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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Departamento de Geografia
Disciplina FLG 0131 – História do Pensamento Geográfico
Prof. Manoel Fernandes

O Pensamento Geográfico na Diplomacia do Barão de Rio Branco

A atual gestão do Ministério das Relações Exteriores, conhecido também como Itamaraty,
vem estabelecendo uma nova – e estranha – orientação para a formulação da política externa
brasileira, distanciando-se de longa tradição construída pela chamada “Casa de Rio Branco”.
O titular da pasta, Ernesto Araújo, fala abertamente contra gestões recentes, principalmente
aquelas dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), as quais culpa por introduzir uma
“ideologia de esquerda” dentro do Itamaraty.
Ao mesmo tempo, Araújo defende a ideia do “globalismo”, um grande movimento
internacional que – em poucas palavras – pretende fortalecer as instituições internacionais em
detrimento dos Estados nacionais. Algumas palestras com esse tema já foram realizadas no
Instituto Rio Branco (órgão do Ministério que cuida da formação dos diplomatas brasileiros) e
na Fundação Alexandre de Gusmão (conhecida como Funag, uma fundação ligada ao
Ministério que cuida de difusão cultural no campo das Relações Internacionais), 1 e
recentemente o chanceler brasileiro também defendeu a posição de que o aquecimento global
faz parte de uma “tática globalista” para favorecer o crescimento da China.2 Por fim, Araújo
também defende a ideia de que o Nazismo foi um movimento de esquerda.3
Essas posições e mudanças no Itamaraty vão completamente de encontro à longa linha de
formulação de política externa brasileira, conhecida por uma interessante estabilidade, mesmo

1
Itamaraty e FUNAG realizaram seminário sobre o globalismo. Disponível em
http://www.funag.gov.br/index.php/pt-br/2015-02-12-19-38-42/2937-itamaraty-e-funag-realizaram-
seminario-sobre-o-globalismo . Acesso em 15 de junho de 2019.
2
Novo chanceler diz que esquerda criou “ideologia de mudança climática”. Valor Econômico, 15 de
novembro de 2018. Disponível em https://www.valor.com.br/politica/5985233/novo-chanceler-diz-
que-esquerda-criou-%3Fideologia-da-mudanca-climatica . Acesso em 15 de junho de 2019. Mais
recentemente: Meio Ambiente: Salles exagera sobre coleta de lixo, e Araújo nega mudanças
climáticas. Piauí. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/06/08/meio-ambiente-salles-
araujo/ Acesso em 15 de junho de 2019.
3
“Ligação com nazismo deixa esquerda apavorada”, diz Ernesto Araújo. Folha de S. Paulo, 30 de
marco de 2019. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/ligacao-com-o-
nazismo-deixa-esquerda-apavorada-diz-ministro.shtml . Acesso em 15 de junho de 2019.
com mudanças de governo e consequentes mudanças de orientação política. Essa estabilidade,
segundo cientistas políticos das Relações Internacionais, ocorria pelo insulamento do
Itamaraty nas decisões de política externa, ou em outras palavras, o monopólio do Ministério
das Relações Exteriores, sem consulta a outros órgãos ou à opinião pública. Soma-se a isso a
responsabilidade pela formação dos diplomatas, que acaba criando uma rede de sociabilidade
e um notável esprit de corps entre os funcionários do Ministério.
Durante os governos do PT, havia a discussão se esse insulamento estaria sendo relativizado,
ou seja, se outras instituições e figuras estariam agindo e participando da formulação da
política externa brasileira – como por exemplo outros Ministérios e o Congresso. Milani
discute, nesse sentido, que uma reconfiguração da Política Externa Brasileira estaria
ocorrendo desde a redemocratização.4
Em que pese a discussão sobre o menor insulamento do Itamaraty na formulação da Política
Externa Brasileira, o governo Lula manteve e aprofundou a tradição diplomática brasileira,
que vinha desde a década de 1960. Nesse sentido, no que diz respeito a ações diplomáticas e
acordos de cooperação internacionais, a diplomacia de Lula continuou a diplomacia brasileira
dos anos 1990 – o que indicaria a estabilidade da formulação da política externa.
Por outro lado, Lula e seu chanceler, Celso Amorim, colocaram a diplomacia no centro da
discussão da construção de uma nova imagem externa do Brasil, com o aumento de relações
bilaterais e maior participação em fóruns internacionais. Amorim formulou uma clara política
de incentivo às chamadas Relações Sul-Sul, na qual se inclui a grande aproximação brasileira
a países africanos, por exemplo.5
Entretanto, essa política externa – a qual Araújo insiste em rotular como “ideologizada” – tem
raízes anteriores, mais precisamente na década de 1960. Em 1961, o então presidente Jânio
Quadros e seu chanceler, Afonso Arinos de Melo Franco, estabeleceram as bases de uma
política externa brasileira que seria a referência da diplomacia brasileira a partir de então – a
chamada Política Externa Independente. A PEI, como ficou conhecida, tinha como objetivo
posicionar o Brasil na comunidade internacional de forma autônoma, ou seja, tomar decisões
sem alinhamentos políticos ou ideológicos.
A PEI foi desenvolvida ao longo do mandato de Jânio Quadros e João Goulart,
principalmente por meio dos chanceleres Afonso Arinos e Santiago Dantas, sendo

