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Viajar na “Noite Estrelada” com Jimmy Liao

Susana Maria G. Rodrigues P. Pinhal

LIAO, Jimmy (2016)” Noite estrelada”. Matosinhos: Kalandraka.

“Noite Estrelada”, de Jimmy Liao, foi editado originalmente em 2009 em Taiwan, sua terra
natal, e chegou ao nosso país através da Kalandraka, em 2016, tendo vencido o Prémio Nacional de
Banda Desenhada, na categoria de melhor ilustrador estrangeiro de livro infantil, no Festival
Amadora BD, em 2017.

Fig. 1 - Capa do livro

Esta é uma das muitas obras deste autor, reconhecido internacionalmente como um dos
maiores ilustradores, quando se fala em livro infantil. Livros como “Segredo das Floresta”; “O
peixe que sorria”, “Desencontros”, também já publicados em Portugal, tal como “Noite Estrelada”,
receberam vários prémios e menções a nível internacional.
Jimmy Liao nasceu em 1958 e começou por trabalhar no mundo da publicidade. Aos 40
anos, após ter passado por uma leucemia, decidiu dedicar-se a escrever e desenhar as suas histórias.
A curiosidade pela leitura de “Noite estrelada” desperta no título, que nos remete para a obra
de Van Gogh, pintada durante a doença emocional deste jovem pintor impressionista, que o
acompanhou até ao fim da sua vida. Quando abrimos as primeiras páginas, conseguimos perceber
nas palavras do autor esta analogia na breve dedicatória que escreve: “Para as crianças que não se
sentem em sintonia com o mundo.”

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Considera-se, pela leitura do livro, que o autor nutre uma admiração por Van Gogh, não só pela
reprodução da obra “Noite estrelada”, presente nas pág. 29, 113 e na última página, mas também
pelas cores utilizadas nas diferentes ilustrações, sobretudo nas paisagens, que fazem parte desta
narrativa.
Neste livro sobressai como tema o desajuste face aos que nos rodeiam. A história fala-nos de
uma menina que se sente diferente dos outros, que vive triste, incompreendida e solitária, até
encontrar um rapaz com quem se identifica. Os dois protagonistas, não são nomeados, podendo
assim representar qualquer um que se sente solitário ou aprisionado, mas que não perdeu a
capacidade de sonhar.
Ao longo do livro, quase como num diário, são-nos dadas a conhecer as suas vivências,
numa família em que os avós foram substitutos dos pais, num tempo em que se sentiu feliz:
“Até aos seis anos vivi com os meus avós numa montanha afastada, onde as estrelas eram
grandes e brilhantes. (pág. 7)
Naquela altura tinha muitas saudades dos meus pais que viviam na cidade. Agora tenho
saudades do meu avô, que vive na montanha, e da minha avó, que está no céu.” (pág. 8)
Os seus pais andam sempre muito ocupados, não a compreendem. Nem sempre se dão bem.
O seu quarto é o seu refúgio.
Não podemos deixar de salientar a força e a beleza das ilustrações que acompanham o
discurso e que o enfatizam em cada página (fig.2 e 3).

Fig. 2- Ilustração da pág. 9 Fig. 3 - Ilustração da pág. 10

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Nas ilustrações da página 9 e 10 o autor reproduz obras de René Magritte, “Os amantes” e
“A Segunda Grande Guerra” que veem reforçar as ideias de não entendimento familiar e de uma
guerra interior que é vivida por esta criança. O balão vermelho cheio à porta do quarto reporta-nos a
um sentimento de angústia.
Quando a sua mãe lhe oferece um gatinho, depois de uma viagem de trabalho, a menina diz
que “Às vezes o gatinho transforma-se num grande gato” (pág.12), levando o leitor a crer que esse
passou a ser o seu único companheiro e confidente, o maior e o mais importante da sua vida.
A vida desta menina é triste e solitária, na escola também não é fácil, dando o discurso e a
ilustração a entender que é vítima de bulliyng. “Apesar de ter muito amigos sinto uma solidão
indefinível” (pág.14) (fig.4) “Na escola é difícil evitar confusões, mas eu nunca falo disso a
ninguém” (pág. 15) (fig.5).

