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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO CONSTITUCIONAL

Atualizado em 06/04/2019: novos julgados + questões de concurso

Pontos atualizados: nº 15 (Info 930); nº 01 (Info 931); nº 03 (Info 932); nº 18 (Info 933); nº 03
(Info 934); nº 04 (Info 934); nº 15 (Info 934)

1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


1.1. DIREITOS SOCIAIS: É indispensável o registro do sindicato no Ministério do
Trabalho para poder ingressar em juízo na defesa de seus filiados – (Info 931)

A legitimidade dos sindicatos para representação de determinada categoria depende do


devido registro no Ministério do Trabalho em obediência ao princípio constitucional da
unicidade sindical (art. 8º, II, da CF/88).
STF. 1ª Turma. RE 740434 AgR/MA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/2/2019 (Info 931)
OBS: Os sindicatos podem fazer a defesa dos direitos e interesses individuais ou coletivos da
categoria, conforme prevê o art. 8º, III, da CF/88. No entanto, para que os sindicatos possam
fazer isso, eles precisam ser registrados no Ministério do Trabalho. O registro sindical é o ato
que habilita as entidades sindicais para a representação de determinada categoria.

Por que fazer essa exigência? Qual a razão disso? A exigência desse registro é para garantir o
respeito ao princípio da unicidade sindical, adotado pela CF/88, em seu art. 8º, II, segundo o
qual é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial. Assim, o
Ministério do Trabalho controla para que não exista mais de um sindicato, da mesma categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial. Nesse sentido:
Súmula 677-STF: Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do
Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do
princípio da unicidade.

Vale ressaltar que o objetivo do registro do sindicato no Ministério do Trabalho não é o de


controlar o funcionamento da entidade sindical, que goza de liberdade, nos termos do art. 8º,
I:
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção na organização sindical;

O propósito é unicamente garantir que seja respeitado o princípio da unicidade sindical.


Desse modo, mesmo que o sindicato seja registrado no cartório (serventia extrajudicial), ele
só passa a ter existência legal e somente pode representar os trabalhadores após o registro
no Ministério do Trabalho. Esse é o entendimento consolidado no STF há muitos anos:
(...) 1. Incumbe ao sindicato comprovar que possui registro sindical junto ao
Ministério do Trabalho e Emprego, instrumento indispensável para a fiscalização
do postulado da unicidade sindical. 2. O registro sindical é o ato que habilita as
entidades sindicais para a representação de determinada categoria, tendo em
vista a necessidade de observância do postulado da unicidade sindical. 3. O
postulado da unicidade sindical, devidamente previsto no art. 8º, II, da CF/88, é
a mais importante das limitações constitucionais à liberdade sindical. (...) STF.
Plenário. Rcl 4990 AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 4/03/2009.

É também a posição do STJ:


É indispensável o registro do Sindicato no Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) para ingresso em juízo na defesa de seus filiados. STJ. 2ª Turma. AgRg
no AREsp 608.253/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 20/4/17.
1.2. DIREITOS SOCIAIS: Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do
salário mínimo, desde que inexistam reajustes automáticos – (Info 929)

Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que
inexistam reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à
SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/19 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.

No mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST: “A estipulação do salário profissional em


múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de
1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção
automática do salário pelo reajuste do salário mínimo.”
OBS:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social: (...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;

Súmula vinculante 4: Salvo os casos previstos na Constituição, o salário mínimo


não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor
público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.

Como a decisão da Justiça do Trabalho determina que a atualização salarial ficará vinculada
aos termos do que foi definido em acordo ou convenção coletiva, ela não afronta o art. 7º,
IV, da CF/88 e a SV 4, considerando que não utiliza o salário mínimo como “indexador de base
de cálculo de vantagem”, cuja prática é vedada pela SV nº 4.

Em suma, não viola o art. 7º, IV, da CF/88 o estabelecimento de piso salarial em múltiplos
do salário mínimo do valor à época da contratação, desde que o mesmo não seja indexador
para reajustes futuros:
(...) A decisão que aplica o piso salarial estabelecido no art. 5º da Lei 4.950/66,
mas ressalva a vedação de vinculação aos futuros aumentos do salário mínimo,
está em consonância com o enunciado da Súmula Vinculante 4 e com a decisão
proferida na ADPF 53 MC. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 19130 AgR, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 03/03/2015.

1.3. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de


materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias em
universidades públicas e privadas – (Info 922)

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam:


• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;
• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);
• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários;
• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de
depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do
pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de
universidades públicas e privadas.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 31/10/18 (Info 922).
OBS:
Buscas e apreensões realizadas em universidades: Durante o segundo turno das eleições
presidenciais de 2018 houve “denúncias” de que, em algumas universidades públicas,
professores e alunos estariam fazendo campanha eleitoral contra o então candidato Jair
Bolsonaro. Diante disso, alguns juízes e TRE’s proferiram decisões determinando busca e
apreensão de supostos panfletos e materiais que estariam sendo distribuídos em tais
instituições e que representariam campanha eleitoral, o que seria vedado por se tratar de uma
entidade pública. Tais panfletos conteriam a frase “Ele Não” e outras mensagens contra o
referido candidato. Em algumas outras universidades, os materiais foram retirados por
iniciativa da própria Polícia, sem que houvesse ordem judicial. Três exemplos:
 Na Universidade Federal de Uberlândia – UFU, policiais militares retiraram uma faixa
com propaganda eleitoral colocada do lado externo de uma das portarias do campus.
 Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, policiais retiraram faixas em
homenagem à vereadora Marielle Franco e com as inscrições “Direito Uerj Antifascismo”.
 Na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, foram retirados cartazes supostamente de
apoio ao candidato Fernando Haddad.

Segundo restou apurado, atos de manifestação de pensamento e mesmo aulas teriam sido
interrompidos ou proibidos.

Art. 37 da Lei 9504/97: Os juízes e TRE’s deferiram essas ordens de busca e apreensão alegando
que o art. 37 da Lei 9.504/97 proíbe propaganda eleitoral em universidades públicas:
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou
que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de iluminação
pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e
outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de
qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e exposição de placas,
estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados.
§ 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste
artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do
bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais).
§ 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens
públicos ou particulares, exceto de:
I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o
bom andamento do trânsito de pessoas e veículos;
II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas
residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (...)

ADPF: A PGR ajuizou ADPF contra esse conjunto de atos do Poder Público (decisões judiciais
e ações policiais). Alegou que tais apreensões ultrapassaram os limites de fiscalização do
processo eleitoral e afrontaram o preceito fundamental da liberdade de expressão, na qual
se incluem a livre manifestação do pensamento e de cátedra e a autonomia universitária.

A liberdade de cátedra (também chamada de liberdade acadêmica) é um princípio segundo


o qual o professor deve ter a liberdade de pesquisar e ensinar, ou seja, divulgar seu
pensamento, arte e saber. Por outro lado, o aluno tem também a liberdade de aprender e
pesquisar, sem a imposição de censuras. A liberdade de cátedra está prevista nos incisos II e
III do art. 206 da CF/88:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...)
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o
saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;

A autonomia universitária, por sua vez, está consagrada no caput do art. 207 CF/88:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Pediu, portanto, a declaração de nulidade desses atos e que fosse garantido o direito à
liberdade de expressão no ambiente universitário.

Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM. A arguição de descumprimento de preceito
fundamental é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da CF/88:
CF/Art. 102 (...)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

Foi editada a Lei 9.882/99 para regulamentar a ADPF. Trata-se de um instrumento de controle
concentrado de constitucionalidade. A competência para julgar a ADPF de que trata o art.
102, § 1º da CF/88 é do STF. As hipóteses de cabimento da ADPF estão previstas no art. 1º da
Lei nº 9.882/99:
Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será
proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar
lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou
ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;

O STF entende que:


O conjunto de reiteradas decisões sobre determinada matéria é considerado ato
do poder público passível de controle pela ADPF e esta é a via correta para
questionar interpretação judicial de normas constitucionais e legais. STF.
Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 31/10/18 (Info 922).

E quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido da PGR? SIM. Os atos questionados
violam:
 Os princípios constitucionais que asseguram a liberdade de manifestação do
pensamento e
 As garantias inerentes à autonomia universitária.

Subjetivismo e erro de interpretação: Para o STF, as decisões proferidas apresentam-se com


alto grau de “subjetivismo”, incompatível com a objetividade e neutralidade que devem
permear a função judicante. Além disso, tais atos demonstram erro de interpretação de lei,
conduzindo a uma interpretação contrária ao Estado democrático de direito.

Liberdades públicas e processo eleitoral democrático: O processo eleitoral, no Estado


democrático, fundamenta-se nos princípios:
 Da liberdade de manifestação do pensamento;
 Da liberdade de informação;
 Da liberdade de ensino e aprendizagem;
 Da liberdade de escolhas políticas; e
 Da autonomia universitária.

As decisões impugnadas interromperam atos pelos quais professores e alunos expressavam


suas ideias e ideologias, preferências, propostas e percepções do que se quer no processo
político.

Sem liberdade de manifestação, a escolha é inexistente. O processo eleitoral transforma-se


em enquadramento eleitoral, próprio das ditaduras.

Por isso, toda interpretação de norma jurídica que colida com qualquer daqueles princípios
ou que restrinja ou impeça a manifestação da liberdade é inconstitucional e, portanto,
inválida.

Essa nulidade é ainda mais grave porque a restrição à liberdade de manifestação ocorreu
dentro do ambiente universitário, onde vigora, por força constitucional, a liberdade de
informação, ensino e aprendizagem, além da autonomia universitária.

Finalidade do art. 37 da Lei 9.504/97: A finalidade desta norma é impedir o abuso do poder
econômico e político e preservar a igualdade entre os candidatos no processo. A norma visa,
portanto, resguardar a liberdade do cidadão, o amplo acesso às informações, para que ele
decida conforme sua livre convicção, sem cerceamento direto ou indireto a seu direito de
escolha. Assim, esse artigo não proíbe o exercício das liberdades individuais e públicas, ou
seja, não veda que os cidadãos divulguem suas ideias, opiniões, ideologias. Da mesma forma,
não proíbe as atividades de docência, que devem ser exercidas com liberdade.

Autonomia universitária: A CF/88 assegurou às universidade autonomia para que elas, de


forma discricionária, possam fazer suas escolhas para o melhor desempenho de suas
funções. O pluralismo de ideias está na base da autonomia universitária como extensão do
princípio fundante da democracia brasileira, previsto no art. 1º, V, da CF/88. As
universidades são, portanto, “espaços de liberdade e de libertação pessoal e política”.

1.4. DIREITO À EDUCAÇÃO: Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade


dos seus alunos – (Info 921)

Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos


matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.
Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam
instituições diferentes dos estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais,
legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.
A quota mensal escolar exigida nos Colégios Militares não representa ofensa à regra
constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação concreta ou
potencial ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.
Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades
do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é
válida a sua instituição por meio de atos infralegais.
Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que
disciplinam essa cobrança.
STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 24/10/18 (Info 921).
OBS: “Essas escolas militares não se sujeitam à gratuidade, uma vez que não se encontram os
colégios militares inseridos no sistema da rede pública de ensino e não participam daquela
distribuição de recursos públicos destinados à educação.” (Min. Ricardo Lewandowski).

Valor cobrado não é tributo; logo, não há violação ao princípio da legalidade tributária: A
quota mensal escolar cobrada dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio
Militar do Brasil não possui natureza tributária. Não se trata de tributo porque o ingresso no
Sistema de Ensino do Exército é facultativo e baseado em critérios meritocráticos. Assim, o
vínculo jurídico do aluno com a instituição possui natureza contratual, de forma que o valor
pago por ele não é tributo. Vale a pena relembrar que o conceito de tributo, previsto no art. 3º
do CTN, exige compulsoriedade e, portanto, exclui de sua abrangência os valores pagos a título
de contrato (ajuste de vontades):
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Uma pergunta: existem alguns colégios militares da Polícia Militar, ou seja, colégios
estaduais mantidos e organizados pela Polícia Militar. É válida a cobrança de mensalidade
ou de outros valores por parte desses colégios? O STF não enfrentou este tema nesta ADI
5082/DF. Os Ministérios Públicos, em âmbito estadual, questionam essa cobrança alegando que
ela violaria o princípio da gratuidade. Veremos como os Tribunais irão interpretar o tema
agora com essa decisão do STF. Será necessário analisar o caso concreto para saber se esses
colégios da Polícia Militar gozam das mesmas características dos Colégios Militares do
Exército, inclusive quanto à questão orçamentária.

1.5. DIREITOS POLÍTICOS: A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo


mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido
para suceder o eleito que foi cassado – (Info 921)
Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à
conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder
Executivo.
Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três
mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo
familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação do segundo
colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.
Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio.
Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de
Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o
mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de
Prefeito porque seria o terceiro mandato consecutivo deste núcleo familiar.
STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18 (Info 921).
OBS: O motivo da inelegibilidade seria a aplicação combinada dos §§ 5º e 7º do art. 14, CF:
Art. 14 (...)
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,
os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (...)
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A jurisprudência, ao interpretar esses dois parágrafos, afirma que o cônjuge ou parente do


chefe do Poder Executivo (ex: cônjuge ou parente do Prefeito) só poderá concorrer para o
mesmo cargo de chefe do Executivo (ex: só poderá concorrer ao cargo de Prefeito) se forem
cumpridos dois requisitos:
1) o cônjuge ou parente só pode se candidatar a sucessão do titular quando este
for reelegível: Ex: o parente do Prefeito quer concorrer à Prefeitura; esse parente
só poderá concorrer se não houver nenhum impedimento para que o próprio
Prefeito concorra; em outras palavras, o Prefeito poderá se candidatar à reeleição,
mas escolheu não fazer isso; neste caso, seu parente poderá concorrer. Assim, se
já era o segundo mandato consecutivo do Prefeito, por exemplo, seu parente
não poderá concorrer; isso porque o próprio Prefeito não poderia participar
novamente da eleição.

2) o titular deverá se afastar do mandato seis meses antes das eleições: Ex:
Auricélio era Prefeito e renunciou ao cargo seis meses antes das eleições a fim de
permitir que seu cunhado Hélio (que é parente por afinidade em segundo grau)
fosse candidato ao mesmo cargo.

Terceiro mandato no mesmo núcleo familiar: O TSE considerou que, se fosse permitido que
Hélio continuasse no cargo de Prefeito e exercesse o mandato de 2017 a 2020, isso significaria
o terceiro mandato consecutivo do mesmo núcleo familiar para o mesmo cargo. Para o TSE,
ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão
sobre qual foi a intenção do legislador constituinte: proibir que pessoas do mesmo núcleo
familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo. Em
outros termos, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos
consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente. Quando Hélio foi eleito em 2012 e
passou a exercer o mandato em 2013, este foi o segundo mandato consecutivo de Prefeito
daquele grupo familiar. Mesmo sendo uma outra pessoa, é como se fosse a reeleição de
Auricélio. O mandato de 2013-2016 desempenhado por Hélio é como se fosse o segundo
mandato de Auricélio. Logo, já chega. Não pode um terceiro consecutivo.

Obs1: quando falamos em “núcleo familiar” aqui estamos nos referindo ao cônjuge e aos
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção (art. 14, § 7º).
Obs2: a causa de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º da CF/88 abrange o
cunhado/cunhada do chefe do Poder Executivo (STF. Plenário. RE 171061, Rel. Min. Francisco
Rezek, julgado em 02/03/1994).

Situação de Hélio foi parecida com o caso Garotinho e Rosinha: A situação acima exposta foi
semelhante ao que aconteceu no Governo do RJ envolvendo Anthony Garotinho e sua esposa
Rosinha. Em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em
2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da
República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002,
tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque
seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a
seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de Governador,
não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição. Vale ressaltar, no
entanto, que ao ganhar a eleição, é como se Rosinha estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006, ele não pode concorrer novamente ao Governo. Em suma, este
núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.

Recurso extraordinário e mandato-tampão: A defesa de Hélio não se conformou com a decisão


do TSE e recorreu ao STF. No recurso, Hélio argumentou o seguinte: eu sei que a jurisprudência
não permite três mandatos consecutivos para o mesmo cargo do Poder Executivo. No entanto,
no caso concreto existe uma peculiaridade: o meu cunhado Auricélio, nas eleições
municipais de 2008, foi o 2º colocado no pleito. Quem ganhou e assumiu a Prefeitura de
Guamaré (RN) foi outro político, o Mozaniel. Ocorre que o mandato de Mozaniel foi cassado
e a Justiça Eleitoral determinou que o 2º colocado (meu cunhado Auricélio) assumisse para
um mandato-tampão (de 2010 a 2012). Isso significa que o meu cunhado não exerceu um
mandato completo. Sendo apenas um mandato-tampão, não se pode querer aplicar esse
entendimento jurisprudencial que veda três mandatos consecutivos.

O STF concordou com o argumento de Hélio? A proibição de que um mesmo núcleo familiar
exerça três mandatos consecutivos deve ser afastada se um desses mandatos é apenas um
mandato-tampão? NÃO. O STF concordou com a decisão do TSE e afirmou que a proibição
de que um mesmo núcleo familiar exerça três mandatos consecutivos existe ainda que um
desses mandatos seja apenas mandato-tampão:
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo
núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação
do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão. STF. 2ª
Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18 (Info 921).

1.6. DIREITO À EDUCAÇÃO: Lei estadual tratando sobre livre organização de entidades
estudantis – (Info 920)

É constitucional lei estadual que:


• assegure, nos estabelecimentos de ensino superior estadual e municipal, a livre
organização dos Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais dos
Estudantes.
• estabeleça que é de competência exclusiva dos estudantes a definição das formas, dos
critérios, dos estatutos e demais questões referentes à organização dos Centros Acadêmicos,
Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais dos Estudantes.
• determine que os estabelecimentos de ensino deverão garantir espaços, em suas
dependências, para a divulgação e instalações para os Centros Acadêmicos, Diretórios
Acadêmicos e Diretórios Centrais Estudantis.
Vale ressaltar, no entanto, que esta lei não se aplica para as instituições federais e
particulares de ensino superior considerando que elas integram o “sistema federal”, de
competência da União.
Deve-se acrescentar, por fim, que é inconstitucional que essa lei estadual preveja multa
para as entidades particulares de ensino em caso de descumprimento das medidas acima
listadas.
STF. Plenário. ADI 3757/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/10/18 (Info 920).
1.7. DIREITOS SOCIAIS: É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no
momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez
– (Info 919) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do ADCT somente exige a anterioridade
da gravidez à dispensa sem justa causa.
Art. 10. (...) II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada
gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.
O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a
gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer
outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.
Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela
tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez.
STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes,
j. 10/10/18 (repercussão geral) (Info 919).

1.8. HOMESCHOOLING: Não é possível, atualmente, o homeschooling no Brasil – (Info


915) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de


cumprimento, pela família, do dever de prover educação.
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o
prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar.
No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há legislação
que regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino.
Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma
regulamentação por meio de lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e
fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos constitucionais que tratam sobre
educação, especialmente o art. 208, § 3º, da CF/88.
STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 12/9/18 (repercussão geral) (Info 915).
OBS:
Art. 208 (...)
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
escola.

Nesse sentido, é necessário que a lei que venha a regulamentar o ensino domiciliar prescreva,
dentre outros pontos, o que será essa “frequência”.

Desse modo, para o STF, o homeschooling (o ensino domiciliar utilitarista ou por conveniência
circunstancial), atualmente, não é permitido por falta de regulamentação legal. No entanto,
como a CF/88 não o proíbe, é possível que o Congresso Nacional edite uma lei disciplinando
o tema, respeitados os dispositivos constitucionais relacionados com a educação.

E se, atualmente, os pais adotarem o “homeschooling”, o que pode acontecer? Tais pais ou
responsáveis poderão ser responsabilizados civil e até mesmo criminalmente. Isso porque o
ordenamento jurídico, atualmente, obriga que os pais matriculem seus filhos menores nas
escolas de educação formal. Veja:
Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;

Lei nº 8.096/90 (ECA)


Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais. (...)

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou


pupilos na rede regular de ensino. (...)

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão


ao Conselho Tutelar os casos de:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares; (...)

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:


V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar; (...)

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder


familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso
de reincidência.

Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação)


Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na
educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.

Como o homeschooling atualmente não é permitido, há quem defenda que os pais que o
praticam cometem o crime de abandono intelectual, tipificado no art. 246 do Código Penal:
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Para Damásio de Jesus, não há crime: Educação domiciliar constitui crime? Jornal Carta
Forense, 1º abr. 2010. Por outro lado, Cleber Masson entende que o homeschooling, enquanto
não houver disciplina legal sobre o assunto, configura o delito do art. 246 do CP (Direito Penal.
São Paulo: Método, 2018, p. 215).

1.9. EDUCAÇÃO: Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso na educação


infantil e no ensino fundamental – (Info 909)

São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso,
respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data
limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.
STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 1º/8/2018 (Info 909).

É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino


fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno
deverá preencher o critério etário.
STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
1º/8/18 (Info 909).

OBS: O STJ também possui o entendimento de que tais Resoluções são válidas:
As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso de
crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do
correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a lei).
Ao contrário, tais Resoluções encontram respaldo na interpretação conjunta dos arts. 29 e
32 da Lei nº 9.394/96 (LDB).
O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar
ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos
normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.

1.10. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Cabe reclamação contra decisão judicial que


determina retirada de matéria jornalística de blog – (Info 905) – IMPORTANTE!!! – (PGEPA-
2011)

Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a
proibição de novas publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de
delegado da polícia federal.
Essa decisão afronta o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa.
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que
verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela das garantias
individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de
informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em
relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido redigida em tom crítico.
O STF assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade de expressão,
para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, j.
5/6/18 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: Determinado blog publicou matéria jornalística criticando
vazamentos de informações na “Operação Lava-Jato” e os atribuindo a uma Delegada e a
membros do MPF que atuam na força tarefa. A referida Delegada ajuizou ação de indenização
por danos morais acusando o jornalista responsável pelo blog de ter veiculado matérias
jornalísticas supostamente atentatórias a sua honra. A autora, além de requerer reparação
pecuniária pelas alegadas ofensas, postulou, em sede de tutela de urgência, a retirada das
matérias publicadas do blog do jornalista, bem como a proibição de que ele divulgasse novas
matérias acerca de sua atuação na “Operação Lava-Jato”. O juízo do 8ª Juizado Especial Cível
de Curitiba (PR) concedeu liminar determinando a retirada da matéria jornalística veiculada
no blog, sob pena de multa diária. Diante disso, o jornalista ingressou com reclamação no STF
alegando que o magistrado, ao assim agir, teria violado a autoridade do que decidiu o Tribunal
na ADPF 130, que entendeu que a Lei de Imprensa (Lei 5.250/1967) não foi recepcionada pela
Constituição de 1988.

A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente a reclamação. Em matéria de liberdade de expressão, o STF tem aceitado julgar
reclamações mesmo que não tenham correlação direta com o julgado no caso paradigma. A
decisão representa afronta ao julgado na ADPF 130, pois não ficou claro que o intuito do
jornalista tenha sido o de ofender a honra da delegada mediante a divulgação de notícia
sabidamente falsa contra sua honra, mas sim apontar a existência de vazamentos de
informações na Operação Lava-Jato e, para tanto, identificou supostas fontes. A jurisprudência
do STF é no sentido de que deve haver uma maior tolerância quanto às matérias de cunho
potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente quando existente
interesse público, como considera ser o caso do conteúdo das matérias jornalísticas excluídas
do blog. A retirada de matéria divulgada em blog jornalístico exige uma caracterização
inequívoca de comportamento doloso contra alguém. No caso concreto, houve apenas a
divulgação de matéria com críticas à Lava-Jato.

Como já foi cobrado em concursos:


 “Na ADPF 130, o STF, por maioria, julgou pela total procedência da ação para o efeito
de declarar a Lei federal 5.250/67 (“Lei de Imprensa”) como não recepcionada pela
Constituição de 1988, entendendo que na ponderação entre os direitos fundamentais
que dão conteúdo à liberdade de imprensa e o bloco dos direitos fundamentais à
imagem, honra, intimidade e vida privada, deve ser dada precedência aos primeiros;
cabendo a incidência a posteriori do segundo bloco para o efeito de assegurar o direito
de resposta e assentar responsabilidades penal, civil e administrativa”. (Procurador do
Estado – PGE/PR- Banca Própria – 2011 – Correto).

1.11. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em


rádios comunitárias – (Info 902) – (TRF2-2018)

É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no âmbito da


programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja,
a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião,
seita ou ideologia.
O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da CF/88.
A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso de argumentos críticos, o
consenso e o debate público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não apenas a
divulgação de informações.
O art. 220 da CF/88 expressamente consagra a liberdade de expressão sob qualquer forma,
processo ou veículo, hipótese que inclui o serviço de radiodifusão comunitária.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 16/5/2018 (Info 902).
OBS: O art. 4º, § 1º da Lei 9.612/98 proíbe, no âmbito da programação das emissoras de
radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo
tendente a converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. Vejamos:
Art. 4º (...)
§ 1º É vedado o proselitismo de qualquer natureza na programação das emissoras
de radiodifusão comunitária.

O STF, por maioria, julgou procedente a ADI e declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art.


4º da Lei nº 9.612/98. A norma impugnada viola os art. 5º, IV, VI e IX e o art. 220, da CF/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e a suas liturgias; (...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
(...)
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.

Além disso, o dispositivo impugnado ofende o art. 134 do Pacto de San Jose da Costa Rica
(Convenção Americana sobre Direitos Humanos), segundo o qual o exercício do direito à
liberdade de pensamento e de expressão não pode estar sujeito a censura prévia, mas a
responsabilidades ulteriores.

A restrição imposta pelo § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98 ao proselitismo não é compatível com
as liberdades de expressão e de religião.

1.12. SIGILO BANCÁRIO: Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser
divulgados abertamente em site oficial – (Info 899)

Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser
mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por
meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).
STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/18 (Info 899).

1.13. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Cabe reclamação contra decisão judicial que


determina retirada de matéria jornalística de site – (Info 893) – IMPORTANTE!!!

O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de


expressão, em razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive
por via judicial.
No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações
jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na
divulgação de notícias e de opiniões.
A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático
brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e
liberdades.
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que se
admite apenas em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve
ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista
determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo
reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 6/3/18 (Info 893).
OBS:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: A revista “VEJA RIO” publicou uma
reportagem na sua edição impressa e também no site. João, mencionado na matéria, sentiu-se
ofendido e ajuizou ação pedindo a retirada da reportagem do site, além de indenização por
danos morais. O juiz da vara cível, com base no art. 20 do CC, concedeu a tutela provisória de
urgência determinando que a empresa jornalística retirasse, de seu sítio eletrônico, a matéria
referente ao autor. Vale ressaltar que, na decisão, o juiz afirma expressamente que não está
decidindo com base na Lei de Imprensa. Inconformada, a revista apresentou reclamação no
STF, alegando que a decisão do juiz teria afrontado o entendimento do STF firmado na ADPF
130/DF (DJE de 6.11.09), que declarou a não recepção da chamada “Lei de Imprensa” (Lei
5.250/67) pela CF/88. Argumenta que a decisão reclamada configura censura à atividade de
imprensa, restringe a liberdade de expressão e afronta o direito de acesso à informação. Afirma,
por fim, que a imposição de censura é desarrazoada, considerando que eventuais danos
sofridos poderão ser compensados por meio de indenização.

A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente reclamação.

Cabimento de reclamação quando há afronta à liberdade de imprensa: Em regra, o STF é muito


restritivo em aceitar reclamações propostas contra decisões que teriam desrespeitado
acórdãos da Corte. Essa posição do STF está dentro daquilo que se chama de “jurisprudência
defensiva”, ou seja, uma postura interpretativa dos Tribunais Superiores de restringir o
cabimento de recursos e de ações autônomas (como é o caso da reclamação), com o objetivo
de reduzir a quantidade de processos que chegam aos Tribunais. Assim, os Ministros do STF
e do STJ adotam um “rigor” maior na análise dos aspectos formais a fim de limitar os casos
que chegam para análise dos Tribunais. Um exemplo de “jurisprudência defensiva” é a
interpretação consolidada no STF no sentido de que não se deve adotar a teoria da
transcendência dos motivos determinantes. Pela teoria da transcendência dos motivos
determinantes (efeitos irradiantes dos motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os
fundamentos determinantes da decisão do STF também teriam efeito vinculante. Ocorre que o
STF não acolhe esta posição e entende que, em regra, as decisões proferidas pelo STF em
controle abstrato de constitucionalidade devem ter eficácia vinculante apenas quanto à parte
dispositiva do julgado. Assim, em regra, não se admite reclamação sob a alegação de que
houve violação dos fundamentos da decisão do STF. Nesse sentido:
(...) a exegese jurisprudencial conferida ao art. 102, I, “l”, da Magna Carta rechaça
o cabimento de reclamação fundada na tese da transcendência dos motivos
determinantes. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 22470 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j.
24/11/17.

Como explica o Min. Roberto Barroso, essa recusa em se admitir a transcendência dos motivos
determinantes representa “uma jurisprudência defensiva, destinada a conter a multiplicação
de reclamações, em número que ultrapassaria a capacidade física de julgamento dos
ministros”.

Essa linha restritiva, no entanto, tem sido excepcionada em processos relacionados com a
liberdade de expressão ou liberdade de imprensa. Nesses casos, o STF tem proferido
inúmeras decisões admitido reclamações mesmo que a decisão reclamada não esteja baseada
no mesmo ato declarado inconstitucional em sede concentrada. A justificativa para essa
postura mais ampla está no fato de que “a liberdade de expressão ainda não se tornou uma
ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira geral. Não
sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido de
proibirem ou suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal”
que precisa ser contido.” (Min. Roberto Barroso). Em suma, o STF possui uma posição menos
rigorosa ao analisar reclamações envolvendo decisões que violem a liberdade de expressão.
Por essa razão, é cabível reclamação contra decisão judicial que determina a retirada de
matéria jornalística da página eletrônica do meio de comunicação mesmo que esta decisão
esteja supostamente baseada no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de Imprensa.

A solução de conflitos entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade: A censura


consiste na possibilidade de o Estado interferir no conteúdo da manifestação do pensamento.
A censura é proibida pela CF/88 em diversos dispositivos (art. 5º, IV, IX e XIV, bem como art.
220, §§ 1º e 2º). Diante da existência de diversos dispositivos assegurando a liberdade de
expressão, podemos dizer que a CF/88 conferiu uma espécie de “prioridade” para essa
garantia. Assim, embora não haja hierarquia entre direitos fundamentais, a liberdade de
expressão (aqui entendida em sentindo amplo) possui uma posição preferencial (preferred
position) em relação aos demais direitos. Isso significa que o afastamento da liberdade de
expressão é excepcional, e o ônus argumentativo é de quem sustenta o direito oposto. Como
consequência disso, deve-se fazer uma análise muito rigorosa, criteriosa e excepcional de toda
e qualquer medida que tenha por objetivo restringir a liberdade de expressão.

Razões pelas quais a liberdade de expressão ocupa lugar privilegiado: O Min. Roberto Barroso
cita 5 motivos principais pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar privilegiado
tanto no ordenamento jurídico interno como nos documentos internacionais. São eles:
a) a liberdade de expressão desempenha uma função essencial para a democracia,
ao assegurar um livre fluxo de informações e a formação de um debate público
robusto e irrestrito, condições essenciais para a tomada de decisões da
coletividade e para o autogoverno democrático;
b) a proteção da liberdade de expressão está relacionada com a própria dignidade
humana, ao permitir que indivíduos possam exprimir de forma desinibida suas
ideias, preferências e visões de mundo, bem como terem acesso às dos demais
indivíduos, fatores essenciais ao desenvolvimento da personalidade, à autonomia
e à realização existencial;
c) este direito está diretamente ligado à busca da verdade. Isso porque as ideias
só possam ser consideradas ruins ou incorretas após o confronto com outras
ideias;
d) a liberdade de expressão possui uma função instrumental indispensável ao
gozo de outros direitos fundamentais, como o de participar do debate público, o
de reunir-se, de associar-se, e o de exercer direitos políticos, dentre outros; e
e) a liberdade de expressão é garantia essencial para a preservação da cultura e
da história da sociedade, por se tratar de condição para a criação e o avanço do
conhecimento e para a formação e preservação do patrimônio cultural de uma
nação.
Liberdade de expressão não é absoluta: Vale ressaltar que nenhum direito constitucional é
absoluto e, portanto, a liberdade de expressão também não é. A própria Constituição impõe
alguns limites ou qualificações à liberdade de expressão, como por exemplo:
a) vedação do anonimato (art. 5º, IV);
b) direito de resposta (art. 5º, V);
c) restrições à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos e
terapias (art. 220, § 4º);
d) classificação indicativa (art. 21, XVI); e
e) dever de respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas
(art. 5º, X).

Isso significa que é indispensável que haja uma ponderação entre a liberdade de expressão e
os direitos da personalidade.

Direitos da personalidade: Direitos da personalidade é uma expressão de uso relativamente


recente no direito brasileiro, tendo sido desenvolvida pela doutrina contemporânea até
ingressar no CC/02, que abriu para o tema um capítulo específico, logo no Título I. O Min.
Barroso afirma que “é possível conceituar os direitos da personalidade, inerentes a toda pessoa
humana, como a versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às relações com
outros indivíduos como regra geral”. Os direitos da personalidade costumam ser divididos
pela doutrina civilista em dois grandes grupos:
a) direitos à integridade física, que englobam o direito à vida, o direito ao próprio
corpo e o direito ao cadáver; e
b) direitos à integridade moral, rubrica sob a qual se abrigam, entre outros, os já
mencionados direitos à honra, à imagem, à privacidade e o direito moral do autor.

Ponderação entre liberdade de expressão e os direitos da personalidade: Tanto a liberdade de


expressão como os direitos de privacidade, honra e imagem têm estatura constitucional. Vale
dizer: entre eles não há hierarquia. De modo que não é possível estabelecer, em abstrato, qual
deve prevalecer. Em caso de conflito entre normas dessa natureza, impõe-se a necessidade de
ponderação, que é uma técnica de decisão que se desenvolve em três etapas:
1) na primeira, verificam-se as normas que postulam incidência ao caso;
2) na segunda, selecionam-se os fatos relevantes;
3) e, por fim, testam-se as soluções possíveis para verificar, em concreto, qual
delas melhor realiza a vontade constitucional.

Em um cenário ideal, a ponderação deve procurar fazer concessões recíprocas, preservando


o máximo possível dos direitos em disputa. No limite, porém, fazem-se escolhas. Todo esse
processo intelectual tem como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade ou
razoabilidade.

Critérios para a ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade: O


Min. Barroso defende a aplicação de 8 critérios ou elementos a serem considerados na
ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade. São eles:
a) veracidade do fato: a notícia divulgada dever ser verdadeira. Isso porque a
informação que goza de proteção constitucional é a verdadeira. A divulgação
deliberada de uma notícia falsa, em detrimento de outrem, não constitui direito
fundamental do emissor. Os veículos de comunicação têm o dever de apurar, com
boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual darão
publicidade. É bem de ver, no entanto, que não se trata de uma verdade objetiva,
mas subjetiva, subordinada a um juízo de plausibilidade e ao ponto de
observação de quem a divulga. Para haver responsabilidade, é necessário haver
clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da falsidade.

b) licitude do meio empregado na obtenção da informação: o conhecimento


acerca do fato que se pretende divulgar tem de ter sido obtido por meios
admitidos pelo direito. A CF/88, da mesma forma que veda a utilização, em
juízo, de provas obtidas por meios ilícitos, também proíbe a divulgação de
notícias às quais se teve acesso mediante cometimento de um crime. Se o
jornalista ou alguém empreitado pelo veículo de comunicação realizou, por
exemplo, uma interceptação telefônica clandestina, invadiu domicílio, violou o
segredo de justiça em um processo de família ou obteve uma informação
mediante tortura ou grave ameaça, sua divulgação, em princípio, não será
legítima. Note-se ainda que a circunstância de a informação estar disponível em
arquivos públicos ou poder ser obtida por meios regulares e lícitos torna-a
pública e, portanto, presume-se que a divulgação desse tipo de informação não
afeta a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem dos envolvidos.

c) personalidade pública ou privada da pessoa objeto da notícia: a depender se


a pessoa for uma personalidade pública ou privada, o grau de exposição é maior
ou menor.

d) local do fato: deve-se analisar também se os locais dos fatos narrados são
reservados ou protegidos pelo direito à intimidade.

e) natureza do fato: deve-se analisar se os fatos divulgados possuem caráter


sigiloso ou se estão relacionados com a intimidade da pessoa.

f) existência de interesse público na divulgação em tese: presume-se, como regra


geral, o interesse público na divulgação de qualquer fato verdadeiro.

g) existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a


atuação de órgãos públicos.

h) preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia


da divulgação: o uso abusivo da liberdade de expressão pode ser reparado por
mecanismos diversos, que incluem a retificação, a retratação, o direito de
resposta, a responsabilização civil ou penal e a proibição da divulgação.
Somente em hipóteses extremas se deverá utilizar a última possibilidade. Nas
questões envolvendo honra e imagem, por exemplo, como regra geral será
possível obter reparação satisfatória após a divulgação, pelo desmentido – por
retificação, retratação ou direito de resposta – e por eventual reparação do dano,
quando seja o caso.

1.14. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: A incitação de ódio público feita por líder religioso
contra outras religiões pode configurar o crime de racismo – (Info 893) – IMPORTANTE!!!

A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores


não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
6/3/18 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).
OBS: Vejamos comentários no arquivo de Direito Penal.

1.15. DIREITO À SAÚDE: Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art. 32


da Lei 9.656/98 – (Info 890) – IMPORTANTE! ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!

É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei 9.656/98, o qual é aplicável aos


procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a
4.6.1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos
os marcos jurídicos.
O art. 32 da Lei 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços
do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com
essas despesas. Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma
obrigação legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as
despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por
esses planos.
STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 7/2/18 (repercussão geral) (Info
890).
OBS:
Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I
e o § 1º do art. 1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS,
os serviços de atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados
a seus consumidores e respectivos dependentes, em instituições públicas ou
privadas, conveniadas ou contratadas, integrantes do Sistema Único de Saúde -
SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44/2001)

Sobre o tema:
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento
de valores devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no
Cadin. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 6/6/2013 (Info 524).

1.16. DIREITO À SÁUDE: O programa “Mais Médicos” é constitucional – (Info 886)

O programa “Mais Médicos”, instituído pela MP 691/2013, posteriormente convertida na


Lei nº 12.871/2013, é constitucional.
STF. Plenário. ADI 5035/DF e ADI 5037/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 30/11/17 (Info 886).

1.17. SIGILO BANCÁRIO: Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da


administração pública – (Info 879) – IMPORTANTE!!!

Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de
informações bancárias de titularidade de Prefeitura para fins de apurar supostos crimes
praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.
É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de
titularidade da Prefeitura, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo
falar em quebra ilegal de sigilo bancário.
O sigilo de informações necessário à preservação da intimidade é relativizado quando há
interesse da sociedade em conhecer o destino dos recursos públicos.
Diante da existência de indícios da prática de ilícitos penais envolvendo verbas públicas,
cabe ao MP, no exercício de seus poderes investigatórios (art. 129, VIII, CF/88), requisitar os
registros de operações financeiras relativos aos recursos movimentados a partir de conta-
corrente de titularidade da Prefeitura. Essa requisição compreende, por extensão, o acesso
aos registros das operações bancárias sucessivas, ainda que realizadas por particulares, e
objetiva garantir o acesso ao real destino desses recursos públicos.
STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 20/10/15 (Info 572).
STF. 2ª Turma. RHC 133118/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/9/17 (Info 879).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O MP instaurou procedimento de investigação criminal
(PIC) para apurar possíveis delitos de desvios de verbas públicas, fraudes em licitações e
lavagem de dinheiro que estariam sendo praticados pelo Prefeito de um Município do interior.
Como uma das diligências, o MP, sem autorização judicial, requisitou do gerente do banco
informações bancárias da conta corrente mantida pelo Município naquela agência. Tais
informações foram prestadas pelo banco e, com base nelas, descobriu-se a prática de crimes,
tendo esses documentos servido como base para o ajuizamento de ação penal contra o Prefeito.
A denúncia foi recebida pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). A defesa, no entanto,
impetrou habeas corpus alegando que as provas obtidas eram ilícitas e, portanto, o processo
era nulo. Isso porque teria havido quebra do sigilo bancário sem autorização judicial. Segundo
argumentou a defesa, “quando o MP solicitou ao gerente do Banco do Brasil da Agência de
Potengi/CE as fitas do caixa bancário das contas da prefeitura, ele, por via reflexa, invadiu a
privacidade das pessoas físicas que com a prefeitura tinham alguma prestação de serviço,
quebrando indiretamente o sigilo dessas pessoas naturais”.
A tese da defesa foi aceita pelo STJ e pelo STF? NÃO.

Sigilo bancário não se aplica para contas públicas: O sigilo bancário constitui espécie do
direito à intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º, X e XII, da CF/88, devendo, portanto,
ser protegido. No entanto, as contas bancárias dos entes públicos, em regra, não são
albergadas pelo direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não são protegidas
pelo sigilo bancário. Isso porque, no que tange às contas públicas, vigoram os princípios da
publicidade e da moralidade (art. 37, CF/88). Quando a CF/88 fala em intimidade e vida
privada, ela está se referindo à pessoa humana, aos indivíduos que compõem a sociedade e às
pessoas jurídicas de direito privado. Tais conceitos (intimidade e vida privada) são inaplicáveis
aos entes públicos. Dessa forma, o MP, na investigação de crimes, possui o poder de requisitar
os registros de operações financeiras relacionadas com recursos públicos movimentados a
partir de conta corrente de titularidade do Município.

MP pode requisitar os registros de operações financeiras feitas com recursos públicos, ainda
que isso acabe atingindo indiretamente terceiros beneficiários dos valores: O poder do MP de
requisitar informações bancárias de conta corrente de titularidade do Município abrange,
por extensão, o direito de acesso aos registros das operações bancárias realizadas por
particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. Em outras palavras, o MP
pode, por exemplo, requisitar, sem autorização judicial, os valores que o Município
transferiu para contas de particulares. Ora, de nada adiantaria permitir ao MP requisitar
diretamente os registros das operações feitas na conta bancária da Municipalidade e negar-lhe
o principal: o acesso ao real destino dos recursos públicos, a partir do exame de operações
bancárias sucessivas (v.g., desconto de cheque emitido pela Municipalidade na boca do caixa,
seguido de transferência a particular do valor sacado).

Precedente do STF envolvendo requisição do TCU: Em caso semelhante ao acima explicado o


STF decidiu que o TCU poderia requisitar informações bancárias de contas envolvendo
recursos públicos. Veja trechos da ementa:
(...) 2. O primado do ordenamento constitucional democrático assentado no
Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado e, em
especial, do Governo. (...)
3. O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é
relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer o
destino dos recursos públicos.
4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas
pelo sigilo bancário a que alude a LC nº 105/01, visto que as operações dessa
espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no
art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa constitucional
do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas
com recursos públicos. (...)
7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar
a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar
condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais,
do Poder Legislativo. (...) 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às
operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado
da Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente
porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública.
Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está diante
de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão decorrente do
dever de atuação transparente dos administradores públicos em um Estado
Democrático de Direito. (...)
(STF. 1ª Turma. MS 33340, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/05/2015).

(Procurador-ALE/RJ-2017-FGV): Determinada agência de fomento estadual, enquadrada


como instituição financeira, é instada pelo competente Tribunal de Contas a apresentar
dados relativos aos financiamentos públicos por ela concedidos. Diante da requisição, deve
a agência: fornecer os dados requisitados pelo Tribunal de Contas, considerando o fato de
que operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão submetidas ao sigilo
bancário. BL: STF, MS 33340.
1.18. EDUCAÇÃO: O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza
confessional – (Info 879) – IMPORTANTE!!! – (Anal. Judic./STJ-2018)

A CF/88 prevê que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (art. 210, § 1º).
Diante disso, nas escolas públicas são oferecidas aulas de ensino religioso, normalmente
vinculadas a uma religião específica. É o chamado ensino religioso confessional.
O PGR ajuizou ADI pedindo que fosse conferida interpretação conforme a Constituição ao
art. 33, §§ 1º e 2º da LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé. Na ação, o PGR afirmava
que não é permitido que se ofereça ensino religioso confessional (vinculado a uma religião
específica). Para o autor, o ensino religioso deve ser voltado para a história e a doutrina das
várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica e deve ser ministrado por professores
regulares da rede pública de ensino, e não por pessoas vinculadas às igrejas.
O STF julgou improcedente a ADI e decidiu que o ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, pode sim ser vinculado a religiões
específicas.
A partir da conjugação do binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) e Liberdade religiosa (art.
5º, VI), o Estado deverá assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º, CF/88, autorizando na
rede pública, em igualdade de condições o oferecimento de ensino confessional das
diversas crenças, mediante requisitos formais previamente fixados pelo Ministério da
Educação.
Assim, deve ser permitido aos alunos, que expressa e voluntariamente se matricularem, o
pleno exercício de seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, ministrada de acordo com os
princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma, devidamente credenciados
a partir de chamamento público e, preferencialmente, sem qualquer ônus para o Poder
Público.
Dessa forma, o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam oferecidas aulas de uma
religião específica, que ensine os dogmas ou valores daquela religião. Não há qualquer
problema nisso, desde que se garanta oportunidade a todas as doutrinas religiosas.
STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 27/9/17 (Info 879).

1.19. EXERCÍCIO PROFISSIONAL: É constitucional a previsão da lei de que determinadas


atividades são privativas de nutricionistas – (Info 879)

É constitucional a expressão “privativas”, contida no caput do art. 3º da Lei 8.234/91, que


regulamenta a profissão de nutricionista, respeitado o âmbito de atuação profissional das
demais profissões regulamentadas.
STF. Plenário. ADI 803/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/9/17 (Info 879).

1.20. COTAS RACIAIS EM CONCURSOS PÚBLICOS: Constitucionalidade do sistema de


cotas raciais em concursos públicos. Além da autodeclaração, é possível que a Administração
Pública adote critérios de heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos
parâmetros da cota – (Info 868) – IMPORTANTE!!! – (TRF5-2017)

Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos


A Lei 12.990/14 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos
realizados no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações
públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela
União.
O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento:
"É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
direta e indireta.”
Além da autodeclaração, é possível que a Administração Pública adote critérios de
heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos parâmetros da cota
A Lei 12.990/14 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos
da administração pública federal, direta e indireta.
Segundo o art. 2º da Lei, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles
que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme
o quesito cor ou raça utilizado pelo IBGE. Trata-se do chamado critério da autodeclaração.
O STF afirmou que este critério é constitucional. Entretanto, é possível também que a
Administração Pública adote um controle heterônomo, sobretudo quando existirem
fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração.
Assim, é legítima a utilização de critérios subsidiários de heteroidentificação dos
candidatos que se declararam pretos ou pardos.
A finalidade é combater condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de
cotas sejam efetivamente alcançados. Vale ressaltar que tais critérios deverão respeitar a
dignidade da pessoa humana e assegurar o contraditório e a ampla defesa.
Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a
comissão do concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de
comissões com composição plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à
autodeclaração.

Essa conclusão do STF foi resumida na seguinte tese de julgamento:


"É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa".
STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/6/17 (Info 868).
(TRF5-2017-CESPE): Com base no princípio da igualdade, o STF julgou constitucional a
Lei das Cotas Raciais (Lei 12.990/14), que reserva para negros o percentual de vinte por
cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos. De acordo com o STF, contudo, tal percentual abrange apenas a
administração pública federal direta e indireta, no âmbito dos três Poderes. BL: Info 868,
STF e art. 1º da Lei 12990/14.

1.21. DIREITO À EDUCAÇÃO: Universidades públicas podem cobrar mensalidade em


cursos de especialização – (Info 862) – IMPORTANTE!!!

A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades


públicas de mensalidade em cursos de especialização.
STF. Plenário. RE 597854/GO, Rel. Min. Edson Fachin, j. 26/4/17 (repercussão geral) (Info
862).

1.22. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: Estrangeiros residentes no Brasil têm


direito ao BPC – (Info 861) – IMPORTANTE!!!

Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art.


203, V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.
STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19 e 20/4/17 (repercussão geral)
(Info 861).

OBS: Apesar de o julgado ter sido publicado na parte de Direito Previdenciário, é inegável a
sua importância no estudo do Direito Constitucional.

1.23. NACIONALIDADE: Situação do brasileiro titular de green card que adquire


nacionalidade norte-americana – (Infos 822 e 859) – (DPU-2017) (Anal. Judic./STJ-2018)
Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a
nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira.
Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b”
do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia necessidade
de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para permanência ou para
o exercício de direitos civis.
O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA.
Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e
espontânea vontade.
Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes ao
brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser
extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88.
Art. 12 (...)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de
direitos civis;
STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 19/4/16 (Info 822).
STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 28/3/17 (Info 859).
(Anal. Judic./STJ-2018-CESPE): Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal,
brasileiro nato que tiver perdido a nacionalidade poderá ser extraditado. BL: Info 859,
STF.

1.24. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Pesquisador tem direito de acesso aos áudios das
sessões secretas de julgamento ocorridas no STM durante a época do regime militar – (Info
857)

O STF deferiu mandado de segurança impetrado por pesquisador que queria ter acesso aos
áudios das sessões de julgamento do STM ocorridas na década de 1970, época do regime
militar.
Entendeu-se que a coleta de dados históricos a partir de documentos públicos e registros
fonográficos, mesmo que para fins particulares, constitui-se em motivação legítima a
garantir o acesso a tais informações.
Ocorre que, mesmo com essa decisão judicial, o STM somente autorizou que o pesquisador
tivesse acesso aos áudios das sessões públicas realizadas (na qual havia leitura do relatório
e sustentação oral dos advogados). O Tribunal se negou, contudo, a fornecer os áudios das
sessões secretas, nas quais os votos dos magistrados eram colhidos.
O impetrante ingressou, então, com reclamação, julgada procedente pelo STF.
Ao autorizar a consulta apenas dos registros relacionados com a parte pública das sessões,
o STM violou a decisão do STF, que deu acesso amplo aos áudios das sessões.
Além disso, a recusa do STM está em descompasso com a ordem constitucional vigente, que
garante o acesso à informação como direito fundamental.
O STF concluiu, portanto, que o STM deve permitir o acesso do reclamante a todos os
documentos e áudios das sessões de julgamento, com exceção apenas daqueles que forem
considerados sigilosos no resguardo do interesse público, na defesa da intimidade e para a
proteção da sociedade e do Estado, desde que isso seja motivado de forma explícita e
pormenorizada a fim de que possa ser novamente questionado no STF caso se mostre
indevido.
STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).

1.25. DIREITO DE RESPOSTA: Sentença que nega direito de resposta por não ter havido
ofensa não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF – (Info 851)

Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito
de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa.
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF.
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da reclamação,
deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da CF/88.
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação,
que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF.
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias recursais
do ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/12/16 (Info 851).

1.26. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Análise do caso "Jonas Abib" (racismo) – (Info 849) –
IMPORTANTE!!!

Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele
faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.
O MP da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei 7.716/89 (Lei
do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade religiosa é o
direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas também
o de fazer proselitismo religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a
também se converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre as
religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação,
opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes
dos demais grupos. Por outro lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem
o dever de ajudar os "inferiores" para que estes alcancem um nível mais alto de bem-estar
e de salvação espiritual e, neste caso não haverá conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões,
procurando demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de subjugar
os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra não
configura, por si, o elemento típico do art. 20 da Lei 7.716/89. Para haver o crime, seria
indispensável que tivesse ficado demonstrado o especial fim de supressão ou redução da
dignidade do diferente, elemento que confere sentido à discriminação que atua como verbo
núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).

1.27. VAQUEJADA: É inconstitucional a prática da vaquejada – (Info 842) –


IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”.


Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel, razão
pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade
cultural, não possa ser permitida.
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância do
disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas que submetam os
animais à crueldade.
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 06/10/16 (Info 842).

1.28. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Classificação indicativa dos programas de rádio e TV


– (Info 837) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do
ECA: "Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de
referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a
suspensão da programação da emissora por até dois dias."
O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em
determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional
por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).
STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 31/8/16 (Info 837).
OBS:
Classificação indicativa: O art. 254 do ECA prevê que os programas de rádio e TV, com base
em seu conteúdo, deverão ser classificados como apropriados ou não, de acordo com a faixa
etária.

Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é classificado
como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada, insinuação sexual,
linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser classificado como
"recomendado para maiores de 12 anos".

O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo com
a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá ser
exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de 12
anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.

Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).

Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer esta
classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c) drogas.
A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12, 14, 16 ou
18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes programas sejam
exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.

A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;

Art. 220 (...)


§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade
de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas
e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão


atenderão aos seguintes princípios: (...)
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Infração administrativa: Caso a emissora de rádio ou TV exibisse o programa fora do horário


recomendado, ela praticaria infração administrativa e poderia ser punida com multa e até
suspensão da programação na hipótese de reincidência. Vejamos:
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso
do autorizado ou sem aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da
programação da emissora por até dois dias.

Duplo dever: De acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio e TV possuíam
dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.

ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art. 254
do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o art. 220,
caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que determina a
Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente exibissem os
programas em determinados horários sob pena de serem punidas administrativamente.

O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, j. 31/8/2016 (Info 837).

Liberdade de programação é uma forma de liberdade de expressão: A CF/88 garante a


liberdade de expressão (art. 5º, IX) e a liberdade de comunicação social, prevista no art. 220 da
CF/88:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.

Como consectário dessa garantia, as emissoras de rádio e TV gozam de "liberdade de


programação", sendo esta uma das dimensões da liberdade de expressão em sentido amplo.
Assim, a programação das emissoras deve permanecer como sendo uma tarefa autônoma e
livre de interferências do Poder Público.

Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.

Necessidade de compatibilizar tais valores: O caso em tela envolve dois valores


constitucionais que devem ser sopesados para uma correta decisão: de um prisma, a liberdade
de expressão nos meios de comunicação; de outro, a necessidade de garantir a proteção da
criança e do adolescente.

O que fez a CF/88 para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em seu art. 21, XVI
e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos espetáculos. Assim,
os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa classificação deve ser
divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações necessárias para
decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais programas. No entanto,
em nenhum momento o texto constitucional determinou que as empresas sejam obrigadas
a veicular os programas em determinados horários, sob pena de punição. O sistema de
classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela CF/88 para compatibilizar
os dois postulados, a fim de velar pela integridade das crianças e dos adolescentes sem deixar
de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. A classificação dos produtos
audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a existência de conteúdo inadequado
para as crianças e os adolescentes. Essa classificação desenvolvida pela União possibilita que
os pais, calcados na autoridade do poder familiar, decidam se a criança ou o adolescente pode
ou não assistir a determinada programação.
Classificação indicativa não se confunde com autorização para exibir os programas: A CF/88
conferiu à União e ao legislador federal margem limitada de atuação no campo da classificação
dos espetáculos e diversões públicas. A autorização constitucional é para que a União
classifique, informe, indique as faixas etárias e/ou horários não recomendados. Ela não
pode, contudo, proibir, vedar ou censurar os programas. A classificação indicativa deve ser
entendida como um aviso aos usuários sobre o conteúdo da programação, jamais como
obrigação às emissoras de exibição em horários específicos, especialmente sob pena de sanção
administrativa. Por essa razão, percebe-se que o art. 254 do ECA violou a CF/88 ao instituir
punição para as emissoras que transmitam espetáculo "em horário diverso do autorizado". O
uso do verbo “autorizar” revela a ilegitimidade do dispositivo legal. O art. 255, ao estabelecer
punição às empresas do ramo por exibirem programa em horário diverso do autorizado,
incorre, portanto, em abuso constitucional.

Submissão de programa ao Ministério da Justiça: É legítimo que se exija que as emissoras


submetam os programas para serem analisados e classificados pelo Ministério da Justiça. No
entanto, a submissão de programa ao Ministério não consiste em condição para que ele possa
ser exibido, pois não se trata de uma licença ou de autorização estatal. A CF/88 veda que se
exija licença ou autorização do governo para a exibição de programas de rádio ou TV. Dessa
forma, esta submissão ocorre, exclusivamente, com o objetivo de que a União exerça sua
competência administrativa para classificar, a título indicativo, as diversões públicas e os
programas de rádio e televisão, conforme determina o art. 21, XVI, da CF/88.

Imposição de horários para os programas é inconstitucional: O Estado não pode determinar


que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional. O Poder Público pode apenas recomendar
os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).

Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do ECA,
embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras audiovisuais,
mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em horário adequado
ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de elemento repressor,
de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e 220, § 3º, I, todos da
CF/88.

Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal, nesse
ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.

Permanece o dever de informar a classificação indicativa: É importante salientar que


permanece o dever das emissoras de rádio e de televisão de exibir ao público o aviso de
classificação etária, de forma antecedente e concomitante com a veiculação do conteúdo,
regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo seu descumprimento
tipificado como infração administrativa pelo art. 254. O que foi declarado inconstitucional foi
apenas a punição caso a emissora exiba o programa fora do horário recomendado.
Responsabilização judicial em caso de abusos: As emissoras não estão livres de
responsabilidade. Será possível que elas sejam processadas e responsabilizadas
judicialmente caso pratiquem abusos ou danos à integridade de crianças e adolescentes,
tendo em conta, inclusive, a recomendação do Ministério de Estado da Justiça em relação
aos horários em que determinada programação seria adequada. É o caso, por exemplo, de
uma emissora que exiba, reiteradamente, programas violentos ou com fortes cenas de sexo em
plena manhã ou tarde. Nesse exemplo extremo, o MP poderia ajuizar ação civil pública contra
a emissora pedindo a sua responsabilização pelos danos causados a crianças e adolescentes.
Isso porque a liberdade de expressão não é uma garantia absoluta e exige responsabilidade no
seu exercício. Assim, as emissoras devem observar na sua programação as cautelas necessárias
às peculiaridades do público infanto-juvenil.

Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o tema,
mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que possui a
seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.

Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas provas
porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.

1.29. EDUCAÇÃO: Constitucionalidade do art. 28, § 1º e do art. 30 da Lei 13.146/2015


(Estatuto da Pessoa com Deficiência) – (Info 829) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que determinam que as
escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com
deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j 9/6/16 (Info 829).
(TJPR-2017-CESPE): A respeito da ordem e dos direitos sociais previstos na CF, assinale a
opção correta: É constitucional norma que obriga escolas privadas a oferecer atendimento
adequado a pessoas com deficiência, vedado o repasse do custo financeiro da adaptação
às mensalidades escolares. BL: Info 829, STF.

1.30. EDUCAÇÃO: Poder Judiciário pode obrigar Município a fornecer vaga em creche –
(Info 827) – (TJPR-2017)

O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5
anos de idade.
A educação infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional
indisponível garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever do Estado (art. 208,
IV, da CF/88).
Os Municípios, que têm o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela CF/1988.
STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, j. 12/5/16 (Info 827).
OBS: Dessa forma, impõe-se ao Poder Público a obrigação constitucional de criar condições
objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até 5 anos de idade o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental.
Precedentes: Apesar de a decisão acima ter sido monocrática, existem outros precedentes no
mesmo sentido. É o caso do STF. 2ª Turma. ARE 639337 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j.
23/8/11.

Repercussão geral: Vale ressaltar que o tema acima ainda será definitivamente dirimido
considerando que a questão está submetida ao STF, em regime de repercussão geral
reconhecida, no AI 761.908, que aguarda julgamento.

1.31. SAÚDE: Inconstitucionalidade da Lei 13.269/16, que autorizou o uso da


fosfoetanolamina sintética – (Info 826)

É inconstitucional a Lei 13.269/16, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética


("pílula do câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que
existam estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que
haja registro sanitário da substância perante a ANVISA.
Obs: trata-se de decisão cautelar, não tendo o julgamento sido ainda concluído.
STF. Plenário. ADI 5501 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/5/16 (Info 826).

1.32. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de tratamento diferenciado entre a licença-


maternidade e a licença-adotante – (Info 817) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! -
(Proc./IPSM-2018)

O art. 210 da Lei 8112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo
para a servidora que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido
um filho biológico. De igual forma, este dispositivo estabelece que, se a criança adotada for
maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que seria se ela tivesse até 1 ano. Segundo
o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o
mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é
possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada.
STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/3/2016 (repercussão geral)
(Info 817).

1.33. SIGILO BANCÁRIO: É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras
informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário – (Info 815)
– IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018)

As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações
sobre as movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se
prevista no art. 6º da LC 105/01, que foi considerada constitucional pelo STF. Isso porque
esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a
“transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco.
Os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no
art. 6º da LC 105/01, uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal
3.724/01, observados os seguintes parâmetros:
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de
cobrança no procedimento administrativo instaurado;

b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais


atos, garantido o mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias,
não apenas de documentos, mas também de decisões;
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;

d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro


de acesso; e, finalmente,

e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.