4
Milani, Carlos e Pinheiro, Letícia. Política Externa Brasileira: os desafios de sua caracterização
como política pública. In: Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 35, n. 1, p. 11-41, junho de 2013.
5
Nesse tema, ver Brasil, Henrique Gerken. Relações externas Brasil-África: da Política Externa
Independente ao governo Lula. 2016. Mestrado. Instituto de Estudos Brasileiros. USP, São Paulo,
2016.
responsável pelas relações diplomáticas e econômicas com países do bloco socialista, por uma
política externa anticolonialista em relação ao continente africano e pela aproximação com
países asiáticos dentro do âmbito do Movimento dos Não-Alinhados.
O golpe militar de 1964 interrompeu brevemente essa política externa brasileira, uma vez que
diversas ações dela advinda eram tidas como “comunistas” pelos militares que então tomavam
o poder, e um “alinhamento automático” aos Estados Unidos voltou à pauta diplomática
durante o governo Castelo Branco. Mas mesmo já com Costa e Silva, o Itamaraty retoma as
bases da PEI, em busca de uma autonomia nas Relações Internacionais.
O governo Médici, que conta com o chanceler Mario Gibson Barboza, claramente retoma as
diretrizes da PEI, como por exemplo a retomada do aprofundamento das relações com os
países africanos – pelo qual fica famosa a viagem de Gibson Barboza a África: “périplo
africano”. No governo militar seguinte, com Ernesto Geisel, o chanceler Azeredo da Silveira
continuaria nessa linha de busca por autonomia nas relações internacionais, dentro da qual se
insere o episódio do reconhecimento da independência de Angola pelo Brasil, ocorrida em 11
de novembro de 1975, tendo à frente um governo de corrente comunista. No último governo
militar, o chanceler de João Figueiredo, Ramiro Saraiva Guerreiro, continuou, como pode,
dentro da conjuntura internacional da década de 1980, a linha de seus antecessores.
Observe-se que todos os chanceleres citados foram formados pelo Instituto Rio Branco, e de
uma maneira ou de outra tiveram contato com Afonso Arinos e Santiago Dantas na década de
1960, mantendo desse modo, uma linha de atuação definida e reforçando a tese do
insulamento e profissionalismo do Itamaraty.6
Nesta longa introdução ainda cabe a observação de um dos princípios que invariavelmente é
utilizado para legitimar a formulação da política externa brasileira, seja na década de 1960
seja com o chanceler “globalista”: a ideia de “interesse nacional”, conceito vago o suficiente
para ser a orientação de políticas externas divergentes, como universalista, isolacionista,
regionalista, americanista ou nacionalista (em oposição a conspiratória “globalista”).
O interesse nacional, ou ainda a própria “Nação” brasileira, não seria o mesmo sem a atuação
de José Maria da Silva Paranhos Jr., o Barão do Rio Branco, no início do século XX.
Considerado o patrono da diplomacia republicana brasileira, Paranhos imprimiu na orientação
da política externa brasileira a sua própria formação intelectual. Nesse sentido, seu trabalho
como diplomata, a partir da década de 1870, o permitiu realizar um longo trabalho de