Fig. 4 – Ilustração da pág.14 Fig. 5 - Ilustração da pág.15

Na sua solidão esta menina sente-se diferente. Ocupa o tempo a observar os outros e
descobre que a senhora idosa da frente “aborrece-se de morte (…) e desperdiça o seu tempo a ver
televisão” (pág. 20), o que transmite a ideia de solidão e aborrecimento, por não se ter ocupação
quando se é idoso. Lembra-se do seu avô, que também vive sozinho na montanha. O seu avô gosta
de pintar e “Diz muitas vezes que as estrelas nas montanhas são como um quadro de Van Gohg”
(pág.21).
A notícia da morte do avô, na noite de Natal, é sentida como um pesadelo e percebe-se nas
suas palavras a dor profunda pela perda do avô, com quem tinha sido feliz.

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“Não fui ao funeral do meu avô” (pág.26) “Não queria chorar ao pé dos outros e o meu avô
teria ficado triste se visse as minhas lágrimas” (pág.27) “Queria despedir-me do meu avô à
minha maneira.” (pág.28)

Foi então que apareceu alguém, um rapaz misterioso “…feliz e livre, parecia que vinha de
outro planeta” (pág.31) com quem se identifica, na solidão, na falta de aceitação por parte dos
outros e na sua diferença. Observa-o na sua solidão e pensa que “tinha mais sorte que ele, porque
sabia fazer magia” (pág. 39). A ilustração que acompanha estas palavras sugere-nos que a menina
conseguia fugir a tudo o que a podia afetar, simbolicamente, aos “monstros” da sua vida.

Fig. 6 - Ilustração da pág. 39

O rapaz misterioso é descrito como “uma planta a crescer num labirinto, sem se preocupar
com a saída” (pág. 42 e 43) enquanto ela se sentia “como um pássaro fechado numa gaiola,
ansiando por voar até ao vasto céu” (pág. 43 e 44).
A amizade entre os dois começa quando esta menina enfrenta os colegas de turma numa luta
defendendo o rapaz, como se fosse um monstro (fig. 7).

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Fig. 7 - Ilustração das pág. 48 e 49

O rapaz conta-lhe a sua vida, afastada do pai que é marinheiro, com uma mãe que trabalhava
dia e noite.
“Quando se sentia em baixo, gostava de falar com os peixes. Tinha dado um nome a cada
peixe do aquário da esquina” (pág.53). A menina, pouco a pouco, vai conhecendo este rapaz
misterioso, percebendo que têm muito em comum, e ganhando admiração por ele. Vê nele uma
força: “A janela do seu quarto ficava iluminada toda a noite. Às vezes parecia um farol no mar
noturno; outras, uma estrela caída do céu.” (pág.56)
Todos começavam a falar sobre eles na escola, mas isso não lhes importava. A aversão à
escola fazia com que tivessem vontade de fugir. O rapaz não era bom aluno, embora ela o tentasse
ajudar. A companhia um do outro era o mais importante.
“Um dia desapareceu um livro ilustrado que ele adorava. Só à noite é que o encontrámos
em cima de uma grande árvore no pátio da escola” (pág. 69)
“Na cidade é cada vez mais difícil ver as estrelas à noite” (pág.70 e 71) são palavras que
nos remetem para a insatisfação dos dois personagens sobre o lugar onde viviam, pesando tudo o
que ali se passava. Até que o pior acontece: “…uns arruaceiros partiram o vidro do aquário (…)
Ele ajoelhou-se no passeio, muito pálido, e desatou em lágrimas.” (pág. 72)
O sofrimento deste rapaz afeta a menina e juntos decidem fugir daquela cidade, numa
viagem até à casa do avô, descrita através de uma sequência de ilustrações lindíssimas, cheias de
cor e movimento, que nos transmitem uma sensação de cumplicidade, descoberta e de crescimento,
entre os dois amigos.

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Fig. 8 - Ilustração das pág. 78 e 79 Fig. 9 - Ilustração das pág. 80 e 81

Fig. 10 - Ilustração das pág. 82 e 83 Fig. 11 - Ilustração das pág. 84 e 85

Fig. 12 - Ilustração das pág. 86 e 87 Fig. 13 - Ilustração das pág. 88 e 89

A chegada a casa do avô, inspira tranquilidade e felicidade.