A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui
esse regulamento. Trata-se justamente do Decreto 3.724/01 acima mencionada, que
regulamenta o art. 6º da LC 105/2001.
O art. 5º da LC 105/2001, que permite obrigar as instituições financeiras a informarem
periodicamente à Receita Federal as operações financeiras realizadas acima de determinado
valor, também é considerado constitucional.
STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias
Toffoli, j. 24/2/16 (Info 815).
STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 24/2/16 (repercussão geral) (Info
815).
(DPEAP-2018-FCC): Dados protegidos por sigilo bancário são requisitados a determinada
instituição financeira pela Secretaria da Receita Federal, com base em permissivo legal,
para utilização em sede de procedimento administrativo visando à apuração de supostas
irregularidades fiscais cometidas por contribuinte pessoa física. Nessa hipótese, à luz da
Constituição Federal e da jurisprudência do STF, não há ofensa ao direito ao sigilo
bancário, inerente ao direito constitucional à vida privada, na requisição efetuada pela
autoridade fazendária, sendo constitucional o respectivo permissivo legal, na medida em
que exija da autoridade fazendária que mantenha o dever de sigilo imposto na esfera
bancária. BL: Info 815, STF.

OBS: Vejamos o teor do art. 6º da LC 105/2001:


Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros
e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos
e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou
procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis
pela autoridade administrativa competente.
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que
se refere este artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação tributária.

O sigilo bancário é protegido pela CF/88? SIM. A CF/88 não utiliza a expressão "sigilo
bancário", mas isso está sim protegido em dois incisos do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; (...)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;

O legislador infraconstitucional reafirmou a proteção ao sigilo bancário no caput do art. 1º da


LC 105/01:
Art. 1º As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e
passivas e serviços prestados.

No § 1º do art. 1º da LC 105/01, o legislador elenca quem são consideradas instituições


financeiras. A lista é extensa e abrange bancos de qualquer espécie, distribuidoras de valores
mobiliários, corretoras de câmbio e até as bolsas de valores.

Para que haja acesso aos dados bancários (quebra do sigilo bancário), é necessária
autorização judicial? Em regra, sim. Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha
acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário prévia autorização judicial por se
tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.

E no caso do Fisco? A Receita Federal pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras? SIM. Essa possibilidade está prevista no art. 6º da LC
105/01, não se exigindo autorização judicial para tanto. Logo, a lei autoriza que a Receita
Federal requisite diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações
bancárias dos contribuintes.

Este art. 6º da LC 105/01, que autoriza o Fisco a ter acesso a informações bancárias sem
autorização judicial, é compatível com a CF/88? SIM. O STF decidiu que esse dispositivo é
CONSTITUCIONAL.

Mas o art. 6º não representa uma "quebra de sigilo bancário" sem autorização judicial? NÃO.
O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser
chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para o
Fisco (ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária. É uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser
acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.

Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/01 faz não é quebra de sigilo bancário, mas
somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo
sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Para o STF, o simples fato de o Fisco
ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a garantia do sigilo bancário. Só
haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão fazendário. Aí sim
haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do contribuinte para
terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/01 prevê punições ao responsável, que estará
sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil,
culminando com a perda do cargo (art. 10).

Outros argumentos levantados pelos Ministros para considerarem o art. 6º constitucional:


 O sigilo bancário não é absoluto e deve ceder espaço ao princípio da moralidade nas
hipóteses em que transações bancárias indiquem ilicitudes.
 A LC 105/01 é um instrumento para fiscalizar o dever fundamental do contribuinte de
pagar tributos. O dever fundamental de pagar tributos está alicerçado na ideia de
solidariedade social. Assim, dado que o pagamento de tributos, no Brasil, seria um dever
fundamental — por representar o contributo de cada cidadão para a manutenção e o
desenvolvimento de um Estado que promove direitos fundamentais —, é preciso que sejam
adotados mecanismos efetivos de combate à sonegação fiscal.
 A prática prevista na LC 105/01 é comum em vários países desenvolvidos e a declaração
de inconstitucionalidade do dispositivo questionado seria um retrocesso diante dos
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil para combater ilícitos como a
lavagem de dinheiro e evasão de divisas e para coibir práticas de organizações criminosas.
 A identificação de patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte
pela administração tributária dá efetividade ao princípio da capacidade contributiva,
que, por sua vez, sofre riscos quando se restringem as hipóteses que autorizam seu acesso
às transações bancárias dos contribuintes.
 A LC 105/01 não viola a CF/88. Isso porque o legislador estabeleceu requisitos objetivos
para requisição de informação pela administração tributária às instituições financeiras e
exigiu que, quando essas informações chegassem ao Fisco, ali mantivessem o dever de
sigilo. Com efeito, o parágrafo único do art. 6º preconiza que o resultado dos exames, as
informações e os documentos deverão ser conservados em sigilo, observada a legislação
tributária. Assim, não há ofensa a intimidade ou qualquer outro direito fundamental,
pois a LC 105/01 não permite a "quebra de sigilo bancário", mas sim a transferência desse
sigilo dos bancos ao Fisco.
 O art. 6º da LC 105/01 é taxativo e razoável ao facultar o exame de documentos, livros e
registros de instituições financeiras somente se houver processo administrativo
instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.

As Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações sobre
movimentações bancárias? SIM. O art. 6º da LC 105/01 fala que estão autorizados a requisitar
as informações bancárias as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas da União
(Receita Federal), mas também dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, as
Receitas estadual e municipal (Secretarias de Fazenda estadual e municipal) também poderão
requisitar dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre movimentações bancárias
sem que isso configure quebra do sigilo bancário. No entanto, para que os Estados, DF e
Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da LC 105/2001, eles
precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente e traga, com detalhes, todas as
regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. Neste regulamento deverão ser
previstos sistemas adequados de segurança e registros de acesso para evitar a manipulação
indevida dos dados, garantindo-se ao contribuinte a transparência do processo. A Receita
Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse
regulamento (Decreto 3.724/2001, que "regulamenta o art. 6º da Lei Complementar nº 105, de 10 de
janeiro de 2001, relativamente à requisição, acesso e uso, pela Secretaria da Receita Federal, de
informações referentes a operações e serviços das instituições financeiras e das entidades a elas
equiparadas").

Portanto, os Estados, DF e Municípios também poderão requisitar informações de


instituições bancárias relativas a seus clientes. Para isso, no entanto, precisarão editar o
mencionado regulamento, além de só poderem fazer essa requisição se houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais dados forem considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.

Mudança de entendimento do STF: Vale ressaltar que o julgado acima representa mudança de
entendimento do STF. Isso porque no RE 389808, o STF havia decidido que seria necessário
prévia autorização judicial, de sorte que o art. 6º da LC 105/01 seria inconstitucional.

Posição do STJ: O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que possui,
inclusive, um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na ocasião, o STJ
firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das instituições
financeiras, ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações realizadas pelo
contribuinte, requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias. Para o STJ, no âmbito
do processo administrativo fiscal, para fins de constituição de crédito tributário, é possível a
requisição direta de informações pela autoridade fiscal às instituições bancárias sem prévia
autorização judicial. STJ. 1ª Seção. REsp 1134665/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25/11/2009 (recurso repetitivo).

É possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial sejam
utilizadas em processos criminais ou somente em procedimentos administrativo-tributários?
SIM. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no âmbito da Receita
Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições financeiras sem
prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que são
constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/01, que permitem o acesso direto da Receita Federal
à movimentação financeira dos contribuintes. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias
Toffoli, j. 19/4/2016 (Info 822).

Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem
autorização judicial):
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/9/11).
Exceção: É lícita a requisição pelo MP de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário
(STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/15).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/12).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
TCU
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF.
MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/01. O repasse das informações dos
Receita
bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo
Federal
bancário".
Fisco SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência,
estadual, o art. 6º da LC 105/01, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/01.
distrital,
municipal
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/01).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.

Art. 5º da LC 105/01: Acima falamos bastante sobre o art. 6º da LC 105/01, mas vale ressaltar
que o art. 5º da mesma Lei também foi impugnado:
Art. 5º O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos
limites de valor, os critérios segundo os quais as instituições financeiras
informarão à administração tributária da União, as operações financeiras
efetuadas pelos usuários de seus serviços.
§ 1º Consideram-se operações financeiras, para os efeitos deste artigo:
I – depósitos à vista e a prazo, inclusive em conta de poupança;
II – pagamentos efetuados em moeda corrente ou em cheques;
III – emissão de ordens de crédito ou documentos assemelhados;
IV – resgates em contas de depósitos à vista ou a prazo, inclusive de poupança;
V – contratos de mútuo;
VI – descontos de duplicatas, notas promissórias e outros títulos de crédito;
VII – aquisições e vendas de títulos de renda fixa ou variável;
VIII – aplicações em fundos de investimentos;
IX – aquisições de moeda estrangeira;
X – conversões de moeda estrangeira em moeda nacional;
XI – transferências de moeda e outros valores para o exterior;
XII – operações com ouro, ativo financeiro;
XIII - operações com cartão de crédito;
XIV - operações de arrendamento mercantil; e
XV – quaisquer outras operações de natureza semelhante que venham a ser
autorizadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários ou
outro órgão competente.
§ 2º As informações transferidas na forma do caput deste artigo restringir-se-ão a
informes relacionados com a identificação dos titulares das operações e os
montantes globais mensalmente movimentados, vedada a inserção de qualquer
elemento que permita identificar a sua origem ou a natureza dos gastos a partir
deles efetuados.
§ 3º Não se incluem entre as informações de que trata este artigo as operações
financeiras efetuadas pelas administrações direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 4º Recebidas as informações de que trata este artigo, se detectados indícios de
falhas, incorreções ou omissões, ou de cometimento de ilícito fiscal, a autoridade
interessada poderá requisitar as informações e os documentos de que necessitar,
bem como realizar fiscalização ou auditoria para a adequada apuração dos fatos.
§ 5º As informações a que refere este artigo serão conservadas sob sigilo fiscal, na
forma da legislação em vigor. (...)

Este art. 5º da LC 105/01 permite que o Poder Executivo edite um ato normativo obrigando
as instituições financeiras informem a Receita Federal sempre que houver uma operação
financeira acima de determinado valor. Atualmente, o ato normativo que regulamenta o art.
5º da LC 105/2001 é a Instrução Normativa RFB nº 1571, de 02 de julho de 2015. Segundo esta
IN, as instituições financeiras são obrigadas a informar para a Receita Federal sempre que
houver uma movimentação financeira acima de:
 R$ 2 mil, no caso de pessoas físicas; e
 R$ 6 mil reais, no caso de pessoas jurídicas.

Assim, se você faz a transferência de R$ 5 mil reais de sua conta bancária para a de seu pai, por
exemplo, esta informação será repassada pelo banco à Receita Federal. Caso a Receita Federal
considere que você efetuou movimentações bancárias muito superiores à renda que declarou,
para fins de imposto de renda, ela poderá instaurar uma ação fiscal para que você justifique
tais operações (art. 5º, § 4º da LC 105/01), sob pena de ela considerar que você omitiu receitas.
Desse modo, estes dados são utilizados pelo Fisco para cruzar informações e assim verificar se
há compatibilidade entre os valores movimentados e os dados apresentados na declaração do
IR. Vale ressaltar que os gastos com cartão de crédito também estão abrangidos por este dever
de informar. Assim, se o valor da fatura paga é comunicado à Receita.

Importante esclarecer que, nos termos do § 2º do art. 5º da LC 105/01, somente são informados
os valores movimentados e os titulares das operações. A Receita Federal, em tese, não tem
acesso à origem ou natureza dos gastos (ex: se a pessoa gastou tais valores no supermercado,
no hospital, no motel etc.).

O art. 5º da LC 105/2001 foi julgado constitucional pelo STF com base nos mesmos
argumentos acima explicados quanto ao art. 6º.

§§ 1º e 2º do art. 198 do CTN inseridos pela LC 104/01: A LC 104/2001 inseriu os §§ 1º e 2º ao


art. 198 do CTN, com a seguinte redação:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação,
por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em
razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de
terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.
§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os
seguintes:
I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração
Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo
administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de
investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração
administrativa.
§ 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração
Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega
será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que
formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo.

O inciso II do § 1º e o § 2º do mesmo art. 198 autorizam o compartilhamento de informações


sigilosas entre as autoridades administrativas, no interesse da Administração Pública. Nas
ADIs propostas questionava-se a constitucionalidade da previsão. O STF, contudo, rejeitou
ações considerando que os dispositivos são constitucionais. Mais uma vez o STF entendeu
que os dispositivos acima não configuram "quebra" de sigilo mas sim uma mera transferência
de informações sigilosas no âmbito da Administração Pública. Além disso, o STF considerou
que o legislador previu formalidades e mecanismos para assegurar que não haja vazamento
dessas informações.

Conclusões: As ações diretas questionavam a constitucionalidade do art. 1º da LC 104/01 (que


alterou o CTN), dos arts. 1º, § 3º e 4º, 3º, § 3º, 5º e 6º da LC 105/2001 e dos Decretos 3.724/2001,
4.489/2002 e 4.545/2002. As ADIs foram julgadas improcedentes e esses dispositivos foram
considerados constitucionais. No RE 601314/SP, o STF também considerou constitucional a
Lei 10.174/01 que, ao trazer nova redação do art. 11 da Lei 9.311/96 (que instituiu a CPFM)
permitiu que a Receita Federal, de posse das informações sobre a movimentação financeira de
titulares de contas bancárias as utilizasse para a averiguação de divergências e, em face delas,
instaurasse procedimento administrativo tendente à verificação da existência de crédito
tributário relativo a impostos e contribuições, e o lançamento de crédito porventura existente.

1.34. SAÚDE: Diferença de classes no SUS é inconstitucional – (Info 810) – IMPORTANTE!!!


– REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJCE-2018) (Proc./IPSM-2018)

É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar


para ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada
"diferença de classes".
Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/97) que proíbe a diferença de
classe. Este ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à
repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de
forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a
internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico
do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores
correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 3/12/15 (repercussão geral) (Info 810).

1.35. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: Parâmetros para a validade da entrada forçada


em domicílio sem mandado judicial – (Info 806) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período


noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”,
que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados.
STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015
(repercussão geral) (Info 806).

1.36. DIREITOS POLÍTICOS: As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições


suplementares – (Info 802) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo
de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/10/15 (repercussão geral) (Info
802).

1.37. DIREITOS POLÍTICOS: Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por


pessoas jurídicas – (Info 799)

As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são


inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 16 e 17/9/15 (Info 799).

1.38. Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional – (Info 798) – IMPORTANTE!!!


– (DPEPR-2017) (DPESC-2017) (DPEAP-2018-3x) (TJBA-2019)

O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro


de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou
incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura,
de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de
uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.
O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As
penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do
Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa
uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da
perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando
a resolver o problema e monitorar os resultados alcançados.
Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando que:
 juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a
audiência de custódia;
 a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo
Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo
a realização de novos contingenciamentos.
Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da
medida cautelar.
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 9/9/15 (Info 798)
(TJBA-2019-CESPE): A respeito da situação conhecida como estado de coisas
inconstitucional, assinale a opção correta: No plano dos remédios estruturais para
saneamento do estado de coisas inconstitucional, estão a superação dos bloqueios
institucionais e políticos e o aumento da deliberação de soluções sobre a demanda. BL:
Info 798 do STF.

(DPEAP-2018-FCC): Em voto proferido quando da concessão de medida cautelar em sede


de arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Relator, apoiando-se
em técnica empregada por Corte Constitucional estrangeira, entendeu que estava
comprovada, no caso, situação de violação generalizada de direitos fundamentais e
incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a situação,
sendo que a superação das transgressões exigia a atuação não apenas de um órgão, e sim
de uma pluralidade de autoridades. Mais adiante, afirmou o Relator que, em situações tais,
ao Tribunal cabe retirar as autoridades públicas do estado de letargia, provocar a
formulação de novas políticas públicas, aumentar a deliberação política e social sobre a
matéria e monitorar o sucesso da implementação das providências escolhidas,
assegurando, assim, a efetividade prática das soluções propostas. Cuida-se, no caso, de
técnica de declaração de estado de coisas inconstitucional. BL: Info 798 do STF.

(DPEPR-2017-FCC): Em determinada decisão de sua relatoria no STF, Ministro da referida


casa assim se pronunciou: o Tribunal não chega a ser um “elaborador” de políticas
públicas, e sim um coordenador institucional, produzindo um “efeito desbloqueador”. Na
mesma decisão disse, ainda, que naquele caso caberia ao Judiciário catalisar ações e
políticas públicas, coordenar a atuação dos órgãos do Estado na adoção dessas medidas e
monitorar a eficiência das soluções. Os efeitos mencionados pelo Ministro são
característicos da decisão que reconhece o Estado de Coisas Inconstitucional BL: Info 798
do STF.

1.39. CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Judiciário pode


determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional – (Info 794) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018)

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente


na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos
prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar
aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art.
5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o
princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 13/8/15 (repercussão geral)
(Info 794).
(DPEAP-2018-FCC): Sob o fundamento de passar por situação de drástica redução na
arrecadação tributária e da necessidade de atender aos percentuais constitucionais de
aplicação de recursos nas áreas de educação e saúde, determinado Estado da federação
suspende a realização de investimentos destinados à execução de obras em todas as áreas
de atuação do poder público. Nesse contexto, são paralisados procedimentos internos
preparatórios de licitações para realização de obras em unidades prisionais do Estado,
entre as quais, uma que enfrenta situação de superlotação e precariedade extrema das
condições a que submetidos os que ali cumprem pena, conforme atestado em vistoria
realizada por órgão correicional do sistema prisional estadual. Diante disso, a Defensoria
Pública estadual pretende ir a juízo, para compelir o Estado a realizar obras emergenciais
na unidade prisional em questão. Nessa situação, à luz da legislação pertinente e da
jurisprudência do STF, a Defensoria Pública possui legitimidade para ajuizar ação civil
pública, visando compelir o Estado à realização de obras emergenciais na unidade
prisional, para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar
aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, não sendo oponíveis à decisão
judicial o argumento da reserva do possível e o princípio da separação de poderes. BL:
Info 794, STF.

(MPSP-2017): Ministério Público propôs, em face da Fazenda Pública do Estado, demanda


coletiva, visando condená-la em obrigação de fazer, consubstanciada na realização de
obras estruturais emergenciais necessárias para assegurar a integridade física dos detentos
de determinada unidade prisional. Em contestação, a Fazenda arguiu a incidência de
discricionariedade administrativa, da teoria da reserva do possível e da inexistência de
previsão orçamentária para os gastos pertinentes. O Magistrado culminou por julgar
improcedente a demanda, acolhendo, para tanto, as teses defensivas aqui mencionadas.
Ante tais premissas, e em consonância com posicionamento firmado pelo STF, o
entendimento correto é que a sentença comporta reforma, vez que a assecuração do
postulado da dignidade da pessoa humana sobrepuja a margem de discricionariedade
conferida ao Administrador Público e direciona o investimento de recursos,
inviabilizando a adoção da teoria da reserva do possível. BL: Info 794, STF.

1.40. HABEAS DATA: Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos
sistemas dos órgãos fazendários – (Info 790) – IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!!
(Proc./IPSM-2018)

O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes
ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados
de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.
No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter
acesso às informações relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da
Receita Federal.
O SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes
pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para
outros bancos de dados mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/6/15 (repercussão geral) (Info 790).

1.41. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão


– (Info 789) – IMPORTANTE!!!

Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus
direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não
apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
OBS:
Interpretação literal do art. 20 do CC: As biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que
elas constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que
este tenha dado seu consentimento. Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito
à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente providências para impedir ou fazer cessar
essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado poderia impedir a produção
da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização. O exemplo mais emblemático
de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto Carlos, que
processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia não-autorizada
chamada de “Roberto Carlos em detalhes” e que havia sido lançada em dezembro de 2006 pela
Editora Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.

ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ADI
no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do CC/02.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição
e declarasse que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou
veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.

O STF concordou com o pedido? As biografias não-autorizadas podem ser publicadas mesmo
sem prévia autorização do biografado (ou de sua família)? SIM. O STF julgou procedente a
ADI e conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do CC para declarar
que não é necessária a autorização prévia para a publicação de biografias.

Liberdade de expressão: A CF/88 consagra a liberdade de expressão em seu art. 5º, IX,
prevendo que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”. No art. 220, § 2º, a Carta afirma que é “vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Desse modo, uma regra
infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação de obras
literárias.

Argumentos utilizados pelo STF:


a) a Constituição assegura como direitos fundamentais a liberdade de pensamento e de sua
expressão, a liberdade de atividade intelectual, artística, literária, científica e cultural;
b) a Constituição garante o direito de acesso à informação e de pesquisa acadêmica, para o que
a biografia seria fonte fecunda;
c) a Constituição proíbe a censura de qualquer natureza, não se podendo concebê-la de forma
subliminar pelo Estado ou por particular sobre o direito de outrem;
d) a Constituição garante a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da
imagem da pessoa; e
e) a legislação infraconstitucional não poderia amesquinhar ou restringir direitos
fundamentais constitucionais, ainda que sob pretexto de estabelecer formas de proteção,
impondo condições ao exercício de liberdades de forma diversa da constitucionalmente fixada.

Direitos do biografado: Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do


biografado não ficarão desprotegidos. A biografia poderá ser lançada mesmo sem autorização
do biografado, mas se ficar constatado que houve abuso da liberdade de expressão e violação
à honra do indivíduo retratado, este poderá pedir:
• a reparação dos danos morais e materiais que sofreu;
• a retificação das informações veiculadas;
• o direito de resposta;
• e até mesmo, em último caso, a responsabilização penal do autor da obra.

1.42. ATO JURÍDICO PERFEITO: Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que fixa
novos índices de correção monetária – (Info 783)

A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua
vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode
incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais
sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos
contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir
uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não
podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor
das cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ,
red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, j. 29/4/15 (Info 783).

1.43. CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA: Súmula vinculante 40 – (Info 777)

Súmula Vinculante 40: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da
Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
OBS:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;

1.44. DIREITO À INFORMAÇÃO: Jornal tem direito de obter informações sobre o uso da
verba indenizatória por senadores – (Info 776) – IMPORTANTE!!!

Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem
como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas ao
exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública, tanto
pelo fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela
finalidade a que se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação popular
(mandato). Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso
são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 4/3/2015 (Info 776).

1.45. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como
indexador econômico – (Info 774)

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo
vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário
mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam
a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir
interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do
benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545).
Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício
não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo,
considerando que ele não pode servir como indexador.
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja
considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser
corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício
continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por
meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/2/2015 (Info 774)

1.46. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: É constitucional a Lei que veda que ocupantes da


carreira policial exerçam advocacia – (Info 735)

A Lei (art. 28, inciso V, da Lei 8.906/94) que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o
princípio da isonomia.
STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 12/2/14 (Info 735)

1.47. CONTROE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Direito a acessibilidade


em prédios públicos – (Info 726) – IMPORTANTE!!! - (Proc./IPSM-2018)

A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência asseguram
o direito dos portadores de necessidades especiais ao acesso a prédios públicos, devendo a
Administração adotar providências que o viabilizem. O Poder Judiciário, em situações
excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias
de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure
violação do princípio da separação de poderes.
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/10/13 (Info 726).

1.48. NACIONALIDADE: Ministro da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização – (Info 694)

Segundo o art. 12, § 4º, I, da CF/88, após ter sido deferida a naturalização, seu desfazimento
só pode ocorrer mediante processo judicial, mesmo que o ato de concessão da naturalização
tenha sido embasado em premissas falsas (erro de fato).
O STF entendeu que os §§ 2º e 3º do art. 112 da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) não
foram recepcionados pela CF/88.
Assim, o Ministro de Estado da Justiça não tem competência para rever ato de naturalização.
STF. Plenário. RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, j. 7/2/13 (Info 694).

1.49. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Constitucionalidade do sistema de cotas em


universidades para alunos de escolas públicas – (Info 665) – REPERCUSSÃO GERAL!!!

É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas.
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9/5/12 (repercussão geral)
(Info 665).

1.50. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Constitucionalidade do sistema de cotas em


universidades com critério étnico-racial – (Info 663)

O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é


CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial
possuem natureza transitória.
STF. Plenário. ADPF 186/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25 e 26/4/12 (Info 663).

2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
2.1. Alteração dos limites de um Município exige plebiscito – (Info 872)
Para que sejam alterados os limites territoriais de um Município é necessária a realização
de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, nos
termos do art. 18, § 4º da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2921/RJ, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
9/8/17 (Info 872).

2.2. Formação de novos municípios – (Info 758)

Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei
Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios
poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados.
Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos
Municípios serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18.
STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/9/14 (Info 758).

3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
3.1. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Inconstitucionalidade de lei estadual que imponha
obrigações contratuais para seguradoras – (Info 934)

É inconstitucional lei estadual que discipline as obrigações contratuais relativas a seguros


de veículos e regras de registro, desmonte e comercialização de veículos sinistrados.
Esta lei estadual viola a competência privativa da União para legislar sobre direito civil,
seguros, trânsito e transporte (art. 22, I, VII e XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4704/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/3/2019 (Info 934).

3.2. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É inconstitucional lei estadual que discipline a


arrecadação das receitas decorrentes da exploração de recursos hídricos e minerais – (Info 932)

É inconstitucional lei estadual que discipline a ARRECADAÇÃO das receitas oriundas da


exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica e de recursos minerais,
inclusive petróleo e gás natural.
Há uma inconstitucionalidade formal, considerando que cabe à União legislar sobre o tema
(art. 22, IV e XII, da CF/88).
Por outro lado, a lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e o controle dessas receitas,
tendo em vista que é de competência comum aos entes registrar, acompanhar e fiscalizar as
concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios (art. 23, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4606/BA, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 28/2/2019 (Info 932).
OBS:
Recursos hídricos e minerais: Os recursos hídricos e os recursos minerais pertencem à União,
conforme prevê o art. 20 da CF/88:
Art. 20. São bens da União: (...)
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Exemplo de aproveitamento dos recursos hídricos para geração de energia: hidrelétrica.

Exemplo de recurso mineral: petróleo.

Participação dos Estados/DF e Municípios na exploração dessas riquezas: Apesar de


pertencerem à União, a CF/88 assegura também aos Estados, DF e Municípios uma
participação no resultado da exploração de petróleo, gás natural, recursos hídricos e outros
recursos minerais situados no respectivo território ou a compensação financeira por tal
exploração. Isso está previsto no § 1º do art. 20:
Art. 20 (...)
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo
território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou
compensação financeira por essa exploração.

A Lei federal nº 9.478/97 dispõe sobre a política energética nacional e sobre as atividades
relativas ao monopólio do petróleo. Os arts. 48 e 49 dessa lei tratam sobre a distribuição dos
royalties de petróleo, a fim de dar cumprimento ao art. 20, § 1º, da CF/88.

Legislação estadual tratando sobre receitas decorrentes da exploração de recursos hídricos e


minerais: A Bahia editou a Lei estadual 10.850/2007 trazendo regras sobre:
• a fiscalização,
• o controle e
• a arrecadação...
... das receitas recebidas com a exploração de recursos hídricos para a geração de energia
elétrica e de recursos minerais, inclusive petróleo e gás natural, e as respectivas compensações
e participações financeiras que deverão ser feitas ao Estado.

O Decreto estadual nº 11.736/2009 regulamentou esta Lei.

ADI: A Presidente da República ajuizou ADI contra esses dois atos normativos (lei e decreto
estaduais). Na ação, alegou que os atos seriam inconstitucionais porque o art. 22 da CF/88
afirma que compete à União legislar sobre águas, energia e recursos minerais:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...)
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

O que decidiu o STF? O STF julgou parcialmente procedente a ADI para declarar a
inconstitucionalidade formal dos trechos da Lei e do Decreto que falavam em “arrecadação”.
A Lei baiana permitia que o Estado definisse condições para o recolhimento (pagamento) das
compensações financeiras decorrentes da exploração de recursos hídricos e minerais em seu
território e autorizava que a arrecadação dos valores fosse feita diretamente por intermédio da
Secretaria Estadual da Fazenda. A norma também impunha infrações e penalidades pelo atraso
no pagamento de tais compensações. Ocorre que tais dispositivos usurparam a competência
privativa da União para dispor sobre a exploração de recursos energéticos, hídricos e
minerais.

Condições de recolhimento e repartição são definidas pela União: Conforme vimos acima, o §
1º do art. 20 assegura aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da
administração direta da União participação no resultado da exploração dos recursos hídricos
e minerais. Esses valores possuem natureza jurídica de “receita patrimonial originária”, cuja
titularidade pertence a cada um dos entes federados. Todavia, embora sejam originárias de
Estados e Munícipios, suas condições de recolhimento e repartição são definidas por
regramento da União, uma vez que a ela cabe definir as condições legislativas gerais de
exploração dos potenciais recursos hídricos e minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88). A União
possui, na verdade, dupla autoridade normativa na matéria considerando que compete a ela:
• definir as condições legislativas gerais de exploração de potenciais e recursos hídricos e
minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88 – dispositivos transcritos acima); e
• estabelecer as condições contratuais específicas caso essas atividades sejam outorgadas a
particulares (art. 176, da CF/88):
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais
de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais
a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou
empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a lei. (...)

Logo, o Estado-membro não pode disciplinar como será a arrecadação desses valores de que
trata o § 1º do art. 20 da CF/88.

Lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e controle: Por outro lado, não há nenhum vício
na lei estadual que estipula regras para fiscalização e controle desses recursos. Vale ressaltar,
inclusive, que o art. 23, XI, da CF/88 permite aos entes federativos adotar providências
administrativas para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios, possibilitando que tenham
controle sobre as quotas-partes repassadas a título de compensação financeira pela União.
Confira:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

Por esse motivo, o STF afirmou que são constitucionais os dispositivos da Lei estadual que
tratam sobre as providências administrativas que devem ser observados pelas
concessionárias instaladas no Estado.

3.3. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É constitucional lei estadual que obriga as empresas


prestadoras de serviço no Estado a fornecerem previamente ao consumidor a identificação do
profissional que fará o atendimento na sua residência – (Info 929) – IMPORTANTE!!!

É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços de televisão a


cabo, por satélite ou digital no Estado a informarem previamente a seus clientes os dados
do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
Ex: Lei do RJ prevê que as empresas prestadoras de serviços, quando acionadas para realizar
qualquer reparo na residência do consumidor, ficam obrigadas a enviar uma mensagem de
celular, pelo menos 1h antes do horário agendado, informando o nome e a identidade do
funcionário que irá ao local.
STF. Plenário. STF. Plenário. ADI 5745/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o acórdão
Min. Edson Fachin, j. 7/02/2019 (Info 929).
OBS:
ADI: A Associação das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade contra a lei alegando que ela teria invadido a competência privativa da
União para legislar sobre as atividades de telecomunicações.

O que decidiu o STF? Esta Lei é inconstitucional? NÃO. O STF julgou improcedente a ADI,
mantendo a validade da lei.

Lei trata sobre direito do consumidor: De fato, a competência para legislar sobre
“telecomunicações” é privativa da União (art. 22, IV, da CF/88). Ocorre que o STF entendeu
que essa Lei do Estado do Rio de Janeiro versa, na verdade, sobre direito do consumidor,
matéria que se insere no rol de competências legislativas concorrentes:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Medida de segurança: O objetivo da Lei foi o de conferir uma proteção aos consumidores,
para tentar evitar que eles sejam vítimas de assaltantes que se passam por funcionários das
empresas prestadoras de serviço. Desse modo, a Lei amplia a segurança dos clientes no
momento em que eles receberão prestadores de serviços em casa.
Não há interferência na atividade de telecomunicações: Vale ressaltar, por fim, que a lei
questionada, ao exigir que a empresa comunique ao consumidor os dados do funcionário
que prestará o serviço, não interfere na atividade de telecomunicações propriamente dita.
Logo, não houve ofensa à competência privativa da União.

Federação: A Federação não é apenas um mecanismo de distribuição de competências e


rendas, mas também de desconcentração do poder político e, como tal, um instrumento para
estimular a democracia. Antes de se considerar determinada lei estadual como sendo
inconstitucional por supostamente invadir a competência privativa da União, deve-se proceder
a uma leitura sistemática e teleológica da Constituição Federal. No caso, o valor constitucional
tutelado primariamente pela norma impugnada não é o serviço de telecomunicações em si,
mas a própria segurança do consumidor. O ato normativo impugnado estabelece uma
obrigação de fazer, ou seja, uma obrigação de prestação positiva, que é informar ao
consumidor. Tratando-se de matéria sujeita à competência concorrente (art. 24, V), mostra-se
legítima a atividade legislativa do estado-membro ao ampliar as garantias dos
consumidores. Assim, não há que se falar em invasão da competência privativa da União
para legislar sobre telecomunicações.

3.4. É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em
determinados dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento – (Info 928) –
IMPORTANTE!!!

É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do
fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias.
Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de serviços públicos de água e luz de
cortarem o fornecimento residencial de seus serviços por falta de pagamento de contas às
sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também
estabelece que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o
direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte.
O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não
há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria de competência concorrente,
nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
j. 19/12/18 (Info 928).
OBS:
Direito do Consumidor: O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do
Consumidor, de modo que não há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria
de competência concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Lei do PR não impediu o corte de forma absoluta: Vale ressaltar que a Lei do Estado do Paraná
não impediu, de forma absoluta, que a concessionária fizesse o corte dos serviços em caso de
inadimplemento. Se a lei estadual tivesse feito isso, seria inconstitucional por afrontar o que
prevê a lei federal a respeito do tema. O que a lei estadual fez foi estabelecer que esse corte não
pode ser realizado em determinados dias nos quais ficaria difícil para o consumidor
regularizar a situação, o que agravaria ainda mais a sua situação.

3.5. É inconstitucional lei do Distrito Federal que trate sobre a estrutura e o regime jurídico
da Polícia Civil do Distrito Federal (a competência para isso é da União) – (Notícia no site) –
(Sem Info) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei do Distrito Federal que institua, extinga e transforme órgãos internos
da Polícia Civil do Distrito Federal.
Essa lei viola o art. 21, XIV, da CF/88, que fixa a competência da União para manter e
organizar a Polícia Civil do Distrito Federal.
Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, CF/88 trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria, portanto, atribuída, prioritariamente, à União.
As leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é
vedado ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a
serem arcados pela União.
Como as leis distritais declaradas inconstitucionais eram muito antigas (2001, 2002 e 2005),
o STF decidiu modular os efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 3666, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 06/12/2018 (notícia do site).
OBS:
Imagine a seguinte situação: O Distrito Federal editou três leis que promoveram a
reestruturação da Polícia Civil do DF. Tais leis instituíram, extinguiram e transformaram
órgãos internos da Polícia, bem como criaram novos cargos comissionados, dentre outras
alterações substanciais. Versaram sobre a estrutura administrativa do Polícia Civil/DF e o
regime jurídico dos respectivos servidores.

Tais leis são constitucionais? NÃO. É o que foi decidido pelo STF na ADI 3666.

Veja o que diz o art. 21, XIV, da CF/88:


Art. 21. Compete à União: (...)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros
militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito
Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;

Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, da CF/88, trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria atribuída, prioritariamente, à União.

As três leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é vedado
ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a serem arcados
pela União. Isso reforça a ideia de que a competência para legislar sobre a Polícia Civil do
Distrito Federal não se enquadra na competência concorrente do art. 24, XVI, da CF/88,
sendo, na verdade, competência privativa da União, com base no art. 21, XIV.

Vale ressaltar que a União não tem competência absoluta para legislar sobre todas as
questões relacionadas com a Polícia Civil do Distrito Federal. Em outras palavras, não há
dúvidas de que existe a possibilidade de o Distrito Federal legislar pontualmente sobre sua
própria Polícia Civil. No entanto, o DF não pode legislar sobre a “estrutura e o regime
jurídico” da PC/DF. Se isso fosse permitido, o DF acabaria invadindo a competência da União
prevista no art. 21, XIV, da CF/88.

Modulação dos efeitos: As leis do DF declaradas inconstitucionais eram de 2001, 2002 e 2005,
ou seja, vigoravam há mais de uma década. Diante disso, o STF entendeu que não se poderia
declarar a inconstitucionalidade de tais diplomas com efeitos ex tunc (retroativos). Assim, o
STF, em nome da segurança jurídica, do excepcional interesse social e da boa-fé, decidiu
modular os efeitos da decisão, fixando as seguintes regras:
1) os atos já praticados ficam preservados;
2) a decisão deverá produzir efeitos somente a partir de 24 meses, contados da
data da sessão de julgamento; e
3) o presente acórdão não incide, exclusivamente para efeitos de aposentadoria,
para os servidores que já estejam aposentados e aqueles que implementaram os
requisitos para aposentação até a data da publicação da ata de julgamento.

3.6. É inconstitucional lei estadual que obriga empresas de telefonia e de TV por assinatura
a manterem escritórios regionais e representantes para atendimento presencial de
consumidores – (Notícia no site) – (Sem Info)
É inconstitucional lei estadual que obriga as empresas concessionárias de serviços de
telecomunicações a manterem escritórios regionais e representantes legais para
atendimento presencial de consumidores em cidades com população superior a 100 mil
habitantes, bem como a divulgarem os correspondentes endereços físicos no site, no
contrato de prestação de serviços e nas faturas enviadas aos usuários.
Trata-se de matéria relativa a “serviços públicos de telecomunicações”, cuja competência é
privativa da União (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/04/18 (notícia do site).

3.7. Lei estadual pode impor que as agências bancárias instalem divisórias individuais nos
caixas de atendimento – (Notícia no site) - (Sem Info)

É constitucional lei estadual ou municipal que imponha sanções às agências bancárias que
não instalarem divisórias individuais nos caixas de atendimento.
Trata-se de matéria relativa a relação de consumo, o que garante ao Estado competência
concorrente para legislar sobre o tema (art. 24, V, CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/4/18 (notícia do site).
STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
OBS: O STF já possuía um precedente em sentido semelhante, no entanto, relacionado com
uma lei municipal: STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.

3.8. É inconstitucional lei estadual que obrigue a concessionária a fornecer um carro


reserva ao cliente que está aguardando o conserto do seu veículo – (Info 926) –
IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que impõe às montadoras, concessionárias e importadoras


de veículos a obrigação de fornecer veículo reserva a clientes cujo automóvel fique
inabilitado por mais de quinze dias por falta de peças originais ou por impossibilidade de
realização do serviço, durante o período de garantia contratual.
STF. Plenário. ADI 5158/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 6/12/2018 (Info 926).
OBS: O STF entendeu que há uma inconstitucionalidade orgânica na lei. Vamos entender o
que isso significa:

Quanto à NATUREZA do vício, existem duas espécies de inconstitucionalidade


Ocorre quando o conteúdo da lei ou ato normativo está em
desacordo com o conteúdo de uma regra ou princípio
1) MATERIAL constitucional.
(NOMOESTÁTICA) Ex: é inconstitucional lei que estabeleça diferença de
tratamento para filhos havidos fora do casamento. O conteúdo
desta lei viola o conteúdo do art. 227, § 6º da CF/88.
Ocorre quando é desrespeitada alguma regra do processo
legislativo.
Há uma violação no processo de produção da norma.
Descumprimento dos requisitos formais.
A inconstitucionalidade formal pode ser subdividida em três
espécies:
2) FORMAL
2.1) Inconstitucionalidade orgânica:
(NOMODINÂMICA)
Ocorre quando há inobservância das regras de competência para
Dica para guardar o nome:
a edição do ato.
dinâmica = relacionada
Ex: uma lei estadual que trate sobre direito penal ou sobre
com o processo
direito civil.
(movimento) legislativo
2.2) Inconstitucionalidade formal propriamente dita:
Ocorre quando é descumprido o devido processo legislativo
previsto na CF/88.
Esse descumprimento pode ser:
a) Subjetivo: se houve um vício de iniciativa (vício no “sujeito”
que iniciou o processo legislativo). Ex: lei de iniciativa
parlamentar sobre um assunto do art. 61, § 1º (que são de
iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo).
b) Objetiva: quando são violados outros aspectos do
procedimento legislativo. Ex: uma lei complementar que é
aprovada por maioria simples e não maioria absoluta (art. 69).
2.2) Inconstitucionalidade por violação aos pressupostos
objetivos do ato:
A CF/88 prevê pressupostos objetivos para a edição de
determinados atos. Ex: o art. 62 exige que a medida provisória
somente seja editada em caso de “relevância e urgência”.

Inconstitucionalidade orgânica: Desse modo, repetindo, houve, no presente caso, uma


inconstitucionalidade formal orgânica, considerando que foi violada a regra de competência
para a edição desta lei.

Por quê? O Min. Roberto Barroso explicou que esta Lei do Estado de Pernambuco trata sobre
direito do consumidor. Em princípio, os Estados-membros podem legislar sobre “direito do
consumidor”, considerando que se trata matéria de competência concorrente, prevista no art.
24, V, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo;

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código de Defesa do Consumidor, sendo estas as normas
gerais. A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União. O Ministro Relator entendeu que, neste caso, o Estado
de Pernambuco extrapolou a competência concorrente e não apenas complementou a
legislação federal. Para o STF, foram ultrapassadas as balizas impostas ao legislador estadual
para a elaboração de normas consumeristas. O Min. Ricardo Lewandowski acompanhou o
entendimento pela inconstitucionalidade formal e salientou que o Estado-membro estaria
também, neste caso, legislando sobre “contratos”, ou seja, sobre Direito Civil, de modo que
invadiu a esfera privativa da União. Assim, o STF julgou procedente o pedido formulado na
ação direta para declarar, por vício formal, a inconstitucionalidade da Lei 15.304/14, do Estado
de Pernambuco, em sua integralidade.

3.9. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: CE pode


prever que o Estado e os Municípios deverão reservar vagas para pessoas com deficiência –
(Info 921)

É constitucional norma de Constituição Estadual que preveja que “o Estado e os Municípios


reservarão vagas em seus respectivos quadros de pessoal para serem preenchidas por
pessoas portadoras de deficiência.”
Apesar de, em tese, a Constituição Estadual não poder dispor sobre servidores municipais,
sob pena de afronta à autonomia municipal, neste caso não há inconstitucionalidade,
considerando que se trata de mera repetição de norma da CF/88:
Art. 37 (...) VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

3.10. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF:


Constituição estadual só pode exigir que o Prefeito (ou o Vice) peça autorização da Câmara
Municipal para viajar se a viagem for superior a 15 dias – (Info 921)
A CE/AP trouxe regra dizendo que se o Prefeito ou o Vice-Prefeito for viajar ao exterior,
“por qualquer tempo”, ele deverá pedir uma licença prévia da Câmara Municipal para a
viagem.
O STF considerou inconstitucional a expressão “por qualquer tempo”.
Essa regra de “por qualquer tempo” está em desacordo com o princípio da simetria. Isso
porque a CF/88 somente exige autorização do Congresso Nacional se a ausência do
Presidente da República for superior a 15 dias (art. 49, III).
De igual modo, a Constituição do Estado do Amapá também só exige autorização da
Assembleia Legislativa se a ausência do Governador (ou do Vice) for superior a 15 dias (art.
118, § 1º).
Logo, a exigência de autorização da Câmara Municipal para que o Prefeito possa se ausentar
por períodos menores que 15 dias quebra a simetria existente em relação ao Governador.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

3.11. São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a


manter empacotador para as compras – (Info 871 e 921)

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de


serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da
livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).
STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 1º/8/17 (Info 871).
STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 24/10/18 (repercussão geral) (Info 921).
OBS: O modelo econômico previsto na CF/88 é o da livre iniciativa. Nesse modelo, não cabe
ao Estado decidir se vai ter ou não empacotador nos supermercados. O Estado somente deve
interferir na economia se houver fundamentos constitucionais que legitimem essa intervenção.
Isso não se verifica no caso de exigir empacotadores nos supermercados.

Vejamos o teor do julgado veiculado no Info 871 do STF:


Lei estadual que torna obrigatória a prestação de serviços de
empacotamento nos supermercados é inconstitucional por afrontar
o princípio constitucional da livre inciativa. STF. Plenário. ADI
907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

3.12. COMPETÊNCIA DA UNIÃO: É inconstitucional lei municipal que institua loteria


local – (Info 920)

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances


(loteria) em âmbito local.
A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União,
conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.
Sobre o tema, vale a pena lembrar a Súmula Vinculante 2: É inconstitucional a lei ou ato
normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios,
inclusive bingos e loterias.
STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 17/10/18 (Info 920).
OBS:
O que são “concursos de prognósticos”? Prognóstico é uma previsão de algo que ainda irá
ocorrer. Concurso de prognóstico consiste em premiar aquela pessoa que consegue prever
algo que irá acontecer. Ex: a Mega-Sena é um concurso de prognóstico que premia aquele que
consegue prever os seis números que serão sorteados.

Competência privativa da União: A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de
sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, CF/88:
Art. 22 (...)
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
A expressão “sistema de sorteios”, constante do art. 22, XX, CF/88, abrange os jogos de azar,
as loterias e similares (STF. Plenário. ADI 3895, Rel. Min. Menezes Direito, j. 4/6/08).

O STF editou uma súmula vinculante sobre o tema:


Súmula vinculante 2: É inconstitucional a lei ou ato normativo
estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e
sorteios, inclusive bingos e loterias.

Vejamos o seguinte julgado do STF:


É inconstitucional norma estadual ou distrital que regulamente o
funcionamento de loterias, por ser matéria de competência privativa
da União. STF. Plenário. ADI 3630, Rel. Min. Edson Fachin, j.
30/06/2017.

A SV fala em Estado e Distrito Federal. Isso significa que os Municípios poderiam legislar
sobre o assunto? NÃO. Os Municípios também não podem. A instituição (criação) de sistemas
de consórcios e sorteios, como no caso das loterias, é matéria de competência legislativa
privativa da União. Extrapola as competências dos Municípios para legislar sobre interesse
local a instituição de loteria municipal, tendo em vista que a legislação federal não permite
isso.

3.13. Lei estadual que fixa piso salarial profissional violando os requisitos da LC federal
103/2000 é considerada inconstitucional por ofensa ao art. 22, I e parágrafo único da CF/88 –
(Info 919)

A competência para editar lei fixando o piso salarial das categorias profissionais (art. 7º, V,
CF/88) é privativa da União por se tratar de direito do trabalho (art. 22, I).
A União editou a LC federal 103/2000 autorizando que os Estados-membros e o DF editem
leis fixando o piso salarial dos profissionais de acordo com suas realidades regionais.
Ocorre que a União exigiu, dentre outros requisitos, que essa lei seja de iniciativa do chefe
do Poder Executivo estadual (Governador).
Se uma lei estadual/distrital de iniciativa parlamentar fixa o piso salarial, essa lei ultrapassa
os limites impostos pela LC federal 103/2000 e, em última análise, viola diretamente o art.
22, I e § único, da CF/88, sendo considerada inconstitucional.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada.
STF. Plenário. ADI 5344 MC/PI, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/2018 (Info 919).
OBS:
Piso salarial: A Constituição Federal, em seu art. 7º, prevê o seguinte direito social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: (...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
trabalho;

Piso salarial é o valor mínimo que os membros de determinada categoria profissional devem
ganhar. Ex: piso salarial dos jornalistas, dos engenheiros, dos psicólogos etc.

Quem fixa esse piso salarial? O piso salarial pode ser fixado:
• por lei;
• por sentença normativa
• por acordo ou convenção coletiva de trabalho.

Se for fixado por lei, de quem é a competência para editá-la? A fixação de um piso salarial para
empregados é um assunto relacionado com Direito do Trabalho. Logo, compete à União,
privativamente, editar lei tratando sobre o piso salarial dos empregados da iniciativa privada,
conforme determina o art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

As competências do art. 22 podem ser delegadas pela União para os entes federativos? SIM. É
o que determina o parágrafo único do art. 22:
Art. 22 (...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo.

LC 103/2000: O que fez a União? Editou uma lei complementar delegando para os Estados-
membros e DF a competência para editarem leis fixando o piso salarial dos profissionais.
Em outras palavras, a União falou o seguinte: como a realidade de cada Estado é diferente, eu
abro mão de fixar o piso salarial nacional para os profissionais e autorizo que cada Estado/DF
edite sua própria lei prevendo o valor mínimo que os profissionais deverão receber. Isso foi
feito por meio da LC 103/2000, que tem a seguinte redação:
Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir,
mediante lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que
trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal para os
empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal,
convenção ou acordo coletivo de trabalho.
§ 1º A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:
I – no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os
cargos de Governador dos Estados e do Distrito Federal e de
Deputados Estaduais e Distritais;
II – em relação à remuneração de servidores públicos municipais.
§ 2º O piso salarial a que se refere o caput poderá ser estendido aos
empregados domésticos.
Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua
publicação.

Requisitos para a edição de lei estadual/distrital fixando o piso salarial:


1) a lei deve ser de iniciativa do Governador do Estado;
2) a categoria profissional abrangida pela lei não pode ter piso salarial definido em lei
federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho;
3) a lei não pode ser editada no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os
cargos de Governador e de Deputados;
4) não pode ser editada para tratar sobre a remuneração de servidores públicos municipais.

Pisos salariais fixados em valor mais alto em acordos ou convenções coletivas deverão
prevalecer: Vale ressaltar que, se determinada categoria profissional conseguiu, por meio de
acordo ou convenção coletiva, estipular um piso salarial, irá prevalecer aquilo que foi definido
na negociação coletiva. Assim, o piso salarial fixado pela legislação estadual não incidirá
sobre as profissões que tenham convenção ou acordo coletivo de trabalho, preservando-se
os pisos salariais assim definidos. Por outro lado, em relação aos trabalhadores não
abrangidos por nenhuma forma anterior de negociação coletiva, o piso salarial estadual
incidirá, passando a ser esse, portanto, o patamar mínimo legalmente assegurado à categoria,
e não mais o “salário mínimo nacional”. A instituição do piso salarial regional visa reduzir as
desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores e assegurando a eles melhores
condições salariais. A LC federal 103/00 teve por objetivo maior assegurar àquelas classes de
trabalhadores menos mobilizadas e, portanto, com menor capacidade de organização sindical,
um patamar mínimo de salário. A fim de manter-se o incentivo à negociação coletiva (art. 7º,
XXVI, CF/88), os pisos salariais regionais somente serão estabelecidos por lei naqueles casos
em que não haja convenção ou acordo coletivo de trabalho. Assim, as entidades sindicais
continuarão podendo atuar nas negociações coletivas, desde que respeitado o patamar mínimo
legalmente assegurado. STF. Plenário. ADI 4.364 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/5/13.

Lei do Estado do Piauí tratando sobre o piso salarial de fisioterapeutas: O Estado do Piauí,
conforme autoriza a LC federal 103/2000, editou a Lei 6.633/15 fixando o piso salarial do
Fisioterapeuta e do Terapeuta Ocupacional. Veja:
Art. 1º O piso salarial do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional no
âmbito do Estado do Piauí é de:
I - R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais, para jornada de até quatro
horas diárias ou vinte horas semanais;
II - R$ 2 500,00 (dois mil e quinhentos reais) mensais, para jornada
de até seis horas diárias ou trinta horas semanais.
Art. 2º - O reajuste do piso salarial de que trata esta Lei é anual,
sempre no dia primeiro de janeiro do ano subsequente, pela variação
acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor.

Qual foi, no entanto, o “problema” desta Lei? Ela foi fruto de projeto de lei de iniciativa de
um Deputado Estadual. Em outras palavras, foi um Deputado Estadual quem propôs o projeto
que deu origem a essa lei.

Há um vício neste caso? SIM. Isso porque o art. 1º da LC federal 103/2000 afirma que “os
Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder
Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal (...)”.

Essa Lei do Estado do Piauí violou, portanto, o art. 1º da LC federal 103/2000. Isso está muito
claro... A dúvida que resta é a seguinte: podemos dizer que a Lei do Piauí é inconstitucional
ou ela é meramente ilegal? Caberia ADI contra esta Lei? SIM. A Lei do Piauí é
inconstitucional. O STF possui entendimento de que a lei estadual que extrapola, ou seja, que
ultrapassa a autorização conferida pela LC federal é considerada INCONSTITUCIONAL.

Por que se considera que o vício é de inconstitucionalidade? Porque se a lei estadual/distrital


ultrapassou os limites impostos pela LC federal 103/2000, ela, na verdade, está, em última
análise, usurpando, ou seja, apoderando-se indevidamente da competência legislativa
privativa da União prevista no art. 22, I e parágrafo único.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada. A lei estadual que ultrapassa os limites da lei
delegadora de competência privativa da União é inconstitucional, por ofensa direta às regras
constitucionais de repartição da competência legislativa. Existindo lei complementar federal
autorizando os Estados-membros a legislar sobre determinada questão específica, não pode a
lei estadual ultrapassar os limites da competência delegada, pois, se tal ocorrer, o diploma
legislativo estadual incidirá diretamente no vício da inconstitucionalidade. Atuar fora dos
limites da delegação é legislar sem competência, e a usurpação da competência legislativa
qualifica-se como ato de transgressão constitucional.

3.14. Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local,
ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor – (Info 917) –
IMPORTANTE!!!

É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída


de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente
efetuar o pagamento nas caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova
conferência na saída.
Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I,
da CF/88), ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.
STF. 2ª Turma. RE 1052719 AgR/PB, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25/9/18 (Info 917).
OBS:
Prática de vistoriar as mercadorias adquiridas pelos consumidores na saída do
estabelecimento: Existem alguns supermercados (ex.: atacadistas) que colocam um funcionário
na porta de saída da loja e que fica responsável por conferir as mercadorias que a pessoa está
levando em comparação com a nota fiscal. Assim, após o cliente pagar as suas compras no
caixa, ele ainda tem que apresentar a nota fiscal na saída do estabelecimento e o funcionário
confere se os itens que estão no carrinho de compra constam na nota.
Posição de alguns Ministérios Públicos: Normalmente, o procedimento acima descrito é
rápido e não gera nenhum constrangimento ao consumidor, sendo uma mera conferência.
Apesar disso, existem algumas ações civis públicas propostas pelo MP questionando a
conduta. Alegam que se trata de ação intimidatória e desproporcional porque o comerciante
detém meios menos gravosos para exercer vigilância, como é o caso da instalação de alarmes
e câmeras, além da presença de fiscais no interior das lojas.

Esse entendimento é acolhido pelo STJ? Em regra, NÃO. A realização de vistoria em


mercadorias adquiridas pelo consumidor na saída do estabelecimento comercial, por si só,
realizada de forma indistinta e desprovida de caráter acusatório, não configura conduta
abusiva. Nesse sentido:
A prática da conferência indistinta de mercadorias pelos
estabelecimentos comerciais, após a consumação da venda, é em
princípio lícito e tem como base o exercício do direito de vigilância
e proteção ao patrimônio, razão pela qual não constitui, por si só,
prática abusiva. Se a revista dos bens adquiridos é realizada em
observância aos limites da urbanidade e civilidade, constitui mero
desconforto, a que atualmente a grande maioria dos consumidores
se submete, em nome da segurança. STJ. 3ª Turma. REsp
1120113/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2011.

Mais recentemente: STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1660314/GO, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, j. 07/11/2017.

A constitucionalidade dessa lei foi questionada sob o argumento de que teria havido invasão
de competência da União. O que decidiu o STF? Essa lei é inconstitucional? NÃO. O STF
decidiu que essa lei é constitucional.

Competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local: Compete ao
município legislar sobre assuntos de interesse local, nos termos do art. 30, I, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Assim, os Municípios podem legislar sobre proteção ao consumidor, desde que fiquem
restritos ao interesse local. Nesse sentido:
Lei do Município de Campos do Jordão fixou tempo máximo de
espera para atendimento em caixas de supermercado. A
jurisprudência do STF vem reiteradamente afirmando a
competência dos municípios para legislar sobre matéria
consumerista quando sobreleva o interesse local, como ocorre no
caso dos autos, em que a necessidade de um melhor atendimento
aos consumidores nos supermercados e hipermercados é aferível
em cada localidade, a partir da observação da realidade local. STF.
2ª Turma. RE 818550 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
06/10/2017.

Compete ao município legislar sobre medidas que propiciem


segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários,
uma vez que tratam de assuntos de interesse local. STF. 2ª Turma.
ARE 747757 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 24/06/2014.

Os Municípios detêm competência para legislar determinando a


instalação de sanitários nas agências bancárias, uma vez que essa
questão é de interesse local e diz respeito às normas de proteção
das relações de consumo, posto que visa o maior conforto dos
usuários daquele serviço, não se confundindo com a atividade-fim
das instituições bancárias. STF. 1ª Turma. RE 266536 AgR, Rel. Min.
Dias Toffoli, j. 17/04/2012.
Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o
horário de funcionamento de estabelecimento comercial.

Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao


público, é da competência da União.

Proteção das relações de consumo: A lei atacada está dentro da competência legislativa
municipal, porque diz respeito à proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela
tem por objetivo evitar o constrangimento dos particulares e de lhes proporcionar maior
conforto, haja vista que impede a dupla conferência das mercadorias e evita o enfrentamento
de várias filas.

Municípios podem legislar sobre direito do consumidor, desde que em assuntos de interesse
local: Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda
que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. Ao se analisar leis
municipais que tratem sobre assuntos de interesse local, o STF tem procurado conferir uma
interpretação constitucional que seja mais favorável à autonomia legislativa dos
municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao elevá-los ao status de entes
federativos na CF/88. Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município exerce,
de forma plena, sua competência legislativa em matéria de interesse da municipalidade, como
previsto no art. 30, I, da CF/88. Em outras palavras, uma das expressões da autonomia
municipal é justamente a sua competência para legislar sobre assuntos de interesse local.
Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação legislativa do Município deve
considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de modo a preservar a essencial
autonomia desse ente político no sistema federativo pátrio.

Não houve violação ao art. 22, I, da CF/88: O STF ressaltou que a referida lei tratou sobre o
bem-estar dos consumidores e, portanto, não houve qualquer relação com a atividade-fim
das empresas, razão pela qual não se pode dizer que a lei disponha sobre direito civil ou
direito comercial. Logo, não houve violação do art. 22, I, da CF/88.

Interesse local: Não existe um critério objetivo para definir, de maneira absolutamente
segura, em que consiste interesse local e quando a legislação ultrapassa isso. Assim, deve-se
prestigiar a vereança local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.

3.15. É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência concorrente
(art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as regras previstas na lei
federal – (Info 914) – IMPORTANTE!!!

A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente


modificados (OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos
Estados-membros editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade
relacionada com os OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação
federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma verdadeira
“renúncia” ao exercício da competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e
XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu mão de sua competência suplementar
prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o
monopólio da União, sem atentar para nuances locais.
Assim, é inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das
atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/9/18 (Info 914).
OBS:
O Estado-membro tem competência para editar lei regulamentando as atividades realizadas
com organismos geneticamente modificados (OGMs) no âmbito estadual? SIM. A
regulamentação das atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs) é matéria
considerada como sendo de competência legislativa concorrente porque envolve “produção e
consumo”, “meio ambiente”, “direito do consumidor” e “defesa da saúde”, nos termos do art. 24,
V, VIII e XII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico; (...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...).
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União
limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender as suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União.

Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras palavras, não
havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele
tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais,
a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.
Importante também esclarecer que a competência da União restringe-se a estabelecer “normas
gerais”. Logo, se a União fizer uma lei geral que estabeleça muitos detalhes, esta lei também
será inconstitucional por invadir a competência dos Estados-membros.

Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº
11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos
geneticamente modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa, testes,
experiências, em regime de contenção ou ensino, bem como os
aspectos ambientais e fiscalização obedecerão estritamente à
legislação federal específica.

O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela revoga as
leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo. Ela diz apenas
que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs “obedecerão estritamente
à legislação federal específica”.

Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.

Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar sobre esse
tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do Estado do Rio Grande
do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa
concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu
mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88. O ente federado não
pode se recusar a implementar as providências impostas a ele pelo legislador constituinte.
Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se
considera o federalismo cooperativo. A lógica mostra-se
intransponível e direciona ao estabelecimento de normas gerais pela
União e à atuação dos Estados no atendimento das peculiaridades
regionais. O Estado se exime de cumprir o dever constitucional de
providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos interesses
regionais, de valores consagrados na Lei Fundamental.”

O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável que exista
um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a diversidade biológica
verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas específicas à
realidade local. O respeito às necessidades regionais é uma condição de viabilidade da
Federação. Em outras palavras, só há Federação com a autonomia dos Estados-membros
sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei remissiva, ou seja, ela falou o seguinte: a
competência para tratar sobre esse assunto é minha também, mas façam aí tudo o que a
legislação federal determinar. Para o STF, “a banalização de normas estaduais remissivas
fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da União, sem
atentar para nuances locais.”

3.16. Lei estadual que regule a forma de cobrança do ITCMD pela PGE não viola o CPC –
(Info 905)

As disposições legais sobre a forma de cobrança do Imposto sobre Transmissão “Causa


Mortis” e Doação de quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD) pela Procuradoria Geral do
Estado e de sua intervenção em processos de inventário, arrolamento e outros de interesse
da Fazenda Pública são regras de procedimento que não violam o Código de Processo Civil.
Neste caso, são normas eminentemente procedimentais, autorizadas pelo art. 24 da CF/88,
que prevê a competência concorrente da União e dos Estados. A possibilidade de a
Procuradoria-Geral do Estado intervir e ser ouvida nos inventários, arrolamentos e outros
feitos em nada atrapalha o processo.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/2018 (Info 905).