6
Nesse sentido, ver Brasil, Henrique Gerken. As Relações Brasil-África nas memórias dos
Chanceleres brasileiros 1961-1985. In: Anais do 1o Congresso Internacional de Novas Narrativas. p.
346-354. São Paulo, ECA/USP, 2015.
pesquisa em bibliotecas e arquivos europeus e brasileiros, além de criar uma rede de
sociabilidade com diversos intelectuais da época. Vale lembrar que Paranhos trabalhava na
Europa no final do século XIX, justamente no momento do desenvolvimento da Geografia e
História como ciências.
Paranhos, como dito, realizou um longo trabalho de pesquisa sobre História e Geografia do
Brasil, tendo acesso a mapas e documentos históricos. Além disso, ele teve contato com uma
eminente figura da geografia francesa no final do século XIX, ao redigir o verbete Brasil para
uma enciclopédia francesa. Essa figura foi Émile Levasseur, que, segundo Moraes (2015) era
ao lado de Vidal de La Blache um dos personagens proeminentes da Geografia possibilista.
Outra obra de Rio Branco que expõe a influência da geografia e indica a direção de seu
pensamento é Esboço da História do Brasil, cuja linha de pensamento é a conformação do
território como construção nacional. E precisamente nesse sentido que seria seu principal
legado como chanceler da República, entre 1900 e 1912 – a definição das fronteiras do Brasil.
Ao fazer um histórico de documentos e escritos sobre o território do Brasil Colônia, Paranhos
utiliza cronistas coloniais, cartas de jesuítas, memórias de viajantes, procurando nomes de
locais e toponímias, discutindo a ocupação do espaço e o povoamento (Moraes, 2015). Seu
trabalho de pesquisa durou cerca de 20 anos, e serviria posteriormente como base de sua
argumentação nos diferentes casos de litígio fronteiriços na América do Sul – e como bem
aponta Moraes, seus argumentos não eram de cunho doutrinário, mas sim baseados em fontes
primárias e com fundamentação geográfica e histórica.
Apesar de não utilizar referências diretas de autores em suas obras, Paranhos viveu em meio a
um círculo de sociabilidade que com certeza influenciou seu pensamento, principalmente em
Paris. Ali vivenciou as discussões sobre o expansionismo alemão na época da unificação e a
consequente reformulação da geografia francesa, em contraposição e reação à geografia
alemã. Nesse sentido, Lavesseur foi um dos principais renovadores da geografia francesa, se
opondo às ideias alemãs de espaços a serem conquistados, legitimando uso da força – a
fundamentação do possibilismo francês frente ao determinismo alemão. Não é exagero,
portanto, pensar que Rio Branco bebeu dessas fontes – uma vez que a conformação das
fronteiras brasileiras ocorreram apenas no âmbito das negociações e arbitragens, sem recorrer
ao uso da força.
Desse modo, o Barão de Rio Branco coloca como linha de pensamento da diplomacia
brasileira o território como interesse nacional, como elemento próprio da unidade nacional, ou
como coloca Moraes, “tem-se, assim, o território concebido como chave da nacionalidade (e
da continuidade nacional), cuja manutenção integral é posta como objetivo primeiro da
atuação do Estado”.
O interessante, e o ponto deste pequeno ensaio, reside no fato de que o Barão de Rio Branco,
em contraposição à diplomacia mais recente, fundamenta o “interesse nacional” com
conhecimento e pesquisa históricos e geográficos, e desse modo fortalece o conceito, que
atualmente é utilizado e moldado conforme interesses de grupos específicos. A atual
chancelaria brasileira, ao utilizar o conceito para brigar com as ilusões do “globalismo” e do
“climatismo”, esvazia por completo o longo trabalho iniciado pelo Barão de Rio Branco.

Bibliografia provisória

ABRANCHES, Dunshee de. Rio Branco e a Política Exterior do Brasil. Brasília: FUNAG,
2018.
BRASIL, Henrique Gerken. As Relações Brasil-África nas memórias dos Chanceleres
brasileiros 1961-1985. In: Anais do 1o Congresso Internacional de Novas Narrativas. p. 346-
354. São Paulo, ECA/USP, 2015.
______. Relações externas Brasil-África: da Política Externa Independente ao governo Lula.
2016. Mestrado. Instituto de Estudos Brasileiros. USP, São Paulo, 2016.
DAVILA, Jerry. Hotel Trópico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
MAGNOLI, Demétrio. O Corpo da Pátria. Imaginação geográfica e política externa no Brasil,
1808-1912. São Paulo: Unesp, 1997.
MILANI, Carlos e PINHEIRO, Letícia. Política Externa Brasileira: os desafios de sua
caracterização como política pública. In: Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 35, n. 1, p.
11-41, junho de 2013.
MORAES, Antonio Carlos Robert. O Barão do Rio Branco e a Geografia. In: Terra Brasilis,
5, 2015. Disponível em http://journals.openedition.org/terrabrasilis/1546
RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil 1750-2016. Rio de Janeiro:
Versal, 2017.
RODRIGUES, José Honório. Brasil e África: outro horizonte. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1982.
SANTOS, Luís Cláudio Villafañe. O dia que adiaram o Carnaval. São Paulo: Unesp, 2010.
______. Juca Paranhos, o Barão de Rio Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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