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Fig. 14 - Ilustração das pág.92 e 93

Quando abre a porta da casa dos avós a menina revive os momentos de felicidade que aí
viveu e abre o seu coração: “Se ficássemos só nós dois no mundo, tinhas medo?” (pág. 99). Esta
pergunta, sem resposta, leva-nos a pensar na vontade que existe em permanecer ali naquela casa, na
montanha, mesmo isolada do resto do mundo, com alguém em quem pode confiar e que lhe faz
companhia, longe de toda a angústia.
Durante esse tempo, a menina partilha com o rapaz uma das melhores recordações que tinha
do seu avô: o passeio de barco na lagoa onde juntos admiraram a mais bela noite estrelada. Esses
são momentos que os dois amigos revivem com intensidade, observando o céu, nadando numa
lagoa que espelha o céu estrelado. As ilustrações que contam esta aventura, transportam-nos para
um lugar mágico, onde os dois personagens encontram a paz e a felicidade. (fig. 15,16 e 17)

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Fig. 15 - Ilustração das pág.102 e 103 Fig. 16 - Ilustração das pág.106 e 107

Fig. 17 -Ilustração das pág.108 e 109


Não nos é dito quanto tempo ali ficaram, nem como voltaram, deixando ao leitor a liberdade
de imaginar o que possa ter acontecido.
Quando a menina regressou a casa ficou doente. Na ilustração que acompanha o texto
escrito, aparecem as figuras do pai e da mãe no quarto de hospital (fig. 18). A mãe à sua cabeceira
numa imagem de sofrimento, faz transparecer que ali nada mais é importante: nem os seus afazeres
profissionais ou de casa, nem os seus amigos, nem o seus telefonemas, só a sua filha.

Fig. 18 - Ilustração da pág.113


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A menina conta: “Naqueles dias obscuros aparecia frequentemente nos meus sonhos uma
baleia a nadar vagarosa pelo mar adentro.” (pág. 113) Talvez fosse uma premonição, pois quando
regressa à escola descobre que o seu amigo se tinha mudado.
A sua vizinha idosa, com quem o rapaz tinha morado, contou-lhe que finalmente tinham ido
viver com o pai. Como se soubesse da amizade, e talvez da tristeza por não se terem despedido, a
vizinha insiste e convida-a a entrar no quarto, agora vazio, que tinha sido do amigo. Aí a menina
percebeu a sua importância na vida daquele rapaz, que gostava de seres marinhos: o seu rosto surgia
no meio das paredes, preenchidas de pinturas, entre baleias e golfinhos. Sem palavras esta ilustração
ocupa 4 páginas que se abrem como se a luz entrasse (fig. 19). Comoveu-se por isso e pensou que
“Ele é que era o verdadeiro mágico” (pág.128) como que a querer transmitir-nos que o rapaz
buscava a felicidade pintando o que mais gostava, para não se sentir só!

Fig. 19 - Ilustração pág.119,120,121,122

Na narrativa visual das páginas seguintes sentimos o tempo a passar e as ilustrações repetem
lugares e tempos onde os dois amigos estiveram juntos.
“Numa manhã de primavera alguém - não sei quem - deixou um cachorro à nossa porta.”
(pág.131) conta a menina, mas “Desta vez o cachorro não se transformou num grande cão.”
(pág.133) dando-nos a entender que cresceu. Esta menina deixou de imaginar animais gigantes que
a defendessem, tinha-se tornado forte com a ajuda de um rapaz que a tinha compreendido e ajudado
a descobrir que era importante na vida de alguém.
Nunca mais o voltou a ver mas termina dizendo: “…vou recordar para sempre aquele verão
com as mais brilhantes e solitárias noites estreladas.”
Consideramos que a narrativa confronta o leitor com problemas da sociedade atual: a
solidão, a velhice, a ausência dos pais na vida das crianças, pais que vivem permanentemente
ocupados com a sua profissão, crianças que carregam o peso de uma vida familiar instável, o

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bullying, o poder da amizade e o crescimento. É um livro onde os sentimentos e os afetos estão
muito presentes.
O discurso simples e claro, reforçado pela beleza e sentido das imagens de Jimmy Liao, faz
com que este seja um livro onde é fácil cada um se pode encontrar, independentemente da idade.
Registamos ainda a simbologia das imagens das guardas do livro, em que os personagens
estão cercados de grades mas com um manto de estrelas à volta, como que a transmitir a mensagem
de que não há grades que nos impeçam de viver e de sonhar. Uma história magnífica, um hino à
amizade e ao sonho!

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BIBLIOGRAFIA

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(em https://hipopomatosnalua.blogspot.com/2013/06/o-fantastico-mundo-de-jimmy-liao.html)

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