
usurpando o devido lugar do Criador, se tornando seu
próp rio Deus, sendo tomado pelo ego para decidir por
si próp rio a realização ou não de um ato sobre huma-
no. Mas, assim como a adoração genuína é mistura-
da com mentiras, alegorias e obras da carne, a teosofia
também. Muitos dos tambores, sangue e rituais, são
alegorias sem sentido, sem pode r. São obras daqueles
que não possuem o real conhecimento, ou estão presos
em dogmas selvagens. E não saem impunes com seus
erros, atraindo também a Sombra.
b 262 b
b O Conto dos Anos b
Ambos são faces da mesma moeda, ambos enfre n-
tam os mesmos problemas. Como já dito, a real
dife rença é o aceitar ser ou não subjugado pela
vontade de uma força supe rior para lher dar aqui-
lo que Ele crê como devido. Assim sendo, devotos
da teosofia creem, na sua maioria, na Sombra e
no Único como forças equivalentes. No fim, tudo
isso engloba o alcançar, comp reender e move r os
planos do espírito, tocando as leis universais e
através disso, realizar milagres ou feitiçaria, em
escalas assustadoras.

O Relato do Fim e Lazlo


Como colhido e debatido por Anerek

Um dos pupilos de Lazlo achou cinco longos textos


espalhados, viu que existia algo escondido e con-
seguiu extrair cinco passagens que se conectam.
Parece ter sido escrito pelo Puro, guiado pelo fata-
lismo do Criador, a previsão do fim próximo. Ele,
junto com outros, tentaram inte rpretar o que está
sendo falado. Conseguimos capturar um deles e ter
acesso a parte da inte rpretação.

b 263 b
b Belregard b

Fugit et mortem erit in atria


semitis tutus non est
et incendia ubivis chaosium
omnis peregrinus sub oculum
Funem voluntatis in patibulo usque
manus ductor tuus omen dolore
manus tollere odium et laminis
in quo pater filio occidere
Regni novem reversus ut caligo oculis tuis,
sed non in infinitum itinere
Praelatus manu aut putridum
Et ad hoc bellum a sanguinis
Vacare fortitudo Domini in tenebris,
partium exteriorum animalium uti
cum filiis suis
et liberabit a feris convivium
Perpetrata et vero cruciaris ab tyrannus

b 264 b
b O Conto dos Anos b
Natalis primogenitus mortuorum metuenda
puer ut nigri plus vulnerum
in excitatio non est finis
in solemnitate fera liberis non deerrare
Nigra et arva decadent
tenebris domini erubescere
sub tenebris rubrum caeli impetum
nisi quam electi fuerit forte repetendis

r- se d o te m po em qu e vivemos, mas
Penso trata Execuções?
em se ri a o ob se rva d or?
qu
Nove?
Precisamos ficar ate ntos aos sinais.
o
O E le i t o e
g ro?
A única coisa infinita neste mundo é E le i t o N e
o
desalento. A que se refere essa marcha?

O deme nte de Latza?


A volta dos selvage ns?

Um rei nascido mor to?

No fim, um recomeço?

b 265 b
b TOMO IV b

Tomo IV
Sacrum Codex

em vindo ao quarto tomo de Sendo assim, o narrador deve possuir uma postura bastante pe-
Belregard, caro leitor. Se che- culiar em Belregard. No lugar de grandes encenações, modulações
gou até aqui, imaginamos que de voz potentes e gestos expansivos, recomenda-se o oposto. Ges-
já tenha lido o ensejo e contexto tos comedidos, descrições profundas, cautela e uma fala pausada,
desse RPG, estamos certos? Não? Veio direto baixa, por vezes sussurrada. O objetivo é fazer com que a atmosfe-
ra isolacionista do pensamento das castelanias não seja apenas um
para as palavras finais por que pretender assu-
componente acessório ao jogo. A aparente monotonia emulada por
mir o manto de narrador? Está certo. Aqui você
meio da técnica narrativa expressa acima - possui por finalidade
encontrará considerações sobre como guiar um
fazer com que se vivencie um “tempo que não passa” e que uma
jogo em Belregard, o que ele precisa ter, o que
suposta ordem aparente é mantida.
não pode ter, que tipo de abordagens seriam
interessantes de colocar, quais evitar. No final Sobre o conceito de aparente monotonia é que o narra-
você conhecerá as regras pra colocar tudo isso dor temperará os cenários de Belregard. É justamente aí que
em prática, mas relaxe, aceite esse rompante de a Mentira, o elemento estruturante da Corrupção, o alimen-
bondade de nossa parte, caro leitor, Belregard to dos Ímpios e a antítese dos Puros, se apresenta. Não há or-
dem ou paz em Belregard, e é a Mentira que sustenta a aparente
é um lugar cruel, que não vai esperar quem não
monotonia dos cenários.
puder acompanhar.
Isso significa que toda sessão de jogo deve ser pensada como
O Flerte com o Medo é uma história de terror que vai lentamente apresentando os frag-
um Bailar Sutil mentos da grande trama que sustenta o enredo que se desenrola.
Ao narrar Belregard, tenha em mente que os E isto, caro leitor, deve ser administrado como um gradual envene-
jogadores e talvez você mesmo precisem ficar namento.
atentos aos mais vis detalhes que transformarão
paulatinamente aquilo que parecia hodierno e Pontas soltas, dúvidas, pistas dispersas e “coincidências” são
costumeiro em cruel e insuportável. Atente ao apresentadas durante as sessões de jogo, em cenas que podem ser
conceito paulatinamente, pois ele é fundamental. tomadas como costumeiras. Ainda que um choque, uma revelação
cruel seja tentadora, fazer como que cada jogador fabule em suas
O atravessar dos distintos livros que compõem mentes o que seria aquele mistério, que torna o simples abrir de
Belregard atesta que nada é evidente nesse mun- uma purta em virtude do som repetitivo que é emitido de dentro
do decadente. Ainda que todos respirem o mias- do recinto, são experiências mais acuradas ao clima que se pre-
ma pútrido da corrupção e os ventres negros es- tende emular. Afinal, busca-se inserir o jogador em um território
tejam por toda parte, a vida se faz sentir da roça narrativo denso, nublado, inseguro e desesperançoso. Apenas por
campesina à ostentação palaciana. meio disso teremos uma sessão imersiva de Belregard.
b TOMO IV b
Logo, trabalhe com a sutileza. isto sempre que possível e trabalhe no sentido
de não tornar esse procedimento banal, já que o
A maldade não tem pressa e por vezes é caprichosa.
detalhe, as descrições, podem revelar segredos

O diabo está nos detalhes. soturnos.

A Descrição Minuciosa A Narrativa Lacunar


Jogadores e, sobretudo, narradores, possuem um desafio em O narrador de Belregard possui um papel bas-

Belregard: expor detalhes e minúcias das ações, do cenário e das tante interessante. Ao mesmo tempo que preci-

experiências de forma geral, ainda que sejam meras reações a sa ser minucioso ao descrever o cenário, a nar-

um determinado estímulo de cena. Chamamos isto de descrição rativa em si deve ser interrompida vez por outra

minuciosa. por meio de lacunas e lapsos que se prestam a


gerar dúvida aos jogadores. E é esta dúvida que
Mas afinal, qual a razão desta advertência? Espera-se a descri- os aprisionará na jaula de medo de Belregard.
ção em um jogo narrativo, não é mesmo? Entenda, há algumas
justificativas que o farão compreender a importância da descri- Ensaie isto: Imagine uma escaramuça, um
ção minuciosa em Belregard. combate que se vê ao longe entre um salteador
de estradas e um jovem camponês que carrega
O jogo emula em grande parte de seu cenário, a experiência seu ancinho e uma bolsa. O saqueador ameaça
da vida breve, comum e cotidiana dos personagens. isso significa o camponês, xingamentos são ouvidos, então o
que a narrativa de belregard gira em torno do que há nesse mun- camponês diz… O que ele diz mesmo? Bem, o
do, tal qual a literatura histórica ficcional tradicionalmente versa. que se sabe é que o ladrão correu de medo após
Bernard Cornwell, por exemplo, não se furta ao apresentar as ouvir aquelas palavras. O jovem camponês fica
agruras de uma viagem em um charco alagado, com botas pesa- os protagonistas e… O que houve? Eles acor-
das e furadas e insetos incomodando cada um dos personagens. dam com o orvalho do amanhecer seguinte.
Elementos como clima, temperatura e demais traços descritivos
não são meramente acessórios. E por quê? Experimente narrar qualquer cena em sua
mente visando omitir algo. isto não precisa ser
Uma descrição minuciosa faz com que um jogador de Belregard fundamental à história, inclusive. Trabalho como
compreenda que a experiência de vida de um humano em um isso e atente à reação de cada um dos jogadores.
cenário sem os confortos e benefícios da vida moderna tornam Use suas conjecturas em jogo. Aquilo que mais
a vida dos personagem um pouco fácil. E mais, ao descrever pelo temem é o que real por ali. Isto não é apenas um
ponto de vista dos viventes do cenário - como todo Belregard foi ato de concessão narrativa, mas uma meta clara
escrito, aliás - a imersão ocorrerá com muito mais fluidez. de design de Belregard. Afinal, o mundo deca-
dente se alimenta e mentira e medo.
Mas como não tornar isso enfadonhos? O primeiro passo é se
recordar que aqui não estamos em um livro, porém em um jogo A técnica da narrativa lacunar não deve ser
no qual a narrativa é compartilhada. Isto significa que a descrição banalizada, porém. Ela é um trunfo, um con-
minuciosa não é apenas algo que o narrador deve efetivar. Colo- traponto ao esperado, uma surpresa em um
que cada jogador , ao interpretar seu personagem, no papel de cenário. Logo, destine tal técnica a pontos de
um escritor como Cornwell, trazendo a vida e a visão de mundo grande tensão, próximos ao clímax ou logo no
de seu protagonista à tona por meio de sua interpretação. Faça princípio da sessão de jogo, a fim de que tudo

268
b TOMO IV b
se torne turvo e confuso de começo. Faça com Gostamos de dividir Terror de Horror com uma definição sim-
que a mesma seja apenas compreendida durante ples: O Horror trava, paralisa, arranca sua sanidade e persona-
a campanha. lidade. O Terror te inspira, te impulsiona, te faz querer enfiar o
nariz onde não é chamado, atravessar a toca do coelho.
Uma possibilidade atraente ao narrador é con-
Observe, temos uma desestruturação de um Império consi-
dicionar a narrativa lacunar ao cumprimento de
derado como glorioso e um passado turvo e cruel, baseado em
requisitos do cenário de jogo. Este gatilho po-
submissão por violência de outros povos por uma justificativa
derá acionar ou não este modelo de narrativa
política expansionista e religiosa. Temos vários exemplos em nos-
em uma cena específica. E não considere o “não
sa história sobre processos assim, e esta foi uma das referências
ver” como algo ruim, caro leitor, Não se esqueça
para que pensemos o jogo, ainda que o horizonte de Belregard
que Belregard é um jogo de terror. Logo, narra-
não seja a Europa. Não apenas referências geográficas, mas as-
tivas lacunais podem até salvar personagens…
pectos étnico-culturais prestam-se a particularizar o cenário.

A narrativa lacunar pode ajudar a criar um Mas afinal, por quê apresentar uma estrutura que pode ser par
ambiente errado, um ambiente onde existe um à desestruturação do Império Persa ou Romano, por exemplo? O
clima perpétuo de que algo está fora do comum. primeiro ponto que queremos tratar é a nostalgia. Houve um tem-
O terror não precisa ser colocado em foco, ele po que foi construído como bom, ainda que necessariamente não
pode ser a aura do jogo. Pense em filmes como o seja. Para além disso, a fragmentação territorial cria o conceito
o Bebê de Rosemary (1968) ou o mais recente de isolamento e temor ante viagens, contato com outros. E por
A Bruxa (2015), são filmes que não exploram o fim, uma vez que a escatologia é premente, não há expectativas
medo de forma descarada, focada em monstros sobre o futuro. Daí, temos as cinzas deste mundo derrotado. Se
horrorosos, mas sim no clima, na aura que per- facilitar, pense em Belregard como uma mundo envolvido em um
petua toda a película, mostrando que existe algo pós-apocalipse medieval, lambendo as próprias feridas e tentan-
de muito errado acontecendo naquele lugar, por do se reestruturar, e nesse processo, o mais ambicioso, ou aquele
mais que todos forcem uma vida cotidiana co- com maior conhecimento, pode tirar vantagens.
mum.
Belregard não é um jogo de exploração, neste sentido. É um
• Sobre o que é este jogo? jogo de terror, normalmente voltado à uma escala pequena, uma
Como criar personagens e his- vila, uma família, uma circunstância. É claro que explorar uma
tórias em Belregard Casa de Luz, abrir uma nova rota comercial, decifrar um tomo
Belregard é um jogo de terror, antes de mais antigo ou eventualmente matar um cultista podem ser objetivos
nada. Não, ele não é um jogo de fantasia medie- dos cenários. Entretanto, o narrador deve ter em mente que o
val. Durante todos os Tomos tratamos de deixar objetivo daquela narrativa não é algo heroico, quiçá para adquirir
claro que os elementos sobrenaturais são dúbios honra, tesouros ou glória. Por vezes aquilo é dado de forma de-
e subjetivos, sendo o flerte com o desconheci- sesperançosa, sem outra escolha, por puro acaso ou pior, a fim de
do e a incerteza sobre o outro o fio condutor aumentar a corrupção do mundo. O cerne de todas as experiên-
para que entendamos a experiência central de cias de jogo é algo triste. Este é um jogo sobre tragédia e terror
Belregard. medieval. Simples assim.

269
b TOMO IV b
Estes são os conceitos que devem estar mente de todos joga- história é algo importante para que o narrador
dores, e não apenas do narrador de Belregard: tristeza, cruelda- tenha em mente.
de humana, escolhas difíceis, fetiches, doença, fé, melancolia,
sujeira, sofrimento, violência, deturpação, corrupção, loucura, De porte desse procedimento, o narrador deve

sangue, traição, umidade, insegurança, etiqueta, prazer, brutali- se questionar: “qual é ou quais são as provas da

dade, sombras, névoa, pecado, podridão, dúvida, mentira, sobre- ação da Sombra Viva nesse cenário?” Depois de

vivência, dor, excrementos, sexo, pompa, ocultismo e melancolia. responder isso, agora a questão deve ser: “qual

Sempre tenha em mente estas palavras ao jogar Belregard, elas é a Mentira que suporta esta manifestação?”.

guiaram toda a escrita deste jogo e recomendamos a todos que Isso mesmo, o narrador deve se recordar que a

desejam narrar que escolham ao menos 3 e não mais que 5 destes Sombra Viva não é manifesta, ela é sutil, age

conceitos para construírem seus cenários. Os demais jogadores, por debaixo do tablado, sob o tecido narrativo.

ao criarem os seus personagens, devem também ter em mente E é uma grande mentira, um véu jogado sobre

estes conceitos para tratarem seus histórico. Como sugestão, os a verdade, que permite que a ação da Sombra e

jogadores podem anotar estes conceitos em pequenos bilhetes e, o arrefecimento da sociedade, nutrindo os Ven-

antes de decidirem qualquer elemento do jogo, podem sortear 2 tres Negros. Por exemplo, podemos pensar que

ou 3 conceitos, sendo eles a base para a criação dos protagonistas camponeses estão erguendo suas armas contra

do jogo. Um dos jogadores poderá ter os conceitos excrementos os donos das terras e com isso há uma sucessão

e sexo, podendo indicar que é responsável pela limpeza das latri- de massacres feitos pelos mais nobres em uma

nas de um prostíbulo, enquanto outro jogador sorteará umidade dada castelania. Os camponeses são fechados e

e podridão, revelando seu estranho hábito de observar com certo desconfiados e os personagens trabalham para

prazer os corpos de animais e de alguns homens assassinados que o nobre. Então o narrador considera-o sádico e

apodrecem no pântano da castelania. Esse é o tipo de persona- insano, promovendo estes massacres de forma

gem que Belregard abriga. cruel, normalmente praticando sequestros de


crianças e como catalisadores da revolta dos
O objetivo do jogo é prosaico: viver de forma hodierna em um camponeses. Mas os jogadores não sabem disso
mundo decadente. Sim, exatamente isto. Não se buscam gran- no início do cenário. Eles, ao trabalharem para
des viagens, grandes relações inter-castelanias, guerras mundiais, o nobre, estarão vendo o cenário sob o véu da
missões de salvamento. Grande parte da sociedade já assumiu o Mentira e alimentando o Ventre Negro.
fim dos tempos como algo inevitável, cabendo a cada um não re-
sistir a isto, mas resignar-se e ocupar seu lugar nesta espiral até o Uma simples ação de aplicação de taxas e

fim de tudo. E é aqui que o narrador entra. Cabe a ele mostrar que ação de repressão às revoltas campesinas - algo

não há nada cotidiano em um mundo já maculado com o miasma comum - está alicerçado em algo que dialoga

da Sombra Viva inalado por cada vivente em Belregard. com os conceitos: crueldade, violência e ocultis-
mo. E acima de tudo: A MENTIRA. Mas aí está
Assim sendo, o comportamento brutal dos coadjuvantes, seitas um dos trunfos de Belregard: não há moralidade
que se proliferam, superstições que fazem com que mães sacri- esperada às sessões de jogo.
fiquem seus filhos, intrigas entre nobres e até aumento de brigas
em tavernas alimentam os Ventres Negros, uma espécie de ponto Não é esperado aos cenários que haja uma

de convergência para a Corrupção. Ainda que o Ventre Negro necessidade em haver um enfoque investigati-

seja puramente subjetivo - ele não precisa aparecer no cenário -, vo. Os jogadores podem compreender a Mentira

pensar nele como o ponto inicial para o desenvolvimento de uma no meio do cenário e, mesmo assim, seguir em

270
b TOMO IV b
frente. Ou ainda, apenas terão acesso a ela ao criados traumas em uma mesa de jogo. Logo, caso a crueldade e
término do cenário, recebendo todas as con- a violência sejam temas sensíveis e um jogador indicar que não
sequências relativas à Corrupção de uma vez, deseja ter acesso a descrições detalhadas de torturas, todos os
tal qual o desfecho trágico de uma história de jogadores deverão utilizar figuras de linguagem para tratar estes
terror. Não cabe ao narrador recompensar ações pontos. Cabe sempre àquele que indicou o limite apontar quando
ordeiras. As escolhas serão sempre difíceis e ele está sendo tocado, e todos os demais jogadores devem respei-
não há necessidade alguma de concluir um ce- tar isso, cabendo até a interrupção de uma sessão de jogo pela
nário de forma fabulesca, com uma suposta mo- recorrência do tema.
ral da história.
Dessa conversa inicial teremos um acordo prévio entre os parti-
No caso acima, um grupo de jogo pode se cipantes. Como se trata de um acordo, por aqui todos serão igual-
aproveitar do massacre para ganhar mais prestí- mente tratados. Ainda que possa haver uma certa prioridade nar-
gio junto à castelania, pressionar a população e rativa ao narrador durante as sessões de jogo, isso não se aplica
adquirir vantagens de ambos os lados. E eles po- neste momento. Todos devem ser francos ao expor seus limites e
dem se sublevar ante ao que se apresenta e exe- expectativas ao jogar Belregard. Sim, o RPG é um entretenimen-
cutar o nobre insano, a fim de que eles próprios to, mas isso não significa que deva ser conduzido de qualquer
assumam a posição tirana. Ambas são opções jeito. Por isso escrevemos as palavras a seguir.
alinhadas à experiência proposta por Belregard,
mas é necessário falar um pouco sobre matu- Não use Belregard para afetar, pressionar, oprimir ou violentar

ridade e segurança, conceitos igualmente fun- outros jogadores. Infelizmente sabemos que em mesas de RPG

damentais para o desenvolvimento de qualquer pode-se utilizar o cenário e a ficção partilhada como um vetor

sessão de jogo em Belregard. para atacar outros jogadores. E esse procedimento é mais comum
pelos narradores. Logo, tenha em mente que esta ficção não foi
• Mantendo a segurança produzida no intuito de ser um veículo para uma ação torpe dos
O Lampião Game Studio preconiza a seguran- jogadores. Não é porque um personagem é agressivo que isto sig-
ça em todos os jogos, e essa é pedra angular de nifica que deve ter uma interpretação agressiva e que deva in-
nossas produções. A despeito de já termos tra- timidar outro jogador. E não use desculpas narrativas inerentes
tado desse tema em outros RPGs, em Belregard ao cenário para justificar uma atitude violenta e descabida aos
isso é fundamental. Assim sendo, não considere demais. Belregard é um mundo cruel, mas o jogo não o é. E o jogo
esta seção um acessório, algo a ser ignorado. é um momento de partilha ficcional que apenas se realiza quando
Ela apenas se encontra nesta parte do livro em os participantes são partícipes ativos do que é produzido coleti-
virtude da organização por Tomos ingame pre- vamente. Caso contrário temos violência e tortura psicológica, e
tendida pelos autores. Contudo, tratar a segu- não é isso que o Lampião Game Studio defende.
rança em um jogo de terror como este é algo por
demais importante. Belregard é um mundo muito complicado, no qual há violência
simbólica e física e que por vezes isso se legitima pela Fé do
Antes de qualquer procedimento de jogo, con- Único. Mas isso não justifica qualquer agressão à gênero, etnia
verse sobre os conceitos estruturantes de Belre- ou crença dos jogadores. Use Belregard para tratar a diversidade
gard com todos os jogadores. Caso haja em al- - lembre-se que há mulheres, etnias diversas, orientações sexuais
gum deles um limite pessoal, exclua-o ou trate-o amplas a serem tratadas - em um mundo no qual as margens de
de forma metafórica, a fim de que não sejam ação fora do que é considerado normal são pequenas. Aliás, não

271
b TOMO IV b
vivemos em um mundo muito distinto disso, não é mesmo? Bel- Um dos motivos para isso é óbvio: o isola-
regard não é um jogo sobre denúncia ante a crueldade de nosso mento. Será difícil emular a suspeição ao alheio
mundo, mas, no lugar de ser usado como algo a legitimar as cli- em uma proposta de grandes contatos, viagens
vagens sociais, deve ser visto como um ponto de inflexão sobre e intersecções. Nem mesmo Varning, o enclave
este problema, servindo como reflexão aos jogadores. Novamen- cosmopolita em Belregard é um ponto realmen-
te, não use o cenário para justificar desmedidas de sua parte ou te de difusão de grandes jornadas. Mas ao lado
dos demais jogadores. do isolamento social que se apresenta enquanto
ponto central para a compreensão da mentali-
Durante os jogos, fique atento a reação de cada jogador. Co- dade da população, temos outros motivos para
mentaremos mais sobre isso quando falarmos sobre o narrador, tratar a experiência de Belregard como algo ini-
mas fique atento aos sinais de desconforto ou de prazer sádico cialmente, e talvez sempre, pequeno.
que podem aparecer durante as sessões. Ao conhecermos nossos
amigos, podemos saber quando eles não se encontram confortá- Tratar da vida comum, das terras cultivadas
veis ao ouvirem algo. Não confunda isso com o medo esperado pelos camponeses, do cotidiano de uma comu-
durante a narrativa, mas atente a alguns sinais quando algo des- nidade ribeirinha ou da forja de uma ferreiro é
medido é comentado. Por vezes a pessoa que está desconfortável fazer com que a imersão à proposta seja mais
ou oprimida ante uma ação de outro jogador, não revela isso com precisamente vivenciada por todos na mesa de
clareza e se contrai. Cabe aos demais jogadores ficarem vigilantes jogo. Ainda que estejamos falando de cortes, a
a isso e garantirem que todos terão uma experiência de terror ideia em Belregard não é apresentar fenômenos
intensa, porém não traumatizante. que interrompam a vida comum dos persona-
gens. Pelo contrário, é indicar que o cotidiano
E por fim, sempre converse com todos jogadores ao término é sustentado por vezes por uma rede de ações
da sessão de jogo. Essa conversa serve a “sair do espaço lúdico” corrompidas. Mas isso também pode ser ape-
e é fundamental para que o jogo termine. Temas sensíveis são nas um blefe do narrador: a Sombra pode não
tratados em Belregard e eles devem ser fechados por ali, naquele ter sido manifestada naquele local, e realmente
assunto. Não leve as sessões de jogo para seu dia a dia e rume o que pode estar acontecendo é apenas fruto
para outras conversas mais leves e descontraídas ao término des- de histeria coletiva nutrida por superstições e
se bate papo. Belregard é um mundo derrotado e em cinzas, e boatos.
não a relação entre vocês, jogadores. A integridade de cada um
e o convívio durante os jogos é fundamental, inclusive para o O impacto do terror e do horror, no pequeno,
prosseguimento das sessões de jogo, ou seja, para a criação de acaba sendo muito maior. Reverbera com mais
campanhas. força a revelação final de um Ventre Negro cor-
rompendo as crianças de um vilarejo, ou o re-
• Comece Pequeno torno de uma bruxa que foi queimada pelos avós
Tudo começa em uma casa, em uma praça, em torno de uma dos que estão vivos. Quando se usa o grande, o
singela vida, em torno de um poço, às margens de um ribeirão. macro, esses pontos perdem força. Lembre-se
Uma típica campanha de Belregard se inicia em um perímetro de fugir do Star Wars. Não precisamos de um
pequeno. Será um tanto raro pensar em um cenário que jogue planeta de floresta, um de deserto e um de mar,
os protagonistas face a face com algo maior, mesmo quando há isso tudo cabe no mesmo mundo, muito disso
nobres envolvidos. pode caber na mesma região.

272
b TOMO IV b
Mesmo que os jogadores sejam cavaleiros descritas para começar e lance seus personagens lá, veja como
mercantes e estejam acostumados a atravessar eles entrelaçam seus próprios conceitos aos locais. Coloque o
as sempre temidas estradas em ruínas do outro- guerreiro como membro da guarda, o sábio como bibliotecário
ra forte Império de Virka, apresentar um cená- local, deixe-os fazer parte deste cenários, deixe-os contribuir com
rio que trate de uma entrega curta, um cortejo essa criação. O mesmo vale se preferir utilizar um local criado
simples ou a passagem de alguns dias em uma para o jogo. Existem outras vilas, cidades, que não foram pon-
determinada aldeia é preferível à grandes jorna- tuadas e esta é outra oportunidade de criação. Crie em conjunto.
das. O que estamos querendo tratar aqui é que Quem é o lorde local? Ele é severo? Cruel? Bondoso? Quem co-
essa restrição espacial - e até temporal - serve a manda a guarda, ou a milícia? Quem é o padre responsável? Ele
particularizar e intensificar o medo. é um homem de fé ou um corrupto que se aproveita dos segredos
contados no confessionário?
Ao pensarmos em particularizar estamos afir-
mando que há certa pertença àquele ambiente. • O Isolamento por si só:
Logo, de alguma forma o flerte com a Mentira é Belregard é uma terra que compartilha apenas a religião, a fé
dado. Cada jogador detém uma razão particular do Criador, como argamassa para unir seus povos. Desde a queda
para estar ali e compreender aquele palmo de do império, o isolamento faz-se sentir por todos os cantos des-
mundo por meio de seus olhos, ouvidos, men- tas terras, pouco a pouco menos civilizadas. Esse sentimento de
te e instinto. Já ao tratarmos da intensificação abandono é causado por inúmeros motivos diferentes, que muitas
do medo, tratamos de nos ater a descrições que vezes podem até mesmo se contradizer para colocar os homens
passem da estranheza ao ouvir o som do brandir impotentes em seus lugares, sem fazerem o esforço mínimo para
do metal até tão tarde, revelando a obstinação comungar com seus vizinhos. A maior parte das pessoas passa
do ferreiro que emite um grito de dor ao tér- suas vidas inteiras no lugar onde nasceram. Nascem, crescem
mino da jornada todos os dias. Caso haja uma e morrem sem ter colocado o pé na estrada, sem ter a menor
grande cidade ou interesses maiores, essa que ideia do que pode existir do outro lado do lago, da floresta ou
seria uma cena fundamental a um cenário pas- da montanha. Mesmo os mercadores, que se esforçam para fazer
saria despercebida por todos os jogadores. suas trocas, ou ganhar algumas moedas, não costumam ir muito
longe, sempre acompanhados de outros, corajosos ou loucos, por
Como metáfora, orientamos o narrador a ma- proteção.
nipular a agulha da narrativa do terror, por hora
o tocando a pele frágil da certeza de cada um O Isolamento de Belregard pode ser sentido por motivos na-
dos protagonistas. Eles se debaterão, rasgarão turais, de tempo, de clima, também motivos políticos, guerras
a própria carne ao não suportar, e aumentarão declaradas ou inimizades e também pela superstição nos agentes
mais e mais a ferida. Com isso, o medo sangra- do Inimigo, que percorrem o mundo e aguardam nas sombras
rá, alimentando a besta da mentira que apenas por uma oportunidade para fisgar a alma do inocente. Em termos
aguarda as primeiras gotas quentes tornarem-se gerais, é este último fator que prende as pessoas em casa, o medo
o aluvião do desespero. do desconhecido, do que pode existir depois de onde os olhos
enxergam. Junte o medo natural com os sermões dos padres, fa-
Você já percebeu, nesta altura, que as descri- lando sobre os perigos existentes no mundo, dos degenerados que
ções dadas nas castelanias são leves, curtas, ob- largaram o louvor ao Pai, das bocas do inferno que se abrem para
jetivas. Você, narrador, deve ver isso como uma expelir o mal ou dos desmortos que perambulam sem rumo, an-
oportunidade de criar. Escolha uma das cidades siosos por roubar a vida dos incautos.

273
b TOMO IV b
• A natureza do Isolamento e pequenas fortalezas abandonadas, que po-
O próprio tempo pode fazer com que as viagens sejam desen- dem servir de morada ideal para malfeitores
corajadas. O clima de Belregard se comporta de maneira parti- ou mesmo para aqueles que desejam denomi-
cular. Como os habitantes desta terra não tem um outro local narem-se senhores de novas terras.
para comparar, para eles tudo é normal, mas Belregard conta
Dentre os fatores de isolamento dentro da
com bolsões climáticos distintos, com uma delimitação natural
política podemos ressaltar:
que foge um pouco da percepção dos homens. Este fenômeno
faz com que castelanias vizinhas, que muitas vezes deveriam
Criminosos: O tipo mais comum de proble-
compartilhar de estações do ano num mesmo ritmo sejam com-
ma que um viajante pode encontrar em Bel-
pletamente distintas, talvez até contraditórias. Dalanor e suas
regard. Estes bandidos podem ser grupos au-
florestas podem até passar por invernos rigorosos, mas nunca
tônomos que preferiram levar uma vida mais
poderão ser comparados aos tormentos de neve que despencam
fácil nas poucas rotas de comércio dentro de
em Viha ou a umidade abafada de Varning. Como dito antes, os
castelanias ou párias e exilados que não tem
habitantes de Belregard não percebem estas nuances, mas elas
outra escolha para sobreviver.
existem e podem representar um elemento desmotivador para
Senhorios: Como é sabido, disputas por
se cruzar as tais fronteiras climáticas. Além disso, a própria
territórios começaram a ocorrer depois da
vida selvagem pode representar um problema.
queda do império e, mesmo depois de uma

Dentre os fatores de isolamento dentro da natureza podemos geração do acontecido, muitas delas não dão

ressaltar: sinais de acabar ou ainda mostram-se moti-


vadas por vingança. Estas disputas podem
Bolsões Climáticos: As mudanças de tempo podem ser trazer problemas a mercadores que acabam
abruptas durante as viagens e certamente que alguns comer- sendo pegos de surpresa pela situação ines-
ciantes experientes, ou mesmo cavaleiros, sabem que elas po- perada.
dem ocorrer. Burocracia: Algumas castelanias, como
Fauna e Flora Selvagem: Em alguns lugares ocorreu um Parlouma, Varning e Dalanor conseguiram se
explosão populacional na vida selvagem, isso quer dizer que fi- manter relativamente coesas internamente,
cou mais comum o encontro com ursos em bosques e cavernas mas isso não significa que estejam completa-
no caminho de viajantes, ou bandos de lobos esfomeados pelas mente livres de problemas no que diz respeito
estradas abandonadas. Além do perigo apresentado pelas plan- ao “ir e vir”. As burocracias de lordes locais
tas de Belregard, enquanto alguns brotos e sementes podem ainda podem atrapalhar viajantes ansiosos,
significar a cura de doenças, outros representam a morte certa. com exigências de pedágios, demanda de ofe-
rendas, tributos ou o simples e prático entre-
• A Política do Isolamento tenimento.
Entre os fatores políticos que acabam trazendo o clima de
isolamento em Berelagrd podemos apontar a própria queda do • O Sobrenatural do Isolamento
Império. Nos dias de Virka, as estradas eram protegidas e es- As estradas de Belregard são locais perigo-
talagens de parada eram comuns a cada dia de cavalgada da sos, todos sabem disso. Cada morador de vila-
capital. Mas, com o caos advindo da descentralização de poder, rejo ou cidade teve um parente ou amigo que
estas patrulhas terminaram e estas estalagens caíram, saquea- partiu pelas vias abandonadas e nunca mais
das ou tomadas por grupos criminosos. Existem ainda torres voltou ou, se voltou, retornou muito diferen-

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b TOMO IV b
te do que era. Existe algo de podre no ar, ou é dado o devido respeito. São comerciantes de almas e podem
na própria terra, que bagunça com as noções dar e tirar a fortuna dos que passam por seus caminhos.
básicas de todos que vagam pelas estradas, Cultos: Muitos locais isolados, ou abandonados, são consi-
trilhas e caminhos de Belregard. Alguns re- derados campos de poder por determinados grupos. Sejam eles
sistem, geralmente os que andam em bandos, druidas que desejam captar a energia do sol através de suas
tendo uns aos outros para segurá-los à reali- pedras monolíticas misteriosamente posicionadas ou adorado-
dade, já outros, como os peregrinos, dificil- res da Sombra diante de uma Fenda do Inferno, ansiosos por
mente retornam a civilização com a sanidade conseguir o favor do Inimigo através de seus sacrifícios.
intocada. Não só a mente se torna rota, mas
Desmortos: Muitos campos de batalha nutriram a terra du-
também o corpo, que parece absorver as im-
rante o período de caos e boa parte destes locais ficou aban-
purezas do mundo e se modificar, se corrom-
donado, sem o devido cuidado de sacerdotes para purificar os
per ou simplesmente fazer verter os pecados
corpos caídos e dar-lhes o devido funeral e dessa forma, dizem
latentes dentro de cada um. Além disso, uma
os mesmos prelados, tais soldados podem se erguer, nutridos
miríade de lendas e superstições propagadas
pelo miasma do mundo, e vagar tropegamente, em busca da
pelos sacerdotes faz com que exista o medo
vida que perderam.
da estrada.

Dentre os fatores de isolamento dentro do • Desenhando o ambiente e contornando


sobrenatural podemos ressaltar: sobrenatural
Em Belregard as manifestações da Sombra Viva são sempre su-
Degenerados: Acredita-se que o ar conta-
tis. Não se busca algo espetacular ao se apresentar algo sombrio
minado do mundo corrompe o homem e torna-
neste jogo. Neste sentido, o abraço à degeneração deve ser sutil
-o um degenerado. Tais degenerados tornam-
como um afago doce da morte.
-se inumanos, considerados Cabeças de Lobo,
podendo ser mortos sem qualquer julgamento
Utilize os 5 sentidos ao descrever um ambiente e nunca dei-
moral e, dessa forma, não reservam qualquer
xe este tipo de descrição passar, sobretudo quando quiser tra-
cuidado aos que cruzam seu caminho.
tar com veracidade a atmosfera de medo e de suspense que se
Fendas do Inferno – O livro apócrifo en- instaura nos pontos de alta tensão de um cenário. Assim sendo,
contrado nas catacumbas de Latza, chamado dizer que a manta que os veste está pesada da chuva e que sua
de Credo de Decebal, relata que, do momento aspereza fere as partes nuas dos ombros é algo tão imersivo quan-
em que o Único decidiu partir e se desfazer, to o cheiro de chorume nauseante que toma o fôlego de todos
ele lutou por sete dias do outro lado, no mun- ao atravessar vielas de uma zona vermelha de uma castelania.
do espiritual, tentando enfraquecer a Som- E, para além de tratar tato, olfato, paladar, audição e visão em
bra. Este embate reverberou no mundo físico, sua narrativa, questione cada jogador a respeito da reação ante
abrindo rachaduras na terra que podem levar aquilo. O narrador não precisa criar tudo, as lacunas deixadas a
até a Alcova Profana, por onde emanam cha- serem preenchidas pelos jogadores nutrem a narrativa de forma
mas destruidoras. igualmente eficiente: “As tumbas foram violadas e é possível ver
Strigori: Os misteriosos andarilhos merca- carne decomposta e pus ladeando os seixos que ornamentam as
dores que parecem não temer os mistérios do lápides. Como você define o cheiro disto? O que observa, fixa o
mundo podem ser perigosos quando não lhes olhar em qual ponto?” Traga isto para o jogo.

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b TOMO IV b
Ao pensarmos no sobrenatural temos de partir deste procedi- Lembre-se que um dia de viagem é um dia de
mento sutil e inserir a bestialidade e o indizível. Some a isto a dú- viagem. Se hoje em dia nos cansamos de ficar
vida em saber se aquilo era realmente um monstro ou uma visão. em um ônibus por oito horas, imagine em mar-
Por exemplo, o som ouvido das matas é uma mistura de grunido cha, ou no lombo de um cavalo. Com sorte, cla-
de queixada com latido de lobo. Não se sabe ao certo o que seria ro, você terá um cavalo. A maior parte das pes-
aquilo, mas um rastro de sangue indica que ou está ferido ou soas viaja em carroças puxadas por bois, lentas,
acabou de abater uma presa… por estradas não mais pavimentadas. Outro de-
talhe é lembrar que o mundo não é um horizonte
Veja que a descrição de monstros deve ser tomada sempre com sem fim. Quando se observa um mapa de RPG,
a referência à fauna e flora conhecidas. Inclusive, em alguns ca- é muito fácil imaginar o mundo perfeitamente
sos, não há monstros. Trata-se apenas de animais desconhecidos plano, mas existem morros, barrancos, trilhas
ou supostamente mais fortes e cruéis, em virtude de miséria que de mato alto, cabe a você tornar esse cenário
acomete a maior parte dos camponeses. Pense comigo, um lobo mais vertical.
é apenas um lobo. Mas um lobo que mata 3 ovelhas e 1 criança
em uma semana é um monstro. Sua descrição será muito mais Trazer as agruras da marcha e não conside-
pesada que a de um canino comum. E este lobo pode, e até deve, rar o deslocamento, mesmo que de dezenas de
ser tornado diferente por conta disso. Se a Mentira alimenta a quilômetros, algo simples e comum é uma das
Sombra, pense que essa magia inata do mundo, corrompida pelo formas de fazer com que todos partilhem da
inimigo, pode vir a dar um complemento a este animal comum. mesma visão crua e pesada do mundo. E nem
Talvez agora esse lobo saiba que é temido e em seus olhos brilhe falamos de perigos que não são naturais deste
uma fagulha de inteligência cruel e assassina. caminho.

Isso significa que toda a superstição da população deve ser por-


As estradas são temidas por ocultarem la-
tada às descrições, fazendo com que a visão de mundo de um
drões de toda sorte, assassinos e outros que não
personagem seja contaminada pela ignorância, medo e temor
podem circular livremente pelas castelanias. E
ante o desconhecido. Assim sendo, encarar o perigo nunca é feito
é claro que as mais diferentes monstruosidades
de forma simples e direta. Evidencie as minúcias fazendo com que
da Sombra encontram suas presas enquanto via-
o simples seguir em frente seja um desafio aos jogadores.
jam. Se a dúvida e o medo estão ao lado de to-
dos em uma castelania, fora dos limites de uma
• Não banalize uma viagem
temos a cada passo uma chance de ser atingido
Em um mundo no qual o isolamento é uma marca e que a me-
pelos maus agouros profetizados por aquela ve-
dicina é precária, um simples corte na perna causado por uma ur-
lha insana que dizia sandices de você ter saído.
tiga deve ser bastante incômodo, não é mesmo? Agora pense em
Seria ela um Arauto?
um bota encharcada de lama, com vermes por entre seus dedos.
A pele molhada é frágil e os bichos começam a entrar por debaixo
de suas unhas. A febre por ter sido picado por um mosquito en- • Princípios para o narrador
quanto passava pela charneca não o abandona, e trazendo dores de Belregard
de cabeça e alucinações, sendo as últimas talvez fruto da carne Há alguns princípios simples a seguir para que

podre que comeu, último vestígio do farnel da viagem. a proposta de jogo seja vivenciada em seu nível
máximo:

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1. Medite, Crie, Digira… Volte a Meditar Deuses o agraciem com armas mágicas, pode ser simplesmente o
- Não comece a criar antes de meditar. O que é aparecimento de um bom companheiro, pães frescos feitos com
meditar? Bem, é visualizar que tipo de história esmero, ou mesmo um convite para um noivado. Vá calçando a
você gostaria de contar, que tipo de sensação estrada por onde eles passam com as facetas que fazem, prepa-
gostaria de inspirar, quais objetivos gostaria rando-os para coisas maiores, conquistas supremas ou inimigos
de alcançar. Durante o processo, você deve en- nefastos.
contrar o núcleo, a amálgama, a essência da sua
história. Após encontrá-la, todo o processo será 5. Menos é Mais - Lidar com o grande é fácil. É muito fácil
mais fácil. chamar “aventureiros” para missões grandiosas, épicas, quase
titânicas, isso é realmente fácil, dificil é lidar com o pequeno.
2. Crie, mas não Tudo - Assim como mos- Pense pequeno, dê vida ao pequeno. Cada pessoa no mundo tem
trado acima, no lugar de colocar um “REI” que uma vida, tem planos e frustrações, aproveite isso e dê utilidade a
impõe um significado e significante bem esta- isso. No lugar de dragões, pense num cobrador de imposto men-
belecido, pense talvez em “Líder”. Você conse- tindo para o rei, no lugar de grandes guerras, pense em rebeliões
guirá o mesmo efeito, mas sem impor demais. inesperadas. Pense pequeno e deixe a proporção ser medida pelo
Idealize o mundo, dê detalhes, mas deixe espa- andamento do jogo.
ços em branco, o mundo de Belregard não foi
pesadamente detalhado intencionalmente. O 6. Transforme o Sobrenatural em Natural - Desvende mi-
processo de descoberta deve acontecer em sua tos, faça com que os jogadores nunca tenham certeza se aquilo
mesa de jogo. era ou não obra da natureza ou de forças da Sombra. Isso é uma
arma poderosa, pois os jogadores nunca terão plena certeza do
3. Seja Justo - Os jogadores dependem da que estão à lidar. Faça com que o padre nefasto, ensandecido, seja
sua lealdade para com a história, para com as apenas alguém com doenças mentais incompreendidas. Ou pior,
regras, para com o conjunto. A partir do mo- coloque o mal onde menos se espera. Talvez a praga da vida fosse
mento que uma verdade é criada no campo ima- o Abade que trazia consigo a força da Sombra e não os ciganos
ginativo, para você quebrá-la, demanda esforço. que pareciam ferir os princípios da moral e dos bons costumes.
Logo, se você diz que o líder local está com sua
linhagem definhando, colocar um descendente 7. Ligue os Pontos sem que eles percebam - Não deixe que
de uma hora para outra com intuito de frustrar eles percebam tudo aquilo que você faz em seu caderno de ano-
planos dos jogadores não será algo justo com a tação. Vá criando o seu arco de eventos, mas não deixe que eles
atmosfera a ser partilhada. É claro que isto pode notem. Talvez o rei dos ladrões que vão enfrentar agora seja o
ser uma reviravolta (um bastardo apareceu), filho do bandido que executaram anos atrás. E o mesmo é aquele
mas não banalize este processo. Eles precisam garoto que negaram comida meses após a execução do bandido.
que você seja justo, então seja. É Belregard que Interligue eventos, mas não deixe de maneira exposta. Faça de
é um mundo sujo e vil, não o narrador. modo sutil, afinal, a vida é uma sucessão brutal de “coincidên-
cias” sutis. Mas não se prendam só ao mal. Talvez ao desmascarar
4. Tenha em Mente que sua História é um cobrador de impostos nojento, o povo prospere e um bom
Única - Seja fã dos seus jogadores e dos seus casamento seja arranjado.
personagens. Dê retorno às suas ações. Esse
retorno não precisa ser épico, não precisa que

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8. Dê vida e pecados às pessoas - As pessoas possuem fa- por suas ideias e seu ritmo de modo acelerado,
lhas de caráter e isso é inerente a todos. Não faça com que todos em pouco tempo sua história estará andando
sejam marionetes inconsequentes, faça com que seus pecados os sob trilhos pré-definidos e isso não é bom. Pen-
consuma de modo verossímil. Um assassino em série não precisa sando nisso, use o método 3x1. Para cada 3 ses-
ser um monstro sádico ou mesmo alguém metódico e cruel. Ele sões que você vá levando programação, seguin-
pode ser alguém normal, simples, menos provável. O pecado não do uma aventura pronta ou algo do tipo, jogue
escolhe a morada, apenas um coração onde possa se alojar. 1 sessão sem NENHUMA programação. Pode
estar no meio da aventura, ali mesmo: se pos-
9. Os Ímpios não descansam - Não há paz para os Ímpios, sível, dê um momento mais calmo a si mesmo
lembre-se disso. NUNCA haverá momentos de amor e paz eterna. e deixe o jogo seguir o ritmo que os jogadores
Mantenha a ideia de que os Ímpios, os escravos fiéis da Sombra, quiserem. Você verá que muitas coisas, e coisas
sempre estão trabalhando. Mesmo no momento mais sublime, du- inesperadas, irão sair disso.
rante a partilha da recompensa, alguém poderá cobiçar uma par-
te maior do que aquela que lhe é devida. Os homens são podres e 13. Verossimilhança - A vida é mais do
suscetíveis às forças do mal. que viagens, igreja e comércio. Existe muito
mais do que isso. Faça-os sentir o peso de não
10. Nenhum bem dura para sempre - Se alguém está
ter dinheiro quando o filho de um dos persona-
feliz, alguém está sofrendo por isso. Se houve sucesso em uma
gens não tiver leite pela manhã, ou faça sua es-
empreitada, uma desgraça se aproxima. Isso é mais do que uma
posa de um deles querer um presente caro que
sugestão, isso é uma verdade. Lembre-se, não deixe os jogadores
viu nas ruas da capital. Faça com que coisas pe-
perceberem isso, senão eles nunca ficarão felizes em conquistar
quenas tenham valor, faça com que suas vidas
algo, com medo do choque de retorno. Mostre que o mundo é
sejam reais.
ruim, é perverso. Faça-os perceber que o Rei vencesse seus inimi-
gos e mantivesse mais alguns anos no trono, muitas plebeus fica-
14. Faça perguntas e devolva-as - Quan-
ram na miséria e que os bárbaros invasores morrerão no inverno
do quiser saber de algo, pergunte. Quando os
que se aproxima. Seus personagens não precisam ter piedade,
jogadores lhe fizerem perguntas, devolva a per-
tendo ciencia basta.
gunta. Se eles lhe perguntam “O Rei tem medo
que o vizinho o ataque agora que não possui
11. Nenhuma caridade é de graça - Entenda que as pes-
filhos e está velho?”, devolva a pergunta e
soas são mesquinhas, elas possuem mais da Sombra do que do
aproveite as respostas. Isso é uma ferramenta
Criador em seus seios imundos. Logo, mesmo que indiretamente,
incrível para auxiliar no processo de criar uma
sempre que colocar um PdM envolvendo-se com os jogadores, te-
história de modo mais colaborativo.
nha em mente o que ele quer, o que está atrás, o que está disposto
a fazer para ter o que quer. Se os personagens dos jogadores são
15. Valorize as Conquistas - Como fala-
bem quistos pelo nobre local, deixem subentendido que ele gosta
do na parte de ser leal, respeitar uma conquista
do grupo por algum motivo, sempre há algo que motiva o seu
faz parte do seus deveres. Se eles fizeram um
gostar.
plano para matar o senescal corrupto e tiveram
12. Mantenha a Ideia 3x1 - Abstenha-se de tomar deci- sucesso, deixe que o senescal morra. Mesmo
sões. É normal narradores irem para a mesa de jogo com muitas que exista uma carta em sua manga, deixe que
anotações com muitas ideias na cabeça. Se você continuar a im- tenham glória de sua vitória momentânea.