3.17. É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de
tratamento – (Info 890)

É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos


consumidores informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa
de algum procedimento, tratamento ou internação.
O Mato Grosso do Sul editou uma lei estadual prevendo que, se o plano de saúde recusar
algum procedimento, tratamento ou internação, ele deverá fornecer, por escrito, ao usuário,
um comprovante fundamentado expondo as razões da negativa.
O STF entendeu que essa norma não viola competência privativa da União, considerando
que ela trata sobre proteção ao consumidor, matéria inserida na competência concorrente
(art. 24, V, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4512/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 7/2/2018 (Info 890).
OBS:
Proteção do consumidor e acesso à informação: Essa lei estadual tratou sobre proteção do
consumidor, matéria que está dentro da competência legislativa concorrente, nos termos do
art. 24, V, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
V - produção e consumo;
(...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União
limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Assim, a lei impugnada não disciplinou assuntos de direito civil, comercial ou política
securitária. O CDC é a norma geral editada pela União na defesa do consumidor e tal diploma
reconhece como direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem
(art. 6º, III). A lei estadual está, portanto, em harmonia com o CDC, respeitando assim as
regras do art. 24 da CF/88. Além disso, essa lei atende ao comando do inciso XXXII do art. 5º
da Constituição:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;

Sem interferência nos contratos: A lei atacada cumpre a função estatal de proteção ao consumo,
não havendo interferência nos contratos firmados entre as operadoras e os usuários nem
representando equilíbrio atuarial das operadoras de planos e seguros privados de
assistência à saúde. Conforme explicou a Min. Cármen Lúcia:
“A entrega do documento informativo expondo as razões pelo qual
um determinado tratamento ou procedimento foi negado não
amplia o rol de obrigações contratuais entre a operadora e o usuário.
Pelo contrário, o que se tem é apenas uma transparência maior para
cumprimento dos termos legislados” (Min. Cármen Lúcia).

Em outras palavras, as operadoras já tinham esse dever por força do próprio CDC e a lei
estadual apenas explicitou o comando.

Sem violação à livre iniciativa: A lei estadual impugnada não limita a livre iniciativa. Ao
contrário, fomenta o desenvolvimento de um mercado mais sustentável. Além disso, conforme
preconiza o inciso V do art. 170, a livre iniciativa deverá ser exercida observando-se como um
dos seus princípios a defesa do consumidor.

3.18. Inconstitucionalidade de lei estadual que estabeleça exigências nos rótulos dos
produtos em desconformidade com a legislação federal – (Info 871)

É inconstitucional lei estadual que estabelece a obrigatoriedade de que os rótulos ou


embalagens de todos os produtos alimentícios comercializados no Estado contenham uma
série de informações sobre a sua composição, que não são exigidas pela legislação federal.
STF. Plenário. ADI 750/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/17 (Info 871).

3.19. É inconstitucional lei estadual que disponha sobre a segurança de estacionamentos e


o regime de contratação dos funcionários – (Info 871)

Lei estadual que impõe a prestação de serviço de segurança em estacionamento a toda


pessoa física ou jurídica que disponibilize local para estacionamento é inconstitucional,
quer por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, quer por
violar a livre iniciativa.
Lei estadual que impõe a utilização de empregados próprios na entrada e saída de
estacionamento, impedindo a terceirização, viola a competência privativa da União para
legislar sobre Direito do Trabalho.
STF. Plenário. ADI 451/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/8/17 (Info 871).
OBS:
Assunto correlato: Sobre esse tema, importante recordar um julgado do STF no qual ele decidiu
que lei estadual não pode tratar sobre a cobrança em estacionamento de veículos:
É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a
cobrança em estacionamento de veículos. STF. Plenário. ADI
4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/8/2016 (Info 835).

3.20. Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
– (Info 870) – IMPORTANTE!!!

O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de
multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões
considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
j. 29/6/17 (Info 870).
(PGEPE-2009-CESPE): O Município não está elencado no artigo constitucional que trata
da competência concorrente, mas pode legislar acerca do tema meio ambiente.

OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O Município
de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto, estipulando a
aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima
de padrões considerados aceitáveis.

O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a
CF/88? SIM.

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para legislar sobre
o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle
da poluição;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar
as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras palavras, não
havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele
tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais,
a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.

Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto, mesmo
assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam para atender
peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização para que os
Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está prevista no art. 30, I e II,
da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja,
naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios
possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada esta, no entanto, ao
tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.

Controle da poluição ambiental: O controle da poluição ambiental, especialmente aquele


destinado a impedir a degradação dos índices de qualidade do ar, consiste em matéria que se
insere na esfera de competência legislativa dos Municípios, observado o interesse local e desde
que as medidas de regulação normativa não transgridam nem conflitem com o âmbito de
atuação que a Constituição atribuiu à União e aos Estados-membros.

3.21. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)

Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam


fundamentadamente.
STF. 2ª Turma. ARE 748206 AgR/SC, Rel Min. Celso de Mello, j. 14/3/2017 (Info 857).
OBS: Dessa forma, o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente
com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse
regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art.
24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). Se o Município legisla sobre Direito Ambiental, fazendo
de forma fundamentada segundo seus interesses locais, não há, em princípio, violação às
regras de competência.

3.22. Estado-membro pode legislar sobre a concessão, por empresas privadas, de bolsa de
estudos para professores – (Info 856)

É constitucional lei estadual que preveja a possibilidade de empresas patrocinarem bolsas


de estudo para professores em curso superior, tendo como contrapartida a obrigação de que
esses docentes ministrem aula de alfabetização ou aperfeiçoamento para os empregados da
empresa patrocinadora.
Essa lei insere-se na competência legislativa do Estado-Membro para dispor sobre educação
e ensino, prevista no art. 24, IX, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2663/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8/3/17 (Info 856).

3.23. É inconstitucional lei estadual tratando sobre a venda de títulos de capitalização – (Info
847)

É inconstitucional lei estadual que estabeleça normas sobre a comercialização de títulos de


capitalização, proibindo a venda casada e prevendo regras para a publicidade desses
produtos.
STF. Plenário. ADI 2905/MG, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j.
16/11/16 (Info 847).
OBS: Em um julgado bem apertado, o STF decidiu que esta lei trata sobre direito comercial e
outros temas que são de competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, VI, VII e XIX,
da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...)
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
(...)
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
popular;

Afastou-se a alegação de que a lei trata sobre direito do consumidor. O Estado-membro só


poderá legislar sobre as matérias do art. 24 (dentre elas, a defesa do consumidor) se houver
situações peculiares que justifiquem a lei. É isso que se extrai dos §§ 2º e 3º do art. 24:
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.

Para a maioria dos Ministros, não há qualquer peculiaridade no mercado de títulos de


capitalização em Minas Gerais que justifique uma legislação especial por parte do Estado-
membro. O risco ao consumidor na venda desses produtos em Minas Gerais existe em
qualquer outra unidade da federação. Assim, o Estado não estava autorizado a expedir tal
norma porque não há qualquer especificidade no caso. Sob o pretexto de proteger o
consumidor do Estado, o legislador mineiro adentrou o campo do direito comercial. Além
disso, a legislação federal já estabelece as regras sobre a comercialização dos títulos de
capitalização e até permite em alguns casos a venda casada de títulos.

3.24. Viola a competência privativa da União lei estadual que exija nova certidão negativa
não prevista na Lei 8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos
e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou assinar
contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela deveria
apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo com a lei,
a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido condenada,
administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos últimos 5 anos.

Essa Lei estadual é constitucional? NÃO.

Estados, DF e Municípios podem suplementar normas gerais fixadas pela União: A


Constituição previu que compete privativamente à União fixar as normas gerais sobre
licitações e contratos:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e
fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;

Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, § 2º,
25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Assim, a ordem constitucional reconhece, em favor dos Estados-membros, autonomia para


criar direito em matéria de licitações e contratos independentemente de autorização formal da
União. Todavia, essa autonomia não é incondicionada, devendo ser exercida apenas para a
suplementação das normas gerais expedidas pela União.

Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.

Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais sobre
o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e trabalhista
(art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações relacionadas
com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do MS criou novas
condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de habilitação obrigatório
para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou na condição de intérprete
primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou, ainda, uma presunção
legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores
nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo suficiente para justificar o
impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.

3.25. Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos – (Info 835) –
IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a cobrança em estacionamento de


veículos.
STF. Plenário. ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/8/16 (Info 835).
OBS:
Qual é o motivo de a lei ser inconstitucional? Os Ministros que julgaram a ADI procedente
ficaram divididos quanto ao fundamento pelo qual a lei é inconstitucional:
 A lei é formalmente inconstitucional. Isso porque as regras sobre estacionamento de
veículos inserem-se no campo do Direito Civil e a competência para legislar sobre este
assunto é da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Nesse sentido: Ministros Gilmar
Mendes e Dias Toffoli.
 A lei é materialmente inconstitucional. Ela não trata sobre Direito Civil, mas sim sobre
Direito do Consumidor, assunto que é de competência concorrente entre União e
Estados/DF (art. 24, VIII, da CF/88). Logo, em tese, o Estado-membro poderia legislar
sobre o tema. Ocorre que a referida lei estabelece um controle de preços, o que
claramente viola o princípio constitucional da livre iniciativa (art. 170). Votaram dessa
forma: Ministros Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Rosa Weber.

O Min. Marco Aurélio defendeu que a lei padece tanto de inconstitucionalidade formal (a
competência seria privativa da União) como material (indevida intervenção da norma na
iniciativa privada).
Existem diversos Municípios que possuem leis semelhantes a esta. Caso sejam questionadas,
tais leis municipais que tratam sobre o tema também poderão ser declaradas
inconstitucionais? SIM. Tanto as leis estaduais como também as municipais que estabeleçam
regras de cobrança fracionada em estacionamentos são consideradas inconstitucionais. Assim,
não muda nada o fato de a lei ser municipal ou estadual.
Leis municipais que imponham cobrança fracionada serão também consideradas
inconstitucionais, seja porque a competência para legislar sobre o tema é da União (argumento
1), seja porque violariam a livre iniciativa (argumento 2).

3.26. Lei estadual que obriga concessionárias a instalarem bloqueadores de celular é


inconstitucional – (Info 833) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a
competência da União para legislar sobre telecomunicações.
Normas estaduais que interfiram diretamente na prestação da atividade desempenhada
pelas concessionárias de serviços de telecomunicação são formalmente inconstitucionais
considerando que, por envolverem questões relacionadas ao interesse geral ou nacional,
devem ser tratadas de maneira uniforme no País inteiro. A disciplina dos serviços públicos
que funcionam em todo o território cabe à União.
Pela teoria da prevalência do interesse, quando a matéria transcender os interesses locais e
regionais, a competência para dispor sobre o assunto é da União. A instalação de
bloqueadores de sinal nas proximidades dos presídios pode afetar diretamente a qualidade
da prestação do serviço para a população circundante, de forma que este tema deve ser
discutido e disciplinado de maneira uniforme em todo o País. Essas leis estaduais não estão
relacionadas com peculiaridades locais. Além disso, o STF não concordou com o argumento
dos Estados de que tais leis tratariam sobre direito penitenciário.
STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, ADI 5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI
4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/16 (Info 833).

3.27. A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União –


(Info 822)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União art. 21,
XI e art. 22, IV, da CF/88).
Logo, é inconstitucional lei estadual que determinou às empresas telefônicas que criem e
mantenham um cadastro de assinantes interessados em receber ofertas de produtos e
serviços, que deve ser disponibilizado para as empresas de telemarketing.
STF. Plenário. ADI 3959/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2016 (Info 822).
OBS:
A competência para legislar sobre telecomunicações é privativa da União, estando prevista nos
art. 21, XI e 22, IV, da CF/88:

Art. 21. Compete à União:


XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que
disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

A Lei de que trata este inciso é a Lei 9472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais.
3.28. Inconstitucionalidade de lei estadual que trate sobre revalidação de títulos obtidos em
instituições de ensino dos países do MERCOSUL – (Info 817)

É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Público estadual exigir a revalidação de
títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do Mercado Comum
do Sul – MERCOSUL.
A lei estadual que trata sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino
superior dos países membros do MERCOSUL afronta o pacto federativo (art. 60, §4º, I, da
CF/88) na medida em que usurpa a competência da União para dispor sobre diretrizes e
bases da educação nacional (art. 22, XXIV).
STF. Plenário. ADI 5341 MC- Referendo/AC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/3/2016
(Info 817).

3.29. Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de
gravidez nas contratações (Info 807)

É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes


públicos que exijam a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de
laqueadura para admissão de mulheres ao trabalho.
STF. Plenário. ADI 3165/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

3.30. A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras
leis municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta (Info 805)

Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que dita
a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando
suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e
decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 29/10/2015 (Info 805).

3.31. Súmula vinculante 46 – (Info 780)

Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento


das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa
da União.
STF. Plenário. Aprovada em 09/04/2015 (Info 780).

3.32. A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União –


(Info 777)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que verse sobre este tema, como é o caso de lei estadual
que dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e
funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.
STF. Plenário. ADI 2615/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/3/2015
(Info 777).

3.33. Súmula vinculante 39 – (Info 777)

Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil
e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.
3.34. Súmula vinculante 38 – (Info 777)

É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento


comercial.

3.35. Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula – (Info 775)

A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as
normas gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação
federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União para
legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

3.36. É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias para as concessionárias
de energia elétrica – (Info 774)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede


elétrica que estejam causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos
serão removidos, sem qualquer ônus para os interessados. Isso porque essa lei trata sobre
energia elétrica, matéria de competência privativa da União (art. 22, IV, da CF/88), além de
interferir nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as
concessionárias que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-
membro.
STF. Plenário. ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

3.37. É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros


com agrotóxicos – (Info 774)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que proíba a comercialização, no referido Estado-


membro, de produtos importados que não tenham sido submetidos à análise de resíduos
químicos de agrotóxicos. Isso porque essa lei trata sobre comércio exterior, matéria cuja
competência é privativa da União, nos termos do art. 22, VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3813/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

3.38. Lei estadual não pode proibir que concessionárias de serviços de telecomunicações
cobrem assinatura mensal do consumidor – (Info 763) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que proíba a cobrança de assinatura mensal pelas
concessionárias de serviços de telecomunicações.
STF. Plenário. ADI 4715 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/13, ADI 4907 MC/RS, rel.
Min. Ricardo Lewandowski, j. 7/2/13, ADI 4739 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/13
(Info 694).
STF. Plenário. ADI 4369/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).

3.39. Competência do TCE para julgar as contas dos Presidentes das Câmaras Municipais –
(Info 757)
É inconstitucional norma da CE que preveja que compete às Câmaras Municipais os
julgamentos das contas de seus Presidentes.
A CF/88 somente autoriza que as Câmaras Municipais julguem as contas dos Prefeitos. No
caso das contas dos Presidentes das Câmaras de Vereadores, estas devem ser julgadas pelo
TCE.
STF. Plenário. ADI 1964/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2014 (Info 757).

3.40. Lei estadual não pode impor prazos para as empresas de planos de saúde – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê prazos máximos para que as empresas de
planos de saúde autorizem exames médicos aos usuários. Isso porque trata-se de lei que
dispõe sobre direito civil, direito comercial e política de seguros, matérias que são de
competência da União (art. 22, I e VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4701/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

3.41. Competência para julgar MS contra ato de Presidente de TJ que cumpre resolução do
CNJ – (Info 753)

Compete ao STF julgar mandado de segurança contra ato do Presidente de Tribunal de


Justiça que, na condição de mero executor, apenas dá cumprimento à resolução do CNJ.
STF. 2ª Turma. Rcl 4731/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

3.42. CE pode prever afastamento temporário de servidor integrante da executiva de


sindicato – (Info 750)

CE pode prever que o servidor público eleito para um cargo de dirigente sindical terá direito
de ficar afastado do serviço, recebendo sua remuneração, enquanto durar seu mandato.
STF. Plenário. ADI 510/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/6/2014 (Info 750).

3.43. União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação buscando assegurar
gratificação a policial civil do DF – (Info 748)

A ação proposta com o objetivo de assegurar o pagamento de gratificação a policiais civis


do Distrito Federal deverá ser proposta contra a União e o DF em litisconsórcio passivo,
sendo, portanto, julgada pela Justiça Federal. Isso porque compete à União organizar e
manter (custear) a polícia civil, a polícia militar e os bombeiros do DF, possuindo, assim,
interesse na demanda (art. 21, XIV, da CF/88).
STF. 1ª Turma. RE 275438/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, 27/5/2014 (Info 748)

3.44. Estado-membro tem competência para legislar sobre procedimentos do IP desde que
não viole as normas gerais da União – (Info 741) - Atenção! MP e Delegado!

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito policial


entre a polícia e o Ministério Público.
É CONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a possibilidade de o MP requisitar
informações quando o inquérito policial não for encerrado em 30 dias, tratando-se de
indiciado solto.
STF. Plenário. ADI 2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014
(Info 741).

3.45. CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) se ausente
do país qualquer que seja o prazo – (Info 741)
É inconstitucional norma da Constituição estadual que exija autorização da Assembleia
Legislativa para que o Governador e o Vice possam se ausentar do país por menos de 15
dias.
A CE somente poderia prever a autorização se a ausência fosse superior a esse prazo.
STF. Plenário. ADI 775/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
STF. Plenário. ADI 2453/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/4/2014 (Info 741)

3.46. CE não pode atribuir iniciativa da lei de organização judiciária ao Governador do


Estado nem prever a criação de Conselho Estadual de Justiça – (Info 741)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que preveja que a iniciativa da Lei de


organização judiciária é do Governador do Estado.
É inconstitucional norma da Constituição estadual que institua a criação de órgão de
controle administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros
Poderes ou entidades.
STF. Plenário. ADI 197/SE, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/4/2014 (Info 741).

3.47. Lei estadual pode regular procedimento para homologação judicial de acordo de
alimentos com a participação da Defensoria Pública – (Info 741)

É constitucional lei estadual que regula procedimento para homologação judicial de acordo
sobre a prestação de alimentos firmada com a intervenção da Defensoria Pública. Isso
porque tal legislação está inserida na competência concorrente (art. 24, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2922/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/4/2014 (Info 741).

3.48. CE não pode vincular determinadas receitas para o pagamento de apenas uma espécie
de precatório – (Info 740)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que preveja que os recursos recebidos


pelo Estado, da União, a título de indenização ou pagamento de débito, serão destinados ao
pagamento de precatórios decorrentes de condenações judiciais da mesma origem da
indenização ou do pagamento.
Tal previsão gera uma fila preferencial de precatórios, em detrimento da ordem cronológica,
o que ofende o art. 100 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 584/PR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/3/2014 (Info 740).

3.49. CE não pode impor prazos para que o chefe do Poder Executivo apresente proposições
legislativas ou pratique atos administrativos – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe prazos para que o chefe do
Poder Executivo apresente proposições legislativas ou pratique atos administrativos.
STF. Plenário. ADI 179/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.50. CE não pode vincular remuneração dos servidores públicos estaduais ao salário
mínimo profissional (piso salarial profissional) – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que preveja que os servidores
públicos estaduais não poderão receber remuneração inferior ao piso salarial profissional
(salário mínimo profissional) estabelecido em lei federal. Tal regra viola o art. 37, XIII, da
CF/88 e a autonomia dos estados para fixar os vencimentos de seus servidores (arts. 2º e 25).
STF. Plenário. ADI 290/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
STF. Plenário. ADI 668/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.51. É inconstitucional norma da CE que prevê que ex-Deputados que forem servidores
públicos poderão ficar em disponibilidade remunerada após o exercício do mandato – (Info
736)

É inconstitucional a garantia da disponibilidade remunerada ao ex-detentor de mandato


eletivo, com a opção pelo retorno ou não às atividades, se servidor público, após o
encerramento da atividade parlamentar.
Tal previsão ofende o art. 41, §§ 2º e 3º da CF/88, além de violar as regras sobre afastamento
do titular de cargo público para o exercício de mandato eletivo (art. 38, CF/88).
STF. Plenário. ADI 119/RO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.52. CE não pode impor obrigações para servidores municipais nem para empresas
públicas e sociedades de economia mista – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe obrigações relacionadas com


servidores municipais. Há, no caso, violação à autonomia municipal.
É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe obrigações de natureza civil,
comercial ou trabalhista às empresas públicas e às sociedades de economia mista. Isso
porque tais entidades estão sujeitas ao regime das empresas privadas (art. 173, § 1º da
CF/88).
STF. Plenário. ADI 144/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.53. CE não pode tratar sobre o regime trabalhista dos servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que disponha sobre o regime trabalhista


dos servidores das empresas públicas e sociedades de economia mista. Isso porque tais
entidades estão sujeitas ao regime das empresas privadas (art. 173, § 1º da CF/88). Logo, a
CE estaria legislando sobre direito do trabalho.
STF. Plenário. ADI 318/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.54. CE não pode prever, para o servidor público em disponibilidade, regras diferentes do
modelo instituído pela CF/88 – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o servidor
público em disponibilidade ficará recebendo remuneração INTEGRAL. Isso porque o § 3º
do art. 41 da CF/88 estabelece que o servidor em disponibilidade terá remuneração
PROPORCIONAL ao tempo de serviço.
É também incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o
servidor público em disponibilidade deverá ser aproveitado em outro cargo NO PRAZO
MÁXIMO de 1 ano. Isso porque a CF/88, ao tratar sobre o tema, não estipulou tal interregno.
STF. Plenário. ADI 239/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736)

3.55. GOVERNADOR DO ESTADO NÃO PODE REDUZIR PROPOSTA


ORÇAMENTÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA ELABORADA DE ACORDO COM A LDO
– (Info 733)

Governador do Estado não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria Pública


elaborada de acordo com a LDO.
STF. Plenário. ADPF 307 Referendo-MC/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 19/12/13 (Info 733)

3.56. A inconstitucionalidade de norma do Estado ou do Distrito Federal que disponha


sobre proibição de revista íntima em empregados de estabelecimentos situados no respectivo
território – (Info 585) – IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)
É inconstitucional norma do Estado ou do Distrito Federal que disponha sobre proibição
de revista íntima em empregados de estabelecimentos situados no respectivo território.
A matéria concernente a relações de trabalho compreende competência privativa da União,
consoante dispõe os arts. 21, XXIV, e 22, I, da CF.
STF. Plenário. ADI 2947, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 05/05/2010 (Info 585)

3.57. Lei estadual dispondo sobre matéria já disciplinada em lei federal – IMPORTANTE!!!
– (TJCE-2018)

O Estado-membro, ao dispor sobre a matéria de que já trata a lei federal, e no mesmo


sentido dessa, não avança indevidamente sobre competência legislativa da União. Não foi
além da simples reprodução dos preceitos da lei federal, preceitos que veiculam norma
geral.
STF. Decisão Monocrática. ADI 3158, Rel. Min. Eros Grau, Cezar Peluso, j. 14/04/2005 .
(TJCE-2018-CESPE): Com relação à disciplina constitucional acerca do pacto federativo e
da repartição de competências entre as entidades federadas, assinale a opção correta, com
base na jurisprudência do STF: Lei estadual que reproduza o conteúdo de lei federal sobre
licitações e contratos não ofenderá a competência privativa da União de legislar sobre o
assunto. BL: ADI 3158, STF.

4. PROCESSO LEGISLATIVO
4.1. Inconstitucionalidade de lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha
atribuições ao DETRAN – (Info 934)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha ao DETRAN a


obrigação de publicar, no diário oficial e na internet, a relação de cada um dos veículos
sinistrados, seus respectivos dados, com destinação para os que sofreram desmonte e/ou
comercialização das peças e partes.
Essa lei trata sobre “atribuições” de órgãos/entidades da administração pública, matéria que
é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88).
A correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é
a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos
públicos é do chefe do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 4704/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/3/19 (Info 934).
OBS:
Violação à iniciativa do chefe do Poder Executivo: Lei de iniciativa parlamentar que imponha
obrigações pecuniárias aos órgãos e entidades ligadas ao Executivo é inconstitucional por
usurpar a iniciativa do chefe do Poder Executivo para a elaboração de normas que
estabeleçam as atribuições dos órgãos pertencentes à estrutura administrativa da unidade
federativa. É a interpretação dada pelo STF ao art. 61, § 1º, II e ao art. 84, VI, “a”, da CF/88:
Art. 61 (...)
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)
II - disponham sobre: (...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado
o disposto no art. 84, VI;

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...)


VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

4.2. É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura
de emenda à Constituição Estadual – (Info 921) – IMPORTANTE!!!
A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível com a Constituição
Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49,
VI, da CF/88.
Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas
ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento para
que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência
constante da Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Quem pode propor emendas à Constituição Federal? O art. 60 da CF/88 estabelece que a
Constituição Federal poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades
da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
relativa de seus membros.

O art. 61, § 2º, da CF/88 admite a apresentação de projeto de lei por meio de iniciativa popular.
Isso vale também para emendas à Constituição Federal? É possível a apresentação de
proposta de emenda à Constituição Federal por meio de iniciativa popular? NÃO. Isso porque
o art. 60, da CF/88 trouxe o rol de legitimados e nele não previu a iniciativa popular. Além
disso, o art. 61, § 2º é expresso ao mencionar “projeto de lei”:
Art. 61 (...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à
Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo,
um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles.

Obs: José Afonso da Silva, talvez um dos maiores constitucionalistas do Brasil, defende que a
Constituição Federal poderia ser emendada por proposta de iniciativa popular. Isso com base
em uma interpretação sistemática e com fulcro na soberania popular (SILVA, José Afonso da.
Curso de Direito Constitucional positivo. 33ª ed. São Paulo. Malheiros, 2010, p. 64). Trata-se,
contudo, de posição francamente minoritária.

CE/AP e iniciativa popular para emendas constitucionais: A Constituição do Amapá previu


expressamente a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular:
Art. 103. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos Deputados Estaduais;
II - do Governador do Estado;
III - de mais da metade das Câmaras Municipais do Estado,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros;
IV - de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada, no mínimo,
por um por cento dos eleitores do Estado;

Art. 110. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à


Assembleia Legislativa de projeto de lei, subscrito por, no mínimo,
um por cento do eleitorado estadual, distribuído pelo menos por
cinco Municípios, com um mínimo de dois por cento dos eleitores
de cada um deles, e de proposta de emenda à Constituição na forma
do inciso IV do art. 103.

Essa previsão foi questionada no STF. O que decidiu o Supremo? É possível que Constituição
do Estado preveja a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular? SIM. É o que foi decidido no julgado veiculado no
Info 921 do STF.
Vejamos os seguintes artigos da CF/88, citados no julgado:
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e


pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos
da lei, mediante: (...)
II - referendo;
III - iniciativa popular.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;

Na democracia representativa, além dos mecanismos tradicionais de seu exercício, por meio
dos representantes eleitos pelo povo, também há instrumentos de participação direta, como é
o caso do projeto de iniciativa popular. A Constituição do Amapá democratizou ainda mais o
processo de reforma das regras constitucionais estaduais. O fato de não haver regra expressa
semelhante na CF/88 não faz com que a norma da CE/AP seja inconstitucional por violação
à simetria. Isso porque se, por um lado, não existe previsão expressa, por outro, não há uma
proibição na CF/88, devendo, então, ser considerada válida a norma estadual, tendo em vista
que ela aumenta os mecanismos de participação direta do povo. Além disso, a CF/88 prevê
a possibilidade de a população ser chamada a participar por meio de plebiscitos e referendos,
de forma que não há qualquer problema em o Poder Legislativo estadual acolher a
propositura de um tema trazido ao parlamento pelos cidadãos.

A Min. Rosa Weber destacou a importância da iniciativa popular de emenda para a


implantação da democracia participativa no Brasil. O Min. Luiz Fux frisou que o princípio
democrático conspira em prol da possibilidade de a iniciativa popular promover emendas
constitucionais. O Min. Ricardo Lewandowski, por sua vez, afirmou que, em matéria de
direitos fundamentais, os Estados podem ampliá-los com relação àquilo que é previsto na
CF/88. A soberania e a cidadania são valores máximos abrigados na CF, estando relacionados
com o Estado Democrático de Direito.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


 (Juiz Substituto - TJRS - VUNESP - 2018) A iniciativa popular no processo de reforma
da Constituição Federal de 1988 não é prevista expressamente pelo texto
constitucional, muito embora seja admitida por alguns autores, com fundamento em
uma interpretação sistemática da Constituição Federal (CERTO).

4.3. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que os órgãos
do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado – (Info 919)

É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que exige
autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa) para que sejam
firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do Sistema Nacional do
Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de proteção do
meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições para outros órgãos
componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).
OBS: Comentários no arquivo de Direito Ambiental.

4.4. Lei municipal que proíbe a realização, em imóveis do Município, de eventos


patrocinados por bebidas alcoólicas e cigarros – (Info 844) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)
(PGETO-2018)
Não viola a Constituição Federal lei municipal, de iniciativa parlamentar, que veda a
realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por empresas produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros, com a
utilização da respectiva propaganda.
STF. 2ª Turma. RE 305470/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, j.
18/10/16 (Info 844).
(PGETO-2018-CESPE): Determinado Município editou lei para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimentos comerciais de venda de bebidas alcoólicas de modo
incompatível com o horário de funcionamento estabelecido por lei do respectivo Estado.
De acordo com a Constituição Federal e considerando a jurisprudência do STF, a referida
lei municipal ateve-se aos limites constitucionais de sua competência legislativa, sendo
inconstitucional a lei estadual, que poderá ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade perante o STF, mas não poderá ser objeto de reclamação
constitucional, ainda que a lei estadual tenha contrariado súmula vinculante editada na
matéria. BL: Info 844, STF.

OBS: Vejamos o teor da Súmula Vinculante 38: “É competente o Município para fixar o
horário de funcionamento de estabelecimento comercial”. Nesse sentido, vejamos o
seguinte julgado do STF: "O Supremo Tribunal Federal já decidiu positivamente acerca da
competência do Município, e não do Estado, para legislar a respeito de horário de funcionamento de
estabelecimento comercial, inclusive para aqueles que comercializam bebidas alcoólicas, por ser
matéria de interesse local, nos termos do art. 30, I, da Constituição Federal." (RE 852233 AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, j. 26.8.16). Sabemos que a lei é inconstitucional. Logo,
caberá ADI. Por fim, no caso em tela, não cabe reclamação constitucional contra leis, a teor
do que dispõe o art. 103-A, §3º da CF: “Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso.” A reclamação é, portanto, contra ato administrativo ou decisão judicial.

(TJPR-2017-CESPE): Considerando a jurisprudência do STF sobre a organização e


estrutura dos poderes na CF e o modelo federativo, assinale a opção correta: Não violará
a competência privativa da União para legislar sobre propaganda a aprovação, por câmara
municipal, de lei que proíba a realização de eventos patrocinados por distribuidoras de
bebidas alcoólicas ou cigarros em imóveis do município. BL: Info 844, STF.

OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi aprovado, na Câmara Municipal, projeto de lei
iniciado por um Vereador e que proíbe a realização de eventos patrocinados por produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros em
imóveis de propriedade do Município de São Paulo. Algum tempo depois esta lei foi
questionada judicialmente pelo Prefeito junto ao Tribunal de Justiça sob o argumento de que
ela seria inconstitucional por duas razões:
1ª) Vício de iniciativa. A lei teria invadido a esfera de atribuição do Poder Executivo
considerando que a iniciativa para propor projetos de lei que tratem sobre a Administração
Pública municipal é do Prefeito, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88 (aplicável ao âmbito
municipal em face do princípio da simetria):
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis
que: (...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
pública, observado o disposto no art. 84, VI;

2ª) Invasão de competência federal. A referida lei municipal teria tratado sobre propaganda
comercial, assunto que é de esfera da competência da União, conforme determina o art. 22,
XXIX, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXIX - propaganda comercial.
A referida lei municipal apresenta os vícios acima apontados? A lei é inconstitucional? NÃO.
É o que foi decidido no Info 844 do STF.

Inexistência de vício de iniciativa: A Lei municipal atacada não invadiu a esfera de atribuição
própria do Poder Executivo. O Prefeito tem atribuição constitucional para exercer a
administração do patrimônio municipal, mas isso não impede que o Poder Legislativo
estabeleça, mediante lei, limitações à realização, em imóveis do Município, de eventos
patrocinados por empresas ligadas ao comércio de cigarros e de bebidas alcoólicas. Além disso,
a realização de eventos não se enquadra nas atividades de mera administração dos bens
públicos, de forma que não se mostra ilegítima sua regulamentação, mediante lei, pela
Câmara Municipal. Vale ressaltar, por fim, que as hipóteses de iniciativa legislativa reservadas
ao Prefeito devem ser interpretadas de forma restritiva (e não ampliativa), sob pena de afronta
ao princípio da harmonia e independência entre os Poderes.

Não houve ofensa ao art. 22, XXIX, da CF/88: A Lei municipal em questão não limita a
veiculação de propagandas comerciais por distribuidoras de cigarro e de bebidas alcoólicas,
mas apenas proíbe a realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por
empresas envolvidas no comércio dessas substâncias. Dessa forma, a lei local impõe restrição
que recai sobre a Administração Pública municipal e não sobre as empresas
comercializadoras de cigarros e bebidas alcoólicas. Logo, esta lei encontra-se no âmbito de
competência do Poder Legislativo local.

4.5. Disciplina sobre a extinção de empresa estatal deverá ser tratada em lei de iniciativa
do Poder Executivo – (Info 830)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que:


 determina o destino que o Poder Executivo deverá dar aos bens de empresa estatal
que está sendo extinta;
 disciplina as consequências jurídicas das relações mantidas pelo Poder Executivo
com particulares;
 cria conselho de acompanhamento dentro da estrutura do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 2295/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/6/16 (Info 830).
OBS:
Essa lei deveria ser de iniciativa do chefe do Poder Executivo, sob pena de violação do art. 61,
§ 1º, II, “e”, da CF/88:
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis
que:
(...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
pública, observado o disposto no art. 84, VI;

4.6. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Info 822)

É inconstitucional norma resultante de emenda parlamentar a projeto de lei de iniciativa


exclusiva do Chefe do Poder Executivo, na hipótese em que a emenda apresentada acarrete
aumento de despesa (art. 61, § 1º, II, “a” e art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2810/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2016 (Info 822).
OBS:
REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE
LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa
privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre
uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser
alterado pelos parlamentares? SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto
de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois
requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).
Assim, nos projetos de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor
emendas, mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.

Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I — nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República,
ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
Obs.: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da
LDO; nesses dois casos, é possível que a emenda parlamentar
acarrete aumento de despesas.

Existem também outros recentes no mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2015 (Info 773).

Caso concreto julgado pelo STF: O Governador do Estado enviou projeto de lei tratando sobre
os servidores de determinada entidade estadual. Durante a tramitação do projeto, um
Deputado apresentou emenda criando uma gratificação para os servidores dessa entidade. O
projeto foi aprovado e sancionado, convertendo-se em lei. O STF julgou essa lei
inconstitucional porque houve aumento de despesa.

4.7. Emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Tribunais de Contas –


(Info 818)

A iniciativa de projetos de lei que tratem sobre a organização e o funcionamento dos


Tribunais de Contas é reservada privativamente ao próprio Tribunal (arts. 73 e 96, II, “b”,
da CF/88).
É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa do Tribunal de
Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
STF. Plenário. ADI 5442 MC/DF e ADI 5453 MC/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
17/3/2016 (Info 818).
OBS:
Os projetos de lei que tratem sobre a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas
podem ser propostos pelo Poder Executivo ou por um parlamentar? NÃO. A iniciativa de
projetos de lei que tratem sobre estes temas é reservada ao próprio Tribunal de Contas,
conforme decorre da interpretação sistemática dos arts. 73 e 96, inciso II, alínea “b”, da CF/88:

Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem
sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o
território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no
art. 96.
(...)
Art. 96. Compete privativamente:
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;

"A prerrogativa para instaurar o processo legislativo, conferida ao Tribunal de Contas, tem por
finalidade preservar sua autonomia funcional, administrativa e financeira. Os projetos
apresentados ao Legislativo consubstanciam o instrumento formal do exercício do poder de
iniciativa, consistente na escolha dos interesses a serem juridicamente tutelados." (Min. Marco
Aurélio).

Obs: apesar de o art. 73 falar em TCU, essa regra também se aplica aos Tribunais de Contas
dos Estados, por força do art. 75 da CF/88:

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à


organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de
Contas dos Municípios.

Assim, os projetos de lei que versam sobre os Tribunais de Contas dos Estados somente podem
ser propostos pelo próprio Tribunal.

Vimos acima que os parlamentares não poderão iniciar projetos de lei que tratem sobre a
organização dos Tribunais de Contas. Mas e se o Tribunal de Contas apresentar um projeto de
lei, enquanto ele estiver tramitando na Casa legislativa, os parlamentares poderão apresentar
emendas a este projeto? SIM, é possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de
iniciativa do Tribunal de Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.

ATENÇÃO: Emendas parlamentares que não respeitem a pertinência temática servem como um
meio de usurpar, ainda que de forma indireta, a iniciativa dos Tribunais de Contas para
deflagrar os seus projetos de lei, atingindo, assim, a própria autonomia constitucionalmente
assegurada à instituição.

4.8. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo e pertinência temática –


(Info 793)

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de
despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3926/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2015 (Info 793).

4.9. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Infos 773 e 790)

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de
despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4433/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/6/2015 (Info 790).
STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2014 (Info 773).

4.10. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A


CF/88: CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei complementar –
(Info 790)
Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado
tenha status de lei complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei
complementar) para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher
determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa
mais qualificada por meio de lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/6/2015 (Info 790).

4.11. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A


CF/88: CE pode prever que as proibições e impedimentos dos Deputados Estaduais são
aplicáveis também aos Governadores de Estado – (Info 787)

É constitucional norma da Constituição estadual que preveja que as proibições e os


impedimentos estabelecidos para os Deputados Estaduais deverão ser aplicados também
para o Governador e o Vice-Governador do Estado.
STF. Plenário. ADI 253/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

4.12. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e
militares – (Info 773 e 766) – (TJPR-2019)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que disponha sobre o regime


jurídico dos servidores públicos e dos miliares estaduais (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c” e “f”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o
regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por força
do princípio da simetria.
O fato de o Governador do Estado sancionar esse projeto de lei não faz com que o vício de
iniciativa seja sanado (corrigido). A Súmula 5 do STF há muitos anos foi cancelada.
STF. Plenário. ADI 3920/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/2/2015 (Info 773).
STF. Plenário. ADI 3627/AP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2014. (Info 766).

4.13. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos – (Info
776)

É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa
de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico
dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da
simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).

4.14. Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art.


61, § 1º da CF – (Info 774)

É INCONSTITUCIONAL emenda constitucional que insira na Constituição estadual


dispositivo determinando a revisão automática da remuneração de servidores públicos
estaduais. Isso porque tal matéria é prevista no art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 como sendo de
iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774).

4.15. Iniciativa de lei que disponha sobre criação de cargos públicos e estruturação de órgãos
da Administração direta e autárquica – (Info 771)
É formalmente inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trata sobre a
criação de cargos e a estruturação de órgãos da Administração direta e autárquica. A
iniciativa para essas matérias é reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “a”,
“c” e “e”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.16. Inconstitucionalidade de lei municipal, de iniciativa parlamentar, que isenta


determinada classe do pagamento de tarifas municipais – (Info 771)

É inconstitucional lei municipal, de iniciativa parlamentar, que autoriza que os oficiais de


justiça do Estado estacionem seus veículos de trabalho nas chamadas “zonas azuis” sem
pagamento das tarifas.
A lei em questão, de iniciativa parlamentar, interfere em questões da Administração
Pública municipal e acarreta redução de receita legalmente estimada para os cofres
públicos, o que viola o princípio da harmonia e independência dos Poderes.
STF. Plenário. RE 239458/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.17. Lei que proíba o nepotismo no Poder Executivo pode ser proposta por parlamentar –
(Info 771)

As leis que proíbam o nepotismo na Administração Pública não são de iniciativa exclusiva
do Chefe do Poder Executivo, podendo, portanto, ser propostas pelos parlamentares.
STF. Plenário. RE 570392/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.18. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: CE não


pode prever isonomia de vencimentos entre membros das Polícias Civil e Militar – (Info 768)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que preveja a isonomia de


vencimentos entre os membros das Polícias Civil e Militar.
Tal regra viola o art. 61, § 1º, II, “a”, da CF/88, considerando que o estabelecimento de
política remuneratória dos servidores do Poder Executivo estadual é de competência
exclusiva do Governador do Estado.
Além disso, ofende também o art. 37, XIII, da CF/88, que proíbe equiparações entre
servidores de carreiras distintas.
STF. Plenário. ADI 3777/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.19. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: É


inconstitucional EC iniciada por parlamentares tratando sobre as matérias do art. 61, § 1º da
CF/88 – (Info 768)

É INCONSTITUCIONAL emenda parlamentar proposta por parlamentares inserindo a


Polícia Científica no rol dos órgãos de segurança pública do Estado. Isso porque esse
assunto somente pode ser disciplinado por meio de iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo.
STF. Plenário. ADI 2616/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.20. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: Norma


originária da LODF pode tratar sobre a direção superior das empresas públicas e sociedades
de economia mista – (Info 768)

É CONSTITUCIONAL norma originária da Lei Orgânica do DF que preveja que “a direção


superior das empresas públicas, autarquias, fundações e sociedades de economia mista terá
representantes dos servidores”.
A Lei Orgânica do DF é uma manifestação do poder constitucional derivado decorrente, ou
seja, ela possui o mesmo status jurídico ostentado pelas Constituições estaduais.
STF. Plenário. ADI 1167/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.21. Constitucionalidade de lei, de iniciativa parlamentar, que autoriza o Estado-membro a


reconhecer sua responsabilidade civil – (Info 768)

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que autoriza que o Estado-membro


indenize as pessoas que foram vítimas de violências praticadas pelos agentes públicos.
Segundo o STF, a iniciativa para encaminhar projeto de lei tratando sobre essa matéria não
é privativa do chefe do Poder Executivo, não havendo, portanto, violação a qualquer das
alíneas do inciso II do § 1º do art. 61 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2255/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.22. Constitucionalidade de lei estadual que obriga o Poder Executivo a divulgar dados de
contratos e obras públicas – (Info 766)

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que obriga o Poder Executivo do


referido Estado-membro a divulgar, na imprensa oficial e na internet, a relação completa de
obras atinentes a rodovias, portos e aeroportos.
STF. Plenário. ADI 2444/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.23. Constitucionalidade da lei de iniciativa parlamentar que inclui Município na região


metropolitana – (Info 766)

É constitucional lei complementar, de iniciativa parlamentar, que inclui município


limítrofe na região metropolitana. A iniciativa para esse projeto de lei não é privativa do
chefe do Poder Executivo e essa inclusão não acarreta aumento de despesa, não violando
assim os arts. 61, § 1º e 63, I, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2803/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.24. O Tribunal de Contas possui iniciativa privativa para as leis que tratam sobre sua
organização e funcionamento – (Info 766)

É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre os cargos, a organização e o


funcionamento do Tribunal de Contas. É a própria Corte de Contas quem tem competência
reservada para deflagrar o processo legislativo que trate sobre essa matéria (arts. 73, 75 e 96
da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3223/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.25. É inconstitucional lei estadual que obriga agentes públicos de outros poderes a
apresentarem declaração de bens à ALE – (Info 765)

Determinada Lei estadual, de iniciativa parlamentar, obrigava que alguns agentes públicos
estaduais (Magistrados, membros do MP, Deputados, Procuradores do Estado, Defensores
Públicos, Delegados etc.) apresentassem, anualmente, a declaração de todos os seus bens à
ALE.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional já que essa competência de fiscalização
conferida pela lei à Assembleia Legislativa não tem amparo na CF/88, que não previu
semelhante atribuição ao Congresso Nacional no âmbito federal. Não poderia a Assembleia
Legislativa outorgar-se a si mesma competência que não encontra previsão na Carta Federal.
Os Ministros consideraram que a Lei somente seria válida quanto aos servidores do próprio
Poder Legislativo que administrem ou sejam responsáveis por bens e valores, sendo
constitucional que se exija que estes apresentem sua declaração de bens à ALE por se tratar
de uma forma de controle administrativo interno.
STF. Plenário. ADI 4203/RJ e ADI 4232/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 30/10/2014
(Info 765).
4.26. Iniciativa privativa de projetos de lei do Poder Judiciário e emendas parlamentares –
(Info 765 e 756)

É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Poderes
Executivo e Judiciário, desde que cumpram dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.

No caso concreto, o Tribunal de Justiça encaminhou um projeto de lei aumentando os


vencimentos dos servidores do Poder Judiciário e um Deputado Estadual apresentou
emenda à proposta prevendo anistia aos servidores que fizeram greve e compensação dos
dias paralisados. O STF entendeu que não havia pertinência temática entre a emenda e o
projeto apresentado.
STF. Plenário. ADI 1333/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 29/10/2014 (Info 765).
STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

4.27. Inconstitucionalidade formal de provimento da Corregedoria do TJ que disponha


sobre a permanência de magistrados na comarca – (Info 765)

É inconstitucional provimento editado pela Corregedoria do Tribunal de Justiça dispondo


sobre o expediente dos magistrados estaduais e exigindo autorização do Presidente da Corte
para que o juiz possa se ausentar da comarca. Esse ato normativo padece de
inconstitucionalidade formal já que tal matéria é reservada à lei complementar de iniciativa
do STF (art. 93, VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2880/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/10/2014 (Info 765).

4.28. Em regra, é inconstitucional a lei que vincula a receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa – (Info 765)

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro previa que um percentual mínimo da receita


prevista no orçamento anual deveria ser destinado à educação especial, à UERJ e à FAPERJ.
O STF julgou essa previsão parcialmente inconstitucional considerando que ela restringe a
competência constitucional do Poder Executivo de elaborar a proposta de lei orçamentária,
além de violar o art. 167, inciso IV, da CF/88.
A Corte, contudo, considerou constitucional a determinação da CE de que 2% da receita
tributária do exercício deve ser destinado à Fundação de Amparo à Pesquisa (Faperj). Isso
porque essa regra está em consonância com o art. 218, § 5º da CF/88, que faculta aos estados
e ao Distrito Federal vincular parte da receita orçamentária a entidades públicas de fomento
ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
STF. Plenário. ADI 4102/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 30/10/2014 (Info 765).

4.29. É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que conceda anistia a servidores


públicos – (Info 763)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que conceda anistia a servidores


públicos punidos em virtude de participação em movimentos reivindicatórios. Existe um
vício formal. Isso porque a CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos (art. 61, § 1º,
II, “c”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1440/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 15/10/2014 (Info 763).

4.30. Iniciativa privativa do chefe do Executivo para projetos de lei que versem sobre órgãos
públicos – (Info 760)
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determinava que todos os
órgãos que prestassem serviços de atendimento de emergência no Estado deveriam estar
unificados em uma única central de atendimento telefônico, que teria o número 190. Essa
lei trata sobre “estruturação e atribuições” de órgãos da administração pública, matéria que
é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88).
A correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é
a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos
públicos continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a intenção de
retirar essa iniciativa privativa. Ao contrário, tais matérias tanto são de interesse precípuo
do Executivo que podem ser tratadas por meio de Decreto.
STF. Plenário. ADI 2443/RS, Rel. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014 (Info 760).

4.31. Lei estadual não pode dispor sobre inspeção técnica veicular – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que trate sobre inspeção técnica de veículos. Isso
porque essa Lei versa sobre TRÂNSITO, matéria de competência privativa da União (art.
22, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1972/RS, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/9/2014 (Info 759).

4.32. CE não pode dispor sobre as atribuições para a defesa dos direitos das populações
indígenas – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que disponha as atribuições


para a defesa dos direitos e interesses das populações indígenas. Isso porque somente a
União pode legislar sobre a matéria, conforme determina o art. 22, XIV, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ADI 1499/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

4.33. É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre o orçamento e imponha
obrigações aos órgãos públicos – (Info 758)

É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que preveja que o Poder Executivo deverá
destinar às Secretarias de Cultura e de Segurança Pública os recursos necessários para a
realização de um evento anual de música.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional por vício de iniciativa. Isso porque a
lei impõe obrigações aos órgãos públicos (serviços públicos), além de interferir no
orçamento do Poder Executivo, matérias que somente poderiam ser disciplinadas em lei de
iniciativa do Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “b” e art. 165, III, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4180/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2014 (Info 758).

4.34. Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do


Executivo – (Info 756)

O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa


privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre
uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser
alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).

Diante disso, o STF considerou inconstitucional a emenda apresentada por parlamentar a


uma PEC de iniciativa do Governador que instituía o teto do funcionalismo estadual. A
emenda do Deputado previa exceções ao teto de forma que acabava criando despesas, o que
viola o art. 63, I, da CF/88 aplicável ao processo legislativo estadual com base no princípio
da simetria.
STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

4.35. A iniciativa de leis que tratam sobre regime jurídico de servidores é do chefe do Poder
Executivo – (Info 755)

O STF julgou inconstitucionais as seguintes leis estaduais que tratavam sobre servidores
públicos, mas foram iniciadas por Deputados Estaduais:
 Lei 7.385/2002 (ES): dispunha sobre a reestruturação da carreira de fotógrafo
criminal pertencente ao quadro de serviços efetivos da polícia civil daquele Estado-
membro (ADI 2834/ES);
 Lei 5.729/95 (AL): fixava regras sobre a transferência para a reserva, reforma e
elegibilidade de policiais militares (ADI 1381/AL);
 LC 11.370/99 (RS): vedava a supressão administrativa de direitos e vantagens que
foram legalmente incorporados ao patrimônio funcional dos servidores, prevendo
que somente poderiam ser suprimidas pela via judicial (ADI 2300/RS).

O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa
de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra também é
aplicada no âmbito estadual por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. ADI 2834/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

4.36. Lei que imponha deveres aos servidores públicos deve ser de iniciativa do chefe do
Executivo – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha obrigação


ao Procurador do Estado de ajuizar ação regressiva contra o servidor causador do dano. Isso
porque compete ao Governador do Estado a iniciativa de lei que trate sobre direitos e
deveres dos servidores públicos. Aplica-se ao processo legislativo estadual, por força do
princípio da simetria, a regra prevista no art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3564/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

4.37. É de iniciativa privativa do Governador do Estado a proposição legislativa que trate


sobre o Conselho Estadual de Educação – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL emenda à Constituição estadual, de iniciativa parlamentar, que


disponha sobre o Conselho Estadual de Educação. Isso porque compete ao Governador do
Estado a iniciativa de lei ou emenda constitucional que trate sobre a organização dos órgãos
públicos, dentre os quais se inclui o referido Conselho. Aplica-se ao processo legislativo
estadual, por força do princípio da simetria, a regra prevista no art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2654/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

4.38. Número de Deputados Federais deve ser fixado por meio de Lei Complementar, não
podendo ser feito pelo TSE – (Info 751)

A CF/88 previu que o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população (§ 1º do art. 45).
Em 1993, foi editada a LC 78/93, que disciplina a fixação do número de Deputados.
O art. 1º da LC 78/93 previu que, em cada ano anterior às eleições, o IBGE deverá fornecer
ao TSE a atualização estatística demográfica das unidades da Federação. Com base nesses
dados, o TSE faz o cálculo da quantidade de Deputados Federais por Estado/DF e
encaminha para os TRE’s e para os partidos políticos o número de vagas a serem disputadas
(parágrafo único do art. 1º da LC).
Em 2013, com base no art. 1º da LC 78/93, o TSE editou a Resolução 23.389 alterando o
número de vagas de Deputado Federal de cada Estado/DF e, consequentemente, o número
de vagas de Deputados Estaduais a serem disputadas nas eleições de 2014.
O Congresso Nacional, argumentando que o TSE exorbitou do seu poder regulamentar,
publicou o Decreto Legislativo 424/2013 sustando os efeitos da Resolução TSE 23.389/2013.
O STF entendeu que:
 O parágrafo único do art. 1º da LC 78/93 e a Resolução TSE 23.389/2013 são
INCONSTITUCIONAIS por violarem o § 1º do art. 45 da CF/88 e a independência
do Poder Legislativo.
 O Decreto Legislativo 424/2013, editado pelo Congresso Nacional, é
INCONSTITUCIONAL por violar o art. 49, V, da CF/88 e a independência do Poder
Judiciário.
 Nas eleições de outubro de 2014 deverão ser adotados os mesmos critérios aplicados
nas eleições de 2010, ou seja, o número de vagas de Deputados Federais não foi
alterado.
STF. Plenário. ADI 4947, 5020, 5028, 5130, 4963, 4965 e ADC 33/DF, Rel. p. Acórdão Min. Rosa
Weber, julgados em 18/6/2014 (Info 751).

5. MEDIDAS PROVISÓRIAS
5.1. É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente? – (Info 896)

É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser
editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade
civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de
todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao
meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de
unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao
ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória,
ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.

Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art.
167, § 3º;
e) que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular
ou qualquer outro ativo financeiro;
f) matéria reservada a lei complementar;
g) matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
5.2. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo protrair
indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas – (Info 894)

Determinada medida provisória foi editada criando a possibilidade de que empresas


instalassem Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros (CLIA), desde que autorizados
pela Receita Federal.
Diversas empresas fizeram o requerimento pedindo a instalação desses Centros. Ocorre
que, antes que a Receita examinasse todos os pedidos, a MP foi rejeitada pelo Senado.
O Congresso Nacional não editou decreto legislativo disciplinando as situações ocorridas
durante o período em que a MP vigorou (§ 3º do art. 62 da CF/88).
Diante disso, as empresas defendiam a tese de que os requerimentos formulados deveriam
ser apreciados pela Receita Federal com base no § 11 do art. 62:
“§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição
ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes
de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.”
O STF não concordou e afirmou que os pedidos formulados pelos interessados durante a
vigência da MP 320/2006 não foram sequer examinados. Logo, não se pode dizer que havia
ato jurídico perfeito.
O simples fato de ter sido feito o requerimento não significa “relação jurídica constituída”,
de sorte que não se pode invocar o § 11 para justificar a aplicação da medida provisória
rejeitada.
O mero protocolo do pedido não constitui uma “relação jurídica constituída” de que trata o
§ 11.
STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, j. 14/3/18 (Info 894).
OBS:
MP 320/2006: Em 24 de agosto de 2006, foi editada a MP 320/2006, que tratou sobre a
movimentação e armazenagem de mercadorias importadas ou despachadas para exportação.
A MP estabeleceu o seguinte:
 Em regra, a movimentação e a armazenagem de mercadorias importadas ou
despachadas para exportação serão feitas sob controle aduaneiro, em locais e recintos
alfandegados (art. 1º). Dito de outro modo, essas atividades deverão acontecer em um
local sob a supervisão da Receita Federal.
 É possível, no entanto, que isso seja também feito em um estabelecimento empresarial
administrado por uma empresa, desde que seja licenciado pela Receita Federal. Este
local é chamado de Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (CLIA).

Nos arts. 6º a 12, a MP estabeleceu os requisitos para que a empresa interessada pudesse
requerer licença da Receita Federal para explorar uma CLIA. A grande vantagem da CLIA é
que, para a sua exploração, não era necessária licitação. Bastava preencher os requisitos
previstos na lei. Durante a vigência da MP, 43 empresas fizeram requerimento à Receita
Federal para instalar CLIA. O Fisco examinou e acolheu 5 desses pedidos.

Ocorre que, em 13 de dezembro de 2016, antes que a Receita tivesse terminado de examinar
todos os requerimentos, o Senado rejeitou a MP 320/2006. Desse modo, de todos os
requerimentos feitos na vigência da MP 320/2006, apenas 5 deles foram apreciados e os 38
restantes não tiveram resposta antes de a MP ser rejeitada.

O que acontece se uma MP não é convertida em lei? Se uma medida provisória não for
convertida em lei, ela perde eficácia desde a sua edição. Ocorrendo essa situação, o Congresso
Nacional deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as relações jurídicas
que foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º). Em outras palavras,
este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no período em que ela
vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no
prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
E se o Congresso Nacional não editar este decreto legislativo? Se não for editado o decreto
legislativo até 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, neste caso, a
fim de evitar lacuna e insegurança jurídica, o art. 62, § 11 da CF/88 determina que a falecida
MP continuará regendo as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante a vigência da MP. Veja:
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até
sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida
provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
(Incluído pela EC 32/2001)

Voltando ao caso concreto: O Congresso Nacional rejeitou a MP 320/2006, mas não editou o
decreto legislativo a que se refere o § 3º disciplinando as relações jurídicas que decorreram da
MP. Diante disso, o que fez a Receita Federal: declarou que os 38 requerimentos que haviam
sido feitos estão prejudicados, ou seja, não podem ser sequer examinados. As empresas que
fizeram esses 38 requerimentos (vamos chama-las de “grupo B”) não se conformaram e
começaram a ingressar com ações judiciais para que a Receita Federal apreciasse os pedidos
conforme as regras da MP 320/2006.
O fundamento para essas ações foi o § 11 do art. 62 da CF/88. Elas disseram o seguinte: como
o Congresso Nacional não editou o decreto legislativo, as situações ocorridas durante a
vigência da MP (requerimentos feitos) continuam regidos pela referida MP mesmo ela tendo
sido rejeitada. Por outro lado, as outras empresas que conseguiram a autorização da Receita
antes da rejeição da MP 320/2006 (vamos chamá-las de “grupo A”) tinham interesse que os
pedidos não fossem apreciados porque assim teriam menos concorrência.

Diante dessa situação, uma associação de empresas que trabalham com movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias, em atenção aos interesses do “grupo
A”, ajuizou ADPF no Supremo para evitar que os pedidos de registro para exploração de
CLIA feitos sob a vigência da MP 320/2006, fossem analisados pela Receita Federal. A
entidade afirmou que as ações judiciais propostas pelo “grupo B” estavam tentando dar uma
interpretação ilegítima aos §§ 3º e 11 do art. 62 da CF/88.

Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM.


É cabível ADPF para questionar interpretação judicial de norma
constitucional.
Em outras palavras, cabe ADPF para dizer que a interpretação que
está sendo dada pelos juízes e Tribunais a respeito de determinado
dispositivo constitucional está incorreta e, com isso, viola preceito
fundamental.
STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, julgado em
14/3/2018 (Info 894).

Vale ressaltar que, em outra oportunidade, o STF já havia decidido que:


Cabe ADPF para discutir a adequada interpretação do § 11 do art. 62
da CF/88, ou seja, se ela regularia apenas as relações no período de
sua vigência ou também situações nas relações prospectivas.
STF. ADPF 84 AgR/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em
31/5/2006.

Segunda pergunta: os pedidos feitos durante a vigência da MP 320/2006 devem ser examinados pela
Receita? NÃO. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo
protrair indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas.

O mencionado § 11 tem por objetivo garantir segurança jurídica àqueles que praticaram atos
embasados em medida provisória rejeitada ou não apreciada. Isso, contudo, não pode fazer
com que haja uma sobreposição da vontade do Presidente da República sobre a vontade do
Poder Legislativo. Se a interpretação do § 11 conduzir à ideia de que todos os efeitos da MP
rejeitada ou não apreciada irão prevalecer, o que acontecerá, na prática, é que a vontade do
Chefe do Executivo, manifestada na MP, irá prevalecer ao final mesmo tendo havido rejeição
do ato normativo.
No caso concreto, os pedidos formulados pelos interessados durante a vigência da MP
320/2006 não foram sequer examinados. Logo, não se pode dizer que havia ato jurídico
perfeito. Dessa forma, o simples fato de ter sido feito o requerimento não significa “relação
jurídica constituída”, de sorte que não se pode invocar o § 11 para justificar a aplicação da
medida provisória rejeitada.

Interpretação contrária postergaria indevidamente a eficácia de medida provisória já rejeitada


pelo Congresso Nacional, e ofenderia não apenas o § 11 do art. 62 da Constituição, mas também
o princípio da separação dos Poderes e o princípio da segurança jurídica.

5.3. O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança
projetos de lei que versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP – (Info 870) –
IMPORTANTE!!!

O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até quarenta
e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente,
em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a
votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao interpretar esse
§ 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas) apenas
as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser tratados
por medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não
ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado
poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos
de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a
MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida em
nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 29/6/2017 (Info 870).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.

Como funciona: O Presidente da República, sozinho, edita a MP e, desde o momento em que


ela é publicada no Diário Oficial, já passa a produzir efeitos como se fosse lei. Esta MP é, então,
enviada ao Congresso Nacional. Ali chegando, ela é submetida inicialmente à uma comissão
mista de Deputados e Senadores, que irão examiná-la e sobre ela emitir um parecer (art. 62, §
9º). Depois, a MP será votada primeiro pelo plenário da Câmara dos Deputados (art. 62, § 8º)
e, se for aprovada, seguirá para votação no plenário do Senado Federal. Caso seja aprovada no
plenário das duas Casas, esta MP é convertida em lei.