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b TOMO IV b
• Repensando o conceito de compreendamos o conceito de bestialidade em Belregard. Com-
bestiário preende-se os animais comuns com a referência humana. Caso
Você deve se questionar sobre a ausência de haja algum monstro, ele se relaciona a um vício humano também.
um item tradicional em manuais de RPG. Em Vamos ver isso com cautela.
Belregard não há um guia de monstros e não se
pretende fazê-lo, uma vez que os conceitos de Ainda que não haja qualquer atributo sobrenatual, qualquer

monstruosidade ou bestialidade são elementos antagonista e/ou perigo em Belregard devem ser mensurados de

cobertos sob a incerteza e o medo, tornando-se acordo com os atributos de um ser humano. A força deste jacaré

subjetivos à ignorância e nutridos pelo sobrena- é de três pessoas? Esta lebre corre na velocidade igual duas vezes

tural corrupto do ambiente. à corrida de um humano? Pense nisso ao apresentar as fontes de


perigo, uma vez que Belregard se estrutura sob a perspectiva dos
Um simples bode pode ser uma representa- personagens sobre o mundo. As pensarmos que um lobo tem o
ção do medo de uma população. Mas isso faria vigor de 4 pessoas, não apenas definimos suas característica, mas
com que ele mesmo fosse um monstro? Ele teria aproximamos a percepção de todos ao risco de se deparar com
algum poder sobrenatural? Estas perguntas de- a besta.
vem ser respondidas com cautela.
Isso se alinha a outro elemento fundamental à Belregard: o so-
Um animal ou até um grupo humano desco- brenatual manifesta sempre a corrupção humana. Ao termos isso
nhecido é considerado um ser bestial. Basta em mente, podemos criar nossos próprios monstros alinhados à
também que um ser conhecido manifeste qual- experiência que este jogo apresenta aos jogadores. Assim sendo,
quer característica distinta da conhecida, como se os atributos de um antagonista já foram referidos às humanos,
um bode que fala, para ser também um monstro será mais fácil pensar em algum de seus possíveis desígnios que
também. Entenda que “besta” é tudo aquilo que manifestem o miasma concentrado em dado Ventre Negro. Aliás,
não for como um humano, logo os próprios ani- uma fera pode ser em si mesma a materialização de um Ventre
mais são bestas. Porém, as bestas sobre atmos- Negro em um cenário.
fera monstruosa não são usuais.
Se há um bode inteligente e o mesmo gera intrigas e violên-
Pensar neste tipo de besta em Belregard é cia trata-se da Ira, uma das faces dos Ímpios que age por meio
algo bem diferente de fantasias épicas ou herói- daquele ser nutrido pela corrupção humana. Se há uma suposta
cas, uma vez que este jogo não possui essas re- divindade em forma de morcego que se alimenta da violência e
ferências. Os monstros não são usuais, comuns da lascívia em cultos profanos, é a Luxúria que se manifesta é dá
e possuem uma grande prole. Todas as bestas poderes àquela besta temida.
místicas são únicas, temerosas e se relacionam
Em outras palavras, a presença de qualquer característica so-
diretamente com um contexto local, com um
brenatual a uma fera deve ser pensar por meio da corrupção, das
Ventre Negro e com a Sombra Viva.
máculas dos ímpios, manifestações da Sombra Viva. Logo, uma
real representação da superstição popular, são os próprios huma-
Mais que isto, o sobrenatural, sempre sutil,
nos em sua torpe existência que, nutrindo os Ventres Negros que
ainda que confira características fora do co-
a constróem ou “emprestam os poderes” àquele ser. O mesmo
mum à fauna e à flora, deve ter como referên-
pode ocorrer aos antagonistas, o que veremos a seguir, inclusive.
cia sempre o humano, e esta é a chave para que

279
b TOMO IV b
Logo, no lugar de pensar no sobrenatual como algo fantástico e lhoso ver a cara dos jogadores quando a criança
descolado da realidade social, relacione o que seriam os monstros disser que o seu amiguinho levou sua irmã mais
aos processos humanos em todas as cores que a corrupção e a nova pro bosque e nunca mais voltou.
vilania apresentam. neste sentido, não há como pensar em um
Bestiário fechado, haja vista que cada monstruosidade será úni- • Antagonistas: a vilania em
ca, nutrida por algo perverso que nutre as mais obscuras almas jogo
humanas. Antagonistas em Belregard não são vilões ar-
quetípicos de histórias heróicas. As cinzas do
Com isso, dizemos que em Belregard o pensar sobre o sobre- mundo derrotado também são metáforas para
natual deve sempre sair da rotina, da vida comum, de um crime, a compreensão do comportamento das pessoas
de um pecado. Os animais e vegetais já estão lá, mas a própria neste mundo decadente: não há uma clara dis-
ignorância sobre o mundo em virtude do isolamento pode gerar tinção entre extremos, o próprio ser humano é
boas ideias para que se pense em um monstro, mas que na ver- cinza.
dade é apenas uma besta desconhecida. Mas caso haja realmente
Ao afirmarmos isto, definimos que não há
um flerte com um Ventre Negro e com a Sombra Viva, esta besta
uma suposta assunção de alicerces morais pelos
deve ser relacionada à mácula que a própria humanidade risca em
próprios protagonistas das histórias. Um grupo
sua pele.
não precisa agir de forma justa, Belregard não
é uma fábula com moral da história ao final. É
Ainda assim, se você quiser utilizar um ser sobrenatural, uma
claro que o narrador imputará sanções aos com-
besta, um monstro, você pode. Lembre-se apenas de fazer com
portamentos das personagens, mas se houver a
que os seus monstros sejam monstruosos e particulares. Mons-
assunção dos princípios do jogo, não há proble-
tros não devem ser tratados como fichas de crédito que você tem
ma algum nisso. Por outro lado, os antagonistas
contra os jogadores. Em nenhum momento nós dissemos que eles
não precisam ser vistos como seres tirânicos e
são reais e você pode seguir com este raciocínio, mantendo a
cruéis. Por vezes eles são o ponto de sanidade e
superstição dos jogadores sempre na ativa, cumprindo o trabalho
justiça em um cenário e os protagonistas serão
de deixá-los preocupados quando ouvem aquele som na mata du-
a convergência da corrupção que passa por uma
rante a noite.
castelania. E cabe observar que isto também
Se deseja torná-los reais, lembre-se de fazê-los serem únicos. não “quebra o jogo”. Mas afinal, se é possível
Invente lendas sobre, exemplos de histórias que avós podem ter ser bonzinho e, por vezes malévolo em Belre-
contado e mesmo apelidos, nomes diferentes. Não tenha medo de gard, o que determina as relações entre prota-
inventar e nem se preocupe em fazer tudo sério demais. No caso gonistas e antagonistas?
de um combate, cuide para que seja trabalhoso e, de preferência,
O conceito vilania define o que é esperado à
crie alguma “válvula” de derrota, um meio que deve ser percebi-
interpretação dos personagens em Belregard.
do, aprendido ou estudado pelos personagens, o grande segredo
Se não há heroísmo claro, todas as personagens
de derrotar aquele monstro. E dê um nome para ele também, e
flertam com a vilania. Mas afinal, o que é a vi-
nem precisa ser um nome próprio. Dê um nome que foi criado pe-
lania?
los homens que o temem. Pense no exemplo do baúk e da criança
que acredita que ele seja um ser inofensivo. Como esse menino Vilania é definida como algo mesquinho, bai-
chamava seu amiguinho? De amiguinho? Ótimo! Vai ser maravi- xo, um ultraje. Porém, ao pensarmos em um

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b TOMO IV b
mundo corrupto, este é o alimento das ações de meria? Somente após experenciar sua criação “viva” no cenário,
ordem prática àqueles que habitam Belregard. coloque-o em jogo.
Isso significa que não importa se trata-se de um
sacerdote da fé do Único ou uma mãe dedicada: • O tripé do medo, da desesperança e da
o mundo cru e violento faz com que as duras es- loucura: a peste, a fome e a guerra
colhas na vida sejam possíveis apenas por meio Ao lado das sementes de conflito cotidianos que podem nutrir
da vilania. o narrador para criar os cenários de Belregard, enumeram-se três
fontes de tramas de maior magnitude e que se prestam tanto ao
Isso ajuda o narrador a criar um antagonista. desenvolvimento de personagens quanto de histórias. Falamos da
Observe as possíveis expressões da vilania em fome, guerra e peste.
um bairro de uma cidade, em uma aldeia, em um
assentamento qualquer. Essas expressões cria- A fome é uma das mais antigas fontes do medo. Ela é uma das

rão pontos de conflito entre os prováveis anta- catalisadoras da vilania em uma sociedade. A simples ausência

gonistas locais, sendo os personagens dos joga- de chuvas pode causar um impacto brutal em uma aldeia, ou até

dores livres para se aliar a um ou outro, ignorar em uma castelania. Tomar a fome como uma semente de uma

o que se passa por ali ou até se aproveitar do história é estar atento aos motivos pelos quais ela se instaura, se

conflito. Veja que as opções dos jogadores tam- há alguém que lucra com isso e como a população reage. Será

bém tratam de ações que flertam com a vilania. que antigas ervas que eram consideradas daninhas passaram a
ser consumidas? Quais as reações que isso pode trazer aos habi-
Assim sendo, ao criar um antagonista em Bel- tantes da vila?
regard, desejamos que ele seja criado pensando
A guerra é, por seu turno, algo ímpar no cenário. Não pense
em três camadas. A primeira é a relação entre
que o esforço de guerra é algo banal e que campanhas militares
suas ações e o contexto social local. A segunda
são comuns em Belregard. Ainda que a tensão intra e intercas-
são as possíveis relações com outras fontes de
telanias seja algo claro e que todas elas tenham ordens militares
conflito do cenário. E a terceira são as possíveis
organizadas, isso não significa que a guerra seja uma opção co-
escolhas que os protagonistas terão ao se rela-
mumente feita pelos líderes locais. a guerra é cara, pesada, lenta,
cionarem como ele. Observe que as três cama-
ceifa vidas e fragiliza o controle interno das castelanias. Pensar
das são igualmente manifestações da vilania,
na guerra é imaginar a mudança da rotina de uma simples família,
por vezes representada no cenário, por vezes
a maior pressão sobre as minas de ferro e forja e o impacto na
apresentando duras escolhas aos jogadores.
geopolítica de Belregard.

Por fim, pense que um antagonista não é al-


A peste é tomada não apenas como um flagelo da carne, mas
guém elevado, diferente dos demais. É humano,
como flagelo da alma, podendo ser uma peste que arrasa colhei-
do mesmo nível que qualquer personagem. Pen-
tas ou uma doença epidêmica. As mentes tomadas pela supers-
se no mesmo como um mortal, como alguém
tição, fé e medo por certo considerarão as pestes como sinais da
que está vivendo em Belregard. Caso flerte com
decadência do mundo. Qual é o vetor para a doença? Como ela
a Sombra ou seja um Arauto, pense em todos os
se manifesta? Qual a reação da população ao contágio? Como é
desdobramentos que isso possa levar ao jogo.
feito o tratamento? E ele é eficiente? Essas são algumas questões
Após criá-lo, imagine-o vivendo por um dia.
que o narrador deve ter em mente ao trazer a peste aos seus ce-
Como seria sua rotina, como falaria, o que co-
nários de Belregard.

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b TOMO IV b
Fome, guerra e peste são irmãs da danação social e por inú- rias partilhadas por um grupo de jogo. E como
meras vezes se relacionam, se influenciam, são causas ou conse- há continuidade de histórias, não é difícil imagi-
quências recíprocas. Uma castelania pode ter declarado guerra nar que a passagem de tempo seja algo signifi-
a outra em virtude da primeira estar sob uma penúria alimentar cativo para as campanhas.
gerada pela geada extensa nos campos. Ou ainda o peso de uma
doença em uma vila foi maior em virtude da fome que assola os Trabalhar os intervalos temporais entre os

camponeses, sendo essa oriunda do aumento do imposto sobre as cenários, desenvolvendo personagens e dina-

colheitas cobrado por um senhor local. mizando o mundo de jogo é algo que todos
nós que escrevemos Belregard desejamos para
Ainda é possível relacionar fome, peste e guerra ao sobrenatu- os grupos de jogos. Caso um próximo cenário
ral. Um suposto líder messiânico local pode relacionar a peste a se desenvolva 7 semanas após o último even-
um suposto demônio, um conde conquistador iniciou uma guerra to significativo, cada jogador deve trabalhar o
sendo tocado pela Sombra Viva ou ainda a fome pode criar aluci- que seu personagem fez neste ínterim. E mais, o
nações à população de um determinado local, fazendo com que narrador deve relacionar o micro ao macro, veri-
os mesmos passem a ouvir ordens de animais, por exemplo. ficar o que mudou dentro da vila, da cidade, da
castelania. Novas faces apareceram na história?
Entretanto, tudo que dissemos até agora em muito pouco acres- Esse tipo de questionamento ajudará a todos a
centa ao panorama conhecido durante períodos de crise em dis- compreender a vida em Belregard. Para ajudar,
tintos contextos. Estes pontos são visíveis no imaginário medieval faça perguntas!
europeu ou durante a desestruração de sociedades pré-colombia-
nas, por exemplo. Essa reflexão sobre fome, guerra e peste é ape- Nesse sentido, explore as minúcias de cada
nas o início do trabalho dos jogadores e dos narradores. É preciso castelania e de cada etnia e faça com que cada
transpor tudo isso à Belregard. ação, com que cada elemento realmente impor-
tante seja sentido e mova o mundo de jogo. As-
O impacto de uma doença que afeta equinos não será o mes- sim, o término de um cenário deve ser sentido
mo em diferentes castelanias. Pense em Palourma, por exemplo. pelos jogadores e pelo narrador, fazendo com
Como seria a marcha de batalha dos soldados insanos de Latza? que os tomos prévios de Belregard sejam toma-
Os sábios astrólogos de Vlakir interpretariam as secas no cam- dos como um material de constante consulta e
po da mesma forma que a cúria religiosa de Birman? Um abade de referência para dinamizar o mundo de jogo,
leorista aconselharia seu patrono dalano sobre a guerra da mes- sendo cada campanha algo único, particular e
ma forma que um monge alecista? O que Virka e seus campos imersivo.
corrompidos podem ter a ver com a peste? O que Varning e sua
ambição mercantil pode lucrar com o teatro da guerra? Essas sim Ainda sobre o reflexo da passagem do tem-
são algumas das questões que fazem com que a guerra, a fome po na vida dos personagens, não se esqueça de
e a peste deixem de ser fontes genéricas e se unam à atmosfera responder aos distintos níveis de estímulo dados
de Belregard. aos protagonistas. O que ele treinou para ser
melhor em combate? Qual a reação que alguém
• Respire, vivencie Belregard possui ao entrar pela primeira vez em uma Casa
Uma sessão de jogo de Belregard é chamada de cenário, e uma de Luz? Por sua vez, o narrador deve ficar atento
sequência de cenários configura uma campanha de jogo. Uma ao descrever as artes marciais locais e a forma
campanha significa, em poucas palavras, a continuidade de histó- pela qual se treinava, bem como para eviden-

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b TOMO IV b
ciar o maravilhamento e o temor ao descer por O narrador já possui uma tarefa um tanto mais árdua, uma vez
uma estrutura tão imersa em boatos e lendas. que deve ter acesso aos elementos básicos das castelanias e povos
Inclusive trazer essas lendas à tona durante a escolhidos pelos jogadores. Porém, um caminho alternativo pode
descrição do ambiente é um excelente recurso, ser seguido. O narrador pode apresentar uma temática para o
a fim de que, para o personagem, aquele evento cenário ou para a campanha, indicando um problema ou conflito
seja inesquecível. em um determinado ponto, sendo os jogadores desafiados a criar
personagens que se relacionem a este evento inicial. Este é um
Logo, é esperado aos jogadores sempre rea- caminho simples para que os jogos se iniciem, lembrando do que
gir indicando a forma pela qual o personagem dissemos quando falamos em começar pequeno. Em todo caso,
vivenciou a experiência na curta, média e longa se o narrador optar por iniciar uma campanha já flertando com
duração. Em um mundo quase inercial, ter con- o sobrenatural e sobre os mistérios do mundo, a leitura do tomo
tato com um demônio ou ter a morte ao seu lado 3 é fundamental.
é algo impactante. Ter perdido sanidade ao ser
abraçado pela corrupção não é algo que deva Observe que apresentamos 2 procedimentos para iniciar uma
ser ignorado. Observe que quão maior for o en- campanha de Belregard. No primeiro caso, os jogadores efetuam
volvimento da personagem com os eventos em criações mais livres e o narrador é desafiado a pesquisar pontos
Belregard, mais envolvido nas brumas que aque- em comum a eles e ganchos que possam os relacionar. No se-
le mundo se encontra, fazendo com que o medo gundo caso temos uma criação de personagens centrada em um
infle seus pulmões a cada arfada de ar tomada. evento, em uma circunstância específica. Aqui temos o desafio
aos jogadores. Mas isso pode ser pensado em conjunto, por meio
• Como usar os tomos de Bel- do procedimento inicial de sorteio de temas que já apresentamos,
regard fazendo com que os conceitos façam parte das escolhas tanto do
Belregard é um RPG com muito conteúdo narrador quanto dos personagens.
ficcional. Isso pode afastar, em certa medida,
aqueles que buscam uma forma ágil de jogar. A Assim, a consulta aos tomos não será enfadonha inicialmente,
própria opção de dedicar o último tomo a uma sendo recorrente ao término de cada cenário, fazendo com que
escrita diretamente voltada aos jogadores e todo o próprio conceito de se iniciar pequeno e explorar o mundo seja
o resto do livro para conteúdo ingame é algo um portado à forma de jogar. Belregard trata um mundo lento, de
tanto incomum às estruturas mais recorrentes descobertas dadas por indícios sutis, nos quais há apenas frag-
de RPGs. Logo, acreditamos que seja necessá- mentos sobre tudo o que ocorre. E mais, as próprias páginas dos
rio indicar alguns procedimentos simples para tomos são visões de pessoas, com seus preconceitos, limites e
auxiliar iniciantes e iniciados a jogar Belregard. equívocos. Não se trata de cânone por ali, logo, perverter afirma-
ções e evidenciar que um cronista está equivocado é algo passível
De forma objetiva, os jogadores precisarão ter de ocorrer em uma campanha de Belregard.
ciência do tomo 2, especificamente das seções
que apresentam as castelanias mais relevantes Uma campanha inteira pode se passar apenas em uma caste-
para o seu personagem, para além de sua etnia, lania, por meio do adensamento de intrigas bem como demais
o que é apresentado na segunda parte do tomo processos sociais locais. Lembre-se sempre da baixa expectativa
1. Apenas esta informação ficcional é necessá- de vida e do conceito de isolamento ao pensar em campanhas e
ria aos jogadores. até ao planejar os cenários de jogo.

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b TOMO IV b
Observe que o tomo 1 ainda não foi mencionado por aqui. do daqueles que observam. O odor é intenso. A
Como ele apresenta o passado, acreditamos que o narrador deva visão é atrapalhada por gotas de suor. As mãos
ter acesso a ele, mas lendo-o calmamente e inserindo os inúmeros estão trêmulas. Poucos sabem manusear armas
ganchos espalhados na campanha de acordo com o desenvolvi- neste mundo. Não há armaduras completas fa-
mento da mesma. Não planeje todos os pontos e faça com que a cilmente disponíveis e os escudos são feitos em
campanha também o surpreenda. Imagine que você, narrador, sua maioria de madeira. A forja é cara, amigo
está descobrindo o mundo e o passado durante a própria trajetó- leitor, não se esqueça disso.
ria de vida dos jogadores. Ainda que recomendemos a leitura de
todo o livro a todos, sobretudo aos narradores, a releitura e o en- Um golpe de lâmina arrancará um antebraço,

foque ao que é experenciado pelo grupo de jogo é fundamental. um joelho é esmigalhado por uma maça e um
pé de cabra é uma arma improvisada letal. Um
Assim, a consulta feita pelo narrador deve ser feita apenas às rápido corte daquela faca de queijo fará um pes-
seções a fim de construir ganchos que desenvolverão os cenários. coço esguichar sangue a metros de distância. Se
Sabemos que a literatura de RPG é algo interessante e agradável, falamos de violência, falamos destes tipos de
mas inflar de informações uma campanha com elementos que imagem por aqui.
estejam para além do alcance dos protagonistas é algo que dis-
persará todos, reduzindo a imersão pretendida. Sempre recorra Assim sendo, o rolar de dados para um com-

a algo discreto, particular, algo voltado ao que foi desenvolvido bate jamais será banal. Por cenário talvez tenha-

pelo grupo de jogo. E ouça as questões dos jogadores para pen- mos uma ou duas instâncias de combate e por

sar como trazê-las à ficção. Houve impacto nas rotas comerciais? várias vezes não lutar é a melhor alternativa. A

Será que nenhum mensageiro da outra castelania foi enviado de- fuga e a rendição são atitudes inteligentes por

pois desse massacre? Essas perguntas farão com que o narrador aqueles que não querem perder suas vidas, ain-

alimente as histórias a todo momento com o que foi deixado em da que miseráveis, em vão. A violência velada,

aberto nos jogos. com armas em suas bainhas, é a melhor forma


de garantir que sua vida continuará a seguir.
Por fim. No lugar de se perder com um grande volume de in-
formações possíveis, comece pequeno e desenvolva aquilo que Não pense porém que no teatro da morte há

for mais significativo ao grupo de jogo. Jogue e descubra o que convenções de guerra, piedade e negociações.

poderá alimentar mais e mais as histórias, e alimente isto com o Duas pessoas com espadas desembainhadas

material disponível em todos os tomos de Belregard. são oponentes e provavelmente lutarão com to-
das suas forças. Chegar às vias de fato é algo
• O que é um combate que deve ser pensado com muita cautela.
O combate em Belregard é rápido, violento e cru. Um ferimento
causa a morte instantânea ou sofrimento lento até que ela abrace Interprete o dano aplicado ou recebido sem-

o personagem por hemorragia, moscas e pus nas feridas ou até pre de forma subjetiva. Não sangre ao receber

tétano. A natureza do combate é quase sempre brutal, exceto em uma baixa quantia de dano. Traga isso à ficção.

competições ou exibições, como no caso das que ocorrem em Você está mais cansado, apara um golpe com a

Dalanor, por exemplo. espada e sente uma profunda dor nos ombros,
se joga ao chão para se defender e arranha seu
Não há trilha sonora, atmosfera positiva e/ou heróica. Apenas rosto. Tudo isso faz parte de um combate de
ruído de metal, chão revirado com passos acelerados e o incômo- Belregard. Comece a sangrar ao notar que sua

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b TOMO IV b
vitalidade caiu à metade ou menos, e sempre de barganhando com a Sombra Viva, pactuando com seres ctônicos
forma sutil. O narrador é aconselhado a apenas e sacrificando algo com isso. Deixe a corrupção fluir…
descrever um golpe letal quando realmente hou-
Em linhas gerais, caso você queira utilizar a magia como algo
ver a morte de um personagem. Tudo o que está
real e palpável dentro de seu jogo, lembre-se das palavras de
ao redor proporcionou aquele momento, fazen-
Tiboau: “Aquele que não crê no fantástico vive mais cego que
do com que a velocidade e crueldade do brandir
toupeira. Tudo ao nosso redor denuncia um toque de magia, de
lâminas seja compreendida de sua forma mais
assombro e do sobrenatural. É o que mantém os homens em suas
violenta e tempestuosa.
casas durante a noite, quando os uivos dos lobos se transformam
no agouro de bestas nefastas ou é o que faz este mesmo homem
• A magia como ferramenta
armar-se com o que tem e partir para a contenta, acreditando
narrativa
estar alimentado pela benção de um bom augúrio. É o que man-
Como foi possível verificar, a magia é tomada
tém os pássaros no ar e os peixes dentro d’água. É além do que
não de forma vulgar, mas subjetiva em Belre-
podemos ver, pode até mesmo ser só o que está dentro de nossas
gard. Assim sendo, efeitos mágicos e rituais não
cabeças, mas não é por isso que vai deixar de ser real!”
necessariamente são tomados como manifesta-
ções do sobrenatural, mas como algo subjetivo, O homem comum de Belregard acredita e convive com o fantás-
normalmente dialogando com as expectativas tico, com o assombroso e com o sobrenatural. Ele faz rezas, sim-
daqueles que acreditam no detentor daquele po- patias e promessas para conseguir aquilo que quer, utilizando-se
der. Uma vidente strigori ou um curandeiro vih unicamente de sua fé para tanto. A relação que este homem vul-
não detém, em sua maioria, qualquer poder so- gar tem com a magia é respeitosa, temerosa. Quando não envolve
brenatural, mas suas práticas estão envoltas em a fé direta ao Tribunal do Supremo Ofício, a mágica é feita às es-
uma atmosfera mágica, uma vez que são acredi- condidas, especialmente entre as simpatias herdadas de tempos
tadas por uma comunidade. É ela que legitima e antigos, ainda aplicadas por velhas anciãs que se recordam dos
até potencializa a sua magia. Tenha em mente caminhos. Nem tudo é lenda, crendice ou mero placebo, a magia
que quase tudo é obra da carne, há pouco espí- existe e basta esbarrar nos componentes certos, no momento cer-
rito envolvido nisso. to para vê-la se manifestar.

Considere xamãs e até líderes religiosos como A magia de Belregard é latente, inata. Quando o Criador co-
possíveis detentores desta aura mística, e use locou ordem ao mundo, ele imbuiu parte de sua essência divina
isto para trabalhar as superstições e demais na terra, dando sentido ao ciclo natural das coisas, mas também
desdobramentos enquanto ganchos narrativos tornando possível o surgimento do incrível. Essa mágica latente,
às sessões de jogo. Brinque com a possibilidade quando estudada, pode ser traduzida em gestos, palavras, símbo-
daquilo ser realmente sobrenatural e, faz com los, cores e tantos outros detalhes para torcer um pouco do tecido
que aquele que todos pensam ser apenas um da realidade e realizar o impossível.
charlatão seja realmente um arauto em jogo.
Existem também os favores, tanto da luz do Criador quanto da
Não se esqueça que a Mentira sempre acompa-
treva da Sombra.
nha os cenários de Belregard. E é claro, vez por
outra ofereça a oportunidade para que os per- • A Magia Latente
sonagens dos jogadores adquiram algum poder A magia natural, que paira no ar ao redor de todos pode
mágico “real”. Claro que com isso eles estarão explicar alguns fenômenos de Belregard como:

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b TOMO IV b
Os Miasmas: Acredita-se que o mundo é contaminado, que Arautos: Passando pelas Três Marcas do
o ar é capaz de enlouquecer e deturpar as pessoas, transfor- Criador, qualquer pessoa de Belregard pode
mando-as em Degenerados. despertar para a verdade do mundo e assim
O Clima: O clima incomum (para observadores de fora) de tornar-se capaz de realizar pequenos feitos,
Belregard pode ser explicado por este toque de magia deixado por mais que não tenha uma plena consciên-
pelo Criador quando ordenou sua obra. cia disso.
Rituais: Compreendendo símbolos, cores, ervas e outros
elementos, estudiosos ritualistas são capazes de realizar feitos O Subjetivo: A magia subjetiva se explica
surpreendentes. Normalmente estes rituais fazem uso de mé- pela religiosidade de Belregard. É quando o
todos cruéis para romper com a película que mantém o mundo cavaleiro sacro, ou o alto prelado da Igreja se
coeso. Essa abertura pode ser vista como o rasgar de mais um armam da certeza de que suas palavras e atos
Ventre Negro para o mundo, tornando mais fácil a aproxima- tem poder e assim conseguem exercer uma
ção da Sombra. influência maior que a dos mundanos.

Ordem dos Paecal: Dentro de Belregard,


Exemplo: Técio descobriu, nos velhos tomos embolorados da
a Ordem dos Paecal, que serve ao Tribunal, é
torre dos Oradores das Estrelas, sinistras e precisas instruções
capaz de expurgar o pecado através de elabo-
para que qualquer pessoa tivesse seu próprio ajudante. O nome
rados e comprovadamente funcionais rituais
da coisa variava entre “daemon” e “homunculus” e era desenha-
de exorcismo. Tornar-se membro da ordem
da como uma pequena criança deformada, de asas atrofiadas e
demanda imenso esforço dos candidatos,
com um rosto digno de pena, distorcido em um sorriso servil, que
além da demonstração de uma fé verdadeira
parece misturar dor e prazer. Segundo os estudos do tomo, o
e auto sacrifício em nome do Pai.
ritual para se criar um homúnculo deveria ser feito numa noite de
lua cheia, em um quarto vazio. Dentro de um recipiente feito com
o barro do rio Nirut, deveria ser colocado o feto de um natimorto
• A Magia da Treva
O outro lado da moeda “divina” também
expelido durante o inverno. Cinco velas vermelhas representariam
existe, é claro. Como Belregard é um mundo
os cinco sentidos dados ao pequeno ser, deveriam ser acesas ao
vencido pela Sombra, o acesso ao inimigo é
redor do recipiente e na cera das velas deveria ser misturada o
mais simples que ao Criador. A Sombra está
sangue de cinco animais diferentes, cada um vinculado a um sen-
disposta a favorecer aqueles que lhe buscam,
tido. Por fim, o ritualista precisaria entoar o canto correto, mas
mas ela não é tão livre quanto se pode imagi-
esse trecho do livro continha palavras ilegíveis. Técio não desani-
nar e conseguir seus favores pode demandar
mou, na tentativa e erro teria o seu serviçal e, pelo menos uma
elaborados rituais que enfraqueçam a tia da
vez na vida, mandaria em alguém.
realidade, abrindo um novo Ventre Negro.
• A Magia da Luz
A magia divina, vinda do Criador, perdeu seu poder de in- Cortejo Sombrio: O cortejo existe desde

fluência desde o Ciclo da Ausência, mas ainda pode ser sentida que o homem teve noção da existência de

em determinados momentos dentro da ambientação, quando uma força antagônica ao Criador disposta a

existe o Despertar ou quando a Fé consegue traduzir a trama dar a ele as respostas de uma forma mais rá-

da realidade. pida e prática.

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b TOMO IV b
Ordens e Cultos: Muitas vezes sem saber, de determinadas missões fará com que este se volte contra os
pessoas se envolvem em cultos distorcidos personagens.
que atendem as demandas da Sombra, no lu-
gar de qualquer outro interesse supostamen- II. Crônicas militares

te propagado. Barreira de escudos, sangue, urina e rancor. Os personagens


farão parte de algum destacamento de uma força militar ou ainda
Corrupção: Aqueles que vivem fora da li- serão sobreviventes em um conflito deflagrado. Ou ainda, eles
nha da retidão e da vigília contra o Inimigo poderão se relacionar às margens do teatro da guerra, se envol-
acabam se enveredando pelas trilhas tortas vendo com o fornecimento de víveres ou armas aos lados do con-
do pecado e assim são agraciados pela Som- flito.
bra, desde que continuem com o “bom tra-
balho”. Jogando em crônicas militares não pense que todas as sessões
de jogo narrarão combates entre as frentes. Por vezes uma cam-
• Como eu começo? panha inteira pode relacionar ao cerco de uma cidade. Atacar ou
Ainda que procedimentos prévios tenham resistir e desenvolver cada desdobramento dos diferentes grupos
sido bem objetivos para que pensemos em como envolvidos gerará jogos bem interessantes. Pense em uma missão
começar um cenário ou até uma campanha em de entrega de mensagens fugindo dos olhares do exército rival.
Belregard, indicaremos cinco modalidades ar- Porém, no caminho tranquilo, ao lado de uma fogueira aconche-
quetípicas que são plausíveis para deflagrarem gante, a manifestação bestial da Sombra Viva que fora nutrida
as histórias nesse mundo derrotado. Elas não as pelas mortes de inocentes irromperá, surpreendendo os mensa-
únicas, mas o faremos justamente a fim de auxi- geiros. Mas não se surpreenda se algum deles sorrir. Há quem já
liar os iniciantes. se sentirá acalentado pela corrupção.

I. Braço da igreja III. Cavaleiros mercantes


Neste tipo de campanha, os jogadores se rela- Apesar de Varning ser o único centro comercial declarado, to-
cionam com a Igreja do Único de alguma forma. das as castelanias possuem cavaleiros mercantes. Cenários que
Alguns podem ser como cavaleiros, bastiões da envolvam a proteção, escolta ou a resolução de algum problema
fé. Outros pesquisadores, seguindo o Lazlo, o que afeta os interesses de um patrono são bem comuns e facil-
Puro. Há comerciantes que vendem suas quin- mente conduzidas pelos narradores de Belregard.
quilharias e que têm seus interesses diretamente
afetados. Cozinheiros, tementes à fé e até sacer- Lembre-se que a viagem não é algo simples e apresente as difi-
dotes são personagens comuns. culdades da marcha, bem como lembre a todos que o estrangeiro
é uma figura por demais desconfiada em um mundo repleto pelo
Sendo um braço da igreja, os cenários se en- isolamento. Apresentar cultos bi-
volverão com a tensão entre poderes locais e a zarros e rituais profanos incrus-
fé propagada por Birman. Sincretismos locais, tados nas mais pacatas vilas
exorcismos, questões voltadas ao mistério, sal- pode ser algo interessante
vação da alma e até intrigas políticas farão par- enquanto um cenário inseri-
te das sementes para os cenários. Não há neces- do em uma campanha de cava-
sidade de relacionar os jogadores ao Tribunal do leiros mercantes.
Supremo Ofício. Inclusive o não cumprimento

287
b TOMO IV b
a
QUE SÃO OS CAVALEIROS MERCANTES?
“Semper Fidelis!” – Lema dos Cavaleiros Mercantes.
A despeito do nome que recebeu por sacerdotes em suas torres intocadas, a Era da Luz mostra-se como um tempo de escuridão das
relações em Belregard. O mundo encontra-se isolado em si mesmo, castelanias ainda atendendo pelo mesmo nome por uma mera
conveniência e costume passado pelas gerações. Reis tentando puxar as cordas de suas cortes, mas sentindo-as se partirem quando
cada homem passa a se considerar mais senhor de si. Tendo apenas a igreja para se voltar, só atendendo aos apelos de união quando
a promessa de uma danação na Alcova Profana, ao invés do regalo da Abóbada Celeste, se faz ouvir da boca lépida de um prelado.

Nesse mundo de caminhos abandonados, até mesmo o comércio luta para manter-se vivo. Antigas casas mercantes encerraram suas
atividades há muito tempo, outras tentaram meios duvidosos para manter o lucro e hoje, contra todas as expectativas, os chamados
Cavaleiros Mercantes se erguem como uma grata visão para os que vivem isolados. Um movimento que iniciou-se na castelania de
Varning, já famosa por sua dedicação ao comércio, tem se espalhado na medida em que os cascos dos cavalos se fazem ouvir em
cantos afastados do mundo civilizado.

Não são nobres, apesar de um ou outro aspirante a cavaleiro real já ter vestido o manto de Mercante, mas gozam de uma certa fama
nas comunidades em que agem. Destemidos, os Cavaleiros Mercantes costumam ser homens livres que, seja por falta de opção ou
aspiração genuína, juntam o que podem para ganhar as estradas e novamente conectar cidades, vilas e reinos. Alguns vagam com
pouco, sozinhos, carregando apenas o que precisam para sobreviver, ou ainda menos, outros andam em bandos, bem equipados e
carregando estandartes.

Não são mercenários, não são simples andarilhos de estrada. Os Cavaleiros Mercantes normalmente trabalham para casas influentes,
ou para monarcas interessados em saber o que pode existir além daquela floresta, ou daquela montanha, a dois, três, quatro dias de
viagem de suas terras. Seriam caçadores de recompensa, caso o termo lhes coubesse.

Existem muitas formas de se tornar um Cavaleiro Mercante, alguns homens livres podem ser contratados por casas que dedicam-se
ao comércio e desejam ampliar sua área de influência. Até mesmo nobres, como algum segundo ou terceiro filho que não herdaria
muito dos pais, pode decidir essa vida quase autônoma no lugar da clausura dos monastérios. Nem todo caso é brando, existem os que
contraem sérias dívidas e acabam sendo forçados a aceitar contratos que mais se assemelham a aceitação da escravidão, coisa que
costuma ser repudiada nas castelanias. O que parece ligar todos estes homens, e mulheres, é o espírito livre, incapaz de se adequar no
mundo monótono e fechado em si por esta era de trevas.

Acredita-se que os cavaleiros mercantes tenham sido inspirados pelas obras de S. Genaro, o Imbatível. Genaro foi um sacerdote do
Tribunal que viveu no período da queda do Império. Ele viu as castelanias ruírem e entregarem-se ao caos. Enquanto todos procuraram
a segurança de suseranos, Genaro convocou aqueles capazes e sem desejar nada em troca prestou serviços a senhores e vassalos,
atravessando territórios em disputa para levar o que os necessitados precisaram e quando era confrontado tentava apelar para o amor
ao Criador e quanto este era negado, fazia valer a força conquistada nos treinamentos diários da abadia de Leoric e logo trazia o
arrependimento aos que se colocavam em seu caminho.

Genaro inspirou muitos e foi canonizado logo após sua morte. As casas mercantes de Varning fizeram uso de sua imagem, clamando
por aqueles corajosos e benevolentes, conseguindo candidatos aos primeiros cavaleiros mercantes que, depois de um voto de pobreza
para lembrar a humildade de Genaro, passaram a servir às casas que continham pelo menos um membro da igreja em seu grupo in-
terno. Uma forma de se ajudarem. A igreja não condena o comércio daqueles que aceitam um dos seus por perto.

Logo a ideia se espalhou e muitas outras castelanias surgiram com um ideal semelhante, como os Cães de Belghor ou os Hussardos de
Rastov. Com uma diferença ou outra em seu recrutamento, mas sempre com o desejo de fazer a diferença no mundo lançado à treva
e com a total dedicação às suas casas mercantes.

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b TOMO IV b
IV. Jogos de corte ples para iniciar um cenário. Parta do local e insira lentamente
Por aqui os jogadores terão intrigas, jogos po- camadas de complexidade às histórias.
líticos e flerte com assuntos notadamente pró-
prios à nobreza ou demais grupos dirigentes de VI. Sobrenatural

castelanias. Não pense que será um jogo sim- Tudo parece um desfile de horror, um cortejo sombrio guiado

ples, uma vez que as traições e manipulações pelos acordes das forças inumanas. Os personagens presenciarão

políticas são recorrentes, como apresentado nos o mal, nu e cru, em carne, osso e além, bem na sua frente. Verão

tomos de Belregard. bestas, monstros, aparições e coisas piores. Presenciarão pessoas


serem mortas das piores formas possíveis. E após tudo isso, se
Uma vez que temos uma sociedade com gran- sobreviverem, quem acreditará?
de clivagem social, espera-se que todos jogado-
Loucura é o caminho mais esperado, mas nem sempre o único.
res tenham justificativas para circular em cortes
Qual será o destino do jogo após um confronto direto, uma uma
de inverno, banquetes e apresentações artísti-
audiência carnal contra as forças da Sombra? O que fará o bravo
cas. Torneios como justas e caças esportivas são
cavaleiro leorista após ter sido amaldiçoado por um Ímpio? Como
atividades igualmente possíveis de ocorrer neste
será continuar após visitar uma Casa de Luz e saber que as ver-
tipo de jogo. Mas não se esqueça que junto aos
dade que conhecia, nada mais são do que manipulações humanas
banquetes refinados podemos presenciar orgias
para encobrirem a verdade? Como lidarão com suas vidas após
que nutrem cultos macabros, envenenamentos
descobrirem que Deus está realmente morto?
e assassinatos frios motivados por vingança ou
apenas crueldade. Afinal, trata-se de Belregard. • E os Arautos?
Entre os tipos de jogos em Belregars, o de Arautos configura
V. Histórias do cotidiano
uma categoria especial. Abaixo estão os ditames básicos para
Vive-se tranquilamente em uma pequena ci-
compreender o papel de um personagem que assume o manto
dade. Um é um pároco da pequena capela ale-
de Arauto dentro do mundo de Belregard. É preciso lembrar: A
cista. Uma verdureira expõe seus produtos em
Sombra realmente venceu, o Arauto é o sinal claro de o dom do
uma barraca móvel. A produção é praticamente
Criador se manteve e, por isso, eles serão caçados.
apenas para a subsistência e todos se conhecem
pelo nome. Aliás, todos se conhecem até de- 1. Os Arautos Originais
mais. Há muitos segredos guardados por aqui. Como apontado no manuscrito e césar, originalmente os Arau-
tos formavam um grupo de 26 seres. Muitos deles são conhecidos
Em histórias do cotidiano teremos cenários
pelo povo, seus nomes são invocados em momentos particulares.
que partirão da rotina de uma pequena vila ou
São os santos celestes, seres de luz que protegem os humanos.
até de Rivienza, a capital cosmopolita de Var-
ning. 2. O que São os Arautos no Jogo?
Arautos são pessoas que despertaram para a verdade do mun-
Mas o que importa é que o tecido narrativo
do. Homens e mulheres que podem ter vindo de qualquer lugar, de
terá a vida de cada protagonista em sua roti-
qualquer condição social e que, depois de sofrerem as três marcas
na como gancho para as histórias. O filho de
semelhantes a do próprio Criador, abriram seus olhos e passaram
alguém teve o pé perfurado por um prego e é
a entender que, de fato, Deus está morto. Ninguém olha pelos
necessário estancar o sangue ou há lobos que
povos de Belregard. A Sombra venceu e lutar contra ela é como
matam as ovelhas são algumas sementes sim-
enfrentar a queda de uma colossal catarata.

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3. Como Acontece? 5. Pra que Serve?
Qualquer pessoa do mundo pode despertar, mas é fato que os Os Arautos são capazes de utilizarem-se de
Arautos são raros. O principal ingrediente desta transformação é sua Bravura para combater a Sombra. Tornam-
que passem pelas três chagas do Criador. Uma marca no Corpo, -se verdadeiros faróis de luz no mundo sombrio.
uma no Ego e outra no Espírito. A Marca do Corpo geralmente Alguns deles podem ser capazes de operar pe-
está relacionada a alguma severa moléstia da carne. A Marca do quenos milagres, coisas que só eram possíveis
Ego pode estar relacionada à vida social do mortal, como quando antes da vinda do Criador ao mundo mortal. No
um nobre perde seu título, um humilde caçador recebe o título de entanto, esta não é uma luta justa. A Sombra
Cabeça de Lobo, ou quando um honrado cavaleiro torna-se um venceu e o que os Arautos podem fazer é ergue-
pária por um crime que não cometeu. Por fim, a Marca do Espírito rem-se como uma última resistência contra os
costuma estar ligada a alguma revelação, descoberta ou mesmo males do pecado. Estes homens e mulheres são
trauma psicológico relacionado a uma das outras duas Marcas.} capazes de sentir a presença da Sombra e assim
podem combatê-la diretamente. Seus discursos
Exemplos de Marcas: inflamados, sejam eles religiosos ou não, costu-
• Da Carne: espancamento, tortura extrema, estupro, aborto mam ser capazes de acender a chama do desejo
forçado, deformações, acidentes, ou seja, vislumbre da morte pelo bem e pela luta contra o Inimigo. Não fal-
através da falência do físico. O sofrimento na carne, nos ossos e tam lendas de Arautos que cumpriram tarefas
no sangue. impossíveis para qualquer outro filho do Pai.
• Do Ego: Humilhação extrema, perda de algo conquistado, in-
6. Qual o Lado Ruim?
justiça, loucura, isolamento, depressão, rebaixamento, afronta,
De imediato, nenhum. Mas o uso constante da
vexame, degradação. O sofrimento no ego, na sociedade e no
Bravura faz com que a Sombra passe a prestar
mundo.
mais atenção no Arauto e, como ela venceu, co-
• Do Espírito: Perda de esperança, fatalidade, o triste fim das meça a esticar seus tentáculos sutis para fazer
coisas, a injustiça do mundo, o carrasco da fé, a testificação do com que o próprio mundo passe a agir contra
mal, o fortalecimento do ceticismo. O sofrimento no espírito, na ele. A Sombra jamais atacaria diretamente. Nem
essência pura, na centelha perfeita e divina. mesmo é possível conceber uma forma física
para a mesma, ela não está em lugar algum, ela
4. O que Muda?
simplesmente é. Sendo assim, o Inimigo é capaz
Não muita coisa, mas o Arauto passa a ver o mundo com outros
de influenciar os outros seres do mundo para
olhos. É preciso lembrar que não existe uma ordem, ou grupo
que atuem contra o Arauto de forma discreta,
apenas de Arautos. Eles estão sozinhos, largados em um mundo
naturalmente. Guardas suspeitam deles, são
escurecido pela Sombra, iluminando a imensidão com uma luz
réus de crimes que não cometeram, criminosos
esperançosa. Nem todos estão dispostos a lutar mas, os que ten-
os consideram presas fáceis, sacerdotes cheiram
tam, percebem logo o peso da derrota. Arautos costumam atrair
a heresia ao seu redor. Como dito, não é uma
pessoas honestas para perto de si. Como a Mentira é uma face
luta justa.
da Sombra, mesmo os mais inocentes enganos são como flertes
para a Sombra. Talvez essa inspiração para a honestidade seja 7. Então ele é um devoto do Único?
capaz de unir Arautos de uma forma inconsciente. Uma coisa é Não. Muitos Arautos nem se quer tinham al-
certa, quanto mais um Arauto se aproxima da sua origem, mais a gum tipo de adoração, ou “pior”, louvaram
Sombra irá caça-lo. adorações antagônicas ao Único. Um Arauto é

290
b TOMO IV b
movido pela Bravura, a força impetuosa que o em um determinado local, mais severa será sua reação contra
lança contra o paredão petrificado que é a Men- aqueles que tentarem acabar com seu poder. O narrador deve dei-
tira. Não é preciso ter fé, crença ou devoção, xar claro que, quanto mais se usa Bravura em um determinado
é preciso ser bravo, duro, resiliente e corajoso local, tendo sucesso ou não, mas a própria natureza do mundo e
para enfrentar a Sombra e seus Ímpios. das pessoas parecem se voltar contra o Arauto. Não é um efeito
escrachado, mas sutil. Pessoas começam a suspeitar do Arauto
8. E as Regras? ou simplesmente recebê-lo de forma rude. Mesmo um amigo, ou
Tornar-se um Arauto é apresentado em regras amante, irritar-se-ia mais facilmente com o usuário da Bravura.
no nosso capítulo seguinte. O personagem pre- Um local onde a Sombra se faz mais poderosa é chamado de
cisa passar pelas três marcas e sobreviver a elas. Ventre Negro e é por ele que toda sorte de corrupção e desgraça
A marca do corpo não pode matá-lo, a da alma nasce para corromper o coração humano.
não pode enlouquecê-lo e a do ego não pode
transformá-lo em alguém absolutamente alheio O Ventre Negro
ao mundo ao seu redor. Passada esta experiên- O Ventre Negro não precisa ser um local físico, mas normal-
cia, que pode ocorrer toda no mesmo momento mente se mostra em algum lugar onde grandes heresias ocor-
ou ao longo da vida, o personagem ganha um reram. Quanto mais profano, maior o poder da Sombra. Caso
ponto em Bravura, que o permite realizar certos um Arauto se utilize de seus dons nestes lugares, ele certamente
feitos, que serão descritos no próximo capítulo, sentirá uma repreensão quase que imediata. Lembrando que a
juntamente com a Bravura. Sombra não age de forma descarada, mas faz com que o próprio
mundo, dominado por ela, faça o Arauto sentir as consequências
• A Bravura dos Homens e dos de seus atos. O Ventre Negro é como uma rachadura na defesa
Arautos do mundo colocada pelo sacrifício do Criador, são locais onde
A Bravura mede a relação do personagem a atuação do inimigo é tão intenso que ela quase se manifesta
com a essência deixada pelo Criador no âmago fisicamente.
de cada mortal. Quanto maior sua sintonia com
o Único, mais o Arauto se sentirá deslocado no • Arquitetura de um cenário
mundo, isso porque ele vê as coisas como real- Aconselhamos que os cenários sejam montados de uma forma
mente são. Bravura representa uma visão am- simples, propiciando a exploração não-linear do mesmo. Para tan-
pliada do mundo, tornando o Arauto capaz da to, ele deve apresentar uma breve ficção, o que se sabe, os pontos
realização de pequenas façanhas, mas expon- de interesse para o grupo de jogo, a verdade por trás dos panos,
do-o aos poderes sombrios. A utilização requer os movimentos, o xeque e as peças em jogo. A metáfora por aqui
cuidado, os efeitos negativos dependem da in- é a de um jogo de xadrez, sendo os diferentes personagens as pe-
tensidade da Sombra em um determinado local. ças e as ações e cenas possíveis os movimentos do jogo.

A Bravura é a principal arma contra a Som- Inicialmente crie uma pequena ficção que apresente, sob o pon-
bra, de modo que em um mundo dominado pelo to de vista de um partícipe da história, a trama central. Um poe-
Inimigo, escurecido por seu manto de Mentira e ma, um sermão de um sacerdote, a fala de uma sábia anciã. Isto
discórdia, um Arauto que se utilize da Bravura deve abrir o cenário, já sendo uma forma de inserir os jogadores
mostra-se como um imenso farol iluminando a no enredo deste cenário.
escuridão e a Sombra não gosta de ser incomo-
dada. Quanto maior for a influência do Inimigo

291
b TOMO IV b
Em o que se sabe, o narrador listará tópicos indicando boatos, Não se preocupe com exemplos de cenários.
repercussões sobre o conflito central do cenário e o que cada O Lampião Game Studio fornecerá vários cená-
facção em jogo tem conhecimento sobre aquele evento. A partir rios gratuitos aos jogadores de Belregard.
disso, ele desenvolverá também em tópicos curtos os pontos de
interesse, ou seja, as prováveis motivações para que os jogado- • Como eu termino?
res estejam lá. É claro que ele pode trabalhar junto aos jogado- Normalmente as campanhas de RPG pos-
res para que isto seja orgânico, sobretudo quando estão em uma suem um telos, um fim. Mas aqui não temos a
campanha. libertação de um reino, a aquisição de honra e
glória ou o salvamento de uma donzela. Ok, isso
A seguir, há uma informação que só ele detém. Em a verdade
pode ocorrer, mas não é a meta do jogo.
por trás dos panos a mentira é retirada de cena e o grande misté-
rio, o motor da corrupção se apresenta. Os jogadores não terão A forma mais comum para o término de uma
acesso a isto, obviamente, mas poderão (ou não) descobrir duran- campanha é a velhice e a morte dos persona-
te o desenvolvimento do cenário. gens. Isso mesmo, algo realmente hodierno. Não
é incomum pensar no final da campanha nar-
Logo a seguir, o narrador lista os movimentos do cenário. Não
rando os últimos dias de um protagonista, que
menos de 3 e não mais de 7 movimentos são suficientes para uma
toma sopa em seu leito sem qualquer lembrança
boa sessão de Belregard. Por movimento entende-se mais do que
de ter dentes em sua boca. Converse com os jo-
uma cena, mas uma situação que é acionada por meio de um gati-
gadores. Assim que eles desejarem fazê-lo, con-
lho narrativo. Por exemplo, o movimento O córrego bravio é acio-
duza sessões que tratem da passagem de tempo
nado caso eles tentem chegar à casa da aldeã que estranhamen-
até o fatídico dia da morte da cada um. A suges-
te decidiu morar sozinha no meio da mata. O movimento indica
tão é que uma sessão seja exclusiva para tratar
realmente o movimento da história, algo que a faz seguir adiante.
disto, inclusive indicando a reação de familiares,
Logo, é necessário haver um conflito narrativo, um obstáculo ou
amigos e dos demais personagens que ainda não
pista em cada movimento. Fora deles, a narrativa é livre e a inter-
morreram.
pretação deve ser estimulada a todo custo. O narrador não deverá
indicar quando um movimento é acionado, e não há necessidade
É possível estabelecer marcos e uma meta
de acionar todos o movimento em um cenário.
final para campanha. Caso sejam cavaleiros

A forma pela qual se desenrolam os movimentos e seus desfe- mercantes, não é incomum pensar que eles tra-

chos possibilitará o acionamento do xeque de um cenário, que é balharão até que não tenham mais disposição

o movimento conclusivo. Por exemplo, em um cenário no qual há física para marchar e não tenham como seguir

um Ventre Negro em crescimento e que durante os movimentos em frente.

não houve a interrupção da fonte da corrupção que o nutre, o


O que queremos dizer com isso? Se Belregard
xeque será a manifestação da Sombra Viva ante os personagens,
é um jogo sobre vidas comuns em um mundo
por exemplo. Ao criar um cenário, construa condições para dife-
decadente, o final de uma campanha não será
rentes xeques, fazendo com que as todas as escolhas tensas dos
épico, porém particular, prosaico e singelo. E a
jogadores sejam significativas. Salvar a criança que está sendo
miserável vida de cada um provavelmente não
afogada pela mãe e interromper o sermão macabro do sacerdote
terá peso nenhum sobre o mundo todo. Exata-
reduzirão o poder que o Ventre Negro possui, fazendo com que
mente isso, você é apenas mais um apunhado
o xeque seja bem distinto do apresentado no exemplo anterior.

292
b TOMO IV b
de carne e ossos que apodrecerá como qualquer • Verdades
um, e seu nome será esquecido, talvez será até Não há verdade em Belregard. Cada tomo foi escrito sobre a
escarnecido pelos seus desafetos. perspectiva de um personagem fictício. Você, narrador, deverá
tomar aquilo não como algo que realmente ocorreu no cenário,
Em outros termos, o final da campanha é sem-
mas como uma versão sobre algo. Há outras? Sim. Durante o pró-
pre um final individual, o fim da jornada, a mor-
prio texto há inúmeras contradições propositalmente criadas a
te de cada um. Encare isso como algo costumei-
fim de que o conceito de cânone inexista nesta obra.
ro, como um elemento que não afetará o mundo,
salvo se realmente algo grande tenha sido feito
Queremos que você e seu grupo de jogo encontrem a sua forma
pelo protagonista que se recolheu.
de vivenciar o podre, o sujo, o perverso, o cruel. Ou seja, a vida
A recomendação inicial é ouvir os jogadores. humana. Não acreditamos em esperança. Não queremos nada
Quando eles acharem que é uma boa hora para além da miséria vivenciada em suas entranhas por meio desta
se recolherem, avance o tempo e narre junto a obra, mas sabemos que vocês poderão particularizar isto tudo,
eles a sessão derradeira, representando o enve- fazendo com que nosso livro seja apenas fonte de inspiração para
lhecimento e morte. Ou ainda, eles podem mor- mente corrompida que vocês possuem. Então pervertam o que
rer em combate, por doenças, etc. Faça com que está aqui, façam a sua própria Belregard. Usem os boatos, criem
o término de uma história seja importante para os próprios para as suas histórias, façam o mundo ser vivo para o
cada jogador. seu grupo de jogo.

Outra forma de fazê-lo é imaginar a campa- Adiante, no próximo capítulo, você conhecerá as regras de
nha com marcos e um tecido narrativo pré-con- Belregard, como criar seus personagens e iniciar um jogo imerso
figurado. Por exemplo, uma campanha se pas- nesse mundo sombrio e brutal.
sará em 10 anos, ou durante 2 monarquias em
Latza. Use esses marcos para estabelecer os sal- Por fim, preste atenção às últimas palavras deste capítulo. Elas

tos temporais e conduzir o término da história serão necessárias para a condução de seus jogos.

criada coletivamente.

Pode parecer estranho este método àqueles TUDO QUE


DISSEMOS
que têm experiência em jogos estruturados ou
É UMA GRAN ATÉ AGORA
com uma grande verdade por detrás dos panos.
DE MENTIR
Porém, este é um jogo hodierno, desesperanço- A.
so e sobre um mundo já fadado ao fracasso. Si- AGORA É A H
ORA DE VOC
mula-se a degeneração e a sobrevivência huma-
Ê CRIAR
na em suas formas singelas e particulares. Não A SUA.
há grandes arcos, motivos para viver ou vilões.
Descobre-se o obstáculo a viver a cada dia e o
dobrar uma esquina pode ser o encontro com
a morte. E ela é o verdadeiro fim da história de Mas como eu Começo a Mentir?
seu personagem, provavelmente em uma cova
rasa e sem honrarias. Afinal, deus está morto Calma, vamos te ajudar…
em Belregard.

293
b TOMO IV b
“Padre, eu pequei...” Tabela 1 - Provação
Aqui falaremos sobre uma espécie de criação orgânica de per- 1 - Ira
sonagem em Belregard, utilizando um cenário base, padrão, coti- 2 - Luxúria
diano da vida nesse medievo precário, para lançar a orientações 3 - Avareza
gerais na direção que esse personagem deve ser construído. Ba- 4 - Inveja
sicamente é um método que não necessita de regras específicas 5 - Gula
voltadas para qualquer sistema, firmando-se principalmente em 6 - Role de novo
perguntas e respostas. Apesar disso, como parte do desenvol-
Deixe o jogador escolher, ou role na sorte,
vimento do Belregard, vou utilizar o Crônicas RPG como base
qual das Provações o tentou e, desse modo, o
quando precisar fazer algum apontamento de regras como exem-
padre deve pedir para que ele conte como foi o
plo.
acontecido. Aqui nós assumimos um flashback.
Nesse flashback, o jogador irá narrar o que
Começando
ocorreu com ele no momento em que pecou. Es-
Tudo começa de forma bem simples. Junte seus jogadores na
timule a participação de outros jogadores, como
mesa e deixe que cada um escolha apenas o básico, uma etnia,
coadjuvantes envolvidos na cena. Dê algum tipo
um nome (importante ter algumas opções disponíveis. Os nomes
de recompensa, como um ponto de experiência
de Belregard possuem referências fáceis de italiano, latim, fran-
pela participação colaborativa na criação do
cês, russo e etc), talvez uma ocupação, um trabalho, algo com o
drama daquela cena em questão, acrescentando
que ganha a vida, ou sobrevive, além da idade. A castelania não é
elementos, participando do momento.
importante nesse momento, se tudo der certo vocês conseguirão
criar um cenário base, inicial, depois dessa sessão prévia de jogo. Talvez ela seja um jovem guloso que não guar-
dou a lavagem para os irmãos mais novos, que
Desse modo, podemos fechar a preparação da seguinte forma: estão péssimos de saúde, ou ela tenha quebrado
a espada de treino na cabeça de outra escudeira
Um nome
num ataque de ira, ou ainda seja uma parteira
Uma etnia
que deixou um bebê morrer, invejosa da ferti-
Uma ocupação/ofício
lidade da mãe, já que ela mesma não pode ter
Idade
filhos. Ideias pesadas? Imorais? É pra ser mes-
Um ficha de personagem
mo. Mas não se esqueça, só você, enquanto nar-

Confissão radora, conhece o seu grupo e com isso deve

O processo se inicia com a fala que saber dosar as ideias, dizer até onde vai o limite.

da nome ao artigo. Escolha um dos O jogo pesado, denso, ainda deve ser agradável

jogadores, tire na sorte, e inicie com para todos.

ele no confessionário, revelando seus Tome nota de todas as contribuições, afinal de


pecados para o padre local. Esse jo- contas, de forma orgânica, locais e personagens
gador será o JOGADOR FOCO do serão criados nesse momento. Se seus jogadores
momento, e este processo se repetirá com estiverem com dificuldade para imaginar uma
cada um deles. A Provação (como chamamos cena envolvendo um pecado, você pode tentar
os pecados em Belregard) pode ser representa- usar alguma geração aleatória, rolando um dado
da por um dos cinco pecados: para decidir o ambiente da cena, algo como:

294
b TOMO IV b
Tabela 2 - Local da Cena 29 - Podridão
1 - A própria casa com a família 30 - Dúvida
2 - Casa de outros como visita/invasor 31 - Mentira
3 - Trabalho 32 - Sobrevivência
4 - Lazer 33 - Dor
5 - Igreja 34 - Excrementos
6 - Local público (uma feira, um pronuncia- 35 - Sexo
mento, um julgamento, uma execução, etc) 36 - Melancolia

Ainda está ruim de ter ideias? Bom, pense em Exemplo: Digamos que aquela escudeira que teve um ataque
palavras chave que transmitem o sentimento de ira no meio do treino rolou e caiu: Sangue, Insegurança e
de Belregard, vamos te ajudar nisso. Role 6d6 Brutalidade. Fica fácil de associar. O personagem FOCO, em seu
três vezes, anotando as palavras que foram sor- treinamento, inseguro de suas próprias capacidades, frustrado,
teadas, utilize-as como um norte para orientar se deixou levar pela raiva e eliminou um concorrente para o car-
aquela cena. go de cavaleiro, matando seu parceiro de treino com pauladas,
rachando-lhe a cabeça.
Tabela 3 - Palavra-chave para a constru-
ção da Cena
Perceba que, na descrição do pecado, é provável que algumas
6 - Tristeza
possíveis habilidades de seu personagem sejam citadas, como a
7 - Crueldade humana
luta do exemplo acima. É interessante, então, que esse persona-
8 - Escolhas difíceis
gem tenha alguma habilidade com manejo de armas, talvez até
9 - Fetiches
uma Fraqueza que reflita essa entrega ao ódio e sanguinolência.
10 - Doença
Estes traços devem ser marcados na ficha, ajudando o jogador a
11 - Fé
perceber quais serão os pontos fortes e fracos de seu persona-
12 - Melancolia
gem.
13 - Sujeira
14 - Sofrimento
É importante lembrar que a cena deve acontecer de modo rá-
15 - Violência
pido, sucinto e direto. Conte como se conta um sonho, sem muito
16 - Deturpação
detalhes, focando-se no que é importante. É importante que o
17 - Corrupção
processo não seja enfadonho. Outro ponto importante é motivar
18 - Loucura
que os jogadores cruzem suas cenas, colocando personagens não
19 - Sangue
jogadores criados antes nas cenas de outros, de modo a já criar
20 - Traição
uma interação, mesmo que indireta, entre eles.
21 - Umidade
22 - Insegurança As cenas de foco terminam quando o pecado é explicado e o
23 - Etiqueta padre pode ponderar sobre a punição, sobre a forma como este
24 - Prazer pecador deve expiar sua corrupção, o que geralmente pode vir na
25 - Brutalidade forma de orações e algum tipo de pagamento, seja em moedas
26 - Sombras ou bens, para ajudar a paróquia e garantir um lugar na Abóbada
27 - Névoa Celeste. Mas quem é esse padre?
28 - Ocultismo

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b TOMO IV b
Confissão quezas que poderiam ajudar a população. Ou,
O padre deste exercício é um reflexo da vida em Belregard. Por ainda, o padre fique atento aos funerais e roube
mais que as pessoas venham de setembro lo povos e castelanias sepulturas frescas, quando percebe algo de va-
diferentes, a religião é a argamassa que une a todos. Dessa forma, lor sendo enterrado com o defunto.
é o padre desta criação de personagens que vai unir os mesmos,
Inveja: Através das confissões, o padre se tor-
ele é o centro da comunidade, que conhece os segredos de todas
na ciente das posses e dos feitos de outras pes-
as pessoas. Dessa forma, é importante descobrir quem é esse
soas, isso o torna um verdadeiro destruidor de
homem. Ele é um padre bom? Uma pessoa boa que realmente
vidas. Motivado pela inveja, pelo ciúme da aten-
se preocupa com os demais? Ele fofoca sobre o que lhe contam?
ção dada aos outros, ele pode iniciar as fofocas
Ou guarda segredos? Não precisamos definir tudo isso, o impor-
para arruinar a vida de alguém, quem sabe até
tante aqui é que o padre da cidadezinha dos personagens é um
de um dos personagens.
homem falho. Ele tem seus próprios pecados e é com as falhas
deste homem que iniciamos uma história baseada nessa criação
Gula: O padre é egoísta, ele quer sempre mais.
de personagem.
Seja a gula direta, da comida ou da bebida, seja
A única coisa que precisamos saber é: Qual o pecado do padre? da carência por atenção. Ele pode exigir entre-
gas mensais de alimento em seus depósitos, para
Você pode rolar novamente na Tabela 1, como fez para os per- que as bênçãos sobre a vila continuem. Ele pode
sonagens e com base no pecado, criar uma cena inicial em que promover banquetes aos miseráveis, onde serve
algo coloca este homem em risco, ou ele mesmo é o risco, e não apenas pão e água, enquanto ele mesmo come
deixe de utilizar o que já foi apresentado, seja com as localidades carnes e bebe vinhos. Prefere deixar os grãos
(Tabela 2) ou com as palavras (Tabela 3) que transmitem o senti- mofarem em seu depósito, para depois servir.
mento. Aqui, na cena do padre, nós teremos uma criação conjunta
de todos os personagens elaborando o problema em questão. O problema com o padre servirá como pon-
tapé para o jogo, criando uma primeira cena,
Abaixo alguns exemplos, utilizando apenas a Provação (o pilar
seja ela de fuga, de caçada ou de combate, co-
central dessa cena) como base:
locando os personagens juntos e, normalmente,
Ira: Durante uma pregação fervorosa o sacerdote pode ter incu- prontos para antagonizar o padre. Os desdobra-
tido ira e revolta nos moradores, talvez contando sobre o segredo mentos disso podem ser muitos e desse ponto
de algum morador (quiçá personagem) e a turba deseja punição. em diante foge ao nosso controle de previsão.
Ou ele mesmo, num ritual de purificação, um exorcismo caseiro,
Nessa altura, deixe que os jogadores termi-
tenha gerado a morte de um morador.
nem as fichas e com base no que foi apresenta-
Luxúria: O padre pode ter descoberto sobre as orgias que os do em todas as cenas, vocês podem escolher em
nobres fazem, ou pode ter sido ele mesmo flagrado enquanto que castelania se localiza este lugar.
realizava algumas bênçãos especiais na juventude local. Os pra-
ticantes, em ambos os exemplos, podem estar relacionados aos
CADA VILA É UM MUNDO
personagens.
Onde houver dois ou mais, ali há uma histó-
Avareza: Pode-se descobrir que a igreja guarda algumas rique- ria de Belregard. Cremos que na maior parte do
zas, presentes de nobres que eventualmente visitam o local. Ri- tempo, não se faz necessário mais do que uma

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b TOMO IV b
vila para se contar uma grande história. Tramas Desenhe um rascunho simples de um vila, uma igreja, uma pra-
gigantescas são incríveis, sabemos disso, mas ça, e assim por diante. Aqui é hora de fazer algumas perguntas
cremos que a melhor isca para fisgar àqueles provocativas e construir o mundo com base nas respostas. Esco-
que querem entender o clima de Belregard, seja lha um dos jogadores e pergunte “Onde você mora nessa vila?”
o jogo interiorano e íntimo. Escreva seu nome a lápis no local apropriado. Então, próximo a
ele, escreva um nome inventado e faça uma pergunta instigante, a
A vida é o palco da desgraça e o ser huma- pergunta irá desencadear novas possibilidades, pense bem sobre
no é a estrela principal. Pensando nisso, apre- ela: “O que você fez ao ouvir o vizinho espancando sua esposa
sentamos um modo de jogo focado no micro, semana passada?”, essa é uma pergunta que impõe um fato sobre
na desgraça da vida cotidiana de um pequeno o jogo. O Mestre disse que ele o fez, não há como voltar atrás,
assentamento, aquele tipo de lugar onde todos apenas adicionar mais informações, mas não negá-la.
se conhecem e seus segredos não ficam escon-
didos. Um lugar onde viagens são menos impor- “O que seu vizinho faz que lhe irrita?”, do mesmo modo, existe
tantes, onde a graça do jogo é viver os dilemas algo que irrita o personagem, mas o que é?
dos relacionamentos humanos.
“Me fale sobre algo interessante do seu vizinho”, aqui podemos
Então, na primeira sessão vocês devem ras- deixar a coisa leve ou “me fale algo podre sobre o passado do
cunhar um MAPA DE ASSENTAMENTO, algo seu vizinho”, aqui já dizemos novamente um fato imposto, mas
simples, apenas pra dizer onde ficam as princi- o que será?
pais residências. A casa da autoridade (burgo-
“Como você lida com o fato do seu pai ter matado o filho do
mestre, barão e etc), a casa da justica (delega-
vizinho numa briga de taverna” aqui, mais uma vez, impomos um
cia, casa de guarda e etc), armazém, ferreiro,
fato e é dever do jogador continuar a criação a partir daí
taverna e assim por diante. A função de cons-
truir esse mapa é permitir que colaborativamen-
Tão importante quanto, mas com uso mais comedido, estão a
te os jogadores construam o lugar onde vivem,
perguntas que impõe algo sobre a atitude ou pensamento do per-
afinal, seus personagens vivem ali e conhecem
sonagem do jogador… “Porque você tem medo do açougueiro?”,
muito dos pobres locais. Não se intimide e deixe
“que evento trágico envolve sua infância e a paróquia local?”,
seus jogadores assumirem lugares de destaque
“Qual o nome do amigo que morreu por sua culpa de modo aci-
dentro da vila, dentro da morada, deixe que eles
dental?” Essas perguntas servem principalmente para um início
sejam o mestre pedreiro local, ou até mesmo
de trama, pois guiam para um determinado local.
o herdeiro do duque, veja estas questões como
motores para criar intrigas internas e pequenas, Digamos que um jogo irá iniciar sobre o mistério do desapa-
que vão fazer aquele microcosmo se tornar ver- recimento de uma jovem garota, perguntas como “O que vc fez
dadeiramente vivo. Para facilitar, talvez seja in- quando ouviu seus gritos?”, “porque você costumava segui-la?”,
teressante acordar com todos que eles poderão “por quais motivos você poderia ser um suspeito?” podem ser
vir apenas da mesma casta social, sendo todos perfeitas. Mas cuidado, uma pergunta abre mil novas respostas
da igreja, da nobreza ou da plebe. Misturar são e a forma de perguntar lhe ajudará a guiar para um determinado
interessantes, mas não se intimide nem se sinta caminho ou não.
forçado.

297
b TOMO IV b
Mesmo sendo tentado a tal, nem todas as perguntas devem ser a virgindade com você e você não quis assumir
sombrias e macabras, existe muito mais da Sombra no corriqueiro um namoro...)
do que nos tambores nas entranhas selvagens. Olhe a ficha dos Sobre fofocas e reputação (Por que seu vizi-
jogadores, caso algum deles saiba forjar armas, pergunte “Onde nho se acovardou e evitou brigar por sua honra?
fica o ferreiro que lhe ensinou? Ainda é o mesmo mestre? Qual É verdade que seu pai deve muito aos ciganos?)
foi o preço disso?” Sobre eventos (Por que você não foi convida-
do para o baile na casa do nobre? O que você
Siga com as perguntas… viu minutos antes do seu amigo morrer afogado
no lago?)
Por que Isaack não tem ajudado sua família na colheita?
O que fez Burlog ser preso semana passada? Sobre sobrenatural (Por que seu pai não lhe
Os rumores que falam de Ilga são verdadeiros? O que seu perso- deixou ver o feto morto de seu irmão? Fale-me
nagem ouviu? sobre quando você ficou dias perdido na flores-
ta, mas para todos parecia apenas umas horas).
Lembrando que as perguntas misturam o processo entre perso-
nagem e jogador. Algumas respostas seu personagem pode saber, Com estas questões sua vila terá muito mais
outras são apenas obra da mente maquiavélica do seu jogador. vida e uma própria lógica interna. Vale lembrar
Não quer dizer que o jogador criou que sua vizinha é uma bruxa que isso não vale apenas para vilarejos. Você
em redenção após ter raptado e devorado bebês, que seu perso- pode aplicar essa técnica em fortalezas, guildas
nagem sabe sobre esse detalhes. Essa criação de jogo compar- de mercadores, de ladrões, seitas secretas e cul-
tilhada faz com que o seu grupo de jogo seja tão dono daquela tos obscuros, mesmo dentro de uma paróquia,
vila quanto você. Sabemos que isso pode ser intimidador, sair da um monastério isolado.
zona de conforto tradicional como narrador e abrir a sua “caixa
de ferramentas” desse jeito, mas saiba que é muito gratificante Como dissemos, onde dois ou mais estiverem
ver que, durante o andamento da sessão, seus jogadores estarão reunidos, ali estarão as origens de Belregard.
muito mais interessados nos personagens do narrador que numa
sessão comum. Eles conhecem aquelas pessoas de verdade, eles O Método mais Rápido
criaram aquelas pessoas. Existem muitos modos de se preparar para
começar a jogar. Quando vamos iniciar uma
Uma dica de outros jogos que usam pergnutas como força mo-
campanha principalmente, pensamos mil vezes
triz: quando receber perguntas, abstenha do poder de respodê-las
sobre os detalhes, queremos fazer dessa histó-
e devolva-as.
ria algo memorável. Entretanto, não é o preparo
Se jogador lhe pergunta “O governante da vila é um homem um fator determinante de qualidade e imersão,
corrupto?”, devolva a pergunta para o mesmo jogador, ou para as vezes queremos simplesmente começar um
outro, e deixem que eles decidam a resposta. jogo. Simplesmente colocar as coisas para acon-
tecer, pensando nisso, apresentamos o Método
Para facilitar, vamos pensar em categoria de perguntas mais Rápido.

Sobre sua moradia (Onde fica sua casa, quais lembranças você Pensando em colocar as coisas para ferver,
possui daqui, quando se mudaram...) apresentaremos o modelo chamado de O Even-
Sobre amor e sexo (Você gosta de alguém, quem aqui perdeu to, A Luta e A Sombra.

298
b TOMO IV b
Para isso, inicie seu jogo com um evento so- Caso ache interessante, use a tabela do método “Padre, Eu Pe-
cial. Seja uma festa de estação, festas religiosas, quei” para criar o evento, determinando o local, qual a provação
celebração de casamento ou nascimento, qual- em evidência e qual a palavra que poderá se interligar à Sombra.
quer tipo de evento onde se reúnem duas dúzias
Então, em um determinado momento algo irá acontecer. Não
de pessoas já é algo válido.
tenha isso escrito em pedra. Deixe que o jogo lhe dite quais
dos personagens criados será o estopim. Talvez a amante faça
Crie três ou quatro rostos dentro desse even-
um escândalo social, falando de sua gravidez. Quem sabe seu
to. Pode ser o anfitrião, um rival invejoso, um
rival ofenda-o a níveis ridículos, deixando todos desconcertados,
assassino e uma amante… Ou seja, criamos
exigindo retratação. O assassino faz uma nova vítima, gritos e
um personagem central e três antagonistas a
sangue no meio do salão, uma punhalada ou veneno, o que será
ele, Apenas um simples exemplo. Deixem os
feito?
personagens participarem do evento, interagi-
rem com os personagens criados previamente. Por último, encerre isso com um evento sobrenatural. Seria
Foque suas interações neles, afinal, queremos o possível ver a Sombra dominando a mente de tais vis homens?
Método Mais Rápido. Você pode utilizar a lógica Tomado pela loucura e vergonha o anfitrião manda que a mulher
das perguntas apresentadas no “Cada Vila é um seja retirada da festa e ela amaldiçoa-o enquanto é arrastada?
Mundo” para atrelar os personagens diretamen- O sangue do morto escorre pelo chão e forma um caractere na
te com estes rostos que estarão em destaque na Fala Negra de Belghor? O rival pode manifestar uma possessão,
cena. revelando um segredo obscuro de cada pessoa presente naquele
local, o que provoca uma fúria geral de todos os presentes?
“Porque o anfitrião manda comida para vocês
Pronto. Já temos um belo início para seu jogo. Somente depois
quando as coisas ficam difíceis desde que seu
disso, junte tudo que ouviu e aconteceu, então prepare-se para
pai morreu?”
mais histórias.

299
b TOMO IV b

300
b TOMO V b
TOMO IV

O sistema
de Regras
este capítulo apresentaremos as tenta, por exemplo, passar despercebido por um guarda, é uma
adaptações de Belregard para ação que envolve outro personagem, um elemento de reação, por
o sistema Crônicas RPG. Com isso um teste se faz necessário.
base no que for apresentado
neste capítulo será possível criar personagens Fazendo Testes: Os testes funcionam de forma muito simples,

e jogar boas partidas sem a necessidade do li- eles assumem por base a soma de um Atributo e uma Espe-
vro básico de Crônicas, mas é inegável que ele cialização. No caso, possivelmente utilizaríamos Furtividade
acrescentará muito à sua experiência de jogo. (Atributo) + Esgueirar (Especialização). Suponhamos que, no
exemplo, o personagem em questão tenha Furtividade 2 e Es-
Crônicas RPG é um jogo de interpretação gueirar 2, nesse caso, ele possui então 4 dados para lançar na sua
onde você ou um amigo assume o papel de jogada para tentar passar pelo guarda.
narrador para contar uma história de fantasia
medieval. Nele, cada jogador participa interpre- Passei no Teste?: O sistema Crônicas utiliza a lógica dos Su-
tando um dos heróis dessa trama, reagindo em cessos para determinar se seu personagem conseguiu ou não
nome de seu personagem ao que lhe for descrito atingir o objetivo. Quanto maior o número de sucessos em um
em jogo e tomando a iniciativa em nome dele, teste, melhor você executou aquela tarefa. O que determina cada
para que o narrador possa dizer o que acontece sucesso, é o valor dos dados. Para cada dado que resultou em um
em seguida, às vezes pedindo testes com o rola- valor de 4, 5 ou 6, é considerado um sucesso. No nosso exemplo
mento de um ou mais dados. Desta forma, todo acima, com nosso personagem tentando se esgueirar com seus 4
o grupo de jogo participará no desenvolvimento dados, ele os lança e, suponhamos, consegue um 4, 5, 3 e 1. Nessa
das aventuras que acontecerão a cada sessão. rolagem, dois dos valores foram acima de 3, logo, ele teve dois
sucessos. Como este é um teste que depende da reação de outro
Entendendo o Básico: personagem, o guarda (possivelmente controlado pelo narrador),
Antes de falarmos sobre a criação de histó-
rolaria o seu próprio teste de Percepção (Atributo) + Ouvir (Es-
rias e personagens, vamos entender o básico do
pecialização), caso ele tenha um número de sucessos maior que
sistema Crônicas. A lógica aqui é muito simples.
2 (os sucessos do nosso esgueirador), o guarda o escuta e a cena
Testes são pedidos pelo narrador sempre que al-
desenrola no flagrante.
guma coisa estiver em jogo. Se um personagem

301
b TOMO IV b
Esse é o básico. Existem algumas regras avançadas, quando A Ficha de Crônica:
falamos sobre Combate, a Escaramuça, os Trunfos nos dados, O primeiro passo para embarcar no sistema
mas tudo isso será explicado abaixo, acima você pegou a espinha Crônicas em Belregard é o narrador cumprir
dorsal do sistema. Some Atributo com Especialização e faça a o seu papel na Ficha de Crônica. A ficha ser-
rolagem, cada resultado acima de 3, é um sucesso. Simples! ve como orientação aos jogadores daquilo que
encaixa ou não na história a ser contada. Ela
Existem, basicamente, três tipos de “pessoas” em uma aven-
facilita o início do jogo, quando o narrador já
tura de Crônicas:
apresenta a todos o enredo base, o ponto de
• Protagonistas: Personagens jogadores partida, de modo que cada um pode relacio-
• Coadjuvantes: Personagens menores controlados pelo narra- nar seu personagem a este contexto, evitando
dor (guardas de cidade, mercadores simples, camponeses singe- uniões forçadas. Como Belregard é um cenário
los etc). aberto, que embarca uma pluralidade imensa de
• Antagonistas: Personagens controlados pelo narrador que histórias, é fácil se perder nas criações de perso-
podem se equiparar aos personagens protagonistas em poder e nagens. Falaremos sobre maneiras de criar jogos
influência. conjuntamente com os jogadores, mas um modo
tradicional de jogo, utilizaria uma proposta
trazida pelo narrador, desse modo a ficha
de Crônica ajuda o grupo a saber, mais ou
menos, o que esperar. Por exemplo, talvez
o narrador esteja disposto a criar uma Crô-
nica que gira em torno da corrupção da
igreja, com personagens envolvidos com o
clero. Se ele não compartilha isso com seus
jogadores, é capaz dele ter um mercador,
um soldado, um ferreiro e um mendigo pra
encaixar nesse contexto. Pode até funcio-
nar, mas a ficha ajuda a mostrar a proposta!
A seguir veremos como a construção da fi-
cha deve ser feita em Belregard.

Passo 1: Estrutura
Deixe para pensar no nome da Crônica
mais tarde, ele é muito importante para ser
decidido assim tão rápido.

Mundo: Belregard

Formato: Linguagem (Conto, Filme, Sé-


rie, Livro ou Saga. A linguagem serve como
planejamento do narrador. Ele pretende um

302
b TOMO IV b
jogo de uma só sessão, um conto, ou algo mais dos os jogadores devem prestar atenção à eles durante a criação
longo como uma saga?) + Nível de Poder (Para de seus heróis.
Belregard costumamos considerar apenas o ní-
vel Dramático, que dá a todos os personagens Desafios Secundários: Os jogadores devem distribuir a aten-

um bônus de 30 em XP na criação do persona- ção para estes desafios entre si (veja abaixo), para que seus heróis

gem). possam se destacar em momentos distintos da narrativa.

Estilo: Idade das Trevas. Tipos de Desafios: Batalha, Escaramuça, Exorcismo, Explo-
ração, Infiltração, Investigação, Jogo, Jornada, Navegação, Ne-
Magia: Subjetiva (No caso de preferir utilizar gociação, Perseguição, Politicagem, Regência, Ritual e Torneio.
apenas os Poderes que dependem mais da cren- Estes desafios serão explicados abaixo, em regras resumidas, com
ça que de uma real magia) ou Incomum (Quan- o desafio Escaramuça recebendo uma maior atenção, os demais
do se pretende uma campanha com Arautos, podem ser explorados de forma simplificada ou, se for do intento
deixando a magia real, ainda que sutil). do narrador, pode consultar o livro básico do Crônicas RPG para
maiores detalhes sobre eles. Ressaltando que, o apresentado aqui
Passo 2: Perigos é o bastante. Alguns desafios foram deixados de fora dos resumos
Essas três informações são extremamente va- porque estes resumos insuficientes para uma boa explicação dos
liosas, pois vão orientar os jogadores a construí- mesmos, assim, foi melhor tirar pra não gerar dúvidas.
rem seus personagens para aquela história em
particular. Passo 3: Aliados e Inimigos
Por mais que seja possível fragmentar e esmiuçar as facções
Trama Inicial: Resumo em uma frase sobre
de qualquer disputa política, normalmente se começa separando
a tensão que introduz os jogadores à narrativa e
simplesmente “nós” e “eles”.
amarra inicialmente a história.
Aliança: A causa comum que une os heróis na busca dos mes-
Desafios: Os Desafios representam um con-
mos objetivos. Pode ser um nome dado ao grupo, uma organiza-
ceito dentro de Crônicas, são possíveis temas
ção ou facção influente, uma demanda profetizada por um líder
de conflito que serão enfrentados em seu jogo.
respeitado, um objetivo que compartilham ou qualquer outra coi-
A função deles é evitar que você prepare uma
sa que esclareça porque os heróis estão juntos.
aventura de navegação e acabe com persona-
gens jogadores que não sabem nem nadar. Cada Ameaças: Resumo em uma frase com as fontes de perigo que
um dos Desafios pode ser trabalhado de forma a Aliança pode enfrentar na história, muitas vezes listando dife-
detalhada, neste livro apresentaremos resumos rentes grupos que podem oferecer risco à Aliança.
para soluções rápidas envolvendo-os, assim
como os Desafios de Combate Mental (Jogo) e
Social (Negociação) serão resumidos. Se quiser
Passo 4: Cultura
São as forças mais influentes na região onde a Crônica se passa.
aprofundar, você pode consultar o livro de Crô-
Elas ditam o comportamento típico de diversos grupos. A cultura
nicas RPG.
ajuda a explicar o cenário macro da história e as grandes causas
Desafios Primários: São os desafios (veja que a moldaram nos últimos séculos.
abaixo) que mais recorrentes na narrativa. To-

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b TOMO IV b
Instituições: São os pilares culturais que sustentam a socie- Passo 9: Particularidades
dade. Grupos tão gigantescos que diversas facções menores di- O narrador pode definir alguns detalhes es-
vergem entre si (mesmo que jamais diante dos outros) sobre os pecíficos importantes para delinear o seu jogo,
rumos tomados. mas nem todas elas precisam aparecer na Ficha
de Crônica.
Povos: São as culturas que os jogadores podem escolher para
seus personagens, mesmo que possam existir várias outras na- Bônus: Em algumas crônicas o narrador pode
quele cenário ou restrições, algo bem específico. oferecer vantagens adicionais para os protago-
nistas. Qualquer que seja o Bônus, deve ser o
Passo 5: Protagonistas mesmo para todos os heróis.
Os tipos de personagens que os jogadores poderão escolher
Período: Definição sobre o período histórico
para criar seus heróis. Cada jogador deve escolher um arquétipo
ou equivalente da Crônica.
e construir seu protagonista em cima desta ideia.
Poderes: Habilidades sobrenaturais permiti-
Passo 6: Coadjuvantes e Antagonistas das na história na forma das Virtudes, Dádivas,
Para evitar o acúmulo desnecessário de nomes, serão desta- Poderes e Ritualista.
cados apenas os coadjuvantes e antagonistas mais importantes,
Regra: Caso queira modificar ou acrescentar
especialmente os que servem de referência para uma instituição
algo específico.
ou organização importante na crônica. Uma linha apenas é sufi-
ciente para cada personagem listado. Restrições: Impedimentos esclarecidos que
os jogadores devem obedecer na criação de seus
Passo 7: Organizações heróis.
Toda sociedade é governada por grupos de influência. Para aju-
Reputação: Restrição de protagonistas com
dar os jogadores a se lembrarem quais são, o narrador apresenta
um certo valor de Reputação (Status e Recursos
as organizações mais relevantes no início da história, mesmo que
iniciais).
elas percam importância ao longo da Crônica e sejam substituí-
das por outras.
A seguir você pode conferir uma ficha de Crô-
nica do cenário de Belregard, utilizando o Riso
Passo 8: Passado Recente sob Asas Ancestrais como exemplo.
O narrador precisa anotar os acontecimentos recentes mais
Este cenário, presente no nosso site (catarse.
relevantes para a Crônica. Por aqui os jogadores vão se inteirar
me/belregard), pode ser baixada gratuitamente.
mais rapidamente sobre o que é preciso saber no começo do jogo,
geralmente com uma explicação um pouco mais elaborada sobre
a Trama Inicial e outros elementos presentes na Ficha de Crônica.
Não existe uma forma única de definir o passado recente, pois ele
pode ser apresentado num único texto ou na listagem de diversos
acontecimentos distintos.