Qual é o prazo de eficácia da medida provisória? 60 dias, podendo ser prorrogada, apenas
uma vez, por mais 60 dias. Isso está previsto no art. 62, §§ 3º e 7º da CF/88:
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no
prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
(...)
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de
medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua
publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do
Congresso Nacional.
Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art.
167, § 3º;
II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular
ou qualquer outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Trancamento de pauta: O desejo do legislador constituinte é o de que a medida provisória seja


votada pelo Congresso Nacional, evitando que ela perca a eficácia por ausência de apreciação.
Assim, para “forçar” a análise da MP, o art. 62, § 6º da CF/88 determinou que “se a medida
provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará
em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional,
ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da
Casa em que estiver tramitando”.
Em outras palavras, se já tiverem se passado 45 dias e até então a MP não tiver sido votada,
haverá o chamado “trancamento de pauta”, ou seja, não se poderá analisar outras matérias a
fim de que se dê prioridade para a MP que está pendente.

Sobrestamento atinge apenas projetos de lei ordinária que possam ser tratados por MP: Vale
ressaltar, no entanto, que, apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o
STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre
temas que possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo havendo
medida provisória trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo de 45 dias
(art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado poderão votar normalmente propostas de
emenda constitucional, projetos de lei complementar, projetos de resolução, projetos de
decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do
art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei
ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.

Compare:
Redação literal do art. 62, § 6º CF/88 Como deve ser interpretado o dispositivo
Se a medida provisória não for apreciada em Se a medida provisória não for apreciada em
até quarenta e cinco dias contados de sua até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, publicação, entrará em regime de urgência,
subseqüentemente, em cada uma das Casas subseqüentemente, em cada uma das Casas
do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, do Congresso Nacional, ficando sobrestadas,
até que se ultime a votação, todas as demais até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que deliberações legislativas ordinárias, que
estiver tramitando. possam ser tratadas por medida provisória.

Obs: Se, em uma prova objetiva for cobrada a redação literal do art. 62, § 6º da CF/88, sem
qualquer menção ao entendimento do STF, esta alternativa deve ser assinalada como correta.
Por outro lado, a resposta será outra se o enunciado falar algo como “de acordo com o STF” ou
“de acordo com a jurisprudência”.

Curiosidade: Vale ressaltar que essa interpretação restritiva e não literal do art. 62. § 6º da
CF/88 foi criada por Michel Temer. Em 2009, Temer era Presidente da Câmara dos Deputados
e passou a adotar esse entendimento naquela Casa afirmando que só ficariam sobrestadas as
demais deliberações legislativas que envolvessem projetos de lei ordinária que pudessem ser
tratadas por medida provisória. Alguns Deputados impetraram, então, mandado de segurança
no STF contra essa decisão do então Presidente da Câmara. O STF agora julgou o MS
concordando com a interpretação realizada.

5.4. Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo – (Info 857) –


IMPORTANTE!!!

O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas
provisórias em caso de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias
consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na
análise dos requisitos da MP.
No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve prevalecer,
em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a norma
inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).

5.5. Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e MP que trate sobre
situação tipicamente financeira e tributária – (Info 851)

Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares


poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com
o assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
A inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na
medida provisória que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando
legislativo", sendo uma prática vedada.
Vale ressaltar, no entanto, que a primeira vez que o STF declarou inconstitucional o
contrabando legislativo foi no julgamento da ADI 5127/DF, em 15/10/2015 (Info 803).
Como antes desse julgamento, a prática do contrabando legislativo era algo muito comum,
o STF decidiu, por razões de segurança jurídica, modular os efeitos da decisão e afirmou o
seguinte: todas as leis que foram aprovadas até 15/10/2015 serão mantidas como válidas
(hígidas) mesmo que tenham sido fruto de contrabando legislativo. Os dispositivos legais
aprovados após 15/10/2015 e que tenham sido resultado de contrabando legislativo deverão
ser julgados inconstitucionais.
Seguindo este raciocínio, o STF reconheceu que os arts. 113 a 126 da Lei nº 12.249/2010 foram
fruto de contrabando legislativo (porque inseridos durante a tramitação de uma MP que
tratava sobre assunto diverso), no entanto, declarou que eles deverão ser mantidos como
válidos porque aprovados antes de 15/10/2015.
STF. Plenário. ADI 5012/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 16/3/17 (Info 857).

5.6. Súmula vinculante 54 – (Info 818)

Súmula vinculante 54: A medida provisória não apreciada pelo congresso nacional podia,
até a Emenda Constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta
dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edição.
STF. Plenário. Aprovada em 17/03/2016, DJe 28/03/2016.
Conversão da súmula 651 do STF: A conclusão exposta nesta SV 54 já era prevista em uma
súmula “comum” do STF, a súmula 651 do STF (de 24/09/2003). O Plenário do STF tem
convertido em súmulas vinculantes algumas súmulas “comuns” com o objetivo de agilizar os
processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da
República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.

Como funciona: O Presidente da República, sozinho, edita a MP e, desde o momento em que


ela é publicada no Diário Oficial, já passa a produzir efeitos como se fosse lei. Esta MP é, então,
enviada ao Congresso Nacional. Ali chegando, ela é submetida inicialmente à uma comissão
mista de Deputados e Senadores, que irão examiná-la e sobre ela emitir um parecer (art. 62, §
9º). Depois, a MP será votada primeiro pelo plenário da Câmara dos Deputados (art. 62, § 8º)
e, se for aprovada, seguirá para votação no plenário do Senado Federal. Caso seja aprovada no
plenário das duas Casas, esta MP é convertida em lei.

Qual é o prazo de eficácia da medida provisória?


 Atualmente (depois da EC 32/2001): 60 dias.
 Antes da EC 32/2001 (texto originário da CF/88): 30 dias.

Vale a pena mencionar que, antes da EC 32/2001, o STF afirmava que a medida provisória
poderia ser reeditada infinitas vezes até que fosse votada. Atualmente, só é admitida uma
reedição. Compare:

5.7. Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo – (Info 803) –


IMPORTANTE!!!

Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares


poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o
assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação. A inserção, por
meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na medida provisória
que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando legislativo", sendo uma
prática vedada.
O STF declarou que o contrabando legislativo é proibido pela CF/88, como vimos acima. No
entanto, a Corte afirmou que esse entendimento só deverá valer para as próximas medidas
provisórias que forem convertidas em lei. Assim, ficou decidido que o STF irá comunicar
ao Poder Legislativo esse seu novo posicionamento e as emendas que forem aprovadas a
partir de então e que não tiverem relação com o assunto da MP serão declaradas
inconstitucionais.
É como se o STF tivesse dado uma chance ao Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, um
alerta: o que já foi aprovado não será declarado inconstitucional, porém não faça mais isso.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 15/10/2015 (Info 803).

6. PEC DA BENGALA
6.1. ADI proposta contra a EC 88/2015 – (Info 786) – IMPORTANTE!!!

No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como “PEC
da Bengala” em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos
Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que
foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão
se aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições do art.
52 da Constituição Federal”. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70
anos somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública
(“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando
completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome
precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.

Essa exigência é compatível com a CF/88?


NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação da expressão
“nas condições do artigo 52 da Constituição Federal”, contida no final do art. 100 do ADCT.
Essa exigência de nova sabatina acaba “por vulnerar as condições materiais necessárias ao
exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de
Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo 60, parágrafo 4º, inciso III, da Constituição
Federal”. Em simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação
dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do
TCU possuem o direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso,
não precisam passar por uma nova sabatina e aprovação do Senado Federal.

O STF entendeu que seria possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos
75 anos para juízes e Desembargadores mesmo sem a edição de lei complementar?
NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não poderia ser estendido a outros
agentes públicos até que fosse editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art.
40, § 1º, inciso II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

7. AMICUS CURIAE
7.1. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.


Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível.
STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
j. 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).
7.2. Havendo três amici curiae para fazer sustentação oral no STF, o prazo deverá ser
considerado em dobro, dividido entre eles – (Info 863)

Nos processos que tramitam no STF, o amicus curiae pode fazer sustentação oral.
Em regra, o amicus curiae dispõe de 15 minutos para a sustentação oral no STF.
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
Dessa forma, se são três amici curiae para fazer sustentação oral, o prazo deverá ser
considerado em dobro, ou seja, 30 minutos, devendo ser dividido pelo número de
sustentações orais. Logo, cada um deles terá 10 minutos para manifestação na tribuna.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 4/5/2017 (Info 863).
OBS:
Conceito e finalidade: Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua
representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o objetivo
de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos,
fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais elementos para
decidir de forma legítima.

Nomenclatura: Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou
“amigo do tribunal”. Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.

Origem: Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês,
enquanto outros identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura
assemelhada no direito romano (Marcelo Novelino).

Natureza jurídica: A maioria da doutrina defende que o amicus curiae seria uma forma de
intervenção anômala de terceiros. Para o Min. Luiz Fux, no entanto, o amigo da Corte não é
parte nem terceiro, mas apenas agente colaborador.

Previsão legal: O CPC 2015 passou a disciplinar expressamente a figura do amicus curiae, nos
seguintes termos:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social
da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica,
órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada,
no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir
a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente
de resolução de demandas repetitivas.

Quem pode ser amicus curiae? Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada,
com representatividade adequada.

Poderes do amicus curiae: Havia uma intensa discussão a respeito de quais seriam os poderes
do amicus curiae. O novo CPC, a fim de dirimir essa polêmica, afirma que caberá ao juiz ou ao
relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae
(art. 138, § 2º do CP 2015).

Nos processos que tramitam no STF o amicus curiae pode fazer sustentação oral? SIM.

Qual é o prazo de que dispõe o amicus curiae para a sustentação oral no STF? Em regra, 15
minutos (art. 132 do RISTF).
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus curiae)
terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.

7.3. Cabimento de amicus curiae em reclamação – (Info 857)

É cabível a intervenção de amicus curiae em reclamação.


STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).
OBS:
Em regra, admite-se a intervenção do amicus curiae em qualquer tipo de processo, desde que:
a) a causa tenha relevância; e
b) a pessoa tenha capacidade de oferecer contribuição ao processo.

A intervenção do amicus curiae pode ocorrer não apenas em processos que tramitem em
Tribunais, mas também em feitos que estejam em 1ª instância.

Dessa forma, é cabível a participação de amicus curiae em processo de reclamação.

7.4. Impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em processo


criminal de seu filiado – (Info 834)

Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta
prática do crime de peculato.
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae.
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se
como amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação processual
penal não admite, considerados os estritos termos do CPP.
STF. 1ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
j. 9/8/2016 (Info 834).

7.5. Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae – (Info 772)

O amicus pode recorrer contra a decisão proferida?


NÃO. Em regra, o amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem
mesmo opor embargos de declaração.
Exceção: o amicus curiae pode recorrer, interpondo agravo regimental, contra a decisão do
Relator que inadmitir sua participação no processo.
Obs.: a decisão (“despacho”) que admite a participação do amicus curiae no processo é
irrecorrível.
STF. Plenário. ADI 5022 AgR/RO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 18/12/14 (Info 772).

7.6. Não cabimento de amicus curiae em mandado de segurança – (Info 755) – (TJPR-2017)

Não é cabível a intervenção de amicus curiae em mandado de segurança.


STF. 1ª Turma. MS 29192/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/8/2014 (Info 755).

7.7. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção – (Info 747)

O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja
incluído na pauta de julgamentos.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).
OBS:
Em princípio, a manifestação dos amici curiae devem ocorrer antes
da inclusão do processo em pauta para julgamento.
No entanto, o STF admite algumas exceções se ficar demonstrado
que: a) existe grande relevância no caso; b) ou que a manifestação
do requerente poderá trazer notória contribuição para o julgamento
da causa.
Em tais situações é possível admitir o ingresso do amicus curiae
mesmo após a inclusão do processo em pauta. STF. Decisão
monocrática. RE 647827, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/10/2016.

Mesmo sendo uma decisão monocrática, vale a pena conhecer esta posição.

8. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
8.1. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma
que concede prazo em dobro à Fazenda Pública – (Info 929) – IMPORTANTE!!!

Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo,
mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização
normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que
concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de
controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso
extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC,
Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 06/02/2019 (Info 929).
OBS:
Prerrogativa de prazo em dobro: A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer.
Isso está previsto no art. 183 do CPC/15:
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas
as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação
pessoal.

A Fazenda Pública possui prazo em dobro nos processos objetivos de controle de


constitucionalidade (ex: dentro de um prazo de ADI, ADC, ADPF)? NÃO. Não há, nos
processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que
concede prazo em dobro à Fazenda Pública. O STF entende que a previsão do prazo em dobro
trazida atualmente pelo art. 183 do CPC/2015 tem incidência unicamente nos processos
subjetivos, ou seja, que discutem situações concretas e individuais, não se aplicando nos
processos de controle concentrado de constitucionalidade. O processo de fiscalização abstrata
de constitucionalidade configura típico processo de caráter objetivo, destinado a viabilizar o
julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese.

Alguns dos argumentos invocados pelos Ministros:


• Min. Alexandre de Moraes: salientou que o tratamento diferenciado (prazo em dobro) está
relacionado com a defesa dos interesses subjetivos da Fazenda Pública e, portanto, não se
aplica ao processo objetivo. Assim, a natureza objetiva do processo afasta a prerrogativa da
Fazenda Pública.
• Min. Edson Fachin: enfatizou que o tratamento isonômico na matéria (todos terem prazo
simples nos processos objetivos), além de ser consentâneo com a orientação jurisprudencial
adotada pelo STF há muito tempo, decorre do princípio republicano.
• Min. Luiz Fux: assinalou que a Fazenda Pública, no caso do recurso extraordinário, é
representante da unidade federativa onde há a declaração de inconstitucionalidade da lei por
ela editada; logo, tem contato direto com a questão, e não se justifica o prazo em dobro.
• Min. Gilmar Mendes: afirmou que o próprio CPC, no § 2º do art. 188, faz menção à
inaplicabilidade desses prazos aos procedimentos especiais:
Art. 188 (...)
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer,
de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

• Min. Celso de Mello: defendeu que o processo de fiscalização normativa abstrata possui,
normalmente, uma autonomia em relação aos institutos peculiares aos processos de índole
meramente subjetiva. Em outras palavras, existem várias regras aplicáveis aos processos
subjetivos que não incidem em caso de processos objetivos. Assim, o direito processual
constitucional* é autônomo, regido por princípios próprios, em que são afastados os
interesses meramente subjetivos.

* Direito Processual Constitucional é o conjunto de preceitos destinados a


regular o exercício da jurisdição constitucional, ou seja, a aplicação jurisdicional
das normas da Constituição (MARQUES, Frederico. Manual de Direito
Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1974). Assim, por exemplo, as regras
processuais que regem a ADI, ADC, ADPF fazem parte do direito processual
constitucional.

8.2. OBJETO DA ADI: Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual
julgada primeiro – (Info 926) – IMPORTANTE!!!

Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual julgada primeiro.


Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante o tribunal
de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira – estadual – somente
prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da Constituição do
Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o parâmetro do controle de
constitucionalidade tenha correspondência na Constituição Federal, subsiste a jurisdição
do STF para o controle abstrato de constitucionalidade.

Viola a igualdade a exigência de que o cargo público seja ocupado por indivíduo com curso
de administração pública mantido por instituição pública credenciada no respectivo Estado
É inconstitucional lei estadual que, ao criar o cargo de administrador público, exige que ele
seja ocupado por profissional graduado em Curso de Administração Pública mantido por
Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no respectivo Estado.
Essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no acesso a
cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da CF/88, que proíbe a
criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: O Estado do Amazonas editou a Lei 2.778/02, que criou, no
âmbito da Administração Pública estadual, o cargo de “administrador público”. Até aí, Ok. O
problema foi que a lei estadual previu como requisito para esse cargo “Graduação em Curso
de Administração Pública mantida por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no
Estado do Amazonas”. Veja o texto da Lei:
Art. 1.º Fica instituída, no Quadro de Pessoal do Poder Executivo, a
carreira de Administrador Público, com os cargos de provimento
efetivo e vencimentos fixados no Anexo Único desta Lei. (...)
Art. 3.º O provimento dos cargos na classe inicial da carreira dar-se-
á por aprovação em concurso público de provas e títulos, e
Graduação em Curso de Administração Pública mantido por
Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do
Amazonas.
§ 1.º A classificação final dos candidatos será feita pela média
ponderada da nota global do concurso, as provas e títulos com peso
1 e coeficiente final de rendimento em Curso de Administração
Pública, mantido por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas, com peso 2. (...)

Duas ações diretas de inconstitucionalidade: Foram propostas duas ações diretas de


inconstitucionalidade contra essa previsão:
• ADI ajuizada pelo PGJ do Amazonas, no Tribunal de Justiça, alegando que a lei violaria a
Constituição Estadual.
• ADI ajuizada pelo PGR, no STF, argumentando que a previsão ofenderia a CF/88.

Julgamento da ADI estadual: A 1ª ação julgada foi a ADI estadual. O TJ/AM julgou a ADI
procedente e declarou esta previsão inconstitucional por violar o princípio da igualdade
previsto no art. 3º da CE do Amazonas e reproduzido no art. 5º, caput, da CF. Vale ressaltar
que, como o acórdão do TJ/AM analisou um dispositivo que é reproduzido também na
CF/88, contra esta decisão caberia recurso extraordinário para o STF. Ocorre que, como não
foi manejado nenhum recurso, houve o trânsito em julgado.

Julgamento da ADI no STF: Chegou o dia de se julgar a ADI proposta no STF. Surgiu uma
dúvida: com a decisão do TJ/AM declarando a inconstitucionalidade da lei, houve a perda do
objeto da ADI proposta no STF? Como a Lei 2.778/02 já foi declarada inconstitucional, pode-
se dizer que ficou prejudicado o conhecimento da ADI no STF? NÃO. A ADI no STF não ficou
prejudicada. Vamos entender o motivo.

Coexistência de duas ADIs:


Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma
ajuizada perante o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o
julgamento da primeira – estadual – somente prejudica o da segunda
– do STF – se preenchidas duas condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação
e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com
preceito da Constituição do Estado sem correspondência na
Constituição Federal. Caso o parâmetro do controle de
constitucionalidade tenha correspondência na Constituição Federal,
subsiste a jurisdição do STF para o controle abstrato de
constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 13/12/2018(Info 927).

No caso concreto, foi preenchido o requisito 1, mas não se verificou a condição 2.

O fundamento para o TJ/AM decidir que a lei é inconstitucional foi o princípio da igualdade.
Este princípio da igualdade está previsto na Constituição do Estado e possui correspondência
na Constituição Federal. Em outras palavras, essa previsão pode ser encontrada tanto na
Constituição Estadual como na Federal.

Se a decisão do TJ prejudicasse o conhecimento da ADI no STF, significaria dizer que o STF


ficou vinculado à interpretação que o TJ deu para o princípio da igualdade previsto na CF/88.
Ocorre que a última palavra sobre interpretação da CF/88 pertence ao STF. Logo, seria
inadmissível negar ao STF a possibilidade de examinar o tema.

Na verdade, o que o TJ/AM deveria ter feito era suspender a ADI lá proposta a fim de
aguardar o pronunciamento do STF. Nesse sentido:
(...) A ocorrência de coexistência de jurisdições constitucionais
estadual e nacional configura a hipótese de suspensão prejudicial
do processo de controle normativo abstrato instaurado perante o
Tribunal de Justiça local. (...) STF. Plenário. ADPF 190, Rel. Min.
Edson Fachin, j. 29/9/16.

(...) Coexistência de jurisdições constitucionais estaduais e federal.


Propositura simultânea de ADI contra lei estadual perante o
Supremo Tribunal Federal e o Tribunal de Justiça. Suspensão do
processo no âmbito da justiça estadual, até a deliberação definitiva
desta Corte. (...) STF. Plenário. Pet 2701 AgR, Rel. Min. Marco
Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 08/10/2003.

Como isso não ocorreu, não pode o STF ficar limitado ao que decidiu a Corte local. Caso
contrário, seria possível que um tribunal de justiça, por não suspender o trâmite de
representação de inconstitucionalidade, dessa interpretação à norma de repetição obrigatória
que valeria apenas para o respectivo estado-membro. Isso porque o STF poderia conferir
interpretação diversa à norma de repetição obrigatória para os demais entes da Federação.
Com esse entendimento, o STF rejeitou a alegação de prejudicialidade da ADI e julgou o
mérito da ação lá proposta.

E quanto ao mérito, o que decidiu o STF? Esta previsão da Lei estadual é realmente
inconstitucional, como decidiu o TJ/AM? SIM. O STF julgou procedente a ADI e também
considerou inconstitucional a expressão “Graduação em Curso de Administração Pública
mantido por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas”.
Realmente, essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no
acesso a cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da Constituição
Federal, que proíbe a criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.

8.3. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não viola a SV 10 a decisão de Turma do


TRT que determina nomeação dos aprovados no concurso em razão de preterição e diz que não
se aplica, ao caso, o art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 – (Info 926)

Sociedade de economia mista realizou concurso público para advogado da empresa.


Mesmo havendo aprovados no certame, que ainda estava dentro do prazo de vigência, a
empresa decidiu contratar um escritório de advocacia para realizar os serviços jurídicos.
Diante disso, uma das Turmas do TRT reconheceu que houve preterição dos aprovados e
determinou a nomeação.
Ao assim decidir, a Turma do TRT disse que não se aplicava, ao caso, o art. 25, § 1º, da Lei
nº 8.987/95.
Essa decisão da Turma do TRT (órgão fracionário do Tribunal) não viola a SV 10. Isso
porque o enfoque do acórdão do TRT não era a terceirização dos serviços, mas sim a
preterição arbitrária praticada pela Administração Pública.
STF. 1ª Turma. Rcl 29307 AgR/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa
Weber, j. 4/12/18 (Info 926).
OBS:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de
atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço
concedido, bem como a implementação de projetos associados.

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário


(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.

8.4. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do


amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.


Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível.
STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
j. 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).
OBS:
Argumentos:
 O art. 138 do CPC é explícito no sentido de conferir ao juiz competência discricionária
para admitir ou não a participação, no processo, de pessoa natural ou jurídica, órgão
ou entidade especializada, e de não admitir recurso contra essa decisão.
 O art. 7º da Lei nº 9.868/99, de igual modo, é no mesmo sentido.
 O amicus curiae não é parte, mas agente colaborador. Portanto, sua intervenção é
concedida como privilégio, e não como uma questão de direito. O privilégio acaba
quando a sugestão é feita.
 Assim, o amigo da Corte, como mero agente colaborador, não possui direito subjetivo
de ser admitido pelo Tribunal.
 Haveria inúmeros prejuízos ao andamento dos trabalhos do STF se fosse admitida a
possibilidade de recurso, sobretudo em processos em que há um grande número de
requerimentos de participação como amicus curiae.

8.5. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: É nula decisão que deixa de aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97 sem observar a cláusula de reserva de plenário - (Info 919)

É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97,
sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, da CF/88), observado o art. 949 do
CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18 (repercussão
geral) (Info 919).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A “Oi” é uma empresa concessionária de serviços de
telecomunicações. A “Oi” contratou outra empresa (Contax) para fazer o atendimento dos
consumidores que ligassem para o serviço de atendimento ao cliente da concessionária. Em
outras palavras, a “Oi” contratou uma empresa de call center para atender seus clientes. A “Oi”
invocou, como fundamento legal para a contratação o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 (Lei das
Telecomunicações):
Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária poderá,
observadas as condições e limites estabelecidos pela Agência:
(...)
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a
implementação de projetos associados.

Ocorre que uma ex-funcionária da empresa de call center ajuizou reclamação trabalhista contra
a Contax e contra a “Oi”, alegando que, embora tenha sido formalmente contratada pela
empresa fornecedora de mão-de-obra, na realidade prestou serviços apenas no interesse e sob
a fiscalização da empresa de telefonia. Logo, pediu o reconhecimento de vínculo trabalhista
com a “Oi”. Após a 1ª e 2ª instâncias, uma das Turmas do TST julgou o caso e entendeu que o
contrato de trabalho celebrado entre a funcionária e a Contax foi ilícito e que houve vínculo
empregatício direto com a concessionária. Isso porque houve terceirização de atividade-fim, o
que não é admitido pela jurisprudência do TST (Enunciado 331).

Recurso extraordinário: A empresa interpôs recurso contra esta decisão ao STF alegando que
a turma do TST (órgão fracionário daquele Tribunal), ao afastar a aplicação do art. 94, II, da Lei
9.472/97 (Lei das Telecomunicações) sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a
Súmula Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.

Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.

Foi correta a decisão da Justiça do Trabalho? NÃO. A decisão do órgão fracionário do TST
desrespeitou a cláusula de reserva do plenário (art. 97, CF/88). Ao entender ilícita a
terceirização da atividade-fim, com suporte na Súmula 331, o TST, na prática, afastou, em
parte, a vigência e a eficácia do inciso II do art. 94 da Lei 9.472/97, sem deliberar
expressamente sobre a sua inconstitucionalidade. Assim, o TST fez justamente aquilo que a
SV 10 busca coibir. Diante disso, o STF fixou a seguinte tese:
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97, sem observar a cláusula de reserva de
plenário (art. 97, CF/88), observado o art. 949, CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 10 e 11/10/2018 (Info 919).

O STF declarou nula a decisão do TST por violação à cláusula de reserva de plenário. Em
outras palavras, o STF disse o seguinte: a turma do TST não poderia ter declarado a lei
inconstitucional. Isso teria que ter sido feito pelo Plenário. Diante disso, com a declaração de
nulidade da decisão, o STF, obrigatoriamente, terá que determinar o retorno dos autos ao TST
para que aquele Tribunal, por meio de seu Plenário, decida sobre a constitucionalidade ou não
da lei? O retorno dos autos é a medida a ser adotada? NÃO. O STF entendeu que a devolução
ao TST não seria uma medida lógica e somente atrasaria a resolução final do processo. Isso
porque o STF já tem posição consolidada sobre o assunto, tendo decidido que o Enunciado
331 do TST é inconstitucional e que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio
ou fim, de forma que não se configura relação de emprego entre a contratante e o empregado
da contratada. Assim, é possível que uma empresa de telefonia terceirize os serviços de call
center mesmo que consideremos isso como atividade-fim. O art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 é
constitucional. O STF considera que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade da
empresa, seja ela atividade-meio ou fim:
É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do
trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do
objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade
subsidiária da empresa contratante. Os itens I e III da Súmula 331 do
TST são inconstitucionais.
STF. Plenário. ADPF 324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
29 e 30/8/2018 (Info 913).
STF. Plenário. RE 958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e
30/8/2018 (repercussão geral) (Info 913).

Parágrafo único do art. 949 do CPC: O parágrafo único do art. 949 do CPC reforça a
desnecessidade do retorno do feito ao TST, pois o STF se pronunciou sobre a
constitucionalidade da contratação de terceiros para o desenvolvimento de atividades
inerentes ou atividade-fim, e o art. 94 autoriza a contratação da atividade-fim. Ademais, a
devolução não atende o direito fundamental da duração razoável do processo. Veja o que diz
o CPC:
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao
seu órgão especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não
submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou
do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

8.6. Possibilidade de decretação, de ofício, da modulação dos efeitos da decisão proferida


em ADI – (Info 918) – IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo
inconstitucional, ele poderá, de ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é
inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração
pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses embargos eram
intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos, poderá decretar a modulação
dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 2/10/18 (Info 918).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, as Lei 9.868/99 e 9.882/99 preveem expressamente que o
STF poderá modular os efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF/88. Em
outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir
de determinada data futura (efeitos prospectivos). Veja o que diz a Lei nº 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e
tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de
dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado
ou de outro momento que venha a ser fixado.

Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei nº 9.882/99.

Podemos assim sintetizar a modulação dos efeitos:


REGRA: se o STF declara uma lei ou ato normativo inconstitucional em ADI, ADC ou
ADPF,
essa decisão, em regra, produz efeitos EX TUNC (retroativos)

Excepcionalmente, o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):


* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de * segurança jurídica ou;
seu trânsito em julgado; ou * excepcional interesse social
* de outro momento que venha a ser fixado.

Imagine agora a seguinte situação: No julgamento de uma ADI, o STF decidiu que o art. XX
da Lei YY é inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 apresentou embargos
de declaração pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses
embargos eram intempestivos.

Indaga-se: mesmo assim será possível a modulação dos efeitos? SIM. É o que foi decidido no
julgado veiculado no Info 918 do STF.

Uma última informação adicional:


É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de
controle incidental de constitucionalidade. Assim, não é apenas no
controle abstrato que se admite a modulação. STF. Plenário. RE
522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16/3/17 (Info 857).

8.7. ABERT tem legitimidade para propor ADI – (Info 917)

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) possui legitimidade


para propor ADI contra ato normativo que previa que a competência para autorizar o
pedido de trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do
Trabalho.
A ABERT enquadra-se no conceito de entidade de classe de âmbito nacional (art. 103, IX,
da CF/88) e possui pertinência temática para questionar ato normativo que versa sobre esse
tema, considerando a participação de crianças e adolescentes nos programas de suas
associadas.
STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/2018 (Info 917).
8.8. Cabe ADI contra recomendação de Tribunal que fixa a competência da Justiça do
Trabalho para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística
– (Info 917) – IMPORTANTE!!!

Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do


Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a
competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza
artística.
Esta recomendação deve ser considerada como ato de caráter primário, autônomo e cogente,
inovando no ordenamento jurídico, razão pela qual pode ser impugnada por meio de ADI.
STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/2018 (Info 917).
OBS:
Imagine a seguinte situação: A Corregedoria do TJ/SP e as Corregedorias dos TRTs com
jurisdição em São Paulo (TRT02 e TRT15), em conjunto com o MP/SP e com os MPTs que
atuam em São Paulo (MPT02 / MPT15) editaram uma recomendação para seus membros
dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e adolescentes em
espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Veja:
Recomendação Conjunta 1/2014 das Corregedorias dos Tribunais
de Justiça e do Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do
Trabalho, todos do Estado de São Paulo:
RECOMENDAR aos Juízes de Direito da Infância e da Juventude,
aos Juízes do Trabalho da Segunda e da Décima Quinta Região e aos
Membros do Ministério Público Estadual e do Ministério Público do
Trabalho da Segunda e da Décima Quinta Região, que tomem como
diretriz, para efeito de competência:
I - As causas que tenham como fulcro os direitos fundamentais da
criança e do adolescente e sua proteção integral, nos termos da Lei
8.069, de 13 de julho de 1990, inserem-se no âmbito da competência
dos Juízes de Direito da Infância e da Juventude;
II - As causas que tenham como fulcro a autorização para trabalho
de crianças e adolescentes, inclusive artístico e desportivo, e outras
questões conexas derivadas dessas relações de trabalho, debatidas
em ações individuais e coletivas, inserem-se no âmbito da
competência dos Juízes do Trabalho, nos termos do art. 114, incisos
I e IX, da Constituição da República.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esse
ato normativo.

Indaga-se: essa ação foi conhecida? Cabe ADI neste caso? SIM. Por meio da dita
“Recomendação”, fixou-se a competência da Justiça do Trabalho para analisar os pedidos de
autorização para crianças e adolescentes participarem em eventos de natureza artística. Apesar
de ter sido nominado como “recomendação”, o que se observa é que se trata de um verdadeiro
ato de caráter geral e abstrato definindo competência para os juízes trabalhistas. Como é um
ato emanado pelas Corregedorias dos referidos Tribunais, é de se supor que os juízes a eles
vinculados se sentirão propensos a cumpri-las. Diante disso, o STF entendeu que essa
recomendação conjunta representava um ato normativo de caráter cogente e vinculativo que
alterou o entendimento até então prevalecente no sentido de que a competência seria da
Justiça Estadual. Assim, considerou-se que esse ato inovou no ordenamento jurídico, fixando
competência jurisdicional com suposto fundamento direto nos incisos I e IX do art. 114 da
CF/88. Esta recomendação conjunta fez, portanto, o papel que seria próprio de lei ordinária.
Logo, a ação direta foi conhecida porque se considerou que tal recomendação possuía caráter
primário e autônomo.

8.9. É constitucional a lei que extinguiu a contribuição sindical obrigatória – (Info 908) –
IMPORTANTE!!!
São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei nº 13.467/2017 (Reforma
Trabalhista) que extinguiram a obrigatoriedade da contribuição sindical e condicionaram o
seu pagamento à prévia e expressa autorização dos filiados.
No âmbito formal, o STF entendeu que a Lei nº 13.467/2017 não contempla normas gerais
de direito tributário (art. 146, III, “a”, da CF/88). Assim, não era necessária a edição de lei
complementar para tratar sobre matéria relativa a contribuições.
Também não se aplica ao caso a exigência de lei específica prevista no art. 150, § 6º, da CF/88,
pois a norma impugnada não disciplinou nenhum dos benefícios fiscais nele mencionados,
quais sejam, subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito
presumido, anistia ou remissão.
Sob o ângulo material, o STF afirmou que a Constituição assegura a livre associação
profissional ou sindical, de modo que ninguém é obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado
a sindicato (art. 8º, V, da CF/88). O princípio constitucional da liberdade sindical garante
tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se associar a uma organização
sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa representação.
Não há nenhum comando na Constituição Federal determinando que a contribuição
sindical é compulsória.
Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a liberdade de
associação, sindicalização e expressão (art. 5º, IV e XVII, e art. 8º) e, de outro, imponha uma
contribuição compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais.
STF. Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j. 29/6/18
(Info 908).
OBS:
Custeio das entidades sindicais: Com o objetivo de garantir o seu custeio, a CF/88 assegurou
às entidades sindicais duas contribuições diferentes. Veja:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando
de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do
sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;

Desse modo, apesar de a redação do inciso ser um pouco truncada, é possível perceber que ele
fala em duas espécies de contribuição:
1) Contribuição fixada pela assembleia geral (destacada na primeira parte);
2) Contribuição prevista em lei (destacada na segunda parte).

Confira as diferenças que EXISTIAM entre elas:


Contribuição CONFEDERATIVA Contribuição SINDICAL
Prevista na 1ª parte do art. 8º, IV, da Prevista na 2ª parte do art. 8º, IV,
CF/88. da CF/88.
Também chamada de “contribuição Também chamada de “imposto
de assembleia”. sindical”, expressão incorreta
porque não é imposto.
NÃO é tributo. ERA considerada um TRIBUTO.
ERA uma contribuição parafiscal
(ou especial).
Fixada pela assembleia geral do Era instituída por meio de lei
sindicato (obrigação ex voluntate). (obrigação ex lege).
É VOLUNTÁRIA. ERA COMPULSÓRIA.
A contribuição confederativa é ERA paga por todos aqueles que
considerada como voluntária faziam parte de uma determinada
porque somente é paga pelas categoria econômica ou
pessoas que resolveram (optaram) profissional, ou de uma profissão
se filiar ao sindicato. liberal, em favor do sindicato
A contribuição confederativa de representativo da mesma categoria
que trata o art. 8º, IV, da ou profissão ou, inexistindo este, à
Constituição, só é exigível dos Federação correspondente à
filiados ao sindicato respectivo (SV mesma categoria econômica ou
40): profissional.
Súmula vinculante 40: A Não havia jeito: se o indivíduo
contribuição confederativa de que fosse metalúrgico, p. ex., ele tinha
trata o artigo 8º, IV, da Constituição que pagar a contribuição sindical,
Federal, só é exigível dos filiados ao mesmo que não fosse filiado ao
sindicato respectivo. sindicato. ERA um tributo.

O que fez a Lei 13.467/17? A Lei 13.467/17, conhecida como “Reforma Trabalhista”, alterou os
dispositivos da CLT que tratavam sobre a contribuição sindical com o objetivo de fazer com
que ela deixasse de ser compulsória e passasse a ser FACULTATIVA. Vamos comparar os
principais dispositivos sobre o tema que foram alterados:
CLT
Antes da Lei 13.467/2017 Depois da Lei 13.467/2017
Art. 578. As contribuições devidas Art. 578. As contribuições devidas
aos Sindicatos pelos que aos sindicatos pelos participantes
participem das categorias das categorias econômicas ou
econômicas ou profissionais ou das profissionais ou das profissões
profissões liberais representadas liberais representadas pelas
pelas referidas entidades serão, sob referidas entidades serão, sob a
a denominação do "imposto denominação de contribuição
sindical", pagas, recolhidas e sindical, pagas, recolhidas e
aplicadas na forma estabelecida aplicadas na forma estabelecida
neste Capítulo. neste Capítulo, desde que prévia e
expressamente autorizadas.
Art. 579. A contribuição sindical é Art. 579. O desconto da
devida por todos aqueles que contribuição sindical está
participarem de uma determinada condicionado à autorização prévia
categoria econômica ou e expressa dos que participarem de
profissional, ou de uma profissão uma determinada categoria
liberal, em favor do sindicato econômica ou profissional, ou de
representativo da mesma categoria uma profissão liberal, em favor do
ou profissão ou, inexistindo este, sindicato representativo da mesma
na conformidade do disposto no categoria ou profissão ou,
art. 591. inexistindo este, na conformidade
do disposto no art. 591 desta
Consolidação.
Art. 582. Os empregadores são Art. 582. Os empregadores são
obrigados a descontar da folha de obrigados a descontar da folha de
pagamento de seus empregados, pagamento de seus empregados
relativa ao mês de março de cada relativa ao mês de março de cada
ano, o imposto sindical por estes ano a contribuição sindical dos
devido aos respectivos sindicatos. empregados que autorizaram
(...) prévia e expressamente o seu
recolhimento aos respectivos
sindicatos.
(...)
Art. 587. O recolhimento da Art. 587. Os empregadores que
contribuição sindical dos optarem pelo recolhimento da
empregadores efetuar-se-á no mês contribuição sindical deverão fazê-
de janeiro de cada ano, ou, para os lo no mês de janeiro de cada ano,
que venham a estabelecer-se após ou, para os que venham a se
aquele mês, na ocasião em que estabelecer após o referido mês, na
requeiram às repartições o registro ocasião em que requererem às
ou a licença para o exercício da repartições o registro ou a licença
respectiva atividade. para o exercício da respectiva
atividade.

Veja, portanto, que o legislador alterou todos os dispositivos que dispunham sobre a
contribuição sindical como sendo algo obrigatório, passando a ser tratada como um
pagamento facultativo.
ADI: Algumas entidades sindicais ingressam com ADIs contra essas alterações. Nas ações, as
entidades alegaram, dentre outros argumentos, que:
 A contribuição sindical foi recepcionada pela Constituição de 1988 como sendo uma
contribuição parafiscal (art. 149 da CF/88), ou seja, um tributo;
 O art. 146, III, “a”, da CF/88 prevê que a instituição de tributos parafiscais e suas
definições, espécies, bases de cálculo, fatos geradores e contribuintes devem ser feitas
por meio de lei complementar. Ocorre que a Lei 13.467/17 é uma lei ordinária, de
modo que teria havido uma inconstitucionalidade formal;
 Além disso, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical foi promovida pela Lei
13.467/17 que tratou sobre vários outros assuntos. Para as entidades, isso não seria
possível porque o art. 150, § 6º, da CF/88 exige explicitamente que a matéria seja
regulada por meio de lei tributária específica:
Art. 150 (...)
§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante
lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente
tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º,
XII, g.

 A alteração legislativa teria violado direitos fundamentais previstos no art. 5º da


CF/88, especialmente quando ela fala em acesso à Justiça, em direito ao contraditório
e à ampla defesa e à assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos. Além disso, teria afrontado também os direitos à educação,
à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança.
Isso porque os sindicatos oferecem assistência judiciária integral e gratuita para os
trabalhadores carentes e esses serviços eram custeados com a contribuição sindical
obrigatória. Sem essa verba, os sindicatos não poderão mais oferecer essa assistência,
o que representa um enorme retrocesso social.

O que o STF decidiu? A ADI foi julgada procedente? O fim da obrigatoriedade da contribuição
sindical viola a Constituição Federal? NÃO. A ADI foi julgada improcedente e o STF decidiu
que:
São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei
13.467/17 (Reforma Trabalhista) que extinguiram a
obrigatoriedade da contribuição sindical e condicionaram o seu
pagamento à prévia e expressa autorização dos filiados. STF.
Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, julgado em 29/6/2018(Info 908).

Dispor sobre o fim da obrigatoriedade sindical não significa tratar sobre normas gerais de
tributário: No âmbito formal, o STF entendeu que o assunto tratado pela Lei 13.467/17 (fim
da obrigatoriedade da contribuição sindical) não pode ser considerado como norma geral de
direito tributário. Logo, o fim da obrigatoriedade sindical não precisava ter sido veiculado
por meio de lei complementar por não se enquadrar na exigência do art. 146, III, “a”, da
CF/88, como argumentavam as entidades sindicais:
Art. 146. Cabe à lei complementar:
(...)
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;

Acabar com a obrigatoriedade da contribuição sindical não exige lei específicas: O § 6º do art.
150 da CF/88 exige lei específica para conceder subsídio, isenção, reduzir base de cálculo e
conceder outros “benefícios fiscais”. A Lei 13.467/17 não disciplinou nenhum desses
benefícios fiscais. Logo, não se exigia a edição de uma lei específica.
Livre associação profissional ou sindical: Sob o ângulo material, o STF lembrou que a
Constituição assegura a livre associação profissional ou sindical, de modo que ninguém é
obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato (art. 8º, V). O princípio constitucional
da liberdade sindical garante tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se
associar a uma organização sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa
representação. Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a
liberdade de associação, sindicalização e expressão e, de outro, imponha uma contribuição
compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais.

CF/88 não impõe que a contribuição sindical seja obrigatória: “A contribuição sindical não
foi constitucionalizada no texto magno”. O que o STF quis dizer com essa frase: não há
qualquer comando na Constituição dizendo que deverá ser instituída uma contribuição
sindical compulsória, com natureza de tributo, em favor dos sindicatos. O inciso IV do art. 8º
da CF/88 prevê que a lei poderá instituir uma contribuição sindical, mas sem mencionar que
deva ser obrigatória.

Contribuição confederativa é a principal fonte de custeio dos sindicatos: Analisando o inciso


IV do art. 8º, o STF afirma que fica claro que a contribuição sindical, na forma da lei, é uma
fonte de custeio (fonte de receita) subsidiária das entidades sindicais. A principal fonte de
custeio é a contribuição confederativa, instituída em assembleia geral.

Modelo de gestão sindical é uma decisão política: A discussão a respeito do modelo de gestão
sindical a ser adotado no Brasil é eminentemente política, cujo protagonista é o Congresso
Nacional. O STF deve ser autocontido, de forma a respeitar as escolhas políticas do Legislativo.

Sistema sindical moderno: Ademais, a reforma trabalhista buscou a evolução de um sistema


sindical centralizador, arcaico e paternalista para um modelo mais moderno, baseado na
liberdade. O modelo de contribuição compulsória não estimulava a competitividade e a
representatividade, levando a um verdadeiro negócio privado, bom apenas para sindicalistas.
A sistemática anterior criou um associativismo com enorme distorção representativa. No
Brasil, são quase 17 mil sindicatos, enquanto em outros países apenas algumas centenas. A
contribuição compulsória vinha gerando oferta excessiva e artificial de associações
sindicais, o que configura perda social em detrimento dos trabalhadores. Esse número
estratosférico de sindicatos não se revertia em aumento do bem-estar de nenhuma categoria.
Nesse contexto, as entidades sindicais frequentemente se engajam em atividades políticas,
lançando e apoiando candidatos, conclamando protestos e mantendo estreitos laços com
partidos políticos. Ocorre que o discurso político é o núcleo por excelência da liberdade de
expressão. Ao exigir que indivíduos financiem atividades políticas com as quais não
concordam, por meio de contribuições compulsórias a sindicatos, o regime anterior certamente
vulnerava a garantia fundamental da liberdade de expressão, protegida pelo art. 5º, IV, da
Constituição. Por sua vez, a nova sistemática leva a um novo pensar da sociedade sobre como
lidar com as categorias econômicas e trabalhistas e com as formas de atuação na sociedade,
sem depender necessariamente do Estado. Os sindicatos passarão a ser sustentados por
contribuições voluntárias, do mesmo modo que as demais associações.

Votos vencidos: Ficaram vencidos os Ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Dias Toffoli, para
quem as alterações legislativas são inconstitucionais formal e materialmente.

8.10. Alteração do parâmetro constitucional não prejudica o conhecimento da ADI – (Info


907) – IMPORTANTE!!!

A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não


prejudica o conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu
claramente inconstitucional volte a produzir, em tese, seus efeitos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
“parâmetro”, queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas
para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.

Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).

O que acontece se, durante a tramitação de uma ADI, ocorre a alteração do parâmetro que
havia sido invocado? Ex: em 1998, determinado Estado aprovou uma lei prevendo que os
servidores aposentados deveriam pagar contribuição previdenciária; foi ajuizada uma ADI
contra esta lei alegando que ela violou o art. 40 da CF/88; em 2003, antes que a ação fosse
julgada, foi editada a EC 41 que alterou o art. 40 e passou a prever expressamente que os
servidores inativos poderiam pagar contribuição previdenciária. Em outras palavras, o
parâmetro invocado foi modificado. Diante disso, o julgamento da ADI ficará prejudicado?
NÃO. O conhecimento da ADI não fica prejudicado. Mesmo tendo havido a alteração do
parâmetro, o STF terá que examinar o mérito da ADI e verificar se a lei impugnada violava
ou não a redação do parâmetro antes da mudança efetuada. Em outras palavras, o STF terá
que examinar se aquilo que o autor afirmou na ação estava correto, ou seja, se aquela lei violava
a redação do parâmetro constitucional naquela época.

Por quê? Porque a mudança da Constituição Federal não tem o condão (a força) de convalidar
o vício da lei que era inconstitucional. Se a lei era inconstitucional na época em que foi
editada, a alteração superveniente não poderá corrigi-la. Isso significa que o direito brasileiro
não admite a figura da constitucionalidade superveniente. Nesse sentido:
(...) 1. Em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura da
constitucionalidade superveniente. Mais relevante do que a
atualidade do parâmetro de controle é a constatação de que a
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a
dispositivos da Constituição Federal que não se encontram mais
em vigor. Caso contrário, ficaria sensivelmente enfraquecida a
própria regra que proíbe a convalidação.
2. A jurisdição constitucional brasileira não deve deixar às instâncias
ordinárias a solução de problemas que podem, de maneira mais
eficiente, eficaz e segura, ser resolvidos em sede de controle
concentrado de normas.
3. A Lei estadual nº 12.398/98, que criou a contribuição dos inativos
no Estado do Paraná, por ser inconstitucional ao tempo de sua
edição, não poderia ser convalidada pela Emenda Constitucional nº
41/03. E, se a norma não foi convalidada, isso significa que a sua
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a
dispositivos da Constituição Federal que não se encontram mais
em vigor, alterados que foram pela Emenda Constitucional nº
41/03. (...) STF. Plenário. ADI 2158, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/9/10.

Constitucionalidade superveniente seria, portanto, a possibilidade de uma lei ou ato


normativo inconstitucional ao tempo de sua edição se tornar constitucional a partir da
promulgação de novo texto constitucional. Como já dito, a constitucionalidade
superveniente não é aceita pelo STF. Isso porque a norma inconstitucional é nula desde o seu
nascedouro, não podendo ser convalidada com a alteração do parâmetro constitucional.
Adota-se o princípio da contemporaneidade para se analisar a constitucionalidade da
norma.

Questões de concurso:
(AGU CESPE 2012) Considere a seguinte situação hipotética. Foi ajuizada ADI no STF contra
lei estadual por contrariedade a dispositivo expresso na CF. Porém, antes do julgamento da
ação, o parâmetro de controle foi alterado, de modo a tornar a norma impugnada consentânea
com o dispositivo constitucional. Nessa situação hipotética, admite-se, de acordo com recente
jurisprudência do STF, a denominada constitucionalidade superveniente, devendo, portanto,
ser afastada a aplicação do princípio da contemporaneidade e julgada improcedente a ação.
(ERRADO)

(Promotor MPE GO 2016 banca própria) O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura
da constitucionalidade superveniente, exceto se houver taxativa previsão constitucional.
(CERTO)

(Juiz TJ/MS 2012) Se uma lei fere o processo legislativo previsto na Constituição sob a qual foi
editada e, até o advento da nova Constituição, não fora objeto de controle de
constitucionalidade, ela não pode ser recebida pela nova Constituição, uma vez que o Supremo
Tribunal Federal já se manifestou contra a adoção da teoria da constitucionalidade
superveniente. (CERTO)

Esse entendimento foi reafirmado agora:


A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda
está em curso, não prejudica o conhecimento da ADI. Isso para
evitar situações em que uma lei que nasceu claramente
inconstitucional volte a produzir, em tese, seus efeitos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
20/6/2018(Info 907).

Vale ressaltar que nos casos de alteração do parâmetro o STF deverá realizar dois juízos:
1) um juízo de constitucionalidade com relação ao parâmetro original, ou seja, verificar se a
lei ou ato normativo impugnado era constitucional (compatível com o parâmetro
impugnado);
2) um juízo de recepção ou não com o novo parâmetro, isto é, analisar se a lei ou ato
normativo impugnado está de acordo com a redação atual da CF/88. Fala-se em recepção ou
não nesta segunda hipótese porque o texto constitucional que se estará comparando é posterior
à lei ou ato normativo impugnado.

Foi o que ensinou o Min. Gilmar Mendes na ADI 94/RO: “nesses casos, impõe-se a verificação
da constitucionalidade do dispositivo em relação aos dois parâmetros constitucionais” (DJ de
16/12/11).

8.11. VOTO IMPRESSO: Inconstitucionalidade do voto híbrido previsto no art. 59-A da Lei
9.504/97 – (Info 905) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a lei que determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto
deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em
local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 13.165/2015).
Essa previsão acaba permitindo a identificação de quem votou, ou seja, permite a quebra
do sigilo, e, consequentemente, a diminuição da liberdade do voto, violando o art. 14 e o §
4º do art. 60 da Constituição Federal.
Cabe ao legislador fazer a opção pelo voto impresso, eletrônico ou híbrido, visto que a CF/88
nada dispõe a esse respeito, observadas, entretanto, as características do voto nela previstas.
O modelo híbrido trazido pelo art. 59-A constitui efetivo retrocesso aos avanços
democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições realmente livres, em que as
pessoas possam escolher os candidatos que preferirem.
STF. Plenário. ADI 5889/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).
OBS: Veja comentários no arquivo Direito Eleitoral.

8.12. Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI – (Info 905) –
IMPORTANTE!!!
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de
procuração com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo
que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de
forma específica, o ato contra o qual se insurge.
Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida.
Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua
regularização antes que seja reconhecida a carência da ação.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905).
OBS:
Ex: uma entidade de classe de âmbito nacional contrata um escritório de advocacia para ajuizar
uma ADI; na procuração outorgada pelo presidente dessa entidade deverá constar
expressamente algo como: outorga poderes para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade
no Supremo Tribunal Federal contra os artigos X, Y e Z, da Lei nº XXX/XXXX.

Veja outro precedente no mesmo sentido:


(...) A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da necessidade
de subscrição da exordial por procurador devidamente amparado
por poderes especiais para o questionamento do ato normativo.
Nesse sentido, o ato de mandato deve conter descrição mínima do
objeto digno de hostilização.
2. Admite-se a regularização processual do feito, contudo é próprio
da economia processual deixar de intimar o Requerente para fazê-
lo, quando se nota a carência da ação, que torna desnecessária a
providência. (...)
STF. Plenário. ADPF 480 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
13/04/2018.

8.13. Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei estadual – (Info 905)

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o


controle de decreto regulamentar de lei estadual.
Seria possível a propositura de ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto
que apenas regulamenta a lei, não é hipótese de cabimento de ADI.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905).
OBS:
Qual é o objeto da ADI? Quando se fala em objeto da ADI, o que se está querendo dizer é o
seguinte: a ADI é proposta contra o que, contra qual norma... Assim, o objeto da ADI significa
a norma que é impugnada por esta ação. O objeto da ADI está previsto no art. 102, I, “a”, da
CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual (...)

Desse modo, a ADI pode ser proposta contra lei ou ato normativo federal ou estadual. Esse é
o objeto da ADI.

Objeto da ADI: Podem ser objeto de ADI:


- Lei ou ato normativo
- federal ou estadual
- editados posteriormente à promulgação da CF/88 e
- que ainda estejam em vigor (se a lei perde vigência depois de proposta a ADI, esta, em regra,
perde o objeto)

E se uma lei estadual ou municipal for contrária à Constituição estadual? Nesse caso, quem
julga a ADI é o Tribunal de Justiça local (art. 125, § 2º). No entanto, se a lei também contraria
a CF/88, cabe recurso extraordinário para o STF. A lei municipal também pode ser objeto de
ADPF julgada diretamente pelo STF.

Uma lei distrital (lei do DF) pode ser objeto de ADI? Depende. Como o Distrito Federal não é
dividido em Municípios, ele goza cumulativamente das competências legislativas reservadas
aos Estados e aos Municípios (art. 32, § 1º, da CF/88). Em outras palavras, o Distrito Federal
pode editar leis como se fosse um Estado-membro e também leis como se fosse um Município.
Assim, existem leis do DF que tratam de assuntos estaduais e outras de assuntos locais
(municipais). As leis que o DF editou no exercício de competência de Estado-membro (leis
de assuntos estaduais) podem ser objeto de ADI. As leis que o DF editou no exercício de
competência de Município (leis que ele editou como se fosse um Município) NÃO podem ser
objeto de ADI.

O que é lei ou ato normativo para fins de ADI?


 todas as espécies normativas do art. 59 da CF/88;
 qualquer outro ato que tenha conteúdo normativo (ex.: resolução ou deliberação
administrativa de Tribunal).

Um Decreto pode ser considerado ato normativo para os fins do art. 102, I, da CF/88? Um
decreto pode ser objeto de ADI? Depende.
 Decreto que apenas regulamenta uma lei: NÃO. Não cabe ADI contra decreto
meramente regulamentar de lei. Isso porque, neste caso, esse decreto terá natureza de
ato secundário. Nesse sentido:
(...) Vocacionada ao controle da constitucionalidade das leis e atos
normativos, a ação direta de inconstitucionalidade não constitui
meio idôneo para impugnar a validade de ato regulamentar e
secundário em face de legislação infraconstitucional. (...) STF.
Plenário. ADI 4127 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 16/10/14.

 Decreto autônomo: SIM. Cabe ADI contra decreto autônomo. O decreto autônomo
possui “coeficiente mínimo de normatividade, generalidade e abstração”, ou seja,
ele retira seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal, não
regulamentando nenhuma lei. Ele possui caráter essencialmente abstrato e primário.

8.14. Cabimento de ADI contra Resolução do TSE – (Info 747 e 900)

É cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de
decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo, apta a ser apreciada pelo STF em sede de
controle abstrato de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/2018 (Info 900).
OBS:
Outro precedente no mesmo sentido:
A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI
se, a pretexto de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter
autônomo e inovador.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 21/5/2014 (Info 747).

8.15. Cabe ADI contra Resolução do CNMP – (Info 899)

A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo
Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato
normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no Supremo
Tribunal Federal.
STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 25/4/18 (Info 899).
8.16. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Decisão que deixa de aplicar o art. 25, §
1º, da Lei 8.987/95 – (Info 896) – TEMA POLÊMICO!!!

O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar com
terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao
serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a
terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação
do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação
deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva
de plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, j.
5/3/18 (Info 896).

• NÃO. O ato reclamado, ao considerar ilegal a contratação de empregado, por empresa


interposta, para prestar serviços essenciais à atividade fim da tomadora, nos termos da
Súmula 331, I, do TST, não declarou expressamente, nem implicitamente, a
inconstitucionalidade de qualquer norma especial de regência aplicável ao caso. É firme a
jurisprudência do STF no sentido de que não se exige reserva de plenário para a mera
interpretação e aplicação das normas jurídicas que emerge do próprio exercício da
jurisdição, sendo necessário, para caracterizar violação à cláusula de reserva de plenário,
que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal
e o Texto Constitucional.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/16 (Info 848).
STF. 2ª Turma. Rcl 26408 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 7/11/17.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A Encel – Engenharia de Construções Elétricas Ltda é
uma concessionária de energia elétrica. A Encel contratou outra empresa para exercer parte de
sua atividade-fim. Em outras palavras, houve terceirização da atividade-fim dessa
concessionária. A concessionária invocou, como fundamento legal, para a contratação, o art.
25, § 1º da Lei nº 8.987/95:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento
de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço
concedido, bem como a implementação de projetos associados.

Uma das Turmas do TRT da 3ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não
autoriza a possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do
serviço público. Afirmou o TRT, citando julgados do TST:
“A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime
de concessão e permissão de prestação de serviços públicos, ostenta
natureza administrativa e, como tal, ao tratar, em seu art. 25, da
contratação com terceiros de atividades inerentes, acessórias ou
complementares ao serviço concedido, não autorizou a terceirização
da atividade-fim das empresas do setor elétrico. Isso porque, esse
diploma administrativo não aborda matéria trabalhista, nem seus
princípios, conceitos e institutos, cujo plano de eficácia é outro. A
legislação trabalhista protege, substancialmente, um valor: o
trabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma não
eventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à já
insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo de
outro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana. Não se
poderia, assim, dizer que a norma administrativista, preocupada
com princípios e valores do Direito Administrativo, viesse derrogar
o eixo fundamental da legislação trabalhista, que é o conceito de
empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contrato
de trabalho, previsto na CLT.”
Reclamação: A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT e
ingressou com reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do
art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a Súmula
Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.

Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.

O STF concordou com a reclamação proposta? SIM. O STF, por maioria, julgou procedente
reclamação.
A 1ª Turma do STF entendeu que o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização e o
TRT, ao não aplicá-lo para a situação concreta, negou vigência ao dispositivo sem que isso
tenha sido submetido ao Plenário ou órgão especial do Tribunal. Logo, houve violação à
cláusula da reserva de plenário prevista no art. 97 da CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto,
julgado em 5/3/2018 (Info 896).

Tema polêmico: O tema é polêmico e existem decisões em sentido contrário, como é o caso
da Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

8.17. O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em
sede de controle concentrado de constitucionalidade – (Info 896) – IMPORTANTE!!!

O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede
de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo
respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como
legitimado pelo art. 103 da CF/88).
Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos
processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 05/04/2018 (Info 896).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Governador do Estado de São Paulo ajuíza uma ADI
no STF. O Supremo julga improcedente a ação. O acórdão é publicado e o Estado de São Paulo
opõe embargos de declaração alegando que há contradição no julgado.

Esse recurso terá êxito? NÃO. Os embargos de declaração não serão conhecidos.

Legitimidade não é do Estado, mas sim do Governador: A legitimidade para recorrer, neste
caso, é do Governador do Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo não tem legitimidade
para opor embargos de declaração porque o Estado de São Paulo não é parte neste processo.
Vale ressaltar que, na petição inicial da ADI, quando proposta pelo Governador, quem figura
como autor da ação é o Governador do Estado (e não o Estado).

A petição inicial da ADI fica assim: “O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, no


exercício da atribuição que lhe confere o art. 103, V, da CF/88, vem propor a presente AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE”.
Desse modo, repita-se, o Estado-membro não tem legitimidade para propor ADI. A
legitimidade pertence ao Governador do Estado. Logo, se a ação é julgada improcedente, quem
tem legitimidade para recorrer é o próprio Governador (e não o Estado).

Os embargos de declaração deveriam ser assim redigidos: “O GOVERNADOR DO ESTADO


DE SÃO PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.

No entanto, o recurso foi interposto desta forma (apenas um exemplo): “O ESTADO DE SÃO
PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.

Diante disso, o que acontecerá? Os embargos de declaração não serão conhecidos (seu mérito
não será apreciado) em virtude da ilegitimidade da parte recorrente. O Estado de São Paulo
não é parte legítima para recorrer.

8.18. ADPF: É possível celebrar acordo em ADPF – (Info 892) – IMPORTANTE! Não tem nos
livros!!!

É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de


preceito fundamental (ADPF)?
SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF,
desde que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente
(implícito), que comporta solução por meio de autocomposição.
Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar
nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo.
O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que
estiverem dentro do âmbito da disponibilidade das partes.
A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir
maior efetividade à prestação jurisdicional.
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 1º/3/18 (Info 892).
OBS:
É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de
preceito fundamental (ADPF)? SIM.