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b TOMO IV b
Criação de Personagem ou penalidades aos jogadores. Algumas, como
Aqui você acompanhará o procedimento para a criação de per- o sacerdócio, terão requisitos. Linhas gerais de
sonagem. Ocupações são apresentadas abaixo, na Posição
Social, junto de seu Recurso inicial.
Nome: O nome do personagem deve estar de acordo com a
etnia escolhida pelo jogador. Alguns exemplos de nomes estão Aparência: adjetivo que melhor descreve o
disponíveis no segundo capítulo do primeiro livro de Belregard, personagem.
junto de uma descrição de cada um dos povos mais comuns deste
Posição Social: Definida pelo narrador a
mundo.
partir da Ocupação. Miserável 0, Artista 1, Vas-
Etnia: Dentro do segundo capítulo do primeiro livro você salo 2, Comerciante 2, Guerreiro 2, Sacerdote 3,
encontrará informações sobre os povos de Belregard, e poderá Comandante 3, Nobre 4, Lorde 5 e Monarca 6
escolher aquele que mais atende ao que você procura em um (ver Reputação).
personagem. As regras para cada um destes povos estão apre-
Morada: Comunidade ou região onde vive
sentadas aqui. O que seu personagem recebe por escolher algu-
atualmente, onde os locais o conhecem e exis-
ma etnia é uma lista de comportamentos que ele deve selecionar
tem laços que o prendem ali.
para colocar em sua ficha. Dos cinco comportamentos que um
personagem deve ter, você deve escolher um das listas abaixo, Patrono: Personagem que governa a Morada,
completando os outros com algo de sua criação. No caso de esco- a quem se deve respeito e obediência. Definido
lher uma etnia menor, também apontada no capítulo supracitado, pelo narrador.
esse jogador pode misturar comportamentos de uma ou mais
etnia, como o próprio texto original aponta. Lealdade: Indivíduo, organização ou institui-
ção a quem tem um compromisso de confiança.
ETNIA COMPORTAMENTO (ESCOLHER 1)
Belghos Moralista, Autoritário, Tradicionalista, Devoção: Divindade, instituição ou organiza-
Pessimista ou Versátil ção religiosa ao qual o personagem está alinha-
Dalanos Criativo, Apaixonado, Vaidoso, Per feccionista do no começo da Crônica.
ou Manipulador.
Idade: Faixa etária do personagem no come-
Igslavos Rude, Moralista, Justiceiro, Confiante ou
ço da crônica. Define XP, Elã e algumas Fraque-
Fraternal.
zas iniciais.
Parlos Calmo, Otimista, Avarento, Teimoso ou Gentil.
• Criança (até 10 anos): 50 XP + Elã 6 + Fede-
Vihs Grosseiro, Sobrevivente, Independente,
lho e Infantil.
Rancoroso ou Desapegado.
• Adolescente (11 a 14 anos): 150 XP + Elã 5
+ Fedelho.
Ocupação: Hora de escolher a ocupação, o trabalho, o con-
• Jovem (15 a 20 anos): 250 XP + Elã 4.
ceito do personagem. Normalmente as ocupações disponíveis
• Adulto (21 a 30 anos): 300 XP + Elã 3.
para aquela sessão de jogo ou campanha estarão apresentadas
• Meia Idade (31 a 40 anos): 350 XP + Elã 2 +
na Ficha de Crônicas, tornando mais fácil a escolha de algo den-
Decrepitude 2.
tro do contexto direto para o jogo. É importante lembrar que as
• Velho (41 a 60 anos): 400 XP + Elã 1 + De-
ocupações servem apenas como um “norte” a ser seguido, não
crepitude 4.
exatamente um conjunto de regras restritas que concedem bônus

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• Venerável (61+ anos): 450 XP + Elã 0 + De- Daqui você deve ter escolhidos três deles vindos de sua etnia e as-
crepitude 8 e Matusalém. sim criar os outros dois restantes. O Comportamento deve servir
como um norte para o seu personagem, o narrador pode cobrar
Investimentos em XP: O jogador deve se- uma certa reação com base nos comportamentos do persona-
parar os pontos que já foram investidos dos que gem, recompensá-lo com XP quando fizer bom uso dos mesmos.
ainda não foram gastos.
Histórico: Define sua identidade, passado e personalidade.
XP Inicial: Criança 100, Adolescente 150, Uma frase para cada Nível de Idade.
Jovem 250, Adulto 300, Meia Idade 350, Velho
400 e Venerável 450. Combate: Os valores (In/Def/Ab/Vi) seguem abaixo. O comba-
te em si será explicado mais adiante:
Bônus de Crônica: Dramática +30XP. Físico (Escaramuça)
• Iniciativa Física: Agilidade
Gastando XP: Os custos abaixo são para a
• Defesa Física: [Agilidade + Manejo] / 3*
criação e o desenvolvimento de personagens,
• Absorção Física: Armadura
inclusive no meio de uma sessão.
• Vigor Físico: Resistência
Atributos: O valor inicial de todo Atributo é * Esses valores são sempre arredondados para baixo, com míni-
2, e cada +1 num Atributo custa 30 XP. mo de 1 (um).

Especializações: O valor inicial de toda Es- Reputação: Os pontos iniciais de Elã são definidos pela Idade e
pecialização é zero, e cada +1 custa 10 XP, sem os de Recursos e Reputação pela Posição Social.
jamais ultrapassar +2 por 20 XP.
Virtudes: Cada uma pode ser comprada por um ponto quei-
mado de Elã, mas ainda será preciso que o narrador aprove. Das
Restrições: O narrador pode proibir os joga-
Virtudes Únicas, cada protagonista só pode ter uma dessas e ne-
dores de investir XP em certos atributos/espe-
nhum outro herói pode ter a mesma. Contudo, é possível que a
cializações com pouca ou nenhuma relação com
Virtude Arauto esteja de porte de vários personagens, se isso for
a ocupação ou origem do personagem; para isso
estabelecido na Ficha de Crônica.
será preciso encontrar um mentor ou tutor que o
ensine no jogo. Os atributos (e especializações)
Fraquezas: O jogador pode escolher até duas Fraquezas, sem-
mais restritos: Conhecimento (Arcano, Estudo,
pre ganhando um ponto de Elã para cada defeito, mas o narrador
[Profissão] e [Religião]), Cura (Diagnose e Tratar
pode sugerir outras além deste limite. As Fraquezas Exclusivas só
Males), Força ([Ofício]), Inteligência (Adminis-
podem ser adquiridas se oferecidas pelo narrador.
tração) e Ladinagem (Arrombamento e Operar
Mecanismos). Corrupção: Belregard utiliza o sistema de Corrupção para
exemplificar a sedução da Sombra Viva no mundo de jogo. Nor-
Armadura: Se há Penalidade (indicar em
malmente, os personagens iniciam a Corrupção no nível Tocado,
Combate ou Posses), marque um asterisco (*)
representando que ninguém está isento da Sombra, mas algumas
em Agilidade, Força e Furtividade.
regras, como Fraquezas e Virtudes específicas, podem alterar
Comportamento: Cinco traços de persona- isso. Basta consultar ao longo da criação de personagem. A Pro-
lidade escolhidos pelo jogador, mas ao menos vação de maior afinidade com o personagem é rolada aleatoria-
dois deles devem ser considerados negativos. mente. Consulte o tópico referente abaixo.

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b TOMO IV b
Sanidade: Belregard utiliza o sistema de Sanidade para exem- • Evasão: Recuar e fugir de um ataque antes
plificar o choque de realidade pelo qual um personagem pode que possa ser atingido, sem pretensão de bater
passar ao longo de sua vida quando confrontado com as verda- de volta.
des elementares. Normalmente o personagem começa o jogo no • Montaria: Controle e manobras sobre ani-
nível São de Sanidade, mas algumas regras, como Fraquezas e mal.
Virtudes específicas, podem alterar isso. Basta consultar ao lon-
go da criação de personagem.
Blefe: Capacidade de agir dissimuladamente
Equipamento: Com base no Recurso (uma medida simbólica para alcançar seus objetivos. Modificadores:
para as posses do personagem) de sua ocupação, basta escolher confiança do alvo, lugar e momento apropriado.
os equipamentos iniciais do personagem. Os equipamentos bási- • Enganação: Fazer os outros acreditarem nas
cos são apresentados neste capítulo. mentiras com suas palavras, gestos e, principal-
mente, o olhar. Oposição: Empatia (Percepção)
O processo apresentado acima segue o padrão para a constru- • Charme: Seduzir ou inspirar a atenção e
ção de um personagem de Crônicas. Belregard RPG apresenta simpatia de outros. Oposição: Raciocínio (Inte-
alguns elementos novos, que precisam ser acrescentados ao final ligência).
do processo, acompanhe: • Confundir: Criar distrações ou nublar o
pensamento alheio. Oposição: Atenção (Percep-
Explicando os Atributos e Especializações: ção).
Serão apresentados abaixo com os Atributos em destaque as • Disfarce: Fingir que é outro indivíduo para
Especializações listadas abaixo. Os modificadores são sugestões se misturar com os locais ou obter benefícios de
que o narrador pode manter em mente para dar bônus ou pena- uma certa ocupação. Oposição: Observar (Per-
lidades em alguns testes. Algumas Especializações apresentarão cepção).
suas Oposições, indicando que tipo de teste um personagem de
jogador ou do narrador precisa fazer para resistir ao lance, como
o exemplo acima, da Furtividade contra Percepção.
Conhecimento: Diz respeito ao que o per-
sonagem sabe sobre o mundo e tudo o que vive
Atributo: nele. Modificadores: habitualidade com o assun-
• Especialização: to e possibilidade de consultar livros ou conse-
lheiros.
• Avaliação: Saber o valor e qualidade de ob-
Agilidade: Representa destreza e mobilidade. Modificadores:
jetos e estruturas ou perceber falhas e defeitos
ambiente, obstáculos e peso.
neles.
• Acrobacia: Saltos elaborados e movimentos no ar para ali-
• Apócrifo: Mistérios, símbolos e tradições
viar estragos ou impressionar
antigas e códigos de cultos da Sombra e da Hor-
• Contorção: Entrar por um buraco, mover numa multidão ou
da. .
livrar-se de cordas, redes, algemas ou grilhões. Modificador: ta-
• Estudo: Representa tudo o que lhe foi ensi-
manho da brecha.
nado por um tutor nas aulas que teve.
• Equilíbrio: Mover sobre uma superfície precária ou manter
• Mundo Conhecido: O “conhecimento das
o equilíbrio num terreno complicado. Teste quando o fracasso
estradas” trata sobre geografia e um pouco de
tiver consequências.
história.

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b TOMO IV b
• Nobreza: Famílias, linhagens, heráldicas, deiro, fazedor de arcos, fazendeiro, ferreiro, lenhador, marujo,
citações e as histórias que amarram esses ele- mineiro, entre outros. Cada ofício deve ser desenvolvido separa-
mentos. damente por tipo de trabalho.
• [Profissão]: Conhecimento do trabalho de
um administrador, cozinheiro, engenheiro, es-
Furtividade: A arte de passar, acompanhar ou manter-se des-
criba, herborista, sapateiro, entre outros. Cada
percebido. Modificadores: distrações, obstáculos próximos, visi-
ocupação deve ser desenvolvida separadamente
bilidade e a quantidade de pessoas que se está evitando.
por profissão.
• Camuflagem: Utilizar objetos ou acidentes na localidade
• Criadorismo: Conhecimento sobre os cos-
para ocultar praticamente qualquer coisa.
tumes, tradições e dogmas do criadorismo de
• Esconder: Desaparecer da vista dos outros aproveitando os
Belregard.
obstáculos à sua volta. Oposição: Observar e Ouvir (Percepção).
• Esgueirar: Mover em silêncio sem chamar a atenção dos de-
Cura: Identificação e tratamento de ferimen- savisados. Oposição: Ouvir (Percepção).
tos e males. Modificadores: equipamento apro- • Seguir: Acompanhar algo ou alguém num determinado per-
priado e habitualidade. curso sem ser notado, desaparecendo de vista quando preciso.
• Diagnose: Determina a causa da enfermi- Oposição: Atenção (Percepção).
dade ou ferimento e as possíveis consequências.
• Tratar Males: Tratamento de doenças e
neutralização de venenos e toxinas.
Inteligência: Envolve a capacidade intelectual, mas também
esperteza, cuidado e lembrança. Modificadores: habitualidade
• Tratar Ferimentos: Primeiros Socorros,
com o assunto e possibilidade de consultar livros ou conselheiros.
cirurgias e remoção cuidadosa de ferimentos
• Administração: Perícia para gerenciar números, serviços, es-
pontiagudos.
toque e trabalho braçal.
• [Jogo]: Disputa mental envolvendo um tipo de jogo que pre-
Força: Capacidade de superar obstáculos fí- cisa ser especificado. Estratégias militares contam como jogos.
sicos. Modificadores: ambiente, obstáculos e • Memória: Para lembrar acontecimentos antigos, detalhados
peso. ou difíceis de serem recordados.
• Correr: Para escapar de perseguidores ou • Raciocínio: Essencial para pensar rápido, tirar certas con-
percorrer distâncias dentro de um limite de tem- clusões, resolver desafios lógicos e resistir à seduções. O narrador
po. pode solicitar esse teste caso o jogador não tenha captado algo
• Escalar: Subir, descer ou atravessar lateral- que seu personagem teria feito mais facilmente. Oposição: Char-
mente inclinações, muros, cordas, entre outros. me (Blefe)
Modificador: equipamento de escalada e bre-
chas que ajudam.
• Nadar: Mergulhar e movimentar-se na água.
Lábia: Convencer com suas próprias palavras e simpatia ou im-
ponência. Modificadores: confiança, lugar e oportunidade.
• Saltar: Impulso para superar buracos e obs-
• Persuasão: Alterar com sua conversa a forma como os outros
táculos ou alcançar objetos ou pontos para se
interpretam algo. Oposição: Determinação (Vontade).
segurar.
• Barganha: Beneficiar-se numa negociação sobre o valor de
• [Ofício]: Perícia no trabalho de um ajudan-
um bem ou serviço.
te, barqueiro, carpinteiro, carregador, estalaja-

309
b TOMO IV b
• Diplomacia: Utilização dos bons modos para causar boa im- Liderança: Aparência e confiança capazes
pressão ou aliviar más impressões. de inspirar e conquistar os outros. Modificado-
• Intimidação: Pressionar os outros a agir ou não agir de certa res: hierarquia, lealdade, lugar e momento.
maneira, deixando-os Abalados (Condição). É possível pedir For- • Carisma: Magnetismo pessoal para chamar
ça + Intimidação. Oposição: Coragem (Vontade). a atenção e fazer-se parecer mais confiável.
• Obter Rumores: Capacidade de adquirir certas informações • Comando: Emprestar confiança com suas
com os locais. ordens para coordenar as ações de seus coman-
dados.
Ladinagem: Abrir fechaduras, bater carteiras, acionar arma- • Estratégia: Gerar sinergia em qualquer gru-
dilhas e outras atividades ladinas. po sob seu comando para colocar um plano em
• Arrombamento: Destravar fechaduras, trancas e afins. Mo- prática.
dificadores: equipamento apropriado. • Imposição: Autoconfiança e firmeza para
• Furtar: Subtrair posses dos outros sem ser notado ou jogos e impor a sua vontade em disputas sociais. Oposi-
apresentações com mãos rápidas. ção: Determinação (Vontade).
• Operar Mecanismos: Geralmente serve para desarmar ou
armar armadilhas. Manejo: Habilidade em combate com armas
brancas ou com o próprio corpo.
• Briga: Socos, chutes, cabeçadas, joelhadas,
cotoveladas e outros ataques corporais.
• Uma Mão: Espadas, adagas, maças, pu-
nhais, manguais, machados e outras armas de
uma mão.
• Duas Mãos: Montantes, tridentes, macha-
dos pesados, lanças longas e outras armas de
suas mãos.
• Escudo: Qualquer que seja o escudo, cos-
tuma ser mais usado para bloquear do que para
atacar.

Percepção: Sensibilidade para apontar mu-


danças físicas, mentais ou emocionais à sua
volta. Modificadores: Distância, obstáculos e
visibilidade.
• Atenção: Usar os sentidos para procurar
algo específico. Oposição: Confundir (Blefe) e
Seguir (Furtividade).
• Empatia: Vencer a máscara social e identi-
ficar a natureza de outros indivíduos. Oposição:
Enganação (Blefe) e Atuação (Performance).

310
b TOMO IV b
• Observar: Visualizar detalhes. Oposição: Resistência: Capacidade de resistir a qualquer estrago e se
Disfarce (Blefe) e Esconder (Furtividade) recuperar dele.
• Olfato: Captar cheiros e odores. • Recuperação: Encurta o período de recuperação de ferimen-
• Ouvir: Escutar ruídos ou conversas mais tos, envenenamentos e doenças.
difíceis de serem ouvidas. Oposição: Esgueirar • Fortitude: Superar doenças ou venenos que possam atingi-lo.
(Furtividade).

Sobrevivência: Conhecimentos adquiridos para se mover


Performance: Atuação ou interpretação de apropriadamente, alimentar-se e avaliar regiões selvagens.
diferentes formas de arte ou entretenimento. • Forragem: Encontrar água e alimento para o seu grupo, in-
Modificadores: habitualidade e equipamento. cluindo as montarias.
• Atuação: Passar-se por alguém específico, • Orientação: Evitar se perder em terrenos mais traiçoeiros
seja real ou fictício. Oposição: Empatia (Percep- para encontrar o caminho certo, ambiente ou geografia e visibi-
ção). lidade.
• Canto: Uso da voz para interpretar canções. • Rastrear: Seguir trilhas e rastros, às vezes tirando informa-
• Dança: Movimentos guiados pela música. ções sobre quem passou ali. Modificadores: número de alvos, ter-

• Malabarismo: Habilidade com malabares. reno e visibilidade.

• Oratória: Discursos inspiradores em públi-


co. Trato com Animais: Impelir vários tipos de animais a se
• Tocar [Instrumento]: Habilidade para to- dobrarem aos seus interesses. Modificadores: teimosia e treina-
car flauta, harpa, alaúde, tambor, entre outros. mento do animal.
Cada instrumento deve ser desenvolvido sepa- • Cativar: Seduzir a criatura para que ela não o ataque ou ain-
radamente. da lhe seja dócil se houver inclinação. Modificadores: ambiente e
lugar apropriado.
• Condução: Para guiar os animais amarrados a um veículo e
Pontaria: Perícia em ataque à distância com evitar acidentes pelo caminho.
armas. Modificadores: distância, obstáculos e
• Montaria: Locomoção sobre o animal.
visibilidade.
• Treinamento: Ensina-los a realizar manobras e truques, dos
• Arco: Arcos longos, curtos, compostos, en-
mais simples aos mais complexos.
tre outros.
• Arma de Guerra: Catapultas, mangonéis,
escorpiões, trabucos, entre outras. Vontade: Força mental para resistir os mais diferentes tipos de
• Arremesso: Objetos arremessados com fun- tentações, boas e ruins.
da, estilingue ou as mãos, como machados, lan- • Concentração: Manter o foco contra influências. Modifica-
ças, adagas, dardos, pedras, cadeiras e outros dor: intensidade da distração.
objetos possíveis. • Coragem: Manter-se inabalável contra sustos e os mais dife-
• Besta: Bestas leves ou pesadas, indepen- rentes tipos de horror.
dente do tempo de recarga necessário. • Determinação: Autocontrole para resistir influências que
possam demovê-los de seus objetivos.

311
b TOMO IV b
Ocupações, Posição Social, Reputação e Recursos
As ocupações em Crônicas servem para destacar o papel social do personagem no mundo de jogo, são termos
gerais, linhas que ajudam a visualizar a função do personagem, sem limitar suas escolhas. Algumas delas demandam
certas Virtudes, porque acarretam em um reconhecimento social, podendo ser usadas para impor alguma autoridade.
Abaixo iremos ver uma tabela com as Posições Sociais, Reputação, Recursos e exemplos de ocupações.

Posição Reputação/ Ocupações


Social Recurso
Miserável 0 Assassino, Bruxo, Chefe Tribal, Espião, Fugitivo, Herege, Ladrão, Salteador, Selvagem,
etc.
Artista 1 Arauto, Bobo, Contorcionista, Domador de feras, Mágico, Malabarista, Menestrel,
Músico, Saltimbanco, Trovador, etc.
Vassalo 2 Administrador, Aprendiz, Caçador, Carcereiro, Castelão, Cavaleiro Mercante, Cocheiro,
Coletor de Impostos, Conselheiro, Costureira, Criança, Cozinheiro, Curandeiro, Curtidor,
Dama, Guarda-caça, Guia, Engenheiro, Entalhador, Estalajadeiro, Fazendeiro, Herba-
lista, Lenhador, Mensageiro, Pajem, Parteira, Pastor, Peregrino, Pescador, Prostituta,
Provador de venenos, Rezadeira, Sábio, Senescal, Serviçal, Tecelão, Torturador, Tratador
de Animais, Tutor, Vidraceiro, etc
Comerciante 2 Artesão, Carpinteiro, Charlatão, Comerciante, Escravagista, Fazedor de Flechas, Faze-
dor de Velas, Ferreiro, Líder de Caravana, Líder de Guilda, Oleiro, Sapateiro, etc.
Guerreiro 2 Arqueiro, Batedor, Cavalariano, Cavaleiro Mercante, Duelista, Escudeiro, Guarda, Guar-
dião, Lanceiro, Mercenário, Rastreador, Vigia, etc.
Sacerdote* 3 Ancião, Bispo, Escriba, Iniciado, Padre, Sacerdotisa, Santo, Oráculo, Leorista, Alecista,
Lazlita, etc
Comandante* 3 Bailio, Campeão, Capitão, General, Magistrado, Ofcial, etc.
Nobre* 4 Herdeiro, Cavaleiro, Protegido, etc
Lorde* 5 Chefe, Baronete, Senhor, Barão, Visconde, Conde, Marquês, Duque, Grão Duque,
Arquiduque, Príncipe, Regente, etc
Monarca* 6 Imperador, Regente, Rei, Teocrata, etc
* A escolha de Virtudes é livre, mas para exemplificar melhor o benefício da Reputação dentro do jogo, personagens
que façam parte destas Posições Sociais, podem precisar de Virtudes como Ungido e Autoridade, para fazer valer a Posi-
ção escolhida. Da mesma forma, caso o narrador deseje fazer um grupo que faz parte de alguma força militar específica
de alguma castelania, pode colocar certas Virtudes e Fraquezas como automáticas para os membros destas.

Lembre-se que estas ocupações são meros exemplos e não devem ser limitadoras. Talvez você queira criar um per-
sonagem comerciante, de Varning, que se destacou na sua venda de velas aromáticas para os rituais de Vlakir, tenha
tudo pra ser um Nobre, enquanto Posição Social, não deixe de colocá-lo dessa forma. Talvez você queira temperar as
coisas com seu grupo, permitindo uma rolagem aleatória de Posições Sociais iniciais, só lembre de articular junto com
os jogadores, pra ninguém ficar de fora.

312
b TOMO IV b
Algumas ocupações podem ser mais explora- tenha sido comprada pelo jogador como Virtude. Quando o seu
das dentro do contexto de Belregard, como os requerimento deixar de ser atendido ou a virtude perder sentido
Sacerdotes, por exemplo, que podem possuir por alguma mudança na história do personagem, o narrador pode
conceitos diferentes, dependendo de que linha mandar apagá-la da ficha e devolver o ponto de Elã investido.
religiosa dentro do criadorismo eles seguem, um Todo jogador recupera seu Elã quando perde uma Virtude sem
Leorista é bem diferente de um Alecista. que tenha sido culpa sua. Os bônus mecânicos não se acumulam
entre as Virtudes, a não ser que a exceção seja mencionada.
Virtudes e Fraquezas
Aqui estão os traços mais marcantes dos per- Certas Virtudes exigem especificações a serem anotadas na
sonagens, suas qualidades e seus defeitos. Cada Ficha de Personagem quando adquiridas, geralmente entre parên-
personagem pode adquirir Virtudes gastando teses. Se o narrador aprovar, especificações podem ser trocadas
permanentemente seus pontos de Elã inicial, se a narrativa assim permitir ou no início de uma nova Crônica.
ou adquirir estes pontos através das Fraquezas,
sempre um por um. As Virtudes e Fraquezas Acuidade
aqui estão separadas entre as comuns e únicas. Requisito: Agilidade 4+

Vale notar que algumas delas podem utilizar o Você usa mais a habilidade das mãos que o peso dos braços

conceito da Bravura, que se refere aos Pontos de para ferir seus adversários, a acuidade costuma ser utilizada por

Poder, no Crônicas. Estas Virtudes serão sepa- aqueles que são peritos em lutas com facas, punhais ou mesmo

radas das demais, a fim de organizar melhor a com o sabre dalano. Armas de característica Leve causam dano

noção de Crônicas que utilizam, ou não, o so- com Agilidade ao invés de Força.

brenatural.
Admirado
Algumas Virtudes e Fraquezas apresentadas Requisito: Especificar Posição Social
no livro básico do Crônicas RPG foram retira- Sua fama e prestígio entre os membros de uma posição social é
das desta lista, pelo motivo de não combinarem enorme. Seja famoso entre os ferreiros do bairro, os mercadores
com a proposta do jogo, especialmente as que da guilda ou mesmos os cavaleiros da ordem, sua fama o precede
permitem efeitos de Potência (tratada como e pode, dessa forma, favorecer seus testes sociais quando se rela-
Bravura aqui) por personagens sem esta carga cionando com membros da mesma Posição Social.
dramática.
Afinidade com Animais
Lembrete: Muitas Virtudes são apresentadas Requisito: -
com seu uso limitado a apenas uma vez por dia, Sua ligação com os animais torna mais fácil compreender seus
vale lembrar que o uso temporário de Elã emula sentimentos e mesmo a melhor forma de fazer com que reali-
a “recompra” da Virtude, permitindo um novo zem tarefas de seu intento. Muitos chamarão esse traço de uma
uso. “Benção de Alec”, o puro desprendido, sempre acompanhado de
animais. Você recebe +2D ou refaz um rolamento de Cativar ou
VIRTUDES Treinamento (Trato com Animais) por dia.
Estas vantagens podem ser compradas desde
que o personagem atenda os seus respectivos Afortunado
requisitos, lembrando que ele jamais poderá ser Requisito: -
traído por qualquer elemento da Crônica que Por algum motivo, que deve ser definido em seu histórico, seu

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b TOMO IV b
personagem é um pouco mais abastado do que seria comum para nos corações de seus inimigos, talvez isso seja
uma pessoa de sua Posição Social, talvez ele tenha herdado uma fruto de uma cicatriz, de um alto nível de Cor-
parcela de riqueza de alguém inesperado, ou pode ter consegui- rupção que manifesta traços dos Ímpios em seu
do como fruto de um saque em uma campanha militar. O perso- corpo ou simplesmente pela selvageria natural
nagem recebe +1 em Recursos. em seus olhos. Oponentes num raio de 10m ga-
nham -1D em Coragem (Vontade).
Ajudante Valioso
Requisito: Especificar a Ocupação Ataque Súbito
Você possui um aprendiz de ofício, de trabalho. Ele pode ser Requisito: Agilidade e Manejo 3+
um escudeiro ou um catador de urina para tingir tecidos, este Sua maestria no combate permite que saque
Coadjuvante adolescente possuirá a Virtude Obediente para com uma arma da bainha mais rapidamente que os
o seu personagem, mostrando-se sempre solícito quanto a suas demais combatentes em uma peleja. A ação Sa-
demandas. car Arma funciona como Ação Livre e sem a
respectiva penalidade de -1S.
Alfabetizado
Requisito: Estudo (Conhecimento) ou Memória (Inteligência) 3+ Atraente
Ler e escrever é um luxo das classes religiosas de Belregard, Requisito: -
nem mesmo os reis e rainhas possuem o costume da leitura, uma Pode ser culpa dos seus olhos, do seu cabe-
vez que seus decretos são “assinados” com elaborados e intrica- lo, do semblante inspirador ou simplesmente
dos selos e cera quente. Não seria exagero dizer, porém, que al- porque você tem todos os dentes na boca, mas
guns comerciantes, especialmente de Varning entendem a impor- você recebe +2D em Charme (Lábia) contra in-
tância das letras e da matemática, dedicando-se ao aprendizado. divíduos que tenham atração pelo seu gênero.
Você sabe ler e escrever sem que precise nenhum teste.
[Atributo] Aprimorado
Ambidestro Requisito: Atributo 3+; Especificar Atributo.
Requisito: - Você possui certas reservas de força que pode
As tradições de duello falam sobre combatentes que utilizam chamar de pura força de vontade ou algum tipo
as duas mãos no combate, mas o benefício não se limita a isso, já de benção e poder oculto dado por seus santos,
que ter habilidade com ambas as mãos pode ajudar em variadas concedendo um bônus de +2D num teste envol-
situações. Você possui a mesma habilidade com ambas as mãos vendo um atributo específico uma vez por dia.
(não ganha o -2S com a mão inábil).

Aparência Comum Autoridade


Requisito: Não possuir nenhuma Virtude, Fraqueza ou descrição Requisito: Especificar título de autoridade.

que afete a aparência. Um marquês nos limites entre Birman e Vla-

Você se passa como mais um em meio às multidões, recebendo kir, um comerciante com rotas que ligam Par-

+2D num teste de Seguir (Furtividade) uma vez por dia. louma à Belghor, um príncipe que mantém sua
cidade incólume das intrigas de Rastov ou um
Assustador caçador dalano que sobreviveu aos kilthens de
Requisito: Ameaçador (Fraqueza) Viha são exemplos de pessoas com Autoridade
Sua aparência naturalmente ameaçadora pode incutir medo dentro de seus ciclos, autoridade essa que trás

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b TOMO IV b
benefícios, mas também a responsabilidade de Contatos
mantê-la. Você possui um título de autoridade Requisito: Especificar ocupação.
em sua Morada que lhe confere posses e pro- Você pode contar com uma rede de comerciantes que faz a via-
priedades. gem entre algumas cidades, ou entre as pessoas mais pobres, já
que sempre os ajuda levando comida entre os mendicantes. Com
Corajoso um teste de Obter Rumores (Lábia), modificado pelo tempo dis-
Requisito: Coragem (Vontade) 4+ ponível e a dificuldade da informação, pode conseguir levantar
A temeridade de Leoric ecoa em você, colo- dados sobre uma pessoa ou um acontecimento.
cando em situações que a maior parte das pes-
soas não seria capaz de suportar, tornando-o
Criação Privilegiada
Requisito: Conhecimento, Inteligência e Vontade 3+
bravo como o Leão de Braden, deixando-o imu-
Como segundo filho de uma casa nobre, seu destino não era o
ne aos medos naturais do mundo e dando +1D
de lutar nos campos de batalha, mas isso te deixou tempo para
de bônus para resistir aos medos sobrenaturais,
estudar e as benécies da nobreza tornam possível essa dedica-
como aqueles engendrados pela Sombra e seus
ção. Você pode ser um membro da classe mercante em ascensão
agentes.
que já se vê como herdeiro de um legado prévio, que garantiu
uma juventude abastada, segura e recheada de oportunidades de
Carismático
aprendizado. Você recebe +30XP em especializações de Conhe-
Requisito: Liderança 3+
cimento.
Sua fala inspira os demais, fazendo com que
suas atenções naturalmente se voltem para você Empatia com Animais
quando delibera sobre algo. Você costuma cau- Requisito: Cativar (Trato com Animais) 3+
sar uma boa primeira impressão Você compreende mais facilmente as reações e desejos dos ani-
mais. Com o êxito em um teste de Empatia (Percepção), você
Casca Grossa
compreende mais do que o animal tem a dizer do que os outros
Requisito: -
conseguem. Com Cativar (Trato com Animais) é possível fazer
Pode até não parecer, mas você suporta um
entender comandos básicos.
pouco mais das intempéries da violência que os
demais. Recebe +1 no Vigor físico. Esquiva Acrobática
Requisito: Acrobacia (Agilidade) 5+
Companheiro Animal Seus reflexos rápidos permitem uma maior mobilidade na hora
Requisito: Especificar animal. de evitar golpes. A ação Evasão se torna Reação Menor ao invés
Por algum motivo você possui um vínculo es- de Reação Maior.
pecial, incomum, com um animal. Talvez você
seja um parlo de cabelo rajado ou um dalano Espalhar Boatos
que se aproximou das raposas com seu cabelo Requisito: Influência, Negócio, Rede de Informantes ou Rota de
vermelho, ou ainda um belgho que sempre ou- Comércio (Virtudes).
viu o grasnar dos corvos como um sinal de bem Você conhece as pessoas certas para plantar a semente de um
aventurança. Escolha um animal e amplie a fi- boato e deixar que a própria curiosidade humana faça o resto.
cha do mesmo com um bônus de 60 XP. Rumores que sejam minimamente críveis podem ser espalhados
com rapidez em sua Morada.

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b TOMO IV b
[Espec.] Aprimorada com dois gládios. Nas suas mãos, uma des-
Requisito: Teste de Especialização 4+; Especificar especializa- sas espadas ganha a característica de arma
ção. Defensivo +1. Além disso, a cada rodada é
Você sempre pode dar um pouco mais de si, talvez seja um possível fazer um segundo Ataque Simples
pouco de falta de atenção, distração ou mero charme para fazer (Ação Menor) com a outra espada curta (-2S
com os outros reconheçam que você é uma pessoa cheia de sur- na mão inábil); Requisito: Uma Mão (Mane-
presas. Você recebe +2D no teste de uma especialização uma vez jo) 3+
por dia (Reação Livre). • Espada Curta e Escudo: A essência dos
belghos em combate, o conjunto tradicional
Especialização com [Arma] de batalha do império de Virka. Se tiver êxi-
Requisito: Força 3+ para armas de Manejo ou Percepção 3+ para to com o escudo na ação Bloquear Ataque,
armas de Pontaria; Especificar arma. a Absorção do oponente bloqueado sofre -1
Sua dedicação para o uso de uma arma específica o torna fluí- (mínimo de zero) contra a espada curta até
do com a mesma, reconhecendo o peso e o balanço de modo que o final da rodada. Requisitos: Uma Mão ou
aquela mesma espada ou machado não seja tão mortal na mão Escudo (Manejo) 3+
de qualquer um, quanto é na sua. +1 no dano com o tipo de arma • Espada e Adaga: As espadas mais longas,
específica. como o as lâminas dalanas, são um meio ca-
minho de habilidade para aqueles que não
Estilo de Combate
desejam perder a destreza em nome da força
Os povos de Belregard desenvolveram estilos de luta ao longo
e o estilo de luta dalano, dentro dos duelos
das eras, por uma questão de sobrevivência e do próprio isola-
com duas armas, é notório. A adaga manu-
mento, muitos destes costumes estão arraigados em noções ét-
seada com a espada na outra mão ganha a
nicas, mas pela união dos povos durante o período do império
característica Defensivo +1. Além disso, a
de Virka, estes costumes foram espalhados, absorvidos e com-
cada rodada é possível fazer um segundo
partilhados. Cada estilo carrega um requisito distinto, apontado
Ataque Simples (Ação Menor) com a outra
abaixo:
arma (-2s na mão inábil). Requisitos: Uma
• Arco e Flecha: Muito comum entre os vihs, famosos por
Mão (Manejo) 3+
seus mortais arcos longos. Dobra a distância do arco graças a
• Espada e Escudo: A lâmina dalana, mais
um talento natural ou um bom tempo de prática. Requisitos:
longa que o gládio belgho foi incorporada
Arco (Pontaria) e Força 3+.
nas forças do império, apesar de não ter ocu-
• Duas Adagas: Um estilo antigo que data dos primeiros
pado espaço como principal arma dos solda-
contatos dos belghos com os belinar das matas. Possui três
dos, o estilo da espada e escudo figura entre
benefícios: 1) Em suas mãos uma adaga ganha a caracterís-
os mais populares entre os guerreiros singu-
tica de arma Defensivo+1; 2) A cada rodada é possível fazer
lares de ordens de cavalaria. Se tiver êxito
um segundo ataque Simples (Ação Menor) com a outra adaga
com o escudo na ação Bloquear Ataque, a
(-2S se estiver na mão inábil); 3) Se tiver uma mão livre é pos-
espada ganha +1D em um ataque contra o
sível sacar uma nova adaga como se tivesse a virtude Ataque
oponente bloqueado até o final da rodada.
Súbito. Requisito: Uma Mão (Manejo) 3+.
Requisito: Uma Mão ou Escudo (Manejo) 3+
• Duas Espadas Curtas: O gládio belgho sempre foi uma
• Lança e Escudo: Modalidade popular en-
arma tradicional e apesar da preferência do uso com escu-
tre as legiões imperiais, mas que ainda vigo-
do, os mais audaciosos desenvolveram um método de luta

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b TOMO IV b
ra em castelanias como Vlakir. Se tiver êxito nente bloqueado se tentar impedi-lo. Requisito: Uma Mão
com o escudo na ação Bloquear Ataque, ven- (Manejo) 3+
ça uma disputa de Escudo (Manejo) contra o • Montante: A espada vihs é pesada e larga, carregada nas
Equilíbrio (Agilidade) ou Força do oponente costas e é compreensível que estes selvagens guerreiros te-
bloqueado (a escolha dele, que ainda ganha nham desenvolvido uma técnica especial para o seu uso, que
em caso de empate) para obrigá-lo a recuar também pode se aplicar ao machado de duas mãos. Ao dei-
1m. Requisito: Uma Mão ou Escudo (Mane- xar um oponente vencido em combate (com seu Vigor zerado)
jo) 3+ será possível fazer outro Ataque Simples (Ação Menor) contra
• Maça e Escudo: Dentro das ordens reli- outro oponente dentro do seu Alcance se estiver empunhando
giosas, do braço leorista do Tribunal, uso uma arma de duas mãos. Requisito: Duas Mãos (Manejo) 3+
de armas contundentes é o costume, a tra- • Zuffa: As contendas desarmadas são comuns entre os par-
dição. Se tiver êxito com o escudo na ação los, que desenvolveram um estilo de luta com as mãos nuas
Bloquear Ataque, seu ataque nesta rodada que envolve balanço do corpo e poderosos socos que podem
ganha +1D com qualquer tipo de maça ou nocautear. Além das variações, seus ataques desarmados dão
mangual contra o oponente bloqueado. Re- dano de Força. Você pode utilizar de duas formas, tendo que
quisito: Uma Mão ou Escudo (Manejo) 3+ anunciar o uso naquele turno. Desde que lutando desarmado,
• Maça e Espada Curta: Uma variação do você pode: 1) Receber +1 na Defesa; 2) Desferir a ação No-
que é aplicado entre as ordens militares do caute (Escaramuça) em um combate. Requisito: Briga (Mane-
Tribunal. Ao acertar um oponente com a es- jo) 3+.
pada curta, será possível fazer outro Ataque
Simples (Ação Menor) com a maça ou man- Estimado
gual, desta vez com +1 no dano. Requisito: Requisito: -

Uma Mão (Manejo) 3+ Seu personagem é extremamente querido por muitas das pes-

• Machado e Escudo: Os vihs e igslavos soas que vivem em sua Morada. O motivo dessa adoração deve

sempre utilizaram armas que pudessem ser ser discriminado no seu histórico, talvez você tenha a sorte de ter

ferramentas de sobrevivência e o machado sido filha da pessoa certa ou pode ter feito algo pela Morada que

é um grande companheiro. Se tiver êxito realmente mudou sua sorte, como defender de salteadores de es-

com o escudo na ação Bloquear Ataque, o trada ou impedindo que o cobrador de impostos colocasse penas

oponente bloqueado fca com -1S no Teste severas sobre os humildes em uma colheita ruim. Coadjuvantes

de Bloqueio caso tente parar o ataque fei- e figurantes locais terão predisposição favorável, mesmo se não

to com qualquer tipo de machado até o final o conhecem pessoalmente, mudando a dificuldade em seu favor

da rodada. Requisito: Uma Mão ou Escudo numa série de testes sociais.

(Manejo) 3+
Estudar Oponente
• Machado e Espada Curta: Popular entre
Requisito: -
os igslavos que, pelo convívio, desenvolve-
Seu olhar pode até não captar os sentimentos e intenções de
ram boa habilidade como gládio belgho. Ao
uma pessoa durante uma conversa, mas quando é hora de fa-
acertar o oponente com a espada curta, será
zer o aço cantar sua canção de morte, sua percepção se amplia,
possível fazer outro Ataque Simples (Ação
mapeando os movimentos do adversário. Desde que consiga ob-
Menor) com o machado (de qualquer tipo),
servar um alvo em combate por pelo menos três turnos (Ações
com -1S no Teste de Bloqueio para o opo-
Livres) é possível aprender o seu jeito de lutar por uma quantida-

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b TOMO IV b
de de dias igual ao número de sucessos no teste de Memória
(Inteligência), período em que ganhará +1D no ataque ou
+1 na Defesa contra ele, a ser escolhido
sempre no início de cada rodada.

Fanático
Requisito: -
Sua crença nos preceitos do criadorismo são forte e poderosos,
de modo que a maior parte dos argumentos utilizados por você
possuem uma base religiosa, permitindo sustentar os maiores ab-
surdos mesmo diante da verdade mais evidente. É possível utilizar
testes de Lábia ao invés de Blefe para defendê-los.