Exemplo: As pessoas que tinham dinheiro em conta poupança nos anos de 1986 a 1991 foram
prejudicadas pelos planos econômicos editados neste período (Planos Cruzado, Bresser, Verão
e Collor II). Isso porque esses planos fizeram a conversão dos valores depositados de forma
errada (os chamados “expurgos inflacionários”). Em razão disso, tais poupadores ingressaram
com ações judiciais pedindo a correção disso e o pagamento das diferenças. Além das ações
individuais, também foram propostas ações coletivas ajuizadas por associações de defesa do
consumidor e por associações de poupadores. Os juízes e Tribunais estavam todos decidindo
em favor dos poupadores. A fim de tentar reverter a situação, Confederação Nacional do
Sistema Financeiro (CONSIF) ajuizou, no STF, a ADPF 165, pedindo, com eficácia erga omnes
(para todos) e efeito vinculante, a suspensão de qualquer decisão judicial que tivesse por objeto
a reposição das perdas decorrentes dos planos econômicos. Na ação, a CONSIF alegava a plena
constitucionalidade dos referidos planos, de forma que os poupadores não teriam nada a
receber. Ao longo da tramitação da ADPF, as várias associações de defesa do consumidor e
dos poupadores, que haviam ajuizado ações coletivas tratando do tema, pediram para intervir
no processo na qualidade de amicus curiae (ex: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor,
Associação Brasileira do Consumidor, entre outras), o que foi aceito pelo STF. Depois de quase
9 anos tramitando no STF, houve um acordo entre a CONSIF (autora da ADPF) e as
associações de defesa do consumidor/poupadores. Vale ressaltar que a AGU atuou como
mediadora desse ajuste (art. 4º da Lei nº 13.140/2015), por meio da Câmara de Conciliação e
Arbitragem da Administração Federal. Por meio desse acordo, os bancos aceitam pagar os
poupadores segundo cronograma e condições que estão no ajuste e, em troca, os correntistas
desistem das ações individuais que possuíam contra as instituições financeiras. Além disso,
as associações de defesa do consumidor comprometeram-se a peticionar nas ações civis
públicas que ingressaram requerendo a extinção do processo pela transação (art. 487, III, “b”,
do CPC). Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos
poupadores, que serão inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão
analisar os requerimentos dos interessados. Os pagamentos serão feitos nas contas correntes
dos beneficiários, que receberão os respectivos valores à vista ou parceladamente, a depender
do montante. Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e
individuais para cobrar das instituições financeiras os valores referentes às correções. No caso
das ações individuais, poupadores ou herdeiros que ingressaram judicialmente dentro do
prazo prescricional de 20 anos da edição de cada plano também poderão receber os valores.
Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações civis públicas, requereram
execução de sentença coletiva até 31/12/2016.

E o que a aconteceu com a ADPF? Foi extinta, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
(...)
III - homologar:
(...)
b) a transação;

Apesar de a resolução da ADPF ter sido com resolução do mérito, ressalte-se, mais uma vez,
que o STF, ao homologar o acordo, não concordou com nenhuma das teses jurídicas
defendidas pelas partes no processo, ou seja, não disse que os poupadores ou que os bancos
tinham razão. Isso não foi analisado na homologação do acordo.

Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer
transação nessas ações? NÃO. A Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos
públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando as
associações privadas. Confira:
Art. 5º (...)
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.

Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis
públicas: O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações
privadas também podem fazer acordos nas ações coletivas. Assim, a ausência de disposição
normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo.
Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz
respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes
privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. Para o Min. Ricardo Lewandoswki, “não faria
sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade privada de direitos e,
simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas faculdades
processuais, tais como a de firmar acordos.”

8.19. Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI – (Info 890) –


IMPORTANTE!!!

O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação
do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na
redação original.
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de
apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade
na norma que promoveu a alteração ou revogação.
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em
razão da perda superveniente do objeto.
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/18 (Info 890).
OBS:
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Ex: em 1999, foi proposta uma ADI contra o art. 10 da Lei 9.656/98; em 2013, foi editada a Lei
12.880 alterando esse art. 10 da Lei 9.656/98; ocorre que a ADI ainda não foi julgada pelo STF;
o que fazer? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a
nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade
que existia na redação original. Em outras palavras, ele informa ao STF que houve a alteração
legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação continua contrariando a Constituição
Federal.

E se o autor da ADI não fizer isso? Neste caso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando
prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto (perda superveniente do
interesse de agir), nos termos do art. 485, VI, do CPC:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
(...)
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

Nesse sentido:
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo
impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de
aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na
norma que promoveu a alteração ou revogação.
STF. Plenário. ADI 2595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 18/12/2017.

O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes
do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).

Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela
produzidos (STF ADI 3306).

Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/16. Info 824).

Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após
o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel.
Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16. Info 845).

8.20. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes – (Infos 808 e
887) – (PGM/Macéio-2012)

O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”.


Segundo a teoria restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz
efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.
A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato: •
usurpou competência do STF; ou
• desrespeitou decisão proferida pelo STF.
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos
(fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso
porque apenas o dispositivo do acórdão é que é vinculante.
Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de reclamação
fundada na transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante.
STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
j. 19/11/15 (Info 808).
STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski, j.
12/9/17 (Info 887).
OBS: A Constituição Federal, em seu art. 102, § 2º, estabelece os efeitos da decisão proferida
pelo STF no controle abstrato de constitucionalidade:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.

Vamos explicar melhor esses efeitos:


1) Quanto ao aspecto SUBJETIVO (quem é atingido pela decisão?)
• Eficácia contra todos (erga omnes)
• Efeito vinculante

2) Quanto ao aspecto OBJETIVO (que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e
efeito vinculante?)
 1ª corrente: teoria restritiva
Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão
(fundamentação) não são vinculantes.

 2ª corrente: teoria extensiva


Além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são
vinculantes. Admite-se a transcendência dos motivos que embasaram a decisão.

Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes (efeitos irradiantes dos
motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os fundamentos determinantes da decisão
também teriam efeito vinculante. Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência
dos motivos determinantes (teoria extensiva). O STF já chegou a manifestar apreço pela teoria
da transcendência dos motivos determinantes, mas atualmente, a posição da Corte é no sentido
de que não pode ser acolhida.

8.21. Efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade – (Info 886) –


IMPORTANTE!!! – (MPMS-2018)

Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou


seja, em sede de controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato,
também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes.
O STF passou a acolher a teoria da abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário
do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo,
ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado,
ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a
seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle
difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado
com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/11/17 (Info 886).
(MPMS-2018): Segundo a posição atual do Supremo Tribunal Federal, a declaração
incidental de inconstitucionalidade de uma lei, em sede de controle difuso de
constitucionalidade, terá efeito vinculante e erga omnes. BL: Info 886, STF.

OBS:
Imagine a seguinte situação: Foi ajuizada uma ADI contra a Lei Estadual 3.579/01, do Estado
do Rio de Janeiro. O objeto da ação (pedido do autor) era, portanto, o seguinte: Tribunal,
declare inconstitucional a Lei Estadual 3.579/01.
O que o STF decidiu? O STF não concordou com o autor da ADI e julgou improcedente o
pedido. Isso significa dizer que o STF entendeu que a Lei Estadual 3.579/01 é constitucional.

Qual é a eficácia dessa decisão do STF que declarou constitucional a Lei Estadual 3.579/01?
• Eficácia contra todos (erga omnes);
• Efeito vinculante.

Isso porque a referida lei foi declarada constitucional em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, atraindo assim os efeitos previstos no art. 102, § 2º da CF/88:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.

Decisão incidental do STF: Acompanhe agora o seguinte ponto interessante: durante os


debates para julgar a ação, o STF concluiu que o art. 2º da Lei Federal 9.055/95 era
inconstitucional. Vale ressaltar que o art. 2º da Lei federal 9.055/95 não era objeto da ação.
Assim, o art. 2º da Lei Federal 9.055/95 foi declarado inconstitucional de forma incidental, ou
seja, em controle difuso de constitucionalidade.

Qual é a eficácia da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Federal 9.055/95
inconstitucional? Qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei? Segundo o entendimento clássico, a decisão do STF
reconhecendo a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo irá variar de acordo com a
espécie de controle exercido:

Controle concentrado Controle difuso


Realizado pelo STF, de forma abstrata, nas Realizado por qualquer juiz ou Tribunal
hipóteses em que lei ou ato normativo violar (inclusive o STF), em um caso concreto.
a CF/88.
Produz, como regra, os seguintes efeitos: Produz, como regra, os seguintes efeitos:
• Ex tunc • Ex tunc
• Erga omnes • Inter partes
• Vinculante • Não vinculante

Desse modo, pela teoria tradicional, em regra, a decisão que declara incidentalmente uma lei
inconstitucional produz efeitos inter partes e não vinculantes.
Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deverá comunicar
essa decisão ao Senado e este poderá suspender a execução, no todo ou em parte, da lei viciada
(art. 52, X):
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal;

A decisão do Senado de suspender a execução da lei seria discricionária. Caso ele resolva
fazer isso, os efeitos da decisão de inconstitucionalidade do STF, que eram inter partes, passam
a ser erga omnes. Assim, pela teoria tradicional a resolução do Senado ampliaria a eficácia do
controle difuso realizado pelo Supremo. Assim, pela teoria tradicional, a eficácia da decisão do
STF que declarou, incidentalmente, a Lei Estadual 3.579/01 inconstitucional produziria efeitos
inter partes e não vinculante.
Ocorre que o STF decidiu abandonar a concepção tradicional e fez uma nova interpretação
do art. 52, X, da CF/88.

O que entendeu o STF? O STF decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão também terá efeito vinculante e erga omnes.
A fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, deve-se atribuir à decisão proferida em
sede de controle incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle
abstrato.
O § 5º do art. 535 do CPC/2015 reforça esse tratamento uniforme:
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu
representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para,
querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

O Min. Gilmar Mendes afirmou que é preciso fazer uma releitura do art. 52, X, da CF/88. Essa
nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional,
mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF
apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê
publicidade daquilo que foi decidido.

Mutação constitucional: O Min. Celso de Mello afirmou que o STF fez uma verdadeira
mutação constitucional com o objetivo de expandir os poderes do Tribunal com relação à
jurisdição constitucional. Assim, a nova intepretação do art. 52, X, da CF/88 é a de que o papel
do Senado no controle de constitucionalidade é simplesmente o de, mediante publicação,
divulgar a decisão do STF. A eficácia vinculante, contudo, já resulta da própria decisão da
Corte.

Declaração de inconstitucionalidade da matéria (e não apenas do ato normativo): A Min.


Cármen Lúcia afirmou que o STF está caminhando para uma inovação da jurisprudência, no
sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo, mas a própria matéria
que nele se contém.

Preclusão consumativa da matéria: Por fim, o Min. Edson Fachin concluiu que a declaração
de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão consumativa da matéria.
Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem fim.

Em suma, qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a


inconstitucionalidade de uma lei?

Concepção tradicional Concepção moderna (atual)


Eficácia inter partes Eficácia erga omnes
Efeitos não vinculantes Efeitos vinculantes

Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso? SIM.
Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no julgamento, o
certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do
controle difuso. Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso
preconiza que, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de
uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos
do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. Para essa corrente, o art. 52,
X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado. Dessa
forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em
outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes
e o Senado apenas confere publicidade a isso.

Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos
determinantes? NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além
do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes. Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da
transcendência dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que esta
passou a ser adotada pelo Tribunal. O Dizer o Direito acredita que não seja uma posição segura
para se adotar em provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse sentido.

8.22. Se a maioria dos Ministros votou pela procedência da ADI, mas não se obteve maioria
absoluta dos votos, a lei não deverá ser declarada inconstitucional – (Info 874)

Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros
votam pela inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela constitucionalidade.
Dois Ministros declaram-se impedidos de votar.
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos?
NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de
inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido
pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei nem constitucional
nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia vinculante, ou seja, os
juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional ou
inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF.
STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 23 e 24/8/17 (Info 874).
OBS:
QUÓRUM DE SESSÃO (QUÓRUM PARA JULGAMENTO/VOTAÇÃO)
O que é quórum de sessão no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
Ministros presentes na sessão para que o Tribunal inicie a discussão se uma lei ou ato
normativo é inconstitucional.

Qual é o quórum de sessão para que o STF examine a constitucionalidade de uma lei ou ato
normativo? 8 (oito) Ministros. No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento na qual
será votada a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam
presentes no mínimo oito Ministros. Se houver sete, por exemplo, a discussão não pode sequer
ser iniciada. O quórum de sessão está previsto no parágrafo único do art. 143 do RISTF (que
fala de forma genérica, valendo tanto para controle difuso como concentrado) e no art. 22 da
Lei nº 9.868/99 (que é específico para o controle concentrado):
Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será
tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.

QUÓRUM DE JULGAMENTO
O que é quórum de julgamento no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
votos necessários para que uma lei ou ato normativo seja declarado inconstitucional.

Qual é o quórum de julgamento para que o STF declare uma lei ou ato normativo
inconstitucional? 6 (seis) votos. É necessário que seis Ministros votem pela
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o que determina o art. 97 da CF/88, ao prever
que, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros, o Tribunal poderá declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. O STF possui onze membros,
de forma que a maioria absoluta corresponde a seis Ministros.

Imagine que na sessão de julgamento há apenas nove Ministros (duas cadeiras estão vagas).
Está sendo analisada ADI contra determinada lei. Cinco Ministros entendem que a lei é
inconstitucional e quatro consideram que ela é compatível com a CF/88. Teremos aí uma
maioria simples dizendo que a lei é inconstitucional. No entanto, não se chegou a uma maioria
absoluta. Logo, a lei não poderá ser declarada inconstitucional. Ela continuará sendo válida.
Repetindo: o STF só pode declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional pelo voto da
maioria absoluta de seus membros (6 Ministros).

Imagine a seguinte situação:


É proposta uma ADI contra determinada lei.
5 Ministros votam pela inconstitucionalidade da lei.
4 Ministros votam pela constitucionalidade.
2 Ministros declaram-se impedidos de votar.

Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos? NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos
para a declaração de inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o
quórum exigido pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei
nem constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia
vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional
ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF. Foi o que aconteceu na ADI 4066/DF, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 23 e 24/8/2017 (Info 874).

8.23. Não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado
ao ordenamento brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88 – (Info 872)

Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um
tratado internacional.

Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de
controle concentrado de constitucionalidade.

Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra
do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas para
sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.

Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias, emendas
constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos aprovados
por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Assim,
quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está dizendo que esta lei
viola a CF/88 (parâmetro).

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: Foi proposta uma ADI contra lei
estadual alegando que ela violou um tratado internacional, qual seja, a Convenção sobre
Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias, assinada em
Londres, e promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 87.566/1982.

É cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado
internacional? É cabível ADI utilizando-se um tratado internacional como parâmetro? Em
regra, não.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do
§ 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao ordenamento
brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. Veja:
Art. 5º (...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45/2004)

Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais promulgados pelo Brasil?


Os tratados internacionais são equivalentes a que espécie normativa?
1) Tratados internacionais que não tratem sobre direitos Status de lei ordinária
humanos
2) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos, Status supralegal
mas que não tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da
CF/88
3) Tratados internacionais sobre Direito Tributário (art. 98 do Status supralegal
CTN)
4) Tratados internacionais sobre matéria processual civil (art. 13 Status supralegal
do CPC/2015)
5) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e Emenda constitucional
que tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88

Obs1: quando se diz que um tratado possui status supralegal isso significa que ele está
hierarquicamente acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição Federal. É o caso,
por exemplo, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa
Rica), que foi incorporada ao Direito brasileiro antes da EC 45/2004 e, portanto, tem status
supralegal (STF. Plenário. RE 466343, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 03/12/2008). O status
normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil
torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou
posterior ao ato de adesão (STF. Plenário. RE 349703, Rel. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, DJ
5/6/2009).

Obs2: não se pode confundir parâmetro com objeto. Parâmetro já foi explicado acima. Objeto
significa os atos normativos contra os quais se pode propor ADI. Todos os tratados
internacionais aprovados pelo Brasil podem ser objeto de ADI, ou seja, pode-se ajuizar ação
alegando que eles violam a Constituição Federal. Nesse sentido:
(Diplomata 2011 CESPE) A ação direta de inconstitucionalidade
pode ser impetrada contra tratados que versem sobre direitos
humanos com status de norma constitucional, contra tratados de
direitos humanos que ingressem no ordenamento jurídico com a
natureza de norma supralegal e contra os tratados que, não
dispondo sobre direitos humanos, adentrem o ordenamento com
força de lei ordinária. (correta)

Voltando à situação acima analisada: O STF não conheceu da ADI proposta contra a referida
lei estadual porque a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de
Resíduos e Outras Matérias (Decreto 87.566/1982) não trata sobre direitos humanos e,
portanto, possui status de lei ordinária em nosso país. Logo, o autor estava alegando, em uma
ADI, que uma lei estadual teria violado uma norma com status de lei ordinária federal. Isso
não é matéria de ADI. Nas palavras do STF, “não se admite o exame de contrariedade à norma
infraconstitucional em sede de controle concentrado de constitucionalidade”.

8.24. Cabimento de ADPF contra conjunto de decisões judiciais que determinaram a


expropriação de recursos do Estado-membro – (Info 869)

O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com o
pagamento de fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração dos
servidores públicos. Os órgãos e entidades também estão sem dinheiro para custear os
serviços públicos.
Diante disso, diversas ações (individuais e coletivas) foram propostas, tanto na Justiça
comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a realização desses
pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e determinando a
apreensão de valores nas contas do Estado para a concretização dos pagamentos.
Neste cenário, o Governador do Estado ajuizou ADPF no STF com o objetivo de suspender
os efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT da 1ª Região que tenham
determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de valores das
contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro.
O STF afirmou que a ADPF é instrumento processual adequado para esse pedido e deferiu
a medida liminar.
O conjunto de decisões questionadas são atos típicos do Poder Público passíveis de
impugnação por meio de APDF.
STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/17 (Info 869).

8.25. Modulação de efeitos em recurso extraordinário – (Info 857) – (Procurador/IPSM-2018)

É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de controle incidental de


constitucionalidade.
STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16/3/17 (Info 857).
(TJDFT-2012): Em caso de controle difuso de constitucionalidade, a jurisprudência da
Excelsa Corte consagrou entendimento que admite, excepcionalmente, a modulação
temporal da declaração de inconstitucionalidade, com efeitos prospectivos, desde que a
decisão seja por maioria de 2/3 e se reconheça a presença de razões de segurança jurídica
ou de exponencial interesse social.

OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os
efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF. Em outras palavras, a Lei permite
que o STF determine que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade somente valham a
partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de determinada data futura (efeitos
prospectivos).

Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,
e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de
dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei n.9.882/99.

Regra: efeitos EX TUNC (retroativos)

Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):


* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em * segurança jurídica ou;
julgado; ou * excepcional interesse social
* de outro momento que venha a ser fixado.

Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos. É possível a modulação


dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos, como na hipótese da decisão proferida
em um recurso extraordinário (controle difuso)? SIM. O STF entende que, excepcionalmente,
admite-se, em caso de controle difuso de constitucionalidade, a modulação temporal dos
efeitos da decisão proferida. Com o objetivo de seguir o mesmo modelo previsto no art. 27 da
Lei 9.868/99, o STF decidiu que é necessário o quórum de 2/3 para que ocorra a modulação de
efeitos em sede de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida. Considerou-se
que esta maioria qualificada seria necessária para conferir eficácia objetiva ao instrumento.
8.26. Na ADI a causa de pedir é aberta – (Info 856) – IMPORTANTE!!!

O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado


aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor.
Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta.
Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do
bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para
declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 8/3/17 (Info 856).

8.27. TJ pode julgar ADI contra lei municipal tendo como parâmetro norma da Constituição
Federal? – (Info 852) – IMPORTANTE!!! – (PGM-Salvador/BA-2015) (TJSC-2017)

Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis


municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate
de normas de reprodução obrigatória pelos estados.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).

(Auditor Fiscal de Tributos Estaduais/SEFIN-RO-2018-FGV): O Tribunal de Justiça do


Estado Alfa foi instado a realizar o controle concentrado de constitucionalidade de lei do
Município Beta. O autor da ação argumentava que teriam sido violados: (I) o Art. 10 da
Constituição Estadual, que reproduzia literalmente preceito da Constituição da República;
e (II) o Art. 39 da Constituição da República, pois é considerada norma de reprodução
obrigatória, e a Constituição Estadual sujeitou os servidores às “normas constitucionais
que lhes sejam aplicáveis”. Considerando o paradigma de confronto passível de ser
utilizado pelo Tribunal de Justiça no controle concentrado de constitucionalidade, assinale
a afirmativa correta: A ação pode ser conhecida em relação a ambos os fundamentos, pois
o Tribunal de Justiça pode utilizar como parâmetro as normas da Constituição Estadual e
as da Constituição da República de reprodução obrigatória.

(TJSC-2017-FCC): De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e com as


normas da Constituição Federal a respeito das limitações ao Poder Constituinte dos
Estados-membros, é admissível que emenda à Constituição estadual estabeleça a
competência do Tribunal de Justiça do Estado para julgar ações diretas de
inconstitucionalidade de leis municipais em face da Constituição estadual, ainda que a
norma constitucional violada também conste da Constituição Federal e seja de observância
obrigatória por todos os entes federados.

(PGM-Salvador-2015-CESPE): A omissão pela Constituição estadual de norma


constitucional federal de reprodução obrigatória não impede o controle mediante ação
direta contra lei municipal em face dos preceitos omitidos.

OBS:
É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI proposta
no Supremo Tribunal Federal? NÃO. A CF/88 somente autoriza que seja proposta ADI no STF
contra lei ou ato normativo FEDERAL ou ESTADUAL. Veja:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e
a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal;

Vale ressaltar que é cabível ADPF contra lei municipal.


É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI proposta
no Tribunal de Justiça? SIM. A CF/88 autorizou essa possibilidade, determinando que o tema
seja tratado nas Constituições estaduais. Confira:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do
Tribunal de Justiça.
§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais OU
MUNICIPAIS em face da Constituição Estadual, vedada a
atribuição da legitimação para agir a um único órgão.

A CF/88 utilizou o termo “representação de inconstitucionalidade”, mas é plenamente


possível que a chamemos de “ação direta de inconstitucionalidade estadual” (ADI estadual).

Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em


"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas para
sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.

Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias, emendas
constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos aprovados
por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Assim,
quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está dizendo que esta lei
viola a CF/88 (parâmetro).

Quando é proposta uma ADI no TJ contra lei municipal, qual é o parâmetro que será analisado
pelo Tribunal? A Constituição Estadual. Isso está expressamente previsto no § 2º do art. 125
da CF/88: "§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de
leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual (...)".
Assim, em regra, quando o Tribunal de Justiça julga uma ADI proposta contra lei ou ato
normativo estadual ou municipal, ele deverá analisar se esta lei ou ato normativo viola ou não
algum dispositivo da Constituição Estadual.

Quando o TJ julga uma ADI contra lei estadual ou municipal, ele poderá declará-la
inconstitucional sob o argumento de que viola um dispositivo da Constituição Federal? Em
regra, não. Isso porque, como vimos acima, o parâmetro da ADI proposta perante o TJ é a
Constituição Estadual (e não a Constituição Federal).
Assim, em regra, na ADI estadual, o TJ irá analisar se a lei ou ato normativo atacado viola ou
não a Constituição Estadual. Este é o parâmetro da ação. O TJ não pode examinar se o ato
impugnado ofende a Constituição Federal. O STF, em reiteradas oportunidades, já decidiu
sobre o tema:
Não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de
constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em
face da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 347, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
20/09/2006.

Logo, o TJ não pode dizer o seguinte: julgo a presente representação de inconstitucionalidade


porque a Lei municipal XX/2015 viola o art. YY da Constituição Federal de 1988.

Exceção: A regra acima exposta comporta uma exceção. Os Tribunais de Justiça, ao julgarem a
representação de inconstitucionalidade proposta contra lei municipal, poderão declará-la
inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da Constituição Federal, desde que
eles sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Normas de reprodução obrigatória: Normas de reprodução obrigatória são dispositivos da
Constituição Federal de 1988 que, como o próprio nome indica, devem ser repetidos nas
Constituições Estaduais. Elas são também chamadas de "normas de observância obrigatória"
ou "normas centrais".
Importante esclarecer que, se uma norma é de reprodução obrigatória, considera-se que ela
está presente na Constituição Estadual mesmo que a Carta estadual seja silente. Ex: a CF/88
prevê que os Municípios são autônomos (art. 18). Trata-se de norma de reprodução obrigatória.
Isso significa que, mesmo se a Constituição Estadual não disser que os Municípios são
autônomos, ainda assim considera-se que essa regra está presente na Carta Estadual.

Confira a explicação do Ministro Luis Roberto Barroso, para quem normas de reprodução
obrigatória são:
"as disposições da Carta da República que, por pré-ordenarem
diretamente a organização dos Estados-membros, do Distrito
Federal e/ou dos Municípios, ingressam automaticamente nas
ordens jurídicas parciais editadas por esses entes federativos. Essa
entrada pode ocorrer, seja pela repetição textual do texto federal,
seja pelo silêncio dos constituintes locais – afinal, se sua absorção é
compulsória, não há qualquer discricionariedade na sua
incorporação pelo ordenamento local." (Rcl 17954 AgR/PR).

Não existe um artigo da Constituição Federal que diga quais são as normas de reprodução
obrigatória. Isso foi uma "construção" da jurisprudência do STF, ou seja, em diversos julgados
o Tribunal foi mencionando quais as normas seriam de reprodução obrigatória.
Como exemplos de normas de reprodução obrigatória podemos citar as regras da Constituição
Federal que tratam sobre organização político-administrativa, competências, separação dos
Poderes, servidores públicos, processo legislativo, entre outras.
Veja a importante lição de Marcelo Novelino sobre o tema:
"(...) Diversamente da Carta anterior, que as relacionava
expressamente (CF/1967-1969, art. 13, I, III e IX), na Constituição de
1988 as normas de observância obrigatória não foram elencadas de
forma textual. Adotou-se uma formulação genérica que, embora
teoricamente conferira maior liberdade de auto-organização aos
Estados-membros, cria o risco de possibilitar interpretações
excessivamente amplas na identificação de tais normas. (...)
(...)
As normas de observância obrigatória são diferenciadas em três
espécies. Os princípios constitucionais sensíveis representam a
essência da organização constitucional da federação brasileira e
estabelecem limites à autonomia organizatória dos Estados-
membros (CF, art. 34, VII). Os princípios constitucionais extensíveis
consagram normas organizatórias para a União que se estendem aos
Estados, por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75) ou
implícita (CF, art. 58, § 3.°; arts. 59 e ss.). Os princípios
constitucionais estabelecidos restringem a capacidade organizatória
dos Estados federados por meio de limitações expressas (CF, art. 37)
ou implícitas (CF, art. 21)." (NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito
Constitucional. Salvador: Juspdodivm, 2015, p. 82).

Resumindo:
 Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz
da Constituição Estadual.
 Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados.

Exemplos da exceção:
 Ex1: Município do Paraná aprovou lei tratando sobre direito do trabalho; foi proposta
uma ADI estadual no TJ contra esta lei; o TJ poderá julgar a lei inconstitucional
alegando que ela viola o art. 22, I, da CF/88 (mesmo que a Constituição do Estado não
tenha regra semelhante); isso porque essa regra de competência legislativa é
considerada como norma de reprodução obrigatória. Nesse sentido: STF. 1ª Turma.
Rcl 17954 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/10/2016.

 Ex2: Município do Rio Grande do Sul editou lei criando gratificação para o Prefeito
fora do regime de subsídio, o que violaria o art. 39, § 4º, da CF/88; o TJ/RS poderá
julgar a lei municipal inconstitucional utilizando como parâmetro este dispositivo da
Constituição Federal; isso porque a regra sobre o subsídio para membros de Poder e
detentores de mandato eletivo é considerada norma de reprodução obrigatória. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).

Tese fixada pelo STF: O tema acima exposto foi enfrentado pelo STF
em um recurso extraordinário julgado sob a sistemática da
repercussão geral, tendo sido fixada a seguinte tese: Tribunais de
Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de
leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição
Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados. STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel.
para acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1/2/17 (repercussão geral).

Obs: a tese acima fala em "leis municipais", mas ela também pode ser aplicada para
representações de inconstitucionalidade propostas no TJ contra "leis estaduais". A tese falou
apenas de leis municipais porque foi o caso analisado no recurso extraordinário.

Recurso: Se a representação de inconstitucionalidade sustentar que a norma apontada como


violada (parâmetro) é uma norma de reprodução obrigatória, então, neste caso, caberá recurso
extraordinário para o STF contra a decisão do TJ. Sobre o tema:
(...) Tratando-se de ação direta de inconstitucionalidade da
competência do Tribunal de Justiça local – lei estadual ou municipal
em face da Constituição estadual –, somente é admissível o recurso
extraordinário diante de questão que envolva norma da
Constituição Federal de reprodução obrigatória na Constituição
estadual. (...)
STF. 2ª Turma. RE 246903 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 26/11/2013.

Desse modo, Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de


leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate
de normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Contra esta decisão, cabe recurso
extraordinário.

Vale ressaltar que a decisão do STF neste recurso extraordinário terá eficácia erga omnes
porque foi proferida em um processo objetivo de controle de constitucionalidade.

8.28. Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada – (Info 851) –
IMPORTANTE!!!

Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é
convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e poderá
ser conhecida e julgada.
Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque
não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual
permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade.
Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei
que resulta de sua conversão.
Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a
conversão na Lei nº 8.866/94.
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação
ao STF e pedindo o aditamento da ação.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2016 (Info 851).
OBS:
Nesse sentido, confira o seguinte precedente do STF:
(...) Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de
medida provisória a sua intercorrente conversão em lei sem
alterações, dado que a sua aprovação e promulgação integrais
apenas lhe tornam definitiva a vigência, com eficácia "ex tunc" e sem
solução de continuidade, preservada a identidade originaria do seu
conteúdo normativo, objeto da arguição de invalidade. (...)
STF. Plenário. ADI 691 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado
em 22/04/1992.

8.29. Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e julgamento da ação sem
comunicar este fato ao STF – (Infos 824 e 845) – IMPORTANTE!!!

O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).

"A revogação superveniente do ato normativo impugnado prejudica a ação direta de


inconstitucionalidade, independentemente da existência de efeitos residuais concretos.
Esse entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal nada mais reflete
senão a própria natureza jurídica do controle normativo abstrato, em cujo âmbito não se
discutem situações de caráter concreto ou individual."
(STF. Plenário. ADI 1203 QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 19/04/1995).

Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por
ela produzidos (STF ADI 3306).

"Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. (...)
Fatos que não caracterizaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção de
burlar a jurisdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a
revogação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimental e o
julgamento final da ação não ficam prejudicados. (...)"
(STF. Plenário. ADI 3306, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17/03/2011)

Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (ADI 2418/DF). (Info 824)

Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após
o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada. (Info 845)

STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16 (Info 845).
OBS:
EXCEÇÃO 2: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação.
Exemplo da exceção 2: Foi proposta uma ADI contra o art. 10 da MP 2.102-27/01, que
acrescentou um parágrafo único ao art. 741 do CPC 1973. Ocorre que a ADI somente foi julgada
pelo STF em maio de 2016, ou seja, quando já havia entrado em vigor o CPC 2015, que revogou
esse dispositivo do CPC 1973. Diante disso, a AGU afirmou que a ação perdeu o seu objeto e
que, por essa razão, não deveria mais ser conhecida. A OAB, por sua vez, autora da ação,
argumentou que o CPC 2016 praticamente repetiu esse dispositivo. Dessa forma, persistia a
necessidade de enfrentamento do tema.

O que decidiu o STF? A ADI poderá ser conhecida e julgada mesmo tendo havido a revogação
do dispositivo que estava sendo impugnado? SIM. O STF entendeu que não houve a perda de
objeto da ação mesmo tendo havido a revogação do § único do art. 741 do CPC 1973 pela Lei
13105/15. Isso porque a matéria disciplinada no referido dispositivo foi mantida pelo NCPC,
que tratou sobre o tema de forma semelhante, ainda que com algumas diferenças, nos §§ 5º a
8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15 do art. 525 do CPC 2015. Persistem, portanto, as razões invocadas
pela autora da ADI para afirmar a inconstitucionalidade da previsão. Dessa forma, como não
houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação. Nesse mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 2.501/MG, DJe de
19/12/2008; ADI 3147 ED, julgado em 28/05/2014.

EXCEÇÃO 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada.

Exemplo da exceção 3: Foi ajuizada ADI contra uma lei do Estado de Santa Catarina. Poucos
meses antes do STF julgar a ação, a referida lei foi inteiramente revogada. Ocorre que o STF
não foi informado sobre a revogação e julgou a ADI procedente, declarando a lei
inconstitucional. Após o julgamento, a Assembleia Legislativa do Estado apresentou embargos
de declaração alegando contradição do acórdão sob o argumento de que o STF deveria ter
julgado a ADI prejudicada em face da revogação da lei.

O argumento exposto nos embargos de declaração foi acolhido? NÃO. Deve-se afastar a
prejudicialidade de ação direta de inconstitucionalidade caso o STF tenha julgado o mérito da
ação sem ter sido comunicado previamente a respeito da revogação da norma atacada. É
preciso preservar o trabalho já efetuado pelo Tribunal, bem como evitar que a constatação da
efetiva violação à ordem constitucional se torne inócua. Permitir que se pleiteie a
desconstituição do julgamento em embargos de declaração depois de decidido o mérito da
ação equivaleria a abrir à parte a possibilidade de manipular a decisão do STF. Assim, se esta
lhe for favorável, bastará não invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos. Se, ao
contrário, lhe for desfavorável, o reconhecimento da prejudicialidade a imunizará contra os
efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade. Ademais, como a revogação da lei
catarinense não foi alegada antes do julgamento do mérito, não é possível falar em omissão,
obscuridade ou contradição nem há também, por esse motivo, fundamento para acolher os
embargos de declaração. Por fim, vale ressaltar que a lei efetivamente vigeu durante
determinado período, de modo que, se fosse considerada a prejudicialidade dessa ação, isso
significaria admitir como válidos os efeitos da lei no período em que ela vigorou, sendo que o
STF já declarou que ela era inconstitucional desde o seu início (inconstitucionalidade com
efeitos ex tunc). STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/2016 (Info
845).

8.30. Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório em


relação às leis anteriores de mesmo conteúdo – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

Foi proposta ADI contra a Lei 3.041/05, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava sobre
assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis estaduais
de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei 3.041/05 fosse, isoladamente, declarada
inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo padecendo de
idêntico vício.
A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação,
impugnou não apenas a Lei 3.041/05, mas também aquelas outras normas por ela revogadas.
O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei 3.041/05, afirmou que não
deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo.
O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação:
"O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido
formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato
Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo, (...)"
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
O autor da ADI deverá impugnar a lei atual e a lei revogada (se esta contiver o mesmo vício) a
fim de evitar uma "eficácia repristinatória indesejada", ou seja, com o objetivo de evitar que
aquela decisão do STF seja inútil. Digo inútil porque a lei atual será declarada inconstitucional,
mas "voltará" uma lei com semelhante mácula.
"No caso de efeito repristinatório indesejado, ou seja, quando a lei revogada também for eivada
do vício de inconstitucionalidade, faz-se necessária a formulação de pedidos sucessivos de
declaração de inconstitucionalidade, tanto do diploma ab-rogatório quanto das normas por ele
revogadas. Caso a norma anterior não seja impugnada, a ADI não será conhecida." (Marcelo
Novelino).

8.31. Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui
legitimidade para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados – (Info 826)

As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo
de seus representados.
Ex: a ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar
ADPF questionando dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas os
juízes estaduais, mas sim os magistrados de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou
estadual.
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
Os legitimados para a propositura de ADI, ADC ou ADPF estão previstos no art. 103 da CF/88.
Dentre eles, destaco o inciso IX:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a


ação declaratória de constitucionalidade:
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Segundo a jurisprudência do STF, "entidade de classe de âmbito nacional" não possui


legitimidade para a instauração do controle concentrado de constitucionalidade (art. 103, IX,
da CF) quando a associação autora representa apenas fração ou parcela da categoria
profissional cujo interesse está sendo defendido em juízo.

8.32. Leis orçamentárias podem ser objeto de ADI – (Info 817)

É possível a impugnação, em sede de controle abstrato de constitucionalidade, de leis


orçamentárias. Assim, é cabível a propositura de ADI contra lei orçamentária, lei de
diretrizes orçamentárias e lei de abertura de crédito extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016
(Info 817).
Durante alguns anos o STF entendeu que a lei orçamentária e a lei de diretrizes orçamentárias
(LDO) não poderiam ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade. O argumento para
isso era o de que tais leis possuíam efeitos concretos de forma que mais se pareceriam com um
ato administrativo do que com uma lei. Este entendimento ainda vigora atualmente? NÃO.

OBS: Vale ressaltar, no entanto, que se terminar o exercício financeiro a que se refere a lei sem
que a ADI tenha sido julgada, haverá perda superveniente do objeto. Ex: foi proposta ADI
contra a LDO relativa a 2014, mas terminou o ano sem que ela tenha sido julgada. Haverá,
portanto, perda do objeto. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4663 MC-Ref, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 15/10/2014.

8.33. Reclamação contra decisões proferidas em recurso extraordinário e RE 567.985/MT –


(Info 813) – IMPORTANTE!!!

Em regra, a decisão proferida pelo STF em processos individuais (ex: recurso extraordinário,
reclamação) possui eficácia inter partes. No entanto, no caso do RE 567.985/MT, do RE
580963/PR e do Rcl 4374/PE é diferente. Isso porque o Plenário da Corte Suprema, no
julgamento desses processos não apenas resolveu o conflito individual deduzido naquela
causa, mas realizou, expressamente, a reinterpretação da decisão proferida pelo STF na ADI
1.232/DF.
Em outras palavras, a decisão proferida no processo individual ganhou eficácia erga omnes
e efeito vinculante porque reinterpretou e modificou uma decisão proferida em ADI, que
possui tais atributos. Logo, por ter "substituído" um entendimento do STF que tinha eficácia
erga omnes e efeito vinculante, a nova decisão proferida em sede de controle concreto
ganhou contornos de controle abstrato.
Dessa forma, se uma decisão proferida por outro órgão jurisdicional violar o que foi
decidido pelo STF no RE 567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE caberá reclamação
para o Supremo.
Obs: apenas para esclarecer, em 1998, na ADI 1.232/DF, o STF havia decidido que o § 3º do
art. 20 da Lei nº 8.742/93 era constitucional. Em 2013, ao apreciar novamente o tema no RE
567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE, processos individuais julgados em conjunto,
o STF mudou de entendimento e afirmou que o referido § 3º é parcialmente
inconstitucional.
STF. Decisão monocrática. Rcl 18636, Rel. Min. Celso de Mello, j. 10/11/15 (Info 813).

8.34. Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado – (Info 810) –
(TJMSP-2016-VUNESP)

Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão


judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de
constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada.
STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 27/10/2015
(Info 810).

8.35. Superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa) – (Info 801) – (TJPR-2017)


(Anal. Legisl./ALESE-2018)

As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou


ADPF possuem eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da
CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não
proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário
ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos normativos. O legislador
pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de uma
reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão
jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos
limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda
constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema, essa
emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea ou
o processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente
colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade,
de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a
correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser considerada válida, o Congresso
Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a
decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira
hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j em 1º/10/2015 (Info 801).
(Anal. Legisl./ALESE-2018-FCC): No exercício do controle concentrado de
constitucionalidade, o STF declarou a inconstitucionalidade de uma lei editada pelo
Congresso Nacional, com efeitos ex tunc. Não satisfeito com a decisão, o Poder Legislativo
edita nova lei, com conteúdo idêntico à lei tida por inconstitucional pelo STF. Essa nova
lei deverá, para que possa ser retirada do ordenamento jurídico pelo Poder Judiciário, ser
objeto de novo controle concentrado de constitucionalidade, uma vez que o efeito
vinculante das decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF nas ações diretas de
inconstitucionalidade não atinge o Poder Legislativo. BL: Info 801, STF.

(TJPR-2017-CESPE): O juiz constitucional já não interpreta, no processo constitucional,


de forma isolada: muitos são os participantes do processo; as formas de participação se
ampliam acentuadamente. Os instrumentos de informação dos juízes constitucionais —
não apesar, mas em razão da própria vinculação à lei — devem ser ampliados e
aperfeiçoados, especialmente no que se refere às formas gradativas de participação e à
própria possibilidade de participação no processo constitucional (especialmente nas
audiências e nas “intervenções”). Devem ser desenvolvidas novas formas de participação
das potências públicas pluralistas como intérpretes em sentido amplo da Constituição.
Peter Häberle. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000, p. 47-8 (com adaptações).
Tendo o texto precedente como referência inicial, assinale a opção correta acerca dos
modelos e dos diversos instrumentos de controle de constitucionalidade do ordenamento
jurídico brasileiro. Será constitucional o processo legislativo em que assembleia legislativa
aprove lei com idêntico conteúdo de norma declarada inconstitucional pelo STF em sede
de controle abstrato. BL: Info 801, STF.

OBS: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder
Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico
conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel. Min.
CEZAR PELUSO)

8.36. Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já
reconhecido formalmente constitucional pelo STF – (Info 787) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-
2016)

A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria
formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”,
mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X” (nem
disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede
que ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/5/2015 (Info 787).
8.37. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória – (Info 787) –
IMPORTANTE!!!

A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito


normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros
processos anteriores que tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente
decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio
ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC
1973 (art. 966, V do CPC 2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC
1973 / art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que
declara a inconstitucionalidade (que retira do plano jurídico a norma com efeito “ex tunc”)
com a eficácia executiva, ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão
geral) (Info 787).

8.38. Cumulação de ADI com ADC – (Info 786) – IMPORTANTE!!!

O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a


inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja
declarado constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI
com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma
única demanda de controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção
dos fins a que destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade,
destinado à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de
questões minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na
Lei 9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente
a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por
prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

8.39. Controvérsia judicial relevante – (Info 786)

A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos
da petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia
judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não
há razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher
o requisito da “controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato
normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível
preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa
lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não
se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas
decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando
inconstitucional a lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo
impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais elevada da vontade do
parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada for
relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/2015 (Info 786).

8.40. Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu


e rejeitou a proposta, proclamando o resultado – (Info 780) – IMPORTANTE!!!

O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que
ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se
deveria haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas
como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o
resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava
ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão
que declarou a lei inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado
concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir
novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de
modulação dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a
modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

8.41. Quórum de sessão e discussão sobre a recepção de lei ou ato normativo – (Info 769)

No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento onde será votada a
constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam presentes no
mínimo 8 Ministros. Se houver 7, por exemplo, a discussão não pode sequer ser iniciada
(art. 143, parágrafo único, do art. 143 do RISTF). A isso chamamos de quórum de sessão (ou
quórum para julgamento/votação).
Essa exigência de quórum para julgamento não se aplica caso o STF esteja analisando a
recepção ou não de uma lei ou ato normativo. Isso porque não haverá, nesse caso, controle
(juízo) de constitucionalidade. Trata-se apenas de discussão em torno de direito pré-
constitucional.
Assim, por exemplo, mesmo estando presentes apenas 7 Ministros, o STF poderá discutir se
uma lei foi ou não recepcionada pela CF/88.
STF. Plenário. RE 658312/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/11/2014 (Info 769).

8.42. Relator poderá decidir pela inconstitucionalidade se já houver pronunciamento do


plenário – (Info 761) – (TJSP-2014) (Anal. Judic./TJDFT-2015)

Se já houve pronunciamento anterior, emanado do Plenário do STF ou do órgão competente


do TJ local declarando determinada lei ou ato normativo inconstitucional, será possível que
o Tribunal julgue que esse ato é inconstitucional de forma monocrática (um só Ministro) ou
por um colegiado que não é o Plenário (uma câmara, p. ex.), sem que isso implique violação
à cláusula da reserva de plenário.
Ora, se o próprio STF, ou o Plenário do TJ local, já decidiram que a lei é inconstitucional,
não há sentido de, em todos os demais processos tratando sobre o mesmo tema, continuar
se exigindo uma decisão do Plenário ou do órgão especial. Nesses casos, o próprio Relator
monocraticamente, ou a Câmara (ou Turma) tem competência para aplicar o entendimento
já consolidado e declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.
STF. 2ª Turma. Rcl 17185 AgR/MT, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30/9/14 (Info 761).
(Anal. Judic./TJDFT-2015-CESPE): O STF, mitigando norma constitucional, entende que é
dispensável a submissão da demanda judicial à regra da reserva de plenário quando a
decisão do tribunal basear-se em jurisprudência do plenário ou em súmula do STF. BL: art.
949, § único do CPC e Info 761 do STF.

8.43. Julgamento monocrático do RE pelo Ministro Relator – (Info 759) – IMPORTANTE!!!


– (Advogado-IEMA/ES-2007)

O Tribunal de Justiça julga as ações de controle concentrado de constitucionalidade em


âmbito estadual.
Se o parâmetro, ou seja, a norma da Constituição Estadual que foi apontada como violada,
for uma norma de reprodução obrigatória, caberá recurso extraordinário contra o acórdão do
TJ.
Chegando esse RE na Corte Suprema, o Ministro Relator poderá, monocraticamente, negar
provimento ao recurso se a decisão impugnada estiver de acordo com pacífica
jurisprudência do STF sobre o tema.
STF. Plenário. RE 376440 ED/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/9/2014 (Info 759)
(Advogado-IEMA/ES-2007-CESPE): A existência de normas de reprodução obrigatória nas
constituições estaduais possibilita a interposição de recurso extraordinário para o STF.

8.44. Membro do MPT tem legitimidade para interpor RE contra decisões do TST – (Info
759)

O MPT não pode atuar diretamente no STF.


O exercício das funções do MPU (dentre os quais se inclui o MPT) junto ao STF cabe
privativamente ao Procurador-Geral da República.
Quando se diz que o MPT não pode atuar diretamente no STF isso significa que não pode
ajuizar ações originárias no STF nem pode recorrer contra decisões proferidas por essa
Corte.
Importante esclarecer, no entanto, que o membro do MPT pode interpor recurso
extraordinário, a ser julgado pelo STF, contra uma decisão proferida pelo TST.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 17/9/14 (repercussão geral) (Info
759).

8.45. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI – (Info 747)

Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa pode ser impugnado no


STF por meio de ADI, desde que possua caráter normativo e autônomo. É o caso, por
exemplo, de um artigo do Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração aos
Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão extraordinária.
STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/5/2014 (Info
747)

8.46. Prazo em dobro e controle concentrado de constitucionalidade – (Info 745)


A Fazenda Pública possui prazo em dobro para interpor recurso extraordinário de acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça em sede de representação de inconstitucionalidade (art.
125, § 2º, da CF/88).
Para o STF, deve ser aplicado, neste caso, o disposto no art. 188 do CPC. Não há razão para
que exista prazo em dobro no controle de constitucionalidade difuso e não haja no controle
concentrado.
Para Dias Toffoli o prazo em dobro é uma prerrogativa exercida pela Fazenda Pública em
favor do povo.
STF. 1ª Turma. ARE 661288/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/5/2014 (Info 745)

8.47. Abstrativização do controle difuso – (Info 740)

O STF não acolhe a teoria da abstrativização do controle difuso.


Não houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88.
Para a maioria dos Ministros, a decisão em controle difuso continua produzindo, em regra,
efeitos apenas inter partes e o papel do Senado é o de amplificar essa eficácia,
transformando em eficácia erga omnes.
STF. Plenário. Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 20/3/2014 (Info 740).

8.48. CE pode prever que o ato impugnado em ADI seja defendido pelo Procurador-Geral
do Estado ou pelo Procurador-Geral da ALE – (Info 736)

Não é inconstitucional norma da Constituição do Estado que atribui ao Procurador da


Assembleia Legislativa ou, alternativamente, ao Procurador-Geral do Estado, a
incumbência de defender a constitucionalidade de ato normativo estadual questionado em
controle abstrato de constitucionalidade na esfera de competência do Tribunal de Justiça.
Essa previsão não afronta o art. 103, § 3º da CF/88 já que não existe, quanto a isso, um dever
de simetria para com o modelo federal.
Ademais, essa norma estadual não viola o art. 132 da CF/88 uma vez que a atuação do
Procurador-Geral da ALE nos processos de controle de constitucionalidade não se confunde
com o papel de representação judicial do Estado, esse sim de exclusividade da Procuradoria-
Geral do Estado.
STF. Plenário. ADI 119/RO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

8.49. Decisão administrativa de TJ que estende gratificação a todos os servidores do


Judiciário estadual pode ser objeto de ADI – (Info 734) – IMPORTANTE!!! (MPGO-2016)

O Plenário do TJRN, em um processo administrativo envolvendo dois servidores do Poder


Judiciário, reconheceu que eles teriam direito a determinada gratificação e, além disso,
estendeu esse mesmo benefício para todos os demais servidores do Tribunal que estivessem
em situação análoga.
O STF decidiu que essa decisão administrativa poderia ser objeto de ADI porque ela teve
conteúdo normativo, com generalidade e abstração.
Quanto ao mérito, o STF decidiu que a decisão administrativa do TJ foi inconstitucional por
violar a necessidade de lei para concessão da gratificação (art. 37, X), por implicar em
equiparação remuneratória entre os servidores (art. 37, XIII) e por violar o entendimento
exposto na Súmula 339 do STF.
STF. Plenário. ADI 3202/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).

(MPGO-2016): Podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade as decisões


proferidas em processo administrativo, quando a extensão dessas mesmas decisões seja tal
que as torne um verdadeiro ato administrativo normativo genérico. BL: Info 734 do STF.

8.50. É inconstitucional emenda parlamentar que institua gratificação para servidores


públicos em projeto de lei de iniciativa do Executivo – (Info 734)
O Governador do Estado enviou um projeto de lei para a ALE tratando sobre servidores
públicos estaduais e, por meio de uma emenda parlamentar, foi inserida determinada
gratificação.
O STF considerou essa previsão inconstitucional por violar o art. 63, I, da CF/88, que também
se aplica na esfera estadual.
STF. Plenário. ADI 4759 MC/BA, rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/2014 (Info 734).

8.51. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional – (Info 711)
– IMPORTANTE!!! – (TJSP-2015)

É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de


constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare
inconstitucional, determinando seu arquivamento?
Em regra, não.
Existem duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura:
a) Proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea;
b) Proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com
violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo.
STF. Plenário. MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, j. 20/6/13 (Info 711).
(TJSP-2015-VUNESP): Por meio de mandado de segurança preventivo, Vereador pretende
obter ordem judicial obstando a tramitação de projeto de lei municipal que disciplina, no
âmbito do Município, como deve ser ministrado o ensino religioso. Adotando como
referência o decidido pelo STF no julgamento do MS 32033/DF, é correto afirmar que não é
cabível o controle preventivo de constitucionalidade material das normas em curso de
formação. BL: Info 711, STF.

OBS:
Regra: em regra, não se deve admitir a propositura de ação judicial para se realizar o controle
de constitucionalidade prévio dos atos normativos.

Exceções: Há duas exceções em que é possível o controle de constitucionalidade prévio


realizado pelo Poder Judiciário:
a) caso a proposta de emenda à Constituição seja manifestamente
ofensiva à cláusula pétrea; e
b) na hipótese em que a tramitação do projeto de lei ou de emenda à
Constituição violar regra constitucional que discipline o processo
legislativo.

Nessas duas situações acima, o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado aos
aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa (regras de processo legislativo),
sendo, portanto, admitida a impetração de mandado de segurança com a finalidade de corrigir
tal vício, antes e independentemente da final aprovação da norma.

O caso concreto examinado pelo STF não se enquadrava em nenhuma dessas duas situações
excepcionais, pois não se tratava de emenda à Constituição e a tramitação deste projeto não
violou nenhuma regra constitucional sobre o processo legislativo.

Se fosse concedido o mandado de segurança, a consequência seria a universalização do


controle preventivo judicial de constitucionalidade, o que ultrapassa os limites constitucionais
da intervenção do Judiciário no processo de formação das leis.

Assim, a médio e longo prazo, haveria uma série de ações judiciais da mesma espécie perante
o STF, que passaria a atuar como uma espécie de terceiro participante das rodadas
parlamentares, e exerceria papel típico do Legislativo. O controle repressivo de
constitucionalidade (que atualmente é a regra) cederia espaço, então, ao controle preventivo
(que deve ser excepcional).
Por fim, deve-se ressaltar que as eventuais inconstitucionalidades do projeto poderiam ser
analisadas e resolvidas se e quando este fosse aprovado e se transformasse em lei.

No julgamento, ficaram vencidos os Min. Gilmar Mendes, relator, Dias Toffoli e Celso de
Mello, que concediam parcialmente o mandamus.

8.52. Modulação de efeitos em recurso extraordinário – (Info 695)

É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em recurso extraordinário com


repercussão geral reconhecida. Para que seja realizada esta modulação, exige-se o voto de
2/3 (dois terços) dos membros do STF (maioria qualificada).
STF. Plenário. RE 586453/SE, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j. 20/2/13 (Info 695 STF).

8.53. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes

O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”.


Não se pode utilizar a reclamação, que é uma via excepcional, como se fosse um incidente
de uniformização de jurisprudência.
STF. Primeira Turma. Rcl 11477 AgR/CE, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/5/12 (Info 668 STF).

8.54. Possibilidade de o STF modificar entendimento firmado em controle concentrado

As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, em ADI e ADC, produzem eficácia
contra todos e efeito vinculante. Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF.
Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que determinada lei é CONSTITUCIONAL,
a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que esta mesma lei é
INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico, político, econômico ou
social do país.
As sentenças contêm implicitamente a cláusula rebus sic stantibus, de modo que as
alterações posteriores que alterem a realidade normativa, bem como eventual modificação
da orientação jurídica sobre a matéria, podem tornar inconstitucional norma anteriormente
considerada legítima (“inconstitucionalidade superveniente”) (obs: a expressão
inconstitucionalidade superveniente foi utilizada aqui em sentido diferente da situação em
que uma lei anterior à CF/88 torna-se incompatível com o novo Texto Constitucional. Os
autores afirmam que neste caso houve uma “não recepção”, não se podendo falar em
“inconstitucionalidade superveniente”).
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode ser
decidida durante o julgamento de uma reclamação constitucional.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.

8.55. O STF pode, por meio de reclamação, fazer a (re)intepretação de decisão proferida em
controle de constitucionalidade abstrato

É possível que o STF, por meio de reclamação, faça a (re)interpretação de decisão proferida
em controle de constitucionalidade abstrato.
Ao julgar uma reclamação, o STF realiza um juízo de confronto e de adequação entre o
objeto (ato impugnado) e o parâmetro (decisão do STF tida por violada). Isso pode fazer com
que se conclua pela necessidade de redefinição do conteúdo e do alcance do parâmetro
(decisão que havia sido proferida).
Ao analisar uma reclamação, o STF faz uma espécie de “balançar de olhos” (expressão
cunhada por Karl Engisch) entre o ato impugnado (objeto) e que havia sido decidido
(parâmetro) e poderá chegar a conclusão diferente do que já tinha deliberado anteriormente.
É por meio da reclamação, portanto, que as decisões do STF permanecem abertas a esse
constante processo hermenêutico de reinterpretação realizado pelo próprio Tribunal.
A reclamação, dessa forma, constitui um instrumento para a realização de mutação
constitucional e de inconstitucionalização de normas que muitas vezes podem levar à
redefinição do conteúdo e do alcance, e até mesmo à superação, total ou parcial, de uma
antiga decisão.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.

8.56. Inadmissibilidade da tese das normas constitucionais inconstitucionais, isto é, aquelas


advindas do Poder Constituinte Originário – (MPGO-2016)

A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originarias dando azo a declaração
de inconstitucionalidade de umas em face de outras e incompossível com o sistema de
Constituição rígida.
Na atual Carta Magna "compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição" (artigo 102, "caput"), o que implica dizer que essa jurisdição lhe e atribuída
para impedir que se desrespeite a Constituição como um todo, e não para, com relação a ela,
exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de verificar se este teria, ou
não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia incluído no texto
da mesma Constituição.
Por outro lado, as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da
inconstitucionalidade de normas constitucionais inferiores em face de normas
constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê apenas como limites ao Poder
Constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder
Constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio
Poder Constituinte originário com relação as outras que não sejam consideradas como
clausulas pétreas, e, portanto, possam ser emendadas.
STF. Tribunal Pleno. ADI 815/DF, rel. Min. Moreira Alves, j. em 28/03/96.

(TJRJ-2016-VUNESP): No que se refere à Teoria das Normas Constitucionais


Inconstitucionais, é correto afirmar, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal,
que não há hierarquia entre normas constitucionais do Poder Constituinte Originário, tendo
em vista o princípio da unidade hierárquico-normativa e caráter rígido da Constituição. BL:
ADI 815/DF.

(MPGO-2016): A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originárias,


permitindo, assim, a declaração de inconstitucionalidade de umas em face de outras, é
rejeitada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

8.57. Desnecessidade de manifestação do Advogado-Geral da União em Ação Direta de


Inconstitucionalidade por Omissão – (SEM INFO) – (TJDFT-2007)

Segundo o STF, não é necessária a manifestação do Advogado-Geral da União (art. 103, § 3º,
da CF/88) em ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
STF. Tribunal Pleno. ADI 480, Rel. Min. PAULO BROSSARD, j. 13/10/1994.
OBS: O AGU não se manifesta em caso de ADO simplesmente porque não há texto
impugnado.

9. IRRESPONSABILIDADE PENAL RELATIVA


9.1. Impossibilidade de aplicação do art. 86, § 4º, da CF/88 a outras autoridades – (Info 816)
– IMPORTANTE!!!

Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados,
considerando que a garantia prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe
do Poder Executivo da União (Presidente da República).
Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível qualquer
interpretação que amplie a sua incidência a outras autoridades, notadamente do Poder
Legislativo.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
OBS:
Art. 86 (...) § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado
por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Este dispositivo traz duas regras:


 Regra 1: o Presidente da República, durante o seu mandato, não pode ser denunciado,
processado ou condenado por infrações penais (crimes/contravenções) que não tenham
relação com seu cargo, ou seja, com as funções por ele desempenhadas.
Ex1: se o Presidente da República, em um momento de lazer, sair para dar uma volta de
moto, atropelar e matar culposamente um pedestre, ele não irá responder por este crime
enquanto for Presidente porque o fato é estranho ao exercício de suas funções. Depois que
terminar o mandato, o Ministério Público poderá oferecer normalmente denúncia contra
ele.
Ex2: imagine que se descobre que, antes de assumir o cargo de Presidente da República, ele
praticou, como Ministro de Estado, corrupção passiva. Ao assumir o cargo de Presidente,
a apuração ou o processo relacionado com este crime deverá ficar suspenso porque também
é estranho ao exercício de suas funções (não tem nada a ver com sua condição de
Presidente).
Apesar de o texto constitucional não falar isso, a doutrina entende que, enquanto a
persecução penal estiver sobrestada aguardando o término do mandato, o prazo
prescricional também ficará suspenso.

 Regra 2: o Presidente da República poderá ser responsabilizado pela prática de infrações


penais, mesmo antes do mandato terminar, se o delito cometido tiver relação com o
exercício de suas funções, ou seja, se foi praticado in officio (em ofício) ou propter officium
(em razão do ofício).
Ex: se o Presidente, valendo-se de seu cargo, comete corrupção passiva, ele poderá, após
autorização da Câmara dos Deputados (art. 51, I, da CF/88), ser denunciado pelo
Procurador-Geral da República e responder a processo criminal perante o STF, isso tudo
mesmo antes de seu mandato terminar.

Essa garantia é chamada de "irresponsabilidade penal relativa do Presidente da República".


Atenção para o fato de que o § 4º do art. 86 não trata sobre "crimes de responsabilidade", mas
sim sobre infrações penais comuns (crimes e contravenções).

Governadores e Prefeitos gozam da imunidade penal relativa prevista no § 4º do art. 86, da


CF/88? NÃO. "Por se tratar de exceção ao princípio republicano, esta prerrogativa somente
pode ser contemplada pela Constituição da República, não podendo ser estendida pelas
Constituições estaduais a Governadores e Prefeitos. A nosso ver, o caráter excepcional desta
norma impõe uma exegese estrita, o que impede a extensão desta imunidade temporária ao
Vice-Presidente." (NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo:
Método, 2014, p. 1326).

O Deputado Federal Eduardo Cunha foi denunciado pela prática de crimes e sua defesa pediu
suspensão do processo com base na aplicação, por analogia, do § 4º do art. 86, da CF/88,
considerando que ele é Presidente da Câmara dos Deputados. Tal pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. É entendimento esposado no julgado acima, publicado no Info 816.

10. IMUNIDADE PARLAMENTAR


10.1. Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no
entanto, a respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves) – (Info 881) –
IMPORTANTE!!!

O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas
cautelares é do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).

Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu
mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24
horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere
se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou
indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a
Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido
determinada pelo Judiciário.
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares
diversas da prisão.
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/10/17 (Info 881).
OBS:
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva?
 Regra: NÃO. Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos
antes da condenação definitiva.
 Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime inafiançável.

Isso está previsto no art. 53, § 2º da CF/88:


Art. 53 (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da
maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o
Senador somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese:
em caso de flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do
dispositivo constitucional, tais parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão
preventiva. Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de
“incoercibilidade pessoal relativa” (freedom from arrest). As imunidades parlamentares são
prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles possam exercer seu
mandato com liberdade e independência. Vale ressaltar que a imunidade prevista no art. 53, §
2º da CF/88 aplica-se não apenas para Deputados Federais e Senadores, mas também para os
Deputados Estaduais. Isso porque os Deputados Estaduais possuem as mesmas imunidades
que os parlamentares federais, por força do art. 27, § 1º da CF/88.

O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com
trânsito em julgado? SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em
julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF. STF.
Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712).

REGRA: Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos.