Farejar • Biblioteca: Muito comum para persona-


Requisito: Atenção (Percepção) 4+ gens que possuam envolvimento com o Tribu-
Olfato aguçado que permite fazer testes de Rastrear (Sobrevi- nal, podendo ser a coleção de uma igreja, de um
vência) com Atenção (Percepção), obtendo informações referen- monastério, mas também pode aparecer como
tes aos aromas quando interpretar rastros. a coleção de um nobre excêntrico. Vasta coleção
de tomos, livros e pergaminhos com respostas
Finalização Espetacular para vários testes, especialmente de Conheci-
Requisito: Teste de Ataque 5+
mento, Cura, Inteligência e Sobrevivência, com
Os dalanos são famosos por sua maestria e dedicação a todas
êxito automático (quando se procura apenas in-
as coisas que fazem, isso não seria diferente com aqueles que se
formação) ou +1D no teste (se só a informação
dedicam ao estudo do combate. Apesar de não estar limitado ao
não resolve; jamais aplicável em combate). Para
uso pelos povos de Dalanor, as lutas e combates com derrotas hu-
obter esse benefício é preciso que a resposta
milhantes são contadas nas baladas como um traço de Renart. Se
esteja em algum lugar do acervo, que se pas-
vencer um oponente com apenas um golpe preciso (independente
se certo tempo procurando por ela, e que tenha
dele estar ferido antes disso), todos à volta ficarão impressiona-
êxito num teste de Estudo (Conhecimento) com
dos com o ataque. Figurantes e coadjuvantes não poderão atacá-
dificuldade de acordo com a pergunta e o seu
-lo até o fim do turno e antagonistas e protagonistas só poderão
acervo. A biblioteca pode ser alvo de ataques e
fazê-lo se não houver algum outro alvo para ser atacado em seu
precisa de proteção e cuidado.
lugar.
• Conselho de Anciões: Muito comum em
regiões interioranas e entre povos que dão va-
Fonte de Conhecimento
lor ao saber dos antigos. Vihs e igslavos certa-
Requisito: -
mente procurariam pela sabedoria dos anciões,
Acesso fácil e quase exclusivo a um invejável banco de informa-
dalanos podem questionar antigos trovadores
ções. Ao comprar essa virtude, o personagem se torna responsá-
que já cruzaram as estradas do mundo. Desde
vel por esta fonte de conhecimento. O narrador deve especificar
que possa se reportar num encontro de sábios,
o tipo de conhecimento, caso permita esta virtude em sua crôni-
o personagem terá acesso a informações que ele
ca. Cada fonte possui um tipo de requisito diferente, apresentado
nem mesmo percebeu que precisaria. Mas para
abaixo.

318
b TOMO IV b
ter o favor do conselho é preciso a sua bênção, mento desta virtude.
que custa de eventuais serviços a serem presta-
dos um ou mais deles. Todo conselho tem reu- Idioma(s) Adicional(ais)
niões periódicas e o acesso ao seu potencial é Requisito: Especificar cada idioma conhecido.

apenas possível durante estes encontros. Muito comum e valioso entre os comerciantes. Apesar do par-
lo ser a conhecida língua do comércio, muitos textos e registros
Fúria Religiosa estão em variadas línguas, e enquanto as cortes falarem dalano,
Requisito: - todo idioma é valioso. Conhece um idioma adicional e pode com-
Sua dedicação aos ditames do Tribunal, a igre- prar outros a 15 XP cada, desde que tenha a oportunidade de
ja do Demiurgo ou mesmo aos cultos sombrios aprendê-la.
é tão intensa que sua ira pode ser tomada como
pura força divina ou profana, aumentando a for- Incansável
ça de golpes pelo desejo puro e simples de erra- Requisito: Fortitude (Resistência) 4+

dicar os hereges. +2D num ataque físico (Ação Os povos de Belregad compartilham uma característica que vai

Livre) contra alvos repudiados pela sua Devo- além da mera argamassa religiosa que os une, os povos de Belre-

ção. Pode ser usada uma vez por dia. gard possuem tenacidade, fibra para se manterem erguidos em
um mundo derrotado. Condicionamento físico que não o deixa
Grito de Guerra Cansado ou Exausto (Condições), ou melhor, o torna muito mais
Requisito: Comando (Liderança) 4+ difícil de ficar assim que outros indivíduos.
Enquanto for possível que os sob seu comando
o escutem, você garantirá a eles uma boa luta e Inimigo Favorito
alimentará a fome pela vitória. Seja clamando Requisito: Especificar povo, ocupação, classe social ou organi-

“pelo criador” ou “o que você teme”, seu brado zação.

fortalece a luta daqueles sob seu comando. Uma Você pode ser um exemplar típico do povo, que carrega con-

vez por dia é possível soltar um forte urro (Ação sigo as impressões tendenciosas sobre outros grupos sociais de

Menor) capaz de inspirar os aliados até 20m e sua Morada, falando contra organizações ou classes sociais, seja

conferir a eles +1D nos ataques até o final do como um nobre vlako que despreza os camponeses ou como

turno. um fazendeiro parlo que deseja ver a morada dos senhores em


chamas. +1D nos ataques físicos e sociais contra oponentes que
Identidade Alternativa pertençam ao grupo que odeia, sem poder sequer esconder o
Requisito: Especificar personagem. desprezo.
Você provavelmente é um espião, um agen-
te infiltrado dos cultos profanos nos salões da Inofensivo
igreja, ou o contrário. Talvez seja um agente dos Requisito: Precisa parecer inofensivo ou pouco perigoso.

príncipes de Rastov espiando terras inimigas Algo na sua aparência diz que você não é um perigo, que pode

e aguardando a melhor oportunidade para o ser facilmente ignorado em uma confusão, tornando-o aquela

ataque. Desde que devidamente parecido com pessoa que consegue uma briga no bar e ainda sai dela sorratei-

o personagem especificado, não será preciso ramente. -2S em Intimidação (Lábia). Porém, o personagem em

fazer testes de Disfarce (Blefe) para ser reco- combate só não será colocado em último lugar na lista de vítimas

nhecido como ele, mesmo que ainda possa ser a serem atacadas pelos oponentes se ele for o principal alvo.

desmascarado por alguém que tenha o conheci-

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b TOMO IV b
Investida Furiosa gem ainda tem um bom conhecimento sobre as
Requisito: - migrações que ocorrem por lá.
Até hoje histórias são contadas sobre a fúria evidente dos povos
vihs ao encontrar as paredes de escudos dos belghos, a maneira Motivar Aliado
como partiam para a morte na intenção de quebrar as defesas e Requisito: Comando (Liderança), Enganação

permitir que seus irmãos de armas terminassem o serviço. +1D (Blefe), Oratória (Performance) ou Persuasão

nos Ataque Simples decorrentes da ação Ataque em Carga (ver (Lábia) 5+

Escaramuça). Seja através de um discurso verdadeiro ou


pela pura e simples manipulação de sentimen-
Memória Infalível tos, você consegue imputar urgência e ímpeto
Requisito: Memória (Inteligência) 5+ nas ações de seus aliados. Desde que gaste um
Êxito automático em testes de Memória (Inteligência), conse- turno inteiro (Ação Maior) para estimular um
guindo sempre pelo menos um Sucesso (1S). Requisitos: Memória aliado adjacente a tomar uma ação especifica,
(Inteligência) 5+ se o aliado executá-la até o final da cena ele
irá ganhar +2D. Esta virtude pode ser utilizada
Memória Olfativa uma vez por dia.
Requisito: Farejar (Virtude)
Quando tiver êxito em testes de Atenção (Percepção) com a Negócio Próprio
virtude Farejar, será possível com um teste simples com êxito de Requisito: Especificar negócio.
Memória (Inteligência) associar o que captou com outros aromas Talvez você tenha uma venda na cidade gran-
captados no passado. de, ou preste serviços como ferreiro para a al-
deia local, ou ainda seja o dono dos bois que os
Mentor fazendeiros utilizem para arrastar o arado pelos
Requisito: Especificar ocupação do mentor. seus campos. +1 em Recursos em razão do es-
No mundo de Belregard o trabalho dos tutores e mentores é tabelecimento que possui, onde se vendem bens
muito comum. Seu personagem não aprendeu o básico, como con- ou serviços com a ajuda de alguns funcionários.
tinua em contato e convivência com seu antigo mentor, podendo Este bônus é cumulativo com o da virtude Afor-
contar com um aliado. Coadjuvante poderoso (+150 XP) que lhe tunado.
oferece conselhos e orientações. No entanto, como ele possui
suas próprias preocupações e urgências, não se deve contar que Obediente
possa ajudá-lo o tempo todo. Requisito: Especificar personagem.
Existem dois tipos de pessoas no mundo, as
Mestre dos Atalhos que mandam e as que obedecem, não existe
Requisito: Especificar comunidade ou região. vergonha em fazer parte do segundo grupo, es-
Você pode ser um comerciante que já viajou pelas estradas pecialmente se você é um executor capaz. Bas-
próximas, um cavaleiro mercante que defendeu caravanas, ou ta uma breve troca de olhares com seu superior
simplesmente um pastor de ovelhas que sabe quais os melhores (personagem especificado) para entender que
lugares para se caminhar. Dentro de uma comunidade ou região está autorizado a fazer algo que tenha sido com-
especificada, a trajetória conhecida entre dois pontos pode ser re- binado anteriormente. Perceber esse contato só
duzida em até um terço do tempo, se possível em condições mais será possível se tiver êxito num Teste Resistido
seguras, mas respeitando sempre o limite do possível. O persona- de Empatia (Percepção) no mínimo Insano/-4S

320
b TOMO IV b
contra a sua Enganação (Blefe). Proteção Divina
Requisito: -
Ouvidos de Mercador Você se imbui de sua posição dentro de uma devoção em co-
Requisito: - mum com os demais para garantir a própria segurança entre os
+2D em Ouvir (Percepção) para escutar con- seus pares. Mesmo como um bispo corrupto, suas ações costu-
versas em lugares próximos e +1D em Engana- mam ser ignoradas. Reconhecido como representante divino,
ção (Blefe) para que não percebam esta tenta- oponentes da mesma Devoção precisam vencer um teste de De-
tiva. terminação (Vontade) ao menos Muito Difícil/-2S para atacá-lo.
Se falhar no teste, o oponente não poderá tentar atacá-lo nova-
Protetor
mente até o final da cena.
Requisito: Especificar personagem.
Você pode ser um pessoa importante que está
visitando terras outras, ou ainda um refém fruto
Puro
Requisito: Apenas personagens iniciais que não tenham nenhuma
de uma troca entre organizações para selar uma
Virtude ou Fraqueza que contradiga seu estado de pureza.
paz, ou ainda alguém valioso pelo simples fato
Sua alma é intocada pela corrupção da Sombra. Você começa
de existir, como um herdeiro. Algum indivíduo
o jogo no nível Puro de Corrupção e não no Tocado, como os
rico ou importante preza pela sua segurança a
demais.
ponto de mantê-lo como seu anftrião, comendo
da sua comida e protegido por seus guardas.
Rede de Informantes
Presença Inspiradora Requisito: Autoridade, Influência, Negócio Próprio ou Rota de
Requisito: - Comércio (Virtudes)
Sua presença tráz segurança e conforto, tor- Por ser reconhecido em sua Morada, devido a influência ou po-
nando mais difícil que seus aliados entrem em der, é comum que as notícias cheguem até você com facilidade.
desespero diante de perigos e dificuldades. Os Sempre que personagens ou acontecimentos viram alvos de boa-
aliados num raio de 10m ganham +1D em Cora- tos na sua Morada, seus informantes irão procurá-lo na primeira
gem (Vontade) enquanto o personagem parecer oportunidade para mantê-lo a par das novidades.
intocado pelo medo. Este bônus é ativado pelo
personagem sem maior dificuldade (Reação Li- Rota de Comércio
vre). Requisito: Lacaios ou Séquito (Virtude); Especificar as comunida-
des nas extremidades de sua rota de comércio.
Prontidão Com o comércio precário de Belregard, uma pessoa que con-
Requisito: -
segue manter uma rota ativa é muito bem quista em sua mora-
+2D em Atenção (Percepção) uma vez por dia
da. Atraindo maior riqueza para si, mas também se tornando o
(Reação Livre). Este benefício pode ser declara-
centro das atenções. +1 em Recursos em razão de uma caravana
do após o rolamento, mas antes do término da
que possui em uma importante rota de comércio. Este bônus é
rodada. Opcionalmente, o jogador pode refazer
cumulativo com as virtudes Afortunado e Negócio Próprio. +1 no
o teste de Atenção (Percepção), substituindo o
Status dentro da caravana.
resultado anterior se este for melhor que o pri-
meiro.

321
b TOMO IV b
Sensitivo ceto Empatia) e Sobrevivência dentro do terreno
Requisito: - especificado (bosque, colina, floresta, costa,
Seja por sonhos, visões ou outro tipo de premonição, aconte- pântano, etc.).
cimentos distantes ou em outro tempo chegam ao seu conheci-
mento através de charadas que, se desvendadas, serão úteis num Ungido
futuro próximo. Falar abertamente sobre esse dom, sobre as vi- Requisito: -

sões e mensagens, pode colocar o personagem em apuros, uma As muitas ordens religiosas de Belregard aca-

vez que o Tribunal pode interpretar tais sentidos como um sinal bam possuindo dogmas diferentes, enquanto

claro da presença da Sombra Viva. Ao mesmo tempo pode ser o leoristas dedicam-se ao tempero de corpo e

que abrirá caminho para o personagem galgar sua chegada ao mente, valorizando o combate, alecistam se

estado de Arauto (Bravura, Virtude Única). dedicam em espalhar a litania enquanto lazlitas
são comuns no clautros, enterrados no estudo
Senso Comum das escrituras. Reconhecido como sacerdote de
Requisito: - sua Devoção, pode facilmente ser reconhecido
Se estiver prestes a tomar uma decisão insensata, o narrador por outros sacerdotes por saber responder com
deverá confirmar primeiro se realmente deseja aquilo antes de facilidade as perguntas sobre seus segredos sa-
ditar suas consequências. Ideal para novos jogadores. grados.

Senso de Dever Veloz


Requisito: Especificar juramento. Requisito: Agilidade 4+
Comum entre cavaleiros mercantes e demais cavaleiros de or- +2D em Correr (Força) uma vez por dia e +1m
dens específicas, que costumam tomar um juramento de proteger no Movimento, desde que não esteja carregan-
determinadas áreas ou mesmo símbolos. +2D em todos os testes do uma arma ou armadura com a característica
contra qualquer tentativa de distraí-lo ou demovê-lo de seu jura- Fardo.
mento, até mesmo com poderes sobrenaturais.
Versatilidade
Senso de Direção Requisito: Uma Mão (Manejo) 4+
Requisito: Especificar Terreno. Muitos soldados se acomodam com a prática
Você se oriente facilmente em áreas selvagens, garantindo uma de armas básicas, não se empenhando muito em
maior segurança para aqueles que viagam com você. +1D Orien- melhorar as próprias capacidades, você não é
tação (Sobrevivência) dentro de um tipo de terreno específico assim. Seu treinamento com diferentes armas
(bosque, colina, costa, floresta, costa, montanha, pântano, etc.). cancela a penalidade da característica Compli-
Além disso, será possível regressar pelo caminho em que che- cada.
gou, desde que isso tenha ocorrido recentemente.
Visão Noturna
Terreno Favorito Requisito: Observar (Percepção) 4+
Requisito: Especificar terreno. Salvo na escuridão total, que ainda o deixa
Sua familiaridade com um tipo específico de terreno selvagem cego, você reduz em dois Sucessos a penalidade
o torna mais apto ao combate nestas áreas, ciente dos perigos de dificuldade pela escuridão em qualquer teste
possíveis de se encontrar e conseguindo antecipar movimentos em que a visão seja importante.
para tirar alguma vantagem. +1D em Furtividade, Percepção (ex-

322
b TOMO IV b
Virtudes Únicas Calejado
Virtudes Únicas são compradas com pontos Requisito: -
de Elã e aconselha-se que o narrador permita Seja como um jovem que teve de se virar desde sempre nas ruas
que apenas um personagem possua uma Virtu- ou os campos, ou ainda como um veterano de guerra afastado
de Única no grupo, a exceção dessa regra é a dos exércitos, você se destaca pelos anos difíceis que viveu e lhe
Virtude Única Bravura, que coloca o persona- conferem +50XP.
gem na posição de Arauto.
Destino
Adaptável Requisito: Especificar destino.
Requisito: Atuação (Performance) 4+ Você nasceu sob augúrios especiais, talvez as estrelas na noi-
Você se vira bem em lugares novos, facilmen- te de seus nascimento estivessem dizendo que seu destino seria
te captando formas de comportamento, isso grandioso dentro dos salões da nobreza, por mais que o sua ori-
pode ser algo consciente ou não, de modo que gem humilde diga o contrário. Trabalhe em conjunto com o narra-
nem mesmo você perceba quando está mudan- dor para criar um bom gancho para a crônica com isso. Uma vez
do de sotaque para ficar mais parecido com o por dia é possível refazer um rolamento diretamente associado ao
que ouve ao seu redor. Em dois dias de contato seu destino e cujo resultado tenha sido insatisfatório. Este resulta-
com esta cultura se aprende a ficar com a voz e do só substituirá o anterior for melhor.
o comportamento quase idêntico ao de um mo-
rador local comum, sem a necessidade de testes Duro de Matar
para evitar qualquer suspeita. Requisito: Resistência 3+
Não importa o quão pesado eles batam, você pode até cair,
Ataque Furtivo mas não é tão fácil te matar. Se vencido numa escaramuça, o per-
Requisito: Agilidade, Furtividade e Manejo 3+
sonagem pode uma vez por dia converter um resultado de Morte
Você é perito em iniciar brigas de surpresa,
em Inconsciência. Inimigos enganados uma vez no passado po-
ou entrar em uma como menos se espera. +1D
dem anular esse efeito numa segunda vitória, garantindo que des-
no ataque ou +2 no dano a cada ataque contra
ta vez não volte a incomodá-lo.
a Retaguarda ou Flanco, ou durante a Rodada
Surpresa. Esmagador
Requisito: Manejo 4+
Bravura
Você se sai melhor com armas grandes, como martelos maças
Requisito: Ter passado pelas Três Marcas do
pesadas. +1 no Dano com armas de Manejo com a característica
Criador e assim adquirir, pelo menos, uma Fra-
Esmagadora. Além disso, +2D num ataque com uma arma assim
queza que transmita isso.
(Reação Livre) uma vez por dia.
Você despertou como Arauto e agora é capaz
de realizar certos feitos discretos que o ajudam
Estocada Cruel
a tomar ciência da presença da Sombra Viva em
Requisito: Manejo 4+
todas as coisas, mas também o torna um alvo de
Punhais, adagas, lâminas perfuradores são mais letais quando
seus agentes. Esta Virtude pode ser comprada
em seus dedos habilidosos. +1 no Dano com armas de Manejo
mais de uma vez, a cada compra, o personagem
com a característica Perfuradora. Além disso, +2D uma vez por
adquire um Ponto de Poder (chamado de Bravu-
dia (Reação Livre) num ataque com uma arma assim.
ra aqui) para utilização dos dons divinos. A cada
compra, pode-se escolher um dom diferente.

323
b TOMO IV b
Fúria Sua habilidade com armas cortantes é supe-
Requisito: Força e Resistência 4+ rior, permitindo que você cause muito mais fe-
Talvez seja pura ira divina, ou um caso de possessão, mas você rimento aos inimigos desavisados. +1 no Dano
é capaz de canalizar uma força primitiva dentro de si e fazê-la es- com armas de Manejo com a característica Cor-
tourar na forma de uma fúria que o torna um verdadeiro monstro tante. Além disso, +2D uma vez por dia (Rea-
em batalha. Ativada uma vez por dia (Ação Maior), o personagem ção Livre) num ataque com uma arma com esta
ganha +1D em Manejo, +1 no dano, +1 no Vigor físico, +1D em mesma característica.
testes para resistir poderes, -1S em Testes de Bloqueio, -1 na De-
fesa e -2S em ações desassociadas ao combate físico. Este estado Preces Respondidas
dura até o final da cena ou até vencer um teste de Determinação Requisito: -

(Vontade) Difícil/-1S para que consiga se conter (Ação Maior), A crença é um elemento forte para superar

passando a ficar com -1S em todos os testes até o final da cena. problemas e você, reconhecidamente como al-
guém de fé forte, pode auxiliar seus aliados. Ao
Gigantesco focalizar suas preces num aliado dentro do seu
Requisito: 2,2+m de altura, Força e Resistência 4+ campo de visão (Ação Maior), uma vez por dia
Talvez você tenha um pouco do sangue de gigantes que corre será possível conceder +2D a ele numa ação que
nas veias dos vogos. Sua força e tamanho impressionantes permi- não seja contra a sua devoção.
tem que uma arma de duas mãos possa ser manuseada com uma
apenas, rolando Uma Mão (Manejo) em seus ataques, mas sem a Precisão Impressionante
vantagem da característica de arma Duas Mãos. Requisito: Pontaria 4+
Sua mira é boa o bastante para conseguir atin-
Influência gir entre os olhos de um inimigo em movimento
Requisito: Especificar organização com muito mais facilidade que outros atiradores.
Boas relações com as pessoas certas e alguns favores lhe con- +1 no Dano com armas de Pontaria. Além disso,
cedem voz entre os líderes de uma organização especificada +2D uma vez por dia (Reação Livre) num ataque
(consulte a crônica), mesmo que nem sempre seja possível ma- com uma arma assim.
nipulá-los.
Refúgio
Inspirar Aliados Requisito: Especificar local.
Requisito: Oratória (Performance) ou Carisma (Liderança) 5+ Um lugar reservado e seguro, podendo ser
Seja num discurso de comandante diante de tropas desmorali- uma velha adega nos porões de um antigo bar,
zadas ou como um pregador fiel ao secto desesperado, suas pala- as criptas de uma igreja ou ainda os salões se-
vras incutem moral e ânimo nos corações enfraquecidos. Se tiver cretos em um grande castelo. Esconderijo à dis-
êxito num teste de Oratória (Performance), algo em seu discurso posição do personagem, que se bem cuidado só
(feito nesta mesma cena) deixará os aliados dentro de um raio será conhecido por seus aliados. Varia de acordo
de 10m com +1D num determinado teste associado ao discurso, com a ocupação e precisa ser bem definido jun-
num único turno especificado pelo jogador (Ação Livre) até o to com o narrador.
final da cena. Esta virtude só pode ser usada uma vez por dia.
Reflexos Afiados
Lâmina Mortal Requisito: Agilidade 4+
Requisito: Manejo 4+ Uma Reação Menor adicional por rodada, que

324
b TOMO IV b
não só pode ser investida para tentar de novo no/-4S. Com esta virtude é possível extrair uma concentrado após
uma reação malsucedida. um processo que leva ao menos cinco dias. Como todo veneno
concentrado, ele perde o efeito em dois dias.
Sorte • Amanita Virosa: Cogumelo que surge no verão e no outono,
Requisito: - que quando imaturo se parece com algumas espécies comestí-
Os povos de Belregard costumam ver a ques- veis. É comum no oeste de Dalanor e por toda a Viha. Com esta
tão da sorte de sua própria maneira, a verdade virtude se aprende que se ingerida será preciso vencer um teste
é que a sorte de, por exemplo, sobreviver a feri- de Fortitude (Resistência) Difícil/-1S para não entrar em sofri-
mentos mortais pode levantar suspeitas sobre a mento e morrer em horas com o fígado e os rins estragados. As
origem dessa “benção”. Uma vez por dia, refaça dores permitem identificar o envenenamento com êxito num tes-
um rolamento à sua escolha. O novo resultado te de Diagnose (Tratar Ferimentos) Muito Difícil/-2S, podendo ser
irá substituí-lo se assim preferir. ministrado um antídoto que deixa a vítima com apenas um Nível
de Ferimento adicional. Pode ser identificado no cadáver da víti-
Veneno
ma com êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Muito
Requisito: Especificar veneno.
Difícil/-2S.
O conhecimento sobre venenos pode ser estu-
• Acônito: Planta de folha verde-escura e flor azul (às vezes
dado por qualquer indivíduo com um mínimo de
branca), muitas vezes utilizada para matar lobos. Se ingerir um
inteligência, mas o acesso a essas informações
pouco da raiz (o gosto é péssimo) será necessário fazer um teste
é extremamente difícil de conseguir. Com esta
de Fortitude (Resistência) Radical/-3S, do contrário sofrerá sali-
virtude, o personagem tem o hábito de utilizar
vação excessiva (levando às vezes a espumar pela boca), falta de
um veneno sugerido ou autorizado pelo narra-
ar, tremores e depois a morte em algumas horas. Esta virtude
dor de acordo com o cenário, sabendo que ele
permite extrair um concentrado que pode ser usado para envene-
deve ser utilizado com parcimônia para evitar
nar flechas e pontas de espadas. Basta causar 2+ pontos de dano
chamar a atenção de outros conhecedores de
com uma arma envenenada assim para obrigar o alvo a fazer o
venenos.
teste acima. Como todo veneno concentrado, ele perde o efeito
• Arsênico: Um par de gotas de arsênico
em dois dias desde a filtragem. Pode ser identificado no cadáver
pode deixar a pele rosada, o que o torna relati-
de uma vítima com êxito num teste de Diagnose(Tratar Ferimen-
vamente popular entre alguns círculos da nobre-
tos) Simples/0.
za, mas sabe-se que seu uso em demasia pode
• Lótus Negra: Uma única folha ingerida desta planta pode
levar a morte. Pode ser misturado na comida ou
obrigar um teste de Fortitude (Resistência) Radical/-3S para evitar
bebida, e quando ingerida obriga a passar em
que a respiração se torne cada vez mais pesada, levando à morte
um teste de Fortitude (Resistência) Difícil/-1S
em até uma hora. O sintoma permite identificar o envenenamento
para não sofrer com vômitos, diarréia, desidra-
com êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Dificil/-1S,
tação e dores no estômago, levando a morte em
podendo ser ministrado um antídoto que o interrompa, deixando
horas. Por se parecer com a difteria, precisa de
a vítima com um Nível de Ferimento adicional. Pode ser identi-
êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos)
ficado no cadáver da vítima com êxito num teste de Diagnose
Insano/-4S para ser identificado, podendo ser
(Tratar Ferimentos) Radical/-3S.
ministrado um antídoto que deixa a vítima com
• Cicuta: Outra planta fatal. Basta ingerir oito folhas que será
um ou dois Níveis de Ferimento adicionais. Pode
preciso fazer um teste de Fortitude (Resistência) Radical/-3S para
ser identificado no cadáver da vítima com êxito
não ter uma morte lenta e dolorosa, paralisando o corpo apesar
num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Insa-

325
b TOMO IV b
de manter a mente lúcida até o final, levando à
morte em poucas horas. Tem um gosto péssimo
que pode tornar o teste mais fácil com uma in-
gestão menor, mas esta virtude permite criar
uma infusão concentrada que tira o gosto ruim,
desde que tenha a planta consigo. Pode causar
complicações para quem a colhe, pois é uma
planta que sabidamente traz mau agouro e me-
xer com ela é tabu. Pode ser identifcado no ca-
dáver de uma vítima com êxito apenas num tes-
te de Diagnose (Tratar Ferimentos) Insano/-4S.
• Outras Toxinas: Certas plantas e animais
(nem sempre fáceis de serem encontradas) se-
cretam substâncias venenosas. Com esta virtu-
de se aprende como extrair um concentrado que
pode ser usado para envenenar flechas e pontas
de espadas. Basta causar 2+ pontos de dano
com uma arma envenenada assim para obrigar
o alvo a fazer um teste de Fortitude (Resistên-
cia) Muito Difícil/-2S, do contrário entrará em
sofrimento para morrer em uma questão de ho-
ras. Como todo veneno concentrado, ele perde
o efeito em dois dias desde a filtragem. Pode
ser identifcado no cadáver de uma vítima com
êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos)
Muito Difícil/-2S.

FRAQUEZAS
O jogador pode escolher até duas Fraquezas
na criação de seu personagem. Lembrando
que certos traços, como idade, podem incutir
Fraquezas, como Decrepitude. É preciso cum-
prir, também, algum requisitos para algumas
Fraquezas específicas. Se os requisitos para as
Fraquezas for superado, ou se elas perderem o
sentido para o personagem, podem ser retiradas
do jogo. Ao retirar, deve-se decidir se o ponto
de Elã também será removido ou se uma nova
Fraqueza substituirá a antiga.

326
b TOMO IV b
Ameaçador Cego
Requisito: - Requisito: Visão Comprometida (Fraqueza), que pode ser apaga-
Você causa desconforto com sua presença. da da ficha.
-2S em Charme (Blefe) pela sua aparência as- Por algum motivo você perdeu a visão e, desse modo, os testes
sustadora, uma vez que ninguém consegue ficar envolvendo a visão falham automaticamente, além de uma série
completamente à vontade na sua presença. de outras limitações que o narrador deve explorar em jogo.

Arrogância Chantageado
Requisito: Reputação 2+ e Percepção (Empatia) 3- Requisito: Segredo (Fraqueza)
Em sua arrogância é impensável que alguém Seus crimes do passado são conhecidos por algumas pessoas
de posição inferior possa sequer sonhar em agir que podem iniciar um processo de cobrança de favores para se
contra você, ou pelas suas costas. -2S em Em- manterem de bico calado. Algum antagonista ou coadjuvante co-
patia (Percepção) contra aqueles que o perso- nhece um ou mais segredos do personagem e aos poucos amea-
nagem acredita pertencer a um Status inferior. çará revelá-lo(s) caso não seja feita uma série de favores. A iden-
tidade desse chantagista não precisa ser revelada inicialmente.
Atormentado
Requisito: -
Compulsão
Requisito: Especificar atividade.
Formas fantasmagóricas ocupam seus pen-
Todo dia um ritual ou atividade não muito demorada deve ser
samentos em momentos aleatórios. Podem ser
realizada, seja aquela oração ao Criador logo pela manhã, ou o
coisas do passado retornando para assombrar e
ritual do soldado de amolar e chegar seu equipamento sempre
cobrar por um pecado antigo ou simplesmente
que a marcha dá uma pausa. Se esta rotina não for respeitada,
aquelas vozes dentro de sua cabeça que sem-
o personagem ficará com -1S em todos os testes até que volte a
pre estiveram lá, garantindo que não estivesse
realizá-la.
sozinho em qualquer lugar que fosse. -2S em
Atenção (Percepção), pois fantasmas costumam
Contratante
assombrar suas lembranças a todo o momento,
Requisito: Especificar contratante.
mesmo quando não pensa neles.
Comum entre os cavaleiros mercantes que não estão filiados a
uma única casa poderosa, mas estão sempre prestando serviços
Bom Coração
em troca do auxílio básico para sua sobrevivência. Uma figura
Requisito: Determinação (Vontade) 3-
rica e/ou influente cobra serviços com certa frequência, geral-
Injustiças o fazem torcer os nervos para se
mente por tê-lo beneficiado no passado. Ele pode ajudar nas si-
controlar, seu coração demanda retratação por
tuações que o interessam, mas se demorar a ser atendido pode se
parte dos vilões ou, no mínimo, alento para as
transformar num Nêmesis. Especificar contratante.
vitimas. Sua necessidade em seguir o caminho
do bem o impede de fazer maldades, obrigando- Covarde
-o a vencer um teste de Determinação (Vontade) Requisito: Coragem (Vontade) 3-
para fazer algo que considere errado, como não Você evita de encarar conflitos onde sabe que não possui qual-
atender um pedido de ajuda que não coloque quer vantagem. -1S nos ataques se estiver envolvido num comba-
sua vida em perigo. te físico equilibrado ou quando estiver em desvantagem.

327
b TOMO IV b
Curiosidade origem do poder como algo divino ou profano.
Requisito: Determinação (Vontade) 3- • Deficiência: Sente os sintomas de uma de-
Você simplesmente considera que segredos podem ser coisas ficiência (como cegueira, paralisia, mutilação,
perigosas, especialmente quando você não sabe deles. Nas opor- surdez, etc.) sem que o defeito físico exista.
tunidades que atiçam seu interesse (mas não o colocam em pe- Mesmo assim, o personagem sofre as respecti-
rigo) o narrador deve pedir um teste de Determinação (Vontade) vas penalidades. Especificar deficiência.
para evitar o ímpeto de satisfazer esta sua curiosidade. • Lua: Os delírios Euforia e Melancolia se in-
tercalam com uma frequência que varia a cada
Decrepitude personagem. A cada dia role 1d6: 1-3 Melanco-
Requisito: Especificar atributo(s) e a(s) respectiva(s) penalida- lia e 4-6 Euforia.
de(s).
• Melancolia: Só a decadência e a ruína são
-1 num Atributo escolhido pelo jogador para cada ponto de De-
reparadas à sua volta, junto com a certeza de
crepitude (modificador aplicado na Ficha de Personagem). Esta
que nada pode ser feito para aplacar os horro-
desvantagem também pode ser causada pela Idade sem compen-
res desse mundo. Cria um sentimento reverso ao
sação em Elã (Meia Idade: 2 pontos, Velho: 4 pontos, Venerá-
delírio Euforia, mas com a mesma fadiga pela
vel: 8 pontos), onde cada ponto deve ser convertido em -1 em
falta de sono.
Agilidade, Força, Furtividade, Ladinagem, Manejo, Pontaria ou
• Messiânico: Certeza de estar destinado a
Resistência. Não pode ser escolhido um atributo cuja penalidade
realizar algo importante ou se tornar valioso
o leve a menos que Fraco/1.
dentro da sua Devoção. Vive constantemente
atrás de alguma demanda que ninguém mais
Delírio
pode realizar.
Requisito: Especificar delírio.
• Onirismo: Sonho e realidade eventualmen-
Alguma perturbação acomete a mente do personagem e ele
te se confundem, criando alucinações que po-
passa a ter dificuldade de discernir o real do imaginário. Ele pode
dem ser bem detalhadas. As percepções distor-
ter nascido com o delírio ou adquiro ao longo da vida, depois de
cidas (ativadas a critério do narrador) surgem
algum episódio particularmente traumático.
num estado alterado de consciência que deixa
• Ciúme: A obsessão sobre um indivíduo faz com que imagine
qualquer teste com -2S.
que todos com quem ele interage tenham uma relação mais ínti-
• Perseguição: Convicção de que algo muito
ma às escondidas, talvez até para zombar do personagem. Espe-
ruim está para acontecer e/ou que alguém está
cificar personagem.
atrás do personagem para fazer alguma perver-
• Euforia: Excesso de ânimo e agitação que simplesmente não
sidade. O narrador pode oferecer informações
permite dormir, deixando-o na condição Cansado após uma noi-
falsas para o jogador mesmo em testes de Per-
te sem sono e Exausto depois de duas noites. Geralmente na ter-
cepção com êxito.
ceira noite o personagem desmaia de cansaço, dormindo muitas
horas para compensar.
Devoção Excessiva
• Grandeza: O personagem se considera superior aos outros
Requisito: Determinação (Vontade) 3- ; Especi-
em vários aspectos, com frequência colocando em si mesmo tí-
ficar devoção.
tulos de nobreza ou apresentando-se como dono de coisas ab-
Destinados devotos fervorosos de símbolos
surdas.
sagrados, mas também aos servos mais depen-
• Influência: Crença de que seu corpo e pensamento são in- dentes do domínio de seus senhores. Adoração
fluenciados ou controlados por forças sobrenaturais. Especificar

328
b TOMO IV b
ansiosa que, na presença de seu objeto de de- Enraizado
voção, pode fazer o narrador pedir um teste de Requisito: -
Determinação (Vontade) para evitar que o per- Seu apego ao local onde nasceu e viveu a vida toda é forte
sonagem largue tudo para bajulá-lo, não ser nos demais para simplesmente virar as costas em busca de outras
momentos em que isso o coloque em perigo. oportunidades, ou mesmo por necessidade. Parte de sua existên-
cia está atrelada a um lugar ou região. Sempre que estiver fora
Dívida de sua Morada, o personagem fica com -1S em todas as ações
Requisito: Recursos inicias entre 1 e 4; Especi- físicas. Esta penalidade pode ser anulada por uma cena se gastar
ficar credor(es). um ponto de Elã.
Alguém te ajudou no passado, emprestando
algumas moedas ou mesmo material para um Esquecido
trabalho. A cobrança chega para todos. -1 em Requisito: Memória (Inteligência) 3-
Recursos e algumas visitas eventuais de cobra- Sua memória não é como a dos outros, você se esquece de
dores inoportunos para cobrar parte do que se trivialidades e assuntos importantes com grande facilidade. -1S
deve, às vezes oferecendo (ou forçando) servi- em Memória (Inteligência), e o narrador pode solicitar este teste
ços ou favores para diminuir esse débito. quando outros não precisariam.

Dívida de Sangue Eunuco


Requisito: Especificar personagem. Requisito:-
Tiraram algo seu no passado, algo importante. Em um mundo onde a proliferação, a fertilidade de homens e
Por mais que você tente negar ou superar, o de- mulheres é celebrada (mesmo que timidamente na igreja), ser in-
sejo da vingança, de equilibrar as coisas, é mais capaz de cumprir esse papel pode gerar consequências sociais,
forte. Um antagonista esteve por trás de uma especialmente entre os membros da nobreza. Sua condição não
chacina que lhe arrancou familiares e/ou entes apenas o impede de ter filhos, como também causa estranhamen-
queridos. Sempre que encontrar uma oportuni- to, desprezo e piadas quando conhecida pelos outros.
dade de cobrar essa dívida sem colocar sua vida
em risco, terá de gastar um ponto de Elã para Fedelho
tomar outro caminho voluntariamente. Requisito: -
Independente da sua posição social, sua pouca idade impõe
Dores no Corpo certas limitações. -1 em Recursos e Status, além de poder com-
Requisito: - prar no máximo duas virtudes, e apenas as aprovadas pelo narra-
Seja pela idade, por uma má formação ou dor, que deve proibir se achar que é cedo demais. Se esta fraqueza
qualquer outro motivo, você não consegue co- for causada pela idade Criança ou Adolescente ela não pode ser
brar tanto de seus músculos quanto os demais, cancelada queimando Elã, mas irá desaparecer sozinha assim que
mesmo as caminhadas mais breves para levar as o personagem chegar à idade Jovem.
ovelhas aos pastos é tortuosa. Suas juntas estão
sempre doloridas, tornando qualquer movimen- Feudo
to prolongado um nível mais difícil (-1S). Falhas Requisito: Especificar organização rival.
críticas em testes físicos levam a uma crise que As contendas entre senhores de terras são comuns em todos
aumenta a dificuldade para -2S por 1d6 dias. os cantos de Belregard, famílias rivais nos campos e nas cidades
disputam influência e território desde que o mundo existe, sejam

329
b TOMO IV b
nas estepes de Rastov ou nos vales profundos de Belghor. Uma Laço Afetivo
rivalidade antiga entre os membros de duas famílias (ou quais- Requisito: Especificar um dos tipos.
quer outros tipos de organizações) move uma série de confrontos Forte vínculo com um ou mais indivíduos pró-
inevitáveis motivados por vingança. ximos do personagem, que pode se dar de di-
ferentes formas. Um distanciamento definitivo
Frágil (desentendimento, morte, banimento, etc.) irá
Requisito: Resistência 2- queimar um ponto de Elã do personagem ou fa-
Independente da sua idade, seu corpo frágil o coloca em situa- zê-lo ganhar uma nova fraqueza estipulada pelo
ções perigosas Consegue acumular só um nível de Ferimento (ao narrador de acordo com a situação.
invés dos dois níveis normais) antes de ser vencido numa Escara- • Alma Entrelaçada: Ente querido ao qual
muça. Requisito: Resistência 2 ou menor. foram trocados momentos afetivos, promessas
e expectativas, cuja falta de uma atenção mí-
Infantil nima pode levar ao ressentimento ou a oportu-
Requisito: - nidade para um antagonista se aproximar dele
-1 em todos os atributos, deixando-os no mínimo Fraco/1. Além para tirar informações valiosas ou coisas ainda
disso, pontos de Elã podem ser queimados normalmente, mas só piores. Especificar personagem no Histórico.
podem ser gastos para refazer rolamentos. Esta fraqueza é ex- • Controlador: Excesso de zelo em relação
clusiva da idade Criança e não pode ser removida com Elã, mas a um ou mais indivíduos, geralmente filhos ou
desaparece sozinha (incluindo as penalidades) quando se entra protegidos, que se contestarem sua autoridade
na idade Adolescente. e/ou proteção deixarão o personagem na condi-
ção Abalado (-1S em todos os testes até o final
Inocente da cena) a cada vez que for desautorizado. Espe-
Requisito: Empatia (Percepção) 3- cificar personagem no Histórico.
Você acredita facilmente no que te contam, sendo incapaz de • Dependente(s): Um ou mais indivíduos
ver a maldade nos outros na maior parte das vezes. -2S nos testes frágeis (seja por idade, enfermidade ou outra
resistidos de Empatia (Percepção) contra Blefe. condição) que necessitam da sua proteção, além
do cuidado de alguns ajudantes quando não es-
Justiceiro tiver presente. Nos tempos difíceis será preciso
Requisito: Concentração (Vontade) 3- que coordene sua mudança para algum refúgio.
Seja por um apego aos dogmas da igreja ou aos juramentos ao Especificar personagem no Histórico.
código de cavalaria, você se revolta facilmente quando percebe
injustiças, não aceitando essa quebra na harmonia do mundo, Lascivo
que demanda uma reação imediata, e geralmente violenta, de sua Requisito:-
parte. Senso de justiça que o atormenta e pode deixá-lo angus- O olhar de Arshma pesa mais em você. É
tiado, violento ou descontrolado. Sempre que testemunhar algum simplesmente forte demais, para onde quer que
abuso que possa fazer algo a respeito, o narrador pode solicitar você olhe, são possíveis parceiros de prazer que
um teste de Concentração (Vontade) para não ficar com -1S em você enxerga. -2S nos testes de Lábia contra
todas as ações até tentar fazer justiça ao seu modo. Esta penali- personagens que o fazem se sentir minimamen-
dade só irá desaparecer ao final da cena. te atraído. Sua sedução é inadequada, invasiva,
exagerada e/ou ofensiva.

330
b TOMO IV b
Lentidão Pode ser motivo de caráter ou pura e simples incapacidade de
Requisito: - mentir, mas você recebe -2S em Enganação (Blefe) quando tentar
Seja por algum problema nas pernas, falta de convencer os outros de algo que não é justo ou verdadeiro.
fôlego ou outra coisa qualquer, você recebe -2S
em Correr (Força) e -1m no Movimento. Medroso
Requisito: Coragem (Vontade) 3-
Má Fama -1S nos testes de Coragem (Vontade) para resistir a qualquer
Requisito: - tipo de medo. Além disso, ainda há certa dificuldade para barrar
Alguma mancha do seu passado ainda o abusos e enfrentar obstáculos ou indivíduos que o contestem. Ao
persegue, deixando seu nome relacionado a enfrentar essas situações será preciso vencer um teste de Cora-
eventos, comportamentos, indignos, que cau- gem (Vontade) para que possa se manifestar, do contrário sua
sam desconfiança ou hostilidade daqueles que passividade o impedirá de abrir a boca.
conhecem a história. -2S Persuasão (Lábia) e
Enganação (Blefe) contra aqueles que sabem da Mudo
falta de escrúpulos que lhe é atribuída, mesmo Requisito: -

que não seja verdade. Talvez você tenha perdido a língua, ou nasceu sem a capacida-
de de fala, podendo ainda ser um recluso monge dos ermos que
Marcado jurou nunca mais levantar a voz. Sua incapacidade de falar o faz
Requisito: Especificar marca. falhar sempre em qualquer teste que dependa da sua fala. Além
Alguns locais tratam de forma severa os seus disso, os outros têm -1S em Empatia (Percepção) em testes que o
criminosos, especialmente os que carregam o tenham como alvo.
epíteto de “cabeça de lobo”, não é incomum
que áreas do interior, longe do poder centrali- Mundo Imaginário
zador de um rei ou sacerdotes, a própria popu- Requisito: -

lação marque na punição de seus criminosos. O personagem vive em contato com um mundo que só ele vê,

Uma tatuagem ou marca indelével numa parte muitas vezes sob uma perspectiva mítica ou divina, interagindo

bem visível do corpo aponta um antecedente com indivíduos e situações que os outros não são capazes de ver.

reconhecido em sua cultura associado a algo Se confrontado com o mundo real ele simplesmente irá ignorá-lo.

vergonhoso ou repudiado (criminoso, escravo, O jogador não pode questionar suas alucinações e deve tomá-las

traidor, exilado, etc.) por verdade. Não aparece como Delírio uma vez que pode estar
ligado a algo realmente sobrenatural. Em Belregard essa Fraqueza
Matusalém poderia ser utilizada para representar a nova visão de mundo de
Requisito: - um Arauto, vendo as mentiras das pessoas de forma mais decla-
-1 em todos os atributos depois de aproxima- rada.
damente dez anos da aquisição desta fraqueza,
deixando cada um pelo menos Fraco/1. Esta fra- Mutilado
queza pertence à idade Venerável e não pode Requisito: Especificar mutilação.

ser removida com Elã. Algo dificulta sua destreza com uma determinada parte de seu
corpo, talvez sejam alguns dedos faltando ou mesmo um pé intei-
Mau Mentiroso ro. Varia com a parte comprometida, mas a deficiência deixa -2D
Requisito: - nos testes diretamente associados e/ou -2m no Movimento.

331
b TOMO IV b
Nanismo Odiado pelos Animais
Requisito: Baixa estatura; Agilidade e Força 2- Requisito: -
Você não passa do 1,45m de altura. -1S em Agilidade e Força Algo no seu cheiro, ou no seu olhar (quem
(deixando ao menos Fraco/1), -1m no Movimento e +1D em Fur- sabe na sua aura?), torna os animais hostis a
tividade devido à sua altura debilitada. sua presença. Basta entrar no mesmo recinto
que os animais presentes se mostrarão agitados
Nêmesis e o atacarão se tentar tocá-los ou aproximar-se
Requisito: Especificar personagem. demais.
Por algum motivo você possui um nêmesis, um indivíduo que
persegue seu personagem e tenta frustrar seus planos e arruinar Ouvido Ruim
sua vida. Nem sempre o nêmesis quer mata-lo, talvez isso seja Requisito: -
fácil demais e tornar sua vida um inferno é mais interessante. -2S em Ouvir (Percepção), que não pode mais
Antagonista devotado em atormentá-lo até que possa finalmente ser desenvolvida com XP em razão da audição
confrontá-lo para alcançar seu objetivo individual. A ficha dele fraca, entre outras penalidades que o narrador
será construída com a mesma quantidade de pontos de experiên- pode aplicar em razão desta fraqueza.
cia que a sua.
Passado Sombrio
Requisito: -
Obsessão
Em sua Morada sua figura está associada a um
Requisito: Determinação (Vontade) 3-; Especificar objeto de ob-
erro terrível do passado, que até hoje ecoa na
sessão.
forma como é tratado pelos outros, modifican-
Você é obcecado por algo, talvez seja um objeto de fato, como
do em -2S uma vez por dia (critério do narra-
uma mania de colecionar símbolos sagrados ou pregos de caixão.
dor) um teste social. Decida junto do narrador
Se confrontado com o objeto de obsessão, o narrador deve pedir
o motivo desse comportamento. Talvez seu per-
um teste de Determinação (Vontade) para evitar que deixe tudo
sonagem nem mesmo saiba, mas a vizinhança o
de lado para satisfazer esta obsessão, mas sempre dentro do li-
culpa por alguma tragédia do passado.
mite do razoável.

Perturbado
Odiado
Requisito: -
Requisito: Especificar povo/castelania
Por uma razão aparentemente divina, o per-
Todos os povos de Belregard possuem alguma espinha dorsal
sonagem vive em constante conflito com uma
que ajuda a identificar membros que compartilham do mesmo
personalidade oposta, na qual cada traço do seu
sangue, por algum motivo um desses traços é mais característico
Comportamento é o oposto ao seu. Uma vez por
em você, tornando-o um incômodo em círculos que veem seu
dia o narrador pode declarar a troca de perso-
povo com certo preconceito. Talvez você seja um ruivo entre os
nalidade, geralmente em momentos de tensão
dalanos ou um criadorista fervoroso entre os vlakos. Os indiví-
ou alívio súbito. Esta Fraqueza pode refletir
duos do povo (aqui valendo ressaltar diferenças entre castela-
de maneiras muito perigosas dentro do jogo, já
nias) especificado tendem a lhe fazer oposição por nada, e caso
que seu personagem pode acreditar que ouve
entrem em combate só não tentarão matá-lo se proibido pelos
mensagens divinas em sua mente. Talvez alguns
superiores.
religiosos acreditem nisso, talvez até escutem o
que seu personagem tem a dizer, acreditando

332
b TOMO IV b
que ele carrega algum tipo de iluminação, mas Uma organização (a ser decidida em conjunto com o narrador,
não seria difícil que mensagens de Deus se tor- como deve ser mostrado na ficha da crônica em questão) exige a
nem do Diabo ao prazer do ouvinte. sua captura por um crime grave que lhe foi atribuído. Pelo menos
uma vez por arco de história alguém deve aparecer na narrativa
Péssima Reputação à sua procura. Talvez você não tenha cometido o crime, mas não
Requisito: Reoutação inicial entre 1 e 4. possua os meios para provar sua inocência.
Algum ato infame de sua parte sujou sua re-
putação dentro de sua Morada. -1 na Reputação Repudiado
graças ao descrédito que possui em sua Morada. Requisito: Especificar tipo de pária.
-2S em Enganação (Blefe) quando for reconhecido como indiví-
Piedoso duo de segunda classe, seja por pertencer a uma casta inferior ou
Requisito: - por ter cometido um crime grave. Dificilmente será bem tratado
Seja por um coração mole ou pela culpa de um quando reconhecido. Talvez você seja visto como um degenera-
erro passado que o corrói, sempre que estiver do dos ermos, correndo até mesmo riscos em se relacionar com
diante da possibilidade de tirar uma vida com pessoas de poder que podem não querer perder tempo contigo.
suas próprias mãos, o personagem terá de gas-
tar um ponto de Elã para fazê-lo.

Pobreza
Requisito: Recursos 1+
Seja por ter perdido tudo no jogo ou numa dis-
puta de terras, o personagem recebe -1 em Re-
cursos. O jogador pode anotar ‘Voto de Pobre-
za’ se este juramento foi feito pelo personagem.

Preso a um Juramento
Requisito: Especificar Juramento.
Não necessariamente voltado apenas para ca-
valeiros que juraram sua fidelidade a ordens ou
senhores, mas a qualquer tipo de pessoa presa
por uma jura que verdadeira a toma como ver-
dade única e absoluta. Nada pode demovê-lo de
seu juramento (proteger os padres criadoristas,
ajudar os rebeldes que tentarem destronar o rei,
etc.), pois caso venha a conscientemente que-
brá-lo irá perder um ponto de Elã (como se tives-
se queimado) ou esta Fraqueza será substituída
por outra pelo narrador.

Procurado
Requisito: Especificar organização.

333
b TOMO IV b
Terror suas vítimas desta forma será preciso vencer um
Requisito: Coragem (Vontade) 3-; Especificar objeto de medo. teste de Determinação (Vontade) pelo menos
Um medo avassalador toma o personagem diante de seu objeto Difícil/-1S. Requisito: Determinação (Vontade)
de medo, obrigando-o a vencer um teste de Coragem (Vontade) 3 ou menor.
ou ficar na condição Amedrontado até que possa fugir dali. O ob-
jeto de medo pode ser escolhido pelo jogador ou pelo narrador, Segredo(s)
desde que seja algo mundano e relativamente comum. Requisito: -
Caso um ou mais terríveis acontecimentos
Vingativo em seu passado sejam revelados publicamen-
Requisito: Determinação (Vontade) 3- te, além de perder um ponto de Reputação, seu
Você é bom em guardar rancores e não exita em se vingar de nome irá se tornar causa de vergonha, rejeição
inimigos ou mesmo amigos que tenham feito algo que te pre- e talvez vingança, obrigando-o a tomar certos
judicou. Sua facilidade em guardar rancores pode exigir que o cuidados.
narrador peça um teste de Determinação (Vontade) para evitar
uma oportunidade de tentar se vingar de alguém que tenha feito Servo
algum mal a si ou um ente querido. Requisito: -
Total subordinação ao seu(s) senhor(es). Ne-
Vício nhuma ordem será ignorada, mesmo que tenha
Requisito: Determinação (Vontade) 3-; Especificar vício. de passar por cima de seus próprios desejos
Dependência a uma substância ou ação intoxicante (como fur- para garantir que ela seja executada. Para de-
tar vítimas desavisados, fazer amor, etc.) que lhe serve como sobedecer seu superior será preciso gastar um
grande fonte de prazer. Sete dias após a última “dose”, o perso- ponto de Elã.
nagem ficará com -1S em todos os testes até que possa saciar seu
vício novamente. Quando houver fartura do elemento viciante, o Surdo
personagem precisa vencer um teste de Determinação (Vontade) Requisito: Ouvido Ruim (fraqueza), que pode
ao menos Difícil/-1S para não exagerar e ficar entorpecido (-2S ser apagada da ficha.
em todas as ações) até que consiga descansar por uma noite in- Testes ligados à audição falham automatica-
teira. mente, além de uma série de outras limitações
que o narrador deve explorar em jogo.
Visão Comprometida
Requisito: - Territorialista
-2S em Atenção e Observar (Percepção) em razão da vista Requisito: Especificar espaço físico, mental ou
comprometida, entre outras penalidades que o narrador pode emocional
aplicar em razão desta limitação. A simples presença de um ou mais estranhos
sem autorização dentro de um espaço que con-
Sanguinário sidera seu (físico, mental ou emocional) o faz
Requisito: Determinação (Vontade) 3- se sentir receoso das intenções deste(s) estra-
O signo de Amon é forte no seu espírito. Frequentemente mata nho(s), deixando-o como se tivesse a fraqueza
oponentes vencidos, e mesmo os poucos sortudos feitos prisio- Delírio (Perseguição) se a intrusão continuar.
neiros costumam ser severamente torturados. Para não destroçar

334
b TOMO IV b
CORRUPÇÃO Níveis de Corrupção
A Corrupção é um elemento permanen- Com algumas exceções, todos nascem puros (Corrupção zero),
te dentro do mundo de Belregard. Quando se e ao longo da vida ganham +1 para cada crime praticado em seu
compreende, no grande plano das coisas, que a Nível de Corrupção atual ou outro nível acima (veja Crimes abai-
Sombra venceu e que Deus está morto, é só uma xo). Mas este é um mundo derrotado. Assim, todo personagem de
questão de tempo para que cada coração huma- Belregard começa com corrupção no nível 2, Malicioso, refletin-
no seja engolfado pela treva do inimigo. Desse do a aliança da Mentira com a Sombra.
modo, a moralidade de todo homem e mulher Sempre que um jogador escolher voluntariamente uma ação
de Belregard vive em uma balança permanente. que leve ao aumento do Nível de Corrupção, o narrador deve pe-
Falando de modo geral, sempre que um perso- dir um teste de Vontade (Determinação), este teste pode rece-
nagem toma uma atitude maligna, ele chama a ber penalidades, pode ser difícil ou muito difícil, de acordo com
atenção da Sombra, que se aproxima e o envolve agravantes da situação. Roubar de um rico seria um teste normal,
mais um pouco. Este “ato maligno” pode osci- roubar de uma família miserável poderia cobrar um teste muito
lar em uma área cinza; outrossim, matar para difícil para não se deixar corromper. Abaixo, os degraus da cor-
sobreviver pode ser perdoado, mas matar com rupção:
requintes de crueldade pode implicar em um
passo adiante na corrupção. Puro/0: Ainda não foi tocado pelas forças sombrias.
A corrupção em Belregard é cuidada pelos Ím- Exemplo: Crianças.
pios, os agentes da Sombra e por seu consorte, o Crimes: Mentir ou Roubar para ganho mesquinho, trair um
Diabo. Desse modo, cada jogador deve rolar 1d6 comprometimento sincero e prejudicar inocente.
para saber sob o auspício de qual Ímpio ele se
Tocado/1: Apesar de maculado, ainda pode estar sincera-
encontra. Mais informações sobre estas entida-
mente interessado no bem comum. Exemplo: Aldeões.
des podem ser encontradas no livro III. São eles:
Crimes: Machucar inocente, quebrar uma promessa para ganho
1 - Amom, a Ira mesquinho e matar semelhante, mesmo que para defesa.
2 - Arshma, a Luxúria
Malicioso/2: Entende que é possível se beneficiar pela
3 - Invídia, a Inveja
maldade, mas ainda se mantém fiel às tradições. Exemplo:
4 - Mammom, a Avareza
Soldados.
5 - Zaalzhebub, a Gula
Crimes: Lidar com forças corrompidas para ganho mesquinho,
6 - Diabo, o Desejo
torturar inocente e prejudicar semelhantes pelo prazer de fazê-lo.
Inicialmente, a relação com os Ímpios não
Corrompido/3: Incapaz de perceber o mundo sem um
implicam em nada, eles começam a se mani-
viés perverso e entediado com os menos corrompidos.
festar na medida em que o personagem segue
Exemplo: Ladrões.
sua caminhada rumo ao abismo da corrupção.
Crimes: Ultrapassar os limites de uma vingança justa, matar
Por isso, esta estrada é dividida em 6 passos.
inocente pelo súbito ímpeto de fazê-lo e quebrar promessa im-
Eles são apresentados abaixo e a cada degrau
portante para mostrar poder.
é possível ver uma série de crimes e pecados
que podem fazer relação com aquele nível de Maldito/4: A maldade o domina, o que o torna cada vez
corrupção, que o narrador deve tomar como mais ávido para espalhá-la pelo mundo. Exemplo: Merce-
orientação. nários.

335
b TOMO IV b
Crimes: Caçar vítimas inocentes, tripudiar dos corpos de seus Nível de Consequência
inimigos e espalhafatosamente desrespeitar as tradições alheias. Corrupção
Corrompido Comportamento da Provação
Nefasto/5: A euforia que nutre pela perversidade começa
(Invejoso, Cabeça Quente,
a ser nublada pela eterna desconfiança de todos à sua vol-
Guloso, etc)
ta, vinda da certeza que todos podem chegar ao estágio em
Maldito Manifestação física sutil do Ím-
que ele mesmo chegou. Exemplos: A partir daqui os casos
pio (Gengivas Sensíveis, Visão
se tornam mais específicos, de cultistas infernais a selva-
Turva, Excitação Inoportuna,
gens sanguinários. Degenerados, pela manifestação física
etc)
em seus corpos distorcidos, se incluem neste grupo.
Nefasto Manifestação Física Notável
Crime: Envolver-se direta e abertamente com cultos da Sombra.
(Recebe a Fraqueza Ameaça-
Abominável/6: Estágio evolutivo encontrado apenas en- dor)
tre os miseráveis ou aqueles que governam sozinhos pelo Abominável Como recompensa, a Som-
medo. bra dá aos seus Abomináveis
Não existem horrores que limitem o personagem. um ponto fixo de Elã. Caso o
personagem cometa mais um
Uma vez obtidos, os Níveis de Corrupção são difíceis de serem ato corrupto, especialmente re-
revertidos e jamais diminuem sem grande arrependimento e uma lacionado aos cultos e louvores
busca por perdão proporcional ao mal praticado (a critério do sombrios, perde-se o persona-
narrador). Isso também ajuda o personagem a praticar a carida- gem.
de e a compaixão, mas especialmente a se sacrificar por causas
justas.
INSANIDADE
O que acontece? Se não for morto pelo aço, pela fome, pela
Quando se atinge o nível 3 de Corrupção - Corrompido - seu peste, ou ainda tragado pela espiral de corrup-
personagem começa a manifestar os traços da Sombra. Esse tra- ção, um personagem em Belregard pode ser en-
ço é discreto, sutil, e não precisa acontecer na mesma hora em golido pela loucura. Eventos traumáticos podem
que o ato maligno ocorreu. É interessante brincar com a ideia de fazer com que uma pessoa inicie seu caminho
que o personagem está sendo tomado pelo mal. Faça-o de forma por esta espiral sem volta. Em um mundo onde
subjetiva. Talvez um sonho onde todos os orifícios de seu cor- a loucura pode ser comparada com uma espécie
po são penetrados por uma escuridão rastejante. Inspire-se nas de possessão, de definhar da alma, não existe
descrições dos Ímpios apresentadas no Livro III para criar estes muita esperança para aqueles que confrontam
traços, relacionando-os. Quando atinge o nível Nefasto, fica difícil os horrores do mundo. O isolamento pode en-
esconder os mesmos e talvez o personagem seja identificado por louquecer, assim como ter diante de si a traição
membros da igreja ou fanáticos leigos (possivelmente tão corrup- da pessoa amada. O nível da insanidade é me-
tos quanto o próprio) e precise encontrar meios de esconder seu dido através das Fraquezas que o personagem
problema, ou arcar com a consequências. A partir deste nível 3 o possui, desde sua criação, até eventuais ganhos
personagem será afetado pelo Ímpio que o observa, acompanhe durante os jogos. Os níveis e as fraquezas rela-
alguns exemplos: cionadas são apresentados abaixo:

336
b TOMO IV b
Níveis de Insanidade: São/0, Afetado/1, sem poder durar mais do que até o término da sessão de jogo. É
Instável/2, Desequilibrado/3, Agoniado/4, En- interessante perceber que a aplicação de um teste de insanidade
louquecido/5 e Perdido/6. Todo personagem pode, muitas vezes, se relacionar ao teste de corrupção, como os
ganha um nível para cada uma das seguintes exemplos abaixo mostram.
Fraquezas: Ameaçador, Atormentado, Compul-
são, Delírio, Esquecido, Limitado, Mundo Ima- Seguem alguns exemplos de Testes de Sanidade que o narrador
ginário, Perturbado, Terror, Sanguinário e Sede pode pedir aos jogadores:
de Sangue.
Concentração (Vontade): Realizar uma atividade numa situa-
Exemplo: Lazarus, o Louco, é um mendigo
ção assustadora que dure alguns segundos ou minutos, como tirar
que possui as seguintes fraquezas: Ameaçador,
uma chave do estômago de um cadáver, cruzar uma sala repleta
Delírio (Messiânico), Mundo Imaginário e Per-
de monstros incapazes de vê-lo, ser obrigado a se auto mutilar
turbado. Ele começa a crônica como Agonia-
para evitar um destino pior, segurar uma vítima de um crime ter-
do/4.
rível com o qual não concorda plenamente que seja cometido, etc.
Quando o Nível de Insanidade ultrapassa o
Coragem (Vontade): Lidar com um encontro aterrorizante, de
valor de Vontade do personagem, ele passa a fi-
aproximadamente uma cena, que inspire a uma reação fisiológica
car permanentemente na condição Abalado (-1S
de fuga ou luta, como ficar frente a frente de um monstro abo-
em todos os testes) pelos danos aparentemente
minável com jamais se imaginou existir, procurar o corpo de um
irreversíveis causados na sua mente e espírito. O
ente querido entre os mortos num campo de batalha, ajudar numa
narrador pode inclusive chamar essa Fraqueza
operação de torso aberto pela primeira vez, etc.
de ‘Abalado’ para que a penalidade não passe
despercebida na Ficha de Personagem. Determinação (Vontade): Enfrentar por dias ou meses uma
Exemplo: Lazarus possui Vontade 4, portan- situação estressante e que faça o personagem questionar crenças
to, caso mude de Agoniado/4 para Enlouqueci- até então inabaláveis, como conviver com loucos durante um lon-
do/5, ele ganhará a fraqueza Abalado, que irá go período, superar uma mutilação recém obtida, procurar numa
lhe render -1S em todos os testes até que de biblioteca de horrores incompartilhaveis para obter uma informa-
alguma forma consiga reverter a insanidade e ção específica, etc.
depois cancelar esta desvantagem.
Recuperando Sanidade: Em Belregard não existem tratamen-
Ganhando Insanidade: Durante a Crônica tos reconhecidos para a loucura. Muitas pessoas que atingem al-
podem surgir situações de enorme ansiedade tos níveis de insanidade são exiladas de cidades e vilas, tornam-se
na qual o narrador pode solicitar um Teste de degenerados dos ermos. A igreja pode até mesmo tentar exorcizar
Sanidade a todos os personagens envolvidos, uma pessoa louca, acreditando que aquele estado é culpa da pos-
feito com uma das especializações do atributo sessão de algum Ímpio. Mas esta possibilidade pode estar aberta
Vontade e uma Dificuldade definidas antes do ao narrador que quiser utilizar um caminho de recuperação, tal-
rolamento (veja abaixo). Os personagens que vez depois de uma penitência onde o personagem se torne mais
falharem neste teste ganham um ponto de In- focado em sua fé, ou como forma de recompensar uma vida tran-
sanidade, mas não ganham uma Fraqueza per- quila que ele tem tentado manter. Em todo o caso, deve ser raro e
manente por causa disso. O narrador pode es- incomum, baixando no máximo um ponto por mês e sem jamais
colher uma desvantagem entre as onze listadas deixar num valor abaixo do número de Fraquezas, mencionadas
acima, mas aplicá-la apenas temporariamente,

337
b TOMO IV b
acima, possuídas pelo personagem. Essas reduções do Nível de aos seguintes Poderes: Acalmar, Benção, Cura
Insanidade não apenas devem ser incomuns, como difíceis de con- pelas Mãos, Detectar a Sombra, Imponência,
seguir para a grande maioria, mas se levarem a um nível igual ou Profecia, Proteção e Sentidos Aguçados.
inferior à Vontade do personagem, o mesmo deixa de carregar a
fraqueza ‘Abalado’ mencionada acima. Complicações: Utilizar a Bravura chama a
atenção da Sombra Viva. O Arauto deve utili-
Desdobramentos da Loucura zar seus dons com cuidado. Quando utilizar os
Não é possível dizer exatamente que existe qualquer benefício dons da Bravura por mais vezes que seu nível
que se possa tirar da insanidade, mas existem algumas perspecti- de Corrupção, o jogador deve rolar um Dado do
vas que podem dar a impressão do contrário. Em algumas cultu- Destino para verificar se a atenção da Sombra
ras, especialmente nas mais primitivas, os loucos são vistos como não se volta para o personagem. Quanto mais
se tivessem sido tocados pelos Deuses, e desta forma podem ser puro o personagem é, mais atenção a Sombra
bem cuidados por sacerdotes que tentariam ler os sinais divinos dá pra ele. A forma como a Sombra reage fica
manifestados por eles. Essa percepção fora da normalidade pode no encargo do narrador, mas lembre-se que ela
permitir que os loucos tenham contato com universos impercep- atua de maneira sutil, talvez as pessoas comuns
tíveis ao resto da humanidade. Esse tipo de fenômeno é comum ao redor do personagem comecem a tratá-lo
nas histórias com elementos de terror, quando os dementes con- mal, com uma hostilidade de impaciência. Tal-
seguem prever os horrores que estão por vir ou de alguma forma vez, em um julgamento, ele seja condenado à
servem como mensageiros de criaturas de outros mundos. morte, enquanto o ladrão ao seu lado é aclama-
do pelo povo. Ele pode ser um alvo preferido
de bandidos, de criminosos. A Sombra pode,
A MAGIA talvez, ciente da Provação daquele personagem,
Como já foi tratado no capítulo anterior, sobre os modos de colocar coisas em seu caminho que o deixarão
tratar a magia em Belregard, em um primeiro momento aconse- tentado ao pecado. Quanto mais Bravura um
lhamos uso de apenas duas maneiras dos jogadores presenciarem personagem adquire, mais difícil fica pra ele
a mesma, através da Bravura ou da Sombra. O modo de alcançar a viver em meio aos pecadores que se deixaram
magia sutil do mundo pelo Criador é acessando a essência divina levar pela sombra. A critério do narrador, níveis
deixada por ele dentro de cada ser humano. A Virtude Bravura de Bravura podem impor uma maior dificulda-
serve para traduzir esse despertar, esse poder. A Bravura aqui, de em relações com outros personagens que
que se torna a “pontuação” de magia que o jogador pode gastar tenham níveis altos de corrupção, com penali-
ao longo da sessão é um paralelo dos Pontos de Potência do siste- dades em testes sociais. Para comparação:
ma Crônicas. Não aconselhamos que o narrador permita que jo-
gadores utilizem poderes tendo por fonte a Sombra Viva, o mero Bravura 1 - Você começa a notar, sutilmente,
uso desses poderes por intermédio do Inimigo já o colocaria em as reais intenções das pessoas, com relação às
situação de decair nos degraus da corrupção. suas Provações.
Bravura 2 - Por você vislumbra uma mani-
Para cada ponto comprado da Virtude Bravura (com pontos de festação das Provações nas pessoas, nada mui-
Elã), o personagem possui um ponto de Potência e um Poder dife- to gritante, algo que se percebe pelo canto dos
rente. Cada uso de Potência custa um ponto de Bravura. A fonte olhos.
de poder disponível para os personagens jogadores é a do Cria- Bravura 3 - A Sombra também te observa e é
dor, Divina, que permite acesso (mediante o gasto da Virtude) fácil desenvolver alguma paranóia, quando todo

338
b TOMO IV b
canto sombrio parece guardar um par de olhos dor, até [Potência] alvos à sua escolha podem ser afetados. Figu-
te observando. rantes são subjugados automaticamente, enquanto coadjuvantes,
Bravura 4 - É extremamente difícil, para protagonistas e antagonistas precisam fazer individualmente tes-
você, conviver em um ambiente de mentirosos. tes de Imposição (Liderança), com uma penalidade em sucessos
Bravura 5 - O mundo começa a se voltar con- igual à Bravura do conjurador, para não ficar imediatamente na
tra vocês, as suspeitas e implicações de aconte- condição Pasmo. Ativação: Ação Menor + 1 PP
cimentos ruins quase sempre recaem sobre os
seus ombros.
Bênção
Um mero desejo de boa sorte, ou um consolador “vai dar tudo
Bravura 6 - O exílio é sua única esperança.
certo” pode fazer toda a diferença em uma batalha ou outra ci-
Recuperando Bravura: No nascer do sol tuação crítica. Suas palavras quase sempre encorajam aqueles ao
o personagem recupera os pontos de Potência seu redor.
gastos, mas o narrador pode permitir que algu-
ma atitude relevante do personagem permitiu a Regra: Um aliado/PP investido até 10m ganha +2D para uma
ele recuperar algum ponto para utilização dos única ação naquele turno ou +1D em todos os testes por [Potên-
dons. cia] turnos (escolha do conjurador). Este bônus não é aplicável ao
conjurador e não se acumula com o uso repetido deste mesmo
Dons da Bravura: Abaixo estão os dons poder, mas tem efeito inverso com criaturas de qualquer Devoção
disponíveis para os arautos, o narrador vai oposta à sua, transformando este bônus em penalidade. Ativação:
perceber que são dons sutis, como falamos ao Ação Menor + 1 PP/alvo.
longo de todo o livro, Belregard não faz uso de
poderes grandiosos e a luta dos arautos é uma Cura Pelas Mãos
luta perdida. No que diz respeito aos adeptos Não há nenhuma luz mágica que atenua ferimentos e cura as
da Sombra Viva, use seu sadismo e crueldade chagas, pelo contrário, você simplesmente é bom com as mãos
como for mais proveitoso. É interessante perce- para tratar mazelas do corpo. Talvez você nem mesmo veja isso
ber e ressaltar que nem todo Arauto sabe que é como um toque de cura e sim como um empurrão, aquele tapinha
um, por isso o uso dos dons pode surgir como nas costas do guerreiro cansado que rejuvenesce sua vontade.
algo não programado. É claro que o jogador vai
Regra: Desde que possa tocar o alvo, este poder reduz um
utilizar quando quiser, mas o personagem pode
Nível de Ferimento dele. Contra mortos vivos, esse toque causa
não saber exatamente que tipo de habilidade ele
dano igual à Potência do conjurador.
mesmo tem, o que abre margem para Arautos
de todo e qualquer lugar.
Ativação: Ação Maior + 1 PP.

Acalmar
Detectar a Sombra
Seu olhar, sua aura, seu toque e sua voz são
Você possui um sexto sentido para encontrar sinais mais in-
capazes de acalmar as emoções mais turbulen-
tensos da presença da Sombra Viva em um local. Este sentido
tas de uma pessoa, especialmente aqueles dis-
não trás um cheiro ou gosto particular, mas uma sensação. Uma
postos à violência. Quando você fala, a voz do
mistura que pode significar desde a sensação de teias de aranha
Criador ressoa por sua boca e trás alento assim
suavemente recaindo sobre a pele, um gosto amargo na boca, um
como ele Ele fez ao caminhar entre os incultos.
arrepio na nuca, uma visão de sombras mais intensas num local,
Regra: Numa área até 10m em volta do conjura-
um cheiro de podre ou o som de um arrastar.

339
b TOMO IV b
Regra: Gastando 1 PP, o personagem é capaz de sentir se exis- os jogadores podem cobrar explicações sobre o
te a presença da Sombra em uma área próxima de si, sem um que as visões tratavam. Este poder só poder uti-
alcance preciso, mas geralmente voltado para um cômodo ou lizado uma vez por sessão de jogo.
mesmo área de visão. Um teste de Empatia (Percepção), pode ser
realizado para ter mais informações. O narrador deve se lembrar Ativação: Ação Maior + 1 PP. Pode também
que a Sombra está em todos os lugares, de modo que o uso deste ocorrer de forma espontânea, a critério do nar-
poder sempre resultará em uma nuance de sentidos que revelam rador, sem custo para o jogador.
essa presença em todos, inclusive, possivelmente, no próprio per-
sonagem que utilizou o poder. Pessoas Puras seriam percebidas Proteção
facilmente, assim como locais imaculados. Com o uso do poder, Seja por uma oração ou mera força de vonta-
o personagem poderia constatar qual a pessoa mais corrompida de, fibra, você consegue se proteger de ataques
dentro de um salão da nobreza, por exemplo. e acidentes que normalmente poderiam ceifar
a vida de uma pessoa ou, no mínimo, ferir gra-
Ativação: Ação Maior +1 PP. vemente.

Imponência Regra: Cria uma Absorção Física igual ao seu


Alguma aura invisível o cerca, tornando-o uma figura intimida- nível de Potência até o final da cena. Este bônus
dora, esteja em postura de ameaça ou não. Você demanda respei- não é cumulativo com armaduras de metal ou o
to e admiração sem que uma só palavra precise ser dita. uso repetido deste poder.

Regra: Todos até 10m à volta do conjurador são alcançados.


Ativação: Ação Livre + 1 PP.
Figurantes são subjugados imediatamente, mas alvos importan-
tes (coadjuvantes, antagonistas ou protagonistas) precisam fazer
Sentidos Aguçados
testes individuais de Carisma (Liderança), com uma penalidade
Com o devido esforço, você consegue expan-
em sucessos igual à Potência do conjurador, para não ficar na
dir um de seus sentidos para perceber melhor o
condição Pasmo.
mundo à sua volta. A cada vez que este poder é
utilizado, um dos sentidos.
Ativação: Ação Menor + 1 PP

Profecia Regra: O conjurador deixa um dos cinco sen-


Este dom pode se manifestar de forma involuntária, com o per- tidos com seu alcance triplicado e +2D nos res-
sonagem tendo visões e presságios através de sonhos ou, como pectivos testes de Percepção até o final da cena
é mais comum, funcionando como um “dejá vu” para o mesmo. (este bônus não é cumulativo com o uso repeti-
Dessa forma, o narrador pode utilizar esse dom como uma fer- do deste poder). A visão aguçada pode identifi-
ramenta narrativa, para dar pistas para os jogadores em momen- car um indivíduo ou objeto invisível, assim como
tos oportunos, seja para mostrar que estão no caminho certo ou a audição aguçada pode identificar áreas dentro
para deixar uma dica de uma investigação. do poder Silêncio; faça um Teste Resistido de
[Potência] dados entre os conjuradores para sa-
Regra: O narrador deve descrever a profecia utilizando elemen- ber qual poder irá prevalecer.
tos simbólicos e mantendo-se enigmático, inserindo detalhes que
só farão sentido mais tarde na crônica; se desejar, ele pode pedir Ativação: Ação Menor + 1 PP.
testes de Percepção para ser mais específico. Ao final da crônica,

340
b TOMO IV b
Posses frém), cota de malha pesada, cota de escamas, embarcação, es-
Como já foi abordado ao longo de todo livro, pada bastarda, fechadura complexa (-3S), joia, loriga segmentada,
a questão do comércio em Belregard é delica- manopla com cravos e peitoral de metal.
da. Poucos locais mantém rotas de comércio ou Raridades da Realeza (Valor 5): Armadura de batalha, cava-
mesmo uma lógica financeira com as moedas lo (único), joia excepcional e navio.
ainda sendo utilizadas de forma rotineira. O ouro
ainda é ouro, ainda é valioso, assim como a pra- Certos objetos têm característica Superior (Valor +1) ou Obra-

ta, mas no dia a dia das pessoas, especialmente -Prima (Valor +2) e são bastante difíceis de serem encontrados. A

do interior, a troca é muito mais importante e primeira é apenas muito bem construída, com detalhes excepcio-

fundamental. Por isso, os valores de Recursos nais, mas a segunda característica oferece +1 no dano (armas),

em Crônicas são aproximações e valoraçõs sub- diminui em um a Penalidade (armadura) ou +1D num teste dire-

jetivas, para orientação. Como exemplo do Re- tamente associado (outros objetos). Por outro lado, existem obje-

curso de personagem, siga os exemplos: tos com características Defeituoso (Valor -1) e Podre (Valor -2).
Ambas conferem -1S nos testes em que são utilizados e a mesma
Farrapos e Velharia (Valor 0): Arma im- penalidade no dano, mas a segunda tem uma chance em seis de
provisada, bordão, cajado, clava, corda, clava quebrar cada vez que é utilizado (role um dado).
pesada, funda, veste humilde, símbolo sagrado
improvisado e porrete. Belregard é um jogo de intrigas e horror, onde a busca pela
Utilidades dos Viajantes (Valor 1): Adaga, verdade deve servir como motivação e alerta. Quanto mais se
arco, barra de metal, dardo, faca, flechas (5), descobre, menos se deseja saber a Verdade. No longo caminho
lança, lança longa, machado, martelo, punhal e que os Arautos (personagens) devem seguir rumo à descober-
veste simples. ta, os embates são inevitáveis, não só no campo político, mas
Bens da Vassalagem (Valor 2): Arco longo, também no físico. Estes combates podem ocorrer de inúmeras
escudo, escudo pequeno, espada curta, cavalo maneiras, desde uma briga de bar motivada por insultos à mãe
(pangaré), facão, fechadura simples (-1S), foice de um dos envolvidos, ao conflito no campo aberto defendendo
longa, flechas (20), galinha, maça, machadinha, a honra de sua casa e sua castelania. Seja para o camponês que
machado de batalha, manto pesado, martelo de decide resolver uma questão mundana ou para o cavaleiro que
guerra, mula, picareta, porco, rede, símbolo sa- defende seu suserano, a escolha das armas marca o perfil de uma
grado e veste de couro. personagem.
Conforto dos Abastados (Valor 3): Alabar-
Para os belghos a arma dos homens, por excelência, é a espa-
da, arco besta, besta pesada composto, cavalo
da. Apesar de nunca terem se importado com a beleza de suas
(regular), cota de malha, escudo pesado, espa-
ferramentas quando forjadas, os belghos são famosos por terem
da, espada estreita, lança montada, fechadura
conseguido garantir uma boa durabilidade a suas armas feitas de
boa (-2S), foice de mão, maça estrela, maça
ferro, isso nos tempos da fundação de Virka, quando a atenção
pesada, machado pesado, mangual, mangual
da humanidade estava voltada para a floresta, no combate contra
pesado, manopla, manto de peles, martelo pe-
os belinaren. As lâminas destas espadas costumam ser curtas e
sado, montante, pônei, roupa elegante, tridente,
largas, com um bom peso redondo na ponta do punho. Num com-
veste acolchoado, veste sacerdotal e vestimenta
bate próximo, usam o cabo contra a face de seus adversários, lhes
de mago.
esfacelando o nariz.
Luxos da Nobreza (Valor 4): Cavalo (pala-

341
b TOMO IV b
Os parlos já foram famosos pelo seu uso da lança, enquanto rigoso já que caçar numa floresta, denominada
montados sobre seus corcéis poderosos. O arremesso era muito território real, é garantir seu lugar entre os fora
comum como modalidade de combate, eles não conheciam o arco da lei mais procurados.
e flecha, mas seus braços treinados eram capazes de fazer peque-
nas lanças preparadas atravessarem o peito de um inimigo des- A construção de um arco é uma ciência que

protegido. Esta prática foi esquecida, mas o uso da lança continua exige cuidado e preparação. A escolha da ma-

comum, principalmente entre os cavaleiros de todas as ordens. Os deira é fundamental e as mais populares em Bel-

Cavaleiros Pardos, de Parlouma, são conhecidos por sua extrema regard são o carvalho, freixo, olmo e, especial-

perícia no uso das armas de haste. mente, teixo. Este último tem uma composição
que favorece seu uso na fabricação do arco. É
Preferindo lâminas leves e delgadas, os dalanos investem na be- uma madeira de duas camadas, flexível por fora
leza de suas armas. Conhecidos por terem incorporados certos e rígida por dentro, suportando a força e a ten-
adornos e detalhes que valorizam as espadas, alguns acusam as são da corda ao ser puxada. As flechas também
mesmas de servirem apenas como enfeite, mas a lâmina afiada variam de tamanho e formato, as mais usada em
de um sabre dalano é capaz de fazer o acusador mudar de ideia. confrontos são pontudas, com uma pequena ca-
Dalanos prezam espadas, adagas e punhas, jamais usando armas beça de ferro delgada a e afiada. As flechas de
que consideram “bárbaras”, como manguais, machados e clavas. caça tem um formato triangular, precisamente
Apesar disso, guardam essa opinião para si mesmos, quando tem afiado nas três pontas e, por fim, existe a flecha
os vihs lutando ao seu lado. de caça daqueles que vagam pelos bosques reais
e não podem abater um animal grande como um
Os homens do norte, vihs em particular, preferem armas lon- cervo. Estas flechas tem uma cabeça robusta e
gas. Quando o ferro, e depois o aço, lhes foram apresentados, não apenas uma ponta pequena de ferro, o bastante
tardou para que imensos guerreiros portassem espadas dignas de para abater coelhos, por exemplo.
seu porte. Empunhadas com ambas as mãos, estas montantes já
fizeram carne e ossos se partirem com a força de seu impacto. A armadura mais usada entre os que podem
Apesar disso, as espadas são uma preferência dos igslavos, como pagar é a malha. O objetivo da malha, feita da
fruto do contato e da influência dos belghos. Os vihs preferem o união de dezenas de anéis rebitados individual-
uso do machado, seja de uma lâmina, duas ou qualquer variação mente, é amortecer o impacto dos golpes. Ape-
possível. O machado representa não só a força do povo, como nas ela não é o bastante para isso, então é co-
também remete a suas raízes bárbaras, simples e humildes. O ma- mum que cavaleiros vistam uma grossa camada
chado não é só uma arma, como também é uma ferramenta para de tecido por baixo da malha, reduzindo a dor
o homem. sentida pelo choque da arma. Espadas não são
capazes de cortar a malha, mas o impacto pode
De uma maneira geral, os arcos são usados por todos os grupos, partir ossos. Flechas finas podem atravessar os
em especial aqueles homens livres que vagam pelas áreas fora da anéis e é por conta dessa valorização do impac-
jurisdição de determinadas castelanias. Estes homens costumam to, que as clavas, maças, manguais e martelos
ter mais força em Viha, onde compõem parte do exército, sen- são também importantes no combate singular.
do soldados muito bem pagos. A variedade dos arcos dentro de
Belregard fica por conta do material do qual ele é feito. Um arco Apenas recentemente o uso de armaduras de
é uma arma prática, não servindo apenas para o combate, mas placas pesadas tem sido percebido no “teatro
também para a caça. Este último elemento configura algo de pe- de guerra” em Belregard. Estas armaduras são

342
b TOMO IV b
muito caras, mas certamente trazem mais pro- pamentos caros, não é qualquer um que será visto com a mais
teção. As flechas costumam ser desviadas de simples das espadas pelas ruas. Existe o fator social envolvido, se
peitorais de aço maciço e a única arma que pa- o portador das armas não é um soldado reconhecido, um guarda,
rece ser capaz de penetrar tais peitorais é a bes- um nobre, ou qualquer um que tenha o aval de portar tais ob-
ta. Também uma grande novidade nos avanços jetos, este homem tornar-se-ia alvo de evidente suspeita. Andar
militares de Belregard, a besta ainda extrema- por uma aldeia ou corte vestindo armadura e portando armas é
mente rara, tendo sido primeiramente vista num o mesmo que dizer que está lá para causar problemas. Carregar
dos muitos conflitos entre Braden e Belghor. Os uma espada junto a cintura é elegante dentro da corte, mesmo
homens de coração negro que viviam no vale que não se saiba usá-la, mas esta prática deve ser temperada com
sombrio parecem ter avançado, e muito, no seu bom senso.
modo de fazer guerra. O ápice desta corrida armamentista dentro de Belregard, é o
cavaleiro. Seja de qualquer ordem que ele venha, a um cavaleiro
Adquirir um equipamento não é simples como encarna o máximo de aparatos bélicos em sua imagem. Montado
conseguir alimento. Espadas, machados e escu- em um cavalo poderoso, uma verdadeira muralha de músculos,
dos não ficam pendurados em oficinas e ferra- estes homens ventes suas malhas finamente construídas e ajus-
rias, são objetos feitos sob encomenda. Uma tú- tadas, além do grande escudo de madeira e a lança balanceada
nica completa de malha precisa ser feita com as para o seu uso sobre o corcel. É o tipo de investimento que chega
medidas do homem que irá usá-la, para que os a ser hereditário, com cavaleiros usando túnicas de malha que
braços fiquem com bom movimento. São equi- pertenceram a seus avôs.