Exceção 1: Exceção 2:
Poderão ser presos em flagrante de crime O Deputado ou Senador condenado por
inafiançável. sentença judicial transitada pode ser preso
para cumprir pena.
Trata-se de exceção prevista expressamente Trata-se de exceção construída pela
na CF/88. jurisprudência do STF.
Obs: os autos do flagrante serão remetidos, Poderíamos ter, em tese, a esdrúxula
em até 24h, à Câmara ou ao Senado, para que situação de um Deputado condenado ao
se decida, pelo voto aberto da maioria de regime semiaberto que, durante o dia vai até
seus membros, pela manutenção ou não da o Congresso Nacional trabalhar e, durante a
prisão do parlamentar. noite, fica recolhido no presídio.
Obs: existe divergência na doutrina sobre a possibilidade de o Deputado ou Senador ser preso
por conta de atraso no pagamento da pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi Bulos e
Marcelo Novelino. Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há precedente do
STF sobre o tema.

Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em
julgado, como foi a hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon, condenado pelo STF na
AP 396/RO.

Medidas cautelares diversas da prisão: A prisão preventiva é uma espécie de “prisão cautelar”.
A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”. Assim, além da prisão
existem outras espécies de medidas cautelares. As medidas cautelares são providências
urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual ou durante o processo penal com o
objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso, a instrução processual, a aplicação da
sanção penal, a proteção da ordem pública ou o ressarcimento do dano causado pelo delito.
Como já disse, a prisão processual é uma espécie de medida processual. As demais medidas
cautelares diversas da prisão estão elencadas no art. 319 do CPP:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições
fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou
acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando,
por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência
seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos
concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código
Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Segundo o art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito
em julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da
Constituição, o Judiciário não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou Senador.
E quanto às demais medidas cautelares? O Judiciário pode decretar medidas cautelares
diversas da prisão (art. 319 do CPP) em desfavor de Deputados ou Senadores que estejam
sendo investigados ou que sejam réus? SIM.

Medidas cautelares que impossibilitem direta ou indiretamente o exercício do mandato:


Importante fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o
Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou
ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte
deverá ou não ser mantida. Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador
qualquer das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida
imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato,
então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá afastar (“derrubar”) a medida cautelar que
havia sido determinada pelo Poder Judiciário.

Exemplo: O Senador Aécio Neves é alvo de diversas investigações criminais. A pedido do PGR,
o STF impôs ao investigado que cumprisse as seguintes medidas cautelares diversas da prisão:
• suspensão das suas funções como Senador (art. 319, VI);
• obrigação de recolhimento domiciliar noturno (art. 319, V);
• proibição de entrar em contato com outros investigados por qualquer meio (art. 319, III);
• proibição de se ausentar do país, com a entrega do passaporte (art. 319, IV).
O Senado Federal, aplicando o entendimento do STF na ADI 5526/DF acima explicada,
entendeu que as medidas cautelares impostas a Aécio Neves impossibilitavam que ele
exercesse o seu mandato parlamentar. Em razão disso, o Senado se reuniu e decidiu rejeitar as
medidas cautelares que haviam sido impostas pelo STF em desfavor de Aécio Neves.

De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o
Parlamento avaliar se deveria ou não ser mantida? Do art. 53, § 2º da CF/88:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso (ou seja, na hipótese de o parlamentar ser
preso), os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à
Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
resolva sobre a prisão.

Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas cautelares”
do art. 319 do CPP...: O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a prisão dos
parlamentares deve ser aplicado também no caso de medidas cautelares. O art. 53, § 2º da
CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar somente fosse
afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única hipótese: prisão em
flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma constitucional estabeleceu,
implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar. Diante disso, o
STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas cautelares que impeçam o exercício
do mandato seria uma forma de violar a imunidade formal que protege o livre exercício do
mandato parlamentar contra interferências externas. Assim, a decisão do Poder Judiciário que
aplique medida cautelar que impossibilite direta ou indiretamente o exercício regular do
mandato legislativo deve ser submetida ao controle político da Casa Legislativa respectiva, nos
termos do art. 53, § 2º, da CF/88.
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5).

Houve uma mudança de entendimento do STF? SIM. Em 2016, o Plenário do STF aplicou a
medida cautelar do inciso VI do art. 319 do CPP e afastou o Eduardo Cunha do seu cargo de
Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados durante a tramitação
dos inquéritos que ele respondia. Naquela ocasião, o STF afastou Cunha do cargo e não cogitou
dar à Câmara dos Deputados a possibilidade de reverter essa decisão. Em outras palavras, no
caso de Cunha, o STF impôs a medida cautelar e o Parlamento não pode se manifestar sobre
isso. STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 579).

A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última
palavra sobre as medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? O STF não
apreciou este tema. No entanto, penso que o entendimento pode sim valer também para os
Parlamentares estaduais. Isso porque o art. 27, § 1º da CF/88 determina que deverão ser
aplicadas aos Deputados Estaduais as mesmas regras previstas para os Deputados Federais e
Senadores relacionadas com inviolabilidade, imunidades, perda de mandato, licença,
impedimentos, entre outros.

10.2. IMUNIDADE MATERIAL: Imunidade material alcança o delito do art. 3º da Lei


7.492/86 (“divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição
financeira”) – (Info 865)
Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações
supostamente falsas sobre o montante das dívidas dessa instituição financeira não comete
o delito do art. 3º da Lei nº 7.492/86, estando acobertado pela imunidade material.
STF. 1ª Turma. HC 115397/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/5/17 (Info 865).
OBS:
Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta
sobre instituição financeira:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O objetivo do legislador, ao prever este tipo penal, foi o de proteger a confiança no sistema
financeiro. Isso porque “a divulgação de uma informação falsa sobre a saúde da instituição
financeira pode provocar a corrida dos correntistas à instituição para sacarem seus valores,
trazendo prejuízo efetivo à instituição e ao sistema”. (BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes
federais. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 636).

O STF apontou dois argumentos para absolver o ex-Deputado:


1) Ausência de dolo
A declaração do ex-parlamentar demonstrou apenas sua satisfação com o fato de o Banco ser
privatizado, o que geraria desoneração de dívida do Estado. Dessa forma, não se percebe que
esteja presente o dolo de divulgar informação falsa ou incompleta sobre a instituição
financeira. Nas palavras do Min. Marco Aurélio:
“Não ficou configurado na conduta o dolo de divulgar informação
falsa ou incompleta sobre instituição financeira, inclusive porque as
afirmações do deputado fizeram-se ligadas a análises de operações
realizadas pelo banco. O que consignado nas entrevistas evidenciou
a opinião do parlamentar quanto à viabilidade da privatização.”

2) Imunidade material
A entrevista concedida tinha relação direta com o cargo de Deputado Estadual que, à época,
era ocupado pelo réu. Isso se mostra ainda mais evidente pelo fato de que as declarações foram
prestadas dentro da Assembleia Legislativa, reforçando que se tratou de uma manifestação
do exercício de suas prerrogativas de parlamentar. Em virtude disso, não se pode dizer que
tenha havido crime porque o acusado agiu acobertado pela imunidade material prevista no
art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e Senadores.
Indaga-se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades?

Deputados Estaduais Vereadores


SIM. A CF/88 determina que os Deputados Os Vereadores gozam de inviolabilidade por
Estaduais possuem as mesmas imunidades suas opiniões, palavras e votos no exercício
que os parlamentares federais (art. 27, § 1º). do mandato e na circunscrição do Município
Logo, os Deputados Estaduais gozam tanto (art. 29, VIII).
da imunidade material como formal.
Resumindo:
• Imunidade formal: NÃO gozam;
• Imunidade material: possuem, mas desde
que relacionada ao mandato e por
manifestações promovidas dentro do
Município.
10.3. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não
merece ser estuprada" não está protegido pela imunidade material – (Info 831)

A imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88) protege os Deputados Federais e


Senadores, qualquer que seja o âmbito espacial (local) em que exerçam a liberdade de
opinião. No entanto, para isso é necessário que as suas declarações tenham conexão (relação)
com o desempenho da função legislativa ou tenham sido proferidas em razão dela.
Para que as afirmações feitas pelo parlamentar possam ser consideradas como "relacionadas
ao exercício do mandato", elas devem ter, ainda de forma mínima, um teor político.
Exemplos de afirmações relacionadas com o mandato: declarações sobre fatos que estejam
sendo debatidos pela sociedade; discursos sobre fatos que estão sendo investigados por CPI
ou pelos órgãos de persecução penal (Polícia, MP); opiniões sobre temas que sejam de
interesse de setores da sociedade, do eleitorado, de organizações ou grupos representados
no parlamento etc.
Palavras e opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate democrático de fatos ou
ideias não possuem vínculo com o exercício das funções de um parlamentar e, portanto, não
estão protegidos pela imunidade material.
No caso concreto, as palavras do Deputado Federal dizendo que a parlamentar não merecia
ser estuprada porque seria muito feia não são declarações que possuem relação com o
exercício do mandato e, por essa razão, não estão amparadas pela imunidade material.
STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
A situação analisada, com adaptações, foi a seguinte: O Deputado Federal Jair Bolsonaro
(PSC-RJ), durante uma discussão no plenário da Câmara, afirmou que a também Deputada
Federal, Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada”. No dia seguinte, em entrevista
concedida em seu gabinete ao jornal "Zero Hora", Bolsonaro reiterou as declarações, dizendo
que Maria do Rosário “não merece ser estuprada por ser muito ruim, muito feia, não faz meu
gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la porque ela não merece".

Denúncia e queixa-crime: O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o


parlamentar afirmando que ele, ao fazer essas declarações, teria incentivado o crime de
estupro, incorrendo, portanto, no delito do art. 286 do CP:
Incitação ao crime
Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Além disso, a Deputada ajuizou contra ele queixa-crime sob a alegação de que teria sido vítima
de injúria:
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Defesa do Deputado: A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime
com seu comentário, considerando estar acobertado pela imunidade material prevista no art.
53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

A denúncia e a queixa-crime foram recebidas pelo STF? Existem elementos indiciários para se
prosseguir com a ação penal? SIM.

Existe uma posição jurisprudencial no sentido de que as declarações proferidas pelo


parlamentar dentro do Congresso Nacional seriam sempre protegidas pela imunidade
parlamentar ainda que as palavras não tivessem relação com o exercício do mandato. Esse
entendimento existe mesmo? SIM. Há diversos julgados do STF afirmando que a imunidade
parlamentar material (art. 53 da CF/88) é absoluta quando as afirmações do Deputado ou
Senador sobre qualquer assunto ocorrem dentro do Congresso Nacional. A situação poderia
ser assim resumida:
 Ofensas feitas DENTRO do Parlamento: a imunidade é absoluta. O parlamentar é
imune mesmo que a manifestação não tenha relação direta com o exercício de seu
mandato.
 Ofensas feitas FORA do Parlamento: a imunidade é relativa. Para que o parlamentar
seja imune, é necessário que a manifestação feita tenha relação com o exercício do seu
mandato.

Este entendimento não poderia ser aplicado ao caso concreto, considerando que as palavras e
a entrevista foram dadas dentro das dependências da Câmara dos Deputados? O STF afirmou
que as declarações prestadas pelo Deputado dentro do plenário até poderiam estar abarcadas
por este entendimento. No entanto, no dia seguinte ele deu uma entrevista na qual reafirmou
as palavras. Portanto, neste momento, a imunidade não é absoluta.

Depois das declarações do Deputado, surgiu uma campanha na internet no qual várias pessoas
postaram a seguinte frase: "eu não mereço ser estuprada". A defesa do parlamentar afirmou
que, se as palavras dele incentivaram o estupro, então as mulheres que aderiram a esse
movimento também o teriam praticado porque o contexto seria o mesmo. O STF acolheu este
argumento? NÃO. Esta campanha se trata de uma crítica e repúdio às declarações do
parlamentar. O sentido conferido, na referida campanha, ao verbo “merecer” revela-se oposto
ao empregado pelo acusado nas manifestações que externara publicamente. Essas mensagens
buscaram restabelecer o sentimento social de que o estupro é uma crueldade intolerável.

Injúria: Por fim, o STF afirmou que as declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva
da Deputada, porque rebaixaram sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação
pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de estupro.

Tese da retorsão imediata: Vale ressaltar que o Deputado ainda não foi condenado. Na
verdade, agora que se inicia o processo criminal e, após toda a instrução, o mérito das
acusações ainda será analisado. Importante destacar que o STF ainda não se manifestou sobre
um dos argumentos do Deputado, qual seja, o de que ele teria apenas se defendido de prévias
agressões verbais praticadas pela Deputada (tese da "retorsão imediata" ou da "reação a injusta
provocação"). O STF afirmou que esta alegação somente deveria ser apreciada ao final do
processo, após a instrução.

10.4. Imunidade material – (Info 810)

A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as


pessoas à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo
quando desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde
que guardem alguma pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela
imunidade material do art. 53, “caput”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. Inq 4088/DF e Inq 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 1º/12/15 (Info 810).

10.5. Parlamentar só tem imunidade material por manifestações proferidas fora do


parlamento se tiverem relação direta com o exercício do mandato – (Info 763) –
IMPORTANTE!!!

A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a
honra só alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem
conexão com o exercício da atividade parlamentar.
No caso concreto, determinado Deputado Federal afirmou, em seu blog pessoal, que certo
Delegado de Polícia teria praticado fato definido como prevaricação.
A 1ª Turma do STF recebeu a denúncia formulada contra o Deputado por entender que, no
caso concreto, deveria ser afastada a tese de imunidade parlamentar apresentada pela
defesa.
A Min. Rel. Rosa Weber ressaltou que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88)
só é absoluta quando as afirmações de um parlamentar sobre qualquer assunto ocorrem
dentro do Congresso Nacional. No entendimento da Ministra, fora do parlamento é
necessário que as afirmações tenham relação direta com o exercício do mandato. Na
hipótese, o STF entendeu que as declarações do Deputado não tinha relação direta com o
exercício de seu mandato.
STF. 1ª Turma. Inq 3672/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/10/2014 (Info 763).
10.6. O art. 53, §2º da CF veda apenas a prisão penal cautelar – (Info 712)

O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar,


ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de
Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/13 (Info
712).

11. PODER LEGISLATIVO


11.1. A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a
perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? – (Info 863, 903 e
904) – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!!

Se o STF condenar criminalmente um Deputado Federal ou Senador, haverá a perda


automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma deliberação (decisão) da Câmara
ou do Senado, respectivamente? A condenação criminal transitada em julgado é suficiente,
por si só, para acarretar a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de
Senador?
1ª Turma do STF: DEPENDE.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário
da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, da CF/88, se o
condenado deverá ou não perder o mandato.
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, j. 2/5/2017 (Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 22/5/2018 (Info 903).

2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é automática. A Casa é que irá deliberar.
O STF apenas comunica, por meio de ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal informando sobre a condenação do parlamentar.
A Mesa da Câmara ou do Senado irá, então, deliberar (decidir) como entender de direito
(como quiser) se o parlamentar irá perder ou não o mandato eletivo, conforme prevê o art.
55, VI, § 2º, da CF/88.
Assim, mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a perda do mandato é a
Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/5/2018 (Info 904) (obs: o Relator
Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
OBS: O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função
pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou
superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo
superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

Ex: se um Prefeito é condenado criminalmente a 2 anos de detenção pela prática de um crime


contra a Administração Pública, no próprio acórdão já deverá constar a determinação,
fundamentada, de que ele perderá o mandato eletivo. Vale ressaltar que, para Prefeito, por
exemplo, não é necessária nenhuma outra providência adicional além da determinação na
decisão condenatória.

Assim, em caso de condenação criminal transitada em julgado, haverá a perda imediata do


mandato eletivo no caso de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da República.
Além da previsão expressa no Código Penal, a perda do mandato eletivo encontra
justificativa na CF/88. Isso porque, para a pessoa exercer um mandato eletivo, ela precisa estar
no pleno gozo de seus direitos políticos, e o indivíduo condenado criminalmente fica com seus
direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal conclusão está
prevista expressamente no art. 15, III c/c art. 14, § 3º, II da CF/88:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de:
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos;

Art. 14 (...)
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
II – o pleno exercício dos direitos políticos;

A grande controvérsia reside no caso de condenação criminal de Deputados Federais e


Senadores. A discussão jurídica é a seguinte: Se o STF condenar criminalmente um Deputado
Federal ou Senador, haverá a perda automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma
deliberação (decisão) da Câmara ou do Senado, respectivamente? A condenação criminal
transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a perda automática do mandato
eletivo de Deputado Federal ou de Senador? Existem três correntes principais a respeito do
tema:

 1ª corrente: NÃO: mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a


perda do mandato é a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.

Para a primeira corrente, a regra do art. 15, III, da CF/88 não se aplica a Deputados Federais
e Senadores. Isto porque no caso desses parlamentares há uma norma específica que
excepciona a regra geral. Trata- se do art. 55, VI e § 2º da CF/88, que afirma expressamente que
a perda do cargo é decidida pela respectiva Casa legislativa. Confira:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
julgado. (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será
DECIDIDA pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal,
por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou
de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa

Logo, para esta 1ª corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o mandato
se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

É a posição adotada pela 2ª Turma do STF: AP 996, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
29/05/2018 (obs: o Relator Edson Fachin ficou vencido neste ponto).

 2ª corrente: SIM: se o STF condenar o parlamentar e determinar a perda do mandato,


a Câmara ou o Senado não mais irá decidir nada e deverá apenas formalizar
(cumprir) a perda que já foi decretada.

Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em todos os casos
nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas
hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato
parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi
proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento
posterior. Em outras palavras:
1) Se na decisão condenatória o STF não determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poderá ocorrer se a maioria
absoluta da Câmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88);
2) Se na decisão condenatória o STF determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de votação
pela Câmara ou Senado (não se aplica o art. 55, § 2º).

O procedimento estabelecido no art. 55 da CF disciplina circunstâncias em que a perda de


mandato eletivo parlamentar pode ser decretada com base em juízo político. No entanto, esse
procedimento não é aplicável quando a aludida perda foi determinada em decisão do Poder
Judiciário como efeito irreversível da sentença condenatória.

Em outras palavras, se o STF determinou a perda do cargo, a Casa Legislativa deverá


simplesmente cumprir a decisão. Se o STF não determinou a perda do cargo, mesmo assim a
Casa Legislativa pode entender que não é correto manter um Deputado ou Senador com
mandato quando ele tiver sido condenado e decidir pela perda do cargo, com base no art. 55,
§ 2º, da CF/88.

Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, o STF poderá determinar a perda
do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP. Nessa hipótese, não será necessária votação
pela respectiva Casa (não se aplica o art. 55, § 2º da CF/88). A condenação já tem o condão de
acarretar a perda do mandato.

O STF já adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP 470/MG, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgado em 10 e 13/12/2012) (Info 692). No entanto, não representa mais o
entendimento da Corte. A composição dos Ministros da época já foi bastante modificada.

3ª corrente: DEPENDE:
 Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário
da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o condenado
deverá ou não perder o mandato.

É a posição adotada pela 1ª Turma. Nesse sentido:


STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
2/5/2017 (Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
23/5/2017 (Info 866).

Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado, ele deverá
cumprir a pena em penitenciária e não poderá sair para trabalho externo. Logo, não poderá
frequentar o Congresso Nacional, devendo, por consequência, perder o mandato com base
no art. 55, III, da CF/88:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...)
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença
ou missão por esta autorizada;

Esse inciso III prevê a perda do mandato ao parlamentar que, em cada sessão legislativa, faltar
a 1/3 das sessões ordinárias. Como a sessão legislativa é anual (equivalente a 1 ano), 1/3
significa 4 meses (120 dias). Logo, se o parlamentar irá ficar preso durante mais de 120 dias, ele
não poderá comparecer às sessões neste período e, portanto, deverá ser declarada a perda de
seu mandato.

No caso deste inciso III, a perda do mandado é DECLARADA pela Mesa Diretora da Câmara
ou do Senado:
Art. 55 (...)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada
pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

Declaração não é o mesmo que deliberação (decisão). Assim, ocorrendo a situação descrita no
inciso III do art. 55, a Mesa da Casa respectiva não tem o poder de decidir se o Parlamentar irá
perder ou não o mandato. A Mesa é obrigada a simplesmente declarar (reconhecer,
formalizar) que o Parlamentar perdeu o mandato. Assim, no caso do inciso III, não há
necessidade de deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser automaticamente
declarada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

Por que se o parlamentar for condenado ao regime semiaberto ou aberto ele não perderá
automaticamente o cargo? Porque nos casos de condenação em regime inicial aberto ou
semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo. Logo, em tese, ele poderia
ser um presidiário que sai para trabalhar como parlamentar durante o dia e volta para o
presídio à noite.

Qual é a posição que devo adotar em concursos? Em uma prova de concurso, você deve expor
que existe divergência entre a 1ª e a 2ª Turmas do STF. O cenário atual é o seguinte:

Se o STF condenar criminalmente um Deputado Federal ou Senador, haverá a


perda automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma deliberação
(decisão) da Câmara ou do Senado, respectivamente?
A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar
a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador?

2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é


1ª Turma do STF: DEPENDE
automática. A Casa é que irá deliberar
• Se o Deputado ou Senador for O STF apenas comunica, por meio de ofício,
condenado a mais de 120 dias em à Mesa da Câmara dos Deputados ou do
regime fechado: a perda do cargo será Senado Federal informando sobre a
uma consequência lógica da condenação do parlamentar.
condenação. Neste caso, caberá à Mesa A Mesa da Câmara ou do Senado irá, então,
da Câmara ou do Senado apenas deliberar (decidir) como entender de direito
declarar que houve a perda (sem (como quiser) se o parlamentar irá perder ou
poder discordar da decisão do STF), não o mandato eletivo, conforme prevê o
nos termos do art. 55, III e § 3º da art. 55, VI, § 2º, da CF/88.
CF/88. Assim, mesmo com a condenação criminal,
• Se o Deputado ou Senador for quem decide se haverá a perda do mandato
condenado a uma pena em regime é a Câmara dos Deputados ou o Senado
aberto ou semiaberto: a condenação Federal.
criminal não gera a perda automática STF. 2ª Turma. AP 996, Rel. Min. Edson
do cargo. O Plenário da Câmara ou do Fachin, julgado em 29/05/2018 (obs: o
Senado irá deliberar, nos termos do Relator Edson Fachin ficou vencido neste
art. 55, § 2º, se o condenado deverá ou ponto).
não perder o mandato.
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 2/5/2017
(Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 22/5/2018 (Info
903).
11.2. Parlamentar, mesmo sem a aprovação da Mesa Diretora, pode, na condição de cidadão,
ter acesso a informações de interesse pessoal ou coletivo dos órgãos públicos – (Info 899) –
IMPORTANTE!!!

O parlamentar, na condição de cidadão, pode exercer plenamente seu direito fundamental


de acesso a informações de interesse pessoal ou coletivo, nos termos do art. 5º, inciso XXXIII,
da Constituição Federal e das normas de regência desse direito.
O parlamentar, na qualidade de cidadão, não pode ter cerceado o exercício do seu direito de
acesso, via requerimento administrativo ou judicial, a documentos e informações sobre a
gestão pública, desde que não estejam, EXCEPCIONALMENTE, sob regime de sigilo ou
sujeitos à aprovação de CPI. O fato de as casas legislativas, em determinadas situações,
agirem de forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe,
os direitos inerentes ao parlamentar como indivíduo.
STF. Plenário. RE 865401/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/4/18 (repercussão geral) (Info 899).
OBS:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: João, Vereador do Município de
Guiricema (MG), formulou requerimento à Mesa Diretora da Câmara Municipal pedindo que
o Poder Legislativo municipal requisitasse do Prefeito da cidade informações e documentos
relacionados com determinados contratos assinados pelo Poder Executivo com fornecedores.
Como João era Vereador da oposição e a situação era maioria, a Câmara Municipal não
aprovou o pedido. Diante disso, João requereu os dados diretamente ao chefe do Executivo,
que se negou a prestar as informações desejadas. João impetrou, então, um mandado de
segurança, mas o TJ/MG negou o pedido argumentando que a fiscalização dos atos do Poder
Executivo deveria ser feita pelo Poder Legislativo como um todo (e não isoladamente por parte
de um só Vereador). O impetrante recorreu, até que a questão chegou ao STF.

O STF concordou com o pedido de João? O Vereador, enquanto parlamentar e cidadão, tem
direito de requerer diretamente do chefe do Poder Executivo informações e documentos sobre
a gestão municipal? SIM.

Art. 5º, XXXIII, da CF/88: A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu art. 5º, XXXIII, que
TODOS têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado. A regra geral num Estado Republicano é a da total transparência no acesso a
documentos públicos, sendo o sigilo a exceção.

Lei 12.527/11: O tema foi regulamentado, em nível infraconstitucional, pela Lei 12.527/11, que
ficou conhecida como “Lei de Acesso à Informação”.

Princípio da colegialidade: A Constituição Federal, em matéria de fiscalização, inclusive


financeira, operacional e orçamentária, instituiu o princípio da colegialidade para
impessoalizar seu discurso e respeitar a separação de poderes. Para isso, estabeleceu um
protocolo mínimo de diálogo entre as instituições. O que significa isso? Quer dizer que, em
regra, os atos de fiscalização do Poder Legislativo são realizados mediante atuação do
colegiado (Mesa Diretora, Plenário, Comissões) e não pela atuação individual dos
parlamentares. Como exemplo, podemos citar o art. 50, caput e § 2º, da CF/88:
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer
de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou
quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à
Presidência da República para prestarem, pessoalmente,
informações sobre assunto previamente determinado, importando
crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.
(...)
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de
Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo,
importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não -
atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de
informações falsas.
Nesse sentido:
(...) O poder de fiscalização legislativa da ação administrativa do
Poder Executivo é outorgado aos órgãos coletivos de cada câmara
do Congresso Nacional, no plano federal, e da Assembleia
Legislativa, no dos Estados; nunca, aos seus membros
individualmente, salvo, é claro, quando atuem em representação
(ou presentação) de sua Casa ou comissão. (...)
STF. Plenário. ADI 3046, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 15/4/04.

Apesar do princípio da colegialidade, aquilo que o cidadão pode, o parlamentar também pode:
Ocorre, no entanto, que o fato de as casas legislativas, em determinadas situações, agirem de
forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe, os direitos
inerentes ao parlamentar como indivíduo, membro do povo, da nação. A Constituição da
República não restringe (não proíbe) o direito do parlamentar de buscar as informações de
interesse individual, público ou coletivo, nas hipóteses em que o cidadão comum pode,
solitariamente, exercer o direito fundamental. Em outras palavras, se o “cidadão comum”
pode requisitar as informações e documentos, não faz sentido proibir o parlamentar de,
sozinho, também requerer estes dados. Caso o parlamentar não pudesse requerer tais
informações, ele seria transformado em um cidadão de segunda categoria. O fato de ser
parlamentar não o despe de seus direitos de cidadão.

Art. 7º da Lei 12.527/11: No caso concreto, as informações requeridas pelo parlamentar


poderiam ser solicitadas por qualquer cidadão, com fundamento no art. 7º, VI c/c art. 10, da
Lei 12.527/11:
Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende,
entre outros, os direitos de obter:
(...)
VI - informação pertinente à administração do patrimônio público,
utilização de recursos públicos, licitação, contratos administrativos;
e

Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso


a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei,
por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação
do requerente e a especificação da informação requerida.

Outros dispositivos infralegais que asseguram a publicidade:


 arts. 4º e 21, § 1º, da Lei nº 8.666/93;
 art. 8º, § 2º, da Lei nº 7.347/85;
 arts. 32, § 4º, e 48, §§ 1º e 2º, da Lei de Responsabilidade Fiscal;
 art. 48-A da Lei Complementar nº 101/2000.

11.3. Processo de cassação de mandato parlamentar e autocontenção do Poder Judiciário –


(Info 838)

O ex-Deputado Federal Eduardo Cunha impetrou mandado de segurança no STF pedindo


a suspensão do processo de cassação que tramitava contra ele na Câmara dos Deputados por
quebra de decoro parlamentar.
O pedido do impetrante foi negado.
O STF só pode interferir em procedimentos legislativos (ex: processo de cassação) em uma
das seguintes hipóteses:
a) para assegurar o cumprimento da Constituição Federal;
b) para proteger direitos fundamentais; ou
c) para resguardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituições
republicanas.
Exemplo típico na jurisprudência é a preservação dos direitos das minorias, onde o Supremo
poderá intervir.
No caso concreto, o STF entendeu que nenhuma dessas situações estava presente.
Em se tratando de processos de cunho acentuadamente político, como é o caso da cassação
de mandato parlamentar, o STF deve se pautar pela deferência (respeito) às decisões do
Legislativo e pela autocontenção, somente intervindo em casos excepcionalíssimos.
Dessa forma, neste caso, o STF optou pela técnica da autocontenção (judicial self-restraint),
que é o oposto do chamado ativismo judicial. Na autocontenção, o Poder Judiciário deixa de
atuar (interferir) em questões consideradas estritamente políticas.
STF. Plenário. MS 34.327/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/9/16 (Info 838).

11.4. Afastamento de Deputado Federal do cargo por decisão judicial – (Info 824) –
IMPORTANTE!!!

O STF entendeu que a manutenção de Eduardo Cunha na função de parlamentar e de


Presidente da Câmara dos Deputados representaria risco para as investigações penais
instauradas contra ele e, por essa razão, determinou a suspensão do exercício do seu
mandato de Deputado Federal e, por consequência, da função de Presidente da Câmara dos
Deputados que era por ele ocupada.
A decisão foi baseada na medida cautelar prevista no art. 319, VI, do CPP.
Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado como fundamento para se afastar do
cargo Deputados Federais e Senadores.
Os §§ 2º e 3º do art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a
competência para decidir a respeito da perda do mandato político. Isso não significa, no
entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do mandato parlamentar.
A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução criminal contra
Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da jurisdição (art.
5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são absolutas,
podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário e até o
chefe do Poder Executivo podem ser suspensos de suas atribuições quando estejam sendo
acusados de crime. Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas
aos Parlamentares, livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato
por ordem judicial.
STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 824).
OBS:
Introdução: O Deputado Federal Eduardo Cunha responde a cinco inquéritos instaurados no
STF onde estão sendo apurados crimes que teriam sido, em tese, praticados por ele. O
Procurador-Geral da República formulou requerimento ao STF pedindo o afastamento de
Eduardo Cunha do cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos
Deputados enquanto os inquéritos não são concluídos. O pedido foi deferido pelo Ministro
Relator Teori Zavascki e referendado pelo Plenário do STF.

Vejamos abaixo os principais argumentos desenvolvidos pela Corte:


O que o Ministério Público alegou no pedido? O MP sustentou que Eduardo Cunha estaria se
utilizando do cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados
para evitar que as investigações instauradas contra si fossem concluídas.
Alegou também que ele estaria praticando novas atividades ilícitas com o intuito de obter
vantagens indevidas.

Qual a natureza jurídica do pedido formulado pelo MP? Trata-se de um pedido de aplicação
de medida cautelar. O CPP prevê, em seu art. 319, um rol de medidas cautelares diversas da
prisão. Uma delas é o afastamento da pessoa investigada ou acusada do cargo, empregou ou
função pública que ocupa. Veja:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


(...)
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;
Vale ressaltar que, apesar de o dispositivo falar apenas em "função pública", esta expressão
deverá ser compreendida em sentido amplo, conforme explica Renato Brasileiro:

"Função pública: compreende toda atividade desempenhada com o


objetivo de consecução de finalidades próprias do Estado, por meio
daquele que exerce cargo, emprego ou função pública, nos termos
do art. 327 do Código Penal. Exercem função pública todos aqueles
que prestam serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da
Administração indireta, aí incluídos os agentes políticos, os
servidores públicos, assim como os particulares em colaboração com
o Poder Público." (Código de Processo Penal comentado. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 914).

Quais os atos que o Deputado estaria praticando, segundo o MP? O Procurador-Geral da


República elencou cerca de 11 fatos supostamente criminosos que teriam sido praticados por
Eduardo Cunha e que, na visão do MPF, justificariam o seu afastamento.

Dupla função da medida cautelar do inciso VI: A literalidade do inciso VI fala que a suspensão
do exercício de função pública pode ocorrer "quando houver justo receio de sua utilização
para a prática de infrações penais". No entanto, o STF afirmou que, além disso, esse inciso
possui duas outras funções:

1) preservação da utilidade do processo, evitando que o detentor da


função pública dificulte ou impeça o trabalho de persecução penal;
e

2) preservação da finalidade pública do cargo, eliminando a


possibilidade de que o titular da função se utilize do cargo em favor
de conveniências particulares.

Mas esse inciso VI pode ser aplicado para afastar parlamentares federais? A CF/88 não afirma
que a competência para decretar a perda do mandato é da Casa Legislativa (Câmara dos
Deputados ou Senado Federal)? SIM. Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado como
fundamento para se afastar do cargo Deputados Federais e Senadores. De fato, os §§ 2º e 3º do
art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a competência para
decidir a respeito da perda do mandato político nos casos em que venha a se configurar
qualquer das infrações previstas nos incisos I a VI do mesmo art. 55. Veja:

Art. 55 (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida
pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla
defesa.
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada
pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

Vale ressaltar que, mesmo em caso de condenação definitiva transitada em julgado em


processo judicial, o Deputado ou Senador só poderá perder o cargo após decisão da respectiva
Casa (STF AP 565).

Isso não significa, no entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do
mandato parlamentar. A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução
criminal contra Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são
absolutas, podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Nesse sentido, já decidiu o STF no HC 89.417.
Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário podem ser suspensos de suas atribuições
pelo Tribunal competente para julgá-los “quando, pela natureza ou gravidade da infração
penal, se torne aconselhável o recebimento de denúncia ou de queixa contra magistrado” (art.
29 da LOMAN).

De igual forma, o chefe do Poder Executivo fica automaticamente suspenso do exercício de


suas funções caso tenha contra si recebida, relativamente a infrações penais comuns, uma
correspondente denúncia ou mesmo uma simples queixa-crime (art. 86, § 1º, I, da CF/88).

Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas aos Parlamentares,
livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato por ordem judicial.

E o pedido de afastamento do Deputado de sua função de Presidente da Câmara, isso também


é possível? SIM. Assim como o mandato de Deputado Federal não pode ser utilizado para
atrapalhar as investigações penais, também o cargo de Presidente da Câmara igualmente não
pode servir de anteparo para a frustração da jurisdição penal. Se é possível afastar o
investigado/réu até mesmo de seu mandato conferido por sufrágio popular (eleições gerais),
com mais razão é possível afastá-lo da função de Presidente da Câmara para o qual foi
escolhido por eleição interna.

Conclusão: Por reputar que os elementos fáticos e jurídicos demonstram que a manutenção de
Eduardo Cunha na função de parlamentar e de Presidente da Câmara dos Deputados
representaria risco para as investigações penais instauradas contra ele, o Plenário do STF
determinou a suspensão do exercício do mandato de Deputado Federal e, por consequência,
da função de Presidente da Câmara dos Deputados.

11.5. PERDA DO MANDATO: Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica
a cargos eletivos majoritários – (Info 787) – IMPORTANTE!!!

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi
eleito, ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos
pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas
pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não
importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM


O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido
político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo
na Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, com
contraditório e ampla defesa, será analisado se havia justa causa para essa mudança.
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
hipóteses consideradas como “justa causa”.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

11.6. Imunidade material dos Vereadores – (Info 775) – IMPORTANTE!!!

Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A
questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral,
declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade
material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos
semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato,
garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

12. AGENTES POLÍTICOS


12.1. Exercentes de mandato eletivo que não forem vinculados a regime próprio deverão
pagar contribuição previdenciária ao RGPS – (Info 866)

Incide contribuição previdenciária sobre os rendimentos pagos aos exercentes de mandato


eletivo, decorrentes da prestação de serviços à União, aos Estados e ao Distrito Federal ou
aos Municípios, após o advento da Lei 10.887/04, desde que não vinculados a regime próprio
de previdência.
STF. Plenário. RE 626837/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/5/17 (repercussão geral) (Info 866).

13. SUBSTITUIÇÃO PRESIDENCIAL


13.1. Réu em processo criminal não pode assumir, como substituto, o cargo de Presidente da
República – (Info 850) – IMPORTANTE!!!

Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88, caso


ostentem a posição de réus criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o
ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo réus, podem continuar na
chefia do Poder por eles titularizados.
Ex: o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu em um processo criminal; logo,
ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da CF/88; porém, ele
pode continuar normalmente como Presidente do Senado, não precisando ser afastado deste
cargo.
STF. Plenário. ADPF 402 MC-REF/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/12/16 (Info 850).

14. PODER EXECUTIVO


14.1. Imunidade do art. 51, I, e art. 86 da CF/88 não se estende para codenunciados que não
sejam Presidente da República, Vice ou Ministro de Estado – (Info 888) – IMPORTANTE!!!

A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para
os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República,
Vice-Presidente da República e Ministro de Estado.
A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual
não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, j. 14 e 19/12/17 (Info 888).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se o
fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:

1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver sido
praticado antes do início do mandato: Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente
não poderá ser denunciado. Após terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o
processo criminal em 1ª instância. Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele
somente irá responder por este fato quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86,
§ 4º, da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas
funções.

Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato.
Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende que, nesta situação, a
prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.

2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções: O Procurador-
Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o PGR se convencer
que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se o delito praticado
for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-crime no STF.

Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática, funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados. Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se
aceita ou não a denúncia (ou queixa) se a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a
Câmara autorize, exige-se o voto de, no mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado;

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por


dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a
julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.

O art. 51, I, e o art. 86 da CF/88 conferem ao Presidente da República (ao Vice-Presidente e aos
Ministros de Estado), portanto, uma imunidade formal em relação ao processo.

Imagine agora a seguinte situação: O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra


o Presidente Michel Temer pela prática de crimes comuns. O STF encaminhou a denúncia à
Câmara dos Deputados para a realização do juízo de admissibilidade previsto no art. 51, I, e
art. 86 da CF/88. Ocorre que a Câmara dos Deputados não autorizou a instauração do processo
contra o Presidente da República.
O STF foi comunicado da decisão da Câmara por meio de ofício. Diante disso, o Min. Edson
Fachin, relator do inquérito no STF, proferiu decisão determinando que o processo criminal
contra Michel Temer fique suspenso até quando perdurar o seu mandato presidencial. Isso
significa que a denúncia será analisada pelo Poder Judiciário quando terminar o mandato de
Temer (obs: como ele, provavelmente, não terá nenhum outro mandato, esse processo criminal
será julgado pela Justiça Federal de 1ª instância). Até aí, sem nenhuma polêmica jurídica. O
ponto interessante vem agora: o Ministro Fachin determinou que investigados sem foro por
prerrogativa de função e que praticaram, em tese, crimes conexos aos do Presidente da
República deveriam ser processados imediatamente em 1ª instância. Em outras palavras, o STF
determinou o desmembramento dos feitos e o processo de todos aqueles que não possuem foro
por prerrogativa de função deverá ser julgado em 1ª instância mesmo antes de terminar o
mandato de Temer. Esses investigados não concordaram com isso e recorreram contra a
decisão do Ministro Fachin alegando, entre outros argumentos, que, como os fatos são conexos,
somente poderiam ser processados quando terminasse o mandato de Temer.

A tese dos investigados foi acolhida pelo Plenário do STF? NÃO.

Regras de imunidade devem ser interpretadas restritivamente: O regime de imunidades


previsto na Constituição Federal, por se tratar de exceção à norma de responsabilização por
atos que afrontem regras dispostas no ordenamento jurídico positivo, não admite
interpretação extensiva, sendo legítima a incidência apenas nas restritas hipóteses elencadas
pelo Poder Constituinte. Assim, se a Câmara dos Deputados impede o processamento da
denúncia, isso vale, exclusivamente, com relação ao Presidente da República, ao Vice-
Presidente e aos Ministros de Estado denunciados, sendo inviável a extensão dos efeitos de
tal decisão, de natureza eminentemente política, a outras pessoas que não se encontrem
investidas nos referidos cargos.

A regra é o desmembramento: Além disso, a jurisprudência do STF é no sentido de que, como


regra, deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração dos investigados com
foro por prerrogativa de função e os demais são julgados em 1ª instância. Apenas
excepcionalmente será admitido que o STF julgue pessoas sem foro privativo, quando ficar
demonstrado que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional. No caso concreto, não se verificou qualquer prejuízo no desmembramento dos
autos em relação aos não detentores de foro por prerrogativa de função no STF.

Responsabilidade subjetiva: Vale ressaltar que o fato de os corréus serem desde logo julgados
não significa que se esteja indiretamente julgando o Presidente da República, em
contrariedade ao que decidiu a Câmara dos Deputados. Isso porque vigora em nosso
ordenamento jurídico o princípio da responsabilidade subjetiva, como corolário do Direito
Penal do fato, segundo o qual a análise da responsabilidade é de acordo com a conduta de cada
indivíduo. Assim, eventual condenação ou absolvição dos corréus não irá, necessariamente,
influenciar no futuro julgamento de Temer.

14.2. PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Não é possível que o STF examine questões jurídicas
formuladas a respeito da denúncia antes do seu envio à Câmara dos Deputados para o juízo
político de que trata o art. 86 da CF/88 – (Info 878) – IMPORTANTE!!!

Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações penais
comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados exercer o
seu juízo político.

É possível que, antes desse envio, o STF analise questões jurídicas a respeito desta
denúncia, como a validade dos elementos informativos (“provas”) que a embasaram? NÃO.
Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva
suscitada pelo Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos Deputados.
O juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados precede a análise
jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada
pelo denunciado.

A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a


respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito
pelo Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
STF. Plenário. Inq 4483 QO/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 20 e 21/9/17 (Info 878).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se o
fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:

1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato:
Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente não poderá ser denunciado. Após
terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o processo criminal em 1ª instância.
Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele somente irá responder por este fato
quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86, § 4º da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas
funções.

Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato. Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende
que, nesta situação, a prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.

2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções:


O Procurador-Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o PGR
se convencer que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se o delito
praticado for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-crime no
STF.

Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática. funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados.

Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se aceita ou não a denúncia (ou queixa) se
a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a Câmara autorize exige-se o voto de, no mínimo,
2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por
dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a
julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.

A necessidade de autorização da Câmara dos Deputados exigida pela CF/88 tem a finalidade
de proteger a soberania do voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só seja
afastado do exercício de seu mandato com a autorização dos representantes do próprio povo.
Essa é a razão, também, pela qual a CF/88 elegeu a Câmara dos Deputados para realizar esse
juízo político, eis que se trata da Casa do Congresso Nacional tradicionalmente associada à
representação do povo.

Imagine agora a seguinte situação: Estava tramitando no STF um inquérito para apurar
eventuais crimes cometidos pelo Presidente Michel Temer. Pouco antes de o Procurador-Geral
da República apresentar denúncia contra Temer, a defesa do Presidente formulou uma questão
de ordem no STF requerendo que fosse sustada (suspensa) a tramitação da futura denúncia até
que fossem concluídas as investigações sobre supostas irregularidades no acordo de
colaboração premiada celebrado entre executivos do grupo J&F e a PGR. O advogado de Temer
argumentou que a denúncia do PGR seria baseada na colaboração premiada de Joesley Batista
e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F. No entanto, surgiram indícios de que houve
irregularidades na negociação do referido acordo de colaboração premiada. Logo, para a
defesa, a denúncia somente poderia ser formulada após ser encerrada a investigação policial
sobre esse acordo de colaboração, inclusive sobre a participação do ex-Procurador da
República Marcelo Miller. Além disso, a defesa pediu que fossem desconsideradas as provas
obtidas a partir das gravações realizadas por Joesley considerando que teria havido flagrante
provocado.

O pedido da defesa foi acolhido pelo STF? NÃO.

Como o STF não pode fazer juízo de admissibilidade sobre a denúncia oferecida contra o
Presidente da República antes da autorização pela Câmara dos Deputados, da mesma forma,
não pode fazer juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas. Isso porque o
momento adequado para este exame é justamente o do art. 4º da Lei 8.038/90.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a
respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.

Rescisão do acordo de colaboração afeta apenas o colaborador, não produzindo efeitos sobre
terceiros: O STF decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou parcial,
do acordo de colaboração premiada de Joesley em decorrência do descumprimento dos
deveres que ele havia assumido não tem a força de fazer com que as provas obtidas a partir
deste acordo sejam consideradas imprestáveis. Isso porque a rescisão ou revisão tem efeitos
somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.

14.3. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – (Info 872)

Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba
denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.

Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração


de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa.
Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará automaticamente
suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual?
NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática.
O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada,
se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das
medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da comarca,
fiança, monitoração eletrônica etc.).
STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/
o acórdão Min. Roberto Barroso, j. em 9/8/17 (Info 872).
STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/17 (Info 863).
STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/
o ac. Min. Roberto Barroso, j. 4/5/17 (Info 863).
OBS:
NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo: O chefe do Poder Executivo (Presidente da
República, Governadores e Prefeitos) pode praticar duas espécies de crime:

CRIMES COMUNS CRIMES DE


RESPONSABILIDADE

São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas


(Código Penal e legislação extravagante). praticadas por pessoas que ocupam
Exs: peculato, corrupção passiva etc. determinados cargos públicos. Caso o agente
seja condenado por crime de
responsabilidade, ele não receberá sanções
penais (prisão ou multa), mas sim sanções
político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão
previstos:
 Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei
1.079/50.
 Governador: Lei 1.079/50.
 Prefeito: DL 201/67.
Quem julga: Quem julga:
 Presidente: STF (após autorização de  Presidente: Senado (após autorização da
2/3 da Câmara dos Deputados). CD – 2/3).
 Governador: STJ (não precisa de  Governador: Tribunal Especial
prévia autorização da ALE). (composto por 5 membros da ALE e 5
 Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de Desembargadores, sob a presidência do
prévia autorização da Câmara Presidente do TJ)
Municipal).  Prefeito: Câmara Municipal.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE COMO


CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados (por
crimes comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia Legislativa
(licença prévia) mediante voto de 2/3 de seus membros. É o caso, por exemplo, da Constituição
do Estado do Acre: “Art. 81. Admitida a acusação contra o governador do Estado, por dois
terços da Assembleia Legislativa, é ele submetido a julgamento perante o Superior Tribunal
de Justiça, nos crimes comuns, ou perante a Assembleia Legislativa, nos crimes de
responsabilidade”. Essa regra é válida? NÃO. O STF decidiu que não há necessidade de prévia
autorização da Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado seja processado por
crime comum. Assim, o STJ pode receber denúncia ou queixa proposta contra o Governador e
seguir com a ação penal sem que seja necessária autorização prévia da Assembleia Legislativa.

Ex: o Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o Governador de Minas Gerais


imputando-lhe a prática de crimes. Esta denúncia não é apreciada pela Assembleia Legislativa
de MG. O STJ poderá receber a denúncia e julgar o Governador sem que seja necessária prévia
autorização da ALE. A ALE não irá participar de nenhuma forma deste processo.
As Constituições Estaduais que exigem prévia autorização da Assembleia Legislativa são
inconstitucionais (violam a Constituição Federal).

Por quê? O STF invocou cinco argumentos principais:


a) Ausência de previsão expressa e inexistência de simetria;
b) Princípio republicano (art. 1º);
c) Princípio da separação dos poderes (art. 2º)
d) Competência privativa da União (art. 22, I); e
e) Princípio da igualdade (art. 5º).

a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria: A CF/88 não prevê a necessidade


de autorização prévia da Assembleia Legislativa para o processamento e julgamento de
Governador por crimes comuns perante o STJ. Não existe fundamento normativo-
constitucional expresso que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas
Constituições estaduais. Vale ressaltar também que a regra da CF/88 (art. 86) que exige
autorização da Câmara dos Deputados para que o Presidente da República seja processado
criminalmente não pode ser utilizada pelos Estados sob o argumento da simetria. Para o STF,
não há, neste caso, simetria a ser observada pelos Estados-membros. A exigência de prévia
autorização foi expressamente prevista apenas para Presidente da República, Vice- presidente
e Ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências que moldam
e constituem o cargo de Presidente da República, mas que não aplicam no caso de Governador.
Sendo essa previsão uma excepcionalidade, não pode ser transladada como se fosse regra ou
como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para Governador.

b) princípio republicano: A exigência de autorização prévia da Assembleia Legislativa ocasiona


o congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial de eventuais crimes praticados por
Governadores. Dessa forma, essa previsão afronta a responsabilidade exigida dos gestores
públicos, o que viola o princípio republicano do Estado.

c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.

d) competência privativa da União: Ao prever a necessidade de autorização prévia da


Assembleia Legislativa como condição para que o STJ receba a denúncia ou queixa, o Estado-
membro acaba legislando sobre direito processual penal, matéria que é de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Desse modo, essa regra da prévia
autorização viola a competência privativa da União.

e) princípio da igualdade: Por fim, a previsão da autorização prévia afronta o princípio da


igualdade (art. 5º). Estabelecer essa condição de procedibilidade faz com que o Governador
seja alçado à condição de superior em relação às outras pessoas apenas por ocupar este cargo.
Vale ressaltar, ainda, que a EC 35/01 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF/88 e aboliu a
exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de
Deputados Federais, Senadores e Deputados Estaduais. O mesmo entendimento de
valorização da igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos
Governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições não
autorizados pela CF/88.

O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia
válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia
Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o antigo
entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada
pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o
processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos
Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio
republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se que, ao
longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra os Governadores.

Mutação constitucional: Houve, portanto, na presente situação, uma mutação constitucional.


Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência
consolidada:
a) mudança na percepção do direito;
b) modificações na realidade fática; e
c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento. Para o STF, as três
hipóteses estão presentes no caso concreto.

O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador
do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo (art.
319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais. Exs: prisão
preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319,
VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas medidas cautelares poderão ser decretadas
no momento do recebimento da denúncia/queixa ou durante o curso do processo e precisam
ser sempre fundamentadas.

E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo possui,
inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União
a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.

14.4. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Info 863)

Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba
denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.

Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração


de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa.
Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará automaticamente
suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual?
NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática.
O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada,
se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das
medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da comarca,
fiança, monitoração eletrônica etc.).
STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/17 (Info 863).
STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/
o ac. Min. Roberto Barroso, j. 4/5/17 (Info 863).
OBS:
NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo: O chefe do Poder Executivo (Presidente da
República, Governadores e Prefeitos) pode praticar duas espécies de crime:

CRIMES COMUNS CRIMES DE


RESPONSABILIDADE

São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas


(Código Penal e legislação extravagante). praticadas por pessoas que ocupam
Exs: peculato, corrupção passiva etc. determinados cargos públicos. Caso o agente
seja condenado por crime de
responsabilidade, ele não receberá sanções
penais (prisão ou multa), mas sim sanções
político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão
previstos:
 Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei
1.079/50.
 Governador: Lei 1.079/50.
 Prefeito: DL 201/67.
Quem julga: Quem julga:
 Presidente: STF (após autorização de  Presidente: Senado (após autorização da
2/3 da Câmara dos Deputados). CD – 2/3).
 Governador: STJ (não precisa de  Governador: Tribunal Especial
prévia autorização da ALE). (composto por 5 membros da ALE e 5
 Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de Desembargadores, sob a presidência do
prévia autorização da Câmara Presidente do TJ)
Municipal).  Prefeito: Câmara Municipal.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE COMO


CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados (por
crimes comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia Legislativa
(licença prévia) mediante voto de 2/3 de seus membros. É o caso, por exemplo, da Constituição
do Estado do Acre: “Art. 81. Admitida a acusação contra o governador do Estado, por dois
terços da Assembleia Legislativa, é ele submetido a julgamento perante o Superior Tribunal
de Justiça, nos crimes comuns, ou perante a Assembleia Legislativa, nos crimes de
responsabilidade”. Essa regra é válida? NÃO. O STF decidiu que não há necessidade de prévia
autorização da Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado seja processado por
crime comum. Assim, o STJ pode receber denúncia ou queixa proposta contra o Governador e
seguir com a ação penal sem que seja necessária autorização prévia da Assembleia Legislativa.

Ex: o Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o Governador de Minas Gerais


imputando-lhe a prática de crimes. Esta denúncia não é apreciada pela Assembleia Legislativa
de MG. O STJ poderá receber a denúncia e julgar o Governador sem que seja necessária prévia
autorização da ALE. A ALE não irá participar de nenhuma forma deste processo.
As Constituições Estaduais que exigem prévia autorização da Assembleia Legislativa são
inconstitucionais (violam a Constituição Federal).

Por quê? O STF invocou cinco argumentos principais:


a) Ausência de previsão expressa e inexistência de simetria;
b) Princípio republicano (art. 1º);
c) Princípio da separação dos poderes (art. 2º)
d) Competência privativa da União (art. 22, I); e
e) Princípio da igualdade (art. 5º).

a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria: A CF/88 não prevê a necessidade


de autorização prévia da Assembleia Legislativa para o processamento e julgamento de
Governador por crimes comuns perante o STJ. Não existe fundamento normativo-
constitucional expresso que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas
Constituições estaduais. Vale ressaltar também que a regra da CF/88 (art. 86) que exige
autorização da Câmara dos Deputados para que o Presidente da República seja processado
criminalmente não pode ser utilizada pelos Estados sob o argumento da simetria. Para o STF,
não há, neste caso, simetria a ser observada pelos Estados-membros. A exigência de prévia
autorização foi expressamente prevista apenas para Presidente da República, Vice- presidente
e Ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências que moldam
e constituem o cargo de Presidente da República, mas que não aplicam no caso de Governador.
Sendo essa previsão uma excepcionalidade, não pode ser transladada como se fosse regra ou
como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para Governador.

b) princípio republicano: A exigência de autorização prévia da Assembleia Legislativa ocasiona


o congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial de eventuais crimes praticados por
Governadores. Dessa forma, essa previsão afronta a responsabilidade exigida dos gestores
públicos, o que viola o princípio republicano do Estado.

c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.

d) competência privativa da União: Ao prever a necessidade de autorização prévia da


Assembleia Legislativa como condição para que o STJ receba a denúncia ou queixa, o Estado-
membro acaba legislando sobre direito processual penal, matéria que é de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Desse modo, essa regra da prévia
autorização viola a competência privativa da União.

e) princípio da igualdade: Por fim, a previsão da autorização prévia afronta o princípio da


igualdade (art. 5º). Estabelecer essa condição de procedibilidade faz com que o Governador
seja alçado à condição de superior em relação às outras pessoas apenas por ocupar este cargo.
Vale ressaltar, ainda, que a EC 35/01 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF/88 e aboliu a
exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de
Deputados Federais, Senadores e Deputados Estaduais. O mesmo entendimento de
valorização da igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos
Governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições não
autorizados pela CF/88.

O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia
válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia
Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o antigo
entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada
pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o
processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos
Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio
republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se que, ao
longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra os Governadores.

Mutação constitucional: Houve, portanto, na presente situação, uma mutação constitucional.


Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência
consolidada:
a) mudança na percepção do direito;
b) modificações na realidade fática; e
c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento. Para o STF, as três
hipóteses estão presentes no caso concreto.

O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador
do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo (art.
319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais. Exs: prisão
preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319,
VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas medidas cautelares poderão ser decretadas
no momento do recebimento da denúncia/queixa ou durante o curso do processo e precisam
ser sempre fundamentadas.

E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo possui,
inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União
a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.

14.5. Ordem de votação dos Deputados Federais na fase de juízo de admissibilidade do


processo de Impeachment – (Info 821)

Caso o Presidente da República seja "acusado" de ter praticado um crime de


responsabilidade, a Câmara dos Deputados é que irá decidir se autoriza ou não a
instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88.
O art. 187, § 4º do Regimento da Câmara dos Deputados prevê que, na votação que autoriza
ou não a instauração de processo, cada Deputado Federal será chamado nominalmente e
deverá responder "sim" ou "não". Ainda segundo este § 4º, a chamada dos Deputados
Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-versa".
Segundo decidiu o STF, não existe nenhuma inconstitucionalidade nesta previsão, não
havendo ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da
moralidade e da República.
Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do critério adotado, jamais poderá
afastar a possibilidade de "efeito cascata".
O STF afirmou, ainda, que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos membros da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é uma questão
política que deve de ser resolvida com critérios políticos. A garantia da imparcialidade está
no alto quórum exigido para a votação.
STF. Plenário. ADI 5498 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 14/4/2016 (Info 821).
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).

14.6. Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da Presidente Dilma –
(Info 812) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-2016)

Principais conclusões do STF na decisão que definiu o rito do processo de impeachment da


Presidente Dilma:
1) Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da
Câmara.
2) É possível a aplicação subsidiária dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado que
tratam sobre o impeachment, desde que sejam compatíveis com os preceitos legais e
constitucionais pertinentes.
3) Após o início do processo de impeachment, durante a instrução probatória, a defesa tem
o direito de se manifestar após a acusação.
4) O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória.
5) O recebimento da denúncia no processo de “impeachment” ocorre apenas após a decisão
do Plenário do Senado Federal. Assim, a Câmara dos Deputados somente atua no âmbito
pré-processual, não valendo a sua autorização como um recebimento da denúncia, em
sentido técnico. Compete ao Senado decidir se deve receber ou não a denúncia cujo
prosseguimento foi autorizado pela Câmara. O Senado não está vinculado à decisão da
Câmara.
6) A decisão do Senado que delibera se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria
simples, presente a maioria absoluta de seus membros. (MPGO-2016)
7) É possível a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46, 47, 48 e 49 da Lei 1.079/1950 — os quais
determinam o rito do processo de “impeachment” contra Ministros do STF e o PGR — ao
processamento no Senado Federal de crime de responsabilidade contra o Presidente da
República.
8) Não é possível que sejam aplicadas, para o processo de impeachment, as hipóteses de
impedimento do CPP. Assim, não se pode invocar o impedimento do Presidente da Câmara
para participar do processo de impeachment com base em dispositivos do CPP.
9) A eleição da comissão especial do impeachment deve ser feita por indicação dos líderes
e voto aberto do Plenário. Os representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares
que irão compor a chapa da comissão especial da Câmara dos Deputados deverão ser
indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Assim,
não é possível a apresentação de candidaturas ou chapas avulsas para a formação da
comissão especial.
STF. Plenário. ADPF 378/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16, 17 e 18/12/2015 (Info
812).
(MPGO-2016): Em relação ao processo de apuração de crime de responsabilidade
cometido por Presidente da República, segundo a jurisprudência dominante do STF, é
correto afirmar que: A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio
constitucional da ampla defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal, de tal arte
que não é direito subjetivo do Presidente da República o exercício de defesa previamente
ao ato do Presidente da Câmara dos Deputados que inicia o rito de impeachment naquela
Casa. BL: Info 812, STF.

14.7. Crimes de responsabilidade envolvendo Governadores de Estado – (Info 774) –


IMPORTANTE!!! – (Vide Info 863, acima)

I – O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de
responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados pela
Assembleia Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78, § 3º
da Lei 1.079/50 afirma que a competência para julgar os Governadores de Estado em caso de
crimes de responsabilidade é de um “Tribunal Especial”, composto especialmente para
julgar o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a
presidência do Presidente do Tribunal de Justiça.
III – É constitucional norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade
de autorização prévia de 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa para que sejam
iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente dirigidas contra o
Governador de Estado. Durante a fase inicial de tramitação de processo instaurado contra
Governador, a Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação
federal. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições estaduais estendam aos
Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da República no
art. 51, I, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
OBS:
Art. 187, § 4º do RICD: Como se sabe, caso o Presidente da República seja "acusado" de ter
praticado um crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados decide se autoriza ou não
a instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88:

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado;

As regras dessa votação são disciplinadas pelo Regimento Interno da Câmara.

Polêmica sobre a ordem dos Deputados que iriam votar: O art. 187, § 4º do Regimento prevê
que a votação será nominal e cada Deputado Federal será chamado e deverá responder "sim"
ou "não" para a instauração do processo. No entanto, uma frase desse § 4º gerou enorme
divergência durante as discussões sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma. O
que gerou polêmica foi a previsão contida no referido § 4º, no sentido de que a chamada dos
Deputados Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-
versa". A votação do processo de impeachment da Presidente Dilma estava marcada para
ocorrer no domingo (17/04/2016). Havia a expectativa de que o então Presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, começasse a votação pelos Deputados Federais do Estado do
sul. Ocorre que, em tese, isso seria ruim para a Presidente porque ela teria mais aliados entre
os Deputados dos Estados do norte. Assim, os aliados do Governo temiam que, se a votação
começasse pelo sul, haveria, já no início da votação, vários votos a favor do processo de
impeachment e isso geraria um "efeito manada", ou seja, uma "pressão psicológica" nos
parlamentares que viriam depois e que votariam também a favor da instauração por sentirem
que esta seria uma tendência irreversível.

ADI 5498: Tendo em vista este cenário, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no dia
14/04/2016, ingressou com ação direta de inconstitucionalidade pedindo que o STF desse
interpretação conforme a Constituição ao art. 187, § 4º, do Regimento Interno para determinar
ao Presidente da Câmara que a ordem de votação ocorresse da seguinte forma:
 1ª opção: que a votação fosse intercalada (um Deputado do norte, depois um do sul,
outro do norte, outro do sul e assim por diante)
 2ª opção: como pedido subsidiário, o autor da ação pedia que fosse declarada a
inconstitucionalidade do art. 187, § 4º, do Regimento e que o STF, em substituição a
essa regra, determinasse que a votação fosse em ordem alfabética, tal como ocorreu no
processo de impeachment do ex-Presidente Collor em 1992.
 3ª opção: que a votação fosse nominal, aberta e simultânea por meio do painel
eletrônico.