343
b TOMO IV b
A rmas Dano Particularidades
Adaga/Faca/Punhal Agilidade ou Força -2 Cortante, Perfuradora, Leve e Ruim de Bloqueio.
Adaga/Punhal, Agilidade -2 Distância 5m e Perfuradora.
/Arremesso
Arco Agilidade +0 Distância 20m, Recarregável (Ação Menor) e Perfuradora.
Arco Longo Agilidade +2 Distância 30m, Recarregável (Ação Menor) e Perfuradora.
Arma Improvisada Força -1 Frágil, Não Letal e Ruim de Bloqueio.
Besta Agilidade +1 Distância 30m, Recarregável (Ação Maior) e Perfuradora.
Bordão/Cajado Força +0 Defensiva +1, Duas Mãos, Esmagadora e Haste.
Clava/Porrete Força +0 Dinâmica e Esmagadora.
Clava Pesada Força +2 Duas Mãos, Fardo, Esmagadora, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Escudo Força +0 Defensiva +1 e Esmagadora.
Escudo Pequeno Força -2 Defensiva +0.
Escudo Pesado Força +1 Complicada, Defensiva +2, Esmagadora e Fardo.
Espada Igslava Força +2 Cortante ou Perfuradora, e Dinâmica.
Gládio Belgho Força +1 Cortante ou Perfuradora, Defensiva +1 e Leve.
Espada Força +2 Cortante ou Perfuradora.
Montante Vihs Força +4 Cortante ou Esmagadora, Duas Mãos, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Funda Agilidade -2 Distância 15m e Esmagadora.
Lança Força +2 Dinâmica, Haste e Perfuradora.
Lança Parla Agilidade -1 Distância 5m e Perfuradora.
Lança Longa Força +2 Duas Mãos e Perfuradora.
Lança Montada Força +4 Montada e Peruradora.
Maça Força +2 Dinânica e Esmagadora.
Maça Estrela Força +2 Dinânica e Perfuradora.
Machadinha Força +0 Cortante ou Esmagadora, Defensiva +1 e Leve.
Machadinha, Arre- Arremesso -1 Cortante e Distância 3m.
messo
Machado Força +2 Cortante ou Esmagadora.
Machado, Arremesso Agilidade +0 Cortante ou Esmagadora, e Distância 3m.
Machado de Batalha Força +2 Cortante ou Esmagadora, Dinâmica e Ruim de Bloqueio.
Machado Vihs Força +4 Cortante ou Esmagadora, Duas Mãos, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Mangual Força +2 Complicada, Desastrosa, Dinâmica, Esmagadora e Ruim de Bloqueio.
Manopla Força-1 Esmagadora.
Martelo Força +2 Esmagadora.
Martelo de Guerra Força +3 Dinâmica e Esmagadora.
Martelo Pesado Força +4 Duas Mãos, Esmagadora, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Soco/Chute/Cabeçada Força -2 Não Letal

344
b TOMO IV b
Particularidades das Armas • Fardo: O peso da arma torna mais lento, reduzindo seu Mo-
• Ruim de Bloqueio: Testes de Bloqueio são vimento em -1m/rodada para cada
penalizados em -1S. equipamento com esta particularidade.
• Complicada: -1D nos ataques com esta • Frágil: A arma quebra quando houver três ou mais suces-
arma pela complexidade com que deve ser sos num ataque bem sucedido, causando 1 ponto adicional de
manuseada. dano, mas tornando-a inútil.
• Cortante: As descrições de estrago com a • Gancho/Haste: A ação Derrubar pode ser realizada sem a
arma são de efeitos cortantes. Algumas vir- penalidade de -2S, desde que não
tudes afetam apenas as armas com esta Par- esteja montado ou num lugar mais alto que o alvo.
ticularidade. • Leve: Personagens com a virtude Acuidade podem causar
• Desastrosa: Falhas Críticas causam no ata- dano com Agilidade ao invés de Força.
cante ou num aliado próximo o dano que seria • Montada: +2 no dano se estiver em carga numa montaria,
inflingido em seu alvo. mas não pode fazer desta forma nenhum teste de Bloqueio. -2S
• Defensiva: Soma o bônus na Defesa Física no ataque se não estiver montado.
contra ataques corpo a corpo frontais caso • Mortal: O Teste de Sobrevivência com esta arma passa a ser:
esta arma não foi utilizada para atacar ainda 1-3) Morte ou 4-6) Mutilação.
na rodada. Além disso, nos Testes de Bloqueio • Não Letal: O Teste de Sobrevivência com esta arma passa a
armas defensivas não sofrem a penalidade de ser: 1) Mutilado ou 2-6) Desacordado.
-2S com a mão inábil. Atenção: bônus defensi- • Perfuradora: As descrições de estrago com a arma são de
vos de armas diferentes não são cumulativos. efeitos perfurantes. Certas virtudes afetam apenas as armas
Escudos somam o bônus especificado na De- com esta Particularidade.
fesa Física contra ataques à distância frontais • Recarregável: Se não estiver pronta para atirar precisa ser
ou pelo flanco das mãos que o seguram. carregada com a ação especificada.
• Dinâmica: Pode ser manejada com uma ou
as duas mãos, no segundo caso valendo-se da Armaduras
característica de arma Duas Mãos. As armaduras possuem um valor de Absorção, o quanto de
dano você ignora do ataque inimigo e um valor de Penalidade,
• Distância: Usa Pontaria no ataque ao invés
que deve ser aplicado como modificador de Agilidade e Força.
de Manejo, podendo atingir alvos até a distân-
Algumas podem ainda ter a característica Fardo (como as armas)
cia especificada sem penalidade, depois com
e são apontadas com um asterisco. Por fim o quanto de Recurso
-1S e +1 no dano até o dobro desta distância,
é preciso para se possuir uma destas peças.
depois -3S e +2 no dano do dobro até o triplo.
+1D contra alvos até 1m.
Armadura Absorção Penalidade Recurso
• Duas Mãos: Ao usar a especialização Duas
Trapos 0 0 0
Mãos em Manejo, cada trunfo investido no
Veste Simples 0 0 1
dano
Roupa Elegante 0 0 3+
causará +2 ao invés de +1.
• Esmagadora: As descrições de estrago Veste de Couro 1 0 2

com a arma são de efeitos contundentes. Al- Manto Pesado 1 -1S 3


gumas virtudes afetam apenas as armas com Veste Acolchoada 1 0 3
esta Particularidade. Manto de Peles 2 -1S 3

345
b TOMO IV b

Cota de Malha 3 0 3 Níveis de Dificuldade: Calcule todos os in-


fluenciadores do teste até chegar no modifica-
Cota de Malha Pesada 4 -1S 4
dor final: Muito Fácil/+2D, Fácil/+1D, Desafia-
Cota de Escamas 4 -1S 4
dor/0, Difícil/-1S, Muito Difícil/-2S, Radical/-3S,
Peitoral de Metal 4 -1S* 4
Insano/-4S, Absurdo/-5S.
Loriga Segmentada 5 -2S* 4
Armadura de Batalha 5 -2S* 5 Níveis de Sucessos: Fracasso/0, Simples/1S,
Completo/2S, Excepcional/3S, Impressionan-
REGRAS BÁSICAS te/4S, Fenomenal/5S e Inacreditável/6+S.
Até este ponto tudo que foi visto serve como orientação para a
criação do personagem e já lança luz sobre outras questões que TESTES
aparecerão no jogo. Abaixo seguem outros pormenores do siste- Teste Simples: Geralmente dura apenas um
ma de regras, como suas rolagens, Elã e Desafios. turno, sendo rolado na rodada do personagem.
Teste Conjunto: Teste realizado por dois ou
Elã Inicial: Criança 6, Adolescente 5, Jovem 4, Adulto 3, Meia mais participantes, acumulando Sucessos para
Idade 2, Velho 1 e Venerável 0. alcançar um mínimo apontado pelo narrador de
acordo com a situação.
Recursos e Status inicial: Pária 0, Miserável 0, Escravo 0,
Teste Estendido: Atividades mais complexas
Artista 1, Vassalo 2, Comerciante 2, Guerreiro 2, Sacerdote 3,
podem ser realizadas através de uma sucessão
Comandante 3, Nobre 4, Lorde 5 e Monarca 6.
de Testes Simples.
O valor de Recursos pode ser reduzido ao teto da maior comu- Teste Resistido: Competição de um teste
nidade em sua Morada: Acampamento 2, Povoado 3, Aldeia 4, idêntico ou oposto entre um personagem e seu
Vila 4, Cidade 5 e Metrópole 6. oponente. Vence quem obtiver o maior número
de sucessos.
Posses: Farrapos e Velharia 0, Utilidades dos Viajantes 1, Bens Teste Resumido: Para resumir um número
da Vassalagem 2, Conforto dos Abastados 3, Luxos da Nobreza 4 excessivo de rolamentos, o narrador pode pedir
e Raridades da Realeza 5+. um único teste com os modificadores de dificul-
dade revistos.
Turnos: Unidade de tempo em que cada personagem pode
Reteste: Se um teste não tem êxito, às vezes
agir com a sua Rodada, seguindo a ordem de Iniciativa.
é possível fazer uma nova tentativa na rodada

Rodada: Cada rodada oferece uma Ação Maior ou duas Ações seguinte, talvez com -1S, mas a decisão se isto é

Menores. Reações são ações com gatilhos específicos que podem cabível fica a critério do narrador.

ser tomadas fora da rodada e gastam as ações de tamanho equi-


Testes de Destino
valente (Maior ou Menor).
Vez ou outra surge um momento em jogo

Testes: Rola-se o número de dados iguais a: Atributo + Es- em que nenhum teste de atributo parece apro-

pecialização + Modificadores. Um sucesso é considerado, por priado, trata-se de algo que pode contar como

padrão, os resultados 4, 5 e 6. Entretanto, o narrador pode au- uma jogada de sorte. Nesses casos, o narrador

mentar a dificuldade do teste, fazendo a margem de sucesso ser pede um teste de Destino. Neste teste um dado

restrita a 5 e 6 ou apenas 6. O inverso pode ocorrer também. apenas é lançado e o resultado pode favorecer
ou prejudicar o jogador em questão. O teste de

346
b TOMO IV b
Destino abre a possibilidade para o improviso, Gastando Elã: A cada gasto de Elã (Reação Livre), uma opção
para o inesperado. Com base no resultado o nar- abaixo deve ser escolhida pelo jogador.
rador descreve o que ocorreu. Pode ser uma boa • +3D em qualquer uma ação sua, mesmo depois do rolamento,
opção para inserir um pouco de ação naquela mas ainda antes do final da rodada;
monótona noite de vigília. Ou ainda para fazer • Refaça um rolamento de resultado indesejado, mesmo de ou-
pesar o isolamento das castelanias de Belre- tros personagens se isto o influencia;
gard, gerando rolagens durante viagens curtas, • Ataque Simples ou Ação Menor extra na mesma rodada;
mostrando dificuldade de terrenos, ataque de • Ganha uma Virtude ou cancela uma Fraqueza autorizada pelo
oportunistas, o encontro com degenerados ou narrador (desde que faça sentido) até o final da cena.
simplesmente o clima péssimo para viagem.
Queimando Elã: Uma vez queimado (Reação Livre), o ponto
1 - Catastrófico: O pior desdobramento pos- investido não volta mais. O uso permite uma opção abaixo.
sível, com outros efeitos negativos logo em • +3S ou mais três Trunfos no resultado de um teste mesmo
seguida. depois do rolamento, mas antes da próxima ação;
2 - Infeliz: As consequências são ruins ou • Comprar uma Virtude ou remover uma Fraqueza, se o narra-
não tão boas. dor permitir naquele momento na crônica;
3 - Desfavorável: Previsto ocorre com deta- • Alterar um acontecimento significativo na narrativa desde
lhe ruim. que o narrador aprove a alteração (como evitar a morte).

4 - Favorável: Conclusão esperada com de-


Combate
talhe bom.
O combate é mortal em Belregard, graças ao sistema Crônicas.
5 - Afortunado: Desdobramento satisfatório
Antes de compreender o Desafio da Escaramuça, que esmiúça os
ou menos pior.
detalhes da contenda, entenderemos a organização desse comba-
6 - Maravilhoso: Melhor resultado possível,
te, à começar pela estrutura de Iniciativa, Absorção, etc. Além
com outras consequências positivas.
dos Níveis de Desgaste.

Investimentos de Elã • Iniciativa: Agilidade


O Elã representa o destino. Se refere ao ím- • Defesa: [Agilidade + Manejo)/3*
peto do personagem em cumprir sua função • Absorção: Armadura
e marcar seu nome na história. Personagens • Vigor: Resistência
jovens possuem mais Elã, por terem toda uma *Esses valores são sempre arredondados para baixo.
vida pela frente. O Elã pode ser investido na
compra de Virtudes ou conseguido através de Ataques
Fraquezas (especialmente na criação de perso- Cada ataque possui dois valores: a quantidade de dados rolados
nagens), mas o seu uso mais significativo dentro no Teste de Ataque e o dano.
do jogo é apresentado abaixo. Dano: O valor de todo dano físico é fixo (não é rolado) mesmo
que possa ser aumentado com Trunfos.
Heróis podem gastar até um ponto e queimar Modificadores: Os valores em Atributos e Especializações po-
um ponto por rodada. Pontos gastos ainda po- dem ser alterados na ficha se o(s) bônus ou penalidade(s) forem
dem ser queimados. aplicados em qualquer situação.

347
b TOMO IV b
Níveis de Desgaste guinte com a mesma dificuldade. Se falhar nova-
Quando atingido com êxito por um ataque não bloqueado, todo mente entrará na condição Cansado ou Exausto
personagem perde um ou mais pontos de Vigor físico, cujo valor (se já estiver Cansado), e fará no terceiro turno
cheio é respectivamente igual ao atributo Resistência. um terceiro teste com a mesma dificuldade. Se
perder mais uma vez, o personagem começará
Perda de Vigor: A partir do valor de Vigor cheio, cada vez a afundar até que fique Inconsciente, morrendo
que o personagem perde uma quantidade de pontos igual a esse após (Resistência) turnos sem que seja resgata-
mesmo valor ele ganha um Nível de Ferimento. do.

Note que o primeiro Nível de Desgaste é sempre obtido com Doença


zero ponto ou menos. Sempre que estiver exposto a uma doença, o
jogador deve fazer um teste de Saúde (Resistên-
No controle de perda de Vigor dos personagens, o narrador
cia) para seu personagem não terminar infecta-
deve marcar um asterisco (*) a cada Nível de Desgaste obtido,
do. Este teste será modificado pelo tamanho da
pois assim será mais fácil ter o controle de ambos (Vigor e Des-
exposição, virulência e a resistência natural de
gaste). Personagens derrotados são marcados uma exclamação (!)
sua Raça/Povo à aflição. Assim que estiver in-
para marcar que este indivíduo foi derrotado.
fectado, o personagem deve refazer esse teste,
De maneira mais clara, é como se todo personagem tivesse 3 com os mesmos modificadores, em ciclos que
caixas de vigor, cada caixa contendo um número de pontos de variam a cada doença. A aflição só será plena-
vigor igual a sua Resistência. mente curada quando o número de êxitos nes-
tes testes for superior aos fracassos; em cada
Todo personagem geralmente é derrotado quando ganharia ciclo é possível acrescentar aos êxitos de Saúde
o terceiro Nível de Desgaste, mas existem casos em que já no (Resistência) um teste bem sucedido de Tratar
segundo Nível de Desgaste o personagem pode chegar a esse Males (Cura).
mesmo final.
• Desinteria: Infecção nas entranhas que
Níveis de Ferimento: Cada Nível de Desgaste físico confere causa dores no abdômen, ulceração das muco-
-1 nos testes de Iniciativa e -1D em todas as ações (mentais e sas e diarreia. Com ciclos diários, enquanto con-
sociais também) até que possa se recuperar (ver Escaramuça). O tinuar doente o personagem fica com um Nível
personagem toma até dois Níveis de Desgaste, pois quando tomar de Ferimento irrecuperável até que se livre da
o terceiro ele será derrotado. Seu jogador deve fazer um Teste de aflição, ou ganhará um segundo Nível de Feri-
Destino para saber como isso acontecerá. mento depois de continuar mal por um núme-
ro de dias igual à Resistência, morrendo numa
Isso resume o combate de Crônicas, mas complicações para
questão de horas depois disso. A causa deste
isso, com manobras e pormenores, serão vistos mais adiante, no
mal geralmente ocorre com a ingestão de água
desafio da Escaramuça.
estragada.

Perigos Mortais • Gangrena: Uma parte do corpo com um

Afogamento Nível de Ferimento pode ficar infectado, e sem

O fracasso em um teste de Nadar (Força) em águas turbulentas cuidados começa a apodrecer lentamente. A

obriga o personagem a fazer o teste mais uma vez no turno se- partir de ciclos diários, enquanto continuar mal

348
b TOMO IV b
o ferimento irá começar a feder e ficar com uma modo o narrador deve se sentir livre para explorar esta paranóia,
aparência ainda pior. A partir do terceiro dia especialmente associando as demais doenças apresentadas aqui,
vem o segundo Nível de Ferimento, e esta par- ou outras, ainda mais bizarras e novas, quando um personagem
te do corpo precisará ser amputada para que o entrar em contato com um destes gases. Vale lembrar que tais
personagem não morra em horas. gases estão associados a muitas das doenças acima.

• Lepra: Infecção que afeta os nervos e a Fogo


pele, provocando severo estrago. Com ciclos O estrago causado pelo fogo varia com a exposição às chamas:
anuais, os primeiros sintomas só aparecem en- tochas usadas como arma causam dois pontos de dano, fogueiras
tre dois e cinco anos, causando incapacidade e causam quatro pontos de dano para quem cair ou for jogado, e
deformidade se não for devidamente tratada. incêndios causam seis ou mais pontos de dano. Armaduras absor-
Como a degeneração varia a cada caso, o narra- vem este dano como se fosse num ataque de Escaramuça.
dor deve estipular os sintomas para cada vítima.
Frio Extremo
• Resfriado: Infecção no pulmão que causa
Sem estar devidamente agasalhado, nos ambientes de frio ex-
febre, tosse, espirros, garganta inflamada, dores
tremo todo personagem deve fazer um teste de Resistência a cada
de cabeça e perda de apetite, que geralmente
hora para não perder um ponto de Vigor físico. O teste deve ser
desaparecem ao fim de sete a dez dias, mas al-
modificado pela intensidade do frio e a quantidade e qualidade
guns sintomas podem continuar por semanas.
de camadas que o protegem do frio. Quem obter dois Níveis de
Com ciclos de dois dias, se em dez a aflição não
Ferimento assim terá uma ou mais de suas extremidades congela-
passar o personagem ficará na condição Cansa-
das (critério do narrador), que terá de ser amputada para evitar a
do, e depois Exausto se não melhorar depois de
morte numa questão de horas.
vinte dias de infecção. A doença pode regredir
sozinha, mesmo sem tratamento, mas há quem Queda Livre
possa não aguentar e falecer cerca de um mês Cada três metros de queda causam um Nível de Ferimento, mas
após a infecção. quando o narrador permitir que o jogador faça um teste de Acro-
bacia (Agilidade) para aliviar o estrago, cada Sucesso irá anular
• Varíola: Primeiro bem febre e mal estar,
três metros de queda. O narrador também pode aliviar a altura se
depois dores musculares, gástricas e vômitos
o indivíduo cair sobre algo que absorva parte da queda.
violentos. Com ciclos de doze dias, num número
de ciclos igual à Resistência surgem as pústulas
Sufocamento
típicas, primeiro na boca, depois nos membros e
De modo geral, um personagem pode segurar o fôlego por (30
então no resto do corpo. Após o terceiro ciclo os
x Resistência) segundos. Ao final deste tempo sem recuperar o
sintomas se tornam irreversíveis e só podem ser
fôlego, o personagem fica na condição Cansado ou Exausto (se
amainados. Como a degeneração varia a cada
já estiver Cansado). Se não recuperar o fôlego nos próximos 30
caso, o narrador deve estipular os sintomas para
segundos, ele fca Exausto ou Inconsciente (se já estiver Exausto),
cada vítima.
morrendo após (Resistência) turnos sem que volte a respirar. Para

• Miasmas: A crença de que os miasmas ron- recuperar o fôlego (Ação Maior) é preciso conseguir respirar nor-

dam o mundo de Belregard é bem forte entre a malmente.

população de qualquer meio ou religião, desse

349
b TOMO IV b
Condições • Inconsciente: O indivíduo fica na condição
Estas condições servem como orientação para a aplicação do Caído e desacordado por 3d6 minutos.
efeito de certas habilidades e mesmo armas.
• Morrendo: O personagem fica caído, de-
• Abalado: -1S em todas as ações até que a fonte causadora sacordado e morrerá em 1d6 horas se ninguém
dessa condição seja superada, saia do seu campo de percepção intervier com um teste bem sucedido de Tratar
ou até o término da cena (o que acontecer primeiro). Ferimentos (Cura), com uma penalidade em su-
cessos igual ao número de horas completas nes-
• Amedrontado: -1S em todas as ações até que a fonte causa- ta condição.
dora dessa condição seja superada, saia do campo de percepção
ou até o término da cena (o que acontecer primeiro). Enquanto es- • Morto: O personagem cai sem vida.
tiver Amedrontado, o personagem irá tentar fugir da fonte causa-
dora, mudando para a condição Aterrorizado se não houver como. • Pasmo: Enfeitiçado por um lugar, obje-
to ou personagem, o alvo pasmo é incapaz de
• Aterrorizado: A fonte de medo o deixa paralisado, sem po- iniciar qualquer combate, podendo apenas to-
der tomar ações (nem mesmo usar poderes) até que a fonte de mar ações defensivas para bloquear ou fugir de
medo se afaste ou vire para outra direção (no caso, muda para eventuais ataques.
Amedrontado com -2S ao invés de -1S).
• Rendido: Derrotado e subjugado pelo te-
• Caído: Derrubado no chão, o personagem perde todas as
mor da morte, o alvo se entrega para o opo-
ações a que teria direito no turno e ficará com -2S nos ataques até
nente, ficando incapaz de fazer outros ataques
que se levante (Ação Menor). Enquanto continuar caído, qualquer
ou mesmo tentar fugir até o final da cena. Um
ataque de Manejo contra ele terá +2D e ataques de Pontaria terão
indivíduo é Rendido quando derrotado numa
-2S.
Escaramuça.

• Cansado: -1S em todas as ações físicas pela exaustão. Este


cansaço desaparece ao final da cena se o personagem conseguir Desafios
descansar um pouco, a não ser que ele tenha estado Exausto nes- Os Desafios funcionam como uma lupa, uma
te mesmo dia. Nesse caso, a condição desaparece após quatro lente de aumento, para um momento específico
horas de descanso. durante o jogo. Você pode resolver um combate
com uma simples rolagem de dados, mas muitos
• Exausto: -2S em todas as ações físicas pela fadiga. Enquanto
grupos preferem explorar minúcias deste com-
não descansar, terá de vencer um teste de Fortitude (Resistên-
bate, manobras, debilidades, competências, os
cia) por hora para não cair Inconsciente por 3d6 minutos e ainda
Desafios servem para isso. O sistema de Crôni-
acordar Exausto. Após uma hora de descanso esta condição muda
cas apresenta uma enormidade deles, que serão
para Cansado.
apresentados aqui de forma resumida (de modo

• Imobilizado: O alvo fica incapaz de se mover e com -2S que, se tiver o livro do sistema, pode explorar

nas ações físicas. Para se libertar, ele precisa tentar fugir (Ação como achar melhor) contando apenas com o de-

Menor) e vencer um Teste Resistido de Agilidade ou Força (o que talhamento da Escaramuça, que seria o comba-

for maior para cada um) contra o oponente, que pode soltá-lo te propriamente dito.

quando quiser (Ação Menor).

350
b TOMO IV b
Escaramuça do personagem. O jogador só precisa acumular um número de Su-
cessos igual ou maior à Defesa do seu alvo para atingi-lo e causar
Iniciativa ao menos um ponto de dano.
1d6 + Iniciativa para saber a ordem de atua-
Trunfo
ção dos personagens envolvidos no combate.
Cada num teste de ação pode virar +1D no teste realizado ou
Em caso de empate, aqueles que possuem um
+1 na Defesa ou no Dano se o teste foi um ataque (critério do
valor básico superior de Iniciativa ganham.
jogador). Todo dano adicional por Trunfo será aplicado após o
• Iniciativa: Agilidade
modificador de Absorção que leva ao mínimo de um.
Defesa A cada três Sucessos (3S) obtidos num ataque além dos neces-
Número-alvo de Sucessos para atingir o per- sários para atingir a Defesa do alvo, o dano ganha +1 como se
sonagem. Caso seja atingido, o personagem às investido por Trunfo, ou seja, não pode ser diminuído pela Absor-
vezes pode se valer de um Teste de Bloqueio ção do seu alvo.
para evitar que o Ataque tenha êxito.
• Defesa [Agilidade + Manejo] / 3* Dano
O valor de todo dano é fixo (não é rolado), mesmo que possa ser
*Esses valores são sempre arredondados para
aumentado com Trunfos.
baixo, num mínimo de 1 (um).

Níveis de Desgaste
Absorção
As regras desta página devem estar à disposição de todos os
Diminui o dano tomado até o mínimo de 1,
jogadores, especialmente os novatos.
mas não absorve pontos adicionais de dano ob-
tidos por Trunfo.
Cada nível causa -1D em todos os rolamentos nas ações do res-
• Absorção: Armadura
pectivo combate, além de -1 neste mesmo tipo de Iniciativa.
• Desgaste Físico: Níveis de Ferimento. Todo personagem é der-
Vigor
rotado quando chega ao terceiro nível de desgaste.
Quantidade de dano que o personagem
aguenta antes de tomar um Nível de Ferimento.
A cada três dias depois dos ferimentos serem adquiridos, é pos-
• Vigor Físico: Resistência
sível anular um Nível de Ferimento se vencer um teste de Re-
cuperação (Resistência) modificado por: Ferimentos (-1D para
Perda de Vigor: A partir do valor de Vigor
cada Nível de Ferimento), Descanso nestes últimos três dias (to-
cheio, cada vez que o personagem perde uma
tal/+2D, parcial/+0 ou nenhum/-1S), e Tratamento (+2D se houver
quantidade acumulada de pontos de dano igual
um teste bem sucedido de Tratar Ferimentos)
a esse mesmo valor (Vigor cheio), ele ganha um
Nível de Ferimento. Note que o primeiro Nível
Todo personagem tem direito a tomar uma Ação Maior ou duas
de Desgaste é sempre obtido com zero ponto ou
Ações Menores por rodada, além de poder fazer quantas Rea-
menos. Recuperação: Todos os pontos de Vigor
ções e quantas Ações Livres o narrador assim permitir. Atenção:
são recuperados ao final da cena.
Bônus de ações não são cumulativos entre si.

Ataque
Adiar (Livre): Postergar uma Ação Maior ou Menor para de-
O Teste de Ataque é uma ação realizada com o
pois do último combatente na ordem de iniciativa.
mesmo número de dados que o valor de Ataque

351
b TOMO IV b
Agarrar (Maior): Se tiver Força igual ou maior que o opo- Correr (Maior): Permite mover até 3x sua
nente e dentro do Alcance, vença um Teste Resistido de Briga Movimentação (4x se tiver executado a mesma
(Manejo) contra o Ataque do alvo. Caso vença por 2+ Sucessos ação no turno anterior), parando se tomar 1+
de diferença, o alvo ficará na condição Imobilizado. de dano no percurso. Oponentes sofrem -2S nos
ataques contra si enquanto continuar correndo.
Ajudar (Maior): +1D na próxima ação física de um aliado até
o fnal do turno. Este bônus só pode acumular com o Ajudar de Desarmar (Maior): Com Força igual ou
mais um personagem, tornando o bônus no máximo +2D. maior que o alvo, faça um Teste Resistido de
Ataque contra ele. Se vencer por 2+ Sucessos, a
Ataque Simples (Menor): Faça um Teste de Ataque contra arma do alvo será jogada a 1d6m dali.
um alvo em seu Alcance. Cada personagem normalmente só
pode fazer um Ataque por rodada, com algumas exceções. Um Derrubar (Menor): Com Força igual ou
ataque pode ser Cuidadoso, Ousado, Normal, Localizado ou Re- maior que o alvo, faça um Teste Resistido de
ceoso (Regras Essenciais). Ataque contra ele (-2S para atacantes sem arma
de Gancho/Haste), que pode usar Equilíbrio
Ataques Múltiplos (Maior): O personagem pode fazer dois (Agilidade) no lugar. Caso o oponente perca por
Ataques Simples Normais com -2D numa rodada contra alvos dis- 2+ Sucessos, ele fica na condição Caído.
tintos, jamais contra um mesmo oponente.
Desistir (Maior): Entrar na condição Rendi-
Ataque Total (Maior): Ataque Simples com +2D. do.

Ataque em Carga (Menor): Se o personagem tomou a ação Distração (Menor): Vença um Teste Resisti-
Cavalgar/Guiar ou Correr na rodada e mover por 4+ metros, ele do de Confundir (Blefe) contra o Teste de Ata-
pode fazer um Ataque Simples Normal com +2 no dano. que do alvo por 2+ Sucessos, deixando-o com
-1D no próximo ataque até o final do turno.
Atividade Física (Menor): O narrador pode solicitar algum
teste para certas atividades e situações. Evasão (Reação Maior): Faça um Teste de
Evasão contra um ataque bem sucedido para
Atropelar (Menor): Se houver êxito na ação Cavalgar/Guiar
evitar ser acertado.
na rodada, o alvo pode ser atropelado com um Ataque Simples
Normal utilizando o mesmo número de Sucessos do teste da Finta (Menor): Vença um Teste Resistido de
ação Cavalgar/Guiar, com -2S se a montaria não tiver treinamen- Confundir (Blefe) contra o Ataque ou Atenção
to para combate. O dano do atropelamento será igual à Força da (Percepção) do alvo por 2+ Sucessos para ga-
montaria, +2 se estiver correndo. nhar +1D num ataque contra ele até o final do
turno.
Bloquear Ataque (Reação Menor ou Maior): Faça um Teste
de Bloqueio contra um ataque bem sucedido. Esta reação gasta Forçar o Fôlego (Reação Livre): +2m em
uma Ação Menor, ou uma Ação Maior para ganhar +2D. Correr até o final da rodada ou +1D numa ação
física após o rolamento estiver faltando um Su-
Cavalgar/Guiar (Menor ou Maior): O narrador pode soli-
cesso para ter êxito. O personagem fca na con-
citar algum teste para certas situações. Se executar como Ação
dição Cansado, ou seja, -1S nas ações até o fInal
Maior será preciso fazer o respectivo teste com -2S.
da cena.

352
b TOMO IV b
Manobra (Menor): Vença um Teste Resisti- Modifcadores de Manejo:
do de Ataque contra um alvo para movê-lo 1m +1D Terreno elevado: Montado num cavalo, posição elevada
na direção que desejar. ou alvo caído no chão.
+1D Alvo distraído: ver Rodada Surpresa.
Mirar (Menor): +1D no ataque realizado até +1D Flanco: Voltado para um dos lados do alvo.
o fim do turno. +2D Retaguarda: Voltado para as costas do alvo.
+2D Alvo Imobilizado: Oponente é ou está incapaz de se
Mover (Menor): Permite mover até uma
movimentar.
quantidade de metros igual à Movimentação,
-1D por Nível de Ferimento: Essa penalidade será aplicada
parando imediatamente se for atacado no per-
em qualquer Ação ou Reação.
curso (com um Ataque de Oportunidade) e to-
-1S Contrataque: Se a arma utilizada para atacar foi usada
mar pelo menor um ponto de dano.
num Teste de Bloqueio neste turno.
Preparar (Maior): Aguardar até a sua roda- -1S a -5S Alvo obstruído: Apenas uma parte do corpo do
da no próximo turno para receber +2D numa alvo está exposta.
ação pré-declarada. -2S Costas: Atacante de costas para o alvo.
-5S Cego: Sem poder ver o alvo.
Recarregar (Menor ou Maior): Deixa uma
Alcance: Cada arma possui uma envergadura própria.
arma com a característica Recarregável pronta
Num jogo utilizando mapas, onde cada quadrado possui 1m,
para um novo ataque.
para fazer um ataque sem penalidades é preciso que o oponente

Sacar Arma (Menor): Pega uma arma para esteja na distância apropriada. Qualquer ataque 1m mais próximo

empunhá-la, mas o ataque com ela até o final da ou mais distante é feito com -1D, e além disso estará fora do

rodada terá -1S. alcance.


Curto: 0m (punhos, facas, espadas curtas, etc.)
Usar Elã (Ação ou Reação Livre): Interven- Médio: 1m (espadas, machados, maças, etc.)
ção especial que drena o entusiasmo do perso- Longo: 2m (lanças, montantes, tridentes, etc.)
nagem.
Modifcadores de Pontaria:
Usar Poder (Ação ou Reação Mental): In- +1D Alvo próximo: Até 1 metro do alvo.
tervenção sobrenatural que varia de acordo com +1D Alvo imóvel: Completamente parado.
a sua Origem de Poder. Utiliza o atributo Inte- -1D por Nível de Ferimento do atacante: A penalidade será
ligência para a iniciativa no lugar da Agilidade aplicada em qualquer ação ou reação.
pois se trata de uma ação ou reação mental -1S Alvo em movimento: Se o alvo tomou a ação Mover (pág.
189) neste turno ou no anterior. Não se acumula com ele mesmo
Modificadores de Escaramuça ou Alvo correndo.
De acordo com as circunstâncias de cada ata- -1S Alvo nas sombras: Mas visível.
que existem influências que podem alterar os -1S a -5S Alvo obstruído: Apenas uma parte do corpo do
parâmetros do rolamento para melhor ou pior. alvo está exposta.
Os bônus abaixo não são cumulativos entre si, -2S Alvo correndo: Se o alvo tomou a ação Correr neste tur-
mas as penalidades são. no ou no anterior. Não se acumula com ele mesmo ou Alvo em
movimento.

353
b TOMO IV b
-2S Alvo distante: Entre a distância e o dobro da Distância diferença na quantidade de Sucessos no Teste
básica (pág. 91) da arma utilizada. Resistido, maior o êxito do exército vencedor no
-4S Alvo muito distante: Entre o dobro e o triplo da distância campo de batalha.
básica da arma utilizada.
Exploração
Testes de Ataque O narrador pede um Teste de Destino para ve-
A cada Ataque Simples o jogador pode escolher um dos tipos rifcar a sorte dos exploradores e um Teste Resu-
abaixo, caso contrário será um Ataque Simples Normal. Os modi- mido como Mundo Conhecido (Conhecimento),
fcadores abaixo não são cumulativos com os de outras ações, mas Observar (Percepção) ou Orientação (Sobrevi-
se acumulam com outros modifcadores. vência), para verifcar se os exploradores toma-
• Cuidadoso: -1S no Ataque e +1 na Defesa contra um opo- ram o melhor caminho.
nente até o fnal do turno.
• Ousado: +1D no Ataque, -1 na Defesa e -1D na ação Blo- Infiltração

quear Ataque até o fnal do turno. A cada encontro com um obstáculo que pre-

• Normal: Sem modifcadores. cisa ser contornado é preciso fazer um Teste de


Infltração com Agilidade, Blefe (Disfarce), For-
• Localizado: -1S no Ataque e +1 no Dano.
ça Furtividade ou Ladinagem (Arrombamento).
• Receoso: -1S no Ataque e -2 no Dano.
Contra vigias deve haver algum Teste Resistido
Limitação: Por via de regra, todo personagem só pode fazer contra a Percepção (Atenção, Observar, Olfato
um Ataque por rodada, que inclui as seguintes opções: Ataque ou Ouvir) de quem puder denunciar os infltra-
Simples, Ataque Total, Ataque em Carga e Atropelar. dores.

Exceções: Existem três casos em que um personagem pode Investigação

fazer mais de um ataque no turno. Pistas podem ser encontradas com Testes
Simples de Conhecimento, Cura (Diagnose),
• Se gastar Elã para ganhar um Ataque Simples adicional. Inteligência, Percepção ou Sobrevivência (Ras-
• Executando a ação Ataques Múltiplos. trear). Blefe, Lábia e Liderança serão úteis para
• Tendo a virtude Estilo de Combate com duas armas. extrair informações, assim como alguns outros
atributos mais.
Neste caso, o segundo Ataque Simples da rodada deverá ser
feito sempre com a arma da outra mão, lembrando que com a mão Jornada
inábil é Muito Difícil/-2S. O narrador pede um Teste de Destino para
verifcar a sorte dos viajantes e um Teste Resu-
mido como Mundo Conhecido (Conhecimento),
Outros desafios
Observar (Percepção) ou Orientação (Sobrevi-
De forma simplificada, você pode considerar:
vência), para verifcar se os viajantes tomaram o
Batalha melhor caminho.
Faça um Teste Resistido de Jogo (Inteligência), Estratégia ou
Navegação
Comando (Liderança), o atributo mais defnitivo para cada lado
O narrador pede um Teste de Destino a cada
em relação ao desfecho do confronto, lembrando de aplicar uma
partida, mas na viagem o narrador pode pedir
difculdade maior para o lado menos favorecido. Quanto maior a

354
b TOMO IV b
testes de acordo com a função do personagem Anfíbio
para descobrir detalhes sobre a viagem da em- Consegue respirar normalmente tanto a céu aberto como de-
barcação. baixo d´água.

Perseguição Armadura Natural


Faça um Teste Resumido de Rastrear (Sobre- Bônus permanente na Absorção Física, sem aplicar a Penalida-
vivência) na primeira fase, Teste Resistido de de em Agilidade, Força e Furtividade.
Observar (Percepção) na segunda fase – con-
Ataque Rasante
tra Furtividade se o oponente estiver oculto – e
Capacidade de dar um mergulho com a virtude Vôo, fazer um
Correr (Força) na terceira fase.
Ataque Simples e subir para uma distância segura (Ação Maior).
Torneio
Movimento
O Combate Singular funciona como a Escara-
A Movimentação não é 4m, mas um outro valor superior. Se o
muça Simplifcada em cada confronto, mas toda
valor apresentado for inferior a 4m, a Movimentação irá aparecer
competição pode ser simplifcada com um mes-
como fraqueza ao invés de virtude. Especificar Movimentação.
mo Teste Resistido entre todos os participantes,
ganhando quem tiver o maior número de Suces-
Vôo
sos obtidos e desempatando pelo valor do teste
Movimentação livre em céu aberto em qualquer direção. Espe-
original. Os Testes Resistidos variam de acordo
cificar Movimentação
com o tipo de competição.
Veneno Natural
Adversários Um ou mais ataques podem injetar veneno no alvo (especifi-
O mundo de Belregard é um mundo de peri- cado pelo narrador) se causar pelo menos dois pontos de dano.
gos, não só naturais, mas também da violência
do cotidiano ao lidar com outros seres huma- Imunidade a [Fonte]
nos e mesmo o sobrenatural, quando se puxa Êxito automático em testes de Resistência contra uma fonte,
a cortina que esconde a verdade lamentável como eletricidade, fogo, frio ou veneno. Além disso, nenhum
do mundo derrotado. O que segue abaixo são dano desta fonte reduz o seu Vigor. Especificar fonte.
alguns exemplos da fauna de Belregard, assim
Animais
como criaturas que poderiam ser utilizadas em
Cavalo
seu jogo, além de antagonistas comuns, como
Atributos: Agilidade 3, Força 6 (+2 Correr), Manejo 2, Percep-
guardas e bandidos. Lembre-se que um material
ção 3, Resistência 5, Sobrevivência 3 (+2 Orientação), Outros 0.
básico pra isso está disponível gratuitamente
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/0/6.
em www.cronicasrpg.com.br, de modo que não
Ataque: Coice 2/6f.
repetiremos demasiadamente sobre estas coisas
Virtudes: Grande (Tamanho), Movimento 6m e Orientação
por aqui.
Aprimorada.

Virtudes Restritas
Falcão
Alfa
Atributos:Agilidade 4, Força 1, Manejo 3, Percepção 3 (+2 Ob-
+1D em todos os Ataques, +1 na Defesa, Da-
servar), Resistência 3, Sobrevivência 3 (+2 Orientação), Outros 0.
nos e Vigor.Só pode haver um alfa num bando.

355
b TOMO IV b
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/0/2. Fauna
Ataques: Bicada ou Garras 3/4f. Arctodus (Viha):
Virtudes: Ataque Rasante, Investida Furiosa, Observar Apri- Atributos: Agilidade 2, Força 7, Manejo 4,
morado, Visão Aguçada e Vôo 7m. Percepção 3, Resistência 6, Sobrevivência 3 e
Outros 0.
Gamo Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/3/6.
Atributos:Agilidade 3, Força 4, Percepção 3 (+2 Ouvir), Manejo Ataque: Mordida ou Garra 5/7f
2, Resistência 4, Sobrevivência 3, Outros 0. Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Grande
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/2/4. (Tamanho) e Movimento 5m.
Ataque: Chifrada 2/3f. Estratégia: O arctodus geralmente vive sozi-
Virtude: Armadura Natural, Investida Furiosa e Movimento 6m nho. Salvo em seus períodos de acasalamento e
quando está cuidando de um filhote.
Javali
Atributos: Agilidade 2, Força 1 (+2 Correr), Furtividade 2, Ma- Argentavis (Parlouma):
nejo 2, Percepção 3, Resistência 3, Sobrevivência 3 (+1 Forra- Atributos: Agilidade 4, Força 3, Manejo 3,
gem), Outros 0. Percepção 4, Resistência 3, Sobrevivência 3 e
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/2/1/2. Outros 0.
Ataque: Presas 2/2f. Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/1/3.
Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Investida Furiosa e Pe- Ataque: Bicada ou garras 5/4f
queno (Tamanho). Virtudes: Armadura Natural, Ataque Rasan-
te, Investida Furiosa, Observar Aprimorado, Vi-
Lobo
são Aguçada e Vôo 14m.
Atributos: Agilidade 3, Força 1 (+2 Correr, +2 Saltar), Furtivi-
Estratégia: Procura atacar os alvos distraídos
dade 4, Manejo 3, Percepção 3 (+2 Ouvir), Resistência 3, Sobre-
e, quando pode, tenta suspender os mais leves
vivência 3, Outros 0.
no ar e lançar ao chão de uma boa altura.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/3/1/2.
Ataque: Mordida 3/3f. Besta Lisa (Birman):
Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Movimento 5m e Peque- Atributos: Agilidade 2 (na água 4), Força 4,
no (Tamanho). Furtividade 5, Manejo 3, Percepção 2, Resistên-
cia 3, Sobrevivência 4 e Outros 0.
Urso
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2-4/1-
Atributos: Agilidade 2, Força 6, Furtividade 2, Manejo 4, Per-
3(Água)/2/3.
cepção 2 (+2 Atenção), Resistência 5, Sobrevivência 4, Outros 0.
Ataque: Mordida venenosa ou Constrição.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/2/6.
Mordida 2f + Veneno (quando atingido pela
Ataques: Mordida ou Garra 4/6f.
mordida da besta, o personagem deve fazer um
Virtude: Armadura Natural, Farejar, Grande (Tamanho) e Mo-
teste de Fortitude (Resistência) Difícil -1S ou
vimento 5m.
tomará 3 de ano sem absorção). Constrição 6f.
Virtudes: Armadura Natural e Prontidão.
Fauna e Flora Fantástica de Belregard Estratégia: A besta não tem pressa e aguarda
Caso o narrador decida utilizar a fauna e flora fantástica de a hora certa de atacar.
Belregard, presente nas castelanias, as regras seguem abaixo:

356
b TOMO IV b
Ímpio Porcino (Latza): Percepção 3, Resistência 5 e Outros 0.
Atributos: Agilidade 3, Força 5, Manejo 3, Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/3/5.
Percepção 2, Resistência 4, Sobrevivência 2 e Ataque: Garras 6f
Outros 0. Virtudes: Armadura Natural, Esmagador e Tamanho.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/2/4. Fraquezas: Movimento 3m.
Virtudes: Virtudes: Armadura Natural, Fare- Estratégia: A grande besta é pacífica e herbívora, evita conflito
jar e Investida Furiosa. na maior parte das vezes.
Ataque: Presas 6f
Estratégia: Os porcinos costumam caminhar Ossuda (Vlakir):
em bandos e sua tática costuma ser concentrar Atributos: Agilidade 5, Força 4, Manejo 3, Percepção 4, Resis-
os ataques, cabeçadas, em um único alvo. tência 3 e Outros 0.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 5/2/2/3.
Lagarto que Cavalga (Varning): Ataque: Cabeçada 6f.
Atributos: Agilidade 3, Força 6, Furtividade 3, Virtudes: Armadura Natural (o valor corresponde ao corpo,
Manejo 4, Percepção 2, Resistência 6, Sobrevi- considere 5 para a cabeça), Investida Furiosa e Reflexos Afiados.
vência 2 e Outros 0. Estratégia: A ossuda procura tontear suas presas com cabeça-
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/5/6. das e, quando encontra barcos nos lagos, atinge os cascos para
Ataque: Mordida 8f afogar pescadores. Costumam viver em cardumes pequenos.
Virtudes: Armadura Natural e Movimento 6m.
Estratégia: O lagarto costuma escondeu seu Quimera (Dalanor):
real tamanho sob as águas do pântano, sur- De todas as criaturas apresentadas na fauna fantástica, as qui-
preendendo caçadores e predadores com sua ve- meras são as que talvez tenham a natureza mais mágica de todos.
locidade quando precisa correr. O lagarto pode Desse modo, não existe uma quimera igual a outra. O narrador
ser mais facilmente ferido em sua barriga, por deve soltar sua criatividade aqui. Pense em misturas ou em refle-
isso prefere lutar na espreita. xos degenerados de animais comuns.

Lâminis (Belghor): Ursus Cani (Rastov):


Atributos: Agilidade 4, Força 4, Furtividade 2, Atributos: Agilidade 4, Força 4, Inteligência 2, Manejo 3, Per-
Manejo 3, Percepção 4, Resistência 4, Sobrevi- cepção 3, Resistência 4, Sobrevivência 4 e Outros 0.
vência 3 e Outros 0. Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/2/4.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/1/3/4. Ataque:Mordida 5f.
Ataque: Presas 6f. Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Fúria, Memória Olfativa,
Virtudes: Armadura Natural, Ataque Furtivo Sentido Aguçado (Olfato) Fraquezas: Territorialista.
e Reflexos Rápidos. Estratégia: Os ursus canis vivem em matilhas pequenas, de
Estratégia: O lâminis costuma atacar sozi- cinco até dez indivíduos. Sua organização não é muito clara, já
nho e de forma furtiva, saltando do mato alto que eles parecem dividir funções, inclusive a liderança, como que
e amarelado da beira das estradas. Suas presas utilizando o que cada um tem de melhor para o bem de todos.
rendem punhais obra-prima. Quando atacam, utilizam táticas engenhosas e sofisticadas, com
emboscadas, ataques em conjuntos, ferimentos sobre ferimentos
Megatherium (Varning): e mesmo estratégias de fuga, com o sacrifício de um dos mem-
Atributos: Agilidade 2, Força 5, Manejo 2, bros da alcatéia.