Houve uma discussão se o STF deveria conhecer desta ADI ou se a referida ação impugnava
um ato interna corporis e, portanto, insuscetível de controle de constitucionalidade. O que
decidiu a Corte? A ação foi conhecida? SIM. O Tribunal, por maioria, conheceu da ação.
Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que dela não conheciam por
considerarem que a questão discutida configuraria matéria “interna corporis”, insuscetível de
controle abstrato de constitucionalidade. O STF possui precedentes no sentido de que cabe ADI
contra regimentos internos de órgãos legislativos, desde que possuam caráter normativo e
autônomo. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4587, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 22/05/2014.

Quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido do autor? NÃO. O Plenário do STF, por
maioria, indeferiu a medida cautelar formulada na ADI. O autor da ação não demonstrou de
que modo os dispositivos atacados teriam ofendido os princípios constitucionais do
contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da moralidade e da República. A mera
invocação genérica de transgressão a um postulado constitucional não é suficiente para
legitimar o ajuizamento de ação direta. É preciso não apenas indicar os valores, os princípios,
mas também estabelecer as razões jurídicas que possam legitimar a pretendida ocorrência de
violação às normas de parâmetro invocadas no processo de controle objetivo de
constitucionalidade. O requerente não articulou minimamente a alegação de ofensa ao
princípio do devido processo legal, ao aduzir que a votação poderia gerar efeito cascata, de
modo que os primeiros votos pudessem influenciar os últimos, o que comprometeria o
princípio da imparcialidade. Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do
critério adotado, jamais afastaria a possibilidade de efeito cascata. Assim, inexistindo
incompatibilidade entre o dispositivo regimental com qualquer preceito constitucional, não se
vislumbrou a relevância do direito, o que seria razão para indeferir a medida liminar. Ademais,
o Tribunal sublinhou que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos membros da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é uma questão política
que deve ser resolvida com critérios políticos. A garantia da imparcialidade está no alto
quórum exigido para a votação.

Como ficou a ordem da votação? Antes que iniciasse a sessão do STF, o então Presidente da
Câmara voltou atrás de sua ideia inicial de começar a votação pelos Estados do Sul e anunciou
que a ordem seria a seguinte: “a) (...) a chamada terá início por um Estado da região norte e,
em alternância, será chamado um Estado da região sul. Em seguida, em razão do ‘vice-versa’,
será chamado um Estado da região sul e, depois, um Estado da região norte, e assim
sucessivamente, passando pelas demais regiões; b) a ordem dos Estados seguirá a tradição da
Casa, a disposição constante no painel de votação e, por analogia, a ordem geográfica das
capitais prevista no art. 3º, § 3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (...)”.
Além da ADI acima mencionada, havia dois mandados de segurança questionando essa ordem
de votação, mas o STF também negou os pedidos de medida cautelar formulados nos writs
que questionavam a interpretação dada por Eduardo Cunha.

Segundo entendeu o Supremo, a ordem definida pelo Presidente da Câmara era uma das
interpretações possíveis do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Além disso, os
Ministros entenderam que não havia matéria constitucional relevante sendo discutida nos
mandados de segurança.

Dessa forma, foi mantida a ordem de votação proposta pelo ex-Presidente da Câmara.
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).

15. PODER JUDICIÁRIO


15.1. Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não
tem direito de continuar recebendo a verba de substituição – (Info 934)

Se o Juiz do Trabalho Substituto está exercendo as funções do Juiz do Trabalho Titular, ele
terá direito de receber um valor a mais denominado “substituição” (art. 656, § 3º da CLT e
art. 124 da LOMAN).
Essa verba da substituição não deverá ser paga durante a licença-saúde do Juiz Substituto.
Assim, Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não
tem direito de continuar recebendo a verba de substituição pelo fato de estar na Titularidade
da unidade judiciária.
Esse tipo de verba só pode ser paga enquanto mantido o desempenho da titularidade da
unidade judiciária – condição necessária para seu recebimento.
STF. 2ª Turma. AO 2234 ED/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 19/3/19 (Info 934).

15.2. É inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular de


serventias judiciais, com caráter privado, após a CF/88 – (Info 930)

É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios
privatizados que tenham ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de
promulgação da CF em vigor.
As pessoas que assumiram as serventias judiciais depois da CF/88, em caráter privado, não
têm direito líquido e certo de nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de
provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir do momento em que assumem
cargo em serventia que deveria ser estatizada.
Isso porque é inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular
de serventias judiciais, com caráter privado (serventias judicias privatizadas / não
estatizadas), após a CF/88.
O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo que é obrigatória a estatização das serventias
judiciais à medida que elas fiquem vagas.
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 12/2/19 (Info 930).

15.3. Constitucionalidade da verba “auxílio-voto”, paga aos juízes convocados para atuar
nos processos de 2ª instância do Tribunal – (Info 910)

Foi instituído, no Tribunal de Justiça de São Paulo, o pagamento de uma verba pela atuação
em 2ª instância de magistrados de 1ª instância. Em outras palavras, o juiz era convocado
para atuar nos processos do Tribunal e, em razão disso, recebia uma verba que ficou
conhecida como “auxílio-voto”.
O CNJ, em procedimento de controle administrativo (PCA), considerou a verba irregular,
por suposta ofensa ao teto constitucional, e determinou a devolução dos valores recebidos
pelos juízes.
O STF cassou a decisão do CNJ. Argumentos:
1) A decisão do CNJ violou o devido processo legal administrativo e os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Isso porque os magistrados não foram notificados para
apresentação de defesa escrita, além de não terem participado da instrução processual. A
decisão proferida pelo Conselho surpreendeu a todos os envolvidos. Além disso, o PCA no
qual o CNJ decidiu pela irregularidade da verba foi instaurado para tratar sobre assunto
completamente diverso.
2) A verba paga aos magistrados de 1ª instância que atuaram nos processos do Tribunal de
Justiça foi regular, considerando que baseada no art. 124 da LC 35/79 (LOMAN). Essa
convocação de juízes para atuar no Tribunal é válida e não viola a CF/88. Como essa
convocação de juízes é válida (compatível com a CF/88), é natural que seja devido o
pagamento de um valor como forma de “recomposição patrimonial dos magistrados, dado
o exercício extraordinário de atribuições transitórias desempenhadas acumuladamente com
a jurisdição ordinária”. De igual modo, como se trata de uma verba prevista em lei, fica
afastada qualquer alegação de má-fé. Como a verba em questão servia para pagar os
magistrados por um serviço extraordinário, elas não estavam abrangidas pelo subsídio.
STF. 2ª Turma. MS 29002/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 7/8/2018 (Info 910).

15.4. Inconstitucionalidade de norma da Constituição Estadual que vincula vencimentos de


escrivães aos dos juízes – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que os escrivães de entrância especial teriam seus
vencimentos fixados de modo a não exceder a 80% do que fosse atribuído aos juízes da
entrância inferior, aplicando-se o mesmo limite percentual para os escrivães das demais
entrâncias.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional por violar o art. 37, XIII, da CF/88, que
proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias de pessoal do
serviço público e também por violar a iniciativa legislativa do Poder Judiciário (art. 96, II,
“b”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
O art. 37, XIII, da Constituição veda, expressamente, a vinculação ou equiparação de quaisquer
espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público; (Redação dada pela EC 19/98)

O art. 96, II, “b”, por sua vez, prevê a competência do Tribunal de Justiça para iniciar a
discussão legislativa sobre a remuneração de seus membros (magistrados) e também dos
serviços auxiliares:
Art. 96. Compete privativamente:
(...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos
Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo,
observado o disposto no art. 169:
(...)
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a
fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos
tribunais inferiores, onde houver;

15.5. Constitucionalidade do art. 6º, I, da Resolução 146/2012-CNJ – (Info 899)

A Resolução 146/2012 do CNJ dispõe sobre o instituto da redistribuição de cargos efetivos


dos quadros de pessoal dos órgãos do Poder Judiciário da União.
O STF entendeu que É CONSTITUCIONAL o art. 6º, I, da referida Resolução, que prevê o
seguinte:
“Art. 6º O cargo ocupado somente poderá ser redistribuído se o servidor preencher
cumulativamente os seguintes requisitos:
I – tempo mínimo de 36 meses de exercício no cargo a ser redistribuído;”
O instituto da redistribuição de cargos efetivos tem função de resguardar o interesse da
Administração Pública e não visa a atender às necessidades do servidor.
O prazo de 36 meses previsto no referido dispositivo coincide com o prazo estabelecido no
art. 41 da CF/88 relativo à estabilidade do servidor público, de modo a evidenciar a
razoabilidade e a proporcionalidade da resolução.
STF. Plenário. ADI 4938/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/4/2018 (Info 899).

15.6. Análise da constitucionalidade de resolução que permite reeleição para cargos de


direção no TJ – (Info 851)

É inconstitucional norma do Tribunal de Justiça que permite a reeleição de


desembargadores para cargos de direção após o intervalo de dois mandatos.
Esta previsão viola o art. 93, caput, da CF/88, segundo o qual a regulamentação da matéria
afeta à elegibilidade para os órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei
complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal. Além disso, esta norma afronta
o tratamento que foi dado à matéria pelo art. 102 da LOMAN (LC 35/79), que regulamenta o
art. 93 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 14/12/2016 (Info 851).

15.7. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da
CF/88 – (Info 848)

A lei orçamentária anual do Estado do Rio de Janeiro foi aprovada e nela previsto o
orçamento do Poder Judiciário. Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava
cumprindo seu dever de repassar os recursos correspondentes às dotações orçamentárias do
Poder Judiciário em duodécimos. Diante disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
impetrou mandado de segurança, com pedido de tutela de urgência, contra o ato omissivo
do Governador do Estado do Rio de Janeiro no atraso do repasse dos referidos recursos. O
Governador argumentou que o Estado passa por uma crise muito grave e que no ano de 2016
houve um déficit orçamentário de 19,6% em relação ao orçamento que foi previsto na Lei
orçamentária anual.
O STF deferiu parcialmente a medida liminar, assegurando-se ao Poder Judiciário do Estado
do Rio de Janeiro o direito de receber, até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, os recursos
correspondentes às dotações orçamentárias, sendo, contudo, facultado ao Poder Executivo
fazer um desconto de 19,6% da Receita Corrente Líquida prevista na LOA.
A crise do Estado e a queda na arrecadação não justificam que o Poder Executivo deixe de
repassar o duodécimo ao Poder Judiciário. No entanto, deve ser autorizado que o Executivo
diminua os valores a serem entregues ao TJ de forma proporcional à redução que houve na
arrecadação inicialmente prevista pela Lei Orçamentária Anual.
Não faz sentido que, diante de uma situação de déficit orçamentário (a realização do
orçamento foi muito inferior ao previsto), o Poder Executivo reduza seu orçamento e o Poder
Judiciário continue com seu duodécimo calculado com base na previsão da receita que não
foi a verificada na prática. Havendo frustração de receita, o ônus deve ser compartilhado de
forma isonômica entre todos os Poderes. Em suma, a base de cálculo dos duodécimos deve
observar o valor real de efetivo desempenho orçamentário e não o valor fictício previsto na
lei orçamentária.
STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/11/2016 (Info 848).

15.8. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Órgão do tribunal que afasta a aplicação


da legislação federal para a situação analisada – (Info 848) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Salvador-2015-CESPE) (DPEPR-2017)
Não viola a Súmula Vinculante 10, nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão
fracionário do Tribunal que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não
haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a
sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição.
Além disso, a reclamação constitucional fundada em afronta à SV 10 não pode ser usada
como sucedâneo (substituto) de recurso ou de ação própria que analise a
constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretação idônea e legítima pelas
autoridades jurídicas competentes.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/16 (Info 848).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: A concessionária de energia elétrica contratou uma
empresa privada para entregar na casa dos consumidores os boletos de pagamento da conta.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não concordou com isso e ingressou com
ação para proibir este contrato, sob o argumento de que o STF, no julgamento da ADPF 46,
decidiu que os Correios detêm o privilégio (vulgarmente chamado de "monopólio") de exercer
o serviço postal no Brasil e que, por isso, apenas eles poderiam fazer essa entrega dos carnês
de pagamento. O Juiz Federal julgou a ação improcedente afirmando que a concessionária de
energia elétrica agiu amparada pelo art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, que estabelece:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de
atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço
concedido, bem como a implementação de projetos associados.

A ECT recorreu e a 2ª Turma do TRF (órgão fracionário do Tribunal) deu provimento à


apelação afirmando que o art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 não autoriza que a concessionária de
energia elétrica contrate empresa terceirizada para fazer a entrega das faturas. Diante disso, a
concessionária de energia elétrica ajuizou reclamação no STF afirmando que o órgão
fracionário do TRF declarou a inconstitucionalidade do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 sem
observar a cláusula de reserva de plenário, afrontando, assim, a SV 10.

O STF concordou com a reclamação proposta? NÃO.

Nesse sentido, veja como já decidiu o STF em outra oportunidade:


(...) A simples ausência de aplicação de uma dada norma jurídica ao
caso sob exame não caracteriza, apenas por isso, violação da
orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal.
2. Para caracterização da contrariedade à súmula vinculante n. 10,
do Supremo Tribunal Federal, é necessário que a decisão
fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal tomada
como base dos argumentos expostos na ação e a Constituição. (...)
STF. Plenário. Rcl 6944, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 23/06/2010.

Segundo a Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro
submetido ao crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944).
Em palavras mais simples, a lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.

O tema não é muito simples e pode gerar confusão nos concursos. Portanto, cuidado com as
seguintes afirmações aparentemente contraditórias e que poderão aparecer na sua prova:
 Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. (certo)
 Não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção
aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma
interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. (certo)

Para que haja violação da cláusula de reserva de plenário, é necessário que o órgão fracionário
do tribunal tenha afastado a lei ou ato normativo sob o argumento, expresso ou implícito, de
que a norma infraconstitucional é incompatível com os critérios previstos na CF/88. Se o
afastamento da lei ou ato normativo foi por causa de falta de subsunção, não há ofensa ao art.
97 da CF/88.

O STF entendeu que o órgão fracionário do TRF apenas interpretou a legislação federal (Lei nº
8.987/95), à luz da decisão proferida pelo Supremo na ADPF 46, sem que tenha declarado a
inconstitucionalidade do art. 25, § 1º da referida norma.

Vale ressaltar também que essa discussão (se a concessionária poderá contratar empresa
terceirizada para entregar os carnês) já se encontra judicializada em sede de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida e a dúvida razoável acerca da interpretação
das normas infraconstitucionais não é hipótese de cabimento de reclamação.

15.9. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não se aplica a cláusula de reserva de


plenário para atos de efeitos concretos – (Info 844) – IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017)

Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que
declara inconstitucional decreto legislativo que se refira a uma situação individual e
concreta. Isso porque o que se sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato
normativo.
Se o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma dada situação
individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação, ele não pode ser
considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos.
STF. 2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
REGRA DA RESERVA DE PLENÁRIO: No chamado controle difuso de constitucionalidade,
também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se
o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. A
chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória que essa declaração de
inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão especial
deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo conferir
maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um mesmo
Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo, gerando
instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também conhecida como regra do full bench,
full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e 949 do CPC
2015:

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou


dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei


ou de ato normativo do poder público, o relator, após ouvir o
Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à
câmara à qual competir o conhecimento do processo.

Art. 949. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao
seu órgão especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não
submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou
do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

A proteção é reforçada pelo enunciado 10 da Súmula Vinculante, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário
(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora
não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em
parte.

EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Existem duas mitigações à cláusula


de reserva de plenário, ou seja, duas hipóteses em que o órgão fracionário poderá decretar a
inconstitucionalidade sem necessidade de remessa dos autos ao Plenário (ou órgão especial):

a) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver


decidindo já tiver se manifestado pela inconstitucionalidade da
norma;
b) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em
análise é inconstitucional.

Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 949 do CPC:

Art. 949 (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais


não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou
do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO E ATO DE EFEITOS CONCRETOS


Imagine a seguinte situação adaptada: A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou
um decreto legislativo tratando especificamente da situação de determinado Deputado
Estadual. O TRF da 1ª Região, ao apreciar um processo envolvendo este Deputado, declarou,
em controle difuso, a inconstitucionalidade deste decreto legislativo. Ocorre que esta decisão
foi tomada por um órgão fracionário do TRF1 (e não pelo Plenário ou pelo órgão especial deste
Tribunal). Diante disso, a defesa do Deputado alegou que houve violação ao art. 97 da CF/88
e à SV 10.

A tese foi acolhida pelo STF? NÃO. O que se sujeita ao princípio da reserva de plenário – e,
consequentemente, à SV 10, é a "lei" e o "ato normativo". O decreto legislativo que foi
declarado inconstitucional pelo TRF não constitui lei em sentido formal ou material, nem
possui caráter de ato normativo. Atos normativos “são aqueles expedidos sem destinatários
determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontram na
mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e
impessoal, semelhantes aos da lei (...)” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo
Brasileiro, 37ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 168).

Desse modo, para que seja caracterizado como ato normativo são necessários os seguintes
requisitos: a) abstração; b) generalidade e c) impessoalidade.

No caso concreto, o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma


dada situação individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação. Logo, este
decreto legislativo não preencheu os requisitos de abstração, generalidade e impessoalidade,
não podendo ser considerado como ato normativo, sendo caracterizado como típico ato estatal
de efeitos concretos. Diante disso, não se aplica ao caso a regra do art. 97 da CF/88 nem há
ofensa ao Enunciado 10 da SV.

15.10. Inexistência de inconstitucionalidade no corte do orçamento do Poder Judiciário


durante a tramitação da Lei Orçamentária Anual – (Info 832) – IMPORTANTE!!!

Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de
violação ao princípio da separação de Poderes, interferir na função do Poder Legislativo de
definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando projetos de leis
orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/6/2016 (Info 832).

OBS:
Fixar e definir o orçamento é atividade típica do Poder Legislativo: Ressalte-se que, no caso
concreto, o corte no orçamento da Justiça do Trabalho não foi promovido pelo Poder Executivo.
Este consolidou e enviou o projeto na forma como havia sido proposto pelo TST. A redução foi
efetuada no âmbito do Parlamento. Esclarecido este ponto, deve-se chamar atenção para a
primeira conclusão do STF sobre o tema: a atividade de fixar e definir o orçamento é uma típica
atribuição do Poder Legislativo.

O corte realizado pelo Legislativo à proposta orçamentária do TST viola o art. 99 da CF/88?
NÃO. Ainda que o texto constitucional tenha estabelecido que compete ao próprio Poder
Judiciário encaminhar suas propostas orçamentárias, não há vedação absoluta, sob o ponto de
vista formal, para que o Poder Legislativo realize um controle sobre o que foi proposto.

Regras previstas no art. 166 da CF/88: Conforme já exposto, o Poder Legislativo detém a
possibilidade de emendar a proposta da lei orçamentária e o que se deve observar é se essas
mudanças estão ou não de acordo com as condicionantes exigidas pela CF/88. Tais
condicionantes ("restrições") estão elencadas no art. 166, devendo ser destacados os seguintes
dispositivos:

Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes


orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão
apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do
regimento comum.
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e
Deputados:
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste artigo
e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da
República;
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais,
regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer o
acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da
atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas
Casas, criadas de acordo com o art. 58.
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que sobre
elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo
Plenário das duas Casas do Congresso Nacional.
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos
projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias;
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os
provenientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam
sobre:
a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
c) transferências tributárias constitucionais para Estados,
Municípios e Distrito Federal; ou
III - sejam relacionadas:
a) com a correção de erros ou omissões; ou
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não
poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano
plurianual.
(...)

A aprovação da lei orçamentária pode ser classificada como um "ato complexo de elaboração
conjunta" considerando que o Poder Judiciário envia sua proposta, o Poder Executivo a
consolida e o Poder Legislativo a arbitra. Não há afronta à separação de Poderes quando o
Parlamento decide promover mudanças na proposta encaminhada.

Para o STF, não foram demonstrados excessos na redução da proposta orçamentária,


considerando que esta depende do cenário socioeconômico do País em dado momento
histórico. Além disso, a função de definir receitas e despesas do aparato estatal é uma das mais
tradicionais e relevantes dentre os poderes constituídos e deve ser preservada pelo Poder
Judiciário, sob pena de indevida e ilegítima tentativa de esvaziamento de típica função
parlamentar.

15.11. Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola
a CF/88 nem a LOMAN – (Info 825)

O art. 65, § 2º da LOMAN (LC 35/79), ao vedar a concessão de adicionais ou vantagens


pecuniárias nela não previstas, não proíbe que as leis estaduais prevejam o pagamento de
verbas de natureza indenizatória aos magistrados estaduais.
Com base nesse entendimento, o STF considerou válida previsão de lei estadual que
concede aos magistrados o direito de serem ressarcidos pelos cofres públicos em relação às
despesas médicas, cirúrgicas e odontológicas que realizem e que excedam o custeio coberto
pelo Instituto de Previdência do Estado.
STF. 1ª Turma. MS 27463/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).

15.12. CONCURSO PARA MAGISTRATURA: Momento de comprovação dos três anos de


atividade jurídica – (Info 821) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

A comprovação do triênio de atividade jurídica exigida para o ingresso no cargo de juiz


substituto, nos termos do art. 93, I, da CF, deve ocorrer no momento da inscrição definitiva
no concurso público.
STF. Plenário. RE 655265/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 13/4/2016 (repercussão geral) (Info 821).
(TJPR-2017-CESPE): O ingresso na carreira de juiz se dá mediante concurso público de
provas e títulos, com a participação da OAB em todas as fases, exigindo-se do candidato
que ele seja bacharel em direito com, no mínimo, três anos de atividade jurídica. Nesse
sentido, de acordo com o entendimento do STF, a exigência de comprovação do triênio de
prática forense, quando houver ausência de especificação de data no edital, deverá ser
cumprida no ato de inscrição definitiva no concurso. BL: Info 821, STF.

OBS:
Atenção: A CF/88 exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura e do
Ministério Público, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito possua,
no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º). Essa exigência foi inserida
na CF/88 pela EC 45/2004. Desde que essa regra foi aprovada, surgiu uma intensa discussão
sobre o momento no qual deveria ser feita esta exigência.

Essa distinção possui importantes consequências práticas, considerando que, como entre a
inscrição definitiva e a posse normalmente se passam alguns meses, ou até anos, dependendo
da posição em que o candidato foi aprovado, é muito comum acontecer de, no momento da
inscrição, a pessoa não ter os três anos, mas completá-los antes do ato da posse.

Durante os debates sobre o tema, os candidatos tentaram fazer prevalecer o entendimento


consagrado no STJ para concursos em geral, de que os requisitos do cargo, por serem inerentes
ao exercício, devem ser exigidos no ato da posse:

Súmula 266-STJ: O diploma ou habilitação legal para o exercício do


cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso
público.
No entanto, o CNJ resolveu dar solução diversa ao caso e, por meio de Resolução, estabeleceu
que os três anos de atividade jurídica (exercidos após a obtenção do grau de bacharel em
direito) deveriam ser exigidos no ato da inscrição definitiva dos concursos da magistratura.

Argumento utilizado pelo CNJ: Foi o de que estavam sendo aprovados muitos candidatos sem
os requisitos necessários, o que somente era percebido no momento da posse, atrapalhando o
planejamento do Poder Judiciário para o preenchimento das vagas. Assim, antecipando esta
comprovação para o ato da inscrição definitiva, os Tribunais poderiam saber previamente
quantos candidatos aprovados teriam condições de assumir e decidiriam se era caso de
deflagrar ou não, desde logo, outro concurso.

Este debate chegou até o STF. O que decidiu o Supremo? Em que momento deverão ser
comprovados os três anos de atividade jurídica? No momento da inscrição definitiva.

Principais argumentos invocados pelo STF:


 É importante que todos os candidatos que adentrem na disputa tenham condições para o
exercício do cargo no momento da inscrição definitiva, a fim de evitar que o candidato,
depois de aprovado, ingresse com medidas judiciais para tentar suplantar este requisito
da atividade jurídica, o que atrapalharia o preenchimento dos cargos, contrariando o
interesse público;
 Exigir o requisito no momento da inscrição definitiva atende ao princípio da isonomia.
Isso porque o edital serve para orientar e alertar os potenciais candidatos de que, se forem
aprovados, deverão cumprir os requisitos do cargo. Não se pode estimular aqueles que
não atendem às exigências a adentrar no certame, com a esperança de lograrem êxito
judicialmente ao retardarem o momento da posse.
 Definir a data da posse como termo final para cumprimento dos três anos apresenta outro
ponto negativo, pois privilegia aqueles que ficaram com pior classificação no concurso já
que estes terão mais tempo para completar o triênio.

Concursos para membros do Ministério Público: O julgamento acima tratou de forma


específica sobre os concursos da magistratura. Tanto que a tese definida pelo STF fala em
"cargo de juiz substituto". No âmbito do Ministério Público, o CNMP possui a Resolução
40/2009 afirmando que a comprovação dos três anos deverá ocorrer no momento da posse (art.
3º, com redação dada pela Resolução 87/2012). Desse modo, por enquanto, no âmbito do MP,
a comprovação é no momento da posse. Digo "por enquanto" porque, durante a sessão, o
Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que, para manter a isonomia entre as
carreiras jurídicas, ele já solicitou a alteração da resolução do CNMP a fim de que, também nos
concursos do Ministério Público, a comprovação dos três anos de atividade jurídica seja feita
no momento da inscrição definitiva.

15.13. Férias coletivas de 60 dias para serventuários da Justiça não é compatível com a CF/88
– (Info 816)

É correta decisão do CNJ que considera indevida a existência de férias coletivas para
servidores de Tribunal de Justiça, mesmo que estas estejam previstas em lei ou ato
normativo estadual. Isso porque a EC 45/2004 incluiu o inciso XII ao art. 93 da CF/88
proibindo as férias coletivas de juízes e Tribunais de 2º grau. Com a edição da EC 45/2004,
as leis e atos normativos que previam férias coletivas nos Tribunais de 2º grau foram
considerados não recepcionados ("revogados") pela nova redação do art. 93, XII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 26739/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).
OBS:
As férias coletivas do STF, STJ, TST, TSE e STM continuam existindo. Nos meses de janeiro e
julho eles param. Assim, a regra do inciso XII do art. 93 da CF/88 não se estende aos Tribunais
Superiores (STF. 1ª Turma. AI 636765 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
15/05/2007).

Competência do CNJ para o ato: A análise da regularidade das férias de serventuários da


Justiça constitui função atribuída ao CNJ pelo art. 103-B, § 4º, II, da CF/88 (zelar pela legalidade
dos atos administrativos). Não há, nesta atuação, uma usurpação do papel do STF mesmo que,
para fazer este controle, o CNJ tenha que dizer que determinado ato normativo é contrário à
CF/88.

15.14. Competências do órgão especial – (Info 809)

Em regra, o órgão interno do Tribunal que decide as questões administrativas é o Plenário,


chamado de "tribunal pleno" e que é formado, como o próprio nome diz, pela totalidade
dos julgadores. Ocorre que nos Tribunais maiores (exs: TJ/SP, TJ/MG) existem centenas de
membros, o que dificulta a reunião para decidirem as questões administrativas. Diante
disso, a fim de facilitar o funcionamento, a CF/88 previu que, se o Tribunal possuir mais
que 25 membros, ele poderá criar um "órgão especial" para exercer algumas atribuições
administrativas e jurisdicionais que seriam originalmente de competência do tribunal
pleno (art. 93, XI).
Compete aos Tribunais de Justiça definirem quais as competências que serão delegadas ao
órgão especial, desde que aprovadas pela maioria absoluta de seus membros.
STF. Plenário. MS 26411 MC/DF, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min.
Teori Zavascki, julgado em 26/11/2015 (Info 809).

15.15. Cláusula de reserva de plenário pode ser afastada quando houver jurisprudência do
STF sobre matéria – (SEM INFO) – (TJRJ-2016)

O STF reafirmou seu entendimento no sentido de reconhecer a desnecessidade de


submissão de demanda judicial à regra da reserva de plenário na hipótese em que a decisão
judicial estiver fundada em jurisprudência do Plenário do STF ou em súmula da Corte. A
questão foi analisada pelo Plenário Virtual ao julgar o Recurso Extraordinário com Agravo
(ARE) 914045, que teve repercussão geral conhecida.
O Tribunal ainda reiterou entendimento em relação à matéria de fundo do recurso, pela
inconstitucionalidade de restrições impostas pelo Estado ao livre exercício de atividade
econômica ou profissional, quando essas forem utilizadas como meio de cobrança indireta
de tributos.
STF. Plenário. ARE 914045. Min. Edson Fachin. (sem info).
(TJRJ-2016-VUNESP): O STF possui entendimento no sentido de reconhecer a
desnecessidade de submissão de demanda judicial à regra da reserva de plenário, na
hipótese em que a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do plenário do STF
ou em súmula da Corte.

15.16. Causa que interessa a todos os membros da magistratura – (Info 782)

O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88).
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).

15.17. CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto
constitucional – (Info 775)

A Assembleia Legislativa de determinado estado aprovou emenda constitucional


afirmando que, após o Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser
Desembargador pelo quinto constitucional, ele deveria ainda submeter esse nome à
apreciação da ALE. Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder Executivo somente
seria nomeado se a Assembleia aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados. Dessa forma, foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo
quinto constitucional, que não está prevista no art. 94 da CF/88.
O STF julgou essa emenda inconstitucional. A exigência de submissão do nome escolhido
pelo governador à Casa Legislativa, para preenchimento de vaga destinada ao quinto
constitucional, invade a atuação do Poder Executivo. O procedimento para a escolha dos
Desembargadores foi tratado de forma exaustiva pelo art. 94 da CF/88, não podendo o
constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não estejam expressamente
previstas na Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

15.18. Critério de desempate na promoção por antiguidade de magistrados – (Info 757)

A antiguidade entre magistrados deve ser aferida em razão do tempo no cargo e, no caso de
posse no mesmo dia, deve ser respeitada a ordem de classificação no concurso como critério
de desempate.
A CF/88 determina que uma Lei Complementar, de caráter nacional, deverá reger a
magistratura (art. 93 da CF/88). Logo, a norma local não pode dispor de forma diferente do
que disciplinado pela LOMAN. Justamente por isso, o STF tem declarado a
inconstitucionalidade de leis estaduais que, a pretexto de esmiuçarem questões referentes
à magistratura, modificam o critério de desempate escolhido pela LOMAN.
STF. 1ª Turma. MS 28494/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/9/2014 (Info 757).

15.19. Análise do art. 102, I, “f”, da CF/88 – (Info 756)

Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os
conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.
O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se caracterizar
a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma causa
envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto
federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que
irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às
regras do sistema federativo.
STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

15.20. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura – (Info 756)

Cabe recurso administrativo contra a prova oral nos concursos da magistratura?


Depende:
 Se o recurso tiver por objetivo impugnar os critérios de correção aplicados pelo
examinador para as respostas dadas (discutir o acerto das respostas): NÃO
 Se o recurso tiver por objetivo impugnar alguma questão que esteja fora do
conteúdo programático ou suscitar outras violações formais ao edital ou à
Resolução: SIM.
STF. 2ª Turma. MS 32042/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

15.21. Existência de inquérito contra o candidato ao quinto constitucional não impede a sua
posse no cargo de Desembargador – (Info 755)

O princípio constitucional da presunção de inocência veda o tratamento diferenciado a


qualquer pessoa, ou a restrição de seus direitos, pelo simples fato de responder a inquérito.
Assim, um advogado escolhido para ser nomeado Desembargador pelo quinto
constitucional não pode ser impedido de tomar posse sob o argumento de que ele responde
a um inquérito.
STF. 2ª Turma. MS 32491/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/8/2014 (Info
755).
15.22. Quórum para recusar a promoção por antiguidade de magistrado – (Info 753)

A CF/88 prevê que a promoção por antiguidade do juiz mais antigo somente pode ser
negada se ele for recusado pelo voto fundamentado de 2/3 (dois terços) dos membros do
respectivo Tribunal, assegurada a ampla defesa (art. 93, II, “d”).
Segundo o STF, o quórum de votos para um tribunal recusar a promoção do juiz mais antigo
não deve computar os cargos vagos ou os desembargadores afastados.
A vontade de um tribunal é manifestada por seus membros juridicamente aptos.
Desfalcado o tribunal, deve-se computar apenas os magistrados em atividade, a não ser que
afastados em caráter meramente eventual.
Assim, os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos ocupantes estejam
afastados cautelarmente do exercício da função jurisdicional, não devem ser computados
para o fim de determinação do referido quórum.
STF. 1ª Turma. MS 31357/DF e MS 31361/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 5/8/2014
(Info 753).

15.23. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular – (Info 752) -
Somente para concursos de Juiz de Direito!

Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para
final), o juiz que lá é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa
transformação.
Aplica-se, no caso, a Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove
automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.
Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para remoção ou
promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga.
STF. 1ª Turma. MS 26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

15.24. CE não pode impor limites à remuneração do Poder Judiciário – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que imponha limites à


remuneração do Poder Judiciário, considerando que isso já é feito pelo art. 93, V, da CF/88,
que é o quem competência para dispor sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 509/MT, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/4/14 (Info 736).

16. MINISTÉRIO PÚBLICO


16.1. O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário –
(Info 921)

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato
administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, j. 25/10/18 (repercussão geral) (Info 921).

16.2. Inconstitucionalidade da norma de CE que equipara remuneração de Delegados a dos


Promotores – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que os Delegados de Polícia de classe inicial


deveriam receber idêntica remuneração a dos Promotores de Justiça de primeira entrância,
prosseguindo na equivalência entre as demais classes pelo escalonamento das entrâncias
judiciárias.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional por violar o art. 37, XIII, da CF/88, que
proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias de pessoal do
serviço público.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
OBS: O art. 37, XIII, da Constituição veda, expressamente, a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público; (Redação dada pela EC 19/98)

16.3. O art. 127 da CF/88 assegura ao MP autonomia financeira – (Info 907)

É constitucional dispositivo da Constituição Estadual que assegura ao Ministério Público


autonomia financeira e a iniciativa ao Procurador-Geral de Justiça para propor ao Poder
Legislativo a criação e a extinção dos cargos e serviços auxiliares e a fixação dos vencimentos
dos membros e dos servidores de seus órgãos auxiliares.
Também é constitucional a previsão de que o Ministério Público elaborará a sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos pela LDO.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS: O STF entende que, mesmo que o art. 127, § 2º, da CF/88 não fale em autonomia
financeira, ela é sim assegurada ao Ministério Público.
Art. 127. (...)
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor
ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de
provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a
lei disporá sobre sua organização e funcionamento.

O § 3º do art. 127 reforça essa conclusão porque prevê que “o Ministério Público elaborará sua
proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.”

Sobre o tema, veja:


(...) A dimensão financeira dessa autonomia constitucional -
considerada a instrumentalidade de que se reveste - responde à
necessidade de assegurar-se, ao Ministério Público, a plena
realização dos fins eminentes para os quais foi ele concebido,
instituído e organizado. Precedentes. Doutrina.
- Sem que disponha de capacidade para livremente gerir e aplicar os
recursos orçamentários vinculados ao custeio e à execução de suas
atividades, o Ministério Público nada poderá realizar, frustrando-se,
desse modo, de maneira indevida, os elevados objetivos que
refletem a destinação constitucional dessa importantíssima
Instituição da República, incumbida de defender a ordem jurídica,
de proteger o regime democrático e de velar pelos interesses sociais
e individuais indisponíveis. (...)
STF. Plenário. ADI 2513 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
03/04/2002.

Como já foi cobrado em concursos:


 “No que diz respeito à disciplina constitucional da autonomia financeira, aos poderes
e aos órgãos públicos, assinale a opção correta. Ao elaborar sua proposta orçamentária,
deve o MP ater-se aos limites estabelecidos na LDO, não sendo dado ao chefe do Poder
Executivo estadual interferir nessa proposta, ressalvada a possibilidade de pleitear a
sua redução ao respectivo parlamento.” (Defensor Público – DPE-RN – CESPE – 2015
– Certo)

16.4. Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF – (Info 851)

Compete ao Procurador-Geral da República (e não ao STF) decidir conflito negativo de


atribuições entre Ministério Público estadual e Ministério Público Federal.
O PGR decide conflitos de atribuições entre MPE e MPF, seja este conflito positivo ou
negativo, tanto em matéria cível como criminal.
O conflito negativo ocorre quando ambos os órgãos (MPE e MPF) entendem que não
possuem atribuição para atuar no caso; o conflito positivo é o contrário, ou seja, tanto um
como o outro defendem que têm atribuição para a causa.
No caso concreto, o MPE e o MPF divergiram sobre quem teria atribuição para apurar, em
inquérito civil, irregularidades em projeto de intervenção urbana que estaria causando risco
de danos ao meio ambiente e à segurança da população local.
STF. Plenário. Pet 5586 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, j.
15/12/16 (Info 851).

16.5. O PGJ somente pode ser reconduzido uma única vez – (Info 847)

É inconstitucional dispositivo de CE que permita a recondução ao cargo de Procurador-


Geral de Justiça sem limite de mandatos.
Essa previsão contraria o art. 128, § 3º da CF/88, que autoriza uma única recondução.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Vejamos o art. 128, § 3º da CF/88, que autoriza uma única recondução
Art. 128 (...)
§ 3º - Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e
Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na
forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que
será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois
anos, permitida uma recondução.

Cuidado para não confundir:


 Chefe do MPU: Procurador-Geral da República. Não há limites de recondução (art.
128, § 1º).
 Chefe do MPE: Procurador-Geral de Justiça. Só é permitida uma recondução (art. 128,
§ 3º).

Atenção: não há impedimento para que uma pessoa seja PGJ, seja reconduzida, passe um
mandato fora do cargo e, depois, seja novamente nomeada. O que se impede é a ocorrência de
três mandatos consecutivos.

16.6. O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao


controle de legalidade do CNMP – (Info 842) – (MPAM-2015)

Determinado Promotor de Justiça foi considerado aprovado no estágio probatório pelo


Colégio de Procuradores do MP. O CNMP, de ofício, reformou esta decisão e negou o
vitaliciamento do Promotor, determinando a sua exoneração.
O STF considerou legítima a atuação do CNMP.
O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle
de legalidade do CNMP, por força do art. 130-A, § 2º, II, da CF/88, cuja previsão se
harmoniza perfeitamente com o art. 128, § 5º, I, "a", do texto constitucional.
Vale ressaltar que, quando o CNMP tomou esta decisão, o referido Promotor já estava
suspenso do exercício de suas funções e não chegou a completar 2 anos de efetivo exercício.
Logo, como o Promotor ainda não havia acabado seu estágio probatório, poderia perder o
cargo por decisão administrativa, não sendo necessária sentença judicial transitada em
julgado (art. 128, § 5º, I, "a", da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 27542/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/10/16 (Info 842).

16.7. Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa que


reconheceu a prescrição em processo administrativo – (Info 831) – IMPORTANTE!!!

O Procurador-Geral da República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de


segurança com o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão
punitiva em processo administrativo disciplinar.
A legitimidade para impetrar mandado de segurança pressupõe a titularidade do direito
pretensamente lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade pública.
O Procurador-Geral da República não tem legitimidade para a impetração, pois não é o
titular do direito líquido e certo que afirmara ultrajado.
Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples interesse ou atuação como
custos legis, uma vez que os direitos à ordem democrática e à ordem jurídica não são de
titularidade do Ministério Público, mas de toda a sociedade.
STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
E o § 6º do art. 103-B da CF/88? Quando o § 6º do art. 103-B da CF/88 prevê que o PGR oficiará
junto ao CNJ, esta atuação restringe-se ao âmbito interno do conselho, não significando que
ele tenha legitimidade para impetrar mandado de segurança contra as decisões ali proferidas.

16.8. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR – (Info
826 e Info 835)

Cabe ao Procurador-Geral da República a apreciação de conflitos de atribuição entre órgãos


do Ministério Público.
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do MP, dirimir conflitos de atribuições
entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais.
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/5/16 (Info 826).
OBS:
"O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Cuidando-se de ato
de natureza jurisdicional, o conflito será de competência; tratando-se de controvérsia entre
órgãos do Ministério Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um conflito de
atribuições." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3ª ed., Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 1113).

RESUMINDO:

16.9. Impossibilidade de o membro do MP exercer cargos fora da Instituição – (Info 817) –


IMPORTANTE!!!

Membros do Ministério Público não podem ocupar cargos públicos fora do âmbito da
instituição, salvo cargo de professor e funções de magistério.
A Resolução 72/2011 do CNMP, ao permitir que membro do Parquet exerça cargos fora do
MP, é flagrantemente contrária ao art. 128, § 5º, II, "d", da CF/88.
Consequentemente, a nomeação de membro do MP para o cargo de Ministro da Justiça viola
o texto constitucional.
STF. Plenário. ADPF 388/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/3/2016 (Info 817).

16.10. Designação de Promotor Eleitoral – (Info 817)

O art. 79 da LC 75/93, que confere ao Procurador Regional Eleitoral a incumbência de


designar os membros do Ministério Público estadual que atuarão junto à Justiça Eleitoral,
é constitucional, tanto sob o ponto de vista formal como material.
O Procurador-Geral da República detém a prerrogativa, ao lado daquela atribuída ao Chefe
do Poder Executivo, de iniciar os projetos de lei que versem sobre a organização e as
atribuições do Ministério Público Eleitoral.
A designação de membro do Ministério Público local (estadual) como Promotor Eleitoral
por Procurador Regional Eleitoral, que é membro do Ministério Público Federal, não
afronta a autonomia administrativa do Ministério Público do Estado.
STF. Plenário. ADI 3802/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/3/2016 (Info 817).

16.11. Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira – (Info 800)

A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do


Ministério Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o
bacharel em direito possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129,
§ 3º).
A referência a “três anos de atividade jurídica”, contida na CF/88, não se limita à atividade
privativa de bacharel em Direito.
Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em
um cargo privativo de bacharel em Direito. Assim, por exemplo, se uma pessoa
desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico judiciário (nível médio), mas nele
realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o referido requisito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

16.12. Conselho Superior do MPE ou Colégio de Procuradores poderão anular questão de


concurso público do MP, mesmo sem previsão no edital – (Info 740)

É válido recurso contra a decisão da comissão examinadora do concurso de Promotor de


Justiça, mesmo que não tenha previsão no edital, desde que seja previsto na Lei Orgânica
da carreira.
O julgamento do recurso pelos órgãos internos do MP é válido mesmo sem a participação
da OAB. Isso porque tal decisão nada mais é do que o exercício do princípio da autotutela.
STF. 1ª Turma. MS 32176/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/3/14 (Info 740)

17. DEFENSORIA PÚBLICA


17.1. Equiparação entre Defensoria Pública e MP – (Info 907)

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que concede aos Defensores


Públicos a aplicação do regime de garantias, vencimentos, vantagens e impedimentos do
Ministério Público e da Procuradoria-Geral do Estado.
Os estatutos jurídicos das carreiras do Ministério Público e da Defensoria Pública foram
tratados de forma diversa pelo texto constitucional originário.
Ademais, a equivalência remuneratória entre as carreiras encontra óbice no art. 37, XIII, da
CF/88, que veda a equiparação ou vinculação remuneratória.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/2018 (Info 907).

Obs: o tema foi analisado tendo como parâmetro a redação originária da Constituição
Federal de 1988, ou seja, antes das Emendas Constitucionais 45/2004 e 80/2014.

17.2. Inconstitucionalidade de contratação de advogados, sem concurso público, para serem


Defensores Públicos – (Info 881)

É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instalação da Assembleia


Constituinte, de advogados para exercerem a função de Defensor Público estadual.
Tal contratação amplia, de forma indevida, a regra excepcional do art. 22 do ADCT da CF/88
e afronta o princípio do concurso público.
STF. 1ª Turma. RE 856550/ES, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 10/10/17 (Info 881).

17.3. Para que a DPE atue no STJ, é necessário que possua escritório de representação em
Brasília – (Info 856) – ATENÇÃO!! DEFENSORIA PÚBLICA!!
A Defensoria Pública Estadual pode atuar no STJ, no entanto, para isso, é necessário que
possua escritório de representação em Brasília. Se a Defensoria Pública estadual não tiver
representação na capital federal, as intimações das decisões do STJ nos processos de
interesse da DPE serão feitas para a DPU.
Assim, enquanto os Estados, mediante lei específica, não organizarem suas Defensorias
Públicas para atuarem continuamente nesta Capital Federal, inclusive com sede própria, o
acompanhamento dos processos no STJ constitui prerrogativa da DPU.
A DPU foi estruturada sob o pálio dos princípios da unidade e da indivisibilidade para dar
suporte às Defensorias Públicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-Membros
longínquos, que não podem exercer o múnus a cada recurso endereçado aos tribunais
superiores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 378.088/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 06/12/16.
STF. 1ª Turma. HC 118294/AP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 7/3/17 (Info 856).

17.4. Constitucionalidade da EC 74/13, que conferiu autonomia à DPU e à DPDF – (Info 826)
– IMPORTANTE!!!

É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate
sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88.
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60.
Assim, a EC 74/13, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito
Federal, não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos
poderes, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar.
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,
em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)?
 Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
 Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.

17.5. Inconstitucionalidade de lei estadual que atribua ao Governador competências


administrativas na Defensoria Pública – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que atribui ao chefe do Poder Executivo estadual


competências administrativas no âmbito da Defensoria Pública.
Assim, viola o art. 134, § 2º da CF/88 a lei estadual que preveja que compete ao Governador:
a) a nomeação do Subdefensor Público-Geral, do Corregedor-Geral, dos Defensores Chefes
e do Ouvidor da Defensoria Pública estadual;
b) autorizar o afastamento de Defensores Públicos para estudos ou missão;
c) propor, por meio de lei de sua iniciativa, o subsídio dos membros da Defensoria Pública.
Obs: tais competências pertencem ao Defensor Público-Geral do Estado.
STF. Plenário. ADI 5286/AP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.6. Governador não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria elaborada de


acordo com a LDO – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

Governador do Estado, ao encaminhar para a Assembleia Legislativa o projeto de lei


orçamentária, não pode reduzir a proposta orçamentária elaborada pela Defensoria Pública
e que estava de acordo com a LDO.
Há, neste caso, violação ao § 2º do art. 134 da CF/88.
Assim, é inconstitucional a redução unilateral pelo Poder Executivo dos orçamentos
propostos pelos outros Poderes e por órgãos constitucionalmente autônomos, como o MP e
a Defensoria Pública, na fase de consolidação do projeto de lei orçamentária anual, quando
tenham sido elaborados em obediência às leis de diretrizes orçamentárias e enviados
conforme o art. 99, § 2º, da CF/88.
Caso o Governador do Estado discorde da proposta elaborada, ele poderá só pleitear ao
Poder Legislativo a redução pretendida, visto que a fase de apreciação legislativa é o
momento constitucionalmente correto para o debate de possíveis alterações no projeto de
lei orçamentária. Não pode, contudo, já encaminhar o projeto com a proposta alterada.
STF. Plenário. ADI 5287/PB, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.7. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da
CF/88 – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o


dia 20 de cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados, pela lei
orçamentária, à Defensoria Pública estadual.
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.8. Participação da Defensoria na discussão da LDO – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a
participação da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias.
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar
com a participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do
orçamento anual que será destinado à Instituição.
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/5/16 (Info 826).

18. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


18.1. O STF entende que não é possível a revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos atos
e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela Corte – (Info 933)

O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do CNJ.
Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de legalidade por
parte do STF.
O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ
no processo disciplinar.
A LOMAN não estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas
disciplinares praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação subsidiária
da Lei nº 8.112/90.
STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/3/19 (Info 933).

18.2. STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará – (Info 929)

Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC
35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava
presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para
corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir de responsabilidade produzindo
documento falso com data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado
providências que, na realidade, não adotou.
STF. 1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 5/2/2019 (Info 929).

18.3. O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes
interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal – (Info 915)

Caso concreto: foi instaurado procedimento de controle administrativo (PCA) no CNJ para
apurar a regularidade de 300 serventias judiciais.
O impetrante alega a nulidade do PCA pelo fato de haver um grande número de
interessados no mesmo processo, defendendo a ideia de que deveria ser um procedimento
para cada parte.
O STF não concordou com o mandado de segurança impetrado e manteve a decisão do CNJ.
O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes interessadas
não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla
defesa.
O prejuízo à defesa deve ser analisado concretamente, à luz das especificidades do caso.
No caso concreto, tendo em vista que todos os interessados foram intimados para se
manifestarem no processo e o que CNJ enfrentou de maneira detida as teses jurídicas por
eles apresentadas, não há que se falar em anulação do ato impugnado.
Como regra geral, o controle dos atos do CNJ pelo STF somente se justifica nas hipóteses
de:
a) inobservância do devido processo legal;
b) exorbitância das competências do Conselho; e
c) injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do ato impugnado.
No caso concreto, não se identifica nenhuma dessas três situações. Logo, não há motivo para
a anulação da decisão do CNJ.
STF. 1ª Turma. MS 28495/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
13/11/2018 (Info 923).

18.4. CNJ pode determinar que Tribunais de Justiça reduzam o adicional de férias dos
magistrados para 1/3 – (Info 915)

O CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo de forma a
substituir a competência do STF.
Contudo, o CNJ pode determinar a correção de ato do Tribunal local que, embora
respaldado por legislação estadual, se distancie do entendimento do STF.
Assim, o CNJ pode afirmar que determinada lei ou ato normativo é inconstitucional se esse
entendimento já estiver pacificado no STF. Isso porque, neste caso, o CNJ estará apenas
aplicando uma jurisprudência, um entendimento já pacífico.
As leis estaduais que preveem abono de férias aos magistrados em percentual superior a
1/3 são inconstitucionais. Isso porque essa majoração do percentual de férias não encontra
respaldo na LOMAN, que prevê, de forma taxativa, as vantagens conferidas aos
magistrados, sendo essa a Lei que deve tratar do regime jurídico da magistratura, por força
do art. 93 da CF/88.
Não viola a autonomia dos tribunais locais deliberação do CNJ que determina aos tribunais
de justiça que enviem projeto de lei tendente à adequação da legislação local ao regramento
uniforme de âmbito nacional, pois não há no caso reserva de iniciativa da matéria aos
tribunais locais; ao contrário, os direitos da magistratura, dentre os quais o direito ao abono
de férias, são matéria de regramento nacional uniforme.
Logo, o CNJ agiu corretamente ao determinar aos Tribunais de Justiça que pagam adicional
de férias superior a 1/3 que eles enviem projetos de lei para as Assembleias Legislativas
reduzindo esse percentual.
STF. 2ª Turma. MS 31667 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/9/18 (Info 915).

18.5. CNJ pode avocar PAD que tramita no Tribunal se não há quórum suficiente para se
atingir maioria absoluta – (Info 901)

O TRF condenou juiz federal à pena de aposentadoria compulsória. Ocorre que, em virtude
de alguns Desembargadores terem se averbado suspeitos, este juiz foi condenado com um
quórum de maioria simples.
O CNJ reconheceu a irregularidade da proclamação do resultado e anulou o julgamento de
mérito realizado pelo TRF. Isso porque o art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de maioria
absoluta do tribunal.
Ocorre que o CNJ, após anular o julgamento de mérito realizado pelo TRF, decidiu avocar
o processo administrativo para que o magistrado fosse julgado diretamente pelo Conselho.
O juiz impetrou MS contra essa avocação, mas o STF afirmou que o CNJ agiu corretamente.
A Constituição, expressamente, confere ao CNJ competência para avocar processos de
natureza disciplinar em curso contra membros do Poder Judiciário. Assim, não há óbice
para que o CNJ anule o julgamento do Tribunal e inicie lá um outro procedimento.
Uma das causas legítimas de avocação de procedimentos administrativos pelo CNJ é
justamente a falta do quórum para proferir decisão administrativa por maioria absoluta em
razão de suspeição, impedimento ou falta de magistrados.
O CNJ poderia ter devolvido o processo ao TRF2, mas optou por exercer sua competência
concorrente, dentro da discricionariedade conferida pela Constituição, para julgar o
processo e evitar novas questões de suspeição e impedimento.
STF. 1ª Turma. MS 35100/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
j. 8/5/2018 (Info 901).
OBS: O art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de maioria absoluta do tribunal e, no caso
concreto, foi atingida apenas a maioria simples:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;
(...)
X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública,
sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;

18.6. CNJ pode anular decisão do TJ que, em concurso de cartório, conferiu, na fase de
títulos, pontuação com base em interpretação contrária à Resolução do Conselho – (Info 895)

O CNJ não pode substituir a banca examinadora do concurso na escolha das questões, na
correção de provas e nas atribuições de notas. Assim, ao Conselho é defeso (proibido)
substituir o critério valorativo para escolha e correção das questões pela Banca Examinadora
nos concursos públicos.
O CNJ pode, no entanto, substituir, anular ou reformar decisões da banca do concurso que
firam os princípios da razoabilidade, da igualdade, da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade e da publicidade. Isso porque a discricionariedade da banca de concurso não se
confunde com arbitrariedade. Se houver desrespeito aos princípios constitucionais da
administração pública, será possível a plena revisão da decisão pelo Conselho.
Ex: o CNJ pode anular decisão do Tribunal de Justiça que, em concurso de cartório, deu
interpretação equivocada a determinado item do edital, e conferiu pontuação indevida a
certos candidatos na fase de títulos. A pontuação conferida pela Comissão no TJ violava à
Resolução do CNJ que regulamenta os concursos de cartório. Neste caso, o CNJ atuou
dentro dos limites constitucionais do controle administrativo.
STF. 1ª Turma. MS 33527/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Alexandre
de Moraes, j. 20/3/18 (Info 895).

18.7. O prazo de 1 ano previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88 incide apenas para revisões de
PADs, não se aplicando para atuação originária do CNJ – (Info 886)

A competência originária do CNJ para a apuração disciplinar, ao contrário da revisional,


não se sujeita ao parâmetro temporal previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 34685 AgR/RR, rel. Min. Dias Toffoli, j. 28/11/17 (Info 886).
OBS:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
(...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de
um ano;
O CNJ atuou de forma originária, instaurando, pela primeira vez, o processo administrativo
disciplinar para apurar os fatos. Assim, não se aplica o prazo do art. 103-B, § 4º, V, da CF/88,
tendo em vista que este deve ficar restrito a hipóteses em que o CNJ revisa um processo
administrativo realizado pelas instâncias correicionais inferiores.

18.8. CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário – (Info 885)

Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/11/17 (Info 885).
OBS:
Outro precedente no mesmo sentido:
O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento
administrativo, matéria que já foi judicializada, ou seja, que está
sendo discutida em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativa,
razão pela qual não lhe é permitido decidir questões que estejam
submetidas à análise judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao
CNJ conhecer e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo
funções jurisdicionais. Se a parte interessada não concorda com a
decisão judicial, ela dispõe de recursos para impugná-la, não
podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 24/6/14
(Info 752).

18.9. Competência originária e concorrente do CNJ. Utilização no PAD de dados obtidos em


descoberta fortuita na investigação criminal – (Info 875)

Competência originária e concorrente do CNJ


A CF conferiu competência originária e concorrente ao CNJ para aplicação de medidas
disciplinares. Assim, a competência do CNJ é autônoma (e não subsidiária). Logo, o CNJ
pode atuar mesmo que não tenha sido dada oportunidade para que a corregedoria local
pudesse investigar o caso.

Utilização no PAD de dados obtidos em descoberta fortuita na investigação criminal


É possível a utilização de dados obtidos por descoberta fortuita em interceptações
telefônicas devidamente autorizadas como prova emprestada em processo administrativo
disciplinar.
STF. 1ª Turma. MS 30361 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/8/17 (Info 875).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Juiz Federal deferiu interceptação telefônica para
investigar uma organização criminosa. Um dos investigados mencionou o nome de João (Juiz
de Direito) como tendo participação nos crimes. O magistrado informou o fato ao TJ. O CNJ
tomou conhecimento e instaurou processo disciplinar contra o Juiz Estadual, aplicando-lhe a
pena de aposentadoria compulsória. Diante disso, o magistrado condenado impetrou
mandado de segurança alegando, dentre outros argumentos:
a) ofensa ao princípio da subsidiariedade. A competência disciplinar do CNJ é subsidiária e,
antes de o Conselho atuar, deveria ter sido dada oportunidade para que o caso fosse apurado
pela Corregedoria do TJ ao qual o Juiz é vinculado;
b) invalidade das provas, as quais haviam sido obtidas durante a investigação de outras
pessoas.

Quem julga mandado de segurança contra ato do CNJ? O STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.
E se o magistrado tivesse proposto ação ordinária? Quem julga ação ordinária proposta
contra ato do CNJ? Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, I, da CF/88).

O STF concordou com os argumentos do impetrante do MS? NÃO.

As interceptações não foram direcionadas ao Juiz Estadual, tendo seu nome surgido a partir
de uma descoberta fortuita.

Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STF, a partir do momento em que surgem
indícios de participação de detentor de prerrogativa de foro nos fatos apurados, cumpre à
autoridade judicial declinar da competência, e não persistir na prática de atos objetivando
aprofundar a investigação (RHC 135683/GO).

No caso concreto, o STF entendeu que não houve atraso indevido do Juiz Federal no envio das
provas descobertas contra o Juiz Estadual aos órgãos competentes para investigá-lo (TJ e CNJ).

18.10. CNJ, no exercício de controle administrativo, pode deixar de aplicar lei


inconstitucional – (Info 851) – (TJRS-2018)

O CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem
concurso público para cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção,
chefia e assessoramento, contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não
configura controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade dos atos
administrativos do Poder Judiciário.
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/16 (Info 851).
OBS:
O STF manteve a decisão do CNJ? SIM. O STF considerou válida a atuação do CNJ.

Não houve controle de constitucionalidade: Em primeiro lugar, importante esclarecer que,


realmente, o CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade porque este órgão não possui
atribuições jurisdicionais (mas apenas administrativas). Nesse sentido:
"O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder
Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal,
possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse
sentido, não lhe é permitido apreciar a constitucionalidade dos atos
administrativos, mas somente sua legalidade."
(STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 24/02/2011).

No entanto, no caso concreto, o STF entendeu que o CNJ não fez controle de
constitucionalidade. Para o Supremo, o CNJ apenas declarou a nulidade dos atos de nomeação
afirmando que, administrativamente, não se poderia aplicar aquela lei estadual.

Órgãos autônomos podem deixar de aplicar leis inconstitucionais: As leis inconstitucionais


não são normas atendíveis, porque colidem com mandamento de uma lei superior, que é a
Constituição Federal. Em virtude desse entendimento, a doutrina defende que é possível que
o chefe do Poder Executivo se recuse a cumprir uma lei se ela for claramente inconstitucional.

O STF afirmou que esse mesmo entendimento pode ser aplicado para órgãos administrativos
autônomos, como o TCU, o CNMP e o CNJ. Assim, tais órgãos, ao realizarem controle de
validade dos atos administrativos, podem determinar a não aplicação de leis inconstitucionais.

18.11. Revisão disciplinar e prazo de instauração – (Info 830)

O CNJ pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que
observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de um ano.
Essa medida pode ser instaurada de ofício ou mediante provocação de qualquer interessado
e admite que o CNJ agrave ou abrande a decisão disciplinar revista (art. 103-B, § 4º, V, da
CF/88).
STF. 1ª Turma. MS 33565/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/16 (Info 830).
OBS:
Exemplo: Determinado Juiz respondeu a um processo disciplinar na corregedoria do Tribunal
de Justiça. Ao final, recebeu, como pena, uma pena de suspensão de 90 dias.
Não houve recurso e o processo se encerrou no âmbito do TJ. O CNJ pode, de ofício ou
mediante provocação de qualquer interessado, instaurar, no âmbito do Conselho, um processo
de revisão disciplinar.

Quais são as hipóteses em que será possível essa revisão? O que justifica uma revisão pelo
CNJ? O tema foi disciplinado pelo Regimento Interno do CNJ nos seguintes termos:
Art. 83. A revisão dos processos disciplinares será admitida:
I - quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência
dos autos ou a ato normativo do CNJ;
II - quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
III - quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas
ou circunstâncias que determinem ou autorizem modificação da
decisão proferida pelo órgão de origem.

O que o CNJ irá fazer neste processo de revisão disciplinar? Irá examinar o processo disciplinar
que foi realizado no âmbito do Tribunal e poderá anular ou reformar a decisão que foi tomada,
seja para absolver ou condenar o magistrado processado. O CNJ poderá, ainda, aumentar ou
diminuir a pena imposta. Nesse sentido, o Regimento Interno do CNJ prevê:
Art. 88. Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do CNJ
poderá determinar a instauração de processo administrativo
disciplinar, alterar a classificação da infração, absolver ou condenar
o juiz ou membro de Tribunal, modificar a pena ou anular o
processo.

Prazo: O CNJ possui um prazo decadencial de 1 ano para instaurar o processo de revisão
disciplinar. Veja o que diz a CF/88:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
(...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de
um ano;

A partir de quando é contado este prazo de 1 ano? O prazo estabelecido no art. 103-B, § 4º, V,
da CF/88 para o CNJ rever processo disciplinar instaurado contra magistrado começa a fluir
da publicação da decisão do Tribunal no órgão oficial (STF. 2ª Turma. MS 26.540, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014).

Imagine que passou o prazo de 1 ano, mas o juiz que foi punido administrativamente pelo TJ
ainda não se conformou com a decisão e deseja revertê-la. Como não pediu a revisão
disciplinar ao CNJ, o que ele ainda poderá fazer? O pedido de revisão disciplinar para o CNJ
deve ser feito até 1 ano após o julgamento do processo disciplinar pelo respectivo Tribunal.
Esgotado tal prazo só restará ao interessado socorrer-se da via judicial para discutir a
punição que lhe foi aplicada. (STF. Plenário. MS 27.767-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
j. 23/3/11).

18.12. Revisão disciplinar e prazo de instauração – (Info 808)


O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das
Corregedorias locais que julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No
entanto, essa competência revisora deverá ser exercida no prazo máximo de 1 ano depois da
decisão proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 32724/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/11/15 (Info 808).

18.13. Sindicância e delegação de competência – (Info 799)

A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).


É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal,
para a condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda
que o investigado seja magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ,
sendo irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal.
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

18.14. Possibilidade de processo disciplinar e afastamento cautelar de magistrado para apurar


sua suposta parcialidade – (Info 767)

O CNJ, ao iniciar um processo disciplinar contra o magistrado, pode determinar o seu


afastamento cautelar das funções por ele desempenhadas, caso a continuidade do exercício
do ofício judicante possa interferir no curso da apuração ou comprometer a legitimidade de
sua atuação e a higidez dos atos judiciais.
O CNJ pode instaurar processo disciplinar contra juiz para apurar eventual parcialidade de
suas decisões. A prerrogativa da intangibilidade dos atos de conteúdo jurisdicional não é
absoluta e não autoriza a prática de ilegalidades. Ademais, a análise dos fatos a serem
apurados pelo CNJ não avança sobre o mérito das decisões judiciais prolatadas pelo
magistrado, mas sobre sua conduta, supostamente parcial. Embora os atos judiciais e a
parcialidade de magistrado na condução do processo estejam sujeitos a medidas
processuais específicas, como recursos, a atuação do juiz pode e deve ser objeto de exame
disciplinar quando houver indícios de violação dos deveres funcionais impostos pela lei e
pela Constituição.
STF. 2ª Turma. MS 32721/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/11/2014 (Info 767).

18.15. Processo de revisão disciplinar – (Info 766)

I – É desnecessário esgotar as vias ordinárias para que o CNJ instaure processo de revisão
disciplinar.
II – Não se aplica a prescrição punitiva em perspectiva, sendo imprescindível a instauração
do competente processo administrativo disciplinar, no qual serão apurados os fatos e
indicada a infração para a qual teria concorrido o magistrado para, só então, verificar se
houve a prescrição.
STF. 1ª Turma. MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).

18.16. CNJ não pode interferir em matéria de competência jurisidicional – (Info 753)

CNJ não pode declarar inválido artigo do Regimento Interno do Tribunal de Justiça que
trate sobre competência jurisdicional. Isso porque o CNJ tem a competência de exercer o
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes. No caso em análise, o Conselho interferiu em matéria de
competência jurisdicional do TJ, matéria que é estranha às suas funções.
STF. 2ª Turma. MS 30793/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

18.17. Ato do CNJ e matéria sujeita à apreciação judicial – (Info 752)

O CNJ não pode decidir, em procedimento administrativo, matéria que já foi judicializada,
ou seja, que está sendo discutido em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativas, razão pela qual não lhe
é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar
a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada
não concorda com a decisão judicial ele dispõe de recursos para impugná-la, não podendo
provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

19. CNMP
19.1. Caso tenha avocado o PAD, o CNMP pode aproveitar os atos instrutórios realizados na
origem – (Info 874)

Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local por suspeita
de parcialidade do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios praticados
regularmente na origem pela Comissão Processante.
Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela Comissão Processante,
sem participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a ocorrência
de prejuízo. O princípio do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no âmbito do
Direito Administrativo, inclusive em processos disciplinares.
Desse modo, o STF reconheceu que não houve qualquer ilegalidade na atuação do CNMP.
STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/8/17 (Info 875).

19.2. Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal (Info 805)

Reveste-se de nulidade a decisão do CNMP que, em procedimento de controle


administrativo (PCA), notifica o interessado por meio de edital publicado no Diário Oficial
da União para restituir valores aos cofres públicos.
A notificação por edital é feita com fundamento no Regimento Interno do CNMP. Essa
previsão também constava no Regimento interno do CNJ. Ocorre que o STF entende que
tal disposição normativa é inconstitucional, sendo necessária a intimação pessoal.
STF. 2ª Turma. MS 26419/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 27/10/15 (Info 805).

19.3. STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do
CNJ – (Info 785)

A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é


do STF (art. 102, I, “r”, da CF/88).
Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a
tomar alguma providência no caso concreto porque alegam que não tem competência para
aquela situação ou que não é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a
decisão do CNJ ou CNMP foi “NEGATIVA” porque ela nada determina, nada aplica, nada
ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões
negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou
nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no
STF.
STF. 1ª Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 5/5/2015 (Info 784).

19.4. CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei –
(Info 781) - Atenção! Ministério Público!

O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei,


considerando que se trata de órgão de natureza administrativa, cuja atribuição se resume a
fazer o controle da legitimidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos
do Ministério Público federal e estadual (art. 130-A, § 2º, da CF/88).
Assim, se o CNMP, julgando procedimento de controle administrativo, declara a
inconstitucionalidade de artigo de Lei estadual, ele exorbita de suas funções.
STF. 1ª Turma. MS 27744/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

20. POLÍCIA CIVIL


20.1. Chefe da Polícia Civil tem que ser um Delegado de carreira, mas não se pode limitar
aos que integram a última classe – (Info 847)

É inconstitucional dispositivo de CE que exija que o Superintendente da Polícia Civil seja


um delegado de polícia integrante da classe final da carreira.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
A CF/88, ao tratar sobre a Polícia Civil, estabelece o seguinte:
Art. 144 (...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Esse parâmetro estabelecido pela CF/88 deverá ser seguido pelas Constituições Estaduais por
força do princípio da simetria. Em outras palavras, se as Cartas estaduais forem tratar sobre a
Polícia Civil e seu chefe, não poderão prever regra diferente do que preconiza o § 4º acima.

A Constituição Estadual poderá prever que o chefe da Polícia Civil será alguém que não é
Delegado? NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja que o
chefe da Polícia Civil seja alguém que não integre a carreira. Isso porque essa pessoa deverá
ser obrigatoriamente um Delegado de Polícia de carreira.

A Constituição Estadual poderá exigir que o chefe da Polícia Civil seja um Delegado de Polícia
integrante da classe final da carreira? Também NÃO. O cargo de Superintendente da Polícia
Civil deve ser escolhido entre Delegados de carreira. No entanto, não se pode exigir que este(a)
Delegado(a) seja da classe final da carreira. A CF/88 trata sobre o tema no art. 144, § 4º e não
faz esta exigência. Logo, o constituinte estadual violou o modelo imposto pela CF/88, criando
um novo requisito. Veja precedente do STF neste sentido:
Consoante dispõe o artigo 144, § 4º, da Constituição Federal, as
polícias civis são dirigidas por delegados de carreira, não cabendo a
inobservância da citada qualificação, nem a exigência de que se
encontrem no último nível da organização policial.
STF. Plenário. ADI 3038, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/12/14.

21. TRIBUNAL DE CONTAS


21.1. É inconstitucional norma de Constituição Estadual que confira competência ao TCE
para homologar os cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios – (Info 921)

O ICMS é um imposto de competência estadual. Apesar disso, o art. 158, inciso IV da CF/88
determina que o Estado deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios. Esse
repasse será realizado após cálculos que são feitos para definir o valor da cota-parte que
caberá a cada Município, segundo critérios definidos pelo art. 158, § único, da CF/88 e pela
lei estadual.
A Constituição do Estado do Amapá previu que seria competência do TCE homologar os
cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios.
Este dispositivo é inconstitucional.
Sujeitar o ato de repasse de recursos públicos à homologação do TCE representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Repartição do ICMS: É um imposto de competência estadual. A CF/88 determina que o Estado
deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios. Veja:
Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...)
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

A CF/88 determina ainda que seja feito um cálculo para que os Municípios onde ocorreram
os fatos geradores do ICMS (ex: venda da mercadoria) recebam mais que os outros. Assim,
os Municípios nos quais mais se vendeu mercadorias (p. ex.) que geraram o recolhimento de
ICMS receberão, em tese, cotas maiores de repasse. Confira o texto constitucional:
Art. 158 (...)
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,
mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em
seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos
Territórios, lei federal.

Vale ressaltar que, no mínimo, 3/4 dos 25% a que os Municípios têm direito deverão obedecer
a esse critério. No entanto, é possível que no 1/4 restante o Estado adote outros critérios para
repartir o valor do ICMS.

Resumindo: Municípios têm direito a 25% do ICMS. Desses 25%:


 3/4 (no mínimo) deverão ser repartidos proporcionalmente ao volume de operações
de circulação de mercadorias e de prestação de serviços ocorridos nos Municípios.
Municípios maiores, ou seja, com mais vendas e serviços, receberão mais.

 1/4 (no máximo) deverão ser repartidos conforme critérios que o Estado definir em
lei estadual. Ex: receberão mais os Municípios com maior preservação do meio
ambiente, com menor IDH, com maior população etc.

Assim, a cota-parte que será repassada a cada Município depende desses cálculos.

Competência do TCE para homologar os cálculos: A Constituição do Estado do Amapá previu


a seguinte competência para o TCE:
Art. 112. O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, será exercido com
o auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete: (...)
XVII - homologar os cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios;

Desse modo, a CE/AP estabeleceu que, após serem feitos os cálculos de quanto cada Município
deverá receber a título de ICMS (normalmente este cálculo é feito pela Secretaria de Fazenda),
o TCE deverá homologar ou não esse resultado. A Assembleia Legislativa do Amapá
argumentou que essa competência poderia ser concedida ao TCE considerando que a CF/88
conferiu ao TCU a competência para realizar os cálculos das quotas relacionadas com os
Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM), nos termos do art. 161,
parágrafo único:
Art. 161. Cabe à lei complementar: (...)
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios; (...)
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas
referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II.

A ALE/AP alegou, portanto, que o art. 112, XVII, foi inspirado no § único do art. 161 da CF/88
e que, portanto, poderia ser reputado, constitucional em homenagem ao princípio da simetria.
Essa previsão do art. 112, XVII, da CE/AP é constitucional? NÃO. Sujeitar o ato de repasse de
recursos públicos à homologação do Tribunal de Contas do Estado representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes. Como o TCE é um órgão auxiliar da
Assembleia Legislativa, o STF entendeu que, condicionar o repasse das cotas-partes dos
Municípios à homologação do TCE significaria, ao fim e ao cabo, condicionar este
pagamento à ingerência da Assembleia Legislativa. Para os Ministros, não há semelhança
entre a atividade de gerenciamento dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos
Municípios (FPM), exercida pelo TCU com base no art. 161, parágrafo único da CF/88, com a
homologação dos cálculos de quotas do ICMS pelo TCE. Não há que se falar em simetria neste
caso porque inexiste simetria entre os Fundos de Participação e quotas de repasse de ICMS.
São situações distintas. No caso do FPE e do FPM, o próprio TCU efetua os cálculos das quotas-
partes cabíveis aos entes federados à luz de estimativas demográficas fornecidas pelo IBGE.
Os fundos de participação são de natureza contábil, desprovidos de personalidade jurídica e
de gerenciamento do TCU por força da CF/88. Situação diversa diz respeito ao repasse
obrigatório às municipalidades das verbas arrecadadas pelo estado-membro referente ao
ICMS, uma vez que não é fundo financeiro e possui relativa liberdade de conformação. Dessa
forma, o TCE é completamente alheio ao processo de definição dos critérios das quotas, da
mesma forma que o TCU não participa dos repasses na arrecadação de tributos federais, como
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Como já foi cobrado em concursos:


 (Procurador do Tribunal de Contas - TCE-AP - FCC - 2010) Nos termos da Lei Orgânica
do Tribunal de Contas do Estado do Amapá, compete ao Tribunal de Contas
homologar os cálculos das quotas do ICMS e do IPVA devidas aos municípios
(ERRADO)

21.2. Competência do TCU para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil somente quanto aos
recursos oriundos do Banco do Brasil – (Info 897)

Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco
do Brasil quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados por
aquela entidade a terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a prestar
contas àquela Corte de Contas, nos termos do art. 71, II, da CF.
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública.
Assim, a FBB não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar
recursos próprios a terceiros por meio de convênios.
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil — sociedade
de economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração Pública
previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, — ficará sujeita à fiscalização do TCU.
Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm caráter público.
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, j. 10/4/18 (Info 897).
OBS:
##Questiona-se: O TCU tem competência para fiscalizar o Banco do Brasil? SIM. O Banco do
Brasil integra a Administração Pública federal indireta e, portanto, está sujeito à fiscalização
do TCU, nos termos do art. 71, II, da CF/88:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete:
(...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a
perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
erário público;

##Questiona-se: O TCU tem competência para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil? Em


regra, não deveria ter. Isso porque como se trata de uma fundação de caráter privado, em
regra, ela não está sujeita à fiscalização do TCU nem se submete aos princípios e à legislação
aplicáveis à Administração Pública. Como fundação de direito privado, a FBB está, em regra,
submetida apenas à fiscalização do Ministério Público estadual, nos termos do art. 66 do
Código Civil:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde
situadas.

##Questiona-se: Quando a FBB for transferir dinheiro para alguma entidade social, de
pesquisa etc., precisará observar os princípios que regem a Administração Pública (ex: a Lei nº
8.666/93)? Essa transferência está sujeita à fiscalização do TCU? Depende. É necessário
analisar a natureza jurídica do recurso transferido pela FBB (se são recursos públicos ou
eminentemente privados) para que se possa aferir, com exatidão, a necessidade de submissão
aos princípios norteadores da gestão pública, consequentemente, ao crivo do controle externo.
A situação é, portanto, a seguinte:
 se os recursos que a FBB estiver transferindo para terceiros forem provenientes do
Banco do Brasil ou de alguma outra entidade do poder público (o BB transferiu esses
recursos para a FBB e agora a FBB está repassando para terceiros): haverá fiscalização
do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm
caráter público.
 se os valores que a FBB estiver transferindo forem “recursos próprios” (excluídas as
dotações que recebe do Banco do Brasil): não haverá fiscalização do TCU porque a
FBB não é uma entidade da Administração Pública. Logo, se são recursos
eminentemente seus (recursos próprios), a verba é privada.

##Questiona-se: A FBB não poderia ser considerada como uma fundação instituída e
mantida“pelo Poder Público federal”, atraindo sempre a fiscalização do TCU com base no art.
71, II, da CF/88? NÃO. Isso porque o STF entende que o Banco do Brasil, apesar de integrar a
Administração Pública federal, não pode ser considerado como “poder público”:
O Banco do Brasil, entidade da Administração Indireta dotada de
personalidade jurídica de direito privado, voltada à exploração de
atividade econômica em sentido estrito, não pode ser concebida
como poder público.
STF. Plenário. MS 24427, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/11/06.

Logo, a FBB consiste em entidade privada não instituída pelo poder público.

21.3. A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios
– (Info 883) – IMPORTANTE!!!

A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios.


STF. Plenário. ADI 5763/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26/10/17 (Info 883).
OBS:
Quem realiza o controle externo da Administração Pública?
Esfera FEDERAL Esfera ESTADUAL Esfera DISTRITAL Esfera MUNICIPAL
O Congresso A Assembleia A Câmara Distrital, A Câmara
Nacional, com o Legislativa, com o com o auxílio do Municipal, com o
auxílio do TCU. auxílio do TCE. TCDF. auxílio do TCE.

Tribunal de Contas DOS MUNICÍPIOS (Tribunal de Contas dos Municípios do Estado...) -


TCM do Estado X: Em regra, a fiscalização dos recursos municipais é feita pelo Tribunal de
Contas. No entanto, a CF autoriza que seja criado um Tribunal de Contas dos Municípios. Este
Tribunal de Contas dos Municípios, se criado, tem a função de auxiliar as Câmaras Municipais
no exercício do controle externo.

Assim, por exemplo, imagine que exista um Tribunal de Contas dos Municípios na Bahia. Este
Tribunal irá auxiliar a Câmara Municipal de Ilhéus (BA) a fazer o controle externo dos recursos
daquele Município. De igual forma, irá também atuar em relação às contas de Vitória da
Conquista, Feira de Santana e todos os demais Municípios da Bahia.
Desse modo, o Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão ESTADUAL que atua na
fiscalização das contas de todos os Municípios de determinado Estado.
Atualmente, só existem três Tribunais de Contas dos Municípios: na Bahia, em Goiás e no
Pará.
Nos demais Estados onde não há Tribunal de Contas dos Municípios, a competência para
realizar essa fiscalização é do TCE.
Vale ressaltar que a CF/88 não proíbe que os Estados criem novos Tribunais de Contas dos
Municípios.

Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO (Tribunal de Contas Municipal) – TC do Município X: É


um órgão MUNICIPAL que tem a função de auxiliar uma única Câmara Municipal no exercício
do controle externo em relação a um determinado Município.

Atualmente, só existem dois Tribunais de Contas do Município: o Tribunal de Contas do


Município do Rio de Janeiro e o Tribunal de Contas do Município de São Paulo.
Assim, por exemplo, o controle externo em relação às contas do Município de São Paulo é
exercido pela Câmara Municipal de São Paulo, com o auxílio técnico do TCM de São Paulo.
O controle externo em relação aos demais Municípios do Estado de São Paulo (exs: Santos,
Campinas, Guarulhos etc.) é exercido pelas respectivas Câmaras Municipais com o auxílio do
TCE de São Paulo.

A CF/88 proíbe que sejam criados novos Tribunais de Contas do Município:


Art. 31 (...)
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas
Municipais.

Sobre o tema, confira esta didática decisão do STF:


(...) A Constituição da República impede que os Municípios criem os
seus próprios Tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais
(CF, art. 31, § 4º), mas permite que os Estados-membros, mediante
autônoma deliberação, instituam órgão estadual denominado
Conselho ou Tribunal de Contas dos Municípios (...) incumbido de
auxiliar as Câmaras Municipais no exercício de seu poder de
controle externo (CF, art. 31, § 1º).
Esses Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios - embora
qualificados como órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º) - atuam, onde
tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e de cooperação
técnica das Câmaras de Vereadores. (...)
STF. Plenário. ADI 687, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
02/02/1995.

Tribunais de Contas dos Municípios x Tribunal de Contas do Município:


Tribunais de Contas DOS MUNICÍPIOS Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO
Órgão estadual que atua na fiscalização das Órgão municipal que atua na fiscalização
contas de todos os Municípios de das contas de um único Município.
determinado Estado.
Atua como órgão auxiliar de todas as Atua como órgão auxiliar de uma única
Câmaras Municipais de determinado Câmara Municipal no exercício do controle
Estado no exercício do controle externo externo sobre determinado Município.
sobre os respectivos Municípios daquele
Estado.
A CF/88 permite que os Estados criem A CF/88 proíbe que sejam criados novos
novos Tribunais de Contas dos Municípios. Tribunais de Contas Municipais.
Atualmente, existem três: TCM/BA, Atualmente, existem dois: TCM/Rio de
TCM/GO e TCM/PA. Janeiro e TCM/São Paulo.

Situação enfrentada pelo STF: No Estado do Ceará havia um Tribunal de Contas dos
Municípios, ou seja, um Tribunal de Contas específico para auxiliar as Câmaras Municipais no
exercício do controle externo sobre os Municípios cearenses. Em 2017, houve uma emenda à
Constituição do Estado do Ceará extinguindo o TCM/Ceará. A Associação dos Membros dos
Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON) ajuizou uma ADI contra esta emenda constitucional
apresentando os seguintes argumentos:
 A emenda foi aprovada pelos Deputados como retaliação pelo fato de que muitos deles
tiveram as suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado
do Ceará com relação ao período em que eram Prefeitos. Teria havido, portanto, desvio
do poder de legislar;
 Não haveria redução de despesas na extinção do Tribunal de Contas;
 O art. 31, § 4º da CF/88 proibiria a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios;
 Teria havido vício de iniciativa porque a emenda constitucional foi proposta por
parlamentares.

O STF concordou com os argumentos da ATRICON? A ADI foi julgada procedente? NÃO.

Ausência de provas do suposto desvio do poder de legislar: O STF entendeu que a fraude na
edição de lei com o objetivo de alcançar finalidade diversa do interesse público deve ser
explicitada e comprovada. O mero fato de alguns dos Parlamentares terem tido suas contas
desaprovadas não conduz à conclusão de que a votação da emenda estaria viciada.

Ausência de economia não é motivo para declarar a emenda inconstitucional: As alegações de


ausência de economia orçamentária e perda de eficiência com a promulgação da emenda
questionada são insuficientes para configurar a inconstitucionalidade do ato. No processo
objetivo de constitucionalidade não se adentra em questões fáticas como, por exemplo, a
quantidade de processos julgados pelo Tribunal de Contas dos Municípios e pelo Tribunal de
Contas do Estado.

CF/88 não impede a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios: O art. 31, §§ 1º e 4º, da
CF/88 não proíbem a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios. A Constituição
permitiu (facultou) que os Estados-membros concentrassem toda a fiscalização no Tribunal de
Contas do Estado (TCE) ou que criassem um outro órgão (Tribunal de Contas dos Municípios)
exclusivamente com a finalidade de fiscalizar as contas dos Municípios daquele respectivo
Estado. Não há, assim, qualquer norma na Constituição Federal que proíba a extinção do
Tribunal de Contas dos Municípios por meio da promulgação de emenda à Constituição
Estadual.

Não houve vício de iniciativa: A CF/88 afirmou que cabe aos Tribunais de Contas dispor sobre
a própria organização e funcionamento, e o fez com o propósito de assegurar-lhes a autonomia
necessária para exercer atividade fundamental à integridade do erário. Isso não impede,
contudo, que haja a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios mediante emenda cujo
processo de elaboração tenha sido deflagrado por Deputados Estaduais. Não há qualquer
dispositivo constitucional que leve à conclusão de que é impossível emenda à Constituição, de
iniciativa parlamentar, tratando sobre a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios.

21.4. MPTC não possui legitimidade para propor reclamação no STF – (Info 883)

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não possui legitimidade ativa para
propor reclamação no STF alegando descumprimento da decisão do Supremo.
A atuação dos membros do MPTC limita-se, unicamente, ao âmbito dos próprios Tribunais
de Contas perante os quais oficiam.
STF. 2ª Turma. Rcl 24156 AgR/DF e Rcl 24158 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/10/17
(Info 883).
OBS:
Cuidado com a situação excepcional reconhecida pelo STJ:
O membro do Ministério Público que atua perante o Tribunal de
Contas possui legitimidade e capacidade postulatória para
impetrar mandado de segurança, em defesa de suas prerrogativas
institucionais, contra acórdão prolatado pela respectiva Corte de
Contas.
Ex: Procurador de Contas pode impetrar mandado de segurança
contra acórdão do Tribunal de Contas que extinguiu representação
contra licitação sem incluí-la em pauta e sem intimar o MP.
STJ. 2ª Turma. RMS 52.741-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j.
8/8/17 (Info 611).

21.5. Auditoria do TCU e desnecessidade de participação dos terceiros reflexamente


prejudicados. Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.874/99 para as fiscalizações realizadas pelo
TC na forma do art. 71, IV, da CF/88 – (Info 873)

Auditoria do TCU e desnecessidade de participação dos terceiros reflexamente prejudicados


Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do órgão, os terceiros
indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal (ex: pensionistas) não possuem
direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório.
Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal.
Nessa espécie de atuação administrativa, a relação processual envolve apenas o órgão
fiscalizador e o fiscalizado, sendo dispensável a participação dos interessados.
O contraditório pressupõe a existência de litigantes ou acusados, o que não ocorre quando
o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalização de órgãos e entes administrativos.
O contraditório deve ser garantido pelo órgão de origem, a quem cabe o cumprimento da
determinação do Tribunal de Contas.

Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.784/99 para as fiscalizações realizadas pelo TC na forma
do art. 71, IV, da CF/88
Em casos de “fiscalização linear exercida pelo Tribunal de Contas”, nos termos do art. 71,
IV, da CF/88, não se aplica o prazo de decadência previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99. Isso
porque em processos de “controle abstrato”, o Tribunal de Contas não faz o exame de ato
específico do qual decorre efeito favorável ao administrado. A Corte está examinando a
regularidade das contas do órgão e a repercussão sobre eventual direito individual é apenas
indireta.
STF. 1ª Turma. MS 34224/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/8/2017 (Info 873).

21.6. Prazo prescricional para aplicação de multa pelo TCU – (Info 858)

O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a previsão
do art. 1º da Lei nº 9.873/99.
Caso esteja sendo imputada ao agente público a conduta omissiva de ter deixado de tomar
providências que eram de sua responsabilidade, tem-se que, enquanto ele permaneceu no
cargo, perdurou a omissão. No momento em que o agente deixou o cargo, iniciou-se o fluxo
do prazo prescricional.
STF. 1ª Turma. MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/3/17 (Info 858).

21.7. Criação de Procuradoria do Tribunal de Contas e impossibilidade de que tal órgão seja
responsável pela cobrança das multas – (Info 851)

É constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas estaduais,


vedada a atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal.
É inconstitucional norma estadual que preveja que compete à Procuradoria do Tribunal de
Contas cobrar judicialmente as multas aplicadas pela Corte de Contas.
A Constituição Federal não outorgou aos Tribunais de Contas competência para executar
suas próprias decisões.
As decisões dos Tribunais de Contas que acarretem débito ou multa têm eficácia de título
executivo, mas não podem ser executadas por iniciativa do próprio Tribunal.
STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/2016 (Info 851).

21.8. É inconstitucional norma de CE que dispensa o parecer prévio no julgamento das


contas dos Prefeitos caso o TCE não o elabore no prazo de 180 dias – (Info 847)
Determinada Constituição Estadual prevê que, se o TCE não elaborar, no prazo de 180 dias,
o parecer prévio na prestação de contas do Prefeito, o processo deverá ser encaminhado à
Câmara Municipal e esta julgará as contas mesmo sem o parecer.
Esta previsão é inconstitucional por violar o art. 31, § 2º, da CF/88. Pela leitura desse
dispositivo, a elaboração do parecer prévio é sempre necessária e a Câmara Municipal
somente poderá dele discordar se houver manifestação de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores.
Assim, a CE/SE criou uma exceção na qual a Câmara Municipal poderia julgar as contas dos
Prefeitos mesmo sem parecer do TCE. Ocorre que esta nova situação não encontra abrigo
na Constituição Federal, sendo, portanto, inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Qual é o "órgão competente" para julgar as contas do Prefeito? A Câmara Municipal.

E o Tribunal de Contas estadual? O papel do TCE é apenas o de auxiliar o Poder Legislativo


municipal (Câmara Municipal). O TCE emite um parecer prévio sugerindo a aprovação ou
rejeição das contas do Prefeito. Após, este parecer é submetido à Câmara, que poderá afastar
as conclusões do Tribunal de Contas, desde que pelo voto de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores.
Essa é a interpretação que se extrai do art. 31, § 2º da CF/88:
Art. 31 (...)
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas
que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por
decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

21.9. É inconstitucional norma da CE que preveja competir à ALE julgar as contas do Poder
Legislativo – (Info 847) – (TJPE-2013) (DPEMG-2014)

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja que compete


privativamente à Assembleia Legislativa julgar as contas do Poder Legislativo estadual.
Seguindo o modelo federal, as contas do Poder Legislativo estadual deverão ser julgadas
pelo TCE, nos termos do art. 71, II c/c art. 75, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Competências do Tribunal de Contas: As competências do Tribunal de Contas da União estão
previstas no art. 71 da CF/88. Uma das principais atribuições do TCU é a de julgar as contas
dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
administração direta e indireta (inciso II).

O TCU julga as contas do chefe do Poder Executivo (Presidente da República)? NÃO. As


contas do Presidente da República são anualmente apresentadas ao TCU. Este, em um prazo
máximo de 60 dias, aprecia as contas e prepara um parecer prévio, que é enviado ao Congresso
Nacional. De posse do parecer, o Congresso julga se as contas do chefe do Poder Executivo
estão regulares ou não. Desse modo, a competência para JULGAR as contas do Presidente da
República é do Congresso Nacional (art. 49, IX, da CF/88).

As contas dos demais administradores que lidem com verbas federais serão julgados pelo
TCU? SIM. De acordo com a CF/88, o TCU irá julgar as contas de todos os administradores
que lidem com verbas federais, salvo as do Presidente da República (que são julgadas pelo
Parlamento). Essa é a interpretação que se chega a partir da leitura dos incisos I e II do art. 71.

Essas regras acima expostas são aplicáveis também para os Tribunais de Contas estaduais?
SIM. Os Tribunais de Contas estaduais são competentes para julgar as contas dos
administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, com exceção das contas dos
chefes do Poder Executivo (Governador e Prefeitos). Desse modo, o TCE irá julgar as contas de
todos os administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, salvo as do
Governador e dos Prefeitos. As contas do Governador são julgadas pela Assembleia
Legislativa, após o TCE elaborar um parecer. As contas dos Prefeitos são julgadas pelas
respectivas Câmaras Municipais, após o TCE elaborar um parecer.
21.10. Auditoria do TCU e desnecessidade de participação do servidor indiretamente afetado
– (Info 819)

Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder Legislativo,
os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal não possuem direito
de serem ouvidos no processo fiscalizatório.
Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal.
A atuação do TCU ficaria inviabilizada se, nas auditorias realizadas, fosse necessário
intimar, para integrar o processo administrativo de controle, qualquer um que pudesse ser
alcançado, embora de forma indireta, pela decisão da Corte.
STF. 1ª Turma. MS 32540/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O TCU instaurou auditoria com o objetivo de averiguar
a legalidade da folha de pagamentos dos servidores da Câmara dos Deputados. O TCU
concluiu pela ilegalidade da gratificação "X". João, técnico-legislativo da Câmara dos
Deputados, é um dos servidores que recebia a verba questionada. Diante disso, ele impetrou
mandado de segurança contra o TCU alegando que houve violação ao devido processo legal
considerando que ele deveria ter sido convocado para se defender, já que poderia sofrer reflexo
patrimonial com a decisão.

O pedido de João encontra guarida na jurisprudência do STF? NÃO.

21.11. Independência da tomada de contas em relação ao PAD – (Info 798)

As atribuições do Tribunal de Contas da União são independentes em relação ao


julgamento do processo administrativo disciplinar instaurado para apurar falta funcional
do servidor público. Em outras palavras, o processo no TCU não depende nem está
vinculado ao PAD.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

21.12. Citação no processo de tomada de contas – (Info 798)

Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por
via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado
entre os meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.

O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada.
Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do
interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A
alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não
depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta
registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do
destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro
da Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta
registrada no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do
processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

21.13. Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial


transitada em julgado – (Info 793)

A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual


de acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação
definitiva do referido percentual nos seus ganhos.
Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela
remuneração) e tendo havido superveniente modificação na situação de fato (o referido
reajuste foi incorporado, por lei, aos vencimentos da servidora), essa alteração no status quo
produz, de forma imediata e automática, a cessação da eficácia da decisão acobertada pela
coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação rescisória ou ação revisional.
Assim, se o TCU, ao analisar uma aposentadoria, percebe que determinada gratificação
recebida por servidor público por força de sentença transitada em julgado já foi
incorporada/extinta por leis posteriores, este Tribunal poderá determinar a sua supressão
sem que isso viole a coisa julgada. Neste caso, a mudança no estado das coisas faz com que
esta coisa julgada não mais subsista.
STF. 2ª Turma.MS 32435 AgR/DF, rel. orig. Min. Celso de Mello, red. p/ o acórdão, Min. Teori
Zavascki, j. 4/8/2015 (Info 793).

21.14. BNDES é obrigado a fornecer ao TCU documentos e informações sobre contrato de


financiamento celebrado com empresa privada – (Info 787) – IMPORTANTE!!!

O BNDES celebrou um contrato de financiamento com um grande grupo empresarial de


carnes bovinas. A Comissão de Controle Externo da Câmara dos Deputados solicitou ao
TCU que realizasse auditoria neste contrato. O TCU instaurou o procedimento e
determinou ao BNDES que enviasse os documentos relacionados com a operação.
O BNDES impetrou mandado de segurança no STF contra o TCU pedindo para não ser
obrigado a fornecer as informações solicitadas, sob o fundamento de que isso violaria o
sigilo bancário e empresarial da empresa que recebeu o financiamento.
O STF concordou com as razões invocadas no MS?
NÃO. O STF denegou (indeferiu) o mandado de segurança impetrado e determinou que o
BNDES enviasse as informações.
O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos
públicos não é coberto pelo sigilo bancário. O acesso a tais dados é imprescindível à atuação
do TCU na fiscalização das atividades do BNDES.
O STF possui precedentes no sentido de que o TCU não detém legitimidade para requisitar
diretamente informações que importem quebra de sigilo bancário. No entanto, a Corte
reputou que a situação acima relatada seria diferente dos demais precedentes do Tribunal,
já que se trata de informações do próprio BNDES em um procedimento de controle
legislativo financeiro de entidades federais por iniciativa do Parlamento.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

21.15. Natureza do TCU – (Info 787)

O TCU ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, cujas


funções estão elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus membros possuem as mesmas
prerrogativas que as asseguradas aos magistrados (art. 73, § 3º da CF/88), tendo suas
decisões a natureza jurídica de atos administrativos passíveis de controle jurisdicional.
Trata-se de um tribunal de índole técnica e política, criado para fiscalizar o correto emprego
dos recursos públicos.
Os Tribunais de Contas realizam controle de legitimidade, economicidade e de eficiência,
verificando se os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a moralidade,
eficiência, proporcionalidade.
No atual contexto juspolítico brasileiro, o Tribunal de Contas possui competência para
aferir se o administrador atuou de forma prudente, moralmente aceitável e de acordo com
o que a sociedade dele espera.
O TCU representa um dos principais instrumentos republicanos destinados à concretização
da democracia e dos direitos fundamentais, na medida em que o controle do emprego de
recursos públicos propicia, em larga escala, justiça e igualdade.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

21.16. Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar – (Info 786) –
IMPORTANTE!!!
O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar
de licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art. 46
da Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

21.17. Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU – (Info 780)

O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de
Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

21.18. Medida cautelar de indisponibilidade de bens – (Info 779)

O TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento


de apuração que lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por prazo não
superior a 1 ano (art. 44, § 2º da Lei 8.443/92).
O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de
forma excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares,
por deliberação fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à
neutralização imediata de situações que possam causar lesão ao interesse público ou ainda
para garantir a utilidade prática do processo que tramita no TCU. Isso não viola, por si só,
o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o contraditório
ou a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).

21.19. Lei estadual que veda acesso de documentos ao TCE é inconstitucional – (Info 760)

É inconstitucional lei estadual que proíbe que o TCE, quando estiver fazendo inspeções ou
auditorias, tenha acesso a determinados documentos inerentes à Administração Pública.
Essa previsão constitui ato atentatório à efetiva atuação do Tribunal de Contas, restringindo
sua competência para realizar o controle externo das contas do Estado-membro sem que a
CF/88 tenha permitido essa limitação.
STF. Plenário. ADI 2361/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/9/2014 (Info 760).

21.20. Atribuições dos Tribunais de Contas – (Info 755)

É inconstitucional regra prevista na Constituição Estadual que determine que o Tribunal


de Contas não pode sustar licitação, dispensa ou inexigibilidade que estejam sendo
analisadas naquela Corte.
É também inconstitucional regra da CE que preveja recurso contra as decisões do Tribunal
de Contas para o Plenário da Assembleia Legislativa.
Essas duas regras violam o modelo previsto pela CF/88 a respeito dos Tribunais de Contas
(art. 71) e que deve ser obedecido pelas Cartas Estaduais (art. 75).
STF. Plenário. ADI 3715/TO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

21.21. Fiscalização do TCU sobre valores de contribuição sindical – (Info 740)


As contribuições sindicais compulsórias possuem natureza tributária, constituem receita
pública e, portanto, os responsáveis pela sua gestão sujeitos à competência fiscalizatória do
TCU.
Ademais, a atividade de controle do TCU sobre a atuação das entidades sindicais não
representa violação à autonomia sindical.
STF. Plenário. MS 28465/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/3/2014 (Info 740).

22. ADVOGADO
22.1. Advogado tem direito de ser atendido no INSS independentemente de distribuição de
fichas – (Info 742)

É direito do advogado, no exercício de seu múnus profissional, ser recebido no posto do


Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, independentemente de distribuição de fichas,
em lugar próprio ao atendimento.
STF. 1ª Turma. RE 277065/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/4/14 (Info 742).

23. ADVOCACIA PÚBLICA


23.1. Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer atribuições de
representação jurídica da entidade, mas pode fazer atuação jurídica no âmbito interno da
autarquia, sobretudo em atividades de compliance – (Info 927) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico
Superior do DETRAN) será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto,
exercer as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos
Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do
Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao
cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções
privativas de advogado.
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a
pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132,
caput, da CF/88.
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato.

ATENÇÃO: Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no
âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e
formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos
e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as
atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem
sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio
da unicidade da representação judicial.
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia
para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de
ter suas atividades inviabilizadas.
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
Segundo a jurisprudência do STF, é possível que lei estadual crie cargos em comissão para o
desempenho das atribuições de assessoramento jurídico no âmbito do Poder Executivo? NÃO.
A atividade de assessoramento jurídico do Poder Executivo dos
Estados deve ser exercida por Procuradores do Estado, organizados
em carreira, cujo ingresso depende de concurso público de provas e
títulos, nos termos do art. 132 da CF/88.
Esse preceito tem como objetivo garantir a necessária qualificação
técnica e independência funcional desses especiais agentes
públicos.
Assim, é inconstitucional a norma que outorgue a ocupante de
cargo em comissão ou de função de confiança o exercício, no
âmbito do Poder Executivo local, de atribuições inerentes à
representação judicial e ao desempenho da atividade de
consultoria e de assessoramento jurídicos, pois tais encargos
traduzem prerrogativa institucional outorgada, em caráter de
exclusividade, aos Procuradores do Estado.
STF. Plenário. ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto, j. 2/8/10.
STF. Plenário. ADI 4843/MC-ED-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, j.
11/12/14.

Assim, o modelo constitucional da atividade de representação judicial e consultoria jurídica


dos Estados exige a unicidade orgânica da advocacia pública estadual, incompatível com a
criação de órgãos jurídicos paralelos para o desempenho das mesmas atribuições no âmbito
da Administração Pública Direta ou Indireta. Por essas razões, o STF declarou, recentemente,
a INCONSTITUCIONALIDADE de uma lei estadual que transferia essas funções a
ANALISTA do Poder Executivo estadual:
É vedada a atribuição de atividades de representação judicial e de
consultoria ou assessoramento jurídicos a analista administrativo da
área jurídica. STF. Plenário. ADI 5107, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 20/06/2018.

Este princípio possui exceções? SIM. Podemos mencionar a existência de duas exceções:

EXCEÇÃO 1: é possível a criação de procuradorias vinculadas ao Poder


Legislativo e ao Tribunal de Contas, para a defesa de sua autonomia e
independência perante os demais Poderes, hipótese em que se admite a
consultoria e assessoramento jurídico dos órgãos por parte de seus próprios
procuradores. Nesse sentido já decidiu o STF: é constitucional a criação de
órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas estaduais, vedada a
atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal (STF.
Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016).

EXCEÇÃO 2: “ADCT/Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas
separadas de suas Procuradorias-Gerais ou Advocacias-Gerais, desde que, na data da
promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as respectivas funções.” O
art. 69 do ADCT foi uma exceção transitória ao princípio da unicidade orgânica
da Procuradoria estadual. Esta exceção foi prevista com o objetivo de garantir a
continuidade dos serviços de representação e consultoria jurídicas que existiam
na Administração Pública no período logo em seguida à promulgação da CF/88,
quando algumas Procuradorias estaduais ainda não estavam totalmente
estruturadas. Em outras palavras, foi pensada como uma forma de evitar
lacunas e uma desorganização da Administração Pública. Vale ressaltar que só
foram mantidas as consultorias jurídicas que já existiam antes da CF/88.

E quanto aos Municípios? Os Municípios são obrigados a possuir Procuradorias Municipais,


organizadas em carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de
representação judicial e consultoria jurídica? Infelizmente, prevalece que NÃO.
Não há na CF/88 previsão para que os Municípios instituam
Procuradorias Municipais, organizadas em carreira, mediante
concurso público. Não existe, na Constituição Federal, a figura da
advocacia pública municipal. Os Municípios não têm essa obrigação
constitucional. STF. Plenário. RE 225777, Rel. Min. Eros Grau, Rel.
p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 24/2/11. STF. 2ª Turma. RE 893694
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 21/10/2016.
Tramita no Congresso Nacional uma PEC com o objetivo de “alterar a redação do art. 132 da
Constituição Federal para estender aos Municípios a obrigatoriedade de organizar carreira de
procurador (para fins de representação judicial e assessoria jurídica), com ingresso por
concurso público, com a participação da OAB em todas as suas fases, garantida a estabilidade
dos procuradores após 3 anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho.” (PEC
17/2012).

Feita esta breve revisão, veja o caso concreto julgado pelo STF: O Estado do Espírito Santo
editou lei criando o cargo de Técnico Superior do DETRAN (autarquia estadual). Até aí, ok. O
problema foi que a Lei previu que os ocupantes deste cargo seriam responsáveis por
representar o DETRAN/ES “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”. Além disso, determinou que tais servidores teriam a incumbência de praticar
“todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas
funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do
Brasil OAB”.

Tais previsões são constitucionais? NÃO. Tais previsões violam o “princípio da unicidade
da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo
de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de
advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do
DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação
do art. 132, caput, da CF/88.

Outras atribuições: A legislação prevê também outras atuações técnico-jurídicas deste


servidor no âmbito interno da autarquia, tais como:
• Interagir com as demais unidades administrativas da autarquia na elaboração de normas,
instruções, resoluções e demais atos a serem expedidos;
• Interpretar textos e instrumentos legais;
• Elaborar estudos sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN/ES;
• Elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela Autarquia, com a
emissão de parecer.

A previsão dessas outras atribuições também é inconstitucional? NÃO. Essas outras


atribuições podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso
ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode
deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não
conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades inviabilizadas.
Nesse contexto, é válida a atuação jurídica dos servidores técnicos no âmbito interno,
sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções
de otimização, fiscalização e auditoria.

Modulação dos efeitos: Em nome do princípio da confiança e do postulado da segurança


jurídica, o STF fez a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.

23.2. É inconstitucional norma de Constituição Estadual que preveja a figura do “Procurador


da Fazenda Estadual” – (Info 921)

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que preveja que compete ao Governador


nomear e exonerar o “Procurador da Fazenda Estadual”.
Isso porque o art. 132 da CF/88 determina que a representação judicial e a consultoria
jurídica do Estado, incluídas suas autarquias e fundações, deve ser feita pelos
“Procuradores dos Estados e do Distrito Federal”.
Essa previsão do art. 132 da CF/88 é chamada de princípio da unicidade da representação
judicial e da consultoria jurídica dos Estados e do Distrito Federal. Em outras palavras, só
um órgão pode desempenhar esta função e se trata da Procuradoria-Geral do Estado, que
detém essa competência funcional exclusiva.
O modelo constitucional da atividade de representação judicial e consultoria jurídica dos
Estados exige a unicidade orgânica da advocacia pública estadual, incompatível com a
criação de órgãos jurídicos paralelos para o desempenho das mesmas atribuições no âmbito
da Administração Pública Direta ou Indireta.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/2018 (Info 921).
OBS:
Como o tema já foi cobrado em concursos:
 (Analista Jurídico - TJRJ - FGV - 2014) Determinada lei estadual, editada no corrente
ano, com o objetivo de aumentar a eficiência na representação judicial da
Administração Pública, dispôs que as execuções fiscais passariam a ser promovidas
pela “Procuradoria da Fazenda Estadual”, estrutura orgânica criada pela referida lei,
vinculada à Secretaria de Estado de Fazenda e totalmente autônoma em relação à
Procuradoria-Geral do Estado, a quem caberia a representação dos demais interesses
estatais. À luz desse quadro, é correto afirmar que a lei estadual é: inconstitucional,
pois o Estado não pode criar Procuradorias autônomas e desvinculadas da
Procuradoria-Geral do Estado (CORRETO).

23.3. É possível a existência de Procuradoria da Assembleia Legislativa, mas este órgão


ficará responsável apenas pela defesa das prerrogativas do Poder Legislativo – (Info 921)

A atuação da Procuradoria da Assembleia Legislativa deve ficar limitada à defesa das


prerrogativas inerentes ao Poder Legislativo.
Em outras palavras, é possível a existência de Procuradoria da Assembleia Legislativa, mas
este órgão ficará responsável apenas pela defesa das prerrogativas do Poder Legislativo.
A representação estadual como um todo, independentemente do Poder, compete à
Procuradoria-Geral do Estado (PGE), tendo em conta o princípio da unicidade institucional
da representação judicial e da consultoria jurídica para Estados e Distrito Federal. No
entanto, às vezes, há conflito entre os Poderes. Ex: o Poder Legislativo cobra do Poder
Executivo o repasse de um valor que ele entende devido e que não foi feito. Nestes casos, é
possível, em tese, a propositura de ação judicial pela Assembleia Legislativa e quem irá
representar judicialmente o órgão será a Procuradoria da ALE.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

23.4. Inconstitucionalidade da previsão de procuradorias autárquicas para os Estados-


membros – (Info 907) – IMPORTANTE!!!

A Constituição do Estado do Ceará previa que o Governador deveria encaminhar à ALE


projetos de lei dispondo sobre a organização e o funcionamento da Procuradoria-Geral do
Estado e das procuradorias autárquicas.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional. Isso porque a CF/88 determina que a
representação judicial e a consultoria jurídica do Estado, incluídas suas autarquias e
fundações, deve ser feita pela PGE, nos termos do art. 132 da CF/88.
O art. 132 da CF/88 consagra o chamado “princípio” da unicidade da representação judicial
e da consultoria jurídica dos Estados e do Distrito Federal e, dessa forma, estabelece
competência funcional exclusiva da Procuradoria-Geral do Estado.
A exceção prevista no art. 69 do ADCT da CF deixou evidente que, a partir da Constituição
de 1988, não se permite mais a criação de órgãos jurídicos distintos da Procuradoria-Geral
do Estado, admite-se apenas a manutenção daquelas consultorias jurídicas já existentes
quando da promulgação da Carta. Trata-se de exceção direcionada a situações concretas e
do passado e, por essa razão, deve ser interpretada restritivamente, inclusive com atenção à
diferenciação entre os termos “consultoria jurídica” e “procuradoria jurídica”, uma vez que
esta última pode englobar as atividades de consultoria e representação judicial.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

23.5. Legitimidade da ANAPE para questionar lei que equipara determinada carreira com a
de Procurador do Estado – (Info 835)
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem
legitimidade ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF),
questionar dispositivos de lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos entre as
carreiras de Procurador estadual e de Delegado de Polícia.
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 18/08/16 (Info 835).

23.6. Inconstitucionalidade de lei estadual que crie cargo em comissão para o desempenho
de assessoramento jurídico no Poder Executivo – (Info 771)

É inconstitucional lei estadual que crie cargos em comissão de “consultor jurídico”,


“coordenador jurídico”, “assistente jurídico” etc. e que tenham por função prestar
assessoria jurídica para os órgãos da Administração Pública.
Essa norma viola o art. 132 da CF/88, que confere aos Procuradores de Estado a representação
exclusiva do Estado-membro em matéria de atuação judicial e de assessoramento jurídico,
sempre mediante investidura fundada em prévia aprovação em concurso público.
STF. Plenário. ADI 4843 MC-Referendo/PB, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/12/2014
(Info 771).

23.7. Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função – (Info 752)

Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ.
A lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por
prerrogativa de função no TJ.
A Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo
aberto, delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com
foro privativo.
STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

24. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


24.1. O art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado o art. 62
da CF – (Info 773) – IMPORTANTE!!!

O art. 5º da MP 2.170-36/2001 permite que haja capitalização de juros com periodicidade


inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional.
A MP 2.170-36/2001 era impugnada sob a alegação de que o tema “capitalização de juros”
não possuía relevância e urgência, de forma que não poderia ter sido tratado por meio de
medida provisória (art. 62 da CF/88).
O STF, contudo, decidiu que o art. art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional,
não tendo violado o art. 62 da CF/88.
Do ponto de vista da relevância, esta estaria presente, considerando que a MP trata sobre a
regulação das operações do Sistema Financeiro, tema de suma importância para a economia
do país.
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade
financeira era diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o
requisito da urgência naquela oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela
integração da economia nacional ao mercado financeiro mundial, exigia medidas céleres,
destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar
sobre um passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser
atingidas.
Obs: existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a
inconstitucionalidade material da capitalização de juros em periodicidade inferior a um
ano.
Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi concluído.
STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 4/2/2015 (repercussão geral) (Info 773).
24.2. A cobrança de “taxa de alimentação” por instituição federal de ensino
profissionalizante é inconstitucional – (Info 737)

É inconstitucional que instituição pública de ensino profissionalizante cobre anuidade para


custear despesas com a alimentação dos alunos. Tal prática viola o art. 206, IV e o art. 208,
VI, da CF/88.
STF. 1ª Turma. RE 357148/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2014 (Info 737).

25. LIVRE CONCORRÊNCIA


25.1. ORDEM ECONÔMICA: Lei estadual pode conceder meia-entrada em eventos
culturais e desportivos para menores de 21 anos – (Info 897)

É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas
de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade.
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12/4/2018 (Info 897).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: A Lei 3364/00, do Estado do Rio de Janeiro, assegura o
desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de diversões, praças desportivas e similares
aos jovens de até 21 anos de idade (Lei da Meia Entrada). Em 2006, a Confederação Nacional
do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra essa Lei afirmando que ela seria formal e
materialmente inconstitucional.

O STF concordou com os argumentos do autor? Essa Lei é inconstitucional? NÃO.

Formalmente constitucional: Sob o prisma formal, o STF considerou constitucional a lei


impugnada, uma vez que tanto a União quanto os Estados-membros e o Distrito Federal
podem atuar sobre o domínio econômico, por possuírem competência concorrente para
legislar sobre direito econômico, nos termos do art. 24, I, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico;

Ademais, diante da inexistência de lei federal sobre a matéria, o ente exerceu a competência
legislativa plena para atender às suas peculiaridades:
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Materialmente constitucional: A constitucionalidade material também foi reconhecida. A


CF/88 elenca os fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil em seus arts. 1º e
3º. No entanto, para a realização desses fundamentos e objetivos, é necessária a atuação do
Estado sobre o domínio econômico. Se de um lado a CF/88 assegura a livre iniciativa, de outro
determina ao Estado que adote providências para garantir o efetivo exercício do direito à
educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215 e 217, § 3º, da CF/88). Na
composição entre esses princípios e regras, há de ser preservado o interesse da coletividade.

Esse critério etário, ou seja, conceder meia-entrada para todo mundo que for menor que 21
anos, é válido? SIM. A lei é constitucional porque facilita o acesso dos jovens à cultura, à
educação e a atividades desportivas. “Entendo que essa é uma lei evidente e eminentemente
inclusiva. Tem como alvo o jovem que tradicionalmente não flui dessas regalias. O jovem
excluído do sistema educacional”, disse o então Min. Joaquim Barbosa, que participou do
julgamento. O Min. Ricardo Lewandowski defendeu que, nesse caso, é legítima a intervenção
do Estado no domínio econômico. “Aqui me parece que o legislador estadual foi generoso
porque ele quer também dar acesso ao lazer e à cultura aos jovens em geral, mesmo aqueles
que não tiveram o privilégio de ter ido à escola ou que possam ir à escola. São aqueles jovens
que trabalham, que não têm lazer, não têm cultura”.

Outro precedente no mesmo sentido envolvendo uma Lei do Estado de São Paulo:
(...) 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define
opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre
iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de
que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais.
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa
Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados
pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global
normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos
preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170.
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas
pela empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição,
ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a
privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro
determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes
a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao
desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da
Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de
ser preservado o interesse da coletividade, interesse público
primário.
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de
complementar a formação dos estudantes.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, julgado em
03/11/2005.

Leis federais posteriores: Depois que esta Lei do Estado do Rio de Janeiro foi publicada (2000),
o Congresso Nacional editou duas leis que tratam sobre meia-entrada em eventos culturais e
desportivos.

Lei 12.933/13: Concede meia-entrada em espetáculos artístico-culturais e esportivos a:


a) Estudantes (educação infantil, ensino fundamental, médio e
superior, inclusive especialização, mestrado e doutorado);
b) Pessoas com deficiência, inclusive seu acompanhante quando
necessário (ex: um cego que vai ao cinema acompanhado de uma
pessoa para ler as legendas para ele; nesse caso, ambos terão direito
à meia-entrada);
c) Jovens de 15 a 29 anos de idade de baixa renda, inscritos no
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal
(CadÚnico) e cuja renda familiar mensal seja de até 2 (dois)
salários mínimos;
d) Idosos, ou seja, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos
(art. 23 da Lei 10.741/2003).

Lei nº 12.852/2013 (Estatuto da Juventude): Assegura o direito à meia-entrada em eventos


educativos, esportivos, de lazer e entretenimento:
 aos estudantes; e
 aos jovens de famílias de baixa renda (a família deve estar inscrita no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico e ter renda mensal de até 2
salários mínimos).

25.2. Lei municipal que impede instalação de estabelecimentos comerciais – (Info 790)

Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que
impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

26. PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS


26.1. O legislador, ao editar a Lei 9.294/96, atendeu a regra do art. 220, § 4º, da CF/88 – (Info
782)

O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as
propagandas de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13º GL (art. 1º, parágrafo
único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por
omissão afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando
que deveria impor restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do
seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é
bebida alcoólica para fins de propaganda. Além disso, o STF considerou que não existe a
alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96, que foi objeto de amplo
debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13º GL, não podendo
o STF rever essa decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente
diversos. A primeira lei cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela
não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que limite pode ir a sua
publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).

27. CONTROLE JURISDICIONAL SOBRE ATOS ADMINISTRATIVOS


27.1. Poder Judiciário deverá ter extrema cautela ao anular atos administrativos que exijam
conhecimentos técnicos específicos – (Info 760)

STF suspendeu decisão de TRF que havia anulado portaria do Ministério das
Comunicações tratando sobre aspectos técnicos da transmissão dos programas de TV
(recursos de audiodescrição para deficientes visuais e intelecuais).
Segundo a Corte, a complexidade da causa requer cautela por parte dos magistrados e maior
consideração às soluções encontradas pelos órgãos técnicos especialistas na área.
STF. Plenário. ADPF 309 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014
(Info 760).

27.2. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima
de determinado medicamento em estoque – (Info 752) – IMPORTANTE!!!

A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter
estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave,
de modo a evitar novas interrupções no tratamento.
Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem
tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e
serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já que,
mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em seu
estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.
Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar
continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à
saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário.
STJ. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info
752).

28. COMUNICAÇÃO SOCIAL


28.1. É inconstitucional o art. 25 da Lei 12.485/2011 – (Info 884)

A Lei 12.485/11 dispõe sobre a “comunicação audiovisual de acesso condicionado”, mais


conhecida como “TV por assinatura”. Trata-se do marco regulatório da TV por assinatura
no Brasil.
Foram ajuizadas ações diretas de inconstitucionalidade impugnando esta lei.
O STF decidiu que apenas um dos dispositivos da Lei é inconstitucional: o art. 25. Os
demais são válidos.
O art. 25 prevê a impossibilidade de oferta de canais que veiculem publicidade comercial
direcionada ao público brasileiro contratada no exterior por agência de publicidade
estrangeira.
O STF julgou inconstitucional este art. 25 por violação ao princípio constitucional da
isonomia (art. 5º, “caput”). Esse princípio exige que o tratamento diferenciado entre os
indivíduos seja acompanhado de causas jurídicas suficientes para amparar a discriminação,
cujo exame de consistência, embora preserve um pequeno espaço de discricionariedade
legislativa, é sempre passível de aferição judicial por força do princípio da inafastabilidade
da jurisdição.
O art. 25 da lei proíbe a oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada
ao público brasileiro contratada no exterior por agência de publicidade estrangeira,
estabelecendo uma completa exclusividade em proveito das empresas brasileiras e não
apenas preferência percentual, sem prazo para ter fim e despida de qualquer justificação
que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade, sendo, portanto,
inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 4747/DF, ADI 4756/DF, ADI 4923/DF e ADI 4679/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
j. 8/11/17 (Info 884).
OBS:
Art. 25. Os programadores não poderão ofertar canais que
contenham publicidade de serviços e produtos em língua
portuguesa, legendada em português ou de qualquer forma
direcionada ao público brasileiro, com veiculação contratada no
exterior, senão por meio de agência de publicidade nacional.
§ 1º A Ancine fiscalizará o disposto no caput e oficiará à Anatel e à
Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu
descumprimento.
§ 2º A Anatel oficiará às distribuidoras sobre os canais de
programação em desacordo com o disposto no § 1º, cabendo a elas a
cessação da distribuição desses canais após o recebimento da
comunicação.

29. TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS


29.1. Renitente esbulho e desocupação forçada ocorrida no passado – (Info 771) –
IMPORTANTE!!!

Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será
considerada terra indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho.
Assim, se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela
haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e
persistente até o marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de
1988, materializado por circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória judicializada.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da terra
ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos anos
antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área ocorreu
no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação, a Corte
entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a desocupação forçada
ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da CF/88, já havia se passado
muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam em conflito possessório
por aquelas terras.
STF. 2ª Turma. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/12/2014 (Info
771).

29.2. Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios – (Info 759) – IMPORTANTE!!!

A proteção das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios representa um aspecto


fundamental dos direitos e das prerrogativas constitucionais assegurados ao índio.
Sem terem a garantia de que irão permanecer nas terras por eles já tradicionalmente
ocupadas, os índios ficam expostos ao risco da desintegração cultural, da perda de sua
identidade étnica, da dissolução de seus vínculos históricos, sociais e antropológicos e da
erosão de sua própria consciência.
Entretanto, somente são reconhecidos aos índios os direitos sobre as terras que
tradicionalmente ocupem se a área estiver habitada por eles na data da promulgação da
CF/88 (marco temporal) e, complementarmente, se houver a efetiva relação dos índios com
a terra (marco da tradicionalidade da ocupação).
No caso concreto, o relatório elaborado pela FUNAI indicou que há mais de 70 anos não
existia comunidade indígena ou posse indígena no local em disputa. Logo, o marco
temporal não estava preenchido, sendo, portanto, impossível reconhecer a posse indígena
daquelas terras.
Em outras palavras, não estavam atendidos os requisitos necessários para se reconhecer
aquela área como sendo uma terra tradicionalmente ocupada por índios, nos termos do art.
231 da CF/88.
No entanto, mesmo a terra não se enquadrando no conceito do art. 231, caput e § 1º da CF/88,
a União pode decidir acolher as populações indígenas naquela área. Para isso, porém, terá
que desapropriar as terras, pagando justa e prévia indenização em dinheiro aos
proprietários, considerando que, não sendo terras tradicionalmente ocupadas por índios,
essa área não se constitui em bem da União (art. 20, XI, da CF/88).
STF. 2ª Turma. RMS 29087/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão, Min.
Gilmar Mendes, julgado em 16/9/2014 (Info 759).

30. COMUNIDADES QUILOMBOLAS


30.1. Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para
titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos – (Info 890)
– IMPORTANTE!!!

O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em 2003, foi editado o Decreto 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos.
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto
foi tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do comando
constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar
da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto 4.887/03 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder
Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição
(autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério não foi arbitrária,
não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação
de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos
quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida
essa previsão tendo em vista que, em nenhum momento a Constituição afirma que são
nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de
reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade
eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do registro em favor
das comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de desapropriação.
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, j.
8/2/18 (Info 890).
OBS: Artigos citados no julgado acima:

CF/88:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Art. 231 (...)


§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos
que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a
que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do
solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante
interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto
às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

Decreto 4.887/2003:
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos
quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais,
segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica
própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção
de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida.
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes
das comunidades dos quilombos será atestada mediante
autodefinição da própria comunidade.
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física,
social, econômica e cultural.
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados em
consideração critérios de territorialidade indicados pelos
remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à
comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a
instrução procedimental.

Art. 13. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das


comunidades dos quilombos título de domínio particular não
invalidado por nulidade, prescrição ou comisso, e nem tornado
ineficaz por outros fundamentos, será realizada vistoria e avaliação
do imóvel, objetivando a adoção dos atos necessários à sua
desapropriação, quando couber.
(...)
§ 2º O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de
desapropriação, com obrigatória disposição de prévio estudo sobre
a autenticidade e legitimidade do título de propriedade, mediante
levantamento da cadeia dominial do imóvel até a sua origem.

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