357
b TOMO IV b
Flora Suplicante (Birman): A suplicante não gera
Arbusteiros de Mori (Latza): No caso da ingestão das frutas, grandes regras especiais, mas encontrar uma é
pode-se utilizar as mesmas regras da Lótus Negra, mas no caso quase sempre sinônimo de encontrar água em
do preparo do chá, o narrador pode considerar que aquele que suas reservas nas raízes.
ingerir o preparo poderá emular o uso do dom Profecia por uma
cena. Theodora (Dalanor): Nenhuma regra em es-
pecial, mas o doce da Theodora poderia facili-
Bitürd (Rastov): A Bitürd não possui regras especiais, mas de- tar relações sociais a critério do narrador.
vido a sua associação com o mal, poderia causar modificadores
sociais para intimidação. Coadjuvantes:
Apunhalador/Ladrão
Dhevora (Vlakir): Uma pessoa mordida pela planta deve fa- Reputação (Pária Adulto): Elã 3, Recursos 0,
zer um teste de Fortitude (Resistência) Difícil -1S. Em caso de Status 0.
sucesso, nada acontece, em caso de falha, o personagem vai sen- Atributos: Agilidade 3, Blefe 3 (+1 Disfarce),
tir coceiras naquela região ao longo do próximo dia e, depois de Força 3, Furtividade 4 (+1 Esgueirar), Ladina-
24hrs, a área estará um pouco mais escura, denotando a necrose. gem 3 (+1 Arrombamento), Manejo 3 (+1 Uma
Se não for tratada rapidamente, com um Tratar Ferimentos (Cura) mão) e Percepção 3 (+2 Observar).
Difícil -1S em até um número de dias igual a Resistência do perso- Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/2/1*/2 *Ves-
nagem, ele pode precisar amputar aquele membro para impedir te de couro
que a necrose se espalhe. Ataques: Punhal 4/2f

Dragona (Parlouma): A seiva da dragona pode ser utilizada


Caçador/Arqueiro
para melhorar testes de Tratar Males (Cura), com bônus de me-
Reputação (Guerreiro Adulto): Elã 3, Recursos
lhoria em +1D.
2, Status 2.
Atributos: Agilidade 3, Blefe 3, Conhecimento
Lança de Dazbog(Viha): Ingerir o chá feito com os insumos
2 (+1 Arquearia), Força 3, Manejo 3, Percepção
do cogumelo (segredo bem guardado das babas de Viha) leva a
2 (+1 Observar), Pontaria 4 (+1 Arco) e Sobrevi-
pessoa a um estado de fúria, emulando a virtude Fúria por uma
vência 3 (+1 Orientação).
cena, mas deixando-a exausta ao final da cena subsequente.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/2 *Ves-
te de couro
Lótus Negra (Belghor): Já descrita entre os venenos da Vir-
Ataques: Arco longo 5/5f, Espada curta 3/4f
tude Veneno.

Quiesca (Varning): A utilização alquímica da quiesca ainda Guarda/Soldado


é algo experimental, mas alguns estudiosos, geralmente sigilosos Reputação (Guerreiro Adulto): Elã 3, Recursos
com seus trabalhos (por receio de despertar a paranóia religiosa), 2, Status 2.
desenvolveram uma pasta que, ao ser esquentada, ativa os pon- Atributos: Agilidade 3, Blefe 3, Cura 3, Força
tos luminosos, permitindo uma luz tênue e fantasmagórica que 3, Lábia 3 (+1 Obter Rumores), Manejo 4, Per-
ilumina pouco (raio de dois metros), mas evita os perigos do fogo. cepção 3, Resistência 3 e Sobrevivência 3.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/2 *Ves-

358
b TOMO IV b
te de couro Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/0*/2 *Veste sacerdotal
Ataques: Espada ou Lança 4/5f, Escudo 4/3f Ataques: -
(Def +1) Virtude: Ungido (Druida, Feiticeiro ou Padre).

Bárbaro/Selvagem
Sacerdote/Religioso
Reputação (Pária Adulto): Elã 3, Recursos 0, Status 0.
Reputação (Sacerdote Adulto): Elã 2, Recur-
Atributos: Agilidade 3, Força 4, Furtividade 3 (+1 Esgueirar),
sos 3, Status 3.
Manejo 3 (+1 Uma Mão), Percepção 3 (+1 Atenção), Pontaria 2
Atributos: Blefe 3, Conhecimento 3 (+1 Reli-
(+1 Arremesso), Resistência 3 (+1 Fortitude) e Sobrevivência 3
gião), Cura 3 (+1 Tratar Males), Inteligência 3,
(+1 Forragem).
Lábia 3, Liderança 3, Percepção 3 (+1 Obser-
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/3 *Veste de couro
var), Performance 2 (+2 Oratória) e Vontade 3
Ataque: Machado 4/6f
(+1 Concentração).

359
Galeria dos
Condenados

baixo estão os personagens criados pelos apoiadores do financiamento coletivo de


Belregard. Estes personagens são apresentados com um breve histórico e sugestões
de usos dentro de campanhas, com algumas ideias de ganchos e contextos. Agra-
decimentos aos apoiadores: Anônimo, Cesar Questor, Daniel Camara, Daniel Mendes, Felipe
José, Helio Rodrigues, Israel Vieira, Jhonatan Hirão, João Luiz, Leandro Santos, Nikolas Jorge,
Ofídio Nogueira, Ramon Mineiro, Rodrigo Heringer e Theo Ribeiro. Além disso, um agrade-
cimento especial ao pessoal do QCFAZ, que nos deu uma baita moral durante esse processo
de finalização material.
Fedro
Etnia: Pa rlo
Idade: 15 ano
s
Ocupação: A
judante
Provação: Lu
xúria
Histórico: Fe
dro fa z pa rte d
merciantes qu e uma fam ília
e trafegam p o de co-
tantes. Dess a r rota s qua se
maneira ele co co ns-
cidades, vária nhe ce alg uma
s v ila s e um g s
p essoa s. É um rande número
a cr ianç a de ap de
te e p ouco cha a rência ino cen
mat iva, norma -
não sab e o p o lmente. Porém
rque, at rai a at ,
homens e mulh enç ão de alg un
eres. Ajuda na s
vers a s do g ru s at iv id ades di-
p o, va riando d
de est ábulos a e sd e a limp ez a
comercializ aç ão
fáceis quando d e pro dutos. Seu
Fe dro est á p o pai, Pat riz zio,
p elo corp o hu r p er to .” Fe dro na sc diz que “a s ve
mano. Ele age eu com uma nda s fic am m
e p a re ce c a ra c te ais
Porém, na c ala ser uma cr ianç rí st ic a p e culia r:
da da s noites, a normal, ao men o desejo
alto, Fe dro sati nos luga res de os a maior pa rt
sfa z seu desejo sertos, nos ap e d o te mp o.
c a rnal. Fe dro sa osentos va zios,
idosos, to dos. tisfa z o desejo quando a se de
Sua luxúria pa c a rnal de outr fa la mais
adentrou em se re ce, muit a s ve os. Homens, m
u qua rto e se zes, ser insaci u lheres,
p ôs debaixo d ável. Desde aq
Pa ra mais um e sua s cob er ta uela noite em
c ama. s. Ele anseia ir q u e su a tia
pa ra mais um
Ganchos: Fe d a ci dade.
ro p o de ter v is
ç ão que não p to o encontro d
o der ia v ir a pú e dua s p essoa
blico. Um c a so s imp ort antes
v iç al. Entre um amoroso entre da cidade em u
“prefeito” e um a mulher de um ma situa-
mais rico da s padre. Fe dro p h o m em
re dondez a s. O o de até mesm rico e um ser-
fam ília de com u do próprio. F o ser o amante
erciantes que le e d ro p o de ainda se d a m u lh er do homem
Fe dro teria um va, se cret amen r ap ena s um m
a (ou vária s) in te , mensagens en er o m em bro de uma
formações com tre uma v ila e
promete dora s outra. Em to do
pa ra outros e c a so,
talvez pa ra ele
mesmo.
Cesar
Etnia: Belgho
Idade: 45 anos
Impostos de Vlak ir
Ocupação: Cobrador de
Provação: Luxúria
a
notório va ss alo da sacr
Histórico: Cesa r é um r
mem acima de qualque
coroa de Vlak ir. Um ho
us papéis como cobra-
susp eit a que cumpre se
m iurgo. A populaç ão
dor de impostos do De
cobrador e sabe que
tem medo da fig ura do
de inspe ção e jul-
sua presença é sinônimo
enas cobra os im-
gamento. Cesa r não ap
que chegam ao
postos, mas julga ca sos
cialmente os que mesma coisa. O
seu conhecimento, espe , o qu e em Vl ak ir é quase sempre a
traições e he re sia us em Ca rne,
po dem ter relaç ão com s e mu lhe re s qu e se rv iram ao verdadeiro De
hagem de hom en sa r manipula
cobrador vem de uma lin , de se us an tep as sa dos. A verdade é que Ce
a fibra, ou loucu ra idera que
mas não possui a mesm nd o mu ito m en os do que era imaginado. Cons
relatórios e man da isa ria do
os impostos, falsific ando fo ss e m es m o um en viado dos céus, não prec
e que o Dem iurgo queles que demonstram
bons
a cobrança é um roub o u ou ro no be ne fíc io da
sim, Cesa r ut iliz a se
ouro pa ra se justifica r. As
ide ais. o líder
gr an de co ns pir ad or dent ro de Vlak ir, sendo
ser us ado como um
Ganchos: Cesa r po de
nt ra o Deus Rei.
se creto de um levante co
Ermitão
Etnia: Belgho
Idade: Adulto, ap es ar de
sua aparência
ar ruinada.
Ocupação: Bibliotec ário
(antigamente).
Provação: Ira.

Histórico: Ra ramente o
Er mitão fala
sobre seu pa ssado, ma s aq
ueles que con-
seguiram alg uma int im ida
de já ouviram
de sua bo ca que ele na sc
eu em uma fa-
mília simples, de fazende
iros e ter ia sido
batiz ado com o estranho
nome de Noult
Qudte é. Diz que aprendeu
a ler e escrever
sozinho, ap enas observan
do o cobrador
de impostos e seus de cre
tos. O Er mitão às
vezes fala sobre o quanto
deve a uma mu-
lher da nobreza de Melec
hit, ele a chama
ap enas de “duquesa” e de
como ela abriu pa ra ele as
que o velho diz, po de ac ab porta s do saber. Se vo cê ac
ar convencido de que ele redita r em tudo
do Tribunal do Supremo Of realmente já foi professo
ício. Não esconde de ningu r, filósofo a serv iço
também treva. Alguns me ém que foi o saber que lhe
mbros do Tribunal po dem trouxe luz, ma s
este jovem promissor está falar sobre um estudioso,
morto, enter rado. Essa es ma s pa ra todos eles
tido a vida de Noult po de tranha fig ura que vaga pe
ser outra coisa qualquer. Ce los ermos e diz ter
rtamente alg uém que deve
ser ev itado.
Gancho: Alde ões, fazende
iros e caçadores têm relata
luz constante e fantasmagó do nos últ imos anos o av ist
ric a nos lim ites da ter ra civ amento de uma
relatados em bárbaros cri iliz ada. Av ist amentos seme
mes envolvendo expe diçõe lhantes têm sido
de liv ros antigos têm sid s a loc ais da antig uidade.
o encontrados mortos, se Alguns mercadores
br uxule ante na s noites ma mpre na noite que o lam
is enevoada s. Um antigo liv pião br ilha de for ma
seguinte, o bibliotec ário se ro sumiu da bibliotec a de
jogou de uma da s tor res do Malik II, e na noite
os própr ios olhos antes de ca stelo. Dizem que o biblio
cometer o suicídio, ma s iss tec ário ar rancou
de estudiosos, patro cinad o obviamente deve ser bo
os por alg uns nobres de ata ria. Um gr up o
lim ites dos ermos de Belgh Melechit, encontrou antiq
or. Eles envia ram um mens uíssimas ruína s nos
patronos, ma s, quando um ageiro pa ra cont ar a desco
a comitiva chegou ao loc berta pa ra seus
de comp osição dos estudios al da s ruína s, encontraram
os e seus ajudantes. To dos as ca rcaça s já em
atada s. Isso com certeza pendurados pelos tor noze
deve ser histór ia pa ra am los e com as mãos
mora naqueles ermos. edrontar nossa s criança s,
ninguém com juízo
“Victor”
ut u
Etnia: Ab ida
esconhe c
Idade: D ho
o: A nda r il
Ocupaçã
: Ava rez a
Provação if ic a como Vic
-
se id e n t
r i c o : O abut u que p elos seus
pais
Histó m e a d o
foi no um
r c e r t a m ente não n h a p a s s ado p or
to z ele t e u-
e s s a f o r ma, t alve o s d it a m es do Tr ib
d t ro d -
t a rdio den nome cr ia
bat iz ado um id o u m
tenha a ss s p o dem
nal e a ssim a lg u n s s usp eitoso ue
u, como homem q
dor ist a, o op r im e ir o
v ila s
o nome d r rega com
o cidades e
ap ont a r, é a in d a c a i v is to e m -
it o a b u t u matou e ic to r é u ma fi- d e B e lr e g a rd. Já fo f lo r e s t a s de Dala
o mald r ia. V t rais b ela s
a n ç a , c o mo memó a p e la s ter ra s cen r n in g e m esmo na s c ô m o d o s, descon-
lembr am inh de Va a s, in
m is t e r io s a que c a n t e s e pânt anos m a c a u s a r problem a s p essoa s d
evem
g ura s m e r c a c o s t u r e q u e
casa resenç Cr iado
ma, ent re que sua p sinais do
de Pa rlou m p o , já v is õ e s e o.
u n c a f ic a muito te A le g a q u e re ceb e
ju d a v ir á do pa raís s
nor. N id a des lo c ais
.
u e n enhuma a v il a s e aldeia
a u to r p o r q a n a s
for tos da s re dor esenç m
r a o m u n do ao seu r d e t e n s ão. Sua pr d o m u n do e p o de
atent a r pa erado dades plesmente
u s a d o c omo um g f a la r s o bre a s ver d a d e s im
o de ser eça a so cie -
c h o s : Vic tor p q u a n do ele com it o b e m v isto p ela r t a d e p er igo v in
G a n confo r to não é m u o um a le
c aus a des t u que já urgir com lo c al.
cer t a m e n t e
a ç a d a a o a b u
V ic to r p o d e s
m a in t r ig a p olít ic a
a c ar te . ro de u
o gera r um qual fa z p ores dent
até mesm a ro p o v o d o o s p e c a d
er ioso e r rdadeir
p elo m ist t e a c u s a ndo os ve
en
simplesm
douro ou
u r a e C i c l o p e,
Filipa, a P
a Escuridão.
Etnia: Pa rlo
os
Idade: 18 an
nda rilha
Ocupação: A
xúria
Provação: Lu
e mau
N a sc id o so b aug úrios d
Histórico: e oriun-
re ja d o p o r su a deform idad
agouro; Ap e d a sc imento; Seu n
ome foi
a d e d o n
da da dificuld a m ap ena s de C
iclop e.
ch a m av
esque cido, o ro s do condado d
e L e-
el o s im p u
Odiado até p se u ódio p or tudo
que
c re sc ia e
fev re, sua ira q u e conhe ceu F
ilipa,
ta v a . A té
é v ivo aumen a g av a p ela s mata s
de
rl a q u e v
uma linda Pa p o rtou com a pre
senç a
quela
Dalanor que n ã o se im
u st á -l a , m a s m a lu z d iv in a emanava da
ua ss rência. U nvento
e início tento a com sua apa menda em co
de Ciclop e. D o se im p o rt av o u m a e n co
ela era cega e
nã p ort a com e c ados
p erceb eu que fo i re sp e it a d o. Deixada na a u ra q u e a b lo queia dos p
rimeira vez el
e tem uma e p oucos v iam
.
jovem e p ela p m q u is ta p el os fiéis, Filipa e sp e ra n ç a q u
be a rd com a
de A le c, ma s xerga r Belreg
de seg uidores a ju d o u a e n to dos.
m u n d o. S u a falt a de v is ão m co ra ç ã o , tenta ajuda r a
do seu b o s. Ma s
a ch e g a e m um luga r, p or s co ra çõ e s dos descrente
ip o
da vez que Fil Criador e ac a
lmando
mp o na prese
nç a de
Ganchos: To do a p a la v ra d o is d e c e rt o te
rmos, pregan m. Dep o puro é o
Curando enfe in co m o d a o s que a ro deia v e m m o st ra sse o quão im
e z a da jo expul-
tão g rande qu como se a pure eit a r e ac abam
sua purez a é e m à to n a . É a m co m o a c
rios p e c ados
v os não teri ando seu
Filipa, os próp n tr a st e q u e os mais afetad lo c a l p el a m ata, só observ
essoa s. Um co ronda o e Ciclop e
coraç ão da s p e v ê tu d o d a s sombra s. Ele n o lo c a l, m a ior é a fúria d
o lo c al. Ciclop é mal quista e
ag re dida olha pra trás e
nunc a
sando Filipa d m a is F il ip a . F il ip a n u n c a
nç ão. Quanto a r sua ira ta b em e
objeto de re de a ta o q u a n to puder até saci lg u m lu g a r, p or isso o tra
do o luga r e m a sai de a e “A lu z e
que dest rói to C ic lo p e fa z dep ois que el m . A ss im sã o chamados d
o cidades que m a jove m de a rrep en
dimento
soub e da s atr o el e e st á d e mal humor co iv e n te s e m to
mesmo quand os sobrev
com resp eito a ç a d a s d it a s p elos lábios d
A lma s entrel
a E scuridão”. a jovem tão il
um inada.
m e n to à q u el
p elo trata
Machad
us
Etnia:
L ato
Idade:
35 anos
Ocupa
ção: P r
Provaç ofess an
ão: Gu te (orad
la (verd or profa
ade) no)
Histór
ico: M
t a cur i achadu
osidade s na sc
ce do se e vo c a eu com
enc anto ç ão rel mui-
cor to d u p elos igios a,
a s a s li r it uais desde
m ília n t ania s. e s abia
ão t inh Infeliz m de
env iá-lo a dinhe ente su
iro sufi a fa-
como e ciente
ent ão q st udant p a ra
ue Dr is e do Tr
resolve t an, o ibunal.
u ensin padre d F oi
queno. a r a s pr o v ila re
A facili imeira s jo,
impress dade co let ra s a
ionou o m que o p e-
apresen s acerdo ele apr
t a r o jo te que e ndeu
padre e vem no env iou
veio a t ável. S uma c a
se apai ua t raje r t a ao b
Bröv ra r xo n t ó r i a r e isp o no
II. Com a r p or L o ligios a int uito
ig reja e ela apren u ise, um f o i rápida e de ma rc
fez da r deu alé a Dalan b e m a r uma
membr a z ão a m do am a que f r suce did ent rev is
os da c sua nov or c ana e quent a até que ta e
a s a a f é . Ju l , a s e mente d av a u m f o i o r denado
incer to da lu z e ntos p e a casa d
. A s últ reunind reg r ina e to do b a lu z, h
ima s no o tomos d r a m p or mu e m , a dúv i e r a nç a de
t ícia s in e to da s it a s cid da. Aba
Ganch dic am q a s esp écie a d e s de Be n d onou a
os: Mac ue seg u s. O qu lrega rd
de: O a hadus é em v iag e , v
rdiloso. conhe c e m sepa e l es prete i s it ando
ma rc ad Isto já t ido p or rados. ndem c
o como r o uxe mu s u a c apac o m isso é
disfa rce profano itos pro idade d
de men t raidor b l e ma s pa e p e r suadir,
Dizem dic ante na list a ra ele e ent re se
que a p lunát ico n e g ra do t r a q u eles que us am ig
a r te de enquan ibunal d o dão o os é cha
Ning ué L ouise to re co o s anto uv idos. mado
m s ab e e s t l h e o f í c S e u
re encon a o cer to á finaliz a i n for maç i o. Dev i n ome es
t ra r e p que dis da, re ce ões pa r do a ist tá
u blic a r e f a r c e ela ut b e ndo ap a f i naliz a r o m a ntém um
de Bröv st a obra ili ena s ac a sua p
ra r II” o
u “A v i a dua s m z a em sua s v ia abamen
t
a r te da
obra.
s ão de ãos. Ru gens, m os em r
Deus”. mores i a s é s abido q i m a e mét r ic a
ndic am ue em b .
que ser reve irã
á bat iz a o se
do com
o: “Os o
lhos
Vigo
Etnia: Brado
Idade: 35 anos
Pert ur bado
Ocupação: Vigia
a
Provação: Avarez
l den-
: V ig o ve io de fam ília tradiciona
Históri co que
ad en , m as é im port ante pens ar no
tro de Br o
ad ic io na l de nt ro de um povo que é
po de ser tr -
de m is tu ra de to dos os outros, de di
result ado
ot eç ão da fr on te ira cont ra a, antes,
cados a pr igo não
or? O próprio V
corrompida Belgh tuaç ão
Diante da at ual si
sabe a resp osta. ar ra
Braden, Vigo se ag
de guer ra civil de er reiro
de de se u le ga do fam iliar. Seus
ha do Le ão , te rr as esta s que o gu
ao que po e da Mural alha, hoje
uí am al gu m as te rras na pa rte nort tã o de vi gi ar , dia e noite a mur
pais poss anto fa z qu es rás. Vigo
e cu id a co m un ha s e dentes, enqu nt ra B elgh or te rm inou séculos at
herdou a guer ra co ente des-
, e se m um us o espe cífico, já que u pa i pa ra nó ic o que o fez plenam
abandona cerebral de se o guarda
s é qu e o re su lt ado da lavagem re di ta qu e es te povo dito escolhid
nada m ai verum. Ele ac
de be lg ho s e, es pe cialmente, dos
confiado de si.
ão sombr ia dent ro eles que
ainda uma po dr id de es ta r no cam inho daqu
rr as e po
e de suas te lidar com
os : V ig o é um vigilante constant e ve ru ns te rã o m aior dificuldade de
Ganch en. Belghos ss alagem
pa ss ar pa ra B elghor ou pa ra Brad s ba rõ es , m as ce rt amente deve va
deseja m na guer ra do o soldado
re iro ve te ra do . El e não se m istura . Ta lv ez a pr óp ri a Sombra alimente
o guer er momento
qu e po de cobrar a qualqu anos.
a algu m de le s,
lia ce ga se m an tenha por longos
que sua vigí
pert ur bado, pa ra
Hirao
Etnia: Dalano
Idade: Adulto,
21 anos
Ocupação: Co
nselheiro de um
Provação: Inve a nobre fam ília
ja Dalana.

Histórico: Hir
ao não gost a d
passado, mas e fala r sobre o
é sabido que ve seu
lia p obre que m de uma fam
conseg uiu, p o í-
at rás, um ca rg uca s gerações
o de confiança
lões da nobreza dentro dos sa-
. Hirao seg uiu
pai, como conse os passos do
lheiro dos Blan
firme como um ches e seg ue
das p essoas de
fiança dentro maior con-
da fam ília. Poss
conhe cimento ui um b om
das leis e do co
do aquele que m ércio, sen-
cuida até mesm
um p ouco de ve o das nego ciações
rgonha de suas mercantis com
o cerc am dentr origens hum ild p etentes da ca
o da riquez a. C es e isso ac aba sa nobre. Guar
omo sab e que gerando inveja da
conde, duque, nu n ca p o derá assum ir d a v id a d aq u el es que
volt a e meia sa
momento de in b ota seus próp ele mesmo o p
st abilidade quan ri o s p la nos para tra zer ap el d e barão,
do se regozija se uma ruína para
ndo o único ca a fam ília, um
Ganchos: Hirao pa z de tirá-los
p o de ser um co dali.
ve, em longo p ntrat ante com
ra zo, a ruína d um b om serv iç
nobre ou mesm a fam ília Blanch o que pre cisa d
o de um g rup o e. Po de se colo e discr iç ão e en
d ca r co n tr vol-
em questão. E e comércio p or n a os esforços de
se as maquinaç ão atender aos seu o u tr a ca sa
manter seus pri ões de Hirao fo s interesses naq
v ilégios? Talvez re m d es masca radas? A u el e m o mento
do o agente p o ele já faça a fam té que p onto el
r trás dos pano íl ia d e refém, mante e p o d e ir para
s ap enas para aq ndo ameaça s co
ueles que obse nst antes, sen-
rvam de fora.
Cecile
Etnia: Varna
Idade: 28 anos
Ocupação: Artista Profana
Provação: Gula (Bebida)

Histórico: Celile fez cert a vaga junto de companh


ias de artis-
tas pelo leste de Belregard, mas em um destes show
s para a nobre-
za local de Braden, na morada de um dos barõ
es envolvidos
na guer ra civil, a poetisa de dramas e desg raça
s desco-
briu que o chefe de sua caravana a havia vendido
para o
lorde local, uma noite de prazer por algumas
moe das.
Sofr ida a moléstia, Cecile inchou o corp o do cont
ratan-
te com vinho e abandonou a vida itinerante, pass
ando a
viver numa pequena vila de Braden, mas onde
não teve
muit a paz. Com a chegada de alguns refugiados,
fugidos de um monastério atac ado pelo próprio
Tribunal, Cecile se viu envolvida em uma tram
a profana e um acordo direto com a própria Som
Viva. Hoje ela vaga com alguns miseráveis, em bra
posse do Evangelho do Cão, disp osta a espalhar
palavra do pecado e da corr upção como uma a
plena salvação para as alma s dos homens.
Ganchos: Cecile carrega consigo um antigo
manuscr ito capa z de invo car um Lupus Umb
uma manifest ação da própria Sombra Viva. Uma ra,
imensa best a lupina, um cão negro de pura tre-
va e olhos ama relos que encanta e enfeitiça aque
les que o enca ram, dando a chance de aceitar
pecado ou perder a vida na mandíbula da fera. o
Cecila espalha o louvor da Sombra com um sorr
sardônico em seu belo rosto. iso
Santosis
Etnia: Vih
Idade: 33 anos
sacre dit ado
Ocupação: Cavaleiro de
Provação: Ira
a
ór ic o: A inf ân cia do vihs foi marcada por um
Hist -
a, já qu e er a fil ho de um relacionamento inces
manch sta r-
ento, tornando-o um ba
tuoso e fora do ca sam ão
es ar do amor e de dic aç
do em sua morada. Ap a
na s tradições antigas,
do pai, que ensinou-o
adra sta fez com que
sombra rancoros a da m
o um cam inho seu.
Santosis procurasse log
nsou ter encont ra-
Cam inho este que ele pe
alg uns cavaleiros
do quando juntou-se a
por deixa r o jo- mbra Viva tinha
merc antes que ac abaram um tem po , tre ina ram, lut aram, mas a So
Viaja ram po r alg sobrev ivente,
vem se junta r ao bando. om ete u a co m pa nh ia e Santosis, como único
nha praga ac r
outros planos. Uma estra dit an do qu e o m elh or cam inho seria se volta
re
o alg uma maldição. Ac ou pelas demais
foi acus ado de ter tra zid ob ra s. No s sa lõe s da igreja o soldado pa ss
dic ar às bo as a na do ença, na
pa ra Deus e assim se de Ch ag a do Es pír ito ao ver o po der da Sombr
perimentado a o
Chagas, já que havia ex nd os e a do Eg o qu an do foi expulso cumpr ind
rre
do corp o em serv iços ho homem ainda
mor te. Ele pa ssou pela da nã o en ten de , mas ele é um Arauto. Um
do. Santos is ain , desterrado.
aquilo que lhe foi ordena m o, no va m en te o jovem perdido sem ca sa
encont ra r o ru
perdido, ainda tentando
as co nv icç õe s an ter ior es, ofere cendo seus ser-
vive desacre dit ado de su os cavaleiros mer-
Ganchos: Santosis hoje e po de bu sc ar ainda um cont ato com
aio r. El s
viços a caus as que vis am
o bem m
e ac on te cid o. E a su a fam ília? Talvez os irmão
dem ainda culpá-lo do qu dizer suas últ imas palav
ra s
cantes de outrora que po z a m ad ra sta qu eir a
sse em encont rá-lo. Talve que era de fato uma irm
ã,
de Santosis tenham intere ? Qu em ela er a? Se rá
quanto a mãe do soldado s tenha prefer ido assum
ir
antes a do ença a leve. E se ja pio r e o pa i do vih
osis? Ou talvez a história
pr ima, tia, do pai de Sant
tro?
um filho ba sta rdo de ou
Aedan
Etnia: Belgho
Idade: 36 anos
Ocupação: Nobre opressor
, perseguido por crimes do
sado. pa s-
Provação: Luxúria, não no
sentido físico, ma s no
sentido de gosta r de ex ibir tud
o que ele conquistou
vindo do nada.

Histórico: Quando criança,


Ae dan viv ia
ma rginaliz ado nos arredore
s de Pa rméquia,
a fam ília religiosa não era “c
ega” e, por ve-
zes, levantava quest ionamen
tos em relação
a igreja. Na adolescência, Ae
dan veio a sab er
que sua fam ília detinha um
artefato deseja-
do pelo Tribunal, o jovem de
latou seus pa res
sem imagina r que eles ser iam
exe cutados como traidores/br
remorso remoendo por dentr uxos. Sem escolha, mesmo
o, come çou a trabalha r pa ra com o
Ae dan é ma rcada pelo treina os agentes do Tribunal. A juv
mento como guerreiro e rel entude de
ainda for tes dentro dele. Seu igioso, os quest ionamentos
papel se concret iza como um da fam ília
Ha skelita s, buscando artefa a esp écie de batedor pa ra a
tos ou pessoas de interesse Ordem dos
quando surge a op ort unidade pa ra a fé. Sua verdadeira fun
de coloc ar o, agora homem ção se mostra
com uma fam ília de baixa no de 36 anos em um ca samen
breza de Pa rlouma, o que de to arranjado
ter ras, próximas de Pa rméq sfavorece um desafeto da igr
uia, Ae dan mostra-se um sen eja. Em sua s
hor cruel e caprichoso.
Ganchos: Ae dan po de ter pre
ser vado um tomo ou outro art
Ae dan e seus homens elim ina efato da igreja A igreja po de
r um bando de degenerados mandar
esses degenerados, na verda em loc alidade próximas de
de, são ap enas pessoas que sua s ter ras,
dade dos que vivem nos domí ver baliz aram contra a igreja
nios de Ae dan é crescente, . A infelici-
da s ter ras est ar guardando isso faz com que boatos sob
artefatos profanos sejam cre re o senhor
cultista da Sombra? A esp osa scentes. Estar ia o conde tor
de Ae dan, via ca samento arr nando-se um
da propriedade do nobre. Bo anjado, é mantida prisioneira
atos de que um antigo preten dentro
pe queno grupo armado, mo dente da jovem, acompanha
nta ram acampamento na div do de um
isa da cidadela mais próxima.
Ofídico
Etnia: Igslavo
Idade: 45 anos Na ra sh
vo da s margens do lago
Ocupação: Sábio do po
Provação: Inveja
que hoje se int itula
Histórico: O homem
b augúrios m ister io-
como Of ídico na sceu so
, a cr iança na sceu
sos. Numa noite sem lua
e desesp ero. O
no silêncio, sem choro
ãe foi calmo, mas
trabalho de pa rto da m
e a cr iança inspi-
ceifou sua vida assim qu
rna curta colo cou
rou o pr imeiro ar. Sua pe
os guer reiros da-
fora do treinamento entre
perm itiu que se de- to ao cair num fosso de
serp entes
quela tribo igslava, mas co re ce be u se u ep íte
s dos sábios. Of ídi com as cobras marcou su
a vida
dic asse aos ensinamento sa iu ile so e su a rel aç ão
inver no, o ga roto que alega
que desp er tava depois do rp en te s so b a Pa níc ie de Igg fa scinam o sábio
da s gigantesc as se
desde então. As lenda s
.
re ceber mensagens delas os de Belre-
ex to de um jog o qu e abrace os povos bárbar
ito út il no cont ídico po de
Ganchos: Of ídico é mu os lut an do pe la so br ev ivência na s planícies. Of
clã s vihs e igslav . O sábio alega ser capa
z de ler o
ga rd, com membros dos as vis õe s e pr es sá gi os
incluem m ister ios sobre segredos do pa ss
ado, uma
re aliza r demanda s que le ve lha , de tro ca , fa la
s cobras. Uma pe pelo sábio po de ser ca
pa z de da r
futuro at ravés da pele da as es ca m as se nt ida s
to cada e tenha su caliz aç ão da pele de um
a da s imen-
serp ente viva que seja ba , em um a vis ão , a lo
lvez Of ídico re ce Uma pele que certamen
te contém
sinais sobre o futuro. Ta su pe rfí cie da pla níc ie.
avam abaixo da
sa s serp entes que espreit
.
segredos muito antigos
Faraj
Etnia: Ver um
Idade: 60 ano
s
Ocupação: M
endic ante Desg
Provação: Lu a rrado
xúria
Histórico: Fa
raj é um fanát
originalmente ico religioso q
, da s fileira s d ue veio,
ale cismo do Tr os mendic ante
ibunal. Em su s do
radic al, lidero a v is ão devota
u uma coluna da e
saiu do contro de p enitentes
le, transforma que
dores e est up ndo fiéis em sa
radores, onde q ue a-
se dei xou leva o próprio relig
r. P ro curando ioso
dep ois do acon uma purific aç ão
te cido, isolou-s anos
Braden, onde e numa p e quen
um p e queno p a v ila de
Fa raj ab ordou alco de horrore
um g rup o de s se a rmou.
est avam fugin refugiados na
do de um most e st rada que ac ab
Sombra, o Eva eiro em cham ou se reveland
ngelho do Cão a s e junto dela s, o serem p esso
. U h av ia u a s que
b est a que ac ab m a conhe cida do m tex to herét ico em
ou sendo tra zi padre, Ce cile, lo uvor à
raj, quando en da ao v ila rejo dei xou-se leva
c a rou os olhos p ela leit ura do r p ela se duç ão
ama relos do c manuscrito en da
raiz de seu p e ão neg ro, de ci quanto que o p
c ado, c a st rand diu entrega r p ró p rio Fa-
o-se com uma ra ele não serv
fac a. idão, ma s a
Ganchos: Fa ra
j vaga p elos er
ra st ro de Ce ci mos de Braden
le e do tex to h , de ba ronato em
pa ssou p or to erét ico. Talvez ba ronato, talvez
da s a s ma rc a s ag o ra ex ista algo pro curando alg
do Criador. A in de div ino no h um
ainda p o de dei da que sua co omem, que ve
xa r um legado rr up ç ão seja g rd ad eira
puro pa ra a s b rande, interna
oa s obra s do P m en te , ele
ai.
Nikolai
Etnia: Igslavo
Idade: Adulto, 30 anos
Ocupação: Ferreiro
Provação: Ira
sta rdo, cr iado
Histórico: Um filho ba
de idade, encon-
ap enas até os dez anos
o ao se tornar
trou seu rumo no mund
cal, um velho sá-
aprendiz do ferreiro lo
Nikolai, não negando
bio da s tradições do aço. en-
sa ng ue an ce str al, de dicou boa pa rte da juv
seu deira,
ao s es po rte s fís ico s, disputa s, br iga s e bebe
tude sozi-
er a de dic ad o ao tra ba lho e forjou uma espada
mas sim como
ain da mu ito no vo , pa ra treina r escondido. As a ira , sempre sendo repre endid
o
nho ia ta m bé m a su
crescia com o aço, cresc ado do jovem. O ápice de
a habilidade de Nikolai en to im pe tu os o e ex ag er
saprovava o comportam i repre endido pelo mes
tre
pelo seu mestre, que de fe rro pa ra o tra ba lho , fo
ando, esquentando um elha e o espeto fumegan
-
sua raiva se formou qu an do a vis ta fic ou ve rm
um serv iço at ra sado, qu mente se remói do acon
te-
ferreiro que o cobrava de ide nt e e Ni ko lai ce rta
ime foi tratado como ac ciente de que vive com
um
te matou o ferreiro. O cr rre ga nd o a cu lpa co ns
dido to da s as lições e ca
cido, nunc a tendo apren
inim igo dent ro de si. mo
te s pa ra dis sip ar a ira . Ele tem habilidade co
s que ele mat a viajan
Ganchos: Ex istem boato oa s.
co m qu e ele se ja pr oc urado por diver sa s pess
ferreiro,o que fa z
Nicole
Etnia: Dalana
Idade: Adult a, 22 anos
eira.
Ocupação: Ourives/Joalh
Provação: Inveja
a-
istór ico: Ni co le ap ren deu o of ício da ourives
H
de ter pa ss ado por um
ria com seu avô depois
u seu rosto. A menina
acidente que desfiguro
rmado em uma fig ura
alegra havia se transfo
sconfiada. Pa ra pio-
int rovertida, re ce os a, de
enina, Nicole tinha
ra r o psicológico da m
a um espelho e um
uma irmã gêmea, que er
que ela nunc a mais
eterno lembrete daquilo
r um bom ca samen- de m itigar sua chaga, fo
rjou
po deria ser. Na busc a po do s. Nu m a ten ta tiv a
cebia atenç ão e cui- da do as cic at rizes. Depo
is da
to, ap enas sua irmã re do ro sto , es co nd en
urada, que cobr ia pa rte l pa ra não deixa r a ruína
se
pa ra si uma másca ra do íci o, fa ze nd o o po ss íve
quem seguiu com o of çou, chegando a oprim ir
sua
mor te do avô, foi Nicole da po siç ão qu e alc an
je em dia Nicole gosta superioridade diante de
las,
abater sobre a fam ília. Ho ss alt ar su a po siç ão de
fa zendo questão de re
mãe e sua irmã, sempre
expe ct at iva s.
mesmo cont ra to da s as te en-
or pe la irm ã, m as um amor que ela dificilmen
cole esconde um am impressionante com o ou
ro,
Ganchos: A inveja de Ni len to ve rd ad eir am en te
em ourives tem um ta am mom.
tenderá ou aceit ará. A jov m alg um pa cto , benç ão profana, de M
manife sta r co
o que po de facilmente se
Lista de
Apoiadores
Aaron Yuri Cezar Capacle Evaldo Figueredo da Silva
Abidjan Areaba Corrêa Claudio Duarte Fábio Bordini
Adalberto Marinho da Silva Júnior Cristiano Alexandre Moretti Fabio Cesar de Carvalho
Albert Moia Cristiano Cristo Felipe Barreto
Alberto Massoco Ticianelli Daniel Camara Felipe Carim Caldas
Alex luis ferrari Daniel Marcos Martins Felipe dos Santos
Alexander Ischaber Xavier Daniel Mendes Corrêa Victor Felipe Gomes Rosa da Silva
Alexander Ischaber Xavier Danilo Campos Felipe José Rodrigues da Silva
Alexandre Campos Davi Bretas Felipe Malandrin
Alexandre Straube Davi Campino Felipe Norberto
Alexsandro Teixeira Cuenca Davi Nascimento Fellipe Denser leite da Silva
Ana Karolina Novaes Davi Pontes da Silva Fernanda de Assis Maria
Anderson da Silva Souza Délio Monteiro de Souza Fernando Spina Tensini
Angélica Neves de Souza Demian Machado Walendorff Filipe Gomes Sena
Anna Carolina Beja Diego Bassinello Flávio Martins de Araújo
Antônio Schmidt Fiorot Diego Bernard Flavio Nigro Rodrigues
Azecos Diogo Nogueira Francis Diego Duarte Almeida
Bernardo Vianna Douglas Almeida Frederico Luciano B C Mota
Berto Souza Douglas Edson Fernandes Frederico Meyer Fardo
Bruna Nora Douglas Estevez Gabriel Amaral Passos
Brunna Fernanda F. B. da Cruz Douglas Figueiredo Gabriel Cebrián
Bruno Della Ripa Rodrigues Assis Dungeonist Gabriel Dudena de Faria
Bruno Salim Chaluppe Soares Edney ‘InterNey’ Souza Gabriel Fonseca Ribeiro
Bruno Vassalo da Silva Eduardo Avelino da Silva Gabriel Soares
Caíke Gama Machado Eduardo Barreto Gabriel Velloso
Caio Fittipaldi Kenup Eduardo Delabari Maracci Gene Cavalcante
Carlos Victor Gonçalves Moura Eduardo Henrique Fernandes Rosa Gentle Ogre
Carlos Vloet Eduardo Vieira Geovane Passos Ribeiro
Cesar Questor Enzo Vignati Gil Me Desenha!
Gilberto M. F. Jhunior Leonardo Malheiro Pedro Lyra Matoso
Gilvan José Gouvea Livia von Sucro Pedro Medeiros
Goodend Lucas André Borges Hlavac Pedro Oliveira Obliziner
Guilherme Endler Lucas Chrisostimo Farah Pedro Xavier Borges
Gustavo Barcelos Plá Lucas Danez Perdiga
Gustavo Bocardi Lucas Ollyver Gonçalves Barbosa Pietro Barboza Von Doellinger Bvd
Gustavo da Rocha Pereira Lucas Takeo Riuzim Rafael Alexander
Gustavo de Souza Matoso Lucas Ximenes Araújo Rafael Andrade Cavalaro
Gustavo Oliveira Lemos Luciano Paulo Giehl Rafael Brandão
Gustavo Sales Luis Fernando dos Santos Rafael Delgado Sanches
Gustavo Tironi Malek Luis Oliveira Rafael Diego Martins dos Santos
Heitor De Almeida Francisco Luiz Claudio de Oliveira Gonçalves Rafael Félix
Heitor Santos Luiz Eduardo Ricon de Freitas Rafael Gustavo Neves da Silva
Helio Horacio G. de Alcantara Luiz Fernando R. Dias Macedo Rafael Henriques dos Santos
Helio Ricardo de S. Brandão Junior Luiz Henrique Oliveira Rafael Rocha
Helio Rodrigues Machado Neto Luiz Paulo Tavares Monteiro Rafael Santos
Ícaro Argenta Malheiros Marcelo Lacerda de Góes Telles Rafael Silveira
Igor Henrique Moura Marcio Gama Rafael Tokarski Ribas
Igor Vieira Chacon Marcio Moreira Guimarães Rafael Ujimori
Ilca Stelmokas Marcus Andrade Ramon Mineiro
Israel vieira da Silva Marcus Vinicius M. do Nascimento Reginaldo Alves de Souza Junior
Italo Henrique Silvestre Mateus Eustáquio de Oliveira Renan Gomes Barcellos
Iuri Gelbi Silva Londe Matheus de Avila Pereira Renato Gomes de Almeida Kalil
Jhonatan Hirão de Godoy Matheus Fernandes Renato Leal da Silva
João Batista Lopes da Silva Matheus Ulisses Xenofonte Renato Yugiro Saiki
João Luiz S. B. Mauricio Alexandre Reynaldo Cruz Barochelo Junior
João Paulo Marinho S. de Almeida Michael Cebalos R. dos Santos Rita de Cássia Freitas Portugal
João Pedro Marques Mickael Borges Pereira Gomes Rodolfo Vieira Maximiano
João Victor Burgos Fernandes Murilo Timoteo Rodrigo Carlos Silva de Lima
João Zeigler Nicolas Bohnenberger Rodrigo Heringer Carmo
Jonas Matheus Sardena Peres Nikolas Jorge Santiago Carneiro Rodrigo Lopes Azeredo
Jorge dos Santos Valpaços Octavio Cesar Antezana Morales Rodrigo Martins de A. Fernandes
José Rafael Capella da Silva Ofidio Nogueira Rogério Rodrigues Vilas Boas
Jovaine Varella de Freitas Pablo Machado de Azeredo Romário Oliveira de Vasconcelos
Kherian Gracher Pablo Rodrigues Lopes Romullo Assis dos Santos
Kleverson Carvalho Paulo Henrique Ronald Oliveira
Leandro dos Santos Pedroso Paulo Henrique Vieira da Paixão Rubens Mateus Padoveze
Leandro Santos Felix Paulo Ramon Nogueira de Freitas Salomão dos Santos Soares
Leandro Souza PC Suarez Stéfano Fara
Leandro Zerbinatti de Oliveira Pedro Henrique Chaves Maia Stefano Pelletti
Leonardo Machado Almeida Pedro Henrique Pires F. Coimbra Theo Ribeiro de Barros
Thiago de Bittencourt Buss Victor Alexsandro Kichler Ferreira Willian Vieira Resende
Thiago Gomes Santiago Victor Franco Yan Ferreira Paulucci
Thyago C. Nogueira Vitor Frazão Dias Yancaê Lucas Boell
Tiago Alencar Braga Viviane Lopes da Costa
Torre de Marfim William Santana

MUITO OBRIGADO, CÃES!

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